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Fevereiro | 2019
Capítulo 1 - As Origens do Apóstolo Paulo
Introdução
Para compreender as origens de Paulo, que se tornou o Apóstolo dos gentios, o primeiro desbravador do
evangelho ao lado de Barnabé, é preciso tempo e dedicação em leitura e investigação. Nessas lições,
buscaremos ler e entender sobre ele cujo trabalho missionário, doutrinário e obra social fizeram repercutir,
através dos séculos, resultados incontestáveis acerca da fé em Cristo Jesus.
1. Seus dados pessoais
São muitos os detalhes sobre Paulo. Seu nome, onde nasceu e a grandeza da sua cidade natal. São informações
importantes para entender um pouco mais sobre a história desse homem tão importante em sua época e nos
dias de hoje. Ele continua contribuindo enormemente para com a fé cristã através de sua vida, cartas e teologia.
1.1. Nome
O judeu, natural de Israel, costumava ter o nome seguido pelo nome de seu pai, por exemplo, Jesus, filho de
José (Lucas 3.23); Tiago, filho de Zebedeu (Mateus 4.21); Zacarias, filho de Baraquias (Mateus 23.35). E, em
outros textos, também é indicada a linhagem tribal ou o seu ancestral proeminente (Mateus 15.22; Atos 13.21;
Romanos 11.1). Porém todo judeu que vivia fora de Israel, pelo Império Romano afora, tinha dois nomes, um
em hebraico e outro latino, ou grego também. O Apóstolo dos Gentios era possuidor de dois nomes, “Saulo”
que significa “o desejado”; e um nome latino “Paulo” que significa “pequeno”.
1.2. Local de nascimento
Paulo tinha muito orgulho de sua origem (Atos 21.39). Para ele era uma glória proceder de Tarso, pois ser de
Tarso lhe conferia automaticamente o direito de cidadania romana por nascimento, o que era conseguido por
alguns com grande soma de dinheiro (Atos 22.27,28). Α cidade de Tarso estava localizada na Cilícia, que, nos
dias de Paulo, pertencia à Síria. Tarso era um lugar de belas paisagens, com um centro comercial muito
próspero, era uma cidade portuária com grande movimentação de mercadorias e de pessoas.
Atos 21.39 – “Sou judeu, cidadão de Tarso, cidade importante da Cilícia. Permite-me falar ao povo”. Paulo
informou a Cláudio Lísias que nascera em Tarso, uma importante cidade que ficava na Cilícia. O seu desejo
era válido, porquanto, a fama que essa cidade tinha, devido à sua cultura e erudição, as suas inscrições traziam
a seguinte inscrição: “Metrópole autônoma”, ou seja, cidade independente, já que esse governo próprio lhe
fora outorgado pelas autoridades romanas. Júlio Cesar dera aos habitantes de Tarso da Cilícia todos os direitos
e privilégios da cidadania romana.
Atos 22.27,28 - O comandante dirigiu-se a Paulo e perguntou: “Diga-me, você é cidadão romano?” Ele
respondeu: “Sim, sou”. O comandante já poderia estar seriamente comprometido, porquanto era reputado um
crime até mesmo amarrar um cidadão romano, segundo já se fizera com Paulo. Porém, a fim de garantir que
nenhum outro problema em potencial fosse criado, ele se sentia na obrigação de averiguar pessoalmente se era
correta a informação que acabara de dar ao centurião.
Tarso era o que se cidade livre, não era uma colônia romana, como era o caso de Filipos.
Atos 22.28 - Então o comandante disse: “Eu precisei pagar um elevado preço por minha cidadania”. Respondeu
Paulo: “Eu a tenho por direito de nascimento”. Cláudio Lísias, o comandante, provavelmente era um grego
que apenas recentemente obtivera a cidadania romana. Isso pode ser deduzido pelo fato de que os cidadãos
recentes com frequência adotavam o nome do imperador então reinante, e “Cláudio” era o nome do imperador
reinante. Messalina, esposa do imperador Cláudio, costumava vender títulos de cidadania romana por grandes
somas de dinheiro, e, por causa desse exemplo real, o costume se generalizou.
1.3. Exuberância de Tarso
Por tornar-se uma célebre cidade, nos dias de Paulo, era considerada uma cidade cosmopolita, seus habitantes
eram procedentes de vários lugares do Império. Havia ali um apego e um entusiasmo grande com relação ao
aprendizado, chegando a tal ponto que Tarso superou Atenas e Alexandria no Egito com sua universidade.
Portanto era uma cidade com forte influência grega muito ligada à filosofia, principalmente estoica. Muitos de
seus habitantes eram tecelões e faziam tendas a partir de um tecido grosseiro fabricado com pelo de cabra e
tudo indica que Paulo aprendeu tal profissão ali.
Escola Estoica, no grego, στοικοι, os filósofos epicureus e estoicos são mencionados uma única vez em toda a
Bíblia, em Atos 17:18, quando é indicado que alguns filósofos dessas escolas puseram-se a contender com o
apóstolo Paulo, em Atenas. Dentre os fatos, os filósofos estoicos também rejeitavam a ideia da ressurreição do
corpo físico.
2. Origem familiar
A história não nos fornece informações precisas com respeito à família de Paulo, nem se realmente foi casado
ou não, mesmo sendo ele capaz de discorrer com maestria sobre relação conjugal. Todavia podemos facilmente
compreender o valor que Paulo dava à família. As instruções precisas e os conselhos sábios contidos na sua
correspondência às igrejas demonstram fartamente isso.
2.1. Hebreu de hebreus
Apesar de não ser mencionado o nome do pai e nem da mãe de Paulo em nenhuma parte do N.T., sabe-se
perfeitamente que ele é de ascendência hebraica. Ora, uma coisa importante de saber-se é que para ser
considerado israelita, tem de necessariamente ser filho de mãe judia, logo era realmente hebreu, circuncidado
ao oitavo dia (Filipenses 3.5). Portanto isso quer dizer que ele era filho segundo a carne de Abraão, Isaque e
Jacó, pertencente à linhagem da tribo de Benjamim (Romanos 11.1; Fp 3.5). Não sabemos que circunstâncias
levaram os ancestrais de Paulo a imigrar à região da Cilicia e instalarem-se em Tarso. O motivo mais aceito,
seria que sua família estaria dentre os judeus da diáspora que moravam numa enorme colônia judaica da época.
2.2. Pais
Seu pai era fariseu, isso significa que era membro de um grupo religioso em Israel muito rigoroso quanto à Lei
de Moisés e os costumes dos antepassados (Atos 23.6). Como vários fariseus daquela época tinham seu próprio
negócio, era possível que o pai de Paulo fosse um homem assim também, pois pôde financiar os estudos do
filho em Jerusalém, o de natureza superior, quando este ainda era bem jovem. Como todo pai dedicado, queria
posicionar bem o filho na sociedade judaica de sua época. Não há qualquer registro do nome do pai e da mãe
de Paulo. Mas seria o menino Saulo filho único? Claro que não, pois tinha uma irmã provavelmente mais velha
- ela morava em Jerusalém e tinha um filho jovem na época em que estava preso na Fortaleza de Antonia. Foi
esse moço, seu sobrinho, que o livrou da morte através de informação sigilosa, de uma conspiração dos judeus
para tirar-lhe a vida durante o seu translado para Cesaréia (Atos 23.16-24).
2.3. Outros parentes
Na Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 16, nas saudações finais; dentre as 36 pessoas mencionadas, três são
apontadas como parentes seus quando diz, “Saúda Adrônico e Júnias, meus parentes” (v.7); e em seguida,
escreve: “Saudai meu parente Herodião” (v. 11). Daí se conclui que, além de ter parentes, eles eram fiéis que
pertenciam à Igreja que estava em Roma. Cremos que, a partir da sua conversão, muitos vieram a se converter
depois, ainda que não tenha sido resultado de seu trabalho direto, pois o cristianismo se espalhou no mundo
antigo chegando também a Roma rapidamente.
3. Cultura e personalidade
Paulo estava bem posicionado em sua época, até porque isso lhe garantiria livre trânsito por todo Império
Romano. Se Paulo vivesse em nossos dias, com certeza procuraria estar na dianteira, não por uma questão de
ostentação, mas pelo rápido deslocamento, livre acesso a todos os lugares possíveis até por uma questão de
segurança em tempos de perseguição. Que bom seria ver os obreiros de nossas igrejas buscando tal melhora e
aperfeiçoamento.
3.1. Cultura judaica e grega
Quando Paulo era pequeno em Tarso, como toda criança judia, ia à escola que ficava ao lado da sinagoga. Aos
cinco anos, iniciava seu aprendizado elementar sobre a lei de Moisés baseado em Deuteronômio, e estudava
também os Salmos (113 a 118), nos anos subsequentes, estudava a história de Israel e, entre outros estudos,
aos doze anos, tinha que aprender, aos pés de um rabino, uma série de preceitos orais e divinos, essa fase pode
ter acontecido tanto em Tarso quanto em Jerusalém, pois ele se mudou para lá, ainda bem novo, como ele
mesmo chegou a dizer em Atos 22.3. “Mas criei-me nesta cidade (Jerusalém)”. Posteriormente Paulo fez o seu
curso superior aos pés de Gamaliel, renomado mestre da sua época, como ele mesmo testemunhou: “aqui fui
instruído aos pés de Gamaliel”. Paulo é reconhecidamente o homem mais culto dentre os apóstolos. Mas isso
não aconteceu por acaso, seus pais investiram em sua instrução.
3.2. Evidência de amplos conhecimentos
O mundo antigo estava sob o domínio romano, mas impregnado da cultura grega. Assim, ser bem-sucedido e
ter “status” social era de vital importância naquela época. No currículo de Paulo, constavam idioma grego,
filosofia, história e lendas. Basta olharmos para suas cartas e veremos citações gregas e pensamentos
filosóficos comuns, sua viagem a Atenas e seu discurso no areópago para eliminar quaisquer dúvidas sobre a
sua vasta cultura postas a serviço do reino de Deus após sua conversão. Outra coisa digna de nota é que Paulo,
ao escrever a “Carta aos Romanos”, o maior tratado acerca da salvação, fê-lo em tom jurídico, pois o direito
fascinava os romanos.
3.3. Personalidade de Paulo
Paulo era decidido, com conceitos firmes e de muita atitude. Tinha um temperamento voltado para a liderança,
nasceu para o comando e sabia desenvolver uma equipe de voluntários num trabalho árduo e sem recompensa
financeira. Era uma pessoa capaz de despertar profundo amor e ódio nas pessoas, por ser ele um homem
verdadeiro, muito trabalhador e cheio de zelo e de docilidade ao mesmo tempo. Tão foi o apóstolo, que, por
mais que se fale a seu respeito, ainda é pouco. Porém o que sabemos a seu respeito é o suficiente para o
seguirmos e o imitarmos como ele mesmo disse: “sede meus imitadores, como eu sou também de Cristo” (I
Coríntios 11.1; Filipenses 3.17; l Tessalonicenses 1.6; 2.14; 2 Tessalonicenses 3.7,9; Hebreus 6.12).
Conclusão
Qualquer um que olhasse para o jovem Paulo de Tarso veria nele um fanático, perseguidor soberbo. Mas Deus
que vê além do óbvio, do natural, do presente, das origens e das intenções do coração, olhou e viu, naquele
moço, um poderoso aliado; viu nele um vaso útil para depositar os tesouros do Reino e utilizou-se de tudo
quanto Paulo tinha para o futuro engrandecimento da Sua obra aqui na terra. Maravilhosa visão de Deus que
deu, a sua Igreja, tal homem como presente.
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Capítulo 3 - O discipulado do Apóstolo Paulo
Introdução
Paulo era um homem de grande valor para o judaísmo, uma pessoa preparada desde o seu nascimento, na
convivência, na escola da sinagoga e, até, finalmente, tornar-se um pupilo do famoso Gamaliel. Tudo isso para
lutar apologética e juridicamente pela causa do judaísmo do mundo pagão de sua época. Mas bastou uma
aparição do Filho de Deus em sua glória para abater todo o seu orgulho genealógico, toda a soberba intelectual
e ignorância espiritual.
1. A necessidade de cuidado
Após o encontro de Paulo com Jesus, no caminho de Damasco, ele fora curado e imediatamente começou a
pregar. Isso aconteceu, mas não tão imediatamente, pois levou alguns dias. Veremos que foram necessários
pelo menos três dias aguardando outra resposta de Jesus.
1.1. Paulo não podia ver (Atos 9.8a)
Enquanto Paulo estava a caminho, acompanhado de alguns que formavam a sua comitiva, por volta de meio-
dia, repentinamente brilhou uma forte luz do céu ao redor de Paulo, e tal luz falava com ele referindo-se ao
seu nome hebraico, “Saulo, Saulo, porque me persegues?”. Depois de palestrar com a luz, levantou-se do chão,
mas a ninguém via (Atos 22.6). Precisou terminar a viagem conforme as instruções do Senhor Jesus, mas agora
amparado.
Paulo viu algo que os outros não puderam ver. Essa visão modificou todo o curso da história humana, tendo
afetado os destinos de milhões de criaturas humanas.
Atos 22.6 - “Por volta do meio-dia, eu me aproximava de Damasco, quando de repente uma forte luz vinda do
céu brilhou ao meu redor. - A alma de Saulo de Tarso vinha cheia de trevas e ímpetos de violência, numa
piedade que transparecia na forma de ódio e malícia, o contrário exato de todas as reais qualidades de um
autêntico caráter espiritual. Somente a luz divina, proveniente dos céus, poderia modificar tão densas trevas
espirituais como as de Saulo de Tarso.
1.2. Limitado para andar (Atos 9.8b)
Paulo, agora cego, foi conduzido pelas mãos de outros ao seu destino. Dessa maneira, o Senhor Jesus o estava
humilhando, abatendo-o para que Paulo aprendesse mais sobre Ele. O andar de Paulo por melhor que fosse
não estava agradando a Deus, e essa sua arrogância natural precisava ser abatida até o chão a fim de aprender
um novo andar, que repetidamente Paulo ensina e relembra às igrejas que fundou. Deus resiste ao soberbo e
pessoas normais evitam o soberbo. Mas, no caso de Paulo, era um agir divino na experiência dele para que
ficasse marcado para sempre. Depois, quando necessário, ele testemunhava dessa sua queda visando a que
alguém se convertesse.
Os homens levaram Saulo para a cidade, pois o “touro furioso”, havia se tornado um “cordeiro dócil!” O líder
teve de ser conduzido, pois ficou cego pela visão resplandecente. Seus olhos espirituais foram abertos, mas
seus olhos físicos estavam fechados. Deus o humilhara inteiramente, preparando Paulo para ser ministrado por
Ananias. Saulo orou e jejuou por três dias (Atos 9.11), durante os quais começou a reavaliar suas convicções.
Havia sido salvo pela graça, não pela Lei, por meio da fé no Cristo vivo. Deus começou a instruir Saulo e a
lhe mostrar a relação entre o evangelho da graça de Deus e a religião mosaica tradicional que havia praticado
ao longo da vida.
1.3. Sem comer e beber (Atos 9.9)
Onde estava hospedado, Paulo permaneceu sem comer e beber, entendendo a grandeza de seu pecado. Dá para
imaginar a agonia em sua alma e as lembranças de determinados momentos em que havia perseguido os
discípulos do Senhor Jesus. Mesmo depois de muito tempo, ele demonstra esse sentimento nas suas cartas
(Filipenses 3.6; I Timóteo 1.13). Mas por outro lado o que lhe confortava, era o fato de Jesus lhe ter aparecido
e falado, impedindo a sua completa perdição. O jejum é uma forma de demonstrar fraqueza, auto humilhação
diante de Deus, visando buscar e praticar a vontade de Deus. É também uma maneira de romper com as
ataduras firmes da ignorância espiritual, injustiças cometidas, e falta de fé. Não se jejua para conseguir o perdão
de Deus, o preço já foi pago, antes, jejua-se para que a vontade divina seja exercida e fortalecida em nós.
Filipenses 3.6 - “quanto ao zelo, perseguidor da igreja”. Ele sabe como a mensagem do evangelho é revoltante
para toda pessoa séria em termos morais e religiosos. Porque precisamente isso fora o jovem Saulo de Tarso:
um moço impecável, sincero e devoto, “quanto à justiça, à justiça na lei, irrepreensível”. Quando lhe
apresentavam os mandamentos, podia afirmar com o jovem rico: “Tudo isso tenho observado desde a minha
juventude”. Por essa razão ele também era conhecido nos mais altos escalões, um personagem promissor, ao
qual desde já se confiavam importantes tarefas (Atos 9.2).
1 Timóteo 1.13 – “Que outrora fui blasfemo, perseguidor e violento”. Ele, que mais tarde teve de sofrer
perseguições e foi maltratado, havia pessoalmente torturado os cristãos. Mais de uma vez Paulo apontou, em
sua proclamação, para seu passado sombrio. Não se pode descartar que nas prisões, injúrias, maus tratos e
temores que ele sofreu como servo de Cristo, o apóstolo teve de se recordar de que no passado cometera as
mesmas humilhações contra outros.
“Mas foi-me concedida misericórdia, porque agi na ignorância, quando não tinha fé”. Porque somente a
persistência intencional e obstinada em uma condição de ignorância leva a atrevimento e impenitência, que
provocam o juízo. Jesus intercede pelos que o crucificam: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. O
que fazem é pecado, até mesmo quando acontece por ignorância. Somente quando souberem o que fizeram
sua atitude mostrará se aceitarão o perdão e então confessarão como pessoas agora iluminadas: pecamos. Foi
assim que Paulo agiu. Jamais se desculpa por seu agir condenável, apenas indica o motivo pelo qual foi possível
que seu pecado não lhe custasse a vida, mas a compaixão de Deus o atingisse. Quando Jesus o confrontou,
superando assim sua ignorância, Paulo se afastou do pecado de sua incredulidade e confessou Jesus como
Senhor, passando a servi-lo.
2. A visão de cuidado
O Senhor Jesus havia começado uma obra de conversão ao aparecer repentinamente para Paulo. Mas continuou
operando no sentido de aperfeiçoar a fé que começara a despontar. Deus não começa nada que não possa
terminar e tudo faz com perfeição. Todavia essa segunda parte ficaria por conta de Ananias, um legítimo
representante do Senhor Jesus pertencente à igreja de Damasco.
2.1. Levanta-te e vai à... (Atos 9.11)
Paulo estava hospedado em residência de um certo Judas, ali em Damasco, e repousava aguardando uma
resposta do Senhor Jesus. E ela veio, pois Paulo tivera uma visão espiritual disso, ao ver entrar um homem
chamado Ananias e impondo as mãos sobre ele para que fosse curado. Simultaneamente, Ananias recebeu em
visão a orientação para ir num lugar exato, pois ele estava orando e aguardando resposta. Pensemos uma coisa,
o Senhor Jesus não poderia curar Paulo diretamente? É claro que sim. Ou então, se Judas, o anfitrião de Paulo
fosse um discípulo, e tudo indica que ele o era, não poderia curá-lo através dele? Perfeitamente. Mas por que
Cristo não fez assim? Para que a experiência de Paulo tivesse testemunhas e ele mesmo sempre tivesse aceso
em sua lembrança. Outra coisa é que Cristo deseja usar os vários membros do seu corpo para edificação
espiritual mútua.
2.2. Punha sobre ele a mão... (Atos 9.12)
É importante também notar que, nessa passagem, o Senhor Jesus demonstra que Paulo estava avisado, em
visão, de que o próprio Ananias iria ao seu encontro para curá-lo. E essa cura sucederia mediante a imposição
de mãos de Ananias. O ato de impor às mãos é abençoador, capaz de transferir virtudes que vão além do calor
humano. Na verdade, o poder de Deus é completo em si mesmo e não se faz necessário impor as mãos. Todavia
se torna muito importante e marcante para quem recebe tal imposição. O Senhor Jesus fez isso incontáveis
vezes, e as Escrituras determinam que se imponham as mãos sobre os enfermos e eles serão curados (Mc 16.18;
Atos 4.30).
Jesus age na vida de Saulo através de Ananias, assim como repetidamente realiza sua obra em um irmão por
intermédio de outro irmão.
2.3. Senhor, de muitos ouvi... (Atos 9.13)
Quando Ananias entendeu que se tratava de Saulo, o perseguidor, arguiu o Senhor acerca de seu procedimento.
Os males que tinha causado aos santos através da perseguição em Jerusalém, eram bem nítidos para ele.
Reconhecemos que era uma missão difícil a ser realizada, mas o Senhor disse a Ananias que Paulo já o
aguardava, pois já o tinha visto numa visão, entrando onde estava, e impondo-lhes as mãos, e curando-o de
sua cegueira. Foi importante Ananias ter esse relevante detalhe para que executasse essa missão sem temor,
visto que a fama de Paulo como perseguidor oficial do judaísmo corria entre as colônias judaicas para onde os
cristãos fugiram. Quanto à visão simultânea de Ananias e Paulo, o sentido disso era para que não houvesse
dúvida alguma de que o Senhor estava orquestrando a situação mostrando que era seguro para ambos.
Instintivamente Ananias levanta objeções. A intenção de Lucas não deve ter sido afirmar que Ananias queria
dizer a Jesus: “Para lá não quero ir, tenho medo.” Pelo contrário, o diálogo entre Ananias e seu Senhor trata
do “nome” de Jesus. Ananias alega: “Afinal, esse homem merece transigência e graça?” “E para aqui trouxe
autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.” Também Ananias
percebe que no ataque de Saulo aos cristãos o alvo real é o nome de Jesus. Apenas a partir desse dado a resposta
de Jesus ganha impacto e magnitude: “Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu
nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel.” Precisamente aquele que queria
exterminar o nome de Jesus da terra levará esse nome para dentro do mundo como mais ninguém.
3. A missão cumprida
É interessantíssimo que o Senhor se permite arguir por Ananias e com ele palestra, ainda que brevemente.
Depois de Ananias falar o que pensava demonstrando a necessidade de prudência, as providências para que
tudo saísse perfeitamente em ordem e segurança estavam sendo tomadas naquele momento, em que Paulo
como já foi dito, simultaneamente tinha uma visão acerca do próprio Ananias (Atos 9.15,16).
3.1. Ananias foi encontrar Paulo (Atos 9.17)
Uma vez que tudo se tornara claro para Ananias, ele entendeu que se deveria apressar. Pois Paulo de Tarso
não poderia ficar esperando indefinidamente em casa de Judas. Assim, pôs-se a caminho para achar o endereço
que o Senhor lhe havia mostrado. A narrativa que se segue demonstra diligência, fé e muita alegria de Ananias
ao encontrar a Paulo. Suas palavras são auspiciosas e demonstram conhecimento de tudo o que estava se
passando, pois ele disse, “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me
enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo”.
3.2. Paulo foi batizado (Atos 9.18)
O certo é que Paulo estava deitado ou sentado, de qualquer maneira sua posição indicava estar esperando, ou
pelo menos se recuperando do tratamento de choque recebido da parte do Senhor. O texto não afirma
claramente quem batizou Paulo, mas diz que ele “foi batizado”. É bem provável que tenha sido o próprio
Ananias quem realizou o seu batismo ou outra pessoa próxima. No caso dos judeus, o batismo ocorria
imediatamente, pois eles apenas aceitavam as promessas de Deus reveladas no Antigo Testamento, uma vez
identificando que o homem Jesus era mesmo o Messias, tudo acontecia automaticamente.
3.3. Paulo com outros discípulos (Atos 9.19)
Após o batismo, Paulo se alimenta, pois ele estava afligindo seu corpo físico com o jejum até aquele momento.
Mas também a sua alma sofria por lembrar-se de que, como oficial do Sinédrio, perseguira implacavelmente
inofensivos cristãos tratando-os como bandidos. A comida lhe confortou, Deus lhe perdoou, mas, a partir dali,
usou a sua vida para Deus. Ao que tudo indica, Ananias era um líder local, e ali em Damasco, Paulo pôde
permanecer alguns dias, até que foi à Arábia, ficando por três anos conforme seu pequeno relato autobiográfico
(G11.17).
Com o batismo acaba seu jejum: “Alimentou-se e recuperou as forças.” Podemos crer que para ele essa refeição
também se tornou ao mesmo tempo a celebração da “ceia do Senhor”. Então o “recuperar as forças” era físico
e espiritual, fortalecendo, na unidade de “refeição” e “celebração da ceia do Senhor”, toda a pessoa de Saulo
para o imenso serviço que começaria imediatamente.
Conclusão
Os cuidados básicos desfrutados por Paulo de ser assistido, batizado, usufruindo da convivência com outros
discípulos mais experientes são os mesmos direitos de todo o cristão neófito que entra nas milícias do Senhor
Jesus Cristo. Se isso for ignorado, estar-se-á gerando um cristianismo normal.
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Capítulo 4 - O progresso espiritual do Apóstolo Paulo
Introdução
Depois que Paulo reconfigurou a sua mente através da sua Conversão a Cristo, ele passou a viver de acordo
com as suas novas convicções. Isso evidenciou a profunda transformação que sofreu no caminho de Damasco,
e essa transformação, a cada tempo, tanto mais se evidenciava. Será estudado aqui como se processou o
desenvolvimento espiritual de Paulo.
1. O esforço evangelístico de Paulo
A convivência com os irmãos de Damasco era muito boa, disso ninguém duvida, mas Paulo era uma pessoa
com o temperamento e a vontade de demonstrar gratidão a Deus, e crescer espiritualmente. Sentia a
necessidade de compartilhar tão logo a sua dramática conversão, e quem de fato era Jesus de Nazaré.
1.1. Pregando nas sinagogas (Atos 9.20)
O autor de Atos omite o fato de Paulo ter viajado para Arábia, mas Paulo, ao escrever aos gálatas, informa
que, três anos após a sua conversão, ele foi das regiões da Arábia paia Jerusalém (Gálatas 1.17-18). Em Atos
9.20, Paulo expõe o fato de ter estado em Damasco novamente, conforme maiores detalhes escritos por Lucas
lá estiveram pregando. Fica uma pergunta no ar: Por que teria Paulo ido à Arábia, e o que ficou fazendo
naqueles três anos? Embora não tenhamos detalhes, sabemos que ele ali parou para refletir sobre a sua decisão,
visando-a fortalecer. Todavia é certo que ele procurou falar de Jesus causando algum tipo de problema na
Arábia. Por isso retomou a Damasco, e, aos sábados, vestia-se com os trajes de fariseu, e, indo às sinagogas,
dali pregava acerca de Jesus ressuscitado.
Nisto, porém, Saulo revela-se por inteiro: “E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus.” É próprio de sua natureza
empenhar-se resolutamente. Ao mesmo tempo, porém, ele também entendeu sua conversão da forma correta.
Afinal, desde o início ela não foi simplesmente sua própria salvação e bem-aventurança, mas vocação para o
serviço. E para Paulo esse serviço não era um adendo amargo para a doce salvação recebida. Ele sempre
percebia a profundidade da misericórdia que lhe fora concedida (2 Coríntios 4.1; 1 Timóteo 1.12) justamente
na incumbência do serviço. Por essa razão ele imediatamente se torna o “arauto” de seu Rei. Novamente usa-
se o termo “ser arauto” para “proclamar”. As sinagogas – nas cidades grandes com numerosa população de
judeus havia sempre várias casas de oração judaicas – são o local em que deve soar o grito do arauto para o
Rei de Israel.
O conteúdo de sua proclamação é uma única frase de significado imensurável: “Este é o Filho de Deus.” Pedro
falara aos israelitas acerca do “Servo de Deus”. Paulo, porém, imediatamente vai além. Sua experiência no
encontro com Jesus e o que entendeu sobre Jesus a partir disso fez com que captasse a ligação integral de Jesus
com Deus. De acordo com o entendimento judaico o Messias também podia ser um simples ser humano. Paulo,
porém, viu: o Messias Jesus não se encontrava entre as pessoas, nem mesmo como a maior e mais gloriosa
delas. Ele veio de Deus e subsistia “em forma de Deus” (Filipenses 2.6).
Gálatas 1.17-18. Paulo não temia a consequência integral. Nem subi a Jerusalém para os que já eram
apóstolos antes de mim. O chamado: Subamos a Jerusalém! Estava no sangue de todo judeu devoto, fazendo
os corações bater mais depressa. Contudo o lugar de Paulo não era mais aos pés dos coapóstolos lá na cidade
santa. Ele reconhecia a vantagem cronológica deles, assim como sua dignidade especial (Gálatas 2.2), mas o
próprio Deus lhe havia interditado o caminho em direção da dependência deles na questão da missão aos
gentios.
No presente contexto era importante para ele o fato de ter permanecido longe da instrução dos de Jerusalém.
Mas parti para as regiões da Arábia. Que fez ele ali? Como está no contexto da demonstração de sua
obediência imediata diante de sua incumbência missionária, é provável que pregasse. É provável que por meio
dessa pregação, como em quase todos os lugares de sua atuação, também se tenha tornado malquisto na Arábia
(Atos 9.22 -25; 2Co 11.32,33). Isso dificilmente teria acontecido se ele tivesse permanecido para meditar num
lugar solitário. E voltei, outra vez, para Damasco. Ele diz, outra vez: Portanto, ele já havia entrado na cidade
anteriormente, o que coincide com Atos 9.8-25; 22.11-16; 26.20, e podia pressupor esse conhecimento entre
seus leitores. No entanto, por mais inconstante e fugitivo que ele fosse, evitou Jerusalém. Com a distância
geográfica manteve também uma distância pessoal das demais autoridades. Seu evangelho é independente e
do mesmo valor.
1.2. O espanto dos que o ouviam (Atos 9.21)
Os comentários sobre a conversão de Paulo se tornaram notórios na igreja (Gl 1.23). Era uma enorme surpresa
ouvir Paulo muito bem trajado como fariseu, aos sábados, nas sinagogas de Damasco. Ele era um ótimo orador,
mas ouvi-lo, agora, apresentando o Nazareno morto na cruz, como o Cristo prometido, causava espanto. Afinal,
não era Paulo aquele que antes recebera cartas para prender os dissidentes? Como agora procura convencer
que esse Jesus é o Cristo? Realmente o espanto e a confusão impregnavam a plateia.
Entre os judeus de Damasco formam-se perplexa confusão e consternação, porque Paulo não se deteve em
reflexões teóricas acerca de Jesus, mas “demonstrou que esse é o Messias”. Assim, cada israelita estava sendo
confrontado com a decisão prática. É preciso estar à disposição do Messias de Israel com todo o coração e toda
a vida. Paulo “demonstrou” isso com base na Sagrada Escritura.
Gálatas 1.23. As igrejas da Judéia tinham de Paulo apenas uma ideia restrita como pregador cristão: Ouviam
somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir.
Divulga-se nas igrejas da Judéia a conversão que não era algo comum. Reconhecem uma intervenção do alto,
formulando-o de maneira marcante.
1.3. Seu esforço apologético (Atos 9.22)
Paulo se esforçava para convencer os membros das sinagogas locais de Damasco, quanto à messianidade de
Jesus de Nazaré. E, inicialmente, ele encontrava certa dificuldade, por causa da incredulidade e, possivelmente,
das muitas altercações por parte dos ouvintes mais conservadores. Entretanto, com o passar do tempo,
observamos que Paulo se fortalecia cada vez mais, quer dizer, mais em graça, e mais em argumentação e
persuasão, de maneira que seus ouvintes começaram a ficar confusos quanto a sua opinião original. O ser
humano pode chegar a conhecer a verdade, mas preferir a tradição na qual recebeu dos seus pais, ou mesmo
por uma questão de orgulho se recusar a mudar da opinião que tanto creu, ensinou ou discutiu. Por isso o texto
de Lucas nos diz que “se esforçava muito mais” num esforço apologético.
2. Fugindo de Damasco
Quando se entende que o governante de Damasco era alguém delegado pelo rei Aretas IV, da Arábia, conclui-
se facilmente que a estada de Paulo de Tarso lá na Arábia não foi tão tranquila como se imagina. Sua própria
palavra define como foi: “Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos
damascenos, para me prenderem” (2 Coríntios 11.32). O contexto imediato do que Paulo trata escrevendo aos
coríntios fala das humilhações, perseguições, açoites, fugas, etc., vividas ao longo de seu ministério exatamente
nessa época. Assim, pode-se supor que essa indisposição não foi apenas por causa de seu trabalho em Damasco,
mas na Arábia também.
2.1. Conselho de morte (Atos 9.23,24)
A pregação de Paulo era forte, persuasiva, e cheia de poder. Vendo que Paulo caia na graça de muitos, e que,
com uma pregação convincente, crescia cada vez mais, os religiosos judeus, reunidos em conselho local,
concluíram que nada havia que pudesse ser feito, senão eliminarem Paulo. É importante lembrar que o Príncipe
deste mundo não ficaria de braços cruzados à medida que o seu reino estava sendo saqueado, ele reagiria
tentando corromper ou eliminar o servo de Deus a ele dedicado. Caso não conseguisse, dificultaria ao máximo
para que o obreiro de Cristo desistisse de fazer a obra de Deus.
Atos 9.23 - Decorridos muitos dias, os judeus decidiram de comum acordo matá-lo. Não há maneira para
que homens perversos e violentos, armadores de ciladas e homicidas, sejam homens de Deus; mas era isso que
aqueles “...judeus...”, aqui referidos, diziam ser. Eram os líderes reconhecidos da igreja judaica, visitantes
permanentes do templo de Jerusalém, praticantes constantes das cerimônias e dos ritos legais exarados no
Antigo Testamento, autoridades civis e religiosas, conhecedoras das Escrituras, cidadãos respeitáveis, que os
demais chamavam de “rabinos”. Imaginavam-se pregadores e protetores da revelação divina.
Atos 9.24 - mas Saulo ficou sabendo do plano deles. Dia e noite eles vigiavam as portas da cidade a fim
de matá-lo. Quanto odiavam a Saulo, e quão resolvidos estavam em mata-lo. Porém, nenhum homem de Deus
morre antes do tempo, porquanto os seus dias estão numerados e ordenados, e ele vive cada um deles. E nisso
nos é dado a observar a providência de Deus. Não há de se duvidar que o plano teria sido bem-sucedido, se
Deus não houvesse guardado a Saulo na palma de sua mão, fazendo o plano urdido chegar ao seu
conhecimento, através de meios que desconhecemos, e iluminando-o quanto ao meio de fugir da cidade.
2.2. A fuga de Paulo (Atos 9.25)
Havia um entrosamento muito firme entre Paulo e os discípulos dali de Damasco, e, pelo risco que eles
assumiram em salvá-lo, isso ficou claramente demonstrado. Paulo não era diferente de seu mestre. Sua
influência fazia com que muitos o odiassem, mas também fazia com que vários outros fossem capazes de
arriscar a própria vida por ele (Rm 16.4). Quando Paulo teve conhecimento da estratégia contra sua vida teve
de fugir, mas, qual o porquê de tudo isso? A resposta está no seu trabalho que: incomodava, crescia, e se
fortalecia cada vez mais. Como dizem por aí: “ninguém chuta um cão morto”.
Atos 9.25 - Mas os seus discípulos o levaram de noite e o fizeram descer num cesto, através de uma
abertura na muralha. Paulo, no trecho de II Coríntios 11.33, diz-nos especificamente como essa fuga se
realizou. Foi através de “...janela...” Isso parece subentender que ele foi arriado através de uma janela de uma
casa ou edificação qualquer que havia à beira do muro, ou que essa janela era uma abertura na própria muralha,
de tal modo que essa janela era, ao mesmo tempo, janela do muro e de uma casa contígua. Tais “janelas” têm
sido observadas em tempos modernos, tanto nas muralhas de Damasco como em outras localidades antigas do
oriente; e é evidente que isso é o que está em foco aqui. Pode se comparar isso com o trecho de Js 2.15, pois
foi através de um plano desse que Raabe permitiu que os espias fugissem de Jericó.
Romanos 16.4 - Eles pela minha vida expuseram suas cabeças. E isto não lhes agradeço eu só, mas
também todas as igrejas dos gentios. A expressão “...expuseram suas cabeças...”, se for traduzida
literalmente, dirá: “expuseram seus pescoços”, o que é uma alusão ao machado do verdugo. Pois quando um
homem era executado por decapitação, punha o pescoço sobre o bloco de madeira. Paulo, pois, dá a entender
que, ao servirem juntamente com ele, por serem seus companheiros de luta, Priscila e Áquila, por mais de uma
vez poderiam ter sido mortos em meio às tribulações que assediavam àquele Apóstolo.
“...também todas as igrejas dos gentios...” A questão das ações de graças, em face da dedicação desse casal,
não poderia terminar com Paulo, porquanto todas as igrejas gentílicas (o que talvez indique, especialmente,
aquelas que havia na Ásia Menor) deveriam mostrar-se gratas para com o papel desempenhado por Priscila e
Áquila, no ministério do evangelho naquelas regiões. Priscila e Áquila tinham sido figuras centrais,
instrumentos poderosos nas mãos de Jesus Cristo naqueles territórios. Muitas almas haviam sido conduzidas
aos pés de Cristo, tendo sido também firmadas na doutrina cristã, direta ou indiretamente, por meio deles.
2.3. De Damasco para o mundo (Atos 9.23-24)
Os detalhes da fuga de Paulo são interessantes, o sucesso dela dependeu da cumplicidade e ajuda dos irmãos
dali, observe que ele escapou à noite, pelo muro da cidade, num cesto descido através de uma corda. A partir
de então, o que se sabe é que ele foi para Jerusalém, onde sua vida foi marcada pela atividade evangelizadora
nos anos seguintes. Ainda que, aparentemente em algum momento de sua história, não tenha sido bem-
sucedido, seu exemplo vívido permanece como fonte de inspiração a todos os missionários posteriores.
3. Chegada de Paulo a Jerusalém e a sua partida
Dentre tantos lugares que Paulo poderia ter ido pelo vasto Império Romano, em sua fuga, ele decidiu ir a
Jerusalém. Mas com que interesse? O que fica claro, conforme narrou posteriormente, era que ele tinha como
objetivo primário que era o de ver Pedro (Gálatas 1.18). Todavia, por algum motivo, não o encontrou de
imediato, encontrando apenas dificuldades com alguns irmãos que não tinham certeza da sua genuína
conversão.
3.1. A dificuldade de entrosamento (Atos 9.26)
Para os cristãos de Jerusalém, a conversão de Paulo não passava de “fachada” para tentar aprisionar depois.
Aliás, a sua conversão, de certa maneira, era algo recente e os traumas relacionados à pessoa dele eram
enormes. Então, Paulo procurava se ajuntar a eles, porém eles com medo o evitavam. Ele já havia sido
beneficiado pela oração de Estevão, pela acolhida calorosa e perdoadora de Ananias, mas faltava alguém que
lhe servisse de conexão para ajudá-lo quanto à dificuldade de entrosamento. Havia um motivo sério que
impedia as pessoas dele se aproximar, posto que muitas feridas ainda estivessem abertas na vida de algumas
famílias cristãs de Jerusalém. Entretanto, é difícil entender como em alguns lugares, certos novos convertidos
e crentes, vindos de outras cidades distantes não conseguem entrosamento, porque alguns grupos da igreja
local se cristalizam em torno de si impedindo a integração de novatos ou recém-chegados.
Atos 9.26 - Quando chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo
dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo.
“Quando chegou a Jerusalém…” O próprio Paulo afirmou em Gálatas 1.18-20 sobre sua primeira permanência
em Jerusalém. Ainda que tenham passado “muitos” dias até o atentado e a fuga de Damasco, eles perfazem
aproximadamente “três anos”, como Paulo escreve em Gálatas 1.18. Porém Lucas, que em muitos pontos de
seu livro deixa de apresentar em detalhe tudo o que indubitavelmente aconteceu, não menciona o que nos
informa o próprio Paulo: “Parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco” (Gl 1.17). Saulo
não permaneceu ininterruptamente em Damasco, mas de lá foi para a “Arábia”. Essa região não era a Arábia
de hoje, que representa apenas um remanescente do grande reino dos nabateus, mas que no tempo dos apóstolos
se estendia até Damasco, tendo como capital Petra (a antiga Edom).
3.2. Barnabé o apresenta aos apóstolos (Atos 9.27-28)
Barnabé era um líder de elevada estatura espiritual “que insistia em crer no melhor dos outros”. Era certo que
ele evitou Paulo quando ainda era um perseguidor, mas agora, ao saber que se convertera, deixou aflorar as
boas lembranças de um conhecimento anterior, de um tempo possível em que estudaram juntos. É certo que
ele averiguou a história recente da conversão e tomou conhecimento da palavra profética de Ananias: de que
Paulo era um vaso escolhido para anunciar o nome do Senhor. Diante de tantas evidências, ou seja, de como
Paulo vira o Senhor e lhe falara da sua disposição em anunciar ousadamente no nome do Senhor, Barnabé fez
a ponte, servindo de conexão entre os apóstolos e Paulo. Foi a partir daí que Paulo passou andar com eles em
Jerusalém, entrando e saindo.
Atos 9.27-28 - Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor,
que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus. Assim, Saulo
ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor.
O informe pessoal de Paulo sobre sua permanência em Jerusalém leva a supor, a princípio, apenas uma breve
e tranquila visita a Pedro. E, com base em Gálatas 1.19, Paulo viu na ocasião somente a Pedro e o irmão do
Senhor, Tiago. É o que ele assevera expressamente. Do mesmo modo, porém, a breve nota da carta aos Gálatas,
porque no contexto da carta o interesse de Paulo se concentra numa única coisa, que é explicitar toda sua
autonomia e independência em relação aos primeiros apóstolos.
É compreensível que mesmo depois dos três anos de trabalho em Damasco e na Arábia houvesse suspeitas e
rejeição entre os cristãos de Jerusalém contra o perseguidor de outrora. Haviam sofrido demais por meio dele.
Não é explicado por que Barnabé o avaliou de outra maneira e foi tomado de plena confiança nele. No entanto,
o que é importante para os crentes relembrar, é que ocasionalmente, a vida do crente é inteiramente nova.
Existe pessoas que como Saulo, transforma-se em nova criatura. Ai do homem que se posta no caminho deles
e que, devido o seu passado, se recusam a permiti-lhes o direito de serem transformados. Muito melhor é entrar
em jogo com um homem e perder, do que perder um homem por recusar dar-lhe uma chance!
3.3. Seu retorno a Tarso (Atos 9.29-31)
Paulo não se acomodava a rotinas, era ousado e como tal anunciava o nome de Jesus. Essa coragem o colocava
constantemente em risco, principalmente quando decidiu falar e disputar contra os helenistas, os judeus de fala
grega a quem Estevão antes tivera também testemunhando de Jesus. Quando os irmãos souberam que os
helenistas procuravam matá-lo, aí decidiram o aconselhar deixar Jerusalém e o acompanharam até Cesaréia
onde havia um porto construído por Herodes. Então partiu Paulo para Tarso, sua terra natal, e os irmãos
puderam respirar aliviados, pois senão ele teria o mesmo destino de Estevão.
Conclusão
O progresso espiritual de uma pessoa é evidenciado pela sua forma de proceder. Qualquer pessoa pode
experimentar progresso ou retrocesso espiritual. Paulo demonstrou seu progresso de algumas maneiras como
foi visto nesta lição. Que possamos seguir suas pegadas corajosas, para continuar nosso progresso espiritual.
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Capítulo 5 - Paulo e Barnabé, aliados na obra do Senhor
Introdução
Quando Paulo retornou à sua cidade natal (Tarso) pareceu um desfecho um tanto melancólico dado por Lucas.
Mas aí ele passa a narrar vividamente os atos de Pedro, para depois retornar à trajetória de Paulo como um
assistente de talento. Aqui estudaremos um pouco do perfil de Paulo que atendendo um convite para auxiliar
Barnabé, teve um contínuo progresso espiritual e ministerial em Antioquia.
1. Paulo, um companheiro em potencial
Aquele era um momento surpreendente de crescimento e multiplicação de conversões nas regiões da Judéia,
Galileia e Samaria, e os irmãos que saíram dispersos por causa da perseguição iam anunciando a Palavra por
onde passavam, de maneira que muitos judeus se convertiam cada vez mais ao Senhor.
1.1. Antioquia, uma igreja crescente (Atos 11.20,21)
Grande número de pessoas se converteu ao Senhor em Antioquia, mas o fato de ser uma igreja fora dos termos
de Israel e mista, ainda era algo complicado para os apóstolos em Jerusalém. O motivo era preconceito. Por
esse motivo, Pedro, o primeiro a entrar na casa de um centurião romano e pregar a salvação em Cristo teve que
se explicar por entrar na residência de um pagão incircunciso, ainda que piedoso e dirigido por revelação divina
(Atos 11.4-18). É claro que essa notícia se espalhou na comunidade dos fiéis a Cristo, estimulando muitos a
falarem de Jesus aos não judeus também. A igreja de Antioquia cresceu de tal maneira que alcançou mais
expressão do que Jerusalém com o passar do tempo.
Quando os cristãos foram dispersos durante a perseguição de Paulo contra a Igreja (Atos 8:11), alguns
chegaram até Antioquia, a capital da Síria, a quase 500 quilômetros ao norte de Jerusalém (é importante não
confundir essa cidade com Antioquia da Pisídia; ver Atos 13:14). Havia pelo menos dezesseis cidades
chamadas Antioquia no mundo antigo, mas esta era uma das maiores.
Com cerca de meio milhão de habitantes, Antioquia era a terceira maior cidade do império romano, depois de
Roma e Alexandria. Suas construções grandiosas contribuíram para que fosse chamada de "Antioquia, a
Cidade Dourada, Rainha do Oriente". Sua rua principal tinha mais de 7 quilômetros de extensão; era calçada
de mármore e ladeada de colunas desse mesmo material. Naquela época, era a única cidade do mundo antigo
com iluminação noturna.
Porto movimentado e centro de luxo e de cultura, Antioquia atraía pessoas de todo tipo, inclusive oficiais
romanos aposentados e abastados que passavam os dias conversando nas casas de banho ou apostando nas
corridas. Com sua enorme população cosmopolita e seu grande poder político e comercial, a cidade oferecia à
igreja oportunidades extraordinárias de evangelismo.
Antioquia era uma cidade perversa, superada apenas, talvez, pela cidade de Corinto. Apesar de todas as
divindades sírias, gregas e romanas que os cidadãos de Antioquia adoravam, os santuários locais eram
consagrados a Dafne, cuja veneração incluía práticas imorais. Lá, onde todos os deuses da Antiguidade eram
adorados, era preciso que Cristo fosse exaltado".
Quando os cristãos perseguidos chegaram a Antioquia, não se sentiram nem um pouco intimidados pela
grandiosidade das construções ou pelo orgulho dos cidadãos. Tinham a Palavra de Deus em seus lábios e a
mão de Deus sobre seu testemunho, e muitos pecadores arrependeram-se e creram. Foi uma obra espetacular
da graça maravilhosa de Deus.
1.2. Barnabé o enviado (Atos 11.22-24)
Quando aquele fenômeno de crescimento da igreja em Antioquia chegou ao conhecimento da liderança de
Jerusalém, a igreja enviou Barnabé com a finalidade de legitimar Antioquia. Barnabé era homem generoso,
benquisto entre os apóstolos, e de grande reputação na igreja. A pessoa perfeita para aquele momento. Eusébio
de Cesaréia afirma que Barnabé foi um dos setenta discípulos do Senhor Jesus (H. Eclesiástica, L.l Cap.12,1).
Em virtude do seu perfil tolerante e empreendedor, Barnabé trabalhou de modo tão excelente que a comunidade
dos crentes cresceu com muita qualidade (Atos 11.24). Porém ele observou que Paulo era um companheiro
perfeito para aquele trabalho.
Os líderes da igreja em Jerusalém tinham a responsabilidade de "pastorear" o rebanho disperso, que passou a
incluir congregações gentias de lugares distantes como a Síria. Ao que parece, os apóstolos ministravam fora
de Jerusalém naquela ocasião, de modo que os presbíteros enviaram Barnabé a Antioquia, a fim de descobrir
o que se passava entre os gentios. Foi uma escolha sábia, pois Barnabé fez jus ao seu nome, "filho de exortação"
(Atos 4:36).
Atos 11:24 apresenta um "perfil espiritual" de Barnabé que nos parece ser um exemplo de vida cristã a ser
imitado. Era um homem justo, que obedecia à Palavra em sua vida diária e, portanto, de caráter irrepreensível.
Era cheio do Espírito, o que explica a eficácia de seu ministério. O fato de ser um homem de fé fica evidente
na maneira de exortar a igreja e, mais tarde, também de exortar Saulo. Os novos cristãos e as novas igrejas
precisam de pessoas como Barnabé para encorajá-los em seu crescimento e ministério.
De que maneira Barnabé foi um estímulo a esses cristãos gentios? Em primeiro lugar, se regozijou com o que
viu. Adorar a Deus com gentios foi uma experiência nova para ele, mas abordou essa situação com uma atitude
positiva, sem procurar Coisas para criticar. Aquele ministério era obra de Deus, e Barnabé agradeceu pela
graça divina.
Ao ensinar a Palavra de Deus ao povo, enfatizou a devoção do coração. A expressão "permanecer no Senhor"
não significa que deviam "manter-se salvos". A mesma graça que nos salvou também nos guarda (1 Co 15:10;
Hebreus 13:9). Essa expressão traz à memória a admoestação de Josué a Israel em Josué 22:5. Permanecer no
Senhor é amar ao Senhor, andar em seus caminhos, obedecer à sua Palavra e servi-lo de todo o coração.
Significa que pertencemos somente a ele e que cultivamos nossa devoção a ele. "Ninguém pode servir a dois
senhores" (Mateus 6:24).
O trabalho de Barnabé em Antioquia teve dois resultados maravilhosos. Em primeiro lugar, o testemunho da
igreja causou grande impacto na cidade, de modo que "muita gente se uniu ao Senhor" (Atos 11:24). Quando
os cristãos estão fundamentados na Palavra, seu testemunho aos perdidos é vivo e eficaz e há um equilíbrio
dentro da igreja entre a edificação e o evangelismo, entre o ensinamento e o testemunho.
1.3. Paulo é convidado para trabalhar (Atos 11.25)
Barnabé tinha uma convicção de que Paulo, ao ouvir o relato das grandezas de Deus em Antioquia, e a sua
responsabilidade pastoral ali naquela cidade, interessar-se-ia em acompanhá-lo. Barnabé partiu em busca de
Paulo, até que, finalmente, o achou. Diante do relato de Barnabé, Paulo aceitou prontamente ir com ele para
Antioquia a fim de auxiliá-lo. Aí vemos o verdadeiro coração de um servo de Deus. Paulo aceitou ficar em
Tarso da Cilicia trabalhando com tendas, ofício que aprendera quando mais novo, mas diante da necessidade,
dispôs-se a trabalhar em Antioquia. Parece incrível, mas todas as grandes personalidades de destaque nas
páginas sagradas estavam ocupadas quando foram chamadas. Um chamado divino deve sempre ter prioridade
na vida de quem serve a Deus.
O crescimento da igreja criou a necessidade de mais pessoas para ajudar, de modo que Barnabé foi até Tarso
e chamou Saulo. Mas por que ir a um lugar tão distante só para encontrar um assistente? Por que não pedir que
a igreja de Jerusalém enviasse Nicolau, um diácono nascido em Antioquia? (Atos 6:5). Porque Barnabé sabia
que Deus havia incumbido Saulo de ministrar aos gentios (Atos 9:15; 22:21; 26:27). Convém lembrar que
Barnabé fez amizade com Saulo em Jerusalém (Atos 9:26, 27) e, sem dúvida, os dois conversavam sobre o
chamado especial que Saulo havia recebido de Deus.
2. O trabalho de Barnabé e Paulo
A igreja em Antioquia principiou com elementos judeus, depois helénicos, e por fim gentios. Essa massa de
pessoas vindas de diferentes lugares com culturas diferentes, no entanto, tinham uma coisa em comum, o fato
de crerem em Jesus Cristo. A fé em Jesus foi o agente agregador que os reuniu eliminando vantajosamente
todas as diferenças e possibilitando a realização posterior da obra missionária no Império Romano.
2.1. A prioridade no ensino (Atos 11.26)
Quando pensamos na integração de Paulo junto aos irmãos de Antioquia, lembra que tudo foi diferente de
Damasco e Jerusalém por causa da aceitação de seu trabalho junto a Barnabé. A princípio, ambos laboraram
firmemente no ensino durante um ano inteiro; eles foram sábios o suficiente para realizarem um trabalho
pastoral e missionário sem negligenciar a instrução. Esse cuidado foi tão decisivo e salutar para aquela igreja
que os fiéis se esforçaram para se parecer cada vez mais com Jesus, o Cristo. Note que por causa do ensino
acompanhado de bom testemunho, pela primeira vez, os crentes em Jesus foram chamados cristãos (Atos
11.26; Mateus 22.29; Pv 18.15).
O que Barnabé fez por Saulo precisa ser colocado em prática nas igrejas de hoje. Os cristãos maduros precisam
chamar outros membros do corpo e encorajá-los em seu serviço ao Senhor. Uma das políticas de D L. Moody
era dar alguma incumbência a todos os recém-convertidos. A princípio, poderia ser alguma tarefa simples,
como distribuir hinários ou receber as pessoas na entrada da igreja, mas cada convertido deveria ter uma
ocupação. Como mencionamos anteriormente, Moody costumava dizer: "É melhor colocar dez homens para
trabalhar do que fazer o serviço de dez homens”. Muitos dos "assistentes" de Moody tornaram-se excelentes
obreiros cristãos trabalhando de modo independente e multiplicando o testemunho da Palavra.
Em Antioquia, os discípulos de Jesus Cristo foram chamados pela primeira vez de cristãos. O sufixo em latim
correspondente ao nosso “ão” significa "pertencente ao partido de". Como forma de zombaria, os cidadãos de
Antioquia juntaram o sufixo em latim ao nome grego "Cristo" (N. do T.: do grego Christós - o que foi ungido),
resultando na designação cristão. O termo aparece apenas três vezes no Novo Testamento: em Atos 11:26;
26:28 e 1 Pedro 4:16.
Infelizmente, a palavra “cristão” perdeu muito de seu significado ao longo dos séculos e não quer dizer mais
"aquele que deixou o pecado, creu em Jesus Cristo e recebeu a salvação pela graça" (Atos 11:21-23). Muita
gente que não nasceu de novo se considera "cristão" simplesmente porque afirma não ser "pagão". Afinal,
participa de uma igreja, frequenta os cultos com certa regularidade e, de vez em quando, até contribui para o
trabalho da igreja! Mas é preciso mais do que isso para o pecador tornar-se filho de Deus. É preciso
arrependimento do pecado e fé em Jesus Cristo, que morreu por nossos pecados na cruz e ressuscitou para nos
dar vida eterna.
Os seguidores de Cristo na Igreja primitiva sofreram por serem cristãos (1 Pe 4:16).
2.2. Proveram socorro aos necessitados (Atos 11.28-29)
Como o cenário político era muito inconstante, as crises assolavam facilmente, somado às catástrofes naturais
como em nossos dias, isso por si só gerava muitos necessitados de pão no mundo afora. Todavia, nesses dias,
em que Barnabé e Paulo estavam em Antioquia, desceu de Jerusalém uma comitiva de profetas, não se sabe o
propósito exato deles nessa visita, mas a fama do crescimento da igreja em Antioquia contribuiu decisivamente
para isso (Atos 11.26). O exercício ministerial de profeta era um ofício comum naqueles dias que contribuía
uniformemente para o crescimento da igreja, junto com os apóstolos. E um daqueles profetas vindo com a
comitiva de Jerusalém, por nome Ágabo, anunciou uma fome que se abateria por sobre todo o mundo (Atos
11.27), “e isso aconteceu no tempo de Cláudio César”.
O Espírito disse a Ágabo (ver Atos 21:10, 11) que logo haveria uma grande fome, o que de fato ocorreu no
reinado de Cláudio César (41 - 54 d.C.), quando as colheitas foram escassas durante vários anos. Os escritores
da Antiguidade citam pelo menos quatro grandes fomes: duas em Roma, uma na Grécia e outra na Judéia. A
escassez de alimentos na Judéia foi especialmente grave e, de acordo com o historiador judeu Josefo, muitas
pessoas morreram por falta de recursos para comprar a pouca comida que havia disponível.
Ágabo entregou sua mensagem aos cristãos de Antioquia, e eles resolveram ajudar seus irmãos cristãos da
Judéia. A finalidade de uma profecia genuína não é de satisfazer nossa curiosidade sobre o futuro, mas sim de
encorajar nosso coração a fazer a vontade de Deus. Os cristãos não podiam impedir a vinda da fome, mas
podiam mandar ajuda aos necessitados.
Esta passagem ilustra um princípio espiritual importante: se as pessoas foram uma bênção espiritual para nós,
devemos ministrar-lhes por meio de nossos recursos materiais. "Mas aquele que está sendo instruído na palavra
faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui" (Colossenses 6:6). Os cristãos de Jerusalém
haviam levado o evangelho a Antioquia. Enviaram Barnabé para exortar os recém-convertidos. Nada mais
certo do que os gentios de Antioquia retribuírem e enviarem a ajuda material de que seus irmãos e irmãs na
Judéia precisavam. Alguns anos depois, Saulo recolheria uma oferta parecida das igrejas gentias e a levaria
aos cristãos de Jerusalém (Atos 24:17); ver também Rm 15:23-28).
É importante observar que havia ocorrido uma mudança na igreja de Jerusalém. Antes, ninguém da igreja
precisava de coisa alguma (Atos 4:34), nem era necessário pedir a ajuda de outros. Aqueles primeiros anos
foram como "o Paraíso na terra", enquanto Deus abençoava seu povo ricamente e os usava para testemunhar à
nação incrédula. Foram "tempos de refrigério" do Senhor (Atos 3:20). À medida que a mensagem passou dos
judeus para os samaritanos e gentios, o "programa de partilha" de Jerusalém foi desaparecendo, e as coisas
voltaram ao normal.
O parâmetro bíblico para a oferta nos dias de hoje não é Atos 2:44, 45 e 4:31-35, mas sim Atos 11:29: "cada
um conforme as suas posses". Os ensinamentos de Paulo em 2 Coríntios 8 e 9 seguem esse parâmetro. A prática
do "comunismo cristão" só se deu em Jerusalém como medida temporária, enquanto o evangelho era pregado
"primeiro aos judeus". Como o cuidado de Deus pelo povo de Israel no deserto, foi uma demonstração prática
das bênçãos que Deus concederia, caso a nação se arrependesse e cresse.
2.3. Representantes de Antioquia (Atos 11.30)
É muito interessante que os discípulos resolveram enviar suprimentos aos irmãos que habitavam na Judéia
através de seus representantes legítimos, a saber, Barnabé e Paulo. Eles receberam a palavra profética, mas
deliberaram entre si cooperar, a fim de mitigar a fome dos irmãos na Judéia. Para ambos os líderes restou a
alternativa feliz de representá-los conduzindo o donativo que demonstrava carinho e gratidão aos irmãos de lá.
Através desse fato, aprende-se que nem toda a iniciativa deve começar exclusivamente com a liderança, mas
esta pode ser conduzida a organizar, enviar ou mesmo representar a assembleia local dos crentes numa obra
social.
O fato de a igreja escolher Barnabé e Saulo para levar a oferta a Jerusalém mostra sua confiança neles. Esses
dois homens trabalhavam juntos no ensino da Palavra e uniram esforços no ministério prático de assistência
aos cristãos necessitados de Jerusalém. Por certo, também ministraram a Palavra pelo caminho, ao percorrerem
a longa jornada de Antioquia a Jerusalém. Em pouco tempo, o Espírito levaria esses dois amigos a se unirem
para levar o evangelho aos gentios de outras terras (Atos 13:1 ss); ainda percorreriam muitos quilômetros
juntos.
Essa experiência dos cristãos judeus de receber a ajuda dos gentios contribuiu para que desenvolvessem uma
atitude de humildade? Talvez. Mas também foi uma demonstração belíssima de amor e um testemunho
maravilhoso da união da Igreja. Como disse Sir Winston Churchill “Sobrevivemos com o que recebemos por
nosso trabalho, mas verdadeiramente vivemos de acordo com o que contribuímos”.
3. O retorno da missão representativa
Barnabé e Paulo provaram mutuamente ser bons parceiros na seara do Senhor. Barnabé estava satisfeito por
ter buscado Paulo como companheiro na missão pastoral em Antioquia. E Paulo, por sua vez, estava
demonstrando ser um assistente de talento ao lado de Barnabé, sempre dentro de suas expectativas.
3.1. A Palavra crescia e multiplicava-se (Atos 12.24)
O escritor de Atos nos dá uma nota do grande crescimento da obra do Senhor não apenas em Antioquia da
Síria, mas também nas regiões da Judéia. Antioquia alcançou um momento de crescimento e de multiplicação
por todo seu termo. Na verdade, a perseguição contra os cristãos os forçou a se espalharem, aumentou o seu
fervor e a disposição em anunciar as boas novas, o que, finalmente, contribuiu para aumentá-la. Embora pareça
um assunto solto do autor, Lucas, ao dar uma visão rápida do que estava acontecendo, estava preparando o
leitor para saber do movimento missionário que já estava por florescer envolvendo os dois campeões, Barnabé
e Paulo. Parece que, às vezes, toma-se necessário um pouco de perseguição para que se chegue ao ponto certo
em que Deus possa usar o homem. José entendeu isso perfeitamente depois de trabalhado por Deus (Gn 45.7,8).
A Igreja primitiva não tinha qualquer influência política nem amigos em altos escalões para "mexer os
pauzinhos" por eles. Em vez disso, se dirigiam ao trono mais elevado de todos, o trono da graça. Os primeiros
cristãos eram um povo de oração, pois sabiam que Deus poderia resolver seus problemas. O trono glorioso de
Deus era muito maior do que o trono de Herodes, o exército celestial de Deus poderia derrotar os frágeis
soldados de Herodes a qualquer momento! Não precisavam pagar subornos para conseguir que se fizesse
justiça. Simplesmente levavam seu pleito à Suprema Corte e o entregavam ao Senhor! Qual foi o resultado de
tudo isso? “A palavra do Senhor crescia e se multiplicava” (Atos 12:24). Trata-se de mais um dos resumos ou
"relatórios de progresso" de Lucas, dos quais o primeiro se encontra em Atos 6:7 (ver 9:31; 16:5; 19:20; 28:31).
Lucas esta cumprindo o propósito de seu livro ao mostrar como, a partir de suas origens modestas em
Jerusalém, a Igreja espalhou-se por todo o mundo romano. Que grande estímulo para nós hoje! No início de
Atos 12, Herodes parecia no controle, e tudo indicava que a Igreja perdia a batalha. Mas, no final do capítulo
Herodes está morto, enquanto a Igreja está bem viva e crescendo rapidamente! Era uma Igreja que orava, por
isso foi bem-sucedida.
Quando estava em dificuldades, a missionária Isobel Kuhn orava: "Se este obstáculo vem de ti, Senhor, eu o
aceito; mas, se vem de Satanás, eu o rejeito e também a todas as suas obras em nome do Calvário!" E Alan
Redpath costuma dizer: "Vamos manter a cabeça erguida e os joelhos dobrados - a vitória está do nosso lado!"
3.2. Retornaram acompanhados (Atos 12.25)
Mesmo com o enorme crescimento e multiplicação da Igreja, a situação não era tranquila em Jerusalém e nos
arredores para os fiéis, pois Herodes Agripa I, neto de Herodes, o Grande, reinava e procurava agradar aos
judeus observando os seus costumes e perseguindo os cristãos. Tiago, filho de Zebedeu, foi executado sob suas
ordens e Pedro escapou da prisão sobrenaturalmente por intercessão da Igreja. Na fuga, Pedro se dirigiu à casa
de Maria, mãe de João Marcos, onde muitos irmãos estavam orando. Ao que tudo indica, ao levar os donativos
Paulo e Barnabé aproveitaram para agregar João Marcos entre eles (Atos 12.25; 13.5). João Marcos trouxe
uma vitalidade a mais e pôde estar entre os notáveis pioneiros do Evangelho, tais como Pedro, Barnabé e Paulo.
3.3. Retorno com um devocional intensificado
Quando Barnabé e Paulo chegaram de viagem, evidentemente eles apresentaram o novo companheiro à Igreja
de Antioquia, João Marcos (Atos 13.5). Após o retomo de Barnabé e Paulo, verifica-se uma intensificação na
busca a Deus com orações e jejuns da liderança da Igreja. O Espírito Santo é o principal responsável por essa
fome de Deus e pela sede do estabelecimento de sua vontade na terra gerado nos crentes. É claro que a viagem
cooperou para isso, mas Deus sempre esteve por trás de tudo o que acontecia naquele momento. Devemos
entender que, quando o próprio Deus quer estabelecer mudanças, elevar a Igreja local a patamares espirituais
mais profundos, ele vai usar aqueles que estão disponíveis, mais acessíveis ao seu agir (Jeremias 1.5-9).
Conclusão
Percebemos, ao longo desta lição, que a figura de Paulo, quando veio de Tarso para Antioquia, não apareceu
muito. Senão ensinando a Igreja junto com Barnabé e, evidentemente, com outros mestres locais. Paulo era
um assistente de valor, mas que reconhecia a sua posição na Igreja e honrava seu colega que lhe dera tamanho
privilégio ao convidá-lo como assistente direto. Paulo soube aproveitar as oportunidades que lhe davam.
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