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prática de direção não vertical que confere ao ator e demais criadores, o poder de decisão
sobre o seu próprio trabalho. Ao mesmo tempo, engaja os artistas envolvidos no desafio de
justapor os elementos variados em cena. A Composição, nessa proposta de trabalho, funciona
como um ato de escritura em grupo, no tempo e no espaço, com o uso da linguagem teatral.
Sua finalidade é a criação de obras de caráter original, ou oriundas de uma obra referência.
Sua prática, resumidamente, compreende, a designação de tarefas relacionadas a temática a
ser abordada que devem ser resolvidas pelos artistas envolvidos. É importante destacar que as
tarefas funcionam como um problema que precisam de uma resolução. Essa metodologia de
criação possibilita a assimilação prática dos materiais e ideias surgidas nas sessões de
discussão e práticas dos Viewpoints. Simultaneamente, dá direcionamento artístico ao
processo de criação.
Enquanto conteúdo, a Composição trabalho com um conjunto de possibilidades a serem
estruturadas pelos atuantes, de modo a criação seja um processo coletivo, por isso, é um
espaço para esboçar ideias rapidamente e mostra-las cenicamente, enquanto ações concretas.
Enquanto premissa, a Composição encoraja o artista a tomar decisões, a realizar
escolhas sem muita elaboração prévia, ao mesmo tempo, acentua o risco de agir
impulsionado, principalmente, pela intuição. O objetivo é minimizar o compromisso com a
elaboração de um resultado artístico motivado pela necessidade de significação.
A experimentação das proposições cênicas elaboradas, tarefas/problemas, resulta na
estruturação do conjunto da obra, resultado alcançado por meio de relações horizontais que,
pela ausência de um referencial de poder centralizador, na mão do encenador, confere à
metodologia, um caráter auto coordenado e colaborativo. Contido, continua cabendo ao
diretor, a função de mesurar parâmetros para o trabalho dos atuantes, assim como as
condições em que esses artistas estabelecem suas relações, ou seja, o encenador é responsável
pela superestrutura onde os criadores irão agir e organizar o resultado final do conjunto de
ações.
Na prática, a Composição se dá a partir das soluções encontradas pelos participantes
para as tarefas ao longo do processo criativo. Soluções rápidas resultantes do conjunto de
negociações entre os diferentes pontos de vista singulares, cuja base é a ação prática e
intuitiva. O trabalho compositivo tem início com uma estrutura simples que vai ganhando em
complexidade, à medida que as colaborações acontecem e as soluções são encontradas. O
processo, ao mesmo tempo, sugere as questões e as maneiras de resolvê-la. Dinâmica que está
diretamente relacionada ao entendimento que os criadores têm do que está sendo proposto.
Esta deve ser encarada como provocação e o participante deve deixar-se sentir instigado pelo
OLIVEIRA, Joevan.
desejo de investigar pela ação. Por isso, não deve haver muito tempo para elaborações
mentais, o objetivo é resolver o problema na prática.
Alguns procedimentos podem ser destacados no processo de composição que orientam a
elaboração das ações no espaço tempo:
Montagem é o procedimento que se relaciona ao modo articulação dos elementos a
serem explorados, ou seja, se por justaposição, sobreposição, contraste, ritmo, alteração da
linha de ação, seja ela linear ou não, por exemplo.
Interpretação que pode ser descritiva ou expressiva e trata da perspectiva de abordagem
do material. Se a interpretação for descritiva, é reforçado o caráter figurativo, se for
expressivo é minimizado o caráter figurativo. Por exemplo, se o tema a ser trabalhado for um
casal que se separa, na perspectiva descritiva, um dos atores poderia pegar a sua mala e dar
adeus a quem ficou. Na perspectiva expressiva, os atores poderiam explorar uma caminhada
de costas em câmera lenta.
Jo-Há-Kyu, é um padrão rítmico advindo da tradição Zeami, pelo qual começo, meio e
fim podem ser explorados segundo o padrão, resistência - ruptura - aceleração em diferentes
níveis de complexidade. Ele é utilizado na estruturação da ação, do gesto, dos movimentos, da
intenção da cena, do roteiro como um todo.
No processo de composição, é importante que os criadores levem o público em
consideração, à medida que o espetáculo deve funcionar como uma grande viagem. Nessa
perspectiva o processo de composição pode ser entendido como a forma de relacionamento do
diretor com o público. Anne Bogart inicia o processo de criação com a busca de ideias que
ajudem a identificar o tema. Este último, durante todo o processo vai sendo analisado,
problematizado, criticado, refinado e melhor definido, de acordo com as soluções práticas que
forem sendo encontradas a cada nova questão surgida. Porque esse material, enquanto esboço,
pode ou não, ser levado para o espetáculo, criando uma relação dinâmica e processual de auto
gerencia. Do material e ideias pesquisadas deve surgir a questão inicial e motivadora do
processo, essa deve ser potente o suficiente para seduzir e contaminar toda a equipe. Nesse
momento, deve-se identificar o que Bogart chama de âncora, pessoa ou evento que servira de
veículo para a questão, assim como para a elaboração da estrutura inicial. Essa estrutura será o
esqueleto onde as tarefas serão propostas e solucionadas, aumentando assim, seu grau de
complexidade. As discussões sobre os materiais iniciais são feitas por meio de criação de
pontes entre eles. A sugestão é que eles sejam apresentados numa lista do que se sabe e do
que não se sabe sobre o projeto seja feita a identificar os pontos de problematização. Nesses
pontos, Bogart aplica o que ela chama de pensamento lateral, onde todos os criadores
OLIVEIRA, Joevan.
empreendidos por pessoas que tiveram coragem de fazer escolhas, o teatro de Anne Bogart
chama a tomada de posição num mundo sem referencias estáveis.