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CTCC: CENTRO TEOLÓGICO CRISTÃO DO CEARÁ.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA: UM ESTUDO INTRODUTÓRIO DAS DOUTRINAS


BÍBLICAS.

ENDERSON SANTOS E FLÁVIO FERREIRA.

FORTALEZA
2016
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................3
2. DEUS E SEU SER, OU, TEONTOLOGIA.................................................................3
2.1. Os nomes de Deus no A.T. e no N.T.................................................................4
2.2. A Trindade.........................................................................................................6
2.2.1. Sendo UM só Deus apesar de TRÊS pessoas distintas.........................................7
2.2.2. Sendo TRÊS pessoas distintas apesar de UM só Deus.........................................8
2.2.3. Cada pessoa é plenamente Deus............................................................................9
2.2.4. Um conceito já existente no A.T..........................................................................11
2.2.5. A Trindade no N.T................................................................................................12
2.2.6. Uma palavra de cautela, mas também de consolo..............................................14
2.3. Os atributos de Deus e sua relação com seu Ser...........................................17
2.4. O que faz parte do Ser de Deus, mas nós não podemos arrazoar com a
nossa própria experiência (incomunicáveis)..............................................................18
2.5. O que faz parte do Ser de Deus e nós podemos arrazoar com a nossa
própria experiência (comunicáveis)...........................................................................20
3. A DOUTRINA SOBRE CRISTO, OU, CRISTOLOGIA........................................23
3.1. A cristologia e sua inevitável relação com a antropologia bíblica e a
hamartiologia...............................................................................................................23
3.2. A pessoa de Cristo: plenamente Deus e plenamente homem (Rm. 9:5; Fp.
2:7-8).............................................................................................................................23
3.2.1. A divindade de Jesus.............................................................................................24
3.2.2. A humanidade de Jesus........................................................................................26
3.3. Era o Anjo do Senhor Cristo pé-encarnado?................................................27
3.4. Jesus é o Kýrios................................................................................................29
3.5. Os nomes e os títulos de Jesus........................................................................30
4. A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO, OU, PNEUMATOLOGIA.....................33
4.1. A pessoa do Espírito Santo.............................................................................33
4.2. O Espírito Santo no A.T..................................................................................34
4.3. O Espírito Santo no N.T..................................................................................37
4.4. Os atributos divinos do Espírito Santo..........................................................40
4.5. Os nomes do Espírito Santo............................................................................42
4.6. O Espírito Santo e o indivíduo: “fruto”........................................................45
4.7. O Espírito Santo e o coletivo: “dons”............................................................46
4.8. A relação entre dons e talentos naturais........................................................49
4.9. O batismo do Espírito Santo...........................................................................50
5. O HOMEM, OU, ANTROPOLOGIA BÍBLICA.....................................................51
5.1. Porque a humanidade é representada pela palavra homem?.....................51
5.2. O homem foi criado pela graça, o amor e para a glória de Deus (Is. 43:7;
Ef. 1:12; 1Co. 10:31)...................................................................................................52
5.3. O homem como imagem e semelhança de Deus (Gn. 1:26-27; 9:6; Tg. 3:9;
Rm. 8:29; 1Co. 15:49).................................................................................................52
5.4. O homem e as partes que o compõe...............................................................53
5.5. O ser humano como homem e mulher...........................................................54
5.6. Criados sem pecados, mas ainda limitados...................................................56
6. CONCLUSÃO.............................................................................................................56
7. BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................56
3

1. INTRODUÇÃO.
Por teologia sistemática entendemos que seja a divisão da teologia em sistemas que
explicam suas várias áreas. Por exemplo, muitos livros da Bíblia dão informações sobre o Fim
dos Tempos. Nenhum livro sozinho dá todas as informações sobre o Fim dos Tempos. A
Teologia Sistemática é responsável pela coleta de todas as informações sobre Fim dos Tempos
de todos os livros da Bíblia e as organiza em um sistema: Escatologia. Basicamente isto é a
Teologia Sistemática: a organização de ensinamentos da Bíblia em sistemas de categorias.
Teologia propriamente dita (ou teontologia) é o estudo de Deus o Pai. Cristologia é o
estudo de Deus o Filho, o Senhor Jesus Cristo. Pneumatologia é o estudo de Deus o Espírito
Santo. Bibliologia é o estudo da Bíblia. Soteriologia é o estudo da salvação. Eclesiologia é o
estudo da igreja. Escatologia é o estudo do fim dos tempos. Antropologia Bíblica é o estudo
da humanidade sob a perspectiva da Bíblia. Hamartiologia é o estudo do pecado. Em nosso
curso já falamos de pelo menos duas dessas que foram apresentadas, a saber, Teologia
propriamente dita (pelo menos uma parte dela1) e Bibliologia.
Devido à modalidade e o nível de nosso curso2, a teologia sistemática será vista em caráter
introdutório. Ela será abordada em dois momentos distintos onde resultará na divisão dela em
teologia sistemática 1 e 2 (daqui pra frente TS1 e TS2). Na TS1 veremos: Teologia
propriamente dita (teontologia), Cristologia, Pneumatologia e Antropologia Bíblica. Já na
TS2: Hamartiologia, Soteriologia, Eclesiologia e Escatologia.
Portanto, vamos ao nosso estudo da teologia sistemática!

2. DEUS E SEU SER, OU, TEONTOLOGIA.


O que é Teontologia? E por que Teontologia? É como é chamado o estudo de Deus
propriamente dito. E a razão (por que) pela qual é assim chamada é a raiz etimológica da
palavra é a junção dos seguintes termos gregos: Théos, “Deus”; Ontos, “Ente” ou “Ser”; e
Logia “Conhecimento” ou “Estudo”, ou ainda, “Palavra”. Desta feita, Teontologia, como dito
antes, é o estudo sobre o ser de Deus. Não tencionamos supor que a Teontologia seja uma
descrição exaustiva do ser de Deus, pois trabalhamos com as informações disponíveis
(revelação geral e especial) que nos dizem o que precisamos saber sobre Deus e não tudo
(seria impossível para seres finitos saber informações exaustivas sobre Deus, o Ser infinito).
Com o que temos a nossa disposição, tentaremos responder as questões a Seu respeito. Ainda
em se tratando do nosso campo de estudo, é em sua forma apologética, a apresentaremos

1
Disciplina de Introdução à teologia.
2
Curso Livre de Teologia de nível médio.
4

como defensora das reivindicações do Cristianismo frente aqueles que ainda não creem. Já em
sua forma dogmática (ou doutrinária), funcionará como esclarecedora dos conteúdos da fé
cristã a respeito de Deus para aqueles que já creem.
Portanto, definida assim a questão, prosseguiremos em nossa investigação
bíblico/teológica.

2.1. Os nomes de Deus no A.T. e no N.T.


Antes de qualquer consideração é preciso destacar que o propósito fundamental das
Escrituras é revelar Deus ao ser humano. Desta feita, os nomes de Deus como descritos na
Bíblia, têm a finalidade de revelar Seu caráter e atributos. Cada nome divino nos diz como
Deus deseja ser conhecido por nós, suas criaturas que levam a Sua imagem e semelhança (Gn.
1:26-27). Falam-nos sobre quem Deus é, e como Ele age em relação a nós. É por este motivo
que Deus aparece com vários nomes nas Escrituras.
Deus é descrito de maneira específica por diversos nomes hebraicos no Antigo
Testamento. Entre eles merecem especial destaque os termos Elohim, Adonai, Shaddai e Javé.
1) Elohim (e El) é o nome hebraico genérico para Deus. Seu significado etimológico é
“força, poder”, e refere-se a Deus como criador, como ser transcendente e como Deus
acima de todos os outros. Berkhof (2009) observa que ‘El que possivelmente é
derivado de ‘ul, também pode ter o uso de primazia, ou seja, indicar Deus como o Ser
Primeiro. Esse nome – Elohim (sing. ‘Eloah) – também pode derivar “da mesma raiz
ou de ‘alahh” (BERKHOF, 2009, p.48). O nome ‘Elyon (que também deriva de
‘alahh) tem o sentido de subir, ser elevado, ou seja, Deus acima de todos (Gn. 14:19,
20; Nm. 24:16; Is. 14:14). Ainda sobre ‘Elohim. É um substantivo em forma plural na
literatura hebraica (com exceção da poesia). Algo que deve ser digno de nota: numa
frase, o verbo que acompanha Elohim quase sempre aparece no singular. Isso indica
que no Ser de Deus há pluralidade apesar da unidade, ou seja, a noção de Trindade
(isso será discutido pormenorizadamente no ponto seguinte). Já o nome El é usado
para compor outros nomes divinos (e.g. ‘El Shaddai) e também para formar nomes
hebraicos comuns como Dani-el e Samu-el.
2) Adonai refere-se ao senhorio de Deus. Conforme Berkhof (2009), esse termo é
derivado de dun (din) ou de ‘adan, mas em qualquer uma dessas formas o significado
é o mesmo: “julgar”, “governar”. Algo precisa ser dito: esse termo nunca é (e nem
pode ser) usado para se referir ao homem. “[Adonai revela] Deus como governante
Todo-poderoso, a quem tudo está sujeito e com quem o homem se relaciona como
5

servo” (BERKHOF, 2009, p.48 – acréscimo meu); ele destaca a plena soberania de
Deus.
3) (El) Shaddai “deriva do termo shadad que significa ser poderoso, indicando pleno
poder de Deus quer na terra como no céu” (BERKHOF, 2009). Esse termo difere de
Elohim em um ponto que merece a nossa consideração. Enquanto Elohim descreve
Deus como Ser Criador da natureza e tudo o mais, El-Shaddai aponta para Deus como
Aquele que sujeita todos os poderes da natureza e tudo o mais para o servirem da
maneira como lhe apraz.
4) Javé. O termo hebraico seria YHWH significando “Deus de graça”. Os judeus
deixaram de pronunciar o nome divino por respeito, e também por juízo de Deus,
perdendo-se, assim, a pronúncia perfeita (Lv. 24:16; Jr. 44:26). Esse nome
gradativamente superou os nomes anteriores como o mais sagrado e o mais distintivo
para Deus (BERKHOF, 2009). Por esta razão as consoantes do nome YHWH
receberam as vogais “a” de Adonai e “e” de Elohim, o que veio a gerar o nome
Yehowah, conhecido em português como Jeová. Todavia, os estudiosos hoje
concordam, principalmente com base nas antigas transliterações gregas, que o nome
divino seria Yahweh, ou seja, Javé em português. Infelizmente nossa tradição
consagrou o SENHOR como tradução de um nome tão específico e particular de Deus.
O significado de Javé é “Eu Sou” ou “Sempre estarei sendo”, ou como gostam os
judeus “o Eterno”. A forma é uma abreviação do “Eu sou o que sou” dito por Deus a
Moisés em Êxodo 3.13,14. Javé é o nome pessoal do Deus vivo que age na história de
seu povo. É o Deus da aliança com o povo que sai do Egito, destacando a imanência
divina. Por isso destaca-se em Javé o seu amor e a sua fidelidade para com o seu povo.
Até hoje os judeus evitam pronunciar o nome mais sagrado de Deus para não usá-lo
em vão. Podemos imaginar a dificuldade dos mesmos diante da declaração de Jesus
em João 8:58 que afirmou “Eu sou”. A identificação de Jesus com Javé ficou mais do
que clara.
Vamos agora ao Novo Testamento. Basicamente, três são os nomes mais comuns, a saber,
Théos, Kýrios, e Pater. Vejamos cada um pormenorizadamente.
1) Théos. Esse nome é o equivalente grego do nome hebraico Elohim, El e Elyon, e assim
como no A.T., é também o nome mais comum para Deus. Berkhof (2009, p.50)
acertadamente afirma que “Elyon é traduzido por Hupsistos Théos (Mc. 5:7; Lc. 1:32,
35, 75; At. 7:48; 16:17; Hb. 7:1)”. “O nomes Shadday e ‘El-Shadday são vertidos
6

para Pantokrator e Théos Pantokrator (2Co. 6:18; Ap. 1:8; 4:8; 11:17; 15:3; 16:7,
14)” (BERKHOF, 2009, p.50).
2) Kýrios ou Kurios. Esse é o equivalente de YHWH, ou, Yahweh (Javé). Segundo
Berkhof (2009), Yahweh pode ser aplicado, em alguns casos no N.T., a variantes
descritivas, como é o caso de: “o Alfa e o Ômega”, “que é, que era, e que há de vir”,
“o primeiro e o último” (Ap. 1:4, 8, 17; 2:8, 21:6; 22:13). A palavra Kurios vem de
kuros “poder”. Assim como em toda tradução, esse nome não tem idêntica conotação
que YHWH tem, “mas designa a Deus como Poderoso Senhor, o Possuidor, o
Governador que tem poder e autoridade legal” (BERKHOF, 2009, p.50). Esse termo
também é aplicado a Jesus.
3) Pater. Alguns têm sugerido que esse nome (Pater, “Pai”) é próprio do N.T. e que no
A.T. não há sua menção. Berkhof (2009, p.50) acertadamente diz que “o nome Pai é
utilizado repetidamente no Antigo Testamento para designar a relação de Deus com
Israel, Dt. 36:6; Sl. 103:13; Is. 63:16; 64:8; Jr. 3:4, 19; 31:9; Ml. 1:6; 2:10, enquanto
Israel é chamado filho de Deus, Êx. 4:22; Dt. 14:1; 32:19; Is. 1:2; Jr. 31:20; Os. 1:10,
11:1”. No sentido amplo, Pater tem o sentido de originador ou criador e é empregado
nas seguintes passagens do N.T.: 1Co. 8:6; Ef. 3:15; Hb. 12:9; Tg. 1:18. Temos ainda
o uso de Pater para referir-se à relação de Deus (Pai) com Jesus (Filho): Jo. 8:19;
10:15, 29, 30; 15:23; 16:28; 2Co. 1:3.
Portanto, esses são os nomes de Deus no Antigo e Novo Testamento.

2.2. A Trindade.
Antes de tudo, é necessário lembrar que a palavra Trindade não é encontrada em nenhuma
parte da Bíblia; contudo, as Escrituras expressam claramente a ideia dessa doutrina. Temos
também de dizer que, reconhecemos que está imposta sobre nós uma dificuldade de
entendimento pleno desse santo ensino, pois as condições de seres finitos e imperfeitos nos
impedem de tal façanha. Isso serve para nos colocar em nosso devido lugar quando pensamos
sobre Deus. Portanto, trabalharemos com aquilo que nos está disponível nas Sagradas
Escrituras. Atenção: Uma má compreensão dessa doutrina complica a nossa fé cristã. Por isso
atentemos com temor e tremor as explicações.
A definição básica é: Deus é um em essência, mas ao mesmo tempo desde antes da
eternidade existe em três pessoas, onde a pessoa de um não se confunde com a do outro. Essa
ideia não é moderna, pois Atanásio (296-373) foi quem pensou nestes moldes e cunhou a
7

seguinte frase: “Adoramos um Deus em Trindade, e Trindade em Unidade, sem confundir as


Pessoas, sem separar a substância” 3. Vejamos essa figura ilustrativa que nos ajudará:

2.2.1. Sendo UM só Deus apesar de TRÊS pessoas distintas.


A Bíblia é explícita em afirmar que há um só Deus. Pensando no credo atanasiano,
concluímos que apesar de três pessoas distintas em Deus Ele permanece apenas um. Como
assim, pessoa? Não, Deus. As três diferentes pessoas da Trindade são um em propósito, em
acordo sobre o que pensam, e indo um pouco mais além, eles são um em essência, ou seja, em
sua natureza essencial. Em outras palavras, conforme Grudem (2014, p.174), “Deus é um só
ser. Não existem três deuses. Só existe um Deus”.
Uma das passagens mais conhecidas do Antigo Testamento é Deuteronômio 6:4-5, ou,
Shemá4 – para os judeus: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o
Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças”.
Moisés é enfático em seu cântico: “Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor?
Quem é semelhante a ti? Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de
maravilhas? ” (Êx. 15:11). E a resposta, obviamente, é um estrondeante “NÃO”. Deus é um, e
não há ninguém como ele e não pode ser alguém como ele. Ao orar Salomão diz: “Assim,
todos os povos da terra saberão que o Senhor é Deus e que não há nenhum outro” (1Rs. 8:60).
Quando Deus fala, repetidamente deixa claro que Ele é o único Deus verdadeiro; a ideia
de que há três deuses para se adorar é impensável à luz destas declarações extremamente

3
Credo atanasiano. Disponível em: http://igrejasreformadasdobrasil.org/doutrina/credos/credo-atanasiano.
Acessado em: 21/12/2016.
4
Em hebraico ‫“ ;שמע ישראל‬Ouça Israel”. São as duas primeiras palavras da seção da Torá que constitui a
profissão de fé central do monoteísmo judaico (Devarim / Deuteronómio 6:4-9) no qual se diz ‫ה‬-‫ו‬-‫ה‬-‫שמע ישראל י‬
‫ה אחד‬-‫ו‬-‫ה‬-‫( אלוהינו י‬Shemá Yisrael Ado-nai Elohêinu Ado-nai Echad - Escuta ó Israel, Ado-nai nosso Deus é Um).
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Shem%C3%A1_Israel. Acessado em: 30/12/2016.
8

fortes. Só Deus é o único Deus verdadeiro, e não há ninguém como ele. Quando ele fala, ele
só fala. Não fala como um Deus dentre três que deve ser adorado. Ele diz:
Declarem o que deve ser, apresentem provas. Que eles juntamente se aconselhem.
Quem há muito predisse isto, quem o declarou desde o passado distante? Não fui eu,
o Senhor? E não há outro Deus além de mim, um Deus justo e salvador; não há
outro além de mim. Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da
terra; pois eu sou Deus, e não há nenhum outro (Is. 45:21-22).

E ainda,
Assim diz o Senhor, o rei de Israel, o seu redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o
primeiro e eu sou o último; além de mim não há Deus. Quem então é como eu? Que
ele o anuncie, que ele declare e exponha diante de mim o que aconteceu desde que
estabeleci meu antigo povo, e o que ainda está para vir; que todos eles predigam as
coisas futuras e o que irá acontecer. Não tremam, nem tenham medo. Não anunciei
isto e não o predisse muito tempo atrás? Vocês são minhas testemunhas. Há outro
Deus além de mim? Não, não existe nenhuma outra Rocha; não conheço nenhuma
(Is. 44:6-8).

Essas declarações não estão restritas somente ao A.T., mas o próprio N.T. também declara
o mesmo. Paulo escreve: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o
homem Cristo Jesus” (1Tm. 2:5). Paulo diz que “existe um só Deus” (Rm. 3:30), e que “há
um único Deus” (1Co. 8:6). Finalmente, Tiago reconhece que até os demônios reconhecem
que há um só Deus, embora esse reconhecimento intelectual exista, não elimina o fato de que
não é o suficiente para salvá-los: “Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo
os demônios creem — e tremem! ” (Tg. 2:19). E para encerrar, Tiago afirma claramente que
“faz bem” (ARA) em acreditar que “Deus é um só”.

2.2.2. Sendo TRÊS pessoas distintas apesar de UM só Deus.


O fato de Deus ser três pessoas significa que o Pai e o Filho são pessoas distintas. Isso
também significa que o Pai não é o Espírito. O mesmo deve-se dizer do Filho em relação ao
Espírito Santo. Estas diferenças são vistas em várias passagens bíblicas, (mais
especificamente no N.T.) que serão citadas nos pontos seguintes.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus” – nos diz Jo. 1:1-2. Algo está muito claro nesta passagem: o “Verbo”
(que nos versos 9-18 é visto como Cristo) estava “com” Deus, ou seja, Ele é distinto de Deus,
o Pai. Além do texto ser categórico em afirmar que o Verbo “era” Deus. Em João 17:24, Jesus
fala a Deus Pai da “minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do
mundo”, revelando a distinção de pessoas que partilham glória e amor, antes mesmo do
mundo ser criado. Um pensamento óbvio: Se Jesus continua sendo nosso Sumo Sacerdote e
9

Advogado para com Deus, o Pai (1Jo. 2:1; Hb. 7:25), é necessário haver uma distinção entre o
Pai e Cristo.
Além disso, o Pai não é o Espírito Santo, e tampouco o Filho é o Espírito Santo. Eles se
distinguem em vários versículos. Jesus disse: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que
o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo
quanto vos tenho dito” (Jo. 14:26). O Espírito Santo também ora ou “intercede pelos santos”
(Rm. 8:27), indicando uma distinção entre o Espírito Santo e Deus o Pai, à quem a intercessão
é feita.
Por fim, o fato de que o Filho não é o Espírito Santo também é indicado em várias
passagens trinitárias, tais como a Grande Comissão (Mateus 28:19), e nas passagens onde
indicam que Cristo voltou ao céu e então enviou o Espírito Santo para a igreja. Jesus disse:
“Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não
virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei” (Jo 16:7).
Alguns questionaram se o Espírito Santo é realmente uma pessoa diferente, ao invés de
simplesmente “poder” ou “força” de Deus no trabalho no mundo. Mas essa questão será
tratada pormenorizadamente em um ponto exclusivo para a pessoa do Espírito Santo.
Mas, embora façamos assim, pensemos um pouco em uma passagem enigmática. Muitas
passagens distinguem claramente o Espírito Santo dos outros membros da Trindade, contudo,
existe um verso difícil: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há
liberdade” (2Co. 3:17). Os intérpretes têm frequentemente assumido que “o Senhor” aqui
significa Cristo, porque Paulo usa frequentemente “Senhor” para se referir a Cristo. Mas
provavelmente este não é o caso aqui. Com base na gramática e no contexto, pois segundo
Grudem (2014, p.171), “esse versículo tem melhor tradução com o Espírito Santo como
sujeito: ‘Ora, o Espírito Santo é o Senhor’”. Neste caso, Paulo estaria dizendo que o Espírito
Santo também é Yahweh (ou Kýrios “Senhor” – LXX), o Senhor do A.T. (note o contexto
claro do A.T. refletido nesta porção de 2Co. a partir do verso 7). Conforme Grudem (2014)
“Isso é, Teologicamente, muito aceitável”, pois é verdadeiro dizer que assim como Deus o Pai
é “Senhor” e Deus o Filho é “Senhor” (em todos os sentidos do Antigo Testamento “Senhor”,
como o nome de Deus), também o Espírito Santo é aquele que é chamado de “Senhor” no
A.T.; e ainda, é o Espírito Santo que nos mostra a presença do Senhor, especialmente nesta
era da nova aliança.

2.2.3. Cada pessoa é plenamente Deus.


10

Além do fato de que Deus existe em três pessoas distintas e que ao mesmo tempo Ele é
um, temos o testemunho abundante da Bíblia de que cada pessoa é também plenamente Deus.
Vejamos.
Deus Pai é claramente Deus. “Isso se evidencia desde o primeiro versículo da Bíblia, no
qual Deus cria os céus e a terra. É evidente em todo o Antigo e no Novo Testamento, nos
quais Deus, o Pai é retratado nitidamente como Senhor soberano de tudo e onde Jesus ora ao
seu Pai celeste” (GRUDEM, 2014, p.171).
O mesmo é verdadeiro para o Filho, Ele é plenamente Deus. Embora nós tenhamos um
ponto específico a ser desenvolvido em nossa apostila sobre Jesus Cristo, iremos apenas fazer
algumas considerações momentâneas.
Em Jo. 1:1-4 é afirmado clara e plenamente a divindade de Cristo: “No princípio era
aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito.
Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens”.
Aqui Cristo é referido como “o Verbo”, e João diz Ele estava “com Deus” e que ele “era
Deus”. O texto grego repete as palavras iniciais de Gênesis 1:1 (“No princípio ...”) e isso
lembra-nos que João está falando sobre algo que já era verdade antes que o mundo foi feito.
Deus, o Filho sempre foi plenamente Deus.
Ainda no Evangelho de João, mas agora em 12:41, o evangelista revela algo
surpreendente:
Isso aconteceu para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que disse: “Senhor, quem
creu em nossa mensagem, e a quem foi revelado o braço do Senhor?” Por esta razão
eles não podiam crer, porque, como disse Isaías noutro lugar: “Cegou os seus olhos
e endureceu os seus corações, para que não vejam com os olhos nem entendam com
o coração, nem se convertam, e eu os cure”. Isaías disse isso porque viu a glória de
Jesus e falou sobre ele.

Mas o que isso significa? – Talvez você pergunte. Em Is. 6 é descrita uma visão em que o
profeta teve sobre Deus e sua soberania plena, e toda essa visão é atribuída a Cristo Jesus.
Agora passemos a plena divindade do Espírito Santo. Uma vez que entendamos que Deus
Pai e Deus o Filho é plenamente Deus, a carga de significado que as expressões trinitárias
trazem para a doutrina do Espírito Santo mostra que Ele está classificado com um nível de
igualdade com o Pai e o Filho (Mt. 28:19; 1Co. 12:4-6; 2Co. 13:14; Ef. 4:4-6; 1Pe. 1:2, Jd.
20-21). Grudem (2014, p.173) acrescenta,
Isto se verifica quando percebemos quão impensável seria que Jesus dissesse algo
como “batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Arcanjo Miguel”, dando a um
ser criado uma posição totalmente descabida, mesmo para um arcanjo. Os crentes de
11

todas as épocas sempre foram batizados em nome (assumindo, portanto, o caráter)


do próprio Deus.

Além desse fato temos mais duas passagens extremamente importantes para provar o
ponto em questão, a saber, At.5:3-4 e Sl. 139:7-8.
Em Atos 5:3-4 Pedro perguntou a Ananias, “como você permitiu que Satanás enchesse o
seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo [...] Você não mentiu aos homens, mas
sim a Deus”. De acordo com as palavras de Pedro, mentindo para o Espírito Santo é mentir a
Deus. Paulo diz em 1Co. 3:16: “Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito
de Deus habita em vocês?” O templo de Deus é onde Deus habita, Paulo explica que “o
Espírito de Deus” habita lá, então, obviamente, igualando o Espírito de Deus com o próprio
Deus.
Em Salmos 139:7-8: “Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia
fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura,
também lá estás”. Esta passagem dá ao Espírito Santo a característica da onipresença divina,
que não se aplica a qualquer criatura de Deus. Parece que Davi faz equivaler o Espírito de
Deus com a presença de Deus. Em outras palavras, fugir do Espírito de Deus é fugir da sua
presença, mas se não há nenhum lugar onde Davi pode fugir do Espírito de Deus, então ele
sabe que onde quer que vá terá de dizer: “também lá estás”. Portanto, sim, o Espírito Santo é
plenamente Deus.

2.2.4. Um conceito já existente no A.T.


Às vezes se pensa que a doutrina da Trindade se encontra somente no Novo Testamento,
concordamos que o N.T. lança luz ao A.T., mas pensemos por um instante: Se Deus existe
eternamente como três pessoas, não seria estranho não encontrar indicações da Trindade no
Antigo Testamento? Embora a doutrina da Trindade não seja tão explícita no Antigo
Testamento, várias passagens sugerem ou mesmo implicam que Deus existe como mais de
uma pessoa.
a) Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança” (Gn. 1:26a – NVI).
Primeiramente, vejamos o que significa o verbo no plural (“nós”) e o pronome plural
(“nosso”)? 1) Alguns têm sugerido que são plural de majestade, um discurso que o rei
costumava usar para dizer, por exemplo: “Temos o prazer de conceder o seu pedido”.
Contudo, conforme Grudem (2014), no Antigo Testamento em hebraico não consta exemplos
de monarcas utilizando verbos “majestáticos” para referir-se a si mesmo. Então, essa opinião
12

não tem nenhuma evidência para apoiá-la. 2) Outra opinião é que aqui Deus está falando com
os anjos. Mas os anjos não estavam envolvidos na criação do homem, nem o homem foi
criado à imagem e semelhança dos anjos, assim que esta ideia não é convincente.
A melhor explicação é que já no primeiro capítulo de Gênesis, temos uma indicação de
uma pluralidade de pessoas em Deus. O mesmo vale para Gn. 3:22; 11:7; e Is. 6:8. É verdade
que não nos é dito a quantidade, mas é um fato que o texto se trata de mais de uma pessoa em
Deus.
b) O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de justiça é o cetro do teu
reino. Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, escolheu-te
dentre os teus companheiros ungindo-te com óleo de alegria (Sl. 45:6,7).
Aqui o salmo vai além para descrever algo que poderia ser verdade de um rei terrestre e o
rei chamado de “Deus” (v.6), cujo trono vai durar "para sempre". Mas então, ainda falando da
chamada “Deus”, o autor diz que “Deus escolheu para você e seu companheiro” (v.7). Aqui
podemos perceber duas pessoas distintas sendo chamadas de “Deus” (Elohim). No Novo
Testamento, o autor de Hebreus cita esta passagem e a aplica a Cristo: “O teu trono, ó Deus,
vai durar para sempre e sempre” (Hb 1:8).
c) O Senhor disse ao meu Senhor: “Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus
inimigos um estrado para os teus pés” (Sl. 110:1).
Jesus havia entendido corretamente que Davi se refere a duas pessoas distintas como
“Senhor” (Mt. 22:41-46), mas quem é o “Senhor” de Davi, se não o próprio Deus? E quem
poderia dizer a Deus: “Assenta-te à minha direita”, exceto alguém que também seja
plenamente Deus? Do ponto de vista do N.T. podemos parafrasear este versículo da seguinte
maneira: “Deus Pai disse a Deus Filho: “Senta-te à minha direita”. Mas mesmo sem o ensino
do Novo Testamento sobre a Trindade, parece claro que Davi estava ciente de um número de
pessoas em um só Deus.
Jesus, é claro, compreendia isso, mas quando pediu aos fariseus uma explicação sobre esta
passagem, “Ninguém conseguia responder-lhe uma palavra; e daquele dia em diante, ninguém
jamais se atreveu a lhe fazer perguntas” (Mt. 22:46).
Portanto, como pudemos ver temos, sim, indicações da Trindade já no A.T. Mas como
dissemos antes, reconhecemos que no N.T. a Trindade recebe mais luz devido o progresso da
revelação. Então, vejamos.

2.2.5. A Trindade no N.T.


13

O N.T. é muito claro acerca da natureza trina de Deus. Neste curso já tratamos da
personalidade de Deus na disciplina de introdução a teologia (prolegômenos); então, por essa
razão, iremos partir do ponto que já se sabe: “que o Senhor Deus, apesar de Sua natureza
trina, é um ser pessoal”, pois como disse Berkhof (2009, p.81),
A argumentação que parte da personalidade, para provar ao menos que há
pluralidade em Deus, pode ser expressa de forma semelhante a essa: entre os
homens o ego só se desperta para a consciência por meio do contato com o não-ego.
A personalidade não se desenvolve nem existe na isolação, mas somente associada a
outras pessoas. Daí, não é possível conceituar a personalidade de Deus
independentemente de uma associação de pessoas iguais nele. Seu contato com suas
criaturas não explica sua personalidade, do mesmo modo que o contato do homem
com os animais não explica a sua personalidade. Em virtude da existencia tripessoal
de Deus, há uma infinita plenitude da vida divina nele.

Mais uma observação. Teremos pontos específicos na apostila que tratará das pessoas da
Trindade separadamente. Por esta razão, iremos nos ater somente a questão de provas bíblicas
da doutrina da Trindade em si mesmas (em especial no N.T.). Vejamos algumas dessas
passagens no N.T.
a) Mt. 3:16-17: “Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento os céus
se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele.
Então uma voz dos céus disse: ‘Este é o meu Filho amado, em quem me agrado’”.
Aqui, ao mesmo tempo, temos os três membros da Trindade realizando três atividades
diferentes. Deus Pai fala do céu, Deus o Filho está sendo batizado, e ouvi Deus Pai
falando do céu, e Deus Espírito desce do céu à terra e conferindo-lhe poder para o
ministério de Deus Filho.
b) Mt 28:19: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Os próprios nomes “Pai” e “Filho”,
baseados na família, a mais comum das instituições humanas, indicam fortemente que
o Pai e o Filho são pessoas distintas. Quando ajustado para o “Espírito Santo” na
mesma expressão e, ao mesmo nível dos outros dois, é difícil evitar a conclusão de
que o Espírito Santo também é visto como uma pessoa em pé de igualdade com o Pai
e com o Filho.
c) 1Co. 12:4-6: “Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes
tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é
o mesmo Deus quem efetua tudo em todos”. Quando percebemos que os escritores do
Novo Testamento geralmente usam o nome “Deus” (Théos) para se referir a Deus Pai
e o nome do “Senhor” (Kýrios ou Kurios) para se referir a Deus Filho, fica claro que
14

existe outro termo Trinitário na referida passagem: “Há diferentes tipos de dons, mas o
Espírito é o mesmo”.
d) 2Co. 13:14: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do
Espírito Santo sejam com todos vocês”. Da mesma forma, este último versículo de 2
Coríntios é uma expressão trinitária. Vemos as três pessoas mencionadas em Efésios
4:4-6 também separadamente: “Há um só corpo e um só Espírito, assim como a
esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé,
um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em
todos”.

2.2.6. Uma palavra de cautela, mas também de consolo.


Vimos na própria Bíblia que Deus é um, mas ao mesmo tempo três pessoas distintas, e
ainda, com plenitude de Divindade. De cara reconhecemos a dificuldade. Basta tentarmos
imaginar isso tudo. Houve muitas tentativas na história da igreja para solucionar este mistério
(antinômio - a existência pacífica de duas proposições bíblicas aparentemente contraditórias
que não podem ser harmonizadas pela lógica humana). Contudo, muitas delas levaram a
caminhos “heréticos” por assim dizer. Sobre isso Berkhof (2009, p.78) acertadamente
comenta que,
A doutrina da Trindade sempre enfrentou dificuldades e, portanto, não é de se
admirar que a igreja, em seus esforços para formulá-la, tenha sido repetidamente
tentada a racionalizá-la e dar-lhe uma construção que deixava de fazer justiça aos
dados da Escritura.

Então, o que fazer diante desse problema? Antes de responder essa importante pergunta,
vejamos alguns pensamentos errados sobre a Trindade.
O modalismo (ou sabelianismo) é uma solução simplista proposta por Sabélio (? – 215
A.D.), que dizia, basicamente, que existe só uma única pessoa, que se revela a nós de três
diferentes formas (ou “modos”). Por exemplo, o Deus do Antigo Testamento se revelou como
“Pai”. Nos evangelhos, essa mesma pessoa divina se revelou como “Filho”, na vida e no
ministério de Jesus. Depois do Pentecostes, essa mesma pessoa então se revelou como o
“Espírito” ativo na igreja. Vejamos essa figura:
15

Uma falha analogia bastante usada por alguns é a das três formas de água (vapor/gasosa,
líquida e sólida/gelo). Onde está o erro desta ilustração? Grudem (2014) aponta pelo menos
três:
(a) nenhuma quantidade de água jamais é ao mesmo tempo todas as
três formas, (b) as três formas têm propriedades ou características
diferentes, (c) a analogia nada tem que corresponda ao fato de existir
somente um Deus (não existe algo como “uma só água” ou “toda a
água do universo”) e (d) falta o elemento da personalidade inteligente.

O mesmo pode-se dizer de um homem que é fazendeiro, prefeito de uma cidade, e


presbítero em uma igreja local. A diferença está somente nas funções, mas a pessoa ainda
permanece a mesma.
O Ser de Deus dividido. Esse pensamento pode surgir da negação da proposição “cada
pessoa é plenamente Deus”. Vejamos mais uma imagem ilustrativa:

Uma analogia que geralmente é usada para expressar tal pensamento é a de uma árvore.
Raiz, tronco e ramos, três partes diferentes que compõem a mesma árvore. O problema está
explícito, pois como vimos Deus apesar de três pessoas distintas, e mesmo um só, tem em
cada uma dessas pessoas a plena e completa Divindade, de modo que, ao contemplarmos
Deus Filho pode ser dito: “eis aqui Deus”. Mas o mesmo não se pode dizer de uma árvore
16

apenas observando uma raiz ou um galho. Olhando o problema por outro prisma vejamos
outra ilustração:

Com essa ilustração temos a errônea indicação de que o ser de Deus é composto, ou,
acrescido por partes que, assim, formam um todo. Ou seja, a plenitude de Deus só pode ser
vista nos três em conjunto, como uma árvore com sua raiz, tronco e ramos, ou, como as três
folhas de um trevo de três folhas. A heresia ariana5, derrotada no concílio de Nicéia em 325
d.C., tem como princípio norteador a negação da proposição “cada pessoa é plenamente
Deus”.
Temos ainda o tri-teísmo, uma possível maneira de tentar acabar com uma reconciliação
fácil do ensino bíblico sobre a Trindade, é negar que há um só Deus. O resultado seria que
Deus é três pessoas e cada pessoa é plenamente Deus.
Poucos têm apoiado este conceito na história da igreja. Tem muitas semelhanças com
antigas religiões pagãs que afirmavam uma multiplicidade de deuses. Esta concepção resulta
em confusão na mente dos crentes. Não haveria nenhum culto, nenhuma lealdade e devoção
absoluta ao Deus único e verdadeiro. Estaríamos sempre nos perguntando a que Deus
devemos dar a nossa lealdade. E em um nível mais profundo, essa noção iria destruir qualquer
senso de unidade final no universo: até mesmo no próprio ser de Deus haveria pluralidade,
mas não a unidade.
Retomando a pergunta: o que fazer diante desse problema? Sabemos que qualquer
analogia, ou tentativa de explicação, que advogue para si o título de “solução” deve ser olhada
com suspeita. Até mesmo a grande ilustração agostiniana (a Trindade pode assemelhar-se ao
ser humano na constituição de seu ser: intelecto, emoções e vontade; onde as três faculdades
distintas formam um único ser), pois omite a verdade de que por mais diferentes que sejam as
5
Esse termo não tem nenhuma ligação com a raça ariana, mas como o bispo de Alexandria, Ário (256-336). Ele
pregava que Deus Filho foi em dado momento criado por Deus Pai e que antes desse momento o Filho não
existia, nem o Espírito Santo, mas somente o Pai. Assim, embora o Filho seja um ser celeste anterior ao resto da
criação e bem maior do que todo o resto da criação, ele não se iguala ao Pai em todos os seus atributos — pode-
se até dizer que é “igual ao Pai” ou “semelhante ao Pai” na sua natureza, mas não se pode dizer que é “da mesma
natureza” do Pai.
17

faculdades, continuam impessoais, o que difere das pessoas que compõem a Trindade. Isso se
dá devido a infinitude de Deus e de seu ser. Nossa razão é insuficiente para tal finalidade. Se
Deus não tivesse se revelado ao ser humano, quer geral, quer especialmente, nunca teríamos
como saber sobre Ele. Jonas Madureira (2009, p.56) diz algo muito importante sobre isso,
A razão não é fonte de teologia. Ela não pode nos revelar Deus. Na verdade, é Deus
quem se revela a nossa razão. Ora, um “quadrado redondo” é um absurdo porque é a
produção humana de uma contradição que fere nossos princípios racionais. Jamais o
Deus Trino poderia ser um absurdo. E por um simples motivo: o Deus Trino não é
uma produção dos seres humanos. Absurdos são as contradições que nós, seres
humanos, produzimos. Sabemos que Deus é Trino justamente porque Ele se fez
homem. Deus possibilitou-nos conhece-lo como Trino através da encarnação de
Cristo. Não podemos perder de vista que a iniciativa de tornar-se conhecido como
Trino foi dada pelo próprio Deus. se Ele não se revelasse dessa maneira, nada nos
faria conhece-lo como Trino.

Contudo, se pudéssemos nos arriscar numa imagem que tenta demostrar o ensino bíblico
sobre a Trindade seria mais ou menos assim:

Nesta imagem, o Filho move-se no sentido horário a partir de do Pai, o mesmo acontece
com o Espírito em relação ao Filho. Portanto, há três pessoas distintas, mas cada pessoa é
total e completamente Deus. É claro que a representação é imperfeita, porque não pode
representar o infinito de Deus, nem a sua pessoalidade, nem mesmo qualquer um de seus
atributos. Devemos também olhar para o círculo em mais de uma maneira de entender: as
linhas pontilhadas indicam relacionamento pessoal e não uma divisão no ser de Deus. Assim,
o próprio círculo representa o ser de Deus, enquanto as linhas pontilhadas representam uma
forma de existência pessoal, mas nenhuma diferença em seu ser. O diagrama pode, no
entanto, ajudar na proteção contra alguns mal-entendidos, dos quais vimos alguns.

2.3. Os atributos de Deus e sua relação com seu ser.


Por atributos não queremos acrescentar ou até mesmo categorizar Deus “colocando-O
numa caixinha de sapato” – como alguns tendem a acusar a teologia sistemática. Mas como
foi dito na introdução, estamos lidando com a Revelação de Deus nas Sagradas Escrituras, e,
portanto, esse será o nosso limite. Porque entendemos que, sim, Deus pode ser conhecido,
18

mas, através das coisas criadas (Rm. 1:19-20), e um pouco mais através de Sua Palavra;
contudo, não podemos conhecer a Deus plenamente, nem mesmo através de Sua Palavra. Pois
o Senhor é imensurável, ou como os teólogos gostam de afirmar, Ele é incognoscível – em
certo sentido.
Mas, como essa é a função primordial da teologia sistemática iremos tentar organizar as
informações Escriturísticas a respeito de Deus, para que tais informações possam nos ajudar a
entender de forma holística quem o SENHOR DE TUDO é na Bíblia Sagrada.
Comecemos pelos atributos divinos. Bem, o que é um atributo? Silveira Bueno (2007,
p.100) define a palavra simplesmente como “qualidade de um ser”. Já em se tratando de Deus,
Franklin Ferreira (2013, p.77) o definiu como “perfeições que constituem qualidades
intrínsecas do Ser divino”. Conforme o significado comum da palavra, todos os seres
possuem qualidades, e esse fato ajuda no entendimento de tal ser. Mas quando se trata de
seres criados, as qualidades podem irem e virem; contudo, já em se tratando de Deus (como
mencionado pela definição de Ferreira), tais qualidades – que também as chamamos de
perfeições – são intrínsecas e eternamente imutáveis, ou seja, Deus assim o é sempre (Tg.
1:16-17).
Para facilitar a nossa compreensão, teólogos têm definido os atributos de Deus em
comunicáveis e incomunicáveis. O primeiro, diz respeito a mais do que simplesmente não
poder ser comunicado a nós, mas, primariamente, deve indicar que essas qualidades
(perfeições) de Deus não podem ser captadas por nossa experiência, ou, colocando de outra
maneira, pelo nosso conhecimento prático (know-how). O segundo é o oposto do primeiro.
Portanto, esse será o nosso ponto de partida no nosso primeiro tópico sobre o estudo do
ser de Deus. Daqui para frente chamaremos de: 1) O que faz parte do ser de Deus, mas não
podemos arrazoar com nossa própria experiência; e 2) O que faz parte do ser de Deus, mas
podemos arrazoar com nossa própria experiência.

2.4. O que faz parte do ser de Deus, mas nós não podemos arrazoar com a nossa
própria experiência (incomunicáveis).

a) Espiritualidade. Deus é espírito. As passagens de Is. 31:3; Jo. 4:24; 1Tm. 1:17;
6:15-16; Hb 12:9, expressam essa verdade. Tudo o que nossos sentidos (visão,
audição, olfato, tato e paladar) possam perceber podemos chamar de matéria. E
sabemos que espírito não é matéria. Nós podemos perceber essa verdade em nós
mesmos; por exemplo, na nossa alma. Mas não podemos com os nossos sentidos
19

perceber a existência da nossa alma, ainda que temos a certeza de que ela existe. Às
vezes encontramos na Bíblia passagens que falam sobre Deus ter um corpo físico
(Êx. 3:6; Sl. 33:6, 13; 89:13; 99:5), mas isso é apenas uma forma permitida por
Deus, (ou acomodação) que os escritores da Bíblia encontraram para comunicar a
respeito de Deus ao homem em suas limitações. Isso também pode ser chamado de
antropomorfismo. Portanto a constituição de Deus é imaterial, ou, espiritual.
b) Eternidade. Deus é eterno. Passagens Bíblicas: Dt. 33:27; Sl. 9:7, 90:2, 102:27,
146:10; Is. 57:15; Jr. 10:10; Jó 36:26; Lm. 5:19; 1Tm. 1:17; Ap. 1:8. O conceito de
eternidade difere radicalmente do conceito de espaço/tempo. Grudem (2014, p.117)
explica que, “o estudo da física nos diz que a matéria, o tempo e o espaço precisam
ocorrer ao mesmo tempo: se não há matéria, não pode haver nem espaço nem
tempo”. Uma implicação necessária é que quando Deus criou o universo, criou
também o tempo. Então, antes do universo não existia tempo. E Deus,
necessariamente, é eterno, ou seja, não tem começo e nem fim, ele apenas é (EU
SOU – Êx. 3:14).
c) Imutabilidade. Deus não muda em seu perfeito caráter. Ele pensa, age e sente
emoções de acordo com sua perfeição. Passagens Bíblicas: Nm. 23:19; Sl. 102:25-
27; Ml. 3:6; Hb. 1:12, 13:8; Tg. 1:17. Tudo nesta terra mudou, está mudando, ou
mudará. Os anjos mudaram, pois todos foram criados num estado de pureza, mas
alguns deles caíram em pecado se tornando demônios. Mudamos de idéia o tempo
todo, pois julgamos que a nova idéia pode ser melhor do que a antiga.
Envelhecemos a todo instante. Erramos e nos arrependemos. Mas com Deus não é
assim. Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb. 13:8). Contudo, devemos nos
perguntar: “como pode a Bíblia dizer que Deus se arrependeu?” Nós nos
arrependemos porque achamos que tomamos uma atitude errada. Mas Deus erra?
Claro que não! Mas o que significa passagens como Gn. 6:6; 1Sm. 15:10-11; Jn.
3:10? Grosso modo, existem duas palavras no hebraico para arrependimento, a
saber, shübh e nãham. A primeira diz respeito a erro, remorso, e, portanto, pecado.
Já a segunda reflete a ideia de “respirar profundamente” e, por conseguinte, a
manifestação física dos sentimentos da pessoa, geralmente tristeza, compaixão ou
pena. Define-se nãham como: ter pena, consolar, ter compaixão, lamentar, ter
tristeza ou ser consolado. Sempre quando arrepender-se diz respeito a Deus, o termo
usado é nãham e não shübh. Então, Deus arrepender-se (nãham) significa não mais
que uma acomodação (ou antropopatismo - é um preceito teológico que enfatiza
20

que Deus se expressou usando sentimentos humanos como amor, ira,


arrependimento etc.).
d) Auto-suficiência. Deus não precisa de algo, ou, alguém. Ele é completamente
satisfeito Nele mesmo. Passagens Bíblicas: At. 17:24,25; Jó 41:11; Sl. 50:10-12.
Deus não precisa de adoração, pois antes de nós Ele já tinha milhares de legiões de
anjos que o adoravam. E antes dos anjos na Santa Trindade, um reverenciava o
outro eternamente. Deus não precisava se relacionar com ninguém, pois na Santa
Trindade já se relacionava consigo mesmo eternamente. Ele não precisava ser
amado por ninguém, pois é satisfeito em si mesmo, porque também na Trindade, um
amava o outro eternamente. É assim que entendemos que Deus é amor (1Jo 4:8).
Deus fez tudo porque Ele mesmo, por sua Soberana vontade e sua maravilhosa
graça quis fazer.
e) Onipresença. Deus está em todos os lugares. Passagens Bíblicas: 1Rs. 8:27; Sl.
139:7-9; Jr. 23:23-24. Já dissemos que Deus é anterior ao espaço/tempo, e o mais
óbvio a inferir disso é que Ele não pode ser limitado a essa dimensão. Vimos ainda
que Deus não pode ser dividido e nem mesmo mutável; portanto, pensar na
onipresença de Deus como Ele se dividindo em varias partes para estar em todos os
lugares, é de longe, um pensamento errôneo. Ele está em Sua totalidade em todos os
lugares ao mesmo tempo. Uma ilustração que pode nos ajudar é o tempo. A mesma
quantidade de tempo que temos aqui no Brasil é a que tem em todos os lugares do
mundo. Deus pode estar até nos piores lugares que muitos dos seres humanos não
desejam estar? Sim! De novo devemos nos lembrar que Deus é imutável, e nesse
sentido o pecado não afeta o caráter de Deus por que nada pode influenciá-lo.
Devemos entender que como a luz do sol, que é extremamente brilhante e também
ilumina esses lugares, e nem por esse motivo o sol deixa de ter seu brilho e
esplendor, Deus nunca se corromperá em tais lugares.

2.5. O que faz parte do ser de Deus e nós podemos arrazoar com a nossa própria
experiência (comunicáveis).

a) Onisciência. Deus sabe de todas as coisas. Passagens bíblicas: Jó 37:16; Sl. 147:5;
Is. 42:9, 46:9,10; At. 1:24; Rm. 11:33; Hb. 4:13; 1Jo. 3:20. Deus é infinitamente
inteligente. Deus conhece tudo e todos, e não há nada escondido de Seu
conhecimento. Sejam pensamentos e intenções de qualquer ser. E sejam também
21

circunstâncias de passado, presente e futuro. Deus conhece todas as coisas de todas


as formas.

i. A Perfeição do caráter de Deus.

b) Verdade. Deus é um ser dotado de inviolável verdade. Passagens Bíblicas Dt 32:4;


Rm 3:4; Hb 6:18; Jo 10:44; Ap 3:7. Deus nunca vai mentir ou enganar alguém.
“Seja Deus verdadeiro e todo o homem mentiroso”
c) Justiça. Deus é perfeitamente Justo. Passagens Bíblicas Jó 34:12; Sl 9:4; 51:4;
92:15; Is 28:17; Rm. 2:6. Justiça significa dar a cada um o que é devido. Pelo seu
impecável caráter nunca sairá de Deus um errado juízo. Por isso quando Deus julga
é acertadamente.
d) Bondade. Deus é infinitamente bondoso. Passagens Bíblicas Êx 34:6, Sl 103:1-8; Zc
9:17; Mt 7:11; Lc 2:14; 12:32; Rm 5:8; IJo 4:8. A bondade de Deus é exercida em
favor das suas criaturas, e a bondade também pode ser entendida como “amor”. O
amor deve apontar para benevolência, que é a intenção de fazer o bem, ou, amar. A
beneficência, que é o amor, ou, a bondade em ação. E complacência, que é a
aprovação que é feita às boas ações. “Ninguém é bom, senão um, que é Deus”
(Lc18:19).
e) Graça. Deus é abundante em sua graça. Passagens Bíblicas Sl 145:9,15,16; Mt
5:44,45; At 14:16,17; Rm 3:24; Ef 2:8; 2Tm 1:9. Muitos pregadores e professores
da Bíblia definem graça por, “favor não merecido”. Mas esta definição se encontra
incompleta. Se um mendigo bater em sua porta e lhe pedir um prato de comida e
você lhe der, talvez ache que foi graça porque o mendigo não trabalhou por aquele
prato de comida, e você o deu, tirando da sua família que era a merecedora de toda a
recompensa do seu trabalho. Mas, se for assim, até os homens (imperfeito como
são) podem manifestar graça a outros. Não é bem assim. No sentido puro e
verdadeiro da palavra só Deus pode derramar graça sobre nós. Eis aqui a definição
reformulada: “favor dado a alguém, mesmo que esse alguém o tenha terrivelmente
ofendido”. É como se um mendigo batesse que em sua porta pedindo um prato de
comida, e você reconheceu que ele acabou de te espancar e roubar ali na esquina, e
mesmo assim você lhe deu o prato de comida. Certamente você iria querer que ele
comesse um prato de comida na cadeia! Pois é assim que Deus derrama a sua graça
sobre os seres humanos. Deus derrama a sua graça sobre todos, mas de maneira
22

distinta. Podemos dizer que Deus tem uma graça comum e uma especial. A graça
comum é manifestada todos os dias, a todos os homens na forma de chuva, sol, ar,
saúde, em resumo condições para viver. Mesmo quando estão usando todas essas
dádivas para fins egoístas, esquecendo-se de serem gratos a Deus. A Graça especial
é manifestada na salvação para vida eterna. Ela também é comumente denominada
de graça eficaz, efetiva ou graça salvadora. A graça de Deus é eficaz na medida em
que produz salvação na vida dos indivíduos eleitos que depositam sua fé na morte
de Cristo e no sangue que Ele derramou na cruz para remissão de seus pecados. A
graça eficaz é conhecida por experiência no momento em que Deus, pela
instrumentalidade do Espírito Santo, opera de forma irresistível na mente e no
coração de uma pessoa, de modo que o indivíduo escolha livremente crer em Jesus
Cristo como seu Salvador (2Tm. 1:9).
f) Santidade. Deus é imaculadamente Santo. Passagens Bíblicas Êx15:11; Lv 11:44;
1Sm 2:2; Jó 4:18; Sl 22:3 Is. 6:3; Hc. 1:13; Mt. 5:48; I João 1:5; Ap. 4:8. A
santidade de Deus significa a perfeição de todos seus atributos que são a bondade,
verdade, justiça, graça e todo o seu caráter.

ii. A Soberania de Deus.

g) Onipotência. Deus pode fazer tudo quanto Ele quiser. Passagens Bíblicas Gn 17:1;
Jó 5:9; Jr 32:17; Mt 19:26; Ap 1:8; 19:6. Se houver alguma restrição em Deus, logo
Ele não será mais Onipotente. O Deus das Sagradas Escrituras nunca correrá esse
risco! O fato de Deus não realizar certas ações, como pecado, e outras sugeridas
pelos inimigos de sua Soberania, não invalida a sua Onipotência. Pois Ele apenas
não deseja contrariar a natureza de Seu santo caráter.

h) Vontade. Deus faz tudo quanto quer fazer. Passagens Bíblicas Jó 23:13; Dn. 4:35,
11:36; Is. 40:14, 46:10; Jr. 51:29; Rm. 8:28; Ef. 1:11; 3:11; 2Tm. 1:9. Deus não é
forçado por ninguém, ou, nenhum poder exterior. Porque nada existe que possa
deter a mente e a vontade dAquele que “é antes de tudo”. O próprio Senhor fala em
sua palavra que seus pensamentos, assim como seus caminhos, são mais altos do
que os nossos (Is 55:8,9). Ele é Soberano em sua vontade, e em seus propósitos. Só
nos resta nos curvar e apoiarmos toda a nossa confiança em sua inviolável
perfeição. E junto com essa afirmação, temos a de que Deus comanda segundo a sua
23

livre vontade. E vimos antes (pois estava implícito), que Deus é o único ser livre em
si mesmo, sem influência nenhuma externa. Ele opera como quer, quando quer, e
em quem desejar, sem precisar ser interrogado por ninguém. “Desde os dias mais
antigos eu o sou. Não há quem possa livrar alguém de minha mão. “Agindo eu,
quem impedirá?” (Is 43:13). “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp2:13)

3. A DOUTRINA SOBRE CRISTO, OU, CRISTOLOGIA.


O termo cristologia não foge a regra em relação as palavras que vem sendo trabalhadas até
aqui com sua raiz etimológica. Como as outras, esse termo é também uma junção de duas
palavras gregas, Khristós (em português Cristo) “Ungido”, e logia, “conhecimento” ou
“estudo”, ou ainda, “palavra”. A cristologia, portanto, é uma parte da teologia cristã que
estuda Jesus.

3.1. A cristologia e sua inevitável relação com a antropologia bíblica e hamartiologia.


Há uma relação muito estreita entre a doutrina do homem, da queda e de Cristo. As duas
primeiras tratam do homem, criado à imagem de Deus e dotado de verdadeiro conhecimento,
justiça e santidade, mas que, pela voluntária transgressão da lei de Deus, despojou-se da sua
verdadeira humanidade e se transformou em pecador (Gn. 2:16-17; e todo o cap. 3). Elas
mostram o homem como uma criatura de Deus altamente privilegiada, trazendo ainda alguns
traços da sua glória original, mas, todavia, uma criatura que perdeu os seus direitos de
nascimento, sua verdadeira liberdade e justiça originais. E ainda, salienta a distância ética que
há entre Deus e o homem, distância resultante da queda do homem e que, nem o homem nem
os anjos podem cobrir, e, como tal, é virtualmente um grito pelo socorro divino.
A cristologia, por sua vez, é em parte a resposta a esse grito. Ela nos põe a par da obra
objetiva de Deus em Cristo construindo uma “ponte” sobre o abismo e eliminando a distância.
A Cristologia nos mostra Deus vindo ao homem para afastar as barreiras entre Deus e o
homem pela satisfação das condições da lei em Cristo, e para restabelecer o homem em Sua
bendita comunhão. Porém, antes de qualquer discussão, queremos esclarecer que neste tópico
(cristologia) iremos nos deter na pessoa de Cristo propriamente dita e na constituição de Seu
ser, pois teremos um momento específico para tratar de sua missão e obra 6. Contudo,
reconhecemos que em alguns momentos será inevitável não tocar nestes assuntos.

6
Trataremos essa questão em teologia sistemática 2, no tópico: “a doutrina da salvação, ou, soteriologia”.
24

3.2. A pessoa de Cristo: plenamente Deus e plenamente homem (Rm. 9:5; Fp. 2:7-8).
Lógica e necessariamente, precisava-se de alguém que se identificasse com Deus e, ao
mesmo tempo, se identificasse com o ser humano para que pudesse acabar de vez com o
abismo que mencionamos agora a pouco causado pela transgressão voluntária do homem. E
por essa razão é que as Escrituras afirmam categoricamente a plena divindade e plena
humanidade de Jesus Cristo. Nem os anjos têm uma comunhão com Deus como Jesus tem,
pois, afinal de contas, Ele é Deus e parte integrante da Trindade (lembrar do conceito de
Trindade).
Como pode Jesus ser Deus e ao mesmo tempo homem? Nós podemos entender do mesmo
modo em que entendemos a Trindade só que ao inverso. Duas essências em uma pessoa.
Vejamos cada uma separadamente.

3.2.1. A divindade de Jesus.


Deus criou todas as coisas. Por isso conhece toda sua criação. Os anjos podem fracassar, e
o homem fracassou. Então Deus não confiou há nenhum outro, a não ser a si mesmo, o seu
plano de redenção.
A própria Bíblia declara e demonstra a divindade de Jesus. Há diversas profecias no
Antigo Testamento que o declara como divino (Sl. 45:6,7;110:1; Is. 9:6,7; Jr. 23:6; Mq. 5:2;
Ml. 3:1), como também o Novo Testamento confirma (Hb. 1:8, 9; At. 2:32-36; Hb. 1:13; Lc.
1:31-33). Sua divindade também foi reconhecida pelo Pai e pelo Espírito Santo (Mt 3:16; Is
42:1); pelos seus discípulos (Jo. 1:1-3, 14,18; 20:28; Mt. 14:33; Rm. 9:5; 1Co. 2:8; 2Co. 12:8,
9; Cl. 2:9; 1Tm. 3:16; Tt. 2:13); pelos demônios (Mt. 8:29; Mc. 1:23, 24); E também ele
declarou de si mesmo (Mt. 11:27; 16:16, 17; 25:31; 27:63-65; 28:18; Jo. 5:17, 18; 6:37-40,
57; 10:17, 18, 30, 35-38; 14:7-9; 19:7).
Podemos ver também a divindade de Cristo Jesus em dois aspectos: 1) Em seus atributos
divinos; e 2) Em sua soberania.

i. Seus atributos divinos.

a) Onisciência. Passagens bíblicas: Mt. 9:4; 11:27; 24:1,2,14; Mc. 2:8; Lc. 6:8; 9:47; Jo.
1:48; 2:24,25; 4:17,18,39; 6:64; 11:14; 13:37,38; 16:30; 21:17; Cl. 2:3. Devemos
compreender que Jesus estava como ser humano, e que sua onisciência foi usada de
25

forma restrita (Mc. 2:8; 5:32; 9:21,33,34; 10:33,34; 11:12,13), pois o Senhor Jesus
estava submetido voluntariamente a vontade do Pai.
b) Onipresença. Passagens bíblicas: Mt. 18:20; 28:20; Jo. 1:18; 3:13. Sabemos que Jesus
é parte integrante da Trindade e compartilha da mesma essência que o Pai e o Espírito
Santo. Isso significa que ao mesmo tempo em que Ele estava encarnado, Ele também
estava em todos os lugares sustentando todas as coisas como as demais pessoas da
Trindade.
c) Onipotência. Mt. 11:27; 28:18; Lc. 7:14; Jo. 5:26-29; 10:18; 11:43,44; Ef. 1:22; Hb.
1:3; Ap. 1:8; 11:17.
d) Eternidade. Passagens bíblicas: Is. 9:6; Mq. 5:2; Jo. 1:1, 2, 15, 30; 6:62; 8:58; 13:3;
16:28; 17:5, 24; 2Co. 8:9; Cl. 1:17; Ap. 1:8,17, 18; 22:13.
e) Imutabilidade. Passagens bíblicas: Hb. 1:11, 12; 13:8.
f) Santidade. Passagens Bíblicas: Lc. 4:34; Jo. 6:69; 8:46; 2Co. 5:21; Hb. 7:26; 1Pe.
2:22.
g) Imortalidade, ou, Vida em si mesmo. Passagens bíblicas: Jo. 1:4; 2:19-22; 5:26;
10:17,18; 11:25; Hb. 7:16.

ii. Sua soberania.

h) Autoridade para perdoa pecados. Passagens bíblicas: Mt. 9:6; 26:28; Mc. 2:5-12; Lc.
24:46,47; Jo. 1:29; At. 10:43; Cl. 1:14.
i) Cura miraculosa. Passagens bíblicas: Mt. 8:13,15; 9:23-26; 11:4,5.
j) Poder sobre os demônios. Passagem Bíblica: Mt. 8:31,32.
k) Poder sobre a natureza. Passagem bíblica: Mt. 8:23-27.
l) Criação e Preservação. Passagens bíblicas: Jo. 1:3,10; 1Co. 8:6; Cl. 1:16,17; Hb.
1:3,8,10.
m) Autor da salvação. Passagens bíblicas: Mt. 1:21; Lc. 19:10; Jo. 3:16,18,36; 8:24;
10:9,27,28; 11:26; 12:44,45; 14:1; 15:5,6; 17:3; 20:31; At. 4:12; 16:31; Ap. 7:10.
n) O envio do Espírito Santo. Passagem bíblica: Jo. 16:7,14.
o) A ressurreição do seu povo. Passagem bíblica: Jo 6:40.
p) Juízo Final. Passagens bíblicas: Mt. 7:21-23; 25:31-46; At. 10:42; 2Co. 5:10; Jo. 5:22-
29.
q) Digno de ser adorado. Passagens bíblicas: Mt. 14:33; 15:25; 28:9,17; 1Co. 1:2; Fp.
2:9-11. Biblicamente somente Deus deve ser adorado, e o próprio Jesus em seu
26

confronto com satanás cita Deuteronômio 6:13 dizendo que somente a Deus se deve
adorar. Lembremos que Jesus é Deus, e que Ele falou isso porque estava em carne e
nele não há orgulho e pretensão (Fp. 2:6), pois sua missão era de ser o cordeiro que
tira o pecado do mundo, e não de ser uma oferta imperfeita, e, portanto, desagradável a
Deus Pai.

3.2.2. A humanidade de Jesus.


Quando se fala na humanidade de Jesus, somos tentados a comparar a sua humanidade
com a nossa. Como assim, Jesus foi outro tipo de ser humano? Não é bem assim. A
humanidade de Jesus era a mesma humanidade que Adão tinha antes do pecado (Jo. 8:46;
2Co. 5:21; Hb. 4:15), e a nossa é mesma que Adão teve depois do pecado (Rm. 5:12).
Assim como a sua Divindade, sua humanidade foi também profetizada no Antigo
Testamento (Gn. 3:15; Is. 7:14; 53:1-12); e também foi confirmada pelo o Novo Testamento
(Mt. 1:22,23; Ap. 8:29-35; 1Pe. 2:21-25). Ele mesmo se chamou homem (Mt. 4:4; 8:20; Jo.
8:40; At. 2:22; Rm. 5:15; 1Co. 15:21; 1Tm. 2:5), e podemos ainda ver sua humanidade em
outras passagens da Bíblia. Assim como nós, Jesus também tinha a composição total do ser
humano: corpo, alma/espírito (Mt. 26:26, 28, 38; 28:9; Mc. 14:34; Lc. 23:46; 24:39-43; Lc.
2:52; Jo. 11;33; 12:27; 13:21; 19:30; 20:20, 27).
Jesus, assim como todos os seres humanos, esteve sujeito as leis comuns da natureza.
Vejamos:

a) Nascimento e crescimento. Passagens bíblicas: Mt. 2:1; Lc. 2:6,7, 11, 40, 42, 52.
Jesus nasceu como uma criança normal. Após cumprirem-se os dias, não sabendo
falar, nem andar, desenvolveu-se como uma criança comum, tendo que ser trocado,
banhado, amamentado, cuidado, conduzido, tomado nos braços, em fim, passou por
todas as experiências possíveis a uma criança normal (ver Lc. 2:5-7, 22, 27, 28). E
ainda, teve também que ser educado pelos pais.
b) Obediência. Passagens bíblicas: Lc. 2:51; Hb. 5:8; Fp. 2:8.
c) Morte. Passagens bíblicas: Mt. 27:50; Jo. 19:30; At. 3:15; 5:30; 1Co. 15:3.
d) Teve fome. Passagens bíblicas: Mt. 4:2,11; 21:18.
e) Teve sede. Passagem bíblica: Jo. 19:28.
f) Sentiu cansaço. Passagens bíblicas: Jo. 4:6; Lc. 23:26.
g) Simpatia. Passagem bíblica: Jo. 11:33.
h) Sentiu sono. Passagem bíblica: Mt. 8:24.
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i) Chorou. Passagens bíblicas: Lc. 19:41; Jo. 11:35.


j) Sofreu. Passagens bíblicas: Lc. 22:44; 24:46; Hb. 2:18; 5:8.
k) Indignou-se. Passagens bíblicas: Mc. 3:5; 10:14.
l) Compadeceu-se. Passagens bíblicas: Mt. 9:36; Mc. 1:41.
m) Admirou-se. Passagem bíblica: Mt. 8:10.
n) Amou. Passagens bíblicas: Mc. 10:21; Jo. 13:23.
o) Alegrou-se. Passagem bíblica: Jo. 15:11.
p) Orou. Passagens bíblicas: Mt. 14:23; Lc. 6:12; Hb. 5:7.
q) Foi tentado. Passagens bíblicas: Mt. 4:1; Hb. 2:18; 4:15; Tg. 1:13. A tentação vem
sobre nós por causa de quem somos, e ela procura nossa parte mais frágil. Podemos
dizer que as tentações de Jesus não foram como grande parte de nossas tentações,
pois as nossas tentações consistem na maioria das vezes em adultério, fornicação,
sensualidade, inimizades, invejas, bebedices, glutonarias, ou seja, fazer qualquer
tipo de maldade contra Deus e contra o nosso próximo (Tg. 1:14; Gl. 5:19-21). E em
Jesus não habita mal algum, corrupção alguma para que possa se sentir tentado por
tais coisas. As tentações de Jesus são de acordo com as necessidades da moral
humana sem pecado (que somente Jesus possui. E elas existiram, porque Jesus que é
“sem pecado”, estava num mundo mergulhado em pecados), e do corpo físico,
como: fome, sede, sono, medo, indignação pela injustiça e qualquer coisa do tipo,
que possa tentar impedir sua comunhão com o Pai e o Espírito Santo; como também
a sua missão. Um exemplo pode ser encontrado em Mt. 4:1-11, que narra à tentação
que o diabo fez a Jesus, quando foi levado pelo Espírito Santo para o deserto.
Satanás tentou confundir Jesus, para que Ele pudesse agir como Deus, mesmo
estando na forma humana. Chegando até a usar até sua fome, querendo profanar o
jejum que Jesus estava consagrando ao Pai.

3.3. Era o Anjo do Senhor Cristo pré-encarnado?


Uma das figuras mais intrigantes das histórias no A.T. é o Anjo do Senhor. Isso acontece
devido a sua figura ser sempre associada com Deus. Pelo menos dois fatores nos levam a essa
conclusão: em alguns momentos específicos, o Anjo fala como se fosse Deus (Gn. 31.11-13;
Jz. 2.1-3); 2), sendo que as pessoas que se deparam com ele o tratam como se ele fosse Deus
(Gn. 16.11-13; Jz. 13.22). E o mais intrigante ainda é que, em alguns casos, o Anjo do Senhor
parece ser distinto do próprio Senhor. Na passagem de Jz. 6:11-23 temos uma situação
curiosa: o Anjo do Senhor vai ao encontro de Gideão e fala do Senhor na terceira pessoa
28

(vv.11-13). Quando Gideão responde, o próprio Senhor falou a Gideão, usando a primeira
pessoa (vv.14-17). Quando o anjo partiu (v.21), o Senhor, que por implicação estava invisível,
continuou do lado de Gideão e o assegurou que ele não morreria (vv.22-23). Outras passagens
também indicam ou no mínimo permitem uma distinção entre Deus e seu Anjo (Gn. 21:17-19;
22:11-12, 15-17; Êx. 3:1-6).
Um dos exemplos mais claros disso está em Gn. 22 na tentativa de sacrifício de Isaque. O
Anjo do Senhor fala em apenas dois momentos nesta ocasião. Mas, já é o bastante para ter
muitas implicações para sua divindade. Vejamos quais. 1) o Anjo irá se dirigir a Abraão para
que não mate a Isaque (vv.11-12). 2) dois fatores que se alternam: a) o fator interno (o temor a
Deus - “pois agora sei que temes a Deus”), e b) o fator externo (a obediência a Deus - “não
me negaste o filho, o teu único filho”). Nas palavras do Anjo, o temer a Deus implicava não
lhe negar Isaque. O que é isso senão uma própria consciência de divindade? Unidos a essa
conclusão óbvia, estão os vv.15-16 para corroborarem com este pensamento. 3) Ele fala em
termos como se tivesse a autoridade do próprio Deus: “por mim mesmo jurei, diz o Senhor”.
O texto é claro, pois o Anjo do Senhor não está falando em nome de outro. Ele fala como o
próprio Deus.
A mesma idéia se repete quando o Anjo do Senhor se dirige a Jacó em seu sonho (Gn.
31.13), na ocasião em que este fugia de Labão. O próprio Anjo do Senhor diz de si mesmo:
“Eu sou o Deus de Betel”. Este fator ganha ainda mais força quando percebemos que o
pronome pessoal “Eu” está em ênfase na estrutura da frase. Adicionado a isso, em Gn. 32.9
Jacó recorda o incidente e reconhece que foi o “Senhor que me disseste”. Depois desses
incidentes, Jacó “edificou ali um altar e ao lugar chamou El-Betel; porque ali Deus se lhe
revelou quando fugia da presença de seu irmão” (Gn. 35:7). Posteriormente, no episódio de
Balaão estão repetidas as mesmas questões: o Anjo se manifesta e Deus fala (Nm. 22.22-35).
Quando Moisés menciona as aparições do Anjo do Senhor sempre está voltada à ideia de
que ele está guiando ou protegendo Israel. Isso é, evidentemente, uma obra divina pelas
características que envolvem. Entrelaçada às outras duas características já mencionadas, mais
uma se adiciona no diálogo de Zc. 1:12-21 entre Deus e o seu Anjo: ele intercede pelo povo.
Enfim, as evidências nos levam a entender que existe uma pluralidade dentro do único Ser
divino. Vamos a cinco razões pelas quais devemos entender este Anjo como divino: 1) o
próprio Anjo identifica-se como Deus em vários momentos; 2) aqueles que o veem o
consideram como tal; 3) os próprios escritores bíblicos não relutam colocando uma posição
contrária, antes a tratam de uma forma muito natural; 4) a doutrina da pluralidade de pessoas
na Deidade está em pleno acordo com a prefiguração primitiva; 5) caso o Anjo fosse um ser
29

criado de status inferior a Deus, a unidade orgânica da Escritura sofreria uma ruptura
considerável, posto que, aquilo que o Antigo Testamento consideraria como um ser criado, o
Novo Testamento considera como a encarnação do Deus-homem. Mais duas razões: 6) existe
na pessoa do Anjo tanto uma individualidade como uma identificação com Deus; e 7) suas
atividades como provedor, protetor e redentor para com o seu povo é uma clara atividade
divina.
Todos esses fatores nos levam a creditar este papel a Cristo, a segunda pessoa da
Trindade. O Novo Testamento não tem dificuldades em creditar a Cristo a figura de um anjo
(veja Ap. 20:1). Assim, as perfeitas obras desenvolvidas por tal Anjo só são possíveis devido
à perfeição da sua divindade.

3.4. Jesus é o Kýrios.


Sabemos que Jesus é Deus, então conseqüentemente Ele é o Senhor. Mas essa explicação,
apesar de bem lógica, fica a desejar para o propósito dessa parte do estudo. Para começarmos,
iremos para uma importante informação que encontramos no A.T.
Vimos antes que por causa da reverencia e do medo de serem acusados de profanarem o
nome de Deus, os judeus se referiam a Deus em seu idioma hebraico como YHWH; e essa
palavra é encontrada 5.321 vezes no A.T. No N.T. que foi escrito em grego, também vimos,
que a palavra usada para se referir a Deus Pai é Kýrios, e é encontrada 715 vezes. A palavra
Kýrios, que significa Senhor, também é usada para se referir a Jesus (Deus Filho); e isso é tão
evidente, que em alguns textos no novo testamento não se tem certeza se o autor do livro, ou
da carta, está se referindo a Deus Pai, ou, a Deus Filho (At. 1:24; 2:47; 8:39; 9:31; 11:21;
13:10-12; 16:14; 20:19; 21:14; Rm. 14:11).
Se tratando de Jesus, seu Senhorio no novo testamento pode ser reconhecido de duas
maneiras básicas: 1) de forma reverente e admirável, pois quando lhe chamavam Senhor
poderia ser comparado a rabbi (mestre) de seus discípulos (Mt. 17:4; Mc. 9:5; Lc. 9:33; Jo.
4:14,15,19; 6:34; 13:6); 2) no sentido de Messias exaltado, o Cristo vindo da parte de Deus
com suprema autoridade espiritual, que poderia ser comparado a YHWH no A.T. (Mt. 3:3;
Mc. 12:36,37; Lc. 1:43; 2:11; 3:4; Jo. 20:28; At. 2:36; 10:36; Rm. 10:9; 1Co. 2:8; 8:6; 12:3;
Fp. 2:11; Tg. 2:1; Ap. 19:16, etc).
O Senhorio de Cristo ficou mais evidente após a sua ressurreição quando retomou a sua
glória em toda sua plenitude (Jo. 17:5; Ap. 1:12-16), pois para que Ele pudesse encarnar e
cumprir sua missão teve que deixar seus soberanos poderes para ser plenamente homem,
ainda que plenamente Deus (Fp. 2:7). “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe
30

deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho,
nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor
(Kýrios = YHWH), para a glória de Deus Pai” (Fp. 2:9-11).

3.5. Os nomes e títulos de Jesus.


Vejamos alguns nomes e títulos que são usados para designar a pessoa de Cristo Jesus:

1) Pedra Angular: (Ef. 2:20). Jesus é a pedra angular do edifício da Sua Igreja. Ele
cimenta juntos os judeus e gentios, homens e mulheres – todos os santos de todas as
épocas e lugares em uma estrutura construída sobre a fé nEle, a qual é compartilhada
por todos.
2) Primogênito de toda a criação: (Cl. 1:15). Não a primeira coisa que Deus criou, como
alguns afirmam de forma incorreta, porque o versículo 16 diz que todas as coisas
foram criadas por e para Cristo. Em vez disso, o significado é que Cristo ocupa o
posto e preeminência do primogênito sobre todas as coisas, que Ele sustenta a posição
mais exaltada no universo, que Ele é preeminente sobre todos os outros e é o cabeça
de todas as coisas.
3) Cabeça da Igreja: (Ef. 1:22, 4:15; 5:23). Jesus Cristo, não um rei ou um papa, é o
único governante supremo e soberano da Igreja, ou seja, daqueles por quem Ele
morreu e que têm colocado sua fé nEle para obter a salvação.
4) Santo: (At. 3:14, Sl. 16:10). Cristo é santo, tanto em sua natureza divina quanto
humana, e a fonte de santidade ao Seu povo. Pela Sua morte, somos feitos santos e
puros diante de Deus.
5) Juiz: (At. 10:42; 2Tm. 4:8). O Senhor Jesus foi designado por Deus para julgar o
mundo e dispensar as recompensas da eternidade.
6) Rei dos reis e Senhor dos senhores: (1Tm. 6:15, Ap. 19:16). Jesus tem domínio sobre
todas as autoridades da terra, sobre todos os reis e governantes, e ninguém pode
impedi-lo de realizar os seus propósitos. Ele os dirige como lhe agrada.
7) Luz do Mundo: (Jo. 8:12). Jesus entrou em um mundo escurecido pelo pecado e
derramou a luz da vida e a verdade por meio de Sua obra e Suas palavras. Jesus abre
os olhos daqueles que confiam nEle e andam na luz.
8) Príncipe da paz: (Is. 9:6). Jesus não veio trazer paz ao mundo como na ausência de
guerra, mas a paz entre Deus e o homem que estavam separados pelo pecado. Ele
morreu para reconciliar os pecadores a um Deus santo.
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9) Filho de Deus: (Lc. 1:35; Jo. 1:49). Jesus é o “unigênito do Pai” (Jo. 1:14). Usado 42
vezes no Novo Testamento, o termo “Filho de Deus” afirma a divindade de Cristo.
10) Filho do homem: (Jo. 5:27). Usado como um contraste com "Filho de Deus", esta
frase afirma a humanidade de Cristo que existe ao lado de Sua divindade.
11) Verbo/Palavra: (Jo. 1:1, 1Jo. 5:7-8). A Palavra é a segunda pessoa da trindade, o que
falou e assim foi feito, o que falou e levou todas as coisas à existência do nada na
primeira criação, o que estava no princípio com Deus Pai, e era Deus, e por quem
todas as coisas foram criadas.
12) Palavra de Deus: (Ap. 19:12-13). Este é o nome dado ao Cristo que é desconhecido
por todos, menos por Si mesmo. Esse termo denota o mistério da Sua pessoa divina.
13) Palavra de Vida: (1Jo. 1:1). Jesus não só falou palavras que conduzem à vida eterna,
mas de acordo com este versículo, Ele é as próprias palavras de vida, referindo-se à
vida eterna de alegria e satisfação que Ele proporciona.

i. Sua posição na trindade.

14) Alfa e Ômega: (Ap. 1:8; 22:13). Jesus declarou ser o início e o fim de todas as coisas,
uma referência ao verdadeiro Deus e ninguém mais. Esta declaração de eternidade só
pode ser aplicada a Deus.
15) Emanuel: (Is. 7:14, Mt. 1:23). Literalmente "Deus conosco". Tanto Isaías quanto
Mateus afirmam que o Cristo que nasceria em Belém seria o próprio Deus que veio à
Terra na forma de um homem para viver entre o Seu povo.
16) Eu Sou: (Jo. 8:58, com Êx. 3:14). Quando Jesus atribuiu a Si mesmo este título, os
judeus tentaram apedrejá-lo por blasfêmia. Eles compreenderam que Jesus estava
declarando ser o Deus eterno, o imutável Yahweh do Antigo Testamento.
17) Senhor de todos: (At. 10:36). Jesus é o Senhor soberano sobre o mundo inteiro e todas
as coisas nele contidas, de todas as nações do mundo, e particularmente do povo
escolhido de Deus, tanto gentios quanto judeus.
18) Verdadeiro Deus: (1Jo. 5:20). Esta é uma afirmação direta de que Jesus, sendo o
verdadeiro Deus, não é apenas divino, mas é o Divino. Já que a Bíblia ensina que há
somente um Deus, isso só pode estar descrevendo a Sua natureza como parte do Deus
Trino.

ii. Sua obra na Terra.


32

19) Autor e Consumador da nossa fé: (Hb. 12:2). A salvação é alcançada através da fé
que é dom de Deus (Efésios 2:8-9) e Jesus é o fundador da nossa fé e o seu
consumador também. Do primeiro ao último, Ele é a fonte e o sustentador da fé que
nos salva.
20) Pão da Vida: (Jo. 6:35; 6:48). Assim como o pão sustenta a vida no sentido físico,
Jesus é o Pão que dá e sustenta a vida eterna. Deus providenciou o maná no deserto
para alimentar o seu povo, e Ele providenciou Jesus para nos dar a vida eterna através
do Seu corpo partido por nós.
21) Noivo: (Mt. 9:15). O retrato de Cristo como o Noivo e a Igreja como a Sua Noiva
revela a relação especial que temos com Ele. Estamos ligados uns aos outros em uma
aliança de graça que não pode ser quebrada.
22) Redentor: (Rm. 11:26). Assim como os israelitas precisavam que Deus os libertasse
da escravidão do Egito, assim Cristo é o nosso Redentor da escravidão do pecado.
23) Bom Pastor: (Jo. 10:11, 14). Nos tempos bíblicos, um bom pastor estava disposto a
arriscar a sua própria vida para proteger as suas ovelhas dos predadores. Jesus deu a
Sua vida por Suas ovelhas e Ele cuida, nutre e nos alimenta, e não apenas isso, mas
Jesus foi assim chamado para que se cumprisse a profecia de Ezequiel, onde diz que o
próprio Deus apascentaria seu povo (Ez. 34:1, 23).
24) Sumo Sacerdote: (Hb. 2:17). O sumo sacerdote judeu entrava no templo uma vez por
ano para fazer expiação pelos pecados do povo. O Senhor Jesus executou essa função
por Seu povo de uma vez por todas na cruz.
25) Cordeiro de Deus: (Jo. 1:29). A Lei de Deus exigia o sacrifício de um cordeiro
perfeito e imaculado como expiação pelo pecado. Jesus se tornou o Cordeiro levado
mansamente para o abate, mostrando a Sua paciência em Seus sofrimentos e a Sua
prontidão para morrer pelos que lhe pertence.
26) Mediador: (1Tm. 2:5). Um mediador é um que fica entre duas partes para reconciliá-
las. Cristo é o único Mediador que reconcilia os homens a Deus. Orar a Maria ou aos
santos é idolatria porque ignora esse papel mais importante de Cristo (o de Mediador),
atribuindo-lhe a outro.
27) Rocha: (1Co. 10:4). Assim como a água que dá vida fluiu da rocha que Moisés bateu
no deserto, Jesus é a Rocha da qual fluem as águas vivas da vida eterna. Ele é a Rocha
sobre a qual construímos nossas casas espirituais, de modo que nenhuma tempestade
possa sacudi-las.
33

28) Ressurreição e a Vida: (Jo. 11:25). Em Jesus encontramos o meio para ressuscitar os
pecadores à vida eterna, assim como Ele ressuscitou dentre os mortos. Nosso pecado é
sepultado com Ele, e somos ressuscitados para andar em uma nova vida.
29) Salvador: (Mt. 1:21, Lc. 2:11). Ele salva o Seu povo ao morrer para redimi-los, ao
dar-lhe o Espírito Santo para renová-los pelo Seu poder, ao capacitá-los a enfrentar os
seus inimigos espirituais, ao sustentá-los durante as provações e morte e ao ressuscitá-
los no último dia.
30) Videira Verdadeira: (Jo. 15:1). A Videira Verdadeira fornece tudo de que os ramos
(crentes) necessitam para produzirem o fruto do Espírito -- a água vida da salvação e o
alimento da Palavra.
31) Caminho, Verdade, Vida: (Jo. 14:6). Jesus é o único caminho para Deus, a única
verdade em um mundo de mentiras e a única fonte verdadeira da vida eterna. Ele
incorpora todos os três tanto em um sentido temporal quanto eterno.

4. A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO, OU, PNEUMATOLOGIA.


Mais uma vez, é uma palavra de origem grega: pneumatos “espírito”, “fólego”, “vento”,
mais logia “conhecimento”, “estudo”, “palavra”. Daí vem a terminologia para a doutrina do
Espírito Santo, pneumatologia.

4.1. A pessoa do Espírito Santo.


O Espírito Santo não é uma força impessoal. A Bíblia deixa claro de várias maneiras que o
Espírito Santo é uma pessoa distinta do Pai e do Filho e não uma mera influência ou operação
divina, e, portanto, dotado de intelecto, emoção, autoconsciência e autodeterminação.
O Espírito Santo é um ser vivo, dotado de personalidade própria, não sendo meramente
uma influência ou emanação de Deus. Antes, é uma pessoa, claramente divina, que faz parte
da trindade da divindade (Jo. 14:16-17,26; 16:7-15 e Mt. 28:19).
Os pronomes pessoais aplicados ao Espírito Santo são masculinos (Jo. 15:26;
16:7,8,13,14), muito embora o vocábulo grego (pneuma) seja substantivo neutro. O termo
masculino (parákletos) é aplicado ao Espírito Santo (Jo. 14:16-17) como sendo outro
Consolador igual a Cristo.
O Espírito Santo possui características pessoais como inteligência (1Co. 2:10-11; Rm.
8:27), vontade (1Co. 12:11), amor (Rm. 15:30), bondade (Ne. 9:20) e tristeza (Ef. 4:30; Is.
63:10). Além de características pessoais o Espírito Santo também possui atos pessoais: Ele
investiga minuciosamente (1Co. 2:10), Ele fala (Ap. 2:7; Gl. 4:6; Jo. 15:26), Ele intercede
34

(Rm. 8:26), Ele ensina (Jo. 14:26), Ele guia (Jo. 16:12-14; Ne. 9:20), Ele chama (At. 13:2;
20:28).

4.2. O Espírito Santo no A.T.


Primeiramente iremos traçar o percurso de como desenvolveremos a doutrina do Espírito
Santo própria do primeiro testamento, a saber, i. Sua participação na Criação; ii. Sua
atuação; iii. A promessa de Sua plenitude.
i. Sua participação na Criação.
Conforme vimos, o Espírito Santo teve a sua participação na criação, e suas atividades
estavam intimamente relacionadas com as atividades de Deus Pai e Deus Filho em todo o
processo. Contudo, sua atividade principal começou somente depois da criação da matéria
pela palavra de Deus, onde Ele deu origem à vida.
Em Gn. 1:2 demonstra primeiro a criação de toda a matéria, a animação e, por fim, a
preservação da mesma, a qual é obra do Espírito Santo. Desse modo, senão vejamos alguns
aspectos do trabalho específico da terceira pessoa da trindade na criação dos céus e da terra.
a) Pairava sobre a desordem. Antes da criação da terra estar completa e em ordem para
ser habitável, o Espírito Santo já estava presente desde o início em todo o processo.
Em Gn. 1:2, é dito que o Espírito de Deus ou o Espírito Santo pairava sobre a face das
“águas”, ou, literalmente, do abismo. “O texto hebraico mostra que o trabalho do
Espírito Santo se movendo sobre a face das águas era semelhante àquele de uma ave
que, com as asas estendidas, paira sobre seus filhotes para cobri-los e afagá-lo. A
figura implica que não apenas a terra existia, mas também os germes de vida estavam
nela e que, o Espírito Santo, impregnando esses germes, fez com que a vida existisse,
a fim de conduzi-la ao seu destino”.
b) Criou e dispôs os céus e a terra. No Sl. 33:6, vemos descrito que o Espírito Santo
criou os céus e o exército deles. A primeira expressão do versículo diz: Os céus por
sua palavra se fizeram; e a segunda afirma: ... e, pelo sopro [Espírito] de sua boca, o
exército deles [sol, lua e estrelas]. Na poesia hebraica, expressões paralelas denotam o
mesmo sentido, porém de maneiras diferentes. Desse modo, nessa passagem, os
termos palavra e Espírito (sopro), possuem o mesmo significado. O termo Espírito, no
entanto, enfatiza apenas a peculiaridade do trabalho do Espírito Santo na criação.
Refere-se não à criação da matéria da qual o sol, a lua e as estrelas foram compostos,
mas da glória que eles refletem. Esta glória é obra do Espírito Santo. Assim, o Sl. 33.6
35

aborda a criação, a natureza dos céus e, por conseguinte, o seu desenvolvimento, o


qual é realizado pelo Espírito Santo.
c) Proporcionou vida à criação animal. Gn. 1:24-25; Sl. 104:27-30 relata a criação dos
animais e suas diferentes espécies. Foi obra do Espírito Santo outorgar vida aos
animais. Foi Ele que produziu vida aos animais domésticos, como cães e gatos; aos
répteis, aos animais selváticos, dentre outros.
d) Chamou o homem à existência. Sabemos que as três pessoas da divindade estavam
presentes em todo o processo da criação dos céus e da terra. Entretanto, produzir vida
ao homem foi tarefa essencial do Espírito Santo. Gn. 2:7 salienta que após criar o
homem Adão do pó da terra, Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida. Esta vida,
portanto, é a vida biológica que o Espírito Santo insuflou em Adão, e Jó 33:4 confirma
isso.
Portanto, diante de tudo o que foi demonstrado, entendemos que o Espírito Santo teve um
papel singular na obra da criação.
ii. Sua atuação.
O papel do Espírito Santo no Antigo Testamento é muito parecido com o seu papel no
Novo Testamento. Quando falamos do papel do Espírito Santo, podemos discernir quatro
áreas gerais nas quais o Espírito Santo trabalha: a) regeneração, b) habitação (ou enchimento),
c) contenção e d) capacitação para o serviço.
a) Regeneração. Uma outra palavra para regeneração é “renascimento”, do qual obtemos
o conceito de “nascer de novo”. O texto de prova clássico para isto pode ser
encontrado no evangelho de João: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de
Deus, se não nascer de novo” (Jo. 3:3). Isso levanta a questão: o que isso tem a ver
com a obra do Espírito Santo no Antigo Testamento? Mais tarde, em seu diálogo com
Nicodemos, Jesus diz-lhe: “Você é mestre em Israel e não entende essas coisas?” (Jo.
3:10). O ponto que Jesus estava destacando é que Nicodemos deveria saber a verdade
de que o Espírito Santo é a fonte de vida nova porque isso é revelado no Antigo
Testamento. Por exemplo, Moisés disse aos israelitas antes de entrar na Terra
Prometida que “O Senhor, o seu Deus, dará um coração fiel a vocês e aos seus
descendentes, para que o amem de todo o coração e de toda a alma e vivam” (Dt.
30:6). Esta circuncisão do coração é a obra do Espírito de Deus e pode ser realizada
somente por Ele. Vemos também o tema da regeneração em Ez. 11:19-20 e 36:26-29.
O fruto do trabalho regenerador do Espírito é a fé (Ef. 2:8). Agora sabemos que havia
homens de fé no Antigo Testamento porque Hb. 11 nomeia muitos deles. Se a fé é
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produzida pelo poder regenerador do Espírito Santo, então este deve ser o caso dos
santos do Antigo Testamento, os quais olhavam adiante para a cruz, acreditando que o
que Deus havia prometido em relação à sua redenção iria acontecer. Eles viram as
promessas “de longe e de longe as saudaram” (Hb. 11:13), aceitando pela fé que Deus
realizaria o que prometera.
b) Habitação, ou, enchimento. Aqui é onde a principal diferença entre os papéis do
Espírito no Antigo e Novo Testamento é aparente. O Novo Testamento ensina a
habitação permanente do Espírito Santo nos crentes (1Co. 3:16-17; 6:19-20). Quando
colocamos nossa fé em Cristo para a salvação, o Espírito Santo vem morar dentro de
nós. O Apóstolo Paulo chama isso de habitação permanente, a “garantia da nossa
herança” (Ef. 1:13-14). Em contraste com este trabalho no Novo Testamento, a
habitação no Antigo Testamento era seletiva e temporária. O Espírito “apoderava-se”
de certas pessoas do Antigo Testamento como Josué (Nm. 27:18), Davi (1Sm. 16:12-
13) e até Saul (1Sm. 10:10). No livro de Juízes, vemos o Espírito “apoderando-se” dos
vários juízes que Deus tinha levantado para libertar Israel de seus opressores. O
Espírito Santo veio sobre estes indivíduos para tarefas específicas. A habitação era um
sinal do favor de Deus sobre aquele indivíduo (no caso de Davi), e se o favor de Deus
abandonava uma pessoa, o Espírito sairia (por exemplo, no caso de Saul em 1Sm.
16:14). Finalmente, o Espírito “apoderando-se” de um indivíduo nem sempre indicava
a condição espiritual da pessoa (por exemplo: Saul, Sansão e muitos dos juízes).
Assim, enquanto no Novo Testamento o Espírito só habita os crentes e de uma forma
permanente, o Espírito veio sobre certos indivíduos do Antigo Testamento para uma
tarefa específica, independentemente da sua condição espiritual. Uma vez que a tarefa
foi concluída, o Espírito presumivelmente saía dessa pessoa.
c) Contenção. Gênesis 6:3 parece indicar que o Espírito Santo restringe a
pecaminosidade do homem, e que essa restrição pode ser removida quando a paciência
de Deus sobre o pecado chegar a um "ponto de ebulição". Este pensamento é repetido
em 2 Tessalonicenses 2:3-8, quando no fim dos tempos uma crescente apostasia vai
sinalizar a vinda do juízo de Deus. Até o tempo predeterminado quando o "homem do
pecado" (v. 3) será revelado, o Espírito Santo restringe o poder de Satanás e o soltará
apenas quando fazê-lo cumprir os Seus propósitos.
d) Capacidade para o serviço. Muito parecido com a maneira em que os dons espirituais
operam no Novo Testamento, o Espírito capacita certos indivíduos para o serviço.
Considere o exemplo de Bezalel em Êxodo 31:2-5, o qual foi dotado para fazer muito
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do trabalho de arte relacionado com o Tabernáculo. Além disso, recordando a


habitação seletiva e temporária do Espírito Santo discutida acima, vemos que estes
indivíduos foram dotados para executar determinadas tarefas, assim como reinar sobre
o povo de Israel (por exemplo, Saul e Davi).
Ao todo, o Espírito Santo em grande parte realiza na nossa época atual as mesmas funções
que nos tempos do Antigo Testamento. A principal diferença é a habitação permanente do
Espírito nos crentes agora. Como Jesus disse a respeito dessa mudança no ministério do
Espírito: "Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês" (Jo. 14:17).
iii. A promessa da plenitude do Espírito Santo.
Vimos antes que, por mais que o Espírito Santo fosse bem ativo na antiga aliança, ele não
agia de forma plena como no N.T. A prova bíblica sobre essa afirmação são as seguintes
passagens:
a) Pois derramarei água na terra sedenta, e torrentes na terra seca; derramarei meu
Espírito sobre sua prole, e minha bênção sobre seus descendentes (Is. 44:3).
b) Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a
obedecerem fielmente às minhas leis (Ez. 36:27).
c) E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as
suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões. Até sobre os
servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias (Jl. 2:28-29).
Nesta última, somos frequentemente lembrados em nossas igrejas que foi o pontapé inicial
da igreja, mais precisamente no dia de Pentecoste, como falaremos mais a frente no tópico: o
Espírito Santo no N.T.
Então, com base nestas passagens, concluimos que ainda haveria de vir uma
plenitude/promessa de uma efusão extraordinária do Espírito Santo como nunca houve antes.
Enquanto que no A.T., ordinariamente, a Sua atuação era no coletivo, no N.T. (como
veremos), sua atuação normal é no indivíduo.

4.3. O Espírito Santo no N.T.


i. O cumprimento da promessa.
Antes de sua morte, Jesus prometeu que ele e o Pai enviariam a seus discípulos outro
consolador, ou paráclito (parakletos) - o Espírito Santo - um ajudador e conselheiro que daria
continuidade à obra de Cristo. O fato de Jesus prometer outro paráclito indica que Jesus foi o
primeiro deles e promete outro que irá proceder à aplicação e manutenção de sua obra, em seu
nome e como um dom de Deus, infundindo e mantendo no crente justificado a fé e o
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arrependimento para a vida, necessários à salvação. O ministério do Espírito Santo é um


ministério relacional e pessoal, o que implica na pessoalidade do Espírito. Vejamos algumas
passagens.
a) Jo. 14:16-17: “Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome,
lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse. Deixo-lhes a
paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus
corações, nem tenham medo”.

Uma observação! Após sua ressurreição Jesus coloca o Espírito sobre os apóstolos, afim
de que o recebessem, como um dom de Deus, para a realização da obra a eles destinada.
Pode-se observar claramente pela Escritura, que os apóstolos somente venceram o seu medo e
timidez após a ressurreição. A obra dos apóstolos é a continuação da obra de Jesus, motivo
pelo qual ele os envia no poder do Espírito.

b) Jo. 20:22: “E com isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo’”. Os
apóstolos não receberam somente a ousadia através do Espírito, mas também foram
guiados pela instrução do Espírito em seu ministério.
c) Jo. 16:13-14: “Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade.
Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir.
Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês”.

João Batista profetizou que Jesus batizaria com o Espírito, este fato havia sido previsto no
A.T. pelo profeta Joel – como vimos. O Pentecoste selou de forma definitiva o final da era do
A.T. e marcou o início do cristianismo. A partir do derramamento do Espírito no Pentecoste,
o desenvolvimento do ministério cristão recebeu um avivamento formidável que o levou a
todos os povos do mundo conhecido naquela época. E, como um complemento, Paulo diz em
Colossences 1:6 dizendo: “que chegou até vocês. Por todo o mundo este evangelho vai
frutificando e crescendo, como também ocorre entre vocês, desde o dia em que o ouviram e
entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade”.
Portanto, assim entendemos o cumprimento da promessa.
ii. Vejamos algumas das atuações do Espírito no N.T.
a) O Espírito Santo purifica.
Uma dos principais atributos do Espírito Santo é ser Santo; logo, não é difícil de entender
porque, quando Ele passa a habitar em nós, uma de suas tarefas é nos santificar e nos tornar
39

mais parecidos com Deus. Sua grande missão no mundo é convencê-lo do pecado (Jo. 16:8-
11), pois o mundo jaz no maligno e, consequentemente, está entregue aos prazeres da carne e
repleto de pecado. Isaías 59:2 diz que o pecado faz divisão entre Deus e o homem. O Espírito
Santo vem sobre a vida do homem para lavá-lo, purifica-lo e torna-lo conhecedor da obra
redentora de Cristo. Esse ministério tem início quando ele nos leva a aceitar a mensagem de
perdão dos nossos pecados. O Espírito Santo anuncia que chegou o tempo da salvação,
caracterizando pelo perdão para todos os que se arrependem de seus pecados”.
b) O Espírito Santo revela.
Assim como vimos o Espírito Santo inspirando os profetas no A.T., o mesmo ocorre no
N.T. com os Apóstolos; como é o caso de João que falou “as coisas que hão de vir” (Jo.
16:13; Ef. 3:5). Podemos citar exemplos de outros que receberam a revelação dada pelo
Espírito Santo para cantarem e falarem palavras que passaram a fazer parte das Escrituras
como é o caso de Isabel (Lc. 1:41), Zacarias (Lc. 1:67) e Simeão.
c) O Espírito Santo dá evidências da presença de Deus.
O Espírito o tempo todo evidência a glória de Jesus e não traz glória para si, assim como o
próprio Jesus não se auto-glorificou. Há várias passagens bíblicas que evidenciam isso (Jo.
16:14; At. 5:32; 1Jo. 2:3; 1Jo. 4:2). Foi Ele quem operou milagres através da vida de Jesus. E
Jesus dava essa honra a Ele, como vemos em Mateus 12:25-27, quando Jesus censurou os
fariseus, que depois de vê-lo expulsando demônios comparam tal expulsão ao espírito de
belzebu. Jesus disse: “se alguém falar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado” (Mt.
12:32). Ou seja, Jesus não atribuiu o milagre a si próprio, mas ao Espírito Santo. É como se o
Espírito desse a honra a Jesus, e Jesus devolvesse a Ele, mostrando que os dois são um só.
Cada pessoa da trindade busca a honra da outra, exaltando-a. O evangelho de João diz: “Mas
o consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as
coisas e vos fará lembrar de tudo o que eu vos tenho dito [...] Pai, chegou a hora. Glorifica teu
Filho, para que também o filho te glorifique, assim como lhe deste autoridade sobre toda a
humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta:
que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste. Eu te glorifiquei
na terra, completando a obra da qual me encarregaste. Agora, pois, glorifica-me, ó Pai, junto
de ti mesmo, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo. 14:26; 17:1-
5).
iii. A plenitude.
“A vida cristã é viva no Espírito. Todos os cristãos concordam nisso com alegria. Seria
impossível ser cristão, sem falar em viver e crescer como cristão, sem o ministério do
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gracioso Espírito de Deus. Tudo o que temos e somos como cristãos devemos a ele” (STOTT,
2007, p.21).
Todos os cristãos genuinos tem uma experiência do Espírito Santo desde os primeiros
momentos da sua vida cristã. Para o cristão, a vida começa com o novo nascimento, e o novo
nascimento é um nascimento “no Espírito” (Jo. 3:3-8). Ele é o “Espírito da vida”, e, como
vimos, é ele quem dá vida às nossas almas mortas. Mais que isto, Ele vem pessoalmente
habitar em nós, de maneira que a Sua presença é o privilégio que todos os filhos de Deus têm
em comum.
Será que Deus nos faz seus filhos e depois nos dá seu Espírito, ou será que ele nos dá
primeiro seu “Espírito de adoção”, que nos torna seus filhos? Vejamos esse importante
comentário de Stott (2007, p.21, 22),
Podemos responder que Paulo diz as duas coisas. Por um lado, "porque vós sois
filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho" (Gál. 4:6). Por
outro lado, "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
Porque não recebestes o espírito de escravidão para viverdes outra vez atemorizados,
mas recebestes o espírito de adoção" (Rom. 8:14-15). Não importa como você
encara a questão: o resultado é o mesmo. Todos os que têm o Espírito de Deus são
filhos de Deus, e todos os que são filhos de Deus têm o Espírito de Deus.

É impossível, até inconcebível, ter o Espírito sem ser filho, ou ser filho sem ter o Espírito.
Além disso, uma das primeiras obras do Espírito que mora em nós, e, graças a Deus, sempre
repetida, é assegurar-nos que somos filhos, especialmente quando oramos. Quando clamamos:
“Aba, Pai”, “o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm.
8:15,16). Ele também inundou nosso coração com o amor de Deus (Rm. 5:5). E então Paulo
resume o assunto ao dizer que “se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele”
(Rm. 8:9).
Portanto, tudo isso é a plenitude do Espírito. Plenitude essa, que o A.T. só conheceu como
promessa.

4.4. Os atributos divinos do Espírito Santo.


Além dos atributos de personalidade o Espírito Santo (como plenamente Deus que é)
também partilha de atributos divinos. Vejamos.
i. Onipotência.
O divino Consolador tem pleno poder sobre todas as coisas (Sl.104:30). O Espírito Santo
tem poder próprio. É dEle que flui a vida, em suas dimensões e sentidos bem como o poder de
Deus (Sl. 104:30; Ef. 3:16; At. 1:8). Isso é uma evidência da deidade do Espírito Santo. Ele
41

tem autoridade e poder inerentes, como vemos em toda a Bíblia, máxime em o Novo
Testamento.
Em 1Coríntios 2:4, na única referência (no original) em que aparece o termo traduzido por
“demonstração do Espírito Santo”, designa-se literalmente uma demonstração operacional,
prática e imediata na mente e na vida dos ouvintes do evangelho de Cristo. E isso ocorre pela
poderosa ação persuasiva e convincente do Espírito, cujos efeitos transformadores foram
visíveis e incontestáveis na vida dos ouvintes de então, confirmando o evangelho pregado
pelo apóstolo Paulo (1Co. 2:4,5). Era nítido o contraste entre a ação poderosa do Espírito e os
métodos secos e repetitivos dos mestres e filósofos gregos da época, que tentavam convencer
e conseguir admiradores e discípulos mediante demonstrações encenadas de retórica, dialética
e argumentação filosófica; isto é, “sabedoria dos homens” (v.5). Que diferença faz o
evangelho de poder do Senhor Jesus Cristo, o qual “é o poder de Deus para a salvação de todo
o que crê” (Rm. 1: 16). Paulo reconhecia que os mestres gregos o superavam em capacidade
acadêmica e humana (2 Co 10.10; 11.6). Mas a sabedoria, a oratória e a argumentação
filosófica deles era tão-somente um espetáculo teatral, vazio, que atingia apenas os sentidos
dos espectadores. No apóstolo Paulo, ao contrário, operava, nesse sentido, o poder de Deus (I
Co 2.4,5; Cl 1.29; I Ts 1.5; 2 Co 13.10). O poder do Espírito Santo, que evidencia a sua
deidade, é também revelado nas seguintes passagens: Lc. 1:35; Jó 26:13; 33:4; Sl. 33:6; Gn.
1:1,2.

ii. Onisciência.
Esta é mais uma evidência da deidade do Espírito Santo, o qual sabe e conhece todas as
coisas (1Co. 2:10,11). Isso é um fato solene, mormente se considerarmos que Ele habita em
nós: “habita convosco, e estará em vós” (Jo. 14:17 – ARA). A primeira parte dessa declaração
de Jesus indica a permanência do Espírito Santo em nós (“habita convosco”); e a segunda, a
sua presença constante dentro de nós (“e estará em vós”). Alguém pode habitar numa casa e
não estar presente nela em determinada ocasião. Porém, o Espírito Santo quer estar sempre
presente no crente, como uma das maravilhas dessa “tão grande salvação” (Hb. 2:3).
Aos que amam a Deus, o Espírito Santo revela as infinitas e indizíveis bênçãos preparadas
para os salvos, já nesta vida, e muito mais na outra (1Co. 2:9,10). O profeta Isaías, pelo
Espírito, profetizou essas maravilhas (64:4; 52:15). Os demais profetas do Antigo Testamento
também tiveram a revelação divina dessas coisas que os santos desfrutarão na glória (1Pe.
1:10-12). O Espírito também revelou aos escritores do Novo Testamento essas maravilhas
consoladoras, inclusive a Paulo (1Co. 2:10).
42

E ainda, Ele é o nosso divino Mestre na era da Igreja (1Co. 2:13), como já estava predito
em Provérbios 1:23. Concernente a esta missão do Espírito Santo, Jesus declarou: “Esse vos
ensinará todas as coisas” (Jo. 14:26). O texto de Lucas 12:12 também é bastante elucidativo
quanto a mais esta ação do Espírito na igreja.

iii. Onipresença.
O Espírito Santo está presente em todo lugar (Sl. 139:7-10; 1Co. 2:10). Atentemos para
duas ênfases contidas nesses textos que evidenciam a onipresença do Espírito: “Para onde me
irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face?” e “O Espírito penetra todas as coisas,
amda as profundezas de Deus”.

iv. Eternidade.
Ele é infinito em existência; sem princípio; sem fim; sem limitação de tempo (Hb. 9:14).
Ele estava presente no princípio, quando todas as coisas foram criadas (Gn. 1:1,2).

v. Outros atributos.
O Espírito de Deus é denominado Senhor (2Co. 3:16-18); é descrito como Criador (Jó
26:13; 33:4; Sl. 33:4; 104:3; Gn. 1:1,2; Ez. 37:9,10); e é classificado e mencionado
juntamente com o Pai e o Filho – como já mencionamos antes – com equivalência de plena
divindade.

4.5. Os nomes do Espírito Santo.


O Espírito Santo é conhecido por muitos nomes e títulos, a maioria dos quais denota
alguma função ou aspecto do Seu ministério. Abaixo estão alguns dos nomes e descrições que
a Bíblia usa para o Espírito Santo:

a) Autor da Escritura: (2Pe. 1:21; 2Tm. 3:16) A Bíblia é inspirada, literalmente "soprada
por Deus", pelo Espírito Santo, a terceira Pessoa da Trindade. O Espírito moveu os
autores de todos os 66 livros para gravar exatamente o que Ele soprou em seus
corações e mentes. Como um navio é movido pelas águas pelo vento em popa, assim
os escritores bíblicos foram movidos pelo impulso do Espírito.
b) Consolador/Conselheiro/Ajudador: (Is. 11:2, Jo. 14:16; 15:26; 16:7) Todas as três
palavras são traduções do grego parákletos, do qual temos "Paráclito", um outro nome
para o Espírito. Quando Jesus foi embora, os discípulos ficaram muito tristes por
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terem perdido a Sua presença reconfortante. Entretanto, Ele prometera enviar o


Espírito para confortar, consolar e orientar aqueles que pertencem a Cristo. O Espírito
também "testifica" com os nossos espíritos que pertencemos a Ele e, assim, garante a
nossa salvação.
c) Convencedor do Pecado: (Jo. 16:7-11) O Espírito aplica as verdades de Deus às
mentes dos homens a fim de convencê-los por argumentos justos e suficientes de que
são pecadores. Ele faz isso através da convicção em nossos corações de que não somos
dignos de estar diante de um Deus santo, de que precisamos de Sua justiça e de que a
sentença é certa e virá a todos os homens um dia. Aqueles que negam essas verdades
se rebelam contra a condenação do Espírito.
d) Depósito/ Selo/ Garantia: (2Co. 1:22; 5:5; Ef. 1:13-14) O Espírito Santo é o selo de
Deus sobre o Seu povo, Sua reivindicação sobre nós como pertencentes a Ele. O dom
do Espírito para os crentes é uma entrada da nossa herança celestial, a qual Cristo nos
prometeu e garantiu na cruz. É porque o Espírito nos selou que temos a certeza da
nossa salvação. Ninguém pode quebrar o selo de Deus.
e) Guia: (Jo. 16:13) Da mesma forma em que o Espírito guiou os escritores das
Escrituras para registrar a verdade, assim Ele promete guiar os crentes a conhecer e
compreender essa verdade. A verdade de Deus é "loucura" para o mundo, porque é
"discernida espiritualmente" (1Co. 2:14). Aqueles que pertencem a Cristo têm a
habitação do Espírito que nos guia em tudo o que precisamos saber a respeito de
assuntos espirituais. Aqueles que não pertencem a Cristo não têm um "intérprete" para
orientá-los a conhecer e compreender a Palavra de Deus.
f) Habitador dos Crentes: (Rm. 8:9-11; Ef. 2:21-22; 1Co. 6:19) O Espírito Santo habita
nos corações do povo de Deus, e essa habitação é a característica distintiva da pessoa
regenerada. De dentro dos crentes, Ele dirige, orienta, conforta e nos influencia, bem
como produz em nós o fruto do Espírito (Gl. 5:22-23). Ele fornece a conexão íntima
entre Deus e Seus filhos. Todos os verdadeiros crentes em Cristo têm o Espírito
residindo em seus corações.
g) Intercessor: (Rm. 8:26) Um dos aspectos mais encorajadores e confortantes do
Espírito Santo é o Seu ministério de intercessão em nome daqueles em quem habita.
Porque muitas vezes não sabemos o que ou como orar quando nos aproximamos de
Deus, o Espírito intercede e ora por nós. Ele interpreta os nossos “gemidos”, para que
quando estivermos oprimidos e esmagados pelas provações e preocupações da vida,
44

Ele se aproxime para prestar assistência assim como nos sustentar diante do trono da
graça.
h) Revelador/Espírito da Verdade: (Jo. 14:17; 16:13; 1Co. 2:12-16) Jesus prometeu que,
depois da ressurreição, o Espírito Santo viria “guiar em toda verdade”. Por causa do
Espírito em nossos corações, somos capazes de compreender a verdade, especialmente
em assuntos espirituais, de uma maneira que os descrentes não podem. De fato, a
verdade que o Espírito nos revela é “loucura” para eles, e não podem entendê-la.
Entretanto, nós temos a mente de Cristo na Pessoa do Seu Espírito dentro de nós.
i) Espírito de Deus/o Senhor/Cristo: (Mt. 3:16; 2Co. 3:17; 1Pe. 1:11) Estes nomes nos
ensinam que o Espírito de Deus é de fato parte da Santíssima Trindade e que é tanto
Deus quanto o Pai e o Filho. Ele é o primeiro revelado a nós na criação, quando estava
“pairando sobre as águas”, denotando a Sua parte na criação, juntamente com a de
Jesus, que “fez todas as coisas” (Jo. 1:1-3). Vemos essa mesma Trindade de Deus
novamente no batismo de Jesus, quando o Espírito desce sobre Jesus e a voz do Pai é
ouvida.
j) Espírito de Vida: (Rm. 8:2) A frase “Espírito de vida” significa que o Espírito Santo é
aquele que produz ou dá a vida, não o que inicia a salvação, mas sim o que concede
novidade de vida. Quando recebemos a vida eterna por Cristo, o Espírito fornece o
alimento espiritual que é o sustento da vida espiritual. Aqui, novamente, vemos o
Deus trino trabalhando. Somos salvos pelo Pai através da obra do Filho, e essa
salvação é sustentada pelo Espírito Santo.
k) Mestre: (Jo. 14:26; 1Co. 2:13) Jesus prometeu que o Espírito iria ensinar os seus
discípulos "todas as coisas" e trazer à lembrança as coisas que disse enquanto ainda
estava com eles. Os escritores do Novo Testamento foram movidos pelo Espírito para
recordar e compreender as instruções que Jesus dera para a construção e organização
da Igreja, as doutrinas sobre Si mesmo, as diretrizes para uma vida santa e a revelação
das coisas futuras.
l) Testemunha: (Rm. 8:16; Hb. 2:4; 10:15) O Espírito é chamado de “testemunha”
porque verifica e atesta os fatos de que somos filhos de Deus, de que Jesus e os
discípulos que realizaram milagres foram enviados por Deus e de que os livros da
Bíblia são de inspiração divina. Além disso, ao dar os dons do Espírito aos crentes, Ele
testemunha e confirma a nós e ao mundo que realmente pertencemos a Deus.
Esses, portanto, são os nomes do Espírito Santo na Escritura.
45

4.6. O Espírito Santo e o indivíduo: “fruto”.


A passagem clássica para este assunto, obviamente, é a de Gl. 5:22, 23a: “Mas o fruto do
Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e
domínio próprio”.
Stott (2007, p.79) comenta que,
Uma simples leitura destas graças cristãs deve ser suficiente para encher de água a
boca e fazer o coração bater mais forte, porque este é um retrato de Jesus Cristo.
Nenhum homem ou mulher até hoje apresentou estas qualidades com tal equilíbrio
ou perfeição como o homem Jesus Cristo. Assim, este é o tipo de pessoa que todo
cristão gostaria de ser.

E, de fato, somos impelidos a concordar. Antes de qualquer consideração sobre a citada


passagem, temos de dizer que já houve diversas tentativas de classificar as nove qualidades
que Paulo lista. E naõ vai ser agora que tal façanha será alcaçada. Nenhuma classificação é
completamente satisfatória. Então, vejamos uma simples, mas fudamentada, análise desta
atuação direta do Espírito Santo em nossos relacionamentos: com Deus, com outras pessoas e,
por último, conosco.
1) Nosso relacionamento com Deus (amor, alegria, paz). Conforme Stott (2007, p. 80), “o
Espírito Santo coloca o amor de Deus em nosso coração, a alegria dele em nossa alma
e a paz divina em nossa mente”. Amor, alegria e paz permeiam um cristão cheio do
Espírito. Na verdade, podemos dizer que estas são suas características principais e
permanentes. Tudo o que ele faz é concebido com amor, iniciado com alegria e
executado com paz.
2) Nosso relacionamento com as outras pessoas (paciência, amabilidade (ternura –
NTLH), bondade). “Temos aqui a paciência que suporta grosseria e insensibilidade
dos outros e se recusa a se vingar; a gentileza que vai além da tolerância negativa de
não desejar o mal para ninguém, passando para a benevolência de desejar o bem a
todos; e a bondade que transforma o desejo em atos, e toma a iniciativa de servir as
pessoas de maneira concreta e construtiva” (STOTT, 2007, p.80). Esses, “paciência”,
“ternura” e “bondade”, seriam como que degraus em nossa atitude cristã para com os
outros.
3) Nosso relacionamento conosco mesmos (fidelidade, mansidão, domínio próprio).
Impossível não mencionar Stott (2007, p.80), “a palavra ‘fidelidade’ é a mesma que é
geralmente traduzida por ‘fé’ (pistis). Aqui parece não significar a fé que confia em
Cristo ou em outras pessoas, mas a confiabilidade, que convida outras pessoas a
confiarem em nós”. É aquela fidelidade de alguém que sempre cumpre o que promete
46

e termina o que começa. Mansidão não é uma qualidade de pessoas meigas e fracas,
mas de pessoas fortes e dinâmicas, que mantêm sua força e energia sob controle.
Domínio próprio é o senhorio sobre a língua, os pensamentos, os apetites e as paixões.
Este, portanto, é, sim, o retrato de Cristo; mas também – pelo menos em termos ideais –
do cristão equilibrado, parecido com Cristo, cheio do Espírito. Algo importante! Não
podemos escolher algumas destas qualidades e outras não, pois tudo isso se trata de conjunto
(como uma laranja com seus gomos) que nos fazem semelhantes a Cristo. Cultivar alguns, e
outros não, coloca o cristão em desequilíbrio. O Espírito dá diferentes dons a diferentes
cristãos, como veremos no próximo ponto, mas ele atua no sentido de produzir o mesmo fruto
em todos. O Espírito Santo não se satisfaz se demonstramos amor aos outros, mas não
controlamos a nós mesmos; ou se temos alegria e paz em nós, mas não somos gentis para com
os outros; ou se temos paciência negativa, sem bondade positiva; ou se apresentamos
humildade e flexibilidade, sem a firmeza da confiabilidade cristã. “O cristão desequilibrado é
carnal; todavia, existe uma perfeição, uma compleição, uma plenitude de caráter cristão que
somente cristãos cheios do Espírito têm” (STOTT, 2007, p.81).

4.7. O Espírito Santo e o coletivo: “dons”.


Por que coletivo? Para responder a essa pergunta basta-nos atentar para a discussão sobre
o assunto em 1Co. 14. O ponto de Paulo ali é contornar a situação do uso indevido dos dons, a
saber, para a própria autorealização. Vejamos.
Sigam o caminho do amor e busquem com dedicação os dons espirituais,
principalmente o dom de profecia. Pois quem fala em língua não fala aos homens,
mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios. Mas quem
profetiza o faz para a edificação, encorajamento e consolação dos homens. Quem
fala em língua a si mesmo se edifica, mas quem profetiza edifica a igreja (1Co. 14:1-
4).

Diferentemente do fruto, o dom tem um evidente caráter coletivo. Ele perde a razão de ser
quando sua finalidade se torna egoísta. Paulo em 1Co. 12:7, 21 demonstra essa ideia: “A cada
um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum” [...] “O olho não pode
dizer à mão: ‘Não preciso de você!’ Nem a cabeça pode dizer aos pés: ‘Não preciso de
vocês!’”. O final do capítulo 12 (v.31b) é ainda mais significativo, pois Paulo diz: “Passo
agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente”, pois isso nos leva ao clássico
capítulo de 1Coríntios, a saber, o 13. Temos ali uma exortação ao altruismo, uma exortação a
uma vida de amor visando o bem do próximo, ou, da coletividade. Paulo, assim, prepara o
47

terreno para a exortação do uso devido dos dons registrado no capítulo 14, ao qual nos
referimos no início desta sessão.
Portanto, o dom deve acontecer no contexto da coletividade. E o que é isso se não a
edificação do corpo? Então essa é a diferença básica da atuação do Espírito Santo no
indivíduo e no coletivo. Estabelecido o ponto de atuação do Espírito Santo na coletividade, ou
seja, os dons; agora passemos a considerá-los em si mesmos.
A primeira questão que deve nos ocupar é o que é um dom do Espírito Santo ou dom
espiritual? Há duas expressões gregas para dom espiritual na Bíblia, a saber, pneumatikon e
charisma. A primeira, diz respeito a algo, evento ou indivíduo que serve como um
instrumento do Espírito, que manifesta o Espírito, ou incorpora-O. Já a segunda, é um evento,
palavra ou ação que é uma expressão concreta da graça ou serve como um meio de graça.
Pneumatikon é a palavra mais geral grega, carisma é mais específica. Além disso, carisma é,
provavelmente, a palavra que Paulo mais usa em detrimento da ambiguidade da outra (Rm.
1:11; 12:6; 1Co. 7:7; 12:4), que parece ter sido invocada por aqueles que causavam
dificuldade para Paulo em Corinto (1Co. 2:13-3:4; 14:37; 15:44-46).
A questão seguinte é quais e quantos são mencionados pela Bíblia? As passagens mais
significativas para essa finalidade são:
a) “Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é
contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com
zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria” (Rm. 12:7,8).
b) “Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de
conhecimento, pelo mesmo Espírito; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de
cura, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a
outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro,
interpretação de línguas [...] Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente
apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que
realizam milagres, os que têm dom de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que
têm dons de administração e os que falam diversas línguas” (1Co. 12:8-10, 28).
c) “E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e
outros para pastores e mestres” (Ef. 4:11).
d) “Se alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se alguém serve,
faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja
glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder para todo o sempre.
Amém” (1Pe. 4:11).
48

Dentro das passagens citadas, com acréscimo de 1Co. 7:7, Grudem (2014, p.863) lista
pelo menos 22 dons. Vejamos.
1 Coríntios 12:28.
1. Apóstolo7.
2. Profeta8.
3. Mestre.
4. Milagres.
5. Tipos de saúde.
6. Auxiliar.
7. Administração.
8. Línguas.
1 Coríntios 12:8-10.
9. Palavra da sabedoria.
10. Palavra do conhecimento.
11. Fé.
(5) Dons de curar.
(4) Milagres.
(2) Profecia.
12. Distinguir de espíritos.
(8) Línguas.
13. Interpretação de línguas.
Efésios 4:11.
(1) Apóstolo.
(2) Profeta.
14. Evangelista.
15. Pastor-mestre.
Romanos 12:6-8
(2) profecia.
16. Serviço.
(3) Ensino.
17. Encorajamento.
18. Contribuição.

7
Compartilhamos da ideia de que apóstolos é uma função delegada pelo Senhor Jesus de forma pessoal.
8
IDEM.
49

19. Liderança.
20. Misericórdia.
1 Coríntios 7:7.
21. Casamento.
22. Celibato.
1 Pedro 4:11.
Todo aquele que fala (abrange vários dons).
Todo aquele que serve (abrange vários dons).
Questões sobre a natureza dos dons, e se cessaram ou continuam, nós iremos abordar em
teologia sistemática 2, na parte de eclesiologia (a doutrina da igreja). Por hora, queremos nos
concentrar, apenas, na atuação em si do Espírito Santo no coletivo.

4.8. A relação entre dons e talentos naturais.


Que relação há entre dons espirituais e talentos naturais? Algumas poucas pessoas
responderão imediatamente: “Nenhuma”, outras têm falam como se não houvesse nenhuma
diferença entre eles. Estas duas posições – afirmamos seguramente – são extremadas. Stott
(2007, p.95) comenta que,
Deve haver alguma diferença, na verdade uma diferença clara, porque o Deus da
criação, por um lado, em sua providência dá talentos a todos os homens e mulheres
(tanto que falamos que algumas pessoas têm um “dom” artístico ou um “dom” para
música, ou têm uma personalidade muito “dotada”) e, por outro, o Deus da nova
criação, a Igreja, confere “dons espirituais” somente às pessoas redimidas.

Os dons espirituais também funcionam como diferenciador dos membros do Corpo de


Cristo, pois cada membro do Corpo tem um dom ou função diferente. Mesmo assim, devemos
ter cautela em deduzir disto que não há nenhum vinculo entre dons e talentos. Stott levanta
algumas razões para pensarmos em um possível vinculo entre dom e talento natural. Vejamos.
Primeiramente, temos de obeservar que o Deus da criação e o da nova criação, é na
verdade o mesmo Deus.
Ele opera sua vontade perfeita através das duas. Esta vontade divina é eterna. Deus
disse a Jeremias, por ocasião do seu chamado ao ofício profético: ‘Antes de formá-lo
no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às
nações’ (Jr. 1:5). Paulo tinha a mesma convicção a respeito de si e de seu chamado
para ser apóstolo. O Deus que lhe revelou seu Filho foi o mesmo que ‘Mas Deus me
separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça’ (Gl. 1:15) (STOTT,
2007, pp.95,96).

Nos dois versículos existe mais do que uma simples referência ao tempo, pois antes do
nascimento de Jeremias e Paulo, Deus sabe o que lhes aconteceria. Está posto pelas duas
50

passegens que já antes deles nascer Deus os tinha consagrado ou separado para o ministério
especial o qual o Senhor haveria de chamá-los depois. Desta feita, é correto dizer que havia
uma ligação entre as duas partes da vida desses homens. Será que não combina melhor com o
Deus da Bíblia pensar que Ele os capacitou antes de chamá-los (um condicionamento
genético, diríamos modernamente), o que se manifestou e pôde ser usado somente depois?
Stott (2007, p.96) responde a essa pergunta,
Deus esteve ativo nas duas partes da sua vida, e combinou ambas de maneira
perfeita. De modo semelhante todos os escritores bíblicos foram preparados antes
pela providência de Deus em termos de temperamento, educação e experiência, para
depois serem inspirados pelo Espírito Santo para comunicar uma mensagem
totalmente adequada ao tipo de pessoa que eram.

Se porventura alguém disser: “isso vale para profetas e apóstolos, mas não para um crete
comum”. Respondemos que a Bíblia sugere o oposto. A Bíblia nos diz que o plano gracioso
de Deus para cada um de nós é eterno. Esse plano foi imaginado “desde os tempos eternos,
sendo agora revelado pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus” (2Tm. 1:9,10b);
Deus nos escolheu para que fôssemos santos e nos destinou para que fôssemos seus filhos
através de Jesus Cristo “antes da criação do mundo” (Ef. 1:4,5); e as boas obras para as quais
fornos recriados em Cristo são exatamente aquelas que “Deus preparou de antemão “ (Ef.
2:10). “Esta verdade fundamental de que Deus planejou o fim desde o começo, deve advertir-
nos contra concluir com muita rapidez em favor de uma descontinuidade entre natureza e
graça, entre nossa vida pré e pós-conversão” (STOTT, 2007, p.96).

4.9. O Batismo do Espírito Santo.


Podemos definir o Batismo do Espírito Santo como a obra através da qual o Espírito de
Deus coloca o crente em união com Cristo e em união com outros crentes no Corpo de Cristo,
no momento da salvação. 1Co. 12:12-13 e Rm. 6:1-4, são as passagens centrais na Bíblia
onde encontramos esta doutrina. A primeira declara: “Pois em um só corpo todos nós fomos
batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a
todos nós foi dado beber de um único Espírito” (1Co. 12:13). E a segunda: “Que diremos
então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que
morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele? Ou vocês não sabem que
todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto,
fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi
ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova” (Rm.
51

6:1-4). Apesar de Rm. 6 não mencionar especificamente o Espírito de Deus, descreve a


posição dos crentes perante Deus e 1Co. 12 nos diz como isto acontece.
É necessário que observemos três fatos que ajudam a confirmar nossa compreensão do
Batismo do Espírito. Primeiro, 1Co. 12:13 afirma claramente que todos fomos batizados no
momento em que bebemos (recebemos o Espírito para habitar em nós). Segundo, em nenhum
lugar das Escrituras ela exorta que os crentes sejam batizados com/ no/ pelo Espírito. Isto
indica que todos os crentes já experimentaram este batismo. E por último, Efésios 4:5 parece
se referir ao batismo do Espírito. Se este é mesmo o caso, o batismo do Espírito já é a
realidade de cada crente, assim como o são “uma fé” e “um Pai”.
O batismo do (com/no/pelo) Espírito Santo faz duas coisas: 1) nos une ao Corpo de Cristo,
e 2) valida nossa co-crucificação com Cristo. E o fato de sermos parte de Seu corpo significa
que somos levantados com Ele para novidade de vida (Rm. 6:4).
Portanto, devemos então exercitar nossos dons espirituais a fim de mantermos este corpo
funcionando adequadamente como afirma o contexto de 1Co. 12:13. Experimentar o batismo
do Espírito significa, em outras palavras, funcionar como base para mantermos a unidade da
igreja, como no contexto de Ef. 4:5. Sermos associados com Cristo em Sua morte,
sepultamento e ressurreição através do batismo do Espírito estabelece a base para a conquista
da nossa separação do poder do pecado que está dentro de nós e nossa caminhada em
novidade de vida (Rm. 6:1-10, Cl. 2:12).

5. O HOMEM, OU, ANTROPOLOGIA BÍBLICA.


O termo antropologia vem da junção de duas palavras gregas anthropos: “homem” e logia
“conhecimento” ou “estudo”, ou ainda, “palavra”, significando, assim, estudo sobre o homem.
Contudo, temos um adjetivo que mudará significativamente o nosso estudo, a saber, “bíblica”.
Diferentemente da ciência moderna, a antropologia bíblica, como já deve estar evidente, tem
como fundamento a revelação bíblica. Mas porque somente a revelação bíblica, e não a
sociologia, psicologia, etc.? O motivo é simples. Se alguém pedir detalhes do caráter de uma
pessoa, ou seja, seus defeitos e qualidades, a fonte menos provável para se retirar essas
informações seria a própria pessoa. Isso ficaria para alguém mais próximo a ela, no caso, sua
família e amigos íntimos. Isso acontece por causa do risco de alguma diminuição de um
defeito, ou, um acréscimo de uma qualidade.
Portanto, em sua revelação escrita, a Bíblia Sagrada, Deus nos fornecerá as verdadeiras e
confiáveis informações que precisamos sobre o homem. Iremos à busca do verdadeiro
homem, ou, seja do homem conforme a Bíblia.
52

5.1. Por que a humanidade é representada pela palavra “homem”?


Muitas mulheres, e até alguns homens que pregam e ensinam a palavra de Deus, não
gostam de utilizar o termo “homem” para se referir a todos os seres humanos, porque pensam
que isso foi influência da cultura patriarcal do oriente. Concordo que a Bíblia é um livro
oriental, e que o Antigo Testamento não serve de padrão doutrinário para nós que vivemos no
Novo Testamento.
Mas fazer o quê se Deus, o todo Poderoso, e absolutamente livre em sua vontade, quis que
fosse assim? Mas não podemos usar esse argumento para fundamentar o uso da palavra
“homem” para a representação da humanidade, usaremos as Sagradas Escrituras. A palavra
em hebraico é ‘ädäm, que é encontrado pela primeira vez em Gênesis 1:27. Essa palavra é
usada para se referir a Adão, para fazer distinção entre homem e mulher e para indicar a
humanidade como um todo (Gn 2:22,25; 3:12; Ec 7:28).
Portanto, não há razão para pensarmos que foi descriminação, ou, preconceito, porque
esse termo se originou em Deus (2Tm 3:16). Pois como já vimos, em seu Santo caráter não
pode haver tais coisas.

5.2. O homem foi criado pela graça, o amor e para a glória de Deus (Is. 43:7; Ef. 1:12;
1Co. 10:31).
Quando entendemos corretamente, o que de Deus se pode conhecer em sua palavra,
chegamos ao entendimento de que Deus é Soberano e completamente satisfeito em si mesmo.
Com isso percebemos que Deus nos criou, não porque Ele precisava ser amado, ser servido, e
de relacionamento. O Senhor nos criou, pelo simples fato de ter uma graça indizível, um amor
imenso e para nos incluir em sua íntima e trina comunhão eterna. Para que assim, por meio
desse ato grandioso de amor e graça, demonstrasse a Sua glória e fosse glorificado em nós e
por nós.
No fim, Deus nos criou para a Sua Glória. Mas Deus não é o único beneficiado nisso tudo.
O homem descobre que ao se relacionar com Deus, isso o deixa suficientemente completo, e
plenamente satisfeito. Nisso consiste o sentido e o prazer da vida, e só dessa forma o homem
consegue chegar, ao que Deus em sua palavra, chama de “Bem-aventurança”.

5.3. O homem como imagem e semelhança de Deus (Gn. 1:26,27; 9:6; Tg. 3:9; Rm.
8:29; 1Co. 15:49).
53

De todas as criaturas que Deus fez, o homem é o único ser em que foi feito a imagem e
semelhança de seu Criador. Raramente, ou melhor, dizendo, nunca paramos para pensar no
privilégio que é para nós, sermos os únicos (incluindo anjos) a carregar essa benção que é ser
a imagem de Deus. Quando a Bíblia se refere ao homem sendo a imagem e semelhança de
Deus, ela quer dizer que o homem em certo grau e sentido, é parecido com Deus para o
propósito de representá-Lo na criação.
Alguns sugerem que ser imagem e semelhança de Deus, implicam somente na capacidade
intelectual e moral do homem. Mas o sentido dessa expressão é mais amplo, pois abrange o
homem em sua vida prática, colocando em todo o seu viver essa capacidade de ser imagem de
Deus.
Isso ocorre quando o homem se relaciona com o seu próximo e com o restante da criação,
envolvendo nesse relacionamento amor, bondade, misericórdia, justiça, verdade, paz e tudo
mais que estiver no santo caráter do seu Criador. Onde nós podemos ver isso mais
nitidamente é no casamento, na família e na Igreja de Deus.

5.4. O homem e as partes que o compõe.


Existe um choque de opiniões sobre quantas partes compõe o homem. Popularmente a
opinião que prevalece é a de que o homem é composto de três partes (corpo, alma e espírito),
chamada “tricotomia”. Já no meio acadêmico da teologia, a opinião que prevalece é a de que
somente duas partes compõem o homem, a parte material (corpo) e a parte imaterial
(alma/espírito), chamada “dicotomia”.
A Bíblia é a nossa regra de fé. Onde ela fala, nós falamos; e quando ela silenciar
ficaremos em silêncio. Sem que precisemos da Bíblia, naturalmente chegamos ao
entendimento de que o corpo precisa estar ligado a alma, ou ao espírito, para estar aqui nesta
terra. Daí surge a noção da materialização dos anjos, e até noção de pocessão demoníaca.
Quando se trata do homem, vemos que a indicação das palavras hebraicas nefesh (alma) e
rûah (espírito) querem indicar o mesmo sentido, assim como as palavras gregas psychë
(alma) e pneuma (espírito) tem o mesmo sentido. Também vemos que a alma e o espírito no
homem, têm as mesmas funções. Vejamos:

a) Emoções. Então lhes disse: a minha alma está profundamente triste até a morte (Mt.
26:38); Ditas estas coisas, angustiou-se em espírito (Jo. 13:21).
54

b) Raciocínio. Da mesma forma que sabemos que a alma é quem raciocina, vemos na
Bíblia essa capacidade também no espírito: E Jesus, percebendo logo por seu espírito
que eles assim arrazoavam, disse-lhes: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso
coração? (Mc. 2:8).

c) Atos pecaminosos. A alma que pecar, essa morrerá (Ez. 18:20); Purifiquemo-nos de
toda impureza, tanto na carne como no espírito (2Co. 7:1).

d) Relacionamento com Deus. Bendiga o Senhor a minha alma! Bendiga o Senhor todo o
meu ser! (Sl. 103:1); O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus (Rm. 8:16).

e) Passagens que indicam a totalidade do homem. Não temais os que podem matar o
corpo e não podem matar a alma; temei, antes, Aquele que pode fazer perecer no
inferno tanto a alma como o corpo (Mt. 10:28); entregue a satanás para a destruição da
carne, afim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor (1Co. 5:5).
Que conclusão podemos chegar? Que a alma é o mesmo que espírito, a parte imaterial do
ser humano, e que o homem só é composto de duas partes corpo e alma/espírito. E o que
dizer das passagens que falam de três partes no homem, ou pelo menos, da alma diferente de
espírito (Lc. 1:47; 1Ts. 5:23)? Sabemos que a palavra de Deus não se contradiz, pois já vimos
em teontologia (conhecimento sobre o ser de Deus). E então, o que dizer? Você já quis
alguma vez, dizer algo que julga importante que deu tanta ênfase, que acabou usando duas
palavras diferentes, mas que querem dizer a mesma coisa?
Um exemplo Bíblico está em Mateus 22:37, que diz: “Respondeu-lhe Jesus: - Amarás o
Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento”.
Note que o amar e entender são funções da alma. Deus foi enfático em seu mandamento, e é
assim que devemos compreender as outras passagens.

5.5. O ser humano como homem e mulher.


Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher
os criou (Gn. 1:27). Deus criou o homem e a mulher, para refletir em certo grau e sentido, a
sua tri-unidade, ou sua trina-comunhão (lembrar do conceito de trindade).
Como já foi dito, o real sentido de imagem e semelhança, é no sentido de relacionamento
prático. E vale lembrar, que vimos em teontologia que Deus é espírito, e que seria uma
55

blasfêmia pensar em Deus tendo algum sexo, pois isso ficou para nós seres humanos. E
quando se trata de homem e mulher, iremos abordar a reflexão da imagem de Deus na família.

1. Homem e mulher são iguais em importância e como pessoa. “No Senhor, todavia, a
mulher não é independente do homem, nem o homem independente da mulher. Pois,
assim como a mulher proveio do homem, o homem nasce da mulher. Mas tudo
provém de Deus (1Co. 11:11,12)”. Homens e mulheres são igualmente a imagem de
Deus (Gn. 5:1,2). Na trindade, o Pai não é maior em importância que Filho, assim
como o Filho não é maior que o Pai, e o Espírito não é maior e nem menor que os
dois. Do mesmo modo acontece na família. O marido em relação a esposa, e a esposa
ao marido. Também os pais em relação aos filhos, e filhos aos pais. É assim que
ocorre na família, e sempre deve ocorrer, pois somos a imagem e semelhança de Deus.

2. Homens e mulheres e suas deferentes responsabilidades. Homens e mulheres também


refletem a trindade nesse sentido. Quando Deus se relaciona conosco nesta dimensão
limitada a tempo, Ele trabalha em seu plano de redenção. Vemos claramente na
Sagrada Escritura, Pai, Filho e Espírito Santo desempenhando funções diferentes. Mas
não quer dizer que um não tenha participação na responsabilidade do outro. Da mesma
forma acontece na família, maridos, esposas, pais e filhos têm suas diferentes
responsabilidades.

i. Responsabilidade do homem.
Para resumir o papel masculino na família, nos basta saber o que em Efésios 5:23 diz:
"Por que o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da Igreja, sendo
Este mesmo o salvador do corpo". Desde o começo da criação, o homem tem a
responsabilidade maior na relação familiar. Ele não somente é o representante da criação (no
sentido de mundo), como também em sua família (Gn 3:9). Quando houve a rebelião humana,
Eva foi quem pecou primeiro, entretanto, foi ao homem que Deus chamou a responsabilidade.
O exemplo que podemos ver da Trindade em relação a isso é o que encontramos em ICo 11:3
"Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da
mulher, e Deus, o cabeça de Cristo".

ii. Responsabilidade da mulher.


56

As mulheres por sua vez têm como sua responsabilidade principal o auxílio do qual seu
marido precisa em suas responsabilidades (Gn 2:20). Isso não significa serem somente
trabalhos domésticos, mas em todas as áreas da vida do homem. É importante ressaltar a
submissão da mulher ao seu marido (Cl. 3:18), que significa ser auxiliadora na missão de seu
marido que é desempenhar o papel de responsável pela família. Isso é diferente do que muitos
homens pensam e até mesmo algumas mulheres. Essa submissão era voluntária e prazerosa,
Eva não pensava em como era chato e entediante cumprir com sua responsabilidade. E Adão
colaborava entendendo isso, não sendo um preguiçoso e aproveitador. Mas isso não significa
que um não tenha participação na responsabilidade um do outro.

5.6. Criados sem pecados, mas ainda limitados.


Como pudemos perceber o homem não foi criado com pecados, mas ao contrário do que
muitos insinuam por aí, ele ainda continua limitado em relação aos anjos e, principalmente,
infinitamente inferior a Deus todo poderoso.
Com isso queremos dizer, que pregadores do chamado “evangelho da confissão positiva”
têm sugerido que o homem antes do pecado era uma espécie de “Super Man”. Dando mais
ênfase ao homem do que lhe é devida. O verdadeiro propósito do homem é estar para sempre
em íntima comunhão com Deus, refletindo a imagem e semelhança de seu Criador, e
glorificá-lo juntamente com toda criação pela beleza da Sua Santidade.

6. CONCLUSÃO.
Por mais que a disciplina fosse abordada em um nível de bacharelado, os desconfortos por
não encontrarmos todas respostas, por muitas vezes nos levar a conclusão de que certa crença
nossa não condiz com a realidade das Escrituras, tais desconfortos não seriam excluídos. A
raiz do problema reside no fato de que em certo sentido Deus é incognoscível, ou seja,
impossível de se entender. Contudo, temos o que precisamos na revelação bíblica para
sabermos sobre Deus, Seus planos e Sua verdade sobre o mundo que nos cerca.
Que o Senhor nos guie e abençoe sempre na investigação sobre Sua vontade e a verdade
segundo a Sua Pessoa. Essa é a oração de toda a coordenação pedagógica a você, aluno
CTCC! Que Deus em Cristo o abençoe!

7. BIBLIOGRAFIA.
BERKHOF, Louis, Teologia sistemática (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2009 [3ª
edição]).
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BUENO, Silveira, Minidicionário da língua portuguesa, (São Paulo, SP: Editora FTD, 2007
[2ª edição]).
FERREIRA, Franklin, Teologia sistemática: curso vida nova de teologia básica (São Paulo,
SP: Editora Vida Nova, 2013).
STOTT, John R. W., Batismo e plenitude do Espírito: o mover sobrenatural de Deus (São
Paulo, SP: Editora Vida Nova, 2007).
GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemática atual e exaustiva (São Paulo, SP: Editora Vida
Nova, 2014).

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