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Relatório sobre o documentário A lei da água

Gabriel dos Santos

O documentário esclarece as mudanças promovidas pelo novo Código


Florestal e a polêmica sobre a sua elaboração, mostrando os impactos da lei
sobre a floresta e, por sua vez, sobre a água, o ar, o solo, a produção de
alimentos e a vida das pessoas.

O código florestal é um problema nacional. É essa a noção apresentada


logo no começo do documentário. Envolve o modelo econômico exportador
brasileiro, envolve concentração de terra, envolve forte interesse político,
conforme veremos na sequência.

Desde a colônia corta-se as florestas para crescer, e essa lógica


prevalece até os dias de hoje. Crescimento, para muitos, é sinônimo de
degradação, de utilização extrema dos recursos naturais.

Com o desmatamento a água que caia sempre, parou. Foi isso que
percebeu Dom Pedro segundo há muito tempo. Teve-se que buscar em outros
lugares, longe do conglomerado urbano carioca. Foi percebido que essa
degradação toda influenciou no ciclo natural da água e a cidade ficou sem o
recurso essencial à vida. Começou-se então a replantar para tentar reverter a
situação. A floresta da tijuca é um exemplo dessa atitude, a área foi toda
desmatada, depois foi toda replantada.

Os recursos naturais podem acabar. Patrimônio de milhares de anos


está sendo aniquilado por nós de forma descontrolada e em pouquíssimo
tempo. Em Rondônia, por exemplo, apenas no ano de 2013, queimou-se 9 por
cento da área total de floresta.

Reserva legal, segundo a definição trazida pelo documentário, é uma


área da propriedade em que o proprietário deve manter com área nativa. É um
tipo de área protegida prevista pelo Código Florestal Brasileiro. A lógica é
manter um mínimo por estado, por região, por bioma, para que a saúde
ambiental local seja preservada.
Floresta é aliada da agricultura. Porque pra produzir é preciso de
toneladas de água. Ressalta-se a importância da umidade da amazônia para
boa parte da américa latina, e com o desmatamento exacerbado esse equilíbrio
está ameaçado. Não existe incompatibilidade entre agricultura e preservação
ambiental. Uma agricultura sábia preserva o meio ambiente, recupera o que foi
destroçado e aumenta a produtividade.

A lógica da nova lei foi de desonerar o produtor rural, foi de isentar o


produtor que descumpria a legislação anterior. A tese defendida pelo
documentário é de que o que se queria com essa mudança de legislação era
criar uma lei para o agronegócio. Segundo o depoimento de Sarney Filho, o
que se queria ali era uma anistia aos produtores que não cumpriam a lei.
“Produção de alimentos é tão importante ou mais que a preservação”, disse um
parlamentar. E continua: “Essa história de reserva legal , de APP e só conversa
fiada, porque na verdade o que importa é a produção de alimentos”. O vídeo
traz a informação de que muitos dos parlamentares que aprovaram a nova lei,
estavam com dívidas altíssimas por causa de desrespeito à lei anterior.

Um dos focos principais do projeto aprovado era o de consolidação das


áreas já utilizadas. Antes, com a lei de 1965, todos os imóveis deveriam manter
entre 20 e 80 por cento de vegetação nativa a título de reserva legal. Áreas
devastadas além dessa conta deveriam ser recolocadas integralmente e com o
mesmo tipo de vegetação original. Agora, segundo a película, todos os imóveis
com menos de 4 módulos fiscais, que correspondem a mais de 90 por cento
dos imóveis no país, estão dispensados de sua restauração.

Assim, quem cumpriu as regras passa por tolo! Quem já respeitava a lei
até então tem que continuar respeitando, e quem degradou, descumpriu a lei,
até 22 de julho de 2008 não precisa recompor. A pessoa que não respeitava a
norma foi anistiada. Consultas públicas foram feitas e 85 por cento das
pessoas não queriam a mudança do código. Houve uma manifestação popular
considerável, conforme mostrado, inclusive com a marca #vetadilma, para que
o projeto de lei fosse vetado pela então presidente.

O novo texto prevê a possibilidade de replantar com espécies exóticas.


No caso de uma plantação de eucalipto, por exemplo, há consumo maior de
água do que a média, o que, segundo os ambientalistas, poderia se tornar um
problema ambiental caso o cultivo ocorra próximo a nascentes. Além disso, o
plantio de uma única espécie em substituição à mata original reduziria a
biodiversidade do ecossistema.

A parte que o proprietário não quiser compensar pode ser compensada


com a compra de um excedente em outro estado. Se eu compro em outro
estado, eu comprometo a qualidade de vida local. Essa lógica desnatura a ideia
de manutenção da qualidade do meio ambiente.

Outra questão é que o novo código florestal não leva em consideração


os animais silvestres. Espécies que demoraram milhões de anos para se
adaptar estão sendo exterminadas em pouco tempo. Segundo o exposto pelo
documentário, 156 espécies de aves ameaçadas de extinção no Brasil E isso
causa mais desiquilíquio ecológico – essas espécies têm um papel na cadeia
ecológica e vão fazer falta.

A noção de área de preservação permanente - APP - também é trazida


no documentário. São áreas mais sensíveis como o topo de morro, encostas de
morro, margens de rio, restingas, manguezais. No novo código, APP e reserva
legal são a mesma coisa. Se antes eu tinha 30% de APP mais 20% de reserva
legal, eu tinha 50% de área intocada. Agora tenho no máximo, 30%, pois a
reserva legal pode ser dentro de uma APP.

70% dos peixes de valor comercial da costa brasileira dependem, em


algum momento da vida, dos manguezais, disse uma cientista entrevistada. A
nova lei diminuiu o cuidado aos manguezais. Antes eles eram considerados
áreas de preservação permanente em toda sua extensão. Não podiam ser
ocupados, a não ser em casos excepcionais. Agora todas as áreas já ocupadas
antes de 2008 poderão ter construções, como as áreas ainda intocadas
poderão ser usadas para tanques de camarão ou salinas.

Ao substituir manguezal por carcinicultura, por exemplo, todo o uso do


manguezal é prejudicado. Camarão é uma espécie estranha a esse espaço,
ainda não é claro o real impacto, os resíduos que esse tipo de produção libera
podem degradar mais ainda o ambiente. O cultivo do camarão por ser feito em
águas salobras e funciona muito bem, disse a cientista. Vamos perder todas as
múltiplas funções dos manguezais para priorizar uma única atividade - e que
poderia bem ser introduzida em outro espaço.

As encostas são definidas como superfícies naturais inclinadas - acima


de 25 graus é complicado ocupar. Antes, com a lei anterior, todas as encostas
com até 25 graus e todos os topos de morro de deveriam ficar intactos. Agora,
com a aprovação do código atual, todas as encostas com até 45 graus e todos
os topos de morros irregulares até 2008, poderão se manter com pastagens.
Cria-se aqui uma situação de instabilidade – vide as conhecidas tragédias na
região serrana, quando milhares de pessoas perderam suas casa e até suas
vidas por causa dos desabamentos.

Mata ciliar é um tipo de cobertura vegetal nativa, que fica às margens de


rios, igarapés, lagos, nascentes e represas. A faixa de floresta em mata ciliar
variava de 30 a 500 metros ao lado de cada margem, a depender de largura do
Rio. Agora, quando se fala em área consolidada, essa faixa de proteção passa
a ser de 5 (tem que pensar bem na árvore, pois muitas tem mais de 5 metros
de copa) a 100 metros, a depender do tamanho do módulo.

Em relação às nascentes, antes, todos os proprietários deveriam manter


50 metros protegidos ao entorno das nascentes. Agora, com área consolidada,
a proteção passa a ser apenas de 15 metros.

As áreas úmidas – várzeas – quando você muda a forma de medir as


áreas de preservação de beira de rio, que deixa de ser as áreas de alagação
máxima, e passa a usar como referência as áreas chamadas de leito regular –
que finda a área do Rio no período de seca - , todas as grande várzeas
amazônicas, todos os pantanais, que na época de chuva tem um impulso de
inundação e essa inundação e essa inundação permanece ali por meses,
essas áreas deixaram de ser protegidas.

O lobby científico foi praticamente inexistente nesse processo de


aprovação da nova lei. A vontade política está atrelada ao interesse dos
ruralistas. As pressões políticas são acima de qualquer deus e qualquer
ciência. Falas como a de Blairo Maggi, que diz ser injusto, por exemplo,
comprar um imóvel na área urbana e ter que deixar quase tudo para as baratas
e lagartos, foram levadas em consideração quando se pensou o novo código.
Na Câmara o conhecimento científico sequer foi lido, foi ignorado. A única
esperança para uma mudança de cenário agora é o julgamento das ADIs
interpostas contra o código florestal, mas foram engavetadas pelo Supremo.

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