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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Centro de Desenvolvimento Tecnológico


Curso de Graduação em Engenharia Hídrica
Disciplina de Direito Ambiental e dos Recursos Hídricos

Resenha Crítica: A Lei da Água - Novo Código Florestal

Docente: Viviane Santos Silva Terra

Discentes

Geovanna Freitas da Silveira

Pelotas, 2023
CRÍTICA | A LEI DA ÁGUA – O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
Em qualquer debate onde haja a oportunidade se comentar a postura
brasileira diante de seus recursos naturais, costumo começar a minha abordagem
com o lead básico: problemas ambientais na terra das contradições. Como um país
tão rico em natureza pode adotar posturas tão banais de descuido, num mundo que
discute de maneira apocalíptica o fim de tantos recursos, dentre eles, a água? A
resposta é bem simples, não precisa de muita investigação. Sendo que os nossos
atributos ambientais fornecem muita matéria prima para a indústria exportadora, a
moda é e sempre foi explorar demasiadamente o país. A história é antiga e o leitor
mais atento a conhece.
Os cidadãos das zonas urbanas que eliminam determinadas pragas sabem
que ao expelir produtos químicos mortais para alguns seres, acabam por destruir a
presença de outros, fundamentais para o desenvolvimento da natureza, como por
exemplo, as abelhas, foco dos incidentes de destruição mais recentes. O foco da
produção, dirigida e escrita por André D’Elia, trata de questões sobre a importância
da educação ambiental na vida dos brasileiros, para que no pleno exercício de suas
respectivas cidadanias, as pessoas tenham como protestar e entender os rumos
tenebrosos que acompanham a sua nação, neste caso, os problemas que surgiram
com a aprovação do Novo Código Florestal em 2012.
No que tange aos dados históricos e sugestões, o documentário é bastante
didático e tenta ser panorâmico sem superficialismo. Conta-se que na era FHC o
Brasil registrou os maiores índices de desmatamento, questiona-se que a
regeneração de uma área com outro tipo de vegetação não atende a demanda da
biodiversidade local, o que pode apontar tempo perdido, além da denúncia sobre os
que realmente pagam as multas exigidas por leis, isto é, os pequenos
empreendedores, pois os grandes magnatas passam ileso, principalmente aqueles
que cometeram crimes ambientais até 2008, anistiados de suas dívidas com o
estabelecimento do Novo Código Florestal, vetado parcialmente na gestão
presidencial de 2012, mas ainda assim criticado, pois se tratou de um veto pouco
funcional e subserviente aos membros parlamentares que poderiam tornar-se ainda
mais contrários ao governo vigente.
Após vetar 12 dos 84 artigos, o governo recebeu milhões de cartas de
repúdio, intervenções de ONGS e comentários em redes sociais. Não houve mais
nada a ser feito e a tentativa dos ruralistas em reduzir as faixas mínimas de
preservação de áreas ambientais foi amplamente conquistada. Desta forma,
o que era temido se fez real: a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (LPVN),
de número 12.561/12, denominada Novo Código Florestal, oriunda da lei
1.876/99, percorrida por cerca de 10 anos na Câmara dos Deputados tinha
sido iluminada e ganhou o destaque para ser colocada em prática. Os
debates em maior escala foram abafados, segundo os depoimentos
contrários, com muitos a alegar que a floresta não é rival da lavoura, ao
contrário, sendo a falta de equilíbrio dos empreendedores o grande
problema em questão. Importantes não apenas para preservação dos
recursos hídricos, as florestas tornam-se o ambiente propício para o
desenvolvimento de seres polinizadores que tornam a lavoura de milho, café
e soja um sucesso. Mais uma vez, o questionamento: por que não encontrar
equilíbrio?
Um dos maiores problemas abordados pelo documentário é a
questão dos manguezais. Região acometida por diversos males, os
mangues possuem função essencial no desenvolvimento de ecossistemas
litorâneos. Muita gente vive do que tais regiões produzem. Quando não
vendem, caçam para consumo próprio. Os representantes do agronegócio,
por sua vez, não se importam nada com tais demandas e a luta é avançar
cada vez mais por regiões de fortes impactos ambientais que em muitos
casos, podem causar danos irreversíveis. Atualmente, em pleno 2019,
retornamos a nos preocupar com tais questões, pois a manutenção da
natureza não está na pauta do dia das preocupações governamentais. No
documentário, os manguezais aterrados e a cultura do camarão pelos
grandes empresários tornam o ambiente em questão privatizado, numa
repetição da situação colonial do povo diante das imposições dos que detém
poder.
Como abordado sabiamente por uma das entrevistadas, trata-se de
uma contraditória “reforma agrária ao contrário”. Um caso emblemático foi o
uso de uma região carioca selecionada para a visita do papa. Mesmo cientes
do aterramento completo de um manguezal, a obra erguida para um evento
peremptório foi levada em consideração por seus realizadores. O resultado?
Abandonada por conta do lamaçal que se tornou, a obra foi condenada, não
serviu ao seu propósito, pois outro local foi reservado para o evento, numa
catástrofe que tornou a vida de muitos que dependiam daquela região um pesadelo
social e econômico sem precedentes.
Por fim, A Lei da Água – O Novo Código Florestal é um documentário com
opiniões diversas e os exemplos práticos reforçam o tema central que responde a
relação delicada entre a preservação das florestas, a produção de alimentos e a
saúde dos nossos recursos hídricos.
O reflexo da nova lei tem um tom irônico, pois se trata de um código que, em
sua elaboração, deixou a água em último plano. O filme mostra que ainda há uma
saída. Conscientizar os produtores de que investir em sustentabilidade e
reflorestamento poderia prolongar e até mesmo aumentar a produtividade. “Não
existe incompatibilidade entre agricultura e preservação. Uma agricultura sábia
preserva o meio ambiente e aumenta sua produtividade”, diz Antônio Nobre, doutor
em ciências do sistema terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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