Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Literatura
Chimica Francisco
http://lattes.cnpq.br/7943686245103765
Vitor Cei
http://lattes.cnpq.br/3944677310190316
Sagrado e Literatura
1ª Edição
Rio de Janeiro
Mares Editores
2018
Copyright © da editora, 2018.
Capa e Editoração
Mares Editores
CDD 801.95
CDU 82
2018
Todos os direitos desta edição reservados à
Mares Editores
CNPJ 24.101.728/0001-78
Contato: mareseditores@gmail.com
Sumário
Apresentação ................................................................................ 9
19
Doutorando em Letras, FURG. Bolsista CAPES.
- 100 -
santo e pais-de-santo (onde o mais correto seria a designação no
santo), mantenedores da religião e cultura:
- 102 -
Discorreremos, ainda, acerca da escrita afrofeminina que
dentro da Literatura Negra é, ainda, pouco estudada, mas que alcança
os objetivos dos dois grupos que não abriram espaço para essa
mulheres: De um lado o Movimento Negro que resgatou autores
homens negros dentro da literatura, mas não abriu espaço para as
escritoras negras e de outro o Movimento
Feminista que, no Brasil, buscou os direitos das mulheres
brancas de classe média. Dentro da escrita afrofeminina, destacamos
duas autoras que terão seus contos analisados: Conceição Evaristo que
tem seus contos e poemas publicados, em um primeiro momento,
pelos Cadernos Negros, escritora, também, de romances e que traz o
conceito de escrevivência em suas obras e Mãe Beata de Yemonjá que
escreve Coroço de dendê: a sabedoria dos terreiros que publica em
1998 seu livro de contos orais que trazem personagens da mitologia
afro-brasileira diluídos em vários contos, bem como outras lendas
difusas da mitologia afro-brasileira. Dessas duas autoras recortamos
os contos Olhos d’água (2014) de Conceição Evaristo e Balaio de água
(2002) de Mãe Beata de Yemonjá, ambas mulheres negras engajadas
na luta pela valorização da identidade feminina negra que se constitui
de forma diferente à identidade feminina e à identidade negra.
- 103 -
para a escrita as características de uma cultura oral, em que: “Para os
iorubás antigos, nada é novidade, tudo o que acontece já teria
acontecido antes” (PRANDI, 2001, p. 18).
A mitologia afro-brasileira, tal como outras mitologias, possui
suas divindades masculinas e femininas, contudo, ela é constituída de
Orixás (denominação yorubá) advindos de diferentes lugares da África,
como já dissemos, e cultuados de distintas maneiras em cada
segmento religioso que chamamos de nações. Há um denominador
comum de nomes de Orixás e características que, dentre os mais
conhecidos do panteão afro-brasileiro estão: Oxalá, Xangô, Oxóssi,
Ogum, Omulu/Obaluaiê, Ossaim, Nanã, Iemanjá, Obá, Iansã e Oxum:
- 104 -
Na mitologia, Oxum é descrita como filha de Iemanjá e
Orunmilá, associação mítica que pode ser vista no conto de Mãe Beata
de Yemonjá que analisaremos. Há, dentro da mitologia afro-brasileira,
o que chamamos de caminhos, características de um Orixá que não se
repete em outros de seus caminhos, como, por exemplo, Oxum
Iopondá que vem da região da África chamada Iopondá e Oxum Opará
onde a Oxum divide o corpo com Iansã, onde a cada seis meses há uma
troca. Desses caminhos surgem dois ítãs distintos onde um retrata
Oxum como uma mulher fiel que fica pobre por amor à Xangô e outra
que retrata Oxum como ardilosa, onde ela terá relações com Exu para
aprender o oráculo de Ifá:
- 105 -
Ele aconselhou os orixás a convidá-la, e às outras
mulheres, pois sem Oxum e seu poder sobre a
fecundidade nada poderia ir adiante.
Os orixás seguiram os sábios conselhos de
Olodumare e assim suas iniciativas voltaram a ter
sucesso.
As mulheres tornaram a gerar filhos e a vida na
Terra prosperou. (PRANDI, 2001, p. 348)
- 106 -
modelo mítico dominante do feminino uma virgem
mãe, reduz ao aspecto da maternidade o único
sagrado relacionado ao feminino.(ROSÁRIO, 2008,
p.7)
- 107 -
muito pouco lidos e editados. O Movimento Negro resgatou vários
autores como Luís Gama (1830-1882), Cruz e Sousa (1861-1898), Lino
Guedes (1897-1951) e Solano Trindade (1908-1974), entre outros.
Esses autores que não estão presentes nas histórias da literatura, com
exceção de Cruz e Souza, não são conhecidos ou estudados. Essas
vozes foram silenciadas e, mesmo após seu resgate, são pouco
estudadas:
- 108 -
Na contramão desses dois movimentos que resgatam vozes
silenciadas e minoritárias, presente no entre lugar da escrita feminina
e da literatura negra está a escrita afrofeminina, conceito muito
recente que objetiva resgatar as vozes de mulheres negras,
percebendo como está constituída e que mecanismos a (des)
constroem a identidade da mulher negra. Primeiramente, a identidade
dos africanos que foram escravizados é constituída por um
apagamento que Lima (2009) chama de um processo de
desafricanização.
- 110 -
identidade apagado são os cabelos que são alisados. Esse fato faz com
que as mulheres negras que assumem sua identidade e, aqui diria,
assumem a negritude, segundo Bernd (1984), é deixar os cabelos
crespos ou cacheados soltos como uma coroa de orgulho pela raça,
rompendo com o padrão branco europeu de beleza, assumindo a
negritude:
- 112 -
uma construção afirmativa de suas identidades.
(SANTIAGO, 2012, p.99)
- 113 -
negro e, sobretudo, da mulher negra que fala sobre ela mesma. Uma
segunda forma de análise parte da (des) construção do estereótipo
negativo da identidade feminina negra e uma construção, pelas vias
da valorização e resistência, da identidade negra, seguindo o que
podemos chamar de negritude.
Neste trabalho, associaremos ambas as noções, buscando nos
contos analisados como Oxum é representada e se faz presente na
identidade das personagens que em Conceição Evaristo passam pelo
conceito de escrevivência, onde há uma escrita de si (memórias
individuais) que permitem delinearmos uma representação mais
ampla do universo feminino negro (memória coletiva), Halbwachs
(2003). Já em Mãe Beata de Yemonjá o que marca os contos são a forte
presença da oralidade, em que o leitor é levada a imaginar que alguém
estácontando, como se a griô Mãe Beata estivesse-nos narrando as
histórias cotidianas em que Oxum e Iemanjá fazem-se presente na vida
de suas filhas, bem como outros Orixás do panteão africano.
- 114 -
escrever associado à vivência, resistência e, podemos dizer, resgate e
reafirmação de uma identidade negra feminina.
Dos contos 15 contos, escolhemos para analisar o conto que
nomina a obra de Conceição Evaristo, Olhos d’água, com o intuito de
perceber como o mito de Oxum reflete uma família matriarcal e que
resgata, através da memória coletiva (Halbwachs, 2003) do povo
africano e o processo de reafirmação de sua identidade. Esse fato
perpassa o conceito por mim defendido, cunhado pela professora
doutora Ana Rita Santiago (2012) de literatura afro-feminina. Uma
literatura engajada em resgatar esse passado e essa cultura:
- 115 -
Na mente da protagonista, a descoberta da cor dos olhos de
sua mãe seria uma “oferenda” aos Orixás. Logo, essa descoberta é um
rito, cujo mito de Oxum exige. As oferendas ainda estão presentes na
cultura e na religiosidade afro-brasileira. Essas comidas, diferente do
que a sociedade pensa, não são jogadas fora, elas servem de alimento
para os médiuns e simpatizantes. Inclusive a cada nova “reza”, cântico
de entoamento dos Orixás, é servida sua comida como, por exemplo,
o amalá de Xangô:
- 116 -
materno cheio de água; nossa composição possui 75% de água e ela é
imprescindível para a vida. Ainda, a figura das Yamins Oxorongás
reforça a força e necessidade primordial da presença feminina na
mitologia e nas religiões de matriz africana:
- 117 -
Referências
- 118 -
HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. Trad. Beatriz Sidou. São
Paulo: Centauro, 2003.
- 119 -
Multidisciplinares em Cultura, 4, Salvador, 2008. Anais... Salvador:
UFBA, 2008.
- 120 -