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Carneiro: fjmcarneiro@gmail.com. (19/08/2013)

DIVISOES DAS COMUNIDADES EM SETORES

SETOR 01 CORÍNTIOS – VEREDA FUNDA


Boiada, Jurema, Licuriu, Queimada dos Machados, Saco das Lages e Vereda Funda
(pág. 2 a 17)

SETOR 02 ATOS DOS APÓSTOLOS – MALHADA GRANDE


Bela Vista, Lagoa Grande, Magras, Malhada Grande, Papagaio, Várzea e Vereda do
Toco (pág. 18 a 63)

SETOR 03 TIMÓTEO – MOCAMBO


Água Branca (Mercês foi inserida nessa comunidade), Fazenda, Mocambo e São José
(pág. 64 a 85)

SETOR 04 LUCAS – UNIDOS EM PAULO


Baraúnas, Colônia, Pedrês, Rapadura e Unidos em Paulo (pág. 86 a 105)

SETOR 05 JOÃO BATISTA – JACARÉ


Fazenda, Jacaré e Queimadas do Jacaré (pág. 106 a 112)

SETOR 06 EZEQUIEL – VÁRZEA DA MADEIRA


Bom Sucesso, Curralinho, Engenho, Murici (inclui textos sobre as comunidades Gado
Bravo e Sambaíba), São Domingos e Várzea da Madeira (inclui textos sobre
Morrinhos) (pág. 113 a 168)

SETOR 07 GÊNESES – DOURADOS


Alecrim (Boca do Campo foi inserida nesta comunidade), Dourados, Gaspar e Manoel
Correia (pág. 169 a 209)

SETOR 08 MARCOS – SEDE


Bairro Alto dos Coqueiros, Bairro Bela Vista, Bairro dos Pimentas, Bairro Tijuca,
Bairro Tio João, Lagoa da Casca e Sede (pág. 210 a 212)

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SETOR 01 - CORÍNTIOS – VEREDA FUNDA

Comunidades: Boiada, Jurema, Licuriu, Queimada dos Machados, Saco das Lages e
Vereda Funda.

Boiada

Boiada é considerada a sede da comunidade e sua escola se encontra a pouco


menos de 6 km ao norte do município de Tanque Novo, em linha reta, ou a 7 km por
estrada. Uma das localidades que faz parte desta comunidade, que também tem escola é
o Caldeirão, que está a 3 km a leste da Boiada. A localidade Baraúna do Norte também
é considerada parte integrante desta comunidade, pois os moradores freqüentam a
associação do Caldeirão.

Segundo os moradores, a região tinha um grande pasto, por isso, alguns


vaqueiros que passavam pelo local acampavam com seus rebanhos de gado e cavalos.
Devido ao costume de chamarem seus rebanhos por boiada, passaram a identificar o
local com esse nome. Os moradores de diferentes épocas, destacados pelos atuais,
foram: Jovino Batista; José Saraiva; Ermina Maria de Jesus, proveniente do Pajeú,
município de Botuporã; Demira, que veio dos Tropeiros; Jerônimo Alves de Oliveira,
que veio de Monte Alto; José Alves de Oliveira, que veio da Canabrava dos Vidocas e,
por isso, também era conhecido como Zé Vidoca; o capitão João Alves de Oliveira
(Joãozinho), que veio da comunidade Mucambo dos Malheiros e sua esposa Jovina
Constância do Carmo, que teria vindo de Queimadas de São José; Maria Madalena
passou os 110 anos da sua vida na Boiada e faleceu solteira no ano 2000, depois de
costurar sua própria mortalha; José “Correto”, que veio da fazenda Caldeirão e teria
enlouquecido devido a uma questão de terra; e, por fim, Maria de Cassiana, filha da
Boiada. Um único registro de nascimento foi encontrado se referindo a Boiada no fim
do século XIX, o de Manoel Francisco de Oliveira (n. 223 de 20/12/1891).

A neta do capitão Joãozinho, Dona Lizarda de Oliveira, filha de Joaquim Alves


Oliveira e Joana Maria Carneiro, informa que o capitão foi juiz de paz durante 12 anos e
era considerado justiceiro por bater nos errados. Segundo a neta, ele nunca teria matado
ninguém, mas outros moradores informam que o capitão era maldoso com os escravos e
teria matado muitos de surra. D. Lizarda revela também que a comunidade recebeu o
nome Boiada quando Dr. Deocleciano, de Caetité, reuniu na frente da casa do capitão

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João Alves de Oliveira uma grande Boiada. O primeiro morador teria sido Antônio
Cardoso, de quem o capitão Joãozinho teria comprado as terras da comunidade.
Provavelmente esse seria o Joaquim Antônio Cardoso (Cardozo), citado no texto sobre
as comunidades Alecrim e Várzea, filho de Cláudio Antônio de Oliveira.

Sabemos que existe ligação entre a família de Jovino Batista, da fazenda dos
Tinguis, e a de Umbelino José Gomes, que morava na Várzea, pois as fontes orais
informam que o filho de Umbelino, Aurélio Gomes, era casado com a irmã de Jovino
Batista. Jovino era casado com Amélia e deveria ser parente de Manoel José de Souza
Baptista, visto no texto da Várzea, mas não foi possível saber o grau de parentesco. José
Saraiva, citado pelos moradores, também deve ter tido origem na Várzea, talvez seja o
mesmo do registro 132, divulgado no texto sobre a comunidade.

Através das pessoas destacadas pelos moradores, percebemos que a comunidade


valoriza muito as questões religiosas. Foram destacados: Salvador de Neco, que veio do
Paraná e trouxe o evangelho, considerado importante, pois antes só tinham acesso
através de algum padre, que dificilmente passava pela região, por isso, rezavam apenas
as ladainhas presentes nos livros de Durval, marido de Gazinha, e das filhas de Jovino
Pereira, da Vereda Funda; Celso, por proclamar o evangelho; Jovino, catequista que
atua em cursos para batismo; Nozinho, animador; Elias e Marliete, leitores que ajudam
na celebração dos cultos; Maria e Marli, catequistas que atuam nos cursos de preparação
da crisma e ajudam no evangelho; Maria das Graças juntamente com outras pessoas
formam o coral da comunidade, que se apresenta nas celebrações.

O padroeiro da Boiada é São João porque, desde a época do capitão Joãozinho,


ele e sua esposa Jovina festejavam o São João. Os habitantes ainda se reúnem para
festejar o padroeiro, comemorar o natal com tradicionais novenas, arrumação de
presépios e reisados, rezar a “via-sacra velha” na semana santa. No mês de junho
também se comemora o dia de Santo Antônio, fazendo leilão e acendendo a tradicional
fogueira em frente à capela. No dia de Nossa Senhora Aparecida, considerada padroeira
do Caldeirão, que faz parte da comunidade Boiada conforme citado acima, os jovens se
preparam fazendo corações, máscaras (caretas), bumba-meu-boi, busca do mastro,
procissão etc.

A localidade Caldeirão iniciou-se com poucos moradores, mas, em 2007, a


população informada pelos estudantes e moradores locais era de 181 pessoas. Alípio

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José da Cruz, João José Maria e José Joaquim Borges foram os pioneiros que
construíram suas moradias nas terras do Caldeirão. A comunidade recebeu esse nome
quando a água dos tanques daquela região se tornou insuficiente para abastecer as
famílias. Havia um lugar rochoso onde se encontrava um buraco que mantinha a água
da chuva por muito tempo. Ao saber desse lugar, as famílias que moravam próximo
diziam: Vamos buscar água no caldeirão? Depois de algum tempo em que buscaram
água nesse reservatório, os primeiros moradores instalaram-se no local e viabilizaram a
ida de outras famílias para a comunidade. Ana Carneiro disse que o Caldeirão pertencia
a uma senhora chamada Lindaura Jovina.

A população da Boiada, em 2007, era de aproximadamente 165 pessoas. Elas


contam com a Associação Comunitária dos Produtores Rurais das Comunidades de
Boiada e Vereda Funda, que tem o CNPJ ativo desde 16 de julho de 1998, mas, segundo
os moradores, começou a ter andamento apenas em 2004, com a renovação da diretoria.
Possuem também um campo e um time de futebol.

A primeira escola era na casa do Durval e o professor chamava-se Ziquinha


Santero, atualmente existe o prédio escolar onde funciona a Escola Municipal Jovino
Batista. Em 2009 esta teve 30 estudantes, sendo 26 no ensino fundamental inicial, 4 na
pré-escola, sendo que, nenhum deles utilizou transporte escolar nesse ano. Em 2012 as
atividades na escola foram paralisadas. Além da escola na Boiada, existe a Escola
Municipal do Caldeirão, na coordenada 773.883E e 8.507.162N, que contou com 54
estudantes em 2009, sendo 10 estudantes na pré-escola e 44 o ensino fundamental
inicial. Nenhum deles utilizou transporte escolar para chegar à mesma e em 2012 as
atividades nela também foram paralisadas. Caldeirão também sedia a Associação
Beneficente Comunitária das Comunidades de Baraúna do Norte e Caldeirão de Tanque
Novo, ativa desde 09/04/1997. A localidade conhecida por Baraúna do Norte se
encontra a 1,2 km a sudoeste de Caldeirão, na coordenada 773.151E e 8.506.185N.

O senhor Roque Gomes Carneiro, do Caldeirão, relata que sempre ajudou os


pais e avós na roça desde os 5 anos de idade. Tocava os bois, ajudava a moer cana, fazer
rapadura, tocava o cavalo na roda, fazia farinha. Assim como ele, outras pessoas da
localidade Caldeirão não tiveram oportunidade de freqüentar uma escola. Quando
podiam estudavam na Boiada, na casa de Durval.

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Antigamente as casas eram feitas de adobe e enchimento, com o tempo a Boiada


cresceu, pois houve a construção do prédio escolar e o asfaltamento da estrada que liga
Tanque Novo a Botuporã e atravessa a comunidade. Atualmente as casas são feitas de
cerâmica, mas, até 2007, ainda se utilizava televisão à bateria, por não ter energia
elétrica. A iluminação era feita com velas ou lampiões.

A agricultura em geral é para consumo próprio das famílias que produzem,


sendo que algumas delas também vendem o excedente. Os moradores cultivam milho,
mandioca, feijão, abóbora e até mesmo arroz. O solo é pouco fértil, calcário de cor
vermelha ou branca. Antes as técnicas de produção eram rudimentares, mas hoje já
usufruem de equipamentos e tecnologias como trator, inseticida e arado, que, segundo
eles, contribuiu para o aumento da produção. Mesmo assim, D. Lizarda fala que a
comunidade “Tá acabada, nem parece ser a Boiada que já foi”.

A pecuária é baseada na criação de rebanhos bovinos, suínos, ovinos e caprinos.


Os criadores aproveitam o leite, com o qual produzem requeijão, queijos etc, a carne e o
couro dos animais. A criação é de forma extensiva, sem muitos cuidados veterinários,
dificultada nos períodos de seca. Houve uma noite fria no período seco do ano 1951, em
que grande parte do rebanho bovino amanheceu morta, o que marcou muito a vida dos
moradores. Por isso a abertura de um tanque de água com o apoio do capitão Joãozinho,
que tem servido aos moradores há muito tempo, também se mantém vivo na memória
deles.

Os moradores não possuem PSF, quando têm algum problema de saúde,


deslocam-se até a comunidade Boca do Campo ou à cidade. Segundo os mesmos, os
principais problemas são hipertensão, diabetes e outros ocasionados por alimentação e
higiene inadequadas.

Antigamente as mulheres desta comunidade faziam bordados, fiavam crochê,


bitus, toalha de renda, viramundos, esteira, colchão de palha de milho seco, potes,
panelas, moringas e até cachimbos de barro. Os homens trabalhavam com couro,
fazendo arreios e outros objetos, faziam telhas, carros de boi, canga, chinelos de pneu,
colher de pau, carrinhos para as crianças brincarem etc.

A cultura é comum à das comunidades vizinhas, com cantigas de roda, modas de


viola e violão, o forró utilizando gaitas, sanfona e pandeiro; as vias-sacras, rezadas na
capela na semana santa, as fogueiras no mês de junho. Uma manifestação peculiar da

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Boiada é o forró catira, dança típica dos mais velhos. No Caldeirão, além da folia de
Reis, que é tradição e anima o tempo natalino, merece destaque a dupla de moda de
viola, Nilson e Nilton, filhos de Roque Gomes Carneiro e Ana Carneiro, que já
gravaram o primeiro CD.

Jurema

Apesar de boa parte da comunidade se encontrar no limite legal de Botuporã,


inclusive com sua capela na área deste município (770.589E e 8.512.626N), alguns
moradores da Jurema, como Pedro José da Silva e o irmão Macário José da Silva, filhos
Fidelcino e Anália, moradores há mais de 30 anos na coordenada 771.646E e
8.510.279N pertencem a área legal do município de Tanque Novo. A Paróquia do
Imaculado Coração de Maria, de Tanque Novo, considera esta comunidade pertencente
a ela, por isso a mesma está inserida neste trabalho.

Ainda não foi feito o levantamento no campo, mas foi informado que Ermelino
Xavier, nascido na Jurema , filho de dona Calú, conhece bastante sobre a história local e
pode ser entrevistado futuramente. Nesta comunidade existe um prédio escolar no qual
funcionava a Escola Municipal Silvino José das Neves, cujas atividades estão
paralisadas desde 2009.

Licuriu

A comunidade Licuriu ou Licuril fica a 12 km, em linha reta, a nordeste da sede


de Tanque Novo, ou a 15 km por estrada, a 2,5 km a noroeste da comunidade
denominada Saco das Lajes. A comunidade começou com poucos moradores e os seus
primeiros habitantes foram: Isaías e família, Augustino e Dona Maria Rita e Glicerino e
Dona Maria Amélia. Devido ao fato dos primeiros já terem falecido e muitas pessoas de
outros municípios terem se misturado aos descendentes dos primeiros, os moradores
atuais não sabem explicar como surgiu o nome. Suspeita-se que esteja relacionado com
a palmeira conhecida popularmente como ouricuri ou licuri, nativa do semi-árido. A
maioria da população é negra e existem fortes indícios de que a comunidade seja um
remanescente de quilombo, o que precisa ser mais bem estudado.

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A população informa que existe o Licuriu de Baixo, mais ligado a Botuporã e o


Licuriu de Cima, cuja população está mais ligada a Tanque Novo. No entanto,
atualmente toda comunidade está fora dos limites de Tanque Novo, conforme a Lei
Estadual no 12.631 de 2013. Como a Paróquia do Imaculado Coração de Maria, de
Tanque Novo, considera essa comunidade pertencente à mesma e por a Escola
Municipal Rosalvo Ferreira (em homenagem a Rosalvo do Saco das Lajes) ter sido
mantida pela prefeitura e Tanque Novo, considerou-se nessa pesquisa como
comunidade pertencente ao município, o que deve ser formalizado através do diálogo
entre municípios, estado e comunidade, conforme interesse da mesma.

O nome da escola foi dado em homenagem a um morador proveniente de Saco


das Lajes, se encontra na coordenada 773.903E e 8.513.359N. Em 2009 a mesma teve
26 estudantes matriculados, sendo 5 na pré-escola e 21 no ensino fundamental inicial,
sendo que nenhum deles utilizou transporte escolar. Em 2012 a escola esteve paralisada.
Os moradores da comunidade freqüentam a Associação Beneficente e Comunitária dos
Produtores Rurais de Sacos das Lajes, Vereda Funda, Licuril e Emas, ativa desde 11 de
julho de 2001, cuja sede se encontra na comunidade Saco das Lajes.

Entre as principais atividades econômicas estão o cultivo de feijão, milho,


mandioca, algodão e capim, criação de gado. Antigamente as mulheres realizavam a
fabricação de bitus, calças de algodão, entre outros, no tear, atividade que não é mais
realizada. As comidas típicas são o feijão mulatinho, arroz pisado no pilão, café
adoçado com rapadura, cuscuz, canjica com leite, beiju de milho.

Todos são católicos e comemoram no mês de julho o dia da Santa Maria


Madalena, com novenas e brincadeiras de animação para as crianças, no período
noturno, e celebração de uma Santa Missa no outro dia. Tradicionalmente também se
comemoram os dias de São João e São Pedro, com festa, fogueiras, comidas típicas,
entre outras diversões.

A comunidade apresenta vegetação pouco desenvolvida e a água é escassa. As


pessoas buscam água para beber e cozinhar em outras comunidades. Comparando a
saúde de antes e de agora, os moradores percebem uma melhora significativa,
principalmente devido ao trabalho dos agentes de saúde e da pastoral da criança.

Os esportes mais praticados são: futebol, baleada e capoeira. Na música destaca-


se senhor Antônio Licuril e senhor Zimba com seu terno de reisado.

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Queimada dos Machados

Encontra-se na coordenada 769.659E e 8.511.382N, fora dos limites legais de


Tanque Novo, a 10 km da sede, em linha reta, e a aproximadamente 12 km pela estrada.
Foi relacionada neste trabalho, pois até dezembro de 2012 pertenceu legalmente ao
município e também porque é considerada pertencente à Paróquia do Imaculado
Coração de Maria. O nome Queimada originou-se devido a uma disputa de terra entre
dois herdeiros do terrreno. Havia uma grande fazenda com capim e milho e o dois
disputaram essa área, até que, como nenhum dos dois chegou a um acordo, um deles
resolveu por fogo no terreno, gerando uma grande Queimada.

Em 1879, nasceu em Papagaio, comunidade próxima, Martiniano Machado,


filho de Antônio Joaquim Machado e Patrícia. Quando adulto Martiniano se casou com
Josefina e comprou o terreno em Queimada onde construiu sua casa. Em 1913,
Martiniano e Josefina tiveram o primeiro filho, Antônio Machado, que aos 22 anos de
idade casou-se com Maria Francisca e comprou a casa de seu cunhado Augusto, que foi
morar em São Paulo. Antônio e Maria Francisca tiveram 12 filhos, que também fizeram
casas em Queimadas e deram continuidade ao crescimento da comunidade, que é
constituída atualmente por filhos, netos, bisnetos e tataranetos do senhor Antônio
Joaquim Machado. Como o primeiro morador tinha o sobrenome Machado e esta
família se tornou muito numerosa na comunidade, esta recebeu o nome “Queimada dos
Machados”.

A história de Antônio Joaquim Machado está ligada a história de Morro do


Fogo, lugar onde tudo começou para a região do Vale do Paramirim. Morro do Fogo
encontra-se no município de Érico Cardoso, no alto da Serra do Morro do Fogo. A partir
desse local sugiram Água Quente, hoje Érico Cardoso, e Arraial dos Ribeiros, hoje
Paramirim. No início do século XIX, a escassez de ouro em Rio de Contas fez com que
as pessoas buscassem novos meios de vida em outros locais. Assim, subiram a serra
chegando ao Rio do Morro e ali teve início o povoado com o nome Morro do Fogo, pois
ainda notava-se abundância de ouro e posteriormente surgiu a freguesia de Nossa
Senhora do Carmo do Morro do Fogo no local.

Neves (2003, p. 381) cita o seguinte trecho sobre a Freguesia de Nossa Senhora
do Carmo do Morro do Fogo:

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Terreno com meia légua de comprimento, arrendado pela Casa


da Ponte para João Machado de Figueiredo e vendido, em
1829, através do procurador Rodrigo de Souza Meira Sertão, à
viúva do arrendatário, Genoveva Arouca da Rocha. Nele
formou-se o povoado de mesmo nome, elevado a freguesia em
1843. No registro de terras da freguesia de Morro do Fogo de
1857-1859, declarou-se proprietário apenas Torquato José
Alves (16 braças, comprada de Manoel José Pereira) e Manoel
José Pereira (genro da compradora que, além da herança de sua
mulher, comprou as partes dos demais herdeiros: Antônio
Joaquim Machado, Joaquim José Machado, José da Rocha
Medrado e José Joaquim Machado).

Ao que parece, Antônio Joaquim Machado e os irmãos desse venderam suas


terras para o cunhado Manoel José Pereira e partiram para outros, sendo que, Antônio
Joaquim Machado terminou sua jornada no Papagaio e seu filho Martiniano continuou
essa jornada até a Queimada dos Machados. Em entrevista ao neto homônimo de
Antônio Joaquim Machado, esse fez o seguinte comentário: “papai (...) disse pros filhos
que Papagaio e as Queimadas servem pra nós. Ai a gente foi comprando. Hoje as
Queimadas é minha.”

As primeiras celebrações realizadas nessa comunidade aconteceram na casa do


senhor José Machado, neto do patriarca da comunidade, que também trouxe o ensino
para a mesma, realizado em sua casa. Em 2007 a comunidade contava com 83
moradores. Nesse mesmo ano já tinha uma igreja construída por José Messias e
moradores, a Escola Municipal Martiniano Machado, construída pelo prefeito Alípio de
Botuporã, mas administrada pela prefeitura de Tanque Novo, um campo de futebol,
poço artesiano, água encanada, energia elétrica, barragem, tanque etc. A Escola
Municipal Martiniano Machado, teve 10 estudantes matriculados em 2009, sendo 2 na
pré-escola e 8 no ensino fundamental inicial. 70% deles utilizaram transporte público
para chegar a mesma. Em 2012 essa escola esteve paralisada. É importante ressaltar que
o sistema dataescola do governo federal registra outra escola com o mesmo nome,
Escola Municipal Martiniano Machado, já extinta em 2009, podendo existir dois prédios
escolares na comunidade, o que deve ser confirmado no campo.

Pessoas consideradas destaques na comunidade, são: Graciele, neta de Antônio


Machado, formada em letras em Caetité, professora em Tanque Novo; Nelci, professora
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da comunidade e dirigente da igreja; Lucidalva, professora da comunidade e secretária


da Associação; Gildemar, professor da comunidade e presidente da Associação; Manoel
Messias, fundador e presidente da Associação; Marivaldo, destaca-se no desenho;
Vanilton, destaca-se na literatura de cordel; Marizete e Elieuza, ajudam na igreja.

A cultura é comum à das comunidades vizinhas, com cantigas de roda, modas de


viola e violão, o forró utilizando gaitas, sanfona e pandeiro. Na semana santa há a
tradição de rezar a “via-sacra velha”. O senhor Martiniano Reis foi quem iniciou esta
tradição, mas hoje se destacam na recitação da via-sacra, Manoel Messias Machado,
Manoel Machado e Gildemar Neves de Oliveira. No mês de junho comemora-se o dia
de Santo Antônio, fazendo reza com leilão e ascendendo a tradicional fogueira em
frente à capela. No dia de Nossa Senhora Aparecida, os jovens se preparam fazendo
corações, máscaras (caretas), bumba-meu-boi, busca do mastro, procissão, etc. Os
habitantes também reúnem-se para comemorar o natal com tradicionais novenas,
arrumação de presépios e reisados.

A economia baseia-se na pecuária de corte e leiteira e na venda de feijão, milho,


mandioca e fumo, sendo este o principal produto da agricultura. Outros como a
mamona, o algodão, o amendoim e o gengibre também são cultivados em algumas
épocas do ano por algumas famílias, porém, em pequenas quantidades. Os moradores
informaram que também se poduzia batata-doce e arroz, mas ninguém planta mais, por
que não dá.

Há criação suína, ovina e caprina para a produção de carne, utilização do couro


bovino e produção de requeijão, queijos e outros derivados do leite. A criação é de
forma extensiva, sem cuidados veterinários e a produção dificultada com a seca, que,
por exemplo, casou uma enorme crise em 1951. Para o senhor José Machado: “A
criação era bode, cabra, ovelha, gado, mas o negócio foi arruinando, a crise foi
entrando, o jeito foi parar. Cabra criou a lei pra ninguém criar mais.” Os moradores
contam com a Associação Comunitária de Queimadas dos Machado, criada em 20 de
abril de 2004, para ajudá-los a resolverem os problemas.

Há 70 anos, Francisca Maria de Jesus bordava, rendava, fiava linha e fazia


roupas. Suas filhas continuaram com a arte, mas atualmente não existe mais a
fabricação de linhas e de renda. Hoje em dia se confecciona vassoura de palha, vira

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mundo, tapetes de fuxico, crochê, capa de filtro, toalha de fogão, caminhos de mesa,
almofadas, bordados, entre outros.
O clima é tipicamente semi-árido, com chuvas escassas durante todo ano, possui
uma vegetação típica da caatinga e cerrado, possui um solo calcário e terras
avermelhadas ou embranquecidas, solo arenoso, e serras de onde se extrai minério de
ferro. A diversidade da fauna e a flora está diminuindo. Até pouco tempo, a principal
brincadeira para os meninos era balear passarinho com o Badoque. O que não se faz
atualmente com tanto freqüência, talvez pela própria escassez de passarinhos.

Saco das Lages

Saco das Lages ou Lajes está a 12 km, em linha reta, a nordeste da sede de
Tanque Novo, ou a 14 km por estrada. Na comunidade está localizado um marco do
IBGE, no ponto mais alto da serra da laje, que é o limite atual dos municípios de
Botuporã, Paramirim e Tanque Novo. Antigamente existiam índios nesse local, pois os
forasteiros Clemente Roque e Betoldo constituíram família com índias, consideradas
pelos moradores as precursoras da comunidade. Segundo os estudantes do CETN, a
origem do nome está relacionada com a construção feita pelos índios, de cercas e ocas
de pedras, que eram carregadas em bruacas e sacos. Como já vimos no texto sobre a
comunidade Alecrim, a palavra Saco se referia antigamente a uma vereda que se formou
entre partes mais altas, como a região tem características semelhantes, é mais provável
que o nome se refira a essa característica em vez dos sacos utilizados pelos índios para
carregar pedras.

Adventino Ferreira da Silva foi o principal entrevistado, em 2007, aos 63 anos


de idade, por ser destacado como pessoa importante para comunidade, entre outros, tais
como: Francisco, Marcelina, Pompílio, Rosalina, Ângelo Ferreira, Rosalvo Ferreira,
Otavio Ferreira, Maria Rosa, Rodrigo Ferreira, Maria (Mariquinha), José Pereira, Janina
Rosa, Augusto Ferreira, Maria José, Maria Rosa Pereira, Francisco Ferreira, Joana
Rosa, Maria Rosa de Jesus, Vando José da Silva, José Domingos Bomfim, Rosalvo
Cardoso, Brandina, Geraldo Ferreira, Regina Maria Conceição, Enilton Ferreira,
Natalina Dias (já falecidos) e Maria Rosa, Fidelcina, Raulinda Santina, Mari da
Conceição, Izaulinda, José da Silva (Zeca de Geraldo), Santino Ferreira, Zelinda,
Aníbal, Rafael Ferreira, Rosalina Pereira e Hilda Pereira.

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Antigamente cultivava-se feijão, milho, mandioca e mamona em covas abertas


com enxadão e enxada e os terrenos eram cercados com garrancho. Parte da safra era
separada como contribuição para o dízimo. Com a chegada dos primeiros arados,
comprados por Adventino e Rosalvo, o plantio e a limpeza das lavouras foram
facilitados, aumentando a quantidade de lavouras. No ano de 1987, Otávio Ferreira
comprou um trator que facilitou ainda mais o cultivo para os moradores. A maioria das
pessoas pagava os serviços realizados pelo trator depois, com a parte da colheita. Existe
também uma mineração de talco e mármore apenas pesquisada e aprovada, mas que
ainda não está sendo devidamente explorada, nos terrenos que eram de Otávio Ferreira,
Geraldo Ferreira, hoje de Santino Ferreira e José da Silva Ferreira, respectivamente.

Otávio Ferreira é um comerciante conhecido no município de Tanque Novo e


região. Saiu da comunidade de Saco das Lajes para Tanque Novo, começou um
pequeno comércio em sua residência e depois construiu a cerealista Ferreirense.
Comercializou durante muitos anos, juntamente com seus filhos, tendo se destacado
Enílton Ferreira. Segundo os moradores Enílton se esforçou bastante pela comunidade.
Como vereador, apoiado pelo prefeito João Neves e pelos deputados Sérgio Brito e
Robério Nunes, pode trazer energia para a comunidade, perfurou poços artesianos, e,
como vice-prefeito de José Messias, em dois mandatos, fundou a Associação
Beneficente e Comunitária dos Produtores Rurais de Sacos das Lajes, Vereda Funda,
Licuril e Emas, ativa desde 11/07/2001, trouxe posto telefônico e encanou água para
muitas famílias. Foi candidato a prefeito em 2004, mas não foi eleito e faleceu em São
Paulo, no ano de 2005.

A comunidade teve muitas mulheres que se destacaram no artesanato, sendo


elas: Janina, Maria, Joana, Regina, já falecidas e Fidelcina, Servina e Maria Rosa, no
presente. Elas usavam suas rocas para fazer o fio de algodão e o tear para fazer roupas e
cobertores para a família. Essa comunidade teve dois carpinteiros conhecidos, Augusto
e Francisco, que faziam carros-de-boi, mesas, cadeiras, portas, janelas etc. Hoje em dia
Rafael Ferreira, filho de Augusto, dá continuidade a essa atividade.

Todos os anos a comunidade realiza via-sacra e a missa do padroeiro Senhor


Bom Jesus. A primeira missa foi celebrada pelo padre Benvindo, depois vieram o padre
José Maria e o padre Pedro. A via-sacra começou na casa de Ângelo Pedro Ferreira,
depois o seu filho Rosalvo deu continuidade. Em seguida, veio o sobrinho de Rosalvo,
Rodrigo, mas esse faleceu logo depois e a comunidade ficou parada por alguns anos.
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Chegando na comunidade o senhor Carlos Nobre, do município de Botuporã, Otávio o


convida para dar continuidade à comunidade, por ele já ter exercido o cargo de
presidente da comunidade Jurema, e entrega a imagem do senhor Bom Jesus.
Carlos Nobre deu início em sua residência ao culto e novenas, onde missas
foram celebradas pelo padre Aldo Luchetta. Como o espaço da casa era pequeno, a
imagem foi levada para o prédio escolar e, passado alguns anos, Otávio Ferreira doou
um terreno para a comunidade, onde foi feita a capela. Carlos Nobre fica doente e tem
de se afastar do seu cargo, Ademar Ferreira, bisneto de Ângelo Pedro Ferreira, deu
continuidade até hoje.

Na música se destaca a dupla Cido e Valter. O primeiro é filho de José


Domingos e Geruza; o segundo, Valter Nunes da Silva é filho de Adventino Ferreira da
Silva e Rosalina Nunes. Segundo o depoimento do pai de Valter, Adventino, os dois
nasceram e cresceram na comunidade Saco das Lajes e por serem primos estavam
sempre brincando juntos de bola, caçando passarinho, mas o que eles gostavam mesmo
era de se juntar com os outros primos na casa de seu tio Francisco e brincar de cantar
reis, com latas. Valter, neto de Geraldo Ferreira, que cantava e tocava cavaquinho,
viola, fazia rimas e era um bom repentista, herdou um pouco dos talentos do avô. Por
ser um jovem de voz firme, foi convidado pelos reiseros do Licuril para fazer parte do
grupo deles. Aprendeu a tocar violão e começou a cantar algumas músicas na casa dos
seus amigos. Depois convidou seu primo Cido para juntos comprarem um teclado e
começou a explicar para ele as poucas notas que havia aprendido no violão. Convidou
também Marcos e Manoel para juntos criarem a banda “Renascer”. Tocaram muitas
festas juntos durante alguns meses, depois Cido e Valter seguiram carreira a dois e em
2005 gravaram seu primeiro CD.

Segundo os moradores existem na comunidade pessoas pitorescas, como, por


exemplo, a senhora Maria da Conceição, uma mulher solterira de 69 anos, que segue os
costumes de seus pais: nunca dançou, nunca usou maquiagem, nunca acompanhou
modelo de roupa, etc. Uma história que também chama a atenção dos moradores até
hoje foi a chegada dos revoltosos, em 1926, pois todos tiveram que esconder no mato.

Há alguns anos os moradores desta comunidade andavam de 4 a 5 km, até uma


minação chamada fontinha, para conseguirem uma lata de água. Muitos animais
morriam de sede. Devido a Enilton Ferreira ter sido eleito vereador, depois vice-

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prefeito, a comunidade recebeu muitas obras, como a perfuração de três poços


artesianos, o encanamento da água em quase todas as casas, barragem etc.

Os moradores destacam na área da saúde Eraldo Neves da Silva, que concluiu o


ensino médio em Tanque Novo, depois foi para Sertãozinho-SP, onde recebeu seu
diploma de enfermeiro e atualmente trabalha do hospital deste município Um dos casos
de doença que mais chamou a atenção na comunidade foi de uma pessoa que nasceu
cega, surda e muda, pois a mãe teve rubéola enquanto estava grávida. Uma senhora
desta comunidade também conta que perdeu filhos devido ao “mal de sete dias”,
conhecido atualmente por tétano neonatal. As mortes decorrentes de complicações no
parto eram freqüentes, pois a parteira não conseguia ter sucesso em todos e não existia
carro na comunidade para levar as gestantes ao hospital mais próximo, em Paramirim.
Segundo as fontes orais, as mães tomavam chá de quina para curar febre, depois eram
bem agasalhadas para suarem e se estivessem com dor de cabeça, ou vomitando,
cheiravam um “turrão”. Hoje quase todas as crianças são vacinadas, a cada 30 ou 60
dias os médicos atendem na própria comunidade, há o agente de saúde que visita a cada
família, o agente da pastoral que orienta as mães a evitarem algumas doenças e a
cuidarem dos seus filhos.

O esporte mais praticado é o futebol. O local onde jogavam era inicialmente no


terreno de José Pereira Nunes, depois foram para o terreno de Rosalvo Cardoso, depois
ganharam outro campo, feito por Otávio Ferreira, onde brincaram por muitos anos, mas
como esse era pequeno, Adventino Ferreira deu o terreno para ser feito um novo campo,
que é o atual, sendo que, Enílton Ferreira, enquanto vice-prefeito do muncípio, mandou
planificar o terreno, doou bola, rede e uniforme para os jogadores. Segundo o pai de
Valter, ele também se destacou jogando futebol, mas devido à profissão de cantor,
deixou o futebol.

Quando Saco das Lajes pertencia ao município de Macaúbas, os professores que


ensinavam não eram formados e davam aulas nas suas casas, sendo lembrados: Rodrigo,
Persivaldo e Ângelo. Existia apenas bancos que não davam nem para todos os alunos.
Os pais pagavam para os professores ensinarem seus filhos um ou dois meses, para
aprenderem a escrever o nome, soletrar algumas palavras, e o aluno que não aprendesse
ficava sujeitado a receber a palmatória dos professores, com consentimento dos pais.

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Depois que Saco das Lajes passa a pertencer a Botuporã continua a mesmo
sistema de ensino, com os professores não formados. No ano de 1980 um professor de
Botuporã passou a ensinar na casa de Adventino Ferreira, para 63 alunos, apesar de sua
casa ser pequena e de enchimento. Diante disso, Adventino Ferreira fez o pedido de
uma escola ao prefeito Alípio Queiroz Marques, então Geraldo Ferreira doou o terreno e
a Escola Municipal Ângelo Pedro Ferreira foi construída. Com a construção da escola, a
primeira professora formada, de Botuporã, foi Inelcina Pereira da Cruz e depois vieram
vários outros. Regina Célia, professora formada e concursada, que já ensinou na escola
da comunidade e hoje trabalha como professora na Escola Teotônio Marques, é
destacada pelos moradores. Os alunos têm mais apoio e incentivo, recebendo merenda,
livros, uniforme e transporte escolar. Em 2009 a escola, administrada pela prefeitura de
Tanque Novo, teve 19 estudantes, sendo 13 no ensino fundamental inicial e 6 na pré-
escola e apenas um deles utilizou transporte escolar. Em 2012 a escola foi paralisada.

Vereda Funda

A comunidade fica a 9 km na direção norte de Tanque Novo, a pouco mais de 10


km pela estrada. Teve sua origem quando João José Pereira, casado com Maria Rosa de
Oliveira, e o filho Jovino João José Pereira compraram o terreno, onde existia uma área
profunda, na qual, por ser mais úmida, a vegetação era um misto de agreste e caatinga.
Essa área passou a ser chamada de vereda funda e assim ficou conhecida a comunidade.

O falecimento do casal fundador devido à escassez de água marcou a vida dos


moradores. Segundo os mesmos, depois disso, no ano de 1979, o filho Jovino Pereira e
sua mulher Maria Pereira conseguiram abrir um poço e depois levar água encanada para
a Vereda Funda. Segundo Jovino Pereira, a instalação de energia elétrica e água potável
se deram graças a São Sebastião, padroeiro da comunidade.

Antes de terem água encanada, a população utilizava apenas a água de um


tanque construído por José Onório, conhecido por Lagoa da Vereda Funda ou Lagoa do
Onório, a 2 km, em linha reta, a nordeste da comunidade. Esse senhor foi homenageado
pela comunidade que colocou seu nome na escola, Escola Municipal José Onório. A
escola está na coordenada 773.220E e 8.510.002N e funcionou normalmente com uma
sala até a 4ª série, com 24 alunos matriculados em 2009, sendo 3 na pré-escola e o
restante no ensino fundamental inicial e um deles utilizando transporte para chegar ao

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local. Em 2011 a escola foi ampliada e hoje há mais quatro salas, pois se optou pela
nucleação, paralisando as escolas nas comunidades vizinhas. Devido a isso, em 2012 a
escola teve 25 estudantes matriculados na pré-escola e 156 nos anos iniciais, totalizando
181 estudantes. Desses, 156 utilizaram transporte público municipal partindo da zona
rural e 4 partindo da cidade.

A comunidade tem duas associações lutando por seus interesses, pois existem a
Associação Comunitária dos Produtores Rurais das Comunidades de Boiada e Vereda
Funda (ativa desde 16/07/1998), com sede em Boiada, e Associação Beneficente e
Comunitária dos Produtores Rurais de Sacos das Lajes, Vereda Funda, Licuril e Emas
(ativa desde 11/07/2001), com sede em Saco das Lajes. A Lagoa das Emas está
localizada na coordenada 774.181E e 8.510.300N e a 2 km a sudeste desta está a Lagoa
do Zuza (776.171E e 8.509.704N). Existe um projeto para criação de uma nova
Associação com sede na própria Vereda Funda que está sendo desenvolvido pelo
moradores locais. A comunidade tem um campo de futebol e um time.

Eram e são comuns as seguintes manifestações culturais: cantigas de roda;


modas de viola e violão; forró utilizando gaitas, sanfona e pandeiro; a comemoração do
dia de São Sebastião, fazendo reza com leilão e acendendo a tradicional fogueira em
frente à capela; as Vias Sacras, realizadas na semana santa; cavalgada; os festejos, no
mês de junho, de São João e Santo Antônio. Em dezembro, festeja-se o Natal, com
tradicionais novenas, arrumação de presépios e reisados. Segundo o estudante 1694:
“[...] melhor (data) é no dia 25 de dezembro estou a sua espera para o nosso festejo do
natal [...] fazemos churrasco [...]”.

Dona Selvina também é considerada pessoa destaque na comunidade, pois


contribuiu para o artesanato, juntamente com Maria Pereira e outras mulheres, fiando,
bordando, fazendo cobertores de algodão, toalhas e roupões de pano de saco. Alguns
homens se destacaram como carpinteiros fazendo carros de boi e canga, curtiam couro e
faziam arreios e outras coisas que as pessoas usavam antigamente.

A comunidade se destaca na produção de beiju a partir do plantio e


processamento da mandioca. Cultiva também o milho e o feijão e tem criação de
rebanhos bovinos, suínos e caprinos, para a produção de leite, carne e couro. Com o
leite se produz requeijão, queijos e outros. A criação é de forma extensiva, sem muitos

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cuidados veterinários, dificultada pelo período seco. As chuvas são escassas em grande
parte do ano e o solo é calcário.

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SETOR 02 - ATOS DOS APÓSTOLOS – MALHADA GRANDE

Comunidades: Bela Vista, Lagoa Grande, Magras, Malhada Grande, Papagaio,


Várzea e Vereda do Toco.

Bela Vista

Essa comunidade fica a aproximadamente 15 km, em linha reta, a noroeste da


sede de Tanque Novo ou a 20 km pela estrada na coordenada 764.083E e 8.513.218N.
Segundo os moradores, a comunidade teve origem a partir do senhor José Alves Primo,
devoto do Sagrado Coração de Jesus. Eles informaram que, desde 1900 até os dias
atuais, a comunidade também é conhecida como Enxu, mas, na década de 1960, o padre
José Maria visitou a comunidade e a batizou de Bela Vista, ficando conhecida pelos
dois nomes.

A Escola Municipal Coração de Jesus teve, em 2009, 25 estudantes, sendo 22


deles no ensino fundamental inicial e 3 na pré-escola e, em 2012, 20 estudantes, 15 e 5,
respectivamente no fundamental e no pré. Nenhum deles utiliza transporte escolar até a
5ª série. A partir dessa série as crianças vão estudar na cidade de Tanque Novo.

Os informantes disseram que na comunidade Bela Vista desenvolve-se a


plantação de feijão, milho, mandioca e capim com as mesmas técnicas agrícolas antigas.
Os bolos de polvilho são característicos da culinária local. A vegetação predominante é
a caatinga, com a presença de umbuzeiros, mangueiras, laranjeiras, juazeiros etc. A
fauna é formada por animais domésticos, de criação e alguns pássaros. O relevo é
constituído por vários morros e o solo não é considerado muito bom.

As principais causas de morte da comunidade são derrame e hipertensão. O


atendimento médico é precário, não há postos de saúde, os doentes são levados para a
cidade mais próxima, Botuporã. Aproximadamente 95% das pessoas da comunidade
seguem a religião católica e os costumes religiosos que mais se destacam são: novenas,
Via-Sacra, reisados etc. A comunidade busca guardar os dias santos, como por exemplo:
08 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição. Os mais velhos gostam de
músicas sertanejas antigas e os mais jovens de forró e samba.

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Lagoa Grande

A escola da comunidade Lagoa Grande se localiza a 5 km, em linha reta, a oeste


da sede do município, na coordenada 766.583E e 8.501.755N e a fazenda Lagoa
Grande, que deu origem a comunidade, se localiza a 2,5 km a sudeste da escola. Faz
parte desta comunidade as localidades Jacinta, Lagoa da Novilha, Sarandi, Várzea Suja
e Tamboril. O nome da comunidade originou-se em 1930, pois o coronel José Joaquim
das Neves mandou os escravos construírem uma barragem em sua propriedade,
utilizando gamelas e bangüê para carregar a terra e, nesse ano, a chuva propiciou a
formação de uma lagoa, entre as localizações atuais da escola e da fazenda, que foi
batizada de lagoa grande. As mulheres da comunidade lavavam roupa na lagoa e alguns
pescadores, principalmente do Murici, Paramirim e Caititu (atual Botuporã), pescavam
ali. Era uma lagoa com água doce em abundância, que existe até hoje, com o nível de
água mais baixo e com a quantidade de peixes bem menor.

Segundo as informações dos moradores, a comunidade Lagoa Grande teve início


com a chegada do coronel José Joaquim das Neves, nascido na década 1840. Ele casou-
se com a filha do seu vizinho Felippe Batista de Souza, que foi citado no texto sobre a
comunidade Engenho, como proprietário de terras a leste da fazenda Sarandy, que fica a
aproximadamente 4,5 km a noroeste da escola da comunidade Lagoa Grande e também
citado no texto sobre a comunidade Várzea, como proprietário de terras na Lagoa do
Mato a oeste da fazenda Vargens, cuja comunidade fica a aproximadamente 3 km a
nordeste da localização atual da escola de Lagoa Grande. Quando a filha de Felippe
Baptista, Anna Maria, se casou com o coronel, ela era filha adotiva do tenente da região
da Várzea Suja, Maximino Pereira de Sousa Fagundes, que, segundo o registro de terras
da década de 1850, citado no texto sobre a comunidade Furados, tinha terras onde hoje
se encontra a comunidade Lagoa Grande ou vizinhas a estas.

Um contemporâneo do senhor José Joaquim das Neves chamado Manoel José de


Souza Baptista, nascido em 1842, foi enterrado na capela de Furados, atual sede de
Tanque novo, no dia 13 de abril de 1917, aos 75 anos. Ele era da localidade Lagoa do
Mato, citada no texto sobre a comunidade Várzea, no qual vimos que pode ter sido
irmão de Anna Maria, portanto, filho de Felippe Batista, ou ainda primo da mesma, o
que não foi possível comprovar. Sabemos apenas que ela era irmã legítima de José
Joaquim Batista, também conhecido por Cazuza Batista, cujos os moradores informam

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que juntamente com sua esposa Virgilina Batista, também foram uns dos primeiros
moradores da Lagoa Grande.

José Joaquim das Neves, chamado de coronel, teria construído sua casa em um
local de mata fechada, de onde retirou as madeiras utilizadas na construção. Os
moradores atuais consideram que a extensão da sua fazenda era do local onde se
encontra sua casa, que atualmente pertence à senhora Suzana que foi casada com Raul,
neto do coronel, até a atual Lagoa de Dentro, o que daria uma extensão de mais de 12
km. Os pais do coronel eram Joaquim José das Neves e Maria Joana da Silva e os
irmãos: Rufino José das Neves, Clemente Alves das Neves, Bernardino Alves das
Neves, Ana Angélica das Neves, Carlota Maria das Neves, Faustino José das Neves,
Manoel Joaquim das Neves, Jesuína Maria das Neves e Hermelina Maria das Neves.
Seus pais venderam uma fazenda chamada Botim, na região do atual município de
Paramirim e foram para a região do atual município de Igaporã:

Botim - sítio na freguesia de Morro do Fogo, que no registro de


terras de 1857-1859, pertencia a Manoel José das Neves (por
compra de Manoel da Cunha Romualdo); e Valério Luiz de
Souza (compra de Joaquim José das Neves e sua mulher Maria
Joana de Jesus) (NEVES, 2003, p. 299).

Os casamentos fora do circuito familiar incorporaram novos


sobrenomes ao grupo de parentela, rompendo apenas
momentaneamente o círculo vicioso, retomado em seguida. Há
muitos exemplos como a descendência de Vicente Pinheiro de
Azevedo, neto do Cotrim lusitano (Antônio Xavier de Carvalho
Cotrim), do qual cinco filhas, de uma prole de 17, casaram-se
com filhos e netos de Joaquim José das Neves e Maria Joana da
Silva, migrantes de Canabravinha, termo de Rio de Contas,
atualmente em Paramirim, para os arredores de Bonito, hoje
Igaporã (NEVES, 2001, p. 131).

Erivaldo Fagundes Neves nos mostra, através da análise do inventário de seu


ancestral Joaquim José das Neves, pai de José Joaquim das Neves, que ele possuía um
terreno na então Várzea, que poderia estar localizado onde hoje se encontra a
comunidade Lagoa Grande:

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Umbaúba (ou Vargem do Sal) – Fazenda no atual distrito de


Caldeiras, com três léguas de comprimento e duas de largura,
entre Morro do Chapéu, Mocambo, Jatobá e Fazenda de Cima,
declarada no registro de terras de Caetité por: Estanislau
Francisco de Azevedo, José Simeão de Matos e Teodora Maria
de Carvalho. A viúva Maria Joana da Silva inventariou no
espólio de Joaquim José das Neves, em 1877, uma parcela de
Umbaúba, com outra de Várzea e uma casa arruinada, por 81
mil réis; seis escravos, dois contos e 850 mil réis; quatro rezes,
52 mil réis; dois cavalos, 80 mil réis; 20 cabras, 20 mil réis
(NEVES, 2003, p. 416)

Outra possibilidade que deve ser considerada é a de que o tenente Maximino,


que estava na condição de sogro de José Joaquim das Neves, pode ter fornecido as terras
para o coronel, pois, como escrevemos anteriormente, as terras dele estavam localizadas
onde hoje se encontra a comunidade Lagoa Grande, ou próximas a esta. Além disso,
Felippe Baptista pode ter deixado de herança as terras para filha, conseqüentemente
para o pai adotivo, e estas teriam sido transferidas para o coronel José Joaquim das
Neves, quando se casou com ele. Fazendo essas considerações podemos concordar com
as fontes orais que dizem que a propriedade do coronel José Joaquim das Neves teria
mais de 12 km de extensão.

Esse coronel possuía vários escravos que trabalhavam com seus rebanhos de
gado e suas lavouras. Apenas dentro da sua casa, as fontes orais informam que existiam
oito escravas que faziam os trabalhos domésticos. Em seu livro, o autor Erivaldo
Fagundes Neves nos traz informação sobre o contexto em que José Joaquim viveu e a
influência que ele teve na região, mesmo com pouca idade:

No mês de abril de 1860, o padre José Timóteo da Silva,


pároco encomendado de Morro do Fogo, município de Rio de
Contas, depois de descrever a “miséria e desolação” causada
“pela fome”, que ceifava “grande parte” dos seus paroquianos,
propôs ao presidente da Província constituir, como ocorria em
outras localidades flageladas, “uma comissão para socorro dos
necessitados”, composta por: tenente-coronel Liberato José da
Silva, Antônio Borges de Carvalho, Antônio José Cardoso,
Manoel Joaquim da Silva, tenente Pacífico José das Neves,

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José Joaquim das Neves e Manoel Joaquim Ferreira. Esses


cidadãos, depois de receberem “algum dinheiro”, seriam
encarregados de providenciar mantimentos, de preferência “no
rio São Francisco e outras partes, na distância de cincoenta
legoas”, para se evitar trazê-los “da Bahia (Por Bahia se
entende Salvador e adjacências, porque o comércio de gado, no
período colonial centralizava-se em Capuame, atual Dias
d’Ávila e transferiu-se no século XIX para Santana dos Olhos
d’Água, hoje Feira de Santana. (NEVES, 2008, p. 223)) pelo
máo estado da estrada e absoluta falta de tropas” (APEB.
Colonial e Provincial, 1.607. Correspondência do vigário
encomendado, José Timóteo da Silva, de Morro do Fogo, 25
abr. 1860) (NEVES, 2008, p. 207).

José Joaquim das Neves teve um filho e uma filha com a senhora Anna Maria,
sendo que, ela foi grávida de Anna Flora das Neves para a cidade de Paramirim,
deixando o filho Francisco José das Neves com o coronel. Quando adulta Anna Flora se
casou na Várzea Suja, na casa do mesmo tenente que adotou sua mãe, demonstrando
que os laços com a região não foram totalmente cortados após a fuga da mãe.

Compareceu Exupério José Gomes, negociante em Macaúbas,


para registrar seu filho e de Anna Flora das Neves, costureira,
nascido no dia 03 de novembro de 1890. Avôs paternos:
Umbelino José Gomes e Francisca Antônia de Jesus, já
falecida, Avôs maternos: Joaquim José das Neves e Anna
Maria das Neves. Casaram-se na casa do Tenente Maximino
Pereira de Souza, na Varzea Chuja, termo de Macaúbas e reside
atualmente neste arraial de Cannabrava (n. 206, p. 79).

Depois de Anna Maria, o coronel se relacionou com Carolina Idalina da Silva e


teve dois filhos com ela: Daniel e Suzana Carolina Baptista Neves. Eles moraram
durante um tempo na casa do coronel em Canabrava dos Caldeiras, que ainda existe na
frente a igreja matriz, e depois voltaram para Lagoa Grande.

Daniel teve um trágico destino, pois morreu afogado ainda jovem na barragem
da Lagoa Grande, quando trabalhava com suas tropas de animais. Ele comandava as
tropas com mais de 80 asininos, eqüinos e muares pelo sertão, levando produtos da
região e buscando outros. Segundo os moradores, o desaparecimento de Daniel levou o

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coronel a acionar todos os seus recursos para encontrá-lo, inclusive buscando reforço
nas cidades vizinhas. Depois de muitas tentativas frustradas, resolveu quebrar a
barragem para confirmar a suspeita de que o filho havia se afogado e após toda a água
escoar, o corpo foi encontrado. Os descendentes do coronel contam que Daniel foi
sepultado no cemitério de Caldeiras.

Suzana casou-se com Major Francisco Baptista Neves, teve vários filhos e se
mudou para Caetité. O registro de nascimento n. 310 nos dá mais informações sobre a
família de Suzana:

Segundo Lei 1986 de 07 de 03 de 1888 e o Decreto 2889 de 25


de 11 de 1914, compareceu no dia 13 de 04 de 1915, o Major
Francisco Baptista Neves para registrar seus filhos com Suzana
Carolina Baptista Neves: Azarias (Nasceu em Lagoa Clara no
dia 29/11/1889), Daniel (18/04/1901), Hibelmont (28/02/1903),
Camerino (10/11/1904), Gerson (02/08/1906), “nome ilegível”
(13/04/1908), Francisquinha (13/06/1911), Hilvon
(28/03/1913) e Joffre (14/08/1914). Avôs paternos: Joaquim
José Batista e Juanna Maria da Conceição, falecidos. Avôs
maternos: José Joaquim das Neves e Carolina Idalina da Silva,
falecida.

Não foi possível saber qual a relação de parentesco entre o irmão de Anna
Maria, José Joaquim Batista, também conhecido por Cazuza Batista e o senhor Joaquim
José Batista citado no registro n. 310 como pai de Francisco Baptista, marido de
Suzana. Pela semelhança dos nomes eles podem ter sido irmãos ou até a mesma pessoa,
já que o nome de Cazuza Batista foi repassado oralmente e as pessoas podem ter
trocado a ordem dos nomes e ele também poderia ter se casado duas vezes, com a
Virgilina, citada pelos moradores e com a Juanna, citada no registro n. 310.

A segunda mulher do coronel, Carolina, que era jovem, viveu somente nove
meses depois da morte do filho Daniel. Mais uma vez sozinho, o coronel teve como
mulher uma escrava chamada Siana Preta e da relação com ela nasceu um filho
chamado Taurino Bispo Neves, que se mudou para São Paulo ainda jovem. O coronel
José Joaquim das Neves morreu no ano 1922 e foi sepultado no cemitério de Caldeiras.

Francisco José das Neves foi o único descendente do coronel que permaneceu na
Lagoa Grande. Ele estudou no seminário na cidade de Duas Barras, hoje Morpará, para

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onde foi com “Chico de Eugênia”, mas desistiu para se casar com a senhora Ana
Amélia, filha do senhor Cassiano Xavier Malheiro e de Dona Deraldina. Como vimos,
Anna Maria, mãe de Francisco, era filha adotiva do tenente Maximino, Deraldina, mãe
de Ana Amélia, era filha legítima do tenente Maximino, portanto, Francisco José das
Neves e Ana Amélia eram primos sem consangüinidade. Este casal teve 18 filhos, entre
eles: Azarias, Ezequiel, Daniel, Ananias, Manoel, “Docha”, Estefani, Raul e Ana, esta
última a caçula, mãe de João Neves de Oliveira (Juca), avó do atual prefeito de Tanque
Novo, o senhor Élson Neves de Oliveira.

Os moradores informam que Cazuza Batista, e sua esposa Virgilina Batista


tiveram 25 filhos, o que consideramos um exagero para uma única esposa, o que reforça
a hipótese de que ele tenha tido a segunda esposa, Juanna, e que seria a mesma pessoa
citada no registro n. 310. Muitos desses filhos morreram devido ao “mal de sete dias” e
dentre os que continuaram em Lagoa Grande estão: Ana Rita, Laudelina, Teotônio,
Felipe, João, Joana e Cândido. A vida da família do senhor Cazuza era baseada no
plantio de feijão, milho, mandioca, palma e mamona, da qual se fazia o azeite usado nas
lamparinas.

A Lagoa da Novilha, inserida nessa comunidade, originou-se a partir de uma


lagoa ainda presente. Os primeiros moradores eram Arlindo Francisco de Souza e
Anísia Angélica de Jesus. As mulheres produziam calças, vestidos e bitus através dos
fusos, rocas e teares. Os homens construíam carro de boi, roda de farinha, cadeira de
couro e engenho de moer cana. Desde os primórdios se pratica a agricultura com
destaque para o plantio de feijão, milho e mandioca. Predomina uma vegetação de
caatinga, que, no passado, possuía uma grande variedade de plantas e animais, mas,
devido à exploração inadequada do ambiente, perdeu muitas espécies.

No início a população dançava rancheiras, chotes e valsas, nos dias de hoje


destacam como preferência o samba, o pagode e o forró. Jogava-se baralho, peteca e
dominó. Hoje o esporte mais comum é o futebol. Em Lagoa da Novilha prevalece o
catolicismo, onde se comemora o São João, com fogueiras e danças de roda, e o
nascimento de Cristo, com reisado.

A localidade cresceu e, nos dias de hoje, conta com um prédio escolar, campo de
futebol e um poço artesiano. Em 2009 a Escola Municipal de Lagoa da Novilha,
localizada na coordenada 764.726E e 8.503.695N, tinha 21 estudantes, 16 no ensino

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fundamental inicial e 5 na pré-escola. Em 2012 eram 13 no fundamental inicial sem


necessidade do transporte escolar.

Na década de 1930 teve uma seca que matou muitas pessoas, principalmente
crianças e animais de criação. Levou as pessoas a utilizar água de caruá para não
morrerem de sede e a se alimentar das raízes do umbuzeiro, caroço de mucunã e mamão
do mato, para não morrerem de fome. No passado as vacinas não chegavam até aquela
comunidade e muitas mulheres grávidas morriam. Hoje as doenças mais comuns são:
reumatismo, hipertensão e diabetes.

Sarandi, também inserida na comunidade, está localizada na coordenada


762.827E e 8.504.102N, entre a Serra Sarandi e a serra da Vargem. As primeiras
pessoas a habitarem o Sarandi, segundo os relatos, foram o senhor Cassiano Xavier
Malheiro e dona Deraldina Maria de Jesus, provenientes da Várzea Suja.

Dos filhos e noras do casal, Cassiano e Deraldina, foi informado que Cyrio
Xavier Malheiro, casado com “Sinhá” da família do Cesário, era professor particular em
várias comunidades: Malhada Grande, Várzea Suja, Boiada, na década de 1910. Das
filhas e genros, foram informadas: Ana Amélia, que se casou com Francisco das Neves
e foi para Lagoa Grande e Alvina Rosa de Jesus, com quem Manoel Rodrigues de
Magalhães se casou, passando a residir na fazenda Sarandy. Um registro de nascimento
de 1887, encontrado no cartório de Caldeiras, nos mostra mais uma filha do casal:

Compareceu Cassiano Xavier Malheiro para registrar sua filha


e de Deraldina Maria de Jesus: Virginia, nascida em
08/08/1887. Padrinhos: Francisco José das Neves e Anna
Joaquina das Neves (p. 39 verso).

Sarandi tem um prédio escolar desativado, onde, em 2007, 12 alunos de 5 a 12


anos de idade faziam o ensino fundamental inicial, sendo 9 na 1ª série e 3 na 3ª série.
Outros 29 alunos entre 12 e 28 anos de idade estudavam da 4ª série até o 3º ano do
ensino médio fora da localidade. Nessa época 8 alunos entre 17 e 30 anos desistiram de
estudar.

Os principais produtos cultivados são feijão, milho e mandioca, antes plantados


sem mecanização. O feijão era batido com pau e passado na peneira, o milho debulhado
à mão e a farinha de mandioca feita com auxílio de uma roda puxada a cavalo. Devido a

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esses produtos, as comidas típicas são: cuscuz, canjica, pamonha, biscoito de tapioca,
chimango e o requeijão decorrente da criação de gado vacum.

Na localidade prevalece o catolicismo. As pessoas informaram que têm costume


de guardar o dia de São Sebastião, que os livra da peste, fome e guerra; de Santo
Expedito, que os protege dos perigos; de São Jorge, que os ajuda a superar o desânimo e
alcançar as graças; de Santo Antônio, que é o santo casamenteiro, e de São José, que é o
santo dos casados, e, no dia 06 de janeiro, têm a tradição de rezar para santo Reis. Como
prática cultural também valorizam o xote, valsa, forró e rancheira e gostam de jogar
futebol e baleada nos fins de semana.

Existe uma área de mineração presente na memória coletiva dos moradores,


onde as mulheres pegavam água para lavar roupa. Os animais presentes na região são:
boi, vaca, cavalo, galinha, codorna, porco, gato, bode, tatu, cachorro, jegue, periquitos,
veados e pomba. As árvores mais comuns são: mangueira, laranjeira, umbuzeiro,
aceroleira, goiabeira, cajueiro, abacateiro, mamoeiro, bananeira, amoreira, pinheira,
mandacaru, jatobá, surucucu, juá, cajazeira, angico e aroeira.

A fazenda Vargem Suja, assim descrita no mapa do IBGE (1962), que deu
origem à localidade conhecida atualmente pelos moradores como Várzea Suja, está
localizada na coordenada 763.954E e 8.500.384N, a aproximadamente 8 km de
distância a oeste da sede de Tanque Novo e a 4 km a oeste da fazenda Lagoa Grande,
que deu origem a comunidade. A origem do nome foi explicada pelos moradores atuais
da seguinte forma: por ser um lugar pouco habitado e coberto de vegetação, as pessoas
faziam derrubadas e queimadas para plantar, mas logo depois o mato nascia
rapidamente, tomando conta de todas as roças. Dessa forma, os agricultores sentiam
dificuldade em manter suas roças limpas então chamavam o lugar da forma descrita
anteriormente.

Segundo as fontes orais, antigamente viviam o tenente Maximino Pereira de


Souza Fagundes com sua família, seus escravos e índios nativos da região onde hoje se
encontra a localidade. O tenente Maximino Pereira de Souza Fagundes seria proveniente
da região do atual município baiano de Palmas de Monte Alto e teria residido no distrito
de Caldeiras no final do século XVIII. Segundo as fontes orais ele seria filho de Plácido
de Souza Fagundes, descrito pelo historiador Erivaldo Fagundes Neves, como seu
ancestral e também um procurador da Casa da Ponte, que, em 1831, comprou do Sr.

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Manoel de Saldanha da Gama Melo Torres de Guedes de Brito, sétimo conde da ponte,
e da sua mulher Dona Joaquina de Castelo-Branco Correia da Cunha, terras no alto-
sertão da Bahia. Segundo Neves, era um “sertanejo que, na primeira metade do século
XIX, de Lagoa Clara, em Macaúbas, (que pertenceu a ele) fez-se presente no Médio São
Francisco, como administrador de fazendas e fazendeiro” (NEVES, 2003, p.5). Sua
esposa chamava-se Anna Maria do Carmo.

O tenente Maximino teria se casado com uma moça chamada Guilhermina, filha
de Venâncio e Umbelina e os escravos construíram sua casa na Várzea Suja, que existiu
até a década de 1980. No seu casamento com Guilhermina não teve filhos e adotou
Anna Maria, filha de Felippe Batista, que depois se casou com o coronel José Joaquim
das Neves, descrito anteriormente. Maximino também era próximo de Umbelino José
Gomes, pois, como vimos no texto sobre Várzea, um dos filhos deste casou-se na casa
do tenente.

As fontes orais informam que o tenente seria dono das terras entre Caldeiras e
Paramirim. Verificamos que realmente o tenente tinha relação com essas terras, mas não
foi possível saber se realmente era dono das mesmas. Como ele era pai adotivo da filha
de Felippe Baptista, dono de terras na região e também estava na condição de sogro de
José Joaquim das Neves, outro dono de terras, os moradores atuais podem ter agrupado
as terras desses com as que foram mencionadas em nome do tenente nos registros
eclesiais de terras. Considerando dessa forma a extensão mencionada entre Caldeiras e
Paramirm parece ser plausível. Três registros de terras foram encontrados fazendo
referência ao tenente Maximino, dois deles estão descritos no texto sobre a comunidade
Várzea e o terceiro é o seguinte:

Quintiliano Rodrigues dos Santos pussui nesta Freguesia de


Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas na Fazenda
das Virgens uma parte de terra por compra que fes a Maximino
Pereira de Souza, em cumum com outros interessados, cuja
estremas constão da Escreptura geral da compra da dita
Fazenda. Villa de Macaubas 26 de Junho de 1859. Arogo de
Quintiliano Pereira, alias Rodrigues dos Santos. José Ricardo
Pereira. Registrado no dia 27 domesmo mes de Junho. Pagou
seis cento e oitenta reis. O Escrivão João Antônio do Rego. O
Vigario Fernando Augusto Leão (n. 729)

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Um documento de 1871, em péssimo estado de conservação, encontrado em


Botuporã, nas caixas de documentos do cartório do distrito de Lagoa Clara, município
de Macaúbas, nos mostra que o tenente Maximino tinha uma questão de terras com
Rofino Antônio de Oliveira, provavelmente parente de Claúdio Antônio de Oliveira,
descrito no texto sobre a comunidade Alecrim como comprador de terras em 1861:

Dizem Rofino Antônio de Oliveira e sua mulher D. Anna


Angélica de Oliveira, moradores deste Districto que querem
“fazer” citar a Maximino Pereira de Sousa Fagundes e sua
mulher, tão bem moradores deste Districto, para desistirem da
... que fazem as terras do seo domínio, no lugar denominado
“Varzea Suja”, de que se achão de posse sem título e sem que
queiram abrir mão da ditta propriedade ... demarcada, afim “de
que” se conciliem, fazerem entrega do terreno emquestão e no
Caso negativo perdessem os lugares ... a competente acção pelo
que ... fui ao lugar denominado Lagoa Grande ahi entimei
Maximino Pereira de Sousa Fagundes e sua mulher em suas
próprias pessoas sobre toudo conteúdo da petição do que
ficarão bem lido escientes doreferido hé verdade e dou fé.
Lagoa Clara 4 de Março de 1871... Antônio Candido de
Figueiredo.

Várzea Suja cresceu com a chegada de pessoas provenientes de Água Quente,


atualmente cidade de Érico Cardoso, insatisfeitas com suas terras que eram ruins e
alagavam no período chuvoso. Através de viajantes que negociavam em Água Quente,
essas pessoas descobriram que existia um lugar com terras férteis, em que eles poderiam
plantar feijão catador, mandioca e milho, por isso, muitas dessas pessoas se instalaram
na Várzea Suja e nas vizinhaças. Entre essas pessoas, estava a senhora de nome Jacinta,
que fundou a localidade de mesmo nome, vizinha à localidade Várzea Suja.

Odorico José de Magalhães, proveniente da Várzea da Madeira, foi um dos


migrantes a residir na Várzea Suja, depois vieram Cassiano Xavier Malheiro, Sinésio
(Sinez), Rogério, entre outros. O tenente Maximino, depois de velho, teve outra mulher
e, com esta, uma filha batizada com o nome Deraldina Maria de Jesus, que tinha o
apelido de Esmeralda. Esta se casou com Cassiano Xavier Malheiro, que construiu uma
casa na Várzea Suja, pertencente atualmente ao senhor Florisvaldo.

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Uma das netas do tenente Maximino, Etelvina Rosa de Jesus, filha de Cassiano e
Deraldina, casou-se com Odorico José de Magalhães, herdou a antiga casa do avô e nela
criou seus nove filhos: Estephanine, Clarinda, Guiomar, Cleóbulo, Branca, Nair
(Nazinha), Jetro, Jaime (Dão) e “Ducha”. Todos, depois foram se casando e construindo
suas casas nas terras que pertenceram ao tenente Maximino, com exceção de Clarinda,
que se casou e ficou no próprio casarão para cuidar de Etelvina. Uma das casas
construídas por eles foi a de Jetro, casado com Judite, que a construiu por volta de 1950
e que hoje pertence a José Batista, casado com uma tetraneta do tenente Maximino, a
senhora Elça Rosa Pereira Gomes, conhecida como Loura, filha de Nair (Nazinha) e
Lindolpho.

Antigamente, as mercadorias vinham de longe e eram transportadas por tropas


de animais. O negociante que mais se destacou na Várzea Suja foi Joaquim Nunes de
Sousa, que vendia café, sal, açúcar, rapadura, peixe, carne de porco e de gado, entre
outros e participava de muitas feiras em diversos locais, tais como: Botuporã,
Macaúbas, Jequié, Bom Jesus da Lapa, Lagoa Clara, etc. Os moradores informam que o
café era trazido de Caculé, o sal de Bom Jesus da Lapa e o açúcar de Paramirim.

Segundo os moradores, a primeira casa de farinha da localidade Várzea Suja


tinha uma roda que era movida pelos escravos e que ainda existem vestígios de onde
ficava a senzala dessa época. Logo depois da abolição, os escravos não tiveram para
onde ir e permaneceram no local, o que pode ser verificado através do registro de
nascimento de uma criança descendente de escravos, encontrado no cartório do distrito
de Caldeiras:

Compareceu no dia 04/10/1890, João José da Silva, lavrador de


Caldeiras, para registrar seu filho e de Francisca Magdalena da
Conceição: uma criança preta por nome Pedro José da Silva,
nascido em 26/09/1890, em Varzea Chuja, do termo de
Macaúbas. Avôs paternos: Pedro “Pecado” e Alaria Raymunda
da Conceição. Avôs maternos: Manoel Liandro Pereira e Maria
Magdalena da Conceição. Casaram-se em Lagoa Clara, mas
residem atualmente na Varzia Chuja, do termo de Macaúbas (n.
203, p. 78).

Sem a mão de obra escrava utilizou-se durante muito tempo a roda movida à
cavalo e, atualmente, a farinha é feita utilizando-se motores. Essa atividade constitui-se

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uma das principais fontes de renda, juntamente com as atividades agrícolas, sendo as
principais culturas: a mandioca, o feijão e o milho.

O potencial mineralógico da localidade Várzea Suja vem sendo explorado desde


2007, quando o senhor Harilton Carlos de Vasconcelos Sobrinho, fez o requerimento de
lavra garimpeira para o DNPM, no processo 872.152, de 50 ha da localidade, com a
finalidade de explorar quartzo para que seria utilizado no artesanato mineral. Nela
foram encontrados o quartzo verde, que é extraído manualmente e o minério de ferro,
que ainda não foi explorado. Os moradores da localidade observaram os impactos
negativos da atividade de mineração realizada, como, por exemplo: desmatamento e
abertura de crateras. Lamentaram o fato de que não se vê atualmente o que se via há
algum tempo, uma flora composta de caatinga e fragmentos de cerrado, que ocupava
grandes extensões e dava suporte a uma fauna diversificada com aves, répteis e anfíbios.
As áreas estão desmatadas e o solo desgastado pela mineração e também agropecuária
irracionais.

Outra localidade que se encontra na comunidade Lagoa Grande, próxima a


cidade, que teve origem com a chegada do senhor Laudelino Marques da Silva
(Dãozinho), proveniente da comunidade Boca do Campo, chama-se Tamboril. Dãozinho
foi pai de Moisés Marques, o qual era esposo de Celina, que deram continuidade à
localidade. O nome da comunidade está relacionado à árvore Tamboril, presente na
região. Nessa localidade, além das culturas citadas anteriormente, também foi citado o
cultivo de mamona. Hoje foi feito um loteamento com o mesmo nome, próximo de onde
os descendentes de Dãozinho moraram, na coordenada 770.024E e 8.500.974N. No
Tamboril, em 2007, 20 moradores, com idade entre 35 e 60 anos, eram analfabetos e 15
só estudaram até a 4ª série, 15 pessoas estudaram na sede, sendo 8, com idade entre 7 e
13 anos, da primeira a quarta série, e 5, de 15 a 22 anos, no ensino médio.

Antes, os moradores da comunidade só usavam o arado puxado por animal e


hoje plantam com máquinas mais apropriadas, aram com tratores e utilizam defensivos
nas lavouras. Mesmos com as novas tecnologias, a produção agrícola na comunidade
apresentou queda nos últimos anos, já que um cento (hectare) de roça de mandioca,
antes produzia 50 sacos de farinha e depois, a mesma área passou a produzir 30 sacos de
farinha. A quantidade de tapioca, atualmente de 20 sacos por hectare, não diminuiu em
comparação com a produção anterior, pois, mesmo que a quantidade de mandioca tenha

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diminuído, mais água esteve disponível no processamento, já que foi encanada,


permitindo tirar mais tapioca da mesma quantidade de massa de mandioca.

A queda na produção é considerada pelos moradores uma decorrência da


diminuição da quantidade de chuvas, pois as águas dos tanques não secavam como hoje,
o que acontece, por exemplo, nas duas minações descobertas no tempo do tenente
Maximino, Cacimbão e Bebedor. As pessoas buscam água nessas minações, utilizando
carros-de-boi, ou então se abastecem através de pipas d’água. Recentemente a prefeitura
do município ampliou as minações e perfurou poços artesianos, encanando a água para
abastecer Várzea Suja e ajudar na produção da tapioca.

Como atividade econômica, os moradores também realizam criação de gado e de


outros animais, como suínos e aves e têm uma fábrica de tijolos e uma carpintaria, que
utilizam a madeira da região. Na flora destacam-se as seguintes árvores: tamboril,
aroeira, umburana e eucalipto, esta última introduzida recentemente. Atualmente a
fauna é constituída basicamente pelos animais domésticos e de criação, sendo que, os
moradores mais velhos contam que já existiu Suçuarana na região, e outros animais,
como: periquitos, marra-lenço (cabeça-de-lenço), codorna, canário, preá, sofrê etc, que
quase não são mais vistos. O relevo é caracterizado por planícies desgastadas, o solo
não é mais fértil como antigamente e, quando chove, a água infiltra rapidamente no
solo.

Quanto à religiosidade, verifica-se que quase todos da comunidade são da


religião católica e que os costumes religiosos se intensificam durante a Semana Santa, o
São João e o Natal. Apesar de não existir capela na Várzea Suja, os moradores rezam
novenas de casa em casa. No Tamboril só existe uma família que freqüenta a
Congregação Cristã do Brasil, os demais moradores são católicos. Os moradores têm o
costume de rezar todos os anos em homenagem a Santa Luzia, realizam as novenas de
natal e escolhem uma casa para comemorá-lo com rezas, reisados e brincadeiras. No
passado, o São João era comemorado assim: na noite do dia 23 de junho, depois que
acendia a fogueira, as crianças iam brincar de peteca, pau-de-sebo, cabra-cega, pau-de-
fita, entre outras brincadeiras; pois naquela época não existiam fogos de artifícios.
Aquele que dizia ter bastante fé em São João passava descalço sobre as brasas da
fogueira. Na manhã seguinte, no dia 24, tinham o costume de fazer o primeiro café na
fogueira e, nesse dia, o povo passeava nas casas dos vizinhos, onde se oferecia café e

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assados. Quando nem existia o município de Tanque Novo, o povo ia para as festas
religiosas ou no distrito de Canabrava ou no de Lagoa Clara.

Os relatos revelam que os moradores mais antigos de Lagoa Grande exigiam que
os filhos buscassem a salvação das almas rezando, antes de dormir, sendo que, a
recomendação para as mulheres era para que elas rezassem com roupas curtas, senão
entrariam gafanhotos por debaixo das saias e subiriam pelo corpo e iriam comer os
olhos, nariz e orelhas. Quando não havia capela, muitas pessoas já rezavam o ofício,
ajoelhados numa esteira, rezavam também a Via-Sacra e faziam o culto dominical. Em
1986 os moradores de Lagoa Grande se reuniram embaixo de um umbuzeiro onde foi
celebrada uma missa para os jovens, destacando ali Márcia e Nilza, responsáveis pelo
catecismo e por formar o grupo de jovens da comunidade.

Um ano após esse encontro foi construída a capela e o catecismo passou a ser
ensinado dentro da capela. As catequistas ensinaram a primeira e a segunda etapa da
primeira comunhão, durante três anos; após essas etapas elas passaram a ministrar
cursos preparatórios para casais. Nos dias atuais outras catequistas continuam
incentivando os fiéis católicos no que elas consideram a busca de um mundo mais justo
e mais fraterno e os fiéis católicos se reúnem todos os sábados, domingos e alguns dias
santos, de novena ou de terço, na capela já reformada.

Até a data da construção da capela também não havia escola, mas se ensinava na
casa do professor José do Nascimento. Os pais colocavam seus filhos para estudar
apenas 15 dias e depois disso, deixavam mais de um mês sem estudar, pois precisavam
que eles ajudassem na lavoura, desta forma eles aprendiam muito pouco. A Escola
Municipal da Lagoa Grande foi construída na gestão do filho da comunidade, que se
tornou prefeito. Onze estudantes, sendo dois na pré-escola e nove no ensino inicial,
estiveram matriculados em 2009. Nenhum deles utilizou transporte público nesse ano.
Em 2012, apenas 5 estudantes estiveram matriculados, 4 no ensino fundamental inicial e
1 na pré-escola. Um deles utilizou o transporte público.

Em relação à educação, os moradores da Várzea Suja destacaram as seguintes


professores: Joaquim Marim, que mora em Bom Sucesso, Fátima, Manoel Antônio
Nascimento, na localidade, e Dilza Pereira Gomes, esta por ter sido professora e vice-
diretora do CETN em 2007. Eles informaram que os filhos dos agricultores estudavam
com professor particular, por pouco tempo durante o ano, já que na maioria das vezes os

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pais necessitavam da ajuda dos filhos nas lavouras. Apesar de existir um prédio escolar
na localidade Várzea Suja, esse não tem aulas desde 1996. Em 2007, verificou-se que
existiam 12 analfabetos acima de 15 anos na localidade e entre os que estudavam fora
estavam: 3 estudantes de 8 anos na primeira série, 1 de 10 anos na 2ª, 2 de 11 anos na
4ª, 1 de 14 anos na 5ª, 4 de 12 e 14 anos, na 6ª, 1 de 14 anos na 7ª, 1 de 15 anos na 8ª, 2
estudantes, um com 16 o outro de 18 anos, no 3º ano e 5 no ensino superior.

Além da escola localizada em Lagoa Grande, a escola que esteve funcionando


em 2009 foi a Escola Municipal Jesuíno Nunes de Sousa, da localidade Jacinta, na
coordenada 766.748E e 8.498.165N, nome dado em homenagem a algum parente
próximo do negociante da Várzea Suja, citado anteriormente. Essa escola teve 16
estudantes, que não utilizaram transporte escolar, sendo 12 no ensino fundamental
inicial e 4 na pré-escola. Em 2012, as atividades na escola foram paralisadas.

A única associação da comunidade Lagoa Grande também tinha sede nessa


localidade e era chamada Associação Comunitária dos Produtores Rurais de Jacinta,
Barrocas, Baraúnas e Tamboril. Ela foi fundada em 06 de dezembro de 2001, mas foi
considerada inapta e baixada em 31 de dezembro de 2008.

Em relação à saúde, foi informado que as doenças mais comuns são gripe,
enxaqueca e hipertensão e as principais causas de morte são câncer, derrame e enfarte.
A comunidade conta com uma agente de saúde, Maria, que mora em Jacinta e, se
alguém precisa de auxílio médico, vai para o hospital na sede.

Na Várzea Suja, a culinária tradicional é o requeijão, a pamonha na época de


colheita de milho e a farinha de mandioca. No artesanato, destacou-se a tecelã Ana
Viana Nunes, que fazia peneira de taquara, vassoura e esteiras de palhas, tecia e fiava; o
carpinteiro por nome de Ozielo; e os artesões habilidosos que faziam os gibões e o
“terno de couro”, que eram usados pelos vaqueiros para campear o gado no mato,
composto por chapéu, camisa, calça e sapatos, tudo feito de couro. O artesanato mais
famoso da Lagoa Grande era realizado pela senhora Amélia Gomes. Esta senhora
descaroçava o algodão, batia no arco, fabricava a linha na roca, tecia no tear e
confeccionava roupas para vestir seu marido e seus filhos. A senhora Virgilina Batista,
que guardava suas receitas na memória, se destacava na culinária, principalmente pelos
bolos e o cuscuz que fazia. Durval Batista Gomes e Manoel Souza foram apontados
pelos moradores pesquisados como destaques na comunidade pelo respeito e dedicação,

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no passado e na atualidade, à Lagoa Grande. Também foram considerados destaques:


Pedro, o inspetor que dava as ordens em Jacinta, e Manoel Nunes de Sousa, morador de
Jacinta, mas inspetor de justiça na Várzea Suja.

Os moradores da comunidade contam lendas e histórias para se divertirem,


como por exemplo: da mulher que casou com o lobisomem ou da primeira vez que eles
viram um avião etc. Segundo José Roberto, da localidade Várzea Suja, no ano de 1956,
quando passou o primeiro avião na região da Várzea Suja, os moradores ficaram todos
assustados, começaram a rezar, esconderam-se debaixo da cama, algumas mulheres
“desmanchavam as barras dos vestidos”, pois pensavam que o mundo estava acabando.

Há muito tempo existe um campo de futebol que é utilizado para o lazer das
pessoas da comunidade, sendo a principal modalidade esportiva praticada o futebol.
Foram destacados como principais jogadores da Várzea Suja: Manoel do Nascimento no
passado e atualmente Marcos e Adriano. As crianças de hoje jogam bola, mas também
dominó, vídeo-game e brincam com carrinhos de plástico, etc, um pouco diferente de
antes, quando as brincavam de carrinho de boi, boneca de pano, chicotinho queimado e
faziam cantingas de roda, como: ciranda-cirandinha; três, três passará etc.

Magras

Fazem parte da comunidade Magras as seguintes localidades: Anil, Baraúna das


Magras, Lagoinha de Artur, Leandro e Pindoba. Segundo os moradores, a comunidade
de Magras originou-se através da família de José Mesquita, proveniente de Lagoa Clara,
que se instalou na localidade e passou a trabalhar a terra. Os primeiros casais foram:
José Mesquita e Silvânia, Manoel e Hermina, Florença e José Ferreira. A comunidade
se chama Magras por causa do apelido dado à senhora Silvânia, que era muito magra,
então era chamada magra pelo marido José Mesquita e outras pessoas, que passaram a
se referir assim à comunidade. A escola de Magras está na coordenada 756.629E e
8.510.164N, a 17 km em linha reta, ou a 23 km por estrada, a noroeste da sede e a 2 km
a sudeste da fazenda Buriti, referida em alguns registros de terras da freguesia de Nossa
Senhora da Conceição de Macaúbas (1857-1859):

Joaquim da Costa Ferreira declara que e pussuidor de uma


parte de terras em comum com sua May eseos irmaons da
fazenda do Burití cuja fazenda se estrema pelo norte, com
herdeiros de João da Silva, pelo Sul com Antonio Jose da Crús,

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pelo nascente com herdeiros de João José da Silva Dourado, e


pelo poente, com Estevão da Costa Coelho. Freguezia de
Macaubas 2 de maio de 1859. Asigno arogo de Joaquim da
Costa Ferreira. Thomé Fernandes Leão. Registrado no dia 4 do
mesmo mes de Maio epagou sete centos equarenta reis. O
Escrivão João Antonio do Rego. O Vigario Fernando Augusto
Leao (n. 392).

Manoel Gonçalo dos Santos declara que he pussuidor de uma


parte de terras em comum com seos irmaons nesta Freguezia de
Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas na Fazenda do
Borití por compra que fes a Jose da Costa Ferreira, cuja
fazenda se estrema pela parte do Norte com o Capitão Plácido
de Souza Fagundes, pelo sul com Antônio José da Crus, pelo
nascente com vendedor José da Costa Ferreira, e pelo puente
com José da Costa Coelho. Villa de Macaubas 2 de Maio de
1859. Por Manoel Gonçalo dos Santos. Thomé Fernandes
Leão. Registrado no dia 4 do mesmo mes de Maio, epagou sete
centos e noventa reis. O Escrivao João Antonio do Rego. O
Vigario Fernando Augusto Leao (n. 387).

Francisco Antonio de Oliveira declara que pussui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas uma parte de terras em comum com outros
enteressados na Fazenda Burití, por compra feita a José
Domingos da Costa pela quantia de cincoenta mil reis,
deixando de dar os limites e extenção, por lhe ser
desconhecidos. Freguezia e Villa de Macaubas, desoito de
Abril de mil oito centos e cincoenta e nove. Francisco Antonio
de Oliveira. Foi apresentado no dia 1º de Maio de 1859.
Registrado no dia 5 do mesmo mês, epagou seis centos e
oitenta reis (n. 399)

Os senhores Manoel Gonçalo dos Santos e José da Costa Ferreira, citados nos
registros, podem ser os referidos pelos moradores. Ainda existe uma fazenda antiga na
região chamada Roda Velha. Sobre Magras os estudantes escreveram:

“[...] lugar calmo e tranqüilo as paisagens são bonitas [...] tem


boas pessoas [...] honestas e companheiras [...] tem diversão e

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liberdade as crianças vivem como se fosse um passarinho, sem


nada a perturbar [...]” (E. 1498), “[...] podemos passear, jogar
bola, correr de cavalo, ir nas casas dos vizinhos [...]” (E. 1500),
“[...] tem muita gente legal e maravilhosa e no sábado tem uns
gatinhos a nossa espera [...] quase todo domingo tem reza na
igreja” (E. 1497), “[...] minha comunidade é linda [...] os
vizinhos são maravilhosos [...] você vai conhecer muitos
rapazes lindos, gatos demais [...]” (E. 1499).

A 1,5 km a noroeste da comunidade Magras, existe uma lagoa em torno da qual


se reúnem os moradores da localidade chamada Pindoba (755.835E e 8.511.403N),
sobre a qual não se obteve muitas informações. Aproximadamente na metade da estrada
que sai de Magras para o distrito de Lagoa Clara, que fica a 9 km de distância,
encontram-se as casas da localidade conhecida por Anil (755.160E e 8.512.738N).

Anil é a terra natal de Uilson Magalhães Silva, escritor do livro Efemérides


Botuporenses. Está na divisa entre Tanque Novo e Macaúbas. Sabemos que o nome da
comunidade se refere a um corante, de cor azulada, produzido a partir da planta de
mesmo nome; já foi muito utilizado em toda região. Contam os mais velhos que os
moradores da localidade escreviam com uma pena de ave molhada na tinta produzida a
partir do anil e também tingiam os tecidos na mesma. Até mesmo o hino do município
de Tanque Novo faz referência a ele: [...] Tanque Novo é linda/Céu azul de anil/Cidade
do estado da Bahia/Cantinho do nosso Brasil.

Outra localidade da comunidade é a Baraúna de Magras, que tem o nome


relacionado com a fazenda Baraúna, fica a menos de 1 km ao sul de Magras, na
coordenada 756.451E e 8.509.410N. O estudante 1454 nos informa o seguinte sobre a
localidade:

[...] é um lugar pequeno de poucas pessoas [...] alegre [...] de


pessoas muito amigas, que ajudam nas horas boas e nas horas
de muita precisão [...] não tem prédio Escolar, igreja, só tem
poucas casas [...] habita muitas pessoas de outras comunidades
[...] é muito longe (de Tanque Novo) para o povo ir para feira
[...] o povo é todo agricultor e trabalha na roça [...] lugar de
pouca chuva [...]

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Também faz parte da comunidade a localidade Lagoinha de Artur, que fica a 2


km a sudoeste de Magras. Os primeiros moradores da Lagoinha de Artur foram:
Dorindo Marques Bonfim, Maria Bonfim, José Joaquim dos Reis, Sirzá Angélica de
Jesus etc, tinham que buscar água ou levar as criações para longe, atrás do líquido
indispensável à vida. Para amenizar esse trabalho, eles fizeram uma lagoa pequena, que
passou a ser chamada de lagoinha, por eles mesmos, seus filhos, netos e as pessoas de
outras localidades. Posteriormente, recebeu o complemento, de Artur, em homenagem a
um morador local.

Há pouco tempo as crianças também tinham que se deslocar bastante para


estudarem, pois não tinha escola por perto. Desta forma, a prefeitura construiu a Escola
Municipal de Lagoinha (755.732E e 8.508.471N), com as séries iniciais do ensino
fundamental, para atender a demanda. Em 2009 e 2012, a mesma esteve paralisada, não
sendo possível identificar o motivo. Além da escola, existe na localidade água de poço
encanada, energia elétrica e transporte público para os alunos que estudam mais longe.
Outra escola da comunidade que esteve paralisada em 2009 e 2012 é a Escola Municipal
Comunidade de Leandro, que é uma localidade em torno do tanque na coordenada
756.351E e 8.507.014N.

Segundo os moradores, era comum a criança se divertir jogando bola aos


domingos e também freqüentar a casa dos amigos. Atualmente as crianças informaram
que brincam mais com seus irmãos em suas casas. Outra tradição local é a religião
católica, única seguida com ampla participação dos moradores nas capelas vizinhas e
igreja na sede do município. A agricultura também faz parte da cultura, sendo que,
segundo os moradores, feijão e milho estão em torno de 40% dos produtos cultivados.

A comunidade apresentava uma vegetação rica em espécies de árvores e


animais, hoje tem poucas árvores, a água que antes não faltava, nos dias de hoje está
muito escassa e o solo já não é tão fértil quanto antes. Os moradores admitem que esses
problemas são conseqüências da exploração irregular realizada por eles mesmos.

Os lugares citados são: “[...] igreja (onde) [...] no início do culto escuta coisa boa
que nós nunca ouvimos na vida [...]” (E. 1501), “[...] escola, campo de futebol [...]” (E.
1496), “[...] venda [...] caixa de água [...]” (E. 1498), “[...] quando chove [...] a
barragem e os tanques juntam muita água que parece até um rio [...]” (E. 1499). A sede
de Tanque Novo também é atrativa para o estudante que escreve: “[...] nós iremos à

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festa em Tanque Novo nesse final de ano [...]” (E. 1500). Encontra-se ainda na
comunidade a Associação Central de Tanque Novo.

Segundo os próprios moradores, em 2007, existiam na comunidade de Magras


em torno de 46 pessoas alfabetizadas e 37 analfabetas. A escola local vem mudando
essa realidade, sendo um dos primeiros moradores a pessoa homenageada que empresta
seu nome a Escola Municipal Manoel Jesus Lopes, na qual se ensina da pré-escola à 4ª
série do ensino fundamental. 48 estudantes foram matriculados nessa escola em 2009,
sendo 4 deles na pré-escola. Em 2012 foram 37 estudantes matriculados, com 7 na pré-
escola. A maioria dos estudantes mora próximo à escola, tanto, que nenhum deles
utilizou transporte escolar nesses anos.

O futebol é praticamente o único esporte praticado. O time de Magras foi


fundado em 1989 e participou de três campeonatos municipais. Apesar de não ter
patrocínio, o time é bem equipado pelos jovens do local. “[...] todos os domingos tem
jogo [...]” (E. 1498). As brincadeiras que têm destaque são: pau-de-sebo, bumba-meu-
boi etc. As crianças também conservam a tradição se usarem brinquedos feitos à mão,
como, por exemplo: balanços, carrinhos, bonecas de pano, peão etc.

Em Magras há “[...] roça de mandioca, de feijão e roça de capim [...]” (E. 1498).
Também se cultiva arroz, café, cana-de-açúcar, algodão e milho, sendo que a produção
de arroz, café, cana-de-açúcar e algodão é pequena. Os agricultores utilizam arados
puxados por animais, máquinas de debulhar, enxadas, enxadão e vários outros. O solo é
fértil e bom para o plantio, mas o desmatamento, que visa à produção de carvão, está
prejudicando a produção, pois empobrece o mesmo antes de ser cultivado. A população
também sofre por não captar e armazenar adequadamente a água da chuva.

A vegetação predominante é a caatinga, com árvores arbustivas e muitos


espinhos. Destacam-se nas redações escolares os animais de criação: bois, cavalos,
porcos, ovelhas, galinhas, cachorros e gatos. Os moradores entrevistados citam ainda os
selvagens: veado, jacutinga (jacu), tatu, raposa, seriema e cobras.

As doenças que mais afetavam a população eram: rubéola, paralisia infantil,


caxumba, sarampo e tétano, que, atualmente, têm ocorrência menor devido à
incorporação das vacinas no cotidiano da comunidade. Hoje, os principais problemas de
saúde são: gripe, pneumonia e diarréia. Em 2007 os moradores diziam que atendimento
médico não era muito adequado, por falta de posto de saúde na comunidade. As pessoas

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só procuravam os médicos quando já estavam doentes. Essa situação parece ter mudado
a partir de 2009, pois o estudante 1498 cita a presença de um “[...] hospital [...]”,
provavelmente se referindo a um posto de saúde na localidade.

Na comunidade de Magras são feitos artesanatos com madeira e retalhos de


pano, que revelam talento artístico e sabedoria popular. Suas produções não são
comercializadas, somente utilizadas como utensílios e enfeites para suas casas. Na
culinária, os pratos que se destacam, são: cuscuz, beiju, chimango, escaldado, bolo de
puba, pão-de-ló, bolo de farinha, mel, doce de mamão, doce de umbu, doce de goiaba,
pirão, requeijão e rapadura.

A religião católica prevalece na comunidade. Podemos destacar como costume e


tradição religiosa: a Via Sacra, festa do padroeiro, coroação ao Imaculado Coração de
Maria. Com um caráter mais festivo também comemoram o São João, por meio de
quadrilhas, fogueiras e danças. As pessoas mais velhas acreditam nas lendas do
lobisomem, berrador, curupira, e buscam repassar para os filhos e netos.

Malhada Grande

A comunidade está a 8,5 km, em linha reta, a noroeste da sede da cidade ou a 10


km por estrada. A localidade Mutuca também foi considerada pertencente à Malhada
Grande. Em 1905, aproximadamente, uma malhada muito grande de gado, que todos os
dias pastavam naquela localidade, deu a ideia aos moradores de nomearem o lugar como
Malhada Grande. As primeiras pessoas a habitarem esse local foram: Lino Costa,
Zeferino José Vieira e Maria Rosa de Jesus, e João Pereira. Um fato considerado
marcante para os moradores foi a crise de 1932, que levou muitas pessoas a roubar
animais na comunidade, causando revolta na comunidade. No passado as pessoas
usavam ervas medicinais para curar doenças, mas, com o desenvolvimento da
comunidade, passaram a optar pelo remédio obtido na farmácia.

Os moradores participam da Associação de Malhada Grande, Papagaio e Vereda


do Toco, da qual falamos no texto sobre o Papagaio, e possuem a Escola Municipal
Lino Costa, que, em 2009, teve 9 estudantes, sendo 6 no ensino fundamental inicial e 3
na pré-escola. Em 2012 teve 11 estudantes, 6 nas séries iniciais do ensino fundamental e
5 na pré-escola e um deles passou a utilizar o transporte escolar.

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As seguintes pessoas foram consideradas destaques nessa comunidade, pelos


próprios moradores: José da Silva, José Malheiro, Galdêncio e Sivaldo Vieira Costa.
José Vieira juntamente com seus filhos, que tocavam sanfona, viola e realejo, também
foram destacados. Os artistas de hoje são Edílson e Edvaldo.

As manifestações culturais presentes na comunidade são: folclore, festa religiosa


e popular, brincadeiras, trajes, artesanato e comidas típicas. Os pratos mais comuns são:
cuscuz, beiju, pirão de vaqueiro, aipim, bolo de puba, canjica e pamonha entre outros.
As mulheres antigamente utilizavam a roca e o tear para fazer roupa, hoje, utilizam
técnicas convencionais, promovem a tecelagem, fazendo bordados, rendas,
confeccionam roupas de algodão, franja e crochê.

Os produtos mais cultivados são: milho, feijão e mandioca. Para o cultivo desses
produtos, os agricultores costumam gradear a terra ou arar com boi ou cavalo. A casa de
roda, tradicionalmente movida por animais, para fazer farinha, vem sendo substituída
por motores. A vegetação é formada pela caatinga, com a presença de alguns jatobás,
aroeiras e eucaliptos. Há pouca quantidade de animais silvestres nessa região cujo
relevo é formado por planícies.

Quase a totalidade da população, 99%, é católica, os demais são evangélicos. Os


católicos têm o hábito de jejuar na semana santa, realizar a via sacra, novenas, rezar o
terço e comemorar o São João e o dia de Nossa Senhora Aparecida. Na época do
folclore os moradores contam lendas como a do lobisomem, saci-pererê, curupira,
caipora e Iara. Na região, todos os anos ainda festejam os reis e a via sacra. Os mais
antigos contam que brincavam de esconde-esconde, cantigas de roda, gata cega, o gato e
o rato.

Uma localidade inserida na Malhada Grande é Mutuca (763.570E e


8.505.724N), a qual, no início, se chamava Pé de Serra, pois ficava ao pé da serra
Sarandi, segundo as fontes orais pesquisadas, com orientação dos professores do CETN.
Os moradores atuais informaram que havia muitos índios nessa região e a denominação
atual é devido a um morador que viveu ali, há aproximadamente 100 anos, que se
chamava Chiquinho do Mutuca. Em homenagem a ele, o lugar passou a se chamar
Mutuca.

A localidade possui atualmente energia elétrica, poço artesiano e prédio. Por


volta de 1910 apareceram por lá os primeiros professores: Arlindo, de outra

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comunidade, e Arminda, da sede de Tanque Novo. Hoje existe um prédio Escolar que
atende aos alunos de 1ª a 4ª série. A Escola Municipal de Mutuca teve 10 estudantes
matriculados em 2009, sendo 9 no ensino fundamental inicial e 1 na pré-escola. Em
2012 teve apenas 6 estudantes, sendo 2 na pré-escola e 4 nas séries iniciais do ensino
fundamental, todos da própria comunidade, pois não utilizaram transporte escolar.
A religião que predomina é a católica. Um fato marcante para essa localidade foi
a celebração de uma missa embaixo de uma árvore, celebrada pelo Padre Benevides. As
pessoas celebram a via sacra, as novenas de São João e o dia de Nossa Senhora
Aparecida. Algumas famílias comemoram o Natal com a montagem de uma lapinha em
suas casas. As pessoas gostavam de realizar cantigas de roda. Reuniam na casa dos
parentes, em noites de lua cheia, faziam fogueiras e recitavam versos. Exemplos:
“Quando eu olho para aquele lado e vejo flor vermelha, só
lembro do meu bem, que está na terra alheia”.
“Meu anel de trinco-trinco caiu na pedra e trincou, quanto mais
o povo fala, mais abraço o meu amor”.

As festas eram animadas com sanfona pé-de-bode e pandeiro de colher,


iluminadas com a luz do candeeiro, feito de barro, que queimava óleo de mamona. As
festas de São João eram comemoradas com pratos típicos e apresentações de quadrilhas.

Desde os primeiros moradores, a localidade pratica a agricultura de subsistência,


cultivando produtos como mandioca, feijão, fumo e pouca quantidade de arroz. Os
pratos mais comuns são: cuscuz, mandioca, beiju, bolo de puba, canjica de milho e
pamonha. Há produção de esteira de tabua, esteira de palhinha e panela de barro, pelas
artesãs Aparecida, Carmelita e Raulinda.

A fauna e a flora encontram-se bastante degradadas, mesmo assim, é possível


encontrar animais como veados, cutias, jacus, caititus, codornas, raposas.

Papagaio

Papagaio fica a 12,5 km, em linha reta, a noroeste da sede de Tanque Novo ou a
14,5 km pela estrada. Segundo os moradores atuais, Martiniano José de Magalhães e
Nedino Oliveira de Souza teriam sido os primeiros moradores, atraídos pelo lugar com
natureza exuberante, cheia de pássaros, principalmente papagaios, que deram origem ao
nome da comunidade. Depois que esses construíram suas casas, chegaram mais
moradores, como, por exemplo: Sermina Pereira de Souza, Crecensa Maria de Jesus e
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Ana Maria de Jesus. O registro n. 433, encontrado no livro de nascimentos n. 1 de


Caldeiras, mostra que outro morador antigo do Papagaio, João Procópio Gondim, filho
de Feliciano Procópio Ferreira Gondim e Brazileira Gomes de Britto, proveniente de
Palmeiras, Termo de Ituaçu, teria nascido 1893, portanto, residiu no Papagaio no início
do século XX. Mas, como vimos no texto sobre Queimada dos Machados, existe
registro de que o senhor Antônio Joaquim Machado vendeu suas terras no Morro do
Fogo em meados do século XIX e talvez tenha partido para o Papagaio nesse período.
Portanto, como este não foi citado como um dos primeiros moradores, talvez a
instalação dos ditos primeiros tenha se dado antes da metade do século XIX.

Há algum tempo atrás, os moradores usavam candeeiro com pavio de algodão


molhado no azeite extraído da mamona, produzido por eles próprios, e enfrentavam
algumas dificuldades relacionadas à: disponibilidade de água, atendimento médico,
educação, etc. Hoje a comunidade de Papagaio possui energia elétrica, água encanada,
poço-artesiano, posto de saúde, posto telefônico e a Escola Municipal Martiniano José
de Magalhães (763.224E e 8.509.416N), que atendeu 30 estudantes, em 2009, 25 deles
no ensino fundamental inicial e 5 na pré-escola. Em 2012 foram atendidos 28
estudantes, sendo 23 desses nos anos iniciais. A comunidade conta também com a
Associação de Malhada Grande, Papagaio e Vereda do Toco, ativa desde 25 de julho de
1997, cuja sede fica em Malhada Grande.

Na agricultura do Papagaio cultiva-se: feijão, cana-de-açúcar, milho, mandioca,


abóbora, couve, alface, tomate, entre outros, que, segundo os moradores, vêm sofrendo
queda na produção por causa da diminuição da quantidade de chuvas durante o ano, mas
os agricultores não se queixam, pois crêem que os santos zelam pela saúde e progresso
das famílias. Também há criação de gado, porcos, cabras e aves. Além da agropecuária,
uma das principais atividades econômicas do Papagaio é a mineração de brita e
manganês, atividade considerada pelos moradores melhor que a anterior, por ser mais
lucrativa. Descreveremo-la melhor no texto sobre a comunidade Vereda do Toco, por
que lá é onde se encontra a unidade de processamento do manganês.

Na região existe fartura de milho e leite, com esses e outros produtos são feitos
deliciosos pratos típicos, heranças valiosas dos primeiros moradores do lugar, tais
como: chimango, beiju, bolo de puba, cuscuz, canjica, mingau de milho, pamonha,
manuê de milho, brevidade e pão caseiro. No artesanato se destacam muitas mulheres
que se dedicam a fazer crochê, bordado e fuxico.
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Vários elementos constituem a cultura do lugar. Em geral, o catolicismo é a


religião predominante. Na época de quaresma são celebradas as Vias-Sacras e é comum
a prática do jejum e das penitências, acompanhadas de muita oração. Os moradores
também têm o costume de comemorar o nascimento de Jesus fazendo lapinhas e
realizando as novenas, até o dia 25 de dezembro, nas casas das famílias católicas. Após
o Natal, um grupo de reiseiros canta e dança de casa em casa, durante todas as noites,
até o dia dos Santos Reis, 06 de janeiro. O santo da comunidade é o padroeiro São João
Batista, por isso, são realizadas novenas no mês de junho e no dia 24 celebram o seu
dia. Já na véspera, dia 23 de junho, as pessoas se reúnem para pular fogueira, dançar
quadrilha, cantigas de roda e realizar simpatias para saber, por exemplo: com quem se
casarão, se continuarão vivos no ano seguinte e se o ano será bom de chuva etc.

É costume no casamento da filha caçula a família da noiva enfeitar um pote de


barro e enche-lo de doces e salgados. Quatro homens com rosto pintado saem sambando
pela casa e a meia-noite eles quebram o pote e dançam a “valsa” dos noivos. A palavra
valsa se encontra entre aspas, pois, as pessoas dançavam rancheiras, xotes ou a valsa
propriamente dita nas festas de casamento de antigamente, nas de hoje dançam forró,
“pisadinha”, arrocha e pagode.

Jogar bola é a brincadeira que predomina na comunidade de Papagaio,


principalmente entre os meninos, sendo que, as meninas preferem brincar atualmente
com as bonecas compradas na cidade, em substituição as bonecas de milho de
antigamente. O folclore da região é marcado predominantemente pelas lendas e
crendices, como, por exemplo: muitos acreditam que na semana santa, no período da
quaresma, a mula-sem-cabeça aparece, andando a meia noite ou acreditam na existência
de um homem com características de lobo, o lobisomem, que anda à noite a procura de
leitões novos ou crianças recém-nascidas para comer.

Várzea

A escola da comunidade Várzea está a 5 km, em linha reta, ou 6 km, por estrada,
a noroeste da sede de Tanque Novo, em uma das fazendas mais antigas da região. A
menos de 3 km a nordeste desse ponto se encontra a localidade Tanquinho, na
coordenada 770.416E e 8.506.555N, que teve origem na Várzea, como veremos adiante.
Além dessa, temos outras localidades ligadas à comunidade: Lagoa da Pedra, na

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coordenada 769.748E e 8.505.328N; Lagoa do Mato, 770.788E e 8.503.953N; Lagoa


dos Tinguis, 771.433E e 8.505.740N e Pintado, 769.680E e 8.502.216N. Com exceção
da escola, essas coordenadas não foram medidas no campo.

Segundo as fontes orais, a comunidade teria surgido através de escravos que


teriam feito uma barragem para segurar a água na Lagoa das Vargens e a partir de então
passaram a se referir ao lugar como Várzea. Os primeiros moradores brancos teriam
sido as famílias de: Rodrigo Malheiro, proveniente da Lagoa do Mato, próximo de
Várzea, e Umbelino Gomes, da fazenda Piripiri. No entanto, observamos que a memória
coletiva remete a um passado relativamente recente quando comparada aos registros
encontrados. Joaquim Quaresma Delgado citou a fazenda Várzeas quando passou pela
região entre 1731 e 1734. Nas anotações sobre as suas derrotas (roteiros) lemos o
seguinte:

Da fazenda do Pé da Serra ao Quebra Fucinhos, retiro da


fazenda do Pé da Serra há de estrada 5 leguas e de distância 4,
bom caminho entre catingas por uma vereda que principia por
um curral, e está em meio do caminho.

De Quebra Fucinhos, á encruzilhada que vae para a fazenda


dos Morrinhos que cria gado vaccum, é de Antônio de Souza,
há de distância legoa e 3/4, desta para leste fica outra fazenda a
que chamam as Várzeas, é de Antônio de Souza e cria gado
cavallar, légua e meia de estrada e de distância uma e meia.

Desta encruzilhada a fazenda do Mocambo são 4 leguas e meia


de estrada e distância 2 e meia, bom caminho, entre catingas;
avista-se a fazenda a um quarto de légua de cima do
tombadouro, que desce penhasco para ir dar na fazenda de
Mocambo que é de José Fernandes e cria gado vaccum
(PARAGUASSU in NEVES, 2007, p. 201-246).

Após compararmos as distâncias indicadas por Quaresma Delgado,


considerando a légua aproximadamente 6000 metros, com as distâncias entre a fazenda
Pé de Serra, a fazenda Quebra, a fazenda Morrinhos e a fazenda Mocambo,
apresentadas no mapa do IBGE (1962), verificamos que se tratam dos mesmos lugares.
A fazenda Pé de Serra indicada no mapa se encontra na divisa entre Macaúbas e
Botuporã, a fazenda Quebra se encontra em Macaúbas, próxima a Lagoa Clara. Partindo

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do Quebra, 2 km adiante, Joaquim Quaresma Delgado percorreu o território que


pertence atualmente a Tanque Novo, no qual se encontra até hoje a fazenda Morrinhos,
que é citada por ele e descrita no texto sobre a comunidade Morrinhos. A fazenda
Mocambo, hoje em Igaporã, é descrita no texto sobre a comunidade Sambaíba. A 9 km
da comunidade conhecida por Morrinhos, a montante do riacho da rapadura, no sentido
leste, encontra-se a comunidade Várzea, que teve origem a partir da fazenda citada por
Joaquim Quaresma Delgado.

Baseando-se em inventários, testamentos e outros documentos notariais, Neves


escreve o seguinte sobre Antônio de Souza da Costa, o proprietário referido
anteriormente:

[...] natural de Beja, Baixo Alentejo, sul de Portugal, possuía –


quando inventariaram seus bens em 1738, no Juízo dos Órfãos
de Rio de Contas – benfeitoria na fazenda Pé de Serra, de
Manoel de Saldanha e sua mulher Joana da Silva Guedes de
Brito e uma posse na fazenda Vargens, do mesmo senhorio,
tudo atualmente em jurisdições dos municípios de Macaúbas,
Botuporã e Tanque Novo.

Dispunha de 23 escravos, quase todos africanos, entre os quais


três mulheres e seis crianças; 50 éguas, avaliadas por 250 mil
réis; 12 poldros, 170 mil réis; 13 cavalos, 180 mil réis; 12
reses, 30 mil réis; três porcos, oito mil réis; plantações de
mandioca e bananeiras, 125 mil réis e outros gêneros da
subsistência. Jóias e utensílios de ouro e prata constou tê-los na
terra natal, por herança paterna. Os apetrechos domésticos e
instrumentos de trabalho declarados indicam vida modesta. De
lembrança lusitana apenas uma toalha de Guimarães, peça
muito freqüente em inventários de seus conterrâneos. Deveria
ser viúvo, porque partilharam seus bens somente os filhos
Amador de Souza da Costa, inventariante, com 26 anos e José,
de apenas seis (Neves, 2001, p.117-118 e NEVES, 2003, p.
398).

José de Souza da Costa teve três filhos: João Nunes, José de Souza da Costa e
Agostinho de Souza da Costa e uma filha: Maria de Souza da Costa, que é referida no
texto sobre a comunidade Sambaíba. Os descendentes da família Costa adquiriram

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terras na área do atual município de Tanque Novo, conforme observamos nos textos
sobre Curralinho, Engenho, Magras, Morrinhos, Murici, Pajeú e na Várzea, como
veremos a seguir. Neves descreve a fazenda Várzea, nos seus primórdios, da seguinte
forma:

Fazenda nos limites atuais de Macaúbas, Botuporã e Tanque


Novo, arrendada por Joana da Silva Guedes de Brito para
Antônio de Souza da Costa, que também pagava rendas de Pé
de Serra, Quebra Focinho e Morrinhos, nas quais criava gado
vacum e cavalar, conforme Joaquim Quaresma Delgado.
Amador de Souza da Costa e José de Souza da Costa dividiram
uma posse de Vargens em 1738, com os bens do pai Antônio
de Souza da Costa. A Casa da Ponte arrendou Vargens e tudo
“que tomou na execução feita a José de Souza da Costa”, em
1806, extremada por Pé de Serra, Passagem do Quebra
Focinho, Mucambo, riacho Santo Onofre, Canabrava, riacho do
Quati, Tabuleiros e Algodões, por 40 mil réis, para Bento
Garcia Leal. No tombamento fundiário de 1819 avaliaram-na
por um conto e 200 mil réis e venderam-na, em 1820, para o
arrendatário Garcia Leal, que a inventariou, em 1823, por
quatro contos de reis, com Lagoa Clara, Barrocas e outras, no
espólio da consorte Nazária Borges de Carvalho (NEVES,
2003, p. 434).

Segundo Neves (2000, p. 119), Bento Garcia Leal foi um dos maiores
fazendeiros e comerciantes do sertão, na transição do século XVIII ao XIX, proprietário
de várias fazendas, hoje nas jurisdições de Tanque Novo e de vários outros municípios
do Alto Sertão da Bahia:

Bento Garcia Leal, capitão-mor de Caetité, inventariou, em


1823, os bens do seu casal, após a morte da consorte Nazária
Borges de Carvalho, arrolando várias fazendas: Barrocas com o
sobrado da sua residência; os “retiros” (Sítios ermos, distantes
das sedes das fazendas) de Regapé, com algumas casas,
engenho, e roças; São Domingos, Vargem Grande e Gargatuá,
por quatro contos e oitocentos mil réis; 600 cabeças de gado
vacum, três contos de réis; 23 cavalos, 335 mil réis; Riacho e
Canabrava – nos atuais municípios de Iuiu e Malhada – quatro

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contos de réis; duas mil e 100 reses, 10 contos e 500 mil réis;
42 cavalos, 504 mil réis; 74 bestas cavalares, 320 mil réis; 17
poldros, 120 mil réis. Vargens, hoje entre Macaúbas e Tanque
Novo, com todos os retiros e sítios de Lagoa Clara, comprados
da Casa da Ponte, de cuja aquisição ainda devia 640 mil réis,
tudo avaliado por quatro contos de réis; e mais 2.400 cabeças
de gado vacum, 12 contos de réis; 22 cavalos, 264 mil réis.

Este inventário registra o maior plantel de escravos – 202


cativos – encontrado no Alto Sertão da Bahia. A maioria
nascida no Brasil e meia centena de variadas etnias e origens
africanas: angola, benguela, biriba, bruburu, calabar,
carandamba, congo, grumá, hauçá, lambi, luanda, manino,
mina, nagô, socó. Havia, também, entre os escravos, um índio
tapuia, de 24 anos. Sobre 14 deles informou profissões ou
atividades que desenvolviam, sendo seis vaqueiros, o que
indica a prática da pecuária escravista, um mestre de
carpinteiro, um oficial de carapina, um curioso de carapina, um
oficial de ferreiro, um bruaqueiro, duas costureiras e uma
rendeira. Essas profissões ou especializações, relevantes no
cativeiro, com pouca divisão de trabalho, seriam possíveis
somente no grande plantel.

Considerando-se a proporção, entre o contingente escravista e o


número de ferramentas agrícolas arroladas, Bento Garcia Leal,
dedicava-se, fundamentalmente, à pecuária, porque declarou
apenas, 23 enxadas, 21 foices, cinco machados e duas
alavancas. Destacava- se na intermediação comercial da
produção regional. Arrolou 209 cargas de algodão
descaroçados, despachadas aos correspondentes no porto de
São Félix, no Recôncavo, e mais 80 cargas em caroço.
Informou, ainda, um crédito na Casa de Pedro Rodrigues
Bandeira, em Salvador, correspondente ao envio, por esse
exportador, para a Inglaterra, de 2.200 arrobas de algodão,
portanto, mais de 55 toneladas do produto da malvácea em
pluma, como sempre se comercializou no sertão, onde o caroço
significava precioso recurso alimentar para o gado durante as

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secas. Possuía ainda quase nove toneladas de algodão sem


descaroçar.

O rol de dívidas, ativas e passivas, sugere amplas relações


comerciais. Entretanto, Bento Garcia Leal cultivava a
subsistência como faziam os fazendeiros do sertão, além de
produzir cachaça de cana, num alambique grande, pesando sete
arrobas de cobre e vários tachos do mesmo metal, próprios para
o manejo da rapadura e da aguardente, embora não informasse
propriedade de engenho. A inventariada possuía muitas jóias de
ouro – voltas, cordões, rosários, bentinhos, crucifixos, brincos,
botões, pulseiras, medalhas, pentes (um cravado com pedras
brancas e outro, de tartaruga, com crisólitas, outros com
topázio, esmeraldas) – e utensílios de prata, sobretudo
domésticos e de montaria. O valor dos bens inventariados
ultrapassou a 106 contos de réis. Da meação partilhada, coube
para cada um dos oito herdeiros, o equivalente a mais de sete
contos de réis (NEVES, 2003, p.296-298)

Depois de Bento Garcia Leal, alguns membros da família Costa declararam nos
registros de terras da década de 1850, partes da fazenda Várzea. Um membro da família
Dourado e os filhos de Claudio Antonio de Oliveira, que já possuíam terras em várias
outras áreas do atual município de Tanque Novo, também declararam:

Zifirino Alves da Costa declara que pussui nesta Freguezia de


Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte
de terras em cumum com os mais interessados na Fazenda das
Vargens no lugar denominado Gibóia que herdou de sua finada
May Dona Emidia Maria do Carmo deixando de dar as
estremas, alias os limites e extenção por lhe ser desconhecidas
Freguezia Villa de Macaubas 2 de Maio de 1859. Zeferino
Alves da Cosa. Registrado no dia 4 do mesmo mes de Maio
epagou sete centos e vinte reis. O Escrivao Joao Antonio do
Rego. O Vigario Fernando Augusto Leao (n. 390)

Rufino Alves da Costa declara que pussui nesta Freguezia de


Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte
de terras em comum com os mais interessados na Fazenda da
Vargens no lugar denominado Gibóia que herdou de sua finada

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May Dona Emidia Maria do Carmo, deixando de dar os limites


e extensão por lhe ser disconhecidos. Freguezia e Villa de
Nossa Senhora da Conceição de 2 de Maio de 1859. Rufino
Alves da Costa. Registrado no dia 4 do mesmo mes de Maio,
pagou sete centos e vinte reis. O Escrivão João Antonio do
Rego. O Vigario Fernando Augusto Leão (n. 391)

Jorge Pereira Dourado pussui nesta Freguesia de Nossa


Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte de
terras na Fazenda das Vargens em comum com os mais
enteressados Filhos eherdeiros de Jose Joaquim Pereira cuja
parte de terras houve por herança de sua finada Sogra Francisca
Angélica de Jesus esuas estremas constão da Escreptura de
compra das terras da mesma Fazenda que se acha em puder do
mesmo Cabeça do Cazal. Villa de Macaubas 14 de Maio de
1859. Jorge Pereira Dourado. Registrado no dia 16 do mesmo
mes de Maio. Pagou mil réis. Escrivão João Antônio do Rego,
o Vigario Fernando Augusto Leão (n. 469)

José Antonio de Oliveira e Silva declara que pussui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas uma parte de terra na Fazenda das Vargens havida
por compra de Julião da Silva Marques, cuja parte de terra se
estrema pelo Nascente com a Fazenda das Emburanas, pelo
Norte com Joaquim Antonio Cardozo, aonde se acha um
moirão, pelo Sul com Maximino Pereira de Souza aonde de
direto for, pelo puente com Felippe Baptista de Souza.
Macaubas o 1º . de Junho de 1859. José Antonio de Oliveira e
Silva. Foi apresentado no dia 26 do mesmo Jo. eregistrado no
dia 27. Pagou nove centos, enoventa e seis reis. O Escrivao
João Antonio do Rego. O Vigario Fernando Augusto Leão (n.
734).

Joaquim Antonio Cardoso pussui uma de terra neste termo e


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas dentro da Fazenda das Vargens no lugar denominado
Furados estremada que houve por herança e compra cujas
terras estrema pelo Nascente com aFazenda do Arraial do

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Paramirim, pela parte do sul com Jose Antonio de Oliveira e


Silva, pelo puente com Maximino Pereira de Souza, epelo
Norte com Antonio Pereira de Souza, edahí fizando noprimeiro
ponto. Furados 11 de Maio de 1859. Joaquim Antonio Cardozo.
Foi apresentado no dia 27 de Junho eregistrado no dia 30 do
mesmo. Pagou oito centos reis. O Escrivão João Antonio do
Rego. O Vigario Fernando Augusto Leão (n. 740).

Em 1861, Cláudio Antônio de Oliveira e seus filhos adquiriram uma gleba de


Vargens na área da atual sede de Tanque Novo e, nesse mesmo ano, venderam metade
de Vargens, com benfeitorias, por dois contos de réis, para José Rodrigues Malheiros,
que, segundo as informações orais, era pai de Rodrigo José Malheiro, considerado um
dos primeiros moradores de Várzea. A mulher de José Rodrigues seria da família Costa.
Foram citados como irmãos de Rodrigo Malheiro: Avelino, dos Tingui, Aristides, de
Canabravinha, Leolino, negociante no Mucambo dos Malheiros, município de
Livramento de Nossa Senhora.

[...] João Alves da Costa e sua mulher Ana Maria Ribeiro de


Novais venderam em 1861, para Cláudio Antônio de Oliveira e
seus filhos José Antônio de Oliveira e Antônio Cardoso de
Oliveira, uma gleba de Vargens entre Malhada Grande,
Furados e Lagoa do Mato, medindo dois mil 169 braças, com
currais, mangas, tapagem de tanque e casa de enchimento.
(APEB. Judiciário, SRJ/25/17, f. 16v. Escritura, 20 jul., 1861
apud NEVES, 2003, p. 420)

Os relatos informam que Rodrigo morou primeiramente na Lagoa do Mato com


a esposa Maria Efigênia do Carmo. Ela seria filha de Manoel José de Souza Baptista e
Ana Cândida Rêgo, segundo as fontes orais. Manoel foi enterrado na capela dos
Furados, no dia 13/04/1917, aos 75 anos, portanto, nasceu em 1842. Pela data de
nascimento da filha de uma escrava de Felippe Baptista de Souza, encontrado no livro
de batismo de Caldeiras, de 1887 a 1893, esse pode ter sido o pai do Manoel José de
Souza Baptista: “Antonia (29/06/1874), filha de Feliciano e Romana, escrava de Felippe
Batista de Souza. Padrinhos: Antônio Francisco Viana e Belarmina Francisca das Neves
(p. 52 frente)”. Ana Cândida, mãe de Maria Efigênia, era filha do capitão Porfírio
Brandão, sobre o qual Machado de Assis escreve uma crônica no jornal “O Cruzeiro”,
do Rio de Janeiro, em 18/08/1878, comparando Macaúbas a Roma e o capitão Porfírio a

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Coriolano. Maria Efigênia teve um irmão chamado Porphirio José Baptista, casado com
Maria Rosa do Carmo e outro irmão chamado Ângelo José Baptista.

Os filhos e filhas de Rodrigo José Malheiro e Maria Efigênia do Carmo,


lembrados pelas fontes orais, não necessariamente em ordem cronológica de
nascimento, foram: Jovina Maria da Conceição, esposa de José Benedicto de Sousa,
pais de Ângelo Baptista de Sousa, que se casou com a prima Amélia Maria do Carmo,
filha de Porphirio e Maria Rosa; Ana do Carmo Malheiro, primeira esposa de José
Gomes Carneiro; Amélia Maria do Carmo Malheiro, segunda esposa de Antônio Alves
Carneiro; Ermínia Maria do Carmo, esposa de Arquimimo Alves Carneiro, que morava
no Pintado; Rosalina Aires do Rego, esposa de José Joaquim Gomes, filho de Umbelino
Gomes; Adilina, casada na família Batista; Cota, esposa de Manoel Antônio; Júlia,
esposa de Cláudio Batista, Ana Angélica, esposa de Norberto, e Hermelina, cujo marido
não se sabe quem foi. Os senhores José Gomes Carneiro, Antônio Alves Carneiro,
Arquimimo são irmãos, filhos de Juvêncio Alves Carneiro e Arlinda Francisca Gomes.
Outro filho do casal Rodrigo e Maria Efigênia, encontrado em uma certidão de
nascimento, nos documentos de Lagoa Clara, recebeu o mesmo nome do avô José
Rodrigues Malheiros e era casado com Maria Cândida Gomes.

Rodrigo José Malheiro foi casado uma segunda vez com Ana Maria Malheiro.
As informações orais revelam que ele teve mais seis filhos com Ana Maria: José, João,
Hermelino, Manoel Cândido, Odilon e Odílio. A certidão para fins de casamento com
Arlinda Gomes Carneiro mostra que Odílio nasceu em Lagoa do Mato no dia 07 de
maio de 1912.

Rodrigo foi enterrado na capela dos Furados no dia 03/03/1936, aos 75 anos de
idade, tendo nascido, portanto, em 1861, no mesmo ano em que seu pai negociou
metade de Vargens com a família de Cláudio Antônio de Oliveira. Os relatos dizem que,
depois de morar na Lagoa do Mato, ele fez uma casa na Várzea.

O texto sobre a comunidade Alecrim nos mostra também que uma das pessoas
citadas como um dos primeiros moradores, Umbelino José Gomes, comprou, em 1876,
parte de um lugar chamado Saco dos Furados, que estava nas terras de José Rodrigues
Malheiros, por um conto de réis, juntamente com Joaquim Monteiro de Magalhães.
Arlinda Francisca Gomes e Zeca Gomes eram filhos legítimos de Umbelino José
Gomes e Francisca Maria de Jesus. As fontes orais nos informam que Umbelino foi

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casado mais duas vezes, no entanto, nos registros encontramos outros três nomes
diferentes de esposas com quem ele teve filhos. Talvez dois nomes indiquem a mesma
pessoa, assim como observamos no texto sobre a comunidade Alecrim. A seguir estão
os registros sobre os quatro nomes das esposas e de alguns filhos de Umbelino:

Compareceu Virgílio José Batista, para registrar sua filha e de


Carlota Francisca Gomes: Antônio. Avôs paternos: José
Antônio Batista e Marcolina Maria do Carmo. Avôs maternos:
Umbelino José Gomes e Anna Maria de Jesus (n. 155).

Compareceu Juvêncio Alves Carneiro, lavrador, natural de


Cannabrava, para registrar o filho dele e de Dona Arlinda
Francisca Gomes, natural de Macaúbas, nascido no dia
15/06/1890: Antônio Alves Carneiro. Avôs paternos: José
Joaquim Carneiro e Clemencia Maria de Jesus. Avôs maternos:
Umbelino José Gomes e Francisca Maria de Jesus (já falecida)
(n. 185, p. 70, 22/06/1890). Casaram-se na casa de José
Cardoso Pereira no lugar São José, deste districto e rezide
actualmente na Lagoa da Pedra, do termo de Macaúbas.

Compareceu Exupério José Gomes, negociante em Macaúbas,


para registrar seu filho e de Anna Flora das Neves, nascido no
dia 03/11/1890. Avôs paternos: Umbelino José Gomes e
Francisca Antônia de Jesus (já falecida). Avôs maternos:
Joaquim José das Neves e Anna Maria das Neves. Casaram-se
na casa do Tenente Maximino Pereira de Souza, na Varzea
Chuja, termo de Macaúbas e reside atualmente neste arraial de
Cannabrava (n. 206, p. 79).

Compareceu Antônio de Souza Laláo, natural do Morro do


Fogo, para registrar sua filha e de Amélia Francisca de Jesus,
Sto Antônio do Paramirim: Anna Celestina de Jesus
(16/04/1891). Avôs paternos: Francisco Joaquim de Souza
Laláo e Maria Joaquina da Conceição. Avôs maternos:
Umbelino José Gomes e Anna Francisca de Jesus. Casaram-se
na casa de Umbelino, no lugar das Varzias do termo de
Macaúbas e residem atualmente em Sam Domingos, no mesmo
termo de Macaúbas (n. 209, p. 81, 24/04/1891).

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A localidade Lagoa da Pedra, de propriedade do senhor Umbelino José Gomes,


é o lugar para onde Juvêncio Alves Carneiro foi após se casar com a filha de Umbelino,
Arlinda Francisca Gomes. Três outros filhos de Umbelino foram lembrados pelas fontes
orais, apesar de não ser informado quem das mulheres citadas anteriormente era a mãe
deles: Amélia Gomes, primeira esposa de João Alves Carneiro, que foi para o Mundo
Novo; Pedro Gomes, pai de Ana Amélia Gomes, que se casou com Ângelo José
Baptista, irmão de Maria Efigênia Batista; Aurélio Gomes, casado com a irmã de Jovino
Batista, citado no texto sobre a comunidade Boiada.

Além de muitos filhos, o senhor Umbelino tinha muitos escravos. O grande


número de escravos desde os tempos de Antônio de Souza da Costa, no início do século
XVIII, fez com que os moradores atuais dissessem que um grupo de escravo tenha dado
início à comunidade. No livro de registro de batismo de Caldeiras foram encontrados
três registros sobre escravos que pertenceram a Umbelino:

Lypriano (28/07/1884), filho de Agostinho e Ignéz, escravos de


Umbelino José Gomes. Padrinhos: José Luiz e Luiza, escrava
de José Joaquim Alves de Oliveira (p. 1 frente).

Joaquim (1884), filho de Margarida, escrava de Ana Rita da


Conceição. Padrinhos: Gecesino e Luiza, escravos de
Umbelino José Gomes (p. 2 verso)

Anna (22/10/1887), filha de Margarida, escrava de Anna Rita


de Oliveira. Padrinhos: Agostinho, escravo de Umbelino
Gomes, e Martiniano, escravo de Innocencio (p. 42 frente)

Outros sobrenomes, que não foram citados pelos moradores, também foram
encontrados nos registros cartoriais fazendo referência à fazenda Várzea:

Compareceu Antônio José da Silva, lavrador de Paramirm, para


registrar seu filho e de Antônia Roza de Jesus: José, que nasceu
na casa de Manoel Joaquim Saraiva. Avôs paternos: José da
Silva Barboza e Antônia Maria de Jesus. Avôs maternos:
Manoel Joaquim Saraiva e Anna Roza de Jesus. Casaram-se em
Lagoa Clara e moravam nas Várzeas (n. 132).

Campareceu Ângelo Custódio Villas-boas, lavrador, natural


desta Paróquia, registrando o nascimento no lugar das Várgeas,
no dia 27/07/1890, de Attilia, sua filha e da esposa Dona

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Deraldina Carolina da Silva. Avôs paternos: José Joaquim


Villas-boas (já falecido) e Maria Francisca Villas-boas. Avôs
maternos: Manoel Lopes da Silva e Carolina Guilhermina da
Silva (ambos falecidos). Residem nas vargeas, deste Districto.
Ass.: Tranquilino, Angelo, Vicente Vianna e Jesuíno do Padro
(n. 192, p. 73, 06/08/1890).

Compareceu Joaquim Rodrigues de Magalhães para registrar


seus filhos e de Maria da Glória Vilas Boas: Hermelina
(28/05/1911), Roza (12/11/1912), Maria (14/01/1914), Manoel
(16/07/1915). Ass.: Escrivão Marciano de Souza Lalau,
Antônio Alves de Oliveira, Leonel Monteiro de Magalhães (n.
324).

Compareceu Benvindo de Britto Teixeira, para registrar seus


filhos e de Anna Amélia Villas-boas: Lindolpho (07/09/1912),
Deraldina (22/02/1913), Eujácio (22/02/1915). Avôs paternos:
Eujácio de Brito Teixeira e Liberaldina Maria Villas-boas.
Avôs maternos: Angelo Custódio Villas-boas e Deraldina
Carolina Villas-boas (n. 329).

Várzea é uma comunidade que mudou bastante na opinião dos moradores. Hoje
tem energia elétrica, poço artesiano, água encanada, uma barragem e várias estradas. A
Escola Municipal Pedro Gomes, 768.055E e 8.505.054N, é o local que mais se destaca
na comunidade, ela foi construída em 1975, quando a comunidade ainda fazia parte do
município de Botuporã. Em 2009, a escola teve 27 estudantes matriculados, 8 na pré-
escola e 19 no ensino fundamental inicial, sendo que nenhum deles utilizou transporte
escolar. Em 2012, a escola teve 18 estudantes matriculados, 4 na pré-escola e 14 no
ensino fundamental inicial, também sem utilizarem transporte escolar

Outra localidade, que foi inserida na comunidade Várzea, chama-se Tanquinho,


pois segundo Oséias, filho do primeiro morador do Tanquinho, João Batista Gomes,
esta localidade surgiu a partir da comunidade Várzea. O nome é decorrente de um
tanque pequeno que motivou a ida do senhor João Batista Gomes para o Tanquinho,
que, em 2007, teve 53 moradores.

Um dos fatos que marcaram a vida dos moradores do Tanquinho, bem como de
toda comunidade Várzea, foi a passagem dos revoltosos da Coluna Prestes, em 1926,

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data chamada de época da revolta, que também foi mencionada por alguns moradores da
comunidade Alecrim. Segundo os moradores mais velhos, os revoltosos invadiam as
casas das pessoas e obrigavam-nas a matar alguns animais. Se o morador os atendesse,
eles faziam uso apenas do couro e das carnes dos animais, se não fosse assim, eles
expulsavam as pessoas da própria casa e se hospedavam, como aconteceu com uma
antiga moradora do local, Hermínia Batista. Os revoltosos chegaram à casa do seu pai e
pediram comida, o pai não deu, e eles expulsaram a família da casa, que teve que ficar
durante três dias no mato. Diferente de como aconteceu com a família de Antenor, que
ainda vive na comunidade, quando pediram farinha, o produto que mais fabricava, o pai
de Antenor mandou os oito filhos arrancarem a mandioca para fazer a farinha, depois de
pronta, os revoltosos foram embora. Outro fato que marcou foi a construção da
barragem da comunidade manualmente.

Em Tanquinho há um prédio escolar, construído em 1994, onde funcionava a


Escola Municipal Jacinto José da Silva em 2007, com 12 alunos. Em 2009 e 2012 esta
escola esteve paralisada. A localidade tem um pequeno time de futebol que faz a alegria
dos jovens. Existe também uma rede de abastecimento de água, que é proveniente de
um poço artesiano, perfurado em 1998, considerado muito importante pelos moradores.

A capela que os moradores do Tanquinho freqüentam é a de Várzea. Os


habitantes reúnem-se para rezar a “via-sacra velha”, na semana santa; para fazer o
festejo de São João, Santo Antônio e do padroeiro, São Pedro, cujo dia é 29 de junho,
data em que se realiza a celebração de missa, leilões e queimam-se fogueiras; para
comemorar o natal com tradicionais novenas, arrumação de presépios e reisados; e no
dia de Nossa Senhora Aparecida, os jovens se preparam fazendo corações, máscaras
(caretas), bumba-meu-boi, busca do mastro, procissão etc. Os moradores contam com o
atendimento de um agente de saúde da Pastoral da Criança e com visita de médicos uma
vez ao mês.

Assim como na maioria das comunidades de Tanque Novo, as principais


culturas da comunidade Várzea são: mandioca, da qual se obtém a farinha e a tapioca,
feijão e milho, este com baixa produtividade devido ao solo arenoso e calcário. A
pecuária é baseada na criação de rebanhos bovinos tanto para leite, com o qual se
produz requeijão e queijos, quanto para carne e couro. A criação de gado é extensiva,
com poucos cuidados veterinários e enfrenta dificuldades no período seco. Também se
criam suínos, caprinos e galinhas.
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Antes da energia elétrica, o óleo utilizado para iluminar as casas era preparado
pelos próprios moradores, através da mamona, que existia em abundância na
comunidade. Para descascar a mamona, quebrava-se a pele cuidadosamente com uma
pedra e em seguida pisava-se no pilão. Após formar uma massa mole, colocava-se para
ferver e depois se transformava em óleo. Em um candeeiro de barro ou lata, colocava-se
o óleo e a puxada de algodão, que recebia esse nome, pois tinha que ser constantemente
puxada para o fogo não apagar. As fibras da puxada eram separadas dos grãos de
algodão utilizando-se o descaroçador.

Algumas mulheres fazem bordado, crochê e fuxico, confeccionados com


pedaços de panos coloridos. Com fuxicos fazem tapetes, roupas e com materiais
recicláveis, como embalagens pet, fazem cortinas. Também fazem tapetes usando sacos
de estopa.

Vereda do Toco

Vereda do Toco (764.959E e 8.510.435N) está localizada a 12 km da sede de


Tanque novo, em linha reta, a 2 km a nordeste da comunidade Papagaio, bem próxima
ao aglomerado populacional que recebe o nome de Barauninha (765.786E e
8.508.992N), inserido nesta comunidade juntamente com a localidade conhecida por
Arranco (768.314E e 8.508.981N).

Segundo as fontes orais, Vereda do Toco era uma vereda de mato baixo e terra
branca, onde se formava uma lagoa no período chuvoso, conhecido por lagoa dos
cachorros que, após a chegada de alguns migrantes, recebeu o nome Vereda do Toco,
devido a um grande toco encontrado dentro da lagoa. Seus primeiros moradores foram:
Júlio Alves Costa, Leonel Lopes da Silva, Pedro Gomes Filho, Maria Joaquina Lessa,
João José Bonfim, Maria Rosa de Jesus, José Rocha e Manoel Rodrigues.

Inicialmente os católicos freqüentavam a capela comunidade Papagaio, devido a


proximidade, depois construíram uma capela na comunidade. Com o tempo,
construíram também o prédio escolar, campo de futebol, poços artesianos, mais estradas
e barragens. Hoje tem água de um poço encanada e energia elétrica em todas as casas,
salão de beleza, posto telefônico e transporte escolar regular. As cercas de pedra foram
substituídas por cerca de arame, os agricultores passaram a utilizar tratores,
debulhadeiras de feijão e milho e motores elétricos nas casas de farinha. Quando

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apareceu o primeiro rádio, a roda da casa de farinha era tocada pelo cavalo e se
fabricava rapadura no engenho e o transporte era feito por jegue.

Os moradores informaram que barita e minério de manganês estavam sendo


explorados na comunidade em 2007. Apesar de não estar sendo explorado neste ano, o
cristal de rocha, ou quartzo, também já havia sido muito explorado anteriormente. Na
comunidade também existe o talco e a pedra de ferro que ainda não foram extraídos.

A barita é um minério de sulfato de bário, mas, apesar de conter bário, um metal


pesado, não é considerada tóxica devido à sua elevada insolubilidade. É um dos
materiais mais densos do planeta, a maior parte da produção é utilizada para aumentar a
densidade das lamas de perfuração na indústria petrolífera. No caso da barita retirada
em Tanque Novo, os depoentes disseram que era vendida para empresas de outros
estados que trabalhavam com a fabricação de lâmpadas fluorescentes, vasos sanitários,
louças, látex, tintas de carro, etc, mas que era transportada por firmas do município de
Tanque Novo.

As fontes relataram que a extração se dava manualmente, numa profundidade de


mais ou menos 25 metros, após explodirem as rochas com dinamite. Um guincho
manual ajudava a descer e subir os operários e os minérios do fundo do buraco. Os
trabalhadores informaram que as condições de segurança sempre foram mínimas, tanto
que, aconteceram muitos acidentes, alguns fatais, como, por exemplo, a morte, no dia
23 de dezembro de 1992, do senhor Almir Lopes da Silva, pai de 12 filhos. Ele entrou
no buraco com seu irmão Adventino e um barranco desmoronou sobre eles. Adventino
conseguiu sobreviver, mas não recebeu nenhuma compensação pelos danos provocados.

Segundo os depoimentos, o minério de manganês também já havia sido bastante


explorado até o ano de 2007. Neste ano, havia no mínimo 20 trabalhadores sem nenhum
tipo de segurança. Os mineiros também utilizavam dinamite para explodir as rochas e
um trator e uma caçamba carregavam os blocos do minério até uma fábrica, localizada
na comunidade, onde realizavam o processo de extração. Um funcionário da fábrica
definiu os passos do processo da seguinte forma: britagem e moagem, para reduzir a
granulometria, até que possa ser carreada pela água; lavagem, passando duas vezes por
uma mesa oscilatória onde o material de interesse era separado; secagem, em uma forma
de metal aquecida com lenha retirada da região e, por fim, esfriamento, peneiramento,
ensacamento e transporte por firmas do município de Tanque Novo para Belo

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Horizonte-MG. O próprio funcionário falou que o único retorno que a população local
tinha era do resíduo, que voltava para o buraco feito na rocha depois de ser processado.

Devido às suas características físico-químicas, o manganês pode atuar como


agente desoxidante, oxidante, dessulfurante e ser responsável por propriedades como
maior maleabilidade, tenacidade e dureza dos aços. É também usado para obtenção de
gusa, ferro-ligas e aços especiais. Na indústria não metalúrgica, o manganês é utilizado
para fabricação de fertilizantes, pilhas eletrolíticas, cerâmicas, tintas, vernizes, reagentes
químicos, entre outros usos. O funcionário informou que o principal uso que se fazia do
manganês retirado em Tanque Novo era para fabricação de fertilizantes.

Além dos danos ambientais causados, como por exemplo, a contaminação da


água com metal pesado, um recurso que já escasso no semi-árido, as exposições
prolongadas aos compostos de manganês, de forma oral ou inalada, provocam efeitos
adversos no sistema nervoso, respiratório e outros. A ingestão foi associada à dor
abdominal, disfunção hepática e evidências de pancreatite. Quando absorvido pelos
pulmões, manifesta uma síndrome semelhante ao produzido pelo mal de Parkinson.
Outras manifestações incluem comportamento compulsivo, riso explosivo involuntário,
cefaléia, fraqueza muscular, tremores, sonolência, demência, distúrbios da fala,
irritabilidade, impotência, hipersônia, déficits da memória e, em alguns casos, a
característica dominante pode ser a psicose, entre outras.

Segundo o processo no DNPM nº 870281/2008, a empresa Naturalli Pedras


Naturais da Bahia Ltda teve autorização, pelo prazo de 03 (três) anos, para pesquisar
minério de manganês, nos municípios de Botuporã e Tanque Novo, a partir de 26 de
junho de 2008. O Código de Mineração, Decreto-Lei no 227 de 1967, informa que o
título de autorização de pesquisa permite a realização de trabalhos de pesquisa mineral
na área titulada, visando a comprovação da presença da jazida. Quem detém o direito
minerário de pesquisa, em regra, ainda não pode lavrar ou comercializar o minério.
Sendo assim, mesmo que a empresa referida tenha conseguido permissões expressas do
DNPM para a comercialização, estas só poderiam ter sido obtidas a partir de 2008, mas,
como informado, a extração e a comercialização aconteceram na comunidade antes
mesmo de 2007.

Infelizmente isso ainda não faz parte da realidade tanquenovense, mas o artigo
225 da Constituição estabelece que cabe ao Poder Público:

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"Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;"

"Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,


métodos e substâncias que comportem risco para a saúde, a qualidade
de vida e o meio ambiente;”

"Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o


meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei."

Em decorrência destes dispositivos constitucionais, o exercício da atividade


mineradora no está condicionado a três instrumentos específicos de controle do Poder
Público, no que tange aos riscos potenciais de danos ao meio ambiente resultantes da
lavra: o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), o Licenciamento Ambiental (LA) e
o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).

As pessoas da Vereda do Toco costumavam ir para a feira do Arraial do Ribeiro,


atual cidade de Paramirim, a pé com cargas no cavalo ou com carro de boi.
Costumavam fazer festas nas casas e batucas, faziam rodas e jogavam verso. Durante a
tradicional fogueira de São João, rezavam nas casas, quando era meia-noite, saltavam a
fogueira, dizendo que São João estava benzendo, viravam padrinhos e compadres entre
si. Quando tinha uma roça para limpar faziam mutirões e depois faziam uma bela festa
para comemorar. Quando casava a filha caçula, enfeitavam a panela de barro, enchia de
doces e salgados e saiam quatro homens com rosto pintado, sambando no meio da casa,
quando dava meia-noite, eles quebravam a panela e dançavam a valsa dos noivos.

Muitas mulheres faziam e fazem chimango no forno de torrar farinha, milho,


avoador, biscoito, brevidade, espera marido, cocada, requeijão, beiju, churros, bolo de
fubá e pão caseiro. Também dominam muitas técnicas de costura, tai como: dos
bordados, ponto de marcar e ponto cruzado, fuxico, tricô, embornal, toalha de saco,
fabricação de camisas e acessórios utilizando retalhos de pano, crochê, tricô, renda,
cobertor de algodão e linha de costura. Algumas dessas técnicas estão em extinção, por
exemplo: antigamente o algodão era descaroçado, fiado na roca e tecido no tear, para
fazer os bitus, agasalhos e calça de algodão. Era usado pelo artesão o quadrado de
moldura, com pregos pontiagudos, utilizados para tecer renda. As mulheres da

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comunidade também fabricam utensílios domésticos, tais como: colhereiro, escaveiro,


gamela, colher de pau, medida de madeira etc.

A realidade da educação era bem diferente da atual. Os pais pagavam um


professor durante 15 dias por mês e só aceitavam os filhos homens estudarem, as filhas
mulheres eram proibidas, pois, se estudassem, iriam escrever cartas para os namorados,
o que, nessa época, era um escândalo as cartas. Não tinha caderno, escreviam em folhas
de um bloco de papel com uma pena de ave, molhada na tinta anilina. Se borrassem,
molhavam os dedos e passavam no bloco. Estudavam a cartilha e liam cartas de
familiares de São Paulo, para fazerem contas usavam pedras.

Depois de vários anos construíram o prédio Escolar, onde funciona a Escola


Municipal Vereda do Toco, para alunos até a 4ª série. Quando terminavam a 4ª série os
alunos iam para a EFA, estudar 15 dias no mês e voltavam para ajudar os pais durante
15 dias na roça. As crianças que estudam na cidade hoje têm o auxílio do transporte
Escolar. 25 estudantes estiveram matriculados na escola da comunidade em 2009, sendo
22 no ensino fundamental inicial e 3 na pré-escola. Em 2012 este número reduziu para 9
alunos, 2 na pré-escola e 7 nas séries iniciais, todos da própria comunidade. Os
moradores contam também com a Associação de Malhada Grande, Papagaio e Vereda
do Toco e um posto de saúde em Papagaio, no qual é atendida a população de Vereda
do Toco pelo PSF.

A localidade do Arranco está na coordenada 768.314E e 8.508.981N, a 8,5 km a


noroeste da sede do município, em linha reta e a aproximadamente 10 km por estrada.
Segundo os moradores, recebeu o nome Arranco porque os primeiros proprietários
começaram a formar uma fazenda arrancando toda a vegetação local. As primeiras
pessoas a habitar essa região foram: José Antônio, Vitória, Jacinto, José Alcântara e
Gregório.

A localidade possui a Escola Municipal do Arranco, onde estudaram, em 2009,


18 alunos, sendo 14 no ensino fundamental inicial e 4 na pré-escola. Em 2012 a escola
esteve paralisada. O atendimento médico é feito na própria escola.

Nela encontra-se um poço artesiano, campo de futebol e tanques públicos. Os


moradores se dividem entre católicos e evangélicos, sendo os católicos a maioria. Há
celebração de missas e catequese. As pessoas comemoram o São João, São Pedro com

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celebrações religiosas e festas populares como fogueiras, quadrilhas e festas de


casamento.

Os produtos cultivados utilizando-se técnicas rudimentares são: feijão, milho e


mandioca. As comidas típicas são: aipim, batata-doce, requeijão, chimango, pipoca,
beiju, mingau e manteiga. Há fabricação de carro-de-boi e nos trabalhos manuais
destacam-se bordados e crochê.

A fauna era constituída de raposas, suçuaranas, perdizes, codornas, tatus, veados


e gambás. Na flora encontravam-se árvores como aroeira, juazeiro e coqueiro. O relevo
apresenta planície e morros.

O agente de saúde faz acompanhamento medindo a pressão arterial e marcando


exames. No Arranco muitas pessoas apresentam problemas relacionados a doenças
cardiovasculares.

Outra localidade inserida na comunidade Vereda do Toco foi a Barauninha.


Recebeu esse nome por existir um intermediário cheio de árvores de Baraúnas, um lugar
onde os habitantes iniciaram um tanque e que foi trabalhado manualmente por vários
anos, que hoje se chama Alagadiço. Entre o tanque, de um lado, morava Venício Costa
e sua esposa Cândida, do outro lado morava Joaquim Norato com sua esposa, Francisco
Alves e Ana Amélia. Essas famílias fizeram uma mistura de raças de origem indígena,
africana e espanhola. Em 1902, contava-se apenas essas pessoas, mas, em 2007, os
estudantes do CETN contaram 34 famílias, no total de 120 pessoas, sendo: 37 pessoas
de 3 a 14 anos, 59 pessoas de 15 a 59 anos, 24 pessoas acima de 60 anos.

Os produtos que cultivavam os primeiros moradores eram: milho, arroz,


mandioca, algodão e feijão de corda. Nessa época as pessoas plantavam pouco e
colhiam muito, pois, os produtores sabiam manusear a terra, era um trabalho consciente,
sem uso de agrotóxico. Na década de 1930 houve uma grande seca, para sobreviverem
utilizaram água do caruá, raízes do umbuzeiro, caroço de mucunã e mamão do mato.
Predomina a mão de obra familiar, técnicas de cultivo variando entre tradicionais e
modernas, na maioria das vezes sem conservação do solo e sem investimento em
fertilizante. Atualmente as pessoas plantam feijão, mandioca e capim, mas, apesar da
maior facilidade para plantar com o uso do arado, grade e agrotóxicos, a produção está
cada vez mais reduzida, devido ao preço baixo dos produtos, que muitas vezes a
desestimula.

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O artesanato do passado era a fabricação de calças, camisas, cobertores etc. Para


tanto, picavam o algodão, passavam-no em um descaroçador, fiavam as linhas finas
com o fuso e as grossas com a roca, teciam no tear e colocavam os tecidos de molho no
anil. Também faziam bordados, rendas e materiais de madeira, tais como: colher de pau,
gamela, pilão, caixa de farinha e tigelas. Hoje se faz bordados com vários pontos,
fuxicos, crochês, costuras com tecidos e linhas compradas prontas.

Antigamente os pais reuniam os filhos e contavam histórias bíblicas, lendas de


animais que conversavam, jogavam versos e quadras. Hoje as famílias se reúnem pouco
e não contam mais histórias, pois foram substituídas pela televisão. As comidas típicas
eram: chimango assado no forno de torrar farinha, bolo de sinhá, brevidade, cuscuz, pão
caseiro, beiju assado na caçarola, beiju de lenço, cocada, pamonha, mingau, bolo de
puba, caldo, rapa, vina, cacha, mel e puxa sendo quase todos os produtos utilizados no
preparo produzidos na comunidade.

A religião predominante é a católica, mas, de pouca participação nos encontros.


As pessoas costumam guardar os dias santos, sendo mais reverenciados os de: Nossa
Senhora Aparecida, Santa Luzia, São Bartolomeu e São Miguel. Antes rezavam o ofício
de Nossa Senhora todos os sábados a beira do oratório. Fazem fogueira no São João,
soltam fogos e fazem “experiências” para saber se o ano vai ser bom de chuva. As
viúvas fazem fogueira no dia de São Pedro. Também existe a quebra de pote no
casamento da filha caçula. Antes da chegada da TV as pessoas apreciavam os jogos de
baralho e dominó durante a noite.

A fauna hoje está em extinção, muitos pássaros que existiam antigamente já não
existem mais. A flora também está acabando, pois se faz muitas queimadas que
prejudicam o meio ambiente. Antes tinham muitas árvores, não se usava agrotóxicos, o
solo tinha mais nutrientes e não havia tanta erosão. As famílias praticam a derrubada
seguida pela queimada e após alguns anos de cultivo o solo não produz mais como
antes, então a área é trocada por novas áreas.

Há algum tempo a cura das doenças era com remédios a base de plantas e muitas
gestantes morriam antes ou após o parto. A saúde em alguns casos melhorou bastante
com a imunização da vacina, mas, ao mesmo tempo, surgiram doenças diferentes como
câncer, diabetes e pressão alta. Mais de 10% das pessoas são hipertensas. O atendimento
é acompanhado pelo agente comunitário de saúde, que acompanha Bela Vista,

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Barauninha e Vereda do Toco, sempre orientando e encaminhando ao médico, caso seja


necessário, se o paciente for incapaz de andar, a equipe do PSF vai até sua casa.
Gestantes, lactantes e crianças de 0 a 6 anos de idade, têm acompanhamento do líder da
pastoral da criança, Dalva Neves Gordo. Tem pesagem mensal para que a mãe possa
saber o estado nutricional do filho e é distribuída multimistura, que é uma
complementação dos alimentos, caso a criança esteja desnutrida.

Na localidade existe Associação dos Trabalhadores Rurais de Barauninha,


fundada em 2005, segundo o senhor José Batista, que foi o presidente da Associação em
2007. Ele também era o coordenador da Pastoral da Criança do município de Tanque
Novo e o agente comunitário de saúde, que acompanhava 52 crianças em Barauninha,
Papagaio e Malhada Grande, nesse mesmo ano. José Batista disse que o principal
objetivo da Associação era de reunir as pessoas da localidade para discutirem os
problemas, como, por exemplo, a limpeza das aguadas no período da seca através de
mutirão ou com buscando apoio da prefeitura.

Entre a população da localidade, a maioria não teve oportunidade de acesso às


escolas, no entanto, 2007, existiam apenas 11 analfabetos e 35 estudantes. Em 2009, a
Escola Municipal de Barauninha, teve 15 estudantes matriculados, sendo 14 no ensino
fundamental inicial e 1 na pré-escola. Em 2012 foram 14 no total, sendo 3 na pré-escola.
Nenhum deles precisou de transporte escolar.

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SETOR 03 - TIMÓTEO – MOCAMBO

Comunidades: Água Branca (Mercês foi inserida nessa comunidade), Fazenda,


Mocambo e São José.

Água Branca

A comunidade Água Branca, localizada sem comprovação no campo, na


coordenada 782.491E e 8.490.671N, situa-se próxima da comunidade Mucambo dos
Cardosos, na região sudeste do município de Tanque Novo, a 14 km, em linha reta, ou a
21 km, por estrada. Sem especificar datas, os moradores da comunidade disseram que as
primeiras pessoas a chegar foram: Joaquim Neto, Alfredo, Odília, Tasílio, José Pereira,
Pedro, Sinézio Vieira. De acordo com os relatos, a comunidade tem esse nome devido à
cor branca da água que fica empoçada em um tanque no período chuvoso.

A maioria das pessoas da comunidade concluiu o ensino fundamental inicial,


mas não foram encontradas informações sobre qualquer escola na comunidade Água
Branca mantida pela prefeitura de Tanque Novo, apesar dos moradores informarem que,
em 2007, 17 alunos estudaram na comunidade e 9 estudaram fora. Existe uma escola
mantida pelo município de Caetité, chamada Escola Municipal Rodrigues Lima,
localizada na fazenda Água Branca distrito de Caldeiras, mas não foi possível
identificar se é a mesma comunidade a que nos referimos nesse texto. De qualquer
forma, devido o relato dos moradores de que 17 alunos estudaram na comunidade em
2007, consideramos que há um prédio escolar na comunidade, que pode ser a mesma
escola mantida pela prefeitura de Caetité ou não, o que deve ser mais bem observado.
Em 2009 a Escola Rodrigues Lima apresentou 15 estudantes, 5 na pré-escola e 10 nas
séries inicias e em 2012 foram 21 estudantes, 5 na pré-escola e 16 nas séries iniciais.
Desses 21, 16 utilizaram transporte municipal escolar, sendo 4 provenientes de
residência urbana e 12 de residência rural.

Na comunidade há predominância da religião católica, sendo que, o primeiro


culto foi celebrado ainda na década de 1990 pelas seguintes pessoas: Valdeci, Pedro,
Raul e Rosana. Até o ano de 2007 as celebrações religiosas eram feitas no prédio
escolar.

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Nesse mesmo ano os estudantes do CETN observaram que a maioria das


famílias cultivavam mandioca, milho e feijão. Os artesanatos que se destacavam eram
crochê, bordado, carro de boi, fuxico e gamela de pau. As comidas típicas: beiju,
cuscuz, chimango, requeijão e bolo frito.

As cantigas de roda, que já foram muito praticadas, hoje estão mais raras, no
entanto, ainda existe o reisado, moda de viola, forró tocado na sanfona e na radiola. As
lendas sobre o lobisomem, a mula-sem-cabeça, o saci e o berrador também fazem parte
do dia-a-dia dos moradores. Por falta de médicos, quando uma mulher estava grávida,
não fazia o pré-natal e o parto geralmente era feito em casa. Eram utilizados remédios
caseiros para cuidar da saúde.

Existe uma comunidade chamada Mercês que está a 16 km em linha reta a


sudeste da sede de Tanque Novo, e a 23 km por estrada, após a Água Branca, cujos
moradores se consideram pertencentes à Paróquia da Catedral Senhora Sant’Ana, de
Caetité, apesar de estarem na área legal do município de Tanque Novo. Como a
animadora da comunidade Água Branca, Rosana Rosa de Jesus, é professora nas
Mercês, verificamos que existe uma relação entre as duas comunidades, por isso as
informações sobre Mercês foram inseridas neste texto sobre a comunidade Água
Branca.

A localidade Mercês I e a comunidade Mercês II se diferenciam, devido duas


escolas criadas. A escola de Mercês I foi inserida na coordenada 782.977E e
8.491.330N, sem confirmação no campo, mas esteve paralisada desde 2009. A escola da
comunidade Mercês II, localizada na coordenada 784.364E e 8.491.366N, denominada
Escola Municipal Nossa Senhora das Mercês, teve 18 alunos, 3 deles na pré-escola e 15
no ensino fundamental inicial; em 2012 foram 18 estudantes, 2 na pré-escola e 16 nos
anos iniciais. Em 2009 e 2012 três estudantes utilizavam transporte escolar municipal.

Segundo os moradores, as primeiras famílias que moraram em Mercês foram as


de Francisco, Paulo Borges e Geraldo, que teriam sido descendentes de escravos. De
fato, eles são certificados pela Fundação Cultural Palmares como uma comunidade
remanescente de quilombo, no entanto, por uma associação vinculada ao município de
Caetité. A origem do nome está associada à padroeira da comunidade, Nossa Senhora
das Mercês, mas a origem da mesma não foi informada.

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O povo é extremamente religioso. Em meio às dificuldades, tem na religião uma


perspectiva de futuro melhor. A comunidade realiza danças litúrgicas, festas de Santo
Antônio, de São Benedito e da padroeira Nossa Senhora das Mercês, no dia 24 de
setembro.

O líder religioso da comunidade informa que a capela ainda não está pronta, mas
os moradores realizam o culto todos os domingos, no período vespertino. Segundo o
mesmo, as celebrações ainda não contam com a participação ativa dos mais jovens, pois
estes não descobriram o caminho da fé. Uma demonstração do que seria essa fé
acontece nos períodos de seca prolongada, quando os moradores realizam orações e
levam pedras para a base do cruzeiro e do mandacaru, acreditando que serão atendidos
em seus apelos e receberão chuva.

Existem outros elementos culturais, como: roda de samba, cantigas de roda,


noites culturais com forró e batucada. O artesanato não se desenvolveu muito. As
comidas típicas são cuscuz, milho, tapioca com coco, chimango, bolo de puba,
pamonha, farofas, paçocas com milho torrado, farinha, pó de girassol, amendoim,
gergelim, semente de abóbora. Os moradores plantam mandioca e produzem farinha,
também plantam feijão, milho, batata, melancia, cabacinha, abóbora, caju, abacaxi,
capim, palma e cortam lenha para se sustentarem.

Fazenda

A comunidade Fazenda é recente, foi fundada em 1977 quando o bispo Dom


Eliseu visitou o município de Tanque Novo. Está localizada a 7 km da sede, na estrada
que liga a cidade ao povoado Jacaré, na coordenanda 773.025E e 8.494.250N. Segundo
as fontes orais da própria comunidade, consultadas pelos estudantes e professores do
CETN, os primeiros moradores foram: Renério Dias (do Boqueirão) e sua esposa Maria
Anunciação de Nossa Senhora (o Colônia), José Vitorino de Sousa e sua esposa Maria
Rosa de Jesus (irmã de Renério), o filho João José de Sousa e sua esposa Filomena
Caldeira de Melo (da Baraúna de Tim). Renério Dias e Maria Rosa eram irmãos de
outra Maria, mulher de Francino e de Ana Rita, todos filhos de João Dias. Segundo
Antenor Francisco Dias, filho de Maria de Melo Dias e Ermelino Dias Sobrinho, neto

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materno Vicente Caldeira e Ana Caldeira e paterno de Renério Dias e sua esposa Maria
Anunciação de Nossa Senhora, as três Marias citadas descendiam dos índios da região.

Recebeu o nome Fazenda em homenagem à fazenda de João Dias, pai dos


herdeiros, onde se criava gado e cultivavam-se pequenas plantações. A Fazenda foi
marcada pelos seguintes eventos: abertura manual de um tanque, implantação da energia
elétrica em 2002, construção de uma capela em 2003 e, mais recentemente, pela
construção da Escola Municipal de Fazenda, quando Hélio foi prefeito. Em 2009 essa
escola contava com 65 estudantes matriculados, sendo 15 na pré-escola e 50 no ensino
fundamental inicial. Em 2012 o número caiu para 47, sendo 6 na pré-escola e 41 no
ensino fundamental inicial. Nenhum desses estudantes precisaram do transporte público.
Existe uma localidade bem próxima à Fazenda, cujos membros são descendentes de
Renério Dias e alguns estudantes frequentam a escola da Fazenda, por isso foi inserida
nessa comunidade. Trata-se da Puba, localizada na coordenada 772.720E e 8.493.673N.

Segundo a pesquisa dos estudantes e professores do CETN, realizada em 2007,


cerca de 70 famílias formavam a comunidade Fazenda, a maioria delas beneficiadas
com cisterna nas casas e acesso a energia elétrica.

São tradições os festejos juninos e o festejo de Nossa Senhora Aparecida,


padroeira da comunidade, este comemorado com três dias de “novenas” e leilões no mês
de outubro. Na abertura dos festejos da padroeira a comunidade realiza diversas
brincadeiras tradicionais, como: desfile de bicicletas, caretas, pau de sebo, cabo de
guerra etc. A escola participa desses eventos e também realiza atividades culturais
relacionadas ao folclore.

Os pratos típicos da região são cuscuz, beiju de tapioca e canjica. No artesanato


se destaca a produção de colchas feitas de fuxico e toalhas de crochê. Antigamente eram
realizados forrós, nos quais dançavam homens com homens e se utilizavam os
instrumentos: sanfona pé-de-bode e viola.

A comunidade contava com flora e fauna ricas, que se modificaram bastante


devido ao desmatamento, às queimadas e à caça indiscriminada. O solo fértil está
ficando cada vez mais estéril, devido ao manejo inadequado.

Jacaré

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Jacaré é um povoado do município de Tanque Novo que fica a 12 km por


estrada e a 10 km em linha reta, no sentido sudeste. Segundo os moradores, os primeiros
habitantes foram índios, depois vieram escravos e os descendentes deles. Os mais
velhos dizem que a origem do nome está relacionada a uma lagoa onde se encontravam
muitos jacarés, que já não existem mais. Os nomes dos moradores mais antigos, que a
memória coletiva alcançou, foram: Liberato, Otaviano, D. Francisca, Domingos, D.
Maria Rosa, Belarmino e Ersília.

Entre os registros de nascimento dos moradores do Jacaré encontrados no livro


do cartório de Caldeiras, do fim do século XIX, nenhum deles é semelhante aos nomes
citados anteriormente. Os que se referem ao Jacaré são os seguintes:

Compareceu João Pereira de Carvalho, lavrador de Monte Alto,


para registrar seu filho e de Benedicta Romana de Oliveira,
costureira de Caldeiras: Izidro Pereira de Carvalho (n. 49, p.
16, 1889).

Compareceu Hygino Christino Pereira, lavrador, para registrar


seu filho e de Lizandra Candida de Jesus, fiandeira: Hermano
Hygino Pereira. Casaram em Caldeiras (n. 50, p. 16, 1889).

Compareceu Mariano Joaquim de Souza, lavrador, para


registrar sua filha e de Antônia da Conceição, costureira: Anna
Roza da Conceição (n. 75, p. 25, 1889).

Compareceu “Esnigdio” José da Silva, lavrador, para registrar


sua filha e de Maria da Conceição, costureira: Jesuíno José da
Silva. Avôs paterno: Ângelo Simão da Silva e “Visenoia”
Ferreira de Jesus. Avôs maternos: Eduardo de Tal e Anna
Pereira (n. 84, p. 28, 1889).

Compareceu Rafael Pereira da Silva para registrar sua filha e


de Maria Joana de Jesus: Maria dos Anjos (n. 270).

Compareceu Constantino Manoel Joaquim, para registrar seu


filho e de Anna Rita Maria de Jesus: Genésio Constantino dos
Santos (cor preta) (n. 434 de 13/05/1900).

As secas marcaram muito as pessoas da comunidade. A água é armazenada em


tanques e, depois que estes secam, só é possível obter água através dos poços semi-
artesianos e algumas vezes dos caminhões-pipa.

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No período seco os proprietários aproveitam para alargarem e limparem os


tanques. Nas fotos a seguir duas crianças pegam água para as criações e dois homens
limpam o tanque, utilizando um cavalo. Um dos homens fala o seguinte sobre a água:
“essa água aqui é meio condenada que ela vem da rua... é só pra o consumo de lavagem
de roupa, de ariagem de louça”.

Os moradores informam que, quando Jacaré fazia parte do município de Caetité,


tinha associação, mas, atualmente essa instituição já não existe, só existe um projeto
para reabri-la. A situação cadastral da Associação Beneficente e Comunitária da
Comunidade de Jacaré mostra que a mesma, criada em 29 de julho de 1998, se
encontrava ativa em 2005, demonstrando que mesmo depois de 20 anos da emancipação
do município de Tanque Novo, os moradores de Jacaré ainda se consideravam
pertencentes ao município de Caetité. O próprio governo estadual via o povoado de
Jacaré com pertencente à Caetité, pois, nas eleições de 2004, o TRE montou 2 seções
eleitorais no povoado de Jacaré, as seções 49 e 58, para os eleitores votarem nos
candidatos do município de Caetité. Nos últimos anos a prefeitura de Tanque Novo
atuou mais no povoado e modificou essa situação.

Apesar de várias casas antigas, construídas de adobe, os moradores consideram


que o povoado se desenvolveu muito, pois, agora existe telefone público, escola, creche,
capela nova, posto de saúde com médicos todos os dias, ambulância, energia elétrica e
algumas ruas calçadas. A Escola Municipal Ana Nery, localizada na coordenada
774.930E e 8.490.600N atendeu 97 estudantes em 2009, sendo que 21 deles estiveram
matriculados na pré-escola e 76 no ensino fundamental inicial. Em 2012 o número de
matriculadas caiu para 76, 15 na pré-escola e 61 no ensino fundamental inicial. Apenas
um estudante precisou de transporte em 2009 e 2012. Outras 33 crianças estiveram
matriculadas na creche Jacarezinho em 2009 e 11 em 2012.

Existia no povoado um posto de saúde que funcionava duas vezes por semana,
com atendimentos básicos, como: injeção, curativo etc. A partir de 1993, teve início o
Programa de Saúde na Família, PSF, com os médicos visitando o povoado, programa
esse que se desenvolveu, passando a ter médicos, dentista, enfermeiro e técnico de
enfermagem periodicamente. Em parceria com os agentes comunitários de saúde, essa
equipe leva conhecimentos básicos ao povoado, como: hábitos de higiene, alimentação
saudável e prevenção de doenças.

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Como atividade econômica os agricultores produzem feijão, milho e mandioca.


São plantados todos os anos na época da chuva, sendo que a mandioca é colhida depois
de um ano e meio. As comidas mais populares são derivadas dos produtos cultivados:
canjica, beiju, joão-duro e outros tipos de bolo, como bolo de farinha, de puba, além de
pamonha, cuscuz de milho, galinhada e sarapatel. Antigamente as pessoas só usavam
roupas de algodão tecidas por algumas moradoras, hoje compram as que estão
disponíveis no comércio, principalmente na feira de Tanque Novo, mas o artesanato
continua sendo feito por algumas moradoras, que utilizam a roca, fazendo a própria
linha. Algumas mulheres fazem cestas, esteiras e balaios. Quem mais se destaca no
artesanato é uma mulher conhecida por Maria da Baia. Ela fabrica toalhas, lençóis,
colchas, forros para estofados e desenha algo para enfeitá-los. O senhor Antônio de
Alvino também se destaca na fabricação de rodas de carro de boi. Outras pessoas que
receberam destaque dos moradores por serem considerados os principais responsáveis
pelo desenvolvimento do povoado foram Francisco Dias, delegado, enfermeiro, rezador
de via-sacra e gritador de leilão; Carlota; Amélia e José Pereira, inspetor.

Existem muitas tradições populares e religiosas: a Via Sacra na sexta-feira santa,


que deixa a igreja lotada de manhã, de tarde e de noite; a queima de Judas, no sábado de
aleluia; a reza do Coração de Maria, no mês de maio; o forró e a quadrilha nas festas
juninas; a romaria nos meses de agosto e setembro, quando os romeiros saem de Jacaré
com destino a Bom Jesus da Lapa; a reza do Coração de Jesus, em setembro; a missa de
Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, e, por último, a festa da Padroeira
Nossa Senhora da Conceição, comemorada no dia 07 de dezembro com brincadeiras,
tais como: corrida de bicicleta, caretas, bumba-meu-boi, pau-de-sebo, ovo na colher,
corrida de sacos, quebra cabaça etc, encerrando o dia com a novena e o leilão e, no dia
08 de dezembro, com a “Santa Missa” e procissão, havendo a participação de pessoas de
outras comunidades. Tem também as novenas de Natal; as lapinhas, o reisado,
comemorado no mês de janeiro, quando os reiseiros cantam de casa em casa,
arrecadando dinheiro para o dia de Santo Reis, quando tem festa de confraternização;

Há uma crença peculiar: a encomendação de almas. Esta é feita por um grupo de


mulheres do povoado, “as encomendadeiras de almas”, que rezam todos os anos na
Semana Santa nas comunidades de Rapadura e Jacaré, indo para o cemitério à noite,
cobertas com lençóis brancos, tocando um instrumento chamado “matraca” e entoando
cânticos religiosos. Essas mulheres acreditam que as pessoas falecidas em

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circunstâncias trágicas ou inesperadas estejam tendo dificuldades de se liberar da terra,


ou estejam padecendo de alguma maneira, portanto, consideram que é preciso o canto
para libertar estas almas.

As pessoas mais velhas contam que quando se aproxima a semana santa, o


lobisomem aparece para comer as crianças que não são batizadas, ou então, que a mula-
sem-cabeça entra nas casas e nos bares, pelo buraco da fechadura, e quebram todas as
garrafas de bebidas que encontra. As cantigas de roda, as caretas, os piqueniques e
festas, como: festa do marujo, festa da boneca de pano, festa do palhaço, festa da perna
de pau, festa dos mascarados, também ainda acontecem, mas, em muito menos
intensidade que antigamente. A atividade mais praticada atualmente é o futebol. Os
jogos acontecem aos domingos, com a participação de times de outras comunidades.
Esse esporte é muito prestigiado, pois traz diversão para quem joga e para quem fica na
torcida.

Mocambo
A comunidade Mocambo, Mucambo ou Mucambo dos Cardosos fica a 14 km a
sudeste da sede de Tanque Novo, em linha reta, ou a 20 km por estrada, na coordenada
781.587E e 8.490.163N. As localidades conhecidas por Alegre, Piedade e São Felipe
estão próximas ao Mucambo dos Cardosos, participam dessa comunidade e, por isso,
foram inseridas na mesma.
Segundo alguns moradores entrevistados pelos estudantes e professores do
CETN, um senhor denominado Cazuza teria sido um dos primeiros moradores e o
primeiro nome da comunidade teria surgido por influência dele, pois, quando se mudou
para o local, construiu uma casa de pau-a-pique, que vem a ser um dos significados da
palavra mucambo, ou seja, construção rústica. Outras fontes orais acham que o nome da
comunidade é decorrente de uma árvore que também se chamava Mucambo. Neves
(1998, p. 148) escreve que o termo diz respeito a “Couto de escravos fugidos, na
floresta”, “Quilombo”, podendo designar, também, o arbusto da família Rutaceae, o que
parece ser mais adequado à comunidade, segundo as afirmações dos moradores.
Como há outra comunidade Mucambo próxima, no município de Nossa Senhora
do Livramento, conhecida por Mucambo dos Malheiros, a essa comunidade de Tanque
Novo é acrescido o nome dos Cardosos para diferenciar da de Livramento. Esse
segundo nome é proveniente do sobrenome de uma das primeiras pessoas que teriam se
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instalado no local: o senhor Hermando Cardoso. Homem branco proveniente do


Fundão, atualmente em Paramirim, que construiu uma casa a 1 km da casa do senhor
Cazuza. A pessoa colocada em destaque na comunidade Mucambo é parente do senhor
Hermano Cardoso e chama-se Elpídio de Oliveira Cardoso, foi representante político e
juiz de paz da comunidade, considerado por alguns como o pai da comunidade de
Mucambo.

Alguns registros de nascimento do fim do século XIX, encontrados no livro de


registros do distrito de Caldeiras se referem ao Mucambo que parece ser o dos
Cardosos:

Compareceu Agostinho de Azevedo e Silva, para registrar sua


filha e de Luiza Maria da Conceição: Maria (n. 103, p. 35,
1889)

Compareceu Francisco de Paulo Magalhães para registrar


Maria, de cor preta, dele e de Sebastiana Maria de Jesus. Avôs
paternos: João Cardozo (falecido) e Getrudes Maria de Jesus.
Avó materna: Lizanda. Residem no Mucambo. Ass.:
Tranquilino Francisco de Prado, Gasparino dos Santos Chaves
(n. 173 de 12/05/1890).

Compareceu Leonel de Magalhães Cardozo, lavrador, natural


deste distrito, para registrar a filha Maria, nascida da esposa
Hermelina de Azevedo e Silva no dia 17/08/1890, na casa de
José Victorino de Azevedo, no Mucambo. Avôs paternos:
Joaquim Monteiro de Magalhães e Exupéria Maria de
Magalhães. Avôs maternos: José Victorino de Azevedo e Anna
Maria de Jesus. Casaram-se na casa de José Victorino de
Azevedo e residem no Mucambo. Ass.: Leonel de Magalhães
Cardozo, José Victorino de Azevedo e Antônio Saraiva (n. 196,
p. 75 de 24/08/1890).

Compareceu Leonel Magalhães Cardozo par a registrar seu


filho e de Hermelina de Azevedo e Silva (já falecida) chamado
Manoel. Ass.: José Cardozo Pereira – 38 anos e Antônio da
Silva Primo – 71 anos (n. 280)

Compareceu Coronel Leonel de Magalhães Cardozo para


registrar seus filhos com Hermelina de Azevedo e Silva (já

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falecida): João (10/02/1900), Antônio (05/03/1902) e Carolina


(15/10/1903). E com Anna Mossona de Oliveira: José
(15/10/1914) (n. 334, 14/11/1915).

Compareceu Joaquim Magalhães Cardoso Júnior para registrar


seus filhos com Amélia Roza de Oliveira: José (25/01/1909),
Jovino (10/03/1911), Abélio (29/09/1912) e Anna do Rego
(03/1914) (n. 335)

O registro n. 196 (p. 75) nos informa que o casal Exupéria Maria de Magalhães e
Joaquim Monteiro de Magalhães eram pais de Leonel de Magalhães Cardozo, e que esse
se casou com a filha de um morador do Mucambo, José Victorino de Azevedo. Não
sabemos qual a origem do sobrenome Cardozo de Leonel, mas, diante das informações
pesquisadas, inferimos que seus pais seriam provenientes do Saco dos Furados ou
Vereda do Duquinha, pois, vimos no texto sobre o Alecrim que Joaquim Monteiro de
Magalhães comprou, juntamente com Umbelino José Gomes, parte de Saco dos
Furados, em 1876, e que o neto de Exupéria, João, citado no registro n. 334, se casou
com a neta do Prudenciano Alves Carneiro, Maria da Conceição, filha de Ana Bela,
moradores dos Furados, atual sede de Tanque Novo. Prudenciano era irmão de uma
mulher chamada Exupéria, que, segundo as fontes orais, seria mulher de um homem
cujo apelido era Duquinha. Como os casamentos entre primos eram comuns, pressupõe-
se que Duquinha seria o apelido do senhor Joaquim Monteiro de Magalhães e que este
teria se casado com a irmã de Prudenciano, portanto, Maria e João seriam primos
segundos, uma hipótese que carece de comprovação.

A família de José Cardoso Pereira, que assina o registro 280, foi próxima a
família Carneiro, pois, como vimos no texto sobre o Alecrim, o patriarca desta, José
Joaquim Carneiro, teria sido criado por alguém da família Cardoso, talvez o próprio
José Cardoso Pereira. Vimos no texto sobre a comunidade São José, que o Mucambo
dos Cardosos esteve relacionado de alguma forma a fazenda São José, onde residiu o
senhor José Cardoso Pereira, desta forma, se a definição deste Mucambo estivesse mais
ligada ao proposto por Neves, um Quilombo, São José poderia ter sido a fazenda da
qual fugiram os escravos que o formaram, o que não passa de uma hipótese que deve ser
mais bem estudada.

Segundo Neves, Joaquim Cardoso Pereira, que tem o mesmo sobrenome de José
Cardoso Pereira, e o senhor José Victorino de Azevedo, morador do Mucambo, eram

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pessoas influentes, pois, Joaquim ficou em primeiro lugar em 1885 nas eleições para
juiz de paz no distrito de Canabrava dos Caldeiras, com 21 votos e José em segundo,
com 20 (Neves, 2008, p. 42). Em 1889 o senhor José Vitorino de Azevedo foi membro
da Comissão de Socorros de Caetité, que visava “construir obras públicas em larga
escala” (NEVES, 2008, p. 216), juntamente com Francisco Joaquim de Souza Lalau, da
comunidade São Domingos, Antônio Joaquim Saraiva, da comunidade Bom Sucesso,
que assina o registro 196, e José de Magalhães e Silva.

Segundo Neves, os Cardoso Pereiras estão entre algumas famílias que


“povoaram Canabravinha, na extinta freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro
do Fogo, então município de Rio de Contas (hoje Paramirim)” (2008, p. 109) e era dona
de terras da freguesia de Caetité, conforme vemos neste outro trecho:

No registro de terras da freguesia de Caetité, de 1854-1859,


entre muitos herdeiros e compradores encontravam-se nomes
de família como: Batista Ramos, Batista de Souza, Caldeira da
Silva, Cardoso Pereira, Lopes de Oliveira, Rodrigues Ladeia,
Xavier Cotrim, Vilasboas, Xavier do Rego (NEVES, 2003, p.
325).

Até hoje Caldeiras é distrito de Caetité e os pesquisados da comunidade


disseram que a mesma ainda pertencia ao município de Caetité quando o representante
político do município de Caetité era José Neves Teixeira, de 1963 a 1967. Com a
criação do município de Tanque Novo em 1985, essa comunidade passou a ter um ponto
de apoio mais próximo do que a distante cidade de Caetité, passando a pertencer a
Tanque Novo.

A forma encontrada pelos moradores para aproveitar a terra, no clima semi-


árido, foi plantando mandioca. Eles criaram uma economia baseada na agropecuária,
sendo a feita de farinha a atividade principal. As famílias se uniam na árdua tarefa de
raspar, moer, prensar, secar e torrar a mandioca, para transformá-la em farinha, o que se
faz até hoje, com o auxílio do processo mecanizado. Além da farinha, a mandioca
também é matéria-prima do polvilho produzido por eles.

Como atividade econômica da comunidade destaca-se também a fabricação de


carros-de-bois, a caça, a produção de carvão e a mineração, de onde já se extraíram

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minérios para exportação, a confecção de crochê, de bordados, de chapéus de palha e a


fabricação de candeeiros.

Na localidade Alegre, Anita se destaca na arte de fazer bolsas. Lá se encontram


alguns caldeirões naturais que atualmente são usados por diversas famílias para o
abastecimento de água. Além destes os tanques artificiais espalhados pela comunidade
ajudam na captação e armazenamento da água das chuvas. A localidade Alegre fica
próxima a Mucambo dos Cardosos e mantém relações com o mesmo, levando-nos a
inseri-la nesta comunidade. O próprio nome Alegre remete à principal dessas relações.
Os moradores relatam que os primeiros batizaram o lajedo de Alegre, porque gostaram
muito do lugar onde se encontra, com enormes caldeirões, que se enchem de água no
período chuvoso, transformando-se em um verdadeiro balneário, o que atualmente atrai
os vizinhos do Mucambo.

No período seco, a quantidade de água que evapora é maior que a quantidade


que precipita, fazendo com que o volume de água diminua. A água que permanece no
período seco tem alto teor de matéria orgânica e fica esverdeada, pois se torna um
ambiente propício para a reprodução das algas, que eutrofizam as lagoas, deixando
assim o Alegre triste. Outro fato marcante para os moradores, fonte de tristeza para o
Alegre, foi a morte de duas irmãs pequenas dentro de um dos caldeirões.

Segundo os moradores atuais do Alegre, os primeiros a residirem no local eram


brancos e vieram de Salvador, foram: Marciano Rodrigues da Silva, Amélia Rosa da
Silva, José Cândido da Silva e Maria Rosa da Silva. No livro de registros de
nascimentos de Caldeiras encontramos o registro n. 207, de 05 de novembro de 1890,
referente à Alegre, com um sobrenome igual ao do Marciano, citado pelos moradores.

João Rodrigues da Silva nasceu no dia 30/10/1890, na


casa do pai Candido Rodrigues da Silva, lavrador
natural de Rio de Contas, e Maria Roza da Silva,
natural de Rio de contas. Casaram-se no Alegre na casa
de Francisco Rodrigues da Silva. Avôs paternos: Luiz
Joaquim da Silva e Angélica Rodrigues da Silva. Avôs
maternos: Francisco Rodrigues da Silva e Francisca da
Silva Pereira. (p. 80).

Outros registros da mesma época, que contêm o sobrenome Rodrigues da Silva,


se referem às seguintes localidades: Lagoa Nova, Piedade e Rapadura, todas do então
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distrito de Caldeiras, agora na área do município de Tanque Novo, o que indica, através
dos laços de parentesco, relações sociais dinâmicas na região que compõe atualmente o
município.

Os moradores informam que uma estiagem ocorrida no ano de 1951 ocasionou a


morte de quase todo o gado e ovelhas, mas atualmente existem alguns rebanhos. Eles
utilizam a água do lajedo para consumo, mas a localidade tem água encanada desde
2003, proveniente de um poço. A energia elétrica, proveniente de um sistema de
captação de energia solar, foi disponibilizada a partir de 2006. Existem cultivos de
mandioca, milho e feijão por meio de técnicas não adequadas ao solo.

A população do Mucambo dos Cardosos é predominantemente católica e a


religiosidade é traço forte da cultura local. No ano de 1993 foi construída uma pequena
capela, cujo padroeiro é Cristo Rei. Antes de a capela ser construída, os cultos eram
celebrados na escola, havendo freqüentemente cultos e missas, às quintas-feiras e aos
domingos. A religião conta com catequese e realiza festejos tradicionais. A festa mais
religiosa é a do Senhor Bom Jesus, comemorada no dia 6 de agosto, as outras são mais
populares. Apesar do catolicismo, Manoel Celestino Alves, um curador muito
procurado pelas pessoas doentes, se encontra vivo na memória dos moradores do
Alegre.

No Mucambo dos Cardosos há um prédio escolar, a Escola Municipal do


Mucambo, para o município de Tanque Novo, que, segundo o boletim de urna do TRE,
2008, se chama Escola Municipal Nova Esperança. Nela funciona o ensino fundamental
até a quarta série e, em 2009 teve 13 alunos matriculados, que não utilizaram transporte
escolar, sendo 3 na pré-escola. Em 2012 foram 8 matriculados, 1 na pré-escola e 7 no
fundamental inicial, com um deles utilizando transporte escolar. Nesse mesmo prédio,
acontecem as reuniões da Associação Comunitária e Beneficente dos Produtores Rurais
de Mucambo, inaugurada em 04 de fevereiro de 1998, que tem como objetivo trazer
benefícios à comunidade, como, por exemplo, o telefone público que funciona através
de energia solar e a casa de farinha, construída em 1993.

Os moradores de Alegre são representados pela Associação do Capão dos


Cardosos e a escola que crianças e adultos freqüentam também fica no Capão.
Conforme os depoimentos, Capão se encontra no município de Caetité, a 1 km de
distância de Alegre. Não foi possível localizar nenhuma das duas no mapa de Tanque

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Novo, mas, localizamos Alegre na coordenada 780.791E e 8.486.736N, que precisa


ainda ser confirmado no campo. Devido à relação com Capão, procuramos algumas
informações sobre esse lugar e descobrimos que os primeiros moradores teriam sido os
irmãos José Augusto Cardoso, um homem religioso e católico, e Joaquim de Oliveira
Cardoso, que morreu aos 62 anos, vítima de depressão. Capão teria sido habitado por
escravos e seus descendentes, que cultivavam mandioca, feijão e milho. Atualmente a
população continua plantando esses produtos, porém, em menor quantidade, com
exceção da mandioca, que ainda é bastante produzida. No Capão existe um poço semi-
artesiano que abastece a população local.

Segundo os moradores, existia na região do Mucambo dos Cardosos um grande


fazendeiro chamado Felipe, que vendeu seu gado para o senhor Quincas, o qual acabara
de mudar para essa região, juntamente com sua família. Felipe foi residir em outro local,
mas, em homenagem a esse homem, Quincas passou a chamar as terras de São Felipe.
Os primeiros moradores da localidade conhecida atualmente por São Felipe teriam sido
Quincas e família, Elpídio e família. A falta de informação dos sobrenomes dificultou a
identificação da origem dos mesmos. Da mesma forma que no Alegre, não foi possível
obter a localização exata de São Felipe, que, preliminarmente, foi inserida na
coordenada 783.152E e 8.485.385N, que precisa ser comprovada no campo.

Assim como Água Branca, essa comunidade pertencente a Tanque Novo, mas
possui uma escola administrada pelo município de Caetité, a Escola Lírio do Vale. Em
2009 essa atendeu 9 estudantes, sendo 1 na pré-escola e 8 até a quarta série. Em 2012
foram matriculados 7, com apenas 2 na pré-escola, sendo todos atendidos pelo
transporte escolar, 2 residentes na cidade e 5 no campo. A prefeitura de Caetité também
abriu dois poços artesianos, construiu uma barragem e disponibilizou energia solar,
como fonte de energia elétrica, para alguns moradores de São Felipe. Não existe posto
de saúde na comunidade, no entanto, os agentes comunitários dão assistência médica. A
taxa de natalidade está em torno de cinco nascimentos por ano.

Os produtos mais cultivados na localidade são milho, feijão, mandioca e


hortaliças. Na culinária o prato típico que mais se destaca é a feijoada. Antigamente se
produzia em média 70 sacos de farinha por hectare, atualmente esse número caiu para
30 sacos. A mesma decadência vem acontecendo com as safras de feijão e de milho, na
maior parte, devido ao desgaste do solo, decorrente das queimadas e do desmatamento.

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Como destaque na natureza, os moradores também citam os lajedos de pedra,


acrescentando que eles teriam sido feitos por escravos. Eles dizem que o maior teria
sido feito há 350 anos e tem as dimensões aproximadas de 6,8 metros de profundidade,
18 de comprimento e 10 de largura.

Outra localidade chamada Piedade, informada no registro de nascimento de


Silvina, foi inserida na comunidade Mucambo dos Cardosos, pois, segundo as
informações orais coletadas através de moradores da cidade de Tanque Novo, se
encontrava próximo do Mucambo dos Cardosos. A localização ainda não foi definida no
campo, mas está no mapa na coordenada 782.464E e 8.489.390N, que precisa ser
confirmada. O registro de nascimento se refere aos pais de Roza da Silva Pereira, esposa
de Umbelino José de Magalhães, como moradores da Piedade.

Compareceu Leonel Monteiro de Magalhães, para registrar a


filha de Umbelino José de Magalhães – lavrador de Água
Quente – e Roza da Silva Pereira: Silvina. Casaram-se na
Piedade em casa de Gordiano. Avôs paternos: Claudino José de
Magalhães e Anna Luiza das Neves. Avôs maternos: Gordiano
Rodrigues da Silva e Maria da Silva Pereira (n. 87, p. 29,
02/09/1889).

Outros registros encontrados nos livro de Caldeiras se referem à Piedade e neles


encontramos mais informações que relacionam Piedade com a comunidade Mucambo
dos Cardosos:

Compareceu Clemente Ferreira da Costa – lavrador – para


registrar seu filho e de Victoria Ferreira de Jesus – fiandeira:
Francisco Ferreira da Costa (n.12, p. 4, 1889).

Compareceu Francisco Lopes Sobrinho – lavrador – para


registrar sua filha e de Joana Pereira da Silva: Maria. Avôs
paternos: Antônio Lopes da Silva e Maria Roza de Jesus. Avôs
maternos: Gordiano Rodrigues da Silva e Maria Pereira da
Silva (n. 106, p. 37, 1889).

Compareceu Victorino Rodrigues da Silva – lavrador – para


registrar seu filho e de Francisca de Azevedo e Silva, casados
no Mucambo: Gordiano Rodrigues de Azevedo, que nasceu na
casa do pai no dia 09/02/1891. Avôs paternos: Gordiano

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Rodrigues da Silva e Maria da Silva Pereira (já falecida). Avôs


maternos: José Victorino de Azevedo e Anna Maria de Jesus
(n. 208, p. 80, 29/03/1891).

Compareceu Victorino Rodrigues da Silva – lavrador – para


registrar seu filho e de Francisca de Azevedo e Silva, casados
no Mucambo: Joaquim, que nasceu na casa do pai. Avôs
paternos: Gordiano Rodrigues da Silva e Maria da Silva Pereira
(já falecida). Avôs maternos: José Victorino de Azevedo e
Anna Maria de Jesus (n. 248).

Compareceu Antônio Rodrigues de Azevedo para registrar seu


filho e de Umbelina Laurado de Azevedo Cruzado: José que
nasceu em 19/03/1911 e Josias que nasceu em 1913, de acordo
com Lei 1986 (07/03/1888) e Decreto 2889 (25/11/1914) (n.
292 e 307).

Compareceu Signésio Rodrigues de Azevedo para registrar seu


nascimento na Piedade, dia 28/01/1895 e de sua consórcia
Maria Roza da Silva no Cobra, dia16/01/1895. Pais dele:
Victorino Rodrigues da Silva e Francisca de Azevedo e Silva.
Pais dela: João Batista de Souza e Hermelina Rosa da Silva (n.
424).

Entre os festejos populares do Mucambo, os moradores destacam: São João, São


Pedro, festejos natalinos e cantiga de Reis. O São João é muito festejado na
comunidade, especificamente no dia do santo, 24 de junho. Essa festa é comemorada
com muitas fogueiras em frente das casas, seguidas por rituais de fogos de artifício e
acompanhada de comidas típicas, tais como: pipoca, canjica, doces e assados.
Diferentemente do padrão da região, em que o forró predomina na cultura local o estilo
de dança principal do Alegre é o samba. Em relação à cultura do Alegre o senhor João
também se destaca nos desafios e cordéis. Os moradores da comunidade também
comemoram o folclore e realizam torneios de futebol, formando os times entre solteiros
e casados. As brincadeiras das crianças são cabra-cega, esconde-esconde, amarelinha,
de casinha, boneca, peteca, ciranda-cirandinha, atirei o pau no gato, fui no tororó etc.

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Queimadas do Jacaré

Segundo os moradores a origem do nome da comunidade está relacionada a um


grupo de caçadores que se abrigou em um lajedo, acendeu uma pequena fogueira para
se aquecer e que, depois de um dia cansativo, acabaram adormecendo. O fogo se
alastrou pela vegetação seca queimando boa parte da área do lajedo. Diante disso, o
primeiro morador deste local, referido como Domingo, passou a chamar a pequena
região de Queimadas. Devido à proximidade do povoado do Jacaré e por existir outra
comunidade com o nome Queimadas no município, essa ficou conhecida por
Queimadas do Jacaré.

Após o falecimento do senhor Domingo, sua família foi residir em outro lugar,
dando espaço para o segundo morador de Queimadas, Pedro Silva Pereira, que se tornou
dono de um armazém e delegado. Ele foi descrito como um homem rigoroso e valente,
que, nas épocas de chuva, mandava plantar arroz e feijão, promovendo o crescimento da
economia local. O senhor Pereira mandou construir uma escola, dando-lhe o nome de
Escola Municipal Tiradentes. Desta forma, a comunidade também passou a ser
conhecida como Queimadas de Tiradentes.

Alguns registros de nascimento do Livro de Caldeiras nos informam sobre a


presença de José Xavier de Magalhães, capitão Vitorino Cardozo Pereira, Manoel Lopes da
Costa e família, Belarmino da Silva Pereira e família, José Francisco Dias e família, Zeferino
Antônio das Neves e família, na comunidade, em 1889.

Compareceu Enedino da Silva Pereira, lavrador, para registrar


seu filho e de Maria Joanna do Portugual, costureira: Benvindo
da Silva Pereira. Casaram-se nas Queimadas, na casa do senhor
José Xavier de Magalhães (n. 33, p. 11, 1889).

Compareceu Cassiano de Oliveira Cardozo, lavrador, para


registrar sua filha e de Maria Angélica de Jesus, costureira:
Amélia Maira de Jesus. Casaram-se em Queimadas na casa do
finado capitão Vitorino Cardozo Pereira (n. 41, p. 13, 1889).

Compareceu Manoel Lopes da Costa, lavrador, para registrar


seu filho José Antônio da Costa e Joana Maria do Parazzo,
costureira (n. 24, p. 8, 1889)

Compareceu Belarmino da Silva Pereira, lavrador para registrar


seu filho e de Maria Francisca de Jesus, costureira: Manoel da
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Silva Pereira. Cazaram-se no Taboleirinho em casa de Ana


Maria Roza de Jesus (n. 34, p. 11, 1889)

Compareceu José Francisco Dias para registrar seu filho e de


Maria Francisca da Conceição: José Antônio de Oliveira. Avôs
paternos: João Francisco Dias e Jesuína Maria de Jesus. Avôs
maternos: Honorato de Leles do Nascimento e Galdina Maria
de Jesus, costureira (n. 59, p. 19 e 20, 1889).

Compareceu Zeferino Antônio das Neves, lavrador para


registrar seu filho e de Maria Joana de Jesus, que nasceu morto.
Avôs paternos: Antônio Marques das Neves e Eduvirgens de
Jesus. Avôs maternos: Benedicta (n. 97, p. 33, 1889).

José Xavier de Magalhães era casado com Ana Rita das Neves, irmã de
Umbelino José de Magalhães, filha de Claudino José de Magalhães e Anna Luiza das
Neves, citados nos textos sobre Alecrim, Mucambo, Rapadura e Várzea da Madeira. O
registro 41 está relacionado com Queimadas apenas pelo capitão Vitorino, pois
Cassiano de Oliveira Cardozo morou em São José.

A economia é baseada na agropecuária e alguns moradores realizam a fabricação


de carvão. No artesanato a comunidade se destaca com a produção de colchas feitas de
fuxicos e retalhos de pano. As comidas típicas são feijoada, beiju, cuscuz etc.

Em 2009, 18 alunos estudaram na Escola Municipal Tiradentes, sendo 4 deles na


pré-escola e o restante até a quarta série. Nesse ano dez estudantes utilizavam transporte
escolar para chegar à escola da comunidade. No ano de 2012 o número de estudantes
caiu para 13, sendo 1 na pré e 12 no fundamental inicial e apenas 8 passaram a utilizar o
transporte. Devido ao pequeno número de habitantes, a comunidade não se destaca
muito entre as outras, mas, mesmo assim, conta com assistência médica e educação de
qualidade, na opinião dos moradores.

São José

São José fica a 12 km por estrada e a aproximadamente a mesma distância em


linha reta da sede de Tanque Novo, no sentido sudeste, coordenada 781.685E e
8.495.425N. Segundo as fontes orais, os primeiros moradores teriam sido a senhora
Maria, proveniente da região de Caldeiras e os senhores José Augusto, Jupero, Ângelo

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Demeto e Claúdio. Esses teriam sido os principais responsáveis pelo povoamento local,
sendo que, as 88 pessoas presentes na comunidade no ano de 2007 seriam descendentes
desses primeiros moradores. Segundo os moradores, a comunidade teria recebido o
nome de São José em homenagem ao senhor José Augusto

Não foram informados os sobrenomes desses considerados primeiros moradores,


o registro mais próximo a esses nomes encontrado foi o de nascimento de Ângelo, filho
de José de Souza Baptista e Ermina da Silva Vianna (n. 293), que pode ser ou não o
Ângelo Demeto, referido. Encontrou-se também o seguinte registro sobre um
homônimo de José Augusto que nasceu nas Queimadas e talvez se refira a mesma
pessoa:

Compareceu Zeferino Monteiro de Magalhães, lavrador para


registrar seu filho e de Maria Roza de Jesus, costureira: José
Augusto de Magalhães. Casaram-se no São José na casa do
senhor Martiniano Xavier Malheiro (n. 42, p. 13 e 14, 1889).
Avôs paternos: Martiniano Xavier Malheiro e Anna Joaquina
(registro de outro filho José, n. 443)

Caso seja esse o José Augusto referido pelos moradores, verifica-se que a
existência da comunidade é bem mais antiga do que relatam os moradores atuais, pois
Martiniano Xavier Malheiro seria avô de José Augusto e já residiria no local bem antes.
Conforme o registro 185, José Cardoso Pereira também morou no lugar São José, do
distrito de Caldeiras, termo de Caetité, onde, provavelmente o senhor José Joaquim
Carneiro, filho do Bento Carneiro, que deu origem a família Carneiro do município de
Tanque Novo, tenha sido criado por um homem da família Cardoso:

compareceu Juvêncio Alves Carneiro, lavrador, natural de


Cannabrava, para registrar o filho dele e de Dona Arlinda
Francisca Gomes, natural de Macaúbas, nascido no dia
15/06/1890, Antônio Alves Carneiro [...] avôs paternos: José
Joaquim Carneiro e Clemencia Maria de Jesus [...] avôs
maternos: Umbelino José Gomes e Francisca Maria de Jesus, já
falecida [...] Casaram-se na casa de José Cardoso Pereira no
lugar São José, deste districto e rezide actualmente na Lagoa da
Pedra, do termo de Macaúbas (registro n. 185 de 22/06/1890,
localizado na p. 70 do livro n.1 de Caldeiras).

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Uma fazenda denominada São José é apresentada no mapa do IBGE (1962) bem
próxima à comunidade Mucambo dos Cardosos, o que nos faz pensar que a comunidade
São José tenha origem nessa fazenda São José, que pode originado também o Mucambo
dos Cardosos, conforme vimos no texto sobre este. A localização atual da comunidade
São José e da fazenda São José no mapa é menos próxima que desta fazenda em relação
ao Mucambo. Em outros registros que se referem à São José foram encontrados nomes
de pessoas da família Cardoso Pereira:

Compareceu Alípio Cardoso Pereira, para registrar seu filho e


de Maria Francisca de Jesus: Flávio Cardoso Pereira. Avôs
paternos: Joaquim Cardoso Pereira e Anna Joaquina de Jesus.
Avôs maternos: Francisco Cardoso Pereira e Francisca Maria
de Jesus (n. 220, 15/11/1891).

Outras famílias que estavam presentes na comunidade São José no fim do século
XIX foram de: Cassiano de Oliveira Cardozo, que tinha relação com a comunidade
Queimadas, e Geronimo Leles do Nascimento, conforme observamos nos registros a
seguir:

Compareceu Cassiano de Oliveira Cardozo, lavrador, para


registrar sua filha e de Maria Angélica de Jesus, costureira:
Amélia Maria de Jesus. Casaram-se em Queimadas na casa do
finado capitão Vitorino Cardozo Pereira (n. 41, p. 13, 1889).

Compareceu Geronimo Leles do Nascimento, lavrador para


registrar seu filho e de Francisca “Roza” da Conceição,
costureira: Cassiano Leles do Nascimento. Avôs paternos:
Clemente de Leles e Justiniana Maria de Jesus. Avôs maternos:
Martiniano Vieira de “Aquino” e Roza Maria da Conceição (n.
58, p. 19, 1889).

Um documento citado por Neves, escrito em 1916 e reproduzido no texto sobre


a comunidade Pé do Morro II, nos informa sobre a existência de um homem chamado
Serafim Gaspar, em 1810, em São José, que, pode ser o local tanto da comunidade São
José ou da fazenda São José. Através desse levantamento resumido sobre as famílias do
fim do século XIX, presentes na comunidade, percebemos que os relatos dos moradores
deixam a desejar sobre a história local, que deve ser mais bem estudada.

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Em 2007 já existia na comunidade capela, escola, poço artesiano, casa de


farinha, associação etc. Ainda não estava ligada a rede de energia elétrica, mas os
moradores utilizavam o lampião ou a energia solar para iluminação. Em 2007
apresentava 6 pessoas analfabetas, aproximadamente 10 estudantes na escola da
comunidade, Escola Leovegildo Cardoso Oliveira, e trinta estudavam na sede. A partir
de 2009 a escola esteve paralisada.

Os primeiros moradores sobreviviam plantando mandioca, milho, feijão, arroz,


alho, cebola, tomate, cenoura e beterraba, mas hoje eles cultivam só o feijão, milho e
mandioca, separando alguma parte para vender. A mandioca era processada na casa de
farinha, cuja roda era movida a cavalo, depois se retirava o líquido da massa e colocava
a mesma em uma fornalha de pedra, para obter farinha ou beiju. Hoje esse processo é
facilitado pelo uso de motor. Muitas artesãs faziam fuxico, ponto de cruz, chapéus de
couro, roupas de algodão etc. Hoje, apenas a moradora Doraci se destaca,
confeccionando tapetes e almofadas.

Um fato marcante para a comunidade foi a reza da Via-Sacra na casa de Ângelo


Demeto, rezada m sua casa, pois não tinha capela. Essa tradição foi passando de geração
em geração, acontecendo atualmente na capela. O senhor Manuel Messias é considerado
a autoridade da comunidade na atualidade. Os moradores também trazem vivo na
memória uma árvore chamada sapateiro, que ganhou esse nome porque um homem, que
fabricava sapatos, morava nela.

Outro lugar importante para a comunidade é um tanque no qual as famílias


pegam água, chamado Caldeirão de Maria, pois Maria, uma das primeiras moradoras,
cuidou muito desse tanque. A água é escassa devido ao não armazenamento adequado
da mesma, na época das chuvas. Também há umas pedras na estrada, que se encontram
uma em cima da outra, prestigiada pelos moradores, pois lembram o morro da cidade de
Bom Jesus da Lapa – BA. Em relação ao meio ambiente constatamos a caça
indiscriminada, que faz com que os animais de antigamente quase não existam mais.

Os moradores mais antigos contam que para irem à cidade vender farinha, fazer
compra, ou procurar o médico, tinham que sair bem cedo, a pé, em carro-de-boi, de
jegue ou a cavalo, por isso, também trocavam produtos com as comunidades vizinhas e,
na maioria das vezes, preferiam utilizar remédios feitos de ervas. Em 2007, 3 pessoas da

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comunidade sofriam de diabetes, 15 de pressão alta e 10 de pressão baixa, segundo os


moradores.

Na comunidade só existe uma família evangélica, o restante das pessoas são


católicas. Todos os sábados acontecem os encontros de catequese para a crisma e para a
primeira eucaristia e, aos domingos, tem o culto na capela. No Natal, algumas pessoas
montam presépios e convidam os vizinhos e pessoas de outras comunidades para
participarem de uma missa e do reisado, que é tradição na comunidade. A partir do ano
2000, alguns moradores compraram instrumentos e criaram um grupo de reis local, mas
este durou apenas 4 anos, pois um dos membros teve depressão, então, a comunidade
voltou a receber os reiseros de outros lugares, como já fazia antigamente.

A festa religiosa do padroeiro da comunidade, São José, acontece todo ano.


Antes da celebração da Santa Missa, no dia 19 de março, fazem novena para arrecadar
dinheiro, e, no dia anterior, celebram a ladainha e o ofício. No dia da Santa Missa,
começam com a busca da bandeira e a procissão, entoando cânticos a São José, com o
andor do mesmo sendo carregado por quatro homens chamados José. Um homem se
veste de São José, uma mulher se veste de Maria e as crianças se vestem de anjos. Antes
de terminar a missa é narrado um cordel sobre a vida do Santo São José, de autoria de
Lucinéia Azevedo Santos. Há também a tradição de fazer fogueira na noite anterior ao
dia de São João Batista e convidar os vizinhos e amigos para crismar os filhos na
fogueira, tornando-se compadres.

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SETOR 04 - LUCAS – UNIDOS EM PAULO

Comunidades: Baraúnas, Colônia, Pedrês, Rapadura e Unidos em Paulo.

Baraúnas

Baraúnas é o nome da comunidade que agrega as diversas localidades


conhecidas pelo mesmo nome, que estão na mesma região. Está a aproximadamente 7
km a sudoeste da sede Tanque Novo, na coordenada 767.722E e 8.495.436N, na
margem da estrada que liga a cidade de Tanque Novo ao distrito de Caldeiras. A
comunidade tem o mesmo nome da fazenda que a deu origem, decorrente das muitas
árvores Baraúnas que existiam.

Baraúna I ou Baraúna dos Quirinos é conhecida assim devido à presença do


sobrenome Quirino entre os primeiros moradores. Esses eram de origem
afrodescendente, são eles: João Quirino, Bastião Quirino, Pompílio, Emílio, Vicente
Caldeira, Leni Rodrigues e Conrado Rodrigues Costa e a comunidade conta atualmente
com seus descendentes.

Alguns registros de nascimentos, que se referem a Baraúnas como pertencente


ao distrito de Caldeiras no fim do século XIX, mostram algumas pessoas indicadas
pelos moradores atuais:

Compareceu Ângelo Ferreira dos Santos, lavrador, para


registrar sua filha e de Luzia Maria da Conceição, costureira:
Virgínia Maria da Conceição (n. 20, p. 6 e 7, 1889).

Compareceu Ildefonso Mamede da Silva, lavrador para


registrar sua filha e de Amélia Maria da Conceição: Anna
Joaquina da Conceição nascida no dia 23/10/1890, Joaquim no
dia 12/01/1894, Maria no dia 30/07/1897. Avôs paternos:
Francisco Mamede da Silva e Joanna Maria da Conceição.
Avôs maternos: Joaquim Antônio Alves (da Silva, n. 326) e
Anna Joaquina da Conceição (n. 205, p. 79 e n. 326).

Compareceu Vicente Caldeira (Vianna, n. 306) da Silva para


registrar seus filhos e Anna Theresa de Mello: Deraldina
Theresa de Mello (n. 231), Innocencia (n. 250), Octacílio (n.
306). Avôs paternos: Francisco Caldeira da Silva e Francisca

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Maria. Avôs maternos: Antônio Rodrigues da Costa e


Inocência Thereza de Mello (n. 401).

Compareceu Joaquim Rodrigues da Costa para registrar seu


filho e de Maria Josepha da Conceição: José Joaquim Alves (n.
238).

Compareceu Camillo Rodrigues da Costa para registrar seu


filho e de Maria Francisca da Conceição: Hermelino Rodrigues
de Magalhães (n. 436 de 1886).

Ao lado da comunidade Baraúna de Tim, encontra-se um poço semi-artesiano


aberto em 1995, que deu água salobra. Sendo assim, em 1999, um novo poço semi-
artesiano, mas, apresentou vazão insuficiente. Na busca por água, outro poço foi aberto
em 2001 a 1km a sudoeste da Baraúna de Tim e apresentou condições desejáveis, no
entanto passou a contribuir também com outra localidade conhecida por Baraúna dos
Abreus. O nome Abreus é utilizado para diferenciar essa localidade, também conhecida
por Baraúna II, da Baraúna I. O poço artesiano da localidade Baraúna II está na
coordenada 766.983E e 8.494.831N.

O nome também é uma homenagem à família do senhor Leonel Abreu,


proveniente de Igaporã. Como as terras não tinham proprietário, o senhor Leonel, cuja
esposa se chamava Isabel, se apropriou das mesmas. Os filhos do casal continuaram
morando na Baraúna II e depois vieram outras pessoas, como, por exemplo, José
Vaqueiro, Norato, Josefina, Docha, afrodescendentes, e Horácio Pereira Gama.

Como as localidades denominadas Sítio do Meio ou simplesmente Sítio


(localizada sem confirmação no campo na coordenada 767.870E e 8.494.894N) e
Carreiras (localizada da mesma forma na coordenada 768.835E e 8.497.086N), estão
próxima as Baraúnas, também foram considerada como parte dessa comunidade. Os
primeiros moradores do Sítio teriam sido: Aristide Mamede da Silva, Candido Gomes
da Silva, já falecido, inspetor da comunidade, Severiano Galdino da Silva e José
Galdino da Silva. Não obtive informação sobre as Carreiras.

O sistema estadual de consulta de escolas informa três escolas no município de


Tanque Novo que estão em localidades com o nome Baraúna, nas fazendas: Baraúna de
Tim, Baraúna dos Abreus e Baraúna. Não encontramos referência sobre a fazenda
Baraúna no sistema nacional de consulta de escolas, sendo assim, pensamos que as

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fazendas Baraúna dos Abreus e Baraúna, referidas no sistema estadual, possam ser o
mesmo lugar, ou seja, Baraúna II. Para não contradizer as informações do sitema
estadual, consideramos a possibilidade de que na fazenda Braúna, mencionada no texto
sobre a comunidade Colônia, esteja uma das escolas paralisadas em 2009.

Em 1999, construiu-se um prédio escolar, onde funcionou a Escola Municipal de


Baraúna II, que teve, em 2007, 18 alunos na faixa etária entre 5 e 15 anos, em uma
classe multisseriada, na qual um professor de Igaporã dava aulas, no entanto, em 2009
essa escola estava constando como extinta no sistema do governo Federal. Existia
também uma Escola Municipal Baraúna dos Abreus que constava como paralisada no
mesmo sistema em 2009.

Na localidade Baraúna I existe uma chamada Escola Municipal Conrado


Rodrigues Costa, que, em 2009, contou com 29 estudantes, sendo 23 no ensino
fundamental inicial e 6 na pré-escola, sendo que nenhum deles utilizou transporte
escolar para chegar à escola. Em 2012 foram apenas 10 estudantes, 3 na pré-escola e 7
nas séries iniciais. Os moradores informaram que só existe uma sala no prédio escolar e
que as condições de estudo não são boas, necessitando da construção de banheiros, de
novas salas e de uma cantina, pois a merenda era feita na casa das merendeiras.

A comunidade Baraúna de Tim tem energia elétrica, horta comunitária, campo


de futebol, lagoa, tanque, bares, um local onde se reúnem os grupos de catequese,
pastoral da criança e pastoral do dízimo, que foi considerada a capela da comunidade e a
Associação Beneficente e Comunitária para o Desenvolvimento Social e Cultural de
Tanque Novo. Existe também a Associação de Agricultores na localidade Jatobazinho,
que fica no município de Caetité, da qual muitos moradores de Baraúna dos Abreus são
sócios.

A atividade econômica de maior destaque é a fabricação de tijolos de cerâmica.


A economia local era incrementada com a venda de produtos como farinha, rapadura
etc, levados em carros de boi, para serem vendidos em Macaúbas, Paramirim e
Caturama. A produção de farinha e polvilho era realizada geralmente entre os meses de
maio a julho, porém, a cultura da mandioca, juntamente com feijão, cana-de-açúcar e
milho, sofreram queda na produção, já que os agricultores atualmente dão prioridade ao
capim, pois consideram que o preço de comercialização dessas culturas não compensa o
plantio. O relevo é formado por planícies, com o solo propício para a plantação de feijão

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e milho, no entanto, está completamente coberto por capim. Outro motivo da queda,
segundo os moradores, é que, há aproximadamente quinze anos, as chuvas eram mais
freqüentes e, atualmente, a água salobra dos poços artesianos está substituindo a dos
tanques, que, geralmente, ficam secos. O solo também está cada vez mais seco e
impermeabilizado, o desmatamento e as queimadas contribuíram bastante para o
desgaste do mesmo. O manejo inadequado do solo, associado ao clima seco e ao
descaso pela agricultura estão prejudicando uma produção satisfatória.

A produção agrícola caiu mais de 50%, mesmo com a utilização de novas


tecnologias, por isso as famílias têm buscado trabalho nas cidades próximas. Os
moradores de Sítio disseram que apesar de antes não possuírem tratores, arados,
tombadores, máquinas para silagem, casas eficientes de beneficiamento de mandioca,
eles se interessavam mais do que hoje em plantar, pois o clima ajudava e o valor de
mercado era compatível com o custo. Alguns deles migraram, pois o preço do feijão,
milho, farinha e outros alimentos não compensaram sua produção, forçando-os a
abandonarem a agricultura e as suas tradições culturais. Para reverter esse quadro,
consideram que seja necessário o incentivo dos governantes para que se monte uma
cooperativa que aproxime o comprador final do que eles produzem.

Os moradores informaram que a comunidade teve início em uma região bastante


arborizada e, atualmente, a flora é formada por arbustos, cactos e árvores de troncos
retorcidos em pequena quantidade. Além da Baraúna, que dá nome a comunidade, entre
as árvores mais altas ainda existem: jatobá, aroeira, tamboril, juazeiro, cajazeira, entre
outras. Os mandacarus, xiquexiques, cacto de serra, mostram as características do bioma
caatinga e outras, como: cipó-de-alho, betoncas, cipó-de-caititu, mostram que a região
também tem fragmentos do bioma cerrado.

Os moradores consideram que a flora é importante não apenas para fornecer


madeira, mas, na conservação dos aspectos ambientais, tais como: qualidade do ar,
nascentes e cursos d’água, equilíbrio ecológico etc. Esta consciência ambiental surgiu
depois que presenciaram a degradação do meio ambiente, como por exemplo, do lugar
chamado matinha, uma área que tinha muitas árvores, mas que foi bastante devastado,
ficando apenas na lembrança dos que, atualmente, vêem os prejuízos causados.

Outro problema ambiental citado na comunidade é a caça indiscriminada que


está destruindo a fauna e interferindo no equilíbrio da cadeia alimentar. Os seguintes

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animais existiam no local em grande quantidade e hoje quase não são vistos: tatu,
veado, cutia, caititu, michila ou tamanduá-mirim, lagartos, bagadás, perdiz, zabelê,
codornas, lambús, preás, coelhos, siriema, saracura, canarinhos, papagaios, periquito
maracanã, cardeal, bico de osso, o sofrê, o sabiá, o joão-congo, o coqui, a juriti, a
pomba verdadeira, o carcará, o gavião, a coruja, o beija-flor, pato selvagem, marreca,
sarões, gambás, sagüis, esquilo, guariba, traíra, bagre, lambari, pacu, tambaqui, coral,
jibóia, cascavel, urutu-cruzeiro, jararaca, entre outros.

Os moradores antigos tinham como atividade cultural de maior destaque o São


João. Faziam fogueiras, soltavam fogos e convidavam os vizinhos e amigos para se
tornarem padrinhos de seus filhos na fogueira. Também realizavam bailes de forró com
sanfoneiros da própria comunidade, queima de Judas, caretas, reza da Via-Sacra e a do
terço, realizada de casa em casa, pois não havia capela, pelas seguintes pessoas:
Galdina, Maria Flora, Salviana, Renério Moya, Alvino Caldeira, Ângelo Caldeira e
Emílio. Com o passar do tempo, surgiram as festas dos padroeiros Nossa Senhora
Aparecida e São Sebastião e, atualmente, durante o mês de setembro, são realizadas as
novenas com leilões, para ajudar na ornamentação da comunidade. O reisado também é
outra manifestação cultural que marca a vida dos moradores. Originou-se através de um
grupo formado por mulheres, que, com o passar do tempo, foram sendo substituídas por
homens. Na literatura popular destaca-se Gerson Pereira Gama, nas modalidades:
desafio, cordel e quadrinha.

O artesanato teve destaque no passado, pois as moradoras faziam bordado,


ponto-de-cruz, fiação, tecidos de algodão no tear, usados para confeccionar calças,
camisas, toalhas e cobertas, também conhecidas por bitus; os homens faziam calçados
típicos com couro ou até mesmo pneu. Outras atividades foram conservadas: a
fabricação de carros de boi, de vassouras e esteiras de palha. Na culinária, destaca-se a
fabricação de bolos de diversos tipos, como: chiringa, chimango, bolo-de-puba, bolo-
de-arroz, de requeijão, de cuscuz, beiju de massa de mandioca e de polvilho, cuscuz,
paçoca e pamonha. Em relação às atividades artesanais na localidade Sítio, a senhora
Jildete, que faz pinturas e é também alfaiate, foi destacada pelos moradores.

Antigamente, como não havia comunicação nem transporte adequado, quando os


moradores precisavam de assistência médica, deslocavam-se mais de 50 km ou
buscavam a cura através de remédios caseiros feitos por benzedores. Devido a essas
dificuldades a maioria dos partos era feita por parteiras e, dessa forma, algumas
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mulheres grávidas, ou recém-nascidos, ou ambos acabavam falecendo. Atualmente, as


condições de higiene ainda não são adequadas, pois poucas casas têm fossas e banheiros
com vasos sanitários, mas um médico visita a comunidade uma vez por mês, atendendo
as pessoas no prédio escolar. As famílias cadastradas no Programa de Saúde da Família
recebem os agentes de saúde em casa mensalmente. Dependendo da gravidade do
problema, as pessoas são encaminhadas para o Posto de Saúde da Família do Jacaré ou
para a sede do município.

Os moradores mais antigos contam histórias de assombrações, como, por


exemplo, sobre o berrador e os fantasmas vestidos de branco que eram vistos quase
sempre nas noites de quaresma. João Galdino da Silva disse que existia uma visagem
cabeluda e muito feroz, que perseguia por mais de duas léguas os indivíduos que
andassem pelas estradas, durante a noite, a fim de devorá-los.

O futebol é o principal esporte praticado na comunidade, que tem um time e dois


campos. Os mais velhos contam que até pouco tempo o futebol era a única atividade de
lazer na região, mas, aos poucos os jovens foram substituindo esse pelas mesas de
sinucas nos bares. Todos os sábados e domingos aconteciam torneios, em que reuniam
muitos jovens, para torcer e jogar, com alegria e disposição, no entanto, atualmente,
quando se organiza um evento esportivo, só aparece mesmo quem joga. Outro motivo
apontando para a decadência do esporte foram as brigas entre os jovens que fizeram
com que o esporte fosse cada vez mais abandonado. A localidade reivindica a
valorização do mesmo através da prefeitura, das escolas e sociedade em geral.

Colônia

Fica a 11 km, em linha reta, da sede de Tanque Novo e a quase 15 km por


estrada, na coordenada 767.372E e 8.490.884N. Segundo os moradores, a comunidade
Colônia foi fundada em 1920 e teve esse nome devido à presença do capim colonial,
que agradou muito os primeiros habitantes. Outras duas localidades: Lagoa Nova I e Pé
do Morro III, localizadas respectivamente a 2,3 km e 1,6 km da comunidade Colônia,
são descritas no texto dessa comunidade por apresentarem relação com a mesma,
conforme veremos.

Os moradores informaram que um dos primeiros homens brancos que moraram


na comunidade se chamava José Gualiberto, considerado um ótimo professor. No livro

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de registros de nascimentos do cartório de Caldeiras, n. 1, encontramos as seguintes


referências sobre moradores de Colônia do fim do século XIX, o que demonstra que a
história da mesma não teve início em 1920 conforme os moradores disseram:

Compareceu Joaquim José da Silva, lavrador para registrar seu


filho e de Antonia Francelina de Jesus, costureira: Mônica
Maria de Jesus (n. 46, p. 15, 1889).

Compareceu Benedicto José dos Santos, lavrador, para registrar


seu filho e de Joanna Maria de Jesus: Iziquiel (pardo). Avôs
paternos: Joaquim David e Anna Felícia de Jesus. Avôs
maternos: Manoel Caldeira da Silva e Francelina de Tal (n. 91,
p. 30, 1889).

Segundo as fontes orais, nos primeiros anos da comunidade as pessoas moravam


em casas de enchimento, cobertas de palha e tinham apenas algumas lamparinas móveis,
nas quais utilizavam o óleo de mamona, na maioria das vezes, apenas na hora de
preparar o jantar. Quando acabava o óleo da lamparina, para ajudar a iluminar, acendia-
se uma fogueira, muitas vezes no meio do quarto. Com o passar do tempo, as pessoas
derrubaram as casas velhas e construíram casas mais modernas feitas de tijolos, com
coberturas de telhas, portas e janelas, que deram mais segurança aos proprietários.

A vida de antigamente era considerada difícil pelos moradores atuais. Entre os


exemplos estão histórias sobre a falta de mantimentos no período seco ou problemas
ocasionados no período chuvoso relacionados às vias de transporte, pois muitos iam à
feira na sede, com carros-de-boi ou a pé, passando por estradas péssimas e atravessando
as enxurradas que desciam da barragem da Rapadura, já que não tinha uma ponte.

Segundo os moradores, antes do município de Tanque Novo ter sido


emancipado, Colônia era administrada pelo município de Caetité, bem como as outras
comunidades ao norte, até a comunidade Rapadura. Depois da emancipação de Tanque
Novo, houve disputa por eleitores entre os municípios de Caetité e Tanque Novo,
gerando conflito a ponto das estradas não serem mais administradas por nenhuma das
prefeituras dos dois municípios enquanto os moradores não se posicionassem, o que
causou bastante confusão.

Hoje existe água encanada e energia elétrica para todas as pessoas, um prédio
escolar, que está paralisada e uma casa de farinha comunitária, construída em 1987

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pelos senhores Francisco José de Araújo e Agesú Cruz e, atualmente, administrada pela
Associação Beneficente da Colônia. As aulas, antes da construção da escola, eram
ministradas na casa da senhora Ana Rosa Dias e a professora era dona Gazinha e com o
aumento do número de alunos foi construído o prédio escolar. Em 1997, o antigo local
em que funcionava a escola foi transformado em capela, já que as missas eram
celebradas debaixo das árvores e estudantes passaram a freqüentar outras escolas,
principalmente em Lagoa Nova I. Nesse mesmo ano foi criando um grupo de jovens
para animar a comunidade.

Dentre as autoridades que se destacaram na comunidade, Exupério Firmino Dias


foi bastante considerado, por ser responsável por intimar os suspeitos e usar apenas um
facão de aço. Os moradores relembraram um caso de roubo de ovelhas na Colônia, em
que os suspeitos, conduzidos por ele, foram ouvidos em Caldeiras. Outras autoridades e
pessoas destacadas na comunidade foram: o delegado Henrique e o juiz de paz
Francisco, da localidade Pé do Morro III.

Apesar de algumas mulheres confeccionarem roupas, crochês e bordados, Dona


Virgilina foi destacada como a principal artesã da comunidade. Ela comercializava parte
do que fabricava: colhia algodão na roça, descaroçava, fazia os tecidos no tear e depois
confeccionava calças, camisas e cobertores; com a palha do coqueiro seca ainda fazia
esteiras e vassouras. Na culinária quem recebeu destaque foi Antônia Maria dos Anjos,
que preparava e comercializava beiju feito com polvilho e com massa pisada no pilão,
cessada, para não ficar grossa e assada em fôrmas de pedra e também um bolo de
mandioca pubada, que ficava fechada em uma caixa durante oito dias. Apesar de não
indicarem quem o faz, o arroz doce também foi considerado uma iguaria da localidade.
Virgílio Gregório do Nascimento, filho de Caldeiras, se destacou como carpinteiro na
Colônia, atraindo pessoas de outras regiões que lhe encomendava produtos como:
engenho de moer cana, roda de cavalos, carros de boi, cadeiras, portas e janelas, todos
feitos com madeira bruta, utilizando instrumentos de ferro.

As manifestações culturais presentes na comunidade são: a festa de São João,


comemorada na noite do dia 23 do mês de junho, quando fazem fogueira, quadrilha e
soltam fogos; o dia do Santo, dia 24, quando sentam com a família e com os amigos ao
redor da fogueira, para tomar café, colocar uma coroa de capim na cabeça e queimar a
que foi utilizada no São João anterior e foi guardada durante o ano; a novena, missa e
festa em homenagem ao dia de Nossa Senhora Aparecida, 12 de outubro. A comunidade
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se destacava no reisado, pois apresentava dois grupos, um formado por homens e o


outro por mulheres. Eles visitavam várias casas, da noite de Natal até o dia 6 de janeiro,
cantando de dia e de noite. O grupo de homens era formado por: Joaquim, Virgílio,
Bonfim, Antônio e outros e o das mulheres por: Inês, Lurdes, Marinalva, Eriêne,
Dinalva, Atelita, Gazinha, Luiza, etc. Esses grupos, que traziam tanta alegria para a
comunidade e as regiões circunvizinhas, não existem mais, principalmente porque os
integrantes não repassaram o costume. A cultura do futebol também se faz presente, por
isso o time da comunidade participa todos os anos do campeonato municipal e já
conquistou vários troféus.

Umas das fontes de renda dos moradores é a fabricação de tijolos de cerâmica,


que são vendidos para várias outras comunidades. Também há o cultivo do feijão, da
mandioca e do milho, mas, a produção caiu bastante nos últimos 5 anos, mesmo
utilizando-se técnicas agrícolas modernas, como por exemplo, a substituição de
tombadores manuais por máquinas agrícolas. A pecuária se baseia na criação de
rebanhos como: bovino, ovino, suíno e galinhas. No meio ambiente encontra-se muito
capim, um pouco de caatinga e alguns animais silvestres distribuídos pela planície. A
comunidade tem uma barragem, considerada muito importante, uma pequena reserva de
água doce e um poço artesiano. O solo antes era fértil, hoje é um solo fraco e arenoso.

A localidade Lagoa Nova I está na coordenada 769.321E e 8.489.646N, a 2,3


km a sudeste da comunidade Colônia, foi inserida nessa comunidade pois, segundo os
depoimentos, as pessoas do local se sentem representadas pelo senhor Miguel, morador
da comunidade Colônia. Os mais velhos dizem que o nome Lagoa Nova I se originou da
seguinte forma: existia uma cacimba que abastecia toda a localidade, mas, com o tempo,
a água se tornou insuficiente para as pessoas e os animais, então, os homens da
localidade se reuniram para abrir manualmente um tanque. Uma lagoa nova, com
quantidade de água suficiente para abastecer a todos, preencheu o tanque, que hoje é
considerado o local mais importante da comunidade, onde se encontram: manga, goiaba,
banana, mamão, cana-de-açúcar e hortas, cuidadas pelas mulheres. A inclusão do
algarismo I se deu para diferenciar de outra localidade com o mesmo nome Lagoa Nova
II, onde inclusive se encontra um prédio escolar paralisado, localizado na coordenada
767.941E e 8.490.081N sem confirmação no campo.

Encontra-se na localidade Lagoa Nova I a Escola Municipal de Lagoa Nova,


uma escola, que tem uma grande quantidade de estudantes em comparação com as
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outras do mesmo nível, já que o ensino foi nucleado na região. O número de estudantes
em Lagoa Nova I foi de 146 em 2009, sendo 122 no ensino fundamental inicial e 24 na
pré-escola. Em 2012 o número de alunos caiu para 106 nas séries iniciais e 7 na pré-
escola. Devido à nucleação o transporte escolar passou a ser uma necessidade, por isso,
127 dos 146 estudantes o utilizaram em 2009 e 94 dos 113 em 2012. Com a nucleação
as escolas vizinhas foram fechadas: Pé do Morro III, fazenda Braúna, Pedrês II, Vereda
e até mesmo a escola da comunidade Colônia. Apesar de Lagoa Nova I não ter sido
mencionada pela igreja de Tanque Novo como comunidade, os moradores informaram
que realizam rezas na escola.

Hoje existem na comunidade apenas algumas pessoas como, por exemplo,


Armezinda Rita de Jesus, consideradas, pelos moradores atuais, descendentes da
primeira família, cujo patriarca seria Marciano de Jesus, proveniente de um lugar
chamado Pequeno Fundão. Os outros teriam ido embora para São Paulo e nunca mais
voltaram desde que seus familiares morreram. Sobre os moradores de Lagoa Nova, do
fim do século XIX, encontramos os seguintes registros de nascimentos, sendo que, um
deles apresenta uma pessoa com sobrenome de Jesus:

Compareceu Vicente Alves das Neves para registrar seus filhos


e de Jozephina Angélica das Neves: Arlindo, Armindo,
Manoel, Belina, Lindolpho, Anizia, Alípio e Jozephino (n.
354). O mesmo compareceu para registrar o casal que teve com
Adelina Teodória de Jesus (falecida): Francisco Conceição de
Carvalho e Rita Alves de Britto (n. 432).

Compareceu Liobino Rodrigues da Silva para registrar sua filha


e de Zulmira Josephina das Neves: Josephina (n. 355).

Compareceu Joaquim Rodrigues da Costa para registrar seus


filhos e de Maria Josepha da Conceição: Hermelino, Anna,
Amélia e Rufino (n. 357).

A localidade Lagoa Nova foi marcada pela dificuldade para se obter água e
também pela passagem dos revoltosos na região em 1926. Segundo os moradores atuais,
muitos fugiram para as serras levando suprimentos para os esconderijos, para se
manterem por uma semana ou mais, porque acreditavam que os revoltosos matariam
para roubar. Quando voltaram para casa, encontraram tudo quebrado, sujo e saqueado.

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Outra localidade que pertence a essa comunidade chama-se Pé do Morro III,


situada a 14 km da cidade de Tanque Novo, na coordenada 767.590E e 8.489.260N. O
nome foi dado pelos primeiros moradores, porque havia um morro próximo, mas, como
existem dois outros Pés do Morro em Tanque Novo, chamaram essa de Pé do Morro III.
Segundo as fontes orais, os primeiros moradores teriam sido os familiares de José
Rocha, Agostinho e Virgílio, afrodescendentes, patriarcas de famílias grandes. Apesar
das dificuldades, sempre lutaram para garantir uma vida boa, baseados na plantação da
mandioca.

Compareceu Benedicto Francisco da Silva Pose, lavrador, para


registrar seu filho e de Angélica Lipinola Corte: Manoel da
Silva Pose. Avôs paternos: Francisco da Silva Paze e Emília
Maria de Jesus. Avôs maternos: Francisco Spínola Corte e
Anna Joaquina de Brito (n. 78, p. 26, 1889).

Antes, os habitantes migravam por dificuldades como falta de emprego, mas,


atualmente, consideram que as condições de vida são melhores. Os fatos que marcaram
o Pé do Morro III foram: a construção da barragem, pois, antes disso acontecer, o gado
era conduzido por longas distâncias para beber água; a construção de um prédio escolar,
onde estudaram crianças da alfabetização até a 4ª série, pois antes o ensino era dado
pelos professores contratados pelos pais dos alunos, na casa dos mesmos, no entanto,
como dissemos anteriormente, a escola dessa localidade está paralisada e os cerca de 30
alunos dela passaram a freqüentar a localidade Lagoa Nova I; a encanação de água para
algumas casas da comunidade, a inauguração do posto telefônico, a chegada da energia
elétrica e dos meios de transporte mais rápidos também facilitou a vida das pessoas e
contribuiu para o crescimento da população.

Segundo os moradores, na localidade Pé do Morro III existe uma associação que


disponibiliza instrumentos para o trabalho agrícola, onde são feitas reuniões aos
domingos para tratarem de assuntos de interesse coletivo, no entanto, os mesmos podem
estar se referindo a associação da comunidade Colônia. No Pé do Morro III também não
existe capela e quando eles disseram que, “aos domingos as crianças e jovens aprendem
o catecismo”, podem estar se referindo a capela da comunidade Colônia, o que precisa
ser verificado.

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Pedrês

Segundo os moradores, a comunidade Pedrês teve origem com a chegada dos


primeiros moradores, José da Silva e Negro Velho, no início do século XX, cuja origem
é desconhecida. Eles informam que a partir de 1917 chegaram mais famílias, que
dividiram a comunidade em Pedrês do José da Silva ou Pedrês I e Pedrês do Negro
Velho ou Pedrês II, para plantar lavouras e criar gado, caprinos, ovinos e outros
animais. As localizações sobre essa comunidade ainda não foram confirmadas no
campo, mas Pedrês I foi colocada na coordenada 770.768E e 8.493.491N, a 8 km ao sul
de Tanque Novo e a 9 km por estrada. A comunidade Pedrês II se encontra a pouco
mais de 1 km no sentido sul, na coordenada 770.724E e 8.490.823N. A localidade
Sussuarana, que mantém relações históricas com o Pedrês também foi inserida nessa
comunidade na coordenada 770.127E e 8.492.176N.

A origem do nome, segundo os moradores, estaria relacionada a um cavalo


pedrês, ou seja, a um cavalo matizado de preto e branco, que pastava pela comunidade.
Depois que esse cavalo morreu em uma lagoa, as pessoas passaram a chamá-la lagoa do
pedrês, dando origem ao nome da comunidade. Três registros de nascimentos
encontrados no livro n. 1 do cartório de Caldeiras já fazia referência a Pedrês no fim do
século XIX:

Compareceu Faustino Muniz da Silva, lavrador, para registrar


sua filha e de Ana Joaquina de Jesus, costureira: Antonia (n.17,
p. 5 e 6, 1889).

Compareceu Ovídio da Silva Pereira, lavrador de Caldeiras


para registrar sua filha e de Carlota Maria da Silva, natural de
Vila Velha: Maria da Silva Pereira e Casaram-se na capella do
Pau de Colher, da Freguesia de Santo Antônio de Paramirim (n.
52, p. 17, 1889)... e o filho ... Ricardo da Silva Pereira (n. 228)

A dificuldade enfrentada pelos moradores há algum tempo, para obter água, foi
o fato que a população da comunidade considerou mais marcante, pois as pessoas eram
obrigadas a se deslocarem por grandes distâncias, a pé, com o carro-de-boi ou à cavalo.
Existia apenas um tanque que abastecia a comunidade, isso, na época da chuva. No
período seco, as pessoas buscavam água a uma distância de 10 km e, chegando ao local,
a espera era longa, pois havia muitas pessoas retirando a água, que demorava a minar.
Segundo os moradores, já chegou ao ponto de muitas vezes, ficarem com fome mesmo
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tendo os alimentos, pois não tinham água para cozinhá-los. Hoje esta situação
melhorou, a comunidade tem duas cisternas manuais, uma barragem, um poço artesiano
movido a motor, um reservatório, que recebe água do telhado e, no ano de 1996, a
diocese de Caetité, através da irmã Helena e a ajuda de jovens da Espanha, fez com que
um poço artesiano movido a catavento fosse perfurado.

Os moradores também citaram a passagem dos revoltosos, em 1926. As fontes


orais do Pedrês disseram que eles foram obrigados a entregar os animais, senão seriam
chicoteados ou mortos. As famílias de Heliodoro e Abeliades informaram que fugiram
de casa e dormiram no mato por mais de uma semana, temendo os revoltosos.

Antigamente, algumas pessoas da comunidade viajavam com tropas de animais


e comercializavam mercadorias em feiras distantes, como por exemplo: Macaúbas,
Botuporã, Caturama, entre outros. A partir da década de 1930, passaram a ir à Tanque
Novo, onde, até hoje, as famílias fazem as suas compras e vendas. Os destaques na
comunidade foram: o delegado José João da Silva, o inspetor Francisco Pereira da Silva
e o senhor Manoel Evangelista, que representava os interesses da comunidade junto às
autoridades.

Na década de 1940, o ensino era feito da seguinte forma: um professor leigo era
contratado pelos pais dos alunos para ministrar aulas na casa de um deles ou do próprio
professor, onde eles deveriam aprender as quatro operações, a ler e a escrever em
apenas alguns meses, já que os filhos dos agricultores precisavam trabalhar com seus
pais na roça. A primeira escola foi fundada na década de 1970, na própria casa da
professora leiga, que ensinava até a 4ª série e só por volta do ano 2000, o primeiro
prédio escolar foi construído no Pedrês.

De acordo com a pesquisa realizada pelos estudantes do CETN, em 2007,


verificou-se que 60 pessoas acima de 15 anos de idade eram analfabetas na comunidade.
A maioria delas não teve oportunidade de estudar, pois o acesso era difícil e as
condições financeiras precárias. Mesmo assim, 21 pessoas na comunidade são
alfabetizadas, destas, umas estudaram até a 4ª série e outras concluíram o ensino médio.
Atualmente as três escolas da comunidade, Escola Municipal Belarmino da Silva
Sobrinho, Escola Municipal do Pedrês II e Escola Municipal Sussuarana, estão
paralisadas e os que estudam são alunos nas escolas das comunidades vizinhas, do
CEPAAC ou do CETN e têm acesso ao transporte escolar gratuito.

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A evolução da escola do Pedrês I é descrita em detalhes pelos moradores da


comunidade: Em setembro de 1990, Artur de Oliveira Cardoso doou um terreno para
construir a Escola Municipal Belarmino da Silva Sobrinho, juntamente com uma casa
destinada ao professor. A primeira professora a trabalhar no prédio foi Aparecida
Gomes Araújo, ensinara durante um ano para aproximadamente 50 alunos. No ano
seguinte, era a professora Zenilda Nobre da Silva, que ensinara durante dois anos. Em
1994, foi a vez do professor Dilvan Magalhães Pereira, que ensinara durante três anos.
Em março de 1997, veio a professora Custódia Silva Costa, que era assídua e fazia
muitas brincadeiras. Ela ensinava também a noite, para jovens e adultos, no programa
AJA, do Governo Estadual. Em 1998, o primeiro professor proveniente da própria
comunidade, Geílson Oliveira, filho do senhor Artur, que doou a terra para a construção
da Escola, passou a ensinar.

No ano de 2001, a escola passou a funcionar em dois turnos, com as professoras


Rosilda Nobre da Silva e Maria Lúcia Nobre da Silva. Em 2003, chegaram duas novas
professoras, Maria Lúcia Carneiro e Ednalva, que ensinaram dois anos, animando a
Escola com as comemorações juninas. Em fevereiro de 2005 voltaram Geílson e
Rosilda para ensinarem novamente. Nesse ano foi feita uma reforma no prédio,
construiu uma cantina para a preparação da merenda Escolar e foi derrubada a casa do
professor para a construção de mais uma sala de aula. Recebeu energia elétrica, água
encanada e, com mais uma sala, então veio mais uma professora, Arleide Cardoso.

A comunidade realiza novenas natalinas, festeja o Natal, reza a ladainha e o reis,


acompanhado por 10 pastorinhas, ou seja, meninas vestidas à caráter. No dia 5 e 6 de
janeiro de 1958, passou na comunidade de Pedrês II os primeiros reiseiros, com viola,
caixa, pandeiro, composto por três companheiros, que tinham como chefe Virgílio
Grigolo Nascimento. No ano de 1966, o grupo passou a utilizar zabumba além dos
outros instrumentos, composto e era formado por 6 companheiros, cujo chefe era João
Nicolau. Essa cultura ainda se mantém, com algumas modificações. Os moradores
também realizam novena e ladainha em homenagem ao dia de Nossa Senhora
Aparecida, 12 de outubro. Alguns costumes já não são mais praticados, como por
exemplo: as cantigas de roda das moças, em noites de leilão, e a brincadeira de jogar
versos para os rapazes e os forrós que eram tocados com sanfona e violão, de 15 em 15
dias, nas casas das famílias etc.

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Na comunidade existia roca, utilizada para preparar a linha de algodão. Os


homens vestiam roupas feitas de mescla, algodão e brim e as mulheres usavam vestidos
de chita bulgariana e os calçados eram sadálias feitas de couro cru. Na culinária os
moradores destacaram o café era adoçado com rapadura, o cuscuz, a pamonha, a
canjica, o escaldado, o chimango, feijão, carne, farofa, pirão e diversos outros, pois o
acesso aos alimentos diferenciados é facilitado na sede.

Antigamente a flora era mais rica, com muitas árvores, como por exemplo:
tamboril, mulungu, pau-d’arco, são joão, umburana, jatobá, pau-de-copa etc; e, também,
as pessoas plantavam em seus terreiros algumas plantas ornamentais, como: cravo-roxo,
cravo-branco, cravo-da-rainha, bonina, papagaio, roseira, espirradeira etc. Atualmente,
essas árvores e plantas estão cada vez mais escassaz, pois, as pessoas não souberam
preservá-las, utilizando as árvores na produção de carvão e deixando de cultivar as
plantas. A fauna era composta por várias espécies, como por exemplo: veado, cutia,
tatu-peba, tatu-verdadeiro, tatu-rabo-mole, siriema, jacu, pomba-verdadeira, codorna,
lambú, preá, coelho, canarinho cantador, jocongo (João-congo), sofrê, quem-quem,
perdiz, zabelê etc. Devido à ação do homem, desmatando e caçando
indiscriminadamente, atualmente quase não se vê esses animais.

As pessoas trabalhavam manualmente em um solo fértil, mas, esse perdeu boa


parte da capacidade produtiva, com o uso incorreto de máquinas agrícolas e a retirada
da cobertura vegetal. Os produtos mais cultivados eram mandioca, milho e feijão de
corda. As pessoas plantavam um hectare de mandioca e colhiam 180 a 200 sacos de
farinha, mas não tinham grande produção de polvilho. Atualmente, um hectare de
mandioca só produz mais ou menos 70 sacos de farinha, apesar da técnica de produção
ter passado da roda de mão, para a roda puxada a cavalo e, hoje em dia, estar sendo
usado o motor movido a óleo ou a gás. As pessoas plantavam um hectare de milho e
colhiam de 150 a 180 sacos, mas hoje só se colhe de 5 a 15 sacos por hectare, se chover
na época da flor do milho. O feijão de corda dava em média 10 a 12 sacos por hectare,
mas hoje não se planta mais esse feijão. As pessoas passaram a plantar feijão sempre-
verde e catador e colhem de 10 a 15 sacos por hectare. Tanto o milho quanto o feijão
eram batidos com vara depois de colhidos e secos, mas hoje esta técnica de debulhagem
foi substituída pelo uso de máquinas.

As principais causas de morte antigamente eram: tétano, fome, por idade


avançada ou em decorrência de complicações no parto, principalmente porque as
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pessoas só contavam com a ajuda de curadores, benzedores e parteiras. As doenças mais


comuns eram: caxumba, catapora, sarampo, gripe, dor de ouvido, dor de cabeça, dor de
dente e diarréia. Hoje em dia, eles contam com atendimento médico, enfermeiro e
agentes de saúde e as principais causas de morte são derrame e velhice.

O futebol era a principal atividade esportiva desenvolvida na comunidade. Os


jogadores desta e das comunidades vizinhas se reuniam aos domingos, juntamente com
vários torcedores, no campo do Pedrês, o único que existia na região. O técnico Sivaldo
assumia os cuidados do campo e levava o time para jogar em outras comunidades. Com
o passar do tempo, novos campos foram construídos nas outras comunidades e o
número de jogadores e torcedores foi diminuindo pouco a pouco, até que os jogos
acabaram no campo do Pedrês.

Rapadura

Segundo os moradores, a Rapadura é uma comunidade de aproximadamente 40


casas, que surgiu no ano de 1965. A origem do nome estaria relacionada às árvores que
existiam na localidade, conhecidas na região como rapadureiros, e os primeiros
moradores teriam sido a senhora Izaura e seu marido Osvaldo, que se conheceram no
interior de São Paulo, se casaram e foram construir sua moradia e família na região de
Rapadura. No entanto, comprovamos com a pesquisa que parte das informações dos
moradores contradiz registros de nascimentos, como veremos.

O senhor Leonel Monteiro de Magalhães é descrito nos registros de nascimento


de Caldeiras como residente na Rapadura, distrito de Caldeiras, em 1915. Ele era filho
de Manoel Monteiro de Magalhães e Anna Roza de Magalhães, essa última irmã de
Umbelino José de Magalhães, filhos de Claudino José de Magalhães e Anna Luiza das
Neves. Pela semelhança dos sobrenomes, Manoel seria parente próximo de Zeferino
Monteiro de Magalhães, citado no texto sobre a comunidade São José, e de Joaquim Monteiro
de Magalhães, que comprou de José Rodrigues Malheiros, em 1876, Saco dos Furados,
juntamente com Umbelino José Gomes, conforme vimos no texto sobre o Alecrim.

Leonel compareceu no cartório para registrar o nascimento da prima Silvina,


uma das irmãs de Zeferino, filhos de Umbelino, no dia 02 de setembro de 1889 (Livro
de nascimento de Caldeiras n.1, registro n. 87, p. 29). Compareceu novamente ao
cartório de Caldeiras, no dia 05 de abril de 1915, para registrar os filhos que teve com a

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prima Jovina Rosa de Magalhães, outra irmã de Zeferino, e também com Silvina Rosa
de Magalhães, a mesma pessoa que ele registrou 26 anos antes, pois Silvina se casou
com ele depois que Jovina, sua irmã, morreu. Os filhos de Jovina registrados, e as
respectivas datas de nascimento, foram:

Anna (16/12/1893), Maria (18/04/1895), Amélia (10/07/1896),


Zeferino (25/03/1898), Lino (23/03/1899), Juliana
(28/10/190?), Joaquim (28/01/1904), Roza (20/07/1906) e
Jovina (22/10/190?) (registro n. 311, p. 122).

Os filhos de Silvina foram:

Jovina (22/10/1910), Liobino (02/07/1912) (registro n. 312, p.


123) e Abélio (29/05/1916) (registro n. 336, p. 123).

Segundo os registros de nascimentos, outras pessoas que moraram na Rapadura


no começo do século XX, sendo alguns genros do casal Leonel e Jovina. Os registros de
Virgilina (02/05/1915) (n. 314) e Maria (n.413) mostram que elas eram filhas de Anna
Rosa de Magalhães e Liobino Monteiro Sobrinho, cujos pais seriam: João Monteiro de
Magalhães e Virgilina Rosa de Magalhães e o registro de Jovina mostra que ela era filha
Maria Roza de Magalhães e Francisco Rodrigues da Silva (n. 316), filho de: Clemente
Rodrigues da Silva e Bellarmina Roza de Magalhães (n. 360).

Os fatos marcantes citados pelos moradores na história dessa comunidade estão


relacionados à crise de água, que certa vez fez o povo se reunir na estrada para rezar
pedindo chuva, e à encomendação das almas, um ritual religioso que acontece no
período da Semana Santa, na Rapadura e no Povoado Jacaré, descrito no texto sobre o
povoado. Apesar de existirem cisternas para armazenar água da chuva na comunidade,
um projeto que já beneficiou 30 famílias, em 2007 os moradores reclamaram a falta de
água encanada e também de energia elétrica.

Nessa comunidade ainda existem alguns analfabetos, mas, em 2007, estudaram


na Escola Municipal João Pereira aproximadamente 25 alunos e aproximadamente 15
alunos em outras escolas fora da comunidade; em 2009 a escola teve matrícula apenas
de 10 estudantes, 2 deles na pré-escola e 8 no ensino fundamental inicial; em 2010 esse
número caiu pela metade, sendo 2 na pré-escola e 3 no ensino fundamental inicial. Em
2012 essa escola se encontrava paralisada. Nenhum deles utilizou transporte público
para chegar à escola a comunidade. O nome da escola é uma homenagem a João Silva

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Pereira, diretor da primeira filarmônica de Tanque Novo, construtor da capela, dirigente


do time de futebol, costureiro, professor leigo. Ele faleceu no ano de 1983, vítima de um
acidente, trabalhando como pedreiro na cidade de São Paulo.

Osvaldino Joaquim Macedo também é destacado, por ser juiz de paz. Quando
ocorria algum conflito por divisão de terra, decorrente de herança, compra, venda, ou
desentendimento, a população o escutava.

A comunidade é predominantemente católica, realiza festividades para o


padroeiro Coração de Jesus todo o ano, no mês de setembro, novenas de natal e da
campanha da fraternidade, via-sacra, realiza culto todos os domingos, catecismo, curso
de crisma, dízimo, terço no terceiro domingo de cada mês, adoração todas as quintas-
feiras.

Cultiva-se milho, feijão, laranja, manga, limão, melancia, abóbora e umbu. As


comidas típicas são cuscuz, beiju, bolo de milho, pamonha, doce de umbu etc. O
artesanato é pouco trabalhado, algumas bordadeiras deixaram de bordar por problemas
de visão e apenas algumas moças tiveram interesse em continuar fazendo trabalhos
artesanais como crochê, ponto de cruz e fuxico.

O futebol é o principal esporte praticado. As brincadeiras antigas, como cantigas


de roda, praticamente não existem mais. A Escola Municipal João Pereira ajuda a
comemorar o folclore e os mais velhos contam “causos” que despertam a imaginação
dos mais jovens. As músicas mais ouvidas e dançadas são no ritmo de forró arrasta-pé.

Unidos em Paulo

A comunidade fica a 7,5 km da sede, em linha reta, sentido sul e a 9 km por


estrada. Inicialmente era chamada de Paulo, onde havia um pequeno grupo de famílias
formadas por pessoas brancas e católicas, que celebravam cultos em suas casas e viviam
do plantio da mandioca, do milho e do feijão. Essas resolveram se juntar à comunidade
Colônia, que fica a mais de 4 km, buscando uma maior integração nas atividades
religiosas. Passaram a celebrar os cultos com eles, preparar as crianças para o catecismo
e a participar de reuniões, na diocese de Caetité. Com a experiência adquirida, os
moradores Rosa Alvina da Conceição, Cecília Rosa Alves e José Alves Júnior, se
uniram e resolveram fundar uma nova comunidade, surgindo assim o nome da

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comunidade: Unidos em Paulo, que muitos ainda se referem apenas como Paulo. As
pessoas da comunidade Paulo fizeram a reunião para construir a capela no final do ano
1990. Nessa reunião, o senhor Sebastião Gomes doou o terreno, o então prefeito José
Messias Carneiro deu material de construção e os moradores construíram a capela de
Nossa Senhora Santana.

Na entrevista feita pelos estudantes, em 2007, outras duas pessoas da


comunidade foram destacadas: o senhor Nelson de Oliveira Cardoso, também
conhecido por Chico de Rita, pois participou da comunidade desde a sua criação, até o
dia 29 de abril de 2007, quando adoeceu, vindo a morrer logo em seguida. Era ele quem
refletia os evangélios e as leituras nas celebrações dos cultos religiosos. Destacava-se
também na área da pecuária e cuidava dos animais como um veterinário, aplicando
vacinas, medicando etc. Era respeitado por todos e tinha muitos amigos, pois, quando
era mais jovem foi delegado e, segundo os moradores, sempre procurou cumprir com
seu dever, conquistando a confiança e obediência de todos.

O outro destaque foi dado ao senhor Etelvino Pereira Leão. Destacou-se na cura,
através de orações e remédios preparados por ele próprio, das pessoas picadas por cobra
e escorpião. Também é falecido, porém seu conhecimento vive na pessoa de Sinval
Pereira Leão, o filho que hoje continua o trabalho do pai na comunidade.

O estudante 1679 escreve, em 2009, que a comunidade é “[...] formada com 50


famílias e todas são unidas tem igreja que a gente reza todo domingo às vezes tem
casamento e festa com bastante comida e bebida e forró até amanhecer [...]”. A escola
frequentada pelos estudantes da comunidade nas séries iniciais era a Escola Municipal
Belarmino da Silva Sobrinho, no Pedrês I, mas como a mesma se encontra paralisada,
os estudantes frequentam atualmente as escolas nas comunidades vizinhas e na sede.

Todo ano, no mês de julho, é comemorada a festa da padroeira Nossa Senhora


Santana, com fogos, missa e uma procissão, carregando o andor com a santa. Também é
realizada a novena de Natal, com a reunião do último dia na capela, levando bolos,
biscoitos, refrigerantes para a comemoração do Natal e organizando doação de
alimentos para as pessoas pobres da comunidade. No mês de junho as pessoas da
comunidade comemoram o São João com quadrilhas, pau-de-sebo, casamento caipira,
concursos de dança e muitas brincadeiras, sem esquecer o tradicional forró.

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A comunidade também destaca, no artesanato, Geílson José Alves e Maria


Francisca Sousa. Geílson confecciona anéis, brincos e presilhas para o cabelo, usando
como material os chifres de animais, e Maria Francisca trabalha com crochê e bordado
de toalha e guardanapo.

O futebol é um esporte bastante praticado. O estudante 1679 escreve que “[...]


tem torneio com 8 times e jogador bom tem também time pequeno com pessoas de 14
anos até 17 anos [...]”.

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SETOR 05 - JOÃO BATISTA – JACARÉ

Comunidades: Fazenda, Jacaré e Queimadas do Jacaré.

Fazenda

A comunidade Fazenda é recente, foi fundada em 1977 quando o bispo Dom


Eliseu visitou o município de Tanque Novo. Está localizada a 7 km da sede, na estrada
que liga a cidade ao povoado Jacaré, na coordenanda 773.025E e 8.494.250N. Segundo
as fontes orais da própria comunidade, consultadas pelos estudantes e professores do
CETN, os primeiros moradores foram: Renério Dias (do Boqueirão) e sua esposa Maria
Anunciação de Nossa Senhora (o Colônia), José Vitorino de Sousa e sua esposa Maria
Rosa de Jesus (irmã de Renério), o filho João José de Sousa e sua esposa Filomena
Caldeira de Melo (da Baraúna de Tim). Renério Dias e Maria Rosa eram irmãos de
outra Maria, mulher de Francino e de Ana Rita, todos filhos de João Dias. Segundo
Antenor Francisco Dias, filho de Maria de Melo Dias e Ermelino Dias Sobrinho, neto
materno Vicente Caldeira e Ana Caldeira e paterno de Renério Dias e sua esposa Maria
Anunciação de Nossa Senhora, as três Marias citadas descendiam dos índios da região.

Recebeu o nome Fazenda em homenagem à fazenda de João Dias, pai dos


herdeiros, onde se criava gado e cultivavam-se pequenas plantações. A Fazenda foi
marcada pelos seguintes eventos: abertura manual de um tanque, implantação da energia
elétrica em 2002, construção de uma capela em 2003 e, mais recentemente, pela
construção da Escola Municipal de Fazenda, quando Hélio foi prefeito. Em 2009 essa
escola contava com 65 estudantes matriculados, sendo 15 na pré-escola e 50 no ensino
fundamental inicial. Em 2012 o número caiu para 47, sendo 6 na pré-escola e 41 no
ensino fundamental inicial. Nenhum desses estudantes precisaram do transporte público.
Existe uma localidade bem próxima à Fazenda, cujos membros são descendentes de
Renério Dias e alguns estudantes frequentam a escola da Fazenda, por isso foi inserida
nessa comunidade. Trata-se da Puba, localizada na coordenada 772.720E e 8.493.673N.

Segundo a pesquisa dos estudantes e professores do CETN, realizada em 2007,


cerca de 70 famílias formavam a comunidade Fazenda, a maioria delas beneficiadas
com cisterna nas casas e acesso a energia elétrica.

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São tradições os festejos juninos e o festejo de Nossa Senhora Aparecida,


padroeira da comunidade, este comemorado com três dias de “novenas” e leilões no mês
de outubro. Na abertura dos festejos da padroeira a comunidade realiza diversas
brincadeiras tradicionais, como: desfile de bicicletas, caretas, pau de sebo, cabo de
guerra etc. A escola participa desses eventos e também realiza atividades culturais
relacionadas ao folclore.

Os pratos típicos da região são cuscuz, beiju de tapioca e canjica. No artesanato


se destaca a produção de colchas feitas de fuxico e toalhas de crochê. Antigamente eram
realizados forrós, nos quais dançavam homens com homens e se utilizavam os
instrumentos: sanfona pé-de-bode e viola.

A comunidade contava com flora e fauna ricas, que se modificaram bastante


devido ao desmatamento, às queimadas e à caça indiscriminada. O solo fértil está
ficando cada vez mais estéril, devido ao manejo inadequado.

Jacaré

Jacaré é um povoado do município de Tanque Novo que fica a 12 km por


estrada e a 10 km em linha reta, no sentido sudeste. Segundo os moradores, os primeiros
habitantes foram índios, depois vieram escravos e os descendentes deles. Os mais
velhos dizem que a origem do nome está relacionada a uma lagoa onde se encontravam
muitos jacarés, que já não existem mais. Os nomes dos moradores mais antigos, que a
memória coletiva alcançou, foram: Liberato, Otaviano, D. Francisca, Domingos, D.
Maria Rosa, Belarmino e Ersília.

Entre os registros de nascimento dos moradores do Jacaré encontrados no livro


do cartório de Caldeiras, do fim do século XIX, nenhum deles é semelhante aos nomes
citados anteriormente. Os que se referem ao Jacaré são os seguintes:

Compareceu João Pereira de Carvalho, lavrador de Monte Alto,


para registrar seu filho e de Benedicta Romana de Oliveira,
costureira de Caldeiras: Izidro Pereira de Carvalho (n. 49, p.
16, 1889).

Compareceu Hygino Christino Pereira, lavrador, para registrar


seu filho e de Lizandra Candida de Jesus, fiandeira: Hermano
Hygino Pereira. Casaram em Caldeiras (n. 50, p. 16, 1889).

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Compareceu Mariano Joaquim de Souza, lavrador, para


registrar sua filha e de Antônia da Conceição, costureira: Anna
Roza da Conceição (n. 75, p. 25, 1889).

Compareceu “Esnigdio” José da Silva, lavrador, para registrar


sua filha e de Maria da Conceição, costureira: Jesuíno José da
Silva. Avôs paterno: Ângelo Simão da Silva e “Visenoia”
Ferreira de Jesus. Avôs maternos: Eduardo de Tal e Anna
Pereira (n. 84, p. 28, 1889).

Compareceu Rafael Pereira da Silva para registrar sua filha e


de Maria Joana de Jesus: Maria dos Anjos (n. 270).

Compareceu Constantino Manoel Joaquim, para registrar seu


filho e de Anna Rita Maria de Jesus: Genésio Constantino dos
Santos (cor preta) (n. 434 de 13/05/1900).

As secas marcaram muito as pessoas da comunidade. A água é armazenada em


tanques e, depois que estes secam, só é possível obter água através dos poços semi-
artesianos e algumas vezes dos caminhões-pipa.

No período seco os proprietários aproveitam para alargarem e limparem os


tanques. Nas fotos a seguir duas crianças pegam água para as criações e dois homens
limpam o tanque, utilizando um cavalo. Um dos homens fala o seguinte sobre a água:
“essa água aqui é meio condenada que ela vem da rua... é só pra o consumo de lavagem
de roupa, de ariagem de louça”.

Os moradores informam que, quando Jacaré fazia parte do município de Caetité,


tinha associação, mas, atualmente essa instituição já não existe, só existe um projeto
para reabri-la. A situação cadastral da Associação Beneficente e Comunitária da
Comunidade de Jacaré mostra que a mesma, criada em 29 de julho de 1998, se
encontrava ativa em 2005, demonstrando que mesmo depois de 20 anos da emancipação
do município de Tanque Novo, os moradores de Jacaré ainda se consideravam
pertencentes ao município de Caetité. O próprio governo estadual via o povoado de
Jacaré com pertencente à Caetité, pois, nas eleições de 2004, o TRE montou 2 seções
eleitorais no povoado de Jacaré, as seções 49 e 58, para os eleitores votarem nos
candidatos do município de Caetité. Nos últimos anos a prefeitura de Tanque Novo
atuou mais no povoado e modificou essa situação.

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Apesar de várias casas antigas, construídas de adobe, os moradores consideram


que o povoado se desenvolveu muito, pois, agora existe telefone público, escola, creche,
capela nova, posto de saúde com médicos todos os dias, ambulância, energia elétrica e
algumas ruas calçadas. A Escola Municipal Ana Nery, localizada na coordenada
774.930E e 8.490.600N atendeu 97 estudantes em 2009, sendo que 21 deles estiveram
matriculados na pré-escola e 76 no ensino fundamental inicial. Em 2012 o número de
matriculadas caiu para 76, 15 na pré-escola e 61 no ensino fundamental inicial. Apenas
um estudante precisou de transporte em 2009 e 2012. Outras 33 crianças estiveram
matriculadas na creche Jacarezinho em 2009 e 11 em 2012.

Existia no povoado um posto de saúde que funcionava duas vezes por semana,
com atendimentos básicos, como: injeção, curativo etc. A partir de 1993, teve início o
Programa de Saúde na Família, PSF, com os médicos visitando o povoado, programa
esse que se desenvolveu, passando a ter médicos, dentista, enfermeiro e técnico de
enfermagem periodicamente. Em parceria com os agentes comunitários de saúde, essa
equipe leva conhecimentos básicos ao povoado, como: hábitos de higiene, alimentação
saudável e prevenção de doenças.

Como atividade econômica os agricultores produzem feijão, milho e mandioca.


São plantados todos os anos na época da chuva, sendo que a mandioca é colhida depois
de um ano e meio. As comidas mais populares são derivadas dos produtos cultivados:
canjica, beiju, joão-duro e outros tipos de bolo, como bolo de farinha, de puba, além de
pamonha, cuscuz de milho, galinhada e sarapatel. Antigamente as pessoas só usavam
roupas de algodão tecidas por algumas moradoras, hoje compram as que estão
disponíveis no comércio, principalmente na feira de Tanque Novo, mas o artesanato
continua sendo feito por algumas moradoras, que utilizam a roca, fazendo a própria
linha. Algumas mulheres fazem cestas, esteiras e balaios. Quem mais se destaca no
artesanato é uma mulher conhecida por Maria da Baia. Ela fabrica toalhas, lençóis,
colchas, forros para estofados e desenha algo para enfeitá-los. O senhor Antônio de
Alvino também se destaca na fabricação de rodas de carro de boi. Outras pessoas que
receberam destaque dos moradores por serem considerados os principais responsáveis
pelo desenvolvimento do povoado foram Francisco Dias, delegado, enfermeiro, rezador
de via-sacra e gritador de leilão; Carlota; Amélia e José Pereira, inspetor.

Existem muitas tradições populares e religiosas: a Via Sacra na sexta-feira santa,


que deixa a igreja lotada de manhã, de tarde e de noite; a queima de Judas, no sábado de
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aleluia; a reza do Coração de Maria, no mês de maio; o forró e a quadrilha nas festas
juninas; a romaria nos meses de agosto e setembro, quando os romeiros saem de Jacaré
com destino a Bom Jesus da Lapa; a reza do Coração de Jesus, em setembro; a missa de
Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, e, por último, a festa da Padroeira
Nossa Senhora da Conceição, comemorada no dia 07 de dezembro com brincadeiras,
tais como: corrida de bicicleta, caretas, bumba-meu-boi, pau-de-sebo, ovo na colher,
corrida de sacos, quebra cabaça etc, encerrando o dia com a novena e o leilão e, no dia
08 de dezembro, com a “Santa Missa” e procissão, havendo a participação de pessoas de
outras comunidades. Tem também as novenas de Natal; as lapinhas, o reisado,
comemorado no mês de janeiro, quando os reiseiros cantam de casa em casa,
arrecadando dinheiro para o dia de Santo Reis, quando tem festa de confraternização;

Há uma crença peculiar: a encomendação de almas. Esta é feita por um grupo de


mulheres do povoado, “as encomendadeiras de almas”, que rezam todos os anos na
Semana Santa nas comunidades de Rapadura e Jacaré, indo para o cemitério à noite,
cobertas com lençóis brancos, tocando um instrumento chamado “matraca” e entoando
cânticos religiosos. Essas mulheres acreditam que as pessoas falecidas em
circunstâncias trágicas ou inesperadas estejam tendo dificuldades de se liberar da terra,
ou estejam padecendo de alguma maneira, portanto, consideram que é preciso o canto
para libertar estas almas.

As pessoas mais velhas contam que quando se aproxima a semana santa, o


lobisomem aparece para comer as crianças que não são batizadas, ou então, que a mula-
sem-cabeça entra nas casas e nos bares, pelo buraco da fechadura, e quebram todas as
garrafas de bebidas que encontra. As cantigas de roda, as caretas, os piqueniques e
festas, como: festa do marujo, festa da boneca de pano, festa do palhaço, festa da perna
de pau, festa dos mascarados, também ainda acontecem, mas, em muito menos
intensidade que antigamente. A atividade mais praticada atualmente é o futebol. Os
jogos acontecem aos domingos, com a participação de times de outras comunidades.
Esse esporte é muito prestigiado, pois traz diversão para quem joga e para quem fica na
torcida.

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Queimadas do Jacaré

Segundo os moradores a origem do nome da comunidade está relacionada a um


grupo de caçadores que se abrigou em um lajedo, acendeu uma pequena fogueira para
se aquecer e que, depois de um dia cansativo, acabaram adormecendo. O fogo se
alastrou pela vegetação seca queimando boa parte da área do lajedo. Diante disso, o
primeiro morador deste local, referido como Domingo, passou a chamar a pequena
região de Queimadas. Devido à proximidade do povoado do Jacaré e por existir outra
comunidade com o nome Queimadas no município, essa ficou conhecida por
Queimadas do Jacaré.

Após o falecimento do senhor Domingo, sua família foi residir em outro lugar,
dando espaço para o segundo morador de Queimadas, Pedro Silva Pereira, que se tornou
dono de um armazém e delegado. Ele foi descrito como um homem rigoroso e valente,
que, nas épocas de chuva, mandava plantar arroz e feijão, promovendo o crescimento da
economia local. O senhor Pereira mandou construir uma escola, dando-lhe o nome de
Escola Municipal Tiradentes. Desta forma, a comunidade também passou a ser
conhecida como Queimadas de Tiradentes.

Alguns registros de nascimento do Livro de Caldeiras nos informam sobre a


presença de José Xavier de Magalhães, capitão Vitorino Cardozo Pereira, Manoel Lopes da
Costa e família, Belarmino da Silva Pereira e família, José Francisco Dias e família, Zeferino
Antônio das Neves e família, na comunidade, em 1889.

Compareceu Enedino da Silva Pereira, lavrador, para registrar


seu filho e de Maria Joanna do Portugual, costureira: Benvindo
da Silva Pereira. Casaram-se nas Queimadas, na casa do senhor
José Xavier de Magalhães (n. 33, p. 11, 1889).

Compareceu Cassiano de Oliveira Cardozo, lavrador, para


registrar sua filha e de Maria Angélica de Jesus, costureira:
Amélia Maira de Jesus. Casaram-se em Queimadas na casa do
finado capitão Vitorino Cardozo Pereira (n. 41, p. 13, 1889).

Compareceu Manoel Lopes da Costa, lavrador, para registrar


seu filho José Antônio da Costa e Joana Maria do Parazzo,
costureira (n. 24, p. 8, 1889)

Compareceu Belarmino da Silva Pereira, lavrador para registrar


seu filho e de Maria Francisca de Jesus, costureira: Manoel da
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Silva Pereira. Cazaram-se no Taboleirinho em casa de Ana


Maria Roza de Jesus (n. 34, p. 11, 1889)

Compareceu José Francisco Dias para registrar seu filho e de


Maria Francisca da Conceição: José Antônio de Oliveira. Avôs
paternos: João Francisco Dias e Jesuína Maria de Jesus. Avôs
maternos: Honorato de Leles do Nascimento e Galdina Maria
de Jesus, costureira (n. 59, p. 19 e 20, 1889).

Compareceu Zeferino Antônio das Neves, lavrador para


registrar seu filho e de Maria Joana de Jesus, que nasceu morto.
Avôs paternos: Antônio Marques das Neves e Eduvirgens de
Jesus. Avôs maternos: Benedicta (n. 97, p. 33, 1889).

José Xavier de Magalhães era casado com Ana Rita das Neves, irmã de
Umbelino José de Magalhães, filha de Claudino José de Magalhães e Anna Luiza das
Neves, citados nos textos sobre Alecrim, Mucambo, Rapadura e Várzea da Madeira. O
registro 41 está relacionado com Queimadas apenas pelo capitão Vitorino, pois
Cassiano de Oliveira Cardozo morou em São José.

A economia é baseada na agropecuária e alguns moradores realizam a fabricação


de carvão. No artesanato a comunidade se destaca com a produção de colchas feitas de
fuxicos e retalhos de pano. As comidas típicas são feijoada, beiju, cuscuz etc.

Em 2009, 18 alunos estudaram na Escola Municipal Tiradentes, sendo 4 deles na


pré-escola e o restante até a quarta série. Nesse ano dez estudantes utilizavam transporte
escolar para chegar à escola da comunidade. No ano de 2012 o número de estudantes
caiu para 13, sendo 1 na pré e 12 no fundamental inicial e apenas 8 passaram a utilizar o
transporte. Devido ao pequeno número de habitantes, a comunidade não se destaca
muito entre as outras, mas, mesmo assim, conta com assistência médica e educação de
qualidade, na opinião dos moradores

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SETOR 06 - EZEQUIEL – VÁRZEA DA MADEIRA

Comunidades: Bom Sucesso, Curralinho, Engenho, Murici (inclui textos sobre


as comunidades Gado Bravo e Sambaíba), São Domingos e Várzea da Madeira (inclui
textos sobre Morrinhos).

Bom Sucesso

A escola da comunidade Bom Sucesso se encontra a 10 km de distância, em


linha reta, ou a aproximadamente 15 km, por estrada, a sudoeste da sede de Tanque
Novo, ou a 4 km ao norte do distrito Caldeiras. Situam-se nessa comunidade as
localidades André, Cabaceiras e Cavalo Morto. Segundo os moradores, o nome Bom
Sucesso originou-se a partir de um cativo que fugiu para esse local. Ele teria constituído
família no Bom Sucesso, mas não teria sido o primeiro a residir no local, pois os relatos
também informam que a família Pereira já morava lá. Um dos primeiros moradores teria
sido o senhor José Pereira e depois vieram seus filhos: Antônio Viana (Toninho), Vítor
Araújo etc.

As casas mais velhas que se encontram atualmente na comunidade pertenceram


a Cândido Matias (Martiliano), que morava na serra do Quaté, Druvalino Nobre e João
de Calista, mas encontramos no primeiro livro de registros de nascimentos de Caldeiras,
de 1889 a 1923, registros referentes a Bom Sucesso do distrito de Caldeiras, cujos
sobrenomes das famílias eram iguais aos citados pelos moradores, entre outros: Jesuína
Maria das Neves (Pais: Jesuíno José Saraiva e Maria Rosa das Neves, n. 229), Francisco
Antonio Saraiva (Pais: Antonio Joaquim Saraiva e Francisca Maria da Conceição, n.
239), Virgilina (Pais: Jeronymo José Saraiva e Maria Rosa das Neves, n. 259), Antônio
Joaquim Pereira (Pais: João Alves Pereira e Antônia Rita de Jesus, n. 224), Marciano
(Pais: João Alves Pereira e Antônia Ritta de Jesus, n. 257), José (Pais: João Alves
Pereira e Antonia Ritta de Jesus, n. 266), Alvino (Pais: José da Silva Vianna e Albina
Vianna da Conceição, n. 267), Octacília (Pais: José da Silva Vianna e Albina Vianna da
Conceição, n. 265), Virgilate (Pais: José da Silva Vianna e Albina Vianna da
Conceição, n.254), um natimorto (Pais: Gabriel Pereira Vianna, Ritta Custódia de
Britto, n.10).

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Outros dois registros referentes ao Bom Sucesso, o primeiro do distrito de


Caeteté e o segundo do distrito de Macaúbas, mostram sobrenomes que têm relação
com Bom Sucesso do distrito de Caldeiras, indicando que sejam o mesmo lugar:

Compareceu José da Silva Vianna, natural do Morro do Fogo,


para registrar sua filha e de Alvina Vianna da Conceição,
natural de Macaúbas: Petrunilia Vianna da Conceição, no dia
17/05/1891. Casaram em São Domingos, Macaúbas e residem
em Bom Sucesso, Caeteté. Avôs paternos: Vicente Pereira
Vianna e Francisca Roza da Silva. Avôs maternos: Francisco
Joaquim de Souza Laláo e Maria Joaquina da Conceição (n.
210, p. 81).

Compareceu Lourencio Alves Pereira para registrar seu filho e


de Marcolina Ritta de Jesus, Leovigildo. Avôs paternos:
Manoel Alves Pereira, Macaúbas e Clemência Maria de Jesus,
Macaúbas. Avôs maternos: Joaquim Manoel Abelha e Anna
Celestina de Jesus (n. 90, p. 30, 1889).

Não foram encontrados registros de terras sobre Bom Sucesso, nos registros
declarados na freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas e Nossa Senhora
do Carmo do Morro do Fogo, demonstrando que a localidade pertencia mesmo à
freguesia de Santa Anna de Caetité, conforme declarado nos registros de nascimento.

Cabaceiras é uma localidade pequena, com poucos habitantes, sem escola, que
se encontra entre Cavalo Morto e Bom Sucesso. Recebeu esse nome porque nesse lugar
plantavam-se muitos pés de cabaças, além do tradicional cultivo de milho, feijão catador
e mandioca. Os primeiros moradores de Cabaceiras foram: Renério Lopes da Silva e
Abel Lopes da Silva, provenientes da comunidade de Morrinhos.

Quando o senhor Renério Lopes da Silva foi a outro lugar arrebanhar seu gado,
encontrou um cavalo morto, próximo da coordenada 758.861E e 8.500.612N, onde foi
localizada sem comprovação no campo, e a partir desse episódio as pessoas passaram a
se referir ao lugar como Cavalo Morto. A localidade de Cavalo Morto teve seus
primeiros moradores por volta de 100 anos atrás, foram eles: José Lopes, Júlio e Durval
Neves. Nessa localidade existe um prédio escolar onde funcionou a Escola Municipal
Santa Fé, que esteve paralisada nos anos 2009 e 2012.

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Assim como no restante da comunidade a mandioca é a planta mais cultivada,


mas os moradores também citam a mamona. Apesar de o meio ambiente já ter sido
bastante degradado, ainda existem algumas reservas de matas com várias espécies
animais e vegetais nessa localidade. São vistos perdizes, tatus, veados, codornas e
coquis.

Outra localidade da comunidade chama-se André, fica aproximadamente a 3,2


km, pela estrada, ou pouco mais de 2,5 km em linha reta, ao norte do distrito de
Caldeiras. Tem uma escola, posicionada sem confirmação no campo, na coordenada
762.931E e 8.494.054N, que esteve paralisada em 2009 e 2012. Segundo os moradores,
a localidade recebeu o nome André em homenagem ao primeiro morador. Com o
tempo, as famílias de Aprígio e Cornel se instalaram no lugar. Em 2007 a população
local era composta por 35 moradores.

Uma atividade econômica que ocorreu na comunidade foi a extração de


mármore para exportação, mas, na opinião dos entrevistados, essa atividade não trouxe
nenhum benefício, somente conseqüências prejudiciais. De fato, eles informam que há
algum tempo existiam árvores bastante desenvolvidas, como jatobá, aroeira, pau-ferro
etc, mas hoje só resta a caatinga e malva rasteira. Em 1980 ainda existiam várias
minações, com água em abundância e os riachos e lagoas não secavam, hoje, esse bem
precioso está cada vez mais escasso. Informam também que existiam aves em grande
quantidade, como o canário, papagaio, arara azul e outras espécies de animais, como
veados e codornas, que dificilmente são vistos. O solo também sofreu modificações,
pois os moradores disseram que era naturalmente fértil e garantia uma boa produção,
mas, atualmente, para se conseguir produzir bem é necessário fazer correções no solo.

O plantio da mandioca se mostrou mais importante que a mineração, pois da


mandioca se extrai a farinha, a tapioca e seus derivados, gerando trabalho e renda para
os moradores. Já houve bastante produção de mandioca, feijão, milho, cana-de-açúcar e
algodão, mas os moradores afirmam que a produção caiu muito desde a década de 1970.
A produção de algodão caiu tanto que só foi produzido para comercialização até 1992.
Para cultivar as pessoas utilizam arado, tombador e outros equipamentos movidos por
tração mecânica ou animal. Fazem uso de agrotóxicos nas plantações e motor nas casas
de farinha em substituição às antigas rodas movidas por cavalo.

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A cana de açúcar é utilizada como matéria prima da rapadura, do melaço e como


ração para o gado. Além do gado, os moradores criam ovelhas, suínos e aves.
Antigamente os rebanhos de ovelhas e gados eram criados soltos, o que era considerado
pelos moradores mais vantajoso. Com o novo regime instituído por lei, em que o espaço
para criação é limitado por cercas, alguns criadores, que moram mais distantes das
fontes, se acham mais suscetíveis à falta de água, pois não têm condições de adquirir os
mantimentos para os animais.

A água do Bom Sucesso é encanada para algumas casas. Quem não tem água
encanada busca nos chafarizes ou na caixa. Uma história relacionada a isso, que marcou
a vida dos primeiros moradores, é a história de Figena. Ela pegava água na fonte de
Toninho Viana, que atualmente é chamada de fonte João Viana, e, ao passar em uma
porteira, a cruz do rosário que ela usava atingiu um dos seus olhos, deixando-a cega do
mesmo. A energia elétrica já foi instalada na comunidade pela prefeitura, bem como
outras coisas viabilizadas pelos próprios moradores com ajuda de vereadores de Tanque
Novo, tais como: campo de futebol, salão para festa, barragem, capela, escola etc. A
capela foi construída ao lado da escola para a maioria das famílias, que pertencem à
religião católica, sendo apenas uma família evangélica.

A Escola Municipal Antônio José Pereira faz homenagem ao membro da família


dos primeiros moradores. Em 2007 existiam 35 pessoas com mais de 15 anos na
comunidade Bom Sucesso que eram analfabetas, outros 25 estudantes faziam o ensino
fundamental inicial na comunidade, 20 estudantes faziam ensino fundamental final, 17
cursavam o ensino médio e um fazia o ensino superior fora da mesma. Em 2009, 28
estudantes estiveram matriculados na escola da comunidade, sendo 5 na pré-escola e 23
no ensino fundamental inicial e apenas um desses utilizava transporte escolar para
chegar à escola. Em 2012, 22 estiveram matriculados, cinco na pré-escola e 17 nas
séries iniciais, sendo que quatro desses utilizavam transporte escolar.

As pessoas na comunidade são atendidas pelos agentes de saúde ou se deslocam


até o hospital da cidade. As doenças que mais afetaram a população em 2007 foram:
hipertensão, gripe e problemas de coluna. Entre 2005 e 2007 aconteceram apenas 3
mortes, causadas por velhice, câncer e acidente.

As manifestações culturais da comunidade são: cantigas de reis, sendo os


primeiros reiseros da família de Joaquim Meira; lapinhas; festa de São João, que é

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comemorada com fogueira, bolo, quentão, batata e assados e a festa de Santo Antônio,
que é o padroeiro da comunidade. Além da festa, realizam novenas e celebração da
missa. Na culinária local são citados: batata doce, rapaduras, beiju, avoador, chimango,
canjica, cuscuz, pamonha, pipoca e muitos doces.

As músicas que as pessoas mais gostam são o xote e o arrasta-pé. Os destaques


da comunidade são ligados à música, entre eles: Vital, João Barbosa e o violeiro
Acebias, já falecidos, o sanfoneiro Joaquim Gomes e o cantor Neném, que alegra as
festas em diversos lugares da região. Também é considerado destaque na comunidade
João Lopes Franco, líder político e religioso e Ermito Pereira Sobrinho, que construiu a
barragem e o campo de futebol.

As crianças brincavam com badoque, boneca de milho, carro de boi, feito com
cano de milho, carrinhos de madeira. Hoje brincam com carros de controle remoto,
bonecas de plástico, robôs, armas de brinquedo, andam de bicicleta, jogam baleada e
futebol, sendo esse último o esporte preferido em que vários jovens se destacam. As
histórias locais marcam a vida dos moradores em geral, dentre elas, uma história
simples chamada “Quili, amansador de burro bravo”.

Curralinho

A comunidade está localizada a aproximadamente 21 km de distância da sede,


através da via principal, e a 17 km em linha reta. As coordenadas ainda precisam ser
revisadas no campo, mas foi localizada na coordenada 754.824E e 8.505.200N a menos
de 1 km a nordeste da localidade Araçá, que pertence à comunidade, assim como a
localidade Loro, que está a 1,5 km a noroeste do Curralinho. Sua origem está
relacionada com a fazenda Curralinho, que, segundo os moradores, ficava onde hoje se
encontra a localidade Macacos, a pouco mais de 4,5 km ao sul da atual comunidade. No
entanto, consideramos que essa informação confusa, pois existem registros da fazenda
Macacos contemporâneos aos da fazenda Curralinho, mostrando que existiam duas
fazendas distintas.
A fazenda Pé da Serra, nos atuais limites de Tanque Novo, Macaúbas e
Botuporã, citada por Joaquim Quaresma Delgado, no roteiro de 1731-1734,
parcialmente descrito no texto sobre a comunidade Várzea, tinha um sítio chamado

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Curralinho, quando Antônio de Souza da Costa pagava renda à Joana da Silva Guedes
de Brito (PINHO, 2007 e NEVES, 2003 e 2008).
A Casa da Ponte arrendou o sítio Curralinho, da fazenda Pé da
Serra, em 1805, com uma légua de comprimento e uma de
largura, para Jacinto Pereira, por quatro mil réis anuais.
Limitava-se com Caetano Ferreira de Carvalho e José Nunes da
Silva (oeste), serras de Santa Ana (norte) e da Boa Vista (Sul
ou leste). No tombamento fundiário de 1819 avaliaram essa
gleba por 120 mil réis, embora fosse vendida pelo procurador
Joaquim Pereira de Castro, desde em 1809, ao mesmo rendeiro
(NEVES, 2003, p. 399).

Muitos registros em que herdeiros de Jacinto Pereira da Silva e outros


compradores declararam uma parte de terras na fazenda Curralinho foram feitos na
freguesia de Macaúbas, cinqüenta anos depois que a mesma foi comprada:

Luis Francisco de Araujo declara que pussui nesta Freguezia de


Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte
de terras de duzentas e cincoenta braças na Fazenda do
Corralinho que lhe trocou por herança da finada sua Sogra
Dona Anna Maria do Carmo, cuja parte de terras se estrema
pela do Sul com o Capitão Plácido de Souza Fagundes aonde se
acha um moirão, pela parte do Norte com os interessados do
Sitio do canto e pello Nascente, e puente nos desagoadores da
Serra. Villa de Macaubas 3 de Maio de 1859. Luis Francisco de
Araujo. Registrado no dia 6 do mesmo mes de Maio Pagou
nove centos reis. O Escrivao Joao Antonio do Rego. O Vigario
Fernando Augusto Leão (n. 407).

O Capitão Venancio Theodoro de Souza que pussui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas uma parte de terras na Fazenda do Corralinho em
cumum com os mais interessados que lhe tocou por herança de
seo sogro Jacinto Pereira da Silva já falecido. Macaubas 3 de
Maio de 1859 (n. 422).

Claudio Pereira de Magalhaens declara que pussui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas uma parte de terras na Fazenda do Corralinho em

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cumum com os mais interessados havidas por compra ao


Capitão Plácido de Souza Fagundes, aqual fazenda se estrema
para o Nascente com a Fazenda dos Morrinhos pertencentes a
mim, para o Sul com a Fazenda do Mucambo, para opuente
com os Arassas de Pedro Antonio de Oliveira, para o Norte
com a Fazenda do Burití. Macaubas 22 de Maio de 1859. Por
meo Pai Cláudio Pereira de Magalhaens. Pedro Pereira de
Magalhaens. Registrado no dia 10 do mesmo. Pagou mil e
secenta e seis reis. O Escrivão João Antonio do Rego. O
Vigario Fernando Augusto Leao (n. 624).

Claudio Antonio de Oliveira declara que pussui nesta Freguezia


de Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma
parte de terras na Fazenda do Corralinho, cuja parte de terra,
estrema pela parte do Nascente com Claudio Pereira de
Magalhaens, para opuente, com Bernardino Alves de Serra,
para o Sul com os herdeiros dofinado Manoel Francisco, epara
oNorte com os herdeiros do finado Themoteo de Souza
Fagundes. Macaubas 12 de Junho de 1859. Claudio Antonio de
Oliveira. Foi apresentado no dia 16 de Junho eregistrado no
mesmo dia 16. Pagou sete centos evinte reis. O Escrivão Joao
Antonio do Rego. O Vigario Fernando Augusto Leao (n. 664).

Bernardino Alves de Senna declara que pussui nesta Freguezia


de Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma
parte de terra da Fazenda do Corralinho estremada, cuja parte
de terra se estrema para o Nascente com Claudio Pereira de
Magalhaens ao Sul com os herdeiros do finado Manoel
Francisco, para o puente com Pedro Antonio de Oliveira, epara
o Norte com o mesmo Pedro Antonio de Oliveira. Macaubas 12
de Junho de 1859. Bernardino Alves de Senna. Registrado no
dia 18 do mesmo mes de Junho. Pagou seis centos reis. O
Escrivao João Antonio do Rego. O Vigario Fernando Augusto
Leão (n. 683).

Joaquim Antonio Cardozo Pai e Tutor da orfan Antonia declara


ella pussui nesta Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da
Villa de Macaubas uma parte de terra da Fazenda do

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Curralinho em cumum com seos Irmáos havida por herança da


sua finada Avó Anna Maria do Carmo, aqual parte de terra se
estrema para o Nascente, no alto da Serra, para oSul com
Lulião da Silva Marques aonde se acha um moirão, para
opuente no alto da Serra e para o Norte com seo Avó Placido
de Souza Fagundes aonde se acha um moirão. Macaubas 20 de
Maio de 1859. Joaquim Antonio Cardozo. Foi apresentado no
dia 26 de Junho, eregistrado no dia 27 domesmo. Pagou oito
centos, eoitenta reis. O Escrivão João Antonio do Rego. O
Vigario Fernando Augusto Leão (n. 735).
Existem outras fazendas com o nome Curralinho na região, mas, segundo esses
registros, a fazenda Curralinho era limitada a oeste pela fazenda Araçás, e a leste, pela
fazenda Morrinhos, o que precisa ser melhor estudado.
Segundo os moradores o nome Curralinho está relacionado com a chegada do
senhor Alvino José de Magalhães, em 1928. Se os registros apresentados anteriormente
forem realmente do Curralinho de Tanque Novo, observamos que a data informada não
foi o início da povoação. Talvez os moradores teriam confundido o nome Alvino com
Avelino, conforme vemos no texto sobre a Várzea da Madeira. Sendo assim, o fundador
da comunidade Curralinho teria sido proveniente da Várzea da Madeira. Ele era
considerado dono de uma fazenda com muito gado, que tinha um grande curral. Devido
às sucessivas secas e aos prejuízos decorrentes destas, o grande curral deixou de existir,
mas os trabalhadores continuaram lidando com o gado em um Curralinho, diminutivo
decorrente da dimensão do mesmo, em comparação com o anterior, que foi adotado
como o nome da comunidade.

Além da capela, que lhe dá status de comunidade, Curralinho possui energia


elétrica e um prédio Escolar que recebeu o nome Escola Municipal Magalhães. Em
2009 esta escola teve 32 estudantes, sendo 6 na pré-escola e 26 nas séries iniciais do
ensino fundamental. Em 2012 teve 22 alunos, sendo 6 e 16, respectivamente, nessas
séries. Somente 3 estudantes precisaram de transporte escolar em 2012. Não foi
encontrado registro de associação que represente os interesses da comunidade. Os
lugares citados pelos estudantes nos textos foram: “[...] mercado [...] poço artesiano
[...]” (E. 1482), “[...] caixa d’água [...]” (E. 1479), “[...] (lugar que) tem muitas árvores,
água de boa qualidade [...]” (E. 1481), “[...] o campo de futebol [...] a linda praça [...]”
(E. 1485), “[...] um lago conhecido como deba [...]” onde “[...] muitas pessoas

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costumam dar água seu gado [...]” (E. 1479). O estudante 1481 acrescentou que a
comunidade “[...] deveria ter calçamento [...]”.

A religião predominante é a católica. Os moradores da comunidade celebram as


principais datas religiosas, realizando: o canto dos Reis, do dia 24 de dezembro ao dia
06 de janeiro; a Via Sacra, de março a abril, após 40 dias de oração; a novena do
Imaculado Coração de Maria, a padroeira de Tanque Novo, durante os 31 dias do mês
de maio; a festa do padroeiro de Curralinho, o Santo Antônio, no mês de junho, tendo
início no dia 11 até 13. No dia 24 desse mês começam as comemorações juninas,
quando são apresentadas quadrilhas, jogos, fogos de artifício e a queima de fogueiras.
No mês de agosto é comemorado o folclore, quando a população se reúne com muita
alegria e festeja com todos os pratos típicos da comunidade. Em setembro acontecem as
festas para comemoração do dia de Nossa Senhora Aparecida, com procissão e cultos
durante a noite. No mês de novembro rezam pelos finados e os homenageiam com
flores, velas e visitas. Por fim, no mês de dezembro são construídas várias lapinhas onde
as pessoas se encontram para comemorar o Natal. Um estudante nos mostra que nas
festas juninas nem tudo é festa “[...] acontece de vez em quando algumas intrigas ou
bagunça por parte da rapaziada [...]” (E. 1482)

O artesanato produzido pelas pessoas da comunidade de Curralinho é feito com


intenção de obter peças de uso diário. Os artesanatos mais antigos resistem nessa
comunidade como testemunhas vivas, para as novas gerações, da criatividade dos seus
antepassados. Os moradores utilizam a linha de algodão, produzido pelos mesmos, para
fazer peça do vestuário. Com o uso do tear, eles produzem: camisas, calças, toalhas e
cobertores de algodão, que também são conhecidos por bitus. Outro exemplo é o carro-
de-boi, um meio de transporte barato, que está cada vez mais em desuso. As mulheres
utilizam vassouras, esteiras, peneiras de palha, bordados, pontos de cruz e crochês,
feitos por elas mesmas.

As comidas típicas mais apreciadas são: cuscuz, beiju de tapioca, avoador,


biscoito palito, bolo de forma, pamonha, rapadura, milho verde, doce de frutas e de leite
etc. Com o acesso da comunidade à sede, muitos moradores optam por comprar
alimentos industrializados. Como a maior parte desses é rica em sal e conservantes,
acreditam que as doenças como hipertensão, problemas cardíacos e acidente vascular
cerebral, que já afetaram a população, são decorrentes dos mesmos. Há alguns anos, as

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principais doenças eram: paralisia infantil, febre amarela e sarampo, causadas devido à
falta de informação ou à falta de acesso aos programas de vacinação.

A atividade econômica gira principalmente em torno do setor primário,


especificamente da agropecuária. Fora essa, não existem muitas opções para os
moradores, por isso o estudante 1483 escreve que, algumas pessoas “[...] trabalham
como agricultores, outras vão tentar ter uma vida melhor em São Paulo [...]”. A
vegetação predominante é a caatinga, constituída por árvores secas com espinhos e
arbustos, casca grossa e com poucas folhas. Nessas condições se produz: feijão,
mandioca, milho e frutas, como manga, melancia e caju. As criações são consideradas,
por alguns, como animais de estimação; são criados, principalmente, porque são úteis;
no trecho seguinte, o estudante coloca todos na mesma categoria: “[...] lá tem criação
como gato, galinha, cachorro, gado, porco etc. [...]” (E. 1483). Além destes, são
encontrados na fauna da região os seguintes animais: cavalos, éguas, carneiros, ovelhas,
cabras, bodes, raposas, perdizes, codornas, preás, lambus, juriti, cobras, seriemas e
outros.

Alguns estudantes demonstraram forte ligação com a natureza. Essa idéia foi
sintetizada em um único texto, composto por trechos das redações dos estudantes que a
demonstraram:

“[...] tem muitas belezas naturais [...] tem até ponto turístico
[...]” (E. 1487) “[...] Próximo existe um morro que se chama
“Morro do Serrote [...]” (P. 1480) [...] tem algumas artes nas
pedras que os índios fizeram algum tempo atrás, tem desenho
em várias pedras principalmente (a) conhecida como a pedra
do jegue [...]” (E. 1484) [...] a chuva vem e enche o açúde [...]
vem muita gente se banhar e fazer outras coisas como conhecer
alguma pintura na pedra antiga [...]” (E. 1487)

O futebol é atividade esportiva mais antiga da comunidade, há informação de


que é praticada pelos moradores desde 1948 e, como vemos no trecho a seguir, ainda é
muito prestigiada “[...] tem jogo de bola aos domingos. Eu gosto muito de jogar bola
[...]” (E. 1486). Apesar do prestígio, não é a única atividade: “[...] eu e minhas amigas,
nós brincamos de baleada, e os meninos de futebol [...]” (E. 1480). O estudante 1481
reclama a falta de “[...] uma quadra [...]”.

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Persiste na comunidade a lenda da mula-sem-cabeça. A mula-sem-cabeça seria


“um terrível monstro que persegue os viajantes, pelas estradas ou campo, nas

noites de quinta-feira, soltando fogo pelos olhos”, apesar de não ter cabeça,
“relinchando e, às vezes, chorando feito gente”. Surge a partir de uma “mulher”, que é
“transformada nesse monstro, por ter sido amante de algum padre”. “Pelas madrugadas
das sextas-feiras, ao cantar do galo, ela volta para sua casa como mulher”, muito
machucada, pois, se acredita que “se alguém conseguir tirar sangue da mula, quebrará o
encanto e ela voltará a sua forma humana”. Observando a fala do morador local,
entrevistado pelos estudantes do CETN, percebe-se que a manutenção da lenda é
também um modo de manter a submissão feminina, principalmente quando outra fala
afirma que “um homem da comunidade conseguiu fazer com uma mula-sem-cabeça
voltasse a sua forma humana”.
Em uma reclamação feita ao juiz de paz de Lagoa Clara, cuja data não foi
possível saber, devido ao péssimo estado de conservação do documento, observamos
atrito entre Herculano Antonio Ladeia e Zeferino Gordo de Magalhães, provavelmente
descendente de Chico Gordo da Várzea da Madeira, tio do Zeferino Rodrigues de
Magalhães, do Alecrim, que, assim como primo, recebeu o nome em homenagem ao
primeiro padre de Urandi. A seguir a transcrição do documento:

Ilmo Senhor Juiz de Paz em exercício do Districto de Lagoa


Clara
Herculano Antonio Ladeia, maior, casado, lavrador, residente
no lugar denominado “Curralinho”, Districto de Lagoa Clara,
Município ou termo de Macahubas, vem perante Va ... seguinte
facto, “ha” tempo em que pede providencias, consoante a
gravidade do caso: Existindo num caminho paticular, no
mesmo logar Curralinho, por onde o supplicante ia de sua casa
a sua roça de mantimento, porém dando muitas voltas e
bastantes desvios, atravessando até as águas do rio denominado
“Macacos”, entendeo o requerente, ha fazer mais de anno, para
aliviar a esses inconvenientes, tirar um outro caminho em linha
recta, sem a menor volta, como effectivamente o tirou, por
onde, facilmente, passam carros e cargas e pelo qual o
requerente, com a sua família, vae sem rodeios de sua casa a
sua roça de mantimentos. Sucede agora, porém, que o senhor
Zeferino Gordo de Magalhães, residente no mencionado logar
Curralinho, em dias do mez de Abril do corrente anno, entupio
ou obstruio o novo caminho tirado pelo supplicante em terreno
commum da fazenda Curralinho, um que o requerente tem
também terra em commum.

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Allega o supplicado Zeferino Gordo, procurando justificar o


seo acto reprovavel e prejudicial ao supplicante, que o logar do
novo caminho é inventariado e pertence a elle.
A vista do exposto, o requerente pede a V. S. que o mande
intimar a elle Zeferino Gordo, para que este desentupa o
caminho do supplicante, ou apresente docummento de que o
dito logar foi inventariado e lhe pertence.
A localidade Araçá, ou Araçás, está no mapa do IBGE (1962) na margem direita
do riacho da Rapadura a aproximadamente 1,5 km de distância, a nordeste da fazenda
de mesmo nome. Neves (Anais do APEB. Salvador, n. 34, p. 9-84, 1957 apud NEVES
2003, p 185) nos informa que a fazenda Araçás, localizada em Tanque Novo, tinha 900
ha. Em outro trecho de sua tese escreve:

Nesse mesmo ano de 1806, a Casa da Ponte arrendou Araçás,


da fazenda Pé da Serra, para José Alves de Oliveira, por mil e
250 réis anuais, delimitando com Pé da Serra, de Silvério
Antônio do Rego e outros; Buriti, de Joaquim de Oliveira
Cortes; Juazeiro, de José Antônio do Rego; e São José, de
Maria Francisca. Media um quarto de légua de comprimento e
uma légua de fundo, sendo avaliado no tombamento de 1819,
por 60 mil réis e vendido pelo procurador José Brandão, em
1828, para Lauriana Nunes, cuja venda foi confirmada, em
1845, pelo procurador Plácido de Souza Fagundes. (NEVES,
2003, p. 386)

José Antônio de Oliveira, filho de Claudio Antonio de Oliveira, e José Joaquim


Oliveira, provavelmente parente do José Alves de Oliveira, citado anteriormente,
aparecem nas declarações dos registros de terras feitos em 1859:

José Antonio de Oliveira declara que pussui nesta Freguezia de


Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte
de terras na Fazenda dos Arassas eseestrema, digo dos Arassas
em cumum com os mais interessados, cuja Fazenda seestrema
para oNascente com Bernardino Alves de Sena, para o norte
com os herdeiros do finado José da Costa, para o puente com
os herdeiros de Raimundo Pereira, epara oSul, com os
herdeiros do finado Manoel Francisco. Macaubas 12 de Junho
de 1859. José Antônio de Oliveira. Foi apresentado e registrado
no dia 16 do mesmo Junho. Pagou seis centos e secenta reis. O

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Escrivao Joao Antonio do Rego. O Vigario Fernando Augusto


Leao (n. 667).
Luis Francisco de Araujo declara que pussui mais uma parte de
terras nesta Freguezia de Nossa Senhora da Conceição de
Macaubas no Sitio dos Arassás por compra que fes a Joaquim
José de Oliveira easua mulher, cuja parte de terras é em cumum
com os filhos e herdeiros de Venâncio José de Oliveira asuas
estremas (n. 408)

Percebemos no relato seguinte, da moradora de Araçá, que a economia continua


baseada na agropecuária, há uma forte ligação com a natureza e o programa de
eletrificação rural do governo federal tem influenciado, dentre outras coisas, no modo
como os moradores passaram a enxergar o mundo:

Estudo no colégio do Murici, perto da minha casa [...] o lugar


onde moro tem muitos pássaros, animais, cria gados, e tem
muitas lavouras [...] há pouco tempo colocou energia em minha
casa, e tudo ficou mais alegre e a gente ficou sabendo mais
sobre notícias de jornais (Estudante 1449)

Engenho

A comunidade Engenho é proveniente de uma fazenda localizada a


aproximadamente 13 km, pela estrada, e 11 km, em linha reta, da sede de Tanque Novo.
As informações sobre a origem do nome dessa comunidade estão relacionadas a
engenhos utilizados para moer a cana-de-açúcar existente na região, para produzir o
melaço e a rapadura. Uma segunda versão relaciona o engenho também com o
processamento da mandioca, cujo proprietário seria o senhor José Rodrigues. Os
senhores José Rodigues, Ovídio Lopes da Silva e Maria Rosa da Silva, Leolino Batista,
Reitanila, Elpídio José Batista, Ana Rita Batista, Reginaldo José Batista, Arlindo José
Batista e Teotônio Lopes da Silva são considerados os primeiros moradores. Segundo a
estudante 1490, “[...] nessa comunidade existe pouco mais de vinte casas [...]”.

Um registro de terras da freguesia de Macaúbas tem relação com a comunidade


Engenho, pois, atualmente, existe uma fazenda Sarandi a 2 km a leste da fazenda
Engenho, descrita no texto sobre a Lagoa Grande, e o registro se refere ao senhor
Felippe Batista, que, provavelmente foi o antecessor dos vários Batistas da comunidade:

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José Antonio de Oliveira e Silva declara que possui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubasa Fazenda do Sarandi que houve por herançaL da sua
finada Mai............ Dona Anna Maria do........os demais
herdeiros, aqual a Fazenda se estrema para oNascente com
Felippe Baptista de Souza, e Antonio Goncalves Seixas para
oNorte, com João Alves da Costa e Maximino Pereira de Souza
e os herdeiros do finado João José da Silva Dourado, pelo
puente com Claudio Antonio de Oliveira, epela parte do Sul
com herdeiros do finado Manoel Francisco Xavier do Rego.
Macaubas o 1º . de Junho de 1859. José Antonio de Oliveira.
Foi apresentado eregistrado no dia 16 do mesmo mes de Junho.
Pagou nove centos, e oitenta e oito réis. Escrivão João Antônio
do Rego, o Vigario Fernando Augusto Leão (registro 669)

A comunidade homenageou o senhor Leolino Batista dando seu nome à Escola,


que “[...] é uma pouco velha, mas [...] lá dentro é tudo organizado [...]” (E. 1489). Em
2009 a Escola Municipal Leolino Batista teve matriculado 8 estudantes, sendo 2 na pré-
Escola e os outros 6 “[...] da 1ª a 3ª série [...]” (E.1489). Em 2012 a atividade na mesma
foram paralisadas. Além da Escola, os lugares considerados mais importantes, pelos
estudantes, foram: a capela da igreja católica “[...] aonde eu, minha família e todos os
vizinhos vão para rezar, tem o catecismo e às vezes missa [...]” (E. 1489), uma
barragem de nome Ingazeira, um campo de futebol e “[...] um lindo e enorme morro que
nas épocas de chuva descem cachoeiras [...]” (E. 1488). A comunidade sedia também
uma associação, Associação Beneficente e Comunitária das Comunidades de Engenho,
fundada em 20 de agosto de 1999.

O pertencimento é percebido no texto da estudante 1488, “[...] eu amo o meu


lugar [...] A época do ano que mais gosto, é a de São João, nessa época tem muita
diversão dançamos quadrilha na escola. Em minha comunidade os idosos, crianças e
jovens também dançam [...]”. Além de quadrilha, tem “[...] pau de fita, dança cowtry e
às vezes (banda de) forró [...]” (E. 1489). “[...] No dia 23 de junho fazemos fogueiras e
soltamos fogos de artifícios [...]” (E. 1488), “[...] no outro dia de manhã (dia 24),
costumamos beber café perto da fogueira [...]” (E. 1489). É comum também a realização
da festa religiosa em homenagem a São José, padroeiro da comunidade, no dia 19 de
março. As comidas típicas dessa localidade não diferem muito das demais, pois as

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pessoas utilizam como ingredientes o que é produzido no local, desta forma, fazem:
beiju, bolo de milho, pamonha, escaldados, cuscuz, cural de milho etc.

A maioria da população vive da produção de feijão, milho, mandioca para


farinha, cana de açúcar para rapadura, entre outros; e da criação de gado, suínos, aves e
abelhas, estas últimas para obtenção de mel. Segundo os moradores mais velhos,
antigamente a água era abundante e o solo fértil, existiam árvores em todos os lugares,
tornando a região muito mais bonita e úmida. Havia muitos animais como: veado, tatu,
jacu, porco-do-mato e muitos outros. No entanto, eles já não pintam mais o mesmo
quadro favorável ao meio ambiente. Mesmo sem muita água, “[...] Às tardes os
agricultores, vão dar água a seus gados num rio próximo a minha casa, conhecido como
Polista [...]”, nos conta a estudante 1488. As técnicas de cultivo e produção também
estão mudando, um exemplo, é a tração animal que está sendo substituída pela
motorizada nas fábricas de farinha.

Outra fonte de renda, que pode ser melhor aproveitada, é a extração de minérios.
O tipo de minério encontrado é a ametista. Atualmente é extraída de modo artesanal de
uma jazida pequena, próximo do morro do Engenho. Da forma que se faz pode provocar
acidentes para as pessoas e animais, devido a falta de equipamento de segurança
adequado para a extração e devido ao buraco profundo, que é perigoso para os que
circulam por perto. Em época de chuva, este mesmo buraco se enche de água, que é
utilizada pela população.

Murici

A comunidade é composta pelas localidades Barroca, Cambaitó e pelo povoado


Murici. O Murici é referido em alguns lugares como distrito, no entanto, é apenas um
povoado, pois, legalmente, distrito é uma denominação empregada apenas para locais
que têm cartório. Fica a 20 km a oeste da sede de Tanque Novo, em linha reta, e a 25
km pela estrada. Segundo os moradores pesquisados, os primeiros habitantes que
ocuparam essa região foram: Pifônio, Galdino, José Francisco, Feliciano, José Antônio
e Joaquim Gabriel. Eles viviam na Baixa Verde e teriam encontrado terras boas para o
cultivo de mandioca e feijão catador no povoado, então construíram suas casas, dando
inicio à comunidade.

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A estudante 1525 escreve que “[...] apesar de ser um lugar muito simples [...] é
uma comunidade muito alegre, de pessoas honestas e companheiras e fazem amizades
com todos, tem muitas coisas bonitas [...] tem diversão e liberdade onde as crianças
podem brincar livres sem nada a pertubar [...]”. O 1527 conta que “[...] Murici é uma
comunidade com pouco mais de 300 pessoas [...]”. “[...] No local onde moro, alguns
habitantes gostam de falar da vida allheia [...]”, revela o 1531. Outro estudante diz que,
“[...] não falta nada é um lugar onde não tem violência [...] está crescendo muito
desenvolvido graças ao esforço de todos [...]” (E. 1537). “[...] O povo é muito religioso
a maioria são católicos [...]”, informa o 1528. A maioria dos estudantes demonstra a
religiosidade se referindo à capela do povoado, como, por exemplo, o estudante 1512,
“[...] tem uma igreja no meio da praça [...]” e o 1532, “[...] temos também uma igreja
que a noite nós vamos rezar temos catecismos ao sábado [...]”. No trecho escrito pelo
estudante 1526, fica especificado o dia da semana que tem reza: “[...] sábado tem reza
depois que acaba a gente fica na praça conversando [...]”.

O padroeiro da comunidade é o Sagrado Coração de Jesus, muito adorado pelos


devotos. Além da religião católica, os moradores dizem que tempos atrás existia a
“macumba”. Essa palavra dá um sentido pejorativo ao culto sincrético afro-brasileiro
derivado de práticas religiosas e divindades dos povos africanos, trazidos ao Brasil
como escravos. Observando o povoado, percebemos que na formação étnica da
comunidade existe a presença de afro-descendentes e alguns deles dizem que os
escravos se instalaram na região por volta do ano 1800. Além dos elementos da cultura
africana incorporados aos elementos da teologia cristã, observamos também que mitos
indígenas se mostram presentes. Portanto, é visível que a história do povoado não se
resume à chegada dos ditos “primeiros habitantes” e deve ser melhor pesquisada.

Nessa comunidade a cultura é bastante diversificada. No mês de junho são feitas


fogueiras, quadrilhas, comidas típicas, e se soltam fogos de artifício etc. Quatro
estudantes escrevem sobre o São João do Murici: 1512, 1514, 1527 e 1531. O 1514
acrescenta que “[...] no dia 24 de junho juntam muitas pessoas e vão para Barroca para a
brincadeira, que é realizada todo ano [...] Temos também novenas em festejos dos
Santos e em louvor ao padroeiro do lugar coração de Jesus [...]”. São apresentadas
alvoradas, coroação de Nossa Senhora, orações natalinas e, em toda época de muita
seca, os moradores fazem uma procissão para jogar água no cruzeiro. O estudante 1508
escreve que também já houve “[...] 2 ou 3 cavalgadas muito legais [...]”, o 1509

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acrescenta que elas “[...] acontecem de ano em ano [...]” e, através do estudante 1511,
percebemos que se trata de uma manifestação cultural que faz parte da comunidade:
“[...] gosto de [...] participar da cavalgada e corrida de cavalo [...]”.

O artesanato é produzido na comunidade Murici com a intenção de deixar para


as futuras gerações a cultura, sabedoria e talento artístico dos moradores. As pessoas
que mais se destacaram foram: dona Sulina, que produzia tecido no tear; dona Adelina,
que fazia crochês e rendas; os senhores Celso e Carmerino José de Magalhães, que
faziam violões e gaitas; a dona Celsina e a dona Maria de Jesus, que faziam bitus de
algodão, colchas de retalhos, pinturas em tecido, bordados, entre outros. Atualmente
existem algumas mulheres que fazem crochês e um artista plástico, Rubier, que esculpe
em madeira. Na literatura popular alguns moradores mais antigos e outros mais novos
fazem desafios e quadrinhos, jogam versos e fazem cordéis sobre a cultura da região.

Na agricultura a produção dos alimentos é ampla, com destaque para: feijão (E.
1513, 1516, 1517, 1520, 1521, 1522, 1527), mandioca (E. 1510, 1517, 1520, 1521,
1522), milho (E. 1510, 1513, 1516, 1517, 1520, 1521, 1522, 1527), arroz, mamona e
verduras, como: alface (E. 1517, 1521, 1522), maxixe (E. 1517, 1521), repolho (E.
1517), pepino (E. 1517), chuchu (E. 1517), quiabo (E. 1517), tomate (E. 1517, 1522),
couve (E. 1522), abóbora (E. 1517, 1521), cenoura (E. 1521, 1522), cebola (E. 1521),
batata-doce (E. 1522) e beterraba (E. 1522). “[...] Aqui frutas não tem muitas [...]” (E.
1517), temos “[...] jabuticaba, manga e goiaba [...]” (E. 1538) e os moradores plantam
melancia (E. 1513, 1521). A época dos frutos vai de “[...] outubro a março [...]” (E.
1528).

Observa-se um grande aumento na produção, graças às novas técnicas de plantio


e colheita. O adubo natural, de antigamente, ainda é utilizado com a ajuda dos
fertilizantes químicos. O arado puxado por animais não foi esquecido, mas a
predominância é de arado puxado por trator, pois prepara mais terra em muito menos
tempo que o outro. Também é utilizada a irrigação por meio de mangueiras, que permite
que os solos secos tornem-se produtivos. A estudante 1519 escreve: “[...] nós fazemos
farinha, nós moemos no engenho e muito bom é a criação de animal [...]”. Os seguintes
animais de criação são citados pelos estudantes: “[...] vacas, touros, bodes, cachorros,
gatos [...]” (E. 1508), “[...] cavalo, porco, galinha [...]” (E. 1519), boi, cabra e jegue.

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A riqueza mineral que existe na região é o granito-azul, uma rocha que se forma
através de um vagaroso resfriamento e solidificação do magma, mas que ainda não foi
extraída e comercializada. E, caso venha a ocorrer, pode contribuir com a melhoria o
povoado, como, por exemplo, a melhoria “[...] das estradas esburacadas [...]”,
denunciadas pelo estudante 1532, pois apenas “[...] metade das ruas são calçadas [...]”
(E. 1528).

As doenças que mais afetam as pessoas são: gripe, diarréia, gastrite, reumatismo,
dores de cabeça e doenças cardiovasculares. A comunidade possui um PSF – Programa
de Saúde da Família, por isso há atendimento médico de segunda a quinta-feira, para as
pessoas do Murici e das comunidades vizinhas; há distribuição de remédios e também
está disponível uma ambulância para emergências. Devido a sua importância é citado
por mais de 15 estudantes que moram na comunidade. Um deles, 1532, escreve “[...] Há
coisas ruins, como [...] os postos de saúde não têm médico o suficiente para atender as
pessoas [...]”. O estudante 1529 complementa escrevendo que “[...] tem um pequeno
hospital denominado Programa de Saúde da Família (PSF) [...] (e no) hospital também
falta alguns materiais [...]”.

Antes existiam duas escolas: a Escola Municipal José Magalhães Moço e a


Escola Carmerino José de Magalhães, a primeira atendendo a pré-escola e o ensino
fundamental inicial e a segunda atendendo o ensino fundamental final. O Colégio
Municipal do Distrito de Murici foi construído em 1996, onde atualmente funciona a
pré-escola e todas as séries do Ensino Fundamental, sendo que as duas escolas
anteriores foram extintas, já que o Colégio passou a utilizar também suas dependências.
Em 2007 estudavam 367 alunos; em 2009 este número caiu para 313, estando
matriculados: 24 na pré-escola, 128 no ensino fundamental inicial e 161 no fundamental
final; em 2012 285 estudantes estavam matriculados, sendo 12, 109 e 164 nas
respectivas categorias de ensino do colégio, sendo 8 EJA nos anos finas. Também
funciona no colégio o Ensino Médio, do programa Ensino sem Fronteiras, do Governo
do Estado da Bahia, que possibilita a jovens e adultos estudarem por meio da utilização
da metodologia do Telecurso 2000. Esse programa é coordenado pelo Colégio Estadual
de Tanque Novo e, em 2009, formou 18 alunos. 204 em 2009 e 171 em 2012,
necessitaram de transporte público para se deslocarem na zona rural, das suas casas até
o povoado do Murici.

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O Colégio sempre realizou gincanas, torneios de futebol e comemorou o


folclore, tendo como destaques as lendas sobre: Berrador, animal que aparece a meia-
noite e tem a pata parecida com um fundo de garrafa; Romãozinho, animal que monta
nos cavalos durante a noite; Mula-sem-cabeça, monstro em que é transformada a mulher
que foi amante de um padre; Caipora, animal invisível que bate nos cachorros à noite. O
estudante 1532 escreve que “[...] os colégios faltam equipamentos [...]”, o 1529 também
se manifesta: “[...] a escola ainda falta algumas coisas [...] a aula de Educação Física é
realizada num campinho [...]”. Os jogos de futebol são realizados no campo da
comunidade feito em 1960. O estudante 1509 escreve que [...] infelizmente aqui no
Murici não tem quadra a gente tem que jogar bola nas capoeiras [...]”, se referindo ao
campo de futebol. O estudante 1511 além de gostar de “[...] trabalhar com gado [...]”
evidencia que “[...] também gosta de jogar bola [...]”. Os jogos acontecem todos os
domingos, como nos informa os estudantes 1526, 1531, 1532 e 1533. O estudante 1528
confirma que é “[...] um esporte muito praticado [...]” na comunidade, tanto “[...]
masculino e femino [...]”, completa o estudante 1534.

Em relação ao Meio Ambiente, está muito presente nos textos dos estudantes o
nome Morro do Serrote (E. 1508, 1509, 1510, 1526, 1530, 1531, 1533, 1534). Com
elevações e rochas estratificadas, o morro do Serrote é a principal atração da
comunidade, sendo também prestigiado por pessoas de fora. Com um pequeno lago a
sua frente, o morro é uma ótima opção para quem deseja se refrescar, mas só há água no
período chuvoso. O estudante 1530 descreve assim a paisagem local: “[...] lindas como
por exemplo o morro do serrote e do meio que tem desenhos de índios que moravam
antigamente [...]”. O estudante 1534 completa, dizendo que, “[...] quando chove lá é
lindo [...] tem uma árvore, muito linda no rio, faz uma sombra boa, de fazer piquinique”.
O 1531 escreve que “[...] tem um lindo morro chamado morro do serrote, perto do meu
lugar tem um rio chamado Rio da Barroca (conhecido também por rio Murici), mas está
com muito tempo que não veio água, por causa do clima seco tem uma barragem [...]”,
onde o gado bebe água.

O povoado de Murici é descrito como bonito pela maioria (E. 1534). Quem
escreveu que não é bonito, o considera: “[...] divertido [...] (com) o meio ambiente [...]
cheio de flores e árvores verdes [...]” (E. 1519). O estudante 1521 escreve que “[...] a
paisagem da minha comunidade não é boa pois as pessoas derrubam as árvores [...]”. O
1520 considera que “[...] o único defeito é a falta de coleta de lixo [...]”, o 1530 diz que:

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“[...] aqui para mim é um paraíso mas também tem problemas com a falta d’água e os
lixões que aqui tem bastante [...]”. Segundo outro estudante “[...] aqui há um rio mas já
faz muito tempo que não desce água por causa do lixo que as pessoas jogam [...]” (E.
1526). O estudante 1529 confirma o que disse o anterior, mas não vincula o problema
ao lixo: “[...] o rio está com muito tempo que não desce água mesmo com o período das
chuvas [...]”. Não é possível saber ao certo se todos se referem ao mesmo rio, como a
estudante 1514 que diz “[...] no final de semana eu vou para o rio conhecido, como rio
de tiva [...]”.

A vegetação predominante na região é a caatinga, com árvores arbustivas e


troncos cascudos, poucas folhas, no período seco, e muitos espinhos. Se estiver em
período chuvoso, rapidamente torna-se verde. Segundo os moradores, os seguintes
animais silvestres estão em extinção: raposa, bagadá, cobra, coelho, tatu, veado, sariguê,
seriema, entre outros. Antes o solo era mais fértil, mas, com as queimadas, erosão e
poluição, o solo está necessitando cada vez mais de cuidados especiais.

Além do que já foi escrito, os estudantes citaram na comunidade: “[...] loja [...]
casa de um trator [...] vendas [...] “supermercado” [...] um cemitério [...] duas caixas de
água [...]” (E. 1508), “[...] vários bares [...]” (E. 1511), “[...] lugar de consertar carro
[...] uma ponte [...] um telefone (orelhão) [...] um consultório de dentista [...]”, “[...]
energia elétrica e água encanada [...]” (E. 1521), sendo que, “[...] há pouco tempo atrás
não tinha energia elétrica [...]” (E. 1523). Também se encontram no Murici as sedes das
seguintes associações: Associação dos Pequenos Produtores do Vale do Santo Onofre e
Murici, fundada em 12 de agosto de 2003; Associação Beneficente e Comunitária de
Murici, fundada em 27 de julho de 1989.

Uma localidade que se relaciona bastante com o povoado do Murici chama-se


Cambaitó I. Conforme nos descreve o estudante 1470 “tem dois Cambaitó um perto do
outro”: na margem esquerda do rio Santo Onofre existe o Cambaitó II, situado no
município de Macaúbas, que a população considera Riacho de Santana, e na direita, o
Cambaitó I que pertence ao município de Tanque Novo. A 3,5 km da Escola dessa
pequena localidade, descendo o curso do rio Santo Onofre, está a fazenda Cambaitó,
que deu origem ao nome das duas localidades. Neves calculou que a mesma teria 1.800
ha em 2004 e escreve o seguinte sobre a mesma:

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Cambaitó – Sítio hoje em Macaúbas, com uma légua de


comprimento e meia de largura, arrendado pela Casa da Ponte,
em 1804, para Valentim Antônio de Oliveira, por dois mil réis
anuais, limitando com Gado Bravo, rio Santo Onofre, André
Barbosa e São João, avaliado em 1819, por 96 mil réis e
vendido, em 1828, para Manoel Joaquim, Bento G. Alves e
Francisco Antônio. (NEVES, 2003, p. 319)

Alguns registros de terras da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de


Macaúbas revelam mais detalhes sobre a fazenda Cambaitó:

José da Costa Coelho declara que pussui huma parte de terras


na Fazenda do Comboitó desta Freguezia de Nossa Senhora da
Conceição da Villa de Macaúbas, por compra que fes a João
Alves da Costa, estremando pelo lado do Norte com Thimotio
Nunes da Silva pelo Sul, com Claudio Antonio de Oliveira pelo
Nascente com herdeiras de Plácido de Souza Fagundes e pelo
puente com Claudio Antonio de Oliveira. Comboitó 19 de
Abril de 1859. Por Jose da Costa Coelho. Thomé Fernandes
Leão. Apresentado no dia 1º de Maio, eregistrado no dia 4 do
mesmo mês, pagou seis centos reis. O Escrivao Joao Antonio
do Rego. O Vigario Fernando Augusto Leão (n. 383)

Florencio Dias da Franca pussui nesta Freguezia de Nossa


Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte de
terras em cumum no Sitio denominado Comboitó que houve
por compra que fes a José Cardoso Pereira easua Mulher Maria
Francisca de Jesus, cuja parte de terras não declara assuas
estremas por se achar as mesmas mencionadas na Escreptura
geral da compra das terras do mesmo Sitio, enão está siente dos
seos pontos. Arraial da Lagoa Clara o1º de Maio de 1859.
Arogo de Florencio Dias da Franca. Francisco Antonio
Baptista. Apresentado no mesmo dia 1º de Maio, e registrado
no dia 5 do do do mês, epagou oito centos equarenta reis.
Escrivão João Antonio do Rego. Vigário Fernando Augusto
Leão (n. 403).

Claudio Antonio de Oliveira declara que pussui nesta Freguezia


de Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma

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parte de terra em cumum na Fazenda Camboitó cuja Fazenda se


estrema pelo Nascente, com Antonio Jose de Magalhaens, para
o Sul com os herdeiros do finado Manoel Francisco para
opuente com aFazenda do gado brabo, epara oNorte, como
Estevão da Costa Carlho (Coelho). Macaubas 12 de Junho de
1859. Claudio Antonio de Oliveira. Apresentado eregistrado no
dia 16 de Junho. Pagou seis centos e secenta reis. O Escrivao
João Antonio do Rego. O Vigario Fernando Augusto Leão (n.
666).

Sebastião José da Costa declarou um registro (n.384) semelhante ao declarado


por José da Costa Coelho (n. 383) com a diferença que pagou oitocentos e quarenta reis.
João Alves da Costa, Claudio Antonio Oliveira e seus filhos são citados no texto sobre o
Alecrim e em vários outros registros. Manoel Francisco Xavier do Rego era dono da
fazenda Mocambo, atualmente em Igaporã.

O senhor José Cardoso Pereira, que vendeu terras na região, é homônimo do


morador de São José, mas não parece ser a mesma pessoa, devido à diferença de idade.
Ele parece ter sido o principal responsável pela povoação, pois, segundo os moradores,
depois da chegada do senhor Joaquim Pereira, aos poucos Cambaitó de Tanque Novo se
formou, vindo a habitá-la também o senhor Antônio Pereira e outros moradores com o
sobrenome Pereira. A comunidade Cambaitó de Tanque Novo se localiza a 26 km a
oeste da sede, pelo caminho principal, e a 23 km em linha reta. Está a sudeste de uma
das fazendas denominadas Murici, a menos de 1km da mesma, e a noroeste da outra
fazenda Murici, a pouco mais de 3 km da mesma, localizada onde se encontra o
povoado Murici.

O sentimento de pertencimento se expressa em alguns trechos escritos pelos


estudantes: “[...] existem pessoas boas e divertidas [...]” (E. 1464), “[...] minha
comunidade é boa para mim [...]” (E. 1463) e “[...] é um lugar pequeno mas eu gosto de
morar lá [...]”(E. 1470). Um deles também mostra os pontos negativos: “[...] Além
disso, tem umas partes ruins, no Cambaitó não tem telefone, calçamento, igreja [...]” (E.
1468). Em relação à igreja, os estudantes 1462, 1463, 1465, 1467 e 1471 consideram
que esta existe na localidade. Neste caso, consideramos que ou a estudante 20 está
diferenciando igreja de capela e os outros estudantes não estão fazendo esta
diferenciação, ou ela deve estar se referindo à localidade Cambaitó I e os outros se

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referem à outra comunidade, talvez Cambaitó II, que, por ser homônima, não foi
diferenciada de Cambaitó I:

“[...] tem uma igreja católica e uma evangélica, mas são todas
longe [...] na igreja católica tem um jardim maravilhoso [...]”
(E. 1462); “[...] tem uma praça linda uma igreja maravilhosa
mas evangélica, mas também tem igreja católica [...]” (E.
1463); “[...] convido para ele vir na igreja [...]” (E. 1465); “[...]
onde eu moro fez uma igreja e uma Escola muito bonita fez,
um belo calçamento [...]” (E. 1467) e “[...] convido para vir a
minha comunidade para você conhecer a nova praça que fez a
plantação do jardim em redor da igreja [...]” (E. 1471).

Estou considerando a segunda hipótese, pois não encontrei registros sobre capela
em Cambaitó I, na paróquia do município de Tanque Novo. Mesmo assim, a maioria da
população de Cambaitó I é católica e segue a tradição religiosa comemorando Natal,
realizando jejum durante a quaresma e na Semana Santa, quando realizam a Via Sacra e
comemoram a Páscoa e fazendo rezas. Em outras datas, as atividades têm um caráter
mais festivo, como por exemplo: em janeiro, quando o grupo de reisado formado pelos
moradores desde 1998, fazem a festa, “[...] no mês de junho, e na virada do ano
(quando) costumam fazer forró ou festa no bar” (E. 1468). O dia a dia dos moradores é
descrito no seguinte trecho:

“[...] Lá tem um rio chamado Santo Onfore, com um pouco de


água que desce no rio, nós podemos tomar banho, lavar roupa.
Nos dias de sábado a tarde nós jogamos bola e a noite
dançamos um forrozinho pé de serra e no domingo nós vamos
para a casa dos amigos. E nos dias de semana nós trabalhamos
de dia e estudamos a noite. No verão aqui é muito seco e
quente mas nós não perdemos a alegria e nunca desistimos.”
(E. 1469)

A localidade tem a Escola Municipal Hermínio Antônio de Souza, por isso, o


analfabetismo quase não existe, afetando apenas alguns idosos. Em 2009 foram
matriculadas 16 crianças nessa Escola, sendo 3 delas na pré-escola e 13 no ensino
fundamental inical. Em 2012 a escola esteve paralisada. Os alunos não utilizaram
transporte escolar nos últimos anos, mas quando continuam os estudos no Murici, na
sede ou nos colégios de outros municípios, passam a utilizá-lo.

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Não existe coleta de lixo ou assistência médica. As doenças mais comuns são as
verminoses, a gripe e a pressão alta. Uma associação, com sede na comunidade Murici,
fundada em 12 de agosto de 2003, Associação dos Pequenos Produtores do Vale do
Santo Onofre e Murici, pode representar os interesses da mesma em relação a estas e
outras questões.

O artesanato compreende a fabricação de bitus, em teares quase extintos,


peneiras, esteiras de palha de coqueiro, carro de boi, cangas, camas, portas e mesas. São
pratos típicos do Cambaitó: bolos de polvilho, beiju, batata-doce no São João, chimango
e chiringa. No restante da comunidade também são citados: milho verde cozido ou
assado, pamonha, cuscuz de fubá de milho, mingau de milho, escaldado, bolo de puba,
pão-de-ló, cobra-cega (bolo de farinha), doces de manga, mamão, coco, umbu, goiaba,
leite, paçoca etc.

Na agricultura local tem milho, feijão, mandioca e batata-doce, que são


cultivados com arados e tombadores, em terras preparadas com adubação orgânica,
demonstrando preocupação com a questão ambiental, ou talvez simplesmente por falta
de recursos ou tradição, visto, as pessoas ainda desmatam muito para fazer seus
plantios, prejudicando a manutenção do habitat da fauna, a prevenção de erosões e
conservação do solo. A falta de métodos adequados para o armazenamento da água
rebate na escassez hídrica para as pessoas e animais. A busca pela água leva os
moradores a ambientes naturais com potencial turístico, como o citado pelo estudante:
“[...] perto de Cambaitó existe um morro do serrote, e que neste morro tem um rio [...]”
(E. 1468), conseqüentemente, este potencial vem diminuindo a cada dia.

O esporte mais praticado é o futebol masculino, realizado aos domingos, no


período vespertino. A partir de 1990, construíram o campo de futebol e formaram o
time da comunidade. Outros jogos comuns são: baralho, sinuca e dominó, praticados
principalmente aos domingos, e as brincadeiras de criança: cantigas de roda,
amarelinha, pula corda e esconde-esconde.

A localidade Barroca, Barrocas ou Tamboril, como também é chamada, apesar


deste último nome ser menos conhecido, é difusa, pois a Escola Municipal está na beira
do riacho Murici, a 3,5 km da foz, no riacho da Rapadura, mas também existe uma
fazenda Barroca no riacho Garapa, a 5 km de distância da Escola, próxima às
localidades Garapa e Macacos. Entre as nascentes dos dois riachos temos também a

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serra da Barroca. Consideraremos como ponto de referência a Escola Municipal de


Barroca, que fica a aproximadamente 26 km da sede pelo acesso principal e a 21 km em
linha reta. A escola é a instituição mais importante, essa teve 16 alunos matriculados em
2009, sendo 11 no ensino fundamental inicial e 5 na pré-escola. Em 2012 teve 18
alunos, 14 no fundamental inicial e 4 na pré-escola. Os moradores de lá que estudam no
colégio Murici escreveram que a comunidade tem “pouco mais de vinte casas” (E. 1458
e 1459) e “é muito alegre [...]” (E. 1459). Outros trechos revelam mais caracterísitcas da
localidade:

A associação que se referia à Barroca, com sede na localidade Jacinta, chamada


Associação Comunitária dos Produtores Rurais de Jacinta, Barrocas, Baraúnas e
Tamboril, fundada em 06 de dezembro de 2001, foi considerada inapta e baixada em 31
de dezembro de 2008. Atualmente existe uma associação, com sede na comunidade
Murici, fundada em 12 de agosto de 2003, Associação dos Pequenos Produtores do Vale
do Santo Onofre e Murici, que pode representar a mesma, pois Barroca se encontra no
vale do rio Murici. Como já vimos, será uma representação parcial, já que a localidade
se espalha além deste. É considerada pertencente ao povoado do Murici, devido a essa
Associação de que participa.

“[...] no meu lugar tem muitas pessoas trabalhadoras [...]


unidas [...]” (E. 1457) “[...] e respeitam uns aos outros [...]” (E.
1459) “[...] na minha casa cria porco, galinha e gado e todo dia
damos água no rio [...] as pessoas plantam [...] milho, feijão e
mandioca [...] um rio perto da minha casa não tem muita água
[...]” (E. 1455) “[...] tem um morro que é alto e lindo [...] sei
que você adora cavalo, nós podemos andar [...] no rio tem
lindas pedras brilhantes [...]” (E. 1458) “[...] é um lugar
divertido e tem um campo de futebol e dia de domingo as
pessoas jogam [...] a minha Escola faz brincadeiras, quadrilhas
e outras [...] dia 24 de junho acende a fogueira e vamos beber
café com bolos e é uma festa de São João [...]” (E. 1455) “[...]
agora que está chegando o natal é um tempo de ganharmos e
comprarmos vários presentes [...]” (E. 1446) “[...] está com
quase um ano que foi instalada a energia elétrica [...]” (E.
1459)

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Percebemos as relações sociais amigáveis, a economia baseada exclusivamente


no setor primário, escassez de recursos hídricos, paisagens e cultura, tradicionais e
novas, muito significativas para esses estudantes.

Uma comunidade que pertence a Paróquia Nossa Senhora da Glória, de Riacho


de Santana, mas estabelece relação com vários moradores do Murici é Gado Bravo. Fica
na margem esquerda do rio Santo Onofre, na coordenada 748.741E e 8.507.916N.
Segundo as pessoas pesquisadas, os primeiros moradores dessa região foram: José
Alves da Costa, Anjo Lopes de Oliveira, Joaquim Costa, Antônio Magno, Ana Caitana e
Sebastião. Esses encontraram condições favoráveis, construíram suas casas e
intensificaram a criação de gados soltos, que ficaram bravos, pois os donos não tinham
como ameaçá-los no regime de solta; por essa razão, essa comunidade passou a ser
chamada de “Gado Bravo”. Essa deve ter sido a origem da fazenda Gado Bravo,
descrita por Neves com 900 ha:

Gado Bravo – Sítio hoje em Macaúbas, limites de Tanque


Novo, com meia légua de comprimento e igual distância de
largura, arrendado pela Casa da Ponte, em 1804, por 10 tostões,
para José da Rocha, limitando com o rio Santo Onofre,
Mocambo, Barra do Cambaitó e extremas de José Pereira
Marinho. Avaliado no tombamento fundiário de 1819, por 60
mil réis e depois vendido para Vitorino Xavier do Rego
(NEVES, 2003, p. 354).

O sobrenome Alves da Costa, citado pelos moradores, remete ao senhor João


Alves da Costa que vendeu em 1861 uma gleba de Várzea para Claudio Antônio de
Oliveira, o mesmo citado no registro de terras da freguesia de Nossa Senhora da
Conceição de Macaúbas (1857-1859), no seguinte registro sobre a fazenda Gado Bravo.

Claudio Antonio de Oliveira declara que pussui nesta Freguezia


de Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas quatro
partes de terra na Fazenda gado brabo em comum com os mais
interessados havidas, huma parte por herança da finada sua Mai
Maria Madalêna, eos outros tres por compra os mais herdeiros
cuja Fazenda estrema pela parte do Nascente com os herdeiros
de Raimundo Pereira de Magalhaens para o Sul com os
herdeiros do finado Manoel Francisco, para opuente com os
mesmo herdeiros epara oNorte com a Caxueira, Cambaitó.

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Macaubas 12 de Junho de 1859. Claudio Antonio de Oliveira.


Apresentado no dia 12 de Junho, eregistrado no dia 15 do
mesmo. Pagou ....... e oitenta réis. O Escrivao João Antonio do
Rego. Vigario Fernando Augusto Leão (n. 663)

A família de Claudio Antonio de Oliveira parece ter sido dona de boa parte das
terras do município de Tanque Novo. Aparece constantemente referência a ele, aos seus
filhos ou, como vimos agora, à sua mãe nos registros de terras da década de 1850, que
transcrevemos nos textos. Raimundo Pereira de Magalhães teria sido dono das terras
onde se encontra atualmente o povoado Murici, pois é citado nesse, pela parte do
nascente e em outro registro da fazenda Araçás, que fica a leste de Murici, pela parte do
poente. Manoel Francisco Xavier do Rego era dono da fazenda Mocambo, atualmente
no município de Igaporã.

Segundo os moradores, os produtos com maior produção eram o milho, feijão,


mandioca, arroz, cana-de-açúcar e algodão, mas com o passar do tempo o algodão e o
arroz pararam de ser cultivados devido, principalmente, à falta de métodos adequados
para armazenar e aplicar a água da chuva na cultura. Há uma caixa que fornece água
para todas as famílias. Os agricultores utilizam como técnica de cultivo a queimada para
limpar a terra e a capina depois o plantio. O solo modificou devido à forma de plantio.
Os hábitos alimentares se baseiam nos produtos citados, as verduras que eles produzem
e outros, que são comprados, como arroz e macarrão etc. Os pratos típicos citados
foram: bolos de fubá, milho e mandioca. O artesanato é feito com criatividade,
começando pelas bordadeiras que fazem peças para embelezar suas próprias casas. Há
pessoas que fazem oratórios em madeira, carros de boi em miniatura etc.

Em 2007, os alfabetizados acima de 15 anos de idade eram aproximadamente 90


pessoas e os analfabetos em torno de 40. Em 2009, 212 pessoas estudaram na Escola
Municipal José Alves da Costa, construída em 1988 e mantida pela prefeitura de Riacho
de Santana, sendo 91 na pré-escola e 121 no ensino fundamental inicial. Em 2012, 228
se matricularam na mesma, sendo 88 nas séries iniciais do ensino fundamental 140 nas
séries finais. Neste último ano, 194 utilizaram o transporte escolar público.

A religião predominante é a católica, mas há pouco tempo um grupo de pessoas


de outra cidade introduziu a religião evangélica, que tem alguns seguidores. A
religiosidade nessa comunidade é expressa através de alguns costumes, tais como a festa

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do padroeiro, procissões etc. Também faz parte da cultura a busca do mastro, roda de
viola com música caipira, quadrilha nas festas juninas, lendas e brincadeiras.

A flora deste local mais abundante é a caatinga, formada por árvores de pequeno
porte, como cajazeira, unha de gato, vaqueta, São João, açoita veado etc. O animal mais
encontrado na comunidade é o boi, mas também existe em menor quantidade: veado,
onça, cotia, jacu, sabiá, preá etc. No relevo existem muitas depressões, juntamente com
morros e vales. As pessoas mais velhas dizem que já foram encontrados minérios como
manganês, cristais etc.

As doenças que afetavam a comunidade eram: o mal de sete dias, sarampo,


varíola, catapora, tosse comprida, papeira e febre amarela. Atualmente são: gripe,
problemas cardíacos, hipertensão etc. Nessa localidade os atendimentos só acontecem
no hospital da sede. A comunidade tem um cemitério construído na década de 1980.

A principal modalidade esportiva é o futebol. A comunidade tem um campo


onde o time local já disputou vários campeonatos. Essa modalidade de acordo com a
pesquisa surgiu há muito tempo, quando os primeiros moradores praticavam utilizando
bola de saco e meia, para se divertirem nas horas vagas.
Outra comunidade considerada como parte do Murici, pois até dezembro de
2012 pertencia legalmente ao município de Tanque Novo, é a comunidade Sambaíba.
Fica a aproximdamente 25 km a sudoeste da sua sede, em linha reta, ou a 42 km pela
estrada que margeia o rio Santo Onofre. Devido à distância, Tanque Novo nunca
prestou assistência à comunidade, o que era feito por Caetité na Sambaíba de Cima e
por Riacho de Santana na chamada Sambaíba de Baixo, recentemente delimitada pelo
INCRA (2009) como território quilombola, o qual pertencia legalmente aos municípios
de Macaúbas e Tanque Novo. Com a criação da nova lei dos limites municipais,
sancionada no dia 07/01/2013, essa área quilombola passou a pertencer legalmente a
Riacho de Santana e Caetité. A Sambaíba de Cima, que pertencia legalmente a Tanque
Novo, passou a pertencer a Caetité.
O rio Santo Onofre é também conhecido como rio Sambaíba nesse trecho e
divide os moradores em duas localidades denominadas por fazenda Ticum e Sambaíba,
que seriam as comunidades denominadas, em relação à posição no rio, como Sambaíba
de Baixo e Sambaíba de Cima, respectivamente, estando a aproximadamente 2 km de
distância uma da outra. Os que habitavam a antiga fazenda Ticum se denominam, hoje,
integrantes da comunidade de Sambaíba Baixo ou de Riacho de Santana, já os que
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pertenciam à localidade de Sambaíba passaram a se denominar membros de Sambaíba


de Cima ou Comunidade de Sambaíba de Caetité.

Sambaíba de Riacho e de Caetité era uma fazenda só,


Mucambo, o que dividia as duas é só o rio, depois que fizeram
esta divisão (...) Aqui o nome primeiro era Ticum, aí os de lá
vieram pra cá aí ficou tudo Sambaíba (Informante A apud
INCRA, 2009, p.80)
Segundo os pesquisadores do INCRA que estudaram Sambaíba de Riacho de
Santana, a comunidade Sambaíba de Caetité também solicitou, em processo separado, o
seu reconhecimento enquanto Comunidade Remanescente de Quilombolas junto à
Fundação Cultural Palmares. Embora cada comunidade seja representada por
Associações próprias e seus membros sintam-se parte de comunidades distintas,
observamos que há entre eles estreitas relações de parentesco e compadrio, relações
ainda reforçadas atualmente através de um significativo número de casamentos entre
membros de ambas as comunidades.
O pessoal de Sambaíba de Caetité, de Ticum, tudo nasceu em
Barra do Rio do Ouro, aqui em baixo, depois foi casando primo
com primo e foram trabaiá pros lado de lá (...) Antes morava a
maioria em Sambaíba de Caetité, aí os povo foram casando e aí
foram esparramando, fazendo casa pro lado de cá (Informante
A apud INCRA, 2009, p.81).
As duas comunidades estão situadas entre as Serras: Rio das Porteiras e
Barrocas. A comunidade Sambaíba de Caetité é composta por famílias negras que
mantêm estreitas relações de parentesco entre si e com o lugar. Possui a Escola
Municipal 25 de Dezembro, mantida pela prefeitura de Caetité, que, em 2009, atendeu
61 estudantes, sendo 19 na pré-escola e 42 no ensino fundamental inicial. Em 2012, 78
foram matriculados, sendo 21 na pré-escola e 57 no ensino fundamental inicial. Desses,
32 utilizaram transporte escolar em 2012. Para dar continuidade aos estudos, as crianças
e jovens de Sambaíba se deslocam até a comunidade de Gado Bravo, que tem a escola
mantida pela prefeitura de Riacho de Santana.
Não há posto de saúde em Sambaíba de Caetité; para serem atendidos, os
moradores vão até a comunidade do Brejo do Tanque. Em casos mais graves estes se
dirigem para a sede do Município de Riacho de Santana ou Igaporã.

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Segundo os relatos dos moradores a comunidade de Sambaíba fazia parte da


extensa Fazenda chamada Mocambo, fazenda ainda existente em Igaporã, só que com
sua extensão reduzida. Foi fundada pelas matriarcas Iaiá Teadora, citada desta forma,
pois os moradores não se recordam do nome completo, e Francisca do Nascimento, Iaiá
Chiquinha, sendo a primeira a mais antiga na região.
Iaiá Teadora chegou à região por volta da segunda metade do século XIX,
residindo próximo ao Rio das Porteiras, na localidade da Barra do Rio do Ouro, descrita
no mapa do IBGE (1962) somente como fazenda Barra, 4 km, rio abaixo, da
comunidade Sambaíba de Cima. Não existem documentos escritos sobre a primeira
fundadora da comunidade, nem tampouco há uma clareza sobre a história que precede a
sua chegada ao local, a exemplo do motivo de sua vinda, ou mesmo, se já estava casada
com o Senhor João José Ferreira, pois, como registra a historiografia e afirmam os
atuais moradores da comunidade, a região, antes da chegada dessas mulheres, já era
habitada tanto por cativos que trabalhavam na fazenda Mocambo, quanto por grupos
indígenas, denominados pelos mais velhos como “tapuios”.
A memória social do grupo aponta para um período de convivência entre índios
e negros na região e que ainda hoje podem ser encontrados resquícios arqueológicos que
registrem a presença dos primeiros no local. Os pesquisadores do INCRA (2009)
constataram vários elementos da cultura nativa no cotidiano dos moradores da
Comunidade de Sambaíba de Baixo, como a culinária através da produção e do
consumo da farinha, do beiju, da maniçoba, além dos artefatos, através da fabricação e
utilização da panela de barro, do uso de palhas para a produção de cestos, esteiras e
chapéus, dentre outros. Houve um processo de interação social entre eles que resultou
na troca e na ressignificação de elementos na cultura de ambos.
A chegada de Iaiá Chiquinha, casada com o Sr. Marcolino Ferreira, dada num
momento posterior ao da chegada de Iaiá Teadora, pode confirmar a aproximação destes
povos. Segundo a memória coletiva, esta era de origem indígena e foi trazida para o
local após ser capturada a “dente de cachorro”, e ao que tudo indica é a partir da relação
entre os descendentes dessas duas famílias que as duas comunidades denominadas
Sambaíba se fundam. Os relatos obtidos sobre a história das fundadoras da comunidade
afirmam que, em momentos distintos, elas vieram fugidas para o local onde hoje é
Sambaíba de Baixo, mas desconsideram a possibilidade de as mesmas terem sido
escravas da Fazenda Mocambo, embora mencionem que os pais e avós delas haviam

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sido cativos em uma outra região, que a memória coletiva já não alcança, ou silencia.
Analisando os descendentes, consegue-se visualizar sete gerações partindo desde
a matriarca Teadora, que foi a primeira a chegar a Sambaíba de Baixo e constituir
família, seguida de Dona Francisca Nascimento (Iaiá Chiquinha), até os bisnetos de
dona Ana Flora, neta direta das matriarcas citadas. A união das famílias das matriarcas
se dá logo na primeira geração, quando o Sr. José João Ferreira, filho de Teadora, casa-
se com Lara Francisca do Nascimento, filha de Francisca Nascimento e Marcolino
Nascimento. Desta união nasceram seis filhos, dentre eles dona Ana Flora do
Nascimento, que nasceu em 1936 e disponibilizou as informações, juntamente com seus
familiares mais próximos.
Para a comunidade de Sambaíba de Baixo, a prática do casamento com membros
externos, era bem vista apenas quando estes também faziam parte de comunidades
negras, em especial das proximidades de Sambaíba, a exemplo de: Sambaíba de Cima,
Mata de Sapé, Chico Lopes e Rio do Tanque, onde se observa maior proximidade
através de relações de parentesco e compadrio. Para a comunidade, que sempre foi alvo
de preconceito racial, essa era uma forma de se preservar.
É importante ressaltar ainda que alguém externo à comunidade, mesmo sendo de
comunidade negra só passa a ser considerado, pelos moradores de Sambaíba, como
membro desta, a partir do momento em que se casa com um nativo e passa a viver e
produzir no local, a exemplo do casal Sr. Alceno Jesus do Nascimento e Srª. Ivaneide
Maria do Nascimento, sendo o primeiro neto de dona Ana Flora e senhora Ivaneide
pertencente à comunidade de Sambaíba de Cima que hoje abriga o casal. Assim, embora
ambos possuam laços de parentesco com a comunidade de Sambaíba de Baixo, tendo o
Sr. Alceno nascido e crescido nesta e estando seus pais ainda vivendo em Sambaíba de
Baixo, eles não são considerados membros dela e sim de Sambaíba de Cima, por
residirem e terem suas roças nessa última comunidade.
Já o casamento entre primos tido anteriormente como algo comum na
comunidade Sambaíba de Baixo, nos dias atuais começa a ser visto como um tabu por
parte de seus integrantes. Esse processo, por sua vez, deu-se a partir do contato da
população com médicos que passaram a alertar sobre os problemas de doenças
congênitas, que a união entre membros familiares próximos poderia acarretar. Mas,
como ressaltado anteriormente, a endogamia ainda é praticada na comunidade.

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A ligação entre as duas Sambaíbas é intensa, devido ao maior grau de relações


de parentesco entre si. Até hoje a maioria dos casamentos extra-grupal se dá entre
membros dessas duas comunidades. Como podemos constatar na família do Sr. Joaquim
Manoel da Silva e sua esposa dona Lindaura Angélica de Jesus, dentre seus quatro
filhos, dois são casados com pessoas pertencentes à Sambaíba de Cima, os demais ainda
são solteiros.
Sobre o período em que os pais ou avós de Iaiá Teadora e Iaiá Chiquinha eram
escravos não há referências, é como se tivesse ocorrido uma “amnésia estrutural”
coletiva. Assim, é comum encontrarmos entre os mais velhos e as lideranças locais
quem conte as histórias dos castigos e as torturas infligidas aos escravos na fazenda
Mocambo. Todavia, os escravos ou os cativos parecem, muitas vezes, se configurar
enquanto uma outra categoria social, diferente dos demais habitantes desta comunidade.
A memória social desses circunscreve a antiga Fazenda Mocambo a um local onde os
negros trabalhavam como cativos, no entanto, é recorrente na fala, principalmente dos
mais velhos, de que nem todos os negros que habitavam a antiga Fazenda Mocambo
estiveram sob seu jugo.
Os mocambos “eram aldeamentos dos negros escravos fugidos”, afirma Pedro
Tomás Pedreira, em seu artigo: Os Quilombos Baianos (2001). Neves (1998, p. 148),
enfatiza que o termo diz respeito à “Couto de escravos fugidos, na floresta”,
“Quilombo”. Podendo designar também, o arbusto da família Rutaceae. Os moradores
de Sambaíba reconhecem o termo mocambo de duas formas: a primeira como um local
de concentração de escravos, mas que ainda permaneciam sob o poder de um “dono”,
ou “patrão”; a segunda como uma planta que existe, embora não conhecida por estes, na
região.
Neves (2008) ao registrar a existência da fazenda Mocambo na região, partindo
dos registros obtidos no roteiro de Joaquim Quaresma Delgado de 1731/1734, descreve
que tal fazenda, ainda sob propriedade de Joana da Silva Guedes Brito, e já com essa
denominação foi arrendada por José Fernandes, passando no final deste mesmo século a
pertencer a Vitorino Xavier do Rego, “talvez inicialmente como arrendatário da casa da
Ponte, sucessora dos primeiros titulares”. Em 1829, suas terras, avaliadas em “800 mil-
réis”, integraram os bens inventariados no seu espólio, juntamente com outros bens,
inclusive vários utensílios e jóias de ouro e de prata”.
Tais bens foram divididos entre a viúva Maria de Souza da Costa, citada no texto

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sobre a comunidade Várzea, e o único filho, Manoel Francisco Xavier do Rego. Sobre a
extensão das terras, intituladas de “Fazenda Mocambo”, Neves esclarece ainda que os
contornos do Mucambo passavam por :
Cerquinha, “no curral velho de fronte da lagoa do Canto do
Jatobá ; Caatinga Grande, “na estrada que vem da Vereda”;
Olho d’Água de Bonito; Olho d’Água do Brejinho; serra do
Ajuste; Vereda dos Cristais; riacho da Canabrava; Gado Bravo;
riacho Santo Onofre; alto da Serra das Barrocas; Chapada,
Queimada do Fundão, Mangabeira e Alto das Queimadas
(NEVES, 2008, p. 135)
Segundo Neves (2008, p. 136), “apesar das diversas transações comerciais”, que
se sucederam, “descendentes da família Xavier do Rêgo ainda mantêm domínios no
antigo latifúndio pecuarista.

Pelos sobrenomes do registro n. 16 e do n. 48, parecem que estes também são


referentes a esse Mucambo:

Compareceu Inocêncio José do Rêgo, lavrador, para registrar


sua filha e de Maria Lina da Silva, costureira: Josephina Lina
da Silva (n. 16, p. 6, 1889).

Compareceu José Lino da Silva, lavrador para registrar seu


filho e de Emilia Thereza do Rego, costureira: Joaquim Lino da
Silva. Casaram-se na casa de Joaquim José do Rego (n. 48, p.
15 e 16, 1889).
Nas entrevistas é recorrente a fala sobre as dificuldades de se chegar até a sede
do município de Riacho de Santana, ou Igaporã:
Era difícil demais, a gente ia de carro de boi, tinha que sair bem
cedo e só chegava lá no outro dia (...) a gente ia porque tinha
que comprar as coisas que faltavam aqui e vender a farinha que
a gente fazia (Informante C apud INCRA, 2009, p.79).
A estrada que hoje funciona, tanto para circulação de automóveis, quanto para
carro-de-boi e pedestres, foi construída em 1969, tornando-se um dos principais
elementos de transformação da dinâmica organizacional da comunidade. Anterior à
atual estrada havia uma outra localizada entre o Rio Santo Onofre e a Serra da Barroca.
As casas, até então, encontravam-se distribuídas a quilômetros de distância umas das
outras, o que dificultava, na maior parte das vezes, o trabalho realizado, quase sempre,

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em equipe.
A comunidade apontou quatro grandes momentos de seca e conseqüentemente
fome, foram estes: 1915, 1939, 1952 e 1972. A repetição desses momentos, nas falas
dos habitantes, demonstra a forma como os longos períodos de secas tornaram-se um
elo de unificação da comunidade. Quando indagados sobre as estratégias de
sobrevivência adotadas pelos integrantes dessa comunidade nos períodos de seca, as
respostas não indicam para uma dispersão do grupo através das migrações para outras
localidades, mas sim, para uma maior relação de proximidade e solidariedade entre seus
componentes, embora tenham ocorrido saídas de famílias inteiras para outros estados,
como São Paulo, para o trabalho nos cafezais. Isto nos leva à constatação de que mesmo
submetidos a uma condição degradante, há um esforço desses sujeitos ao mobilizarem
forças e meios para melhorar as condições de vida e superar os sofrimentos e as
privações.
O desejo de ver os filhos estudando não se concretiza na maioria das famílias,
isso porque as saídas para o trabalho no corte de cana em outros estados, em especial
São Paulo, têm se intensificado nos últimos anos. Essa prática é caracterizada pelas
constantes idas e vindas de membros da comunidade que em média passam dez meses
fora. A migração sazonal atinge principalmente os jovens do sexo masculino que veem
na atividade uma possibilidade de juntar dinheiro para comprar um pedaço de terra, ou
construir sua casa nas terras doadas pelos pais ou sogros. Com a saída desses
integrantes, mesmo que temporária, uma nova problemática é desencadeada: a
diminuição da produção, já que há uma redução na mão-de-obra familiar, dificultando
as condições de sobrevivência física das famílias residentes. Segundo os relatos de oito
jovens, identificamos que nas atividades canavieiras, eles trabalham em média sete
horas diárias, cinco dias consecutivos, folgando no sexto. Recebem por um dia de
trabalho o equivalente a R$ 35,00 (trinta e cinco reais) para cortarem uma média de
quatro toneladas de cana. Para eles, embora o trabalho no corte de cana seja mais
exaustivo do que o desenvolvido na agricultura familiar, ele pode resultar,
posteriormente, em dias melhores.
Quando indagados sobre a possibilidade de venderem as terras que possuíam
para trabalharem e morarem em outro lugar, apenas um dos presentes afirmou que se
fosse preciso venderia, os sete demais rechaçaram a idéia, alegando terem medo de que

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algo desse errado e eles não mais tivessem para onde voltar, além de expressarem seus
sentimentos pela comunidade:
Eu não quero sair daqui, por que aqui ta meus parentes, meus
amigos. Quando a gente vai pra Severina pra trabalhar na cana
a gente fica doido pra voltar pra cá, fica contando as horas.
Tem gente que chega lá que quando volta não quer mais ir pro
corte de cana não (...) mas a maioria volta logo em seguida,
dois a três meses depois (Informante I apud INCRA, 2009, p.
86).
Podemos perceber nesse relato que o contato com o mundo externo permitiu que
o sentimento de pertencimento destes à comunidade fosse reforçado; assim, mesmo
indo trabalhar na cidade de Severina, no estado de São Paulo, os jovens não esquecem o
seu lugar de origem, que representa a sua verdadeira vida, onde estão seus familiares e
também é seu porto seguro, caso as coisas não saiam do jeito esperado. No entanto, a
saída dos jovens, tanto para trabalhar quanto para estudar, tem contribuído para a
introdução de características “externas” na comunidade. A forma de vestir, a linguagem,
o corte de cabelo, as músicas e outras características dos diferentes modos de ser jovem
passaram a fazer parte do cotidiano desses remanescentes de quilombos.
Quando ausentes, cabe às mulheres tomar a frente das tarefas de criar os filhos e
cuidar da “roça”; para tanto recebem ajuda dos familiares. Os homens ausentes também
enviam dinheiro para que contratem diaristas que irão desempenhar seus papéis,
principalmente o de abrir roça, atividade considerada “pesada” e por isso não praticada
pelas mulheres. Para as esposas, a ausência por quase um ano de seus maridos
representa uma espécie de “perda” tanto para elas quanto para os filhos, mesmo que
recebam mensalmente ajuda financeira.
O caminho dos moradores na construção de sua autonomia e luta por seu
território passa pelo fortalecimento de sua organização política e afirmação de sua
identidade enquanto remanescentes de quilombos. Essa afirmação, por sua vez, teve
início no ano de 1995, quando em seu processo de organização interna, o grupo fundou
a Associação de Desenvolvimento da Comunidade dos Pequenos Agricultores de
Sambaíba, com sede em Sambaíba de Baixo, registrando-a no mesmo ano.
A partir do ano 2000, passou a receber a Pastoral do Índio e do Negro de Riacho
de Santana. As discussões sobre os direitos das populações negras surgiram nas
comunidades de Riacho de Santana. A pastoral vinculada à Igreja católica do município

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pode ser entendida como fruto da trajetória de transformações ocorridas na sociedade e


na Igreja Católica, sobretudo no que diz respeito à negritude.
Em Riacho de Santana essa organização foi efetivada em 1997 pelo Padre
italiano Aldo Luccheta, cumprindo, no que podemos perceber, um importante papel na
organização das comunidades rurais negras da região. Como aponta um de seus
integrantes:
Padre Aldo viu que a situação do negro em Riacho de Santana
era uma coisa triste, séria mesmo, então chamou um grupo pra
discutir sobre o assunto e ver o que poderia ser feito pra
melhorar essa situação. O grupo começou incentivando as
práticas do reisado, aí criamos um grupo de reisado em Riacho,
depois a gente começou a mobilizar as comunidades
quilombolas pra entender a questão negra (...) mas os trabalhos
aqui só foram começar com padre Aldo (Informante L, 2009,
p.95).
A identidade quilombola, por sua vez, para os habitantes da comunidade de
Sambaíba deve ser entendida como uma identidade política que se dá, no primeiro
momento, no intuito de superar a situação de invisibilidade social e estigma que lhe foi
conferida durante décadas.
A estigmatização pode ser observada, através das falas de moradores de
comunidades vizinhas a Sambaíba, ganhando força na sede dos municípios onde os
negros que vivem nas regiões da Serra e do Baixio são tidos como pessoas violentas,
que não gostam do trabalho e bebem demasiadamente. Tais características colocam
essas comunidades como “selvagens”, não civilizadas, todavia, em nenhum momento
presenciamos ou recebemos informações de membros da comunidade quilombola que
afirmassem tais estigmas. Nos finais de semana é comum a ida, principalmente dos
homens, aos bares existentes na comunidade, mas isso é tido por eles como uma forma
de lazer; além de consumirem bebidas, os freqüentadores também jogam sinuca,
baralho, dominó. Diante dos comentários, até mesmo os moradores de Sambaíba já se
denominam como “os negos do Geraiseiro”.
Embora a comunidade Sambaíba de Baixo esteja se organizando e resistindo
politicamente, poucas transformações ocorreram desde 2004, ano em que se deu o
reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares enquanto comunidade remanescente
de quilombo. A comunidade e a Pastoral do Índio e do Negro apontam para o caso de

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racismo institucional que se caracterizam pelas seguintes práticas: até o momento a


comunidade não possui uma rede de energia elétrica, solicitada desde 2004, é
importante ressaltar que vilarejos a 800 metros de distância de Sambaíba de
“Macaúbas” possuem energia elétrica; o recurso extra da merenda, garantido por lei
para as escolas quilombolas, não está sendo repassado para as comunidades negras da
região; em novembro do ano de 2008, os motoristas e proprietários dos ônibus que
transportavam os estudantes para a Escola de ensino médio, situada na comunidade de
Gado Bravo, parou de fornecer serviços, alegando não terem sido pagos pela prefeitura,
o que impossibilitou dezenas de jovens quilombolas de concluírem o ano de estudos.
A falta de diálogo e a ausência dos poderes públicos municipais, estaduais e
federais têm se tornado uma constante nessas localidades; tais práticas, por sua vez, vêm
sendo sentidas há tempos pela comunidade.
Eles aparecem aqui no ano de eleição, chegam, passam de casa
em casa, sai falando com todo mundo, mas depois disso nunca
mais passa por aqui, quando passa nem desce do carro pra falar
com a gente. Este ano agora cortaram o transporte que leva os
meninos pra Escola, um monte perdeu o ano por conta disso,
vão ter que voltar a estudar tudo de novo esse ano, se a
prefeitura colocar ônibus, né! Porque é muito longe daqui, não
dá pra ir andando (Informante G apud INCRA, 2009, p.97)
A segunda metade do século XX foi marcada por conflitos sociais que envolvem
principalmente a perda de parte do território da comunidade Sambaíba de Baixo, o que
fez com que a partir de 2000, o grupo se reorganizasse na luta pela retomada do mesmo.
Tais conflitos resultaram em morte, assim como também aconteceu no zonal Pé do
Morro II. Segundo a pesquisa realizada pelo INCRA (2009), em Sambaíba o processo
de conflitos foi iniciado em 1978, quando o senhor denominado “Tinhô” – membro da
comunidade de Paul, nas proximidades de Sambaíba – vendeu parte das terras de seus
ocupantes, para o então senhor Zé do Ouro. Esse terreno havia sido adquirido pelo
senhor Tinhô, através de compra à família de Raimundo Costa, da comunidade Mata do
Sapé, também vizinha a Sambaíba. Os relatos indicam que a extensão de terra que cabia
a Tinhô era inferior à que foi ocupada pelos proprietários que o sucederam e que foi
negociada sem que houvesse o consentimento dos membros da comunidade, sendo
pegos de surpresa com as novas demarcações de terras.

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Em 1979 o senhor Zé do Ouro, que nada produziu na nova terra e nem mesmo se
mudou para o local, repassa o que diz lhe pertencer para o senhor Rosalvo, mais
conhecido como “O Sergipano”. Quando este chega ao local diz que a terra adquirida
por ele é maior do que a que pertencia ao senhor Zé do Ouro, passando a se apropriar de
boa parte das terras de outros moradores da comunidade. A partir de então os
remanescentes de quilombos foram ameaçados caso reagissem na tentativa de
retomarem suas terras. Dessas ameaças, uma foi concretizada resultando na morte de
Tinhô em 1984.
Logo após o assassinato, as terras foram vendidas para um advogado de
Guanambi, o senhor Almerindo Fernandes Ribeiro e com a chegada do novo fazendeiro
teve início um longo período de tentativa do “convencimento” dos moradores de
Sambaíba, para desistirem de parte de seu território em troca de alguns benefícios como:
arame, alimentos e mesmo dinheiro. Embora as ameaças de morte sofridas pela
comunidade não se fizessem mais presentes, a relação “amigável” exercida pelo senhor
Almerindo Ribeiro contribuiu para que a maior parte dos moradores assinasse
documentos “legitimando” a transferência da terra, ameaçando-os de perderem
totalmente as terras alegadas pelo novo proprietário.
Atualmente a fazenda de Almerindo, denominada Piedade, faz divisa com a
comunidade Sambaíba de Baixo, delimitada pelo INCRA (2009) como Remanescente
de Quilombo sendo que, até dezembro de 2012, eram 1.466,7 ha no município de
Macaúbas e 1.044,9 ha no município de Tanque Novo.

São Domingos

A comunidade São Domingos foi fundada por Francisco de Souza Lalau e sua
família, que vieram de Santana, município de Paramirim. Segundo os moradores atuais,
a comunidade foi chamada de São Domingos em homenagem a um antigo orador, cujo
nome era Domingos. Encontramos o seguinte registro que comprova a presença do
senhor Lalau na comunidade em 1891:

Compareceu Antônio de Souza Laláo, do Morro do Fogo, para


registrar sua filha e de Amélia Francisca de Jesus, Sto Antônio
do Paramirim: Anna Celestina de Jesus, nascida no dia
16/04/1891. Avôs paternos: Francisco Joaquim de Souza Laláo
e Maria Joaquina da Conceição. Avôs maternos: Umbelino

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José Gomes e Anna Francisca de Jesus. Casaram-se na casa de


Umbelino, no lugar das Varzias do termo de Macaúbas e
residem atualmente em Sam Domingos, no mesmo termo de
Macaúbas (n. 209, p. 81, 24/04/1891)

Segundo o livro de registro de batismo de caldeiras (27 de Janeiro de 1887 a 9


de Fevereiro de 1893), o registro de João, nascido em 1884, (p.5 frente), nos mostra que
João era filho de “Zeferino, escravo de Francisco Joaquim de Souza Lalao e Anna Roza
de Jesus”. Os nomes Maria Joaquina da Conceição e Anna Roza de Jesus indica que
Francisco deve ter casado duas vezes.

A capela da comunidade é uma das mais antigas do município e, em dias de


missa, atraia moradores de toda a região, sendo tradição os festejos religiosos nesse
povoado. O prédio escolar esteve desativado em 2009 e 2012, também é destacado
como um dos primeiros a ser construído no município.

Um fato marcante para os moradores foi à atuação do IBAMA suspendendo a


extração de minério que, segundo os moradores, causava grande impacto ao meio
ambiente local. O sistema do DNPM informa que a empresa Alemão Exportação e
Mineração de Granitos Ltda solicitou o requerimento de lavra de quartzito em uma área
de 175 ha, localizada a menos de 3km a sudoeste da comunidade, no ano 1993.

Atualmente os moradores cultivam mandioca, que se destaca entre os produtos


mais cultivados, milho, o feijão mulatinho e cana de açúcar para produzir rapadura,
melaço e ração para o rebanho, utilizando arado e o tombador. A comunidade também
tem criação de suínos e aves.

De modo geral, as atividades econômicas da comunidade vem diminuindo


devido a destruição do meio ambiente, que promove a escassez de água. Para suprir
essas dificuldades, os agricultores têm buscado ração para complementar a alimentação
do gado, tornando a criação economicamente inviável.

Antigamente existiam árvores como jatobá, aroeira, peroba etc, hoje só restam a
caatinga e a malva rasteira. Encontravam-se aves por todos os lados, codornas, araras,
perdizes e hoje dificilmente se vê. Nas décadas de 1980 e 1990 havia grandes minações
de água, o solo era fértil e produtivo. Hoje, a população passa dificuldades se não
armazena a água da chuva de maneira adequada.

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Ainda existe um local conhecido por Cubico, próximo a casa do senhor José
Matias, considerado ponto turístico, pois é possível se refrescar nas águas que passam
por lá. Descobriu-se também uma pequena localidade chamada Zabelê, próxima a São
Domingos e que, por isso, foi considera parte dessa comunidade. A localização não foi
confirmada e como os moradores não conheciam sua própria história, uma vez que os
moradores mais velhos já tinham se mudado ou morrido e os atuais se contradiziam
com diversas versões, consideramos que essa localidade deva ser mais bem estudada.

Várzea da Madeira

A fazenda Vargem da Madeira, descrita assim em 1962, no mapa do IBGE,


localiza-se a 17 km, em linha reta, e a pouco mais de 19 km, por estrada, a oeste da sede
de Tanque Novo, entre as localidades Baixa Verde e a comunidade Curralinho. Devido
a algumas semelhanças, com os sobrenomes dos primeiros moradores, foram incluídas
as localidades Baixa Verde, Macacos, Morrinhos e Pajeú nessa comunidade. A origem
do nome se deve ao fato de a região ter sido muito rica em madeira, tanto que a igreja
Nossa Senhora Santana, da comunidade Lagoa Clara, que fica a uma distância em torno
de 12 km, foi coberta com madeira dessa comunidade, levada por escravos. Hoje em dia
existem poucas árvores em comparação com o que tinha.

A origem da comunidade se deu a partir da chegada de um chefe de escravos e


juiz de paz, o senhor Francisco José de Magalhães Gordo, também chamado de Chico
Gordo e seu concunhado Francisco José de Magalhães, também conhecido como Chico
Magro. Francisco José de Magalhães Gordo era filho do senhor Claudino José de
Magalhães e Anna Luiza das Neves, de Água Quente, atual município de Érico
Cardoso, portanto era irmão de Umbelino José de Magalhães e tio de Zeferino
Rodrigues de Magalhães do Alecrim. Casou-se com Virgínia Angélica de Jesus, da
comunidade Moçaronga, município de Bom Jesus da Lapa. Já o senhor Chico Magro,
era filho de Gordiano e Umbilina, da localidade Tingui. Chico Magro casou-se com
Carolina Francisca da Conceição, irmã de Virgínia. Após se casarem, ambos resolveram
mudar e na busca pelo lugar ideal encontraram Várzea da Madeira. Interessaram-se pelo
fato de ser um lugar rico em água, com recursos vegetais em abundância e pelo solo
fértil.

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Um registro de batismo de Manoel (p. 41v e 42f de 15/09/1887) mostra que


Chico Magro era dono de escravos. Ele era filho de Getrudes, escrava de Francisco José
de Magalhães e foi batizado por Pedro, escravo do mesmo e Maria José. Segundo uma
certidão, para fins de casamento civil, encontrada nos documentos de Lagoa Clara,
Chico Magro e Carolina tiveram um filho chamado Aquiles José de Magalhães, que se
casou com Leonidia Maria da Conceição, filha de Raimundo Alves da Costa e Maria
Rosa de Jesus. Aquiles e Leonidia tiveram o filho Avelino José de Magalhães, nascido
no Curralinho em 1904. Esse se casou com Elidia Maria da Silva, filha ilegítima de
Marcionilia Maria da Purificação, que passou a assinar Elidia Silva Magalhães. É
importante observar que os casamentos civis aconteciam muito depois do religioso na
região. Pela semelhança dos nomes Avelino e Alvino, considerado o fundador do
Curralinho, e por Avelino ter nascido no Curralinho antes da data divulgada como data
de fundação da comunidade, em 1928, considera-se que Avelino tenha saído de Várzea
da Madeira para o Curralinho.

Nessa época eram cultivados os seguintes alimentos: arroz, feijão, milho,


mandioca, abóbora, quiabo, alface, alho, cebola, coentro, dentre outros. Devido à falta
de métodos adequados para captação da água da chuva, nas últimas décadas, a
população deixou de cultivar o arroz, que antigamente era farto, e as hortaliças citadas
são cultivadas em menor escala. Também há frutas como: manga, goiaba e limão. As
técnicas de preparo do solo utilizadas são: queimada, derrubada, aragem e capina com
enxadas manuais. Os trechos das redações que remetem à agropecuária são os seguintes:

“[...] eu sou agricultor (12 anos) planto mandioca, milho, feijão


e também crio na minha casa os animais porcos, galinha, gado,
cavalo [...]” (E. 1681). “[...] meu pai cria muitos animais
galinhas gados e outros [...]” (E. 1682). “[...] nós vivemos da
plantação que é o feijão, mandioca a cana de açúcar [...]” (E.
1683). “[...] criamos galinhas porcos. No fundo da minha casa
tem muitos pés de frutas [...]” (E. 1684). “[...] neste ano eu vou
plantar milho, mandioca e feijão [...] hortas [...]” (E. 1685).

Os animais são em sua maior parte domésticos; além dos citados, cria-se peru.
Outras espécies encontradas são encontradas: codorna, preá, ratos, cobras, perdizes,
veados, gambás, saruês, teiús e peixes, em época de chuva.

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A região é predominantemente formada por planície, porém são citadas muitas


elevações como, por exemplo: “[...] no meu lugar tem um morro da mangabeira, e o
morro do serrote quando chove junta muitas águas no morro do serrote e a gente vai
passear [...]” (E. 1682) e “[...] tem o morro que se chama mangabeira [...]” (E. 1681). O
estudante 1685 mostra ainda que se encontra bastante vegetação natural: “[...] tem muito
verde [...] e muitas árvores [...]”. Embora essa região seja rica em árvores típicas do
semi-árido, cactos, mandacarus e outras, que têm espinhos, existe também o jatobá,
árvore de porte alto e de madeira muito útil na fabricação de móveis, como nos indica o
trecho: “[...] perto de minha casa tem muitas matas muitos pés de jatobá [...]” (E. 1684).

Outros estudantes descrevem: [...] é chuvoso tem muita água, lá tem uma fonte
de água [...] o lugar chama olho d’água [...]” (E. 1685), “[...] o rio passa perto (de minha
casa) [...]” (E. 1684). O estudante 1686 se refere a paisagens “[...] lindas [...]” e lugares
“[...] impressionantes [...]”, como: “[...] morro do serrote, barragens, rios correntes [...]”.
A paisagem em toda região se transforma no período chuvoso, como evidencia o aluno
1680 “[...] Aqui agora está tudo bonito as matas estão tudo verdes não está nenhum (rio)
seco [...]”.

O 1680 escreve que “[...] Várzea da Madeira está uma comunidade muito
organizada [...]” e a 1686 que [...] tem uma casa onde prestam contas da comunidade
[...]”, ambos se referindo à Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Várzea da
Madeira, fundada em 22 de julho de 1996. Outras “casas” são citadas pelos estudantes
1681 e 1686, mas se referem, respectivamente, à “casa de roda” e “casa de farinha”,
utilizadas no processamento da mandioca.

Segundo os moradores, em 2007, das 160 pessoas acima de 15 anos, apenas 9


eram analfabetas. A Escola Municipal Aristides José de Magalhães, que se encontra na
comunidade, a coordenada . Em 2009 essa escola teve 9 alunos matriculados, sendo 3
na pré-escola e 6 nas séries inicias do ensino fundamental. Em 2012 teve 12, sendo 4 na
pré-escola e 8 nas séries iniciais. A escola tem colaborado com a preservação do
folclore e lendas, tais como: lobisomem, caipora, mula-sem-cabeça, saci-pererê e outras
histórias relacionadas a fatos da imaginação dos antepassados.

A população da comunidade é muito voltada à religião católica. Dos estudantes


que escreveram sobre Várzea da Madeira, apenas o E. 1683 não faz referência à
religião, sendo que, o 1688 cita a palavra culto, não sendo possível distinguir qual a

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religião. A estudante 1690 expressa-se assim: “[...] Além de tudo aqui você vai
encontrar o paraíso que é a igreja que tem aqui [...]”. A comunidade tem uma capela
cujo padroeiro é São Sebastião. As comemorações religiosas que acontecem durante o
ano são: novena de São Sebastião, celebrada de 01 a 19 de janeiro; a Via Sacra,
manifestação realizada durante a quaresma; novena do Coração de Maria, festejada
durante todo o mês de maio; e novena natalina, durante o mês de dezembro; como
destaca a estudante 1686: “[...] no meu lugar tem muitas comemorações da Igreja como
o Natal, A festa do Padroeiro São Sebastião, A festa de Coração de Maria e também
celebramos a Quaresma e outros [...]”. Em todos os domingos e dias santos acontecem
celebrações na capela.

A comunidade não tem o futebol como prática esportiva estruturada, ou seja,


não tem time de futebol, mas os meninos improvisam jogos nos fins de semana. É o que
descreve o estudante 1683: “[...] O pessoal trabalha durante a semana e no final de
semana nós [...] vamos jogar bola e vamos em festa [...]”. Outra estudante, 1680, fez o
seguinte comentário “[...] dia de sábado reúne o grupo de meninas para se divertir,
brincar, caminhar etc. [...]”. Geralmente as meninas brincam de queimada

A estudante 1682 descreve as festas juninas da seguinte forma: “[...] No dia 24


de junho comemoramos o dia da fogueira e tem muitas festas juninas na comunidade de
Murici e no município de Tanque Novo (sede) [...] meu pai faz fogueira eu e minha
família tomamos café próximo a fogueira. É muito alegre [...]”. O 1686 confirma o que
escreve o 1682: “[...] A gente também curte muitas festas nas comunidades vizinhas
como por exemplo festejos juninos [...]”. As comidas típicas são: beiju de tapioca, sopa
de mandioca, cuscuz, bolos caseiros, doces etc.

Para os moradores, a entrada de alimentos industrializados na comunidade, tem


favorecido o aparecimento de problemas, tais como: diabetes, relacionados a doenças
cardio-vasculares e estomacais. No julgamento da população local os programas de
saúde deixam a desejar na questão da distribuição de medicamentos, pois a quantidade é
insuficiente, apesar do atendimento ser considerado ótimo, a vacinação ser constante e o
trabalho ser bem executado. Antigamente devido à falta de conhecimento sobre
prevenção e tratamento de doenças, os problemas que mais acometiam a população
eram: tétano, infecções diversas, morte prematura, tuberculose, malária, febre amarela,
verminose e desidratação. Atualmente, as doenças que prevalecem, além dos problemas
com alimentos industrializados, descritos anteriormente, são: desidratação, verminose,
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gripes e algumas decorrentes de problemas genéticos. Quando alguém da comunidade


falece, é enterrado no cemitério local.

O nome da localidade Baixa Verde, que também está associada a Várzea da


Madeira, originou-se porque havia um local muito verde na baixada, localizada na
coordenada 755.801E e 8.502.836N, a aproximadamente 1,5 km a sudeste da
comunidade Várzea da Madeira, a igual distância a noroeste da localidade Morrinhos,
próxima à foz do riacho Garapa, a pouco mais de 2 km a norte da localidade Macacos, a
aproximadamente 18 km da sede pela estrada e 16 km em linha reta. Sendo assim, os
primeiros moradores: João Ferreira, que parece ser o mesmo referido na localidade
Macacos, e Dorena, pais de Ranolfo, denominaram-na Baixa Verde. Em seguida vieram
Pedro Alves e Belarmina.

O perfil da agricultura se alterou nas técnicas de plantio e na finalidade da


produção, mas a produção de cana-de-açúcar, uma das primeiras culturas, continua
sendo um dos principais produtos da localidade, além de feijão, milho, mandioca e
batata-doce etc. Antes a produção atendia somente as necessidades das famílias, mas
hoje também se comercializa.

A sociabilidade interna e o sentimento de pertencimento são expostos nas


seguintes frases:

[...] existem pessoas maravilhosas onde eu moro, a minha


família, os meus amigos e todos os meus vizinhos são pessoas
muito legais [...] eu amo a comunidade onde eu moro por que
foi onde eu nasci e cresci [...] espero que você tenha
oportunidade de conhecer a comunidade onde eu moro e o meu
município que é super maravilhoso [...] (Estudante 1452)

[...] um patrimônio com gente humilde mas de bom coração


[...] (Estudante 1453)

Apesar de não ser comunidade paroquial, a manifestação religiosa é intensa,


conforme observamos no seguinte relato:

[...] na minha região cultua-se a religião católica e protestante


[...] frequentamos um grupo de jovens [...] é uma região cheia
de cultura do mês de fevereiro a abril como é a tradição
rezamos a Via sacra no mês de maio é o mês mariano rezamos

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31 dias no mês de junho comemoramos as festas juninas e por


fim chegamos ao mês de dezembro que comemoramos o mês
natalino onde tem as lapinhas com os reisados [...] (Estudante
1453)

Os moradores também expressam sua fé fazendo rezas e festa em homenagem


ao padroeiro São Sebastião. Na festa de São João são feitas várias apresentações de
quadrilha, acompanhadas pelos pratos típicos feitos pelos moradores, tais como: beiju,
pamonha, cocada caseira, bolo de mandioca, bolo de fubá, cuscuz, rapadura etc. Para
terminar bem animada, realizam corrida de cavalo.

As manifestações folclóricas de Baixa Verde são dança do saci, bumba-meu-boi,


pau-de-sebo etc. Alguns moradores acreditam e outros difundem lendas como a do saci,
lobisomem, curupira etc. Segundo a lenda do lobisomem, contada pelos mais velhos, a
mulher que tiver sete filhos correrá o risco de que um deles seja lobisomem e este se
transformará nas noites de lua cheia.

O artesanato está quase acabando, mas ainda existem alguns como: o crochê,
costuras em tecidos, bordados ponto-de-cruz, ponto cheio e ponto matrismo. Também
se encontram moradoras antigas que fazem renda. Há tempos atrás as pessoas
utilizavam muitos brinquedos feitos à mão, mas está sendo difícil repassar essa herança
cultural aos jovens atuais, devido a disponibilidade dos brinquedos no mercado e a
propaganda feita para que esses sejam comprados.

Em relação à natureza destaca-se que um tipo de minério, que não é


comercializado atualmente, já foi muito explorado e, por isso, hoje se nota muita
devastação. Ainda existem alguns mandacarus, juazeiros, entre outras árvores e animais
silvestres, como: veados, onça, raposas, preás, codornas, tatu e cutia. Devido à caça
predatória, esses animais estão entrando em extinção, perdendo espaço para os animais
de criação, como: porcos, galinhas, bois, cavalos, gatos, cachorros e pássaros criados
nas gaiolas. O solo é fértil e bom para o plantio, mas infelizmente vem sendo devastado
com a prática das queimadas e a derrubada das árvores, que aumentam a erosão e o
empobrece. O estudante 1451 escreve que “[...] Perto da casa da minha avó tem um rio
que não chega água a muito tempo [...]”. A população consome a água da chuva, por
isso, no tempo seco, eles enfrentam grandes problemas.

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As doenças que mais afetaram a população em tempos atrás foram: caxumba,


rubéola, febre amarela, entre outras que levaram as pessoas à morte. Hoje podemos
afirmar que isso mudou, devido ao uso de vacinas, remédios, antibióticos etc. Existe um
ótimo atendimento próximo à comunidade, que faz o necessário para que a população
desse lugar tenha uma vida saudável.

Na comunidade o esporte que mais se pratica é o futebol masculino. Os três


estudantes que escrevem sobre a comunidade citam a quadra poliesportiva e o campo de
futebol, “[...] na qual nós nos divertimos muito aos sábados e domingos [...]” (Estudante
1452). Quem teve a idéia e colaborou para que o campo de futebol da comunidade fosse
feito foi um residente da Morrinhos, com isso, nasceu uma grande rivalidade com Baixa
Verde, principalmente nos campeonatos, o que demonstra a importância desse esporte
para os moradores da comunidade; os jogos nos finais de semana mudam a rotina das
pessoas desse local.

A Escola Municipal de Baixa Verde atende crianças, analfabetos de mais idade,


até mesmo idosos, que podem completar o ensino fundamental inicial na mesma. Em
2007 a comunidade tinha apenas 12% de analfabetos, pois, neste ano, 88% da população
tinha concluído o ensino fundamental inicial ou estava estudando. Em 2009 teve 9
estudantes matriculados, sendo 2 da pré-escola e em 2012 a escola também teve 9,
sendo 6 deles na pré-escola. Nesses últimos anos os estudantes não utilizaram o
transporte escolar para frequentar a escola local. Somente aqueles que continuaram seus
estudos foram para a comunidade Murici, ou para sede, por meio do transporte escolar
público.

[...] eu preciso me deslocar de onde moro uns 10 km para


chegar na Escola onde lá encontro meus colegas para
conversar trocar opiniões e tudo mais então volto para
casa no outro dia. Preciso ir para roça ajudar meus pais [...]
(Estudante 1453).

Esse estudante fez a oitava série em 2009, no período noturno, no colégio de


Murici, que fica a 6 km da localidade. Talvez tenha colocado o deslocamento igual a 10
km, pois esteja considerando as voltas que o transporte Escolar faz para pegar os outros
estudantes. Se o mesmo for aprovado e quiser continuar os estudos, e ainda tiver que

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ajudar os pais na roça, terá que enfrentar os 18 km, sem considerar as voltas, todas as
noites da semana, até a cidade, onde fica o único colégio de ensino médio.

A localidade Macacos também faz parte da comunidade Várzea da Madeira,


tendo a Baixa Verde como intermediária, apesar da ligação entre Barroca, através da
fazenda Barroca e de estar próxima à localidade Garapa. A localidade encontra-se na
margem esquerda do riacho Garapa, a 1 km ao norte da fazenda Barroca, a 16 km da
sede do município, em linha reta, ou a aproximadamente 20 km da sede pela estrada.
Segundo os depoimentos dos moradores, a localidade de Macacos fica onde era a sede
da fazenda Curralinho, no entanto, encontramos referência tanto sobre a fazenda
Curralinho quanto sobre a fazenda Macacos, nos registros de terra da freguesia de Nossa
Senhora da Conceição da Villa de Macaúbas (1857-1859), mostrando que as duas eram
fazendas diferentes.

Izidoro Pereira dos Santos pussui nesta Freguezia de Nossa


Senhora da Conceição da Villa de Macaúbas, uma parte de
terras em cumum na Fazenda dos Macacos que ouve por
herança de seo finado Sogro Pedro Amancio de Magalhaens e
suas estremas constão da Escreptura geral damesma Fazenda.
Villa de Macaubas 19 de Abril de 1859. Izidoro Pereira dos
Santos. Registrado no mesmo dia 19 de Abril epagou sete
centos reis. O Escrivao Joao Antonio do Rego. O Vigario
Fernando Augusto Leao (n. 320).

Os moradores dizem que a fazenda era cortada por um rio e cercada por uma
mata, na qual existia uma grande quantidade de macacos que deram origem ao nome da
localidade. O senhor Pedro Amâncio Magalhães que deu a parte de terras da fazenda
Macacos para o genro, parece ter sido parente próximo ou do Chico Gordo ou do Chico
Magro, referidos anteriormente, mas não foi possível comprovar. Os primeiros
moradores teriam sido: Guilicero, Júlio, José Lopes, João Sudário e João Ferreira; este
parece ter sido o mesmo da Baixa Verde, o que não foi possível confirmar com
registros.

Os estudantes expressam as características de Macacos da seguinte forma:

“[...] lugar muito bom o povo é solidário um com os outros


também é um lugar muito divertido [...]” (E. 1491). “[...] Lá
tem um campo para nós jogarmos bola, para nos divertirmos,

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para nós irmos numa reza na igreja e no outro dia vamos para
uma festa [...] pega mulher [...]” (E. 1493). “[...] tem poucas
pessoas más é gente boa não precisa se preocupar com nada
[...] tem um rio que passa perto de casa é muito legal [...]”
(1494). “[...] povo religioso, que tem bastante fé, é um lugar
onde há lazer e diversão [...]” (1495).

Em 2007 os estudantes do CETN levantaram que havia 200 habitantes em


Macacos, sendo que 150 deles eram analfabetos. Dentre os alfabetizados, 12 estavam
matriculados nas séries iniciais do ensino fundamental, 2 matriculados na 7ª série, 2 no
ensino médio e um no ensino superior. Em 2009 apenas 7 estavam matriculados na
Escola Municipal de Macacos, sendo 3 na pré-escola e 4 deles matriculados até a 4ª
série. Em 2012 eram 9 matriculados, 4 na pré-escola e 5 nas séries iniciais, sendo que,
um deles utilizavam transporte escolar. Muitas das atividades de lazer citadas estão
relacionadas à água:

“[...] um lugar muito seco [...] (que) possui muita nascente [...]
Existe também uma barragem que no período de chuva fica
muito cheia, onde as pessoas se reúnem para brincar, pousar
para fotos, fazer piquinique e tomar banho [...] a um lugar
chamado Taquaril onde as pessoas nas férias se divertem
tomando banho em uma pequena cachoeira que fica no meio de
uma serra . [...]” (E. 1491). “[...] tem um morro serrote próximo
de casa quando chove a gente vai pra lá [...]” (E. 1492).

No entanto, o meio ambiente nessa região já foi muito devastado, pois não
existem sequer vestígios das florestas onde viviam os macacos que serviram de
referência para o nome da comunidade. As colméias e suas moradoras desapareceram,
afetando a polinização das flores. O riacho Garapa, citado pelos moradores como rio
perene, no passado, atualmente “[...] não é todos os dias que desce água, só quando
chove bastante [...]” (E. 1492). Nele se encontra a barragem do Garapa.

Os principais produtos cultivados nessa região são feijão e mandioca. A


produção tem aumentado devido ao uso de trator para preparar a terra, debulhadeira de
feijão, motores para ralar a mandioca, o que antes era feito por cavalos que
movimentavam o ralador e outras técnicas modernas. Em 1980, os principais produtores
colhiam cerca de 150 sacos de feijão por ano. Em 1990, passou para 200 sacos,

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atualmente esse valor é de aproximadamente 250 por ano. Também há cultivo de frutas
“[...] minha casa da muitas mangas e bananas [...]” (E. 1492) e criação de animais “[...]
meus pais criam galinhas e porcos [...]” (E. 1492). As comidas típicas são: beiju de
tapioca, aipim, feijão verde, entre outros.

Existia na localidade Macacos uma forte atividade mineradora que extraía


grandes pedras, em forma de lajes, para serem usadas em calçamentos, revestimentos de
paredes, entre outros usos. Com o passar do tempo, as pessoas daquele lugar
começaram a perceber que aos poucos estavam destruindo o ambiente natural, então
denunciaram ao IBAMA, que acabou proibindo a exploração.

As pessoas que exploraram utilizavam explosivos para facilitar a retirada das


lajes, sem nenhuma instrução técnica ou equipamento de segurança adequado. Como
conseqüência dessa atitude, um dos mineradores foi atingindo nos olhos por resíduos de
uma explosão e ficou cego de um dos olhos. Devido aos transtornos causados, os
moradores consideram que essa exploração não compensou muito. Foi apenas uma
forma de comércio que acabou.

Os moradores informam que desde 1970, o câncer está entre as doenças que
mais têm acometido a população, juntamente com as doenças cardiovasculares.
Provavelmente a saúde das pessoas vem sendo prejudicada pelo uso descontrolado de
agrotóxicos. Além dessas, outra forte causa de morte nessa comunidade é o elevado
número de acidentes com meios de transporte, principalmente motocicletas. Os
atendimentos prestados a essa localidade são, na maioria das vezes, através do agente de
saúde. Às vezes algumas pessoas recebem médicos e enfermeiras em suas residências.

O esporte que mais se destaca também é o futebol. Praticado pelos adolescentes,


no campo e na quadra da localidade, como forma de lazer. Todo ano também tem “[...]
corrida de cavalo [...]” (E. 1492).

Quanto à religiosidade, os católicos têm o costume de rezar Vias Sacras, no


período da quaresma e, no Natal, reza-se em lapinhas. O reisado também tem destaque
na localidade, nas pessoas dos seguintes moradores: Arquia, seu filho José de Arquia,
José de Laurindo, Santino de Manuel e Élson de Manuel.

Outras duas localidades relacionadas com a Várzea da madeira são Morrinhos e


Pajeú. A escola da comunidade Morrinhos está a 17 km a leste da sede de Tanque
Novo, pela estrada ou a 15 km, em linha reta, na coordenada 757.035E e 8.502.381N; a

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escola da localidade conhecida como Pajeú ou Pajeú dos Morrinhos está a 15 km da


sede, pela estrada e a 13 km, em linha reta, na coordenada 758.662E e 8.503.143N . O
nome Morrinhos originou-se de uns outeiros, pequenos morros, que existem na região.
Segundo os moradores, os primeiros a habitar Morrinhos foram: a senhora Belarmina
Francisca da Conceição, o senhor Leovigildo Lopes da Silva e a senhora Rolfina
Magalhães.

A comunidade encontra-se ao sul da fazenda Morrinhos, a aproximadamente 1,5


km da fazenda. Acreditamos que essa seja uma fazenda com esse mesmo nome, que
teve como um dos primeiros donos o senhor Antônio de Souza da Costa, na década de
1730, conforme as anotações de Joaquim Quaresma Delgado, que estão mais bem
discutidas no trecho sobre a comunidade Várzea:

De Quebra Fucinhos, á encruzilhada que vae para a fazenda


dos Morrinhos que cria gado vaccum, é de Antônio de Souza,
há de distância legoa e 3/4, desta para leste fica outra fazenda a
que chamam as Várzeas (PARAGUASSU in NEVES, 2007, p.
201-246)

Segundo ou registro de terras da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de


Macaúbas, realizados de 1857 a 1859, nessa época, a fazenda pertencia a outras
famílias:

Cláudio Pereira de Magalhaens declara que pussui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas uma parte de terras na Fazenda dos Morrinhos
havidas por herança do finado seo Pai Raimundo Pereira de
Magalhaens, aqual parte de terras, se estrema para a parte do
Nascente com os herdeiros do finado Jose Pereira de
Magalhaens, Claudio Antonio de Oliveira, para o Sul com a
Fazenda do Mucambo dofinado Manoel Francisco Xavier, para
opuente com a Fazenda do Curralinho aonde seacha um
moirão, epara o Norte com a Fazenda do Buriti. Macaubas 22
de Maio de 1859. Por meo Pai Claudio Pereira de Magalhaens.
Pedro Pereira de Magalhaens. Apresentado no dia 2 de Junho,
eregistrado no dia 10 do mesmo mês. Pagou mil esecenta eseis
réis. Escrivão João Antonio do Rego. O Vigario Fernando
Augusto Leao (n. 625)

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Claudio Antonio de Oliveira declara que pussui nesta Freguezia


de Nossa Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma
parte de terra na Fazenda dos Morrinhos, cuja parte de terras he
estremada para o Nascente com Jose Antonio de Oliveira
eSilva, para opuente com Claudio Pereira de Magalhaens, para
o Norte com os herdeiros de José da Costa, epara o Sul com os
herdeiros do finado Manoel Francisco. Macaubas 12 de junho
de 1859. Claudio Antonio de Oliveira. Foi apresentado,
eregistrado no dia 16 do mesmo mes de Junho. Pagou seis
centos réis. O escrivão João Antonio do Rego. O Vigario
Fernando Augusto Leão (n. 665)

José Antonio de Oliveira e Silva declara que possui nesta


Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas uma
parte de terra na Fazenda dos Morrinhos, em comum com
outros dônos havida por compra de Jose Antonio de
Magalhaens, cuja Fazenda dos Morrinhos se estrema pelo
Nascente com Claudio Antonio de Oliveira, para oSul com
Fazenda do Mucambo, para opuente com Claudio Pereira de
Magalhaens, epara o Norte, com Fazenda do Buriti. Macaubas
o 1º de Junho de 1859. José Antonio de Oliveira. Foi
apresentado e registrado no dia 16 domesmo Junho. Pagou
nove centos reis. Escrivão João Antonio do Rego. O Vigario
Fernando Augusto Leão (n. 668).

Os três registros citam os limites ao norte com a fazenda Buriti, pois, como
veremos no texto sobre a comunidade Magras, José da Costa Ferreira era dono de parte
da fazenda Buriti. A fazenda Mucambo do então falecido Manoel Francisco Xavier do
Rego, limitando-se ao sul nos três registros, localiza-se atualmente no município de
Igaporã, com as dimensões muito reduzidas em comparação as dimensões da época,
descritas no texto sobre a comunidade Sambaíba. No primeiro registro observamos que
a fazenda Morrinhos fazia limite a oeste com a fazenda Curralinho e a leste com os
herdeiros do finado Jose Pereira de Magalhaens e Claudio Antonio de Oliveira.
Conforme visto no texto sobre o Alecrim, José Antônio de Oliveira e Silva era filho de
Claudio Antonio de Oliveira. Os registros feitos por pai e filho são iguais quanto ao
limite oeste, mas fazem referência entre si em relação ao leste. Sabemos que as terras de
José Antônio de Oliveira e Silva iam, em 1883, além da atual sede de Tanque Novo até

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os limites da parte comprada por Juvêncio e Prudenciano Alves Carneiro, conforme


vimos no texto sobre o Alecrim. O mesmo também declara terras a leste como sendo
dele no registro descrito no texto sobre a comunidade Engenho.

Segundo o estudante 1504, a comunidade Morrinhos hoje é um lugar “[...] calmo


não tem muita agitação [...] aqui as pessoas são muito trabalhadoras, plantam roças,
fazem farinha e roçam [...] não são pessoas que gostam de brigar [...]”. A comunidade
tem a Escola Municipal Renério Lopes da Silva, transporte para os estudantes, água
tratada, energia elétrica, associação, informada pelos moradores mas cuja sede não
identificamos e capela, segundo o Livro do Tombo da Paróquia de Tanque Novo (p. 4,
1985), onde encontramos referência sobre a comunidade Morrinhos. Não encontramos a
capela na mesma, mas o padre Aldo Luchetta deixa registrado no Livro do Tombo da
Paróquia de Botuporã que “há um cemitério local onde foi celebrada a missa em maio,
digo, março. Existe um alicerce antigo que vai servir para construir a igreja” (p. 58). O
estudante 1544, do Pajeú, provavelmente se refere à capela da comunidade Morrinhos,
quando escreve: “[...] mais longe um pouco tem uma igreja que a gente frequenta para
assistir o catecismo e as missas [...]”.

Em 2007 a comunidade tinha 98 moradores distribuídas da seguinte maneira em


relação à educação: 15 analfabetos; 11 estudantes da pré-escola a 4ª série, na escola
local, com idades entre 4 e 11 anos; 15 estudantes de 5ª a 8ª série, no Colégio de Murici;
10 estudantes do Ensino Médio, na sede de Tanque Novo; 35 pessoas que fizeram até o
ensino fundamental; 8 que têm o ensino médio incompleto e 4 que concluíram. Em
2009, apenas 13 estudantes estavam matriculados na escola da comunidade, sendo 4
deles na pré-escola. Em 2012 foram matriculados 9 no ensino fundamental inicial.

No mês de maio as pessoas prestam homenagens ao Sagrado Coração de Maria,


com rezas durante o mês mariano e apresentações. No mês de junho tem quadrilhas,
casamentos caipiras, comidas típicas e trajes caipiras. Nas palavras do estudante: “[...]
dia 23 de junho à noite, nós ascendemos a fogueira [...] soltamos traques, bombinha,
chuvinha, foguete [...] a noite vamos visitar as outras fogueiras, no outro dia de manhã
nós bebemos café na beira da fogueira [...]” (E. 1502). Sobre o folclore o mesmo
estudante descreve: “[...] dia 22 de agosto nós do colégio fazemos apresentações sobre o
folclore, fazemos a Iara, o Curupira, o Saci, as fadas [...]”. Em dezembro os moradores
festejam o Natal.

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Em relação à agricultura, os estudantes observam o seguinte: “[...] meus pais


trabalham no cultivo de feijão, milho, mandioca, em outubro tem as frutas que nascem:
as laranjas, limões, manga, banana, caju [...]” (E. 1502); “[...] nós plantamos melancia
[...]” (1503). Segundo a pesquisa feita em 2007 pelos estudantes e professores do
CETN, em 1970 se produzia em torno de 50 sacos de milho, 150 de feijão, 100 de
tapioca e 230 de farinha. Em 2006, a produção aumentou para 300, 400, 1500, 3000
sacos, respectivamente.

Também se cultiva cana de açúcar para produzir rapadura, mel, ração para o
gado, etc. O fabrico do açúcar era feito no engenho da fazenda, onde se moía a cana
para tirar o caldo, em seguida o caldo era fervido numa caldeira, para livrá-lo de
impurezas e engrossar. Por último, passava pela casa de purgar, onde o açúcar
cristalizado tomava o formato de pão, o chamado pão-de-açúcar. Além da criação
bovina, há criação de suínos e de aves. O estudante 1505 escreve que “[...] com esse
tempo chuvoso vocês acham muitas empreitas [...]”, outra fonte de renda para os
moradores. Sobre a economia local o estudante 1502 acrescenta: “[...] dia de terça-feira
em Tanque Novo, tem feira para, o povo comprar comida e etc... ou vender, as farinhas,
ou tapioca [...]”.

Havia uma grande diversidade de animais, aves e vegetais, como por exemplo:
veado, coelho, raposa, ema, codorna, canário etc e as árvores Pajeú e Nuvem Azul; que,
com o povoamento da região, estão quase extintas. Mesmo assim, ainda existe “[...]
muitas sombras, tem muitos morros e tem um rio (que um estudante chama de Macacos,
provavelmente se referindo ao que descrevi como riacho Garapa) [...]” (E. 1503). No
tempo chuvoso “[...] aumenta a água da cachoeira e assim podemos dar um mergulho e
pescar pois tem muitos peixes [...]” (E. 1506).

Os moradores dizem que o cemitério de Morrinhos é um dos mais velhos da


região, o que está de acordo com os registros. A seca de 1950 a 1955 marcou muito a
vida dos moradores, pois, nesse período morreram muitos animais e pessoas. As
doenças em 1970 eram mais sarampo, tétano e catapora e morria uma média de 10
pessoas por ano, devido ao atendimento médico precário. Em 2005, se verificou a maior
ocorrência câncer e doenças cardiovasculares. O número de mortes por ano caiu para 5,
pois o atendimento se tornou um pouco melhor.

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No que diz respeito ao esporte, a modalidade mais praticada pelos estudantes é o


futebol, principalmente nos domingos a tarde. Este era praticado na região de
Morrinhos, mas, como a maioria dos jogadores era de Pajeú, eles se juntaram e fizeram
o campo “Pajeú dos Morrinhos”. Para as meninas, o “[...] esporte preferido [...]” (E.
1502) é a baleada. A localidade conhecida como Pajeú ou Pajeú dos Morrinhos recebeu
esse nome porque lá existiram árvores de nome Pajeú, já extintas. Há duas explicações
para a referência a Morrinhos, na segunda forma como é conhecida: Morrinhos é uma
comunidade mais antiga e está a menos de 2 km de Pajeú; o campo de futebol
construído por jogadores das duas localidades chama-se Pajeú dos Morrinhos.

Apesar de não ser considerada comunidade pela paróquia de Tanque Novo, a


população da localidade Pajeú é devota dos princípios católicos. Possui uma gruta,
citada por dois estudantes, onde é realizada missas de vez em quando: “[...] tem [...] um
morro logo ao lado as vezes a gente costuma subir para pagar promessa, na beira do
morro tem uma capela que as vezes nela tem missa e rezas, também quando chove
desce cachoeira e a gente vai para lá tomar banho [...]” (E. 1544); “[...] aqui é muito
bonito por que tem um morro que no alto tem uma cruz e uma gruta que tem imagens
de Nossa Senhora e de Jesus e um altar onde se celebra missa [...]” (E. 1548). O
estudante 1544 escreve ainda: “[...] tem uma igreja que a gente frequenta para assistir o
catecismo e as missas [...]”, lugar que considerei como a capela de Morrinhos.

Outra manifestação cultural descrita com detalhes pelo estudante 1544 é o São
João:

“[...] No dia 23 de junho, meus pais fazem fogueira, logo ao


entardecer nós acendemos a fogueira e queimamos muitos
fogos de artifício, ao amanhecer a minha mãe faz o café e a
gente vai para beira da fogueira tomar café, depois nós vamos
para casa da minha avó materna comer churrasco e a tarde tem
churrasco na casa do meu avô. Tem 4 dias de festas juninas,
nós costumamos fazer quadrilha, casamento caipira entre outras
apresentações e depois um grande forró [...]”.

A associação Comunitária e Beneficente dos Moradores de Pajeú e Três Poços


foi fundada em 14 de dezembro de 1999 e tem sede na localidade Pajeú. Além desta
instituição, existe a Escola Municipal chamada Baldoíno Alves da Costa ou Escola
Municipal Comunidade de Pageú, que funciona em um “[...] pequeno prédio [...]” (E.

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1545), onde estiveram matriculados 9 estudantes, sendo 7 no ensino fundamental inicial


e os outros 2 na pré-escola em 2009 e 10 e 3, respectivamente, em 2012, com 5 destes
dependentes de transporte público.

O destaque econômico da região está, principalmente, na produção de farinha e


polvilho. Os estudantes 1546 e 1547 relatam as casas de farinha, o 1546 escreve que
“[...] tem casas de farinha e muito mecanizadas [...]”, pois alguns produtores possuem
equipamentos modernos, tais como: forno elétrico, máquinas de tirar tapioca, motores
elétricos que facilitam o processo de obtenção e aumentam a produção desse importante
produto agrícola da localidade. Uma família local, com uso dos equipamentos
modernos, chega a produzir 600 sacos de farinha e 400 de tapioca na temporada.

Além da mandioca, é citado o cultivo de outras culturas: “[...] no começo de


outubro começas as chuvas e o meu pai e meus tios vão plantar mandioca, feijão e
plantam alguns pés de melancia no meio da plantação de mandioca [...] quando acaba as
chuvas e aparece o sol eles vão limpar o que eles plantaram [...]” (E. 1544). O estudante
1548 apresenta outra data de plantio, “[...] No tempo de novembro nós fazemos o
plantio de feijão [...]”, o que pode ser considerado conseqüência da irregularidade
climática. As entrevistas feitas em 2007 revelam que também há criação de bovinos,
suínos e aves. O estudante 1544 escreve que “[...] na beira da minha casa tem um rio
mas não serve para tomar banho só para dar água aos animais [...]”. Em relação aos
recursos hídricos, o estudante 1548 escreve: “[...] gostaria que você vinhesse conhecer o
meu lugar que tem bastante rios e lagos [...]” e o 1546 complementa com: “[...] tem uma
barragem e ponte [...]”.

Jogar bola, futebol ou campo de futebol, que define o próprio nome da


localidade, segundo uma das versões, são termos citados por todos os estudantes. “[...]
no Pajeú é muito legal as pessoas se divertem bastante todos os domingos os garotos
vão jogar futebol e as meninas brincam de baleada [...]” nos conta o estudante 1545.
Além da bola, o estudante 1549 escreve que no domingo “[...] todos saem para se
divertir [...] (brincar) de baralho [...] subir no morro [...] para ver a cachoeira que desce
por ali (quando chove), tem árvores e muitas águas [...] (para tomar) banho e (pescar)
[...] até que chega a noite, é uma alegria total por causa das lâmpadas que são acesas e
(permitem brincar) de pique debaixo dos pés de pau [...]”.

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SETOR 07 - GÊNESES – DOURADOS

Comunidades: Alecrim (Boca do Campo foi inserida nesta comunidade),


Dourados, Gaspar e Manoel Correia.

Alecrim

Alecrim, comunidade composta pelas localidades: Alecrim I, que fica na região


leste de Tanque Novo; Alecrim II, ao norte do Alecrim I; João Vaqueiro, a oeste;
Vereda do Alecrim, a noroeste; e Bandeira, a sudoeste. Alecrim faz divisa com a sede e
com a comunidade Dourados. Segundo os moradores entrevistados, o nome da
comunidade se deve à planta conhecida por Alecrim de Cabra, que existia em
abundância na região. Os mesmos informaram que o Alecrim teria tido início com a
chegada do senhor Juvêncio, cuja origem é descrita a seguir.

Verificamos no registro de nascimento de Antônio Alves Carneiro, filho do


casal Juvêncio Alves Carneiro e Arlinda Francisca Gomes, também referida Arlinda
Gomes de Jesus em outros registros, que no ano 1890 o senhor Juvêncio morava em
uma localidade chamada Lagoa da Pedra antes de morar no Alecrim.

compareceu Juvêncio Alves Carneiro, lavrador, natural de


Cannabrava, para registrar o filho dele e de Dona Arlinda
Francisca Gomes, natural de Macaúbas, nascido no dia
15/06/1890, Antônio Alves Carneiro [...] avôs paternos: José
Joaquim Carneiro e Clemencia Maria de Jesus [...] avôs
maternos: Umbelino José Gomes e Francisca Maria de Jesus, já
falecida [...] Casaram-se na casa de José Cardoso Pereira no
lugar São José, deste districto e rezide actualmente na Lagoa da
Pedra, do termo de Macaúbas (registro n. 185 de 22/06/1890,
localizado na p. 70 do livro n.1 de Caldeiras).

No ano 1883, os senhores Juvêncio Alves Carneiro e o seu irmão Prudenciano


Alves Carneiro foram referidos em dois documentos diferentes, guardados pelos seus
descendentes, como compradores de uma parte da fazenda Furados, sendo que uma
dessas partes deu origem à comunidade Alecrim. Os documentos são praticamente
iguais, com exceção do nome dos dois compradores. Eles compraram o terreno de

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Eduarda Antonia da Silva, viúva do tenente José Antônio de Oliveira e Silva, sendo este
filho de Cláudio Antônio de Oliveira, que já havia vendido ao pai de Arlinda Francisca
Gomes, Umbelino José Gomes, uma parte de suas terras em 1875.

O documento da compra da parte de fazenda Furados que se refere a Juvêncio


Alves Carneiro é o seguinte:

Digo eu Eduarda Antonia da Silva que entre os mais bens que


sou senhõra e puçuidôra livre e dezembargados é bem afsim
uma parte de terras que puçuo na fazenda dos furados, que se
acha extremada de um mourão a outro, extremado pelo Sul
Com o Tenente Joaquim Antônio Cardozo, e pelo Norte Com o
primeiro puçuidor, Conforme a partilha da mesma fazenda, e
pelo Nascente, nos limites que já forão averiguados, Com a
fazenda do Arraial, pelo puente onde chega o dominio da
mesma fazenda, de Cujas Terras já mencionadas, vendo ao
senhor Juvêncio Alves Carneiro no valor da Compra feita ao
Tenente José Antônio de Oliveira e Silva da quantia de hum
conto quientos e vinte nove mil novecentos e oitenta e sete reis,
do qual vendo ao Comprador a quantia de cento e oitenta e hum
mil trezentos e oitenta e sete reis, pelo preço de duzentos e
trinta e cinco mil setecentos e quatorze reis, que recebi ao paçar
desta, inclusive na mesma venda uma parte nos benefícios que
houver em relação a quantia de compra feita ao primeiro
comprador, Cuja parte de terras vendo Como de facto vendido
tenho ao dicto comprador, que poderá puçuila desfructala
d’Ora em diante que, nem eu nem meus herdeiros poderemos
reclamar a dicta venda por ter sido feita de minha livre e
expontannia vontade, ficando o Compradôr obrigado a pagar a
Cira nacional e eu obrigada a fazer-lhe a venda boa, e por não
saber ler nem escrever pedi ao senhor Rozendo Domingues
Cardozo, que esta por mim passasse em presença das
testemunhas aqui também assignadas. Lapa Grande 30 de
Outubro de 1883. Assigno-me arrogo da vendedôura Dona
Eduarda Antônia da Silva. (Assinam: Rozendo Domingues
Cardozo, Dos. Anges Cardozo Dourado, José da Silva Dourado
e Abílio Cardozo Pereira)

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Pela descrição dos limites do terreno comprado por Juvêncio Alves Carneiro,
confirmada no campo através de seu neto homônimo, verificamos que Lagoa da Pedra,
onde o casal morava, parecia estar fora dos seus limites. A primeira filha de Juvêncio e
Arlinda, Maria da Glória Carneiro (alguns registros apresentam o sobrenome Gomes no
lugar de Carneiro), nasceu no mesmo ano em que seu avô Umbelino comprou o terreno,
1875, conforme informações descritas na lápide de Maria. Isso nos leva a acreditar que
a Lagoa da Pedra de onde se originou o senhor Juvêncio pode ter pertencido ao senhor
Umbelino José Gomes.

Além de Maria da Glória, o casal teve outros nove filhos, descritos a seguir, sem
ordenação cronológica: 1) Joaquim Alves Carneiro (Coronel), que teve como primeira
esposa sua prima Maria Francisca de Jesus (Dona), filha de Prudenciano, e como
segunda esposa Etelvina Oliveira; 2) João Alves Carneiro, que se casou duas vezes e
viveu em Canarana - BA, como veremos a seguir; 3) José Alves Carneiro (Zeca
Carneiro), que se casou com sua prima Maria Rita Marques Carneiro (Ritinha), também
filha de Prudenciano; 4) José Gomes Carneiro (Zezinho), cujo primeiro casamento foi
com Ana do Carmo Malheiro (Naninha) e o segundo com Natalina Carneiro Araújo; 5)
Umbelino Alves Carneiro, foi casado com a prima Ana Joaquina Carneiro Ferreira, filha
de Custódia; 6) Ana Flora Carneiro (Neme), cujo marido foi seu primo Francisco
Marques Carneiro, filho de Prudenciano, moraram um tempo no Alecrim depois parece
que se mudaram para Terra Boa – Paraná; 7) Arquimimo Alves Carneiro, casado com
Hermínia Maria do Carmo (Dona); 8) Antônio Alves Carneiro, que se casou a primeira
vez com Ursulina Marques Carneiro, neta de Prudenciano, e a segunda vez com Amélia
Maria do Carmo; 9) Francisca Gomes Carneiro, que era casada com Manoel Ferreira
das Neves, da localidade Alecrim II.

Seguindo depoimento do neto homônimo de Juvêncio, descobrimos que a


primeira esposa do seu avô faleceu em 1896. Depois disso, Juvêncio casou-se
novamente, desta vez com a sobrinha Ana Bela Marques Carneiro, filha de Prudenciano
Alves Carneiro e Ursulina Constancia de Jesus, residentes nos Furados, onde se
encontra atualmente a sede do município. Para o depoente, Prudenciano incentivou o
casamento da filha com o tio, mesmo sendo ele bem mais velho, viúvo e com vários
filhos, pois, era “um homem de um conto de réis”. Somente a partir do segundo
casamento é que Juvêncio parece ter se mudado de Lagoa da Pedra para o Alecrim I,
que ocupa uma parte da fazenda Furados. Ele construiu uma casa na coordenada

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776.276N e 8.501.297E.

O casal Zeferino e Mariquinha morou na localidade conhecida atualmente por


João Vaqueiro (775.408E e 8.501.204N), conforme indicado nas anotações do próprio
Zeferino. Lá se encontrava as casas mais antigas do Alecrim, tanto que o lugar foi
referido também como Alecrim Velho nos depoimentos de alguns ex-moradores da
comunidade.

Zeferino Rodrigues de Magalhães teve nove filhos com Maria da Glória


Carneiro (Gomes). Perdeu dois ainda bebês e os outros foram: José (01/04/1901),
Francisco (09/02/1903), Arlinda (28/08/1904), Anízia (04/10/1907), Amélia
(06/07/1909), Rosa (29/12/1911) e Jovenal (09/05/1917). José de Magalhães Carneiro
ou Zeca Magalhães casou-se primeiramente com Belarmina Lessa, filha de Francisca
Silva e Pedro Carneiro Lessa, mas ela morreu no João Vaqueiro, grávida do sétimo
filho, então ele se casou novamente com Belarmina Francisca de Jesus, natural de São
Domingos e passou a residir na casa que era de Francisco Marques Carneiro, no
Alecrim I. O segundo filho, Francisco, morreu novo. Arlinda casou-se com Octávio e
foi para o Bandeira (774.705N e 8.500.394E). Anízia casou-se com Francisco Ferreira
das Neves, morou um tempo na Lagoa Redonda e depois foi para São Paulo. O registro
de casamento de Anízia informa que seu marido, Francisco Ferreira das Neves era filho
de Josepha Maria de Jesus e Antônio Ferreira das Neves, provenientes de um lugar
denominado Lagoa de Dentro, distrito de Canabrava dos Caldeiras, município de
Caetité. Os outros três filhos de Zeferino e Marquinha continuaram no João Vaqueiro,
sendo que: Amélia casou-se com Maroto, Rosa com Altino, Juvenal com Bela e depois
com Maria. O casal de descendentes de escravos, Quintiliano e Marcionília, ajudou a
cuidar tanto de Zeferino quanto de seus filhos.

Maria da Glória Carneiro morreu no dia 03 de agosto de 1919, aos 44 anos, em


conseqüência de um parto complicado, deixando Zeferino viúvo. No ano seguinte, o
então capitão, assim descrito na lápide, Juvêncio Alves Carneiro morreu, no dia 20 de
maio, deixando sua esposa Ana Bela também viúva. Como Zeferino e Ana Bela eram
viúvos e moravam próximos, na comunidade Alecrim, acabaram se casando no dia 03
de novembro de 1920.

Do casamento de Zeferino Rodrigues de Magalhães e Ana Bela Marques


Carneiro, nasceu Venício de (01/08/1921), Celcina (08/09/1923) e Dalila (10/04/1926)

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Magalhães Carneiro. Um fato ocorrido no ano do nascimento de Dalila, que se encontra


vivo na memória dos moradores do Alecrim, é a presença dos revoltosos da Coluna
Prestes na região. As famílias abandonaram suas casas e se esconderam por alguns dias,
enquanto os invasores matavam animais e utilizavam as cozinhas no preparo de seus
alimentos.

Venício casou-se com a prima Dalcy de Assis Carneiro, filha de Afra de Assis
Bonfim, proveniente de Caturama, e José Marques Carneiro, popularmente conhecido
por Cazuza, irmão de Bilinha. Eles moravam nos Furados e, após se casarem, passaram
algum tempo no Alecrim depois retornaram para a atual sede do município de Tanque
Novo. Celcina casou-se com um dos netos de Juvêncio Alves Carneiro, que tem o
mesmo nome deste, filho de Arquimimo e Ermínia, moradores do Pintado. Eles fizeram
uma nova casa no Alecrim, entre a Vereda do Duquinha e o Alecrim I, onde moraram
por muitos anos, e atualmente moram na sede. Dalila casou-se com o primo Nelson,
filho do irmão de seu pai, Manoel Rodrigues de Magalhães, conhecido por Nezim,
morou um tempo na Lagoa Redonda, depois foi para Iuiú, na divisa entre Bahia e Minas
Gerais, onde Nelson tinha parentes.

Essa genealogia resumida dos antigos moradores do Alecrim I nos mostra que a
maioria deles estão ligados de alguma forma à Ana Bela Marques Carneiro, pois ela foi
esposa, mãe, madrasta ou sogra dos mesmos. Dentre os seus descendentes, muitos
permaneceram na comunidade Alecrim ou na sede de Tanque Novo, outros tentaram a
vida em lugares diferentes.

Na localidade Alecrim I, onde Juvêncio fez sua casa, existia uma casa antiga que
pertenceu ao seu genro e sobrinho, Francisco Marques Carneiro, que talvez tenha sido
construída antes mesmo da chegada de Juvêncio no Alecrim I, em 1896. Depois que
Francisco e sua prima e esposa Ana Flora, filha de Juvêncio, migraram para o Paraná,
essa casa pertenceu a José de Magalhães Carneiro (Zeca).

Outro lugar da comunidade que parece ter sido habitado antes que Juvêncio
construísse sua casa no Alecrim I, é a Vereda do Alecrim, conhecida também como
Vereda do Duquinha, ou simplesmente Vereda (774.061E e 8.501.096N). Segundo
algumas fontes orais, o nome Duquinha é uma referência ao cunhado de Juvêncio,
casado com sua irmã Exupéria, citado por alguns como Joaquim Marques. As fontes
informam que o contato com ele teria se perdido, pois o casal foi embora para São

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Paulo. No entanto, um registro encontrado em Caldeiras, distrito de Caetité, mostrado


no texto sobre a comunidade Mocambo dos Cardosos, leva-nos a pensar que o casal
Exupéria Maria de Magalhães e Joaquim Monteiro de Magalhães, pais de Leonel de
Magalhães Cardozo, cujo filho se casou com Maria da Conceição, filha de Juvêncio e
Ana Bela, seria o mesmo casal referido pelos moradores como Exupéria e Joaquim
Marques.

Essa versão carece de comprovação, mas, sendo considerada, demonstraria que a


Vereda do Duquinha teria sido ocupada antes do Alecrim I, já que, Joaquim Monteiro
de Magalhães comprou em 1875, juntamente com Umbelino José Gomes, parte de Saco
dos Furados, cuja descrição se assemelha bastante à Vereda do Duquinha. Nesse caso o
Duquinha seria o próprio Joaquim Monteiro de Magalhães e não o Joaquim Marques,
como foi citado pelas fontes orais.

A origem do local chamado Alecrim II, cujo ponto de referência foi considerado
a coordenada 8.503.295N e 775.526E, também é no mínimo contemporânea à chegada
de Juvêncio no Alecrim I, pois as informações orais indicam que a localidade, que fica a
aproximadamente 3 km ao norte do Alecrim I, teve origem através de uma das irmãs de
Juvêncio, Custódia Clemencia (ou Maria) de Jesus. Ela era casada com Benedicto
Ferreira das Neves, responsável pela localidade Alecrim II ficar conhecida também
como Alecrim dos Ferreiras. Segundo as fontes orais, Benedicto seria proveniente da
fazenda São José, atualmente no município de Igaporã e, antes de morar no Alecrim,
teria se casado outras duas vezes.

Os filhos e as respectivas noras do casal Custódia e Benedicto teriam sido:


Manoel Ferreira das Neves e Francisca Gomes Carneiro, prima, filha de Juvêncio e
Arlinda; Abílio Ferreira e Benvinda Marques, prima, filha da irmã de Custódia, Antônia
Maria de Jesus (Antoninha) e de Ângelo Marques Silva; Clemente Ferreira e Francisca
Marques, prima, irmã de Benvinda Marques. A neta homônima de Custódia informa
que Benedicto também teria tido outros filhos, entre eles: Joaquim Ferreira, que teria
morado na Lagoa da Torta e Antônio Ferreira das Neves, sogro de Anízia de Magalhães
Carneiro. As filhas e os respectivos genros do casal Custódia e Benedicto teriam sido:
Maria Custódia de Jesus e Archilino José Rodrigues, casados em 1917, ele natural da
Boca do Campo, filho de Raymundo José Rodrigues e Maria Rosa da Conceição; Ana
Joaquina Carneiro Ferreira e o primo Umbelino Alves Carneiro, filho de Juvêncio e
Arlinda.
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Sabemos através das informações orais que Manoel Ferreira das Neves e sua
esposa Francisca Gomes Carneiro moraram inicialmente no Alecrim II e depois em uma
casa na atual sede de Tanque Novo, para onde foram também Clemente Ferreira, a
esposa Francisca Marques e os filhos, sobre os quais não obtivemos mais informações.
O paradeiro de Abílio, sua esposa Benvinda e seus descendentes também não ficou
claro. Manoel e Francisca tiveram sete filhos: Pedro Ferreira, José Ferreira, Maurílio,
Israel, Arlinda, Maria Ferreira e Custódia. Maria Custódia, que na ocasião do casamento
civil já tinha dois filhos com Archilino, Matildes com 3 anos e Moizes com 1 ano,
parece ter ido morar com o marido na Boca do campo. Ana Joaquina teve o filho Jonas
Alves Carneiro, que se casou com Amélia Maria Gomes em 1947, mas ficou viúva
ainda jovem, pois seu marido Umbelino morreu com 35 anos de idade.

Alguns descendentes de outra irmã de Juvêncio Alves Carneiro, Constância


Clemencia de Jesus, que era casada com Joaquim Francisco Lessa ainda moram em
algumas casas que ficam entre o Alecrim I ao Alecrim II. Desses filhos, citados no texto
sobre Manoel Correia, Benvindo Carneiro Lessa, se casou com Arlinda Bela Carneiro,
filha de Juvêncio com sua segunda esposa Bilinha e fixou no Alecrim.

A história de Francisco Alves Carneiro, irmão de Juvêncio Alves Carneiro,


também esclarece um pouco mais sobre a história do Alecrim, pois o documento visto
anteriormente, que comprova a aquisição de parte da fazenda Furados pelos irmãos
Juvêncio e Prudenciano, foi assinado na Lapa Grande, local de destino de Francisco.

Segundo os depoimentos de Abderman Carneiro Pimenta e Antônio Carneiro


Dourado, moradores dos municípios baianos de Lapão e Canarana, respectivamente, e
bisnetos de Francisco Alves Carneiro, este teve onze filhos de dois casamentos, o
primeiro com Maria da Glória Cardoso, depois com Ana Amélia Cardoso, ambas irmãs.
Não se sabe se os casamentos se deram antes ou depois que ele saiu da região que
pertence atualmente ao município de Tanque Novo, o fato é que ele e toda sua família
foram para um lugar denominado Mundo Novo, atualmente no município América
Dourada, Bahia, a mais de 200 km, em linha reta, a nordeste do Alecrim. Lá, ele viveu
com a família nas fazendas Bonita, onde ficou a maior parte do tempo, Enxu e Lapa
Grande. A fazenda Lapa Grande se estendia por cerca de 20 km entre os atuais
municípios de Lapão e Canarana, nas margens da vereda Romão Gramacho ou rio
Jacaré.

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O sobrinho de Francisco, João Alves Carneiro, filho de Juvêncio Alves Carneiro


também foi para Mundo Novo e viveu na fazenda Lapa Grande. Segundo as fontes
orais, a primeira esposa de João, sua prima Maria, filha de Antônio Lalau e Amélia
Gomes, faleceu de parto, dez meses após seu casamento e, por isso, esse se casou pela
segunda vez, no começo do século XX, com Ana Bela Cardoso, que também era viúva e
natural de Canarana. A fazenda Lapa Grande foi o local onde os documentos da compra
de parte da fazenda Furados foram assinados, em 1883, o que indica que Francisco teria
sido o intermediário na compra das terras que originaram a comunidade Alecrim e a
sede de Tanque Novo.

Quando essas pessoas que foram citadas viviam no Alecrim, a economia era
baseada principalmente na agropecuária, os únicos transportes utilizados eram o cavalo
ou o carro-de-boi. O tratamento de doenças mais simples era a base de chás, ervas e
curandeiros. Para casos muito complicados, os mais abastados deslocavam o doente
para outros municípios ou buscavam médico para o local. As aulas eram dadas na casa
de uma pessoa mais velha, por professores com baixo grau de escolaridade, que, com
disciplina e autoridade, ensinavam em pouco tempo os alunos a ler e escrever.
A comunidade só se tornou mais atrativa para outras famílias a partir de 1970,
com a melhoria de estradas, construção da Escola Municipal Zeferino Rodrigues de
Magalhães, localizada na coordenada 775.701E e 8.501.234N, abertura de campo de
futebol e de aguadas públicas. A partir de 1985, ano da emancipação do município, a
comunidade foi beneficiada com a abertura de um poço artesiano e construção da
capela, que tem por padroeiro São Sebastião. Atualmente a festa religiosa do padroeiro
é uma das principais manifestações culturais da comunidade, além da festa popular de
São João, da Via-Sacra, das novenas de Natal e da queima de Judas.

Os moradores informaram que no ano de 2007 já não existiam analfabetos no


Alecrim. Quase todas as crianças em idade escolar freqüentavam a escola Zeferino
Rodrigues de Magalhães e apenas 10 estudavam fora da comunidade. Em 2009, este
número inverteu, sendo que, apenas 11 crianças estudaram na escola da comunidade.
Destas, 10 estudaram no ensino fundamental inicial e uma na pré-escola, as outras na
sede do município. Em 2012 esta escola esteve paralisada. Dos estudantes da
comunidade apenas um foi atendido por transporte escolar em 2009, ou seja, a maioria
mora próximo à escola.

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A comunidade conta atualmente com água encanada proveniente da barragem do


Zabumbão, município de Paramirim, que é bombeada para a sede e outras regiões do
município de Tanque Novo, depois de passar pelo Alecrim. A comunidade tem energia
elétrica, instalada recentemente, a Associação Beneficente Comunitária do Alecrim,
ativa desde 28 de junho de 1996 e a Associação dos Pequenos Produtores Rurais da
Comunidade de Alecrim II, ativa desde 05 de maio de 1998.

A maioria dos moradores, mesmo utilizando técnicas rudimentares na produção


agropecuária, procura valorizar o restante da fauna e flora silvestre, principalmente os
umbuzeiros, que hoje se encontram ilhados entre o pasto para o gado e as áreas em
processo de degradação. Há pouco tempo, a vereda do Alecrim era uma área onde corria
muita água nos períodos chuvosos, permitindo que a vegetação se desenvolvesse com
abundância e, em conseqüência, uma diversidade de animais fosse encontrada. Hoje
temos nessa área uma pista de corrida de cavalo, outra de motocross e uma pequena área
com poucas árvores em propriedades particulares e terras devolutas. Os relatos dizem
que existiam veados campeiros, tatus, micos, aves silvestres, preás, raposas, gatos-do-
mato, sussuaranas etc, que atualmente são raros. O solo, que é arenoso e com
pedregulhos, torna-se, com o desmatamento, cada vez menos fértil. Nem mesmo a
planta Alecrim, considerada responsável pela origem do nome da comunidade, é
encontrada com facilidade.

A economia local se baseava principalmente na agropecuária, mas, atualmente,


muitas pessoas da comunidade realizam essa atividade econômica de maneira
secundária, sendo a fonte de renda principal obtida na cidade. Os que dependem
exclusivamente do que produzem na terra são poucos, ou sequer existem, depois dos
programas assistenciais do governo federal. A atividade de mineração informada
consiste na retirada de britas em algumas propriedades realizada pelos próprios donos.

As doenças que mais afetam as pessoas da comunidade, segundo os próprios


moradores, são decorrentes de hipertensão, diabetes, problemas respiratórios e
verminoses. Cada família tem sua fossa e o lixo é queimado por alguns e outros usam
como adubo. A comunidade possui o Programa de Saúde da Família e um agente
comunitária de saúde.

Na culinária destaca-se uma variedade significativa de pratos: galinha caipira,


assados, feijão farofado, cortadinho de mamão, de palma, entre outros. Não podemos

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deixar de falar dos bolos, que é uma fonte de renda do município. Os principais são:
bolo de puba, chimango, avoador, escaldado, biscoito de polvilho, pão-de-ló, brevidade,
cozido e assado etc. Nas casas de farinha são feitos beiju de massa e de tapioca. Temos
também requeijão, pamonha, cuscuz, doce de umbu, de coco, de leite e outros derivados
das matérias-primas que se encontram na região.

No artesanato as moradoras mais antigas se destacavam através do uso do fuso e


da roca no preparo da linha de algodão, com a qual se fazia, por exemplo, o cordão de
São Francisco. Se destacavam também do tear, com o qual se preparava tecidos e, com
estes, confeccionavam-se calças, camisas, cobertores, que eram chamados de bitus,
mortalhas etc. Os homens trabalhavam com madeira fazendo caixão de farinha, carros-
de-boi etc, e com o couro fabricavam bruacas, malas que eram usadas em animais,
alforjes, chinelos, relhos e outros objetos. Os moradores atuais obtêm produtos
disponíveis no comércio, que substituem os artigos preparados e fabricados pelos
antigos moradores.

Já na década de 1970, os jovens se reuniam todas as tardes para treinar no


campinho em frente ao prédio escolar. Com o tempo, começaram as disputas aos
domingos, com times de outros lugares. Hoje a comunidade tem um campo de futebol
em uma área comprada do senhor Isac Lessa Carneiro, neto de Benvindo Lessa,
segundo as informações do próprio Isac. Além do futebol, as crianças jogavam dama,
baralho, peteca, brincavam de ciranda, esconde-esconde, morto-vivo, boneca-de-pano,
cavalo-de-pau e carrinho-de-boi, feito com caule seco do pé de milho. Hoje em dia,
gostam mais de futebol, baleada e brincam com os brinquedos comprados nas lojas da
cidade.

Alecrim é uma comunidade próxima da Boca do Campo, cuja capela não


pertence à Paróquia do Imaculado Coração de Maria, de Tanque Novo, mas à Paróquia
de Santo Antônio, de Paramirim, que inclusive está sob a jurisdição da Diocese de
Livramento de Nossa Senhora. Como a comunidade Boca do Campo, ou pelo menos
parte dela, se localiza na área legal do município de Tanque Novo, inseri as informações
sobre ela aqui.

A escola da comunidade Boca do Campo está na coordenada 776.666E e


8.507.535N, a 8 km a nordeste da sede de Tanque Novo, tanto pela estrada quanto em
linha reta. É composta pela localidade Tanque Grande (777.398E e 8.505.366N) que

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estabelece relação com a mesma. Existe a Associação Comunitária e Recreativa de


Boca do Campo, ativa desde 10 de março de 1992.

Segundo os moradores, a comunidade teve início com a chegada de um senhor


conhecido como Zé de Bichinha, que construiu sua casa no lugar conhecido por
“Sucumbido”, que era isolado, com muitas árvores e animais, alguns ferozes, como
onça. O lugar era passagem para um descampado com vegetação menos densa, por isso,
depois que José derrubou algumas árvores ao redor da casa, esse recebeu o nome Boca
do Campo.

Com o passar do tempo chegaram outros moradores como: Tranquilino Lopes,


Joaquim de Antônia, José Norato, Francisco Lopes, Viturino Borges, Venâncio Borges,
Raymundo José Rodrigues e Renério José de Oliveira, que, com suas respectivas
famílias, foram os primeiros habitantes. O registro de casamento civil entre Archilino
José Rodrigues, filho de Raymundo José Rodrigues e Maria Rosa da Conceição e Maria
Custódia de Jesus, filha de Benedicto Ferreira das Neves e Custódia Maria de Jesus,
ocorrido no final do ano 1917, nos mostra que as pessoas citadas acima viveram na
segunda metade do século XIX. Depois vieram Juvêncio Lopes, José Cândido Lopes,
Alvino Lopes, Antunino Cardoso, Francisco da Cruz, Benvindo Lopes e Ananias Lopes,
que, constituíram família e, juntamente com os descendentes dos primeiros, deram ares
de comunidade a então localidade de Boca do Campo, pois houve a construção de várias
casas, sendo que, uma delas teve como objetivo ser a casa santa, onde eram realizadas
as novenas e as missas.

Os moradores deixaram a casa santa em 1974, pois construíram a primeira


capela católica da comunidade, adotando o Sagrado Coração de Jesus como padroeiro.
Nem todos são católicos, existe também os protestantes da Igreja Cristã do Brasil, mas
esses são menos de 5% dos religiosos. Quando a comunidade ainda pertencia ao
município de Botuporã, os moradores reivindicaram instalação de energia elétrica. Com
o tempo os moradores tiveram a iniciativa de colocar um professor chamado Aurélio na
comunidade, que ensinou juntamente com Juvêncio Lopes. Segundo os moradores, o
ensino na Boca do Campo deixa pouco a desejar em relação à sede do município. Em
homenagem ao antigo professor a escola da comunidade, que era conhecida como
Ananias Lopes, é chamada atualmente de Escola Municipal Juvêncio Lopes. Ela teve 57
estudantes em 2009, sendo 43 no ensino fundamental final e 14 na pré-escola e o

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mesmo número em 2012, 47 no fundamental inicial e 10 na pré-escola. Nenhum dos


estudantes utilizou transporte escolar para chegar à comunidade.

Foram homenageados em 2007, pelos estudantes do CETN, os seguintes


moradores: Zé de Bichinha, Dãozinho, Joaquim Lopes, Moisés Barbosa, Leovirgílio,
Raul de Inês, Vital, José Costa, Rodrigo, Geraldo, Alvino José da Silva e sua esposa
Maria Rosa da Silva, do Saco das Lajes, Antônio, Osiel, Otávio Ferreira, José Ribeiro,
Antônio Saraiva, Enílton Ferreira e Ângelo Ferreira. Na música destaca-se Traíra e a
dupla Cido e Valter, na enfermagem Eraldo, Altemiro Costa de Oliveira como agente
comunitário de saúde, Antônio de Ná na política. Nesse ano a população estava em
torno de 361 habitantes.

As diversas manifestações culturais foram originadas das tradições afro-


européias e de alguns costumes indígenas, por isso na comunidade são valorizadas as
benzedeiras, rezam-se ladainhas, realizam-se procissões, valorizam-se as festas
folclóricas, o reisado, o bumba-meu-boi, o cordel etc. As pessoas consideradas
destaques na comunidade são aquelas mais religiosas e as pessoas que faziam e fazem
artesanato, como: carro-de-boi, bruaca, portas, bordados, crochê etc. As comidas típicas
são: cuscuz, canjica, leitoa assada, biju e batata doce assada. A festa religiosa do
padroeiro Sagrado Coração de Jesus é tradicional na comunidade, que além da religião
católica, tem também a protestante.

A cerâmica que é uma das principais fontes de renda dos moradores. O barro é
deixado de molho na água por 12 horas, depois é prensado, por tração animal, e levado
para as formas, onde fica durante três dias até secar, depois é levado para o forno onde
permanece um dia. Associada a essa atividade temos a produção de carvão responsável
por grande parte do desmatamento.

Os moradores relatam que existiam muitas árvores, animais, a água era


abundante, as chuvas eram bem distribuídas no período chuvoso e o solo era fértil. Mas,
na opinião deles, como as pessoas desmataram muito, acabando com a proteção da terra,
muitas aves foram extintas, o solo empobreceu, pois já não produz mais como
antigamente e até o clima modificou, pois a chuva não tem mais período certo. Sabemos
que a causa para os diversos problemas ambientais citados é mais complexa que o
desmatamento local, mas, realmente esse não deixa de ser uma das principais.

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Tanque Grande é uma localidade que se encontra a mais de 2 km, em linha reta,
a sudeste de Boca do Campo, legalmente inteiramente dentro dos limites do município
de Paramirim. Até pouco tempo a localidade era pouco conhecida, pois os moradores
que ali se agrupavam, preferiam se considerar como membros da comunidade Boca do
Campo. Sabe-se que a primeira pessoa que construiu uma casa de enchimento na
localidade foi o senhor Francisco Lopes e em seguida veio o senhor Renério José de
Oliveira. Renério tinha devoção de rezar o ofício de Nossa Senhora em sua casa e, com
sua morte, a responsabilidade de manter e zelar pela localidade foi passada para seus
filhos.

Tanque Grande passou a ser mais conhecida a partir do dia 02 de fevereiro do


ano 2000, pois o morador Altemiro Costa de Oliveira, neto de Renério, enxergando a
dificuldade que os alunos enfrentavam para em ir e vir da escola da Boca do Campo
organizou um abaixo assinado reivindicando a construção de um prédio escolar e esse
foi inaugurado nessa data. A Escola Municipal Lagoa do Tanque Grande teve 11
estudantes, sendo 7 no ensino fundamental inicial e 4 na pré-escola em 2009 e esteve
paralisada em 2012. Todos moravam próximo da escola, pois não utilizavam transporte
escolar para chegar à mesma.

Segundo os moradores, a partir de então, a localidade se encheu de orgulho por


ter sido reconhecida como Tanque Grande e aumentou a expectativa de conseguir mais
benefícios, como, por exemplo, abertura de um poço artesiano, para distribuir água para
todos. Há muitos anos existe nessa localidade um tanque, feito pelos antepassados dos
moradores atuais. Era considerado o maior da região, pois, na maioria das vezes,
quando os outros já haviam secado, esse ainda tinha bastante água e por isso, a
localidade recebeu o nome Tanque Grande.

A agropecuária é calcada na criação de bovinos, eqüinos, suínos, ovinos e


caprinos e na produção de feijão, algodão, mandioca, milho, palmas e pastagens, com
ênfase na criação de bovinos e cultivo do feijão, mandioca e milho. Antigamente os
criadores criavam os rebanhos soltos nos campos da comunidade. Agora só existem
alguns criadores porque os campos foram cercados, não permitindo mais a criação no
regime de solta. Os agricultores informam que quando plantavam e colhiam apenas o
suficiente para o consumo próprio, a produtividade de feijão, milho e mandioca era
maior do que hoje e eles tentam compensar com a expansão da área. Para isso estar

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acontecendo é sinal que a fertilidade do solo ou a disponibilidade de água vem


diminuindo.

A comunidade possui casa de farinha. Antes se utilizava a roda movida por


cavalo, cujo arreio girava uma roda menor, que por fim girava uma rodinha, que puxava
o “bunequim” para ralar a mandioca. Atualmente o processo é realizado com auxílio de
motor, que facilitou o processo. Depois a massa ralada é prensada como indicado na
figura. Ao fim da prensagem lava-se a massa e coloca-a em um coador de pano. Da
água coada é extraída a tapioca. A massa é lançada ao forno, nem muito quente e nem
muito frio, para não embolar, e mexida com um rodo de madeira, para se fazer a farinha.

Em relação à mineração destaca-se o granito, mármore, talco, manganês em


Saco das Lajes e argila em todas as localidades. Um morador informa que: “os homi
começou depois parou a extração de talco”. O talco começou a ser extraído há uns 30,
mas a extração durou menos de uma década. Os moradores têm interesse que esse volte
a ser explorado para que se crie emprego para os moradores.

Antigamente alguns moradores se reuniam aos domingos à tarde para jogarem


baralho na casa do senhor Moisés, que, segundo os moradores, de um simples jogo se
transformava na maior diversão. Atualmente isso acontece esporadicamente. A diversão
das crianças eram as cantigas de roda, as bonecas de pano etc. Hoje brincam muito com
brinquedos que são comprados prontos e existem os desenhos animados na televisão,
que as crianças passam muitas horas por dia assistindo, que divertem as mesmas. As
atividades esportivas existentes são o futebol de campo, futsal, capoeira e baleada. A
equipe feminina de futsal de Lagoa do Zuza e Boca do Campo foi campeã em 2007 no
CETN. Essa relação levou a incluí-las na mesma comunidade.

Uma das histórias contada pelos moradores é sobre a primeira vez que passou
um avião sobre a comunidade, segundo eles as pessoas ficaram apavoradas sem saber o
que era aquilo, alguns saíram correndo amedrontadas, outras começaram a chorar e a
desmaiar. Histórias como essa são contadas de forma muito divertida por alguns
moradores talentosos.

As condições de higiene e saúde melhoraram bastante na comunidade em


relação ao passado, informam os estudantes do CETN. Existe tratamento médico e
odontológico para as pessoas, que atualmente se cuidam mais e também mais
informação para se prevenirem contra doenças.

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Dourados

A constituição da comunidade Dourados se deu a partir da identificação de


características semelhantes às de remanescentes de quilombos, que nos levou a agrupar
as localidades Baraúna de Cima, Pé do Morro I e II dentro desta mesma comunidade.
Em um estudo feito pelo Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica da
UnB (ANJOS, 2005), citado por SEAGRI-BA e Geografar – UFBA Gaspar Pé do
Morro é classificado como comunidade negra rural quilombola. mas não se sabe se o
autor se refere ao Pé do Morro I, ao Pé do Morro II ou até mesmo ao Pé do Morro III
citado no texto sobre a comunidade Colônia.

Não obtive informações sobre a localidade Pé do Morro I, que se encontra 2,5


km a leste do Alecrim I, morro abaixo. Essa localidade fica a 1,5 km ao norte do Pé do
Morro II, que segundo os estudantes e professores do CETN, teria sido fundada pelo
senhor Antônio Dias Moreira. Ele construiu sua casa junto ao morro local, a
aproximadamente 2 km a leste da comunidade Dourados, dando origem a localidade
denominada Pé do Morro II ou Pé do Morro Dias.

Para quem se desloca a partir da sede, o caminho que dá acesso ao Pé do Morro I


está à esquerda da localidade Alecrim I. Pelo caminho que segue a direita encontram-se
as outras localidades da comunidade dos Dourados. A primeira delas é Baraúna de
Cima, que possuía aproximadamente 20 casas em 2007. Os moradores dizem que a
localidade também era conhecida como Pé do Morro, mas o nome mudou para Baraúna
de Cima depois da construção da Escola Municipal Baraúna de Cima. Nessa localidade
existem pessoas com sobrenomes Dias, Barbosa entre outros.

A capela da comunidade Dourados está a 2 km a sudeste da capela do Alecrim,


distante aproximadamente 6 km a leste de Tanque Novo. Segundo os moradores, essa
comunidade foi originada pela família do senhor Gordiano Silva Dourado há
aproximadamente 200 anos, por isso foi denominada Dourados. Além do senhor
Gordiano, os moradores informaram que o senhor Carlos José também foi um dos
primeiros a habitar essa comunidade.

Analisando as assinaturas existentes no documento da compra das terras


pertencentes à fazenda Furados, feita pelos irmãos Prudenciano e Juvêncio, visto no

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texto sobre o Alecrim, verificamos que duas testemunhas dessa compra tinham o
sobrenome Dourado. Através de autores como Gustavo Dourado e Alderi Souza de
Matos, e de documentos encontrados nos Arquivos Públicos descobrimos que a história
dessa família parece estar relacionada não apenas com a formação territorial de Tanque
Novo, conforme veremos a seguir, mas com boa parte do semiárido baiano.

Os autores informam que no século XVIII o marujo português Mateus Nunes


Dourado, natural da cidade do Porto, recebeu do governador da Província da Bahia uma
área de terras em Santo Antônio de Jacobina, atraído pelas minas de ouro, ali fixou
residência e constituiu família, casando-se com Joana da Silva Lemos, filha de pai
português, proprietária da exploração mineral na região e dona de muitas terras. O
inventário desse marujo, encontrado no Arquivo Público Municipal de Rio de Contas,
cuja soma é 2:713$586 (Dois contos setecentos e treze mil e quinhentos e oitenta e seis
reis), mostra que mesmo faleceu no Sítio de Paramirim, Termo de Vila Nova de Nossa
Senhora do Livramento de Rio de Contas, em 26 de novembro de 1746, deixando Joana
viúva, com 13 herdeiros. Os filhos informados no Inventário foram: Antônio, 1 ano;
Theodora, 3 anos, Manoel, 5 anos; Joseph, 6 anos; Jozefa, 8 anos; Joana, 9 anos;
Caetana, 10 anos; Antônia, 12 anos; Suzana, 15 anos; Matheus, 16 anos; Maria, 18
anos; Catherina, 21 anos e Domingos Nunes Dourado, 25 anos.

Mateus também relacionou 30 escravos em seu inventário, que, na maioria das


vezes, foram descritos como mineiros: “José”, aproximadamente 35 anos; Ignácio, 25
anos; Silvestre, 27 anos; João, 30 anos; Leonardo, 40 anos; Caetano, 25 anos; Ignácio,
35 anos; “Roney”, 30 anos; “Roney”, “25” anos; Luiz, 25 anos; Joaquim, 25 anos;
Manoel, 27 anos, João Benguela, 30 anos; Antônio Benguela, 40 anos; Lena, 22 anos;
Maria, 15 anos; Paula, 30 anos; Gonçalo, 10 anos; Ana, 8 anos; Madalena, 6 anos; Rosa,
13 anos; Amaro, 1 ano; João Angola, 25 anos; Roque, 18 anos; Tomé, 12 anos; Maria
Angola, 30 anos; Manoel, 12 anos; Micaela, 30 anos; Leonor, 28 anos; Tereza, 30 anos;

Contrariando Alderi Matos e Gustavo Dourado, que informaram apenas um


único filho de Mateus Nunes Dourado, José da Silva Dourado, o mesmo Joseph
relacionado no inventário como nascido em 1740, observamos que os Dourados de
Tanque Novo podem ter surgido de qualquer um dos 13 filhos de Mateus Nunes
Dourado. Como não temos a genealogia de todos eles, buscou-se identificar alguma
relação entre os Dourados da região de Tanque Novo e os descendentes de Joseph.

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José da Silva Dourado se casou com Maria Custódia Leal e teve três filhos: João
José, Francisca e Maria Joaquina da Silva Dourado. Neves nos mostra que João José da
Silva Dourado se fez presente em uma área próxima do atual município de Tanque
Novo, na chamada fazenda Algodões:

Juazeiro – Sítio hoje em Botuporã, limites com Macaúbas,


medindo meia légua de comprimento e um quarto de largura,
arrendado pela Casa da Ponte ao capitão José Antônio do Rego,
em 1816, por 10 tostões anuais, limitando com Algodões, de
João José da Silva Dourado; Buriti, da viúva de Joaquim
Oliveira Cortes; Pé da Serra, de Geraldo José do Rego e
Domingos José do Rego; e Santana de João da Silva Batista,
sendo avaliado no tombamento fundiário de 1819 por 80 mil
réis e vendido, em 1831, para Geraldo José do Rego (NEVES,
2003, p. 369)

Como a mineração nas cabeceiras do Rio de Contas entrou em decadência nesse


período, percebemos que o senhor João José parece ter adquirido a fazenda Algodões
buscando se dedicar a uma atividade cujo retorno fosse mais garantido, a agropecuária.
O livro de registro de terras da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas,
1857 a 1859, contém alguns registros referentes aos seus descendentes, como, por
exemplo, o registro número 716, no qual se vê que a fazenda Caititú, atual sede do
município de Botuporã, pertenceu aos “herdeiros de João José”. Os registros a seguir
revelam outros detalhes importantes:

O Capitão Venancio Theodoro declara que pussui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas três partes de terras no lugar denominado Pattos, na
Fazenda dos Algodoens, por compra que fes a João José da
Silva Junior, e a sua mulher, e a Demetro da Silva Dourado e a
sua mulher, e a Manoel da Silva Dourado easua mulher, cujas
partes são mestisos ese entremão pela parte do Norte com
Manoel José Pereira, pela parte do Nascente com os
interessados da Fazenda Malhadinha nos nomes dogiráo, epela
parte do puente na Serra de Santa Anna nos desagoadores =
declaro que pela parte do Sul, estrema com o mesmo Manoel
José Pereira. Villa de Macaubas 5 de Maio de 1859. Venancio

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Theodoro de Souza. Registrado no dia 7 do mes de Maio.


Pagou mil eduzentos reis. Escrivão João Antônio do Rego, o
Vigario Fernando Augusto Leão (registro 427).

José Antonio de Oliveira e Silva declara que possui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubasa Fazenda do Sarandi que houve por herança da sua
finada Mai............ Dona Anna Maria do........os demais
herdeiros, aqual a Fazenda se estrema para oNascente com
Felippe Batista de Souza, e Antonio Goncalves Seixas para
oNorte, com João Alves da Costa e Maximino Pereira de Souza
e os herdeiros do finado João José da Silva Dourado, pelo
puente com Claudio Antonio de Oliveira, epela parte do Sul
com herdeiros do finado Manoel Francisco Xavier do Rego.
Macaubas o 1º . de Junho de 1859. José Antonio de Oliveira.
Foi apresentado eregistrado no dia 16 do mesmo mes de Junho.
Pagou nove centos, e oitenta e oito réis. Escrivão João Antônio
do Rego, o Vigario Fernando Augusto Leão (registro 669).

Jorge Pereira Dourado pussui nesta Freguesia de Nossa


Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte de
terras na Fazenda das Vargens em comum com os mais
enteressados Filhos eherdeiros de Jose Joaquim Pereira cuja
parte de terras houve por herança de sua finada Sogra Francisca
Angélica de Jesus esuas estremas constão da Escreptura de
compra das terras da mesma Fazenda que se acha em puder do
mesmo Cabeça do Cazal. Villa de Macaubas 14 de Maio de
1859. Jorge Pereira Dourado. Registrado no dia 16 do mesmo
mes de Maio. Pagou mil réis. Escrivão João Antônio do Rego,
o Vigario Fernando Augusto Leão (registro 469).

Segundo as informações divulgadas por Gustavo Dourado e Alderi Souza de


Matos, João José da Silva Dourado casou-se com Guardiana Maria Cardoso, com a qual
teve treze filhos, sete homens e seis mulheres, além de outro natural. Três desses filhos
estão indicados no registro 427: João José Junior, Demetro e Manoel. No registro 669
percebemos a fazenda Sarandi, que fica a menos de 10 km ao noroeste da sede de
Tanque Novo, e que os herdeiros do “finado” João José limitavam-se ao norte com essa
fazenda. O registro 469 indica que Jorge Pereira Dourado herdou da sogra um lugar na

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fazenda Vargens, que pode ser o mesmo da atual comunidade Dourados, no entanto,
deve-se consultar a escritura para confirmação da hipótese.

Como vemos, depois da morte do pai, alguns descendentes de João José


venderam as propriedades e se dirigiram para outra região. A origem do atual município
de América Dourada, que fica a mais de 200 km da atual comunidade Dourados, deve-
se aos filhos e netos de João José da Silva Dourado, pois eles compraram uma fazenda,
em 1870, que no decorrer dos tempos deu origem ao povoado denominado Mundo
Novo.

A maioria de seus habitantes eram descendentes de João José


da Silva Dourado. Tomando conhecimento da existência de
uma cidade com este nome (Mundo Novo), sentiram a
necessidade de mudar o nome do povoado para América. As
povoações vizinhas passaram a chamar América dos Dourados.
Passando depois a se chamar América Dourada (IBGE, 2010).

É importante saber que os membros da família Dourado tinham terras na região


de Tanque Novo, pois há indícios de que os moradores da atual comunidade Dourados
de Tanque Novo sejam descendentes de escravos da família Dourado, pois são negros,
assim como a maioria dos moradores dessa comunidade e, até pouco tempo, eram
chamados “nego dos Dourado” ou “nego do Pé do Morro”, por alguns moradores do
município.

Alderi Souza de Matos nos revela que o oitavo filho de João José da Silva
Dourado, casado com Carolina Cardoso Pereira, teve João Cardoso Dourado, nascido
em Caetité no dia 7 de janeiro de 1854. Este se casou no dia 7 de janeiro de 1878, na
fazenda São João, então município de Macaúbas, atual Paramirim, com a prima
Geraldina Brandelina (este último nome não aparece na relação de Gustavo Dourado,
mas está em outras genealogias da família) da Silva Dourado, nascida em 6 de janeiro
de 1860, filha de Bento da Silva Dourado, o quarto filho de João José, casado com
Maria Cardoso de Oliveira.

No texto sobre a comunidade Alecrim vimos que Cláudio Antônio de Oliveira e


seus filhos José Antônio de Oliveira e Antônio Cardoso de Oliveira, compraram em
1861 uma gleba de Vargens entre Malhada Grande, Furados e Lagoa do Mato.
Provavelmente a esposa de Bento, Maria Cardoso de Oliveira, era parente deles. O texto

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sobre o Alecrim também mostra que Francisco Alves Carneiro teve uma esposa
chamada Maria da Glória Cardoso Carneiro e depois ele se casou com a irmã desta, Ana
Amélia Cardoso Carneiro. Essa informação nos leva novamente ao casal Bento e Maria
Cardoso, pois foi o único casal dos filhos de João José que teve uma filha chamada
Maria Cardoso e outra Ana Amélia Cardoso, segundo a genealogia de Gustavo
Dourado. Supomos que, depois de casadas com Francisco Alves Carneiro, as irmãs
Maria (da Glória) e Ana Amélia alteraram o sobrenome Dourado para Carneiro.

Francisco Alves Carneiro e João Cardoso da Silva seriam concunhados. Pela


proximidade do nome da primeira filha de Demétrio, Guardina Silva Dourado e o
homem citado pelos moradores da comunidade Dourados como fundador da
comunidade Dourados, Gordiano Silva Dourado, foram muito próximos, talvez até a
mesma pessoa, diferenciadas devido à imprecisão do repasse da informação oral ou da
própria genealogia. A partir da ligação entre a família de João Cardoso Dourado e a
família de Francisco Alves Carneiro, o caminho deste foi semelhante ao do concunhado,
como veremos.

A história de João Cardoso Dourado e Geraldina Brandelina da Silva Dourado,


divulgada por Matos, revela que depois que se casaram na fazenda São João, no então
município de Macaúbas, o casal foi para Angico, área pertencente à Fazenda Lagoa
Grande, que teria dado origem ao município de América Dourada, e, em 1888, fixaram
residência no lugar denominado Canal. Devido à influência de um coronel chamado
Benjamin José Nogueira (1855-1910), que teria sido o primeiro diácono e moderador da
Igreja Batista da cidade Corrente, no extremo sul do Piauí, João passou a evangelizar
pela região do Canal.

Em 1903, saindo a cavalo de Senhor do Bonfim, onde residia, o missionário


presbiteriano Rev. Pierce Chamberlain foi até o Canal e conheceu o coronel João
Dourado. Mediante um contato mais demorado com o Rev. Pierce, João Cardoso foi
batizado e o missionário prometeu-lhe uma professora para alfabetizar os seus filhos e
parentes. Em março de 1904, chegou ao Canal a professora Damiana Eleonor da
Conceição. No dia 5 de fevereiro de 1905 a congregação da Fazenda Canal foi
organizada em igreja pelo Rev. William Alfred Waddell, cunhado do Rev. Pierce. João
Dourado foi eleito presbítero, junto com três outros membros da família.

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Em 1906, o Rev. Waddell mudou-se com a família para Ponte Nova, pouco mais
ao sul, onde a missão alugou e depois adquiriu uma grande fazenda junto ao rio Utinga,
onde é a atual sede do município de Wagner. Ali foi criado um colégio evangélico para
os filhos dos sertanejos nordestinos, o Instituto Ponte Nova. Na época, somente três
outras localidades baianas (Salvador, Ilheus e Caetité) forneciam ensino de segundo
grau, o atual Ensino Médio. O propósito do Instituto Ponte Nova, IPN, era preparar
professores para escolas primárias e bíblicas, treinar jovens para o trabalho da igreja e
encaminhar alguns deles ao ministério. Dos doze alunos iniciais, oito foram enviados
pelo coronel João Dourado, sendo quatro deles seus filhos. O coronel Benjamin
Nogueira também enviou os filhos e alguns parentes para estudarem em Ponte Nova.

Alguns moradores atuais de Tanque Novo dizem que a influência para estudar
no colégio evangélico de Ponte Nova chegou até Tanque Novo, distante
aproximadamente 200 km, provavelmente devido à ligação entre Francisco Alves
Carneiro e o seu concunhado João Cardoso Dourado. Apesar do colégio ser evangélico
o bisneto de Francisco, o historiador Abderman, informou que seu bisavô sempre foi
católico, por isso, é possível que essa influência pode ter se dado também através do
sobrinho de Francisco, João Alves Carneiro, que teria ido para o atual município de
América Dourada, Bahia, em 1907, um ano depois da criação do Instituto Ponte Nova.

Não se sabe se João estudou nesse Instituto, mas, segundo os depoimentos,


depois que se mudou para Mundo Novo, ele teria ido de cavalo, várias vezes, visitar os
parentes nos Furados. Existem relatos de que Severino Xavier Malheiro, cunhado de
Manoel Rodrigues de Magalhães, da fazenda Sarandi, irmão de Zeferino, enviou o filho
dele para estudar no Instituto Ponte Nova. Segundo as fontes orais, Zeferino e Ana Bela
também quiseram enviar o filho Venício, mas não concretizaram os planos. A ligação
entre as famílias Carneiro, Cardoso e Dourado precisa ser mais bem estudada até
mesmo para se entender em quais circunstâncias se deu a compra das terras que
originaram a cidade de Tanque Novo.

Entre os fatos mais antigos que os moradores da comunidade Dourados


relembram, está a seca de 1932, que deixou em situação de calamidade toda essa região,
fazendo com que muitas pessoas tivessem apenas a batata do mato como alimento.
Também relatam que algumas pessoas da comunidade fabricavam anil colocando a
planta de anil de molho durante três dias, depois tirando as folhas, coando com cinzas e

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colocando dentro de um saco para escoar. Fabricava-se azeite torrando a mamona,


pilando e depois colocando-a no fogo, com água, até se transformar em óleo.

Algumas mulheres, com destaque para dona Nenzinha, produziam roupas ou


cobertores. Ela passava o algodão colhido no descaroçador, batia com o arco, levava
para a roca, onde fiava e, depois da linha feita, tecia o pano no tear, cortava e costurava
de acordo com o que pretendia fazer. O senhor Josias Dourado fazia carro de boi e
outros objetos de madeira.

Outros relatos sobre a atualidade da comunidade Dourados se referem à abertura


de uma estrada que dá acesso à comunidade, ou ao primeiro rádio trazido pelo senhor
Joaquim, à inauguração do campo de futebol, ao primeiro automóvel comprado pelo
senhor João, à construção da capela e da Escola Municipal Família Dourado (777.183E
e 8.499.872N), à energia elétrica, ao poço artesiano e à casa de farinha, conseguida
através da Associação Beneficente e Comunitária das Comunidades de Dourados e
Gaspar, que serve às comunidades de Dourado, Manuel Correia, Gaspar e a localidade
Baraúna de Cima, presidida em 2007 pelo bisneto de Gordiano Silva Dourado, Paulo
Xavier.

A Escola Municipal de Baraúna de Cima, que fica a 3 km ao sul do Pé do Morro


Dias, na coordenada 779.108E e 8.499.281N, atendeu 11 alunos em 2009 no ensino
fundamental inicial e 3 na pré-escola, em 2012 foram 18 nas séries iniciais e 1 na pré
escola. A Escola Municipal Família Dourado, localizada na coordenada 777.125E e
8.499.860N, esteve paralisada nesse ano. Nenhum desses estudantes utilizou transporte
escolar.

Os atuais moradores pouco sabem sobre o tempo de escravidão dos seus


antepassados. Para Santos (2007), essa não identificação ou “longo silêncio” sobre o
passado funciona como um tipo de memória subterrânea, diante de ressentimentos
acumulados no tempo e de uma memória da dominação e de sofrimentos que jamais
puderam se exprimir publicamente. O relato oral de Juvêncio Alves Carneiro, neto
homônimo do comprador da parte de terras da fazenda Furados, diz-nos que membros
das famílias Badu, Barbosa e Dias, que povoaram inicialmente o Pé do Morro, tiveram
atrito com seu avô, em relação aos limites dos terrenos. Essa questão teve intermediação
até mesmo do monsenhor Hermelino Marques Leão, que teria dado razão ao senhor

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Juvêncio e este teria feito com que aqueles colocassem o mourão nos limites
estabelecidos, usando da agressividade.

Silêncio e não-identificação podem ser entendidos como um processo de


resistência da comunidade, pois, como enfatiza Santos:

Durante aproximadamente um século a memória da escravidão


sofreu um processo de “silêncio”, pois tudo o que era ligado a
ela tinha um sentido negativo, sentido este imposto pela
“história oficial” (...) tendo inclusive comunidades negras que
negam até hoje seu passado escravista (...) Nesse processo
percebe-se que o “silêncio” foi uma maneira de evitar conflitos
(SANTOS, 2007, p. 103)

Observo que as memórias sobre a escravidão se encontram inseridas em alguns


relatos, no entanto, de maneira distorcida, como por exemplo, no que informa que
alguns antepassados se arriscavam para vender o rebanho de gado indo à Mata do Café,
em São Paulo, montados em animais, gastando 30 dias em média. Segundo Neves
(2000), a experiência dos negros na Mata do Café é descrita como se esses fossem o
próprio rebanho, conduzido por sampauleiros traficantes. O autor também mostra que,
com o fim da escravidão, alguns deles retornaram para seus locais de origem, devido às
relações de parentesco. Isso deve ser mais bem estudado no contexto da comunidade
Dourados.

A população da comunidade vive da criação de gado e agricultura. A maioria da


produção é para consumo próprio, sendo que, quando sobra, é vendida na feira para
aumentar a renda familiar. Antes, para ir à feira, os moradores tinham que ir a pé,
conduzindo o jegue que carregava os produtos na cangalha, ou de carro de boi, que,
atualmente, foram substituídos pelo automóvel. Os produtos cultivados eram: arroz,
feijão, mandioca, milho, alho, cebola e tomate. Atualmente é cultivado feijão, milho,
mandioca, da qual se extrai a farinha e a tapioca, mas nos últimos anos caiu a produção
destes e houve aumento da área de pastagem para os bois. Segundo um dos moradores,
a criação “miúda” está acabando pelo fato de se usar cerca.

O fator que mais influencia na produção das culturas é a chuva. O rebanho sofre,
tendo que se deslocar a outros lugares para beber, como a Lagoa da Baraúna de Cima.
Por não utilizarem métodos adequados para armazenar a água no período chuvoso, os
moradores também passam por calamidades na seca. Antes era feito o plantio com
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enxadas e enxadões para abrir covas no chão e hoje já utilizam o arado, que é um pouco
mais rápido, e em poucos lugares o trator. A casa de farinha busca incentivar o plantio e
o cultivo da mandioca nessas localidades, evitando, com isso, o êxodo rural.

Encontra-se na região ametista e granito, que, segundo os moradores, estão


sendo extraídos desde a década de 1990. As fontes orais informaram em 2007 que os
blocos de granito estavam sendo retirados por trabalhadores de Tanque Novo, Baraúna
de Cima e Pé do Morro II, pagos pela empresa Jasitem, que os destinava à exportação.
Procuramos mais informações sobre a referida empresa, mas, ao consultarmos o sistema
do DNPM, observamos que, inicialmente, a empresa responsável pela exploração da
área, para a qual o alvará de autorização de pesquisa foi cedido em 16 de agosto de
1990, chamava-se Universal Mármores e Granitos Ltda. O Os direitos minerários desta
empresa foram transferidos para outras, como talvez a empresa Jasitem referida, apesar
de não ter sido informada no sistema, até que, em 2009, a empresa chamada Peval S/A,
fez o requerimento de lavra da área e passou a ter direito de explorar a área. Quando
perguntados sobre o que achavam da mina, os moradores consideraram que, por
enquanto, não havia tido nenhum benefício para eles, pelo contrário, em seus relatos
enfatizaram os danos causados à natureza e a população local.

O senhor Ezequil (Pé do Morro II) e Sobim faziam carro de boi e caixão para
colocar farinha. Os pratos destacados na comunidade foram: feijoada, farofa, leitoa
assada, batata assada, requeijão, farofas de cariru, maniçoba, bolo frito, beiju, cuscuz,
escaldado, biscoito, pão caseiro etc. Antigamente para preparar os alimentos os
moradores colocavam panelas de barro em cima de trempes ou pedras e acendiam o
fogo no chão. Quase todas as mulheres velhas de hoje faziam bordado em ponto de
cruz, fuxico, fiavam na roca.

A flora da região se encontra bastante devastada, mas ainda existem árvores


como a aroeira, juazeiro, jurema, além das frutíferas, que os moradores destacam como
mais importantes: umbuzeiro, jabuticaba e gabiroba. A fauna é bem diversificada,
porém, devido à caça indiscriminada, alguns animais que existiam antes estão extintos
ou se tornando cada vez mais difíceis de serem encontrados, como veado, seriema,
codorna, perdiz, lambu, preá, bagadá, cobras de várias espécies, coelho, jacu, juriti, no
entanto, a caça vem acabando com esses animais. A água é obtida em parte pela
EMBASA, em minações de poços artesianos e nos tanques e caldeirões, também
conhecidos como lajedos, que armazenam a água proveniente da chuva.
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A comunidade tem agente de saúde que passa de mês em mês, visitando as


famílias do lugar e quando há uma urgência os moradores procuram o hospital da
cidade. Antes não existia atendimento médico na sede de Tanque Novo, quando adoecia
uma pessoa era preciso ir a cavalo até o local mais próximo, percorrendo em torno de 20
km para se consultar com um farmacêutico em Caldeiras, ou 30 km para se chegar a um
médico na cidade de Paramirim, ou então se utilizava algum remédio caseiro preparado
por uma benzedeira ou curador, com destaque para a parteira dona Bela, mulher de
Antônio Moreira Dias. Também é destaque a generosidade da benzedeira da localidade
Pé do Morro Dias, conhecida por “Ficidade”. Hoje as condições estão melhores, pois há
mais higiene, devido à orientação dada pelos agentes de saúde. O estudante 1543 se
refere ao agente, escrevendo que este “[...] pesa as crianças menores de 7 anos e mede
pressão [...]”.

Entre os fatos que marcaram os moradores está a reza da via-sacra, por


Francisco Dias, embaixo de uma Gameleira, tradição esta que foi passada de geração
em geração, sendo, atualmente rezada na capela dos Dourados, cuja padroeira é Nossa
Senhora Aparecida. As manifestações culturais da comunidade Dourados são os festejos
religiosos a São Sebastião, Nossa Senhora Aparecida e outros, a semana santa, a Via
Sacra, as festas juninas, quando as famílias se reúnem para fazer fogueiras, assados e
soltar fogos, o bumba-meu-boi e o reisado, sendo que este vem acabando.

As escolas preservam o folclore e as cantigas de roda e também comemoram o


dia das mães, dos pais e das crianças. O futebol e a baleada são as brincadeiras mais
praticadas. O estudante 1543 escreve que quer ficar “[...] brincando no campo com a
bola e outros amigos [...]”. As crianças também brincam de casinha, carro feito de lata
de óleo e pneu de sandália, boneca de pano, sabugo de milho, jogam peteca, baralho etc.

Gaspar

A comunidade de Gaspar apresenta características muito semelhantes as dos


Dourados, principalmente devido à proximidade, pois fica a menos de 1 km da
comunidade dos Dourados na coordenada 777.183E e 8.499.872N. Fazem parte do
Gaspar as localidades Lagoinha e Olho D’água. O mesmo estudo citado anteriormente,
feito pelo Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica da UnB (ANJOS,
2005), inclui Gaspar como comunidade remanescente de Quilombo.

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Um sobrinho de Antônio Dias do pé do Morro II, o líder comunitário Zelindo


José Dias, diz não saber ao certo por que a comunidade em que ele mora chama-se
Gaspar, mas acredita que recebeu esse nome em homenagem a um antigo morador
dessas terras. O senhor Nem, pai de Joaquinzão da Lagoa Redonda, foi citado como o
principal líder da comunidade desde quando Tanque Novo ainda pertencia a Botuporã.

O padroeiro da comunidade é São Gaspar, cujo dia é 12 de junho. Um


documento citado por Neves, escrito em 1916, informa-nos sobre a existência de um
Gaspar em 1810, ano de instalação da vila de Caetité, em São José, que pode ser a
mesma comunidade São José de Tanque Novo. O ano da morte do São Gaspar foi 1853,
mostrando que a influencia do Gaspar citado no texto abaixo pode sido anterior a do
Santo. A relação entre esses e a comunidade deve ser melhor investigada para se
entender o significado do seu nome.

Poucos dias depois de installada a Villa de Caeteté, foram


providos os lugares de Juizes Vintenarios de Cannabrava do
Caires e Cannabrava de Vicente Ferreira, as quaes já eram
vintenas desde a administração de Minas de Rio de Contas, e
foi creada a de Gentio. [...] Quanto a Cannabrava de Vicente
Ferreira, que depois em razão de vir a pertencer em grande
parte á família Caldeira, adquiriu esse nome, vêm descripto os
seus limites com Urubu, por aquella data assim: - “Morro do
Chapéo, pelo que toca a esta freguesia, a Noruega, do falecido
Marques, São José, de Serafim Gaspar até o Bonito que foi de
José de Souza Costa” (A Penna. Caetité. 18 mai. 1916.
Editorial. In: GUMES, João [Antônio dos Santos]. Município
de Caeteté: notas e notícias. [s.l. : s.n.]. [Caetité: Tip. De A
Penna, 1918], p. 15-25. apud NEVES, 2008, p. 47-54).

Outra localidade que se relaciona com Gaspar é o Olho D’água, que está a
aproximadamente 8 km da sede Tanque Novo. A casa do senhor Joaquim José dos
Santos, também conhecido como Joaquim Sério, fica na coordenada 779.116E e
8.497.269N. Olho D’água possui um lençol freático raso, que deu origem a uma
minação e, conseqüentemente, ao nome da localidade. Para quem sai do Gaspar, sentido
sudeste, Olho D’água fica a pouco mais de 2 km, logo depois de uma localidade
pertencente aos descendentes de Joaquim Dias Neto e Ana Francisca Dias, com apenas
oito casas, conhecido por Lagoinha (778.687E e 8.497.653N).

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Joaquim Sério informou que um dos primeiros moradores da localidade Olho


D’água chamava-se Jobre Badú, seguido de José Ângelo Dias, João Ernesto Dias e
outros. Os relatos dos moradores indicam que o terreno atual pertencia à família
Carneiro, que vendeu para um homem e este deu de herança para o casal Jobre Badú e
Carolina, proveniente de Macaúbas. Os entrevistados disseram que em 2007 o Olho
D’água melhorou no que se refere aos meios de transporte, meios de comunicação,
fabricação de farinha e construção de casas. O estudante 1543 informou que em 2009 ia
“[...] estudar longe porque a escola não dá para tanta série [...]”. Contou-se 14
residências em 2007 com 34 moradores e em 2009, o estudante 1543 escreve “[...]
moram na minha comunidade 30 famílias e muito felizes [...]”, talvez se referindo a
mais de uma localidade.

Os moradores do Olho D’água frequentam a Escola Municipal Nossa Senhora


da Glória, localizada, no banco de dados federal, na fazenda Pé do Morro dos Dias mas
na relação municipal no Gaspar. Segundo os mesmos, os professores se reuniam com os
alunos em época de São João e faziam comidas típicas, organizavam quadrilhas e outras
atividades e que, na comemoração do folclore, os alunos faziam algumas brincadeiras,
desenhos de personagens das lendas, tais como: saci, mula-sem-cabeça etc. A Escola
Municipal Nossa Senhora da Glória está na coordenada 777.472E e 8.499.265N, teve
44 estudantes matriculados em 2009, sendo 10 na pré-escola e 34 no ensino
fundamental inicial; em 2012, essa mesma escola teve 24 estudantes, três na pré-escola
e 21 no fundamental inicial. Os moradores participam da mesma Associação citada na
comunidade Dourados.

O fator que mais influencia na produção agrícola é a chuva. Com sua falta, o
rebanho se deslocava de outras comunidades até o Olho D’água, onde existia uma
minação perene, que se tornou intermitente após a exploração da serra da Baraúna pela
empresa Jasitem, inclusive com auxílio de trabalhadores de Olho D’água e Gaspar. O
estudante 1543 fala da realidade do Olho D’água em 2009: [...] Nós plantamos já para o
consumo Familiar e está ótima as plantações e a pecuária com os bovinos, caprinos e
suínos [...]”.

José Dias Barbosa, conhecido por Zé Padre, é considerado destaque no Olho


D’água por realizar curso de batismo, ser líder comunitário e artesão, fazendo vários
tipos de objetos como: cadeiras, arados, tombadores, carrinhos de boi, rocas,
descaroçadores e congas. Outros moradores também fabricavam balaios, esteiras e
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chapéus utilizando palha de coqueiro, bananeira ou caroá. Destaque para Maria Durico
(Gaspar) e Maria Francisca na arte de bordar e fiar.

Lagoa da Casca

A 4 km a sudoeste da Boca do Campo existe uma comunidade conhecida por


Lagoa da Casca, na coordenada 774.211E e 8.504.159N. É uma comunidade da qual
participam os membros da família do senhor Galdêncio. As únicas informações
reunidas sobre ela são que tinha 15 casas em 2007 e a padroeira é Nossa Senhora
Santana. Lagoa da Casca é a comunidade mais próxima da Boca do Campo, cuja capela
não pertence à Paróquia do Imaculado Coração de Maria, de Tanque Novo, mas à
Paróquia de Santo Antônio, de Paramirim, que inclusive está sob a jurisdição da
Diocese de Livramento de Nossa Senhora. Como a comunidade Boca do Campo, ou
pelo menos parte dela, se localiza na área legal do município de Tanque Novo, inseri as
informações sobre ela aqui.

A escola da comunidade Boca do Campo está na coordenada 776.666E e


8.507.535N, a 8 km a nordeste da sede de Tanque Novo, tanto pela estrada quanto em
linha reta. É composta das seguintes localidades que estabelecem relação com a mesma:
Lagoa do Zuza (776.171E e 8.509.704N) e Tanque Grande (777.398E e 8.505.366N).
Existe a Associação Comunitária e Recreativa de Boca do Campo, ativa desde 10 de
março de 1992.

Segundo os moradores, a comunidade teve início com a chegada de um senhor


conhecido como Zé de Bichinha, que construiu sua casa no lugar conhecido por
“Sucumbido”, que era isolado, com muitas árvores e animais, alguns ferozes, como
onça. O lugar era passagem para um descampado com vegetação menos densa, por isso,
depois que José derrubou algumas árvores ao redor da casa, esse recebeu o nome Boca
do Campo.

Com o passar do tempo chegaram outros moradores como: Tranquilino Lopes,


Joaquim de Antônia, José Norato, Francisco Lopes, Viturino Borges, Venâncio Borges,
Raymundo José Rodrigues e Renério José de Oliveira, que, com suas respectivas
famílias, foram os primeiros habitantes. O registro de casamento civil entre Archilino
José Rodrigues, filho de Raymundo José Rodrigues e Maria Rosa da Conceição e Maria
Custódia de Jesus, filha de Benedicto Ferreira das Neves e Custódia Maria de Jesus,

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ocorrido no final do ano 1917, nos mostra que as pessoas citadas acima viveram na
segunda metade do século XIX. Depois vieram Juvêncio Lopes, José Cândido Lopes,
Alvino Lopes, Antunino Cardoso, Francisco da Cruz, Benvindo Lopes e Ananias Lopes,
que, constituíram família e, juntamente com os descendentes dos primeiros, deram ares
de comunidade a então localidade de Boca do Campo, pois houve a construção de várias
casas, sendo que, uma delas teve como objetivo ser a casa santa, onde eram realizadas
as novenas e as missas.

Os moradores deixaram a casa santa em 1974, pois construíram a primeira


capela católica da comunidade, adotando o Sagrado Coração de Jesus como padroeiro.
Nem todos são católicos, existe também os protestantes da Igreja Cristã do Brasil, mas
esses são menos de 5% dos religiosos. Quando a comunidade ainda pertencia ao
município de Botuporã, os moradores reivindicaram instalação de energia elétrica. Com
o tempo os moradores tiveram a iniciativa de colocar um professor chamado Aurélio na
comunidade, que ensinou juntamente com Juvêncio Lopes. Segundo os moradores, o
ensino na Boca do Campo deixa pouco a desejar em relação à sede do município. Em
homenagem ao antigo professor a escola da comunidade, que era conhecida como
Ananias Lopes, é chamada atualmente de Escola Municipal Juvêncio Lopes. Ela teve 57
estudantes em 2009, sendo 43 no ensino fundamental final e 14 na pré-escola. Em 2010
teve 50 matriculas, 41 no fundamental inicial e 9 na pré-escola. Nenhum dos estudantes
utilizou transporte escolar para chegar à comunidade.

Foram homenageados em 2007, pelos estudantes do CETN, os seguintes


moradores: Zé de Bichinha, Dãozinho, Joaquim Lopes, Moisés Barbosa, Leovirgílio,
Raul de Inês, Vital, José Costa, Rodrigo, Geraldo, Alvino José da Silva e sua esposa
Maria Rosa da Silva, do Saco das Lajes, Antônio, Osiel, Otávio Ferreira, José Ribeiro,
Antônio Saraiva, Enílton Ferreira e Ângelo Ferreira. Na música destaca-se Traíra e a
dupla Cido e Valter, na enfermagem Eraldo, Altemiro Costa de Oliveira como agente
comunitário de saúde, Antônio de Ná na política. Nesse ano a população estava em
torno de 361 habitantes.

As diversas manifestações culturais foram originadas das tradições afro-


européias e de alguns costumes indígenas, por isso na comunidade são valorizadas as
benzedeiras, rezam-se ladainhas, realizam-se procissões, valorizam-se as festas
folclóricas, o reisado, o bumba-meu-boi, o cordel etc. As pessoas consideradas
destaques na comunidade são aquelas mais religiosas e as pessoas que faziam e fazem
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artesanato, como: carro-de-boi, bruaca, portas, bordados, crochê etc. As comidas típicas
são: cuscuz, canjica, leitoa assada, biju e batata doce assada. A festa religiosa do
padroeiro Sagrado Coração de Jesus é tradicional na comunidade, que além da religião
católica, tem também a protestante.

A cerâmica que é uma das principais fontes de renda dos moradores. O barro é
deixado de molho na água por 12 horas, depois é prensado, por tração animal, e levado
para as formas, onde fica durante três dias até secar, depois é levado para o forno onde
permanece um dia. Associada a essa atividade temos a produção de carvão responsável
por grande parte do desmatamento.

Os moradores relatam que existiam muitas árvores, animais, a água era


abundante, as chuvas eram bem distribuídas no período chuvoso e o solo era fértil. Mas,
na opinião deles, como as pessoas desmataram muito, acabando com a proteção da terra,
muitas aves foram extintas, o solo empobreceu, pois já não produz mais como
antigamente e até o clima modificou, pois a chuva não tem mais período certo. Sabemos
que a causa para os diversos problemas ambientais citados é mais complexa que o
desmatamento local, mas, realmente esse não deixa de ser uma das principais.

Tanque Grande é uma localidade que se encontra a mais de 2 km, em linha reta,
a sudeste de Boca do Campo, legalmente inteiramente dentro dos limites do município
de Paramirim. Até pouco tempo a localidade era pouco conhecida, pois os moradores
que ali se agrupavam, preferiam se considerar como membros da comunidade Boca do
Campo. Sabe-se que a primeira pessoa que construiu uma casa de enchimento na
localidade foi o senhor Francisco Lopes e em seguida veio o senhor Renério José de
Oliveira. Renério tinha devoção de rezar o ofício de Nossa Senhora em sua casa e, com
sua morte, a responsabilidade de manter e zelar pela localidade foi passada para seus
filhos.

Tanque Grande passou a ser mais conhecida a partir do dia 02 de fevereiro do


ano 2000, pois o morador Altemiro Costa de Oliveira, neto de Renério, enxergando a
dificuldade que os alunos enfrentavam para em ir e vir da escola da Boca do Campo
organizou um abaixo assinado reivindicando a construção de um prédio escolar e esse
foi inaugurado nessa data. A Escola Municipal Lagoa do Tanque Grande em 2009 e
2010 teve 11 estudantes em cada ano, sendo 7 no ensino fundamental inicial e 4 na pré-

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escola em 2009 e 8 e 3, respectivamente, em 2010. Todos moravam próximo da escola,


pois não utilizavam transporte escolar para chegar na mesma.

Segundo os moradores, a partir de então, a localidade se encheu de orgulho por


ter sido reconhecida como Tanque Grande e aumentou a expectativa de conseguir mais
benefícios, como, por exemplo, abertura de um poço artesiano, para distribuir água para
todos. Há muitos anos existe nessa localidade um tanque, feito pelos antepassados dos
moradores atuais. Era considerado o maior da região, pois, na maioria das vezes,
quando os outros já haviam secado, esse ainda tinha bastante água e por isso, a
localidade recebeu o nome Tanque Grande.

A agropecuária é calcada na criação de bovinos, eqüinos, suínos, ovinos e


caprinos e na produção de feijão, algodão, mandioca, milho, palmas e pastagens, com
ênfase na criação de bovinos e cultivo do feijão, mandioca e milho. Antigamente os
criadores criavam os rebanhos soltos nos campos da comunidade. Agora só existem
alguns criadores porque os campos foram cercados, não permitindo mais a criação no
regime de solta. Os agricultores informam que quando plantavam e colhiam apenas o
suficiente para o consumo próprio, a produtividade de feijão, milho e mandioca era
maior do que hoje e eles tentam compensar com a expansão da área. Para isso estar
acontecendo é sinal que a fertilidade do solo ou a disponibilidade de água vem
diminuindo.

A comunidade possui casa de farinha. Antes se utilizava a roda movida por


cavalo, cujo arreio girava uma roda menor, que por fim girava uma rodinha, que puxava
o “bunequim” para ralar a mandioca. Atualmente o processo é realizado com auxílio de
motor, que facilitou o processo. Depois a massa ralada é prensada como indicado na
figura. Ao fim da prensagem lava-se a massa e coloca-a em um coador de pano. Da
água coada é extraída a tapioca. A massa é lançada ao forno, nem muito quente e nem
muito frio, para não embolar, e mexida com um rodo de madeira, para se fazer a farinha.

Em relação à mineração destaca-se o granito, mármore, talco, manganês em


Saco das Lajes e argila em todas as localidades. Um morador informa que: “os homi
começou depois parou a extração de talco”. O talco começou a ser extraído há uns 30,
mas a extração durou menos de uma década. Os moradores têm interesse que esse volte
a ser explorado para que se crie emprego para os moradores.

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Antigamente alguns moradores se reuniam aos domingos à tarde para jogarem


baralho na casa do senhor Moisés, que, segundo os moradores, de um simples jogo se
transformava na maior diversão. Atualmente isso acontece esporadicamente. A diversão
das crianças eram as cantigas de roda, as bonecas de pano etc. Hoje brincam muito com
brinquedos que são comprados prontos e existem os desenhos animados na televisão,
que as crianças passam muitas horas por dia assistindo, que divertem as mesmas. As
atividades esportivas existentes são o futebol de campo, futsal, capoeira e baleada. A
equipe feminina de futsal de Lagoa do Zuza e Boca do Campo foi campeã em 2007 no
CETN. Essa relação levou a incluí-las na mesma comunidade.

Uma das histórias contada pelos moradores é sobre a primeira vez que passou
um avião sobre a comunidade, segundo eles as pessoas ficaram apavoradas sem saber o
que era aquilo, alguns saíram correndo amedrontadas, outras começaram a chorar e a
desmaiar. Histórias como essa são contadas de forma muito divertida por alguns
moradores talentosos.

As condições de higiene e saúde melhoraram bastante na comunidade em


relação ao passado, informam os estudantes do CETN. Existe tratamento médico e
odontológico para as pessoas, que atualmente se cuidam mais e também mais
informação para se prevenirem contra doenças.

Manoel Correia

Diante das relações sociais da comunidade Manoel Correia, que perpassam o


espaço conhecido por essa denominação, foi considerado parte desta comunidade as
seguintes localidades vizinhas: Criminosa, Vereda do Estreito, Lagoa Redonda e
Cassimiro.

Segundo o depoimento do líder comunitário, senhor Francisco, filho de dona


Ana Rita, uma ex-tecelã, quando a comunidade Manoel Correia tinha apenas algumas
casas, eles se consideravam pertencentes à localidade conhecida pelo nome de
Criminosa, que fica a menos de 1 km a sudoeste, na coordenada 774.164E e
8.495.751N. O primeiro casal teria sido o senhor Enedino Francisco Dias e sua esposa
dona Leolina Maria de Jesus, de origem mestiça, proveniente da comunidade Água
Branca.

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Os filhos e netos de Enedino e Leolina, e de outras pessoas, teriam sido os


herdeiros dos costumes e tradições locais. Um desses costumes era o culto celebrado de
casa em casa, pois não havia capela. Os depoentes informaram que, devido a isso, o
bispo Dom Eliseu Gomes de Oliveira incentivou a criação de uma comunidade
sugerindo a alteração do nome de Criminosa para Imaculada. Dessa forma, com o
empenho do padre Aldo Luchetta, os moradores criaram em 1979 uma capela 1 km a
nordeste de Criminosa, formando assim a comunidade Manoel Correia, cuja capela está
localizada na coordenada 774.989E e 8.496.515N, a 5 km a sudeste da sede do
município de Tanque Novo, em linha reta, ou a 6 km pela estrada. A escolha desse
nome no lugar de Imaculada teria sido uma homenagem ao artesão Manoel, que
trabalhava na localidade com couro, fabricando correias, entre outros objetos.

A localidade Vereda do Estreito está a aproximadamente 2 km ao norte de


Manoel Correia, nas coordenadas 775.841E e 8.498.446N. Segundo os moradores, essa
teve origem com a chegada do senhor José do Prado e sua esposa Dionísia, ambos de
cor branca. Não se sabe a origem do casal, mas o escrivão do districto de Caldeiras, no
fim do século XIX, Tranquilino Francisco do Prado, tinha o mesmo sobrenome do
fundador citado, podendo ter parentesco. José do Prado encontrou uma vegetação com
bastante jurema, surucucu e unha de gato onde construiu sua casa, próxima a uma
vereda e aos poucos foi abrindo carreiros. Anos depois já contava com a ajuda de três
filhos rapazes e, com auxílio de ferramentas manuais, abriu o primeiro tanque. Ele deu o
nome Vereda do Estreito à localidade, pois a vereda próxima a sua casa, que dividia
suas terras entre o local da casa e a área de pasto para o gado, era estreita.

Com o tempo, José vendeu sua propriedade ao senhor Joaquim Cornel e partiu
para São Paulo, pois o lugar não estava favorável à lavoura e as cobras estavam
matando suas criações. Joaquim Cornel e a esposa se mudaram para a casa que era de
José do Prado e passaram a cuidar com sucesso da roças e de alguns animais que
haviam comprado. Outras pessoas aprenderam a lidar com as dificuldades e ajudaram a
formar a localidade. Franzino e Maria, um casal de negros cuja origem é desconhecida,
também são relacionados como primeiros moradores do local.

Um fato marcante para os moradores da comunidade Manoel Correia, conforme


observamos nos relatos a seguir, foi o assassinato que aconteceu na fazenda Umburana
de Aprígio Abreu de Magalhães, Sinhozão, no ano 1988. As informações prestadas a
partir das fontes pesquisadas na Vereda do Estreito podem ser resumidas da seguinte
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forma: as pessoas dessa localidade, homens, mulheres e crianças estavam indo à fazenda
de Sinhozão tirar madeira para vender. Quando iam para lá, levavam carros-de-boi,
cobertas, alimentos etc, e ficavam no mato uma ou duas semanas. A fim de intimidar os
participantes da ocupação, o proprietário denunciou os principais representantes, que
foram presos no município vizinho de Livramento de Nossa Senhora. As pessoas do
grupo organizaram uma manifestação para que os presos fossem soltos, então, diante do
apelo dos manifestantes e da intervenção da advogada Márcia, os líderes ficaram presos
apenas um dia. Como as pessoas continuaram invadindo, Sinhozão contratou
pistoleiros. Os moradores contam que eles estavam no mato e os pistoleiros próximos a
eles, nesse momento mais uma família chegou, e, como de costume, soltou foguetes
para avisar da sua chegada. Os pistoleiros acharam que as pessoas estavam armadas,
então dispararam. As pessoas saíram correndo desesperadas, outras deitaram-se no
chão, algumas desmaiaram. Quando a senhora Maria foi dar água com açúcar para uma
colega que se encontrava desmaiada, recebeu um tiro na nuca, morrendo na hora. Os
pistoleiros passaram a atirar para cima e as pessoas recolheram a morta e levaram até o
carro da advogada Márcia, que naquele momento passava pela fazenda.

Uma versão diferente para o mesmo fato é narrada pelos moradores da


localidade Lagoa Redonda. Os moradores divulgam que as comunidades vizinhas foram
convidadas a participar de um culto ecumênico nas proximidades da fazenda Umburana,
de propriedade de Sinhozão, onde os mesmos requeriam a posse dessas terras, dizendo
que elas pertenciam aos seus bisavôs. Nesse local eles tiravam lenha e toras para vender
e pretendiam fazer um grande roçado em forma de mutirão. Incentivados pela paróquia
e pelo sindicato rural de Tanque Novo, Caetité e a Comissão Pastoral da Terra de
Guanambi, dirigiram-se para lá em procissão. Assim que entraram no dito terreno,
foram recebidos à bala por pistoleiros contratados. Pelos relatos de testemunhas
oculares, os pistoleiros começaram a atirar para cima e depois começaram a atirar rente
ao solo. Dona Maria, que se escondia atrás de uma roda de carro-de-boi, quando
percebeu seu filho José vagando entre o fogo cruzado, saiu correndo para pegá-lo e,
nesse momento, foi alvejada por um disparo.

A escola municipal de Lagoa Redonda se encontra hoje a 5 km, em linha reta, ao


sul da atual comunidade Alecrim. Em relação à origem da população, os relatos dos
moradores entram em contradição com os registros encontrados. O senhor Joaquinzão,
filho de Nem, proveniente da comunidade Gaspar, por exemplo, disse que a origem do

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nome da localidade está relacionada a uma lagoa arredondada, ali existente e que a
comunidade deve ter em média 80 anos. Conforme o registro 181 a seguir, existem
moradores em Lagoa Redonda antes mesmo de 1890, mas Joaquinzão nada sabe sobre
esses antigos moradores, no entanto, informou que ao lado de sua casa ainda existem
vestígios de um alicerce antigo.

Em 1890, o senhor Joaquim Francisco Lessa registra a filha Virgilina, que teve
com Constância Clemência de Jesus, irmã de Juvêncio Alves Carneiro, fundador do
Alecrim I.
compareceu Joaquim Francisco Lessa, lavrador, natural de
Macaúbas, para registrar a filha dele e de Dona Constança
Clemencia de Jesus, natural de Cannabrava, nascida no dia
20/05/1890: Virgilina Clemencia de Jesus [...] avôs paternos:
Francisco Gonsallo Lessa e Constância de Jesus [...] avôs
maternos: José Joaquim Carneiro e Clemencia Constancia de
Jesus [...] Casaram-se na casa de José Joaquim Carneiro no
lugar Lagoa Redonda, deste districto e rezide actualmente nos
Furados, do termo de Macaúbas (registro n. 181 de 01/06/1890,
localizado na p. 68, do livro n.1 de Caldeira)

Apesar dos registros informarem que José Joaquim Carneiro e Clemência


Constância de Jesus já moravam na Lagoa Redonda em 1890, os moradores atuais
consideraram na pesquisa que os primeiros habitantes foram: José Francisco Lessa,
Francisco Ferreira, Clemente, Jovino, Sulina, Rosa, Jovina e Gustavo.

Joaquim Lessa apenas se casou na Lagoa Redonda, mas residia onde se encontra
a atual sede de Tanque Novo. Além de Virgilina, outros filhos de Joaquim e Constância
foram lembrados: Maria Madalena, que se casou com Tranquilino Silva, da Boca do
Campo; Maria Rita Lessa Carneiro, primeira esposa Cazuza, filho de Prudenciano com
sua primeira esposa Ursulina; Ana Joaquina, que se casou com Belarmino, filho de
Prudenciano com Gertrúdes, sua segunda esposa; Benvindo Carneiro Lessa, que se
casou com Arlinda Bela Carneiro, filha de Juvêncio com Bilinha, sua segunda esposa;
Pedro Carneiro Lessa, que se casou com Francisca Silva da Boca do Campo; Manoel
Lessa, que se casou primeiramente com Beatriz e depois com Afra, segunda esposa de
Cazuza; e Antônio Lessa. Desses, encontramos informação apenas sobre os
descendentes de Pedro Carneiro Lessa residindo na Lagoa Redonda. O senhor Joaquim

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Francisco Lessa se casou uma segunda vez, após a morte de Constância, mas não foram
encontradas informações sobre essa segunda família.

Sobre a origem de José Joaquim Carneiro, os moradores do município de


Tanque Novo relatam que um homem chamado Bento Carneiro conviveu com uma
moça, filha de indígenas, na região compreendida entre a Fazenda Noruega, atualmente
no município de Paramirim e Fazenda São José, em Tanque Novo. Bento e a filha da
índia geraram um filho, cujo nome era José Joaquim Carneiro. Segundo as fontes orais,
para realizar o batizado desse filho, Bento Carneiro teria viajado para comprar o
enxoval e bebidas, mas acabou demorando mais do que as outras viagens costumeiras,
então, a filha da índia, achando que ele não mais retornasse, acabou batizando o menino,
aproveitando a passagem de um padre pela região.

Ao regressar, Bento Carneiro soube, antes mesmo de chegar ao local, que a


criança já havia sido batizada e colocou fogo no enxoval, quebrou os barris de vinho,
fez meia volta e foi embora, abandonando a família. Alguns relatos dizem que houve até
mesmo tentativa de assassinato da mãe e filho, que não pode ser comprovada. O fato é
que José Joaquim Carneiro foi abandonado e teria sido criado pelo seu padrinho José
Cardoso Pereira. Ele se casou com Clemencia Constancia (ou Maria) de Jesus e tiveram
doze filhos, são eles os principais responsáveis pela povoação de Tanque Novo:
Prudenciano (1850-1910), Juvêncio (1851-1920), Francisco, Antônio, Maria, Custódia,
Constança, Antônia, Ana Joaquina, Ursulina, Carlota e Exupéria.

Após algumas pesquisas no cartório de Rio de Contas verificou-se o inventário


do padre Manoel Bento Álvares Carneiro, Reverendo Vigário Geral da comarca de Rio
de Contas, que morreu em 12 de fevereiro de 1869. No seu testamento está escrito que
ele era natural e morador da Freguesia do Santíssimo Sacramento do Rio de Contas,
filho legitimo de Bento José Álvares Carneiro e Dona Rosa Maria de Carvalho,
provenientes de Salvador. O vigário pediu que seu corpo fosse sepultado na capela de
São Gonçalo da Canabrava, atualmente no município de Livramento de Nossa Senhora,
na mesma cova onde estavam os restos mortais dos seus pais. O documento informa os
seguintes irmãos: Bento José Álvares Carneiro, Antonio Álvares Carneiro e Filippa
Caetana de Jesus, casada com Sebastião Rebelo de Lima, cujos filhos foram Praxedes,
Rosa e Clemência.

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O Bento Carneiro, que deu origem aos Carneiros do município de Tanque Novo
parece ser o mesmo irmão do Vigário Geral, Bento José Álvares Carneiro, pois
comparamos a história oral com os documentos e observarmos os sobrenomes das filhas
e filhos de José Joaquim e Clemencia, onde vemos que as mulheres receberam da mãe o
sobrenome de Jesus e os homens receberam o Alves, uma modificação do sobrenome
Álvares, em referência ao avô desconhecido. Não se sabe o que levou José Joaquim e
sua esposa a fixarem residência na Lagoa Redonda, mas esperamos que essa breve
explanação sobre sua origem possa ajudar a explicar.

Em relação à Vereda do Estreito, uma pessoa destacada pelos moradores é o


agricultor e juiz de paz, Amadeus Francisco de Oliveira, que, segundo eles, muito
contribuiu na busca constante e efetivação da paz. Presta serviços relativos a brigas por
causa de terra, separação etc, em todas as comunidades de Tanque Novo; reside no
Estreito desde seus primeiros dias de vida. Os moradores do Estreito freqüentam a
capela e a Associação de Manoel Correia, cujo presidente também é do Estreito.

Outro fato lamentável observado, uma realidade até então rotineira no semi-
árido baiano, é o não armazenamento da água da chuva de forma adequada, que leva à
falta de água até para consumo humano no período seco, quando normalmente os
rebanhos ficam sem água e os alimentos são insuficientes. Muitas vezes nesse período a
palma tem sido um paliativo para alimentar o gado, uma vez que a pastagem se encontra
seca e em pequena quantidade. Apesar do sofrimento, o sertanejo ali persiste
esperançoso, acreditando em um amanhã diferente, muitas vezes sem tomar as
precauções necessárias para a chegada da chuva.

As crianças do Estreito estudavam na casa de seu Petrônio Magalhães Carneiro,


na Lagoa Redonda, onde as aulas eram dadas por João Moreira, morador do Estreito.
Mais tarde as crianças passaram a estudar na comunidade de Rapadura, na casa de D.
Isaura, que só tinha a quarta série do ensino fundamental. Há vinte anos, algumas
crianças estudavam em uns depósitos do senhor Amadeus, ao lado de sua casa, cuja
filha Valdete, que naquela época havia cursado até o segundo grau, era quem dava as
aulas. Outras crianças estudavam nas escolas das comunidades vizinhas e, até hoje é
assim, as crianças do Estreito têm que se deslocar para outras comunidades próximas,
geralmente Manoel Correia, ou para a cidade de Tanque Novo.

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A Escola Municipal Manoel Correia teve, em 2009, 17 alunos matriculados no


ensino fundamental inicial, quase todos atendidos por transporte escolar, com exceção
de um. Em 2012 foram apenas 8 estudantes matriculados no ensino fundamental inicial,
sendo 5 atendidos pelo transporte escolar. Existem outras duas escolas ativas na
comunidade: a Escola Municipal José Antônio Vieira, que se encontra a 1,5 km a leste
da de Manoel Correia, na localidade Lagoa Redonda, coordenada 776.503E e
8.496.887N, onde 19 alunos foram matriculados no ensino fundamental inicial e 3 na
pré-escola em 2009, sendo que, 15 desses usaram o transporte escolar e, em 2012, 11
foram matriculados no fundamental inicial e 6 na pré-escola, sendo que 10 desses
fizeram uso do transporte, 9 do poder público municipal e 1 do estadual; a outra escola
está na localidade Cassimiro, situada a 2 km, em linha reta, a sudeste de Lagoa
Redonda, na coordenada 777.817E e 8.495.459N, onde estudaram 17 alunos no ensino
fundamental inicial em 2009, com transporte para 13 deles e em 2012 8 alunos nas
séries iniciais, sendo que 6 utilizavam o transporte escolar.

Além das escolas, as principais instituições são: a capela, Associação


Beneficente e Comunitária de Manoel Correia e Adjacências, fundada 04 de agosto de
1997, Associação dos Agentes Comunitários de Tanque Novo, Pastoral da Criança e
Grupo de Jovens, todos com sede em Manoel Correia. A comunidade também tem um
time e um campo de futebol com vestiário, pois esse esporte é muito influente entre os
jovens de Manoel Correia e Lagoa Redonda.

Os moradores de Vereda do Estreito não tinham rede de energia elétrica e água


encanada em 2007. Apenas alguns tanques de armazenamento foram construídos pela
prefeitura e dois poços artesianos não podiam ser utilizados. Apesar disso, consideram
que a vida no Estreito melhorou, pois antes as pessoas iluminavam suas casas através de
uma fogueira que acendiam no meio da casa, com tempo utilizaram o candeeiro de
azeite, depois passaram ao candeeiro de querosene, mais tarde passaram a utilizar o
lampião a gás e hoje já utilizam energia solar. Eles também faziam a farinha com o uso
da roda movida a cavalo, mas hoje as casas de farinha contam com o uso do motor
movido a gás para ralar a mandioca. As terras eram aradas utilizando-se a tração animal
e hoje fazem o serviço com auxílio de tratores.

Os primeiros moradores sobreviveram da criação de gado e agricultura,


destacando-se o plantio da mandioca e o feijão catador. Atualmente observa-se também
o cultivo do milho e capim, tendo este último espaço cada vez maior em detrimento das
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culturas. As comidas típicas são: cuscuz, pamonha, escaldado, pão de ló, jacuba, feito
com farinha e rapadura, canjica, mingau de milho e de fubá, batata assada, pirão de sebo
de galinha e de mocotó, abóbora assada, chimango, avoador, brevidade e o beiju,
proveniente da mandioca produzida no local. A culinária dos mais velhos, segundo eles
mesmos, incluía picado de caiana, salada de cariru e escaldado doce que muitas pessoas
nem sequer conhecem mais.

Antigamente se produzia linha de algodão na roca, destacando-se as produtoras


Elena Gomes e Anália, e hoje, são produzidos bordados, crochês, confecção de flores e
corte e costura, destacando-se Fátima, Fábia, Ilda e Vilma. Marcos Silva se destaca nos
desenhos em madeira e na confecção de cartazes. Na música se destacam alguns
moradores locais e o grupo de reisado da comunidade. O senhor Reginaldo se destacava
no artesanato de camas e as senhoras Maria e Altevina se destacavam na fabricação de
bitus de algodão.

Existem católicos e evangélicos em Lagoa Redonda, mas a predominância em


toda comunidade é de católicos com o costume de rezar o ofício, a ladainha e o terço.
Comemoram o dia de Nossa Senhora Aparecida e participam da coroação do Imaculado
Coração de Maria, das missas festivas e brincadeiras, como caretas, pau de sebo,
mastro, corrida de saco, ovo na colher etc, no entanto, a festa popular mais comemorada
é ao de São João, realizada entre 23 e 24 de junho.

Os primeiros moradores comemoravam o São João fazendo fogueira no dia 23,


visitando as fogueiras dos vizinhos, saltando fogo com as crianças, tornando-se
madrinhas ou padrinhos de fogueira etc. No dia 24 toda a família levantava cedo,
preparava a capela, uma espécie de coroa de malva, e colocavam na cabeça, todos
sentavam perto do fogo e assavam os assados, coavam o café, depois do desjejum,
faziam suas preces, simpatias e em seguida pegavam as cinzas e colocavam nos quatro
cantos da casa, pois, com isso, São João estaria protegendo a casa. Hoje, porém, esses
costumes não são tão comuns, muitas famílias ainda fazem fogueira, mas conservam
apenas algumas tradições, outras nem ao menos fazem as fogueiras.

Antigamente nas festas dessa e outras comunidades próximas era comum dançar
a ranxeira. Armava-se uma cabana coberta de palha e as pessoas de reuniam para dançar
ao som de um bom sanfoneiro. A ranxeira é uma dança um pouco lenta, parecida com
uma valsa, mas hoje em dia o que tem mais destaque é o forró.

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A comunidade era quase toda coberta de vegetação e tinha muitos animais,


como tatus, codornas, bagadás, perdizes, seriemas, entre outros. A água era captada em
lajedos e tanques abertos pelo governo. O solo era bem cultivado, pois os homens em
vez de fazerem queimadas, plantavam em leiras, protegendo mais o solo. Atualmente
grande parte da vegetação está devastada e os animais estão em extinção, os tanques de
água estão assoreados, devido ao desmatamento que leva ao acúmulo de areia. O solo já
não produz como antes. Os espaços naturais considerados importantes pelos moradores,
como alguns caldeirões, por exemplo, estão cada vez mais degradados.

Em Lagoa Redonda existe uma cajazeira com mais de 200 anos, que provoca
medo nas pessoas do local, principalmente devido às lendas sobre assombrações
escutadas pelos moradores desde que são crianças. Os moradores também costumam
ouvir outros casos das pessoas mais velhas, como, por exemplo, da primeira vez que
“um amigo” viu um caminhão ou avião; relatam o espanto e admiração dos
desinformados com muita irreverência. As lendas sobre lobisomens também são
difundidas, pois dizem que nas noites de semana santa, um rapaz de uma comunidade
vizinha se transformava em lobisomem e comia animais novos, como cachorro, leitão
etc.

Foram relatadas as seguintes brincadeiras na comunidade: com panelas de barro,


cavalo de pau, sabugo de milho, bonecas de cabaça e de pano, carrinhos de lata de óleo
com pneus de sandálias de borracha, baralho e dominó ou cantigas de roda, piqueniques,
futebol, baleada, bandeira, pico-paiol, carrapicho, cai no poço, esconde-esconde, boca
de forno, morto e vivo e partes do boi.

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SETOR 08 – MARCOS - SEDE

Comunidades: Bairro Alto dos Coqueiros, Bairro Bela Vista, Bairro dos
Pimentas, Bairro Tijuca, Bairro Tio João, Lagoa da Casca e Sede

Bairro Alto dos Coqueiros

Em construção.

Bairro Bela Vista

Em construção.

Bairro dos Pimentas


Em construção.

Bairro Tijuca
Em construção.

Bairro Tio João


Em construção.

Lagoa da Casca
A 4 km a sudoeste da Boca do Campo existe uma comunidade conhecida por
Lagoa da Casca, na coordenada 774.211E e 8.504.159N. É uma comunidade da qual
participam os membros da família do senhor Galdêncio e existe o prédio escolar onde
funcionou a Escola Municipal Vital Enedino Correia. As únicas informações reunidas
sobre ela são que a escola esteve paralisada em 2009 e 2012, tinha 15 casas em 2007 e a
padroeira é Nossa Senhora Santana.

Sede

A história do município de Tanque Novo está ligada às fazendas dedicadas à


criação de gado, tais como Várzeas e Morrinhos, citadas, desde a década de 1730, por

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Joaquim Quaresma Delgado. Devido à decadência do ciclo do ouro nas cabeceiras do


rio Paramirim, alguns migrantes desenvolveram a policultura, sendo a da mandioca uma
das principais. Os migrantes que se destacaram, na atual zona rural do município: José
Joaquim das Neves, na Lagoa Grande; Felippe Batista de Souza, na Várzea; tenente
Maximino Pereira de Sousa Fagundes, na Várzea Suja; capitão João Alves de Oliveira,
na Boiada; Francisco Joaquim de Souza Lalau, em São Domingos; Jeronymo José
Saraiva, no Bom Sucesso; José Cardoso Pereira, em São José; Gordiano Rodrigues da
Silva, José Victorino de Azevedo e Leonel de Magalhães Cardozo, no Mucambo dos
Cardosos; entre outros.

Em 1859, Joaquim Antonio Cardozo, proprietário de uma parte de terra no lugar


denominado Furados, fazia limite com o tenente José Antonio de Oliveira e Silva. Este
vendeu, em 1861, metade de uma gleba de Vargens, entre Malhada Grande, Furados e
Lagoa do Mato, para José Rodrigues Malheiro, que negociou, em 1876 com Umbelino
José Gomes e Joaquim Monteiro de Magalhães uma parte no lugar denominado Saco
dos Furados. Em 1883, os irmãos Juvêncio Alves Carneiro e Prudenciano Alves
Carneiro compraram uma parte de terras na fazenda dos Furados, da senhora Eduarda
Antônia da Silva, viúva do tenente.

Juvêncio casou-se primeiro com uma filha de Umbelino Gomes e depois com
uma do irmão Prudenciano, passando a residir no Alecrim, juntamente com seu genro
Zeferino Rodrigues de Magalhães, que depois veio a casar com a mesma filha de
Prudenciano, viúva de Juvêncio. Prudenciano, juiz de paz em Canabrava dos Caldeiras,
distrito do município de Caetité localizado a 13 km do povoado Furados, também foi
casado duas vezes. Os descendentes deles foram os principais responsáveis pela
povoação da cidade de Tanque Novo.

Em 1906, o apostolado da Oração do Sagrado Coração de Jesus foi fundado na


casa de Prudenciano e, em 1909, ele e seu irmão construíram uma capela a qual teve por
padroeiro o Sagrado Coração de Jesus. Prudenciano faleceu pouco depois, ficando a
capela aos cuidados de sua segunda esposa, que levou uma imagem de Nossa Senhora
da Conceição para lá. O culto á santa recebeu a influência de missionários do Sagrado
Coração de Maria, então, em 1939, foi comprada, através do senhor Antônio Alves
Carneiro, filho de Juvêncio, a atual imagem do Imaculado Coração de Maria, que se
tornou Padroeira do município. A capela foi ampliada em 1946, quando um novo altar

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Carneiro: fjmcarneiro@gmail.com. (19/08/2013)

de madeira foi feito por Laudelino Marques Carneiro, sendo o antigo doado para o
povoado do Jacaré, juntamente com a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Em 1916, Cícero Campos, ao descrever a freguesia de Nossa Senhora da


Conceição de Macaúbas, informou que a capela da localidade Furados pertencia a essa
freguesia e ao distrito de Lagoa Clara, no qual havia um grande número de fazendas de
criação, todas muito povoadas, entre as quais salientou Papagaio, Furados e Varzea-
Suja. Em 1932, Pedro Celestino da Silva, ao descrever a freguesia de Nossa Senhora do
Rosário da Canabrava, criada pela lei provincial número 1410, de 7 de Maio de 1874,
informa que ela abrangia as capelas do Coração de Jesus e de Nossa Senhora da
Conceição, localizadas, respectivamente, nos povoados de Tanque Novo e Jacaré. Com
isso, vemos que a formação de Tanque Novo está relacionada à Macaúbas, através do
distrito de Lagoa Clara, ao qual pertenceu administrativamente, mas também à Caetité,
através do distrito de Caldeiras, que é próximo, e à freguesia de Nossa Senhora do
Carmo do Morro do Fogo, de onde vieram os primeiros colonizadores.

O nome Tanque Novo surgiu com a abertura de um tanque, entre os demais


existentes no açude local, cujo responsável foi o senhor José Marques Carneiro, filho do
primeiro casamento de Prudenciano. O distrito criado com a denominação de Tanque
Novo teve as terras desmembradas do distrito de Botuporã e anexadas ao município de
Macaúbas, pela lei estadual nº 628, de 30 de dezembro de 1953. Posteriormente, o
distrito de Tanque Novo foi transferido novamente para compor o município de
Botuporã, pela lei estadual nº 1647, de 22 de março de 1962 e, pela lei estadual nº 4400,
de 25 de fevereiro de 1985, foi elevado à categoria de município.

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