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PONTIFÍCA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Departamento de Relações Internacionais

ANÁLISE DO FILME ‘O SENHOR DAS


ARMAS’ SOB AS PERSPECTIVAS DO
ESTRUTURALISMO

Isabela Araújo Veloso

Belo Horizonte
2010
Isabela Araújo Veloso

ANÁLISE DO FILME ‘O SENHOR DAS


ARMAS’ SOB AS PERSPECTIVAS DO
ESTRUTURALISMO

Trabalho apresentado à disciplina de


Antropologia do curso de Relações Internacionais da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Belo Horizonte
2010
1. Introdução

O filme ‘O senhor das armas’ interpretado pelo célebre ator Nicolas


Cage, aborda um dos problemas internacionais mais importantes: o tráfico de
armas. Gravado em 2005, o filme que surpreendeu os cinemas, dirigido por
Andrew Niccol, narra a história de um comerciante de armas, Yuri Orlov, filho
de imigrantes ucranianos, que ao se mudar ainda criança para os Estados
Unidos, passa almejar o tão sonhado ‘American Way of life’.
Um filme narrado pelo próprio protagonista, ‘O senhor das Armas’ além
de nos fornecer informações reais sobre o polêmico problema do tráfico de
armas, nos chama atenção pela forma em que como um ser humano pode
atuar para alcançar o poder independente de envolver vítimas para tal êxito
profissional. É importante perceber, no entanto, que em pleno século XXI,
mesmo depois de todas as lições que nos foram dadas ao longo da história, a
morte ainda é encarada como um grande e promissor negócio capaz de
movimentar bilhões de dólares e que, em virtude disso, continua acontecendo
com enorme regularidade.

2. Análise de caso sob a luz do Estruturalismo

Um dos campos de estudo da antropologia, levado a diante por Claude


Lévi-Strauss no período imediato à Segunda Guerra Mundial, o estruturalismo -
no qual tornou sinônimo dele - alcançou influência quase que universal.
Em um período marcado por uma ciência racionalista e positivista que
desprezava a mitologia, os rituais fetichistas, a magia, ao longo do século XIX,
Lévi-Strauss entendeu-as como recursos de uma narrativa da história tribal,
como expressões legítimas de manifestações de desejos e projeções ocultas,
todas elas merecedoras de serem admitidas no papel de matéria-prima
antropológica. O objetivo de seu estudo era provar que a estrutura dos mitos
era idêntica em qualquer lugar no mundo, confirmando assim que, a estrutura
mental da humanidade é a mesma, independente da raça, clima ou região
adotada ou praticada. Lévi-Strauss separa as sociedades humanas em ‘frias’ e
‘quentes’, entendendo as primeiras como aquelas em que se encontravam ‘fora
da história’, orientadas pelo modo mítico de pensar, e as segundas como
aquelas que se moviam dentro da história com ênfase no progresso, estando
em constante transformação tecnológica. Partindo-se das idéias de Ferdinand
de Saussure, e do antropólogo Lévi-Strauss, o estruturalismo divide-se em
quatro procedimentos básicos, primeiro, a análise estrutural examina as infra-
estruturas inconscientes dos fenômenos culturais; segundo, considera os
elementos da infra-estrutura como “relacionados’’, não como entidades
independentes; terceiro, procura entender a coerência do sistema; e por último,
propõe a contabilidade geral das leis para os testes padrões subjacentes no
sentido da organização dos fenômenos.
O estruturalismo aproxima-se das visões de Marx (a infra-estrutura
econômica) e de Freud (o poder inconsciente). Tal como o marxismo e o
freudismo, o estruturalismo diminui a importância do que é singular, subjetivo e
individual, retratando o ser, a pessoa humana, como resultante de uma
construção, a conseqüência de sistemas impessoais. Em 1961, Lévi-Strauss
situou a antropologia estrutural dentro do domínio da “semiologia’’, que vieram
a designar um campo de estudo que analisa sistemas, códigos, e convenções
de sinal de todos os tipos.
Partindo-se dos princípios do estruturalismo, podemos fazer diversas
análises no filme “O senhor das Armas’’, como por exemplo, analisar a infra-
estrutura do sistema em que se concerne o desenvolver do filme. O comércio
mundial das armas representa uma característica comum entre as sociedades
humanas, na qual, visando à sua segurança, dispõem de mecanismos não
regularizados para se obter meios (neste caso, a posse de armas) para garantir
tal “segurança’’, em que muitas vezes, se faz necessário infringir os direitos
humanos para assegurar esta forma de poder, adquirindo-se um arsenal cada
vez mais amplo, induzindo o contrabando de armas como um “mal necessário’’.
Ao tentar entender a coerência do sistema, concluímos que no filme, o
desejo de combater o inimigo, e garantir a autonomia de seu território, os
países ao entrarem em guerra, certifica que seu poder tangível ou intangível
seja análogo para derrotar o inimigo, ou seja, ambos desejam obter o poder e
garantir sua segurança, reduzindo ou não à destruição do sistema oposto.
O personagem interpretado por Nicolas Cage (Yuri Orlov), descendente
de ucranianos e radicalizado como americano, possui diversas identidades
para disfarce ao contrabandear armas para vários países. Com inúmeros
passaportes, e com vários nomes utilizados, os investigadores da Interpol, que
o perseguem durante todo o filme, não conseguem uma prova concreta para
incriminá-lo. Esta passagem marca a identidade do homem como um
desaparecimento da complexa teia da organização social em que nasce e a
qual pertence, considerado pelos críticos do estruturalismo como um “anti-
humanismo”. Notamos bem neste contexto o fato do personagem principal não
aderir a uma estrutura sistêmica de identidade, que passa a fornecer e
contrabandear armas para os próprios inimigos do seu país, além de culminar a
morte de um ente familiar – seu irmão que até então, o ajudava em seu
comércio ilegal – como forma de financiar sua riqueza cada vez mais almejada.

3. Considerações Finais

O filme “O senhor das armas” se embasa em uma historia real no qual


nos mostra a triste realidade do comércio ilegal de armas que, ao logo da
história, culminou na morte de várias pessoas além de financiar as guerras e a
violência entre as sociedades contemporâneas. São as armas obtidas através dos
contrabandistas que de certa forma avalizam os investimentos de outros
setores ilegais que promovem muitas mortes e desgraças, como o mundo das
drogas, a indústria mundial de seqüestros e mesmo a violência cotidiana
verificada em assaltos, roubos, lutas de gangues e assassinatos triviais.
Sob a luz das perspectivas do estruturalismo, que de um modo geral,
procura explorar as inter-relações (as "estruturas") através das quais os
significados são produzidos dentro de uma cultura, por meio de várias práticas,
fenômenos e atividades que servem como sistemas de significação,
demonstram como as relações de trocas e de posse passaram a significar o
mesmo objetivo entre as nações: garantir a paz, a segurança e manter a
autonomia de seu território custeado ou não pela ilegalidade, ou até mesmo a
vida de seus indivíduos, reduzindo-os a importância destes devido à resultante
de suas construções sociais, conseqüente de sistemas impessoais.

REFERÊNCIAS
LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Editora
Tempo Brasileiro, 1970.

_________. O Pensamento Selvagem. São Paulo: Editora Nacional, 1976.

_________. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis, Rio de


Janeiro: Editora Vozes, 1982.

_________. Tristes Trópicos. Lisboa: Edições 70, 1979.

MALINOWSKI, Bronislaw. Uma teoria científica da cultura. Rio de Janeiro:


Editora Zahar, 1962.

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