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MONOGRAFIA - A Crença No Arrebatamento Da Igreja PDF
MONOGRAFIA - A Crença No Arrebatamento Da Igreja PDF
________________________________________
Prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
________________________________________
Prof. Dr. Jung Mo Sung
Coordenador do Programa de Pós- Graduação
AGRADECIMENTOS
À querida mãe, Eunice, pelas orações e compreensão pelas decisões que tomo.
Aos colegas de curso de um modo geral, em especial Ana Pinheiro dos Santos,
Santa Ângela Cabrera, Fernando Cândido da Silva, Ângela Maringoli, por
compartilharem conhecimentos e indicarem caminhos.
(Filipenses 3,20-21)
7
SINOPSE
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................ 12
CAPÍTULO I
1. O que é o arrebatamento?.......................................................................... 15
3. Dispensacionalismo................................................................................. 20
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
Conclusão da exegese.................................................................................. 98
INTRODUÇÃO
Paulo, no entanto, tenha-o mencionado. Dessa forma, nota-se uma forte elaboração
escatológica através da junção e imbricação de perícopes bíblico-escatológicas.
CAPÍTULO I
1. O que é o arrebatamento?
1
Arrebatamento usado no sentido de arrebatamento coletivo ou, como preferem alguns, arrebatamento
secreto, com base em textos como 1Ts 4,13 e 1Cor 15,58.
2
Embora, para a corrent e dispensacionalista, sejam eventos distintos.
3
Na Bíblia não existe o termo “segunda vinda”; ele surge na história da interpretação para designar o
retorno do Messias (Jesus).
16
III. Parousia (presença): vinda que precede a presença ou que resulta na presença:
Mt 24,3; 27,37; 1Cor 15,23; 1Ts 2,19; 3,13; 4,15; 5,23; 2Ts 2,1-9; Tg 5,7-8;
2Pd1,16; 3,4-12; 1Jo 2,28.
2. Arrebatamento e milênio
• a pré-milenista;
• a pós-milenista;
• a amilenista.
2.1. Pré-milenismo
sobreviria o juízo final e apareceria uma nova criação, na qual os remidos viveriam
eternamente na presença de Deus.
4
Segundo nota da Bíblia Scofield, dispensação é um período de tempo durante o qual o homem é provado
quanto à obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus.
5
Cf. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007, p.654.
18
6
Neste ponto há divergências: alguns crêem que, para que haja o arrebatamento, antes é necessário haver a
reconstrução do templo judaico.
7
Aqui há uma junção com o livro de Apocalipse 20,5-6, que no entanto diverge do mesmo, já que o
Apocalipse fala apenas em duas ressurreições.
19
2.2. Pós-milenismo
Afirma que o retorno de Cristo será depois do milênio, o qual se espera para
durante (era cristã) ou no fim da dispensação do Evangelho. Existem, então, duas
formas teóricas de interpretação pós -milenista: uma espera a realização do milênio por
influência sobrenatural do Espírito Santo, e a outra, por um processo natural de
evolução.
8
Modernista aqui, refere-se ao pensamento atrelado ao cientificismo que permeou o Séc. XIX, o qual
unido às descobertas da Ciência contestava dogmas e crenças religiosas tradicionais.
20
acredita que o milênio virá pela evolução que o próprio homem iniciará adotando uma
política construtiva de melhorar o mundo. Assim, o interesse no milênio está atrelado ao
desejo de uma ordem social em que se valorize a liberdade, a honra, a fraternidade
humana, a solidariedade e a justiça social. Creem alguns que esta nova ordem é
responsabilidade do homem pela fé que Deus opera por seu intermédio. Dessa maneira,
o curso da história progride por meio de lutas e evoluções nas quais o homem empenha
habilidade e operosidade (empenho). Segue-se também que as moléstias deverão ser
curadas ou evitadas, os males sociais deverão ser remediados pela educação e pela
legislação, as desgraças internacionais deverão ser impedidas pelo estabelecimento de
novos padrões e novos métodos de tratamento, e nunca por uma aniquilação repentina.
Obs.: o pós -milenarismo não espera pelo arrebatamento como evento distinto.
2.3. Amilenismo
3. O dispensacionalismo
21
9
ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
10
BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007, p. 270.
11
Bíblia de Referências Scofield . São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1986, p. 4.
12
GAEBELEIN, Frank E. In Exploring the Bible, p. 95, apud BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007 p. 269.
13
Apud BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007. p.269.
22
Segundo Scofield17, as Setenta Semanas da profecia são semanas de anos 18, uma
importante medida de tempo sabático do calendário judeu. E foi a transgressão da
14
Bíblia de Referências Scofield . São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1986, p. 863-864.
15
A leitura fundamentalista não considera os aspectos de profecia ex eventum , nem a pseudepigrafia,
características comuns nos escritos apocalípticos dos dois séculos anteriores à Era Cristã, época em que a
escola liberal histórico- crítica costuma datar o livro de Daniel.
16
A ideia de cessar a transgressão, o pecado e a iniquidade dificilmente é interpretada de outra maneira que
não no horizonte do sacrifício expiatório de Cristo.
17
Bíblia de Referências Scofield . São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1986, p. 864.
18
Na verdade o tema das semanas de anos é encontrado em outros escritos apocalípticos, por exemplo, o
livro de Enoque; segundo P. Grelot, tem a ver com as especulações com os números sete e dez, uma vez
que setenta anos é a transformação de dez periodos sabáticos de sete anos em dez períodos jubilares de 49
anos. Ver GRELOT, P. O Livro de Daniel. São Paulo: Paulus, 1995.
24
guarda do ano sabático inteiro que trouxe o juízo do cativeiro babilônico e determinou
sua duração em setenta anos (cf. Lv 25,1-22; 26,33-35; 2Cr 36,19-21; Dn 9,2). A
passagem de Gn 29,26-28 é usada para reforçar a ideia de que “semana” indica sete
anos. Portanto, Setenta Semanas equivale a 490 anos. E esses 490 anos “proféticos” têm
cada um 360 dias, uma vez que os meses são de 30 dias (cf. uso no livro de Gênesis)19.
19
MCCLAIN, Alva J. A profecia das Setenta Semanas de Daniel . São Paulo: Imprensa Batista Regular do
Brasil, 1976, p. 18, procurar comprovar os trinta dias pela passagem sobre o dilúvio de Gn 7,11.
20
Ibid. p. 21.
25
Anticristo nesta última semana, afirmando que a tirania do Anticristo durará exatamente
meia semana21 (três anos e seis meses).
21
Esta meia semana aparece como “tempo, dois tempos e metade dum tempo” (Dn 7,25; Ap 12,14),
“quarenta e dois meses” (Ap 11,2; 13,5) ou “1260 dias” (Ap 12,6), tempo frequentemente identificado
com a tribulação.
26
22
Há certa insistência quanto a uma hermenêutica literal e coerente por parte dos dispensacionalistas. Ver
ICE, Thomas. Entendendo o dispensacionalismo. Porto Alegre: Actual Edições, 2004, p. 23-24; A
verdade sobre o arrebatamento. Porto Alegre: Actual Edições, 2001, p. 21-22.
23
Segundo GROMACHI, Robert, apud ICE, Thomas. A verdade sobre o arrebatamento (p. 61), a ausência
da Igreja em Ap 4-19 é indicação de que ela não estará presente na tribulação.
24
O fato de um termo estar ausente na Bíblia não significa que a realidade por ele apontada não esteja lá;
27
apoiar tal ensino. São eles: Mt 24,40-41; Lc 17,34-36; Jo 14,1-3; Rm 8,19; 1Cor 1,7-8;
15,51-53; 16,22; Fl 3,20- 21; 4,5; Cl 3,4; 1Ts 1,10; 2,19; 4,13-18; 5,9; 5,23; 2Ts 2,1;
1Tm 6,14; 2Tm 4,1.8; Tt 2,13; Hb 9,28; Tg 5,7-9; 1Pd 1,7.13; 5,4; 1Jo 2,28-3,2; Jd 21;
Ap 2,25; 3,1025.
Podemos abordar este tema sob dois pontos de vista: o dos seguidores da
doutrina e o dos que não a seguem.
2) O evangelismo: cada dia é visto como uma oportunidade para “ganhar almas”.
Ice cita a seguinte frase de Tim Lahaye 2 6:
Surge uma igreja evangelística constituída de crentes ganhadores de almas,
pois quando cremos que Cristo pode aparecer a qualquer momento,
procuramos falar sobre Ele com nossos amigos, para que estes não fiquem
para trás quando Ele vier .
entretanto, muitas das referências citadas possuem interpretação duvidosa e até forçada.
25
Esta lista foi baseada no livro de ICE, Thomas. A verdade sobre o arrebatamento. Porto Alegre: Actual
Edições, 2001, p. 48.
26
LAHAYE, Tim. No Fear of the Storm , p. 18.
28
Weber 27, Ice28 relata que a crença no arrebatamento tem sido um grande incentivo para
as missões nos últimos 150 anos.
A série de ficção Left Behind tem sido, nos últimos anos, a representação
por excelência dessa crença. Seu conteúdo itera as interpretações anteriores, bem como
atualiza seu mapeamento na sociedade moderna, e tem sido divulgado por todo o
mundo. Sua leitura bíblica apela para ameaças de terrorismo, Armagedon nuclear,
suspeitas nacionalista de organizações internacionais, comércio nacionalista, unificação
da moeda e diferenciação religiosa.
27
TIMOTHY, P. Weber. Living in the Shadow of the Second Coming: American Premillennialism, 1875-
1982. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1983, p.81.
28
ICE, Thomas. A verdade sobre o arrebatamento. Porto Alegre: Actual Edições, 2001, p.75.
29
CAPÍTULO II
29
Os livros da série chegaram a figurar nas listas de best- sellers do New York Times.
30
O faturamento da série já ultrapassou a casa dos 300 milhões de dólares.
31
De qualquer forma, o impacto da série e do filme fez com que surgissem várias
discussões e questionamentos ao porquê da bem-sucedida empreitada editorial e
cinematográfic a. Para alguns, o gênero literário se assemelha ao de outros escritores
americanos que escrevem sobre espionagem militar, horror, fantasia, ficção científica
etc., e que têm vendido centenas de milhares de exemplares. Portanto, a série seria mais
uma que no ramo de entretenimento ficcional seduz pelo ritmo, ação e suspense. Para
outros, em vez disso, o sucesso provém da forma como trata da interpretação bíblica
literalista: um pré-milenarismo dispensacional, pré-tribulacionista e fundamentalista
conformado à crença sobre o fim dos tempos que predominou nos últimos tempos nos
EUA e, por que não dizer, em grande parte do continente americano. Argumentam
inclusive que na Europa, onde o dispensacionalismo não ganhou força, a série também
não teve muito êxito. Na verdade, como os próprios autores reconhecem, embora seja
ficção, a série foi escrita para refletir a vida e a crença de milhares de cristãos
(fundamentalistas). A realização do filme e as técnicas cinematográficas usadas
acabaram, ao que parece, por tornar uma antiga crença mais verossímil do que nunca.
Tal reação pode ser localizada entre 1909 e 1915, com a publicação nos Estados
Unidos de uma série de textos, numa revista com edição superior a três milhões de
exemplares, sob o título The Fundamentals – a Testimonium to the Truth (Os
fundamentos – um testemunho em favor da verdade). Os fundamentos eram, portanto,
conteúdos de fé, verdades absolutas e intocáveis que deveriam ficar imunes à ciência e à
relativização da verdade bíblica por meio do método histórico-crítico. Os temas
principais eram a inspiração verbal e literal, a divindade e o nascimento virginal de
Jesus, seu sacrifício expiatório e vicário, sua ressurreição corporal, a segunda vinda de
Cristo à Terra com sinais apocalípticos, ou o retorno para um reino milenar e
intermediário etc. O movimento se espalhou para outros países e continentes
combatendo ideias pluralistas positivistas, relativistas, historicistas e antiautoritaristas,
características da modernidade.
31
Tanto o pensamento modernista como o liberal começaram a vigorar nas universidades e faculdades de
teologia dos EUA por influência alemã. O modernismo submetia a Bíblia à critica histórica radical
questionando antigos dogmas bíblicos a partir de novos descobrimentos das ciências. O liberalismo
teológic o acreditava, entre outras coisas, que haveria progresso da sociedade humana através da ciência
até instaurar -se o Reino de Deus na Terra, portanto, não por meio de intervenção divina. Ver
NOGUEIRA, Paulo A. de Souza. Leitura bíblica fundamentalista no Brasil. In: Revista Caminhando 10,
v. 7, 2002, p. 31- 49.
33
33
MILLARD, J. Erickson. Opções contemporâneas na escatologia: um estudo do milênio. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1991.
34
O seminário de Dallas tornou-se o centro do dispensacionalismo até os dias de hoje, e muitos de seus
professores são conhecidos por literaturas divulgadas em várias línguas; entre eles: Merrill Unger, Dwight
Pentecost, Norman Geisler, Hal Lindsey e Charles Swindoll.
35
Lewis Sperry Chafer (1871- 1952), professor presbiteriano e discípulo de Scofield, publicou uma obra
dispensacionalista sistematizada em oito volumes.
35
Essa Bíblia foi publicada com anotações no rodapé de suas páginas feitas por
Cyrus Ingerson Scofield, que sentiu a necessidade de esclarecer passagens difíceis de
entender. Scofield nasceu em Michigan, em 1843, converteu-se em 1879 e foi ordenado
pastor em 1883. Era advogado e não possuía formação teológica; contudo, foi
discipulado por James Hall Brookes 3 6, considerado pai do dispensacionalismo
americano. Após anos (cerca de 30) de dedicação à criação de notas explicativas da
Bíblia, e contando com a ajuda de vários pastores convidados, publicou em 1909 a
Bíblia de Referência Scofield. Tal fato contribuiu grandemente para a propagação do
36
James Hall Brookes escreveu o livro Maranatha, onde fazia uso da perspectiva dispensacionalista da
profecia, nos idos de 1870.
36
ensino dispensacionalista que, por parte de Scofield, veio da assimilação dos ensinos de
John Newton Darby37. A Bíblia Scofield que usou a versão do texto inglês de King
James, reeditada em 1917 e revisada em 1967, e da língua inglesa foi traduzida para
outras línguas. Em espanhol, foi publicada em 1960, a partir da versão revisada de
Casiodoro de Reina (1569); em português, especificamente no Brasil, foi editada em
1983 a partir de versão de João Ferreira de Almeida, e chegou à quarta edição em
19933 8. Devido a sua praticidade, tornou-se bastante popular no século XX, inclusive no
meio pentecostal, que provavelmente é também o maior divulgador da corrente
escatológica dispensacionalista atualmente. Os ensinos da Bíblia de Referência Scofield
são bastante criticados atualmente por correntes escatológicas que dela divergem, por
exemplo, a corrente reformada, embora tenha surgido em seu âmbito; por outro lado,
são fortemente divulgados por seus adeptos. Assim, afora a controversa interpretação
dispensacionalista da Bíblia Scofield, est a reforça crenças fundamentalistas cristãs como
a infalibilidade das Escrituras, a divindade, humanidade e ressurreição de Cristo e o
juízo final, além de pressupor a unidade intrínseca das Escrituras como revelação da
história gradual e contínua da redenção humana e a inspiração divina como fonte última
de harmonia revelacional; enfim, vê Cristo como centro da Escritura. Crenças estas que
atraem muitos fundamentalistas.
37
Darby foi um destacado aluno do pastor presbiteriano Edward Irwing (1792-1834). Quando de sua morte,
deixou vasta obra escrita, constituída de 40 volumes (quatro exclusivamente sobre profecias). A partir
dessa obra o sistema dispensacionalista difundiu- se no mundo de fala inglesa.
38
Em 2009, uma nova edição foi feita no Brasil.
39
Blackstone (1841-1935), um protestante de confissão metodista, foi um magnata americano do ramo
imobiliário. Em 1878 , participou da Conferência de Niagara, cujo tema era o retorno dos judeus à
Palestina, na qual decidiu tornar-se um engajado restauracionista motivado pela visão dispensacionalista.
Na Conferência Sionista de 1918, realizada em Filadélfia, Blackstone foi aclamado como o Pai do
Sionismo.
37
2.4. No Brasil
Como vimos, os livros de autores nacionais que versam sobre escatologia sofrem
de dependência doutrinária de livros norte-americanos; os que não são declaradamente
dispensacionalistas apresentam apenas os possíveis pontos de vista escatológicos
existentes. Em 1921, por exemplo, houve a publicação do livro Maranata, de Alfredo
Borges Teixeira (pastor presbiteriano), que defende a posição pré-milenarista. De
qualquer forma, os poucos que existiram eram em número extremamente reduzido, em
sua maioria traduções de obras americanas ou estrangeiras. Hoje encontramos livros de
cunho escatológico mais facilmente. Podemos citar como exemplo o livro de
escatologia de Russell Shedd que apenas explica a doutrina escatológica; embora o
autor seja pré-milenista, não defende categoricamente sua posição. Talvez as literaturas
escatológicas nacionais que maior impacto têm alcançado nos últimos tempos sejam as
da vertente pentecostal, como por exemplo O plano divino através dos séculos, de Nels
Lawrence Olson, publicado pela CPAD, extremamente dispensacionalista; na verdade
foi escrito por um americano em missão há muitos anos no Brasil, e que por isso
publicou em português. Este livro já está na 25ª edição e já teve mais de 100 mil cópias
39
vendidas. Como este livro, outros publicados pela CPAD seguem a mesma influência
norte-americana e são muito lidos no meio pentecostal.
40
Contudo, somente em 1970 a organização foi legalmente instituída.
41
Ver uma amostra dos boletins informativos, no final do capítulo.
40
42
A verdade sobre: Os sinais dos tempos, Armagedom e o Oriente Médio, O Anticristo e seu reino, A
tribulação, O arrebatamento, O céu e a eternidade, O milênio, Jerusalém na profecia bíblica, O templo
dos últimos dias. Todos da Actual Edições e vendidos pelo site chamada.com.br.
43
Este folheto tem sido distribuído ao longo de 2009.
41
Boletim informativo enviado por mala direta para divulgação de palestra promovida pela Obra
Missionária Chamada da Meia- Noite. Na programação, o tema das 7 dispensações.
43
Capa da revista usada em escolas bíblicas dominicais usadas na Igreja O Brasil para Cristo em 2001, com
o tema do arrebatamento. A seguir, página da mesma revista.
46
47
Folheto evangelístico com oito páginas, distribuído em 2009, na estação Sé do Metrô (São Paulo).
Descreve a história do mundo através da Bíblia e o arrebatamento da igreja previsto para 21/05/2011.
Esta característica de datar o arrebatamento está restrita à comunidade que o distribuiu.
48
CAPÍTULO III
“Qual préstimo poderia ter para a história o folclore?”. É a pergunta que inicia a
reflexão de Ferro. Ele lembra que, no início do séc. XX, o animatógrafo45 era
considerado pelas pessoas supostamente cultas uma máquina de embrutecimento e de
dissolução, um passatempo de iletrados. Assim o filme, comparado aos documentos
escritos que provinham do ponto de vista daqueles considerados a classe dominante da
sociedade, era de nenhum valor como documento ou material histórico. Mesmo porque
imagens fílmicas, pretensamente representações da realidade, são escolhíveis,
modificáveis, transformáveis, fruto de montagem intencional. Com o passar do tempo, a
história se transforma, com as exigências de um novo espírito científico desembocando
numa nova história4 6 também influenciada por outras ciências humanas. Porém, ainda
para essa Nova História cabe a pergunta: que préstimo um filme pode ter, uma vez que é
representação do real e manipulação de imagens? Ferro aponta para a prática da
censura, que possibilitou constatar que as imagens podem também ameaçar interesses
dominantes. Um filme pode funcionar como testemunha; pode, em seu lapsos,
desestruturar construções antigas de instituições e grupos que foram forjadas ao longo
dos anos. Por outro lado, um filme pode reforçar e promover visões de mundo
particulares. A antiga ideia de que um gesto corresponde a uma frase, e um olhar a um
44
Esta refl exão está baseada no texto de FERRO, Marc, O filme, uma contra-análise da sociedade?, in
História: novos objetos, dir. Jacques Le Goff e Pierre Nora, 3ª ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1988,
p. 202-204.
45
O mesmo que cinematógrafo, um invento do fim do séc. XIX que consta de equipamento de fotografia e
de projeção capaz de colher, em rápida sequência, uma série de instantâneos de objetos que se movem e
de projetá- los numa sucessão igualmente rápida e intermitente, de modo a produzir a ilusão de cenas em
movimento.
46
Os Annales aparecem em 1929; sua terceira geração é chamada Nova História, e considera toda atividade
humana como história.
49
longo discurso, chega a ser insuportável, uma vez que assim sendo, as imagens
constituiriam a matéria de uma história diferente da História, principalmente do ponto
de vista dominante; isto é o que para Ferro significa uma contra-análise da sociedade.
Por isso, ele postula que as imagens – não apenas como ilustração, confirmação ou
desmentido de um outro saber ou da tradição escrita, antes apelando até outros saberes,
afim de melhor captá- las – podem ser consideradas fontes históricas. A associação de
um filme ao mundo que o produz, seja ele imagem da realidade ou não, documento ou
mesmo ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é história; sendo assim, seu postulado
é: o que não aconteceu, as crenças, as intenções, o imaginário do homem, é tão história
quanto a História.
O filme inicia com imagens da cidade de Jerusalém atual, com seus principais
símbolos religiosos: igrejas cristãs, a mesquita de Omar, o muro das lamentações e
também o comércio; logo em seguida, mostra uma nuvem de helicópteros e aviões de
guerra, vários tanques de guerra, advindos das fronteiras leste, norte e oeste de Israel.
Na sequência, a cena muda para um repórter, no centro de uma plantação de trigo,
iniciando uma reportagem com um cientista Israelense, Dr. Chaim Rosenzweig, que
começa a falar sobre a paz que ele pretende alcançar com sua descoberta.
47
Vilém Flusser (1920-1991) foi um filósofo Tcheco, naturalizado brasileiro, autodidata, que atuou por
cerca de 20 anos como professor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor. Escreveu e ministrou nas
áreas da Teoria da Comunicação. Seus trabalhos se concentram no pensamento de Heidegger, sendo
marcados pelo existencialismo e pela fenomenologia.
51
Num ar de mistério, fala ao repórter: “A guerra continuará até o fim e alguns firmarão
um pacto de sete anos”.
O cenário muda para Chicago. Aparece uma família americana, o pai (Rayford
Steele), piloto de avião, sua esposa Irene, mulher religiosa e atenciosa, e dois filhos, um
menino de 12 anos e Chloe, uma jovem de temperamento rebelde.
verificar e levar o cobertor de seu esposo. Buck estranha e diz que não seria necessário
levar o cobertor, mas ela insiste dizendo que, se ele estivesse no banheiro, poderia estar
nu, e lhe mostra o lugar dele no avião, com todas as suas roupas, inclusive os óculos que
usava. Outros passageiros também começam a perceber o sumiço de outras pessoas;
uma mulher procura desesperada pelos seus filhos.
No avião, Rayford começa a pedir ajuda pelo rádio quando fica sabendo que
várias pessoas estão desaparecendo no mundo todo. Decide voltar para o aeroporto em
Chicago, o qual também encontra-se num verdadeiro caos.
Rayford volta para casa e não encontra seu filho e sua mulher. No quarto
encontra a camisola da esposa, junto com um colar (com pingente de cruz) e a aliança
(nova cena que mostra que somente o corpo sumiu, os bens materiais ficam todos).
Buck necessita ir para Nova York tentar descobrir o que está acontecendo com a
ajuda de seu amigo Dirk; para isso, tenta encontrar um piloto particular.
Num saguão, Ken Ritz (piloto particular) está oferecendo seu serviço para quem
pagar mais, numa espécie de leilão; as pessoas oferecem um valor e fala um nome de
cidade para onde querem ir. Buck chega e oferece 25 mil dólares para Ritz levá-lo a
Nova York. Sua oferta é aceita e os dois partem para Nova York. Ritz diz que o sumiço
das pessoas deve ser causado por alienígenas, e depois conta que ouviu no rádio uma
história bíblica em que havia dois homens no campo: um deles era levado, o outro,
deixado. Buck não dá crédito para a história da Bíblia e pergunta: o que teriam em
comum as pessoas que desapareceram? Será que todas as crianças e adultos teriam o
mesmo tipo de sangue? Ou seriam as ondas cerebrais? Ken Ritz questiona: as pessoas
sumiram para sempre ou vão voltar? Ou: outras pessoas ainda podem desaparecer?
Buck tenta encontra algo comum, e acha que o ponto comum talvez esteja nas
pessoas que foram deixadas para trás.
Em sua casa, Rayford procura por uma resposta; vê a Bíblia de sua esposa,
começa a lê-la e a pensar em que sua esposa acreditava.
53
Em Chicago, aparece o pastor Bruce Barnes no templo vazio de sua igreja. Ele
está desiludido porque durante muitos anos pregou naquele púlpito sem acreditar no que
dizia, e agora via que era tudo verdade e ele ficara para trás. Começa a pedir perdão a
Deus orando e chorando. Rayford se aproxima, tendo escutando boa parte de seu
lamento e sugere que ele pode ter ficado para ajudar as pessoas que não foram levadas.
O pastor Bruce Barnes pega uma fita de vídeo e mostra um reverendo falando sobre
pessoas que desaparecerão subitamente, num piscar de olhos, sem que alguém saiba
para onde elas foram.
Num escritório em Nova York, o Sr. Nic olae Carpathia mostra o mapa para o
Dr. Rosenzweig, que fica impressionado e declara que tudo se encaixa perfeitamente; no
mapa está o templo judaico construído ao lado da mesquita de Omar.
Rayford procura sua filha e diz que sabe onde estão sua esposa e filho. Chloe
fica surpresa e interessada em saber onde eles poderiam estar. Quando seu pai informa
que eles estão no paraíso com Deus, Chloe se mostra irritada; seu pai tenta acalmá- la e
fala sobre a fita, pedindo que ela assista.
Buck encontra-se com Alan Thompkins, agente da CIA, num bar, que o informa
que Stonagal e Cothram têm emprestado bilhões à ONU durante anos, e que vão cobrar
a dívida na Justiça. Buck fica surpreso ao constatar que os banqueiros querem a falência
da ONU para poderem controlar a distribuição mundial de alimentos.
Quando estão saindo do bar, uma mulher detém Buck pedindo-lhe dinheiro.
Alan vai para seu carro; quando da partida o carro explode matando Alan e deixando
Buck um pouco ferido.
Chegando lá, encontra-se com o Dr. Rosenzweig e explica que ele está sendo
enganado, mas o outro argumenta dizendo que sua fórmula irá para uma comissão da
ONU. Buck explica que os banqueiros vão ficar com tudo quando a falência da ONU
for declarada, e ambos saem para falar com Nicolae.
Carpathia se mostra surpreso e diz que vai resolver a questão. Buck vê na mesa o
mapa e pergunta ao Dr. Rosenzweig o que significa aquilo, e ouve que é a planta de
reconstrução do templo, e que o verdadeiro lugar do templo é ao lado da mesquita, a
harmonia perfeita.
55
Na sala de reunião, todos estão em volta de uma grande mesa redonda. Nicolae
fala sobre a comunidade global, as dez faixas de terra que serão controladas pelos
delegados da ONU, o início de sete anos de paz.
Enquanto Nicolae fala, Buck vai lembrando da conversa com o pastor: “Isso será
o começo do surgimento do Anticristo que controlará dez reinos, isto significa o mundo,
o Anticristo se sentará no trono de Deus e se declarará: Deus...”.
Nicolae continua seu discurso e demonstra ter domínio sobre as mentes das
pessoas. Pede a arma do segurança e mata Cothran; logo em seguida, contando uma
versão para o assassinato, mata Stonagal, dizendo que este matara Cothran e se
suicidara, porque Stonagal era um homem atormentado por culpa e medo, e ficara
apavorado quando soube que ia ser denunciado por Buck, sabia que seus planos tinham
sido descobertos e ele iria perder tudo, estaria destruído, arruinado. Na sequência, dois
tiros são ouvidos, do lado de fora da sala de reunião, e dois guardas entram correndo; na
sala as pessoas estão atônitas, chorando e gritando, como numa espécie de hipnose.
Buck não acredita no que está vendo, pois somente ele não fora hipnotizado. Procura o
Dr. Rosenzweig e pergunta o que acontecera, e este conta exatamente a história que
Nicolae simulara, de assassinato e suicídio.
Assim Nicolae, cujo nome significa vitória do povo, é visto como o líder que o
mundo procurava. Buck sai pensativo, crendo na Bíblia, sabendo que os próximos sete
anos serão os piores anos que a humanidade já viu, mas com um ar de esperança. Buck
vai ao encontro de seus novos amigos Rayford, Pastor Bruce e Chloe, sabendo que não
tinha todas as respostas, mais crendo na Bíblia e em Deus. A fé seria o suficiente para
passar pelos próximos sete anos.
56
A análise será feita sobre o primeiro filme da série, pois neste encontra-se o tema
do arrebatamento. O filme foi baseado na série de romances que levam o mesmo nome:
Left Behind, traduzido para o português como Deixados para trás.
O romance da série em que o filme se baseia se apresenta como “uma ficção dos
últimos dias”. Já a resenha na contra-capa do filme esboça a proposta de levar o
espectador a “uma viagem através de um dos mais misteriosos livros da Bíblia, o livro
do Apocalipse”. A narrativa fílmica construiu seu enredo totalmente firmado sobre a
crença no arrebatamento. Esta, uma doutrina escatológica extraída por sua vez da Bíblia
e de seus vários textos proféticos, dá sustentação ao enredo. Alguns textos são chaves
para a sustentação da doutrina, inclusive na vida real, e por isso são citados
explicitamente no filme; outros textos são apenas evocados no decorrer da narrativa, e
somente quem tem um maior conhecimento bíblico é capaz de perceber. De qualquer
forma, por trabalhar com imagens e necessitar de uma condensação maior, a narrativa
fílmica, em comparação com o livro, torna bastante interessante a exposição do que se
espera acontecer num futuro próximo. Também é interessante a maneira como as
imagens e as falas das personagens são ajustadas no todo da obra para dar sentido à
crença. De um modo geral, mudanças e adaptações são feitas na construção fictícia para
que a narrativa tenha um sentido lógico, envolvente e factível, sempre buscando
verossimilhança e coerência com a expectativa existente na doutrina escatológica do
arrebatamento.
O filme tem início com uma fala, antes que qualquer imagem apareça.
48
Anchorage é um termo usado por Roland Barthes para designar o texto usado como legenda, geralmente
na propaganda, e que prevê a ligação entre a imagem e o seu contexto; ou seja, o texto direciona a forma
como as imagens devem ser lidas. No caso, tal fala direciona como a ficção deve ser interpretada.Ver em
Barthes, R. Image Music Text. London: Fontana, 1997, apud ROSE, Gillian. Visual Methodologies, A
Introduction to the Interpretation of Visual Materials. California: Sage Publications, 2007.
58
Ray descobre que sua esposa e filho foram arrebatados, se converte e comunica a
descoberta (sobre sua esposa e seu filho) a sua filha, que lhe responde:
Chloe: Aren’t you using God as a crutch? (1:00:17)
Depois de descobrir que seu pai tinha um caso com uma colega de
trabalho, Chloe sugere que sua aproximação a Deus é por causa da culpa.
Chloe: Are you sure this isn’t just you feeling guilty because of you friend?
(1:05:47)
(Tem certeza que não é apenas por você se sentir culpado por causa da sua
amiga?)
Ray: It’s not about guilt. I can’t… I won’t live without faith anymore, I
won’t.
(Não é sobre culpa. Eu não posso... não quero mais viver sem fé.)
Chloe: Why? Because God will send you to hell? It’s a nice God, he get hell
on earth, and he get hell after.
(Por quê? Porque Deus mandará você para o inferno? É um bom Deus, ele dá
o inferno sobre a terra e depois também.)
Com estes exemplos é possível constatar que a verdade bíblica proposta pelo
filme é em princípio taxativamente refutada com argumentos comuns, inclusive da vida
real. Entretanto, a seguir estes caem por terra, diante das constatações inegáveis dos
fatos históricos que vão se ajustando perfeitamente às profecias. No filme, portanto, não
há o apelo a uma fé que espera por um futuro melhor, mas sim à que aponta para a dura
realidade que vai se cumprindo. Diante disso, o que se pensa saber já não faz nenhuma
diferença. Por isso, ao fim da trama, Chloe com seu ríspido ceticismo, Buck com seu
racionalismo fatual, e mesm o o piloto Ray, antes tão indiferente à fé, se tornam cristãos,
ao constatarem a verdade bíblica cumprindo-se cabalmente.
Por estarem em forma de esboço, com abreviações dos livros bíblicos a que
estão relacionadas, apenas quem conhece a Bíblia e a crença respectiva está apto a
decifrá- las.
Por fim, é através de uma fita de vídeo gravada três anos antes do arrebatamento
que ambos (piloto e jornalista) encontram a resposta, não sem antes terem que entender
o que de fato ocorre no cenário político-econômico mundial.
dessa fita ocorre em dois momentos no filme: uma para o piloto Rayford, na cena 56:12,
e outra para Buck, na cena 1:12:18, e é nesse momento, com a ajuda do pastor Bruce,
que o enigma do filme é decifrado. O pastor explica ao jornalista o que significam as
informações que ele conseguiu com seu amigo Dirk com base em passagens bíblicas.
Aqui, portanto, nos últimos 30 minutos restantes de filme, é possível perceber como é
feito o uso da Bíblia para apoiar a crença no arrebatamento. Três assuntos principais
figuram na mídia em posse do jornalista: os ataques a Israel, as dez faixas de terra
(pertencentes à ONU) e a futura reconstrução do templo judaico, destruído em 70 EC. A
forma como esses assuntos são extraídos e recortados de diferentes textos bíblicos para
dar formatação a uma nova trama na ficção expõe claramente o funcionamento da
dinâmica interpretativa que ocorre na vida real nesse tipo de crença.
Hello, I’m pastor Vernon Billins from the New Hope Village Church. If you
are watching this tape, you’re no doubt confused and let me encourage you.
Your loved ones, your children, your friends, your acquaintances have been
snatched away by some evil force or some invasion from outer space…
(56:12)
(Eu sou o pastor Vernon Billins, da Igreja Nova Esperança. Se você está
assistindo a esta fita, sem dúvida você está confuso; deixe-me encorajá-lo.
Seus amados, suas crianças, seus amigos, seus conhecidos foram levados por
alguma força má ou alguma invasão do espaço exterior.)
God promised to protect Isr ael against total alienation by her enemies from
the Noth, miraculously. It’s all in there exactly as you witnessed it. (1:13:38)
(Deus prometeu proteger Israel contra a alienação total por seus inimigos do
Norte, milagrosamente. Está tudo lá, exatamente como você testemunhou.)
A explicação do pastor Bruce não cita nenhum versículo bíblico; apenas dá uma
espécie de título para o texto. Na cena fílmica ele aponta o texto de Ezequiel 38 ao
jornalista.
sionismo49, que naturalmente a tem como apoio. Porém, o próprio Deus defenderá Israel
numa forma de engrandecer Seu próprio Nome e se fazer conhecido. O texto de Ez
38,11 dá características a respeito desse povo que será atacado: “E dirás: Subirei contra a
terra das aldeias não muradas, virei contra os que estão em repouso, que habitam seguros; todos
eles habitam sem muro e não têm ferrolho nem portas”. Trata-se, portanto, de um povo
tranquilo e indefeso. Talvez por isso Deus mesmo coloque-se a seu favor de forma
determinante, a ponto do texto usar uma linguagem de destruição apocalíptica no verso
20-22:
De tal sorte que tremerão diante da minha face os peixes do mar, e as aves do
céu, e os animais do campo, e todos os répteis que se arrastam sobre a terra, e
todos os homens que estão sobre a face da terra; e os montes cairão, e os
precipícios se desfarão, e todos os muros desabarão por terra. Porque
chamarei contra Gog a espada, sobre todos os meus montes, diz o Senhor
JEOVÁ; a espada de cada um se voltará contra seu irmão. Contenderei com
ele por meio da peste e do sangue; e uma chuva inundante, e grandes pedras
de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, e sobre as suas tropas, e sobre
os muitos povos que estiverem com ele.
É importante notar que esse texto de Ezequiel possui correlação com Apocalipse
20, uma vez que ambos os textos tratam da batalha do Armagedom, apesar de que no
Apocalipse tal acontecimento se dê após o milênio. Como a ficção diz basear -se no livro
do Apocalipse, a colocação dessa batalha no início do enredo faz crer que esta
dissonância com a profecia bíblica do Apocalipse tem a ver com a construção imagética
que o filme procura formar sobre Israel, bem como tenta sugerir uma maneira pela qual
Deus atrairia a atenção de seu próprio povo para si.
49
Sionismo é um movimento político internacional judeu que resultou na formação do Estado de Israel, em
maio de 1948, e em sua posterior evolução. Obteve seu nome de Sião (Sion, Zion), um monte nos
arredores de Jerusalém. Fonte: Dicionário Houiass da Língua Portuguesa, http://houaiss.uol.com.br/
63
Nessa resposta o pastor liga as dez faixas de terra, aqui supostamente localizadas
em Daniel 7, com o evento arrebatamento. Tal ligação é completamente arbitrária, uma
vez que inexiste a ideia, termo ou algo semelhante nesta passagem. Diante da
incongruência entre as dez faixas de terra e os dez reinos de Dn.7, Chloe interpela a
conversa:
Yeah, but ten giant tracks of usele ss real state doesn’t seem like much for
kingdom to me.
(Sim, mas dez enormes faixas imobiliárias inúteis não se parecem muito com
reinos para mim.)
Naturalmente, para que a criação fictícia das dez faixas de terra possa fazer
sentido, foi necessário inserir na narrativa a fórmula Éden, porém, não existe alusão ou
menção a ela na Bíblia.
50
É importante lembrar que a leitura fundamentalista da Bíblia data o livro de Daniel na época do império
babilônico e, portanto, interpreta suas visões- proféticas como eventos a serem cumpridos, diferentemente
da leitura liberal, que considera tais profecias como ex-eventum , uma vez que para tal leitura o livro seria
do séc. II aEC.
64
Listen to what i’m saying to you make no mistake about it. It’s written in the
Scripture. He will rebuild the Temple. I guarantee it.
(Ouça o que eu estou dizendo a você, não se engane sobre isso. Está escrito
nas Escrituras. Ele vai reconstruir o Templo. Eu garanto.)
Pastor – Daniel 9,27: “And he will confirm a covenant with many for seven
years”.
(Daniel 9,27: “E ele confirmará uma aliança com muitos por sete anos”. )
combate). A ficção impõe, portanto, imagens tais de Israel que não condizem com a
realidade histórica. Na vida real, Israel é uma nação sempre pronta a atacar ou a se
defender; nem sempre suas decisões políticas são pacíficas, mesmo por que há conflitos
políticos em seu próprio interior. Na ficção, há uma construção ideológica do papel e
comportamento de Israel como se fosse sempre positivo. Ele é a nação próspera,
pacífica que possui muitos inimigos (talvez por causa de sua própria prosperidade, que
atrai invejosos), no entanto, Deus está a seu favor e o defende.
Não é sem motivo que o ataque contra Israel buscou inspiração no livro de
Ezequiel 38 – nessa passagem, o próprio Deus intervém em favor de Israel derrotando
seus inimigos e provando seu poder.
51
ROSSING, Barbara R. The Rapture Exposed: The Message of Hope in the Book of Revelatio . Colorado:
Basic Books, 2004, p. 61-62.
52
URBAN, Hugh B. America, Left Behind Bush, the Neoconservatives, and Evangelical Christian Fiction.
Journal of Religion & Society 8 (2006), p. 5.
67
O script do filme faz uma clara crítica ao capitalismo. Por trás de toda
conspiração que dará lugar ao Anticristo está a figura de dois banqueiros. O tema da
unificação se apresenta na trama como um tipo de globalização que facilitará as
atividades futuras do Anticristo. Vejamos as falas.
Dirk Burton, ao relatar sua descoberta sobre os planos dos banqueiros Cothran e
Stonagal, ligados aos ataques a Israel, os centros de pesquisas, os fundos de
investimentos e o câmbio.
Sorry folks, cash only... 25 large! Do I hear 30, anybody? Anybody? Ok, Mr.,
you bought yourself a pilot. (45:60)
(Sinto muito, amigos, apenas dinheiro... 25! Posso ouvir 30, alguém?... Ok,
senhor, você comprou seu próprio piloto)
Ken Ritz, ao oferecer seu trabalho de piloto particular a quem desejasse sair de
Chicago em meio ao caos do arrebatamento. Buck é quem dá a maior oferta e, portanto,
acaba comprando o piloto. A cena expõe a insensibilidade e a ganância humana por
lucro mesmo diante da desgraça alheia.
Assim, a ficção faz uma dura crítica ao poder de controle que o capital exerce
sobre as pessoas. Os banqueiros Cothren e Stonegal representam esse controle no mais
alto grau; seus negócios existem em função da sede de poder que acaba por abrir espaço
para que o Anticristo assuma sua função de controle total sobre os sistemas humanos.
Mesmo pessoas que não pertencem a uma esfera tão alta do sistema, como o piloto Ken
Ritz, procuram tirar o máximo proveito de situações de desgraça e desespero que se
abatem sobre o mundo para auferir lucros. Por outro lado, as roupas e pertences
materiais são deixados para trás no momento do arrebatamento, um claro indicativo de
que os bens materiais não têm mais valor para os que se foram. A crítica ao capitalismo
é uma característica incluída no todo da série Left Behind.
53
MONAHAN, Torin. Marketing the beast: Left Behind and the apocalypse Industry, Media Culture
Society, 2008, p. 813-830.
54
Esse nome provém em parte do fato dessa forma de capitalismo tomar forma na virada do milênio, e em
parte de seu surgimento fazer com que, tanto os que o apoiam quanto os que lhe são contrários, entrem
quase que numa esfera apocalíptica de esperanças e medos. Extraído do site npq.org .
69
55
No Brasil também é comum a venda desse tipo de produto nas grandes lojas. Adquiri o DVD da série
pelo site das Lojas Americanas.
56
FISHER, A. Five SurprisingYears for Evangelical-Christian Publishing: 1998 to 2002, Publishing
Research Quarte rly Summer (2003), p. 20-36.
57
Ibidem, p. 29.
58
FRYKHOLM, A.J. Rapture Culture: Left Behind in Evangelical America. New
York: Oxford University Press, 2004. p.7
70
Since the Left Behind series began in 1995, we have personally heard from
over 3,000 people who tell us they have become believers through reading
the series.6 1
As cenas iniciais (1:50-5:20) mostram que parte do ataque bélico contra Israel
provém do Iraque, ao leste, e da Síria, fronteira norte de Israel. São países que tanto
atacam quanto cedem seus territórios aos aliados para que estes ataquem. Nesse aspecto,
a ficção corresponde à vida real; tais países são, de fato, opositores de Israel.
59
HENDERSHOT, H. Shaking the World for Jesus: Media and Conservative Evangelical Culture.
Chicago: University of Chicago Press, 2004, p. 52-64.
60
DRANE, J. The McDonaldization of the Church. London: Darton, Longman and Todd, 2000, apud
MONAHAN, Torin. Marketing the beast: Left Behind and the apocalypse industry, Media Culture
Society, 2008, p. 813-830.
61
Extraído do site www.leftbehind.com, no espaço onde os autores colocam seus testemunhos.
62
Ibidem, p. 827.
71
(Quem entregará aos arabes? Suas crianças choram com fome e, no entanto,
ele escolhem a guerra. )
Stonagal – But I’ve rearranged some shipments. When their children die of
hunger, the Arabs will cry for peace. It´s all coming together perfectly.
63
ROSSING, Barbara R. The Rapture Exposed: The Message of Hope in the Book of Revelatio. Colorado:
Basic Books, 2004, p. 47-49.
64
O movimento cristão sionista se estabelece no final do séc. XIX, e um de seus principais ícones é William
Blackstone, um magnata americano de fé metodista conhecido por sua incansável atividade em prol do
restabelecimento da nação judaica em Israel. Blackstone passou a empreender esforços em prol do
restabelecimento do Estado de Israel motivado por sua visão dispensacionalista da profecia bíblica. Foi
colaborador pessoal de líderes pré -milenistas, tais como D. L. Moody, James H. Brookes e Horatio
Spafford, este que, por fim, fundou a colônia americana em Jerusalém. Em 1908, Blackstone publicou o
72
Rossing alerta para o fato de que o problema não é acerca do sionismo tradicional, que
objetivava o direito dos judeus de ter sua própria pátria, onde pudessem ser livres e
independentes. O problema reside num tipo de sionismo cristão movido por profecias
apocalípticas dramáticas, movidas a guerras e violências, e que funcionam como um
jogo entre Israel e seus inimigos, em que cristãos sionistas investem suas táticas e bens
para que Israel vença. A ideologia cristã sionista é amplamente divulgada por livros
como o de Hal Lindsey, bem como atualmente por livros e produtos evangélicos da
série Left Behind de Lahaye e Jenkins, entre muitos outros. Infelizmente, é interpretando
a Bíblia que eles esperam mais e mais guerras e violência para o Oriente Médio, até
culminar no Armagedom. A origem de tudo isso reside na escolha de textos proféticos e
apocalípticos que retratam guerra e violência para estruturar sua crença. O filme expõe
isso de forma clara: o arrebatamento baseia-se em 1Ts 4,17, uma passagem que não faz
parte de um cenário apocalíptico envolto em guerras e violências; antes, é
principalmente um texto de consolo. Entretanto, tanto a ficção quanto a doutrina real
criam um cenário futuro todo estruturado sobre textos proféticos- apocalípticos 65 do
Antigo Testamento com forte conteúdo bélico, como é o caso de Ezequiel 38, e as
dramáticas visões de Daniel 7 e 9.
principalmente após o ataque terrorista de 11/09/2001, e sua perigosa política contra o terrorismo. Seu artigo sublinha ainda
que a visão fundamentalista de Left Behind faz a Palestina e os palestinos se tornarem literalmente invisíveis, e varrem-nos
do imaginário evangélico, no que são seguidos por grande parte de seus leitores americanos.
livro Jesus is Coming (Jesus está voltando), que se tornou best-seller com a venda de mais de um milhão
de cópias em três edições e foi “traduzido para trinta e seis idiomas”. Blackstone pode ser considerado o
Hal Lindsey de seu tempo. Chegou a ter centenas de exemplares do Novo Testamento impressos em
hebraico, os quais foram levados para Petra (atual Jordânia) e lá estocados a fim de que os judeus
remanescentes pudessem conhecer o caminho da salvação durante o tempo da grande tribulação. Fonte:
http://www.beth-shalom.com.br/artigos/william_blackstone.html.
65
A característica metafórica dos textos apocalípticos sempre aumenta e dá vivacidade ao cenário que
descrevem.
66
URBAN, Hugh B. America, Left BehindBush, the Neoconservatives, and Evangelical Christian Fiction.
Journal of Religion & Society Vol. 8, 2006, p. 1-15.
67
MCALISTER, Melanie. Prophecy, Politics and the Popular: The Left Behind Series and Christian
Fundamentalism’s New World Order. South Atlantic Quarterly 102, 4, p. 773-98.
73
68
JOLY, Martine. Introdução à Análise da Imagem. Campinas: Papirus Editora, 2008, p. 29.
69
Note-se que a existência e localização de Jerusalém é central tanto para o enredo do filme quanto para a
crença dispensacionalista; no entanto, no arrebatamento paulino essa relação é inexistente.
74
religiosos etc., que acontecem com Israel refletem antigas expectativas proféticas
bíblicas, tanto para ele mesmo (Israel) quanto para o mundo. Logo, sem compreender o
que se passa com Israel, também não se consegue entender a história do Homem. Por
extensão, a imagem de Israel não é apenas um indicador, mas, devido ao povo que
representa (o “povo de Deus”), passa a ser um símbolo do que muitas vezes acontece
(ou deveria acontecer) com os crentes em geral.
Pela análise percebe-se uma ampla interação entre texto e imagem. Pode-se até
dizer que, “na medida em que os textos vão explicando as imagens, as imagens, por sua
vez, vão ilustrando os textos”70. Contudo, ao seguirmos a reflexão flusseriana, temos de
admitir num primeiro momento que os textos favorecem a conceituação71, enquanto que
as imagens favorecem a imaginação72. Com isso, à medida que se privilegia a dialética
texto- imagem, a imaginação vai se tornando conceitual, e a conceituação, sempre mais
imaginativa. Parece ser essa a dinâmica que fornece as bases para a construção de
crenças e ensinamentos que já não fazem uso da adequação aos textos e sim da imagem
que deles se pode extrair. Ironicamente, num meio que preza a “fidelidade” ao texto (o
que para Flusser seria textolatria), este é usado como fonte depositária de imagens que
serão aproveitadas conforme dão sentido ao enredo. O perigo maior parece residir ao
lado do observador das imagens técnicas (aqui o filme) que, segundo Flusser7 3, vê tais
imagens como se fossem janelas, quando deveriam vê- las como símbolos que são, como
o são todas as imagens. Assim, se um filme é visto como uma realidade conceitual e não
em seu caráter de imagem simbólica, é possível que a interpretação que ele favoreça já
não tenha mais nada a ver com o texto que lhe serviu de base. Agora sua função é servir
de referencial interpretativo para a leitura e interpretação desses textos. De fato, se
70
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta, ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2002, p. 66.
71
Capacidade de compor e decifrar textos.
72
Capacidade de compor e decifrar imagens.
73
Ibidem, p. 14.
75
alguém tentar a partir do filme para escrever um texto, se deparará com uma nova
narrativa, totalmente diferente daquela que se supõe estar em sua base.
Alguns tipos de ideias têm sido alvo de crítica75 nesse tipo de leitura divulgadas
pela série Deixados para trás. Pode-se, por exemplo, distinguir duas, a partir de suas
teologias de condenação e determinista: a teologia de condenação, por trabalhar muito
com o eixo recompensa-castigo, salvos -perdidos, e a teologia determinista, por
transmitir a ideia de que os eventos da história humana estão rigidamente demarcados
na Bíblia, não havendo nada a fazer para alterá-los, a não ser esperar por sua realização.
Contudo, o aprofundamento dessas questões é possível apenas na consideração geral da
série, o que escapa ao objetivo de nossa dissertação. As poucas cenas analisadas apenas
74
Ibidem, p. 13.
75
Como são encontradas no livro The Rapture Exposed: The Message of Hope in the Book of Revelatio, de
Barbara R. Rossing, e no artigo Marketing the Beast: Left Behind and the Apocalypse Industry, Media
Culture Society, de Torin Monahan.
76
Capítulo IV
Uma vez que estamos lidando com um texto antigo, do qual não se dispõe mais
do original (autógrafo), faz-se necessário atentar para as mudanças ou possíveis
alterações ocorridas ao longo do tempo na perícope analisada. A nossa perícope não é a
que contém mais alterações, contudo, possui algumas. Fiz o levantamento para verificar
a possibilidade de alteração na interpretação da mesma, e parti da 27a edição do Novum
Testamentum Graece, de Nestlé-Aland.
4.1.2. Delimitação
No verso 13, o primeiro de nossa per ícope, inicia-se claramente outro assunto;
uma outra pauta surge como preocupação paulina. O tema aqui passa a ser a morte,
79
como evento de separação entre vivos e mortos, e a vinda do Senhor, o que inclui a
ressurreição, tópico também bastante comum no corpus paulino. Paulo muito
provavelmente observou uma atitude de aflição e desespero nas pessoas que perdiam
seus entes queridos, a ponto de se desesperarem diante da possibilidade de nunca mais
tornar a vê-los. Ora, Paulo não quer que os crentes sofram com tal aflição. Assim,
procura consolá-los identificando o destino do cristão com o destino do Cristo, já que o
que aconteceu com Cristo acontecerá com aquele que nele crer, independente da
situação em que se encontrar na época (vivo ou morto). Caso esteja morto, ressuscitará
primeiro; caso esteja vivo, será transformado. A menção da vinda do Senhor não é o
motivo principal da escrita dessa perícope; ela entra como adendo ao assunto da
consolação ante a morte. Por isso, Paulo não se atém a pormenores escatológicos, antes
parece citar um tipo de gênero literário que evoca expectativa. Algo como um topos76
usado quando se mencionava a vinda de Cristo.
76
O termo topos no grego significa lugar. Para os teóricos de literatura, designa um conceito geral que serve
para articular um argumento ou história, ou seja, faz parte de uma tradição cultural ou literária que se
torna domínio comum, convencional, e gera vários episódios ou reflexões.
80
13
Não queremos também que ignoreis, irmãos, a respeito dos que dormem,
para que não aflijais como os restantes, os que não têm esperança.
14
Se, pois, cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também
18
Portanto, exortai-vos uns aos outros com estas palavras.
Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na
Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos
suportar, de modo tal que até da vida desesperamos. (2Cor 1,8)
Não quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter
convosco (mas até agora tenho sido impedido) para também ter entre vós
algum fruto, como também entre os demais gentios. (Rm 1, 13)
Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais
de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a
plenitude dos gentios haja entrado. ( Rm 11,25)
Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo
da nuvem; e todos passaram pelo mar... (1Cor 10,1)
Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. ( 1Cor
12,1) 77
77
Todos estes versículos encontram-se na versão Almeida Revista e Corrigida.
82
78
COETEN, Lothar & BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Editora
Vida Nova: São Paulo, 2007.
79
HAWTHORNE, Gerald F. et alii. Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova, 2008, p.
255.
83
80
Oscar Cullmann procurou defender esta tese em Immortality of the Soul or Resurection of the Dead?
(1958), apud LADD,George Eldon. Teologia do Novo Testamento . São Paulo: Hagnos, 2003.
81
MOORE, A.L. I and II Thessalonians. The attic Press Inc.:Greenwood, S. C.,1969. p. 68.
82
Conforme o verbete Esperança em COETEN, Lothar & BROWN, Colin. Dicionário Internacional de
Teologia do Novo Testamento . São Paulo: Editora Vida Nova, 2007, p. 482.
84
E esperar dos céus seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber,
Jesus, que nos livra da ira futura. (1Ts 1,10)
... para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama para
o seu reino e glória. (1Ts 2,12)
Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos
vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. (1Ts 4,15)
... porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como o
ladrão de noite. ( 1Ts 5,2)
De qualquer forma, não se afligir como os que não têm esperança significa que
seria um desatino se afligir por uma realidade inexistente, quando se tem todo motivo
para esperar uma bem- aventurada realidade.
83
DUNN, James D. G. A teologia do apóstolo Paulo . Paulus: São Paulo, 2008, p. 351.
85
mesma forma crer na ação de Deus que será indicada a seguir (Deus conduzirá com ele),
mas também sugere a crença na morte e ressurreição como um credo entre os cristãos
tessalonicenses. Tal condição implica em crer (pisteu,ein) na morte e ressurreição
de Jesus. Paulo emprega 54 vezes o verbo pisteu,w,, mas 142 vezes aparece o
substantivo pi,stij (fé) e 33 vezes o adjetivo pisto.j (“fiel”, “digno de
confiança”) de modo a ressaltar no vocabulário paulino o valor da fé para a vida cristã.
Em suas cartas, o tema do crer na morte e ressurreição de Jesus aparece nos contextos
de Rm 6,8; 8,34; 14,9; 2Cor 5,15) sugerindo uma profissão de fé que fornece aos
crentes privilégios e benefícios para a vida presente e futura, embora o termo para
ressurreição varie entre avni,sthmi,,, evgei,rw e za,w. De qualquer forma,
essa citação de Paulo sugere uma síntese da fórmula de credo – como podemos
constatar em 1Cor 15,3-5: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi:
que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que foi visto por Cefas e depois
pelos doze” – que já existia possivelmente antes de Paulo. Green84 afirma que a morte
de Cristo, mencionada em conjunto com sua ressurreição, ocupa o centro da imagem
paulina do evangelho. De forma semelhante Dunn85 afirma categoricamente que o
centro de gravidade da teologia de Paulo encontra-se na morte e ressurreição de Jesus.
Muitos pesquisadores da mesma forma salientam a importância dessa temática em
Paulo. A maneira como ocorre aqui pode sugerir que já existisse naquela ocasião a ideia
subjacente do batismo ligado à ideia de morte e ressurreição, que irá aparecer em cartas
paulinas posteriores, como por exemplo Rm 6,3-4: “Ou não sabeis que todos quantos
fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos
sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos
mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida”, ou ligado
à ideia de união, como acontece em Gl 3,26,27: “Porque todos sois filhos de Deus pela
fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de
Cristo”. Albert Schweitzer86 atentou para o significado do batismo para Paulo em sua
ligação com a redenção, levada a efeito a partir do morrer e ressuscitar como promotor
de união entre Cristo e o fiel, de maneira que este tem o caminho preparado para
participar da glória de Cristo. Portanto, para ele o morrer e ressuscitar de Cristo deve ser
84
GREEN, J. B. Dicionário de Paulo e suas Cartas. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 852.
85
DUNN, James D. G. A teologia do apóstolo Paulo . São Paulo: Paulus, 2008, p. 251.
86
SCHWEITZER, Albert. O misticismo de Paulo Apóstolo. São Paulo: Editora Novo Século, 2003, p. 319.
86
entendido através do batismo que torna o cristão um “corpo em Cristo” e isso num
sentido literal, uma vez que a abordagem de Schweitzer é a partir de sua compreensão
do misticismo87 paulino como pano de fundo para entender os escritos paulinos.
Todavia, mesmo que não se queira ver a expressão em 1 Tessalonicenses pela
contribuição de Schweitzer, há que se levar em conta que nela é bastante possível haver
alusões ligadas a um credo.
87
Para Schweitzer, o misticismo de Paulo é um misticismo em Cristo e não em Deus, como na cultura
helênica.
88
MARSHALL, I. Howard. I e II Tessalonicenses. Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida
Nova e Mundo Cristão, 1983, p. 151.
89
DOBSCHÜTZ, E. von. Die Thessalonischerbriefe (Kritisch-Exegetischer Kommentar. Göttingen: 1909,
reimpresso em 1974.
90
Apud MARSHALL, I. Howard. I e II Tessalonicenses. Introdução e Comentário. São Paulo: Edições
Vida Nova e Mundo Cristão, 1983, p.152.
87
O verbo a;xei pode ser traduzido por conduzir, levar, carregar, trazer; de
maneira que cada pesquisador provavelmente o traduzirá de acordo com sua própria
teologia. Assim, I. Howard Marshall afirma que “Deus trará os mortos para o lugar
onde Jesus se encontrará com os crentes vivos na Parusia”. Segundo, o mesmo autor,
Ellingworth91 e Nida sustentam que os mortos são levados para o céu, uma vez que
Deus não vem do céu para a terra, e os mortos ainda não estão no céu92, entendendo-o
em conexão com o v. 16 (“os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”) da
mesma perícope; entretanto, o motivo pelo qual Marshall se mostra contrário a essa
compreensão (traduzindo a;xei pelo verbo trazer) está relacionada à sua crença de que
a vinda de Jesus do céu para a terra tem a ver com a restauração do mundo que será
liberto da corrupção, conforme Rm 8, 21, onde será o futuro do povo de Deus (numa
terra renovada e não no céu). Willian Hendriksen93, por outro lado, diz que aqui está em
vigor o raciocínio paulino de Rm 8,11: “Se o Espírito daquele que dos mortos
ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também
vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita”, por isso Deus os
compelirá a virem com Jesus, do céu, ou seja: ele trará do céu suas almas, de modo que
possam reunir -se rapidamente (num piscar de olhos) com seus corpos, e assim partirão
para encontrar o Senhor nos ares, a fim de permanecerem com ele para sempre. A
mesma ideia de Hendriksen se encontra em 1Ts 3,13: “Na vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo com todos os seus santos”. Destarte, são interpretações diversas que encontram
sustentação na múltipla possibilidade de tradução do verbo a;xei. Quanto ao lugar da
reunião permanente dos cristãos com Cristo (se no céu ou na terra), parece não ter sido a
maior preocupação de Paulo na perícope; seu maior objetivo era cons olar os aflitos
diante da possibilidade de que os mortos ficassem separados de Cristo e dos cristãos
ainda vivos na parusia.
91
ELLINGWORTH, P. & NIDA, E. A Translator’s Handbook on Paul’s Letters to the Thessalonians
(Helps for Translators). Stuttgart: 1975.
92
Uma vez que os mortos não estão no céu como podem ser trazidos de lá.
93
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. 1 e 2 Tessalonicenses. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1998, p. 168.
88
94
David Wenham, por exemplo, em seu livro Paul: follower of Jesus or founder of christianity? (Grand
Rapids: W. B. Eedmans, 1995, p. 305-328) tenta demonstrar a existência de um discurso escatológico
pré-sinótico que circulava nas igrejas primitivas e que Paulo poderia ter usado; nas p. 332-333 escreve
sobre as sugestões e possibilidades de compreensão acerca desta “palavra do Senhor”.
95
RIGAUX, B., Saint Paul. Lês Épître aux Thessaloniciens (Études Bibliques), Paris/ Gembloux, 1956.
Apud Marshall.
96
FRAME, J. E. The Epistles of St Paul to the Thessalonians (International Critical Commentary),
Edimburgo: 1912.
97
MORRIS, L. The First and Second Epistles to the Thessalonians (New International Commentary),
Grand Rapids: 1959.
98
JEREMIAS, J. Unknown Saying of Jesus. Londres: 1964. Apud Marshall.
99
DUNN, James D. G. A teologia do apóstolo Paulo . São Paulo: Paulus, 2008, p. 356.
100
KIM, S. Dicionário de Paulo e suas Cartas. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 716.
89
101
KITTEL, Gerhard. Theological Dictionary of the New Testament. Vl.I. Grand Rapids: Eerdmans, 1969,
p. 858-868.
100
PLEVNIK, J. Paulo and the Parousia. An exegetical and theological investigation. Massachusetts:
Hendrickson Publishers, 1997, p. 89.
101
Apud DEISSMANN, A. Light The New Testament Illustrated by recently Discovered Texts of the
Graeco-Roman World, 1927, p. 368-373.
102
Apud PETERSON, E. Die Einholung des Kyrios (1 Thess., IV,17). ZST7 (1929-30), p. 682-702.
103
Apud CERFAUX, L. Christ in the Theology of St. Paul. New York: Herder & Herder, 1959, p. 32-44.
104
Apud HOT Z, T. 1 Thessalonicher. Der erste Brief na die Thessalonicher. EKKNT 13. Zurich: Benziger,
1986, p.203.
90
outros, o termo parousia tem sido ligado ao seu significado na cultura imperial
helenística. De maneira que se tornou corrente interpretar o termo parousi,an em
1Ts 4,15 com o sentido técnico-político da época. Recentemente duas obras também
comentam o uso do termo parousia nessa mesma corrente: são elas Paulo e o
Império107, de Richard A. Horsley, e Em busca de Paulo, de John D. Crossan e Jonathan
L. Reed. Entendem o termo parousia como a chegada à cidade de generais
conquistadores, oficiais importantes, emissários imperiais ou até mesmo do imperador.
Tal visita seria uma boa ou má notícia de acordo com a relação que esta cidade tivesse
com o visitante. Crossan sugere que, nesse caso, a palavra poderia ser usada no sentido
de uma visitação. A visitação do imperador era um evento único, uma ocasião festiva e,
em tempos de guerra, seria algo um tanto quanto ameaçador. Sob a Pax Romana, seria
ocasião festiva e exigiria preparação para o sacrifício cívico, festividades aristocráticas e
celebrações populares, como também a saudação das elites e do povo com as portas da
cidade abertas em forma de submissão. Com base nesse tipo de compreensão, outro
termo também reforça a ideia, qual seja, parousi,a (encontro), que pertenceria ao
mesmo domínio técnico político, e descreve os aspecto receptivo de festa formal no
mesmo acontecimento relatado acima, em que a comunidade vai ao encontro
(avpa,nthsin) do dignatário, une- se a ele e com ele volta à cidade para festejar.
Assim, fundamentando-se nesses dois termos de âmbito público, têm sido feitas as
interpretações acerca da vinda de Cristo nesta passagem. Afinal pensa-se que, se Paulo
então faz uso desses termos conhecidos, bem como a própria ideia que evoca, é para
tornar mais claro o entendimento de seus destinatários a respeito do evento. Entretanto,
tem-se dado um passo além ao se interpretar que Paulo esperava que, após a reunião
entre os fiéis e Cristo, juntos eles voltariam par a o reino de Cristo nesta terra, agora um
mundo transformado. Todavia, Paulo não se preocupa em esclarecer
pormenorizadamente o acontecimento aqui, antes enfatiza a união entre Cristo e os fiéis.
Isso para ele é suficiente; ir além disso nesse texto é entr ar por caminho especulativos.
Outrossim, ao usarmos as passagens de Fl 3,20 ( “Mas a nossa cidade está nos céus, de
onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo”) e 2Cor
5,1-8, onde Paulo fala de um edifício no céu em contraste com a morada terrestre
(“Sabemos, com efeito, que se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída,
teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas...
107
HORSLEY, Richard A. Paulo e o Império. São Paulo: Paulus, 2004.
91
Sim, estamos cheios de confiança, e preferimos deixar a mansão deste corpo para ir
morar junto do Senhor... ) para interpretar esse tipo de evento, veremos que o reino que
Paulo esperava poderia não ser aqui nesta terra.
Bem- aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias.
(Dn 12,12)
Compreenda, portanto, que aqueles que são deixados são mais bem-
aventurados do que aqueles que morreram. (4Esd 13,24)
Se for esse o caso dos tessalonicenses, isso explicaria o porquê da tristeza deles e
também da ênfase de Paulo em que os mortos não estariam em desvantagem. Também
apontaria que Paulo era contrário a esse tipo de crença; deste modo, permanece a
possibilidade de que Paulo teria elaborado sua escatologia a partir de sua experiência
pré-cristã no judaísmo rabínico em confronto com as tradições de Jesus.
108
TURNER, S. The Interim, Earthly Messianic Kingdom in Paul. JSNT 25.3 (2003), p. 327) .
109
MARSHALL, I. Howard. I e II Tessalonicenses. Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida
Nova e Mundo Cristão, 1983, p. 155.
92
After the conjuntive o[ti, hoti clarity of the picture disappears: it is not
clear who gives the command, to whom the comman d is given, or how the
command relates to the other two motifs. Do the last two motifs, the voice of
the archangel and the trumpet of God, explicate the first one? Is the
ke,leusma taken up by the voice of the archangel and by the trumpet of
God? It is also not clear for whom all this is meant.1 1 1
evn fwnh/| avrcagge,lou. Prevnik 113 afirma que essa expressão indica
uma outra circunstância de acompanhamento na vinda de Cristo em que o arcanjo (ser
celestial dotado de poder, com anjos sob sua responsabilidade) pode estar relacionado à
palavra anterior ke,leusma, e envolve a noção de repreensão aos inimigos de Deus.
Contudo, o termo também faz parte do séquito do Senhor, numa semelhança com 1Ts
3,13, em que Jesus virá “com todos os santos”, referindo-se aos anjos114; em 2Ts 1,7115
o Senhor Jesus será revelado no céu “com seus anjos poderosos”. Esse tema aparece
110
PLEVNIK, J. Paulo and the Parousia. An exegetical and theological investigation. Massachusetts:
Hendrickson Publishers, 1997, p. 45-50.
111
NEPPER-CHRISTENSEN, P. Das ver borgene Herrenwort: Eine Untersuchung über 1. Thess. 4,13-18.
ST 19 (1965), p. 136-54, apud Plevnik.
112
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. 1 e 2 Tessalonicenses. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1998, p.171-172.
113
PLEVNIK, J. Paulo and the Parousia. An exegetical and theological investigation. Massachusetts:
Hendrickson Publishers, 1997, p. 50-57.
114
Embora a interpretação aqui seja bastante controversa, cf. expõe Plevnik em nota na p. 51.
115
Plevnik considera 2 Tessalonicenses uma carta paulina.
93
também nos relatos sinóticos sobre a vinda do Filho do homem, cf. Lc 9,26, “o Senhor
virá na glória dos santos anjos”, enquanto Mc 8,38 e Mt 16,27 também mencionam a
vinda “com os santos anjos”. E ainda de acordo com Mt 13,41.49, o Filho do homem
enviará seus anjos para reunir os eleitos e separar os maus entre os justos (cf. Ap 10,7;
11,15). Essa crença também se assemelha à teofania e ao dia do Senhor: este é descrito
como vindo com seus exércitos de anjos em Dt 33,2-3, ou mesmo em escritos
pseudepígrafos como En 1,4-9; 60,1-2. De maneira que Plevnik116 associa e entende que
a imagem de “voz de arcanjo” sobre o pano de fundo da tradição da vinda do Filho do
Homem aponta para a sugestão de juízo divino, embora em 1Ts 4,16 não haja
desenvolvimento dessa ideia. Diferentemente de Plevnik, Hendriksen117 acredita que a
voz de arcanjo, embora seja algo distinto do “grito de comando”, possui a mesma
função-sinal de ressuscitar os mortos.
Segundo Plevnik 118, a LXX traduz sete palavras hebraicas por sa,lpigx,
porém a mais frequente é chifre (rp'Av,, sôpar); tema que aparece na tradição da
116
Ibidem, p. 58.
117
Ibidem, p.173.
118
PLEVNIK, J. Paulo and the Parousia. An exegetical and theological investigation. Massachusetts:
Hendrickson Publishers, 1997, p. 57-58.
119 a
Von Rad, G. Der Heilige Krieg im alten Israel. ATANT 20. Zürich: Zwingli, 1951. 3 ed. Göttingen:
Vandenhoeck & Ruprecht, 1958. ET: Holy War in Ancient Israel. Edited by M. J. Dawn. Grand Rapids:
Eerdmans, 1991, apud Plevnik.
94
9,1.13.14; 10,7 o som da trombeta está ligado a descrições de punição que precedem o
final dos tempos, e em 11,15, ao final de todas as coisas. Diante dessas constatações,
Plevnik conclui que a frase “em trombeta de Deus” é parte de uma disposição
paratática; carrega, juntamente com as expressões já mencionadas, a provável indicação
de que a intervenção de Deus no fim dos tempos será em poder. Jesus virá em poder,
autoridade e glória de Deus para reunir os fiéis. E é provavelmente essa a ideia que
Paulo quis transmitir à sua comunidade. Tanto Hendriksen120 quanto Marshall 121
chegam a conclusões semelhantes acerca dessa expressão.
120
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. 1 e 2 Tessalonicenses. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1998, p. 173- 174.
121
MARSHALL, I. Howard. I e II Tessalonicenses. Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida
Nova e Mundo Cristão, 1983, p. 157-158.
122
TRIMAILLE, Michel. A Primeira Epístola aos Tessalonicenses (Cadernos Bíblicos). São Paulo:
Paulinas, 1986, p. 86.
123
SEIFRID, M. A. Dicionário de Paulo e suas Cartas. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 453- 457.
95
124
PLEVNIK, J. Paulo and the Parousia, p. 82.
125
MARSHALL, I. Howard. I e II Tessalonicenses. Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida
Nova e Mundo Cristão, 1983, p. 159.
126
BEST, E., A Commentary on the First and Second Epistles to the Thessalonians (Black’s New
Testament Commentaries). Londres: 1972, apud Marshall.
96
127
KITTEL, Gerhard. Theological Dictionary of the New Testament. Vl.I. Grand Rapids: Eerdmans, 1969,
p. 472.
128
TRIMAILLE, Michel. A Primeira Epístola aos Tessalonicenses (Cadernos Bíblicos). São Paulo:
Paulinas, 1986, p. 91.
97
excepcional, o êxito final de uma vida notável. Plevnik, que pesquisou sobremodo a
questão do imaginário paulino da parousia, chama a atenção para o uso do termo “em
nuvens”, o qual não ocorre no v. 16 (onde ocorre a maior parte do imaginário
apocalíptico na passagem), e sim aqui no v.17; seu uso não está de acordo com as
circunstâncias da vinda do Senhor nos sinóticos, que demonstram dependência de Dn
7,13 (“eis que vinha nas nuvens do céu um como filho do homem”); cf. Mc 13,26
(“verão vir o Filho do Homem nas nuvens”); Mt 24,30 (“e verão o Filho do Homem
vindo sobre as nuvens do céu”); Lc 21,27 (“verão vir o Filho do Homem numa
nuvem”); e também Ap 1,7 (“Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá”). Em
14,14-16 (“eis uma nuvem branca e assentado sobre a nuvem”) as nuvens parecem ser o
trono do Filho do Homem, enquanto que em 10,1 (“vi outro anjo forte, que descia do
céu, vestido de uma nuvem”) parece envolver o anjo poderoso vindo do céu.
Diferentemente, em 1Ts 4,17 são os crentes (tanto ressurretos quanto os que não
passaram pela morte) que serão apanhados “em nuvens” para encontrarem o Senhor nas
alturas. Portanto, esta imagem é única no NT.
130
PLEVNIK, J. Paulo and the Parousia. An exegetical and theological investigation. Massachusetts:
Hendrickson Publishers, 1997, p. 62.
131
Ibidem, p. 89.
132
DUPONT, J. S?N CRISTWI: L’union avec le Christ suivant saint Paul. Louvain: Nauwelaerts. Paris:
Desclée de Brouwer, 1952, p. 77-79.
133
MOORE, A.L. I and II Thessalonians. Greenwood: The Attic Press Inc., 1969, p. 72.
134
OTTO, R. E. The Meeting in the air (1Thess. 4,17), HBT 19 (1997), p. 192-212).
135
Otto cita Athanasius, Life of Antony 66, onde Antônio tem uma visão na qual as almas em ascensão
tentam evadir- se de um grande monstro (o diabo). O monstro pode pegar apenas aquelas almas que já
pertencem a ele, mas aqueles que fracassaram em vencer enquanto vivos passam a pertencer a ele.
99
e Deus (cf. Ap 12,7-12; Martírio de Isaías 7,9). Otto136 declara concordar com Morris137
que o encontro do Senhor nos ares (a morada dos demônios) significa seu domínio
completo sobre o mal. Afirma que, nesse texto, o arrebatamento e o encontro
(avpa,nthsij) não devem ser entendidos literalmente, mas como representação
simbólica da batalha final de Cristo e os poderes das trevas que se opõem a ele e seu
povo.
Conclusão da exegese
136
OTTO, R. E. The Meeting in the air (1Thess. 4,17), HBT 19 (1997), p. 192-212).
137
MORRIS, L. The First and Second Epistles to the Thessalonians (New International Commentary),
Grand Rapids: 1959, p. 136.
100
que ele nem entra em detalhes acerca do evento da vinda, não mencionando, por
exemplo, onde será a vida eterna com Cristo; sua preocupação é consolar os aflitos.
Mesmo no capítulo 5, em que fala da forma repentina como o Dia do Senhor virá,
esclarece que os fiéis (filhos da luz) não ser ão surpreendidos (v. 4.5) porque, quer na
vigília ou no sono, devem viver em união com Cristo (v. 10). Por isso, não há motivo
para pensar que a passagem seja um compêndio de escatologia paulina e fundamento
para posições doutrinárias. Conquanto uma das principais passagens usadas para
fundamentar o ensino do arrebatamento coletivo seja justamente 1Ts 4,13-18, com 1Cor
15,50-52 e Fl 3,21, entre outras, conforme foi possível perceber, o termo
a`rpaghso,meqa (seremos arrebatados) comporta um forte sentido de
transformação e transfiguração, para ter o mesmo corpo glorioso de Cristo. Mesmo
porque, quando ligada aos textos que falam do mesmo assunto, o arrebatamento seria
apenas uma transformação que ocorre dentro do evento da vinda de Cristo, não podendo
de forma alguma ser considerado um acontecimento à parte disso – é necessário haver a
ressurreição dos mortos em Cristo, previamente, para que todos junto possam estar para
sempre com o Senhor. Outra inconsistência na doutrina do arrebatamento coletivo: não
é pos sível perceber a ressurreição dos cristãos mortos, o que força a crer que a
ressurreição dos mortos em Cristo não é perceptível aos que ficarem. Isso sugere uma
ressurreição apenas em espírito, algo que afronta o ensino paulino, apesar da dificuldade
apresentadas pelas passagens que tratam da ressurreição.
1
Kai. ei=don a;ggelon katabai,nonta evk tou/ ouvranou/
e;conta th.n klei/n th/j avbu,ssou
a ele para o abismo e fechou e selou sobre ele, para que não enganasse
as almas dos que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e por causa
Os restantes dos mortos não viveram até que fosse completado os mil anos.
6
Au[th h` avna,stasij h` prw,thÅ maka,rioj kai. a[gioj o`
e;cwn me,roj evn th/| avnasta,sei
102
a primeira, sobre estes a segunda morte não tem autoridade, mas serão sacerdotes
1
E vi
e fechou
mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele [os] mil anos.
É interessante notar que no Apocalipse, um livro que reserva grande espaço para
relatar “as coisas que brevemente devem acontecer”, não trata do arrebatamento da
Igreja, pelo menos não explicitamente, muito menos nos moldes paulinos; a única vez
em que o verbo a`rpa,zw, rapto, aparece é em 12,5138, num contexto totalmente
diferente do assunto em voga. Entretanto, no ensino escatológico de que o
arrebatamento da Igreja faz parte, Ap 20,1-6 é extremamente importante, pois também
faz parte da sequência de eventos esperados para o fim. O milênio é um assunto
exclusivo do Apocalipse e não aparece em nenhuma outra parte do NT. O tema do
milênio tem promovido múltiplas expectativas ao longo dos séculos, a despeito da
dificuldade de compreensão que a passagem e o livro de Apocalipse inteiro suscitam,
devido à sua característica simbólica e alegórica. O impasse a respeito da interpretação
literal ou simbólica do livro sempre esteve presente na comunidade de fé.
138
“E deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi
arrebatado para Deus e para o seu trono” (Ap 12,5).
104
Apocalipse 20,1-6 relata a visão de João concernente aos mil anos, durante os
quais os fiéis reinarão com Cristo. Todavia, para que isso ocorra, a visão deixa claro que
é preciso1 3 9 que Satanás seja preso, impedido de agir enganando as nações. Por isso
João vê o Anjo descer do céu com a chave do abismo e uma grande corrente para
prender Satanás. Entretanto, este evento não é final. Pois Satanás será solto ainda por
um pouco de tempo para retomar suas atividades. Na sequência da primeira visão,
ocorre a segunda, em que João avista tronos e pessoas que recebem autoridade para
julgar. Vê também as almas dos que foram degolados por causa do testemunho de Jesus
e da palavra de Deus, e de todos que não adoraram a besta nem a imagem dela, nem
receberam marcas sobre a fronte e a mão. Todos viveram e reinaram com Cristo os mil
anos. Os últimos versículos (5-6) tratam de explicações a respeito das visões e narram
acontecimentos paralelos.
139
Eugênio CORSINI atenta para o uso do Apocalipse a respeito da necessidade de certos acontecimentos
(cf. 1,1; 4,1, “as coisas que devem acontecer”), os quais na verdade, querem indicar a maneira infalível e
irrefreável como se realizam os desígnios de Deus, especialmente o mais importante deles, ou seja, o
plano da salvação. O Apocalipse de São João. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 352-353.
105
João vê, então, tronos e pessoas que se sentam sobre eles, as quais
recebem autoridade para julgar. Prigent1 4 2 chama a atenção aos paralelos que ocorrem
com os termos e imagens do capítulo 20 em relação ao livro todo, bem como com
tradições veterotestamentárias. Quanto aos tronos do v. 4, Prigent1 4 3 afirma terem sido
inspirados na tradição de Dn 7,9 do Ancião de Dias e do Filho do homem que julgam e
reinam, e onde os santos recebem a realeza. Vasconcellos 1 4 4 salienta que, embora não
seja a primeira vez que João veja tronos no Apocalipse, é a única vez que ele vê muitos
tronos, e dessa vez não ao redor do trono de Deus,; um paralelo interessante
140
ERDMAN, Charles R. Apocalipse de João. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1960, p.12.
141
Agarrou, amarrou, lançou, fechou, selou.
142
PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. São Paulo: Loyola, 1993, p. 354-355.
143
Ibidem p. 365.
144
VASCONCELLOS, Pedro L. A vitória da vida: milênio e reinado em Apocalipse 20,1-10. Revista de
Interpretação Bíblica Latino-Americana 34. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 86.
107
encontramos em Mt 19,28145 . Contudo, tão importante quanto esses muitos que irão
julgar, é a identificação que o texto faz deles, isto é, eles são “os que foram degolados
por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, não adoraram a besta nem sua
imagem e não receberam a marca na fronte e na mão”. São também “os que viveram e
reinaram com Cristo os mil anos”. Parece estar ligada à tradição dos santos que julgam
o mundo (cf. Mt 19,28; Lc 22,30; 1Cor 6,2). Porém, aqui parecem ser mais do que fiéis;
afinal, são também mártires, pois levaram sua fé às últimas consequências, a ponto de
serem degolados. Segundo Prigent, é importante notar que o verbo peleki,zw,
empregado para especificar os mártires, significa decapitar com machado, suplício
usado na Roma republicana, não porém na Roma imperial (que preferia a espada). Seria
por influência do procedimento antigo que João usou tal termo, ou ele estava pensando
nos grandes mártires do passado? Infelizmente, não há como afirmar peremptoriamente
este particular. Somente es tá claro que foram mortos por sua fé. Prigent146 ainda suscita
a dúvida de se “as almas dos decapitados (no acusativo) seriam as mesmas dos que não
adoraram a Besta etc.”, visto que está no nominativo, como se tratasse de sujeitos.
Porém, não há necessariamente desarmonia no pensamento de João, e é preciso levar
em conta os erros de construção gramaticais do grego do Apocalipse joanino; por isso,
há que se conviver com essas dificuldades. Além do que, mesmo os que não foram
degolados, mas não adoraram a Besta, nem sua imagem ou não receberam marcas na
fronte e nas mãos (cf. 13,15-17) podem ser considerados dignos de morte pela decisão
que tomaram. Destarte, as questões que surgem são do tipo: somente os mártires
viveram e reinaram? E os cristãos que morreram de outras formas? Levando em conta o
forte apelo de João no decorrer da obra à radicalidade da fé em Cristo, a vitória dos
perseverantes e o julgamento parecem indicar que somente os que
foram degolados por causa do testemunho de Jesus e por causa da palavra de
Deus e todos que não adoraram a besta nem a imagem dela e não receberam a
marca sobre a fronte e sobre a mão deles
145
“Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar
no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (Mt
19,28).
146
Ibidem, p. 366.
147
Cf. PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. São Paulo: Loyola, 1993, p. 366.
108
148
A primeira morte obviamente seria a morte física, natural.
149
Ibidem, p. 367.
150
Tal interpretação parece estar de acordo com Ap 20,13: “E deu o mar os mortos que nele havia; e a
morte e o inferno deram os mortos que neles havia”, onde os locais de habitação dos mortos são
mencionados.
151
VIELHAUER, Philip . Historia de la literatura cristiana primitiva, p. 522, apud VASCONCELLOS,
Pedro L. A vitória da vida: milênio e reinado em Apocalipse 20,1-10. Revista de Interpretação Bíblica
Latino-Americana 34. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 90.
109
Como fazer convergir Paulo e João, uma vez que não há menção de
arrebatamento coletivo em João? Deve-se partir do momento em que os mortos
ressuscitam e os vivos são transformados, e considerar que a ressurreição dos mártires
equivale à ressurreição de todos os cristãos (os quais morreram em Cristo). O reino em
Paulo deverá ser temporário, o que não se confirma. E os ressurretos que reinam com
Cristo são imortais152, contudo, convivem com as nações, já que após os mil anos as
nações se voltam contra a cidade santa. A menos que se considere que os cristãos
ressurretos vivam um modo de vida celestial, como anjos, reinem em outra dimensão –
mas então, quem são os santos que vivem na cidade santa, contra quem Gog e Magog
irão se opor?
152
No entanto, cf. 20,9: “E subiram sobre a largura da terra e cercaram o arraial dos santos e a cidade
amada; mas desceu fogo do céu e os devorou”, convivem com as nações que continuam presumivelmente
a viver no modo de vida terrena, uma vez que não passaram pela primeira ressurreição e após serem
seduzidas por Satanás (para a última peleja) serão mortos, consumidos pelo fogo.
110
Paulo não esboça um reino temporário, pois os fiéis estarão para sempre com o
Senhor, nem tampouco o lugar onde estarão é esclarecido, se na terra ou no céu. Já em
Apocalipse 20 o reino é temporário e terreno. Em Paulo, a primeira ressurreição é dita
em relação aos que estiverem vivos e devem ser transformados; não há menção de
segunda ressurreição. Já em Apocalipse 20, o ressuscitar primeiro, está dito, em relação
à segunda ressurreição para o julgamento, e não aos vivos. A abordagem de ambos os
111
textos também deve sofrer interferência ligada à forma literária em que se encontram,
uma sendo parte dum sermão exortativo e outra um relato de visão.
CONCLUSÃO
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