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Plano de aula

Tema: Globalização e cultura

Candidato: Nicolau Dela Bandera Arco Netto

Público Alvo: Estudantes do 3o ano do ensino médio integrado aos cursos técnicos

Tempo previsto da aula: 40 minutos

Apresentação do Tema:
O termo globalização é empregado para a compreensão de diversos fenômenos
heterogêneos, com impacto em várias dimensões da vida social. Os estudantes do ensino
médio já devem ter se deparado com esse termo em outras disciplinas, tais como a história e a
geografia. Qual seria a contribuição específica da sociologia ao lidar com o fenômeno da
globalização? Em primeiro lugar, cabe destacar o estudo dos efeitos sociais, culturais,
econômicos e políticos da globalização. Como destacado por diversos autores (Boaventura de
Souza Santos, Pierre Bourdieu, Zygmunt Bauman, David Harvey), a globalização não
produziu os efeitos benéficos previstos por seus ideólogos: uma integração mundial das
diferentes nações, maiores oportunidades econômicas e uma redução das desigualdades, um
acesso facilitado às informações etc. Pelo contrário, nos últimos trinta anos, a desigualdade
entre os países e no interior deles aumentou exponencialmente. Uma questão tipicamente
sociológica, portanto, seria: a globalização, a liberalização dos mercados, é boa para quem?
Não se trata tão somente de entender a globalização como um fenômeno essencialmente
econômico, mas de estudar suas consequências nas relações sociais, na produção e
intensificação das desigualdades sociais.
Além disso, será importante abordar os efeitos da globalização em relação às culturas
locais. No começo dos anos 1990, muitos intelectuais diagnosticaram a possibilidade de que
com a globalização haveria uma maior homogeneização cultural no mundo: todos viveriam e
adotariam um estilo norte-americano de vida, baseado no consumismo, no individualismo.
Contudo, passados mais de 20 anos do momento triunfal da tese da globalização – baseada
sobretudo na euforia dos mercados capitalistas com a queda do muro de Berlim e o fim da
URSS –, o que se observa no mundo não é necessariamente uma maior homogeneidade

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cultural, mas sim uma proliferação de novas identidades culturais e políticas, bem como uma
heterogeneidade cultural crescente. Iremos abordar nesta aula especificamente essa dimensão
cultural da globalização (a relação entre o local e o global na produção dos significados
culturais), sem deixar de atentar para as dimensões econômicas e políticas do fenômeno.
Para acompanhar esta aula, é importante que os estudantes já tenham um
conhecimento sobre as discussões antropológicas sobre o conceito de cultura. Em diversas
oportunidades, associarei o debate contemporâneo sobre a relação entre cultura e
globalização com as discussões clássicas sobre a ideia de cultura. Por exemplo, veremos que
mais do que o isolamento, o que produz a diferença e a alteridade cultural entre diferentes
povos indígenas, como demonstrado por Lévi-Strauss, é o contato e as trocas.
Ademais, esta aula insere-se em uma sequência didática. Todo seu potencial
formativo advém justamente de sua articulação com outros temas e conceitos sociológicos
que serão abordados em aulas anteriores e posteriores. A aula não se fecha, assim, em si
mesma. Antes desta aula, com foco na relação entre globalização e cultura, os estudantes já
terão visto a discussão sobre a globalização econômica e as transformações sociais
provocadas pelo neoliberalismo. Nesta aula, irei apresentar e discutir com os estudantes as
transformações no mundo do trabalho e na organização da produção capitalista, do fordismo
ao toyotismo, e suas consequências na sociabilidade contemporânea, como a compressão do
tempo-espaço (David Harvey). Em seguida a esta aula, desenvolverei a discussão sobre os
movimentos alter-mundistas (as manifestações de Seattle, o Fórum Social Mundial, o Occupy
Wall Street etc.), apenas enunciada na presente aula.

Objetivos da aula:
Com esta aula, busca-se apresentar para os estudantes as consequências culturais da
globalização. Espera-se que os estudantes sejam capazes de articular as discussões mais
abrangentes sobre as dinâmicas da globalização com as situações cotidianas por eles
vivenciadas, de modo a compreender a interconexão entre diferentes escalas (a local, a
regional, a nacional, a transnacional e a global). Assim, busca-se problematiza inclusive a
oposição entre o local e o global, apresentando como muitas atividades culturais das quais
participamos constituem-se como um híbrido do local e do global, não apenas na atualidade,
mas também no passado.
Espera-se ainda problematizar nesta aula a oposição entre o novo e o velho em relação
à globalização. Certas interpretações salientam que a globalização não é um fenômeno
inteiramente novo, que fluxos migratórios, trocas de mercadorias e de informações já se

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constituem como globais desde a expansão do capitalismo por meio do colonialismo. Assim,
tomando distancia em relação ao presente, será possível visualizar o que há de novo e o que há
de contínuo nos processos de globalização. Outras interpretações, como veremos, salientam
que ainda que não seja inteiramente um fenômeno novo, a globalização intensificou o fluxo de
pessoas, informações e bens no mundo. Essa intensificação possui consequências em relação à
produção cultural e às políticas de identidade na contemporaneidade.
Por fim, espera-se que ao final desta aula os estudantes possam entender um pouco
melhor as políticas de identidade que cercam as disputas em relação à cultura em um mundo
global. Como veremos, muito mais do que uma concepção universal do indivíduo, cada vez
mais as pessoas se apegam a certas tradições e particularismos para tentar lutar e resistir a
certas tendências de homogeneização no mundo. Se em um certo período acreditou-se que com
a globalização seria possível ultrapassar as fronteiras nacionais e étnicas, constituindo-se assim
uma “aldeia global”, o que observamos nas últimas décadas é um fortalecimento e uma
transformação contínua das fronteiras.

Conteúdo programático
A aula começa com uma retomada e revisão do que vimos na aula anterior, onde
abordamos em maiores detalhes as dimensões econômica e política da globalização. Dentre
tais elementos, cabe destacar a transformação do capitalismo, que passou por um processo de
financeirização, de flexibilização das relações de produção e de trabalho (adoção do
toyotismo). No âmbito político, o neoliberalismo redefiniu a atuação dos estados nacionais,
diminuindo sua atuação nas áreas sociais e na própria economia, ao passo que reforçou a
atuação dos estados nas políticas de segurança (a mão direita do Estado, segundo Bourdieu e
Wacquant).
Uma das consequências políticas geradas pela globalização refere-se, segundo vários
analistas, ao enfraquecimento do estado-nação, sobretudo com o fortalecimento de instituições
internacionais como a ONU e o Banco Mundial, a União Europeia. Esse era o diagnóstico dos
anos 1980 e 1990. Com o desenvolvimento das empresas transnacionais, algumas delas com
faturamento e receitas maiores do que o de muitos países, pensou-se que uma nova governança
mundial estaria se constituindo, passando ao largo da atuação dos Estados. Contudo, na última
década, esse enfraquecimento dos estados-nação não é mais tão evidente. No ano passado, por
exemplo, a saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Trump nos EUA com um
discurso claramente nacionalista e contra as agências internacionais traz de volta à cena o papel
central dos Estados. Além disso, as políticas neoliberais por parte de diversos estados

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nacionais, financiadas e supervisionadas pelas agências do FMI e do Banco Mundial, não
acarretaram um enfraquecimento do Estado em todas as suas áreas de atuação. Como bem
destacou Bourdieu, ao mesmo tempo em que há um receituário de que o Estado deve reduzir
seus investimentos nas áreas sociais (saúde, educação, previdência social etc.), as políticas
neoliberais fortalecem a atuação do braço direito do Estado, ou seja, das políticas de segurança
e encarceramento, bem como a atuação nas áreas das finanças.
Como destacado por Zygmunt Bauman, a mobilidade acarretada pela globalização não
é universal, ela não atinge a todas as classes sociais. Enquanto certos executivos das empresas
transnacionais e as próprias companhias podem facilmente escolher onde morar e se mudar de
acordo com os lucros proporcionados pelos países, os trabalhadores do mundo estão ainda
presos a certos territórios, sem conseguir ter uma mobilidade tão acentuada. A contraface
apresentada da mobilidade de certos grupos sociais é o encarceramento em massa ocorrido em
diversos países. O encurtamento das distâncias e dos intervalos de tempo é uma realidade para
uma pequena parcela da população, com mobilidade internacional. Assim, o estudo sociológico
da globalização precisa abordar as desigualdades que ela cria.
Com a globalização, as grandes empresas adquiriram um tal poder de mobilidade,
redução de mão de obra e capacidade de negociação – podendo deslocar suas plantas para
qualquer lugar onde paguem os menores salários, os menores impostos e recebam os maiores
incentivos -, que tanto a sociedade como o Estado se tornaram seus reféns.
A globalização produz várias consequências culturais. Uma das consequências mais
evidentes refere-se à ideia de um imperialismo cultural que ocorreria atualmente, sobretudo
proveniente da hegemonia das formas culturais produzidas nos EUA em relação ao restante do
mundo. Pierre Bourdieu e Louis Wacquant demonstraram como a ideia de que o mercado seria
a fonte das virtudes e, portanto, a privatização, a desregulamentação dos mercados de trabalho,
o encarceramento em massa seriam a solução para as crises do capitalismo acabou por se
converter em um senso comum, em um “pensamento único” que dificilmente poderia ser
questionado. Da mesma forma, o consumismo norte-americano seria um estilo de vida que
deveria ser seguido por todos no mundo: um padrão pelo qual se mede o sucesso ou o fracasso
de alguém.
Nas palavras de Bourdieu e Wacquant, esse “pensamento único” reformatou a
percepção do mundo por meio da polarização entre Estado e Mercado: “a nova vulgata
planetária apóia-se numa série de oposições e equivalências, que se sustentam e contrapõem,
para descrever as transformações contemporâneas das sociedades avançadas: desinvestimento
econômico do Estado e ênfase nas suas componentes policiais e penais, desregulação dos

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fluxos financeiros e desorganização do mercado de trabalho, redução das proteções sociais e
celebração dos fluxos financeiros e desorganização do mercado de trabalho, redução das
proteções sociais e celebração moralizadora da ‘responsabilidade individual’”.

Mercado Estado
Liberdade Coerção
Aberto Fechado
Flexível Rígido
Dinâmico, móvel Imóvel, paralisado
Futuro, novidade Passado, ultrapassado
Crescimento Imobilismo, arcaísmo
Indivíduo, individualismo Grupo, coletivismo
Diversidade, autenticidade Uniformidade, artificialidade

Além da discussão sobre a emergência de um imperialismo cultural, como destacado


por Bourdieu e Wacquant, a globalização suscita uma outra discussão, muito cara à
antropologia: em que medida o maior fluxo de pessoas, bens e informações não produziria uma
homogeneização cultural? As culturas locais estariam sob o risco de desaparecerem? Esse é
um dos temas abordados desde sempre pela antropologia. Sahlins, por exemplo, no artigo
“Pessimismo Sentimental”, critica a ideia de que a simples utilização por grupos indígenas de
equipamentos, roupas e outros objetos e elementos da cultura ocidental seriam sinais de que
suas culturas tradicionais estariam desaparecendo. Ele demonstra que a adoção desses objetos
não necessariamente implica a aceitação de seus significados culturais, e que os usos e sentidos
podem ser bem distintos. Assim, mais do que uma homogeneização absoluta, o que se observa
é uma proliferação de diferenças, a criação a partir do consumo de bens que não seriam
originários daquela cultura. Alguns autores afirmam que, com a globalização, identidades
híbridas, compostas por elementos de diferentes origens culturais, tenderiam a predominar na
contemporaneidade. Um cidadão negro que mora em uma cidade da África do Sul atual pode
permanecer fortemente influenciado pelas tradições e perspectivas culturais de suas raízes
tribais, mas simultaneamente adopta um gosto e estilo de vida cosmopolita que resultam da
globalização. Uma questão que poderíamos levantar é a seguinte: houve em algum momento
uma identidade pura, não híbrida, no mundo? Pensem um pouco em seus avós. Aposto que

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muitos aqui são descendentes de famílias que migraram para o Brasil, de regiões pobres na
Europa, ou ainda de tatataravós que eram escravos e que vieram para o Brasil de países
africanos. A identidade deles já não era um híbrido? Com elementos de sua cultura de origem,
mas também com elementos da cultura local para onde eles se mudaram, aqui, no norte do Rio
Grande do Sul, ou ainda provenientes de outras regiões do Brasil? E vocês mesmos, não teriam
em suas identidades um compósito de elementos diversos?
De toda forma, cada vez fica mais evidenciado que as identidades, como afirmou o
antropólogo Fredrik Barth (2000), são produzidas de maneira contextualizada, . Por exemplo,
um brasileiro que emigrou para a Califórnia em busca de emprego, quando ainda morava no
Brasil, poderia ser identificado como bahiano, negro, nordestino, pois era oriundo daquele
estado, daquela região do país e se reconhecia por essa identificação étnica. Ao ir para os EUA,
ele passa a ser visto não mais como bahiano ou nordestino, mas como brasileiro, ou ainda como
“hispânico”, “chicano”, “latino”, ou ainda como “brasileiro”, pois essas identidades lhe são
mais associadas aos outros. Os elementos culturais associados a ele, e por ele cultivados,
deixam de ser tão somente os elementos da cultura bahiana, nordestina e negra, com os quais
ele se identificava no Brasil, e passam a ser aqueles que definem o “brasileiro” no estrangeiro,
um estereótipo construído sobretudo a partir da imagem de certo malandro carioca, que gosta
de futebol, feijoada e samba. Enfim, qual é a cultura desse emigrante brasileiro? Como
podemos identifica-lo? A resposta a essas questões depende do contexto de referência, de qual
será o espelho sobre o qual ele irá se refletir. Para se discutir identidade, é preciso entender as
políticas de alteridade que as constituem: é sempre em relação a um outro que nos constituímos,
a uma alteridade, a alguém com uma cultura e uma identidade diferentes das nossas.
Nesse mundo globalizado, as fronteiras não se tornaram mais fracas como seus
ideólogos inicialmente pensaram, muito pelo contrário. Outra questão sociológica sobre o
fenômeno da globalização é: quem tem liberdade de mobilidade nesse mundo global? As
mercadorias, as informações, com certeza. Algumas classes sociais no mundo também, como
as classes dominantes de intelectuais, empresários, executivos. Mas não todas as pessoas
desfrutam dessa liberdade. As crises políticas suscitadas recentemente sobre os imigrantes na
Europa, que culminou com a saída do Reino Unido da União Européia, e a ideia de Donald
Trump de construção de um muro na fronteira do México e dos EUA não nos deixam iludir em
relação à preponderância das fronteiras para certas classes sociais.
Os processos de globalização não se realizaram sem suscitar várias críticas por parte
das pessoas afetadas por eles. Novos movimentos sociais, com facetas também globais e
internacionais, surgiram nas últimas décadas como críticos da globalização. Só para mencionar

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alguns, que estudaremos em maiores detalhes na próxima aula, podemos destacar as
manifestações que ocorreram em Seattle em 1998 quando a Organização Mundial do Comércio
se encontrou para aprovar várias medidas que intensificavam as políticas neoliberais pelo
mundo. A organização do Fórum Social Mundial, que reúne vários movimentos sociais,
ativistas, ONGs, busca formas alternativas de política em diversas áreas sociais: ambiental,
econômica, educacional, para citar apenas algumas. Mais recentemente, o movimento de
Occupy Wall Street também questionou um dos primados da globalização: o controle das
políticas pelas finanças, representadas simbolicamente por essa rua no coração de Nova York
que, além da maior bolsa de valores do mundo, ainda abriga as principais instituições
financeiras do mundo.
As críticas direcionadas ao fenômeno da globalização acabam atingindo a crença
irrestrita no progresso, baseada na concepção evolucionista da história. Ao evidenciarem as
mazelas criadas ou aprofundadas pelo processo de globalização, os críticos contrariam os que
defendem o desenvolvimento capitalista como único destino possível para a humanidade.

Procedimentos metodológicos

Como afirma Wright Mills (1982), a sociologia só vale a pena ser explorada quando
estimula nossa imaginação sociológica, a saber, a capacidade de conectar aquilo que ocorre no
mundo, os processos sociais e estruturais mais amplos, com uma história de vida particular.
Assim, será explorado ao longo desta aula essas conexões entre experiências vivenciadas pelos
próprios estudantes com o fenômeno da globalização. Assim, questionarei ao longo da aula
quais são os produtos, as informações e as pessoas que eles conhecem e com quem se
relacionam que não são locais. Quais aspectos da cultura dos jovens são provenientes de outras
regiões do Brasil ou de outros países? Como os jovens se apropriam dessa cultura estrangeira
e acabam por criar uma cultura que lhes é própria? Questões como essa não são apenas
motivadoras, como também permitem contextualizar as discussões que serão realizadas ao
longo da aula.
A aula será expositiva, contudo permeada pelo diálogo com os conhecimentos prévios
que os estudantes têm sobre o assunto. Além disso, me utilizarei na apresentação em slides de
diversas imagens. Muito mais do que meramente ilustrativas, essas imagens serão como
gatilhos para a discussão. A globalização, segundo alguns autores, é essencialmente imagética.
Imagens circulam pelo mundo com uma velocidade mais acelerada que as próprias palavras e
textos, tendo a capacidade de atingir pessoas em diferentes partes do globo, inclusive aquelas

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que não são plenamente alfabetizadas. Dessa forma, para utilizá-las em sala de aula é
necessário adotar uma postura crítica em relação às fontes: de onde essas imagens são
provenientes? O que elas comunicam? Quais são os símbolos por trás dessas imagens? Como
elas podem se tornar um recurso didático na sala de aula?

Recursos instrucionais
Utilizarei nesta aula um trecho do capítulo 7, intitulado “Democracia, cidadania e
direitos humanos”, do livro didático Sociologia em movimento (ver anexo), que aborda
justamente a relação entre direitos humanos e cidadania. Recomenda-se a leitura prévia por
parte dos estudantes deste texto para que as discussões em sala de aula sejam orientadas pela
mobilização da bibliografia apresentada pelo livro didático. Além disso, irei utilizar ao longo
da aula a apresentação em powerpoint de certas citações de autores importantes para a
discussão sobre o tema que estimularão a reflexão sobre pontos específicos do conteúdo
programático. Nesta apresentação de powerpoint apresento ainda certas imagens das
mobilizações de movimentos sociais, com o intuito de estimular a reflexão sobre a pertinência
da discussão sobre a história dos direitos humanos e da cidadania para a compreensão do
mundo em que vivemos. As imagens não serão utilizadas como meramente ilustrativas, mas
como um recurso didático adicional para suscitar um debate que mobilize os conceitos
trabalhados ao longo da aula.

Procedimentos avaliativos
O principal instrumento de avaliação empregado nesta aula é qualitativo. A partir da
leitura de um trecho do livro de José Murilo de Carvalho, Cidadania no Brasil, retirado do
livro didático Sociologia em movimento (ver anexo 2, p. 188 do livro didático), busca-se
apresentar para os estudantes uma situação problema. O texto apresenta três situações de
violação clara dos direitos humanos na história recente do Brasil: os massacres do Carandiru,
da Candelária e de Eldorado dos Carajás. Solicita-se que os estudantes identifiquem quais
foram os direitos violados nestas situações. Nos três casos, os direitos civis (à vida e à
segurança) foram claramente violados, bem como no caso de Eldorado dos Carajás o direito
político da livre manifestação política. O texto ainda apresenta como o sistema judiciário
brasileiro não funciona da mesma forma para todos os cidadãos, criando, inclusive, uma divisão
em classes de cidadãos de primeira, segunda e terceira categorias. Assim, lanço as seguintes
perguntas para os estudantes: Segundo o texto A cidadania no Brasil, vivenciamos em nosso
país uma condição de plena cidadania e reconhecimento de que todos são iguais perante a lei?

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Espera-se que os estudantes sejam capazes de problematizar o caso de que no Brasil a lei não
é a mesma para todos os cidadãos. A concepção de direitos no país é assim deturbada, uma vez
que na visão clássica do direito ele deveria ser o mesmo para todos os cidadãos, sem distinção
de classe, etnia, cor, nível de educação, religião. Os direitos humanos deveriam ser universais
e não concebidos como privilégios. Uma segunda questão é enunciada: Frente às violações dos
direitos humanos por parte do Estado, em particular pela polícia, quais poderiam ser as lutas e
as pautas organizadas pela população para enfrentar essa situação? Espera-se que os estudantes
mobilizem os conhecimentos apresentados nesta aula, em especial o histórico de lutas pelos
direitos civis fundamentais – a “liberdade negativa”, nos termos de Constant (1985) –, que
reivindicaram um maior controle sobre o abuso de poder por parte de Estado, visando limitar
suas ações sobre a vida das pessoas. É a luta pelo direito à vida, pelo direito à liberdade, pelo
direito à justiça que deve ser a bandeira daqueles que defendem os direitos humanos nessas
situações específicas, inclusive os direitos dos presos, que não têm sua condição de cidadania
anulada pela situação do encarceramento.

Previsão do tempo: aula de 50 minutos.

Bibliografia
Leitura recomendada para os estudantes:
SILVA, Afranio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Editora Moderna, 2016, p. 182-
194. (Anexo 1).

Bibliografia utilizada pelo professor para preparar a aula:


ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. v. 2. Imperialismo, a expansão do poder. Rio
de Janeiro: Editora Documentário, 1976.
BENEVIDES, Maria Victoria. Educação em direitos humanos: de que se trata? In: BARBOSA,
Raquel L. L. Formação de educadores: desafios e perspectivas. São Paulo: Editora
Unesp, 2003, pp. 309-318.
BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CALDEIRA, Teresa. A política dos outros. O cotidiano dos moradores da periferia e o que
pensam do poder e dos poderosos. Brasiliense, 1984.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.

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CONSTANT, Benjamin. Da liberdade dos antigos à liberdade dos modernos. Revista Filosofia
Política, n. 2, p. 1-7, 1985.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
SANTOS, W. G. Cidadania e Justiça: a política social na ordem brasileira. Rio de Janeiro:
Ed. Campus, 1979.
WRIGHT MILLS, C. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.

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ANEXOS

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Anexo II – Instrumento avaliativo

Questões sobre o texto Cidadania no Brasil, de José Murilo de Carvalho, retirado do livro
didático Sociologia em movimento (SILVA et al., 2016: 188).

1. Identifique quais foram os direitos humanos violados nos massacres do Carandiru, da


Candelária e de Eldorado dos Carajás.
2. Segundo o texto A cidadania no Brasil, vivenciamos em nosso país uma condição de
plena cidadania e reconhecimento de que todos são iguais perante a lei?
3. Frente às violações dos direitos humanos por parte do Estado, em particular pela
polícia, quais poderiam ser as lutas e as pautas organizadas pela população para
enfrentar essa situação?

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