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UNIVERSIDADE TIRADENTES

ARQUITETURA E URBANISMO

ERIKLIS YURE SILVA LEONEL

Fichamento do livro “Morte e vida das grandes cidades”

Aracaju - SE

2017
Eriklis Yure Silva Leonel

Fichamento do Livro “ Morte e vida das grandes cidades”

Apresentado ao Curso de
Arquitetura e Urbanismo, sob
orientação do prof.
Rooseman, como um dos
pré-requisitos para avaliação
da disciplina de
Planejamento Urbano I.

Aracaju - SE
2017

JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. 3. Ed. São Paulo: Wmf Martins
Fontes, 2015.

“(...)Sob as aparências, essas façanhas mostram-se ainda


mais pobres que suas pobres pretensões. Raramente
favorecem as áreas urbanas à sua volta, como teoricamente
deveriam.”

“Os shopping centers monopolistas e os monumentais


centros culturais, com o espalhafato das relações públicas,
encobrem a exclusão do comércio – e também da cultura –
da vida íntima e cotidiana das cidades. (...)” (Pág.15)

Esses dois textos enfatizam que algumas medidas urbanísticas não fizeram

a cidade de fato crescer, como se era esperado. Pelo contrário, criaram uma ilusão

na sociedade fazendo-as se desenraizarem de valores essenciais na sociedade,

como a cultura, comércio etc. Aglomeram pessoas nos shopping centers e fazem

os demais comércios e pontos da cidades serem desvalorizados e até mesmo

inabitáveis. E assim ficamos situados ao redor de vários empreendimentos e

lugares que na maioria das vezes não significam nada, tornando-se inúteis.

“(...) Aí está o curioso da coisa. Os instintos do meu amigo lhe


diziam que o North End é um ótimo lugar, e suas estatísticas
sociais reafirmavam isso. Porém, tudo o que ele havia
aprendido como urbanista sobre o que é bom para o povo e
bom para os bairros, tudo o que fazia dele um especialista,
dizia-lhe que o North End tinha de ser um lugar ruim. (...)” (Pag
19)
A visão que foi implantada nas pessoas alega que um lugar não pode ser

bom se for humilde, ou seja, os espaços mais sofisticados são sempre classificados

como os melhores independente dos comportamentos e demais fatores

importantes de uma sociedade. Este pensamento despreza as coisas pequenas,

pois de uma certa maneira alegam que elas não tem (ou não devem ter) valor. Com

base no contexto do trecho acima, North End era pra muitos um lugar ruim por

possuir cortiços, o que não era realidade, pois eles não estavam prejudicando o

local, mas harmonizando as pessoas e desenvolvendo ali um lugar tranquilo e bom

de se estar. No livro relata que em North End se podia ver claramente a “alegria e

o companheirismo”. Isso nos faz refletir de que as soluções de um espaço podem

estar nas coisas mais simples, as vezes não é necessário ter uma reurbanização

para se construir um lugar bom para se viver.

“(...) No East Harlem de Nova York há um conjunto


habitacional com um gramado retangular bem destacado que
se tornou alvo da ira dos moradores... Por fim, certo dia uma
moradora mais bem articulada que os outros disse o seguinte:
"Ninguém se interessou em saber o que queríamos quando
construíram este lugar... Ninguém se importou com o que
precisávamos. Mas os poderosos vêm aqui, olham para esse
gramado e dizem: 'Que maravilha! Agora os pobres têm de
tudo!'(...)” (Pág 21)

Dura crítica de uma moradora a um projeto urbanista feito no seu bairro. Isso

é um fato presente em muitos lugares hoje em dia, pois estão fazendo projetos sem

saber da necessidade real e sem consultar os moradores. Desta forma, vemos

lugares bonitos mas sem identificação com o seu redor, afinal, são projetos que
visam o bem estar dos “poderosos” e não dos habitantes locais. Essa falta de

estudos se torna um problema pois é um investimento desnecessário para um

espaço que necessita de novos empregos, mas que sejam de real utilidade para os

que ali vivem.

“(...)A Cidade-Jardim deveria ser rodeada por um cinturão


agrícola. A indústria ficaria em território predeterminado; as
escolas, as moradias e as áreas verdes, em territórios
residenciais predeterminados; e no centro ficariam os
estabelecimentos comerciais, esportivos e culturais,
partilhados por todos. (...)” (Pág 23)

“(...) Com o planejamento regional, as Cidades-Jardins


poderiam ser distribuídas racionalmente por amplos
territórios, imbricando-se com recursos naturais, em equilíbrio
com a agricultura e os bosques, formando um todo lógico e
esparso. (...)” (Pág 24)

Visões de Ebenezer Howard e Sir Patrick Geddes sobre um novo modelo de

cidade que eles acreditavam que funcionaria, as “cidades-jardins”. Ela se resume

em uma cidade pequena que não se desenvolveria, ou seja, não se tornaria uma

cidade grande. Assim, ela seria um novo e agradável espaço para as pessoas mais

humildes viverem, mas ao contrário do que já se existia, este modelo, com o

crescimento populacional, não chegaria a se tornar uma metrópole. Esta proposta

criada por Howard seria a solução para a realidade que as grandes cidades viviam

na época; criar “cidadezinhas” ao redor desses grandes centros que não lhe

agradavam.
“A população orgulhava-se deles, mas esses conjuntos não
tiveram sucesso. Em primeiro lugar, invariavelmente a cidade
normal à volta deles decaía em vez de prosperar” (Pág 27)

Esse trecho fala sobre a “City Bealtiful”, um lugar que é perfeito no papel,

mas que na realidade não agradava tanto. Mesmo sendo aprovado por muitos na

concepção, ao se tornar real não desempenhou um bom papel urbanístico quando

segregou os edifícios monumentais do resto da cidade. Esse tipo de separação é

ruim, pois acaba separando as pessoas umas das outras criando grandes

problemas que atualmente enfrentamos e lutamos para solucionar, como o

individualismo, falta de convivência, lugares isolados e entre outros.

“O principal atributo de um distrito urbano próspero é que as


pessoas se sintam seguras e protegidas na rua em meio a
tantos desconhecidos. Não devem se sentir ameaçadas por
eles de antemão. O distrito que falha nesse aspecto também
fracassa em outros e passa a criar para si mesmo, e para a
cidade como um todo, um monte de problemas.” (Pág 31)

A segurança é um elemento imprescindível para as cidades. A situação que

vivemos hoje necessita de várias mudanças provindas de nós cidadãos, mas a falta

de segurança muitas vezes nos impede de enxergar possibilidades de alguma

reação coletiva para o bem urbano. Com a ausência desse bem, as pessoas

procuram estar sempre ao redor de muros e desejam cada vez menos saírem de

suas casas, pois lá se sentem seguras, o que nas ruas, atualmente, não é uma

realidade.
“(...) A segurança das ruas é mais eficaz, mais informal e
envolve menos traços de hostilidade e desconfiança
exatamente quando as pessoas as utilizam e usufruem
espontaneamente e estão menos conscientes, de maneira
geral, de que estão policiando. (...)” (Pag 34)

Para muitos, a segurança é vista como algo sem solução, a sociedade julga

que aquele que se isola, e menos tem contatos com as pessoas desconhecidas,

tem uma vida mais agradável. O que está errado! Afinal uma cidade não pode se

comportar desta forma, viver desta maneira é pegar uma contramão. “A presença

de pessoas atrai outras pessoas”, todos nós nos sentimos mais à vontade quando

não estamos sozinhos, talvez se povoarmos mais os lugares, podemos encontrar

a segurança que procuramos. Se não tentarmos mudar e enfrentar nossos medos,

seremos a cada dia mais derrotados por ele e nos distanciaremos de uma cidade

ideal, feliz, alegre e segura.

“Tenho um amigo que mora numa rua afastada do centro,


onde uma congregação de jovens e uma associação
comunitária que promovem bailes noturnos e outras
atividades atuam da mesma forma que o White Horse na
nossa rua... O bar White Horse e a congregação de jovens
mantida pela igreja, tão diferentes como sem dúvida são,
prestam quase o mesmo serviço na manutenção da civilidade
nas ruas.” (Pág 37)

Esses dois exemplos (bar White Horse e a congregação de jovens da igreja)

que são citados no trecho atuam pontualmente na segurança dos locais em que

estão situados, pois no momento em que proporcionam um movimento de pessoas


na rua, fazem com que a mesma não fique solitária e que os moradores se sintam

mais à vontade por ter outras pessoas ao seu redor, e que estão ali não para

fazerem o mal, mas para realizar seus próprios interesses em outro bairro. Este é

apenas um dos inúmeros fatores que podem ser tomados para o fim da insegurança

nas ruas.

“Um núcleo comercial amplo, maior que o necessário para os


hábitos de consumo dos moradores do próprio distrito
revitalizado, "poderia atrair pessoas de fora para o local" (Pag
40).

Um planejamento que ignora as deficiências funcionais da cidade não podem

aplicar “soluções” que não se adequam ao local. Esse trecho, referia-se a Hyde

Park-Kenwood, que era circundado por pessoas “de fora” em seu perímetro; e que

uma revitalização urbanística como essa não seria viável pois atrairia mais ainda

essas pessoas que já não poderiam ser comportados, ou seja, provocaria

insegurança.

“(...)Na Rua Hudson, e igualmente no North End de Boston ou


em qualquer outra vizinhança animada das cidades grandes,
não somos mais intrinsecamente capazes de manter a
segurança nas calçadas do que as pessoas que tentam
sobreviver à trégua hostil do Território numa cidade cega.
Somos os felizardos detentores de uma ordem urbana que
torna a manutenção da paz relativamente simples, por haver
olhos de sobra na rua. (...)” (Pag 45)
A segurança não acontece por destino ou algo semelhante, e nem as

pessoas de um local são mais capazes de produzir essa paz do que outras. Os

“olhos nas ruas” são apenas pessoas que não se prendem dentro de suas próprias

casas, e que conseguem desempenhar o seu papel no “balé” das ruas. Esse balé

é o movimento feito por cada pessoa por simplesmente viver suas vidas e

proporcionarem o fluxo que faz com que a população, mesmo sem perceber, esteja

segura. Afinal, mesmo que não se conheçam todos ao redor, com o “balé” tem-se

o entendimento que com os vários olhos presentes, todos de uma certa forma

contribuem para a segurança.

“A confiança na rua forma-se com o tempo a partir de


inúmeros pequenos contatos públicos nas calçadas. Ela
nasce de pessoas que param no bar para tomar uma cerveja,
que recebem conselhos do merceeiro e dão conselhos ao
jornaleiro, que cotejam opiniões com outros fregueses na
padaria e dão bom-dia aos garotos que bebem refrigerante à
porta de casa...” (Pág 48/49).

Para que haja segurança nas calçadas é necessário que exista confiança

entre as pessoas, e esta, como citado acima, é conseguida através de situações

simples do cotidiano. Essa aproximação acontece não por alguma qualidade

estética da arquitetura no local, mas por empreendimentos úteis nas calçadas que

levarão as pessoas a usá-las na vida diária, trazendo, por consequência, o contato

natural entre as pessoas.

“(...) pela grande variedade de oportunidades para contato


público nos negócios instalados ao longo das calçadas ou nas
próprias calçadas, já que as pessoas se movimentam para lá
e para cá ou param quando sentem vontade, e também pela
presença de muitos anfitriões públicos, por assim dizer, os
proprietários de locais de encontro, (…)”

A importância da harmonia entre as pessoas e o comércio para o

funcionamento de um local é indispensável. O trecho acima, dá ênfase aos

proprietários. Eles tem o papel fundamental para a sociedade, são uma referência

para o local em que estão, pois muitas vezes são os que mais mantém diálogo com

a população, mas claro, dentro do limite, não avançando para além do que fosse

necessário para se manter uma boa conversa. Muitos desses, conseguem plena

confiança dos moradores, que o procuram em algum caso em que se precisa de

alguém, para uma simples tarefa, mas não se sabe em quem confiar. Isso é um

símbolo do companheirismo nas ruas, pessoas de bom caráter que são “olhos” e

ao mesmo tempo possui, de certa maneira, uma personalidade amigável com

todos.

“Um dia, o filho dela de oito anos ficou preso no elevador e


não foi acudido por mais de duas horas, apesar de ter gritado,
chorado e esmurrado a porta. No dia seguinte, a mãe contou,
abismada, a uma de suas noventa conhecidas. "Ah, era seu
filho?", disse a outra mulher. "Eu não sabia de quem ele era
filho. Se eu soubesse que era seu filho, eu o teria socorrido."”
(Pag 53)

Uma situação relatada no livro que acontece praticamente todos os dias nos

conjuntos habitacionais, não precisamente da mesma forma, mas com a mesma

insensibilidade; já que nesses tipos de moradia, as pessoas tendem a se fechar

cada vez mais por achar que não devem se envolver de maneira nenhuma na vida
das pessoas, e algumas ainda se fantasiam e fazem parecer que se importam,

quando na verdade querem se isolar nos seus mundos para não ter um possível

contato com outra família, achando que esse afastamento seria o melhor para

todos.

“O contato público e a segurança nas ruas, juntos, têm relação


direta com o mais grave problema social do nosso país:
segregação e discriminação racial.” (Pág 57)

A segregação e a discriminação não são frutos de um fator pontual, mas de

vários. Porém, podemos considerar a insegurança como um dos principais agentes

para esses problema, e caso houvessem mais contatos entre as pessoas,

poderíamos comprometê-los, afinal, pessoas juntas em um local causam

naturalmente a segurança, fazendo com que todos se sintam mais à vontade para

realizarem suas atividades em um local, e consequentemente teríamos mais união

entre as pessoas, combatendo também a discriminação racial, que é alimentada

com o medo que existe nas pessoas.

“(...) mais adiante na rua, num quarteirão cheio de imigrantes


porto-riquenhos, havia outra cena contrastante. Vinte e oito
crianças de todas as idades brincavam na calçada, e nada de
violência... Elas estavam sob a vigilância ocasional de adultos
que se encontraram e conversavam na calçada.” (Pág 61)

É necessário que no desenvolvimento das crianças, haja sempre um adulto

lhe observando, mesmo nos momentos de brincadeiras. A ausência desses

olhares, causam um desequilíbrio para elas e torna-se bem possível a chance de

vê-las seguindo um caminho incorreto. Alguns playgrounds que deveriam ser o


lugar apropriado para isso, se tornaram apenas um espaço onde não são vigiadas

e podem fazer o que quiserem longe das restrições dos adultos. O exemplo no

trecho fala de uma calçada em que as crianças se divertiam de uma maneira muito

mais saudável, pois estão em observação dos adultos; em contraste com alguns

playgrounds, onde muitas vezes as crianças vão sozinhas, com aceitação ou não

de adultos por acharem ser um lugar “apropriado” para elas.

“As crianças da cidade precisam de uma boa quantidade de


locais onde possam brincar e aprender. Precisam, entre
outras coisas, de oportunidades para praticar todo tipo de
esporte e exercitar a destreza física – e oportunidades mais
acessíveis do que aquelas de que desfrutam na maior parte
dos casos. Ao mesmo tempo, no entanto, precisam de um
local perto de casa, ao ar livre, sem um fim específico, onde
possam brincar, movimentar-se e adquirir noções do mundo.”
(Pág 63).

Os playgrounds não são definitivamente ruins para as crianças, pelo

contrário, é interessante que haja lugares assim para elas, mas estes não devem

se situar sempre longe das vizinhanças de ruas movimentadas onde se têm uma

boa segurança. Devem-se existir várias opções para elas estarem, tanto longe (mas

acompanhadas), quanto próximo de casa, nas calçadas, nos parques, quadras etc..

É preciso diversificar cada vez mais as opções para as crianças, pois tudo será um

aprendizado para elas.

“(...) as calçadas são tradicionalmente consideradas um


espaço destinado ao trânsito de pedestres e ao acesso a
prédios e continuam a ser desconsideradas e desprezadas na
condição de únicos elementos vitais e imprescindíveis da
segurança, da vida pública e da criação de crianças nas
cidades.” (Pág 67)

As calçadas são fundamentais para as cidades, não podem continuar sendo

vistas como apenas um corredor de divisória entre casas e ruas. Elas vão além

disso, nas calçadas há identidade dos moradores, e nela talvez se tenha a maior

proximidade entre as pessoas. Não se deve pensar apenas nos carros, alargando

as ruas e estreitando as calçadas, elas deveriam ser maiores, proporcionando um

espaço bom de vivência não só para as crianças, mas para todas as pessoas.

“(...) Se perguntarmos a um construtor como fazer para


melhorar seu projeto na cidade tradicional, ele responderá,
como se fosse uma virtude patente: Mais Áreas Livres..” (Pág
69)

Esta é uma opinião muito compartilhada por profissionais. Eles acreditam

que é preciso ter cada vez mais áreas livres na cidade para solucionar problemas

e deixar mais espaço para as pessoas utilizarem. Mas isso não é solucionar, pois

se pensar fechado desta forma, iremos ter muito mais locais esquisitos e vazios,

sem utilidade. Deve-se entender mais sobre os entornos, e não achar que todos os

lugares devem receber a mesma decisão urbanística dos demais.

“A variedade de usos dos edifícios propicia ao parque uma


variedade de usuários que nele entram e dele saem em
horários diferentes.” (Pág 73)
É importante e ideal que os parques estejam cercados por diversos usos

comerciais e residenciais, pois assim proporcionará um fluxo contínuo de pessoas

que vão e vem no local, trazendo segurança nas demais ruas próximas e afastando

a possibilidade do parque se tornar um local isolado, onde predominará

consequentemente a insegurança.

“Se o espaço puder ser apreendido num relance, como um


bom cartaz, e se cada um de seus segmentos for igual aos
outros e transmitir a mesma sensação em todos os lugares, o
parque será pouco estimulante para usos e estados de
espírito diversificados. Nem haverá motivo para frequentá-lo
várias vezes.” (Pág 77)

Os parques devem possuir seus diferenciais de uma forma que faça com

que os visitantes voltem um dia por gostar de alguma coisa que tinha ali, pois se

todos os parques forem iguais, não terá porque ninguém sair de sua casa e

percorrer certa distância para ir em um parque mais longe, sendo que, próximo a

ela existe um que é “a mesma coisa” dos deste. Antes de projetar um espaço como

este, deve-se procurar os diferenciais do entorno e não fazerem todos iguais

independente dos lugares em que estão implantados.

“Só a vivência e a tentativa e o erro podem indicar que


combinações variadas de atividades realmente operam como
artigos de primeira necessidade em qualquer parque
problemático.” (Pág 80)

Como também fora comentado no livro “o que é ser um urbanista”, os

projetos urbanos são sempre tentativas, não se há uma fórmula exata para
solucionar estas questões. Através do conhecimento e estudo do local, é que se

poderão ter as ideias para estes testes.

“Quanto mais a cidade conseguir mesclar a diversidade de


usos e usuários do dia a dia nas ruas, mais a população
conseguirá animar e sustentar com sucesso e naturalidade (e
também economicamente) os parques bem-localizados, que
assim poderão dar em troca à vizinhança prazer e alegria, em
vez de sensação de vazio.” (Pág 82)

Se áres como parques e praças não tiverem em seu redor usos diversos,

nunca serão lugares povoados, e sempre transmitirão insegurança, pois não

estarão sempre movimentados. Mas se ao invés disso, conseguirem diversificar

seus usos nas ruas, terão um local apropriado, e finalmente as praças e parques

terão suas finalidades da forma que foi pensado na concepção projetual, ou seja,

servirão as pessoas como um local de paz e descontração entre elas, como devem

ser.

“Essa é de fato a vantagem das cidades. Além do mais, a


própria fluência de usos e de escolhas dos moradores
urbanos constitui a base que sustenta a maioria das
atividades culturais e das empresas especializadas das
cidades.” (Pág 86)

A cidade possui, ou deve possuir, esta característica de diversidade, pois ela

tem que ser realmente isso, um lugar onde se pode encontrar vários afazeres em

seus diversos bairros. Graças a isso, as pessoas não se prendem aos seus próprios

bairros e estão sempre se deslocando de um lugar para outro, seja em procura de

trabalho ou de lojas, escolas etc. E isso se torna uma vantagem das cidades:

oferecer várias opções e acolher, em todos os seus pontos, os habitantes.


“Um dos maiores trunfos de uma cidade, se não o maior, é
formar comunidades com interesses comuns... As pessoas
que possuem interesses similares ou complementares não
têm dificuldade em se descobrir umas às outras.” (Pág 88)

Neste trecho, a autora se referia a “cidade como um todo”, um consideração

criada por ela para se referir a bairros como órgãos autogeridos. Nisso, conclui-se

que é necessário que a cidade se ajude coletivamente, e uma das formas mais

fáceis para se formar um grupo coletivo é através de pessoas com interesses

iguais, estas, ocasionalmente se juntarão, trocarão ideias e poderão querer agir de

alguma forma. E esses pequenos grupos irão adquirindo, cada um, sua parte de

contribuição para as diversas áreas culturais, sociais e econômicas da cidade.

“Às vezes a cidade não atua em favor da rua, mas contra


ela, e, mais uma vez, se a rua não contar com cidadãos
influentes, ficará totalmente indefesa.” (Pág 91)

Sempre irão existir medidas tomadas pelos mais poderosos que não

agradarão os habitantes dos bairros, afinal, eles na maioria das vezes, não

procuram saber da opinião das pessoas que vivem no local onde haverá alteração.

Desta forma, o ideal é que existam esses “cidadãos influentes” que poderão de

alguma forma recorrer a alguém com mais poder sobre essa situação (seja algum

distrito ou poderosos da cidade), e assim se chegará a um acordo mais legal.

“Em termos absolutos, qual deve ser o tamanho de um distrito


próspero? Dei uma definição funcional de tamanho:
suficientemente grande para brigar na prefeitura, mas não tão
grande a ponto de seus bairros não conseguirem atrair a
atenção e ter vez.” (Pág 94)
Não adianta um distrito ter muitos milhares de habitantes se não

desempenhar o seu papel, pois um distrito eficiente é aquele que age pelos

habitantes, considerando a voz de todos que lhe fazem parte. Se este não pode dar

atenção a todos, não estará cumprindo com o seu dever, e muitos bairros

continuarão sem apoio, sozinhos, e vendo sua situação piorar sem perspectiva de

solução.

“Os programas de revitalização, que buscam principalmente


preservar edifícios e ocasionalmente ajudar algumas pessoas
mas espalham o restante dos moradores, têm praticamente o
mesmo efeito.” (Pág 98)

Este trecho se refere a uma citação de Harrison Salisbury, que se referia ao

prejuízo causado ao despejar os cortiços, pois desenraizava os moradores, e assim

interfere pontualmente para que lugares como igrejas, comércios e etc. tenham

uma desestruturação pela mudança de clientes/integrantes. E esse problema é o

que também acontece na revitalização, pois na maioria das vezes priorizam apenas

os edifícios, sem se importar com a identidade que o local construiu. Isso é algo a

se priorizar, e não deve fazer pouco caso dessa familiarização, pois é de extrema

importância para o funcionamento da cidade.

“Para a autogestão de um lugar funcionar, acima de qualquer


flutuação da população deve haver a permanência das
pessoas que forjaram a rede de relações do bairro. Essas
redes são o capital social urbano insubstituível. Quando se
perde esse capital, pelo motivo que for, a renda gerada por
ele desaparece e não volta senão quando se acumular, lenta
e ocasionalmente, um novo capital.” (Pág 99)
A permanência de pessoas traz inúmeros benefícios para um bairro, pois

com ela, serão criados laços entre as pessoa, mesmo que não seja amizades, mas

sem dúvida, haverá ali uma preocupação com cada um pela convivência. Além

disso, será formado um grupo onde todos poderão se juntar para brigar por seus

direitos ou realizar reuniões para medidas internas do bairro. Quando não se tem

essa permanência, os bairros não conseguem manter uma identidade na

vizinhança.

“Os benefícios que a cidade oferece aos pequenos são


igualmente marcantes no comércio de varejo, nas instalações
culturais e no entretenimento. Isso acontece porque a
população urbana é suficientemente grande para fazer uso de
uma grande diversificação e de um grande número de
alternativas nesses ramos.”( Pág 105)

Há usos de entretenimento, por exemplo, que podem ser instalados em

cidades de pequenos portes ou em conjuntos, mas nela não haverá uma

diversidade extensa como nas grandes cidades, pois seriam poucas as pessoas

que frequentariam esses locais. Já nos grandes centros, podem-se haver uma

diversidade bem mais ampla em relação a isso, pois eles são capazes de abrigar

muito mais opções e manter essas atividades com um bom uso populacional.

“A diversidade comercial é, em si, imensamente importante


para as cidades, tanto social quanto economicamente... Mas,
mais do que isso, onde quer que vejamos um distrito com um
comércio exuberantemente variado e abundante,
descobriremos ainda que ele também possui muitos outros
tipos de diversidade...” (Pág 106)
É de extrema importância que exista a diversidade nas cidades. Esta, não

está relacionada apenas a área comercial, mas na variedade de opções culturais,

da população, frequentadores etc. Isso é um dos principais elementos da cidade, a

diversidade, pois através dela, será possível solucionar diversos casos que agridem

a cidade e que podem ser amenizados, ou escassos a partir da variedade de todos

esses elementos que a envolvem.

“Se o bairro perdesse o comércio, seria uma calamidade para


nós, moradores. Desapareceriam muitas empresas
incapazes de sobreviver somente com as compras
domésticas. Ou, se o comércio nos perdesse,
desapareceriam as empresas incapazes de sobreviver só das
transações com os trabalhadores.” (Pág 110)

Os dois dependem um do outro. Sem os comércios, as ruas, praças etc.

ficariam sem importância e sem uso, o que a levaria a ficar um lugar sem segurança

e consequentemente deixaria as pessoas mais longe uma das outras, que é o

contrário de uma cidade/bairro que possui esses empreendimentos e conseguem

ter uma área livre, segura e em harmonia.

“Nenhum bairro ou distrito, seja ele bem estabelecido, famoso


ou próspero, seja ele, por qualquer razão, densamente
povoado, pode desconsiderar a necessidade da presença de
pessoas ao longo do dia sem com isso frustrar seu potencial
de gerar diversidade.” (Pág 114)

Um bairro ou distrito não pode estar preso somente à função de trabalho ou

algo relacionado a esta área, pois se assim for, ele não poderá hospedar pessoas

por mais tempo além das suas obrigações, ou seja, após o horário em que o
bairro/distrito for frequentado por motivo profissional ou algo relacionado, ele logo

deixará de ser um atrativo. Equilibrar a presença de pessoas nos demais horários

no local (além dos horários de pico), esta concentração de pessoas existiria graças

as atrações do local que atrairiam visitantes e manteriam o espaço mais

movimentado nos demais horários dos dias e nos fins de semana.

“(...) com relação às mesclas de usos principais, o que conta


é o resultado cotidiano e habitual da mistura de pessoas como
grupos de sustentação econômica mútua. É esse o caso, e se
trata de uma questão econômica tangível, concreta, não de
um efeito vago no "clima" do local.” (Pág 116)

É importante se ter uma mescla de usos principais, pois se eles conseguirem

trazer as pessoas para as ruas em horários diferentes, teremos uma área mais

flexível para se poder ter uma diversidade, e desta forma, será atribuído um

resultado econômico mais estimulante.

“(...) "As pessoas não saem" é também uma das desculpas


usadas em Pittsburgh para explicar seu centro morto.” (Pág
120)

Essa “desculpa” citada acima é um das respostas mais comuns quando não

se vê um funcionamento legal em uma área planejada. Porém, esta afirmação é

tomada quando não se tem um conhecimento mais profundo sobre as cidades, pois

dentre muitos fatores que colaboram para esse efeito negativo, um dos principais

são, sem dúvida, a falta de vida nas ruas ao longo de um dia, e não somente pela

tarde ou manhã.
“As peças de xadrez de uso principal não podem, é claro, ser
espalhadas aqui e acolá na cidade tendo em conta apenas a
necessidade de distribuir as pessoas ao longo do dia e
ignorando as necessidades particulares dos próprios usos, ou
seja, quais seriam locais bons para eles.” (Pág 121)

Tanto os elementos de uso principal, como qualquer outra coisa

(equipamento urbano, comércios etc) que for ser implantada em um ponto na

cidade, precisa ser estudado de acordo com o local, pois a cidade, embora seja

citada como única, possui dentro de si diversas culturas e costumes que precisam

ser considerados antes de qualquer alteração que venha ser feita em um espaço.

“Não é preciso dizer que as ruas e os bairros que possuem


boa combinação de usos principais e têm êxito na geração da
diversidade devem ser admirados e não desprezados por
causa dessas mesclas e destruídos pela tentativa de separar
seus elementos. Infelizmente, os planejadores tradicionais
parecem ver nesses mesmos lugares populares e atraentes
apenas um convite irresistível para empregar os propósitos
tacanhos e destrutivos do planejamento urbano ortodoxo.
(...)”(Pág 124)

Sem dúvida um dos principais fatos que ocorrem hoje. Os urbanistas ao

veem bairros ou ruas com a presença dessa diversidade, muitas vezes traçam

projetos que não são compatíveis e acabam destruindo as misturas dos usos.

“No caso das quadras longas, mesmo as pessoas que


estejam na vizinhança pelas mesmas razões são mantidas
tão afastadas que se impede a formação de combinações
razoavelmente complexas de usos urbanos cruzados. (...)”
(Pág 127)

As quadras longas impedem as pessoas de terem novos percursos e

segregam as pessoas dentro das suas vizinhanças que são próximas. No momento

em que são atribuídas quadras curtas, poderão haver mais opções para transitar e

logo as pessoas andariam mais, e observariam melhor os pontos e detalhes do seu

bairro e de sua cidade em geral.

“(...)Como as combinações de usos principais, as ruas


frequentes efetivamente ajudam a gerar diversidade só pela
maneira como atuam(...)”. (Pág 130).

Uma coisa se une a outra, pois juntas trazem um resultado muito positivo

para o bairro/rua, já que atraem uma mistura de usuários, e proporcionam o

crescimento da diversidade – que não são os únicos fatores para o bom

funcionamento do local, mas são sem dúvidas 2 fatores importantes na busca deste

resultado.

“Até mesmo as empresas que consigam financiar novas obras


nas cidades precisam de construções antigas na vizinhança.
Do contrário, serão uma atração única num ambiente único,
bastante limitado economicamente. (...)” (Pág 132)

A diversidade de um lugar vem da mistura de empresas com alto, baixo e

médio rendimento, afinal, se existirem apenas novas edificações, estaremos

abrindo mão de uma parcela dos habitantes que não vivem aquela realidade, e

assim vice versa. Todo bairro deve possuir esta mescla para que se possa ter uma

diversidade não apenas em ideias, mas em características e costumes.


“As cidades precisam de mesclas de prédios antigos
para cultivar as misturas de diversidade principal, assim como
aquelas de diversidade derivada. Elas precisam
especificamente dos prédios antigos para incubar uma nova
diversidade principal.” (Pág 136)

É importante que existam mescla de prédios nas cidades, pois com isso,

moradores e comerciantes que estão começando com as economias poderão se

fixar ali, assim teremos comércios pequenos que poderão se desenvolver e se

tornar grandes, e famílias que podem ou não se desenvolver, mas que poderão ter

um lugar para poder viver de acordo com sua renda, sendo ela alta ou baixa.

“(...) Mas deve-se manter uma boa combinação de prédios


antigos e, ao serem mantidos, eles se terão tornado mais do
que o mero testemunho da decadência do passado ou uma
evidência do fracasso. Eles se terão tornado abrigo
necessário – e valioso para o bairro – para vários tipos de
diversidade de retorno médio, baixo e nulo. (...) (Pág 138)

A importância da existência de prédios antigos na cidade não está em

apenas relatar uma edificação que fracassou. Estes prédios possuem valor e

devem ser utilizados sempre, pois estão à frente das edificações já que estavam ali

e possuem sua história com o local.

“Sem dúvida, as moradias de um distrito (como qualquer outro


uso do solo) precisam ser complementadas por outros usos
principais, de modo que haja uma boa distribuição de pessoas
nas ruas em todas as horas do dia, (...) (Pág 141)
Todo lugar deve possuir edificações de diversos usos, sejam eles

residenciais, comerciais, institucionais etc. Havendo essa mistura,

consequentemente teremos um lugar movimentado pelas pessoas e com mais

segurança.

“As densidades são muito baixas, ou muito altas, quando


impedem a diversidade urbana, em vez de a promover. Essa
falta de funcionalidade é a razão de serem muito baixas ou
muito altas. Deveríamos encarar as densidades da mesma
maneira que encaramos as calorias e as vitaminas. As doses
corretas são corretas por causa da eficácia delas. E o que é
correto muda de acordo com as circunstâncias.” (Pág 145)

A elevada ou baixa taxa de densidade demográfica em algumas

cidades/bairros são considerados como defeitos do local, mas elas existem graças

ao mau planejamento das cidades, em que não procuraram dosar corretamente os

usos do local, fazendo com que ele não seja povoado ou esteja superlotado.

“Não há um tipo satisfatório para suprir um bairro com


moradias; nem dois ou três tipos são satisfatórios. Quanto
mais variedade, melhor. No momento em que o conjunto e o
número de variedades de edifícios diminuem, a diversidade
da população e dos estabelecimentos também tende a
estagnar ou diminuir, em vez de crescer.” (Pág 148).

Não existe um modelo de edificação ideal para as funções da cidade. Assim

como se é necessário uma mescla de edifícios de usos diferentes, deve-se também

existir diferentes estilos de edificações habitacionais diferentes.


“A associação desses recursos – maior frequência de ruas,
parques movimentados em lugares movimentados e vários
usos não residenciais combinados, junto com uma grande
variedade das próprias moradias – ocasiona resultados
totalmente diferentes com altas densidades sinistramente
inabaláveis e alta ocupação do solo. (...)” (Pág 150/151)

Novamente destacando os inúmeros benefícios da diversidade de

edificações em um local. Favorecendo assim, um local de extrema utilidade,

apresentando alta densidade e ocupação do solo.

“(...) Do ponto de vista estético, porém, ela lamentavelmente


traz consigo uma desorganização profunda: a
desorganização de não implicar direção alguma. Você anda
por lugares marcados pela monotonia e pela mesmice, mas,
apesar de ter andado, tem a sensação de não ter ido a lugar
algum. (...)” (Pág 155)

O trecho fala sobre uma opinião existente que diz que a diversidade dos

elementos é feia, mas feia no sentido de desorganizado e bagunçado. Porém, na

realidade, ela se torna desorganizada quando não é bem feita, mas sendo bem

feita, proporciona às pessoas, lugares úteis e não ruas iguais com as mesmas

funções ao longo de sua extensão.

“(...) a diversidade urbana não é intrinsecamente feia. Isso é


um erro de julgamento, e dos mais banais. Porém, a falta de
diversidade é, por um lado, naturalmente deprimente e, por
outro, grosseiramente caótica.” (Pág 158)

Não é porque um lugar possui igrejas, lojas, comércios, praças, instituições,

residências e outros usos próximos uns dos outros que será desorganizado, isso,
como foi dito no trecho, é um “erro de julgamento”, quando mais um lugar possuir

esta diversidade, mais funcional ele será e todos os diversos problemas que

assustam as cidades desde a segurança à movimento de capital seriam melhor

solucionados com esta proximidade.

“Em áreas urbanas diversificadas e densas, as pessoas ainda


caminham, atividade que é impossível em subúrbios e na
maioria das áreas apagadas. Quanto mais variada e
concentrada for a diversidade de determinada área, maior a
oportunidade para caminhar. Até as pessoas que vão de carro
ou de transporte público a uma área viva e diversificada
caminham ao chegar lá.” (Pág 159)

Ao mencionar que a diversidade de usos seria uma ótima solução para os

diversos lugares (bairros, ruas, distritos etc), pode ser que surja um pensamento

em relação aos automóveis. Porém, este é outro equívoco, pois como haverá mais

possibilidades de circulação, as pessoas podem, ou devem optar a não se

moverem com seus carros, mas como pedestres.

(...) Muitas ruas, particularmente aquelas em que predominam


edifícios grandes e largos, seja para uso residencial, seja para
outro uso ou para ambos, podem alojar empresas com
fachada extensa e misturá-las às pequenas sem aparentar
desintegração ou desagregação e sem serem oprimidas
funcionalmente por determinado uso do solo. (...) (Pág 163)

Como foi visto, é essencial para as ruas, que existam usos variados em sua

extensão, porém, estes não devem ser muito grandes (muito maiores que as

residências e demais comércios varejados) de uma forma que ofusquem as demais

edificações dos locais. Há lugares que estas unidades se encaixam melhores, como
por exemplo nas ruas que possuem grandes prédios, pois ali eles podem misturar

os usos de grandes empresas com as pequenas sem desintegrá-las, nem

desfavorece-las.

“(...) A principal responsabilidade do urbanismo e do


planejamento urbano é desenvolver – na medida em que a
política e a ação pública o permitam – cidades que sejam um
lugar conveniente para que essa grande variedade de planos,
ideias e oportunidades extra-oficiais floresça, juntamente com
o florescimento dos empreendimentos públicos. (...)” (Pág
166)

As cidades não devem ser algo padrão, nem deve limitar ou segregar os

usos, mas deve ser um lugar onde as ideias e oportunidades fluam e nela possa

ter um crescimento em conjunto.

“(...) Percebeu que parte dessa movimentação estava


ajudando a animar e a diversificar outras ruas, mas percebeu
também que a Rua Oito caminhava lenta e inexoravelmente
em sentido contrário. Ele notou que, se o processo seguisse
seu curso lógico e se completasse, a Rua Oito acabaria
estagnada, em razão da migração da popularidade para outro
lugar. (...)” (Pág 168)

Um problema que pode vir a acontecer na diversidade das ruas é a

tendência, pois no momento em que mais ruas vizinhas, ou locais muito próximos

começam a criar este tipo de concorrência, podem conseguir mais popularidade e

influenciar no movimento dos demais compartimentos.

“(...) Ao mesmo tempo que as novas construções e as


multiplicações de usos restritos destroem a sustentação
recíproca em determinado local, elas estão, na verdade,
privando de sua presença outros locais onde poderiam
ampliar a diversidade e fortalecer a sustentação recíproca, e
não diminuir essas qualidades. (...)“ (Pág. 171)

Em vez de aglomerar usos do mesmo tipo em um local, poderiam admitir o

sucesso de um e estudar um local que fosse próspero para a instalação de novas

construções e multiplicações desses usos, desta forma não prejudicaria os já

existentes, e diversificaria outra localidade.

“(...) Em síntese, órgãos públicos e voltados para o público


podem contribuir bastante para fixar a diversidade se
permanecerem inabaláveis em meio aos diferentes usos
vizinhos, enquanto o dinheiro circula à sua volta e gostaria
muito de circular neles.” (Pág. 174)

Os edifícios dos órgãos públicos, se forem implantados em um local onde

podem de fato contribuir, são bem capazes de fixarem ali a diversidade, pois se

for encaixados acertadamente deverão permanecer inabalavelmente e

contribuirão de uma forma mais valiosa do que qualquer outra reprodução

lucrativa que pudesse ser implantada em seu lugar. Vale também citar uma frase

dita pela autora no mesmo parágrafo: “uma combinação real e permanente de

usos principais pôde (em relação a uma biblioteca em que a mesma

exemplificava) firmar-se no bairro.

“Consequentemente, a rua adjacente a uma fronteira é um


ponto final para o uso diversificado. Se tal rua, que é o fim da
linha para as pessoas vindas da área "comum" da cidade, for
pouco usada ou não tiver utilidade alguma para as pessoas
que estão nessa zona de fronteira de uso único, ela estará
fadada a ser um lugar morto, com poucos frequentadores.
(...)” (Pág. 178)

Mesmo se tratando sobre as zonas de fronteiras, se não aplicarem ali algo

que lhe forneça movimento, continuará a ser um local deserto, e se tornará um lugar

morto, já que as ruas vão diminuindo seus usos quando chegam próximos a estas

extremidades. Desta forma, se não for feito uma implantação desses usos de uma

forma que não fique tão claro que seja o fim da cidade, no sentido de ainda possuir

usos, teremos um lugar sem função e deserto.

“Outras fronteiras têm uso escasso porque os elementos


únicos marcantes que as constituem usam o solo com
intensidade muito baixa em relação ao grande perímetro que
possuem. (...)” (Pág. 180)

Não somente nas áreas de fronteira. Nos demais lugares na cidade em que

não se tem uma intensidade de pessoas, muitas vezes podemos apontar esta

causa para o baixo ou mau uso do solo em relação ao perímetro que a área possui.

Não se pode esperar que uma coisa ou outra implantada em um local faça todo o

milagre.

“A questão, em resumo, deve ser procurar usos adequados à


zona de fronteira e criar outros, mantendo a cidade como
cidade e o parque como parque, mas tornando o inter-
relacionamento deles explícito, vivo e suficientemente
constante.” (Pág. 183)

Próximo de onde foi retirado a citação acima, existe uma ênfase a frase

escrita por Lynch que diz: "Uma linha divisória pode ser mais do que simplesmente
uma barreira dominante". Relacionando esta frase com o trecho podemos entender

que uma área de fronteira poderia também ter um parque (por que não?) e este se

relacionar de alguma forma com a cidade, formando um corpo único e não deixando

uma área isolada e deserta como seriam essas fronteiras se não lhe aplica nenhum

uso.

“(...) cortiços e de sua população, substituindo-os por


conjuntos habitacionais que se pretende produzam uma
receita tributária mais elevada ou seduzam uma população
mais dócil com exigências públicas menos dispendiosas.
Esse método não funciona. No máximo, transfere os cortiços
de lugar, acrescentando matizes próprios de mais privação e
desagregação. No mínimo, destrói vizinhanças onde existem
comunidades construtivas que se aprimoram e onde a
situação exige encorajamento, e não destruição.” (Pág 186)

O que Jane Jacobs quis dizer neste trecho é que nos processos de

revitalização urbana, são decididos erradicar os cortiços substituindo-os por

conjuntos habitacionais achando que ao existir outras edificações que poderão

abrigar a população do cortiço de uma forma mais “confortável”, será feito um bom

trabalho e melhorará a vida das pessoas, quando na verdade estarão destruindo

vizinhanças e segregando cada vez mais as pessoas umas das outras.

“No momento em que as zonas de cortiços se formam, sua


população pode crescer assustadoramente. Isso, porém, não
é um sinal de atratividade. Ao contrário, significa que as
moradias estão ficando superlotadas; isso ocorre porque as
pessoas com menos opções, forçadas a amontoar-se devido
à pobreza e à discriminação, mudam-se para uma área
desprezada.” (Pág. 189)
Os cortiços dos tempos atuais são formados quando os moradores dos

locais (que já não são mais permanentes como antes) se mudam para outras casas

e ocorre uma ocupação na área, formando consequentemente os cortiços, mas

estão de uma maneira muito mais desorganizada, ali habitam todos os que

possuem menos condições, e este local se tornará de certa forma desprezível.

“(...) Essas pessoas parecem pensar que seu bairro é único –


não há nada no mundo que o substitua – e extremamente
valioso, apesar das deficiências. Nisso elas têm razão, porque
a profusão de relacionamentos e de figuras públicas que
constituem um bairro vivo é sempre única, complexa e
irreproduzível. (...)” (Pág.192)

Neste trecho, Jacobs ainda se referia aos cortiços, mas vale a pena analisa-

lo relacionando as demais edificações. Nos dias de hoje, essa identidade com o

bairro está cada vez mais escassa, e assim o lugar não adquire uma identidade e

fica perdendo seu valor, já que as pessoas estão sempre mudando em busca de

algo “melhor”, quando na verdade procuram se mudar cada vez que possuem

melhor condição financeira, e esquecem do valor que cada lugar pode proporcionar,

independente da realidade financeira.

“(...) Os pessimistas parecem sempre achar que há um quê


de inferioridade nas atuais safras de moradores de cortiços e
conseguem apontar diferenças supostamente medonhas
entre eles e os imigrantes que os antecederam. Os otimistas
parecem sempre achar que não há nada de errado com os
cortiços que não possa ser corrigido com programas
habitacionais e com uma reforma no uso do solo e assistentes
sociais em número suficiente. É difícil dizer qual simplismo é
pior.” (Pág 195)

Dura crítica feita à visão que as pessoas tem dos cortiços, como sendo um

lugar precário sem valor, e que deve ser o último lugar para se viver, ou associando-

o a um lugar que precisa de reformas no uso do solo, trocando seu estilo

habitacional por outros. Essas visões correm na contramão da que realmente

importa para a cidade que é aquela onde os lugares mais desfavorecidos são

recuperados e apresentam boa qualidade de vida e espaço.

“Em nome de sua coerência interna, o urbanismo


convencional incorpora a fantasia da presença perturbadora
de pessoas em "cortiços" cuja faixa de renda não condiz com
a renda de moradores de cortiços. Essas pessoas são
definidas como vítimas da inércia, que precisam de um
empurrão. (...)”

A mensagem que o urbanismo convencional deixa para as pessoas é que

todas as residências tem que ser com uma classe mais alta, ou seja, não se veriam

mais as casas mais humildes, ou moradias mais simples, quando na verdade, o

urbanismo deve ser encarregado de proporcionar um ambiente favorável para

todos, independntemente da realidade financeira das unidades residenciais.

“Não se pode garantir de uma hora para a outra a tarefa de


dar boas condições de funcionamento às ruas e aos bairros
(o que significa principalmente fomentar as condições que
geram a diversidade) e garantir sua preservação. Mas, por
outro lado, trata-se também de uma tarefa que nunca termina
nem nunca terminará, seja qual for o lugar.” (Pág. 201)
Nunca haverá um ponto final no quesito de bom funcionamento às ruas.

Sempre será preciso de evoluções. Essas coisas não acontecem de uma hora pra

outra, nem terminam do dia pro outro, devem estar sempre em um constante

crescimento.

“(...) Essa localidade tinha uma fonte de crédito própria: um


pequeno banco familiar, remanescente dos velhos tempos,
uma preciosidade que fazia empréstimos dentro de sua área
boicotada. A expansão e a renovação do comércio, a
manutenção do local eram financiadas por ele. (...)” (Pág.
205)

Sobre a importância de se ter um órgão onde se podem ter esse empréstimo

para investimentos sejam comerciais ou residenciais. No trecho, um exemplo que

ocorreu em uma cidade na Inglaterra, e que deve se tornar exemplo para as demais

cidades, e lugares dela em que precisam de uma força a mais para que se possa

ter novos comércios e demais investimentos.

“(...) No East Harlem, porém, os cidadãos lutam hoje contra a


entrada de mais dinheiro para a reprodução de erros que não
são avaliados por quem controla as comportas monetárias.
(...)” (Pág. 209)

Entra também nesse caso o mau uso do dinheiro que é investido, o que pode

aumentar ainda os erros da cidade, fazendo com que seja desperdiçado o

investimento, quando poderiam haver outras formas ou outro tipo de utilização que

servisse diretamente para a melhoria do local.

“Será que isso significa que nosso dinheiro mais


institucionalizado só possa ser usado hoje
especulativamente? Será que as grandes burocracias
financeiras são tão importantes que só conseguem operar em
cidades de figurões, de grandes tomadores de empréstimo e
de mudanças abruptas e amplas? (...)” (Pág. 210)

Um questionamento muito interessante sobre o destino do nosso dinheiro, e

para qual finalidade ele será empregado. Isso nos leva a questionar se todo o

investimento vai apenas para as grandes cidades, enquanto as menos favorecidas

se enfraquecem pouco a pouco.

“É muito fácil atribuir a decadência ao trânsito… aos


imigrantes… ou aos caprichos da classe média. Os motivos
da decadência das cidades são mais profundos e complexos.
Dizem respeito ao que pensamos ser desejável e à nossa
ignorância a respeito do funcionamento das cidades. O
dinheiro pode ser usado – ou recusado – nas obras urbanas
como um instrumento que leva ao declínio das cidades. Mas
ele deve transformar-se num instrumento de recuperação –
passando de um instrumento que financia alterações
drásticas a um instrumento que financia mudanças contínuas,
graduais, complexas e mais suaves.” (Pág 214)

Os problemas da cidade não estão pontualmente localizados em uma só

área, mas em diversas questões, em diferentes assuntos. O dinheiro investido,

além de proporcionar um melhoramento na funcionalidade e lazer, tem que ser,

indiscutivelmente, investido para a recuperação de elementos da cidade, sejam

eles áreas de cortiços, bairros mais desfavorecidos, zonas comerciais etc.

“Nossas cidades têm pessoas pobres demais para pagar pela


habitação de qualidade que nossa consciência pública
(corretamente, penso eu) nos diz que elas merecem. Além do
mais, em muitas cidades, a oferta de moradias é muito
pequena para acomodar a população sem superlotação, e a
quantidade de moradias adicionais necessárias não condiz
necessariamente com a capacidade imediata das pessoas
envolvidas de pagar por elas. Por esses motivos, precisamos
de subvenção pelo menos para parte das habitações
urbanas.” (Pág. 218)

Ressaltando o que foi dito no trecho “Por esses motivos, precisamos de

subvenção pelo menos para parte das habitações urbanas”, é necessário que se

faça um planejamento urbano pensando mais nas quantidades de moradias, já que

hoje em dia as cidades estão sempre superlotadas. Desta forma, deve-se ser

oferecida moradias para que a cidade seja apropriada para todas as classes

sociais.

“Quanto mais esses prédios com renda garantida


conseguirem manter os inquilinos, à medida que estes
melhoram sua condição financeira, haverá mais subsídios de
aluguéis para mais edifícios e outras famílias. (...)” (Pág. 221)

Um plano que daria certo seriam os prédios com renda garantida, pois isso

seria uma nova saída para as demais famílias da cidade que não podem pagar por

melhores moradias, esta solução, proposta por Jane, seria semelhante a uma bolsa

desta que vemos em universidades.

“Se o proprietário de um edifício com renda garantida


desejasse colocar comércio ou outros usos não residenciais
no andar térreo ou no porão, ou ambos, os custos rateados
desse espaço simplesmente não seriam incluídos na garantia
de renda ou na garantia de financiamento. Tanto as despesas
quanto a renda provenientes desse empreendimento salutar
correriam por fora de seus acordos com o DSH.” (Pág. 223)

Ainda sobre esse plano apresentado por Jane Jacobs. Com essa proposta,

os proprietários poderiam obter novas formas de trabalho para eles mesmos, e

assim eles estariam livres para impor seu próprio comércio ou seja qual for seu uso

não residencial.

“As artérias viárias, junto com estacionamentos, postos de


gasolina e drive-ins, são instrumentos de destruição urbana
poderosos e persistentes. Para lhes dar lugar, ruas são
destruídas e transformadas em espaços imprecisos, sem
sentido e vazios para qualquer pessoa a pé. Os centros
urbanos e outros bairros que são maravilhas de complexidade
compacta e sólido apoio mútuo acabam displicentemente
desentranhados. (...)” (Pág. 228)

Os automóveis não podem ser prioridade nas cidades, isso a transforma em

um caos. É preciso ter uma integração melhor entre pedestre e automóveis, pois o

automóvel também é necessário nas cidades, mas não pode ser prioridade. Os

centros urbanos e demais localidades da cidade não podem ser lugares para os

automóveis, mas deve ser para as pessoas. O ideal seria que existissem menos

tráfego de carros e mais movimentação de pedestres, ou seja, haveria de ter, de

uma forma bem generalizada e resumida, uma conscientização.

“Está na moda supor que a solução se encontra na destinação


de certos lugares para pedestres e outros lugares para
veículos. Talvez acabemos fazendo essa separação, se
decidirmos que é realmente isso o que queremos. Mas essas
soluções só são factíveis, em qualquer caso, se se contar com
o pressuposto de uma queda estrondosa no número de
veículos que utilizam as cidades. Do contrário, os
estacionamentos, as garagens e as vias de acesso
necessárias à volta do espaço dos pedestres atingirão um
número tão grande e contraproducente, que seriam medidas
de desintegração urbana, e não de recuperação urbana.”
(Pág. 231)

Não se pode, de uma maneira radical, desprezar o uso dos automóveis, até

porque diante da evolução industrial que vivemos ano a ano, isso é altamente

inviável, afinal são poucas pessoas que se locomóvel com veículos porquê de fato

precisam, a maioria desfruta desse bem para vencer qualquer vão, seja por se

sentir segura, ou por não se interessar em se tornar pedestre. O que se precisa de

fato, é ter uma solução que integre os dois pontos, sem destruir as cidades pelo

excesso de locais para carros.

“(...) O conflito entre pedestres e veículos nas ruas advém


principalmente da quantidade esmagadora de carros, em
favor dos quais todas as necessidades dos pedestres, exceto
as mínimas, são sacrificadas constante e progressivamente.”
(...) (Pág. 233)

No momento em que se tem o número absurdo de carros, as atividades

destinadas aos pedestres se tornam mínimas e são fortemente sacrificadas graças

ao esmagamento consequente.

“A erosão das cidades pelos automóveis provoca uma série


de consequências tão conhecidas que nem é necessário
descrevê-las. A erosão ocorre como se fossem garfadas –
primeiro, em pequenas porções, depois uma grande garfada.
Por causa do congestionamento de veículos, alarga-se uma
rua aqui, outra é retificada ali, uma avenida larga é
transformada em via de mão única, instalam-se sistemas de
sincronização de semáforos para o trânsito fluir rápido,
duplicam-se pontes quando sua capacidade se esgota, abre-
se uma via expressa acolá e por fim uma malha de vias
expressas. Cada vez mais solo vira estacionamento, para
acomodar um número sempre crescente de automóveis
quando eles não estão sendo usados.” (Pág. 235)

A adaptação das cidades para o grande número de automóveis é um perigo,

pois como mencionado no trecho acima quando relata das pequenas garfadas que

posteriormente se tornam grandes, ou seja, se o ritmo permanecer como está, logo

teremos uma cidade apenas para os automóveis, onde os já pequenos espaços

para os pedestres serão reformulados para os carros.

“Quanto mais áreas monótonas, planejadas ou espontâneas,


existirem, maior se torna a pressão do trânsito sobre os
distritos movimentados. As pessoas que precisam usar
automóvel para percorrer a monótona área onde moram na
cidade ou sair dela não estão sendo simplesmente
caprichosas ao ir de carro a um lugar em que ele é
desnecessário, prejudicial e um estorvo para os próprios
motoristas.” (Pág. 239)

É necessário também haver uma conscientização nas pessoas, pois muitas

delas nem se esforçam para tentar vencer as distancias como pedestres, mesmo

que elas sejam próximas, e isso afeta ainda mais a vida nos trânsitos, levando mais
carros ainda para as ruas, que por terem muitos deles, são obrigadas a dar lugares

para todos.

“Na vida real, que é bem diferente da vida nas cidades


imaginárias, a redução dos automóveis pelas cidades talvez
seja a única maneira de reduzir o número total de veículos. É,
provavelmente, a única maneira realista de estimular melhor
o transporte público e, ao mesmo tempo, promover e prover
um uso urbano com maior intensidade e vitalidade.
No entanto, a estratégia de pressão da cidade sobre os
automóveis não pode ser arbitrária nem negativa. Além disso,
uma política como essa não é capaz de dar resultados
espetaculares de uma hora para outra. Embora seus efeitos
cumulativos possam ser revolucionários, ela precisa, como
qualquer estratégia que vise manter as coisas funcionando,
estar inserida num processo evolutivo.” (Pág. 243)

De toda forma, é realmente necessário que haja essa redução de

automóveis, mas isso não é uma coisa para se acontecer de repente, mas com o

tempo e conscientização, trabalhando em função disso, acredita-se que se podem

ter resultados favoráveis.

“Uma das metas de McGrath é estimular o aumento da


eficiência do transporte público, que atualmente, em New
Haven, é sinônimo de ônibus. Para tanto, os ônibus que vão
para o centro e o atravessam precisam ser mais rápidos. Isso
pode ser feito, sem dúvida, diz McGrath, regulando a
frequência dos semáforos para intervalos menores, sem
sincronizá-los. (...)” (Pág. 244)

Outra medida que é importante e relatada por McGrath é o melhoramento

dos equipamentos de uso coletivo, onde logicamente eles poderão servir mais para
as pessoas, e poderão leva-las a utilizar estes equipamentos ao invés de se sempre

se locomoverem com seus automóveis.

“(...) Uma política que tivesse por objetivo primordial a


exclusão dos veículos, que criasse tabus sobre eles e os
multasse, com as crianças gritando "Carros, carros, fora
daqui!", seria uma política não só fadada ao fracasso, como
também merecidamente fadada ao fracasso. Devemos
lembrar que o vazio urbano não é melhor que o trânsito
excessivo, e a população tem razão ao suspeitar de
programas que não dão nada em troca.” (Pág.247)

Não adianta também, querer excluir totalmente os veículos das cidades, isso

seria uma medida fracassada e sem sentido, já que as cidades precisam estar

povoadas sempre. O que precisa ser entendido é que dar prioridades aos carros é

o que não pode acontecer, pois as cidades são feitas para as pessoas.

“Encarar a cidade, ou mesmo um bairro, como se fosse um


problema arquitetônico mais amplo, passível de adquirir
ordem por meio de sua transformação numa obra de arte
disciplinada, é cometer o erro de tentar substituir a vida pela
arte.”

Quando urbanistas e planejadores urbanos tentam encontrar


um meio de expressar, de modo claro e fácil, o "esqueleto" da
estrutura da cidade (as vias expressas e os passeios são os
atuais favoritos), o princípio está errado. Uma cidade não
pode ser constituída como um mamífero ou um prédio com
estrutura de aço – ou mesmo uma colmeia ou um coral. A
estrutura real das cidades consiste na combinação de usos, e
nós nos aproximamos de seus segredos estruturais quando
lidamos com as condições que geram a diversidade.” (Pág.
251/252)

A cidade deve ser constituída por sua diversidade, afinal é isso que a cidade

deve oferecer, locais com diversas opções, onde podem abrigar pessoas de

diferentes culturas. Essa deve ser a visão da cidade, e não algo em que o destaque

está para as vias ou algo monótono, mas deve apresentar cada vez mais essa

combinação de usos.

“Para que haja uma ordem funcional na cidade, é necessário


haver intensidade e diversidade; retirá-las das ruas significa
destruir uma ordem funcional, imprescindível. Por outro lado,
porém, para que haja ordem na cidade não é necessário
haver uma impressão de continuidade; essa impressão pode
ser atenuada sem prejuízo da ordem funcional. (...)” (Pág.
254)

A cidade necessita de uma ordem funcional, e esta é adquirida através da

diversidade, pois, através do simples fato de mantê-las, poderá eliminar de certa

forma, e muitas vezes imperceptivelmente os problemas da zona urbana.

“Nem todos os pontos de referência urbanos são edifícios.


Porém, os edifícios são as principais referências nas cidades,
e os princípios que os fazem servir bem ou mal se aplicam
também à maioria dos outros tipos de marcos, como
monumentos, chafarizes bonitos e assim por diante.” (Pág.
256)

Os edifícios, e os serviços que prestam são referências nas cidades, já que neles

estão presentes a parte funcional, ou seja, através dele é que as cidades funcionam
e se mantém íntegra. Todos os outros demais equipamentos devem seguir os

mesmos princípios de adequação dos edifícios, pois eles devem ocupar um papel

importante como o deles.

“(...) Os planejadores urbanos precisam diagnosticar que


condições capazes de gerar diversidade estão faltando – se a
carência é de usos principais combinados, se as quadras são
muito amplas, se existe uma mistura precária de idades e
tipos de edifícios, se a concentração de pessoas é suficiente.
Então, a condição que estiver faltando deve ser suprida – em
geral gradualmente e no momento oportuno – da melhor
maneira possível.” (Pág. 261)

Antes de qualquer construção que envolva a população geral ou localizada,

deve-se fazer um diagnóstico apurado do entorno. Desta forma também, devem ser

os projetos de revitalização. É preciso saber quais são as necessidades para que

não venha ser desperdiçado investimentos em locais errados.

“Esses projetos precisam ser recuperados como se faria com


qualquer cortiço. Isso significa, entre outras coisas, que eles
precisam fazer com que seus moradores neles permaneçam
por livre escolha. Isso quer dizer que eles devem ser seguros
e também viáveis para a vida urbana. Precisam, entre outras
coisas, de personagens públicas informais, espaços públicos
vivos, bem vigiados e usados com constância,
acompanhamento fácil e natural das crianças e inter-relação
de usos com as pessoas de fora. Em resumo, na sua
reintegração à estrutura urbana, esses projetos precisam
adquirir as virtudes de uma estrutura urbana sadia.” (Pág.262)
Esse trecho se refere aos conjuntos habitacionais, que geralmente

enfrentam diversos problemas, pois além de não apresentarem segurança,

somente em casos raros consegue manter uma civilização aceitável nas

redondezas, o que leva, a concluir que eles precisam das mesmas medidas de

soluções que são empregadas em qualquer cortiço. Deve-se esperar e planejar

para que nessas área se tenha uma estrutura urbana mais aprovável.

“Nenhuma das sugestões que fiz poderá isoladamente


recuperar efetivamente tudo. Todas as três – local reformado
e reintegrado à cidade; segurança dentro dos edifícios;
extinção do limite de renda máxima – são imprescindíveis.
Sem dúvida, podem-se esperar resultados positivos mais
rápidos nos conjuntos habitacionais em que a desmoralização
e o processo de degradação típico dos cortiços permanentes
causaram danos pequenos.” (Pág 266)

Ao decorrer da leitura do livro, podemos ver que uma das lições/visões que
Jane Jacobs deixa para o leitor, é que todas as unidades habitacionais podem ser
reerguidas, não é necessário que eles sejam destruídas ou desertadas quando não
dão certo. Sempre há uma forma do urbanismo interferir na qualidade de vida das
pessoas.

“Esta é, obviamente, a melhor maneira de revitalizar qualquer


tipo de projeto isolado, antes de ele ser efetivamente
construído: refletir melhor sobre ele.” Pág. 268

Antes de se projetar algo no meio urbanístico, deve-se estudar muitas coisas

antes, para que não venha haver erros, e o uso, depois de construído, venha ser

um sucesso que acrescente positivamente à diversidade na cidade.


“O planejamento para a vitalidade deve estimular e catalisar o
maior espectro e a maior quantidade possível de diversidade
em meio aos usos e às pessoas em cada distrito da cidade
grande; esse é o alicerce fundamental da força econômica, da
vitalidade social e do magnetismo urbanos. Para obtê-lo, os
planejadores devem diagnosticar com precisão, em lugares
específicos, o que falta para gerar diversidade e, depois, ter
como meta suprir essas lacunas da melhor maneira possível.”
(Pág. 271)

Ao se planejar um projeto de vitalidade em um local, deve-se observar fatos

como citado no trecho acima, em que se propõe a maior linha de diversidade nos

usos possível, para que no local se tenha um poder econômico, mas vale lembrar

que para se chegar a isso, não se pode fechar os olhos e instalar quaisquer tipos

de usos, não podemos ter uma monotonia de usos. Sendo assim, é indiscutível que

se precisa de um estudo no local para ver onde são os pontos fracos, e quais são

os usos necessários para que possa ser possível de fato uma revitalização.

“A ação e a pressão política serão sempre necessárias, mais


ainda numa sociedade que se autogoverna, para enfrentar e
desfazer conflitos reais de interesses e opiniões. (...)” (Pág.
274)

A interação com as forças maiores é necessária para que se possa enxergar

a solução para aquilo que não está no alcance das mãos dos cidadãos. Não se

pode fazer “vista grossa” para as situações que são mais complicadas de se

resolver, pelo contrário, deve-se unir mais forças para se ter uma pressão maior

nas autoridades até que venha ser encontrado uma solução para o problema.
“Na realidade, pela natureza do trabalho, quase todo o
planejamento urbano preocupa-se com ações relativamente
pequenas e específicas executadas aqui e ali, em ruas,
bairros e distritos específicos. Para saber se são bem ou mal
executadas – saber, afinal, o que deve ser feito –, é mais
importante conhecer aquela localidade específica do que
saber quantas coisas da mesma categoria estão implantadas
em outros locais e o que está sendo feito com elas. Não há
conhecimento que substitua o conhecimento do local no
planejamento, não importa se ele é criativo, coordenado ou
antecipatório.” (Pág 277)

Comentário bastante interessante, pois não se pode projetar nada sem se

ter o pleno conhecimento do local onde haverá a construção. E isso não está ligado

a somente o próprio terreno, mas a todo o entorno que envolverá a obra e irá

garantir se esta terá um bom funcionamento, e se poderá contribuir para a cidade.

Para se ter esse sucesso, é preciso conhecimento profundo sobre os fatores

externos que influenciarão e muito o projeto.

“Isso poderia ter valor para as áreas das grandes cidades


onde o uso residencial é predominante, mas cuja densidade
é muito baixa para conciliar uma quantidade apropriada de
moradores com a área viável e comum de um distrito. Deve-
se fazer com que tais áreas venham a ter, com o tempo, uma
concentração de usos urbanos, e pode ser que uma única
área geograficamente extensa acabe transformando-se em
vários distritos; (...)” (Pág 280)

Há lugares nas cidades que podem se tornar distritos, porém para isso é
preciso que essa área possa ter mais poder, até que um dia possa ter a função de
distrito. Até chegar neste patamar, será preciso que sejam feitos investimentos de
mais usos urbanos, influenciando assim, no poder e fortalecendo o local, lhe
proporcionando mais chances para crescer.

“O raciocínio, da mesma maneira que outras atividades,


também tem suas estratégias e táticas. Para pensar
simplesmente sobre as cidades e chegar a alguma conclusão,
uma das coisas principais que se devem saber é que tipo de
problema as cidades representam, já que todos os problemas
não podem ser analisados da mesma maneira. (Pág 284)”

As cidades não podem ser encaradas da mesma forma, cada uma possui

sua característica e seus problemas. Mesmo que os problemas sejam semelhantes,

não podemos julgar que eles são os mesmos, ou seja, toda a cidade deve ser

pontualmente estudada antes de modificações, pois todas são diferentes.

“Levando a conclusões lógicas a tese de que a cidade, como


ela é, constitui um problema de complexidade desorganizada,
os construtores e os planejadores – aparentemente
impassíveis – chegaram à ideia de que quase toda falha de
funcionamento poderia ser corrigida, abrindo-se e enchendo-
se outra gaveta do arquivo. (...)” Pág 289

As cidades geralmente possuem problemas, mas isso não quer dizer que ela

deve ser dada como perdida por isso. O dever e desafio dos planejadores é

conseguir de alguma forma melhorá-la e fazer com que toda a cidade possua um

bom funcionamento mesmo diante das diversas dificuldades.

“Os processos que ocorrem nas cidades não são misteriosos,


passíveis da compreensão somente por especialistas. Podem
ser compreendidos por quase todo o mundo. Várias pessoas
comuns já os compreendem; acontece que elas não lhes
deram nomes ou levaram em conta que, ao compreender
esses esquemas triviais de causa e efeito, podemos também
dar-lhes direção, se quisermos.” (Pág 291)

Entender as cidades não é algo destinado somente a profissionais, ela é

coletividade, e deve ser entendida e também interferida por todos, só assim, com

um conjunto de informações e opiniões, chegaríamos mais perto da cidade ideal.

“(...) A saúde a mais, a produtividade, a soma de talentos, que


permitem à sociedade sustentar esses avanços, são produto
da nossa organização em cidades e especialmente em
cidades grandes e densas.” (Pág 294/295)

Um ótimo exemplo de que quando a cidade está unida, e as pessoas lutam

pela mesma causa, se pode vencer obstáculos. Desta forma também deve ser nas

demais áreas, lutando pelo bem da cidade juntos, este é o comportamento que se

deve ter.

Análise e Conclusão

O livro proporciona uma rica visão sobre o que nossas mentes muitas vezes
não conseguem ver. Estas informações deveriam ser lidas por todas as pessoas,
pois sem dúvida elas possuem o poder de capacitar e trazer uma nova visão de
cidade para cada um.
Jane Jacobs apresentou verdadeiras soluções para vários problemas que
enfrentamos hoje em dia, a exemplo da insegurança, que para mim foi de real
destaque. É inegável que de fato existia algo por trás daquelas ruas que possuem
segurança. Porém, muitas vezes não consegui enxergar o verdadeiro porquê
daquele comportamento calmo, enquanto outras áreas viviam com problemas. Não
só em relação a segurança, afinal, neste livro outras diversas outras áreas para
lazer e outras soluções interessantes foram precisamente apresentadas.
Sem dúvida alguma, depois desta leitura, um novo mundo foi descoberto e
acredito que não poderei ter as mesmas visões que tinha depois de tantas
perguntas e questionamentos que foram respondidos. Agora, novas discursões
serão abertas, pois a cidade necessita disso, de discursões e de pessoas que se
importem e queiram muda-la para melhor.

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