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Mec-Nica Dos Solos II UFBA
Mec-Nica Dos Solos II UFBA
SUMÁRIO
4. RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO 80
4.1 Introdução 80
4.2 O conceito de tensão em um ponto 82
4.3 Círculo de Mohr 83
4.4 Resistência dos solos 86
4.5 Ensaios para a determinação da resistência ao cisalhamento dos solos 87
4.6 Características genéricas dos solos submetidos à ruptura 93
4.7 Trajetórias de tensões 105
4.8 Aplicação dos resultados de ensaios a casos práticos 108
3
Antes de iniciarmos uma exposição mais ou menos detalhada das bases teórica atuais
que se dispõe para tratar dos problemas de fluxo de água no solo, é conveniente esclarecer as
razões pelas quais a resolução de tais problemas é de vital importância para o engenheiro
geotécnico. Ao se mover no interior de um maciço de solo, a água exerce em suas partículas
sólidas forças que influenciam no estado de tensões do maciço. Os valores de pressão neutra e
com isto os valores de tensão efetiva em cada ponto do solo são alterados em decorrência de
alterações no regime de fluxo. Na zona não saturada, mudanças nos valores de umidade do
solo irão alterar de forma significativa os seus valores de resistência ao cisalhamento. De uma
forma geral, são os seguintes os problemas onde mais se aplicam os conceitos de fluxo de
água nos solos:
Estimativa da vazão de água (perda de água do reservatório da barragem), através
da zona de fluxo.
Instalação de poços de bombeamento e rebaixamento do lençol freático
Problemas de colapso e expansão em solos não saturados
Dimensionamento de sistemas de drenagem
Dimensionamento de “liners” em sistemas de contenção de rejeitos
Previsão de recalques diferidos no tempo
Análise da influência do fluxo de água sobre a estabilidade geral da massa de solo
(estabilidade de taludes).
Análise da possibilidades da água de infiltração produzir erosão, araste de material
sólido no interior do maciço, “piping”, etc.
Como se pode observar, o conhecimento das leis que regem os fenômenos de fluxo de
água em solos é aplicado nas mais diversas situações da engenharia. Um caso de particular
importância na engenharia geotécnica, o qual aplica diretamente os conceitos de fluxo de
água em solos, é o fenômeno de adensamento, característico de solos moles, de baixa
permeabilidade. Por conta dos baixos valores de permeabilidade destes solos, os recalques
totais a serem apresentados por eles, em decorrência dos carregamentos impostos, não
ocorrem de imediato, se apresentando diferidos no tempo. A estimativa das taxas de recalque
do solo com tempo, bem como a previsão do tempo requerido para que o processo de
adensamento seja virtualmente esgotado, são questões freqüentemente tratadas pelo
engenheiro geotécnico, o qual terá que utilizar de seus conhecimentos acerca do fenômeno de
fluxo de água em solos, para respondê−las. O capítulo 2 deste volume trata do tema
compressibilidade/adensamento.
A influência do fluxo de água na estabilidade das massas de solo se dá pelo fato de
que quando há fluxo no solo, a pressão a qual água está sujeita é de natureza hidrodinâmica e
este fato produz várias repercussões importantes. Em primeiro lugar, dependendo da direção
do fluxo, a pressão hidrodinâmica pode alterar o peso específico submerso do solo. Por
exemplo, se a água flui em sentido descendente, o peso específico submerso do solo é
majorado. Se o fluxo ocorre em uma direção ascendente, se exerce um esforço sobre as
partículas de solo o qual tende a diminuir o seu peso específico submerso. Em segundo lugar
e de acordo com o princípio das tensões efetivas de Terzaghi, e conservando−se a tensão total
atuando em um ponto na massa de solo e modificando−se o valor da tensão neutra naquele
ponto, a sua tensão efetiva será modificada. Como já vimos anteriormente, a tensão efetiva é
a responsável pelas respostas do solo, seja em termos de resistência ao cisalhamento, seja em
termos de deformações, o que vem a ilustrar ainda mais a importância dos fenômenos de
fluxo de água nos solos.
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u v2
htotal = z + + (1.1)
γ w 2g
Onde, htotal é a energia total do fluido; z é a cota do ponto considerado com relação a
um dado referencial padrão (DATUM); u é o valor da pressão neutra; v é a velocidade de
fluxo da partícula de água e g é o valor da aceleração da gravidade terrestre, geralmente
admitido como sendo igual a 10 m/s2.
Como se pode observar desta equação, este modo de expressar o teorema de Bernoulli
conduz à representação da energia específica do fluido em termos de cotas equivalentes,
possuindo a unidade de distância (m, cm, mm, etc.). Notar que a relação Joule/Newton
possui unidade de comprimento. Como será visto no próximo item deste capítulo, a
7
u
htotal = z + (1.2)
γw
Conforme será visto no item seguinte deste capítulo, para que haja fluxo de água entre
dois pontos no solo, é necessário que a energia total em cada ponto seja diferente. A água
então fluirá sempre do ponto de maior energia para o ponto de menor energia total.
Costuma−se definir a energia livre da água em um determinado ponto do solo como a
energia capaz de realizar trabalho (no caso, fluxo de água). Considerando−se a condição
necessária para que haja fluxo no solo exposta acima, a energia livre poderia ser representada
pela diferença entre os valores de energia total nos dois pontos considerados da massa de
solo. Desta forma, caso o nível de referência (DATUM) apresentado na fig. 1.1 fosse
modificado, o valor da energia total em cada ponto também o seria, porém a diferença entre
as energias totais permaneceria constante, ou seja, a energia livre da água entre os dois pontos
permaneceria inalterada, independente do sistema de referência.
No item seguinte deste capítulo, o termo htotal da equação de Bernoulli será
denominado de potencial total da água no solo e será representado pelo símbolo h.
8
No esquema apresentado na fig. 1.2a, a água se eleva até uma certa cota (h1) nos dois
lados do reservatório. O potencial total é soma da cota atingida pela água e a cota do plano de
referência. Nesse caso, o potencial total é o mesmo nos dois lados do reservatório (pontos F1 e
F2), portanto, não há fluxo. Somente ocorre fluxo quando há diferença de potenciais totais
entre dois pontos e ele seguirá do ponto de maior potencial para o de menor potencial.
Considerando−se o caso b da fig. 1.2, tem−se no lado esquerdo (ponto F1) maior potencial
total que no ponto F2, no lado direito. Dessa forma, a água está fluindo da esquerda para
direita, ou seja, de F1 para F2. Ocorrendo movimento de água através de um solo, ocorre uma
transferência de energia da água para as partículas do solo, devido ao atrito viscoso que se
desenvolve. A energia transferida é medida pela perda de carga e a força correspondente a
essa energia é chamada de força de percolação. A força de percolação atua nas partículas
tendendo a carregá−las, conseqüentemente, é uma força efetiva de arraste hidráulico que atua
na direção do fluxo de água.
h1 h1
h2
L L
F2
A A
F1 F1 FP F2
(a) (b)
Figura 1.2 – Forças de percolação.
Na fig. 1.2b, pode−se observar que a amostra de solo está submetida às forças
F1=γw.h1.A, graças à carga h1 atuando do lado esquerdo do reservatório e do lado direito, atua
a força F2=γw.h2.A
A força resultante que se dissipa uniformemente em todo o volume de solo (A.L) é
dada por:
Fp = γ w .V .i (1.3)
A análise do equilíbrio de uma massa de solo sujeita à percolação da água admite dois
procedimentos distintos:
• Peso total (saturado) do solo + forças de superfície devido às pressões da água
intersticial;
• Peso efetivo (submerso) do solo + forças de percolação.
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’> ? ?
R=w‘± Fp Fluxo descendente (+): γ‘ = γsub + γ w·i → = v sub @ wA
i A dz
’> ? ?
Fluxo ascendente (−): γsub − γ w·i→ = v sub B wA
i A dz
h
h1 Areia
saturada
L
Tensão total:
σA = γw.h1 + γsat. L (1.4)
Pressão neutra
uA = γw. (h1 +L + h) (1.5)
hc γ sat − γ w
ic = =
L γw (1.6)
D 15 f I 4 a 5 D 85 s
12
D 15 f J 4 a 5 D 15 s (1.7)
sendo, f, o índice relativo ao material de filtro e, s, o índice relativo ao solo a ser protegido e
ainda, D(%), o diâmetro correspondente à porcentagem que passa, ou seja, semelhante as
definições de D10 e D60.
Na fig. 1.6 tem−se um exemplo de como escolher a curva granulométrica de um filtro,
para proteger um solo com curva granulométrica conhecida. Estabelecidos os limites para
D(15)f (pontos A e B), traçam−se, por estes pontos, curvas granulométricas de coeficiente de
uniformidade aproximadamente iguais ao solo a ser protegido, definindo−se, portanto, uma
faixa de granulometrias possível de atender às condições exigidas para o filtro de proteção.
v ⋅D
R= (1.8)
ν
É difícil se estudar as condições de fluxo para cada poro, de maneira individual dentro
do solo. Somente as condições médias existentes em cada seção transversal de solo podem ser
estudadas. Pode−se dizer, contudo, que para os tamanhos de poros geralmente encontrados
nos solos, o fluxo através dos mesmos é invariavelmente laminar. Somente para o caso de
solos mais grossos, como no caso dos pedregulhos, escoamento turbulento pode ocorrer,
ainda assim requerendo para isto altos valores de gradientes hidráulicos.
O engenheiro Francês H. Darcy realizou um experimento, o qual era constituído de
um arranjo similar àquele apresentado na fig. 1.7, para estudar as propriedades de fluxo de
água através de uma camada de filtro de areia. Este experimento, realizado em 1856, se
tornou clássico para as áreas de hidráulica e geotecnia e deu origem a uma lei que
correlaciona a taxa de perda de energia da água (gradiente hidráulico) no solo com a sua
velocidade de escoamento (lei de Darcy).
z h
h1
∆h
h1
L i = −dh/dz
h2 h2
∆h
q = −k ⋅ ⋅ A = k ⋅i⋅ A (1.9)
L
∆h
v = −k ⋅ = k⋅i (1.10)
L
A lei de Darcy para o escoamento da água no solo é válida somente para os casos de
fluxo laminar. Pesquisas efetuadas posteriormente a postulação da lei de Darcy demostraram
que o valor limite do número de Reynolds para o qual regime de fluxo muda de laminar para
turbulento no solo se situa entre 1 e 2. Esta enorme diferença entre o número de Reynolds
crítico para escoamentos em condutos forçados e no solo deve−se ao fato de que no solo os
canalículos ligando os diversos poros em seu interior são irregulares, tortuosos e mesmo
eventualmente não contínuos.
KVLHW '(2-'( )0./9
XY "Z'(3F'(".0<.3(
Valores típicos:
cm/s
k = C ⋅ d 102 (1.12)
Para k expresso em cm/s e o diâmetro efetivo expresso em cm, temos 90 < C <120
sendo o valor de C = 100 muito usado. Outra equação também utilizada na estimativa de
valores de coeficientes de permeabilidade é a fórmula de Sing:
e = α + β log(k ) (1.13)
que na equação proposta por Hazen o diâmetro equivalente dos vazios das areias, e, portanto,
a sua permeabilidade, é determinada pela sua fração mais fina, pouco interferindo a sua
fração granulométrica mais grossa.
Duas outras equações que se aplicam à avaliação da permeabilidade em meios porosos
são as de Taylor (eq. 1.14) e a de Kozeny−Carman (eq. 1.15):
?
> 2 w e3 (1.14)
k C .D b
1@ e
?
> w e3 1 (1.15)
k b 2
1 @ e koA S
O esquema montado para a realização deste ensaio se assemelha em muito com aquele
elaborado por Darcy para a realização de sua experiência histórica (fig. 1.7) sendo
reapresentado na fig. 1.9. Este ensaio consta de dois reservatórios onde os níveis d’água são
mantidos constantes e com diferença de altura (∆H), como demonstra a fig. 1.9. Medindo−se
a vazão q e conhecendo−se as dimensões do corpo de prova (comprimento L e a área da seção
transversal A), calcula−se o valor da permeabilidade, k, através da eq. 1.17.
17
> vol f L
k h (1.17) em que:
Af Hf t
O permeâmetro de carga constante é sempre utilizado toda vez que temos que medir a
permeabilidade em solos granulares (solos com razoável quantidade de areia e/ou
pedregulho), os quais apresentam valores de permeabilidade elevados.
∆H
∆L
O permeâmetro de carga variável é usado quando ensaiamos solos com baixos valores
de permeabilidade. Seu uso é requerido porque senão teríamos que dispor de um tempo muito
longo para percolar a quantidade de água necessária para a determinação de k com o uso do
permeâmetro de carga constante. Além disto, devido às baixas velocidades de fluxo, a
evaporação da água para a atmosférica passa a ter grande importância e cuidados especiais
devem ser tomados durante a realização dos ensaios. A fig. 1.10 apresentada a seguir ilustra o
esquema montado para a realização do ensaio de permeabilidade a carga variável.
No ensaio de permeabilidade a carga variável medem−se os valores de h obtidos para
diversos valores de tempo decorrido desde o início do ensaio (notar que a diferença de
potencial entre os dois lados da amostra, aqui representada por h(t), não é mais uma
constante). São também anotados os valores de temperatura quando da efetuação de cada
medida. O coeficiente de permeabilidade do solo é então calculado fazendo−se uso da lei de
Darcy e levando−se em conta que a vazão de água através do corpo de prova pode ser
representada pela eq. 1.18 (conservação da massa), apresentada adiante.
18
h = f(t)
L
A
dh
q = −a (1.18)
dt
A lei de Darcy pode ser expressa em termos de vazão pela eq. 1.19, apresentada a
seguir.
h
q=k⋅ ⋅A (1.19)
L
Igualando−se as expressões 1.18 e 1.19 chega−se a eq. 1.20, apresentada abaixo.
h1 t1
> dh > kA (1.20) onde, integrando−se obtém−se:
B a dt
ho h L t o
h o > k.A h
a. ln t explicitando−se o valor de k, obtém−se:
h1 L
Sendo;
a: área interna do tubo de carga
A: seção transversal da amostra
L: altura do corpo de prova
ho: distância inicial do nível d‘água para o reservatório inferior
h1: distância, para o tempo 1, do nível d‘água para o reservatório inferior
∆t: intervalo de tempo para o nível d‘água passar de ho para h1
K[L R$ "'(0."Xe7
x2
q ⋅ ln (1.22)
k= x1
(
π ⋅ y 2 − y1 2
2
)
O ensaio de tubo aberto (infiltração) é utilizado para solos mais finos e a determinação
do coeficiente de permeabilidade é feita enchendo−se um furo revestido (escavado até uma
profundidade determinada, abaixo do lençol freático) com uma determinada quantidade de
água e deixando−se a água percolar pelo solo, fig. 1.12. Durante o processo de infiltração são
20
r1 ∆h
k = ⋅ (1.23)
4h ∆ t
Além de ser uma das propriedades do solo com maior faixa de variação de valores, o
coeficiente de permeabilidade de um solo é uma função de diversos fatores, dentre os quais
podemos citar a estrutura, o grau de saturação, o índice de vazios, etc.
Quanto mais poroso é o solo maior será a sua permeabilidade. Essa correlação pode
ser visualizada através das equações 1.14 e 1.15. Deve−se salientar, contudo, que a
permeabilidade depende não só da quantidade de vazios do solo mas também da disposição
relativa dos grãos.
21
A lei de Darcy pode ser estendida para o caso de fluxo tridimensional através da eq.
1.25 apresentada adiante. Para o caso de solo isotrópico (kx=ky=kz), a eq. 1.25 pode ser
simplificada, resultando na eq. 1.26.
r > k x ADs h t k y uA s h t k y uA s h t
V B (1.25)
A i@ A j@ Ak
s x s y s z
r h t h t h t
>
V B kA s A i@ s A j@ s A k (1.26)
s x s y s z
h1 q1 k1
h2 q2 k2 h
hn qn . k3
>
mas, k x ih k 1 ih1 @ k 2 ih 2 @ ... @ k n ih n
n
k i hi
> ix 1 (1.28)
kx n
hi
ix 1
h h h h
> h > h1 > h2 > > hn
V z kz k1 k2 .... k n
hi h1 h2 hn
Se a perda de carga total ∆h é dado pelo somatório das perdas de cargas através de
cada uma das camadas e o coeficiente de permeabilidade do conjunto é kz, ter−se−á:
h >eh h h h
h h1 @ h2 @ h 3 @ ... @ hn ou
Vz hi > V 1 h1 V 2 h2 V n hn
@ @ ... @
kz k1 k2 kn
n
hi
> ix 1
kz (1.29)
n
hi
ix 1 ki
V
h1 i1 k1
h2 i2 k2 h
hn in . k3
Vy(x,y+dy,z)
dx
z
dy
dz
x Vy(x,y,z)
qy (y ) = Vy (y ) ⋅ dz ⋅ dx (1.30)
Para a outra face do elemento de solo a qual sofre a influência do fluxo de água
provocado por vy, o centro da área de fluxo tem coordenadas (x,y+dy,z). A velocidade de
fluxo na direção y não é mais necessariamente vy, devendo ser melhor representada por
vy+dvy. dvy representa a variação da velocidade de fluxo na direção y, devido a variação
espacial da coordenada do centro da face de fluxo, dy. A eq. 1.31 representa a quantidade de
fluxo passando pela outra face do elemento de solo
q y ( y+ dy ) = V y (y +dy ) ⋅ dz ⋅ dx = (V y + dVy )⋅ dz ⋅ dx
(1.31)
A taxa de armazenamento de água no solo devida a componente da velocidade de
fluxo na direção y será dada pela diferença entre as quantidades de fluxo que passam pelas
duas faces aqui consideradas (diferença entre os termos dados pelas equações 1.31 e 1.30). A
eq. 1.32 representa a taxa de armazenamento da água no solo devido a componente de fluxo
na direção y. O sinal negativo na eq. 1.32 significa que para haver o acúmulo de água no solo
a componente da velocidade na direção y, na face de saída, deve ser maior do que na face de
entrada.
> (1.32)
dq y B dv y A dx A dy A dz
dvy pode ser calculado fazendo uso do conceito de diferencial total (eq. 1.33). Deve−
se notar que os centros das faces consideradas possuem as mesmas coordenadas z e x, de
modo que dz = dx = 0. Deste modo, o termo dvy pode ser representado pela eq. 1.34.
Substituindo−se a eq. 1.34 na eq. 1.32 chega−se a eq. 1.35, apresentada adiante.
∂V y ∂Vy ∂Vy
dV y = dx + dy + dz (1.33)
∂x ∂y ∂z
0 0
∂ Vy
dV y = dy (1.34)
∂y
> B Vy
dq y A dx A dy A dz
(1.35)
y
A taxa de armazenamento total da água no solo será dada pelas contribuições do fluxo
nas três direções: x, y e z (eq. 1.36). Seguindo−se o mesmo procedimento apresentado para o
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caso da direção y, pode−se mostrar que a taxa de armazenamento total da água no solo é dada
pela eq. 1.37, apresentada adiante (lei de conservação da massa).
> Vx Vy Vz (1.37)
dq total B @ @ A dx A dy A dz
x y z
O termo dx⋅dy⋅dz representa o volume do elemento infinitesimal de solo considerado.
Deste modo, podemos exprimir a taxa de armazenamento total da água no solo, em relação ao
próprio volume do elemento infinitesimal, pela eq. 1.38.
Por sua vez, o termo dqtotal/dv pode ser expresso como uma função dos índices físicos
do solo. A fig. 1.16 apresenta um diagrama de fases para o elemento de solo considerado, em
termos de índice de vazios. Conforme se pode observar do diagrama de fases apresentado
nesta figura, a relação volume de água/volume total do elemento de solo é dada por
Sr⋅e/(1+e), onde e é o índice de vazios inicial da amostra e Sr o seu grau de saturação. O
termo dqtotal/dv corresponde a variação da relação Sr⋅e/(1+e) no tempo, podendo ser
representado pela eq. 1.39. Igualando−se as Equações 1.38 e 1.39 chega−se a eq. 1.40, a qual
atende aos requerimentos impostos pelo princípio da conservação da massa de água no solo.
Sr A e > Vx Vy Vz
B @ @ A dx A dy A dz
t 1@ e x y z
(1.40)
Pesos Volumes
0 Ar
e
γw⋅Sr⋅e Água Sr⋅e 1+e
γs Solo 1
A eq. 1.25 apresentada anteriormente representa a lei de Darcy aplicada para um caso
de fluxo tridimensional. Da eq. 1.25 pode−se deduzir as igualdades apresentadas na eq. 1.41,
mostrada adiante.
Substituindo−se os termos apresentados na eq. 1.41 dentro da eq. 1.40 chega−se a eq.
1.42, apresentada adiante, a qual representa a equação geral para o caso de fluxo de água em
solos.
k xA h k yA h kz A h
Sr A e >
x y z
@ @ A dx A dy A dz
t 1@ e x y z
(1.42)
Para o caso de fluxo em solo não saturado, heterogêneo e anisotrópico, tanto os
valores dos coeficientes de permeabilidade em cada direção (kx, ky e kz) quanto os valores do
potencial total da água no solo serão dependentes das coordenadas do ponto considerado e do
grau de saturação do solo, de modo que a resolução analítica da eq. 1.42 se torna bastante
árdua, senão impossível. Deve−se ressaltar, contudo, que com o desenvolvimento das técnicas
computacionais de representação do contínuo (como o método dos elementos finitos, por
exemplo), a resolução de tais problemas se tornou possível, em tempo viável, para uma
enorme variedade de condições de contorno. Para o caso de fluxo de água em solo saturado,
homogêneo e isotrópico, a eq. 1.42 é reduzida a eq. 1.43 apresentada a seguir.
1 ∂e ∂h 2 ∂h 2 ∂h 2
⋅ = k 2 + 2 + 2
∂ ∂ z
1 + eo ∂t ∂y
x (1.43)
A eq. 1.43 é utilizada na resolução de dois tipos de problemas fundamentais para a
mecânica dos solos envolvendo fluxo de água: Fluxo bidimensional estacionário (fluxo
estacionário, do inglês “steady state flow”) e a teoria do adensamento unidirecional de
Terzaghi (Fluxo transiente, do inglês “transient flow”). Diz−se que o movimento de água no
solo está em um regime estacionário quando as condições de contorno do problema não
mudam com o tempo. No caso da eq. 1.43 para fluxo estacionário, o índice de vazios do solo
é uma constante, de modo que esta equação pode ser rescrita (considerando−se o fluxo
somente em duas direções) como a eq. 1.44.
∂ 2h ∂ 2h
k ⋅ 2 + 2 = 0
∂x ∂z
(1.44)
A resolução analítica da eq. 1.44 nos fornece duas famílias de curvas ortogonais entre
si (linhas de fluxo e linhas equipotenciais). Além de ser resolvida analiticamente, a eq. 1.44
pode ser resolvida utilizando−se uma grande variedade de métodos, como o método das
diferenças finitas, o métodos dos elementos finitos, através de modelos reduzidos ou através
de analogias com as equações que governam os problemas de campo elétrico ou
termodinâmicos. Os métodos utilizados para a resolução da eq. 1.44 são apresentados no
capítulo 3 deste trabalho. A título ilustrativo, a fig. 1.17 apresenta a resolução de um
problema de fluxo de água através da fundação de uma barragem de concreto contendo uma
cortina de estacas pranchas em sua extremidade esquerda. Notar a ortogonalidade entre as
linhas de fluxo e as linhas equipotenciais encontradas na resolução do problema.
Diz−se que o movimento de água no solo está em um regime transiente quando as
condições de contorno do problema mudam com o tempo. Neste caso, o valor do índice de
vazios do solo irá mudar com o desenvolvimento do processo de fluxo. Um dos casos mais
importantes de fluxo transiente em solos é o caso da teoria do adensamento unidirecional de
Terzaghi, estudada no capítulo seguinte. Para o caso de fluxo transiente unidirecional a eq.
1.43 se transforma na eq. 1.45 apresentada a seguir.
27
Sr A e > 2 h (1.45)
k 2
t 1 @ e h
Neste item é feita uma revisão sumária de alguns conceitos envolvendo o fenômeno da
capilaridade em solos. O assunto capilaridade já deve ser do conhecimento dos alunos deste
curso de mecânica dos solos, sendo normalmente estudado nas disciplinas de física aplicada.
Para o estudo da ascensão da franja capilar nos solos, os seus vazios são associados a tubos
capilares interconectados, ainda que muito irregulares. Logo, a capilaridade se manifesta nos
solos pela propriedade que possuem os líquidos de poderem subir, a partir do nível do lençol
freático, pelos canais tortuosos do solo, formados pelos seus vazios.
No caso dos solos, o líquido o qual ascende além do nível freático é geralmente a
água, pura ou contendo alguma substância dissolvida. A explicação dos fenômenos capilares
é feita com base numa propriedade do solo associada com a superfície livre de qualquer
líquido, denominada tensão superficial. A tensão superficial resulta da existência de forças de
atração de curto alcance entre as moléculas, denominadas de forças de Van der Waals, ou
simplesmente forças de coesão. A distância limite de atuação destas forças, isto é, a distância
máxima que uma molécula consegue exercer atração sobre as outras, é conhecida pelo nome
raio da esfera de ação molecular ‘r’, que na água, não excede 5x10−6 cm.
Deste modo, qualquer molécula cuja esfera de ação não esteja totalmente no interior
do líquido, não se equilibra, porque a calota inferior da sua esfera de ação está repleta de
moléculas que a atrai, o que não acontece com a calota superior, que cai fora do líquido, e não
está cheia de moléculas como a inferior (vide fig. 1.18). Tais moléculas são atraídas para o
interior do líquido pela resultante destas forças de coesão não equilibradas. Evidentemente,
28
esta resultante é nula quando a molécula se encontra a uma distância ‘r’ ou maior que r da
superfície do líquido.
ar
F=0
Líquido
Força resultante
Além disto, pela ação destas forças, a superfície do líquido se contrai minimizando sua
área, e adquire uma energia potencial extra que se opõe a qualquer tentativa de distendê−la,
ou seja, ocorrendo uma distensão, a tendência da superfície é sempre voltar a sua posição
original. Baseando−se nestas observações, a superfície ativa do líquido é também chamada de
membrana contrátil.
Quando a membrana contrátil de um líquido se apresenta curva, pelo fato da mesma
possuir moléculas tracionadas, uma força resultante surge, sendo responsável por fenômenos
tais como a ascensão capilar. A curvatura do menisco por sua vez é função da intensidade da
força com que as moléculas do líquido são atraídas por outras moléculas do mesmo líquido,
pelo ar e pelas moléculas da superfície sólida eventualmente em contato com o líquido. A
formação de meniscos capilares é ilustrada na fig. 1.19, mostrada adiante.
Conforme podemos observar nesta figura, F1 representa a força resultante de atração
das partículas sólidas (em sua parte superior e inferior) sobre as moléculas de água que se
encontram no ponto P e F2 representa a resultante das forças de atração entre as próprias
moléculas do fluido. Desprezando−se a atração entre as moléculas de líquido e ar, caso F2 =
2F1, o menisco não apresentará curvatura, ou θ será de 90º. Caso F2 < 2F1, o menisco será
côncavo, ou seja, θ será menor que 90º (como no caso dos meniscos formados pela água e a
maioria das superfícies de contato). Caso F2 > 2F1, o menisco será convexo, ou seja, θ será
maior do que 90º (como nos casos dos meniscos formados pelo mercúrio e a maioria das
superfícies de contato).
F1 resultante
sólido
P
θ
F1 resultante
sólido
F2 resultante líquido
Imergindo−se a ponta de um tubo fino de vidro num recipiente com água, essa subirá
no tubo capilar até uma determinada altura, a qual será maior quanto mais fino for o tubo.
Existirá sempre uma tensão superficial (Ts) no contato entre a água e o vidro, formando um
ângulo θ (cujo valor depende da relação entre as forças apresentadas na fig. 1.19), o qual é
também é conhecido como ângulo de molhamento ou de contato. Ts e θ assumirão valores
que dependerão do tipo de fluido e da superfície de contato em questão. No caso da água,
considerada pura e o vidro quimicamente limpo, na temperatura ambiente, Ts é
aproximadamente igual a 0,074 N/m e θ é igual a zero.
L cT73('F2"-_".<03(
1 1
σ = Ts +
r1 r2 (1.46)
Caso o menisco de água seja esférico, temos r1=r2, o que, utilizando−se o esquema
apresentado na fig. 1.20, faz com que a equação de Laplace seja transformada na eq. 1.47,
utilizada para calcular a altura de ascensão capilar da água.
2 ⋅ Ts ⋅ cos(θ )
h=
γw ⋅r (1.47)
O fenômeno da capilaridade é responsável pela falsa coesão das areias, quando estas
se encontram parcialmente saturadas. Em areias puras, areias de praias por exemplo, não há
aderência entre os seus grãos, seja no estado seco ou completamente saturado. Nota−se
entretanto, que quando nessas areias existe um teor de umidade entre zero e a umidade de
saturação, surge um menisco entre os contatos dos grãos, que tende a aproximar as partículas
de solo. Essas forças de atração surgem em decorrência do fenômeno da capilaridade e são
responsáveis pela coesão aparente das areias
Nas argilas, quando secas, há uma diminuição considerável do raio de curvatura dos
meniscos, levando a um aumento das pressões de contato e a uma aproximação das partículas,
provocando o fenômeno da retração por secagem no solo. Durante o processo de secagem das
argilas, as tensões provocadas em decorrência da capilaridade podem se elevar a ponto de
provocar trincas de tração no solo.
31
Quando as cargas de uma determinada estrutura são transmitidas ao solo, estas geram
uma redistribuição dos estados de tensão em cada ponto do maciço (acréscimos de tensão), a
qual, por sua vez, irá provocar deformações em toda área nas proximidades do carregamento,
inevitavelmente resultando em recalques superficiais.
Os dois fatores mais importantes na análise de uma fundação qualquer são 1) – As
deformações do solo, especialmente aquelas que irão resultar em deslocamentos verticais
(recalques na cota de assentamento da estrutura) e 2) A resistência ao cisalhamento do solo,
responsável pela estabilidade do conjunto solo/estrutura.
Para análise do primeiro requerimento imposto à fundação (recalques admissíveis da
fundação), deve−se considerar e estudar aspectos relativos à deformabilidade (ou
compressibilidade) dos solos. A natureza das deformações do solo sob os carregamentos a ele
impostos, pode ser elástica, plástica, viscosa ou mesmo se apresentar (como na maioria dos
casos) como uma combinação destes três tipos de deformação. As deformações elásticas
geralmente causam pequenas mudanças no índice de vazios do solo, sendo totalmente
recuperadas quando em um processo de descarregamento. Não se deve nunca confundir os
termos elasticidade e linearidade, já que um material pode se comportar de maneira elástica e
não linear.
Diz−se que um material se comporta plasticamente quando, cessadas as solicitações a
ele impostas, não se observa nenhuma recuperação das deformações ocorridas no corpo. Em
todos os dois tipos de deformação relatados acima, a resposta do solo a uma mudança no seu
estado de tensões efetivo é imediata. Quando o solo, mesmo com a constância do seu estado
de tensões efetivo, continua a apresentar deformações com o tempo, diz−se que ele está a
apresentar um comportamento do tipo viscoso (processo de fluência).
As deformações de compressão do solo, as quais são as principais responsáveis pelo
aparecimento de recalques na superfície do terreno, são devidas ao deslocamento relativo das
partículas de solo (no sentido de torná−las mais próximas umas das outras), tendo as
deformações que ocorrem dentro das partículas geralmente uma pequena influência nas
deformações volumétricas totais observadas.
Já que nos depósitos naturais o solo se encontra geralmente confinado lateralmente, os
recalques apresentados pelas estruturas de fundação são devidos, em sua maior parte, às
variações volumétricas de compressão apresentadas no interior do maciço de solo. Pode−se
ainda dizer que, neste caso, as deformações no sentido vertical compõem a maior parte das
deformações volumétricas observadas.
Xe7
H'FZE'F3('("0.<03(
Para a magnitude das cargas geralmente aplicadas na engenharia geotécnica aos solos,
as deformações ocorrendo na água e nas partículas sólidas podem ser desprezadas,
32
R
7
"#.46 3("0.Xm$ "'F#.Xe7
H_E W '( ""L
(a) (b)
∆e
av = − (2.2)
∆σ v ’
O sinal negativo na eq. 2.2 é necessário pois o índice de vazios e a pressão vertical do
solo variam em sentido contrário (acréscimos na tensão vertical irão causar decréscimos no
índice de vazios do solo).
Na fig. 2.4 os mesmos resultados já apresentados na fig. 2.3 estão plotados em escala
semi−log. Como se pode observar, em escala semi−log estes resultados podem ser
aproximados por dois trechos lineares (embora para o trecho descarga/recarga, D−B−D, esta
simplificação não se ajuste de forma tão satisfatória como nos trechos de carregamento
virgem A−B e B−C). As inclinações dos trechos de descarregamento/recarregamento e
carregamento virgem da curva de compressão em escala semi−log são dadas pelos índices de
recompressão (Ce) e de compressão (Cc), respectivamente. As Equações 2.3 e 2.4 ilustram as
expressões utilizadas no cálculo dos índices de compressão e recompressão do solo.
(ef − ei )
cc = −
σ
log vf
σ vi (trecho de compressão virgem do solo) (2.3)
(e f − ei )
ce = −
σ
log vf
σ vi (trechos de descompressão e recompressão do solo) (2.4)
36
A fig. 2.5 ilustra o efeito do pré−adensamento sobre os solos. Nesta figura, em que a
curva de compressão do solo foi aproximada por trechos lineares, um solo normalmente
adensado é comprimido até um determinado valor de σv′ (representado pelo ponto B1), a
partir do qual sofre um processo de descompressão, atingindo o ponto D1. Se, neste ponto o
solo é recarregado, a trajetória de tensões seguida no espaço σv′ x e, pode ser representada
pela reta D1−B1, a menos de uma pequena histerese, de valor normalmente negligenciável.
Atingindo novamente o valor de B1, o solo irá seguir a reta de compressão virgem. Sendo
novamente descarregado o solo para qualquer valor de σv′ > B1 (como B2, por exemplo),
teremos resultados semelhantes.
Conforme será visto neste capítulo, quando do cálculo de recalques em campo, a curva
de compressão do solo é geralmente representada por dois segmentos lineares, com
inclinações distintas, a saber, um trecho de recompressão do solo, o qual possui como
inclinação o valor de Ce e um trecho de carregamento virgem do solo, cuja inclinação é dada
pelo índice Cc. O valor da tensão a qual separa os trechos de recompressão e de compressão
virgem do solo é normalmente denominado de tensão de pré−adensamento, e representa,
conceitualmente, o maior valor de tensão já sofrido pelo solo em campo.
37
σ v max σ vp
O.C.R = =
σ vcampo σ vcampo
(2.5)
Conforme apresentado na fig. 2.7, há uma transição gradual entre as inclinações dos
trechos de recompressão e de compressão virgem do solo. O valor da tensão de pré−
adensamento do solo é determinado empiricamente, a partir de dois processos gráficos,
conhecidos como métodos de Casagrande e Pacheco Silva. A fig. 2.8 apresenta a
determinação da tensão de pré−adensamento do solo pelo método de Casagrande.
1.00
0.90
0.85
0.80
0.75
0.70
10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
Figura 2.7 – Curva de compressão típica obtida em um ensaio de compressão
confinada.
1.00
0.95
Bissetriz
índice de vazios
0.90
Tangente
0.85 Tensão de
Pré−Adensamento
0.80
0.75
0.70
10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
Figura 2.8 – Determinação da tensão de pré−adensamento do solo pelo método de
Casagrande.
curvatura da curva de compressão confinada do solo. Por este ponto traça−se uma tangente à
curva e uma reta horizontal. A tensão de pré−adensamento do solo será determinada pela
interseção do prolongamento da bissetriz do ângulo formado por estas duas retas com o
prolongamento da reta de compressão virgem do solo.
A fig. 2.9 ilustra o procedimento utilizado para obtenção da tensão de pré−
adensamento do solo desenvolvido por Pacheco Silva (pesquisador brasileiro do IPT−SP). A
determinação da tensão de pré−adensamento do solo pelo método de Pacheco Silva é
realizada prolongando−se o trecho com a inclinação da reta virgem até que se toque uma reta
horizontal, fixada em um valor correspondente ao do índice de vazios inicial do solo (antes do
ensaio de adensamento). Neste ponto, uma vertical é traçada até se atingir a curva de
compressão do solo. Traça−se então uma horizontal indo do ponto de interseção com a curva
de compressão até o prolongamento do trecho de compressão virgem, realizado
anteriormente. Este ponto é adotado como sendo correspondente ao valor da tensão de pré−
adensamento do solo. Deve−se ter em mente que como os processos aqui ilustrados são
empíricos e gráficos, o valor da tensão de pré−adensamento do solo irá variar em função da
pessoa que realiza os cálculos ou em função do método empregado. Os resultados obtidos,
contudo, não devem se apresentar muito destoantes.
1.00
0.95
índice de vazios
0.90
Tensão de
pré−adensamento
0.85 de 330 kPa
0.80
0.75
0.70
10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
Figura 2.9 – Determinação da tensão de pré−adensamento do solo pelo método de
Pacheco Silva.
e
h il h
o (2.6)
1 eo
σvo ’+∆σ
Cc ⋅ log
σ vo ’
ρ= ⋅ ho
1 + eo (2.7)
σo
∆σ
σo = γz
z
Figura 2.10− Estado inicial de tensões no solo (tensões geostáticas) e acréscimos de
tensão provocados pela estrutura.
σvo ’+∆σ
Ce ⋅ log
σ vo ’
ρ= ⋅ ho
1 + eo (2.8)
41
ho σvp σvo ’+ ∆σ
ρc= Ce ⋅ log + Cc ⋅ log
1 + eo σvo ’ σvp (2.9)
Para o cálculo dos recalques totais do solo utilizando−se as Equações 2.7 a 2.9, deve−
se considerar o ponto médio da camada para o cálculo das tensões geostáticas do solo (valor
de σvo’) e do valor do acréscimo de tensões (∆σ). No caso de um aterro extenso, em que suas
dimensões são bem superiores a espessura da camada compressível, pode−se assumir, sem
incorrer em erros significativos, um acréscimo de tensão ∆σ constante em toda a espessura da
camada compressível. Na fig. 2.10 é ilustrada a distribuição de acréscimos de tensão vertical
no maciço, provocados por uma fundação de forma circular. No caso de um aterro extenso, a
relação z/a é aproximadamente zero, de modo que o acréscimo de tensão no solo pode ser
considerado como constante com a profundidade e aproximadamente igual ao valor da
pressão aplicada pela placa circular. Para os outros casos, os acréscimos de tensão provocados
pela estrutura devem ser estimados em vários pontos da camada compressível.
O uso das eq. 2.7 a 2.9 é razoável para o caso de carregamento extenso, mas o erro
cometido ao utilizá−las para uma distribuição de tensões verticais tal como aquela ilustrada
na fig. 8.5 pode ser demasiado. Nestes casos, é preferível dividir a camada de solo
compressível em um número n de camadas, empregando−se as Eqs. 2.7 a 2.9 para calcular os
recalques em cada divisão adotada. O recalque total da camada compressível de solo será
então dado pelo somatório dos recalques calculados para cada subcamada. As Eqs. 2.10 a
2.12 devem então ser utilizadas para o cálculo dos recalques totais por adensamento no solo,
para um caso mais geral de carregamento.
n n
Cci σvoi ’+ ∆σ i
ρ = ∑ ∆ρ = ∑ log ∆zi
i =1 i =1 1 + eoi σ voi ’ (2.10)
Onde Cci representa o índice de compressão do solo, eoi representa o índice de vazios
inicial, σvoi’ representa o valor da tensão vertical geostática efetiva inicial e ∆σi representa o
créscimo de tensão vertical, relativos ao centro da subcamada (i). ∆zi representa a espessura
da subcamada (i).
n
∆zi σvoi ’+∆σ i
ρ=∑ Cei ⋅ log
i =1 1 + eoi σvoi ’ i (2.11)
n
∆z i σvpi σvoi ’+∆σ i
ρ=∑ Cei ⋅ log + Cc i ⋅ log
i =1 1 + eoi σ voi ’ σvpi ’ (2.12)
KL T¡(¢F;£^ ¤¡(-;_¥9¦ #. T ¡ Y ¡)_¥9¦ );¦_ ¦§{¢¨H
também denominado de ue, ocasiona um processo de fluxo transiente em seu interior, o qual é
governado pela eq. 1.45, apresentada no capítulo fluxo de água em solos.
∆σv
eo
ue(t)
∆e
e(t)
ef
∆σ v ’= ∆σ v − ∆u e
(2.13)
∆σ v ’= −∆u e
(2.14)
adensada para aquele valor de tensão vertical. Deve−se ter em mente que ao final do processo
de adensamento do solo em campo, não há mais excesso de pressão neutra ao longo do
extrato de solo considerado, contudo, as pressões neutras geostáticas continuam a existir. Em
campo, as pedras porosas empregadas no topo e na base do corpo de prova durante um ensaio
de adensamento são representadas por camadas de solo possuindo valores de permeabilidade
bem superiores aos valores de permeabilidade do estrato de solo mole estudado. Deste modo,
a condição de ensaio de laboratório pode ser representativa da situação formada por um
extrato de argila mole compreendido entre dois extratos de areia.
O grau de adensamento em cada ponto da amostra, u(z,t), é normalmente calculado
com o uso da eq. 2.15.
uo u t ue t
u z,t 1 (2.15)
uo u f ue o
© t ‘ © ‘
u z,t o (2.16)
© ‘ © ‘
f o
Logo após a aplicação do carregamento ao solo temos ue(z,0) = ueo, de modo que o
valor do grau de adensamento em todos os pontos da amostra de argila é zero (vide eq. 2.15).
Ao final do adensamento temos ue(z,∞) = 0, o que faz com que o grau de adensamento em
cada ponto da amostra seja igual a 1.
Uma analogia mecânica do processo de adensamento foi desenvolvida por Terzaghi,
por intermédio da qual o processo de adensamento do solo pode ser melhor entendido. A fig.
2.12 ilustra a analogia proposta por Terzaghi para explicar o processo de adensamento no
solo, a qual é apresentada nos parágrafos seguintes:
Uma mola de altura inicial H é imersa em água em um cilindro. Nesta analogia, a
mola tem uma função semelhante à estrutura do solo e a água do cilindro tem uma função
análoga à pressão neutra. Neste cilindro é ajustado um pistão de área transversal A, através do
qual uma carga axial pode ser transmitida ao sistema, que representa o solo saturado. O
pistão, por sua vez, é dotado de uma válvula a qual pode estar, fechada, aberta ou
parcialmente aberta. A válvula do pistão controla a facilidade com que a água pode sair do
sistema e seu significado é semelhante ao do coeficiente de permeabilidade do solo.
Aplica−se uma carga p ao pistão. Se a válvula do pistão está fechada, toda a pressão
decorrente da carga aplicada (p/A) será suportada pela água, visto que a compressibilidade da
água é bem inferior à compressibilidade da mola. Se agora abrimos a válvula do pistão, a
água começa a ser expulsa do sistema, em uma velocidade que é função da diferença entre a
pressão na água e a pressão atmosférica. Com a saída da água do sistema, o pistão se
movimenta e a mola passa a ser solicitada em função deste deslocamento. Em qualquer
instante, a soma das forças exercidas pela mola e pela água no pistão deve ser igual a carga p
aplicada externamente. Este processo continua até que toda a carga p esteja sendo suportada
pela mola, sendo a pressão na água existente dentro do sistema devida somente ao seu peso
próprio (os excessos de pressão na água do sistema ao final do processo são nulos). Neste
ponto não há mais fluxo de água para fora do sistema. A fig. 2.12 no seu lado direito, ilustra a
variação das parcelas da carga aplicada suportadas pela água e pela mola com o tempo
Embora análogo ao que ocorre nos solos, no esquema mecânico ilustrado pela fig.
2.12, os excessos de pressão em cada instante se distribuem de maneira uniforme ao longo de
todo o sistema. Conforme já relatado anteriormente, contudo, em uma massa de solo, em um
cada instante, o valor do excesso de pressão neutra em relação à pressão neutra inicial será
diferente em cada ponto do maciço. Quanto mais próximo o ponto considerado estiver de
45
uma camada permeável, maior será a sua dissipação de pressão neutra (ou maior será o seu
grau de adensamento), para o mesmo instante, em relação aos outros pontos do maciço. O
fenômeno de adensamento dos solos é então melhor explicado fazendo−se uso da fig. 2.13.
Nesta figura, não mais um, mas vários pistões existem no sistema, cada pistão possuindo uma
abertura através da qual a água se comunica com os reservatórios superior e inferior.
Força
p
Válvula
A Força aplicada pela
mola ao pistão
p
Água
Força aplicada pela
H
água ao pistão
mola
Tempo
Altura de
ascensão
da água
t=0
t = t1
t = t2
Ho = p/Aγw
p t = t3
A t = t4
t=∞
pressão de água (ou maiores valores de excesso de pressão de água) do que os pontos situados
mais próximos à superfície. A abertura existente no pistão superior funciona então como se
fosse uma camada drenante, coletando a água expulsa do sistema. Pode−se notar também que
o excesso de pressão neutra na parte superior do sistema é dissipado logo após a aplicação do
carregamento.
ª# ¦(%# T ¡HY ¡)#«P¡(F¦ (¡0_ ¦§{¢¨q
∂ 2h ∂e
k = (2.17)
∂z 2
(1 + eo )∂t
6) Certas propriedades do solo, como a permeabilidade e o coeficiente de
compressibilidade (av) são constantes (adota−se uma relação linear entre o índice
de vazios e a tensão vertical efetiva)
Pode−se dizer que as três primeiras hipóteses listadas acima não se distanciam muito
da realidade para a maioria dos casos encontrados em campo. A quarta hipótese é valida para
os casos de aterro extenso, do ensaio de adensamento, e para o caso de extratos de solo mole
situados a grandes profundidades. Para os casos onde a distribuição de acréscimos de tensões
no solo não é constante com a profundidade, ela conduz a resultados apenas aproximados. A
quinta hipótese geralmente leva a resultados bastantes satisfatórios, sendo a validade da lei de
Darcy raramente questionada. A sexta hipótese, pelo que já foi discutido neste capítulo, é a
que mais se distancia da realidade: sabe−se que com o aumento das pressões atuando no solo
(e a conseqüente diminuição no valor do seu índice de vazios), os valores do seu coeficiente
de permeabilidade e de seu coeficiente de compressibilidade se tornam cada vez menores.
Para a resolução analítica do problema de adensamento, temos que modificar a eq.
2.17 de modo que nos dois lados da igualdade apareçam as mesmas variáveis. Isto é feito
geralmente exprimindo−se o índice de vazios do solo e o potencial total da água, h, em
função do excesso de pressão neutra gerado pelo carregamento externo. Do processo de
adensamento sabe−se que:
dσ v ’= dσ v − du e (2.18)
A eq. 2.18 nada mais é do que o princípio das tensões efetivas de Terzaghi escrito de
forma incremental. Se o acréscimo de tensões totais aplicado ao solo não varia durante o
processo de adensamento (o que corresponde a realidade para a maioria dos casos) temos:
47
dσ v ’= −du e
(2.19)
Conforme ilustrado na fig. 2.13, o excesso de energia da água em cada ponto do solo
pode ser dado pela eq. 2.20, apresentada a seguir.
ue
h= (2.20)
γw
de
av = ou de = a v ⋅ du e (2.21)
du e
∂ 2 u e ∂u e (2.22)
Cv ⋅ =
∂z 2 ∂t
Onde o termo Cv, denominado de coeficiente de adensamento do solo, é dado pela eq.
2.23. Da análise dimensional da eq. 2.23 chega−se a conclusão que o coeficiente de
adensamento do solo possui dimensões de L2/T (este é geralmente expresso em termos de
cm2/s).
k ⋅ (1 + eo )
Cv = (2.23)
av ⋅ γw
2 Hd
∫u e ⋅ dz
U (t ) = 1 − 0 ⋅ 100 (2.24)
2 Hd
∫0 u eo ⋅ dz
49
ue ue
H/2
t 5 t4 t3 t2 t1 t5 t4 t3 t 2 t1
H H
(a) (b)
Figura 2.15 – Distribuição dos excessos de pressão neutra ao longo de uma camada
de solo com o tempo e a profundidade. (a) – Camada de solo com drenagem dupla. (b) –
Camada de solo com drenagem simples.
u
z e
o
Figura 2.16 – Interpretação geométrica dos valores de percentagem de
adensamento média.
Pode−se mostrar também que, a partir do uso da eq. 2.2, considerando−se o valor de
av constante para o cálculo do recalque diferido do solo, chega−se a eq. 2.25, a qual
correlaciona a percentagem de adensamento média da camada com o recalque ocorrido até
um determinado instante e o recalque total previsto.
ρ (t)
U (t ) = ⋅ 100
ρ (2.25)
espessura e drenagem dupla (Hd = 4m), um ensaio de laboratório realizado no mesmo solo
empregando−se corpos de prova com 2cm de altura (Hd = 0,01m) demorará 1/160.000 vezes
o tempo necessário em campo para que se complete o adensamento da camada de solo!
Cv ⋅ t
Γ=
Hd 2 (2.26)
Conforme também veremos adiante, com base na eq.2.26, alguns métodos foram
desenvolvidos para acelerar a velocidade dos recalques na camada de solo compressível.
Nestes métodos, a aceleração do processo de adensamento é geralmente realizada
diminuindo−se a distância de drenagem (Hd) em campo.
A eq. 2.27 apresenta a solução da eq. 2.22, em termos de percentagem de adensamento
média e fator tempo, para o caso de um aterro extenso. Na eq. 2.27, N é um contador da série
resultante da resolução da eq. 2.22, o qual vai de 1 a infinito. Notar que na eq. 2.27 U não
está expresso em percentagem.
∞ (2 N +1 )2 ⋅π 2
8 1 − ⋅Γ
U (t) = 1 − 2
π
∑ (2 N + 1)
0
2
exp 4 (2.27)
A eq. 2.27 pode ser aproximada pelas eqs. 2.28 e 2.29, apresentadas a seguir, para
valores de percentagem de adensamento menores que 60% (eq. 2.28) e maiores que 60% (eq.
2.29). Pode−se mostrar que para o caso de uma distribuição de ueo linear com a profundidade,
chega−se à mesma eq. 2.27. Para diferentes formas de distribuição de ueo, relações diferentes
da eq. 2.27 são obtidas.
π 2 , p/ U < 0,6.
Γ= U (2.28)
4
casos 3 e 4. Isso sem se falar de outros problemas como representatividade da amostra, etc.
Por conta disto, a resolução da eq. 2.22 para a distribuição de acréscimos de tensão realmente
ocorrendo em campo é feita somente em alguns casos especiais. Deve−se salientar contudo,
que a resolução numérica da eq. 2.22 pode ser feita de maneira rápida e simples,
possibilitando ao engenheiro mais exigente a obtenção de resultados com menos
possibilidades de discrepâncias com o comportamento apresentado em campo. A fig. 2.17
apresenta a resolução numérica da eq. 2.22 para o caso de uma distribuição de acréscimos de
tensão linear com a profundidade. São apresentadas nesta figura a distribuição dos excessos
de pressão neutra iniciais e isócronas para 20, 40, 60 e 80% de percentagem de adensamento
média.
160
140 Po = 50 + 25Z (m)
120
100
80
60
40
20
0
0 100 200 300 400
Cota em relação ao topo (Cm)
U = 20 % U = 40 % U = 60 %
U = 80% Po
Figura 2.17 – Resolução numérica da eq. 2.22 para uma distribuição de excessos de
pressão neutra inicial linear.
K¬L¯® ¡°±_0²T(¦ .0³´
calculado utilizando−se as eqs. 2.7 a 2.12 e do valor desejado do recalque diferido no tempo,
ρ(t), calcula−se a percentagem de adensamento média da camada U (eq. 2.25). O valor do
fator tempo necessário para que ocorra a percentagem de adensamento média determinada é
obtido fazendo−se uso das eqs. 2.28 e 2.29 (ou com o uso dos valores apresentados na tabela
2.1). Com o uso da eq. 2.26, o tempo necessário para que ocorra o valor do recalque
especificado é determinado. Deve−se notar que para que isto seja possível, contudo, o valor
do coeficiente de adensamento do solo, Cv, deve ser determinado.
O valor do coeficiente de adensamento do solo é determinado a partir de dois métodos
gráficos, denominados de métodos de Casagrande e de Taylor. Deve−se notar que o valor do
coeficiente de adensamento do solo é determinado para cada estágio de carregamento, ou para
o estágio de carregamento cujo valor de tensão vertical se aproxime do valor da tensão
vertical que será imposto ao solo pela construção. No método de Casagrande, marcam−se os
valores dos deslocamentos verticais do topo da amostra no eixo das ordenadas, em escala
aritmética, e os valores dos tempos correspondentes no eixo das abcissas, em escala
logarítmica, para cada estágio de carga. O processo gráfico utilizado na obtenção do Cv pelo
método de Casagrande é ilustrado na fig. 2.18. O adensamento total (U = 100%) ocorrerá no
ponto de interseção das tangentes ao ponto de inflexão da curva de adensamento e ao trecho
aproximadamente retilíneo obtido após o adensamento primário da amostra (parte
representante do processo de fluência do solo). O valor do recalque inicial (U = 0%) será
determinado escolhendo−se dois instantes 1/4t e t para valores de tempo correspondentes ao
início do processo de adensamento. Obtém−se a diferença entre suas ordenadas e este valor é
rebatido verticalmente acima da ordenada correspondente a 1/4t. A leitura no eixo dos
deslocamentos será o valor procurado.
O adensamento de 50% será lido exatamente a meio caminho dos valores de
deslocamento estimados para U=100% e U=0%. O valor do tempo necessário para que
ocorresse 50% de adensamento (t50) do solo servirá para que o seu coeficiente de
adensamento (Cv) seja calculado através da relação abaixo (na tabela 2.1, primeira coluna,
para um valor de U = 0,5 tem−se T = 0,197):
0,197 ⋅ H d2
Cv = (2.30)
t 50
0,848 ⋅ H d2
Cv = (2.31)
t 90
53
0,15d
∆e
Cα =
∆ log(t ) (2.32)
½¾z{ T ( ¦°-±_0¿H-( 0 mY
Não raras as vezes, o tempo necessário para que ocorra uma determinada percentagem
de adensamento do solo em campo é demasiadamente longo. Acontece que, em alguns casos,
a obra só pode ser finalizada após completado virtualmente o processo de adensamento do
solo, sob pena desta vir a apresentar um mau funcionamento ou mesmo ter o seu uso
impedido. Nestes casos, a aceleração dos recalques por adensamento do solo em campo pode
ser a solução mais viável.
Os métodos de aceleração de recalques em campo mais utilizados são o sobre
adensamento e o método dos drenos verticais de areia. No caso do método do sobre
adensamento, a aceleração de recalques é feita calculando−se o recalque total a ser
apresentado pelo solo quando da instalação da estrutura e submetendo−o previamente a uma
tensão vertical de valor maior do que aquela prevista após a execução do projeto. Deste
modo, o valor do recalque total previsto para ser atingido pelo solo em decorrência da obra
pode ser atingido para relativamente baixos valores de tempo. Deve−se notar que devido ao
sobre adensamento, o recalque total a ser atingido pelo solo agora é maior (e função da
sobrecarga aplicada ao terreno). Como explicitado na eq. 2.25, para um mesmo recalque total
previsto para ocorrer em campo em função da estrutura (notar que agora este valor
corresponde a ρ(t), pois o recalque total previsto para o solo em decorrência do carregamento
prévio é maior do que o seu valor), quanto maior for o valor de ρ, menor será o valor da
percentagem de adensamento correspondente, e por conseguinte, menor o tempo necessário
para atingi−la. O processo de aceleração de recalques por sobre adensamento algumas vezes
tem o seu uso restringido pelas condições de estabilidade do terreno de fundação.
Conforme apresentado na eq. 2.26, o tempo para que ocorra uma determinada
percentagem de adensamento no solo é proporcional ao quadrado da distância de drenagem
(Hd), dada pela geometria do problema. O método dos drenos verticais de areia trabalha
empregando esta constatação, diminuindo a distância de drenagem do problema. A fig. 2.20
ilustra a instalação de drenos verticais de areia em campo para acelerar o processo de
adensamento da camada compressível de solo. Conforme ilustrado nesta figura, o movimento
de água após a instalação dos drenos verticais passa a ser aproximadamente horizontal, em
sentido radial aos drenos. A distância de drenagem neste caso passa a ser aproximadamente
igual a metade da distância horizontal entre o centro dos drenos (ou a metade do espaçamento
entre os drenos verticais de areia). Na parte inferior do aterro é normalmente instalado um
colchão de areia, cuja função é recolher a água expulsa do solo durante o processo de
adensamento. O espaçamento entre os drenos de areia é determinado então em função do
tempo esperado para que o processo de adensamento seja virtualmente completado (como o
processo de adensamento continua, em teoria, por um período indefinido, adota−se
normalmente valores em torno de U=95%, como correspondente ao final do processo de
adensamento em campo).
55
Figura 2.20 – Uso de drenos verticais de areia na aceleração dos recalques por
adensamento do solo em campo. Modificado de Caputo, 1981.
56
De uma forma geral, abordou−se no capítulo 1 que a água livre ou gravitacional pode
se movimentar de um ponto a outro dentro do solo, desde que haja diferença de potencial
entre esses dois pontos. Durante esse movimento, ocorre uma transferência de energia da
água para as partículas do solo devido ao atrito viscoso, sendo essa energia medida pela perda
de carga. Quando o fluxo de água ocorre sempre na mesma direção, como no caso dos
permeâmetros estudados no capítulo1, diz−se que o fluxo é unidimensional. Quando as
partículas de água seguem caminhos curvos e paralelos, o fluxo é dito bidimensional, como
no exemplo da percolação de água pelas fundações de uma barragem. Em virtude da
ocorrência freqüente do fluxo bidimensional em obras de engenharia e de sua importância na
estabilidade das barragens, este merece especial atenção.
O estudo do fluxo bidimensional é feito, usualmente, através de um procedimento
gráfico conhecido como Rede de fluxo. O processo consiste, basicamente, em traçar na região
em que ocorre o fluxo, dois conjuntos de curvas conhecidas como linhas de fluxo e linhas
equipotenciais. A fundamentação teórica para resolução de problemas de fluxo de água foi
desenvolvida por Forchheimer e difundida por Casagrande (1937). O fluxo de água através do
meio poroso é descrito por uma equação diferencial (equação de Laplace), bastante conhecida
e estudada, pois se aplica a outros fenômenos físicos, como exemplo, fluxo elétrico.
É importante frisar que o estudo do fluxo de água em obras de engenharia é de grande
importância, pois visa quantificar a vazão que percola no maciço, controlar o movimento da
água através do solo e evidentemente proporcionar uma proteção contra os efeitos nocivos
deste movimento (liquefação em fundos de valas, erosão, piping, etc).
Àz °±#¦-;ºG(Ã# )FE¡¦-(#.Ä5((Y ¡ (¡
Tomando um ponto definido por suas coordenadas (x, y, z), considerando−se o fluxo
através de um paralelepípedo elementar em torno deste ponto, e assumindo a validade da lei
de Darcy, a aplicação dos principios de conservação da energia e da massa, chega −se a eq.
1.42, a qual é representada neste capítulo como eq. 3.1.
Å Å Å
Å kx h Å ky h Å kz h
Å Å Å Å
Sr e x y z dx dy dz
(3.1)
Å Å Å Å
t 1 e x y z
A eq. 3.1 representa a equação geral de fluxo de água em solo não saturado,
heterogêneo e anisotrópico, pois tanto os valores dos coeficientes de permeabilidade em cada
direção (kx, ky, kz) quanto os valores do potencial total de água no solo serão dependentes das
coordenadas do ponto considerado e do grau de saturação.
A eq. 3.1 pode ser simplificada para eq. 3.2, supondo−se que:
procedimento é justificado pela dimensão longitudinal ser muito maior que as dimensões da
seção transversal, para boa parte das obras geotécnicas.
∂ 2h ∂ 2h
kx ⋅ + kz =0
∂ x2 ∂z
2
(3.2)
∂ 2h ∂ 2h
+ =0
∂ 2 ∂ 2
x z
(3.3)
Para φ (x, z)=cte, o valor de h (x, z) também é uma constante. Essa situação representa
na zona de fluxo o lugar geométrico dos pontos de mesma carga hidráulica total, denominado
de linha equipotencial. Por sua vez, a função ψ(x, z)=cte, representa fisicamente a trajetória
da água ao longo da região onde se processa o fluxo. Dá−se o nome de linhas de fluxo às
curvas determinadas pela função ψ(x, z)=cte.
Na fig. 3.1 considere a linha AB, representativa da trajetória da água passando pelo
ponto P, com velocidade tangencial (v). Dessa figura temos:
Vz dz
tg Ê ou Vx.dz – Vz.dx = 0 (3.7)
Vx dx
Assim, as curvas dadas por ψ = cte, definem as trajetórias das partículas de fluxo
(linhas de fluxo), pois em cada ponto elas são tangentes aos vetores de velocidade.
z
z
B ψ1
ψ
Vz 1
ψ2
A
Vx
P θ
Vx
2
x x
No gráfico mais à direita da fig. 3.1, pode−se observar que a vazão unitária (q) que
passa pela seção 1−2, compreendida entre as duas linhas de fluxo (ψ1, ψ 2) é dado por:
Ë Ë
1 1
É É É
q Ë Vx dz Ë d 1 2
(3.9)
2 2
Se a rede de fluxo é desenhada de modo que ψn − ψn−1 = const., pode−se dizer que o
fluxo entre duas linhas de fluxo é constante. O trecho compreendido entre duas linhas de
fluxo consecutivas quaisquer é denominado de canal de fluxo. Portanto, a vazão em cada
canal de fluxo é constante e igual para todos os canais.
Outra importante particularidade referente as linhas de fluxo e linhas equipotenciais
diz respeito a ortogonalidade (interseção a 90o), a qual pode ser verificada pelas equações
abaixo (as linhas de fluxo e eqüipotenciais somente serão ortogonais para o caso de solos
isotrópicos):
dz l
Æ ÉÎÍÏÆ
x Vz
ËÌ Æ
ÉÐÍ{Æ (3.10)
dx cte z Vx
dz È
Æ Ç;ÍÓÆ
x Vx
Ì ÆÈÇÍEÆ (3.12)
dx Ò cte z Vz
59
Logo tem−se:
dz 1
ËÌ
dx cte dz (3.13)
Ì
dx Ò cte
De acordo com a eq. 3.13, as familias de curvas φ (x, z)=cte é ortogonal a ψ(x,z)=cte.
Assim as curvas da função φ interceptam as curvas da função ψ segundo ângulos retos, ou,
em outras palavras, as linhas de fluxo cruzam as linhas equipotenciais segundo ângulos retos.
ÀzKÀL£^Ô .0¿H (°±_;°±_0ÕNF
A equação de Laplace (3.3) pode ser resolvida por uma grande variedade de métodos,
como por exemplo métodos numéricos, analíticos e gráficos, bem como através de modelos
reduzidos ou através de analogias com as equações que governam os problemas de campo
elétrico ou termodinâmicos.
Os métodos analíticos consistem na solução matemática (integração) da equação de
Laplace, obedecendo as condições de contorno específicas e envolvendo a determinação das
funções φ (x, z) e ψ(x,z). A complexidade do processo de solução analítica, contudo, somente
justifica a sua aplicação a problemas de fluxo de geometria relativamente simples.
Os métodos numéricos, como por exemplo método das diferenças finitas e métodos
dos elementos finitos, permitem subdividir a zona de fluxo em uma série de pequenos
elementos geométricos, sendo o comportamento do fluxo estudado em cada um deles,
mediante funções simples. A aplicação destas técnicas pressupõe familiaridade com algebra
matricial, cálculo variacional, mecânica dos sólidos e técnicas computacionais. A principal
vantagem dos métodos numéricos é permitir a simulação de casos complexos, como
geometrias mais complicadas, materiais com várias camadas com diferentes permeabilidades,
solos não saturados e regime não estacionário, ou seja, utilizando a eq. 3.1.
Quando o problema envolve configuração complexa torna−se, às vezes, necessário
recorrer a modelos reduzidos para resolver o problema de percolação de água. Desses
modelos dois são os mais usuais: modelos físico e analogia elétrica.
O modelo físico consiste em reproduzir a seção transversal por onde percola a água
num tanque com parede lateral de vidro ou acrílico. Para o traçado das linhas de fluxo,
utiliza−se corante colocado em determinadas posições no paramento de montante. As linhas
de fluxo que passam pelo corante vão tingir a água, permitindo a visualização do conjunto das
linha de percolação. As linhas equipotenciais são obtidas a partir da instalação de piezômetros
dentro do modelo. A partir desses dados pode−se traçar a rede de fluxo do problema.
A analogia elétrica permite determinar uma rede de fluxo estabelecendo−se a
correspondência entre voltagem e carga hidráulica, condutividade elétrica e permeabilidade e
corrente elétrica e vazão. Isto é possível porque o fluxo elétrico através de um condutor
também obedece à equação de Laplace.
Finalmente, o método gráfico por tentativas é o mais usado para resolução da equação
de Laplace. Consiste em desenhar, dentro da região em que ocorre o fluxo, as famílias de
curvas equipotenciais φ (x, z) e de fluxo ψ(x, z), que se interceptam em ângulos retos,
formando uma figura denominada rede de fluxo. Ao se traçar manualmente, as duas famílias
de curvas, respeitando as condições de fronteira e ortogonalidade, ter−se−á uma aproximação
da solução única do problema (fig. 3.2). Essa aproximação, se o desenho for realizado com
cuidado, é suficientemente boa para fins de engenharia, principalmente se leva−se em
consideração as incertezas surgentes quando da obtenção de valores para o coeficiente de
permeabilidade do solo.
60
Figura 3.2 – Rede de fluxo de uma barragem vertedouro. Modificado de Holtz &
Kovacs (1981).
A determinação gráfica das redes de fluxo será descrita em detalhe nos itens seguintes,
por ser a mais usada para a solução de problemas de percolação de água em solos.
Àz Ö6 0.ºG(Ã
Qualquer que seja o método adotado para determinação da rede de fluxo é necessário
definir previamente as condições limites ou de contorno do escoamento, as quais podem se
representar numa situação de fluxo confiando ou de fluxo não confinado. Procura−se definir
quatro condições limites, a saber:
× superfície de entrada (equipotencial de carga máxima)
× superfície de saída (equipotencial de carga mínima)
× linha de fluxo superior
× linha de fluxo inferior
NA
NA
H
A B C D
R
M N
im perm eável
Na fig. 3.3 pode−se observar que a água percola da esquerda para direita em função da
diferença de carga total existente. A linha AB é uma equipotencial de carga máxima, pois
qualquer ponto sobre esta linha tem a mesma carga de elevação e a mesma carga de pressão
(u=hw.γw). A linha CD é a equipotencial de saída ou de carga mínima. A linha BRC representa
a linha de fluxo superior e linha MN é uma linha de fluxo que representa o caminho
percorrido por uma partícula d‘água que vem de uma longa distância (linha de fluxo inferior).
Nem a estaca prancha, nem a rocha são meios permeáveis, logo o fluxo é limitado por esses
dois meios.
A fig. 3.4 apresenta a solução gráfica para o problema clássico da cortina de estacas
pranchas em fundações permeáveis mostrado na fig. 3.3. Na fig. 3.4, pode−se observar que as
9 linhas equipotenciais são perpendiculares às 5 linhas fe fluxo, formando elementos,
aproximadamente, quadrados. A rede é formada por 4 canais de fluxo (nf=4), sendo número
de canais de fluxo igual ao número de linhas de fluxo menos um (nf=L.F.−1) e por neq=8
número de quedas de potencial (neq = L.eq. −1). Os canais de fluxo tem espessuras variáveis
ao longo de seu desenvolvimento, pois a seção disponível para passagem de água por baixo
da estaca prancha é menor do que a seção pela qual água penetra no terreno. Em função disso,
ao longo do canal de fluxo, a velocidade da água é variável. Quando o canal se estreita,
devendo ser constante a vazão, a velocidade tem que ser maior, logo o gradiente hidráulico é
maior (lei de Darcy). Em consequência, sendo constante a perda de potencial de uma linha
equipotencial para outra, o espaçamento entre as equipotenciais deve diminuir, de modo que a
relação entre linhas de fluxo e equipotenciais se mantém constante.
Figura 3.4 – Rede de fluxo através de uma fundação permeável de uma cortina de
estacas prancha – Fluxo confinado.
Consideremos agora, um elemento isolado de uma rede de fluxo, como aquele
representado na fig. 3.5, o qual é formado por linhas linhas de fluxo distanciadas entre si de b
no plano do desenho e de uma unidade de comprimento no sentido normal ao papel.
Segundo a lei de Darcy, a vazão (q) no canal de fluxo é dada por:
h
q k .i A sendo i trecho A = b.1
l trecho
h
q k b.1 (3.14)
l
62
LF
h1
q h2 h
LF 3 h4
q b
I
l
II III
equipotenciais
Figura 3.5 – Canal de fluxo de uma rede com vazão constante e perda de carga ∆h,
constante entre suas equipotenciais. Considerar a largura de 1m normal ao papel.
q k h (3.15)
A carga total disponível (h) é dissipada através das neq (número de equipotenciais), de
forma que entre duas equipotencias consecutivas temos:
h h (3.16)
n eq
Substituindo a eq. 3.16 em 3.15 tem−se a eq. 3.17, a qual expressa a vazão em cada
canal de fluxo (trecho entre duas linhas de fluxo consecutivas quaisquer). Observar que a
vazão é constante e igual para todos os canais.
h
q k (3.17)
n eq
nf
Q q. nf Q k h (3.18)
n eq
h h
I II
qI = qII= q = cte kI b I .1 k II b II .1
lI l II
bI b II
Mas: kI = kII e constante 1 qudrados
lI l II
Então:
h h cte (3.19)
I II
Ø As linhas de fluxo e as linhas equipotenciais são perpendiculares entre si, isto é, sua
intersecção ocorre a 90o (ver eq. 3.13).
Ø A vazão em cada canal de fluxo é constante e igual para todos os canais. Se
tomarmos dois elementos (I e II) contidos entre as memas equipotenciais teremos:
h h
∆hI = ∆hII = ∆h = cte
I II
kI b I .1 k II b II .1
lI l II
bI b II
Como: constante 1 qudrados então temos:qI=qII=q = cte (3.20)
lI l II
Àz Ö 6 Y ¡°¹ 0Ù} ¦(0¦-;_#¦°#.6 .0ºG(Ã
Num primeiro contato com o assunto, pode parecer ao principiante que a melhor
solução será obtida por quem tiver maiores facilidades para desenho. Na verdade, obedecendo
às condições teóricas anteriormente estabelecidas, está se obedecendo às condições da
equação de Laplace e isto conduzirá a uma solução única, que independe da habilidade
artística de quem procura resolver o problema.
A fig. 3.6 apresenta alguns exemplos rede de fluxo em fundações permeáveis.
Àz ÖDÀL TF(°±_0¿H .0ºG(Ã
O traçado da rede de fluxo nos problemas que envolvem o escoamento de água nos
solos tem como objetivo a obtenção da vazão que percola através da seção estudada, do
gradiente hidráulico e da velocidade em qualquer ponto, das pressões neutras, subpressões e
da força de percolação.
Ø
Vazão:
A vazão total que percola pelo maciço pode ser determinada pela eq. 3.18, apresentada
anteriormente.
Ø
Gradientes hidráulicos:
A diferença de carga total que prova percolação, dividida pelo número de faixas de
perda de potencial, indica a perda de carga de uma equipotencial para a seguinte. Esta perda
de carga, dividida pela distância entre as equipotenciais, é o gradiente. Como a distância entre
equipotenciais é variável ao longo de uma linha de fluxo, o gradiente varia de ponto para
ponto.
65
h h h
i trecho (3.21)
n eq l trecho
V Ki (3.22)
Ø Pressões neutras:
Em determinadas situações, como por exemplo no caso de estruturas de concreto
(barragem vertedouro), construídas sobre fundações onde ocorre o fluxo de água, as pressões
neutras atuarão na base da estrutura exercendo uma força contrária ao seu peso, o que pode
conduzi−la a uma situação instável. Particularmente, nestes casos, essas pressões neutras são
denominadas de subpressões. Considere a barragem vertedouro esquematizada na fig. 3.7, a
qual está sujeita a percolação de água pela sua fundação.
Para determinar as subpressões atuantes em sua base basta considerar a rede de fluxo e
determinar as cargas em diversas posições. Fixemos a referência de nível (RN) na superfície
impermeável. A partir daí podemos determinar a carga total em cada equipotencial limite,
que é, respectivamente, a soma das cargas altimétrica (z) e piezométrica (u/gw) ao longo de
sua extensão. Em cada eqüipotencial, o valor da carga total é constante, mas os valores das
parcelas de carga altimétrica e potencial variam.
RN
Figura 3.7 – Rede de fluxo pela fundação de uma barragem vertedouro de concreto
e diagrama de subpressões. Modificado de Bueno & Vilar (1985).
u1
Ú Z 0 Z 1 h e h (3.24)
w
Mesmo raciocínio pode ser estendido aos outros pontos de forma a se obter o
diagrama de subpressões ao longo da base da barragem (fig. 3.7). Importante notar que,
mesmo que o ponto onde se deseja determinar a pressão neutra não se situe sobre uma
equipotencial da rede traçada, o procedimento descrito acima também se aplica. A rigor a
rede traçada representa apenas algumas equipotencias e algumas linhas de fluxo, porém sobre
qualquer ponto sempre passará uma equipotencial. Seja o ponto P situado entre a 4a e a 5a
equipotenciais. Estimando que a perda de carga até ele seja 4,5 ∆h, pode−se determinar a
subpressão sobre ele:
uP
h total P
Ú Z P htotal 0 4,5 h Z 0 h 4,5 h (3.25)
w
uP
Ú Z 0 Z P h 4,5 h (3.26)
w
O problema pode ser resolvido também graficamente. Para tanto basta dividir a perda
de carga em parcelas iguais, correspondentes ao número de quedas de equipotenciais, e
transformá−las em cotas tal que se represente na fig. 3.7. No ponto 1, por exemplo, a carga de
pressão corresponderá à distância vertical entre o ponto e o número de quedas de
equipotenciais (um no caso). No ponto 4 a mesma situação se repete, bastando observar que
ocorreram quatro perdas de carga. Observar que as cargas altimétricas ou de posição são
consideradas positivas acima RN e negativas abaixo do RN.
Ø Forças de percolação:
Como já visto no capítulo 1, quando a água escoa através de uma massa de solo seu
efeito não se limita à pressão hidrostática, que ocorre quando a água está em equilíbrio, mas
esta exerce também uma pressão hidrodinâmica sobre as partículas do solo, na direção do
fluxo, efeito que pode representar−se por empuxos hidrodinâmicos tangentes às linhas de
percolação.
Na fig. 3.8 o elemento destacado tem lado (a), gradiente hidráulico i=−∆h/a e perda de
carga entre duas equipotenciais consecutivas de ∆h=h/neq.
Fp h a Ú w
(3.27)
fp i. Ú w
(3.28)
NA
B
Linha freática
NA
A C D
impermeável
Figura 3.9 – Percolação através de barragem de terra – fluxo não confinado.
69
ÀzK L)½_¦°-_;ÕNF¡¨%ºG¦ )(
Dupuit em 1963 estabeleceu as primeiras bases para a solução de fluxo não confinado
e mais tarde Kozeny propôs uma solução teórica para uma barragem homogênea com filtro
horizontal a jusante e fundação impermeável, como se mostra na fig. 3.10.
A solução Kozeny admite que a rede de fluxo é constituída por dois conjuntos de
parábolas confocais conjugadas, um deles representando as linhas de fluxo e o outro
representando as linhas equipotenciais. A parábola básica de Kozeny foi obtida através da
teoria das variáveis complexas (solução analítica exata para a equação de Laplace).
A partir da construção da parábola básica, seguida pelas correções de entrada e saída
dessa linha de fluxo no maciço compactado pode−se determinar a linha freática. Passaremos a
determinação da parábola básica.
A parábola é uma curva que define o lugar geométrico dos pontos que equidistam de
um ponto, denominado foco e de uma diretriz . No caso em questão, conhecem−se dois
pontos da parábola, D e F (foco), mostrados na fig. 3.11. Para a determinação gráfica da
posição da parábola, deve−se seguir o seguinte roteiro:
× Marcar o ponto D tal que DC= (1/3 a 1/4) AC;
× Centro em D e raio DF, determinar o ponto E sobre a horizontal do prolongamento
do nível d’água;
× Traçar uma vertical por E e determinar o segmento EG, a diretriz da parábola;
× Dividir GF ao meio e obter o ponto N que é a origem da parábola;
× Traçar uma vertical por N e obter o segmento NM;
× Dividir NM e DM em parte iguais;
× Ligar os pontos de divisão de DM ao ponto N, formando retas inclinadas ou linhas
auxiliares radiais;
× Traçar linhas auxiliares horizontais passando pelos pontos de divisão do segmento
NM;
× A intersecção das linhas auxiliares radiais com as linhas auxiliares horizontais
determinam os pontos da parábola.
A fig. 3.12 apresenta algumas posições rotineiras do foco (F) na parábola básica,
necessárias para o seu traçado.
70
ω Filtro
ω
ω ω de pé
F F F F
Figura 3.12 – Posições de foco em barragem de terra.
Após traçada a parábola básica são feitas correções de entrada e saída desta linha no
maciço, a fim de que esta respeite as condições de contorno da linha freática, que são
esquematizadas abaixo:
Ø Condições de entrada da linha freática no maciço de terra
Deve−se lembrar, como condição rotineira, que a linha freática sendo uma linha de
fluxo deve ser perpendicular ao talude de montante (que é equipotencial) no seu ponto de
entrada (fig. 3.13). Para ω>90o a linha freática é perpendicular ao talude de montante, para o
caso de ω ≤90o, a linha freática deve ser tangente à horizontal que passa pelo nível d‘água. É
importante observar que quando ω<90o (por exemplo nos casos de ensecadeira incorporada,
constituída de material granular), a linha freática não é perpendicular ao talude, porque para
satisfazer essa condição, a freática precisaria aumentar a sua energia com o transcorrer do
fluxo, o que é contrário aos conceitos básicos apresentados até aqui (como a lei de Darcy, por
exemplo).
Outra condição a ser observada é o ponto de saída da freática no talude de jusante (fig.
3.15). Para condições diferente daquela proposta por Kozeny, filtro horizontal (ω=180o), o
ponto da saída da freática não coincide com o ponto de saída da parábola básica, sendo
necessário fazer a correção da saída da freática no talude de jusante.
l ß l2 à h2 (3.29)
aÝ
cos Þ 2
cos Þ 2
sin Þ
ω>900 ω=900
Figura 3.16 – Correções para posicionar a linha freática
à uI à u II mas, uI = uII = 0
hI Ý z I á h II Ý z II á
w w
A propriedade descrita pela eq. 3.30 constitui um elemento básico para o traçado da
rede de fluxo.
Determinada a posição da linha freática, divide−se a carga total disponível em cotas
iguais definindo, assim, os pontos de intersecção da linha freática com as equipotenciais.
Como a linha freática é uma linha de fluxo, as linhas equipotenciais lhe são perpendiculares.
Evidentemente, o número de perdas de carga a escolher será um problema de tentativas e
erros, até que se tenha uma solução que leve em conta os fundamentos das redes de fluxo.
Após o traçado das linhas equipotenciais (linhas aproximadamente parabólicas e
perpendiculares à linha freática), de modo que a perda de carga seja constante entre as
mesmas, deve−se traçar as demais linhas de fluxo. Essas linhas de fluxo devem formar
“quadrados” com as linhas equipotenciais, seguindo aproximadamente a forma da linha
freática, (fig. 3.17). Um exemplo de rede de fluxo em barragem de terra com filtro de pé está
apresentado na fig. 3.18.
73
nf
Q Ý q. nf QÝ k h (3.31)
n eq
kz (3.34)
xt Ý x
kx
kz
x 2t Ý x2 (3.35)
kx
Da eq. 3.36, pode−se verificar que procedendo uma mudança de variável para
xt=(kz/kx)0.5x, uma região homogênea e anisotropica pode ser transformada numa região
fictícia isotrópica onde a equação de Laplace é válida, e consequentemente a teoria até aqui
desenvolvida é aplicável. Esta região fictícia é chamada seção transformada.
Na prática, a partir da seção real ((kx ≠ kz) desenha−se uma seção transformada em
escala tal que satisfaça a eq. 3.34. A seguir, traça−se a rede de fluxo na seção transformada
com elementos quadrados e em seguida retorna−se ao problema original desdobrando as
dimensões da direção que foi reduzida. Na seção real, as linhas equipotenciais não são
necessariamente ortogonais às linhas de fluxo e os elementos da rede podem assumir a
aparência de retângulos ou losangos, dependendo da relação de permeabilidades. Na fig. 3.20
são apresentados exemplos de redes traçadas em coordenadas transformadas e depois
retornadas à sua condição real.
Para o cálculo de gradientes hidráulicos o que vale é a seção real, pois o gradiente é
igual a perda de carga dividida pela distância entre as equipotenciais na escala real e não a
distância entre as equipotenciais na escala transformada.
O cálculo da vazão nos casos de meios anisotrópicos deve ser feita considerando−se
uma permeabilidade equivalente (keq) determinada em função das permeabilidades reais.
Consideremos um elemento da rede de fluxo em que o escoamento se dá paralelo ao
eixo das abcissas, conforme indica a fig. 3.21. Na seção real o elemento é retangular, sendo
∆x maior do que ∆z, pela transformação das abcissas.
z z
∆x ∆xt
vx ∆z vx ∆z
kz kx kequiv = kt
x xt
Seção real (anisotrópica) Seção transformada (isotrópica)
kz (3.39)
kx Ý kx k x Ý k eq Ý k x kz
t
kx t
Mas,
a c a c
sin Ý sin
ÑÝ AB Ý Ý
AB AB sin sin
a b a b
cos Ý cos
ÑÝ AC Ý Ý
AC AC cos cos
c b c tg
k1
aÝ sin _Ý cos Ý Ý (3.42)
sin
cos
b tg k2
Como pode ser observado pela eq. 3.42, a deflexão das linhas de fluxo são tais que as
tangentes dos ângulos de intersecção com a fronteira são inversamente proporcionais aos
coeficientes de permeabilidade.
Caso a permeabilidade k1 for menor que k2 (fig. 3.23), pode−se notar que os canais de
fluxo devem estreitar no meio 2 para dar passagem à mesma vazão que percolava nos canais
do meio 1.
Na primeira rede, a solução adotada foi traçar a rede com elementos quadrados no
meio 1 e retangulares no meio 2, mantendo a igualdade de vazão e perda de carga. Na última
rede, a solução adotada permitiu o traçado de malhas quadradas em cada um dos meios.
80
4. RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO.
ã ã
úðñéêçøé
comportamento. Para o caso dos solos, o critério de ruptura mais utilizado é o critério de
ruptura de Mohr−Coulomb.
Segundo este critério, inicialmente postulado por Mohr, em 1900, a ruptura de um
material se dá quando a tensão cisalhante no plano de ruptura alcança o valor da tensão
cisalhante de ruptura do material, o qual é uma função única da tensão normal neste plano.
Em outras palavras:
τ ff = f (σ ff )
(4.1)
Onde τff e σff são a tensão de cisalhamento de ruptura e a tensão normal no plano de
ruptura.
50
φ
Tensão cisalhante (kPa)
Faixa de valores
40 de interesse
30
20
10
c (coesão)
0
0 20 40 60 80 100
Tensão normal (kPa)
Pontos experimentais
Figura 4.1 – Envoltória de ruptura típica obtida para um solo e o seu ajuste à
proposta de Mohr – Coulomb.
obter valores de c e φ totalmente diferentes. Deste modo, deve−se evitar considerar estes
parâmetros como propriedades intrínsecas do solo.
σz
z τzx
σα σx
τxz τα
As tensões em um plano passando por um ponto do solo (plano α da fig. 4.2) podem
ser sempre decompostas em suas componentes cisalhante (τα, na fig. 4.2) e normal ao plano,
(σα). Em Mecânica dos Solos, as tensões normais de compressão são tomadas com sinal
positivo.
Em um determinado ponto, as tensões normais e de cisalhamento variam conforme o
plano considerado. No caso geral, existem sempre três planos em que não ocorrem tensões de
cisalhamento. Estes planos são ortogonais entre si e recebem o nome de planos de tensões
principais. As tensões normais a estes planos recebem o nome de tensões principais; a maior
83
das três é chamada de tensão principal maior, σ1, a menor é denominada tensão principal
menor, σ3 e a outra é chamada de tensão principal intermediária, σ2. No estado plano de
tensão, leva−se em consideração apenas as tensões σ1 e σ3, ou seja, despreza−se o efeito da
tensão principal intermediária.
Conhecendo−se os planos e as tensões principais num ponto, pode−se sempre
determinar as tensões normais e de cisalhamento em qualquer plano passando por este ponto.
Este cálculo pode ser feito, igualando−se as forças (produto tensão x área) decompostas nas
direções normal e tangencial ao plano considerado. Sendo α o ângulo do plano considerado
com o plano principal maior, obtém−se:
σ 1 + σ 3 (σ 1 − σ 3 )
σα = + ⋅ cos 2α
2 2
(σ − σ 3 )
τα = 1 ⋅ sen 2α
2 (4.3)
O estado de tensão em todos os planos passando por um ponto pode ser representado
graficamente, num sistema de coordenadas em que as abcissas são as tensões normais e as
ordenadas são as tensões de cisalhamento. O círculo de Mohr tem seu centro no eixo das
abcissas e pode ser construído quando se conhece as duas tensões principais em um ponto,
com as respectivas inclinações dos planos onde estas atuam, ou as tensões normais e de
cisalhamento em dois planos quaisquer. A fig. 4.3 ilustra a construção de um círculo de Mohr
para o caso de um estado plano de tensões. As tensões atuando em um plano com uma
inclinação α em relação ao plano principal podem ser obtidas com o uso da eq. 4.3, mostrada
anteriormente. A eq. 4.3 pode escrita de uma forma mais geral, conforme apresentado na eq.
4.4. Pode−se ainda demonstrar que o raio do círculo de Mohr é dado pela eq. 4.5 e que o
ângulo que o plano vertical faz com o plano principal é dado pela eq. 4.6.
σ x + σ z (σ x − σ z )
σα = + ⋅ cos 2α + τ xz ⋅ sen (2α )
2 2 (4.4)
(σ − σ z )
τα = x ⋅ sen 2α − τ xz ⋅ cos(2α )
2
2
(σ − σ z ) (4.5)
R= x + τ xz2
2
2 ⋅ τ xz
atg
σ x −σ y (4.6)
αp =
2
σ +σ z (σ −σ z )
2
σ1 = x + x + τ xz2
2 2 (4.7)
σ +σ z (σ − σ z )
2
σ3 = x − x + τ xz2
2 2
Estado de tensões
Círculo de Mohr
σ
z τ Convenção de sinais
zx
τ σ
τ (+)
(σα ; τα )
x
xz σ
α
(σx;τxz) τ
α α
α
σ σ
3 1
c σ
α polo
(σ z;τzx)
(σx + σz)/2
Figura 4.3 – Construção de um círculo de Mohr para o caso de um estado plano de
tensões.
Pela definição de envoltória de ruptura dada anteriormente, pode−se dizer que para
que um estado de tensão seja possível em um determinado ponto do solo, o círculo de Mohr
representativo deste estado de tensões deve estar totalmente contido na envoltória de
resistência do solo. Particularmente, nos casos de ruptura iminente, o círculo de Mohr
tangenciará a envoltória de ruptura. A fig. 4.4 apresenta uma envoltória de resistência obtida
a partir de diversos círculos de Mohr construídos para uma condição de ruptura iminente.
Conforme se pode notar, os círculos de Mohr para uma condição de ruptura tendem a
tangenciar a envoltória de ruptura do solo. Na prática, por ser o solo um material
heterogêneo, a sua envoltória de resistência é obtida a partir de um ajuste desta aos círculos
85
A fig. 4.5 ilustra um círculo de Mohr na ruptura sendo tangenciado pela envoltória de
resistência do solo. Conforme se pode observar nesta figura, o plano de ruptura do solo faz
um ângulo de 45o + φ/2 com o plano principal maior. Como apenas a parte superior do círculo
de Mohr foi apresentada, devido a simetria do problema, pode−se mostrar que existe um
outro plano de ruptura, situado também a 45o + φ/2 do plano principal maior, só que em
sentido oposto ao plano apresentado na fig. 4.5. Pode−se dizer então, que os planos de ruptura
em um solo, admitindo−se como correto o uso de critério de ruptura de Mohr Coulomb,
perfazem entre si um ângulo de 90o + φ. Para a condição de ruptura, pode−se também
demonstrar que os valores das tensões principais estão relacionados entre si pela eq. 4.8,
apresentada adiante.
σ 1 = σ 3 ⋅ N φ + 2 ⋅ c ⋅ Nφ (4.8)
φ
Onde : Nφ = tan ( 45 + 2 )
2
(4.9)
negativa atrai as partículas gerando novamente um fenômeno de atrito, visto que ela origina
uma tensão efetiva normal entre as mesmas. Saturando−se totalmente o solo, ou secando−o
por inteiro, esta parcela desaparece, donde o nome de aparente. A sua intensidade cresce com
a diminuição do tamanho das partículas. A coesão aparente pode ser uma parcela bastante
considerável da resistência ao cisalhamento do solo, principalmente nos solos argilosos.
Das curvas tensão/deformação dos vários corpos de prova são tomados os valores das
tensões cisalhantes de ruptura, os quais, conjugados com as tensões normais correspondentes,
permitem a definição da envoltória de resistência do solo para o intervalo de tensões
ensaiado.
Areia compacta
Areia fofa
εa
εv de compressão
εv positiva
mais conservador do que a máxima resistência que se poderia obter para o solo, porque a
deformação medida durante o ensaio não consegue representar o que realmente ocorre, mas
somente uma média das deformações que se processam na superfície de ruptura.
Tratando−se de solos de ruptura plástica, tal não ocorre, porque em todos os pontos da
superfície de ruptura atuam esforços iguais, independentemente de qualquer concentração de
tensões.
Outro aspecto que merece ser citado refere−se ao fato de que o plano de ruptura está
determinado a priori e pode não ser na realidade o mais fraco. Por sua vez, os esforços que
atuam em outros planos que não o de ruptura, não podem ser estimados durante a realização
do ensaio senão quando no instante de ruptura. Além, disso, a área do corpo de prova diminui
durante o ensaio.
Por último, deve−se salientar a dificuldade de controle (conhecimento) das pressões
neutras antes e durante o ensaio. Embora existam pedras porosas que permitam a dissipação
de pressões neutras, não existe nenhum mecanismo que permita avaliar o desenvolvimento
das pressões neutras no corpo de prova, tal qual seria possível num ensaio de compressão
triaxial.
De uma forma resumida, podemos citar as seguintes vantagens e desvantagens do ensaio de
cisalhamento direto:
− Vantagens:
Ensaios em areias (moldagem)
Planos preferenciais de ruptura
− Desvantagens:
Ruptura progressiva
Rotação dos planos principais
Não há controle de drenagem
− Outras propostas:
“Ring shear” e cisalhamento simples
Este tipo de ensaio é o que mais opções oferece para a determinação da resistência do
solo. Basicamente ele consiste num corpo de prova cilíndrico com altura h de 2 a 2,5 vezes o
seu diâmetro, φ (são normalmente adotados diâmetros de corpos de prova de 3,2, 5,0 e
7,5cm), envolvido por uma membrana impermeável e que é colocado dentro de uma câmara,
tal qual se esquematiza na fig.4.8.
Preenche−se a câmara com água e aplica−se uma pressão na água que atuará em todo
o corpo de prova. O ensaio é realizado acrescendo a tensão vertical, o que induz tensões de
cisalhamento no solo, até que ocorra a ruptura ou deformações excessivas. Deve−se notar a
versatilidade do ensaio. As diversas conexões da câmara com o exterior permitem medir ou
dissipar pressões neutras e medir variações de volume do corpo de prova.
confinante aplicada será toda absorvida pela água intersticial, de modo que a
tensão efetiva de confinamento do solo permanece inalterada. Símbolo: UU
#
Ensaio Adensado e Não Drenado − Neste ensaio permite−se drenagem do corpo de
prova somente sob a ação da pressão confinante. Aplica−se a pressão confinante e
espera−se que o corpo de prova adense. A seguir, fecham−se os registros de
drenagem, e a tensão axial é aumentada até a ruptura, sem que se altere a umidade
do corpo de prova. As tensões medidas neste ensaio durante a fase de cisalhamento
são tensões totais. Este ensaio é também chamado de ensaio do tipo R (do inglês
“rapid”), adensado rápido, adensado sem drenagem, ou ensaio CU (“consolidated
undrained”). É importante salientar que neste tipo de ensaio, permite−se a
dissipação das pressões neutras originadas pelo confinamento do corpo de prova.
Durante a fase de cisalhamento, os valores de pressão neutra desenvolvidos podem
ser medidos. Neste caso o comportamento obtido para o solo pode ser descrito
tanto em termos de tensão total quanto em termos de tensão efetiva. Símbolo: CU.
#
Ensaio Adensado e Drenado − Neste ensaio há permanente drenagem do corpo de
prova. Aplica−se a pressão confinante e espera−se que o corpo de prova adense. A
seguir, a tensão axial é aumentada lentamente, de modo que todo excesso de
pressão neutra no interior do corpo de prova seja dissipado. Desta forma, a tensão
neutra no cisalhamento permanece praticamente nula (ou constante, no caso de
ensaios realizados com contra pressão) e as tensões totais medidas são tensões
efetivas. Este ensaio é também chamado de ensaio lento ou do tipo S (do inglês
“slow”), ensaio drenado, ensaio adensado − drenado ou ensaio CD (“consolidated
drained”). É importante salientar que neste tipo de ensaio, permite−se a dissipação
de pressões neutras em todas as suas fases e que as tensões medidas são efetivas.
Símbolo: CD.
Figura 4.8 – Ensaio de compressão triaxial. Modificado de Bueno & Vilar, 1985.
σ1 – σ3 σ’1/σ’3
εa εa
εa2
εa1
τ
Envoltória efetiva
c’’ e φ’
Envoltória total
ceφ
− Vantagens:
Permite controle de drenagem (Ensaios CD, CU e UU).
Não há ruptura progressiva
Permite ensaios em diversas trajetórias de tensão
− Desvantagens
Dificuldade na moldagem de corpos de prova de areia.
ã $Lã!ãDâLã%úôHî÷(é_êë&éý0ñ-ëHô ô é/.÷(ý0æ(ë ô
Este ensaio pode ser entendido como um caso especial do ensaio de compressão
triaxial. A tensão confinante é a pressão atmosférica, ou σ3 = 0. O valor da tensão principal na
ruptura, σ1, recebe o nome de resistência à compressão simples. Algumas observações sobre
este tipo de ensaio:
Este ensaio não é normalizado pela ABNT, mas sim pela ASTM D2573−72. O Vane
Test é o principal ensaio de campo utilizado na determinação da resistência não drenada de
solos moles, consistindo na rotação, a uma velocidade padrão, de uma de uma palheta
cruciforme (em planta), em profundidades pré−definidas. A resistência não drenada do solo é
obtida em função do torque requerido para se fazer girar a palheta.
A partir do valor da resistência à penetração oferecido pelo solo (N), pode−se inferir
empiricamente diversas propriedades do solo. Este procedimento está normalizado pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT (NBR 6484).
93
Consiste em penetrar um cone na ponta de uma haste, que é protegida por um tubo de
revestimento, e medir−se o esforço necessário para tanto. Vários são os tipos de cone e
as formas de penetração (estática ou dinâmica, cones mecânicos ou elétricos e
piezocones).
O ensaio de penetração estática, com cone holandês ou de Bejeman mede a resistência
de ponta e o atrito lateral, permitindo estimativas de φ e c. Os resultados obtidos podem ser
usados diretamente (preferencialmente) para dimensionamento de fundações, ou
correlacionados com o N do SPT.
Há correlações entre os resultados das sondagens e parâmetros de resistência,
deformabilidade e permeabilidade para uma grande variedade de solos.
ã $Lã ã
ã ÷(ô îæ.îýYë úð)é/'P÷(ñë ð)é 4 lúNô ÷(ðç 5
Nos solos de granulação grossa, dada a forma mais ou menos regular das partículas,
reduzem−se os pontos de contato dentro da massa de solo. As tensões transmitidas nesses
pontos são altas fazendo com que os contatos sejam diretos, partícula a partícula. A ação da
película adsorvida é desprezível e a resistência das areias resulta exclusivamente do atrito
entre partículas.
Os altos valores de permeabilidade dos solos grossos, a exceção da ocorrência de
eventos sísmicos, fazem com que a situação drenada melhor represente a resistência das
areias. A equação representativa da resistência desses solos é, por analogia com o atrito entre
corpos sólidos, da forma:
τ = σ ’⋅tg (φ ’) (4.10)
A rigor, a resistência das areias é atribuída a duas fontes. Uma delas, deve−se ao atrito
propriamente dito, que por sua vez se compõe de duas parcelas: a primeira, devida ao
deslizamento e a outra devida ao rolamento das partículas, uma por sobre as outras. A
Segunda fonte de contribuição refere−se a uma parcela de resistência estrutural representada
pelo arranjo das partículas.
94
Quando se despeja uma areia sobre uma superfície horizontal, a inclinação natural que
o talude toma é denominado de ângulo de repouso. Com certa freqüência, costuma−se
assumir que o ângulo em repouso é igual ao ângulo de atrito da areia.
Na realidade, o ângulo em repouso corresponde ao atrito que se desenvolve numa
camada superficial inclinada de areia tal qual se observa quando um corpo sólido desliza ao
longo de um plano inclinado, e não engloba em si as características de compacidade da massa
de areia. Como já se falou, a resistência das areias é composta de uma parcela devida ao atrito
por deslizamento, outra devida ao atrito por rolamento e uma terceira parcela proporcionado
pelo arranjo estrutural das partículas.
A simples observação da Tabela 4.1, permite constatar as diferenças que a
compacidade introduz no ângulo de atrito das areias: passa−se de um ângulo da ordem de 300
em uma areia muito fofa para um ângulo de 380 em uma areia muito compacta de grãos
arrendodados e graduação uniforme.
ãKäLã!ã ã¿ëHô ÷(ô ð! úö÷(î%ë ýwåGçúøé_êîôîñîö-ðë ñ(ô ð)÷(öîô0êî%ïTñë ÷(î
Tabela 4.1 – Valores típicos de ângulo de atrito para diversos tipos de solos grossos.
composta à partir de Terzaghi (1967) e Leonards (1962).
Figura 4.13 – Variação do ângulo de atrito interno de uma areia em função de sua
porosidade. Modificado de Rowe (1962).
98
No que se refere ao entrosamento, é interessante notar que o papel dos grãos grossos é
diferente do desempenhado pelos finos. Consideremos, por exemplo, que uma areia tenha
20% de grãos grossos e 80% de grãos finos. O comportamento desta areia é determinado
principalmente pelas partículas finas, pois as partículas grossas ficam envolvidas pela massa
de partículas finas, pouco colaborando no entrosamento. Consideremos, de outra parte, uma
areia com 80% de grãos grossos e 20% de grãos finos. Neste caso, os grãos finos tenderão a
ocupar os vazios entre os grossos, aumentando o entrosamento e conseqüentemente o ângulo
de atrito interno.
− Formato dos Grãos: Embora o formato dos grãos de areia seja de difícil descrição,
nele estando envolvida sua esfericidade (formato médio), seu arredondamento (formato dos
cantos) e sua rugosidade, tem−se verificado que as areias constituídas de partículas esféricas
e arredondadas têm ângulos de atrito sensivelmente menores do que as areias constituídas de
grãos angulares.
A maior resistência das areias de grãos angulares é devida ao maior entrosamento
entre grãos. Mesmo no estado fofo, ou para grandes deformações, quando a resistência
residual está sendo solicitada, as areias com grãos angulares apresentam maior ângulo de
atrito interno.
Da análise feita acima sobre a influência das características da areia na sua resistência
ao cisalhamento, se verifica que os fatores de maior influência são, em ordem hierárquica, a
compacidade, a distribuição granulométrica e o formato dos grãos. Revendo−se os resultados
publicados por diversos pesquisadores, a seguinte tabela de valores típicos, em função destes
três fatores, foi elaborada:
Muitos fatores fazem com que o estudo da resistência dos solos argilosos seja mais
complexo que o dos solos arenosos. No caso dos solos argilosos, o seu histórico de tensões
desempenha um papel fundamental em seu comportamento. Isto ocorre porque, conforme
apresentado no capítulo de compressibilidade, os solos finos exibem um comportamento
essencialmente elastoplástico, de modo que as suas deformações não são totalmente
recuperadas quando de um processo de descarregamento. O pré−adensamento do solo,
portanto, o conduz a um estado mais denso do que o mesmo solo normalmente adensado,
fazendo com que o mesmo apresente maiores valores de resistência, principalmente no que se
refere a sua coesão. Em outras palavras, com o aumento da máxima tensão já vivificada pelo
solo, mais contatos entre partículas podem resultar plastificados, assim permanecendo mesmo
com o descarregamento do solo, o que gera uma parcela de resistência adicional nos solos pré
adensados.
99
As baixas permeabilidades dos solos argilosos respondem por uma dissipação lenta
das pressões neutras despertadas por um acréscimo de cargas. Torna−se necessário
representar essas condições de dissipação de pressões neutras em cada caso para conhecer
com mais propriedade o comportamento dos solos. Para retratar esses comportamentos
existem três formas clássicas de conduzir os ensaios de resistência, como já foi visto
anteriormente: ensaios não drenados (rápidos), adensados rápidos e drenados (lentos).
Deve−se lembrar também que o mesmo comportamento que caracteriza as areias no
tocante as curvas tensão/deformação também ocorre nas argilas. Uma argila pré−adensada
experimenta expansões volumétricas quando cisalhada e o seu comportamento
tensão/deformação é muito semelhante ao das areias compactas. As argilas normalmente
adensadas ou levemente pré−adensadas (OCR < 4) assemelham−se às areias fofas e
experimentam, portanto, reduções de volume quando cisalhadas. A fig. 4.14 apresenta
resultados típicos de ensaios triaxiais do tipo CD obtidos em corpos de prova de solo argiloso.
Conforme se pode observar da fig. 4.14, a razão de pré−adensamento do solo possui
um papel semelhante, para o caso das argilas, ao papel desempenhado pela compacidade, para
o caso das areias. Também o fenômeno da dilatação para o caso das argilas possui causas
diferenciadas daquelas para o caso das areias.
σ1 − σ3
Argila pré−adensada
Argila normalmente
adensada
εa
εv de compressão
εv positiva
maior valor de tensão desviadora, (σ’1 −σ’3)máx, e, como já se conhece σ’3 (mantido constante
durante o ensaio), é possível locar num diagrama τ x σ os círculos de Mohr correspondentes à
ruptura de cada corpo de prova. Deve−se notar que no caso do ensaio triaxial, a tensão
desviadora corresponde ao diâmetro do círculo de Mohr. A estes círculos de Mohr deve−se
adequar a envoltória de resistência do solo, dentro da faixa de tensões de interesse. Para o
caso dos solos normalmente adensados, a envoltória de resistência passa pela origem do
sistema de coordenadas, ou intercepta o eixo τ num valor muito próximo de zero, de forma
que c’≅ 0, o que em termos práticos permite definir a envoltória para um solo saturado
normalmente adensado, em termos de tensões efetivas, utilizando−se a eq. 4.11. A fig. 4.15
ilustra a obtenção de uma envoltória de ruptura para o caso de um solo normalmente
adensado, utilizando−se ensaios do tipo CD. Se o mesmo solo estiver pré−adensado,
modificam−se as características de resistência. Seja a curva de compressão de um solo
deixado consolidar desde o instante de sua deposição como representado na fig. 4.16. A
amostra principia a consolidar a partir do ponto 0. Uma vez atingido o ponto A, mede−se a
sua resistência. O mesmo com referência ao ponto B. As resistências medidas são
representadas por A’ e B’ e note que estas resistências correspondem ao intervalo
normalmente adensado do solo, definindo uma envoltória cujo prolongamento passa pela
origem.
τ = σ ’⋅tg (φ ’) (4.11)
τ
Círculos de Mohr
Na ruptura
φ’
Índice de
vazios
0
2 A
B
1
C E
D
τ
Envoltória
Trecho
normalmente
Pré−adensado adensada
(ganho de
coesão) E’
C´ D´’
A´’ B´’
σ
Nestes ensaios a primeira etapa é realizada com total dissipação das pressões neutras
geradas pela tensão confinante. Durante a fase de cisalhamento da amostra, as pressões
neutras desenvolvidas são impedidas de se dissipar, ou seja, não ocorrem variações
volumétricas por cisalhamento. A fig. 4.17 apresenta os resultados típicos obtidos a partir de
um ensaio triaxial do tipo CU, em argilas normalmente adensadas e pré−adensadas.
Conforme ilustrado nesta figura, as argilas normalmente adensadas tendem a
desenvolver pressões neutras positivas durante o cisalhamento, o contrário ocorrendo para o
caso dos solos pré−adensados. Isto ocorre pelas diferentes tendências de variação volumétrica
destes solos. No caso dos solos normalmente adensados, estes tendem a apresentar
deformações volumétricas de compressão (há uma tendência de diminuição de volume do
102
corpo de prova), de modo que para se contrapor a esta tendência, excessos de pressão neutra
positivos são gerados. O contrário ocorre no caso das argilas pré−adensadas.
σ1 − σ3, u
Argila pré−adensada
Argila normalmente
u adensada
εa
u
Figura 4.17 – Resultados típicos obtidos a partir de ensaios triaxiais do tipo CU,
realizados em solos normalmente adensados e pré−adensados.
superiores aos obtidos em termos de tensão efetiva. A fig. 4.19 ilustra círculos de Mohr
obtidos em ensaios CU realizados em amostras pré−adensadas.
τ Solos normalmente
adensados, ensaios CU.
u σ
Figura 4.18 – Envoltórias de ruptura total e efetiva obtidas em ensaios do tipo CU,
realizados em amostras normalmente adensadas.
τ
Trecho pré−adensado Solos pré −adensados, ensaios
CU.
−u σ
Figura 4.19 – Envoltórias de ruptura total e efetiva obtidas em ensaios do tipo CU,
realizados em amostras pré−adensadas.
τ = c ’+σ ⋅ tg (φ ’)
(4.15) (Neste caso, leva−se em consideração os valores de pressão
neutra medidos durante o ensaio).
τ = c + σ ⋅ tg (φ ) (4.16) (tensões totais).
o papel desempenhado pelas pressões neutras, o que será descrito a seguir, considerando o
solo saturado.
Suponhamos que a amostra estava inicialmente adensada, em campo, sob uma tensão
σo . Imediatamente após a amostragem, o desconfinamento do solo tenderá a provocar um
’
aumento de volume, quando então se contrapõe uma pressão neutra negativa igual à tensão σo
(uo = −σo). A aplicação da tensão confinante gerará acréscimos de pressão neutra no corpo de
prova. Estando a drenagem impedida e como o solo se encontra saturado, toda a tensão
confinante será suportada pela água intersticial. Tal situação significa que não houve ganho
de resistência pelo confinamento do solo, já que não houve acréscimo de tensão efetiva.
Finalmente, durante a fase de cisalhamento, novas pressões neutras são geradas. Ao
ensaiar vários corpos de prova, nota−se, de imediato, que todos os círculos de Mohr têm o
mesmo raio e fornecem uma envoltória de resistência horizontal, como a representada na fig.
4.20. Na fig. 4.20, está também representado o círculo de Mohr correspondente ao estado de
tensões efetivas de ruptura, que para o caso de um ensaio UU é sempre o mesmo,
independente do valor da tensão confinante total. A envoltória de resistência obtida nos
ensaios UU é representada pela eq. 4.17, apresentada a seguir. Note que para esta situação o
ângulo de atrito em termos de tensões totais (φ) é igual a zero, e que, qualquer que seja o
círculo considerado:
τ Ensaio UU
σ
Figura 4.20 – Resultados de ensaios típicos de um ensaio UU.
(σ 1 − σ 3 )max
τ = cu =
2 (4.18).
ãKäLã ã ã¿ëHô ÷(ô ð! úö÷(î%êéô&.éæ(éô0ü1îñö-÷(îæFýeë úðë0îð)çñîêéô
Sendo assim, pode−se dizer que a utilização do círculo de Mohr para representar a
evolução dos estados de tensão num elemento do solo, durante um determinado
carregamento, não é adequada. O estudo da trajetória de tensões seguida por um corpo de
prova em um ensaio é extremamente importante, já que em um material elastoplástico, como
o solo, o estado final de tensões e deformações é dependente da trajetória de tensões adotada
(possibilidade de ocorrência de deformações plásticas ou irrecuperáveis).
O estudo da trajetória de tensões seguida pelo solo em um determinado ensaio é então
realizado utilizando−se dois parâmetros, denominados de t e s e representados pelas eqs. 4.19
e 4.20, apresentadas a seguir.
106
t=
(σ 1 − σ 3 ) (4.19)
2
s=
(σ 1 + σ 3 ) (4.20).
2
P (s,t)
A fig. 4.22 apresenta uma trajetória de tensões típica seguida por um corpo de prova
em um ensaio triaxial drenado. Conforme se pode notar desta figura, a trajetória de tensões
seguida em termos de s e t possui uma inclinação de 45o com o eixo s. Isto é explicado pelo
fato de que em um ensaio triaxial convencional drenado, o valor da tensão principal menor
permanece inalterado, ou δσ3 = 0. Os parâmetros s e t podem ser representados de forma
incremental pelas eqs. 4.21 e 4.22, apresentadas adiante. Como δσ3 = 0, temos δt/δs = 1.
δt =
(δσ 1 − δσ 3 ) (4.21).
2
(δσ 1 + δσ 3 ) (4.22).
δs =
2
sen (φ ’ ) = tg (α ’ ) (4.23).
107
c’*
c’ =
cos(φ ’ ) (4.24).
Estado de tensão na
ruptura
1
1
σ,s
Figura 4.22 – Trajetória de tensões seguida em um ensaio triaxial drenado.
(σ ’1 −σ ’3 ) (σ 1 − u − ( σ 3 − u )) (σ 1 − σ 3 )
t’ = = = =t
2 2 2 (4.25)
(σ ’1 +σ ’3 ) (σ 1 − u + σ 3 − u )
s’ = = = s −u
2 2 (4.26).
Como se pode notar das eqs. 4.25 e 4.26, o parâmetro t tem seu valor independente da
pressão neutra no solo: t = t’. De certa forma, isto já deveria ser esperado, pois que este
parâmetro reflete o valor da máxima tensão cisalhante atuando em um ponto, e a água, por
não poder suportar tensões cisalhantes, não pode interferir em seu valor. O parâmetro s’, o
qual corresponde à média das tensões efetivas principais atuando no ponto é dado pela eq.
4.26. Isto faz com que a trajetória de tensões em termos de tensões efetivas (TTE), obtida em
um ensaio CU, se desloque para a esquerda da trajetória de tensões em termos de tensões
totais (TTT), do valor de u. A fig. 4.23 apresenta trajetórias de tensões típicas obtidas para o
caso de ensaios triaxiais do tipo CU, realizados em uma amostra de argila em seu trecho
normalmente adensado e pré−adensado. Conforme se pode observar desta figura, no trecho
normalmente adensado, o solo apresenta sempre pressões neutras positivas, de modo que a
trajetória de tensões efetiva, TTE, se encontra sempre à esquerda da trajetória de tensões
totais. Para o caso do trecho pré−adensado, há inicialmente geração de pressões neutras
positivas no corpo de prova (vide fig. 4.17), sendo que com o cisalhamento da amostras estas
passam a se apresentar negativas. Deste modo a trajetória de tensões TTE obtida para o caso
108
T e nsã o d e
t P ré −a d e n sa m e n to
φ’
T r e c h o p ré −a d e n s a d o T r e c h o n o r m a lm e nt e
a d e n sa d o
TTE
u TTT
TTE
TTT
s
Figura 4.23 – Trajetórias de tensões típicas obtidas em ensaios CU, em amostras
normalmente adensadas e pré−adensadas.
KLMNLOPRQ.S*TU:VW:X)Y7XZ&[\Z]7Q.^!U:Y7XZY7\&\_`Z"U
S.XZU(TU
ZXZPR[a:^!S.TXZ
Nos itens anteriores foi apresentado o comportamento do solo sob uma variedade de
condições de ensaio, principalmente no tocante às condições de drenagem, durante as fases de
adensamento e cisalhamento do corpo de prova. É óbvio que qualquer ensaio deve procurar se
aproximar o mais possível das condições de campo. Em particular, o processo de
carregamento em campo deve ser interpretado de modo que se estabeleçam condições críticas
para o problema, as quais poderão ocorrer a curto prazo ou a longo prazo, relativamente à
construção da obra. Por exemplo, a construção de um aterro sobre argila mole de baixa
permeabilidade induzirá pressões neutras na argila, as quais, ao término da construção, mal
terão começado a se dissipar. A fig. 4.24 ilustra o desenvolvimento de tensões de
cisalhamento e neutras durante a construção de um aterro em solo mole. Conforme ilustrado
nesta figura, durante a fase de construção do aterro, crescem as tensões cisalhantes no ponto P
e as pressões neutras, de modo que a resistência ao cisalhamento do solo permanece
praticamente inalterada. Após a construção do aterro, o solo passa a sofrer o processo de
adensamento, durante o qual ocorrem a dissipação do excesso de pressão neutra gerado no
solo e a diminuição do seu índice de vazios. Durante este período, as tensões cisalhantes
induzidas ao solo permanecem inalteradas, já que o aterro não tem a sua altura modificada. A
resistência do solo, no entanto, cresce com a dissipação das pressões neutra pelo processo de
adensamento e com a diminuição do índice de vazios do solo, de modo que a situação mais
crítica neste caso ocorre ao final da construção. Também na fig. 4.24 está representada a
109
De um modo geral, os ensaios drenados, ou do tipo CD, são utilizados para a análise
de problemas em que a situação mais crítica ocorre a longo prazo e em casos onde a
velocidade de construção da obra é inferior à capacidade do solo de dissipar as pressões
neutras geradas. Em outras palavras, não há sentido em se realizar ensaios do tipo UU para
areia ou solo possuindo altos valores de permeabilidade (ou mesmo para o caso dos solos não
saturados), pois, para estes solos, as tensões neutras provocadas pela construção são
dissipadas quase que instantaneamente.
5. EMPUXOS DE TERRA.
b Lc:Lde_`^[XY7]7VW
X
Algumas vezes, na engenharia civil, não dispomos de espaço suficiente para fazer uma
transição gradual das elevações do terreno onde queremos implantar uma determinada obra.
Nestes casos, os taludes necessários podem ser suficientemente altos ou inclinados, de modo
que a estabilidade dos mesmos não é assegurada a longo prazo. As estruturas de contenção
são projetadas para prover suporte para estas massas de solo não estáveis. Os empuxos de
terra são as solicitações do solo sobre estas estruturas, e estes são dependentes da interação
solo/estrutura.
O cálculo dos empuxos de terra constitui uma das mais antigas preocupações da
engenharia civil, tratando−se de um problema de elevado valor prático, de ocorrência
freqüente e de determinação complexa.
Os muros de arrimo, os escoramentos de escavações, os encontros de pontes, os
problemas de capacidade de carga de fundações, entre outras, são as obras que exigem, em
seus dimensionamentos e análises de estabilidade, o conhecimento dos valores dos empuxos.
Tais estruturas freqüentemente requerem verificações adicionais no seu dimensionamento,
não só a análise da sua estabilidade global, como a segurança de seus elementos de
construção.
Para o estudo dos empuxos de terra, em síntese, existem duas linhas de conduta:
f
A primeira, de cunho teórico, apoia−se em tratamentos matemáticos elaborados a
partir de modelos reológicos que tentam traduzir, tanto quanto possível, o
comportamento preciso da relação tensão x deformação dos solos.
f
A segunda forma de abordagem é de caráter empírico/experimental, sendo
recomendações colhidas de observações em modelos de laboratório e em obras
instrumentadas.
Vale ressaltar que a automação dos métodos numéricos, como o método das diferenças
finitas, o método dos elementos finitos ou o método dos elementos de contorno e a evolução
das técnicas de amostragem e ensaios, tem propiciado, nos últimos anos, um desenvolvimento
significativo dos processos de cunho teórico. As análises pelo método dos elementos finitos
(MEF) são, dentre os processos teóricos, as mais difundidas. O uso do MEF propicia o
cálculo tanto dos empuxos quanto das deformações do solo e da estrutura. Todos os aspectos
do problema, como a interação solo/estrutura, seqüência construtiva, comportamento
tensão/deformação do solo, podem ser abordados. As maiores dificuldades de aplicação do
MEF dizem respeito à definição de uma curva σ x ε que defina o comportamento
generalizado do solo. Neste aspecto, vale dizer que a aplicação da teoria da plasticidade aos
solos vem fornecendo resultados satisfatórios.
b L ghLiX\"jS.TS.\_R^!\"ZY7\klEP`]7m:X
empuxo em repouso do solo (Ko), cujo cálculo e aplicação já foram mencionados no capítulo
de tensões geostáticas deste trabalho. As tensões horizontais efetivas do solo neste caso são
calculadas utilizando−se a eq. 5.1, apresentada adiante. Conforme também relatado naquele
capítulo, a expressão mais utilizada para o cálculo do coeficiente de empuxo em repouso do
solo é a equação de Jáky (1948), a qual também é reproduzida a seguir (eq. 5.2).
σ h’ = Ko ⋅ σ v’
(5.1)
Ko = 1 − sen (φ ’) (5.2)
υ
Ko =
1− υ (5.3)
qualquer este muro seja movimentado para a direita, com deslocamentos uniformes em toda a
sua extensão. A fig. 5.2 ilustra o que acontece, em termos de tensões horizontais, em dois
elementos de solo situados à esquerda e à direita do muro (elemento A e elemento B,
respectivamente).
Figura 5.1 – Esquema ilustrativo utilizado na definição dos empuxos de terra ativo
e passivo. Modificado de Perloff & Baron (1976).
A fig. 5.3 ilustra o que acontece nos elementos de solo A e B em termos de círculos de
Mohr. Conforme ilustrado nesta figura, ambos os elementos partem de um círculo de Mohr
possuindo como tensões principais σv e Ko⋅σv. Conforme apresentado nesta figura, no estado
em repouso o solo se encontra afastado da ruptura. Com o deslocamento do muro, as tensões
horizontais no elemento B se tornam maiores que o valor da tensão vertical, sendo seu valor
limite alcançado quando o círculo de Mohr passa a tangenciar a envoltória de resistência do
solo. Neste instante, diz−se que o solo está em um estado de ruptura passiva. Conforme
apresentado no capítulo anterior, para uma condição de ruptura, as tensões principais estão
relacionadas de acordo com a eq. 5.4, apresentada adiante.
Empuxo ’
φ
Ativo (elemento A)
Empuxo
Passivo (elemento B)
c’
Ka σv Ko σv σv Kpσv σ
σ1 = σ3 ⋅ Nφ + 2 ⋅ c ⋅ N φ (5.4)
φ
Onde : Nφ = tan ( 45 + 2 )
2
(5.5)
σ ’ hp φ
Kp = = Nφ = tg 2 45 +
σ ’v 2 (5.6)
σ ’hp 1 φ
Ka = = = tg 2 45 −
σ ’v Nφ 2 (5.7)
tomado, em geral, entre 1,3 a 1,5. Para a situação passiva, o valor de EP será dividido por um
fator compreendido na faixa de 1,4 a 1,5. Desta forma, os valores de projeto estarão situados
dentro da fase de equilíbrio elástico. No caso ativo, este procedimento implica em obras de
maior porte, portanto mais caras. Em compensação o inverso ocorre para a situação passiva.
Em ambos, porém, há uma garantia da ausência da ruptura do solo arrimado.
b LnNLoqp^XY7X)Y7\&rsU:_`t:S*_R\
Figura 5.5 – Formato das cunhas de ruptura obtidas pelo método de Rankine
quando se considera o atrito na interface solo/muro. Modificado de Perloff & Baron
(1976).
conforme se ilustra na fig. 5.6. Conforme também apresentado na fig. 5.6, a integração dos
esforços horizontais ao longo do muro de arrimo resulta na eq.5.8, que representa o empuxo
ativo atuando sobre a estrutura de contenção.
2c
zo =
Solo coesivo φ
h γ ⋅ tan 45 −
2
Solo não coesivo
h = H −Zo H
2 Ea = Kaγh2/2
Ea= Kaγh /2
h/3
h/3
Figura 5.6 – Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre
estruturas de contenção.
Ka ⋅ h 2 ⋅ γ
Ea =
2 (5.8)
4 ⋅ c’
zc =
φ’
γ ⋅ tg 45 −
2 (5.9)
Kp ⋅ h 2 ⋅ γ
Ep = + 2 ⋅ c ⋅ h ⋅ Kp
2 (5.10)
que neste caso há uma mudança no peso específico do solo, que passa a γsat, e que as tensões
neutras devem subtraídas das tensões horizontais do solo sobre a estrutura, pois os
coeficientes de empuxo devem sempre ser utilizados em termos de tensão efetiva. Caso o
nível d’ água se eleve até a superfície do terreno, o que consiste na situação mais
desfavorável, o empuxo ativo sobre a estrutura de contenção será dado pela eq. 5.11.
hw
Es h −hw
Ew
u u
Figura 5.7 – Efeito da água no empuxo do solo sobre estruturas de contenção.
Ka ⋅ h 2 ⋅ γ sub h 2 ⋅ γ w
Ea = +
2 2 (5.11)
No caso de taludes com uma inclinação i com a horizontal, pode−se mostrar que os
coeficientes de empuxo ativo e passivo são dados pelas eqs. 5.12 e 5.13, respectivamente. Os
valores dos empuxos sobre as estruturas de contenção são dados pelas eqs. 5.14 e 5.15,
respectivamente.
Ka ⋅ h 2 ⋅ γ
Ea = ⋅ cos(i )
2 (5.14)
Kp ⋅ h 2 ⋅ γ
Ep = ⋅ cos(i )
2 (5.15)
b L KhLoqp^XY7X)Y7\&iX]7Q.Xl0u
O método de Coulomb para cálculo dos empuxos de terra foi enunciado em 1776.
Enquadra−se na filosofia do Teorema da Região Superior (TRS) da teoria da plasticidade,
que estabelece o equilíbrio de uma massa de solo, se, para um deslocamento arbitrário, o
119
trabalho realizado pelas solicitações externas for menor do que o das forças internas. Em caso
negativo, a massa estará em condição de instabilização ou de plastificação.
O método de Coulomb admite as seguintes hipóteses básicas:
f
É atendida a condição de deformação plana ao longo do eixo do muro, logo o
problema é bidimensional.
f
Ao longo da superfície de deslizamento, o material está em estado de equilíbrio
limite (uso do critério de Mohr – Coulomb).
f
Ocorre deslizamento relativo entre o solo e o muro. Tensões cisalhantes se
desenvolvem nesta interface. A direção das tensões cisalhantes é determinada pelo
movimento relativo solo/muro.
f
A superfície de ruptura é geralmente assumida como planar.
A fig. 5.8 ilustra o esquema idealizado por Coulomb para cálculo dos empuxos sobre
estruturas de contenção.
Figura 5.8 – Ilustração do método de análise de Coulomb. Modificado de Perloff & Baron,
1976.
equação geral para o problema e encontrar o seu valor máximo, ou mínimo, correspondente
às situações ativa e passiva, respectivamente.
Em seguida serão fornecidos os casos em que esta abordagem é possível. Solução
analítica do método de Coulomb para solos granulares.
Empuxo Ativo – A eq. 5.16 apresenta o valor do coeficiente de empuxo ativo obtido
pelo método de Coulomb. Na fig. 5.9 estão apresentadas todas as variáveis contidas na eq.
5.16, para o caso de empuxo passivo. No caso de empuxo ativo, a resultante R do solo atuará
desviada também de φ’ da normal à cunha, mas agora em sentido oposto. Do mesmo modo,
devido ao movimento descendente da cunha no caso ativo, Ea será inclinada da normal à
contenção também de δ, mas em sentido contrário àquele apresentado na fig. 5.9. Deste
modo, no uso das eqs. 5.16 e 5.17, deve−se atentar para a convenção de sinais adotada na fig.
5.9(b).
sen 2 (α + φ ′)
Ka =
sen(φ ′ + δ )⋅ sen (φ ′ − β )
2
Muro
Caso ativo
Normal
δ (+)
Ea Muro
Caso passivo
Ep
δ (+)
Normal
(a) (
b)
Figura 5.9 – (a) − Método de Coulomb para o caso de empuxo passivo. (b) – Convenção
de sinais para δ. Modificado de Perloff & Baron, 1976.
sen 2 (α − φ ′)
Kp =
sen(φ‘ +δ )⋅ sen(φ ′ + β )
2
sen (α )⋅ sen(α + δ ) 1 −
2
sen(α + δ )⋅ sen(α + β )
(5.17)
2⋅q
γ q = γ +
h ⋅ sen (α )⋅ sen (α + β ) (5.18)
121
Para casos mais gerais, o cálculo do empuxo de terra deve ser feito de forma gráfica.
Estes processos gráficos são todos semelhantes entre si, de modo que neste trabalho
apresentar−se−á apenas o processo gráfico direto para a obtenção do empuxo de coulomb,
sem se utilizar a rotação de eixos proposta por Cullman. As figs. 5.10 e 5.11 ilustram a
composição de forças ao longo de uma cunha de deslizamento, para os caso de empuxo ativo
e passivo.
Figura 5.10 – Composição de forças utilizada pelo método gráfico para o caso de
empuxo ativo. Modificado de Perloff & Baron, 1976.
Figura 5.11 – Composição de forças utilizada pelo método gráfico para o caso de
empuxo passivo. Modificado de Perloff & Baron, 1976.
A fig. 5.12 ilustra a obtenção do empuxo ativo sobre uma estrutura de contenção
utilizando−se o método gráfico. Considerou−se nesta figura um terrapleno horizontal e a
presença do nível d’água. Conforme se pode observar da fig. 5.12, adotou−se a hipótese de
solo com intercepto de coesão não nulo, inclusive vislumbrando−se a possibilidade de
consideração de uma parcela de adesão no contato solo/muro. No caso de solos coesivos, vale
notar que as cunhas potenciais de ruptura não mantém a sua inclinação até a superfície do
terreno, prolongando−se verticalmente para profundidades inferiores a zo (vide fig. 5.6). O
empuxo ativo total sobre a estrutura é obtido considerando−se o empuxo do solo e da água
separadamente. O empuxo da água é calculado utilizando−se a eq. 5.19, apresentada adiante,
onde h’ representa a profundidade da base de assentamento da estrutura até o nível do lençol
freático (no caso da fig. 5.12, h’ corresponde a 12m).
γ w ⋅ h’2
Eaw =
2 (5.19)
122
Nível de água 3 m
Solo coesivo
15 m
β= 85o
EMPUXO ATIVO
N.A.
Ea’ (solo)
δ’ Ea
Resultante
E (água)
contenção, um bom sistema de drenagem deve ser previsto, de modo que eventuais empuxos
provocados pela água são geralmente desprezados na fase de projeto. No caso de cargas
uniformemente distribuídas, pode−se majorar o peso específico do solo conforme eq. 5.18.
Na caso de linhas de carregamento (carga por unidade linear) o seus valores devem ser
acrescentados ao peso das cunhas potenciais que as contém, de modo análogo ao ilustrado nas
figs. 5.10 e 5.11. Neste caso, a linha unindo os vetores P’ da fig. 5.12 poderá apresentar
sobressaltos ou descontinuidades.
b L b LOZPR\T^!XZvw\[U:S*Z&x
]7\&dy_RjQ.]7\_RTS.U:l,_RUIzH\^!\[l0S._RU
VW
X/Y7X)kl0PR]7m
X
A seguir é feito um comentário resumo sobre alguns fatores que influem no valor do
empuxo em uma estrutura de contenção. Aspectos referentes a vários destes fatores já foram
relatados anteriormente.
φ’ 2
〈δ 〈 φ ’
3 3 (5.20)
Carregamento em superfície
e) Fendas de Tração.
Em solos que apresentam coesão existe a possibilidade de surgimento de fendas de
tração. A profundidade que estas podem atingir é determinada pelo ponto em que a tensão
lateral se anula (zo).
b L{NLkZ^[]7^!]7[U
Z&Y7\O[[S*lEX
os mesmos não costumam ser utilizados em locais onde o espaço disponível é pequeno ou
onde o terreno é muito valorizado. De um modo geral, a utilização de muros de arrimo se
restringe até uma altura de aproximadamente 10m. Nos casos dos muros tipo cantoneira ou
contraforte, também trabalha−se por gravidade, mas, neste caso, conta−se com o peso próprio
do solo para garantir a estabilidade da estrutura.
Os muros de flexão ou cantoneira são estruturas mais esbeltas, com seção transversal
em forma de “L” que resistem aos empuxos por flexão, utilizando parte do peso próprio do
maciço arrimado, que se apóia sobre a base do “L”, para manter−se em equilíbrio. Em geral
utilizado para alturas em torno de 6m. Muros contrafortes são os que possuem elementos
verticais de maior porte, chamados contrafortes ou gigantes, espaçados, em planta, de alguns
metros, e destinados a suportar os esforços de flexão pelo engastamento na fundação.
Os crib wall (parede de engradados) são estruturas formadas por elementos pré−
moldados de concreto armando ou de madeira ou aço, que são montados no local, em forma
de fogueiras justapostas e interligadas longitudinalmente, cujo espaço interno é cheio de
preferência com material granular graúdo.
Com o progresso dos métodos construtivos, tem se empregado cada vez mais a
construção de estruturas de contenção utilizando−se geotêxteis ou outros elementos
estruturais. Este é o caso dos muros de arrimo construídos utilizando−se as técnicas de terra
armada ou solo envelopado. Embora esteja fora do propósito deste trabalho a apresentação
detalhada dos princípios de funcionamento destas estruturas, pode−se dizer que, nestes casos,
há a incorporação de elementos estruturais ao solo no sentido de conferir a este resistência à
tração. Em ambos os casos, trabalha−se com o atrito entre o solo e os elementos estruturais,
127
de modo que o uso de solos granulares é sempre preferível. No caso destas estruturas e
mesmo no caso dos muros de arrimo em gabiões, além das verificações de estabilidade
normalmente realizadas, deve−se também realizar análises do sentido de verificar a
estabilidade interna da estrutura de contenção. As cortinas atirantadas são exemplos de
estruturas de contenção utilizadas em locais onde não há espaço para a execução de muros de
arrimo ou onde o terreno é bastante valorizado, justificando o seu uso. Em seu procedimento
executivo, o solo é escavado paulatinamente (até uma profundidade que não requeira o uso de
escoramentos) e placas de concreto são fixadas no talude por intermédio de tirantes.
As estacas prancha são peças de madeira, concreto armado ou aço (ou até mesmo
PVC), que se cravam formando por justaposição as cortinas e se prestam para estruturas de
retenção de água ou solo, podendo ser utilizadas tanto para obras temporárias quanto para
permanentes. Quanto ao método construtivo pode−se ter estacas prancha em balanço, em que
a profundidade de cravação é suficiente para suportar os esforços laterais. Este tipo é
normalmente aplicado para pequenos desníveis. Quando os desníveis se tornam maiores,
passa−se a utilizar cortinas de estacas prancha ancoradas.
Parede diafragma são paredes de concreto armado, concretadas em painéis com
espessura de 30 até 120cm, antes do inicio da escavação. A largura dos painéis pode variar
entre 2 a 4 metros, podendo ser executados em sequência ou alternados. A escavação é feita
com caçamba tipo “ clan shell” e a concretagem é submersa afastando−se a lama bentonítica
que estabiliza o furo. A sequênciade execução de uma parede diafragma pode ser vista na fig.
5.15.
entre os estações pode ser contido, dependendo do caso, por concreto projetado, armado ou
não.
b L{NL ghLkZ^U
uS.Q.S.Y7U
Y7\Y7\&oq]7[XZY7\O[[S.l0X
A determinação dos esforços laterais sobre muros de arrimo, pode ser feita por
qualquer dos métodos tradicionais, desenvolvidos anteriormente. De qualquer forma,
relembra−se que os esforços são decisivamente determinados pelas deformações em jogo e
muita vezes, dada a rigidez da estrutura, não ocorrem deformações suficientes para mobilizar
os estados de equilíbrio plástico.
Experimentos com areias densas realizados por Terzaghi mostraram que a distribuição
linear de esforços, tal qual preconizado nas teorias tradicionais, tem chance de ocorrer quando
o muro sofre um giro em torno do seu pé. Para areias compactas basta que o topo do muro se
desloque cerca de 0,001 da sua altura, para que o estado de tensões passe do repouso para o
ativo. Como o deslocamento é muito pequeno, parece lícito supor que essa situação ocorre
comumente nos muros de arrimo em balanço.
Na verificação da estabilidade de um muro de arrimo há que se atentar para a
possibilidade de deslizamento e tombamento. Além disso, deve−se considerar a possibilidade
de ruptura do talude formado (estabilidade global), bem como verificar as tensões aplicadas
ao solo de fundação e os recalques (segurança a ruptura do solo de fundação). Conforme já
relatado, para alguns tipos de estruturas de contenção deve−se fazer verificações de sua
estabilidade interna (gabiões, contenções em terra armada, solo envelopado, etc).
Um sistema de drenagem, mesmo rústico, pode proporcionar sensíveis benefícios a
um muro de arrimo, com redução de esforços sobre ele.
A seguir são apresentados os procedimentos usuais utilizados no dimensionamento (na
verdade, verificação) de muros de arrimo. A fig. 5.16 ilustra os esforços atuando em uma
estrutura de contenção.
girando−o em torno de seu pé. A tendência ao tombamento é contraposta pelo peso próprio
do muro e pela componente vertical do empuxo ativo. Por outro lado, a componente
horizontal do empuxo ativo tende a empurrar o muro no sentido externo, o que é resistido
pelas tensões de cisalhamento desenvolvidas na base do muro e pelo empuxo passivo
mobilizado no lado esquerdo de sua base. O peso do muro age assim de duas formas distintas:
provoca um momento na direção contrária ao momento instabilizante do empuxo ativo e
causa resistência ao cisalhamento na base do muro. Por estas razões, estas estruturas são
denominadas de estruturas de gravidade.
Por equilíbrio de forças temos:
N = W + Eav − E pv
(5.21)
T = E ah − E ph
(5.22)
N ⋅ x ’ = W ⋅ x 1 + Eav ⋅ x 2 + Eah ⋅ z1 − E pv ⋅ b − E ph ⋅ z2
(5.23)
x’ =
(W ⋅ x 1 + E av ⋅ x 2 + E ah ⋅ z1 − E pv ⋅ b − E ph ⋅ z 2 )
= ∑M
N ∑V (5.23)
b
e = x’ −
2 (5.24)
(a) – A base do muro deve ser tal que a máxima tensão exercida no solo de fundação
não exceda a sua tensão admissível.
(b) – Não devem se desenvolver tensões de tração significantes em nenhuma parte do
muro.
(c) – O muro deve ser seguro contra o deslizamento, ou seja, o fator de segurança ao
deslizamento deve ser adequado.
(d) – O muro deve ser seguro quanto ao tombamento, ou seja, o fator de segurança ao
tombamento deve ser adequado.
(e) – Deve haver segurança à ruptura do conjunto solo/muro (ruptura global).
Para qualquer configuração do problema esses critérios são investigados como segue:
(a) – A pressão exercida pela força N na base do muro é uma função de seu módulo e
de sua excentricidade, e. Assumindo uma variação linear da pressão na base do
muro, o equilíbrio de forças é atendido quando as tensões máximas e mínimas na
base são dadas pela eq. 5.25, mostrada adiante (vide fig. 5.17). Deve−se também
limitar o valor da excentricidade, de modo que não ocorram tensões de tração no
130
solo. Pode ser mostrado que para que esta condição seja atendida temos
que e ≤ b/6.
N 6e
σ 1 = .1 +
b b
σ = N .1 − 6e
2 b b
(5.25)
(b) As seções necessárias para que se obtenha uma segurança global do conjunto
solo/muro geralmente conduzem à satisfação desta condição.
(c) Se o ângulo de atrito entre o solo e a base do muro é δ’, o requerimento de
segurança contra o deslizamento é que a obliqüidade da reação R seja menor do
que δ’. Isto pode ser expresso como:
≤ tg (δ ’)
T
N (5.26)
N ⋅ tg (δ ’ )
F.S.desl . =
T (5.27)
(d) Para que o muro seja seguro quanto ao tombamento, a reação R deve cruzar a base
do muro. Se o requerimento de que não surjam tensões de tração no solo da base
do muro é atendido, então o muro é seguro quanto ao tombamento. Mesmo assim,
deve−se considerar um fator de segurança adequado, neste caso, também superior
a 1,5 para solos granulares e superior a 2,0, para solos coesivos. A eq. 5.28 nos
fornece o valor do fator se segurança quanto ao tombamento do muro (Fs=∑MR\
∑MA) :
W ⋅ (b − x1 )+E av ⋅(b − x 2 )+ E ph ⋅ z 2
F.S. tomb . =
E ah ⋅ z1 (5.28)
131
1:4
H H
0,5D a D
B/3 H/12 a H/10
D H/8 a H/6
onde: Ad: área da seção transversal dos drenos. Am: área do muro a ser drenado.
Os drenos devem ter inclinação mínima de 2% para assegurar o fácil escoamento das
águas, bem como dispor de pingaduras de 5cm para evitar o efeito antiestético deixado pelo
corrimento da água sobre o muro. De maneira geral utiliza−se uma camada drenante
constituída por material de alta permeabilidade (brita, cascalho) com cerca de 40cm de
espessura. Na parte interna do muro deve ser colocado um dreno (por exemplo manilhas
perfuradas, tubos de PVC). Externamente ao muro, deve existir um coletor para a água
proveniente das pingaduras e do dreno interno. Este coletor evita o solapamento da base do
muro e conduz a água para um local adequado. A fig. 5.19 ilustra as considerações citadas
acima.
As cortinas de estacas prancha, conforme já exposto, são constituídas por peças de
madeira, concreto ou aço, cravadas no terreno, que se destinam a retenção de água ou solo.
Tem larga aplicação em obras portuárias, proteção de taludes, abertura de valas, etc.
Atualmente, o emprego de estacas prancha de madeira encontra−se limitado em virtude do
seu comprimento relativamente pequeno (em torno de 5m), ocorrência de danos durante a
cravação, principalmente em terrenos mais resistentes, bem como, duração reduzida em
ambientes sujeitos a variação do lençol freático. As estacas de concreto apresentam maior
resistência que as de madeira, no entanto, os problemas de cravação também tornam o seu uso
restrito. As estacas prancha metálicas tem sido usadas com maior frequência devido à maior
facilidade de cravação e de recuperação, melhor estanqüeidade e possibilidade de reutilização,
no entanto, estas estacas podem apresentar problemas de corrosão.
132
As cortinas diferem estruturalmente dos muros de arrimo, por serem flexíveis e terem
peso próprio desprezível em face das demais forças atuantes.
Baseados em seu tipo estrutural e esquema de carregamento, as cortinas podem ser
classificadas como cortinas sem ancoragem (cantilever) e cortinas ancoradas. Por sua vez, as
cortinas ancoradas podem ser subdividas em cortinas de extremidade livre ou de extremidade
fixa, de acordo com a profundidade de penetração da estaca prancha no solo (ficha),
resultando esta diversidade, em diferentes métodos de cálculo, como veremos adiante.
Para o cálculo das cortinas admite−se geralmente as seguintes hipóteses
simplificadoras:
distribuição hidrostática das pressões ativas e passivas, similar às teorias clássicas de
distribuição de empuxo do solo sobre estruturas de contenção.
ângulo de atrito entre o solo −cortina é considerado nulo
flexibilidade da cortina negligenciada.
~&:G `
e
¡¢R
R£¤¡¦¥"R§G!¨G"©
São usadas para estabilizar pequenas alturas de solo. Em geral, são usadas como
estruturas temporárias de suporte, podendo, no caso de solos arenosos e com pedregulhos,
serem usadas como estruturas permantes.
Uma cortina sem ancoragem resiste ao empuxo devido ao seu engastamento no solo e,
portanto, é necessário existir um comprimento mínimo de embutimento da estaca no solo,
abaixo do fundo da escavação, que garanta o equilíbrio, com margem de segurança adequada.
A estabilidade de uma cortina de estaca prancha sem ancoragem ou em balanço é
somente devido à resistência passiva desenvolvida abaixo da superfície do terreno e do
mesmo lado da escavação. O modo de ruptura é por rotação no entorno do ponto o, conforme
mostra a fig. 5.20a, consequentemente, a resistência passiva atua tanto na frente da cortina,
acima do ponto o, como na parte posterior da cortina, abaixo do ponto o (fig 5.20b). Em
geral, adota−se para projetos uma simplificação (fig 5.20c), assumindo−se que a resistência
passiva abaixo do ponto o é representada por uma força concentrada Ep2 agindo no ponto o,
ou seja, na profundidade f abaixo da superfície do terreno, do lado da escavação.
O comprimento da ficha (f) é determinada fazendo somatário dos momentos no ponto
o igual a zero. Desta forma teremos, para um solo não coesivo (c=0):
f h« f (5.30)
M oª 0 Ep1 ª Ea
3 3
1 f 1 h« f
kp f2 ka 3¯ 3± (5.31)
2
ª h« f kp ® f ka ® h ° f 0
2¬ ¬ ¬ ¬ 3 2¬ ¬ ¬ ¬ 3
H
Ea Ea
Ep1 Ep1
f Ep2
O Ep 2 O
(a) (b) (c)
Figura 5.20 – Cortina de estaca prancha sem ancoragem − Solo não coesivo
O comprimento teórico da ficha (f) é obtido resolvendo a eq. 5.31, que é uma equação
do 3o grau. A favor da segurança, aconselha−se adotar o valor final da ficha 20% maior que o
calculado, assim teremos:
Caso o solo a ser contido apresente coesão e ângulo de atrito (c ≠ 0, φ ≠ 0), isto
conduz a um diagrama de pressões como o apresentado na fig. 5.21. Desta forma, cabe
ressaltar que, aqui são válidas todas as considerações já mencionadas no cálculo de tensões
horizontais conforme prevê as teorias clássicas. Outro ponto digno de nota, é referente à
presença de nível d’água. Caso o nível de água esteja na mesma posição nos dois lados da
cortina, a distribuição de pressão neutra será hidrostática e balanceada, consequentemente,
poderá ser desconsiderada para fins de cálculo. Caso contrário, isto é, a água esteja apenas um
lado da cortina. o efeito do empuxo hidrostático deve que ser considerado.
² 2c³ ka
zo
h
2c ³ kp Ea
f Ep1
O
Ep2
´ O ´
³ f³ kp µ 2c³ kp ³ hµ f ³ ka² 2c³ ka
Figura 5.21 – Cortina de estaca prancha sem ancoragem − Solo com coesão e ângulo de
atrito.
¶&·¸·¹· ºF·»¼:½¾G¿ ÀÁ`ÂeÃ,Àļ:½Á`ÅNÁRÂ
134
Para o cálculo, admite−se que as estacas correspondem a vigas verticais sobre dois
apoios, sendo um a ancoragem e o outro a reação do solo na frente da ficha. Nesse método de
analise é assumido que a profundidade de embutimento da estaca, abaixo do nível da
escavação, é insuficiente para produzir a fixação da mesma. Dessa forma, a estaca é livre para
girar na parte inferior e o diagrama de momento obtido tem a forma apresentada na fig.
5.22b. O modo de ruptura é por rotação em torno do ponto de aplicação da ancoragem (T) e
em projetos é essencial assegurar que os momentos estabilizantes disponíveis excedam os
momentos instabilizantes, por uma margem de segurança adequada.
h1 h1
T T T
h h
Ea
f Ep
f
O
O O
(a) (b) (c)
Figura 5.22 – Cortina de estaca prancha ancorada − extemidade livre.
2 2
MTª 0 Ep f« h Ï h1 ª Ea h« f Ï h1 (5.33)
3¬ 3¬
Este método de análise é utilizado quando a parte cravada da cortina é suficiente para
considera−la engastada no terreno. Assim, para efeito de cálculo, considera−se a estaca
apoiada no topo (ponto de aplicação de T) e engastada na extremidade inferior, ponto a (fig.
5.23a). Para tanto, é preciso que os pontos a e T sejam o mais rígidos possíveis. Na prática,
isto é conseguido por meio de uma ancoragem adequada, no ponto T e, no ponto a, fazendo
as pressões ativas iguais às pressões passivas (ppa=paa). Desta forma, obtém−se o valor de x:
pb
ppa ª pa a xª (5.35)
kp Ï ka
¬
h1
T T
h h
pb
b
x x
f a f c Pp . a Pa f R
y y
.g
O e d O
a) (b)
Figura 5.23 – Cortina de estaca prancha ancorada − extemidade fixa.
Como pode ser observado na fig. 5.23, os empuxos abaixo do ponto a, isto é, referente
ao trecho y, não podem ser obtidos, uma vez que y é uma incógnita. Assim adota−se uma
simplificação, a qual consiste em admitir a existência de uma força resultante R, na linha do
apoio a, que equilibre o sistema, (empuxos passivos e ativos no trecho oa). A força R atua no
centro de rotação a, não influindo, portanto, no equilíbrio de momentos. Dessa forma,
tomando−se somatório dos momentos em relação ao ponto de aplicação de R igual a zero,
obtém −se o esforço no tirante (T). Em seguida, fazendo−se equilíbrio das forças horizontais,
encontra−se o valor de R, conforme mostra a eq. 5.36.
T « R« Ep ª Ea (5.36)
6R
yª
(5.37)
kp Ï ka
¬
136
O comprimento da ficha é dado pela eq. 5.38. É conveniente aumentar este valor de
20 a 40%.
f ª x« y (5.38)
¶&·¸· Ó>·ÔÂÄÁ`ÎRÁ`ÕÖNÈÂ×ÈÔÂļ:½Á`ÊËÈÀy¾¼
Â
V ig a de
solida rizaç ão
(a) (b)
Tirante
Ancoragem
(c)
Figura 5.24 – Escoramento de escavações.
contraventamentos para essas estroncas, o que diminui o espaço útil dentro da escavação.
Nestas situações, tem−se utilizado tirantes ancorados no terreno (fig. 5.24c). Outra alternativa
mais simples, consiste na colocação de escoras inclinadas e apoiadas no fundo da escavação.
(fig. 5.24b). Tirantes são elementos lineares introduzidos no maciço contido e ancorados em
profundidade por meio de um trecho alargado, denominado bulbo, os quais trabalham a
tração (fig 5.24c) Uma vez definido o tipo de parede, deve−se definir o tipo de escoramento a
empregar. O mais comum é utilizar estroncas, porém devido a problemas tais como largura da
vala, circulação interior e deslocamentos da parede pode−se optar por tirantes ancorados no
solo.
A conjugação de perfis metálicos (H ou I) com pranchões de madeira, suportados por
estroncas a diferentes profundidade, é um dos tipos de escoramento flexível mais utilizado.
Na fig. 5.25, estão apresentados, em planta e corte, esquemas de implantação desse tipo de
estrutura de arrimo.
esforços laterais têm uma forma diferente da especificada nas teorias tradicionais (fig. 5.26b).
Na parte superior desenvolvem−se pressões que mais se aproximam do repouso (portanto
mais elevadas), resultando um diagrama teórico de forma parabólica, por conseguinte, com o
máximo aproximadamente no centro da altura da parede. Esse fenômeno de transferência de
pressões de um nível que passou pela condição de ruptura, para outro nível adjacente, é
conhecido como arqueamento.
A
1
2
3
B‘ B
(a) (b)
Figura 5.26 – Distribuição das pressões laterais resultantes das deformações de uma vala
escorada.
deve ser tomado como unitário (um), entretanto, em casos de argilas moles normalmente
consolidadas m=0,4 (isto quando γ.h/c >4).
0,25 H 0,25 H
H H H
0,50 H 0,75 H
0,25 H
k Ø 1Ù m Ú
’ 4c
H
0,2 a 0,4. γ. H
0,65 ka. γ. H K‘ γ. H
(a) (b) (c)
Figura 5.27 – Diagrama de esforços laterais para dimensionamento dos elementos
de escavações escoradas.
1o. apoio Pb
li
Pa
apoio (i) . li/2 Pb, Pa, P, Q, Qu...
. ln/2
P resultantes das forças
ln Forças nas estroncas
devido às tensões nas
áreas indicadas na primeira: P1 = Pb+Pa
lj na intermediária: Pi = P
. lj/2 Q na última: Pu = Q/2+Qu
apoio (u)
lu . lu/2 Qu
Figura 5.28 – Processo simplificado para determinação dos esforços nas estroncas.
a) Verificação da ficha
140
E p ª 3,5 f
2 (para areia submersa de densidade média) (5.40)
Para outros tipos de solos, outras larguras de aba e espaçamento entre estacas
inferiores a 1,50m, deve−se utilizar fatores de correções nas fórmulas acima (f1, f2 e f3):
b) Ruptura do fundo
Este mecanismo de ruptura normalmente tem maior importância quando o fundo da
escavação se encontra em argila mole, não se revelando condicionante de projeto para outros
tipos de solo. O mecanismo de ruptura associado a este fenômeno pode ser assemelhado a
ruptura de fundação direta, que está esquematizado na fig. 5.29.
com a capacidade de carga do solo calculada, por exemplo, através da teoria geral de
capacidade de carga de Terzaghi. Para as condições da fig. 5.29, o coeficiente de segurança é
dado por:
c Nc
Fs ª ¬ (5.41)
H« q
¬
onde Nc pode ser obtido conforme sugerido por Skempton e que está apresentado na
fig. 5.30.
c) Estabilidade geral
A estabilidade de todo o sistema pode ser calculada por qualquer método de cálculo
de equilíbrio limite, normalmente empregado para avaliação da estabilidade de taludes. Nos
casos normais os valores mais aceitos para o coeficiente de segurança são 1,3 para obras
provisorias, e 1,5, para obras permanentes.
Nas escavações a céu aberto, é sempre mais econômico prever a execução de taludes
sem ou com bermas do que paredes verticais escoradas ou ancoradas, levando−se sempre em
consideração a resistência ao cisalhamento do solo.
A tabela 5.3 apresenta algumas indicações sobre as inclinações admissíveis do talude,
em função da profundidade da escavação e das características do solo (peso específico,
ângulo de atrito e coesão).
ÝÌÞßNÞ àhÞ áNÞâäãåæ"ç7è`é7ê.é7ë
é7ì@íãî.ï!ê.ðëIé7ì&ç7ñ0ëIòó"ðë:ô
ë:õö:å
4c
Hcr ª (5.43)
2,67c
Hcr ª (5.45)
144
6. ESTABILIDADE DE TALUDES
¸&·ÛÆ·7øhÀy¾½¼
ÅNÜNÕùR¼
Superfície Superfície
circular plana
Superfície
composta
Resistência disponível
FS û (6.1)
Esforços atuantes
FR
FS û (6.2)
FA
MR
FS û (6.3)
MA
ü&ý þ>ýÿ
As análises da estabilidade de um talude são usualmente realizadas segundo a
abordagem do equilíbrio limite, que é uma ferramenta da teoria da plasticidade para análises
de corpos rígidos que admite como hipóteses:
147
!"#
%$
&
ü&ý þ>ý Fÿ
NT
b
C
A h w =h 1 .cos 2 (i)
W Fd
.i
Fe
D
h
h1 B
T
U
N
bo
talude se move como uma só massa. Assim, somente as tensões na face BD, devem ser
consideradas, juntamente com o peso, no equilibrio do elemento de solo. As tensões induzidas
pelo peso da cunha ABDC sobre a face BD tem como força resultante W, que atua
verticalmente no ponto médio do segmento BD. A esta força se opõe a reação do resto do
maciço sobre a cunha, R, que por ser a única força vertical deve ter o mesmo ponto de
aplicação de W. As forças de empuxo lateral (Fe e Fd), são iguais e tem a mesma linha de
ação. Para o elemento considerado temos:
Força peso:
1 sat
1 sat
1 sat
/ n
û
N mas como, BD û
b , então temos:
BD cos i
1 1 sat
2
i
(6.7)
b
Tensão cisalhante na base do elemento, eq. 6.8:
1 û
T
û
(,) b) h ' h + h ) b)( ) cos i ) sen i 0 ( h ' h + h ) (
1 1 sat
1 1 sat )
cos i sen i
BD b
Pressão neutra na base do elemento:
(
u
w
û hw û h1 cos 2 i ) ou uû ( ) h ) cos
w 1
2
i (6.9)
As pressões neutras que atuam no elemento de solo ABCD estão representadas na fig.
6.2. Note−se que no elemento da fig. 6.2, a resultante dessas pressões na face AB é igual e
oposta à face CD, restando apenas as pressões na face BD, cuja resultante vale:
U û u BD û ) ( ) h ) BD) cos
w 1
2
i (6.10)
Uû ( ) h ) b) cos i (6.11)
w 1
1 f
û c’ + / ' u ) tan 2 ’ (6.12)
c
’
+ (*) h ) cos i ' .( ) h ) cos i + ( ) h ) cos i ' ( ) h ) cos i tan 2
2 2 2 2 ’
A equação acima é uma expressão geral que fornece o valor do fator de segurança para
a situação mais completa. As soluções particulares podem ser obtidas a partir dela fazendo
nulos os termos não participantes, ou substituindo adequadamente os termos.
No caso de talude constituído de solo não saturado e com coesão, o γsub e γsat devem ser
substituídos por γ. Após simplificações dos termos, obteremos a eq. 6.15.
c
’
+ tan 2 ’
(.) ) )
FS û (6.15)
h sen i cos i tan i
No caso de solo não saturado e não coesivo (c’=0), então teremos o coeficiente de
segurança dado pelo eq. 6.16.
FS û
tan 2 ’
(6.16)
tan i
No caso de solo saturado (nível de água coincidente com a superfície do terreno) e não
coesivo (c’=0), o fator de segurança do talude será determinado pela eq. 6.17, obtida a partir
das devidas substituições na eq. 6.14.
( ) tan 2 ’
( ) tan i
sub
FS û (6.17)
sat
150
É importante observar que, nos casos de solo não coesivo (c’=0), o fator de segurança
não depende da profundidade h. Na eq. 6.16, nota−se, também, que para ocorrer
escorregamento é necessário que o ângulo de atrito do solo seja inferior ao do talude (φ < i).
354 674 698;:=<>@?>A?>ABCEDFB GIH>A?JKL<DNME<>
O método do círculo de atrito, ou método de Taylor, admite superfície de ruptura
circular e analisa a estabilidade do corpo rígido formado pelo solo situado acima desta
superfície. Traçando−se uma superfície potencial de ruptura circular com centro O e raio r
(fig. 6.3), verifica−se que a cunha de ruptura, AEB, está sob a ação das seguintes forças:
• força peso (W) da massa que tende a deslizar, com direção, sentido, módulo e ponto de
aplicação conhecidos;
• força de atrito F, cuja direção faz um ângulo φ com a normal à superfície de deslizamento
e portanto tangência um círculo de centro O e raio r.sen(φ). O módulo de F é
desconhecido;
• força resultante da coesão do solo (C) que se desenvolve ao longo da superfície de ruptura
e que constitui do produto da coesão do solo pelo comprimento do arco de AB, isto é
C=c.L. A resultante C tem sentido de atuação conhecido e direção da corda AB. O ponto
de aplicação dista do centro O de um valor a, determinado considerando−se a igualdade
entre o momento resultante e o momento da resultante, dado pela expressão:
aû r ) LcL (6.18)
Para haver equilíbrio, estas três forças devem concorrer em um mesmo ponto (M),
interseção de W com C. Torna−se, assim, possível, pelo traçado do polígono de forças (W, F e
Cm), determinar−se a força Cm e, conseqüentemente, a coesão cm necessária para que o talude
esteja em equilíbrio. Comparando−a com a coesão existente c, tem−se fator de segurança em
termos de coesão para o círculo estudado:
c
FS c û
cm (6.19)
O 2
2
tan (6.20)
FS û
tan m
O fator de segurança para o círculo estudado é definido por um valor de FSc = FSφ.
Deve−se ressaltar que para se definir o fator de segurança do maciço é necessário realizar
uma busca da superfície crítica, a qual deve conduzir para o meno valor de F.S. possível para
a configuração geométrica considerada.
Utilizando um processo matemático de tentativas, Taylor, baseado no método do
círculo de atrito, elaborou dois gráficos que correlacionam o número de estabilidade (N) com
o ângulo de inclinação do talude. As hipóteses embutidas nas soluções apresentadas são:
talude homogêneo e sem percolação de água (análise em termos de tensões totais), superfície
de ruptura cilíndrica e envoltória de resistência do solo τ=c+σ tan φ. Os gráficos elaborados
por Taylor são apresentados nas fig.s 6.4 e 6.5. Na fig. 6.4 temos o caso do círculo de ruptura
passando pelo pé do talude, já na fig. 6.5, temos o caso de rupturas profundas em argilas
moles (φ=0). O emprego destes gráficos é alto explicativo e existem esquemas indicando qual
o caso a que pertence cada talude e quais as curvas que deverão ser utilizadas. Para a
utilização do gráfico da fig. 6.4, calcula−se, primeiramente, o número de estabilidade (N),
definido como:
cm
(*) H
Nû (6.21)
Os métodos das fatias são os mais aplicados a problemas práticos, principalmente por
sua flexibilidade em analisar problemas com diversas camadas de solos com propriedades
diferentes, variação da resistência em uma mesma camada, diferentes configurações de
pressão neutra, diversas formas de superfície de ruptura, etc. Estes métodos são assim
denominados por dividirem a massa de solo acima da superfície de ruptura em fatias, como
ilustrado na fig. 6.6, para efeito de integração numérica. Nesta figura, estão apresentados os
esforços atuantes em uma fatia genérica e o equilíbrio de forças nessa fatia. Tais forças são:
Peso total da fatia W;
Força normal na base da fatia, N, (N=σ.bo). Em geral, essa força tem duas componentes, a
força normal efetiva N’, (N’=σ’.bo) e força devida à pressão neutra U, U=u.bo, onde u é a
Z []_^ ` [
Fellenius), mista (método de Janbu).
\ []_^ \[
Z[
UWVXYV b
acb
Ni ‘ Ti
h
.boi
1 1 + / ) tan 2
1 i
i c’i ’ ’
FS û û
i i (6.22)
r
m
i m
154
Equações Incógnitas
n equilíbrio de forças horizontais n força normal na base da fatia (N)
n equilíbrio de forças verticais n força cisalhante na base da fatia (T)
n equilíbrio de momentos n ponto de aplicação da normal (N)
n−1 força horizontal interfatias (Ei)
n−1 forca vertical interfatias (Xi)
n−1 ponto de aplicação de Ei
3n: equações 6n−3: incógnitas
Xi
Ei
ed ) f x
û (6.23)
onde, λ: constante relacionada com a inclinação das forças resultantes nas laterais das
fatias; f(x): função empírica de modificação da inclinação das forças entre as fatias. Temos
agora: n−1 equações e uma incógnita (λ), o que resulta em 5n−1 equações e incógnitas,
fazendo portanto o sistema estaticamente determinado.
Vários autores propuseram soluções para este problema adotando hipóteses
simplificadoras diferentes, o que acabou resultando em diferentes métodos de análise,
conforme veremos a seguir. Algumas destas soluções não atendem a todas equações de
equilíbrio.
155
Mr û Tr Rû) ) + / ) tan 2 ) R
bo c’ ’ ’
û R ) + ) 2
c’ bo N ’ tan ’ (6.24)
A eq. 6.24 envolve a força normal efetiva atuante na base da fatia, que é dada por:
N
’
û '
N U û W cos ) l ' u ) bo (6.25)
Ma û Tm Rû R ) ) ) l
W sin (6.26)
Sendo o fator de segurança de Fellenius dado pela relação entre momentos resistentes
e atuantes, então podemos escrever a eq. 6.27.
Havendo qualquer esforço externo ao talude, como por exemplo uma sobrecarga ou
uma berma em uma região que englobe a superfície de ruptura analisada, considera−se a sua
interferência incluindo−o no somatório dos momentos, instabilizantes, Ma. No caso de
maciços heterogêneos, constituídos de dois ou mais solos, considera−se os diferentes pesos
específicos no cálculo do peso da fatia e utiliza−se para cada trecho da superfície de ruptura a
envoltória de resistência ao cisalhamento do solo da base.
A determinação do coeficiente de segurança é feita por tentativas, pesquisando−se uma
série de círculos, com diferentes centros. Para cada centro, deve−se também calcular os
coeficientes de segurança para diferentes raios. A pesquisa do centro do círculo que
representa o coeficiente de segurança mínimo é feita considerando uma malha de pontos
equidistantes, que permitem o traçado de isolinhas de igual coeficiente de segurança, em
torno do valor mínimo (fig. 6.7).
156
1.757
W + X' Xsi i 1
û
) l + N ) cos l + u ) bo cos l
T m sin ’ (6.29)
T mû ) + FS) 2
c’ bo N ’ tan ’
(6.30)
Substituindo a eq. 6.30 em 6.29 e rearranjando de tal forma a explicitar N’, obteremos
a eq. 6.31.
157
sin l ) tan 2
’ (6.31)
cos l +
N û
’
FS
Levando o valor de N’ na eq. 6.28 e considerando que b= bo. cos(α), após alguns
rearranjos teremos a eq. 6.32.
Mt
1 i i 1 (6.32)
FS û
W sin
Para a resolução da eq. 6.32 é necessário determinar os valores de Xi −Xi+1, o que pode
ser feito por aproximações sucessivas, satisfazendo a condição Σ(Xi −Xi+1)=0. Este método é
conhecido como método de Bishop rigoroso, pouco usado na prática. Como visto, no método
rigoroso os esforços cisalhante interfatias são encontrados através de aproximações
sucessivas, de forma a garantir que o somatório de forças cisalhantes e normais interfatias, ao
longo de toda a superfície de ruptura, seja igual a zero. O método garantiria assim o equilíbrio
de forças e de momentos.
Um processo variante do método descrito acima, denomina−se de Método de Bishop
Simplificado, o qual consiste em considerar (Xi −Xi+1)=0. Desta forma, a expressão geral para
calculo do fator de segurança (eq. 6.32) pode ser reescrita sob a forma da eq. 6.34.
Como o fator de segurança aparece em ambos os lados das equações 6.32 e 6.34, (Mα
depende do fator de segurança), deve−se adotar um processo de aproximação sucessiva para
se obter o valor correto de FS para o método de Bishop Simplificado. As análises são feitas
atribuindo−se inicialmente um valor arbitrário a FS para o cálculo de Mα, o que vai resultar
em um valor calculado de FS, geralmente diferente do arbitrado. Com este novo valor
calcula−se Mα e assim procede−se sucessivamente até obter−se o valor final de FS igual ao
arbitrado. O método converge rapidamente para uma solução única, de modo que, em geral,
3 ou 4 tentativas é suficiente para se obter um valor aproximadamente constante para FS.
Como uma primeira estimativa do valor de FS, é comum adotar−se o valor obtido pelo
método de Fellenius, ou seja: FS(Bishop, 1a interação)=FSFellenius. A fig. 6.8 permite a determinação
gráfica de Mα, em função da inclinação de cada fatia, do ângulo de atrito do solo da base da
superfície de escorregamento e do Fator de Segurança estimado para a superfície de
escorregamento.
Como procedimento prático recomenda−se dividir o talude em cerca de 10 fatias, a
partir deste valor há pouco ganho na precisão e um considerável aumento dos cálculos. Cada
par de valores, centro e raio de círculo hipotético, conduz a um valor de fator de segurança. O
158
valor critico de FS será obtido por tentativas, considerando−se o menor valor obtido para
cada centro, no traçado das isolinhas de Fator de Segurança.
O GLE atende a todas a equações de equilíbrio e a superfície de ruptura pode ter uma
forma qualquer (circular, não circular ou composta). Os esforços normais e cisalhantes
interfatias mantêm uma relação definida por uma função f(x), como veremos a seguir.
A fig. 6.9 apresenta as forças agindo numa superficie de ruptura composta. As
seguintes variáveis associadas a cada fatia devem ser definidas:
W = peso total da fatia de largura b e altura h,
N = força normal total na base da fatia de comprimento bo,
Tm= força cisalhante mobilizada na base da fatia. Esta é uma percentagem da
resistência ao cisalhamento definida pela equação de Mohr−Coulomb, ( eq. 6.30),
E = força horizontal interfatia, sendo o subscrito n designando o lado esquerdo e
n+1 designando o lado direito,
X = força vertical interfatia, sendo o subscrito n designando o lado esquerdo e n+1
designando o lado direito,
D = carga externa linear (força por unidade de comprimento)
kW = força dinâmica horizontal devido ao efeito sísmico aplicada no centro de cada
fatia,
R = braço de alavanca de momento associado à força cisalhante mobilizada Sm,
f = braço de alavanca de momento associado à força normal N,
x = distância horizontal da fatia ao centro de rotação,
e = distância vertical do centróide de cada fatia ao centro de rotação,
d = distância perpendicular entre a carga externa aplicada ao centro de rotação,
h = altura correspondente ao centro da base de cada fatia,
A = resultante da pressão hidrostática,
a = distância perpendicular da resultante da pressão hidrostática ao centro de rotação
(o subscrito L significando o lado esquerdo e o R, lado direito)
ω = ângulo da carga linear com a horizontal
α = ângulo entre a tangente ao centro da base de cada fatia e a horizontal.
FS
Equilíbrio de forças na direção horizontal em cada fatia, o qual permite explicitar a força
normal interfatia (E), dado pela equação abaixo (eq. 6.36):
En s 1
û En + c ) bo ' u ) bo)FStan 2
’ ’
cos l + N ) tan 2 ) cos l ' sin l ' kW + D) cos
’
FS
(6.36)
Equilíbrio de momento num ponto arbitrário acima do maciço, considerando todas as
fatias, o que permite explicitar o Fator de segurança em relação ao momento (FSM):
160
) ) + N ' u ) bo ) R ) tan 2
c’ bo R ’
W) x' N) f+ kW ) e D ) d A ) a
FS M û (6.37)
) )
FS F û (6.38)
Os esforços normais e cisalhantes interfatias mantêm uma relação definida por uma
função f(x), onde x indica a posição ao longo da superfície de ruptura. Durante o processo de
solução, um fator de escala λ é determinado. Este fator λ define a magnitude da inclinação da
força interfatias resultante. Como já exposto, os esforços interfatias se relacionam pela eq.
6.39.
Xi
Ei
ed ) f x
û (6.39)
A fig. 6.10 ilustra algumas das funções típicas de inclinação de forças interfatias.
Pode−se calcular, para cada valor de λ, um fator de segurança para o equilíbrio de momentos
e um fator de segurança para o equilíbrio de forças. O método admite que existe um valor de
λ para o qual o valor do fator de segurança de forças é igual ao fator de segurança de
momentos. Em geral adota−se um procedimento de cálculo para determinação do valor de λ
que atende às duas equações de fator de segurança. Primeiro calculam−se os fatores de
segurança relativos a forças e a momentos para diferentes valores de λ. Ajusta−se um
polinômio a cada um dos conjuntos de pontos de FS versus λ. O valor de λ que leva estes
dois polinômios ao mesmo valor de fator de segurança define a resposta para o problema.
Observa−se na fig. 6.11 que para λ=0 as expressões para os fatores de segurança relativos aos
161
θ
X/E
X/E
r
λ=0.5
λ=0.5
θ
x x
f(x) trapezoidal f(x) especificada
λ=1
i
i λ=1
X/E
X/E
λ=0.5 λ=0.5
i
x x
Figura 6.11− Funções de inclinação de força interfatias típicas. Modificado de
Lins, 1996.
2,30
Bishop 2,20 θ
Simplificado Fm
Morgenstern
FS
2,10
& Price
2,00
Ff
Fellenius
1,90
Janbu
Simplificado
Figura 6.11 − Variação de FSM e FSM com λ. Modificado do Geo−slope, 1999.
162
354 Pu
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A grande maioria das análises de estabilidade de taludes é realizada assumindo superfícies
de ruptura de projeção circular ou poligonal, ou seja, admitindo−se um estado plano de
deformações. Pode−se dizer, porém que observações de campo mostram que a
configuração de ruptura, na maioria dos casos, é claramente tridimensional e a análise
plana pode não ser a mais representativa. Para estudar estas situações, vários autores
adaptaram os métodos das fatias para uma situação tridimensional, criando o método das
colunas, onde a massa deslizante é dividida em colunas que têm esforços atuando entre
colunas e na sua base. Uma consequência destas observações é que as superficies de
deslizamento observadas em campo tendem a ter uma área resistente maior do que aquelas
prismáticas ou cilíndricas. Assim, pode−se dizer que para boa parte dos casos
considerados, uma análise bidimensional irá levar a resultados conservadores.
dita). Vale ressaltar que diversos trabalhos têm sido publicados na literatura, mostrando
novas maneiras de estimativa da resistência não saturada dos solos, como a partir da curva
característica de sucção (Fredlund, et al., 1995; Öberg & Sällfors, 1997 e Machado &
Vilar, 1998). Por outro lado, outros trabalhos têm apontado para o desenvolvimento de
técnicas laboratoriais e de campo que permitem a obtenção da curva característica de
sucção e mesmo da curva de condutividade hidráulica do solo em um tempo bastante
inferior ao despendido atualmente (Fourie & Papageorgian, 1995 e Machado & Dourado,
2001).
de Em áreas muito valorizadas esta solução pode ser preferível à adoção de estruturas de
contenção do talude.
− BIBLIOGRAFIA CONSULTADA