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Sumário
33

Introdução Geografia
05 Lições do Rio Grande: Referencial 71 Disciplina de Geografia
­ urricular para as escolas estaduais
C
71 Competências e habilidades no ensino
11 Referenciais Curriculares da Educação da Geografia
Básica para o Século 21
74 Conceitos estruturadores do ensino da
25 Por que competências e habilidades na Geografia
educação básica?
76 Conteúdos relacionados aos conceitos
29 A gestão da escola comprometida com a estruturantes e às habilidades e
aprendizagem competências. Operacionalização
metodológica
37 Caracterização da área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias 86 Temas estruturantes relacionados aos
blocos de conteúdos
40 I - Competências
87 Referências
46 II- Interdisciplinaridade e
Contextualização nas Ciências Humanas Sociologia
47 III- Estratégias para a ação docente 94 Competências e conceitos estruturantes
do ensino de Sociologia no ensino médio
48 Conclusão
102 Estratégias para o ensino da Sociologia
48 Referências
110 Breve panorama das tendências teóricas
História da Sociologia
51 Introdução
113 Referências
51 I – A disciplina de História
Filosofia
53 II – Como ensinar História?
117 Disciplina de Filosofia
56 III – Conceitos estruturantes
118 Competências e habilidades em Filosofia
60 IV – Eixos temáticos e seleção de conteúdos
119 Significado das competências específicas
65 V - Estratégias para a ação docente e da Filosofia
avaliação
122 Conceitos e temas estruturadores da
66 Conclusão Filosofia
67 Referências 127 Estratégias para a ação docente
128 Quadro resumo dos Referenciais de
Filosofia
129 Referências

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Lições do Rio Grande
Referencial Curricular para as escolas estaduais 55

Mariza Abreu
Secretária de Estado da Educação

No Brasil e no Rio Grande do Sul, hoje ensino médio, há ainda o problema de ina-
o principal desafio é melhorar a qualidade dequação entre os turnos, com falta de vagas
da educação de nossos alunos. E isso é di- no diurno.
fícil. Até algum tempo atrás, precisávamos Mas o grande desafio em todo o Brasil e
aumentar o numero de vagas. O desafio era no Rio Grande do Sul é a falta de qualida-
expandir o acesso à educação escolar. Isso de da educação escolar oferecida às nossas
era mais fácil, pois se tratava de construir crianças e jovens. Colocamos muitos alunos
uma escola, inaugurá-la e aumentar o nú- na escola e os recursos públicos destinados
mero de matrículas. à escola pública não aumentaram na mesma
Hoje, o acesso à escola está, em grande proporção e, em consequência, caiu a qua-
parte, resolvido ou relativamente encaminha- lidade, as condições físicas das escolas pio-
do em todo o País e aqui no Estado, especial- raram, baixou o valor dos salários dos pro-
mente no ensino fundamental e médio. Ainda fessores, cresceram as taxas de reprovação e
é problema na educação infantil, responsabi- repetência e reduziu-se a aprendizagem.
lidade dos Municípios, e é também problema Melhorar a qualidade é muito mais difí-
na educação profissional, responsabilidade cil. Em primeiro lugar, ninguém tem a fór-
dos Estados. Mas no ensino fundamental no mula pronta, pois, para começar, já não é
RS, é de 98% a taxa de escolarização das tão simples conceituar, nos dias de hoje, o
crianças nas escolas estaduais, municipais que é qualidade da educação. Depois, não
ou particulares. E 77% dos jovens de 15 a 17 é palpável, não se “pega com a mão”, como
anos estão matriculados no sistema de ensi- escola construída e número de alunos matri-
no. É um percentual ainda pequeno quando culados. E depois, não é tão rápido.
comparado com a meta de escolarizar no Construir escola é possível de se fazer no
mínimo 98% também da população nessa tempo de um governo e de capitalizar poli-
faixa etária. E muitos desses jovens ainda es- ticamente. Qualidade da educação é mais
tão atrasados, cursando o ensino fundamen- lenta no tempo, mais devagar. E tem mais um
tal. Entretanto, somadas as vagas nas escolas problema. De modo legítimo, os governantes
públicas e particulares do ensino médio, há movimentam-se atendendo a demandas da
vaga para todos os jovens de 15 a 17 anos população. E educação de qualidade não
residentes no Rio Grande do Sul. é ainda uma demanda de todos. Por isso,
É verdade que existe problema na distri- apesar dos discursos políticos e eleitorais, na
buição geográfica dessas vagas. Às vezes prática a educação não tem sido prioridade
faltam vagas em alguns lugares e há excesso dos governos. Nas pesquisas de opinião, em
noutros, principalmente nas cidades grandes geral, segurança, saúde e às vezes também
e mais populosas, naquelas que recebem emprego aparecem antes da educação nas
população de outras regiões ou de fora do preocupações da população. Isso porque já
Estado. Às vezes, nas cidades grandes, falta há vaga para todos, ou quase todos na es-
em alguns bairros e sobra em outros. E no cola pública, e, por exemplo, tem merenda

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para as crianças. As maiores reclamações da escolas aumentou de 4,2 milhões para 5,4
população referem-se a problemas com o milhões. Considerando-se a redução da ma-
66 transporte escolar ou a falta de professores. trícula na rede estadual, pelo decréscimo da
Dificilmente alguém reclama que seu filho população na idade escolar e a expansão da
não está aprendendo. Dificilmente os pais ou matrícula nas redes municipais, o valor da
a sociedade se mobilizam por falta de quali- autonomia financeira aumentou de R$ 3,99
dade da educação. para R$ 4,18 por aluno.
Por tudo isso é que se diz que, se que- Em junho de 2008, foi lançado o Progra-
remos educação de qualidade para todos, ma Estruturante Boa Escola para Todos, com
precisamos de todos pela educação de qua- cinco projetos: SAERS – Sistema de Avaliação
lidade. E a melhoria da qualidade só pode Educacional do Rio Grande do Sul; Professor
ser resultado de um conjunto de ações, do Nota 10; Escola Legal; Sala de Aula Digital
governo e da sociedade. e Centros de Referência na Educação Profis-
Como exemplos, em nosso governo, en- sional. Precisamos de escolas com boas con-
caminhamos uma solução para o problema dições de funcionamento. Se muitas escolas
do transporte escolar, por meio da aprova- estaduais encontram-se em condições ade-
ção, após longa e proveitosa negociação quadas, isso se deve muito mais aos profes-
com os prefeitos através da FAMURS, de uma sores e às equipes de direção que consegui-
lei na Assembléia Legislativa criando o Pro- ram se mobilizar e mobilizar suas comunida-
grama de Transporte Escolar no RS. Junto des para fazer o que o Governo do Estado,
com as direções, a Secretaria de Educação nesses quase 40 anos de crise fiscal, não foi
está aperfeiçoando o processo de matrícu- capaz de fazer. Mas temos muitas escolas que
la, rematrícula e organização das turmas não conseguiram fazer isso, ou porque suas
das escolas estaduais. A confirmação da re- direções não se mobilizaram o suficiente ou
matrícula permite realizar um levantamento porque suas comunidades não tinham con-
dos alunos que continuam frequentando a dições de assegurar os recursos necessários
escola, eliminando os que deixam a escola para fazer o que o governo não conseguia
por abandono ou são transferidos e ainda fazer. É difícil, em pouco tempo, recuperar
constam na listagem de alunos. Ao mesmo o que o governo, em 30 ou 40 anos, não
tempo, reaproxima os pais da escola, pois fez. Estamos realizando um esforço imenso
a relação da família com a escola é uma para isso. Uma das primeiras medidas que o
das primeiras condições para que o aluno governo adotou foi assegurar que o salário-
aprenda. De 2007 para 2008, a organiza- educação fosse todo aplicado nas despesas
ção das turmas das escolas em parceria com que podem ser realizadas com esses recur-
as CRE’s e a Secretaria foi realizada de forma sos. Pela lei federal, o salário educação não
artesanal, em fichas de papel; de 2008 para pode ser utilizado na folha de pagamento
2009, mais um passo – utilizamos o nosso dos servidores da educação ou outros quais-
INE, a Informática na Educação. E também quer. Entretanto, o salário-educação saía da
está sendo feita uma pesquisa sobre o perfil conta própria onde era depositado pelo go-
socioeconômico das comunidades escola- verno federal e, transferido para o caixa úni-
res para promover política de equidade em co do Estado, não retornava às despesas em
nossas escolas. A partir de agosto de 2008, que pode ser aplicado.
aperfeiçoamos a autonomia financeira das Para uma educação de qualidade é neces-
escolas, com atualização do número de alu- sário levar às escolas a tecnologia da infor-
nos matriculados, pois até então eram ainda mação. É um processo complicado no Brasil
utilizados os dados de 2003, e aperfeiçoa- e em todo o mundo, como tivemos oportuni-
mos os critérios de repasse dos recursos. Ao dade de observar quando acompanhamos o
mesmo tempo, o valor mensal repassado às Colégio Estadual Padre Colbachini, de Nova

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Bassano, no Prêmio Educadores Inovadores projeto piloto foi estendido em 2008 para as
da Microsoft, etapa internacional em Hong crianças de 7 anos no segundo ano do ensi-
Kong. Não adianta instalar laboratório de in- no fundamental e reiniciado com novas tur- 77
formática nas escolas se, nas salas de aula, mas de crianças de 6 anos no primeiro ano.
o ensino continuar a ser desenvolvido apenas Em 2009, o projeto deixou de ser piloto e foi
com quadro negro, giz e livro didático. E o generalizado na rede estadual, pois passou a
laboratório for um espaço utilizado uma ou ser oferecido a todas as turmas com crianças
duas vezes por semana para aprender infor- de 6 anos no primeiro ano do ensino funda-
mática ou bater papo na internet, em geral mental neste ano. O Projeto de Alfabetização
com o atendimento de um professor espe- da Secretaria de Educação do Rio Grande do
cífico, enquanto os professores do currículo Sul adotou três propostas pedagógicas testa-
continuam a não utilizar softwares educacio- das e validadas em ­experiências anteriores:
nais. O laboratório de informática precisa o GEEMPA que desenvolve uma proposta
vir a funcionar como aquela antiga sala de pós-construtivista de alfabetização; o Alfa e
áudio-visual, onde se tinha o retroprojetor ou Beto que se constitui num método fônico de
a televisão com o vídeo-cassete. Para utilizar alfabetização e o Instituto Ayrton Senna que
esse espaço didático, os professores se agen- trabalha uma proposta de gerenciamento da
davam para dar aulas específicas das suas aprendizagem, com base no método de alfa-
disciplinas. É preciso um servidor de apoio, betização já utilizado pela escola. O Projeto
de multi-meios, que saiba operar o hardwa- Piloto, financiado em 2007 com recursos da
re, mas os professores precisam ser capacita- iniciativa privada e, em 2008 e 2009, com
dos para usarem a tecnologia da informação recursos do MEC, foi desenvolvido em tur-
– os laboratórios com os microcomputadores mas de escolas estaduais e municipais, dis-
e os softwares educacionais – como recursos tribuídas em todo o Estado. Para toda a rede
didáticos em suas aulas. Em parceria com o estadual, em 2009 o Projeto é financiado
MEC, nossa meta é instalar mais 500 labo- com recursos próprios do governo do Rio
ratórios nas escolas estaduais em 2009, com Grande do Sul.
parte dos microcomputadores comprados O SAERS – Sistema de Avaliação Externa
pela Secretaria e outros recebidos do MEC, de Aprendizagem, iniciado em 2007 de for-
através do PROINFO. ma universal nas escolas estaduais, é com-
O Sistema de Avaliação Educacional do plementar ao sistema nacional de avaliação
Rio Grande do Sul é constituído por duas do rendimento escolar desenvolvido pelo
ações: o Projeto de Alfabetização de Crianças Ministério da Educação. O governo federal
de Seis e Sete Anos e o Sistema de Avaliação aplica o SAEB – Sistema de Avaliação da
Externa da Aprendizagem. O Projeto de Alfa- Educação Básica – desde o início dos anos
betização foi iniciado em 2007, pois o Brasil 90, numa amostra de escolas públicas e pri-
acabara de introduzir a matrícula obrigatória vadas de ensino fundamental e médio e, des-
a partir dos 6 anos de idade e de ampliar de 2005, a Prova Brasil em todas as escolas
a duração do ensino fundamental para nove públicas de ensino fundamental com mais de
anos letivos, por meio de duas leis federais 20 alunos nas séries avaliadas.
respectivamente de 2005 e 2006. O desafio A avaliação é realizada para melhorar a
passou a ser o de alfabetizar as crianças a qualidade da educação, para que os profes-
partir dos 6 anos no primeiro ano do ensino sores possam, por meio da entrega dos bole-
fundamental. Nossa proposta é construir uma tins pedagógicos às escolas, apropriar-se dos
matriz de habilidades e competências da al- resultados da avaliação e, com isso, melho-
fabetização, começando com o processo de rar o processo de ensino-aprendizagem.
alfabetização aos 6 anos para completá-lo Mas o Projeto mais importante do Progra-
no máximo no segundo ano, aos 7 anos. O ma Boa Escola para Todos é o Professor Nota

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10, pois não existe escola de qualidade sem habitantes, e era menos diversificada. A fre-
professor de qualidade, com boa formação, quência à escola era muito menor: apenas
88 elevada auto-estima e comprometido com a 36% da população de 7 a 14 anos estavam
aprendizagem de seus alunos. Para isso, é na escola em 1950, enquanto hoje são 97%
necessário uma formação continuada ofere- no Brasil e 98% no Estado. Quando apenas
cida pelo Governo do Estado. 36% da população na faixa etária apropria-
Desde 2008 já foram realizadas várias da frequentava a escola, basicamente só a
ações de formação continuada para os pro- classe média estudava e a escola era mais
fessores, como o Progestão, programa de for- padronizada, tanto no currículo quanto na
mação continuada à distância para gestores forma de avaliação da aprendizagem.
escolares, desenvolvido pelo CONSED – Con- Atualmente, a sociedade brasileira é mui-
selho Nacional de Secretários da Educação. to mais complexa e diversificada, com mais
Embora o governo estadual anterior te- habitantes, e o Brasil é uma das sociedades
nha adquirido o material instrucional do mais desiguais do planeta. A escola é de to-
Progestão, não implementou o programa dos: todas as classes sociais estão na escola,
para gestores das escolas estaduais. Desde sendo impossível desenvolver um processo
2000, o curso somente foi oferecido em al- educacional padronizado como antigamen-
guns Municípios gaúchos para gestores mu- te. Com a luta pela redemocratização do País
nicipais. Desenvolvemos o PDE Escola, junto nos anos 80, conquistou-se o importante con-
com o MEC, o Acelera Brasil, e uma série ceito de autonomia da escola. Entretanto, no
de ações de capacitação para professores movimento pendular da história, fomos para
de diferentes modalidades de ensino, como o outro extremo. Hoje, no País existem dire-
educação indígena, especial, prisional, de trizes curriculares nas normas dos Conselhos
jovens e adultos, etc. Chegamos a capacitar de Educação, tanto Nacional como ­Estadual,
em 2008 mais de 16 mil dos nossos cerca mas essas diretrizes são muito gerais não
de 80 mil professores em atividade na rede existindo, assim, qualquer padrão curricular.
estadual de ensino. A partir dessas normas, as escolas são total-
E agora estamos entregando para vocês mente livres para fazerem os seus currículos,
as Lições do Rio Grande. No Rio Grande do inclusive dificultando o próprio processo de
Sul, como no Brasil, o processo social e edu- ir e vir dos alunos entre as escolas, porque
cacional desenvolve-se de maneira pendular. quando um aluno se transfere, é diferente de
Nos anos 50/60 até os anos 70, tivemos escola para escola o que se ensina em uma
um processo muito centralizado no que se mesma série.
refere a currículos escolares. Os currículos O Brasil inteiro está fazendo um movimen-
eram elaborados nas Secretarias de Educa- to de síntese entre esses dois extremos, entre
ção e repassados às escolas, para que elas aquilo que era totalmente centralizado nas
os executassem. Aqui no Rio Grande do Secretarias, até os anos 70, e a extrema auto-
Sul, inclusive os exames finais eram feitos nomia da escola, no que se refere a currícu-
na própria Secretaria de Educação e eram los. Estamos chegando a uma posição inter-
enviados a todas as escolas do Estado, para mediária, que é uma proposta de referencial
serem aplicados. Eram elaborados não para curricular para cada rede de ensino, definida
avaliar o sistema, como o SAEB ou SAERS, pelas Secretarias: não é aquela centralização
mas para avaliar, aprovar ou reprovar os absoluta, nem a absoluta descentralização
alunos. Os professores deviam desenvolver de hoje. Essa síntese é também um impera-
os currículos elaborados pela Secretaria de tivo da sociedade a partir, por exemplo, das
forma a preparar seus alunos para fazerem metas do Movimento Todos pela Educação.
as provas da SEC. Naquela época, a socie- Esse Movimento, lançado em setembro
dade era muito mais simples, com menos de 2006, têm como objetivo construir uma

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educação básica de qualidade para todos os blemas), nas quatro áreas dos parâmetros
brasileiros até 2022, a partir da premissa de curriculares nacionais (números e opera-
que o País só vai ser efetivamente indepen- ções, grandezas e medidas, espaço e for- 99
dente quando atingir esse objetivo, o que, ma, tratamento da informação). Já o ENEM
simbolicamente significa, até o ano do bicen- – Exame Nacional do Ensino Médio – é ab-
tenário da independência política do Brasil. solutamente interdisciplinar, com 63 ques-
Para isso, fixou cinco metas: tões objetivas e redação.
• Meta 1 – toda criança e jovem de 4 a As áreas do conhecimento do ENCCEJA
17 anos na escola têm origem nas diretrizes curriculares para
• Meta 2 – toda criança plenamente alfa- o ensino médio aprovadas pela Câmara de
betizada até os 8 anos Educação Básica do Conselho Nacional de
• Meta 3 – todo aluno com aprendizado Educação em 1998, cuja relatora foi a pro-
adequado à sua série fessora Guiomar Namo de Mello. Naqueles
• Meta 4 – todo jovem com ensino médio documentos – Parecer 15 e Resolução 3 –
concluído até os 19 anos constavam três áreas, cada uma delas com
• Meta 5 – investimento em educação determinado número de habilidades e com-
ampliado e bem gerido petências cognitivas, a saber: Linguagens,
Para cumprir a meta 3, a sociedade brasi- seus códigos e tecnologias, incluindo lín-
leira tem que definir o que é apropriado em gua portuguesa e língua estrangeira moder-
termos de aprendizagem, para cada série do na, com nove habilidades e competências;
ensino fundamental e do médio. Para isso, é ­Ciências Exatas e da Natureza, seus códigos
preciso definir uma proposta de referencial e tecnologias, incluindo matemática, física,
curricular. É o que estamos construindo para química e biologia, com doze habilidades e
a rede estadual de ensino do Rio Grande do competências, e a área das Ciências Huma-
Sul. Mas não se começa do zero e não se nas, seus códigos e tecnologias, com nove
reinventa o que já existe, parte-se da expe- habilidades e competências. Em consonân-
riência da própria rede estadual de ensino cia com a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
e também daquilo que outros já fizeram, ção Nacional, os currículos do ensino médio
dos parâmetros curriculares nacionais e do deveriam também desenvolver, além dessas
que outros países já construíram. Estudamos áreas, conteúdos de educação física e arte,
o que dois países elaboraram: Argentina e sociologia e filosofia.
Portugal, e o que outros Estados do Brasil já Em 2002, ao organizar o ENCCEJA, o
construíram, especialmente São Paulo e Mi- MEC primeiro separou matemática das ci-
nas Gerais. Mas não se copia, se estuda e se ências da natureza, criando quatro áreas do
faz o que é apropriado para o Rio Grande do conhecimento, que passaram a corresponder
Sul. Constituímos uma comissão de 22 espe- às quatro provas do exame de certificação
cialistas, formada por professores de várias da EJA; segundo, organizou as áreas de Ma-
instituições de educação superior do Estado temática e a de Ciências da Natureza tam-
e professores da rede estadual de ensino, bém cada uma delas com nove habilidades
aposentados ou em atividade, titulados nas e competências cognitivas; terceiro, no caso
várias áreas do conhecimento. das provas do ensino médio, incluiu os con-
O ENCCEJA – Exame de Certificação teúdos de sociologia e filosofia, ao lado da
de Competências da Educação de Jovens história e geografia, na área das Ciências
e Adultos – aponta o caminho das grandes Humanas; quarto, incluiu conteúdos de edu-
áreas do conhecimento. O SAEB e a Prova cação física e arte na prova de linguagens;
Brasil, assim como o nosso SAERS, avaliam e, por fim, cruzou as cinco competências bá-
Língua Portuguesa (leitura e interpretação sicas da inteligência humana – dominar lin-
de textos) e Matemática (resolução de pro- guagens, compreender fenômenos, enfren-

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tar situações-problema, construir argumen- direito de não ensinar, de não levar os alunos
tações e elaborar propostas – que haviam ao desenvolvimento daquelas habilidades e
10
10 orientado a organização da prova do ENEM, competências cognitivas ou de não abordar
com as nove habilidades e competências de aqueles conteúdos curriculares.
cada uma das quatro áreas de conhecimen- Com o nosso Projeto de Alfabetização,
to e criou uma matriz de referência para o fica mais fácil entender o que queremos di-
ENCCEJA com quarenta e cinco habilidades zer. Com o projeto piloto, nosso objetivo é
e competências cognitivas a serem avaliadas desenvolver a matriz das habilidades e com-
nas provas desse exame nacional. Uma ob- petências cognitivas do processo de alfabeti-
servação: educação física e arte foram inclu- zação, em leitura e escrita e em matemática,
ídas numa prova escrita de certificação de que deve ser desenvolvida com as crianças
competências da EJA; nos novos concursos de seis e sete anos de idade no primeiro e
do magistério e na organização do currícu- segundo anos do ensino fundamental de
lo, devem ser trabalhadas como componen- nove anos de duração. Essa matriz é o nosso
tes curriculares específicos por pressuporem combinado: o que fazer com os alunos para
habilidades específicas, além das exclusiva- que aprendam aquilo que é apropriado para
mente cognitivas. sua idade. Cada escola continua com sua li-
As áreas do conhecimento e a matriz de berdade de escolher o método de alfabetiza-
referência do ENCCEJA são, hoje, o que ção. Mas seja qual for o adotado, no final do
se considera como a melhor alternativa ano letivo os alunos devem ter desenvolvido
para organização dos currículos escolares aquelas habilidades e competências cogniti-
da educação básica, de forma a superar a vas. A escola não é livre para escolher não
fragmentação e pulverização das disciplinas. alfabetizar, para escolher não ensinar. A li-
Nessa direção, o MEC está reorganizando o berdade da escola, sua autonomia, consiste
ENEM com a intencionalidade de orientar a em escolher como ensinar.
reorganização dos currículos do ensino mé- Somos uma escola pública. Temos com-
dio brasileiro, dando assim consequência às promisso com a sociedade, com a cidadania.
diretrizes curriculares de 1998. Nessa mes- Somos professores dos nossos alunos que
ma direção, encaminham-se os Referenciais são os futuros cidadãos e cidadãs do nosso
Curriculares para a rede estadual de ensino País. E estamos aqui para cumprir o nosso
do Rio Grande do Sul. Nessas quatro gran- compromisso com eles. E nós, da Secretaria
des áreas do conhecimento, com seus conte- da Educação, estamos aqui para cumprir o
údos, é que passaremos a trabalhar. nosso compromisso com vocês, porque é na
A proposta de Referencial Curricular do escola que se dá o ato pedagógico, é na es-
Rio Grande do Sul contém as habilidades e cola que acontece a relação professor/alu-
competências cognitivas e o conjunto míni- no. É para trabalhar para vocês, professoras
mo de conteúdos que devem ser desenvolvi- e professores das escolas estaduais do Rio
dos em cada um dos anos letivos dos quatro Grande do Sul, que nós estamos aqui, na
anos finais do ensino fundamental e no en- Secretaria de Estado da Educação.
sino médio. A partir desse Referencial, cada
escola organiza o seu currículo. A autonomia Bom trabalho!
pedagógica da escola consiste na liberdade
de escolher o método de ensino, em sua livre
opção didático-metodológica, mas não no Julho de 2009.

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Referenciais Curriculares da
Educação Básica para o Século 21 11
11
Guiomar Namo de Mello

O objetivo principal de um currículo é mapear o vasto território do


conhecimento, recobrindo-o por meio de disciplinas, e articular as
mesmas de tal modo que o mapa assim constituído constitua um
permanente convite a viagens, não representando apenas uma deli-
mitação rígida de fronteiras entre os diversos territórios disciplinares.
Nilson José Machado

I - Por que é importante um currículo estadual?

A SEDUC-RS vem adotando medidas para


enfrentar o desafio de melhorar a qualidade Os Parâmetros não são um material a mais
das aprendizagens dos alunos no ensino pú- para enviar às escolas sozinhos. Formulados
blico estadual do Rio Grande do Sul. Entre em nível nacional para um país grande e di-
essas medidas, os Referenciais Curriculares verso, os Parâmetros também não continham
para as escolas estaduais gaúchas incidem recomendações suficientes sobre como fazê-
sobre o que é nuclear na instituição escola: los acontecer na prática. Eram necessaria-
o que se quer que os alunos aprendam e o mente amplos e, por essa razão, insuficientes
que e como ensinar para que essas aprendi- para estabelecer a ponte entre o currículo pro-
zagens aconteçam plenamente. posto e aquele que deve ser posto em ação na
A reflexão e a produção curricular brasilei- escola e na sala de aula.
ra tem se limitado, nas últimas décadas, aos
documentos oficiais, legais ou normativos.
Os estudos sobre currículo não despertam O currículo alinha
grande interesse da comunidade acadêmi-
ca e também são escassos nos organismos O currículo integra e alinha, sob uma
técnico-pedagógicos da gestão dos sistemas concepção educacional: as aprendizagens
de ensino público. O currículo vem perdendo com as quais a escola se compromete na
o sentido de instrumento para intervir e aper- forma de competências e habilidades a se-
feiçoar a gestão pedagógica da escola e a rem constituídas pelos alunos; as propos-
prática docente.1 Provavelmente por essa ra- tas de metodologias, estratégias, projetos
zão, quando nos anos 1990 se aprovaram as de ensino, situações de aprendizagem; os
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e se recursos didáticos com os quais a escola
elaboraram os Parâmetros Curriculares Na- conta, incluindo instalações, equipamentos,
cionais (PCNs), os sistemas de ensino públi- materiais de apoio para alunos e professo-
co estaduais e municipais consideraram esse res; as propostas de formação continuada
trabalho um material a mais para enviar às dos professores; a concepção e o formato
escolas. E, por inexperiência de gestão cur- da avaliação. Em outras palavras, o currí-
ricular, assumiram que os Parâmetros consti- culo é o núcleo da Proposta Pedagógica,
tuíam um currículo pronto e suficiente para este por sua vez expressão da autonomia
orientar as escolas e seus professores quanto da escola. A arte e a dificuldade da ges-
ao que e como ensinar. Mas não eram. tão educacional é articular e colocar em
1
Vale a pena lembrar que o Rio Grande do Sul foi um dos Estados que cultivou com grande competência esse trabalho curricular nos anos 1960 e 1970.

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sinergia todos esses insumos do processo que a avaliação incida sobre o que está de
de aprendizagem e ensino. No desalinha- fato sendo trabalhado na escola, por diferen-
12
12 mento deles, residem alguns dos entraves tes razões.
mais sérios da reforma para a melhoria da A primeira diz respeito ao compromisso
qualidade desse processo. com a aprendizagem das crianças e jovens
A noção de que na escola existe o curricular de um sistema de ensino público. O currículo
e o extracurricular foi profundamente revista ao estabelece o básico que todo aluno tem o di-
longo do século 20. Era adequada para uma reito de aprender e, para esse básico, detalha
educação em que os ­conteúdos escolares deve- os contextos que dão sentido aos ­conteúdos,
riam ser memorizados e devolvidos tal como fo- às atividades de alunos e professores, aos
ram entregues aos alunos, e o currículo, abstra- recursos didáticos e às formas de avaliação.
to e desmotivador, precisava de um “tempero” Orienta o desenvolvimento do ensino e da
extracurricular na forma de atividades culturais, aprendizagem no tempo, garantindo que o
lúdicas ou outras, para que a escola fosse me- percurso seja cumprido pela maioria dos alu-
nos aborrecida. Na concepção moderna, o cur- nos num segmento de tempo dentro do ano
rículo supõe o tratamento dos conteúdos curri- letivo e de um ano letivo a outro, ordenando
culares em contextos que façam sentido para os os anos de escolaridade.
alunos, assim, o que acontece na escola ou é A segunda razão diz respeito à gestão es-
curricular ou não deveria acontecer na escola. colar, porque explicita quais resultados são es-
Atividades esportivas aos fins de semana sem perados e pode ser a base para um compro-
qualquer vinculação com a Proposta Pedagógi- misso da escola com a melhoria das aprendi-
ca da escola, na verdade, mais do que extracur- zagens dos alunos. O contrato de gestão por
riculares, são “extraescolares”, e só acontecem resultados tem no currículo sua base mais im-
na escola por falta de outros espaços e tempos portante e na avaliação o seu indicador mais
disponíveis. Atividades de esporte, cultura ou la- confiável. Isso requer que o currículo estabe-
zer, planejadas e integradas aos conteúdos de leça expectativas de aprendizagem viáveis de
Educação Física, Artes, Ciências ou Informática, serem alcançadas nas condições de tempo e
dentro da Proposta Pedagógica, são curricula- recurso da escola.
res quer ocorram em dias letivos ou em fins de A terceira razão, pela qual é importante
semana, na escola ou em qualquer outro espa- que a avaliação incida sobre o que está sen-
ço de aprendizagem. do trabalhado na escola, diz respeito à do-
O currículo, portanto, não é uma lista de cência, porque é importante que, em cada
disciplinas confinadas à sala de aula. É todo o série e nível da educação básica, o professor
conteúdo da experiência escolar, que aconte- saiba o que será avaliado no desempenho de
ce na aula convencional e nas demais ativida- seus alunos. A avaliação externa não pode
des articuladas pelo projeto pedagógico. ser uma caixa-preta para o professor. A refe-
rência da avaliação é o currículo e não vice-
O currículo transparece versa. Não faz sentido, portanto, afirmar que
se ensina tendo em vista a avaliação, quando
o sentido é exatamente o oposto: se avalia
O currículo, detalhado em termos de “o que
tendo em vista as aprendizagens esperadas
e quando se espera que os alunos aprendam”,
estabelecidas no currículo.
é também a melhor forma de dar transparência
Finalmente, a quarta razão diz respeito
à ação educativa.
aos pais e à sociedade. Para acompanhar
o desenvolvimento de seus filhos de modo
Num momento em que se consolidam os ativo e não apenas reagir quando ocorre
sistemas de avaliação externa como a PRO- um problema, é indispensável que a família
VA BRASIL, o SAEB e o ENEM, é fundamental seja informada do que será aprendido num

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­ eríodo ou ano escolar. Essa informação
p também assume características próprias da
deve também estar acessível para a opinião realidade e da experiência de cada escola.
pública e a imprensa. Pode-se mesmo afirmar que, embora os sis- 1313
temas de ensino público venham sendo cha-
O currículo conecta mados de “rede” há bastante tempo, apenas
com referências curriculares comuns e com o
Por sua abrangência e transparência, uso de TCIs, essa rede assume a configuração
o currículo é uma conexão vital que inse- e as características de rede no sentido con-
re a escola no ambiente institucional e no temporâneo, um emaranhado que não é caó-
quadro normativo que se estrutura desde o tico, mas inteligente, e que pode abrigar uma
âmbito federal até o estadual ou municipal. aprendizagem colaborada.
Nacionalmente, a Constituição e a LDB es- Finalmente, o currículo conecta a esco-
tabelecem os valores fundantes da educa- la com o contexto, seja o imediato de seu
ção nacional que vão direcionar o currículo. entorno sociocultural, seja o mais vasto do
As DCNs, emanadas do Conselho Nacio- País e do mundo. Se currículo é cultura so-
nal de Educação, arrematam esse ambien- cial, científica, cultural, por mais árido que
te institucional em âmbito nacional. Nos um conteúdo possa parecer à primeira vista,
currículos que Estados e Municípios devem sempre poderá ser conectado com um fato
elaborar para as escolas de seus respectivos ou acontecimento significativo, passado ou
sistemas de ensino, observando as diretrizes presente. Sempre poderá ser referido a um
nacionais, completa-se a conexão da esco- aspecto da realidade, próxima ou distante,
la com os entes políticos e institucionais da vivida pelo aluno. Essa conexão tem sido
educação brasileira. designada como contextualização, como se
O currículo dos sistemas públicos, esta- discutirá mais adiante.
duais ou municipais, conecta a escola com
as outras escolas do mesmo sistema, con- O currículo é um ponto de equilíbrio
figurando o que, no jargão educacional, é
chamado de “rede”: rede estadual ou rede
municipal de ensino. O currículo procura equilibrar a prescri-
O termo rede, embora seja usado há tem- ção estrita e a prescrição aberta. A primeira
pos pelos educadores, assume atualmente define o que é comum para todas as esco-
um novo sentido que é ainda mais apropria- las. A segunda procura deixar espaço aberto
do para descrever esse conjunto de unidades para a criatividade e a inovação pedagógica,
escolares cujos mantenedores são os gover- sugerindo material complementar, exemplos
nos estaduais ou municipais. De fato, o ter- de atividades, pesquisas, projetos interdisci-
mo rede hoje é empregado pelas Tecnologias plinares, sequências didáticas.
da Comunicação e Informação (TCIs), como
um conjunto conectado de entidades que têm
uma personalidade e estrutura próprias, mas A presença da prescrição fechada e da
que também têm muito a compartilhar com prescrição aberta garante a autonomia
outras entidades. para inovar. Quando tudo é possível, pode
Uma rede pode ser de pessoas, de insti- ser difícil decidir ações prioritárias e conte-
tuições, de países. No caso de uma rede de údos indispensáveis. Quando estes últimos
escolas públicas, a conexão que permite com- estão dados, oferecem uma base segura a
partilhar e construir conhecimentos em cola- partir da qual a escola poderá empreender
boração é muito facilitada com a existência e adotar outras referências para tratar os
de um currículo que é comum a todas e que conteúdos, realizar experiências e projetos.

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Um bom currículo também combina rea- mente voltada para a constituição de pessoas
lidade e visão. Suas prescrições estritas pre- capazes de viver, conviver e trabalhar nesta
14
14 cisam ser realistas ao prever quanto e quão sociedade de modo produtivo, solidário, inte-
bem é possível aprender e ensinar num de- grado e prazeroso. Diante de cada disciplina
terminado tempo e em condições determina- ou conteúdo, é preciso sempre problematizar:
das. Mas esses possíveis não podem ser tão qual o papel desse conteúdo na formação
fáceis que deixem de desafiar o esforço e o básica para viver no mundo contemporâneo?
empenho da escola. Para que esse conhecimento é importante? Se
a resposta for para ingressar no ensino supe-
O currículo demarca rior ou para engajar-se num emprego especí-
o espaço de consenso fico, é preciso lembrar que, segundo a LDB,
a educação básica não está destinada a ne-
Todo currículo tem como referência pri- nhum desses objetivos.
meira as finalidades da educação, consen- Afirmar que a educação básica não se
suadas pela sociedade. No caso do Brasil, destina a preparar para um posto de tra-
essas finalidades estão expressas na LDB e balho específico, nem para fazer vestibu-
nos instrumentos normativos que a com- lar, não significa que ela seja alheia ao
plementaram. Para cumpri-las, recortam-se trabalho e à continuidade de estudos, ao
os conteúdos e estabelecem-se as expec- contrário. A LDB afirma logo em seu pri-
tativas de aprendizagem, publicizando o meiro Artigo, Parágrafo 2º, que “A educa-
espaço para construir o consenso sobre a ção escolar deverá vincular-se ao mundo
educação que vamos oferecer aos alunos. do trabalho e à prática social”. Nos Arts.
Isso é mais sério do que tem sido conside- 35 e 36, dedicados ao ensino médio, a lei
rado na prática da escola básica brasileira. menciona explicitamente a preparação bá-
No Brasil, a legislação nacional, que de- sica para o trabalho.
corre da Constituição de 1988, tem um prin- Sendo o trabalho projeto de todos os ci-
cípio pedagógico fundamental e inovador dadãos e cidadãs, a educação básica deverá
em relação ao quadro legal anterior, que é propiciar a todos a constituição das compe-
o direito de aprendizagem. Esse princípio se tências necessárias para ingressar no mundo
sobrepõe ao da liberdade de ensino, que foi do trabalho. O acesso ao ensino superior é
um divisor de águas no campo educacional ingresso numa carreira profissional, o que
brasileiro nos anos 60. Quando o direito de quer dizer que a educação básica deverá
aprender é mais importante do que a liber- propiciar a todos as competências que são
dade de ensinar, não é o ensino, operado pré-requisito para escolher e perseguir uma
pelo professor, e sim a aprendizagem dos carreira de nível superior. Portanto, a respos-
alunos, que se constitui em indicador de de- ta às questões acima deve ser completada: a
sempenho e de qualidade. educação básica não está destinada ao pre-
A educação básica não forma especialis- paro para um trabalho específico nem para
tas, nem prepara para empregos específicos. entrar na faculdade, mas sendo básica é in-
Como seu próprio nome afirma, está total- dispensável a ambos.

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II - DCN, PCN e currículos dos sistemas públicos
estaduais ou municipais
15
15

Na origem dos estados modernos, a defi- mensões continentais, com grande diversidade
nição do que se deve aprender na escola es- regional e marcantes desigualdades sociais na
teve associada à busca da unidade nacional distribuição da renda e do acesso à qualidade
e da igualdade formal entre os cidadãos, daí de vida. Estabelecer currículos nessa realidade
o caráter público e leigo que o currículo as- é uma tarefa nada trivial, que a LDB inicia e
sume na maioria dos países. Desse processo ordena em duas perspectivas.
resulta a presença, na quase totalidade das A primeira perspectiva, a partir da qual a
nações democráticas, de leis de educação LDB regula o currículo, é política e se refere
que estabelecem o currículo nacional, ainda à divisão de tarefas entre a União e os entes
que os níveis de especificação sejam distintos federados quando estabelece para toda a
de um país para outro. educação básica, em seu Art. 26, que “Os
As profundas mudanças ocorridas no currículos do ensino fundamental e Médio
mundo após a segunda guerra mundial pro- devem ter uma base nacional comum, a ser
vocaram rupturas e revisões das bases demo- complementada, em cada sistema de ensi-
cráticas da educação. A partir da segunda no e estabelecimento escolar, por uma parte
metade do século 20, os currículos nacio- diversificada, exigida pelas características
nais passam por sucessivas reorganizações. regionais e locais da sociedade, da cultu-
Além de incorporar a rápida transformação ra, da economia e da clientela”. Diferente-
da ciência e da cultura, essas revisões tam- mente das leis de diretrizes e bases que a
bém deram ênfases crescentes aos valores da antecederam, a LDB não definiu, nem dele-
diversidade e da equidade, como forma de gou a nenhuma outra instância, a definição
superar a intolerância e a injustiça social. de “disciplinas” ou “matérias” obrigatórias
Finalmente, desde o limiar do século 21, a para integrar a base nacional comum a que
revolução tecnológica está impondo a todas se refere o Art. 26.
as nações revisões curriculares com a finali- A segunda perspectiva é pedagógica e se
dade de incorporar também, e para todos, os refere ao paradigma curricular adotado pela
valores da autonomia, da sustentabilidade e Lei. Quando trata separadamente do ensino
da solidariedade, que serão necessárias para fundamental e do médio, a LDB traça as di-
a cidadania nas sociedades pós-industriais. retrizes dos currículos de ambos segundo um
Essa rápida retrospecção histórica é im- paradigma comum, expresso em termos de
portante para destacar que a construção de competências básicas a serem constituídas pe-
currículos não é um capricho pedagógico los alunos e não de conhecimentos disciplina-
nem um ato arbitrário dos níveis de condução res (Arts. 32, 35 e 36). As competências ficam
das políticas educacionais. É, sim, um dever assim estabelecidas como referência dos currí-
dos governos que estão gerenciando o Esta- culos da educação escolar pública e privada,
do num momento de rupturas e mudanças de dando destaque, entre outras, à capacidade
paradigmas educacionais. de aprender e de continuar aprendendo, à
O Brasil é um país complexo. Por ser fe- compreensão do sentido das ciências, das ar-
deração, a definição do currículo se inicia tes e das letras e ao uso das linguagens como
na regulação nacional – do Congresso e do recursos de aprendizagem. Também aqui a
Conselho Nacional de Educação, passa pela LDB não emprega o termo “matéria” ou “dis-
coordenação do Governo Federal, finaliza na ciplina”, nem utiliza os nomes tradicionais das
gestão estadual ou municipal para entrar em mesmas. Refere-se a “conteúdos curriculares”,
ação na escola. Além disso, é um país de di- “componentes” ou “estudos”.

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disposições legais curriculares, neste caso,
A lei nacional da educação brasileira não se realiza pela verificação de uma lista
16
16 cumpre o papel que lhe cabe num país de matérias. Para viabilizá-la, é preciso ob-
federativo. Dá início a um processo de ter evidências do desempenho dos alunos
construção curricular que deverá ser e constatar até que ponto constituíram as
concluído pelos sistemas de ensino es- competências previstas.
taduais e municipais, para ser colocado As disposições curriculares da LDB foram
em ação pelas suas escolas. Indica, no fundamentadas pelo Conselho Nacional de
entanto, as diretrizes segundo as quais Educação, num trabalho do qual resultaram
os sistemas e escolas deverão pautar a as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)
finalização desse processo. Essas indi- para os diferentes níveis e modalidades da
cações fazem toda a diferença. educação básica. Foram também consubs-
tanciadas nos Parâmetros Curriculares Na-
cionais que o MEC elaborou como recomen-
Se a lei adotasse um paradigma curri- dação aos sistemas de ensino.
cular disciplinarista, a cooperação entre as Paradigmas, diretrizes e parâmetros, ainda
esferas de governo seria concretizada na que bem fundamentados pedagogicamente,
elaboração, pela União, de uma lista de não promovem a melhoria da qualidade do
disciplinas ou matérias obrigatórias que se ensino. Para não relegá-los a peças formais e
complementaria com listas de disciplinas adi- burocráticas, é preciso criar as condições ne-
cionais elaboradas pelas diversas instâncias cessárias a sua implementação. E a condição
de definição curricular. Esse foi de fato o pro- de implementação mais importante é a tra-
cedimento adotado no passado. dução da lei, das normas e das recomenda-
A verificação do cumprimento das disposi- ções curriculares nacionais em currículos que
ções curriculares legais, no caso do paradig- possam ser colocados em ação nas escolas,
ma por disciplinas, é feita pelo controle do adequados às realidades diversas de estados,
comparecimento destas últimas nos currícu- regiões, municípios ou comunidade; detalha-
los propostos. Daí a necessidade de listar dis- dos o suficiente para servirem de guia de ação
ciplinas obrigatórias, impondo que toda es- às equipes escolares; abrangentes o bastante
cola deveria elaborar sua “grade” curricular, para dar alinhamento e orientação ao conjun-
isto é, a lista de disciplinas que constituíam to dos insumos do ensino-aprendizagem: as
seu currículo, em duas partes: a base nacio- atividades de alunos e professores, os recursos
nal comum e a parte diversificada, sendo que didáticos, a capacitação dos professores para
em cada uma dessas partes havia disciplinas implementar o currículo utilizando os recursos
obrigatórias. Esse modelo, que ainda é ado- didáticos e os procedimentos de avaliação.
tado em muitas escolas públicas e privadas, é Essa tradução do currículo do plano pro-
realmente uma grade no sentido de barreira positivo para o plano da ação é uma tare-
que impede a passagem e a comunicação. fa intransferível dos sistemas de ensino e de
Com o paradigma curricular estabeleci- suas instituições escolares. É para cumprir a
do pela LDB, o cumprimento das diretrizes sua parte que a SEDUC-RS entrega às esco-
impõe que tanto a base nacional comum las públicas estaduais os presentes Referen-
como a parte diversificada prestem contas ciais Curriculares, cujos princípios norteado-
das competências que os alunos deverão res são apresentados a seguir, reconhecendo
constituir. E essas competências não são que caberá às escolas, em suas propostas
aderentes a uma disciplina ou conteúdo pedagógicas, transformá-los em currículos
específico, mas deverão estar presentes em em ação, orientadas por estes referenciais e
todo o currículo. São competências trans- ancoradas nos contextos específicos em que
versais. Além disso, o cumprimento das cada escola está inserida.

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III - Desafios educacionais no Brasil contemporâneo
A sociedade pós-industrial está mudan- vendo, qualquer que seja sua origem social. 1717
do a organização do trabalho, a produção Mas é na escola pública que estão chegando
e disseminação da informação e as formas as maiorias pobres e, portanto, é a qualida-
de exercício da cidadania. Essas mudanças de do ensino público que se torna estratégica
estão impondo revisões dos currículos e da para nosso destino como nação.
organização das instituições escolares na O acesso é requisito para democratiza-
maioria dos países. Aqueles cujos sistemas ção do ensino básico. Mas, para que esse
educacionais estão consolidados, que pro- processo seja plenamente consolidado, é ur-
moveram a universalização e democratiza- gente garantir que a permanência na escola
ção da educação básica na primeira metade resulte em aprendizagens de conhecimentos
do século passado, estão empenhados em pertinentes. Conhecimentos que os cidadãos
vencer os obstáculos culturais e políticos ao e cidadãs sejam capazes de aplicar no en-
trânsito da escola para o século 21. tendimento de seu mundo, na construção de
Os emergentes como o Brasil, que ain- um projeto de vida pessoal e profissional, na
da estão concluindo o ciclo de expansão convivência respeitosa e solidária com seus
quantitativa e universalização da educação iguais e com seus diferentes, no exercício de
básica, deparam-se com um duplo desafio. sua cidadania política e civil para escolher
Herdeiro de uma tradição ibérica que des- seus governantes e participar da solução dos
tinava a escolaridade longa apenas a uma problemas do país.
seleta minoria, há pouco tempo – cerca de Este é um tempo em que os meios de co-
três décadas –, nosso país ainda devia esse municação constroem sentidos e disputam a
direito básico a quase metade das crianças atenção e a devoção da juventude, a esco-
em idade escolar. la precisa ser o lugar em que se aprende a
Quando todos chegaram à escola e, por analisar, criticar, pesar argumentos e fazer es-
mecanismos diversos, aí permaneceram, fi- colhas. Isso requer que os conteúdos do cur-
cou visível nossa incapacidade de criar, para rículo sejam tratados de modo a fazer senti-
a maioria das crianças e jovens brasileiros, do para o aluno. Esse sentido nem sempre
situações de aprendizagem eficazes para depende da realidade imediata e cotidiana,
suas características e estilos cognitivos. É, pode e deve, também, ser referido à realida-
portanto, um país que precisa urgentemente de mais ampla, remota, virtual ou imaginária
reinventar a escola para trabalhar com um do mundo contemporâneo. Mas terá de ser
alunado diversificado culturalmente e desi- acessível à experiência do aluno de alguma
gual socialmente. E deve dar conta desse de- forma, imediata e direta ou mediata e alu-
safio ao mesmo tempo em que transforma a siva. Esse é o ponto de partida para aceder
educação básica para fazer frente às deman- aos significados deliberados e sistemáticos,
das da sociedade do conhecimento. constituídos pela cultura científica, artística e
O século 21 chegou, e com ele a globa- linguística da humanidade.
lização econômica, o aquecimento global, Em nosso país, a escolaridade básica de
a despolarização da política internacional, 12 anos está sendo conquistada agora pelas
a urgência de dar sustentabilidade ao de- camadas mais pobres, inseridas em proces-
senvolvimento econômico, a valorização da sos de ascensão social. Milhões de jovens
diversidade, as novas fronteiras científicas, a serão mais escolarizados que seus pais e,
acessibilidade da informação a um número diferentemente destes, querem se incorporar
cada vez maior de pessoas, o aparecimento ao mercado de trabalho não para sobreviver
de novas formas de comunicação. É nesse e seguir reproduzindo os padrões de gera-
tempo que os estudantes brasileiros estão vi- ções anteriores. Trabalhar para estes jovens

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é, antes de mais nada, uma estratégia para dar vida à cultura presente no currículo, si-
continuar estudando e melhorar de vida. São tuando os conteúdos escolares no contexto
18
18 jovens que vivem num tempo em que a ado- cultural significativo para seus alunos. Em
lescência é tardia e o preparo para traba- nosso País, de diversidade cultural marcan-
lhar mais longo e que, contraditoriamente, te, revitalizar a cultura recortada no currí-
por sua origem social, precisam trabalhar culo é condição para a construção de uma
precocemente para melhorar de vida no escola para a maioria. Onde se aprende a
longo prazo. O currículo precisa identificar cultura universal sistematizada nas lingua-
e propor às escolas conhecimentos e com- gens, nas ciências e nas artes sem perder
petências que podem ser relevantes para o a aderência à cultura local que dá sentido
sucesso desse projeto complexo, envolvendo à universal.
o trabalho precoce e a constituição da ca- Finalmente, o grande desafio, diante da
pacidade de continuar aprendendo para, no mudança curricular que o Brasil está pro-
futuro, inserir-se nesse mesmo mercado com movendo, é a capacidade do professor para
mais flexibilidade. operar o currículo. Também aqui é impor-
tante desfazer-se de concepções passadas
Nesse projeto, o fortalecimento do domí- que orientaram a definição de cursos de
nio da própria língua é indispensável para capacitação sem uma proposta curricular,
organizar cognitivamente a realidade, exercer qualquer que fosse ela, para identificar as
a cidadania e comunicar-se com os outros. necessidades de aprendizagem do profes-
Além disso, a competência de leitura e escrita sor. Cursos de capacitação, geralmente
é condição para o domínio de outras lingua- contratados de agências externas à educa-
gens que precisam da língua materna como ção básica, seguiram os padrões e objetivos
suporte – literatura, teatro, entre outras. considerados valiosos para os gestores e
formadores dessas agências. Independen-
temente da qualidade pedagógica desses
O mundo contemporâneo disputa o uni- cursos ou programas de capacitação, a ver-
verso simbólico de crianças e adolescentes, dade é que, sem que o sistema tivesse um
lançando mão de suportes os mais variados currículo, cada professor teve acesso a con-
– imagens, infográficos, fotografia, sons, mú- teúdos e atividades diferentes, muitas vezes
sica, corpo –, veiculados de forma também descoladas da realidade da escola na qual
variada – a internet, a TV, a comunicação esse professor trabalhava.
visual de ambientes públicos, a publicidade,
o celular. A escola precisa focalizar a compe-
Vencida quase uma década no novo sécu-
tência para ler e produzir na própria língua e
lo, a Secretaria de Educação do RS tem cla-
abrir oportunidades para que os alunos aces-
reza de que a melhor capacitação em serviço
sem outros tipos de suportes e veículos, com
para os professores é aquela que faz parte in-
o objetivo de selecionar, organizar e analisar
tegrante do próprio currículo, organicamente
criticamente a informação aí presente.
articulada com o domínio, pelo professor, dos
O currículo é um recorte da cultura cien-
conteúdos curriculares a serem aprendidos
tífica, linguística e artística da sociedade,
por seus alunos e da organização de situa-
ou seja, o currículo é cultura. Os frequen-
ções de aprendizagem compatíveis.
tes esforços de sair da escola, buscando a
“verdadeira cultura”, têm efeitos devasta-
dores: estiola e resseca o currículo, tira-lhe Este documento, ao explicar os fun-
a vitalidade, torna-o aborrecido e desmoti- damentos dos Referenciais Curriculares,
vador, um verdadeiro “zumbi” pedagógico. inaugura essa nova perspectiva da capa-
Em vez de perseguir a cultura é premente citação em serviço.

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IV - Princípios e fundamentos dos Referenciais Curriculares
Importância da aprendizagem de distintas etapas e disciplinas da educação 1919
de quem ensina básica. E os princípios dos Referenciais devem
orientar as estratégias de capacitação em ní-
Quem ensina é quem mais precisa apren- vel escolar, regional ou central.
der. Esse é o primeiro princípio destes Refe-
renciais. Os resultados das avaliações exter- Aprendizagem como
nas realizadas na última década, entre as processo coletivo
quais o SAEB, a PROVA BRASIL, o ENEM e
agora o SAERS, indicam que os esforços e re- Na escola, a aprendizagem de quem en-
cursos aplicados na capacitação em serviço sina não é um processo individual. Mesmo
dos professores não têm impactado positiva- no mercado de trabalho corporativo, as ins-
mente o desempenho dos alunos. Essa falta tituições estão valorizando cada vez mais a
de relação entre educação continuada do capacidade de trabalhar em equipe. A van-
professor e desempenho dos alunos explica- tagem da educação é que poucas atividades
se pelo fato de que os conteúdos e formatos humanas submetem-se menos à lógica da
da capacitação nem sempre têm referência competitividade quanto a educação escolar,
naquilo que os alunos desses professores particularmente a docência. O produto da
precisam aprender e na transposição didáti- escola é obrigatoriamente coletivo, mesmo
cas desses conteúdos. quando o trabalho coletivo não é uma estra-
tégia valorizada.
Dessa forma, estes Referenciais têm como prin- Diante do fracasso do aluno, a responsa-
cípio demarcar não só o que o professor vai en- bilidade recai em algum coletivo – o governo,
sinar, mas também o que ele precisa saber para a educação em geral ou a escola, dificilmen-
desincumbir-se a contento da implementação do te sobre um professor em particular. Na do-
currículo e, se não sabe, como vai aprender. cência, o sucesso profissional depende me-
nos do exercício individual do que em outras
atividades, como, por exemplo, as artísticas,
É por esta razão que, diferentemente de a medicina, sem falar em outras mais óbvias,
muitos materiais didáticos que começam pe- como a publicidade, vendas ou gestão do se-
los livros, cadernos ou apostilas destinadas tor produtivo privado. Os professores atuam
aos alunos, estes Referenciais começam com em equipe mesmo que não reconheçam.
materiais destinados aos professores. Trata- Esse caráter coletivista (no bom sentido)
se não de repetir os acertos ou desacertos da prática escolar quase nunca é aprovei-
da formação inicial em nível superior, mas de tado satisfatoriamente. Ao contrário, muitas
promover a aderência da capacitação dos vezes, serve de escudo para uma responsa-
professores aos conteúdos e metodologias bilização anônima e diluída, porque, embo-
indicados nos Referenciais. ra todos sejam responsabilizados pelo fra-
E como devem aprender os que ensinam? A casso, poucos se empenham coletivamente
resposta está dada nos próprios Referenciais: para o sucesso. Espera-se que estes Refe-
em contexto, por áreas e com vinculação à renciais ajudem a reverter essa situação,
prática. Se a importância da aprendizagem servindo como base comum sobre a qual
de quem ensina for observada no trabalho estabelecer, coletivamente, metas a serem
escolar, os Referenciais devem ser base para alcançadas e indicadores para julgar se o fo-
decidir ações de capacitação em serviço para ram ou não e o porquê. Sua organização por
a equipe como um todo e para os professores áreas já é um primeiro passo nesse sentido.

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As competências como referência2 • um conjunto de elementos....
• que o sujeito pode mobilizar....
20
20 O currículo por competências constitui hoje • para resolver uma situação....
um paradigma dominante na educação esco- • com êxito.
lar, no Brasil e em quase todos os demais países
da América, da Europa e até países asiáticos. Existem diferenças não substantivas quan-
Na África, também vem sendo adotado como to ao que se entende de cada uma dessas
organizador de várias propostas de reforma palavras, o que não é incomum quando
educacional e curricular. Nestes Referenciais, se trata de descrever aspectos psicológicos
as competências são entendidas como orga- cognitivos ou emotivos. Em uma definição
nizadores dos ­conteúdos curriculares a serem os elementos são designados como recur-
trabalhados nas escolas públicas estaduais. sos, em outras, como conhecimentos, em
Essa onipresença das competências no discur- outras, como saber. Mobilizar para uns sig-
so e nas propostas educacionais, nem sempre nifica colocar em ação, para outros colocar
se faz acompanhar de explicações para tornar esquemas em operação e ainda selecionar
o conceito mais claro no nível das escolas, o e coordenar. Situação é caracterizada como
que motiva estes Referenciais a estenderem-se uma atividade complexa, como um proble-
no exame da questão. ma e sua solução, como uma representação
Como a maior parte dos conceitos usa- da situação, pelo sujeito. O êxito é entendi-
dos em pedagogia, o de competências do como exercício conveniente de um papel,
responde a uma necessidade e uma ca- função ou atividade, ou como realizar uma
racterística de nossos tempos. Na verdade, ação eficaz, ou responder de modo pertinen-
surge como resposta à crise da escola na te às demandas da situação ou ainda como
segunda metade do século 20 provocada, ação responsável, realizada com conheci-
entre outros fenômenos, pela então inci- mento de causa.
piente revolução tecnológica e pela cres- Analisando o conteúdo dos diversos ter-
cente heterogeneidade dos alunos. Essa mos utilizados para caracterizar o conceito
crise levou a uma forte crítica dos currí- de competência, pode-se afirmar que não há
culos voltados para objetivos operaciona- polissemia, isto é, diferentes significados de
lizados e observáveis, que fragmentava o competência, e apesar das diferenças termi-
processo pedagógico. nológicas todos têm em comum uma abor-
As competências são introduzidas como dagem que entende a competência como
um conjunto de operações mentais, que são algo que acontece, existe e é acionado des-
resultados a serem alcançados nos aspectos de processos internos ao sujeito. Este aspecto
mais gerais do desenvolvimento do aluno. essencial, ou seja, de que a competência não
Em outras palavras, caracterizaram-se, no está na situação, nem em conhecimentos ou
início, pela sua generalidade e transversa- saberes do currículo, e sim naquilo que a
lidade, não relacionadas com nenhum con- situação de aprendizagem e esses saberes
teúdo curricular específico, mas entendidas constituíram no aluno, é o que importa para
como indispensáveis à aquisição de qual- fins pedagógicos por duas razões.
quer conhecimento. A primeira é a de que, se esses processos
O exame das muitas definições de com- internos do aluno são constituídos, eles po-
petência permite destacar o que está pre- dem e devem ser aprendidos. A segunda é
sente em todas elas. A competência, nas a de que um currículo por competências se ex-
várias definições, se refere a: pressa, manifesta e valida pelas aprendizagens

2
Deste ponto em diante este documento incorpora algumas ideias das discussões e dos textos de trabalho do grupo responsável pela concepção do currículo
na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

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que constituiu no aluno e que este coloca em Mas um currículo é constituído por ­conteúdos
ação de determinada maneira em determinada e é preciso que as competências transversais para
situação. Os objetivos de ensino podem ser ex- aprender, como as do ENEM, sejam articuladas 2121
pressos naquilo que o professor faz, nos mate- com as competências a serem constituídas em
riais que manipula, nos contúdos que seleciona cada uma das áreas ou disciplinas. Na ausên-
e nas operações que realiza para explicar. cia dessa articulação instaura-se uma aparente
ruptura entre competências e conteúdos curricu-
Mas o que valida o currículo não são os lares, que tem levado ao entendimento equivo-
objetivos de ensino e sim os processos que se cado de que a abordagem por competências
constituíram no aluno e se expressam pela com- não valoriza os conteúdos curriculares, quando
petência de saber, de saber fazer e de saber por- na verdade eles são nucleares e imprescindíveis
que sabe. para a constituição de competências.

A inseparabilidade entre
Um currículo que tem as competências competência e conhecimento
como referência, organiza-se por operado-
res curriculares transversais, que se referem Um currículo por competências não elimina
às competências gerais que devem ser per- nem secundariza os conteúdos. Sem ­conteúdos,
seguidas em todas as áreas ou disciplinas, recursos intelectuais, saberes ou conhecimen-
porque são competências indispensáveis para tos, não há o que possa ser mobilizado pelo
aprender qualquer conteúdo curricular. Es- sujeito para agir pertinentemente numa situa-
tes Referenciais adotam como competências ção dada, portanto não se constituem compe-
para aprender as cinco grandes competências tências. Os conteúdos são a substância do cur-
do ENEM, que podem ser consideradas seus rículo e para tanto se organizam em áreas do
operadores transversais: conhecimento ou disciplinas. É preciso, portan-
to, construir um currículo que não se limite ape-
•Dominar a norma culta e fazer uso das lin- nas às disciplinas, mas inclua necessariamente
as situações em que esses conteúdos devem
guagens matemática, artística e científica;
ser aprendidos para que sejam constituintes de
•Construir e aplicar conceitos das várias competências transversais.
áreas do conhecimento para a compreen-
são de fenômenos naturais, de processos
histórico-geográficos, da produção tecno- Isso significa que um currículo referido a com-
lógica e das manifestações artísticas; petências só tem coerência interna se conteúdos
•Selecionar, organizar, relacionar, interpre- disciplinares e procedimentos de promover, orien-
tar dados e informações representados tar e avaliar a aprendizagem sejam inseparáveis.
em diferentes formas, para tomar deci-
sões e enfrentar situações-problema; Para isso é preciso identificar, em cada
•Relacionar informações, representadas conteúdo ou disciplina, os conceitos mais im-
de diferentes formas, e conhecimentos portantes e as situações nas quais eles devem
disponíveis em situações concretas, para ser aprendidos de forma a constituírem com-
construir argumentação consistente; petências transversais como as do ENEM. A
•Recorrer aos conhecimentos desenvolvi- ausência desse trabalho resultou, no Brasil, na
dos na escola para elaborar propostas de anomia curricular instalada nos anos recentes,
intervenção solidária na realidade, res- de currículos em ação nas escolas que são di-
peitando os valores humanos e conside- vorciados das normas curriculares mais gerais
rando a diversidade sociocultural. e dos pressupostos teóricos que as orientam.

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V - Competências e conteúdos nos currículos brasileiros
22
22

O espaço de articulação das


competências com os conteúdos

No processo de definição curricular já ­ mbito nacional e o estadual, municipal ou


â
analisado nestes Referenciais, o paradigma escolar demarca o espaço de articulação en-
curricular que poderia ser chamado de “mes- tre as competências transversais ou compe-
tre” está na Lei 9394/1996 – LDB, que foi tências para aprender e os conteúdos curri-
seguida das Diretrizes Curriculares Nacionais culares. Nesse marco institucional, portanto,
(DCNs) e dos Parâmetros Curriculares Nacio- esse trabalho articulador é de responsabili-
nais (PCNs). As DCNs, obrigatórias, apresen- dade dos Estados, Municípios ou escolas.
tam disciplinas ou áreas de conhecimento e
as competências que devem ser constituídas. A aprendizagem em contexto
Quanto aos conteúdos, são bastante gerais,
porque supõem uma etapa intermediária de A passagem das competências transversais
desenvolvimento curricular para adequar as para aprender para as competências a cons-
diretrizes nacionais às distintas realidades re- tituir em cada área ou conteúdo curricular e
gionais, locais e escolares, tarefa que cabe a passagem da representação, investigação e
aos mantenedores e gestores das redes pú- abstração para a comunicação, ­compreensão
blicas e privadas. Os PCNs e qualquer orien- e contextualização, são facilitadas por meio
tação emanada do MEC não têm caráter de duas estratégias: a aprendizagem em con-
obrigatório. São recomendações e assistên- texto e a interdisciplinaridade.
cia técnica aos sistemas de ensino. A contextualização é a abordagem para rea-
Tanto os PCNs como as DCNs não consti- lizar a já mencionada, indispensável e difícil ta-
refa de cruzar a lógica das competências com a
tuem um currículo pronto para ser colocado
lógica dos objetos de aprendizagem. Para que
em ação. Não são pontos de chegada e sim o conhecimento constitua competência e seja
de partida para um caminho que se inicia mobilizado na ­compreensão de uma situação
nas normas nacionais e só consegue alcan- ou na solução de um problema, é preciso que
çar o chão da escola de modo eficaz, se os sua aprendizagem esteja referida a fatos da vida
sistemas de ensino completarem o percurso, do aluno, a seu mundo imediato, ao mundo re-
desenvolvendo seus próprios currículos. moto que a comunicação tornou próximo ou
ao mundo virtual cujos avatares têm existência
real para quem participa de sua lógica.
Estes currículos, partindo das competências Quando a lei indica, entre as finalidades
transversais e de indicações genéricas de con- do ensino médio, etapa final da educação
teúdos estabelecidas no âmbito nacional, de- básica, “a compreensão dos fundamentos
vem incluir: um recorte do conteúdo; sugestão científico-tecnológicos dos processos produti-
de metodologia de ensino e de materiais de vos, relacionando a teoria com a prática, no
apoio didático e situações de aprendizagem; ensino de cada disciplina” (Art. 35 inciso IV);
procedimentos de avaliação; e as necessidades ou quando, no Art. 36, afirma que o currí-
de formação continuada dos professores. culo do ensino médio “destacará [...] a com-
preensão do significado da ciência, das letras
e das artes” (grifo nosso), está estabelecendo
No Brasil, em função do regime federati- a aprendizagem em contexto como impera-
vo e do regime de colaboração entre União, tivo pedagógico da educação básica. Mais
Estados e Municípios, a mediação entre o ainda, ao vincular os conteúdos curriculares

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com os processos produtivos caracteriza um Mas a contextualização não pode ser um
contexto não apenas relevante, mas manda- fim em si mesma. Se a transposição didática
tório para tratar os conteúdos curriculares: o se limitar ao contexto, o conhecimento cons- 2323
mundo do trabalho e da produção. tituído pode ficar refém do imediato, do sen-
O destaque da relação entre teoria e prá- tido particular daquele contexto, e essa não é
tica em cada disciplina, lembra que a dimen- a finalidade última do currículo. Como recor-
são da prática deve estar presente em todos te da cultura humanista, científica e artística,
os conteúdos. A prática não se reduz a ações que se sistematiza e organiza em nível mais
observáveis, experiências de laboratório ou universal e abstrato, o currículo quer, em úl-
elaboração de objetos materiais. A prática tima instância, tornar o aluno participante
comparece sempre que um conhecimento dessa cultura sistematizada.
pode ser mobilizado para entender fatos da Partir do que é próximo significativo e pre-
realidade social ou física, sempre que um sente no mundo do aluno é uma estratégia.
conhecimento passa do plano das abstra- Seu propósito final é propiciar apropriação
ções conceituais para o da relação com a daquilo que, mesmo sendo longínquo, siste-
realidade. A aprendizagem em contexto é a mático e planetário, também é intelectual e
abordagem por excelência para estabelecer emocionalmente significativo. A contextuali-
a relação da teoria com a prática. zação, portanto, não elimina, ao contrário,
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o requer um fechamento pela sistematização
ensino médio assim explicam a aprendizagem e pela abstração. Não queremos cidadãos
em contexto: “O tratamento contextualizado aprisionados em seu mundo cultural e afetivo
do conhecimento é o recurso que a escola tem próximo, queremos cidadãos do mundo no
para retirar o aluno da condição de especta- sentido mais generoso dessa expressão.
dor passivo. Se bem trabalhado, permite que,
ao longo da transposição didática, o conteúdo Interdisciplinaridade
do ensino provoque aprendizagens significa- como prática permanente
tivas que mobilizem o aluno e estabeleçam
entre ele e o objeto do conhecimento uma A interdisciplinaridade acontece como um
relação de reciprocidade. A contextualização caso particular de contextualização. Como os
evoca por isso áreas, âmbitos ou dimensões contextos são quase sempre multidisciplinares,
presentes na vida ­pessoal, social e cultural, e quando o conteúdo de uma determinada área
mobiliza competências cognitivas já adquiri- ou disciplina é em contexto, é quase inevitável
das” (Parecer 15/98 da Câmara de Educação a presença de outras áreas de conhecimento.
Básica do Conselho Nacional de Educação). Um conteúdo de história, por exemplo, no con-
texto de um lugar, instituição ou tempo especí-
Organizar situações de aprendizagem nas fico, depara-se com questões de geografia, de
quais os conteúdos sejam tratados em contex- meio ambiente, de política ou de cultura. Nessa
to requer relacionar o conhecimento científico, aprendizagem em contexto trata-se não apenas
por exemplo, a questões reais da vida do aluno, de aprender fatos históricos, mas de entender
ou a fatos que o cercam e lhe fazem sentido. relações do tipo: como os recursos naturais de-
terminaram a história dos povos e o que acon-
teceu quando esses recursos se esgotaram; ou
A Biologia ou a Química precisam fa- como a história de um lugar foi determinada
zer sentido como recursos para entender o por seu relevo ou bacia hidrográfica. Esse en-
próprio corpo e gerenciar sua saúde, para tendimento inevitavelmente requer conhecimen-
identificar os problemas envolvidos no uso de tos de biologia e geografia para aprender o que
drogas, na adoção de dietas radicais, ou na são os recursos naturais e entender o território
agressão ao meio ambiente. como determinante desses recursos.

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A interdisciplinaridade acontece natural- plinas. Sem domínios disciplinares não há rela-
mente se houver sensibilidade para o contexto, ções a estabelecer. Por esta razão, é convenien-
24
24 mas sua prática e sistematização demandam te lembrar que a melhor interdisciplinaridade é
trabalho didático de um ou mais professores. a que se dá por transbordamento, ou seja, é o
Por falta de tempo, interesse ou preparo, o domínio profundo e consolidado de uma disci-
exercício docente na maioria das vezes ignora plina que torna claras suas fronteiras e suas “in-
a intervenção de outras disciplinas na realidade cursões” nas fronteiras de outras disciplinas ou
ou fato que está trabalhando com os alunos. saberes. Dessa forma, o trabalho interdisciplinar
Há inúmeras formas de realizar atividades ou não impede e, ao contrário, pode requerer que
trabalhos interdisciplinares. Muitos professores uma vez tratado o objeto de perspectivas disci-
dos anos iniciais do ensino fundamental traba- plinares distintas, se promova o movimento ao
lham de modo interdisciplinar. Mesmo o pro- contrário, sistematizando em nível disciplinar os
fessor disciplinarista pode realizar a “interdisci- conhecimentos constituídos interdisciplinarmen-
plinaridade de um professor só”, identificando te. Duas observações para concluir.
e fazendo relações entre o conteúdo de sua A interdisciplinaridade pode ser simples,
disciplina e o de outras, existentes no currículo parte da prática cotidiana da gestão do currí-
ou não. Numa mesma área de conhecimento culo na escola e da gestão do ensino na sala
as possibilidades de abordagem interdisciplinar de aula. Para isso, mais do que um projeto es-
são ainda mais amplas, seja pelo fato de um pecífico, é preciso que o currículo seja conhe-
professor assumir mais de uma disciplina da cido e entendido por todos, que os planos dos
área, seja pela proximidade entre elas que per- professores sejam articulados, que as reuniões
mite estabelecer conexões entre os conteúdos. levantem continuamente os conteúdos que
estão sendo desenvolvidos e as possibilida-
A interdisciplinaridade, portanto, não preci- des de conexão entre eles, que exista abertura
sa, necessariamente, de um projeto específico. para aprender um com o outro.
Pode ser incorporada no plano de trabalho do Segundo, a interdisciplinaridade requer ge-
professor de modo contínuo; pode ser reali- nerosidade, humildade e segurança. Humilda-
zada por um professor que atua em uma só de para reconhecer nossas limitações diante da
disciplina ou por aquele que dá mais de uma, ousada tarefa de conhecer e levar os alunos a
dentro da mesma área ou não; e pode, final- conhecerem o mundo que nos cerca. Genero-
mente, ser objeto de um projeto, com um pla- sidade para admitir que a “minha” disciplina
nejamento específico, envolvendo dois ou mais não é a única e, talvez, nem a mais importante
professores, com tempos e espaços próprios. num determinado contexto e momento da vida
de uma escola. E segurança, porque só quem
conhece profundamente sua disciplina pode
Ao tratarmos da interdisciplinaridade é fun- dar-se ao luxo didático de abrir para os alunos
damental levar em conta que, como o próprio outras formas de entender o mesmo fenômeno
nome indica, ela implica a existência de disci- ou de buscar em outros o auxílio para isso.

Referências:
ETTAYEBI, Moussadak; OPERTTI, Renato; JONNAERT, DENYER, Monique; FURNÉMONT, Jacques; POU-
Philippe. Logique de compétences et dévelopment cur- LAIN, Roger; VANLOUBBEECK, Georges. Las com-
riculaire: débats, perspectives et alternative pour les petencias em éducación: un balance. Mexico: Fon-
systèmes éducatifs. Paris: Harmattan, 2008. do de Cultura Económica, 2007.

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Por que competências e
habilidades na educação básica? 25
25
Lino de Macedo
Instituto de Psicologia, USP 2009

O objetivo de nossa reflexão é analisar o pre foi e será uma necessidade do ser hu-
problema da aprendizagem relacionada ao mano. É que os recursos biológicos (esque-
desenvolvimento de competências e habili- mas inatos ou reflexos) de que dispomos ao
dades na educação básica. Em outras pa- nascer não são suficientes, ocorrendo o mes-
lavras, trata-se de pensar a questão – quais mo com os valores e condições sociocultu-
são os argumentos para a defesa de um cur- rais que lhes são complementares, expressos
rículo comprometido com o desenvolvimento como cuidados dos adultos. Por exemplo, a
de competências e habilidades na educação criança nasce sabendo mamar, isto é, nasce
básica? Sabemos que elas sempre foram com esquema reflexo de sucção. Mas neste
uma condição para a continuidade do exer- reflexo não estão previstos, nem poderiam
cício de profissões qualificadas e socialmente estar, as características (físicas, psicológicas,
valorizadas. Mas, hoje, temos duas altera- sociais, culturais, etc.) da mama e da mamãe,
ções fundamentais, que expressam conquis- que a amamentará. Da parte da mamãe é a
tas de direitos humanos e superação de de- mesma coisa. Mesmo que ter um filho seja
sigualdades sociais. Primeira, competências um projeto querido, sua mama cheia de leite
e habilidades são julgadas necessárias para e seu coração cheio de disponibilidade não
todas as profissões e ocupações. Segunda, substituem os esforços de sucção de seu fi-
mais que isto, são essenciais para uma boa lho, deste filho em particular, com suas ca-
gestão e cuidado da própria vida, na forma racterísticas e condições singulares, não pre-
complexa que assume, hoje. visíveis para a pessoa que cuidará dele. Para
O melhor momento e lugar para formar que esta interação entre dois particulares
competências profissionais é na escola supe- seja bem sucedida, mesmo que apoiada em
rior ou em cursos de habilitação. O melhor dois gerais (uma criança e uma mãe), ambos
momento e lugar para formar competências terão de aprender continuamente, terão de
e habilidades válidas para qualquer profissão reformular, corrigir, estender, aprofundar os
e que têm valor para a vida como um todo é aspectos adquiridos.
na educação básica, ou seja, no sistema de Aprender é uma necessidade constante do
ensino que a compõe (Escola de Educação In- ser humano, necessidade que encerra muitos
fantil, Escola Fundamental e Escola de Ensino conflitos e problemas, apesar de sua impor-
Médio). E se os conteúdos e os procedimentos tância. Nem sempre reunimos ou dominamos
relativos às competências e habilidades pro- os diferentes elementos que envolvem uma
fissionais são necessariamente especializados, aprendizagem. Cometemos erros. Calcula-
as competências e habilidades básicas só po- mos mal, não sabemos observar os aspec-
dem ser gerais e consideradas nas diferentes tos positivos e negativos que compreendem
disciplinas que compõem o currículo da edu- uma mesma coisa, nem sempre sabemos
cação básica. Daí nossa opção pelas com- ponderar os diferentes lados de um mesmo
petências valorizadas no Exame Nacional do problema. Daí a necessidade de fazer regula-
ensino médio (ENEM) como referência. ções, de prestar atenção, aperfeiçoar, orien-
Consideremos, agora, o problema da tar as ações em favor do resultado buscado.
aprendizagem em si mesma. Aprender sem- Este processo é sustentado pelo interesse de

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aprender. As crianças desde cedo descobrem ção não se reduz a um conhecido ou contro-
o prazer funcional de realizar uma mesma lável. Ou seja, não basta repetir ou seguir um
26
26 atividade, de repeti-la pelo gosto de repetir, hábito ou resposta aprendida. É necessário
pelo gosto de explorar ou investigar modos estar presente, sensível, atento aos diferen-
de compreender e realizar, de enfrentar e re- tes aspectos que caracterizam o desenrolar
solver problemas que elas mesmas se colo- de uma partida. É necessário manter o foco
cam. Gosto de aprender, não só pelas conse- (concentração), saber planejar, antecipar, fa-
quências, não só como um meio para outro zer boas inferências, tornar-se um observador
fim, mas como um fim em si mesmo. Como de si mesmo, do oponente e do próprio jogo.
conservar na escola este modo de se relacio- Além disso, nesta situação o sujeito deve se
nar com os processos de aprendizagem? Um manter ativo, não passivo nem distraído, cons-
modo que a reconhece como solução para ciente de que suas ações têm consequências
um problema interessante? Que valoriza a e que supõem boa capacidade de leitura e de
aprendizagem não apenas por suas conse- tomada de decisão. Esta forma de aprendi-
quências futuras (algo difícil de ser entendido zagem – como se pôde observar – tem todas
por uma criança), mas pelo prazer funcional as características que qualificam uma pessoa
de realizá-la em um contexto de problemas, competente e habilidosa.
tarefas ou desafios que comportam significa- Aprender é muito importante, dentro e fora
ções presentes, atuais, para os alunos? da escola. Qual a diferença entre estes dois
Uma característica de certas formas de ambientes? Na escola, a aprendizagem se re-
aprendizagem é que, em sendo adquiridas, fere a domínios que só ela pode melhor pro-
se estabelecem como hábitos ou padrões ver. São aprendizagens que supõem professo-
condicionados. Funcionam como modos res e gestores, intencionalidade pedagógica,
de respostas que, uma vez adquiridas, nos projeto curricular, materiais e recursos didá-
possibilitam responder de modo pronto, ime- ticos, todo um complexo e caro sistema de
diato aos problemas do cotidiano. Mesmo ensino e avaliação que sustenta e legitima os
que seus processos de formação tenham conhecimentos pelos quais a escola é social-
sido ativos, presentes, pouco a pouco vão mente responsável por sua transmissão e valo-
se tornando habituais. Se estas respostas são rização. Fora da escola, todos estes aspectos
suficientes, tudo bem. Se não, muitas vezes não estão presentes, só o ter de aprender é
temos desistências, desinteresses, ocorrên- que se mantém. Seja por exigências externas
cias de padrões emocionais negativos. Além (dos pais, por exemplo) ou por exigências in-
disso, nelas o interesse é sustentado por ternas (a criança quer brincar ou usar um ob-
consequências (ameaças, reforços) externas jeto e o que já sabe não é suficiente para isso).
que substituem, agora, o prazer funcional da Necessidade constante de aprender combina
própria ação. Fazemos porque é necessário com características de nossa sociedade ­atual:
fazer, porque deve ser feito. tecnológica, consumista, globalizada e in-
Há outras formas de aprendizagem que fluenciada pelo conhecimento científico. São
sempre deverão conservar o sabor e o desafio muitos interesses, problemas, informações,
de seus modos de construção. Sempre terão novidades a serem adquiridos, consumidos.
algo original, novo como forma ou conteúdo, E não basta poder comprar ou possuir uma
que nunca será suficiente repetir ou aplicar tecnologia, é preciso aprender a usá-la e, de
o já conhecido. Não é assim, por exemplo, preferência, a usá-la bem.
em uma situação de jogo? Por mais que seus Como oferecer na escola as bases para
objetivos e regras sejam conhecidos, por mais as aprendizagens fora dela? Como reconhe-
que a estrutura (sistema de normas e valores) cer e assumir que em uma cultura tecnológi-
se mantenha, cada partida tem sua especifici- ca derivada do conhecimento científico, em
dade, tem problemas e desafios cuja resolu- uma sociedade de consumo, globalizada, os

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conhecimentos e seus modos de produção, la fundamental? Por que fazer isto? O que
os valores e suas orientações positivas e ne- se conserva, o que se modifica em relação
gativas, são cada vez mais uma decisão pes- ao que está proposto no dicionário? O que 2727
soal e coletiva ao mesmo tempo? No âmbito se conserva é que uma instituição – a escola
da escola, a aprendizagem é gerida pelos – mantém o direito e a obrigação de legiti-
profissionais da educaçã. Fora dela, trata-se mar o ensino que transmite aos alunos. Este
de uma gestão de pessoas sobre algo, cuja ensino corresponde a competências e habi-
complexidade e importância requerem habili- lidades, não profissionais no sentido estrito,
dades e competências aplicáveis ao contexto mas fundamentais seja para a aprendizagem
profissional, mas igualmente para as formas de uma profissão ou, principalmente, para o
de conduzir a própria vida e suas implicações cuidado da própria vida. Vida cuja natureza
ambientais e coletivas. complexa, interdependente, exige tomadas
O que significa competência? Considere- de decisão e enfrentamentos em contexto de
mos os principais significados propostos no muitas oposições, conflitos, oportunidades
dicionário (Aurélio Eletrônico, por exemplo): diversas ou impedimentos e dificuldades que
1. Faculdade concedida por lei a um fun- se expressam de muitas formas.
cionário, juiz ou tribunal para apreciar Na educação básica, como mencionado,
e julgar pleitos ou questões. as competências a serem desenvolvidas não
2. Qualidade de quem é capaz de apre- são relativas a profissões em sua especificida-
ciar e resolver certo assunto, fazer de- de. Como se viu no dicionário, a significação
terminada coisa; capacidade, habilida- tradicional de competência refere-se à capa-
de, aptidão, idoneidade. cidade ou habilidade de um profissional, le-
3. Oposição, conflito, luta. gitimado por uma instituição, para apreciar,
julgar ou decidir situações que envolvem con-
O significado 1 indica que se trata de um flito, luta, oposição. Por exemplo, uma pessoa
poder atribuído a alguém para fazer julga- que está doente recorre a um médico para ser
mentos, tomar decisões. Destaquemos aqui tratada. Do ponto de vista dos gestores e dos
dois aspectos: competência requer uma ins- professores, ou seja, dos profissionais da edu-
tituição ou órgão com legitimidade para esta cação (ou da aprendizagem), o mesmo acon-
atribuição e que confere ou transfere aos seus tece; espera-se que eles sejam competentes
possuidores um poder para. O significado 2 para cuidar das necessidades fundamentais
qualifica estes poderes em termos de capa- das crianças (aprender a ler e a escrever, etc.),
cidade, habilidade, idoneidade de uma pes- pois nenhuma delas pode fazer isto por si
soa. O significado 3 caracteriza o contexto mesma. Seus recursos são insuficientes e em
(­situações de oposição, conflito ou luta) em caso de conflito relacional, brigas, disputas,
que a competência se aplica. Depreende-se nem sempre podem chegar por si mesmas a
da proposição do dicionário que o melhor uma boa solução destes impasses. Nestes dois
exemplo de competência é aquela que se ve- exemplo, limites para a aprendizagem escolar
rifica, ou que deveria se verificar, no sistema e dificuldades ou problemas relacionais, ges-
jurídico. Depreende-se, também, pelo signi- tores e professores são profissionais qualifica-
ficado 3, que competência se refere a situa- dos, ou devem ser, para transformarem estas
ções nas quais as pessoas envolvidas em uma limitações em oportunidades de construção
situação de conflito ou oposição não podem de conhecimento.
ou não sabem elas mesmas darem conta do Defender no currículo da educação básica
problema, recorrendo à justiça para que se o desenvolvimento de competências e habi-
decida pela melhor solução para o conflito. lidades significa ampliar sua função tradicio-
Como transpor estas significações para o nal – relacionada especificamente ao âmbi-
campo educacional, sobretudo para a esco- to profissional, considerando-as também na

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perspectiva dos alunos, incluindo por isto ­ efinir a ideia principal, desenhar, respeitar,
d
mesmo conhecimentos e valores que envol- consentir, etc. Assim, o aluno, pouco a pouco,
28
28 vem a vida pessoal e social como um todo. vai se tornando uma pessoa habilidosa, que faz
E isto se faz através das disciplinas escolares, bem feito, que tem destreza mental ou física,
dos conteúdos, métodos e recursos necessá- que valoriza, porque aprendeu a fazer bem, a
rios ao ensino das matérias que compõem compreender bem, a viver e conviver bem.
a grade curricular. Trata-se, então, de criar Estamos sonhando? Quem sabe, mas são
situações de aprendizagem organizadas para estes tipos de sonhos que justificam o nosso
desenvolver competências e habilidades no presente como profissionais da educação,
contexto das disciplinas. Nestas situações, que nos dão esperança para um futuro me-
como propusemos, as competências de re- lhor e mais digno para nossos alunos. Que
ferência são as do ENEM e as habilidades os professores do Rio Grande do Sul se sin-
são as que possibilitam aprender os conteú- tam bem qualificados hoje, para esta imensa
dos disciplinares, ou seja, observar, identifi- tarefa de construir em seus alunos as bases
car, comparar, reconhecer, calcular, discutir, para um melhor amanhã!

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A gestão da escola comprometida
com a aprendizagem 29
29
Sonia Balzano e
Sônia Bier

Nos últimos anos, a sociedade brasileira sino médio. O SAERS avalia aprendizagens de
vem tomando consciência da necessidade de séries intermediárias, utilizando a mesma matriz
melhorar a qualidade do ensino oferecido à do SAEB. Embora tenham finalidade diversa,
maioria da população, por meio do fortaleci- essas avaliações tornam-se, em muitos casos,
mento e da qualificação da gestão da escola. referência para as aprendizagens na escola,
A gestão escolar deve mobilizar e articular as desempenhando outro papel além daquele
condições materiais e humanas necessárias à para o qual foram criados.
promoção da efetiva aprendizagem dos alu- Com a intenção de suprir essa lacuna, apre-
nos, tornando-os capazes de enfrentar os de- sentamos às escolas da rede estadual do RS
safios da sociedade do século XXI. estes Referenciais Curriculares que fixam, por
A partir da LDB (art.15), a escola passou a área de conhecimentos e disciplinas, aprendi-
ter maior autonomia nas áreas administrativa, zagens que devem ocorrer em cada momento
pedagógica e financeira, e a sua gestão tor- da educação básica, a partir da 5ª série do en-
nou-se mais complexa, o que passou a exigir sino fundamental, indicando a unidade mínima
da equipe gestora, além de uma visão global, que deve ser comum a uma rede de ensino.
a capacidade de reconhecer que na socieda-
de do conhecimento, a dimensão pedagógica Em consonância com as mais atualizadas
da gestão é a mais importante. Assim, o foco concepções de currículo, este Referencial des-
da gestão passa a ser pedagógico e as di- loca o foco do ensino para a aprendizagem,
mensões administrativa e financeira são meios o que significa organizar o processo educativo
para alcançar as finalidades da educação. para o desenvolvimento de competências bási-
Para responder às exigências da sociedade cas que a sociedade demanda.
do conhecimento, o Movimento Todos pela
Educação estabeleceu 5 metas para a educa-
ção brasileira, que devem ser cumpridas até Por isso, o planejamento das situações de
2022. Entre elas, a de número três prevê que aprendizagem em todas as áreas do conheci-
“todo aluno aprenda o que é adequado à sua mento, respeitadas suas especificidades, tem a
série”. Mas, o que é adequado a cada série? finalidade de levar o aluno a: expressar idéias
Hoje, na rede estadual, cada escola fixa o com clareza, oralmente e por escrito; ana-
que entende ser o adequado. Pois não há re- lisar informações e proposições de forma
ferências que definam as aprendizagens neces- contextualizada; ser capaz de tomar deci-
sárias em cada momento da educação básica, sões e argumentar; e resolver problemas/
o que abre espaço para os livros didáticos fa- conflitos. Essas competências estão previstas
zerem esse papel. Os parâmetros e as diretrizes na LDB em objetivos do ensino fundamental
curriculares nacionais têm caráter geral, não (artigo 32), como “o desenvolvimento da capa-
suprem essa necessidade. Apenas as matrizes cidade de aprender, tendo como meios básicos
de competência das avaliações externas, como o pleno domínio da leitura, da escrita e do cál-
o SAEB e a PROVA BRASIL, estabelecem um culo”, e do ensino médio, (artigo 35), em espe-
patamar de aprendizagens a serem atingidas cial, “a preparação básica para o trabalho e a
ao final da 4ª série/5º ano e da 8ª série/9º cidadania do educando, para continuar apren-
ano do ensino fundamental e do 3º ano do en- dendo, de modo a ser capaz de se adaptar com

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flexibilidade a novas condições de ocupação Para isso, em cada área do conhecimento,
ou aperfeiçoamento posteriores”. nível e série, são propostas ações de interven-
30
30 ção pedagógica com foco no desenvolvimen-
to de competências gerais e habilidades es-
Orientados por este Referencial Curricular, a pecíficas que, no seu conjunto, estabelecem
proposta pedagógica da escola, os planos de es- as aprendizagens básicas para os alunos do
tudo e os planos de trabalho de cada professor, ensino fundamental e médio.
terão que responder à demanda de construção de
uma escola capaz de superar uma concepção tra- A proposta pedagógica
dicional de educação apoiada na memorização e o Referencial Curricular
de fatos, fórmulas e informações.
Para compreender o significado e a respon-
sabilidade da implantação do Referencial Cur-
A escola interativa que se idealiza de- ricular nas escolas da rede estadual, é preciso
verá promover o desenvolvimento da ca- conhecer o tamanho da mudança que deverá
pacidade de aprender e a autonomia inte- ocorrer. Com essa finalidade, é apresentado
lectual dos alunos, por meio de estratégias um quadro comparativo de alguns aspectos da
pedagógicas adequadas, ações efetivas de escola que se tem com a escola que se deve
interdisciplinaridade e de contextualização construir, sem ignorar que cada escola é uma
do conhecimento que se tornam aqui prin- realidade e os esforços para a mudança serão
cípios organizadores. de diferentes dimensões.

Escola de século XIX e XX Escola do Século XXI


Princípios Direito ao ensino Direito de aprender
Conteúdo Um fim em si mesmo Um meio para desenvolver competências e ha-
bilidades
Currículo Fragmentado por disciplinas Interdisciplinar e contextualizado
Privilegia a memória e a Construção e sistematização de conceitos ­em
padronização rede, articulado com processos de aprendizagem
Linear e estático Organizado por áreas do conhecimento, uni-
dades temáticas e conjunto de competências

Metodologia Centrada no ensino Centrada na aprendizagem


Transmissão e recepção de Construção do conhecimento orientado pelo
conhecimento professor
Atividades rotineiras e padronizadas Atividades diversificadas com foco no desenvol-
vimento de habilidades e competências
Livro didático como norteador do Livro como recurso didático e a tecnologia
currículo educacional
Apoio ao ensino Apoio à aprendizagem
Professor Transmissor de informação Orientador e mediador
Resistência à mudança Aberto às mudanças legais e pedagógicas

Aluno Passivo Protagonista e ativo


Gestão Centralizada com foco no Democrática e participativa com predominân-
administrativo e burocrático cia da dimensão pedagógica que tem o aluno
e a aprendizagem como foco
Espaço e Tempo Sala de Aula/Aula Diversificado e flexível

Fonte: Educação Escolar Brasileira: O que trouxemos do século XX ?, Guiomar Namo de Mello, 2004, com adaptações.

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A concretização dessa mudança é desafio Interdisciplinaridade e
às escolas públicas estaduais do Rio Grande contextualização do currículo
do Sul, que deve ser enfrentado a partir da 31
31
publicação deste Referencial Curricular. Como se observa no quadro comparativo,
Uma das primeiras tarefas da escola, ao contrário da escola tradicional, organiza-
após conhecer os Referenciais, é a revisão da por disciplinas, que privilegiava a memória
da sua proposta pedagógica. Essa tarefa se em detrimento da compreensão de conceitos,
impõe como um processo de reconstrução a escola contemporânea visa a construção
coletiva, liderado pela equipe gestora, da de aprendizagens significativas, mais perma-
qual devem participar todos os professores nentes. Esta escola, organizada por áreas do
e também representantes dos segmentos conhecimento e que tem por finalidade o de-
da comunidade escolar. Para isso, é neces- senvolvimento de competências e habilidades,
sário considerar alguns pressupostos basi- rompe o isolamento das disciplinas, e propõe
lares da proposta: um trabalho interdisciplinar, “numa outra con-
cepção de divisão do saber, marcada pela
• O aluno como sujeito de sua apren- interdependência, interação e comunicação
dizagem. entre as disciplinas voltadas para a integra-
• A construção do conhecimento decor- ção do conhecimento em áreas significativas”
re de processo progressivo de apren- (PORTELA e ATTA, 2001, p. 101).
dizagem.
• A superação da fragmentação do co-
nhecimento é estimulada por meio da A interdisciplinaridade começa pelo planeja-
interdisciplinaridade. mento conjunto, por área do conhecimento, e se
• A contextualização do conhecimento se concretiza pela cooperação entre as disciplinas.
dá a partir das vivências e experiências
do cotidiano do aluno. Essa cooperação ocorre a partir de uni-
• A organização das atividades escolares
dades temáticas e conceitos estruturantes
tem como objetivo a motivação e mo-
comuns, que mobilizam diferentes conhe-
bilização dos alunos para o desejo de
cimentos escolares e/ou saberes oriundos
conhecer, descobrir e realizar, estimu-
de experiências pessoais dos alunos, para
lando o aprender a aprender.
• O respeito às diferenças dos alunos se reconstituição ou construção do objeto ou
faz por meio de trabalho diversificado tema em estudo. A partir dessa premissa,
que tem a equidade como princípio o plano de trabalho do professor não deve
educativo. ser elaborado individualmente. Deve ser o
• O estímulo à autonomia e o incentivo resultado da construção coletiva pela equi-
ao trabalho em equipe e à aprendiza- pe de professores de determinada área do
gem cooperativa estão presentes na conhecimento.
metodologia sugerida. Por sua vez, a contextualização dos conhe-
cimentos precisa levar em conta a realida-
de e as experiências de vida do aluno e o
Duas questões se impõem como funda- que é relevante em relação aos conteúdos
mentais para efetivar essa mudança: a capa- escolares. A primeira é um elemento natu-
cidade da escola de concretizar na prática os ral de mobilização cognitiva, afetiva e de
princípios de interdisciplinaridade e de con- inclusão do aluno. A segunda deve ser um
textualização do currículo e a organização e elemento motivador para que o aluno se
aproveitamento do tempo escolar. constitua protagonista do seu processo de
aprendizagem. Isso ocorre quando as es-

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tratégias didáticas utilizadas pelo professor recer 705/97), se comparado com o ­período
são capazes de despertar a curiosidade, o diário, de em média seis horas de aula, da
32
32 prazer da descoberta e a satisfação do alu- maioria dos países da América Latina, é um
no na solução de problemas. tempo muito reduzido.
Embora a metodologia de projetos seja
a forma mais indicada para desenvolver os Embora a permanência na escola, por si só
princípios de interdisciplinaridade e de con- não garanta a aprendizagem, a organização e
textualização do currículo, é preciso garantir o bom aproveitamento do tempo são elemen-
que estes dois princípios estejam sempre pre- tos fundamentais para o sucesso do aluno.
sentes no cotidiano da sala de aula. No re-
ferencial curricular de cada área do conheci-
mento, o professor encontrará subsídios para Já existem estudos que indicam estreita
planejar a intervenção didática adequada a relação entre o desempenho e o tempo de
esses princípios. trabalho pedagógico efetivo necessário ao
Outro aspecto fundamental à gestão da desenvolvimento das competências básicas.
aprendizagem refere-se à utilização do tempo O aumento do tempo de permanência de
na escola. Por isso, esse tema precisa ser efe- professores e alunos na escola é uma meta
tivamente discutido pela comunidade escolar, de qualificação da aprendizagem, que os
para garantir as condições necessárias a imple- gestores educacionais e as equipes escola-
mentação e apropriação do novo Referencial res precisam alcançar. A ampliação desse
Curricular na proposta pedagógica da escola. tempo escolar é um compromisso que o Rio
Grande do Sul e o Brasil devem assumir.
Organização do tempo escolar Por isso, entre as condições necessárias
para a implementação do presente Referen-
A forma como o tempo escolar é organizado cial Curricular está, sem dúvida, o horário
reflete a concepção curricular e metodológica escolar e seu aproveitamento. Assim, suge-
adotada pela escola. O uso efetivo do tempo, rem-se alternativas de distribuição da carga
a escolha das unidades temáticas significativas horária semanal, no currículo dos ensinos
para os alunos e a oportunidade de trocas e fundamental e médio, por áreas do conhe-
interações são características de escolas efica- cimento, uma com uma carga horária de 25
zes. Ninguém duvida que é preciso tempo para horas-aula semanais e outra com 30 horas-
aprender, bem como para o aluno desenvol- aula por semana.
ver competências relativas à organização e ao A proposta de distribuição de maior número
controle de seu próprio tempo. de aulas para Língua Portuguesa e Matemáti-
Pesquisas realizadas na última década ca justifica-se por serem componentes funda-
no Brasil1, indicam que as escolas de ensino mentais para a compreensão e sistematização
fundamental funcionam em um tempo menor dos conhecimentos do conjunto das áreas do
que o mínimo previsto na LDB, isto é, menos currículo. Além disso, concorrem originalmen-
de 4 horas letivas diárias e consequentemen- te para o desenvolvimento das competências
te em menos de 800 horas anuais em 200 transversais básicas de leitura, elaboração de
dias. No RS, escolas da rede estadual traba- texto e resolução de problemas, que orientam
lham quatro horas letivas diárias nos anos este Referencial Curricular.
finais do ensino fundamental, incluído o re- Nessas alternativas, com distribuição da
creio, o que, embora aceito pelas normas do carga horária por área do conhecimento,
Conselho Estadual de Educação – CEED (Pa- excetuam-se alguns componentes, como é o

1
Portela ´et alii´, 1997 e 1998; Fuller ´et alii´, 1999; Santiago, 1990 p. 47-60.

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caso da Matemática, que é ao mesmo tempo des, devem ser tratadas de forma disciplinar.
área e disciplina, das Ciências, que no ensino Além da distribuição da carga horária en-
fundamental é uma síntese da área, e da Arte tre as áreas do conhecimento, a organização 3333
e Educação Física, que, por suas especificida- do horário escolar deve orientar-se a partir

Sugestão 1 - Ensino Fundamental - anos finais


Áreas do Conhecimento Distribuição da carga horária – 25 h/sem
Linguagens e Códigos LPL/LEM - 7 h/a Arte e EF - 4 h/a
Matemática 5
Ciências da Natureza 4
Ciências Humanas 4
E.Religioso 1

Sugestão 2 - Ensino Médio


Áreas do Conhecimento Distribuição da carga horária – 25 h/sem
Linguagens e Códigos LPL/LEM - 6 h/a Arte e EF - 3 h/a
Matemática 4
Ciências da Natureza 6
Ciências Humanas 5
E.Religioso 1

Sugestão 3 - Ensino Fundamental - anos finais


Áreas do Conhecimento Distribuição da carga horária – 30 h/sem
Linguagens e Códigos LPL/LEM - 9 h/a Arte e EF - 4 h/a
Matemática 6
Ciências da Natureza 5
Ciências Humanas 5
E.Religioso 1

Sugestão 4 - Ensino Médio


Áreas do Conhecimento Distribuição da carga horária – 30 h/sem
Linguagens e Códigos LPL/LEM - 8 h/a Arte e EF - 4 h/a
Matemática 6
Ciências da Natureza 6
Ciências Humanas 5
E.Religioso 1

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de uma visão pedagógica, o que significa curriculares fora do ambiente escolar, com a
atender também pressupostos de qualidade, participação dos professores da área.
34 como, por exemplo, aspectos que favore-
34
çam o acesso, a permanência e a aprendi- É necessário que a organização e a distribui-
zagem dos alunos. Para isso, a distribuição ção do tempo escolar possibilitem o encontro pe-
dos componentes do currículo deve atender riódico dos docentes na escola nas suas horas de
condições que concorram para a participa- atividades “para estudos, planejamento e avalia-
ção ativa dos alunos. ção” (LDB, artigo 67, V).
A experiência docente nos mostra que a
aprendizagem de conceitos complexos ocorre
de modo mais efetivo nos primeiros períodos Como sugestão, apresenta-se (p. 33) uma
de aula, em que o nível de atenção dos alu- proposta de horário semanal, que viabiliza o
nos é maior. Assim, componentes que exigem encontro sistemático dos professores de uma
maior concentração devem preferencialmente mesma área do currículo, no mínimo, uma vez
constar dos primeiros períodos do turno esco- por semana. Nela, as horas-atividades dos pro-
lar, como é o caso da matemática. Ao con- fessores são previstas em um mesmo dia da se-
trário, componentes que originalmente de- mana, quando serão realizadas as reuniões se-
senvolvem atividades mais lúdicas, motoras, manais de trabalho por área do conhecimento.
artísticas, podem ser oferecidos em horários É indiscutível a importância das horas-ati-
de final de turno. Obviamente, a carga horá- vidades na jornada de trabalho dos docentes.
ria semanal deve ser distribuida com base no Por exemplo, para tornar efetiva a sua parti-
princípio de equidade entre as turmas. cipação na elaboração, acompanhamento e
Outra questão a considerar refere-se à utili- avaliação da proposta pedagógica da escola.
zação e ao aproveitamento do tempo curricu- Além disso, para a integração dos professo-
lar, pois é comprovado que o melhor aprovei- res entre si e deles com a comunidade esco-
tamento do tempo reduz as taxas de evasão, a lar, faz-se necessário esse tempo extraclasse,
indisciplina e os conflitos no recreio e em ou- no qual poderão ser realizadas reuniões com
tros espaços. Uma escola com planejamento pais, sessões de estudo e principalmente reu-
do uso do espaço e do tempo gera atitudes de niões de planejamento coletivo.
responsabilidade e compromisso de alunos e Para um ensino de qualidade, toda aula
professores que, por exemplo, ao sinal de tér- ministrada pressupõe planejamento e ava-
mino do recreio ou de um período, organizam- liação, o que exige do professor um tempo
se imediatamente para o início da próxima individual ou coletivo remunerado, incluído
atividade. Com esta organização, em geral, na jornada de trabalho. De acordo com essa
o clima escolar melhora, professores e alunos concepção, é que a Secretaria de Estado
desenvolvem maior proximidade, o ambien- da Educação implantou, em 2008, 20% de
te torna-se mais tranquilo e agradável, o que horas-atividades para todos os professores
concorre para a melhoria no rendimento dos contratados e, para os efetivos convocados,
alunos, em especial daqueles com baixo apro- a complementação das horas de atividades
veitamento e dificuldade de aprendizagem. em relação ao total de horas de trabalho,
Para possibilitar a realização de trabalho reconhecendo que, além das aulas, a prepa-
interdisciplinar, as aulas das disciplinas de ração/planejamento e avaliação são tarefas
determinada área do conhecimento devem inerentes à função docente.
ocorrer nos mesmos dias da semana. Essa Além disso, a hora-atividade na jornada
medida favorece também o uso dos recursos do professor é condição para o desenvol-
e dos ambientes de apoio pedagógico em vimento de programas de formação conti-
conjunto e o desenvolvimento de atividades nuada em serviço. Esses programas corres-

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pondem desde as ações internas da escola, ser realizadas reuniões, oficinas pedagógi-
desenvolvidas por suas próprias equipes, cas, planejamento e troca de experiências
até aquelas promovidas pela SE/CRE, en- entre professores da mesma escola, de mais 3535
volvendo toda ou parte da rede de ensino. de uma unidade escolar, e entre os mais no-
Nas horas-atividades dos professores devem vos e os mais experientes.

Horário escolar semanal


Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
Linguagens Linguagens Ciências da
Matemática Matemática
e Códigos e Códigos Natureza
Ciências
Humanas
Linguagens Ciências Linguagens
Matemática
e Códigos Humanas e Códigos
Ciências da
Natureza
Linguagens Ensino
e Códigos Religioso

Horário de reúniões semanais por área


Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
Reunião
Ciências Reunião
Humanas e Linguagens
Reunião Ensino Religioso e Códigos
Ciências da
Natureza

Reunião
Matemática

Considerações finais

A implementação do Referencial Curricu- e outras instituições, pois a apropriação do
lar na rede estadual de ensino é uma tarefa Referencial Curricular pela equipe gestora,
desafiadora que não pode ser de responsa- docentes e demais membros da comunidade
bilidade exclusiva da escola. Exige a cons- escolar, deve ser processual e sistemática.
tituição de uma rede de cooperação entre Nesta perspectiva, a SE disponibiliza-
escolas e CREs, Secretaria da Educação (SE) rá espaço virtual no seu site para apoio

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­ edagógico e divulgação de práticas docentes
p Assim, será possível fazer, de modo mais se-
exitosas. A CRE deverá assessorar o processo guro, a transição entre a escola voltada para a
36
36 de estudo do Referencial, a revisão da proposta memorização de conteúdos para a escola inte-
pedagógica, dos planos de ­estudos e dos pla- rativa, que atende aos princípios da interdiscipli-
nos de trabalho dos professores, viabilizando e naridade e contextualização do currículo no de-
otimizando as orientações dos Referenciais. senvolvimento de competências e habilidades.
Para complementar a formação dos profes- Cumpre reafirmar que a essência do traba-
sores, as Instituições de Ensino Superior (IES) lho da escola é o ensino e a aprendizagem.
da região poderão ser chamadas a integrar
essa rede, dando continuidade, em sintonia
com o Referencial Curricular, à formação ini- A autonomia da escola será tão ou mais
ciada no curso Lições do Rio Grande que visa efetiva, na medida em que reconhecer o seu
a capacitação dos professores, de todas as papel social, tiver clareza de seus fins e que
áreas e disciplinas das séries finais do ensino seus professores dominem os conhecimentos
fundamental e ensino médio, para implemen- e a metodologia da sua área de atuação, e,
tar o currículo escolar com foco no desenvol- principalmente, que assumam o compromisso
vimento de competências e habilidades. de que cada aluno aprenda o que é adequado
À equipe diretiva da escola, cabe garantir para a sua série, conforme a meta do Movi-
as condições para que essas ações se efeti- mento Todos pela Educação.
vem, a partir:
• da divulgação do Referencial Curricular à
comunidade escolar; Para concluir, cabe referir Guiomar Namo
• do planejamento das reuniões pedagógi- de Mello (2004), quando diz: “As normas,
cas, envolvendo todos os professores; vale lembrar, não mudam a realidade da
• da implementação de medidas administra- educação. Elas apenas criam as condições
tivo-pedagógicas, que visam a melhoria da para que as mudanças sejam feitas pelos
qualidade do ensino e da aprendizagem dos únicos protagonistas em condições de fa-
alunos, tais como as sugeridas neste texto. zê-las: as escolas e seus professores.”

Referências
MELLO, Guiomar Namo. Educação Escolar Brasileira: o PORTELLA, Adélia e ATTA, Dilza. Dimensão Peda-
que trouxemos do século XX?. Porto Alegre: Artmed, 2004. gógica da Gestão da Educação. Guia de Consulta
PIMENTA.Selma Garrido. Questões sobre a organização para o programa de Apoio aos Secretários Munici-
do trabalho na escola. Disponínel em www.srmarioco- pais de Educação – PRASEM II. Brasília: FUNDES-
vas.sp.gov.br acesso em 19 julho 2009. COLA/MEC, 1999, p. 77-114.

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Caracterização da área de
Ciências Humanas e suas Tecnologias 37
37

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação bilizados na resolução de problemas com-


Nacional1 estabelece como finalidades da plexos, que ocorrem em sociedade e no
educação básica: o pleno desenvolvimento mundo em transformação, a partir da pers-
do educando, seu preparo para o exercício da pectiva do desenvolvimento da autonomia,
cidadania e sua qualificação para o trabalho; dos valores, da criatividade e do pensamen-
o aprimoramento como pessoa humana, in- to crítico.
cluindo a formação ética e o desenvolvimen- Um ensino que busca esses objetivos re-
to da autonomia intelectual e do pensamento quer mais do que reproduzir dados e de-
crítico; e a compreensão dos fundamentos nominar classificações, já que formar para
científico-tecnológicos dos processos produ- o exercício da cidadania “significa saber se
tivos. Portanto, a educação básica objetiva informar, se comunicar, argumentar, compre-
não apenas a qualificação para o trabalho, ender e agir, enfrentar problemas de qual-
mas também o aprimoramento do educando quer natureza, participar socialmente, de
como ser humano, sua formação ética, o de- forma prática e solidária, ser capaz de ela-
senvolvimento de sua autonomia intelectual borar críticas ou propostas e, especialmente,
e de seu pensamento crítico. Tais finalidades adquirir uma atitude de permanente apren-
são explicitadas também nas Diretrizes Cur- dizado” (PCN+, 2002, p. 9). Por essas ra-
riculares Nacionais do ensino médio (Dire- zões, o processo de ensino-aprendizagem
trizes Curriculares Nacionais para o ensino deve ter como foco o desenvolvimento de
médio PARECER CEB 15/98, aprovado em competências e não o acúmulo de informa-
1/6/98, Processo 23001.000309/97-46), ções. Além disso, deve estar inserido nos
através de três princípios: a estética da sen- contextos culturais, éticos e sociais nos quais
sibilidade, que visa superar a padronização o aluno se desenvolve, e não ficar restrito a
e estimula a criatividade; a política da igual- um repertório de textos abstratos e formula-
dade, que busca desenvolver sujeitos que ções fechadas.
pratiquem a igualdade, a justiça e o respeito O presente documento refere-se à educa-
ao bem comum; e a ética da identidade, que ção básica de modo geral, não faz distinção
visa a constituição de sujeitos responsáveis e às especificidades de ensino fundamental e
solidários, compromissados com a inserção, médio, pois entende que as competências
pautada em valores, em seu tempo e em seu aqui propostas são as mesmas, distinguin-
espaço. do-se em uma e outra modalidade pelo
A contribuição que as disciplinas de His- grau de aprofundamento e complexidade
tória, Geografia, Filosofia e Sociolo- que podem adquirir, conforme as observa-
gia, que constituem a área de Ciências ções do professor relativas a seus alunos,
Humanas e suas Tecnologias têm na efetiva- levando em consideração como aprendem
ção desses princípios, decorre dos conceitos nas diferentes fases do processo de constru-
e competências cujo desenvolvimento elas ção de conhecimento.
propiciam. Com efeito, o objetivo dessas Se a educação básica é para a vida e para
disciplinas é oportunizar conhecimentos, a cidadania, a qualidade do conhecimento
competências e habilidades que serão mo- tem de ser determinada por sua relevância

1
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

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para a vida presente e futura, além dos limites tunizar conhecimentos e competências que
da escola. A competência é um guia melhor despertem a autoconsciência, a compreen-
38
38 para educar para a vida do que os conteúdos são e a responsabilidade individual, a fim de
isoladamente, pois a velocidade das mudan- promover a emancipação e a autonomia dos
ças pode tornar rapidamente desatualizadas jovens em formação.
muitas informações. Já a competência, uma Em outras palavras, o estudo do objeto
vez adquirida, possibilita o enfrentamento de central das Ciências Humanas mobiliza con-
situações inéditas com autonomia e profici- ceitos, competências e habilidades que bus-
ência, e viabiliza a aprendizagem de forma cam entender como o mundo funciona, para
continuada ao longo de toda a vida (infor- que nele seja possível operar com competên-
mação não é conhecimento). cia e responsabilidade.
A partir dessa visão, as disciplinas da área
de Ciências Humanas e suas Tecnologias2 b) Conceitos estruturantes
compartilham um objeto central, competên-
cias, conceitos e situações de aprendizagem, Os conceitos estruturantes permeiam
que estabelecem uma articulação didático- transversalmente a Geografia, a História, a
pedagógica interna. É disso que trata esta Sociologia e a Filosofia. Por meio deles, de-
seção dedicada aos referenciais de área: as fine-se a perspectiva unitária adotada pela
diretrizes discutidas aqui terão um papel nor- área sobre o seu objeto de estudo para toda
teador para os referenciais de cada uma das a educação básica (séries finais dos ensinos
disciplinas. fundamental e médio).
São compartilhados, de modo explícito
a) O objeto central da área ou implícito, pelas disciplinas da área, no
de Ciências Humanas sentido de promover uma ação interdiscipli-
nar a serviço do desenvolvimento de com-
Como sintetizam os PCN+, o objeto cen- petências gerais. Estruturar uma área por
tral da área de Ciências Humanas é o estudo meio de conceitos é afirmar que os mesmos
das ações e das elaborações intelectuais que são importantes para compreender a razão
os seres humanos constroem no âmbito das da existência da área e, assim, sinalizar aos
relações que travam entre si3. professores que devem voltar-se constante-
A expressão “Ciências Humanas”4 refere- mente a eles para realizar seus planejamen-
se àqueles saberes que têm o próprio ser tos.
humano, suas ações e práxis social como Para o estudo do objeto central das Ciên-
objeto, tomando suas valorações, visões de cias Humanas – as ações e elaborações inte-
mundo e instituições como fenômenos dota- lectuais dos seres humanos – fazem-se neces-
dos de sentido e significação. Portanto, nada sários os seguintes conceitos estruturantes6:
mais relevante, num mundo caracterizado • Relações Sociais: As ações e elaborações
pela complexidade e fluidez5, do que opor- intelectuais dos seres humanos se dão

2
A presença das tecnologias na área de Ciências Humanas aparece, nos PCN (1997), a partir de diversos vieses: a) tomada como fenômeno social,
remetendo ao seu uso e às reflexões que sobre ela fazem as outras três áreas do conhecimento (Linguagens, Ciências Naturais e Matemática); b)
tomadas como construções intelectuais específicas da área, referidas mais diretamente ao plano das teorias; c) com respeito ao uso que as Ciências
Humanas fazem de tecnologias originárias de outros campos do conhecimento (como os satélites na cartografia ou o vídeo na antropologia); e, d) por
último, como reflexão sobre as relações entre a tecnologia e a totalidade cultural, debatendo e questionando seu papel nos processos econômicos,
nas ciências e seu impacto no mundo da vida.
3
PCN+, 2002: 24.
4
As Ciências Humanas compreendidas em sentido lato, incluindo a Filosofia.
5
Conferir, por exemplo, BAUMAN, Zygmunt. A Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. Nessa obra, o sociólogo apresenta o
conceito de fluidez como uma metáfora para o atual estágio da era moderna ou pós-moderna, no qual os padrões, regras e códigos não são pontos
estáveis de orientação, mas estão em constante transformação.
6
Esta definição dos conceitos estruturadores das Ciências Humanas toma como orientação para toda a educação básica (séries finais do ensino
fundamental e ensino médio) os estudos realizados pelos PCN+ da área. No entanto, fez-se necessário o acréscimo dos conceitos de “espaço” e de
“tempo”, por serem duas representações do real essenciais para a definição do objeto geral da área.

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sempre num espaço social. Uma socieda- entretenimento. Sem a cultura não sería-
de é um sistema de inter-relações que vin- mos humanos em sentido pleno.
culam os indivíduos entre si. Consequen- • Identidade: As identidades que os sujei- 3939
temente, o conceito de relações sociais é tos assumem nas práticas sociais não são
estruturante, já que é necessário para que estabelecidas a priori, mas construídas/re-
se possa refletir sobre os seres humanos construídas e negociadas a cada momen-
e suas ações, na perspectiva da área de to na interação. Intimamente relacionadas
Ciências Humanas e suas Tecnologias. ao conceito de identidade estão as noções
• Dominação: A existência de variadas for- de pertencimento e de diferença: referir-se
mas de dominação – políticas, econômicas, à identidade social de alguém é referir-se
culturais, simbólicas, bem como de gênero, às suas categorias de pertencimento. Se os
de geração e de etnia – é uma constatação participantes negociam traços de uma de-
básica a respeito das relações sociais. Por- terminada identidade social, diz-se que eles
tanto, não se pode estudar o ser humano, negociam características que os tornam
nas diversas perspectivas disciplinares, sem membros de um determinado grupo. A
operar com este conceito estruturante. identidade é um conceito que fundamenta
• Poder: O exercício do poder é um ele- as diversidades do mundo dito globalizado.
mento estruturante das ações e elabora- • Trabalho: O trabalho é um fator defi-
ções intelectuais dos seres humanos, em nidor do ser do homem, já que gera as
contextos onde os conhecimentos não se condições reais de sua possibilidade de
dão de maneira desinteressada. A constru- existência material. Além disso, trabalho
ção desse conceito está compreendida em é um conceito histórico. As formas como
todas as disciplinas da área. Ler os acon- os seres humanos se organizam para pro-
tecimentos sociais de forma ampla e inter- duzir diferem em cada época. Assim, no
pretativa é reconhecer os tipos de poderes mundo moderno, dizer que o trabalho é
e dominações que aí estão implicados. assalariado, acrescentando-lhe assim um
• Ética: As questões éticas estão por trás de qualitativo, é dizer o essencial do trabalho
muitas decisões do cotidiano, seja no mer- num certo tempo e lugar.
cado de trabalho, na política ou nas rela- • Espaço: O espaço corresponde a um sis-
ções pessoais. A ética tem uma dimensão tema de acontecimentos constituídos pe-
cognitiva, já que a moral é um objeto de las ações dos homens sobre os elementos
conhecimento social que pode ser dividido naturais, sociais e econômicos. O espaço
em três grandes classes: as regras, os prin- é constantemente reconstruído, portanto,
cípios e os valores. Mas também tem uma é um conjunto de relações dinâmicas. Ler
dimensão afetiva, pois a ação moral requer e interpretar os signos que compõem os
fatores motivacionais que correspondem ao mapas e espaços geográficos é uma for-
querer fazer. Ambas as dimensões precisam ma de espacializar o conhecimento, o que
ser contempladas no ensino da área de Ci- implica compreender e aplicar o conceito
ências Humanas e suas Tecnologias. de espaço em diferentes escalas, desde o
• Cultura: Todas as formas de manifestação lugar próximo até o mundo globalizado,
simbólica e de comunicação constituem a reconhecendo a interpretação das paisa-
cultura, bem como os hábitos e ritos de gens, dos lugares, dos territórios e territo-
determinada comunidade. Nessa con- rialidades. É importante que os educandos
cepção, cultura inclui normas de vida dos possam observar e interpretar eventos que
membros de uma sociedade e de seus gru- compõem as ações acontecidas em deter-
pos, modo de vestir, costumes matrimo- minados espaços. Isso possibilita compre-
niais e vida familiar, formas de trabalho, ender o mundo globalizado em diferentes
cerimônias religiosas, assim como lazer e aspectos: ambientais, as relações de tra-

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balho, a paisagem como materialização com processos, ritmos e durações diferen-
de diferentes tempos históricos, incluindo ciados. Para Braudel, os múltiplos tempos
40
40 o tempo cotidiano, entre outros. A área de da história não são tempos individuais, mas
Ciências Humanas e suas Tecnologias bus- sociais e coletivos, plurais e diversos. Diz
ca relacionar eventos mundializados com que as durações se medem dentro de um
eventos do lugar, construindo o conheci- registro unitário e global, o marco tempo-
mento geográfico em diferentes escalas. ral, utilizado como simples registro de dife-
O espaço, portanto, constitui um elemento rentes temporalidades sociais e históricas, e
ativo na organização social, pois atua como não mais como uma folha em branco, em
produtor e produto. A interpretação dessa que se inscreviam, de forma linear e homo-
lógica do arranjo espacial e de seus sentidos gênea, os fatos históricos. Nessa proposta,
compõe o campo fundamental das questões os fatos históricos de um tempo imediato
espaciais nas Ciências Humanas e Sociais: – curta duração – precisam ser repensados
por que as coisas estão dispostas no espaço e entendidos a partir de processos e estru-
dessa maneira? Qual é o significado e quais turas mais permanentes, de média e longa
as consequências de tal ordem espacial? duração8. Esse entendimento da história e
O espaço, nas Ciências Humanas, não se do tempo histórico constituído de múltiplas
restringe a uma “visão fisicalista”; ele não é temporalidades e durações diferenciadas
pensado apenas como uma parte do meio requer uma ação didático-pedagógica
ambiente, o cenário ou continente da socie- especial, inovadora, voltada para a tema-
dade, mas como uma estrutura formadora tização das relações espaciotemporais em
criada pela sociedade, produto da transfor- aula. Ou seja, que essas relações possam
mação e experiências sociais7. se tornar objeto de reflexão através da in-
• Tempo: A noção de tempo é fundamen- terdisciplinaridade e da contextualização
tal para compreender a área de Ciências espaciotemporal dos acontecimentos e sa-
Humanas e suas Tecnologias. Implica inse- beres, trabalhados sob a ótica de cada dis-
rir ações e pensamentos no tempo, como ciplina que compõe a área.
processo, entendendo suas mudanças/
transformações, permanências, rupturas I - Competências
e continuidades. É necessário coordenar
as relações de sucessão, simultaneidade, O desenvolvimento de competências é um
duração, espaço e velocidade, que com- objetivo dos processos de ensino-aprendiza-
põem o conceito de tempo, para cons- gem e deve estar presente na intencionalidade
truir o conceito de tempo histórico, que se da ação pedagógica, visando o desenvolvi-
constitui de múltiplas temporalidades coe- mento cognitivo, afetivo e social dos educan-
xistindo no tempo cronológico. O tempo dos. A competência se caracteriza como a
sobre o qual esta área se debruça é o tem- capacidade de mobilizar conhecimentos, va-
po histórico, que não é nem homogêneo e lores, decisões para agir de modo pertinente
nem linear, mas comporta durações e rit- numa determinada situação-problema. Ou
mos diferenciados. Isso significa que, para seja, competência requer o saber fazer e não
que o aluno construa o conceito de tempo apenas o acúmulo de informações. Aprende-
histórico, precisa entender que organiza- se fazendo na situação que requer esse fazer
ções sociais de diferentes grupos humanos determinado. Para desenvolver competências,
podem conviver com características pró- é preciso ir além da memorização de concei-
prias em um mesmo tempo cronológico, tos abstratos e fora de contexto. É preciso fa-

7
SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.
8
ROJAS, Carlos Antonio A. Tempo, Duração e Civilização. Percursos braudelianos. SP: Cortez, 2001.

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vorecer que aprendam como, quando e para tes olhares sobre o mundo.
que serve o conhecimento. Nesse sentido, o A contribuição dessa área no desenvolvi-
professor deve propor situações pedagógi- mento da competência leitora decorre da sua 4141
cas que visem à aprendizagem e à aplicação própria definição. Os fatos sociais e históricos,
do que os alunos aprenderam, através de si- as ações e criações intelectuais dos povos, suas
tuações-problema, análise de casos, debates, teorias e culturas, caracterizam-se por serem
projetos de pesquisa, entre outras. fenômenos abertos à compreensão, provocan-
do sua leitura e releitura, e é de responsabili-
A - Competências transversais dade das disciplinas da área criar oportunida-
Nos Referenciais Curriculares da educação des para a prática da leitura com atividades de
básica do Rio Grande do Sul, três competên- compreensão de textos escritos, imagéticos ou
cias transversais são adotadas: ler, escrever musicais, de variadas extensões.
e resolver problemas. Na área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias, as três compe- • Escrever
tências são definidas do modo que segue: Uma escola que não se restrinja à repro-
dução de conhecimentos precisa exercitar
• Ler uma prática sistemática da leitura associada
Ensinar a ler e formar leitores é função ao diálogo, à oralidade e à escrita. Assim, as
essencial da educação básica. Não apenas atividades de ler e escrever não podem ser
pelos ganhos cognitivos que decorrem da lei- transformadas em ritual no qual o educando
tura, mas porque a compreensão de textos é apenas reproduza o que leu, sem possibilida-
uma habilidade pressuposta no processo de de de discutir ou criticar, mas precisa desen-
aprendizagem em geral. Na era do conheci- volver a competência de produzir sua visão de
mento, onde a necessidade de aprendizagem mundo e de comunicá-la ao mundo também
é contínua por toda a vida, esta competência através da escrita. Nesse sentido, o papel do
transversal é preocupação de todas as áreas. professor de Filosofia, Geografia, História ou
A capacidade leitora envolve a constru- Sociologia é ser provocador e mediador da
ção, por parte do sujeito, de uma represen- leitura, da oralidade e da escrita, através de
tação mental dos objetos que o texto ou os discussões e registros especialmente sobre o
fatos evocam, isto é, um modelo mental, ou conhecimento que se constrói na escola.
imagens mentais, da situação que o texto
descreve. Para que ocorra a compreensão • Resolver problemas
dos significados dos textos, o leitor precisa A resolução de problemas nas Ciências
decodificá-los, analisá-los, num processo in- Humanas busca vincular o trabalho escolar
terativo entre autor, leitor e contexto. Ao com- a aspectos da realidade vivencial do aluno;
preender um texto, o educando mobiliza os constitui-se, ao mesmo tempo, em uma ação
conhecimentos que já tem sobre o mundo e didático-pedagógica e uma competência a
sua capacidade para interpretar as intenções ser desenvolvida9.
comunicativas do escritor, assim como uma Macedo (2008) considera que é um de-
série de capacidades cognitivas e afetivas. A safio aos professores ensinar o conteúdo
competência leitora propicia também a leitu- específico da disciplina e ao mesmo tempo
ra do mundo, uma vez que a interpretação desenvolver as competências, pois não é fá-
dos acontecimentos é reveladora de diferen- cil coordenar as duas demandas. Salienta
9
Como ação didático-pedagógica, propõe tarefas complexas e desafios como forma de incitar os alunos a mobilizarem seus conhecimentos,
habilidades e valores. Trabalhar por projetos é um exemplo de como desenvolver nos alunos um raciocínio voltado para o levantamento de problemas
sociais, específicos da área, em determinado tema, bem como provocá-los a pesquisar e buscar soluções pertinentes. O problema selecionado
deve ser surpreendente e desafiador; instigar a invenção e a criatividade. Como desenvolvimento de competência, exige do aluno que desenvolva
as habilidades de ler, interpretar e organizar dados, levantar possibilidades de ação e solução, escolher um caminho tendo clareza das razões dessa
escolha e avaliar as consequências possíveis de sua ação. Implica o uso de competências e habilidades adquiridas também em outras áreas como
meio para solucionar os problemas propostos, como cálculos, leitura de gráficos e mapas, interpretações para contextualizar e compreender situações
e processos histórico-geográficos problematizados (Castillo, 1998).

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que são demandas complementares e que à conclusão de que nesta área, por ser uma
é necessário mudar a perspectiva, passando discussão de caráter aberto, tudo seja possível
42
42 a considerar os conteúdos como meios ne- e aceitável, que todas as respostas ou solu-
cessários para desenvolver as competências ções para os problemas pesquisados e dis-
(como fim). O autor propõe a resolução de cutidos sejam igualmente válidas. Sempre há
situações-problema como estratégia possí- soluções melhores e piores para um problema
vel para superar essa dificuldade e esse de- ou questão, e isso tanto a partir de critérios
safio: ao mesmo tempo em que o professor técnicos (coerência, rigor) como de critérios
trabalha os conteúdos através da resolução que contenham posições ideológicas e morais
de problemas, também possibilita o desen- (justiça, respeito ao meio ambiente, liberdade,
volvimento da competência de resolver pro- eficácia, rentabilidade, etc.).
blemas. Trata-se de superar uma situação A resolução de problemas na área de
comum ao ensino tradicional que privilegia o Ciências Humanas e suas Tecnologias visa,
conteúdo, cujas aprendizagens são fugazes e portanto, preparar o aluno para tomar de-
logo esquecidas, enquanto que as competên- cisões e enfrentar situações problemáticas
cias adquiridas através dos conteúdos ficam tanto dentro quanto fora da escola. Isso in-
para sempre e poderão ser usadas ao longo clui desenvolver a autonomia como princípio
de diferentes situações e etapas da vida. pedagógico – argumentar, pensar, formu-
Castillo (1998) considera a área das lar hipóteses, fazer escolhas, justificar –, ser
­Ciências Humanas como uma área incomum, crítico e responsável pelo que faz ou pensa
cujos problemas são de difícil definição, dadas (MACEDO, 1999). Inclui ainda a capacida-
as especificidades dos problemas sociais e seus de de aplicar os conhecimentos adquiridos,
processos de solução. Justifica sua posição ar- com propostas de intervenção na realidade,
gumentando que os problemas são de expli- trocando o conteúdo estudado em aula por
cação multicausal, carregam necessariamen- outros, pertinentes e adaptados aos proble-
te opções de valor e são intermediados pelos mas reais da vida em sociedade, tais como
meios de comunicação. desenvolver estratégias para resolver confli-
As dificuldades estão no número de v­ariáveis tos, saber cooperar, saber viver com normas,
e de circunstâncias que intervêm na definição conviver e interagir na diversidade cultural.
de um problema, tornando difícil dizer quais
as mais determinantes. A causalidade múltipla B - Competências gerais da área
ou complexa dos eventos nessa área requer
exame mais detalhado dos fatores causais e Além dessas três competências transversais, a
suas conexões, pois há uma tendência do en- área de Ciências Humanas articula competên-
sino tradicional de trabalhar com causalidade cias gerais relativas a três diferentes eixos: Repre-
linear e cadeia de conexões simples. sentação e Comunicação, Investigação e Com-
Quanto às soluções dos problemas propos- preensão e Contextualização Sociocultural10.
tos: são interpretações e não são neutras do
ponto de vista moral ou ideológico; implicam 1) Eixo representação
necessariamente opções de valor, que come- e comunicação
çam pelo ponto de vista do próprio pesqui-
sador, o que traz importantes consequências; Este eixo relaciona-se com as linguagens,
não há soluções “corretas” para os problemas entendidas como instrumentos de produção de
sociais; a solução precisa levar em conta, sentido para as formulações do intelecto huma-
muitas vezes, outros pontos de vista diferentes no, e faz referências às formas de acesso, or-
dos que foram adotados. Isso não deve levar ganização e sistematização de conhecimentos.
10
Registre-se que os Referenciais Curriculares da Área de Ciências Humanas do Rio Grande do Sul assumem, para toda a educação básica, os três
conjuntos de competências também propostos pelos PCN+, à luz das suas inter-relações com as competências de Ler, Escrever e Resolver Problemas.

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Os PCN+ propõem, para a área de Ciên- 3) Eixo contextualização
cias Humanas e suas Tecnologias, que este sociocultural
eixo se manifeste, nas disciplinas que a com- 43
43
põem, através da competênica de “entender Contextualizar social ou historicamente os
a importância das tecnologias contempo- conhecimentos refere-se à diversidade, por-
râneas de comunicação e informação para tanto, à constituição dos diferentes significados
planejamento, gestão, organização e fortale- que ações e saberes de ordem variada podem
cimento do trabalho de equipe”11. Esta com- assumir em diversos contextos sociais13.
petência oportuniza aos educandos: A transposição do eixo “contextualiza-
(a) processar e comunicar diferentes infor- ção sociocultural” para a área de Ciências
mações e conhecimentos; Humanas e suas Tecnologias, segundo os
(b) desenvolver a habilidade de comunica- PCN+, ocorre no ensino básico através de:
ção (oral, escrita, gráfica, pictórica, etc.); (1) compreender o desenvolvimento da so-
(c) desenvolver atitudes e valores que reco- ciedade como processo de ocupação de es-
nheçam a importância da ação coletiva paços físicos e das relações da vida humana
para a construção do conhecimento; e com a paisagem, em seus desdobramentos
(d) situar-se socialmente, valorizando suas políticos, culturais, econômicos e humanos;
produções e a de outros, enquanto cons- (2) compreender a produção e o papel his-
trução das identidades sociais. tórico das instituições sociais, políticas e eco-
nômicas, associando-as às práticas dos dife-
2) Eixo investigação e rentes grupos e atores sociais, aos princípios
compreensão que regulam a convivência em sociedade,
aos direitos e deveres da cidadania, à justiça
Este eixo relaciona-se com os diferentes e à distribuição dos benefícios econômicos;
procedimentos, métodos, conceitos e conhe- (3) traduzir os conhecimentos sobre a
cimentos que são mobilizados nos processos pessoa, a sociedade, a economia, as práti-
de intervenção no real12. cas sociais e culturais em condutas de inda-
Nele, estão implicadas três competências gação, análise, problematização e protago-
gerais da área de Ciências Humanas: nismo diante de situações novas, problemas
(1) compreender os elementos cognitivos, ou questões da vida pessoal, social, política,
afetivos, sociais e culturais que constituem a econômica e cultural;
identidade própria e a dos outros; (4) entender o impacto das tecnologias
(2) compreender a sociedade, sua gênese e associadas às Ciências Humanas sobre sua
transformação, e os múltiplos fatores que nela vida pessoal, os processos de produção, o
intervêm, como produtos da ação humana; a desenvolvimento do conhecimento e a vida
si mesmo como agente social; e os processos social; e
sociais como orientadores da dinâmica dos di- (5) aplicar as tecnologias das Ciências Hu-
ferentes grupos de indivíduos; e manas e Sociais na escola, no trabalho e em
(3) entender os princípios das tecnologias outros contextos relevantes para sua vida14.
associadas ao conhecimento do indivíduo, da O quadro a seguir apresenta a corre-
sociedade e da cultura, entre os quais os de lação entre essas competências gerais, os
planejamento, organização, gestão, trabalho conceitos estruturantes e as habilidades es-
de equipe, e associá-los aos problemas que pecíficas da área de Ciências Humanas e
se propõe resolver. suas Tecnologias.
11
PCN+, Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, 2002: 28.
12
Conferir a este respeito as definições contidas nos PCNEM, 1999, p. 296.
13
PCNEM, 1999, p. 296.
14
Cf. PCN+, 2002: 30-31.

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ÁREA CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

44 EIXOS DE CONCEITOS HABILIDADES15


44
COMPETÊNCIAS ESTRUTURANTES

Representação e • Relações Sociais - Interpretar historicamente fontes documentais de


comunicação natureza diversa.
• Identidade - Analisar a produção da memória e do espaço
1. Entender a importância geográfico pelas sociedades humanas.
das tecnologias • Ética - Associar as manifestações culturais do presente aos
contemporâneas seus processos históricos.
de comunicação e • Cultura - Comparar pontos de vista expressos em diferentes
informação para fontes sobre um determinado aspecto da cultura.
planejamento, • Trabalho - Valorizar a diversidade do patrimônio cultural
gestão, organização e e artístico, identificando suas manifestações e
fortalecimento do trabalho • Poder representações em diferentes sociedades.
de equipe. - Interpretar diferentes representações do espaço
• Dominação geográfico e dos diferentes aspectos da sociedade.
- Identificar os significados históricos das relações de
• Espaço poder entre as nações.
Investigação e - Analisar os processos de transformação histórica e
compreensão seus determinantes principais.
- Comparar o significado histórico da constituição
1. Compreender os dos diferentes espaços.
elementos cognitivos, - Reconhecer a dinâmica da organização dos
afetivos, sociais e movimentos sociais e a importância da participação
culturais que constituem a da coletividade na transformação da realidade
identidade própria e a dos histórico-geográfica.
outros. - Identificar diferentes representações cartográficas de
um mesmo espaço geográfico.
2. Compreender a - Analisar o papel dos recursos naturais na produção
sociedade, sua gênese do espaço geográfico, relacionando transformações
e transformação, e os naturais e intervenção humana.
múltiplos fatores que - Correlacionar a dinâmica dos fluxos populacionais e
nela intervêm como a organização do espaço geográfico.
produtos da ação - Correlacionar textos analíticos e interpretativos
humana; a si mesmo sobre diferentes processos histórico-geográficos.
como agente social; e os - Confrontar formas de interações culturais,
processos sociais como sociais, econômicas, ambientais, em diferentes
orientadores da dinâmica circunstâncias históricas.
dos diferentes grupos de - Identificar registros em diferentes práticas dos
indivíduos. diferentes grupos sociais no tempo e no espaço.
- Analisar o papel do direito (civil e internacional) na
3. Entender os estruturação e organização das sociedades.
princípios das - Analisar a ação das instituições no enfrentamento
tecnologias associadas de problemas de ordem econômico-social.
ao conhecimento do - Comparar diferentes pontos de vista sobre
indivíduo, da sociedade situações ou fatos de natureza histórico-geográfica,
e da cultura, entre as identificando os pressupostos de cada interpretação
quais as de planejamento, e analisando a validade dos argumentos utilizados.
organização, gestão, - Reconhecer alternativas de intervenção em conflitos
trabalho de equipe, sociais e crises institucionais que respeitem os

15
A base utilizada para a seleção de habilidades é a matriz de competências e habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias, realizada
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP, Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências, Exame Nacional de
Certificação de Competências de Jovens e Adultos – ENCCEJA – 2002.

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EIXOS DE CONCEITOS HABILIDADES
COMPETÊNCIAS ESTRUTURANTES
45
45
e associá-las aos valores humanos e a diversidade sociocultural.
problemas que se propõe - Identificar o papel dos diferentes meios de
resolver. comunicação na construção da cidadania e da
democracia.
- Analisar as conquistas sociais e as transformações
ocorridas nas legislações em diferentes períodos
Contextualização históricos.
sociocultural - Analisar o papel dos valores éticos e morais na
estruturação política das sociedades.
1. Compreender - Relacionar criticamente formas de preservação da
o desenvolvimento memória social.
da sociedade como - Identificar referenciais que possibilitem erradicar
processo de ocupação formas de exclusão social.
de espaços físicos e das - Identificar em diferentes fontes os elementos que
relações da vida humana compõem o espaço geográfico.
com a paisagem, em - Relacionar sociedade e natureza, reconhecendo suas
seus desdobramentos interações na organização do espaço, em diferentes
políticos, econômicos contextos histórico-geográficos.
e sociais. (Redação - Relacionar as implicações socioambientais do uso
sugerida) das tecnologias em diferentes contextos histórico-
geográficos.
2. Compreender a - Discutir ações sobre as relações da sociedade com o
produção e o papel ambiente.
histórico das instituições - Propor formas de atuação para conservação do
sociais, políticas e meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
econômicas, associando- - Reconhecer a importância do trabalho humano, a
as às práticas dos partir da identificação e análise de registros sobre as
diferentes grupos e atores formas de sua organização em diferentes contextos
sociais, aos princípios que histórico-geográficos.
regulam a convivência em - Analisar as formas de circulação da informação, da
sociedade, aos direitos riqueza e dos produtos em diferentes momentos da
e deveres da cidadania, história.
à justiça e à distribuição - Comparar diferentes processos de produção e suas
dos benefícios implicações sociais e espaciais.
econômicos. - Identificar vantagens e desvantagens do
conhecimento técnico e tecnológico produzido pelas
3. Traduzir os diversas sociedades em diferentes circunstâncias
conhecimentos sobre a históricas.
pessoa, a sociedade, a - Reconhecer as diferenças e as transformações que
economia, as práticas determinaram as várias formas de uso e apropriação
sociais e culturais em dos espaços agrário e urbano.
condutas de indagação, - Identificar e interpretar formas de registro das novas
análise, problematização tecnologias na organização do trabalho e da vida
e protagonismo diante social e pessoal.
de situações novas, - Interpretar fatores que permitam explicar o
problemas ou questões impacto das novas tecnologias no processo de
da vida pessoal, social, desterritorialização da produção industrial e
política, econômica e agrícola.
cultural. - Analisar a mundialização da economia e os
processos de interdependência acentuados pelo
4. Entender o impacto desenvolvimento de novas tecnologias.
das tecnologias - Comparar as novas tecnologias e as modificações

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EIXOS DE CONCEITOS HABILIDADES
COMPETÊNCIAS ESTRUTURANTES
46
46
associadas às Ciências nas relações da vida social e no mundo do trabalho.
Humanas sobre sua - Relacionar alternativas para enfrentar situações
vida pessoal, os decorrentes da introdução de novas tecnologias no
processos de produção, setor produtivo e na vida cotidiana, respeitando os
o desenvolvimento do valores humanos e a diversidade sociocultural.
conhecimento e a vida - Identificar os instrumentos para ordenar os eventos
social. históricos, relacionando-os a fatores geográficos,
sociais, econômicos, políticos e culturais.
5. Aplicar as tecnologias - Analisar as interferências ocorridas em diferentes
das Ciências Humanas grupos sociais, considerando as permanências ou
e Sociais na escola, no transformações ocorridas.
trabalho e em outros - Interpretar realidades histórico-geográficas, a partir
contextos relevantes para de conhecimentos sobre economia, as práticas
sua vida. sociais e culturais.
- Confrontar as diferentes escalas espaço/temporais a
partir de realidades históricas e geográficas.
- Posicionar-se criticamente sobre os processos de
transformações políticas, econômicas, culturais e
sociais.

II- Interdisciplinaridade a) Interdisciplinaridade

e contextualização nas A respeito de interdisciplinaridade, docu-


Ciências Humanas mentos oficiais (PCN) apresentam:

A relevância do desenvolvimento de com- “Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade


petências na educação básica exige que a (...) é utilizar os conhecimentos de várias disciplinas
para resolver um problema concreto ou compreen-
aprendizagem seja interdisciplinar e contex- der um determinado fenômeno sob diferentes pontos
tualizada. A compreensão dos sentidos e a de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma
capacidade de relacionar a teoria com a função instrumental. Trata-se de recorrer a um saber
prática em todas as disciplinas do currículo diretamente útil e utilizável para responder às ques-
(artigos 32, 35 e 36 da LDB) são dois marca- tões e aos problemas sociais contemporâneos” (PC-
NEM, 1999: 22).
dores importantes que apontam para o fato
de que o objetivo da educação básica não
é formar “pequenos cientistas ou filósofos”, “Um trabalho interdisciplinar, antes de ga-
dedicados ao conhecimento puro, tal como rantir associação temática entre diferentes dis-
é produzido pela academia, mas um conhe- ciplinas – ação possível, mas não imprescindível
–, deve buscar unidade em termos de prática
cimento em ação, que ganha sentido por sua docente, ou seja, independentemente dos te-
relação com a cultura próxima do aluno. mas/assuntos tratados em cada disciplina isola-
Assim, a interdisciplinaridade e a contex- damente. (...) Em nossa proposta, essa prática
tualização são recursos fundamentais para docente comum está centrada no trabalho per-
realizar a transposição didática, pois conver- manentemente voltado para o desenvolvimen-
to de competências e habilidades, apoiado na
tem o conhecimento acadêmico em objeto associação ensino-pesquisa e no trabalho com
de ensino, selecionam e recortam os conteú- diferentes fontes expressas em diferentes lin-
dos de acordo com a proposta pedagógica. guagens, que comportam diferentes interpreta-
Portanto, para propiciar a aprendizagem de ções sobre temas/assuntos tratados em aula.
Portanto, esses são fatores que dão unidade ao
competências, é preciso identificar os recur- trabalho das diferentes disciplinas, e não a as-
sos didáticos mais relevantes a serem utiliza- sociação das mesmas em torno de temas supos-
dos, contextualizando seus conteúdos. tamente comuns a todas elas” ( PCN+, 2002).

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Logo, na educação básica, é recurso a tornar significativo um conceito da filosofia
ser utilizado para favorecer interconexões en- política de Maquiavel, é importante remeter
tre os conhecimentos através de relações de esse conceito ao contexto social e político 4747
complementaridade, convergência e diver- das repúblicas italianas do Renascimento ou,
gência. O mundo e seus problemas são com- então, ao debate filosófico da época.
plexos, mas o conhecimento que se constrói Num segundo sentido, chamado de socio-
a partir dele não pode ser fragmentado. cultural, contextualizar é tornar o tema próxi-
As atividades interdisciplinares, desde que mo da realidade do aluno, tanto de sua prá-
as condições institucionais o permitam, po- tica social quanto de sua cultura e história.
dem ser também um fator motivador das O trabalho com situações-problema reais da
aprendizagens. Para isso, é preciso selecio- comunidade ou localidade dos educandos é
nar temas ou problemas próximos à vida da um bom exemplo dessa acepção, que exige o
comunidade, relacionados com os aconteci- entendimento dessa situação também em um
mentos do mundo contemporâneo ou presen- contexto mais amplo. Em ambos os casos,
tes nos noticiários, e a eles agregar conheci- o objetivo da contextualização é possibilitar
mentos e desafios como ponto de partida que o aluno vivencie o conhecimento como
para a abertura investigativa, que ultrapasse algo relevante e, portanto, significativo.
o senso comum e os contextos mais imedia-
tos. O objetivo em vista é tornar a aprendiza-
gem significativa para os educandos através III- Estratégias para
da integração das disciplinas, uma vez que o a ação docente
mundo e seus problemas raramente são ape-
nas disciplinares. Para que o aluno desenvolva as compe-
tências esperadas ao final de cada etapa do
b) Contextualização ensino básico na área de Ciências Humanas
e suas Tecnologias, o espaço do trabalho es-
Quando se fala em contextualização, fa- colar precisa ser ocupado por procedimen-
la-se em estratégias necessárias para a cons- tos didáticos orientados para a construção
trução de significados. Literalmente, contex- do encontro entre conceitos e competências.
tualizar é remeter uma referência a um texto, Para tanto, faz-se necessário que a ação do
entendendo que, sem essa remissão, o texto professor se dê em função da provocação e
perde parte substancial de seu significado. mediação dos processos de construção de
Em sala de aula, isso pressupõe que, para conhecimentos e capacidades pelo educan-
tornar os conteúdos disciplinares significati- do. O professor instiga o questionamento, a
vos para os educandos, é preciso que sejam discussão, a pesquisa, isto é, provoca; ele
remetidos aos seus contextos. também intervém constantemente nesse pro-
Os contextos podem ser compreendidos cesso, encaminhando-o na direção dos ob-
pelo menos em dois sentidos. No primeiro jetivos propostos, isto é, faz mediação. Este
sentido, chamado de hermenêutico16, con- documento entende que tais objetivos podem
textualizar é remeter um texto ou um conceito ser alcançados no âmbito de atividades cen-
à obra ou teoria do qual ele faz parte, ao tradas na resolução de problemas.
seu contexto histórico e social e até mesmo Desenvolver competências no aluno impli-
ao contexto biográfico do seu autor. Neste ca também um perfil de professor. Para Meirieu
sentido, contextualizar é dar significado aos (1998, 2005), uma das competências básicas
textos a partir de uma remissão às condições do professor é saber propor boas estratégias
que lhe deram origem. Por exemplo, para de aprendizagem. Isso, conforme o autor, é
16
O termo “hermenêutica” significa que alguma coisa é “tornada compreensível” ou “levada à compreensão”; a hermenêutica é a ciência da
interpretação dos textos.

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saber trabalhar com situações-problema. nas as aquisições cognitivas, mas também as
Por isso, propõe-se que as atividades a competências alcançadas.
48
48 serem formuladas aos alunos sejam con-
textualizadas, interdisciplinares e partam de Conclusão
situações-problema, tais como dilemas, pa-
radoxos, projetos, estudos de caso, pesqui- O objetivo da área é desenvolver a tradu-
sas, saídas de campo, tribunais, assembleias ção do conhecimento das Ciências Humanas
e outras dinâmicas pedagógicas que mobili- em consciências críticas e criativas, capazes
zem competências de uma maneira significa- de gerar respostas adequadas a problemas
tiva. Há, ainda, o uso de seminários, pesqui- atuais e a situações novas. Nesse sentido, é
sas bibliográficas, o uso de música, poesia, tarefa das Ciências Humanas o desenvolvi-
literatura, jornais e filmes para contextualizar mento de competências e habilidades neces-
sárias para o exercício da cidadania, ou seja,
o tema a ser desenvolvido. Atividades com
que possibilitem compreender a sociedade
esse perfil possibilitam o desenvolvimento da
na qual se vive, construir a si próprio como
autonomia dos alunos, mobilizando instru-
agente social, avaliar criticamente o sentido
mentos de análise, conceitos e diferentes es- dos processos sociais, usar as tecnologias as-
quemas de pensamento e competências. sociadas à área de Ciências Humanas e sus-
Outro aspecto a ressaltar é a questão da tentar sua opiniões com base em argumentos
avaliação. Um procedimento avaliativo con- consistentes, que superem o senso comum.
siste no processo regulador das aprendiza- Os aspectos orientadores da área de Ci-
gens, orientador do percurso escolar e cer- ências Humanas e suas Tecnologias são com-
tificador das diversas aquisições realizadas plementados pelos Referenciais específicos
pelos alunos. A avaliação visa à aferição de de cada disciplina, nos quais são apresen-
conhecimentos, competências e habilidades. tados os conceitos estruturadores e as com-
Portanto, precisa ser constituída de atividades petências específicas de História, Geografia,
mediante as quais sejam avaliadas não ape- Filosofia e Sociologia.

Referências INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-


cacionais, Diretoria de Avaliação para Certificação de
BAUMAN, Zygmunt. A Modernidade Líquida. Rio de Competências, Exame Nacional de Certificação de
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sino médio. PCNEM. Brasília: Secretaria de Educação cedo; N. J. Machado; C. D. Allessandrini (Orgs). As
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Volume 3 Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasí- POZO, J. I. (Org). A Solução de Problemas. Aprender a re-
lia: Secretaria de Educação Básica, 2006. solver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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Porto Alegre: Artmed, 1998. razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.

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José Rivair Macedo

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Introdução
O conhecimento histórico é imprescindível cias transversais dos Referenciais Curriculares 5151
para que os indivíduos tomem consciência da Educação Básica do Estado do Rio Gran-
do lugar que ocupam na sociedade, e a re- de do Sul para a Área de Ciências Humanas
flexão crítica sobre as múltiplas relações en- e suas Tecnologias, relacionadas com o Ler,
tre passado e presente deve orientar a prática Escrever e Resolver problemas, vinculan-
didático-pedagógica da disciplina de Histó- do-as aos três eixos fundamentais ou conjun-
ria. Seu principal objetivo no ensino funda- tos de competências que lhe são próprios: o
mental e no ensino médio é a ampliação da da Representação e comunicação; da In-
consciência a respeito da realidade de cada vestigação e compreensão; da Contextu-
indivíduo, a partir do confronto com outras alização sociocultural.
realidades históricas.
O presente documento apresenta diretri-
zes e orientações sobre o saber histórico es- I – A disciplina de História
colar. Seus pressupostos encontram-se nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, do ensino A palavra história pode ser entendida de
fundamental e do ensino médio, e nos Refe- três maneiras diferentes e complementares:
renciais Curriculares da Área de Ciências Hu- 1) como a totalidade do passado vivido, de
manas e suas Tecnologias, da Secretaria de todos os acontecimentos (políticos, sociais,
Educação do Estado do Rio Grande do Sul. econômicos e culturais) ocorridos ao longo
Aqui, a História é tratada em sua especifici- do tempo; 2) como o conhecimento possível
dade, como disciplina escolar, e não como a respeito destas vivências e experiências dos
disciplina acadêmica, e suas preocupações seres humanos, obtido por meio de pesquisa;
dizem respeito aos objetivos, perspectivas e 3) como a reflexão crítica sobre o conheci-
métodos relacionados àquilo que se pode mento do passado e as tendências de estudo
denominar de “cultura escolar”1. dos historiadores.
Parte-se do princípio de que a História, A totalidade do passado é tão ampla que
enquanto “passado vivido”, não se altera nas muito dificilmente poderia ser apreendida.
diferentes séries e ciclos do ensino básico. O Por isso, tanto o saber histórico acadêmico
passado enquanto passado é o mesmo, mas quanto o saber histórico escolar tendem a ser
o que se modifica é a maneira de compreen- seletivos. Resultam de opções teóricas, meto-
der, organizar e interpretar os fatos, contex- dológicas, ou de escolhas pessoais daqueles
tos e processos históricos. A proposta é que que se dedicam ao estudo, à pesquisa e ao
o conhecimento histórico seja organizado a ensino. Por isto é que o conhecimento histó-
partir de conceitos estruturantes. Os conteú- rico está sempre sujeito a revisões e aberto
dos serão selecionados em diferentes graus aos avanços proporcionados por novas in-
de complexidade e profundidade, permitindo terpretações e descobertas. Nas palavras do
que os alunos possam, ao longo do ensino historiador Leandro Karnal:
básico, desenvolver competências e habilida- “Existe o passado. Porém, quem recorta, esco-
des a partir deles. O que se propõe é um gra- lhe, dimensiona e narra este passado é um homem
dativo aprofundamento no tratamento dos do presente. Assim, uma vez produzido, todo texto
conteúdos, assim como nas competências e histórico torna-se ele mesmo objeto de história, pois
passa a representar a visão de um indivíduo sobre o
habilidades a serem desenvolvidas. passado...
Trata-se a seguir de expor as vinculações A representação do passado e do que consi-
do saber histórico escolar com as competên- deramos importante representar é um processo de

1
Para a caracterização do lugar da história ensinada no âmbito da cultura escolar, ver o artigo de Oldimar CARDOSO: “Para uma definição de
Didática da História”. Revista Brasileira de História, vol. 28, nº 55, 2008, p. 153-170.

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constante mudança. Se a memória muda sobre fatos da evolução da humanidade, compreendido
concretos e protagonizados por nós, também muda
para fatos mais amplos. A história está envolvida em
a partir de uma percepção eminentemente
52
52 um fazer orgânico. É viva e mutável”2. etnocêntrica, calcada numa rígida seleção
de conteúdos que apontava a evolução dos
Presente nos currículos escolares desde a povos e nações, tendo por centro a Europa,
formação dos Estados Nacionais contempo- desde a Antiguidade, a Idade Média, a Idade
râneos, no século XIX, o saber histórico es- Moderna e a Idade Contemporânea.
colar desempenha papel importante na for- Entretanto, desde meados dos anos 1980,
mação de uma memória coletiva vinculada passou a haver certo consenso entre histo-
ao Estado e aos grupos de poder que o con- riadores, pedagogos, professores e políticas
trolam. Veículo de identidade e de memória, educacionais a respeito dos limites ineren-
esse saber nunca é neutro, nem desinteres- tes ao modelo do saber histórico factual e
sado. Em torno de sua enunciação e de sua de sua vinculação a uma postura meramen-
definição, gravitam diferentes sujeitos e se te reprodutora, passiva. Não há dúvida que
produzem diferentes sentidos para o político os caminhos da História ensinada devam ser
e para o social. Assim, estruturado a partir balizados por um conhecimento crítico, cria-
da narração de grandes eventos, fundadores tivo, dinâmico, e para tal não basta a revisão
e paradigmáticos do sentimento patriótico, dos conteúdos. É necessária uma mudança
o ensino da História brasileira confundia-se de atitude na prática pedagógica e uma re-
com a evolução político-institucional do Esta- visão dos procedimentos da aprendizagem4.
do, e a própria divisão convencional de suas Referência para os Estados Nacionais, a His-
três partes constitutivas (Colônia, Império e tória pode tornar-se também uma referência
República) sugere essa vinculação com a es- para as sociedades e um instrumento para
fera política. a cidadania. Sobre esse papel formador da
No Brasil, a História já aparecia como con- disciplina, diz a pesquisadora Selva Guima-
teúdo sugerido para desenvolver as práticas rães Fonseca:
de leitura dos estudantes logo após a criação “A proposta de metodologia do ensino de Histó-
ria que valoriza a problematização, a análise crítica
do Estado monárquico, em 1827, por deter-
da realidade, concebe alunos e professores como
minação do Decreto das Escolas de Primei- sujeitos que produzem História e conhecimento em
ras Letras. Tornou-se disciplina autônoma em sala de aula. Logo, são pessoas, sujeitos históricos,
1838, por ocasião da criação do Colégio que cotidianamente atuam, transformam, lutam e re-
sistem nos diversos espaços de vivência: em casa,
Pedro II, instituição oficial de ensino público no trabalho, na escola, etc... Esta concepção de en-
associado ao Instituto Histórico e Geográfico sino e aprendizagem facilita a revisão do conceito
Brasileiro e ao Arquivo Público do Império. de cidadania abstrata, pois ela nem é algo apenas
Desde então, sobre seu ensino incidiram di- herdado via nacionalidade, nem liga-se a um único
caminho de transformação política. Ao contrário de
retamente as influências do contexto político restringir a condição de cidadão a de mero traba-
nacional – monárquico ou republicano –, já lhador e consumidor, a cidadania possui um caráter
que a atribuição à História da capacidade de humano e construtivo, em condições concretas de
existência”5.
formar consciências nunca passou desperce-
bida das instituições de poder3.
Ao longo do século XX, a essa História im- Não obstante, haverá de se levar em conta
buída de caráter cívico foi associado o estudo as especificidades do saber histórico escolar

2
Leandro KARNAL. “Introdução”. In: Leadro KARNAL (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Ed. Contexto, 2003,
p. 7-8.
3
A esse respeito, ver Manoel Luís Salgado GUIMARÃES. “Nação e civilização nos trópicos. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de
uma história nacional”. Estudos Históricos (RJ), n. 1, 1988, p. 5-27; Circe Maria Fernandes BITTENCOURT. Pátria, civilização e trabalho: o ensino de
história nas escolas paulistas, 1917-1930. São Paulo: Loyola, 1990.
4
Para as primeiras discussões nesse sentido, ver Jaime PINSKY. O ensino de história e a criação do fato – Edição revista e atualizada. São Paulo: Ed.
Contexto, 2009; Marcos Antonio da SILVA (org). Repensando a história. São Paulo: Marco Zero/ANPUH, 1984.
5
Selva Guimarães FONSECA. “O ensino de história e a construção da cidadania”. In: Fernando SEFFNER; José Alberto BALDISSERA (orgs). Qual
ensino, qual história, qual cidadania?. Porto Alegre: ANPUH/Ed. Unisinos, 1997, p. 18.

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enquanto campo do conhecimento e sua fun- A competência se caracteriza como a ca-
damentação didático-pedagógica. Nesta ta- pacidade de mobilizar conhecimentos, valo-
refa, compete aos professores oferecer con- res, decisões para agir de modo pertinente 5353
dições para que os alunos possam interferir numa determinada situação-problema. Na
diretamente na elaboração do conhecimento medida em que o saber histórico escolar su-
possível a respeito do passado: 1) oferecen- põe escolhas, saber efetuar recortes, formu-
do-lhe os meios necessários para que a His- lar ou reformular problemas, eleger temas de
tória seja compreendida como representação discussão e pesquisa e saber articular infor-
do passado, e não como o passado em si; mações e conceitos são habilidades impres-
2) extraindo as informações relativas ao pas- cindíveis na atividade didático-pedagógica.
sado de testemunhos históricos (sonoros; es- Ensinar a ler e a formar leitores é uma das
critos; iconográficos), bem como de estudos funções essenciais do ensino básico. Para
e interpretações históricas; 3) apontando as o saber histórico escolar, ensinar a ler sig-
tensões, divergências e contradições que se nifica preparar os alunos para as diferentes
apresentam ao longo do processo de elabo- dimensões de leitura que se apresentam na
ração do conhecimento, de acordo com as reapropriação de dados do passado. A com-
leituras e interpretações sobre o passado e preensão das realidades passadas depende
sua vinculação com o contexto atual. da leitura em primeiro lugar dos documentos
históricos. E também da leitura de interpre-
tações formuladas sobre o passado por es-
II – Como ensinar História? critores, historiadores e cientistas sociais. Por
meio da leitura, espera-se que o aluno seja
Nas atividades práticas em salas de aula instigado a se posicionar criticamente, a ar-
dos ensinos fundamental e médio, na esco- gumentar, duvidar, indagar, enfim, problema-
lha dos materiais a serem empregados e na tizar a reflexão sobre o conteúdo e interagir
seleção dos conteúdos, é preciso não perder com o tema.
de vista a relação estreita do ensino de Histó- Para a leitura, é preciso estabelecer uma
ria com o desenvolvimento de competências distinção de valor entre fontes primárias e
e habilidades específicas da área de Ciências referências bibliográficas. As primeiras resul-
Humanas e suas Tecnologias. tam da experiência dos sujeitos históricos e,
Para o saber histórico escolar, os três ei- nessa condição, informam diretamente sobre
xos fundamentais formados a partir dos con- os acontecimentos do passado, fornecendo
juntos de competências de ler, escrever e dados brutos que precisam ser selecionados,
resolver problemas deverão ser tomados analisados, avaliados. As outras constituem
como propostas norteadoras da elaboração interpretações sobre o passado. São obras
do conhecimento. Essas são competências de caráter historiográfico, o resultado de
fundamentais, transversais a todo o processo pesquisas que estão sujeitas a confirmação,
de desenvolvimento de habilidades. Segundo questionamento, revisão, e crítica. Além dis-
os Referenciais Curriculares do Estado do Rio so, a leitura poderá dizer respeito não ape-
Grande do Sul – Área de Ciências Humanas nas a textos escritos, mas a outras formas de
e suas Tecnologias: linguagem – como a visual e a sonora.
O ato de escrever ou reescrever textos
“A competência é um guia melhor para educar
para a vida do que os conteúdos isoladamente, pois exige que sejam desenvolvidas diversas ha-
a velocidade das mudanças pode tornar rapidamente bilidades de compreensão, interpretação e
desatualizadas muitas informações. Já a competên- expressão. Ao realizar atividades que desen-
cia, uma vez adquirida, possibilita o enfrentamento
volvam essa competência, os alunos estarão
de situações inéditas com autonomia e proficiência,
e viabiliza a aprendizagem de forma continuada ao também ampliando a competência leitora
logo de toda a vida”. e de resolução de problemas, encontrando

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condições de organizar seus conhecimentos e, recursos que capacitem o aluno a pensar
no caso específico da História, de se posicio- historicamente. É preciso superar o tipo de
54
54 nar criticamente em relação às diferentes re- ensino eminentemente reprodutor, pronto e
alidades temporais trabalhadas na disciplina. acabado, e investir em ações didático-peda-
Enfim, no âmbito do saber histórico esco- gógicas criativas, dinâmicas, questionado-
lar, a ação pedagógica de resolver proble- ras, desafiadoras. Para a compreensão dos
mas implica pôr em prática diversas opera- fenômenos sociais e culturais em sua histori-
ções de análise relacional, comparativa. Es- cidade, é necessário que os alunos exercitem
sas análises serão qualitativas, quando o ob- práticas que desenvolvam habilidades (identi-
jetivo for compreender, avaliar e interpretar ficar, descrever, caracterizar, ordenar as infor-
textos narrativos. Mas também poderão ser mações) e que culminem em competências
quantitativas, quando as informações estive- como a atitude crítica e metódica. Outras
rem expressas em dados numéricos de qua- habilidades e/ou competências pretendidas
dros e tabelas das tendências sociais e eco- e desejáveis, como comparação e análise,
nômicas, por exemplo. Aqui, espera-se que dependem diretamente dos conceitos postos
eles possam detectar proporções, aumentos a sua disposição para estudo.
e recuos das tendências estudadas. Nas aulas de História, conceitos tão fre-
Além dessas competências transversais, quentemente utilizados, como o de “guerra”,
será preciso considerar as competências por exemplo, não deverão ser empregados
específicas da área de Ciências Humanas, descolados de realidades históricas específi-
que se desenvolvem em torno de três eixos cas. Será preciso considerar as formas pró-
principais: Representação e Comunicação; prias de combate (infantaria na Grécia e em
Investigação e Compreensão; Contextualiza- Roma; cavalaria na Idade Média, artilharia),
ção Sociocultural, conforme estabelecem os as táticas e estratégias utilizadas em diferen-
Parâmetros Curriculares Nacionais. tes contextos bélicos, a dimensão política,
Representação e comunicação estão di- econômica e cultural e as implicações sociais
retamente ligadas ao modo de compreender dos conflitos em diferentes épocas e socie-
e interpretar a realidade que se apresenta dades. Os mesmos cuidados com a busca
aos nossos olhos. Trata-se de saber processar da especificidade, da historicidade, deverão
e comunicar diferentes informações e conhe- acompanhar o uso de tantos outros concei-
cimentos, entendendo a importância das tec- tos habitualmente presentes na análise de
nologias contemporâneas de comunicação e historiadores e cientistas sociais. O melhor é
informação. Nesse aspecto, seria inclusive o evitar generalizações como Estado, Nação,
caso de insistir na importância a ser dada aos Revolução, Classe ou Democracia, e adotar
recursos disponíveis na internet e nos cuida- conceitos mais precisos e historicamente da-
dos necessários para o uso adequado dessa tados como Estado Absolutista no século XVII
ferramenta de pesquisa. A grande capacida- ou Estado-Nação no século XIX, Revolução
de de armazenamento de informações obri- francesa ou Revolução Russa, classe operá-
ga os educadores a repensarem seu papel ria ou classe média, democracia ateniense
como formadores e orientadores, porque, na ou democracia americana.
era da tecnologia digital, a disponibilização Das competências gerais da área de Ciên-
virtual de dados exige cada vez mais que se cias Humanas, aquela que está mais direta-
saiba avaliar, selecionar e organizar critica- mente vinculada às preocupações do saber
mente as evidências documentais e referên- histórico escolar diz respeito à Contextuali-
cias bibliográficas sobre os mais variados zação sociocultural. É próprio da história
temas de estudo. buscar compreender o desenvolvimento da
Quanto ao eixo Investigação e compre- sociedade a partir das relações sociais, polí-
ensão, é fundamental que sejam oferecidos ticas, culturais e econômicas. A historicidade

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dos fenômenos humanos depende do quanto São conceitos empregados para designar o
se possa compreender as noções de duração conjunto de fatos ocorridos num certo lugar (ci-
e os diferentes ritmos da dinâmica histórica. dade, país, continente) e numa certa duração 5555
Para que o conhecimento seja desenvolvi- (ano, década, no máximo, século). Na análise
do a partir de um ponto de vista relacional, da conjuntura o que se deve observar é a ma-
conceitual, as operações de análise (identi- neira como as várias partes ou fatos se combi-
ficação, interpretação, associação, compa- nam, ligando-se ou opondo-se, resultando em
ração) deverão promover o entrecruzamento situações gerais relativamente estáveis quando
de dados, temas e conteúdos históricos sele- comparados aos fatos individuais.
cionados, como, por exemplo, a questão da * Estruturas ou sistemas, que podem ser
religiosidade popular e sincretismo na Euro- políticos, sociais, econômicos e culturais. São
pa medieval, na América Latina e no Brasil; o conceitos empregados para designar a forma
problema da industrialização na Europa, na pela qual as diferentes partes ou elementos da
África e na América; o impacto das migrações sociedade estão organizados, ligados, intera-
na História; as diferentes formas e represen- gindo entre si. O conceito designa, ao mesmo
tações das nações e repúblicas nos séculos tempo: a) todo o conjunto de fatos e conjun-
XIX e XX. Considera-se que o conhecimento turas; b) cada uma das partes deste conjunto;
nasce da comparação e da confrontação de c) as relações destas partes entre si6.
textos e registros históricos, de modo que se * Processos históricos são sequências de
possam perceber as uniformidades, regulari- fatos inter-relacionados por uma relação de
dades e variações na duração temporal do causalidade (interferências mútuas, causais)
passado e sua relação com o presente. ou finalidade. Este relacionamento é assi-
Deste modo, na passagem do tempo, re- nalado pelas lutas políticas e sociais, pelos
cortada por inumeráveis ações cuja impor- conflitos de interesses, pela vitória ou derrota
tância será maior ou menor de acordo com dos diferentes agentes históricos. Ao conside-
o significado que lhe atribuirmos, é possível rar os processos históricos, verificaremos que
identificar: a história é dinâmica, marcada por avanços
* Fatos, eventos ou acontecimentos, ou recuos, dependendo da ação dos grupos
que podem ser políticos (quando estiverem humanos que nela atuam. Ao buscar com-
ligados às ações que digam respeito às ins- preender esses processos, os alunos serão
tituições do governo de uma coletividade), estimulados a interagir com os fatos e con-
sociais (quando estiverem ligados às ações junturas, estabelecendo um permanente diá-
de indivíduos ou grupos que constituem uma logo entre passado e presente.
coletividade) ou econômicos (quando estive- Na aplicação desses conceitos, a análise
rem ligados à produção ou distribuição da deverá ser realizada a partir de pelo menos
riqueza produzida numa dada sociedade). dois pares de oposição:
Os fatos resultam de ações individuais ou Semelhanças/diferenças: Neste caso, o
coletivas que transcorrem no cotidiano, e seu confronto entre dados relativos ao passado
significado será maior ou menor de acordo (testemunhos históricos; historiografia) com
com o peso que vierem a ter nos destinos de dados da realidade social dos alunos será
toda a coletividade, inclusive no significado observado a partir daquilo que os asseme-
que venham a ter no momento em que esti- lha e daquilo que os distingue. Através dessa
verem sendo relembrados pelo saber históri- comparação, desenvolve-se a capacidade
co escolar. de identificar, selecionar e organizar aquilo
* Conjunturas ou contextos, que podem que, no passado ou no presente, apresenta
também ser políticos, sociais ou econômicos. ou não traços comuns.

6
Para a definição desses conceitos: Nadir Domingues MENDONÇA. Uma questão de interdisciplinaridade: o uso dos conceitos. Petrópolis: Ed. Vozes,
1985.

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Transformação/permanência: Nesse caso, professores, e não se passará do plano das
a partir da observação das ligações, interações, intenções, se não houver o compromisso
56
56 trocas, semelhanças ou diferenças, o que se com a formação continuada e o entendimen-
pretende é detectar as descontinuidades ou to dos fundamentos básicos das áreas do
continuidades dos fenômenos em perspectiva saber que se pretende integrar. Sem isso, as
temporal diacrônica. ações multidisciplinares poderão resultar na
Pensados desta maneira, os fatos, contex- diluição da História nos espaços de outras
tos ou estruturas deixam de ser vistos por si disciplinas, resultando em um somatório de
mesmos, mas passam a se subordinar às in- conceitos e conteúdos emaranhados aleato-
dagações e aos questionamentos formulados riamente, incapazes de formar sentido para
por professores e alunos, tornando-se parte os estudantes.
integrante do processo de aprendizagem. Os conceitos são ferramentas imprescin-
díveis para o fazer histórico em sala de aula.
Por seu intermédio, professores e alunos en-
III – Conceitos estruturantes contram meios para sintetizar ideias, articular
e reagrupar os dados inerentes à realidade
Nos dois níveis de ensino da educação bási- social. Sua definição prévia e sua problema-
ca, o objetivo fundamental é preparar os alunos tização é que deverão determinar a eleição
para a vida, qualificando-os para a cidadania e de temas a serem estudados e a seleção dos
capacitando-os para o aprendizado permanen- seus respectivos conteúdos.
te e autônomo. Com esse fim, o que se espera Convém ressaltar, entretanto, que os con-
é que o próprio processo de aprendizagem lhes ceitos somente podem ser entendidos em sua
possibilite experiências em que possam atuar e historicidade. Quer dizer que eles devem ser
participar diretamente, como produtores de co- empregados para explicar certas realidades
nhecimento. Para isso, as experiências de sala do passado, mas não podem ser aplicados
de aula precisam ser suficientemente criativas indistintamente, como modelos a toda e
e dinâmicas, de modo a retirá-los de uma po- qualquer situação semelhante, sob pena de
sição eminentemente passiva no processo de incorrer em anacronismos. É preciso sempre
elaboração do conhecimento. circunscrevê-los a realidades espaciais e tem-
Também é preciso insistir no aspecto in- porais bem precisas. No momento em que
terdicisplinar das áreas de conhecimento que os conceitos são contextualizados, ganham
integram o currículo, e no desejável diálogo maior concretude histórica. Assim, em vez de
entre campos do conhecimento como a Lite- uma categoria mais geral, como “trabalho”,
ratura, a Sociologia, a Geografia e a Filoso- é preferível refletir sobre as particularidades
fia. O que está aqui em pauta não é a mera do “trabalho escravo”, do “trabalho servil”
aproximação, justaposição ou colagem de ou do “trabalho assalariado”7.
conteúdos, mas a aproximação entre pontos Tempo: O tempo situa-se como uma
e elementos comuns e o distanciamento de noção-chave para o saber histórico esco-
aspectos que são próprios de cada um dos lar. Embora o tempo cronológico continue a
campos envolvidos na análise, por um viés ser uma referência para a organização dos
eminentemente analítico, conceitual. dados sobre o passado, é a percepção das
Para superar o alinhamento artificial dos múltiplas dimensões do tempo histórico que
docentes dessas disciplinas, é preciso pro- precisa ser ressaltada na análise dos fenôme-
mover uma transformação da própria cultura nos sociais, econômicos, políticos, culturais.
escolar, sem deixar de considerar as condi- Que esse tempo histórico não seja linear,
ções intelectuais e materiais do trabalho dos nem homogêneo, é algo que foi claramente
7
Holien Gonçalves BEZERRA. “Ensino de história: conteúdos e conceitos básicos”. In: Leadro KARNAL (org). História na sala de aula: conceitos, práticas
e propostas. São Paulo: Ed. Contexto, 2003, p. 46-47.

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proposto por Fernand Braudel, em seu célebre jeitos históricos e a percepção da dimen-
estudo sobre a noção de “longa duração”. Ao são coletiva dos fenômenos humanos con-
tempo breve e acelerado dos eventos na es- ferem papel de primeiro plano ao conceito 5757
fera do político, deve-se acrescentar o tem- de cidadania. Neste particular, mostra-se
po médio das conjunturas (aquele em que sempre necessária a reflexão sobre as lutas
as mudanças não se sucedem em ritmo rá- sociais e movimentos organizados para a
pido, e que deixa entrever visões de conjunto aquisição de direitos civis por parte das ca-
mais amplas) e também o tempo lento, quase madas populares, das minorias religiosas,
imóvel mesmo, das estruturas e da paisagem étnicas, sexuais e etárias, considerando as
geográfica – marcado pela extrema lentidão, especificidades históricas dos contextos em
pelas resistências, pelas continuidades8. que ocorreram9.
Compreender as dinâmicas do tempo Trabalho: A produção das condições ma-
histórico exige que se leve em conta as di- teriais da existência está ligada à capacidade
ferentes instâncias e ritmos em que se dão de transformação da natureza a partir do es-
essas variadas ingerências das forças sociais forço mental ou físico despendido pelos seres
e das relações econômicas e culturais. Im- humanos. As alterações observadas na paisa-
plica compreender os fatos históricos e seus gem (natural, rural, urbana), o emprego dos
sujeitos dentro do tempo imediato de suas recursos naturais ou industriais, o desenvol-
ações, do tempo médio dos contextos sociais vimento de artefatos, técnicas e processos de
e políticos e do tempo longo das estruturas transformação ao longo da História são partes
econômicas, culturais e mesmo das atitu- constitutivas da dimensão conceitual e históri-
des mentais. Implica pensar a História como ca do trabalho. Interessa também identificar
cenário de múltiplas possibilidades que se os níveis das relações de trabalho, no âmbito
apresentam nos fenômenos humanos. doméstico, comunitário, privado ou público, e
Poder: As múltiplas formas pelas quais os como as sociedades estruturaram em diferen-
sujeitos se constituem, se organizam e se re- tes épocas as relações de trabalho (escravo,
lacionam nas formações sociais ao longo da livre, servil; assalariado, informal ou formal)
História estão ligadas ao exercício do poder. e as divisões do trabalho (braçal, técnico ou
As relações de poder permeiam as ações dos intelectual; artesanal ou industrial).
sujeitos históricos e seu exercício manifesta- Cultura: Ao lado das instituições políticas
se em diversas instâncias da vida privada ou e das formas de organização social e eco-
da vida pública (família, escola, fábrica), so- nômica, as criações culturais ocupam lugar
bretudo nas relações político-institucionais. de relevo na História da humanidade. Nelas,
Através dessas instâncias é que se estabe- estão contidos os sentimentos, as formas de
lecem relações de dominação, hegemonia, sociabilidade, a representação da realidade
dependência, submissão e resistência. O nas diferentes sociedades e nas diferentes
estudo da História poderá contribuir para a temporalidades, a construção de sentidos
compreensão da natureza mutável das orga- compartilhados pelos diferentes grupos (so-
nizações políticas, a constituição dos Estados ciais, sexuais, etários, étnicos, nacionais, re-
Nacionais e de órgãos de representação in- ligiosos, regionais, etc.). A vida material não
ternacional, as formas de organização políti- está separada dos sistemas simbólicos, dos
ca, as guerras, revoltas e revoluções. hábitos e costumes (de vestuário, alimen-
Cidadania: A atuação dos indivíduos tares), dos rituais e festividades, do lazer e
junto aos órgãos de representação de sua da diversão, pelos quais as coletividades ex-
comunidade, a consciência social que pressam suas visões de mundo. Para o saber
orienta a ação desses indivíduos como su- histórico escolar, interessa avaliar as formas
8
Fernand BRAUDEL. “História e ciências sociais: a longa duração”. In: IDEM. Escritos sobre a história. São Paulo: Ed. Pespectiva, 1978, p. 41-77.
9
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: História. 5ª. a 8ª. Séries. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998,
p. 72.

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pelas quais se operam as identidades cultu- “patriotismo” e “regionalismo”, professores e
rais, as trocas, relações e influências entre os alunos poderão testar suas próprias convic-
58
58 grupos humanos. ções e pontos de vista em relação aos inte-
Identidade: A busca da dimensão históri- grantes de outras sociedades. Terão a opor-
ca do conceito de identidade pode revelar-se tunidade de discutir aspectos fundamentais
promissora em sala de aula. Os sentimentos para o exercício da cidadania, como o de
de pertencimento produzidos pelas relações diversidade cultural, multiculturalismo, etno-
familiares, escolares, étnicas, culturais, reli- centrismo, discriminação, segregação e pre-
giosas, regionais, nacionais ou sociais criam conceito10.
valores compartilhados pelos indivíduos e O quadro a seguir apresenta algumas
pelos grupos, que os aproximam. Essa pro- correlações entre as competências gerais da
ximidade, por outro lado, é construída e me- área de Ciências Humanas e suas Tecnolo-
dida a partir de critérios de diferenciação em gias e os conceitos estruturantes e habilida-
relação ao diverso, ao diferente, ao “outro”. des específicas da disciplina de História.
Ao avaliar as determinações históricas pre-
sentes em conceitos como os de “racismo”,

HISTÓRIA

EIXOS DE CONCEITOS HABILIDADES


COMPETÊNCIAS ESTRUTURANTES

Representação e • Trabalho 1. Identificar o papel dos diferentes meios de comuni-


comunicação • Poder cação na construção da cidadania e da democracia.
• Cidadania 2. Identificar e interpretar formas de registro das novas
1. Entender a importância
tecnologias na organização do trabalho e da vida so-
das tecnologias contem-
cial e pessoal.
porâneas de comunicação
3. Identificar e interpretar registros sobre as formas de
e informação para plane-
trabalho em diferentes contextos históricos, relacionan-
jamento, gestão, organi-
do-os à produção humana.
zação e fortalecimento do
4. Analisar as formas de circulação da informação, da
trabalho em equipe
riqueza e dos produtos em diferentes momentos da His-
tória.
5. Comparar diferentes processos de produção e suas
implicações sociais e espaciais.
6. Identificar vantagens e desvantagens do conheci-
mento técnico e tecnológico produzido pelas diversas
sociedades em diferentes circunstâncias históricas.

10
Para os conceitos de identidade e cultura, ver Martha ABREU & Raquel SOIHET (org). Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de
Janeiro: Casa da Palavra, 2003.

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HISTÓRIA

EIXOS DE CONCEITOS HABILIDADES 59


59
COMPETÊNCIAS ESTRUTURANTES

Investigação e • Tempo 1. Associar as manifestações culturais do presente aos


compreensão seus processos históricos.
2. Comparar pontos de vista expressos em diferentes
1. Compreender os ele- fontes sobre um determinado aspecto da cultura.
mentos cognitivos, afeti- 3. Valorizar a diversidade do patrimônio cultural e artís-
vos, sociais e culturais que tico, identificando suas manifestações e representações
constituem a identidade em diferentes sociedades.
própria e a dos outros. 4. Analisar os processos de transformação histórica e
2. Compreender a socie- seus determinantes principais.
dade, sua gênese e trans- 5. Confrontar formas de interações culturais, sociais,
formação, e os múltiplos econômicas, ambientais, em diferentes circunstâncias
fatores que nela intervêm históricas.
como produtos da ação 6. Comparar diferentes pontos de vista sobre situações
humana; a si mesmo ou fatos de natureza histórica, identificando os pressu-
como agente social; e os postos de cada interpretação e analisando a validade
processos sociais como dos argumentos utilizados.
orientadores da dinâmica
dos diferentes grupos de
indivíduos.
3. Entender os princípios
das tecnologias associa-
das ao conhecimento do
indivíduo, da sociedade e
da cultura, entre os quais
os de planejamento, orga-
nização, gestão, trabalho
em equipe, e associá-los
aos problemas que se pro-
põe resolver.
EIXOS DE CONCEITOS HABILIDADES
COMPETÊNCIAS ESTRUTURANTES

Contextualização • Trabalho 1. Associar as manifestações culturais do presente aos


sociocultural • Poder seus processos históricos.
• Cultura
2. Comparar o significado histórico da constituição dos
1. Compreender o desen-
diferentes espaços.
volvimento da sociedade
como processo de ocupa- 3. Confrontar formas de interações culturais, sociais,
ção de espaços físicos e econômicas, ambientais, em diferentes circunstâncias
das relações da vida hu- históricas.
mana com a paisagem,
4. Identificar registros em diferentes práticas dos dife-
em seus desdobramentos
rentes grupos sociais no tempo e no espaço.
políticos, culturais, econô-
micos e humanos.
2. Compreender a produ-
ção e o papel histórico das
instituições sociais, políti-
cas e econômicas, asso-
ciando-as às práticas dos
diferentes grupos e atores

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EIXOS DE CONCEITOS HABILIDADES
COMPETÊNCIAS ESTRUTURANTES
60
60
sociais, aos princípios que
regulam a convivência em
sociedade, aos direitos e
deveres da cidadania, à
justiça e à distribuição dos
benefícios econômicos.
3. Traduzir os conheci-
mentos sobre a pessoa, a
sociedade, a economia,
as práticas sociais e cul-
turais em condutas de in-
dagação, análise, proble-
matização e protagonismo
diante de situações novas,
problemas ou questões da
vida pessoal, social, políti-
ca, econômica e cultural.
4. Entender o impacto das
tecnologias associadas às
Ciências Humanas sobre
sua vida pessoal, os pro-
cessos de produção, o de-
senvolvimento do conheci-
mento e a vida social.
5. Aplicar as tecnologias
das Ciências Humanas e
sociais na escola, no tra-
balho e em outros con-
textos relevantes para sua
vida.

va cronológica e linear, visto ser impossível


IV – Eixos temáticos e e desnecessário retratar toda a História da
seleção de conteúdos humanidade. Primeiro porque não faz parte
dos objetivos da educação básica formar his-
O presente documento parte do princípio toriadores, depois porque, em geral, a pers-
de que os conteúdos a serem ensinados não pectiva cronológica e linear induz à memo-
são um fim em si mesmo, mas meios para rização e repetição, e não à compreensão.
se alcançar objetivos previamente estabeleci- Ao enfatizar o desenvolvimento de com-
dos. Esses objetivos, por sua vez, vinculam-se petências e habilidades, os conteúdos pas-
às competências e habilidades anteriormente sam a ser encarados como meios para le-
apontadas, e nesse caminho é que eles deve- var os alunos a refletir, analisar e comparar
rão ser selecionados. informações dos diversos contextos históri-
A partir do que estabelecem os Parâme- cos e geográficos, de modo a confrontar
tros Curriculares Nacionais dos ensinos fun- as realidades sociais que se apresentam no
damental e médio para a disciplina de His- tempo histórico. Isso não quer dizer que os
tória, não é plausível e nem aconselhável fatos e períodos convencionais tenham de
pensar em organizar e selecionar o conteú- ser desprezados e muito menos abando-
do programático a partir de uma perspecti- nados, apenas deixam de ser concebidos

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como dados brutos, prontos e acabados, aparecimento do racismo e da Ku Klux Klan)
e passam a ser tratados em sua especifi- permitirá que os alunos exercitem sua capa-
cidade, de acordo com indagações que cidade de compreensão, análise e reflexão 6161
possam vir a se tornar significativas para a crítica.
compreensão da realidade social de que os O fim de seleção de conteúdos por or-
alunos fazem parte. dem cronológica e por periodização colo-
Para realizar o estudo da História, é ca o problema crucial de saber o que deve
fundamental compreender e utilizar as no- orientar a organização dos conhecimentos
ções básicas de duração e temporalida- históricos. De acordo com os Parâmetros
de. A partir das referências cronológicas, Curriculares Nacionais da área de Histó-
aprendemos a contar, medir e nos locali- ria11, os dois eixos transversais considerados
zar tempo. Ao longo das atividades, será fundamentais são as categorias de trabalho
importante trabalhar com as marcações e cidadania. O primeiro, porque organiza
temporais utilizadas com maior frequência e dá significado aos processos dinâmicos do
pelos historiadores, expressas em geral fazer e da organização social e econômi-
em dias, meses, anos, décadas, séculos ca em diferentes tempos, espaços e condi-
e milênios, e sempre que possível estimu- ções sociais, e o segundo, porque se coloca
lar os alunos a preparar linhas de tempo. como axial na constituição da consciência
Esse é um bom ponto de partida para a social dos sujeitos e dá suporte à noção
organização dos dados e informações his- de participação social e política no mundo
tóricas, mas não deve ser considerado fim contemporâneo.
em si mesmo. Para o saber histórico escolar promovido
Ao trabalhar com a questão da passa- no Rio Grande do Sul, abrem-se assim pos-
gem do trabalho escravo para o trabalho as- sibilidades que podem redimensionar o papel
salariado no Brasil da segunda metade do da escola como lugar privilegiado de reflexão
século XIX, por exemplo, pretende-se que o crítica e de transformação social. Nesse caso,
aluno desenvolva as competências de con- conviria afastar de imediato as opções cômo-
textualizar historicamente diferentes formas das de reorganização curricular pelo viés dos
de organização social do trabalho, investigar particularismos locais e regionais, que pouco
e compreender mudanças sociais ocorridas contribuiriam para o esclarecimento das espe-
em nível conjuntural, refletindo e compa- cificidades da sociedade rio-grandense, além
rando dados, debatendo pontos de vista e de fechar o circuito das complexas relações
realizando sínteses e conclusões. Quando o espaciais e temporais em âmbito nacional,
mesmo tema vier a ser estudado em outro continental, hemisférico, e no âmbito das múl-
contexto histórico, surgirão boas possibilida- tiplas contribuições de grupos étnicos e sociais
des de aproximação ou distinção conceitual. que lhe deram e lhe dão forma.
A comparação entre o processo de transição Caberá aos professores avaliar que expe-
da mão de obra escrava no Brasil (com os riências históricas vivenciadas no Rio Grande
movimentos de resistência dos escravos, o do Sul podem vir a ser tomadas como pa-
movimento abolicionista, a legislação anti- radigmáticas (a partir dos atores nela envol-
escravocrata e o movimento republicano) e vidos; de seu impacto na sociedade) e con-
a abolição da escravidão nos Estados Uni- frontadas com experiências outras do Brasil e
dos (com o processo de independência, a do mundo, no presente e no passado. Partir
Constituição, a Guerra Civil e o processo do vivido, daquilo que é prenhe de signifi-
de Reconstrução dos Estados do Sul, com o cados para os sujeitos dos processos histó-

11
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: História. 5ª a 8ª Séries. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998.; BRASIL,
Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino médio PCN+ – Orientações complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais –
Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: DF: MEC – Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2002.

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ricos e os sujeitos envolvidos no processo de méstico e no espaço público; em profissões,
aprendizagem, é o caminho proposto para atividades e papéis sociais).
62
62 a busca de um conhecimento renovado, no Nas 7ª e 8ª séries do ensino fundamental,
qual os fatos não falem por si, mas partici- o eixo temático diz respeito à “História das
pem efetivamente do necessário diálogo com representações e das relações de poder”.
o nosso tempo. Trata-se de uma problemática cujos temas
De acordo com os Parâmetros Curriculares podem ser abordados a partir de perspectivas
Nacionais, para as 5ª e 6ª séries do ensino mais gerais e teóricas, embora continue a ser
fundamental, é imprescindível que sejam pro- recomendável partir de estudos de realidades
porcionadas aos alunos condições que lhes concretas e próximas da vivência dos alunos.
permitam desenvolver reflexões de caráter his- A partir do estudo de eventos e conjunturas
tórico a partir de realidades sociais concretas, específicas, o que se pretende é problemati-
próximas. Eles deverão partir de reflexões de zar as relações sociais a partir dos conceitos
suas vivências cotidianas e confrontá-las com estruturantes de poder, identidade e cidada-
informações sobre modos de vida de diferen- nia, a partir da História do Brasil e em rela-
tes épocas e realidades sociais. ção com a História do mundo, com destaque
O eixo temático proposto para este ciclo para a constituição dos Estados Nacionais e
gira em torno da “História das relações as formas de expressão da cidadania ao lon-
sociais, da cultura e do trabalho”. Os es- go da História.
tudos deverão enfatizar as relações entre a A partir dessas orientações gerais, pro-
realidade histórica brasileira, a história da põe-se a seguir um quadro de Referenciais
América, da Europa, da África e de outras Curriculares que deverão ser pensados, or-
partes do mundo, e caberá ao professor sele- ganizados, adaptados e reorganizados pelo
cionar os conteúdos que melhor explicitem as professor, de acordo com o projeto pedagó-
diferentes formas pelas quais os seres huma- gico da escola ou do local em que a escola
nos se relacionam com a natureza (através está inserida. A intenção é apenas oferecer
do trabalho, da cultura material, da explo- elementos gerais para a constituição de um
ração econômica e das condições materiais saber histórico escolar minimamente equili-
de subsistência) e se organizam em torno das brado e articulado com as proposições ge-
atividades sociais e políticas (no espaço do- rais em âmbito nacional:

DISCIPLINA DE HISTÓRIA – SUGESTÕES DE CONTEÚDOS


Ensino fundamental
CONCEITOS/ COMPETÊNCIAS/ SUGESTÕES DE
ANO TEMAS HABILIDADES CONTEÚDO
ESTRUTURANTES
5ª série • Trabalho 1. Identificar as singularidades de di- 1. Os indígenas, primeiros povoadores
• Cultura ferentes contextos históricos. do Brasil e do Rio Grande do Sul.
2. Comparar diferentes dimensões 2. A ocupação do espaço territorial do
temporais, a partir de dados da reali- Rio Grande do Sul: séculos XVIII-XIX.
dade local e regional. 3. As missões e o processo de cristianiza-
3. Perceber as mudanças e perma- ção no sul da América portuguesa.
nências em diferentes épocas. 4. As migrações e a formação histórica
4. Perceber as relações entre socie- do Rio Grande do Sul e do Brasil: sécu-
dade, cultura e natureza, em diferen- los XVIII-XIX
tes momentos da História. 5. Campo, cidade e alterações da paisa-
gem na história brasileira.
6. Industrialização e desenvolvimento ur-
bano no Rio Grande do Sul e no Brasil.

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CONCEITOS/ COMPETÊNCIAS/ SUGESTÕES DE
ANO TEMAS HABILIDADES CONTEÚDO
ESTRUTURANTES
63
63
6ª série • Trabalho 1. Confrontar informações sobre as 1. Escravidão e liberdade nas socieda-
• Poder distintas formas de organização do des antigas e nas sociedades modernas.
trabalho em diferentes épocas e so- 2. Oficinas e trabalho artesanal no mun-
ciedades. do feudal e no mundo capitalista.
2. Refletir sobre as continuidades e 3. Comércio, colônia e exploração eco-
rupturas nas formas de relaciona- nômica no Brasil e na América: séculos
mento dos seres humanos com o XVI-XVIII.
ambiente natural. 4. Divisão social do trabalho e industria-
3. Identificar os processos dinâmicos lização na Europa, América e Brasil.
e contraditórios de organização da
produção econômica e das relações
sociais no Brasil e no mundo.
CONCEITOS/ COMPETÊNCIAS/ SUGESTÕES DE
ANO TEMAS HABILIDADES CONTEÚDO
ESTRUTURANTES
7ª série • Cidadania 1. Compreender a dimensão histó- 1. As revoluções liberais e a invenção da
• Poder rica das instituições políticas e rela- democracia: Estados Unidos e França,
ções de poder contemporâneas. século XVIII.
2. Identificar as semelhanças e di- 2. A formação dos Estados Nacionais no
ferenças entre formas políticas de Brasil e na América Latina: século XIX.
Estado (monarquias, repúblicas, te- 3. Revoltas e contestações regionais na
ocracias) e tipos de governo (demo- formação do Estado brasileiro. Estudos
cracias, ditaduras). de caso. O movimento farroupilha.
3. Comparar os fundamentos das 4. Cidadania, democracia e a República
doutrinas políticas e movimentos po- brasileira.
líticos contemporâneos. 5. Ascensão e queda do mundo socialis-
4. Confrontar os conceitos de cida- ta: século XX.
dania e de participação em diferen-
tes contextos históricos do Brasil e do
mundo.
CONCEITOS/ COMPETÊNCIAS/ SUGESTÕES DE
ANO TEMAS HABILIDADES CONTEÚDO
ESTRUTURANTES
8ª série • Trabalho 1. Pesquisar as diferentes formas de 1. A dinâmica do capitalismo e a globa-
• Poder comunicação social e seus respecti- lização (capitalismo mercantil e capita-
vos contextos. lismo industrial; capitalismo monopolis-
2. Comparar informações sobre o ta; globalização e liberalismo).
processo de constituição e desenvol- 2. Trabalho, tecnologia e robotização na
vimento do capitalismo no Brasil, na sociedade industrial.
América e na Europa. 3. A sociedade de consumo e o mercado
3. Interpretar textos e documentos de bens simbólicos (história das formas
sobre as condições sociais do traba- de entretenimento, dos esportes e dos
lho no passado e no presente. espetáculos; história da moda e do con-
4. Contextualizar as manifestações sumo industrial).
culturais, estabelecendo as relações 4. Cinema, rádio e televisão como meios
entre comunicação de massa, capi- de comunicação de massa.
talismo e sociedade de consumo. 5. História da informática e da rede
5. Relacionar o consumo de bens mundial de computadores.
simbólicos (arte, formas de entrete-
nimento, moda) com a sociedade
capitalista contemporânea.

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Nas séries do ensino médio, não há indica- as. De acordo com as sugestões constantes
ções específicas de conteúdo, mas sugestões nos PCN+, de 2002, as atividades deverão
64 que constituem desdobramentos dos eixos
64 ser estruturadas a partir dos eixos temáticos
transversais constituídos pelas categorias de da “Cidadania, diferenças e desigualda-
trabalho e de cidadania, associados com a des”, “Nações e nacionalismos”, “Cultura
questão crucial do impacto das tecnologias e trabalho” e “Transporte e comunicação
e formas de comunicação contemporâne- no caminho da globalização”.

DISCIPLINA DE HISTÓRIA – SUGESTÕES DE CONTEÚDOS


Ensino médio
CONCEITOS/ COMPETÊNCIAS/ SUGESTÕES DE
ANO TEMAS HABILIDADES CONTEÚDO
ESTRUTURANTES
1ª série • Trabalho 1. Comparar o papel das invenções, 1. Tecnologia e invenção nas sociedades
• Cultura técnicas e tecnologias em diferentes antigas e medievais.
• Representação épocas. 2. O nascimento das fábricas e do ma-
2. Analisar documentos e bibliogra- quinário.
fia e extrair informações e conceitos. 3. O impacto social da industrialização
3. Compreender as distinções entre nas sociedades contemporâneas.
sistemas de organização de traba- 4. Indústria e trabalho industrial no Brasil.
lho, vinculando-os ao momento his- Estudos de caso. A industrialização e o mo-
tórico em que foram criados. vimento operário no Rio Grande do Sul.
4. Interpretar as representações do 5. Ciência e saber nas sociedades indus-
mundo do trabalho nas imagens ar- triais.
tísticas (cinema, fotografia, pintura) 6. Os sistemas de organização do traba-
do século XX. lho: fordismo, taylorismo e toyotismo.

CONCEITOS/ COMPETÊNCIAS/ SUGESTÕES DE


ANO TEMAS HABILIDADES CONTEÚDO
ESTRUTURANTES

2ª série • Poder 1. Compreender as relações passa- 1. Instituições e grupos de poder nas


• Cidadania do-presente nas organizações políti- Cidades-Estado greco-romanas.
• Identidade cas, a constituição dos Estados Na- 2. Monarquias feudais e monarquias
nacional cionais, as representações e os mitos nacionais na Europa Ocidental: séculos
• Identidade construídos para as nações, os ideais XIII-XVI.
regional nacionalistas e os confrontos interna- 3. Os fundamentos políticos dos Esta-
cionais e regionais. dos-Nações: liberalismo, positivismo,
2. Caracterizar e distinguir as formas socialismo.
de participação política no Estado 4. Poder, Estado e regimes autoritários
moderno, através dos partidos e dos no século XX.
movimentos sociais. 5. Imperialismo, colonialismo e o pro-
3. Pesquisar e utilizar documentos cesso de construção das desigualdades
históricos e bibliografia sobre os te- em escala mundial.
mas de estudo. 6. Representações identitárias regionais,
4. Identificar a analisar as formas nacionais e internacionais no século XX.
políticas de Estado no Brasil e no
mundo.

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CONCEITOS/ COMPETÊNCIAS/ SUGESTÕES DE
ANO TEMAS HABILIDADES CONTEÚDO
ESTRUTURANTES
65
65
3ª série • Poder 1. Identificar as transformações e 1. Os fundamentos políticos da cidada-
• Cidadania permanências históricas provocadas nia e os direitos humanos: séculos XIX-
• Identidade pelos movimentos sociais, conside- XX.
rando as especificidades dos contex- 2. O movimento operário e o mundo do
tos em que ocorreram. trabalho na Europa e na América.
2. Estudar os processos de aquisi- 3. Os camponeses, o mundo rural e a
ção de direitos sociais e políticos de questão da terra no Brasil e na América
grupos étnicos, sexuais e etários nos Latina.
Estados contemporâneos. 4. Estado, diversidade étnica e racismo.
3. Refletir sobre as tensões sociais e 5. História das mulheres e das relações
políticas nos processos de constitui- de gênero.
ção dos Estados e nações. 6. História dos movimentos culturais de
juventude (organizações estudantis; gru-
pos juvenis; movimentos musicais e cul-
turais, como o rock, o rap e o reggae).

É bem sabido o quanto, ao longo do sé-


V - Estratégias culo XX, o conceito de documento histórico
para a ação docente foi sendo ampliado e problematizado. Além
dos documentos oficiais escritos (certidões,
e avaliação tratados políticos, processos judiciais, tes-
tamentos), os registros diretos do passado
Os procedimentos didáticos que envolvem passaram a dizer respeito a todas as instân-
a aprendizagem devem ser orientados visan- cias do cotidiano (cartas pessoais, diários
do ao desenvolvimento de um conhecimento e cadernos de anotação, poesias, letras de
crítico, reflexivo, que desenvolva competên- músicas, grafites e inscrições) e a todas as
cias a partir do uso das habilidades específi- formas de manifestação das atividades hu-
cas antes mencionadas. manas. Ruas, praças, prédios públicos, tem-
Dentre as competências gerais da área plos e monumentos são testemunhos vivos
de Ciências Humanas e suas Tecnologias, da cultura material das sociedades e contêm
aquela que está mais diretamente vincula- registros precisos das criações sociais e cul-
da aos procedimentos específicos da análise turais. Além disso, os documentos poderão
histórica é a Contextualização sociocultu- ser orais, sonoros (tradição oral, música) e
ral. Saber articular dados e informações às iconográficos (pinturas em papel, tela ou
diferentes instâncias temporais e atribuir-lhes parede; imagens fixas, como a fotografia;
significado é uma competência de grande imagens em movimento, como a televisão e
potencial formativo. o cinema)12.
Para a disciplina de História, o trabalho De modo geral, os conhecimentos históri-
com documentação primária mostra-se cru- cos tornar-se-ão significativos para os alunos
cial, porque isso dá aos alunos a oportunida- quando estiverem relacionados na prática ou
de de participar diretamente na elaboração em teoria às suas vivências e inserções histó-
de conhecimento a respeito do passado e ricas. Por essa razão, é fundamental que ao
desenvolver as habilidades de organização, longo das séries de estudo aprendam e apri-
análise e reflexão. morem a capacidade de reconhecer costumes,
12
Carla PINSKY (org). Fontes históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2005; Maria do Pilar A. VIEIRA. A pesquisa em história (Série princípios). São
Paulo: Editora Ática, 1989.

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valores e crenças de outros povos e de outras “certas” ou “erradas”. A avaliação deve ser,
épocas; que consigam distinguir as formas de antes de tudo, um processo regulador da
66
66 trabalho e de comunicação, as técnicas e as aprendizagem, orientador e reorientador
tecnologias de diferentes contextos históricos; do percurso escolar. Sua finalidade deve ser
que possam reconhecer que os sentidos e os a de certificar aquisições realizadas pelos
significados para os acontecimentos históricos alunos, não apenas as de caráter cognitivo,
e cotidianos estão relacionados com a forma- mas também as competências e habilidades
ção social e intelectual dos indivíduos e com alcançadas.
as possibilidades e os limites construídos nas Para avaliar o desenvolvimento das com-
consciências dos grupos sociais, sexuais, étni- petências e habilidades, o professor deverá
cos e etários. considerar os conhecimentos prévios trazi-
O papel do professor deixa de ser o de dos pelos alunos para poder relacioná-los
mero transmissor de informações e conteú- com as mudanças ocorridas no processo de
dos. É preciso considerar que vivemos numa aprendizagem. Será preciso levar em conta
sociedade marcada pela altíssima capacida- a ampliação das noções, conceitos, procedi-
de de processar, armazenar e distribuir in- mentos, como conquistas dos alunos, com-
formações em tempo real, através de meios parando o antes, o durante e o depois. É
eletrônicos e digitais. Nessa sociedade infor- parte importante da avaliação diagnosticar
matizada, aos educadores, está reservado o a capacidade de iniciativa nas ações signifi-
papel imprescindível de seleção, organiza- cativas para a aquisição de conhecimentos,
ção e interpretação das informações, con- como a seleção e a coleta de informações, a
dição essencial para a inserção social dos capacidade de discernimento na leitura, re-
indivíduos. flexão e crítica dos textos e documentos, na
Faz parte do trabalho do professor saber proposição de alternativas de análise e in-
estruturar uma proposta coerente de traba- terpretação das questões e problemas estu-
lho com a realidade social na qual a escola dados, e na capacidade de expressão (oral,
em que atua está inserida, diagnosticar o que escrita) dos resultados alcançados.
os alunos sabem e pensam sobre o tema de
estudo, definir propostas de ensino, elencar
e escolher atividades pedagógicas adequa- Conclusão
das e material didático pertinente para cada O objetivo da disciplina de História é pro-
situação. Essas escolhas devem estar subor- porcionar condições e oferecer ferramentas
dinadas a objetivos claramente estabelecidos conceituais para que os alunos possam com-
e articulados com as vivências próprias do preender de modo crítico a maneira pela qual
meio de que faz parte. Nesse caso, sua fun- a realidade social é construída, e o quanto a
ção passa a ser a de organizador do conhe- ação dos sujeitos resulta em diferentes mo-
cimento, de orientador de atitudes positivas dos de percepção dessa realidade. Ao definir
e dinâmicas dos alunos na busca de compe- e estabelecer como objetivo a busca de com-
tências e habilidades. petências, mediante o desenvolvimento de
Na avaliação do processo de apren- habilidades específicas, espera-se que a na-
dizagem, é fundamental que o professor tureza relacional do saber histórico contribua
consiga ir além dos limites das aferições efetivamente para a formação de indivíduos
aritméticas, das médias de acerto obtidas indagadores, criativos, participantes efetivos
pelo cálculo entre respostas consideradas na sociedade.

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Referências ______.; RANGER, Terence (Orgs.). A Invenção das
Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
KARNAL, Leandro (Org.). História na Sala de Aula:
ABREU, Martha; e SOIHET, Raquel (Orgs.). Ensino de 67
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História: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de
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LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, SP:
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Ed. da UNICAMP, 1992.
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______. O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo:
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Roselane Zordan Costella

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Disciplina de Geografia
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A Geografia é, por natureza, uma ciên- faz parte dessa representação a capacidade
cia interdisciplinar, abrangendo várias áreas de transformar em conhecimento as inúmeras
do conhecimento e utilizando conceitos que informações que o mundo apresenta para, a
envolvem a natureza e a sociedade em seus partir delas, compreender a produção espa-
aspectos econômicos, populacionais, políti- cial.
cos; enfim, tudo aquilo que permita a leitura
coerente do espaço geográfico. Entretanto, Competências e habilidades
como nas demais disciplinas que compõem no ensino da Geografia
a área de Ciências Humanas e suas Tecnolo-
gias, o envolvimento de vários docentes em No que se refere às competências e habi-
ações multidisciplinares deve considerar as lidades que se pretende desenvolver a partir
condições intelectuais e materiais do traba- deste Referencial Curricular para o ensino da
lho dos professores e seu compromisso com Geografia nas escolas da Rede Pública do Rio
a formação continuada e o entendimento dos Grande do Sul, foram levadas em conta as
fundamentos básicos das áreas do saber que indicações contidas nas orientações estabele-
se pretende integrar. Sem isso, essas ações cidas a partir da LDB/96 (Parâmetros e Orien-
resultarão na diluição da Geografia nos es- tações Curriculares), as quais são pautadas
paços de outras disciplinas e num somató- em três eixos: a competência de representar
rio de conceitos e conteúdos emaranhados e comunicar, a de investigar e compreender e
aleatoriamente, sem qualquer sentido para a a de contextualizar social e historicamente os
formação dos estudantes. conhecimentos. Numa perspectiva mais deta-
Em síntese, propõe-se que o aluno desen- lhada, a Geografia deve levar o educando a:
volva competências e habilidades que lhe • Conhecer a organização do espaço
permitam compreender, com mais clareza, geográfico e o funcionamento da na-
os diversos espaços que compõem o mundo, tureza em suas múltiplas relações, de
a partir de conceitos estruturantes da ciência modo a compreender o papel das so-
geográfica, quais sejam, os de paisagem, lu- ciedades em sua construção e na pro-
gar, território, territorialidade, redes, globa- dução do território, da paisagem e do
lização, escala e ambiência. Tais conceitos lugar;
balizarão o desenvolvimento das competên- • Identificar e avaliar as ações dos ho-
cias de ler, escrever e resolver problemas, a mens em sociedade e suas consequên-
serem desenvolvidas durante a educação bá- cias em diferentes espaços e tempos, de
sica, afastando-se das visões tradicionais que modo a construir referenciais que pos-
dissociavam natureza e sociedade, desconsi- sibilitem uma participação propositiva
derando as múltiplas e complexas relações e reativa nas questões socioambientais
de interdependência que existem entre elas. locais;
A Geografia constitui-se, assim, em caminho • Compreender a espacialidade e tem-
que possibilita estabelecer relações constan- poralidade dos fenômenos geográficos
tes entre espaços mais próximos e espaços estudados em suas dinâmicas e intera-
mais distantes e complexos. A compreensão ções;
dessa complexidade decorre da condição de • Compreender que as melhorias nas
representar o espaço geográfico. Para isso, condições de vida, os direitos políticos,
não basta percebê-lo, sendo preciso interna- os avanços técnicos e tecnológicos e as
lizá-lo e processá-lo mentalmente. Também transformações socioculturais são con-

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quistas decorrentes de conflitos e acor- precisa ter visto antes uma planta da cidade,
dos, que ainda não são usufruídas por para conseguir se orientar sobre ela.
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72 todos os seres humanos e, dentro de Desse modo, não é o conteúdo planta ou
suas possibilidades, devem empenhar- cidade que acomoda esse saber, e sim o que
se em democratizá-las; envolve a orientação: lateralidade, projeção
• Conhecer e saber utilizar procedimen- espacial, escala, leitura de símbolos e outros
tos de pesquisa da Geografia para elementos que não dependem da planta es-
compreender o espaço, a paisagem, o tudada, mas das habilidades e competências
território e o lugar, seus processos de que foram adquiridas através desse estudo e
construção, identificando suas relações, que, por sua vez, poderão ser aplicadas em
problemas e contradições; infinitas plantas de infinitos lugares.
• Fazer leituras de imagens, de dados e de Quanto às habilidades e competências que
documentos de diferentes fontes de infor- norteiam o ensino da Geografia, elas têm sua
mação, de modo a interpretar, analisar e origem em três competências básicas.
relacionar informações sobre o espaço A primeira refere-se ao ler. Na Geogra-
geográfico e as diferentes paisagens; fia, ler significa compreender os signos que
• Saber utilizar a linguagem cartográfica para compõem o espaço em suas representações.
obter informações e representar a espacia- Ler, sob essa ótica, significa atribuir significa-
lidade dos fenômenos geográficos; dos aos componentes do espaço próximo e
• Valorizar o patrimônio sociocultural e distante, por meio de gráficos, mapas, figu-
respeitar a sociodiversidade, reconhe- ras e outros elementos que possam ser indi-
cendo-a como um direito dos povos e cadores de entendimento do espaço.
indivíduos e um elemento de fortaleci- A segunda competência refere-se ao es-
mento da democracia. crever, o que corresponde ao textualizar,
com coerência e entendimento, os aconteci-
No que se refere à apreensão dos concei- mentos articulados que envolvem o mundo
tos, importa lembrar que o aluno os compre- em diferentes escalas. O desenvolvimento
ende não apenas pelas informações contidas desta competência visa desenvolver no aluno
neles, mas pelas relações que pode estabe- a capacidade de produzir textos contextuali-
lecer com eles. Isso significa dizer que um zados no tempo e no espaço.
conceito é compreendido quando o aluno se A terceira competência diz respeito ao
apropria do novo, como resultado do pro- resolver problemas, o que, nesta ciência,
cesso de interação entre o conhecimento que compreende o poder de argumentação fren-
já possui e o que lhe é apresentado. te a situações que exigem reflexões suscita-
Logo, a construção de conhecimentos so- das por dificuldades e tensões que o espaço
mente se efetiva quando são desenvolvidos apresenta. Resolver problemas é, portanto,
mecanismos que levem os alunos a trans- propor soluções não somente para situações
formar informações em conhecimentos, os imediatas, mas também para aquelas que o
quais não estão centrados no conteúdo, mas aluno possa prever a partir das complexida-
em infinitas possibilidades de aplicação em des apresentadas pelo espaço.
situações diversas. As habilidades que competem ao ensino
A aplicabilidade do conceito, no entanto, de Geografia dependem da observação,
somente será possível se o aluno tiver desen- pois o laboratório desta ciência é o campo, o
volvido competências e habilidades necessá- espaço geográfico, em suas diversas escalas.
rias para isso. Quando um adulto, fora da O desenvolvimento dessa habilidade possibi-
escola, por exemplo, for utilizar a planta de lita a compreensão dos diferentes elementos
uma cidade para chegar a um lugar qual- que compõem o espaço e as relações exis-
quer, ele aplica saberes geográficos, e não tentes entre esses elementos. A partir destas

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leituras, os alunos serão capazes de escre- o lugar, o espaço, a escala, a territoriali-
ver sobre as ações que compõem o espaço dade, a globalização e as redes.
e refletir sobre as tensões e diferenças que As habilidades descritas são fundamentais 7373
fazem parte da heterogeneidade observada, para que se desenvolvam as competências.
podendo propor a resolução dos problemas Tornar o aluno competente é proporcionar-
que envolvem cada contexto observado. lhe a vivência de diversas situações em que
Outra habilidade é a compreensão da in- ele possa utilizar o que aprendeu para re-
ter-relação dos eventos, tanto naturais como solver diferentes desafios. Os desafios são
sociais, no espaço. Essa capacidade permite constituídos por situações (e não conteúdos),
a interpretação de dados e desenvolve a ca- compostas por infinitas possibilidades articu-
pacidade de ler e produzir textos e analisar os ladas no momento da aplicação, pelo aluno,
problemas que o espaço possa apresentar. daquilo que ele aprendeu.
O ensino da Geografia também visa de- Como competência a ser desenvolvida pelo
senvolver a habilidade da representação ensino da Geografia, é importante destacar
espacial. Representar um espaço não é so- o domínio da linguagem que articula o co-
mente percebê-lo numa leitura preliminar, nhecimento dessa ciência, lembrando que esse
mas compreendê-lo no mundo, numa escala domínio vai além da interpretação de signos,
planetária e local. Quando representa em compreendendo a aplicabilidade de qualquer
seu imagético um espaço como a Índia, por tema ou conceito na interpretação de fatos ob-
exemplo, é importante que o aluno considere servados, inter-relacionados e assim compre-
não somente dados enciclopédicos memori- endidos num contexto espaciotemporal.
zados sobre esse país, mas aborde suas vi- O domínio da linguagem geográfica
vências, as relações que o país apresenta em oportunizará ao aluno a compreensão de
seus aspectos humanos e econômicos, como diferentes mapas, gráficos ou figuras que
também as relações histórico-espaciais que representam o espaço e suas relações, pois
tem com o restante do mundo. saber ler o espaço é saber escrever sobre ele
A habilidade de compreensão espacio- e assim ter condições de interagir com ele.
temporal pontua toda a contextualização Outra competência fundamental é a
dos eventos que compõem as relações es- transposição dos eventos que compõem
paciais. Sem ter desenvolvido esta habili- o espaço em diferentes escalas. Por meio
dade, o aluno será incapaz de interpretar dela é possível estabelecer uma relação
as questões espaciais, o que dificultará sua constante do lugar do aluno com outros lu-
leitura do mundo. Cabe ao professor de gares do mundo. A capacidade de represen-
Geografia alfabetizar cartograficamente o tar diversos lugares e compreender as rela-
aluno, o que significa conduzi-lo à compre- ções existentes entre eles está relacionada a
ensão dos signos, interpretando-os no con- todas as habilidades desenvolvidas. A opera-
texto. A alfabetização cartográfica permite o ção dos conceitos geográficos permite, com
desenvolvimento das habilidades de leitu- maior naturalidade, a interpretação do espa-
ra, produção e interpretação de mapas, ço em diferentes escalas.
gráficos, desenhos e outros elementos O desenvolvimento do espírito crítico,
que compreendem a representação do por sua vez, é uma competência que supõe
espaço. argumentação, e saber argumentar está re-
Os conceitos que estruturam a disciplina lacionado principalmente à habilidade de
da Geografia devem estar presentes no de- interpretação e análise dos diferentes ele-
senvolvimento das habilidades e o professor mentos que compõem o espaço. O aluno,
deve promover situações em que os alunos ao interagir com as relações que o espaço
consigam compreender a articulação apresenta de forma interpretativa, compre-
existente entre o território, a paisagem, endendo os conceitos estruturantes da dis-

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ciplina, será capaz de argumentar sobre o autonomia. Esse conceito é aplicado sempre
mesmo, não somente criticando as relações que se estudam países, estados, cidades ou
74
74 consideradas tensas, mas também opinando até lugares específicos compreendidos por
e posicionando-se diante dessas relações. fronteiras concretas ou simbólicas.
Finalmente, registre-se que todo o evento O conceito de território deve fazer parte do
estudado em Geografia apresenta três ele- cotidiano da sala de aula e ser contemplado
mentos fundamentais: a ação que representa constantemente, pois a Geografia também ex-
o próprio evento, o momento que o justifica plica a mobilidade das fronteiras nos mapas
e o espaço que o localiza. Portanto, a com- que representam o mundo. Se esse conceito
preensão geográfica depende, fundamen- for bem trabalhado, fica mais fácil fazer uma
talmente, da capacidade de compreender leitura adequada dos mapas e suas modifica-
a dimensão espaciotemporal dos eventos ções no decorrer dos processos temporais.
analisados. O espaço e o tempo são catego- Num olhar mais apurado, o território
rias que auxiliam a leitura e a interpretação pode também ser lido como uma paisagem
de qualquer elemento que compõe os con- que compreende em si não somente o que
ceitos estudados e articulados, a partir de sua está sendo vivenciado, mas também um tes-
adequada contextualização. temunho de vivências de outros tempos, que
É importante que todas as habilidades e deixam significados aguçados de relações
competências aqui relacionadas estejam pre- temporais e espaciais.
sentes em cada momento da aprendizagem, o A paisagem representa tudo aquilo que
que envolve a vontade do aluno em aprender, se vê num determinado momento, assim os
a condição do professor de ensinar e o valor territórios abrangem muitas paisagens que
do conceito no ato da construção do conheci- explicam as características destes territórios.
mento. É grande, portanto, a responsabilida- Quando o aluno constrói o conceito de
de do educador, que também deve se preocu- paisagem, ele reconhece que existem inúme-
par em tornar a educação um compromisso ras composições espaciais sobre um mesmo
interdisciplinar, que depende de saber ler a território. O mais interessante no estudo das
linguagem de cada ciência e saber escrever o paisagens é reconhecer que elas poderão ser
que o outro possa interpretar, visando resolver observadas de formas diferentes por diferen-
desafios que a vida possa apresentar. tes alunos, e assim essas inúmeras interpre-
tações de um mesmo recorte de espaço fa-
cilitam as discussões e apresentam ao aluno
Conceitos estruturadores possibilidades de ler essas representações de
do ensino da Geografia forma identitária, valorizando o seu saber e
respeitando a leitura e os saberes do outro.
A Geografia, como qualquer outra ciên- O conjunto de acontecimentos, paisagens,
cia, apresenta na estrutura do seu conteúdo lugares e interpretações, a partir de diferen-
uma base de conceitos importantes para a tes leituras de mundo, constitui o conceito
compreensão das diferentes escalas dos es- de espaço geográfico que é definido como
paços estudados. É a partir desses conceitos todo espaço pertencente ao planeta, que tem
que os alunos constroem o conhecimento como características marcantes a ação e a
geográfico e têm possibilidade de aplicá-los intenção do homem:
sempre que necessário.
Um dos conceitos que possibilita a com- “O espaço é formado por um conjunto indisso-
preensão do mundo dividido por fronteiras ciável, solidário e também contraditório de sistema
de objetos e de sistema de ações não consideradas
políticas ou por outro tipo de poder é o de isoladamente, mas como o quadro único no qual a
território, que compreende o domínio de história se dá” (SANTOS, 1997, p. 51).
um determinado espaço que apresenta certa

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Esse conceito, trazido por Milton Santos, O lugar é um outro conceito importante
compreende o espaço como um palco de que compete à Geografia. Estudá-lo é com-
acontecimentos que se modifica constantemen- preender os acontecimentos que estão mais 7575
te em função das ações dos homens sobre os próximos do aluno, pois o lugar representa o
objetos que o espaço apresenta. Imaginemos espaço de vivência, de identidade, de conti-
uma área urbana ou uma área rural. Em am- nuação do próprio aluno e de suas relações.
bas acontecem inúmeras modificações com o A leitura do lugar não é simplista e unidi-
passar do tempo e todos esses acontecimen- recional, ela é carregada de conteúdo global
tos estão associados a outros acontecimentos. e compreende uma bagagem temporal que
Muitas vezes, o que ocorre no espaço não é do explica muitos canais de conexões. Não se
interesse de todos os sujeitos que o compõem, trata de sair do estudo da família na 1ª série
e é por isso que as relações entre os aconteci- do ensino fundamental e de chegar ao estudo
mentos podem gerar tensões e conflitos. do mundo na 8ª série do ensino fundamental,
Essas tensões comprovam que o espaço é como se faz na maioria das composições de
heterogêneo e contém infinitas relações. Ao conteúdos sistematizados em escolas. Trata-se
estudar o espaço com essa representativida- de fazer com que, em cada série, os alunos se
de, é permitido ao aluno vivenciar constan- apropriem de cada lugar estudado, sentindo-
temente a condição de se posicionar e resol- os, realmente, como um ponto identitário.
ver problemas que aparecem na leitura dos Para que o aluno chegue a essa com-
acontecimentos. O aluno precisa reconhecer preensão, o professor precisa conhecer o
as contradições e se posicionar perante elas, conteúdo da Geografia, dominando sua es-
emitindo constantemente pareceres e refle- sência e tendo clareza da sua validade, e
xões sobre os problemas emergentes. ser capaz de transformar esse conteúdo em
Ao compreender essas interações, é indispen- conhecimento no pensamento dos alunos.
sável que os alunos enxerguem sempre o todo E para que o mundo seja um lugar para os
do espaço como um conjunto e não como uma alunos, o professor deve estar sempre aten-
soma de conteúdos estanques e sem sentido. to aos acontecimentos globais, cuidando
Por exemplo, ao estudar os continentes de ligá-los à vivência de seus educandos e
separadamente, obedecendo a uma lógica considerando as inúmeras relações que se
dos manuais didáticos, costuma-se iniciar estabelecem, atualmente, entre os diferentes
por aspectos naturais, seguindo-se os huma- lugares do mundo.
nos e os econômicos. Após a conceituação A globalização está vinculada a um
de cada “gaveta”, realiza-se uma prova para conjunto de inovações na comunicação e
avaliar se as informações foram acumuladas, na informatização, transformando o mun-
reforçando-se dessa forma a reprodução do do em uma grande rede composta por di-
senso comum sobre o continente. Entretanto, ferentes elos e ligações. Ao compreender
o que é interessante para o aluno é enxergar a globalização, é possível compreender
no conteúdo as relações que existem entre as tensões existentes no mundo, os avan-
os diferentes assuntos trabalhados. Assim, ao ços de muitas nações e o recuo de outras,
estudar um continente, seria bem mais ins- tanto nas questões econômicas como em
tigante relacionar constantemente o quadro indicadores sociais.
natural com a distribuição da população, Os conceitos estruturantes aqui apresen-
com as riquezas minerais ou com a concen- tados, e que compõem o Referencial Curri-
tração econômica, por exemplo. cular da Geografia, estão propostos de for-
Se o conteúdo for trabalhado de uma for- ma articulada e compreendem um conjunto
ma associada, o espaço geográfico será en- de ações a serem desenvolvidas na sala de
tendido com maior facilidade e passará a ter aula. A partir do entendimento dos conceitos
significado para o aluno. de território, paisagem, lugar, globalização

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e espaço geográfico, os professores poderão pre haverá essa relação, articulada ao desen-
trabalhar outros conteúdos que derivam dessa volvimento de habilidades e competências.
76
76 compreensão. Na 5ª e na 6ª séries do ensino fundamen-
O entendimento e a leitura de mapas, a tal, os alunos já devem reconhecer o espaço
análise de diferentes escalas, a textualização por meio da projeção espacial e precisam es-
de espaços mundiais e a compreensão do tar preparados para vivenciar cada momen-
tempo e do espaço como sistemas dinâmicos to da alfabetização espacial. Portanto, é im-
são consequência de articulação dos diferen- portante trabalhar, por meio de oficinas, de
tes conceitos estruturantes. forma que os educandos participem de cada
Contudo, é fundamental lembrar aqui que, etapa do processo da aprendizagem.
para tornar esses conteúdos mais prazerosos e Antes de ler um mapa, por exemplo, ele
desafiadores, os professores precisam estar sem- deve mapear; antes de estudar uma rosa dos
pre atentos a acontecimentos cotidianos, muitas ventos, ele deve construí-la no pátio da es-
vezes simples, aproveitando-os em suas ativida- cola; antes de ler um texto pronto referente à
des de ensino e aprendizagem, pois a Geografia organização espacial, ele deve textualizar a
tem como principal laboratório de ensino o pró- partir de maquetes; e assim por diante.
prio mundo, em diferentes escalas, o que inclui, Para serem capazes de ler diferentes espaços,
de modo destacado, a sala de aula. paisagens ou lugares, é necessária a compre-
ensão dos signos da Geografia na 5ª e na 6ª
séries, graças aos quais serão instrumentaliza-
Conteúdos dos para atingir outros níveis de complexidade.
relacionados aos É fundamental registrar que o diferencial
conceitos estruturantes deve estar na metodologia trabalhada, já que o
aluno precisa participar ativamente da constru-
e às habilidades ção do conhecimento, quando a descentração
e competências. deve se fazer presente, pois o aluno precisa,
paulatinamente, teorizar os conceitos, compre-
Operacionalização endendo-os e não apenas memorizando-os.
metodológica Conteúdos indispensáveis para compreen-
der a Geografia, como coordenadas geográ-
A título de sugestão, este Referencial Cur- ficas, fusos horários, movimentos da Terra, por
ricular relaciona as competências compreen- exemplo, não podem ser trabalhados como
didas em cada bloco de conteúdos aos três modelos fechados propostos pelo professor.
eixos da disciplina, a saber: O aluno precisa antes manipular o globo para
• Representar e comunicar, o que envolve compreender os movimentos, responder cons-
todas as leituras realizadas referentes tantes indagações para entender diferenças
às relações espaciais; de horas ou coordenadas geográficas. Tudo
• Investigar e compreender, o que se apli- o que envolve o Universo deve ser trabalha-
ca às situações de textualização espa- do no sentido das relações dos elementos que
cial; e compõem o cotidiano do estudante, como
• Contextualização sociocultural, presente as questões de luminosidade, importância da
no desenvolvimento do poder argumenta- Lua, as estações do ano, as estrelas...
tivo e crítico que resultará na resolução de As paisagens climato-botânicas, por sua
problemas evidenciados constantemente. vez, também devem aparecer em relação
A relação entre a discussão dos conceitos com o lugar do aluno: por meio de saídas
estruturadores e os conteúdos deve ser íntima de campo, os alunos observam, descrevem
e complementar. Em cada bloco de conteú- e textualizam o espaço para, posteriormente,
dos, que conterá os conceitos por série, sem- poder comparar os dados locais com escalas

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planetárias. Se o aluno mora num lugar onde tantes. As leituras e interpretações de mapas,
existam campos, por exemplo, este bioma é gráficos e tabelas deverão pautar todos os
o ponto de partida para levá-lo a pensar em conteúdos. Para priorizar as competências de 7777
outros lugares do mundo que registram a ler, escrever e resolver problemas, é interes-
mesma ocorrência geográfica e, a partir do sante recorrer à utilização de músicas, poe-
seu lugar, compreender as semelhanças que sias, charges, notícias, figuras e outros meios
caracterizam esses lugares. que provoquem a reflexão do aluno.
Na 6ª série do ensino fundamental, os O espaço é um sistema de ações e elas
alunos precisarão aplicar os conceitos cons- precisam estar presentes em todas as ques-
truídos na 5ª série num espaço ainda próxi- tões. Um conteúdo não pode ser trabalhado
mo. O estudo do Rio Grande do Sul deverá isoladamente, é necessário contextualizá-lo
ser abordado de forma contínua, estabele- no tempo e no espaço. A leitura de mapas e
cendo relações com o Brasil, pois é a partir a comparação destes por meio de análises e
da compreensão das relações estabelecidas interpretações são um bom caminho metodo-
no Estado que se pode compreender, poste- lógico para representar o espaço brasileiro e
riormente, o país e o mundo. colocá-lo no espaço mundial, preparando as
Metodologicamente, a 5ª e a 6ª séries leituras que serão realizadas em outras séries.
compreendem assuntos que deverão ser Em vista disso, apresentam-se a seguir os
abordados num contexto de relações cons- blocos de conteúdos para a 5ª e a 6ª séries:

Sugestões de blocos de conteúdos (5ª série)


Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
1. Representar o es- 1. Nesta série, os 1. O aluno no seu 1. Saídas de campo pelo lugar do
paço vivido em suas conceitos estruturan- lugar, na sua paisa- aluno, textualização, representação
inter-relações. tes serão estudados gem, no seu espaço; de paisagem por meio de figuras,
de forma mais próxi- A orientação aplica- desenhos e maquetes.
ma ao aluno: da ao lugar.
Conceitos:
- Lugar, espaço, pai-
sagem e escala.
2. Compreender 2. Acontecimentos 2. Construção de maquetes locali-
comportamentos cotidianos explicados zando a Terra no Sistema Solar numa
cotidianos por meio a partir do entendi- escala fictícia; trabalho com o globo
de transposição de mento da dinâmica nas mãos dos alunos na construção
escalas espaciais. do espaço sideral. de hipóteses; observação da Lua com
desenhos representativos de cada fase.
3. Ler o espaço pro- 3. O mapa e seus 3. A partir da construção de maque-
jetado nos mapas signos tes, o aluno pode produzir mapas/
em diferentes esca- croquis por meio da visão vertical
las. das maquetes. É importante que se
aplique os conceitos de orientação
e localização nas leituras de mapas,
trabalhando com Atlas e produções
de textos a partir dessas leituras.
4. Compreender a 4. O clima e a ve- 4. O aluno precisa observar o espaço
relação entre a lo- getação do lugar do próximo, fazer levantamentos das ca-
calização, o clima, a aluno relacionados racterísticas desse espaço e, por meio
vegetação e a ação às paisagens mun- de desafios, transferir essas caracte-
do homem no espa- diais. rísticas a escalas mundiais, através da
ço geográfico. leitura de mapas, gráficos e figuras.

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Sugestões de blocos de conteúdos (6ª série)
Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
78
78 estruturantes
1. Ler e representar Os conceitos es- 1. As paisagens 1. Por meio de leitura de mapas, mú-
paisagens diferencia- truturantes – lugar, relacionadas aos sicas, charges e desenhos, os alunos
das do Rio Grande espaço, paisagem, aspectos naturais – interpretarão diferentes paisagens,
do Sul e do Brasil. escala, território e econômicos e demo- partindo do lugar das vivências para
territorialidade – gráficos. espaços maiores. As paisagens de-
serão abordados vem ser estudadas, nas inter-relações,
no contexto do Rio compreendendo o espaço como um
Grande do Sul e do todo, por meio de desenho e textua-
Brasil. lização das características que dife-
renciam as paisagens, argumentando
sobre diversas possibilidades de pre-
servação e ocupação dos espaços.

2. Relacionar os di- 2. Recursos natu- 2. Produção de textos e realização de


ferentes eventos que rais, econômicos e leituras que favoreçam a textualiza-
compõem o espaço populacionais em ção do espaço estudado. Leitura de
para explicar a sua diferentes paisagens artigos jornalísticos, que apresentam
organização. gaúchas e brasileiras. dinâmicas que ajudem a interpretar o
espaço. Utilizar vários tipos de mapas
para comparar informações, como a
distribuição populacional relacionada
ao clima, relevo, economia.

3. Compreender 3. O aluno na vida 3. Aproveitar os acontecimentos que


numa escala espa- urbana e suas rela- envolvem o aluno observado no seu
ciotemporal a dina- ções com o campo: dia a dia para abordar os conceitos,
mização dos aconte- indústria, agropecuá- utilizando os produtos consumidos
cimentos. ria e serviços. por eles e considerando sua origem,
o destino, o valor e todos os serviços
que envolvem a produção.
É interessante abordar o conjunto
de relações campo-cidade, evitando
trabalhá-los separadamente.

4. Aplicar conceitos, 4. Abordagem do 4. As leituras de mapas favorecem


compreendendo a Brasil regional e suas uma aprendizagem relacional, por
articulação entre relações com o mun- meio de levantamento de característi-
territórios, paisagem do. cas que por sua vez regionalizam um
e lugar. espaço. É interessante que o aluno
compreenda o porquê da regionali-
zação e possa justificá-la. O mapa
contém dados que permitem esse
conhecimento, assim como a leitura e
a interpretação de paisagens que ca-
racterizam e territorializam o espaço.

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Os alunos de 7ª e 8ª séries podem compre- O conhecimento não está potencializa-
ender as relações espaciais de maneira mais do em partes desconexas, pois as ações não
abstrata, pois já são capazes de construir suas acontecem isoladas, mas sim internalizadas. 7979
próprias formas de pensamento e questionar Estudar um continente relacionando com ou-
as organizações espaciais defendendo pontos tro e com o Brasil, por exemplo, é uma pro-
de vista próprios e discutindo, com maior pro- posta desafiadora, através da qual o aluno
priedade, os assuntos geográficos. pode observar as simultaneidades espacio-
A representação espacial deve compor um temporais para compreender o seu próprio lu-
conjunto de elementos inter-relacionados que gar no mundo. Para isso, são importantes au-
expliquem as ações que compõem o espaço las dinâmicas, planejadas de modo a oferecer
mundial. Para que as ações planetárias tenham leitura e interpretação de mapas, textos didá-
sentido na compreensão dos sistemas espa- ticos e jornalísticos. A partir da observação, os
ciais, os conteúdos precisam abordar diferen- alunos podem ser instigados a construir textos
tes territorialidades que justifiquem diferenças e resultantes de interpretações e análises refle-
proximidades existentes entre os povos. xivas, motivadas pela necessidade de resolver
A proposta metodológica que envolve o en- problemas.
sino da 7ª e da 8ª séries é o estudo de um con- Os conteúdos da 7ª série, respeitando a
junto de paisagens que dão conta da interpre- ideia de territorialidades na composição do en-
tação das ações que fazem parte do mundo. tendimento do espaço, estão assim distribuídos:
Sugestões de blocos de conteúdos (7ª série)
Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
1. Compreender a Os conceitos estrutu- 1. Localização e 1. É indispensável a apresentação dos
transposição dos rantes lugar, espaço, composição dos continentes mundiais, diferenciando-
eventos em diferen- paisagem, escala, continentes definidos os com atividades de leituras de ma-
tes escalas espaciais. território, territoriali- por diferentes paisa- pas, gráficos e figuras, mostrando a
dade, globalização e gens e características relação que eles têm entre si e com o
redes são aplicados inter-relacionadas. Brasil.
no estudo de rela-
ções estabelecidas
entre o continente
americano e o mundo.

2. Ler as relações 2. A situação geopo- 2. É fundamental situar o aluno em


mundiais em diferen- lítica do Brasil e da cada contexto que compreende os
tes contextos comu- América no contexto acontecimentos, respeitando a escala
nicacionais. da guerra fria e pós- temporal do educando. É interessante
guerra fria. que a representação de cada espaço
se dê a partir de acontecimentos lo-
cais e que os alunos transfiram cons-
tantemente esses acontecimentos para
diferentes leituras de mundo.

3. Desenvolver o 3. Divisão do mundo 3. É importante para o desenvolvimen-


espírito crítico e o em países centrais to desta competência situar o aluno
poder de argumenta- – emergentes e pe- na espacialidade, mostrando o porquê
ção na compreensão riférico –, relação dele ser emergente e diferenciando o
da espacialidade desta divisão com a seu cotidiano com outros países per-
mundial. formação de blocos tencentes a outros grupos de países.
econômicos e ques-
tões ambientais.

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Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
80
80 4. Compreender o 4. Continente ameri- 4. Trabalhar esse conteúdo de forma
espaço e seus eventos cano – questões na- integrada, mostrando as relações
num sistema de ações turais relacionadas às existentes e o conjunto de situações
contextualizadas na questões econômicas que territorializam o espaço. Sempre
relação econômico- e humanas. mostrar ao aluno as causas e conse-
social e natural. quências de cada evento espacial.

5. Ler e textualizar as 5. O domínio dos 5. As tensões geopolíticas do continen-


tensões que envolvem Estados Unidos no te americano, representadas no tempo
o espaço americano, Brasil, Oriente médio e no espaço num sentido contextuali-
o Brasil e o mundo. e mundo. As relações zado. O aluno precisa entender as re-
geopolíticas da Amé- lações compreendidas nessas tensões
rica Latina: com vistas à leitura do mundo. Loca-
. As transformações lizar no mapa as tensões e mostrar,
cubanas. por meio de interpretações de textos, o
. Guerrilha na Co- poder que emana desses acontecimen-
lômbia. tos; fazer com que o aluno transforme
. Fronteiras mexicanas. a informação em conhecimento.
. O gás da Bolívia.
. A Itaipu e os brasi-
guaios no Paraguai.
. O Haiti e o Brasil.

Na 8ª série, as análises compreendem ses, filmes que possam mostrar o cotidiano


uma escala planetária, as relações se am- de uma época num determinado espaço, por
pliam, sempre tendo em mente o desafio exemplo, utilizando músicas que retratem um
constante de construção e reconstrução de lugar determinado. Todas essas atividades
hipóteses. As teorias devem ser discutidas e farão a diferença no momento da aprendi-
as realidades lidas, visando transformar in- zagem, e assim as informações trazidas por
formações em conhecimento. esses diferentes meios, depois de discutidas e
Para que os alunos sintam-se desafiados, relacionadas aos conceitos estudados, serão
o professor deverá questioná-los constan- transformadas em conhecimento.
temente, por meio de provocações que os Para que o aluno compreenda as ações
façam refletir sobre figuras que evidenciem que formam o espaço geográfico, é impor-
paisagens de mundo, reportagens jornalísti- tante que o professor dê atenção às suges-
cas que tragam a realidade de outros paí- tões de conteúdos propostos:
Sugestões de blocos de conteúdos (8ª série)
Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
1. Representar a Na 8ª série a relação 1. Estudo Integrado 1. Essa competência precisa ser
espacialização pela dos conceitos estru- do Continente Euro- construída por dados comparativos e
articulação do poder turantes contempla o peu e Africano. leituras de mapas. Não se deve tra-
e das relações de espaço planetário de . Localização e par- balhar os continentes de forma com-
trabalho. forma interpretada e tilhas. partimentada como se as relações de
argumentativa: . Paisagens climato- um continente não influenciassem nas
Conceitos: botânicas e morfoló- relações de outros. O aluno precisa
. lugar, espaço, paisa- gicas comparativas fazer parte da leitura como se estives-
gem, escala, território, e relacionadas à se no próprio espaço e não com um

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Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
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81
territorialidade, globali- ocupação econômica olhar alheio a ele.
zação e redes. e demográfica.

2. Argumentar de for- 2. Espaço japonês e 2. O aluno será capaz de ler esses


ma crítica e textuali- Tigres Asiáticos. espaços com dinamicidade, se iden-
zada os espaços mun- Índia – China – Rús- tificar a interferência dos mesmos no
diais que explicam o sia: seu cotidiano. Comparar as relações
poder comunicacional . Configuração in- de exploração existentes na América
e técnico-científico. dustrial e comércio Latina com as explorações ocorridas
exterior. nesses espaços também é uma boa
forma de compreender as análises.

3. Compreender as 3. A espacialidade do 3. O estudo das tensões ocorridas no


inter-relações espacio- Oriente Médio no seu Oriente Médio deve estar pautado no
temporais nos acon- contexto natural-eco- entendimento deste espaço por meio de
tecimentos de tensões nômico e geográfico. constantes desafios, levando os alunos a
geopolíticas. concluírem sobre a importância geopolí-
tica relacionada à economia mundial.

4. Interpretar as 4. Os brasileiros na 4. Esses continentes deverão ser traba-


condições naturais Antártida – dificulda- lhados de forma integrada, dando sen-
e culturais na con- des e pesquisas. tido às suas localizações e condições
cepção da ocupação A Oceania é como naturais.
espacial. um conjunto de ilhas A leitura desses espaços por meio de
representadas pela mapas e suas interpretações provo-
dicotomia entre a carão textualizações paisagísticas em
cultura autóctone e a resposta a desafios constantes por
economia global. meio de resolução de problematiza-
ções. Estas relacionarão a ocupação,
as riquezas e as explorações geopolíti-
cas desses espaços.

Os alunos do ensino médio já devem ser ca- à competência de ler o mundo a partir do
pazes de teorizar e aplicar, a partir de proble- seu próprio olhar. Para isso, o professor não
matizações, os conceitos construídos ao longo pode esquecer de trabalhar com recursos
do ensino fundamental. Para compreender o que envolvam realidades locais que possam
espaço em que vivem, explicar os aconteci- ser transferidas para diferentes escalas. Es-
mentos cotidianos e as relações estabelecidas ses recursos podem incluir registros diversos,
entre esses acontecimentos e a organização como músicas e obras literárias regionais,
espacial, é preciso lançar sobre a Geografia que envolvam realidades espaciotemporais,
um olhar mais amplo e interpretativo. além de charges, desenhos e textos jornalís-
Retoma-se a necessidade de oportunizar ao ticos relacionados aos conceitos estudados.
aluno a formulação e refutação de suas hipóte- As aulas devem propor desafios, proble-
ses, abandonando modelos fechados e verda- matizações, que levem o aluno a pensar
des absolutas que não favorecem a construção sobre o assunto em pauta, construindo um
das competências propostas. No ensino médio, pensamento crítico e interativo com os acon-
é prioritário desenvolver no aluno a capacida- tecimentos do espaço.
de de interpretar fenômenos sociais. A localização no tempo e no espaço do
A autonomia da interpretação está ligada acontecimento estudado precisa favorecer

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a interação com seu lugar e com diferentes aula registros variados de informações, favo-
espaços projetados no mundo, por meio de recerá a reflexão sobre a posição e o lugar
82
82 leituras de mapas. que os educandos ocupam no mundo, o que
Assim, enxergar mentalmente as tensões e exige a leitura e a interpretação de mapas e as
se posicionar criticamente frente a elas são produções realizadas a partir dessas leituras.
um exercício metodológico indispensável Ao final da 3ª série, os alunos deverão es-
para aplicar e desenvolver as competências tar aptos a construir, mentalmente, um mapa-
de ler, escrever e resolver problemas. Para múndi e, a partir dessa construção, relacionar
realizar uma boa leitura do mundo em que permanentemente o Brasil e o mundo. Esse
vive, o aluno deverá situar-se nele, compre- mapa deverá representar o espaço planetário
ender o seu lugar, as suas relações, as cau- num contexto dinâmico, de forma a ser pos-
sas e consequências dessas relações e a pro- sível enxergar nele os territórios, territorialida-
dução e textualização do espaço. des, paisagens, redes, globalização, lugares e
Metodologicamente, é essencial que as espaços textualizados em diferentes escalas.
aulas sejam desafiadoras, apresentando cons- A partir dessas considerações, o conjunto
tantes desequilíbrios e reequilíbrios para que de temas e questões a serem trabalhados foi
os alunos tenham autonomia ao pensar o es- distribuído, sob forma de sugestão, nos se-
paço. Assim, além de trazer para a sala de guintes conteúdos:

Sugestões de blocos de conteúdos (1ª série)


Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
1. Investigar as Na 1ª série do ensino 1. Rede de conceitos 1. Apresentar para os alunos diferen-
ações que compõem médio, os conceitos que envolvem o es- tes figuras de diferentes paisagens e,
os espaços para estruturantes envol- paço: natural, cultu- a partir daí, levá-los a investigar essas
diferenciá-los em sua vem uma leitura mais ral, sideral, econômi- figuras para compreenderem as ações
organização. complexa do espaço co e geopolítico. que elas demonstram, classificando
natural. assim os conceitos e mostrando as
Conceitos: suas inter-relações.
. lugar, espaço, paisa-
gem, escala.

2. Compreender a 2. Relação de es- 2. O aluno precisa responder a cons-


organização espacial paço sideral com a tantes desafios e problematizações
em suas velocidades, Terra – movimentos; que o levem a compreender a relação
distâncias e relações formações – conse- direta e complexa existente entre os
com a Terra e seus quências cotidianas acontecimentos siderais e o desenvolvi-
acontecimentos. – estruturas. mento do espaço geográfico. O aluno
deverá propor hipóteses de movimen-
tos da Terra na dinâmica do espaço
sideral e comprovar essas hipóteses
com acontecimentos cotidianos, como
o movimento do Sol, da Lua...

3. Ler e interpretar os 3. Cartografia e os 3. Fazer o aluno ler diferentes mapas


signos cartográficos. elementos que per- e enxergar seu potencial interpretativo.
mitem interpretar um A apresentação espacial está pautada
mapa. na leitura de mapas. O aluno deve
produzir textos a partir dessas leituras.

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Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
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4. Investigar a orga- 4. Paisagens climato- 4. Além da leitura de mapas, esse é
nização do espaço botânica e culturais: um bom momento para fazer com que
natural em suas inter formação e ocupa- o aluno reflita sobre suas hipóteses
-relações com os ção. relativas à localização e às caracterís-
recursos econômicos ticas que compõem o espaço mundial,
e ocupações demo- pois não se deve abordar a paisagem
gráficas. natural sem investigar a organização
demográfica e econômica que esse
espaço compõe.

Se, na 1ª série, o aluno entender a di- mundiais. O mundo e suas relações esta-
nâmica natural relacionada ao seu lugar rão pautados na dinâmica e movimenta-
no espaço, na 2ªsérie, a partir dos acon- ção espacial, desenvolvidos nos seguintes
tecimentos estudados, ele poderá ler essa blocos de conteúdos, apresentados como
dinâmica, relacionando-a aos fenômenos sugestões:

Sugestões de blocos de conteúdos (2ª série)


Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
1. Contextualizar os Na 2ª série do ensino 1. Espaço bipolar, 1. O aluno deve representar o espa-
eventos espaciais médio, os conceitos multipolar, excluden- ço mundial e compreender assim as
historicamente para estruturantes são utili- te, excluído, periféri- diferenças que o mundo apresenta. É
compreender a orga- zados para representar co, emergente, cen- necessário que o aluno leia e interpre-
nização geopolítica inter-relações geopolíti- tral, capitalista, em te constantemente textos a partir dessa
do mundo. cas planetárias. transformação... leitura, compreendendo e aplicando os
Conceitos: acontecimentos estudados.
. lugar, espaço, escala,
território, territoriali-
dade, globalização e
redes.

2. Compreender as 2. Organização de- 2. O aluno deve enxergar o mundo


organizações huma- mográfica mundial. em movimento, argumentando o des-
nas, apresentando tino, a origem e as causas dos movi-
argumentos sobre as mentos, bem como a temporalidade
suas distribuições. da estrutura da população.

3. Ler e interpretar 3. Indústria – agro- 3. A leitura se dará pela análise crítica


o espaço em redes pecuária, comércio das relações econômicas e sociais. É
econômicas e so- interno – comércio importante que os alunos partam de
ciais. externo. questionamentos referentes às dife-
renças de ocupações dos espaços e
analisem o porquê das diferenças e as
consequências dessas análises.

4. Investigar e com- 4. Relações de po- 4. A leitura, interpretação e resolução


preender as tensões der: de problemas a partir de textos é uma
geopolíticas e mun- . conflitos; ação metodológica importante. O alu-
diais. . cidades informais; no precisa localizar a tensão geopolíti-
. xenofobia; ca e justificar essa localização com os

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Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
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84
. estruturas fundiárias; acontecimentos. Junto à localização, é
. exclusão digital; indispensável compreender os motivos
. venda de cérebros... e os espaços de territorialização envol-
vidos nesses conflitos.

5. Compreender o 5. Desgastes ambien- 5. No desenvolvimento da competên-


contexto histórico-es- tais. cia da contextualização do espacio-
pacial das paisagens temporal, é muito importante observar
diante das tensões inicialmente o lugar do aluno, investi-
ambientais. gar nesse lugar o que existe de tensões
ambientais e, assim, ampliar o enten-
dimento. Se o aluno fortalecer a sua
ação no lugar, com certeza ampliará
essa ação para o mundo e relacionará
essas tensões com a organização do
espaço.

Os conteúdos sugeridos para a 3ª série do ensino médio estão representados como uma
aplicação de conceitos sobre o Brasil e o Rio Grande do Sul, e são assim distribuídos:

Sugestões de blocos de conteúdos (3ª série)


Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
1. Contextualizar Os conceitos lugar, es- 1. Formação histórico- 1. Ler o espaço brasileiro por meio
espacial e historica- paço, escala, território, espacial do território de mapas, textos literários, notícias de
mente o Brasil para territorialidade, globali- brasileiro e gaúcho; jornais e acontecimentos locais. Sele-
compreender suas zação e redes deverão relações geopolíticas cionar diferentes mapas que mostrem
relações internas e estar representados internas do País; rela- as modificações das fronteiras do Bra-
externas. de forma coerente na ções internacionais do sil e propor que os alunos percebam
leitura de qualquer País. as mudanças e estabeleçam relações
espaço do mundo, entre os mapas, o que permitirá um
sempre partindo das entendimento do processo de regiona-
análises do Estado e lização do País.
do País. Construir um jornal dos acontecimen-
tos geopolíticos com comentários e
propor júris simulados que contem-
plem pesquisas também oportunizam
um fazer pedagógico mais significa-
tivo.

2. Representar o 2. Organização eco- 2. Trabalhar com questionamentos e


espaço e comunicar nômica do Rio Gran- discussões oportuniza a argumenta-
a compreensão das de do Sul e do Brasil: ção. As questões a seguir são exem-
relações espaciais. . relação campo/ plos de momentos desafiadores para
cidade; desencadear os estudos de conceitos:
. recursos minerais e “Por que o Brasil, apesar de ser um
energéticos relacio- dos países que mais produzem grãos
nados aos aspectos no mundo, é também um dos que
naturais; mais têm fome?”;
“Por que nosso país, apesar de ter e

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Competência Conceitos Conteúdos Operacionalização
estruturantes
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. comércio interno e exportar tanto ferro, não o utiliza para
externo. construir ferrovias que são meio de
transporte barato, eficiente e adequado
ao país?”;
“Por que temos tantas indústrias e
mesmo assim somos pobres e temos
desemprego?”.
Esses desafios instigam a reflexão dos
alunos e, a partir deles, o professor po-
derá mediar a construção do conheci-
mento, chegando aos conceitos neces-
sários para compreender a economia
do país e suas relações internacionais.

3. Compreender o 3. Relação das pai- 3. Para o aluno relacionar o estudo da


espaço, argumentan- sagens naturais e população do Brasil com a organiza-
do sobre a dinamici- econômicas com a ção do espaço brasileiro, é necessário
dade e a estrutura da estrutura e a distri- que o professor promova pesquisas
população. buição da população referentes a diferentes culturas que
gaúcha e brasileira. compõem o espaço e essas pesquisas
culminem em textos teatrais, poemas,
músicas, mostras de culinárias, dese-
nhos, maquetes e outros recursos que,
somados, demonstrem a diversidade
da população.
Quanto à estrutura demográfica, é
indispensável utilizar recursos como
leituras comparativas de diferentes pi-
râmides etárias, sempre diferenciando
estes gráficos no decorrer do tempo,
justificando as mudanças e prevendo
futuras estruturas de pirâmides etárias.

4. Ler criticamente 4. Tensões espaciais: 4. Quando possível, o professor deve


as tensões espaciais, . ambientais; propor saídas de campo que mostrem
argumentando a res- . fundiárias; problemas existentes nos lugares próxi-
peito delas. . demarcações de mos aos alunos e, a partir de relatórios
espaços indígenas; e fotos do que foi visto, permitam a
. movimento dos produção de textos comparativos entre
“SEM”; os fatos observados pelos alunos. Ao
. urbanos (cidades realizar essa análise local, é possível,
informais, áreas de por meio de leituras de mapas, pon-
risco...). tuar outras tensões e tecer relações
constantes. Nesse conteúdo, também
é necessário propor aos alunos situa-
ções-problema para que argumentem
sobre possíveis soluções e se posicio-
nem diante dos acontecimentos.

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Temas estruturantes todo, transpondo fronteiras e mundializando
culturas e conhecimentos.
86
86
relacionados aos blocos O tema também se faz presente na com-
de conteúdos preensão das relações de poder na determi-
nação da formação de fronteiras no Brasil e
A Geografia compreende o campo do co- no mundo, através da reflexão sobre a dife-
nhecimento que propicia aos alunos a repre- rença entre o território emanado de poder e
sentação do espaço geográfico. Essa repre- a territorialidade, compreendida como a von-
sentação tem um sentido amplo e significati- tade e a essência da formação de um povo.
vo, indo além da mera percepção.
Representar um espaço é refletir sobre ele, 3. A relação dinâmica entre
teorizar e produzir o conhecimento que envol- o campo e a cidade na
ve a compreensão da organização espacial. compreensão da linguagem
Para que o aluno tenha autonomia ao pen- tecnológica
sar o espaço, é importante elencar alguns
temas que possam estar articulados aos con- Em todas as séries, há a preocupação em
ceitos estruturadores dessa ciência, às com- interpretar diferentes paisagens que com-
petências que se utilizam dos conceitos para põem a produção do espaço geográfico.
articular a aplicabilidade interdisciplinar do A relação do campo com a cidade está in-
conhecimento e aos conteúdos que, gradual- serida na leitura de todos os aspectos econômi-
mente, compõem os quadros inter-relaciona- cos que envolvem a espacialidade e, nessa re-
dos que dão sentido à organização espacial. lação, está o desenvolvimento tecnológico que
Assim, para referenciar o ensino da Geo- modificou e deixou mais íntima a dependência
grafia, foram escolhidos os seguintes temas entre os lugares que compõem o espaço.
que norteiam os conteúdos:
4. A modernização dos eventos
1. A leitura e a interpretação que compõem um mundo
das representações cartográficas globalizado e estruturado
no desenvolvimento técnico-
Esse tema compreende todos os passos dos
conteúdos, que envolvem desde alfabetização científico
cartográfica até a construção de um mapa mental.
A interpretação dos signos cartográficos e as Em cada conteúdo trabalhado, indepen-
suas textualizações permitem, em todas as sé- dentemente do espaço geográfico definido,
ries dos ensinos fundamental e médio, a trans- deve estar sempre clara a importância do en-
ferência dos processos que compõem o espaço tendimento de um mundo veloz e complexo.
para os mapas, que se tornam, a partir dessa Não se pode simplificar o entendimento do
concepção, dinâmicos e representativos. mundo, por isso, é importante o desenvolvi-
mento da competência de resolução de pro-
blemas para que o aluno se sinta parte do
2. Formação histórico-espacial mundo repleto de ações, eventos e invenções
dos territórios e suas territoria- tecnológicas que globalizam a comunicação,
lidades nas relações de poder a economia, a cultura e a própria visão de
sobre o espaço mundo.
Diante da globalização, é indispensável a
Esse tema é articulado sempre que se coerência em assegurar a identidade do lu-
propõe um estudo relacional entre os conti- gar de vivência do aluno ao mesmo tempo
nentes, compreendendo o espaço como um em que essa identidade é globalizada.

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5. A movimentação crítica que envolve a relação entre o desen-
da população volvimento econômico e as agressões ao
ambiente. 87
87
Torna-se imprescindível representar o Nesse tema, cruzam-se algumas reflexões
mundo em movimento tanto no sentido distribuídas em diferentes conteúdos, desde
vertical, demonstrando as diferenças de es- o entendimento das organizações agrárias
truturas populacionais, quanto no sentido até o conjunto de elementos que formam as
horizontal, mostrando o movimento entre cidades e os aglomerados urbanos. Também
os espaços. Justificar e compreender esses é preciso considerar o avanço tecnológico e
movimentos que envolvem a natureza e as as perspectivas de mudanças na organiza-
discordâncias econômicas mundiais é um ção do espaço.
ponto fundamental, pois anuncia a organi-
zação do espaço. 7. As relações de trabalho
O estudo da população que perpassa to- em diferentes espaços
das as séries deve ter um papel fundamental no
entendimento dos movimentos, tanto concretos Em cada espaço geográfico desenvolvem-
como virtuais, compreendendo as relações de se diferentes relações de trabalho que dina-
poder que orientam e determinam essas inter- mizam ou desaceleram o desenvolvimento
pretações. econômico. Compreender essas relações é
ser capaz de flexibilizar os entendimentos e
6. As tensões ambientais relacioná-los a organizações das sociedades
resultantes das organizações tecnológicas ou tradicionais.
econômicas e humanas O trabalho produz o espaço e, por meio
dele, pode-se estudar as relações de poder,
Compreender o mundo em diferentes as transposições de territórios, a compreensão
escalas e concepções propicia uma leitura de culturas e os movimentos populacionais.

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Enno Dagoberto Liedke Filho

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Sociologia
A Sociologia estuda uma ampla varieda- Mais ainda, como auxiliá-los a “compreender 9191
de de temas, empregando um conjunto de melhor a sociedade em que vivem”?
conceitos teóricos e recursos metodológicos Frente a esses desafios, cabe recordar que
e técnicos, com o objetivo de contribuir para uma das principais finalidades do ensino da
o conhecimento dos problemas sociais e o Sociologia no nível médio é contribuir para a
equacionamento de suas possíveis soluções. construção da cidadania do educando, en-
Seu ensino no nível médio, conforme indica- quanto protagonista de seus direitos e deve-
do neste Referencial Curricular1, será desen- res, instrumentalizando-o para a compreen-
volvido a partir de um conjunto de situações são de seu “estar no mundo” com os outros e
de ensino-aprendizagem que enfoquem te- para a compreensão das principais transfor-
mas socialmente relevantes e que sejam, ao mações sociais contemporâneas, tais como
mesmo tempo, significativos para os alunos2. o processo de globalização, ou as questões
A dimensão desse desafio pode ser visualiza- relacionadas à sociedade do conhecimen-
da, se considerarmos os dados da pesquisa da to, à exclusão social e às políticas públicas
UNICEF A Voz dos Adolescentes3, os quais indi- – sempre tratados à luz dos conceitos ofe-
cam que, “ainda que 70,2% dos adolescentes recidos pelas múltiplas abordagens teóricas
considerem que os conteúdos que estudam na presentes neste campo disciplinar4.
escola são importantes para sua vida e cres- No universo escolar, o tratamento e a
cimento profissional, menos da metade deles problematização dos processos e fenôme-
(39,7%) considera que as aulas ajudam a com- nos sociais que estão na base das principais
preender melhor a sociedade em que vivem” transformações sociais contemporâneas de-
(UNICEF/Fator OM, 2002: 49)3. Destaque- vem ter por referência um conjunto central de
se que 79,9% dos adolescentes consideram questões, quais sejam:
que os conteúdos lecionados não são distan- a) De que maneira explicar a existência
tes da sua vida, nem são sem utilidade práti- e a manutenção das coletividades huma-
ca, enquanto que 12,8% consideram que os nas? De que modo acontece a interação
conteúdos lecionados “são distantes da sua entre o indivíduo e essas coletividades?
vida, sem utilidade prática”. (UNICEF/Fator b) Que mecanismos interferem na organi-
OM, 2002: 49) zação e estruturação dos quadros sociais
Mas, como trabalhar, na sala de aula, com da vida humana?
situações didático-pedagógicas que não se- c) Como a mudança social é produzida
jam “distantes da vida” dos alunos, nem sejam e pode ser explicada? (MEC/PCNEM-CH,
consideradas por eles “sem utilidade prática”? 1999: 36-37).
1
O presente Referencial Curricular foi elaborado a partir da documentação nacional formulada pelo Ministério da Educação relativa à Sociologia no
ensino médio, assim como do Referencial Curricular da Educação Básica do Estado do Rio Grande do Sul, especialmente quanto à área de Ciências
Humanas (SEC/RS, 2009). Os principais documentos nacionais considerados quando da elaboração do presente Referencial Curricular de Sociologia
do Estado do Rio Grande do Sul foram: Diretrizes Curriculares Nacionais do ensino médio (MEC/DCNEM, 1998); Parâmetros Curriculares Nacionais
para o ensino médio (MEC/PCNEM, 1999); PCN+ ensino médio (MEC/PCN+EM, 2002); e Orientações Curriculares para o ensino médio (MEC/
OCEM-CH, 2008). Todos esses documentos estão disponíveis para download no site do MEC, e contêm significativas contribuições sobre o processo
ensino-aprendizagem de Sociologia no ensino médio, as quais podem, certamente, auxiliar na elaboração detalhada de planos de ensino.
2
Para uma visão da história do ensino da Sociologia no ensino médio no Brasil, ver MEC/OCEM-CH (2008) e a obra Sociologia e Ensino em Debate.
Experiências e Discussão de Sociologia no Ensino Médio (CARVALHO, 2004), que contém, além de artigos e documentos sobre essa história, importantes
relatos de experiências didático-pedagógicas, incluindo propostas curriculares e planos de ensino. Atente-se que todos os livros citados nesse Referencial,
ainda que esgotados, estão normalmente disponíveis para compra em livrarias vinculadas ao site estantevirtual, sistema de compra via internet, que
congrega livrarias de todo o Brasil.
3
Recorde-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera adolescentes aqueles que integram a faixa etária dos 12 aos 18 anos. A
Organização Mundial da Saúde circunscreve a adolescência à segunda década da vida (de 10 a 19 anos), entre a infância e a fase adulta (MS, 2005:
7). Considera, outrossim, que a juventude se estende dos 15 aos 24 anos, identificando duas categorias: a dos jovens adolescentes (idade entre 15 e
19 anos) e a dos jovens adultos (idade entre 20 e 24 anos), a primeira das quais correspondendo, pois aproximadamente, à faixa de idade esperada
de alunos do ensino médio no Brasil.
4
É relevante deixar indicado aqui que foram identificadas significativas diferenças regionais quanto a essa última percepção. No Centro-Oeste, 46,4% dos
adolescentes acreditam que as aulas ajudam a compreender melhor a sociedade, enquanto que, no Sudeste, esse índice é de 39,8%; no Nordeste, 39,5%;
no Norte, 39,3%; e no Sul, de apenas 36,4%” (UNICEF/Fator OM, 2002: 49). Ressalte-se que esses dados podem tanto indicar um ensino mais socialmente
responsável nos primeiros casos, como, ao contrário, um grau de exigência maior dos alunos em relação ao ensino oferecido, nos últimos casos.

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Ao trabalhar com essas questões, a So- paulistas entrevistados por Souza (2003), por
ciologia pode contribuir, em situações de exemplo, responderam que os maiores pro-
92
92 trabalho interdisciplinar, para a reflexão per- blemas enfrentados pela juventude, por or-
manente sobre a questão básica da área de dem de relevância, são: as drogas; o desem-
Ciências Humanas: quais as possibilidades prego; o fato dos próprios jovens serem um
de vivermos “em sociedade, enquanto dife- problema, por serem imediatistas e individu-
rentes indivíduos, grupos, segmentos e clas- alistas; o fato das pessoas não acreditarem
ses sociais, desenvolvendo ações no âmbito muito nos jovens; a violência; a influência
das relações sociais, em contextos de cons- negativa de amigos; a falta de oportunidade
trução de conhecimentos [de elaboração de de expressar seu talento/capacidade; o fato
construções intelectuais]?” (PCN+, 2002: de não serem entendidos/compreendidos; e
24). Em outros termos, trata-se de ter sem- a ocorrência de gravidez indesejada (SOU-
pre presente que o ensino das disciplinas que ZA, 2003: 96 e 97). A partir da mobiliza-
constituem a área de Ciências Humanas no ção de dados, informações e elementos das
nível médio tem por objetivo básico: vivências dos alunos, os problemas identifi-
o estudo das ações humanas no âmbito cados na pesquisa podem ser transformados
das relações sociais, que são construí- em objeto de atividades didático-pedagó-
das entre diferentes indivíduos, grupos, gicas, constituindo-se em temas/problemas
segmentos, classes sociais, bem como as geradores a serem submetidos à análise in-
construções intelectuais que estes elabo- dividual e coletiva, com base em conceitos e
ram nos processos de construção de co- teorias sociológicas.
nhecimentos que, em cada momento, se O Referencial Curricular de Sociologia as-
mostram necessários para viver em socie- sume como compromisso que o exame des-
dade, em termos individuais ou coletivos ses temas-problemas-chaves deve se realizar
(PCN+, 2002: 24). a partir do conceito de desenvolvimento hu-
mano sustentável e equitativo, proposto pela
A partir dessas orientações, cabe ao en- UNESCO (1997), na obra Nossa Diversida-
sino da Sociologia selecionar temas/proble- de Criadora7:
mas geradores, os quais – a partir da con-
ceituação de Paulo Freire5 – são aqueles ca- a questão central do processo de desenvolvimento
pazes de cativar e motivar os alunos para o é determinar que políticas promovem, sob a égide
de uma Ética Universal, um verdadeiro desenvolvi-
seu exame, bem como fornecer instrumentais mento humano sustentável e equitativo, ao mesmo
conceituais e metodológicos para o estudo tempo em que estimulam o florescimento de dife-
dos mesmos, de suas origens6 e efeitos so- rentes culturas (UNESCO, 1997: 27).
ciais, bem como de suas possíveis soluções.
Mas quais seriam os temas/problemas que Desse modo, um desenvolvimento huma-
caracterizam, atualmente, o estar no mundo no sustentável e equitativo só poderá ser al-
dos jovens que frequentam nossas escolas? cançado se forem respeitados os seguintes
Uma vez identificados esses temas/proble- princípios:
mas, como podemos transformá-los em si- (a) a democracia é a forma política mais
tuações didático-pedagógicas? Estudantes propícia à proteção das minorias raciais,
5
Na concepção de Paulo Freire, os temas geradores, “qualquer que seja a natureza de sua compreensão, como a ação por eles provocadas, [eles]
contêm em si a possibilidade de desdobrar-se em tantos outros temas que, por sua vez, provocam novas tarefas que devem ser cumpridas” (FREIRE,
1987: 93, nota 18). Recorde-se que, “as palavras geradoras são instrumentos que, durante o trabalho de alfabetização, conduzem os debates que
cada uma delas sugere e à compreensão de mundo, que é o melhor nome para a ideia de conscientização [...] a ser aberta e aprofundada com os
diálogos dos educandos em torno dos temas geradores,” os quais são instrumentos de debate em fases posteriores do trabalho do círculo de cultura
(Brandão, 1999: 39). Sobre esses conceitos, ver especialmente Freire (1969: 112 e seguintes); e Freire (1987: 95 e seguintes).
6
Utiliza-se aqui a noção de origens sociais de um problema social, no sentido de multicausalidade, empregado por Moore Jr. (1975), em oposição
à ideia de causalidade linear ou de cadeia de conexões simples entre fenômenos. Sobre esse tema e suas implicações na área de estudos sociais, ver
especialmente Castillo (1998: 117).
7
Ver, também, o Programa Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ONU, 2000).

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étnicas e culturais, comprometendo-se convivência social, assegurando a integri-
com a solução pacífica dos conflitos e dade física e emocional do indivíduo contra
das controvérsias através de negociações ameaças da sociedade e garantindo as con- 9393
equitativas; dições mínimas para uma vida decente, o tra-
(b) uma efetiva “Cultura da Paz” deve ser tamento justo e o acesso equitativo aos me-
cultivada entre as nações e nos espaços canismos de correção de injustiças. A esses
intranacionais; direitos enunciados na Declaração Universal
(c) quanto à questão de gênero, são ne- dos Direitos somaram-se, recentemente, os
cessárias mudanças para a concreção de chamados novos direitos humanos, quais se-
uma plena igualdade jurídica e do acesso jam, o direito a um meio ambiente saudável e
à educação e à saúde (a fim de acelerar a propício ao bem-estar do homem e da mulher
superação do hiato entre os sexos), assim e as responsabilidades individuais e coletivas
como mudanças em matéria de igualdade para sua salvaguarda (UNESCO, 1997: 53).
de oportunidades – acesso ao crédito, po- A universalidade e a indivisibilidade dos Di-
sições de gerência e eleição de autorida- reitos Humanos e a luta contra a discrimina-
des governamentais; e ção são assumidas como as forças diretrizes
(d) a equidade em cada geração e entre para o estabelecimento de uma paz justa e
gerações implica que as gerações atuais sustentável. Para tanto, a UNESCO dirige seus
cuidem do meio ambiente e dos recur- múltiplos programas, em especial, aos grupos
sos culturais e naturais, utilizando-os em marginalizados (como as mulheres, as crian-
proveito das gerações presentes e futuras ças deficientes, os refugiados e as minorias),
(UNESCO, 1997). trabalhando na disseminação da informação
sobre os instrumentos disponíveis para a pro-
A “Cultura da Paz”, referida acima, está teção dos Direitos Humanos, bem como de
intrinsecamente relacionada à prevenção e à procedimentos que possibilitem sua efetiva
resolução não violenta dos conflitos. Funda- promoção. Tendo presente que a discrimina-
se no princípio do pluralismo, que assegura ção e a intolerância caminham frequentemen-
e sustenta a liberdade de opinião, na tolerân- te juntas, a Organização adotou, em 1995, a
cia, na solidariedade e no compartilhamen- Declaração dos Princípios sobre a Tolerância
to em base cotidiana8. Trata-se de construir (UNESCO, 1995), propondo uma educação
globalmente uma cultura que respeite todos que, no sentido mais amplo do termo, torne
os direitos individuais, que se empenhe em cada cidadão sensível ao outro e que estabe-
prevenir conflitos e que se comprometa com leça um senso de responsabilidade com res-
a solução das novas ameaças não militares peito aos direitos e liberdades, colocando aí
para a paz e para a segurança, como a ex- as bases fundamentais da “Cultura de Paz”.
clusão, a pobreza extrema e a degradação Mais ainda, reafirma-se nesse contexto que a
ambiental. A “Cultura de Paz”, em síntese, educação (formal e informal) para todos, ao
tem por objetivo básico resolver os proble- longo de toda a vida, deve ser baseada nos
mas por meio do diálogo, da negociação e quatro pilares do conhecimento: “aprender a
da mediação, de forma a tornar a guerra e a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a
violência inviáveis. viver junto” e “aprender a ser”9.
Esse conjunto de valores e princípios tem Alinhando-se com esse conjunto de va-
como fundamento os direitos humanos, res- lores e princípios, comprometidos com o
ponsáveis pela formação de uma Ética Uni- desenvolvimento humano assentado em
versal que deve nortear todas as formas de políticas inspiradas por uma ética universal,
8
Sobre o Programa “Cultura da Paz”, ver http://www.comitepaz.org.br/o_manifesto.htm, acessado em 28/11/2008. O Programa “Escola Aberta”
desenvolvido em vários estados do Brasil, inclusive no Rio Grande do Sul, insere-se no âmbito dessa iniciativa da UNESCO.
9
Ver o Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, intitulado Educação: um tesouro a descobrir. (DELORS,
et al., 1996).

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alicerçada na tolerância e na paz, o presente acompanhar as mudanças que caracteri-
Referencial Curricular considera que as Ciên- zam a produção no nosso tempo;
94
94 cias Humanas, em geral, e a Sociologia, em • o desenvolvimento das competências
particular, podem auxiliar no exame das ques- para continuar aprendendo, de forma au-
tões mais prementes na sociedade e no enca- tônoma e crítica, em níveis mais comple-
minhamento de suas possíveis soluções. Para xos de estudos. (PCNEM, 1999, p. 22).
tanto, é possível contar, ainda, com o indis- Desse modo, no ensino de Sociologia,
pensável concurso da ciência e da tecnologia, teorias, conceitos, métodos e resultados de
que – de acordo com a UNESCO – podem pesquisas devem ser trabalhados de forma
contribuir de forma clara e efetiva, e o têm criativa e não escolástica, o que não significa
feito, para a redução da pobreza e o alívio do ignorar todo o patrimônio de conhecimentos
sofrimento, para a manutenção do equilíbrio dessa área de saber acumulado ao longo
ecológico, para a pesquisa fundamental em do tempo. Ao contrário, cabe ao professor
todos os domínios do saber humano e para apresentá-los e esclarecê-los em função das
tornar a vida mais fácil, plena, confortável e situações de aprendizagem trabalhadas em
agradável (UNESCO, 1997: 122). sala, para o que pode servir-se, inicialmente,
A consciência de que um currículo de So- do breve panorama teórico apresentado ao
ciologia na educação básica10 deve ser for- fim deste Referencial.
matado considerando-se os objetivos e limites
desse nível educacional – bastante diversos
dos cursos de graduação voltados à forma-
Competências e
ção de sociólogos – também impõe escolhas conceitos estruturantes
no que se refere ao universo teórico a ser tra- do ensino de Sociologia
balhado com os estudantes. Isto significa que
é necessário proceder-se a uma seleção de no ensino médio
conceitos, teoricamente contextualizados, e
realizar sua transposição para o tratamento O Referencial Curricular de Sociologia as-
de temas relevantes, que venham ao encon- sume, no contexto do Referencial Curricular da
tro tanto dos interesses dos alunos quanto dos Educação Básica do Estado do Rio Grande do
objetivos de formação preconizados para esse Sul11, o pressuposto de que as atividades di-
nível de ensino: dático-pedagógicas devem objetivar o desen-
• a formação da pessoa, de maneira a de- volvimento de competências para Ler, Escrever
senvolver valores e competências necessá- e Resolver problemas, consideradas funda-
rias à integração de seu projeto individual mentais para que os alunos possam continuar
ao projeto da sociedade em que se situa; aprendendo, de forma autônoma e crítica, em
• o aprimoramento do educando como níveis mais complexos de estudos12.
pessoa, incluindo a formação ética e o Ler envolve a construção, por parte do
desenvolvimento da autonomia intelectual sujeito, de uma representação mental dos
e do pensamento crítico; objetos que o texto ou os fatos neles trata-
• a preparação e orientação básica para dos evocam, isto é, um modelo mental, ou
a sua integração ao mundo do trabalho, imagens mentais, da situação (ou situações)
com as competências que garantam seu que o texto apresenta. Em Sociologia, o edu-
aprimoramento profissional e permitam cando, a partir de sua vivência cotidiana e
10
Recorde-se que para o estudo de temas da realidade brasileira, assim como de outros países, como os latino-americanos, deve-se estar sempre
atento para os cuidados que precisam ser tomados para a utilização de teorias, conceitos e hipóteses propostos por autores em outros contextos
sociais como o europeu e o norte-americano. Essa atenção permite escapar das armadilhas da ortodoxia, ou da aplicação mecânica, acrítica e
descontextualizada de elementos teóricos para o tratamento de temas emergentes em realidades muito diversas daquelas em que os mesmos foram
originariamente formulados. Ver MEC/OCEM-CH (2008), especialmente páginas 115 a 125.
11
Além dos textos introdutórios desses Referenciais, ver o Referencial da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias (SEC/RS, 2009).
12
Ver os Referencial Curricular da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias do Estado do Rio Grande do Sul (2009), e especialmente Castillo
(1998).

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de estudos, poderá enriquecer sua visão de do suas principais causas, assim como os
mundo e compartilhá-la, comunicando-a principais atores envolvidos; e (b) equacionar
aos outros através do diálogo ou da escrita, as soluções possíveis, hierarquizando-as, se- 9595
pois os fatos sociais e históricos, as ações e gundo critérios técnicos e valorativos, previa-
criações culturais dos povos, suas tradições mente acordados.
e concepções de mundo caracterizam-se por É preciso ter presente, também, que a mo-
serem fenômenos permanentemente abertos bilização e o desenvolvimento das competên-
à compreensão, permitindo leitura e releitura cias para Ler, Escrever e Resolver problemas
social e historicamente contextualizadas. tendem a estar presentes simultaneamente nas
O Escrever, por sua vez, é uma prática de múltiplas atividades de ensino-aprendizagem,
codificação de que nos servimos para trans- podendo todavia ocorrer a predominância de
mitir sentimentos, conhecimentos e ideias e uma sobre as demais, que desempenham, as-
que está intrinsecamente associada à leitura sim, um papel secundário ou auxiliar. Ao ler
não só de textos, mas também do “estar no individualmente um texto e escrever um resu-
mundo com os outros” –, ao diálogo, à orali- mo de suas ideias principais, o aluno está mo-
dade e às múltiplas formas de representação bilizando, exercitando duas dessas competên-
não linguísticas (desenho, dança e música, cias. Já para resolver um problema apresen-
por exemplo). tado por escrito, torna-se necessário também
Resolver problemas, em Sociologia, assim mobilizar e exercitar, como elementos auxilia-
como no conjunto das disciplinas da área res, as competências de leitura e de escrita.
de Ciências Humanas, é uma competência No que se refere ao desenvolvimento dessas
com características peculiares que necessi- três competências, este Referencial Curricular
tam ser observadas em situações didático- parte do princípio de que elas devem ser orga-
pedagógicas. Os problemas sociais, por suas nicamente articuladas com os três eixos de com-
especificidades, são de difícil definição, pois petências, a serem contemplados pelo ensino de
possuem explicações e processos de solução Sociologia no nível médio, quais sejam:
multicausais, que carregam necessariamente (a) representação e comunicação,
opções de valor (CASTILLO, 2008: 118)13. (b) investigação e compreensão, e
As possíveis soluções de problemas sociais (c) contextualização sociocultural14.
são sempre interpretações e não são neutras O eixo de competência representação e
do ponto de vista moral ou ideológico. Não comunicação objetiva o desenvolvimento por
há soluções “corretas”, já que elas precisam parte do aluno da compreensão da Sociolo-
levar em conta outros pontos de vista, dife- gia como Ciência da Sociedade, o que signi-
rentes dos que foram adotados. Nesse con- fica que ele deve:
texto, há sempre soluções melhores e piores (a) identificar, analisar e comparar os di-
para um problema social, a partir de crité- ferentes discursos sobre a realidade; as
rios técnicos (coerência, rigor) e que contêm explicações das Ciências Sociais, ampara-
posições valorativo-ideológicas e morais (efi- das nos vários paradigmas teóricos, e as
cácia, rentabilidade, respeito ao meio am- explicações do senso comum, e
biente, liberdade e justiça). Ao considerar (b) identificar, a partir das observações e re-
os problemas sociais em situações didático- flexões realizadas, as fontes sociais dos dife-
pedagógicas, torna-se então importante: (a) rentes discursos sobre as realidades sociais
formulá-los de forma consistente, identifican- (MEC/PCN+EM, 2002: 89).
13
Castillo (2008) ressalta que, no presente, a emergência dos problemas sociais e de suas possíveis soluções são fortemente intermediadas pelos
meios de comunicação, tema esse que pode ser objeto de significativo estudo interdisciplinar no ensino médio.
14
MEC/PCNEM-CH, 1999, e MEC/PCN+EM, 2002. Cabe aqui a mesma advertência já feita quanto à possível copresença da mobilização das
competências de Ler, Escrever e Resolver problemas em toda e qualquer atividade didático-pedagógica, ainda que sob a dominância de uma ou duas
dessas. Embora apresentados formalmente como elementos a serem desenvolvidos em momentos separados do trabalho didático-pedagógico em
Sociologia, os conjuntos de competências – (a) representação e comunicação, (b) investigação e compreensão e (c) contextualização sociocultural – tendem
também a uma permanente copresença, cabendo aos planos de ensino definir qual ou quais serão dominantes nas atividades didático-pedagógicas a serem
desenvolvidas em dado momento.

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são de mundo, desenvolver uma visão crítica
Entre os principais temas a serem aborda- da sociedade contemporânea e respeitar as
96
96 dos, no sentido aqui considerado de temas diversidades culturais, sociais e pessoais vai
geradores, destacam-se as questões da mul- permitir ao aluno a decodificação da comple-
tiplicidade teórica, conceitual e metodológica xa realidade social, levando-o a assumir ati-
da Sociologia e a variedade dos temas de es- tudes mais críticas e atuantes na comunidade
tudo a que essa ciência se dedica, merecendo (MEC/PCN+EM, 2002: 90).
destaque, também, a relevância social dessa Finalmente, o eixo de competências con-
ciência e de suas tecnologias de pesquisa, in- textualização sociocultural objetiva o desen-
formação e comunicação para o conhecimen- volvimento por parte do aluno da compre-
to e possível solução de problemas sociais. ensão do papel histórico das instituições so-
O eixo de competências investigação e ciais, políticas e econômicas, associando-as
compreensão tem por temas principais as às práticas dos diferentes grupos e atores
questões da Cultura e da Diversidade Cultural, sociais, aos princípios que regulam a convi-
da Tolerância e da “Cultura da Paz”. A análise vência em sociedade, à distribuição equitati-
desses temas-geradores orienta-se no sentido va dos benefícios econômicos, aos direitos e
do desenvolvimento, por parte dos alunos, da deveres da cidadania e à justiça. As compe-
compreensão dos elementos cognitivos, afeti- tências a serem contempladas neste eixo são:
vos, sociais e culturais que constituem as múl- (a) compreender as transformações no
tiplas identidades sociais, relativizando assim mundo do trabalho e o novo perfil de qua-
a sua própria identidade social e a de outros lificação exigida, gerados por mudanças
agentes sociais. Esse eixo objetiva o desenvol- na ordem econômica;
vimento das seguintes competências: (b) construir a identidade social e políti-
(a) construir instrumentos para uma melhor ca de modo a viabilizar o exercício da ci-
compreensão da vida cotidiana, amplian- dadania plena, no contexto do Estado de
do a “visão de mundo” e o “horizonte de Direito, atuando para que haja, efetiva-
expectativas” nas relações interpessoais mente, reciprocidade de direitos e deveres
com os vários grupos sociais; entre o poder público e o cidadão e, tam-
(b) construir uma visão crítica da indústria bém, entre os diferentes grupos e
cultural e dos meios de comunicação de (c) compreender o significado histórico-
massa, avaliando o papel ideológico do social do Protagonismo Juvenil na Luta por
marketing, como estratégia de persuasão seus Direitos (MEC/PCN+EM, 2002: 91).
dos consumidores e dos eleitores; e
(c) compreender e valorizar as diferentes Considerando que os principais temas
manifestações culturais de etnias e seg- geradores a serem enfocados no ensino de
mentos sociais, agindo de modo a preser- Sociologia referem-se às questões do Traba-
var, sob a égide da “Cultura da Paz”, o lho e da Cidadania e à Situação Social e às
direito à diversidade, enquanto princípio Perspectivas dos Jovens e dos Adolescentes
estético, político e ético que supera con- hoje, é possível afirmar, em consonância com
flitos e tensões do mundo atual (MEC/ o que dispõem os PCN+EM, que:
PCN+EM, 2002: 90). o professor e o aluno poderão avançar ainda mais,
se forem criadas oportunidades de atuação cidadã,
isto é, se o aluno puder protagonizar a mudança,
Em síntese, trata-se aqui de desenvolver a mesmo que pequena, viabilizando o exercício da
compreensão da sociedade, de sua gênese cidadania dentro ou fora da escola. Propostas de
e transformação, bem como dos múltiplos ações democráticas no interior da escola (análise
fatores e processos sociais que nela inter- das relações de poder envolvendo a direção, o grê-
vêm, enquanto produtos da ação humana, mio estudantil, a APM, etc.) e o encaminhamento
sendo que a possibilidade de ampliar a vi- de propostas para solucionar problemas da comu-

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nidade para a Câmara Municipal ou associações radores propostos pelo MEC/PCN+EM: indi-
de bairro (questões ecológicas, poluição visual e víduo, sociedade, trabalho, produção, classe
sonora, por exemplo) são possibilidades de atua-
social, poder, dominação, ideologia, cultura, 9797
ção do aluno (MEC/PCN+EM, 2002: 91).
mudança social17. É pertinente, também, in-
cluir temas tais como violência, globalização,
O tema Jovens e Adolescentes Hoje, en- questão racial, etnocentrismo, preconceito,
quanto tema-gerador, permite o exame so- sexualidade, gênero, meio ambiente, cidada-
ciológico de situações e vivências familiares, nia, direitos humanos, religião e religiosidade,
bem como das possibilidades educacionais movimentos sociais e meios de comunicação
dos estudantes15, de seus modos de inserção/ de massas (OCEM CH, 2008: 121)18.
exclusão no mundo do trabalho e do consu- No estudo da Sociologia como ciência,
mo, de suas múltiplas preferências culturais e entre os temas, de estudo propostos, cabe
estéticas, das diversas formas de afetividade destacar os conceitos fundamentais da So-
e de sexualidade, assim como das possibili- ciologia Sistemática19, por sua relevância
dades e modos de protagonismo de seus di- para o conhecimento da realidade social.
reitos e deveres (MEC/OCEM-CH, 2008)16. Conceitos como os de Comunidade e Socie-
À luz dessas reflexões e propostas para a dade, de Categorias Sociais e Grupos Sociais
Sociologia no ensino médio, o presente Re- Primários e Secundários, de Ação Social e de
ferencial Curricular propõe que os planos de Modos de Interação Social, de Processos de
ensino e as atividades didático-pedagógicas Socialização, de Status Social e de Papéis So-
orientem-se a partir do estabelecimento de ciais, de Identidades e de Máscaras Sociais
inter-relações entre um dos três eixos de com- têm sido por vezes relegados a um segundo
petências (a. representação e comunicação, plano, ou mesmo ao esquecimento no ensi-
b. investigação e compreensão, e c. contex- no da Sociologia, inclusive em graduações
tualização sociocultural) com as habilidades a e pós-graduações da área. Sua equivocada
serem desenvolvidas, tendo por referência o identificação exclusivamente com o funcio-
tratamento sociológico de temas e subtemas nalismo parece estar na base desse despres-
selecionados, conforme especificado no Qua- tígio. Esses conceitos podem ser de grande
dro 1. Nesse Quadro, são explicitadas as ên- relevância para os alunos, se apresentados
fases analíticas relativas a cada um dos eixos e discutidos em associação com os conceitos
de competências e as relações daquelas com de Controle Social, de Comportamento Des-
habilidades a serem mobilizadas e valoriza- viante20, e especialmente de Poder Simbólico
das, quando do planejamento e da realização e de Violência Simbólica21, em atividades di-
de atividades didático-pedagógicas. Cumpre dático-pedagógicas. Nesta condição, podem
enfatizar que os programas de Sociologia de- contribuir para a desnaturalização e o estra-
vem considerar a série de conceitos estrutu- nhamento ao ler o mundo social22.

15
Sobre as relações jovem-escola, ver o instigante estudo Escola e Juventude. O Aprender a Aprender, de Souza (2003).
16
Sobre a situação e aspiração dos jovens hoje, ver UNICEF/Fator OM (2002) e os estudos incluídos no livro Integração Social (Perret-Clermont et al., 2004).
17
Ver MEC/OCEM-CH, 2008, página 119. Os MEC/PCN+EM consideram, outrossim, que referências aos conceitos e métodos da Antropologia,
da Ciência Política, do Direito, da Economia e da Psicologia são também indispensáveis à formação básica do cidadão. Assim sendo, a seleção e
tratamento interdisciplinar e contextualizado dos conceitos estruturadores da Sociologia devem levar em conta a contribuição fundamental dessas
áreas das Ciências Humanas e Sociais (MEC/PCN+EM, 2002: 87).
18
Destaque-se que, conforme será visto a seguir, a própria Escola, enquanto instituição social, pode ser um significativo tema gerador, “objeto de
estudo da Sociologia”, ensejando “pesquisas quantitativas e qualitativas, a serem realizadas pelos alunos, guardando-se os devidos limites quanto a
instrumentos, técnicas e resultados” (MEC/OCEM-CH, 2008: 114).
19
Sobre os conceitos fundamentais da Sociologia Sistemática, ver, entre outros: Mannheim (1971), Vila Nova (1995), Rex (1973), Foracchi e Martins
(1978), Foracchi e Pereira (1974). Em Giddens (2008) e Dubar (1997) tem-se interessantes exemplos das possibilidades de emprego dos conceitos em
questão para o tratamento de temas contemporâneos. Dubar (1997), por exemplo, enfoca em seu estudo, a partir de uma rica revisão das abordagens
teóricas sobre o tema, as relações entre a socialização e a construção das identidades sociais e profissionais.
20
Para uma revisão teórica dos conceitos de Controle Social e Desvio, ver Giddens, 2008, páginas 172 e seguintes.
21
Sobre os conceitos de Poder Simbólico e de Violência Simbólica, ver a obra O Poder Simbólico de Pierre Bourdieu (1989). Para uma introdução ao
pensamento desse autor, ver o dossiê “Ensaios sobre Pierre Bourdieu”, na Revista Educação & Sociedade, no 78, disponível no site Scielo.
22
Sobre o papel da Sociologia e das Ciências Sociais na desnaturalização e no estranhamento do “estar no mundo”, ver MEC/OCEM-CH (2008: p. 105).

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Quadro 1
Sociologia no ensino médio no Rio Grande do Sul.
98
98 Eixos de competências, habilidades e temas1
Eixos de competências;
competências e ênfases Habilidades3 Temas4
analíticas2
A - EIXO DE COMPETÊNCIA - A. 1. Identificar em diferentes fon- Sociologia e Sociedade
REPRESENTAÇÃO E COMUNI- tes os elementos que compõem o • A Sociologia: Conhecimento
CAÇÃO sistema societário e seus processos Científico versus Senso Comum
Entender a importância da Socio- de permanência e transformação. • História do Pensamento Socioló-
logia como ciência e suas tecno- - A. 1. Identificar e comparar gico: as Contribuições das Princi-
logias de pesquisa, informação semelhanças e diferenças entre pais Correntes Teóricas
e comunicação para o conheci- representações sociais acerca de • A Sociologia no Brasil: História e
mento de problemas sociais, bem situações ou fatos de natureza so- Perspectivas
como equacionar possíveis solu- cial, reconhecendo os pressupostos • Ciências Sociais e Educação:
ções para eles. de cada interpretação e analisan- Sociologia no ensino médio
do a validade dos argumentos
Competências utilizados. Conceitos Fundamentais da
O eixo representação e comuni- - A. 1. Identificar e comparar pon- Sociologia Sistemática para o
cação aponta para as seguintes tos de vista científicos e do senso Conhecimento do Cotidiano
competências: comum acerca de aspectos cul- • Comunidade e Sociedade
• A. 1. Identificar, analisar e com- turais selecionados, expressos em • Categorias Sociais e Grupos So-
parar os diferentes discursos sobre diferentes fontes e registros. ciais Primários e Secundários
a realidade expressos nas explica- - A. 2. Identificar e analisar as • Ação Social e Modos de Intera-
ções da Sociologia, amparadas raízes socioculturais dos precon- ção Social: Processos Sociais de
nos vários paradigmas teóricos, e ceitos (étnico-raciais, de gênero, Cooperação; Acomodação; Assi-
as explicações do senso comum. sexualidade e de idade) e avaliar milação; Competição e Conflito
• A. 2. Identificar, a partir das ob- as propostas formuladas para Social
servações e reflexões realizadas, combatê-los. • Os Indivíduos e os Processos de
as fontes dos diferentes discursos - A. 2. Identificar os instrumentos Socialização: Status Social, Papéis
sobre as realidades sociais. para ordenar, analisar e explicar os Sociais, Identidades e Máscaras
processos e eventos sociais, rela- Sociais
Ênfases Analíticas cionando-os a fatores históricos, • Instituições Sociais: Instituições
As Questões Teóricas e geográficos, econômicos, políticos Econômicas, Instituições Políticas,
Metodológicas em Sociologia e culturais. Instituições Jurídicas, Instituições
O embate do conhecimento cien- - A. 2. Identificar e correlacionar Religiosas, e Instituições Culturais
tífico versus conhecimento vulgar com seus contextos de formulação • A Família, a Escola, o Jovem e o
(ou senso comum). fontes documentais de naturezas Adolescente
As questões relativas aos métodos diversas e textos analítico-interpreta- • Valores e Normas Sociais: Con-
e técnicas de pesquisa e de inves- tivos sobre diferentes processos so- trole Social e Comportamento
tigação social. ciais, interpretando seus significados. Desviante

Eixos de competências;
competências e ênfases Habilidades Temas
analíticas
B - EIXO DE COMPETÊNCIA - B. 1. Analisar manifestações cul- Cultura e Sociedade
INVESTIGAÇÃO E COMPREEN- turais significativas do presente, • Conceitos de Cultura e de Ideolo-
SÃO associando-as aos seus contextos gia
1. Compreender os elementos socio-históricos. • Cultura e a Questão do Relativis-
cognitivos, afetivos, sociais e cul- - B. 2. Analisar, em um mundo mo Cultural
turais que constituem a identidade globalizado, os efeitos e as interfe- • Cultura Material e Imaterial
própria e a dos outros. rências das mudanças provocadas • Cultura Erudita e Cultura Popular

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Eixos de competências;
competências e ênfases Habilidades Temas
analíticas 99
99
2. Compreender a sociedade, pela indústria cultural no cotidia- • Cultura Popular e Cultura de
sua gênese e transformação, bem no de diferentes grupos sociais, Massa
como os múltiplos fatores que nela considerando as permanências e • Relações entre Consumo e Alie-
intervêm, como produtos da ação transformações de suas identida- nação na Cultura de Massa Hoje
humana; a si mesmo como agente des sociais. • Os Movimentos de Contracultura
social; e os processos sociais como - B. 3. Analisar a produção das • Criação Cultural e Conscientiza-
orientadores da dinâmica dos dife- múltiplas formas de memória so- ção
rentes grupos de indivíduos. cial e suas inter-relações com o
3. Entender os princípios das tec- tempo social. Cultura e Sociedade no Brasil
nologias da Sociologia voltadas - B. 3. Valorizar a diversidade do • Valores Culturais Brasileiros: A
ao conhecimento do indivíduo, patrimônio social, cultural e artís- Diversidade Cultural e a Ques-
da sociedade e da cultura, entre tico, suas manifestações e repre- tão da Identidade Nacional
as quais as de planejamento, de sentações em diferentes espaços • Mapas Culturais do Brasil
organização, de gestão, de traba-
sociais. • A Indústria Cultural no Brasil:
lho em equipe, empregando-as
- B. 3. Identificar e avaliar distintas Política, Economia e os Meios de
para a identificação de problemas
formas de tratamento e preserva- Comunicação de Massa
sociais e suas possíveis soluções.
ção da memória material e imate-
Competências rial de grupos sociais, comunida- Educação e Cultura: Democrati-
O eixo investigação e compre- des e sociedades nacionais. zação de Oportunidades
ensão aponta para as seguintes • Cultura, Educação e Novas Tec-
competências: nologias de Informação
• B. 1. Construir instrumentos para • As Desigualdades de Oportuni-
uma melhor compreensão da vida dades Educacionais e Políticas
cotidiana, ampliando a “visão de Públicas
mundo” e o “horizonte de expec-
tativas” nas relações interpessoais Juventude, Adolescência
com os vários grupos sociais. e Cultura
• B. 2. Construir uma visão crítica • O Jovem e o Adolescente no
da indústria cultural e dos meios de Brasil Hoje: Afetividade, Sexuali-
comunicação de massa, avaliando dade e Relações de Gênero
o papel ideológico do marketing, • A Cultura Jovem no Brasil Hoje:
como estratégia de persuasão dos “Tribos” e Propostas
consumidores e dos eleitores.
• B. 3. Compreender e valorizar Diversidade Cultural e Tolerância
as diferentes manifestações cultu-
• Etnocentrismo, Discriminação
rais de etnias e segmentos sociais,
Social e Preconceito Social em
agindo de modo a preservar, sob a
Relações Étnico-Raciais, de Gê-
égide da “Cultura da Paz”, o direito
à diversidade, enquanto princípio nero e Sexualidade, assim como
estético, político e ético que supera de Categorias Sociais de Idade
conflitos e tensões do mundo atual. • Educação, Tolerância e “Cultura
da Paz”
Ênfases Analíticas
Cultura, Diversidade Cultural,
Educação, Tolerância e
“Cultura da Paz”
Identidade cultural, indústria cultural,
mídia e propaganda, educação,
alienação e conscientização
tolerância, “Cultura da Paz” e a luta
contra os preconceitos e o etnocen-
trismo.

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Eixos de competências;
competências e ênfases Habilidades Temas
100
100 analíticas
C - EIXO DE COMPETÊNCIA - C. 1. Analisar e interpretar os Trabalho e Sociedade
CONTEXTUALIZAÇÃO processos de transformação socio- • Conceitos de Trabalho e de sua
SOCIOCULTURAL histórica de distintas realidades Relevância Social
1. Compreender o desenvolvi- sociais, a partir de conhecimentos • Modos de Produção e História
mento da sociedade como pro- sobre a economia e as práticas Social
cesso de ocupação de espaços sociais e culturais. • Estrutura de Classes e Estratifica-
físicos e das relações da vida hu- - C. 1. Analisar e interpretar a ção Social
mana com a paisagem, em seus mundialização da economia e os • Trabalho, Ócio e Lazer na Socie-
desdobramentos políticos, cultu- processos de interdependência das dade Pós-Industrial
rais, econômicos e humanos. nações, acentuados pelo desenvol- • O Trabalho no Brasil: Escravidão,
2. Compreender a produção e vimento de novas tecnologias. Trabalho Livre e a Exclusão Social
o papel histórico das instituições - C. 1. Identificar as principais
sociais, políticas e econômicas, características das novas tecnolo- Globalização, Novas Tecnologias
associando-as às práticas dos gias e avaliar as modificações que e as Novas Qualificações
diferentes grupos e atores sociais, impõem ao mundo do trabalho • Mercado de Trabalho: Emprego e
aos princípios que regulam a (desterritorialização da produção Desemprego
convivência em sociedade, aos industrial e agrícola), às condições • Profissionalização e Mobilidade
direitos e deveres da cidadania, à socioambientais e às relações so- Social: Perspectivas de Ascensão
justiça e à distribuição dos benefí- ciais cotidianas. Social no Brasil
cios econômicos. - C. 1. Correlacionar a dinâmica
3. Traduzir os conhecimentos dos fluxos populacionais (migra- Desigualdades Sociais: Concei-
sobre a pessoa, a sociedade, a ções internas e internacionais) com tuação e Formas Históricas
economia, as práticas sociais e as formas contemporâneas de • Desigualdades de Oportunidades
culturais em condutas de indaga- organização do espaço sociogeo- de Trabalho: As Múltiplas Dis-
ção, análise, problematização e gráfico. criminações por Gênero, Raça,
protagonismo diante de situações - C. 1. Posicionar-se criticamente Idade e Escolaridade
novas, problemas ou questões da sobre os processos de transforma- • As Desigualdades Sociais no Bra-
vida pessoal, social, política, eco- ções sociais, econômicas, políticas sil Hoje e as Políticas Sociais
nômica e cultural. e culturais no contexto societário
4. Entender o impacto das tec- presente, identificando e compa- Desenvolvimento Sustentável
nologias associadas à Sociologia rando referenciais alternativos que Equitativo e Mudanças Sociais
e às demais Ciências Humanas visem erradicar formas de exclusão • Concepções e Conceitos de
sobre sua vida pessoal, os proces- social. Mudanças Sociais, de Reformas
sos de produção, o desenvolvi- - C. 1. Propor formas de atuação Sociais e de Revolução Social
mento do conhecimento e a vida para a conservação do meio am- • Políticas Públicas, Reformas So-
social. biente e a promoção de um desen- ciais e Desenvolvimento Sustentá-
5. Compreender, também, a re- volvimento sustentável e equitativo. vel Equitativo
levância social dessa ciência e
de suas tecnologias de pesquisa, - C. 2. Analisar e interpretar, tendo O Estado e a Questão da
informação e comunicação para como referência a concepção de Democracia
o conhecimento e possível solu- “Ética Universal” da UNESCO, o • Concepções de Ditadura, Autori-
ção de problemas sociais. papel dos valores éticos e morais tarismo e Estado de Direito
na estruturação política das socie- • Estruturas Políticas: Representação
6. Aplicar as tecnologias da dades. e Participação
Sociologia e demais Ciências - C. 2. Analisar e interpretar o pa- • Direitos do Cidadão e Relações
Humanas e Sociais na escola, no pel do Direito (civil e internacional) de Poder Político no Cotidiano
trabalho e em outros contextos na estruturação, organização e
relevantes para sua vida. democratização das sociedades. O Estado Brasileiro e
- C. 2. Identificar os significados a Democracia
Competências socio-históricos das relações de • Democracia e República no
No eixo contextualização sociocul- poder nas sociedades nacionais Brasil: Mandonismo, Patrimonia-

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Eixos de competências;
competências e ênfases Habilidades Temas
analíticas 101
101
tural, as competências são: e entre as nações no contexto do lismo, Autoritarismo e Estado de
• C. 1. Compreender as trans- processo de globalização. Direito
formações no mundo do trabalho - C. 2. Analisar e interpretar o • A Constituição e os Três Poderes
e os novos perfis de qualificação papel social das instituições so- no Brasil Hoje: Atribuições Consti-
exigidos por mudanças nos siste- ciais (sindicatos; partidos políticos; tucionais e Desempenho
mas de produção. ONGs; igrejas; organismos inter- • Movimentos Sociais, Ética e De-
• C. 2. Construir a identidade so- nacionais, por exemplo), no enfren- mocracia no Brasil
cial e política de modo a viabilizartamento de problemas de ordem • “Cultura da Paz” e a Resolução
o exercício da cidadania plena, econômico-social. Democrática de Conflitos Sociais
no contexto do Estado de Direito, - C. 2. Identificar a dinâmica da e de Crises Institucionais
atuando para que haja, efetiva- organização dos movimentos so-
mente, reciprocidade de direitos e ciais e a importância da participa- O Jovem e o Adolescente Hoje
deveres entre o poder público e o ção da coletividade na transforma- • Situação Social, Direitos e Deve-
cidadão e, também, entre os dife- ção da realidade social. res dos Jovens e dos Adolescentes
rentes grupos. - C. 2. Analisar e avaliar as con- no Brasil Hoje: Educação, Traba-
• C. 3. Compreender o signifi- quistas sociais e as transformações lho, Saúde, Cultura e Lazer
cado histórico-social do Prota- democratizantes ocorridas na le- • O Jovem e o Adolescente como
gonismo Juvenil na Luta por seus gislação política, civil e social, em Protagonistas de seus Direitos e
Direitos diferentes períodos históricos. Deveres
– C. 2. Identificar o papel dos
Ênfases Analíticas diferentes meios de comunicação
Trabalho e Cidadania na formação da opinião pública e
Desenvolvimento econômico e avaliar, criticamente, suas possíveis
transformações no mundo do tra- contribuições para o fortalecimento
balho nas diferentes estruturas so- da cidadania e da democracia.
ciais em um mundo globalizado. - C. 2. Reconhecer alternativas
Democracia e Cidadania: Identi- diferenciadas de intervenção em
dade social, Participação Política conflitos sociais e crises institucio-
e Desenvolvimento Sustentável e nais e resolução dos mesmos sob
Equitativo. a égide da “Cultura da Paz”, res-
Jovens e Adolescentes Hoje: peitando os valores humanos e a
Situação Social e Perspectivas diversidade sociocultural.
Protagonismo de Jovens e Adoles-
centes: Direitos, Deveres e Cida- - C. 3. Identificar as principais
dania Plena. características e perspectivas da
situação social do Jovem e do
Adolescente no Brasil Hoje e as
tendências do Protagonismo Juvenil
na Luta por seus Direitos.

Fonte: Elaboração a partir das Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC/PCN+EM, 2002) e da Matriz
de Competências e Habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias do ENCCEJA (INEP, 2002).
Notas: 1 – A articulação entre as competências e as habilidades está indicada pela classificação alfabética e numérica. Por exemplo, a Competência
A. 1. relaciona-se às Habilidades A.1., na segunda coluna. 2 – A especificação dos Eixos de Competências, das Competências e das Ênfases
Analíticas para a Sociologia fundamenta-se no documento MEC/PCN+EM (2002); 3 – A especificação das Habilidades tem por referência a Matriz
de Competências e Habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias do ENCCEJA (INEP, 2002), assumida pelo Referencial Curricular da Área de
Ciências Humanas e suas Tecnologias do Estado do Rio Grande do Sul (SEC/RS, 2009); 4 – A especificação de temas tem por referência as propostas
para a Sociologia presentes no documento MEC/PCN+EM (2002, páginas 93 e seguintes) e nas Orientações Curriculares para o ensino médio (MEC/
OCEM-CH, 2008).

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Ressalte-se que os temas e subtemas arrola- Tecnologias/OCEM CH (2008) apresentam
dos no Quadro 1, enquanto referência para a uma importante reflexão sobre as vantagens
102
102
elaboração de planos de ensino de sociologia e desvantagens do desenvolvimento de pla-
no nível médio, são fundamentalmente indicati- nos pedagógicos de Sociologia no ensino
vos. Cabe aos professores, no âmbito do traba- médio23, fundando-os, estrategicamente,
lho interdisciplinar das propostas pedagógicas ora em temas, ora em conceitos, ora em
de suas comunidades escolares e consideran- teorias (Quadro 2). Sustentando a impor-
do os interesses dos alunos, eleger, especificar tância de buscar a articulação permanente
e operacionalizar, de forma criativa e pluralista, desses três recortes analíticos24, é importan-
os conteúdos a serem trabalhados. te que as atividades didático-pedagógicas
partam dos interesses e conhecimentos dos
Estratégias para o alunos, proporcionando-lhes a possibilida-
ensino da Sociologia de de desnaturalização e de estranhamento
em suas leituras do mundo social, em opo-
As Orientações Curriculares para o En- sição à naturalização e habitualidade típicas
sino Médio das Ciências Humanas e suas dos conhecimentos do senso comum.

Quadro 2
Estratégias para o ensino da Sociologia
Estratégias Desvantagens Vantagens

ESTRATÉGIA CENTRADA - pode-se reduzir a mera narração - permite evitar que os alunos
EM TEMAS de informações ou experiências pes- sintam a disciplina como algo
- seleção e estudo de temas/pro- soais ou a mera coleta de informa- estranho.
blemas sociais relevantes. ções em jornais, revistas e internet. - permite, quando analisadas à luz
- requer que o professor tenha uma de critérios teórico-conceituais,
formação sólida, uma capacidade desenvolver uma abordagem so-
analítica muito grande e um amplo ciológica mais sólida de questões
conhecimento da realidade social. significativas.

ESTRATÉGIA CENTRADA EM - admite vários sentidos para um - permite o desenvolvimento da ca-


CONCEITOS conceito, conforme o autor, a cor- pacidade de abstração necessária
- seleção, apresentação e análise rente teórica ou a época. para a análise da sociedade.
de conceitos, que se constituem - oportuniza o risco de apresenta- - permite elevar o conhecimento a
em elementos básicos do discurso ção formal, escolástica, de “quase- um patamar além do senso co-
científico, sintetizando as ações e verbetes” dos conceitos. mum e das aparências.
processos sociais e permitindo sua
explicação como uma totalidade.
ESTRATÉGIA CENTRADA EM - oportuniza o risco de mera apre- - permite ao aluno conhecer a
TEORIAS sentação formalista, escolástica, história das diversas teorias da
- seleção, apresentação e análise dogmática de teorias, tendendo à Sociologia.
de teorias sociológicas, enquanto doutrinação. - permite ao aluno verificar as dife-
reconstruções da realidade social rentes possibilidades teóricas de
e “modelos explicativos” da mes- compreender e explicar os fenô-
ma. menos sociais oferecidos pelas
distintas teorias.
Fonte: elaborado com base nos Pressupostos Metodológicos da Sociologia no ensino médio, in MEC/OCEM-CH, 2008.

23
Entre outras obras que podem servir de referência para os professores elaborarem suas propostas didático-pedagógicas, destaque-se: Sociologia, de
Giddens (2008), a qual abrange o tratamento sociológico de uma expressiva gama de problemas sociais; e as obras Relativizando (DAMATTA, 1981)
e Teorias de Política Comparativa (CHILCOTE, 1997), as quais oferecem, respectivamente, interessantes panoramas de preocupações e alternativas
teórico-conceituais da Antropologia e da Ciência Política para o estudo de problemas contemporâneos. Como textos complementares para consulta,
sugere-se, entre outras, as obras de Rex (1973), Megale (1989) e Vila Nova (1995).
24
Esses recortes se referem às três dimensões necessárias que devem ser atendidas pelo ensino de Sociologia: uma dimensão explicativa ou
compreensiva – teorias; uma dimensão linguística ou discursiva – conceitos; e uma dimensão empírica ou concreta – temas (MEC/OCEM-CH, 2008:
117).

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Ao mesmo tempo, dados os objetivos exemplo, o instigante antagonismo entre as
e características do ensino médio, o docu- conclusões das pesquisas de Souza (2003) e
mento argumenta de modo consistente que as de Freitag (1979) sobre a escola pública 103 103
os planos de ensino de sociologia devem ser no Brasil hoje. Souza (2003), em oposição às
organizados predominantemente pela análi- interpretações que enfatizam o papel da esco-
se de temas sociais relevantes sob a luz de la na adaptação das novas gerações à ordem
conceitos sociológicos fundamentais. A apre- social vigente e especialmente ao mundo da
sentação e o desenvolvimento de unidades produção, argumenta que a socialização juve-
pedagógicas a partir de temas/problemas nil na escola pública não se dá como um pro-
geradores é exemplificada no Quadro 3, no cesso de interiorização de hábitos e valores,
qual são sugeridas técnicas e atividades para mas como o desenvolvimento da capacidade
o tratamento de temas selecionados. de “aprender a aprender”, essencial para a
Uma segunda forma de organizar as ati- adaptação a um meio instável (SOUZA, 2003:
vidades didático-pedagógicas centra-se na 182). Trata-se aqui, fundamentalmente, não
apresentação e análise de distintos conceitos mais de disciplinamento da força de trabalho,
sociológicos, sem descurar da referência às mas de adaptação do indivíduo à instabilida-
teorias que os embasam. Nessas situações, de, à ausência de autoridade e de critérios, à
a ênfase está na tensão entre os conceitos prevalência dos interesses individuais sobre
que expressam, no limite, distintas concep- os coletivos, ao descrédito da justiça e da lei,
ções teóricas acerca desses temas, cabendo característicos da vida contemporânea (SOU-
aos dados trazidos para as situações didático- ZA, 2003: 183). Frente a essa visão pessimis-
pedagógicas enriquecer os estudos em desen- ta, contrapõem-se as conclusões do estudo
volvimento. Trata-se neste caso de apresentar Sociedade e Consciência de Bárbara Freitag
as conexões dos conceitos em foco com os (1986), realizado em São Paulo em 1979, o
correspondentes campos teóricos (contextuali- qual buscou avaliar a competência linguística,
zação heurística) e momentos históricos (con- moral e lógica de crianças de diferentes classes
textualização histórico-social) de sua formula- sociais e faixas etárias, tendo por referência a
ção e emprego. teoria psicogenética de Piaget e de Kohlberg26.
Por exemplo, tomando-se o conceito de Os resultados desse estudo indicam que a ex-
educação, ou mais particularmente de esco- periência escolar contínua entre 6 e 16 anos,
la25, pode-se apresentar inicialmente as con- independentemente da origem socioeconômi-
cepções que a consideram como instituição ca e da qualidade das escolas e da formação
responsável pelo ensinar a moral para nos- dos professores, pode efetivamente favorecer
sas crianças das escolas primárias em termos o amadurecimento linguístico, moral e lógico
puramente laicos (DURKHEIM, 2007: 62) das crianças e adolescentes, revelando a ur-
ou como aparelho ideológico de Estado e gência de assegurar a escolarização plena a
fator de reprodução das relações de produ- todas as crianças brasileiras (FREITAG, 1986).
ção (ALTHUSSER, 1985), ou como fator de Ressalte-se que o amadurecimento das estru-
conservação social (BOURDIEU, 1999). Em turas lógico-morais27 independe da aprendi-
contraste com essas concepções tem-se, por zagem do conteúdo em si, sendo a convivên-
25
Como exemplo de uma apresentação pedagógica de diferentes, e no limite antagônicas, concepções de educação e de escola, ver o Capítulo 1 do livro
Escola, Estado e Sociedade (Freitag, 1978), no qual são comparadas criticamente as concepções de autores como Durkheim, Parsons, Bourdieu e Gramsci.
26
Ver, também, a relevante obra Itinerários de Antígona. A Questão da Moralidade (Freitag, 1992).
27
Em grandes linhas, na concepção teórica em foco, a construção da moral pela criança desenvolve-se em quatro etapas: a) etapa da pré-moralidade
ou do egocentrismo infantil (0 a 5 anos), marcada inicialmente pela absoluta ausência da noção de regra social e de consciência moral, e culminando
na imitação automática das regras dos adultos (hábitos), sem a consciência das noções de infração de regras e de sanções; b) etapa da moralidade
heterônoma ou de realismo moral (5 a 8 anos), caracterizada pela vigência de uma noção rudimentar das regras, as quais são percebidas como
sagradas e imutáveis e personificadas por autoridades como os pais, o padre, o policial e o líder político; c) etapa da semiautonomia moral (8 a 10
anos), em que ocorre a relativização das regras sociais, mas as mesmas ainda são percebidas como imposições desde fora, e não como um produto
de cuja elaboração se participou; e d) etapa da autonomia moral (a partir dos 10 ou 12 anos), tipificada pela consciência de que a necessidade
da moral decorre da relação com o outro, sendo que as regras são cumpridas quando percebidas e avaliadas como necessárias e importantes e,
conforme a situação, relativizando-se a noção de dever e a intenção do sujeito (Freitag, 1986 e 1992).

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cia escolar com os pares um aspecto-chave uma Unidade Didática específica29, através de
desse amadurecimento. Em outras palavras, sua apresentação sistemática e sintética, vi-
104
104 as crianças que tiveram uma possibilidade de sando sensibilizar os alunos para a importân-
permanência maior na escola revelaram, nos cia das contribuições da disciplina na aná-
testes empregados, níveis de maturidade so- lise dos problemas sociais contemporâneos.
cial superior a crianças da mesma idade que Dado que a literatura especializada voltada
abandonaram a escola cedo. Um aspecto ao ensino de Sociologia no nível médio ain-
essencial do modelo de construção da moral da não é numerosa30, torna-se necessário,
pela criança aqui em foco é a crescente des- quando da opção por essa estratégia de
centração do indivíduo, o qual, partindo do ensino, apoiar-se sistematicamente em tex-
egocentrismo infantil, tem a possibilidade de tos acadêmico-científicos e realizar a tarefa
chegar ao pleno reconhecimento do outro – de transposição dos conteúdos dos mesmos
o “estranho/estrangeiro” –, como diferente, para esse nível de ensino.
com suas características e interesses próprios As Orientações Curriculares para Socio-
que devem ser respeitados28. logia (MEC/OCEM-CH, 2008) apresentam
O exame comparativo dessas diferentes e discutem uma interessante seleção de
e antagônicas concepções acerca da esco- práticas de ensino e de recursos didáticos
la – em especial da escola pública – permi- que podem enriquecer o ensino da discipli-
te a geração de novas direções de trabalho na. As práticas podem ser: aula expositiva,
didático-pedagógico, através da incorpo- leitura e análise de textos, seminários, bem
ração de outros conceitos (e temas/pro- como excursões, visitas a museus e a par-
blemas geradores), tais como: (a) o ado- ques ecológicos. Entre os recursos didáti-
lescente, a família e a escola; (b) escola e cos, apontam o emprego de filmes, vídeos
trabalho; (c) adolescência, individualismo ou DVD, programas de TV e fotografias;
e solidariedade; e (d) a escola e o adoles- charges, cartuns e tiras para o enriqueci-
cente enquanto protagonista de seus direi- mento do tratamento dos temas seleciona-
tos e deveres. Outrossim, cumpre registrar dos. A realização, por parte dos alunos, de
que essa abertura crescente da rede de te- pesquisas sobre temas sociais relevantes é
mas/problemas a serem abordados deve valorizada, devendo ocorrer sempre à luz
ter sempre presente o objetivo didático- de teorias e conceitos norteadores da lei-
pedagógico de desenvolvimento, por parte tura da realidade social, da análise dos
dos alunos, de suas competências de Ler, dados, fatos e/ou opiniões colhidos (MEC/
Escrever e Resolver problemas, bem como OCEM-CH, 2008: 125-127).
a problematização dos conceitos de desen- Em relação às práticas de ensino, cabe in-
volvimento humano sustentável e equitativo dicar a interessante obra O Ensino que Fun-
e de Cultura da Paz. ciona, de Marzano et al. (2008), na qual é
Uma terceira alternativa é trabalhar com apresentado e discutido um conjunto de es-
teorias sociológicas selecionadas, o que pode tratégias didático-pedagógicas selecionadas
ser desenvolvido no ensino médio, enquanto para melhorar a aprendizagem e o desem-

28
Essa concepção vem ao encontro da concepção de “Cultura da Paz”, conforme acima definida.
29
Recorde-se que, aqui, não se assume o compromisso de formar cientistas sociais no ensino médio, mas sim o de sensibilizar os alunos para as
possibilidades explicativas dos conhecimentos sociológicos.
30
Entre os livros voltados para a Sociologia no ensino médio cabe indicar Meksenas (1993); SEED-PR, (2006); e Tomazi (2007), Brym et al. (2008) e
Handfas e Oliveira (2009). Conta-se, presentemente, com a revista mensal Sociologia Ciência & Vida. da Editora Escala, a qual traz temas relevantes e
sugestões de exercícios a serem desenvolvidos em aula. Na internet, além do site Scielo, que proporciona o acesso gratuito e o download de artigos de
inúmeras revistas de todas áreas do conhecimento, é possível também identificar sites e fóruns dedicados à apresentação e discussão de experiências
didático-pedagógicas de Sociologia no ensino médio, utilizando para busca delimitada, expressões entre aspas tais como: “ensino sociologia” ou
“sociologia ensino médio”. Entre outros, tem-se os seguintes sites: http://www6.ufrgs.br/laviecs/home.htm, do Laboratório Virtual e Interativo de Ensino de
Ciências Sociais – LAVIES; http://sociologia.incubadora.fapesp.br/portal; http://www.sed.sc.gov.br/lefis/; e http://www.educacert.com.br/; nos quais são
apresentados elementos relevantes sobre o ensino de Sociologia no nível médio.

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penho escolar dos alunos31. Em ordem de gênero, raça, idade e escolaridade; D - Polí-
significância para a aprendizagem, são elas: ticas Públicas, Reformas Sociais e Desenvol-
(a) identificar semelhanças e diferenças vimento Sustentável Equitativo; e O Jovem e 105105
entre dois ou mais elementos; o Adolescente como Protagonistas de seus
(b) resumir e fazer anotações; Direitos e Deveres. Nessas atividades, a ênfa-
(c) reforçar e proporcionar o reconheci- se está colocada principalmente no material
mento dos esforços e do desempenho dos empírico, histórico-social, que é apresenta-
alunos; do aos alunos, para análise e comparação.
(d) realizar lição de casa e atividades prá- Complementarmente, são apresentados, na
ticas; medida do necessário e oportuno, os concei-
(e) empregar representações não linguísti- tos que possam vir a auxiliar na análise em
cas (desenhos; gráficos; criação de mode- desenvolvimento.
los físicos; movimentos físicos); Cumpre recordar que essas atividades
(f) criar situações para a aprendizagem didático-pedagógicas estão voltadas para o
cooperativa; desenvolvimento das competências para Ler,
(g) estabelecer objetivos explícitos e forne- Escrever e Resolver problemas, considera-
cer feedback aos alunos nas situações de das fundamentais, nesse Referencial Curri-
aprendizagem; cular, para que os alunos possam continuar
(h) gerar e testar hipóteses; e aprendendo de forma autônoma e crítica.
(i) empregar estratégias de fornecimento No primeiro exemplo, sobre o tema Conhe-
de pistas, de sugestão de perguntas orien- cimento Científico versus Senso Comum, é
tadoras e de proposição de organizadores apresentada a tarefa de ler comparativa-
avançados de estudo (esquemas expositi- mente um texto sociológico e um texto de
vos, narrativos ou apresentações gráficas senso comum sobre um tema social signifi-
da unidade a ser iniciada). cativo, como as desigualdades sociais. Essa
Quatro exemplos da possível operaciona- leitura deve ser acompanhada pelas tarefas
lização dessas estratégias didático-pedagó- de resumir e fazer anotações, comparando
gicas para o tratamento sociológico de al- os itens relevantes identificados em cada
guns temas selecionados são apresentados a texto, verificando as semelhanças e diferen-
seguir (Quadro 3), objetivando demonstrar, ças entre esses, e entre as explicações apre-
ainda que sucintamente, como seu emprego sentadas nos textos sobre o tema em análi-
pode enriquecer as atividades de ensino da se. A Resolução do problema didático-pe-
Sociologia. Dentre os temas propostos no dagógico proposto implica apresentar aos
Quadro 1, os selecionados para essa exem- alunos as principais características do Co-
plificação são: A - Conhecimento Científico nhecimento Científico e do Senso Comum,
versus Senso Comum; B - Cultura e a Ques- tais como o uso de conceitos teóricos versus
tão do Relativismo Cultural; C - As Desigual- a expressão de preconceitos, e solicitar que
dades Sociais no Brasil Hoje e as Políticas verifiquem e discutam a possível classifica-
Sociais; Desigualdades de Oportunidades ção dos textos examinados, como exemplos
de Trabalho: As Múltiplas Discriminações por dos tipos de conhecimento em estudo.

31
Essa obra, inserida no esforço para a construção de uma Ciência do Ensino, realiza uma detalhada revisão de estudos sobre o desempenho de
alunos que vivenciaram situações de ensino-aprendizagem nas quais foram empregadas diferentes estratégias de ensino. Ainda que a parte de revisão e
discussão dos resultados dos estudos enfocados possa apresentar alguma dificuldade inicial, dada a utilização de procedimentos estatísticos, essa pode
ser superada pela leitura criteriosa da subseção Efeitos Gerais das Técnicas de Ensino (página 9 e seguintes). O cuidado e a riqueza da apresentação
das estratégias analisadas compensam essa possível dificuldade inicial. Nos Cadernos de Sociologia, são sugeridos exercícios didático-pedagógicos que,
embora tenham sido elaborados de forma independente, podem ser compreendidos como variações de algumas dessas estratégias. Ver Caderno do
Professor e Caderno do Aluno da Disciplina de Sociologia.

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Quadro 3
Estratégias didático-pedagógicas para a sociologia no
106
106 ensino médio temas selecionados

Estratégias
Temas/habilidades Operacionalização
didático-pedagógicas1

A - EXEMPLO 1 - resumir e fazer anotações (b); 1. selecionar e distribuir aos alunos um


TEMA e texto sociológico e um texto de senso
Conhecimento Científico versus - identificar semelhanças e dife- comum (por exemplo, entrevista de
Senso Comum. renças entre dois ou mais ele- jornal com populares) sobre um tema
mentos (a). social significativo, como as desigual-
HABILIDADE dades sociais, ou a política universitária
A. 1. Identificar e comparar de quotas por raça ou por trajetória
pontos de vista científicos e do educacional prévia (escola pública ou
senso comum acerca de aspec- privada);
tos sociais e culturais selecio- 2. solicitar aos alunos que leiam os tex-
nados, expressos em diferentes tos, resumindo e fazendo anotações, e
fontes e registros. assinalando (I) com pontos de interroga-
ção os itens que não foram compreen-
didos; (II) com pontos de exclamação os
itens que o aluno considerar mais rele-
vantes; e (III) sublinhando os itens que
considera importantes e que gostaria
que fossem discutidos no grande grupo;
3. solicitar aos alunos que comparem
os itens relevantes identificados em
cada texto, verificando as semelhanças
e diferenças entre esses, bem como as
razões/explicações apresentadas sobre
o tema em análise;
4. organizar a apresentação dos resulta-
dos dos trabalhos individuais no grande
grupo, registrando em quadro as seme-
lhanças e diferenças identificadas entre
os textos e as dúvidas a serem esclare-
cidas. Esclarecer as principais dúvidas
registradas;
5. apresentar aos alunos, de forma
comparativa, as principais caracterís-
ticas do Conhecimento Científico e do
Senso Comum, tais como o uso de
conceitos teóricos versus a expressão de
preconceitos;
6. retomar com os alunos, à luz dessa
apresentação, o quadro comparativo
elaborado acerca dos textos analisados,
solicitando que verifiquem e discutam
a possível classificação dos mesmos,
como exemplos dos tipos de conheci-
mento em estudo.

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Estratégias
Temas/habilidades Operacionalização
didático-pedagógicas
107
107
B - EXEMPLO 2 - criar situações para a aprendi- 1. selecionar diferentes textos (acadêmicos
TEMA zagem cooperativa (f); e jornalísticos) relativos aos impactos da
Cultura e a Questão do Relati- e indústria cultural sobre as múltiplas identi-
vismo Cultural. - empregar estratégias de forne- dades sociais em um mundo globalizado
cimento de pistas, de sugestão (Ver, por exemplo, os capítulos sobre Cul-
HABILIDADE de perguntas orientadoras e de tura e Sociedade e sobre um Mundo em
B. 2. Analisar, em um mundo proposição de organizadores Mudança, in: GIDDENS, 2005.);
globalizado, os efeitos e as avançados de estudo (esquemas 2. organizar a atividade a partir da dinâ-
interferências das mudanças expositivos, narrativos ou apre- mica do trabalho individual, em pequeno
provocadas pela indústria cul- sentações gráficas da unidade a e em grande grupo, visando criar uma
tural no cotidiano de diferentes ser iniciada) (i). situação de aprendizagem cooperativa;
grupos sociais, considerando 3. fornecer pistas e sugerir perguntas
as permanências e transfor- orientadoras para a leitura individual e
mações de suas identidades posterior discussão e sistematização em
sociais. pequeno grupo das ideias, dados e fatos
apresentados pelos textos em estudo;
4. solicitar aos pequenos grupos que
elaborem organizadores avançados de
estudo (esquemas expositivos, narrativos
ou apresentações gráficas da unidade)
para apresentação, discussão e avalia-
ção no grande grupo;
5. coordenar a apresentação, sistema-
tização e discussão dos trabalhos dos
pequenos grupos ao grande grupo;
6. apresentar, comparando e contrastan-
do com os resultados da discussão do
grande grupo, o significado da Questão
do Relativismo Cultural no contexto da
construção da “Cultura da Paz”.

Estratégias
Temas/habilidades Operacionalização
didático-pedagógicas

C - EXEMPLO 3 - estabelecer objetivos explícitos e 1. apresentar aos alunos os objetivos


TEMAS fornecer feedback aos alunos nas explícitos da unidade: (I) análise das Desi-
As Desigualdades Sociais no situações de aprendizagem (g); gualdades de Oportunidades de Trabalho
Brasil Hoje e as Políticas So- - empregar estratégias de forne- por Escolaridade no Brasil Hoje e das
ciais; cimento de pistas, de sugestão Políticas Sociais para minorá-las; e (II)
Desigualdades de Oportunida- de perguntas orientadoras e de aprendizado de leitura e de elaboração
des de Trabalho: As Múltiplas proposição de organizadores de tabelas;
Discriminações por gênero, avançados de estudo (esquemas 2. apresentar aos alunos os conceitos
raça, idade e escolaridade. expositivos, narrativos ou apre- de Desigualdades Sociais e de Políticas
sentações gráficas da unidade a Sociais (Ver RESENDE, in Tomazi, 2000; e
Tomazi, 2007);
HABILIDADE ser iniciada) (i);
3. solicitar aos alunos a leitura de texto(s)
C. 1. Posicionar-se criticamente e
selecionado(s) sobre o tema, indicando
sobre os processos de transfor- - empregar representações
quais os principais aspectos conceituais e
mações sociais, econômicas, não linguísticas (desenhos; gráfi- empíricos a observar, fornecendo pistas,
políticas e culturais no contexto cos; etc.) (e). e sugerindo perguntas orientadoras da
societário presente, identifican- leitura;
do e comparando referenciais 4. selecionar dados quantitativos e qualita-

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Estratégias
Temas/habilidades Operacionalização
didático-pedagógicas
108
108
alternativos que visem erradicar tivos relativos às Desigualdades de Opor-
formas de exclusão social. tunidades de Trabalho por escolaridade no
Brasil e no Rio Grande do Sul (destaque-se
que dados estatísticos podem ser obtidos
no site do IBGE, e artigos sobre o tema
podem ser obtidos no site Scielo);
5. organizar tabelas de frequência simples
com dados absolutos acerca do tema em
estudo;
6. solicitar aos alunos que calculem os
percentuais (dados relativos) de cada ta-
bela selecionada;
7. apresentar aos alunos o processo de
elaboração de gráficos (em barras, pizza,
etc.) e solicitar que elaborem gráficos
utilizando os dados percentuais das ta-
belas em foco, fornecendo feedback aos
alunos nas situações de aprendizagem
(em caso de disponibilidade de recursos
de informática, essa elaboração pode ser
desenvolvida com o uso de programas
especializados);
8. discutir, no grande grupo, os resultados
quantitativos encontrados, à luz da leitura
dos textos selecionados e do(s) conceito(s)
de desigualdades sociais apresentado(s);
9. solicitar aos alunos que indiquem e
avaliem – enquanto geração e teste teóri-
co de hipóteses –, possíveis medidas que
poderiam ser tomadas, enquanto Políticas
Sociais, para o enfrentamento das Desi-
gualdades de Oportunidades de Trabalho
por escolaridade.
[Obs.: Essa unidade pode ser ampliada,
através, por exemplo, da apresentação
de tabelas e da construção de gráficos,
contemplando as relações entre as desi-
gualdades sociais por escolaridade com
as relacionadas à questão de gênero e/ou
à questão das raças.]

Estratégias
Temas/habilidades Operacionalização
didático-pedagógicas

D - EXEMPLO 4 - gerar e testar hipóteses (h); 1. apresentar aos alunos os conceitos de


- realizar lição de casa e ativida- Políticas Públicas e Reformas Sociais, indi-
TEMAS des práticas (d); cando que essas podem ser compreendi-
Políticas Públicas, Reformas e das como hipóteses geradas para buscar
Sociais e Desenvolvimento Sus- - reforçar e proporcionar o re- resolver problemas sociais, as quais são
tentável Equitativo; conhecimento dos esforços e do “testadas” quando de sua implementação;
O Jovem e o Adolescente desempenho dos alunos (c). 2. solicitar aos alunos que identifiquem
como Protagonistas de seus e registrem em seu Caderno de Aula três
Direitos e Deveres. problemas sociais principais enfrentados

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Estratégias
Temas/habilidades Operacionalização
didático-pedagógicas
109
109
HABILIDADES - C. 2. Posicio- pelos jovens de sua comunidade hoje;
nar-se criticamente sobre os 3. solicitar que identifiquem e registrem
processos de transformações em seu Caderno de Aula quais as Políti-
sociais, econômicas, políticas e cas Públicas e Reformas Sociais, que têm
culturais no contexto societário sido propostas e implementadas para a
presente, identificando e com- possível solução desses problemas, bem
parando referenciais alternati- como a eficácia dessas;
vos que visem erradicar formas 4. solicitar que os alunos registrem em
de exclusão social. seu Caderno de Aula que outras medidas
C. 3. Identificar as principais poderiam ser tomadas para uma possível
características da situação so- solução desses problemas, ressaltando
cial do Jovem e do Adolescen- que essas medidas podem também ser
te no Brasil Hoje e as tendên- entendidas como hipóteses geradas que
cias do Protagonismo Juvenil podem ser “testadas”, teoricamente,
na Luta por seus Direitos. através de sua hierarquização, quanto a
sua necessidade, possibilidade e possíveis
resultados de sua implementação;
5. organizar a apresentação dos resulta-
dos dos trabalhos individuais no grande
grupo, registrando em quadro compa-
rativo os problemas sociais principais,
as avaliações da eficácia das Políticas
Públicas e Reformas Sociais que têm
sido propostas e implementadas, e que
outras medidas poderiam ser tomadas,
no entender dos alunos, para a possível
solução desses problemas;
6. realizar, em grande grupo, a análise e
avaliação das informações constantes no
quadro comparativo;
7. hierarquizar com os alunos, pelos
critérios de possibilidade e possíveis resul-
tados, as soluções propostas – enquanto
hipóteses – para os problemas sociais
identificados;
8. solicitar que os alunos explicitem
individualmente, em um relatório a ser
elaborado como lição de casa, as suas
principais conclusões sobre a análise de-
senvolvida, tendo como referência o prin-
cípio do Protagonismo dos Jovens e dos
Adolescentes na Luta por seus Direitos;
9. avaliar os relatórios individuais,
comentar os trabalhos, reforçando e
proporcionando o reconhecimento dos
esforços e do desempenho dos alunos;
10. solicitar que alguns alunos apresen-
tem seus trabalhos ao grande grupo,
como ponto de partida para um balanço
final da unidade didática.

Fonte: Elaborado a partir do Quadro 1 e da adaptação das estratégias didático-pedagógicas apresentadas por Marzano et al. (2008).
Nota: 1 – A letra entre parênteses visa permitir a rápida identificação da estratégia didático-pedagógica na obra de Marzano et al. (2008).

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A implantação da Sociologia no ensino princípios de Filosofia Positiva –, saber para
médio, certamente, representará uma oportu- prever; prever para agir; agir para prover.
110
110 nidade ímpar para consolidar um amplo en- Já, dentro da conjuntura revolucionária eu-
tendimento do significado das contribuições ropeia de 1848, Marx e Engels, assumin-
dessa disciplina, não só em relação aos alu- do a perspectiva do comunismo proletário
nos, mas, de forma indireta, a seus familiares – depois de proclamarem, ironicamente,
e demais pessoas de suas relações. O desafio no Manifesto do Partido Comunista que o
será construir propostas curriculares pedagó- espectro do comunismo rondava a Europa
gicas capazes de sensibilizar os alunos para –, atribuíram à teoria revolucionária do ma-
a relevância dessa disciplina, de suas orienta- terialismo dialético-histórico orientar a prá-
ções teórico-metodológicas e dos problemas xis revolucionária do proletariado mundial.
e temas que se propõe estudar. Marx declarava na Tese 11 sobre Feuerbach
Nesta perspectiva, apresenta-se a seguir que, até então, os filósofos se limitaram a in-
uma visão panorâmica da história da Socio- terpretar o mundo diferentemente, enquan-
logia, como um convite aos colegas profes- to que “cabe transformá-lo” (MARX, 1978:
sores, e um mapa para o estudo das prin- 59)34.
cipais contribuições de autores clássicos e Cumpre aqui, ainda que rapidamente,
contemporâneos. relembrar por sua relevância as perspec-
tivas teóricas acerca da Sociologia de dois
Breve panorama das clássicos das Ciências Sociais – Durkheim
e Weber35. De um lado, no contexto da Ter-
tendências teóricas da ceira República Francesa, Émile Durkheim36
Sociologia propõe, sob inspiração do reformismo social
comtiano, uma sociologia para a ação, não
A apresentação panorâmica do surgi- conservadora como aquele, mas progressi-
mento e do desdobramento dos estudos so- vista (FILLOUX, 1975: 8), a qual tem por ob-
ciológicos revela um rico leque de tendên- jeto os fatos sociais e por método “a observa-
cias teóricas e metodológicas, bem como de ção e a experimentação indireta, em outros
estudos empíricos e de respostas alternativas termos, o método comparativo” (DURKHEIM,
para a questão de como a Sociologia pode 1975: 94). Investigando as causas da crise
contribuir para o conhecimento e possível moral de seu tempo, marcada pelo enfraque-
solução de problemas sociais. Em outras pa- cimento do espírito de coletividade, pelo in-
lavras: para que serve a Sociologia?32. Entre dividualismo e pela perda de consciência da
os pais fundadores da Sociologia, Augusto unidade orgânica da sociedade, Durkheim
Comte33, por exemplo, considerava que a postula que a Sociologia está, mais do que
Sociologia é a ciência que tem por objeto qualquer outra ciência, em condições de res-
o estudo dos fenômenos sociais, entendidos taurar essas ideias [da unidade orgânica da
como submetidos a leis naturais invariáveis, sociedade]. É ela que fará o indivíduo com-
e cuja descoberta seria o objetivo especial preender o que é a sociedade, como ela o
de suas pesquisas, empregando para tal completa e como ele é insignificante reduzido
o método histórico e visando – dentro dos exclusivamente às suas forças (DURKHEIM,
32
Sobre as principais tendências teóricas da Sociologia Clásssica e Contemporânea, ver Liedke, 2007. Ver também, entre outros, Lallement (2004),
Giddens (1998), Giddens e Turner (1999) e Levine (1997).
33
Comte foi o criador da palavra Sociologia através da junção dos termos socius, de origem latina, e logos, de origem grega. Sobre a obra de Comte,
ver, entre outros, Aron (1997) e Giddens (1998).
34
Posteriormente, a elaboração, por Marx, de O Capital veio a representar, junto com obras como O 18 Brumário e As Teorias da Mais-Valia, uma
contribuição marcante, não só para o pensamento social, mas principalmente para movimentos sociopolíticos dos séculos XIX e XX. Sobre a obra de
Marx, ver, entre outros, Aron (1997) e McLellan (1977).
35
Sobre as contribuições teóricas de Marx, Durkheim e Weber, ver também Quintanero (1996) e os volumes da Coleção Os Pensadores da Abril
Cultural, dedicados a esses autores (GIANNOTI, 1974a, 1974b e 1983).
36
Sobre a obra de Durkheim, ver Giddens (1981) e Giddens (1998).

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1975: 102). Em contraposição, tem-se o ar- esta a abranger novos campos de estudo,
gumento, do sociólogo alemão Max Weber, tais como os estudos das organizações e
acerca da necessidade do cientista social de das profissões; a pesquisa macrossociológi- 111 111
observar permanentemente uma postura de ca comparativa, ilustrada pelos estudos das
neutralidade axiológica. Para ele, por Socio- temáticas da modernização e do desenvol-
logia deve-se entender (no sentido aqui aceito vimento; e a pesquisa dos diversos aspectos
desta palavra, empregada com tão diversos da estratificação social, como a mobilidade
significados): uma ciência que pretende enten- social, os estilos de vida das classes sociais,
der, interpretando-a, a ação social para, desta o comportamento político e as imagens e re-
maneira, explicá-la causalmente em seu de- presentações que os indivíduos e grupos so-
senvolvimento e efeitos (WEBER, 1969: 5). Em ciais constroem sobre a sociedade.
um contexto de crescente desencantamento Já no panorama internacional contempo-
do mundo, Weber argumenta ser necessário râneo, cabe referir a rica contribuição das
distinguir permanentemente, na prática cien- obras de autores como Giddens, Bourdieu,
tífica, a ética da responsabilidade da ética da Foucault, Elias, Habermas, Luhman e Bau-
convicção, equacionando, pois, as tarefas da man41. Suas pesquisas abrangem, entre ou-
ciência como vocação como distintas das da tros, temas e conceitos tão diversos como:
política como vocação (FREUND, 1987: 27). poder político, educação, poder simbólico,
Assumindo na prática científica uma posição micropoderes, processo civilizatório, ação
de neutralidade axiológica frente aos juízos comunicativa, sistemas sociais e moderni-
de valores, Weber sustenta que uma ciência dade líquida, respectivamente.
empírica não está apta a ensinar a ninguém No Brasil, a Sociologia42 veio a ser incor-
aquilo que “deve”, mas sim e apenas o que porada em meados da década de 1920, nas
“pode” e – em certas circunstâncias – o que Escolas Normais, como uma disciplina auxi-
“quer” fazer (WEBER, 1977: 17)37. liar para a formação dos professores, visan-
No período entre as duas Grandes Guer- do instrumentá-los para conhecer as comuni-
ras Mundiais, destacaram-se as obras de dades onde atuariam, podendo assim adap-
autores europeus como Mauss, Luckàcs, tar seus planos pedagógicos às necessidades
Mannheim, Gramsci e dos membros do gru- locais. Em meados da década de 1930, no
po inicial da Escola de Frankfurt (Adorno, Brasil, a Sociologia foi institucionalizada no
Horkheimer e Benjamim)38, e de autores es- ensino superior com a criação da Escola Livre
tadunidenses como Park e Mead39. Os pri- de Sociologia e Política de São Paulo (1933)
meiros anos após a Segunda Guerra foram e com a criação da Seção de Sociologia e
caracterizados por importantes novas ten- Ciência Política da Faculdade de Filosofia
dências das atividades de análise e pesqui- da Universidade de São Paulo (1934). Dire-
sa, destacando-se, por exemplo nos Estados cionava-se, em grande parte, à preparação
Unidos, as contribuições teóricas de autores de professores de Sociologia para a Escola
como Parsons, Merton, Wright Mills e Gould- Secundária, em cujo currículo essa disciplina
ner40. Simultaneamente, ocorreu uma diver- fora incluída com a Reforma Educacional de
sificação da pesquisa sociológica, passando 193043.

37
Destaque-se também a relevante obra Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo de Max Weber (2004), a qual influenciou, entre outros, o
interessante livro Bandeirantes e Pioneiros de Vianna Moog (1969), que analisa comparativamente a colonização brasileira e a norte-americana.
38
Sobre a Escola de Frankfurt, ver a obra A Teoria Crítica: ontem e hoje de Bárbara Freitag (1986).
39
Sobre a sociologia nos Estados Unidos, ver Herpin (1982).
40
Sobre a contribuição de Parsons, ver, entre outros, Roche (1979) e Giddens (1998).
41
Sobre as contribuições desses autores, ver, entre outros, Lallement, 2004; e Giddens e Turner, 1999.
42
Sobre a história da Sociologia no Brasil, ver Fernandes, 1977; Ianni, 1989; Miceli, 1989 e 1995; e Liedke Filho, 2005.
43
A Reforma Educacional de 1942 retirou o ensino da Sociologia da Escola Secundária, desestimulando indiretamente a expansão do ensino da
mesma também no ensino superior, pois este estava, até então, voltado, principalmente, à preparação de professores para aquela. Ainda que
novos cursos tenham sido criados, especialmente em fins da década de 1950, somente após a Reforma Educacional de 1961 verificou-se uma
institucionalização crescente de cursos de graduação em Sociologia. A essa veio somar-se, após a Reforma Universitária de 1969, a expansão e
consolidação da pós-graduação.

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Os principais temas enfocados pela So- dicais, movimentos feministas, movimentos
ciologia no Brasil, em meados da década gays, movimentos negros e os movimentos
112
112 de 195044, eram: população, imigração e ecológicos47. Hoje em dia, as pesquisas em
colonização; relações étnicas, contatos e Sociologia no Brasil abrangem um amplo es-
assimilação (o negro; o índio e o branco co- pectro de temas, tais como: desenvolvimento,
lonizador); educação; história social; direito urbanização; mundo rural; mundo do traba-
e ciência política; estudos de comunidades; lho; ciência, tecnologia e conhecimento; iden-
análises regionais e sociologia rural e urba- tidades sociais; movimentos sociais; saúde;
na. Os anos 60 assistiram à elaboração da educação; relações sociais, raciais, de gênero
Teoria da Dependência por autores como e de gerações; sexualidade; violência e direi-
Cardoso e Falleto, Gunder Frank, Florestan tos humanos; e religiosidade48. As temáticas
Fernandes, Ianni, Marini, Quijano e Theo- da globalização, da pós-modernidade e do
tonio dos Santos45. Já os anos 70 e 80 fo- multiculturalismo têm merecido destaque nos
ram caracterizados pelas teorizações sobre trabalhos dos sociólogos e cientistas sociais
o novo autoritarismo e as possibilidades de brasileiros, ocorrendo muitas vezes a releitu-
redemocratização no Brasil e no Cone Sul, ra de temáticas já consagradas sob a ótica
buscando assim contribuir para a mesma. das suas possíveis conexões com as temáticas
Em grandes linhas, pode-se sugerir que se emergentes, como, por exemplo, religiões em
verificou na Sociologia brasileira uma rápida contexto de globalização, ou educação e mul-
evolução temática, ocorrida nos seguintes ter- ticulturalismo49.
mos: de grandes interpretações macroestrutu- Finalizando, cumpre desejar pleno suces-
rais do modelo econômico-político-cultural do so aos colegas em suas atividades didático-
regime autoritário, passou-se para a análise pedagógicas e reafirmar que o presente Re-
dos agentes e as características da transição ferencial Curricular considera que a Sociolo-
democrática, seguida dos temas da democra- gia e as demais Ciências Humanas podem
tização necessária, dos movimentos sociais e contribuir junto com as demais disciplinas
da estratégia de reativação da sociedade ci- para a sensibilização dos alunos para a im-
vil46. As questões dos movimentos sociais, das portância do equacionamento e da solução,
identidades e das representações sociais ocu- numa perspectiva democrática, dos proble-
param crescentemente um lugar de destaque mas sociais de nosso tempo, na perspectiva
entre as temáticas enfocadas pela Sociologia, da construção, sob a égide da Ética Universal,
sendo desenvolvidos estudos sobre movimen- de um desenvolvimento humano sustentável
tos sociais urbanos e rurais, movimentos sin- e equitativo, fundado na tolerância e na paz.

44
Nos anos 50, um fato marcante foi a constituição do grupo de pesquisa sob a liderança de Florestan Fernandes, que ficou conhecido como a
Escola de Sociologia da USP, a qual desenvolveu pesquisas sobre as relações raciais no Brasil, acerca da empresa industrial em São Paulo e do
desenvolvimento brasileiro. A preocupação com as possibilidades de um desenvolvimento democrático, racional, urbano-industrial da sociedade
brasileira ocupou um papel central entre as orientações intelectuais e políticas do projeto da Escola neste período (LIEDKE FILHO, 2005).
45
Entre as múltiplas obras elaboradas nessa perspectiva, cabe destaque ao livro Desenvolvimento e Dependência na América Latina de Cardoso e
Faletto (1973), dada sua influência não só no contexto latino-americano, mas também internacional, das Ciências Sociais de então.
46
Durante a transição democrática (1974/1986), as Ciências Sociais ocuparam um papel de destaque na crítica ao regime autoritário, como, por
exemplo: (a) na crítica à desigualdade da distribuição de renda agravada durante o chamado Milagre Brasileiro, destacando-se, pelo seu rigor
científico associado a uma linguagem acessível ao cidadão comum, a obra São Paulo 1975: Crescimento e Pobreza (CAMARGO, 1976); e (b) na
crítica ao autoritarismo e na formulação de uma estratégia de lutas democráticas mediante a reativação da sociedade civil (CARDOSO, 1976).
47
Sobre os movimentos sociais no Brasil, ver Gohn, 1997.
48
Presentemente, as principais abordagens que se destacam pela influência marcante que vêm exercendo sobre a Sociologia no Brasil são as de
Bourdieu, Foucault, Giddens, Elias e Habermas, cujas obras, assim como as releituras de Weber, são debatidas e utilizadas como referências em
ensaios e pesquisas.
49
Ver Miceli (1999 e 2002) e Liedke Filho (2005).

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Jânio Alves

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Disciplina de Filosofia
117
117
A reformulação do ensino médio no Brasil, textos culturais, éticos e sociais, o que não
estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da deve se restringir a um repertório de textos e
Educação Nacional (LDB/96) e regulamen- formulações.
tada pelos PCN – Parâmetros Curriculares Além de favorecer a integração das várias
Nacionais – e pelas DCN – Diretrizes Curri- áreas de conhecimento, a Filosofia pode dar
culares Nacionais –, procurou atender a uma uma contribuição específica para esse novo
reconhecida necessidade de atualização da ensino médio, na medida em que seu pa-
educação brasileira, propondo que o ensino pel no desenvolvimento da autonomia, da
médio deixasse de ser apenas preparatório capacidade crítica e na formação ética está
para o ensino superior ou profissionalizante e ligado diretamente à sua natureza argumen-
assumisse a responsabilidade de completar a tativa e à sua tradição histórica. Cabe à Fi-
educação básica. De acordo com a LDB/96, losofia a capacidade de análise, de recons-
o ensino médio passaria a ter como objeti- trução racional e de crítica, a partir da com-
vos: o aprimoramento do educando como preensão de que tomar posições diante de
ser humano, a sua formação ética, o desen- textos e argumentos propostos de qualquer
volvimento de sua autonomia intelectual e de tipo e emitir juízos acerca deles é um pres-
seu pensamento crítico, sua preparação para suposto indispensável para o exercício da
o mundo do trabalho e o desenvolvimento de cidadania. Mais ainda, as transformações
competências para continuar seu aprendiza- de caráter econômico, social ou cultural, no
do (Art. 35). Brasil e no mundo – e que evidenciaram a
Nas Orientações Educacionais Comple- necessidade de transformar a própria escola
mentares aos Parâmetros Curriculares Nacio- –, ressaltam a importância da Filosofia na
nais (os PCN+), por sua vez, afirma-se que o formação cidadã, como reconhece a LDB,
ensino médio deve desenvolver no educando já que o educando necessita compreender o
as seguintes competências: universo cultural em que está inserido, ana-
lisar os nexos que promovem a realidade na
“Mais do que reproduzir dados, denominar sua existência humana e ser capaz de de-
classificações ou identificar símbolos, estar for-
senvolver ações nesse contexto, destacando
mado para a vida, num mundo como o atual,
de tão rápidas transformações e de tão difíceis a importância do “domínio dos conhecimen-
contradições, significa saber se informar, se co- tos de Filosofia e de Sociologia necessários
municar, argumentar, compreender e agir, en- ao exercício da cidadania” (Art. 36 §1º, in-
frentar problemas de qualquer natureza, parti- ciso III).
cipar socialmente, de forma prática e solidária, Portanto, “sob vários aspectos, conquanto
ser capaz de elaborar críticas ou propostas e,
não a privilegie, a legislação parece presti-
especialmente, adquirir uma atitude de perma-
nente aprendizado.” (PCN +, p. 9). giar a Filosofia, concedendo-lhe até alguma
centralidade”1. Nesse sentido, as Diretrizes
Nessa direção, o Referencial Curricular Curriculares Nacionais para o ensino mé-
de Filosofia foi formatado tendo como foco dio (RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 3, de 26
o desenvolvimento de competências e não o de JUNHO de 1998)2 postulam três tipos de
acúmulo de informações, buscando sempre princípios tradicionais da Filosofia – estéticos,
o alinhamento dos conteúdos a serem traba- políticos e éticos –, os quais, associados res-
lhados à vivência do educando em seus con- pectivamente à sensibilidade, à igualdade e à
1
http://www.anpuhsp.org.br/pdfs/14Filosofia.pdf. Documento elaborado por solicitação da Diretoria do ensino médio do MEC à ANPOF – Associação
Nacional de Pós-Graduação em Filosofia.
2
Recomendamos fortemente também a leitura do parecer da relatora desta resolução, a conselheira Guiomar Namo de Mello.

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identidade, deverão nortear a prática peda- em particular. Quando se trata de pensar
gógica das escolas e dos sistemas de ensino. o ensino de Filosofia, é quase obrigató-
118
118 A partir da homologação, em 2008, do ria a lembrança da ideia kantiana de que
Parecer 38/2006 do Conselho Nacional de “não se ensina Filosofia, ensina-se a filo-
Educação, ocorreu a reimplantação de uma sofar”. E a diferença entre aprender Filo-
disciplina por muito tempo ausente na maio- sofia e aprender a filosofar corresponde,
ria das instituições de ensino, motivo pelo em termos de sentido, à diferença entre a
qual ela não se encontra consolidada, de ideia de ensino e a ideia de aprendizagem.
modo satisfatório, como componente curri- Aprender Filosofia pressupõe a centralida-
cular do ensino médio, tanto no que se refere de de um conteúdo programático que, em
aos materiais didáticos adequados quanto termos gerais, representaria o saber espe-
aos procedimentos pedagógicos, faltando cífico da Filosofia. Aprender a filosofar sig-
ainda uma avaliação de seu desempenho, nifica romper com a centralidade da ideia
por assim dizer, histórico, que lhe permita de um conteúdo programático e privilegiar
vencer as várias formas de resistência cultural a Filosofia como atividade, como aquisição
que questionam sua importância como com- de competências específicas do filosofar. É
ponente curricular. exatamente esta a implicação do infinitivo
No que se refere às indicações des- filosofar: uma disciplina de Filosofia deseja
te Referencial Curricular, o professor não fazer com que o aluno aprenda a filosofar,
deve considerar que elas visam oferecer o que significa, em última instância, adqui-
um programa fechado ou uma relação de rir uma série de capacidades e habilida-
­conteúdos obrigatórios, embora indiquem des que lhe permitirá dialogar com textos
conhecimentos e competências conside- filosóficos, através da leitura crítica e da
rados mais pertinentes em relação a cada escrita, e mobilizar os conhecimentos en-
etapa do ensino médio: “o currículo é a ex- quanto recursos a serem empregados nas
pressão dinâmica do conceito que a escola mais complexas situações reais.
e o sistema de ensino têm sobre o desenvol- Com isto, não estamos querendo dizer
vimento dos seus alunos e que se propõem a que a aprendizagem da Filosofia possa ou
realizar com e para eles. Portanto, qualquer deva acontecer sem contato com a histó-
orientação que se apresente não pode che- ria da Filosofia, pois – como se afirma nas
gar à equipe docente como prescrição quan- Orientações Curriculares para o ensino
to ao trabalho a ser feito”3. Nosso objetivo é, médio – a Filosofia está sempre retornan-
portanto, propor um Referencial Curricular, do aos seus textos clássicos para descobrir
um marco, que sirva de orientação para que sua identidade, mas também sua atualida-
os docentes e diretores de ensino formulem de e sentido. Mais ainda, “não é possível
seus programas de acordo com o seu con- fazer Filosofia sem recorrer a sua própria
texto educacional. história. Dizer que se pode ensinar Filo-
sofia apenas pedindo que os alunos pen-
Competências e sem e reflitam sobre os problemas que os
habilidades em Filosofia afligem ou que mais preocupam o homem
moderno, sem oferecer-lhes a base teórica
Um currículo focalizado na aprendiza- para o aprofundamento e a compreensão
gem revela uma nova concepção da im- de tais problemas, e sem recorrer à base
portância e do sentido do ensino das Ci- histórica da reflexão sobre tais questões, é
ências Humanas, em geral, e da Filosofia, o mesmo que numa aula de Física pedir

3
Ciências Humanas e suas Tecnologias / Secretaria de Educação Básica. – Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 133 p. (Orientações Curriculares para o ensino médio; volume 3).

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que os alunos descubram por si mesmos a Significado das
fórmula da lei da gravitação sem estudar
Física, esquecendo-se de todas as conquis- competências 119
119
tas anteriores neste campo, omitindo o es- específicas da Filosofia
forço e o trabalho monumental de Newton”4.
As Orientações Curriculares ainda salientam A- Representação e comunicação:
que “é salutar, portanto, para o ensino da
Filosofia que nunca se desconsidere a sua Esse campo de competências relaciona-se
história, em cujos textos reconhecemos boa com as linguagens, entendidas como instru-
parte de nossas medidas de competência e mentos de produção de sentido para toda e
também elementos que despertam nossa vo- qualquer formulação do intelecto humano,
cação para o trabalho filosófico. Mais que além de referir-se também às diferentes for-
isso, é recomendável que a história da Filo- mas de acesso, organização e sistematização
sofia e o texto filosófico tenham papel central de conhecimentos7.
no ensino da Filosofia, ainda que a perspecti- Neste campo, estão implicadas quatro
va adotada pelo professor seja temática, não competências específicas da Filosofia. As
sendo excessivo reforçar a importância de se aulas de Filosofia devem estar focadas no
trabalhar com os textos propriamente filosó- desenvolvimento das capacidades de: (1) ler
ficos e primários, mesmo quando se dialoga textos filosóficos de modo significativo; (2)
com textos de outra natureza, literários e jor- ler, de modo filosófico, textos de diferentes
nalísticos, por exemplo – o que pode ser bas- estruturas e registros; (3) elaborar por escrito
tante útil e instigante nessa fase de formação o que foi apropriado de modo reflexivo; e 4)
do aluno. Porém, é a partir de seu legado debater, tomando uma posição, defendendo-
próprio, com uma tradição que se apresen- a argumentativamente e mudando de posi-
ta na forma amplamente conhecida como ção face a argumentos mais consistentes.
História da Filosofia, que a Filosofia pode
propor-se ao diálogo com outras áreas do (1) Ler textos filosóficos
conhecimento e oferecer uma contribuição de modo significativo
peculiar na formação do educando”5.
Mas, de que capacidades se está falando No que se refere aos textos filosóficos,
quando se trata de ensinar Filosofia no nível não se trata de adotar como procedimento
médio? Em síntese, nossa legislação edu- a transmissão da herança filosófica como
cacional propõe classificar as competências um produto acabado. Para que o aluno se
e as habilidades a serem desenvolvidas em aproprie realmente do texto filosófico, ele
Filosofia em três grupos, de acordo com as deverá compreender o modo de pensar pe-
competências gerais da área de Ciências Hu- culiar a uma determinada corrente filosófica,
manas e suas Tecnologias e conforme apa- o que só é possível pelo desenvolvimento da
rece nos Referenciais Curriculares da área competência discursivo-filosófica. O acesso
de Ciências Humanas para o Rio Grande do aos textos filosóficos se faz, num primeiro
Sul: (A) representação e comunicação; (B) in- momento, de maneira reflexiva e analítica,
vestigação e compreensão; e (C) contextuali- buscando compreender os pressupostos dos
zação sociocultural6. textos e identificando as ideias centrais e a

4
NASCIMENTO, Milton, apud SILVEIRA, René, Um sentido para o ensino de Filosofia no ensino médio, p. 142.
5
Orientações Curriculares para o ensino médio volume 3, p. 27-28.
6
Nos Referenciais Curriculares da Educação Básica do Rio Grande do Sul, três competências transversais são tomadas como objetivos de todas
as áreas: ler, escrever e resolver problemas. Na seção destes Referenciais, referida à área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, apresentamos
como essas três competências transversais são trabalhadas na área e, por último, na seção “Apresentação da Disciplina Filosofia”, indicamos como a
Filosofia, de maneira específica, oportuniza o seu desenvolvimento.
7
PCNEM, 1999, p. 296.

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articulação argumentativa. Em seguida, é senvolvidas pela expressão oral em debates
possível entrar nos aspectos denotativos do ou em trabalhos em grupo. Portanto, pro-
120
120 texto e exercitar a análise interpretativa e a põe-se, apesar de todas as dificuldades, que
problematização crítica. Apropriar-se des- é preciso estimular a expressão escrita, por
se processo do filosofar é uma maneira de meio da dissertação filosófica.
construir uma forma de pensar autônoma. Embora se apresente como trabalho indi-
vidual, a dissertação deve ser compreendida
(2) Ler, de modo filosófico, como o amadurecimento das discussões em
textos de diferentes sala de aula, pelo intercâmbio de argumentos
com os colegas de classe e pela mediação do
estruturas e registros
professor. É importante registrar que, por dis-

sertação, não estamos supondo uma disserta-
Esse processo de desenvolvimento da ca-
ção monográfica e extensa; mas, sim, textos
pacidade de realizar uma leitura significativa
dissertativos, de caráter argumentativo e dia-
dos textos filosóficos pode ser ampliado pelo
lógico, independentemente de sua extensão.
professor, oferecendo aos alunos textos de
diferentes estruturas e registros.
Já é prática comum nas aulas de Filosofia (4) Debater, tomando
no ensino médio o recurso a filmes, músicas, posição, defendendo-a
fotografias, pinturas e textos científicos, en- argumentativamente e
tre outros. Porém, é indispensável que esses mudando de posição face a
textos sejam apresentados visando “um olhar argumentos mais consistentes
especificamente filosófico, vale dizer, ana-
lítico, reflexivo, investigativo, questionador, Complementando o conjunto de compe-
que possa contribuir para uma compreensão tências de representação e comunicação, a
mais profunda da produção textual específi- capacidade de debater racionalmente, isto é,
ca que [o aluno] tem sob as vistas”8. sustentando a opinião em argumentos pró-
O desenvolvimento dessas competências prios e mudando de posição em virtude da
está comprometido com uma leitura transdis- força de outros argumentos, é uma capaci-
ciplinar do mundo, já que supõe a capaci- dade essencial da cidadania. Desde o seu
dade de articular os diversos conhecimentos, nascimento na praça pública ateniense, a Fi-
superando a artificialidade dos recortes disci- losofia é uma atividade dialógica, por exce-
plinares da realidade. lência intersubjetiva, já que se dá pela troca
de argumentos num espaço público.
(3) Elaborar por escrito o que foi É prática comum nas aulas de Filosofia,
apropriado de modo reflexivo o debate sobre temas filosóficos ou de inte-
resse filosófico. O desafio para o professor
Além da leitura e interpretação de dife- está em transformar uma simples troca ego-
rentes textos, é importante que o aluno seja cêntrica de opiniões num debate informado
capaz de organizar seu próprio pensamento pela análise dos textos e pautado pela dis-
e, consequentemente, desenvolver sua au- posição social do respeito pelo outro, o que
tonomia, através de uma produção textual implica o desenvolvimento da disposição
própria. Dessa forma, o currículo de Filoso- para dar razões de suas opiniões e modifi-
fia deve oferecer ao educando possibilidades cá-las a partir das perspectivas e argumen-
de desenvolvimento da expressão escrita, em tos apresentados por outros. Nesse sentido,
acréscimo às capacidades argumentativas e é um requisito para o desenvolvimento desta
de organização do pensamento que são de- competência que a sala de aula seja trans-
8
PCNEM, 1999, p. 338.

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formada numa comunidade de indagação9, talidade, em decorrência de sua natureza
num espaço comunitário e colaborativo, transdisciplinar ou metadisciplinar11. Nesse
no qual os participantes sintam-se estimu- sentido, a Filosofia tem duas contribuições 121 121
lados a dar forma e modificar de maneira a dar: a primeira, cooperando no trabalho
recíproca suas ideias e opiniões. Portanto, de articulação dos diversos sistemas teóricos
é preciso reconhecer, para o desenvolvi- e conceituais curriculares, seja no trabalho
mento adequado desta competência, que com diferentes visões de mundo, seja atra-
o conhecimento é uma construção coleti- vés de atividades e projetos interdisciplinares;
va, forjada sociointerativamente na sala de a segunda, tomando a transdisciplinaridade
aula, no trabalho, na família e em todos os como um conteúdo disciplinar da Filosofia.
demais espaços de convivência; assim como Neste sentido, a Filosofia pode levar o estu-
a aprendizagem mobiliza afetos, emoções e dante à apropriação reflexiva de conceitos,
relações com seus pares, além das cogni- textos e problemas das Ciências Naturais,
ções e habilidades intelectuais. das Ciências Humanas e das Artes12.

B. Investigação e compreensão C. Contextualização sociocultural


Conforme os PCNEM, esse campo de Esse campo de competências refere-se à
competências refere-se aos diferentes proce- diversidade e, portanto, à constituição dos
dimentos, métodos, conceitos e conhecimen- diferentes significados que saberes de ordem
tos que são mobilizados e/ou construídos/ variada podem assumir em diversos contex-
reconstruídos nos variados processos de in- tos sociais13:
tervenção no real, que são sistematizados a “Contextualizar o conteúdo que se quer
aprendido significa, em primeiro lugar, assumir
partir da resolução de problemas relaciona-
que todo conhecimento envolve uma relação en-
dos às análises acerca da realidade social10. tre sujeito e objeto. Na escola fundamental ou
A contribuição específica da Filosofia neste média, o conhecimento é quase sempre reprodu-
campo pode ser resumida na competência de: zido das situações originais nas quais acontece
sua produção. Por esta razão, quase sempre o
conhecimento escolar se vale de uma transpo-
Articular conhecimentos sição didática, na qual a linguagem joga papel
filosóficos e diferentes decisivo.
conteúdos e modos discursivos O tratamento contextualizado do conheci-
mento é o recurso que a escola tem para retirar
nas Ciências Naturais e o aluno da condição de espectador passivo.
Humanas, nas Artes e em Se bem trabalhado, permite que, ao longo da
outras produções culturais transposição didática, o conteúdo do ensino
provoque aprendizagens significativas que mo-
bilizem o aluno e estabeleçam entre ele e o
A interdisciplinaridade, como se sabe,
objeto do conhecimento uma relação de reci-
tornou-se um eixo privilegiado do ensino procidade. A contextualização evoca, por isso,
médio, o que valoriza ainda mais o ensino áreas, âmbitos ou dimensões presentes na vida
da Filosofia, pela sua vocação para uma vi- pessoal, social e cultural, e mobiliza competên-
são de conjunto e para a percepção da to- cias cognitivas já adquiridas”14.

9
Cf. KENNEDY, David. Comunidade de indagação filosófica e transformação educacional: Alguns princípios básicos, em Filosofia e Sociedade –
Perspectivas para o Ensino de Filosofia. Org, SARDI, Sérgio Augusto. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.
10
Conferir, PCNEM, 1999, p. 296.
11
Cabe aqui uma advertência feita pela Conselheira Guiomar Namo de Mello nos comentários às Diretrizes Curriculares, para que se evite incorrer,
em nome da interdisciplinaridade, em meras generalidades e na diluição das especificidades disciplinares. Cf. Diretrizes Curriculares Nacionais para
o ensino médio, Parecer CEB nº 15/98.
12
Sob o mesmo ponto, conferir PCNEM, 1999, p. 342.
13
PCNEM, 1999, p. 296.
14
Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio, PARECER CEB 15/98, aprovado em 1/6/98 (Processo 23001.000309/97-46). Relatora
Conselheira Guiomar Namo de Mello.

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A transposição do campo de competên- Em relação ao segundo risco – a sepa-
cias “contextualização sociocultural” para a ração dos conceitos e das teorias dos seus
122
122 disciplina de Filosofia se dá através da com- contextos de origem –, sua superação nos
petência específica de: remete à competência de resolver proble-
mas. Como apontado nos Referenciais da
Contextualizar conhecimentos área, a resolução de problemas é uma
filosóficos, tanto no plano de maneira de levar os alunos a aprender a
aprender. Nas Ciências Humanas, a resolu-
sua origem específica quanto
ção de problemas constitui-se em um modo
em outros planos: o pessoal- inovador de abordar as questões sociais e
biográfico; o entorno sociopo- filosóficas, afastando-se da visão tradicio-
lítico, histórico-cultural; o hori- nal que privilegia fatos, personagens e ex-
zonte da sociedade científico- plicações sobre o passado. Para aproximar
tecnológica. o conteúdo escolar da realidade, propõe-
se um enfoque “problematizador”, ou seja,
No trabalho com textos filosóficos e no o ideal é que as questões filosóficas sejam
diálogo com textos de diferentes estruturas e apresentadas, desde o início, através de di-
registros – visando desenvolver as capacida- lemas, paradoxos, análise de casos, de fil-
des de ler e escrever, assim como de participar mes, entre outros recursos, para só então
de debates de acordo com disposições racio- apresentar teorias e soluções tradicionais
nais – é importante não lidar com os proble- para esses problemas. Dessa forma, mais
mas filosóficos como se fossem fechados em do que entender a disciplina como um con-
si mesmos. Há, pelo menos, dois riscos que junto de teorias prontas e acabadas, a Fi-
podem decorrer desse insulamento disciplinar losofia é apreendida pelo aluno como um
e temático provocado pela descontextualiza- conjunto de problemas abertos com diver-
ção dos problemas filosóficos: primeiro, com- sas tentativas de solução, o que desenvolve
prometendo sua correta compreensão pelo sobremaneira a sua autonomia.
aluno; segundo, ao se separar os problemas
filosóficos dos contextos problemáticos que Conceitos e temas
lhes deram origem, acaba-se dificultando a
autonomia e o desenvolvimento das demais
estruturadores da
competências filosóficas. Filosofia
Para evitar esse duplo risco, é necessário
que a contextualização dos conhecimentos fi- Para manter em níveis elevados o padrão
losóficos seja feita de duas maneiras comple- da educação praticada em nossas escolas
mentares. Para superar a primeira descontextu- públicas, é fundamental que o professor
alização, é necessário promover as habilidades de Filosofia elabore seu próprio programa
hermenêuticas dos alunos, situando os conhe- para a disciplina, levando em considera-
cimentos filosóficos nos sistemas conceituais ção o perfil de seus alunos, a sua situação
de onde surgiram, assim como remeter esses pessoal e o tempo de que dispõe para as
conhecimentos ao entorno sociocultural e pes- aulas15. Para facilitar esse trabalho, apre-
soal-biográfico do estudante. Tal contextualiza- sentamos, a seguir, um conjunto de temas
ção se dá numa relação dialética entre o abs- correspondentes aos conceitos estruturado-
trato e o concreto, que não apenas favorece res da área apresentados nos PCN+, assim
a compreensão dos problemas, como também como às competências específicas da Filo-
enriquece a experiência pessoal dos alunos. sofia antes referidas, além das três arqui-
15
Sugere-se a leitura do livro Ensino de Filosofia e Currículo, de Ronai Pires da Rocha, Petrópolis, Vozes, 2008.

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competências postuladas pelos Referenciais dem ser permanentemente problematiza-
para o Estado do Rio Grande do Sul: ler, das pelos educandos?
escrever e resolver problemas16. • Os recortes permitem o trabalho com co- 123 123
Do modo como foram concebidos os Re- nhecimentos e questões relacionadas a
ferenciais Curriculares, no interior das áreas eles que possam ser apropriadas e trans-
de conhecimento, cada disciplina apresenta postas pelo educando para situações no-
um conjunto de conceitos estruturadores ar- vas?
ticulados com conhecimentos, que não são • Os recortes permitem o trabalho com ques-
apenas tópicos disciplinares, nem somente tões que envolvem o universo de diferentes
competências gerais ou habilidades, mas sujeitos sociais?
sugestões de sínteses de ambas as intenções • Os recortes permitem o trabalho com di-
formativas. Tais conceitos não são de respon- ferentes linguagens e diferentes interpre-
sabilidade de uma única disciplina, já que in- tações presentes em diferentes fontes de
corporam metas educacionais comuns às vá- conhecimento?
rias disciplinas da área. Esses conceitos não • Os recortes permitem o trabalho sistemáti-
precisam estar explícitos em todas as discipli- co e, portanto, permanente, com atividades
nas, já que são representações gerais do real de pesquisa que visem ao desenvolvimento
compartilhadas pela área nos processos de de competências, habilidades e conceitos
análise dos objetos das diferentes disciplinas, pelo educando?
mesmo que não sejam específicos de nenhu- • Os recortes permitem o trabalho com questões
ma delas em particular. No caso da Filosofia, situadas em diferentes épocas e lugares?17
os conceitos estruturadores são relações
sociais, identidades, trabalho, poder e A - Conceito estruturante:
dominação, cultura e ética, os quais, por conhecimento
sua vez, articulam-se com os três conceitos
estruturadores específicos para a Filosofia, De acordo com os PCN+, para a área
propostos pelos PCN+, quais sejam: o ser, de Ciências Humanas e suas Tecnologias,
o conhecimento e a ação. “na reflexão sobre os fundamentos e fins do
Quanto aos critérios para seleção dos conhecimento, a Filosofia investiga os instru-
conteúdos, em primeiro lugar, sua compo- mentos do pensar, como a lógica e a me-
sição deve ser considerada como um meio todologia; distingue e compara as diversas
para que o educando construa/reconstrua formas de apreensão do real, tais como mito,
os conhecimentos próprios da Filosofia, mas religião, senso comum, ciência, filosofia,
também para que ele desenvolva um elen- etc.; elabora a teoria do conhecimento, inda-
co de competências, concebido a partir de gando sobre as possibilidades e os limites do
um recorte nos conteúdos que a disciplina conhecimento” (PCN+, Ciências Humanas e
pode oferecer. Seguindo Stampacchio, e de suas Tecnologias, p. 45).
acordo com os PCN, indicamos uma série de O conceito estruturante conhecimento mo-
questões que podem orientar a opção de or- biliza diversas capacidades específicas da dis-
ganização programática pelo educador: ciplina, dentre as quais destacamos: ler textos
• Os recortes permitem o trabalho contex- filosóficos de modo significativo, elaborar por
tualizado, ou seja, com questões que se rela- escrito o que foi apropriado de modo reflexi-
cionam com o viver em sociedade amplo e/ vo, debater de forma argumentativa, articular
ou particular dos educandos? os conhecimentos filosóficos com os conteú-
• Os recortes encerram questões que po- dos das Ciências Naturais e Humanas, além
16
Observe-se que este conjunto de temas não se pretende exaustivo e completo e não pode ser tomado como um conteúdo programático fechado.
Além disso, não se tem a intenção de que estas sugestões sejam aplicadas na sequência em que são apresentadas neste documento.
17
STAMPACCHIO, Léo. Praticando a interdisciplinaridade na Escola Fundamental e Média – Unidade 1. São Paulo: PUC/SP – COGEAE, 1997.

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de possibilitar o desenvolvimento da compe- Subtema: argumentação e lógica
tência de resolver problemas.
124 No âmbito da área de Ciências Humanas, Um possível percurso para este tema: iden-
124
esse conceito estruturante específico está rela- tificar a estrutura dos argumentos; distinguir
cionado, de maneira implícita, com as seguin- validade/verdade; critérios e formas de infe-
tes capacidades e habilidades: desenvolvi- rência válidas; reconhecer falácias; distinguir
mento das capacidades lógico-matemáticas; e reconhecer argumentos dedutivos e induti-
construção da autonomia intelectual (senso vos; desenvolver noções de lógica formal; re-
crítico); capacidade de trabalhar com diferen- tórica e arte da persuasão.
tes interpretações, relacionando o desenvol-
vimento dos conhecimentos com os sujeitos 2. Tema estruturador:
sociais que os produzem; e apropriação de di- teoria do conhecimento
ferentes linguagens e instrumentais de análise.
Desse conceito estruturante específico deri- Entre os principais temas das especula-
vam temas estruturadores, que sintetizam uma ções filosóficas está o do conhecimento. Des-
questão geral central da disciplina, gerando- de a Antiguidade, quase todos os filósofos se
se, a partir destes, diversos subtemas, como se ­preocuparam com o problema do conheci-
verá a seguir. mento, envolvendo questões como: o que é o
conhecimento; qual o fundamento do conhe-
1. Tema estruturador: lógica e cimento; a possibilidade do conhecimento ver-
racionalidade argumentativa dadeiro.

Este tema está diretamente relacionado Subtema: o ato de conhecer


com o conjunto das capacidades lógico-ma- Um possível percurso para o subtema teoria
temáticas e com o desenvolvimento da auto- do conhecimento: definição de conhecimento,
nomia intelectual, já que reconhecer e avaliar possibilidades do conhecimento e a origem do
argumentos, assim como sustentar as próprias conhecimento; realismo e idealismo; raciona-
opiniões baseadas em argumentos, são capa- lismo e empirismo.
cidades inerentes ao exercício da cidadania
em sociedades democráticas, desde a Grécia Subtema: Filosofia da ciência
Antiga. A escolha deste tema também se jus-
tifica pela presença das competências e ha- Um possível percurso para este subtema:
bilidades a ele associadas em avaliações do distinção entre senso comum e conhecimento
ensino médio, como o ENEM e o ENCCEJA. científico, o método científico, a validade e ve-
Observe-se que a presença da lógica no rificabilidade das hipóteses, a questão da obje-
ensino médio não se traduz necessariamente tividade e as críticas à racionalidade científica.
num bloco de conteúdos voltado para a lógi-
ca formal. Para atingir os principais objetivos Subtema: problemas da
deste tema, é possível trabalhar com a lógica cultura científico-tecnológica
informal, entendida como arte de argumentar
e de analisar argumentos. Nesse sentido, o Sugere-se que este conceito estruturan-
tema pode ser desenvolvido através da análise te seja desenvolvido a partir dos problemas
de argumentos reais presentes, não apenas nos apresentados pela cultura científico-tecnoló-
textos da tradição filosófica, como também nos gica. Algumas sugestões: a ciência, o poder
debates contemporâneos veiculados em dife- e os riscos; a construção histórico-social da
rentes tipos de textos18. ciência; o trabalho e as novas tecnologias;
18
A importância deste tema e suas conexões interdisciplinares fica patente na recente explosão bibliográfica sobre o tema no Brasil. A título de
orientação, destaquem-se as seguintes obras: MEYER, Bernard. A arte de argumentar: com exercícios corrigidos. São Paulo: Martins Fontes, 2008;
FISHER, Alec. A lógica dos verdadeiros argumentos. São Paulo: Novo Conceito Editora, 2008.

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o impacto da sociedade da informação na capaz de trabalhar com diferentes interpre-
vida cotidiana; a industrialização e o impacto tações, relacionando o desenvolvimento dos
ambiental; a investigação científica e os inte- conhecimentos com os sujeitos sociais que os 125125
resses econômico-políticos; a tecnociência e a produzem; apropriar-se de diferentes lingua-
ética; a manipulação genética; entre outros. gens e instrumentais de análise; adquirir uma
melhor compreensão da vida cultural dos gru-
3. Tema estruturador: pos; processar e comunicar informações e co-
o que é a Filosofia? nhecimentos, entre outras.
Propõe-se que os temas estruturadores
É uma tradição no ensino da Filosofia to- deste eixo da ação sejam desenvolvidos a
mar como objeto de reflexão a própria atitu- partir de situações-problemas dilemas, as-
de filosófica: o que a diferencia do mito e do sembleias de classe, tribunais do júri, debates
senso comum, características do pensamento e estudos de caso.
filosófico e dos problemas filosóficos.
Um possível percurso para este tema: 1. Tema estruturador: ética
Mito e Filosofia e o nascimento da Filosofia
A relevância deste tema estruturador é
na Grécia; do senso comum ao pensamento
evidente na sociedade contemporânea, na
filosófico; Filosofia, ciência e tecnocracia; di-
qual as reflexões éticas tornaram-se verda-
ferentes concepções da Filosofia; característi-
deiros imperativos culturais. Um possível
cas dos problemas filosóficos.
percurso para este tema poderia ser: aná-
lise da especificidade humana do agir, dis-
B - Conceito estruturante: ação tinguindo causas de ações; a consciência
moral; heteronomia/autonomia; a Regra
De acordo com os PCN+ para a área de
de Ouro; Kant e a ética baseada no dever;
Ciências Humanas e suas Tecnologias, “ao
o utilitarismo e a ética baseada nas con-
analisar os fundamentos e os fins da ação,
sequências; Aristóteles e a ética baseada
parte-se das grandes áreas de reflexão ética,
nas virtudes; análise dos valores sociais,
estética, política e antropologia, etc., a fim
de compreender as formas de agir nos cam- com reflexões sobre a riqueza da diversi-
pos da moral, da arte, do exercício do poder, dade de valores, reconhecendo a necessi-
da técnica, da magia, etc”. (PCN+, Ciências dade de encontrar critérios intersubjetivos
Humanas e suas Tecnologias, p. 45). de valoração, bem como a importância da
O conceito estruturante ação mobiliza tolerância, da diferença e do diálogo inter-
diversas capacidades específicas da discipli- cultural; códigos de ética; casos de ética
na, dentre as quais destacamos: ler textos fi- aplicada; bioética.
losóficos de modo significativo, elaborar por
escrito o que foi apropriado de modo refle- 2. Tema estruturador:
xivo, debater de forma argumentativa, arti- Filosofia política
cular os conhecimentos filosóficos com os
conteúdos das Ciências Naturais e Huma- O termo “política” designa o campo da
nas, além de possibilitar o desenvolvimento atividade humana que se refere à cidade, ao
da competência de resolver problemas. Estado, à administração pública e à cidada-
No âmbito da área de Ciências Huma- nia. O nascimento da pólis na Grécia Antiga
nas, esse conceito estruturante específico e a Filosofia são fenômenos correlacionados.
está relacionado com o desenvolvimen- A Filosofia política é o campo da reflexão
to das seguintes capacidades: construir a que se ocupa do fenômeno político e de-
autonomia intelectual (senso crítico); ser mais fenômenos sociais, analisando o poder,

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as formas de governo e de participação dos porânea; pluralidade de sentidos (polis-
cidadãos na vida pública, entre outros. Este semia) da obra artística; manifestação da
126
126 tema estruturador permite o trabalho explíci- identidade cultural dos povos, das classes
to com diversos conceitos estruturadores da e dos grupos sociais; revelação de novos
área: poder e dominação, relações sociais, modos de conhecer o sujeito e o mundo.
identidade e cultura.
O percurso sugerido para este tema: a C - Conceito estruturante: ser
dimensão política da Filosofia e sua contri-
buição para a construção da cidadania, re- De acordo com os PCN+ da área de
tomando o vínculo que une a Filosofia com a Ciências Humanas e suas Tecnologias,
democracia e com o debate público na pólis; “quanto à reflexão sobre o ser, de que trata
o papel da tolerância e do diálogo na cons- a Filosofia? Sabemos, desde Platão, que o
trução da cidadania; a democracia direta filósofo é aquele que se admira diante do
grega; a democracia contemporânea e seus óbvio, porque introduz no mundo a estra-
antecedentes; o confronto entre as ideias nheza e o questionamento. Dessa forma,
liberais e o socialismo; o avesso da demo- busca a origem, o sentido das coisas, das
cracia; autonomia e as várias dimensões da ideias, dos comportamentos estabelecidos.
liberdade; o individualismo contemporâneo; (...) a Filosofia se ocupa da totalidade dos
as condutas massificadas; relação entre ética seres”. (PCN+, Ciências Humanas e suas
e política; os limites entre público e privado; tecnologias, p. 45)
Platão e Aristóteles e o surgimento da teo- O conceito estruturante ser mobiliza di-
ria política; Maquiavel e os fundamentos do versas capacidades específicas da discipli-
Estado moderno; teoria do contrato social: na, dentre as quais se destacam: ler textos
Hobbes e Rousseau; problemas políticos do filosóficos de modo significativo, elaborar
mundo contemporâneo: direitos humanos e por escrito o que foi apropriado de modo
globalização, direitos das mulheres, a paz reflexivo, debater de forma argumentati-
mundial, entre outros. va, articular os conhecimentos filosóficos
com os conteúdos das Ciências Naturais e
3. Tema estruturador: estética Humanas, além de possibilitar o desenvol-
vimento da competência de resolver pro-
Além da ética ou Filosofia moral e da blemas.
Filosofia política, a Filosofia prática tam- O conceito de ser tem uma longa tra-
bém reflete sobre os valores estéticos, sen- dição na Filosofia, sendo objeto das refle-
do importante lembrar que a estética da xões ontológicas e metafísicas. Sob esta ru-
sensibilidade é um princípio norteador da brica podemos classificar questões centrais
educação básica. Cabe ressaltar que este da Filosofia, como o problema da liberda-
tema estruturador oportuniza trabalhos in- de, da identidade pessoal, da existência de
terdisciplinares com a área de Linguagens Deus, do significado da existência, da tem-
e seus Códigos. poralidade e finitude da condição humana,
O percurso sugerido para este tema: entre outros.
reconhecimento da especificidade da ex- Sem dúvida, este é o tema que apresenta
periência estética no tríplice registro de maiores dificuldades para ser trabalhado no
experiência da natureza, da criação artís- ensino médio. Porém, é um tema relevante
tica e da contemplação da obra de arte; que aborda problemas fundamentais e clás-
a natureza do juízo estético e do gosto; o sicos da Filosofia, que também fazem parte
significado da arte ao longo dos tempos; da vida dos educandos: a existência de Deus,
produção e consumo da arte; industriali- a liberdade, a questão da identidade pessoal
zação da estética na sociedade contem- e o sentido da vida.

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O percurso sugerido para este tema é zada, sendo importante a prática de semi-
trabalhar no mínimo um dos seguintes tó- nários realizados pelos alunos, as pesqui-
picos de metafísica: as provas da existência sas bibliográficas, o uso de música, poesia, 127
127
de Deus; determinismo e livre-arbítrio; o literatura e filmes em vídeo; enfim, de tudo
problema da identidade pessoal; o conceito o que possa ampliar as possibilidades de
de tempo; finitude e temporalidade: a tarefa abordagem do tema a ser desenvolvido.
de ser no mundo; pensamento e memória: Atividades com esse perfil permitem o
a responsabilidade pelo futuro, a dimensão desenvolvimento da autonomia dos alunos,
pessoal de dar sentido à sua vida e a con- mobilizando instrumentos de análise, con-
textualização coletiva, histórica e ontológica ceitos e diferentes esquemas de pensamento
dessa decisão. e competências. No entanto, cabe aqui re-
comendar, enfaticamente, que as atividades
não sejam propostas aos alunos sem a me-
Estratégias para diação decisiva do professor, já que não é
a ação docente de se esperar que os conceitos necessários
para servir de instrumental de análise surjam
Os procedimentos didáticos que envolvem espontaneamente a partir das situações-
os processos de ensino e de aprendizagem problema. Tais conceitos, mesmo quando
devem estar orientados para a construção não apresentados de forma explícita, pre-
do encontro entre conceitos e competências. cisam estar presentes no planejamento do
Para tanto, é preciso que as aulas ditas “dis- professor e nas fontes oferecidas aos alunos
cursivas” ou “expositivas” deixem de ter um como base para a pesquisa, devendo seu
papel central e tornem-se coadjuvantes em entendimento se tornar explícito ao final do
relação a outras práticas, nas quais a atua- percurso.
ção do professor se dê em função da media- Destacamos, ainda, como recomendam
ção dos processos de construção de conheci- os PCN+, que o desenvolvimento das com-
mentos e capacidades pelo educando. petências específicas da disciplina depende
Para que o aluno desenvolva as compe- do apoio consistente da história da Filosofia,
tências esperadas ao final do ensino médio mantendo-se a centralidade dos textos filosó-
em Filosofia, torna-se um pressuposto que ficos (primários de preferência), já que a Fi-
o espaço do trabalho escolar passe a ser losofia comporta um acervo próprio de ques-
ocupado pela ação educativa dos alunos e tões. Também não se sugere a eliminação
não esteja centrado, exclusivamente, no pro- das aulas expositivas, sempre considerando
fessor. Esse objetivo pode ser alcançado no que a exposição tem seu momento pedagó-
âmbito de atividades voltadas à resolução de gico adequado. Porém, a aula expositiva não
problemas, o que, no caso das Ciências Hu- pode ser o único recurso didático, sob risco
manas, está diretamente ligado às capacida- de se transformar o ensino de Filosofia numa
des de ler e escrever. mera transmissão de informações a respeito
Nesses termos, o que aqui se propõe é dos autores e suas teorias.
que as atividades a serem apresentadas Outro aspecto a ressaltar é a questão da
aos alunos não sejam iniciadas pela ex- avaliação. O procedimento avaliativo con-
posição das teorias e dos conceitos como siste no processo regulador das aprendiza-
um conteúdo fechado, e sim por situações- gens, orientador do percurso escolar e cer-
problema, tais como dilemas, paradoxos, tificador das diversas aquisições realizadas
estudos de caso, tribunais e assembleias pelos alunos. A avaliação visa à aferição de
e outras dinâmicas pedagógicas que mo- conhecimentos, competências e habilida-
bilizem as competências de uma maneira des. Portanto, consiste nas atividades me-
significativa, interdisciplinar e contextuali- diante as quais se avaliarão não apenas as

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aquisições cognitivas, mas também as com- Quadro resumo dos
petências alcançadas. No caso da Filosofia,
128
128 avaliamos, por exemplo, se o aluno apren- Referenciais de Filosofia
deu que o argumento ontológico de Santo
Anselmo é um argumento a favor da existên- As diretrizes apresentadas nestes referen-
cia de Deus que se baseia numa redução ao ciais não esgotam as possibilidades de or-
absurdo, mas também avaliamos se o aluno ganização curricular, tendo sido formatadas
aprendeu a argumentar por redução ao ab- visando os conteúdos básicos de cada etapa
surdo. Isso indica que a avaliação das apren- do ensino médio. Cabe aos professores, prin-
dizagens em Filosofia incide não estritamen- cipais responsáveis pela formulação e aplica-
te sobre o que chamamos “conhecimentos” ção dos programas de ensino, adaptarem e
(aquilo que o educando sabe), mas igual- complementarem estes temas, adequando-os
mente sobre capacidades e habilidades19. à sua realidade local.

Temas/estruturantes Competências/habilidades Sugestões/estratégias

1. O que é filosofia? (1) ler textos filosóficos de modo a) Propor dinâmicas que mobilizem as
2. Períodos e áreas da significativo; competências de uma maneira signifi-
Filosofia (2) ler, de modo filosófico, textos cativa, interdisciplinar e contextualizada;
3. Ética de diferentes estruturas e regis- explicitando as razões para a aprendi-
4. Argumentação e lógica tros; zagem dos conteúdos e a relação desse
(3) elaborar por escrito o que foi conteúdo com as habilidades a serem
apropriado de modo reflexivo; trabalhadas e com o contexto do aluno.
(4) debater, tomando uma posi- b) Propor tarefas que estimulem a ex-
ção, defendendo-a argumentati- pressão escrita, por meio da dissertação
vamente e mudando de posição filosófica.
face a argumentos mais consis- c) Iniciar a leitura dos textos filosóficos
tentes; de maneira reflexiva e analítica, buscan-
(5) contextualizar conhecimentos do compreender os pressupostos dos
filosóficos, tanto no plano de sua textos e identificando as ideias centrais
origem específica quanto em ou- e a articulação argumentativa. Em um
tros planos: o pessoal-biográfico; segundo momento, entrar nos aspectos
o entorno sociopolítico, histórico denotativos do texto e exercitar a aná-
e cultural; o horizonte da socie- lise interpretativa e a problematização
dade científico-tecnológica. crítica.
1. O ato de conhecer (1) ler textos filosóficos de modo d) Propor tarefas que oportunizem a
2. Filosofia da ciência significativo; apropriação reflexiva de conceitos, tex-
3. Problemas da cultura (2) ler, de modo filosófico, textos tos e problemas das Ciências Naturais,
científico-tecnológica de diferentes estruturas e regis- das Ciências Humanas e das Artes.
4. Questões de metafísica tros; e) Propor textos de diferentes estruturas
(3) elaborar por escrito o que foi e registros (artigos de jornais e revistas,
apropriado de modo reflexivo; filmes, músicas, pinturas, etc.).
(4) debater, tomando uma posi- f) Desenvolver um processo avaliativo
ção, defendendo-a argumentati- constante, através de atividades median-
vamente e mudando de posição te as quais serão aferidas não apenas
face a argumentos mais consis- as aquisições cognitivas, mas também
tentes; as competências alcançadas.
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Leitura recomendada sobre avaliação em Filosofia: http://www.apfilosofia.org/documentos/pdf/APCosta_avaliacao.pdf

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Temas/estruturantes Competências/habilidades Sugestões/estratégias

(5) articular conhecimentos filo- g) orientar projetos de pesquisa transdis- 129


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sóficos e diferentes conteúdos e ciplinares sobre temas atuais: células-
modos discursivos nas Ciências tronco, direito dos animais, paz mundial,
Naturais e Humanas, nas Artes e temas de bioética, ética ambiental, etc.
em outras produções culturais.
1. Filosofia política 1) ler textos filosóficos de modo
2. Estética significativo;
3. Tópicos de ética aplicada (2) ler, de modo filosófico, textos
e cidadania de diferentes estruturas e registros;
(3) elaborar por escrito o que foi
apropriado de modo reflexivo;
(4) debater, tomando uma posi-
ção, defendendo-a argumentativa-
mente e mudando de posição face
a argumentos mais consistentes;
(5) articular conhecimentos filo-
sóficos e diferentes conteúdos e
modos discursivos nas Ciências
Naturais e Humanas, nas Artes e
em outras produções culturais;
(6) contextualizar conhecimentos
filosóficos, tanto no plano de sua
origem específica quanto em ou-
tros planos: o pessoal-biográfico;
o entorno sociopolítico, histórico
e cultural; o horizonte da socieda-
de científico-tecnológica.

Referências
ALMEIDA, Aires e outros. A Arte de Pensar. Lisboa: Di- MORIN, E. Educar para a Era Planetária: O Pen-
dáctica Editora, 2008. samento Complexo como Método de Aprendizagem
BRASIL, Ministério da Educação. Orientações Cur- no Erro e na Incerteza Humanos. São Paulo: Cortez,
riculares para o ensino médio, Volume 3 – Ciências s/d
Humanas e suas Tecnologias. Brasília: Secretaria de NOBRE, Marcos e TERRA, Ricardo. Ensinar Filosofia –
Educação Básica, 2006 Uma Conversa sobre Aprender a aprender. Campinas:
______. Parâmetros Curriculares Nacionais para o en- Papirus, 2007.
sino médio. Brasília: Secretaria de Educação Média e PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para
Tecnologia (Semtec/MEC), 1999 Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
______. PCN+ ensino médio: Orientações Educa- RANCIÉRE, J. O Mestre Ignorante. Belo Horizonte: Au-
cionais Complementares aos Parâmetros Curriculares têntica, 2002.
Nacionais. Ciências Humanas e suas tecnologias. Bra- ROCHA, Ronai Pires da. Ensino de Filosofia e Currícu-
sília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação lo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008
Média e Tecnológica, 2002. SARDI, Sérgio Augusto; SOUZA, Draiton Gonzaga e
CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia, São Paulo: Áti- CARBONARA, Vanderlei (Orgs.). Filosofia e Socieda-
ca, 13ª ed., 2005. de: Perspectivas para o Ensino de Filosofia. Ijuí: Ed.
KOHAN, Walter O. (Org.). Filosofia: caminhos para seu Unijuí, 2007.
Ensino. Rio de Janeiro: DP&a, 2004. SPLITTER, Laurence e SHARP, Ann. La Otra Educación
______. Walter O. (Org.). Políticas para o Ensino de Fi- – Filosofia para Niños y la Comunidad de Indagación.
losofia. Rio de Janeiro: DP&a, 2004. Buenos Aires: Manantial, 1996.

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