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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Especial

A Construção de Práticas Educacionais para


Alunos com Altas Habilidades / Superdotação

Volume 2: Atividades de Estimulação de Alunos

Organização: Denise de Souza Fleith

Brasília, DF
2007
2
FICHA TÉCNICA

Secretaria de Educação Especial Projeto Gráfico


Claudia Pereira Dutra Michelle Virgolim

Departamento de Políticas de
Educação Especial Ilustrações
Cláudia Maffini Griboski Isis Marques
Lucas B. Souza FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenação Geral de Desenvolvimento
da Educação Especial Fotos
Kátia Aparecida Marangon Barbosa Vini Goulart Dados Interncaionais de Catalogação na Publicação (CIP)
João Campello Fleith, Denise de Souza (Org)
Organização Banco de imagens: A construção de práticas educacionais para alunos com
Denise de Souza Fleith Stock Xchng altas habilidades/superdotação: volume 2: atividades de
estimulação de alunos / organização: Denise de Souza Fleith.
Revisão Técnica Capa - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Renata Rodrigues Maia-Pinto Rubens Fontes Especial, 2007.
121 p.: il. color.
Tiragem
5 mil cópias
ISBN 978-85-60331-15-4

1. Educação dos superdotados. 2. Atendimento


especializado. 3. Aluno superdotado. 4. Desenvolvimento
da criatividade. 5. Autoconceito. 6. Prática pedagógica. I.
Fleith, Denise de Souza. II. Brasil. Secretaria de Educação
Especial.

CDU 376.54
4
APRESENTAÇÃO

A proposta de atendimento educacional especializado para os alunos com altas habilidades/superdotação


tem fundamento nos princípios filosóficos que embasam a educação inclusiva e como objetivo formar
professores e profissionais da educação para a identificação dos alunos com altas habilidades/superdotação,
oportunizando a construção do processo de aprendizagem e ampliando o atendimento, com vistas ao pleno
desenvolvimento das potencialidades desses alunos.
Para subsidiar as ações voltadas para essa área e contribuir para a implantação, a Secretaria de Educação
Especial do Ministério da Educação – SEESP, convidou especialistas para elaborar esse conjunto de quatro
volumes de livros didático-pedagógicos contendo informações que auxiliam as práticas de atendimento ao
aluno com altas habilidades/superdotação, orientações para o professor e à família. São idéias e procedimentos
que serão construídos de acordo com a realidade de cada Estado contribuindo efetivamente para a organização
do sistema educacional, no sentido de atender às necessidades e interesses de todos os alunos, garantindo que
tenham acesso a espaços destinados ao atendimento e desenvolvimento de sua aprendizagem.
A atuação do MEC/SEESP na implantação da política de educação especial tem se baseado na
identificação de oportunidades, no estímulo às iniciativas, na geração de alternativas e no apoio aos sistemas de
ensino que encaminham para o melhor atendimento educacional do aluno com altas habilidades/superdotação.
Nesse sentido, a Secretaria de Educação Especial, implantou, em parceria com as Secretarias de Educação, em
todas as Unidades da Federação, os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S.
Com essa ação, disponibiliza recursos didáticos e pedagógicos e promove a formação de professores para
atender os desafios acadêmicos, sócio-emocionais dos alunos com altas habilidades/superdotação.
Estes Núcleos são organizados para atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos,
oportunizando o aprendizado específico e estimulando suas potencialidades criativas e seu senso crítico,
com espaço para apoio pedagógico aos professores e orientação às famílias de alunos com altas habilidades/
superdotação.
Os professores formados com o auxílio desse material poderão promover o atendimento e o
desenvolvimento dos alunos com altas habilidades/superdotação das escolas públicas de educação básica e
disseminando conhecimentos sobre o tema nos sistemas educacionais, comunidades escolares e famílias nos
Estados e no Distrito Federal.

Claudia Pereira Dutra


Secretária de Educação Especial
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade 13


Mônica Souza Neves-Pereira

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito 35


Angela Mágda Rodrigues Virgolim

Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar 55


Jane Farias Chagas
Renata Rodrigues Maia-Pinto
Vera Lúcia Palmeira Pereira

Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa 81


Renata Rodrigues Maia-Pinto

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento 103


Jane Farias Chagas
8
9
INTRODUÇÃO
Denise de Souza Fleith

de Alunos
Estimulação de Alunos
Apesar do crescente reconhecimento da diferenças individuais, quanto aos interesses,

de Estimulação
importância de se criar condições favoráveis ao estilos de aprendizagem e habilidades, são alguns
desenvolvimento do potencial de indivíduos com dos fatores que podem interferir negativamente
altas habilidades/superdotação, observa-se que no desempenho dos alunos com potencial
pouco se conhece acerca das suas necessidades e elevado.

Atividades de
características. Ademais, noções falsas sobre estes Tendências atuais na educação do super-

02: Atividades
indivíduos, fruto de preconceito e desinformação, dotado destacam a relevância de se preparar o
estão profundamente enraizadas no pensamento aluno para a definição e solução de problemas,
popular, interferindo e dificultando a implantação produzindo conhecimento por meio de práticas

Volume 02:
de práticas educacionais que atendam aos anseios que envolvam o pensamento crítico e criativo,

Volume
e necessidades deste grupo. Por exemplo, uma paralelamente ao cultivo de um conjunto de traços
idéia predominante em nossa sociedade é a de de personalidade como persistência, autocon-
que o aluno superdotado tem recursos suficientes fiança e independência de pensamento, indis-
para desenvolver suas habilidades por si só, não pensáveis a uma melhor expressão do potencial
sendo necessária a intervenção do ambiente, ou superior (Alencar & Fleith, 2006; Colangelo &
seja, os fatores genéticos são supervalorizados Davis, 1997).
em detrimento do ambiente, que ocupa um papel Do ponto de vista da política de inclusão
secundário no desenvolvimento de habilidades defendida pelo Ministério da Educação (Brasil,
e competências. Entretanto, segundo Davis e 2005), flexibilizações curriculares e instrucionais
Rimm (1994), um potencial não cultivado é um devem ser pensadas a partir de cada situação
potencial perdido. O aluno com altas habili- particular e não como propostas universais.
dades/superdotação necessita de uma variedade Assim, fundamentados nos princípios de atenção
de experiências de aprendizagem enriquecedoras à diversidade e direito de todos à educação de
que estimulem o seu desenvolvimento e favoreçam qualidade, chamamos a atenção para a neces-
a realização plena de seu potencial (Alencar & sidade de se criar um ambiente educacional que
Fleith, 2001). acolha e estimule o potencial promissor de alunos
Outro mito é o de que o aluno superdotado com altas habilidades/superdotação.
apresenta necessariamente um bom rendimento Este volume da coletânea sobre “Construção
escolar. Porém, atitudes negativas com relação de Práticas Educacionais” focaliza atividades e
à escola, bem como um currículo e estratégias estratégias de estimulação do potencial de alunos
educacionais que não levam em consideração com altas habilidades/superdotação. No capítulo 1,
10
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“Estratégias de Promoção da Criatividade”, Mônica Renzulli, do Centro Nacional de Pesquisas sobre de pesquisa. Entretanto, pouco se sabe acerca
Neves-Pereira apresenta diversas abordagens o Superdotado e Talentoso da Universidade de de como implementá-la de forma eficiente e
Volume 02: Atividades de Estimulação de Alunos

teóricas sobre criatividade, discute barreiras à Connecticut, nos Estados Unidos, fornece alter- produtiva.
produção criativa e aponta características de uma nativas de enriquecimento curricular que podem Finalmente, no capítulo 5, Jane Farias
atmosfera que favorece a expressão das habilidades ser utilizadas não apenas em programas para Chagas apresenta a estratégia dos “Grupos de
criativas em sala de aula. Diante do cenário atual em alunos com altas habilidades/superdotação, mas Enriquecimento”, que visam proporcionar a todos
que vivemos, de rápidas transformações e grandes também na sala de aula regular. Este modelo os alunos experiências de aprendizagem desafia-
desafios, é inquestionável a necessidade de instru- sugere que altos níveis de desempenho escolar doras, auto-seletivas e baseadas em problemas
mentalizar o aluno a prever problemas, romper e produção criativa podem ser alcançados pelos reais, além de favorecer o conhecimento avançado
barreiras, reformular conteúdos e desenvolver alunos, desde que sejam oferecidas oportunidades em uma área específica, estimular o desenvolvi-
formas de investigação mais produtivas. Para isso, é de aprendizagem significativa, autêntica e que mento de habilidades superiores de pensamento
necessário que ele esteja inserido em um ambiente envolvam a construção do conhecimento pelos e encorajar a aplicação destas em situações
que valorize e encoraje a criatividade (Alencar & alunos. Ainda neste capítulo, as autoras chamam criativas e produtivas (Renzulli, Gentry & Reis,
Fleith, 2003; Wechsler, 2001). a atenção para a necessidade do professor, ao 2003).
A preocupação em atender às necessi- planejar sua aula, selecionar técnicas instrucionais Esperamos que estes capítulos contribuam
dades intelectuais e acadêmicas de alunos com e formas de avaliação, de considerar a diver- para o enriquecimento profissional dos educadores
altas habilidades/superdotação é evidenciada sidade de interesses e estilos de aprendizagem e fornecendo subsídios para uma prática docente
em programas e serviços para esta clientela. de expressão dos alunos. Amabile (1989) sugere que estimule um desenvolvimento criativo,
Entretanto, pouco investimento tem sido feito no que os ambientes mais prejudiciais a um processo saudável e singular de cada aluno e oportunize
que diz respeito ao desenvolvimento emocional de ensino-aprendizagem produtivo e prazeroso experiências de aprendizagem prazerosa consi-
e social destes alunos (Alencar & Fleith, 2001; são ambientes inflexíveis que não conseguem derando a diversidade de interesses, estilos e
Moon, 2002; Silverman, 1993). No capítulo acomodar a variedade de estilos e interesses que habilidades presente em sala de aula.
2 deste volume, Angela Virgolim aborda o os alunos apresentam. Ademais, uma educação
“Desenvolvimento do Autoconceito”, dimensão democrática é aquela que leva em consideração
essencial de uma vida emocional saudável. Neste as diferenças individuais, promovendo oportu-
capítulo, a autora explica o que é autoconceito, nidades de aprendizagem compatíveis com as
como ele é formado e que fatores contribuem para habilidades, interesses e estilos de aprendizagem
a formação de um autoconceito positivo, além dos alunos (Fleith, 1999).
de nos brindar com diversos exercícios interes- No capítulo 4, “Desenvolvimento de
santes e criativos de promoção do autoconceito Projetos de Pesquisa”, Renata Maia-Pinto explica
no contexto escolar. o que é pesquisa, detalha as etapas de elaboração e
No capítulo 3, Jane Farias Chagas, Renata implementação de um projeto de pesquisa e fornece
Maia-Pinto e Vera Lúcia Pereira se dedicam inúmeros recursos que podem auxiliar o professor e
a apresentar o “Modelo de Enriquecimento alunos nesta tarefa investigativa. De maneira geral,
Escolar”. Este modelo, proposto por Joseph se reconhece, na escola, a importância da atividade
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Referências

de Alunos
Alunos
Alencar, E. M. L. S. & Fleith, D. S. (2001). the gifted and talented. Denver, Co: Love.
Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. Renzulli, J. S., Gentry, M. & Reis, S. M.

Estimulação de
São Paulo: EPU. (2003). Enrichment clusters. A practical plan for real-

de Estimulação
Alencar, E. M. L. S. & Fleith, D. S. (2003). world student-driven learning. Mansfield Center,
Criatividade: múltiplas perspectivas. Brasília: CT: Creative Learning Press.
EdUnB. Wechsler, S. M. (2001). Criatividade na
Alencar, E. M. L. S. & Fleith, D. S. (2006). cultura brasileira: uma década de estudos. Teoria,

Atividades de
A atenção ao aluno que se destaca por um Investigação e Prática, 6, 215-226.

02: Atividades
potencial superior. Cadernos de Educação Especial,
27. Disponível: www.ufsm.br/ce/revista/index.
htm (05/05/2006).

Volume 02:
Amabile, T. M. (1989). Growing up creative.

Volume
Buffalo, NY: The Creative Education Foundation
Press.
Brasil. (2005). Educação inclusiva. Documento
subsidiário à política de inclusão. Brasília: Ministério
da Educação/Secretaria de Educação Especial.
Colangelo, N. & Davis, G. A. (Orgs). (1997).
Handbook of gifted education (2a. ed.). Needham
Heights, MA: Allyn and Bacon.
Davis, G. A. & Rimm, S. B. (1994). Education
of the gifted and talented (3a. ed.). Needham Heights,
MA: Allyn and Bacon.
Fleith, D. S. (1999). Psicologia e educação
do superdotado: definição, sistema de identificação
e modelo de estimulação. Cadernos de Psicologia, 5,
37-50.
Moon, S. M. (2002). Counseling needs and
strategies. Em M. Neihart, S. M. Reis, N. M. Moon.
(Orgs.), The social and emotional development of gifted
children. What do we know? (pp. 213-222). Waco,
TX: Prufrock Press.
Silverman, L. K. (1993). (Org.). Counseling
Capítulo 1

Estratégias de Promoção da
Criatividade

Mônica Souza Neves-Pereira


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C riatividade é um tema de interesse


geral. Não há quem não se
as idéias estamos aprimorando nossas habilidades
criativas. Dentro deste princípio, vamos explorar o
Use este espaço para construir sua definição
de criatividade, usando as letras “inventa-

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


encante com os grandes criadores significado da palavra criatividade, seus conceitos das” e apresentadas acima. Não esqueça de
da humanidade. Falar sobre as grandes invenções, a e suas múltiplas significações. que você pode criar outras letras diferentes.
arte, a literatura, as descobertas científicas é sempre Vamos começar com uma brincadeira! Criar, Depois que você escrever a palavra “criatividade”
muito envolvente e nos enche de prazer. Criar dá em japonês, se escreve assim: neste idioma diferente, traduza para o português
o conceito inventado por você.
prazer! É muito bom constatar que nossa espécie
conseguiu chegar até aqui por causa desta compe-
tência especial. É melhor ainda saber que temos
esta competência, mesmo que não tenhamos muita Na verdade, a palavra é escrita na vertical.
compreensão sobre a criatividade. Diferente, não é? A pronúncia da palavra corres-
Para iniciar nossa conversa vamos consi- ponde ao som “kuriaru”. O significado literal
derar que todos somos criativos, pelo menos em é “algo novo que nasce”. No idioma japonês as
potencial. Vamos pensar em criatividade como um letras são diferentes, os significados também. Se
recurso humano, como uma função psicológica que você fosse definir o que é criatividade, a partir de
todos nós possuímos, desenvolvida em diferentes um idioma só seu, como seria esta palavra? Qual
graus e dimensões, de acordo com a história de seria o seu significado? Você acrescentaria algo
vida de cada um. Sendo assim, a criatividade não só novo ao significado de criatividade escrito em
existe em potencial, como pode ser desenvolvida de japonês? Vamos imaginar que o alfabeto do seu
fato. A partir destas idéias é que organizaremos os idioma particular fosse composto, em parte, pelas
conteúdos deste capítulo, que se propõe a discutir letras abaixo.
um pouco sobre criatividade, o que é este fenômeno Que letras são estas? O que significam?
tão complexo, o que caracteriza as pessoas que se Use estas letras para escrever a palavra
destacam por sua criatividade, quais barreiras são criatividade. Dê um significado a cada uma delas,
comuns e impeditivas do processo de criar e como um significado que se relacione com o fenômeno
podemos trabalhar no sentido de aprimorar nossas criativo. Brinque com estes símbolos e construa
ferramentas criativas, nosso potencial latente, o seu conceito de criatividade. Você pode acres- Uma vez construída sua própria definição
nosso talento. centar novas letras, se quiser. sobre o que é criatividade, podemos retomar a
Falar sobre criatividade, portanto, exige discussão sobre este conceito, que apresenta algum
esforço e certo talento criativo. Alguém disse, um consenso em sua definição e também expressa
dia, que a necessidade é a mãe da criação. Vamos diferentes formas de abordagem do tema por parte
partir do princípio de que a criatividade tem, de diversos pesquisadores.
também, um pai, que é o divertimento. Criar pode Se você utilizou, na sua definição de criati-
e deve conter uma dimensão de prazer, de alegria, vidade, a expressão “produzir algo novo” aproximou-
de realização. Ao brincarmos com o pensamento e se da maior parte dos conceitos existentes.
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Se também argumentou sobre a necessidade deste O que nós chamamos de criatividade é um da época. Foi necessária a passagem do tempo para
“algo novo ser útil em alguma instância”, também fenômeno que é construído por meio de interações que a obra deste grande artista pudesse adquirir
chegou perto do que pensa a maioria dos investiga- entre produtores e audiência. Criatividade não é pro- reconhecimento e exercer profunda influência na
dores da área. Criatividade parece incluir estas duas duto de indivíduos singulares, mas fruto de sistemas arte contemporânea. O exemplo de Van Gogh nos
características, além de outras mais. Vamos ver o sociais que fazem julgamentos sobre estes indivíduos mostra que a criatividade necessita da chancela
que dizem diferentes pesquisadores: e seus produtos. (Csikszentmihalyi, 1999, p. 314) do grupo social e histórico para emergir, precisa
ser reconhecida pelo outro, que vai atribuir valor e
Criatividade é o processo que resulta em um Há vários conceitos sobre criatividade, cada utilidade para a produção criativa.
produto novo, que é aceito como útil e/ou satisfa- um deles acrescentando uma nova dimensão ao Alguns autores (Boden, 1999; Smolucha,
tório por um número significativo de pessoas em fenômeno. Em geral, todos concordam que algo 1992a, 1992b; Vygotsky, 1987, 1990) destacam uma
algum ponto no tempo. (Stein, citado em Alencar, criativo tem que atender aos critérios de ser original dimensão da criatividade que consiste em produzir
1995, p. 13) e útil, em um determinado tempo histórico. Um algo novo a partir da “combinação de idéias” já
Pessoas de mente científica (...) geralmente produto ou idéia, para serem considerados criativos, existentes. Parte-se do princípio de que “ninguém
definem criatividade como “combinação original de têm que contar com a concordância de um grupo cria alguma coisa do nada”. É indispensável que o
idéias conhecidas” (...). As combinações originais social, em um determinado momento do tempo. sujeito criativo domine sua área de criação, tenha
precisam ter algum tipo de valor, pois chamar uma Esta proposição é fácil de ser verificada. Vamos conhecimentos adequados para ser capaz de
idéia de criativa é dizer que ela não é apenas nova, examinar o exemplo de Van Gogh. combinar idéias e gerar um resultado original.
mas interessante. (Boden, 1999, pp. 81-82) Vincent Van Gogh (1853-1890), pintor Vygotsky (1987), renomado estudioso do
A criatividade, como conceito, constitui uma holandês, é considerado um dos maiores mestres da desenvolvimento, foi um dos defensores desta visão
construção teórica elaborada para tentar apreender história da arte de todos os tempos. Por meio do seu da criatividade. Este pesquisador compreendia
uma realidade psicológica que se define, essencial- trabalho, Van Gogh estabeleceu as bases da pintura a criatividade como fenômeno potencialmente
mente, por dois critérios que são relativos: os critérios do século XX. Mais ousado do que os impressio- universal, isto é, patrimônio de todos, e também
de novidade e de valor; existindo consenso entre os nistas, o holandês expressou seus sentimentos por considerava a criatividade muito mais como regra do
especialistas de que a criatividade se refere à capaci- meio de uma representação totalmente subjetiva da que exceção. Vygotsky também reforça a percepção
dade de produzir algo que, simultaneamente, é novo realidade. Van Gogh criou uma nova “linguagem” da criatividade como fenômeno presente, de modo
e valioso em algum grau. (Martínez, 2001, p. 92) plástica, desconstruindo modos de pintar e potencial, em todos os seres humanos. Na sua
Novidade ou originalidade devem ser carac- propondo variações de pinceladas originais nunca concepção, não podemos definir se um indivíduo é
terísticas imediatamente associadas com criatividade antes experimentadas. Este notável pintor, entre- criativo ou não apenas a partir de sua performance
(...). Para ser criativo, uma idéia ou produto deve ser tanto, não foi compreendido pela sociedade de sua ou desempenho individual. As características que
novo. O segundo aspecto da criatividade é a apro- época. Sua obra, hoje considerada genial e vendida compõem o fenômeno da criatividade são dadas
priação. Um fator importante na determinação da por preços exorbitantes, não foi reconhecida pelas experiências de vida de cada sujeito em seu
apropriação é o contexto cultural no qual a criativida- quando Van Gogh era vivo. O seu grupo social cenário histórico e cultural.
de é baseada (...). Os veículos e o foco da criatividade não conseguiu identificar a originalidade do seu Este autor compreende a criatividade como
variam de cultura para cultura e ao longo do tempo. trabalho, apenas a dimensão de transgressão da fenômeno psicológico, isto é, a criatividade faz
(Starko, 1995, p. 5) sua obra, que não foi bem recebida pela sociedade parte do nosso repertório psicológico, assim como
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a inteligência, a memória, a afetividade, as emoções, trabalhos, encontraremos os conceitos criatividade e a distinção que este autor fez entre imaginação
dentre outros. O sujeito criativo desenvolve suas imaginação compondo um pequeno sistema que ele reprodutiva e imaginação combinatória. A

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


funções psicológicas em um cenário social que é, denominou “imaginação criativa”. imaginação reprodutiva está diretamente vinculada
também, histórico e cultural. O modo como este A imaginação é, também, uma função psico- aos processos de memória e consiste na cópia, por
sujeito vai construir as rotas de desenvolvimento de lógica humana. Costumamos pensar sobre a imagi- parte do indivíduo, de situações passadas, objetos
sua criatividade se relaciona com este cenário, ou seja, nação como o exercício de um “pensamento aberto ou elementos apreendidos, dados de experiências
como ele é significado, percebido e internalizado. a todas as possibilidades”. Por meio da imaginação afetivas, entre outros fatores. Já a imaginação combi-
Além disso, Vygotsky considera o sujeito como ser podemos tudo: visitar planetas desconhecidos, natória, corresponde à criação de novos elementos,
ativo nesta construção do desenvolvimento, um imaginar pessoas que não existem, pensar em idéias não vivenciados pelo sujeito, por meio da união e/ou
sujeito que vai atuar no sentido de produzir o novo malucas ou simplesmente divertidas. A imaginação, fusão de idéias, experiências concretas ou subjetivas
e reconhecer o novo. Desta forma, parece que a porém, é uma atividade mental totalmente conectada anteriores, dando origem a novas formas, compor-
relação criatividade & indivíduo & cultura faz parte com a realidade, pois seus conteúdos são retirados tamentos, produtos. É uma ação eminentemente
de um mesmo sistema, em que o indivíduo se torna da realidade e, posteriormente, transformados e/ou de origem social, pois corresponde aos anseios
sujeito por meio da cultura, desenvolve suas habili- recombinados pela função imaginativa, construindo humanos de projeção no futuro, buscando soluções
dades criativas em um cenário sócio-histórico e novas realidades. Se a imaginação permite combinar para situações do presente ou atendendo a desejos
devolve a este cenário o produto de sua criatividade, idéias, ela não só pode como deve ter muito a ver de produtividade pessoal. Dessa forma, todo ato
que pode ser traduzido em arte, ciência e/ou conhe- com a produção da criatividade. Boden (1999), criativo nasce da imaginação que, por sua vez, se
cimentos cotidianos. Csikszentmihalyi (1999), um quando definiu criatividade, destacou a “combi- origina no contexto histórico-cultural.
dos autores citados nas definições de criatividade, nação de idéias” como aspecto constituinte do Uma vez apresentados e discutidos distintos
aproxima seu modo de ver o fenômeno criativo das ato de criar. Vygotsky também apostou na imagi- conceitos sobre criatividade, compreendendo que
concepções de Vygotsky. nação como elemento essencial para que houvesse este fenômeno tem uma natureza extremamente
Uma vez compreendida desta forma, como expressão criativa. complexa e que seu desenvolvimento é sistêmico, isto
fenômeno psicológico humano, como função típica A atividade criativa, para Vygotsky, é originária é, envolve várias dimensões da existência humana,
do homem, o conceito de criatividade se amplia e, da função da imaginação, é uma ação relacionada podemos nos aventurar em outro tema relevante: “o
segundo Vygotsky (1987), se liberta da concepção com a interpretação da realidade feita pelos sujeitos sujeito criativo”!
corriqueira que julga a criatividade como atributo e depende, diretamente, das experiências do homem Quem é o sujeito criativo? O que diferencia
de alguns poucos iluminados, desconsiderando a em contato com sua realidade cultural objetiva e esta pessoa das outras? Por que algumas pessoas
capacidade criativa presente no homem comum. subjetiva. A imaginação está ligada à emoção. Ela conseguem produzir arte, ciência e tecnologia
É reconfortante saber que todos somos criativos, retira fragmentos da realidade e, por meio de novas com superioridade, quando comparadas a outros
em alguma competência, alguma instância, algum significações destes fragmentos, devolve à cultura, sujeitos?
cantinho do nosso saber-fazer e sentir. Mas, o que é em forma de um produto criativo, leituras renovadas Examinemos o quadro a seguir:
criatividade para Vygotsky? desta mesma realidade. Esta é a essência do processo Júlio, Luzia, André, Paula e Kika são pessoas
Ao falar sobre criatividade,Vygotsky (Smolucha, criativo na concepção de Vygotsky. comuns, cada um com suas características próprias,
1992a) não dissociou este fenômeno de outras funções Concluindo a conceituação de criatividade que as definem como personalidades distintas.
psicológicas, especialmente da imaginação. Em seus na perspectiva de Vygotsky (1987) vamos destacar Certamente conhecemos várias outras pessoas que
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possuem traços de personalidade parecidos com os uma produção criativa. Afinal, uma obra de arte, um principais traços de personalidade. A psicologia da
das nossas personagens acima. Júlio, Luzia, André, modelo científico, um produto inovador costumam criatividade já avançou bastante nesta área de inves-
Paula e Kika, potencialmente, podem ser conside- ser reconhecidos por uma gama de indivíduos (pelo tigação e tem algumas contribuições a dar.
rados criativos. Porém, se entre as nossas personagens menos) dentro de um contexto social. Entretanto, se Para identificar traços de personalidade
há alguma, em especial, que se destaca por uma desejamos conhecer sobre criatividade não podemos que caracterizam pessoas criativas parece óbvio
produção criativa em maior grau, como saberemos? abrir mão de tentar compreender quem é o sujeito procurar conhecer os sujeitos que se destacam por
Definir quem é o sujeito criativo consiste criativo. É importante saber o que diferencia este elevada criatividade e tentar analisar o que carac-
em uma tarefa difícil. Parece mais fácil identificar sujeito das outras pessoas e investigar quais os seus teriza a personalidade destes indivíduos. Foi o que
fizeram Barron e MacKinnon (citados em Alencar,
1995). Estes pesquisadores elaboraram estudos
com o propósito de conhecer quem é o sujeito
considerado criativo, como ele funciona cognitiva-
Júlio - 15 anos Luzia - 19 anos
Aventureira,
mente e quais as características e traços de perso-
Muito inteligente, gosta do perigo nalidade que o diferenciam dos demais.
sensível e e de desafios.
romântico. Na escola, As pesquisas realizadas utilizaram como
Desenha porém, apresenta amostra sujeitos representantes de vários campos
muito bem. problemas.
do conhecimento, como: artes, ciências, arqui-
tetura, matemática, entre outros, todos consi-
derados altamente criativos pelas contribuições
André - 25 anos prestadas às suas respectivas áreas. Por meio
Curioso, tem senso destes estudos, evidenciou-se que as caracterís-
investigativo e ticas e os traços de personalidade dos sujeitos
gosta de misté-
rios. Não é muito estudados apresentavam pontos comuns perce-
comunicativo e bidos nas diversas amostras analisadas. Alencar
gosta de silêncio.
(1992) procurou articular os diferentes traços
de personalidade típicos de sujeitos criativos em
quatro tópicos, a saber:
Paula - 30 anos (a) autonomia, iniciativa e persistência;
Kika - 12 anos
É uma pessoa Rebelde e indisci- (b) flexibilidade e abertura a experiências;
triste, mas escreve plinada, não gosta
lindas poesias. Já de seguir regras. (c) autoconfiança, independência e
publicou 3 livros É a líder do seu
e têm recebido (d) sensibilidade emocional, espontaneidade e
grupo e admira-
convites para da por todos. intuição.
palestras.
Starko (1995) considera que a identificação
de sujeitos criativos consiste em um grande desafio
para a ciência. Indivíduos criativos são dotados de
19
personalidades complexas, como todas as pessoas, regular ou superior de inteligência. Quando o sujeito
porém com traços personológicos diferenciados. que cria apresenta inteligência superior à média, este O SUJEITO CRIATIVO TEM...

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


Como ainda não avançamos o suficiente no campo fator parece não exercer efeito significativo sobre os  Senso de humor elevado;
científico, a ponto de sabermos o que acontece resultados do esforço criativo. Independência para julgar
na mente de um sujeito criativo, a autora prefere Criatividade exige inteligência, sem dúvida, suas pró-prias idéias;
apostar nesta identificação por meio de três fatores porém a recíproca não parece proceder. Entretanto, Flexibilidade mental;
distintos: há casos de sujeitos com déficits de aprendizagem Pensamento metafórico;
(a) análise das características cognitivas do e desenvolvimento que apresentam criatividade em Abertura para novas idéias;
sujeito; grau significativo. Há relatos de indivíduos “savant” Muita indignação;
(b) identificação de traços de personalidade (um quadro em que o sujeito apresenta déficits
Habilidades de pensamento lógico;
relacionados com a criatividade e cognitivos e, ao mesmo tempo, grande talento em
Preferências por situações e pensamentos
(c) eventos biográficos, que nos permite conhecer área específica) que apresentam produções altamente complexos;
melhor o sujeito criativo por meio da sua criativas, em domínios distintos (Starko, 1995). Estes Coragem;
história de vida. casos representam exceções à regra. Em geral, sujeitos
Foco na tarefa;
Um aspecto que podemos destacar no sujeito criativos são muito inteligentes. Pode-se evidenciar
Compromisso com a tarefa;
criativo é a alta probabilidade dele apresentar inteli- tal relação em pessoas com altas habilidades. A criati-
Curiosidade;
gência superior. A relação entre criatividade e inteli- vidade é um dos elementos que permite a identifi-
Perseverança;
gência vem sendo investigada há tempos, por diversos cação da superdotação.
Disposição para correr riscos;
autores (Barron, 1969; Barron & Harrington, Com relação aos traços de personalidade, os
Auto-estima positiva;
1981; Getzels & Jackson, 1962; Guilford, 1967, estudos de MacKinnon (1978) também identifi-
Abertura a novas experiências;
1979; MacKinnon, 1978). Os resultados apontam caram que o sujeito criativo é:
para aspectos interessantes e ambíguos, porém de (a) original, capaz de gerar múltiplas idéias; Tolerância à ambigüidade;

relevância na composição do intricado quebra- (b) independente, o que gera motivação para lidar Interesses amplos por diferentes campos
do saber;
cabeça que representa a compreensão do sujeito que com situações onde a liberdade é valorizada e
Gosto pela aventura;
se destaca por sua criatividade. o conformismo não tem vez;
Inteligência e criatividade parecem se relacionar (c) intuitivo, ou seja, valoriza inspirações, insights, Percepção de si mesmo como criativo;

de modo singular. Os achados de MacKinnon metáforas e aspectos subjetivos do saber; Resistência a seguir regras.
(1978), por exemplo, não permitem avaliar a criati- (d) interessado em múltiplas áreas do
vidade de uma pessoa por meio de um escore de conhecimento e principais características personológicas identificadas
QI, mas indicam que sujeitos que se destacam por (e) acredita em seu potencial criativo, no valor do em pessoas com alto desempenho criativo.
uma produção criativa costumam apresentar inteli- seu trabalho e do seu esforço. O sujeito criativo apresenta traços de perso-
gência superior. Barron (1969) identificou, em seus O sujeito criativo, portanto, é dotado de nalidade bem específicos. Porém, mesmo de posse
estudos, uma moderada relação entre criatividade distintos traços de personalidade que costumam ser destes saberes, identificar uma pessoa como altamente
e inteligência. Na perspectiva deste autor, qualquer comuns a todos aqueles que se destacam por uma criativa baseado apenas em evidências de traços de
contribuição criativa exige, do seu autor, um padrão produção criativa. O desenho abaixo apresenta as personalidade pode não levar a resultados precisos.
20
terizam criatividade no adulto não necessaria- é aquela força interna que nos mobiliza e nos leva
mente garante que estes mesmos traços apareçam a realizar e produzir coisas, idéias, objetos, arte ou
em crianças criativas, ou mesmo em crianças que ciência pelo simples desejo de querer produzir. A
crescem em companhia de adultos muito criativos. motivação intrínseca é interna, surge no âmago
Na perspectiva desta autora, os conhecimentos que do nosso desejo de realizar coisas. Para que haja
dominamos sobre a criatividade e suas manifes- criatividade, a motivação intrínseca é indispen-
tações em crianças são, ainda, bastante limitados. sável. Amabile enfatiza, ainda, a diferença entre
Tal limitação, entretanto, não impede que se pense motivação intrínseca e extrínseca, alegando
sobre estratégias de promoção da criatividade na que esta última pode ter efeito danoso sobre o
infância. O conhecimento acerca dos aspectos processo criativo, uma vez que desvia o interesse
personológicos que caracterizam o sujeito criativo do indivíduo da tarefa para elementos exteriores
muito tem a auxiliar neste contexto. de caráter compensatório.
Um ponto, que tem sido também destacado Até aqui apresentamos múltiplas possibi-
nas discussões sobre a personalidade criativa, diz lidades de identificação de sujeitos criativos, com
Uma pessoa é mais do que o somatório dos seus respeito à importância de se possuir “conheci- base em seus processos cognitivos e traços de perso-
traços de personalidade. Ela é fruto de uma história mentos”, sejam gerais ou específicos. A maioria nalidade. Entretanto, podemos dizer que as nossas
pessoal, única e intransferível. Mesmo cientes de que dos autores concorda que, sem algum conheci- personagens são criativas a partir da evidência
estes traços, por si sós, não são capazes de informar mento prévio sobre um assunto, torna-se pouco destes elementos? Vamos rever nossas personagens.
sobre o nível ou grau de criatividade de uma pessoa, provável produzir algo que possa ser considerado Se formos analisar o breve histórico de cada
eles representam um avanço nas investigações sobre inovador ou original. Uma bagagem de conheci- personagem vamos encontrar traços de persona-
criatividade, pois lançam luzes importantes sobre esta mentos é fundamental para o processo criativo. lidade que se associam à criatividade em quase
tarefa complexa, que é “conhecer a personalidade de Quanto maior esta bagagem, maior o número todas. Entretanto, a identificação destes traços é
pessoas com alto potencial criativo”. de padrões, combinações ou idéias que se pode suficiente para avaliarmos se Kika, por exemplo,
A identificação dos traços de personalidade alcançar (Alencar, 1992). é uma menina criativa? A presença destas carac-
que caracterizam sujeitos criativos também repre- A motivação é outro aspecto que também terísticas é fator indicativo, mas não garante que
senta uma opção metodológica quando pensamos tem recebido destaque por diferentes estudiosos, o sujeito seja, de fato, criativo. Criatividade, como
em promover criatividade. Se conhecemos os como Amabile (1983), Amabile e Hennessey todo fenômeno complexo, exige mais trabalho
traços que estão associados aos sujeitos com alto (1987) e Torrance (1987). Torrance, em suas em sua identificação. Avaliar a criatividade de
potencial criativo, podemos atuar no sentido de considerações sobre o comportamento criativo, um sujeito demanda, também, compreender sua
auxiliar pessoas comuns a trabalharem estes traços identificou que se pode esperar altos níveis de história de vida, a sua construção de rotas de desen-
em si mesmas e, conseqüentemente, abrir campo performance criativa de pessoas que apresentam volvimento, seus processos de aprendizagem e sua
fértil para o cultivo da criatividade. motivação e habilidades necessárias ao ato produção criativa. A história do sujeito tem muito
Identificar adultos criativos é a mesma coisa criativo. Amabile defende a hipótese de que a a nos informar sobre sua criatividade, por isso a
que identificar crianças criativas? Starko (1995) motivação intrínseca é a chave mestra que abre as relevância em investigarmos os traços biográficos
destaca que a identificação de traços que carac- portas do processo criativo. Motivação intrínseca que se relacionam com um perfil criativo.
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desenvolver suas habilidades criativas do que outras
crianças, desprovidas destes aspectos ambientais.

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


Júlio - 15 Luzia - 19 O fenômeno criativo é revestido de uma
anos anos
Aventureira, natureza muito complexa e parece indispensável
Muito gosta do abordá-lo a partir de, pelo menos, dois eixos, a saber:
inteligente, perigo e de
sensível e desafios. Na (1) um eixo de análise do indivíduo criativo,
romântico. escola, porém, que vamos chamar de eixo intrapessoal, isto
Desenha apresenta
muito bem. problemas. é, uma perspectiva de avaliação do sujeito
em seus processos internos e,
(2) um eixo de análise do ambiente social
André - 25 anos e cultural do sujeito criativo, que vamos
Curioso, tem sen-
so investigativo e chamar de eixo interpessoal, ou seja, uma
gosta de misté- perspectiva de avaliação do sujeito em suas
rios. Não é muito
comunicativo e interações com os outros e com o ambiente
gosta de silêncio. social e cultural (Neves-Pereira, 2004).
Criatividade investigada em uma perspectiva
intrapessoal vai enfatizar aspectos constituintes do
Paula - 30 anos Kika - 12 anos
Rebelde e
fenômeno, como a dimensão cognitiva, o processo
É uma pessoa
triste, mas escreve indisciplinada, criativo e alguns traços de personalidade. Tais
lindas poesias. não gosta de
seguir regras. dimensões ampliam nosso conhecimento sobre
Já publicou 3
livros e têm É a líder do seu a criatividade e seus processos, mas ofertam uma
recebido convites grupo e admi-
para palestras. rada por todos. visão ainda limitada da dinâmica e funcionamento
da ação criativa inserida em um contexto ambiental
e cultural. Ao considerar a perspectiva interpessoal,
as pesquisas sobre o fenômeno criativo privilegiam
Em Starko (1995) encontramos alguns indica- Entretanto, há registros de sujeitos criativos que tópicos como:
tivos sobre aspectos biográficos que se relacionam não apresentavam estas características biográficas. O (a) as barreiras sociais presentes no ato de criar;
com a criatividade. Esta autora comenta que sujeitos que os estudos nos mostram é que estas variáveis se (b) as dimensões social e cultural que outorgam
criativos são, em grande parte, filhos primogênitos relacionam de modo significativo com a expressão a chancela de “criativo” para determinados
e são criados em ambientes ricos em estimulação e criativa, mas não são elementos presentes em “todos” produtos e/ou idéias e
diversidade de informações. Também aparece como os sujeitos criativos. Porém, crianças que têm a (c) a relevância do suporte social para que a
resultado de pesquisa que os sujeitos altamente oportunidade de vivenciarem um clima familiar criatividade se desenvolva. Compreender a
criativos, na infância, gostavam muito da escola, harmonioso e estimulador, que estão cercadas por criatividade como fenômeno que só existe
adoravam a leitura, adotavam diversos hobbies adultos inteligentes e criativos e que recebem escola- em uma relação de interdependência com
e tinham múltiplos interesses extra-escolares. ridade de qualidade possuem melhores condições de o ambiente e a cultura é muito importante
22
para entender quem é o sujeito criativo e o de premissas culturais, historicamente datadas e
que o motiva a criar. construídas por estas pessoas ao longo de suas traje-
Segundo Amabile (1983), para que o sujeito tórias desenvolvimentais. Portanto, a menos que um
possa estar intrinsecamente motivado é necessário determinado grupo social dê a chancela de criativo
um ambiente propício e favorável, que valorize a determinado produto, este não tem chances de
a criatividade e que não imponha restrições ou adquirir este valor por si só. Como destaca o próprio
contextos competitivos, detrimentais a uma autor: “Assim, se uma idéia ou produto são criativos
produção original. Neste sentido, a motivação ou não, não depende de suas qualidades intrínsecas,
intrínseca não é compreendida como um fenômeno mas do efeito que são capazes de produzir em outros
psicológico apenas interno, dissociado de uma sujeitos expostos a eles” (1988, p. 314).
perspectiva maior, que é representada pelo contexto Csikszentmihalyi define criatividade, então,
ambiental e/ou social. A proposta desta autora é de como um fenômeno construído por meio de
uma “Psicologia Social da Criatividade”, na qual as interações entre criador e audiência. Criatividade
dimensões ambientais vão operar de modo signi- não é produto de indivíduos singulares, em ações Na sua perspectiva, para que ocorra criati-
ficativo no incentivo à motivação intrínseca, que individuais, mas sim fruto do julgamento e vidade, uma série de práticas, crenças e valores devem
consiste na semente do ato criativo. aceitação de determinados grupos de indivíduos ser transmitidos do domínio para o indivíduo. Este
Csikszentmihalyi (1999) também destaca a acerca dos produtos apresentados como criativos. A pode, por meio da significação destas informações
importância de analisarmos a criatividade conside- dimensão social é que vai significar a criatividade, culturais, produzir algo novo a partir do domínio.
rando sua dimensão social e ambiental. Ele destaca porém, em uma perspectiva sistêmica, onde cada Entretanto, esta produção deve ser selecionada e
que a criatividade tem sido investigada mais como sujeito é relevante para o processo, mas dependente aprovada pelo campo, para que haja futura inclusão
fenômeno mental do que fenômeno social e cultural, do grupo social para reconhecimento e validação de da novidade no domínio e, conseqüentemente,
aspectos que a caracterizam com mais ênfase. A partir sua criação. transformação cultural.
de suas reflexões e estudos sobre o fenômeno criativo, Na formulação do seu modelo explicativo A visão sistêmica de Csikszentmihalyi
este autor desenvolveu um modelo sistêmico por meio do fenômeno criativo, Csikszentmihalyi (1999) considera a cultura (domínio) como fonte
do qual tenta explicar as complexas relações entre acrescentou outros conceitos aos já discutidos da produção humana. Sem a cultura não há
criatividade, sociedade e cultura (Csikszentmihalyi, anteriormente. Ele identificou a relevância de humanidade, nem significação de obras, produções
1988). O modelo proposto por este pesquisador parte se considerar a cultura como representante do e inovações. O modelo também assume a relevância
da premissa de que não é possível a emergência da aspecto simbólico do processo, que ele nominou do indivíduo no processo criativo e o diferencial que
criatividade sem um aval sócio-cultural. Conceituar como “domínio”, assim como uma dimensão cada sujeito faz no contexto da criação, sem, entre-
ou mesmo identificar criatividade com base em social, neste modelo denominada como “campo”. tanto, dissociá-lo de seu entorno social e cultural,
traços personológicos ou mesmo a partir de signi- A estas duas dimensões foi somada a dimensão que vai alimentar esta criatividade para que ela
ficados subjetivos que o sujeito dá à sua produção “individual”, correspondente ao sujeito co-autor seja devolvida ao domínio, por meio de obras e
não consiste em postura correta neste domínio. Algo do processo criativo. A partir deste modelo e das novas idéias. Csikszentmihalyi, porém, acrescenta
só é reconhecido como criativo quando exposto ao interações entre as partes constituintes é que surge o conceito de campo, considerando a organização
julgamento de outras pessoas. Este julgamento parte a criatividade. social do domínio a dimensão que vai decidir o
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que é aceito como criativo pela sociedade, em seus São várias as barreiras que impedem a ` O desconhecimento, por parte do indivíduo,
diferentes níveis. emergência da criatividade. Estas barreiras têm de seus próprios recursos internos;

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


Em uma perspectiva sistêmica, a criatividade origem em aspectos individuais, coletivos, sociais e ` Medo de arriscar e de fracassar;
sempre vai gerar modificações em todas as instâncias culturais. Em geral, as sociedades não se organizam ` Dificuldade em reestruturar um problema,
envolvidas no processo criativo: o sujeito, seu núcleo de modo a promover ou mesmo estimular seus vendo-o sob um novo enfoque, dimensão ou
social e seu nicho cultural. Ao inovar, o sujeito parte de indivíduos a serem criativos. Pessoas criativas trans- ponto de vista;
premissas, idéias e informações recebidas por meio dos gridem, modificam as regras, mudam os sistemas, ` A dificuldade de reformular um julgamento
mediadores culturais, devolvendo este saber em forma promovem inovação. Estes processos são complica- previamente formado a respeito de algo;
de um produto ou idéia, suficientemente impactantes, dores da ordem social e, portanto, pouco estimulados ` Inabilidade para observar e isolar aspectos
a ponto de gerar novos padrões nesta mesma cultura da na sociedade. Vivenciamos um paradoxo: necessitamos diversos de um problema.
qual foi originado. É um processo que se auto-alimenta, da criatividade, pois ela é a mola mestra que promove As barreiras de natureza social surgem no seio
que funciona modificando todas as dimensões envol- progresso e adaptação à vida, mas, ao mesmo tempo, da cultura de cada grupo e atuam no sentido de evitar
vidas e que tem origem na complexidade das relações tememos o novo, porque ele modifica as estruturas já comportamentos desviantes “da norma social”. As
homem e cultura. Portanto, compreender criatividade conhecidas. Diante deste impasse, o contexto social agências sociais, como a escola, trabalham para “educar”
sem abordar uma visão sistêmica e dialética restringe termina por impedir a expressão criativa como medida e “moldar” as pessoas a partir de modelos estabelecidos
a riqueza deste fenômeno, situando-o em dimensões de manutenção da “ordem e da estabilidade” social. As de acordo com as ideologias dominantes. Inseridos
isoladas, que não permitem a visualização e o enten- barreiras surgem a partir deste contexto, desta neces- neste sistema, os sujeitos apresentam dificuldades
dimento da dinâmica e da estrutura desta função sidade de construirmos sociedades “anticriativogê- significativas para expressarem seus talentos, desejos e
humana tão necessária para a nossa sobrevivência. nicas”, parafraseando Arieti (1976). inspirações. Alencar (1995) aponta para as seguintes
Mesmo investigando as múltiplas nuances que Estas barreiras, entretanto, são de natureza barreiras de natureza social:
caracterizam a criatividade, ainda assim a identifi- diferenciada. Algumas expressam impossibilidades ` As pressões sociais em relação ao indivíduo que
cação do sujeito criativo continua sendo tarefa difícil. pessoais e são construídas por meio de crenças e diverge da norma;
Entretanto, se conhecemos os traços personológicos valores disseminados mediante a educação informal ` Aceitação pelo grupo como um dos valores
que definem um perfil criativo, se compreendemos e formal. As barreiras pessoais impedem que nos mais cultivados;
a história do sujeito e se conseguimos visualizar sua vejamos como criativos e embaçam a percepção do ` As expectativas com relação ao papel sexual, ou
produção inserida em um contexto ambiental, social e sujeito no sentido de “ver o novo”. Estas barreiras, em seja, há coisas que só os meninos fazem e outras
cultural já somos competentes o suficiente para levan- geral, incluem o reforço de traços de personalidade que só as meninas podem fazer;
tarmos hipóteses sobre a existência de criatividade. que não são favoráveis à expressão criativa, promo- ` Consideração da tradição como preferível à
Há, porém, outros fatores que inviabilizam a expressão vendo no indivíduo sentimentos de insegurança com mudança;
do talento criativo, como por exemplo, as barreiras de relação ao seu potencial criador. Alencar (1992, 1995) ` Ênfase na razão e na lógica, desvalorizando-se a
diferentes naturezas que impedem a criatividade. Falar elencou algumas destas barreiras, a saber: intuição e os sentimentos.
sobre estas barreiras é de extrema relevância para o ` Medo do erro e da crítica; Estas barreiras, tão comuns na vida diária,
entendimento do processo de criar, pois o meio social e ` Baixa expectativa com relação a si mesmo; impedem o florescimento da criatividade em
cultural tanto promove como inibe a expressão criativa ` Preferência por julgar idéias ao invés de múltiplas instâncias, em especial na escola. A
dos sujeitos. gerar idéias; partir de agora vamos direcionar nosso assunto
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para a escola, como local privilegiado de desen- sempre um núcleo de mensagens culturais a serem pedagógico, por vezes, impede o pleno desenvol-
volvimento humano e aprendizagem e como transmitidas (de forma intencional e/ou oculta) e vimento das competências citadas anteriormente,
espaço potencialmente capaz de promover a esse trabalho cabe ao universo da educação formal, destacando tarefas e atividades que privilegiam a
criatividade dos alunos. que advoga para si a função de preparar os novos memorização, a reprodução de conhecimentos, a
A escola, desde o seu surgimento nas socie- cidadãos de uma sociedade. obediência e a submissão às regras, aspectos detri-
dades industrializadas, vem assumindo a tarefa da A escola é o destino da maioria das crianças mentais à expressão criativa.
educação formal, preparando crianças e jovens para das sociedades industrializadas. É na escola que elas O que parece é que a escola, historicamente,
a vida em sociedade, para a aquisição de um fazer passarão anos, em convívio intenso com colegas, não assumiu seu papel de promotora da criatividade
profissional e para a construção de competências de professores, educadores e os significados da cultura. dos seus alunos e nem de um ensino criativo. Nos
cidadania. Em quase todas as culturas ocidentais, as A escola não é uma opção para estas crianças, países desenvolvidos, observamos iniciativas que
crianças estão ingressando cada vez mais cedo na é a regra. Todos deverão passar por ela e a ela se mostram certo interesse em prover os educadores
instituição escolar. Por múltiplas razões, esse ingresso submeter. Sendo este espaço de tamanha influência de programas e modelos que auxiliem na tarefa do
antecipado tem promovido transformações qualita- nos processos de desenvolvimento e aprendizagem desenvolvimento das habilidades criativas (Cropley,
tivas e quantitativas no desenvolvimento infantil. A infantil, é bom que a escola se dê conta disto e se 1997; Davis, 1991; Starko, 1995; Torrance, 1987).
escola é o local onde parte significativa dos processos prepare para atuar da forma mais competente e Em países em desenvolvimento, entretanto, esta não
de desenvolvimento e aprendizagem da criança adequada possível. tem sido a tônica.
acontecerá, por meio das suas relações com profes- Ao pensarmos em uma escola preparada para No Brasil, em especial, os programas de
sores e colegas. atuar de modo competente, não podemos desconsi- formação de professores não tem considerado a
A escolarização formal implica inserção do derar a relevância da criatividade como geradora de relevância de preparar o professor para a mediação de
sujeito em uma instituição social, com regras e valores métodos, conteúdos e habilidades a serem formadas, um ensino criativo. Salvo iniciativas pontuais, geral-
pré-estabelecidos e com um objetivo bem específico: tanto em alunos como em professores. Será que a mente identificadas por meio de demandas de cursos
transmitir o legado cultural de cada grupo social aos escola está preparada para isto? Está pronta para e oficinas de criatividade, tanto o setor público como
alunos, assim como o repertório de crenças e valores promover a criatividade dos alunos? Está pronta para o setor privado do ensino não assumiram, ainda, um
cultuados pela comunidade onde se localiza a insti- ofertar um ensino criativo? É capaz de preparar seus compromisso genuíno com a promoção da criatividade
tuição. Para adquirir essa herança cultural, a criança educadores para, também, serem sujeito criativos na escola. Em um país com tantas demandas educa-
necessita participar concretamente das atividades em sala de aula e fora dela? cionais urgentes, como vagas nas escolas públicas,
culturais (Rogoff, 1990, 2003), permanecendo por A realidade escolar é complexa e contra- preparo e capacitação de professores, aquisição de
um tempo em contato com essas mensagens (daí ditória, quando se trata de criatividade e ensino. recursos materiais, fomento financeiro, entre outros
a importância da continuidade do ensino básico). Geralmente, encontramos escolas, professores e pais aspectos, preocupar-se com a criatividade no ensino
Ela precisa, portanto, vivenciar estas práticas por muito interessados em criatividade e sua promoção. torna-se, aparentemente, quase um luxo. Mas não é.
meio de exercícios, jogos e brincadeiras, para que Na prática, o cenário é um tanto diferenciado deste Quem pesquisa e investiga criatividade no
a internalização possa ocorrer de modo eficiente. A desejo. Em algumas escolas, é possível identificar contexto educacional sabe da importância deste tema
despeito das escolas adotarem modelos pedagógicos ênfase em atividades que auxiliam o desenvolvi- para o desenvolvimento humano e cultural de uma
muito diferenciados, todas assumem esse objetivo mento da autonomia, autoconfiança, criatividade nação. O desperdício que se observa em sala de aula,
central: “a transmissão do conhecimento”. Há e auto-estima das crianças. Em outras, o desenho com relação ao desenvolvimento do potencial criativo,
25
é elevado e se reflete no produto final do ensino em Uma dimensão vinculada à criatividade,
nosso país, como por exemplo: alunos mal preparados, normalmente negligenciada pela escola, diz respeito

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


com uma visão reprodutivista do conhecimento e sem ao desenvolvimento dos processos de imaginação. É
auto-estima para inovar e/ou propor soluções originais do senso comum a constatação de que a imaginação
para os velhos problemas. Tal contexto é detrimental faz parte da estrutura psíquica infantil, destacando-se
para o país, pois evidencia o pouco aproveitamento de como função de grande valor no processo de desen-
competências humanas totalmente disponíveis, bem volvimento da criança (Vygotsky, 1987). Ainda não
ali, na sala de aula. dotada de um raciocínio conceitual, a criança experi-
A escola, por falta de informação e formação, menta e compreende o mundo a partir da imaginação.
vem atuando muito mais na direção oposta, no que Suas emoções se expressam também por meio desta
diz respeito ao fomento da criatividade. O que se função. Mesmo quando inicia o domínio do raciocínio
registra, em grande parte das instituições de ensino, conceitual, a criança mantém atividades imaginativas,
é uma atuação no sentido de bloquear e desesti- pois estas lhes proporcionam imenso prazer e senti- favorece o surgimento de autoconceito negativo e/
mular o processo criativo nos alunos. As caracte- mento de liberdade. Entretanto, a escola não tem se ou inadequado nas crianças. Essa postura depre-
rísticas estruturais da escola refletem uma postura posicionado como um espaço propício ao exercício da ciativa em relação ao potencial e capacidades do
educacional voltada para o passado, cuja principal imaginação ou mesmo da fantasia. Em geral, propõe- aluno termina por desperdiçar talentos, recursos e
preocupação se refere ao acúmulo de conheci- se a “treinar” os alunos para lidarem com a “realidade”, possibilidades disponíveis, mesmo que em latência,
mentos. Permanece a conduta conservadora que reforçando todos os comportamentos não estimula- em todos os indivíduos.
não reconhece a necessidade de olhar o futuro e dores da imaginação e da fantasia como o silêncio, a A questão do erro, como sinônimo de
seus desafios e preparar os alunos para lidarem atenção, a memorização e a repetição de conteúdos. fracasso, merece atenção dentro do contexto escolar.
com um mundo em rápida mutação, dando-lhes Segundo Alencar (1992): É dado culturalmente, e a escola como agência de
instrumentos para solucionar problemas diferen- O treino da realidade começa, porém, bem socialização reforça essa crença, uma regra com a
ciados e criar modelos novos. cedo na vida de toda criança e a imaginação tem sido qual a maior parte das pessoas concorda. A regra
Dentro deste quadro de resistência a modifi- rejeitada e reprimida. Mesmo na pré-escola, a ênfase é: “é proibido errar!”, principalmente se almejamos
cações, a escola vem se posicionando como não tem sido cada vez mais no sentido de se transmitir ao sucesso. De posse dessa regra, toda vez que
estimuladora do pensamento criativo. O ensino informações factuais e o espaço para o jogo e para a cometemos erros nos sentimos constrangidos e
tem se pautado na reprodução e memorização dos brincadeira vem se reduzindo de uma forma signi- envergonhados. Esquecemos que o erro constitui
conhecimentos, com pouco estímulo à pesquisa e ficativa. (p.77) fenômeno oposto, porém complementar ao acerto,
solução de problemas. Quase todo o tempo gasto A escola apresenta-se, então, como um local são lados de um mesmo processo de ação. Em geral,
na escola destina-se à aquisição de conhecimentos. onde se prepara o aluno para atitudes de confor- a ênfase no “é proibido errar” nos leva a adotar
As metodologias, em geral, reforçam o conserva- mismo e de não exploração de seu talento e potencial. comportamentos conservadores e assumirmos
dorismo e estimulam a obediência. A criança perde A ênfase no conformismo termina por propiciar posturas onde não corremos riscos. Perdemos,
a oportunidade, dentro da escola, de desenvolver campo fértil para o surgimento de sujeitos com uma assim, a oportunidade de vivenciarmos experiências
suas habilidades de pensamento criativo assim visão de si mesmos limitada, não reconhecedores de instrutivas que, caso resultassem em erro, serviriam
como sua capacidade de julgamento e avaliação. seus próprios recursos. Em geral, este tipo de conduta como ponto de partida para novas situações e/ou
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Comprometer-se com a promoção da criati- contexto. Em geral, os professores não são prepa-
vidade na escola é um grande desafio. Exige da rados nem para o ensino criativo, muito menos para
escola e de seus componentes uma série de habili- o desenvolvimento do potencial criativo dos seus
dades e saberes nem sempre disponíveis. Demanda alunos. A falta de informações gera uma grande
a necessidade de pesquisar sobre criatividade, de quantidade de mitos com relação à criatividade,
conhecer o fenômeno, de saber como se promove distanciando os docentes de uma prática pedagógica
um ensino criativo, dentre tantas outras nuances que criativa e transformadora.
fazem parte deste contexto. Starko (1995) chama a O professor, com certeza, é o principal
atenção para a diferença entre ensinar para a criati- mediador do processo de ensino e aprendizagem.
vidade (teaching for creativity) e o ensino criativo Em sala de aula, sua influência é decisiva na
(creative teaching). Segundo esta autora: conduta futura dos alunos. Sua atitude é extrema-
Uma atividade de ensino que produz prazer mente poderosa no sentido de influenciar o aluno,
ou mesmo criatividade não necessariamente pro- tanto positiva como negativamente. Ele pode e
move a criatividade, a menos que os alunos tenham deve interferir no ensino das habilidades criativas,
a oportunidade de pensar criativamente... O ensino estimulando o aluno para que este apresente seu
criativo (quando o professor é criativo) não é o mes- melhor desempenho. O que se observa, porém, são
ações. A escola não deveria desperdiçar os erros de mo que o ensino voltado para o desenvolvimento da professores não oferecendo condições adequadas
seus alunos e sim aproveitá-los como matéria-prima criatividade... Ensinar para a promoção da criativi- para a expressão da criatividade de seus alunos
geradora de novos comportamentos e aprendizagem. dade tem um foco diferente; a criatividade essencial (Alencar, 1992). Não há reconhecimento, por parte
A utilização dos conhecimentos científicos surge por parte dos alunos. (p.15) do professor, do potencial criativo dos alunos nem
sobre criatividade, no contexto escolar, enfrenta Esta autora traz uma contribuição relevante tampouco oferta de espaço estimulante ao flores-
uma série de dificuldades, barreiras e mesmo ao diferenciar estes dois aspectos da promoção cimento das habilidades criadoras. Normalmente,
contradições. Embora seja do interesse de todos ter da criatividade. Ao que parece, de nada adianta o docente tem baixas expectativas com relação
sujeitos criativos na escola, a presença desses alunos levar um circo para a sala de aula se os alunos não aos seus alunos, não confiando em suas capaci-
termina por gerar situações de conflitos e oposição tiverem a oportunidade de trabalharem com suas dades e talentos. Torrance (1987) destaca que, se
às normas vigente, o que resulta em insatisfação ou habilidades criativas. Também não adianta privi- o professor não valoriza as habilidades de pensa-
mesmo medo destas pessoas diferentes e ousadas. legiar o desenvolvimento da criatividade do sujeito mento criativo, é difícil para ele encorajar seus
A escola quer desenvolver a criatividade de seus se o ensino não for dotado de abertura para o novo, alunos a se expressarem criativamente.
alunos, mas espera que eles atendam ao padrão do de desafios, de elementos estimuladores da criati- Uma visão ainda tradicional do ensino
aluno ideal, que é bonzinho, educado, obediente e vidade. somada a uma falta de conhecimento acerca do
conformado com as regras. Abrir-se para o novo Podemos até identificar alguns esforços de fenômeno criativo reflete um contexto onde as
e lidar com pessoas diferentes tornam-se compe- educadores em promover um ensino criativo, mas atitudes e comportamentos, tanto de professores
tências que a escola deve adquirir se pretende isso não significa desenvolver, de fato, o potencial quanto de alunos, permanecem arraigados a práticas
promover criatividade e múltiplos talentos em suas criativo dos alunos. Os programas de formação pedagógicas que não conseguem inovar, ou mesmo
práticas pedagógicas. de professores têm grande responsabilidade neste transformar o tecido social e escolar. Um modelo
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educacional com este perfil mostra-se incapaz de giados. Neves-Pereira (2004) procurou identificar mente, estimule o desenvolvimento da criati-
incentivar o pleno desenvolvimento do potencial quais aspectos seriam relevantes para que o professor vidade. É necessário que este fenômeno seja

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


humano, necessitando de modificações que visem pudesse atuar, em sala de aula, de modo a promover considerado, especificamente, no contexto
promover condições adequadas à promoção da a criatividade de seus alunos, assim como ofertar um educacional, trabalhado em termos concei-
criatividade em sala de aula. ensino criativo. Algumas idéias surgiram desta inves- tuais e em termos de práticas pedagógicas
Neste ponto do presente texto chegamos ao tigação. Vamos conversar sobre elas. orientadas para o seu desenvolvimento.
nosso objetivo central: “como podemos promover Para que ocorra ensino criativo e promoção Quando um professor é bem formado e
criatividade em sala de aula?”. Parece que alguns da criatividade dos alunos, é importante considerar conhece sobre desenvolvimento infantil e processos
indicadores emergiram a partir da discussão os seguintes aspectos: de aprendizagem, sua visão de homem se amplia e
elaborada. Vamos tentar aproveitá-los. (1) Para que um professor promova, de fato, suas concepções acerca dos processos psicológicos se
A tarefa da promoção da criatividade é ação criatividade em sala de aula, é necessário tornam mais complexas. Criatividade é um processo
complexa, que exige do educador conhecimentos que ele vá além dos conhecimentos especí- psicológico, assim como a imaginação, a cognição,
acerca do fenômeno criativo assim como o domínio ficos sobre criatividade; é indispensável o dentre tantos outros. Um professor competente vai
e treino de suas próprias habilidades e competências domínio de saberes pedagógicos consis- apresentar conhecimentos gerais sobre estes temas,
criativas. Não adianta ser um professor criativo se tentes e progressistas. porém sem o domínio necessário para que, de fato,
não há saberes construídos sobre como desenvolver Quando um professor tem formação sólida consiga atuar no sentido de fomentar criatividade
a criatividade da criança. A recíproca parece verda- e detém conhecimentos consistentes sobre modelos em sala de aula. Parece claro que, para promover
deira: não adianta conhecer estratégias de promoção teóricos que discutem aspectos de desenvolvimento criatividade em sala de aula, é muito importante uma
da criatividade do sujeito se, em sala de aula, o ensino e de aprendizagem das crianças, a probabilidade formação profissional consistente e de qualidade,
permanece vinculado a um padrão não-criativo. Para de que este professor perceba a criatividade como mas esta formação não é determinante para que
trabalharmos no sentido de promover criatividade parte dos processos de desenvolvimento infantil e ocorra ensino criativo. Só a formação profissional
de modo eficaz é indispensável atentarmos para dois merecedora de atenção especial é bastante repre- de qualidade não é suficiente. É indispensável que
aspectos constituintes deste processo, a saber: sentativa. Ao possuir domínio teórico, o professor o professor saiba alguma coisa sobre o fenômeno
(1) a formação do professor capaz de ofertar facilita sua prática e favorece uma mediação mais criativo e sobre como trabalhar com a criatividade
ensino criativo e; rica em sala de aula, o que facilita a promoção da no contexto da sala de aula. Esta necessidade nos
(2) a construção de estratégias que facilitem a criatividade. Um professor competente, por mais leva ao aspecto seguinte.
promoção da criatividade do aluno em sala que desconheça sobre criatividade e seus processos, (3) Um professor apto a desenvolver criati-
de aula. tem mais chances de estruturar aulas criativas do vidade em seus alunos deve ter uma
Formar um professor criativo, capaz de que um professor pouco competente e também formação específica nesta área.
organizar um ambiente escolar estimulador da desconhecedor dos processos criativos. Portanto, a Já sabemos que a promoção de um ensino
criatividade e que domine diferentes estratégias de formação de qualidade é critério de extrema impor- voltado para o desenvolvimento das capacidades
promoção da criatividade exige um esforço concen- tância na promoção da criatividade no ensino. criativas exige uma formação de qualidade do
trado que se estende desde a formação inicial deste (2) O domínio de saberes pedagógicos consis- professor, em aspectos diretamente relacionados
profissional até a oferta de formação continuada, tentes e progressistas, entretanto, não é à sua prática pedagógica. Também sabemos que
em que conteúdos sobre criatividade sejam privile- suficiente para que um professor, particular- esta formação, por si só, não é suficiente para que
28
ocorra criatividade em sala de aula, embora seja pessoas criativas, se interessa por atividades dominar as estratégias adequadas para que haja
indispensável. Para que um professor possa, de artísticas e/ou científicas, tem diversos hobbies e ensino criativo e promoção da criatividade dos
fato, ofertar atividades de ensino que privilegiem interesses múltiplos, ele termina por promover alunos em sala de aula. Conhecer sobre criati-
o desenvolvimento da criatividade em sala de aula, sua própria criatividade, o que vai sensibilizá- vidade, identificar a personalidade criativa,
é necessário que ele domine, de modo incontes- lo para promover a criatividade de seus alunos. compreender a relevância do meio social e
tável, os conhecimentos construídos sobre estra- Anteriormente, consideramos a relevância dos cultural para a expressão criativa não garante que
tégias de ensino e fomento do potencial criativo aspectos biográficos na identificação do sujeito o professor saiba como promover criatividade em
no contexto escolar. Somente de posse desta criativo. De fato, parece que esta dimensão de sala de aula. Este profissional deve se apropriar
ampla gama de conhecimentos específicos é que análise da criatividade procede. A pessoa imersa de estratégias, técnicas, metodologias e saberes
ele poderá trabalhar de forma mais eficaz com o em um ambiente social e cultural que valoriza a específicos a respeito do fomento da criatividade
desenvolvimento do potencial criador em sala de criatividade, provavelmente, vai se contaminar e isto exige treino, estudo e supervisão. Portanto,
aula. Estudar, ler, investigar, pesquisar, conhecer pelo clima reinante e vai angariar habilidades mais uma vez surge a necessidade de aquisição
sobre criatividade e seus modos de promoção é criativas quando comparada com pessoas que de conhecimentos teóricos e práticos sobre a
indispensável para o professor. não compartilham contextos sociais semelhantes. criatividade e suas estratégias de promoção. Caso
(4) O professor torna-se mais apto a desen- Um ambiente que valoriza a criatividade facilita contrário, o professor corre o risco de organizar
volver criatividade em sala de aula quando a construção de uma visão holística sobre o atividades que terminam por inibir o potencial
este conceito, efetivamente, faz parte de fenômeno criativo, o que auxilia a pessoa a lidar criativo ao invés de promovê-lo. Boas intenções
sua história pessoal e cultural. melhor com habilidades e competências relacio- nem sempre são eficazes.
Quando o professor se percebe como nadas à criatividade. A familiaridade com a criati- (6) Preparar um professor para a promoção de
criativo, valoriza a criatividade, convive com vidade auxilia na sua promoção. um ensino criativo não consiste apenas em
(5) Muitas vezes, o professor pode enganar- prover conhecimentos acerca da criatividade,
se com relação a sua própria prática e não mas, principalmente, dotá-lo de múltiplos
perceber que está atuando no sentido oposto saberes. Autoconhecimento e reflexão sobre
ao desejado, isto é, ao invés de promover a própria prática também são elementos
criatividade ele inibe sua expressão. Assim indispensáveis.
sendo, é preciso um trabalho específico Este aspecto, na realidade, representa uma
visando desenvolver no professor a síntese dos anteriores. Sugere que, preparar um
capacidade de análise da estrutura das ativi- professor para promover criatividade em sala de
dades por ele selecionadas e a capacidade de aula consiste em uma tarefa muito mais complexa e
auto-observação, para que perceba de que que exige esforços de outra natureza. É necessária
forma suas ações podem estar contribuindo uma formação multidisciplinar e de qualidade
ou dificultando a expressão criativa em sala como requisito de valor na hora de capacitar um
de aula. professor para a mediação de um ensino criativo.
Este ponto chama a atenção para a impor- Estes aspectos dizem respeito à necessidade de
tância do preparo do professor no sentido de se trabalhar processos de autoconhecimento por
29
parte do professor e o hábito de realizar reflexões específicos sobre criatividade, por parte do docente. idéias, a produção de idéias e a solução de
sobre a própria prática pedagógica. O professor Agora podemos finalizar nosso texto refletindo problemas;

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


que adota uma postura de avaliação e reflexão sobre algumas estratégias que auxiliam na tarefa de ` Adotar bibliografias sobre criatividade como
sobre sua própria prática, que partilha com seus mediar crianças e jovens no desenvolvimento de referência para a construção das práticas peda-
colegas suas dúvidas e saberes e que conta com seus potenciais e talentos criativos. Promover criati- gógicas.
a supervisão de profissionais que investigam vidade em sala de aula demanda algumas medidas,
os processos criativos tem maiores chances de como por exemplo: As medidas acima descritas auxiliam o professor que
atuar de forma competente e, de fato, auxiliar deseja organizar um espaço escolar favorável ao
seus alunos a descobrirem e realizarem seus ` Promover um ambiente rico em estimulação desenvolvimento da criatividade. Entretanto,
potenciais e talentos. de todo tipo, com oportunidades múltiplas de conhecer sobre técnicas e exercícios estimuladores
Ao pensarmos em programas de desenvol- conhecimentos para as crianças e adoles- das diferentes dimensões que compõe o fenômeno
vimento de criatividade no contexto escolar, não centes; criativo é também atitude adequada. A este respeito,
podemos ignorar que a criatividade é uma das ` Construir,coletivamente,um clima de harmonia, o leitor deve consultar as leituras recomendadas, ao
funções psicológicas originadas nas interações respeito às diferenças e aceitação do novo; término deste capítulo. Porém, a título de ilustração,
sociais presentes na sala de aula e a elas submetida. ` Adotar posturas de valorização e aproveita- seguem algumas sugestões inspiradoras de práticas
Formar profissionais para desenvolver criatividade mento dos erros e equívocos cometidos ao pedagógicas nutritivas da criatividade.
no contexto escolar consiste, portanto, em uma longo do processo de aprendizagem;
ação que pertence a um âmbito maior do que o ` Construir metodologias de ensino inovadoras, Neste ponto do texto encerramos as conside-
simples preparo instrumental. Consiste em uma originais e instigantes; rações acerca da formação do professor apto a ofertar
ação diretamente vinculada ao contexto sociocul- ` Ofertar situações de ensino e aprendizagem ensino criativo. Em seu currículo não pode faltar:
tural que permeia a escola e seus agentes e que exige diferenciadas, divertidas e com grau gradativo ` Uma formação de qualidade, com amplo domínio
um esforço multidisciplinar para que o sucesso de dificuldade; de saberes pedagógicos progressistas e atuais;
seja alcançado. Preparo técnico, formação teórica ` Atuar, de modo consistente, no reforço e estí- ` Conhecimentos gerais sobre a criatividade e
e prática, especialização no tema criatividade, mulo à auto-estima e autoconceito dos sua promoção em sala de aula;
construção de processos de autoconhecimento e alunos; ` Formação específica em conteúdos sobre
elaboração de reflexões acerca da própria prática ` Valorizar expressões afetivas e incen-tivar o criatividade, seus processos e estratégias de
educativa representam aspectos indispensáveis no uso da imaginação e da fantasia; promoção;
currículo amplo, formador dos docentes aptos a ` Prover diversas situações, experiências, exercí- ` Familiaridade com crenças, valores e hábitos
proverem um ensino voltado para o fomento do cios, desafios e práticas escolares onde as culturais que priorizem a expressão criativa;
potencial criativo. crianças e adolescentes possam exercitar ` Clareza sobre suas práticas pedagógicas
O desenvolvimento do potencial criativo do competências do pensamento criativo; relacionadas à criatividade e domínio das
aluno deve ser mediado por meio do uso de diversas ` Planejar cada dia de atividade escolar junto estratégias de promoção da expressão criativa;
estratégias promotoras de criatividade em sala de aos alunos, enfatizando a cooperação e o ` Domínio de saberes interdisciplinares, inves-
aula. Já discutimos sobre a formação do professor e trabalho coletivo; timento em processos de autoconhecimento
sobre a importância da apropriação de conteúdos ` Estimular a leitura, a reflexão, a elaboração de e reflexão sobre a própria prática.
30
SUGESTÕES PARA ORGANIZAR UMA SALA DE AULA SUGESTÕES PARA ELABORAR METODOLOGIAS DE ENSINO
ESTIMULADORA DO POTENCIAL CRIATIVO PROMOTORAS DE CRIATIVIDADE

Usar métodos de ensino que valorizem a paz, a coo-


peração e o auxílio mútuo nas tarefas de aprendiza-
gem. Uma sala de aula receptiva e psicologicamente
confortável auxilia na promoção da criatividade;

Organizar as atividades curriculares orientando-as


Um lugar só para Oportunidades Iguais Desafios, mistérios e para a estimulação da imaginação dos alunos;
coisas diferentes para Meninos e Meninas problemas para solucionar
UMA SALA DE AULA CRIATIVA

Estruturar as atividades realizadas em sala de aula


de modo a explorar as habilidades e talentos dos
alunos;

Muitos Livros Informações Materiais diferentes


sobre o mundo para manusear
Alinhavar os conteúdos curriculares para que o co-
nhecimento seja compreendido como uma totalidade,
vinculado com a vida diária, o cotidiano e a solução
de problemas;

Incluir a diversão em sala de aula, despertando


o prazer pelo aprendizado, pela descoberta, pelo
Espaço para pesquisa Muita Diversão Música novo;

Estimular a participação do aluno em todas as ati-


vidades, garantindo um clima de respeito às diferen-
ças e aproveitamento do erro como matéria-prima
do crescimento.

Muita história Muita Arte Espaço para informação


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SUGESTÕES PARA ELABORAR SISTEMAS DE SUGESTÕES PARA TRABALHAR COM O AUTOCONCEITO E
AVALIAÇÃO QUE AUXILIAM A AUTO-ESTIMA DOS ALUNOS

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


NA PROMOÇÃO DA CRIATIVIDADE
Valorize as qualidades dos seus
Incentive seu aluno a partici- Planeje provas criativas, onde alunos. Diga a cada um deles o
par ativamente do processo de o aluno busque informações que os destaca como indivíduos
avaliação de sua disciplina ou extras, seja incentivado a pes- e os tornam especiais;
turma; quisa, a inserir seus próprios
saberes na avaliação formal; Aceite as contribuições de cada
Construa exercícios, atividades aluno sem julgamentos e crí-
escolares, provas, seminários, ticas. Aprenda a valorizar as
Adote modelos de avalia-
trabalhos em grupo que per- idéias de cada criança, em sala
ção elaborados pelos alunos.
mitam ao aluno a percepção de de aula;
Inclua a avaliação nas ativi-
que a avaliação é parte das ati-
dades co-construídas em sala
vidades escolares e tem a fun- Acredite em seus alunos, acre-
de aula;
ção de orientar a trajetória de dite no potencial de cada um,
aprendizagem; acredite que eles são capazes
Inove ao elaborar trabalho,
Não permita que o sistema de provas e atividades a serem de realizar muitas coisas, coisas
avaliação utilizado assuma realizadas com o intuito de que até você mesmo não tinha
caráter punitivo. Avaliação deve avaliar a criança. Experimente pensado;
ser momento especial e privile- construir instrumentos de ava-
giado de aprendizagem e não liação divertidos, estimuladores Ouça, ouça, ouça! Dê escuta aos seus alunos. Ouça o que cada um tem a
sistema de punição ao aluno; e desafiadores; dizer. Olhe em seus olhos e dê-lhes a certeza de que estão sendo ouvidos;

Seja amigo (a) dos seus alunos. Não receie demonstrar sentimentos de afeto
e consideração. Procure ser autêntico nas interações em sala de aula;

Crie espaço para que seus alunos falem sobre seus sentimentos, com con-
fiança, sem medo de julgamentos ou avaliações. Valorize o clima emo-
cional da sua sala de aula. Procure torná-lo confortável e receptivo;

Organize situações de aprendizagem que incluam a expressão das idéias,


pensamentos e emoções dos alunos;

Não incentive comportamentos “pré-conceituosos” ou discriminatórios


em sala de aula. Oriente seus alunos a lidarem com o diferente, respei-
tando e incluindo pessoas que agem, vivem ou falam de modo peculiar.
32
Desenvolver a criatividade dos alunos é
SUGESTÕES PARA DESENVOLVER CRIATIVIDADE EM SALA DE AULA possível. Fomentar as competências criativas do
professor, para que ele promova ensino criativo
também é tarefa viável. O presente texto pretende
Ouse, tenha coragem de propor coi- contribuir neste sentido, ao esclarecer sobre o
Pense que cada atividade a ser feita sas novas em sala de aula;
fenômeno criativo e sugerir ações e práticas que
em sala de aula pode ser ensaiada de
diversas maneiras. Ensaie todas as facilitem o despertar deste potencial fantástico,
maneiras de dar uma aula e dê cada que todos nós possuímos e, por razões diversas,
Adote a pesquisa em sala de aula
aula de um jeito diferente, envol- como uma prática corriqueira. nem sempre conseguimos expressá-lo em
vendo os alunos a participarem ati- Auxilie seus alunos a adotarem uma sua plenitude.
vamente de cada momento; postura curiosa diante do conheci- O compromisso com um ensino criativo
mento e da vida; exige conhecimento e prática. Esperamos que
este trabalho amplie os horizontes de todos os
Introduza em suas aulas os seguintes educadores que vêm trilhando a senda do ensinar
ingredientes: imaginação + fantasia
Valorize a originalidade e estimule e aprender, tarefas fundamentais na construção do
+ senso de humor + informações
variadas + novidades + tudo o que a produção de idéias. Lembre-se: em ser humano. Desejamos, também, que esta simples
possa instigar a curiosidade dos alu- criatividade, quantidade é igual à contribuição acenda a chama criativa em cada um
nos; qualidade. Tenham muitas idéias em dos leitores e os estimule a desenvolver e expres-
sala de aula.
sarem seus talentos e competências. Como diz
o mestre Caetano Veloso: “gente é para brilhar!”.
Transforme tudo em problema a ser Vamos, então, acender a luz da nossa criatividade?
solucionado. Estimule seus alunos O convite está feito.
a adotarem a postura do investiga-
dor, que sai em busca de múltiplas
soluções para situações diversas;

Não critique! Não critique! Não cri-


tique! Aceite as diferenças. As pes-
soas não são iguais e a diversidade é
uma riqueza. Já a crítica só inibe a
expressão criativa;
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Referências

Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade


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Capítulo 2

Desenvolvimento do
Autoconceito

Angela M. R. Virgolim
36
37
37

B etts e Neihart (1988) afirmam que


a criança superdotada influencia
(por exemplo, cientistas, artistas, músicos, pesquisa-
dores, técnicos, líderes governamentais, entre outros)
assim como a percepção que temos dos outros sobre
nós. O autoconceito funciona como uma espécie de

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito
e é influenciada por suas famílias, que podem servir de modelos para os jovens com alto filtro, moldando nossas escolhas e afetando o modo
sua educação, seus relacionamentos e pelo seu próprio potencial ou atuar como seus mentores. Todos estes com que reagimos aos outros e ao mundo. Algumas
desenvolvimento pessoal. Sabe-se que o ambiente tem recursos devem ser utilizados para uma educação mais definições de autoconceito são apresentadas no
um grande impacto no indivíduo em desenvolvimento ampla e completa do aluno superdotado, de forma que Quadro 1 (Definições de Autoconceito).
e no caso da criança superdotada é, às vezes, difícil ele possa entender a extensão de seus talentos e aceitar Quando falamos do autoconceito, ou da
detectar se suas altas habilidades são frutos de carac- a si próprio como pessoa única e especial. auto-estima, estamos nos referindo às várias visões
terísticas pessoais ou de características do ambiente Os educadores recomendam que a educação da do “si mesmo” (e que os psicólogos chamam de self),
onde vive. criança que apresenta um potencial promissor deva se o que inclui os vários papéis que assumimos e os
Neste sentido, é importante entender que a iniciar cedo, num ambiente de aprendizagem criativo, atributos que fazem parte de nossa vida. Enquanto
criança não é superdotada apenas no período em que que a encoraje a explorar seus talentos, exercitar o autoconceito é um termo mais amplo e geral que
está na escola; ela deve ser percebida como um ser sua capacidade de aprender e entender suas habili- implica organização de partes, peças e compo-
humano que necessita de condições, seja na família, dades especiais. Da mesma forma, diversos pesqui- nentes internos hierarquicamente organizados e
escola ou comunidade, que favoreçam seu desenvol- sadores têm demonstrado a importância dos fatores inter-relacionados de uma forma complexa, a auto-
vimento e aprendizagem. Cada um destes ambientes emocionais e sociais para a realização do potencial do estima implica julgamento, constituindo o aspecto
tem um papel importante na educação da pessoa indivíduo (Colangelo, 1997; Janos, Fung & Robinson, avaliativo do autoconceito, composto pelos senti-
com altas habilidades. A família, que seria a primeira 1985; Neihart, Reis, Robinson & Moon, 2002). Um mentos de competência e de valor pessoal. Assim,
escola da criança, tem o papel fundamental de nutrir dos aspectos que tem consistentemente chamado a
suas necessidades afetivas, contribuindo para que ela atenção de pesquisadores diz respeito ao autoconceito
possa desenvolver uma percepção positiva a respeito das crianças com altas habilidades/superdotação. Uma
de si mesma, fortalecer sua auto-estima e desenvolver vez que as crenças e atitudes que temos com relação a
precocemente seus talentos. Ao entrar na escola, a nós mesmos são centrais em nossa personalidade e em
criança encontra um ambiente privilegiado onde, se nosso comportamento, torna-se fundamental entender
lhe for dada a oportunidade de fazer escolhas signi- este construto com mais profundidade. Vamos a seguir
ficativas sobre sua própria aprendizagem, de explorar enfocar este tema, mostrando como o autoconceito
livremente, manipular uma ampla variedade de surge e evolui, sua estrutura e os efeitos que o rótulo de
materiais e receber estímulos variados, terá uma apren- “superdotado” pode ter na auto-estima do indivíduo.
dizagem muito mais efetiva. A comunidade, por sua
vez, por meio de museus, bibliotecas, teatros, estúdios O Self, o Autoconceito e a
de rádio e TV, laboratórios, indústrias etc, oportu- Auto-Estima
nizam recursos humanos e materiais fundamentais
para a educação avançada e especializada do aluno O autoconceito se refere à imagem subjetiva
com altas habilidades/superdotação. Na comunidade que cada um tem à respeito de si, o que inclui as
encontramos, ainda, diferentes tipos de especialistas crenças e atitudes que temos a nosso próprio respeito,
38
o autoconceito seria o termo utilizado para os percepções são formadas a partir das experiências experiências de sucesso e fracasso que o indivíduo
aspectos descritivos do self em termos de papéis e da pessoa nos ambientes em que vive e altamente vai acumulando, a sua posição social (ou dos pais),
atributos (por exemplo, ser alto ou baixo), ao passo influenciadas pelas informações do meio a seu opiniões e críticas que o indivíduo recebe, compa-
que a auto-estima deve ser usado para se referir ao respeito. A percepção que o indivíduo tem de si ração de si mesmo com pessoas de projeção que são
aspecto avaliativo do self (por exemplo, sentir-se influencia seus atos, e estes, por sua vez, influenciam vistos como modelos pessoais, e o seu próprio nível
feliz por ser baixo). a forma pela qual ele se percebe. Assim, o autocon- de educação (ou dos pais, em se tratando de crianças
Vimos então que o autoconceito é o conjunto ceito é um construto inferido das respostas do e adolescentes). A comparação do indivíduo com os
de percepções que o indivíduo tem de si mesmo. Tais indivíduo às diferentes situações apresentadas em outros é um dos fatores que mais afeta a auto-estima
seu contexto social, cultural, escolar e familiar. da pessoa. Quanto mais jovem a criança, mais vulne-
QUADRO 01: DEFINIÇÕES DE Segue-se então que o autoconceito se refere rável pode estar aos estímulos que diminuem sua
AUTOCONCEITO aos aspectos conscientes e inconscientes daquilo auto-estima. Punição excessiva, infligida no curso de
que achamos que somos - nossas características seu desenvolvimento, pode torná-la mais consciente
físicas e psicológicas, nossas características positivas de sua significância e fraqueza; da mesma forma, a
Definições de Autoconceito e negativas. O estudo da psicologia infantil mostra falta de força física aliada à consciência da superio-
que, ao nascer, o ser humano não possui a noção de “si ridade física da pessoa que a pune diminui sobre-
` Autoconceito consiste nas crenças que o mesmo” (self), e sim uma capacidade para o desen- maneira sua auto-estima.
indivíduo tem a respeito de si mesmo, nas volvimento deste self. À medida em que o bebê se Alencar (1993) salienta que, como são
quais ele baseia suas expectativas e, à luz desenvolve, a difusão inicial dá lugar a organização múltiplas as facetas do autoconceito, o indivíduo
destas, os seus atos e realizações (Peres, de significados pessoais. Cada indivíduo estrutura pode se ver de forma mais positiva com relação a
citado em Virgolim, Fleith & Neves- sua experiência de acordo com sua própria possibi- uma faceta, e de forma mais negativa com relação
Pereira, 2006). lidade e percepção de vida, sendo que o self emerge a outra. À medida em que se desenvolve, a criança
a partir das aprendizagens que o indivíduo realiza. O recebe informações do ambiente, vindas especial-
` Autoconceito é composto por todas as que dá sentido ao self é a necessidade de persistente mente das pessoas significativas a ela, e que lhe
crenças e atitudes que o indivíduo mantém equilíbrio entre as aprendizagens que realizamos transmitem a extensão em que é aceita e valorizada
sobre si mesmo e que determinam quem e as necessidades que possuímos, que mudam de pelo grupo, ou rejeitada e não aprovada por ele.
é você, o que você pensa que é e o que acordo com a evolução. Das aprendizagens de vida e Além disso, desde muito cedo, a criança
você pensa que pode se tornar (Canfield & da interação com os outros, desenvolvemos também começa a ter experiências de sucesso e de fracasso,
Wells, 1976). a autoconsciência, o que colabora para o desenvol- a receber críticas e elogios por suas realizações. A
vimento da personalidade e para a ampliação do partir de tais experiências ela estrutura o conceito
` Autoconceito constitui um determinante
sentido que damos à vida. Voltaremos a aprofundar de si mesma. Se, desde muito nova, ela é criticada e
importante da pessoa que somos;
este aspecto mais à frente neste texto. ridicularizada ao apresentar idéias originais; se os pais
determina ainda o que pensamos a
Os pesquisadores concordam que os fatores não a deixam experienciar coisas novas por não ter
respeito de nós mesmos, o que fazemos e
que influenciam a auto-estima das pessoas durante competência ou habilidade; se é punida ou criticada
o que acreditamos que podemos fazer e
as diferentes fases de suas vidas são numerosos, mas por ser mal-sucedida em suas tentativas; e se a este
alcançar (Alencar, 1993).
alguns deles podem ser considerados universais: as quadro também se aliam críticas dos professores
39
para com suas produções, respostas e idéias, é natural preponderante. Ele é visto como uma estrutura o indivíduo consiga manifestar sua tendência de
então que a criança introjete a crítica, inibindo sua organizada e mutável de percepções relativas ao atualização, torna-se necessário que as noções de eu

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


natural capacidade de pensar e criar. Em função próprio indivíduo, como, por exemplo, caracte- real, derivadas da experiência vivida (sentimentos,
disto, ela pode bloquear seu próprio desenvolvi- rísticas, atributos, qualidades e defeitos, capaci- desejos, ansiedades, angústias), se aproximem do
mento, deixando de utilizar seu potencial de forma dades e limites, valores e relações, que se reconhece eu ideal e da percepção que ele tem de como os
plena e passando a se perceber como incompetente como descritivos de si mesmo, constituindo sua outros o percebem e se comportam com relação a
ou incapaz. identidade. ele. Quando a percepção que o indivíduo tem do
Rogers considera que todo ser humano mundo é congruente com esta percepção mais
A Teoria Humanista com Relação ao tende à “auto-realização”, termo que indica a realista, ele terá boas chances de conseguir alcançar
Autoconceito tendência diretriz, evidente em toda a vida orgânica os objetivos a que se propõe. Por outro lado, se a
e humana, de se expandir, de se estender, de se noção de self apresenta lacunas e inconsistências, a
Para o humanista Rollo May (1991), o self é a desenvolver e amadurecer, ou seja, todo ser humano tendência atualizadora não será clara; o indivíduo
função organizadora do indivíduo, por meio do qual tem a tendência para colocar em ação todas as suas terá a tendência de propor metas difíceis de se
um ser humano pode relacionar-se com o outro. Para capacidades e potencialidades, estando à espera das atingir e experienciará o fracasso, com todas as
ele, o self não é a simples soma dos vários papéis que condições adequadas para se exprimir e se manifestar. frustrações dele decorrentes. Assim, a noção deve
representamos, mas sim a capacidade de sabermos Para que isto aconteça, no entanto, torna-se neces- ser realista, fundamentada na experiência autêntica
que representamos tais papéis. É também o centro sário um contexto de relações humanas positivas, do indivíduo, para que possa conduzi-lo a uma
pelo qual vemos e temos consciência das diferentes favoráveis à conservação e à valorização do eu; satisfação subjetiva e um comportamento eficaz. A
facetas de nossa personalidade. É a autoconsciência requer relações desprovidas de ameaça ou desafio condição essencial deste funcionamento autêntico
que permite o indivíduo ver a si mesmo como os à concepção que o sujeito faz de si mesmo, ou ao é a liberdade para experienciar.
outros o vêem e sentir empatia; colocar-se no lugar seu autoconceito. Assim, depreende-se da teoria Assim, pela teoria humanista, o indivíduo que
do outro e imaginar como se sentiria e o que faria se de Rogers que o ambiente ideal para o desenvolvi- não se sente psicologicamente livre se vê obrigado a
fosse ele. Permite, em última instância, realizar suas mento do ser humano (seja na família, na escola ou se defender, negando ou deformando a sua realidade,
potencialidades como pessoa. O homem realiza suas na sociedade), é aquele onde o indivíduo se sente a fim de conservar o afeto ou estima daqueles que lhe
potencialidades somente quando planeja e escolhe amado e respeitado como pessoa; um ambiente são caros. Nem sempre, no decorrer de seu desenvol-
conscientemente, e o fato de não poder realizá-las onde suas idéias, opiniões e ações são valorizadas e vimento, a criança experimenta esta liberdade para
está na raiz de sua doença e neurose. O objetivo da apreciadas de forma positiva. experienciar, pois muitas vezes precisa dissimular e
vida, sob o ponto de vista deste autor, é a alegria, Em última análise, é a noção de self que disfarçar seus sentimentos “negativos” aos olhos dos
não a felicidade idealizada, uma vez que a alegria determina se essa tendência atualizadora, de pais, a fim de conservar sua afeição e se sentir aceita
é a emoção que acompanha a realização de nossa poder expandir suas capacidades e potenciali- por eles. Essa atitude defensiva produz um desnível
natureza como seres humanos. Tornar-se pessoa é, dades, será efetiva e realista. Este processo ocorre que pode levar a diferentes níveis de desordens do
dessa forma, um aprofundar dessa consciência do da seguinte forma: o indivíduo acredita que é de sistema de comunicação interno, inclusive à neurose.
próprio “eu”, consciência de que é um eu ativo. uma determinada maneira ou que possui deter- A ação da criança passa a ser dirigida de forma a
Na teoria rogeriana (Rogers, 1978; Rogers & minados atributos e qualidades, a esta percepção lhe garantir amor e aprovação, não importando se é
Kingett, 1977), o self ou “si mesmo” tem um papel Rogers denominou de “eu ideal”. Assim, para que uma ação saudável ou não a ela.
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Surge daí a necessidade, que Rogers (1978) que pequenas críticas e desaprovações sejam destru- Em uma etapa posterior, a criança começa a
considera fundamental e mesmo universal, de amor tivas para a autoconfiança e respeito próprios. Mas, formar a noção de que ela também é um objeto no
ou consideração positiva, que acaba por guiar a à medida que os pais se alegram pelo seu bem-estar mundo, ou seja, assim como uma bola é redonda,
criança, não pelo caráter agradável ou desagradável e dividem suas preocupações sobre ela, a criança se ou a bonequinha é macia, ela também tem suas
de suas experiências e comportamentos, isto é, não convence de sua importância e valor para eles; nessa características próprias, como gênero (ser menino
por sua significação em relação à sua tendência base é que ela poderá desenvolver suas convicções ou menina), tamanho, um nome e qualidades que
atualizadora, mas pela promessa de afeição que sobre seu próprio valor como pessoa. se agregam pelo que ela ouve ou percebe de como
elas encerram. os outros a tratam. Mas essa autoconsciência apenas
Em sua longa experiência como terapeuta, Como Surge a Noção de se inicia por volta dos 15 ou 18 meses, e pode ser
Rogers conclui que uma das funções essenciais de Autoconceito avaliada por um teste simples chamado “teste do
que se reveste o processo terapêutico é a de levar espelho”. Este procedimento consiste em colocar o
o indivíduo à aceitação incondicional de si mesmo, É no primeiro ano de vida que o bebê desen- bebê à frente de um espelho, deixando-o interagir
como se é, com suas qualidades e defeitos; de poder volve o senso de si mesmo como um agente no livremente com a imagem refletida. Depois de certo
experienciar livremente seu eu, aceitá-lo sem negar mundo, ou seja, alguém capaz de fazer as coisas tempo, fingindo brincar com o bebê, coloca-se uma
nenhuma aspecto, com toda a sua variedade e acontecerem. O bebê aprende paulatinamente a manchinha de batom no nariz do bebê e deixa-se
contradição superficial. O ponto final do processo é coordenar suas ações e adquire a noção de que é capaz que ele se olhe no espelho outra vez. O teste crucial
o momento em que o indivíduo descobre que pode de controlar certos acontecimentos no mundo. Esse do auto-reconhecimento (e da autoconsciência) é se
ser a sua experiência e não mais precisa negar os senso de eficácia ou de controle acontece tanto em o bebê estende a mão para a mancha no seu nariz
elementos de si mesmo que não se encaixam com a relação a objetos - por exemplo, quando descobre e não para a do nariz do rosto que está no espelho.
imagem de self que ele formou para si. que consegue fazer um móbile mexer puxando a Resultados de estudos realizados com este proce-
Podemos então refletir sobre a importância da cordinha - quanto em relação a sua interação com dimento mostram que a grande maioria de bebês
aceitação positiva do indivíduo em seu desenvolvi- adultos, os quais respondem ao comportamento da aos 21 meses já manifestam esse nível de auto-
mento, tanto pela família, quanto pela escola, como criança, sorrindo quando o bebê sorri, ou repetindo reconhecimento, a que os pesquisadores chamam de
agentes formadores do autoconceito da criança. as brincadeiras que provocam reações de alegria “self objetivo”. Nessa mesma idade, observa-se que
Nesta mesma linha de pensamento, o psicanalista na criança. Da perspectiva do bebê, é ele quem fez também as crianças já são capazes de se referir a si
Bruno Bettelheim (1988) assinala que a criança aquele comportamento acontecer e o seu senso de mesmas pelo nome quando lhes são mostradas fotos
precisa que acreditemos nela e em sua capacidade self, de eficácia e de ser uma pessoa separada do outro suas, noção que se completa por volta da segunda
de governar a própria vida, a fim de adquirir a vai se estabelecendo. Esta etapa dá origem ao que os metade do segundo ano de vida.
segurança necessária para efetivamente fazê-lo. pesquisadores chamam de “self subjetivo”, pois o bebê Atingindo essa consciência, o comportamento
A confiança que depositamos na criança cria nela começa a criar a noção de que existe separadamente da criança passa a ser afetado de várias maneiras.
uma confiança básica em sua própria capacidade. dos adultos que o cercam e também a compreender Ela começa a se utilizar mais da palavra “meu” ou
Independentemente de ter sido ou não criticada que estes adultos (papai e mamãe, na maioria das “minha” e assume uma postura mais independente
antes, a criança pequena “recebe qualquer crítica vezes) continuam a existir mesmo quando estão e de controle sobre os objetos, tornando-se mais
como dirigida não só ao que ela pensa ou faz, mas fora de vista (a isso Piaget denominou permanência impositiva em suas vontades. Aos 2 anos, a criança
também a ela como pessoa” (p. 79), o que faz com do objeto). demonstra tornar-se consciente de si mesma no jogo
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social, passando a ter uma compreensão implícita do Estados Unidos, pediu a crianças e adolescentes que ` Pedro, eu gosto de brincar, eu tenho 10 anos. Sou
seu próprio papel nas interações com as pessoas. Por dessem 20 respostas à questão: “Quem sou eu?” A bonito, tenho 6 letras no meu nome. Meu olho é

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


exemplo, ela começa a pensar em si mesma como autora afirma que crianças de 5 a 7 anos de idade verde e estudo o dia todo quando tem prova.
“ajudante da mamãe” nas situações em que está são capazes de dar uma descrição bastante acurada ` Eu tenho 12 anos, eu nasci em 1989 no dia
aprendendo determinado papel, como o de guardar de si mesmo em uma série de dimensões, tendo uma 3 de maio. Sou inteligente, bonito, e eu gosto
seus brinquedos, ou de “chefe” ou mesmo “papai” clara noção de sua capacidade em executar algumas de escrever.
quando está dizendo a outra criança o que fazer. tarefas, como montar quebra-cabeças, dominar ` Eu sou uma pessoa qualquer, como todas
Isto é evidente nas situações de brincadeira em que determinados assuntos na escola, escalar ou pular as outras, mas tenho defeitos e qualidades
ela começa a representar papéis explícitos: “eu sou o cordas e fazer amizades. diferentes. Sou um menino de 13 anos que
papai e você é a mamãe”, ou “eu sou a professora”. No início, o autoconceito do pré-escolar sonha em ser o melhor na profissão ou no
É assim que a criança pré-escolar aprende, pouco é concreto e tende a centrar-se em características esporte que eu escolher fazer e não em ser
a pouco, os papéis que desempenha em sua rede visíveis – por sua aparência, se é menino ou menina, mais um no mundo.
social, assim como o que é esperado dela ao desem- o local onde mora e aquilo que sabe fazer bem. ` 14 anos. Sou uma pessoa feliz, alegre, não me
penhar estes papéis. Mas ao longo dos anos do ensino fundamental, o mataria. Imagine deixar um monte de gente
Ao final do segundo ano, ela também começa autoconceito concreto se torna paulatinamente que gosta de você sem você... Sou alguém
a mostrar sinais de vergonha e orgulho, usando mais abstrato, mais comparativo e mais genera- com planos para o meu futuro, que deseja
palavras que demonstram que está julgando a lizado, menos centrado em características externas, ser alguém, ser reconhecida. Sou alguém que
si mesma ou aos outros de acordo com algum passando a refletir mais os aspectos internos do tenta fazer mal à nenhum ser, não prejudicá-
padrão. A vergonha surge quando ela percebe que indivíduo, seus sentimentos e idéias. Os seguintes lo. Sou alguém consciente das minhas ações,
não atingiu um certo padrão, enquanto o orgulho relatos de crianças e jovens de 8 a 15 anos de uma das minhas loucuras...
aparece quando foi capaz de atingi-lo - por exemplo, escola particular do Distrito Federal ilustram bem a ` 15 anos. Eu sou um ser humano, original, com
de construir uma torre bem alta ou lavar as mãos de transição desta fase até a adolescência. DNA diferente e genes provindos do meu pai
forma que fiquem “limpinhas” - e que ela percebe ` Eu sou Marta. Eu sou um pouco alta, tenho e da minha mãe. Eu sou eu e mais ninguém,
por meio da aprovação ou não do adulto. vergonha e sou legal. Tenho 8 anos, gosto sendo que eu penso e imagino o que eu quero.
Ao chegar à idade escolar, a criança já interna- de nadar, fazer arte, ter amigos. Eu sei fazer Eu sou alguém, talvez um achado impor-
lizou esses padrões e expectativas, tornando-se mais pipa e gosto de brincar muito. Gosto de tante, mas no momento, sou só alguém e mais
autônoma em seu autojulgamento e assim tornando- fazer amizades e a cor de mim (sic) é morena ninguém. Se te importa saber, sou alguém e
se mais apta a regular sua expressão emocional e seu clara, meus olhos são castanhos e meu cabelo ninguém, alguém achado, ninguém perdido.
comportamento. Tendo assim atingido a autocons- também. Espero que esse ninguém se torne alguém e
ciência inicial, a criança em idade escolar começa ` Eu sou uma pessoa bonita e cheirosa. Eu espero ser esse ninguém, alguém. Posso ser eu,
a descobrir suas próprias qualidades e seus papéis tenho 9 anos, sou baixa, tenho cabelo grande você, todo mundo e também ninguém. Eu sou
sociais, sendo capaz de dar uma descrição mais e cacheado, sou morena e gosto de escrever, só eu, ninguém, alguém e você.
completa de si mesmo em várias dimensões. Em pintar, ler e desenhar. Eu gosto de brincar Harter também afirma que, enquanto as
uma série de pesquisas sobre este assunto, Susan de queimada e comidinha. Meu nome é crianças de 1ª a 3ª séries prestam menos atenção ao
Harter (1998), da Universidade de Denver, nos Dayanne. desempenho dos colegas em determinadas tarefas,
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tendendo a identificar as próprias qualidades como grande potencial intelectual, embora, na verdade, as (a) O autoconceito é organizado: para facilitar
positivas, por volta da 4ª série começam a comparar crianças assim rotuladas tivessem sido escolhidas a sua compreensão das experiências de vida,
os desempenhos dos colegas com o seus, incluindo sem nenhum critério específico. No entanto, os sobre as quais a percepção de si mesmo se
elementos positivos e negativos em seu autojulga- alunos apontados como tendo maior potencial, baseia, o indivíduo tende a situá-las em
mento. Com os professores, a mesma mudança se tipicamente, ao final do ano, apresentavam mais categorias, que variam de acordo com a
nota. Os professores das séries iniciais enfatizam o ganhos acadêmicos do que os outros alunos, cultura particular de cada um. As categorias
esforço e hábitos de trabalho dos alunos e em séries mostrando nitidamente o efeito que as expectativas representam a forma de organizar as experi-
mais avançadas, os julgamentos comparativos são do professor podem causar no desempenho escolar ências e dar um significado a elas.
mais freqüentes. Os professores passam não só a do aluno. (b) O autoconceito é multifacetado: as facetas
comparar os alunos uns com os outros, mas também Alencar e Virgolim (1993) consideram os particulares de que se revestem o autocon-
com outros alunos e com alunos de outras escolas. anos escolares de fundamental importância para a ceito refletem o sistema de categorias
Em um estudo bastante conhecido no âmbito formação da imagem que a pessoa desenvolve sobre adotado pelo indivíduo, em particular, ou
pedagógico, a que denominou “Pigmalião na sala si mesma. No ambiente escolar, onde o aluno passa partilhado pelos grupos. Pode incluir áreas
de aula” (Rosenthal & Jacobson, 1968), Robert grande parte de seu tempo, ocorrerão experiências como escola, aceitação social, atratividade
Rosenthal demonstrou o efeito das profecias auto- diversas, que poderão atuar tanto no sentido de física e habilidade em áreas específicas.
realizadoras no ambiente escolar. Em suas pesquisas, modificar as percepções anteriores que ele tem de (c) O autoconceito é hierárquico: segundo os
o pesquisador dizia ao professor que algumas das si mesmo, quanto de fortalecer atitudes e crenças autores, as facetas do autoconceito podem
crianças da turma foram testadas e que mostravam e propiciar o conhecimento de outras facetas de si. formar uma hierarquia, tendo na base as
Os professores e os colegas, mesmo não intencio- experiências individuais em situações parti-
nalmente, influenciam diretamente na formação culares, e no ápice, o autoconceito geral.
do autoconceito do aluno; sendo assim, este se O autoconceito geral se divide em dois
configura como o contexto ideal para o professor componentes, o autoconceito acadêmico e
ajudar ao aluno a desenvolver um autoconceito mais o autoconceito não-acadêmico. Cada um
positivo, a conhecer seus talentos e competências e desses componentes também se divide. No
propiciar-lhe reconhecimento como pessoa. caso do autoconceito acadêmico, as divisões
correspondem às matérias escolares e às
A Estrutura do Autoconceito áreas específicas em cada uma delas. O
autoconceito não-acadêmico pode ser
Os estudos de Shavelson, Hubner e Stanton dividido em autoconceito social, emocional
(1976) se tornaram clássicos com relação ao entendi- e físico e estes divididos em facetas também
mento do funcionamento e da estrutura do autocon- mais específicas.
ceito. Estes autores consideram o autoconceito como (d) O autoconceito é estável: de acordo com
um construto organizado, multifacetado, hierárquico, o aspecto hierárquico do autoconceito,
estável, evolutivo, avaliativo e diferenciável. Cada um à medida em que se “desce” do geral para
desses traços será considerado a seguir. o específico, aumenta a dependência a
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situações específicas, o que o torna menos forma avaliações de si mesmo, que podem ser ` Competência atlética: Percepção da criança
estável. Além do mais, as mudanças nos feitas tanto com relação a padrões absolutos, quanto à sua habilidade nos esportes e

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


níveis mais baixos da hierarquia são prova- como a um padrão “ideal” em relação aos jogos atléticos;
velmente atenuadas pelas conceituações pares ou aos outros significantes. Segundo ` Aparência física: Percepção da criança
nos níveis mais altos, o que faz com que o Shavelson e colaboradores, a dimensão quanto ao seu aspecto físico e o que ela acha
autoconceito seja resistente à mudança. Para avaliativa pode variar em importância para da sua aparência;
que se mude o autoconceito geral, é neces- diferentes indivíduos em diferentes situações, ` Comportamento: Percepção da criança
sário mudanças nas situações específicas, o dependendo, em larga medida, das experi- quanto ao seu comportamento, se ela gosta
que explica o fato do sucesso ou fracasso ências passadas do indivíduo em sua cultura da forma com que se comporta e o grau em
do indivíduo numa determinada área não e sociedade. Estes autores consideram os que este comportamento é o que se espera
afetar seu autoconceito geral. termos autoconceito e auto-estima inter- dela;
(e) O autoconceito se desenvolve: no início cambiáveis. ` Global: Percepção da criança com relação a
de seu desenvolvimento, a criança tende a (g) O autoconceito é diferenciável: o autocon- gostar dela como pessoa e da forma com que
não se diferenciar do seu ambiente, o que só ceito é influenciado por experiências está conduzindo sua própria vida.
acontece mais tarde, através da maturidade e específicas. Assim, quanto mais perto está O modelo propõe que o autoconceito da
aprendizagem. Desta forma, o autoconceito o autoconceito de situações específicas, criança seja composto de várias dimensões, relativa-
da criança pequena é global e não diferen- também mais relacionados estarão o autocon- mente independentes umas das outras. Sendo assim,
ciado para situações específicas. Quando a ceito e o comportamento nesta situação. Da estratégias podem ser desenvolvidas, em sala de aula
criança começa a construir os conceitos de si mesma forma, o autoconceito relacionado ou mesmo na família, para desenvolver aspectos
mesma, utilizando as palavras “eu” e “mim”, ao potencial intelectual provavelmente está específicos do autoconceito ou da auto-estima que
ela também começa a construir conceitos mais associado à realização acadêmica do que necessitem de maior atenção e reforço por parte de
para categorizar pessoas e situações. À à habilidade em situações físicas e sociais. pais e educadores.
medida em que ela cresce, diferentes partes Harter (1985) percebe o autoconceito como
de si mesma se tornam mais importantes sendo composto por múltiplas dimensões. Assim, O Autoconceito do Indivíduo com
para ela e diferentes partes do seu mundo propõe que seja entendido em termos de domínios Altas Habilidades/Superdotação
assumirão mudanças significativas na sua de competência; a pessoa pode se sentir competente
visão. Com a aquisição da linguagem, princi- e confiante em um aspecto, mas não necessariamente Feldhusen (1985; Feldhusen, Wood & Dai,
palmente, o autoconceito se torna diferen- em outro. Essas dimensões foram assim descritas 1997) considera que o self, conforme percebido
ciado e à medida em que ela coordena e por ela: pelo indivíduo com altas habilidades/superdotação,
integra partes de seu autoconceito, podemos ` Competênciaescolar(oucognitiva):Percepção exerce uma força dinâmica no seu desenvolvimento,
então nos referir a um autoconceito multi- da criança com relação à sua competência ou sendo refletido em suas habilidades superiores. Este
facetado e estruturado. habilidade na área escolar; conceito de self consiste das percepções e interpre-
(f ) O autoconceito é avaliativo: além de ` Aceitação social: Percepção de ser aceita pelos tações de “si mesmo”, do self ideal que se tenta atingir
desenvolver uma descrição de si mesmo em colegas, ser popular e se sentir aceita e querida e das percepções dos próprios talentos e habilidades.
situações específicas, o indivíduo também pelos amigos; Durante a infância e adolescência, o indivíduo
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superdotado pode vivenciar momentos de dúvida, que muitas vezes pode produzir uma desarmonia dos fatores que pode influir negativamente na auto-
desespero ou confusão com relação à percepção que ou dissonância cognitiva, principalmente quando estima, como demonstram Janos, Fung e Robinson
tem dos outros sobre si mesmo, pois sua precocidade o desempenho escolar não corresponde ao nível de (1985) que pesquisaram o autoconceito de crianças
pode fazê-lo parecer estranho ou anormal aos olhos suas habilidades. superdotadas de 5 a 10 anos de idade. Os dados deste
alheios. Uma imagem percebida como negativa a Dado o aspecto multidimensional do estudo mostraram que as crianças de alto QI que se
seu respeito pode fazê-lo se sentir “fora do padrão”, autoconceito, é natural que o indivíduo super- percebiam como diferentes de seus colegas obtiveram
sentimento este que pode ser danoso, a menos que dotado possa ter uma elevada autopercepção em resultados mais baixos em medidas de autocon-
seja contrabalançado com uma visão de si mesmo uma área e baixa em outra dimensão associada. ceito, popularidade e satisfação do que seus pares
como competente. O autor considera fundamental Hay (1993), em revisão da literatura na área, revela de alto QI que não se percebiam como diferentes.
que o indivíduo superdotado se veja, desde tenra resultados de pesquisa que apontam os indivíduos Estes também reportaram maiores dificuldades
idade, como alguém competente, capaz de produzir com maior realização escolar e que tiram notas boas no relacionamento com seus colegas e amigos.
novas idéias, novos produtos, novas produções ou na escola como aqueles que geralmente possuem Embora parte do sentimento de ser diferente possa
desempenhos artísticos; que incorpore um sentido maior autoconceito geral, quando comparados com advir de experiências sociais negativas, os autores
de satisfação consigo mesmo, para que possa alunos com realização média ou abaixo da média. ressaltam que é também possível que a mera consci-
desenvolver seus talentos e habilidades de forma O autor alerta, no entanto, para as pesquisas que ência de sua superioridade intelectual e padrões
mais plena. mostram que, como grupo, os indivíduos super- atípicos de interesse possam diminuir a auto-estima
Sekowski (1995) discute o papel especial da dotados apresentam autoconceito mais baixo do deste grupo.
auto-estima do indivíduo talentoso em seu funcio- que seus pares não identificados como tais. Um No entanto, resultados opostos encontraram
namento psicológico. A auto-estima influencia de dos problemas com relação à autopercepção destes Lehman e Erdwins (1981) com relação à auto-
forma considerável todo o processo de comuni- indivíduos é que eles parecem apresentar expecta- estima e ajustamento social e emocional do super-
cação do indivíduo com os outros, suas escolhas, tivas não realistas de si próprios. É comum entre dotado. Neste estudo, os autores usaram uma amostra
seu processo de aprendizagem, sua percepção do o grupo um desejo de chegar ao nível ótimo de de crianças de alto QI que cursavam a 3a série do
ambiente, tomadas de decisão e outros processos perfeição, o que pode levar à frustração e à redução ensino fundamental, comparando-a com dois outros
mentais. Segundo o autor, a baixa auto-estima reduz da motivação. Além disso, conforme discute Clark grupos de QI médio, um de 3a série e outro de 6a
a eficiência, produz sentimento de ameaça, causa (1992), o perfeccionismo pode interferir com sua série. Os resultados demonstraram que as crianças
depressão e ansiedade, interrompe o funcionamento relação com os pares, resultando em solidão, auto- do grupo de alto QI obtiveram resultados superiores
social normal, afetando todo o processo de comuni- aceitação limitada e mau-humor. aos dos outros dois grupos quanto às medidas de
cação interpessoal da pessoa. Ele considera ainda Os problemas advindos da aspiração de ajustamento social e de personalidade e relataram
que a auto-estima das pessoas com altas habilidades querer ser praticamente perfeito (ou o “efeito Mary sentimentos mais positivos sobre si mesmos do que
é freqüentemente vista pelos outros como elevada, Poppins”, como discutem alguns pesquisadores do os alunos de QI médio da mesma idade. Além disso,
sendo elas percebidas como autoconfiantes, super- tema), podem ser a causa do baixo autoconceito da o grupo de superdotados obtiveram escores mais
valorizando seu valor próprio e indiferentes aos criança superdotada, pois as expectativas muito altas altos do que os colegas de 6a série quanto à medida
outros e seus problemas. Esta forma de se perceber sobre o próprio comportamento os impulsionam em de relacionamento familiar positivo e maior do
o superdotado está conectada com o preconceito e direção a metas não realistas e difíceis de atingir. que os pares de 3a série quanto ao relacionamento
estereótipos que usualmente se faz deste grupo e Sentir-se diferente dos pares e amigos é um no ambiente escolar. Como grupo, eles também
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relataram sentimentos mais positivos com relação verbal do que física, quando comparados com
a si mesmos e maior maturidade e facilidade no as mães do outro grupo.

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


relacionamento com outros.
Loeb e Jay (1987) compararam crianças de 9 Efeito da Rotulação
a 12 anos de idade, identificadas como superdotadas,
com crianças não-identificadas em três medidas Outro aspecto que também tem sido
de autoconceito (auto-estima, locus de controle e pesquisado diz respeito ao efeito do rótulo “super-
auto-satisfação), colhendo dados adicionais sobre dotado” sobre o aluno identificado como tal. Este
personalidade e comportamento, fornecidos por aspecto foi investigado por muitos autores, que
suas mães e professores. Os resultados apontaram chamaram a atenção para os possíveis efeitos
uma diferença a favor das meninas superdotadas, negativos no autoconceito, auto-imagem e auto-
mostrando que estas se descreviam como tendo expectativas deste grupo.
um autoconceito mais positivo do que as meninas Clark (1992) chama a atenção para os
não-superdotadas. Elas também acreditavam que possíveis efeitos negativos da rotulação, que ência de fatores como: a posição da criança identi-
a razão para o próprio sucesso escolar era devido pode resultar em mudança nas expectativas de ficada na família, o autoconceito da criança (se ela se
às suas capacidades e potencialidades, e não por pais e professores, como também no autoconceito percebe de forma negativa ou positiva) e a percepção
sorte ou esforço, como acreditavam as meninas não da criança. Observa-se, no entanto, a necessidade que tem em relação aos pares, colegas e professores.
identificadas como superdotadas. Evidenciou-se de mais pesquisas na área, para esclarecer o papel Colangelo (1997) conclui, a partir de numerosos
também menor auto-satisfação entre os meninos, destas expectativas no desenvolvimento da criança, estudos sobre o autoconceito dos superdotados, que
particularmente na área de força física e agressi- assim como seus efeitos no seu autoconceito e na este grupo tem sentimentos variados com relação ao
vidade, comparativamente às meninas. Os profes- motivação para realização. Torna-se essencial inves- rótulo de superdotação. Em um de seus estudos, o
sores tendiam a ver o grupo superdotado, de forma tigar os efeitos do rótulo ao longo do anos, a fim autor encontrou que, embora as crianças tivessem uma
geral, como possuindo menos problemas quando de se clarificar sua exata extensão e duração com visão positiva a respeito do rótulo, achavam que seus
comparados ao grupo não identificado como o passar do tempo. E, essencialmente, investigar os colegas e professores os percebiam de forma negativa.
superdotado. Este, por sua vez, demonstrou maior efeitos do rótulo na criança com altas habilidades/ Outro estudo indicou que as atitudes de adolescentes
agressividade, maior índice de depressão, falta de superdotação, nos seus colegas de escola, irmãos, superdotados com relação à sua própria superdotação
confiança e menor concordância com relação aos pais e professores. eram multifacetadas. Enquanto a superdotação era
pares e adultos. As mães das meninas identifi- Os pesquisadores ressaltam que a família tem focalizada em termos acadêmicos e de crescimento
cadas como superdotadas relataram também menos um papel preponderante na forma com que a criança pessoal, o sentimento ligado ao rótulo era positivo. No
problemas do que as mães do grupo não identificado superdotada se percebe. Quando a família percebe entanto, quando o foco se dava em termos das relações
como superdotado. Diferiam também quanto às a criança identificada como superdotada de forma sociais com os colegas, o rótulo de superdotado era
estratégias utilizadas para educar seus filhos, sendo positiva,a criança tende a ser ver também de forma mais percebido como negativo.
que as mães do grupo de superdotados enfati- positiva; mas se as atitudes são mistas, então a criança Em outro estudo (Colangelo & Brower, 1987)
zavam mais a independência do que a obediência e passa a se ver de forma mais negativa. Os efeitos da foram verificados os efeitos adversos, a longo prazo,
preferiam utilizar preferencialmente mais a punição rotulação sobre a criança podem ainda receber influ- do rótulo “superdotado” na dinâmica familiar de
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crianças engajadas em programas de superdotação de si próprios. resto de sua vida;
nos Estados Unidos. Esses autores observaram que ` Mantenha em sala de aula uma postura do
o rótulo parece não mais afetar as relações familiares Sugestões para Desenvolver o tipo “Você é capaz”;
como um todo, especialmente entre irmãos. Segundo Autoconceito em Sala de Aula ` Destaque as áreas fortes do aluno;
os resultados evidenciados por este estudo, os efeitos ` Chame o aluno pelo nome;
negativos do rótulo “superdotado”no sistema familiar Alencar e Virgolim (1993) refletem que, ` Considere o erro como etapa do processo de
parecem declinar paulatinamente e, após decorridos independentemente do professor estar ou não atento aprendizagem do aluno;
cinco anos da entrada do sujeito no programa, não a formação e desenvolvimento do autoconceito do ` Dê tempo para os alunos desenvolverem suas
se percebiam mais sinais evidentes de disfunção nas aluno, ele estará influenciando neste aspecto. Por idéias;
relações. No entanto, enquanto os pais e irmãos da esta razão, para que ele possa exercer uma influência ` Ofereça oportunidades para que os alunos
criança identificada como superdotada mostravam, positiva, alguns princípios poderiam nortear o seu vivenciem experiências de sucesso;
inicialmente, sentimentos positivos com relação comportamento em sala de aula, como por exemplo ` Tenha uma expectativa positiva acerca do
a ela, esta, em contrapartida, não percebia neles (Alencar, 1990, 1993; Martínez, 2001; Raffini, desempenho de seus alunos;
sentimentos positivos com relação ao rótulo, nem 1996): ` Encoraje seus alunos no uso de habilidades
sentia que havia clima no ambiente familiar para se ` Elogie o aluno e ressalte suas qualidades de auto-avaliação;
discutir aspectos relacionados a isso. sempre que possível; ` Valorize os esforços e realizações do aluno;
Grenier (1985) também examinou os efeitos ` Valorize sempre o aspecto em que o aluno se ` Procure entender o ponto de vista do aluno;
da percepção familiar sobre a criança rotulada como destaca; ` Combine tarefas com o ritmo de aprendi-
superdotada em famílias onde apenas uma das ` Procure ouvir o aluno. Aceite suas opiniões zagem do aluno;
crianças participava de programas especiais. Neste sem julgamentos ou críticas destrutivas; ` Relacione o conteúdo às experiências e
estudo, o autor observou que as crianças rotuladas ` Seja próximo, afetivo e empático com o interesses dos alunos;
reagiam positivamente à competição no relaciona- aluno; ` Evite focar nas dificuldades do aluno;
mento com o irmão, pois se sentiam encorajadas ` Aceite acertos, erros ou dificuldades do ` Lembre-se de que os alunos diferem entre si
a cooperar e a se comunicar de uma forma que se aluno; em termos de habilidades, estilos, interesses
revelou benéfica para a sua auto-estima. No entanto, ` Relacione-se com o aluno como pessoa, etc;
os efeitos da competição tiveram impacto negativo merecedor de todo seu afeto e atenção; ` Valorize a diversidade em sala de aula;
nas crianças não-rotuladas, inibindo a cooperação ` Evite que o aluno tenha apenas experiências ` Encoraje os alunos a apresentarem suas idéias
e causando prejuízos a sua auto-estima. O atrito de fracasso. Crie situações que possibilitem e produções em sala de aula;
mostrou ser maior quando a criança mais velha é a seu sucesso, mesmo que seja uma brincadeira ` Instigue no aluno confiança em suas poten-
rotulada. A percepção do tratamento dos pais pela ou um jogo; cialidades;
criança se mostrou altamente relacionada à auto- ` Alimente e fortaleça sua autoconfiança e ` Proteja o trabalho do aluno da crítica
imagem dos filhos. O autor concluiu que a forma auto-respeito; destrutiva e das gozações dos colegas.
como os pais se sentiam com relação à criança ` Conscientize-se que uma simples palavra ou Ao final do capítulo são apresentados vários
identificada como superdotada influencia direta- comentário poderá ter um efeito devastador exercícios para o desenvolvimento do autoconceito.
mente a forma como os irmãos se sentem a respeito na criança, ou marcá-la positivamente para o
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Referências

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


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48
Exercícios para o Desenvolvimento para a criança menor são dadas a seguir: juízo de valor (por exemplo, saber falar mais uma
de um Autoconceito Positivo Para o aluno: Vamos brincar com língua). Discutir esses pontos em grupo dá uma
nosso nome? visão interna de si, ao mesmo tempo em que se
1. IDENTIDADE ` Escreva o seu nome, de forma criativa, utili- coloca em perspectiva a questão da personalidade
Para o professor: Uma boa forma de começar zando cada letra para representar como você é; de cada um. Ao compartilhar, o aluno percebe
uma dinâmica com um grupo que ainda não se conhece ` Desenhe o seu nome, colocando no desenho outras pessoas que são da mesma forma, ou que
ou que se formou recentemente é tornar cada membro as coisas que você mais gosta ou que são mais possuem características semelhantes, colocando
do grupo consciente de si mesmo e do seu nome. O importantes na sua vida. Explique seu desenho em contexto o que significa “ser diferente”.
nome carrega uma boa parte da nossa identidade e, para a turma; ` Os alunos podem querer saber a origem dos seus
ao brincar com ele, estamos conscientizando o aluno ` Desenhe o seu nome, dando a cada letra o nomes. Peça-os para procurarem em livros ou na
dos traços da sua personalidade que estão refletidos formato de coisas que você gosta de fazer para internet. Alguns nomes são únicos e originais;
na forma em que escrevemos nosso nome, o pronun- se divertir; peça a eles para buscarem a história do seu nome
ciamos e o ouvimos sendo pronunciado. A proposta ` Escreva seu nome ou apelido em letras bem em suas famílias. Como eles receberam o seu
é descontrair o grupo de forma criativa, utilizando o grandes e arredondadas. Nos espaços dentro e em nome? Quem teve a idéia de dar esse nome a
nome como motivação. volta de cada letra escreva/desenhe as coisas que as eles? Escreva a história do seu nome e compar-
Material necessário: fichas de papel cartão no pessoas dizem sobre você ou como você é. tilhe com o grupo.
formato 203x127 mm (ou papel A4 dobrado ao meio), Variações sobre o tema:
lápis colorido, hidrocor ou giz de cera. ` Técnica do PNI: Peça aos alunos para fazerem, 2. APELIDOS
Instruções: “Cada um de nós vamos nos na parte de trás dos cartões que receberam para Você tem ou já teve algum apelido? Liste-os aqui:
apresentar para o grupo de uma forma bem criativa. desenhar o seu nome, três colunas, onde vão Você conhece a história por trás deste apelido?
Vamos desenhar o nosso nome (ou apelido, o que listar, respectivamente, seus aspectos Positivos, Como você se sente ou sentia com estes apelidos?
preferir), colocando nele nossos traços de persona- Neutros e Interessantes sobre si mesmo. Compartilhe com seus colegas.
lidade, nossas características e maneira de ser”. Aspectos positivos são os traços que eles Quais são os nomes que o fazem sentir-se bem
Para evitar constrangimentos iniciais, o professor percebem possuir, em termos de personalidade, com você mesmo? ...
participa também da atividade, atuando como modelo que são fortalecedores da sua opinião sobre eles Discussão:
e compartilhando aspectos da sua forma de ser. O mesmos. Os pontos Neutros podem ser positivos Quais os que fazem se sentir diminuído e com
professor deve encorajar os alunos a falarem um pouco ou negativos, dependendo do ponto de vista pouca autoconfiança?
de si, mostrando seu desenho para a turma e comparti- (por exemplo, teimoso pode ser uma descrição Você já teve ou tem algum apelido do qual você
lhando os aspectos de personalidade que ressaltou. Para negativa, mas visto de uma forma positiva pode não gostava?
alunos maiores, o professor pode dar essas instruções de representar persistência); além disso, é melhor Faça um desenho dos sentimentos que este
forma bem aberta, sem sugerir um formato pronto; com não acentuar pontos negativos, pois alguns apelido lhe despertava.
isso, a criatividade do aluno será mais estimulada. Para alunos podem ter a tendência de se ver pela Agora troque-o por algum outro apelido que
alunos mais novos, instruções mais específicas podem ótica negativista, dando pouca chance de se favoreça suas competências e habilidades.
ser dadas, diversificando a atividade e mostrando as perceber de forma mais neutra. Interessante são Como você gostaria de ser chamado?
diferentes formas de executá-la. Algumas sugestões os aspectos da pessoa que não carregam nenhum Desenhe seu novo apelido em letras bem grandes
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3. EU, EU MESMO E MINHA FOTO 4. QUANDO EU ERA CRIANÇINHA...
Para o professor: Peça a cada aluno para trazer Para o professor: Outra forma de se conhecer

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


uma foto atual para a sala de aula. Coloque os alunos em bem a criança ou jovem, é através da investigação da
círculo. Distribua a cada um uma folha de papel almaço sua infância. Se a criança ainda é pequena, pode-se Carla
(dupla). acentuar suas lembranças de “quando eu era menor,
Peça aos alunos para colar ou fixar com um clips ou criancinha”. O professor pode estimulá-los a
sua foto na página de rosto do papel almaço e escrever trazer retratos de criança, ou brinquedos, revistas e
seu nome em letras bem destacadas. Peça para não escre- outros objetos da sua infância. As atividades devem `Ana Maria:
verem nada no verso da primeira folha. Na segunda folha ser sempre seguidas de discussão, para que se forme Querida Carla, adoro o seu sorriso!
do papel almaço, peça a eles para listarem 5 atividades a consciência do si mesmo em função da pessoa que `Jorge:
que mais gostam de fazer, deixando um espaço entre fomos no passado, nossas preferências e nossa forma Carla, você é uma ótima parceira de xadrez!
cada uma (por exemplo, pulando dez linhas entre uma de perceber o mundo.
atividade e outra). Quando todos tiverem terminado, Para o aluno: Vamos lembrar de quando `Greisy:
repassem a folha para o colega da direita, que vai escrever éramos criancinhas? Acho você muito simpática e legal!
alguma coisa positiva para o colega; conte três minutos ` Qual era o seu brinquedo preferido quando `João:
e peça para repassarem novamente, repetindo o proce- você era menor? Descreva-o em detalhes. É ótimo ser seu amigo!
dimento com o novo colega; e continuam a repassar, Faça um desenho para compartilhar com
sempre ao seu sinal, até que a pessoa volte a receber sua os outros. Qual é o seu brinquedo favorito
própria ficha, agora acrescida de recadinhos dos seus agora?
colegas (se precisar usem o verso da folha ou acrescente ` Quais eram seus jogos preferidos (dentro e Carla
novas folhas)1. fora de casa)? Quais as lembranças que essas
Para o aluno: Escreva um recadinho legal para brincadeiras lhe trazem? Atividades que eu gosto:
seu colega na folha que você acabou de receber (onde ` Como os seus pais descreviam você enquanto (Aqui meus colegas que gostam da
tem o retrato dele/dela). Se não houver nada de legal criança? O que você lembra a respeito do que mesma atividade se identificam)
para escrever para ele/ela, passe adiante (nunca escreva eles diziam sobre você? O que eles dizem de
nada para criticar ou rebaixar o outro). Agora leia, na você agora?
`Ler:
outra página, as atividades que ele/ela gosta de fazer. ` Qual era o seu apelido enquanto criança?
Ana Maria, Jorge, Greisy
Se você gosta das mesmas coisas, escreva seu nome Como você se sentia em relação a ele quando `Dançar:
na frente dessa atividade (assim ele saberá que vocês era menor? E agora? Ana Maria, Greisy
compartilham do mesmo interesse). Se você não gosta ` Relate um dia típico de sua infância;
de nada, deixe em branco. ` Relate um aniversário ou natal marcante de `Jogar Xadrez:
sua infância. O que aconteceu de especial Jorge, Greisy, João
1 A autora do presente capítulo agradece aos alunos para você? Como você se sentiu?
Greisy Gonzáles Vázquez, Ana Maria Freitas Monteiro e `Desenhar:
Jorge Luiz Venâncio Medeiros pelas sugestões dadas a esta ` Você já teve algum animalzinho de estimação?
João, Jorge, Ana Maria
atividade. O que você lembra dele e de como vocês
50
interagiam quando era criança? Quais os senti- físico, o seu visual, reforçando uma auto-imagem mentos que mais se repetem. Compartilhar tais
mentos que este animalzinho despertava em física positiva. sentimentos em um clima de aceitação, obser-
você? Faça um desenho ou traga um retrato dele ` Material uma lâmpada forte (abajur) ou um vando também quais são as preocupações dos
para mostrar para a turma; retroprojetor; giz de cera; folhas de papel de colegas, podem ajudá-los a sentirem menos
` Fale de alguma pessoa que foi muito importante embrulho; revista e tesoura; pedaços menores de “diferentes”, “esquisitos” ou “fora de sintonia”,
no seu período de infância. O que você lembra papel, cola ou durex, ou “post-it”; favorecendo a auto-aceitação e o contato social.
sobre o seu relacionamento com ela? ` Instruções:
Para o aluno: Lembranças da escola (1) Coloque a criança em pé, de perfil para a parede, 6. MUNDO SOCIAL
` Você se lembra das escolas pelas quais você já onde está afixado uma grande folha de papel. Para o professor: Podemos entender melhor a
passou? O que havia de especial em cada uma Faça incidir uma luz forte sobre ela (abajur ou criança ou jovem situando-o enquanto pessoa no seu
delas? retroprojetor), de forma a ressaltar a sombra mundo familiar e social, levando-o a falar livremente
` Você se lembra da sua primeira professora? de seu perfil. Com o giz de cera, o professor ou sobre o local onde mora, o contexto social e cultural
Como ela era? Como era a sua relação com ela? um colega traça o perfil do outro. Variação: A que o cerca, e os sentimentos relacionados a isso. Peça
Escreva uma frase sobre ela usando a mão não criança deita sobre uma grande folha de papel e ao aluno para completar:
dominante; o colega desenha o contorno de seu corpo; ` Uma coisa muito boa a meu respeito é que eu
` Pare e pense em uma escola que tenha sido (2) Recorte o contorno ou o perfil e peça a criança sou ...
muito especial para você em algum momento para utilizar o espaço de dentro para fazer uma ` Uma coisa muito legal sobre minha família é
da sua vida. Faça um desenho da escola ou de colagem de si mesmo. Pode-se usar gravuras de que ...
alguma parte dela que você se lembra. Escreva revistas para representar as coisas que ela gosta, ` Uma coisa muito boa sobre meus amigos é que
um parágrafo sobre como você se sentia nesta realiza, sonha ou deseja; ...
escola. (3) As colagens são afixadas na parede, ao alcance ` Uma coisa muito interessante sobre minha
Complete: das crianças. Distribua “post-it” ou pedaços de vizinhança é que ...
` Na escola eu gostava muito de ........... papel colorido para os alunos. Estimule-os a ` Uma ótima coisa sobre minha cidade
` Meus amigos especiais eram .............. escreverem bilhetinhos ou recadinhos para os é que ...
` Eu não gostava de ............................. colegas, escrevendo coisas positivas sobre eles; ` Uma coisa interessante sobre o Estado em que
` Mas eu achava ótimo ......................... ` Variação (a): Fazer a mesma atividade eu nasci (ou vivo agora) é ...
` Um fato especialmente importante foi ... sobre o desenho da mão ou do pé ` Uma coisa excelente sobre meu país
` Minha melhor professora foi ............. (ou ambos); é que ...
` Um dia especial na escola foi ............. ` Variação (b): Fazer a atividade do contorno ou ` Uma coisa ótima sobre o mundo é que...
` Um dia muito ruim na escola foi ....... perfil. Distribua revistas e tesouras aos alunos. ` Se eu fosse um inventor/a, eu inventaria, para
` Mas eu contornei o problema assim: ... Estimule os alunos a pensarem nas coisas que mudar o meu/ a minha (família, cidade, país, o
os têm preocupado ultimamente e que estão mundo) ...
5. SILHUETA sempre voltando ao pensamento. Peça a eles ` Desenhe aqui a sua invenção ou faça uma
Para o professor: Essa atividade consiste para recortarem gravuras, palavras ou frases que colagem para explicá-la melhor: ...
em deixar a criança ou jovem brincar com o seu representam tais preocupações ou os pensa-
51
7. SE EU FOSSE MEUS PAIS, EU... entendam o objetivo da atividade, a fim de que 10. PLANOS
Continuaria ... Não Continuaria ... passem apenas uma visão para positiva do outro; ` Se você pudesse ser muito talentoso em alguma

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


Deixaria ... Não Deixaria ... se não tiverem nada para elogiar, devem passar coisa que você não é talentoso agora, o que seria?
Esqueceria ... Não Esqueceria ... adiante. Por quê?
Faria ... Não Faria ... ` Se você pudesse ensinar alguma coisa para
Inventaria ... Não Inventaria ... 9. MOMENTOS FELIZES os outros (um passatempo, um jogo, uma
Lembraria ... Não Lembraria ... Para o aluno: Pense nos momentos felizes da habilidade, um instrumento musical...) o que
Mudaria ... Não Mudaria ... sua vida. Focalize seu pensamento nas sensações boas seria?
Perdoaria ... Não Perdoaria ... que estes momentos lhe trouxeram. Escolha um desses ` Se você pudesse aprender alguma coisa de algum
Proibiria ... Não Proibiria ... momentos para compartilhar com um amigo: colega, o que aprenderia? Quem seria o colega a
Retiraria ... Não Retiraria ... ` Um dos momentos mais felizes da minha vida lhe ensinar?
Trocaria ... Não Trocaria ... foi quando ... ` Se você pudesse quebrar qualquer recorde no
` O que mais me fez feliz com relação a este mundo, qual seria? Por quê?
8. AMIGOS momento foi ... ` Se você pudesse ser qualquer pessoa no mundo,
Para o professor: O principal objetivo desta ` Quando me recordo de tudo isso, me sinto ... quem você seria? Por quê?
atividade é acentuar a amizade entre colegas, refor- ` Faça um desenho ou uma colagem que repre- ` Se você pudesse viver em qualquer lugar do
çando o contato social e a visão positiva do outro. sente esta felicidade. mundo, onde viveria? Por quê?
` Nesta atividade, as crianças vão desenhar uma ` Futuro feliz: Pense em você daqui há muitos ` Se você pudesse escolher o tipo de vida que teria
flor estilo margarida, bem grande, em cartolina, anos. agora, o que seria? Por quê?
acentuando bem o espaço interno (ou miolo) e as ` Daqui a 10 anos, o que você já gostaria de ter ` Se você pudesse mudar algum aconte-
pétalas. Encoraje os alunos a trazerem para a sala realizado? cimento da sua vida, o que mudaria?
um retratinho 3x4 ou uma foto em que possam ` O que você gostaria de já ter feito aos 30 anos? Por quê?
recortar apenas o rosto (se não quiser recortar a ` Desenhe como você imagina que será sua vida aos
foto, faça um orifício circular em torno de onde 50 anos. Quais serão suas preocupações? Quem 11. EU TENHO ORGULHO DE...
será o miolo da flor). Cada aluno recorta sua estará a seu lado? O que você já terá obtido? Que Para o professor: Coloque os alunos em
flor, colorindo-a da forma que preferir, colando tipo de pessoa você seria nesta idade? círculos. Cada um, em sua vez, fala uma frase sobre si,
o retratinho no centro ou miolo. começando com “eu tenho orgulho de...”. Pode-se fazer
` As flores serão agora compartilhadas, repas- Daqui a 10 várias rodadas, enquanto a turma estiver motivada. O
sando-as aleatoriamente pela sala. O aluno Aos 30 anos Aos 50 anos aluno que não quiser compartilhar deve dizer “passo”.
anos
que receber a flor deve escrever um elogio ou Para o aluno: Pense um pouco nas boas coisas
recadinho para o colega e repassá-la para outro que você já fez ou conquistou em sua vida. Sentimos
colega quando tiver terminado. A flor volta ao bem conosco quando fazemos boas coisas para os
dono, ao final, quando todas as pétalas estiverem outros ou conquistamos coisas através de nossos
preenchidas. próprios esforços. Vamos expressar esses sentimentos
` O professor deve fazer com que os alunos livremente, falando bem de nós mesmos e das coisas
52
que nos orgulham. A lista abaixo é um guia para ajudá- ` Quando estou muito alegre eu ... ` Faça ao final uma dinâmica em sala para motivar
lo a pensar nas boas coisas que você já fez e das quais ` Quando tenho ciúmes eu ... seus alunos a compartilhar seu jornal com os
se sente orgulhoso. Comece cada frase com: “Eu tenho ` Quando estou muito triste eu ... outros2.
orgulho de...” ` Quando estou magoado eu ... Para o aluno: Vamos criar um jornalzinho que
Eu tenho orgulho de... seja só sobre você? Pense em um nome diferente para
` coisas que você já fez para os seus pais ou em 13. JORNAL “EU MESMO” seu jornal e trabalhe cada seção com os assuntos do
casa; Para o professor: Distribua aos alunos papéis seu interesse. Enfeite suas seções com fotos, gravuras,
` coisas que você já fez para os seus amigos ou grandes, do tipo pardo, dobrado ao meio, como em um desenhos, propagandas, quadrinhos e tudo o mais que
para o bem de outra pessoa; jornal. Estimule os alunos a criarem o próprio jornal, lhe desperte o interesse.
` coisas que você já fez na escola dizendo a eles que as matérias e seções conterão dados ` Pesquise nos jornais de sua cidade quais são as
` coisas que você já fez para a sua cidade/país; particulares de cada um, suas preferências, seus passa- seções mais comuns e use-as como idéias para
` coisas que você fez para você mesma e o deixou tempos prediletos e todas as notícias que quiserem dar suas seções. As seções abaixo são sugestões, que
particularmente feliz; sobre si mesmo, sua família, sua escola etc. Os leitores você pode modificar se desejar.
` coisas que você conquistou com seu próprio serão os colegas de classe, a família e amigos com quem ` Primeira página – manchete: o seu nascimento.
esforço. a criança queira compartilhar seu jornal. Veja o exemplo a seguir:
` Crianças menores podem fazer seu próprio ` Entrevista exclusiva: Entreviste alguém da
12. AVALIAÇÃO DE SI MESMO jornal,trazendo informações para que o professor sua família sobre o seu nascimento. Pergunte o
` Hoje eu me sinto muito ... as ajude a montá-lo. Crianças maiores podem que aconteceu na gravidez da sua mãe, como se
` Eu gosto ... incluir quantas páginas e assuntos desejarem, à deu o nascimento, o que seus pais e sua família
` Fico infeliz quando ... medida que se motivam para a tarefa proposta; sentiram com o seu nascimento; invente questões
` Sinto-me bem quando ... ` Incentive as crianças a trazerem fotos para o para cada membro da família responder.
` Eu gostaria que minha professora ... jornal ou, quando possível, a usarem suas habili- ` Notíciasdomundonodiadomeunascimento:
` Meus colegas pensam que eu ... dades de fotógrafos ou a fazerem uso de suas Procure saber o que acontecia no mundo no
` A escola é ... habilidades de desenho, criando personagens, dia, no mês ou no ano do seu nascimento. Faça
` Gosto de ler sobre ... caricaturas, quadrinhos, charges e ilustrações pequenas colunas mostrando o que de mais
` Eu gostaria que os adultos fossem ... para as diferentes seções; interessante ocorria na política, na economia, na
` Eu gostaria que os adultos não fossem ... ` Estimule os alunos a procurarem o que acontecia ciência, no dia-a-dia da sua cidade e, quem sabe,
` Eu gosto mais de mim quando ... no mundo no dia ou no mês do seu aniversário. até como estava o tempo no dia em que você
` Se eu tivesse escolha, eu... Uma boa pesquisa em jornais, revistas semanais nasceu. Ilustre com seus desenhos, gravuras,
` Na escola eu sou ... de informação e na Internet podem ajudá-los a fotos e colagens.
` Eu desejo ... criar uma ambientação para o seu nascimento;
` Amanhã, eu gostaria de ... ` Ajude-os a focalizar o jornal nos aspectos
2 A autora do presente capítulo agradece aos alunos
` Quando eu quero chamar a atenção, eu ... positivos de suas personalidades, valorizando Luana Ramalho dos Santos, Tatiana Alice Sampaio Duarte,
` Quando eu não consigo o que quero eu ... suas habilidades e talentos, brincando com suas Carolina Rodrigues Catunda, Fernando Henrique Rezende
de Aguiar, Fernando Esteter Colaço e Guilhermo Salvador
` Quando eu me sinto sozinho eu ... próprias idéias, desejos e forma de ser; Calderón Leiva pelas sugestões dadas a esta atividade.
53
` Nas páginas seguintes você pode fazer colunas de coisa do seu interesse?
NASCE UMA NOVA ESTRELA acordo com os acontecimentos da sua vida, em ` Seção Esportes: Nesta seção você pode falar

Capítulo 2: Desenvolvimento do Autoconceito


ordem cronológica, se desejar. Procure relacionar dos esportes que você gosta de participar ou de
as seções de um jornal com a sua própria vida, assistir, daquilo que mais o emociona nos jogos
No dia __ / __ / ____ nasceu, na cidade de suas emoções e sentimentos, suas preferências e e esportes, ou de uma importante conquista sua
________ , cheio de amor e alegria, ______ forma de ser. Eis alguns exemplos: em alguma modalidade. Você pode também
______________ , EU. ` Seção Entrevista: você é o entrevistado da convidar seus leitores a comparecer em alguma
semana! Invente perguntas interessantes sobre competição/ jogo do seu interesse.
você, sua vida, suas preferências, as coisas que ` Seção Lazer: O que você mais gosta de fazer em
(Fale aqui do nascimento do bebê, seu peso, você gosta etc., e as responda de forma mais seu tempo vago? Quais são seus interesses? Você
altura, condições da mamãe após o parto e honesta possível, ou então peça a um colega para gosta de cinema, de ler, de jogar videogame? Use
tudo mais que fizeram deste dia o MELHOR formular perguntas para você responder. Ilustre essa seção para falar de tudo aquilo que você já
dia do ano!) com uma foto sua atual. faz ou gostaria de fazer em seus momentos de
` Seção Tempo Real: últimas notícias: lazer. Cole fotos ou gravuras mostrando seus
Nesta seção, dê as notícias mais recentes passatempos preferidos. Recomende ao leitor
NOTÍCIAS DO MUNDO NO DIA DO MEU sobre você: uma conquista na escola, filmes, livros, jogos que você mais gosta.
NASCIMENTO: uma novidade na sua família, alguma coisa que ` Seção Social: Aqui é o espaço ideal para você
você conquistou recentemente, algo que você falar de sua família, seus amigos, seus vizinhos,
descobriu e ficou entusiasmado etc. todos em sua vida que são importantes para
` Seção Cidade: Aqui você pode focalizar as você. Qual é a fofoca do dia? O que acontece no
notícias do que você fez, ou participou em sua seu mundo social que você gostaria de compar-
cidade; os locais que você gosta de ir ou acha tilhar?
importante em sua cidade e recomenda aos ` Seção Viagens: Use esse espaço para falar de
outros. Coloque uma gravura que mostre como alguma viagem que você tenha feito, ou que
este local é e o que você mais gosta de fazer lá. gostaria de fazer. Fale do local, das acomodações,
COLE AQUI UM RETRATINHO SEU DE QUAN- ` Seção Política: Lance sua candidatura para dos passeios, das pessoas e de tudo que você fez
DO ERA BEBÊ E ESCREVA SEU NOME EM algum cargo na política: vereador, senador, ou gostaria de fazer para se divertir.
LETRAS BEM GRANDES: deputado, presidente... Faça a sua plataforma ` Seção Classificados: Os classificados é uma
política. O que você fará pelo povo, pela sua ótima ocasião para você vender alguma coisa da
cidade, por seu país, se for eleito? sua personalidade que você quer se livrar (que
` Seção Economia: Imagine que você é dono do tal vender a preguiça ou a crítica destrutiva?). O
seu próprio dinheiro, mas terá que prestar contas que você gostaria de comprar, alugar ou fazer
dele para a comunidade. Com o dólar em baixa/ uma troca? Faça uma propaganda bem legal
alta, o que você planeja realizar? Como você para convencer os leitores das suas necessidades
gastará ou economizará para realizar alguma enquanto pessoa.
Capítulo 3

Modelo de
Enriquecimento Escolar

Jane Farias Chagas

Renata Rodrigues Maia-Pinto

Vera Lúcia Palmeira Pereira


56
57

O “Modelo de Enriquecimento
Escolar” foi proposto pelo
ao ensino de valores éticos, que promovam
o respeito à diversidade cultural, étnica ou
(4) Formação da equipe de professores para
executar o planejamento estabelecido pela

Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar


educador norte-americano Joseph de gênero, o respeito mútuo e os princípios comunidade escolar, como organização de
Renzulli com o objetivo de tornar a escola um lugar democráticos; cronograma de atividades - semanal, mensal
onde os talentos fossem identificados e desenvolvidos. ` Implementar uma cultura colaborativa na e anual - divulgação das atividades plane-
Este modelo é bastante democrático e pode ser imple- escola, de maneira que direção, corpo docente jadas, agendamento de encontros para estudo
mentado sem requerer muitas mudanças na estrutura e discente, outros membros da equipe escolar, e discussão em grupos de professores, pais e
escolar. Para Renzulli, é papel de toda a comunidade família e comunidade possam contribuir para alunos e avaliação do processo de implemen-
escolar o provimento, a todos os alunos, de oportuni- a promoção de oportunidades e tomada de tação;
dades, recursos e encorajamento para uma produção decisão sobre as atividades escolares, formando, (5) Formação de banco de dados de monitores
autônoma, criativa e relevante tanto para o individuo assim, uma ampla rede de apoio social no interessados em orientar projetos dos alunos.
quanto para a sociedade. Ele defende, em consonância desenvolvimento dos talentos; Vale ressaltar que a proposta explicitada no
com outros educadores, que é emergencial, para todas ` Criar oportunidades e serviços que não são “Modelo de Enriquecimento Escolar” é bastante
as nações, independente do contexto social, um maior comumente desenvolvidos a partir do currículo flexível, o que viabiliza a sua adaptação a qualquer
investimento na identificação e no atendimento de regular da escola. realidade escolar e sua aplicação em qualquer
pessoas que demonstrem habilidades superiores, a Para a implementação do “Modelo de série ou modalidade de ensino, independente do
fim de que o potencial humano não seja desperdiçado Enriquecimento Escolar”, em nível institucional, contexto social. É possível que cada escola encontre
(Renzulli & Reis, 1997). alguns passos devem ser seguidos, no sentido de buscar a sua maneira de aplicar os pressupostos do modelo,
O “Modelo de Enriquecimento Escolar” a adesão da maioria dos atores escolares e de facilitar acoplando-os ao que já vem sendo realizado por sua
valoriza a prática docente e as propostas pedagógicas possíveis modificações da estrutura escolar, em termos equipe, adotando-os e inserindo-os no planejamento
em andamento na escola, integrando e expandindo os de grade horária, projeto político pedagógico, entre pedagógico da escola, ou ainda, reformulando as suas
serviços educacionais, no sentido de: outros. São eles: estratégias, no sentido de se ajustarem à realidade
` Desenvolver o talento potencial dos alunos de (1) Construção de consenso entre a equipe de de seus alunos e professores. Enfim, não se trata de
forma sistemática; direção e os professores no desenvolvimento um pacote instrucional pronto e fechado, mas sim
` Oferecer um currículo diferenciado, no qual do modelo. Este é um passo importante para um plano de organização a ser adaptado conforme
os interesses, estilos de aprendizagem e habili- a garantia de suporte e apoio necessários as necessidades do professor e do aluno e as carac-
dades sejam prioritariamente considerados; durante todo o processo; terísticas do ambiente escolar. O importante é que
` Estimular um desempenho acadêmico de (2) Envolvimento de toda a comunidade escolar toda a iniciativa nessa direção seja encorajada, todos
excelência por meio de atividades enriquece- na discussão e no planejamento de atividades os recursos humanos e materiais sejam passíveis de
doras e significativas; que envolvam a implementação do modelo e captação e todo potencial criativo seja utilizado na
` Promover o crescimento auto-orientado, sua posterior inserção na proposta pedagógica busca de soluções de problemas que surgirem ao longo
contínuo e reflexivo por meio de atividades da escola; do processo de implementação do modelo.
que estimulem a liderança e o pensamento (3) Estabelecimento de metas, prioridades e Entre as estratégias de enriquecimento
criativo; objetivos a serem alcançados com a imple- propostas neste modelo, salientam-se: o portfolio do
` Criar um ambiente de aprendizagem propício mentação do modelo; talento total e o modelo triádico de enriquecimento.
58
Portfolio do Talento Total tópicos podem ser explorados individualmente ou em
pequenos grupos.
O portfolio do talento total foi desenvolvido Como benefícios do portfolio, podemos
para identificar e maximizar o potencial de cada apontar:
aluno. Trata-se de um processo sistemático por ` Destaca os pontos fortes do aluno;
meio do qual inventários de interesse, estilo de ` Apresenta evidência física dos talentos e
aprendizagem e de expressão e produtos elaborados habilidades do aluno;
pelo aluno são coletados, ajudando tanto aluno ` É um veículo de comunicação entre escola e
quanto professor, a tomar decisões a respeito de seu família;
trabalho. O portfolio tem como metas: ` Permite que professores, pais e alunos
(1) Coletar e registrar informações sobre reflitam regularmente acerca das informações
habilidades, pontos fortes, características, coletadas, de novas habilidades desenvolvidas
atividades escolares ou extra-escolares reali- e interesses despertados;
zadas pelo aluno; ` Permite a atualização periódica dos dados
(2) Organizar dados do aluno referentes ao apresentados;
estilo de aprendizagem, preferências por ` Possibilita a utilização das informações
áreas do conhecimento, habilidades sociais contidas no portfolio para o autoconhecimento
e pessoais, interesses, necessidades especí- do aluno ou seu aconselhamento educacional,
ficas e desafios pessoais a serem superados; pessoal e social; maneiras de nutrir de forma criativa tais interesses.
(3) Fornecer subsídios para a elaboração de ` Serve de guia para o desenvolvimento das Cabe, então, ao professor auxiliar os alunos na
planejamentos educacionais e o estabeleci- ações a serem encorajadas em sala de aula; identificação de seus interesses e apresentar-lhes
mento de condições ambientais favoráveis ` Possibilita a reunião de alunos com os mesmos uma diversidade de temas ou promover atividades
ao desenvolvimento da aprendizagem do interesses. diferenciadas, bem como identificar o quanto
aluno; Exemplos de itens que podem ser incluídos no desejam prosseguir com esse interesse. O fato
(4) Destacar estilos de expressão e de pensa- portfolio são: fotografias de invenções, produtos ou de alunos gostarem de música ou literatura não
mento dos alunos. projetos, fotocópias de prêmios recebidos ou repor- quer dizer que se tornarão músicos ou escritores.
O foco do portfolio é ampliar a capacidade tagens sobre trabalhos do aluno, cópia de música, No entanto, esse interesse inicial pode servir de
da escola de ajudar o aluno a se tornar competente e redação, livros, receitas, desenhos e programas de chamariz para a apresentação de uma atividade de
autodirecionado, bem como incrementar o seu desem- computador elaborados pelo aluno, jornal preparado exploração que vai enriquecer a vida e o conheci-
penho acadêmico. Renzulli (2001) propõe que o pelo aluno, videotape de performances do aluno mento dos alunos.
portfolio seja feito de forma colaborativa na qual alunos, (peças de teatro, concerto, por exemplo) etc. Outras informações que devem constar do
familiares e professores participem. O professor, de Com relação às informações sobre os portfolio de um aluno são estilos de expressão e de
posse das informações contidas no portfolio do aluno, interesses do aluno, o professor deve reconhecer não aprendizagem. O professor deve pesar se o aluno
pode guiá-lo delimitando algumas áreas de estudo ou apenas interesses incomuns, de seu aluno, por uma gostaria de apresentar um trabalho em forma de
enfocando um tema específico. Algumas atividades ou área específica, como ajudá-lo a explorar as diversas um projeto de arte, um ensaio jornalístico, uma
59
dramatização, entre outros. O conhecimento sobre facilidade e prazer quando são ensinados de acordo Figura 1: Modelo Triádico de Enriquecimento
os estilos de expressão do aluno pode ajudar o com seus estilos de aprendizagem preferidos. Assim,

Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar


professor a expandir suas propostas relacionadas aos bons resultados são obtidos quando as estratégias de
tipos de arranjos instrucionais e opções de apren- ensino do professor são adequadas às preferências
dizagem para grupos pequenos ou grandes, legiti- de aprendizagem do aluno.
mando as várias formas de expressão que os alunos Para que o professor possa oferecer um
venham a apresentar. Alguns estilos de expressão são arranjo de sala de aula que atenda às necessidades
mais participativos e orientados para a liderança. Por de trabalho dos alunos, é necessário que ele conheça
exemplo, gerenciar atividades como um clube ou um também as preferências discentes relacionadas ao
negócio, ser líder de uma equipe, desenvolver um ambiente de aprendizagem. O professor deve inves-
projeto único, ou participar de um projeto comuni- tigar se seus alunos preferem trabalhar sozinhos, em
tário devem ser explorados como alternativas às pares, em equipe ou com adultos. As preferências
tradicionais formas escritas e orais que caracterizam em relação ao ambiente podem variar de acordo
as atividades formais de aprendizagem. O conhe- com a matéria ou tema que está sendo trabalhado
cimento sobre as formas de expressão dos alunos e as relações sociais que se estabelecem nos grupos. Fonte: Renzulli e Reis (1997, p.14)
pode ser uma valiosa ferramenta para se organizar Devem, ainda, ser observadas as características físicas
um trabalho em equipe. Renzulli (1997) salienta do ambiente tais como luminosidade, som, dispo- introdutórias destinadas a colocar o aluno em
que é importante que sejam explorados, em sala de sição dos móveis, turno de trabalho etc. Espera- contato com uma ampla variedade de tópicos
aula, vários tipos de expressão em diversas áreas. se que os alunos possam produzir mais quando ou áreas de conhecimento, que geralmente não
Por exemplo, uma criança, com ou sem habili- estiverem melhor acomodados. Ao final do capítulo são contempladas no currículo regular. Todos os
dades musicais, que está interessada em rock, pode são apresentados exemplos de instrumentos para alunos podem se envolver nesse tipo de atividade.
explorar esse interesse representando o papel de um coletar informações acerca dos interesses, estilos de A atividade do tipo I deve ser planejada, sempre,
DJ de rádio ou um produtor de concertos de rock. aprendizagem e expressão dos alunos, com base nos a partir do interesse dos alunos, ainda que
Outra criança interessada em mistérios pode querer trabalhos de Oudheusden (1989), Renzullie Reis seja de um único aluno, com a finalidade de
contá-los oralmente ou expor seus conhecimentos (1997), Starko e Schack (1992), Tomlinson (1999) fomentar a curiosidade, responder a questio-
de forma escrita, em contos, ou no jornal da escola e Virgolim, Fleith e Neves-Pereira (2006). namentos, aprofundar uma discussão etc. As
ou, ainda, na rádio escolar, talvez até no ônibus, atividades devem ser estimulantes e dinâmicas
durante o percurso escolar. Modelo Triádico de Enriquecimento e podem envolver: o contato com profissionais e
Outro aspecto importante a ser consi- especialistas por meio de palestras, painéis, troca
derado é o estilo de aprendizagem do aluno. Nesta O modelo triádico de enriquecimento sugere de experiências e oficinas; visitas a instituições,
perspectiva, deve-se considerar como o aluno a implementação de atividades de enriquecimento feiras, bibliotecas, museus e eventos culturais;
gostaria de explorar uma determinada atividade, de três tipos: atividades do tipo I, atividades do tipo acesso à literatura; viagens; simulações; filmes;
assim como classificar suas preferências relacio- II e atividades do tipo III (veja Figura 1). internet.
nadas à aprendizagem, certos tópicos ou áreas de As atividades de enriquecimento do tipo As atividades de enriquecimento do tipo I
estudo. Para o autor, os alunos aprendem com mais I são experiências e atividades exploratórias ou devem ser fascinantes e atraentes! Devem abarcar
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tópicos e metodologias pouco utilizados na escola. ` Apresentação de filmes variados, desde especializados, universidades, hospitais.
Elas devem ser alvos de propaganda e divulgação. os científicos e técnicos aos de longas- Excursões a parques, cidades históricas etc;
A escola pode elaborar um calendário contendo metragens seguidos de questões inquiri- ` Uso de tecnologias computacionais: softwares
as atividades exploratórias que serão realizadas doras e de esclarecimentos; educativos, enciclopédias digitais e jogos
ao longo do semestre ou ano letivo. Esse cartaz ` Discussão de temas de noticiários do dia pedagógicos e simuladores;
deve ficar exposto em local estratégico e os alunos através de várias abordagens: criação de ` Minicursos desenvolvidos em períodos
poderão fazer sua inscrição nas atividades, a partir painéis de confronto, pasta de opiniões, definidos de tempo (dois ou três encontros),
do seu interesse e disponibilidade. termômetro dos argumentos e tabelas jorna- com instrutores e especialistas da área, como:
As atividades exploratórias têm como lísticas; botânica, cuidados pessoais, saúde bucal,
objetivo: ` Oficinas variadas: origami, fotografia, raças de cães, xadrez, confecção de fantoches,
` Promover atividades que expandam e robótica, química, alimentos saudáveis, brinquedos alternativos, pescaria e outros de
enriqueçam a experiência de todos os alunos; cuidados pessoais, trato com animais, acordo com a realidade local e interesse dos
` Estimular novos interesses que possam exercícios de raciocínio lógico, xadrez, alunos;
desencadear atividades do tipo II e III. construções de maquetes, atividades de ` Demonstrações de práticas como primeiro
As atividades do tipo I podem ser planejadas resolução criativa de problemas, organização socorros, banho de animais, jardinagem, esportes
a partir de: de coleções,técnicas de desenho,entre outras de radicais, capoeira, modelagem, mecânica entre
(1) Seleção de tópicos para o refinamento de interesse dos alunos; outras sugeridas pelos alunos e comunidade
áreas, categorias ou subtópicos de interesse dos ` Palestras com profissionais de várias áreas escolar;
alunos; do conhecimento como bombeiros, profes- ` Entrevistas desenvolvidas com pessoas
(2) Lista contendo possibilidades de atividades sores, botânicos, físicos, astrônomos, artesões, de destaque na comunidade local ou com
e experiências eleitas como fascinantes pelos artistas plásticos, atores, veterinários, profissionais reconhecidos pelo trabalho que
alunos; chaveiros, soldadores, pedreiros e outros, desenvolvem na comunidade escolar.
(3) Lista contendo a quantidade de recursos focalizando diferentes aspectos de suas ativi- Nas atividades de enriquecimento do tipo II
materiais e equipamentos existentes na dades profissionais, técnicas e métodos utili- são utilizados métodos, materiais e técnicas instru-
comunidade; zados ou áreas de atuação; cionais que contribuem para o desenvolvimento de
(4) Lista com a quantidade de profissionais, ` Grupos de enriquecimento organizados níveis superiores de pensamento (analisar, sinte-
especialistas ou instituições que possam ser especificamente para atender a curiosidade tizar e avaliar), de habilidades criativas e críticas,
contatados; de alunos por áreas específicas do conheci- de habilidades de pesquisa (por exemplo, como
(5) Cronograma de atividades. mento desenvolvendo atividades planejadas conduzir uma entrevista, analisar dados e elaborar
Resumindo, as atividades do tipo I devem e organizadas como produção de textos, um relatório), de busca de referências bibliográficas
favorecer o contato do aluno com ampla diversidade robótica, filatelia, cálculo, microscopia e e processos relacionados ao desenvolvimento pessoal
de tópicos que sejam de seu interesse e despertem outros; e social (habilidades de liderança, comunicação e
sua curiosidade, mas que não são contempladas nos ` Passeios, visitas e excursões. Passeios ecoló- desenvolvimento de um autoconceito positivo). O
currículos escolares. Alguns exemplos deste tipo de gicos e caminhadas em reservas ambientais. objetivo deste tipo de enriquecimento é desenvolver
atividade são apresentados a seguir: Visitas a museus, laboratórios, centros nos alunos habilidades de “como fazer”, de modo a
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instrumentá-los a investigar problemas reais usando o enriquecimento do tipo III. As atividades do e outros;
metodologias adequadas à área de conhecimento e tipo II nem sempre serão direcionadas para o ` Treinamento em técnicas de resolução de

Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar


de interesse dos alunos. aprofundamento e elaboração de projetos, elas problemas e conflitos;
Estas atividades podem ser realizadas em podem gerar a necessidade de outras atividades ` Oficina de idéias com materiais alterna-
grupos ou individualmente, de acordo com os do tipo II ou ainda atividades do tipo I. A ênfase tivos ou reciclagem de sucata;
interesses, habilidades e estilos de aprendizagem do enriquecimento do tipo II é na oferta de ativi- ` Treinamento no manuseio de recursos audio-
de cada aluno envolvido. Quanto à duração, dades que desenvolvem habilidades de “como visuais e tecnológicos para o desenvolvi-
dependerá do nível de complexidade do tópico ou fazer” e características pessoais, como autonomia, mento de trabalhos como: retroprojetores,
do nível de aprofundamento que se queira atingir. para desenvolver com produtividade atividades de slides, televisão, vídeos, gravadores, filmadoras
Em alguns casos, o grupo poderá se reunir no interesse. São exemplos de atividades de enrique- máquinas fotográficas, banco de dados, compu-
turno contrário ao de sala de aula regular para cimento do tipo II: tador, impressora, scanner, xerox, microscópios,
receber o treinamento necessário. É possível que ` Elaboração de roteiros de trabalhos: treina- lupas, telescópios e outros;
algumas dessas atividades possam requerer a mento específico para a delimitação de temas, ` Treinamento em técnicas de discussão,
cooperação ou parceria de voluntários/especia- organização de roteiros e delineamento de debates e argumentação;
listas. trabalhos; ` Treinamento em técnicas de liderança e
Ao se engajarem em atividades do tipo II, ` Treinamento em técnicas de observação, gerenciamento.
os alunos são encorajados a aplicar os conhe- seleção, classificação, organização, análise As atividades do tipo II visam, ainda, o
cimentos adquiridos, como possíveis fontes e e registro de dados; desenvolvimento de:
alternativas de instrução para a elaboração dos ` Elaboração de objetivos e cronogramas de (a) habilidades de pensamento criativo - fluência,
projetos, produtos ou serviços que caracterizam trabalhos: treinamento na formulação de flexibilidade, elaboração, originalidade,
metas e objetivos de trabalhos, na organização avaliação – e técnicas e ferramentas de criati-
e elaboração de cronograma e indicação de vidade como tempestade de idéias, listagem de
audiência alvo; atributos, comparação, relações forçadas etc;
` Treinamento em técnicas de desenvolvi- (b) habilidades de definição e solução de problemas
mento de apresentações orais, escritas e e
práticas: comunicação oral, painéis, cartazes, (c) características afetivas como sensibilidade,
apresentações em mídia eletrônica e demons- apreciação e valoração, cooperação, asserti-
trações práticas; vidade, autoconfiança, senso de humor etc.
` Treinamento em técnicas de resumo, O planejamento de atividades de enriqueci-
trabalhos bibliográficos, esquemas, ficha- mento do tipo II deve envolver a:
mentos, relatórios, entrevistas, métodos de ` Seleção de materiais, métodos e técnicas que
pesquisas, entre outros; encorajem o envolvimento em atividades do
` Treinamento em técnicas variadas de apresen- tipo III;
tação de produtos como álbuns, cartazes, ` Seleção de atividades que gerem o aprofunda-
maquetes, móbiles, esculturas, experimentos mento dos conhecimentos técnicos necessários
62
à elaboração de produtos de interesse do(s) devem ser previstas ao longo do desenvolvimento do tipo III são atividades de investigação e produção
aluno(s); dessas atividades. artística/profissional, em que o aluno assume o papel
` Identificação de materiais com diferentes níveis Resumindo, as atividades de enriquecimento de “aprendiz de primeira mão” e “produtor de conheci-
de complexidade; mento”, pensando, sentindo e agindo como um profis-
` Programação de uma seqüência de atividades; QUADRO ESQUEMÁTICO DE ATIVIDADES DO sional da área. São exemplos desse tipo de atividade:
` Divulgação e avaliação dos processos, métodos TIPO III - PROJETO ` Investigação de problemas reais;
e técnicas estudados. ` Desenvolvimento de projetos coletivos e
As atividades de enriquecimento do tipo III ConhecimentoApropriado individuais;
Análise e implantação de dados
visam a investigação de problemas reais, por meio ` Grupos de pesquisa em áreas de estudos
Experimentação
da utilização de métodos adequados de investigação, Participar de simulação específicos;
a produção de conhecimento novo, a solução de Condução da entrevista ` Desenvolvimento de produtos criativos e
problemas ou a apresentação de um produto, serviço Treinamento originais (como por exemplo, roteiro de peça,
ou performance. Estas atividades têm ainda como Pesquisa revista, maquete, poesia, relatório de pesquisa,
objetivo desenvolver habilidades de planejamento, livro ilustrado, desenho em quadrinhos, teatro
gerenciamento do tempo, avaliação e habilidades de fantoches, mural etc);
sociais de interação com especialistas, professores e Problema Produto ` Divulgação dos produtos elaborados.
colegas. O aluno, após passar por este tipo de experi- Quem? Onde? Apropriado para o As atividades de enriquecimento do tipo
ência, deverá ser capaz de agir, sentir e produzir como Quando? tipo do estudo? I, II e III encorajam a ação produtiva dos alunos
Porque? Método Apropriado para o
um profissional de uma área específica do conhe- tipo do audiência?
uma vez que possibilitam diferentes ações baseadas
Onde?
cimento. Os problemas e tópicos para este tipo de Oque? III em interesses e necessidades desenvolvidas por
atividade devem ser selecionados pelo(s) aluno(s). Proposta Impacto meio de diferentes estratégias, materiais e recursos.
Este tipo de atividade requer altos níveis de envolvi- Estas atividades podem ser implementadas tanto
Audiência
mento dos alunos em projetos, geralmente, de médio Para quem? na sala de aula regular como nas salas de recursos
e longo prazo. A aprendizagem e o desenvolvimento Tamanho do grupo e programas de atendimento ao aluno com altas
de cada atividade do tipo III são personalizados e, Características habilidades/superdotação. Elas propiciam a parti-
geralmente, implementados individualmente ou Disponibilidade cipação ativa dos alunos na construção de conhe-
em grupos pequenos. A atividade tipo III envolve a Objetivos Acesso Avaliação cimentos, produtos e serviços. O professor tem o
Informar Pessoa:
produção criativa e apresentação de resultados obtidos papel de facilitador e mediador neste processo.
Esclarecer Aluno/
em grupos de audiências variadas (colegas de sala, Sintonizar Professor É importante ressaltar que as atividades do tipo
feiras culturais, concursos, reuniões de professores, Formatar Processo I, II e III não obedecem a um procedimento linear.
jornais, empresas, comunidade escolar e outros). Explorar Produto Assim, uma atividade do tipo I, por exemplo, pode
Para auxiliar no planejamento, execução e Medir Ambiente desencadear uma atividade do tipo III, uma do tipo
Transformar Audiência
avaliação de atividades de enriquecimento do tipo III pode requerer uma atividade do tipo I, uma do tipo
Elaborar
III, o professor poderá utilizar o quadro a seguir, que II pode avançar para uma do tipo III ou necessitar de
descreve de forma esquemática as questões que Fonte: Baum (2002). uma atividade do tipo I. As atividades são planejadas
63
de acordo com a dinâmica do processo de construção braille, participaram de oficinas para utilização de Dica: Para implementação das atividades de enriquecimento
é necessário, inicialmente, identificar habilidades, interesses e
de novo conhecimento ou elaboração de um produto. materiais alternativos. Mas ultimamente, o grupo não

Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar


estilos de aprendizagem dos alunos. Neste sentido, observe os
A seguir, são apresentadas algumas situações em que consegue se entender sobre quais devem ser as ações alunos, dê oportunidade para eles se expressarem, crie e utilize
atividades de enriquecimento poderiam ser realizadas. prioritárias para a viabilização do projeto. instrumentos que permitam o registro de suas habilidades,
interesses e necessidades. Fique sempre atento ao potencial
SITUAÇÃO 1 – Depois da visita a um museu, de seus alunos. Outra estratégia é ouvir os próprios alunos a
ATIVIDADES DE respeito de seus hobbies, sonhos, o que gostam de fazer, o que
vários alunos voltaram, no ônibus, conversando sobre PROPOSTAS
ENRIQUECIMENTO fazem bem ou o que poderiam fazer bem se tivessem oportuni-
a origem do universo e os primeiros habitantes das do tipo I dade de aprender.
galáxias. Eles pareciam fascinados com o tema e do tipo II
perguntaram à professora o que podiam fazer a esse do tipo III Ao final do capítulo, você encontrará sugestões
respeito. Outras sugestões valiosas para mapear interesses, estilos de aprendi-
ATIVIDADES DE zagem e habilidades dos alunos.
PROPOSTAS
ENRIQUECIMENTO SITUAÇÃO 4 – A professora Telma conversou
do tipo I
QUADRO 1: CARACTERÍSTICAS DO MODELO DE
com outras colegas sobre a sua preocupação com o nível ENRIQUECIMENTO ESCOLAR
do tipo II
de motivação de seus alunos. A turma está irrequieta
do tipo III
e muitos alunos estão desinteressados e demonstram Modelo de Enriquecimento Escolar
Outras sugestões
ter uma auto-estima muito baixa. Ela diversifica as
` As atividades são dinâmicas e retro-alimentadas pelos
SITUAÇÃO 2 – Dois alunos acabaram de tarefas, mas uma boa parte dos alunos continua com interesses dos alunos;
encontrar duas cobras pequenas no quintal de suas baixo desempenho nas atividades propostas. ` As atividades favorecem a autonomia do aluno ao longo
casas. Eles ficaram muito preocupados, pois já há de todo o processo, em todos os níveis;
casos de pessoas picadas por cobra na vizinhança. ` Os alunos são responsáveis por solucionarem os
ATIVIDADES DE problemas que encontram durante o processo;
PROPOSTAS
Eles decidiram começar uma campanha de prevenção ENRIQUECIMENTO `A iniciativa do aluno é valorizada e suas propostas
contra o envenenamento por mordida de cobras, mas do tipo I acatadas, ainda que não sejam colocadas em prática
do tipo II imediatamente;
não sabem por onde começar.
do tipo III `O(s) aluno(s) tem autonomia para tomar decisões;
`É possível a realização de vários projetos simultâneos
ATIVIDADES DE Outras sugestões
PROPOSTAS e o atendimento personalizado/individualizado dos
ENRIQUECIMENTO interesses e demandas individuais;
do tipo I `O professor é o mediador no processo de construção do
do tipo II Professores e alunos devem ser criativos e ter conhecimento;
do tipo III autonomia para planejar as atividades de enriqueci- `Os alunos mobilizam a comunidade, quando envolvem
Outras sugestões mento de tal forma que todos aproveitem as muitas a sua rede de relacionamentos na realização das
atividades;
SITUAÇÃO 3 – Um grupo de alunos está e variadas oportunidades para fazer descobertas e se `É possível planejar atividades significativas que atendam
trabalhando duro na construção de brinquedos tornarem bem sucedidos na elaboração de produtos, aos interesses individuais ou de pequenos grupos e ao
que possam auxiliar crianças cegas em processo de serviços e aprendizagens significativos e autênticos (veja mesmo tempo oportunizar atividades exploratórias
significativas para um grupo que não está interessado
alfabetização. Eles já participaram de vários debates outras características do “Modelo de Enriquecimento no assunto;
com professores alfabetizadores, conheceram como Escolar” no Quadro 1). `A atividade de enriquecimento tipo III deve resultar em
um produto com aplicação social.
funcionam os equipamentos para a impressão em
64
Referências Leituras Recomendadas

Alencar, E.M.L.S. & Fleith, D. S. (2001).


Baum, S. ( Julho, 2002). Multiple intelli- Superdotação: determinantes, educação e ajustamento.
gences and schoolwide enrichment model. Trabalho São Paulo: EPU.
apresentado no 25o. Confratute, Storrs, Estados Armstrong, T. (2001). Inteligências múltiplas
Unidos. na sala de aula. Porto Alegre: Artes Médicas.
Oudheusden, S. (1989). Go for it – A student Sites e páginas na Internet:
guide to independent projects. Mansfield Center, CT: www.gifted.uconn.edu
Creative Learning Press. www.conbrasd.com.br
Renzulli, J.S. (1997). Interest-A-lyzer family of
instruments: A manual for teachers. Mansfield Center,
CT: Creative Learning Press.
Renzulli, J. S. (2001). Enriching curriculum for
all students. Arlington Heights, IL: SkyLight.
Renzulli, J. S. & Reis, S. M. (1997). The
schoolwide enrichment model: How to guide for educa-
tional excellence (2a. ed.). Mansfield Center, CT:
Creative Learning Press.
Starko, A. J. & Schack, G. D. (1992). Looking
for data in all the right places: a guidebook for conducting
original research with young investigator. Mansfield
Center, CT: Creative Learning Press.
Tomlinson, C.A. (1999). The differenciated
classroom: Responding to the needs of all learners.
Alexandria, VA: ASCD.
Virgolim, A. M. R., Fleith, D. S. & Neves-
Pereira, M. S. (2006). Toc, toc...plim, plim! Lidando
com emoções, brincando com o pensamento através da
criatividade (8a. ed.). Campinas: Papirus.
65
Sugestões de Atividades para Estratégias Criativas para Seleção MAPA DE INTERESSES
Mapear os Interesses, Estilos de de Tópicos de Interesse Listados

Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar


Aprendizagem e Habilidades dos pelos Alunos Aluno (a): ________________________________
Alunos _____________________________
1. Eleição de tópicos interessantes que
` M APA DE INTERESSES servirão de tema para palestras; Três palavras que Sinto-me desa-
parecem comigo são: fiado quando:
2. Caixinha de sugestões de onde serão
Descrição: O Mapa de interesses possui retiradas, mensalmente, as atividades que
duas folhas de respostas que podem ser reprodu- deverão ser implementadas no próximo Quando não estou na Fico muito feliz
zidas frente e verso ou divididas em duas colunas período; escola eu gosto de: quando:
com frases que devem ser completadas pelo 3. Cardápio de opções que serão sorteadas
aluno, de forma escrita, oral ou desenhada. por meio de um bingo ou loteria;
Eu gostaria de Algum dia eu
4. Quadro de curiosidades ou de perguntas aprender mais sobre: gostaria de:
Procedimento: O professor deve entregar a serem respondidas;
para cada aluno as duas folhas com as frases a 5. Mapa de tesouros, em que cada pista
serem completadas ou pedir que eles escrevam, pode ser um tipo de conhecimento que Gosto de pessoas que: O que eu faço
melhor é:
completem ou desenhem em folhas avulsas, à o grupo elegeu como prioridade para
medida que ele dita as frases. Depois de realizada tópicos mais complexos.
a atividade os alunos devem compartilhar em 6. Guia turístico – Fazer um guia com a Aprender é diver- Eu gosto de
pequenos grupos os seus principais interesses. indicação de vários lugares que os alunos tido quando: brincar de:
O professor pode dar a cada aluno oportu- gostariam de conhecer dentro e fora de
nidade para falar sobre o seu mapa. Os mapas sua região ou até mesmo fora do país. Penso muito em:
Eu gostaria de ser
podem ser recolhidos e um grande mapa da ` A visita aos lugares mais próximos pode ser elogiado por:
turma pode ser elaborado a partir da tabulação agendada com certa regularidade;
dos dados contidos em cada mapa individual. ` As visitas podem ser presenciais ou virtuais. Há
Em um segundo momento, a partir do Mapa de vários museus e instituições que possuem tour Às vezes fico pre- Aprendo melhor
ocupado com: quando:
Interesses da turma, o professor deverá planejar virtual;
atividades significativas a serem desenvolvidas ` Pessoas que foram a esses lugares podem ser
com o coletivo da turma ou formar grupos por convidadas para contarem como foi a viagem e Eu sei que sou: Às vezes tenho
afinidade de interesses. Com crianças menores, compartilharem seu álbum de fotos; vontade de:
o professor poderá selecionar apenas alguns ` Os alunos poderão fazer, como atividades do tipo
comandos, solicitando às crianças que desenhem III, um álbum de fotos desses lugares ou colecio- Eu gostaria de ser: Eu não gosto de:
ou respondam oralmente ao que se pede. narem vários artigos, objetos e outras informações
sobre os lugares para montarem o guia.
66
BATATA QUENTE
CONHECENDO UM POUCO MAIS DE VOCÊ E SEUS SENTIMENTOS
Melhor amigo(a) ... Livro maravilhoso ...
Melhor ator ... Melhor final de semana ...
Melhor atriz ... Passeio inesquecível ... Nome: ________________________________
Brinquedo preferido ... O maior “mico” ...
Brincadeira predileta ... A melhor piada ...
Idade: _______________
Comida mais saborosa ... Roupa da moda ...
Uma cor ... Lugar predileto ...
Gosto quando as pessoas admiram estas minhas características
Um desenho animado ... Um nome ...
Emoção mais forte ... Uma profissão ...
_____________________________________________
Um filme ... Uma vontade incontrolável ...
Um esporte ... ... Eu sou ________________________________________
_____________________________________________
EU E O ESPELHO... Eu me sinto melhor quando as pessoas __________________
____________________________________________
Qualidades que tenho...
A coisa que mais me preocupa atualmente é ______________
_____________________________________________

Eu perco a calma quando ___________________________


Fatos que me dão força... _____________________________________________

A melhor coisa sobre o meu corpo é ____________________


____________________________________________
Coisas positivas que faço... Fico feliz quando _________________________________
____________________________________________

Eu tenho medo de ________________________________


_____________________________________________
Coisas que respeito...
Eu sinto orgulho de mim quando ______________________
_____________________________________________
Anexos - Capítulo 3

PORTIFÓLIO DO TALENTO TOTAL


68
Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar
69
70
Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar
71
72
Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar
73
74
Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar
75
76
Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar
77
78
79

Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar


Nota: os instrumentos desse portfólio foram adaptados e elaborados por Renata R. Maia-Pinto com base nos trabalhos de Oudheusden (1989), Renzulli e Reis (1997); Starko e Schack (1992), Tomlinson (1999) e Virgolim,
Fleith e Neves Pereira (2006)
Capítulo 4

Desenvolvimento de Projetos
de Pesquisa

Renata Rodrigues Maia-Pinto


82
83

M uitas atividades podem ser


denominadas de pesquisa.
profissional dos trabalhos dos alunos. O desco-
nhecimento acerca do planejamento de pesquisa
o que é pesquisa. Uma maneira seria apresentar
vários exemplos de problemas do “mundo real”

Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa


No entanto, Starko e Schack tem sido um grande entrave para a realização deste para os alunos, de preferência a partir de suas
(1992) consideram pesquisa aquela atividade que tipo de atividade. No Brasil, é comum os alunos áreas de interesse. Por exemplo, alunos mais velhos
envolve estudo investigativo cuidadoso, cuja essência terem acesso a atividades sistemáticas de planeja- podem ter interesse em investigar quais os esportes
é a produção de novas informações. A pesquisa não mento e implementação de projetos de pesquisa preferidos dos colegas e as características desses
se resume à reprodução ou coletânea de informações, apenas no ensino superior. É importante que os esportes, exercendo o papel de um repórter de um
como tradicionalmente tem sido implementada alunos da educação infantil, ensino fundamental jornal ou revista importante. Alunos mais novos
nas escolas. e médio saibam como o conhecimento ensinado podem se interessar em pesquisar sobre como são
Nos trabalhos de pesquisa, o professor deve na escola é produzido. Assim, é fundamental dar feitos os desenhos em quadrinhos de suas revistas
orientar os alunos a solucionarem um problema, oportunidades para estes se envolverem em ativi- preferidas.
sem indicar as respostas. O papel do docente é o dades de pesquisa desde tenra idade. É importante Outra maneira de ampliar o conceito do aluno
de ajudar o aluno a fazer as perguntas certas, ou lembrar que esse não é um capítulo de receitas sobre pesquisa é levá-lo a pensar sobre as pessoas
seja, perguntas para as quais não existem respostas que deve ser seguido à risca. São sugestões e idéias de sua comunidade e que tipo de pesquisa essas
predeterminadas e para as quais existam dados que que o professor pode somar às suas experiências e pessoas teriam interesse em realizar. Por exemplo,
possam ser investigados. Dessa maneira, a escolha conhecimentos no sentido de oferecer oportuni- quais questões a orientadora pedagógica da escola
do tema que o aluno ou o grupo investigará é o dades de desenvolvimento do potencial criativo- gostaria de responder sobre a causa de constantes
primeiro passo de um projeto de pesquisa. investigativo-produtivo de seus alunos. A seguir, queixas escolares que recebe sobre os alunos? E o
É importante também verificar quais habili- são apresentados passos para a realização de uma guarda de trânsito, será que ele gostaria de saber
dades básicas o aluno deve ter para executar o pesquisa (Starko & Schack, 1992). se todos os pais exigem de seu filho o uso do cinto
projeto. Por exemplo, ele conhece os passos para de segurança? E o servente que recolhe o lixo, será
o desenvolvimento de um projeto? Sabe como O Aluno como Pesquisador
se conduz uma entrevista? Sabe como registrar
os dados? Como avaliar seu trabalho? Ademais, Quando se pensa em pesquisa, algumas
é essencial alocar tempo suficiente para que o imagens podem vir à sua mente. Alguns podem
projeto possa ser implementado e concluído, bem lembrar de laboratórios, tubos de ensaios, de
como orientar os alunos a separar as informações cientistas malucos; outros podem lembrar daqueles
que são importantes e necessárias daquelas que são costumeiros trabalhos escritos em folhas de
dispensáveis. caderno realizados a partir de consultas à biblioteca
Para que o professor possa auxiliar o aluno ou internet. Todas essas são visões parciais do
a conduzir trabalhos de pesquisa, é necessário que que pode ser uma pesquisa. Um bom passo seria,
eles tenham informações sobre formas básicas de então, oferecer ao aluno um conceito mais amplo
planejamento, técnicas e vocabulário de pesquisa. de pesquisa.
A escola regular vem sendo constantemente Starko e Schack (1992) explicam que
criticada pela falta de criatividade e de caráter existem algumas maneiras de explicar ao aluno
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que gostaria de saber se os alunos têm informações começo é estabelecer um problema de pesquisa. Os dos interesses do aluno: “O mundo está repleto de
suficientes sobre a separação de lixo e as conseqü- professores estão acostumados a encontrar tópicos problemas, dilemas e situações que precisam de
ências de um grande volume de lixo acumulado? a partir do currículo regular. Alguns temas podem uma pessoa com energia, entusiasmo e habilidade
Será que o dono do restaurante em frente à sua servir para inúmeras investigações. Por exemplo, é para solucioná-las. Complete as sentenças abaixo
casa gostaria de saber a quantidade de crianças comum, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ponderando que situações em sua vida precisam
que freqüentam seu restaurante para oferecer um os alunos estudarem a sua árvore genealógica, a ser melhoradas.
cardápio mais atraente? Você pode ainda convidar vizinhança da escola etc. Todos esses temas podem O que o mundo realmente necessita é ...
profissionais para visitarem a escola e falarem sobre servir para investigações mais profundas sobre Eu gostaria de tornar o mundo melhor ou
as pesquisas que realizam em seu trabalho. imigração, características dos povos, sistemas mais bonito criando ...
Outra forma seria ajudar os alunos a identi- hierárquicos, tipos de comércio, desenho de mapas A maioria das pessoas não percebe, mas, de
ficarem algumas dúvidas, questões e idéias que eles e prédios e estudo fotográfico da vegetação local. fato, existe alguma coisa errada com ...
têm passíveis de investigação. Se Juliana se interessa Outras vezes, os temas de pesquisa não estão Se alguém me desse um milhão de reais para
em saber sobre a vida e as peculiaridades do estilo relacionados a conteúdos do currículo comum. Uma ajudar as pessoas, eu ...”.
de música do conhecido cantor de rock Renato exposição sobre a Idade Média, por exemplo, pode
Russo, cujo filho Juliano estuda em sua escola, você despertar o interesse sobre a moda e os principais Expansão do Tema
pode encorajá-la a prosseguir com seu interesse. tipos de vestimentas da época. Um filme sobre os
Se Bárbara tem interesse em estudar mais sobre planos de governo local pode levantar o interesse O detalhamento de um tema de pesquisa
o III Reich depois de ter visto o filme “A Lista sobre o número de crianças desnutridas ou sem possibilita ao aluno processar informações, focar
de Schindler”, ela deve ser encorajada. Os alunos escola. seu interesse e identificar questões de pesquisa.
podem não querer examinar as primeiras questões Sem a expansão ou o detalhamento de um tópico
que lhes vêm à mente, mas reconhecer algum tópico Identificação do Interesse do Aluno é menos provável que o aluno consiga perceber
que poderia ser um objeto de investigação. alguma possibilidade de pesquisa no conteúdo
Você pode criar formulários do tipo “Eu me A identificação do problema de interesse trabalhado. Essa expansão pode ser feita de várias
pergunto se...” (veja exemplo ao final do capítulo) do aluno é um passo fundamental no processo de formas, mas a mais comum é uma discussão sobre o
e afixá-lo no mural para incentivar seus alunos a pesquisa, que pode levar o aluno a desenvolver e tema seguida de uma atividade de enriquecimento
levantarem problemas de seu interesse. Nem sempre usar sofisticadas habilidades de coleta e análise de ou uma atividade do currículo regular:
as questões que vêm à mente do aluno podem ser dados. A motivação do aluno aumenta à medida que ` Peça ao aluno para identificar, entre as áreas
respondidas na hora, mas podem ser registradas ele percebe a relevância da pesquisa para o mundo apresentadas, as que mais lhe interessam;
para investigação posterior. em que vive. Além disso, as descobertas que ele faz ` Peça uma sugestão sobre qual recurso o
podem servir de informação para outras pessoas. aluno gostaria de obter: impressos, áudio-
A Busca de uma Questão de Para identificar interesses do aluno, o professor visual, local para visitar, pessoas para entrar
Pesquisa pode usar inventários de interesse, realizar ativi- em contato etc;
dades exploratórias (como as de enriquecimento ` Aponte oportunidades de treinamento ou
Antes de se conduzir uma pesquisa, é do tipo I – veja Capítulo 4), entre outras. Burns prática de habilidades necessárias à investi-
necessário ter uma boa pergunta. Então, um bom (1990) sugere uma atividade para levantamento gação do problema;
85
` Faça conexões entre o tema apresentado e
outros tópicos de interesse do aluno;

Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa


` Identifique temas literários ou artísticos que
os alunos gostariam de investigar;
` Identifique questões de pesquisa relacio-
nadas ao tópico de interesse do aluno.
Imagine que os alunos acabaram de parti-
cipar de uma atividade de enriquecimento sobre
répteis, especialmente cobras. Pergunte qual parte
da apresentação os alunos mais gostaram. Depois
peça para levantarem questões relacionadas às
cobras, como, por exemplo, o medo que esses
animais podem provocar, tipos de benefícios que
as cobras poderiam trazer ao meio ambiente e às
pessoas, questões de gênero (ex: meninas têm mais
medo de cobra do que meninos?).
A discussão continuará de acordo com o
interesse dos alunos, mas um grupo pode estar Figura 1. Exemplo de Rede de Assuntos, Teia de Temas ou Tempestade de Idéias.
interessado em aprofundar o assunto e outro não.
Uma atividade de enriquecimento pode gerar vem com um tema que reproduz uma questão clara nas praias, função social do tubarão em relação aos
uma grande variedade de questões em inúmeras de pesquisa. Geralmente os temas são gerais. Por animais que compõem seu habitat (veja Figura 1).
áreas correlatas. Esse é o segredo para se encontrar exemplo, depois de ter lido no jornal que, em uma Uma rede feita em sala de aula com toda a turma
um tema de investigação. Nem todos os alunos praia próxima à sua residência, um jovem surfista ou grupos, conforme vai sendo delimitada, pode
precisam investigar o mesmo tópico. Nesse sentido, foi atacado por um tubarão, o aluno se interessou gerar outras redes de interesse por parte de outros
os alunos devem compreender que a pesquisa pode em conhecer mais sobre esse animal. Esse tópico alunos. Essa rede ou teia é conhecida também
estar relacionada a qualquer área. O objetivo do envolve vários subtópicos e é necessário que o aluno como tempestade de idéias.
professor é ajudar o aluno a identificar e desen- especifique mais o tema para definir sua questão Essa escolha pode levar semanas e deve ser
volver seu interesse no sentido de encontrar um de pesquisa. Uma maneira prática de se fazer este acompanhada pelo professor. Estabelecida a rede e
tema de pesquisa. estreitamento é formar uma rede de assuntos que identificado um subtópico, ainda é necessário que
podem derivar desse tópico maior que o aluno se defina qual realmente é a questão de pesquisa.
Foco no Problema escolheu. O aluno deve colocar o tema principal, no Suponhamos que o aluno escolheu “tubarão”,
caso tubarão, no centro do papel e, como uma teia como tema, e “segurança”, como subtema. O que
Depois que o tema foi identificado, ele deve de aranha, derivar os temas conforme as peculia- realmente o aluno quer saber sobre segurança?
ser transformado em uma pergunta de pesquisa ridades sobre tubarões que forem surgindo à sua Muitas questões surgirão. Para esta escolha é
passível de ser investigada. Dificilmente um aluno mente - tipo de tubarões, características, segurança importante ter em mente as possibilidades de
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coleta de dados. Caso se trate de um tema que não o entendimento da questão não estiver claro, ela elaboração de um roteiro de atividades da coleta de
seja possível se coletar dados, é aconselhável que se deve ser reescrita. Por exemplo, o aluno perguntou: dados pode ser útil. No roteiro devem estar listadas
reinicie o processo de escolha do tema. “Quais são as inovações com relação à segurança todas as atividades de coleta de dados, os horários,
contra ataque de tubarões nas praias?”. O aluno locais e responsáveis por cada etapa.
Implementação da Pesquisa pode refinar ainda mais esta pergunta: “Como têm É importante lembrar ao aluno de separar
sido as inovações com relação à segurança contra todo material/equipamento necessário para sua
Depois de se ter definido o subtópico, ataque de tubarões nas praias urbanas do Recife pesquisa. Por exemplo, se ele for entrevistar uma
algumas palavras-chave podem ajudar a orientar depois dos ataques de 1989 até maio de 2006?”. pessoa, o aluno deve trazer, além do roteiro de
o processo de definição da pesquisa: quem, o que, Crianças pequenas, da educação infantil, entrevista, o gravador, fitas, pilhas (no caso da
quando, por que, como. Um aluno que se interessou podem fazer perguntas baseadas em suas experi- entrevista ser gravada), papel e lápis. Todo o
pela anatomia dos tubarões, especificamente as ências e a partir do que os adultos relataram ou material de pesquisa deve estar bem organizado.
mandíbulas, pode perguntar: Quais são as caracte- viram em filmes. Podem, por exemplo, querer O aluno poderá guardar o material da pesquisa
rísticas da mandíbula dos tubarões e qual o efeito saber se as sementes de feijão que plantaram em (instrumentos e dados coletados) em uma pasta.
da aparência da mandíbula sobre a percepção que algodões cresceriam mais fortes e mais rápido se É importante lembrar que esta fase é de coleta de
as pessoas têm sobre esses animais? Dessa maneira fossem regadas com leite. Essa questão derivou de dados e não representa ainda o produto final do
surge a pergunta: “Qual é a relação entre aspecto da informações que tiveram sobre os efeitos do leite seu trabalho. Portanto, deve verificar se os dados
mandíbula dos tubarões e o medo que ele provoca?”. no crescimento humano. coletados são suficientes ou se é necessário coletar
Outro que se interessou pelo subtópico segurança outras informações.
e habitat natural, especialmente nas praias urbanas, Coleta de Dados
pode perguntar: Por que o tubarão ataca? O que Análise e Interpretação de Dados
falta no habitat dele que o faz vir à praia? Como Após definir o problema a ser investigado, o
as autoridades locais evitam tais ataques e como aluno, com auxílio do professor, estabelecerá os proce- Encerrada a coleta de dados, o aluno
os banhistas devem se prevenir? Dessa maneira dimentos de coleta de dados e selecionará os instru- deverá analisar os dados obtidos para se chegar
surge a questão de pesquisa: “Existe uma relação mentos a serem utilizados na coleta. Um bom início às conclusões. Precisa interpretar as novas infor-
entre degradação do ambiente natural dos tubarões é planejar a organização do material que será usado mações e explicá-las. Deve organizar as infor-
e ataques em praias urbanas? Quais os melhores para a coleta de dados. O papel do professor é ajudar mações obtidas para poder expressá-las com clareza
fatores de prevenção e segurança contra esses os alunos a identificar, localizar e ter acesso a fontes de e torná-las compreensível para o seu público. A
ataques?”. Quando o tema é também de interesse consulta (como livros, revistas, internet, dicionários, apresentação dos resultados não deve envolver
da comunidade, pode ser utilizada uma parceria atlas, globo, almanaques, enciclopédias, biografias, opiniões pessoais.
com as instituições representativas locais. dicionários, brochuras, rádio, museus, galerias de
Um levantamento bibliográfico sobre o artes, filmes, pessoas etc). A(O) bibliotecária(o) da
tema de interesse ajuda a identificar questões que escola pode também colaborar na tarefa de indicação Apresentação dos Resultados
ainda não estão totalmente definidas. Em seguida, e localização destas fontes. Existem vários instru-
verifique se a pergunta está clara e se não existem mentos para coleta de dados: entrevista, questionário, Como os pesquisadores profissionais, os
palavras que podem levar à dupla interpretação. Se observação, fotografias, filmagens, entre outros. A alunos pesquisadores devem compartilhar seus
87
resultados. É importante que os resultados da
pesquisa sejam divulgados entre os colegas,

Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa


comunidade escolar, família etc. Starko e Schack PLANEJAMENTO DE PROJETO
(1992) afirmam que quando o aluno trabalha
pensando em um público determinado, tem mais
envolvimento e cuidado com o projeto. Os alunos Nome: _________________________________________________ Data: ____________
devem contar com grande flexibilidade nas formas Professor: ______________________________________________
de apresentação de seu trabalho: artigos para publi-
cação, músicas, poemas, contos, apresentação de
slides, jornal local ou da escola, revista, exposição, Meu projeto será sobre: _____________________________________________
entre outras. Concluída a pesquisa, é importante O objetivo do meu projeto é: ________________________________________
que professor e aluno façam uma avaliação de todo
As pessoas interessadas nos resultados do meu projeto são: _______________________________
o processo, salientando os pontos fortes, bem como
_________________________________________________
as limitações do estudo.
Um exemplo de planejamento de pesquisa é Eu aprenderei mais sobre este assunto por meio dos seguintes:
apresentado a seguir. Livros: ________________________________________________________________________
Para todas as etapas do processo de pesquisa,
Revistas: ______________________________________________________________________
existem documentos organizadores que podem
ser elaborados pelos professores e pelos alunos Pessoas: ______________________________________________________________________
(veja modelos1 apresentados no final do capítulo). (outros meios): ________________________________________________________________
O professor pode, também, fazer um sistema de
Estes são os passos que seguirei para realizar meu projeto:
premiação para as pesquisas desenvolvidas na sua
turma. No entanto, o que não pode faltar é um certi- 1. ____________________________________________________________________________
ficado de conclusão da sua pesquisa. Os esforços 2. ____________________________________________________________________________
devem ser reconhecidos e valorizados. O registro
3. ____________________________________________________________________________
das etapas da pesquisa, o produto ou fotos do
produto, assim como o certificado e a conclusão das 4. ____________________________________________________________________________
avaliações devem constar do portfolio do aluno. 5. ____________________________________________________________________________
Eu sei que o meu projeto será concluído porque: ____________________________________
A parte mais difícil da execução do meu projeto será: _______________________________
A parte mais legal da realização do meu projeto será: ________________________________
1 Os modelos desse capítulo e anexos foram adaptados
e elaborados por Renata R. Maia-Pinto, com base nos inven-
tários apresentados por Oudheusden (1989), Renzulli e Reis
(1997), Starko e Schack (1992) e Tomlinson (1999).
88
Referências

Burns, D. (1990). Pathways to inves-


tigative skills. Mansfield Center, CT: Creative
Learning Press.
Oudheusden, S. (1989). Go for it
– A student guide to independent projects.
Mansfield Center, CT: Creative Learning
Press.
Renzulli, J. S. & Reis, S. M. (1997). The
schoolwide enrichment model: How to guide
for educational excellence (2a. ed.). Mansfield
Center, CT: Creative Learning Press.
Starko, A. J. & Schack, G. D. (1992).
Looking for data in all the right places: a
guidebook for conducting original research
with young investigator. Mansfield Center,
CT: Creative Learning Press.
Tomlinson, C.A. (1999). The differen-
ciated classroom: Responding to the needs of
all learners. Alexandria, VA: ASCD.
Anexos - Capítulo 4
90
Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa
91
92
Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa
93
94
Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa
95
96
Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa
97
98
Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa
99
100
Capítulo 4: Desenvolvimento de Projetos de Pesquisa
101
Capítulo 5

Grupos de Enriquecimento

Jane Farias Chagas


104
105

O grupo de enriquecimento é
uma estratégia de intervenção
deve ser capaz de construir conhecimento
significativo.
debate reflexivo ou a participação em atividades de
instrumentação (como as do tipo II), em função dos

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


pedagógica no processo de Ao estabelecer combinações dinâmicas em projetos em que estão envolvidos, ou em função de
ensino-aprendizagem. Nesta perspectiva, cabe função das capacidades, estilos de aprendizagem e certas características criativas ou sócio-emocionais
ao professor estabelecer critérios intencionais de interesses pontuais e processuais de seus alunos, o que precisam ser desenvolvidas.
agrupamento e reagrupamento dos alunos, com o professor deve considerar não somente os aspectos Podemos classificar o tipo de agrupamento
objetivo de promover o desenvolvimento de habili- cognitivos, mas também os aspectos afetivos ou com base no local ou espaço onde ele deverá acontecer.
dades superiores e potencialidades, superar dificul- motivacionais dos alunos. Deve manter-se na Sendo assim o agrupamento pode ser extraclasse,
dades e ampliar avanços observados. Essa estratégia posição de mediador, promovendo a autonomia e interclasse ou intraclasse. O agrupamento extra-
permite ao professor do ensino regular ou da sala produtividade dos alunos, durante todo o processo. classe consiste no atendimento dos alunos, no turno
de recursos: gerenciar projetos, mediar ações educa- Deve, ainda, considerar a importância da relação contrário, em dias e horários previamente combi-
tivas autodirigidas pelos alunos, atender demandas aluno-aluno no processo de aprendizagem, uma vez nados com a finalidade de enriquecer, aprofundar
particulares e individuais dos alunos, avaliar desem- que a troca entre os pares constitui um momento ou atender necessidades específicas de aprendi-
penho e desenvolver as potencialidades dos alunos. precioso para a construção da consciência, valoração zagem. Esse tipo de agrupamento é denominado de
Alguns aspectos importantes, diretamente e diferenciação de si mesmo e do outro. grupo de talentos ou de enriquecimento, uma vez
relacionados à aprendizagem significativa, devem A adequação do número de participantes nos que os alunos são agrupados de acordo com suas
ser considerados no planejamento de grupos de grupos de enriquecimento dependerá do mapea- habilidades e interesses, independente das turmas
enriquecimento: mento prévio dos interesses, estilos de aprendizagem que freqüentam no ensino regular. Eles serão
` Cada aprendiz é uma pessoa única, com e expressão, necessidades, habilidades. Entretanto agrupados no sentido de gerar produtos e serviços
experiências, interesses, habilidades e estilos Renzulli, Gentry e Reis (2003) sugerem um número com o objetivo de desenvolver suas habilidades e
de aprendizagem únicos; entre 8 e 10 alunos por agrupamento, quando há serem atendidos em seus interesses e necessidades.
` A aprendizagem é mais efetiva quando as apenas um professor mediador/facilitador. Grupos Por exemplo, os alunos podem formar um clube de
experiências são planejadas e construídas de maiores devem ter mais adultos facilitadores envol- xadrez, participar de oficinas de origami, trabalhar
forma a permitir que os alunos se sintam vidos. No entanto, o número mínimo ou máximo num projeto de matemática ou horta comunitária,
felizes com o que estão fazendo; dos grupos vai depender, em grande parte, do tipo construir maquetes da cidade com a finalidade de
` A aprendizagem é mais significativa quando de produto ou serviço a ser elaborado. Os grupos facilitar o trânsito de pedestres, participar de aulas
o conteúdo/conhecimento e os métodos utili- de enriquecimento devem ser flexíveis e dinâmicos, de culinária local com a finalidade de manter vivas
zados são selecionados com base no contexto de forma a incluir, durante o processo de desen- algumas tradições locais, trabalhar com questões
onde o aluno está inserido e em problemas volvimento dos projetos, aqueles alunos que não ambientais, participar de grêmio estudantil ou time
reais presentes neste contexto, ou seja, o demonstraram, inicialmente, nenhum interesse em esportivo. O planejamento das atividades deve ser
conteúdo e o método devem ser personali- participar do grupo. Segundo os autores, os alunos direcionado para os interesses dos alunos e visar a
zados; devem ser agrupados por áreas de interesses e não solução de problemas reais da seguinte maneira:
` A aquisição de conhecimentos e de habili- por série ou idade. Este tipo de agrupamento tem ` Professores e alunos definem ou selecionam
dades de pensamento deve promover a por finalidade gerar o aprofundamento em níveis a área em que gostariam de atuar ou parti-
autonomia e autoria do aluno. Cada aluno mais avançados de certos tópicos, promover o cipar;
106
` A construção de produtos ou serviços deve enriquecimento tiveram a oportunidade de falar receitas no dia do aniversário da cidade. Aquele
atender uma necessidade real e impactar uma sobre a importância de se conhecer e valorizar foi um dia de festa, quando os alunos, seus pais e
audiência em particular; nossas raízes. As informações coletadas, durante outros membros da comunidade tiveram o prazer de
` Uso de métodos autênticos ou em níveis todo processo, foram registradas e compiladas degustar as delicias preparadas. Os alunos ficaram
avançados para gerar os produtos ou serviços. num livro de receitas bem diferente e original. tão felizes que não queriam desfazer o grupo. Em
O grupo deve operar em nível profissional. Além das receitas, o grupo ilustrou o livro com seguida, começaram a delinear o próximo projeto
Veja o exemplo a seguir. fotos dos entrevistados e da visita à tribo indígena, do grupo: “receitas alternativas para melhorar a
O professor de história da Escola Liberdade opiniões, curiosidades e com pequenos textos saúde e a qualidade de vida das populações carentes
é especialista em povos indígenas brasileiros. Neste contendo informações sobre as descobertas cientí- de sua cidade”.
ano, um grupo de alunos ficou curioso em saber qual a ficas do grupo. O livro de receitas foi doado para a Agora vamos usar a imaginação e antecipar
influência da alimentação indígena na culinária local, biblioteca municipal. O grupo convenceu o dono como serão as coisas, para esse grupo de alunos, no
após uma aula de história do Brasil. O professor e de um pequeno restaurante da cidade a elaborar próximo semestre! Mãos à obra!
os alunos interessados combinaram de se encontrar
na escola, duas vezes por semana, no turno contrário Projeto: Receitas Alternativas para Melhorar a Saúde e Qualidade de Vida das Populações
ao de sala de aula para iniciarem uma pesquisa sobre Carentes da Cidade Oportunidade
os pratos típicos de sua região, buscando identificar Imaginação
quantas e quais iguarias sofreram a influência dos No. Estímulo
em Ação
primeiros habitantes do país. Durante o primeiro Como o professor Carlos poderá manter o grupo animado até o
1
e segundo semestre, eles entrevistaram pessoas início do próximo ano letivo?
da comunidade, pesquisaram em livros, consul- 2 Como incluir outros alunos nesse grupo de enriquecimento?
taram a internet, consultaram algumas cozinheiras Quais devem ser as primeiras atividades, estratégias que o grupo
e cozinheiros “famosos” da cidade e visitaram a 3
deve planejar?
aldeia mais próxima. Os alunos aprenderam sobre 4 Qual o papel inicial do professor Carlos?
pesos e medidas com o professor de matemática. A
Quais as possíveis atividades a serem desenvolvidas ao longo do
professora de português deu várias dicas de como as 5
primeiro semestre?
receitas são apresentadas em livros e como as entre-
6 Quanto tempo deve durar esse projeto do grupo?
vistas são conduzidas e os questionários são elabo-
rados. Os alunos aprenderam a selecionar as receitas Quais as pessoas que poderiam ser convidadas para ajudar no desen-
7
a partir do objetivo que tinham e não somente por volvimento desse projeto?
serem interessantes e gostosas. Quais habilidades, técnicas e métodos devem ser desenvolvidos,
8
A merendeira usou uma das receitas na aperfeiçoados ou adquiridos ao longo do processo?
semana da alimentação na escola. Nesse dia, todos 9 Quais os recursos necessários para o desenvolvimento do projeto?
os alunos da escola comeram da iguaria e, alguns
Quais as possibilidades de produtos e serviços que este grupo pode
minutos do recreio, foram encaminhados para uma 10
oferecer a fim de atingir os seus objetivos?
palestra. Naquele momento, os alunos do grupo de
107
Lembre-se de que os professores são guias para processo ensino-aprendizagem.Nesse tipo de agrupa- mediador no processo. Nos momentos de impasse,
os alunos nesse tipo de agrupamento ou atividade. O mento o professor regente ou o professor da sala de conflito ou revisão de metas, o professor deve

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


professor ajudará os alunos a focalizarem um problema recursos deve planejar atividades que promovam o gerenciar sua ansiedade por ensinar e procurar ouvir
real, localizarem informações, conteúdos e métodos trabalho independente (coletivo ou individual), que e solicitar o envolvimento dos alunos na solução de
relevantes para a condução do trabalho, utilizarem os permita aos alunos o gerenciamento do tempo e a problemas, na busca por respostas às indagações e
métodos, técnicas e recursos de maneira apropriada e tomada de decisão, de acordo com seus interesses dúvidas que porventura surjam ao longo do processo,
eficiente; avaliarem o processo e redefinirem as metas e habilidades. As atividades de trabalho indepen- na pesquisa ou aquisição de recursos necessários à
e processos. dente permitem ao professor atender especifica- implementação dos projetos, na busca de parcerias,
O agrupamento interclasse é temporário e mente e diretamente seus alunos em suas demandas entre outras possibilidades. Os alunos devem ser
envolve a participação de alunos de salas diferentes individuais, enquanto os grupos trabalham de forma estimulados a permanecer engajados e trabalhar de
num mesmo grupo, com finalidade e objetivos pedagó- autodirigida. O planejamento desse tipo de agrupa- forma autônoma.
gicos específicos. Por exemplo, os professores de duas mento pode ter as mais distintas finalidades, porém Agora é sua vez! Imagine que você é um aluno
turmas diferentes podem estabelecer um horário para o professor não deve perder de vista seu papel de com os interesses listados a seguir.
o encontro de suas turmas, a fim de que seus alunos
ALUNO INTERESSES
tenham a oportunidade de trabalhar em projetos
comuns. Os grupos de trabalho serão formados por Aluno da 2ª série do Ensino Gosta de fazer coleções. Tem uma coleção de pedras coloridas de vários formatos e uma
Fundamental com 8 anos outra de penas de pássaros.
alunos de ambas as turmas que tenham interesses
em projetos comuns. Esse tipo de agrupamento é Aluna da 5ª série do Ensino Passa horas lendo revistas de corte e costura. Corta vestidinhos para a boneca e finge que
Fundamental com 10 anos participa de um desfile de modas.
bastante eficaz para a ampliação dos vínculos entre os
alunos, quando as turmas são pequenas, quando um Aluno de 6 anos da Educação Gosta de observar as formigas carregando folhas.
Infantil
projeto é bastante complexo para ser desenvolvido
por um grupo com poucos alunos, necessitando da Aluna de 15 anos da 1ª série do Os colegas dizem que ela sabe tudo sobre astronomia. Sabe o nome das estrelas de várias
Ensino Médio constelações e sua localização no céu. Ultimamente, está desenhando a órbita de alguns
adesão de outras crianças com os mesmos interesses. cometas.
Além disso, os professores envolvidos devem apreciar
Aluno com 5 anos que está fora da Passa muito tempo desenhando carrinhos. Ele tem uma coleção de carrinho de vários
o trabalho coletivo e o bom relacionamento, habili- escola modelos e de várias fábricas. Agora começou a desenhar seus próprios modelos.
dades imprescindíveis para a condução eficaz desse
Aluna de 9 anos na 3ª série do É muito falante e comunicativa. É a porta-voz da turma na hora de solucionar problemas.
tipo de agrupamento. A cooperação, a solidariedade Ensino Fundamental Gosta muito de ler e acabou de decorar vários poemas dos modernistas. Parece que será
e a formação de vínculos devem ser fomentadas e reprovada, pois tem uma caligrafia péssima!
não a competição ou comparação entre as turmas. É Aluno de 13 anos na 8ª série do Gosta de montar e desmontar coisas. Vive construindo engenhocas e brinquedos
possível o agrupamento de alunos de várias turmas da Ensino Fundamental diferentes. Depois de uma aula de ciências, agora só pensa em construir um robô.
escola, desde que haja um planejamento cuidadoso Aluna de 9 anos na 4a série do Gosta de pular e rodopiar. Corre de um lado para outro e dá cambalhotas. Passa muito
das atividades, projetos e interesses. Ensino Fundamental tempo dançando e inventando movimentos corporais.
Os grupos de enriquecimento podem ser reali- Aluno de 10 anos na 4a série do Fica muito triste e deprimido quando vê, na televisão, a situação de algumas crianças
zados no interior da sala de aula (intraclasse), diaria- Ensino Fundamental pobres, no nosso país. Ele recorta os jornais e revistas e guarda matérias com esses temas.
Ele pensa em ser médico ou assistente social quando crescer.
mente, de acordo com as demandas dinâmicas do
108
Agora utilize toda a sua criatividade e planeje ` Focalizar problemas que tenham importância dades metodológicas ou técnicas e de recursos
algumas atividades que os grupos de enrique- para indivíduos ou grupos específicos; humanos e materiais;
cimento intraclasse, interclasse ou extraclasse ` Distinguir as informações que são relevantes ` Estabelecer padrões, comparações, analogias,
poderiam desenvolver para atender aos interesses e irrelevantes na solução de um determinado relações e discrepâncias entre as informações
desses alunos. Mas lembre-se de que as atividades problema; com a finalidade de solucionar problemas ou
não devem ser iguais àquelas que estão contem- ` Planejar etapas e passos para a solução de refinar certas habilidades;
pladas no currículo regular da escola ou que já são problemas, seqüênciar eventos a partir de ` Gerar argumentos razoáveis ou explanações
regularmente desenvolvidas em sala de aula. Use e elementos lógicos ou práticos, considerar que justifiquem a tomada de decisão ou curso
abuse da imaginação! cursos de ação ou possíveis conseqüências de de ação;
determinadas ações ou eventos; ` Predizer necessidades para o desenvol-
Independente do tipo de agrupamento, as ` Gerenciar a construção de seu conhecimento, vimento de um projeto: tempo, recursos,
atividades dos grupos de enriquecimento podem ser prevendo a necessidade de informações ou custos, trabalho cooperativo, qualidade das
planejadas, segundo Renzulli, Gentry e Reis (2003), entendimento de determinados temas em interações entre as pessoas do grupo;
a partir do desenvolvimento de habilidades como: níveis mais avançado de conteúdo, habili- ` Examinar caminhos, alternativas e estratégias
que devem ser adotadas ou adaptadas para a
TIPO DE AGRUPAMENTO
solução de situações ou problemas (transfe-
ALUNO INTERESSES ATIVIDADES rência ou generalização de aprendizagem);
(EXTRA, INTRA OU INTERCLASSE)
` Comunicar de forma proficiente e profis-
Aluno com 8 anos Coleção de pedras coloridas de vários formatos sional temas variados em diversos formatos e
e uma outra de penas de pássaros.
gêneros a diferentes audiências.
Aluna com 10 anos Revistas de corte e costura, costura e desfile de Além disso, os grupos de enriquecimento
modas.
devem permitir o envolvimento dos alunos na busca
Aluno com 6 anos Observação de formigas. de soluções para problemas do mundo real e em
atividades de investigação e elaboração de produtos
Aluna com 15 anos Astronomia: estrelas, cometas e constelações.
criativos.
Aluno com 5 anos Desenhar carrinhos.
Na busca de soluções para problemas
Aluna com 9 anos Falar em público e poesias. do mundo real.

Aluno com 13 anos Montar e desmontar coisas, construir coisas e Mas afinal, o que são problemas do mundo
robótica. real? Podemos definir os problemas do mundo real
Aluna com 9 anos Dança e movimentos corporais. a partir de quatro elementos (Renzulli, Gentry &
Reis, 2003):
Aluno com 10 anos Questões sociais e medicina. (a) Problema personalizado – o problema
deve ser significativo para alguém, estar
109
diretamente relacionado com um interesse (d) Audiências autênticas – Os produtos e ender seu público alvo. Podem, ainda, desenvolver
individual ou coletivo. Por isso, o problema serviços elaborados pelos alunos devem ser habilidades de gerenciamento do tempo, tomada de

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


a ser trabalhado no grupo de enriquecimento dirigidos a uma audiência real ou um público decisão, cooperação e auto-avaliação, autoconfiança
não pode ser determinado pelo professor ou de verdade. Devem ser destinados a pessoas e criatividade.
por um agente externo ao grupo, mas deve ser que se interessam pelo assunto e que possam Diante do que foi exposto, podemos fazer
definido pelo grupo ou por um aluno; validar o conhecimento e o desempenho do outro exercício de criatividade. Vamos imaginar
(b) Várias alternativas de solução – O problema aluno ou, ainda, possam se beneficiar com o para que tipo de audiência os produtos e serviços,
deve ter várias possibilidades de respostas e produto ou serviço oferecido. A escolha certa listados a seguir, poderiam ser destinados.
não uma única solução. Exercícios, fórmulas e da audiência ou do público pode contribuir
simulações podem ser utilizadas para treinar para a manutenção da motivação ao longo do PRODUTOS AUDIÊNCIAS
certas habilidades, mas não devem limitar processo. O tipo de audiência pode, também,
Livro de receitas
a atuação dos alunos ou predefinir uma modificar a forma como o produto será
seqüência de conteúdos e técnicas a serem apresentado, os níveis de envolvimento com Palestra sobre dinossauros
utilizados; a tarefa, a necessidade de adesão de novos
(c) Conteúdo avançado e metodologia autêntica elementos ao grupo. A sala de aula e a escola Dicionário de gírias
– A solução do problema deve envolver podem constituir a audiência primária de um
Coleção de borboletas
ampliação do conhecimento e dos modos de projeto de um grupo de enriquecimento, mas
investigação, engajando os alunos na busca e não devem ser as únicas. Debate sobre a merenda escolar
desenvolvimento de habilidades criativas e de
Livro de contos sobre lendas
pesquisa (como as usadas pelos profissionais Em atividades de investigação e locais
da área estudada). Assim, eles devem ser elaboração de produtos criativos
Espremedor hidráulico de laranjas
orientados e treinados na aquisição de habili-
dades avançadas de consulta de referências, Para o desenvolvimento de atividades de Guia para lidar com a depressão
de banco de dados, de pesquisa em livros e investigação e elaboração de serviços e produtos
Álbum de erros encontrados em
bibliotecas. Os alunos devem ser capazes de criativos devem ser propostas situações de apren- faixas e placas do comércio da
organizar o conhecimento contido nos livros, dizagem que desafiem os alunos a pensar, sentir, cidade
revistas, manuais, utilizando ferramentas de fazer ou praticar coisas como profissionais das áreas Revista de moda da Idade Média
pesquisa e o método científico. Alguns tipos relacionadas aos projetos em que estão trabalhando.
Peça teatral: pequenas coisas para
de pesquisa vão requerer, inclusive, a utili- Eles devem ter acesso a oportunidades e recursos e fazer o tempo render
zação de técnicas e equipamentos sofisticados. ser encorajados a aplicar e ampliar seus interesses,
Eles devem ser desafiados e estimulados a criando alternativas para a solução dos impasses Muito bem! Agora vamos inverter as coisas!
experimentarem várias formas e maneiras e conflitos que porventura surgirem ao longo do Vocês devem imaginar produtos e serviços que
de fazer e conhecer, com vistas a se tornarem processo. Devem experimentar várias possibilidades poderiam causar impacto ou beneficiar audiências
produtores e não meros consumidores de de desenvolvimento de produtos, serviços e perfor- listadas a seguir. Quanto mais produtos e
conhecimento; mances com a intenção de causar impacto ou surpre- serviços, melhor!
110

AUDIÊNCIAS PRODUTOS ÁREA DESCRITOR TIPOS DE INTERESSES, HABILIDADES OU ESTILOS DE APRENDIZAGEM


Jogadores de futebol 1 Leitura, Audição e Visão Alunos com interesses voltados para a compreensão, interpretação, avaliação e
compreensão de informações, abstrações, idéias complexas, técnicas de compreensão
Pais de crianças com leucemia de informações e mídia eletrônica.
Moradores de uma vila próxima a 2 Escrita e Fala Alunos que demonstram variada capacidade acadêmica e de domínios de técnicas
uma usina atômica de escrita e comunicação.
3 Artes Alunos que demonstram conhecimento de várias formas de artes, processos e
Moradores de rua expressão artísticos, bem como criatividade artística ou performática e habilidades
Elite do Corpo de Bombeiros para apresentação artística.

Crianças hospitalizadas em pronto 4 Pessoas ou Culturas Alunos que demonstram grande interesse por geografia, culturas, história e temas
socorro ligados a eventos, influências e seqüências relacionados a aspectos sócio-histórico-
culturais.
Plantadores de milho
5 Investigação Alunos que demonstram habilidades de observação direta e facilidade para acessar
Moradores de uma cidade sem informações e utilizar uma grande variedade de recursos para responder questões ou
água potável formular hipóteses.

Alunos de uma escola que 6 Gerenciamento de Alunos que demonstram um conjunto de habilidades de liderança e gerenciamento
não possui parquinho ou local Recursos de recursos para a construção de produtos e serviços, utilizando apropriadas
adequado para brincar tecnologias para o acesso, avaliação e organização de informações e para a produção
de produtos.
Médicos pediatras

Diretores de um teatro municipal/


A outra proposta idealizada por Chen e seus colaboradores (2001) estão estritamente ligadas à “Teoria das
estadual Inteligências Múltiplas” de Gardner e dizem respeito a atividades organizadas em sala de aula. No entanto, essa
Professores e especialistas em mesma divisão pode ser utilizada para alocar os alunos nos grupos de enriquecimento. Esses grupos poderiam ser
questões ambientais estabelecidos a partir de oito categorias ou tipos de inteligência:

Os alunos podem ser também agrupados de ÁREA DESCRITOR TIPOS DE INTERESSES, HABILIDADES OU ESTILOS DE APRENDIZAGEM

acordo com suas habilidades, estilos de aprendi- 1 Mecânica e Construção Alunos que demonstram habilidades para consertar aparelhos, construir máquinas,
zagem etc. Neste sentido, a escola pode ter grupos objetos ou prédios, montar e desmontar objetos e resolver problemas mecânicos.
de enriquecimento alocados em grandes áreas 2 Ciências Alunos que demonstram altos níveis de curiosidade e questionamento e possuem
habilidades de observação, exploração, formulação e testagem de hipóteses.
ou categorias. Vamos detalhar duas estratégias, a
3 Música Alunos que demonstram habilidades de criação, produção, interpretação, percepção,
primeira com base no modelo desenvolvido por composição e audição musical nas variadas formas: canto, notação musical,
Renzulli, Gentry e Reis (2003) e o outro elaborado instrumentação, domínio de técnicas, tocar instrumentos.
com base nas “Inteligências Múltiplas” de Gardner 4 Movimento Alunos que demonstram capacidade para resolver problemas ou criar produtos
(Chen, Ibserg & Krechevsky, 2001). Para Renzulli utilizando o próprio corpo. São alunos que utilizam o corpo para expressar
sentimentos, emoções e idéias, explorar habilidades atléticas e testar limites ou
e seus colaboradores, as áreas ou grupos de enrique- capacidades físicas.
cimento poderiam ser planejados com base em 5 Matemática Alunos que demonstram habilidades e conhecimento lógico-matemáticos, para lidar
seis categorias: com conceitos e situações matemáticas.
...Continuação 111
6 Entendimento Social Alunos que demonstram habilidades de relacionamento intra e interpessoal,
vários membros do grupo de acordo com suas
percepção aguçada sobre os outros e sobre si mesmo: diferenças de humor, habilidades. Os objetivos são comuns, mas

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


temperamento, emoção, intenção, capacidade para responder a situações que exijam cada um dará a sua parcela de contribuição,
autoconhecimento, capacidade para reconhecer e definir papéis.
terá sob sua responsabilidade uma etapa ou
7 Linguagem Alunos que demonstram capacidades relacionadas à escrita, leitura, comunicação e
expressão em diversos contextos e de diferentes formas, bem como habilidade para partes do projeto. Essa estratégia permitirá
ouvir. que os alunos tenham experiências únicas, se
8 Artes Visuais Alunos com habilidades de observação e criação espacial, capacidade de representação por tornem especialistas em algumas atividades e
meio de cores, texturas e formas variadas, manipulação de instrumentos e materiais de arte
e grande sensibilidade estética. áreas e dominem certas técnicas;
(7) Modificar a rotina e as práticas tradicionais
implementadas na escola e na sala de aula. Os
Além disso, os grupos de enriquecimento cimento são formados para produzir, de alunos devem estar envolvidos em diferentes
devem ter o seu planejamento diferenciado do plane- forma criativa, produtos e serviços. Seus atividades. Dependendo do tamanho do
jamento dos cursos tradicionais ou daquilo que já membros devem ter autonomia para decidir grupo, da quantidade de professores facili-
está previsto no currículo regular adotado na escola. sobre quais assuntos, tópicos e técnicas têm tadores envolvidos, do tempo para o desen-
O planejamento de suas atividades deve, segundo necessidade para a execução do projeto. Os volvimento dos projetos, algumas atividades
Renzulli, Gentry e Reis (2003): professores são facilitadores e, como tal, não podem ser desenvolvidas com maior ou menor
podem ficar apáticos ou se posicionarem regularidade do que outras como passeios e
(1) Manter o foco na aplicação de conteúdos de forma passiva. Como mediadores, eles visitas a escritórios, teatros, museus, fábricas,
e processos voltados para os interesses dos podem criticar e examinar passos e soluções, laboratórios ou centros de pesquisa, partici-
alunos, dos produtos, priorizando o desenvol- propor alternativas e caminhos, analisar as pação em eventos, seminários, palestras ou,
vimento da liderança, habilidades de relacio- estratégias, indicar métodos, orientar no ainda, treinamento na utilização de técnicas e
namento interpessoal e de gerenciamento de uso de ferramentas, mas não devem impor equipamentos. Alguns projetos podem durar
tempo e recursos; sua vontade ou seu conhecimento; mais tempo e depender de um número maior
(2) Manter professores e alunos interessados, (5) Utilizar métodos, metodologias, conteúdos, de investimento, recursos, equipamentos
entusiasmados e motivados em participar materiais, equipamentos e ferramentas de como, por exemplo, produzir um filme de
e escolher os tópicos ou os projetos com os profissionais da área. Com isso, professores forma profissional ou escrever um livro. O
quais queiram contribuir; e alunos terão muito a aprender com outros grupo poderá manter-se engajado durante
(3) Promover o agrupamento por outros critérios profissionais e outras áreas do conhecimento. todo esse tempo, se tiver uma rede de apoio
diferentes de faixa etária e série. Os interesses, Mentores, especialistas, manuais e métodos social envolvida no projeto. Outros projetos
estilos de aprendizagem e expressão e as de pesquisa serão preciosas ferramentas e podem levar apenas algumas semanas, tais
habilidades devem ter prioridade sobre recursos a serem consultados durante todo o como construir uma réplica de um objeto
quaisquer outros critérios; processo de desenvolvimento de produtos e antigo, a miniatura de uma obra arte ou a
(4) Evitar o uso de unidades e lições previa- serviços; releitura de uma poesia. A atmosfera ou o
mente planejadas com a finalidade de guiar (6) Promover o desenvolvimento de múltiplos clima no grupo de enriquecimento deve ser
as ações dos alunos. Os grupos de enrique- talentos e a divisão de trabalho entre os sempre de satisfação e auto-realização, desejo
112
de produzir e curiosidade em aprender; trabalhar com este ou aquele grupo de alunos. Pais, ou quinzenalmente, nos fins de semana ou no
(8) Reservar horários para desenvolvimento diretores, profissionais e outros voluntários podem período de férias. Antes de começar será preciso
das atividades do grupo de enriquecimento ser líderes de grupos de enriquecimento. Os grupos definir e comunicar aos pais, alunos professores
de forma a não inviabilizar o envolvimento não precisam, necessariamente, trabalhar conteúdos e voluntários:
do aluno nas demais atividades escolares. A acadêmicos. Alunos e professores podem participar ` A quantidade de pessoas que irá compor
discussão e a decisão sobre a quantidade de de grupos de enriquecimento com a finalidade cada grupo;
horas a serem despendidas semanalmente de cozinhar, aprender técnicas de jardinagem, de ` Número de grupos a entrar em funciona-
nos projetos de enriquecimento devem marcenaria, de fotografia, de cenografia, decorar mento;
ser acordadas entre professores, famílias e bolas, fazer bichinhos de balão, aprender técnicas ` A duração de cada encontro do grupo;
direção da escola. de marketing, fazer arranjos florais etc. ` Dias da semana, quantidade de horas e
Passo 3 – Fazer um cronograma de funcio- período do ano em as atividades do grupo
Passos para a Criação e namento dos grupos de enriquecimento serão implementadas.
Desenvolvimento de Grupos de Antes de iniciar as atividades do grupo de Para encontros diários é recomendado um
Enriquecimento enriquecimento, é importante fazer um crono- período mínimo de 1 hora e 30 minutos. Para
grama contendo os horários de seu funcionamento. encontros alternados, semanais ou quinzenais, o
Renzulli, Gentry e Reis (2003) sugerem sete As atividades do grupo de enriquecimento não tempo pode variar de 2 a 4 horas, dependendo da
passos que poderão auxiliar na implementação de devem coincidir ou prejudicar outras atividades necessidade. No entanto, cabe a cada grupo e escola
grupos de enriquecimento. em que os alunos estejam, como aulas de inglês, decidir quanto a alocação de tempo. Veja a seguir
Passo 1 – Conhecer os interesses dos alunos educação física ou outras atividades definidas no alguns modelos que poderão auxiliar no preparo
e adultos envolvidos calendário escolar ou currículo regular. Os grupos do cronograma de funcionamento dos grupos de
Geralmente, no ensino regular, os alunos podem funcionar diariamente, semanalmente enriquecimento em sua escola.
se envolvem nas mesmas atividades, independen-
temente de seus talentos e interesses. Em contra- MODELO DE CRONOGRAMA SEMANAL PARA ENCONTROS DIÁRIOS
partida, nos grupos de enriquecimento, tudo deve CRONOGRAMA SEMANAL PARA GRUPOS DE ENRIQUECIMENTO DIÁRIO (GED)
ser planejado com base nos interesses, preferências, Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
estilos de aprendizagem e expressão e talento dos
Disciplinas Disciplinas Disciplinas Disciplinas
alunos. Então, o primeiro passo será conhecer estes GED
curriculares curriculares curriculares curriculares
interesses e talentos. Disciplinas Disciplinas Disciplinas Disciplinas
Disposição das GED
Passo 2 - Formar um banco de interesses e curriculares curriculares curriculares curriculares
Disciplinas
de possíveis facilitadores Curriculares e do Disciplinas Disciplinas Disciplinas Disciplinas
GED
GED curriculares curriculares curriculares curriculares
É de extrema importância para a implemen-
Disciplinas Disciplinas Disciplinas Disciplinas
tação dos grupos de enriquecimento ter um grupo GED
curriculares curriculares curriculares curriculares
de facilitadores em potencial que, além de agrupar Disciplinas Disciplinas Disciplinas Disciplinas
GED
os alunos por interesses em categorias maiores, curriculares curriculares curriculares curriculares
poderá ter seus próprios interesses contemplados ao Nota: Vários grupos podem estar reunidos em cada um desses horários, intra, inter ou extraclasse.
113

MODELO DE CRONOGRAMA SEMANAL EM TURNO CONTRÁRIO

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


CRONOGRAMA SEMANAL PARA GRUPOS DE ENRIQUECIMENTO EM TURNO CONTRÁRIO AO DE SALA DE AULA REGULAR

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA


DISPOSIÇÃO DOS GRUPOS DE ENRIQUECIMENTO (04 HORAS SEMANAIS) GE1 G3 GE1 G3
G6
GE2 G4 G2 G4
Nota: Dependendo do número de grupos, cada dia e horário pode ter mais de um grupo reunido

MODELO DE CRONOGRAMA SEMESTRAL PARA FUNCIONAMENTO DOS GRUPOS DE ENRIQUECIMENTO

CRONOGRAMA ANUAL PARA FUNCIONAMENTO DOS GRUPOS DE ENRIQUECIMENTO – 1º SEMESTRE

SEMANAS SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA


JANEIRO
1ª a 4ª semanas Férias Escolares
FEVEREIRO
1ª a 4ª semanas Estudos sobre os interesses e estilos de aprendizagem
MARÇO
1ª Semana Mapeamento dos Interesses e Formação do Banco de Facilitadores
2ª Semana Mapeamento dos Interesses e Formação do Banco de Facilitadores
3ª Semana Formação dos Grupos de Enriquecimento
4ª Semana Formação dos Grupos de Enriquecimento
ABRIL
G1 G3 G1 G3
1ª Semana G5...
G2 G4 G2 G4

2ª Semana

3ª Semana

4ª Semana
114 ...Continuação

MAIO
G1 G3 G1 G3
1ª Semana G5...
G2 G4 G2 G4

2ª Semana

3ª Semana

4ª Semana

JUNHO
G1 G3 G1 G3
1ª Semana G5...
G2 G4 G2 G4

2ª Semana

3ª Semana

4ª Semana

Nota: O cronograma pode ser o mesmo no atores escolares (assistentes, pessoal de apoio, psicó- que poderá ser útil para o melhor desenvolvimento
o
2 semestre, se os grupos se mantiverem, ou poderá logos, orientadores), podem ser incluídos na lista de das atividades do grupo. A decisão pela inclusão de
ser modificado de acordo com a disponibilidade de voluntários: pais, universitários, especialistas, profis- voluntários é estritamente da competência da escola
professores, alunos e famílias. A duração dos grupos sionais da comunidade etc. Os voluntários podem e deve ser orientada por critérios estabelecidos e
de enriquecimento é flexível e, por isso, não precisa prover diversos tipos de recursos, materiais e habili- divulgados para esse fim.
durar o semestre inteiro. dades específicas de uma determinada profissão. Passo 5 – Fornecer orientação para os
Passo 4 – Recrutar facilitadores para os Os adultos que irão se envolver nas atividades do facilitadores
grupos de enriquecimento grupo devem ser responsáveis, maduros e cheios de Todas as pessoas envolvidas nos grupo de
Alocar pessoas como facilitadores dos grupos entusiasmo, bem como possuir interesses e habili- enriquecimento devem ter acesso a informações
de enriquecimento pode ser uma tarefa simples dades adequadas ao tipo de produto ou serviços a e métodos que possam, pelo menos inicialmente,
quando os professores, pais, diretores e coordena- ser desenvolvido nos grupos de enriquecimento. auxiliá-los na condução dos grupos de enrique-
dores já estão sensibilizados para a necessidade da Eles devem ser convidados a participar e orientados cimento, uma vez que a dinâmica desses grupos é
participação dos alunos em atividades de enrique- quanto à filosofia do trabalho, objetivos, necessi- muito diferente daquilo que a maioria deles experi-
cimento curricular. Além dos professores e outros dades, organização do tempo, cronograma e tudo o mentaram durante a sua vida escolar. Apostilas,
115
minicursos e reuniões podem ser estratégias facilmente para a identificação de alunos com altas habilidades/ jornalzinho de modo a sensibilizar as pessoas com
organizadas com a finalidade de capacitar os facilita- superdotação. Sempre que possível nomeie o grupo de relação às espécies em extinção. Você pode também

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


dores no uso de técnicas não tradicionais de ensino, enriquecimento com títulos interessantes e criativos de fazer uma tempestade de idéias e encontrar várias
na resolução criativa de problemas e no planejamento modo a chamar a atenção dos alunos. soluções para o efeito estufa. Explorar a floresta
dos encontros do grupo, bem como no gerenciamento Exemplo de uma chamada de inscrição para Amazônica será certamente uma jornada cheia
do tempo e formas de manter os alunos engajados no um grupo de enriquecimento: de aventuras!
desenvolvimento dos produtos e serviços escolhidos. Número de encontros por semana: 2 sessões
A troca de experiências entre os facilitadores e a de 45 minutos durante 3 meses.
GRUPO DE ENRIQUECIMENTO
equipe de coordenadores e direção da escola é outra Outros exemplos de títulos de grupos de
estratégia bastante eficiente na formação da equipe. enriquecimento:
Sociedade Para Preservação da Floresta Amazônica
Passo 6 – Registrar os alunos nos grupos de ` Oficina dos Poetas
enriquecimento Você sabia que a floresta Amazônica é um dos ` Equipe de Robótica Experimental
É interessante registrar a participação dos mais exóticos lugares da terra? Em que muitos ` Companhia de Desenhos de Móveis
alunos nos grupos de enriquecimento. Isso pode ser animais e plantas estão em perigo de extinção a Criativos
feito, inicialmente, por meio de ficha de inscrição, cada ano? Mergulhe na fauna e flora da floresta ` Luzes, Câmara, Ação: Técnicas de Produção
pedido de autorização aos pais, participação de reunião Amazônica por meio de slides, fotografias, fil- de Vídeos
para orientação de funcionamento dos grupos etc. mes, enciclopédias virtuais juntamente com Alex, ` Prezado Sr. Shakespeare: Oficina de Escrita
Os professores, pais e famílias envolvidas devem ter um biólogo especialista na floresta Amazônica! para Jovens Escritores
oportunidade para fazer suas considerações sobre o Você pode desenvolver um slogan, um manual ou ` Associação de Conscientização da Cultura
desenvolvimento dos grupos. Para tanto, podem ser um jornalzinho de modo a sensibilizar as pesso- Espanhola
elaborados questionários para a avaliação das ativi- as com relação às espécies em extinção. Você Passo 7 – Celebrar o sucesso
dades realizadas, do processo, do resultado final em pode também fazer uma tempestade de idéias e É bom criar mecanismos de reconheci-
termos da participação dos alunos e/ou dos produtos e encontrar várias soluções para o efeito estufa. mento do trabalho realizado por cada partici-
serviços apresentados. Explorar a floresta Amazônica será certamente pante do grupo de enriquecimento. A mídia pode
O registro dos alunos é importante para organi- uma jornada cheia de aventuras! ser convidada para a apresentação dos produtos
zação de atividades fora da escola e para a previsão de dos grupos. Cartazes contendo elogios pelo
materiais a serem utilizados. Além disso, os alunos sucesso ou finalização dos projetos, cerimônias
que demonstrarem habilidades acima da média Você sabia que a floresta Amazônica é um e a organização de eventos de premiação, festas
ou comportamentos de superdotação poderão ser dos mais exóticos lugares da terra? Em que muitos e jantares de confraternização, medalhas de
encaminhados para atendimento em salas de recursos animais e plantas estão em perigo de extinção a honra ao mérito, feiras e show de talentos,
para serem atendidos em suas necessidades especiais. cada ano? Mergulhe na fauna e flora da floresta certificados, livros, jornais, faixas de congratu-
Assim, o grupo de enriquecimento além de constituir Amazônica por meio de slides, fotografias, filmes, lação, criação de espaços para comunicação são
uma experiência enriquecedora, também se revela uma enciclopédias virtuais juntamente com Alex, um algumas estratégias que podem ser adotadas
eficiente estratégia caça-talentos, pois tanto contempla biólogo especialista na floresta Amazônica! Você para valorizar o esforço e dedicação dos alunos
habilidades e interesses dos alunos como contribui pode desenvolver um slogan, um manual ou um e professores.
116
Renzulli, Gentry e Reis (2003) apresentam cipantes para o planejamento eficaz de ativi-
várias sugestões para o desenvolvimento das ativi- dades ou estruturação do ensino. Aquilo que Como as pessoas com interesse nesta área estudam
dades dos grupos de enriquecimento. deu certo em determinado grupo em deter- este tópico?
` O papel do professor ou adulto facilitador minado tempo pode não ser uma estratégia Que tipo de produtos ou serviços eles costumam
no grupo é o de mediador. O planejamento eficiente para outro grupo. Com isso, velhos criar?
de ensino é diferente daquele destinado hábitos de ensino devem ser rompidos para
Quais os métodos que eles usam para desenvolver o
à sala de aula tradicional. As atividades não inibir o desenvolvimento de habilidades
seu trabalho?
devem ser baseadas no modelo de enrique- e interesses;
cimento escolar: atividades de exploração, ` O que torna os grupos de enriquecimento Quais os recursos ou materiais são necessários para
instrumentação e de desenvolvimento de diferentes é que eles lidam com problemas produzir produtos e serviços de alta qualidade?
serviços e produtos. Não deve haver super- do mundo real e com o desenvolvi- Como esses profissionais comunicam ou apresentam
posição de atividades do ensino regular mento de produtos e serviços que visam os resultados de seu trabalho?
com as do grupo de enriquecimento para solucionar tais problemas. A participação Quais os passos que precisam ser seguidos para que
que os alunos não fiquem sobrecarregados. nesses grupos não deve ser um prêmio os resultados, produtos ou serviços possam causar
O ambiente de ensino no grupo deve ter para os melhores alunos, mas uma oportu- impacto na audiência?
dinâmica agradável, flexível e sem excessivo nidade para todos demonstrarem o seu
controle ou rotina; potencial. Nunca devemos duvidar do que
` Os alunos fazem parte de um time, de uma uma pessoa motivada é capaz. Acredite nas São elas:
equipe. Os adultos são mentores, técnicos, possibilidades de crescimento do seu aluno,
agentes, guias que vão ajudar os seus mesmo quando elas não são visíveis no
pupilos a demonstrarem o seu potencial. momento ou parecem apenas uma nublada ` Esta não deve ser uma tarefa realizada nos
É preciso tomar uma posição diferenciada, promessa de sucesso; moldes tradicionais. Todos os membros do
ter altas expectativas sobre o desempenho ` Os tópicos que serão desenvolvidos nos grupo devem ter satisfação em descrever a sua
e possibilidades de realização dos alunos. grupos de enriquecimento devem ser fasci- percepção do trabalho realizado, registrar os
Eles serão os autores, os produtores de nantes! Elas devem ser o reflexo dos interesses seus desejos, sonhos, necessidades. Essa estra-
conhecimento, aqueles que terão a rédea de seus membros.; tégia pode ser utilizada para que os alunos
do processo de aquisição de conhecimento ` Várias questões podem ser respondidas ao sintetizem ou organizem o conhecimento;
e que conduzirão a sua própria história; longo processo para prover informações, ` Os grupos de enriquecimento podem ser
` Os grupos são formados por pessoas com clarear idéias e orientar o grupo na tomada formados por alunos de várias idades, de
diferentes interesses, personalidades, de decisão sobre os serviços e produtos a turmas ou de escolas diferentes. É impor-
estilos de aprendizagem, experiências e serem elaborados. Os alunos devem tirar suas tante que todos sejam ouvidos e se sintam
trajetórias de vida. Isto faz com que cada próprias conclusões e serem encorajados a parte do grupo. Uma estratégia inicial que
grupo tenha uma configuração e identi- descobrir caminhos. Essas questões podem muito poderá ajudar é distribuir placas de
dades únicas. Por isso, é preciso coletar uma estar relacionadas com aspectos específicos identificação ou crachás contendo o nome
ampla gama de informações sobre os parti- e profissionais sobre os tópicos selecionados. dos alunos, seus interesses, hobbies ou outras
117
características. Trabalhar em equipe envolve mentos que poderão ser utilizados na implemen- Projeto Spectrum: atividades iniciais de aprendizagem
a divisão de trabalho entre os membros de tação de grupos de enriquecimento. (vol. 2). Porto Alegre: Artmed.

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


acordo com suas preferências, habilidades
e interesses. Os alunos devem ser sempre Referências Leituras Recomendadas
encorajados a aprofundar o conhecimento e
a utilizar novas metodologias de trabalho. Renzulli, J. S., Gentry, M. & Reis, S. M. Nos livros indicados vocês encontrarão várias
Finalmente, as atividades desenvolvidas nos (2003). Enrichment clusters: A practical plan for fichas, instrumentos, exercícios e atividades que
grupos de enriquecimento devem ser objeto de real-world, student-driven learning. Mansfield, CT: poderão ser utilizadas como modelos para mapear os
constante avaliação por parte da equipe de facili- Creative Learnig Press. talentos e interesses. No entanto, encorajamos todos
tadores, coordenadores e alunos. Devido a sua Chen, J., Isberg, E. & Krechevsky, M. (2001). os professores, coordenadores e outros profissionais
dinâmica flexível, é importante que todos opinem a desenvolverem seus próprios instrumentos e ativi-
sobre o andamento das atividades, a seqüência dos dades e compartilhá-los com os demais colegas que
tópicos e ações. Para isso, são necessários meios e estão no caminho de se tornarem especialistas em
instrumentos eficientes que favoreçam o direciona- enriquecimento escolar/curricular. Boa leitura!
mento e o redirecionamento das múltiplas possibi- Campbell, L., Campbell, B. & Dickinson, D.
lidades que vão surgindo ao longo do processo de (2000). Ensino e aprendizagem por meio das inteli-
elaboração de produtos e serviços autênticos. gências múltiplas. Porto Alegre: Artmed.
A avaliação deve ser voltada tanto para o Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2005).
processo quanto para o produto. Cada membro Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e
da equipe deve avaliar a sua participação, o nível prática. Petrópolis: Vozes.
dos conhecimentos adquiridos, os procedimentos Goleman, D., Kaufman. P. & Ray, M. (1997).
adotados, as atividades desenvolvidas, os recursos O espírito criativo. São Paulo: Cultrix.
utilizados, as características do produto, o impacto Rodari, G. (1982). Gramática da fantasia. São
dos resultados sobre a audiência, os níveis de Paulo: Summus.
motivação e a integração da equipe durante o Sternberg, R. J. & Grigorenko, E. L. (2003).
processo. Os dados gerados na avaliação devem ser Inteligência plena: ensinando e incentivando a apren-
registrados, tabulados e compartilhados entre os dizagem e a realização dos alunos. Porto Alegre:
membros do grupo a fim de que todos sejam co- Artmed.
responsáveis pelas decisões tomadas a partir desses Virgolim, A. M. R., Fleith, D. S. & Neves-
eventos avaliativos. A avaliação pode ser escrita ou Pereira, M. S. (2006). Toc, toc...Plim, plim! Lidando
oral e utilizar instrumentos como questionários, com emoções, brincando com o pensamento através da
entrevistas, formulários e discussão. No entanto, a
avaliação não deve ser feita para atribuir menção
e não deve estar atrelada ao que acontece na sala
de ensino regular. Veja, ao final do capítulo, instru-
118
Anexos - Capítulo 5

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


119
120

criatividade (8a ed.). Campinas: Papirus. O MUNDO SERIA MELHOR SE...

MEU GRUPO É

Eu pudesse ________________________
Os políticos _______________________
Minha mãe ________________________
Meu pai __________________________
Meus professores ___________________
O lugar onde moro__________________
Minha cidade ______________________
Meu Estado _______________________
Meu País _________________________
O dinheiro ________________________
A escola __________________________
As crianças _______________________
Os animais ________________________
As estradas _______________________
121

Capítulo 5: Grupos de Enriquecimento


CERTIFICADO DE APRECIAÇÃO

Certificamos que ______________________________


__ completou com sucesso o projeto _________________
___ desenvolvido no Grupo de Enriquecimento em nossa
escola, no período de ____/____/______.

Local, data

Diretor Facilitador
SOBRE AS AUTORAS

Mônica Souza Neves-Pereira é pedagoga, Renata Rodrigues Maia-Pinto é


mestre e doutora em Psicologia Escolar. Atua pedagoga, mestre e doutoranda em Psicologia
em docência de nível superior há 15 anos e tem na Universidade de Brasília. É analista de plane-
trabalhos publicados na área de criatividade jamento e gestão educacional da Secretaria de
e ensino. Educação Especial do Ministério da Educação.
Angela Mágda Rodrigues Virgolim Vera Lúcia Palmeira Pereira é pedagoga,
é psicóloga, mestre em Psicologia e Ph.D. mestranda em Educação na Universidade
em Psicologia Educacional pela University Católica de Brasília. É professora do programa
of Connecticut. Foi presidente do Conselho de atendimento ao aluno com altas habili-
Brasileiro para Superdotação – ConBraSD dades/superdotação da Secretaria de Estado de
(biênio 2005/2006) e é professora adjunta do Educação do Distrito Federal.
Instituto de Psicologia da Universidade de
Brasília.
Jane Farias Chagas é mestre e douto-
randa em Psicologia pela Universidade de
Brasília, Licenciada em Música e Bacharel em
Teologia. Atualmente é professora itinerante
do programa de atendimento ao aluno com
altas habilidades/superdotação da Secretaria de
Estado de Educação do Distrito Federal.
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Especial
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