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Da série
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“O que eu gostaria de ter aprendido
ANTES de ser professora”.

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DIFICULDADES ESCOLARES, DISTÚRBIOS
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ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM E
TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO:
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prevenção, identificação e intervenção.

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Prof . Dra. LUCÍLIA PANISSET
a

Belo Horizonte, outubro de 2023.


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PERFIL PROFISSIONAL DA PALESTRANTE
(Link para o Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/5588271489379064)

Educadora, com mais de cinco décadas de experiência profissional em docência e


coordenação, desde a Educação Básica até a Educação Superior, a escritora e
professora Lucília Panisset é doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela
Universidade Federal de Santa Catarina, onde também obteve o seu título demestre em
Engenharia de Produção, com ênfase em Mídia e Conhecimento. Psicopedagoga (PUC
Minas) e especialista em Neurociências Aplicadas à Educação, em Altas Habilidades e
Superdotação (UNIFIL), e em Linguística Aplicada ao Ensino de Inglês (UFMG). Lucília,
que iniciou a sua trajetória acadêmica com o Curso de Magistério, seguido do
bacharelado em Letras (PUC Minas), com licenciatura em Português, Inglês e suas
literaturas, tem formação em e em Leadership: Foundation Principles, pela University of
Harvard.
Como palestrante nacional e internacional, apresenta variados temas relacionados
com a sua formação acadêmica e as associações profissionais nacionais e estrangeiras
das quais é membro, como o Conselho Brasileiro de Superdotação (ConBraSD), a
Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento, a Sociedade Brasileira de
Neuropsicologia (SBNp), a Associação Brasileira de Dislexia, a Associação Brasileira do
Déficit de Atenção, a Associação Nacional de Educação Básica Híbrida, a Institute of
Mind, Brain and Education Society, a International Dyslexia Association, a Children and
Adult with Attention Deficit Disorder Association e a International Society of Female
Professionals.
A sua missão ‒ inspirada em seus avós e pais, também professores ‒ tem sido
contribuir com a educação brasileira, sempre fundamentada no equilíbrio entre
conhecimento, qualificação, atualização científica, a própria capacitação continuada e
uma prática pedagógica criativa, que privilegie o protagonismo dos estudantes. Hoje, por
meio de A Prática do Conhecimento Consultoria, Lucília se dedica à educação
continuada de profissionais das áreas de Educação, Saúde e Gestão.
CONTATOS:
E-mail: lupanisset@gmail.com
YouTube: Professora Lucilia Panisset, Dra.
Celular/Whatsapp: (31) 99215-2181

A REPRODUÇÃO DESTE MATERIAL É PERMITIDA ENTRE EDUCADORES,


DESDE QUE SEJA DISTRIBUÍDO DE FORMA GRATUITA E ÉTICA,
devendo ser mantidos os créditos da seguinte forma:
TRAVASSOS, Lucília Panisset. DIFICULDADES ESCOLARES, DISTÚRBIOS ESPECÍFICOS DE
APRENDIZAGEM E TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO: prevenção, identificação e
intervenção. 9. ed. rev. atual. Belo Horizonte: A Pratica do Conhecimento Consultoria, 2023. 95 f. (Série O
que eu gostaria de ter aprendido antes de me tornar professora.) Apostila.

© 2020-2025 Lucilia Panisset Travassos. Todos os direitos reservados.


PARTE I - NEUROCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO: uma parceria imprescindível

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Profa. Dra. Lucília Panisset Travassos

As instituições educacionais têm experimentado uma crescente necessidade de implementar


mudanças, pois a grande competitividade do mercado exige o desenvolvimento de competências,
utilização das mais atualizadas ferramentas de gestão e aplicação de novos conceitos e
estratégias de qualidade. Alinhando os fundamentos teóricos à realidade das organizações
educacionais brasileiras, conhecer que situações podem promover melhor aprendizagem
humana é um plus, que pode ajudar os docentes de escolas de Educação Básica e Superior a
conseguirem que seus alunos alcancem melhores índices de desempenho e, assim, manter a
longevidade dessas organizações.
Aprender é um processo que pode ser traduzido como “a capacidade e a possibilidade que
as pessoas têm para perceber, conhecer, compreender e reter na memória as informações
obtidas” (TOPCZEWSKI, 2000). E como aprendizagem é assunto do cérebro, entende-se que um
professor completo é aquele que - além de ser vocacionado e bem preparado na sua área de
saber - conhece as regras do cérebro e as usa a favor de seus alunos. No entanto, a realidade
ainda é outra: a maioria dos cursos voltados para o magistério oferece apenas as tradicionais
disciplinas associadas a estudos filosóficos e didáticos, negligenciando os rápidos avanços
neurocientíficos que têm ocorrido a partir dos anos 90, a Década do Cérebro.
As neurociências estudam o sistema nervoso, suas composições e suas diferentes
manifestações por meio das nossas atividades intelectuais (FIORI, 2008), e – por sorte dos
educadores – não faltam pesquisadores interessados em memória, emoções e aprendizado.
Assim, formar-se para a prática pedagógica sem conhecer os processos mentais do ser humano,
nem saber aplicar conhecimentos neurocientíficos às atividades de aula, é conviver com uma
lacuna que impede o docente de conhecer as razões neuropsicológicas para sucessos,
problemas para aprendizagem. E, sem esse conhecimento, como orientar adequadamente cada
aprendiz?
Entre as explicações oferecidas pelas neurociências, um dos assuntos que eu deveria de ter
aprendido antes de me tornar professora é a diferenciação entre os termos dificuldades,
transtornos e distúrbios de aprendizagem, comumente usados como sinônimos, mas que têm
suas peculiaridades. Concordo com Fuentes (2008): conhecer tais particularidades merece
especial atenção, pois pode, sem dúvida, favorecer a aprendizagem e minimizar os seus
problemas.
Para que aconteçam aprendizagens, é necessário que haja integridade das funções
psicodinâmicas (aspectos psicoemocionais), do sistema nervoso periférico (canais para a
aprendizagem simbólica) e do sistema nervoso central (elaboração, processamento, e
armazenamento da informação). Se uma (ou mais) dessas funções estiver comprometida,
crianças, adolescentes ou adultos apresentam desempenho acadêmico abaixo do esperado e
são comumente rotulados como pessoas com ‘problemas de aprendizagem’. Mas para entender
esses problemas, primeiramente é necessário reconhecer as diferenças básicas entre distúrbio,
transtorno e dificuldade, que acontecem em relação à região cerebral afetada e à função
comprometida, assim como aos problemas daí resultantes.
A palavra distúrbio tem a ver com "alteração na ordem natural" (CIASCA, 2003). Assim, o
distúrbio é uma disfunção, uma perturbação no processo natural da aquisição de aprendizagem.
Envolve a seleção do estímulo, o processamento e o armazenamento da informação. Resultado:
quando chega o momento de responder aos estímulos, acontecem déficits nas habilidades de
linguagem: fala, leitura e escrita. O distúrbio, que resulta de uma disfunção na região parietal

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(lateral) do cérebro, acontece em nível individual e orgânico, quer dizer, com características
pessoais e dentro do indivíduo.
O transtorno, por sua vez, decorre de uma disfunção na região frontal do cérebro, que
provoca falha na entrada do estímulo e na integração de informações. Uma causa orgânica, que
gera impulsividade, hiperatividade e outras dificuldades, esse quadro transtorna a vida da pessoa,
em razão do evidente comprometimento comportamental.
Por serem de origem interna, distúrbios e transtornos independem do desejo que o portador
possa ter de desempenhar atividades da forma como a família, a escola ou a sociedade esperam
dele. Por isso, para atingir os objetivos de desempenho social e acadêmico satisfatório, o
portador de um distúrbio ou de um transtorno de aprendizagem precisa de ajuda especializada
(CAMARGO; COSENZA; FUENTES; MALLOY-DINIZ, 2008).
Já a principal característica da dificuldade é ser “pedagógica”, logo, externa. Nas dificuldades
escolares estão inseridos os atrasos no desempenho acadêmico por falta de interesse, por
perturbação emocional passageira, por métodos inadequados ou até devido ao padrão de
exigência da escola. Hoje, sabe-se que dificuldades escolares podem ser remediadas com
qualificação de profissionais da educação, parceria da família com os educadores e escolas com
estrutura física e planejamentos adequados.
Enquanto os distúrbios e os transtornos para aprendizagem requerem uma equipe
multidisciplinar, que inclui profissionais de saúde (ROTTA, 2006), as dificuldades escolares
pedem o acompanhamento psicopedagógico e a capacitação de pais e professores, para que as
interferências externas, que prejudicam a aprendizagem, sejam minimizadas.
As neurociências abriram fronteiras para um novo contexto educacional, que exige uma
mudança de paradigmas no sistema educacional, de modo que a interface entre saúde e
educação possa gerar uma neuropedagogia. Simplesmente saber qual é o papel das sensações,
da percepção, da atenção, da memória e da utilização de múltiplas inteligências e estilos
pessoais em atividades pedagógicas, assim como conhecer a caracterização de dificuldades
escolares, transtornos e distúrbios, no entanto, é insuficiente para o Professor Educador ajudar
seus alunos a aprenderem as lições. É necessário que também as escolas onde atuam
reconheçam que somente uma estrutura curricular que contemple as habilidades
neurologicamente apropriadas a cada faixa etária facilitará o desenvolvimento das competências
desejadas; que uma grade de horário de aulas construída adequadamente inicia a rotina diária
com artes, humanidades e exercícios físicos, enquanto ciências biológicas e exatas devem ser
estudadas nos últimos horários e que o ambiente ideal para a aprendizagem acolhe a
diversidade, é interativo, transcende a sala de aula, alimenta os cérebros com curiosidades,
desafios e escolhas. Só assim os colégios e as universidades não correrão o risco de dar nomes
novos e modernos para práticas antigas e cristalizadas.
E vou além: para que tal atualização dê certo, é preciso que as escolas propiciem
capacitação em neurociências não só para seus professores, mas também para as famílias de
seus alunos e a comunidade, que precisam conhecer para entender as mudanças implantadas e
dar suporte às novas configurações da Educação para a vida neste século.
Piaget disse que “o principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas
novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram...” Dita de outro modo, essa
mesma mensagem foi transmitida em diversas palestras do VII Congresso de Gestão
Educacional, em março de 2009: “Educação não treina; transforma!”.
As duas mensagens nos fazem lembrar que não é mais suficiente pensarmos no mundo que
queremos entregar aos nossos alunos, mas que precisamos decidir que tipo de alunos queremos

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entregar ao mundo. Para auxiliar escolas, professores e pais de alunos a se adaptarem à nova
realidade e tomarem essa decisão, as neurociências se oferecem para serem usadas na
Educação. E é aí que, muito longe de ser modismo, uma parceria entre neurociências e
Educação passa a ser imprescindível.

Parte II - DIFICULDADES ESCOLARES, DISTÚRBIOS ESPECÍFICOS DE


APRENDIZAGEM E TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO:
prevenção, identificação e intervenção.

I - INTRODUÇÃO

Segundo Dr. Stephen Brian Sulkes (2022), do Golisano Children’s Hospital, da Faculdade
de Medicina da universidade de Rochester (USA), o termo “transtornos – ou distúrbios - do
neurodesenvlvimento reúne problemas neurológicos que podem interferir na aquisição, retenção
ou na aplicação de habilidades ou conjuntos de informações específicos. Eles podem envolver
disfunção da atenção, da memória, da percepção, da linguagem, da solução de problemas ou da
interação social, e são classificados como leves (de fácil controle com intervenções
comportamentais e educacionais), moderados ou graves (que exigem mais apoio para os
indivíduos que convivem com essas condições.
De acordo com DSM-5 (sigla para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders 5th
Edition), que é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, criado pela
Associação Americana de Psiquiatria (APA) para padronizar os critérios diagnósticos das
desordens que afetam a mente e as emoções, há sete grupos de transtornos do
neurodesenvolvimento:

1) Deficiências Intelectuais:
• Deficiência Intelectual
• Atraso global do desenvolvimento
• Deficiência Intelectual Não Especificada

2) Transtornos da Comunicação
• Transtorno da Linguagem
• Transtorno da Fala
• Transtorno da Fluência com Início na Infância (Gagueira)
• Transtornos da Comunicação Social (Pragmática)
• Transtorno da Comunicação Não Especificado

3) Transtornos do Espectro Autista

4) Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade


• Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade
• Outro Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade Especificado
• Outro Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade Não Especificado

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5) Transtornos Específicos da Aprendizagem
• Transtorno Específico da Aprendizagem com Prejuízo na leitura (precisão, velocidade,
fluência ou compreensão das palavras)
• Transtorno Específico da Aprendizagem com Prejuízo na Expressão Escrita (precisão na
ortografia, gramática, pontuação, clareza ou organização)
• Transtorno Específico da Aprendizagem com Prejuízo na Matemática (senso numérico,
memorização de fatos aritméticos, precisão ou fluência de cálculo, precisão no raciocínio
matemático)

6) Transtornos de Tique
• Transtorno de Tourette
• Transtorno de Tique Motor ou Vocálico Persistente (Crônico)
• Transtorno de Tique Transitório
• Outro Transtorno de Tique Especificado
• Transtorno de Tique Não Especificado

7) Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento


• Outro Transtorno do Neurodesenvolvimento Especificado
• Transtorno do Neurodesenvolvimento Não Especificado

Como os Transtornos de Neurodesenvolvimento são constituídos por alterações


dos processos iniciais do desenvolvimento cerebral, eles se tornam presentes ao longo
da vida. Esses são quadros delicados, que demandam um acompanhamento intenso e
multidisciplinar; contudo, apesar da complexidade e singularidade de cada caso, é
importante entender que as pessoas com esses transtornos conseguem ter uma vida
funcional ao se comprometerem com tratamento.

II - PROBLEMAS NA APRENDIZAGEM EM AMBIENTE ESCOLAR: distúrbio,


transtorno ou dificuldade?

Ao fazer uma retrospectiva sobre os vários assuntos que eu gostaria de ter aprendido
antes de me tornar professora, existe um que merece especial atenção: compreender melhor três
termos que, apesar de serem comumente usados como sinônimos, na verdade têm as suas
próprias peculiaridades: distúrbios, transtornos e dificuldades. Conhecê-los pode, sem dúvida,
favorecer a aprendizagem e minimizar os problemas que muitos estudantes podem ter que
enfrentar.
Aprender é um processo pelo qual o comportamento se modifica em consequência da
experiência. No entanto, para que a aprendizagem aconteça, é necessário que haja integridade
nas funções psicodinâmicas (aspectos psicoemocionais), no sistema nervoso periférico (canais
para a aprendizagem simbólica) e no sistema nervoso central (elaboração, processamento e
armazenamento de informações). Se uma (ou mais) dessas funções estiver comprometida,

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crianças, adolescentes e adultos apresentam desempenho acadêmico abaixo do esperado e, por
isso, são comumente rotulados como pessoas com “problemas de aprendizagem”.
Atualmente, porém, quando profissionais de saúde e educação têm à sua disposição os
conhecimentos gerados pelas neurociências, já não é possível continuarmos a fazer tal
generalização. Afinal, intervenções precisas só podem ser realizadas se, a partir dos sintomas
observados, houver identificação adequada e forem feitos diagnósticos corretos.
Primeiramente, é necessário que reconheçamos que há diferenças entre distúrbios,
transtornos e dificuldades, o que acontece com base não somente na região cerebral afetada
e/ou na função comprometida como também nos problemas resultantes.
A palavra distúrbio pode ser definida como “anormalidade patológica por alteração
violenta na ordem natural”. Assim, o distúrbio é uma disfunção no processo natural da
aquisição de aprendizagem, ou seja, na seleção do estímulo, no seu processamento, no
armazenamento da informação e, consequentemente, na emissão da resposta. É um problema
em nível orgânico (características de dentro do indivíduo) e individual (características pessoais),
que resulta em déficits nas medidas das habilidades de linguagem (fala, leitura e escrita) e
matemática, sem comprometimento cognitivo. Essa disfunção da região parietal do cérebro
está relacionada com falha na atenção sustentada, no processamento do estímulo e na resposta
a ele, que causa lentidão no processamento cognitivo e na leitura, sem comprometimento
comportamental aparente.
O transtorno decorre de uma disfunção na região frontal do cérebro, que provoca
perturbação na pessoa devido à falha na entrada do estímulo e na integração de informações, o
que compromete a atenção seletiva e gera impulsividade.
Para deixar o assunto mais claro para educadores, usemos como exemplo o Transtorno
do Déficit de Atenção e Hiperatividade. O TDAH decorre de uma causa neurológica, orgânica,
que compromete as funções executivas que, segundo Brown (2008), envolvem memória
operacional; selecionar, manter atenção numa tarefa e alternar essa atenção (quando
necessário); organizar, priorizar e iniciar uma tarefa; manter vigília, esforço e a velocidade da
ação; monitorar e controlar ações; tolerar frustrações e modular emoções (autocontrole). Essa
disfunção na região pré-frontal do cérebro provoca perturbação na integração de informações e,
consequentemente, desatenção, hiperatividade e impulsividade, quadro que transtorna a vida da
pessoa em razão do evidente comprometimento comportamental em qualquer situação ou local.
Além disso, as respostas em tarefas que exigem habilidade de leitura e memória de trabalho são
inibidas e, como essas habilidades e as funções executivas são funções cerebrais muito
requisitadas no ambiente acadêmico, a ausência ou diminuição da intensidade dessas
habilidades atrapalham o bom desempenho dos estudantes em ambiente escolar e, em termos
de comportamento, interferem negativamente na facilidade para aprender.
Por serem de origem interna, distúrbios e transtornos independem do desejo de um(a)
estudante desempenhar as atividades adequadamente ou da forma como a família, a escola ou a
sociedade esperam que ela as desempenhe. Sendo assim, para atingir os objetivos de
desempenho social e acadêmico satisfatório, a pessoa com um transtorno ou distúrbio no
processo de aprendizagem precisa de ajuda especializada.
Já o que chamamos de “dificuldades de aprendizagem” seria melhor nomeado se
usássemos “dificuldades escolares”, pois a principal característica da dificuldade é ser
pedagógica, ou seja, externa ao indivíduo. Nas dificuldades escolares estão inseridos os
atrasos no desempenho acadêmico por falta de interesse, perturbação emocional, inadequação
metodológica ou mudança no padrão de exigência da escola, isto é, advêm de diversas

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alterações evolutivas normais, caracterizadas por serem situações transitórias. No passado, já
foram consideradas alterações patológicas, mas, hoje, sabe-se que as dificuldades escolares
podem ser prevenidas ou contornadas cuidando-se da boa qualificação de profissionais da
educação, da parceria da família com os educadores, da estrutura física inclusiva nas escolas e
do desenvolvimento dos ambientes familiar e escolar emocionalmente acolhedores.
Paín (1985) considera a dificuldade de aprendizagem um sintoma, que cumpre uma
função positiva, tão integrativa como o próprio aprender: por ser intimamente ligada às mudanças
sociais e culturais, à escola, às metodologias empregadas e, muitas vezes, ao despreparo
profissional, a percepção do problema e das suas origens, assim como o caminho para a solução
dos problemas passa pelo exercício de uma melhor prática pedagógica.
Sendo assim, distúrbios e transtornos específicos de aprendizagem requerem
intervenções realizadas por equipe multidisciplinar (médicos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, por exemplo), enquanto as dificuldades escolares
pedem capacitação de pais e professores e, em alguns casos o acompanhamento
psicopedagógico ou psicológico, que pode minimizar as interferências externas que prejudicam a
aprendizagem.

III - DIFICULDADES ESPECÍFICAS DE APRENDIZAGEM, também chamadas de


TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM)

Linguagem (audição, fala, compreensão, decodificação da leitura, soletração e expressão


escrita), matemática (raciocínio, solução de problemas e cálculo), controle motor e comunicação
(expressão não verbal, distúrbio fonológico, gagueira) são as habilidades que mais sofrem o
impacto das dificuldades específicas de aprendizagem, que são assim classificadas e explicadas:

► Dislexia: uma disfunção que afeta a leitura e a aprendizagem baseada em linguagem.


Frequentemente, disléxicos têm problemas com ortografia e para lembrar (ou reconhecer)
palavras comuns, o que leva à compreensão deficiente dos assuntos. A esses sintomas,
acrescentem-se escrita ruim e problemas para entender o que leem. Cerca de 15%-20% da
população mundial têm problemas de linguagem e a maioria é composta de disléxicos.

► Discalculia: uma disfunção que afeta a aritmética, a matemática e os cálculos. Os


discalcúlicos têm dificuldade para compreender conceitos matemáticos positivos e negativos, de
valor e quantidade, dias, semanas, meses, estações, etc., complicando-se para numerar linhas,
realizar tarefas matemáticas de ‘emprestar’ e ‘tomar emprestado’ e para resolver problemas,
ainda que simples. Eles têm problemas no uso de frações e para estabelecer sequências de
informação e de eventos, reconhecer modelos de adição, subtração, multiplicação e divisão e
para trabalhar com os passos das operações aritméticas, além de dificuldade na organização dos
problemas na folha de papel, alinhar números nas contas e chegar ao fim de divisões longas.

► Disgrafia: disfunção relacionada com a letra manuscrita. Os portadores enfrentam


problemas para ‘desenhar’ as letras à medida que as escrevem ou para mantê-las em um espaço
definido. Tanto a letra de imprensa quanto a cursiva podem acabar ilegíveis, mesmo quando
escreve prestando atenção ou escrevendo com calma, querendo caprichar. Além disso, misturam
o traçado das cursivas com as letras de imprensa, a caixa alta com a minúscula, formas,

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tamanhos e tipos, mostrando espaçamento inconsistente. Dísgrafos mantêm o pulso, o corpo e o
papel em posição estranha, seguram o lápis de modo não usual e podem reclamar de dor na
mão. Também apresentam dificuldade para pensar escrever ao mesmo tempo.

► Distúrbios de processamento de informação: estas são disfunções relacionadas


com a habilidade de utilizar os dados que recebem pelos sentidos – visão, audição, paladar,
olfato e tato – apesar de haver integridade na recepção. Estes problemas não estão
relacionados à incapacidade de enxergar ou ouvir, por exemplo, sendo unicamente condições
que afetam o modo como o cérebro reconhece, responde, recupera e armazena informações
sensoriais.

► Desabilidades de aprendizagem relacionadas à linguagem: estas representam os


problemas que refletem uma comunicação inapropriada para a idade, incluindo-se a fala, audição,
leitura, soletração e escrita.

► Dificuldades não verbais de aprendizagem: um distúrbio neurológico que se origina


no hemisfério cerebral direito, causando problemas com o processamento global das funções
visuoespaciais, de intuição, de organização e de avaliação.

FOCO EM DISLEXIA E DISCALCULIA

Etimologicamente, DISLEXIA tem a seguinte origem: dis (distúrbio, dificuldade) + lexia =


(no latim, leitura; no grego, linguagem), nomeando problemas na leitura, que pode ser lenta e
silabada, e na compreensão, pois a pessoa pode até mesmo ter dificuldades em reconhecer as
palavras mais familiares. É uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica,
caracterizada pela dificuldade na fluência correta na leitura e na habilidade de decodificação e
soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico da
linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas consideradas na faixa
etária.
Já a DISCALCULIA, do grego = dis [mal]; do latim = calculare [contar] e traz a ideia de
“contar mal”. É a dificuldade específica de aprendizagem de matemática, envolvendo déficit na
integração dos mecanismos do cálculo e na resolução de problemas.

São sinais de alerta para a DISLEXIA:

FASE SINTOMAS
Antes de Dispersão; atenção fraca; atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem;
frequentar a dificuldade em aprender rimas e canções; fraco desenvolvimento da coordenação
escola motora; dificuldade com quebra cabeça; falta de interesse por livros impressos.
Demorar a incorporar palavras novas ao seu vocabulário; dificuldade na habilidade
Na motora fina; ter dificuldade para: pronunciar alguns fonemas e rimas aprender cores,
Educação formas, números e a escrita do próprio nome; para lembrar nomes e símbolos; contar
Infantil ou recontar uma história na sequência certa; cumprir ordens e seguir rotinas.
Em Classes Dificuldades para aprender o alfabeto, separar e colocar sons em sequência (ex: p-a-t-o
de = pato), discriminar fonemas homorgânicos (p-b, t-d, f-v, k-g, x-j, s-z), colocar palavras
Alfabetização em sequência e memorizá-las, executar a letra cursiva, aprender a ler, escrever e
e 1º ano do soletrar, copiar do quadro e com a preensão do lápis; deficiência nas habilidades
Ensino auditivas e na orientação temporal; desorganização da orientação espacial; problemas
Fundamental com o planejamento motor de letras e números.
Do 2º ao 9º Dificuldade para aprender outros idiomas e na compreensão de piadas, provérbios e

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ano do Ensino gírias; omissões, trocas e aglutinações de grafemas; dificuldade de planejar e organizar
Fundamental tarefas e em conseguir terminar as tarefas dentro do tempo; dificuldade na
compreensão da linguagem não verbal, em memorizar a tabuada, figuras geométricas
e na interpretação de mapas. Nível de leitura abaixo do esperado para sua série;
dificuldade na sequenciarão das letras em palavras e na soletração de palavras. Não
gosta de ler em voz alta diante da turma, tem dificuldade com enunciados de problemas
matemáticos, em elaborar e organizar textos escritos, podendo apresentar dificuldade
na compreensão de textos e em expressar-se por meio da escrita.
Leitura vagarosa e com muitos erros; permanência da dificuldade em soletrar palavras
No mais complexas; dificuldade em planejar e fazer redações; dificuldade para reproduzir
Ensino Médio histórias; dificuldade nas habilidades de memória; dificuldade de entender conceitos
abstratos; dificuldade de prestar atenção em detalhes ou, ao contrário, atenção
demasiada a pequenos detalhes; vocabulário empobrecido. O aluno torna-se cheio de
subterfúgios para esconder sua dificuldade.
Permanência da dificuldade em escrever em letra cursiva; problemas com
planejamento, organização e horários; falta do hábito de leitura e dificuldade em
Na nomear objetos e pessoas (disnomia). Normalmente, a emissão oral é
Idade Adulta comparativamente muito melhor que do a escrita, têm talentos espaciais (engenheiros,
arquitetos, artistas), mas a memória imediata mostra-se prejudicada, a atenção é
limitada e tem dificuldade em manter-se na tarefa para terminá-la.

O fato de uma pessoa apresentar alguns desses sintomas não indica necessariamente
que ela seja disléxica, pois há outros fatores a serem observados. Todavia, estaremos diante de
um quadro que pede uma maior atenção e/ou estimulação do indivíduo. Na idade escolar, se a
criança continuar apresentando alguns ou vários dos sintomas acima, são necessários
diagnóstico e o acompanhamento adequados, para que possa prosseguir seus estudos junto
com os demais colegas e tenha menos prejuízo emocional.
Em razão de seus múltiplos fatores, a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe
multidisciplinar especializada, pelo menos com fonoaudiólogo, psicólogo e psicopedagogo clínico.
Para chegar ao diagnóstico de dislexia, deverão ser descartados fatores como déficit intelectual,
disfunções ou deficiências auditivas e visuais, lesões cerebrais (congênitas e adquiridas) e
desordens afetivas anteriores ao fracasso escolar, o que requer uma equipe multidisciplinar,
podendo ser necessários pediatra, neurologista, psiquiatra, otorrinolaringologista e oftalmologista,
além dos regulares fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos. Na avaliação multidisciplinar,
essa equipe deve descartar todas as outras possibilidades clínicas antes de confirmar o
diagnóstico de dislexia. Neste processo ainda é muito importante haver uma boa troca de
informações, experiências e até de sintonia dos procedimentos executados entre profissionais
especializados, escola e família, pois também fazem parte da avaliação o histórico familiar e de
evolução do indivíduo, assim como o parecer da escola e dos pais sobre dificuldades e atitudes.
Nos casos de dislexia, sempre haverá dificuldades com a linguagem escrita, dificuldades
com ortografia, lentidão na aprendizagem da leitura, dificuldades em escrever; muitas vezes
serão observados casos de disgrafia (“letra feia”), discalculia, dificuldade com a matemática,
sobretudo na assimilação de símbolos e de decorar tabuada, dificuldades com a memória de
curto prazo e com a organização, em seguir indicações de caminhos e em executar sequências
de tarefas complexas, para compreender textos escritos e para aprender uma segunda língua.
Algumas vezes, são observadas dificuldades com a linguagem falada, com a percepção espacial
e confusão entre direita e esquerda.
Sugere-se que PROFESSORES E FAMILIARES de disléxicos mantenham uma atitude
positiva, sejam atenciosos, pacientes, perseverantes e práticos, buscando:

• Acompanhar as tarefas com agenda;

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• Conferir - oralmente - se houve compreensão do que é apresentado por escrito;
• Ajudar na organização do material;
• Dar orientações curtas, diretas e simples;
• Incentivá-los quando fizerem algo bem feito, mesmo que seja algo pequenino;
• Orientar colegar para que sejam evitadas a rejeição e a humilhação entre eles;
• Não pressioná-los com tempo nem por resultados;.
• Não insistir na aprendizagem com exercícios de fixação, repetitivos;
• Não pedir que esses alunos leiam em voz alta;
• Permitir e incentivar o uso de gravador em aula e em casa;
• Ressaltar os acertos do aluno.
No caso da DISCALCULIA, é comum que seja definida como “a dificuldade de aprender
matemática”. No entanto, a complexidade que as pesquisas das neurociências identificaram
nessa tarefa nos obriga a alertar educadores e famílias para o fato de que longe de ser simples
ou pontual, o distúrbio tem várias causas e sintomas, para os quais devemos estar bem
capacitados para identificar e intervir.
Apesar de ser grande o número de crianças, jovens e adultos disléxicos que têm
dificuldade com números e suas relações, a discalculia deve ser considerada como um problema
de aprendizado independente da dislexia, que pode estar ligado às alterações na organização
cerebral das funções relacionadas ao cálculo, ao comprometimento devido a lesões e,
infelizmente, a aspectos pedagógicos (problemas de ensinagem...). Diversas habilidades podem
estar prejudicadas, como as habilidades linguísticas (compreensão e nomeação de termos,
operações ou conceitos matemáticos, e transposição de problemas escritos em símbolos
matemáticos), perceptuais (reconhecimento de símbolos numéricos ou aritméticos, ou
agrupamento de objetos em conjuntos), de atenção (copiar números ou cifras, observar sinais de
operação), e matemáticas (dar sequência a etapas matemáticas, contar objetos e aprender
tabuadas de multiplicação).
Em cada faixa etária, são estas as aptidões esperadas no aprendizado da matemática e
as dificuldades causadas pela discalculia:

IDADES APTIDÕES ESPERADAS DIFICULDADES


De 3 a 6 Ter compreensão dos conceitos de igual e diferente, Problemas para nomear quantidades
anos curto e longo, grande e pequeno, menos que e mais matemáticas, números, termos,
que; classificar objetos pelo tamanho, cor e forma; símbolos; insucesso ao enumerar,
reconhecer números de 0 a 9 e contar até 10; nomear comparar e manipular objetos reais
formas; reproduzir formas e figuras. ou em imagens.
Agrupar objetos de 10 em 10; ler e escrever de 0 a Leitura e escrita incorreta dos
De 6 a 99; nomear o valor do dinheiro; dizer a hora; realizar símbolos matemáticos
12 anos operações matemáticas como soma e subtração;
começar a usar mapas; compreender metades,
quartas partes e números ordinais.
Capacidade para usar números na vida cotidiana; uso Falta de compreensão dos conceitos
De 12 a de calculadoras; leitura de quadros, gráficos e mapas; matemáticos; dificuldade na
16 anos entendimento do conceito de probabilidade; execução mental e concreta de
desenvolvimento de problemas. cálculos numéricos.

A criança com discalculia pode entender conceitos matemáticos de um modo bem


concreto, uma vez que o pensamento lógico está intacto, porém tem extrema dificuldade em
trabalhar com números e símbolos matemáticos, fórmulas e enunciados de problemas.
Entre os sintomas mais comuns, é possível identificar os sinais de alerta a seguir:

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• Lentidão na velocidade de trabalho, por falta de mecanismos necessários para
memorização, sequenciação, etc.;
• Problema com orientação espacial, que atrapalha o posicionamento os números de uma
operação e o espaço que é utilizado na folha de papel;
• Dificuldades para lidar com as quatro operações;
• Dificuldade de memória (tabuadas e fórmulas são cargas muito grandes para a memória,
informações não são automatizadas, esquece o que é para fazer de lição);
• Confusão com os símbolos ( = , + , - , : , . e < >)
• Dificuldade para entender palavras em operações matemáticas, tais como “diferença”,
“soma”, “total”, "conjunto”, “casa”, “raiz quadrada”.
• Problema de sequenciação;
• Tendência a transcrever números e sinais de forma errada (Ex: lê + e copia +);
• Dificuldades com o processamento de linguagem e sequências, uma característica
também da dislexia.

Pesquisadores têm sugerido as seguintes ações básicas para ajudar os discalcúlicos:

• Permitir o uso de calculadora e tabela com ‘tabuada’.


• Usar caderno quadriculado.
• Nomear colegas de classe, que tenham dom de ajudar, como tutores;
• Recorrer a diferentes tecnologias,
• Fazer provas realistas: elaborar questões claras e diretas, número reduzido de questões;
• Permitir que o discalcúlico faça a prova longe do grupo, sem limite de tempo e com um
tutor para certificar-se de que entende o que é pedido nas questões.
• Lembrar que, para o discalcúlico, nada é obvio como é para nós!

Para o enfrentamento dessas dificuldades, o papel da escola deve ser o de:

• Sempre que possível, adequar o meio acadêmico às necessidades individuais do


aprendente
• Atuar junto à família, quando suas expectativas geram conflitos na aprendizagem
• Encaminhar casos suspeitos de sofrerem de obstáculo funcional.

O papel essencial do professor é o de identificar o tipo de erro cometido nos processos de


aprendizagem, conhecendo os fatores que interferem na aquisição dos conceitos matemáticos e
na consciência dos problemas mais frequentes na discalculia escolar.

IV- TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

HISTÓRICO - O que hoje chamamos de TDAH é descrito por médicos desde o século
XVIII (Alexander Crichton, em 1798), muito antes de existir qualquer tratamento medicamentoso,
nem a simples aspirina... No início do século XX, aparece um artigo científico publicado em uma
das mais respeitadas revistas médicas até hoje, The Lancet, escrita por George Still (1902). Hoje,

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o TDAH é um dos transtornos mais bem estudados da medicina e com mais evidências
científicas do que a maioria dos demais transtornos mentais (MATTOS; RHODE, 2018).

O QUE É - TDAH é um transtorno neurobiológico de natureza genética, reconhecido


oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O TDAH afeta de 3-5% da população
em todo o mundo e é caracterizado, principalmente, por sintomas de desatenção, inquietude
(hiperatividade) e impulsividade (ABDA, 2023).

O transtorno aparece na infância e, desde a década de 1980, a persistência do transtorno


na vida adulta é reconhecida oficialmente pela comunidade científica estudiosa no assunto;
Existem três subtipos de TDAH: predominantemente desatento (no qual prevalecem os sintomas
de desatenção), predominantemente hiperativo (no qual os sintomas de hiperatividade são
preponderantes) e o subtipo combinado (no qual o portador apresenta ambos os sintomas para o
preenchimento dos critérios de diagnóstico do transtorno), sendo o transtorno mais comum em
crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados (ABDA, 2023).

O QUE O CAUSA - O TDAH é um transtorno multifatorial, com total interação entre


fatores genéticos, ambientais e neuroquímicos, determinando o conjunto de características que
identificam uma pessoa. (Em estudos genéticos chamamos esse conjunto de características de
“fenótipo”.)
O fator genético tem grande influência no surgimento do TDAH. Estudos de famílias, de
gêmeos e adotados revelaram que a probabilidade de fatores genéticos determinarem sintomas
de TDAH é quase tão alta quanto à probabilidade de filhos de pais altos também serem altos.
Os fatores ambientais que mais têm sido associados a um risco aumentado para a
criança desenvolver TDAH são o abuso materno de nicotina e de álcool durante a gestação.
Importante: quando o TDAH não é diagnosticado e tratado de forma adequada, os
portadores apresentam um maior índice de problemas com consequências sérias, como mau
desempenho, evasão escolar, aumento do risco de abuso de álcool e drogas, maior número de
divórcios, bem como alta rotatividade de empregos, entre tantas outras que compõem uma
enorme lista de efeitos negativos que o TDAH pode acarretar (ABDA, 2023).

ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM ESTUDANTES COM TDAH NA ESCOLA:

Essas estratégias fazem parte de um programa de treinamento de manejo


comportamental para professores e outros profissionais da área de educação, desenvolvido pela
Equipe do Projeto Inclusão Sustentável (PROIS).

Recebendo e acolhendo o aluno

• Identifique quais os talentos que seu aluno possui. Estimule, aprove, encoraje e ajude-o a
desenvolvê-los;
• Elogie sempre que possível e minimize ao máximo evidenciar os fracassos;
• O prejuízo à autoestima frequentemente é o aspecto mais devastador para o TDAH;
• O prazer está diretamente relacionado à capacidade de aprender. Seja criativo e afetivo
buscando estratégias que estimulem o interesse do aluno para que este encontre prazer
na sala de aula;
• Solicite ajuda sempre que necessário. (Lembre-se que o aluno com TDAH conta com
profissionais especializados neste transtorno.);
• Evite o estigma conversando com seus alunos sobre as necessidades específicas de
cada um, com ou sem um transtorno.

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Organizando o Espaço e Monitorando o Processo

• A rotina e organização são elementos fundamentais para o desenvolvimento dos alunos,


principalmente para os portadores de TDAH. A organização externa irá refletir
diretamente em uma maior organização interna. Assim, alertas e lembretes serão de
extrema valia;
• Quanto mais próximo de você e mais distante de estímulos distratores, maior benefício
ele poderá alcançar;
• Estabeleça combinados. Estes precisam ser claros e diretos. (Lembre-se que ele se
tornará mais seguro se souber o que se espera dele.);
• Deixe claras as regras e os limites inclusive prevendo consequências ao descumprimento
destes. Seja seguro e firme na aplicação das punições quando necessárias, optando por
uma modalidade educativa, por exemplo, em situações de briga no parque, afaste-o do
conflito, porém mantenha-o no ambiente para que ele possa observar como seus pares
interagem;
• Avalie diariamente com seu aluno o seu comportamento e desempenho, estimulando a
autoavaliação;
• Informe frequentemente os progressos alcançados por seu aluno, buscando estimular
avanços ainda maiores;
• Dê ênfase a tudo o que é permitido e valorize cada ação dessa natureza;
• Ajude seu aluno a descobrir por si próprio as estratégias mais funcionais;
• Estimule que seu aluno peça ajuda e dê auxílios apenas quando necessário.

Procedimentos facilitadores

• Estabeleça contato visual sempre que possível. Isto possibilitará uma maior sustentação
da atenção;
• Proponha uma programação diária e tente cumpri-la. Se possível, além de falar coloque-a
no quadro. Em caso de mudanças ou situações que fogem a rotina, comunique o mais
previamente possível;
• A repetição é um forte aliado na busca pelo melhor desempenho do aluno;
• Estimule o desenvolvimento de técnicas que auxiliem a memorização. Use listas, rimas,
músicas etc.;
• Determine intervalos entre as tarefas como forma de recompensa pelo esforço feito. Esta
medida poderá aumentar o tempo da atenção concentrada e redução da impulsividade;
• Combine saídas de sala estratégicas e assegure o retorno. Para tanto, conte com o
pessoal de apoio da escola;
• Monitore o grau de estimulação proporcionado por cada atividade. Lembre-se que muitas
vezes o aluno com TDAH pode alcançar um grau de excitabilidade maior do que o
previsto por você, criando situações de difícil controle;
• Adote um sistema de pontuação. Incentivos e recompensas, em geral, alcançam bons
resultados.

Integrando ao grupo

• A integração ao grupo será um fator de crescimento. Esteja atento ao grau de aceitação


da turma em relação a este aluno;
• Identifique possíveis parceiros de trabalho. Grandes conquistas podem ser obtidas
através do contato com os pares;

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• Sua capacidade de liderança, improviso e criatividade são ferramentas que podem
auxiliar no nivelamento da atenção do grupo e em especial do aluno com TDAH. Use o
humor sempre que possível.

Realizando tarefas, testes e provas:

• As instruções devem ser simples. Tente evitar mais de uma consigna por questão;
• Destaque palavras-chaves fazendo uso de cores, sublinhado ou negrito;
• Estimule o aluno destacar e sublinhar as informações importantes contidas nos textos e
enunciados;
• Evite atividades longas, subdividindo-as em tarefas menores. Reduza o sentimento de “eu
nunca serei capaz de fazer isso”;
• Mescle tarefas com maior grau de exigência com as de menor;
• Incentive a leitura e compreensão por tópicos;
• Utilize procedimentos alternativos como testes orais, uso do computador, máquina de
calcular, dentre outros;
• Estimule a prática de fazer resumos. Isto facilita a estruturação das ideias e fixação do
conteúdo;
• Oriente o aluno a como responder provas de múltiplas escolhas ou abertas;
• Estenda o tempo para a execução de tarefas, testes e provas;
• A agenda pode contribuir na organização do aluno e na comunicação entre escola e
família;
• Incentive a revisão das tarefas e provas.

Contato com a família, deveres e trabalhos em casa

• Mantenha constante contato com a família. Tente utilizar as informações fornecidas por
ela com o objetivo de compreender o seu aluno melhor;
• Procure nesses encontros enfatizar os ganhos e não apenas pontuar as dificuldades.
• Evite chamá-los apenas quando há problemas;
• Ajude seu aluno a fazer um cronograma de tarefas e estudos de casa. Isto poderá
contribuir para minimizar a tendência a deixar tudo para depois;
• Tente anunciar previamente os temas e familiarizar o aluno com situações que
posteriormente serão vivenciadas;
• Estimule a atividade física;

➢ PROBLEMAS QUE O TDAH CRIA PARA O PORTADOR:

• Autocontrole ineficiente;
• Falta de atenção sustentada;
• Problemas de concentração;
• Fraca organização e falta de planejamento;
• Adiamento das obrigações;
• Má administração do tempo;
• Sensação interna de desassossego;
• Impulsividade ao tomar decisões;
• Incapacidade de trabalhar independentemente;
• Problemas para seguir instruções;
• Mudança de atividade de modo impulsivo;
• Atrasos permanentes;

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• Esquecimento constante;
• Pouca auto-organização.

➢ O QUE OFERECER AO ESTUDANTE:

• Reestruturação ambiental;
• Ensino individualizado;
• Recursos de informática;
• Aprendizagem de como lidar com distratores;
• Uso de agenda;
• Pistas visuais;
• Tarefas por partes;
• Orientação aos familiares;
• Encaminhamento à neurologia e psiquiatria especializada;
• Tratamento medicamentoso, quando for o caso.

V – TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

As pessoas com Transtorno do Espectro Autista têm o direito legal de frequentar


escolas regulares. O problema é que muitas dessas escolas não estão se prepara para fornecer
o apoio que os estudantes autistas precisam, o que inclui a falta de formação dos próprios
educadores e do suporte necessário para que saibam como lidar com os alunos com TEA.
Um ambiente escolar inadequado para TEA pode prejudicar as pessoas que estão no
espectro, e as dificuldades vão desde o desconhecimento de como fazer com que elas se
envolvam nas atividades de aprendizagem até o lidar com a vida escolar diária em geral.
Por isso, é crucial que os educadores estejam cientes das implicações educacionais do TEA
e como adotar métodos eficazes de ensino para essas crianças.
Trabalhar com pessoas com TEA na sala de aula pode ser um desafio, mas também
incrivelmente gratificante se você souber como fornecer o apoio necessário para manterem a sua
rotina, lidarem com a sobrecarga sensorial ou se engajarem no processo de aprendizagem
de uma maneira que faça sentido para eles.
Confira estas estratégias básicas para a sala de aula do artigo How to Support a Child
with Autism in the Classroom, do portal High Speed Training:
• Estabeleça uma rotina com as pessoas com TEA. O mundo é muitas vezes um lugar
confuso e que causa ansiedade nos estudantes, e essa ansiedade pode ser
especialmente intensa para pessoas com TEA. Por isso, elas encontram grande conforto
em uma rotina previsível e estável, tenha certeza de que essa rotina diária está clara para
eles. Criar um cronograma visual, com imagens e palavras simples, é um método eficaz e
muito utilizado para fazer isso.
• Leve a sensibilidade sensorial em consideração. Um passo útil e simples que você
pode dar é tornar o ambiente da sala de aula menos sobrecarregado para eles. Faça o
que puder para remover ou reduzir quaisquer estímulos no ambiente que lhes causem
ansiedade, ou ainda reforçar os estímulos positivos, lembrando-se de que cada estudante
com TEA é diferente do outro e que você terá que aprender quais são suas sensibilidades
individuais.

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• Comunique com antecedência as mudanças e transições. Como a rotina das pessoas
com TEA é algo crucial para seu conforto, mudanças e transições na escola podem ser
muito incômodas para elas. Tais mudanças são muitas vezes inevitáveis e até
necessárias na escola, mas você pode aliviar a ansiedade que causam preparando o
estudante com TEA para elas com antecedência. (Ex: se você planeja mudar de sala em
determinada semana, além de comunicar essa mudança verbalmente, leve a criança para
conhecer o ambiente com alguns dias de antecedência e adicione essa mudança ao
quadro de rotina para que visualizem até o dia da mudança.);
• Comunique-se claramente. Embora varie de pessoa para pessoa, o TEA pode afetar a
capacidade da pessoa se comunicar e interpretar os significados. Considere
cuidadosamente todas as palavras que usa e como estrutura suas frases, mantendo as
conversas simples e diretas.
• Integre os interesses dos estudantes com TEA na escola aos temas estudados.
Esses interesses podem ser usados como portas de entrada para a aprendizagem.
• Trabalhe sempre em conjuntos com os pais/cuidadores. As famílias e os cuidadores
são os especialistas em seus filhos com TEA. Para apoiar plenamente a criança dentro e
fora da escola, você deve, portanto, coordenar e compartilhar conhecimento com eles. O
seu compromisso de trabalhar com eles aumentará sua confiança na capacidade da
escola de apoiar seus filhos.
• Trabalhe sua própria resiliência. Mesmo quando você acredita que está fazendo tudo
ao seu alcance, ensinar crianças ou adolescentes com TEA pode ser um desafio. Por isso
é importante que você aprenda a se recuperar dos dias difíceis.
Construir um relacionamento com pessoas com TEA, seja na escola ou não, não é algo
que não acontece da noite para o dia; é preciso tempo, dedicação e paciência. Nem sempre você
vai acertar as coisas logo de início, mas cada erro que você cometer será um feedback valioso
para descobrir o que funciona. Então, naqueles dias em que a criança com TEA estiver tornando
a aula desafiadora e você não souber como lidar com a situação, lembre-se de que ela
provavelmente está agindo dessa forma por algum motivo, geralmente por causa de uma
necessidade que não está sendo atendida. Depois de aprender quais são suas necessidades e
se conectar com a criança, você descobrirá que as coisas podem se tornar muito mais fáceis, e a
sensação de realização que você ganhará ao apoiá-los superará qualquer dificuldade que você
sentir!

VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir, então, que as neurociências abriram fronteiras e que, nesse novo
contexto, faz-se necessária uma mudança de paradigmas no sistema educacional, de modo que
a interface entre saúde e educação – cujo foco é tanto o aprendizado esperado quanto os
principais problemas que o atrapalham – possa gerar uma neuropedagogia. Juntas, essas duas
áreas certamente poderão trilhar, de modo muito melhor, os caminhos para alcançar o objetivo
maior: a plena realização de todo ser humano, sempre respeitando-se todas as necessidades
educacionais: as comuns (aquelas que são compartilhadas por todos os estudantes e atendidas
pelo currículo regular, como aprendizagens para o seu desenvolvimento pessoal e a
socialização), as individuais (pessoais e que só podem ser atendidas por boas práticas
pedagógicas, como características de personalidade, motivação, diferenças de interesses, níveis

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e ritmos de desenvolvimento biopsicossocial, manifestações de múltiplas inteligências etc.), e as
especiais, aquelas que não podem ser atendidas apenas por meios e recursos habituais.

SUGESTÕES DE LEITURAS

BARKLEY, Russell A. TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.


Tradução de Luiz Reyes Gil. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

BENCZIK, E.B.P. Manual da Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade:


versão para professores. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

BERNARDI, Jussara. Discalculia. Jundiaí-SP: Paco, 2014.


BROWN, Thomas E. Transtorno do Déficit de Atenção: a mente desfocada em crianças e
adultos. Tradução de Hélio Magri Filho. Porto Alegre: Artmed, 2009.

CIASCA, Sylvia Maria (org). Distúrbios de Aprendizagem: Proposta de Avaliação


Interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

CUNHA, Eugênio. Autismo na Escola - Um jeito diferente de aprender. 6. ed. Rio de Janeiro:
Wak, 2020.

FREITAS, Emanoele. Transtornos do Neurodesenvolvimento. Conhecimento, Planejamento


e Inclusão Real. Rio de Janeiro: Wak, 2019.

HUDSON, Diana. Dificuldades específicas de aprendizagem: Ideias práticas para trabalhar


com: dislexia, discalculia, disgrafia, dispraxia, TDAH, TEA, Síndrome de Asperger e TOC.
Tradução de Guilherme Summa. Petrópolis-RJ: Vozes, 2019.

SHAYWITZ, Sally; SHAYWITZ, Jonathan et al. Entendendo a Dislexia: Um Novo e Completo


Programa para Todos os Níveis de Problemas de Leitura. 2. ed. Porto Alegra: Penso, 2023.

VALE, Luiza Elena L. Ribeiro do; CAPOVILLA Fernando César (Org.) Perspectivas em
Transtornos do Desenvolvimento Cognitivo-Comportamental, Linguístico e Social.
Campinas: Memnon, 2023.

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