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Máquinas elétricas

Enrolamento de motores

Uma tarefa comum para o eletricista de manutenção industrial é avaliar o estado dos
enrolamentos dos motores e determinar se há condições de uso do enrolamento, ou se
há necessidade de rebobinar o motor.

Neste capítulo você aprenderá toda a teoria necessária à interpretação do esquema


elétrico do enrolamento e os passos práticos necessários à execução do enrolamento.

Para aprender esses conteúdos com mais facilidade, você deverá ter conhecimentos
anteriores sobre eletromagnetismo, corrente alternada trifásica, indutância e potência
em CA.

Esquemas de bobinados

Esquemas de bobinados são desenhos nos quais se representam bobinados de


estatores de modo a demonstrar os detalhes essenciais de cada circuito.

Os esquemas mais comuns são os planificados. Eles representam um estator como se


estivesse cortado e estendido sobre um plano, com todos os grupos de bobinas de
conexões.

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Existem também os esquemas frontais ou circulares e os simplificados. Os esquemas


frontais são construídos a partir da frente do bobinado e apresentam todas as ranhuras
e bobinas.

Os esquemas indicam, através de traços, a posição relativa das bobinas e suas


interligações no conjunto que forma a estrutura elétrica do motor.

Os traços devem ser diferentes, ou seja,


grossos, finos, pontilhados, tracejados etc., ou
de cores diversas quando se quer representar:
 Bobinados pertencentes a diferentes fases;
 Bobinados com diferentes funções.

Formação de um pólo

Um pólo é formado por uma ou mais bobinas


ligadas em série de modo que a corrente
circule sempre no mesmo sentido. Dessa
maneira, os campos magnéticos originados
em cada bobina somam-se. Figura ao lado.
Observação

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Na figura anterior, as ranhuras 5 e 6 formam um pólo, e as ranhuras 7 e 8 formam


outro.

Polarização
Um motor elétrico tem, no mínimo, um par de pólos: norte e sul. Esse par de pólos é
formado pela ligação de dois grupos de bobinas.

Num dos grupos, o sentido da corrente é igual ao do movimento dos ponteiros do


relógio; é o pólo norte.

No outro, o sentido da corrente é contrário ou anti-horário; é o pólo sul.

Pólos ativos
Pólos ativos são pólos criados a partir de ligação de grupos de bobinas. Essas ligações
são feitas uma ao contrário da outra. Se houver dois grupos de bobinas, haverá dois
pólos ativos.

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Pólos conseqüentes
Pólos conseqüentes são pólos criados por conseqüência, ou seja, metade do número
de pólos é formado por pólos ativos, e a outra metade aparece em conseqüência da
primeira. A corrente circula nos grupos em um único sentido.

Na figura abaixo, são representados dois grupos de bobinas cuja ligação apresenta
dois pólos ativos e dois pólos que aparecem por conseqüência. Isso dá uma
polarização de quatro pólos.

O bobinado de pólos conseqüentes é usado para motores de quatro pólos ou mais.

Nesse tipo de bobinado, o número de grupos de bobinas por pólo e fase é igual à
metade do número de pólos magnéticos do motor. Esses grupos estão ligados de tal
forma que a corrente circula no mesmo sentido em todos os grupos pertencentes à
mesma fase.

A figura abaixo representa um motor trifásico de 12 ranhuras, 4 pólos, com bobinado,


meio-imbricado de um lado de bobina por ranhura, uma bobina por pólo e duas
bobinas por fase.

Nos centros de cada bobina de uma mesma fase formam-se dois pólos chamados
norte, e nos espaços existentes entre as bobinas criam-se os pólos opostos, chamados
sul.

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Representação do esquema frontal de um motor trifásico de quatro pólos

As bobinas de todo o motor trifásico são ligadas de modo a formar três enrolamentos
separados, chamados fases.

As três fases têm o mesmo número de bobinas. Isto significa que o número de bobinas
por fase será igual a um terço do número total de bobinas existentes no motor.

O esquema a seguir corresponde ao de um motor de 24 ranhuras, 4 pólos, com


bobinado meio-imbricado, uma bobina por pólo e 4 bobinas por fase.

Interpretação do esquema
Cada fase é representada por linhas de traços diferentes. Neste caso, o passo da
bobina é 1 a 6. As bobinas são em número de quatro, formando 4 pólos ativos em cada
fase.

A polarização é feita em cada enrolamento ou fase. Cada fase forma quatro pólos; a
corrente circula em sentido contrário ao do grupo anterior.

As conexões de polarização para a fase A são feitas entre os círculos 6 e 12, 7 e 13,
18 e 24; para a fase B, entre os círculos 10 e 16, 11 e 17, 22 e 3; para a fase C, entre
os círculos 14 e 20, 15 e 21, 2 e 8.

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As entradas e saídas dos bobinados correspondentes a cada fase são dadas pelos
círculos 1 e 19, 5 e 23, 9 e 3.

As letras U, V, W (entradas), X, Y e Z (saídas) são usadas como norma internacional


para os motores trifásicos.

Essas letras são correspondentes a números, ou seja:


 Fase A - U e X ou 1 e 4;
 Fase B - V e Y ou 2 e 5;
 Fase C - W e Z ou 3 e 6.

Enrolamento meio-imbricado de motor trifásico

O enrolamento meio-imbricado é um dos mais usados pelos fabricantes de motores


pequenos e médios. Sua montagem é muito simples e economiza tempo de execução
do enrolamento, além de permitir fácil ventilação.

O enrolamento meio-imbricado leva esse nome porque não segue a sucessão exata
das bobinas do enrolamento imbricado.

As bobinas do enrolamento-meio imbricado são todas do mesmo tamanho.

Veja na figura abaixo o canal em corte transversal.

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Esse tipo de enrolamento não é recomendado para motores grandes porque suas
bobinas ficam muito grossas e oferecem perigo de curto-circuito nos cruzamentos.

O enrolamento meio-imbricado é aquele que tem um lado da bobina por ranhura, e seu
número de bobinas é a metade do número de ranhuras existentes, porque cada um
dos lados da bobina ocupa uma ranhura inteira. Em conseqüência, cada bobina ocupa
duas ranhuras.

O número de bobinas é, então, dado por:

Nb 
Nr
2

Assim, um motor com 12 ranhuras, terá 6 bobinas, porque

12
Nb 
2

Nesse motor, a primeira bobina ocupa as ranhura 1 e 6, a segunda, 3 e 8 e assim por


diante, até a 12ª bobina que ocupa as ranhuras 11 e 4.

As bobinas desse rolamento têm a mesma forma e tamanho. Elas são usadas em
estatores ou rotores de ranhuras abertas ou semi-abertas. Veja a figura abaixo.

Execução
Para executar o esquema do enrolamento trifásico de um estator ou de um rotor, é
necessário conhecer os dados descritos a seguir:

1. Passo polar (Yp) - Passo polar é a distância entre dois pólos consecutivos ou a
quantidade de ranhuras ocupada por um pólo. É também a região da influência
magnética do grupo de bobinas.

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O passo vale sempre 180º elétricos. Equivale, em número de ranhuras, a:


Nr
Yp 
p

Onde:
 Yp é o passo polar;
 Nr é o número de ranhuras do estator;
 p é o número de pólos do motor.

A figura abaixo mostra o esquema do passo polar para motor de 2 pólos e motor de 4
pólos.

2. Passo de bobina (Yb) - Passo de bobina é o número de ranhuras que se “pulam”


para encaixar a bobina.

O passo da bobina depende do número de ranhuras em relação ao número de


pólos.

O passo da bobina pode ser inteiro (Ybi), fracionário (Ybf) ou superior (Ybs).

O passo fracionário ou curto é igual a aproximadamente 4/5 do passo polar, ou


seja:
4
Ybf  Yp .
5

O passo superior é igual a aproximadamente 6/5 do passo polar, ou seja:


6
Ybs  Yp .
5

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Observação
Para determinar o passo das bobinas é preciso observar as possibilidades de
bobinagem determinadas pelo tipo de enrolamento. Esse enrolamento pode ser
meio-imbricado, imbricado, em cadeia ou progressivo. Cada um tem características
próprias que determinarão o passo das bobinas.

O enrolamento meio-imbricado não aceita passo de bobina ímpar.

3. Grupo de bobinas (q) - É o resultado da divisão da quantidade de bobinas (Nb)


pelo número de pólos (p) vezes o número de fases (f).
Nb
q
p.f

4. Grau elétrico total (GET) - É o resultado da multiplicação de 180º E pelo número


de pólos do motor, ou seja, GET = 180º . P

Observação
Se o motor tiver dois pólos, os graus elétricos coincidirão com graus geométricos,
ou seja:
360º E = 360º geométricos.

5. Graus elétricos por ranhura (GE/r) - É a quantidade de graus elétricos que existe
entre uma ranhura e outra:
GET
GE / r 
Nr

6. Passo da fase (Yf) - É a distância entre as fases que deve ser observada para
iniciar cada enrolamento.

Para as entradas de força U, V, W, devemos considerar uma distância em graus


elétricos que coincida com a fonte de alimentação.

No sistema trifásico existem 120º E de defasagem e temos:


120
Yf 
GE/r

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Exemplo de distribuição de bobinas:


Estabelecer a distribuição das bobinas de um motor trifásico e 24 ranhuras para dois
pólos.
24
NBV   12 bobinas
2

24
Yp   12 ranhuras
2

12 12
Bobinas por pólo e por fase =  2
2.3 6

4 48
Ybf  . 12   9,6
5 5

Nesse caso, adotaremos 9 ranhuras ou Yb de 1 a 10 ranhuras.

De acordo com esses dados, o esquema da distribuição das bobinas é o seguinte:

Na representação planificada, foram desenhadas somente as bobinas de uma fase do


enrolamento trifásico nos seus dois pólos. Note que o passo do grupo de duas bobinas
de cada pólo aproxima-se do passo polar.

O passo das bobinas não poderia ser maior porque as ranhuras seguintes são
ocupadas pelas bobinas do outro pólo.

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Para completar o esquema com as bobinas de três fases, temos o diagrama


simplificado a seguir.

As bobinas das três fases estão assim distribuídas:

Ranhuras
o
1 grupo 1-3-10 e 12 5-7-14 e 16 9-11-18-20
o
2 grupo 12-15-22 e 24 14-19-2-4 21-23-6-8
Fases A B C

Enrolamento em cadeia de motor trifásico

O enrolamento em cadeia é formado por grupos de bobinas entrelaçadas de modo


semelhante aos elos de uma corrente.

Este tipo de enrolamento é muito usado para ligações de pólos conseqüentes em


motores de duas velocidades.

O enrolamento em cadeia pode ser concêntrico e progressivo.

Enrolamento em cadeia concêntrico


Neste tipo de enrolamento, os lados de cada bobina ocupam uma ranhura cheia; o
número de bobinas é, portanto, igual à metade do número de ranhuras.

O enrolamento é constituído por grupos de bobinas de formato geralmente oval. Cada


grupo é formado por duas, três e até mais bobinas de tamanhos diferentes, e o passo
de cada bobina é diferente do outro.

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A figura abaixo mostra o grupo de três bobinas formando um enrolamento de 4 pólos


conseqüentes, em uma carcaça de 24 ranhuras (canais).

O grupo de bobinas ocupa 12 ranhuras. A bobina menor tem o passo 7, a média, 9 e a


maior, 11. Este último é maior que o passo polar porque, tratando-se de enrolamento
de ranhura cheia, o passo total do grupo ou da bobina maior é sempre maior.

Veja na figura abaixo dois esquemas de distribuição de pólos conseqüentes.

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Nos motores grandes, em lugar de fios, são usadas barras grossas cortadas e enfiadas
nas ranhuras, conformadas de acordo com a posição que devem ocupar. São
posteriormente soldadas, completando as espiras das bobinas.

Enrolamento em cadeia progressivo


Neste tipo de enrolamento, as bobinas são de igual tamanho e, portanto, os passos
são iguais.

As bobinas são encadarçadas separadamente e agrupadas nas cabeceiras,


apresentando uma semelhança com o enrolamento em cadeia concêntrico como
mostra a figura abaixo.

A figura abaixo mostra o esquema de distribuição das bobinas do enrolamento


progressivo com 96 ranhuras e 4 pólos.

O passo da bobina é 20, isto é, ranhuras 1 a 21; o passo do grupo é 23 e o passo polar
é 24, encontrado pela seguinte fórmula:
Nr 96
Yp    24
2p 4

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Para motores de muitas ranhuras, esse tipo de enrolamento é feito em várias


camadas, como está representado nos esquemas abaixo.

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