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SEMINÁRIO TECNOLOGIA E GESTÃO

NA PRODUÇÃO DE EDIFÍCIOS
VEDAÇÕES VERTICAIS

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL

São Paulo – SP – Brasil


14 A 16 DE JULHO DE 1998

ANAIS
EDITORES
Fernando Henrique Sabbatini
Mercia Maria Bottura de Barros
Jonas Silvestre Medeiros

PCC/EPUSP
São Paulo-SP
http://www.pcc.usp.br
FICHA CATALOGRÁFICA

Seminário Tecnologia e Gestão na Produção de Edifícios:


Vedações Verticais (1º.: 1998 : São Paulo)
Anais; ed. por F.H. Sabbatini, M.M.S.B. de Barros, J.S.
Medeiros. São Paulo, EPUSP/PCC, 1998.
308p.

1. Paredes e vedações – Congressos I. Sabbatini,


Fernando Henrique II.Barros, Mércia Maria Semensato Bottura
de Barros III. Medeiros, Jonas Silvestre IV. Universidade de
São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de
Construção Civil V. t.

CDU 69.022(061.3)
ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL

SEMINÁRIO TECNOLOGIA E GESTÃO NA PRODUÇÃO DE EDIFÍCIOS


VEDAÇÕES VERTICAIS

14 a16 de julho de 1998

Comissão organizadora
Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini (Coordenador)
Profa. Dra. Mercia Maria Bottura de Barros
Prof. M. Eng. Jonas Silvestre Medeiros
Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco

Apresentação
A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP sempre desenvolveu
expressiva atividade em pesquisa e prestação de serviços à comunidade, visando
atender aos interesses da sociedade, em sintonia com o panorama científico e
tecnológico nacional e internacional.
É neste contexto que vem se dando a atuação do Departamento de Engenharia de
Construção Civil, através de seus seis Grupos de Ensino, Pesquisa e Extensão
Universitária.
O presente evento é organizado pelo Grupo de Tecnologia e Gestão da Produção
na Construção Civil - GEPE-TGP, o qual reúne atualmente sete professores
doutores, três professores com mestrado, dez alunos de doutorado e vinte e cinco
alunos de mestrado.
Esse Grupo tem como objetivo geral desenvolver e transferir tecnologia adequada
ao setor da construção civil, buscando resultados de forma integrada com os
diversos aspectos multidisciplinares que envolvem os processos de produção e as
características e realidade do setor no país. Enfoca a tecnologia tanto no seu
sentido latu, como enquanto tecnologia de planificação, de organização, de direção
e de controle da produção e, nesse sentido, atualmente, tem desenvolvido trabalhos
nas áreas de:
• Alvenaria estrutural: objetiva a evolução tecnológica dos processos construtivos
em alvenaria estrutural, através da avaliação e desenvolvimento de
componentes, técnicas, métodos e processos construtivos racionalizados.

i
• Gestão da produção na construção civil: visa ao desenvolvimento de
conceitos, metodologias e ferramentas voltados para a gestão de sistemas de
produção que contribuam para a melhoria de eficiência e o aumento de
competitividade dos agentes envolvidos, em especial das empresas de
construção.
• Racionalização dos métodos, processos e sistemas construtivos: visa ao
aprimoramento tecnológico dos processos construtivos tradicionais, através da
implantação de tecnologias construtivas racionalizadas, e ao desenvolvimento de
novas técnicas, métodos e processos de produção.
• Qualidade e produtividade nos métodos, processos e sistemas
construtivos: estuda a aplicação dos princípios da gestão da qualidade às
empresas do setor da construção e aos processos construtivos e o
desenvolvimento de metodologias e ferramentas para avaliação e incremento da
produtividade dos processos e métodos construtivos.
• Qualidade do projeto na construção de edifícios : tem por objetivo o
estabelecimento de diretrizes e métodos que contribuam para a melhoria da
qualidade do projeto de edifícios, baseados em princípios de gestão da
qualidade, racionalização construtiva e construtibilidade e com vistas à evolução
tecnológica.

O Departamento de Engenharia de Construção Civil, através de seu Grupo de


Tecnologia e Gestão da Produção na Construção Civil - GEPE-TGP, perseguindo o
seu objetivo de desenvolver e transferir tecnologias adequadas ao setor da
construção civil, deu início em setembro de 1997, com o Seminário Internacional
“Gestão e Tecnologia na Produção de Edifícios”, a uma nova fase de trabalhos,
ainda mais voltados às necessidades e anseios do mercado.

Naquele seminário procurou-se refletir sobre os temas: “competitividade e


estratégias de produção”, “gestão da qualidade e certificação em empresas
construtoras e projetistas”, “tecnologias construtivas” e “gestão da produção”, tendo-
se como objetivos contribuir para o aumento da competitividade das empresas
construtoras brasileiras, bem como, identificar as necessidades do mercado quanto
às pesquisas a serem desenvolvidas.

Por essa ocasião, um dos temas que gerou grandes debates, suscitando calorosas
discussões, foram as vedações verticais do edifício. Procurando dar uma rápida
resposta aos anseios, então apresentados, é que se promove o presente evento.

Objetivos do Seminário
• Apresentar um panorama atual das alternativas de produção das vedações
verticais, discutido-as tecnicamente, buscando, com isso, contribuir para o
aumento do conhecimento tecnológico acerca desse subsistema do edifício;
• divulgar, junto ao meio produtivo, os trabalhos realizados pela EPUSP sobre o
tema; e

ii
• identificar as necessidades do mercado, de modo a auxiliar na definição dos
trabalhos específicos de ensino, pesquisa e extensão universitária a serem
desenvolvidos.

Público alvo
Profissionais e pesquisadores ligados à área de construção de edifícios.

Estrutura do evento
Este Seminário, totalmente voltado às vedações verticais de edifícios, foi organizado
em três painéis, com enfoque para os temas: “a produção competitiva através de
novas tecnologias construtivas”; “desempenho e patologias”; “gestão do processo
de produção”.
Os objetivos do primeiro painel foram: contextualizar as mudanças de paradigmas
que vêm afetando a produção das vedações verticais; traçar um panorama que
mostrasse como os agentes do processo de produção - de modo particular, os
produtores de materiais e componente, os projetistas e os construtores - têm
reagido às novas tecnologias propostas; apresentar exemplos concretos de ações
empreendidas.
Por sua vez, os outros dois painéis visaram tratar com maior profundidade, através
da visão de especialistas da área, as questões afeitas ao desempenho, às
patologias e ao processo de produção das vedações verticais, procurando-se, além
disso, identificar pontos para novas investigações, incluindo-se depoimentos e
opiniões dos principais agentes envolvidos com o processo de produção.
Estes painéis contiveram:
• apresentações de trabalhos por professores e pesquisadores da EPUSP
e por especialistas da área;
• depoimentos de profissionais convidados de empresas construtoras e de
projeto e fornecedoras de materiais, componentes e serviços;
• debates motivados por duas questões essenciais: “Como os diferentes
agentes têm enfocado o tema vedações verticais de modo a contribuir
para a evolução tecnológica do processo de produção?” e “Quais são as
maiores carências na área?”.
Promoção
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Departamento de Engenharia de Construção Civil
Av. Prof. Almeida Prado trav. 2, 271 – Cidade Universitária
05508-900 - São Paulo - SP
Tel.: (011) 818-5429 Fax: (011) 818-5544
http://www.pcc.usp.br

iii
Patrocinadores
Cerâmica Selecta
Gethal S.A.
Glasser Blocos e Pisos de Concreto Ltda.
Inpar Incorporações e Participações Ltda.
Knauf do Brasil Ltda.
Morlan S. A.
Prensil S. A.
Quartzolit
Sical Concreto Celular Autoclavado
Tigre – tubos e conexões

Apoio
ANTAC - Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído
ITQC - Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção
PINI Editora
SindusCon SP – Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo

Grupo de Tecnologia e Gestão da Produção na Construção Civil

Docentes :
Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso - coordenador
Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini
Prof. M.Eng. Jonas Silvestre Medeiros
Prof. M.Eng. Godofredo Augusto de Campos Marques
Prof. Dr. Hermes Fajerstajn
Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco
Profa. Dra. Mercia Maria Semensato Bottura de Barros
Prof. Dr. Sílvio Burrattino Melhado
Prof. Dr. Ubiraci Espinelli Lemes de Souza
Prof. M.Eng Vitor Levy Castex Aly (afastado)

Doutorandos :
Eng. M.Eng. Alberto Casado Lordsleem Jr.
Enga. M.Eng. Ana Lúcia Rocha de Souza
Arq. M.Eng. Cynara Tessoni Bono
Eng. M.Eng. Edimilson Freitas Campante
Prof. M.Eng. Emerson A. M. Ferreira (UFBA)
Eng. M.Eng. Júlio César Sabadini de Souza
Eng. M.Eng. Márcio Minto Fabrício
Eng. M.Eng. Mário Collantes Candia
Profa. M.Eng. Marcela Paula Maria Zanin Meneguetti (UEM)
Profa. M.Eng. Sheyla Mara Baptista Serra (UFSCar)

iv
Mestrandos :
Eng. Adriano G. Vivancos
Enga. Artemária C. Andrade
Eng. Eduardo C. Fontenelle
Eng. Eduardo Henrique Pinheiro de Godoy
Eng. Edson Toledo Albuquerque Jr.
Enga. Eliana Kimie Taniguti
Tecn. Fanny M. Maeda
Eng. Fausto Carraro
Eng. Fred Borges da Silva
Eng. Josaphat Lopes Baía
Prof. José Carlos Paliari (UFSCar)
Eng. José Vicente B. Teixeira
Eng. Leonardo T. Massetto
Enga. Luciana Beltrati Ruiz
Eng. Luiz Otávio C. Araújo
Eng. Maurício Kenji Hino
Enga. Palmyra Farinazzo Reis
Eng. Rolando Ramirez Vilato
Profa. Enga. Sasquia Hizuru Obata (FAAP)
Enga. Sofia Villagarcia Zegarra

v
vi
SUMÁRIO

A industrialização e o processo de produção de vedações: utopia ou 01


elemento de competitividade empresarial
Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini

O processo de produção das alvenarias racionalizadas 21


Profª Drª Mercia Maria S.Bottura de Barros

O processo de produção das paredes maciças 49


M. Eng. Alberto Casado Lordsleem Júnior

O processo de produção das vedações leves de gesso acartonado 67


Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini

O desempenho estrutural e a deformabilidade das vedações verticais 95


Prof. Dr. Luiz Sergio Franco

O desempenho acústico das vedações verticais em edifícios 113


Prof. Dr. João Gualberto de A. Baring

O desempenho das vedações frente à ação da água 125


Prof. M. Eng. Jonas Silvestre Medeiros

As fissuras com origem na interação vedação estrutura 169


Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini
A gestão da produção de vedações verticais: alternativas para a
mudança necessária
187
Prof. Dr. Francisco F. Cardoso
O projeto das vedações verticais: característica e importância para a
racionalização do processo de produção
221
Prof. Dr. Luiz Sergio Franco

Produtividade e custos dos sistemas de vedação vertical 237


Prof. Dr. Ubiraci Espinelli Lemes de Souza
O desafio da implantação de inovações tecnológicas no sistema
produtivo das empresas construtoras.
249
Profª Drª Mercia Maria Bottura de Barros

Trabalhos de pesquisas em andamento 287

Projetos de pesquisas em andamento 301

vii
viii
A INDUSTRIALIZAÇÃO E O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE
VEDAÇÕES: UTOPIA OU ELEMENTO DE COMPETITIVIDADE
EMPRESARIAL?

Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini


fhsabba@pcc.usp.br

1. INTRODUÇÃO

A modernização da construção civil é hoje uma exigência da sociedade. Os


desperdícios, o “atraso tecnológico”, a primariedade dos métodos construtivos, o
despreparo da mão de obra, são temas discutidos por toda a coletividade e não
apenas no setor. Mas, mais que uma exigência social, ela se constitui hoje em
fator essencial de sobrevivência para as Empresas que atuam neste setor. O
“evolui ou perecerás” parece Ter finalmente chegado para a construção de
edifícios. Muitas empresas se aperceberam disto recentemente e estão
investindo na modernização dos seus meios de produção. A necessidade de
manter-se competitiva obriga a que todas as demais também invistam e isto cria
uma corrente favorável para a modernização.

O processo evolutivo industrial é conhecido genericamente como


industrialização, sendo que os níveis evolutivos neste processo podem ser
mensurados através do grau de desenvolvimento tecnológico atingido. Este é,
portanto, um parâmetro daquele, sendo normalmente confundido com o próprio
processo de industrialização do setor.

As vedações dos edifícios de múltiplos pavimentos, executadas pelos processos


tradicionais em alvenaria, têm sido questionadas e responsabilizadas pelo atraso
tecnológico do setor. Muitos pensam em substituí-la por métodos mais
"modernos", imaginando, com isto que irão evoluir e se modernizar.

Verifica-se que as decisões neste campo são, muitas vezes, adotadas sem
reflexão, sem uma necessária visão sistêmica, sem compreensão efetiva dos
verdadeiros condicionantes do problema e, freqüentemente, sem definir os
objetivos, as metas a serem atingidas.

1
Neste trabalho serão feitas algumas reflexões sobre a industrialização, processo
hoje absolutamente essencial para que o setor de construção civil de edificações
brasileiro mantenha sua competitividade, e sua relação com o uso dos velhos e
novos métodos de se construir vedações.

2. INDUSTRIALIZAÇÃO

A construção civil é fundamentalmente uma atividade industrial. Isto porque tem


como objeto transformar recursos existentes em produtos úteis à sociedade [1].

O significado básico do termo industrialização é: "Ato ou efeito de industrializar-


se" [2]. Portanto, industrialização, em seu sentido lexicográfico pode ser
entendido como um processo voltado para o aperfeiçoamento do desempenho
de uma atividade industrial. Pode, por isto, ser confundido com o significado do
termo evoluir, no segmento industrial.

E evoluir, com o sentido de aperfeiçoar-se como indústria, é o caminho natural


de todos os diversos segmentos industriais. Assim, o processo evolutivo no setor
industrial é conhecido como industrialização.

Na construção civil o conceito de industrialização não tem sido adequadamente


compreendido. Muitos, ainda, confundem-no com o conceito de pré-fabricação,
que nada mais é do que uma simples manifestação da industrialização .
Meregaglia, citado por Ordonez [3] deixa bastante claro o que se entende por
industrialização na construção civil: "é uma ação organizacional, uma
mentalidade. Significa transformar a empresa de construção de mentalidade
artesanal em uma verdadeira indústria". Carlo Testa [4] conceitua-a de uma
forma mais precisa: "Industrialização da construção é um processo que, por
meio de desenvolvimentos tecnológicos, conceitos e métodos organizacionais e
investimentos de capital, visa incrementar a produtividade e elevar o nível de
produção", e acrescenta: "A essência da industrialização na construção de
edifícios é a organização."

Estas definições posicionam que a evolução da indústria da construção civil


deve ser implementada através de ações organizacionais e operativas, que

2
objetivem aumentar progressivamente o nível de produtividade operacional
(relação entre o que é produzido e os recursos investidos nesta produção) e o de
produção. O desenvolvimento deve ocorrer, não só com a utilização de novos
métodos e processos construtivos, novas técnicas e novos materiais mas,
principalmente, com o incremento progressivo do nível de organização da
atividade de construção civil em todas as suas fases, do projeto ao uso do
produto fabricado pela indústria.

Foster [5] coloca que: "Como um processo organizacional a industrialização


pode ser aplicada a qualquer processo construtivo". Ou seja, não existe
embutido no conceito de industrialização, a exigência de que para evoluir
obrigatoriamente uma empresa tenha de alterar os seus processos construtivos.
Tem, sim que organizá-los. Em outras palavras: a industrialização não é um
processo associado a saltos tecnológicos ou a mudanças operacionais radicais.
Ela é essencialmente um processo contínuo de organização da atividade
produtiva.

Em nossa tese de doutorado [1] propusemos uma definição coerente com esta
concepção organizacional e evolutiva:

"INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO é um processo evolutivo que, através


de ações organizacionais e da implementação de inovações tecnológicas,
métodos de trabalho e técnicas de planejamento e controle, objetiva
incrementar a produtividade e o nível de produção e aprimorar o
desempenho da atividade construtiva."

Acreditamos, enfim, que os esforços no sentido de industrializar a construção


civil de edificações devem ser conduzidos tendo por objetivo: construir mais e
melhores edificações a um menor custo.

3. A MUDANÇA ORGANIZACIONAL

Quando o objetivo principal a ser atingido é o de redução de custos de produção


e se houver consenso de que apenas mudando a organização do atual processo
produtivo este objetivo será alcançado, fica clara a necessidade de mudança.

3
Isto não fica tão claro quando o enfoque é o de garantir a qualidade do produto.
Posto que a qualidade é uma exigência do mercado cada vez mais solicitada,
devido à mudanças comportamentais permanentes dos clientes (não é moda
transitória), parece óbvio que uma empresa, para manter seu grau de
competitividade, precisa atender melhor do que a concorrência esta exigência. O
que não é de entendimento consensual é que somente alterando profundamente
a organização dos processos de produção é que será possível ter certeza da
qualidade prometida e entregue. Qualidade entendida como satisfação das
exigências do cliente mas, também, como ausência de falhas que impliquem em
custos de manutenção não previstos.

No entanto, em um processo de produção como o adotado tradicionalmente pela


indústria da construção civil, no qual grande parte das decisões que importam
para a qualidade do produto são tomadas na fábrica pelos próprios executores,
esta qualidade não pode ser garantida. Pode ser apenas constatada. O domínio
do processo estando nas mãos dos executores caracteriza um processo de
produção dito artesanal, no qual a responsabilidade pela qualidade do produto é
do próprio executor. No passado esta responsabilidade era clara e a qualidade
poderia ser conseguida através da seleção dos executores. Hoje, isto não mais
ocorre, e em qualquer setor industrial a qualidade é resultante de um processo,
cujo domínio está centrado na engenharia, de projeto e de produção.

Desta forma acreditamos que também para garantir qualidade é necessário


mudar a organização do processo de produção de forma a manter o domínio do
mesmo tão e somente no nível da engenharia.

Também não é de entendimento imediato que devemos mudar quando o objetivo


é reduzir custos de forma relativa. Ou seja, os custos podem até aumentar em
relação ao tempo, em valores absolutos mas, quando comparado com o de
empresas concorrentes, eles tem de ser relativamente menores. A busca de
custos relativos menores é que define o incremento ou a manutenção da
competitividade. O aumento constante dos custos em valores absolutos muitas
vezes camufla a realidade.

4
Como parece ser uma tendência o aumento do custo da mão de obra com o
tempo (devido à mudanças nas relações de trabalho e devido ao esperado
incremento na demanda, como resultado da evolução do setor), aquelas
empresas que alterarem significativamente seus processos de produção
reduzindo a dependência da mão de obra, tenderão a terem seus custos
relativos reduzidos, mesmo que aparentemente estes novos processos
impliquem em aumento de custos. No nosso entender alterar significativamente
os processos de produção implica em mudar a atual organização de produção.

3.1 Os Caminhos para a Mudança – O Domínio do Processo pela


Engenharia

Entendemos que o caminho para a mudança passa necessariamente pela


assunção plena do domínio do processo construtivo pela engenharia. Ainda hoje
é comum o paradigma “é possível construir um edifício sem engenheiro mas,
não dá sem um bom mestre”.

O mestre e os encarregados, se competentes, dominam apenas o saber prático.


Conseguem produzir um edifício, a partir de alguns poucos projetos,
fundamentando-se apenas em experiências apreendidas na construção de obras
semelhantes. No entanto não tem a capacidade, nem a obrigação, de otimizar o
uso de recursos, de tomar decisões sistêmicas, decisões estas voltadas para a
obtenção da máxima eficácia do processo e do melhor desempenho do produto.

A engenharia foi criada durante a revolução industrial do século passado para


conduzir os processos de produção industrial utilizando-se de ferramentas
apropriadas para a obtenção de produtos de uma forma eficaz, ao menor custo e
com qualidade pré-definida. Ferramentas, conceituadas como de engenharia,
tais como os projetos de engenharia (“Engineering Design”), as técnicas de
planejamento, os métodos de gestão e de controle, etc.

Em outros ramos industriais o domínio do processo de produção pela engenharia


é uma realidade há muito tempo estabelecida. Na construção civil de edifícios,
em nosso País é uma realidade ainda distante. Muitas são as razões e não cabe
aqui discutí-las. No entanto uma das principais é o emprego de uma organização
de produção inadequada.

5
A organização de produção atual é inadequada porque: não se dispõe de
projetos construtivos (projetos para produção) que definam precisamente, sem
margem para decisões de obra, como construir o que está previsto; utilizam-se
para o planejamento ferramentas tecnicamente adequadas, mas baseadas em
parâmetros incompletos e dados irreais (entre outras origens, também porque
não se baseia em projetos construtivos); utilizam-se métodos de gestão
incoerentes e pouco eficientes; não se dispõe de sistemáticas de controle de
processo que permitam a tomada de decisões gerenciais eficazes e nos
momentos adequados; utiliza-se uma estrutura organizacional, no canteiro, não
propícia para a condução do processo pela engenharia, sem técnicos, sem
tecnólogos, com mestres e encarregados “assumindo” responsabilidades
incoerentes com sua própria capacitação; não premia, não estimula, não
valoriza a qualificação profissional dos operários e a produtividade dos mesmos.
Isto tudo, entre inúmeras outras deficiências, as quais justificam a ineficácia e a
inadequabilidade da organização atual.

3.2 Os Caminhos para a Mudança - A Empresa Integradora

A produção de sistemas complexos requer um organização de produção


específica. Produtos como automóveis, aviões e edifícios se constituem em
sistemas muito complexos. A exigência de sistemas de produção específicos se
fundamenta na impossibilidade de uma única organização deter e utilizar de uma
forma eficaz todo o conhecimento tecnológico necessário para a produção das
diversas partes do sistema.

Esta organização diferenciada pode ser simplificadamente explicada pelo


modelo de empresa integradora. Neste tipo de empresa industrial os diversos
subsistemas do produto complexo, produzidos por diversas outras empresas,
são integrados para a obtenção do mesmo. Esta integração pode ser feita pela
própria empresa, caso das tradicionais montadoras de automóveis, ou pelas
empresas fornecedoras dos subsistemas na fábrica da integradora como é o
caso da comentada fábrica de caminhões da Volkswagen em Resende.

Para se obter sucesso neste processo é essencial que existam projetos e


planejamentos extremamente precisos e que se disponha de sistemas de gestão
e controle adequados. Na realidade o que diferencia as empresas integradoras e

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determinam o seu grau de competitividade é a excelência dos seus projeto,
planejamento e gestão. É essencial também que existam empresas
fornecedoras dos diversos subsistemas e que estas detenham níveis
semelhantes de excelência nestes campos.

Acreditamos que a vocação das empresas construtoras seja a de integradora de


sistemas complexos. Neste contexto, idealmente, a construtora irá produzir
edifícios integrando os seus diversos subsistemas (estruturas, vedações,
instalações, etc.) através de projeto e planejamento sistêmicos e de processos
de gestão e controle específicos no canteiro. A construtora seria uma
compradora de subsistemas projetados por ela, mas construídos ou montados
no seu canteiro por parceiros especialistas na produção dos mesmos (na
terminologia específica compraria sub-empreitadas globais). Em um mercado em
que todas as empresas concorrentes adotem posturas semelhantes, o que
diferenciaria as empresas, definindo o seu nível de competitividade, seria
então a sua capacidade de projetar, planejar e gerir a produção do bem.

Muitas construtoras pensam estar agindo como integradoras, sub-empreitando


praticamente todos os serviços pertinentes ao produto edifício. No entanto são
pouquíssimo eficientes neste processo, o que é evidenciado pelos seus custos,
pelo produto de qualidade discutível e porque não se diferenciam dos
concorrentes, não apresentando com isto competitividade diferenciada.

Ocorre que estas construtoras não dispõem de nenhum dos pré-requisitos


necessários para atuar com integradora de forma eficaz: projetos e
planejamentos sistêmicos; organização de produção adequada, sistemas de
controle eficientes, etc. Além de que estão a comprar subsistemas de
fornecedores (empreiteiros) que não tem real domínio dos seus processos e que
não produzem eficazmente as partes do todo.

Parece-nos claro que, para uma empresa construtora assumir efetivamente a


vocação de integradora e conseguir com isto máxima eficácia, é essencial que
ela altere totalmente sua organização de produção desenvolvendo processos
próprios de projeto, de planejamento e de gestão e controle. Que estabeleça
com precisão seus procedimentos construtivos, de forma a permitir a contratação

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de parcerias competentes ou de produzir ela própria algumas partes, quando
estas parcerias não conseguirem ser tão eficientes quanto ela.

3.3 Os Caminhos Para a Mudança - O Projeto Para Produção

Os projetos com os quais a construção de edifícios normalmente trabalha: o


projeto arquitetônico; o de estruturas e os de instalações prediais, são
basicamente projetos conceituais. Isto significa que eles se propõem em
estabelecer os conceitos essenciais que definem o produto edifício e não como
construí-lo.

O projeto arquitetônico define, por exemplo, o leiaute, as formas, os detalhes de


acabamento do produto. Mesmo quando se contrata o denominado “projeto
executivo” este normalmente nada mais é que um conjunto de detalhamentos
dos componentes do produto acabado e não um detalhamento de como produzir
(executar) estes componentes.

Da mesma forma, o projeto estrutural não diz como executar a estrutura. Ele a
conceitua geometricamente, especifica materiais, define posições de ferragens,
etc.

Em resumo, os projetos conceituais estabelecem O QUE FAZER e não O COMO


FAZER. O como fazer é o objeto dos projetos para produção (ou também
chamados projetos construtivos).

Um projeto é um plano para fazer algo. É pensar antes de fazer, é planejar o que
e como fazer, em uma etapa que antecede a execução de alguma coisa. É tomar
decisões previamente, e não no momento da execução. Um projeto para
produção nada mais é do que pensar e planejar como fazer antes de fazer algo e
complementa um projeto que define o que deve ser feito.

Parece óbvio que, para fazer bem feito um produto, para fazê-lo com a máxima
eficácia, para otimizar o uso de recursos disponíveis, devemos pensar antes de
sair executando. Todos os outros ramos industriais sabem e praticam isto. É
inimaginável que uma indústria de lanchas saia fazendo uma, por mais exclusiva
e única que esta seja, sem projetos completos de como produzí-la.

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Por mais incrível que possa parecer, a construção civil de edifícios no Brasil
somente há poucos anos começou a utilizar-se, ainda muito timidamente, de
projetos para produção. O projeto de fôrma (projeto de como fazer os moldes
dos elementos em concreto), enquanto prática comum não tem dez anos. O
projeto de alvenaria (projeto de como executar as paredes do edifício) é prática
dos últimos três ou quatro anos.

Sem projetos para produção é perfeitamente possível construir. Com pessoas


experientes e voluntariosas constrói-se. Aliás sempre foi assim, pois “basta um
bom mestre para fazer um edifício”. Nesta situação as decisões fundamentais de
como construir são tomadas no canteiro por quem sabe fazer, por quem domina
o saber prático. Mas com absoluta certeza, nesta situação não se produz com a
máxima eficácia.

Isto porque as decisões de obra são decisões não-sistêmicas. São tomadas para
resolver problemas que aparecem durante a execução. O problema do
engenheiro de obra e do mestre é construir, e de alguma forma ele encontra
soluções de como fazê-lo. Mas, seguramente, não de uma forma que otimize o
todo.

No nosso entender não é possível pensar em reduzir custos e prazos e,


simultaneamente, garantir a qualidade do que for ser construído, se não
investirmos em definir previamente como construir. Em adotar todas as decisões
essenciais com visão sistêmica, procurando otimizar os processos de
produção antes de iniciá-los.

A ferramenta necessária para conseguir-se a máxima eficácia é o projeto para


produção. O qual consiste em um conjunto de projetos construtivos, integrados e
totalmente coerentes entre si. Assim posto parece óbvio: façamos então o
projeto para produção. O problema é que não se dispõe de metodologias e de
prática de como obtê-lo.

É fundamental, então , que se invista em criar uma metodologia própria de como


fazê-lo. Uma metodologia que seja efetivamente um instrumento de
racionalização do processo, que se constitua em um fator diferenciador em
termos de competitividade. Uma ferramenta que permita à empresa ter um total

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domínio do processo. Que permita um planejamento preciso do que produzir.
Que permita identificar as falhas do processo e que sirva para induzir alterações
que tornem-no progressivamente mais eficaz.

Não é tarefa para ser conduzida pela mesma estrutura organizacional


encarregada de operacionalizar a construção de obras em andamento. Em
nosso entender é um trabalho coerente com os objetivos de uma área de
desenvolvimento tecnológico.

3.4. Os Caminhos Para a Mudança - A Nova Organização

O processo de produção da indústria de construção de edifícios de hoje pouco


difere da que surgiu na Europa durante a idade média (e que vem sendo
adotada desde então) - a das corporações de ofício. Nestas, a responsabilidade
pela definição de como fazer e pela qualidade do produto eram de competência
dos executores. A formação de oficiais capacitados, o treinamento de
aprendizes, a seleção dos mais capazes para assumir responsabilidades, eram
obrigações inerentes à própria estrutura de produção Também o
aperfeiçoamento das técnicas e métodos construtivos nascia no canteiro como
fruto do acaso e da ação de uns poucos mais iluminados. As operações eram
essencialmente artesanais, a produtividade baixa e a capacidade de produção
muito limitada. As decisões sobre como produzir eram subjetivas e dispersas,
baseadas na experiência e no voluntarismo dos executores.

A revolução industrial do início do século passado conseguiu mudar totalmente


este cenário nas demais artes de ofício, mas não muito na construção civil. Não
cabe aqui analisar os porquês. Temos, no entanto, que compreender que a
organização de produção implícita na produção artesanal não se coaduna com
as necessidades de se produzir com níveis crescentes de produtividade (relação
entre entradas e saídas, ou investimentos e resultados), e com o incremento no
volume de produção. E por conseqüência com redução de custos.

Nos últimos vinte e cinco anos temos assistidos toda sorte de tentativas de se
alterar esta situação pela introdução de métodos e processos construtivos
inovadores. Dos sistemas construtivos pré-fabricados às divisórias leves tipo
“drywall” da década de 70, temos constatado uma sucessão de fracassos. No

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nosso entender os insucessos ocorreram em grande parte porque tentou-se
introduzir as inovações mantendo-se a mesma estrutura organizacional da
produção artesanal. Tentou-se evoluir, sem alterações significativas na forma de
produzir.

Não podemos cometer os mesmos erros. Devemos compreender que


essencialmente o que necessitamos é de mudanças organizacionais que nos
permitam atingir maiores níveis de eficiência e de eficácia. Novos métodos
construtivos são importantes, mas nada resolvem se não estivermos
preparados para tirar deles os resultados pretendidos e prometidos. E,
estarmos preparados é o mesmo que dispormos de uma organização produtiva
coerente com os mesmos.

Quão profundas são as mudanças necessárias? Precisamos de alterações


radicais, que envolvam mudanças culturais na nossa sociedade, ou que
dependem de ações do Estado (como educação e capacitação profissional)?

No nosso entender precisamos, em um primeiro momento, apenas nos


ORGANIZAR MELHOR. É inconcebível que produzamos edifícios, seja contratando
terceiros ou utilizando mão de obra própria, sem termos todos os procedimentos
de como produzir (ou pelo menos os essenciais) perfeitamente estabelecidos.
Qualquer processo de produção medianamente organizado, tem claramente
definidos todos os seus procedimentos operativos. No mínimo, para que as
ações obedeçam a uma lógica pré-definida, as decisões não sejam subjetivas,
as responsabilidades possam ser definidas e para que o planejamento e o
controle sejam possíveis. Infelizmente constatamos que, ainda hoje, a
construção civil não os tem consolidado e muitas vezes desconhece como
produz.

É também inconcebível, sob nosso ponto de vista, que as responsabilidades no


processo de produção não estejam claramente definidas. Qualquer processo
organizacional inicia-se por uma definição explícita de cargos e funções, das
atribuições e responsabilidades de todos os participantes. A construção civil de
edifícios, de maneira geral, não dispõe destas definições e trabalha com

11
responsabilidades dispersas, com se a lógica fosse “cada um sabe o que deve
fazer, para isto eles são profissionais” .

Como podemos ter o domínio do processo se não o temos sob controle?


Quando se fala em controle na construção civil vem logo à mente dos
profissionais a figura de um inspetor, de papéis a serem preenchidos, de
ingerência de terceiros atrapalhando o ritmo de obra, etc. Não é deste controle
burocrático que necessitamos. Precisamos ter domínio do processo, tê-lo
totalmente em nossas mãos, conduzi-lo sabendo a cada momento onde estamos
em relação ao projetado, ao preestabelecido. No mínimo, para que
identifiquemos os desvios e para que possamos corrigir os rumos. Ou para que
identifiquemos onde estão os desperdícios, que nos impedem de reduzir os
custos. Como podemos tomar decisões gerenciais se não dispomos de
informações gerenciais? Somente disporemos de todas as informações
necessárias para conduzir com eficácia o processo de produção se, em sua
organização estiverem perfeitamente estabelecidos: os procedimentos de
controle; a sistemática de coleta de informações; as metodologias de análise das
informações; os procedimentos para correção de não-conformidades, etc.

Enquanto as outras engenharias dominam amplamente novas metodologias de


gestão, de planejamento, de controle, tão logo elas se disseminem, a construção
civil continua a utilizar-se de métodos superados e ineficientes. Nossos
engenheiros não se reciclam, não se aperfeiçoam. Poucos se interessam em
evoluir, desestimulados que são pelas condições que encontram na fábrica de
edifícios. A mudança organizacional a ser conduzida terá de alterar esta
situação. Paralelamente à introdução de novos métodos de gestão deverão ser
desenvolvidas ações de capacitação dos profissionais da empresa construtora.

Em resumo, a nova organização da produção, em um primeiro momento, é


somente organizar melhor a produção. Estabelecendo e consolidando os
procedimentos operacionais, de gestão e de controle, definindo
responsabilidades e introduzindo métodos de gestão e controle coerentes com
os objetivos pré-definidos. O que, por si só, demanda muito trabalho. Para serem
atingidos resultados significativos deveremos dispor de uma hierarquia no
canteiro coerente com os novos processos de produção. Uma hierarquia

12
baseada em profissionais capazes de compreender e aceitar, por exemplo, os
projetos para produção e os controles a serem estabelecidos. Que saibam gerir
o processo de forma a conseguir a máxima eficácia. Que trabalhem com níveis
de produtividade muito superiores aos atuais.

Precisamos que nossos engenheiros “engenheirem” e assumam as funções que


lhe são próprias. Precisamos fazer com que os técnicos e os tecnólogos
assumam também as suas funções, as quais em sendo assumidas pelos
engenheiros de obra (e também pelos mestres), profissionais que, sendo melhor
remunerados que aqueles, acabam onerando os custos desnecessariamente.
Para que isto ocorra precisamos de uma estrutura organizacional que aproveite
integralmente as capacitações de cada profissional.

4. OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE VEDAÇÕES VERTICAIS

São muitas as tipologias possíveis de serem empregadas como vedação vertical


em edifícios com estrutura reticulada de concreto armado. Da parede tradicional
de alvenaria de tijolo cerâmico maciço com emboço mais reboco aos painéis
pesados pré-fabricados com revestimento incorporado ou da divisória em lambris
à de gesso acartonado ou da parede de bloco de vidro às fachadas cortinas de
alumínio e vidro, são incontáveis as possibilidades de escolha.

Temos disponíveis, para execução de vedações, processos de moldagem no


próprio local e processos de montagem mecânica de componentes
industrializados. Processos com os mais variados graus de industrialização
(parâmetro que mede a produtividade do processo) e níveis de custo. E também,
com uma ampla diferenciação no desempenho funcional.

Como escolher? Quais critérios devem ser considerados para definição do


produto?

Somente por custo? De R$ 15,00 à R$ 500,00/m² temos à escolha do freguês.


Se assim fosse estaríamos trabalhando com bem poucas opções e estaríamos
procurando técnicas de manter folhas de papelão em pé.

13
Por tradição construtiva local? Certamente não teríamos abandonado o bom e
velho tijolo de "barro", que vedou eficientemente nossos edifícios
multipavimentos até cerca de 30 a 40 atrás.

Pelo grau de industrialização? Se assim fosse o primeiro mundo não estaria


redescobrindo a alvenaria, após ter investido nos, e utilizado intensamente, os
pré-fabricados e as técnicas de montagem industrial.

Porque o mercado consumidor impõe? O que é mesmo que o consumidor quer?


Gostaríamos de ter resposta para esta questão. E não adianta perguntar porque
muitos não irão gostar da mesma.

Pelo desempenho funcional? Durabilidade? Aspectos estéticos? Outros aspectos


econômicos, além do custo? Disponibilidade local? Interesses comerciais,
sociais ou geo-políticos? Por exigências ambientais?

Por tudo isto ao mesmo tempo e por ainda muitos outros critérios. É uma
escolha complexa, difícil, delicada. E de fundamental importância para a
qualidade do edifício, da vida humana que irá ocupar o edifício e do processo de
produção do edifício. É uma escolha técnica, uma definição essencialmente
técnica.

E quem define? O arquiteto, no momento em que está criando o produto


edifício? O incorporador ou o empreendedor, aquele que "tudo sabe" sobre as
necessidades dos seus futuros clientes? A construtora, que é quem detém o
saber técnico? O banco ou "a Caixa", que afinal são os donos do dinheiro que
paga a conta? Ou o governo, através de ações políticas que impõem soluções
de interesse da sociedade? O produtor de vedações têm, ou deve ter, ingerência
na escolha? Todos e mais alguém, que não foi relacionado?

E quando deve ser feita a escolha? Na etapa de planejamento do


empreendimento, quando é feito o estudo de viabilidade técnico-econômica? Na
de concepção arquitetônica, no momento da definição das características
técnicas? Ou na etapa de construção, quando se tem finalmente a "certeza do
que se quer”, ou do que se pode pagar?

14
São questionamentos nada fáceis de serem respondidos. Eles somente reforçam
a importância da escolha e reafirmam que tem de ser uma decisão técnica. Não
é uma decisão para ser tomada por um único interveniente, por uns poucos
critérios, ou na "emoção" , ou no "eu acho que,,,".

Apesar de serem muitas as opções, a realidade é que, para a grande maioria


das obras, para uma dada tipologia de edifício, em uma determinada região do
País e em um definido momento técnico-econômico, as alternativas de vedação
consideradas pelo mercado são limitadas em número.

Hoje, na região sudeste, para edifícios multipavimentos residenciais, comerciais


e de serviços, com estrutura reticulada de concreto armado, na grande maioria
das obras e situações, as alternativas em relação a tradicional alvenaria de
vedação são: a alvenaria racionalizada (para vedações externas e internas, com
diversos tipos de blocos) e as divisórias de gesso acartonado para vedações
internas. Está em fase de desenvolvimento um processo de paredes maciças
moldadas no local em concreto celular, para vedações internas e externas. Este
processo não está ainda disponível comercialmente.

Com apenas uma alternativa para paredes externas e duas para paredes
internas em relação a famigerada alvenaria de “tijolo baiano”, parece que o
problema não é tão difícil de ser equacionado. Infelizmente não é bem assim.

Para fazer uma escolha técnica é necessário dominar o conhecimento


relacionado com a tecnologia de produção daquelas alternativas que estão
sendo objeto de análise. Se assim não for, a escolha não é técnica. Sem
compreender as características principais, as exigências de cada tecnologia
inovadora, as suas deficiências e limitações, as soluções alternativas para evitar
problemas é melhor continuar com o “tijolo baiano” e o “esconder na massa” de
sempre.

Sem saber avaliar, por exemplo: o que significa “39 dB de redução acústica”;
porque é um critério de desempenho importante para as vedações; como este
parâmetro é obtido; quais as condições de contorno do ensaio; porque o barulho
da água descendo na prumada ressoa dentro da suíte, deixando seu cliente
louco (literalmente e de raiva da sua empresa), e, principalmente, como isto

15
afeta o seu negócio, que é construir e vender apartamentos, hoje você pode por
todo o negócio a perder!

O presente seminário foi organizado tendo por premissa básica esta importância
que o domínio do conhecimento técnico tem hoje para a sobrevivência das
empresas em mercados competitivos. Assim, nestes três dias procuraremos
analisar os aspectos técnicos, o desempenho e os aspectos relacionados ao
projeto e gestão da produção destas vedações.

5. UTOPIA OU ELEMENTO DE COMPETITIVIDADE EMPRESARIAL

Neste trabalho procuramos conceituar o que entendemos por industrialização,


discutir sua importância atual e analisar as mudanças que julgamos necessárias
na indústria de construção civil para que possamos trilhar com segurança o
caminho da modernização.

Procuramos mostrar que o objetivo principal desta modernização é o incremento


da produtividade do processo de produção, de forma, a que possamos construir
mais com os mesmos recursos ou construir a mesma coisa com menos
recursos.

E por fim, discutimos a necessidade de adotarmos sempre uma postura


essencialmente técnica na escolha das vedações a serem empregadas. De
passarmos a ir em busca de informações técnicas, de questionar
permanentemente. De analisarmos criticamente estas informações, de
questionarmos o desempenho e a qualidade do que nos é ofertado e do que
produzirmos.

E porque tudo isto ganhou importância nos dias atuais? Ou muito mais agora do
que no passado?

Porque, para continuar sobrevivendo em um mercado cada vez mais


competitivo, as empresas que atuam na construção civil precisam mudar a
postura e a forma de conduzir o complexo processo da construção. Precisam
mudar porque a competição está hoje centrada essencialmente nos custos da

16
construção, em um cenário de crescente elevação de exigências de qualidade e
desempenho do produto pelos usuários do mesmo.

As vezes não é fácil entender o mercado estando inserido dentro do próprio


mercado. Muitos, ainda, não se aperceberam de como este mudou. Muitos estão
procurando reduzir os custos sem se preocupar com as exigências de seus
clientes em relação ao desempenho do edifício. Olhando o que ocorre no
mercado de bens de consumo, por exemplo, o de televisões podemos
compreender melhor como o mercado mudou. Para atender as exigências do
mercado consumidor os produtores tem competido simultaneamente por redução
nos preços dos produtos e melhoria no desempenho do produto. Empresas que
estão trabalhando com uma única variável da equação não estão se dando bem
no mercado.

E não existe mágica, para ao mesmo tempo reduzir custos de produção e


manter ou melhorar a qualidade do produto tem-se que investir em
desenvolvimento tecnológico. A mudança essencial na postura e na forma de
conduzir o processo da construção é o de mudar o enfoque estratégico: da atual
organização amorfa, que não sabe se é serviço ou indústria, sem objetivos
estratégicos definidos, para uma organização essencialmente industrial, com
diferenciação mercadológica na qualidade do seu processo de produção, capaz
de gerar produtos cada vez melhores e de menor custo.

Melhorar a qualidade do processo de produção tem somente um caminho:


investimento constante em desenvolvimento tecnológico. Mas o que é mesmo
desenvolvimento? Desenvolvimento é o ato e a ação de desenvolver-se. Que por
sua vez significa progredir, melhorar, evoluir. Assim o conceito de
desenvolvimento industrial confunde-se com o de industrialização exposto. E
nada mais é, do ponto de vista de uma empresa, que um processo
organizacional voltado para incrementar o seu desempenho e sua eficácia,
melhorar sua competitividade no mercado, e por conseqüência sua capacidade
de sobreviver, gerando resultados coerentes com os investimento e os riscos
inerentes ao empreendimento.

17
Desta forma, definimos o conceito de desenvolvimento tecnológico, como sendo:
“Desenvolvimento tecnológico, para uma indústria, é um processo evolutivo,
fundamentado no avanço contínuo e incremental das tecnologias de produção e
comercialização de seus produtos e que é induzido pela necessidade de manter-
se competitiva nos mercados onde atua.” Em economias abertas (de mercado)
este processo adquire hoje importância vital para uma empresa pois, está
fortemente associado a sua sobrevivência.

O desenvolvimento tecnológico confunde-se com o processo evolutivo natural


das empresas e é de cunho essencialmente organizacional. É através de ações
organizacionais que se consegue implementar eficazmente as inovações
tecnológicas incrementais. São também de caráter organizacional as ações de:
indução da evolução continuada e das mudanças comportamentais necessárias
para esta evolução; criação de inovações coerentes e adequadas; apropriação
das vantagens competitivas em benefício da Empresa, etc.

Os objetivos do desenvolvimento tecnológico confundem-se fundamentalmente


com o objetivo estratégico das empresas competitivas: incrementar a
produtividade dos recursos investidos, propiciando resultados compatíveis
permanentemente e criar condições tais que permitam atingir rapidamente
níveis de produção adequados às solicitações de mercado.

Mas, aonde está a utopia do título do trabalho?

A utopia está, ou estava, na cabeça dos profissionais que conduzem o processo


de construção. Nos pensamentos: "É utopia investir em desenvolvimento
tecnológico. Não traz retorno, eu nada ganho com isto. É coisa para gringo,
depois eu vou lá e copio. A realidade é simples: temos que tocar a obra do jeito
que a gente sempre tocou, o resto é utopia."

Mas também é utopia um profissional da construção civil pensar que irá reduzir
custos e continuar atendendo as demais exigências dos clientes seguindo a
moda (a moda agora é laje plana, "drywall" e piso zero e eu já estou viabilizando
o painel de fachada na minha próxima obra), copiando "modernidades", usando
técnicas e materiais que nunca utilizou, mudando o discurso para o "a minha
empresa agora tem tecnologia de primeiro mundo", sem investir em

18
desenvolvimento tecnológico. Falando mais claramente: sem por dinheiro no
negócio.

É utopia pensar que se está evoluindo apenas adotando "o que todo mundo está
usando". Sem ter domínio real da tecnologia. Sem mudar os seus processos
organizacionais. Não mudar simplesmente porque alguém disse que tinha que
ser assim. Mas, como resultado de um processo de mudança conduzido pelo
desenvolvimento tecnológico.

No nosso entender: a utopia está em se acreditar que é possível uma


empresa construtora manter a sua competitividade no mercado atual, sem
investir na industrialização do seu processo de produção, sem colocar
dinheiro em desenvolvimento tecnológico."

Enfim, acreditamos que o desenvolvimento tecnológico é de vital importância em


mercados competitivos e diretamente responsável pela sobrevivência das
empresas nestes mercados. As empresas que não se aperceberem disto, não
canalizarem recursos e energia na promoção deste desenvolvimento estão
fadadas a fecharem as suas portas. Ou então a permanecerem na torcida pela
volta de um cenário mercadológico pouco competitivo, que existiu até a bem
pouco tempo atrás, mas para o qual não acreditamos haver retorno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SABBATINI, F.H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas


construtivos - formulação e aplicação de uma metodologia. São Paulo,
1989. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário da língua portuguêsa. Rio de Janeiro,


Nova Fronteira, 1975.

ORDONEZ, J.A.F. et alii. Pre-fabricacion - teoria y pratica. Barcelona, Editores


técnicos Associados, 1974. V.1.

TESTA, C. The industralization of building. New York, Van Nostrand Reinhold,


1972.

FOSTER, J.S. Structure and fabric - part 1. London, B.T. Batsford, 1973.

19
20
O PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS ALVENARIAS RACIONALIZADAS

Profª Drª Mercia Maria Bottura de Barros


mercia@pcc.usp.br
RESUMO

A racionalização da produção de edifícios não é passível de ser obtida de um


momento para outro. É preciso que a empresa esteja disposta a se organizar e a
investir na melhoria contínua de seu processo de produção.

Com o objetivo de auxiliar as empresas construtoras nessa árdua tarefa é que se


apresenta este trabalho, no qual se discute a racionalização da produção da
alvenaria de vedação como um elemento motivador da evolução tecnológica.

Para isso, faz-se uma breve retrospectiva de como vem ocorrendo o processo de
racionalização das alvenarias de vedação, destacando-se o papel da Escola
Politécnica neste contexto, e, na seqüência, apresentam-se as principais ações
de racionalização que a empresa deverá empreender em nível de projeto,
produção e controle, para que a tecnologia seja efetivamente implantada em seu
sistema produtivo.

Conclui-se que todas essas ações deverão estar vinculadas a uma visão
sistêmica que considere a produção do edifício como um todo, para que a
racionalização possa ter um maior alcance, resultando em maiores ganhos de
produtividade, qualidade e, por conseqüência, de competitividade empresarial.

1. INTRODUÇÃO

A competitividade estabelecida por uma economia globalizada certamente tem


sido o impulso para que as empresas do setor da construção de edifícios1
revejam as suas atuais formas de produção, a fim de alcançarem um patamar
mais elevado de qualidade de seus produtos e do processo produtivo.

1
Os edifícios, objeto do presente trabalho, referem-se àqueles de múltiplos pavimentos,
construídos com estrutura de concreto armado moldada no local e com vedações de alvenaria,
constituindo o que SABBATINI [1989] denomina de “processo construtivo tradicional”.

21
Há cinco anos atrás ROCHA LIMA JR. [1993] afirmava, com razão, que os que
pretendessem se perpetuar no setor necessitariam trilhar rotinas de ação
empresarial orientadas por um vetor de modernidade balizado pela adequação
dos métodos de administração e gerenciamento; pela capacidade de entender o
relacionamento empreendedor-mercado em toda a sua dimensão e pelo
condicionamento dos processos de produção a tecnologias que resultassem
numa melhoria no nível de perdas, através da sua racionalização.

Esse vetor de modernidade tem sido perseguido por muitas empresas do setor,
através de diferentes ações que almejam o mesmo objetivo, ou seja, a
excelência da produção e do produto oferecido, a fim de que alcancem maior
competitividade no mercado.

Dentre as muitas ações adotadas, destaca-se a busca pela racionalização da


produção. Hoje, algumas empresas encontram-se num patamar de organização
tal que grande parte da sua produção encontra-se racionalizada; entretanto, não
se trata da maioria das empresas e muito ainda se tem por fazer para que se
possa evoluir tecnologicamente.

É evidente que se deve buscar a racionalização da produção de todo o edifício;


porém, essa ação não é fácil de ser praticada, principalmente pela complexidade
do processo construtivo envolvido na sua produção.

Sendo assim, uma alternativa viável é ter a racionalização como diretriz e ir


envolvendo, aos pouco, toda a produção do edifício, desde a organização do
canteiro, passando-se pela racionalização construtiva de cada subsistema do
edifício, chegando-se até mesmo às atividades de manutenção programada.

No que se refere à racionalização construtiva, o correto seria iniciar o processo


pela execução da estrutura, principalmente porque acaba sendo referência para
as partes seguintes. No entanto, por ser o elemento que dá suporte a todo o
edifício, esse é um dos subsistemas que mais vem recebendo a atenção por
parte dos envolvidos com a sua produção.

Depois da estrutura, um subsistema que merece destaque é a vedação vertical,


constituída pelos vedos, pelas esquadrias e pelos revestimentos.

22
Ao se considerar apenas o custo do vedo2, que varia em torno de 3% a 6% no
conjunto das atividades que compõem o edifício de múltiplos pavimentos, pode
parecer que a racionalização não seja fundamental; entretanto, considerando-se
as suas inter-relações com os demais subsistemas do edifício, racionalizar a sua
produção torna-se imprescindível.

Através da racionalização da produção das alvenarias de vedação é possível a


redução de custos, o aumento de produtividade e a própria redução de
problemas patológicos no conjunto das esquadrias e das instalações hidro-
sanitárias e nos revestimentos, os quais, juntos, certamente somam mais de
20% do custo total dos edifícios.

Portanto, ainda que todo o edifício deva ser racionalizado, o enfoque deste
trabalho será para a racionalização das alvenarias de vedação, tanto internas
quanto externas, como uma estratégia de melhoria da produção como um todo.

2. ALVENARIA RACIONALIZADA: CONCEITO FUNDAMENTAL

O conceito de racionalização não é recente; há muito fala-se em “racionalizar”


uma determinada coisa ou atividade. É um termo que tem um significado bem
definido, tanto coloquialmente, como no meio técnico, ou seja, o termo
racionalização pode ser entendido como o ato ou o efeito de racionalizar alguma
coisa, tornar racional, tornar mais eficientes os processos de trabalho ou a
organização de empreendimentos.

É interessante destacar aqui o entendimento que ROSSO [1980] dá ao termo


racionalização, qual seja: “processo mental que governa a ação contra os
desperdícios temporais e materiais dos processos produtivos, aplicando o
raciocínio sistemático, lógico e resolutivo, isento do influxo emocional; é um
conjunto de ações reformadoras que se propõe substituir as práticas rotineiras
convencionais por recursos e métodos baseados em raciocínio sistemático,
visando eliminar a casualidade nas decisões.”

2
No caso específico deste trabalho, o vedo corresponde às paredes de alvenaria (de blocos
cerâmicos, de concreto, de concreto celular autoclavados e sílico calcários) que constituem tanto

23
Esse autor salienta ainda que “os princípios da racionalização devem ser
aplicados ao edifício tanto como produto quanto como processo", ou seja,
o edifício precisa começar a ser racionalizado na sua fase de concepção. É
nesse momento que se consegue auferir os maiores ganhos com as ações de
racionalização, estendendo, então, tais ações à etapa de produção, a fim de que
uma vez implementadas, obtenha-se os ganhos previstos.

Com isso, conclui-se que a substituição de práticas tradicionais por métodos


fundamentados em princípios de organização e predefinição das atividades,
resgatando para o início do processo de produção as decisões que se fazem
necessárias, caracteriza a racionalização de uma determinada atividade ou
processo. E isso é o que deve ser buscado não só por todas as organizações,
mas também por todos os indivíduos particularmente.

SABBATINI [1989], particulariza o termo para a atividade específica de


construção e propõe:

“racionalização construtiva é um processo composto pelo conjunto de


todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso dos recursos ma-
teriais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais e
financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases.”

Esse conceito de racionalização construtiva será utilizado no presente trabalho,


para se discutir o processo de produção de alvenarias racionalizadas, o qual
deverá envolver “todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso de
todos os recursos envolvidos com a produção das alvenarias de vedação,
desde o início da concepção do empreendimento, até a fase de sua
utilização.

3. A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS ALVENARIAS DE


VEDAÇÃO

as fachadas, quanto as paredes internas, divisórias entre ambientes.

24
A atual configuração da indústria da Construção Civil, fundamentada na
competitividade empresarial, não se estabeleceu em um curto espaço de tempo.
A indústria da Construção Civil vem passando por diversos estágios sucessivos
de evolução tecnológica, os quais serão aqui sintetizados, com foco para a
evolução das vedações verticais.

Considera-se que o primeiro estágio seja puramente técnico, ou seja, com


ausência de qualquer ciência aplicada, limitando-se à adaptação de técnicas
vindas do exterior às condições locais. O Brasil passa por esse estágio desde a
sua descoberta até o início do século 19.

Nessa época, as técnicas utilizadas na construção de fortalezas, igrejas e


mosteiros, edifícios, aquedutos eram as mesmas que os europeus utilizavam,
adaptadas ao meio e às condições de trabalho coloniais. Não envolviam nenhum
conhecimento teórico ou de pesquisa. As obras eram ‘riscadas’ e construídas por
mestres portugueses ou por militares ‘oficiais de engenharia’ ou ainda por padres
instruídos em questões de arquitetura para a construção de mosteiros e igrejas
[VARGAS, 1994].

Segundo TELLES [1984], “a partir do primeiro quartel do século 17, tornam-se


cada vez mais numerosas as construções de pedra e cal, inclusive casas par-
ticulares”, as quais eram feitas artesanalmente, sem nenhum plano formal, às
vezes pelo próprio morador ou seus vizinhos e amigos.

As técnicas empregadas nesse período, para o caso das vedações verticais,


eram, no caso de moradias mais simples, o pau-a-pique, adobe ou taipa de pilão
e, nas habitações mais sofisticadas, a pedra, o barro e, às vezes, o tijolo e a cal
[TELLES, 1984]. Essas vedações tanto vedavam a edificação, como também
constituíam a sua própria estrutura.

O próximo estágio refere-se à aplicação de teorias e métodos científicos aos


problemas da técnica já estabelecida. Esse estágio tem início no Brasil a partir
da criação das escolas militares e de engenharia, com a chegada da corte
portuguesa.

25
Uma das primeiras alterações significativas no setor da construção ocorre em
meados do século 19. Nessa época, a produção deixou de ser realizada apenas
para uso próprio e passou a atender ao mercado, pois em função da expansão
da atividade cafeeira, houve um adensamento dos centros urbanos, exigindo-se
a construção de moradias, de obras de infra-estrutura urbana e também a
abertura de caminhos para o escoamento da produção [FARAH, 1992].

No que se refere ao conhecimento embutido na atividade produtiva VARGAS


[1994] salienta que nesse período os conhecimentos tecnológicos dos materiais
e processos construtivos eram limitados; as propriedades dos materiais
empregados eram muito mal conhecidas. Além disso, os processos e operações
de construção eram deixados à prática empírica dos mestres de obra.

À medida em que os edifícios passavam a ser produzidos como mercadoria, a


produção de seus insumos também se convertia em produção para o mercado.
Segundo VARGAS [1994], “os primeiros materiais de construção
industrializados, precariamente, foram os tijolos, vindo a substituir o
processo artesanal da taipa nas construções das paredes de edifícios”.

Em fins do século passado, com a multiplicação das olarias em torno de São


Paulo, começou a se difundir uma nova tecnologia: a alvenaria de tijolos.

Segundo o IPT [1988], por essa época, “nas construções de pequeno porte
passaram a predominar as alvenarias portantes de tijolos, às vezes
complementadas por peças estruturais de aço ou de concreto armado”.

Para REIS FILHO [1978] a arquitetura em fins do século XIX, com o emprego
dos tijolos maciços nas paredes de alvenaria, conseguiu reduzir
significativamente os erros de medida “de decímetros para centímetros”; além
disso, salienta que com a uniformidade na largura das paredes, foi possível a
produção mecanizada de portas e janelas.

Um outro estágio de evolução no conhecimento tem início quando aparecem, no


começo desse século, em São Paulo e no Rio de Janeiro, os institutos de
pesquisas tecnológicas e perdura até os dias atuais.

26
Nesse período ocorreram grandes mudanças estruturais em toda a sociedade
brasileira, com expressivas repercussões sobre a indústria da Construção.
FARAH [1992] afirma que conhecimentos científicos passaram a ser aplicados
na construção de edificações nas décadas de 20 e 30.

As alterações tecnológicas atingiram os canteiros de obras sobretudo através da


incorporação de novos materiais, componentes e ferramentas que permitiam
pequenas transformações na produção de edifícios.

No que se refere especificamente à alvenaria, as transformações foram


significativas, pois a alvenaria de tijolos cerâmicos, usualmente empregada com
a função estrutural para edifícios de até três pavimentos, passa a dar lugar à
alvenaria com a função exclusiva de vedação, empregada sobretudo nos
edifícios de múltiplos pavimentos, com estrutura de concreto armado.

Ao mesmo tempo que o concreto armado passa a ser amplamente utilizado


como estrutura, outros componentes de alvenaria aparecem no mercado, como
por exemplo os tijolos cerâmicos de oito furos em 1935, os blocos de concreto
celular autoclavados, em 1948, os blocos de concreto em meados da década de
50 e os sílico calcários em meados da década de 70.

Com a verticalização, a questão estrutural passou a ser fundamental e o grande


desenvolvimento concentrou-se na produção de estruturas de concreto. A
alvenaria, por sua vez, passa a um segundo plano, uma vez que seu uso como
elemento resistente ficou limitado às edificações de um só pavimento ou então
como vedação de edifícios de altos.

Com isso, os edifícios construídos com estrutura reticulada de concreto e


alvenaria de componentes cerâmicos ou outros passou a ser o processo
construtivo tradicional, sobretudo das cidades em desenvolvimento, como São
Paulo e outras capitais do país.

Com a mudança de regime de governo em 1964 teve início uma nova etapa de
desenvolvimento da indústria da Construção Civil. Intensificou-se o
desenvolvimento dos subsetores construções pesadas e montagem industrial.

27
Quanto à produção de habitações, ainda que a demanda fosse crescente, o
mercado estava praticamente paralisado por falta de recursos financeiros.

A resposta à grande demanda e à ausência de recursos foi a criação do Banco


Nacional de Habitação (BNH), que buscava a produção em massa de unidades
habitacionais, proporcionando condições para a expansão da área de
edificações e do próprio setor de materiais e componentes.

Por esse período o mercado voltou-se para a industrialização e a pré-fabricação,


com o uso de mecanização intensiva, empregando-se, de modo geral, novos
processos construtivos e, assim, mais uma vez, o processo construtivo
tradicional de produção de edifícios foi deixado para um segundo plano.

Com a filosofia da “industrialização”, o setor teve grande expansão até o início


da década de 70, começando a dar sinais de queda gradual a partir do seu final,
intensificando-se a recessão em meados da década de 80.

Com a retração do mercado, a racionalização da produção de edifícios


construídos pelo processo construtivo tradicional passa a ser uma das
estratégias de ação das empresas construtoras para enfrentar a concorrência.

É nesse contexto de forte retração e elevada competitividade que a ENCOL,


uma grande construtora que atuava em nível nacional, no ano de 1988,
estabeleceu um extenso programa de desenvolvimento tecnológico com a
Escola Politécnica, através do Grupo de Tecnologia e Gestão da Produção na
Construção Civil (GEPE-TGP) do Departamento de Engenharia de Construção
Civil, com o objetivo de desenvolver metodologias e procedimentos adequados à
realidade das obras e que permitissem racionalizar as atividades construtivas e
melhorar o desempenho dos edifícios construídos pelo processo construtivo
tradicional.

Com essa meta, estabeleceu-se o primeiro projeto de pesquisa, denominado


EP/EN-1, cujo escopo foi a racionalização das alvenarias e revestimentos
empregados em edifícios de múltiplos pavimentos, com estrutura de concreto
armado moldado no local.

28
Teve início, assim, o processo de desenvolvimento da “alvenaria racionalizada”
em contraponto à “alvenaria tradicional”, empregada até então.

O desenvolvimento da alvenaria racionalizada para a produção de vedações


verticais seguiu as diretrizes de produção adotadas nos processos construtivos
de alvenaria estrutural, os quais possuem elevado nível de racionalização.

Com essa filosofia de trabalho, a alvenaria racionalizada foi considerada como


sendo uma nova tecnologia, e como tal, passível de:

• alterar a postura predominante no meio produtivo que permite a adoção de


soluções construtivas estabelecidas no canteiro de obras, no momento em
que se realiza um determinado serviço, fazendo com que se perca todo o
potencial de racionalização da produção;
• exigir um planejamento prévio de todas as atividades envolvidas, ou seja, a
realização de um projeto voltado à produção, permitindo que as soluções
mais racionais possam ser pensadas previamente;
• colocar a condução do processo de produção do edifício nas mãos do corpo
técnico da empresa, que pode empregar com mais propriedade as
ferramentas do planejamento e da tecnologia para a solução de problemas;
• exigir o treinamento e a motivação da mão-de-obra, o que permite a
valorização profissional e a adoção de novas posturas de trabalho;
• exigir a implementação de procedimentos de controle do processo de
produção e aceitação do produto, em geral inexistentes.

Com essa diretriz, a partir de uma extensa e intensa pesquisa bibliográfica,


elaborou-se o primeiro documento referente às alvenarias de vedação,
denominado: “Recomendações para construção de paredes de vedação em
alvenaria” [SABBATINI et al., 1988], cujo conteúdo contempla as funções e as
principais propriedades das alvenarias de vedação; as técnicas de execução,
desde o preparo para o início da execução, até a fixação da alvenaria à
estrutura; as diretrizes para a elaboração do projeto e para o planejamento da

29
execução das paredes de vedação em alvenaria; as diretrizes para o controle de
produção3.

Motivada pela aceitação dos novos princípios de produção da alvenaria de


vedação, definidos pelo documento citado e sobretudo pelas dificuldades de
obtenção de componentes de alvenaria de qualidade adequada a esses novos
princípios, a ENCOL decidiu enfrentar um novo desafio: o desenvolvimento de
um componente cerâmico cujas características permitissem um “ajuste modular”
à estrutura previamente lançada e com precisão geométrica adequada às
características de projeto.

Nasce, com isso, mais um projeto de pesquisa, denominado EP/EN-7, que teve
como objetivos:

• desenvolver um componente cerâmico para alvenaria de vedação, que


permitisse o ajuste modular, sem implicar em perdas de componentes e que
possibilitasse a obtenção de um painel de alvenaria homogêneo, de modo a
se empregar revestimentos de pequena espessura, seguindo-se a
modulação especificada em projeto; e
• consolidar as diretrizes para elaboração do projeto de alvenaria, lançadas no
documento: “Recomendações para construção de paredes de vedação em
alvenaria”.

O resultado principal desse projeto está registrado no documento:


“Recomendações para o projeto construtivo das paredes de vedação em
alvenaria: procedimentos para elaboração e padrão de apresentação”
[SABBATINI et al., 1991].

Esse documento contempla tanto as características do componente proposto,


quanto as diretrizes para a elaboração do projeto a partir desse componente.

O desenvolvimento do componente foi feito considerando-se a necessidade de


se ter um bloco cerâmico com precisão dimensional e que permitisse a obtenção

3
Deve-se destacar que ainda que se tenham passados dez anos a partir da elaboração desse
documento, o seu conteúdo continua atualizado, uma vez que a sua elaboração fora totalmente
conduzida segundo os princípios da racionalização construtiva.

30
de submódulos, geometricamente regulares, sem a necessidade de se empregar
equipamentos de corte.

A idéia inicialmente desenvolvida procurou manter a modulação existente no


mercado de componentes cerâmicos, ou seja, de 20x20.

Além disso, o bloco foi concebido com uma geometria que facilitava o seu corte
em módulos de ¼; tinha-se, assim, o bloco inteiro, o meio bloco, o bloco ¾ e o
bloco ¼. Com isso, a “dimensão modular” mínima era de 50mm, o que auxiliava
na distribuição dos componentes nos vãos estruturais, previamente definidos.

Além da facilidade de corte em submódulos, os componentes, por serem de


seção quadrada (comprimento = altura), permitiam seu assentamento tanto com
os furos na horizontal quanto na vertical, facilitando a abertura de rasgos para o
embutimento de tubulações de até 40mm de diâmetro, em ambas as direções.

Esse componente passou a ser produzido por uma fábrica que produziu a
boquilha necessária e o componente passou a ser utilizado em alguns projetos
da empresa, de modo particular, na cidade de São Paulo.

Os procedimentos para elaboração de projeto, também estabelecidos pelo


documento, foram incorporados rapidamente pelos projetistas da empresa.

Assim, o projeto, realizado segundo as diretrizes estabelecidas e empregando os


componentes de ajuste modular, foi levado ao canteiro de obras, dando início a
uma nova fase na racionalização da produção de alvenarias.

A produção da alvenaria em obra mostrou claramente que a existência de um


projeto bem definido e a possibilidade de produção de submódulos contribuíram
muito com o processo de racionalização; no entanto, as instalações embutidas
ainda levavam à existência de muitas perdas, tanto de materiais, como também
de mão-de-obra e, além disso, faziam com que se perdesse a homogeneidade
da parede, o que dificultava o emprego de revestimentos finos.

Frente aos resultados obtidos nas obras de São Paulo, investiu-se na produção
de um componente maior que permitisse a passagem de instalações através de
seus furos, evitando-se os rasgos. Após algumas tentativas, chegou-se ao

31
componente de dimensões 25x25, produzido inicialmente por apenas uma
grande indústria paulista, a Cerâmica Selecta. Esse componente, ainda que com
dimensões maiores, continuou a ser conhecido como “bloco POLI”.

Atualmente, no Estado de São Paulo e também em outras capitais, existem


algumas fábricas de blocos cerâmicos que produzem este tipo de componente e
são muitas as empresas construtoras que os utilizam em suas obras.

As diretrizes de projeto, estabelecidas no documento “Recomendações para o


projeto construtivo das paredes de vedação em alvenaria: procedimentos para
elaboração e padrão de apresentação”, acabaram por se difundir com certa
velocidade no mercado, sobretudo porque a ENCOL “terceirizou” os seus
projetistas e estes passaram a prestar serviços para outras empresas. Hoje são
diversos os escritórios de projeto que oferecem esse tipo de serviço.

Deve-se destacar que a alvenaria racionalizada não ficou restrita às alvenarias


cerâmicas. Em 1993, o Grupo de Tecnologia e Gestão da Produção na
Construção Civil estabeleceu um novo convênio de pesquisa em parceria com a
empresa SICAL que permitiu o desenvolvimento tecnológico das alvenarias de
vedação com blocos de concreto celular autoclavados (BCCA).

Nesse convênio, foi desenvolvido um método racionalizado de produção das


alvenarias de vedação empregando-se os BCCA’s, objetivando, minimizar a
ocorrência de problemas patológicos com esse método construtivo, bem como,
estabelecer procedimentos que levassem a uma maior organização do processo
de produção. O documento Rt 20.081 “Proposição do método construtivo POLI-
SICAL”, [FRANCO et al., 1994] registra esse método construtivo, contemplando
diretrizes para o projeto, incluindo-se a especificação da argamassa de
assentamento e diretrizes para a produção.

Também para o caso de blocos de concreto existem métodos construtivos


fundamentados no emprego de submódulos, definidos em um oitavo do
comprimento do componente, ou seja, para o comprimento usual de 400mm,
tem-se o submódulo de 50mm. Os componentes para serem empregados neste
método construtivo vêm sendo disponibilizados ao mercado pela empresa
GLASSER, produtora de blocos de concreto.

32
Ou seja, atualmente estão disponíveis no mercado, inúmeras possibilidades de
produção da alvenaria racionalizada, sobretudo pela existência de componentes
do tipo submódulos e também devido à regularidade e precisão geométricas dos
componentes disponibilizados.

No entanto, deve-se destacar que a simples elaboração do projeto de alvenaria,


a partir de um componente de modulação flexível, não garante a racionalização
da produção no canteiro. São muitas as ações que deverão ser empreendidas
pelas empresas construtoras para que a racionalização seja uma verdade.

Essas ações deverão envolver não apenas o projeto, mas também outros
setores da empresa, como por exemplo, o setor de suprimentos que deverá
realizar uma “compra técnica” e não “compra por preço” e que, além disso,
deverá contratar os subempreiteiros segundo procedimentos de produção bem
definidos; deverá envolver ainda toda a equipe de produção, inclusive a gerência
da obra que precisará propor alternativas para o treinamento da mão-de-obra,
tanto para a leitura dos projetos, como para a própria execução da alvenaria e
também deverá definir diretrizes claras de controle e recebimento dos serviços.

Enfim, a empresa deverá estar preparada para que a racionalização possa


transparecer nos serviços executados e, com a finalidade de auxiliá-las nessa
árdua empreitada, apresentam-se e discutem-se a seguir, algumas diretrizes
fundamentais, voltadas ao projeto, à execução e ao controle do processo
produtivo.

4. AS AÇÕES VOLTADAS AO PROJETO

A primeira grande possibilidade de racionalização da produção está no momento


da concepção do edifício, quando se tem a possibilidade de compatibilizar a
vedação com a estrutura, com as esquadrias, com as instalações e com o
próprio revestimento.

Buscar a racionalização construtiva desde o projeto tem sido um procedimento


adotado por algumas construtoras paulistas, com excelentes resultados quanto à
produtividade, redução de desperdícios e melhoria da qualidade do produto.

33
Quando não se faz a coordenação prévia da alvenaria com os demais
subsistemas a ela relacionados o potencial de racionalização do conjunto
diminui, no entanto, muito ainda pode ser feito através do emprego de
componentes de alvenaria de modulação flexível tais como os cerâmicos
seccionáveis, os de concreto com submódulos e os de fácil corte, como por
exemplo os de concreto celular autoclavados.

Tendo-se definido o componente, deve-se dar início à elaboração de um projeto


voltado à produção da alvenaria, compatível com as características de
produção da empresa, pois esse projeto precisa retratar as condições de
execução; precisa, sobretudo, dar as soluções técnicas aos problemas que não
são de domínio da produção.

Para que realmente atenda às necessidades da produção, um projeto de


alvenaria deverá contemplar:

• posicionamento da primeira fiada a partir de um eixo preestabelecido na obra


e coincidente com os demais projetos;

• a planta de primeira e segunda fiadas (distribuição dos componentes);

• as elevações das paredes contendo instalações ou aberturas;

• as características de preenchimento das juntas entre componentes e na


ligação alvenaria-estrutura;

• as características das juntas de controle;

• as características das amarrações entre fiadas;

• as características e o posicionamento da amarração da alvenaria com a


estrutura;

• posicionamento, o dimensionamento e as características de produção das


vergas e contravergas;

• posicionamento e as características das passagens de instalações, tanto nas


elevações quanto na laje, considerando-se sempre as cotas acumuladas a
partir do eixo de referência;

• as características da argamassa de assentamento a ser empregada.

34
Pouco vale um projeto de modulação de alvenaria que não incorpore essas
definições. A distribuição dos blocos em um determinado vão, o próprio
operário, com algum nível de treinamento, é capaz de realizar, ainda que não
exista um desenho.

Às vezes, as empresas acreditam que ao exigirem do projetista a modulação da


alvenaria tenham solucionado o problema da produção em canteiro. No entanto,
a simples modulação está longe de atender à produção e, por isso, não raras
vezes, os projetos são abandonados ou ainda, não se tem o produto esperado.

Em alguns casos a não utilização do projeto para produção na obra pode


decorrer de problemas que fogem ao alcance do próprio projeto. Em algumas
obras, por exemplo, identifica-se que as dimensões dos blocos recebidos não
são compatíveis com as especificadas em projeto. Em função disto, toda a
modulação fica prejudicada, resultando em muitos recortes não previstos. Nestes
casos, os operários utilizam apenas a planta de demarcação da primeira fiada,
para locar a parede, usando critérios próprios para a distribuição dos blocos.

Esse problema denota uma forte interferência da implantação das novas


tecnologias com o setor de suprimentos da empresa, o qual também deverá
estar devidamente preparado para o processo de implantação.

Além disso, identificam-se casos em que o projeto de alvenaria chega nas obras
somente depois da sua execução ter sido iniciada. Nessa situação, dificilmente o
projeto poderá contribuir com a produção, uma vez que depois que a mão-de-
obra tenha iniciado um determinado procedimento, dificilmente o abandonará.

A aplicação do projeto para produção nas obras de edifício deve ser encarada
como um contínuo aprendizado, assim como o seu desenvolvimento. E, ainda
que as empresas construtoras estejam no início desse aprendizado, muitos
benefícios já puderam ser observados ao se realizar algumas visitas aos
canteiros, tais como os citados a seguir:

• menor consumo de argamassas de assentamento;

• drástica redução de retrabalho, com menores desperdícios (evitam-se cortes


na alvenaria para embutimento de instalações);

35
• maior precisão no posicionamento das instalações;

• redução das espessuras de revestimentos interiores (5mm) e exteriores (25-


30mm);

• aumento da produtividade e da qualidade dos serviços;

• maior limpeza na obra.

Como anteriormente destacado, a racionalização da vedação vertical passa não


apenas pelo projeto de alvenaria, mas também pela necessidade de intervenção
nas esquadrias e os próprios sistemas prediais.

Ao se conceber os sistemas prediais dos edifícios, deve-se fazê-lo de maneira


sistêmica, com vistas à facilidade de manutenção de seus elementos. Neste
contexto, o emprego de “shafts” visitáveis, tanto para as prumadas, como
também para os ramais de distribuição, levam a um maior potencial de
racionalização. Essa decisão, porém, somente é viável no momento de
elaboração de todos os projetos do edifício. Quando não há a previsão de
“shafts” no projeto, será necessário resolver o embutimento na própria alvenaria.
Os dutos de pequenos diâmetros podem ser embutidos nos alvéolos do próprio
componente, entretanto os dutos de prumada terão de receber tratamento
adequado o qual deverá estar definido no projeto para produção.

No que se refere à interferência entre a alvenaria e a esquadria, algumas ações


de racionalização podem ser destacadas, tais como:

• emprego de vergas e contravergas pré-fabricadas em substituição às


moldadas no local;

• especificação contramarcos pré-moldados para as janelas, eliminando-se a


necessidade dos elementos de reforço (vergas e contravergas);

• emprego de batentes metálicos incorporados à alvenaria durante a sua


elevação;

• uso de portas e janelas aplicadas “prontas”, após a execução dos


revestimentos e pintura, com sistemas de fixação adequados.

36
Pelas colocações anteriores fica claro que para que se tenha maior potencial de
racionalização da produção é necessário que se resgate para a etapa de projeto,
a responsabilidade pela adequação técnica e pela exeqüibilidade das propostas
que serão encaminhadas aos canteiros de obra. É necessário também, que se
proporcione a esses canteiros, os meios adequados à condução do processo de
produção, segundo o sistema produtivo de cada empresa.

5. AS AÇÕES VOLTADAS À EXECUÇÃO

Para que a execução ocorra segundo os princípios da racionalização construtiva,


uma série de atividades relacionadas a diversos setores da empresa estão
envolvidas, tais como as relacionadas ao setor de suprimentos, à elaboração de
procedimentos e à contratação de mão-de-obra, discutidas na seqüência.

5.1 O Setor de Suprimentos

Ao se discutir o papel do setor de suprimentos na racionalização da produção,


procura-se alertar as empresas para a importância do mesmo, destacando-se as
principais ações que deverão ser consideradas.

As atividades afeitas ao setor de suprimentos têm uma interferência expressiva


na racionalização da produção, uma vez que está envolvido com:

• atendimento à especificação de materiais e componentes;

• a seleção de fornecedores de materiais, componentes e serviços;

• a aquisição dos materiais e componentes;

• a contratação de fornecedores de serviços;

• a realização e o registro do controle de recebimento;

• armazenamento e o transporte de materiais pelo canteiro;

• a retroalimentação das informações para o setor de projetos;

• a definição dos equipamentos de produção.

37
As questões relativas à mão-de-obra serão consideradas no item que segue,
discutindo-se neste item apenas as relativas aos materiais, componentes e
equipamentos.

Deve ficar claro para a empresa que para a produção de um empreendimento o


projeto deflagra o processo, definindo as especificações daquilo que deverá ser
adquirido, daí a sua importância. Sem as especificações de projeto, o
departamento de suprimentos não terá parâmetros técnicos para efetuar
seu trabalho, ou seja, realizar a seleção de fornecedores e efetuar a aquisição.
Neste caso é comum que o “menor preço” direcione as ações do setor.

Muitos dos problemas projeto-produção podem ser gerados pela equipe de


suprimentos que, por não atenderem às especificações de projeto, acabam
encaminhando para a obra materiais e componentes inadequados à produção.
Esse é o caso típico de componentes de alvenaria com dimensões e geometria
incompatíveis com as definições de projeto.

No entanto, também podem ocorrer falhas nas especificações. De modo geral,


os projetos são omissos quanto a algumas especificações, como por exemplo,
as características da argamassa de assentamento ou mesmo as características
geométricas do bloco. Neste caso, o setor de suprimentos precisará ser
orientado pela empresa à realização da compra técnica, caso contrário, poderá
encaminhar materiais inadequados à obtenção das características desejáveis,
uma vez que certamente realizará a compra pelo menor preço.

A realização da compra, no entanto, não finda a responsabilidade desse setor. O


material deve ser devidamente recebido na obra, verificando-se se o que foi
entregue corresponde ao que foi adquirido, para que se possa dar um retorno,
ao setor que realizou a especificação e ao que realizou a compra.

Nesse processo, a relação empresa-fornecedor tem importância fundamental,


destacando-se a necessidade da parceria, pela qual o comprador deve
estabelecer com os fornecedores uma estreita relação de trabalho e um sistema
de realimentação dos resultados obtidos. Com isso, pode-se definir um programa
contínuo de melhorias, evitando-se problemas quanto à qualidade dos insumos.

38
Na maioria das empresas, o setor de suprimentos tem também a
responsabilidade pela aquisição ou locação dos equipamentos de produção.
Neste caso em especial, a empresa precisará definir a sua “política” de aquisição
de equipamentos, de modo que os mesmos sejam compatíveis com o sistema
de produção a ser adotado. Por exemplo, pouco adianta a empresa optar pelo
emprego de argamassas ensacadas, quando não investe na aquisição ou
locação de uma argamassadeira de eixo horizontal, adequada à produção desse
tipo de material.

A argamassa ensacada, produzida em uma central, provida das tradicionais


betoneiras, distante do local de aplicação, perde as suas principais
características e, por conseqüência, a qualidade de produção. Além disso, esse
procedimento não permite o aumento da produtividade e a redução dos
desperdícios. Dessa maneira, o que se paga a mais por se ter um material
industrializado, acaba não retornando.

Ainda com relação aos equipamentos, cabe destacar a necessidade de se


compatibilizar os sistemas de transporte empregados no canteiro. O emprego de
componentes paletizados, por exemplo, diminui as perdas e aumenta a
produtividade do processo; entretanto, exige equipamentos de grande porte na
obra, tais como as gruas. Quando elas não estão disponíveis, a existência de
paletes que possam ser manuseados através de carrinhos de mão especiais,
que caibam nos elevadores de obra, podem ser uma excelente alternativa.

Enfim, cabe ao setor de suprimentos ter como diretriz de trabalho facilitar e


viabilizar a racionalização construtiva, através do completo envolvimento e de
um melhor relacionamento com as equipes de projeto e produção, para que
sejam adquiridos materiais, componentes e equipamentos que atendam à
produção e para que sejam contratadas equipes de trabalho que compreendam
a filosofia de trabalho da empresa.

5.2 Os Procedimentos de Produção

Sem que todos os agentes do processo de produção incorporem a nova


tecnologia, ou seja, a alvenaria racionalizada, poucos resultados poderão ser
obtidos. Portanto, será imprescindível investir no treinamento de todo o pessoal

39
da empresa, considerando-se todos os níveis: desde gerentes, até a motivação,
o treinamento e o fornecimento de condições de trabalho adequadas aos
operários dos demais níveis hierárquicos.

Um aspecto importante na motivação e no treinamento para a produção da


alvenaria racionalizada é a existência de procedimentos claros de produção. Ou
seja, a empresa precisa saber como deseja que a alvenaria seja executada
a fim de que possa contratar e treinar as suas equipes segundo essa orientação.
Somente é possível “cobrar” aquilo que foi devidamente acordado.

Portanto, para que se contrate um determinado tipo de serviço, é necessário que


a outra parte esteja consciente de como se deseja que o serviço seja realizado e
baseado em que parâmetros ele será recebido.

Nesse sentido, o conteúdo do procedimento deve ser o necessário e o suficiente


para que oriente a produção na condução do método construtivo. No caso
específico da alvenaria de vedação, o procedimento deverá contemplar:

• os documentos de referência;

• as ferramentas e equipamentos a serem empregados;

• as condições para o início do trabalho: as atividades que deverão estar


concluídas e os prazos de carência a serem observados;

• a definição das atividades preliminares à execução: limpeza do local, preparo


da estrutura, fixação de dispositivos de ligação alvenaria-estrutura;

• as condições e características para a demarcação da primeira fiada;

• as condições e características para a elevação, incluindo-se as definições de


vãos;

• as condições e características para a fixação.

Atualmente, existem diversas publicações que disponibilizam os procedimentos


de produção da alvenaria racionalizada e, portanto, a própria tecnologia de
produção, como por exemplo SOUZA et al. [1996]. Porém, tais procedimentos
não podem ser simplesmente copiados em “um papel timbrado da empresa”,

40
eles podem servir como referência inicial, pois os procedimentos de produção,
para serem elaborados e poderem ser incorporados à cultura da empresa,
devem passar por um processo adequadamente conduzido, a fim de que não se
tenha apenas “pilhas de papel” que tomam espaço no escritório dos gerentes de
obra e que não atingem efetivamente o canteiro. O importante é aproximar a
etapa de elaboração dos procedimentos à cultura da empresa.

Uma forma de condução desse processo que tem sido experimentada e que tem
dado bons resultados é através da adoção de uma obra piloto em que a
alvenaria racionalizada, posa ser efetivamente praticada, mesmo que não esteja
completamente definida no papel ou que se tenha tomado como referência um
procedimento padrão.

Com a introdução da alvenaria racionalizada numa obra piloto, pode-se controlar


as variáveis desse processo, registrando-se os resultados da implantação e
fazendo-se as correções necessárias para, num segundo momento, poder
consolidar a tecnologia, passando-se, então, à elaboração dos procedimentos da
própria empresa.

Esse método de elaboração do procedimento introduz uma etapa importante no


processo de implantação que permite adequar a nova tecnologia às
características próprias de cada empresa.

A partir da experimentação da tecnologia, para a elaboração dos procedimentos,


deve-se envolver os técnicos que participaram da implantação piloto, inclusive o
pessoal da produção, como os mestres de obra e os encarregados, por exemplo.
Essa conduta possibilita um maior nível de motivação das pessoas,
possibilitando que os procedimentos venham a ser aplicados em obras futuras.

Neste momento cabe um alerta: a existência dos procedimentos não implica na


implantação da nova tecnologia na empresa. Pode-se dizer que a alvenaria
racionalizada estará efetivamente implantada, quando ela for incorporada à
produção como um todo; e, para isso, outras ações são ainda necessárias.

41
5.3 A mão-de-obra de Produção

Segundo FARAH, [1992], a forma como o desenvolvimento da construção se


deu no país acabou por comprometer o saber dos operários, implicando numa
desqualificação crescente dos trabalhadores, sem que houvesse transferência
do “saber-fazer” para a gerência do processo de produção.

Ainda que verdadeira, essa premissa precisa ser revertida com urgência para
que a indústria da Construção Civil possa atingir patamares diferenciados de
qualidade e competitividade. No entanto, a questão que se coloca é como
reverter esse processo?

Certamente a racionalização construtiva colabora para que o “saber-fazer” possa


ser de domínio da produção como um todo, pois à medida em que a empresa
tenha em suas mãos uma tecnologia racionalizada, como por exemplo a de
produção de alvenarias de vedação, para que seja efetivamente incorporada à
produção, deverá ser repassada aos responsáveis pelas atividades que
compõem o processo produtivo, desde o gerente da obra até o operário que
executa a atividade, uma vez que é preciso que todos entendam e estejam
conscientes da necessidade de racionalização do processo.

As empresas precisam entender que dependem da qualificação do trabalhador e


de sua habilidade para viabilizar a produção, pois ainda que a tecnologia esteja
embutida no projeto e em alguns componentes industrializados, os trabalhadores
intervêm com sua experiência prática, traduzindo os projetos na fase de
execução e recorrendo a seus conhecimentos para a utilização e aplicação de
materiais e componentes [FARAH, 1992].

Apesar de muitas organizações terem consciência da necessidade de se investir


no trabalhador da construção civil, essa não é uma tarefa fácil de se realizar,
pois a contratação da mão-de-obra nessa indústria é extremamente complexa.

Há uma heterogeneidade muito grande na forma de contratação dos serviços, a


qual varia com o porte da empresa e com o tipo de serviço executado. Existem
empresas de maior porte que trabalham com mão-de-obra contratada (própria)
para as atividades relativas à obra bruta e alguns revestimentos, principalmente

42
porque conseguem, pelo número de obras, transferir os operários de uma obra
para outra, em função de suas especialidades. Para outros subsistemas do
edifício a mão-de-obra é totalmente contratada de terceiros.

Para empresas de porte médio ou pequeno é mais comum o emprego de mão-


de-obra de terceiros para a produção de todos os subsistemas, ou seja,
trabalham com serviços totalmente subempreitados.

Dessa maneira, o treinamento e a qualificação da mão-de-obra é uma questão


que envolve grande dificuldade. Mesmo assim, acredita-se que sem esse
investimento não será possível capacitar a mão-de-obra a produzir segundo os
princípios da racionalidade construtiva, evoluindo-se para patamares próximos à
industrialização.

Algumas empresas construtoras já perceberam essa necessidade e, apesar de


não serem muitas no mercado, estão servindo como uma célula que, aos
poucos, vai se multiplicando.

O investimento em recursos humanos não pode estar vinculado ao porte da


empresa. É possível fazê-lo, tanto em grandes como em pequenas ou médias
organizações. Existem diversas empresas de médio e pequeno porte que têm
realizado constantes investimentos para a capacitação e valorização dos
operários que com ela trabalham, independentemente de serem ligados ou não a
um subempreiteiro. De modo geral, essas empresas enfocam, num primeiro
momento, aspectos básicos e fundamentais do dia-a-dia dos operários na obra,
tais como as questões de segurança e higiene e, num segundo momento,
desenvolvem parcerias com os seus fornecedores de mão-de-obra, no sentido
deles também colaborarem para a capacitação e motivação de seu pessoal.

O envolvimento dos subempreiteiros, na forma de parceria, poderá ocorrer à


medida em que os mesmos forem cobrados dos resultados pretendidos pelas
empresas e receberem o retorno de seus investimentos.

Para isso, é preciso alterar a atual relação empresa-empreiteiro, na qual a


primeira está interessada apenas no menor preço do serviço e o último
raramente exerce a responsabilidade pelo serviço executado. Numa relação de

43
parceria, ambos precisam ganhar. O primeiro precisa ter as responsabilidades
compartilhadas pelo segundo e este, precisa ter condições de investir na
formação de seu pessoal.

No que se refere a ações específicas objetivando a capacitação tecnológica da


mão-de-obra, o treinamento empregando linguagem acessível é um mecanismo
que deve ser explorado. Nesse sentido, o uso de procedimentos de execução
ilustrados com figuras representativas das atividades mais importantes é uma
alternativa que vem sendo utilizada com sucesso. A expressão gráfica, mais do
que o texto, auxilia na compreensão das atividades.

Além do procedimento ilustrado, o treinamento através de vídeos tem sido uma


ferramenta importante para a compreensão das atividades. Há pesquisadores
que afirmam que a força de comunicação do vídeo, contendo cenas reais de
obras e depoimentos de pessoas que utilizam os procedimentos, propicia uma
receptividade muito grande naqueles que estão sendo treinados.

Deve-se lembrar que as empresas não precisam trabalhar isoladas. É possível


alavancar o treinamento da mão-de-obra, buscando-se auxílio nas entidades
representativas de classe, como é o caso dos SENAI’s e SINDUSCON’s, através
de seus cursos profissionalizantes, oferecidos para as diferentes categorias de
trabalhadores.

No entanto, não deverá ser feito apenas investimentos quanto à capacitação


técnica; a motivação é outro fator importante para o processo e não poderá ser
deixada em segundo plano. Sem motivação, em todos os níveis hierárquicos,
não haverá programa tecnológico que subsista.

Deve-se lembrar que são inúmeras as formas de motivação, as quais incluem a


qualidade de vida do funcionário na empresa e não apenas a questão financeira.

Alguns pontos importantes, tais como: a remuneração justa e adequada às


responsabilidades de cada um; a segurança e direitos do trabalhador; a
oportunidade de crescimento na empresa; a integração social; comprometimento
com a filosofia da empresa e a valorização do trabalho, são destacados por

44
diversos pesquisadores como sendo fundamentais para a melhoria das relações
empresa-operário.

Para que se tenha realmente uma evolução nas relações de trabalho,


tanto as empresas construtoras, quanto os subempreiteiros deverão estar
atentos a essas questões.

6. AS AÇÕES VOLTADAS AO CONTROLE

O controle do processo de produção é sem dúvida a ação de maior dificuldade


de implementação dentro do processo de racionalização de uma atividade
construtiva.

A experiência adquirida a partir de diversos trabalhos realizados demonstra que


sempre existe uma dificuldade imensa para se efetivar o controle do trabalho,
dos custos e dos prazos de execução das atividades.

Quando se encontra algum tipo de controle na empresa, ele é do tipo informal,


ou seja, realizado sem uma metodologia específica, comumente deixado nas
mãos do mestre ou encarregado, sem que tenham parâmetros adequados para
fazê-lo. De modo geral, a engenharia considera que um controle formalizado por
uma documentação adequada gera “burocracia e mais papéis na obra” e, por
isso, descartam-no.

O problema maior de se ter o controle informal é que as pessoas que os


praticam não são devidamente capacitadas e treinadas a exercer essa atividade,
de grande importância para o processo de racionalização. Por isso, é necessário
que a empresa invista nesse processo de capacitação, estabelecendo o quê e
como controlar, ou seja, que defina uma metodologia de controle que
contemple, pelo menos, os seguintes aspectos:

• definição das responsabilidades de cada elemento envolvido no processo de


produção, sobretudo de quem realizará o controle e de quem decide sobre as
não conformidades;
• diretrizes de como os serviços serão acompanhados;
• os mecanismos de recebimento de cada atividade;

45
• o estabelecimento de TOLERÂNCIAS que serão aceitas para a realização
dos serviços;
• os parâmetros para correção das não conformidades;
• como as informações decorrentes do processo de controle circulam entre os
envolvidos com a produção;
• como o processo de controle poderá subsidiar projetos futuros.

Essa metodologia deve contemplar, ainda, como devem circular as informações,


as quais devem atingir o seu destino com rapidez e sem a introdução de ruídos
que desvirtuem seu teor inicial, pois em especial nos casos de não
conformidade, será necessário que o processo de produção seja rapidamente
corrigido.

Prescrever em um procedimento apenas a tolerância e não dar


instrumentos para que se saiba o que fazer com as não-conformidades,
pouco auxilia no processo de evolução tecnológica.

São poucas as empresas que têm desenvolvido algum mecanismo de controle


para a produção da alvenaria, entretanto, acredita-se firmemente que sem a
implantação da etapa de controle, dificilmente as ações de racionalização
propostas por este trabalho irão se fixar na cultura da empresa, uma vez
que não havendo controle, é impossível retroalimentar o processo e corrigir
eventuais falhas, não é possível retomar o rumo correto das atividades, não é
possível ter a melhoria contínua dentro do processo de racionalização.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje, a indústria da Construção Civil encontra-se em processo de transição,


ficando evidente o aumento da competitividade no segmento de construção de
edifícios. Há uma ampla abertura de mercado, com a iminente entrada de
empresas estrangeiras disputando espaço com as nacionais. Por outro lado,
grandes empresas construtoras, antes concentradas na produção de obras
pesadas, devido à restrição de investimentos nesse segmento, estão se voltando
também à produção de edifícios. Com isso, um grande número de empresas
concorrem para ganhar uma parcela do limitado mercado existente.

46
As mudanças ocorrem também junto aos fornecedores de materiais,
componentes e equipamentos. Principalmente em decorrência da abertura de
mercado, diversas empresas têm trazido novos produtos, nem sempre
conhecidos, que passam a disputar espaço nos projetos e também nos canteiros
de obras de edifícios.

Para atuar nesse novo contexto de mercado, as empresas deverão estar


preparadas para enfrentar o grande desafio de evoluir o seu processo de
produção, a fim de reduzir os seus custos e de aumentar a qualidade de seus
produtos.

A adoção de novas tecnologias, de novas formas de organização do processo de


produção e de novas formas de gestão empresarial, que imprimam melhores
resultados aos produtos e processos do setor, é um dos caminhos que devem
ser procurados por essas empresas.

Entretanto, alterar a estrutura técnica e organizacional de uma atividade tão


antiga quanto o próprio homem não é uma tarefa fácil de ser realizada.

As poucas empresas que têm procurado adotar “ações inovadoras” através de


alterações na sua forma de produção atual têm esbarrado em inúmeros obstá-
culos, que têm inibido o avanço do processo de produção.

Considerando-se essa realidade, a principal contribuição que se pretende dar


com a apresentação deste trabalho é proporcionar os meios para que os obstá-
culos existentes venham a ser transpostos pelas empresas, possibilitando,
assim, a evolução do processo construtivo tradicional.

O caminho aqui proposto procura envolver tanto a mudança tecnológica quanto


a organizacional e a gerencial, através de uma visão sistêmica do processo de
produção. Ou seja, evoluções tecnológica, organizacional e gerencial devem
ocorrer em conjunto para que se tenha maior eficiência no processo de
produção.

A Implantação da Tecnologia Construtiva Racionalizada de Produção das


Alvenarias de Vedação constitui apenas um instrumento para viabilizar essa

47
mudança que deverá ser extrapolada para outros subsistemas do edifício e
deverá ser contínua ao longo do tempo, evoluindo a cada nova aplicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARAH, Marta Ferreira Santos. Tecnologia, processo de trabalho e


construção habitacional. São Paulo, 1992. 297p. Tese (Doutorado) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo.
FRANCO, Luis S. et al. Desenvolvimento de um método construtivo de
alvenaria de vedação de blocos de concreto celular autoclavados:
proposição do método construtivo POLI-SICAL. São Paulo, EPUSP-PCC,
1994. (Documento 20.081, Projeto EP/SC-1).
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS. Programa de atualização
tecnológica industrial (PATI): construção habitacional. São Paulo, IPT/
Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas/Secretaria da Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. 1988. 85p.
REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo, Perspectiva,
1978.
ROCHA LIMA JR., J. Qualidade na construção civil: conceitos e referenciais.
São Paulo, EPUSP, 1993. (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP.
Departamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/120).
ROSSO, Teodoro. Racionalização da construção. São Paulo, FAU/USP, 1980.
300p.
SABBATINI, Fernando H. Desenvolvimento de métodos, processos e
sistemas construtivos: formulação e aplicação de uma metodologia. São
Paulo, 1989. 321p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de
São Paulo.
SABBATINI Fernando H.; BARROS Mercia M.S.B.; SILVA, Margarete M.A.
Recomendações para construção de paredes de alvenaria. São Paulo,
EPUSP-PCC, 1988. (Documento 1D, Projeto EP/EN-1).
SABBATINI Fernando H.; et al. Recomendações para o projeto construtivo
das paredes de vedação em alvenaria: procedimentos para elaboração e
padrão de apresentação. São Paulo, EPUSP-PCC, 1991. (Documento
20.053, Projeto EP/EN-7).
SOUZA, Roberto de et al. Qualidade na aquisição de materiais e execução de
obra. São Paulo, Pini, 1996.
TELLES, Pedro C. da Silva. História da engenharia no Brasil. Rio de Janeiro,
Livros Técnicos e Científicos, 1984. v.1.
VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia. São Paulo, Alfa-Ômega.
1994. p.171-286.

48
O PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS PAREDES MACIÇAS

M. Eng. Alberto Casado Lordsleem Júnior


acljr@pcc.usp.br

RESUMO

A necessidade de racionalização do subsistema vedação vertical vem fazendo


com que o mercado analise com mais profundidade novas alternativas de
produção desse subsistema. Uma das alternativas é a parede maciça que, ao
ser comparada com a alvenaria, apresenta desempenho semelhante e
potenciais vantagens expressas na forma de aumento da velocidade de
produção, redução dos custos de mão-de-obra e reduzida geração de entulho.

Dentro desse contexto, este trabalho objetiva apresentar o processo de


produção de paredes maciças, em particular, de paredes maciças de concreto
celular moldadas no local com fôrmas leves, alvo atual de um projeto de
desenvolvimento tecnológico que está sendo realizado na Escola Politécnica da
USP.

1 INTRODUÇÃO

É indiscutível a posição estratégica que ocupa a indústria da construção civil no


desenvolvimento de um país, devido principalmente a sua importância
econômica e social.

Como não poderia deixar de ser, o processo de modernização pelo qual vem
passando a indústria brasileira encontra reflexos em todos os setores, inclusive
no da construção de edifícios. No entanto, o subsetor edificações é
caracterizado, ainda hoje, por um elevado índice de desperdícios, baixa
produtividade, reduzida qualificação da mão-de-obra, além da baixa qualidade
do seu produto final.

Nos últimos anos, em especial na década de 90, uma nova conjuntura


econômico-produtiva instaurou-se em nosso país e, desde então, a tendência
que vem predominando, segundo ABIKO et al. (1991), “pode ser contextualizada

49
num cenário econômico em que os riscos da atividade empresarial e a
competitividade do mercado (retração da demanda, escassez de obras públicas,
maior grau de exigência do usuário) pressionam as empresas para a busca de
estratégias de aumento da produtividade e da diferenciação do produto em
termos de qualidade”.

BARROS (1996) parece concordar com essa posição, ao afirmar que com a
retração do mercado, existe realmente uma tendência das empresas de buscar a
racionalização da produção de edifícios, através da otimização das atividades de
obra, abreviação de prazos, minimização de custos, sem implicar na ruptura da
base produtiva que caracteriza esse subsetor.

Diante dessa situação, o mercado de construção de edifícios tem demonstrado


interesse no desenvolvimento de novas tecnologias, de acordo com o
SINDUSCON (1997), que venham a suprir as deficiências existentes e, dentro de
um processo de evolução tecnológica, atender à necessidade de um produto
final com custos e qualidade compatíveis com a atual realidade do país.

A carência de conhecimentos tecnológicos permeia todo o processo de produção


de edifícios e é decorrente, dentre outros fatores, da ausência de motivação e de
iniciativa dos técnicos de todos os níveis, diante das dificuldades de implantação
de inovações; inexistência de uma postura tecnológica das empresas de
construção civil e do próprio país; ausência de projetos específicos voltados à
produção; uso de materiais e componentes praticamente desconhecidos quanto
ao seu desempenho e, ainda, a falta de controle de todas as etapas envolvidas
no processo de produção.

Considerando-se o atual estágio de busca de competitividade e excelência entre


as empresas que atuam no setor de construção de edifícios, a produção de
vedações verticais é uma das atividades que se apresenta carente de
tecnologias adequadas.

Verifica-se que os métodos construtivos ainda utilizados na produção das


vedações na grande maioria das obras brasileiras - ou seja, alvenarias
tradicionais, com elevado desperdício de mão-de-obra, componentes e materiais
- empregam as mesmas técnicas construtivas do passado.

50
Se as empresas realmente buscam ganhos de produtividade e eliminação de
desperdícios para serem competitivas precisam alterar rapidamente este estágio
de desenvolvimento da tecnologia de produção das vedações verticais e, mais
especificamente, das paredes de vedação, para que possa atingir um novo
patamar tecnológico e organizacional, o que dificilmente será alcançado com as
tecnologias tradicionalmente empregadas.

Sobre esse assunto, SABBATINI (1989) considera que “incrementar a


produtividade operacional e evoluir tecnologicamente no setor de construção de
edifícios são ações intrinsecamente dependentes do desenvolvimento dos meios
de produção, o que vale dizer, da criação de novos métodos, processos e
sistemas construtivos e do aperfeiçoamento dos já existentes”.

Assim, visando suprir essa necessidade premente de evolução e, dentro do


espírito deste seminário sobre vedações verticais, este trabalho objetiva
apresentar o processo de produção das paredes maciças e, mais
particularmente, das paredes maciças de concreto celular espumoso moldadas
no local, as quais estão atualmente sendo alvo de um projeto de
desenvolvimento tecnológico na Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo.

2 A PAREDE MACIÇA COMO ELEMENTO DO SUBSISTEMA VEDAÇÃO


VERTICAL

2.1 Subsistema vedação vertical

A vedação vertical pode ser entendida, de acordo com SABBATINI; FRANCO


(1997), como sendo: “o subsistema do edifício, constituído por elementos que
definem, limitam e compartimentam verticalmente os ambientes internos,
controlando a ação dos agentes atuantes”.

Além das funções principais de dividir o ambiente em compartimentos e de


proteção, as vedações verticais apresentam as seguintes funções secundárias:
servir de suporte e proteção às instalações do edifício; servir de proteção aos
equipamentos de utilização do edifício; criar condições de habitabilidade e suprir
a função estrutura ou parte da estrutura.

51
Dessa forma, fazem parte das vedações verticais: as paredes ou divisórias, as
esquadrias e os revestimentos, de modo que cada uma dessas partes será
responsável pelo adequado desempenho do conjunto.

São objeto deste trabalho as paredes maciças e, mais especificamente, as


paredes maciças de concreto celular moldadas no local, uma das possíveis
alternativas para a produção das vedações verticais do edifício.

2.2 As paredes maciças

As paredes são elementos do subsistema vedação vertical que possuem formato


laminar e são utilizadas como vedo externo ou divisória interna nas edificações.

De acordo com o desempenho funcional no edifício, as paredes podem ser


classificadas como: estruturais, quando funcionam como parte ou quando são o
próprio elemento estrutural; de contraventamento, com a função de aumentar o
grau de rigidez da estrutura e, de vedação, quando suportam apenas o seu peso
próprio.

Diz-se que uma parede é maciça quando ela é constituída por apenas um
material, o qual ocupa todo o seu volume aparente. Segundo FERREIRA (1986),
a palavra maciço é sinônima de compacto ou não-oco, no entanto, tais termos
são menos empregados para designar a parede maciça.

A parede maciça, como parte integrante da vedação vertical, objetiva auxiliá-la


no cumprimento das suas funções. Podem ser empregadas como estrutura,
contraventamento ou vedação; tanto interna quanto externamente. Em
decorrência, para cada uma dessas situações os requisitos e critérios de
desempenho serão diferentes e, portanto, algumas propriedades serão mais
exigidas.

Em função do processo de produção, as paredes maciças podem ser


classificadas em pré-moldadas ou pré-fabricadas e moldadas no local. Essa
divisão vai implicar em importantes mudanças nas atividades de produção do
edifício, como será visto a seguir.

2.3 As paredes maciças pré-moldadas ou pré-fabricadas

52
São paredes constituídas por elementos em forma de painéis pré-moldados ou
pré-fabricados, geralmente de concreto armado, obtidas por acoplamento úmido
ou mecânico.

De acordo com a norma brasileira NBR 9062 (ABNT, 1985), elemento pré-
fabricado é definido como sendo aquele “executado industrialmente, mesmo em
instalações temporárias em canteiro de obra sob condições rigorosas de controle
de qualidade”, e elemento pré-moldado como sendo aquele “executado fora do
local de utilização definitiva na estrutura com controle de qualidade menos
rigoroso que o elemento pré-fabricado”.

Para simplificar a compreensão dos assuntos tratados, será utilizado o termo


pré-moldado para caracterizar os painéis executados fora do seu local definitivo
de utilização, exceto nos casos em que se fizer necessária a diferenciação.

É necessário destacar que a utilização de painéis pré-moldados faz parte de um


sistema de operações mecanizadas e organizadas de prevalente montagem nos
canteiros, as quais estão subordinadas as ações organizacionais que definem a
Industrialização.

As paredes maciças pré-moldadas caracterizam-se por serem obtidas por


acoplamento úmido, cuja montagem é realizada por solidarização com
argamassa; ou por acoplamento mecânico, através de solda, por inserção, por
parafusos ou encaixe.

No mercado há várias opções de painéis pré-moldados para vedações verticais,


que vão desde os painéis portantes, de contraventamento e de simples vedação
utilizados para a construção de edifícios com tipologia padrão; até os pré-
moldados arquitetônicos de fachada, com revestimentos incorporados.

O processo construtivo empregando os painéis pré-moldados apresentam


algumas vantagens e desvantagens quando comparado ao processo tradicional
de construção de paredes, como apresentadas na tabela 2.1.

Tabela 2.1 Vantagens e desvantagens das paredes maciças pré-moldadas


ou pré-fabricadas

53
Vantagens Desvantagens

• Retirada de atividades do canteiro • Necessidade de continuidade de


produção

• Precisão dimensional • Necessidade de precisão


dimensional

• Velocidade de montagem • Limitação estrutural

• Facilidade no controle • Pouca flexibilidade arquitetônica

• Possibilidade de incorporar • Requer mão-de-obra


revestimentos especializada

• Utilização de equipamentos
especiais de transporte
horizontal e vertical

• Necessidade de juntas

De fato, a retirada da produção das vedações verticais do local definitivo de


utilização implica em mudanças organizacionais do processo de produção do
edifício, à medida em que exige modificações em todas as suas etapas.

Na etapa de projeto, por exemplo, deve ser dada especial atenção à modulação
e a resolução prévia dos problemas de interface com as outras partes do edifício,
assim como, para o fato de que os esforços decorrentes do transporte dos
painéis, geralmente diferem daqueles de utilização.

Na etapa de execução, por exemplo, deve-se atentar para a necessidade de


uma seqüência ordenada de atividades, na qual a montagem de painéis exige a
utilização de equipamentos específicos para o transporte e mão-de-obra
especializada, conforme o acoplamento seja úmido ou mecânico.

A necessidade de profundas mudanças no processo de produção dos edifícios


das quais a utilização das vedações verticais em paredes maciças pré-moldadas

54
dependem trombam com a tendência que vem se observando no mercado da
construção de edifícios, no qual a implementação de ações visando a
racionalização da produção tem sido uma constante, entre outros motivos, por
não necessitar romper com a base produtiva que caracteriza o setor, ou seja,
emprego de mão-de-obra pouco qualificada e baixo uso de equipamentos de
grande porte.

2.4 As paredes maciças moldadas no local

A parede maciça moldada no local pode ser definida como sendo: o elemento do
subsistema vedação vertical de formato laminar, obtido por moldagem no seu
local definitivo de utilização.

A parede maciça moldada no local é caracterizada ainda por ser monolítica, ou


seja, quando solicitada, distribuir os esforços por toda a parede e, contínua, por
não apresentar juntas aparentes.

Em função do sistema de fôrmas utilizado na execução e do tipo de material do


qual é constituída a parede maciça moldada no local, o processo de produção
pode diferir substancialmente.

Dessa forma, através da classificação proposta por FAJERSZTAJN (1987) para


os diversos sistemas de fôrmas existentes, procurou-se identificar quais tipos
estão disponíveis para a produção das paredes maciças moldadas no local,
destacando-se:

• sistema de fôrmas de madeira tradicional: no sistema tradicional, os


elementos constituintes das fôrmas (molde, estrutura do molde, escoramento
e acessórios) são compostos basicamente por peças de madeira, montados
e desmontados individualmente, resultando num grande consumo e
desperdício de material e mão-de-obra;

• sistema de fôrmas de madeira racionalizado: os elementos também são


compostos por peças de madeira; porém, há a preocupação em se criar
módulos e ciclos de utilização dos mesmos;

55
• sistema de fôrmas metálicas: os elementos que compõem esse sistema
são metálicos. Foi desenvolvido com a idéia de multiplicar o número de usos
de um mesmo painel, racionalizando a utilização das fôrmas. Basicamente,
são utilizadas hoje as fôrmas em aço e alumínio;

• sistema de fôrmas mistas: também representa uma racionalização do uso


das fôrmas. O molde é composto por chapas de madeira compensada,
enquanto a estrutura do molde incorpora componentes metálicos. A idéia
consiste na definição de um módulo, com dimensões tais que permitam o
reaproveitamento e que possam ser desformados íntegros, além da
utilização de dispositivos de união ou encaixe metálicos para substituir peças
usualmente pregadas.

As fôrmas podem ainda ser classificadas segundo o peso em leves e pesadas.


Esse tipo de classificação é importante do ponto de vista do planejamento das
operações de montagem e também na escolha do sistema de fôrmas para a
produção desse tipo de parede, visto que a disponibilidade de equipamentos de
transporte numa obra vai condicionar a seleção de um ou outro sistema.

Para FAJERSZTAJN (1987), são leves as fôrmas que podem ser movimentadas
manualmente, sem a necessidade de equipamentos de transporte e pesadas
aquelas que necessitam de equipamentos para movimentação e transporte,
como por exemplo as fôrmas metálicas de aço que são posicionadas no local de
concretagem através de gruas.

As paredes maciças moldadas no local podem ainda ser classificadas em função


do tipo de material com as quais são constituídas: solo não-estabilizado, solo-
cimento, concreto normal, concreto com agregado leve e concreto celular ou
argamassa celular.

Aos materiais citados, podem ou não estar associadas armaduras ou fibras. As


armaduras têm a função de estruturar a parede com o objetivo de garantir um
desempenho estrutural adequado ou até mesmo serem utilizadas como um
reforço capaz de dissipar as tensões e acomodar as deformações possíveis de
ocorrer. As fibras, por sua vez, podem ser vegetais ou artificiais e têm a função

56
de conferir à parede uma maior capacidade de deformação diante das
solicitações.

À utilização de fôrmas metálicas ou mistas para a produção de paredes maciças


moldadas no local está potencialmente associado um grau superior de
industrialização do processo construtivo, representando uma evolução nas
técnicas tradicionais de se construir.

Dentro desse contexto, estão disponíveis no mercado os sistemas de fôrmas


metálicas tipo túnel; tipo mesa e parede e tipo parede, cujas idéias básicas
consistem, respectivamente: na execução simultânea de paredes e lajes; na
execução das paredes numa fase posterior à das lajes; e na execução apenas
das paredes. Normalmente, o material empregado é o concreto e as fôrmas
metálicas são de aço, pesadas e de grandes dimensões.

A produção de paredes maciças com fôrmas tipo parede pode ser realizada
também com as fôrmas mistas, as quais podem ser de grandes dimensões;
porém, são mais comumente utilizadas em pequenos módulos que permitem a
execução de paredes com alturas variáveis. O uso de fôrmas mistas modulares
de pequenas dimensões prescinde da utilização de equipamentos de grande
porte, pois apenas um operário pode realizar o seu transporte.

A seguir são apresentadas algumas considerações relativas às vantagens e


desvantagens da produção de paredes maciças moldadas no local com fôrmas
metálicas e mistas, frente às alvenarias de vedação tradicionalmente
empregadas.

2.5 A parede maciça moldada no local como alternativa à alvenaria

De acordo com SABBATINI (1989), o processo construtivo tradicional utilizado


para se construir edifícios de múltiplos pavimentos na cidade de São Paulo se
caracteriza pelo emprego de estrutura reticulada de concreto armado moldada
no local com fôrmas de madeira e vedações de blocos cerâmicos ou de
concreto.

57
As vedações verticais em alvenaria de blocos cerâmicos ou de concreto, são
caracterizadas pela produção artesanal, quando não racionalizadas, com uso
intensivo de mão-de-obra, baixa mecanização e elevados desperdícios de mão-
de-obra, material e tempo. Além disso, a qualidade e a produtividade do serviço
de execução de alvenaria são dependentes da habilidade do operário.

Outro aspecto relevante quando se pensa numa vedação vertical em alvenaria


está relacionado com a necessidade de se resolver os problemas de interface
com as outras partes ou com os outros subsistemas do edifício, como por
exemplo, revestimentos, esquadrias, estruturas e instalações.

As vedações verticais em paredes maciças moldadas no local apresentam


algumas vantagens quando comparadas com as questões levantadas
anteriormente para a alvenaria, quais sejam:

• aumento da qualidade: tanto nos serviços de execução quanto no


acabamento superficial (final) das paredes;

• aumento da produtividade: a produtividade da mão-de-obra aumenta em


função da existência de uma seqüência definida de tarefas (locação;
montagem das fôrmas; embutimento das instalações; fixação dos negativos
das esquadrias, com possibilidade de se deixar os batentes na própria fôrma;
etc.), resultando na redução do custo global da obra (economia);

• precisão dimensional: a parede apresenta uma planicidade que permite a


utilização de revestimento de pequena espessura, sem a necessidade de
camada de regularização;

• as atividades independem da habilidade do operário: dessa forma, não


se exige qualificação da mão-de-obra, apenas treinamento. O consumo de
mão-de-obra é reduzido quando comparado ao processo construtivo
tradicional;

• possibilidade de execução da estrutura e vedação concomitantemente:


a função vedação pode se superpor a função estrutural. A concepção
estrutural, neste caso, adota as paredes como elementos que distribuem o
carregamento;

58
• existência de uma seqüência de trabalho ordenada: permite a
simplificação e repetição das tarefas, imprimindo ritmo definido nas
atividades de obra;

• exigência de organização do processo de produção: a concepção


adotada vai orientar todas as demais etapas físicas do processo de produção
do edifício, exigindo a integração e soluções tomadas previamente à
execução.

Comparativamente à alvenaria, algumas desvantagens também podem ser


destacadas:

• elevado custo das fôrmas: o alto investimento realizado nas fôrmas deve
ser amortizado em diversas reutilizações. A necessidade de alta reutilização
das fôrmas é viabilizada quando se tem uma demanda constante e uma
tipologia definida de construção;

• necessidade de equipamentos de grande porte: quando são utilizadas


fôrmas metálicas, pesadas e de grandes dimensões, são necessários
equipamentos de grande porte, como por exemplo, a grua para o transporte
das fôrmas ou do grande volume de concreto requerido;

• limitações de projeto: a execução de paredes maciças de concreto


moldadas no local, como apresentada no item anterior, está inserida no
contexto de um método ou processo construtivo. Sendo assim, várias
limitações podem ser apontadas quanto ao projeto, como por exemplo:

∗ com o emprego das fôrmas tipo túnel e mesa/parede, há restrições


quanto ao emprego de lajes com diferentes níveis, devido a
necessidade que as fôrmas possuem de se deslocar em cada andar,
para serem utilizadas num outro ciclo de produção;

∗ no caso do emprego das fôrmas tipo túnel e mesa/parede, há paredes


com função de vedação que não são determinadas pelo método
construtivo e, quando resolvidas pelo método construtivo tradicional,
ou seja, o emprego de blocos de concreto, não conseguem
acompanhar a velocidade com que são executadas as paredes
estruturais;

59
∗ para assegurar a máxima reutilização das fôrmas, a largura dos
painéis usada para produzir um dado comprimento de parede deverá
ser selecionada como referência para o edifício como um todo.

• insucessos no passado: os problemas patológicos, principalmente as


fissuras e a umidade, e o desempenho insatisfatório decorrentes do
inadequado emprego dessas tecnologias no passado contribuem para a
reação negativa para a utilização no presente.

Visando superar as desvantagens citadas e tirar partido das vantagens


oferecidas pela utilização das fôrmas mistas, modulares, leves e de pequenas
dimensões, é que se coloca como alternativa a produção de vedações verticais
de paredes maciças de concreto celular, principalmente, por estar em sintonia
com a tendência que vem se verificando nas empresas construtoras, onde se
busca a racionalização da produção de edifícios, através da otimização das
atividades de obra, abreviação de prazos e minimização de custos.

3 A PRODUÇÃO DE PAREDES MACIÇAS DE CONCRETO CELULAR


ESPUMOSO MOLDADAS NO LOCAL

A utilização da tecnologia de produção de vedações verticais de concreto celular


espumoso moldadas no local deu-se no início da década de 80, na construção
das paredes de habitações populares térreas ou tipo sobrados em conjuntos
habitacionais.

Desde então, por iniciativa da empresa GETHAL S.A. Serviços para Construção,
uma das empresas fornecedoras de sistemas de fôrmas mistas utilizados para a
moldagem de paredes de concreto celular espumoso, tem sido majoritária a sua
utilização na construção de casas populares.

O concreto celular espumoso é definido, segundo a norma NBR 12645 (1992),


como sendo: “concreto leve obtido pela introdução, nas argamassas, de bolhas
de ar, com dimensões milimétricas, homogêneas, uniformemente distribuídas,
estáveis, incomunicáveis e indeformadas ao fim do processo, cuja densidade de
massa aparente no estado fresco deve estar compreendida entre 1300 kg/m3 e
1900 kg/m3”.

60
A utilização do concreto celular espumoso como material de enchimento foi
motivada em função das características de isolamento termo-acústico,
densidade menor que a do concreto convencional e custo.

Segundo TEIXEIRA (1992), a utilização do concreto celular espumoso para


moldagem de paredes no local apresenta ainda as seguintes vantagens: fluidez,
que o torna auto-adensável dentro da fôrma; utilização de equipamentos
convencionais na sua operacionalização (mistura, transporte, bombeamento e
lançamento); utilização de um equipamento portátil para a produção da espuma
e o processo de cura se dar em condições atmosféricas ambientais.

Embora menos intenso, no início da década de 90, o seu uso em edifícios de


múltiplos pavimentos tem sido mais difundido e aplicado na região norte do
Brasil, notadamente na cidade de Manaus/AM, principalmente pela escassez de
componentes de alvenaria de boa qualidade naquela localidade.

Atualmente, de acordo com BARROS et al. (1998), a tecnologia de execução de


paredes maciças de concreto celular espumoso moldadas no local, em edifícios
de múltiplos pavimentos, tem sido utilizada nas seguintes situações:

• paredes autoportantes para edifícios de até 5 pavimentos;

• paredes de vedação executadas concomitantemente com a estrutura de


concreto armado;

• paredes de vedação executadas posteriormente à execução da estrutura de


concreto armado.

Em cada um dos casos citados, pode-se verificar a potencialidade de uso da


tecnologia, o que exige tratamento totalmente diferenciado para cada forma de
utilização, visto que a mesma tanto pode ser aplicada como um método
construtivo, quanto como um processo construtivo, os quais possuem níveis de
complexidade totalmente diferentes, inclusive com alvos de mercado distintos.

Do ponto de vista prático, a execução das paredes de vedação posteriormente à


estrutura de concreto armado é uma situação que apresenta grande
possibilidade de utilização, visto que esse é o maior mercado potencial de

61
vedações verticais, além de prescindir de mudanças significativas no sistema de
produção existente.

Entretanto, as limitações atuais, inerentes ao próprio estágio de conhecimento,


não têm otimizado os recursos disponíveis nem apresentado soluções
adequadas frente às deficiências observadas.

Essa situação de desconhecimento tecnológico, somada à confiança na


viabilidade comercial das paredes de vedação de concreto celular espumoso
levaram a empresa GETHAL S.A. Serviços para Construção a firmar um
convênio de pesquisa com a Escola Politécnica da USP com o objetivo de
desenvolver essa tecnologia.

A seguir são apresentadas as principais etapas do plano de trabalho que está


sendo efetuado através desse convênio de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico entre a EPUSP e a GETHAL.

4 O CONVÊNIO DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO EPUSP/GETHAL

O objetivo primordial da pesquisa é o de desenvolver um método construtivo


para produção de vedações verticais de concreto celular com fibras, moldadas
no local.

Visa com isso, explorar todo o potencial de racionalização proporcionado pelo


concreto celular moldado no local com fôrmas especiais, oferecendo ao mercado
uma tecnologia de produção do subsistema vedação vertical diferenciada e de
desempenho superior, quando comparada às alvenarias de vedação e aos
sistemas de painéis hoje disponíveis.

Dessa forma, a concepção do método construtivo está sendo orientada pelas


etapas sucintamente descritas a seguir (BARROS; SABBATINI, 1997):

A. levantamento de subsídios e condicionantes: etapa de levantamento e


documentação dos subsídios e condicionantes necessários à proposição do
novo método construtivo, através do conhecimento e registro das aplicações
já realizadas e da análise das potencialidades e deficiências existentes nos

62
métodos existentes. Identifica-se aqui um conjunto de soluções exeqüíveis,
que servirão de material de análise para as próximas etapas;

B. estudo do material empregado na produção da vedação vertical: busca-


se nesta parte do trabalho conhecer o comportamento do material concreto
celular espumoso acrescido de fibras sintéticas, principalmente frente às
características de desempenho esperadas de uma vedação vertical, através
de ensaios laboratoriais;

C. estudo do comportamento vedação/estrutura: nesta etapa busca-se


estudar o comportamento do conjunto concreto celular e estrutura, a partir da
variação da vinculação painel/estrutura. Esse estudo será realizado em duas
etapas: uma em laboratório e outra em campo, procurando verificar o
comportamento do conjunto em condições diversas;

D. concepção inicial do método construtivo inovador: a partir dos


resultados obtidos nos estudos efetuados nas etapas A, B e C será possível
estabelecer uma concepção preliminar para o método construtivo, fixando as
principais características funcionais, formais e construtivas. Como por
exemplo: indicando as características de ligação do elemento de vedação
com a estrutura, bem como, estabelecendo as melhores maneiras de
moldagem da vedação;

E. projeto de produção do edifício (ou de suas partes): nesta etapa, são


definidas as técnicas e os métodos construtivos, bem como são projetados
os detalhes de execução (fixação, acabamento, montagem, embutimento de
instalações e esquadrias, moldagem, etc.) que irão permitir a construção do
subsistema ou de suas partes em acordo com o prescrito na concepção
geral. O parâmetro indutor desta etapa do desenvolvimento será a
construtibilidade, isto é, a aptidão destas soluções serem empregadas no
canteiro de obras;

F. projeto e construção do protótipo: trata-se da etapa de aplicação em


canteiro de obra, na qual se criam as condições efetivas para a avaliação da
exeqüibilidade do projeto, do desempenho e da construtibilidade do método.

63
Durante a construção do protótipo poderão ser introduzidas alterações,
motivadas pela detecção de problemas não previstos nas etapas anteriores;

G. avaliação dos protótipos e do processo construtivo: tem início durante a


etapa de projeto e construção do protótipo, quando detectam-se,
principalmente, falhas na solução original de concepção do processo
construtivo, cujas correções deverão ser incorporadas ao projeto. Neste
ponto caberá uma reflexão de todo o desenvolvimento realizado para a
otimização global do método construtivo, de modo a maximizar a
racionalização construtiva;

H. consolidação da tecnologia: nesta etapa deverão ser finalizados os


documentos que contém as informações pertinentes ao método construtivo,
tais como: dados sobre o desempenho do método construtivo e de suas
partes; projeto detalhado para a produção do método construtivo; dados
econômicos; dados sobre os condicionantes de uso; entre outros.

BARROS; SABBATINI (1997) destacam que a avaliação do comportamento do


edifício deverá prosseguir durante a fase de pós-ocupação, período posterior ao
projeto de pesquisa, para que se possa determinar em serviço as deficiências no
comportamento em uso, possibilitando realimentar o processo construtivo.

Acredita-se, portanto, que o desenvolvimento do método construtivo, conduzido


de modo sistêmico e embasado por uma metodologia apropriada, contribuirá
para o avanço da tecnologia de produção das paredes de vedação de concreto
celular espumoso com a adição de fibra de polipropileno, permitindo ao meio
técnico dispor de soluções adequadas frente aos problemas encontrados e
viabilizando racionalmente todo o processo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da modernização que o subsetor de construção de edifícios vem


buscando nos últimos anos, uma das alternativas que se apresenta é a
racionalização da das vedações verticais através do desenvolvimento
tecnológico do processo de produção das paredes maciças.

64
De modo geral, a execução de paredes maciças utilizando fôrmas metálicas e
mistas agrega ao processo de produção do edifício ganhos potenciais em termos
de produtividade, nível de produção, qualidade final do produto e custo.

No entanto, as deficiências e os problemas ainda não solucionados, decorrentes


principalmente da ausência de um desenvolvimento tecnológico apropriado, têm
criado obstáculos quanto a sua utilização.

Considera-se, no entanto, que a solução dos problemas existentes, inerentes ao


atual estágio de conhecimento da tecnologia de produção de paredes maciças,
só será possível mediante um grande esforço de evolução endógena da
construção brasileira, a partir do desenvolvimento de tecnologias condizentes
com as características construtivas do país.

Nesse sentido, acredita-se que o desenvolvimento do método construtivo para


produção de vedações verticais de concreto celular moldadas no local será,
dentro em breve, uma opção no mercado, de desempenho e custo competitivos.
Podendo ainda ser utilizado em qualquer situação, interna ou externamente,
como alternativa à alvenaria e em complementação as paredes secas utilizadas
nas divisórias internas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIKO, A.K.; SOUZA, R.; SILVA, M.A.C. Elaboração de diretrizes básicas de


política tecnológica para a construção habitacional. São Paulo, EPUSP-
PCC, 1991. (Relatório CPqDCC n.50001 - EP/Ministério de Ação Social,
Secretaria Nacional de Habitação).

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto e execução de


estruturas de concreto pré-moldado - NBR 9062. Rio de Janeiro, 1985.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Execução de paredes


de concreto celular espumoso moldadas no local - NBR 12645. Rio de
Janeiro, 1992.

BARROS, M.M.S.B. Metodologia para implantação de tecnologias


construtivas racionalizadas na produção de edifícios. São Paulo, 1996.
422p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

65
BARROS, M.M.S.B.; SABBATINI, F.H. Desenvolvimento de um método
construtivo para produção de vedações verticais de concreto celular.
São Paulo, 1997. /Apresentado como plano de trabalho a ser efetuado
através de convênio de pesquisa e desenvolvimento tecnológico entre a
EPUSP e a GETHAL - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. Não
publicado/

BARROS, M.M.S.B; et al. Desenvolvimento de um método construtivo para


produção de vedações verticais de concreto celular. São Paulo, EPUSP-
PCC, 1998. (Relatório CPqDCC n.20095 - EP/GETHAL-01)

FAJERSZTAJN, H. Fôrmas para concreto armado: aplicação para o caso do


edifício. São Paulo, 1987. 246p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo.

FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro,


Nova Fronteira, 1986.

SABBATINI, F.H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas


construtivos: formulação e aplicação de uma metodologia. São Paulo,
1989. 321p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São
Paulo.

SABBATINI; F.H.; FRANCO, L.S. Tecnologia de vedações verticais. São


Paulo, 1997. /Notas de aula da disciplina de pós-graduação PCC 5012 -
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. Não impresso/

SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DE SÃO


PAULO. Sumário econômico: julho 1997. São Paulo, SINDUSCON, 1997.

TEIXEIRA FILHO, F.J. Considerações sobre algumas propriedades dos


concretos celulares espumosos. São Paulo, 1992. 112p. Dissertação
(Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

66
O PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS VEDAÇÕES LEVES DE GESSO
ACARTONADO

Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini


fhsabba@pcc.usp.br

1. INTRODUÇÃO

Apesar de ser uma tecnologia introduzida no Brasil no início da década de 70,


somente há cerca de três anos é que o setor de construção civil começou a
questionar amplamente a utilização de divisórias de gesso acartonado, em
substituição das tradicionais paredes de alvenaria, na compartimentação interna
de edifícios residenciais e comerciais. Este questionamento, que parece ter
adquirido no momento o status de um enorme salto tecnológico para o setor,
está ocorrendo pela conjugação no mercado de fatores favoráveis, tanto pela
demanda como pelo lado da oferta:

! Pela demanda:

• mudanças recentes na construção civil que, pressionada pelo mercado


e induzida por uma competitividade baseada nos custos de produção,
tem buscado a redução destes custos pela racionalização de seus
processos produtivos com a introdução de inovações tecnológicas.;

• mudança na postura estratégica de condução dos negócios


imobiliários - pressionadas pelas exigências dos clientes em relação à
qualidade e à manutenção dos edifícios as construtoras têm buscado
comprar soluções construtivas completas, com garantia dada pelo
fornecedor do que for construído, ou seja, o mercado quer comprar
sistemas de produção, ou em outras palavras, produtos e serviços em
um único pacote;

67
! Pela oferta:

• A descoberta, por empresas multinacionais fabricantes de chapas de


gesso acartonado, do enorme potencial do mercado interno. Hoje o
Brasil consome cerca de 0,02 m² de chapas por habitante/ano contra 8
nos Estados Unidos, 3,2 na França, 2,8 na Grã Bretanha e 2,3 na
Alemanha, países sede daquelas empresas. Este potencial motivou
investimentos na montagem de fábricas, na divulgação intensiva e na
comercialização das tecnologias que utilizam estas chapas;

• Fatores macroeconômicos diversos que impulsionam a criação e


consolidação de um mercado no Brasil para as chapas de gesso
acartonado: criação do Mercosul; globalização da economia;
estagnação da construção civil na Europa; grande oferta de gesso na
Europa.

Desta forma, o debate sobre o processo de produção de divisórias de gesso


acartonado adquire hoje grande importância. Para que seja corretamente
utilizada e traga para a construção civil brasileira e para o mercado consumidor
ganhos efetivos, esta tecnologia deve ser de domínio do setor. Muitos são os
aspectos importantes da mesma que devem ser amplamente conhecidos e
muitos são os aspectos ainda a serem desenvolvidos para que produzam os
benefícios que dela se esperam. O presente trabalho se propõe a analisar
alguns destes aspectos, em especial aqueles que tenham maior relevância para
o debate neste evento.

2. CONCEITUAÇÃO

Os processos de construção a seco compreendem os métodos construtivos de


montagem por acoplamento mecânico e se contrapõem aos métodos de
moldagem no local, que empregam materiais dosados com água, como as
argamassas e concretos.

68
Dentre estes processos estão os métodos de construção a seco de vedações
verticais leves de compartimentação e separação, classificadas como divisórias
internas, e constituídas por uma estrutura suporte reticulada e fechamento em
chapas. Nos Estados Unidos estes métodos são denominados genericamente
por "drywall construction".

O uso do termo "drywall" no Brasil é recente, tendo sido difundido a partir da


fundação, em julho de 1994, da "Drywall Tecnologia de Paredes e Forros Ltda.",
Esta empresa procurou à época, associar o produto que iria comercializar à sua
marca. Hoje o termo é marca registrada de um dos fabricantes de chapas de
gesso acartonado, e não deve ser utilizado para designar os métodos de
construção a seco.

A norma NB 1313 [1] conceitua as divisórias leves internas moduladas como


sendo: "elemento construtivo que separa os espaços internos de uma edificação,
compartimentando e ou definindo ambientes, estendendo-se do piso ao forro ou
teto, sendo constituído por painéis modulares e seus componentes, com massa
não superior a 60 kg/m²".

Para designar as divisórias internas de chapas de gesso acartonado o autor


propõe a seguinte definição, elaborada a partir de uma conceituação mais geral
de vedações verticais, e de suas diversas classificações [2]:

DIVISÓRIA INTERNA DE CHAPAS DE GESSO ACARTONADO é um


tipo de vedação vertical, utilizada na compartimentação e
separação de espaços internos em edificações, leve,
estruturada, fixa ou desmontável, geralmente monolítica, de
montagem por acoplamento mecânico e constituída por uma
estrutura de perfis metálicos ou de madeira e fechamento de
chapas de gesso acartonado.

69
3. HISTÓRICO E MERCADO

As chapas de gesso acartonado foram inventadas por Augustine Sackett em


1898 [3], nos Estados Unidos, mas passaram a ser utilizadas de forma intensiva,
neste País, em divisórias internas, somente a partir da década de 40. A
produção destas chapas no Brasil iniciou-se em 1972, em Petrolina, pela
Gypsum do Nordeste [3]. Apesar de haver registro de inúmeras utilizações de
chapas de gesso acartonado anteriores à implantação da Gypsum, somente com
o início de produção, por esta empresa, destas chapas, é que passou a haver
disponibilização no mercado de métodos construtivos que as empregassem.

Com a comercialização destes métodos puderam ser executadas diversas obras,


ao longo da década de 70, sendo um marco representativo a construção do
conjunto habitacional Zézinho Magalhães, na cidade de Guarulhos, com 480
apartamentos e 950 casas [4]. Por diversas razões [5] as divisórias de gesso
acartonado não tiveram o sucesso e a disseminação de uso esperados, como
ocorreu, na mesma época, em outros países, principalmente nos europeus.

Algumas tentativas foram feitas para resgatar o mercado no final da década de


80, porém sem sucesso. Com a divulgação proporcionada pela construtora
Método , que iniciou a utilização das divisórias de gesso acartonado em 1992 [6],
e constituiu a empresa "Drywall", em 1994, estas divisórias passaram a ser
apresentadas como uma inovação tecnológica com grande potencial de
racionalização e de redução de custos.

A partir daí, diversos grupos estrangeiros passaram a analisar o mercado


nacional. Em 1995 o grupo francês Lafarge comprou a Gypsum do Nordeste e
constituiu a Lafarge Gypsum, objetivando ofertar sistemas de construção a seco
[7]. No mesmo ano o grupo inglês BPB constituiu a Placo do Brasil e em 1997 o
grupo alemão Knauf instalou-se no País. Estes dois últimos estão construindo
fábricas de chapas de gesso acartonado, porém, já estão comercializando seus
produtos, importando as chapas de gesso. Vários outros grupos se interessam
no momento pelo Brasil e estão prospectando o mercado, em especial a Eucatex
(que importa tecnologia da USGypum, americana) e o grupo neozelandês
Fletcher.

70
Desta forma o mercado ofertante atual está constituído, principalmente, pelas
seguintes empresas, com respectivos indicadores de produção:

EMPRESA SISTEMA PRODUÇÃO DE CHAPAS DE GESSO ACARTONADO

Fábrica em Capacidade Inicio de


(m² chapa/ano) produção

LAFARGE GYPSUM Pregymetal Petrolina - PE 3.500.000 1995

PLACO Placostil Mogi das Cruzes - SP 11.000.000 Out 1998

KNAUF De construção Queimados - RJ 12.000.000 Out 1999


a seco Knauf

EUCATEX G-Tex *** Importador ***

Estima-se que em 1997 foram comercializados três milhões de m² de chapas,


utilizadas em divisórias de gesso acartonado e forros (principalmente), ou seja,
ainda tem-se um uso incipiente e um volume de comercialização muito inferior
ao da futura (em um ano) capacidade instalada do País.

4. CARACTERÍSTICAS DAS DIVISÓRIAS DE GESSO ACARTONADO

As divisórias de gesso acartonado apresentam características próprias, que as


diferenciam em muito das tradicionais vedações em alvenaria, utilizadas com a
mesma finalidade e para as quais elas são apresentadas como substitutas.

Para que possa ser feita uma análise comparativa entre as vantagens e
desvantagens potenciais de cada uma destas tecnologias serão analisadas
neste capítulo as principais características desta tipologia de vedação interna.

No quadro a seguir estão itemizadas as principais características das divisórias


de gesso acartonado.

71
QUADRO 1 - Características das Divisórias de Gesso Acartonado

♦ Montagem por acoplamento mecânico, com modulação flexível

♦ Não contraventa a estrutura

♦ Superfície plana, com textura lisa e de aspecto monolítico

♦ Sensibilidade à umidade

♦ Vedação oca e estruturada por perfis

♦ Divisória desmontável, leve, baixo volume de material

♦ Propriedades com grande amplitude de variação

♦ MONTAGEM POR ACOPLAMENTO MECÂNICO, COM MODULAÇÃO FLEXÍVEL

A montagem por acoplamento mecânico, através de dispositivos como,


por exemplo: parafusos, rebites, pinos e presilhas, inseridos com
ferramentas especiais normalmente elétricas ou pneumáticas, provoca
mudanças muito significativas no processo de produção de vedações,
quando comparado com a técnica tradicional de moldagem no local com
argamassas plásticas (por aderência a úmido). A seguir são analisadas
estas mudanças e as repercussões no processo de produção.

✦ Maior precisão dimensional do subsistema. A montagem de


componentes produzidos industrialmente e com precisão mecânica
altera a referência dimensional de todo o processo construtivo. Mas,
para ser eficiente enquanto método de montagem, ele exige
compatibilização da sua precisão dimensional com os demais
subsistemas. Assim as superfícies contíguas obtidas por técnicas de
moldagem (pisos forros e paredes revestidas com argamassa e vigas,
pilares e lajes de concreto) necessitam ter precisão dimensional, serem
uniformes, aprumadas, niveladas, etc. Da mesma forma exige-se

72
precisão na posição das prumadas e das passagens (p.ex. pontos de
esgoto, conduítes apontados nas lajes) que interagem com as
divisórias. A não observância deste novo referencial de precisão irá
exigir ajustes (leia-se "gambiarras") no local, incompatíveis
conceitualmente com a montagem industrial. O ideal seria que também
os demais subsistemas não fossem moldados no local, como é a
pratica construtiva em países tais como os Estados Unidos e Japão.
Ainda, para maior eficácia do processo de produção, é necessária uma
compatibilização dimensional (coordenação modular) das divisórias
com a estrutura e demais subsistemas;

✦ Maior produtividade potencial da mão de obra em canteiro. O uso de


ferramentas especiais, componentes de grandes dimensões e técnicas
de acoplamento otimizadas reduz significativamente o consumo de
mão de obra. Estudos em outros países [8] indicam uma produtividade
em dobro, em relação a execução da vedação em alvenaria tradicional,
revestida em ambas as faces com argamassa. Isto tende a reduzir o
custo do item mão de obra, diminuir os prazos de execução, diminuir os
custos indiretos, otimizar a logística de obra, etc. A contrapartida é a
exigência de que todas as características analisadas neste item sejam
obedecidas para que a produtividade potencial seja efetiva. Ou seja,
não se pode ter ajustes, nem ociosidade por ausência de frentes de
trabalho, incompatibilidades nas precisões dimensionais, ausência de
compatibilização dimensional, etc.;

✦ Mão de obra especializada, mas com baixa exigência de habilidade


manual e “arte”. No entanto, para ser eficiente, um montador precisa de
alta qualificação profissional e, por isso, exige treinamento intenso. Em
outros países admite-se que para formar um oficial montador autônomo
são necessários cerca de 3 anos em treinamento integral e contínuo.
Um executor, trabalhando sob supervisão evidentemente não necessita
de tanto tempo. No entanto, para se obter o grau de eficiência que trará
vantagens econômicas, a montagem deveria ser feita somente por
oficiais montadores (que montam inclusive as instalações embutidas),

73
sem supervisão e sem ajudantes. Isto implica que a mão de obra tenha
grau de instrução compatível, o que pode ser um limitante na atual
estrutura de produção;

✦ Modulação flexível. A montagem com gesso acartonado permite


adaptação, ao contrário de outros sistemas de montagem (como por
exemplo com painéis pré-fabricados), a projetos arquitetônicos sem
qualquer modulação horizontal e vertical. Isto faz com que não exista
restrição de uso em projetos que não foram desenvolvidos
racionalmente, como é a prática comum no País. Por outro lado isto
pode conduzir a perdas de material (com recortes, maior número de
montantes, materiais de junta, etc,) e de mão de obra (principalmente)
muito significativas e que podem comprometer a viabilidade econômica
na prática. Ou seja, a flexibilidade de se adaptar é contraditória com o
conceito de montagem e, por não exigir projetos racionais, pode vir a
ser prejudicial para o uso disseminado da divisória de gesso
acartonado. Além disto, quando se fala de flexibilidade construtiva está
se falando também de ajustes ( e decisões) de obra, o que é um
contra-senso em termos de racionalização construtiva. Nesta situação
as outras características podem ser totalmente prejudicadas por esta
ajustabilidade (qualidade de permitir "gambiarras");

✦ Projeto de produção, planejamento operacional e gestão específicas.


Um processo de montagem industrial é, em termos organizacionais,
essencialmente diferente de uma moldagem. Para se obter a máxima
eficácia a gestão do processo deve ser coerente com o próprio
processo. Um planejamento inadequado pode comprometer totalmente
os resultados esperados. Estocar serviços sem necessidade, atrasar
serviços e provocar ociosidade da equipe de produção, perder serviços
já executados, fazer retrabalhos e ajustes não previstos, que são ações
comuns no processo tradicional (por deficientes projeto, planejamento e
gestão) irão ocorrer também com a montagem das divisórias se não
forem adotadas mudanças muito significativas no processo
organizacional. Vale lembrar que a seqüência de execução dos

74
subsistemas tem de ser alterada em função das características próprias
das divisórias, como por exemplo: o fechamento prévio dos vãos das
janelas com esquadrias, a execução prévia do telhado e a de não
permitir construções úmidas posteriores;

✦ Serviços mais limpos, menor dano a serviços já executados, menor


percentual de perdas e menor geração de entulho. As duas primeiras
características são sempre verdadeiras. Quando a montagem é feita a
partir de projetos de produção racionalizados específicos todas elas
são. No entanto, quando a situação é de elevada adaptabilidade, deve-
se questionar o problema da geração de entulho, pois mesmo inferior
em volume, deve-se lembrar que o valor deste em serviços de gesso
acartonado custa de 5 a 6 vezes o valor do entulho de alvenaria e
revestimentos (quando considerado o volume).

✦ Maior potencial de reduzir o tempo de construção e de induzir


mudanças potencialmente significativas no fluxo de caixa do processo
da construção. A maior velocidade de construção, a eliminação de
etapas de revestimento internos de paredes, posteriores à execução da
vedação e à eliminação de tempos de espera para cura e secagem das
alvenarias e revestimentos internos permitem reduzir o tempo de
construção sem provocar, com isto, problemas patológicos, como
ocorre quando se usa a alvenaria. A possibilidade de executar as
divisórias muito mais tarde em relação ao processo convencional
permite alterar favoravelmente o cronograma de desembolsos, de
modo a reduzir o montante das despesas financeiras;

♦ NÃO CONTRAVENTA A ESTRUTURA

A baixa rigidez e a maior resiliência das divisórias de gesso acartonado


permitem considerar que as mesmas não contraventam os pórticos e
elementos estruturais, como ocorre com as paredes de alvenaria, quando
as mesmas são monolitizadas à estrutura. O não-contraventamento
possibilita uma concepção estrutural mais precisa e uma melhor
previsibilidade do comportamento da estrutura com o tempo,

75
principalmente em relação às deformações, pois a modelagem utilizada
para dimensionar o sistema estrutural reticulado é coerente com a
existência de vedações de rigidezes não-significativas. Por outro lado, ao
não contraventar a estrutura esta dependerá apenas da rigidez dos seus
elementos e a rigidez decorrente do arranjo estrutural para resistir aos
esforços horizontais. Se o dimensionamento no Brasil atendesse sempre
às exigências normativas de estabilidade global esta característica da
divisória não seria importante, como não o é em outros países. No
entanto, infelizmente, presume-se que a grande maioria dos edifícios
projetados no Brasil não atendam a estas exigências e dependem do
contraventamento fornecido pela alvenaria para permanecerem estáveis e
íntegros, quando atuam esforços de vento. Por decorrência, presume-se
que a substituição da alvenaria pelas divisórias de gesso acartonado, se
analisada de uma forma tecnicamente correta, irá incrementar a
volumetria das estruturas de concreto e dificultar a disposição de vigas e
pilares de um grande número de edifícios, ao invés de diminuí-la.

♦ SUPERFÍCIE PLANA, COM TEXTURA LISA E DE ASPECTO MONOLÍTICO

Estas características das divisórias de gesso acartonado são responsáveis


por vários aspectos positivos associados à sua utilização. A superfície
plana permite dispensar as camadas de regularização para aplicação de
qualquer tipo de revestimento, inclusive revestimentos cerâmicos. A
textura lisa e uniforme permite a aplicação de revestimentos de
pequeníssima espessura, como os papéis de parede e de pintura direta
sem a necessidade de camadas de massa corrida. O aspecto monolítico é
responsável pela aparência visualmente idêntica da divisória em relação
as paredes de alvenaria revestidas. As duas primeiras características não
parecem ter uma contrapartida negativa . No entanto, o aspecto monolítico
pode "enganar" o usuário final e criar problemas sérios se este se sentir
ludibriado, por estar recebendo algo diferente do que imaginava que era.
Esta característica pode passar despercebida, por exemplo, em um
apartamento decorado, mas o construtor não deve ser levado a pensar
que pode adotá-la em substituição à alvenaria sem que tenha necessidade

76
de alertar claramente seus clientes sobre a natureza da vedação que
estará sendo empregada. Existem aspectos legais, culturais e sociais
envolvidos, pelo fato de ser divisória e não parede, que não devem ser
negligenciados.

♦ SENSIBILIDADE À UMIDADE

Esta característica, associada principalmente ao emprego do gesso e do


cartão superficial, mas também pelo uso de perfilados metálicos, é uma
das mais críticas da construção a seco com gesso acartonado. É esta
característica que impede a utilização das chapas em vedações de
fachada, limitando o seu emprego em divisórias de compartimentação e
separação. Mesmo internamente diversos problemas podem surgir e
comprometer o desempenho e a durabilidade das divisórias. A seguir
analisamos sucintamente os de maior relevância.

✦ Umidade relativa do ar permanentemente elevada no ambiente. O


cartão submetido a uma atmosfera com umidade relativa do ar
permanentemente próxima da saturação tende a desenvolver fungos.
Para evitar-se a formação de fungos deve-se proteger a superfície com
uma pintura de baixa permeabilidade ao vapor e ou com fungicida;

✦ Encontro piso-divisória em ambientes revestidos com pisos frios. Em


ambientes com baixa probabilidade de água de lavagem ou acidental
(p.ex. salas com pisos de pedra) a chapa de gesso acartonado deve
ser fixada com a borda inferior afastada de pelo menos um centímetro
acima do piso acabado, para evitar o risco da umidade, que
eventualmente pode estar presente no piso, ascender pela chapa e
danificá-la. Em pisos com probabilidade normal de lavagens constantes
deve-se fazer um detalhe que impermeabilize o encontro piso-divisória,
e utilizar a chapa verde (resistente à água). Além da chapa, o perfil em
contato com o piso não deve ser submetido à umidade pelo risco de
corrosão;

✦ Encontro divisória-parede externa. A parede externa pode


eventualmente umedecer-se por ação de infiltração de água de chuva.

77
Se o risco for significativo, deve-se prever um detalhe que garanta a
separação da chapa (junta de trabalho) e do montante da parede
externa

✦ Divisórias em contato com boxes, banheiras e bancadas de pia. Em


outros países esta é uma situação em que não se recomenda o
emprego de chapas de gesso acartonado, mesmo as resistentes à
água (verde), pelo alto risco quanto a durabilidade da divisória. Existem
chapas especiais, cimentícias, adequadas para esta situação e devem
ser previstas em projeto;

✦ vazamento acidental. É um dos calcanhares de Aquiles das divisórias


de gesso acartonado. A parede sendo oca dissimula o local do
vazamento, que tende a se difundir por uma grande extensão, até ser
identificado. Isto pode provocar danos irreparáveis em muitas paredes.
Deve-se analisar durante a fase de projeto a opção de instalações
hidráulicas em tubos contínuos flexíveis ou outra solução que minimize
os riscos. Sistemas de drenagem e alarme também são opções a
serem consideradas.

✦ Construção úmida após a execução da divisória. A execução de


revestimentos de argamassa (por exemplo, forros, contrapisos) após a
montagem das divisórias deve ser evitada pois, a umidade existente
nas argamassas pode danificar as chapas;

✦ Execução da divisória totalmente protegida da chuva. Para evitar o


comprometimento das divisórias pela ação da água de chuva,
recomenda-se que o início dos serviços se dê após o fechamento dos
vãos de janelas e a impermeabilização da cobertura (ou execução do
telhado) Isto impõe que este início se dê após o término do
revestimento de fachada (na situação em que se emprega o balancim
de catraca).

78
♦ VEDAÇÃO OCA E ESTRUTURADA POR PERFIS.

A existência de um vazio interno nas vedações em gesso acartonado tem


aspectos positivos e negativos. O principal aspecto positivo é a
possibilidade do embutimento racionalizado das instalações, sem quebras
e feito com maior produtividade. No entanto, este embutimento deve ser
bem administrado pois, cria-se uma interdependência entre os serviços
que pode comprometer a produção. Os aspectos negativos: Som oco,
quando a divisória é percutida. Quanto a isto nada pode ser feito, pois é
uma característica intrínseca da divisória. O usuário final deve ser
convencido de que isto não é um defeito. É uma questão de natureza
cultural e que precisa ser equacionada, com base em campanhas
publicitárias de esclarecimento. Os vazios internos podem se transformar
em ninho e esconderijo de insetos, como baratas, cupins e formigas. Os
detalhes construtivos devem impedir totalmente esta possibilidade. Como
analisada no item anterior os vazios internos podem se transformar em
caminho para difusão de vazamentos, com todos os problemas que isto
pode acarretar. A característica de emprego de perfis em "U" como
montantes e guias pode trazer algumas dificuldades que devem ser
equacionadas. Por exemplo, as guias não devem ser atravessadas por
canalizações e conduítes, porque isto, além de provocar interferências na
produção, que causam perda de produtividade, exigem uma maior
precisão dimensional no posicionamento daquelas canalizações. Os
montantes, em estruturas muito deformáveis, precisam ser telescópicos,
pois se forem comprimidos pela deformação lenta das lajes poderão
flambar e provocar trincas no fechamento. Os montantes que se fixam às
paredes de alvenaria precisam ser isolados com bandas acústicas para
permitir um adequado isolamento acústico

♦ DIVISÓRIA DESMONTÁVEL, LEVE, BAIXO VOLUME DE MATERIAL

O conceito de desmontável é o de poder ser desmontada com pouca


degradação, sem gerar grande quantidade de entulho e de poder ser
remontada com substituição de apenas algumas peças. Com as divisórias
de gesso acartonado isto nem sempre é possível, pois devido à fragilidade

79
das chapas normalmente ocorre uma quase que total degradação. No
entanto, o volume de entulho gerado é significativamente menor. Para
poder retirar uma divisória sem causar problemas os forros e contrapisos
devem estar nivelados. Ou seja, eles devem ser executados antes das
divisórias, como é a recomendação geral. Ser leve significa menor
quantidade de carga morta, que é um aspecto positivo quando se pensa
na estrutura suporte (fundações, p. ex.). O contraponto é que o isolamento
acústico contra sons aéreos, que depende da massa da divisória, é muito
prejudicado. Para adequar as divisórias às exigências do usuário estas
devem ter componentes, como camadas de isolantes acústicos e bandas
sônicas, que garantam um desempenho aceitável. Ter baixo volume de
material traz vantagens em termos de transporte e estocagem. No entanto
as chapas de pequena espessura têm, por isto, baixa resistência.
Cuidados especiais devem ser tomados para solucionar em projeto as
eventuais deficiências em termos de suporte de cargas suspensas,
resistência à impactos e ao corte em intrusões (arrombamento).

♦ PROPRIEDADES COM GRANDE AMPLITUDE DE VARIAÇÃO

O desempenho das divisórias de gesso acartonado é muito variável


(inclusive a durabilidade) e muito dependente das técnicas executivas, da
tipologia da divisória, do uso e manutenção que dela se fará e das
condições de contorno. A característica de poder projetar divisórias com
montantes e chapas duplas ou simples, com ou sem o enchimento dos
vazios por isolantes, com variados tipos de chapas (normal, resistentes à
água e ao fogo, de diversas espessuras), utilizar inúmeros tipos de massa
e tela de junta e uma grande quantidade de acessórios, tem um aspecto
muito positivo, pois é possível obter-se uma divisória com o desempenho
que se deseja. Ou seja, a grande amplitude de variação nas propriedades
que é possível de ser obtida traz grande flexibilidade de escolha. Mas,
obriga também que, quem compra, quem específica e quem vai utilizar o
produto tenham domínio da tecnologia para não comprarem "gato por
lebre", e trazem embutidos maiores riscos para o consumidor.

80
5. VANTAGENS POTENCIAIS DAS DIVISÓRIAS DE GESSO ACARTONADO
EM RELAÇÃO ÀS PAREDES DE ALVENARIA

No quadro 2 estão listadas as principais vantagens atribuídas, pelos fabricantes


de chapas, às divisórias de gesso acartonado em relação à parede de alvenaria.
Será feita uma análise destas vantagens relacionando-as porém, apenas com as
edificações de múltiplos pavimentos, com estrutura reticulada de concreto
armado, que é a atual prática construtiva no País. Mais especificamente com as
edificações residenciais multifamiliares e de serviços (hotelaria e escritórios).

Na análise foi considerada, como referência para comparação, a alvenaria


racionalizada (executada a partir de um projeto de produção e com alta
produtividade na execução e precisão dimensional, quando comparada à
alvenaria tradicional), pois as vantagens potenciais das divisórias de gesso
acartonado possuem maior probabilidade de serem efetivadas em obras que
tenham uma produção um pouco mais racionalizada que o tradicional canteiro de
obras artesanal.

QUADRO 2 - Vantagens Alegadas pelos Fabricantes de Chapas de Gesso


Acartonado das Divisórias em Relação às Paredes de Alvenaria

♦ Ganho de área

♦ Menor peso

♦ Facilidade de execução de instalações embutidas

♦ Desempenho acústico

♦ Superfície lisa e precisa

♦ Facilidade de manutenção das instalações

♦ Rapidez, acelera cronograma, reduz prazo

♦ Vantagens econômicas.

81
♦ GANHO DE ÁREA

A divisória interna para compartimentação de ambientes (dentro de uma


unidade) é a única que tem normalmente uma espessura menor que a da
alvenaria racionalizada. A mais recomendada pelos fabricantes de gesso
acartonado é a de 7,2 cm contra 10,5 cm da alvenaria revestida com
gesso liso. Tem-se, com a substituição da alvenaria pela divisória de
gesso acartonado, um ganho de área de 3% em apartamentos
residenciais (nos quais a divisória de compartimentação representa cerca
de 40% de todas as vedações verticais) e inferior a 1% em outros tipos de
edifícios. Este ganho nos empreendimentos residenciais pode não
representar, em termos comerciais, uma vantagem, pois normalmente
vende-se a área útil, que inclui as paredes e não a área de piso (ou de
carpete), que é a que aumenta com o uso das divisórias. No entanto, pode
ser utilizado como argumento de marketing pela incorporadora imobiliária.
Em apartamentos de área muito reduzida pode ser uma vantagem
importante por viabilizar alguns leiautes de difícil realização.

♦ MENOR PESO

A redução de massa pode representar em edifícios residenciais de 5 a 7%


do total. Isto representa uma significativa vantagem para o
dimensionamento das fundações. No entanto, a alegada vantagem de
alívio de carga na estrutura com a conseqüente redução da volumetria da
própria estrutura, induzindo uma redução de custo desta, não deve ser
absolutamente admitida. Não no Brasil, que por diversas razões tem
praticado estruturas extremamente esbeltas e deformáveis [9], ao
contrário da Europa e Estados Unidos. Estima-se que hoje a espessura
média de nossas estruturas corriqueiras sejam de 30 á 50% inferiores as
que são executadas nos países que utilizam intensivamente as divisórias
de gesso acartonado. Ao contrário do que se imagina, a retirada da
alvenaria de contraventamento necessariamente deverá ser compensada
pela utilização de estruturas mais rígidas, o que na maioria dos casos irá
significar estruturas de maior volumetria.

82
♦ FACILIDADE DE EXECUÇÃO DE INSTALAÇÕES EMBUTIDAS

Quanto à execução de instalações elétricas de distribuição não resta


dúvida ser esta uma vantagem. A instalação dos conduítes e caixas de luz
pode ser feita sem danos, de uma forma racionalizada e produtiva. No
entanto, para que não ocorram interferências conflituosas entre sub-
contratantes, que possam prejudicar o planejamento físico, a instalação
elétrica deve ser feita pelo oficial montador da divisória (como é a prática
em outros países), pois ele não pode fechar a divisória sem que a
distribuição de conduítes esteja completada. Um outro aspecto a
considerar é de que ainda não se dispõe no mercado dos sistemas de
caixa de luz adequados para a divisória de gesso acartonado, o que
prejudica um pouco esta vantagem. Quanto ao embutimento das
instalações hidráulicas está é uma vantagem ainda potencial, não se
realizando na prática, na maioria das situações, por diversos aspectos. Os
principais são: falta (não fabricação no Brasil) de sistemas de distribuição
de água adequados; interferências entre subcontratantes muito
conflituosas; risco de vazamentos altos (devido aos dois aspectos
anteriores) em situação de "água em parede oca" ; inexistência ou
inadequação de louças e complementos para otimização do embutimento;
aspectos projetuais (p. ex. espessura de paredes adotadas) e construtivos
(impermeabilização, contrapiso, etc.) ainda não adaptados, além de
aspectos culturais relacionados com as soluções adotadas em outros
países para facilitar o embutimento das instalações hidráulicas. Algumas
construtoras estão adotando, em vista de todas estas dificuldades, que se
transformam em desvantagem para a divisória de gesso acartonado, a
retirada total das instalações de distribuição da divisória adotando
soluções próprias e mais racionalizadas.

♦ DESEMPENHO ACÚSTICO

Na realidade a vantagem é a de que as divisórias permitem uma grande


variação no desempenho acústico (flexibilidade) sem ganhos significativos
na espessura da vedação e sem maiores complexidades para a execução.
As soluções existentes foram desenvolvidas justamente para compensar o

83
desempenho acústico inferior das divisórias simples em relação à parede
de alvenaria. Evidentemente as divisórias acusticamente eficientes tem
maior custo e demandam maiores cuidados no detalhamento e execução.
Nas fases de projeto, contratação e execução dos serviços estes cuidados
devem ser seguidos para a obtenção de um desempenho aceitável.

♦ SUPERFÍCIE LISA E PRECISA.

Esta é uma vantagem indiscutível. Para a obtenção da mesma


regularidade superficial na alvenaria de vedação revestida são
necessários diversos serviços, todos eles dependentes de mão de obra
qualificada e materiais adequados para obter-se uma qualidade superficial
que é inerente à divisória. Apesar disto, esta é uma vantagem ainda mal
aproveitada no País, pois não é pratica a utilização de revestimentos de
pequeníssima espessura, como os papéis de parede, que exigem como
condição básica o grau de regularidade superficial proporcionada pelas
divisórias de gesso acartonado. Outro aspecto é que existem no mercado
chapas de gesso com qualidade superficial não padronizada, sendo que
algumas exigem aplicação de massa corrida para se obter o resultado
desejado.

♦ FACILIDADE DE MANUTENÇÃO DAS INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS

Esta é uma outra vantagem duvidosa no País e muito discutível do ponto


de vista sistêmico. Apesar de ser mais fácil e simples recortar a chapa,
consertar o vazamento e recompor a divisória do que cortar a parede de
alvenaria, na prática não é tão simples. Isto porque: normalmente tem-se
azulejos sobre a placa e o dano à vedação pode ser de igual monta; no
Brasil não há tradição do “do yourself”, que é a razão da alegada
vantagem (é algo mais simples justamente para quem não é profissional)
e os profissionais que fazem manutenção não deverão fazer diferenciação
na hora de cobrar por seus serviços em decorrência desta facilidade. Do
ponto de vista sistêmico, com a parede oca pode ser muito mais difícil a
localização do vazamento e o dano à vedação ser muito maior,
dificultando e não facilitando a manutenção. Deve-se lembrar ainda que as

84
instalações deverão ser testadas antes do fechamento da divisória, o que
implica mudanças no planejamento e administração da interdependência
entre dois serviços e dois sub-contratantes.

♦ RAPIDEZ, ACELERA CRONOGRAMA, REDUZ O PRAZO DE CONSTRUÇÃO.

Quando o projeto e o planejamento forem totalmente adequados ao uso


das divisórias de gesso acartonado esta é uma vantagem real e muito
significativa. Evidentemente, quando a diminuição dos prazos de
construção é uma exigência (nem sempre o é). Para obter esta vantagem
são necessárias mudanças organizacionais que permitam adequar os
projetos e o planejamento ao uso destas divisórias. A maior vantagem
está em permitir a mudança no cronograma de desembolso em uma obra
com o prazo pré-definido (adequado para o uso da alvenaria), trazendo
vantagens financeiras.

♦ VANTAGENS ECONÔMICAS

Com a utilização de uma nova tecnologia não se deve analisar, do ponto


de vista econômico, apenas a vantagem mais evidente da troca pura e
simples: R$/m² de um versus R$/m² de outro. Se a análise for feita assim
e considerarem-se produtos de igual desempenho a vantagem econômica
tenderá a continuar pendendo, no Brasil, para a alvenaria.

Mas esta é uma forma equivocada de analisar o problema. A divisória leve


de gesso acartonado é uma etapa da montagem industrial de edifícios. Se
o processo de produção aproveitar esta sua característica e adequar-se
integramente a ela, as vantagens econômicas irão se realizar em todo os
demais subsistemas e não apenas nas vedações internas. E,
principalmente, irão ocorrer na gestão do processo (redução de despesas
indiretas, na empresa e no canteiro) e as decorrentes de um cronograma
específico (postergação de despesas, p. ex.).

85
6. LIMITAÇÕES E DIFICULDADES DO USO DE DIVISÓRIAS DE GESSO
ACARTONADO NO BRASIL

As divisórias leves de gesso acartonado seguramente tem um mercado na


construção civil de edificações. Mais do que desvantagens, esta tecnologia tem
limitações de emprego. Não é uma solução universal, como também não o é a
alvenaria. Como foi visto nos dois itens anteriores ela tem características e
vantagens potenciais que definem seu campo de emprego.

Para conseguir ocupar o mercado, no qual seria a alternativa mais vantajosa,


tem-se que suplantar as limitações e dificuldades hoje existentes. No quadro 3
listamos as principais limitações atuais para a disseminação de uso desta
tecnologia no País. Algumas das limitações são relativamente simples de serem
suplantadas, pois dependem de decisões técnicas e operacionais. Outras, mais
difíceis, dependem de mudanças culturais e da postura empresarial dos setores
envolvidos.

QUADRO 3 - Limitações e Dificuldades do Uso de Divisórias de Gesso Acartonado no


Brasil

♦ Deformabilidade das estruturas de concreto


♦ Deficiente interação com os subsistemas instalações prediais, esquadrias e
revestimentos e dependência da fabricação e comercialização no Brasil de
complementos e acessórios
♦ Ausência de normas de desempenho e de requisitos de desempenho para
vedações no País
♦ Dependência de profissionais habilitados em todos os níveis
♦ Dependência de mudanças na qualidade do processo de produção dos demais
subsistemas
♦ Dependência de mudanças organizacionais nos processos de gestão de
empreendimentos e de produção
♦ Dependência da fabricação e comercialização no Brasil de complementos e
acessórios
♦ Cultura dos usuários em relação às vedações internas
♦ Comercialização de sistemas de produto e não de soluções construtivas

86
♦ DEFORMABILIDADE DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

As divisórias de gesso acartonado devem absorver, sem ruptura visível,


as deformações impostas pela estrutura suporte. No Brasil as estruturas
de concreto armado apresentam características diferentes das existentes
na Europa e Estados Unidos. Genericamente, são estruturas mais
esbeltas, com deformações lentas de maior amplitude e com elementos de
menor rigidez. Do comportamento recente das estruturas de concreto em
edifícios multipavimentos [9] infere-se que as deformações poderão vir a
suplantar as máximas admitidas pelas divisórias em um grande número de
edifícios. Principalmente, se for levado em conta no dimensionamento o
alívio de carga proporcionado pelas divisórias e se não forem
adequadamente consideradas as exigências de estabilidade global. A
ocorrência de patologias então poderá dificultar em muito a disseminação
do uso da tecnologia.

♦ DEFICIENTE INTERAÇÃO COM O SUBSISTEMA INSTALAÇÕES PREDIAIS,


ESQUADRIAS E REVESTIMENTOS E DEPENDÊNCIA DA FABRICAÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO NO BRASIL DE COMPLEMENTOS E ACESSÓRIOS

Para promover uma adequada interação com os demais subsistemas, que


resulte em reais vantagens econômicas e de desempenho para o
construtor e para os usuários do edifício são necessários diversos pré-
requisitos, muitos deles ainda não disponíveis ou não praticados. Por
exemplo: componentes e acessórios para instalações embutidas;
esquadrias de porta específicas; soluções de revestimentos em áreas
molhadas adequadas; soluções que minimizem os riscos de vazamentos
acidentais, etc. Muitos dos componentes e das soluções construtivas
adotadas recentemente têm provocado problemas patológicos não
previstos, limitado a produtividade na montagem e criado interferências e
conflitos indesejáveis, limitando a difusão e dificultando a aceitação das
divisórias.

87
♦ AUSÊNCIA DE NORMAS DE DESEMPENHO E DE REQUISITOS DE DESEMPENHO
PARA VEDAÇÕES NO PAÍS

O Brasil não dispõe de normas em quantidade e conteúdo adequados que


avalizem o desempenho de processos construtivos inovadores e não tem,
salvo quanto a alguns aspectos isolados, requisitos que parametrizem o
desempenho destes processos. Isto permite que novas tecnologias
concorram de forma desigual entre si e possibilita que produtos de baixo
desempenho sejam comercializados sem restrições legais. Esta situação
tem provocado, ao longo dos últimos trinta anos, que processos
potencialmente de bom desempenho, como é o caso das divisórias de
gesso acartonado, sejam prejudicados pela ação de empresas
inescrupulosas que, aproveitando-se das deficiências normativas, colocam
no mercado produtos problemáticos que acabam deteriorando a imagem
da nova tecnologia. Este é um risco hoje existente para as divisórias e se
não for adequadamente conduzido poderá dificultar a difusão das mesmas
no mercado.

♦ DEPENDÊNCIA DE PROFISSIONAIS HABILITADOS EM TODOS OS NÍVEIS

No Brasil as dificuldades de formação profissional de operários para a


construção civil são bastante conhecidas e a escolaridade destes
operários é muito baixa. A habilitação profissional legal (reconhecida e
controlada por uma instituição) inexiste. A formação continuada de
engenheiros e arquitetos é ínfima. O aproveitamento de técnicos de
edificações e tecnólogos praticamente não ocorre. Neste cenário, sem
dúvida, a necessidade que os processos de construção seca têm de
profissionais habilitados em todos os níveis, está desde já comprometida.
Com investimentos em treinamento é possível suplantar gradativamente
algumas destas deficiências, mas é um processo lento e complexo. Isto
impõe um desenvolvimento mercadológico a baixa velocidade e de altos
custos, para que sejam evitados prejuízos indesejáveis à imagem da
divisória de gesso acartonado, dificultando evidentemente sua
disseminação.

88
♦ DEPENDÊNCIA DE MUDANÇAS NA QUALIDADE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO
DOS DEMAIS SUBSISTEMAS

Como foi analisado anteriormente, para haver coerência sistêmica no


processo de produção e qualidade final do edifício, tem-se de obter uma
qualidade nas etapas que antecedem a execução das divisórias, coerente
com as características relacionadas com o processo de montagem
industrial. Infelizmente, salvo ilhas de exceção, a construção civil brasileira
tem enormes deficiências na produção de estruturas, alvenarias,
revestimentos argamassados e instalações embutidas na estrutura. Esta
situação dificulta a obtenção das vantagens econômicas possíveis e
poderá limitar, enquanto as mudanças não ocorrerem de forma ampla, a
difusão do uso das divisórias de gesso acartonado.

♦ DEPENDÊNCIA DE MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS NOS PROCESSOS DE GESTÃO


DE EMPREENDIMENTOS E DE PRODUÇÃO.

Esta dependência foi também analisada anteriormente. As vantagens


econômicas potenciais do uso das divisórias leves estão atreladas a um
ganho de produtividade significativo na execução das mesmas. E este
incremento de produtividade é muito dependente de aspectos
relacionados com o projeto, o planejamento e a gestão tanto do
empreendimento como da produção do edifício [10]. Por exemplo, um
projeto que não considera as características intrínsecas das divisórias
nem promove a interação dos subsistemas com elas, pode comprometer
totalmente a produtividade esperada. Sem promover estas mudanças
corre-se o risco de que muitas construtoras venham a desistir de utilizar
em um novo empreendimento a tecnologia, após experimentá-la.

♦ CULTURA DOS USUÁRIOS EM RELAÇÃO ÀS VEDAÇÕES INTERNAS

A cultura no Brasil, em relação às vedações, é herdada da Europa,


baseada na parede maciça e monolítica de alvenaria, principalmente em
habitações. Trazida pelos imigrantes europeus, esta cultura incorporou-se
totalmente à prática construtiva do País, de tal forma que as construções
leves, como as de madeira, são marginalizadas pela legislação vigente. A
não aceitação pelo usuário da parede não maciça pode estar relacionada

89
com a falta de segurança que se associa às construções leves ou com a
sua aparente fragilidade. Evidentemente a cultura de uma sociedade pode
ser modificada, pois ela é dinâmica e sofre influências dos usos e
costumes de outros povos, principalmente na era da aldeia global. Mas,
para isto ocorrer são necessários investimentos constantes e demanda
tempo. Esta é uma barreira suplantável mas, para que isto ocorra, todos
os setores interessados na implantação das divisórias de gesso
acartonado devem investir na mudança cultural.

♦ COMERCIALIZAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUTO E NÃO DE SOLUÇÕES


CONSTRUTIVAS

Como foi analisado na introdução, um dos fatores que promove o atual


interesse pela construção seca é a demanda do mercado por soluções
construtivas completas, com garantia dada pelo fornecedor destas
soluções do que for construído, e não apenas dos materiais e
componentes. Apesar dos fornecedores de chapas de gesso acartonado
afirmarem que vendem sistemas, na prática não existe a garantia dada por
estes ao mercado, e por ninguém, do preço, prazo e qualidade da solução
alternativa. A construtora ou o incorporador continua assumindo sozinho
todo o risco dos problemas futuros e das promessas não materializadas. O
que os fabricantes comercializam são sistemas de produto (conjunto de
materiais, componentes e técnicas para a construção de uma parte da
edificação que se complementam e suprem as necessidades de execução
da mesma) e não soluções construtivas (sistemas de produção). Na
opinião do autor, o não atendimento das exigências de mercado, na forma
como elas são demandadas, é uma das mais importantes, se não a mais
importante, barreira para a disseminação no mercado das divisórias de
gesso acartonado.

90
7. PROJETO E MONTAGEM DE DIVISÓRIAS DE GESSO ACARTONADO -
ASPECTOS IMPORTANTES A SEREM OBSERVADOS

Toda tecnologia de produção deve ser evolutiva e tem múltiplos estágios. No


caso das divisórias de gesso acartonado, a Europa e os Estados Unidos estão
décadas à frente do Brasil. Com certeza passaram por diversos estágios
evolutivos até atingir o atual estágio tecnológico. Os setores de projeto e de
produção de edifícios tem domínio de todas as particularidades do emprego
desta e de outras tecnologias. Conhecem as suas limitações, dominam as
soluções de caráter sistêmico, sabem e fazem a necessária integração entre as
divisórias e os demais subsistemas do edifício. O mercado sabe analisar as
alternativas tecnicamente. Existem normas, regulamentos e leis que induzem às
soluções mais adequadas, protegem o consumidor e balizam o mercado.
Existem estruturas de certificação profissional eficientes e de certificação de
sistemas há muito tempo estabelecidas. Existem mecanismos naquelas
sociedades que dão garantia e equilibram os interesses de todos os
intervenientes, como o seguro desempenho ou as instituições de controle de
qualidade da construção.

Infelizmente quase nada disto existe ainda no Brasil. Para que as divisórias
sejam corretamente empregadas no País, as empresas, a estrutura de produção,
o próprio mercado terão de evoluir.

Aqueles que pretendem hoje utilizar-se desta tecnologia têm que compreender
que existem riscos e que estarão sendo pioneiras em um processo evolutivo
absolutamente necessário para o País. No entanto, as empresas não devem
acreditar que todos os problemas já foram equacionados. É provável que o
tenham sido nos países de origem desta tecnologia, mas pelo exposto acima,
devem compreender que muito ainda precisa ser feito para equacioná-los no
Brasil.

Nos manuais técnicos dos fabricantes [11,12,13] e na publicação [14] as técnicas


de montagem são adequadamente apresentadas e não cabe aqui reproduzí-las.
Recomenda-se que sejam consultadas e questionadas por todos aqueles que
irão fazer uso desta tecnologia.

91
Nos itens 4,5 e 6 procurou-se analisar as principais características e limitações
das divisórias de gesso acartonado, de modo a subsidiar a decisão daqueles que
pretendam utilizar-se desta tecnologia. Indiretamente analisou-se os aspectos
mais importantes que devem ser questionados no projeto, na contratação dos
serviços e na montagem das divisórias de gesso acartonado, para que o seu
emprego traga os resultados esperados.

8. PERSPECTIVAS FUTURAS DE USO NO BRASIL

Os sistemas de construção a seco, especificamente o sistemas de produção de


divisórias de gesso acartonado, potencialmente, apresentam vantagens
importantes e significativas em relação às técnicas tradicionais na construção de
edifícios de múltiplos pavimentos.

Isto implica em que, pelo menos potencialmente, tendem a ocupar um


importante espaço na construção formal. No setor de edifícios de serviço, como
por exemplo, os de escritórios, hospitalares, escolares e hoteleiros, com grandes
probabilidades de sucesso, o que significa tornarem-se a primeira opção
construtiva para as vedações verticais internas destes edifícios. No setor de
edifícios residenciais, frente às vantagens potenciais se contrapõem muitas
limitações e as incertezas quanto à disseminação de seu uso futuro são maiores.

A grande incerteza em relação ao uso da divisória leve no Brasil é quanto ao


mercado informal, que em volume de construções é o grande mercado. Com
certeza este mercado não será ocupado a curto prazo. No entanto, como o
questionamento a respeito não cabe nos objetivos deste trabalho, nem nos do
simpósio, ele deverá ser tratado em um outro fórum.

Os maiores riscos que atualmente comprometem a consolidação no futuro do


uso desta tecnologia, no Brasil, estão relacionados com:

• Deficiente desenvolvimento tecnológico dos sistemas de produção.


Inovações tecnológicas neste campo somente se inserem e se consolidam na
construção civil de um país quando passam por um desenvolvimento
tecnológico que promova a sua adequação à cultura, à economia e às

92
exigências da sociedade e às características e cultura do setor [15,16]. Este
desenvolvimento está quase todo ainda por ser feito. Entre os riscos
decorrentes desta situação de precário domínio tecnológico estão o
surgimento de sérios problemas patológicos nos edifícios;

• As dificuldades de ocorrerem mudanças sistêmicas na construção civil,


necessárias para o equacionamento de muitas das limitações analisadas. Um
número ainda reduzido de empresas do setor já começam a praticar
mudanças internas, mas analisando-o como um todo são mudanças ainda
incipientes;

• A estratégia mercadológica de alguns dos fornecedores de chapas de gesso


acartonado, que não conseguiram ainda compreender as necessidades e
características da construção civil local e do próprio mercado. Características
que fazem do mercado brasileiro ser tão diferente quando comparado a
outros, nos quais estas empresas vêm atuando.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Divisórias leves


internas moduladas: terminologia. Rio de Janeiro, ABNT, 1990. TB-
384.

[2] SABBATINI, F.H. Tecnologia de vedações verticais. Anotações de aula.


São Paulo, EPUSP/PCC , 1997. Não publicado.

[3] A CONSTRUÇÃO SÃO PAULO. Com gesso, uma casa em 20 dias. A


Construção São Paulo. São Paulo, n.1366, p.14-16, 1974.

[4] A CONSTRUÇÃO SÃO PAULO. O desempenho das chapas de gesso na


construção. A Construção São Paulo. São Paulo, n.1465, p.29-32, 1976.

[5] SOUZA, J.C.S., ARAÚJO, L.O.C. Desenvolvimento e inovação no


processo de produção das vedação verticais dos edifícios: as vedações
de gesso acartonado. Seminário da disciplina PCC-5040: Desenvolvimento
e Inovação Tecnológica na Produção de Edifícios. São Paulo, EPUSP/PCC ,
1998. Não publicado.

[6] SOUZA, M. O melhor dos iguais. Construção São Paulo. São Paulo, n.2309,
p.4-7, 1992.

93
[7] CORBIOLLI, N. Crescimento geométrico. Construção São Paulo. São
Paulo, n.2502, p.10-11, 1996.

[8] NAVON, R., CARMEL, D., BENTUR, A. Economic comparison between


drywall and conventional Partitions. Journal of Architectural
Engineering - ASCE. New York, v.2, n.4, 1996.

[9] SABBATINI, F.H. As fissuras com origem na interação vedação-estrutura.


Anais deste seminário.

[10] SABBATINI, F.H. A industrialização e o processo de produção de


vedações: utopia ou elemento de competitividade empresarial. Anais
deste seminário.

[11] LAFARGE GYPSUM. Manual técnico dos sistemas Lafarge Gypsum de


paredes e forros. São Paulo, 1996.

[12] PLACO DO BRASIL. Manual sistemas Placostil. São Paulo, s.d.

[13] KNAUF DO BRASIL. Sistemas de construção a seco Knauf. Rio de


Janeiro, s.d.

[14] MITIDIERI FILHO, C.V. Como construir: Paredes em chapas de gesso


acartonado. Téchne. São Paulo, n. 30, 1997.

[15] SABBATINI, F.H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas


construtivos - formulação e aplicação de uma metodologia. São
Paulo, 1989. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo.

[16] BARROS, M.M.B.B. Metodologia para implantação de tecnologias


construtivas racionalizadas na produção de edifícios. São Paulo,
1996. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo.

94
O DESEMPENHO ESTRUTURAL E A DEFORMABILIDADE DAS
VEDAÇÕES VERTICAIS

Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco


lsfranco@pcc.usp.br

1. INTRODUÇÃO

A maior competitividade do mercado de construção de edifícios, nos últimos


anos, tem levado as empresas a buscarem inovações tecnológicas. Estas
inovações podem ser observadas desde a escolha dos materiais e técnicas
construtivas, até a concepção do edifício.

As vedações verticais possuem importância estratégica na implantação da


racionalização na produção dos edifícios. Além de condicionar fortemente o
desempenho do edifício, sua posição, que possui interfaces com os
revestimentos, esquadrias, instalações prediais, impermeabilizações e estrutura,
faz com que sua otimização seja fundamental para a racionalização do edifício
como um todo.

Assim, os ganhos advindos da racionalização da vedação vertical não são só


obtidos na execução das paredes ou painéis, mas também de todos os
subsistemas que lhe fazem interface. Estas interfaces, por outro lado, quando
mal resolvidas são fontes constantes de desperdícios, retrabalho e de problemas
patológicos.

Muitas empresas do mercado têm percebido a importância da vedação vertical e


vêm investindo em mudanças neste subsistema, muitas vezes associadas a
mudanças nos demais subsistemas do edifício.

Assim, em pouco tempo, a construção civil, acostumada a produzir estruturas


reticuladas de grande rigidez e utilizar alvenarias tradicionais, passou a produzir
estruturas com maior esbeltez e utilizar diferentes materiais e processos
produtivos para a execução da vedação vertical.

95
Muitas vezes, entretanto, esta substituição é feita sem a necessária visão
sistêmica levando muitas vezes a alterações que, ao invés de trazer benefícios
para a construção e seus usuários, é origem de problemas patológicos.

As vedações verticais têm como função principal a proteção dos ambientes


contra os agentes agressivos externos. À esta função, está associado o
cumprimento de requisitos de desempenho, cujos principais encontram-se
listados na tabela 1.

Tabela 1 – Requisitos de Desempenho e Características Funcionais das


Vedações Verticais.

REQUISITOS DE DESEMPENHO CARACTERÍSTICAS


FUNCIONAIS
• Segurança estrutural • Resistência mecânica

• Isolação térmica • Deformabilidade

• Isolação acústica • Estabilidade dimensional

• Estanqueidade • Propriedades térmicas

• Segurança ao fogo • Resistência à transmissão sonora

• Estabilidade • Resistência ao fogo

• Durabilidade • Resistência a penetração de água

• Estética • Resistência a agentes agressivos

• Economia • Custos adequados de produção e


manutenção

Para cumprir suas funções, os elementos e componentes constituintes da


vedação vertical devem possuir um conjunto de características que atendam aos
requisitos propostos em cada situação. As principais características funcionais
associadas aos requisitos de desempenho, que devem ser apresentadas pelas
vedações verticais são também mostradas na tabela 1.

O conceito de desempenho estende a análise das características dos


componentes da vedação vertical de sua quantificação absoluta, para o estudo

96
do comportamento destes componentes no conjunto da vedação e no conjunto
de todos os demais componentes e subsistemas do edifício.

Assim, por melhor que sejam as características intrínsecas de um material,


mesmo que estas atendam a critérios da normalização técnica, a sua forma de
aplicação e o relacionamento com os demais subsistemas do edifício
condicionarão o seu desempenho futuro.

Em cada situação o nível de exigência para cada requisito é diferenciado. As


mudanças ocorridas na forma de conceber as estruturas e a aplicação dos novos
materiais têm aumentado a importância da deformabilidade, elasticidade ou
capacidade de acomodar deformações, por um lado e da resistência mecânica
por outro, mesmo para os elementos construtivos empregados apenas como de
vedação, para fazer frente às novas condições de deformação impostas pelas
estruturas de concreto armado.

2. DEFORMAÇÕES IMPOSTAS ÀS VEDAÇÕES VERTICAIS

Tem-se encontrado, com uma freqüência cada vez maior, patologias nas
vedações verticais dos edifícios. A princípio, isto pode parecer um contra-senso,
frente à evolução tecnológica por que está passando o sistema de vedações
verticais. Estes problemas não são provenientes das novas tecnologias em si,
mas da mudança de cenário que vem ocorrendo nas construções nos últimos
anos.

Entre os problemas patológicos, uma parcela cada vez mais significativa é


causada pela incompatibilidade das condições de deformação das estruturas,
em comparação com a capacidade de acomodar deformações e resistência das
vedações verticais.

Vários fatores têm contribuído para o aumento do nível de deformação das


estruturas de concreto armado.

A concepção das estruturas de concreto armado tem evoluído muito nos últimos
anos. O desenvolvimento de ferramentas, principalmente computacionais, que
permitem uma modelagem mais precisa das estruturas e a utilização de

97
materiais especiais como os concretos de alto desempenho, tem possibilitado a
concepção de estruturas com arranjos diferenciados, como a utilização de lajes
planas, tipo “cogumelo”, com elementos cada vez mais esbeltos e grandes vãos.

Na concepção estrutural, o arranjo dos elementos da estrutura, muitas vezes


contempla unicamente o atendimento de critérios voltados ao seu funcionamento
como estrutura, mas não das outras partes do edifício, como os vedos e as
esquadrias. Assim, a incorporação de elementos em balanço, transições, apoios
de pouca rigidez, solidarizações parciais, podem ser suficientes para atender aos
critérios de funcionamento da estrutura, mas não dos elementos que a utilizam
como apoio.

As hipóteses assumidas no dimensionamento e na previsão das deformações da


estrutura, como os valores de módulo de deformação não são, normalmente,
verificadas pelo controle tecnológico de produção, podendo ter valores muito
inferiores àqueles previstos. Modelos de previsão de deformações que levassem
em consideração o enrijecimento proporcionado por componentes de outros
subsistemas tais como as paredes, ou ainda que considerassem a diminuição de
rigidez das seções das peças de concreto armado, causada pelo estado de
fissuração em trabalho, seriam bastante complexos e ainda não viáveis para o
emprego corriqueiro. As simplificações assumidas nos modelos de
dimensionamento levam, muitas vezes, a previsões não realísticas da
deformação dos elementos.

De forma geral, são empregadas nestas novas estruturas os mesmos critérios e


limites de deformação que tradicionalmente eram empregados nas estruturas
convencionais. Estes critérios são adequados para o desempenho da estrutura
em si, tanto em termos de resistência e estabilidade, como de deformações. Na
sua concepção e modelagem entretanto, raramente são levadas em
consideração as limitações que a vedação vertical impõe à estrutura, nem a
alteração de comportamento da estrutura induzida por elementos de grande
rigidez, como as paredes de alvenaria, que interagem com estas estruturas,
absorvendo parcelas significativas dos carregamentos que, a princípio, caberiam
à estrutura suportar.

98
Os limites estabelecidos pela norma brasileira utilizada como parâmetro por
projetistas é da limitação das flechas dos elementos estruturais em L/300 ou
L/500. Estes níveis de deformação entretanto são incompatíveis com a grande
maioria dos sistemas empregados para a vedação vertical. Isto pode ser
observado em uma série de ensaios realizados tanto nas estruturas de edifícios,
como em laboratório, por ocasião de um convênio de desenvolvimento
tecnológico realizado na EPUSP (1994).

Figura 1 – Ensaios de deformação da estrutura de concreto armado

Os ensaios realizados em campo, consistiam basicamente em provas de carga,


realizadas em lajes de edifícios de múltiplos pavimentos. Na figura 1 é
apresentado um esquema simplificado da montagem deste ensaio. Um sumário
com os resultados pode ser encontrado na Tabela 2. Nas três situações
descritas nesta tabela, pode-se observar o apoio das paredes de alvenaria, em
lajes com aproximadamente 50 m2, sendo as paredes construídas no centro da
laje, sobre um vão total de cerca de 7 m. Nestes ensaios, foi-se acrescentando
cargas às lajes sobre a alvenaria em análise, e foram sendo medidas as
deformações nas lajes, resultantes dos carregamentos aplicados. O

99
comportamento das paredes era observado quanto ao surgimento de fissuração,
à medida que os carregamentos e deformações eram impostos à estrutura.

Tabela 2 – Deformação de estruturas de concreto armado.

Deformação
Deformação sem
Espessura Sobrecarga com
Componente da enrijecimento
da laje aplicada enrijecimento
alvenaria pela alvenaria
(cm) (kN/m2) pela alvenaria
(mm)
(mm)

Concreto celular
16 4,0 1,50 4,37
autoclavado

Concreto celular
10 2,3 1,55 3,50*
autoclavado

Cerâmico 10 2,3 1,05 -

*retirada de 1/3 da fixação com a estrutura e ½ da carga aplicada

Na primeira situação a estrutura possuía elementos de rigidez relativamente


elevada. A laje sobre a qual se apoiava a alvenaria tinha uma espessura de 16
cm. Nesta situação, com a parede enrijecendo a estrutura, foi possível a
colocação de uma carga distribuída de 4,0 kN/m2, que corresponde à sobrecarga
de projeto de 2,0 kN/m2 somada à sobrecarga das alvenarias e revestimentos
que estavam previstos para esta situação. A colocação desta carga levou ao
conjunto da laje enrijecido pelas paredes a sofrer uma deformação de apenas
1,5 mm (flecha de ~ L/4600). Nenhum efeito danoso pode ser observado tanto
na laje, como na parede de alvenaria. Após esse estágio de carregamento, foi
retirada parte da fixação (ligação) da alvenaria com a laje de concreto armado,
eliminando o enrijecimento que a parede provocava na laje. Nesta situação, a
deformação da laje aumentou instantaneamente para 4,37 mm (flecha de ~
L/1600). Este aumento da deformação, mostra que na situação anterior, cerca de
2/3 do carregamento que deveria estar sendo transmitido pela lajes às vigas e
pilares da estrutura de concreto armado estavam sendo suportados pela
alvenaria.

Os dois outros ensaios foram realizados em estruturas com muito maior


esbeltez. A laje onde a parede estava apoiada tinha uma espessura de 10 cm.

100
Apesar da menor rigidez da laje, pode-se observar que o nível de deformações
do conjunto continuou relativamente pequeno.

A retirada da fixação da parede, no segundo caso, feita parcialmente em apenas


1/3 da extensão da parede, conjuntamente com a diminuição do carregamento
para a metade da carga total aplicada, permitiu o aumento significativo da
deformação da laje, confirmando o resultado anterior, ou seja, que uma parcela
muito grande das cargas que a princípio deveriam estar sendo resistidas pelas
lajes estavam sendo transmitidas pelos elementos da vedação vertical. Em
ambos os casos, as paredes chegaram a fissurar, com uma deformação de
apenas 1,5 mm, o que corresponde a deformações inferiores a L/4000. Em
ensaios realizados no laboratório do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Construção Civil, também foram observados valores limites para o surgimento de
fissuras nas paredes de alvenaria, variando de 1,5 a 3,0 mm. Seria este o novo
limite de deformação para o qual deveríamos projetar nossas estruturas?

A adoção de critérios deste tipo certamente levaria a estruturas antieconômicas.


Entretanto fica claro que os critérios tradicionais para a limitação da deformação
das estruturas já não apresentam mais respostas adequadas para as novas
situações de concepção frente aos sistemas de vedação vertical disponíveis.

O ACI (1979) no seu Manual de Prática faz uma série de recomendações quanto
a limites de deformação das estruturas que podem ser admitidos, em função do
tipo de vedação vertical, como mostra a Tabela 3.

Tabela 3 – Limites para a deformação das estruturas (adaptado de ACI, 1979).


Situação Limitação da flecha Parcela da deformação
considerada
Alvenarias e L/600 ou 7,6 mm * Deformações ocorridas
revestimentos ou φ=0,0016 rad. após a execução das
paredes
Divisórias removíveis e L/600 ou 7,6 mm ou Deformações ocorridas
divisórias temporárias após a execução das
paredes
* esta limitação não considera que haja interação entre os elementos da estrutura e as
paredes, situações nas quais os limites são consideravelmente inferiores aos
apresentados. Os limites apresentados permitem a ocorrência de algum dano visível
para paredes frágeis e que não podem agir conjuntamente com a estrutura.

101
O CSTC (1967) faz uma resenha dos valores limites estabelecidos pelas normas
de vários países europeus (Tabela 4). Estas limitações correspondem aos
critérios de dimensionamento adotados por cada particular código, não podendo
ser diretamente comparados. Entretanto, pode-se observar variações muito
expressivas nos valores tabulados.

Tabela 4 – Limitação da deformação da estrutura estabelecida pelas normas de


vários países (CSTC, 1967)

País / Norma Valores limites da flecha (f/L)

Solicitações de curta Solicitações de longa


duração duração

França / BA 60 1/500

Belgica / NBN 15 1/2.500

Holanda / GBV 1962 1/250 (1/500)*

Estados Unidos / ACI 318 1/360

Alemanha 1/250

Suécia 1/1.000

União Soviética 1/300 em média

* para carregamentos acidentais

O mesmo CSTC (1980) em outra publicação, estabelece recomendações de


flecha máxima admissível de L/1.000 e L/500 para paredes ou painéis, com
abertura e sem abertura respectivamente, para as deformações que ocorrerão
após a execução da vedação vertical.

As técnicas construtivas empregadas também podem se tornar preponderantes


no mecanismo indesejável de transmissão dos esforços das estruturas de
concreto armado para as vedações verticais.

As técnicas construtivas também se alteraram, buscando dar respostas às novas


exigências de maior eficiência e rapidez na construção, não só quanto à
execução da estrutura, mas de todos os subsistemas do edifício. Isto tem
aumentado a velocidade de execução da estrutura, que associada ao

102
aproveitamento do sistema de fôrmas, leva, muitas vezes, a menores períodos
para o retirada dos escoramentos e o conseqüente carregamento precoce da
estrutura.

O intervalo entre a execução da estrutura e das vedações verticais, nestas


situações também tem diminuído significativamente, uma vez que o início da
execução das vedações verticais representa a abertura de diversas frentes de
serviço para o andamento da construção. Esta exigência, entretanto, acaba por
solicitar a estrutura ainda em idades iniciais de cura, tornado as deformações
iniciais e lentas, ocorridas ao longo da vida do edifício, previsivelmente maiores.

Neste caso, a análise não deve se restringir somente às deformações que


ocorrem nas primeiras idades de vida da estrutura, mas deve necessariamente
abranger as deformações que ocorrerão ao longo do tempo, causadas pela
deformação lenta do concreto. Estas deformações são a origem de boa parte
das patologias associadas à fissuração das vedações verticais que surgem nos
primeiros anos após a ocupação dos edifícios, ocasionando importantes perdas,
tanto para as construtoras, como para os moradores das edificações.

A deformação lenta do concreto é um fenômeno natural e irreversível; porém, a


sua magnitude é muito influenciada pela forma como a estrutura de concreto
armado é produzida, podendo ser ampliada por um fator significativo, caso as
peças de concreto estejam sujeitas a um estágio de fissuração intenso já nas
primeiras idades de funcionamento.

Por outro lado, a pouca atenção dada aos procedimentos executivos durante a
produção da estrutura de concreto como os cuidados no transporte,
adensamento e principalmente na cura do concreto depois do lançamento,
podem contribuir decisivamente para um estágio de deformações da estrutura
que possibilitam levar ao comprometimento futuro do desempenho da vedação
vertical.

CHANG, K.Y. E HWANG, S.J. (1996) alertam que o fator de multiplicação 2 para
a obtenção da deformação ao longo do tempo, a partir das deformações
instantâneas, subestima as deformações que realmente ocorrerão para o caso
das lajes de concreto.

103
O planejamento integrado da execução das vedações verticais e das estruturas
proporcionam levar a soluções que permitam diminuir os efeitos nocivos das
deformações das estruturas sobre as vedações verticais. Entre as medidas
possíveis podem ser citadas:

• Retardar-se ao máximo o início da execução das vedações verticais,


permitindo que a maior parcela possível de deformação da estrutura já tenha
ocorrido.

• Modificar a seqüência executiva, carregando a estrutura com a maior parcela


possível de cargas permanentes, antes da execução da vedação vertical ou
da ligação desta com a estrutura, como por exemplo, com a execução dos
contrapisos, que representam uma parcela bastante significativa do peso dos
revestimentos, antes da execução da vedação vertical.

• No caso do uso de alvenarias, executá-las e ligá-las à estrutura, partindo dos


pavimentos superiores do edifício para os pavimentos inferiores, de forma a
não acumular tensões excessivas sobre as paredes dos primeiros
pavimentos.

• Utilizar técnicas adequadas para a ligação entre a estrutura e as vedações


verticais. As técnicas que tornam esta ligação rígida, ou que induzem
tensões nos elementos da vedação vertical são inadequadas nas situações
em que se prevêem níveis de deformação consideráveis. São exemplos de
ligação rígida o “encunhamento”, com a utilização de tijolos maciços
inclinados, ou cunhas de concreto batidos contra as paredes, ou ainda,
argamassas expansivas. Em situações de estrutura deformáveis, o uso
destas técnicas já produzem nas paredes a uma tensão inicial, que será
incrementada ao longo do tempo pelas cargas transmitidas para as paredes,
pela deformação lenta da estrutura, aumentando a possibilidade de
surgimento de patologias.

Em algumas situações, bastante críticas de deformações diferenciais entre a


estrutura e a vedação vertical, detalhes para a desvinculação das paredes da
estrutura devem ser concebidos já na etapa de escolha do sistema construtivo

104
do edifício. Assim, detalhes como juntas de movimentação e trabalho, separando
as vedações verticais da estrutura, ou entre os elementos da própria vedação
vertical, devem ser considerados, com as implicações que têm para a execução
destas vedações e das interferências que provocam nos demais subsistemas do
edifício, inclusive as mudanças estéticas pela criação destas juntas.

3. O DESEMPENHO DAS VEDAÇÕES VERTICAIS

Há muito pouco tempo, e por um número ainda limitado de empresas, a


concepção do subsistema vedação vertical é considerado assunto técnico, que
merece atenção. Na tradição construtiva nacional, as decisões sobre as
alvenarias e revestimentos sempre foram relegadas aos próprios executores
destes serviços, sem que possuíssem qualificação técnica necessária e no
momento de execução dos mesmos, sem visão global da conseqüência de suas
decisões. Um reflexo disso é expresso pelo fato de apenas nos últimos anos, e
para apenas algumas empresas, a execução da vedação vertical ter merecido a
elaboração de projetos e planejamento específicos e de procedimentos de
execução e controle adequados.

Além disso, as alterações de materiais e técnicas construtiva propostos para o


subsistema, quase nunca são acompanhados por pesquisas de desenvolvimento
tecnológico, ou pelo menos da adaptação dos processos para a tradição
construtiva local, no caso dos materiais e sistemas que tenham origem
estrangeira.

Falta muitas vezes aos fabricantes a visão de que um produto, por mais
excepcionais que sejam as suas qualidades potenciais, quando utilizado de
maneira inadequada, pode proporcionar o surgimento de problemas patológicos
que comprometem a reputação do próprio produto e sua utilização futura.

Para fazer frente às tensões impostas às vedações verticais, pelas solicitações


externas causadas pelas deformações das estruturas ou pelas variações
volumétricas internas causadas pelas variações de temperatura ou umidade, as
vedações verticais devem apresentar um conjunto de características que

105
possibilitem que as mesmas tenham um desempenho adequado ao longo de
toda a vida útil do edifício.

Das propriedades desejáveis para a vedação vertical, destacam-se a capacidade


de acomodar deformações e a resistência mecânica.

Para o caso das alvenarias, a deformabilidade ou capacidade de acomodar


deformações é definida como “A capacidade que a parede de alvenaria possui
de manter-se íntegra ao longo do tempo, distribuindo as deformações internas
ou externas impostas em microfissuras não prejudiciais ao seu desempenho”.
Muitos fatorem interferem na capacidade de acomodar deformações das
paredes, dos quais destacam-se:

• módulo de deformação da alvenaria. Quanto maior o módulo de deformação


da alvenaria, tanto maior será o nível de tensões para um mesmo nível de
deformações impostas. O módulo de deformação das alvenarias está
associado ao módulo de deformação dos blocos e da argamassa de
assentamento. Assim, a utilização de argamassas de assentamento com
elevada resistência e rigidez leva à produção de paredes de alvenaria pouco
capazes de absorverem deformações impostas;

• resistência de aderência entre as juntas de argamassa e os componentes da


alvenaria. A resistência de aderência é responsável pela transmissão dos
esforços, componente a componente, distribuindo as tensões por todo o
painel, sem surgimento de fissuras nestas interfaces;

• espessura das juntas de assentamento. Mesmo uma argamassa com baixo


módulo de deformação não conseguirá distribuir adequadamente as tensões
se não possuir espessura suficiente para que as deformações específicas ao
longo da espessura da junta não sejam elevadas;

• preenchimento das juntas verticais das paredes de alvenaria. O não


preenchimento da junta vertical entre os componentes da alvenaria, técnica
utilizada atualmente por muitas empresas do mercado e que teve origem
numa pesquisa de desenvolvimento tecnológico realizado na EPUSP, tem

106
como objetivo principal diminuir o módulo de deformação das paredes de
alvenaria e assim aumentar a sua capacidade de acomodar deformações.

• cuidados com a execução das paredes de alvenaria. Estes são em seu


conjunto, fator preponderante para o seu bom desempenho da vedação
vertical. Situações como a utilização de argamassas inadequadas, ou de
procedimentos que tragam prejuízo a aderência, como a assentamento dos
componentes contaminados por material pulverulento, a falta de cuidados
com a cura das paredes de alvenaria ou a uniformidade na produção da
alvenaria, comprometerão, além da qualidade dos serviços, o desempenho
futuro destes elementos.

Em ensaios realizados através de pesquisa de desenvolvimento tecnológico


realizada no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Construção Civil da
EPUSP procurou-se avaliar a capacidade de acomodar deformações de paredes
de alvenaria, através de ensaio de desempenho em escala real. Neste ensaio,
as paredes de alvenaria eram construídas internamente a um pórtico de concreto
armado, cujo esquema é apresentado na figura 2.

98 80 98

CARGAS
P1 P2 PORTICO DE
CONCRETO ARMADO

1 2
157

3 4

LEITURAS

Figura 2 – Ensaio de desempenho da capacidade de acomodar deformações de


paredes de alvenaria.

107
Neste ensaio, os pórticos eram submetidos a carregamentos, controlando-se o
nível de deformação imposta. Frente às deformações impostas, analisava-se o
comportamento das alvenarias, através do surgimento de fissuras.

Em uma das séries de ensaios, foram comparados o desempenho de paredes


construídas utilizando-se blocos cerâmicos, de concreto e de concreto celular
autoclavado. Estes valores são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 – Capacidade de acomodar deformações de paredes de alvenaria.

Deformação máxima até o


Componente / situação surgimento da 1ª fissura
(mm)

Bloco de cerâmico assentado e revestido com 1,59


argamassa mista

Bloco de concreto assentado e revestido com 1,11


argamassa mista

Bloco de concreto celular autoclavado assentado 3,51*


com argamassa industrializada, sem
revestimento

Bloco de concreto celular autoclavado assentado 3,51


com argamassa mista, sem revestimento

Nestas situações, pode-se observar que as paredes de alvenaria possuíam uma


capacidade de acomodar deformações que variaram de L/2300 a L/760. Estes
valores mostram comportamento semelhante ao observado em ensaios
realizados em campo, sobre as lajes dos edifícios. São também valores
relativamente reduzidos, se forem considerados os limites de deformação
empregados como critério para o projeto das estruturas de concreto armado.

Para as vedações verticais constituídas de painéis, sua capacidade de acomodar


deformações está ligada basicamente aos detalhes utilizados na ligação entre os
painéis e a estrutura do edifício e na solidarização dos mesmos. Na literatura
técnica não são encontrados valores limites da capacidade de acomodar
deformações destes painéis. Entretanto, por exemplo, no caso de painéis de
placa de gesso acartonado, os produtores apresentam detalhes específicos de
ligação para o caso de estruturas muito deformáveis.

108
Mesmo em sistemas construtivos onde a vedação vertical não toma parte do
subsistema estrutura, as paredes estão sujeitas a diferentes níveis de
deformação. Parte das solicitações são provenientes das cargas de utilização do
edifício, como as cargas causadas por choques e impactos, ou as tensões
provenientes das cargas penduradas sobre as paredes. Além destas, a vedação
vertical é solicitada pelas tensões internas originadas pelas variações
volumétrica causadas pela variação no conteúdo de umidade ou temperatura
das paredes. A estas somam-se as tensões indesejáveis transmitidas pelas
estruturas aos elementos das paredes. Quando solicitada por este conjunto de
esforços, as vedações verticais devem apresentar resistência mecânica
adequada

A resistência à compressão da alvenaria é uma das principais propriedades que


definem o desempenho estrutural das paredes. Ao seu lado, encontra-se a
resistência à tração, ligada diretamente à resistência de aderência entre blocos e
argamassa, que determinam a facilidade das paredes fissurarem quando
submetidas a tensões. HENDRY(1981), estudando o desempenho de paredes
de alvenaria estrutural, ressalta que numerosas investigações experimentais têm
sido feitas para examinar as variáveis que afetam a resistência da alvenaria,
entre as quais as principais são a resistência da argamassa e a dos blocos ou
tijolos utilizados.

Mesmo nas paredes de alvenaria de vedação, a resistência à compressão é uma


propriedade essencial para o desempenho das paredes. As normas nacionais
estabelecem limites para a resistência à compressão dos componentes da
alvenaria.

A norma NBR 7171/92 (ABNT, 1992) classifica os blocos cerâmicos, segundo a


sua faixa de resistência e finalidade, em sete classes. Para os blocos de
vedação de uso corrente, especifica que estes devam atender a menor classe de
resistência (Classe 10), que corresponde a uma resistência a compressão de 1,0
MPa.

109
A resistência dos blocos de concreto de vedação (sem função estrutural) é
especificada pela NBR 7173/82 (ABNT, 1982), que estabelece valores mínimos
individuais de 2,0 MPa e médios de 2,5 MPa.

Apesar dos limites estabelecidos pela normalização, muito raramente a


resistência dos componentes é controlada no seu recebimento na obra, quando
a alvenaria não tem função estrutural. Em pesquisa exploratória realizada
recentemente no CPqDCC da EPUSP, com blocos cerâmicos obtidos do
mercado, que foram ensaiados à compressão e em paredinhas, obtiveram-se os
valores que estão indicados na Tabela 6.

Tabela 6 - Valores de resistência à compressão da alvenaria de blocos


cerâmicos.
Resistência à
Tipo de Resistência à compressão de
Compressão do
componente paredinhas de alvenaria
bloco
(MPa) Sem junta vertical Com junta
preenchida vertical
preenchida
Fabricante A
0,43 0,47 0,58
25x25x14 cm
Fabricante A
25x25x14 cm 0,27 0,22 0,30
Seccionável
Fabricante B
0,13 0,10 0,10
25x25x14 cm
Fabricante B
25x25x14 cm 0,11 0,07 0,09
Seccionável

Apesar da resistência à compressão da alvenaria ser quase sempre inferior à


resistência à compressão dos blocos, os valores obtidos nesta pesquisa
exploratória são bastante inferiores ao estabelecido pelas especificações
técnicas. O mecanismo de ruptura de tais paredinhas, ocorrido por
esmagamento dos componentes, sugere que a baixa resistência à compressão
dos componentes é crítica nestes casos.

No caso dos painéis leves, de forma geral não se prevê a possibilidade destes
resistirem a carregamentos superiores aos proporcionados pelas cargas de

110
utilização. Para estas, suas limitações estão ligadas ao tipo de estruturação
concebido para tal finalidade, assim podem-se variar, em função das cargas de
utilização esperadas, a seção transversal e espaçamento dos perfis
responsáveis pela estruturação, de forma a garantir o bom desempenho da
vedação vertical frente aos carregamentos de utilização.

No caso de imposição de cargas não desejáveis por parte da estrutura de


concreto, cuja magnitude é muito superior às cargas de utilização, tem-se uma
probabilidade muito grande de ocorrência de problemas patológicos, como
fissuração ou deformações excessivas destes painéis.

4. CONCLUSÕES

A racionalização da construção de edifícios passa necessariamente pela


racionalização das vedações verticais. Muitas iniciativas têm sido adotadas pelo
mercado no sentido de trazer maior eficiência e produtividade para estes
serviços. Estas iniciativas, entretanto, devem ser incorporadas e analisadas a
partir de uma visão sistêmica de suas partes. A adoção de soluções parciais,
sem a consideração do todo, podem acarretar o surgimento de problemas
patológicos em intensidade e extensão que anularão todas as potenciais
vantagens do emprego destes subsistemas.

Para que os potenciais benefícios advindos do uso destas tecnologias


diferenciadas sejam realmente efetivados é necessária a mudança de postura
frente ao processo de produção do edifício, incorporando os conceitos de
racionalização construtiva, que devem ser aplicados em todas as fases da
construção.

A pesquisa de desenvolvimento tecnológico é ferramenta fundamental para


embasar estas mudanças. O conhecimento das características tecnológicas dos
métodos e sistemas construtivos, de forma a prever seu desempenho e projetar
e planejar detalhes específicos para seu adequado funcionamento é etapa
fundamental para a consolidação destas tecnologias no país. O desenvolvimento
de pesquisas nesta área permitirá a evolução dos processos construtivos para a

111
produção de vedação vertical que aliem a racionalização dos serviços ao
adequado desempenho dos mesmos.

BIBLIOGRAFIA

AMERICAN CONCRETE INTITUTE. Allowable deflections. In: Manual of


concrete practice. ACI, ACI 435.3R-68, 1979.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Bloco cerâmico para


alvenaria. - NBR 7171/92, Rio de Janeiro, 1992.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Bloco vazados de


concreto simples para alvenaria sem função estrutural. - NBR 7173/82,
Rio de Janeiro, 1982.

CENTRE SCIENTIFIQUE ET TECHNIQUE DE LA CONSTRUCTION.


Deformations admissibles dans le batiment. Note D’Information Technique
132, 1980.

CENTRE SCIENTIFIQUE ET TECHNIQUE DE LA CONSTRUCTION.


Fissuration des maçonneries. Note D’Information Technique 65, 1967.

CHANG, KY; HWANG, SJ. Pratical estimation of two way slab deflection.
Journal of Structural Engineering. ASCE Structural Division, vol 122, no. 2,
1996.

FRANCO, L.S; BARROS, MMSB; SABBATINI FH. Proposição do Método Poli-


Sical (Relatório Final do Convênio EPUSP/SICAL-1 – Desenvolvimento de
um método construtivo de alvenaria de vedação de Blocos de Concreto
Celular Autoclavados). EPUSP, São Paulo, 1994.

HENDRY, A. W. Structural brickwork. The MacMillan Press, 1981.

112
O DESEMPENHO ACÚSTICO DAS VEDAÇÕES VERTICAIS EM
EDIFÍCIOS

Prof. Dr. João Gualberto de A. Baring

SUMÁRIO

O diferencial da qualidade na construção de edifícios, coloca-se como uma


necessidade em certos segmentos de comercialização, visando um usuário
exigente e cada vez mais crítico daquilo que o desagrada nos imóveis
sobressaindo-se, ultimamente, os problemas acústicos. O presente trabalho
aborda esses problemas, aponta os mais graves, comenta as grandezas usadas
para caracterizá-los e discorre sobre as vedações verticais e seu desempenho
acústico, consideradas peças-chaves no equacionameto de tais problemas.

INTRODUÇÃO

Sons, vozes e ruídos são, essencialmente, informação.

A música é uma linguagem para o espírito. O choro e outras colocações de voz


muito peculiares dos recém-nascidos, dizem bem do que se passa com eles. A
conversação, numa língua qualquer, é o meio básico da comunicação e do
aprendizado. O tic-tac do relógio, o pinga-pinga de uma torneira, o zumbido de
um inseto, o crepitar do fogo no mato e inúmeros outros ruídos, são orientação
para nós. Até mesmo uma festa animada, a comemoração de uma torcida, o
barulho de ônibus e caminhões quando atravessamos uma rua, a passagem de
um carro de bombeiros com todos os alarmes ligados e tantas outras
circunstâncias de sons, vozes, ou ruídos intensos, fazem parte da nossa vida.

Ressentimo-nos, porém quando esses sons, vozes e ruídos tornam-se


inoportunos, excessivos ou persistentes. Exasperamo-nos quando são abusivos
ou provocativos. Transtornamo-nos quando prejudicam-nos em necessidades
essenciais, como o repouso noturno, a concentração no trabalho e no estudo e a
descontração no lazer.

113
Isso pode ocorrer quando os excessos são de tal ordem que, mesmo a proteção
sonora de um edifício projetado e construído para proporcioná-la em níveis
satisfatórios, acaba resultando insuficiente.

Mas também podem resultar de projetos mal feitos ou que especificaram


materiais inadequados quanto ao desempenho acústico

"IMÓVEL INSONORIZADO"

Tempos atrás surgiu no mercado imobiliário essa designação, para o que seria
um apartamento capaz de isolar os ruídos da rua, dos vizinhos, de máquinas e
equipamentos do prédio. A idéia foi mal dimensionada e acabou significando
custos adicionais elevados, tendo sido rapidamente deixada de lado.

O seu maior mérito foi chamar a atenção para os problemas acústicos, comuns
em edifícios multipavimentos, e que atualmente voltam a preocupar as
construtoras, pressionadas pelas clientelas de certos nichos de mercado,
principalmente o dos apartamentos de padrão elevado. As pessoas que se
mudam para esses imóveis, quase sempre estão deixando casas confortáveis e
tranqüilas, porém inseguras. Fazem, porém, questão de manter o sossego e
privacidade de que dispunham antes, não se conformando em ouvir tantas
coisas que se passam no prédio e saber que também são ouvidas pelos
vizinhos.

IMÓVEL COM QUALIDADE ACÚSTICA PADRÃO "A"

Os antigos anúncios sobre "imóveis insonorizados" foram descontinuados, pois


na verdade, constituíam-se em propaganda enganosa. Não há como
"insonorizar" um imóvel. Procura-se dimensionar as suas proteções acústicas
para padrões, digamos, classe "B", classe "A" e classe "A especial", esta última
a de qualidade mais apurada, cujo detalhamento necessariamente deve ficar a
cargo de um consultor de Acústica de nível superior.

Mesmo na classe "A especial" não se chega a um "imóvel insonorizado". É o


padrão, por exemplo, de um hotel de primeira linha, no exterior, vizinho a um

114
aeroporto. Vêem-se os aviões decolando mas não se ouve nada, quando muito,
um rumor quase imperceptível, de baixa freqüência. Não se nota também a
descarga do sanitário do andar de cima, ou ruídos hidráulicos de duchas e
torneira. O ar condicionado só se escuta muito discretamente, junto à grelha de
insuflamento. As paredes são mudas. O teto só transmite algum ruído muito
ocasional da queda de algum objeto pesado no andar de cima, ou o impacto dos
pés de alguém que tenha dado um pulo, por uma razão qualquer.

A classe "A" de proteção acústica, é um pouco menos exigente do que a classe


"A especial". A fachada deve ter paredes com CTSA não inferior a 45, as janelas
devem apresentar CTSA por volta de 30 e as paredes comuns a unidades
geminadas, quando de dormitórios ou salas de estar, devem ter CTSA superior a
50. Os pisos desses mesmos cômodos, entre unidades distintas superpostas,
devem ter CTSI em torno de 50. Tais siglas significam Classe de Transmissão
de Som Aéreo e Classe de Transmissão do Som de Impacto. Como o próprio
nome indica, classificam, numa escala habitual de 10 a 60, a capacidade que as
vedações verticais possuem para reduzir níveis de sons, vozes e ruídos, em
decibels, ou dB e das vedações horizontais para reduzir níveis de ruído de
impacto, também em dB.

Observa-se que as exigências são colocadas para vedações que separam o


imóvel do meio externo ou de outro imóvel. Nesses casos os requisitos mínimos
devem resultar garantidos a partir do projeto e construção de edifício, já que,
depois de colocado em utilização, reparos posteriores tornam-se inviáveis.

Para as vedações internas a uma mesma unidade as exigências vão depender


do uso de cada cômodo e do tipo de contiguidade entre eles. Para o caso de
dormitório vizinho de outro dormitório, ou de sala de estar, recomenda-se, no
mínimo, CTSA 45.

A classe "A" de proteção acústica dos imóveis também é conseguida com vários
outros cuidados como evitar ruídos hidráulicos em paredes que não as das
próprias áreas ditas "molhadas", como cozinha, banheiro e área se serviço. Não
são aceitáveis também ruídos de equipamentos de infra-estrutura do edifício,
como elevadores, bombas de recalque e ar condicionado central.

115
IMÓVEL COM QUALIDADE ACÚSTICA PADRÃO "B"

A quase totalidade dos imóveis residenciais e comerciais colocados atualmente


no mercado, sobretudo em edifícios multipavimentos, enquadra-se nessa
categoria.

Os classificadores numéricos apresentados no caso do padrão "A", resultam


reduzidos em 5 unidades, exceto os das janelas, com redução ainda maior, de
até 15 unidades de CTSA.

Por isso, tais imóveis são acusticamente insatisfatórios, quando situados em


áreas urbanas muito barulhentas ou quando os usuários cometem excessos por
sons, vozes e ruídos no interior dos condomínios.

A questão interna é ajustável, em princípio, embora na prática haja muita


dificuldade para tanto. Os meios mais viáveis são a conscientização coletiva a
respeito dos problemas usuais e o estabelecimento de normas a serem
constantemente cobradas, por síndicos preparados para abordagens bem
conduzidas, que não degenerem em conflitos.

A inadequação das proteções sonoras de fachada nos edifícios é mais


problemática pois, no caso de condomínios, todos teriam que concordar com os
transtornos e altos custos de reformas complexas. No caso de unidades
isoladas, o que se faz habitualmente é trocar janelas muito precárias, do ponto
de vista acústico, com CTSAs da ordem de 15, por outras, melhor construídas,
sacrificando-se a ventilação dos cômodos.

Os imóveis com qualidade acústica padrão "B" só corresponderão


satisfatoriamente às necessidades de proteção sonora dos usuários se, em
compensação aos seus baixos valores de CTSA e CTSI, tiverem projetos muito
bem resolvidos nos aspectos de implantação dos edifícios e da disposição dos
cômodos, cuidando-se também de evitar janelas com CTSAs inferiores a 20.

No que se refere à implantação, é de bom senso que edifícios com usos muito
sensíveis a ruído, como os residenciais, os de escritório, os de hospitais,
escolas, os destinados a cultos religiosos e outros, não sejam construídos em

116
avenidas com trânsito pesado, ou, se o forem, que suas janelas não se abram
diretamente para as avenidas, mas para as laterais, ou mesmo para os fundos,
com algumas ressalvas. Se, por exemplo, ao seu redor e muito próximos, já
existam, ou venham a existir outros edifícios, o ruído da avenida continuará
sendo muito intenso, devido às reflexões nos espaços entre as fachadas. Além
disso prejudicam-se a insolação e a ventilação do prédio.

No que se refere à disposição interna dos cômodos em imóveis com qualidade


acústica padrão "B", deve-se evitar, no caso de apartamentos, por exemplo, que
quartos ou salas de estar de unidades distintas sejam adjacentes. Cozinhas,
áreas de serviço e dispensas são mais adequadas a essas contigüidades.

Também não se recomenda que cômodos para usos sensíveis a ruído, sejam
colocados junto a poços de elevadores, caixas de escada, corredores por onde
transitem muitas pessoas, a maior parte do tempo, etc.

Prédios com qualidade acústica padrão "B" e mesmo alguns do padrão "A",
ressentem-se, sobretudo, do problema dos pisos, antigamente amenizados pelo
uso de carpetes, hoje agravados pela preferência generalizada por assoalhos de
madeira tabuados, pisos vinílicos, cerâmicos, de pedras, etc. Além disso, é
praticamente inviável evitar-se a sobreposição de cômodos de mesma
destinação, como quartos e salas de estar.

Esse problema tem solução técnica, variável caso a caso, algumas muito
simples e eficazes, mas que encontram grande resistência de aceitação por
parte dos construtores, receosos de uma clientela "ainda não batizada". Tais
clientes são os adquirentes de imóveis que ainda não passaram pela experiência
de viver em apartamentos, não tendo noção exata da gravidade do problema e,
normalmente, mais preocupados com o aspecto e a solidez dos pisos. De fato,
pisos com CTSI elevados normalmente são assentados com algum material
resiliente de permeio. Quando percutidos, soam "chocho", dando a impressão
para uma pessoa desavisada, de terem sido mal feitos.

No que se refere ao ruído de equipamentos elétricos e hidráulicos, os edifícios


com qualidade acústica padrão "B", via de regra, apresentam pouca ou nenhuma
prevenção. É preciso que passem a prevenir-se, nem que seja através de

117
providências de bom senso, como assegurar-se de que o amortecimento de
vibrações da casa de máquinas dos elevadores seja bem calculado, a
canalização da bomba de recalque não seja embutida, os banheiros das suítes
nos apartamentos fiquem separados dos dormitórios, intercalando-se “closets”, e
assim por diante.

"AS PAREDES E DIVISÓRIAS TÊM OUVIDOS"

Embora os pisos em edifícios multipavimentos sejam muito problemáticos quanto


à transmissão de ruído para o andar inferior, o que realmente mais preocupa os
usuários, sobretudo em imóveis residenciais e comerciais, é a falta de
privacidade, ao se darem conta de que conseguem ouvir claramente os vizinhos,
através de paredes e divisórias.

Há registro de sedes administrativas de empresas, cujas instalações foram


rejeitadas, num primeiro momento, porque os diretores, ao ocuparem suas salas,
perceberam que, embora as divisórias fossem muito bem construídas, ouviam
tudo o que se passava do lado de fora e, por conseguinte, também poderiam ser
ouvidos, um fato realmente inaceitável para o exercício de cargos que exigem
sigilo nas conversações.

Quatro tipos principais de descuido foram responsáveis pelo baixo desempenho


das divisórias quanto à isolação sonora em todos os casos, impedindo-as de
conferir às salas, a privacidade acústica requerida: uso de dispositivos de
ventilação, interrupção das divisórias sob forros leves com “plenum” entre o forro
e a laje do pavimento superior, acabamento com frestas junto ao teto, junto ao
piso e nas junções entre painéis e, por último, índices de redução sonora
insatisfatórios nas freqüências principais de voz das pessoas.

O primeiro tipo de descuido, dentre os quatro apresentados, é o mais evidente.


Por incrível que pareça não são poucos os casos de divisórias com venezianas
de vidro para ventilação, na parte superior, que foram colocadas em salas de
presidentes, diretores e gerentes de empresas. Algumas vezes, foram grelhas de
alumínio junto ao teto, nos cantos, junto às paredes, ou mesmo nas portas.

118
O segundo tipo de descuido pode ser um erro de especificação, mas também
uma especificação não atendida, por conveniência ou rapidez na instalação de
forros leves contínuos, em escritórios. De fato, tais forros normalmente são
constituídos por réguas metálicas muito leves, espaçadas entre si, ou
perfuradas, justamente para que o som passe para o “plenum” acima do forro
onde estão mantas de materiais absorventes sonoros, quase sempre ensacadas
em plásticos escuros. Ocorre que o efeito de absorção dessas mantas implica
justamente em se deixar atravessar, em boa parte, pelos sons, reduzindo-o
apenas numas certa medida, variável, conforme seus constituintes graves,
médios ou agudos. O forro resulta, por conseguinte, num sistema pelo qual o
som proveniente de uma sala consegue passar, numa trajetória ascendente e
noutra descendente, após refletir-se na laje do pavimento superior, acima do
“plenum”. Retorna, pois, reduzido, mas ainda perfeitamente audível, para a
própria sala em que foi gerado, ou para uma sala vizinha se a trajetória de
reflexão descrita ocorrer no trecho do forro abaixo do qual a divisória tem sua
borda superior. Em outros termos, pode-se dizer que as conversas, as
discussões, as ordens que são dadas em uma sala, contornam a divisória por
cima e são ouvidas na sala vizinha.

O terceiro tipo de descuido, entre os quatro principais apontados como


problemáticos para o desempenho de divisórias quanto à isolação sonora, é a
sua instalação sem providências para a perfeita vedação das juntas entre
painéis, das frestas sob rodapés e sobretudo dos verdadeiros desvãos entre as
bordas superiores dos painéis e as lajes, com irregularidades de nivelamento da
face inferior.

Se os três tipos de descuidos precedentes não acontecerem, pode-se ainda


incorrer numa falha, agora não mais de especificação ou instalação, mas de
natureza técnica, em relação ao desempenho acústico da divisória. Nesse
aspecto, em particular, incluem-se também as paredes de alvenaria.

"FUROS DE ISOLAÇÃO SONORA"

Quando não há dispositivos de ventilação, quando não há forros passantes e


quando se tem perfeita estanqueidade nas junções perimetrais e intermediárias,

119
as divisórias e paredes só não corresponderão na parte acústica, se a sua
constituição implicar nos chamados "furos de isolação sonora".

Observe-se na página seguinte a tabela de resultados de desempenho acústico


para uma parede de blocos cerâmicos de vedação, com 9 cm de espessura
nominal do bloco.

DESEMPENHO ACÚSTICO DE PAREDE DE BLOCOS CERÂMICOS DE


VEDAÇÃO, COM 9 CM DE ESPESSURA NOMINAL DO BLOCO

Faixa de Frequências Índice de Redução Sonora R(dB)


Revestida em Revestida em
F (Hz) Sem Revestimento
uma face ambas as faces
125 32 32 31
160 34 31 31
200 34 30 30
250 33 30 30
315 31 27 30
400 30 28 33
500 28 30 36
630 28 32 38
800 30 34 41
1000 31 37 43
1250 37 40 45
1600 37 41 48
2000 34 43 50
2500 36 44 51
3150 41 46 52
4000 43 47 56
CTSA 33 36 41

As faixas de freqüências de 125, 160 e 200 Hz podem ser consideradas como de


componentes graves do som, voz ou ruído que incide sobre a parede ou
divisória. Observemos que os valores do índice de redução sonora R ficam entre
30 e 34 dB para as três versões da parede. Se alguma delas for usada, digamos,
para confinar máquinas de ar condicionado, ou um gerador, ou qualquer outra
fonte de ruído rico em componentes de baixa freqüência, pode parecer
surpreendente, mas a versão sem revestimento é a mais adequada, reduzindo
entre 2 e 4 dB a mais do que as versões revestidas. O revestimento altera a
maneira própria de vibrar da parede deslocando os índices de redução sonora R
mais deficientes, ou "furos de isolação", no sentido das baixas freqüências.

120
Assim, na versão não revestida, essas maiores deficiências estão entre 500 e
630 Hz, enquanto que nas duas outras, estão entre 200 e 315 Hz.

Mas a parede sem revestimento apresenta outra região dos resultados em que
sofre uma queda brusca nos valores de R, entre 1600 e 2500 Hz. Trata-se aí de
vazamento sonoro pelos buracos e frestas muito comuns em paredes de blocos
cerâmicos de vedação, resultantes de partes quebradas dos tijolos ou de falhas
de argamassa de assentamento, usada nas juntas.

Componentes agudos de sons vozes e ruídos, nas faixas de freqüências de


2000 e 2500 Hz, têm comprimentos de onda pequenos, compatíveis com os
tamanhos médios de furos e frestas costumeiros em parede de blocos cerâmicos
de vedação. Daí o seu efeito, no rebaixamento dos valores de R no caso da
versão de parede não revestida, efeito esse que desaparece por completo, nas
versões revestidas.

Ultimamente a construção civil tem se valido de paredes com "juntas secas" em


edifícios multipavimentos para aliviar tensões resultantes da acomodação
estrutural peculiar aos novos processos construtivos. "Junta seca", em Acústica,
significa frestas verticais entre os blocos que, aliadas a um revestimento muito
fino, tem como resultado o rebaixamento dos valores do índice de redução
sonora, em determinadas faixas de freqüências, semelhantemente ao que foi
comentado para a parede de blocos cerâmicos de vedação. Daí o desempenho
acústico não muito satisfatório que tem sido obtido com as paredes de "juntas
secas".

121
SOLUÇÕES PESADAS E SOLUÇÕES COMPOSTAS

Atualmente, uma pessoa com mais do que 50 anos que more ou trabalhe em um
prédio de construção recente, poderá referir-se aos bons tempos das
construções com tijolos maciços de barro, em que as paredes eram firmes,
resistentes a tudo, inclusive aos sons.

De fato, ainda se usa como referência de excelente desempenho quanto à


isolação sonora, uma parede dupla de tijolos maciços de barro, cuja CTSA beira
o valor 50.

Só paredes compostas, com ocos internos preenchidos com lã de vidro, lã de


rocha, espumas de poliuretano ou materiais similares, superam essa marca,
dificilmente ultrapassando CTSA 60.

A CTSA ou Classe de Transmissão do Som Aéreo é um classificador americano,


originalmente STC - Sound Transmission Class, cujo uso se generalizou, sendo
praticamente idêntica à sua correspondente Rw - Índice de Redução Sonora
Ponderado, estabelecido por uma norma da ISO - International Organization for
Standardization, ainda pouco usado, mas cuja maior vantagem é a de ter
validade irrestrita, como documentação técnica, em qualquer país.

A CTSA, ou o Rw, é um classificador do desempenho global quanto à isolação


sonora, de paredes, divisórias e até mesmo de pisos, tomados como vedos de
som aéreo, embora para eles exista também, e principalmente, a CTSI - Classe
de Transmissão de Som de Impacto. Observe-se que o índice de redução
sonora R, em dB, por faixa de freqüências, fica sendo uma espécie de nota para
cada questão de uma prova, a que a parede ou divisória é submetida, da qual a
CTSA resulta como nota final ou global. É um resultado grosseiro, que interessa
mais aos processos de triagem ou licitação de produtos. O desempenho mais
minucioso de cada alternativa deve ser examinado pelos valores de R.

Mas, a CTSA é muito conveniente para a comparação rápida de custo


desempenho das divisórias e paredes compostas, como as do tipo wall e dry-
wall e todas as que usam do efeito massa-mola para melhorar seus resultados

122
acústicos, numa espécie de substituição de grossas paredes, por lâminas de
materiais densos, como gesso e cimento reforçado com fibras, tendo de permeio
materiais de amortecimento.

CONCLUSÃO

O mercado de materiais aplicáveis aos tratamentos acústicos está em rápida


renovação, precedida pelos materiais de absorção sonora, como feltros e
mantas de fibras e espumas e agora seguida por paredes e divisórias com
propostas ainda consideradas inovatórias para muitos segmentos da nossa
construção civil.

É o momento de se conhecer como esses materiais se comportam, familiarizar-


se com os indicadores que espelham o seu desempenho e proceder-se a
especificações conscientes e bem dimensionadas do ponto de vista custo-
benefício.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SABINE, H. J.; LACHER, M. B.; FLYNN, D. R.; QUINDRY, T. L. Acoustical and


thermal performance of exterior residential wall, doors and windows. Building
Series 77. Washington, D. C., NBS, 1975.

BRITISH STANDARDS INSTITUTION. Sound insulation and noise reduction for


buildings. 1987 (BS-8233).

AMERICAN STANDARDS FOR TESTING AND MATERIALS. Determination of


Sound Transmission Class. 1973 (ASTM E 413-87 Reapproved 1994).

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Acoustics-


Rating of Sound insulation in buildings and of buildings elements - Part 3:
Airbone sound insulation of façade elements and façades. 1982 (ISO
Standard 713 / 3).

123
O DESEMPENHO DAS VEDAÇÕES FRENTE À AÇÃO DA ÁGUA

Prof. M.Eng. Jonas Silvestre Medeiros


jonastpc@pcc.usp.br

1 INTRODUÇÃO

Assistimos hoje a mudanças significativas na construção civil brasileira. Novas


formas de produzir os edifícios e suas partes têm sido empregadas e finalmente
começamos a romper com o paradigma da qualidade na construção de edifícios.

Períodos de mudanças como estes, onde novas tecnologias começam a ser


incorporadas pelas empresas, trazem consigo uma série de novas dúvidas sobre
a escolha das alternativas mais adequadas a serem utilizadas. Por outro lado,
sabemos que mesmo as tecnologias tradicionais ainda não estão completamente
compreendidas.

Nos últimos anos, o consumidor brasileiro, de modo geral, tem ficado mais
atento à qualidade dos produtos. Com o produto edifício não tem sido diferente.
Os acidentes ocorridos recentemente devem ter contribuído também para uma
maior atenção por parte dos usuários para os defeitos de obra. Temos percebido
entre vários construtores uma preocupação crescente com esta mudança
comportamental.

No caso dos problemas relativos à ação da água, dois aspectos merecem


destaque: o projeto e a qualidade da execução. Em ambos os casos, seja no
papel de contratante ou contratado, o construtor está em maior ou menor escala,
sempre envolvido no processo.

Neste seminário, temos a oportunidade de discutir de forma sistêmica,


progressos, deficiências e perspectivas relativas às tecnologias de vedação
verticais. O conceito de construção seca, praticado há tempos em outros países,
agora já faz parte de nossa realidade. Embora não tenhamos certeza da
velocidade de mudança deste processo, sabemos que o espaço destas soluções
existe. Assim como existe espaço também para a melhoria dos processos e
materiais que hoje denominamos de tradicionais.

125
Embora tenhamos sempre que conviver com dúvidas e riscos em nossa
profissão, sabemos que nosso dever enquanto engenheiros é desenvolver as
tecnologias e meios necessários para controlar estes riscos e atingir resultados
cada vez mais eficazes. Neste trabalho vamos discutir um aspecto particular da
tecnologia das vedações verticais: o desempenho frente à ação da água.

2 A ÁGUA NA CONSTRUÇÃO: DA UTILIDADE AOS PROBLEMAS

Talvez a água seja o mais simples e ao mesmo tempo o mais essencial material
de construção. Empregamos água para produzir concreto e argamassa, blocos e
tijolos, tintas e membranas. Com água limpamos a obra e abastecemos os
usuários para suas necessidades básicas de higiene e saúde.

Aprendemos há tempos que a água é o solvente universal e depois, no curso de


engenharia, que o cimento Portland que revolucionou as construções, apenas
endurece na presença dela. A água é abundante na construção e depois ao
longo da vida do edifício.

Mesmo sendo indispensável para a construção, a água também é fonte dos mais
variados problemas patológicos que atingem os edifícios e suas partes
constituintes.

Os trabalhos de IOSHIMOTO (1986) e DAL MOLIN (1988) realizados no Brasil,


demonstram que a parte mais significativa dos problemas de construção está
relacionada à ação da água nas suas diversas formas.

REYGAERTS et al. (1978) estudando vários países, também conclui que a maior
parte dos problemas diz respeito à ação da água. Este afirma ainda que cerca da
metade dos problemas de infiltração (que corresponde a 60 % do total) ocorre
pelas paredes.

A ação da água pode provocar uma série de problemas nas construções. Um


estudioso da ação da água sobre as alvenarias, GRIMM (1982a), ensina que a
água pode ser considerada a maior causa de problemas nas construções. Esta
ação pode causar várias tipologias de problemas, direta ou indiretamente,

126
combinando-se ou não com outros fatores,. Entre os principais problemas
podemos citar:
• variação dimensional nos componentes, elementos construtivos e
praticamente em todos os materiais porosos (concreto, argamassa, blocos,
gesso, etc.);

• proliferação de microorganismos;

• manchas e eflorescências;

• aumento na transmissão do calor;

• deterioração de revestimentos;

• corrosão de metais;

• condensação e

• comprometimento da habitabilidade.

Como nos lembra SABBATINI (1988), no passado recente, era como utilizar-se
no Brasil paredes de tijolo maciço de 25 cm (1 vez) revestidas em ambas as
faces com argamassa. Beirais e peitoris bem detalhados e amplos protegiam as
fachadas.

Nos últimos anos aquilo que consideramos tradicional tem se alterado. As


paredes dificilmente passam dos 14 cm de espessura e os revestimentos
tradicionais estão sendo substituídos. Internamente os revestimentos de pasta
de gesso, por exemplo, dividem o mercado com os argamassados e podemos
encontrar fachadas de edifícios até sem revestimento argamassado.
Evidentemente, não queremos afirmar que isto não seja possível - em alguns
países, como sabemos, torna-se até raro encontrar uma parede de fachada
revestida. Entretanto, a experiência nos mostra que não devemos evoluir
atuando pontualmente. Evolução tecnológica pressupõe visão sistêmica e no
caso das vedações, alterações significativas na maneira de conceber, projetar e
executar as fachadas de nossas edificações. Discutamos na seqüência deste
trabalho alguns aspectos relevantes a este respeito.

127
3 A AÇÃO DA ÁGUA NAS VEDAÇÕES VERTICAIS: CONCEITOS BÁSICOS

Ao longo do tempo os problemas de umidade acabam sempre surgindo. Às


vezes pela falta ou redução da estanqueidade da vedação, às vezes pela ação
do próprio usuário. Os problemas patológicos relacionados com água dependem
também da relação existente com o uso da edificação. A consideração de uma
falha atribuída à ação da água como uma patologia de construção, traz consigo
até componentes culturais e sociais que interferem na análise dos efeitos que os
problemas podem trazer.

A ação da água não pode ser eliminada da construção, seus efeitos devem ser
controlados. Talvez este seja o conceito mais importante que devemos rever
aqui. PEREZ (1986) explica que os problemas com água sempre existiram:
alteram-se a intensidade, freqüência e tipologia. O objeto central de foco do
projeto e da execução das vedação verticais é, portanto, o controle da entrada
de água na edificação para a manutenção do desempenho ao longo do tempo.
Vale esclarecermos ainda que o emprego da palavra impermeável ou a
expressão à prova d’água, devem ser considerados inadequados quando se
trata das vedações, possuindo inclusive, no nosso entender, erro conceitual.

Os materiais empregados nas vedações e fachadas como concreto, alvenarias,


cerâmicas e argamassas são porosos e as juntas entre suas partes sujeitas, em
maior ou menor grau, à passagem de água no estado líquido ou na forma de
vapor. As vedações verticais dos edifícios devem ser, portanto, consideradas
resistentes à água em menor ou maior grau, dependendo dos seguintes
principais fatores:

• tipo e qualidade dos materiais empregados;

• projeto e execução;

• manutenção e condições de exposição.

3.1 Origem da ação da água nas edificações

A água pode agir de variadas formas nas edificações. Podemos ter ação da
água proveniente das atividades necessárias à construção, da água de
capilaridade que ascende pelo solo, da água que vaza e se infiltra devido a

128
problemas nas instalações sanitárias, da água de lavagem, de manutenção e
acidental, da água de condensação e da água de chuva que passa pelas
vedações exteriores. A água dos trabalhos de construção tende a diminuir com o
tempo, sendo as condições de ventilação e insolação determinantes para a
evaporação desta umidade. A água absorvida pelas vedações a partir do solo
tem origem em lençóis freáticos e na água da chuva que se infiltra pelo terreno.
PEREZ (1986) mostra que a água da chuva sozinha pode representar de 40 a 70
% dos problemas de infiltração.

Em geral estes problemas resultam de um conjunto de fatores com causas que


se sobressaem. O CSTC (1975) em estudo publicado no Digest 176, mostra que
a incidência de problemas de infiltração de água de chuva pelas vedações
verticais é o maior problema de infiltração de água de chuva (74 em 136). Sendo
54 pelas paredes e 17 pelas janelas. O resto passa pela cobertura (49), janelas
(17) e outros locais.

Nas vedações verticais, as paredes representaram 39 dos casos, enquanto os


painéis de concreto (sistema empregado nas fachadas dos edifícios dos países
europeus) respondem pelos 18 restantes, sendo 10 pelas juntas e 8 por outros
pontos. Ao todo o trabalho reuniu 254 casos de problemas patológicos onde a
umidade era responsável por 50 % do total. Na seqüência discutiremos um
pouco mais sobre estas origens e as formas de ação da água nas edificações.

3.2 Infiltração de água de chuva pelas vedações de fachada

Para passar através de uma vedação vertical é necessário que ocorram três
condições fundamentais: FISHBURN (1942); (GRIMM, 1982b); BIA (1985)
(SABBATINI, 1988)

• lâmina de água escorrendo pela fachada;

• aberturas que permitam a passagem da água (poros e fissuras);

• pressão do vento ou sucção capilar ou ação gravitacional.

Quase sempre reunimos todas estas condições. Temos chuva para formar
lâmina de água pela fachada, pressão de vento, sucção capilar em nossos
materiais, ação gravitacional e poros e fissuras mais que suficientes para permitir

129
infiltrações. GRIMM (1982b) explica que a atuação conjunta da chuva incidente e
da pressão do vento, atuando simultaneamente, forçam a água para o interior da
edificação através dos poros, fissuras existentes na superfície dos materiais e
principalmente pelas fissuras e aberturas presentes nas interfaces entre as
juntas de argamassa e os blocos e outros elementos construtivos como as
janelas.

Para o BIA (1985), entretanto, sob condições normais de exposição é difícil que
grandes quantidades de água penetre pelos blocos / tijolos e argamassa. Esta
fonte afirma que, também nos EUA, antes do uso de corrente de paredes duplas
em fachadas, paredes simples de grande espessura eram empregadas para
evitar a passagem de água (espessuras superiores a 30 cm).

A literatura técnica a respeito da ação da água sobre as alvenarias pode ser


considerada ampla, mas a maior parte do que foi escrito a respeito, está
relacionada ao uso da alvenaria sem revestimento. Nos Estados Unidos da
América, por exemplo, várias organizações se dedicam a este assunto e
publicaram a respeito. Entre as principais estão: o BIA - Brick Institute of
America, a NCMA - National Concrete Masonry Association, a ASTM - American
Society for Testing and Materials e o NBS - National Bureau of Standards.

GRIMM (1982b) revisou esta literatura, contabilizando 233 artigos e publicações


que tratavam do assunto. Este autor verificou também que o maior problema
relacionado à ação da água nas vedações verticais está relacionado à
penetração da água de chuva pela fachada das edificações. GRIMM (1982b)
revela ainda que a água penetra por fissuras com abertura superior a 0,1 mm,
sendo a sucção capilar importante para aberturas menores que 0,5 mm e que os
poros dos blocos e tijolos cerâmicos tem diâmetro em torno de 0,01 mm e
fissuras superficiais entre 0,1 e 1 mm.

PEREZ (1986) explica ainda que a porosidade pode ser aberta e fechada. Nos
materiais de porosidade aberta existem canais de interligação entre os poros que
facilitam a passagem das moléculas de água.

BARKOFSKY (1993) acrescenta ainda que, além da conectividade entre os


poros, a tortuosidade e distribuição influenciam na permeabilidade. Ele explica

130
que a pressão capilar é função do diâmetro do poro e que a pressão interna
varia ao longo comprimento do poro. Além disso a densidade e viscosidade da
água podem alterar os resultados de permeabilidade4.

A água pode então passar pelos blocos e tijolos, mas seu caminho preferencial é
através dos canais existentes nas interfaces bloco-argamassa. O local mais
comum para esta infiltração ocorrer, como observaram GRIMM (1982b) e
SABBATINI, FRANCO (1988), é na ligação entre juntas horizontais e verticais.

As fissuras de interface acontecem em cerca de 15 % das juntas conforme


observou CONNOR (1948) citado por GRIMM (1982b), muito embora grande
parte destas falhas não permitissem a passagem significativa da água em
condições normais. GRIMM (1982b) afirma ainda que em centenas de edifícios
inspecionados por ele com problemas de infiltração, em nenhum caso foi
constatado infiltração de água diretamente pelos blocos ou tijolos. Outras
conclusões importantes reveladas por este autor:

• paredes simples de alvenaria de tijolos (não revestidas) não são uma


barreira permanente contra a ação da água, mesmo sendo bem construídas;

• paredes de blocos de concreto sem revestimentos são altamente permeáveis


à água – a porosidade dos blocos exerce forte influência;

• alto potencial de retração é outro fator importante nas alvenarias de blocos


de concreto (sílico-calcários e concreto celular também) devido ao potencial
de fissuração gerado por estas movimentações;

• paredes compostas (sem vazio interno) passam a ter desempenho razoável


quando tem uma folha interna de blocos de concreto com 20 cm de
espessura e uma folha externa de 10 cm de tijolos cerâmicos – sendo melhor
sempre o uso de paredes duplas (com vazio de pelo menos 50 mm).

Para FISBURN (1938) que realizou um trabalho que serviu de base para muitos
outros estudos, os revestimentos argamassados reduzem, mais do que as
pinturas, a permeabilidade à água de chuva das paredes de alvenaria. De

4
Este autor define permeabilidade como sendo a medida da infiltração de água por uma parede.

131
acordo com CLARK (1975) citado por GRIMM (1982b), as películas de silicone
aplicadas a alvenarias de fachada não fecham aberturas maiores que 0,5 mm
deixadas pelas falhas de execução, muito embora elas reduzam
temporariamente a permeabilidade à água. Este autor afirma que após seis
meses, uma parede de tijolos tratada com silicone, tem sua absorção de água
média aumentada de 9,5 % para 26 %. Neste ritmo, revela, “a vida útil esperada
destes tratamentos não passa de três anos”. Em qualquer caso, devemos
considerar que alvenarias que apresentam fissuras devido a retração,
movimentação higroscópica e estrutural, sejam revestidas ou não, criam
condições propícias para a passagem da água.

As paredes sem revestimento podem se tornar rapidamente saturadas quando


sujeitas a chuvas incidentes. SABBATINI (1986) apresenta alguns dados sobre
tempo de saturação de alvenarias com e sem revestimento argamassado como
mostra a Tabela 3.1.

Tabela 3.1 Tempo de saturação de paredes submetidas a chuva intensa com


vento.

TEMPO DE SATURAÇÃO (HORAS)


TIPO DE BLOCO / TIJOLO ESPESSURA DA PAREDE REVESTIDA NÃO REVESTIDA

bloco sílico-calcário 25 cm 68 13
tijolo cerâmico maciço 38 cm 86 9
tijolo cerâmico furado 24 cm 82 10
blocos de concreto celular 20 cm 69 1

Quando bem ventiladas e insoladas as paredes tendem a perder rapidamente


água absorvida. Por isso é tão importante que as pinturas e películas que
eventualmente as recubram sejam permeáveis ao vapor. Nas paredes duplas,
onde a folha externa é projetada para absorver água, devem existir detalhes que
permitam a drenagem.

Ação do vento e chuva incidente

A penetração da água de chuva é influenciada diretamente pela quantidade de


chuva e pela pressão do vento. Nas regiões das esquinas e topo das edificações
ocorrem turbulências, alterando abundantemente a direção do vento e
provocando concentração de chuva. Se empregarmos a Escala de Beaufort

132
citada por PEDROSO (1986) a classificação de Força 9 (Ventania Forte com
ventos de 22 m/s) para São Paulo e Força 9 (Ventania Moderada com ventos de
16 m/s) para o Nordeste, talvez sejam mais do que suficientes para permitir um
dimensionamento de vedações verticais resistentes à penetração de água. Na
falta de dados meteorológicos mais precisos é possível também - como faz a
NBR 7202 para o caso das janelas de alumínio - empregar um percentual das
velocidades básicas do vento. Esta norma, por exemplo, adota para definição da
velocidade do vento 10 % dos valores da isopletas segundo a NB 599, obtendo-
se valores próximos àqueles da Escala de Beaufort reproduzida na Tabela 3.2.

Tabela 3.2 Escala de Beaufort para velocidade aproximada do vento.

EXPRESSÃO ESPECIFICAÇÃO PARA A ESTIMATIVA DA VELOCIDADE


FORÇA
DESCRITIVA VELOCIDADE DO VENTO APROXIMADA (m/s)

0 Calmo A fumaça sobe verticalmente 0


1 Ar em movimento A direção do vento é indicada pela fumaça 1
Sente-se o vento no rosto; sussurram as
2 Aragem 2
folhas
Folhas e ramos em movimentos constantes;
3 Brisa suave 4
o vento estende uma bandeira leve
O vento levanta o pó e papel solto;
4 Brisa moderada 7
pequenos galhos são movidos
Pequenas árvores começam a balançar;
5 Brisa fresca cristas onduladas são formadas nas águas 10
dos lagos e rios
Movimento nos grandes galhos de árvores;
6 Brisa forte ouvido o assobio dos fios elétricos, guarda- 13
chuvas são usados com dificuldade
Árvores inteiras em movimento; torna-se
7 Ventania moderada 16
inconveniente andar contra o vento
Galhos de árvores são quebrados;
8 Ventania fresca geralmente locomoção é impedida; afeta o 19
movimento dos veículos
Ligeiras danificações em edifícios; por
9 Ventania forte exemplo, saltam telhas dos telhados; 22
antenas são danificadas
Raramente experimentada no interior dos
10 Ventania total continentes; danos excessivos nos edifícios; 26
árvores são arrancadas
11 Tempestade Muito raro; causa danos generalizados 30
Extremamente destrutivo para todas as
12 Furacão 34 e maior
coisas no seu curso

133
Para quantificar o efeito conjunto da chuva e do vento sobre as vedações das
fachada, os britânicos desenvolveram um Índice de Chuva Incidente que pode
ser aplicado como critério para definir o grau de intensidade de exposição de
paredes de alvenaria à penetração da água. Este índice, conhecido como DRI
(Driving Rain Index), pode servir para balizar a adoção de parâmetros mínimos
destinados ao projeto de vedações, com ou sem revestimentos de acordo com a
pluviosidade e velocidade do vento da localidade da construção. LACY (1971)
apresenta o DRI, criado no Building Research Station, explicando o seguinte:

“Os índices pluviométricos medidos junto a paredes de edificações mostraram


que a quantidade de chuva incidente sobre uma parede é diretamente
proporcional ao produto da quantidade de chuva caída na horizontal pela
velocidade do vento durante a chuva. Contudo, a velocidade do vento durante
a chuva não é usualmente medida separadamente. Assim, o produto da
precipitação média anual pela velocidade média anual do vento é usado como
Índice de Chuva Incidente e por este motivo associado a penetração de água
de chuva.”

Deve-se calcular o DRI como sendo o produto da precipitação média anual em


mm pela velocidade do vento em m/s, dividido por 1000 e expresso, portanto, em
m2/s. Dispondo destes dados para cada localidade, podemos encontrar o DRI
adequado ao projeto. Desta forma, se considerarmos para a cidade de São
Paulo velocidade média de 4 m/s e precipitação média anual de 1200 mm,
teríamos um DRI aproximado de 5 m2/s.

PEREZ (1986) apresenta alguns DRIs de cidade brasileiras. De acordo com os


dados deste trabalho, a precipitação máxima em São Paulo, com tempo de
recorrência de 50 anos é de 65 mm/h. 5

GRIMM (1982a) usou vários índices de precipitação e velocidade do vento


disponível e concluiu que aqueles considerados por LACY (1971) eram mais
adequados. LACY (1971) definiu ainda três categorias gerais de condição de

5
PEREZ (1986) utilizou como fonte a Revista do DAEE N. 33 – Chuvas de Intensidade no
Estado de São Paulo (separata), 1973.

134
exposição à penetração de água: protegida, moderada e severa. Além disso, ele
verificou que as partes da fachada mais expostas à penetração de água são
aquelas próximas às extremidades dos lados (esquinas), podendo em alguns
casos chegar a ser duas vezes mais solicitada. Este autor considera que todas
as paredes de edifícios localizados a 8 km ou menos do mar, grandes lagos ou
estuários de rios devem ser consideradas expostas a condições severas.

Tabela 3.3 Índice de Chuva Incidente (DRI) em algumas cidades brasileiras


segundo dados apresentados por PEREZ (1986).

Velocidade do vento Precipitação média


Localidade DRI
média anual (m/s) anual (mm)
Belém 3 2609 8

Belo Horizonte 3 1340 4

Campinas 5,7 1172 6,6

São Paulo 4 1193 5

Rio de Janeiro 4 1041 4

Florianópolis 4 1393 6

Salvador 4 1587 6

Fortaleza 4 1570 6

Petrolina 4 441 2

Santos 3 2066 5

A Tabela 3.4 apresenta as três condições de exposição a que podem está sujeita
uma vedação vertical. Além de considerar a localização geográfica em relação a
um grande corpo d’água, o autor observa a exposição da edificação em função
de sua altura e posição topográfica, posição relativa da parede em relação à
edificação e o DRI.

Deve-se também considerar que uma parede está protegida da chuva incidente
quando edificações permanentes na vizinhança protegem a parede em todas as
direções e possuem altura superior ao respaldo da parede equivalente a 1,2
vezes a distância horizontal que as separam ou ainda se existir uma outra
parede além do respaldo da parede em questão, cuja largura seja pelo menos 85
% da altura.

135
Tabela 3.4 Condição de exposição de paredes expostas a chuva incidente
(LACY, 1971)6.
PAREDE SEM PROTEÇÃO DE OBSTÁCULOS DA VIZINHANÇA

REGIÃO DA PAREDE PRÓXIMA AO REGIÃO DA PAREDE PRÓXIMA AO


DRI CONTORNO DA FACHADA7 CONTORNO DA FACHADA

SIM NÃO SIM NÃO

0 a 1.5 severa8 moderada protegida protegida


1.6 a 3.0 severa moderada moderada protegida
3.1 a 5.0 severa severa severa moderada
> 5.1 severa severa severa severa

GRIMM (1982) adaptou estas recomendações para as práticas norte-americanas


especificando as recomendações para a definição de alvenarias. Para a
condição de exposição severa ele recomenda o uso de paredes duplas com
vazio de pelo menos 50 mm de largura. O autor alerta para o cuidado de uso de
juntas de argamassa horizontais paralelas, sem preenchimento dos septos dos
blocos.

Para paredes simples GRIMM (1982a) recomenda o uso obrigatório de


revestimentos exteriores. Alternativa ainda menos eficiente, são as paredes
compostas de blocos vazados de concreto e revestidas com painel exterior de
alvenaria de tijolos maciços com pelo menos 175 mm de espessura. Em
situações de exposição consideradas moderadas este pesquisador admite
paredes de alvenaria de tijolos com pelo menos 150 mm de espessura
revestidas com argamassa e pintura ou parede simples de blocos vazados de
concreto ou cerâmica com espessura mínima de 150 mm, com juntas de
argamassa horizontais paralelas, sem preenchimento dos septos.

Em todos os casos de paredes aparentes GRIMM (1982a) chama a atenção


para o correto frisamento das juntas de argamassa, limpeza dos vazados dos

6
A atual norma BS 5628 (1986) reviu estes valores e alterou a classificação inicial prevista por
LACY (1971).
7
Próximas à esquinas das fachadas são as regiões de parede que distam menos de 1/10 da
largura da fachada medido a partir das esquinas e a menos de 1/10 da altura medido a partir do
respaldo.
8
Todas as paredes de edifícios localizadas a 8 km ou menos do mar, grande lago ou rio devem
ser consideradas sob condição de exposição severa.

136
blocos e necessidade de aderência adequada. Ele acrescenta ainda os cuidados
com os reforços metálicos entre os dois painéis das paredes duplas resistentes à
corrosão e juntas de controle e detalhes construtivos adequadamente projetados
para evitar fisssuração.

3.3 A ação da umidade e a condensação

A condensação aparece na maioria dos estudos como segunda maior origem


dos problemas relacionados à ação da água. REYGAERTS (1978) realizou um
amplo levantamento na Europa que mostra que a condensação é responsável
por 25 % dos problemas que têm origem na ação da água. No Brasil, PEREZ
(1986) diz que este também é o segundo maior problema, mas em percentuais
de 5 a 10 %. A condensação é mais crítica em países de clima frio, onde os
sistemas de calefação e os hábitos dos usuários tem grande influência em seu
surgimento. Nestes países as vedações de fachada apresentam melhor
desempenho, aumentando a participação percentual da condensação.

A quantidade de água no vapor de água que o ar pode conter é limitada e


quando este limite é alcançado o ar é dito saturado. O ponto de saturação varia
de acordo com a temperatura - quanto maior a temperatura do ar, maior a massa
de água em vapor que o ar pode conter. Isto é um dos fatores que explica um
maior número de problemas de umidade em países de clima frio. (BRE, 1972)9

O vapor de água é um gás, e em uma mistura de gases, como a presente no ar,


ele contribui para a pressão de vapor total exercida pela mistura. A razão entre a
pressão de vapor de uma mistura qualquer de vapor de água e ar pela pressão
de vapor de uma mistura saturada à mesma temperatura é chamada de umidade
relativa (UR) e expressa em percentagem.

A umidade relativa é associada pois, à quantidade de vapor de água presente no


ar que pode saturar à mesma temperatura. Assim, por exemplo, se temos um
ambiente com 20 ºC e 80 % de UR, podendo toda água está na forma de vapor,
se mais vapor de água for acrescentado e a temperatura permanecer constante,

9
Este item é baseado no trabalho apresentado no Digest 110 do BRE (1972) e na dissertação de
mestrado de PEREZ (1986).

137
a umidade relativa deverá crescer. Nestas condições o ponto de saturação (UR
= 100 %) pode ser alcançado e a partir deste, qualquer quantidade de vapor
adicionada irá se depositar como condensação. Se, por outro lado, a quantidade
de vapor de água permanecer constante e a temperatura diminuir, como o ar
mais frio pode suportar menos umidade, a UR deverá se elevar até a saturação
quando a temperatura estiver em 15 ºC. A partir deste momento, qualquer
decréscimo na temperatura implicará em condensação. Este momento será,
portanto, considerado como o ponto de orvalho (dew-point) para o ar daquele
ambiente.

Condições que provocam a condensação

Sabemos então que mudanças na temperatura e umidade do ar podem provocar


condensação. Estas mudanças podem ocorrer naturalmente - pelas
transformações nas condições atmosféricas - ou artificialmente - pelo ação dos
usuários das edificações ou processos industriais. Por isso mesmo o fenômeno
ocorre com maior intensidade nestes ambientes.

O CSTC (1975) em estudo publicado no Digest 176, mostra que a incidência de


condensação é particularmente importante em edificações destinadas a moradia,
principalmente nas públicas. O mesmo trabalho atribui estes problemas a dois
fatores principais: calefação e ventilação inadequadas. Dos 254 casos de
patologia de edificações, 50 % eram problemas de umidade. 90 casos eram de
problemas de condensação, sendo 56 de condensação superficial e 34 de
condensação intersticial. No Brasil, a umidade alta de regiões do país e as falhas
de projeto que dificultam a ventilação, podem ser apontadas como as principais
causas dos problemas devido a condensação (PEREZ, 1985).

Condições atmosféricas

Quando um período de clima quente segue um período frio, parte significativa


dos elementos do edifício, ainda não completamente aquecida, permanece ainda
fria por algumas horas. Isto ocorre, por exemplo, com as estruturas e alvenarias
de vedação. No caso de paredes de grande espessura, o tempo de aquecimento
pode levar até alguns dias. Quando o ar aquecido e úmido entra em contato com
as superfícies ainda frias destes elementos, que estão abaixo do ponto de

138
orvalho, o vapor de água presente no ar condensa. Mas, logo que as paredes de
aquecem a sua temperatura excede aquela do ponto de orvalho, a condensação
cessa e a umidade formada pela condensação evapora.

Um edifício construído com materiais leves deve aquecer mais rapidamente,


sendo, portanto, menos sujeito a condensação. De maneira geral, quanto maior
for a capacidade das vedações em manter-se aquecidas, mais tempo a
condensação deverá permanecer.

Influências artificiais

A umidade presente em um ambiente ocupado por pessoas é geralmente maior


que fora dele. Nossos corpos e as atividades que desenvolvemos aumentam a
quantidade de umidade presente no ar. Pessoas sedentárias por exemplo,
exalam mais de um litro de água, na forma de vapor por dia. Atividade física
pode provocar até quatro litros de água na forma de vapor. Atividades
comumente desenvolvidas dentro de residência como, tomar banho quente,
cozinhar alimentos, lavar e secar roupas e a combustão de óleo e gás liberam
umidade em grandes quantidades. Muitas atividades industriais requerem altas
umidade e temperatura. Algumas liberam grandes quantidades de vapor. Nestes
casos, o risco de condensação é muito grande quando a temperatura do ar fica
acima dos 20 ºC e a umidade acima de 60 % por longos períodos.

Mesmo no inverno pouco intenso que acontece na região Sudeste brasileira,


podemos verificar com freqüência a formação de condensação nas superfícies
mais frias de banheiros e cozinhas, como azulejos e espelhos, fato agravado
pelas janelas permanentemente fechadas durante e após o banho com água
quente. Como não temos normalmente sistemas de calefação, a condensação
pode acontecer até mesmo nas superfícies das paredes de dormitórios e salas
que encontram-se resfriadas. A rápida remoção do ar úmido destes locais pode
reduzir bastante a possibilidade de condensação. Logo após o banho quente,
durante o inverno, experimente abrir a janela do banheiro.

Água absorvida durante a execução da obra

Durante os primeiros meses de vida, um edifício está sujeito à condensação


devido à evaporação da água empregada na construção de suas partes como a

139
estrutura e as vedações. A maior parte desta umidade evapora para o ar interno
dos ambientes e então se condensa em regiões frias, usualmente à noite. O
BRE (1972) estima que esta quantidade de água pode chegar até 4.000 kg,
prolongando-se o período de secagem em até um ano. Alguns benefícios podem
ser obtidos deixando-se portas internas e a ventilação permanente das janelas
liberada para facilitar o processo de secagem.

Superfícies e materiais absorventes

A condensação temporária ou intermitente, que é facilmente visível em


superfícies não absorventes, pode passar despercebida em superfícies e
materiais absorventes. A água condensada pode então ser absorvida e retida até
que as condições de secagem se modifiquem, mas a condensação somente
pode ser dissipada desta maneira se os períodos de ocorrência do fenômeno
forem curtos o suficiente e os períodos de secagem longos o bastante para
evitar a completa saturação dos materiais absorventes.

PEREZ (1986) chama atenção ainda para as pontes térmicas. Estas pontes são
regiões das vedações que sofrem maior perda de calor e portanto, apresentam
temperaturas menores, são regiões vulneráveis à condensação. As pontes
térmicas são criadas principalmente em locais de descontinuidade de materiais,
como: pilares, vergas e contra-vergas, juntas e tubulação de água fria embutidas
nas paredes.

Condensação intersticial

Quando os materiais de uma parede ou elemento de vedação de um edifício são


permeáveis ao vapor da água - e isto é praticamente aplicável a todos os
materiais de construção - a temperatura de ponto de orvalho pode ser associada
a cada ponto distinto no interior do material. Do mesmo modo que o gradiente
térmico varia dentro de uma vedação, dependendo das propriedades térmicas de
seus constituintes, o gradiente de ponto de orvalho depende das condições de
difusão de vapor de água destes componentes e materiais. Se em algum ponto a
temperatura for inferior ao ponto de orvalho a condensação poderá ocorrer.

Por exemplo, a temperatura ao longo da espessura de uma parede pode variar a


partir da face interna (acima do ponto de orvalho) para a face externa (abaixo do

140
ponto de orvalho). Em uma dada posição intermediária entre estas duas faces, a
temperatura poderá ser igual à temperatura de ponto de orvalho e a
condensação poderá ocorrer.

O processo exato que ocorre em uma situação como essa é complexo e difícil de
ser explicado pelo fato da água condensada poder alterar as propriedades
térmicas e de transmissão de vapor nos materiais porosos. Entretanto, o
conceito acima pode ser empregado para a verificação de situações nas quais
pode ocorrer risco de condensação.

Se a parte externa de uma parede é permeável à umidade ou ocorre ventilação


atrás de uma parede impermeável, a condensação não é problemática, pois a
umidade pode evaporar gradualmente para o ar externo. Se a face externa da
parede é impermeável, a umidade de condensação tende a se acumular dentro
da parede e pode, em último caso, saturar os materiais. Esta situação poderá ser
mais crítica quando a umidade do ar interno for alta.

Uma barreira de vapor na face interna da parede (potencialmente o lado mais


aquecido de todas as camadas de uma vedação, pelo menos no inverno),
poderá prevenir a passagem de vapor de água para dentro da parede, mas
somente se ela não sofrer danos e for contínua. Se a face externa da parede for
mais permeável ao vapor do que a barreira de vapor instalada na face interna,
qualquer umidade contida dentro da parede poderá escapar para o ar exterior.

Se, contudo, a face externa da parede tiver um revestimento impermeável, um


vazio ventilado deverá ser formado entre o revestimento e a parede de modo
que qualquer umidade que se evapore da parede possa ser removida. Esta
condição explica os detalhes construtivos de revestimentos não aderidos
empregados em países de clima frio que podem ser vistos na literatura
pertinente. Em alguns casos, por trás destes revestimentos (normalmente
madeira ou cerâmica), são instaladas barreiras de vapor, próximas a face mais
fria da parede, para evitar a passagem de chuva incidente. Os materiais
empregados nestes casos devem permitir a saída do vapor de água, deixando a
vedação respirar.

141
4 O DESEMPENHO DAS VEDAÇÕES VERTICAIS À AÇÃO DA ÁGUA

O desempenho das alvenarias frente à ação da água depende


fundamentalmente de quatro aspectos fundamentais: projeto, execução,
materiais e manutenção. Mesmo empregando materiais que cumprem os
requisitos das normas (que lembramos, são mínimos) não se pode garantir o
desempenho adequado frente à ação da água. Para isto o projeto e a qualidade
da execução são preponderantes.

Neste item discutiremos o desempenho das alvenarias frente à ação da água de


chuva e alguns aspectos relativos ao desempenho das divisórias de gesso
acartonado.

4.1 O desempenho das vedações em alvenaria

A maioria dos autores que estudaram a ação da água nas vedações verticais
destaca a qualidade do projeto como o principal fator para tornar uma parede
resistente à penetração de água. É no projeto que se compatibilizam as
condições de exposição definidas para cada caso, com as características que a
parede apresentar para um desempenho adequado.

GRIMM (1982) afirma que “a consideração adequada de todos os fatores


intervenientes na elaboração do projeto e o controle durante a execução podem
reduzir sensivelmente o número de problemas e, conseqüentemente, as
reclamações e necessidade de manutenção, quase sempre onerosas e
complicadas”.

A qualidade da mão-de-obra também pode ser considerada um fator


preponderante para a obtenção da aderência entre o bloco/tijolo e a junta de
argamassa e por conseguinte, na capacidade da parede de resistir à passagem
da água.

Para PARISE (1982), um passo importante para equacionar os problemas de


penetração de água, corrosão, fissuras e deterioração dos ambientes externos
das edificações devido à ação da água foi o advento das paredes duplas com
vazios internos (cavity walls) e compostas (barrier ou vennered wall), onde o

142
espaço entre as duas folhas é preenchido ou não existe. Estes tipos de parede
tem sido utilizados há mais de 50 anos em vários países ao ponto de ser cada
vez mais raro encontrar paredes maciças em fachadas. Na solução mais
comumente empregada nos dois casos, a folha interna é de blocos vazados de
concreto e a folha externa em tijolo cerâmico. Dificilmente estas paredes são
revestidas de argamassa e poucas vezes empregam-se pinturas. Nos Estados
Unidas da América, por exemplo, todas as importantes entidades que se
dedicam ao estudo das alvenarias (já citadas), recomendam o uso de paredes
duplas para as vedações de fachada.

As paredes duplas são caracterizadas pela existência de um vazio, livre de


argamassa e graute, entre dois painéis que tem função principal de evitar a
migração da água através de capilaridade para o painel interno. Para atingir este
requisito, o vazio deve ter espessura mínima de 50 mm de modo que seja
possível executá-lo adequadamente, permitindo acesso para limpeza (BIA,
1985). PARISE (1982) afirma que as tentativas práticas de construir paredes
duplas com vazios menores que este resultaram em problemas devido a
dificuldade de limpeza e conseqüente preenchimento com restos de argamassa.
Além disso, vazios menores dificultam a colocação de ancoragem entre os dois
painéis e colocação de rufos internos (flashing) na base da parede para
possibilitar a drenagem da água que penetra pela folha externa. (BIA, 1985)

Mesmo tendo seu uso previsto pela normalização e reconhecido desempenho no


controle da ação da água nas vedações exteriores, as paredes duplas não são
infalíveis. PARISE (1982) relata vários casos de patologias principalmente
devido a erros de projeto e falhas de execução.

A qualidade das argamassas e unidades de alvenaria é outro fator importante


para minimizar a ação da água nas paredes. A análise de desempenho destes
dois materiais deve ser sempre feita em conjunto, pois é a interação entre eles
que mais interessa para a passagem da água. A normalização internacional
disponível a respeito, enfatiza também a importância da qualidade dos materiais.
Em geral são levados em conta dois critérios principais: a durabilidade
(principalmente para alvenarias aparentes) e a compatibilidade bloco/tijolo com

143
as argamassas de assentamento, tipos de revestimento, deformações esperadas
e modularidade.

Como vimos, é principalmente pelas falhas de ligação entre os blocos/tijolos e a


junta de argamassa que a água normalmente encontra acesso para o interior da
parede. Para se avaliar a aderência leva-se em consideração a resistência de
aderência e a extensão de aderência. A resistência de aderência é a força
necessária para separar a unidade de alvenaria da argamassa, por unidade de
área. A extensão de aderência é a medida da área de contato na interface.

Trabalhando com vários tipos de tijolos cerâmicos e diferentes dosagens de


argamassa, FISHBURN (1942) encontrou problemas de permeabilidade
excessiva em tijolos de sucção baixa assentadas com argamassa de retenção
elevada e tijolos de alta absorção assentados com argamassa de retenção
baixa.

Uma regra prática, entretanto, merece destaque para a definição das


argamassas mistas (cimento e cal) de assentamento destinadas às alvenarias:
“procure sempre usar a argamassa mais fraca (resistência à compressão)
possível, compatibilizando os demais requisitos de projeto”.

4.2 Ensaios e estudos sobre a estanqueidade de paredes

O ensaio mais conhecido e utilizado para avaliar a permeabilidade das


alvenarias é o prescrito pela ASTM E 514 (1991). Na verdade, este ensaio foi
desenvolvido no National Bureau of Standards10 dos EUA e deu origem ao
clássico trabalho de FISHBURN (1942). O procedimento consiste em submeter a
face externa de uma parede ou painel a uma vazão de água padronizada (2,3
l/m2/min)11 para criar uma película homogênea e contínua. Para que seja
possível simular a ação do vento, o ensaio é realizado acoplando-se uma
câmara estanque à face da parede de modo que seja possível introduzir uma
pressão pneumática (500 Pa12). Para verificação da estanqueidade são

10
Report BMS 7 – Water permeability of masonry walls (1933).
11
Esta vazão corresponde a uma chuva de 138 mm/h.
12
A pressão de 500 Pa equivale a aproximadamente 50 mmca. e corresponde a um vento de
cerca de 28 m/s (100 km/h).

144
observadas a incidência de manchas de umidade (intervalo de tempo necessário
ao aparecimento, crescimento até 4 horas) e infiltração (intervalo de tempo
necessário ao fluxo13 e vazão) que ocorrem na face oposta da parede.
Inicialmente a norma previa observações em períodos de até 72 horas. Após
várias revisões a norma passou a recomendar observações até 4 horas,
espaçadas de 30 em 30 minutos e repetição do ensaios após 28 dias.

O principal mérito da ASTM reside em considerar de modo conjunto, os


principais fatores que influenciam na resistência à infiltração de água de uma
parede (projeto, mão-de-obra e materiais). O método da BS 4315 (1970) também
emprega parâmetros semelhantes (vazão de 2,5 l/min. e pressão de 500 Pa),
acrescentando filmagem time-lapse para os registros e peso da parede após o
ensaio (48 h). O CSTB (1959) também tem seu ensaio de estanqueidade, mas
pulverizando água (24 dm3/m2/h) à pressão de 100 Pa por 24 horas, quando se
verifica extensão da mancha, total do fluxo de água que migrou pela parede e
seu peso. O mesmo acontece com o BRI (1973), que também adota o mesmo
mecanismo com valores distintos (vazão de 4 dm3/min./m2 e pressão variando de
0 a 6130 Pa), para classificar as paredes em nove diferentes níveis de
resistência à passagem da água.

Trabalhando com as prescrições desta norma, RIBAR (1982) pesquisador da


Portland Cement Association, estudou a permeabilidade de paredes de
alvenarias compostas de um painel exterior de tijolo cerâmico e um painel
interno de bloco de concreto, aderidos entre si, com uma espessura final de 30
cm. Variando os tipos de blocos, argamassas, cura e condições de exposição ele
conclui que somente as paredes simples com 30 cm de espessura são
resistentes à passagem da água. RIBAR (1982) concluiu ainda que as condições
de exposição precisam ser revistas pois seriam muito rigorosas quando
comparadas às situações reais. KROGSTOD et al. (1993) também critica esta
norma afirmando que “a duração de ventos fortes ocorre durante somente uma
pequena percentagem da duração da chuva”. Ele considera que o ensaio serve,
principalmente para análise comparativa.

13
FISHBURN (1942) definiu e a ASTM E 514 depois adotou que, para existir um fluxo de água

145
Esta, de fato, é a crítica mais importante ao ensaios da ASTM E 514, que
reconhecida até por FISBURN (1942), emprega valores de pressão e vazão
muito rigorosas. Este autor explica que as observações mais importantes devem
ser tomadas nas primeiras horas do ensaios, sendo sua continuidade
interessante para efeitos de análise comparativa entre os diversos tipos de
paredes / vedações ensaiadas.

HUIZER & WARD (1982) estudando a penetração de chuva incidente em


paredes de alvenaria analisaram o uso das paredes simples e duplas para
concluir que as paredes de blocos de concreto simples e sem revestimento
apresentam uma baixa resistência à penetração de água de chuva. Aqui
devemos atentar para o fato que todas as análise partem do uso de blocos de
concreto segundo a norma ASTM C 90 (1991) com espessura de 204 mm, faces
laterais com 35 mm, septos com 25 mm e absorção limitada a 10 %.

MONK (1982) foi provavelmente o primeiro que adaptou o método da ASTM E


514 para realizar ensaios de campo. Ele propôs inclusive um modo de calibrar a
pressão do ar para simular situações mais próximas às encontradas nos locais
onde eram feitas as verificações.

O método da ASTM E 514 foi adaptado pelo IPT (1981) que empregou o ensaio
para fazer vários estudos no Brasil. PEREZ (1986), analisando ensaios de
estanqueidade realizados no IPT14 em paredes de tijolo, bloco cerâmico, blocos
de concreto e painéis de concreto maciço, constatou que a maioria dos sistemas
de pinturas empregados para melhorar a estanqueidade foram falhos em sua
maioria. Ele observa que os melhores resultados foram obtidos com
revestimento de argamassa. BAUER (1987) também usou metodologia
semelhante com aplicação de 260 Pa após uma fase inicial onde apenas a água
atuava na face da parede.

SABBATINI e FRANCO (1988) também construíram uma câmara de campo para


realizar avaliação de estanqueidade. Neste estudo, os autores analisaram

3
(leakage) é necessária uma vazão de 3 dm /min.
14
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Penetração de água em
paredes externas. São Paulo, 1981. (Relatório 13.258).

146
paredes de blocos cerâmicos vazados (14 cm de espessura) e aparentes em
edifícios de alvenaria estrutural. Submetendo as paredes à vazão de 3 dm3 / min
e à pressão 30 mmca em uma câmara de 0,5 m2, estes autores observaram que
paredes com juntas mal preenchidas apresentaram manchas em 15 minutos. A
maior parte das paredes ensaiadas, entretanto, apenas apresentaram manchas
no lado interno somente após 1 horas após o início do ensaio com aplicação
simultânea de água e pressão. Após 4 horas de ensaios a maioria das manchas
foram inferior a 3 % da área ensaiada. Comparando paredes tratadas com
silicone eles também observaram melhorias de desempenho.

HOLGARD (1993) realizou mais de 200 ensaios de campo empregando uma


câmara de 1,22 x 0,91 cm. Usando o método da ASTM eles mediu a quantidade
de água perdida em circuito fechado. Para ele a água pode migrar para baixo da
parede, pelas laterais e até voltar para fora, influenciando no tempo de
surgimento da mancha na face posterior da parede, provocando saturação. Ele
defende a manutenção dos critérios da norma e afirma que ainda faltam dados
para melhor comparar os resultados. Este autor chega a propor uma
classificação em termos de vazamento observado. Para ele não se deve confiar
em uma parede pela aparência, pois paredes que parecem ser boas contra a
penetração de água podem ser ruins e vice-versa.

Estudando os efeitos de aditivos hidrofugantes adicionados aos blocos de


concreto e argamassa, CHIN; GATES (1993) estudaram a estanqueidade de
paredes pela ASTM E 514. Eles inicialmente explicam que estes aditivos não
impedem a aderência entre os blocos e as argamassas pois agem após o
endurecimento inicial. Empregando dosagens variadas (190 a 800 ml / 45 kg de
cimento Portland) e diversos tipos de aditivos, estes autores chegaram a
conclusão que observações até 4 horas não eram suficientes. Eles verificaram
que os resultados variaram muito para diferentes aditivos nas diferentes
dosagens e que para alguns produtos, as melhorias são relativamente pouco
significativas.

O método desenvolvido pelo CSTC, conhecido no Brasil como Método do


Cachimbo foi utilizado por POLISSENI (1986) e KAZMIERCZAK(1989) para
ensaios em paredes. Este método baseia-se no uso de um tubo de vidro de

147
formato em L que, acoplado à face da parede, permite a ação de uma coluna
d’água de altura padrão. Além de avaliar uma área muito pequena, este método
não considera a ação do vento e a energia cinética das gotas, fundamentais para
a infiltração de água pela fachada. A este respeito KROGSTOD et al. (1993)
observa ainda que “os resultados variam muito em função do lugar onde está
posicionado o tubo de vidro, não avaliando o sistema como deveria ser”.

Mais recentemente, DRISCOLL; GATES (1993) analisaram vários métodos de


verificação da estanqueidade ensaiando paredes de blocos de concreto e
concluíram que os resultados pelo método do CSTC podem levar a conclusões
não confiáveis.

4.3 A importância dos revestimentos

O papel dos revestimentos na estanqueidade das vedações verticais deveria ser


auxiliar, entretanto, nas alvenarias empregadas no Brasil, os revestimentos
argamassados podem ser responsabilizados por até a totalidade da resistência à
penetração de água.

Para que os revestimentos apresentem resistência compatível à passagem da


água, um conjunto de fatores e variáveis devem ser observadas. Além das
propriedades e características dos materiais constituintes e características da
base onde serão aplicados, o desempenho dos revestimentos é muito
influenciado pela técnica de aplicação empregada e qualidade da mão-de-obra.
Por isso, SABBATINI (1989) ressalta a importância das propriedades das
argamassas de revestimentos ainda no estado fresco. Para ele a argamassa
precisa apresentar-se coesa, distribuir-se facilmente, ser capaz de preencher as
reentrâncias da base, não segregar durante o transporte e não ficar firme com
rapidez quando em contato com bases de sucção elevada.

Os revestimentos, entretanto, possuem capacidade limitada de garantir a


estanqueidade ao longo do tempo. A ocorrência de fissuras na paredes quase
sempre implicam em fissuras nos revestimentos argamassados e até mesmo
nas pinturas, quase sempre comprometendo a estanqueidade. Qualquer que
sejam os cuidados a serem tomados, o objetivo principal no caso da
estanqueidade é evitar que ocorra fissuras que permitam a passagem da água.

148
Para isto o revestimento deve ser capaz de acomodar pequenas movimentações
da base sem apresentar fissuras prejudiciais. Revestimentos de pequena
espessura, por exemplo, apresentam menor capacidade de absorver
deformações e, portanto, maior facilidade para fissurar, permitindo a passagem
da água. Por outro lado, revestimentos com espessura muito elevadas, também
podem apresentar fissuras devido a retração elevada e problemas de aderência.
As antigas técnicas de execução de revestimentos parecem ter dado mais
resultados do que as que utilizamos hoje. O uso de emboço e reboco em duas
camadas distintas, constituía-se numa barreira dupla, normalmente mais
eficiente para resistir à passagem da água.

ALMEIDA et al. (1995) estudaram a influência do revestimento da estanqueidade


em paredes de alvenaria. Utilizando as mesmas condições de SABBATINI,
FRANCO (1989), eles analisaram o comportamento de argamassas
industrializadas e mistas sobre diferentes tipos de alvenaria encontrando
resultados satisfatórios (não surgimento de mancha mesmo após 8 horas) para
espessuras de revestimento de 25 mm e alvenaria de blocos cerâmicos.
Utilizando argamassa mista (1:2:9 em volume de cimento Portland, cal hidratada
e areia, respectivamente) para revestimentos nas mesmas condições os
resultados apenas não foram satisfatórios para alguns blocos empregados.

KAZMIERCZAK(1989) também estudou a influência dos revestimentos


argamassados empregando os parâmetros de ensaio de BAUER (1987) e
observou que as paredes revestidas apresentam desempenho bem superior às
não revestidas. Nestes ensaios as manchas internas em paredes com
revestimentos de 15 mm de espessura e blocos cerâmicos de 128 mm de
largura, foram todas inferiores a 2 % da área ensaiada, após 2 horas de
observação. Para alguns casos ele constatou que os revestimentos foram
responsáveis por 100 % da estanqueidade observada.

4.3 Vedações em divisórias de gesso

Hoje em dia, muito se discute a produção de vedações verticais internas em


torno das alternativas construção seca ou construção molhada. De modo geral,
argumenta-se que a construção tradicional ou molhada tem baixa produtividade
e ocupa lugar no caminho crítico no cronograma da obra. As vantagens da

149
construção seca são discutidas em uma análise econômica detalhada por
NAVON et al. (1996). Este autor cita vantagens normalmente citadas como:
maior possibilidade de modificações futuras, maior facilidade de controle de
produção, menor necessidade de transporte e estocagem no canteiro. Neste
trabalho o autor levanta ainda a questão cultural do uso das divisórias secas,
que são chamadas normalmente de dry wall.

É possível encontrar em catálogos de fabricantes diversos tipos de painéis


projetados especialmente para resistir à ação da água. Existem até painéis
desenvolvidos para uso externo, como base para revestimentos finais tais como:
clapboard de madeira e vinílico, parede de tijolos decorativos (brick veneer),
shingles, revestimento cerâmicos e revestimento argamassado. De acordo com
o fabricante, estes painéis são ancorados a um suporte resistente e fabricados
com núcleo e faces (cartão) altamente resistentes à ação da água, mantendo-se
permeáveis ao vapor para evitar condensação. (NGC, 1997)

Neste trabalho discutiremos apenas um pouco sobre a ação da água nas


divisórias leves de gesso acartonado ou simplesmente divisórias de gesso, como
chamaremos de aqui por diante. Nossa experiência como usuários, e portanto,
como patologistas ainda é bastante restrita neste assunto. Relativamente, ainda
temos poucos obras construídas com estes painéis e todas elas ainda muito
recentes para analisarmos suas falhas potenciais. Por isso, nossa discussão
tratará mais especificamente sobre algumas normas importantes sobre assunto,
procurando esclarecer aspectos que julgamos importante para a análise da
resistência à ação da água.

Normalização

Embora nossa experiência de uso de divisórias leves de gesso em nossas obras


ainda não nos permita verificar a ação da água nestas vedações, já dispomos
alguma normalização nacional sobre o assunto. Os critérios da normalização
brasileira levam em conta os problemas de descolamento, delaminação e
fissuras que possam ocorrer nos painéis devido à ação da água. Três situações
são contempladas: a ação direta da água, a ação do calor em conjunto com a
umidade e a estanqueidade à água proveniente da lavagem de piso. A norma de

150
procedimento NB 1313 (1990) trata das divisórias levas internas. Esta norma
prescreve que, sob a ação da água a divisória não deve apresentar:

• variação de espessura superior a 10 %;

• descolamentos e/ou delaminações de cada capa, cuja somatórias das


extensões seja superior a 10 % da largura efetiva;

• fissuras verticais nas capas com extensão superior a 10 mm, medidas a partir
da borda que foi imersa.

Para determinação destas características existem os métodos brasileiros MB


3257 (1990) e MB 3260 (1990) que tratam, respectivamente, do comportamento
sob ação do calor e umidade e da estanqueidade à água proveniente de
lavagem de piso.

Para verificar o efeito somente da água, o painel é imerso 20 mm verticalmente


sobre dois apoios pontuais, em um recipiente com água, durante oito horas. Em
seguida é retirado e passa a secar livremente apenas com aeração natural por
48 h. Transcorrido este período são tomadas quatro medidas na borda inferior
que havia sido imersa. Mede-se as extensões das delaminações e/ou
descolamentos e as fissuras ocorridas na capa para verificação das tolerâncias
mencionadas. Para verificar o efeito conjunto do calor e da umidade, emprega-se
uma parte de 500 mm de altura da borda não imersa do painel. Esta borda deve
estar protegida contra umidade. Em seguida, submete-se o corpo-de-prova a
ciclos alternados de umedecimento, ora em ambiente com UR % entre 80 e 95
% a 25 ºC e ora em ambiente com 50 ºC. O ciclo é repetido duas vezes. Na
primeira (úmido e equilibrado) de 24 h e na segunda de 72 (úmido) e 48 h
(equilibrado).

Por fim, o painel é coberto e ventilado por 48 h, para então serem tomadas as
medidas necessárias e posterior verificação dos requisitos da NB 1313. Para
verificar o efeito da umidade os painéis devem ficar durante 168 h (somatórios
dos ciclos do ensaios anterior) a 25 ºC e entre 80 e 95 % de UR. Nos painéis
resistentes à água deve ser aplicada em uma das duas faces, a cada 24 h,
nebulização com água em temperatura ambiente, à vazão de 0,10 dm3/m2,
sendo que a primeira nebulização ocorre somente após 70 h do início do ensaio.

151
Verificam-se então as dimensões pela NB 3255, comparando-as com as
tolerâncias prescritas na NB 1313.

O outro ensaio na norma brasileira trata da estanqueidade à água de lavagem de


piso. O MB 3260 descreve um procedimento para simular uma situação de ação
direta da água que aconteceria em um box de banheiro, cozinha ou área de
serviço. Este ensaio emprega um corpo-de-prova de pelo menos 100 cm de
comprimento e 50 cm de largura, com uma junta vertical central (tratada
conforme preconizada pela empresa fornecedora) e uma emenda no montante
de piso, próxima a junta. Um recipiente padrão (15 cm de largura, 50 cm de
comprimento e 5 cm de altura, com um dos lados abertos) é colocado de modo a
submeter a região da junta e da emenda, no nível do rodapé, à ação de uma
lâmina de água de 10 mm de altura. Após 24 h deve-se inspecionar a face da
divisória e o piso do lado oposto, registrando-se a presença de eventuais
infiltrações ou manchas de umidade.

A American Society for Testing and Materials apresenta várias normas para
especificação e ensaios destinadas à painéis de gesso. A norma ASTM C 36
(1995) trata da especificação geral dos painéis de gesso. Nesta são
especificados critérios de resistência à flexão, deflexão úmida, dureza das
bordas e resistência ao arrancamento de suportes para fixação. Esta norma
limita as variações de espessura e comprimento dos painéis, contemplando
ainda as condições das bordas e esquadro das arestas. Para os painéis de
gesso resistentes à água existe uma norma específica que prescreve apenas as
espessuras de 12,7 mm (1/2”) e 15,9 mm (5/8”): ASTM C 630 (1993). Além de
estabelecer critérios para as características citadas anteriormente, esta norma
prescreve as especificações para a resistência à água. Dois critérios são
contemplados: imersão e absorção superficial.

A absorção dos painéis resistente à água deve ser inferior 5 % em peso depois
de duas horas de imersão da amostra. Para a absorção superficial os painéis
não devem exceder o limite de 1,6 g depois de duas horas em contato com a
água. Para os dois ensaios são cortadas placas de 305 x 305 mm do centro dos
painéis, separadas em seguida ao meio. Para o ensaio de imersão, metade das
placas é imersa em água na horizontal até serem cobertas em 25,4 mm. Para o

152
ensaio de absorção superficial, que na verdade verifica a resistência à água do
cartão, é empregado um dispositivo denominado Cobb Tester. Este dispositivo é
descrito como um anel estanque de 100 cm2, onde são colocadas as amostras.
O anel é então preenchido com água na altura de 25,4 mm. Depois de duas
horas cada amostra é retirada do anel, removendo-se o excesso de água e
efetuando-se a pesagem. Calculando-se a diferença média de peso da amostra,
têm-se o peso da água absorvida.

Para concluir este item relatamos aqui uma experiência interessante.


Consultando-se na Internet o site de um fabricante15 de divisórias de gesso,
pode-se ter uma idéia a respeito do problema, do ponto de vista de quem já
utiliza estes componentes a bastante tempo. Um técnico da empresa respondia
uma questão sobre a recuperação de painéis de gesso após sofrer ação da água
(Can wet gypsum board be salvaged ?). Resumo aqui a resposta pela coerência
e importância do conteúdo. O técnico respondeu o seguinte:

• painéis de gesso em divisórias verticais que apresentam problema de ação da


água é um problema (comum) enfrentado por construtores e usuários;

• os painéis podem ficar úmidos devido à exposição direta e indireta à água da


chuva e vazamento das instalações (e áreas molhadas).

• se não ocorrem danos considerados permanentes, o painel pode ser


recuperado - vazamentos de água limpa podem secar e o painel volta ao seu
estado normal;

• secando o ambiente, deve secar também o painel, embora às vezes seja


recomendado sua retirada para completa secagem;

• se o cartão estiver soltando-se, deve-se substituir o painel (em seguida


discutiremos as normas ASTM C 36 e C630 que tratam sobre este assunto) -
se a água ascendeu até 120 cm, somente o painel inferior precisa ser
trocado;

• dependendo de quanto tempo ficou molhado, o painel pode sofrer danos.

15
O endereço do site é www.national-gypsum.com. Pode-se consultar ainda a Gypsum
Association no Boletim BA 231 - Assessing and repairing water damage to gypsum board.

153
5 RECOMENDAÇÕES PARA MINIMIZAR OS EFEITOS DA AÇÃO DA ÁGUA
NAS VEDAÇÕES VERTICAIS

Inicialmente devemos entender que o equacionamento dos problemas


relacionados à ação da água de chuva possuem alternativas múltiplas. As
variações existentes nos parâmetros necessários à definição das condições de
exposição são suficientes para justificar o surgimento de várias alternativas para
encaminhar os problemas. No Brasil, por exemplo, os índices pluviométricos
variam bastante. Temos precipitações médias anuais entre 400 e 2000 mm e
velocidade de vento de 2 a 22 m/s. PEREZ (1986); PEDROSO (1988)

Vimos que a penetração da água depende de quatro fatores fundamentais:


projeto, execução, materiais e manutenção. A não consideração de qualquer um
destes fatores pode comprometer o desempenho da vedação. Eles devem ser
equacionados de modo sistêmico, isto é, sempre que um deles se modificar,
modificam-se os demais e o comportamento do conjunto.

O projeto da vedação vertical deve levar em consideração fatores como:


resistência ao fogo, isolamento térmico e acústico, resistência, compatibilidade
com as deformações do suporte, estética, construtibilidade, facilidade de
manutenção, resistência à ação da água e custo. Neste item discutiremos
principalmente o problema da infiltração de água de chuva pelas vedações
verticais exteriores, dando ênfase às recomendações para o projeto das
alvenarias e revestimento de fachada. Em primeiro lugar, porque vimos que este
é o principal problema de ação da água que precisamos enfrentar. Depois, por
que a alvenaria é o material mais empregado para este fim, tanto no Brasil, como
na maioria dos outros países do mundo.

Vedações externas em alvenaria


Nos prédios antigos, os ornamentos e detalhes de alvenarias e revestimentos
que embelezavam a fachada tinham também a importante função de protegê-las
contra as infiltrações da água da chuva que escorria. Para se ter uma idéia da
importância destes fatores, PEREZ (1986) mostra vários estudos em que
pequenas pingadeiras e saliências (20 a 40mm), projetadas corretamente,
podem reduzir em mais de 50% o volume de água que escorre em uma fachada.

154
Assistindo o agravamento destes tipos de problemas, podemos perceber que,
além de termos perdido mão-de-obra qualificada para a execução estes
serviços, parece que perdemos também o senso de preocupação com a
durabilidade devido à ação da água. Não é de se estranhar, portanto, que as
edificações mais novas, sem beirais e pingadeiras, por exemplo, apresentem
com freqüência, sinais de deterioração precoce.

A respeito dos cuidados para o projeto das vedações verticais, vejamos


inicialmente o que diz a norma BS 5628 Parte 3(1985) a respeito da ação da
água nas alvenarias exteriores:

É essencial considerar cuidadosamente o projeto, o detalhamento, a mão-


de-obra e os materiais em relação às condições locais de exposição para
minimizar a infiltração da água nos edifícios.

Na colocação acima, dois pontos importantes merecem ser destacados: a


necessidade de visão sistêmica para equacionar o problema e a consciência que
o problema não pode ser totalmente resolvido, mas minimizado e controlado.
Estes dois princípios governam, no nosso entender, a definição das vedações
verticais frente à ação da água. Assim, um passo essencial para definir as
vedações com relação a este problema é determinar as condições de exposição
a que elas estão submetidas. Para as vedações exteriores, o conceito mais
aceito leva em consideração a definição do Índice de Chuva Incidente (DRI),
conforme discutido.

A elaboração do projeto e seus detalhes, incluindo os cuidados na seleção dos


materiais e técnicas construtivas, e os critérios de controle a serem empregados,
passariam então a ser baseados nestas condições. Dispondo de dados precisos
e baseados em vários estudos experimentais os britânicos recomendam uma
classificação de acordo com DRI. O DRI é baseado nas precipitações anuais
médias e velocidade anual média do vento de cada localidade. A norma britânica
BS 5628 Parte 3 (1985) traz as especificações mínimas para o projeto de
alvenarias de acordo com as condições e exposição caracterizadas
anteriormente. Na Tabela 5.1 temos algumas considerações desta norma.

155
Tabela 5.1 Recomendações para a definição de paredes de alvenaria de acordo
com as condições de exposição segundo a norma britânica BS 5628
Parte 3 (1985).

ESPESSURA
CONDIÇÕES DE DRI CONSTRUÇÃO DA PAREDE SIMPLES
REVESTIMENTO MÍNIMA17
EXPOSIÇÃO m2/s (SINGLE LEAF) 16
(mm)

SIM Alvenaria cerâmica e sílico-calcária 328


18 SIM Blocos vazados de concreto 250
SEVERA >7
Blocos de concreto com agregado leve
SIM 215
ou bloco de concreto celular
SIM Alvenaria cerâmica e sílico-calcária 190
SIM Blocos vazados de concreto 190
Blocos de concreto com agregado leve
SIM 140
MODERADA 3a7 ou bloco de concreto celular
NÃO Alvenaria cerâmica e sílico-calcária 440
Blocos de concreto (vários tipos
NÃO 440
mencionados)
SIM Alvenaria cerâmica e sílico-calcária 90
SIM Blocos vazados de concreto 90
Blocos de concreto com agregado leve
SIM 90
PROTEGIDA < 3 ou bloco de concreto celular
NÃO Alvenaria cerâmica e sílico-calcária 190
Blocos de concreto (vários tipos
NÃO 190
mencionados)

Analisando a Tabela 6.1 percebe-se que para condições severas todas as


paredes simples devem ser revestidas. Caso contrário, as exigências de
espessura são bastante rigorosas. Os parâmetros de definição das alvenarias de
acordo com esta norma (além daqueles considerados para efeito de resistência
mecânica, durabilidade, conforto acústico e isolação térmica) são:

16
Parede simples é aquela que possui apenas um painel de alvenaria. Na Europa e nos EUA é
prática corrente empregar paredes duplas com vazio interno (cavity wall) e paredes compostas
com mais de uma folha trabalhando aderido. Nestes casos as condições de estanqueidade são
diferentes conforme se percebe nos critérios apresentados por GRIMM (1982b).
17
Foram considerados os menores valores de espessura pela nova classificação da BS 5628
Parte 3 (1985) que prevê seis categorias diferentes de grau de exposição e não três como está
apresentado acima. Para levar em consideração o DRI, optou-se por preservar a classificação do
antigo código CP 121 (1973) em três categorias, pois os novos critérios adotados dependem
fundamentalmente de precisão e detalhamento dos fatores meteorológicos de cada clima, que
ainda não dispomos em nosso país.
18
Para condições de exposição muito severas nenhuma das situações, com ou sem
revestimento de argamassa, é recomendada. A norma indica nestes casos, somente o uso de
revestimento s cerâmicos e outros especiais.

156
• presença de revestimento externo da superfície;

• existência e espessura do vazio interno (parede dupla);

• espessura da parede;

• qualidade da mão-de-obra obtida no canteiro;

• tipo de bloco / tijolo empregado;

• tipo e composição de argamassa;

• acabamento da junta (se aparente);

• características arquitetônicas.

A seguir é apresentada uma tabela que mostra como alguns fatores interferem
na penetração da chuva em paredes duplas. A Tabela 6.2 apresentada na
seqüência mostra estes fatores sem levar em consideração a influência da mão-
de-obra e detalhamento arquitetônico.

Tabela 6.1 Fatores que influenciam o crescimento da probabilidade de


penetração de água segundo a BS 5628 Parte 3 (1985).

CRESCIMENTO DA PROBABILIDADE DE PENETRAÇÃO DA CHUVA


FATORES

Revestimento cerâmico e argamassado outros (pinturas e películas repelentes à


externo especiais água)

Composição da mista (cimento e cal) cimento e areia com plastificante cimento e


argamassa areia

Acabamento das frisado côncavo frisado frisado em relevo sem frisar faceando
juntas aparentes ou inclinado faceando para dentro

Vazio interno > 50 mm 50 mm 25 mm sem vazio

sem parcial com completa com completa com


vazio de 50 isolante tipo A isolante tipo B
Isolação interna
mm (poliestireno) com (material granular) e
vazio de 50 mm vazio de 50 mm

De modo resumido e geral, considerando o domínio da tecnologia até aqui,


podemos listar as seguintes principais recomendações para a obtenção de
parede e vedações verticais resistentes à ação da água:

157
RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA MINIMIZAR A AÇÃO DA ÁGUA:

• projeto, execução, controle e manutenção adequados às condições de


exposição - acreditamos que somente a elaboração de um projeto específico
para a alvenaria, prevendo detalhes, reforços e juntas, seqüência executiva
compatível, pode criar condições para o controle de fissuração e ação da
água;

• concepção e projeto arquitetônico da fachada que contemple a questão da


ação da água, através da adoção de detalhes que controle o fluxo de água;

• considerar as possibilidades econômicas de emprego de revestimento


cerâmico (excelente desempenho e consideração do conceito de barreira
múltipla);

• projetar paredes externas de pelo menos 14 cm de largura revestidas com


emboço de argamassa ou paredes duplas com painel interno de 19 cm,
externo de 9 cm e com vazio interno de pelo menos 5 cm;

• argamassas de assentamento dosadas para obtenção de aderência e


capacidade de movimentação adequada - argamassa de alta retenção para
blocos de elevada sucção e vice-versa;

• especificações adequadas de reforços e ligações com estrutura para evitar


fissuração - ancoragem metálicas e reforços resistentes à corrosão;

• executar o revestimento de preferência após a conclusão de toda a alvenaria,


de modo a evitar fissuras devido aos carregamentos nas primeiras idades e
retração das paredes, de acordo com projeto específico, prevendo detalhes e
reforços que minimizem a ação da água;

• ventilar adequadamente as áreas úmidas principalmente no inverno, para


evitar condensação superficial.

RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA O DETALHAMENTO DO PROJETO:

• adequada instalação de rufo, pingadeiras e detalhes de drenagem,


principalmente nas regiões do respaldo e rodapé das paredes e aberturas de
portas e janelas;

158
• tratar adequadamente com selantes elastoméricos as juntas de contorno com
esquadrias e outros elementos construtivos da fachada19;

• detalhes específicos como juntas de controle no nível da última laje tratadas


com material elastomérico, onde as movimentações térmicas mais intensas
podem causar fissuras nas alvenarias e revestimentos;

• usar camadas de retenção da água de capilaridade (damp-proof courses) 20


como barreiras para evitar os problemas das paredes logo acima das partes
enterradas – os revestimentos das paredes devem parar nestas barreiras que
em geral ficam posicionadas pelo menos 15 cm do nível do terreno –
materiais de elevada durabilidade são os mais indicados, como cobre (2,3 a
4,1 kg / m2) e polietileno (0,5 kg / m2);

• usar membranas ou mantas impermeáveis de asfalto elastomérico ou material


sintético como polietileno, com desempenho verificado - nas regiões
enterradas de paredes, procurar usar paredes duplas e sistemas de
drenagem e captação para as águas infiltradas.

RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A EXECUÇÃO:

• não assentar molhados blocos e tijolos (concreto, sílico-calcáreo e concreto


celular) com potencial elevado de retração na secagem e conseqüente risco
de fissuração (uma leve aspersão para retirar poeira pode ser recomendável);

• molhar antes do assentamento, principalmente em regiões de clima quente e


seco, blocos e tijolos cerâmicos que apresentam sucção elevada21;

• controle do tempo de espalhamento da argamassa de assentamento para não


prejudicar a aderência;

• limitação do tempo de uso e remistura das argamassa após a mistura inicial;

19
Para saber mais sobre o uso de selantes recomendamos PANEK; COOK (1991).
20
O uso de DPC na Inglaterra é lei (Ato de Saúde Pública) desde 1875 de acordo com Maclean;
Scott (1995) em Dictionary of Building (Penguim Books)
21
Para tijolos cerâmicos o BIA (1985) chegou a conclusão que IRA (Taxa Inicial de Absorção)
2
superior a 0,8 g / min. / m pode ser prejudicial para aderência para praticamente todos os tipos de
argamassa.

159
• cuidados na cura das paredes para evitar insolação direta, ventos e chuvas
incidentes que levem à saturação;

• para alvenarias aparentes as juntas devem frisadas através de pressão com


barra lisa, apresentar face côncava e argamassa de assentamento com
teores de ar incorporado inferiores a 14 %22.

O BIA (1970) destaca a importância do detalhamento e execução adequados


dos rufos das paredes na cobertura do edifício. Estes rufos, normalmente de
metal resistente à corrosão ou pedra, são muito importantes para evitar
infiltração de água pelo topo da parede.

Outro item que merece destaque particular para evitar a penetração de água é o
detalhamento da interface das janelas com a alvenaria e o revestimento exterior.
Em geral estes locais não estão sujeitos a movimentações intensas podendo-se
empregar, por exemplo, selantes de base acrílica e butílica, desde que o produto
seja recomendado para este fim, destacando a compatibilidade de aderência
com os materiais da junta e durabilidade aos agentes atmosféricos.

Revestimentos argamassados

Neste trabalhos julgamos importante apresentar ainda algumas recomendações


gerais para evitar fissuras nos revestimentos. A parte conceitual, essencial ao
entendimento dos mecanismos que podem causar fissuração das alvenarias e
revestimentos é tratada em outros trabalhos deste seminário e por isso não
entraremos aqui em detalhes. Entretanto, é necessário deixar claro que parte
importante das fissuras que originam-se nas paredes, podem se prolongar pelos
revestimentos argamassados e pinturas comprometendo a estanqueidade.

Sobre o uso de revestimentos a norma BS 5628 (1985) comenta que eles podem
de fato melhorar substancialmente a resistência a penetração de água das
paredes. Para uma solução mais efetiva a norma considera os revestimentos
cerâmicos, entre outros que pouco são usadas por aqui (metálicos, plásticos,
tipo shingles, etc.). Esta norma diz: “estes revestimentos contribuem

22
Recomendação do BIA (1985).

160
substancialmente para a resistência à penetração de água desde que sejam
definidos corretamente a dosagem, espessura, número de camadas e detalhes
adequados para minimizar fissuração”. Sobre isto destacamos a necessidade de
definir de modo adequado os reforços e juntas dos revestimentos para minimizar
as fissuras.

Considerando o atual estágio de desenvolvimento da tecnologia, recomenda-se


observar o emprego de revestimento de argamassas mistas com espessuras
não inferiores a 20 mm, sem apresentar fissuração como base para pintura
(abertura inferior a 0,1 mm) e limitada a baixa intensidade (aberturas inferiores a
0,3 mm) como base para cerâmica, sem comprometimento da aderência. Para
argamassas industrializadas os critérios podem se modificar em função da
composição empregada. Para se prevenir o construtor deve exigir garantias do
fabricante e certificados que comprovem desempenho, por exemplo, de
estanqueidade no campo de acordo com os critérios do IPT ME-15 (1981) ou
ASTM E 514 (1991).

Recomenda-se especial atenção para o detalhamento de pingadeiras na fachada


e nas regiões das aberturas, de modo a minimizar a quantidade de água que
escorre pela superfície e os efeitos deletérios e estéticos que isto possa trazer.
Neste particular as janelas tipo venezianas levam vantagem pois diminuem o
efeito da energia cinética das gotas de chuva e permitem escoamento (PEREZ,
1986).

Quanto à execução, deve-se atentar para a umidade residual do revestimento no


momento do desempenamento para evitar fissuração devido à retração da
argamassa. O momento adequado para o desempenamento, é influenciado
pelas condições de exposição locais (vento, umidade relativa e insolação),
absorção da base e capacidade de retenção de água da argamassa, e depende
muito da habilidade da mão-de-obra, podendo facilmente ser subestimado. De
modo geral, pode-se considerar que, para argamassa mistas, a partir de 3 horas
após a mistura, aumenta significativamente o potencial de fissuras devido à
retração. (MEDEIROS, 1989)

161
Sobre pintura e tratamentos com materiais repelentes à água, a BS 5628 (1985)
explica que “o uso de sistemas de pinturas e outros tratamentos com materiais
repelentes à água, como silicones, por exemplo, podem aumentar a resistência à
penetração de água mas podem também diminuir a evaporação de água do
interior da parede, dependendo das condições de exposição”. Devemos
entender que nas alvenarias aparentes o emprego de películas hidrofugantes ou
pinturas permeáveis ao vapor somente pode ser satisfatório em condições
moderadas de exposição e quando não há falhas de preenchimento (que é muito
difícil de ser obtido) nem fissuração posterior. Além disso, estes tratamentos tem
vida útil limitada, precisando ser continuamente renovados.

Lembramos PEREZ (1986) quando afirma que “os sistemas de pintura


ensaiados pelo IPT23, em sua grande maioria, foram insatisfatórios enquanto
proteção à penetração da água de chuva”.

Divisórias de gesso

A norma ASTM C 840 (1995) que trata da aplicação e acabamento de painéis de


gesso traz uma série de recomendações e detalhes para o projeto de painéis
destinados a áreas molháveis, onde serão aplicados revestimentos cerâmicos. A
seguir temos algumas recomendações quanto à instalação dos painéis nestas
áreas:

• somente painéis resistentes à umidade devem ser utilizados nestas áreas


(consultar painéis específicos para saunas e salas de banho aquecidas);

• o espaçamento máximo entre montantes deve ser 406 mm de eixo a eixo


devido ao peso extra dos azulejos e adesivo de fixação;

• os ângulos internos da estrutura de montantes devem ser também reforçados


para aumentar a rigidez dos cantos;

• quando necessário, um painel adicional deve ser colocado sobre o principal,


fixado nos montantes metálicos a cerca de 25 mm a partir do topo de
banheiras para receber os azulejos - este detalhe faz com que o plano vertical

23
O autor cita o Relatório 14.199 – Avaliação do comportamento, ao longo do tempo, de
pinturas externas aplicadas sobre bases inorgânicas, não metálicas (1980).

162
dos azulejos permite à água escorrer para dentro da banheira, evitando uma
camada excessiva de adesivo, quando a espessura da impermeabilização
exige;

• suportes adequados devem ser colocados para permitir a instalação da


banheira, instalações específicas, saboneteiras embutidas, porta tolhas, apoio
para as mãos, etc.;

• os painéis resistentes à água que servem de base para assentamento de


azulejo não devem ser aplicado sobre material impermeabilizante que retarde
a passagem do vapor de água;

• instalar os painéis a 6,5 mm de altura a partir do topo do rodapé do box e da


banheira, tratando este espaço, após o assentamento da cerâmica, com
selante elastomérico adequado a áreas úmidas e aderente a material
cerâmico;

• painel não deve encostar no piso em nenhuma das divisórias internas de


áreas molhadas, guardando um altura mínima para evitar contato com a água
- esta junta de rodapé deve ser preenchida com mástique elastomérico.

O anexo desta mesma norma traz ainda recomendações para aplicação dos
azulejos sobre os painéis de gesso, a saber:

• recomenda-se tratar todas as juntas entre tubulações passantes e a cerâmica


com selantes elastoméricos;

• usar adesivos para o assentamento dos azulejos que auxiliem na proteção


dos painéis de gesso frente à ação da água - destacamos ainda particular
atenção para as argamassa de rejuntes, que nosso entender, deve conter
hidrofugante e ser resistente ao crescimento de microorganismos;

• aplicar os azulejos preferencialmente de cima para baixo de modo que a


primeira fiada se sobreponha ao revestimento de piso.

Acrescentamos ainda a importância de utilizar juntas entre azulejos não inferior a


3 mm e não superior a 10 mm e especificação de impermeabilização
elastomérica com reforço na região do encontro com a laje.

163
7 CONCLUSÕES

Baseado na nossa experiência e no que foi acumulado pelos pesquisadores


estrangeiros, chega-se a conclusão que o maior problema relativo à ação da
água nas vedações verticais é a infiltração de água de chuva, na maioria dos
casos provocadas por fissuras e falhas na ligação dos blocos com a argamassa.

Lembramos aqui um levantamento feito por REYGAERTS et al. (1978) onde o


autor conclui que 45 % dos problemas envolvendo a ação da água tem origem
no projeto. Aparecem na seqüência: execução com 22 %, materiais com 15 % e
uso com 8 %. Vimos ainda a freqüência de ocorrência de problemas com origem
na ação da água é função dos seguintes aspectos: idade da construção, clima,
materiais e componentes, detalhes construtivos, técnica de execução
empregadas, qualidade da mão-de-obra, manutenção e uso.

Um princípio geral deve nortear o projeto: as paredes de alvenaria devem ser


consideradas permeáveis à água e projetadas de acordo com este princípio para
controlar a intensidade desta e seus efeitos.

Analisando o que foi discutido pelos diversos autores pesquisados chegamos a


conclusão que todas as paredes simples, submetidas a condições severas (que
não duplas) precisam ser protegidas com revestimentos. Acreditamos que em
nosso caso, permanece como a solução mais econômica e tecnicamente
recomendável, a execução de paredes de alvenaria externa revestidas com
argamassa. O problema principal passa ser então, evitar que as fissuras
patológicas aconteçam24. Podemos afirmar que isto somente é possível com
projeto e execução adequados.

Parece simples, então, a solução do problema. Sabemos que não é. Esta


adequação pressupõe uma série de conhecimentos específicos que ainda
precisamos desenvolver, passando pela elaboração da normalização que ainda
não temos. Mas diante de tudo o que foi discutido, quais os critérios que
devemos usar para nossas condições? Podemos usar critérios iguais para o
projeto de vedações para São Paulo, Brasília, Natal e Belém? As habitações

24
Sobre este assunto, especificamente, são apresentados neste seminário dois outros trabalhos.

164
populares devem ter critérios diferentes? Será que as vedações que usamos
hoje são adequadas?

As patologias das vedações nos revela que, em boa parte dos casos, sabemos
que a resposta à última pergunta é não. Para as outras questões ainda
precisamos esperar respostas mais definitivas. Faltam, por exemplo, dados de
fatores climáticos e meteorológicos que permitam uma classificação mais
adequada das condições de exposição para o projeto das vedações (PEREZ,
1986)

Devemos nos preparar para o uso das novas alternativas de vedação,


procurando sempre melhorar aquelas que já usamos tradicionalmente. Fica claro
também que precisamos desenvolver critérios de projeto adequados à nossa
realidade. A simples adoção de critérios de outras normas podem nos levar a
soluções inadequadas. Achamos importante destacar ainda que materiais e
técnicas, inovadores ou não, precisam de projetos e execução integrados na
forma de sistemas de produção. Sem esta perspectiva a probabilidade de
ocorrência de problemas continuará sendo elevada.

Para finalizar vejamos o que diz uma parte (talvez a menos rigorosa) do Código
de Hamurabi escrito a cerca de 2200 anos atrás, um testemunho histórico do
rigor já aplicado na prática às falhas na construção (CIB, 1983):

“Se um construtor construir uma casa para um homem e ela não ficar firme
e trazer destruição, ele deve restaurar o que foi destruído, fazendo isto a
seu próprio custo.”

A partir deste exemplo, podemos constatar que problemas de construção


envolve uma forte relação de confiança entre fornecedor e consumidor, que
somente pautada em respeito haverá de ser conduzida a contento para ambas
as partes.

Agradecimentos

O autor agradece à aluna Natache de Azevedo pelo auxílio no levantamento de


informações e referências bibliográficas e à engenheira Eliana Taniguri pela
literatura a respeito de divisórias de gesso acartonado.

165
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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168
AS FISSURAS COM ORIGEM NA INTERAÇÃO
VEDAÇÃO-ESTRUTURA

Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini


fhsabba@pcc.usp.br

1. INTRODUÇÃO

Desde meados da década de setenta até o momento atual as fissuras e trincas


nas vedações em alvenaria de edifícios multipavimentos com estrutura de
concreto armado têm aumentado continuamente, em termos de freqüência de
manifestações, intensidade de ocorrências e gravidade.

Os problemas que, até alguns anos atrás, se restringiam à fissuras que


praticamente passavam desapercebidas, hoje se transformaram em
esmagamento e ruptura da alvenaria e, em alguns casos de maior gravidade, em
colapso total da parede, provocando pânico entre usuários e prejuízos
incomensuráveis às construtoras e empreendedores.

Muitos profissionais se questionam continuamente sobre o problema: O que está


realmente ocorrendo? Quais as causas principais e secundárias? O que fazer
para evitar estas patologias? E não têm encontrado respostas plausíveis.

As respostas não são simples, evidentemente, pois o problema é complexo.


Analisando-o de uma forma genérica incorre-se no risco de simplificá-lo em
demasia e de criar uma falsa impressão de que a solução é fácil.

No entanto, para atender aos objetivos do seminário onde este trabalho se


insere, o de ser um fórum de debates com o meio técnico sobre o estado da arte
das vedações verticais e procurar através destes debates contribuir para o
entendimento e a solução dos problemas que afetam a construção civil neste
campo, procurar-se-á analisar sucintamente uma das fenomenologias que
explicam estes problemas patológicos e recomendar possíveis soluções para
evitá-los.

169
2. A EVOLUÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS DAS ESTRUTURAS
RETICULADAS E DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

Nos últimos trinta anos os edifícios de múltiplos pavimentos tiveram várias de


suas características modificadas continuamente, por inúmeras razões, a ponto
de ser hoje claramente possível identificar diferenças muito significativas entre
edificações do final da década de 60 em relação as que hoje são construídas.

No quadro 1A são comparadas algumas das características relacionadas com a


massa e a volumetria das alvenarias e estruturas de edifícios construídos nas
épocas citadas.

QUADRO 1A – Massa e volumetria de edifícios construídos em diferentes épocas.

SUBSISTEMA DÉCADA DE 60 DÉCADA DE 90

Tijolo furado; paredes


Tijolo maciço; paredes externas de 28 externas de 17 cm;
VEDAÇÃO EM ALVENARIA cm; densidade superficial - 560 kg/m²; densidade superficial - 150
carregamento estrutural de 1400 kg/m kg/m²; carregamento
estrutural de 350 kg/m

Vigas sob algumas paredes;


Vigas sob todas paredes; muitos menor quantidade de
ESTRUTURA EM CONCRETO pilares; pilares "parrudos"; vigas pilares; pilares mais
externas altas; nós rígidos esbeltos; vigas externas
menores; nós menos rígidos

E quais as conseqüências destas mudanças? A estrutura reticulada dos dias


atuais alterou-se, em relação à da década de 60 nos seguintes aspectos:

✏ Estruturas mais esbelta;

✏ Estruturas com menor grau de rigidez;

✏ Estruturas e elementos estruturais potencialmente mais


deformáveis.

170
Estas alterações da estrutura trouxeram para a alvenaria:

✏ Maiores deformações induzidas pelo edifício, pela estrutura, e pelos


elementos estruturais;

✏ Maiores tensões na alvenaria, decorrentes das deformações


induzidas.

No quadro 1B são comparadas as características e dimensões dos elementos


horizontais das estruturas reticuladas de edifícios construídos nas épocas
citadas.

QUADRO 1B - Características dos elementos horizontais da estrutura de edifícios


construídos em diferentes épocas.

CARACTERÍSTICA DÉCADA DE 60 DÉCADA DE 90

Comprimento/ (360 a 600) Comprimento/ 300


DEFLEXÃO ANGULAR MÁXIMA

ADMISSÍVEL (PRATICADA)
ACI 318 NB-1

VÃO MÉDIO ENTRE APOIOS 3 a 3,5 metros 6 a 7 metros

FLECHA MÁXIMA POTENCIAL 5 a 10 mm 20 a 22 mm

Observa-se que as deflexões angulares admissíveis praticadas em épocas


diferentes variaram. No entanto, mesmo que fossem iguais, a l/300, as flechas
potencialmente admitidas, em valores absolutos no mínimo dobraram. Para o
elemento estrutural o que importa é a deflexão angular, mas para a parede de
alvenaria as condições de contorno alteram-se significativamente:

✏ Maiores deformações induzidas pelos elementos estruturais

✏ Maiores tensões na alvenaria, decorrentes das deformações


induzidas

171
Modificações aconteceram também na técnica construtiva, na seqüência de
execução e no planejamento operacional. No quadro 1C estas características
são comparadas entre as diferentes épocas citadas.

QUADRO 1C - Técnicas construtivas adotadas na construção de edifícios em


diferentes épocas.

TÉCNICA DÉCADA DE 60 DÉCADA DE 90

Nenhum técnica de cura úmida


CURA DO CONCRETO, Cura úmida superficial e manutenção superficial; manutenção das
das formas laterais por sete dias; formas laterais por três dias;
TEMPO DE COLOCAÇÃO EM manutenção do escoramento dos manutenção do escoramento
CARGA elementos horizontais por 21 à 28 dias dos elementos horizontais por 7
dias

Construção da estrutura
Construção de toda estrutura;
defasada de 3 a 4 lajes da
SEQÜÊNCIA EXECUTIVA fechamento alvenaria de cima para
alvenaria; fechamento
baixo após execução da estrutura
alvenaria de baixo para cima

FIXAÇÃO DA ALVENARIA Fixação de baixo para cima


Fixação após execução de toda
defasada de 3 a 4 pavimentos
("ENCUNHAMENTO") alvenaria e de cima para baixo
em relação ao fechamento

Como resultado das mudanças nas técnicas de cura e do tempo de colocação


em carga da estrutura, associadas às mudanças nas características de
deformabilidade do material concreto recebido em obra .(módulo de deformação
longitudinal instantâneo e com o tempo), ocorreu uma mudança radical na
amplitude de deformação lenta total. Estima-se que o coeficiente de deformação
lenta (ϕ) do concreto da estrutura tenha sido multiplicado por 4. Isto implica que
as deformações finais da estrutura nos dias de hoje podem ser até quatro vezes
a que existia há não muito tempo atrás.

Como resultado das mudanças no planejamento e na seqüência executiva


ocorre que as alvenarias estão hoje sendo fixadas à estrutura muito antes do
que era a prática há 30-40 anos. Em um exemplo analisado, para um edifício de
16 pavimentos com concretagem de uma laje por semana, fixava-se a alvenaria
do primeiro pavimento cerca de 300-330 dias após a concretagem deste
pavimento. Atualmente, com as mudanças o mesmo edifício tem esta alvenaria
fixada na pior das hipóteses a 45 dias da concretagem e na melhor a 110 dias.
Acontece então que a alvenaria é fixada à estrutura quando a maior parte da

172
deformação lenta está ainda para acontecer, ao contrário de antigamente
quando a quase totalidade da mesma já havia ocorrido.

Assim, as conseqüências das mudanças que ocorreram neste período de tempo


podem ser resumidas em:

✏ maior deformação lenta das estruturas

✏ maior parte da deformação lenta com a alvenaria fixada


("encunhada")

✏ deformações induzidas muito.. muito maiores

✏ tensões na alvenaria muito.. muito maiores

A seguir, no quadro 1D, são comparadas as características de resistência e de


deformabilidade das paredes alvenarias de tijolo maciço e argamassas de cal da
década de 60 com as mesmas características das paredes de alvenaria
racionalizada de bloco cerâmico furado e argamassas de cimento aditivadas dos
diais atuais (valores médios estimativos).

QUADRO 1D - Resistência à compressão e módulo de deformação de alvenarias


de vedação utilizadas em edifícios construídos em diferentes
épocas.

CARACTERÍSTICA DÉCADA DE 60 DÉCADA DE 90

RESISTÊNCIA À
2 à 5 dN/cm²
COMPRESSÃO DE 15 à 40 dN/cm² ( 1,5 à 4 MPa)
( 0,2 à 0,5 MPa)
PAREDINHAS

MÓDULO DE
10.000 à 20.000 dN/cm² 20.000 à 50.000 dN/cm²
DEFORMAÇÃO DE
( 1 à 1,5 GPa) ( 2 à 5 GPa)
PAREDINHAS

Em resumo, a alvenaria cerâmica utilizada nos dias de hoje como vedação de


edifícios tem menor resistência à compressão e é mais rígida (significa que tem
menor deformabilidade, ou seja, para ficar em um estado de tensão equivalente

173
ao da alvenaria de tijolo maciço ela deve estar submetida a uma deformação
induzida de amplitude muito menor). Como conseqüência de ambas as
características:

✏ Rupturas ocorrem nas alvenarias da década de 90 com solicitações


muito menores do que nas da década de 60.

Após estas quatro análises temos um quadro muito preocupante, quando


comparamos a evolução nas características das construções de edifícios
multipavimentos no Brasil .

Por um lado as solicitações decorrentes das deformações impostas


aumentaram MUITO e por outro, a capacidade da alvenaria de absorver
estas deformações e resistir às solicitações diminuiu. Como resultado:

S>R
Ou seja, as solicitações ( S ) a que a alvenaria pode estar submetida, em algum
momento podem suplantar as resistências ( R ) da mesma. Como resultado:

RUPTURAS (TRINCAS, FISSURAS, ESMAGAMENTOS) E COLAPSOS.

3. INTERAÇÃO ALVENARIA-ESTRUTURA

No dimensionamento de estruturas reticuladas as paredes são normalmente


consideradas apenas como carga. O projetista adota uma densidade superficial
para a mesma, em função da espessura, do tipo de bloco e dos revestimentos, e
distribui a massa total linearmente, na posição do eixo da parede.

Acontece que a alvenaria tem rigidez. Qualquer deformação potencial da


estrutura encontra um corpo rígido que reage contra esta deformação e então
alguns fenômenos ocorrem, na alvenaria e na estrutura. A alvenaria deforma-se,
normalmente muito pouco dada a sua rigidez, e fica sob tensão, proporcional à
deformação imposta. E na estrutura aquela deformação potencial não ocorre,
sendo muito menor a sua amplitude, e ela fica submetida a um novo esforço, um

174
carregamento devido à reação da alvenaria, de sentido contrário ao que ela
aplicou na alvenaria.

Em equilíbrio a alvenaria e a estrutura reticulada passam a "trabalhar" juntas:


deformam-se conjuntamente, como um único corpo rígido; alteram-se (em
relação ao que foi previsto no cálculo) a distribuição e a amplitude das
solicitações na estrutura e a alvenaria fica sob tensão. Sempre que o equilíbrio é
rompido, o é na forma de uma ruptura localizada em um dos elementos do
conjunto. Como a alvenaria é o elemento menos resistente, a ruptura acontece
nela ou em uma das interfaces entre a estrutura e a alvenaria. Com a ruptura,
um novo estado de equilíbrio é atingido até uma estabilização ou um colapso da
alvenaria.

Pode-se afirmar que na situação descrita a interação da alvenaria com a


estrutura é completa, total, e se não ocorrerem rupturas passam a se constituir
em um corpo único, monolítico, rígido. Este estado é atingido a partir do
momento em que a alvenaria é solidarizada totalmente à estrutura, com a
fixação superior, ação conhecida como o "encunhamento" da alvenaria na
estrutura.

No entanto, mesmo antes da fixação superior a alvenaria passa a interagir com a


estrutura pois, devido ao peso desta a estrutura de apoio tende a se deformar, o
que passa a ser inibido pela alvenaria que, com o endurecimento da argamassa,
já é um corpo rígido reagindo contra a deformação do suporte. Neste caso a
interação alvenaria-estrutura é parcial, mas se não houver a fixação superior um
estado de equilíbrio será atingido, ficando evidentemente a alvenaria submetida
a menores tensões.

Se a alvenaria não tivesse rigidez significativa (comparada com a da estrutura)


ou fosse totalmente isolada da estrutura através de materiais resilientes (p.ex.
espumas ou mástiques) ou elastoméricos poder-se-ia esperar que se
mantivesse em níveis de tensão muito baixos, decorrentes apenas do seu peso
próprio. Quanto à estrutura reticulada, neste caso, poder-se-ia esperar que as
suas deformações ocorreriam conforme previstas no dimensionamento.

175
Pode-se afirmar que a parede de alvenaria atua na estrutura reticulada como um
elemento de contraventamento. Ao travar as deformações do pórtico, no qual se
insere, ela se comporta como uma chapa rígida de contraventamento. O grau de
contraventamento irá depender da rigidez da alvenaria. Para compreender o
funcionamento da parede de alvenaria enquanto contraventamento pode-se
fazer algumas analogias.

Supondo que a parede de fechamento de um pórtico formado por duas vigas e


dois pilares de concreto armado, seja um bloco de espuma de poliestireno
("isopor"), o comportamento do conjunto teria a seguinte explicação. Como a
rigidez deste bloco é não significativa, comparada com a rigidez dos elementos
de concreto armado, as deformações e deslocamentos dos elementos do pórtico
não seriam impedidas pelo bloco de espuma e não haveria contraventamento
algum. No entanto, se o enchimento for uma chapa de aço de 15 cm de
espessura, um elemento de rigidez muito maior que a do concreto, os nós do
pórtico passariam a ser indeslocáveis e as barras teriam suas deformações e
deslocamentos impedidos. O contraventamento seria total.

A alvenaria não é nem bloco de espuma, nem chapa de aço. A sua rigidez é
intermediária e por isto ela contraventa parcialmente o pórtico. Quanto de
contraventamento? Qual a parcela da deformação induzida que ela absorve e
qual a que ela impede de ocorrer resistindo às tensões impostas. Depende da
sua rigidez e da sua resistência.

Nas tabelas 1 e 2 , montadas a partir de dados obtidos no Centro de Pesquisa e


Desenvolvimento em Construção Civil da Escola Politécnica da USP, no
Convênio POLI/SICAL [1], pode ser avaliado o diferente comportamento de
diferentes tipos de alvenaria.

Observa-se nas tabelas que um pórtico vazio, sem a alvenaria de


contraventamento, entra em colapso (plastificação de nós) muito antes que,
quando preenchido pela alvenaria, surge a primeira fissura nesta (efeito arco no
ensaio de flexão ou cisalhamento oblíquo no ensaio de cisalhamento) e
apresenta deflexões muito superiores quando são comparados os dois estados
de ruptura.

176
TABELA 1 - Ensaio de Flexão de Pórticos tipo "infilled frame"

PÓRTICOS

ARGAMASSA DE CARGA NA DEFLEXÃO NA


TIPO DE REVESTIMEN
.ASSENTAMENTO RUPTURA Tf RUPTURA mm
BLOCO TO

Pórtico vazio 1.90 17.50

Bloco
Sim 1:2:9 8.96 1.59
cerâmico

Bloco
Não 1:2:9 7.39 1.11
cerâmico
Bloco de
Sim 1:2:9 4.30 1.81
concreto
Bloco de
concreto 1:2:9 5.85 1.35
celular Não

Bloco de
concreto Não F11 6.28 3.77
celular

Total 33 pórticos POLITÉCNICA – CPqDCC 1993

TABELA 2 - Ensaio de Cisalhamento de Pórticos tipo "infilled frame"

PÓRTICO
DEFLEXÃO
CARGA NA NA RUPTURA
ARGAMASSA DE RUPTURA Tf
TIPO DE BLOCO REVESTIMENTO ASSENTAMENTO mm

Pórtico vazio 0.60 3.20

Bloco cerâmico Não 1:2:9 2.39 1.76

Bloco de concreto Não 1:2:9 2.57 1.83


celular

Total 9 pórticos POLITÉCNICA – CPqDCC 1993

Verifica-se também que o comportamento das alvenarias é diferente, nas


mesmas condições de ensaio, quando são introduzidas alterações nas suas
características, como por exemplo, no tipo do bloco, na argamassa de
assentamento ou se a alvenaria está ou não revestida.

177
Pode-se afirmar que:

SE A ALVENARIA ESTIVER SOLIDARIZADA COM A ESTRUTURA, SEGURAMENTE

ELA EXERCE A FUNÇÃO DE CONTRAVENTAMENTO, PORTANTO, É ELEMENTO

ESTRUTURAL E, COMO TAL DEVERIA SER DIMENSIONADA.

Pode-se ainda inferir, quando a alvenaria está solidarizada, que:

✏ A alvenaria não é somente carga, é reação e interfere na estrutura

✏ O modelo de sistema de barras não corresponde à realidade

✏ As deformações e deslocamentos da estrutura geram tensões na


alvenaria

Na realidade, para o correto dimensionamento estrutural deve-se considerar o


efeito de contraventamento das alvenarias. Para isto deve ser conhecido e
devidamente equacionado o grau deste contraventamento. Para a saúde do
conjunto e para facilidade de dimensionamento, tanto faz o fechamento ser em
espuma de poliestireno ou em bloco de aço mas, se a rigidez da parede for
intermediária, o grau de contraventamento passa a ser muito importante.

Como será analisado no item 5, para equacionar o problema deve-se


compatibilizar as deformações da estrutura com a capacidade da vedação
de absorvê-las.

Não é um problema fácil. Não existe uma modelagem simplificada para o


dimensionamento. Considerando o conjunto tem-se algo como "um sistema
estrutural constituído por chapas e placas com rigidezes heterogêneas". Nos
Estados Unidos estão sendo desenvolvidos inúmeros estudos para conseguir
equacioná-lo. O objetivo deles é encontrar uma modelagem que permita
considerar o efeito de contraventamento da alvenaria para tornar, com
segurança pré-definida e confiabilidade determinada, os edifícios resistentes a
abalos sísmicos [2].

Uma forma de equacionar o problema é o de escolher as técnicas e os materiais


a serem utilizados nas vedações de modo a compatibilizar as deformações

178
esperadas da estrutura com a capacidade da alvenaria de absorvê-las e ou
resisti-las. Para simplificar o processo pode-se consultar tabelas de múltiplas
entradas que considerem todas as principais variáveis. Estas tabelas são
empíricas, fundamentadas na experiência, pois não se dispõem de
conhecimento científico consolidado para torná-las cientificamente precisas. As
variáveis mais importantes e uma proposta de classificação destas estão
discriminadas no quadro 2. O autor está trabalhando na configuração de tabelas
que parametrizem estas variáveis para auxiliar no dimensionamento e na
escolha das tipologias e técnicas construtivas das vedações em alvenaria.

QUADRO 2 - Classificação das variáveis para escolha de paredes de


contraventamento

GRAUS DE GRAUS DE GRAUS DE RISCO GRAUS DE GRAUS DE


CONTRAVENTA DEFORMABILIDADE DE RUPTURA RESISTÊNCIA DA RESILIÊNCIA DA
MENTO DA ESTRUTURA ALVENARIA ALVENARIA

Total Muito deformável Provável Superior Muito Resiliente

Alto Medianamente Alto risco Alta


deformável

Médio Pouco deformável Médio risco Normal Medianamente


resiliente

Baixo Muito pouco Baixo risco Regular


deformável

Nulo Rígida Improvável Baixa Pouco resiliente

4. OS CAMINHOS PARA EVITAR AS FISSURAS E TRINCAS

Como foi visto no item 2, por diversas razões, o equilíbrio que deveria sempre
existir entre as paredes de vedação e a estrutura reticulada foi rompido no
processo convencional. As questões que precisam ser respondidas são duas: O
que deve ser feito para evitar o aparecimento de patologias? Como recuperar o
equilíbrio rompido e solucionar o problema ?

No quadro 3, estão relacionados os caminhos possíveis. As quatro alternativas


possíveis serão analisadas separadamente a seguir.

179
QUADRO 3 - Alternativas para evitar problemas na interação alvenaria-estrutura

✧ DESSOLIDARIZAR A ALVENARIA DA ESTRUTURA


✧ AUMENTAR A RESISTÊNCIA DA ALVENARIA
✧ DAR TOTAL RIGIDEZ À ESTRUTURA
✧ RECOMPOR O EQUILÍBRIO ALVENARIA-ESTRUTURA

♦ DESSOLIDARIZAR A ALVENARIA DA ESTRUTURA

Este é o caminho aparentemente mais lógico. Se o problema está em que, ao


contraventar-se a estrutura, a alvenaria fica submetida a esforços para o quais
ela não mais tem capacidade de resistir e se o meio técnico não dispõe de
modelos simples para considerar este contraventamento e equacionar o
problema, o mais lógico seria isolar a alvenaria da estrutura, de forma a que
trabalhassem sem interferência recíproca. Esta é a situação quando a
vedação é, por exemplo, uma divisória leve de gesso acartonado. Para a
vedação em alvenaria existem diversas técnicas para dessolidarizá-la, sem
perda de estabilidade como, por exemplo: fixação através de espuma de
poliuretano expandida, encastramento com perfis, engastamento parcial com
perfis, etc. O autor já especificou algumas destas técnicas em diversas obras.

Para adoção da dessolidarização existem algumas dificuldades e limitações:

• Barreira cultural em relação à parede com juntas. Quando se emprega a


técnica da dessolidarização as interfaces entre a alvenaria e a estrutura
passam a funcionar como juntas de trabalho. Como tal não devem ser
recobertas por revestimentos não-resilientes, permanecendo ou vincadas ou
recobertas por cobre-juntas. Existe a dificuldade de aceitação desta solução
com o argumento de que contraria a herança cultural da construção
monolítica, herdada da colonização européia, sem juntas. É um paradigma
difícil de ser mudado, mas existem mesmo assim muitas situações em que
este argumento não é válido como, por exemplo, em edifícios de escritório e
edifícios comerciais e em edifícios com lajes planas.

• Dificuldade técnico-econômica para o emprego nas paredes externas.


Nas paredes externas, submetidas à ação da água de chuva, são necessárias

180
juntas estanques na posição das juntas de trabalho. Apesar de existirem
diversas alternativas tecnicamente aceitáveis, o custo das que são mais
eficientes e confiáveis e ou aspectos estéticos dificultam o uso desta solução.

• Projetos não sistêmicos. Esta é uma alternativa a ser pensada na fase do


projeto arquitetônico e precisa ser integrada em todos os outros projetos
técnicos pois, as vedações irão interagir com todos os demais subsistemas.
Como a construção civil brasileira ainda não pratica projetos sistêmicos,
existe uma evidente limitação nesta solução. Corre-se o risco de decisões de
obra (porque não foram pensadas na etapa de projeto) comprometerem
totalmente a técnica adotada.

• Não pode, na maior parte das vezes, ser adotada isoladamente. Como
foi visto as estruturas estão hoje extremamente deformáveis (e por isto os
problemas patológicos estão ocorrendo). Estima-se que muitos edifícios
estariam seriamente comprometidos sem o atual contraventamento da
alvenaria. Sem este, provavelmente as estruturas terão de ser enrijecidas
concomitantemente com a dessolidarização para responderem de per si a
todos os esforços (que, aliás, é a sua função). A limitação está em que isto irá
provavelmente encarecer a execução da estrutura, alternativa normalmente
não aceita pelo mercado.

♦ AUMENTAR A RESISTÊNCIA MECÂNICA DA ALVENARIA

Este parece ser o caminho aparentemente mais ilógico. Empregar uma


alvenaria que tenha a resistência necessária para suportar as tensões
induzidas por estruturas muito deformáveis é adentrar no campo das
alvenarias estruturais. Aí começa a não fazer sentido o uso da estrutura
reticulada em muitas tipologias de edifícios pois, se a alvenaria suporta
sozinha os esforços não há necessidade dos pilares e vigas. Ou seja é ilógico
porque não combina com estrutura reticulada.

Uma outra limitação desta alternativa é de que ela também não é uma solução
a ser adotada isoladamente (como a anterior). Isto em razão do fato de que
aumentando a resistência da alvenaria significa aumentar as espessuras de

181
parede (diminuindo área) e a densidade superficial e, por conseqüência, as
cargas atuantes. Como resultado, as estruturas terão de ser mais rígidas e de
maior volumetria, portanto deverão ser concomitantemente alteradas.

♦ DAR TOTAL RIGIDEZ À ESTRUTURA

Este parece ser um caminho aparentemente lógico, mas de difícil


implementação no mercado. Seguramente dar total rigidez à estrutura implica
em estruturas de grande volumetria, mais e maiores pilares, lajes muito mais
espessas (como é a prática na Europa e Estados Unidos, quando a alvenaria
é solidária). A dificuldade é o mercado não aceitar uma “volta ao passado”, e
encarar esta solução como um enorme retrocesso, principalmente agora que,
com o discurso da racionalização construtiva, procura-se diminuir desperdícios
em volume de material incorporado. De qualquer forma, sem aproveitar as
características da alvenaria, seguramente não será a solução que mais se
aproxime do ótimo.

♦ RECOMPOR O EQUILÍBRIO ALVENARIA-ESTRUTURA

Recuperar o equilíbrio significa compatibilizar as deformações da estrutura


com a capacidade da alvenaria de absorvê-las. É o caminho provavelmente
mais racional neste momento, na construção civil brasileira. Isto porque pode
ser adotado sem traumas pois, as mudanças na técnica são muito simples e
na prática não implicam em aumento de custos, nem alteram, na essência, os
processos adotados no momento. As dificuldades maiores para sua
implementação estão relacionadas com aspectos comportamentais dos
profissionais envolvidos. Há necessidade de duas principais mudanças de
postura:

∗ Entender que as necessidades técnicas se impõem perante as


demais. Por exemplo, ser aceito pela incorporação que o
planejamento físico da obra deve respeitar os prazos de carência e a
seqüência ótima entre etapas;

182
∗ Admitir (e por em prática) que o domínio do processo tem de ser
assumido totalmente pela engenharia. Ou seja as decisões saírem do
nível do "eu sempre fiz assim", "isto é teoria, deixa que eu resolvo a
minha moda" e do "deixa eles falarem, depois na obra a gente faz do
nosso jeito". Saírem do nível da mestria e passarem a ser decisões
técnicas adotadas pela engenharia de processo.

5. RECOMPONDO O EQUILÍBRIO ALVENARIA-ESTRUTURA

Das alternativas analisadas, os dois caminhos que se mostram mais factíveis


são o da dessolidarização e o do recompor o equilíbrio. O autor entende que, no
presente momento, para a grande maioria das obras, este último parece ser o
mais adequado. Por, pelo menos três razões de ordem prática:

• os resultados aparecem sem alarde, sem grandes conflitos, sem traumas;


• está mais à mão dos construtores, sem interferências significativas com as
áreas de incorporação ou consulta aos clientes;
• a implementação é imediata, basta tomar a decisão de mudar e fazer
acontecer.
No entanto, não deve ser esquecido que as outras alternativas podem, em
determinadas situações, ser mais atraentes e vantajosas.

Para orientar aqueles que pretendem adotar a alternativa de recompor o


equilíbrio da interação alvenaria-estrutura, nos quadros 4, 5 e 6, são
apresentadas duas "receitas" e um quadro-resumo, nos quais são itemizadas as
principais ações, técnicas e materiais a serem objeto do trabalho de implantação
da sistemática que visa otimizar o processo de produção, evitando fissuras e
trincas nas alvenarias.

Entende-se que para recompor o equilíbrio alvenaria-estrutura deve-se, por um


lado, obter estruturas menos deformáveis e por outro, alvenarias mais resilientes
e mais resistentes. O quadro 4 apresenta as recomendações referentes à
obtenção das estruturas menos deformáveis e o quadro 5, as recomendações
sobre a alvenaria.

183
QUADRO 4 – Recomendações para obtenção de estruturas menos deformáveis
✓ MAIOR RIGIDEZ LOCALIZADA
Incremento nas dimensões dos elementos estruturais, principalmente
espessuras de lajes.
✓ MAIOR RIGIDEZ GLOBAL
Aumento na quantidade, dimensão e rigidez dos nós - uso de vigas sob
paredes.
✓ MENOR DEFORMABILIDADE DOS ELEMENTOS
Incrementar tempo de escoramento permanente e aumentar o percentual
de escoras permanentes. Estudar a viabilidade da laje protendida em
alguns casos
✓ CONCRETO COM MENOR DEFORMAÇÃO ELÁSTICA
Maior módulo de deformação elástica (28 dias), promover a cura úmida
✓ CONCRETO COM MENOR DEFORMAÇÃO LENTA
Incrementar tempo de escoramento, promover a cura úmida por, pelo
menos, 7 dias, Maior módulo de deformação aos 28 dias

QUADRO 5 – Recomendações para obtenção de vedações em alvenaria com


maior capacidade de absorver e resistir a deformações impostas

✓ FIXAÇÃO DA ALVENARIA NA ESTRUTURA SEM PRÉ-TENSÃO


Não encunhar. A fixação deve ser feita com argamassa de baixo módulo
e alta aderência, preenchendo totalmente o espaço entre alvenaria e a
estrutura.
✓ ALVENARIA COM MAIOR RESILIÊNCIA
Uso de argamassas de menor módulo. Uso de blocos de módulo
controlado. Adoção de juntas verticais secas nas situações onde é
permitido. Juntas horizontais de no mínimo 10 mm.
✓ DIMINUIÇÃO DAS TENSÕES NA ALVENARIA
Postergar ao máximo a fixação superior da alvenaria. Antecipar ao
máximo os carregamentos antes da fixação (por exemplo os
contrapisos). Adotar a seqüência de execução mais favorável possível.
✓ INCREMENTAR A RESISTÊNCIA MECÂNICA DA ALVENARIA
Uso de blocos de maior resistência e regularidade dimensional. Executar
juntas de argamassa regulares. Amarração entre fiadas. União entre
paredes.
✓ MELHORAR A FIXAÇÃO LATERAL DA ALVENARIA
Junta de união alvenaria-pilar totalmente preenchida. Compressão do
bloco contra o pilar. Telas de reforço onde forem necessárias. Preparo
da superfície do pilar.

QUADRO 6 - Decisões Fundamentais para Evitar Fissuras nas Vedações

184
Decorrentes da Interação Alvenaria-estrutura

✓ ESPECIFICAR, CONTRATAR E EXIGIR O MÓDULO DE DEFORMAÇÃO COMO


PROPRIEDADE FUNDAMENTAL DO CONCRETO.

✓ CURA ÚMIDA DAS LAJES POR NO MÍNIMO 7 DIAS

✓ PERÍODO DE ESCORAMENTO PERMANENTE MÍNIMO DE 28 DIAS

✓ RESPEITAR OS PRAZOS TÉCNICOS PARA O CARREGAMENTO DA ESTRUTURA

✓ POSTERGAR, AO MÁXIMO, A FIXAÇÃO SUPERIOR DA ALVENARIA NA


ESTRUTURA

✓ DESISTIR DE QUERER BATER RECORDES DE ESPESSURA MÉDIA DE CONCRETO


NAS ESTRUTURAS

6. COMENTÁRIOS FINAIS

As fissuras e trincas em alvenaria de vedação decorrentes de deformações


estruturais excessivas é um assunto extensamente tratado na bibliografia
internacional, no passado (década de 60) . Após a compreensão da
fenomenologia e do que deve ser feito para evitar estes problemas patológicos
os europeus e americanos incorporaram o conhecimento tecnológico em seus
códigos e práticas construtivas e o assunto deixou de ser objeto de pesquisas
pois, provavelmente, os problemas deixaram de ocorrer com a mesma
intensidade e freqüência. Dois trabalhos de síntese [2, 3] podem ser consultados
para uma compreensão mais aprofundada desta fenomenologia.

Os códigos de projeto de estruturas de concreto da Europa [4] e dos Estados


Unidos [5] incorporam, nas limitações de deformação dos elementos horizontais
(vigas e lajes) da estrutura, o conceito de que a flecha máxima admissível é
valida após a fixação da alvenaria, não sendo limitantes essenciais a flecha
instantânea nem a total, para a análise do comportamento da alvenaria.
Somente com exemplo são exigidos: no código da ACI [5] "deflexão limite de
l/480 , considerada como a parte da deflexão total que ocorre após a fixação dos
elementos não estruturais (soma da deflexão por deformação lenta devida a
todas as cargas suportadas com a deflexão instantânea devido a qualquer carga
adicional após a fixação)".

185
Em nosso País, a consolidação da tecnologia de produção de vedações em
alvenarias de baixo risco de fissuração, está ainda por ser feita. O GEPE-TGP -
Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia e Gestão da Produção,
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de
Construção Civil, vem pesquisando, assessorando e desenvolvendo inúmeros
trabalhos nesta área. Nas publicações referenciadas [6,7,8,9] muito deste
trabalho pode ser avaliado. O Grupo espera poder no próximo ano consolidar
todo este conhecimento em uma publicação específica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] FRANCO, L.S. BARROS, M.M.S.B., SABBATINI, F.H.. Desenvolvimento de


um método construtivo de alvenaria de vedação de blocos de
concreto celular auto clavado - relatório final. São Paulo,
EPUSP/CPqDCC, 1994. Relatório técnico nº20.081, Convênio Poli-Sical.
Não publicado.

[2] C.S.T.C. Fissuration des Maçoneries. Bruxelas, Centre Scientifique et


Techique de la Construction, 1967

[3] PFEFFERMANN, O. Les fissures dans les constructions conséquence de


phénomènes physiques naturels. Annales de lnstitut Technique du
Batiment et des Travaux Publics. Bruxelas, 21(250):1453-82,1968.

[4] COMITÉ EUROPÉEN DU BÉTON. Manuel de calcul "Flèches" - 2e. Parte


"limitation des flèches". Paris, CEB, 1973. Bulletin d'Information nº 91.

[5] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Building code requirements for


structural concrete. Detroit, ACI,1995. ACI 318R-95

[6] SABBATINI, F.H. BARROS, M.M.S.B., SILVA, M.M.A. Recomendações para


construção de paredes de alvenaria. São Paulo, EPUSP/CPqDCC,
1988. Relatório técnico Convênio Poli-Encol - Projeto EP/EN-1. Documento
1D. Não publicado.

[7] SABBATINI, F.H., SILVA, M.M.A. Recomendações para o projeto


construtivo das paredes de vedação em alvenaria: Procedimentos
para elaboração e padrão de apresentação. São Paulo,
EPUSP/CPqDCC, 1991. Relatório técnico Convênio Poli-Encol - Projeto
EP/EN-7. Não publicado.

[8] GEPE-TGP. Tecnologia de produção de paredes de alvenaria - Notas de


aula para curso de especialização. São Paulo, EPUSP-Departamento de
Engenharia de Construção Civil, 1997. Não publicado.

[9] BARROS, M.M.S.B. O processo de produção das alvenarias


racionalizadas. Anais deste seminário.

186
A GESTÃO DA PRODUÇÃO DE VEDAÇÕES VERTICAIS :
ALTERNATIVAS PARA A MUDANÇA NECESSÁRIA

Prof. Dr. Francisco F. Cardoso


fcardoso@pcc.usp.br

RESUMO

O presente texto procura discutir genericamente a questão da gestão da


produção de obras de edifícios, e mais especificamente da gestão da produção
das vedações verticais, principalmente com relação a seus aspectos teóricos,
apresentando alternativas para que tal gestão ocorra da maneira a mais eficiente
possível.

O assunto é tratado sob duas ópticas complementares : da gestão dos materiais


e da gestão das pessoas.

Embora dificuldades sejam apontadas, a conclusão a que se chega é a de que


existem hoje diversos conceitos e ferramentas que podem ser empregados na
gestão da produção das vedações verticais, desde que haja determinação da
empresa construtora para tanto.

O resultado esperado através da melhor gestão da produção é o aumento de


eficiência do sistema de produção como um todo e, consequentemente, de
capacidade competitiva para a empresa. No entanto, para que esse aumento
seja efetivo, não basta apenas se pensar na gestão : considerar a tecnologia latu
sensu envolvida também é fundamental. Para ser competitiva, a empresa tem
que ter, aliada a uma gestão eficiente, o domínio tecnológico dos métodos e
técnicas construtivos.

187
1 INTRODUÇÃO

1.1 O Conceito de Gestão

Antes de entrarmos nos detalhes específicos sobre o assunto aqui tratados, é


necessário definirmos o que entendemos por “gestão”. Para tanto, partirmos das
idéias de duas escolas da Teoria da Administração, a da Administração
Científica e a Clássica, que tiveram como precursores Frederick W. Taylor e
Henry Fayol. Tais engenheiros desenvolveram, de modo independente, há
quase um século, conceitos e princípios sobre o tema, que até hoje são aceitos
por muitas correntes da Teoria da Administração.

Centrada na idéia de que o importante é bem gerenciar as tarefas ou operações


desenvolvidas pelos operários, o trabalho de Taylor tem como princípios
fundamentais o da padronização, o da especialização dos trabalhadores e o de
que estes teriam como maiores estímulos para produzir os de natureza
financeira ; além disso, ele preconiza a necessidade do planejamento, preparo e
controle das tarefas, atividades feitas pela “engenharia” da empresa.

Já Fayol interessou-se pela empresa como um todo, com destaque para a


importância de sua estrutura organizacional. Segundo ele, entre outros aspectos,
uma boa gerência é aquela que prevê a divisão do trabalho, a autoridade, a
responsabilidade, a unidade de comando e a definição hierárquica e a
coordenação ; além disso, ela deve agir baseada em prescrições ou
procedimentos bem definidos, que formalizem a organização e as relações
existentes entre agentes.

Os conceitos e princípios gerenciais definidos por Taylor e Fayol, que foram


complementados por muitos de seus seguidores, tiveram uma forte oposição, já
a partir dos anos 20. Argumentava-se então que os mesmos não consideravam
o homem, o trabalhador, em suas plenas dimensões, esquecendo que este
valoriza outros estímulos que os financeiros, tais como a motivação que o
trabalho desperta, o reconhecimento social que ele propicia, o trabalho em grupo
e a cooperação, a comunicação, a valorização da liderança, entre outros
aspectos.

188
Tal enfoque das questões gerenciais teve início com a chamada Escola das
Relações Humanas, de Elton Mayo e Kurt Lewin, e se desenvolveu inicialmente
em países nórdicos, onde se combinou com a visão “técnica” da Escola
Clássica, resultando no enfoque dito sócio-técnico. Este evoluiu no Japão, já
após a Segunda Guerra mundial, dando origem a muitos conceitos e
ferramentas atualmente em uso, como os ligados à gestão da qualidade.

Nos tempos atuais, onde as empresas e as organizações vivem um período de


transformações internas e ambientais de grande magnitude, onde as questões
da competitividade e do atendimento às necessidades dos clientes se tornam
centrais, novos conceitos gerenciais vêm sendo desenvolvidos e novos
princípios postos em prática ; eles consideram aspectos tais como : as
mudanças no ambiente setorial e econômico ; a rápida evolução tecnológica ; a
variabilidade e a complexidade crescentes dos produtos ; o anseios dos
clientes ; a necessidade de se racionalizar os custos ou de se oferecer um
diferencial aos produtos para competir com sucesso .

Concluindo, ao fazermos um balanço das escolas da Teoria da Administração,


vemos que o foco das mesmas mudou ao longo do tempo, se complementando
e se adaptando às necessidades de um determinado período e de um
determinado contexto social, econômico e técnico ; de uma lógica centrada nas
operações, elas evoluíram para outras focadas na organização / empresa, para
chegarem no trabalhador e no meio ambiente.

Levando-se em conta tudo isso, e sintetizando o que apregoam as principais


correntes atuais do pensamento administrativo, entendemos que a gestão25 de
um processo envolve uma pluralidade de ações, cuja natureza pode ser de :

• planificação, o que significa organização das atividades no tempo, previsão,


antecipação ;

25
Muitos autores chamam de “administração” o que aqui chamamos de “gestão” e de “gestão” o
que chamamos de “direção” ou “condução”.

189
• organização, o que implica na identificação das competências necessárias
para a realização das atividades que têm que ser desenvolvidas ao longo do
processo a ser gerenciado, na definição dos condicionantes que limitam tal
desenvolvimento, na definição e obtenção dos meios a serem postos à
disposição para tanto, na previsão das interfaces e na coordenação do
conjunto dessas atividades ;

• direção ou condução, implicando na fixação e na perseguição de objetivos e


metas, na transmissão das informações, na tomada de decisão, na
transparência, na obtenção do comprometimento e da motivação das pessoas
que participam do processo, na busca de cooperação entre elas e no
desenvolvimento do trabalho em grupo, na comunicação, na liderança ;

• controle, o que exige a criação e a observância de sinalizadores que


permitam garantir a obtenção dos resultados perseguidos e corrigir
rapidamente desvios que venham a existir.

É sob esta óptica que discutiremos a gestão da produção de vedações verticais.

1.2 Gestão do Sistema de Produção e Agentes Envolvidos

A gestão das produção de vedações verticais situa-se num contexto mais amplo,
de gestão do sistema de produção da obra como um todo. Numa definição
simplista, entendemos por um tal sistema como aquele que envolve o conjunto
das atividades de produção propriamente ditas e as de planejamento,
principalmente aquelas que se desenrolam no canteiro de obras. No entanto, a
gestão do sistema de produção deve ainda considerar atividades desenvolvidas
fora do canteiro, que sejam importantes para a gestão da produção tratada
globalmente.

Outra preocupação deve ser a de considerar a gestão coordenada da atuação


de todos os agentes envolvidos no sistema, tanto daqueles que atuam
diretamente na produção - a construtora e sua equipe (engenheiros e arquitetos,
mestres, oficiais, serventes, pessoal da área administrativa, pessoal da sede da
empresa), os subempreiteiros e os produtores e fornecedores de materiais e

190
componentes, – quanto daqueles que interagem com ela - projetistas,
empreendedor, gerenciadora, órgão públicos, clientes finais, etc.

A boa gestão da execução das vedações deve conseguir mobilizar todos esses
agentes para que a produção se processe do modo o mais eficiente possível,
levando em conta as necessidades e características próprias de cada um. Mais
do que isso, ela deve permitir que os agentes outros que os atuantes
diretamente na empresa construtora sejam efetivamente envolvidos na gestão e
nos processos de tomada de decisão relacionados à execução.

Por em prática este conceito novo trata-se de um grande desafio, pois o mesmo
é ainda pouco conhecido e aceito na construção civil brasileira, mesmo se vem
sendo adotado por empresas do setor no exterior. Seu enfoque sistêmico do
processo de produção integra as idéias advindas da Escola das Relações
Humanas, vistas anteriormente.

1.3 Etapas do Processo de Produção, Gestão de Materiais e Gestão de


Pessoas

Concluído, o quadro 1.1 sintetiza, para as diferentes etapas do processo de


produção, as fases do processo envolvidas e as atividades nelas realizadas
(mesmo se algumas delas não apresentam interesse específico para o caso da
produção de vedações verticais ; por exemplo, a macroatividade Projeto Legal).
Sua grande novidade é subdividir a etapa de Execução em duas fases distintas,
a de Estudos de Preparação e a de Produção propriamente dita. Basicamente, a
primeira se preocupa com as atividades e informações que dependem de
agentes e de suas ações tomadas anteriormente à Execução ; a segunda, com
as atividades e informações relacionadas com o acompanhamento ou evolução
da Execução. É em ambas que se deve atuar para se mudar a gestão da
produção das vedações verticais.

Por sua vez, o quadro 1.2 apresenta, para as macroatividades das fases de
Estudos de Preparação (Projeto do Processo e Planejamento Inicial da

191
Produção ; quadro 1.2a) e de Produção26 (Logística Externa, Logística do
Canteiro e Execução ; quadro 1.2b), as atividades ou ações de planejamento,
organização, direção e controle nelas envolvidas, as ferramentas aplicadas e os
produtos resultantes que caracterizam a chamada gestão de materiais.

De modo semelhante, o quadro 1.3 (“a” e “b”) apresenta as atividades,


ferramentas aplicadas e produtos resultantes que caracterizam a chamada
gestão de pessoas.

Outras atividades de gestão existem e que não podem ser associadas à gestão
de materiais e de pessoas. Esse é o caso, por exemplo, dos controles dos
custos de produção e da qualidade dos serviços executados e do
replanejamento de custos.

Devido às limitações do presente texto, discutiremos apenas as atividades,


ferramentas e produtos que consideramos como alternativas que se colocam à
gestão da produção tradicional, particularmente no caso das vedações verticais.

Antes, porém, apresentamos alguns conceitos que são comuns à gestão de


materiais e à de pessoas, e que caracterizam algumas das fases e
macroatividades anteriormente citadas : Estudos de Preparação, Planejamento
Inicial da Produção, Projeto do Processo, Logística Externa (Suprimentos) e
Logística do Canteiro (Micro Planejamento Flexível).

26
Não trataremos neste texto das etapas de Estudos Preliminares, de Projeto e de Uso,
Manutenção e Operação, sendo evidente que nelas são tomadas decisões críticas que
condicionam, posteriormente, a produção das vedações verticais. É nelas que, por exemplo, a
opção pelo uso de alvenarias ou de divisórias leves de gesso acartonado nas vedações interiores
é tomada.

192
Quadro 1.1 - Etapas do processo de produção, fases envolvidas e macroatividades realizadas.

Projeto
ETAPAS DO ESTUDOS EXECUÇÃO USO, MANUTENÇÃO
PROCESSO DE PRELIMINARES E OPERAÇÃO
PRODUÇÃO
COMERCIAL ESTUDOS DE ESTUDOS DE PRODUÇÃO ASSISTÊNCIA
FASES DO
CONCEPÇÃO PREPARAÇÃO TÉCNICA
PROCESSO

Idealização do Detalhamento do Projeto do Processo Logística Externa Acompanhamento


Produto Produto (Suprimentos) do Produto em Uso
MACROATIVIDADES Concepção Inicial Projeto Legal Planejamento Inicial Logística do Manutenção do
REALIZADAS da Produção canteiro (Micro Desempenho
Viabilização Orçamentação
Planejamento
Financeira Detalhada
Flexível)
Pré-orçamentação Execução
Comercialização

SISTEMA DE
PRODUÇÃO

193
Quadro 1.2a – Gestão de Materiais : macroatividades e atividades envolvidas, ferramentas aplicadas e produtos resultantes (fase
de Estudos de Preparação).

MACROATIVIDADES E SUAS ATIVIDADES Ferramentas Produtos

PROJETO DO PROCESSO
- Determinação dos condicionantes do produto (método e sistema construtivos, - Procedimento de Especificação e Inspeção de - Caderno de PEIMs da obra
materiais e componentes) Materiais (PEIM) - Caderno de PEISs da obra
- Determinação dos condicionantes do Planejamento Inicial de Execução (fases - Procedimento de Execução e Inspeção de - Projeto do canteiro
da obra) Serviços (PEIS) - Projetos para Produção dos serviços
- Determinação dos condicionantes do canteiro (local ; vizinhança) - Metodologias para análise dos fluxos e críticos (estrutura, alvenaria,
- Determinação dos condicionantes legais (NR-18 ; leis municipais) eliminação de atividades que não agreguem revestimentos, impermeabilização,
- Determinação dos equipamentos, áreas e instalações a serem mobilizados valor etc.)
- Metodologias para elaboração de Projetos - Diretrizes para o Sistema de
para Produção Comunicações
- Metodologias para elaboração de Projetos de - Planilhas de Medições
Canteiros - Relação de Pontos Críticos e de
- Mecanismos de seleção de fornecedores Pontos de Controle
- Planejamento Inicial da obra - Relação de Interfaces Técnicas e
Organizacionais
PLANEJAMENTO INICIAL DA PRODUÇÃO
- Definição de objetivos e metas do sistema de produção - Técnicas de Planejamento, Programação e - Planejamento Inicial da obra
- Elaboração do Planejamento Inicial da obra Controle da Produção (PPC)
- Desenvolvimento de ferramentas para Projetos de Canteiros

AMBAS AS MACROATIVIDADES
- Metodologia para elaboração de Estudos de - Conjunto : Guia de Execução da Obra
- Condução do processo que leve à elaboração do Guia de Preparação
Execução da Obra

194
Quadro 1.2b – Gestão de Materiais : macroatividades e atividades envolvidas, ferramentas aplicadas e produtos resultantes (fase
de Produção).

MACROATIVIDADES E SUAS ATIVIDADES Ferramentas Produtos


LOGÍSTICA EXTERNA (SUPRIMENTOS)
- Sistema de Comunicação com fornecedores - Caderno de PEIMs da obra - Plano de Suprimentos
- Logística de Suprimentos (compras, recebimento, processamento, estocagem, - Projetos para Produção - Sistema de Comunicação (parcial)
disponibilização na frente de trabalho) - Planejamento Inicial da obra
- Interfaces com os fornecedores
- Controles de recebimento (qualidade, quantidade, registros)
- Controles de estoques (manutenção dos recursos materiais previstos)
- Reprogramação de compras
LOGÍSTICA DO CANTEIRO (MICRO PLANEJAMENTO
FLEXÍVEL)
- Implantação do canteiro - Projeto do Canteiro - Canteiro implantado e funcionando
- Instalação dos equipamentos - Planilhas de Medição Avanços - Sistema de Comunicação (parcial)
- Sistema de Comunicação com subempreiteiros - Planilhas de Determinação de Perdas - Micro Planejamento Flexível
- Circulação das informações (canteiro/subempreiteiros, - Cadernos de PEISs e de PGESs da obra
suprimentos/fornecedores, Estudos de Preparação, Estudos de Concepção, - Conjunto de Atividades de Controle
Cliente, Gerenciadora, etc.)
- Controle da circulação de materiais (fluxos físicos)
- Controle de equipamentos e sistemas de transporte
- Controle detalhado dos fluxos de execução dos serviços : consumo de materiais
(perdas)
- Controle das áreas de estocagem e de processamento
- Replanejamento de frentes (avanços)
EXECUÇÃO
- Mobilização da mão-de-obra (competente) - Reuniões de Obra - A OBRA ACABADA
- Entrega da obra - Caderno de PEISs e de PGESs da obra
- Atendimento a objetivos e metas do sistema de produção
- Motivação, comprometimento, cooperação dos funcionários
- Motivação, comprometimento, cooperação dos subempreiteiros
- Gestão das interfaces entre serviços subempreitados
- Garantia dos fluxos de informações entre os agentes

195
Quadro 1.3a – Gestão de Pessoas : macroatividades e atividades envolvidas, ferramentas aplicadas e produtos resultantes (fase
de Estudos de Preparação).

MACROATIVIDADES E SUAS ATIVIDADES Ferramentas Produtos

PROJETO DO PROCESSO
- Determinação da mão-de-obra a ser mobilizada - Procedimento de Execução e Inspeção de - Caderno de PEISs da obra
Serviços (PEIS) - Caderno de PGESs da obra
- Procedimento de Gerenciamento da - Plano de Pessoal (Higiene e
Execução de Serviços (PGES) motivação - qualificação, fixação,
- Metodologias para análise dos fluxos e conteúdo do trabalho)
eliminação de atividades que não agreguem - Balanceamento inicial de equipes de
valor produção
- Metodologias para elaboração de Projetos - PCMAT
para Produção - Projetos para Produção dos serviços
- Metodologias para elaboração de Projetos de críticos (estrutura, alvenaria,
Canteiros revestimentos, impermeabilização,
- Norma NR-18 etc.)
- Mecanismos de seleção de subempreiteiros - Diretrizes para o Sistema de
- Planejamento Inicial da obra Comunicações
- Planilhas de Medições
- Relação de Pontos Críticos e de
Pontos de Controle
- Relação de Interfaces Técnicas e
Organizacionais
PLANEJAMENTO INICIAL DA PRODUÇÃO
- Definição de objetivos e metas do sistema de produção - Técnicas de Planejamento, Programação e - Planejamento Inicial da obra
- Elaboração do Planejamento Inicial da obra Controle da Produção (PPC)

AMBAS AS MACROATIVIDADES
- Metodologia para elaboração de Estudos de - Conjunto : Guia de Execução da Obra
- Condução do processo que leve à elaboração do Guia de Preparação
Execução da Obra

196
Quadro 1.3b – Gestão de Pessoas : macroatividades e atividades envolvidas, ferramentas aplicadas e produtos resultantes (fase
de Produção).

MACROATIVIDADES E SUAS ATIVIDADES Ferramentas Produtos


LOGÍSTICA EXTERNA (SUPRIMENTOS)
- Logística da Mão-de-obra (alojamento, refeições, transporte) - Sistema de Comunicação (parcial)
LOGÍSTICA DO CANTEIRO (MICRO PLANEJAMENTO
FLEXÍVEL)
- Instalação dos equipamentos - Projeto do Canteiro - Canteiro implantado e funcionando
- Implantação do PCMAT - PCMAT - Sistema de Comunicação (parcial)
- Sistema de Comunicação com subempreiteiros - Planilhas de Medição Avanços - Micro Planejamento Flexível
- Circulação das informações (canteiro/subempreiteiros, - Cadernos de PEISs e de PGESs da obra - Banco de Tecnologias Construtivas
suprimentos/fornecedores, Estudos de Preparação, Estudos de Concepção, - Conjunto de Atividades de Controle
Cliente, Gerenciadora, etc.)
- Escolha e contratação de subempreiteiros
- Controle da circulação dos homens (fluxos físicos)
- Controle de subempreiteiros
- Controle detalhado dos fluxos de execução dos serviços : avanços frentes de
trabalho (produtividade da mão-de-obra)
- Controle das instalações administrativas e de vivência
- Replanejamento de frentes (avanços)
- Rebalanceamento de equipes de produção
- Alimentação de Banco de Tecnologias Construtivas (BTC)
EXECUÇÃO
- Mobilização da mão-de-obra (competente) - Técnicas de gestão de recursos humanos - Mobilização efetiva da mão-de-obra
- Entrega da obra (Plano de Cargos e Funções) - Motivação, comprometimento,
- Atendimento a objetivos e metas do sistema de produção - Polivalência cooperação dos funcionários e
- Motivação, comprometimento, cooperação dos funcionários - Reuniões de Obra subempreiteiros
- Motivação, comprometimento, cooperação dos subempreiteiros - Caderno de PEISs e de PGESs da obra - A OBRA ACABADA
- Gestão das interfaces entre serviços subempreitados
- Garantia dos fluxos de informações entre os agentes

197
2 ESTUDOS DE PREPARAÇÃO, PLANEJAMENTO INICIAL DA PRODUÇÃO,
PROJETO DO PROCESSO, LOGÍSTICA EXTERNA (SUPRIMENTOS) E
LOGÍSTICA DO CANTEIRO (MICRO PLANEJAMENTO FLEXÍVEL)

Apresentamos a seguir alguns conceitos comuns à gestão de materiais e à de


pessoas, e que consideramos fundamentais de serem conhecidos e aplicados
para que se tenha uma boa gestão do sistema de produção.

2.1 Estudos de Preparação

A fase de Estudos de Preparação objetiva fazer com que, antes de começar a


execução de uma obra, se “pare para nela pensar”. A idéia é a de que nesse
processo de reflexão, de “preparação”, se “projete” o processo segundo o qual
ela vai ser executada (CARDOSO, 1996).

Ela se preocupa tanto com a gestão de materiais como de pessoas, e dela


resulta um conjunto de documentos reunidos no “Guia de Execução da Obra”.
Este precisa “quem faz o que, quando e como”, define as interfaces técnicas e
organizacionais comuns, dá diretrizes de como deve se processar a
comunicação entre agentes, define certos elementos concretos necessários à
boa gestão da obra (através dos cadernos de procedimentos de especificação e
inspeção de materiais e de procedimentos de execução e de inspeção de
serviços ; da análise dos fluxos ; dos Projetos para Produção ; do projeto do
canteiro ; etc.) e estabelece o Planejamento Inicial para a produção dos
diferentes serviços. Trata-se portanto de um instrumento fundamental à boa
gestão da obra, onde as vedações verticais aparecem como um dos serviços a
serem executados.

2.2 Planejamento Inicial da Produção

A realização dos Estudos de Preparação permite se antecipar os possíveis


problemas que ocorrerão durante a Produção da obra, e se definir ações para
evitá-los, bem como as medidas que deverão ser adotadas caso os mesmos ou
outros imprevistos venham a acontecer, coordenando tais ações de forma eficaz.
Isso é feito através das atividades de natureza temporal, de planejamento,
presentes na macroatividade Planejamento Inicial da Produção.

198
Para tanto, emprega-se as tradicionais Técnicas de Planejamento, Programação
e Controle da Produção (PPC), além de outras ferramentas computacionais, que
permitem realizar-se simulações e projeções de conseqüências de eventos
futuros.

A novidade está em realizar um planejamento com uma preocupação centrada


no sistema de produção, segundo objetivos e metas bem definidos, e não nos
aspectos financeiros da obra (que continua tendo que ser realizado). Tal
planejamento será acompanhado e atualizado ao longo da obra, através do
Micro Planejamento Flexível, que será visto mais adiante. Além disso, dele
constam informações tais como :

• datas de entrega dos projetos e das especificações não disponíveis ;


• datas de entrega dos Projetos para Produção ;
• datas de fornecimento dos principais suprimentos (consolidadas pelo Plano
de Suprimentos) ;
• períodos de execução dos serviços ;
• datas de término de etapas críticas da execução ;
• datas de mobilização / desmobilização de partes das instalações de canteiro ;
• datas de início e término de intervenção dos diferentes subempreiteiros ;
• datas de pedidos de compra / locação de materiais e/ou equipamentos ;
• outros eventos marcantes (tomadas de decisão pelos diferentes agentes,
apresentação e aprovação de amostras ou protótipos, etc.).

Por exemplo, para o caso das vedações verticais, o Planejamento Inicial da


Produção deve prever toda a seqüência de atividades envolvidas na sua
produção. Assim, no caso do uso de alvenarias, ele deve prever no tempo as
atividades de marcação, elevação e fixação, assim como aquelas que interferem
com outros subsistemas, como a execução dos batentes, dos revestimentos e
das instalações hidráulicas e elétricas. A escolha da técnica construtiva, nesse
como em outros casos, é um condicionante fundamental para o planejamento ;
seja o caso dos batentes de portas : se forem empregados os fixados
tradicionalmente, eles serão incorporados às vedações antes dos
revestimentos ; se os envolventes, eles serão fixados quando da elevação das
alvenarias ; por fim, se do tipo porta pronta, eles serão colocados imediatamente

199
antes da pintura. As outras informações serão definidas como conseqüência
destas ou como decorrência de condicionantes próprios (datas de entrega dos
projetos, datas de fornecimentos, datas de mobilização / desmobilização do
canteiro, datas de intervenção dos subempreiteiros, etc.).

2.3 Projeto do Processo

A colocação em prática de atividades de natureza de planejamento, como as do


Planejamento Inicial da Produção, não permite por si só antecipar os problemas
que poderão ocorrer durante a obra. Para tanto, é também necessário que se
conduza uma série de atividades de natureza organizacional, que vão permitir o
estudo e o detalhamento da seqüência de serviços envolvidos na execução da
obra, realizando um verdadeiro Projeto do Processo. Essa macroatividade virá
complementar a de Detalhamento do Produto, realizada por equipe
multidisciplinar na fase de Estudos de Concepção (ver quadro 1.1), fase esta
sobre a qual a equipe de obras pode ter maior ou menor influência, dependendo
de se a empresa é do tipo “construtora” ou “construtora-incorporadora”.

Tal integração entre Produto e Processo permite maior racionalização e


construtibilidade, resultando em “facilidades construtivas” e em menos
problemas e surpresas indesejáveis ocorrendo, futuramente, ao longo da obra.

As atividades de natureza organizacional, desenvolvidas durante o Projeto do


Processo, envolvem a identificação dos condicionantes do sistema de produção,
a identificação e a disponibilização dos meios materiais e humanos necessários
à obra e a previsão de interfaces técnicas e organizacionais envolvidas,
sobretudo daquelas que dizem respeito aos agentes externos. Elas fazem uso
de ferramentas modernas, que nenhum gerente de obras competente pode
desconhecer e deixar de aplicar.

O Projeto do Processo exige, ainda, a realização de atividades de direção,


conduzindo o processo que leva à elaboração do Guia de Execução da Obra.

200
2.4 Logística Externa (Suprimentos)

Antes de falarmos de Logística Externa, convém definirmos o conceito de


Logística, sobretudo no caso do seu emprego na construção civil.

Se a origem grega da palavra evoca a idéia de “lógica” (logistiké), foi de seu uso
enquanto conceito militar que ela passou a ser empregada na indústria em geral.
Com esse sentido, ela relaciona-se com o planejamento e realização de projetos
táticos, alocação de recursos humanos, materiais, ou de qualquer outra
natureza, transporte, manutenção e operação de instalações e acessórios
destinados a ajudar o desempenho de qualquer função militar.

Já, quando empregado na indústria, o conceito se modifica e evolui. O Council of


Logistics Management define assim a Logística como sendo “o processo de
planejar, implementar e controlar, de maneira eficiente e eficaz, o fluxo e
armazenagem de matérias primas, produtos em processo, produtos acabados e
respectivas informações, do ponto de origem ao ponto de consumo, com o
propósito de atender plenamente às necessidades dos clientes”
(BALLOU, 1997).

Outros autores dão um entendimento ainda mais amplo ao termo,


caracterizando-o como a “arte de administrar o fluxo de materiais e produtos, da
fonte ao usuário”, processo que exigiria ser “administrado por um intrincado
subsistema de comunicações e controle” (MAGEE, 1977). Adotamos aqui tal
conceito de associar a Logística à idéia de um duplo fluxo : de materiais e
produtos (físico) e de comunicações e controles (de informações).

Assim, conceitua-se Logística na construção civil como sendo um “processo


multidisciplinar, aplicado a uma determinada obra, que visa garantir o
abastecimento, a armazenagem, o processamento e a disponibilização dos
recursos materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das
equipes de produção e a gestão dos fluxos físicos de produção. Tal processo se
dá através de atividades de planejamento, organização, direção e controle, tendo
como principal suporte o fluxo de informações, sendo que estas atividades
podem se passar tanto antes do início da execução em si, quanto ao longo dela”.

201
A Logística Externa ou de Suprimentos reúne uma parte das atividades acima
citadas, especificamente as que se ocupam da provisão dos recursos materiais e
humanos para a obra. Como seu próprio nome o diz, ela se preocupa com as
relações entre o canteiro e os agentes exteriores que fornecem os recursos
necessários.

2.5 Logística de Canteiro (Micro Planejamento Flexível)

Por sua vez, a Logística de Canteiro compreende o planejamento e a gestão dos


fluxos físicos de produção através dos fluxos de informação que se desenvolvem
nas diferentes atividades do sistema de produção. Ela está mais voltada para o
interior do canteiro, para o seu funcionamento.

A Logística de Canteiro envolve atividades de gestão de todas as naturezas :


organização, direção, controle e planejamento. No entanto, sua maior
característica, para possibilitar uma boa condução dos fluxos físicos ligados à
execução, é realizar um controle e um planejamento detalhado e contínuo de tais
fluxos, em intervalos de tempo curtos o suficiente para permitirem que se reaja
imediatamente (de modo “flexível”) após a constatação de um desvio, corrigindo
o planejamento feito a nível da tarefa ou operação (“micro”). Esse é o principal
conceito associado ao “micro planejamento flexível”.

Por exemplo, no caso da produção das vedações verticais, ao se constatar um


atraso numa dada atividade, que pode ser própria ou externa a tal serviço (como
conseqüência de um atraso na execução da estrutura de um dado pavimento,
por exemplo), e que tenha repercussões nas atividades que a sucedem, deve-se
reprogramar a seqüência de atividades dali para frente (mantendo-se ou não a
data de término do serviço, conforme interesse específico). Tal reprogramação,
supondo-se que exista implantado um sistema de comunicação eficiente, trará
uma série de desdobramentos para o desenrolar da obra, especialmente no que
se refere à Logística de Suprimentos (Plano de Suprimentos) e à intervenção
dos diferentes agentes que atuam nas frentes de trabalhos (em produção própria
ou subempreitada). Isto confirma a necessidade de se envolver agentes externos
à empresa, sobretudo subempreiteiros e produtores de materiais e
componentes, na gestão do sistema de produção e nos processos de tomada de
decisão relacionados à execução.

202
3 GESTÃO DE MATERIAIS

Uma vez entendidos os conceitos básicos vistos acima, podemos começar a


discutir as atividades, ferramentas e produtos que consideramos como
alternativas que se colocam à gestão da produção tradicional, particularmente no
caso das vedações verticais. Iniciemos pela gestão de materiais. Estamos
preocupados aqui em nos aprofundarmos em tudo que diga envolva os
materiais, componentes e sistemas construtivos empregados na obra : sua
especificação, compra, fabricação em obra, recebimento, processamento,
estocagem, transporte, uso, etc. Lembremos que a complexificação técnica dos
edifícios aumentam o valor agregado de tais produtos e, consequentemente, a
responsabilidade e a importância envolvidas. Os exemplos dos painéis de gesso
acartonado e das instalações hidráulicas flexíveis embutidas são exemplos disso
para o caso das vedações verticais.

Tal tema é, evidentemente, muito extenso e o trataremos de modo limitado. No


entanto, se observarmos o quadro 1.2, vamos identificar algumas ferramentas
básicas, ainda não usuais, empregadas durante o Projeto do Processo, que
merecem ser analisadas : Procedimentos de Especificação e Inspeção de
Materiais (PEIM) ; Procedimento para Execução e Inspeção de Serviço (PEIS) ;
Metodologias para análise dos fluxos e eliminação de atividades que não
agreguem valor ; Metodologias para a elaboração de Projetos para Produção ;
Metodologia para a elaboração do Projeto do Canteiro ; Mecanismos de seleção
de fornecedores ; Reuniões de obra.

Por outro lado, do emprego dessas ferramentas resultam produtos que, já na


fase de Produção, servirão com ferramentas para as macroatividades ligadas à
Logística e à Execução. Aqui, diferentemente do que ocorreu no Projeto do
Processo, as atividades assumem as naturezas de controle e direção,
complementando as de organização e planejamento que já eram anteriormente
desenvolvidas. É necessário fazer a obra funcionar !

Em seguida, analisamos as ferramentas acima listadas, assim como as


atividades de controle e direção evolvidas, e apresentamos os Produtos
resultantes, de interesse para a gestão de materiais.

203
3.1 Procedimentos de Especificação e Inspeção de Materiais (PEIM) e
Procedimentos de Execução e Inspeção de Serviços (PEIS). Gestão da
Qualidade de Materiais

Os Procedimentos de Especificação e Inspeção de Materiais (PEIM) são


documentos que traduzem, para os materiais mais significativos da obra, as
especificações que auxiliarão o pessoal de suprimentos a bem encomendarem
os produtos e o pessoal de obra a bem controlarem os materiais entregues.

Por outro lado, somente a correta aplicação de tais materiais é que leva a
obtenção de uma edificação adequada. Assim, são os Procedimentos de
Execução e Inspeção de Serviços (PEIS) que prescrevem as técnicas e
processos segundo os quais tais aplicações ocorrem, nos mais diferentes
serviços de obra, inclusive os envolvidos na produção das vedações verticais.

Um procedimento, seja ele para a especificação e inspeção de materiais, ou


para qualquer outra atividade realizada sistematicamente, como a execução de
um serviço de obra, por exemplo, nada mais é do que uma seqüência de tarefas
escrita de modo ordenado que descreve a maneira segundo a qual as atividades
mais freqüentemente realizadas pela empresa devem ser realizadas. Ele cobre
as atividades mais repetitivas e importantes para que o processo em questão – a
compra dos materiais e componentes das vedações verticais, por exemplo - se
realize segundo programado, atendendo a objetivos de eficiência pré-fixados,
definindo as disposições que devem ser tomadas para se controlar todos os
riscos potenciais inerentes a cada atividade. Cada procedimento “modeliza”
assim uma das atividades mais constantemente realizadas pela empresa, ou
uma considerada importante.

Já um Procedimento para Execução e Inspeção de Serviço (PEIS) fornece


informações sobre a seqüência de passos a serem realizados, indicando as
respectivas técnicas e processos construtivos envolvidos, que devem ser
seguidos para a consecução do serviço (inclui fotos, esquemas, desenhos, etc.),
e define os critérios, através de parâmetros qualitativos ou quantitativos
(incluindo tolerâncias), segundo os quais o serviço ou uma de suas etapas é
aceito (liberado) ou rejeitado.

204
O estabelecimento dos PEIMs e dos PEISs compete normalmente à empresa, e
não à obra. Trata-se de elementos que fazem parte de sua cultura, que traduzem
a maneira segundo ela trabalha. Eles constituem instrumentos obrigatórios da
gestão da qualidade de materiais, relacionando-se diretamente com conceitos
tais como o de Controle da Qualidade, Garantia da Qualidade, Certificação de
Produtos, Marcas de Conformidade e Certificação de Serviços de Execução.

3.2 Metodologias para Análise dos Fluxos e Eliminação de Atividades que


Não Agreguem Valor

Em cada processo, seja ele ligado à produção ou não, são desenvolvidas


atividades que “transformam” o bem ou serviço que está sendo manipulando,
agregando a ele “valor” (como este é entendido pelo cliente). No entanto, são
também desenvolvidas atividades simplesmente de apoio, que em nada
transformam o bem, em nada agregam a ele valor. Estas são chamadas de
atividades de “fluxo”, tais como as de transporte, as esperas e os controles. Ora,
a boa gestão da produção deve permitir a identificação e a eliminação de tais
atividades, que são fontes de desperdícios de tempo e recursos.

As metodologias que cumprem tal papel advêm da chamada Lean Construction


(KOSKELA, 1992), visando a melhoria da eficiência das atividades geradoras de
valor e a redução da importância das atividades que não geram valor. Elas
procuram eliminar ou, ao menos, otimizar as atividades de fluxo de cada
processo produtivo, incluindo nos presentes na produção das vedações verticais.

Em linhas gerais, isso é feito subdividindo-se cada processo produtivo em suas


diferentes atividades, reagrupando-se as mesmas, eliminando-se as
desnecessárias (que não agreguem valor), coordenando-se os trabalhos de
modo que não se tenha esperas, minimizando-se os transportes e os controles,
etc. Por exemplo, os componentes de alvenaria devem estar disponíveis onde e
quando necessários nas frentes de trabalho, na quantidade e qualidade certas ;
componentes já com caixas de eletricidade previamente embutidas podem ser
preparados e empregados ; pode-se empregar componentes com marca de
conformidade, o que elimina grande parte dos controles de recebimento.

Em síntese, os conceitos e ferramentas da Lean Construction podem e devem


ser utilizados na produção de edifícios.

205
3.3 Metodologias para Elaboração de Projetos para Produção

O Projeto para Produção, específico de um dado sub-sistema, como as


vedações verticais em alvenaria, ou congregando vários sub-sistemas, reúne os
elementos de projeto que serão utilizados nas frentes de trabalho para a efetiva
consecução da obra, na fase de Produção.

Diferentemente das informações que constam do projeto executivo, que está


voltado para o “produto”, nele se está preocupado com o “processo”. Sua
linguagem é portanto outra, devendo respeitar aspectos como : apresentação de
desenhos de fácil leitura, voltados para as equipes de produção ; agrupamento
num único desenho das informações sobre interfaces entre sub-sistemas que
nele aparecem (por exemplo, na elevação de uma parede devem aparecer os
componentes, o traço da argamassa de assentamento, as juntas que serão
preenchidas, o posicionamento dos “ferro cabelo”, os embutimentos das
instalações, a fixação das esquadrias, etc.) ; apresentação de informações como
elas serão empregadas (por exemplo, cotas acumuladas) ; eliminação de
redundâncias ; emprego de papel em formato facilmente manipulável (A3).

Não há dúvida que a disponibilização de tais informações, assim como de outras


que constam do Projeto do Processo, do qual ele constitui um dos elementos
essenciais, é fundamental à boa gestão de uma obra, e da produção das
vedações verticais em particular. Quanto mais se souber sobre as técnicas,
métodos e processos construtivos utilizados, de modo mais eficiente poder-se-á
administrar uma obra. Os Projetos para Produção refletem o nível de
desenvolvimento das tecnologias construtivas da empresa ; o engenheiro de
obras vai, partindo dessas tecnologias, gerenciar o sistema de produção no qual
estas são efetivamente praticadas. Cabe assim a esses projetos fazerem as
ligações entre “tecnologia” e “gestão” da produção.

No caso da empresa ser do tipo “construtora-incorporadora”, os Projeto para


Produção devem ser elaborados de forma simultânea ao Detalhamento do
Produto, (ver quadro 1.1) ; caso contrário, eles serão feitos a posteriori,
cumprindo um papel complementar.

206
Mesmo se os conceitos acima são comuns a todos os subsistemas, a
elaboração da parcela do Projeto para Produção própria a cada um exige uma
metodologia específica, adaptada às características e condicionantes das
tecnologias empregadas.

Assim, como exemplo de metodologia já consolidada, tem-se a do projeto de


alvenarias, para cuja aplicação já existem profissionais competentes no
mercado.

3.4 Metodologia para Elaboração do Projeto do Canteiro

Outra metodologia a se lançar mão é a que serve para a elaboração de projetos


de canteiros. Trata-se, como a anterior, de uma proposta de síntese, que enfoca
o canteiro, em seu arranjo físico, com maiores detalhes. O Projeto do Canteiro,
em suas diferentes fases, constitui igualmente um dos elementos essenciais do
Projeto do Processo. Para sua elaboração, é necessário que o Planejamento
Inicial da obra esteja concluído.

Uma das idéia centrais é a de se desenvolver o Projeto do Canteiro como se


desenvolve um projeto de arquitetura ou engenharia, qual seja, em etapas
(Programa de Necessidades, Estudo Preliminar, Anteprojeto, Projeto Final), a
medida que as informações vão se precisando. Além disso, o Projeto deve
considerar as diferentes fases de evolução da obra (plano de ataque e fases do
canteiro), em função dos condicionantes de terrenos, frentes de trabalho, etc.
(FERREIRA, 1998).

3.5 Mecanismos de Seleção de Fornecedores

Quanto à seleção de fornecedores, cabe destacar como aspectos gerenciais a


elaboração de metodologia de avaliação e seleção (qualificação) e o
desenvolvimento de boas relações com eles (possíveis parcerias).

A metodologia mais simples de ser empregada baseia-se num sistema de


pontuação, levando-se em conta critérios diversos tais como a capacidade
produtiva e tecnológica do fornecedor ; qualidade dos produtos entregues ;
cumprimento de prazos de entrega ; assistência técnica oferecida.

207
O seu uso evita que se trabalhe com fornecedores que não atendam às
exigências da empresa ou que tenham tido mau desempenho em obras
anteriores.

3.6 Reuniões de Obra : Equipe de Preparação e Acompanhamento e


Definição do Sistema de Comunicação

O que pode ter de novo realizar reuniões de obra, já que elas sempre foram
feitas ? O como elas são conduzidas e quem dela tomam parte e,
principalmente, a participação que se quer destes agentes.

Trata-se de um aspecto fundamental à gestão de pessoas, mas que interfere


também com a de materiais. Por essa razão, a estamos apresentando aqui.

Como já dito, para uma boa gestão, espera-se que o engenheiro gerente de obra
ponha a prova todas as suas competências voltadas para os agentes, ligadas às
ações de direção ou de condução do sistema de produção. Ele deve atuar assim
fixando objetivos e metas e fazendo com que estes sejam alcançados, fazendo
circular as informações, tomando decisões, incentivando a transparência,
buscando o comprometimento e a motivação das pessoas e o surgimento do
espírito de cooperação entre elas, desenvolvendo trabalhos em grupo, facilitando
a comunicação, mostrando a sua liderança e incentivando que esta se manifeste
junto aos outros agentes. Nesse processo, as reuniões de obra assumem um
papel fundamental.

Delas devem participar os membros da chamada Equipe de Preparação e


Acompanhamento. São eles : representante do cliente, arquiteto, projetistas de
estruturas e sistemas prediais, engenheiro comercial da empresa, gerente de
obras, engenheiro responsável pela condução da obra, engenheiro residente,
mestre da obra e principais subempreiteiros, a medida que estes vão sendo
definidos27. Tal Equipe é constituída logo no início da obra e atua ao longo de
toda a Execução, desde a fase de Estudos de Preparação até a entrega da obra.

27
Após a primeira reunião, o engenheiro comercial da empresa e o gerente de obras poderão se
desligar da Equipe. Com o passar do tempo, vai nela ocorrendo, paulatinamente, o engajamento
de todos os representantes dos principais subempreiteiros evolvidos (e, eventualmente mas mais
raramente, dos representantes dos principais industriais fornecedores).

208
Uma sistemática de reuniões a serem realizadas após o início das obras deve
ser claramente definida28.

A Equipe de Preparação e Acompanhamento é normalmente coordenada pelo


engenheiro responsável pela condução da obra, que domina os princípios e as
ferramentas a serem empregados29. Um de seus primeiros trabalhos é a
definição dos princípios de organização e de gestão do sistema de comunicação
(troca de informações) que funcionará durante a obra, o que inclui :

• definição do papel e da responsabilidade de cada agente no sistema ;


• definição da natureza e forma dos documentos ;
• fixação do modo de circulação das informações (oral, correio interno, etc.) e
dos circuitos de comunicação ;
• definição dos princípios de organização e de gestão da circulação dos
documentos de execução (projetos, memoriais, especificações ; controle de
emissão e de revisão de documentos) ;
• fixação do modo de identificação das informações ;
• fixação do modo de controle de recebimento das informações ;
• definição modo de arquivamento das informações e criação de arquivo
técnico (Banco de Tecnologias Construtivas).

28
Definir a freqüência de reuniões de “acompanhamento” é um ponto importante, sendo
recomendado ao menos a realização de um encontro a cada quinze diais. No entanto, nem sempre
a presença de todos os membros da Equipe será necessária. Toda reunião deverá ser precedida
de convocação e preparação de ordem do dia, preparando-se ata dos trabalhos após sua
conclusão.
A presença dos profissionais que militem efetivamente na obra deve ser estimulada, e não, por
exemplo, dos responsáveis pelas empresas (a participação sistemática de um mestre de um
subempreiteiro, dispondo de autonomia e poderes de decisão, poderá ser mais interessante que a
do dono da empresa).
Certas reuniões deverão marcar pontos mais notáveis da evolução dos trabalhos, como a
liberação da estrutura de um pavimento tipo para início da primeira marcação de alvenaria, por
exemplo. Tais reuniões deverão contar com a presença de toda a Equipe, servindo como “pontos
de gestão” da evolução dos trabalhos. A construtora poderá realizar reuniões com a mesma
finalidade, envolvendo somente a participação de membros internos.
O controle da programação das reuniões deverá ser sistemático, sendo realizado a cada reunião
os necessários replanejamentos após discussão coletiva.
29
Durante a fase de Estudos de Preparação, a Equipe de Preparação e Acompanhamento pode
ser desmembrada em subequipes, cada uma cuidando dos aspectos afeitos a uma parcela dos
subsistemas do edifício (por exemplo, em Equipe Obra Bruta e Equipe Obra Fina). No entanto, as
subequipes deverão ter um único coordenador e delas participam, obrigatoriamente, o
representante do cliente, o arquiteto e o engenheiro responsável pela condução da obra (caso não
seja ele mesmo o coordenador) ; tais membros encarregar-se-ão da comunicação interequipes.

209
A importância da comunicação, no interior da empresa e entre esta e os
fornecedores em geral, clientes e projetistas, é imensa. Infelizmente, não temos
aqui espaço para discuti-la.

A empresa construtora, através de seu engenheiro, deve ter um papel de


liderança nesse processo de constituição do sistema de comunicação,
fornecendo como ponto de partida seus próprios procedimentos. Ela não deve,
no entanto, impor tal “cultura” aos outros agentes, mas fazer com que estes a
incorporem, fazendo adaptações caso a caso, quando necessário.

Além da definição do sistema de comunicação, podem caber à Equipe de


Preparação e Acompanhamento algumas outras missões. No caso da fase de
Estudos de Preparação, podemos citar :

• elaboração do Planejamento Inicial da obra ;


• fixação dos pontos críticos e dos pontos de controle ;
• levantamento de interfaces técnicas30 e organizacionais31 entre serviços
(adotando o conceito de cliente-fornecedor internos) e definição de diretrizes
para o tratamento e controle das mesmas ;
• organização do canteiro32 ;
• elaboração do projeto do canteiro (incluindo fases de implantação e
interferências com a execução dos serviços iniciais de movimentação de
terra e de infra e superestrutura) ;
• definição dos Projetos para Produção a serem elaborados, que devem incluir
as diretrizes estabelecidas para o tratamento das interfaces ;
• elaboração do Guia de Execução da Obra.

30
As interfaces técnicas podem se constituir por : interfaces de projeto, previsões de negativos
para embutimentos na estrutura ou nas alvenarias, previsões de esperas, tolerâncias admissíveis,
etc.
31
Por sua vez, as interfaces organizacionais podem se constituir por : delimitações das
extensões do trabalho de cada agente, transferências de tarefas ou serviços, modificações de
especificações, proteções dos serviços acabados, condições de limpeza dos ambientes de
trabalho, controles de recepção ou de aceitação de serviços, controles diversos, etc.
32
Tal organização envolve : tratamento dos aspectos ligados à higiene e à segurança durante a
execução ; funcionamento do canteiro, incluindo áreas necessárias, escolha e compartilhamento
dos equipamentos, definição da estrutura organizacional e da estrutura hierárquica da obra,
definição de responsabilidades pela limpeza e remoção de entulhos, etc.

210
Já na fase de Produção, a Equipe de Preparação e Acompanhamento pode
apoiar a empresa construtora em atividades tais como :

• gestão dos fluxos físicos ligados à execução ;


• gestão das interfaces entre agentes ;
• gestão física da praça de trabalho33 ;
• gestão do sistema de comunicação ;
• balanceamento das equipes de produção ;
• realização dos diversos controles de aspectos associados às rupturas dos
fluxos de suprimentos e de informações34 ;
• retroalimentação do processo com informações sobre o desempenho em obra
(alimentação do Banco de Tecnologias Construtivas, atualização de
indicadores de produtividade, atualização de indicadores de consumos, etc.).

Em resumo, a importância das reuniões de obra depende do papel atribuído à


Equipe de Preparação e Acompanhamento pela empresa construtora.

3.7 Atividades de Direção e Controle Envolvidas na Gestão de Materiais

As principais atividades de direção envolvidas na gestão de materiais e que


merecem destaque, muito embora sejam mais típicas da gestão de pessoas,
são :

• garantia dos fluxos de informações entre os agentes (circulação das


informações) ;
• definição e atendimento a objetivos e metas quanto a prazos, qualidade,
custos, etc. ;
• busca permanente de motivação, comprometimento, cooperação das
pessoas (funcionários próprios e de subempreiteiros) ;
• gestão das interfaces entre serviços subempreitados.

33
Tal processo inclui a gestão : da implantação do canteiro, dos sistemas de transporte, das
zonas de estocagem, das zonas de préfabricação, da segurança patrimonial, etc.
34
São exemplos desses controles os de : prazos de entrega, qualidade das entregas, roubos ou
perdas por deterioração, falta de tomada de decisão, defeitos de comunicação, erros de
planificação, etc.

211
Por outro lado, as principais atividades de controle envolvidas na gestão de
materiais e que merecem destaque são :

• controles de recebimento (qualidade, quantidade, registros) ;


• controles de estoques (manutenção dos recursos materiais previstos) ;
• controle da circulação de materiais (fluxos físicos) ;
• controle de equipamentos e sistemas de transporte ;
• controle detalhado dos fluxos de execução dos serviços : consumo de
materiais (perdas) ;
• controle das áreas de estocagem e de processamento.

3.8 Produtos Resultantes

Sintetizando o que foi visto, num primeiro momento, os principais produtos


resultantes da gestão de materiais são :

• Cadernos de PEIMs e de PEISs da obra : reunindo todos os procedimentos


considerados críticos ;
• Relação de Pontos Críticos e de Pontos de Controle ;
• Relação de Interfaces Técnicas e Organizacionais ;
• Planejamento Inicial da obra.

Uma vez disponíveis tais documentos, são elaborados outros produtos, que
virão, finalmente, constituir o Guia de Execução da Obra :

• Plano de Suprimentos : entregas (quantidades, especificações) no tempo ;


• Projetos para Produção dos serviços críticos (estrutura, alvenaria,
revestimentos, impermeabilização, etc.) ;
• Projeto do canteiro ;
• Micro Planejamento Flexível ;
• Sistema de Comunicação.

4 GESTÃO DE PESSOAS

Além da gestão de materiais, a gestão de pessoas também é fundamental ao


sucesso da produção dos diferentes serviços, inclusive do de vedações verticais.

212
O quadro 1.3 apresenta muitas semelhanças com o que vimos no quadro 1.2. As
maiores diferenças dizem respeito, como era de se imaginar, à macroatividade
de Execução. Tem-se assim como atividades a se destacar a gestão das
interfaces entre serviços subempreitados e a garantia dos fluxos de informações
entre os agentes. Ambas são garantidas pelas Reuniões de Obra realizadas e
pelo Sistema de Comunicação concebido e posto em prática, ambos já vistos.

Também a mobilização da mão-de-obra e a busca de motivação,


comprometimento e cooperação dos funcionários próprios e de subempreiteiros
ganha maior importância do que no caso anterior, através da aplicação de
ferramentas como o Plano de Cargos e Funções.

Além disso, igualmente a de Logística do Canteiro apresenta suas


particularidades quanto à gestão de pessoas, principalmente no que se refere à
higiene e segurança dos trabalhadores (PCMAT). Cabe também citar a seleção
e contratação de subempreiteiros, a passagem de informação a estes através
dos Procedimentos de Gerenciamento da Execução de Serviços (PGES) e o
estabelecimento de parcerias, a aplicação da metodologia de realização de
Reuniões de Obra (já vista) e o uso de indicadores de produtividade.

Discutamos brevemente tais pontos.

4.1 Mobilização da Mão-de-Obra. Motivação, Comprometimento e


Cooperação dos Funcionários Próprios e de Subempreiteiros. Plano de
Cargos e Funções

O Plano de Cargos e Funções é uma das ferramentas de gestão de recursos


humanos, voltadas para a motivação, comprometimento e cooperação da mão-
de-obra própria.

Ela exige a aplicação de outras técnicas, voltadas para o correto recrutamento


de pessoas, a administração de salários e benefícios em geral, o
estabelecimento de um sistema de avaliação de desempenho (incluindo
reconhecimentos financeiros ou outros), etc.

Por outro lado, a obtenção de uma real motivação, de um comprometimento e de


uma cooperação efetivos da mão-de-obra, própria ou subempreitada, requer
mais do que isso. Aparecem assim como ações de interesse :

213
• alfabetização e formação básica ;

• integração social ;
• formação técnica específica e polivalente ;
• novo papel acordado e novo perfil desejado para o mestre de obras (técnico
de nível médio) ;
• qualificação da mão-de-obra ;
• política de fixação da mão-de-obra ;
• valorização do conteúdo do trabalho (ampliação das tarefas, autonomia e
responsabilização, liderança) ;
• desenvolvimento de aspectos comportamentais (cultura organizacional,
autonomia, responsabilização, liderança, comunicação, etc.) ;
• melhoria das condições de trabalho (higiene e segurança) ;
• padronização dos processos de trabalho ;
• emprego de novas formas de organização da mão-de-obra própria e dos
subempreiteiros (círculos da qualidade, células de trabalho, grupos semi-
autônomos, etc.).

4.2 Segurança e Higiene dos Trabalhadores : NR-18 e PCMAT

A Norma Regulamentadora 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na


Indústria da Construção, de 1996, do Ministério do Trabalho, “estabelece
diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e de organização que
objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de
segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na
Indústria da Construção”.

Composta por 39 itens, ela apresenta elementos imprescindíveis para a gestão


eficiente das obras. Por exemplo, ela pode ser empregada como fonte de
informações para a elaboração de procedimentos para projetos de canteiros, um
vez que ela fixa parâmetros para as áreas mínimas de vivência e para as
instalações de produção, como carpintaria e centrais de armação ; para o projeto
e a execução de escadas, rampas e passarelas e para o estabelecimento de
medidas de proteção contra queda de altura e andaimes ; para a movimentação

214
e transporte de materiais e pessoas e para a armazenagem e estocagem de
materiais ; e para a definição das instalações elétricas provisórias.

O dimensionamento e a apresentação do lay out das áreas de vivência, nos


casos de obras com mais de vinte trabalhadores, fazem parte dos documentos
que integram o PCMAT - Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho
na Indústria da Construção, exigido pela Norma.

Ela constitui, desse modo, elemento fundamental à gestão de pessoas.

4.3 Seleção e Contratação de Subempreiteiros

Quanto à seleção e contratação de subempreiteiros, cabe destacar como


aspectos gerenciais os seguintes pontos :

• elaboração de mecanismos de avaliação e seleção (qualificação) ;


• desenvolvimento de boas relações (possíveis parcerias) ;
• elaboração de procedimentos para contratação ;
• definição precisa das características dos serviços a serem executados
pelos diferentes subempreiteiros, através dos PGESs, que serão vistos a
seguir.

Como no caso da gestão de materiais, a metodologia mais simples de ser


empregada para elaboração de mecanismos de avaliação e seleção de
subempreiteiros baseia-se num sistema de pontuação, levando-se em conta
critérios diversos tais como a capacidade produtiva e tecnológica do
subempreiteiro ; qualidade dos serviços executados ; cumprimento de prazos de
execução ; assistência técnica oferecida.

O seu uso evita que se trabalhe com subempreiteiros que não atendam às
exigências da empresa ou tenham tido mau desempenho em obras anteriores.

4.4 Procedimentos de Gerenciamento da Execução de Serviços (PGES).


Parcerias

Quando se faz uso de serviços subempreitados realizados por empresas com


competência tecnológica e organizacional, uma das preocupações é não impor a

215
elas procedimentos próprios da empresa construtora, sem que os mesmos
tenham sido adaptados à cultura própria das empresas que fornecem o serviço.

De fato, os já aqui comentados PEIMs e PEISs são um reflexo da cultura da


empresa que os desenvolveu, e traduzem a maneira segundo ela trabalha. O
fato desses procedimentos já virem prontos para a obra implica que eles devem
ser igualmente impostos aos subempreiteiros fornecedores dos respectivos
serviços envolvidos. Nessa situações, a empresa construtora pode estabelecer
Procedimentos de Gerenciamento da Execução de Serviços (PGES), que
normalmente fixam as especificações para compra dos materiais envolvidos e
sob responsabilidade dos subcontratados, as condições para as realizações dos
ensaios de inspeção e controle e os critérios de aceitação, bem como o método
executivo a ser adotado, com respectivos mecanismos de inspeção e controle e
critérios de aceitação.

Assim procedendo, a empresa construtora evita impor aos subempreiteiros um


procedimento sem ouvi-los, o que iria contra uma das diretrizes que deve ser
perseguida pelo boa gerência de obras, qual seja, a de estimular a participação
de todos os agentes envolvidos no sistema de produção nas decisões de
importância para a obra.

A viabilização de uma tal postura passa pelo estabelecimento de parcerias entre


a empresa e seus diversos fornecedores, sejam eles de materiais e
componentes, sejam de serviços de execução ou de fornecimento de
equipamentos.

Uma parceria é uma forma de relação comercial entre empresas, na qual não
são simplesmente as relações puras e simples de mercado, ligadas aos preços
oferecidos e contratados, que imperam, mas um “algo a mais”, que permite com
que em tais relações se incorporem trocas outras, como tecnológicas ou
organizacionais, e que as mesmas apresentem uma “durabilidade no tempo”.

A importância das parcerias, enquanto estratégia para o aumento da eficiência


dos processos e de empresas, é bastante grande. É através da integração entre
as cadeias de valores dos diferentes agentes que se terá um setor mais
competitivos.

216
Concluindo, uma vez que a construtora tenha relações de parcerias com
subempreiteiros, estes poderão ser chamados a opinar sobre os procedimentos
da empresa, resolvendo-se assim o dilema anteriormente apontado. A mesma
postura vale, em menor escala, para os fornecedores de materiais e
componentes (gestão de materiais).

4.5 Apropriação de Indicadores de Produtividade (mão-de-obra e


equipamentos)

Finalmente, a importância dos indicadores de produtividade, enquanto elementos


sinalizadores do desempenho da empresa e das ações por ela postas em
prática, é muito grande.

A boa gestão deve se preocupar com : a avaliação da eficiência da mão-de-


obra ; a quantificação da produtividade e dos fatores que a influenciam para os
diferentes serviços ; a definição de metodologias para a quantificação do
consumo de materiais em obra e para a detecção dos fatores que a fazem
variar ; a quantificação do desperdício de materiais em canteiros e as
alternativas existentes para sua redução ; a eficiência dos equipamentos,
sobretudo os de transporte.

5 ASPECTOS GERAIS DE GESTÃO DA QUALIDADE EM OBRAS

Pela própria proposta colocada de se discutir no presente trabalho a gestão da


produção, nele não consideramos especificamente a questão da gestão da
qualidade, embora muitos de seus aspectos tenham sido aqui incorporados.

Cabe no entanto ainda citarmos alguns pontos com relação com o tema :

• desenvolvimento e aplicação de um sistema formal de garantia da


qualidade e da utilização de ferramentas e de métodos de melhoria da
qualidade (melhoria contínua) ;
• desenvolvimento de um Plano da Qualidade de Obra ;
• importância do controle de documentos, de dados, de registros, e da
situação de inspeção e ensaios (rastreabilidade) ;
• importância do tratamento de não-conformidades e das ações corretivas.

217
6 VIABILIDADE E DIFICULDADES DE SE IMPLANTAR AS ALTERNATIVAS
COLOCADAS

Dificuldades significativas e de difícil e complexa solução se apresentam para a


viabilização das alternativas aqui expostas, e isso tanto para o caso específico
das vedações verticais quanto da gestão do sistema de produção em geral. São
elas :

• custo de implantação de algumas ferramentas (exemplos mais evidentes,


das de controle, como os de materiais, devido aos custos de ensaios, das
inspeções, etc. ; solução plausível : se trabalhar sistemicamente, envolvendo
a cadeia toda no processo, induzindo-se os processos de certificação de
terceira parte) ;
• falta de estrutura organizacional adequada nas empresas construtoras
(exemplos : estrutura hierárquica acentuada ; inexistência de um setor de
suprimentos com competência técnica ; responsabilidade a cargo do setor de
compras, que tem como principal lógica a comercial) ;
• falta de cultura tecnológica das construtoras (exemplos : inexistência de
sistemas de orçamentação eficientes, associados ao uso de indicadores
próprios atualizados ; carência de procedimentos padronizados
desenvolvidos e implantados ; desconhecimento das tecnologias construtivas
disponíveis ; baixo uso da informática em canteiros ; deficiências no
processo de retroalimentação de informações de obras) ;
• baixa disponibilidade de indicadores de desempenho setoriais e próprios às
empresas ;
• falta de preparo para a implantação de algumas ferramentas, em todos os
níveis, do operário à alta gerência, da empresa construtora aos seus
fornecedores de produtos e serviços ;
• conservadorismo do setor e de seus agentes ;
• falta de sensibilização e de motivação da mão-de-obra de execução (própria
e subempreitada) ;
• ausência de diretrizes para a elaboração de programa de capacitação
técnica e gerencial (alfabetização, qualificação profissional, formação em
gerencial, etc.) ;

218
• falta generalizada de treinamento e de política que supra as carências
existentes ;
• dificuldades em fixar a mão-de-obra, devido à alta rotatividade ;
• falta de cultura relacional entre agentes do setor (exemplos : relação
autoritária entre empresa x engenheiro x mestre x encarregados x operários ;
dificuldades em se estabelecer parcerias ; visão de que o concorrente é
sempre um inimigo ; visão de que o fornecedor de produto ou serviço é
sempre um inimigo) ;
• problemas diversos com a cadeia produtiva (exemplos : fornecedores de
materiais e componentes, subempreiteiros, projetistas, fornecedores de
equipamentos, entre outros, despreparados para aplicar as ferramentas
disponíveis e dar respostas eficientes às empresas construtoras ; existência
da não conformidade intencional ; inadequação das condições de transporte
e embalagem de produtos ; falta de opções em equipamentos de obra) ;
• falta de normas de produtos (de especificações), de procedimentos e de
normas de desempenho ;
• conjuntura econômica e social em permanente mudança, impondo riscos
significativos (incertezas quanto à continuidade de obras, falta de recursos
financeiros).

7 CONCLUSÕES

Ficou claro, pelo que foi visto, que bem gerenciar exige o desenvolvimento de
uma pluralidade de ações, cuja natureza pode ser de planificação, organização,
direção e controle.

As alternativas que se apresentam para uma nova gestão da produção baseiam-


se em princípios bem definidos e procuram atuar em várias frentes, envolvendo
as macroatividades de :

• Projeto do Processo e Planejamento Inicial da Produção, através dos


Estudos de Preparação, nos quais devem atuar todos os agentes envolvidos,
consolidando-se através do Guia de Execução da Obra (incluindo Projeto do
Canteiro, Planejamento Inicial da obra, Projeto para Produção,
procedimentos diversos) ;

219
• Logística Externa, que é central à gestão de materiais, consolidada através
do Plano de Suprimentos e do Sistema de Comunicação (fornecedores) ;
• Logística do Canteiro, que tem como elementos fundamentais o Sistema de
Comunicação da obra e o Micro Planejamento Flexível (possibilitando
revisões coletivas ao longo da obra do que é planejado) ;
• Execução, onde a direção é fundamental, tendo como elementos
articuladores os afeitos à gestão de pessoas e às parcerias.

Embora nesse processo de mudança diversas dificuldades sejam identificáveis,


a conclusão a que se chega é a de que os diversos conceitos e ferramentas
existem hoje podem ser empregados na gestão da produção das vedações
verticais, bastando para isso determinação da empresa construtora.

O resultado esperado através da melhor gestão da produção é o aumento de


eficiência do sistema de produção como um todo e, consequentemente, de
capacidade competitiva para a empresa. No entanto, para que esse aumento
seja efetivo, não basta apenas se pensar na gestão : considerar a tecnologia latu
sensu envolvida também é fundamental. Para ser competitiva, a empresa tem
que ter, aliada a uma gestão eficiente, o domínio tecnológico dos métodos e
técnicas construtivos. Só assim ela sobreviverá e progredirá.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALLOU, Ronald H. Logística empresarial: transporte, administração de materiais e


distribuição Física. São Paulo, Atlas, 1995. 338p. Trad. Yoshizaki, Hugo.

CARDOSO, Francisco F. Importância dos estudos de preparação e da logística na


organização dos sistemas de produção de edifícios. Alguns aprendizados a partir da
experiência francesa. In : I Seminário Internacional Lean Construction - A
Construção sem Perdas. IDORT, São Paulo, 12 novembro 1996, 24 p.

FERREIRA, Emerson de A. M. Metodologia para elaboração do projeto do canteiro


de obras de edifícios. Tese de doutoramento. EPUSP, São Paulo, 1998. 338 p.

KOSKELA, Lauri. Application of the New Production Philosophy to Construction.


CIFE Technical Report 72, 1992.

MAGEE, John Francis. Logística industrial: análise e administração dos sistemas de


suprimentos e distribuição. São Paulo, Pioneira, 1977.

Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora 18 - Condições e Meio Ambiente de


Trabalho na Indústria da Construção. Brasília, Ministério do Trabalho, 1996.

220
O PROJETO DAS VEDAÇÕES VERTICAIS: CARACTERÍSTICAS E A
IMPORTÂNCIA PARA A RACIONALIZAÇÃO DO PROCESSO DE
PRODUÇÃO.

Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco


lsfranco@pcc.usp.br

1. INTRODUÇÃO

A utilização da alvenaria como principal material de construção tem


acompanhado o homem durante toda a sua história. Na antigüidade tem-se
notícia da utilização de tijolos secados ao sol, nas construções persas e assírias,
já a partir de 10.000 A.C., e de tijolos queimados em fornos a 3.000 A.C.

São notáveis os exemplos de realizações de alvenaria da antigüidade, dentre os


quais podem ser citados a Muralha da China, construída entre 300 e 200 A.C. , o
Coliseu em Roma cuja construção terminou em 82 D.C., o Panteão que data de
123 D.C. e ainda o Farol de Alexandria, construído em alvenaria de pedra a
cerca de 2260 anos e destruído em um terremoto no século XIII.

No Brasil, a alvenaria de pedras foi utilizada nas cidades litorâneas em que este
material existia em abundância, a partir da colonização do país. Em são Paulo
onde não havia disponibilidade de pedras, a metodologia construtiva utilizada a
partir da colonização do país foi a taipa de pilão. A utilização de tijolos só se
tornou popular, a partir do ciclo econômico do café, começando por obras
ligadas diretamente ao beneficiamento daquele produto agrícola.

Em 1867, instalou-se em Campinas a primeira olaria mecanizada e com grande


produtividade mensal. A partir de 1886, Ramos de Azevedo construiu edifícios
públicos nos quais o arquiteto se esmera por mostrar toda a potencialidade da
alvenaria. Este foi o método de construção dos palacetes da classe alta, a partir
de 1890. Nos anos 30, iniciou-se a utilização intensiva do concreto armado
mesmo nas construções de pequena altura, como as residências utilizadas pela
classe média (LEMOS, 1985).

221
O domínio tecnológico da produção das alvenarias e revestimentos até esta
época era dos mestres de obra, responsáveis pelo andamento e qualidade da
execução dos serviços. As técnicas eram repassadas informalmente de geração
para geração de profissionais. Com a crescente desqualificação e
desvalorização da mão-de-obra que ocorreu a partir da década de 50, a boa
técnica de construir foi perdida. Ninguém mais tinha do domínio sobre a técnica
de produção da vedação vertical.

A vedação vertical, por outro lado, ocupa posição estratégica entre os serviços
da construção de edifícios. A vedação vertical é o subsistema que tem como
principais funções compartimentar a edificação e propiciar aos ambientes
característica que permitam o adequado desenvolvimento das atividades para as
quais eles foram projetados. Constitui-se, além dos vedos, que definem a
tecnologia de produção e são os principais responsáveis pelo desempenho
global da vedação vertical, dos revestimentos e das esquadrias existentes sobre
as paredes.

Além disso, a vedação vertical possui interface com vários outro subsistemas do
edifício, como a estrutura, as instalações, as vedações horizontais,
impermeabilizações, entre outros.

Apesar da incidência do custo da produção dos vedos no orçamento do edifício


não ser o item de maior importância, quando se considera conjuntamente toda a
vedação vertical e as interfaces que faz com os demais subsistemas do edifício,
este conjunto representa, normalmente, o maior item de custo de produção.

Ainda é na produção da vedação vertical, principalmente dos vedos e dos


revestimentos que se observam os maiores índices de desperdícios tanto de
materiais como de mão-de-obra empregada.

Esta situação da vedação vertical torna-a crítica como elemento fundamental


para o planejamento e organização da produção da obra. A produção da
vedação vertical tem interfaces com a maioria dos serviços a serem realizados
para a execução do edifício, assim um mal planejamento da execução deste
subsistema leva a problemas como interferência entre serviços, retrabalho e
desperdícios.

222
Assim, a racionalização da construção do edifício tradicional passa
necessariamente pela racionalização dos serviços de vedação vertical.

A vedação vertical é um dos principais subsistemas que condicionam o


desempenho do edifício, sendo a principal responsável por características
ligadas ao conforto higro-térmico e acústico, pela segurança de utilização e
frente a ações excepcionais (como por exemplo no caso de incêndios) e pelo
desempenho estético que proporciona valorização do imóvel. Suas
características condicionam também a possibilidade de ocorrência de problemas
patológicos, nos seus próprios componentes – alvenaria e revestimentos - ou
nos subsistemas que nela estão localizados como as instalações prediais, ou
ainda nos problemas de interface com os demais subsistemas dos edifícios.

Nos últimos anos, algumas empresas têm reconhecido a importância da vedação


vertical para a racionalização dos edifícios e têm investido na implantação de
tecnologias racionalizadas para a produção deste subsistema.

2. RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA

A racionalização construtiva é definida por SABBATINI (1989) como “um


processo composto pelo conjunto de todas as ações que tenham por objetivo
otimizar o uso de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos,
tecnológicos, temporais e financeiros disponíveis na construção em toda as suas
fases".

Esta definição, embora esteja de acordo com o senso comum sobre este
conceito é muito mais abrangente que as ações, que a primeira vista, devem ser
implementadas para a consecução de seus objetivos. Não se pode imaginar que
a racionalização da vedação vertical seja constituída simplesmente pela
substituição dos materiais e equipamentos tradicionais, por congêneres de maior
qualidade e desempenho. Esta visão limita muito os possíveis resultados que
podem ser advindos da racionalização construtiva.

223
O conceito de racionalização construtiva só pode ser plenamente empregado
quando as ações são planejadas desde o momento da concepção do
empreendimento.

Barros (1996) propõe um modelo para a implantação de tecnologias construtivas


racionalizadas em cinco diretrizes:

• Desenvolvimento da atividade de projeto;

• Desenvolvimento da documentação;

• Desenvolvimento dos recursos humanos;

• Desenvolvimento do setor de suprimentos voltado à produção;

• Desenvolvimento do controle do processo de produção.

Este contexto abrangente justifica-se, pois deficiências em atividades em


qualquer uma destas áreas pode inviabilizar completamente o esforço de
implantação efetiva da racionalização em uma empresa, não consolidando-os
como atitude permanente e restringindo os seus resultados positivos a apenas
alguns empreendimentos específicos.

Como imaginar organizar a produção se os meios disponíveis de suprimento de


materiais e ferramentas não fornecem meios adequados para a realização dos
serviços? Como obter produtividade aliada a qualidade se a mão-de-obra não é
devidamente treinada e motivada para esta finalidade, por uma política de
recursos humanos? Como consolidar a evolução internamente às empresas, se
as tecnologias não são constantemente avaliadas e criticamente melhoradas e
documentadas para utilização conjunta de todos os participantes no processo de
produção? Como garantir a continuidade da aplicação das técnicas
racionalizadas se sua aplicação não está calcada numa metodologia de controle
da produção?

Neste cenário, o desenvolvimento de projetos voltados para a produção possui


uma dimensão estratégica para a racionalização construtiva. O projeto da
vedação vertical possui objetivos que justificam a sua importância:

224
a) Servir como ferramenta de coordenação do projeto;

b) Servir como base para o planejamento da produção do subsistema e dos


subsistemas com os quais tem interferência;

c) Detalhar tecnicamente a produção deste subsistema, estudando e definindo


as tecnologias de produção, tanto no que se refere às alternativas de
materiais como de técnicas construtivas empregadas em cada caso;

d) Servir como canal de comunicação eficiente entre projeto e planejamento e a


produção e ainda, entre todos os setores envolvidos na produção;

e) Servir como base para o controle da produção da execução da vedação


vertical.

O projeto da vedação vertical é uma importante ferramenta de coordenação dos


projetos por possuir interfaces com os mais diversos subsistemas do edifício. A
elaboração do projeto de vedação vertical pode contribuir com a atividade de
coordenação de projeto em vários de seus objetivos, entre eles:

• A clara definição dos objetivos e parâmetros para elaboração do projeto, que


deverão ser repassados aos diversos profissionais como requisitos do
projeto. A elaboração do projeto de vedação vertical necessariamente
antecipa decisões sobre detalhes e técnicas construtivas a serem
empregadas, servindo como base para o desenvolvimento de todos os
demais projetos do edifício;

• A agregação ao projeto da máxima eficiência em termos de tecnologia e


racionalização. A necessária visão sistêmica na elaboração do projeto de
vedação vertical, conduzindo a decisões que são otimizadas, com o enfoque
de todos os subsistemas do edifício, leva a decisões que satisfaçam os
requisitos de todos os subsistemas conjuntamente;

• A comunicação entre todos os integrantes do projeto e do empreendimento.


O projeto de vedação vertical pode tornar-se efetivo meio de comunicação
entre os projetistas e entre estes e os vários integrantes do
empreendimentos;

225
• A integração intensa entre projeto e obra, tanto no sentido da equipe de
projeto dirimir eventuais dúvidas ou colaborar com alterações não previstas,
como da equipe de obra contribuir com sua "experiência construtiva" durante
a elaboração dos projetos para aumento da "construtibilidade" do mesmo. O
trabalho de coordenação deve se estender inclusive durante a execução do
empreendimento, de forma a dar suporte a possíveis alterações a serem
realizadas.

• A definição das partes que constituem os projetos, bem como o seu


conteúdo A definição e padronização da forma de apresentação das
informações, inclusive através da padronização da representação gráfica;

• A criação de uma sistemática de avaliação e retroalimentação dos problemas


enfrentados durante a execução, de forma a aumentar continuamente a
tecnologia da empresa através da experiência. Isto se dá através da
aplicação e avaliação desta ferramenta ao longo do desenvolvimento da
construção.

O projeto da vedação vertical constitui-se também em importante ferramenta


para o planejamento da produção no canteiro de obras. O nível de detalhamento
alcançado com este projeto e a diminuição das incertezas trazidas pela
padronização na execução das técnica e detalhes construtivos, fornece
informações necessárias para o panejamento operacional da obra, auxiliando a
atividade de suprimento de materiais e ferramentas, o controle físico e financeiro
e a gestão da mão-de-obra durante a execução dos serviços.

O planejamento da execução é baseado em informações contidas no projeto. Se


estas informações não guardam um grau de precisão e detalhe coerentes com a
execução, muitas variáveis incontroláveis são introduzidas no planejamento.

Detalhar tecnicamente a produção deste subsistema, estudando e definindo as


tecnologias de produção é sem dúvida um dos principais objetivos da elaboração
de um projeto de vedação vertical. Esta análise deve necessariamente ter por
base a previsão do desempenho da vedação vertical, segundo critérios técnicos
e objetivos. Esta análise deve conter a visão sistêmica e levar em consideração

226
não unicamente o subsistema vedação vertical, mas também os demais
subsistemas do edifício, de forma que o desempenho do conjunto não seja
afetado por problemas de incompatibilidade entre as partes.

Neste sentido, há ainda a necessidade de pesquisas que dêem respostas a


vários aspectos que devem ser tratados nos projeto de vedação vertical. Assim
questões como quais limites de deformação admissíveis que os elementos da
vedação vertical suportam sem sofrerem problemas patológicos, ou ainda quais
critérios para dimensionamento da ligação entre a vedação vertical e a estrutura
do edifício, continuam sem respostas objetivas.

O detalhamento da vedação vertical, retira dos profissionais ligados a produção


a necessidade de definições técnicas, quando tomadas no momento de
execução da obra, são baseadas apenas em preferências pessoais ou intuição,
nem sempre coerentes com as situações em que se encontram estes
subsistemas. Por outro lado, o detalhamento técnico deve considerar a
construtibilidade das soluções adotadas.

O conceito de construtibilidade é empregado como importante ferramenta para a


obtenção de níveis mais elevados de racionalização construtiva. O "Construction
Industry Institute" (CII, 1987), entidade norte americana que congrega diversas
empresas do setor da construção, define construtibilidade ("constructability")
como "o uso otimizado do conhecimento das técnicas construtivas e da
experiência nas áreas de planejamento, projeto, contratação e da operação em
campo para se atingir os objetivos globais do empreendimento".

Já na definição fica clara a importância do envolvimento das pessoas que


tenham experiência e conhecimento em execução das construções, nas etapas
de desenvolvimento do projeto e planejamneto, para se conseguirem os maiores
benefícios.

O'CONNOR e TUCKER [1986] classificam as ações para implementação da


construtibilidade em seis categorias distintas:

• Orientação do projeto à execução;

227
• Comunicação efetiva das informações técnicas;

• Otimização da construção, com a geração de técnicas construtivas;

• Recursos efetivos de gerenciamento e normalização;

• Melhoria dos serviços dos sub-empreiteiros; e

• Retorno do construtor ao projetista.

A consideração da construtibilidade não é ainda consagrada por todos os


projetistas. Muitos deles, especialistas dos produtos (o edifício e suas partes),
pouco aproveitam da experiência na execução de seus projetos. Na maior parte
das situações, também não existe uma retroalimentação de informações entre os
executores e projetistas dos edifícios, levando muitas vezes à repetição
continuada em vários empreendimentos, de um detalhe falho detectado durante
a construção.

Neste sentido é extremamente importante que haja a interação entre os


projetistas da vedação vertical com a execução da obra. Neste sentido o projeto
deve ser encarado, como propõe Melhado (1994), como um serviço que se
estende além da concepção do produto, para a etapa de execução do edifício e
cujos resultados só podem ser avaliados pelos benefícios realmente
proporcionados na execução da obra do edifício.

O desenvolvimento do projeto das vedações verticais como o próprio conceito de


racionalização construtiva deve buscar uma maior abrangência de objetivos e
ser desenvolvido com uma visão holística para que realmente permita a
obtenção dos importantes resultados para a produtividade e redução dos custos
de construção que se espera na aplicação destas ferramentas.

3. O PROJETO DA VEDAÇÃO VERTICAL

O projeto da vedação vertical tem que apresentar soluções adequadas para


vários subsistemas do edifício. Muitos pontos pondem ser considerados críticos

228
na analise do desempenho da vedação vertical e merecem soluções
particularizadas. Dentre estes destacam-se os seguintes aspectos:

• O relacionamento da vedação vertical com a estrutura na qual esta inserida;

• A análise da coordenação dimensional entre os vários elementos que


compõe a vedação vertical e entre estes e os elementos dos outros
subsistemas do edifício;

• Especificação dos elementos com as características desejáveis em cada


uma das distintas situações de solicitação a que a vedação vertical pode
estar sujeita;

• Técnicas de produção adequadas para a execução racionalizada dos


serviços, incluindo a especificação de parâmetros para o planejamento e
controle da produção;

• Interferências entre os vários componentes da própria vedação vertical:


esquadrias e revestimentos;

• Interferências entre as vedações verticais e as instalações prediais hidro-


sanitárias;

• Interferências com a vedação horizontal, seus revestimentos e sistemas de


impermeabilização empregados.

O relacionamento da vedação vertical com a estrutura é assunto que está


ganhando grande importância nos últimos anos. O uso dos sistemas estruturais
com maior grau de flexibilidade pelo emprego de estruturas mais esbeltas, como
é o caso das estruturas em “laje plana” ou pelo emprego de materiais
diferenciados como os concretos de alto desempenho, estão levando à uma
maior solicitação na capacidade de deformação das vedações verticais.

A análise do projeto estrutural no qual irá se inserir a vedação vertical é de


fundamental importância para determinar tanto as características inerentes do
vedos que a compõe, como dos detalhes construtivos necessários ao bom
desempenho desta, frente ao nível de solicitações esperados. Desta forma, a

229
partir da análise destas informações deve-se decidir, por exemplo pelas
características mecânicas que devem ser utilizadas nos casos do emprego de
alvenarias de vedação. Bem como estabelecer a forma de ligação dos elementos
da vedação vertical com a estrutura em cada uma das situações do projeto.

O comportamento global do edifício irá também nortear a utilização de detalhes


como juntas de trabalho e separação entre os elementos da vedação vertical e
entre estes e outros subsistemas do edifício. Esta análise irá orientar também a
decisão pela inclusão de reforços em situações onde se julga que este
comportamento leve a tensões superiores à capacidade resistente dos
elementos da vedação vertical. Na figura 1 é representado um detalhe típico de
ligação das paredes de alvenaria com a estrutura de concreto armado.

Figura 1 - Detalhe típico da ligação da estrutura de concreto armado com


alvenaria através da colocação de uma tela metálica

A ação conjunta entre a estrutura e as vedações verticais irá também influenciar


as decisões ligadas ao planejamento da seqüência de atividades na obra. Esta
deve privilegiar, sempre que possível a diminuição das tensões impostas aos
painéis. Isto pode ser obtido, com alternativas como o retardamento do início da
execução da vedação vertical, dando possibilidade para a acomodação das
deformações que a estrutura sofrerá ao longo do tempo; ou pela mudança na

230
seqüência dos serviços, como a possibilidade de execução de etapas de
revestimento e da própria vedação, antes da ligação definitiva desta com a
estrutura, de forma a minimizar a transmissão para as paredes das cargas
proporcionadas pela execução destes elementos.

A correta observação e análise destes parâmetros é de fundamental importância


para a garantia da qualidade e do desempenho da vedação vertical ao longo do
tempo, diminuindo-se a níveis aceitáveis a possibilidade de surgimento de
problemas patológicos.

A coordenação dimensional entre os vários elementos que compõe a vedação


vertical é medida básica e fundamental para a obtenção de mais altos níveis de
racionalização construtiva. Desde a utilização de alvenarias, até painéis com
mais elevado grau de industrialização de seus componentes, a coordenação
dimensional é requisito fundamental para que não haja a necessidade de
ajustes, arremates ou improvisações que sempre correspondem a situações de
desperdício e diminuição da produtividade na execução dos serviços.

A utilização, por exemplo, das técnicas da coordenação modular é ideal para


estas situações. Esta entretanto só se viabiliza para a situações nas quais esta
medida é tomada por todos os profissionais participantes do projeto da
edificação, como os projetistas de arquitetura e de estrutura, já no início da
concepção de seus trabalhos.

A coordenação dimensional e modular levaria a padronização dos detalhes


construtivos, que além de facilitar a execução e controle dos mesmos, permitiria
a padronização das soluções e o desenvolvimentos de alternativas cada vez
melhores para as diversas situações padrão.

Neste sentido, muito ainda se tem a evoluir. Geralmente as soluções


dimensionais do projeto, como espessuras direfenciadas das paredes,
espessuras dos elementos das vedações verticais frente aos elementos da
estrutura, do revestimento e das esquadrias, as alturas de portas e janelas e dos
vãos deixados para serem preenchidos pela vedação vertical são concebidas
sem se considerarem os valores que otimizariam os sistemas de vedação
vertical a serem empregados. Esta postura leva, na grande maioria dos casos, à

231
compatibilização dos diversos elementos que compõe o edifício sejam
compatibilizados, pela utilização de componentes que podem ser recortados com
baixo desperdício. Exemplos destes componentes são os blocos de alvenaria
que são particionáveis sem a perda dos parte, ou os componentes que permitem
o corte como os blocos de concreto celular autoclavados ou as placas de gesso
acartonado.

Estes ajustes, ainda assim representam uma atividade adicional que não
incorpora valor ao serviço produzido, representando uma diminuição no potencial
de racionalização destes componentes.

O projeto da vedação vertical também deve trazer a clara especificação de todos


os componentes que devem ser empregados em cada situação, bem como, a
forma de sua montagem ou assentamento, as características tecnológicas de
todos os materiais e componentes empregados. A correta especificação dos
materiais e componentes a serem empregados nos sistemas de vedação vertical
facilita o controle da execução das tarefas em obra, garantindo o desempenho
das soluções concebidas no projeto.

São exemplos destas especificações, os valores de resistência mínima dos


blocos da alvenaria ou das dosagens e resistência de aderência mínimas das
argamassas de assentamento. Outras especificações referem-se às técnicas
construtivas como por exemplo as espessuras e forma de preenchimento das
juntas de assentamento: utilização de juntas verticais secas (sem preenchimento
de argamassa) e utilização de dois cordões no assentamento da junta horizontal.

Devem ser detalhas também as situações onde é necessária a utilização de


medidas diferenciadas, como a colocação de reforços para garantir a resistência
das partes das vedações verticais a todos os esforços solicitantes, como por
exemplo nas extremidades das aberturas ou posições de grande deformação
dos apoios das alvenarias.

Outro detalhe específico é a inclusão de juntas de movimentação, que devem


ser previstas para diminuir as dimensões dos elementos da vedação vertical ou
ainda evitar o acúmulo de tensões em situações específicas. Todos os detalhes

232
usados nestas situações devem propiciar um fácil entendimento, não só de sua
composição, mas também da forma de sua execução.

Na figura 2 é exemplificada a execução de uma junta de movimentação do


revestimento de uma parede de fachada de um edifício, incluindo sua seqüência
de execução.

Figura 2 – Junta de movimentação do revestimento de uma parede de fachada.

233
Outro aspecto de grande relevância que deve ser considerado no projeto das
vedações verticais é o seu relacionamento com as esquadrias de portas e
janelas. As esquadrias representam uma parcela bastante significativa do custo
das vedações verticais e sua colocação é atividade crítica para a liberação de
outras frentes de serviço para a complementação da obra.

A consideração da racionalização destes componentes deve ser integrada às


demais soluções adotadas para a vedação vertical do edifício. A consideração
das tolerâncias adequadas, bem como das etapas de execução dos
revestimentos e acabamentos, devem ser compatíveis com o nível de
racionalização esperado para a produção de toda a vedação vertical.

Observa-se ultimamente, uma maior preocupação quanto a forma de execução


de tais serviços, inclusive com a consideração dos aspectos de coordenação
dimensional dos vão deixados para a inclusão de portas e janelas, bem como da
utilização de técnicas construtiva que diminuam a interferência entre a execução
destes serviços e posterguem ao máximo a sua aplicação. Exemplos de
iniciativas que atendem estas condições são expressas nas técnicas de
colocação de portas com a utilização de espuma de poliuretano, já na fase de
pintura e acabamento da edificação, ou ainda, a utilização de peças pré-
moldadas, como os contramarcos de argamassas armada a serem colocados
durante a etapa de elevação das alvenarias, que definem os vãos com grande
precisão, permitindo a colocação da esquadria, também nas fases finais da obra.

A execução de instalações prediais hidro-sanitárias de forma racionalizada


sempre representou um grande desafio. Este é, pela tradição construtiva
nacional um dos serviços de maior interferência com a vedação vertical.
Tradicionalmente as instalações elétricas e hidro-sanitárias são embutidas na
vedação vertical. Este embutimento é feito tradicionalmente em operações de
baixa racionalização, com o “rasgamento” das paredes, e o posterior
preenchimento e arremates dos rasgos efetuados.

Técnicas alternativas, que evitem a execução de rasgos, aproveitando-se dos


vazios existentes na vedação vertical tem sido exploradas nos últimos anos
como alternativa mais racional para a execução destes serviços. Algumas

234
empresas buscam soluções mais radicais, desvinculando completamente a
execução destes subsistemas com a execução da vedação vertical. Assim estão
sendo aplicados com freqüência cada vez maior idéias, como por exemplo, a
utilização de “shafts” visitáveis e da passagem das tubulações por seções ôcas
das paredes e dos forros.

Além de representar um grande ganho na racionalização tanto do serviço de


execução da vedação vertical, como no próprio serviço de execução das
instalações hidro-sanitárias, estas soluções tem permitido ganhos quanto a
facilidade de manutenção e reparos, através de procedimentos que não geram
grandes traumas na própria vedação após a sua execução.

Se faz também importante nesta fase do projeto a análise das espessuras dos
revestimentos e impermeabilizações previstos para cada um dos componentes
da vedação vertical. A não consideração desta interferência, nesta fase, pode
levar ao aumento excessivo destes revestimentos durante a etapa de
construção, acarretando perdas não previstas e até aumentando a possibilidade
de surgimento de problemas patológicos nestes elementos.

4. CONCLUSÕES

O projeto da vedação vertical é peça fundamental para a implantação das


tecnologias construtivas racionalizadas para a produção desta etapa dos
serviços. A racionalização da produção da vedação vertical, por sua vez, é
fundamental para a racionalização de todos os demais subsistemas que
compõem o edifício, propiciando diminuição de desperdícios e economia de
mateiras e mão-de-obra, proporcionando a diminuição de custos e aumento da
produtividade das atividades.

O desenvolvimento do projeto da vedação vertical deve ser realizado com visão


sistêmica, não se restringindo unicamente à melhoria do comportamento dos
componentes da vedação vertical, mas inserindo o funcionamento da vedação
vertical no edifício e a sua produção na organização e racionalização dos demais
subsistemas que compõem a edificação.

235
A implantação da racionalização construtiva, por sua vez passa por outras
etapas, sem as quais os potenciais benefícios advindos das estratégias
utilizadas, podem não ser permanentes nas empresa e em todos os seus
empreendimentos.

Cabe destacar também a importância na continuidade das pesquisas de


desenvolvimento tecnológico que tragam respostas para as muitas dúvidas
existentes quanto ao desempenho dos diversos detalhes construtivos utilizados
no projeto, além de permitir a contínua evolução das técnicas construtiva
empregadas na execução de cada diferente processo construtivo.

BIBLIOGRAFIA

BARROS, M.M.S.B. Metodologia para a implantação de tecnologias


construtivas racionalizadas na produção de edifícios. São Paulo, 1996.
Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

CONSTRUCTION INDUSTRY INSTITUTE. Constructability: a primer. Austin,


1986. (CII publication 3-1)

LEMOS, C. A. C. Alvenaria burguesa. Nobel. São Paulo, 1985.

MELHADO, S.B. Qualidade do projeto na construção de edifícios: aplicação


ao caso das empresas de incorporação e construção. São Paulo, 1994.
Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

O'CONNOR, J.T.; TUCKER, R.L. Industrial project constructability


improvement. Journal of Construction Enginee-ring and Management,
v.112, n.1, p.69-82. Mar. 1986.

SABBATINI, F. H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas


construtivos - formulação e aplicação de uma metodologia. São Paulo,
1989. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

236
PRODUTIVIDADE E CUSTOS DOS SISTEMAS DE
VEDAÇÃO VERTICAL

Prof. Dr. Ubiraci Espinelli Lemes de Souza


ubisouza@pcc.usp.br

1. OS SISTEMAS DE VEDAÇÃO VERTICAL

A vedação vertical dos edifícios é responsável pela compartimentação dos


espaços do mesmo e contribui para a proteção lateral dos ambientes criados. A
concepção da vedação vertical reveste-se de grande importância quanto ao
edifício em execução, por inúmeros motivos, dentre os quais pode-se citar: a
relevância econômica, podendo representar algo em torno de 15% dos custos
diretos da obra (PINI, 1998); a influência que sua escolha exerce quanto ao
processo construtivo como um todo (obrigatoriedade ou não de uso de gruas;
embutimento ou não de eletrodutos; etc); papel fundamental quanto ao
desempenho do edifício do ponto de vista térmico, acústico, relativo à
estanqueidade, etc.

A vedação vertical pode ser constituída por diferentes sistemas. Pode-se


classificar as opções disponíveis de diversas maneiras. Em particular, quanto à
densidade superficial da vedação, pode-se citar:

• as vedações leves, representadas por elementos de pequena densidade


superficial não estruturais;

• as vedações pesadas, representadas por elementos com função estrutural


ou não e com densidade superficial elevada.

As vedações leves podem ser ainda subdivididas em: divisórias e elementos de


fachada. As pesadas, em: paredes monolíticas moldadas no local, paredes de
painéis modulares pesados e paredes de alvenaria. Em cada uma destas
categorias pode-se encontrar inúmeras opções de sistemas disponíveis no
mercado.

Dentre os vários critérios que devem ser considerados para a escolha da melhor
opção para constituição da vedação vertical de um edifício, a avaliação dos
custos envolvidos está sempre presente.

237
2. COMPARAÇÃO DE CUSTOS QUANTO À DIFERENTES OPÇÕES

A avaliação custo/benefício comparativa entre diferentes opções para a


construção civil é normalmente marcada por inúmeras dificuldades,
principalmente em função da não padronização dos produtos (os edifícios e suas
partes) fabricados por este segmento industrial. Tal diversidade de conteúdo e
de contexto (uma mesma tipologia de edifício pode ser construída em condições
bastante diferentes de prazo, qualificação da mão-de-obra, condições
atmosféricas, etc) fazem com que respostas bastante diferentes possam ser
dadas a uma mesma avaliação.

A complexidade de tais avaliações custo/benefício pode ser ainda observada ao


se listar os diferentes aspectos que devem ser contemplados. Apenas como
ilustração (sem a pretensão de se esgotar o assunto) pode-se citar as seguintes
discussões que devem ser feitas:

• custo direto da opção

Inclui-se aqui a apropriação dos consumos físicos de material, mão-de-obra e


equipamentos, e os custos associados a cada um destes insumos. É importante
ressaltar-se que a comparação de custos diretos deve ser feita entre duas
opções de igual desempenho (por exemplo, não se pode comparar o metro
quadrado de uma alvenaria sem revestimento com o metro quadrado de um
painel acabado superficialmente). O poder de barganha do comprador pode
influenciar nos gastos com materiais; a forma de contratação e motivação da
mão-de-obra pode influenciar nos gastos com este recurso. A situação do
mercado (maior ou menor concorrência) pode dar origem a melhores ou piores
oportunidades. Enfim, ainda que dentro deste único item, pode-se encontrar
inúmeros aspectos influentes.

• custo financeiro

Os custos diretos são normalmente discutidos sem a consideração do momento


em que ocorrem. Dentro de um panorama em que o custo de imobilização do
capital não é desprezível, a postergação de um investimento pode significar uma
grande economia.

238
• custos indiretos relativos à redução de prazos

Além da mão-de-obra direta, existe todo um trabalho de apoio que acontece em


paralelo à execução de uma obra ou parte dela. A execução de um serviço mais
rapidamente pode implicar numa redução destes custos indiretos. Normalmente
tal redução é expressiva quando o serviço agilizado está no caminho crítico da
obra como um todo, de maneira que sua realização num prazo menor implica
numa minimização da própria duração da obra.

• custos durante a vida útil

O aumento da velocidade de modificação das necessidades dos usuários tem


gerado crescentes necessidades de alterações constantes do edifício e suas
partes. Diferentes opções podem trazer maiores ou menores facilidades para tais
tarefas. A durabilidade é também importante quanto aos custos de manutencão.
O desempenho representa ainda um relevante diferenciador de custos (por
exemplo a melhoria do conforto térmico do edifício pode reduzir os gastos com
condicionamento de ar).

• valorização dada pelo cliente

Muitas vezes o usuário final pode valorizar determinadas opções mais que
outras, ainda que não haja claras diferenças quanto ao desempenho (por
exemplo, a aceitação ou não de determinado produto pelo mercado não deve ser
desprezada).

3. A PRODUTIVIDADE E OS CUSTOS DIRETOS

3.1. PRODUTIVIDADE

O termo produtividade diz respeito aos bens produzidos com a utilização dos
fatores de produção. Vai ser aqui considerada como a eficácia na transformação
de recursos em produtos. Para se medir a produtividade faz-se uso de
indicadores, normalmente calculados por meio de uma relação entre as entradas
necessárias e as saídas geradas pelo processo. Assim é que o número de
homens-horas demandados para se fazer um metro quadrado de vedação
vertical é um exemplo de indicador de produtividade, assim com o número de
reais demandados pelo mesmo metro quadrado também o é.

239
Note-se que podemos falar em indicadores mais ou menos abrangentes,
respectivamente: globais ou parciais. Observe-se ainda a possibilidade de se
falar em produtividade física (as entradas são representadas por quantidades
dos recursos físicos, como por exemplo número de tijolos, quilos de cimento) e
em produtividade financeira (as entradas são calculadas em valores monetários,
como por exemplo em reais).

A produtividade pode ser analisada em vários níveis hierárquicos. Assim é que,


para a direção geral de um empreendimento, um indicador mais global sobre
uma serviço (por exemplo o número de reais gastos por metro quadrado de
vedação vertical) é normalmente desejável. Já para o setor responsável pela
aquisição, um indicador interessante pode ser o que relaciona o número de reais
demandados para a aquisição de cada unidade de material empregado na obra.
Para o pessoal da produção propriamente dita, o conhecimento da eficácia em
transformar cada unidade de recurso físico em produto final (por exemplo o
número de homens-horas necessários para se executar uma unidade de serviço)
pode ser a informação desejável. A Figura 1, além de ilustrar a presença destes
diferentes níveis hierárquicos, indica a existência de relações entre eles todos,
que fazem com que o sucesso global seja fruto de uma combinação positiva de
desempenhos parciais. Assim é que, para se conseguir um baixo custo por
metro quadrado de vedação, há que se conseguir adquirir os insumos
necessários para tal serviço a valores atraentes e se ter uma otimização no
consumo de materiais, mão-de-obra e equipamentos para se gerar a tal unidade
de serviço.

Matematicamente se pode mostrar a possibilidade de se decompor um indicador


global financeiro em uma série de indicadores parciais físicos e financeiros:

R$/QS = R$/QMO x QMO/QS + R$/QMAT x QMAT/QS + R$/QEQU x


QEQU/QS
onde:

R$ = custo, expresso em valores monetários;


QS = quantidade de serviço, expressa em unidades de medição física;
QMO = quantidade de mão-de-obra, expressa em homens-hora;
QMAT = quantidade de materiais, expressa em massa, ou peso, ou unidades;
QEQU = quantidade de equipamentos, expressa em horas necessárias.

240
Fica claro portanto que, para se ter sucesso quanto aos custos, é importante
cuidar-se da produtividade, seja ela financeira (mensurando o sucesso na
aquisição dos recursos físicos necessários) ou física (mensurando o sucesso
quanto ao uso dos recursos físicos na execução do serviço).

RESULTADO
Empreendim. GLOBAL

MAT
Mercado
MO EQU

MAT
Obra
MO EQU

Figura 1- A existência de diferentes níveis hierárquicos influenciando os custos


totais.

4. A PRODUTIVIDADE NO USO DOS RECURSOS FÍSICOS: MÃO-DE-OBRA,


MATERIAIS E EQUIPAMENTOS

Um bom desempenho quanto ao uso da mão-de-obra, dos materiais e dos


equipamentos demandados por quaisquer dos sistemas disponíveis para compor
as vedações verticais pode ser determinante quanto ao sucesso financeiro de tal
sistema. Assim é que, ainda que um determinado sistema se mostre
potencialmente interessante, um uso não otimizado do mesmo pode alterar
significativamente sua atratividade em termos de custos.

Discute-se, a seguir, através de exemplo para o caso da alvenaria, como a


produtividade na utilização dos recursos físicos pode variar. Tal variabilidade não
é exclusividade do sistema baseado na alvenaria, sendo portanto as idéias
discutidas cabíveis para quaisquer sistemas de vedação vertical.

241
4.1. Alvenaria

4.1.1. Mão-de-obra

A medição da produtividade da mão-de-obra no serviço de alvenaria pode ser


feita através do indicador:

RUP = Hh / m2

onde:

RUP = razão unitária de produção;

Hh = homens-hora demandados;

m2 = metros quadrados executados.

A RUP pode ser medida com base diária (calculada a partir dos valores de Hh e
m2 relativos ao dia de trabalho em análise) ou cumulativa (calculada a partir dos
valores de Hh e m2 relativos ao período que vai do primeiro dia em que se
estudou a produtividade até o dia em questão). Ainda quanto às RUP diárias,
pode-se definir a RUP potencial como sendo aquela considerada representativa
de um bom desempenho e passível de ser repetida muitas vezes na obra sendo
avaliada.

Enquanto a RUP potencial indica uma meta de bom desempenho passível de ser
obtida (até porque foi registrada na obra em questão), a RUP cumulativa mostra
o desempenho acumulado ao longo de um período mais longo de tempo. As
diferenças entre as RUP potencial de várias obras são normalmente
representativas de variações quanto ao conteúdo de trabalho (por exemplo de
tecnologia utilizada), enquanto a discrepância entre a RUP cumulativa e a
potencial de uma mesma obra mostra o quanto o comportamento ocorrido está
afastado do potencialmente obtenível, sendo normalmente uma indicação da
qualidade da gestão do serviço (maiores afastamentos representando
possivelmente piores gestões).

A Tabela 1 reúne os resultados obtidos para 8 diferentes obras estudadas


recentemente. O processamento numérico de tais dados permite alguns
comentários:

242
• as RUP potenciais das obras variaram de 0,55 Hh/m2 a 1,50 Hh/m2, o que
mostra uma grande oportunidade de atuação quanto à tecnologia;

• as RUP cumulativas das obras variaram de 1,02 Hh/m2 a 2,16 Hh/m2, o que
significa que a obra de pior desempenho consumiu mais de 100% de mão-
de-obra por unidade de serviço que a de melhor desempenho;

• os valores da diferença percentual entre a RUP cumulativa e a potencial para


cada obra alcancaram em alguns casos quase os 100%, o que sugere uma
boa oportunidade para melhoria da gestão do serviço.

Tabela 1- Dados sobre a produtividade da mão-de-obra no serviço de alvenaria.

código tipologia tipo de compon. RUP RUP Dif RUP


da obra da obra alvenaria alvenaria cumulat. potencial cum/pot
AL edifício vedação cerâmico 2,07 1,50 38%

SH edifício vedação cerâmico 1,02 0,85 20%

TA casa resistente concreto 1,09 0,68 60%

LS edifício estrutural concreto 1,35 1,10 23%

FAA edifício vedação concreto 1,12 0,82 37%

FAB edifício vedação cerâmico 1,09 0,55 98%

FAC edifício estrutural concreto 1,72 1,15 50%

FAD casa resistente concreto 2,16 1,18 83%

4.1.2. Material

O indicador de produtividade no uso dos materiais, para o caso da alvenaria,


pode ser definido analogamente ao que foi feito para a mão-de-obra:

IC = QM / m2

243
onde:

IC = indicador de consumo;

QM = quantidade de material utilizado.

Em se tratando de materiais é comum fazer-se uso de um outro indicador de


desempenho quanto ao consumo, qual seja:

IP (%) = 100 x (QM – QTN) / QTN


onde:

IP (%) = indicador de perdas, expresso em porcentagem;

QTN = quantidade de material teoricamente necessária.

Analisa-se, a seguir, resultados obtidos para os componentes de alvenaria


(blocos e tijolos) e para a argamassa de assentamento em estudos de campo
realizados recentemente.

4.1.2.1. Blocos/Tijolos

A Tabela 2 reúne os valores de perdas apropriados num estudo que envolveu


um total de 37 casos. Apesar de se ter uma mediana das perdas de 12,80%,
nota-se uma grande dispersão de valores de perdas chegando-se, no caso de
pior desempenho, a quase 50%. A Figura 2 mostra a distribuição de freqüências
das perdas calculadas.

Tabela 2- Estatísticas das perdas nos casos estudados.

Média Mediana Desvio Dif.Quartis Mínimo Máximo n


(%) (%) P. (%) (%) (%)

17 13 12 11 3 48 37

244
P>45

40<P<=45

35<P<=40
Intervalo de Perdas

30<P<=35

25<P<=30

20<P<=25

15<P<=20

10<P<=15

5<P<=10

P<=5

0 2 4 6 8 10 12

Nº de Obras

Figura 2- Distribuição de freqüências das perdas.

4.1.2.2. Argamassa de assentamento

No estudo da argamassa de assentamento, subdividiu-se o conjunto de casos


analisados em dois grupos: o das obras que usavam filetes de argamassa
(assentamento com bisnaga ou desempenadeira) e as que aplicavam a
argamassa ao longo de toda a largura dos blocos.

As Tabelas 3 e 4 reúnem as estatísticas dos casos analisados, tendo-se avaliado


o consumo de cimento como representando o consumo de argamassa. Nota-se
uma grande variação quanto aos consumos por metro linear de junta (0,19 a
4,94 quilos de cimento por metro linear de junta). Nota-se também uma grande
variação quanto à dosagem especificada para a argamassa (observe-se os
consumos teóricos de cimento por metro cúbico de argamassa).

245
Tabela 3- Estatísticas relativas à argamassa de assentamento por filete.

Índices Média Mediana Desvio Dif. Mínimo Máximo


P. Quartil
CONSUMO 245,35 267,74 64,85 61,88 172,27 296,03
TEÓRICO
(kg/m3)
CONSUMO REAL 0,59 0,25 0,64 0,57 0,19 1,33
(kg/ml)
n= 3

Tabela 4 - Estatísticas relativas à argamassa de assentamento por largura dos


blocos.

Índices Média Mediana Desvio Dif. Mínimo Máximo


P. Quartil
CONSUMO 168,91 166,69 39,31 45,20 116,00 241,50
TEÓRICO
(kg/m3)
CONSUMO REAL 0,88 0,49 1,43 0,16 0,20 4,94
(kg/m2)
n= 10

4.1.3. EQUIPAMENTO

A análise da produtividade dos equipamentos envolvidos demanda uma


avaliação mais sistêmica. No entanto, é facil perceber que, muitas vezes,
pequenas melhorias quanto aos mesmos, por exemplo no que diz respeito ao
sistema de transportes, podem representar grandes benefícios.

A Figura 4 ilustra o carrinho auto-paletizável para transporte de blocos vazados,


cuja concepção tem sido bastante utilizada atualmente. O transporte de blocos
com este carrinho, em lugar de um outro não auto-carregável, pode significar
uma economia de mão-de-obra significativa.

246
Figura 4- Carrinho auto-paletizável para transporte de blocos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na discussão feita no item 3 se mostrou teoricamente a dependência do custo


direto com relação à produtividade no uso dos recursos físicos. O item 4
mostrou, usando a alvenaria como exemplo, que se pode ter enormes variações
de produtividade no que diz respeito ao uso da mão-de-obra, materiais e
equipamentos durante a execução da vedação vertical. Note-se que
constatações semelhantes têm sido obtidas para outros sistemas de vedação.

A melhoria da produtividade pode, portanto, ter importantes influências quanto


aos custos das vedações verticais. Investir em tecnologia e/ou avaliar novas
tecnologias disponíveis é um caminho que pode levar a uma melhoria da
produtividade e, consequentemente, redução de custos. Há que se frisar, no
entanto, que somente tecnologia não basta: a correta gestão pode ser também
decisiva para distinguir utilizações de boa ou má produtividade, o que, no
contexto atual, pode significar o sucesso ou insucesso quanto aos custos das
vedações verticais.

247
REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIAS

CARRARO, F. A produtividade da mão-de-obra no serviço de alvenaria. São


Paulo, exame de qualificação - Universidade de São Paulo, 1998.

GARRIDO, J. A verdade sobre o desperdício. In: Qualidade na Construção. São


Paulo, Sinduscon, 1998. Pp.14-21.

GOLD, B. Foundations of strategic planning for productivity improvement.


Interfaces, v.15, n.3, p.15-30, 1985.

MUSCAT, A.R.N. Fundamentos da produtividade. São Paulo, PCC/EPUSP -


ITQC - Curso Qualidade e Produtividade na Construção Civil, 1993. 40p.

REVISTA CONSTRUÇÃO. São Paulo, n.2621, 1998.

SOUZA, U.E.L. Canteiro de obras. São Paulo, EPUSP/ITQC, 1993. 30p.

SOUZA, U.E.L. Metodologia para o estudo da produtividade da mão-de-obra


no serviço de fôrmas para estruturas de concreto armado. São Paulo,
tese de doutoramento - Universidade de São Paulo, 1996. 350p.

THOMAS, H.R. & KRAMER, D.F. The manual of construction productivity


measurement and performance evaluation. Austin, Construction Industry
Institute (CII) Report, 1987. 168p.

248
O DESAFIO DA IMPLANTAÇÃO DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO
SISTEMA PRODUTIVO DAS EMPRESAS CONSTRUTORAS

Profª Drª Mercia Maria Bottura de Barros


mercia@pcc.usp.br

RESUMO

Inicialmente lança-se um desafio às empresas construtoras de edifícios no


sentido de, através da introdução de novas tecnologias construtivas, procurarem
modificar a organização e a gestão do processo de produção, de forma a
alcançar maior competitividade no mercado.

Para assumir esse desafio, as empresas precisarão estar preparadas para


atuarem de maneira sistêmica, sem o quê, acabarão por desperdiçar esforços.
No sentido de melhor preparar as empresas para assumirem o desafio proposto
é que se apresenta este trabalho, cujo objetivo é apresentar e discutir uma série
de diretrizes fundamentais para que as empresas possam efetivar as novas
tecnologias em seu sistema de produção e, com isso, fazerem evoluir a sua
organização e gestão.

As diretrizes propostas concentram-se na organização da empresa, no processo


de projeto e de documentação, nos recursos humanos, nas atividades de
suprimentos e no controle do processo de produção.

O trabalho conclui pela importância das empresas utilizarem uma adequada


metodologia para a implantação de novas tecnologias de forma que seja um
efetivo instrumento de competitividade.

1 INTRODUÇÃO

Os atuais acontecimentos do mercado mostram claramente que está se


consolidando uma nova fase de crescimento industrial voltada à modernização
das relações de produção.

A indústria da Construção Civil, devida a importância econômica e social que


representa no conjunto produtivo, não poderia deixar de participar do processo
de modernização que toma conta do país. E isto é um fato, pois em função de

249
uma série de novos referenciais de mercado, os empresários do setor têm sido
obrigados a repensarem as antigas formas de produção, uma vez que a
atividade produtiva está inserida num mercado altamente competitivo,
estimulado pelo desafio de oferecer um produto economicamente acessível e
que satisfaça às exigências dos clientes.

Ou seja, a redução dos custos de produção dos empreendimentos constitui-se,


hoje, num dos fatores decisivos para a sobrevivência da maioria das empresas.

Na ânsia de responder às atuais exigências de mercado, através de uma maior


eficiência do processo de produção, muitas empresas têm buscado realizar
ações voltadas à organização e à gestão do processo de produção. No entanto,
alterar as características do atual processo de produção de edifícios, tem sido
um desafio de grande envergadura para a maioria das empresas construtoras.

Existem muitos obstáculos a serem transpostos para se promover alterações nos


processos produtivos, dentre os quais pode-se destacar aqueles que se originam
num ambiente externo ao processo de produção e os que têm origem
internamente a esse processo, como por exemplo os apresentados a seguir:

a) obstáculos devidos ao ambiente externo ao processo de produção

• ausência de investimentos institucionais e as incertezas do mercado de


construção de edifícios provocadas sobretudo pela instabilidade econômica
vivida pelo país, mesmo nos dias atuais;

• ausência de uma organização institucional do segmento da Construção de


Edifícios que leve a melhores condições de atuação para a indústria como um
todo, como por exemplo uma política de normalização que subsidie as ações
do setor;

• ausência de uma política institucional que envolva o setor de suprimentos de


materiais e componentes, de maneira a que venha a atender melhor as
atividades de projeto e as que se desenvolvem no canteiro de obras;

• ausência de uma política de desenvolvimento de equipamentos e ferramentas


específico para a Indústria da Construção de Edifícios;

250
• ausência de uma política de educação básica voltada aos excluídos da
escola, que constituem a mão-de-obra potencialmente empregada pela
indústria da Construção.

b) obstáculos devidos ao ambiente interno ao processo de produção

• a administração do conflito: período de tempo demandado para a implantação


de ações visando às alterações do processo de produção e a ansiedade
pelos resultados (reflexo do ambiente externo);

• o difícil equacionamento entre as distintas necessidades dos setores que


compõem a empresa, como por exemplo, comercial e produção; projetos,
suprimentos e execução das obras;

• as falhas nos fluxos de informações e decisões internos à empresa;

• o trabalho não sistematizado e descoordenado dos diversos agentes


participantes de um empreendimento;

• os problemas decorrentes do difícil relacionamento entre as empresas


construtoras e os fornecedores de materiais e equipamentos que, muitas
vezes, enxergam apenas os seus interesses particulares;

• o difícil relacionamento com os recursos humanos, em que ganha importância


a complexa forma de contratação de mão-de-obra, hoje caracterizada pelas
empreitadas de serviços e alta rotatividade;

• as dificuldades de implantação de um mecanismo de controle das ações


implantadas, visando a realimentação do processo e a sua evolução contínua.

Frente a esses obstáculos, fica evidente a premência de se criarem condições


para que a empresa seja capaz de entender o complexo processo de produção
que a envolve, de modo a organizar e gerenciar o seu todo e não apenas partes
dele, conseguindo, com isso, atingir um novo patamar de desenvolvimento
tecnológico e gerencial, tão almejado por toda a sociedade.

Buscando contribuir para a evolução do setor é que se apresenta este trabalho,


cujo objetivo é propor às empresas construtoras uma forma de ação que lhes
possibilite conciliar a introdução de mudanças tecnológicas no processo
construtivo tradicionalmente empregado, com a organização e a gestão do

251
processo de produção, de forma a permitir a evolução contínua das mudanças
inicialmente propostas.

Essa forma de ação está fundamentada no completo envolvimento da etapa de


produção, logo no início das transformações das relações produtivas, através da
implantação de Novas Tecnologias Construtivas, as quais podem ser
entendidas como sendo “um conjunto sistematizado de conhecimentos
científicos e empíricos, empregados na criação, produção e difusão de um
modo específico de se construir um edifício ou uma sua parte e orientado
pela otimização do emprego dos recursos envolvidos em todas as fases da
construção”.

Deve-se deixar claro que o emprego de uma nova tecnologia construtiva pode
ser feito por qualquer empresa, para quaisquer subsistemas do edifício. No
entanto, no contexto desta proposta não basta apenas aplicar uma nova
tecnologia, em um dos canteiros de obra da empresa.

O grande desafio para as empresas é tornar a nova tecnologia uma


verdadeira inovação tecnológica para a empresa, ou seja, efetivamente
implantá-la no sistema produtivo da empresa de modo a contribuir para a
transformação de todas as relações de produção, alcançando-se, com isso, um
patamar mais elevado na busca do desenvolvimento tecnológico e
organizacional.

Assim, a implantação de novas tecnologias construtivas envolve mais do que


a simples aplicação de uma dada tecnologia, em um canteiro de obra da
empresa. “Implantar” significa, no contexto deste trabalho, consolidar a nova
tecnologia no sistema produtivo da empresa e no processo de produção de
edifícios, através de princípios que permitam a sua constante evolução.

Infelizmente, nem todas as empresas estão preparadas para enfrentar esse


desafio, pois não é uma tarefa fácil de ser realizada.

Para a empresa desfrutar de resultados positivos através da implantação de


novas tecnologias na produção de edifícios pelo processo construtivo tradicional,
precisará adotar uma adequada metodologia de ação, que contemple os

252
aspectos tecnológicos, organizacionais e de gestão do processo de
produção.

Com o objetivo de auxiliar as empresas é que se apresenta, inicialmente, uma


síntese da metodologia para implantação de novas tecnologias construtivas,
proposta pela autora, em BARROS [1996]. Na seqüência, faz-se uma discussão
acerca da importância do emprego de uma adequada metodologia, tomando-se
como parâmetro as ações que diversas empresas têm assumido no sentido de
enfrentar o desafio de implantar novas tecnologias em seu sistema de produção.

2 PREMISSAS PARA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA

Antes que se apresente a metodologia propriamente dita, deve-se ter claro que a
empresa deverá observar uma série de premissas fundamentais, caso contrário,
pode-se comprometer o processo de implantação, ou seja, é necessário preparar
o ambiente da empresa para o início do processo de implantação.

Quanto maior o nível de organização da empresa e quanto mais motivadas


estiverem as pessoas que a constituem, maiores serão as chances de sucesso
da implantação e, conseqüentemente, maior o potencial de racionalização do
processo de produção.

Sabe-se que a implantação de novas tecnologias não ocorre de um momento


para outro. É um processo, às vezes de longa duração, que exige empenho e
dedicação das pessoas e da organização como um todo.

Os principais elementos que devem estar presentes no momento da implantação


são:

• existência de um sistema de comunicação para que todos possam interagir;

• conhecimento do patamar tecnológico da empresa, utilizado como um


instrumento de convencimento das pessoas, pois explicita as deficiências da
empresa;
• disposição e motivação para o aprendizado, a fim de que se esteja disposto
a buscar novas alternativas;
• disponibilidade dos recursos de toda a natureza: recursos humanos, no
sentido de se Ter um condutor do processo de implantação, recursos

253
financeiros para se poder viabilizar os demais, recurso de tempo para que
não se atropele o processo de implantação.

Um ambiente propício a mudanças é considerado uma premissa ao processo de


implantação. A condição ideal dificilmente ocorre nas organizações. Há aqueles
que acreditam no processo de mudança e há os que preferem “deixar tudo como
está”. Frases do tipo: “para que mudar? sempre fizemos assim e deu certo!”,
são comuns nesse momento.

Se isso ocorrer na empresa, caberá ao líder encontrar um caminho através do


qual possa mostrar que as mudanças são imprescindíveis e que as alterações
tecnológicas podem trazer muitos outros benefícios, além da própria
racionalização do processo de produção.

Após a existência de condições mínimas de motivação para a mudança, pode-se


iniciar a aplicação da metodologia, a qual conta com um conjunto de diretrizes
balizadoras e um plano de ação.

O objetivo deste trabalho é pois apresentar as principais diretrizes, bem como,


identificar a sua importância, a partir da discussão das ações que diversas
empresas construtoras vem empreendendo. O plano de ação não será aqui
discutido, por ter sido apresentado em BARROS [1997].

3 FUNDAMENTOS DA METODOLOGIA

A metodologia de implantação proposta está fundamentada no seguinte


princípio: “possibilitar a aplicação de novas tecnologias construtivas como uma
forma de impulsionar a melhoria contínua dos recursos tecnológicos e
organizacionais empregados no processo construtivo tradicional de produção de
edifícios com vistas à sua máxima racionalização e conseqüente evolução
tecnológica e organizacional”.

Ou seja, ao se aplicar uma metodologia para implantação de novas tecnologias


no processo construtivo de uma empresa construtora, espera-se obter uma
melhoria tecnológica suficiente para que o retorno obtido sirva de motivação para
que novas melhorias sejam implantadas e esse processo ocorra continuamente,
procurando-se atingir sempre um patamar mais elevado de racionalização do
processo de produção.

254
Observa-se que, sem romper drasticamente com a base produtiva, busca-se,
através de ações de racionalização da produção, uma melhoria contínua quanto
às condições de trabalho, ao uso de equipamentos, ao emprego da tecnologia
disponível e com isso, melhorar a produtividade, reduzir desperdícios e melhorar
a qualidade do produto final.

Portanto, ter a melhoria contínua como princípio implica em “fazer funcionar” o


ciclo “PDCA”35 através de ações efetivas, as quais deverão envolver o
planejamento, a implantação e a verificação das ações e a retomada do
processo, após a avaliação dos resultados. Essas ações deverão ser traduzidas
por um conjunto de premissas, diretrizes e estratégias a serem empregadas na
condução do processo de implantação, os quais serão apresentados e discutidos
a seguir.

4 DIRETRIZES BALIZADORAS

As diretrizes que balizam o plano de ação da metodologia deverão refletir a sua


filosofia, ou seja, devem permitir um avanço tecnológico e a evolução contínua
do processo construtivo tradicional de produção de edifícios.

Para isso, o plano de ação a ser estruturado pela empresa deverá ser conduzido
por diretrizes que permitam aumentar o nível de racionalização e diminuir o grau
de variabilidade do processo de produção, o que pode ser traduzido por
diretrizes que envolvam uma maior interação entre os setores responsáveis pela
produção, quais sejam: projeto; suprimentos; recursos humanos e execução de
obras. E, neste sentido, as diretrizes que deverão conduzir o desenvolvimento do
plano de ação, amplamente discutidas em BARROS [1996], são aqui
sintetizadas:

• desenvolvimento da atividade de projeto: diretriz que deve ser entendida


como um instrumento para a informação e fixação das novas
tecnologias no sistema produtivo da empresa, proporcionando

35
O ciclo “PDCA”, proposto originalmente por DEMING [1986], contempla atividades voltadas ao
planejamento das ações de melhoria em qualquer setor da empresa (“P”); à sua execução (“D”) e
verificação (“C”) e, finalmente, a ação (“A”), no sentido de correção dos problemas identificados
ou de implementar novos esforços para se atingir um novo patamar na busca da melhoria
contínua.

255
condições para o avanço tecnológico, à medida em que incorpore as
definições para a completa realização da produção, inclusive as
relativas ao planejamento do empreendimento;

• desenvolvimento da documentação: diretriz que deve ser entendida como


um instrumento de informação e fixação das novas tecnologias na
empresa. Para isso, ela deve ser compatível com o processo de
implantação das novas tecnologias e deve proporcionar meios para o
repasse uniforme dessas tecnologias a todos os empreendimentos.
Além disso, essa documentação deverá servir como subsídio para o
treinamento de todo o pessoal envolvido com a implantação;

• desenvolvimento dos recursos humanos: diretriz que deve permitir a


capacitação tecnológica e organizacional da empresa, através da
motivação e do treinamento que envolvam todos os níveis hierárquicos.
Através dessa diretriz deve-se conseguir, ainda, uma menor
variabilidade do processo de produção e a possibilidade de sua
evolução contínua, mesmo quando a empresa trabalha
preponderantemente com mão-de-obra de terceiros;

• desenvolvimento do setor de suprimentos voltado à produção: diretriz que


pretende facilitar e viabilizar a implantação das novas tecnologias,
através do envolvimento e de um melhor relacionamento entre as
equipes de projeto, produção e suprimentos, para que sejam adquiridos
materiais, componentes e equipamentos que atendam à produção;

• desenvolvimento do controle do processo de produção: diretriz que


possibilita o acompanhamento de todo o processo de produção, visando
à sua qualidade, bem como, à do produto final; permite, ainda, a
realimentação do processo de implantação e a evolução das ações que
visam à melhoria.

5 O DESAFIO DE SE IMPLANTAR AS NOVAS TECNOLOGIAS

Com o objetivo de mostrar mais claramente a importância de de adotar uma


metodologia na condução da implantação de novas tecnologias, realizou-se uma
pesquisa junto a diversas empresas construtoras, procurando-se registrar e

256
analisar a sua conduta ao promoverem as alterações tecnológicas e também as
dificuldades encontradas e os principais resultados obtidos.

A pesquisa realizada envolveu um contato direto com mais de vinte empresas


construtoras atuantes no estado de São Paulo, através de entrevistas com a alta
gerência da empresa (diretores e gerentes técnicos e de desenvolvimento) e
uma série de visitas a obras dessas empresas, objetivando verificar a coerência
dos dados obtidos nas entrevistas, com as aplicações nos canteiros.

As características e a atuação dessas empresas, quanto à implantação de ações


de racionalização serão apresentadas e discutidas à luz das diretrizes propostas,
devendo-se observar que a pesquisa retrata a situação das organizações em um
momento particular, ou seja, ao longo de seis meses, enquanto durou o
desenvolvimento da pesquisa.

É evidente que num mercado “de altos e baixos” tal situação pode ter sido
alterada por diversas ocorrências, tais como, pelas oscilações no mercado
financeiro. Além disso, a própria evolução tecnológica, gerencial e organizacional
que algumas das empresas vêm passando, já contribuíram para que tenham
ocorrido mudanças no quadro aqui apresentado.

Apesar disso, essas possíveis alterações não invalidam a análise feita, na


medida em que, ao proceder tal análise procura-se compreender as tendências
quanto ao desenvolvimento tecnológico das empresas de construção de edifícios
e não apenas diagnosticar aspectos específicos.

A pesquisa realizada compreendeu uma ampla gama de informações, que


envolveu as características de formação e organização das empresas e a sua
forma de gerenciamento dos processos voltados: ao projeto; à documentação;
aos suprimentos; aos recursos humanos; e ao controle.

Devida à extensão das informações coletadas, as mesmas não serão totalmente


reproduzidas neste trabalho, sendo apresentadas apenas aquelas que irão
subsidiar a realização da análise dos principais resultados que as empresas
obtiveram e das principais dificuldades encontradas, com o objetivo de mostrar a
importância e a validade da metodologia proposta para a condução do processo
de implantação de novas tecnologias construtivas.

257
5.1 Apresentação das ações das empresas

As mudanças tecnológicas estão sendo introduzidas nos sistemas produtivos


das empresas a partir de uma série de ações que as mesmas vêm
empreendendo sem, no entanto, seguirem uma metodologia adequada.

São ações definidas, muitas vezes, pelo “sentimento” e pela “percepção” das
pessoas que dirigem as empresas que, pela sua experiência e vontade de
melhorar, procuram os novos produtos e métodos construtivos disponíveis no
mercado. E, na base da “tentativa e erro”, procuram aumentar o grau de
racionalização de seu sistema de produção.

Através da pesquisa realizada é possível mostrar que, apesar de não


empregarem, na íntegra, a metodologia proposta, as empresas vêm adotando
algumas das diretrizes estabelecidas neste trabalho e, com isso, têm obtido
resultados positivos quanto à racionalização do processo de produção.

Entretanto, como essas empresas ainda não conseguiram definir uma


metodologia de atuação, que considere a implantação de novas tecnologias
como uma ação sistêmica que deve envolver toda a empresa e não apenas
pontos isolados, elas permanecem com resultados que oscilam de um
empreendimento para outro e muitas vezes, aquém do esperado. Ou seja, o
processo de modernização tecnológica, organizacional e gerencial não chegou a
se fixar em nenhuma dessas empresas.

A metodologia aqui proposta, complementada pelo trabalho apresentado em


BARROS [1997], possibilita realizar a implantação de novas tecnologias no
canteiro de obras considerando-as no seu todo, ou seja, a partir de uma visão
sistêmica do processo de produção do edifício e não, como uma atividade
isolada no momento da execução dos serviços.

Por isso, a análise das ações das empresas construtoras feita à luz das
premissas e diretrizes estabelecidas pela metodologia, procurará mostrar como
enfrentar o desafio de consolidar as novas tecnologias no sistema
produtivo das empresas.

Para isso, serão analisadas a organização da empresa voltada ao processo de


implantação; a aplicação da nova tecnologia aos projetos do edifícios; a

258
organização da documentação que dará suporte ao sistema de produção; as
ações objetivando os recursos humanos; a organização do setor de suprimentos,
voltada à nova tecnologia; a implantação de um sistema de controle.

5.2 Organização da empresa voltada ao processo de implantação

Nem todas as empresas pesquisadas estão num mesmo patamar de


racionalização do processo de produção. Ainda que todas tenham manifestado a
procura da racionalização como uma resposta às demandas do mercado,
algumas saíram na frente priorizando essa alternativa; enquanto outras não
concretizaram essa vontade através de ações efetivas.

O comprometimento da empresa deve envolver não apenas a vontade de


evoluir, mas o estabelecimento das premissas, sendo as fundamentais
discutidas a seguir.

5.2.1 Existência de um líder

A organização de um setor e a destinação de um líder, voltado exclusivamente


às atividades relacionadas com a implantação de novas tecnologias, mostram
claramente a prioridade da empresa no sentido de alcançar a sua evolução.

A busca do aumento da qualidade e da certificação através das normas NBR-


ISO 9000 [ABNT, 1994] têm levado as empresas de grande porte a destinarem
um setor exclusivo para o desenvolvimento tecnológico e qualidade. Entretanto,
é mais difícil existir esse setor quando se tratam de empresas de pequeno e
médio porte. Nesse grupo, apenas uma das empresas pesquisadas incluiu em
seu organograma funcional um departamento voltado à implantação de novas
tecnologias.

A existência de um setor dedicado à implantação de novas tecnologias faz com


que as ações ganhem velocidade, pois existe alguém cuja preocupação maior é
fazer a tecnologia acontecer nos canteiros de obras.

As obras visitadas dessa empresa mostraram claramente a importância de se ter


um líder do processo, devidamente capacitado, sempre presente nos momentos
principais das implantações.

259
A produção de diversos subsistemas do edifícios, a partir de um projeto voltado à
produção é uma realidade nessa empresa. O treinamento tanto dos engenheiros
de campo, quanto das equipes de trabalho, envolvendo a leitura do projeto e a
execução dos serviços é conduzido pelo próprio engenheiro de desenvolvimento.

Outras empresas do conjunto pesquisado, com características organizacionais


muito semelhantes entre si e também com relação à empresa anterior, não
montaram nenhuma estrutura voltada à implantação de novas tecnologias.

Nessas empresas, a condução do processo de implantação de novas


tecnologias concentra-se nas mãos de seus diretores técnicos. Eles são os
líderes do processo. No entanto, eles são também os responsáveis por uma
série de outras atividades importantes na empresa, o que não lhes deixa tempo
suficiente para atuarem de modo a acelerar o processo de implantação.

Apesar das dificuldades que o seus cargos lhes impõem, esses diretores
mostram total disposição em continuar realizando as ações para que as novas
tecnologias sejam fixadas em suas obras. Para isso procuram reunir subsídios
que lhes dêem suporte para a realização das atividades, como por exemplo, a
contratação de escritórios de projetos, a negociação com subempreiteiros, o
envolvimento de toda a equipe de produção através de reuniões técnicas, no
sentido de motivá-la a participar do processo de implantação.

Por se tratarem de empresas que não têm um número elevado de obras


ocorrendo ao mesmo tempo e havendo uma forte coordenação por parte de seus
diretores, o processo de aplicação das novas tecnologias tem ocorrido de modo
contínuo, apesar de muitas vezes escapar ao controle dos diretores, retornando
à etapa inicial.

Nessas empresas é possível identificar que já foi alcançado um certo patamar de


racionalização, sobretudo no que se refere à produção da laje nivelada e
acabada e da alvenaria de vedação.

Há um outro grupo de empresas pertencentes ao conjunto pesquisado em que a


condução do processo de inovação também está sob a responsabilidade dos
diretores técnicos; entretanto, a aplicação de novas tecnologias não têm sido
prioridade, o que tem levado a ações pontuais e de menor impacto na produção.

260
Há uma empresa em que a opção expressa da diretoria é pelo desenvolvimento
das questões de segurança e de vivência no canteiro de obras. Para ela, a
questão tecnológica é decorrência, sendo obtida diretamente no mercado, a
partir do que este lhe oferece. Seu diretor técnico afirma: “deixo os outros
experimentarem primeiro, quando estiver bem consolidado no mercado, trago
para a empresa”.

Através da pesquisa foi possível identificar também que para algumas empresas,
por enquanto, as intenções dos seus diretores são maiores que ações praticadas
e muito do que dizem estar fazendo não ocorre efetivamente nas obras.

Por não terem uma estrutura voltada à implantação de novas tecnologias, e por
não poderem estar pessoalmente conduzindo o processo de implantação, os
diretores acabam por estabelecer diretrizes genéricas a serem adotadas pelas
obras, o que nem sempre acontece. No entanto, como não foram estabelecidos
mecanismos de comunicação e de controle eficientes, muitas vezes acreditam
(ou querem acreditar) que as novas tecnologias estão sendo praticadas, quando
na verdade não estão.

Pelas colocações anteriores, fica claro que quando não se tem verdadeiros
líderes envolvidos com o processo de implantação, dificilmente as novas
tecnologias serão fixadas ao sistema de produção das empresas. Este constitui,
pois o primeiro desafio!

5.2.2 A busca das novas tecnologias

Não são muitas as alternativas utilizadas pelas empresas para buscarem novas
tecnologias. Durante a pesquisa, foram encontradas duas posturas básicas: ou
as empresas investem em sua capacitação tecnológica, através da contratação
de consultores ou de convênios objetivando o repasse tecnológico, ou elas
utilizam as novas tecnologias apresentadas pelo mercado de materiais e
componentes.

Uma das empresas, por exemplo, levou toda a sua equipe técnica, bem como
um de seus melhores subempreiteiros, a participarem de um curso sobre
tecnologia e qualidade. Após o curso, a empresa identificou a premência de
evoluir tecnologicamente o seu sistema de produção. Por isso, optou pela
contratação de consultores, especialistas em tecnologia de processos

261
construtivos e desenvolvimento de projetos, que a auxiliaram na condução do
processo de implantação de novas tecnologias nos canteiros de obras.

Outras empresas preferiram o caminho do convênio com instituições de


desenvolvimento e pesquisa, como por exemplo o Centro de Pesquisas e
Desenvolvimento em Construção Civil (CPqDCC-EPUSP) do qual a autora
participa. Para esse grupo de empresas, o trabalho realizado enfocou a
produção racionalizada de vedações verticais e horizontais, havendo um
segundo momento em que se trabalhou a organização e gestão de canteiros de
obra e suprimentos.

As visitas aos canteiros de obras dessas empresas mostraram claramente que,


de um empreendimento para outro, há uma evolução no processo de aplicação
das novas tecnologias, as quais vão sendo incorporadas aos poucos aos novos
empreendimentos, fazendo parte da negociação com clientes, projetistas e
subempreiteiros.

Há um grupo de empresas cuja busca de tecnologia tem uma origem distinta das
anteriormente citadas. As empresas desse grupo fizeram parte de um programa
desenvolvido pelo SINDUSCON-SP cujo objetivo foi a padronização dos
métodos construtivos empregados pelas empresas. Assim, o conhecimento
tecnológico dessas empresas foi sendo incorporado através desses
procedimentos, elaborados em conjunto.

Com esses procedimentos nas mãos, em princípio, as empresas estariam aptas


a implantarem as novas tecnologias em seus canteiros de obras. Entretanto,
considerando-se os resultados da pesquisa, o que se pôde constatar, foi que a
existência de um procedimento escrito, ainda que contendo uma tecnologia
construtiva racionalizada, não implicava, automaticamente, na produção
racionalizada em canteiro. A maioria dessas empresas, por ocasião da pesquisa,
não estava organizada para implantar o processo de mudança tecnológica.

O trabalho realizado com esse grupo de empresas mostrou claramente que o


domínio da tecnologia, em todas as suas dimensões (projeto, execução e
controle) é fundamental para que seja possível efetivar as mudanças.

262
Por isso, reafirma-se que, além da existência de um líder para a condução do
processo, a empresa precisa conhecer a tecnologia a ser implantada e,
também, disponibilizar uma série de recursos, a fim de que as diretrizes
fundamentais do processo de implantação, discutidas na seqüência, sejam
efetivadas.

5.3 Aplicação da nova tecnologia aos projetos do edifícios

Uma diretriz fundamental estabelecida pela metodologia proposta refere-se à


incorporação das novas tecnologias aos projetos do edifício, de preferência,
desde o início de seu desenvolvimento, uma vez que o projeto é um dos
elementos fundamentais de comunicação da empresa.

Muitas empresas manifestam a dificuldade de atender a essa diretriz,


argumentando que os projetos lhes chegam prontos, o que é comum nos casos
em que são contratadas por terceiros apenas para a construção do edifício.

Entretanto, as dificuldades de realização do projeto incorporando as novas


tecnologias não se restringem às empresas apenas construtoras. As
incorporadoras e construtoras também vêm desenvolvendo um processo de
projeto que não é ideal à aplicação de novas tecnologias.

Uma das empresas, que trabalha mais intensamente no segmento de obras


públicas e para terceiros, tem atuado de maneira a interferir no projeto recebido,
para alcançar o máximo grau de racionalização. Existe uma atividade prevista no
seu fluxo de desenvolvimento do empreendimento - verificação das
interferências entre os projetos - a qual permite analisar os projetos executivos,
para se identificar as possíveis interferências entre os mesmos.

Além dessa verificação, está prevista, ainda, uma etapa de análise do potencial
de racionalização dos projetos. Entretanto, para que essa etapa seja efetiva, é
preciso que a empresa tenha o domínio das novas tecnologias potencialmente
utilizáveis nos projetos de edifícios.

Por isso, ainda que a empresa seja apenas construtora, deverá investir em
novas tecnologias.

263
Deve-se lembrar que no caso de empreendimentos de terceiros, a simples
identificação do potencial de racionalização não soluciona o problema. Essas
melhorias deverão ser negociadas com os clientes, para a sua efetivação.

Ainda que o fluxo de análise de projeto proposto por essa empresa seja propício
à incorporação de novas tecnologias, o que se pôde depreender da pesquisa
realizada com o seu diretor técnico, é que essa oportunidade não está sendo
totalmente explorada, pois a análise dos projetos e a elaboração das alterações
não são sistematizadas e não existem diretrizes que conduzam essa análise e a
alteração de projetos. Na maioria das vezes as modificações propostas estão
fundamentadas apenas no conhecimento tecnológico da equipe técnica, cujo
subsídio é o dia-a-dia na obra e o conhecimento repassado pelo diretor técnico.

Apesar de todas essas dificuldades, acredita-se que esse seja um caminho que
deve continuar a ser percorrido pela empresa e por todas as que prestam
serviços a terceiros, procurando, com isso, a melhoria contínua de seu processo
de produção.

O processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras, ainda que


tenha um maior potencial de embutir as novas tecnologias, nem sempre tem
aproveitado essa oportunidade.

Na maioria dos casos o departamento comercial é o responsável pela definição


do produto e até mesmo do arquiteto. Além disso, de modo geral, não se
observou uma sistematização clara da etapa de estudo preliminar de arquitetura
nas empresas. As diretrizes que as empresas repassam ao arquiteto, quando o
fazem, não são formalizadas, tratam-se, na maioria dos casos, de sugestões
dadas pela diretoria, no momento da reunião com o projetista.

O crivo dos demais projetistas apenas é feito em função da experiência de cada


um deles, em função daquilo que percebem ao analisarem o estudo preliminar,
durante a reunião. Nos casos em que há uma sistematização dessa análise, ela
ocorre por iniciativa dos próprios projetistas e não por iniciativa da empresa.

Além disso, na maioria dos fluxos de projeto fica claro que o desenvolvimento
dos anteprojetos para as disciplinas de estruturas e instalações ocorre somente
após a aprovação do projeto na prefeitura. Portanto, muitas definições

264
assumidas no anteprojeto de arquitetura não poderão ser modificadas,
diminuindo-se, de certa forma, o potencial de racionalização.

Esse modelo de desenvolvimento de projeto mostra, ainda, que os denominados


projetos para produção (projetos de alvenaria, da laje racionalizada, de
esquadrias e de impermeabilização), nos casos em que são elaborados, serão
iniciados somente após a compatibilização dos anteprojetos de estruturas e
instalações, quando da realização dos projetos executivos.

O projeto incorporando as novas tecnologias, desenvolvido em conjunto com o


projeto executivo, na maioria dos casos, não tem o mesmo potencial de
racionalização que teria se tivesse sido iniciado na fase de anteprojeto,
sobretudo para aqueles subsistemas que têm grande interferência com os
demais, como é o caso das alvenarias e revestimentos de piso, por exemplo.

Portanto, ainda que as incorporadoras e construtoras estejam numa situação um


pouco mais favorável do que as empresas que recebem os projetos executivos
prontos, as suas vantagens atuais não são muito maiores.

As empresas, de um modo geral, estão descontentes com o resultado atual do


processo de projeto. Ainda que algumas declarem que a relação do projeto com
a produção tenha evoluído, declaram também que essa relação ainda não
atende à produção, sobretudo no que se refere aos projetos de arquitetura,
estruturas e instalações.

A análise de diversos depoimentos deixa claro que o processo de projeto está


aquém das expectativas das empresas e que os projetos que melhor atendem à
produção são os projetos para produção, cujo desenvolvimento vem sendo
intensificado.

Entretanto, deve-se observar que o nível de detalhamento desses projetos para


produção é variável para cada empresa; portanto, atendem diferentemente às
exigências das obras.

As visitas realizadas aos canteiros de obras das empresas permitiram verificar


que a existência do projeto para produção, não implica, de maneira direta, em
uma produção racionalizada.

265
Como na maioria das vezes os projetos tradicionalmente realizados não
atendem à produção, permanece nos canteiros a cultura de que “o projeto não
funciona”. Por isso, encontram-se, ainda, muitas dificuldades para a utilização do
projeto para produção.

Às vezes as dificuldades têm origem no próprio projeto, como por exemplo a


dificuldade de leitura, a ausência de informações importantes, mas outras vezes
os problemas têm sua origem em outros setores da empresa como por exemplo
recursos humanos e suprimentos.

Uma das empresas tem realizado esforços para implantar duas ações que se
complementam, objetivando a melhoria do processo de projeto: uma delas
refere-se à criação de uma Banco de dados de Tecnologia; e a outra, à
qualificação de projetistas.

A criação de um Banco de Tecnologia tem como objetivo subsidiar a


orientação aos projetistas quanto ao sistema produtivo da empresa. A
qualificação dos projetistas, por sua vez, tem por objetivo encontrar parceiros
com interesses próximos aos da empresa, no sentido de fazer evoluir o processo
de projeto.

Além dos projetos tradicionalmente realizados para um empreendimento de


edifícios, na proposta dessa empresa, haverá a sistematização da elaboração de
outros projetos também importantes à execução, ou sejam, projetos de:
alvenaria, esquadrias e impermeabilização, os quais serão desenvolvidos por
projetistas especializados em cada um dos assuntos, externos à empresa.

Outras empresas também vêm procurando melhorar o seu processo de


desenvolvimento do projeto, por exemplo, contratando os projetistas de
arquitetura, estruturas, instalações, alvenaria, impermeabilização e esquadrias,
todos ao mesmo tempo, logo no início do empreendimento. Esses projetistas,
trabalhando comumente sob a coordenação do diretor técnico da empresa, vêm
tentando aproximar os seus projetos das necessidades da equipe de produção.

Observa-se, porém, que nessas empresas a figura do diretor técnico é


fundamental para o processo de implantação de novas tecnologias. Sem a sua
presença e atuação, poucas ações são realizadas. Há, portanto, uma sobrecarga

266
que precisa ser distribuída, o que somente será possível à medida em que a
empresa adotar uma adequada metodologia para a implantação das novas
tecnologias.

O processo de desenvolvimento e utilização do projeto incorporando as novas


tecnologias é ainda uma grande novidade para a indústria da Construção, a qual
deverá aprender a utilizá-lo como um importante instrumento de racionalização,
em conjunto com as demais diretrizes estabelecidas pela metodologia proposta
por este trabalho.

De maneira geral, observou-se que as empresas estão começando a enxergar a


necessidade de alterar o seu atual processo de projeto; por isso, a importância
da diretriz fundamental estabelecida por BARROS; SABBATINI [1996], na qual
se propõe um modelo para esse desenvolvimento, o qual poderá vir a ser
adotado por qualquer empresa construtora e adaptado às suas características.

5.4 A organização da documentação

Uma parte expressiva das empresas pesquisadas está desenvolvendo os


denominados procedimentos para produção, tanto os de execução, quanto os de
controle, sendo que estes últimos são geralmente denominados de
procedimentos de inspeção.

A maioria das empresas declaram que possui procedimentos de produção para


os principais serviços da obra. Ou seja, de uma maneira ou de outra, as
empresas têm a documentação, que em princípio, deveria retratar o seu sistema
de produção para cada atividade. Entretanto, o que se tem identificado é uma
distância muito grande entre a existência e a prática do procedimento.

A existência dos procedimentos de produção somente é justificada pelo seu uso.


A produção de papéis a serem arquivados pelos gerentes das obras, não deveria
ser uma prática corrente das empresas. Por isso, a documentação a ser
produzida precisa ser de fácil leitura e compreensão para os que participam do
canteiro, a fim de que seja realmente utilizada.

Analisando-se os procedimentos que têm sido desenvolvidos pelas empresas,


percebe-se a busca por formas de comunicação mais adequadas. Algumas
empresas, ao elaborarem seus procedimentos, têm explorado mais os recursos

267
visuais, tais como, as figuras que ilustram as etapas de execução. Entretanto,
grande parte dos procedimentos é ainda muito discursiva, não servindo à maioria
da mão-de-obra que deveria ter acesso aos mesmos.

Uma alternativa encontrada por uma das empresas foi a produção de um “gibi”
para definir o procedimento de execução das alvenarias de vedação. Trata-se,
porém, de uma iniciativa isolada. Apenas um serviço encontra-se na forma de
“gibi” e apenas uma das empresas o possui.

Algumas das empresas têm utilizado os procedimentos como uma importante


fonte de informação tanto para os atuais funcionários, quanto para os novos.
Servem como uma memória da empresa, sendo que os procedimentos são
utilizados, quase sempre, como parte do material de treinamento.

Para que haja a melhoria contínua e a diminuição da variabilidade do processo,


a empresa deve estabelecer o seu “sistema de produção” o qual deverá ser
constantemente avaliado e renovado, acompanhando o desenvolvimento
tecnológico da sociedade, assim como, o desenvolvimento tecnológico,
organizacional e gerencial da empresa.

A criação da “memória tecnológica” da empresa é a base para que ocorra a


evolução de seu processo de produção. E a elaboração dos procedimentos para
produção possibilitam criá-la.

Cabe destacar, no entanto, que a formalização dos procedimentos de produção


e do Banco de Tecnologia não implica na implantação da tecnologia na empresa
e, nem mesmo, na sua evolução técnico-organizacional. As novas tecnologias
serão efetivamente implantadas, quando elas forem incorporadas à produção.
Para isso, a demais diretrizes, devem conduzir as ações estratégicas, visando o
repasse da tecnologia aos demais envolvidos no processo de implantação.

5.5 O desenvolvimento dos recursos humanos

A diretriz fundamental de desenvolvimento dos recursos humanos, estabelecida


pela metodologia proposta, de certa maneira vem sendo observada pelas
empresas construtoras pesquisadas, ora com maior, ora com menor intensidade.

A política de gestão dos recursos humanos não é homogênea entre as


empresas; em algumas, a organização dos recursos humanos, os programas de

268
incentivos, a capacitação tecnológica encontram-se mais consolidados que em
outras.

Não obstante a essa heterogeneidade, todas elas têm reconhecido a importância


de se realizar investimentos em recursos humanos, em todos os níveis
hierárquicos, a fim de que possam realizar as mudanças tecnológicas,
organizacionais e gerenciais, imprescindíveis ao incremento de sua competência
empresarial.

A apresentação e discussão das ações que essas empresas vêm adotando no


tratamento dos recursos humanos e do seu reflexo na produção procuram
demonstrar a validade da diretriz fundamental estabelecida pela metodologia e
também proporcionar caminhos para que outras empresas também possam
enfrentar esse desafio.

5.5.1 Os mecanismos de contratação

Os mecanismos de contratação dos recursos humanos têm sido distintos em


função das características organizacionais de cada empresa. Identificou-se que,
de maneira geral, o funcionário denominado “administrativo” é contratado pela
própria empresa.

Esses funcionários trabalham no escritório, sendo responsáveis pela contratação


e pagamento de pessoal, orçamentos, suprimentos e também trabalham
diretamente ligados às obras, ou sejam, engenheiro, mestre de obras,
almoxarife, apontador e às vezes, alguns encarregados.

No caso da mão-de-obra de produção, há diferentes mecanismos de


contratação, sendo identificadas como principais formas a contratação de:

• subempreiteiras para fornecimento de mão-de-obra;

• empresas especializadas em determinados serviços;

• mão-de-obra diretamente pela construtora; e

• empresas de mão-de-obra, ligadas exclusivamente às empresas construtoras.

Os dois primeiros mecanismos de contratação, ainda que muito semelhantes,


apresentam algumas diferenças, às vezes, significativas.

269
No primeiro caso, a empresa construtora contrata a subempreiteira para o
fornecimento de mão-de-obra para serviços diversos. É o que costumam
denominar “subempreiteiras de serviço civil”, as quais comumente atuam nas
atividades de produção da estrutura, da alvenaria e de revestimentos
(argamassados e cerâmicos, tanto interiores como exteriores ao edifício).

O segundo caso, contratação de empresas especializadas, envolve o contrato


com prestadoras de serviços específicos, como por exemplo: o de produção da
laje nivelada e acabada e a produção de revestimentos de gesso, cuja
contratação, na maioria das vezes, envolve até mesmo os materiais.

Essas duas formas de contratação envolvem uma forte relação com os


fornecedores, sendo distintas das duas situações seguintes em que, de alguma
maneira a mão-de-obra é contratada pela própria construtora.

Na realidade, a contratação através de uma empresa de mão-de-obra ligada à


construtora, trata-se apenas de uma adequação à legislação fiscal. A construtora
cria uma empresa fornecedora de mão-de-obra distinta, a fim de separar as
questões trabalhistas e fiscais. De qualquer maneira, os operários são tratados
como sendo da própria empresa construtora, recebendo todos os benefícios de
um funcionário.

A contratação de mão-de-obra através de subempreiteiras de serviço civil é um


mecanismo que, apesar de ser muito empregado, vem sendo substituído, aos
poucos pois, segundo alguns depoimentos de empresários, a prática de
contratar subempreiteiras não combina com a nova filosofia de trabalho, cujos
objetivos são o desenvolvimento tecnológico e o ganho de qualidade e de
produtividade.

Um dos diretores, cuja empresa trabalha com mão-de-obra própria afirma: “o


empreiteiro tem duas formas básicas de conseguir realizar um serviço por preço
inferior ao que a própria construtora pode fazer: aumentar a produtividade de
seus operários ou burlar a legislação”. A segunda alternativa, segundo eles,
compromete a construtora, o que não interessa. E, quanto à primeira, não
acreditam que o empreiteiro o faça; pois, de um modo geral, ele não investe em
treinamento e na busca de novas tecnologias.

270
Como todas essas empresas estão empenhadas em procurarem melhores
formas de produção, as maioria delas está desenvolvendo mecanismos de
parceria, junto aos seus subempreiteiros.

Na medida em que estão criando os seus procedimentos de produção, algumas


das empresas têm realizado concorrências técnicas entre os subempreiteiros,
definindo da maneira mais completa possível, o tipo de serviço que os mesmos
deverão prestar e como esses serviços serão recebidos.

Para um dos diretores técnicos entrevistado, a diretriz que tem norteado o seu
trabalho é: “trabalhar com poucas subempreiteiras dispostas a melhorar a sua
forma de atuação, dando-se preferência àquelas que prestem serviços a outras
empresas construtoras que também estejam procurando a melhoria dos
processos de produção”.

A segunda forma de contratação, anteriormente destacada, é praticada por todas


as empresas construtoras, independentemente de terem mão-de-obra própria ou
não, ou seja, sempre que possível, as construtoras dão preferência à
contratação de empresas especializadas na prestação de serviços.

Esse tipo de contratação ocorre, por exemplo, ao contratarem empresas que


fornecem: o sistema tipo “fôrma pronta”, com a garantia de assistência na obra; a
armadura cortada e dobrada; o preparo para execução da laje nivelada e
acabada e o seu acabamento final; a aplicação do revestimento de gesso; a
aplicação da impermeabilização, entre outros.

Apesar de serem empresas que prestam serviços específicos, o relacionamento


empresa-construtora tem a mesma complexidade que a primeira forma de
contratação, exigindo o preparo de ambas para que se possa estabelecer uma
verdadeira relação de parceria.

As ações das empresas quanto aos investimentos em capacitação e motivação


das pessoas envolvidas acabam diferindo em função do próprio tipo de
contratação, sendo importante a sua apresentação e discussão.

5.5.2 Capacitação tecnológica e organização das equipes de trabalho

A capacitação tecnológica dos recursos humanos tem sido diferenciada entre as


empresas e internamente à empresa. Por isso, os resultados obtidos da

271
pesquisa serão apresentados em função dessa posição, considerando-se os
profissionais de nível superior e médio, os mestres e encarregados e os
operários da produção.

a) profissionais de nível superior e médio


Praticamente todas as empresas pesquisadas estão investindo na capacitação
tecnológica de profissionais de nível superior e de nível médio (técnicos). Esse
investimento tem se dado principalmente através de cursos de capacitação
tecnológica e organizacional com temas que envolvem a maioria dos serviços
relativos à produção do edifício. As reuniões técnicas feitas na própria empresa é
outra forma empregada. Nenhuma dessas empresas, porém, estabeleceu
uma atividade sistematizada de transmissão do conhecimento adquirido,
aos demais níveis hierárquicos.

É importante que se destaque que a maioria das empresas atribuem a esse


patamar hierárquico, o maior nível de rejeição às ações voltadas à evolução do
processo de produção, como bem demonstra o depoimento seguinte:

“quanto maior o grau de instrução, maior é a rejeição pela novidade (...) tem-se
tentado mudar o perfil do profissional disponível no mercado: o ‘engenheiro
tocador de obra’. Busca-se formar o gerente da obra, capaz de fazer a gestão do
empreendimento sob todos os aspectos: econômico-financeiro e técnico (...)”.

Os resultados da pesquisa deixam claro que as empresas estão conscientes de


que o caminho a ser percorrido é o da capacitação tecnológica de seus gerentes
e profissionais; entretanto, os investimentos na sua formação ainda são
reduzidos.

De modo geral, as ações das empresas, nesse campo, não têm sido balizadas
por uma adequada metodologia, o que pode dispersar os investimentos.
Acredita-se que à medida em que os programas de capacitação fizerem parte do
plano de ação das organizações, o retorno dos investimentos realizados poderão
estar expressos nos resultados obtidos nas obras.

b) mestres e encarregados
A capacitação dos mestres de obras e dos encarregados, na maioria das em-
presas, infelizmente, tem sido deixada para um plano secundário. O contato dos
mestres e encarregados com as novas tecnologias tem ocorrido somente no

272
momento em que as atividades estão sendo realizadas nas obras, conduzidas
pela equipe de engenharia. Dessa forma, os mestres e encarregados acabam
sendo apenas espectadores do processo de implantação. E, muitas vezes, por
não terem participado ativamente, rejeitam a nova tecnologia, dificultando a sua
efetivação.

A posição das empresas com relação ao papel dos mestres e encarregados no


processo de implantação de novas tecnologias não tem sido homogênea.

Há empresa em que a postura é clara, enxergam o mestre como sendo um


elemento fundamental na organização da produção, uma vez que, segundo os
diretores dessas empresas, "o engenheiro não tem capacidade e conhecimento
tecnológico suficientes”. Ou seja, o mestre e os seus encarregados são os que
conduzem a produção. Eles são o elemento chave do processo. Nessas
empresas, os investimentos têm sido voltados para ambos, através, por
exemplo, de cursos oferecidos pelo SENAI.

Por outro lado, há empresas que apresentam dificuldades no relacionamento


com os seus mestres ao passarem as novas tecnologias ao canteiro de obras e,
por isso, procuram novas alternativas, como por exemplo a substituição do
“antigo” mestre de obras por um técnico em edificações, mais aberto às novas
inovações tecnológicas e organizacionais ou ainda, a formação de células de
trabalho comandadas por um encarregado de equipe que se dirige apenas ao
gerente da obra.

No que se refere à capacitação desse nível hierárquico, a pesquisa mostrou


claramente que para haver uma evolução no processo de produção do edifício,
certamente, será preciso estabelecer uma “revolução” das formas de
organização e de gestão da mão-de-obra no canteiro. O perfil atual dos mestres
de obras deve ser mudado. E, também, a competência dos encarregados
precisa ser ampliada.

Assim como nos demais setores industriais existe um responsável pela


produção, devidamente formado e capacitado para atuar e gerenciar
racionalmente os processos, também na indústria de construção de edifícios
deverá existir essa pessoa. Para isso, em sendo mantida a atual estrutura em
que o mestre de obras ou os encarregados devem assumir esse papel, o

273
treinamento e a reciclagem dos seus conhecimentos e a sua motivação para
empreenderem novos desafios, tornam-se fundamentais quanto ao
desenvolvimento dos recursos humanos.

Uma outra alternativa seria a substituição gradativa desses profissionais por


técnicos de nível médio ou mesmo engenheiros voltados à produção, os
quais, também deverão ser devidamente formados para fazer o gerenciamento
do canteiro de obras de maneira a otimizar todos os recursos envolvidos.

c) mão-de-obra de produção
Em todas as entrevistas realizadas com as empresas, o treinamento da mão-de-
obra aparece como um importante elemento do processo de introdução de novas
tecnologias. Apesar dessa constatação, nenhuma das empresas pesquisadas
tem um programa de treinamento voltado aos seus operários.

Em função das diferentes formas de contratação da mão-de-obra de produção,


os investimentos na sua capacitação tem ocorrido de distintas maneiras.

As empresas que costumam trabalhar com mão-de-obra de subempreiteiros


ainda não conseguiram fazer com que esses realizassem os investimentos para
o treinamento de seu pessoal e, na maioria dos casos, as próprias construtoras
estão viabilizando meios para que os operários sejam treinados em suas obras.

No caso das empresas que trabalham com mão-de-obra própria, há algumas


que estão organizando “equipes polivalentes”, isto é, com capacidade de
atuarem na realização de diversas frentes de trabalho, tais como, na execução
de estruturas, alvenarias e revestimentos argamassados. De modo geral, as
equipes polivalentes funcionam como “célula de disseminação” da tecnologia,
para a formação de mão-de-obra menos qualificada.

É unânime, entre as empresas, a necessidade de um treinamento adequado à


mão-de-obra de produção para que se possa alterar o atual patamar tecnológico.
No entanto, apesar disso, o mecanismo mais empregado pelas empresas, para o
treinamento da mão-de-obra, é a realização das atividades no próprio canteiro
de obras, através de um operário que conheça bem a atividade a ser executada.
Para isso, as empresas fornecedoras de materiais e equipamentos têm
contribuído de alguma maneira, pois as empresas construtoras têm utilizado os
fornecedores de materiais e componentes para realizarem a maioria dos

274
treinamentos em canteiro. Esse tipo de treinamento, porém, nem sempre se
mostra eficiente. Muitas vezes, assim que o fornecedor sai do canteiro, a mão-
de-obra volta à prática anterior, pois de modo geral não há um processo de
fixação da nova tecnologia.

Por outro lado, as empresas também são unânimes em afirmar que não há
rejeição por parte da mão-de-obra de produção em aprender as novas técnicas e
que não há treinamento sem motivação das pessoas. Por isso, a maioria delas
tem procurado a motivação de seus recursos humanos, empregando diferentes
alternativas.

5.5.3 Programas de motivação dos recursos humanos

As formas de motivação usadas pelas empresas construtoras têm sido muito


distintas de uma para outra, variando também com os níveis hierárquicos.

Em algumas empresas foram identificados programas voltados à equipe


administrativa da empresa, envolvendo desde a gerência até os encarregados, e
programas voltados à mão-de-obra de produção.

Quando existentes, os programas destinados à equipe administrativa


concentram-se na distribuição de resultados, sob a forma de prêmios; enquanto
os destinados à mão-de-obra de produção focam mais a melhoria das condições
de trabalho nos canteiros de obras.

Durante a realização da pesquisa identificou-se que algumas empresas, ao


introduzirem o processo de mudança tecnológica, passaram a ter uma posição
de cobrança de melhores resultados, sem se preocuparem com alguma forma de
recompensa pelos resultados positivos alcançados.

Apenas quatro empresas declararam ter algum programa de motivação voltado à


equipe administrativa. As demais não chegaram a formalizar um programa de
motivação, até o término da pesquisa realizada.

Essa motivação, de modo geral, está condicionada ao alcance de uma


determinada meta, contra um prêmio a ser recebido, comumente em dinheiro.

A motivação da mão-de-obra de produção objetiva sobretudo a diminuição da


rotatividade e o aumento de produtividade na realização dos serviços. Dessa

275
forma, as empresas que trabalham com mão-de-obra de subempreiteiras pouco
têm feito com relação à motivação, justificando que a contratação dos serviços
ocorre por preço fechado.

Os maiores investimentos quanto à motivação da mão-de-obra de produção têm


sido praticados pelas empresas que possuem mão-de-obra própria. Em uma das
empresas, por exemplo, ao tentar aplicar novas tecnologias, verificou-se que os
operários não se interessavam pelo treinamento. Sentiu uma completa
desmotivação que, segundo o diretor técnico, não tinha correspondência com o
ganho salarial, o qual se encontrava acima da média de mercado.

Para reverter esse processo, a empresa vem investindo em outras formas de


motivação, como por exemplo a criação da escola no canteiro e de um programa
de atendimento médico a cada 15 dias. Além disso, criou em cada obra um
“grupo de elite”, constituído por vinte pessoas. Para integrar esse grupo, o
operário deve ter mais de dois anos de trabalho na empresa; deve usar uniforme
regularmente; estar constantemente com boa aparência (cabelos e barba
aparados); ser produtivo e assíduo. Os funcionários desse grupo ganham 25% a
mais no salário e a cada ano que integram o grupo, ganham um salário a mais
como recompensa.

Segundo a empresa, não é o maior salário que motiva os funcionários a


quererem participar desse grupo, mas o “status” que advém dessa participação.
Além disso, afirma também que esses programas de motivação têm contribuído,
de modo expressivo, para a diminuição da rotatividade dos operários na
empresa.

Uma outra empresa tem optado pela melhoria das condições de trabalho e de
segurança nos canteiros de obras, não importando se a mão-de-obra é própria
ou de terceiros. Esse trabalho tem envolvido o treinamento do pessoal quanto à
segurança e estímulo ao uso de equipamentos de proteção. Envolve, também,
investimentos na infra-estrutura do canteiro de obras, objetivando melhores
condições de trabalho. Nesse sentido, foram melhoradas as condições de
alojamento, alimentação, vestuário, lazer e educação.

Segundo o diretor técnico da empresa, os investimentos que têm sido realizados


estão trazendo retornos positivos, podendo-se verificar uma queda expressiva na

276
rotatividade dos operários, o que é uma condição imprescindível no processo de
implantação das novas tecnologias, pois na medida em que são feitos
investimentos na capacitação e no treinamento dos operários, é preciso que os
mesmos não abandonem a empresa num momento seguinte.

Por isso, os programas de incentivo à mão-de-obra de produção que procuram


resgatar a dignidade dos operários e fornecer-lhes melhores condições de
trabalho nos canteiros de obras constituem-se em pontos fundamentais para o
sucesso da implantação de novas tecnologias, o que confirma a necessidade da
diretriz voltada ao desenvolvimento dos recursos humanos defendida na
metodologia.

5.6 A organização do setor de suprimentos

Segundo os depoimentos das empresas, o setor de suprimentos sempre foi


afetado pela introdução das novas tecnologias, na medida em que é o
responsável pela aquisição de materiais, componentes e equipamentos
empregados nas obras.

Dessa forma, juntamente com a elaboração dos procedimentos de execução, as


empresas vêm desenvolvendo procedimentos para solicitação e recebimento de
materiais e componentes, em acordado com o departamento de suprimentos.

Na maioria dos casos as empresas são categóricas em afirmar que o setor de


suprimentos deve adquirir os materiais e componentes especificados pelas
obras. Nesse sentido, estaria apto a participar do processo de implantação de
novas tecnologias, desde que as especificações estejam claras e os pedidos
sejam solicitados dentro dos prazos estabelecidos por esse setor.

De fato, essa orientação foi observada na maioria das empresas pesquisadas. A


organização interna do departamento de suprimentos de cada empresa parece
não ser difícil de se realizar. De modo geral tratam-se de pequenas equipes,
que, se bem orientadas e formadas, têm condições de fazer as compras
estabelecidas pelas obras, de maneira técnica.

O setor de suprimentos, na maioria das empresas, desenvolve suas atividades


segundo as orientações expressas da alta administração. Se o objetivo é
“comprar por preço”, o setor trabalha segundo essa diretriz. Se o objetivo é

277
realizar a compra técnica, desde que lhe sejam estabelecidos os parâmetros
adequados, a compra técnica será realizada.

Entretanto, mesmo com a declarada organização da equipe de suprimentos,


diversos problemas foram detectados nas obras, decorrentes da inadequação
dos materiais e componentes que chegavam ao canteiro.

Apenas para ilustrar citam-se algumas situações relacionadas às alvenarias de


vedação, cujos principais problemas identificados foram:

• atrasos na entrega de argamassas industrializadas para o assentamento;

• troca da argamassa de assentamento pela empresa fornecedora;

• atrasos na entrega dos componentes de alvenaria (blocos);

• elevada variação dimensional dos componentes de alvenaria entregues por


um mesmo fornecedor;

• mudança de fornecedores de componentes (em uma das obras foram


identificados três fornecedores distintos de blocos cerâmicos).

Os problemas anteriormente apresentados, num primeiro momento parecem não


ser de responsabilidade da equipe de suprimentos, nem tampouco da
construtora, pois foram os fornecedores que atrasaram a entrega, eles que
trocaram o material entregue, eles entregaram um componente fora dos padrões
dimensionais. No entanto, a empresa sujeitou-se a receber o material atrasado,
o material trocado e o material fora dos padrões dimensionais. Quanto à
mudança de fornecedores, ela não se faz sem a consciência expressa da
empresa. Se fornecedores distintos entregam componentes de alvenaria na obra
é porque a empresa, representada pelo seu departamento de suprimentos,
efetuou a compra.

Se todos esses “desencontros” ocorrem, é evidente que existe algum problema.


E, esse problema, não está presente somente no mercado. Não é de
responsabilidade exclusiva do fornecedor. Há, também, uma parcela de
responsabilidade da empresa. Portanto, para que o processo de produção de
edifícios possa realmente evoluir, esses problemas precisam ser solucionados
pela empresa em conjunto com seus fornecedores.

278
O mercado de materiais e componentes para a construção, durante muito tempo,
acostumou-se a “fazer o que bem entendia”, “a entregar o que quisesse e
quando quisesse”. Esse processo precisa ser revertido. E, somente o será
quando as empresas começarem a impor a sua diretriz de como comprar e como
receber tecnicamente.

A definição de uma política de aquisição e recebimento de suprimentos para as


obras de edifícios não é algo fácil de se estabelecer, sobretudo pelo número de
variáveis que interferem nesse processo e principalmente porque interage
fortemente com o mercado.

Portanto, para que possa haver evolução nessa relação, é necessário que as
empresas construtoras definam, em parceria com os fornecedores, os
procedimentos de aquisição e recebimento, para que não haja não-
conformidades durante o recebimento.

Alguns procedimentos de aquisição e compra de suprimentos com essa ‘filosofia’


estão sendo empregados por algumas das empresas pesquisadas. Segundo os
procedimentos dessas empresas, inicialmente o fornecedor deve ser visitado
pela equipe de suprimentos a fim de se avaliar o seu potencial de fornecimento,
bem como, as características de seu produto. Além disso, o contrato a ser
estabelecido com os fornecedores prevê sanções gradativas, conforme o
produto entregue não esteja em conformidade com os parâmetros estabelecidos.
Ocorrendo uma primeira não conformidade, mas que esteja dentro de certas
tolerâncias, também estabelecidas, o material ou componente pode ser
“recebido com restrições”. Nesse caso, a empresa fornecedora será comunicada
que a nova remessa deverá estar dentro dos padrões definidos ou a empresa
será eliminada do conjunto de fornecedores.

Essa postura não é fácil de ser mantida, sobretudo nos casos em que se tem um
número reduzido de fornecedores e pouca flexibilidade no planejamento da obra.
No entanto, pelo que foi anteriormente apresentado e analisado, fica clara a
importância de se ter um setor de suprimentos voltado à produção.

Se as empresas não passarem a atuar de maneira técnica ao adquirirem e


receberem os seus materiais e componentes, o departamento de suprimentos
poderá estar com todas as suas rotinas administrativas em dia, mas as obras

279
poderão continuar desprezando os projetos e fazendo adaptações, pois os
materiais e componentes entregues e aceitos estão fora dos parâmetros de
produção.

5.7 A implantação de um sistema de controle

De todas as diretrizes fundamentais estabelecidas pela metodologia de


implantação proposta, pode-se dizer que esta é a de mais difícil concretização
no interior das organizações.

A falta de uma cultura empresarial voltada ao controle dos processos de


produção na indústria da Construção de Edifícios que ainda prevalece, ficou
claramente demonstrada na pesquisa, pois pôde-se perceber que todas as
empresas dizem possuir algum mecanismo de controle; entretanto, esses
mecanismos nem sempre estão formalizados e, além disso, quando há
mecanismos formalizados, não são utilizados durante a execução das obras.

O mecanismo não formalizado refere-se ao controle costumeiro realizado nas


obras, pelo mestre de obras ou mesmo pelos encarregados de serviço. Nesse
caso, quando as empresas foram questionadas sobre os parâmetros
empregados por esses profissionais para a realização do controle, responderam:
“o bom senso e a sua experiência”.

Esse tipo de controle informal não oferece, à direção da empresa, nenhum


mecanismo de domínio do processo de produção. Entretanto, muitas empresas
parecem acreditar que esse domínio deve existir. Por isso, algumas têm se
empenhado na criação dos mecanismos de controle.

No decorrer da pesquisa foi possível identificar três ações distintas voltadas ao


controle de execução, ainda que não inseridas numa visão sistêmica do
processo de produção do edifício.

Um dos modelos de controle identificados está inserido no conjunto de ações


previstas para a implantação de programas de gestão da qualidade nas
empresas. O segundo modelo é específico para o controle da montagem de
fôrmas da estrutura do edifício; enquanto o último vem sendo desenvolvido por
duas empresas, em particular, fruto do programa de implantação da
racionalização na produção de alvenarias.

280
O controle dos processos, previsto nos programas de Gestão da Qualidade, faz
parte de um conjunto de medidas que visam à padronização e documentação
dos processos de produção. Ou seja, os processos devem ser padronizados e
deve haver um controle para verificar se o padrão está sendo atendido.

Esse controle tem sido denominado de “inspeção de serviços”, ao qual


corresponde um procedimento de inspeção e uma ficha de verificação.

No procedimento de inspeção estão descritos os itens a serem verificados, a


metodologia e o critério de avaliação; enquanto a ficha de verificação é utilizada
para se efetuar o controle no momento da execução, existindo campos a serem
preenchidos conforme o serviço tenha sido aprovado ou rejeitado.

Sete empresas do grupo pesquisado possuem esse tipo de documentação para


alguns serviços, com diferentes graus de desenvolvimento.

É evidente que os “procedimentos de inspeção de serviços” significam um


avanço para o processo informal de controle; entretanto, o que se verificou é que
ao se propor tais procedimentos, criam-se apenas mais algumas planilhas a
serem preenchidas na obra, cujo objetivo não fica claramente definido.

Na maioria dos casos, não se sabe o que fazer com os resultados do controle.
Por exemplo, quando a tolerância estabelecida pelos procedimentos é
ultrapassada (casos de não conformidade), o que deverá ocorrer? E ainda, quem
realiza o controle? Qual a amostragem para cada atividade? Como as
informações do controle realimentarão a continuidade do processo de produção?

Os principais elementos que devem estar presentes num sistema de controle


não estão claramente definidos nesse modelo. Dessa forma, ainda que os
procedimentos existam, não têm sido utilizados pelos gerentes das obras.

O modelo que visa exclusivamente o controle da montagem das fôrmas foi


desenvolvido por um projetista de fôrmas e inserido no próprio projeto de
montagem. Nesse modelo, para cada um dos pavimentos, existe uma prancha
do projeto de montagem na qual estão identificados os principais elementos do
sistema de fôrmas e a sua respectiva medida de locação. Junto dessa medida
existe um espaço que deverá ser preenchido com as medições realizadas
durante a montagem. O confronto da medida realizada com a que consta no

281
projeto, bem como, com a tolerância estabelecida, permite identificar de imediato
possíveis falhas de locação, as quais deverão ser corrigidas previamente à
liberação da fôrma para a concretagem.

Esse modelo, ainda que de pequena complexidade, não tem sido facilmente
incorporado pelas obras; entretanto, quem o vem utilizando é enfático ao afirmar
que foram significativos os ganhos com relação à precisão dimensional da
estrutura após a implantação do sistema de controle.

Além dos modelos de controle citados, pôde-se identificar também que algumas
empresas possuem, para o serviço de execução de alvenarias de vedação, um
procedimento de controle que contém grande parte dos elementos propostos nas
diretrizes estabelecidas pela metodologia, quais sejam:

• definição das instâncias de controle;


• definição dos responsáveis, em cada uma das instâncias;
• estabelecimento da freqüência de controle em cada uma das instâncias;
• determinação dos objetos de controle para cada estágio;
• definição das metas a serem atingidas;
• determinação de diretrizes balizadoras para as tomadas de decisão; e
• definição de um mecanismo de comunicação, através da elaboração de
diversos tipos de relatórios contendo as principais informações advindas do
controle.

Por ocasião da realização da pesquisa esse modelo encontrava-se em fase de


experimentação em obras de duas empresas.

Muito embora a maioria da empresas reconheçam a importância de se ter


formas de controle do processo de produção, a pesquisa realizada permitiu
identificar que nenhuma delas conseguiu estabelecer uma sistemática que
possibilitasse à direção ter o domínio global do processo de produção dos
edifícios. Ou seja, as empresas que vêm procurando implantar novas tecnologias
nos canteiros de obras, praticamente, não têm mecanismos formalizados que
lhes permitam ter o retorno de suas ações.

Se não há controle, como saber se os projetos desenvolvidos estão sendo


realmente utilizados durante a produção?; como identificar quais são os
problemas causados por indefinições nos projetos; como saber qual foi a

282
eficiência do treinamento?; como identificar os elementos que podem ser
melhorados em empreendimentos futuros?

Alguns dos diretores técnicos das empresas, para justificar a ausência de uma
estrutura organizacional voltada ao controle dos processos afirmam: “minha
empresa é pequena, estou sempre na obra verificando o que está ocorrendo.
Faço reuniões periódicas com meus engenheiros e gerentes para ter o retorno
dos principais acontecimentos da obra”. Entretanto, ao serem questionados: “e
se o número de obras aumentar, o que acontece?” A resposta é única: “perco o
domínio do processo; não daria tempo de acompanhar de perto”.

Por essas colocações, procurou-se deixar claro a importância dos mecanismos


de controle na indústria da Construção Civil, assim como são importantes para
qualquer outro setor industrial. Não haverá evolução no processo de produção
de edifícios se as empresas não souberem onde estão errando e onde precisam
melhorar. E elas somente terão esse retorno, a partir do momento em que
conhecerem a sua produção, controlando-a, por mais simples que sejam os seus
processos.

É preciso que se estabeleçam meios formais de retorno de informações da obra


em execução, para um projeto futuro, o que não vem acontecendo, como
demonstram alguns depoimentos:

“o retorno não acontece. Estamos montando uma estrutura para isso”;

“o retorno das dificuldades existe informalmente. Acontece de forma verbal. O


engenheiro transmite ao coordenador dos projetos as dificuldades encontradas
na execução dos serviços”.

Observa-se que, na maioria das vezes, as trocas de informações ocorrem em


reuniões técnicas, quando existem, cuja maioria ocorre sem a participação de
mestres e encarregados; portanto, nesses casos, as informações passadas são
apenas aquelas que originaram maiores problemas na obra e que, de alguma
forma, chegaram até os engenheiros responsáveis.

Não existe sistematização de dados, não existem registros formais, não existe
análise das experiências vividas. O conhecimento adquirido fica registrado para
algumas pessoas que participaram do processo de produção e, na maioria das

283
vezes, não têm mecanismos formais para que possam transmitir e sedimentar
esse aprendizado.

Tudo isso vem demonstrar ainda mais a necessidade do estabelecimento de


mecanismos formais de controle, como os estabelecidos pela metodologia.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelas colocações anteriores fica claro que não há uma estagnação do setor de
Construção de Edifícios, como muitos autores insistem em afirmar. As empresas
são dinâmicas e estão procurando novas formas de produção que lhes permitam
alcançar maior competitividade no mercado presente.

A introdução de novas tecnologias nos canteiros apresenta-se como um enorme


desafio e como uma forte tendência para o setor. Muitas “novidades”
tecnológicas foram identificadas ao longo da pesquisa. Já não se constrói mais
como há dez ou vinte anos atrás. Apesar disso, a introdução de melhorias nos
canteiros de obras não é sistêmica.

São poucas as empresas que estão conseguindo encarar o desafio de entender


o processo de produção como um todo, de modo a alterar a sua organização
tradicional, o que tem dificultado a mudança de postura e cultura organizacional.

Com isso, muitas ações que visam à racionalização, mas que são pontuais,
acabam por se perder no complexo processo de produção que envolve a
construção de cada novo edifício.

A falta de um mecanismo que possibilite às empresas a sistematização do


conhecimento adquirido e que favoreça o seu processo de aprendizado, somada
à análise anteriormente apresentada, certamente justificam a necessidade e a
importância do estabelecimento de uma metodologia de ação, como a que foi
proposta em BARROS [1996] e sintetizada em BARROS [1997].

284
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Normas de gestão da


qualidade e garantia da qualidade: diretrizes para seleção e uso - NBR ISO
9001. Rio de Janeiro, 1994.

BARROS, Mercia M. S. B. Metodologia para implantação de tecnologias


construtivas racionalizadas na produção de edifícios. São Paulo, 1996.
422p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

BARROS, M. M. S. B.; SABBATINI, F. H. Diretrizes para o processo de


projeto para a implantação de tecnologias construtivas racionalizadas
na produção de edifícios. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP -
BT/PCC/172, 1996, 24p.

BARROS, M. M. S. B. Gestão da qualidade e implantação de tecnologias


construtivas racionalizadas no processo de produção de edifícios. In.:
Workshop “Tendências relativas à gestão da qualidade na construção de
edifícios. São Paulo, 1997. Anais. São Paulo, EPUSP, 1997. p. 19-21.

DEMING, W. EDWARDS. Out of the crisis: quality, productivity and competitive


position. Cambridge, University Press, Massachusetts, 1986. 507p.

285
286
TRABALHOS DE
PESQUISAS EM
ANDAMENTO

287
288
DESENVOLVIMENTO DE UM MÉTODO CONSTRUTIVO PARA
VEDAÇÕES VERTICAIS DE EDIFÍCIOS CONSTITUÍDAS DE PAREDES
DE CONCRETO CELULAR ESPUMOSO COM FIBRA DE
POLIPROPILENO
M. Eng. Alberto Casado Lordsleem Jr.,
acljr@pcc.usp.br
Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini,
fhsabba@pcc.usp.br
1. INTRODUÇÃO

A tendência que vem predominando no mercado de construção de edifícios nos


últimos anos pode ser contextualizada, segundo BARROS (1996) e
SINDUSCON (1997), num cenário em que a competitividade do mercado
pressionam as empresas para a busca de estratégias de aumento da qualidade,
produtividade e de racionalização da produção de edifícios.

Verifica-se o interesse do mercado de construção, mesmo que incipiente, no


desenvolvimento de novas tecnologias que venham a suprir as deficiências
existentes e, dentro de um processo de evolução tecnológica, atender à
necessidade de um produto final com custos e qualidade compatíveis com a
realidade do país.

Considerando-se o atual estágio de busca de competitividade e excelência entre


as empresas que atuam nesse setor, a produção de vedações verticais é uma
das atividades que se apresenta carente de tecnologias adequadas.

Os métodos construtivos ainda utilizados na produção das vedações na grande


maioria das obras brasileiras empregam as mesmas técnicas construtivas do
passado, ou seja, alvenarias tradicionais, com elevado desperdício de mão-de-
obra, componentes e materiais.

SABBATINI (1989) considera que “incrementar a produtividade operacional e


evoluir tecnologicamente no setor de construção de edifícios são ações
intrinsecamente dependentes do desenvolvimento dos meios de produção, o que
vale dizer, da criação de novos métodos, processos e sistemas construtivos e do
aperfeiçoamento dos já existentes”.
2. OBJETIVO
A elaboração deste trabalho tem como objetivo principal desenvolver um método
construtivo de paredes de vedação de concreto celular espumoso com a adição
de fibra de polipropileno, moldadas no local, de modo sistêmico e com base
numa metodologia.
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho será adotada uma metodologia composta
pelas seguintes etapas:

• discussão dos conceitos básicos relativos: à inovação tecnológica; ao


desenvolvimento de técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos; à
qualidade; à produtividade e ao desempenho;

289
• discussão do processo de produção das paredes maciças e, em particular,
das paredes maciças moldadas no local;

• estudo do material empregado na produção da vedação vertical:


caracterização do concreto celular espumoso com a adição de fibra de
polipropileno, permitindo o conhecimento do seu comportamento,
principalmente frente às características de desempenho esperadas de uma
vedação vertical;

• proposição de um método construtivo de vedação vertical em concreto


celular espumoso com adição de fibra de polipropileno, baseado numa
metodologia apropriada que contemple: o levantamento de subsídios e
condicionantes necessários à proposição do novo método construtivo, estudo
do material empregado na produção da vedação vertical; estudo do
comportamento vedação/estrutura; concepção inicial do método construtivo
inovador; projeto de produção do edifício (ou de suas partes); projeto e
construção do protótipo; avaliação dos protótipos e do processo construtivo e
a consolidação da tecnologia;

• avaliação do método construtivo proposto, a partir da qual será possível


realimentar todo o processo de desenvolvimento tecnológico realizado.

4. CONCLUSÃO

Acredita-se, portanto, que o desenvolvimento do método construtivo, conduzido


de modo sistêmico e embasado por uma metodologia apropriada, contribuirá
para o avanço da tecnologia de produção das paredes de vedação de concreto
celular espumoso com a adição de fibra de polipropileno, permitindo ao meio
técnico dispor de soluções adequadas frente aos problemas encontrados e
viabilizando racionalmente todo o processo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, M.M.S.B. Metodologia para implantação de tecnologias


construtivas racionalizadas na produção de edifícios. São Paulo, 1996.
422p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
SABBATINI, F.H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas
construtivos: formulação e aplicação de uma metodologia. São Paulo, 1989.
321p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DE SÃO
PAULO. Sumário econômico: julho 1997. São Paulo, SINDUSCON, 1997.

290
TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE VEDAÇÃO VERTICAL INTERNA
COM CHAPAS DE GESSO ACARTONADO

Eng. Eliana Kimie Taniguti


eliana@pcc.usp.br
Profa. Dra. Mercia Maria Bottura de Barros
mercia@pcc.usp.br
1 INTRODUÇÃO

As chapas de gesso acartonado foram inventadas nos Estados Unidos, há


aproximadamente um século atrás. Inicialmente as chapas eram delgadas e
moldadas em fôrmas rasas, uma de cada vez, e tinham a finalidade de servir
como base para o acabamento final [HARDIE, 1995].

Desde então, as chapas passaram por vários processos de aperfeiçoamento, e


há aproximadamente 60 anos atrás, concebeu-se a idéia de cobri-las com papel,
sendo o início do desenvolvimento das modernas chapas de gesso acartonado.

Atualmente vários fabricantes produzem diversos tipos de chapas de gesso


acartonado (resistentes à umidade, resistente ao fogo, resistente ao impacto),
sendo comercializadas em várias partes do mundo [FERGUSON, 1996].

Em alguns países, o seu uso já incorporou-se na cultura da construção civil. Nos


Estados Unidos, por exemplo, consome-se 8,0m2 placa/habitante, sendo o maior
consumidor de gesso acartonado, seguido do Japão (4,6 m2/hab.), Suécia (3,8
m2/hab.), Irlanda (3,4 m2/hab.) e França (3,0m2/hab.). No Brasil, consome-se
muito pouco (0,012 m2/hab.), se comparado com os países anteriormente
citados. Porém fabricantes de chapas de gesso que se instalaram no país
acreditam que até o ano 2000 o consumo de seus produtos deve ter um
aumento de aproximadamente 6,5 vezes [CORBIOLI, 1996].

Esse aumento no consumo pode ser atribuído, entre outros fatores, ao potencial
de racionalização que essa tecnologia oferece, aliada à necessidade das
empresas construtoras em buscarem eficiência no processo de produção.

Porém, apesar da tendência de crescimento no uso do gesso acartonado como


vedação vertical, observa-se no canteiro que muitas decisões são realizadas de
forma improvisada e sem balizamento técnico. Além disso, sua inserção não tem
sido analisada conjuntamente com os demais subsistemas, e muitas dificuldades
têm surgido para realizar a integração entre as várias atividades envolvidas.

Tais fatos denotam e ressaltam a necessidade de um maior conhecimento


acerca da tecnologia de produção das divisórias de gesso acartonado. Acredita-
se que se o atual estágio de conhecimento técnico não evoluir, muitos problemas
poderão surgir num futuro não muito distante, comprometendo o relacionamento
fornecedor-cliente em todas as dimensões da produção de edifícios.

Nesse contexto é que realiza-se a pesquisa, inserida no programa de mestrado,


enfocando a tecnologia de produção de vedação vertical interna com o emprego
de chapas de gesso acartonado.

291
2 OBJETIVO

O objetivo primeiro da pesquisa consiste em sistematizar a tecnologia de


produção de vedação vertical em ambientes internos, com o uso de chapas de
gesso acartonado.

Para atingir esse objetivo, serão objetos do trabalho: requisitos e critérios de


desempenho das divisórias com chapas de gesso acartonado; projeto para
produção; treinamento da mão-de-obra; processo de execução, controle de
produção e patologias.

3 METODOLOGIA

Para a realização do trabalho, estão sendo realizados, além de pesquisas


bibliográficas, visitas aos fabricantes de chapas de gesso acartonado e obras
onde esse material é empregado como divisória interna, procurando-se abordar
os aspectos citados no item anterior.

4 CONCLUSÃO

As chapas de gesso acartonado como divisórias internas, que são bastante


empregadas em alguns países da Europa e América do Norte, vêm se
intensificando no Brasil.

Apesar dessa tecnologia de produção ser bastante difundida em alguns países,


há a necessidade de conhecer o uso e desempenho dos materiais e
componentes, para adequá-los às condições brasileiras pois, se mal utilizados,
podem trazer “prejuízos impensáveis para os usuários e para a evolução da
construção civil no Brasil” [SABBATINI, 1997].

De acordo com os trabalhos realizados até o momento, a utilização das chapas


de gesso acartonado como divisórias internas de edifícios torna-se viável e
oferece um grande potencial de racionalização, desde que completamente
inseridas no processo de produção, o que ainda carece de uma metodologia
específica de abordagem, a qual espera-se elaborar até o final da pesquisa.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CORBIOLI, Nanci. Crescimento Geométrico. Construção, n.2502, jan. 96, p.10.


FERGUSON, Myron R. Drywall: Professional Techniques for Walls & Ceilings.
United States of America, Tauton Books & Videos, 1996, 135p.
HARDIE, Glenn M. Building Construction: Principles, Practices, and Materials.
New York, Prentice-Hall, 1995, 551p.
SABBATINI, Fernando H. A atuação da Escola Politécnica no desenvolvimento e
na implantação de novas tecnologias contrutivas. In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL GESTÃO E TECNOLOGIA NA PRODUÇÃO DE
EDIFÍCIOS, São Paulo, 1997. Anais. São Paulo, EPUSP, 1997.

292
ENTENDENDO A PRODUTIVIDADE DA MÃO-DE-OBRA
NO SERVIÇO DE ALVENARIA

Eng. Fausto Carraro


carraro@pcc.usp.br
Prof. Dr. Ubiraci Espinelli Lemes de Souza
ubisouza@pcc.usp.br
RESUMO

A realização deste seminário, voltado especificamente para o assunto ‘Vedações


Verticais’ constitui-se, por si só, em um termômetro dos anseios da comunidade
técnica a respeito do tema. Se por um lado, as vantagens quanto aos custos dos
materiais, às características de desempenho e à produtividade na execução dos
serviços são alvo de disputa acirrada entre fornecedores de materiais e
sistemas, por outro os consumidores avidam-se por informações isentas que
lhes sirvam de instrumento para as tomadas de decisão entre um ou outro
sistema.
Buscando respostas para uma destas indagações, pesquisadores da EPUSP
vem coletando e analisando dados sobre a produtividade da mão-de-obra no
serviço de alvenaria.
Apresentam-se aqui alguns resultados de dados coletados em quatro obras.
Além disto, tece-se alguns comentários gerais sobre os resultados, sempre
balizados por uma mesma metodologia de coleta que se norteia nos princípios
preconizados pelo Modelo dos Fatores (1).
INTRODUÇÃO
A chegada ao mercado brasileiro dos métodos de produção das vedações
verticais com placas de gesso acartonado inflamou de vez um debate que já não
era pequeno entre fabricantes de diversos componentes de alvenaria, no que diz
respeito à conquista comercial deste filão de mercado. Cada produtor tem se
empenhado em convencer os construtores das vantagens que seus produtos
oferecem. Estas, basicamente, podem ser resumidas a: custo, desempenho e
produtividade.

Em relação à produtividade na execução das vedações verticais, as opiniões


certamente são muitas e o consenso, nulo. Isto deve-se ao fato de que não se
tem dados técnicos capazes de respaldar estas discussões.
Neste sentido, pesquisadores da EPUSP têm aplicado uma metodologia
padronizada de coleta de dados sobre produtividade da mão-de-obra no serviço
de alvenaria. Assim, inicia-se o processo de formação de um banco de dados
abrangente capaz de esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto.
RESULTADOS
Foram analisadas até o momento quatro obras com tipologias bastante distintas
entre si. O índice usado para medir a produtividade denomina-se RUP (Razão
Unitária de Produção) e sua unidade é Hh/m2 (homem-hora por metro
quadrado). Os resultados obtidos mostram coerência com resultados de
pesquisas realizadas em outros países (2 e 3).

293
Obra ‘A’: edifício residencial com 15 pavimentos-tipo; alvenaria de vedação com
blocos de concreto; 463m2 de alvenaria por pavimento-tipo; 25 dias de coleta.
mediana das rup’s diárias: 1,15hh/m2 (excluindo todos os vãos).
Obra ‘B’: edifício comercial com 19 pavimentos-tipo; alvenaria de vedação com
blocos cerâmicos; 221m2 de alvenaria por pavimento-tipo; 40 dias de coleta.
mediana das rup’s diárias: 1,28hh/m2 (excluindo todos os vãos).
Obra ‘C’: edifício residencial com 3 pavimentos-tipo; alvenaria estrutural com
blocos de concreto e alvenaria de vedação também com blocos de concreto;
380m2 de alvenaria estrutural e 160m2 de alvenaria de vedação por pavimento-
tipo; 10 dias de coleta.
mediana das rup’s diárias: 1,40hh/m2 (excluindo todos os vãos).
Obra ‘D’: conjunto de 15 casas térreas em alvenaria resistente, utilizando-se
blocos de vedação de concreto; 106m2 de alvenaria por casa; 32 dias de coleta.
mediana das rup’s diárias: 2,70HH/M2 (excluindo todos os vãos).

CONSIDERAÇÃO FINAL

A metodologia adotada pretende não apenas coletar números relativos à


produtividade e sim discutir os fatores capazes de alterar esses índices no dia-a-
dia da obra. Para estas obras em particular, além dos aspectos relativos ao tipo
de componentes utilizados, uma análise preliminar indicou como fatores
maléficos à produtividade ligados ao contexto do trabalho:
• obra ‘A’: condições meteorológicas (chuva); retrabalho; “relaxamento”
da equipe em função de folga no cronograma previamente
estabelecido;
• obra ‘B’: falta de material por planejamento inadequado do transporte
vertical; desentendimentos dentro da equipe de trabalho;
desuniformidade de produção devido às características do projeto;
• obra ‘C’: grauteamento e cintamento da alvenaria estrutural;
• obra ‘D’: equipe inadequada (relação pedreiro/ajudante = 1/1);
processo construtivo não racionalizado; inexistência de cronograma a
ser cumprido.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. THOMAS, H.R.; YAKOUMIS, I. Factor model of construction productivity.


Journal of Construction Engineering and Management, v.113, n.4,
P.623-39, 1987.
2. THOMAS, H.R.; SMITH, G.R.; SANDERS, S.R.; MANNERING, F.L. An
exploratory study of productivity forecasting using the factor model for
masonry. Pennsylvania, Pennsylvania Transportation Institute, 1989b.
(Final Report. PENNSTATE. 9019).
3. THOMAS, H.R.; SANDERS, S.R.; BILAL, S. Comparison of labor productivity.
Journal of Construction Engineering and Management, v.118, n.4,
p.635-50, 1992.

294
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DE VEDAÇÕES INTERNAS DE
PLACAS DE GESSO ACARTONADO
M. Eng. Julio Cesar Sabadini de Souza
jcssouza@pcc.usp.br
Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini
fhsabba@pcc.usp.br
1. INTRODUÇÃO
A construção civil no Brasil passa por um processo de mudanças em que a
competitividade está mais acentuada (HAETINGER, 1996).
Dentro desse contexto, a busca por maiores níveis de racionalização, qualidade
e produtividade bem como a redução de perdas e custos tornam-se medidas de
grande importância.
Nesse sentido, os elementos de vedação de placas de gesso acartonado
constituem-se em uma alternativa para a execução das vedações verticais
internas dos edifícios em substituição aos elementos de alvenaria, tendo maior
potencial de aumento da produtividade e de redução de custos e desperdícios.
O presente trabalho de doutorado tem o objetivo principal de desenvolver e
consolidar a tecnologia do subsistema vedação vertical interior, constituído de
placas de gesso acartonado.
Estimativas apontam que, embora hoje o país tenha um consumo insignificante
de placas de gesso acartonado (cerca de 0,012m2/habitante em 1994), existe a
tendência de se multiplicar a utilização desses componentes (CORBIOLI, 1996).
Apesar de ser largamente empregada em outros países, considera-se que não
se pode importar sistemas de produto36 sem o desenvolvimento de sistemas
de produção37 pois a vedação vertical interna faz parte do edifício de forma
integrada, possuindo grande interação com os seus subsistemas e elementos,
justificando-se, dessa maneira, a importância da elaboração do seu
desenvolvimento tecnológico segundo uma adequada metodologia.
TANIGUTI (1998), referindo-se a um levantamento de informações sobre a
execução de vedações com placas de gesso acartonado, em empresas
construtoras da cidade de São Paulo, afirma que se pôde constatar, em algumas
obras, que as placas de gesso “(...) eram inseridas apenas como um mero
substituto da alvenaria (...) sem planejamento da produção e também não se
observavam previamente as interfaces com os demais subsistemas”. Segundo a
autora, por esse motivo, muitas vezes as soluções eram improvisadas e
contrariavam as recomendações dos fabricantes das placas.
Assim, o trabalho proposto partirá do princípio de que existe a necessidade de
se ter domínio sobre a tecnologia de produção das vedações de placas de gesso

36
Sistemas de produto são definidos como conjuntos de materiais, componentes e elementos
integráveis que se complementam e são utilizados na produção de um bem.
37
Sistemas de produção são definidos por WARSZAWSKI (1977) como sistemas utilizados na
fabricação de produtos e que se caracterizam por possuir: tecnologia de produção, projeto do
produto e organização da produção específicos, consolidados e totalmente integrados.

295
acartonado a partir de um desenvolvimento sistêmico dessas vedações, em que
se considere a interação com os demais subsistemas do edifício.
2. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do trabalho será adotada uma metodologia que envolve
uma revisão bibliográfica sobre o tema e a elaboração de pesquisa de campo e
de laboratório enfocando dois aspectos principais:
• a interação das vedações com a estrutura do edifício, avaliando-se
experimentalmente, em laboratório e em campo, a capacidade dos elementos
de vedação suportarem as deformações da estrutura;

• a interação das vedações com as instalações hidro-sanitárias e


elétricas procurando-se propor e avaliar soluções para a execução dessas
instalações, introduzindo-se elementos e componentes adequados às
características das vedações de gesso acartonado.
Já para o desenvolvimento do sistema de vedações em si, adotar-se-á a
metodologia proposta por SABBATINI (1989) em seu trabalho de doutorado, cujo
tema é o desenvolvimento de métodos, processos e sistemas construtivos.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final da elaboração deste trabalho pretende-se contribuir para que a utilização
do sistema de vedações de placas de gesso acartonado possa ser feita em larga
escala e com um maior aproveitamento das suas potencialidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORBIOLI, N. Crescimento geométrico. Construção, n.2502, p.10-1, jan. 1996.
HAETINGER, H. A escalada da competição na construção civil. Construção,
n.2534, p.6-9, set. 1996.
SABBATINI, F.H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas
construtivos: formulação e aplicação de uma metodologia. São Paulo, 1989.
Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
TANIGUTI, E.K. Tecnologia de produção de vedação vertical interna com
placas de gesso acartonado. São Paulo, 1998. /Plano de pesquisa
apresentado ao departamento de engenharia de construção civil da EPUSP/.
WARSZAWSKI, A. System building: education and research. In: CIB
TRIENNIAL CONGRESS, 7. Anais. Lancaster, CIB, 1977, v.2, p.113-25.

296
ESTUDO COMPARATIVO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
SIMPLES DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO FORMADAS POR
BLOCOS/TIJOLOS ENCONTRADOS NA REGIÃO DE SÃO PAULO
Eng. Leonardo Tolaine Massetto
ltmassetto@pcc.usp.br
Prof. Dr. Fernando Henrique Sabbatini
fhsabba@pcc.usp.br

1. INTRODUÇÃO

A grande ocorrência de patologias, relacionadas à perda de desempenho das


vedações verticais em alvenaria de blocos, observada em edifícios recém
entregues na região de São Paulo, pode ser ocasionada pela superposição de
efeitos adversos. Um material, de comportamento desconhecido e qualidade
duvidosa, aplicado com técnicas não adequadas e solidário a uma estrutura
muito deformável tende a apresentar grande fissuração logo nas primeiras
idades ou até mesmo no período de obra.

2. OBJETIVOS

Esta pesquisa pretende realizar, em laboratório, um estudo comparativo da


resistência à compressão simples de paredes de alvenaria de vedação
constituídas por diversos tipos e marcas de blocos encontrados na região da
cidade de São Paulo.

O estudo será norteado pelo ensaio corpos de prova em forma de paredinhas


(wallets) de alvenaria. Pretende-se, também, ensaiar corpos de prova
prismáticos (prisms), além do ensaio dos próprios blocos (unidades de
alvenaria). Existe, ainda, a hipótese de se avaliar a resistência à compressão
simples de paredes em escala real.

3. DESENVOLVIMENTO

A primeira etapa da pesquisa consistiu em ensaiar dois tipos de blocos


cerâmicos do mesmo fabricante com objetivo de avaliar suas resistências.
Avaliou-se, também, a influência do capeamento nos resultados experimentais
pois foram ensaiados além de blocos com capeamento de enxofre, blocos com
capeamento de papelão de espessura de 10mm e blocos com capeamento de
enxofre e papelão. Esta etapa forneceu algumas indicações sobre o
comportamento dos blocos e auxiliou na definição do tipo de capeamento
utilizado durante os demais ensaios.

A segunda parte encontra-se em andamento. Pretende-se avaliar a resistência à


compressão simples de paredinhas e blocos/tijolos. O parâmetro variável é o tipo
de bloco/tijolo. Estão sendo ensaiadas 6 paredinhas de 14 tipos diferentes de
blocos/tijolos. O capeamento das paredinhas será feito com argamassa e o
capeamento dos blocos/tijolos será feito com enxofre. Ambos serão
complementados com uma camada de papelão para o ensaio na prensa. A
argamassa utilizada para assentamento das paredinhas é do tipo F11-Serrana.
Lista-se, na tabela 1, os tipos de blocos/tijolos utilizados:

297
A terceira etapa será planejada com base nos resultados anteriores. Prevê-se
avaliar a correlação e a confiabilidade dos resultados obtidos por ensaios de
diferentes tipos de corpos de provas - bloco/tijolo isolado, primas, paredinhas,
parede em escala real.

Tabela 1 – Tipos de blocos/tijolos ensaiados

BLOCOS DE CONCRETO (e=15cm) BLOCOS CERÂMICOS


Bloco de vedação Normalizado Baianinho com furos quadrados
Bloco de concreto comum tipo 1 Baianinho com furos redondos
Bloco de concreto comum tipo 2 Baianão com furos quadrados
TIJOLOS DE BARRO Blocão com furos quadrados
Tijolinho comum Vedação 19x39
Tijolinho aparente Vedação 25x25 Cerãmica A –seccionável
OUTROS BLOCOS 25x25 Cerâmica A – não seccionável
Sílico calcáreo – Vedação 19x39 Vedação 25x25 Cerâmica B
Concreto celular autoclavado 30x60

4. CONCLUSÕES

Apesar de não existirem resultados sobre o comportamento das paredinhas, o


estudo do comportamento dos blocos demonstra a maior capacidade portante
dos não-seccionáveis sobre os seccionáveis, como já se previa. Além disso
percebeu-se a importância do capeamento com enxofre nos blocos a serem
ensaiados, já que a resistência à compressão simples dos blocos capeados
chega a ser dez vezes maior que a dos ensaiados com uma placa de papelão
(10mm) na interface bloco/prensa.

Uma vez totalmente concluído, esse estudo fornecerá uma referência técnica
para que as construtoras possam ter meios de definir suas vedações verticais,
avaliando técnica e financeiramente cada uma das opções (muitas delas têm
desempenho desconhecidos) aqui descritas e disponíveis no mercado paulista.
Ao mesmo tempo, os resultados podem parametrizar o mercado das empresas
fabricante de blocos, pois identificará as resistências de alvenarias feitas com
diversos tipos de blocos. Tal fato é considerado positivo pois pode dar aos
fabricantes a chance de comparar seu produto, no âmbito do mercado como um
todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. Standard


specification for building brick. ASTM C62/92c.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Bloco
cerâmico para alvenaria – Verificação da resistência à compressão.
Método de ensaio. NBR 6461/83.

298
PAINÉIS DE FACHADA EM CIMENTO
REFORÇADO COM FIBRAS (GRC)
Arq. Vanessa Gomes da Silva
vangomes@pcc.usp.br
Prof. Dr. Vanderley M. John
vmjohn@pcc.usp.br
INTRODUÇÃO
O mercado de construção nacional carece de tecnologias racionalizadas de
vedação de fachadas, com velocidade de execução compatível com o ritmo
imposto aos demais serviços de construção. Também é notável a crescente
preocupação com a qualidade ambiental, popularizada no início da década de 80
com as primeiras discussões sobre desenvolvimento sustentável.

Procurando somar esforços nesse sentido, o Projeto E-GRS utiliza um resíduo -


a escória granulada de alto-forno – para a produção de cimentos especiais que,
quando reforçados com fibras de vidro, permitem a conformação de
componentes de fachada capazes de conciliar flexibilidade de projeto às
vantagens da pré-fabricação.

O objetivo da pesquisa sobre painéis é sistematizar as informações relativas a


painéis GRC e estabelecer critérios mínimos de desempenho para sistemas de
vedação de fachada, reunindo as bases de conhecimento necessárias à
formulação de diretrizes de projeto de componentes de cimentos de escória
reforçados com fibras de vidro (E-GRS). Esta pesquisa é complementada, no
âmbito do Projeto E-GRS, pelo estudo da formulação dos cimentos de escória e
da estabilidade das fibras de vidro embebidas nessas matrizes.
PAINÉIS DE CIMENTO REFORÇADO COM FIBRAS DE VIDRO
Os painéis de GRC foram desenvolvidos pioneiramente na Inglaterra. Os
primeiros painéis apresentavam geometria simples e utilizavam enrijecedores
incoporados e cantoneiras de fixação aparafusadas ao componente (Figura 1a).
Essa configuração é utilizada ainda hoje, mas sua freqüência foi diminuindo
gradativamente com a consolidação do emprego de painéis enrijecidos por uma
estrutura metálica leve (stud frame), uma inovação criada na década de 70 pela
indústria americana (PCI,1994; Cem-FIL LTD, 1997).

A introdução do stud frame (Figura 1b) alterou radicalmente as possibilidades


arquitetônicas dos painéis de cimento reforçado com fibras de vidro. Esses
componentes apresentam espessura entre 10 e 15 mm, ampla variedade de
formas e acabamentos e, principalmente, massa incomparavelmente inferior à
de componentes similares em concreto. A leveza tem impacto importante na
redução das cargas permanentes transferidas para os elementos estruturais do
edifício e dos custos de transporte e posicionamento dos painéis.

Apesar de oferecer alguma flexibilidade de formas, a geometria dos painéis em


concreto é limitada pela armadura de aço. Nos painéis GRC, o reforço é disperso
por todo o compósito e, como as fibras não são susceptíveis à corrosão, o
cobrimento é mínimo, servindo apenas para evitar a exposição das fibras. O
reforço com fibras dispensa a armação de reforço em torno dos pontos de

299
içamento e eleva significativamente a resistência a impacto, relacionada ao
índice de quebras durante o manuseio e içamento dos painéis (PCI,1994).

Os painéis podem apresentar diversos níveis de desempenho térmico, acústico e


em relação ao fogo, controlados basicamente pelo detalhamento de juntas e pelo
dimensionamento das camadas de isolamento embutidas na cavidade entre os
paramentos de fachada.

(a) (b)

Figura 1 – Detalhe típico do sistema de fixação de painéis GRC com


enrijecimento incorporado (a) e painel enrijecido por uma estrutura
metálica leve (b).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A introdução de painéis reforçados com fibras de vidro no mercado de
construção brasileiro poderá representar, simultaneamente, a oferta de uma
alternativa eficiente de vedação de fachadas e a geração de novas frentes de
atuação para os fabricantes de produtos pré-fabricados em concreto.

A pesquisa sobre painéis GRC foi concluída e uma versão preliminar do manual
de projeto está sendo organizada para possibilitar a construção dos primeiros
protótipos assim que liberada a importação do equipamento de projeção.
Espera-se contar com resultados dos primeiros ensaios de desempenho dos
componentes E-GRS dentro do próximo ano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PRECAST/PRESTRESSED CONCRETE INSTITUTE – PCI. Recommended
Practice for Glass Fiber Reinforced Concrete Panels. Chicago, PCI, 1994.
99 pp. (Revised Edition)
CEM-FIL INTERNATIONAL LTD. Cem-FIL Technical Data. Merseyside,
Glassfibre Reinforced Cement Association – GRCA. 1997. 67 pp.

300
PROJETOS DE
PESQUISAS EM
ANDAMENTO

301
302
PROJETO DE PESQUISA – CONVÊNIO EPUSP-GETHAL

DESENVOLVIMENTO DE UM MÉTODO CONSTRUTIVO PARA


PRODUÇÃO DE VEDAÇÕES VERTICAIS DE CONCRETO CELULAR

Este projeto de pesquisa, iniciado em novembro de 1997, com a parceria da


Escola Politécnica e da empresa Gethal S.A., tem como objetivo primordial
desenvolver um método construtivo para produção de vedações verticais de
concreto celular com fibras, moldadas no local.

Esse método visa explorar todo o potencial de racionalização proporcionado pelo


concreto celular moldado no local com fôrmas especiais, oferecendo ao mercado
uma tecnologia de produção do subsistema vedação vertical diferenciada e de
desempenho superior, quando comparada às alvenarias de vedação e aos
sistemas de painéis hoje disponíveis.

Os objetivos específicos deste projeto são:

• o levantamento e a documentação dos subsídios e condicionantes


necessários à proposição do novo método construtivo;
• o estudo do material básico que irá constituir a vedação vertical, ou seja, o
concreto celular espumoso acrescido de fibras sintéticas, frente às
características de desempenho esperadas de uma vedação vertical;
• o estudo do comportamento conjunto concreto celular - estrutura, avaliando-
se o comportamento mecânico de painéis de concreto celular inseridos em
pórticos de concreto armado, tanto em laboratório, quanto em obra;
• a concepção inicial do método construtivo inovador e o desenvolvimento do
Projeto de Produção das paredes de vedação;
• o projeto e a construção do protótipo, ou seja, uma aplicação em obra;
determinando-se o real desempenho e a construtibilidade do método,
avaliando-se o processo construtivo; e
• a consolidação da tecnologia.
Este projeto de pesquisa está sendo coordenado pela Profa. Mercia Maria
Bottura de Barros, tendo como consultor o Prof. Dr. Fernando Henrique
Sabbatini. A equipe técnica é constituída, ainda, por um pós-graduando em nível
de doutorado, Eng. Alberto Lordsleen Júnior; dois bolsistas de iniciação
científica, alunos da graduação de EPUSP; e um tecnólogo em edificações.
Os resultados parciais desta pesquisa estão sendo registrados em relatórios
técnicos, os quais têm subsidiado trabalhos que estão sendo divulgados através
de apresentações em seminários e “workshops”. Ao final da pesquisa, pretende-
se organizar mais um evento voltado às vedações verticais, com o objetivo de
divulgar e debater com o setor produtivo, os resultados obtidos.

303
304
PROJETO DE PESQUISA
CONVÊNIO EPUSP- KNAUF/CYRELA/INPAR
DESENVOLVIMENTO DE UM PROCESSO DE PRODUÇÃO DE DIVISÓRIAS INTERNAS EM
CHAPAS DE GESSO ACARTONADO
1ª FASE - METODOLOGIAS DE PROJETO E EXECUÇÃO

Este projeto de pesquisa, a ser iniciado em agosto de 1998, é o resultado da


conjugação de esforços de três segmentos do setor de construção de edifícios
em torno de um objetivo comum: promover o desenvolvimento tecnológico do
setor, no País. O convênio reúne duas construtoras de grande porte, Cyrela e
Inpar, um fornecedor de componentes e sistemas construtivos, Knauf, e a Escola
Politécnica da USP.
Os objetivos específicos deste projeto, nesta sua primeira etapa, são:
desenvolver e consolidar dois sub-sistemas do sistema de produção de
divisórias em gesso acartonado, para uso em edifícios de múltiplos pavimentos:
✦ o das metodologias de projeto (de produto e de produção); e
✦ o de produção integrada (com o processo construtivo tradicional).
São, também, objetivos complementares e decorrentes desta pesquisa:
✦ criar e propor aos agentes normativos do País, normas específicas
para projeto e execução deste sistema; e
✦ criar e coordenar uma estrutura de treinamento de técnicos e
montadores especializados nesta nova forma de se construir.
Os trabalhos irão se desenvolver por 18 meses, em cinco subprojetos principais:
✦ pesquisa sobre a interação da divisória de gesso acartonado e a
estrutura de concreto armado;
✦ pesquisa sobre o comportamento estrutural e as características de
deformabilidade da divisória de gesso acartonado;
✦ pesquisa sobre a interação das divisórias com as instalações hidro-
sanitárias e elétricas embutidas;
✦ pesquisa sobre a interação entre as divisórias e as esquadrias de
portas;
✦ pesquisa sobre as técnicas construtivas complementares,
relacionadas com a melhoria de desempenho das vedações em
divisórias de gesso acartonado.
As pesquisas serão realizadas em três cenários complementares: em
laboratório, no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Construção Civil da
EPUSP; em canteiros de obra das empresas conveniadas e nos centros de
treinamento destas construtoras e no Centro Knauf-EPUSP, a ser constituído.
Serão alocados nas pesquisas nove pesquisadores. O convênio e projeto
estarão sob a coordenação do Professor Doutor Fernando Henrique Sabbatini.
Os subprojetos serão coordenados pelas Professoras Doutoras Mercia Maria
Semensatto Bottura Barros e Silvia Maria de Souza Selmo.
Os resultados parciais deverão ser divulgados ao longo do projeto através de
publicações, palestras e “workshops”. Ao término desta primeira fase pretende-
se organizar um seminário específico, com o objetivo de divulgar e debater com
o setor de construção de edifícios os resultados obtidos.

305
306
PROJETO DE PESQUISA – CONVÊNIO EPUSP-MORLAN

O EMPREGO DE TELAS METÁLICAS COMO COMPONENTE DE


LIGAÇÃO ENTRE PAREDES DE ALVENARIA E ENTRE
ALVENARIA E ESTRUTURA
Podendo ser considerada responsável por uma parcela bastante representativa
das patologias de alvenarias, as fissuras de interface entre paredes de vedação
e estrutura e entre duas paredes que se cruzam são ainda muito comuns e de
solução complexa.
Com o objetivo de desenvolver uma alternativa viável para este fim, foi iniciado
em outubro de 1997 um projeto de pesquisa entre a Escola Politécnica e a
Morlan S.A. O projeto é coordenado pelos Prof. Jonas Silvestre Medeiros e Prof.
Dr. Luiz Sérgio Franco, contanto com a participação do doutorando M. Eng.
Mário Collantes Cândia e dois alunos de graduação do curso de engenharia civil.
O trabalho foi iniciado com o levantamento do estado-da-arte a respeito das telas
metálicas na construção, o uso de reforços e dispositivos metálicos para
alvenaria, bem como a normalização internacional existente sobre o assunto.
Os estudos experimentais, parte central da pesquisa, estão permitindo entender
como atuam as ancoragens metálicas e ajudando a definir critérios para o
projeto de alvenarias de vedação. Para isto procura-se avaliar as características
de desempenho e as condições de aplicação das telas metálicas
eletrossoldadas.
Estão sendo estudadas as principais variáveis que interferem na utilização e
desempenho destes dispositivos, destacando-se: comprimento de ancoragem e
seção resistente das telas, tipos de fixação e níveis de pré-compressão a que
paredes são submetidas. Foram avaliadas também as técnicas tradicionais de
ancoragem parede-pilar através do uso de fios de aço retos e também dobrados,
conhecidos com ferros cabelo.
Até o momento, os resultados têm mostrado que as telas apresentam elevado
potencial de uso, destacando-se das outras soluções tradicionais empregadas
para o mesmo fim. Para efeito de resistência à tração direta a solução com ferros
cabelo apresentou resultados que deixam claro sua ineficiência, sendo
necessário rever seu uso.
No momento estão sendo concluídos os ensaios de tração e cisalhamento da
Fase 1 onde se trabalha com corpos-de-prova de dimensões reduzidas. Na Fase
2 serão conduzidos ensaios em escala real para avaliação dos sistemas
selecionados.

307
Secretária: Iara Martins
Projeto Gráfico: Maria Alice Gonzales

308

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