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REVISÃO GEOMORFOLOGIA - 16.

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Gabriel Galdino – enviar correções ou dicas para gabrielgaldinodm@gmail.com

As derivações da Geomorfologia
1. Orografia: consiste na descrição dos elementos geométricos do relevo, entrando nesse
quesito a declividade, direção de mergulho, formas do relevo. Nesse conceito são
desprezadas as intervenções antrópicas, bem como aspectos internos como a
composição das litologias. Exemplos de aplicação: mapas de declividade, mapas de
relevo, cartas topográficas.
2. Corografia: são os aspectos humanos condicionados pela orografia. Exemplos de
aplicação: no estado de Minas Gerais observa-se uma grande variedade de sotaques,
esses decorrentes do isolamento geográfico condicionado pelas cadeias montanhosas
que limitaram a convivência dos bandeirantes com diferentes culturas indígenas.
3. Fisiografia: relação entre a geometria e os processos naturais. Exemplos de aplicação:
tudo aquilo que é condicionado pela litologia, como o tipo de vegetação.

Ciclo Geográfico de Davis e seu pensamento


Trata da evolução dos rios, dividindo-os em jovens, maduros e senis, de acordo com a energia e
posição do percurso: na região da nascente o rio é classificado como jovem, nesse contexto ele
é um rio mais energético, existente em uma região de maior declividade; quando maduro esse
rio perde parte de sua energia e passa a escavar menos – profundidade se aproxima da largura;
por fim, quando em planície próximo de desaguar o rio forma meandros, perde velocidade e
declividade, a escavação é cada vez menor. Nesse ponto o rio é classificado como senil.

Davis constrói sua linha de pensamento a partir de observações nas Rochosas e Apalaches, duas
áreas de alta declividade e relativa homogeneidade litológica. Sendo assim, seu pensamento
descreve de maneira fidedigna uma quantidade muito limitada de rios, ignorando por exemplo
as condições de erosão diferencial que geram as cachoeiras: nessas quedas de água a
acumulação da água possibilita que essa seja descarregada com muita energia, escavando muito
em um relevo de grande declividade, mesmo que esse seja um rio maduro.

Apesar de certas incoerências quanto ao ciclo dos rios, Davis propões um método de
pensamento de grande contribuição:

1. Observação e caracterização das formas;


2. Enunciação das hipóteses;
3. Dedução das consequências;
4. Teste das consequências em novas observações;

Os princípios da Geomorfologia
Causalidade
Extensão
Localização

Inicialmente, a geomorfologia aparece exclusivamente com intuito descritivo do ambiente,


porém, o pensamento evolui para uma vertente baseada na interpretação dos fatores
ambientais associados (descrever para interpretar).
Vale ressaltar também que a geomorfologia obedece a princípios gerais, porém, é problemático
estabelecer leis gerais à geomorfologia:

“Nenhum rio pode escavar abaixo do nível do mar porque a energia potencial da queda d’água
aí chega a zero, logo nenhuma conversão de energia pontencial em trabalho de corrente é
possível. ”

Nessa afirmação existe um problema claro quanto a afirmação, isso porque existem diferentes
regimes de embocadura de rios, em alguns deles do tipo delta o sistema é dominado pela ação
de rios, e nesse contexto os rios são capazes de sobrepor sua ação sobre a da linha de costa,
sendo assim, são capazes de erodir abaixo do nível do mar.

Uma segunda crítica a tal pensamento pode ser feita com relação à visão fixista do autor, que
desconsidera variações temporais da linha de costa, que em um tempo passado pode ter gerado
a erosão em ambiente marinho. Ainda é possível salientar os “eventos catastróficos”, como as
correntes de turbidez e os tempestitos, que são capazes de mover grãos no substrato, gerando
assim, erosão em plataforma.

Sendo assim, a geomorfologia não deve ser vista de forma fixista, e sim de forma de que se
reconheça a variação dos processos ao longo do tempo geológico. Além disso, percebe-se que
a análise geomorfológica é feita a partir de uma vertente estática, baseada na descrição e outra
vertente dinâmica, baseada na interpretação.

Aplicando tais vertentes na paisagem ao


lado podemos dizer que em âmbito
descritivo (estático) existe uma pista de
corrida a qual encontra-se
desconformada, sendo que tal desnível
formado na pista se estende até o fim da
imagem. Além disso, tomando as pessoas
como escala é possível dizer que o
desnível apresenta cerca de 2m e
inclinação de cerca de 30°. Já em termos
interpretativos é possível chegar a
conclusão de que o evento de deformação é recente, uma vez que a pista foi deformada, além
disso, podemos dizer que foi causado por uma falha normal (falha de distensão). (Imagem de
Taiwan)

Exercitando mais uma vez os conceitos,


percebe-se na imagem ao lado uma série de
vales (região à direita na parte superior da
imagem), e após esses vales uma sequência
de outros vales formando 90°, a essas
feições damos o nome de “cotovelos de
drenagem”. No âmbito interpretativo é
possível falar da existência de uma falha
transcorrente responsável pela formação
dos cotovelos. Outra aplicação
interpretativa seria a retirada de sedimentos em vários pontos da região na direção da falha,
datando-os e com essa diferença de idades é possível estimar a taxa de desenvolvimento da
falha com o tempo. (Imagem da Califórnia)
Morfometria
Durante a segunda guerra mundial existe a necessidade de otimizar os processos e ao seu fim,
em 1945, Horton desenvolve a morfometria que tem por base converter dados de relevo em
dados numéricos por meio de modelos matemáticos. Um desses processos é definir a ordem de
drenagem: nesse método define-se todas as nascentes como rios de ordem 1; quando há o
encontro de dois rios com mesma ordem, o valor da ordem no trecho é acrescido de 1, enquanto
que caso esses rios que se encontram sejam de ordens diferentes, irá permanecer o maior valor.

Dessa forma, os rios com drenagem de alta ordem, seriam à primeira vista rios de características
deposicionais, enquanto os rios de baixa ordem, estariam mais próximos às nascentes, e logo
com mais energia, sendo assim rios de alta energia. Porém, vale ressaltar que tais modelos só
atendem condições ideais.

Outra aplicação da morfometria é o Índice de encaixamento dos Vales: consiste na razão entre
a profundidade do vale e o distanciamento entre os picos do vale:


𝐼=
𝐿
Tal índice dá o encaixamento do vale, o que
consequentemente pode ser relacionado com a capacidade
de escavação do rio. Um índice de encaixamento maior
forma um vale em “V”, enquanto um de menor índice
forma vale em “U”.

Se h >> L, é dito que o relevo é de alta rugosidade.

O terceiro índice morfométrico a ser apresentado é o Índice de dissecação:


𝑆𝑑
𝐼=
𝑆𝑐
Onde “Sd” corresponde à superfície dissecada, ou seja, superfície removida (transportada) pelo
processo de erosão, e “Sc” a superfície conservada, ou seja, sobre a qual a erosão não atuou.
Sendo assim, se o valor do índice é alto, a erosão foi mais efetiva, do contrário, foi pouco
atuante.

No Brasil as zonas de menor índice de dissecação são as Bacias Sedimentares do pós-brasiliano,


uma vez que essas não foram deformadas – isso se dá, pois, as estruturas horizontalizadas são
mais resistentes à erosão.

Mais um exemplo de aplicação da morfometria é correlacionar a taxa de animais de baixa


resistência a insolação UV nas zonas de cabeceira de rios: nessas áreas o rio corre com mais
energia, logo tende a ser mais encaixado nos vales, além disso, nesses locais o desenvolvimento
da copa das árvores é maior, e juntando-se o fator de rios pouco largos com o dossel
desenvolvido, tem-se uma menor penetração na luz solar nesses ambientes. Assim, é possível
descrever taxas em função da largura dos rios e do desenvolvimento do dossel.

Vale ressaltar que a morfometria apresenta aspectos que ajudam a conhecer o relevo bem como
facilitam trabalhar mais facilmente com um conjunto de informações, porém, uma série de erros
pontuais podem ser resultantes desses índices. Se um rio apresenta maior ordem de drenagem,
é esperado que o mesmo seja deposicional, logo, o índice de encaixamento de seus vales será
muito baixo. Porém, unicamente tratar de fatores numéricos desconsidera as questões como
resistência das rochas ao intemperismo, ou como em um exemplo já salientado aqui que são as
soleiras geomórficas, que podem atuar por meio de uma cachoeira por exemplo, retendo o fluxo
e posteriormente aumentando em muito sua energia.

Métodos e Técnicas em Geomorfologia


Serão utilizados como métodos técnicos principalmente a cartografia e estatística. A cartografia
será utilizada para interpretação do relevo com base na topografia, distribuição das drenagens
e interpretação do relevo, um exemplo bem característico está na boa distribuição das cidades
em função da existência de rios meandrantes:

Na imagem percebe-se, destacado em vermelho, o rio que


permeia uma dada cidade. A morfologia do mesmo é
descrita como um neck cut-off, nesses rios em épocas de
maior vazão torna-se potencialmente mais fácil que o rio
corra pela direção indicada pela seta, abandonando o
meandro, e como em termos energéticos esse novo
caminho é tão mais favorável, que o rio não tende a voltar
a fazer o meandro em momento algum.

Nesses contextos a diminuição da energia sobre o meandro


é tão grande, que o mesmo passa a depositar uma
quantidade muito grande de lamas.

O segundo modelo é o chamado chute cut-off, caracterizado por


uma avulsão do meandro em períodos de maior vazante, porém,
nesses rios não é tão favorável a avulsão, sendo essa feita só
durante os períodos de cheia. Nesses contextos o abandono do
meandro é bem mais gradual, então predomina a deposição de
canal, ou seja, há um acúmulo muito maior de areias.

A Relação da Geomorfologia com outras Ciências


A geomorfologia atua como uma ponte para as demais ciências, sintetizando conhecimentos de
outras áreas e eventualmente sendo modificada por avanços analíticos nessas outras áreas.

 Relação com a Sedimentologia: de acordo com as condições ambientais e climáticas, as


rochas sofreram diferentes tipos de sedimentação que por extensão irão acarretar em
diferentes tipos de relevos. Como exemplo, um granito em clima árido que sofrerá
desagregação mecânica mais pronunciável formando areias, e um granito de clima
temperado que formará clastos.
 Relação com a Pedologia: o melhor exemplo dessa relação é o próprio Morro do
Cruzeiro, de acesso ao Campus:

Observa-se no relevo ao lado que no


ponto mais alto da topografia (topo de
morro) tem-se a maior taxa de
infiltração da água (ao contrário do
desenho, os topos de morro que
facilitam a infiltração tendem a ser
mais planos). Essa água por sua vez
tende a atuar sobre os metapelitos,
carreando os elementos mais solúveis.

Os metapelitos são constituídos principalmente por aluminossilicatos, e da estrutura


desses os primeiros componentes a serem carreados são as bases (K, Ca, Na ...).
Posteriormente às bases, é retirada da estrutura a sílica componente é lixiviada. Todo
esse conjunto de fatores acarreta em uma concentração supergênica dos óxidos de
alumínio, dando origem à canga de bauxita.
Na zona intermediária onde a topografia já sofreu com maior ação da energia potencial,
e o fluxo passa por ela com maior velocidade, havendo assim uma taxa bem menor de
infiltração. Nessa parte do morro ocorre a concentração das bases dissolvidas
anteriormente, na forma de caulim (no morro citado não se observa tais minerais pelo
fato de que a bauxita se deslocou para o local impedindo que o caulim aflorasse). O
processo que ocorre aqui é a monossialitização.
Por fim, na região de menor declividade, já próximo ao nível de base, o freático já se
encontra bem alto, o que torna a infiltração quase nula (em geral essa água segue o
escoamento superficial). Ali serão acumulados os argilominerais na forma de argilas
expansivas 2:1. O processo que ocorre aqui é a bissialitização.

 Relação com a Oceanografia: nesse caso a geomorfologia atuará por meio da


morfologia da linha de costa, o que poderá influenciar em fatores como as correntes de
deriva e de marés. Isso pode ter consequências práticas bem visíveis, como a construção
do porto de Santa Mônica nos E.U.A., o qual foi feito à montante da direção da corrente,
o que acarreta no assoreamento do mesmo e sendo assim necessários vários processos
de correção.

Ademais insta salientar a existências de grandes campos de atuação da geomorfologia em


auxílio a outras ciências, sendo que aqui foram apresentados apenas os exemplos mais gerais.

O Relevo Terrestre e suas grandes Unidades Topográficas


Usualmente a geomorfologia, estudada pela Geografia, classifica o relevo terrestre em quatro
grandes grupos de acordo com seus aspectos descritivos, aqui além da vertente descritiva serão
feitas algumas observações quanto aos processos.

1. Áreas continentais com planaltos, colinas e planícies com menos de 2000m de


altitude: consistem em praticamente a totalidade do relevo brasileiro, sendo
esses característicos de regiões de margem passiva, com baixas altitudes. São
relativamente simétricas, apresentando poucos acidentes.
2. Áreas continentais limitadas com altitudes superiores a 2000m: são áreas cujo
comprimento supera em muito as demais dimensões, muitas vezes associados
a dinâmica convergente da crosta.
3. Bacias oceânicas compreendidas entre 3000m e 6000m de profundidade: são
o análogo batimétrico das áreas descritas em 1.
4. Depressões limitadas, abaixo das bacias oceânicas (fossas com mais de 6000m
de profundidade): unidade batimétrica análoga à 2.

Detalhamento do relevo submarino:

É constituído basicamente pela linha de costa, plataforma continental e planície abissal. As


plataformas continentais são continuações dos continentes mergulhando suavemente para o
oceano, além de delimitadas pelos canyons submarinos. As plataformas são objetos de estudo
principalmente pelos bens associados a tais ambientes, como é o caso do petróleo brasileiro.

As bacias oceânicas, também chamadas de planícies abissais, estão distribuídas entre o talude
continental e a dorsal. Seu grande agrupamento no relevo encontra-se no grupo 3.

Já as dorsais mesoceânicas são resultantes do regime de divergência tectônica, podendo


compará-las a cordilheiras submarinas. Em casos menos comuns como é o da Islândia, a dorsal
aflora em forma de ilha.

Por fim, as fossas submarinas consistem no produto da convergência entre duas placas
oceânicas, que em função da grande densidade desses corpos, elas afundam sobre o manto até
que a força peso seja mais pronunciável sobre uma delas e ocorre o truncamento.
Acompanhando os limites das fossas é esperado a formação dos arcos de ilhas vulcânicas.

Evolução e Tipos de Estrutura e Relevo Derivados


As grandes estruturas do globo são:

 Escudos Cristalinos ou Escudos Antigos: os escudos serão constituídos do conjunto


formado entre os paleocontinentes mais a faixa móvel que se desenvolve entre eles.
Retornando um pouco no tempo eles são melhor compreendidos:

...durante o Arqueano tem-se a formação dos primeiros continentes, com posterior


desenvolvimento da atmosfera e hidrosfera, que por sua vez atua amplificando os
processos erosivos. Esses sedimentos que agora são formados em maior quantidade
passam a ser acumulados nas bordas dos continentes. Passado algum tempo, existem
camadas bem mais pronunciáveis de sedimentos entre os paleocontinentes, e assim
tem-se início o processo de colisão entre esses em um evento conhecido como Evento
Brasiliano.
A colisão desses continentes amarrota a crosta e gera o soerguimento desses
sedimentos na forma de rochas meta-sedimentares que agora compõem a faixa móvel.
A esse conjunto de crátons cristalinos e mais a faixa móvel dá-se o nome de Escudo.

Também é possível trazer o conhecimento para o presente, no intuito de se


compreender melhor a definição de cráton: enquanto no passado a faixa móvel consiste
na “Faixa Araçuaí-Ribeiro”, e os crátons são o do São Francisco e Congo, no presente
tem-se que o território brasileiro será um Cráton e a Cordilheira dos Andes a faixa móvel.

Mas por que não se pode dizer que o território brasileiro é um cráton, se o mesmo não
está sofrendo deformação?
Um cráton só é classificado como cráton para um evento de deformação já concluído,
ou seja, o cráton do São Francisco é dito como tal pois durante as colisões do brasiliano
ele não foi efetivamente dobrado, formando longas cadeias. Sendo assim, para que o
“Brasil” seja tratado como um cráton ainda são necessários milhões de anos para que a
deformação andina cesse. Vale ressaltar que ao fim do período de orogênese, o ciclo de
Wilson é invertido e inicia-se a separação, como a faixa móvel é a zona de maior
resistência (vide sua espessura crustal), quando ocorre a separação, a zona de
fragmentação é sobre um dos crátons.

Por fim, é bom trazer uma ressalva quanto à nomenclatura; o uso do termo “escudo
antigo” é de certa forma redundante, uma vez que os atuais escudos são resultado do
Evento Brasiliano, e assim, são naturalmente antigos. Quanto ao uso do termo escudo
cristalino, esse só deve ser feito ao se falar do Cráton, pois essa é a parte cristalina do
escudo.

As plataformas por sua vez são crátons ou conjuntos desses que possuem cobertura
sedimentar, mais especificamente as bacias sedimentares de sinéclise – em casos como
na Bacia do Paraná que é muito extensa, a ponto do embasamento quase não aflorar,
sabe-se que o mesmo existe, pois, as bacias não flutuam sobre o manto
 Bacias Sedimentares: existem diversos tipos dessas e podem ser formadas sobre
diferentes condições, podem ser formadas como as apresentadas acima, logo acima do
cráton, ou até mesmo em zonas de topografia mais alta (como a vista no campo – Ponto
2 do primeiro dia).
As bacias são regiões que funcionam como o nível de base e por extensão preenchidas.
Geralmente são porções deprimidas e relativamente pouco deformadas.
 Cadeias Dobradas: por fim tem-se essa porção que consiste nos terrenos de deformação
recente.

Tipos de Relevo numa Bacia Sedimentar


1. Estrutura concordante horizontal: são conjuntos de rochas sedimentares e
horizontalizadas, logo, não deformadas, que se estruturam nos chamados platôs,
mesas, mesetas e chapadas.
1.1. Relevo em estrutura concordante horizontal:
Nas chapadas o desenvolvimento de drenagens se dá ligado ao processo de alívio de
pressão: nesses ambientes, como dito anteriormente não há a deformações, logo, não
há como as drenagens se desenvolverem nas zonas de charneira das dobras (caminho
mais usual) e nem em zonas de falhas. Sendo assim, as drenagens desenvolvem-se em
função das zonas de faturamento, que são formadas pelo alívio de pressão.
Essa situação de escavação do relevo pelas drenagens faz com que ele atue consumindo
todo o material que ao centro da chapada:
Na imagem acima é perceptível a chapada, constituída de um conjunto de camadas
horizontalizadas, e em vermelho a zona de fratura.

Nesse segundo momento é perceptível que a drenagem foi capaz de escavar a região de
fratura, que por sua vez consiste em um plano de fraqueza, formando assim um vale.

Outro tipo de relevo resultante dessas condições são as famílias de fraturas que geram
os vales em manjedoura, observe a imagem abaixo:

Na imagem tem-se
o resultado da evolução do
relevo a partir de três
direções principais de
famílias de fraturas, nas
quais a drenagem passa
escavando e dando a
morfologia característica
dos vales em manjedoura.

Outro fator característico está relacionado às cornijas; cornija é o nome dado a uma
escarpa sustentada por uma camada mais dura (resistente), e nos relevos de estrutura
concordante horizontal essas apresentam certa simetria, isso pois elas tendem a
conservar mais em função de suas resistências.
A representação acima é na verdade
um esquema da imagem real ao
lado, uma segunda curiosidade
presente nesse contexto é que o
relevo em primeiro plano, é
constituído por camadas horizontais,
enquanto àquelas mais ao fundo
claramente sofreram deformação.
Nesse sentido, se ambas regiões
encontram-se interligadas, é
possível fazer inferências quanto às
idades, sendo que a região em primeiro plano é mais jovem, uma vez que não foi
deformada.

2. Estrutura concordante inclinada monoclinal ou homoclinal: as estruturas são ditas


monoclinais ou homoclinais quando todo o conjunto de camadas de rochas estão
inclinadas em uma mesma direção. De acordo com a angulação, eles serão classificados
como:
 Relevo de cuestas: pequena inclinação (2° a 10°)
 Relevo de hog back: média inclinação
 Cristas isoclinais: as camadas encontram-se subverticais

3. Estrutura discordante: são observadas quando o conjunto rochoso possui truncamento


oblíquo, ou seja, não há a concordância horizontal típica da sedimentação normal.
Essas estruturas podem ser geradas por diversas condições:

Observa-se na imagem ao lado


uma dobra na região inferior da imagem,
e acima dela a deposição praticamente
horizontalizada. Além disso, observa-se
que a parte superior da dobra se
encontra erodida. Sendo assim, um
primeiro exemplo de relevo em estrutura
discordante são aqueles gerados por
ação da erosão.

Outro exemplo, esse não


relacionado à erosão, são as zonas de
bordas de bacias, como a
representada pelo “gráfico de ondas”.
Nessas regiões tem-se a borda da
bacia e mais à esquerda o depocentro.
O que se observa é que o depocentro
entra em subsidência a uma taxa
muito maior que as bordas, gerando
assim a discordância.

3.1. Relevo em estrutura discordante e monoclinal: são representados principalmente


pelas cuestas e pelos costões: os costões são caracterizados pelo caimento das camadas
em direção ao observador; já as cuestas são caracterizadas pelo caimento em direção
oposta ao observador. Em termos
práticos existe uma interpretação
melhor para tal situação, uma vez que
um observador que olha para um
afloramento e vê um costão encontra-se
na verdade de costas para o depocentro
da bacia sedimentar associada,
enquanto aquele que vê um relevo
discordante e monoclinal de cuestas
encontra-se de frente para o dado
depocentro.
Exercitando o conhecimento anterior: considerando que o relevo abaixo encontra-se
em um contexto de bacia sedimentar, o que é visto pelo observador A, e pelo
observador posicionado em B? Qual a direção do depocentro?

Resolução: Observa-se na imagem abaixo a seta indicando a direção de mergulho das


camadas; nesse contexto se as camadas caem em direção ao observador posicionado
em A, ele está vendo o relevo em estrutura homoclinal e discordante do tipo costão. Em
oposição a ele o observador posicionado em B observa um relevo do tipo cuestas. Sendo
assim, pelo enunciado acima, o depocentro encontra-se à esquerda do leitor.

Drenagem Organizada em função da Estrutura


As drenagens podem ser classificadas quanto à sua disposição em relação às estruturas, como a
inclinação dos estratos. Elas serão classificadas em:

 Anaclinais: a drenagem desenvolve-se contra o mergulho das camadas;


 Cataclinais: a drenagem desenvolve-se a favor do mergulho;
 Ortoclinais: a drenagem se desenvolve de forma ortogonal ao mergulho.
Observando o esquema abaixo é mais fácil distinguir os tipos:

A seta apresentada na cor vermelha indica uma drenagem anaclinal, atravessando todas as
camadas disponíveis. A seta verde faz alusão à drenagem cataclinal, que passa apenas pelo
litotipo mais superficial. Por fim a seta rosa indica uma drenagem ortoclinal.

Em termos de amostragem sedimentar pode-se dizer que as drenagens ortoclinais são as


melhores, por receberem diretamente um maior volume de sedimentos e esses serem
provenientes de todos os litotipos disponíveis. Porém, em muitos casos essa drenagem não é a
mais acessível, assim, recorre-se às drenagens anaclinais, que também atravessam todas as
camadas.

Trazendo do esquema para uma condição mais próxima da topografia real, tem-se o esquema a
seguir:

No esquema observa-se todos os tipos de drenagens em um contexto mais real.

Uma outra forma de correlação possível é pensar em qual tipo de relevo seria uma
condicionante melhor para drenagens do tipo anaclinal, e a resposta são os relevos em estrutura
discordante monoclinal do tipo hog back, isso pois a inclinação das camadas facilita que a
drenagem atravesse uma maior quantidade de camadas percorrendo um menor percurso.
Nesse mesmo contexto é possível pensar na condição das percées: esse termo designa vales
encaixados em “V”, característicos da ação de rios; assim, quanto maior a inclinação das
camadas, mais facilmente o rio atravessa o conjunto rochoso e menor é a necessidade de
escavação, assim, a inclinação das camadas é inversamente proporcional ao comprimento das
percées. Dando continuidade ao raciocínio, quanto maior a inclinação das camadas, maior o
grau de deformação e sendo assim, a simples leitura do tipo de drenagem pode dar indícios do
tipo de material de valor econômico associado – se a deformação é grande, desconsidera-se a
probabilidade de hidrocarbonetos e passa-se a pensar em recursos metálicos.

A inclinação das camadas também está diretamente relacionada à velocidade de erosão: em


relevos de menor inclinação, o volume de material que deve ser removido para desestabilizar a
cornija e promover o recuo do front é bem menor, e sendo assim, o front será bem mais extenso.
Vale ressaltar que tal condição também está relacionada à espessura da cornija.

Gravimetria
Existe um conjunto de técnicas aplicadas à geologia que estão baseadas em um conceito simples
resultante das leis de Newton aplicada à gravitação universal:
Percebe-se pela equação acima que a força de atração entre os corpos será diretamente
proporcional à massa desses e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles.
É utilizando esse princípio que a gravimetria e construída:

Coloca-se uma cuja constante de deformação é conhecida, ligada a uma massa,


também conhecida. Se existe um reservatório de maior densidade em
subsuperfície a mola terá um deslocamento maior.

Inicialmente não se conhece a densidade do material, assim, não é possível


descobrir qual sua natureza. Porém, no intuito de fazer tal aproximação criam-
se padrões, por meio do ato de enterrar objetos de densidade e materiais
conhecidos analisando a proporção de deformação da mola.

Esse método possui grande implicação geológica: durante o Colonialismo, sir


Everest fazendo estudos topográficos e gravimétricos na região da Índia, em
busca de fontes de exploração para o Reino Unido, percebe uma deformação
anômala no objeto, que apontava em direção ao subsolo da maior montanha
da atualidade.

Posteriormente é descoberto que todo corpo rochoso possui um fator de compensação do


equilíbrio de tamanho muito maior para “baixo da terra”, ou seja, cerca de 2/3 da cadeia do
Himalaya encontra-se na verdade abaixo da superfície, seguindo a clássica ideia da “ponta do
iceberg”.

A Dinâmica da Crosta Terrestre


No intuito de explicar as observações feitas por sir Everest e a posterior descoberta da
compensação da massa, dois pesquisadores propõem concomitantemente modelos:

1. O modelo de Pratt:

Pratt adota vários prismas de densidades


diferentes, porém, massas iguais, e para tal,
esses acabam tendo volumes diferentes. Tais
prismas são mergulhados em um fluido
bastante denso. O que é observado como
resultado é que todos os blocos tendem a
atingir profundidades semelhantes.

2. O modelo de Airy:

Airy por outro lado toma blocos de mesma densidade,


mas massas diferentes. O resultado são blocos cuja parte
submersa consiste em certa de 2/3 do volume total dos
blocos.

A partir dessas observações pode-se questionar qual modelo irá descrever de forma mais fiel a
realidade da dinâmica terrestre, e a resposta é ambos, basta adequar cada um a seu respectivo
contexto apropriado: o modelo de Airy, por descrever um meio contínuo e homogêneo explica
bem a situação observada para os Himalayas, nos quais se observa uma predominância de crosta
continental, e assim, ocorre a compensação isostática, ou seja, o equilíbrio dos continentes
sobre o manto. Já o modelo de Pratt ao tratar de grandes variações de densidade colocadas lado
a lado explica bem os ambientes de subducção, onde se tem uma crosta oceânica afundando
próxima a uma crosta continental (sendo a segunda bem menos densa que a primeira).

A compensação isostática pode se dar de várias formas e por vários motivos, essa condição de
encontrar o equilíbrio muitas vezes gera deformações, sem que essas estejam relacionados a
limites de placas, ou a algum regime tectônico de convergência, divergência ou transcorrência.
Observe o exemplo:

No esquema ao lado tem-se um meio


contínuo, que encontra-se ligado a
outros corpos rochosos, que porém
foram omitidos. Em um momento I ele
encontra-se em equilíbrio estável.

Posteriormente em um tempo II ocorre


a deposição de uma grande massa sobre
um de seus limites, essa massa pode ser
dada à construção de uma represa, à formação de um glaciar entre outros. Uma vez que há a
adição de massa, o equilíbrio passa a ser instável sendo necessária a deformação do bloco para
que a massa seja distribuída. Essa deformação pode ser de caráter rúptil ou dúctil.

Exercício Zonas Homólogas

Observa-se acima uma região fotografada de três diferentes ângulos, observando agora mais
especificamente o mapa de relevo:
O primeiro detalhe a
ser observado aqui são
as colorações: em
conjunto às imagens
acima percebe-se que é
destacado em azul o rio
meandrante, em verde
a vegetação nativa, e
em rosa a proveniente
da ação antrópica – isso
pode ser constatado
analisando-se as
repartições quase
lineares no terreno.

Além disso, observa-se


à noroeste (azul) uma
grande rugosidade no
terreno, o que se dá
pela existência de
grande quantidade de
vales na região.

Características semelhantes são observadas na região destacada ao sul (em amarelo semelhante
a um pé de galinha); nesse caso as reentrâncias correspondem a pequenos canais.

Com tais informações é possível definir uma zona homóloga e pensar em um platô que ligava
ambas regiões, o qual foi escavado e gerou as feições observadas.
Observa-se destacado em vermelho
um conjunto de sedimentos marinhos
que irão compor os cordões costeiros;

No que tange à hidrografia, percebe-


se que a zona próxima ao rio em verde
mais escuro delimita a planície de
inundação. Outro fator que foi
destacado é a forma de meandro do
rio. Seguindo os desvios tomados,
indicados pelas retas amarelas,
percebe-se certo paralelismos entre
elas.

Um terceiro fator a ser destacado são


as “marcas de erosão” presentes no
corpo ígneo – é possível pensar em um
corpo ígneo pelas características do
relevo, além do conhecimento prévio
da região – essas marcas estão
distribuídas de forma radial, porém
percebe-se uma concentração dessas
no sentido nordeste-sudeste.

Ampliando uma parte


específica da imagem é
possível perceber que
os vales seguem
determinado padrão
linear, e que essas
“linhas” se repetem de
forma paralela,
compactuando com a
orientação dos fatores
mencionados acima.
Pode-se falar, então, na
existência de uma
família de fraturas1.

1
Essas famílias de fraturas, quando vistas em escala de mapa são chamadas de lineamento; por outro
lado, se são vistas em nível de afloramento, já são classificadas como uma lineação.
Tomando o esquema acima como a separação de dois continentes, salienta-se que essa não se
dá linearmente como é costumeiramente representado, e sim com uma certa curvatura em
função da Terra ser elíptica. Sendo assim, se a distensão se dá em uma direção, o meio contínuo
fratura perpendicularmente:

Comparando a direção de faturamento apresentada na imagem, ainda é possível trazer para a


condição real, que no caso é a separação América-África, que propagou fraturas na mesma
orientação da região indicada na imagem; assim, além da série de inferências quanto às
estruturas presentes, ainda é possível pensar no contexto que gerou tais condições, unicamente
pelas imagens apresentadas. É interessante pensar que a separação gerou um basculamento
das áreas costeiras do Brasil, e esse soerguimento favorece o processo erosivo, que para o caso
acima atuou erodindo o platô (cuja existência foi evidenciada pelas zonas homólogas de
rugosidade semelhante) e conservou o domo.

Propriedades Geomorfológicas das Rochas


As propriedades geomorfológicas de uma rocha estão relacionadas principalmente às estruturas
e características físico-químicas, que condicionarão diferentes respostas das rochas ao processo
de erosão. Essa definição está diretamente ligada ao conceito de erodibilidade.

O conceito supracitado não deve ser confundido com o que é definido como erosividade:
enquanto a erodibilidade consiste em uma propriedade do paciente em ser erodido, a
erosividade por sua vez é característica do fluxo que atua sobre o material, ou seja, a capacidade
do agente em gerar a erosão.

Mesmo uma rocha pode ter erosividade, isso pois diferentes tipos de material carregados por
um fluxo podem gerar diferentes condições de erosão. Se um fluxo de água carrega sedimentos
cascalhosos de composição quartzito, ela terá maior erosividade do que caso carreasse
sedimentos de um esteatito (talco principalmente).
Tratando-se da ação de um agente que atua por escoamento superficial as principais
propriedades relacionadas serão o grau de coesão e o grau de permeabilidade. Ambos
conceitos encontram-se ligados, uma vez que quanto maior o grau de coesão, principalmente
para rochas sedimentares, menor a permeabilidade, logicamente que nesse quesito entram
outros fatores como a cimentação e afins, porém, de forma geral, quanto mais espaços vazios e
menor grau de ligação entre as partículas, maior é a capacidade de um fluido penetrar nessa
rocha. O conceito de permeabilidade encontra-se por sua vez ligado à capacidade de conexão
entre os poros da rocha – apenas apresentar porosidade não é garantia de que a água poderá
ser armazenada, a exemplo a pedra pomes.

Vale ressaltar que rochas ígneas como os granitos também possuem porosidade, estando assim
susceptíveis à absorção de fluidos, porém, tais rochas tem um grau de permeabilidade
extremamente baixo, aproximando-se de zero.

Nos corpos ígneos, uma vez que a percolação de fluidos é reduzida, eles não serão usualmente
alterados por esculturação superficial (erosão alveolar) e sim por formação de vales verticais:

Imaginando o bloco diagrama ao lado como representante


de uma grande massa granítica, na qual observa-se duas
famílias de falhas, cujas direções estão representadas em
vermelho. Nesse bloco, tem-se passagem da água que atua
escavando com maior eficiência sobre os planos de
fraqueza.

Após um bom espaço do tempo geológico a ação


da água gera o espessamento das fraturas, aqui
representada com exagero vertical. Após o
aumento da zona de fratura, partes da rocha são
expostas à ação das variações de temperatura
que causam a esfoliação esferoidal, que por sua
vez arredonda as bordas. Após mais um grande
espaço do tempo geológico, o maciço será
convertido em uma série de pães de açúcar. Nesses campos é possível inferir até mesmo em
que direção se encontrava a zona de faraturamento.

Pensando por outro lado em um arenito, cuja porosidade é muito alta, é extremamente raro
que nele a água se propague nas fraturas, isso pois, para que a água se desloque para a fratura
é necessário que primeiramente todo o sistema esteja saturado. Um exemplo clássico disso é a
ausência de grandes bacias hidrográficas na região de existência do arenito Botucatu – toda a
água se desloca para o aquífero em subsuperfície.
Outras características estarão relacionadas a fatores como a
granulação/granulometria2: rochas de maior granulometria
têm área superficial maior, o que possibilita uma exposição
maior às intempéries, além disso, quanto maiores os grãos,
menos ligações são geradas em um contexto geral da rocha.
A exemplo, um aplito se altera de forma muito mais lenta que
um pegmatito.

Nessa segunda imagem é visto um outro


fator condicionante, que são as famílias de
fraturas, que como já mencionado aqui, são
planos de fraqueza, os quais facilitam a
passagem da água, tornando-se regiões
propícias ao desgaste. É interessante
observar nesse afloramento que o mesmo
apresenta feições características de um
arenito ou quartzito, porém, como saber se
ouve uma deformação capaz de gerar metamorfismo e assim definir a partir de uma imagem
qual o tipo de rocha? Primeiramente, percebe-se as fraturas que podem remeter a uma
deformação, mas não necessariamente são capazes de gerar o metamorfismo. Por outro lado,
observa-se sets inclinados, o que define necessariamente um ambiente de deformação
(indicado em vermelho e mudança de set).

Na imagem ao lado é visto um dique, onde é


perceptível a mudança na granulação, enquanto
a parte mais escura é um dique, afanítico
(porfirítico de matriz afanítica), a parte que o
envolve é formada por grãos muito grandes de
feldspato. Nesse contexto é fácil supor uma
alteração muito mais rápida por parte do
material do entorno em função dos grandes
grãos de feldspato.

Alguns outros fatores também devem ser pensados, como o grau de solubilidade e o grau de
heterogeneidade: o grau de solubilidade será definitivo, materiais muito solúveis,
principalmente em climas tropicais se alteram muito facilmente, porém, ser
homogêneo/heterogêneo pode ser favorável ou desfavorável ao processo erosivo, se é um
agregado monominerálico quartzozo, ele dificilmente será alterado, por outro lado, calcários
compostos basicamente por calcita podem ser alterados frente a uma mínima quantidade de
ácidos orgânicos.

2
Não confundir conceitos de granulometria e granulação pois esses atendem a domínio diferentes:
enquanto o termo granulometria é utilizado para rochas sedimentares (cujas partículas já estiveram
isoladas), o termo granulação é utilizado para rochas metamórficas e ígneas.
O grau de solubilidade em rochas sedimentares está muitas vezes relacionado ao cimento, um
exemplo característico são os tipos de quartzito São Tomé (proveniente de São Tomé das Letras)
e o do grupo Itacolomy (de Ouro Preto), no quartzito São Tomé o cimento é mais fraco, além
disso, os planos de fraqueza são mais pronunciáveis, logo ele é mais susceptível ao desgaste por
solubilização.

Dessa forma, é possível olhar para o relevo terrestre e dizer que o mesmo é constituído pelas
seguintes litologias:

 Granitóides: rochas coesas e impermeáveis, com descontinuidades heterogêneas.


 Arenitos: permeáveis, estratificados e fraturados.
 Calcários: coesos e homogêneos, porém, permeáveis.
 Pelitos/Xistos/Filitos: pouco resistentes ao escoamento superficial.

É importante salientar que esse tipo de estudo é baseado na definição de um tipo de relevo
conhecendo-se a litologia, ou seja, que tipo de relevo se espera para uma região constituída de
uma dada rocha. Porém, para o geólogo é muito mais conveniente fazer o exercício oposto, ou
seja, conhecido um dado relevo tentar prever qual a litologia existente. O exercício preditivo
dadas as proporções pode ser vantajoso, porém, não dispensa o trabalho pontual, e para os
grandes grupos litológicos citados acima serão bem diferenciados os relevos.

Quanto ao escoamento superficial é possível definir três grandes classes de rochas. Por
escoamento superficial entende-se o conjunto de águas meteóricas, fluviais, e afins que escoam
sobre os diversos litotipos alterando-os. Essas três grandes classes serão:

 Grande resistência ao escoamento: serão principalmente as rochas cristalinas, que


como já apresentado possuem baixa porosidade e permeabilidade, e os arenitos, que
por outro lado possuem permeabilidade e porosidade tão altas que impedem a ação do
escoamento superficial.
 Baixa coesão (sujeitas ao escoamento superficial): são representadas principalmente
pelos xistos e filitos, rochas que caracteristicamente possuem fissilidade, ou seja, são
divididas em planos, o que acarreta em paisagens com grande densidade de drenagens
e também maior densidade de vegetação – a água se acumula nesses locais.
 Imunes: são representadas pelos calcários. É conhecido que essas rochas sofrem muito
com o processo de dissolução, e é exatamente por tal motivo que o escoamento
superficial não atua de forma mecânica sobre esses – o transporte de material se dá em
solução.

1. Quartzitos: características de ambientes com


vegetação pouco desenvolvida, pouco
escoamento superficial e rochas pouco
solúveis; caracteristicamente são relevos
cujas “arestas” são bem desenvolvidas.
Percebe-se claramente a diferença em
termos de rugosidade que a composição de
quartzito propicia à paisagem (destacado em
amarelo).
2. Arenitos: o primeiro fator a se tratar em termos de relevos cujo litotipo é o arenito é a escala
em que se vê o mesmo: se a terminologia usada é a de um relevo tabular, depreende-se que
a paisagem está sendo observada sobre uma pequena escala, ou seja, pequena quantidade
de detalhes. Já o termo ruiniforme, o grau de detalhes é muito maior – geralmente detalhe
de afloramento. Nesses ambientes os vales encaixados demonstrarão nítida disparidade
com os “paredões” dos relevos tabulares.

Relevo tabular, observa-se uma escala de


imagem muito pequena.

Uma pequena parte do todo


apresentado acima é o que se
classifica como ruiniforme.

3. Xistos e Filitos: são rochas que


apresentam grande variação na forma em
que se apresentam no relevo, isso de
acordo com as condições ambientais às
quais são expostos. No Brasil, clima
tropical, essas rochas apresentar-se-ão em
relevos muito mais modelados, com
grande espessura de solo, enquanto que
nos relevos frios serão formadas as bad
lands.
Na imagem ao lado observa-se um relevo
em clima tropical.
Nesse segundo plano percebe-se rochas do
tipo xisto em um ambiente de clima árido,
onde predomina a erosão mecânica,
formando morros com grande quantidade
de “estrias”.
Percebe-se ainda que mais ao fundo o
relevo é bem mais plano, possivelmente em
função de mudanças litológicas.

4. Granitóides: as principais características desse grupo de rochas já foram salientadas aqui,


no mais vale ressaltar que nesses ambientes a erosão linear é marcante, com decomposição
em matacões ou finos, sem presença dos intermediários.

Na imagem ao lado destaca-se a


forma mais característica de
denudação dos relevos graníticos,
observa-se nessa caso a presença
de grande quantidade de diaclases
(famílias de fraturas), esses
sedimentos que separam-se,
conjuntamente com outros
processos como a esfoliação
esferoidal irão culminar na
formação dos depósitos de talos.
Vale ressaltar que os depósitos de talos são caracteristicamente depositados aos sopés das
montanhas, porém, em alguns casos, depara-se com situações como as da imagem abaixo:

Observa-se no caso uma série de blocos,


muito grandes (matacões) de composição
granítica, característicos dos depósitos
gravitacionais, porém na presente situação
não se observa a parte elevada à base da qual
estaria, possivelmente, esse deposito de
talos.
A conclusão a que se chega é que a erosão
atuou no ambiente de forma extrema sobre o
morro, consumindo-o e conservando o
material do depósito. À primeira vista, esse
tipo de correlação possui aplicações
econômicas no que tange à busca pela área fonte de recursos de depósitos recentes – “caso
haja um avanço para o país em termos de exploração de fontes nucleares, pode-se buscar a
monazita presente nas praias do Espirito Santo em sua área fonte, uma vez conhecidos os
processos erosivos que as levaram para a praia”.

Inversão de Relevo
Se por um lado o que foi supracitado define bem as características dos grandes grupos litológicos
e seus respectivos relevos esperados, nem sempre a natureza se mostrará de forma tão
constante. Observe o exemplo abaixo:

Em um instante T1 tem-se um
gnaisse arqueano, já em T2, esse
mesmo gnaisse é intrudido por um
batólito, de mineralogia muito
semelhante, porém, de idade
proterozoica.

Se tratando de rochas idades


diferentes, a rocha mais antiga é
colocada às ações do
intemperismo a muito mais tempo
e por esse motivo ela é muito mais
alterada e consumida.

Essa situação resulta no relevo


esquematizado em T3, um
rebaixamento da rocha gnáissica e
afloramento da rocha granítica.

Apesar dessa situação explicar


muito bem o desenvolvimento do
relevo nesses ambientes, vale ressaltar que isso só é observado para ambientes onde há a
predominância de ação dos agentes químicos do intemperismo, como é característico dos climas
tropicais. Já em ambientes áridos, onde predomina o intemperismo mecânico, o que ocorre é
que a recristalização metamórfica, que reordena os minerais, tornando-os mais resistentes, e
nesse contexto a rocha intrusiva é mais desbastada.

Uma vez que esse processo aparentemente se opõe à “ordem natural” dos processos, ou seja,
aqui que é esperado, tem-se uma inversão de relevo. Salienta-se que a inversão de relevo pode
ocorrer em diversos contextos, e nesse caso serão estudados uma série de processos de
inversões de relevo nos conteúdos que se seguem.

Relevo Dobrado
A compreensão do relevo dobrado é fundamental para que se reconheça as possíveis inversões
desse contexto, mas vale ressaltar que as dobras serão apresentadas aqui de forma a se ter
fundamentos, pois a compreensão delas se dará melhor na disciplina de geologia estrutural.

Grandes variações podem ser observadas nesses contextos de acordo com a heterogeneidade,
processos tectônicos atuantes em sua formação e quanto à ação da erosão. Apesar dessas
diferenças pode-se salientar o alinhamento das cristas e vales como algo relativamente comum.
Geralmente as dobras são representadas em seu formato cilíndrico:

Porém, são até mais comuns os casos em que o eixo da dobra apresenta caimento segundo um
ângulo:

Em ambos os casos foi apresentado esquematicamente como aparecem essas dobras em


mapas. Nos mapas as dobras com caimento aparecem triangulares, enquanto as dobras
cilíndricas são representadas apenas repetindo as litologias pelo eixo de simetria (eixo de
dobra). Tais feições são resultado da erosão modelando esses relevos, e uma forma de
reconhecimento, para o caso das dobras com caimento, é que se o triângulo é formado na
mesma direção do caimento, então tem-se um antiforme, do contrário um sinforme.

As dobras podem oferecer bons indicadores sobre as condições em que se encontram, isso por
meio de uma série de características. A primeira dela advém da teoria dos fractais, a qual
aplicada nesse contexto se repetiria em escalas menores, onde se observam as dobras
parasíticas, e essas podem ser utilizadas, por exemplo, para reconhecimento dos flancos de uma
dobra maior, dando assim, indícios do processo erosivo.
Muitas vezes a existência de
um relevo tabular é atribuída à
presença de camadas plano-
paralelas, porém, na verdade essas
condições não são requisitos, uma
vez que a “horizontalidade” do
relevo pode ser resultado exclusivo
do processo erosiva, como o
indicado na imagem ao lado.

Na imagem ao lado é
possível perceber também a
esquematização das dobras
parasíticas, as quais auxiliam na
reconstrução do ambiente.

As disposições das dobras permitem ainda outras classificações mais específicas dessas
estruturas:

Morfologicamente:

Em termos da morfologia as dobras serão classificadas em Antiformes, quando possuem a


forma de uma letra “A”, e Sinformes, quando assumem o desenho da letra “U”.

Cronológicamente:

Quando um conjunto de dobras possui sua camada mais antiga ao centro, ela é classificada
como um Anticlinal, já quando essa camada central é a mais jovem, é dito que essa é uma
Sinclinal.

Vale ressaltar que uma camada pode ser classificada segundo ambas características ao mesmo
tempo, assim, as nomenclaturas podem ser:

Observa-se ao lado as
camadas com suas
respectivas idades (Tr –
Triássico; J – Jurássico; K –
Cretáceo), sendo
conhecidas as idades é
possível se descrever mais
que as formas.

A – Observa-se a
disposição semelhante à
letra “A”, e além disso, a
camada mais ao centro é a
mais velha. Assim ela é
classificada como um
Anticlinal.
B – A camada mais antiga está no centro, porém, a disposição é semelhante à letra “U”. Tem-se
um Sinforme Anticlinal.

C – Sinforme Sinclinal (sinclinal).

D – Camada mais jovem no centro, e forma de letra “A”, logo, um Antiforma Sinclinal.

Outra forma de classificação é baseada na posição espacial do plano axial – plano que passa pela
linha de charneira e é simétrico a ambos flancos da dobra.

Dobras cujo plano axial está perpendicular ao plano horizontal são definidas como dobras
verticais, aquelas que possuem a inclinação do plano moderada, são as dobras moderadas, e
por fim, as de baixa inclinação são as dobras recumbentes. Porém, tal classificação ainda se
limita a descrever dobras que não possuem caimento, e no caso de apresentarem, o eixo vertical
do diagrama ao lado será utilizado. Por exemplo, uma dobra de mergulho 82° e caimento 35° é
dita uma dobra vertical de caimento moderado.
Conhecidas as principais características das estruturas que são as dobras, é possível relacionar
isso com os relevos dobrados:

Nos dois conjuntos de imagens apresentados


observa-se um conjunto de dobras, o primeiro consiste
em uma mina de carvão na Virgínia, Estados Unidos, na
qual a formação das dobras concentrou o carvão na parte
central, expondo e facilitando a exploração – se lá a
exploração de carvão é simples, as minas com maior taxa
de exploração do Brasil, como a de Criciúma (SC)
demandam grandes intervenções.

No outro conjunto, tem-se uma zona


polideformada, ou seja, houveram mais de um evento de
deformação, nesse caso observa-se que a deformação
não foi conduzida pela temperatura como principal
agente, uma vez que o óleo não foi volatilizado.

Evolução de um Relevo Dobrado


Comparando-se em termos de idades, os Montes Apalaches possuem idade semelhante à Serra
do Espinhaço – resumidamente por volta de 0,5 G.a – e, por outro lado, a Cordilheira do Jura é
bem mais recente, formado pela colisão entre a África e Europa, evento que ainda se encontra
em desenvolvimento. Por tal motivo espera-se um relevo nos montes apalaches bem mais
desgastado pela erosão, enquanto que no Jura, a tendência é que as dobras se encontrem mais
bem formadas.

Assim, os relevos dobrados serão divididos em Relevos Jurássicos e Apalachianos, de acordo


com o que se aproximam mais nos termos característicos citados acima. Uma inversão de relevo
característica dos relevos do tipo Apalachiano são dobras cujo centro se encontra mais erodido
que os flancos da dobra, isso é possível quando essa parte central é de resistência menor que a
rocha componente do flanco.
No esquema acima temos um exemplo da inversão de relevo em dobras, inicialmente propõe-
se que o conjunto de rochas mais externo – em marrom mais escuro – seja mais resistente e
sendo assim enquanto a erosão atua sobre esse material tanto o conjunto se desgasta na mesma
proporção. Contudo, a partir do momento que a erosão começa a atuar sobre as camadas mais
internas – marrom mais claro – a taxa de erosão nessa porção é muito maior que sobre os
flancos, o que ao longo do tempo acarreta em uma condição semelhante à apresentada. Isso
será a inversão de relevo dobrado.

Essa condição tem um resultado interessante para o desenvolvimento das drenagens:

Na fotografia de satélite acima, observa-se uma série de rios, relativamente orientados, e o


contexto é a da Cordilheira do Jura. Essa orientação, dentro do contexto estudado, pode ser
atribuída à presença de uma dobra, e os rios estão correndo em sua zona de charneira.
Conhecidas as características do relevo jurássico, é possível afirmar que esses correm sobre uma
crista de sinforme, isso pois as dobras nesse ambiente são bem formadas.

Já em um segundo contexto de relevo apalachiano, como é o caso dos rios presentes no


Quadrilátero Ferrífero, já não possível fazer tais afirmações, uma vez que os anticlinais estão
erodidos e os rios podem correr sobre essas zonas de menor energia potencial.

Comumente os relevos apalachianos são atribuídos às margens leste da América do Sul e da


América do Norte, isso por essas serem zonas de margens passivas. Por outro lado, as margens
ativas são comumente relacionadas aos relevos Jurássicos. Contudo, tal relação é no mínimo
generalista, isso porque apesar de ser o tipo de relevo mais esperado, essa relação ignora
aspectos importantes como a ação erosiva – se um relevo se encontra em margem ativa, mas a
atividade erosiva e o clima são muito propícios ao desgaste do material ele não será preservado.
O contrário também é válido, também podem existir relevos apalachianos em zonas
tectonicamente ativas.

Assim, é complicado falar que os Andes são um exemplo de relevo Jurássico: por ser uma
estrutura extremamente extensa, atravessando climas frios e áridos, úmidos e quentes, além da
variação de litologias, é totalmente plausível que existam regiões que pontualmente destoem e
não sejam bem preservadas.

Um outro fator interessante a ser salientado na imagem é apresentado na imagem em detalhe


a seguir:

Logo abaixo da palavra “Jura” é possível observar


uma drenagem que varia seu caminho, sendo que o
desvio se dá quase segundo um ângulo reto. Sabido
que os rios nesse relevo irão correr sobre as calhas
das sinclinais, é possível depreender que o ocorrido
foi que o rio atravessou a crista da dobra, formando
o que se dá o nome de um feixo. O nome desse
processo é captura de drenagem, e pode ocorrer
pelos mais diferentes motivos, como exemplo a
existência de uma fratura. Outro nome dado a esse processo é o de “pirataria”, mas é mais
comumente usado em inglês.

E relevos dobrados as águas meteóricas, que incidem sobre o


topo – seta vermelha – tendem a escoar de forma a canalizar
sobre o flanco da dobra – seta amarela. Ao longo do tempo
esses fluxos canalizados tendem a gerar maior erosão ao
longo dessa linha.

À primeira feição resultante do processo de erosão formado


por essa infiltração damos o nome de Sulco.

Com mais tempo para evolução do processo de erosão


observa-se o aprofundamento do sulco. Além disso, o fluxo de água tende a fazer pequenas
curvas, erodindo assim as paredes do canal que por sua vez tendem a perder o sustento e
colapsar – processo ao qual se dá o nome de solapamento. O solapamento tem como resultado
o alargamento do canal, e quando isso ocorre a feição passa a receber o nome de Ravina.

Com a evolução do processo de alargamento e aprofundamento, eventualmente a erosão pode


atingir o lençol freático, fazendo que a água mine. Quando isso ocorre dá-se o nome de
“yby sorok”, nome dado em língua indígena para o processo de “rompimento da terra”, o qual
foi traduzido para o português para Voçoroca ou Boçoroca.

O mais interessante do processo de formação das voçorocas é que essa água que mina carrega
material em suspensão e íons em solução, os quais são retirados da zona de charneira – superior
– da dobra. Assim, o que se observa é que a charneira perde mais massa, esse processo é
chamado de erosão remontante, isso pois ela se desenvolve no sentido contrário à gravidade -
um morro que apresenta uma voçoroca e tende a perder material em sua lateral, após um
tempo fica perde na verdade seu topo.

Na imagem acima o número 1 corresponde ao processo indicado de formação da cruz, aqui


apresentada como a voçoroca. A evolução das voçorocas em ambos flancos das dobras pode se
dar até que ambas se encontrem e seja formada uma cluse, que no português é chamada de
feixo ou boqueirão (2). Ainda é ressaltado que em 2 é destacado o processo de captura de
drenagem.

Em uma última instância o widening é tão grande que a charneira e surgem, ravinas afluentes
da cluse – isso devido ao trabalho acelerado pelo desnível. Como resultado é aberta a combe
apresentada em 3.

A evolução da combe por sua vez é o consumo total da crista da antiforme e assim o relevo passa
a ser dominado pelas calhas das sinformes – claramente um exemplo de Inversão de Relevo.

Retornando às capturas de drenagens, esse processo é de grande importância para a geologia,


muitas vezes no que se trata da prospecção: no esquema acima, em 2, se no ponto destacado
pela seta vermelha existe um recurso mineral aluvionar associado, é bem provável que no outro
flanco da dobra, por onde o rio passava inicialmente o mesmo recurso exista, e nesse caso,
evitando-se a ação de leis ambientais e também o custo de retirada do material.

Como tratado, as capturas


podem ser influenciadas pelos
mais diferentes motivos, um
exemplo é o presente na cidade
de Niquelândia, no qual a
captura se deu associada
diferença de cotas entre os rios
– observar na imagem que
enquanto uma das drenagens
encontrava-se a 600m a outra
está a 800m.
Nos relevos apalachianos, existe a tendência de que se perca massa nas cristas e o conjunto
todo tende a ficar mais “leve”, e sendo assim, é necessário o reajuste do material sobre o manto,
o que se dá por meio do soerguimento epirogenético – mesmo processo da neotectônica que
explica a ocorrência de tremores em zonas de margem passiva.

Assim o relevo apalachiano é caracterizado por superfícies aplainadas e drenagens


superimpostas. As superfícies de aplainamento são as descritas como superfícies de erosão no
trabalho de Leister King. As drenagens superimpostas por sua vez são resultado desse
soerguimento: se há um soerguimento ocorre paulatinamente o abaixamento do nível de base,
se a água corre em uma superfície de maior potencial então ela corta as rochas com maior
energia e ao erodi-las consegue romper as dobras.

Imagem retirada pelo Google Earth da região dos Apalaches, observa-se uma série de dobras,
as quais são cortadas pelas drenagens – drenagens superimpostas – fazendo ângulos de
aproximadamente noventa graus.

Confirmar se uma drenagem superimposta é necessariamente uma drenagem que sofre captura

... um exemplo de sagacidade


“O relevo do Quadrilátero Ferrífero é Apalachiano”

Aparentemente uma afirmação simples e coerente, porém, com falhas. Ao se falar do


Quadrilátero, além das rochas metassedimentares descritas é importante lembrar a existência
das meta-ígneas do embasamento que aparecem na forma de domos, os quais não são descritos
como relevo dobrado e sim um relevo dômico. Assim, o mais correto é dizer que “O relevo do
Quadrilátero Ferrífero é Apalachiano em suas bordas”.
Ainda é possível tratar da organização das drenagens dos relevos dobrados. Observe:

Os nomes dados remetem diretamente à disposição da drenagem, por exemplo: uma drenagem
que corre sobre uma calha de uma sinforme é classificado como um rio de vale sinclinal3. Da
mesma forma, uma drenagem que desenvolve a favor do mergulho das camadas será chamada
de vale cataclinal. E por fim, um vale que é formado em zona de charneira de um antiforme é
classificado como um vale anticlinal, e assim por diante.

Relevo Dômico

O esquema acima (esquema d.1) descreve a formação padrão do relevo dômico: inicialmente
tem-se uma sequência de camadas depositadas de forma sub-horizontal e em um momento

3
Aqui o autor aparentemente comete um pequeno deslize ao confundir conformação com o nome dado
a uma estrutura da qual se conhece as idades.
“T2” essas camadas são afetadas pela intrusão de um corpo ígneo, o qual atua curvando as
camadas e se colocando mais ao centro.

A morfologia do relevo dômico se assemelha de forma geral ao relevo dobrado, uma vez que
em ambos a curvatura das camadas acarreta em um relevo cujas porções estão sobre diferentes
potenciais.

No momento “T1” as camadas estão todas sobre uma condição relativamente semelhante e a
erosão atua de forma relativamente homogênea sobre a camada superior, por outro lado, no
momento “T2”, a variação coloca as laterais do relevo mais próximas ao nível de base enquanto
que o centro fica sobre maior potencial e consequentemente os processos erosivos tendem a
atuar de forma mais eficaz sobre tal região.

Da mesma forma que atuava mais veementemente sobre as cristas das dobras é possível dizer
que o intemperismo e erosão irão atuar de forma mais eficaz sobre o “topo” do domo. Assim,
gradualmente as supracrustais serão consumidas expondo o embasamento cristalino4. O
consumo desse embasamento comumente se dá de forma mais rápida, uma vez que esse é em
sua maioria gránítico, e sendo assim, possui uma série de minerais facilmente consumidos. Esse
processo de erosão tem como resultado a inversão do relevo dômico.

A diferença essencial entre os relevos dobrados e dômicos está no aspecto tridimensional:


enquanto as dobras, ao serem observadas em escala de mapa, tendem a apresentar certa
linearidade entre as cristas, os domos formam estruturas mais próximas de algo circular – nem
sempre um círculo perfeito, porém, figuras que remetem a uma parte desse.

Uma implicação interessante dessa diferença morfológica dos relevos está na disposição das
drenagens: os relevos dobrados são caracterizados por duas direções preferenciais de
desenvolvimento da drenagem, as quais acompanham os flancos das dobras; nos relevos
dômicos por sua vez, as drenagens tendem a se desenvolver de forma radial, com fluxo em
direção à zona de menor potencial. Nos relevos dômicos, a depender da preservação do relevo
essas drenagens apresentam direções de fluxo diferentes, quando o relevo está preservado, as
laterais encontram-se sobre menor potencial, e as drenagens tendem a se desenvolver com o
fluxo irradiando para fora do domo. Porém, quando a inversão de relevo se mostra atuante, o
processo oposto ocorre, ou seja, o centro é consumido e ele passa a ficar sobre a condição de
menor potencial, e assim sendo as drenagens tendem a se desenvolver em direção ao centro do
domo.

Aplicações desse conceito são as concentrações de minério de ferro sobre os rios de Itabirito,
no qual a grande quantidade de minério relatado nos últimos dias está relacionada à vinda das
cabeceiras, uma vez que as cabeceiras encontram-se nas zonas das supracrustais do relevo
dômico.

... formalizando alguns conceitos:

 A atividade magmática intrusiva gera o arqueamento da paleomorfologia;


 Geração da Abóboda topográfica;
 Normalmente a base da abóboda sofre metamorfismo de contato;
 O arqueamento pode ser resultado da ação das mais diferentes formas de plútons.

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É importante salientar o termo cristalina, pois numa sequência de rochas como a apresentada, cada
camada funciona como embasamento da anterior.
Uma aplicação interessante das zonas de relevo dômico é que quando esse processo ainda estão
em desenvolvimento e o início do núcleo intrusivo é exposto, é comum a existência das
chamadas áreas de águas termais, que têm grande aplicação na área da geoconservação, a qual
ainda se encontra em desenvolvimento no Brasil5.

Mais do saber reconhecer e interpretar um relevo, é fundamental se reconhecer aplicações


desse conhecimento. Abaixo está indicada uma zona, claramente de relevo dômico, próxima à
cidade de Patrocínio.

Em mapeamentos de zonas com essas características é fundamental se buscar uma direção de


caminhamento como a indicada pela seta: a linha circular destacada, e que apresenta repetições
concêntricas, corresponde ao contato entre as litologias, tendo sido destacado esse contato por
razão da erosão. Sendo assim, ao se caminhar segundo a orientação do mergulho (dip), uma
maior quantidade de litologias – e por consequência, de características – são observadas que
um caminhamento sobre o strike.

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No departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto o conceito é defendido com
grande ênfase pelo professor Paulo de Tarso, que em associação com uma professora da UFMG (descobrir
quem) vêm tentando desenvolver áreas de geoconservação no estado de Minas Gerais.
Na imagem a seguir está representada a cidade de Caldas Novas, nela percebe-se claramente o
relevo dômico como um alto topográfico, tal interpretação pode ser advinda da disposição dos
sulcos que “caminham para fora do domo”.

Uma vez reconhecido que o domo é realmente a parte mais elevada, é possível concluir que não
houve a inversão de relevo no local, e sendo assim, é possível se perguntar qual a condicionante
levou à preservação do mesmo. E as opções mais óbvias são:

 O processo é recente e não teve tempo de ser trabalhado;


 As litologias são muito resistentes e não permitiram a parte central de ser atingida;
 O clima é desfavorável ao desenvolvimento da ação química;

Porém, ao se conhecer um pouco sobre as características do local, sabe-se que o mesmo é


caracteristicamente uma zona turística pela presença de águas termais, o que leva a pensar em
um processo geológico ainda atuante e assim, por extensão pensar em um ambiente
geologicamente recente, no qual não se teve tempo de gerar a inversão de relevo.

Num contexto mais próximo é possível pensar no relevo dômico para as cidades de Itabirito,
Belo Horizonte e Amarantino, os quais estão relacionados ao embasamento cristalino do cráton
do São Francisco. Algumas conclusões gerais, baseadas no conhecimento sobre a região podem
ser tomadas apenas pela análise de imagens aéreas:
IMAGEM D. 1 – GOOGLE EARTH - ITABIRITO

IMAGEM D. 2 – EMBRAPA – IPSOMÉTRICO, SEM COBERTURA


Os mapas acima mostram duas imagens diferentes
de um mesmo contexto, sendo que cada um
fornece informações diferentes. Na imagem
apresentada ao lado está focalizada a região
destacada pelo número 1 na “imagem d.2”.

Comparando-se os dados de ambas imagens, é


possível perceber que existe bem definida uma
região mais alta, sendo o topo das serras, outra de
altitudes médias, as encostas, e por fim a porção
onde se localiza a cidade de Itabirito, a zona mais
rebaixada.

Conhecendo-se a estrutura básica do quadrilátero é


possível depreender que a região mais rebaixada é
na verdade a porção cristalina, de maior alteração.
As médias altitudes estão relacionadas aos xistos do
Supergrupo Rio das Velhas e os pontos mais altos
são a expressão do Supergrupo Minas
(quartzito/itabirito).

A imagem apresentada à
esquerda consiste em uma
amplificação da região que se
encontra logo abaixo do número
2, indicado na “imagem 2.d”. Na
região (destacado pela seta
vermelha) observa-se um
lineamento morfoestrutural, de
grande importância para a região.

Comparando com a
imagem ao lado é possível ver a
rodovia atravessando o local,
observa-se que ela segue
praticamente retilínea até que é
desviada. Essa observação da
engenharia civil está diretamente
ligada à litologia em coloração
mais clara logo à frente. Essa
litologia consiste no quartzito da
Formação Moeda, que por sua
grande resistência,
provavelmente deu-se
preferência por contorna-lo.
Observando com mais cuidado ainda é possível perceber a variação na continuidade dessa
camada de quartzito. Essa não continuidade é resultado de uma falha que deslocou os blocos.

Dentre os minerais formados durantea evolução do quadrilátero, um de grande importância e


que de certa forma abundante foi o ouro. Em um processo de aumento de pressão, esse ouro
disperso tende a ser concentrado, e uma vez concluído o processo de falhamento ocorre o alívio
de pressão, que finalmente possibilita a concentração do ouro outrora disperso. No local
apresentado existem minas exploráveis que foram fundamentais à colonização da região.

Mas é possível observar domos que não passaram por inversão de relevo no quadrilátero?

Em algumas porções o embasamento apresenta características que tendem mais para rochas
máficas que félsicas. Nesses ambientes o processo de lixiviação das bases atua de forma a
concentrar o ferro disponível nessas rochas, e formar a canga, por exemplo, que são muito
resistentes. Isso acarreta que após um certo consumo da estrutura o centro tende a se conservar
– não exatamente a mesma estrutura inicial, porém, mais próxima dela do as regiões onde
ocorre a inversão de forma pura.

Apesar de tudo que foi apresentado sobre o relevo dômico até então e das várias comparações
e exemplificações sobre relevos dômicos dos complexos componentes do quadrilátero
ferrífero é importante salientar que eles não são formados pelo processo de intrusão
apresentado desde o início. O que ocorre aqui é na verdade um arranjo isostático: durante os
estágios pós-colisionais (anarogênicos) o colapso gravitacional do embasamento cristalino
gera nele uma condição de resistência plástica às deformações, e isso acarreta na formação
de domos por acomodação das supracrustais.

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