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ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
NATAL-RN
2017
MARLON BARROS DE LIMA
NATAL-RN
2017
Dedico este trabalho a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que este
momento fosse possível, acreditando e me apoiando durante minha trajetória até os dias
atuais...
Em especial, dedico aos meus pais, Marluce Barros e Fernando Lima (Beiçola do
Cavaco), e ao meu irmão Emanoel Barros, base familiar que sempre me incentivou e apoiou
na realização dos meus sonhos.
À minha noiva Emanuelly Barbosa por estar sempre junto apoiando minhas atividades
e vivendo comigo cada sonho profissional desde minha primeira Graduação.
Aos meus familiares, que sempre me apoiaram, acreditando na minha carreira,
torcendo para que tudo desse certo durante toda minha vida.
Ao meu orientador Ranilson Farias por mostrar os melhores caminhos a serem
seguidos durante o Mestrado além de toda paciência, compreensão e ensinamentos.
Além de todos os amigos que me apoiaram durante esses 2 anos de muita luta.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, quero agradecer a Deus pelo dom da vida e pela oportunidade de ser
músico, orientando minhas escolhas.
Aos meus familiares, amigos, colegas de trabalho, alunos e demais pessoas que, em
algum momento da minha vida, me apoiaram nessa batalha.
Ao Maestro Duda por ceder seu tempo e informações valiosas para realização deste
Trabalho, dispondo do seu momento de lazer para realização da entrevista que substanciou
essa Pesquisa.
À família do Prof. Radegundis Feitosa (in memoriam), através do seu filho
Radegundis Tavares, que cedeu diversos materiais contribuindo para a realização deste
Trabalho.
Aos membros do Quinteto Brassil, Ayrton Benck, Valmir Vieira, Alexandre Magno,
Cisneiro Andrade, Gláucio Xavier e Glauco Andreza por disponibilizarem materiais que
contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa.
Aos professores que aceitaram participar das bancas examinadoras, Radegundis
Tavares, Germanna Cunha e Alexandre Magno.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em especial, ao Prof. Ranilson Farias,
meu orientador, pelos ensinamentos e conselhos durante nossas aulas e diversos momentos
durante os 2 anos do Curso.
Ao Prof. Gilvando Azeitona e toda sua classe de alunos de trombone da UFRN, que
me apoiaram e fizeram como que me sentisse em casa, compartilhando de inúmeros
momentos de felicidade durante esses 2 anos... muitas brincadeiras e resenhas...
Aos meus companheiros da Turma 2016 do Curso de Mestrado em Música da UFRN,
pelos diversos momentos de diversão, sofrimento, dúvidas e muita resenha durante o tempo
do Curso... quantas histórias, hein?!... muito obrigado, pessoal (Regiane, Márcio, Fellipe,
Flávio, Pedro, Carlos Henrique CH, Leandro, Simeão, Fernando e Mariana).
Aos meus colegas de trabalho do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) - Campus
Monteiro, em especial, aos professores do Curso de Instrumento Musical, por compreenderem
minhas necessidades e ajustes de horários para realização do translado Monteiro – PB1 / Natal
– RN2, semanalmente, durante 2016.
Aos meus alunos do Curso de Instrumento Musical do IFPB - Campus Monteiro pelo
apoio, compreensão e ajustes de horários para realização das nossas atividades, pessoas
especiais que me deram muita energia para que tudo fosse possível.
Aos meus parceiros de luta da família Sexteto Tabajara (Emanoel Barros, Estêvão
Gomes, Lucas Angelo, Gilvan Novo e Marcelo Lucena).
Aos amigos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Associação de
Trombonistas da Paraíba (ATPB) e meus eternos professores de trombone, Radegundis
Feitosa (in memoriam), Sandoval Moreno e Alexandre Magno.
Por fim, e não menos importante, todos aqueles que fazem a Filarmônica 28 de Junho
da Cidade de Condado - PE3, instituição responsável pela minha formação musical, além de
ser minha segunda casa, onde pude formar verdadeiros amigos e irmãos.
1
Paraíba (PB).
2
Rio Grande do Norte (RN).
3
Pernambuco (PE).
“[...] a prática interpretativa é uma atividade transformadora que exige
do músico-intérprete além de dedicação e responsabilidade também
máxima compreensão e saber específico.”
(KUEHN, 2012, p. 10).
RESUMO
The present work deals with interpretative questions about 3 works for soloist
trombone of Maestro Duda, with the objective of suggesting subsidies that aid in the
development of the procedures of preparation and execution of the pieces. The works studied
here are: Two Dances (Gizelle and Marquinhos in Frevo), Fantasia for Trumpet and
Trombone, and Monette Suite. Among the main features of Maestro Duda's compositional
works, we can highlight the use of musical genres of Brazilian culture, however, there are few
academic works that deal with questions about the interpretation of this type of music. This
fact was what prompted us to carry out an investigation seeking to highlight the main
interpretative aspects of the genres used by Maetro Duda. A semi - structured interview was
conducted with the composer, aiming to understand the various issues concerning the works
and his musical career. In this way, the work is divided into 3 parts: the first contains
information about the composer's musical career, artistic production and updating of the
catalog of compositions for formations of metal instruments; the second addresses in general
questions about interpretation; and the third part, deals with the musical genres used by the
composer, besides containing interpretative suggestions for the trombonist in the works
studied.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 20
2 O MAESTRO DUDA......................................................................................... 25
2.1 Goiana - PE e as Bandas de Música na região da Mata Norte de PE........... 25
2.2 Primeiros contatos com a música em Goiana – PE......................................... 27
2.3 O ingresso no mercado de trabalho.................................................................. 30
2.4 O Maestro Duda na atualidade......................................................................... 35
2.5 Catalogação de composições para instrumentos de metais............................ 37
2.5.1 Catálogo não - temático de composições para instrumentos de metais do
Maestro Duda....................................................................................................... 38
3 INTERPRETAÇÃO MUSICAL....................................................................... 42
3.1 O papel do intérprete......................................................................................... 42
3.2 Fidelidade e liberdade na interpretação musical............................................ 45
3.3 Tradição oral e escrita na Música..................................................................... 48
3.4 Interpretação musical das obras do Maestro Duda através de seus
manuscritos......................................................................................................... 50
4 ASPECTOS E SUGESTÕES INTERPRETATIVAS PARA TROMBONE
SOLISTA NAS OBRAS DO MAESTRO DUDA............................................ 53
4.1 Gêneros musicais e elementos da cultura nordestina utilizados nas obras
do Maestro Duda................................................................................................ 53
4.1.1 Valsa..................................................................................................................... 53
4.1.2 Frevo..................................................................................................................... 55
4.1.3 Toada.................................................................................................................... 57
4.1.4 Caboclinho........................................................................................................... 58
4.1.5 Ciranda................................................................................................................. 60
4.1.6 Balada................................................................................................................... 63
4.1.7 Bumba-meu-boi do estado do MA....................................................................... 64
4.2 Duas Danças (Gizelle e Marquinhos no Frevo)............................................... 68
4.2.1 I Movimento Gizelle (Valsa) - Aspectos e sugestões interpretativas................... 69
4.2.2 II Movimento Marquinhos no Frevo - Aspectos e sugestões interpretativas....... 75
4.3 Fantasia para Trompete e Trombone (Toada)................................................ 78
4.3.1 I Movimento Toada - Aspectos e sugestões interpretativas................................. 78
4.3.2 II Movimento Caboclinho - Aspectos e sugestões interpretativas....................... 81
4.3.3 III Movimento Frevo - Aspectos e sugestões interpretativas............................... 82
4.4 Suíte Monette...................................................................................................... 84
4.4.1 I Movimento Ciranda - Aspectos e sugestões interpretativas.............................. 87
4.4.2 II Movimento Balada - Aspectos e sugestões interpretativas.............................. 92
4.4.3 III Movimento Valsa - Aspectos e sugestões interpretativas............................... 96
4.4.4 IV Movimento Boi Bumbá - Aspectos e sugestões interpretativas...................... 98
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 104
REFERÊNCIAS................................................................................................. 106
APÊNDICE A - Entrevista realizada com o Maestro Duda........................... 112
APÊNDICE B - Duas Danças (Gizelle e Marquinhos no Frevo) -
Trombone solista................................................................................................ 120
APÊNDICE C - Fantasia para Trompete e Trombone - Trombone solista. 122
APÊNDICE D - Suíte Monette - Trombone solista......................................... 123
ANEXO A - Carta de Autorização................................................................... 128
20
1 INTRODUÇÃO
Ainda a respeito das pesquisas sobre performance no país, Borém; Ray (2012)
apontam alguns dos problemas existentes nos trabalhos realizados nesta área. Dessa forma,
Borém; Ray (2012, p. 160, grifo do autor) comentam que:
Mesmo com o aumento de pesquisas sobre performance, podemos notar que não
temos uma grande quantidade de trabalhos especificamente na área de trombone. Com o
surgimento das pós - graduações em Música no Brasil e, consequentemente, pesquisas sobre o
trombone, é possível encontrar algumas dissertações relacionadas à interpretação de obras
musicais para esse instrumento, sendo elas: O trombone na música brasileira (SANTOS,
4
Estados Unidos da América (EUA).
21
1999); Sonata para trombone e piano de Almeida Prado: uma análise interpretativa
(NADAI, 2007); Possibilidades interpretativas nos trechos orquestrais para trombone da
série das Bachianas Brasileiras de Heitor Villa - Lobos (AREIAS, 2010); O trombone na
Paraíba, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte: levantamento histórico e
bibliográfico (SANTOS NETO, 2009); Inventiva nº 1 para trombone solo, Francisco
Fernandes Filho (Chiquito): estudo estilístico e interpretativo (SILVA, 2012);
Transcrição para trombone da Suíte in A minor para flauto concertato de G. Ph.
Telemann: a construção da performance por meio do processo transcritivo (PACHECO,
2013); Polacas para trombone e banda filarmônica do Recôncavo baiano: catálogo de
obras e sugestões interpretativas da Polaca Os Penitentes de Igayara Índio dos Reis
(SANTOS, 2013); Quatro obras de Gilberto Gagliardi segundo o Quarteto Brasileiro de
Trombones: revisão e edição crítica (TEIXEIRA, 2013); O gesto musical na interpretação
de três obras para trombone de Estércio Marquez Cunha (ANGELO, 2015). Em 29 anos
de pesquisas relacionadas ao trombone no país, temos apenas 9 trabalhos relacionados à
interpretação musical. Além dessas pesquisas, ainda é possível encontrar diversos trabalhos
sobre o ensino do instrumento, a respeito de sua técnica, análises de métodos, saúde do
músico e sobre a sua história. Desse modo, se compararmos essa produção em relação àquelas
realizadas em outros países nos quais a pesquisa em Música já é um fato consolidado,
notamos que os nossos trabalhos acadêmicos ainda são poucos.
Portanto, um dos motivos para a realização desta Pesquisa foi contribuir com a área
de trombone no que diz respeito à performance, buscando uma melhor compreensão dos
diferentes aspectos interpretativos existentes nas músicas do citado compositor onde podemos
encontrar elementos da cultura popular brasileira. Neste sentido, José Ursicino da Silva
(Maestro Duda), se destaca como um dos principais autores que escrevem obras baseadas em
elementos da música popular, além de ser responsável pelo aumento e diversificação do
repertório com estas características, dedicado aos instrumentos de metais. Ressaltamos aqui,
que as obras compostas pelo Maestro Duda estudadas neste Trabalho são aquelas,
especificamente, dedicadas ao trombone, destacando também, que esta Pesquisa tem como
um dos seus objetivos, compreender os principais aspectos inerentes à interpretação deste tipo
de música.
A respeito do Maestro Duda, é possível encontrar 3 trabalhos oriundos de pesquisas
realizadas em programas de pós - graduações no Brasil que abordam questões relacionadas à
sua produção musical, sendo eles: Elementos estilísticos tipicamente brasileiros na Suíte
Pernambucana de Bolso de José Ursicino da Silva (Maestro Duda) (SALDANHA, 2001);
22
5
Gizelle (Valsa) e Marquinhos no Frevo.
23
Em uma das etapas iniciais deste Trabalho, foram realizadas pesquisas bibliográficas
através da leitura de livros, artigos, anais, materiais disponíveis em internet e materiais
relacionados à produção musical do Maestro Duda. Foram feitas análises a respeito dos
principais aspectos interpretativos dos gêneros e elementos musicais utilizados, como
também, uma entrevista semiestruturada com o compositor, buscando compreender questões
históricas a respeito das obras e dos seus intérpretes. Assim, as análises foram realizadas de
forma descritiva a partir do material coletado, com o intuito de oferecer uma visão geral a
respeito da produção composicional do Maestro Duda e de suas obras para o trombone solista.
Desta forma, o trabalho está organizado em 3 partes, sendo a primeira delas a respeito
do Maestro Duda, a segunda a respeito da interpretação musical e a terceira sobre as Obras
estudadas. A primeira parte busca abordar questões relacionadas ao compositor, tanto no que
diz respeito a sua história, carreira profissional e produção do repertório para instrumentos de
metais, quanto em relação às suas atividades na atualidade. A segunda parte trata de questões
relacionadas à interpretação musical, refletindo a respeito do papel do intérprete, sobre a
fidelidade e a liberdade, tradição e questões específicas a respeito da interpretação de obras do
Maestro Duda a partir das suas partituras manuscritas. Na terceira parte, realizamos uma
abordagem a respeito dos gêneros musicais e elementos da cultura brasileira utilizados pelo
Maestro Duda nas obras Duas Danças, Fantasia para Trompete e Trombone, e Suíte Monette,
como também, sugestões interpretativas através dos principais aspectos encontrados nas
Obras. Salientando, porém, que as sugestões serão realizadas apenas na parte do trombone
solista, embora elas possam ser aplicadas para as formações instrumentais aqui estudadas.
Assim, destacamos que, todas as questões abordadas neste Trabalho, têm como
finalidade a construção do conhecimento a respeito da produção musical do Maestro Duda,
especificamente, das obras voltadas para o trombone solista. Buscamos fundamentar nossas
falas através da contribuição de diferentes autores, como também, trazer discussões a respeito
da interpretação musical de obras baseadas nos gêneros e elementos musicais da cultura
brasileira, sabendo que poucos são os trabalhos escritos abordando questões relacionadas à
interpretação e/ou execução deste tipo música. É importante salientar que, neste caso, a
tradição oral ainda é a principal ferramenta de transmissão de conhecimentos e não os
trabalhos científicos.
Desse modo, muitas das sugestões deste Trabalho são oriundas da experiência do autor
desta Dissertação enquanto músico, por estar executando este tipo de repertório desde os seus
24
10 anos de idade na Filarmônica 28 de Junho da cidade de Condado - PE6, que já foi distrito
da cidade natal do Maestro Duda (Goiana - PE), além de diferentes bandas de música na
região da Mata Norte de PE. Outras referências interpretativas estão relacionadas ao Prof7.
Dr8. Radegundis Feitosa (1962 - 2010), do qual o autor deste Trabalho foi aluno de extensão
na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desde 2007 com 15 anos de idade até 2010, como
aluno do curso superior. É importante salientar que, todas as Obras aqui estudadas foram
dedicadas ao Prof. Dr. Radegundis Feitosa, além dos únicos registros fonográficos dessas
músicas terem sido realizadas pelo mesmo. No decorrer da carreira musical, o autor desta
Dissertação também teve a oportunidade de participar dos seguintes grupos, como membro
e/ou substituto: Quinteto Brassil, que teve dezenas de obras dedicadas pelo Maestro Duda
(membro na temporada 2011); Brazilian Trombone Ensemble, Quarteto de Trombones da
Paraíba além de orquestras sinfônicas no estado de PE e Paraíba (PB). Recentemente, com o
Sexteto Tabajara, o autor deste Trabalho vem desenvolvendo atividades voltadas à
interpretação de um repertório totalmente composto de músicas brasileiras, principalmente de
compositores pernambucanos e paraibanos. Além dessa experiência pessoal, também foram
de valiosa contribuição, as discussões com o orientador deste Trabalho Dr. Ranilson Farias,
que desenvolve, há décadas, trabalhos voltados à interpretação de músicas brasileiras com o
Sexteto Potiguar e a Big Band Jerimum Jazz na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN).
Por fim, fica aqui registrado que as sugestões interpretativas contidas neste Trabalho
para o trombone solista não se apresentam exatamente como regras, mas sim, devem ser
vistas como uma possibilidade dentre tantas outras que podem surgir, a partir de futuras
pesquisas. Nosso objetivo é tão somente trazer para a comunidade trombonística subsídios
que possam auxiliar outros instrumentistas na compreensão e execução dos diferentes
aspectos interpretativos da música brasileira (popular), inseridas nas obras para trombone do
Maestro Duda.
6
Pernambuco (PE).
7
Professor (Prof.).
8
Doutor (Dr.).
25
2 O MAESTRO DUDA
9
Documento online não paginado.
26
Entre o final do século XIX e início do século XX, décadas antes do nascimento do
Maestro Duda, duas sociedades musicais também foram fundadas na Região da Mata Norte,
em cidades vizinhas de Goiana - PE: a Sociedade Musical Pedra Preta, em 20 de setembro
de 1870 em Itambé - PE; e no distrito do município de Goiana - PE, Goianinha10 (atual
município de Condado - PE), a Filarmônica 28 de Junho, em 28 de junho de 1905. Estas
10
Goianinha integrava o território do município de Goiana [- PE] e começou a ser povoada desde o final do
século XVII, tendo seu nome mudado para Condado [- PE] em 31 de dezembro de 1943. Posteriormente,
tornou-se município autônomo por lei, em 31 de dezembro de 1958, e emancipada em 11 de novembro de 1962
(CONDADO..., [19--?]).
27
Bandas estão em atividade até os dias atuais, mas, como destaca Moreira (2015, p. 34), sabe-
se que em Goiana - PE haviam outras bandas:
Percebe-se que Moreira (2015) cita a Filarmônica 28 de Junho (1905) como extinta do
município de Goiana - PE, porém, como citado no parágrafo anterior, a mesma está sediada
na cidade de Condado - PE desde a emancipação da Vila Condado em 1962. A região da Mata
Norte, ao longo do tempo, se destacou pela quantidade de bandas de música tendo,
atualmente, sociedades musicais centenárias que cultivaram este movimento ao longo dos
anos, incentivando e formando instrumentistas para os mais variados ambientes de trabalhos
na área de Música no país.
Aos 8 anos de idade, o Maestro Duda iniciou seus estudos na Sociedade Musical
Saboeira na cidade de Goiana - PE. Percebe-se que, muitas crianças tiveram ou têm o contato
com aulas de música nas cidades da Mata Norte do Estado, através das escolas mantidas pelas
bandas de música. Desta forma, o Maestro Duda assim como muitos outros músicos, tiveram
a iniciação musical nas bandas de suas cidades. Em entrevista concedida a Saldanha, o
Maestro Duda diz que:
comecei tocando trompa, eu queria tocar pistom, mas na certa ele [o regente]
não quis e disse 'você não tem embocadura de instrumento de boca não, vai
tocar clarinete'. O meu padrinho tocava requinta e ele era o requinta mais
famoso do estado. O seu nome era Severino de Paiva e o apelido era 'Bita '.
Então eu pedia a requinta a ele, durante o dia ele me emprestava e eu ficava
estudando e a noite ele pegava e ia tocar (SILVA, 2000 apud SALDANHA,
2001, p. 17).
Após este contato com os primeiros instrumentos da Banda, ele chegou a tocar a
clarineta, entretanto, em uma situação bastante inusitada durante uma apresentação da Banda
Saboeira, o maestro Alberto Aurélio de Carvalho pediu para que o mesmo substituísse um dos
saxofonistas que não pôde comparecer na ocasião (FARIAS, 2002). A partir deste fato, o
Maestro Duda teve seu primeiro contato com o saxofone, optando por continuar seus estudos
musicais se aperfeiçoando como saxofonista.
Aos 10 anos de idade, compôs seu primeiro frevo, intitulado Furacão que,
inicialmente, teve uma orquestração bastante simples. A respeito deste fato, Farias (2002, p.
17, grifos do autor) comenta que:
Ainda na sua cidade, por volta dos 13 anos, o saxofonista Duda formou um
conjunto musical com alguns amigos, a Jazz Infantil. As apresentações eram
aos domingos à tarde, e o grupo executava as musicas que tocavam no rádio,
como os sucessos das big bands, que na época eram muito prestigiadas. O
fato de copiar as músicas para que o grupo pudesse tocar, utilizando-se do
rádio, proporcionava a ele, além de um bom treinamento auditivo, o contato
com as obras dos grandes mestres do swing americano. Essa atividade
serviria de base para que o compositor viesse a adquirir o seu conhecimento
musical a partir de iniciativas próprias.
A respeito desta sua fase em que copiava as músicas a partir da escuta do rádio para o
seu grupo Jazz Infantil, o Maestro Duda, em entrevista, relatou que:
(...) a Rádio tocava, e o povo cantava pelas ruas. Aí eu tirava. Eu já era mais
danadinho do que os outros, já escrevia as melodias pros [sic] cabras tocar.
(...) ouvia o rádio, aí tirava a melodia, escrevia, aí juntava eu, Marcos,
Mário... a gente fez o conjunto, um piston, um trombone e um sax, que era
eu. Não tinha menino que tocasse bateria. Era ‘Jazz Infantil’, agora o
baterista tinha um bigodão (...), seu Israel, era um velho, porque era o único
jeito. (...) Mário era da Curica e eu e Marcos da Saboeira, aí foi uma briga
danada na cidade, ‘Não, não pode misturar os músicos’, ‘Toma os
instrumentos’, ‘Não deixa eles tocarem...’ (...) a gente não podia ensaiar nem
numa sede nem na outra, aí o presidente do clube de lá, o Santa Cruz, na
época o Fernando, representante do INPS11 disse: ‘então ensaia lá, no Santa
Cruz’. (...) A gente ensaiava na sede do Santa Cruz e durante o dia de
domingo a gente tinha matinê e manhã de sol. A gente arrumou uns amigos
lá e alugou... pediu a sede emprestado, da Saboeira mesmo, né, aí um tomava
conta do bar, e o apurado era da gente que tocava (...) (SILVA, 2001 apud
FARIAS, 2002, p. 18).
Portanto, o Maestro Duda, ainda muito jovem, inicia sua trajetória musical se
destacando como instrumentista, compositor e arranjador, tendo desenvolvido suas
habilidades a partir do contato com a banda de música, como também pela escuta através do
rádio. Silva, M. (2015, p. 63) ao falar da importância das bandas, diz que:
O Maestro Duda, a partir desta fase inicial, levando-se em consideração o contexto das
bandas de música na região da Mata Norte de PE, pôde obter conhecimentos e experiências
que o levaram como instrumentista aos mais diversos ambientes. A partir de um olhar um
11
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
30
pouco mais aprofundado sobre a sua obra, podemos considerar o frevo, um dos principais
gêneros musicais explorados por ele em sua carreira, como também, evidenciar a influência
do estilo das big bands americanas na sua trajetória, tanto nos arranjos quanto nas
composições.
[...] Assim aconteceu com o maestro Duda, que seguiu para a capital do
estado, onde se aperfeiçoaria como instrumentista, arranjador e compositor.
Tomou essa decisão após haver recebido um convite irrecusável para fazer
parte da famosa Jazz Band Acadêmica, um grupo muito atuante no Recife [-
PE], e nesse gênero, um dos mais antigos surgidos no Brasil. A Jazz
Acadêmica foi fundada em 1931 pelo célebre compositor Lourenço da
Fonseca Barbosa, mais conhecido por Capiba, e animava os grandes
carnavais pernambucanos. Na década de trinta, chegou a excursionar com
grande sucesso pelo Brasil, permanecendo em atividade ate o ano de 1965.
[...] Duda chegou ao Recife [- PE] no ano de 1950, para integrar, como
saxofonista, a já citada Jazz Band Acadêmica. Por ser muito jovem, sua
família não permitiu que ele permanecesse por muito tempo naquela capital
e exigiu sua volta. Ele, porém, já tinha certeza que o seu lugar era naquele
meio musical, muito mais avançado e movimentado. Depois de um curto
tempo em Goiana [- PE], convenceu a família e voltou para o Recife [- PE],
a fim de dar continuidade aos seus estudos.
31
Durante a segunda guerra, Natal [- RN]12 servia como ponto estratégico para
o exército americano e muitas partituras trazidas pelos militares para seus
eventos sociais, segundo o maestro Duda, foram posteriormente levadas para
o Recife [- PE]. Em contato com essas partituras, Duda, que até então só
conhecia esse tipo de musica através do rádio, teve a oportunidade de estudá-
las detalhadamente, observando o processo composicional empregado pelos
grandes mestres desse estilo como Glenn Miller e Tommy Dorsey (FARIAS,
2002, p. 20).
Em 1952, aos 17 anos, teve sua primeira composição gravada pela Jazz Band
Acadêmica e, aos 18 anos, ele assumiu a regência do Grupo. Posteriormente, esse Grupo
também passou a integrar o elenco da Rádio Jornal do Commercio [sic], juntamente com a
Jazz Paraguari, orquestra oficial da rádio (FARIAS, 2002). Maestro Duda destacou que:
12
Rio Grande do Norte (RN).
32
13
O Movimento Armorial une a cultura popular com a erudita, numa interligação com a música, pintura,
escultura, literatura, teatro, gravura, arquitetura, cerâmica, dança, poesia, cinema e tapeçaria, utilizando-se do
‘material’ popular para a recriação e a transformação em diferentes práticas artísticas. [...]. Ariano Suassuna
divide o Movimento Armorial em três fases: uma fase preparatória, de 1946 a 1969, uma fase experimental, de
1970 a 1975 e uma fase ‘romançal’, a partir de 1976 (NÓBREGA, 2007).
33
[...] observando-se a sua obra, pode-se constatar a sua forte ligação com a
música nordestina, principalmente com os gêneros pernambucanos, como o
frevo, a ciranda e o maracatu, entre outros. Ele também foi buscar ‘nas raízes
populares da cultura nordestina’, como fazem os compositores armoriais, o
material para o desenvolvimento de sua obra, e este é um dos principais
pontos que eles têm em comum.
Em sua vasta obra, observa-se que o Maestro Duda escreveu peças para as mais
diversificadas formações instrumentais, porém, foi através do Grupo Quinteto Brassil,
Quinteto de metais e percussão14, que ele começou a explorar os instrumentos de metais
também como solistas, dedicando numerosas composições para o Grupo e seus componentes.
O Quinteto Brassil, desde a década de 1980, está sediado na UFPB, no Departamento de
Música. Pelo Grupo passaram vários instrumentistas de destaque no cenário musical
brasileiro, dentre eles: Radegundis Feitosa, Nailson Simões, Anor Luciano, Valmir Vieira,
Cisneiro Andrade, Ayrton Benck, Glauco Andreza, Gláucio Xavier, entre outros. Atualmente,
o Quinteto Brassil é conhecido como Sexteto Brassil e formado pelos seguintes componentes:
Ayrton Benck, Gláucio Xavier, Cisneiro Andrade, Alexandre Magno, Valmir Vieira e Glauco
Andreza. Este Grupo foi o principal difusor das obras do Maestro Duda, tanto no Brasil
quanto em outros países. Farias (2002, p. 33-34) ressalta que:
A partir de 1980, dava-se início uma grande parceria entre o Quinteto Brassil
e o maestro Duda. Esse grupo, ligado a Universidade Federal da Paraíba
[(UFPB)], desenvolve um importante trabalho de divulgação da música
brasileira para metais. Segundo [...] Vieira [(2001 apud FARIAS, 2002)]
tubista do grupo, o arranjo de Aquarela do Brasil do maestro Duda marca o
início desta relação, que gerou muitos arranjos, composições e transcrições.
[...] O trabalho do Quinteto gerou três discos. O segundo, lançado no ano de
1985, ‘Brassil Plays Brazil’ é uma homenagem ao aniversário de sessenta
anos do maestro Duda. Esta parceria foi muito importante por ter
proporcionado, entre outras coisas, a valorização do repertório brasileiro de
música para metais.
14
O quinteto de metais é uma formação bastante tradicional e consta de: 2 trompetes, uma trompa, 1 trombone,
uma tuba. No caso do Brassil, o Grupo acrescentou um baterista / percussionista, devido ao fato de explorarem
de forma bastante significativa, a música brasileira, que possui em seus mais variados gêneros e ritmos,
essencial ligação com a percussão.
35
para big bands, bandas sinfônicas, bandas de música, orquestras sinfônicas, grupos de câmara,
instrumentos solistas, entre outras formações. A respeito das conquistas e reconhecimentos
alcançados pelo compositor, Farias (2002, p. 35, grifo do autor) comenta que:
[...] no ano de 1993, o maestro Duda foi escolhido para participar do projeto
Memória Brasileira, da Secretaria de Cultura de São Paulo [(SP)], como um
dos arranjadores que mais se destacaram no cenário da música popular
brasileira no século XX, ao lado de nomes como maestro Cipó, Cyro Pereira,
Nelson Ayres, José Roberto Branco e Moacir Santos, entre outros. O projeto
lançou o CD15 Arranjadores, no qual o maestro Duda participa com um
arranjo das Bachianas Brasileiras n° 5 de Heitor Vila Lobos, interpretado
pela banda Savana.
Ainda a respeito das conquistas do Maestro Duda, Saldanha (2001, p. 23) acrescenta:
A partir das conquistas obtidas pelo Maestro Duda e da sua vasta produção, percebe-se
a sua importância e contribuição para a música brasileira. Foi um músico bastante ativo, se
destacando em diversos trabalhos realizados no decorrer da sua carreira. Atuou como
professor e arranjador no Conservatório Pernambucano de Música; tocou oboé e corne-inglês
nas Orquestras Sinfônicas do Recife e Orquestra Sinfônica da Paraíba; foi regente,
instrumentista e arranjador da Banda Sinfônica da Cidade do Recife - PE. Dessa forma, se
mostra um músico bastante versátil, pois além de atuar como compositor, também participou
de diferentes formações musicais, exercendo as mais diversificadas funções, alcançando
bastante destaque e reconhecimento através das suas atividades e produções musicais.
Atualmente, aos 81 anos de idade, o Maestro Duda atua como arranjador e compositor,
como também, é constantemente solicitado para diversos eventos de música por todo o Brasil
como professor convidado. O seu maior legado está relacionado às composições e arranjos
15
Compact Disc (CD).
16
Música Popular Brasileira (MPB).
36
desenvolvidos ao longo da sua carreira além das diversas atividades musicais na cidade do
Recife - PE e em outras cidades do país.
Recentemente no ano de 2014, foi lançado um documentário no formato de longa-
metragem, intitulado de Sete Corações, que buscou homenagear importantes compositores
de frevo do estado de PE. Dentre os homenageados, está o Maestro Duda, tido como um dos
principais compositores de frevo do Estado. Este Projeto foi idealizado pelo saxofonista
Inaldo Cavalcante de Albuquerque (Maestro Spok), buscando homenagear 7 lendas vivas e
embaixadores do frevo pernambucano, sendo eles: Clóvis Pereira, Maestro Duda, Guedes
Peixoto, Ademir Araújo, José Menezes, Edson Rodrigues e Maestro Nunes (FOTO 2).
O trabalho que o Maestro Duda vem desenvolvendo durante a sua carreira lhe rendeu
importantes títulos honrosos os quais são um reconhecimento mais do que justo pelo que já
realizou, realçando assim a sua importância para a música instrumental brasileira e a cultura
popular do estado de PE. Estas distinções que o diferencia no meio musical nacional são as
seguintes:
Patrimônio Cultural do Brasil desde 2007;
Patrimônio Vivo de PE desde 2010;
Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 2012.
17
Documento online não paginado.
37
Por suas realizações musicais, podemos dizer que o Maestro Duda é um dos principais
compositores vivos do estado de PE, merecendo também, papel de destaque no cenário
musical brasileiro. Pelo que já foi exposto neste Trabalho, pode-se constatar que ele é,
reconhecidamente, um dos principais responsáveis pela ampliação e diversificação do
repertório para os instrumentos de metais, enfatizando aqui o trombone. Vale ainda ressaltar,
a originalidade e beleza do seu trabalho no tocante a maneira como trata musicalmente os
gêneros e elementos musicais da cultura popular pernambucana e brasileira, sendo essa uma
de suas principais características, que vem, de certa forma, nos revelar um pouco de sua
identidade musical.
Como já colocado, o Maestro Duda é responsável por uma grande quantidade de obras
escritas para instrumentos de metais no Brasil, entre composições, arranjos e adaptações.
Esses trabalhos são voltados tanto para formações de grupos de câmara quanto para
instrumentos solistas com acompanhamento, sabendo que, muitas destas obras foram
solicitadas e/ou dedicadas aos músicos Radegundis Feitosa18 e Nailson Simões19 como
também a outros músicos brasileiros.
Com o intuito de proporcionar o contato de futuros pesquisadores com a produção
musical para instrumentos de metais do compositor, consideramos de suma importância
elaborar para este Trabalho, um catálogo não - temático. Optamos por esta escolha, em
detrimento a um catálogo temático, pois, este se tornaria muito extenso e detalhado. Porém,
não sendo uma catalogação o foco principal desta Dissertação, avaliamos que a nossa escolha
seria satisfatória para os objetivos que aqui almejamos. A respeito dos catálogos temáticos e
não - temáticos, Santos Neto (2009, p. 23) destaca que:
Catálogos temáticos são aqueles que recorrem à grafia musical para fornecer
informações sobre uma música ou determinado grupo de músicas. Além dos
dados gerais da obra, como nome do compositor, datas, editor, etc., devem
constar no Catalogo temático os ‘incipits’, que são partes do tema principal,
ou os primeiros compassos de uma obra catalogada.
18
Radegundis Feitosa Nunes (1962 - 2010) – Doutor em Música pela Catholic University of America – EUA.
Foi integrante fundador do Quinteto Brassil, Brazilian Trombone Ensemble, Orquestra Sinfônica da Paraíba e
professor de trombone da UFPB (NUNES, 2010).
19
Nailson de Almeida Simões (1954 - ) – Doutor em Música pela Catholic University of America – EUA. Foi
integrante fundador do Quinteto Brassil, Orquestra Sinfônica da Paraíba. Atualmente, é professor de trompete
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) (SIMÕES, 2017).
38
Santos Neto (2009, p. 25) acrescenta que: “Os catálogos não-temáticos são aqueles
que como o próprio nome explicita, não apresentam ‘incipits’ temáticos. Esses catálogos
apresentam geralmente o ‘Incipit’ abstrato”. Diante disso, Volpe (1994 apud SANTOS
NETO, 2009, p. 25) complementa afirmando que: “[...] esse tipo de catálogo ‘consiste na
indicação de andamento e/ou título, tonalidade, fórmula de compasso, ambos com todas as
alterações decorrentes, e o número de compassos de cada segmento’”.
Portanto, será utilizado neste catálogo o modelo não - temático, porém, de forma mais
simplificada, buscando facilitar o entendimento a respeito da dimensão da produção musical
do Maestro Duda. As principais informações a respeito de obras para metais terão como base
os trabalhos realizados por Farias (2002) e Santos Neto (2009), como também os resultados
obtidos através da realização de pesquisas a respeito das obras mais recentes do compositor.
Desta forma, serão evidenciadas as seguintes informações a respeito das obras voltadas para
instrumentos de metais, dentre grupos camerísticos e/ou instrumento solista: nome da obra;
instrumentação; ano da composição; e local da composição.
20
Formação do Grupo de Metais: 4 Trompetes Sib, 4 Trombones, 4 Trompas em Fá, Tuba em Dó, Tímpano,
Prato, Bombo, Caixa clara (FARIAS, 2002).
39
21
Maranhão (MA).
41
Portanto, foram citadas neste catálogo apenas obras escritas originalmente pelo
Maestro Duda para instrumentos de metais, especificamente, aquelas as quais foram possíveis
obter informações a respeito das mesmas. Obras escritas originalmente para outros
instrumentos, adaptações e arranjos, não foram incluídas neste catálogo.
42
3 INTERPRETAÇÃO MUSICAL
Desta forma, o compositor pode buscar oferecer o melhor roteiro para a preparação de
uma obra musical, pois, mesmo sabendo que a partitura não é capaz de informar todas as
ideias do autor, a mesma é capaz de direcionar o músico a alcançar o melhor resultado em
relação à sua preparação. Através das indicações na partitura, o intérprete poderá ter um
direcionamento de como lidar com determinada obra. Kuehn (2012, p. 10, grifo do autor) diz
que:
Concordando com Kuehn (2012), o intérprete deve buscar transmitir não só as ideias
do autor notadas na partitura, como também, questões que não estão grafadas. Isto se torna
um grande desafio para o músico, pois, como dito anteriormente, nem sempre os
compositores grafam todas as informações a respeito das obras. Mesmo aqueles que escrevem
muitas informações na partitura não são capazes de transmitir todas as suas ideias. Kuehn
(2012, p. 16, grifos do autor) a respeito da interpretação diz que:
Ainda a respeito da interpretação, Lima, Apro e Carvalho (2006, p. 12) ressaltam que:
Desta forma, o intérprete se torna responsável tanto pela transmissão das ideias
utilizadas pelo compositor em uma partitura quanto pela escolha das possibilidades
interpretativas no momento da execução. Sabendo que, através destas possibilidades, o
intérprete será capaz de transmitir também suas próprias características. Mesmo que
diferentes músicos se baseiem em semelhantes parâmetros interpretativos ao executar uma
mesma obra, sempre irá haver diferenças no resultado final. Portanto, estas escolhas
interpretativas, muitas vezes, são geradas a partir de questões pessoais, mesmo que
fundamentadas em parâmetros interpretativos. Lima, Apro e Carvalho (2006, p. 14) destacam
que:
[...] a execução musical também pode ser modificada por fatores externos
que surgem no momento em que se realiza a execução. As condições
acústicas de uma sala de concerto, a emoção do intérprete no ato da
47
Toda experiência musical adquirida pelo intérprete irá influenciar no resultado final da
performance, fazendo com que cada interpretação se torne única. Mesmo que diversos
intérpretes busquem o máximo de referências e inferências ao autor da obra, jamais irão
realizar performances idênticas, ou da forma que o compositor interpretaria. Apro (2004,
p. 48) ao falar de fidelidade e liberdade em relação ao intérprete, destaca que:
Assim, podemos observar que são diversos os desafios existentes ao se interpretar uma
obra, e o músico deve buscar, ao máximo, compreender as informações contidas na partitura,
além de estar atento as diferentes possibilidades interpretativas. Dessa forma, devemos levar
em consideração os sinais grafados na partitura que revelam as intenções do compositor,
tendo a consciência que a experiência musical do intérprete poderá influenciar, de maneira
significativa, no resultado final da execução instrumental / vocal.
Desta forma, o intérprete poderá utilizar a tradição como uma ferramenta para
construção interpretativa de uma obra. A tradição, neste caso da construção da performance,
pode ser pensada tanto em relação à escrita da partitura quanto em relação a questões
abordadas de forma oral, buscando uma maior liberdade na interpretação. Mesmo que o
intérprete esteja em maior ou menor grau preso a partitura pelos mais variados motivos, sua
interferência no resultado final da performance não pode ser ignorada. Nessa direção, Lima
(2005, p. 20) destaca que:
22
Documento online não paginado.
50
3.4 Interpretação musical das obras do Maestro Duda através de seus manuscritos
O Maestro Duda, ao compor suas obras, utiliza diversos gêneros musicais e diferentes
elementos musicais da cultura nordestina, porém, escreve poucas informações nas suas
partituras, que podem dificultar as escolhas interpretativas do executante. Como já destacado,
poucos são os materiais bibliográficos que podem auxiliar o músico na compreensão deste
tipo de música e isto pode se tornar algo problemático, principalmente para aqueles músicos
que não têm contato ou conhecimento dos diferentes gêneros e elementos encontrados na
música do Maestro Duda. Assim, a respeito das partituras manuscritas pelo compositor,
Cardoso (2002, p. 23) destaca que:
Nas partituras de DUDA, todas manuscritas pelo próprio autor, são muitos
discretos os sinais musicais que sugiram uma interpretação. [...] não traz
referências que auxiliem na sua compreensão interpretativa. Informações
sobre o estilo, momento histórico que envolveu a obra, o local onde ela é ou
foi executada, e outras mais de caráter social, com o apoio de sinais
musicais, facilitam a elaboração de uma visão interpretativa sobre a obra.
Desta forma, como observa Cardoso (2002), poucas são as informações interpretativas
escritas nas partituras, fato também observado nas obras aqui estudadas, dificultando, desta
51
Em relação à percussão, onde o Maestro Duda não especifica nas suas partituras como
deveriam de fato serem executados os diversos gêneros e ritmos, coube ao componente do
Quinteto Brassil, o baterista e percussionista Glauco Andreza, grafar e estruturar como o
músico deveria lidar com todo o repertório executado pelo referido Grupo. Portanto, o
percussionista Glauco Andreza e os demais componentes do Quinteto Brassil, foram
responsáveis pela construção performática do repertório escrito para eles pelo Maestro Duda.
23
Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,
em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
52
Dessa forma, o Maestro Duda não se preocupava em inserir muitas informações nas
partituras das suas obras, pois, como eram dedicadas para pessoas próximas e/ou para grupos
os quais ele já conhecia o trabalho, não sentia a necessidade de inserir determinadas
informações. Caso o músico não conheça os principais aspectos interpretativos dos gêneros e
elementos utilizados pelo compositor nas suas obras, poderá ter muitas dúvidas e/ou
dificuldades de entendimento a respeito deste tipo de música. Assim, é possível encontrar
partituras com poucas informações tanto para os instrumentos de sopro, no caso do Quinteto
Brassil e demais partituras para instrumentos solistas, quanto nas partituras de bateria e
percussão.
Dentre os diversos gêneros populares da música brasileira, o frevo é um dos gêneros
mais utilizado pelo Maestro Duda, um tipo de música muito executada no estado de PE. Nas
obras deste compositor, o estilo mais explorado é o do frevo-de-rua, e a respeito da
interpretação deste tipo de música, Benck Filho (2008, p. 1) destaca que:
Desta forma, estas necessidades não se aplicam apenas ao frevo-de-rua, mas também
aos demais gêneros musicais brasileiros oriundos das culturas populares. Com isso, se torna
muito importante a criação de materiais que possam contribuir com a elaboração de uma visão
interpretativa dos diferentes elementos musicais utilizados em obras que fazem parte desse
diversificado universo.
53
Nas obras do Maestro Duda é possível encontrar diversos gêneros musicais originários
da Música Popular Brasileira, tendo como destaque, os elementos musicais ligados às
manifestações culturais do nordeste. A partir das obras utilizadas nesta Pesquisa, podemos
citar os seguintes gêneros utilizados pelo compositor:
Duas Danças (1983 - 1984): valsa e frevo;
Fantasia para Trompete e Trombone (1994): toada, caboclinho e frevo;
Suíte Monette (1996 - 1997): ciranda, balada, valsa e Boi Bumbá.
A partir deste material, serão abordadas questões a respeito dos gêneros e elementos
musicais da cultura nordestina utilizados pelo compositor nas referidas Obras, como também,
serão apresentados aspectos e sugestões interpretativas para trombone solista nas músicas
estudadas.
4.1 Gêneros musicais e elementos da cultura nordestina utilizados nas obras do Maestro
Duda
4.1.1 Valsa
Das músicas estudadas nesta Pesquisa, o Maestro Duda utiliza a valsa nas seguintes
obras: Duas Danças e na Suíte Monette. A valsa é utilizada como forma composicional,
sabendo-se que, este gênero, em sua origem, está relacionado a uma dança, que é escrita em
compasso ternário. Vários compositores utilizaram este gênero em obras relacionadas tanto ao
repertório erudito quanto popular, podendo ser meramente instrumental e/ou vocal. A respeito
da valsa, Reis (2010, p. 27) destaca que:
As valsas dos compositores brasileiros são voltadas tanto para instrumentos solistas
como também para outras formações musicais. Dentre as características da valsa brasileira,
Reis (2010, p. 46) esclarece que: “[...] predomina a forma rondó com cinco seções (A-B-A-C-
A), empregada principalmente nas valsas-choros populares”.
A respeito das tonalidades, Reis (2010, p. 48, grifo do autor) acrescenta:
“Tonalidades: Nas valsas-choro ocorre o predomínio das tonalidades menores. Como no
choro, é frequente nas valsas-choro a mudança para a tonalidade relativa ou a subdominante
na seção B e para a tonalidade homônima maior na seção C”.
Em relação à construção melódica e o caráter na valsa brasileira, Reis (2010, p. 49-50,
grifo do autor) destaca que:
55
4.1.2 Frevo
O Maestro Duda utiliza o gênero frevo como movimento de duas Obras aqui
estudadas, Duas Danças e Fantasia para Trompete e Trombone. No movimento intitulado
Marquinhos no Frevo, da obra Duas Danças, o trombone assume o papel de solista, sendo o
responsável pela execução integral da Obra, tendo o acompanhamento do piano. No terceiro
movimento da obra Fantasia para Trompete e Trombone, o trombone solista assume as
características de acompanhamento, sendo o trompete, o responsável por executar melodias
que têm características solistas neste movimento.
Este gênero musical foi originado no estado de PE, precisamente na cidade do Recife -
PE, a partir dos desfiles militares no final do século XIX. As bandas militares e civis que
eram responsáveis por executar dobrados e marchas nos desfiles pelas ruas da cidade do
Recife - PE deram origem ao frevo, juntamente com os capoeiras que faziam passos
improvisados frente às corporações musicais, originando os movimentos hoje realizados pelos
passistas. Em relação ao surgimento do frevo, Saldanha (2008, p. 43, grifos do autor) diz que:
O Maestro José Lourenço da Silva (1889 - 1952) conhecido como Capitão Zuzinha
se destaca como um dos principais responsáveis pela consolidação do frevo. As marchas -
frevo compostas por ele, originaram o frevo-de-rua, estilo de frevo predominantemente
instrumental. A respeito do Capitão Zuzinha e da marcha - frevo, Saldanha (2008, p. 52-53,
grifos do autor) informa que:
Desta forma, a macha - frevo composta pelo Capitão Zuzinha foi uma das principais
bases para a criação do gênero frevo. No ano de 1936, as composições que possuíam as
características anteriormente citadas passaram de fato a ser denominadas com o termo frevo,
como são conhecidas hoje as suas 3 categorias: frevo-de-rua, frevo-canção e frevo-de-bloco.
Dentre os 3 tipos, o frevo-de-rua é tido como o único puramente instrumental, geralmente
executado por instrumentos de sopro e percussão. Ainda a respeito do frevo-de-rua,
observamos uma subdivisão de 3 modalidades: frevo ventania, frevo coqueiro e frevo abafo.
Farias (2002, p. 51) destaca que:
Para um melhor entendimento desta parte do Trabalho, optamos por registrar aqui uma
visão geral a respeito deste gênero, porém, no presente capítulo nos aprofundaremos apenas a
respeito do frevo de rua, pois, tanto na obra Duas Danças quanto na obra Fantasia para
Trompete e Trombone, o Maestro Duda utiliza o frevo-de-rua como base para a construção
dos 2 movimentos das obras. Desta forma, iremos discorrer sobre as particularidades que
caracterizam esse estilo. De acordo com Benck Filho (2008, p. 74-75, grifos do autor) em seu
trabalho sobre o frevo-de-rua, as principais características do frevo são:
4.1.3 Toada
Dentre as Obras estudadas, o Maestro Duda utiliza a toada para estruturar um dos 3
movimentos da Fantasia para Trompete e Trombone. A “Toada em si é qualquer cantiga, mas
58
a referência aqui é a essa espécie lírica tão comum e às vezes também sobre motivo jocoso ou
brejeiro [...]” (TOADA, 1999, p. 871).
O estilo de cantiga aqui abordado se refere a um tipo de canção, que pode ser utilizada
de diversas formas na música brasileira, modificando-se de acordo com cada região do país.
Na Enciclopédia Itaú Cultural, é possível encontrar a seguinte definição: “Derivada do verbo
toar (produzir um som forte, ressoar), a palavra toada assume na música popular brasileira
diversos significados. Em sua acepção mais ampla, refere-se à linha melódica de qualquer
canção sobre a qual se articulam os versos da letra” (TOADA, 2015, grifo do autor)24.
Ainda a respeito deste tipo de música, na Enciclopédia Itaú Cultural encontramos o
seguinte comentário:
No caso da Obra aqui estudada, o Maestro Duda utiliza as referências deste tipo de
música ao elaborar uma toada para formação de instrumentos de metais, contendo 2 solistas.
Além da toada que é utilizada na Fantasia para Trompete e Trombone, também é possível
encontrar outros 2 gêneros que são popularmente conhecidos no estado de PE, a ciranda e o
frevo. Assim, é importante saber que, na região nordeste, a toada “[...] assume um tom de
lamento, cantando a dor e a nostalgia do retirante” (TOADA, 2015)26. Portanto, o Maestro
Duda compôs uma toada instrumental que utiliza o trompete e o trombone como instrumentos
solistas, realizando uma conversa musical entre os 2 instrumentos.
4.1.4 Caboclinho
O caboclinho é “[...] um dos mais antigos bailados populares do Brasil, [...] também
um dos mais importantes componentes folclóricos de Pernambuco [(PE)]” (SALDANHA,
24
Documento online não paginado.
25
Documento online não paginado.
26
Documento online não paginado.
59
2001, p. 37). Essa manifestação cultural está bastante presente na cidade natal do Maestro
Duda, Goiana - PE, cidade que se destaca como a terra dos caboclinhos. Este elemento do
folclore nordestino é utilizado pelo Maestro Duda como um dos movimentos da obra
Fantasia para Trompete e Trombone, como também em outros trabalhos para diferentes
formações musicais. A respeito do caboclinho (ou cabocolinho), destaca-se:
4.1.5 Ciranda
Esta manifestação da cultura popular pode ter diferentes variáveis de acordo com os
costumes de cada região do país, ou seja, cada estado, cidade e/ou comunidade pode ter uma
forma peculiar de como praticar a ciranda. Assim como a prática da ciranda tem suas
61
variações de acordo com o local onde ela está inserida, a origem do termo ciranda tem
etimologia diversificada. Ao tratar deste assunto, Campana (2011, p. 9) destaca que:
Portanto, no Brasil, a ciranda é uma dança coletiva que tem como principal
característica a movimentação em roda. Na ciranda realizada no estado de PE, do qual o
Maestro Duda é oriundo, se tem a presença marcante do Mestre Cirandeiro, que é responsável
pelo canto e liderança do conjunto musical. Este conjunto é formando geralmente por
instrumentos de percussão e de sopro, tais como: surdo, tarol (caixa), ganzá, trompete,
trombone, saxofone, clarineta, podendo haver outros. A respeito da música e da dança
realizada na ciranda no estado de PE, Farias (2002, p. 57-58) destaca que:
A ciranda é uma dança realizada geralmente de forma comunitária, por pessoas que se
reúnem para dançar, sendo uma das principais manifestações culturais do estado de PE
(OLIVEIRA, 2007). A respeito da ligação da ciranda com o povo pernambucano, Oliveira
(2007, p. 10) acrescenta que:
4.1.6 Balada
O Maestro Duda utiliza o gênero musical Balada como referencial para a construção
do segundo movimento da obra Suíte Monette, se tratando de uma homenagem ao trompetista
norte-americano David Monette27. Compositores como Frédéric Chopin (1810 - 1849),
Johanes Brahms (1833 - 1897), Franz Liszt (1811 - 1886) e outros utilizaram a balada como
forma composicional, porém, o Maestro Duda utilizou a referência da Balada Americana
(canção lenta) relacionada à música popular americana. No Dicionário Grove, o termo Balada
é descrito da seguinte maneira:
Desta forma, é possível perceber que a balada é um estilo de musica (popular) muito
presente na cultura de países como EUA e Inglaterra (UK)29, e que também influenciou
diversos músicos de outros países através dos seus artistas e suas músicas. Cesar (1990, p. 13)
ao falar da balada, em relação à tradição musical americana e suas canções, destaca que:
Assim como nas demais músicas compostas pelo Maestro Duda, o mesmo utiliza
elementos da cultura popular para construir uma obra puramente instrumental. No caso de um
27
David Monette, trompetista e fabricante de trompetes, é reconhecido pelas ideias inovadoras em relação ao
design e melhorias do instrumento e bocais para os mais variados instrumentos de metais. (SIMÕES, 2001).
28
Século (séc.).
29
United Kingdom (UK) = Reino Unido.
64
dos movimentos da obra Suíte Monette intitulado como Balada, o compositor utilizou os
elementos da Balada Americana.
30
Documento online não paginado.
65
Os primeiros registros datados sobre esta manifestação cultural são do final do século
XVIII e início do XIX, porém, foi apenas nos anos de 1970 que o bumba-meu-boi se
popularizou na sociedade maranhense (COELHO; ALENCAR, 2015). Diversos foram os
grupos criados evocando este folguedo da cultura popular e, cada grupo, ao passar do tempo,
obtiveram características diferentes tanto relacionados às vestes (indumentárias) quanto ao
instrumental. Desta forma, essas características adquiridas por cada grupo ficou conhecida
dentro da cultura do estado como sotaque. A respeito das características e do sotaque,
Borralho (2006, p. 167) diz que:
Em relação à música, o sotaque se refere aos “[...] Ritmos que caracterizam o som
produzido pelos grupos de Bumba-Meu-Boi, a saber; zabumba, matraca, orquestra,
pandeirões, costa de mãos” (VIANA, 2006, p. 173). Portanto, de acordo com o ritmo e
instrumental, é possível identificar qual o grupo que está se apresentando. Dentre os sotaques,
Borralho (2006, p. 167) destaca os seguintes: “[...] Sotaque da Baixada, Sotaque de Zabumba,
Sotaque de Pandeiro de Costa-de-Mão, Sotaque de Orquestra, Sotaque de Matraca (ou Boi da
Ilha)”. Em relação à instrumentação destes sotaques, Borralho (2006, p. 167, grifos do autor)
os identifica da seguinte maneira:
O Maestro Duda ao elaborar o quarto movimento da obra Suíte Monette, o Boi Bumbá
utiliza as características rítmicas do Bumba-meu-boi do Sotaque de Matraca também
31
O chefe do conjunto, principal cantador (VIANA, 2006, p. 172).
66
conhecido como Boi da Ilha (FIGURA 3). Como destacado, os principais instrumentos do
Sotaque de Matraca são as liras, matracas grandes e os pandeirões. Cada sotaque tem suas
próprias características rítmicas que se diferenciam pelos instrumentos utilizados. Assim,
através das batidas (ritmo) deste sotaque, o Maestro Duda construiu o último movimento da
Suíte Monette.
Figura 3 – Elementos rítmicos do Bumba-meu-boi com Sotaque de Matraca (ou Boi da Ilha)
32
Documento online não paginado.
67
A peça Duas Danças foi a primeira obra escrita para trombone e piano pelo Maestro
Duda, contendo 2 movimentos, Gizelle e Marquinhos no Frevo. Foi escrita entre os anos de
1983 e 1984 e dedicada ao trombonista Radegundis Feitosa. A respeito dos acontecimentos
que contribuíram para elaboração dessa música, especificamente, o primeiro movimento
(Gizelle) e sobre o trombonista Radegundis Feitosa, o Maestro Duda relatou através de
entrevista que:
Ainda a respeito da sua ligação com o trombonista Radegundis Feitosa e sobre a valsa
Gizelle, o Maestro Duda acrescenta:
35
Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,
em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
69
Radegundis para mim era um filho... dentro de casa... não tinha problema
não... era como um filho meu. [...]. Quando eu fiz Gizelle, eu aproveitei e fiz
uma valsa concertante, com aquelas dificuldades que os trombonistas têm
que tocar... Radegundis ficou satisfeito... aí, ele começou a difundir ela...
[...]. [...] Radegundis gravou e difundiu ela por muito canto... [...]. Para
minha surpresa cheguei lá em Tatuí [- SP], Fernando Dedos, grande
professor de Eufônio, disse que foi na Juilliard [Julliard School – EUA] e
queria tocar uma música brasileira, e quando chegou no arquivo da Juilliard,
uma das maiores escolas de música de Nova Iorque [- EUA], Radegundis
estudou lá, se formou lá, foi no arquivo para pegar uma música para fazer o
recital, e só tinha Gizelle, que no caso foi Radegundis que deixou lá na
época do Mestrado (informação verbal)36.
Ele inicia a Obra com uma introdução de 2 compassos e, no seu decorrer, apresenta 3
seções, finalizando-a com breve coda que dura 3 compassos. A Obra oferece diversos
momentos onde se pode utilizar o rubato, dando ao intérprete a liberdade de expressão.
Sabendo que não é necessário um rigor rítmico nas seções em que o rubato está indicado,
deve-se ter muito cuidado ao lidar com esta nuança para não haver exagero e,
consequentemente, descaracterizar a música.
Para o estudo mais detalhado das Duas Danças, iremos partir das informações contidas
na versão editada pelos trombonistas Radegundis Feitosa e João Evangelista (NUNES;
36
Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,
em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
70
SANTOS NETO, 1996), pois a partitura original manuscrita não oferece informações
suficientes para o entendimento de questões interpretativas dessa música (FIGURA 4). Assim,
todas as nuanças de expressão e interpretação a seguir, têm como base norteadora a edição
indicada. É possível encontrar nesta partitura importantes informações que contribuem com a
preparação interpretativa da Obra, porém, em alguns pontos, sentimos falta de indicações que
não foram inseridas e que são relevantes para realização de uma performance satisfatória.
Figura 4 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda – Partitura editada por
Radegundis Feitosa e João Evangelista (compassos 1-4)
Para execução desta Obra, devido ao fato de não haver indicação de tempo na edição
de Nunes e Santos Neto (1996), sugerimos o andamento de acordo com interpretações
pessoais, como também, da análise de gravações, buscando entre estes 2 pontos um equilíbrio
que permita uma interpretação coerente da mesma. Desta forma, o andamento escolhido foi de
90 bpm37.
37
Batidas por minuto (bpm).
71
No compasso 2 da versão editada por Nunes e Santos Neto (1996), não há indicação
na partitura de acelerando, como também a indicação de tempo primo no início da seção A.
É muito importante o intérprete estar atento a frase inicial inserida no compasso 2, que é
intercalada com a primeira seção da Obra, pois a mesma, a título de sugestão, poderá ser
acelerada e retomada ao tempo primo no compasso seguinte que inicia a seção A.
Portanto, na seção A, sempre que o tema principal for apresentado, a frase anterior
(compassos 2 e 10) poderá ser acelerada e retomada ao tempo primo da Obra no compasso
que inicia o tema bem como a volta ao Segno (compasso 74).
Figura 12 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Retardo das figuras
alterando a estrutura rítmica (compassos 43-49)
Desta forma, é possível que o trombonista respire entre as frases sem prejudicar o
andamento ou a interpretação do fraseado musical. As duas formas de interpretação desse
trecho são apenas algumas das possibilidades sugeridas que buscam facilitar a execução por
parte do trombonista, como também, através das respirações indicadas neste trecho, a
execução das notas graves poderá ser facilitada.
Ainda na seção C, é possível conservar o sinal de acelerando, algo que se tornou
comum nas interpretações desta Obra e que, aqui, corroboramos com esta ideia. No final desta
Seção, o compositor escreve uma frase de 8 compassos (59-66) que não permite respiração.
Assim como nos demais trechos dessa música, é possível acelerar e retardar o tempo,
facilitando a execução desta frase sem descaracterizar a Obra (FIGURA 13). Desta forma, o
acelerando será sugerido a partir do compasso 59 e o retardando, que está no compasso 65
(original), será antecipado para o 63.
75
Nesta Obra, a seção A apresenta uma melodia relativamente mais fácil da música. A
seção A, em uma orquestra de frevo, é predominantemente destinada aos instrumentos de
metais (trompetes e trombones). Diante da dificuldade técnica deste movimento, sugerimos o
tempo de 120 bpm (FIGURA 15).
A toada foi utilizada pelo Maestro Duda para compor o primeiro movimento da Obra,
utilizando o trompete e o trombone como instrumentos solistas. Os temas são executados
pelos 2 instrumentos, em uma forma de conversa com perguntas e respostas, sendo
estruturada da seguinte forma:
38
No álbum BRASSILEIRO do Grupo Brassil, a obra não foi registrada com o nome de Fantasia para Trompete
e Trombone e sim como Toada. Este fato aconteceu porque o título da composição não estava exposto na
partitura e, com isso, o então trompetista do Grupo Nailson Simões, decidiu registrá-la como Toada, nome do
primeiro movimento da Obra (informação verbal).
Nota: Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta
Dissertação, em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
39
Os integrantes do Grupo que participaram do álbum BRASSILEIROS foram: trompetes: Charles Schlueter,
Nailson Simões, Ayrton Benck; trompa: Cisneiro Andrade; trombone: Radegundis Feitosa; tuba: Valmir
Vieira; percussão / bateria: Glauco Andreza (CARDOSO, 2002).
79
Quadro 3 – Fantasia para Trompete e Trombone, I Movimento Toada, Maestro Duda - Forma
do I Movimento (compassos 1-31)
Introdução Tema Reexposição do Tema Final
Compassos (25-33)
Compassos (1-9) Compassos (9-17) Compassos (17-25) (Finaliza dentro do II
Movimento)
Trompete /
Trombone / Trombone e
Trombone Trompete
Trompete / Trompete
Trombone
Fonte: O autor (2017).
Para a execução do primeiro tema, solo para o trombone, é sugerido que o mesmo
busque aproximar a sua forma de tocar à de um cantor (FIGURA 20), observando as inflexões
da voz. A toada tem origem vocal e o trombonista estará executando, nesta Obra, uma
melodia referente a uma canção melancólica. Assim, é aconselhável executar o trecho
utilizando o legato, tanto o legato natural, através da mudança de harmônicos sem a utilização
da língua, quanto o legato artificial, utilizando articulação leve sem intercalar os sons,
buscando uma homogeneidade sonora entre os 2 tipos de legato.
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Este retorno é algo comum na estrutura do frevo-de-rua, pois, antes de ir para o final da
música sempre volta para o A. Desta forma, as seções do frevo desta Obra estão divididas da
seguinte maneira:
Tabela 2 – Fantasia para Trompete e Trombone, III Movimento Frevo, Maestro Duda -
Forma do III Movimento
Seções A B Final
Compassos 54-69 70-85 88-92
Fonte: O autor (2017).
Assim como no frevo da obra Duas Danças, a música é iniciada através de anacruse e
o compasso da passagem inicia a seção B, momento em que ocorre a transição do tema entre
as seções A e B (FIGURAS 25 e 26). Também se tem o jogo de perguntas e respostas,
característico do frevo, onde o trombone está representando a pergunta, através de melodias
anacrústicas. Essas melodias que caracterizam as perguntas devem ser executadas com
intensidade mais forte que a melodia da resposta (FIGURA 25), pois esta maneira de se tocar
causa um contraste que torna a música mais interessante. Também se tem a necessidade de
dar ênfase na acentuação das figuras que estão em anacruse (FIGURAS 25 e 26),
procedimento bastante característico na execução do frevo. Neste caso, as colcheias inseridas
na parte fraca do segundo tempo ligadas a alguma figura da parte forte do compasso seguinte
deverão ser acentuadas (FIGURAS 25 e 26). É importante salientar que todas as
características supracitadas estão presentes no segundo movimento das Duas Danças,
Marquinhos no Frevo.46
Ressaltamos ainda que as sugestões interpretativas aqui postas estão baseadas em
vivências do autor deste Trabalho junto às orquestras de frevo, observando as indicações dos
maestros como também o trabalho dos vários mestres que são responsáveis pelas
manifestações folclóricas estudadas nesta Dissertação. Assim, a partir disto, seguem as
indicações interpretativas para as seções A e B, baseadas nos principais aspectos
interpretativos observados no frevo:
46
Cf. a subseção 4.2.2
84
Figura 25 – Fantasia para Trompete e Trombone, III Movimento Frevo, Maestro Duda –
Seção A (compassos 54-69); trecho de perguntas; sugestões interpretativas
Figura 26 – Fantasia para Trompete e Trombone, III Movimento Frevo, Maestro Duda –
Seção B (compassos 70-85); Final (compassos 88-92); sugestões interpretativas
A Suíte Monette do Maestro Duda é uma das principais obras deste compositor,
executada em diversos lugares tanto no Brasil quanto no exterior. Originalmente, esta Obra
foi encomendada pela Secretária de Cultura de Curitiba - PR49, em 1997, para a Orquestra
Sinfônica do Paraná, como também, foi dedicada ao trompetista norte-americano David
Monette. Posteriormente, o Maestro Duda adaptou esta Obra para diferentes formações, tais
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Paraná (PR).
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como: Bandas Sinfônicas, Bandas de Música, Quinteto de Metais, entre outros, porém, a
versão original, foi escrita para 2 solistas, trompete e trombone, e orquestra sinfônica. A
respeito da história da obra Suíte Monette e da dedicatória ao trompetista David Monette, o
Maestro Duda destaca que:
músicos Radegundis Feitosa (trombone) e Nailson Simões (trompete) pedirem para o Maestro
Duda inserir solos para ambos na Obra, a mesma se transformou em uma música para
trompete e trombone solistas e orquestra sinfônica.
O Maestro Duda ao compor a Suíte Monette, a divide em 4 movimentos, sendo eles:
Ciranda, em homenagem ao estado de PE; Balada, em homenagem ao trompetista David
Monette; Valsa em homenagem a sua neta Andressa; e Boi Bumbá, em homenagem ao estado
do MA. Em relação à criação da Obra e dos seus movimentos, o Maestro Duda comenta que:
A obra Suíte Monette é uma das principais composições do Maestro Duda, como
também uma das principais obras brasileiras do repertório solista para instrumentos de metais.
Para elaboração dessa Obra, o compositor utilizou elementos musicais de diferentes culturas,
evidenciando o trompete e o trombone como solistas. Assim, através desta Música, é possível
encontrar e trabalhar diferentes aspectos musicais.
Para o desenvolvimento do estudo desta Obra, foi utilizada a versão reduzida realizada
pelo Maestro Duda para trompete solista, trombone solista, 2 trompetes, trompa, tuba e
percussão, ou seja, quinteto de metais e percussão com o acréscimo de mais um trompete.
Esta foi a formação utilizada na gravação da Obra pelo Grupo Brassil, juntamente com o
trompetista convidado Charles Schlueter (EUA), na gravação do álbum BRASSILEIRO:
Brass Music from Northeastern Brazil pela Nimbus Records da Inglaterra - UK.
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Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,
em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
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Sigla utilizada pelo programa de edição de partituras Sibelius.
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Sigla utilizada pelo programa de edição de partituras Sibelius.
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O termo soli é utilizado pelo Maestro Duda nas partituras da Suíte Monette para informar que os solos serão
executados juntos pelos solistas e/ou membros do grupo.
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“Note Grouping: a method for achieving expression and style in musical performance” (THURMOND, 1991).
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“[...] arsis or anacrusis, whicherver it may be, is the motion-creating factor in the motive or frase [...]. Proper
recognition of this importance by the artist will insure that in performance the composition will be phrased
correctly and with ease [...]. Therefore if proper significance is given to the anacrusis, and the thetic portions
of the measure are not stressed, phrasing will be more correct and consequently the expressiveness of the
music will be enhanced.” (THURMOND, 1991, p. 49).
90
Na seção da transição deste movimento para os solos, o Maestro Duda inseriu uma
estrutura rítmica e melódica que é semelhante ao ritmo utilizado no caboclinho,
especificamente, no toque de guerra (compassos 24-31) (FIGURA 30). Também modificou a
fórmula de compasso de quaternário para binário durante este trecho. Assim, a melodia deverá
ser executada de forma bem definida, utilizando o staccato e com rigor rítmico, como
também, é possível utilizar um acento nas figuras inseridas nos primeiros tempos de cada
compasso, especificamente, os que utilizam o motivo rítmico de colcheia pontuada –
semicolcheia - semínima. Devido ao fato de todo grupo estar executando o mesmo motivo
rítmico e a percussão, naturalmente, estar acentuado os primeiros tempos destes compassos, a
interpretação natural sugere evidenciar o primeiro tempo. Nos compassos que estão inseridas
as síncopas, não deverão ser inseridos acentos (compassos 26 e 29).
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No terceiro movimento, o Maestro Duda escreve uma valsa em duas seções, sendo a
seção A entre os compassos 1 e 24, e a seção B entre os compassos 25 e 56. Após estas duas
seções, o compositor finaliza a Obra através da coda entre os compassos 57 e 61.
Na seção A, o trombone tem importantes melodias entre os compassos 10 e 14 e entre
os compassos 17 e 21. Em relação à interpretação das frases contidas nesta seção, sugerimos
que as notas do compasso 10 sejam executadas de forma definida, como também, acentuadas
levemente, em especial aquelas figuras contidas no terceiro tempo do mesmo compasso, as
quiálteras. O objetivo desta sugestão é dar movimento a frase e a melodia através dos acentos.
Devido ao fato do compositor não inserir indicação de andamento, sugerimos que a seção A
seja executada em 90 bpm.
Figura 38 – Suíte Monette, III Movimento Valsa, Maestro Duda – Seção A, sugestão
de acento nas notas do terceiro tempo do compasso 10 e de andamento
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também, corroboramos com esta ideia. Assim, sugerimos o andamento de 130 bpm na seção
B, e também ralentar a música nos compassos 55 e 56, preparando para o retorno da seção A.
Figura 39 – Suíte Monette, III Movimento Valsa, Maestro Duda – Indicações de dinâmicas,
andamento e ralentando na seção B
Para finalizar este movimento, o Maestro Duda utiliza uma coda entre os compassos
57 e 61. No momento do solo do trombone (compassos 59-61), sugerimos que as notas sejam
executadas de forma bem definidas, utilizando acentuações em cada nota e dinâmica de
fortíssimo (ff), dando característica de majestoso sinalizando o final do movimento.
Sugerimos que, este mesmo trecho, seja tocado uma oitava acima do original com o objetivo
de finalizar a Peça com uma sonoridade mais brilhante, além de realizar o ralentando no final
do movimento.
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[...] E o Boi, é uma mistura de... parece samba mas não é samba [...]. Eles lá
é como uma religião... entendeu? Aquilo lá realmente é afro. [...]. O boi é
mistura de tercinas com duínas... [solfejando e explicando as células
rítmicas]. [...] eu estudei lá, passei uns dias lá visitando aqueles lugares
todos... por que tem os sotaques, que eles dizem que é os sotaques... por que
tem Boi de Matraca, Boi de Orquestra... tem Boi não sei de que... tem
diversas versões, que eles dizem que é o sotaque do boi de tal canto [lugar],
sotaque do boi de não sei de quê... [...]. [...] eles quando vão começar...
primeiro, eles rezam para São Benedito, acendem velas, tomam uma
cachaça..., fazem aquela declamação... para depois, começar a percussão
tocar [...]. Então, você veja, preste atenção e analise a suíte Monette, o Boi
Bumbá da Suíte Monette que eles começam, realmente original... eu faço a
introdução apenas para pegar o tom... [solfejando] eu exponho o tema, o cara
faz a declamação... [solfejando]. Quando eu começo a improvisar os
instrumentos, o trompete toca tudo em duínas [solfejando]... quando passa
para o trombone... tudo está em tercina [solfejando] ... a tercina e a duína...
eu coloco eles para descansar, a orquestra toda lembra o tema para o povo,
na repetição eles entram e misturam tudo... a mistureba ali... da tercina com a
duína, dentro da melodia (informação verbal)74.
Desta forma, quando o Maestro Duda se refere à declamação do tema, está citando a
melodia executada pelo trompete entre os compassos 2 e 9, como também, o solo inserido
para trombone a partir do compasso 5 até o 9.
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Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,
em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
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Figura 41 – Suíte Monette, IV Movimento Boi Bumbá, Maestro Duda – Solos para
trompete e trombone na introdução (compassos 2-9)
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Cf. Figura 45.
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Figura 47 – Suíte Monette, IV Movimento Boi Bumbá, Maestro Duda – Trecho dos 2 solos
de trompete e do trombone simultaneamente (compassos 75-89)
Portanto, nos diversos momentos onde aparecem solos para o trombone, trompete e
demais instrumentos do grupo, o Maestro Duda utilizou diferentes elementos rítmicos do
Sotaque de Matraca do Bumba-meu-boi do MA. Assim, o grupo e principalmente os solistas
deverão estar muito atentos aos elementos rítmicos utilizados no Sotaque de Matraca, como
81
Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,
em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
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também, combinar junto ao grupo como lidar com os diferentes aspectos interpretativos
referentes a este movimento.
104
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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2017.
Início
O que a gente sente na obra dos outros compositores que não são nordestinos no
caso..., esta semana estava até comentando isto com o professor lá de Natal - RN Fernando
Dedos, que ele está atrás de mim para eu fazer uma peça de Eufônio. Há muito tempo, ele já
vem, desde o tempo de Tatuí - SP que ele vem querendo fazer a minha cabeça para fazer uma
obra para Eufônio.
A interpretação da música popular é uma diferença muito grande... a interpretação do
músico que não é popular.... o cara que não tem aquele estudo de música popular, a
interpretação é outra, aquilo quadradão, e o popular tem aquele jogo de cintura... então, a
interpretação da minha música, dita erudita no caso... é por que a minha música não é nada
mais que a música nordestina, a música brasileira. Por que muita gente confunde frevo... frevo
é uma música genuinamente pernambucana, e como Pernambuco [(PE)] pertence ao Brasil,
no caso, é música brasileira. Então, minhas músicas que estão fazendo sucesso..., eu fiquei
admirado agora a pouco, que eu participei do Festival de Músicas das Américas, que foi
realizado em Belém [- PA], onde o homenageado era eu. Participou 7 bandas sinfônicas, que
para minha surpresa... no estado do Pará [(PA)] ter tanta banda sinfônica, com os
instrumentos eruditos, que a gente não vê em outros lugares do Brasil...
A minha obra para trombone foi feita toda em torno ainda de Radegundis, por que...
naquela coleção de quando eu faço uma canção qualquer aí, eu faço junto 4, 5, 3, 6, 7.... aí,
faço a suíte e boto o nome, .., então, ..., eu não tenho dinheiro para nada, para a família, então
meus entes queridos... quando nascem eu dou uma música,... com o nome daquela música. Eu
estava devendo uma música a Radegundis depois que eu fiz o Concerto 1 para trompete... que
por sinal, não é por que é meu não mas, o segundo movimento é lindo... [solfejou a melodia].
Então, quando eu fiz esse Concertino para trompete aí, foi aquela revolução com os
trompetistas... tudo quanto é trompetista brasileiro... tocou logo... tratou logo de pegar... por
que... até aquele momento todas as músicas para trompete eram músicas europeias,
americanas, sem esse sabor de Brasil, ... para tocar a sua música... aí, Radegundis disse que
teria que fazer para ele também.... tive que fazer para o Quinteto todo... aí, quando nasceu
Gizelle uma neta minha, disse a ele: pronto Radegundis vou fazer a sua música... que, ao
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Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,
em Verde Mar Pousada, em João Pessoa – PB, em 15 de setembro de 2016.
113
invés de fazer um Concertino, eu fiz uma valsa e coloquei o nome de Gizelle por que ela tinha
nascido... Eu fiz essa Peça dedicada ao grande trombonista Radegundis... Radegundis para
mim era um filho... dentro de casa... não tinha problema não... era como um filho meu.
[Entrevista interrompida por um telefonema].
Quando eu fiz Gizelle, eu aproveitei e fiz uma valsa concertante, com aquelas
dificuldades que os trombonistas têm que tocar... Radegundis ficou satisfeito aí, ele começou
a difundir ela... para minha surpresa é o seguinte, que ela [Gizelle] fosse trombonista... ela é
uma grande violinista... cantora, já gravou... uma das netas mais lindas que eu tenho...
Essa valsa para minha surpresa... me chegou o disco... Radegundis gravou e difundiu
ela por muito canto... eu tenho ele gravado pelo 1º Trombone da Orquestra Sinfônica da
Filadélfia, um cara moço, o principal trombonista da Filadélfia, ele é até Israelense. Mandou o
disco que ele gravou, gravou ela [Gizelle] e Marquinhos. Para minha surpresa, cheguei lá em
Tatuí [- SP], Fernando Dedos, grande professor de Eufônio, disse que foi na Juilliard [Julliard
School – EUA] e queria tocar uma música brasileira, e quando chegou no arquivo da Juilliard,
uma das maiores escolas de música de Nova Iorque [- EUA]... Radegundis estudou lá, se
formou lá..., foi no arquivo para pegar uma música para fazer o recital e só tinha Gizelle que,
no caso, foi Radegundis que deixou lá na época do Mestrado.
Após 72 anos da sua iniciação na Música, como o então Maestro Duda analisaria sua
carreira musical, desde seu início na Sociedade Musical Saboeira até os dias atuais?
A importância foi a maturidade, por que a época do rádio foi a época mais produtiva
em termos de conhecimento. Por que a gente trabalhava em rádio e não existia vídeo cassete,
gravador, celular, que grava tudo que está acontecendo, não existia nada disso... não existia
playback. Então, os grandes cantores brasileiros, Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Orlando
Silva, Carlos Galhardo, aqueles grandes cantores brasileiros, Roberto Lima, Augustinho dos
Santos, todos aqueles cantores da época, anos 50, 60, 70, 80, 90. Naqueles anos não tinha
nada dessa coisa de tecnologia de gravação. Então, o que acontecia... os cantores quando
vinham cantar aqui no Norte, Nordeste, eles traziam aqueles arranjos feitos pelos grandes
maestros da Rádio Nacional, por que a maior parte deles era da Rádio Nacional, Rádio Tupi
do Rio de Janeiro (RJ)84, de São Paulo [(SP)]. Então, aqueles arranjos de Maestro Gaó, Lyrio
Panicali, Radamés Gnattali, todos aqueles grandes maestros que faziam aqueles arranjos, os
84
Rio de Janeiro (RJ).
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cantores vinham com os arranjos, as partituras tudo debaixo do braço, para a gente ensaiar
aqui e acompanhar eles, por que eles só poderiam cantar se tivesse o arranjo. Que é diferente
hoje... os caras cantam com o playback, traz a gravação e canta em cima. Antigamente, tinha
que trazer [o arranjo] para eles poderem cantar. Todas as rádios que tinham um grande caixa
tinham além dos seus cantores, que a gente fazia os arranjos para eles cantarem, tinham os
grandes medalhões, famosos no Brasil todo, que vinham cantar aqui, traziam os seus arranjos
para poder a gente tocar. Então, aquele aprendizado de tocar aqueles arranjos, foi por onde eu
aprendi..., que a gente tocava... ensaiava de 4 horas da tarde até 6 horas, ia para casa e jantava,
e 8 horas começava a programação. Então, eu não ia para casa, pegava a partitura e ia estudar.
A respeito das informações nas suas partituras e influência da rádio na sua escrita.
A maior influência na partitura era em respeito aos ritmos, por que fora do Brasil, o
pessoal da percussão, bateria..., não conhece o maracatu, o frevo, forró, não sabe como é que
toca. Mas os daqui, todo mundo sabe... e na partitura a gente coloca assim, forró, o cara já
sabe que é forró, maracatu, ele já sabe que é maracatu... já sabe como fazer, não tem que
escrever como é que se toca o maracatu... não se preocupa em detalhar isso, somente os
ataques, onde para onde começa, é o que a gente escrevia... Segue Baião...
Andressa, ela tinha nascido e eu fiz uma valsa também do mesmo jeito que eu tinha feito para
Gizelle, para o Quinteto, arranjo de quinteto. Nesse dia que eu não fui, eles tocaram e quando
eu cheguei no outro dia, que me apresentaram a Monette, Radegundis veio e disse: ‘esse aqui
é Monette e ele está impressionado com a sua música... ontem, a gente tocou muitas músicas
suas e ele ficou... ‘que qualidade de som’ e ficou impressionado com a obra, a valsa de
Andressa’... eu, na brincadeira, sem falar inglês, Radegundis é que falava o que ele dizia e
traduzia o que eu falava para ele... eu disse: diz a ele o seguinte: se ele gostou da minha
música, na próxima que eu fizer é para ele. Ele ficou foi contente. Terminou o festival e a
gente voltou para Recife [- PE]. Quando eu estava em Recife [- PE], recebi o telefonema da
Secretária de Cultura de Curitiba [- PR]... que a Orquestra Sinfônica de Curitiba iria fazer
uma excursão... não sei quantos concertos pelo Brasil todo, Belém - PA, Fortaleza [- CE],
Natal [- RN], Paraíba [(PB)], Recife [- PE], Salvador [- BA] e por aí afora. A Orquestra estava
precisando de uma música brasileira para tocar por onde passasse. Uma música assim que dê
uns 10, 12 minutos. Eu disse: pode ser uma suíte? Ela disse que pode. Acertei o valor, ela
disse que iria mandar o dinheiro e que tinha pressa para ensaiar para começar a viagem. No
outro dia, eu recebi um telefonema de Radegundis e Nailson... ‘Duda, fulana ligou para
você?’ eu disse que ligou e encomendou uma música... eles disseram que iriam tocar nelas e
vários músicos da Paraíba [(PB)]... Bobó, Costinha... e Nailson e Radegundis disseram,
coloca uns solos para a gente... eu disse que deixasse comigo. Eu me lembrei de Monette... eu
estava com raiva de Pernambuco [(PE)], por que quase todas as minhas peças, eu termino
sempre com frevo... como ele [Monette] gostou muito da Andressa [valsa] que ele ouviu no
Maranhão [(MA)], vou colocar e deixei logo separada (Terceiro Movimento). Não vou
terminar com frevo por que o governador mandou deixar eu ir embora... então, eu vou fazer o
seguinte... como eu conheci Monette lá [Maranhão (MA)], eu vou fazer um Bumba-meu-boi,
que é a música do Maranhão [(MA)]. Então, fiz um Boi para terminar... o segundo movimento
já estava feito, era só fazer um arranjo para orquestra sinfônica, por que eu tinha feito para
quinteto... já tinha feito o terceiro e o quarto... aí, pensei... mas eu sou pernambucano, eu vou
colocar... no lugar de colocar o frevo no fim, que eu não vou colocar, vou colocar uma
ciranda... comecei a Suite Monette com a ciranda... para não dizer que não sou de
Pernambuco [(PE)]... comecei o primeiro movimento com a ciranda. Nessa história de colocar
um solo para Nailson e Radegundis... ficou a suíte toda com 2 solistas... pensei, tenho que
fazer uma música para Monette... comecei a fazer... [solfejando a melodia]... O tema de
Monette é esse, uma balada americana... depois, transformei ela em valsa... ficou a balada,
que é a qual eu fiz, especificamente, para Monette. Ficou Suíte Monette... liguei para a
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Secretária (de Curitiba [- PR]) e ela disse tudo bem. Ficou a Suite Monette, que é a mais
tocada no momento em todo Brasil... em todo Brasil não... por que Charles Schlueter toca ela
nos Estados Unidos [(EUA)] e em todo canto...
Eles [Brassil] iriam viajar para Londres [- UK]... me pediram para fazer uma música...
‘faz outra música aí... a gente vai viajar para Londres [- UK], vai se encontrar com Schlueter
lá, e vai gravar a Suite Monette com o Quinteto’. Eu fiz uma versão para quinteto da Suite
Monette por que a primeira foi para orquestra grande, aí, eu fiz uma versão para quinteto...
‘olha, mas Charles Schlueter vai se encontrar com a gente lá e quem vai gravar é ele...’ Então,
tem que colocar outro trompete, quinteto de 6... de 7... por que já tinha Glauco na bateria. Eu
fiz essa versão que são 3 trompetes..., o quinteto mais 1 trompete que era Charles Schlueter
que era o solista...
O primeiro movimento foi que tinha nascido Natália... eu fiz a música para Natália,
que é aquela primeira música da abertura, justamente o mesmo joguinho, de trompete e o
trombone... um respondendo para o outro, uma conversa do trompete e o trombone. Eu fiz
aquela música, aquela canção... eu disse: aquilo não é uma canção, é uma toada [solfejando].85
Então, caboclinho, ritmo nordestino... os índios irão entrar aqui na hora... influência de
Goiana [- PE] e seus caboclinhos... mas, eu coloquei no tema de Boogie Woogie...
[solfejando] e uma cantiga de cego por cima [solfejando]... cego cantando na rua pedindo
esmola... e o frevo para encerrar. É o caboclinho numa base de Boogie Woogie... Boogie
Woogie, o verdadeiro... e uma cantiga de cego feito dupla caipira [solfejando] em duas
vozes... Chitãozinho e Chororó... Aquilo aí é uma fantasia... por que se fosse separada os
temas seriam uma suíte mas, como é emendada, é uma fantasia. O primeiro é uma toada, o
segundo caboclinho, e um frevo. Como eu disse, toada do primeiro, Nailson colocou lá toada
tudo. Toada é a primeira canção. Toada é a primeira melodia... depois da toada, tem um
caboclinho, com a cantiga de cego em cima, e o frevo. Aí, ele colocou toada, ficou toada
tudo... o nome está ‘Toada’ [no CD do Brassil, foi gravada em Londres [- UK], mas o nome
certo mesmo é Fantasia para Trompete e Trombone.
85
Explicando sobre a criação das melodias da toada: inicia com o trombone e depois o trompete responde com o
mesmo tema. Depois, o trombone inicia a variação do tema e o trompete responde a partir do contra canto.
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A Obra já foi feita no computador... antes não tinha computador... foi quando eles
voltaram realmente [Radegundis e Nailson]. Quando Nailson e Radegundis voltaram do
Doutorado... voltaram de vez e cada um trouxe o computador... a primeira versão que veio do
computador deles, era um Macintosh... eu não sabia nem para onde é que ia, e foram me
ensinar... e até hoje eu não aprendi... até hoje eu não aprendi... já aprendi com Fred Monteiro,
que me ensinou a versão do encore... aí, pelo encore estou me virando até hoje... já foi no
encore (o Concertino). No encore aqueles os primitivos ainda... versão 3.4... um negócio
desse aí...
O concertino para trombone foi... uma cobrança... ficaram tudo me cobrando... ‘rapaz,
você só fez o concertinho (trompete), tem que fazer para trombone também...’. Parece que a
gente estava no Maranhão [(MA)], quando eu estava fazendo a Ópera Catirina.... 96 ou 97...
por aí... eu estava no Maranhão [(MA)] fazendo aquela Ópera do Catirina... e lá no Maranhão
[(MA)] não tinha músico... eu levava daqui... os músicos daqui... uma orquestra com mais de
40 músicos... o dinheiro estava correndo solto... tudo... passagem de avião, hospedagem tudo.
Eu levava uns 20 músicos da Paraíba [(PB)] e uns 20 de Recife [- PE]... fizemos uma
orquestra... cada vez que a gente ia, fazíamos 15 apresentações. Uma dessas que a gente
estava lá no Maranhão [(MA)] com Nailson, Radegundis, Costinha... um bocado de gente que
ia aqui da Paraíba [(PB)]...
Eu levava mais gente que tivesse intimidade com a música popular [para a
apresentação da Ópera Catirina no Maranhão (MA)], por que o que é restrito a sinfônica é
mais duro para tocar essas coisas, e era uma Ópera popular. E o Boi, é uma mistura de...
parece samba mas, não é samba. Quem não conhece pensa que é samba mas, não é samba
não, é boi... outra coisa, você veja... no Bumba-meu-boi da Suíte Monette... eles lá é como
uma religião, entendeu? Aquilo lá realmente é afro. Por que, a percussão... não adiantava eu
levar percussionista daqui... levava o baterista, percussionista, que tocava tímpano... tudo...
que era Glauco. Glauco é uma sumidade. Mas Glauco é o que lia as partituras, onde entra
onde não entra, e mantinha aquele grupo de percussionista de lá. Os melhores percussionistas
de lá, eram 8 homens, que mantinham aquela base do ritmo. Agora, aquela orquestra... eu
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colocava a orquestra para tocar dentro daquele ritmo. Por que muita gente não consegue juntar
não, juntar o ritmo do boi. Por que pelo seguinte... o boi é mistura de tercinas com duínas...
[solfejando e explicando as células rítmicas]. Eu fiz a Suíte Monette... eu estudei lá, passei
uns dias lá visitando aqueles lugares todos... por que tem os sotaques, que eles dizem que é os
sotaques... por que tem Boi de Matraca, Boi de Orquestra... tem Boi não sei de que... tem
diversas versões, que eles dizem que é o sotaque do boi de tal canto [lugar], sotaque do boi de
não sei de quê... então, voltando ao boi, essa mistura do boia, da tercina... e aquilo como uma
religião afro... eles quando vão começar... primeiro, eles rezam para São Benedito, acendem
velas, tomam uma cachaça... fazem aquela declamação... para depois, começar a percussão
tocar. Aqueles couros daqueles pandeirões, aqueles instrumentos de couro... para ficar
afinado, por que eles não tem as tarraxas para apertar, para esquentar... tem que ser com
fogueira. Então, ficava uma fogueira no oitão do teatro e aqueles bombos todos lá ao redor...
eles tudo alí da percussão... quando estava tudo afinadinho, eles entravam e a gente
começava..
Então, você veja... preste atenção e analise a Suíte Monette, o Boi Bumbá da Suíte
Monette que eles começam, realmente original... eu faço a introdução apenas para pegar o
tom... [solfejando] eu exponho o tema, o cara faz a declamação... [solfejando]. Quando eu
começo a improvisar os instrumentos, o trompete toca tudo em duínas [solfejando]... quando
passa para o trombone... tudo está em tercina [solfejando]... a tercina e a duína... eu coloco
eles para descansar, a orquestra toda lembra o tema para o povo na repetição, eles entram e
misturam tudo... a mistureba ali... da tercina com a duína, dentro da melodia. Ainda no fim,
quando termina... [solfeja a parte da tuba no final da Obra], sabe o que é isso? Naqueles
instrumentos que eles tem, tem um chamado... eu não lembro o nome como é que eles
chamam... mas, aquilo ali é uma cuíca grande... é a cuíca, é o mesmo mecanismo. É a mesma
coisa, só que é uma cuíca grande... que ela só faz roncar... [demonstrando]. Eu coloquei ali no
final para mostrar que aquele instrumento é do Boi também. Ninguém sabe por que foi... você
ouvir ali... a história da coisa... por que é que tem aqueles 4 compassos ali? É por que aquilo
ali é uma cuíca que tem... é referência aquele instrumento que tem lá no Boi.
era o começo do Concertino... fiz o primeiro movimento... que aquele primeiro movimento,
modesta à parte, mas é muito bonito. A melodia já é feita como se fosse a interpretação de um
trombonista popular... o acompanhamento vai a tempo e ela vem... retardando... como se fosse
um cara já experiente... eu só lembrava de Biu trombonista, que hoje está em São Paulo
[(SP)]. Por que no tempo da minha mocidade, ele tocava uma música que a gente tocava na
Orquestra Paraguary. Quando a gente tocava na Paraguary, tocava um bolero... parece que era
de Elson Alves... solo de trombone... My love... era a coisa mais bonita... e eu fiquei com
aquilo na cabeça... só me lembrava daquela melodia... aí, fiz outra melodia assim, naquele
estilo, que era My love. Coloquei aquela introdução [solfejando]... é um Beginners, não é um
bolero não... é um Beginners [solfejando]. Depois tem um maracatu misturado com
Beginners, vai ser uma mistura da... [solfejando]. Depois, fiz a valsa, também muito bonita...
o choro já tinha feito...
No concerto final, tocou a Suíte Monette com Radegundis... que foi a apresentação
mais brilhante que eu vi da Suíte Monette... levou até Aylton Escobar, a orquestra sinfônica
do festival [Brasília – DF]86... eu estava lá na frente presente... mas, o pessoal da direção do
festival de Brasília [- DF] já tinha mandado buscar escondido sem me dizer nada, um Boi
Bumbá mesmo, o original lá do Maranhão [(MA)]. Tocaram o primeiro movimento, segundo,
terceiro... aí, demorou um pouquinho, Nailson se abaixou, pegou um cocar, colocou na
cabeça... Radegundis também... aí, eu disse: esses caras estão doidos... abriram a cortina... era
um boi mesmo de verdade... com o bicho... aí, tocaram a Suíte Monette, mas foi arretado.
Sabe quantos bis teve? 5 bis! O Bumba-meu-boi tocou 5 vezes...
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Distrito Federal (DF).
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Documento não paginado.
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Documento não paginado.
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