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Resenha de A Era Das Revolucoes de Eric PDF
Resenha de A Era Das Revolucoes de Eric PDF
O AUTOR
A OBRA
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Aluno da Graduação em História – Memória & Imagem – pela Universidade Federal do Paraná
(Turma de 2018. Atualmente é Arquivista da Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos
Pinhais – Curitiba/PR (Arquivo Dom Alberto José Gonçalves).
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XVIII. A obra inaugura uma trilogia que abordará o “longo século XIX”, termo
cunhado pelo próprio historiador, que julga que o século em questão extrapolou a
rigidez dos anos, tendo iniciado em 1789 (com a consolidação e ampliação da
Revolução Industrial e com a Queda da Bastilha, evento que tradicionalmente se
atribui ao início da Revolução Francesa) e encerrado em 1914, com o advento da
Primeira Grande Guerra (1914-1918). Os outros volumes que compõem a trilogia
tratam da consolidação do capitalismo como sistema econômico 1 e da corrida
imperialista europeia, realizada na empresa de ampliar a produção e o mercado
consumidor destas nações2.
1
HOBSBAWM, Eric J. A ERA DO CAPITAL (1848-1875). 23º ed. São Paulo: Paz & Terra, 2015.
2
HOBSBAWM, Eric J. A ERA DOS IMPÉRIOS (1875-1914). 19º ed. São Paulo: Paz & Terra, 2015.
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A revolução tem início após uma série de fatos que levaram a um caos
econômico e descontentamento geral. A burguesia, abonada, passara a falar em
revolução e o primeiro e segundo estado (clero e nobreza, respectivamente) temiam
as agitações. Para tentar conter quaisquer revoltas, o rei Luís XVI – por orientação
de Necker, seu ministro para assuntos econômicos – então convocou a Assembleia
dos Estados Gerais, com representantes dos três estamentos; o monarca objetivava
convencer o clero e a nobreza a pagarem impostos, em vista de melhorar a
condição financeira da França. Após sucessivas discórdias entre o terceiro estado
com o primeiro e o segundo estado, aquele transformou os Estados Gerais em
Assembleia Nacional Constituinte, inaugurando o movimento, cujo estopim foi a
Queda da Bastilha – espécie de prisão e depósito de armas, símbolo do poder do
Rei de França – em 14 de julho de 1789. A Assembleia foi disputada por três
grandes “partidos” políticos: os jacobinos, de orientação mais radical, os girondinos,
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mais moderados, e a planície (ou pântano), que ora tendia a um, ora a outro (origem
dos conceitos de direita e esquerda: jacobinos, sentavam-se à esquerda na
Assembleia; girondinos à direita; e a planície no centro). A monarquia constitucional
foi instaurada e o voto censitário oficializado. Em 1792 os jacobinos – desejosos de
mais expressão popular – assumiram o poder na chamada Convenção, opondo-se
aos girondinos (que até dirigiram a Convenção num primeiro momento), burgueses,
que julgavam que as mudanças necessárias já haviam sido implementadas; porém,
a massa popular em geral continuava tão miserável e insignificante quanto antes da
revolução. A oposição a Luís XVI aumentava gradativamente. Uma República foi
instaurada e em 1793 o rei foi guilhotinado, inaugurando a fase do terror, que matou
milhares de opositores e inimigos da revolução. Após a perda de prestígio e de
poder dos lideres jacobinos, foi instaurado o Diretório, mais brando e conservador,
que estabilizou a França politica e economicamente. O exército assumiu grande
prestígio ao sufocar insurreições dentro do próprio território e garantir a segurança
da França, alvo de uma coligação de países europeus intencionados em conter a
revolução (liderados pela Inglaterra, maior adversária politica e econômica da
França, e pela Áustria, pátria da rainha Maria Antonieta de França). De dentro do
exército, a figura do general Napoleão Bonaparte porá fim – ao menos teoricamente
– na Revolução Francesa, ao aliar-se com a burguesia e dar um golpe de estado,
instaurando a Era Napoleônica (1799-1815).
p. 183). O que é notável é como essas novas revoluções (de 1830 e 1848) foram
intencionais e até mesmo planejadas. Não que a de 1789-1799 tivesse sido
totalmente espontânea, mas a sociedade a posteriori, sobretudo a burguesia (em
muitos casos aliada à nobreza), que agora é quem engendra e manipula as esferas
governamentais, conhece o efeito que o levante popular causa e usa dessa
experiência para expor, alterar e consolidar os itens de suas reinvindições. Porém, o
que é comum a ambos movimentos é a ausência de participação popular na
gerência; o povo, operários, lavradores, trabalhadores comuns do campo e da urbe,
vem à baila apenas quando o levante “estoura”, sendo a força que a burguesia
necessita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A “Era das Revoluções”, sem dúvida, é uma obra muito completa. Ao leitor
que se depara com ela pela primeira vez pode julgar a parte inicial, sobretudo a
introdução e os dois primeiros capítulos, muito lenta, detalhista e profundamente
estatística. Contudo, acredito que seja apenas o autor “preparando o terreno” para
adentrar em temas de suma importância para a compreensão do mundo moderno.
Temas que são complexos, que ocorreram de formas nada simples, e que
demonstram as tendências e influências nos séculos XIX e XX. Como já foi dito, a
Revolução Francesa não foi o único evento político do final do século XVIII; contudo,
foi sem dúvidas o mais grandioso e impactante a posteriori. Hobsbawm, no início da
obra, refere-se a uma “dupla revolução”; contudo, atém-se com muito mais
profundidade e cuidado na Francesa. Isso pode se dar devido à universalidade e
atemporalidade do evento: essa revolução em específico afetou de diversos modos
a vida e a política da Europa em geral (e de outras parte do mundo) por muitas
décadas. A Revolução Industrial inglesa também o fez, mas não de forma violenta e
não buscando mudar os alicerces (sociais, políticos e culturais) mais enraizados da
sociedade da época.
Outro item que nos vale ressaltar é como a “dupla revolução” lida com o
trabalhador, da classe média até o mais pobre. Por mais que os ideiais de liberdade,
igualdade e fraternidade da França tivessem ressoado por Paris e por todo o
território durante os dez anos em que tradicionalmente enquadramos o evento, as
mudanças sociais vieram muito depois. A Revolução Industrial, que podemos afirmar
estar em progresso desde 1780, gerou uma nova classe, a dos operários, que
começaram a se organizar e a liderar lutas apenas em 1840. Em termos de
Historiografia pode parecer pouco tempo, mas são sessenta anos, e a expectativa
de vida da época não era nada otimista, ou seja, algumas gerações talvez tenham
se sucedido sem vislumbrar mudança alguma.
mundo, natureza-morta, inerte, que segue por si só; mas estuda a humanidade,
composta por homens e mulheres, únicos, idiossincráticos diferentes uns entre os
outros. Essa grande peculiaridade na humanidade, graças à divergência de
concepções, ideias, pressupostos, tradições, torna as mudanças mais lentas e,
talvez, menos dolorosas.
Por fim, justamente no último parágrafo, Hobsbawm diz: “por volta de 1848
estava claro que os países deviam seguir o exemplo do primeiro grupo, isto é, da
Europa ocidental” (2015, p. 285). A partir desse excerto nos é permitido
compreender como parte da Europa configurou-se como modelo, e como o não
seguimento deste imprimirá nas demais nações o caráter de subdesenvolvimento e
atraso, pensamento que guiará com sucesso as corridas imperialistas e a
dominação sobre outros povos.
REFERÊNCIAS