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CURSO GESTÃO DE REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE - TEXTO DE APOIO A UNIDADE III

Texto de Apoio

Diagnóstico de situação de saúde: alguns indicadores


clássicos
Rosana Kuschnir1

Este texto apresenta alguns dos indicadores específicos utilizados para o diagnóstico de
situação de saúde.

Como você já sabe, e viu novamente no Módulo 6 desta UA, condições de saúde estão
intimamente ligadas às condições de vida. Então, os indicadores de condições socioeconômicos,
como os relacionados à renda, emprego, saneamento, habitação, escolaridade, etc, são
essenciais ao diagnóstico de saúde.

Estes serão tratados com mais vagar na UA V e aqui nos deteremos apenas em alguns
indicadores específicos clássicos.

Embora sejam indicadores utilizados para a elaboração de planos e pactuações, muitas vezes
são pouco entendidos, tanto em sua construção quanto em sua interpretação.

O DATASUS provê uma ampla base de indicadores e neste Módulo você vai aprender a buscá-
los. Mas, tão importante quanto, é poder analisá-los e compreender seu significado, para que
possam subsidiar de verdade as intervenções propostas.

Aqui, vamos apresentar alguns indicadores, mostrar seu método de cálculo e um pouco de seu
significado.

Durante o Módulo 7, leia com atenção este texto, imprima-o e utilize-o para fazer o exercício final
do Módulo, para os exercícios que virão na UA V e para seu TCC.

Procure compreender muito bem a diferença entre mortalidade e morbidade; entre prevalência e
incidência; entre mortalidade proporcional e taxas de mortalidade. Não é difícil, é só ler com
atenção e treinar um pouquinho.

Uma boa fonte de informação sobre os indicadores é o livro "Indicadores básicos para a saúde
no Brasil: conceitos e aplicações – Livro – 2ª edição – 2008" (disponível em:
http://www.ripsa.org.br/2014/10/30/indicadores-basicos-para-a-saude-no-brasil-conceitos-e-
aplicacoes-livro-2a-edicao-2008-2/), que traz todos os indicadores, seu método de cálculo, seu
significado e interpretação. O livro encontra-se na biblioteca da UA III.

Antes de perguntar ao tutor(a), tente buscar a resposta e se divirta!!

1
Com a colaboração Diana Martins Barbosa e Luciana Tricai Cavalini, que realizaram toda a revisão técnica e editorial do
texto.

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I - CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE INDICADORES

Indicadores são medidas-síntese de informação acerca de atributos e/ou dimensões do estado


de saúde. Você estudará suas características em mais profundidade na UA V.

Por hora, vamos lembrar que um bom indicador deve possuir:

 Validade: deve ser função da característica que se deseja medir;

 Confiabilidade: deve expressar o mesmo valor quando sua apuração é feita por pessoas
distintas, em condições análogas;

 Especificidade: a probabilidade de ter um resultado negativo quando o evento não


ocorre;

 Sensibilidade: probabilidade de ter um resultado positivo quando o evento ocorre.


São inúmeros os indicadores aplicáveis ao diagnóstico de saúde, sendo que a escolha do
número e tipo daqueles a serem utilizados, deve ser feita em função dos objetivos. Você verá
outros indicadores na UA V.

II - INDICADORES MAIS USADOS NO DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE SAÚDE

Como dissemos, na medida em que as condições de vida estão intimamente relacionadas à


situação de saúde, o diagnóstico deve incluir a análise do conjunto das condições sociais e
econômicas a que está submetida a população. Essa análise não só inclui as condições de
nutrição, moradia, saneamento, educação e emprego, mas também a questão ambiental e as
condições de trabalho.

A análise dos indicadores socioeconômicos deverá subsidiar a elaboração do plano e a eleição


das estratégias de intervenção intra e intersetoriais.

Assim, espera-se que o plano contemple em sua formulação as considerações fundamentais


acerca das condições socioeconômicas da população ao qual está referenciado.

Aqui, discutiremos Indicadores específicos das condições de saúde.

Entre os indicadores mais comumente utilizados estão os que trabalham a MORTALIDADE, ou


seja, a partir dos óbitos, buscando compreender do que morrem as pessoas numa determinada
população e de MORBIDADE, ou seja, de que adoecem as pessoas em uma população.

1. INDICADORES DE MORTALIDADE

Os indicadores de mortalidade são construídos a partir da análise dos óbitos observados numa
população ao longo de um período.

Podem avaliar o peso de cada causa de morte no total de óbitos (mortalidade proporcional) ou o
risco de morte por uma determinada causa na população (taxas de mortalidade por causas).

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A fonte primária para as informações sobre óbitos são os atestados de óbito preenchidos pelos
médicos, a partir dos quais são tabulados os dados. Nos atestados, solicita-se que a causa seja
preenchida de acordo com o Classificação Internacional de Doenças, versão 10, a CID-10.

A chamada classificação em grandes causas é composta por capítulos – por exemplo, doenças
do aparelho circulatório, neoplasias, doenças do aparelho respiratório, etc.

Cada um desses capítulos pode ser aberto em seus componentes mais detalhados. Por
exemplo, o capítulo de doenças do aparelho circulatório, pode ser detalhado em Infarto Agudo
do Miocárdio e Acidente Vascular Cerebral, entre outros.

O de Neoplasias, pode ser aberto em cada localização do tumor: mama, pulmão, pâncreas etc.

Sempre que você for realizar a análise da mortalidade, comece pelos Capítulos e depois detalhe-
os, dependendo do objetivo.

Mas, lembre-se! A mortalidade em si não é um problema de saúde. Quanto melhores as


condições de saúde, as pessoas vivem mais, morrem mais tarde, mas continuam a acontecer
óbitos.

O problema são as mortes que poderiam ser evitadas. Mortalidade alta em faixas etárias mais
baixas, falam de causas evitáveis, como a mortalidade infantil. Ou mortes por determinadas
causas em pessoas mais jovens. Por exemplo, a morte de uma pessoa por acidente vascular
cerebral aos 58 anos tem significado diferente da morte de uma pessoa pela mesma causa aos
90 anos.

Bem analisadas, as taxas de mortalidade permitem uma aproximação inicial ao diagnóstico de


saúde.

1.1. MORTALIDADE PROPORCIONAL

1.1.1. MORTALIDADE PROPORCIONAL POR DETERMINADA(S) CAUSA(S) DE


ÓBITO

Vamos iniciar pela mortalidade proporcional, porque é muito comumente usada. Aqui, avalia-se o
peso que cada causa de morte tem no total de óbitos observados.

É expressa pela proporção de óbitos por uma determinada causa ocorridos num ano em relação
ao total de óbitos que ocorreram numa população neste ano.

Mortalidade proporcional por causa = Número de óbitos pela causa X100


Total de óbitos

Portanto, a mortalidade proporcional por uma causa sempre se expressa em uma proporção (por
isso, se multiplica por cem).

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Exemplo 1

Calcule a mortalidade proporcional por neoplasias para população de Cai-Cai, sabendo-se que
ocorreram 155 óbitos por esta causa e 938 pessoas morreram por todas as causas em 2017.

Mort. prop. por neoplasias Cai-Cai em 2017 = 155 X 100 = 16,52%


938

Portanto, do total de mortes acontecidas em Cai-Cai, 15,52% foram por neoplasias.

Observe que a mortalidade proporcional não permite avaliar se estas mortes são muitas, poucas,
se aconteceram na faixa etária esperada, etc. Apenas nos dá o peso relativo da causa na
mortalidade total.

Uma questão muito importante:

Muitas vezes, o atestado de óbito não registra a causa de morte de forma correta. Quando os
médicos não conhecem o paciente e/ou não acompanharam a situação, não costumam
preencher a causa de óbito. Atestados preenchidos desta forma, quando não se consegue
realizar a correção, geram na tabulação a classificação de “causas mal definidas”.

O percentual de “causas mal definidas” no total de óbitos, serve para uma aproximação à análise
de desempenho do sistema de saúde, tanto de seu sistema de registro e investigação de óbitos
como, especialmente, reflete falta de acesso a uma fonte regular de cuidado. Quanto mais
mortes por causas mal definidas, pior é considerado o desempenho.

Lembre-se: Antes de calcular a mortalidade proporcional por causas, calcule o percentual de


causas mal definidas sobre o total. Observe o Quadro I.

Quadro I - Proporção de óbitos (%) por causas mal definidas


segundo Região Brasileira – 2011
REGIÃO Proporção %
Norte 11,0
Nordeste 7,7
Sudeste 6,6
Sul 4,5
Centro- Oeste 4,4
Brasil 6,7
Fonte: Ministério da saúde/ SVS- SIM/ DATASUS

Depois, retire estes óbitos mal definidos do total de óbitos e, agora, sim, calcule a mortalidade
proporcional sobre o novo total. Veja um exemplo.

Observe agora a Tabela I .

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Tabela I – Proporção de Óbitos (%) por Grupos de Causas segundo Regiões Brasileiras
– 2011
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Brasil
Oeste
Doenças Apar. Circulatório 25,31 31,04 31,35 30,96 28,58 30,69
Neoplasias 14,08 13,96 17,71 20,51 15,81 16,88
Causas Externas 20,24 15,89 11,10 11,79 17,47 13,36
Doenças Apar. Respiratório 9,66 9,65 12,74 12,23 11,22 11,60
D. Infecciosas/Parasitárias 6,06 4,58 4,52 3,75 4,63 4,50
Afecções originadas período 4,87 2,85 1,65 1,46 2,50 2,16
perinatal
Demais Causas definidas 19,78 22,03 20,93 19,30 19,79 20,81
Todas as Causas 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Ministério da saúde/ SVS- SIM/ DATASUS

Antes de discutir a interpretação da tabela, observe algumas questões metodológicas


importantes:

1. Lembre-se: quadros tem formato fechado e tabelas, formato aberto. Observe o Quadro I
e a Tabela I acima

2. Tanto quadros como tabelas devem ter títulos que não deixem margem a dúvidas sobre
seu conteúdo

3. Tanto quadros como tabelas devem ter a fonte citada em seu (deles) pé.

4. Uma coisa muito importante ao construir indicadores, tabelas e quadros são os


arredondamentos. Como você vê, no Quadro I foi usada uma casa decimal depois da vírgula
e na Tabela I, 2 casas. Os arredondamentos são feitos automaticamente (ou não, você
pode fazer à mão). De todo modo, diferenças de 0,1 ou 0,2 em geral se devem aos
arredondamentos.

Quanto mais parcelas existirem, mais probabilidades de resultados ligeiramente diferentes,


devido aos arredondamentos sucessivos.

Lembre-se: os totais devem bater. Se a soma das proporções está dando 100,01 ou 99,99,
corrija.

5. Sempre que fizer uma tabela de proporcionalidade, some as proporções, na direção


certa, e mostre o 100%, ou seja, o total.

Isto mostra o que está sendo calculado.

Por exemplo, na Tabela I, os totais (os 100%) são os óbitos ocorridos em cada região e no Brasil
distribuídos pelas causas de morte, ou seja, foi calculada a proporção de cada causa no total de
mortes em cada região e no país.

Se você observar a linha das Doenças do Aparelho Cardiovascular, ou qualquer outra linha, verá
que não fecha 100%.

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Para que isso acontecesse, o indicador seria outro: distribuição proporcional dos óbitos de cada
causa por região.

Seria calculado dividindo-se o número de mortes por Doenças do Aparelho Cardiovascular


ocorridas em cada região pelo número total de mortes por esta causa. Neste caso, os 100%
seriam o total de óbitos devido a cada causa no Brasil. E a última célula de cada linha somaria
100,00.

Como você vê, são informações diferentes.

Então vamos lá. A primeira questão importante com relação à mortalidade proporcional, como já
observamos, é que as causas mal definidas não são causas de óbito e se as incluímos no
cálculo junto às outras causas, vamos distorcer os resultados.

A primeira coisa a fazer é calcular o percentual de óbitos por causas mal definidas, como no
Quadro I. Este percentual já é um indicador de qualidade da atenção à saúde. Observe as
diferenças entre as regiões.

Então, para o cálculo da mortalidade proporcional, retire os óbitos mal definidos e calcule as
proporções sobre o total de óbitos com causas definidas. Este é o 100% da Tabela I.

Observe a penúltima linha, em vermelho: “demais causas definidas” . As mal definidas não
entram no cálculo.

Outra questão importante ao trabalhar com percentuais:

Ao analisar a Tabela I, observe que se somarmos as proporções das 6 causas listadas, temos
em torno de 80% dos óbitos. Este é o mínimo que deve ser coberto numa tabela que utiliza
proporções (qualquer tabela ou quadro que utilize proporções).

Se construíssemos, por exemplo, uma tabela que mostrasse que em determinado lugar as
doenças do aparelho respiratório são responsáveis por 20% dos óbitos, as neoplasias por 15% e
as “Demais causas definidas” por 65%, a informação seria pouco detalhada demais.

Então, lembre-se: trabalhando com proporções? Detalhe até cerca de 80% dos casos ou um
pouco mais.

Não faça o contrário e apresente uma tabela com 6 páginas, mostrando todas as causas
possíveis, cada uma aparecendo numa proporção de 0,001%. Não tem utilidade nenhuma. O
computador te dá uma tabela assim? Passe pra excel, some os totais até chegar nuns 15 ou
20% e coloque a categoria “Outros”.

Do ponto de vista da interpretação, uma questão fundamental com relação à mortalidade


proporcional é que ela não avalia o risco de morrer por uma determinada causa ou a uma
determinada idade. O que ela mostra é o peso relativo das causas de morte no total de óbitos ou
do grupo etário, por exemplo, no total de mortes, como veremos a seguir.

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A utilização da mortalidade proporcional é um bom início, mas não substitui de modo algum o
cálculo das taxas de mortalidade, que veremos no outro item.

Por exemplo, observe a Tabela I, a distribuição proporcional por causas guarda semelhanças
entre as Regiões do Brasil, com exceção da troca eventual entre neoplasias e causas externas
no segundo e terceiro lugares. No entanto, sabemos que o perfil epidemiológico é diferente. Para
avaliar as diferenças, temos que aprofundar o diagnóstico.

1.1.2. MORTALIDADE PROPORCIONAL POR FAIXA ETÁRIA

A mortalidade proporcional por faixa etária é a porcentagem do número de óbitos numa


determinada faixa etária no número total de óbitos.

Mortalidade Proporcional por Faixa Etária = nº de óbitos na faixa etária X100


Total de óbitos

Exemplo 2

Em Cai-Cai, do total de 938 óbitos ocorridos em 2017, 91 aconteceram entre as pessoas de 10 a


29 anos e 312 na faixa etária de 60 a 79 anos. Calcule a mortalidade proporcional das 2 faixas
etárias.

MP Neoplasia 10 - 29 anos = 91 (nº de óbitos na faixa etária) X 100 = 9,70%


938 (total de óbitos na população)

MP Neoplasia 60 - 79 anos = 312 (nº de óbitos na faixa etária) X 100 = 33,26%


938 (total de óbitos na faixa etária)

Ou seja, em Cai-Cai, de todas as mortes ocorridas, 9,70% foram entre as pessoas de 10 a 29


anos e 33,26% entre as pessoas de 60 a 79 anos.

A mortalidade proporcional por faixa etária permite uma aproximação às condições de saúde de
uma população, na medida em que à medida que melhoram as condições de vida e saúde, as
pessoas vivem mais, morrendo cada vez mais tarde.

Com base nisso, 2 indicadores foram elaborados a partir da mortalidade proporcional por faixa
etária:

a. Swaroop-Uemura (ou razão da mortalidade proporcional)

É a proporção de óbitos de indivíduos com 50 anos e mais em relação ao total de óbitos, num
determinado ano.

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Indicador Swaroop-Uemura = nº de óbitos de 50 anos e mais X 100


Total de óbitos

Exemplo 3

Calcule o indicador de Swaroop-Uemura para uma dada população em 2017, cujo total de óbitos
foi de 2.520 e que nas faixas etárias de 50 a 64 anos e de 65 anos e mais apresentou 587 e
1.019 mortes, respectivamente.

Indicador Swaroop-Uemura = óbitos nas faixas acima de 50 anos (587 + 1.019) X 100 = 63,72%
Total de óbitos (2520)

Este é considerado um bom indicador de nível de saúde, na medida em que leva em conta tanto
a estrutura etária, quanto a mortalidade específica por idades. Assim, os países com piores
condições de saúde, cuja população é mais jovem e a mortalidade é precoce, tem este indicador
mais baixo. À medida que melhoram as condições de vida e saúde, a população envelhece e
baixa a mortalidade precoce, fazendo este indicador crescer até aproximar-se de 100%.

É um indicador utilizado para grandes territórios, já que é afetado pela migração interna.

b. Indicador de Nelson de Moraes ou Curva da mortalidade proporcional

Levando-se em conta a mortalidade proporcional para outras faixas etárias, além da de 50 e


mais anos, Nelson de Moraes propôs um indicador de avaliação de nível de saúde da população
que é construído da seguinte maneira:

Cálculo da mortalidade proporcional para cada uma das faixas de: menos de 1 ano, 1 a 4 anos, 5
a 19 anos, 20 a 49 anos, 50 anos e mais.

A partir destes valores, é construída uma curva de mortalidade proporcional, para a qual são
propostos quatro tipos básicos, relacionadas com o nível de saúde.

Tipo I – Nível muito baixo, apresentando mortalidade muito alta nos grupos menores de 1 a no e
de 20 a 49 anos.

Tipo II – Nível baixo, apresentando mortalidade infantil alta.

Tipo III – Nível regular. A mortalidade infantil é alta, mas o grupo etário com maior proporção de
óbitos é o de 50 e mais anos.

Tipo IV – Nível elevado. Mortalidade alta no grupo de 50 e mais anos e baixo nos demais grupos.

Veja abaixo os 4 tipos de Curvas de Nelson de Moraes.

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Fonte: https://cotidianoetc.wordpress.com/2016/05/09/613/. Acessado em: 08/03/2018

1.1.3. MORTALIDADE PROPORCIONAL POR CAUSA NA FAIXA ETÁRIA

Assim como calculamos a mortalidade proporcional por causas para a população total, podemos
também calcular para uma determinada faixa etária.

É expressa pela proporção de óbitos por determinada causa ocorridos numa determinada faixa
etária num ano, em relação a todos os óbitos desta faixa etária neste ano.

Mortalidade Proporcional pela causa nº de óbitos pela causa na faixa etária X100
X por Faixa Etária = Total de óbitos na faixa etária

Exemplo 4

Voltando a Cai-Cai, calcule a mortalidade proporcional por neoplasias para as faixas etárias de
10 a 29 anos e de 60 a 79 anos, sabendo-se que ocorreram 3 e 73 mortes por esta causa num
total de 91 e 312 óbitos respectivamente.

MP Neoplasia 10 - 29 anos = 3 (nº de óbitos por neoplasias na faixa etária) X 100 = 4,16%
72 ( total de óbitos na faixa etária)

MP Neoplasia 60 - 79 anos = 73 (nº de óbitos por neoplasias na faixa etária) X 100 = 23,39%
312 ( total de óbitos na faixa etária)

Observa-se, então, que para a população total de Cai-Cai, as neoplasias foram responsáveis por
16,50% do total de óbitos em 2017, mas em cada faixa etária o peso é diferente (reflexo do risco
diferenciado).

Para a população de 10 a 29 anos a mortalidade proporcional foi de 4,16% e para os de 60 a 79


anos, foi de 23,39%. Como se poderia esperar.

Da mesma maneira que foi calculada para um grupo etário, a mortalidade proporcional por uma
determinada causa ou doença pode ser calculada para grupos profissionais, sexo ou quaisquer
outras categorias que se escolham.

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1.2. TAXAS DE MORTALIDADE

Digamos que alguém diga para você que na cidade de Esperança do Mar aconteceram 20
mortes por câncer enquanto que em Além do Cais aconteceram 300. E coloque a questão: qual
das cidades tem menor mortalidade por câncer?

O que você responderia?

Se você perguntou: qual o tamanho da população de cada uma? Acertou!!

Porque se Esperança tem 200 moradores e Além do Cais, 2 milhões, as 20 mortes em


Esperança pesam muito mais que as 300 em Além do Cais.

Para isso servem as taxas, para permitir avaliar o número em relação à população em questão.
Não é possível comparar números absolutos. Para isso, eu preciso de taxas.

Repare que quando falamos da mortalidade proporcional, não falamos em nenhum momento em
número de habitantes. Porque a mortalidade proporcional trabalha sobre o universo de óbitos e
não leva em conta a população, que não apareceu em nenhum dos cálculos que mostramos até
agora. Reparou?

As taxas de mortalidade que englobam todas as causas e podem ser calculadas para
populações totais e por faixas etárias.

Da mesma forma, as taxas de mortalidade específica por uma determinada causa podem ser
calculadas para a população total ou por faixas etárias.

As taxas de mortalidade avaliam o risco global de morte ou o risco de morrer por uma
determinada causa e/ou a uma certa idade.

1.2.1. TAXA DE MORTALIDADE GERAL

É definida como o número total de óbitos registrados durante um determinado ano em relação à
população ajustada para o meio do ano (1º de julho).

É expressa por mil habitantes.

Taxa de Mortalidade Geral = nº total de óbitos X1.000


População ajustada para o meio do ano

Exemplo 5

Calcule a taxa de mortalidade geral em Cai-Cai para 2017, sabendo-se que sua população é de
158 mil habitantes e aconteceram 938 óbitos.

Taxa de Mortalidade Geral = 938 (nº total de óbitos) X 1.000 = 5,94/1000


158.000 (pop. total)

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A taxa de mortalidade geral expressa o risco global de morrer de uma determinada população
num determinado período.

1.2.2. TAXA DE MORTALIDADE POR FAIXA ETÁRIA

É definida como o número de óbitos ocorridos numa determinada faixa etária num determinado
ano em relação à população desta faixa etária ajustada para o meio do ano.

Taxa de Mortalidade por Faixa Etária = nº total de óbitos na faixa etária X1.000
População desta faixa etária

Exemplo 6

Em Cai-Cai, 56.180 habitantes têm de 10 a 29 anos, enquanto 13.900 têm de 60 a 79 anos.


Lembrando que ocorreram 91 mortes no primeiro grupo e 312 no segundo, calcule a taxa de
mortalidade em cada uma das faixas.

Taxa de Mortalidade faixa 10 - 29 anos = 91 (nº total de óbitos na faixa etária) X 1.000 = 1,62/1000
56.180 (população da faixa)

Taxa de Mortalidade faixa 60 - 79 anos = 312 (nº total de óbitos na faixa etária) X 1.000 = 22,45/1000
13.900 (população da faixa)

A taxa de mortalidade por faixa etária expressa o risco de morrer em cada grupo de idade. E
como se poderia imaginar, o risco é bem maior entre as pessoas mais velhas do que entre as
pessoas mais jovens.

Comparação entre taxas de mortalidade

As taxas de mortalidade são utilizadas para a avaliação geral de nível de saúde e risco de morte
em uma população.

As taxas de mortalidade por faixa etária podem também ser utilizadas para comparação entre
duas populações.

Já as taxas de mortalidade geral ao serem usadas para comparação, podem gerar alguns
problemas.

Por exemplo, utilizando os dados do quadro II, analise comparativamente o nível de saúde dos
vários países.

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Quadro II – Taxa de mortalidade geral para alguns países selecionados – 2017

País Taxa (por 1.000hab.)


Finlândia 10
Suécia 9
Noruega 8
Paraguai 5
Egito 5
Argélia 4
Fonte: Index Mundi

Com base nas taxas gerais, poder-se-ia dizer que as condições de saúde do Paraguai, Egito e
Argélia são melhores que as de Finlândia, Suécia e Noruega, países com os melhores
indicadores de condições de vida do mundo.

Como sabemos que tal fato não é verdadeiro e que os cálculos estão corretos, vamos analisar a
razão de tal resultado.

As taxas de mortalidade geral são influenciadas pela estrutura etária da população. Em uma
população com maior proporção de idosos, a taxa de mortalidade é mais alta, na medida em que
as pessoas com idade mais avançada, por melhor alojadas, alimentadas e assistidas que
estejam, morrem mais que os jovens.

Assim, observe o quadro III:

Quadro III – Comparação entre as taxas de mortalidade de duas regiões fictícias

Região A Região B
Faixa etária
Taxa Taxa
(em anos) População Óbitos População Óbitos
(por 1.000) (por 1.000)
0-14 500 2 4,0 400 1 2,5
15-29 2.000 8 4,0 300 1 3,3
30-44 2.000 12 6,0 1.000 5 5,0
45-59 1.000 10 10,0 2.000 18 9,0
60-74 500 20 40,0 2.000 70 35,0
75 e mais 100 15 150,0 400 50 125,0
Total 6.100 67 11,0 6.100 145 23,8

A comparação entre as taxas das duas regiões mostra que apesar de em B as taxas de
mortalidade em todas as faixas etárias serem mais baixas que em A, sua taxa de mortalidade
geral é mais que o dobro da de A.

Isso se deve ao fato de que a estrutura etária das duas populações é muito diferente, sendo que
em A, 74% dos habitantes tem entre 0 e 44 anos e apenas 26% tem mais de 45. Já em B, ao
contrário, 28% tem entre 0 e 44 anos e 72% tem mais de 45 anos.

Embora o exemplo utilizado seja exagerado, já que é improvável ocorrerem diferenças


demográficas tão grandes, as diferenças observadas na prática são suficientes para que o uso
das taxas de mortalidade geral com objetivo de comparação possa levar a equívocos.

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Portanto, quando queremos utilizá-las como base para comparar duas populações com estrutura
etária muito distintas, é necessário primeiro padronizar as taxas de modo a torná-las
comparáveis. As taxas de mortalidade geral não padronizadas são chamadas taxas brutas.

Observe no quadro IV, taxas de mortalidade brutas e ajustadas de alguns estados brasileiros e
observe as diferenças.

Quadro IV – Taxas brutas e padronizadas de mortalidade para


alguns estados brasileiros selecionados - 2011

Estado Taxa bruta (por Taxa padronizada


1000) (por 1000)
Amazonas 4,6 6,6
Rondônia 4,9 6,5
Alagoas 6,2 7,1
Rio Grande do Sul 7,3 6,1
Fonte: DATASUS/ MS

Observe como os três primeiros estados com taxas brutas menores apresentam taxas
padronizadas maiores e o Rio Grande do Sul, com a maior taxa bruta, tem a menor padronizada,
quando corrigidas as distorções devidas à estrutura etária diferente.

Ao final do texto, apresentamos um método para padronização de taxas.

1.2.3. TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL

É expressa pelo número de óbitos em menores de 1 ano, num determinado ano, em relação ao
número de nascidos vivos no ano. É expressa por mil.

Corresponde à taxa de mortalidade da faixa etária de menores de 1 ano, com um denominador


especial, o de nascidos vivos (e não a população de menores de um ano)

Taxa de Mortalidade Infantil = nº de óbitos de menores de 1 ano X 1.000


no de nascidos vivos

Exemplo 7

Calcular a taxa de mortalidade infantil de Cai-Cai, uma população sabendo-se que foram
registradas 2.360 nascidos vivos e morreram 38 crianças até 1 ano de idade.

Taxa de Mortalidade infantil Cai-Cai, 2017 = 38 X 1.000 = 16,10/1000


2360
Um dos indicadores mais utilizados no diagnóstico, a mortalidade infantil é um excelente
indicador de condições de vida e saúde. A grande maioria das mortes em menores de um ano é
evitável e está relacionada a diferentes fatores, em sua maior parte ligados à condições
materiais de existência e saneamento básico de atenção ao parto e ao pré-natal,
especificamente em sua fase mais precoce. Em sua fase mais tardia (pós-neonatal), suas

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principais causas são as infecções, diretamente ligadas à qualidade de vida e ao acesso (ou
não) à atenção à saúde de qualidade.

Taxas de mortalidade acima de 20/1000 são consideradas altas, entre 10 e 20 são


intermediárias e abaixo de 10/1000, consideradas baixas.

Observe no Quadro V as taxas de mortalidade infantil de alguns países selecionados.

QUADRO V – Taxa de Mortalidade Infantil de alguns


países selecionados – 2014

País Taxa mortalidade


(por mil nascidos vivos)
Canadá 1,9
Chile 2,9
Japão 2,4
México 5,2
Portugal 2,4
Fonte: OECD

À medida em que melhoram as condições de vida, a taxa de mortalidade infantil vai diminuindo
até expressar menos mortes evitáveis.

Na medida em que cada em que esses fatores causais influenciam de forma diferente os óbitos,
de acordo com o período em que ocorre a morte dentro do 1º ano de vida, para melhor
avaliação, o indicador pode ser decomposto em seus componentes.

A Mortalidade Infantil Neonatal ocorre até os primeiros 27 dias de vida. E é dividida em


Mortalidade Infantil Neonatal Neonatal Precoce – até 6 dias de vida e Neonatal Tardia de 7 a 27
dias.

A Mortalidade Infantil Pós-neonatal ocorre a partir de 28 dias de vida.

Todas as taxas são calculadas tendo por numerador o número de óbitos em cada período
considerado dentro do primeiro ano de vida e o denominador, o número de nascidos vivos.

A soma das Taxas de Mortalidade Neonatal e Pós-Neonatal é a Taxa de Mortalidade Infantil,


assim como a soma das Taxas de Mortalidade Neonatal Precoce e Tardia, é a Taxa de
Mortalidade Neonatal.

Na UA V, você terá um texto sobre mortalidade infantil, seus componentes e sua utilização para
definir estratégias de intervenção. E fará uma atividade sobre isso.

1.2.4. TAXA DE MORTALIDADE MATERNA (ou RAZAO DE MORTALIDADE


MATERNA)

É expressa pelo número de óbitos de mulheres ocorridos no ano devido à complicações na


gravidez, parto e puerpério, em relação ao total de nascidos vivos no ano.

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Taxa de Mortalidade Materna = Nº de óbitos por complicações da gravidez, X 1.000


parto e puerpério
no de nascidos vivos

É expressa por 100.000 mil nascidos vivos.

Exemplo 8

Calcule a taxa de mortalidade materna de Vento Forte, onde ocorreram 3 óbitos por
complicações da gravidez, parto e puerpério e que foram registradas 8.500 crianças nascidas
vivas no ano de 2017.

Taxa de Mortalidade materna Vento forte, 3 X 100.000 = 35,29/100.000


2017 = 8500

Esta é uma taxa considerada alta. A Organização Mundial de Saúde considera que o valor
máximo aceitável seria de 20/100.000.

Observe no Quadro VI as taxas de mortalidade materna para alguns países selecionados.

QUADRO VI – Taxa de Mortalidade Materna de alguns


países selecionados – 2014

País Taxa mortalidade


(por 100 mil nascidos vivos)
Alemanha 4,1
Espanha 2,1
Noruega 3,4
Reino Unido 5,4
Suécia 3,5
Fonte: portadata.pt

Esta taxa reflete o risco de morrer a que estão submetidas as mulheres durante a gravidez, parto
e puerpério e é influenciada pelas condições socioeconômicas, o estado nutricional e, em
especial, à assistência ao parto e pré-natal.

Incluído no Capítulo do CID-10 “Complicações da Gravidez, Parto e Puerpério”, estão (ou


deveriam estar) os abortos como causa de morte. Considerando o enorme problema de saúde
pública que temos em relação ao enorme número de abortos realizados ilegalmente em
condições precárias, podemos imaginar que não temos o real cenário em relação ao aborto.

1.2.5. TAXAS DE MORTALIDADE ESPECÍFICAS POR DETERMINADA CAUSA

Expressa o risco de morte por determinada causa num dado universo populacional. Pode ser
calculada para a população total ou por determinado grupo etário, profissão ou gênero.

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As taxas de mortalidade específicas por causa geralmente são expressas por 100.000
habitantes.

a. Taxa de mortalidade específica por causa

É expressa pelo número de óbitos por determinada causa ou doença ocorridos durante um ano
em relação à população total ajustada para o meio do ano.

Taxa de Mortalidade por uma Nº de óbito por determinada causa X 100.000


causa específica = População total ajustada para o meio do ano

Exemplo 9

Calcule a taxa de mortalidade por neoplasias em Cai-Cai, sabendo que aconteceram 150 mortes
por esta causa para uma população de 158.000 habitantes.

Taxa de mortalidade específica de neoplasias, Cai-Cai, 2017 = 150 X 100.000 = 94,93/100.000


158.000

B. Taxa de mortalidade específica por determinada causa na faixa etária

É expressa pelo número de óbitos ocorridos por determinada causa num dado grupo etário
durante um ano em relação à população deste grupo etário ajustada para o meio do ano.

Taxa de Mortalidade específica Nº de óbitos pela causa no grupo etário X 100.000


na faixa etária = População desse grupo etário ajustada para o
meio do ano

Exemplo 10

Ainda em Cai-Cai, calcule a mortalidade específica para as faixas etárias de 10 a 29 anos e a de


60 a 79 anos, sabendo-se que na primeira ocorreram 3 mortes por esta causa e na segunda, 73.
A população de 10 a 29 anos é de 56.180 e a de 60 a 79 anos, 13.900.

Taxa de mortalidade específica por neoplasias 10-29 anos = 3 X 100.000 = 5,33/100.000


56.180

Taxa de mortalidade específica por neoplasias 60-79 anos = 73 X 100.000 = 525,18/100.000


13.900
Como se vê, a população de Cai-Cai apresenta taxas de mortalidade por neoplasias nos dois
grupos etários muito diferentes entre si e da taxa total, expressando o risco diferenciado por faixa
de idade.

As taxas de mortalidade por determinadas causas são utilizadas para uma primeira avaliação da
magnitude de um determinado problema de saúde numa população, construir séries históricas e
realizar comparações.

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Lembre-se, porém, que a avaliação da mortalidade é uma primeira aproximação ao diagnóstico e


sua validade depende das características específicas da (s) patologias (s) que se estuda(m),
como veremos abaixo.

2. INDICADORES DE MORBIDADE

Os indicadores de morbidade são utilizados para avaliar o perfil de adoecimento de uma


população. Busca estudar tanto os casos novos, de uma determinada doença, como o número
total de casos (novos mais antigos).

Os indicadores de morbidade são mais difíceis de construir pois é mais difícil obter os dados
sobre adoecimento. Enquanto para a mortalidade, utilizam-se os atestados de óbito, documento
obrigatoriamente preenchidos – ainda que nem sempre de forma completa -, para a morbidade
são muitas as fontes de informação, como veremos no próximo item.

2.1. INCIDÊNCIA, TAXA DE INCIDÊNCIA E COEFICIENTE DE DETECÇÃO DE


CASOS NOVOS

A incidência se refere ao número de casos novos de uma determinada doença, os que foram
diagnosticados no período considerado.

O Coeficiente de Detecção de Casos Novos se refere à detecção de casos que não se pode
afirmar que são casos novos/recentes, mas casos antigos apenas diagnosticados no período.

A taxa de incidência/ coeficiente de detecção de casos novos é expressa pelo número de casos
novos de uma determinada doença em relação à população exposta ao risco.

Taxa de Incidência = nº de casos novos num período X 100.000


População exposta ao risco

É expressa por 100.000 habitantes (ou não)

Lembrem-se! Aqui colocamos as formas de expressão usual das taxas. No entanto, estas
podem ser expressas por outra base do coeficiente, dependendo do numerador, de modo a
facilitar a compreensão. Uma taxa de 0.004 por 100.000, fica melhor expressa por 0,04 por
10.000 ou ainda 0,4 por 1000. Todas estas expressões são o mesmo valor. É claro que para que
possam ser comparadas, as taxas devem usar a mesma base.

Nos últimos tempos, infelizmente, você deve ter ouvido muito falar da incidência, com o grande
aumento do número de casos de febre amarela. Aumentou, portanto, a incidência de febre
amarela.

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Exemplo 11

Calcule a taxa de incidência de tuberculose em Cai-Cai sabendo-se que foram diagnosticados 44


casos novos ao longo de 2017.

Taxa incidência Tuberculose Cai-Cai 2017 = 44 X 100.000 = 27,85/100.000


158.000

Este indicador expressa o risco de contrair tuberculose em Cai-Cai para toda a população. Como
você já sabe, pode ser calculado também por faixa etária, sexo, gênero, ocupação, etc.

Através desse indicador pode-se comparar os riscos que duas populações têm de adquirir
determinada doença ou como varia o risco numa mesma população ao longo do tempo.

Quando se calcula a incidência, a unidade de tempo pode ser um ano, um mês e, às vezes, para
doenças infecciosas agudas, usam-se períodos de tempo menores (semana, dia).

Você também tem observado isso em relação à febre amarela, em que aumentos na incidência e
nas taxas de incidência são comentados em todos os jornais e orientam a intervenção nas áreas
consideradas de risco.

Infelizmente, neste caso, boa parte do aumento da incidência poderia ter sido evitada por
medidas básicas de vigilância em saúde, como manter as populações vacinadas.

Em muitas áreas, a vacinação contra febre amarela é parte do calendário, por serem áreas
endêmicas – outro conceito que você deve ter ouvido muito. Estas são áreas de risco, porque
naturalmente apresentam as condições para manutenção do ciclo silvestre da doença, que
envolve o macaco. A vacinação previne o contágio das pessoas.

No entanto, a cobertura vacinal estava muito baixa já há tempos e demorou-se a tomar medidas
que seriam de rotina ou, pelo menos, às primeiras mortes de macacos observadas, ainda em
agosto de 2016. Hoje corremos o risco de reintrodução urbana da febre amarela, cujo último
caso foi em 1942.

Na UA IV, você fará uma atividade sobre febre amarela.

2.2. PREVALÊNCIA E TAXA DE PREVALÊNCIA

A prevalência é o número de casos de uma determinada doença, novos e antigos,


existentes numa população. A prevalência é igual à incidência mais o número de casos que já
haviam sido identificados. A prevalência é função da incidência e da duração da doença.

A taxa de prevalência é o número de casos de uma determinada doença em relação à população


exposta ao risco.

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Taxa de Prevalência = nº de casos existentes (novos + antigos) X 10.000


População exposta ao risco

A prevalência e a respectiva taxa podem ser medidas por diferentes períodos de tempo,
geralmente de um ano ou de um mês.

Pode-se também avaliar a prevalência momentânea ou instantânea ou, como também é


conhecido, prevalência num ponto, quando o tempo que se mede é, geralmente, um dia.

Exemplo 12

Observe o cálculo da incidência e da prevalência de hanseníase no município de Salem, vizinho


a Ca-Cai e de maior porte.

2014 2015
População População Doentes Doentes População População Doentes Doentes em
1º jan. 1º jul. novos no em 31 1º jan. 1º jul. novos no 31 dez
Salem
ano dez ano
800.000 806.000 94 1.200 812.000 820.000 100 1.260

Incidência de hanseníase em 2014 = 94 casos

Prevalência momentânea (pontual) em 31 dez 2014 = 1.200 casos

Taxa de prevalência em 2015 = Casos que passaram de 2014 (1200) X 10.000 = 15,85/10.000
casos novos (100)
População (820.000)

Como em 31 de dezembro de 2015 existiam 1.260 doentes, os restantes 40 casos (1.300 -1.260
= 40) foram os que saíram de observação, seja por morte, cura ou abandono.

As taxas de incidência são utilizadas para avaliação do risco de adoecer por determinada
doença. Já com relação à prevalência, que a rigor é uma proporção, é mais utilizado o número
de casos (numerador), especialmente com objetivo de programação.

Para as doenças agudas, de curta duração, a incidência e a prevalência num determinado


período apresentam valores próximos. No caso de doenças crônicas, ao contrário, os casos vão
se acumulando e a prevalência excede muito a incidência.

A prevalência, portanto, depende da incidência e da duração da doença.

2.3. LETALIDADE

A letalidade é a mais usada medida de gravidade de uma doença.

É expressa pela proporção do número de óbitos ocorridos pela doença em relação ao total de
casos desta doença.

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Letalidade = nº de óbitos pela doença X 100


nº de casos da doença
Exemplo 13

Calcule a letalidade do sarampo numa área da Região Norte do Brasil, sabendo-se que nesta
dada população, aconteceram 500 casos e ocorreram 35 óbitos por esta causa.

Letalidade = 35 óbitos X 100 = 7%


500 casos

Cabe observar que a letalidade de uma doença não é para ser confundida com sua taxa de
mortalidade.

Vamos considerar, por exemplo, a raiva. A morte pode ser evitada se o tratamento profilático for
administrado em tempo hábil, após a exposição (em geral, mordida ou arranhadura por cão
infectado, ou morcegos). Uma vez instalados os sintomas, já não há tratamento eficaz e os
casos de cura são raríssimos.

Exemplo 14

Em Castanheira do Sul, município de 1.500.000 habitantes, aconteceram 2 casos de raiva


humana e os 2 vieram a óbito. Calcule a letalidade, a incidência e a taxa de mortalidade.

Letalidade = 2 óbitos X 100 = 100%


2 casos

Taxa Incidência = 2 óbitos X 100.000 = 0,13/100.000


1.500.000

Taxa mortalidade por raiva = 2 óbitos X 100 = 0,13/100.000


1.500.000

III . USANDO OS INDICADORES DE MORTALIDADE E MORBIDADE

Para análise da situação de saúde, usamos indicadores de mortalidade e de morbidade. Sempre


serão primeiras aproximações, que vão gerando hipóteses a serem aprofundadas. Você verá
esse processo em detalhes na UA V.

Para as doenças agudas e de alta letalidade, a taxa de mortalidade reflete bastante a incidência.
No caso da raiva, de evolução rápida e altíssima letalidade, na imensa maioria das vezes, o
número de casos novos é igual ao número de óbitos. E neste caso, a mortalidade oferece uma
aproximação muito acurada do adoecimento.

Já para as doenças crônicas, como as cardiovasculares, a mortalidade é a ponta de um iceberg


que espelha apenas uma parte da incidência e da prevalência. Neste caso, além da mortalidade,

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devemos contar com informações sobre morbidade, nem sempre fáceis de obter. Mas, sempre
podemos trabalhar com estimativas, interpretar as informações disponíveis de modo a elaborar
hipóteses iniciais que embasem o trabalho.

No caso de doenças de baixa letalidade, como você pode observar, as taxas de mortalidade
informam pouco acerca de sua incidência e prevalência.

1 . FONTE DE INFORMAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES

Atualmente, você encontra uma ampla base de dados e indicadores trabalhados pelo DATASUS/
Ministério da Saúde. Neste módulo você aprenderá como encontrá-los.

No entanto, para que sua construção seja possível são utilizadas diferentes fontes de
informação. Se você prestar atenção no pé de uma tabela de indicadores elaborada pelo
DATASUS, verá as fontes utilizadas. Muitas vezes são subsistemas de informação que utilizam
dados de fontes primárias.

Problemas com a completude e a fidedignidade das fontes de informação, alteram a


confiabilidade do indicador. Para que você compreenda os maiores problemas que podem ser
encontrados, vamos apresentar as principais fontes de informação.

Para os indicadores de mortalidade, utilizam-se o censo e os registros de nascimentos e óbitos.

Já para a construção dos indicadores de morbidade, o levantamento de dados é mais difícil e


feito a partir de um número muito maior de fontes. Detalharemos, a seguir, as principais fontes
de dados e alguns problemas que podem ser encontrados na construção dos indicadores.

1.1 CENSOS DE POPULAÇÃO E MORADIA

Os censos de população fornecem os dados básicos – distribuição da população por idade e


sexo, nível de instrução, ocupação, renda, etc. – para calcular os indicadores demográficos e
socioeconômicos, e os denominadores de vários indicadores de nível de saúde.

Incluem, ainda, informações sócio-demográficas que comporão uma aproximação ao grau de


vulnerabilidade de uma população.

Os censos de população e moradia geralmente são realizados de dez em dez anos; porém, nos
períodos intermediários, podem ser atualizados por estimativas ou através do censo simplificado
que faz a coleta de um número reduzido de dados, a Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios (PNAD) ou contagem intercensitária da população.

1.2 REGISTROS DE DADOS VITAIS

São encontrados nos cartórios de registros civis e fornecem dados sobre nascimentos (vivos e
mortos) e óbitos, que combinados aos dados do censo, permitem calcular os indicadores de
mortalidade infantil, geral e por faixa etária.

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A partir dos registros de óbitos nos cartórios, os órgãos estaduais de saúde e o Ministério da
Saúde, constroem tabulações de mortalidade por causas para o país, que combinadas aos
dados do censo facilitam o cálculo das taxas de mortalidade por causas.

Para a construção dos indicadores, entretanto, deve-se ter em mente problemas que podem
ocorrer pela falta de fidedignidade dos dados.

Os indicadores de mortalidade são afetados pelo sub-registro, seja de óbitos, seja de


nascimentos.

Especialmente a mortalidade infantil, dependendo da região que se quer estudar, pode ser muito
alterada pelo sub-registro dos nascidos vivos (crianças nascidas em um ano e registradas em
anos posteriores) e de óbitos. Existem questões específicas dependendo do subsistema de
informação utilizado (SIM/SINASC).

Outro problema diz respeito ao estudo da mortalidade por causas. A fonte primária da
informação é o modelo internacional de atestado de óbito.

No atestado devem ser declaradas, separadamente, a causa básica da morte (doença ou lesão,
que iniciou a série de eventos que levaram à morte), as complicações decorrentes e as causas
contribuintes, sendo que para a tabulação das estatísticas de mortalidade é utilizada a causa
básica.

Ocorre, no entanto, que o atestado de óbito muitíssimas vezes é preenchido incorretamente.

Assim, por exemplo, o sarampo, que pode levar à morte por uma complicação
broncopneumônica, nem sempre é declarado, constando em seu lugar a broncopneumonia.

Isto leva à subestimação ou superestimação no cálculo de taxas de mortalidade por


determinadas causas.

Outro tipo de problema diz respeito ao registro de óbitos hospitalares por local de ocorrência e
não de residência, fazendo com que em regiões com maior rede de serviços as taxas de
mortalidade aumentem, enquanto em regiões com menor rede, ocorra o contrário.

Para solucionar este problema, os órgãos estaduais de saúde têm a incumbência de fazer a
correção deste dado. No entanto, isto nem sempre ocorre em todas as regiões.

Observa-se, portanto, que frente à obtenção de uma taxa muito diferente da esperada, antes de
partir para a formulação de hipóteses epidemiológicas que a justifiquem, é sempre bom levar em
conta a possibilidade de problemas ligados ao registro.

1.3 NOTIFICAÇÃO DE DOENÇAS

Para a construção de indicadores de morbidade, uma fonte rotineira é a notificação.

A notificação compulsória é a declaração obrigatória de todos os casos de determinadas


doenças.

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Ao lado das doenças de lista internacional – febre amarela, peste, cólera, varíola -, cada país
elabora a sua própria lista.

No Brasil, além da lista básica nacional, constituída apenas por doenças transmissíveis, cada
estado da federação acresce de outras doenças, de acordo com a necessidade ou interesse.

O problema com a notificação é o do sub-registro, que varia com o tipo de doença, em


especial com a frequência, gravidade, possibilidade de contágio e a própria representação social
da enfermidade. Assim, os casos de febre amarela e raiva são mais notificados que os de
dengue.

Veja aqui http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_2016.html a lista de


doenças de notificação compulsória no Brasil.

1.4 REGISTROS ORIGINÁRIOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Os registros de morbidade a partir dos diagnósticos realizados pelos serviços de saúde de uma
área podem ser utilizados para uma aproximação da morbidade.

No entanto, é necessário ressalvar que é uma visão bastante parcial e determinada pela própria
forma como se organizam os serviços, a qual condiciona a maneira como a população os utiliza.

Atualmente, a maior fonte de registros é o sistema SIA-SUS para consultas ambulatoriais e SIH-
SUS para internação. São poucos os estabelecimentos de saúde que mantém seus próprios
sistemas de informação. Sendo ambos sistemas utilizados para pagamento, apresenta uma série
de distorções que, em certa media, comprometem a fidedignidade do banco de dados dos
sistemas. Vários estudos vem sendo feitos avaliando os limites à sua utilização, como você verá
na UA V.

Ainda assim, são os sistemas que dispomos e devemos utilizá-lo, sempre levando em conta
suas possíveis limitações.

1.5 REGISTROS DE DOENÇAS CRÔNICAS

Para algumas doenças crônicas, são organizados registros específicos, em que se busca
compilar todos os diagnósticos de uma determinada patologia numa determinada área a partir
dos serviços que fazem o diagnóstico e/ou acompanhamento.

A Sociedade Brasileira de Nefrologia mantém o Registro Brasileiro de Diálise, assim como no


site do Instituto Nacional do Câncer você encontra dados do Registro do Câncer de Base
Populacional. Alguns estados e municípios também mantém registros para algumas patologias.

A completude e fidedignidade dos bancos dos registros dependerá da proporção de centros de


assistência que mandam suas informações.

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1.6 INQUÉRITOS DE MORBIDADE

São levantamentos feitos na população com o objetivo de conhecer o seu perfil de morbidade,
por exemplo VIGITEL (sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças
crônicas por inquérito telefônico).

Os inquéritos na população, quando não existem outras fontes de dados confiáveis, possibilitam
um conhecimento bem mais aproximado das características da população.

No entanto, este tipo de trabalho requer, em geral, grandes esforços organizativos e é


dispendioso em tempo e dinheiro. É fundamental para a produção de conhecimento
epidemiológico, mas não para a elaboração de estratégias de intervenção.

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ANEXO
Método direto de padronização de taxas

Este método consiste em analisar as taxas de mortalidade geral que seriam obtidas para duas
ou mais populações, na hipótese de que não houvesse diferença em suas estruturas etárias.

Para isto, elege-se uma 3ª população qualquer, decomposta por faixas etárias, que será utilizada
como padrão. A seguir, aplica-se a essa população as taxas de mortalidade específica para
grupos etários de cada uma das populações que se quer comparar. Obtemos assim o número de
óbitos que existiriam em cada grupo de idades da população padrão caso esta apresentasse as
taxas de mortalidade específicas das populações em estudo. Calculamos, então, as taxas de
mortalidade geral padronizadas:

Nº total de óbitos na população padrão X 1.000


População padrão

Exemplo 15

Utilize o método direto de padronização de taxas de modo a tornar comparáveis as taxas de


mortalidade geral e das regiões A e B apresentadas no Quadro VII.

Quadro VII - Cálculo das taxas de mortalidade geral padronizadas para as regiões A e B.

Grupo etário População Taxas de Óbitos na População Taxas de Óbitos na


(em anos) padrão (1) mortalidade A (2) padrão com taxas de mortalidade B (4) população
A (3) padrão (5)
0 – 14 500 4 2 2,5 1
15 - 29 2.500 4 10 3,3 8
30 – 44 3.000 6 18 5 15
45 – 59 3.000 10 30 9 27
60 – 74 2.500 40 100 35 87,8
75 e mais 500 150 75 125 63,3
Total 12.000 235 202
Taxa de mortalidade Região A Região B
padronizada 235/12.000 x 1.000 = 19,58 202/12.000 x 1.000 = 16,83

Utilizando-se como padrão a população da coluna 1, obtêm-se as taxas padronizadas para a e


B, mostrando uma taxa mais favorável para a região B.

Da mesma maneira como foi realizada a padronização por idades, pode-se também padronizar
por sexo, quando necessário.

Cabe ressaltar um aspecto acerca da escolha da população padrão. Observando-se o quadro


VII, nota-se que se tivéssemos eleito outra população padrão, com outra estrutura etária,
obteríamos taxas padronizadas diferentes. No entanto, a relação entre as taxas padronizadas
permaneceria a mesma.

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