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5. Condições de Saúde da
População Brasileira
Conceito de risco
Em epidemiologia, a palavra ‘risco’ significa probabilidade de ocorrência. Assim, se quisermos
saber qual o risco de um morador da cidade de Salvador adquirir câncer de pele, teríamos de
calcular a probabilidade de uma pessoa pertencente à população de Salvador ter esse diagnósti-
co. A probabilidade é dada pela relação entre o número de casos diagnosticados em um ano e a
população residente nesse mesmo ano.
Indicadores de mortalidade
Os indicadores de mortalidade tradicionalmente têm sido usados como indicadores
de saúde. Pode parecer paradoxal que se utilizem taxas de mortalidade para indicar as con-
dições de saúde. Entretanto, como os registros de óbito são obrigatórios, a disponibilidade
dessa informação para a maioria das populações no mundo levou a OMS a propor diferentes
taxas de mortalidade como indicadores de saúde.
No Brasil, todos os óbitos devem ser declarados em um formulário padronizado, no
qual constam informações sobre o indivíduo, as causas do óbito e o médico responsável pelo
atendimento. Os dados são registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
Estes dados são computados pelo Datasus, órgão encarregado do processamento dos dados
no Sistema Único de Saúde (SUS). Dispomos de todos os dados correspondentes aos óbitos
ocorridos no país segundo idade, sexo, causa básica, ano de ocorrência, local de residência
e de ocorrência. Para construir as taxas, precisamos de dados sobre os óbitos (numerador)
e dados sobre a população (denominador). Todos os dados podem ser obtidos pela Internet
(www.datasus.gov.br).
Indicadores de morbidade
Outros indicadores usados para avaliar as condições de saúde são as taxas de ocor-
Leia mais sobre doenças
rência de doenças para as quais existem registros sistemáticos. Basicamente, os países têm de notificação compulsó-
registro das doenças de notificação compulsória, ou seja, aquelas que apresentam maior ria no capítulo 22, sobre
vigilância epidemiológica.
potencial de disseminação na população. A lista dessas doenças é específica para cada país.
Outro dado de morbidade disponível em certos países, inclusive no Brasil, é referente às
internações hospitalares. Finalmente, em algumas cidades, existem registros hospitalares
ou populacionais de pacientes diagnosticados com câncer.
milhões
50 200.000
45 180.000
40 160.000
35 140.000
taxa (1.000 hab)
.
30 120.000
25 100.000
20 80.000
15 60.000
10 40.000
5 20.000
0 0
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
ano
Mortalidade Natalidade População
que é mais apropriado para retratar o quadro multifacetado que caracteriza as condições
de saúde em todas as populações.
Estado de saúde
Tradicionalmente, as condições de saúde de uma população eram avaliadas pela falta
de saúde, isto é, pela ocorrência de óbitos e doenças. Mais recentemente, vários indicadores
foram desenvolvidos para avaliar diretamente o estado de saúde. Entre eles, a autoavaliação
do estado de saúde se mostrou um bom indicador, facilmente obtido em inquéritos nacionais.
Este indicador vem sendo utilizado em pesquisas norte-americanas há cerca de duas décadas
No Brasil ele foi utilizado nas Pnads (1998, 2003 e 2008) e na Pesquisa Mundial de Saúde.
A autoavaliação do estado de saúde sofreu pequenas variações entre 1998 e 2008 (Tabela
1). Em 2008, 77,3% da população classificou sua saúde como muito boa e boa; 19% como
regular; 4% como ruim e muito ruim. Entretanto, a estratificação da população por idade
e sexo, renda per capita e regiões geográficas mostra variações nesta distribuição (Dachs &
Santos, 2006; IBGE, 2008).
Os dados mostram que, à medida que as idades aumentam, o estado de saúde perce-
bido tende a piorar. Para 83% dos indivíduos de 14 a 44 anos, o estado de saúde percebido
é bom ou muito bom. Já no grupo dos maiores de 84 anos, esta proporção cai para 37%.
O inverso pode ser observado para a classificação do estado de saúde como ruim ou muito
ruim. Entre jovens e adultos, 2% adotam essa classificação, enquanto 23% dos idosos com
mais de 84 anos consideram sua saúde ruim ou muito ruim (Tabela 1).
As mulheres tendem a avaliar seu estado de saúde como pior quando comparado
com a percepção dos homens. Estas diferenças são atribuídas, em parte, a diferenças de
gênero, isto é, a aspectos culturais que diferenciam a percepção de homens e mulheres; e,
em parte, a diferenças biológicas ligadas ao ciclo reprodutivo. As diferenças culturais pare-
cem ser mais importantes, uma vez que em todas as idades o mesmo padrão se repete, não
estando restrito à idade reprodutiva. O mesmo padrão pode ser observado na maior parte
das populações humanas.
Na Tabela 2, no quintil superior de renda, isto é, as pessoas com renda per capita de
R$ 730,00 a R$ 150.000,00 por mês, em 2008, tendem a perceber sua saúde como melhor
do que as demais.
Tabela 2 – Autoavaliação do estado de saúde segundo quintis de renda per capita. Brasil –
2008
Renda per capita (R$) Muito bom e bom Regular Ruim e muito ruim
0 – 145 76,2 19,9 3,9
145 – 259 75,1 20,8 4,1
260 – 414 76,2 19,9 3,8
415 – 729 74,2 21,2 4,6
730 – 150.000 83,5 14,4 2,2
Fonte: IBGE, 2008.
Para refletir
Quais seriam as possíveis explicações para a distribuição encontrada de autoavaliação do estado
de saúde por renda per capita?
70
60
Suds SUS
Ações Integradas
50
de Saúde (AIS)
unificação da
Previdência Social
40
criação do Ministério
30 da Saúde
20
10
0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
* Assinalamos alguns marcos das políticas de saúde no período considerado. Não há nenhuma relação direta de
‘causa e efeito’ entre elas e a esperança de vida. Pretendemos apenas situar historicamente ambos os fenômenos.
Fonte: IBGE, 2007.
A esperança de vida para a população brasileira em 2008 foi de 73 anos, ou seja, uma
pessoa nascida no Brasil pode esperar viver, em média, 73 anos. Assim como para o indicador
anterior, é possível observar diferenças por gênero. Para os homens, a esperança de vida é
de 69 anos e para as mulheres, 77 anos. Em todas as populações e para todas as idades, a
esperança de vida é maior para as mulheres. Porém, a grande diferença de oito anos obser-
vada no Brasil é decorrência do excesso de mortes violentas que estão mais concentradas
entre os homens jovens (Ripsa, 2009).
Entre as regiões brasileiras também se observam diferenças, sendo que a menor es-
perança de vida é a da população do Nordeste (70 anos) e a maior é a da região Sul (75
anos). Em todas elas, notam-se as diferenças já assinaladas por gênero, variando entre seis
e oito anos a favor das mulheres conforme a região. Entre 1991 e 2008, a esperança de vida
aumentou em seis anos para os homens e em sete anos para as mulheres (Ripsa, 2009).
Em termos mundiais, o país líder é o Japão, com esperança de vida de 83 anos (Tabela 3).
Entre os 192 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil está na
posição 82. Portanto, na posição mediana: metade dos países tem esperança de vida maior
do que a nossa. Com base neste indicador, também poderíamos classificar as condições de
saúde no Brasil como regulares.
De maneira geral, a esperança de vida ao nascer é mais baixa nos países africanos
e asiáticos, apresenta valores intermediários nos países americanos e valores mais altos
nos países europeus e na Oceania. Entretanto, observam-se: padrões diferenciados entre
os países africanos do norte do continente e os países subsaarianos, como, por exemplo,
Argélia e África do Sul; um país asiático, como o Japão, com o maior valor mundial para a
esperança de vida e um país americano, como o Canadá, com esperança de vida semelhante
à dos países europeus. Na Tabela 3, também é mostrado que a esperança de vida ao nascer
não é diretamente proporcional à riqueza do país. Os Estados Unidos, país mais rico do
mundo, têm esperança de vida próxima à observada em países relativamente mais pobres,
como a Grécia.
Assim, em relação ao estado de saúde da população brasileira, mensurado pela es-
perança de vida ao nascer e pela autopercepção do estado de saúde, podemos considerar
que as condições são regulares, ou seja, que os indicadores nacionais encontram-se na
posição mediana.
O perfil de morbidade
Para traçar de maneira abrangente o perfil de morbidade da população brasileira,
seria necessário considerar os problemas de saúde mais importantes por sua frequência
ou pelos impactos potenciais. Idealmente, deveríamos identificar os principais problemas
que demandam assistência médico-sanitária nos diferentes níveis de atenção do sistema: na
atenção básica, na atenção especializada de média complexidade tecnológica e na atenção
de alta complexidade. Entretanto, não existem informações facilmente acessíveis sobre esses
problemas. Os diferentes sistemas de informação sobre os atendimentos nos serviços de saúde
incluem apenas parte da população que utiliza serviços públicos de saúde.
Optamos por abordar alguns problemas de saúde específicos, cujos dados estão dis-
poníveis no Sistema de Vigilância Epidemiológica e que demandam ações organizadas do
Estado para atendimento individual e para modificar as condições de produção e transmissão
dessas doenças. Como exemplos, selecionamos a malária, a dengue, a tuberculose e a Aids,
problemas considerados importantes para a saúde mundial.
Além dessas doenças específicas, incluímos algumas breves considerações sobre três
grupos de problemas de saúde que representam grande demanda para os serviços de saúde:
as doenças crônicas, os transtornos psiquiátricos e a violência doméstica.
Finalmente, consideramos também as doenças evitáveis por vacinação, pois elas cons-
tituíam as principais causas de enfermidades na infância, respondendo por parcela consi-
derável de óbitos no período anterior à instituição do Programa Nacional de Imunização.
Malária
Entre as endemias vigentes no país, uma das doenças com maior incidência é a malá-
ria. Embora tenham ocorrido cerca de 540 mil casos novos por ano em 2006, a incidência
está concentrada em 10% dos municípios, dos quais 90% localizados na região Amazônica
(Figura 1). O risco de infecção avaliado pelo índice parasitário anual (IPA) permite clas-
sificar esses municípios em quatro grupos: 90 municípios com alto risco de transmissão
(IPA>50 casos por mil habitantes); 87 municípios de médio risco (IPA entre 10 e 49 casos
por mil habitantes); 364 municípios com baixo risco de transmissão (IPA<10 casos por
mil habitantes); 47 municípios fora da região Amazônica, onde ainda ocorre transmissão
natural de forma esporádica.
RR
AP
AM
PA MA CE RN
PB
PI PE
AC AL
TO SE
RO
BA
MT
DF
Incidência parasitária anual GO
e casos autóctones de malária MG
MS ES
50 a 1.629 – IPA alto (90*) SP
RJ
10 a 49 – IPA médio (87*)
PR
0,1 a 9 – IPA baixo (364*)
0 – IPA zero (264*) SC
* Quantidade de municípios
Fonte: SVS, 2006.
Plano de Intensificação
das Ações de Controle
40,00
35,00
30,00
IPA (1.000 hab.)
25,00
Programa de Controle
20,00 da Malária (Bird)
Programa
15,00 Nacional de
Controle da
Malária
10,00
5,00
0,00
19 0
81
82
19 3
84
19 5
86
19 7
88
19 9
90
91
19 2
93
19 4
19 7
20 3
04
20 5
95
19 6
98
20 9
00
01
02
06
8
0
9
9
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
19
19
20
20
Ano
Dengue
Outra endemia extremamente relevante é a dengue. Diferentemente da malária, que
afeta principalmente populações rurais e periurbanas, a dengue é uma doença eminente-
mente urbana. A infestação pelo Aedes aegypti está presente em praticamente todo o território
nacional. Quatro tipos sorológicos do vírus estão em circulação no país e, desde a década
de 1990, as ondas epidêmicas se sucedem a cada três anos, repetindo o padrão observado
no Sudeste Asiático.
A grande dificuldade de controlar as epidemias sucessivas de dengue, bem como sua
ocorrência endêmica em determinadas áreas decorre do fato de que o vetor é um mosquito
extremamente adaptado aos domicílios urbanos. Ele pode se desenvolver em qualquer tipo
de coleção de água limpa. Assim, latas, pneus, vasos, plantas como as bromélias e outros
recipientes que conservam a água da chuva podem ser criadouros para esses mosquitos. A
quantidade crescente de lixo produzido nas cidades e muitas vezes presente nos quintais das
habitações regulares ou no entorno das favelas é o principal determinante para o aumento
da densidade de mosquitos e o favorecimento da transmissão.
A incidência cresceu de 34,5 casos por cem mil habitantes em 1986, quando a doença
foi reintroduzida no país, para 385,1 casos por cem mil em 2002. Em 2006, foram notificados
275 mil casos em todo o país, com incidência de 137,62 casos por cem mil. A tendência de
aumento verificada a partir de 2005 continuou em 2008, com incidência de 293 por cem
mil (SVS, 2009).
800.000
700.000
600.000
500.000
Casos
400.000
300.000
200.000
100.000
0
82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 0 01 02 03 04 05 06
Ano
Fonte: SVS, 2007.
adotadas pelos serviços de saúde. Embora desde o início dos anos 90 o país esteja tentando
conter a transmissão da doença, a tendência da incidência tem sido aumentar progressiva-
mente a cada episódio epidêmico. A infestação pelo vetor está presente em todo o território
nacional e foram progressivamente introduzidos os quatro tipos de vírus hoje circulantes.
Portanto, podemos concluir que a estratégia de controle adotada não está apresentando
resultados satisfatórios.
Em 2008, todas as regiões do país, excetuando a região Sul (oito casos por cem mil),
apresentaram incidências superiores a trezentos casos por cem mil habitantes (SVS, 2009).
Tuberculose
Outra doença infecciosa bastante importante no perfil de morbidade no Brasil é a
tuberculose. Desde o advento do tratamento antimicrobiano, em meados no século XX,
observou-se uma ampla redução na mortalidade por esta causa. Porém, a incidência per-
maneceu alta em todas as regiões do país. Na década de 1990, o quadro praticamente não
se alterou, permanecendo em torno de cinquenta casos por cem mil. No entanto, a partir
de 2000, observa-se uma queda na incidência em todas as regiões. Em 2010, a incidência
no país era de 37 casos por cem mil (SVS, 2011).
A transmissão da tuberculose é facilitada pelas condições de vulnerabilidade das pessoas
infectadas – como desnutrição, alcoolismo e doenças que reduzem a capacidade imune – e
pelas condições de moradia, em que se destacam as aglomerações intradomiciliares e os
ambientes úmidos, pouco ventilados e pouco ensolarados. As principais formas de controle
são o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
Durante as décadas de 1980 e 1990, constatou-se o aumento da incidência da tubercu-
lose não apenas nos países não desenvolvidos, mas também nos países mais desenvolvidos,
em associação com o aparecimento da epidemia de Aids e com o aumento da proporção da
população vivendo em condições de pobreza extrema nos grandes centros urbanos em todo
o mundo. Entre moradores de rua e população albergada, as incidências são muito altas,
e parte dos casos apresenta resistência aos medicamentos existentes, tornando a doença
extremamente grave.
Aids
Ainda entre as doenças infecciosas, é importante destacar a epidemia de Aids, presen-
te no país desde a década de 1980 (veja a taxa de incidência e mortalidade no Gráfico 5).
A incidência registrada em 2009 foi de 20,1 casos por cem mil habitantes, correspondendo
a 38.538 casos no país (SVS, 2011).
O risco de infecção é desproporcionalmente alto entre usuários de drogas injetáveis
(cerca de novecentos casos por cem mil expostos); muito alto entre homossexuais masculi-
nos (cerca de trezentos casos por cem mil); e considerável entre heterossexuais de ambos
os sexos (cerca de três casos por cem mil). A distribuição proporcional dos casos – que não
avalia os riscos, mas apenas mede a parcela que cada modo de transmissão representa em
relação ao todo – mostra concentração maior de casos entre os heterossexuais (40%), segui-
dos dos homo e bissexuais (18%), usuários de drogas injetáveis (14%) e transmissão vertical
(3%), refletindo a proporção desses grupos na população em geral.
25
Taxas por 100 mil
20
15
10
0
92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09
Ano
Incidência Mortalidade
O principal impacto do PNI nas condições de saúde pode ser observado tanto na
redução das taxas de mortalidade infantil (menores de 1 ano de idade) quanto na redução
das taxas de mortalidade na infância (menores de 5 anos).
Doenças crônicas
Além das doenças infecciosas, o perfil epidemiológico da população brasileira apresenta
prevalência crescente das doenças crônicas, cuja etiologia é bastante complexa, envolvendo
diferentes aspectos das condições de vida. Tal prevalência só pode ser conhecida por meio de
inquéritos populacionais, uma vez que não há registros sistemáticos para toda a população.
De maneira geral, a prevalência de doenças crônicas autorreferidas pela população
nas Pnads de 1998, 2003 e 2008 ficou em torno de 30% para a população adulta. Esta taxa
varia com: 1) o gênero – é maior em mulheres; 2) a idade – é diretamente proporcional
ao seu aumento; 3) a condição socioeconômica – é inversamente proporcional ao nível de
escolaridade, renda e posse de bens. Entre as condições crônicas mais mencionadas pela
população, estão as dores lombares, a artrite ou o reumatismo e a hipertensão arterial, todas
elas afetando mais de 10% da população adulta.
Estas doenças são importantes porque, ao serem de longa duração, representam grande
parte da demanda por serviços de saúde em todos os níveis de atenção. Os dispêndios da
população com medicamentos de uso contínuo para o controle dessas enfermidades consti-
tuem parcela relevante dos gastos familiares em todas as faixas de renda. Elas também estão
entre as principais causas de internação hospitalar.
Com o processo de envelhecimento populacional, o grupo das doenças crônicas, que
já é bastante importante, tende a se tornar cada vez mais relevante. Os fatores de risco, cuja
distribuição populacional discutiremos mais adiante, são todos relacionados com a produção
dessas doenças e devem ser os alvos preferenciais nos programas de promoção da saúde.
Transtornos psiquiátricos
Nos atendimentos realizados na rede básica de serviços de saúde, os problemas rela-
cionados com a saúde mental são bastante frequentes. Os indicadores de saúde tradicionais,
por estarem baseados principalmente em dados de mortalidade, não são capazes de captar
a relevância que estes problemas apresentam no perfil epidemiológico de morbidade.
Os dados disponíveis são escassos, porém, alguns estudos populacionais podem dar uma
ideia da magnitude do problema. Veras e Coutinho (1991), estudando a população de idosos
de três bairros do Rio de Janeiro, encontraram prevalências de depressão variando entre
20,9%, em moradores da área com melhor nível socioeconômico, a 36,8%, em moradores da
área mais pobre. Outro estudo multicêntrico realizado em clientela de serviços de atenção
básica do Distrito Federal, de São Paulo e de Porto Alegre encontrou taxas de prevalência
de depressão variando de 0,9%, em São Paulo, a 10,2%, em Porto Alegre (Mari et al., 1987).
Já os transtornos mentais comuns apresentaram prevalência de 29% em uma amostra
de trabalhadores da uma universidade pública brasileira, com prevalência de 22% para
os homens e 34% para as mulheres (Lopes, Faerstein & Chor, 2003). Entre a clientela
do Programa Saúde da Família do município de São Paulo, a prevalência de transtornos
mentais comuns foi de 24,1%, sendo maior entre as mulheres, os maiores de 45 anos, os
indivíduos com baixa escolaridade e os de baixa renda e os migrantes (Maragno et al., 2006).
Estudo multicêntrico incluindo a região metropolitana de São Paulo e duas cidades do in-
terior, em 2002, encontrou prevalência de 10,7% para os homens e 23,2% para as mulheres
(Cesar et al., 2005).
Os problemas psiquiátricos agudos geraram 251 mil internações no SUS em 2010,
correspondendo a 2,5% do total de internações hospitalares e 5% dos gastos efetuados pelo
SUS para pagamento de hospitalizações no país.
Violência doméstica
Outro problema muito frequente em serviços de atenção básica, mas ainda pouco
conhecido e divulgado, refere-se às consequências da violência doméstica para mulheres,
homens, crianças e idosos. Não há dados representativos para o país como um todo. En-
tretanto, os estudos realizados com clientelas de serviço apontam prevalências alarmantes.
A violência doméstica representa um enorme desafio para as equipes de saúde, seja
na atenção básica, seja na atenção hospitalar, pois a maioria dos profissionais não está ade-
quadamente treinada para enfrentar o problema. Tradicionalmente, as questões relativas
à violência foram consideradas do âmbito policial ou da segurança pública. Entretanto, as
repercussões sobre a saúde – nas dimensões física, mental e social – são tais que elas não
podem ser ignoradas pelo setor saúde.
Além disso, há investigações conduzidas, principalmente nos Estados Unidos, mos-
trando que os serviços de saúde são as instituições que têm maior possibilidade de detectar
o problema e tentar interferir no processo antes que a violência resulte em óbito.
Embora as informações ainda sejam escassas, devemos considerar esses problemas
entre os principais no perfil epidemiológico de morbidade, evitando, assim, que os mesmos
continuem a ser ignorados ou ocultados por falta de conhecimentos.
Na realidade concreta das sociedades, o processo não é linear nem, se observa a simples
substituição de um conjunto de problemas por outro.
Os perfis epidemiológicos retratam a multiplicidade de situações de produção do
processo saúde-doença, não podendo ser reduzidos, sem perda de capacidade explicativa,
a uma simples sucessão de fases perfeitamente diferenciadas. Os mesmos processos sociais
que caracterizam a modernidade determinam o aumento das doenças crônicas por meio
de uma série de mecanismos relacionados à contaminação ambiental, ao envelhecimento
populacional, à obesidade, ao sedentarismo etc., o agravamento de doenças infecciosas já
existentes e o aparecimento de novas doenças. Não é possível separar um processo do ou-
tro, como se houvesse uma justaposição de condições de vida e de condições de saúde de
diferentes tempos históricos.
Perfil de mortalidade
Em relação ao perfil de mortalidade, dois aspectos fundamentais para a avaliação das
condições de saúde são: a distribuição das causas de morte e o padrão etário da mortalidade.
90
80
70
60
50
%
40
30
20
10
0
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2009
Ano
No Gráfico 6, não é medido o risco de morrer por estas diversas causas na população.
É apresentado, apenas, qual era a contribuição proporcional de cada grupo de causa na
mortalidade geral.
Assim, podemos observar que, em 1930, quase 50% dos óbitos da população brasileira
eram provocados por doenças infecciosas. Este grupo de causas permanece como o principal
até a década de 1960. A partir de 1970, a mortalidade proporcional por doenças infecciosas
deixa de ser a principal causa de morte. A redução proporcional da mortalidade por doenças
infecciosas acarreta o aumento proporcional de todas as outras causas.
O segundo grupo de causas com frequência relativa em 1930 era o das cardiovas-
culares, respondendo por aproximadamente 10% dos óbitos. O percentual manteve-se
praticamente inalterado até 1950 e, a partir daí, há um crescimento acentuado. Em 1970,
as causas cardiovasculares ultrapassam as infecciosas, tornando-se as principais causas de
óbito na população brasileira. Proporcionalmente, as causas que mais cresceram no período
foram as neoplasias e as causas externas (aumento de cinco vezes).
Os processos sociais mais significativos para explicar as mudanças observadas no perfil
da mortalidade proporcional foram a urbanização e a industrialização ocorridas no país após
a década de 1960; o progressivo envelhecimento populacional determinado pela redução
da taxa de fecundidade e redução da mortalidade na infância; a melhoria das condições de
saneamento básico nas zonas urbanas; a melhoria das condições nutricionais; as modifica-
ções nos hábitos alimentares e de atividades físicas; o crescimento do crime organizado e o
aumento da frota de veículos motorizados. Todos eles contribuíram, em alguma medida,
para as transformações observadas.
No plano das políticas de saúde, no período entre 1930 e 1950, a atuação se restringe Você encontra mais in-
ao âmbito da saúde pública, com as campanhas promovidas pela Fundação Rockfeller para formações sobre estas e
o diagnóstico e o tratamento da malária e da ancilostomose, dois problemas que afetam a outras medidas atinentes
às políticas de saúde do
produtividade do trabalhador rural. A assistência médica à população rural era realizada período Imperial (1822)
pelas Santas Casas e por outros hospitais filantrópicos e pelas Caixas de Aposentadorias e até a constituição do SUS
(1990) nos capítulos 11
Pensões para os trabalhadores urbanos. A cobertura de serviços era insuficiente. Diversas e 12.
iniciativas foram tomadas a partir da década de 1970, no sentido de unificar os serviços
públicos de saúde e universalizar o acesso. Esse movimento culminou na criação do SUS
já na década de 1990. No caso específico das enfermidades infecciosas, foram determi-
nantes na queda da mortalidade proporcional: o desenvolvimento e uso de antibióticos,
reduzindo significativamente a gravidade dessas doenças, e a ampliação da cobertura va-
cinal, diminuindo acentuadamente a incidência de doenças que eram causas importantes
de mortalidade na infância.
As principais causas de morte são apresentadas na Tabela 4 para o Brasil e para os
países membros da OMS, agrupadas por nível de renda. Apenas 17 causas são responsáveis
por mais da metade dos óbitos na população mundial.
Nos países de renda alta, as dez principais causas se distribuem entre cardiovascula-
res, respiratórias, neoplásicas e metabólicas. Nenhuma das causas pertence ao grupo das
doenças infecciosas ou das causas violentas. Para os países de renda média, como o Brasil,
além das causas cardiovasculares, neoplásicas e respiratórias, aparecem doenças infecciosas,
acidentes e causas perinatais.
Nos países com renda baixa, nenhuma das causas pertence ao grupo das neoplasias,
e as demais se distribuem entre as causas cardiovasculares, respiratórias, infecciosas e pe-
rinatais. Chama a atenção que, para estes países, além da Aids – que já aparecia entre os
países de renda média –, são causas importantes de mortalidade a malária, a tuberculose e
as diarreias. Os acidentes de trânsito aparecem em último lugar.
Tabela 4 – Mortalidade proporcional para as dez principais causas de óbito. Brasil e países
de alta, média e baixa renda – 2002
2004. Porém, a mortalidade em maiores de 64 anos passa de 32% para 51% dos óbitos. Apesar
da melhoria observada, estes valores ainda estão longe do ideal. Nos países desenvolvidos,
mais de 90% dos óbitos estão concentrados na última faixa etária.
Embora se constate redução importante na mortalidade proporcional em menores de
um ano, cerca de metade dos óbitos no Brasil pode ser considerada prematura, pois ocorre
antes dos 65 anos de idade.
50
40
%
30
20
10
0
<1 1a4 5 a 14 15 a 24 25 a 44 45 a 64 65 anos
e mais
Idade
Mortalidade infantil
A taxa de mortalidade infantil é um dos mais potentes indicadores de condições de
saúde. O risco de morrer antes de completar 1 ano de idade é afetado tanto pelas condições
de vida quanto pela qualidade da assistência ao parto, ao recém-nascido e aos problemas de
saúde comuns no primeiro ano de vida.
No Gráfico 8a, é apresentada a tendência secular da mortalidade infantil no Brasil
de 1930 a 2009. Nota-se uma evidente tendência de queda, relacionada ao aumento da es-
perança de vida apresentado no Gráfico 2, expressando a evolução histórica das condições
médico-sanitárias do país ao longo do período.
180
160
Desde 1980, como se vê no Gráfico 8b, a taxa de mortalidade infantil apresenta ten-
dência acentuada de queda. De um valor de 67 óbitos por mil nascidos vivos, registrado em
1980, passou a 23 óbitos por mil nascidos vivos em 2004, com redução de 65% no período. Até
2008, a mortalidade infantil continuou caindo, atingindo os 14 óbitos por mil nascidos vivos.
A velocidade de queda não foi igual em todas as regiões brasileiras, como pode ser
observado para o período de 1996-2007 (Tabela 5). As regiões Norte e Nordeste foram as que
apresentaram as maiores reduções, seguidas das regiões Sudeste e Centro-Oeste. A região
Sul, que tinha a menor taxa em 1996, também apresentou a menor redução.
80
70
60
Taxa de mortalidade infantil
50
(1.000 NV)
40
30
20
10
0
80
82
84
86
88
90
92
94
96
98
00
02
04
06
08
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
Anos
A mortalidade infantil também varia com as condições sociais. A escolaridade das mães
(Tabela 6) é um dos principais fatores de risco, assim como o peso ao nascer.
Risco relativo
É uma medida da associação entre a exposição a determinado fator de risco e a probabilidade de
ocorrência do problema estudado.
O risco relativo é calculado dividindo-se a taxa de incidência, prevalência ou mortalidade nos indi-
víduos expostos pela taxa de incidência, prevalência ou mortalidade nos indivíduos não expostos.
O cálculo permite estimar a força da associação, ou seja, quantas vezes é maior a probabilidade
de adoecer ou morrer para quem apresenta a característica de exposição.
10
1
Nenhuma 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 11 anos 12 anos
e mais
Escolaridade materna
< 1500 1500-2499 2500+
Para refletir
Analisando as três curvas no gráfico, como você avaliaria a importância do peso ao nascer e da
escolaridade materna na determinação da taxa de mortalidade infantil? Como essas exposições
se relacionam?
35
Taxa de mortalidade infantil
30
25
(1.000 NV)
20
15
10
0
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008
Anos
30
25
Taxa p 100 mil hab.
20
15
10
0
19 2
19 9
19 0
19 1
82
19 3
19 4
19 5
19 6
19 7
19 8
19 9
19 0
19 1
93
19 4
19 5
96
19 7
19 8
20 9
20 0
20 1
20 2
20 3
20 4
20 5
06
9
7
8
8
8
8
8
8
8
8
8
9
9
9
9
9
9
9
0
0
0
0
0
0
19
19
19
19
Ano do óbito
Taxa AC Taxa SUI Taxa HOM
Fonte: Datasus, 2011.
A tendência secular para os três principais grupos de causas externas mostra aumento
discreto da mortalidade por suicídio entre 1980 e 2007, oscilação em torno da média para a
mortalidade por acidentes de trânsito e aumento acentuado para a mortalidade por homi-
cídios. Durante a década de 1980, prevalecem como causas externas os óbitos por acidentes
de trânsito e, a partir da década de 1990, os óbitos por homicídio.
A distribuição dessas taxas de mortalidade por idade e sexo (Gráfico 12) permite ve-
rificar que, para os acidentes de trânsito, o risco aumenta constantemente a partir dos 15
anos, tanto para homens como para mulheres, e em todas as idades é maior para os homens
(cerca de três a seis vezes, conforme a idade). Para os homicídios, o risco é extremamente
alto entre os 15 e os 34 anos, caindo progressivamente com a idade. Em todas as idades, o
risco é acentuadamente maior para os homens, chegando a ser 15 vezes maior no grupo
de 15 a 34 anos.
O risco de morrer em decorrência a lesões autoinflingidas se mantém praticamente
constante a partir dos 5 anos de idade, sendo também maior para os homens em todas
as idades.
100
80
Taxa por 100 mil hab.
60
40
20
0
5 a 14 15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 anos
anos anos anos anos anos anos e mais
Hom. masc. Hom. fem. Ac. trânsito masc. Ac. trânsito fem.
Para refletir
Que hipóteses você formularia para explicar a diferença de risco entre os sexos e os grupos etários
no risco de morrer por homicídios ou acidentes de trânsito?
nor risco para acidentes de trânsito. A região Sul, o menor risco para homicídio. Os maiores
riscos para acidentes de trânsito e suicídios são observados nas regiões Sul e Centro-Oeste,
enquanto para homicídio os maiores riscos são observados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Tabela 7 – Taxa de mortalidade por causas externas nas regiões brasileiras – 2007
Tabela 8 – Mortalidade por doenças coronarianas e cerebrovasculares (por 100 mil), por
região brasileira e para países selecionados – 2004
237
200
Risco relativo
150
100
50 48
19
1 5
0
25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 anos
anos anos anos anos e mais
600
Taxa por 100 mil hab.
500
400
300
200
100
0
15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 anos
anos anos anos anos anos e mais
Masculino Feminino
Do ponto de vista das políticas de saúde, podemos destacar dois conjuntos de políti-
cas importantes para o enfrentamento dessas enfermidades. As políticas de promoção da
saúde e redução da exposição a fatores de risco, como obesidade, sedentarismo e hábito
de fumar, e as políticas assistenciais. No caso das doenças coronarianas, a despeito dos
avanços tecnológicos, uma parcela significativa dos casos evolui para óbito antes de se ter
acesso a um serviço de saúde. Para os demais, a disponibilidade de recursos diagnósticos e
terapêuticos – ou seja, o acesso à assistência especializada – é fundamental para a redução
da mortalidade. No caso das doenças cerebrovasculares, além da atenção especializada, a
ação dos serviços de atenção básica é essencial, visto que o principal fator de risco para essas
doenças é a hipertensão arterial. O controle adequado da hipertensão arterial, no âmbito
das ações de atenção básica, é um dos componentes da redução da mortalidade por doença
cerebrovascular.
A mortalidade por câncer de pulmão é muito baixa antes dos 35 anos, aumentando
exponencialmente a partir dessa idade (Gráfico 15).
Gráfico 15 – Risco relativo da mortalidade por câncer de pulmão segundo idade e sexo.
Brasil – 2007
250
200
150
100
50
0
30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 anos
anos anos anos anos anos e mais
Masculino Feminino
Fonte: Datasus, 2011.
Para refletir
Que hipóteses você acha que explicariam por que o risco relativo da mortalidade por câncer de
pulmão, além de aumentar com a idade, é progressivamente maior para os homens?
Lembre-se que as neoplasias têm tempo de indução longo.
Gráfico 16 – Risco relativo para a mortalidade por câncer de colo uterino e câncer de mama
por idade. Brasil – 2007
20
15
10
0
30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 anos
anos anos anos anos anos e mais
Colo Mama
Fonte: Datasus, 2011.
Tanto para o câncer de colo de útero como para o de mama, o risco de morrer aumenta
acentuadamente com a idade, refletindo a sobrevida diferencial nos dois tipos de câncer e
as diferenças de incidência para as distintas gerações de mulheres.
Tabagismo
O tabagismo é responsável, segundo estimativas da OMS, por cinco milhões de óbitos ao
ano na população mundial. O início do hábito ocorre ainda na adolescência e seu abandono
é difícil, em face da dependência química que o consumo de cigarros provoca.
No Brasil, segundo dados do Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco
e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, realizado em 15 capitais e
no Distrito Federal, o hábito de fumar tem início antes dos 20 anos de idade em todas as
capitais pesquisadas (Brasil, 2004).
Consumo de álcool
O consumo de álcool é responsável por 3,2% a 4% dos óbitos ocorridos na população
mundial, segundo estimativas da OMS. Diferentemente do cigarro, o consumo moderado
de álcool é considerado salutar para a prevenção de doenças cardiovasculares. Consumo
moderado é definido como uma dose por dia, para mulheres, e duas doses por dia, para
homens. O consumo acima desses níveis é prejudicial à saúde (consumo de risco), estando
associado com um maior risco para várias doenças do aparelho digestivo, como pancreatite,
gastrite, úlcera gástrica, câncer de esôfago e cirrose hepática, além de transtornos mentais,
agressões e violências. Para acidentes de trânsito e homicídios, estar alcoolizado é fator de
risco tanto no papel de vítima quanto no de agressor.
A prevalência de uso de álcool – isto é, consumo de álcool nos últimos trinta dias – nas
capitais estudadas variou de 32,4%, em João Pessoa, a 58,6%, em Florianópolis, sendo alta
em todas as capitais e no Distrito Federal. A prevalência foi sempre maior entre homens. A
menor diferença foi observada em Porto Alegre, onde a razão de consumo entre homens
e mulheres foi de 1,4 para 1,0. A maior diferença foi observada em Manaus, com razão de
2,6 para 1,0 (Brasil, 2004).
O consumo foi sempre maior entre os indivíduos com maior escolaridade. Entre os
indivíduos que não completaram o ensino fundamental, o consumo de álcool apresentou
prevalência variando entre 31%, em Manaus, e 42,4%, em Porto Alegre. Para aqueles que
Atividade física
A atividade física regular é considerada, atualmente, como um importante meio de
prevenir a mortalidade precoce. O sedentarismo está associado à maior mortalidade por
enfermidades cardiovasculares e a diversos tipos de câncer. Além de atuar diretamente como
fator de risco, o sedentarismo também está relacionado ao sobrepeso e à obesidade, tendo
assim, também, um efeito indireto sobre a saúde e a doença.
A prevalência de sedentarismo e de atividade física insuficiente para beneficiar a saúde
variou de 30,4% da população adulta em Porto Alegre a 54,5% da população adulta de João
Pessoa, mostrando, portanto, taxas altas de inatividade na população residente nas 15 capitais
brasileiras estudadas. A proporção de inativos foi sempre maior entre as mulheres, exceto
em Belém, onde a proporção de homens inativos ultrapassou a proporção de mulheres.
A Pnad 2008 também investigou os fisicamente inativos, definidos como aqueles indi-
víduos que não fazem atividade física no lazer nos últimos três meses, não andam a pé ou
de bicicleta como transporte para o trabalho, não realizam atividades no trabalho ou em
casa que demandem esforço físico.
A pesquisa encontrou 19,9% de inativos no Brasil, sendo esta proporção um pouco
maior na região Sudeste, 21,8%, e um pouco menor na região Sul, 17,1%. Em todas as
re-giões do país, a proporção de homens fisicamente inativos foi 1,7 vez maior que a das
mulheres (Datasus, 2008).
A tendência para a maioria das capitais estudadas foi o aumento do sedentarismo
com a idade, com exceção de Belém, onde houve redução do sedentarismo com a idade, e
João Pessoa e Aracaju, onde as proporções são praticamente idênticas nos grupos de jovens,
adultos jovens e adultos. Ao considerarmos as regiões, no entanto, a tendência de aumento
da inatividade física com a idade é uniforme.
Sobrepeso e obesidade
O sobrepeso e a obesidade, mensuráveis pelo Índice de Massa Corporal (IMC), são
problemas que vêm crescendo na maioria das populações do mundo, em decorrência das
mudanças nos hábitos de vida, principalmente na dieta e na atividade física. Estão associados
ao maior risco para várias doenças crônicas, problemas ortopédicos e distúrbios psicológicos.
12
10
Homens
8
%
6 Mulheres
4
0
1975 1989 1996
Ano
Fonte: Monteiro et al., 2003.
Considerações finais
Neste capítulo, tentamos traçar um panorama resumido, mas amplo, dos problemas
de saúde da população brasileira, apontando a complexidade e a diversidade das doenças
e exposições que compõem o perfil epidemiológico nacional.
A melhoria das condições de saúde da população coloca uma série de desafios ao sistema
de saúde, que incluem práticas de saúde coletiva visando a alterar as condições de produção
do processo saúde-doença e práticas de atenção individual para a recuperação da saúde.
A política nacional de saúde deverá enfrentar os problemas buscando melhorar o
estado de saúde da população, reduzir a mortalidade, controlar a ocorrência das principais
doenças, aprimorar a qualidade dos serviços e reduzir as desigualdades sociais.
O desafio é grande, exigindo da política nacional de saúde clareza de objetivos, cons-
ciência da missão, organização adequada dos recursos, financiamento suficiente, profissio-
nais e trabalhadores capacitados e, principalmente, compromisso com a melhoria da saúde
da população.
Leituras recomendadas
BARATA, R. B. (Org.) Condições de Vida e Situação de Saúde. Rio de Janeiro: Abrasco, 1997.
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde no Brasil 2006. Brasília, 2007.
GUIMARÃES, R. & TAVARES, R. (Orgs.) Saúde e Sociedade no Brasil: anos 80. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, Abrasco, IMS-Uerj, 1994.
MINAYO, M. C. S. (Org.) Os Muitos Brasis: saúde e população na década de 80. São Paulo, Rio de Janeiro:
Hucitec, Abrasco, 1995.
MONTEIRO, C. A. (Org.) Velhos e Novos Males da Saúde no Brasil: a evolução do país e de suas doenças.
São Paulo: Hucitec/Nupens USP, 2000.
Sites de interesse
Gapminder – dados diversos em comparação global: www.gapminder.org
Organização Mundial da Saúde (OMS) – estatísticas de saúde no mundo: www.who.int/countries/bra/en/
Organização Pan-Americana da Saúde: http://new.paho.org/bra/
WHO Statistical Information System: www.who.int/whosis/en/
The Lancet – Série Brasil com informações atualizadas: www.thelancet.com/series/health-in-brazil
Datasus – estatísticas de mortalidade e morbidade: www.datasus.gov.br
Referências
BRASIL. Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida para Doenças e Agravos
Não Transmissíveis. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2004.
CESAR, C. L. G. et al. Saúde e Condição de Vida em São Paulo: inquérito multicêntrico de saúde no estado de
São Paulo. São Paulo: USP/FSP, 2005.
DACHS, J. N. W. & SANTOS, A. P. R. Autoavaliação do estado de saúde no Brasil: análise dos dados
da Pnad/2003. Ciência & Saúde Coletiva, 11(4): 887-894, 2006.
DATASUS. Informações de Saúde 2007. Disponível em: <www.datasus.gov.br>.
DATASUS. Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico (Vigitel), 2008. Disponível em: <www.datasus.gov.br>.
DATASUS. Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico (Vigitel), 2010. Disponível em: <www.datasus.gov.br>.
DATASUS. Pnad 2008. Disponível em: <www.datasus.gov.br>.