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L ín g u a e L itera tu ra , n° 23, p. 47-62, 1997.

A PRAÇA, O POVO E O POETA*

Flávio Aguiar**

RESUMO: O autor apresenta a trajetória da poesia de Castro Alves e sua


ligação com o contexto sócio-político da época.

P alavras-chave: Literatura brasileira Castro Alves, escravidão.

A vida e a poesia de Antônio de C astro Alves são um convite à


n o ssa im aginação. Por elas podem os e n tra r em um dos períodos
m ais ricos de n o ssa história. Na su a época, a p ar com a estabilida­
de do Segundo Império e as tentativas de m odernização do país, o
B rasil vivia u m a efervescência, especialm ente entre a juventude
acadêm ica, em b u sc a de novos valores; enfatizavam -se os ideais
nacionalistas e libertários. A poesia - hoje m uito m ais u m a cau sa
íntim a e pessoal - era coisa pública, aprendida n as escolas e p rati­
cada em festejos patrióticos, em com emorações, nos sa ra u s e s a ­
lões, nos cafés, no teatro, n a s reuniões políticas, em comícios de
protesto, n a ru a - em todo canto, enfim. G u ardadas as devidas pro­
porções, a poesia ocupava talvez o mesmo espaço reservado, há trinta
anos, à m úsica popular, com seu s festivais, su a s canções rom ânti­
cas e de protesto, seu s ídolos. D urante m uito tem po os versos

“A praça a praça é do povo,


como o céu é do condor^

(*) Texto escrito originalmente para o livro Castro Alves, edição comemorativa
dos 150 anos de nascimento do poeta, patrocinada pela Odebrecht S.A e
Fundação Banco do Brasil.
(*•) Professor de Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clássicas,
FFLCH/USP.
AGUIAR, Flávio. A praça, o povo e o p o eta L íngua e L itera tu ra , n° 23,
p. 47-62, 1997.

fo ram g u a rd a d o s de ouvido. Até hoje, p o rém , m u ita g e n te n ã o s a b e


q u e e s s e s v e rso s p e rte n c e m ao p o em a O Povo ao P oder, q u e s e q u e r
faz p a rte d o s livros p la n e ja d o s p o r C a stro Alves. C o n s ta q u e o jo v e m
p o e ta b aian o , e n tã o com 19 a n o s, d eclam o u -o de im proviso, n o d ia
3 0 d e se te m b ro de 1866, d u r a n te u m com ício re p u b lic a n o em R eci­
fe, dissolvido à força p ela polícia e no q u a l fora p re so o s e u o rg a n iz a ­
dor, o jo r n a lis ta B orges d a F o n seca. Tal co isa e ra co m u m . E n c e rr a ­
d o s os e s p e tá c u lo s de r u a te m p e ra d o s a po lítica e p o esia, o s jo v e n s
p o e ta s se re u n ia m n o s cafés e d ec lam av am s u a s p ro d u çõ es; ta m ­
b é m o faziam n a s re u n iõ e s b o ê m ia s d a m o cid ad e a c a d ê m ic a - e
n ã o ra ro e n tra v a m pelo te rre n o d a p aró d ia , d a s á tira , do b u rle sc o ou
do explícito c a rá te r erótico.
C a stro Alves e ra u m d e s s e s m oços b o êm io s e ta le n to s o s q u e
faziam u m a p o esia lig ad a ao s e u tem p o . Porém , p o u c o s com o ele se
to m a ra m tã o co n h e cid o s e d ec lam ad o s. M u d a ra m os g o sto s lite rá ­
rio s e os u s o s d a lite ra tu ra , m a s a s u a p o p u la rid a d e se m a n té m .
S u a p o esia m a rc o u g eraç õ es e g eraç õ es com a fo rça de s u a s im a ­
g e n s e a en erg ia de s u a s paix õ es, ta n to a s de s u a v id a ín tim a, q u a n to
a s de s u a v id a p ú b lica.

O p o e ta b a ia n o p e rte n c e a u m a g eraç ão de in te le c tu a is q u e
vicejou no a m b ie n te a g ita d o d a s F a c u ld a d e s de D ireito de P e rn a m ­
b u c o e de S ão P aulo. Ali su rg ia m e to m a v am fo rm a a s n o v as id é ia s
do tem po. N ão p o r a c a so C a stro Alves conviveu com pelo m e n o s d o is
colegas q u e fizeram c a rre ira n a política: o ta m b é m b a ia n o R ui B a r­
b o s a e o p e rn a m b u c a n o J o a q u im N abuco. A m bos viveram b em m a is
do q u e o am igo. R ui B a rb o s a m o rre u com m a is de 70 a n o s, em 1923;
N abuco, ao s 64, em 1910. C a stro Alves, com 2 4 a n o s, em 1871.
N as fa c u ld a d e s de D ireito, a po lítica e a p o e sia e sta v a m n o ar.
E ra m a lim e n ta d a s, em p rim eiro lu g ar, p ela tra d iç ã o o ra tó ria d a c u l­
tu r a ac ad ê m ica . O g osto p e la o ra tó ria a c o m p a n h a v a os e s tu d a n te s
do início ao fim do c u rso . T in h a raízes a n tig a s e p ro fu n d a s n o B r a ­
sil, m a s ag o ra a a rte de fa la r em p ú b lico e ra e s tim u la d a pelo fervor
p atrió tico . O e n sin o d a s leis im p u n h a -s e com firm eza. A n tes, e ra
m o d a e s tu d a r em C oim bra. O h á b ito se m an tev e a in d a a lg u m te m ­
po d ep o is d a In d e p e n d ê n c ia , em 1822. P a ss a d o s a lg u n s a n o s , po-
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rém, os moços, movidos pela vontade de co n stru ir e m odernizar o


novo país, preferiam os am bientes acadêm icos nacionais, so b retu ­
do os de Recife e de São Paulo.
O liberalism o, o u tra bandeira de lu ta entre os estu d an tes des­
sas Faculdades, aparecia renovado. A rigor, nosso liberalism o sem ­
pre fora sui-generis: d u ran te m uito tempo, conviveu m elancólica ou
despreocupadam ente com a escravidão. E a literatura parecia acom ­
p a n h a r a política, em especial no começo do século passado, quando
o Rom antism o dava os prim eiros p asso s. Ao b u s c a r sím bolos p a ra
a N ação, e s c rito re s e p o e ta s c o n s tru íra m u m a fig u ra id e a liz a ­
d a de índio - v isto com o u m a n te p a s s a d o long ín q u o ou m esm o
próxim o, m as n ão com o u m se r real c u ja e x istê n c ia m e re c e s­
se s e r re co n h ecid a.
O negro, m arginalizado n a sociedade, ficava à m argem tam ­
bém n a literatura, até que a tradução de A C abana do Pai Tomás, da
escritora norte-am ericana H arriet Stowe, com eçasse a circular no
Brasil. O rom ance de Stowe, publicado como livro em 1852 nos E s­
tados Unidos, tivera um sucesso enorme. O Pai Tomás, o Uncle
Tom do inglês, fixava um estereótipo poderoso: o negro escravo, cris­
tão, sofredor, sem pre disposto a fazer o bem, ap esar de su a condição
e dos m au s trato s que sofre. Dera im pulso à ca u sa abolicionista no
seu país de origem e fizera enorm e sucesso n a Europa, antes de
chegar ao Brasil. Mas principalm ente as injunções políticas e eco­
nôm icas in tern as favoreciam a discussão do escravism o e o tem a
do abolicionismo invadirá o teatro, a poesia e depois a ficção. Escri­
tores consagrados, como Jo sé de Alencar, defenderão um abolicio­
nism o h u m an itário e m oderado, m ais como fruto de u m a consciên­
cia do senhor do que de u m a conquista do escravo.

C astro Alves estará n a linha de frente da geração acadêm ica


que vai form ular u m a retórica abolicionista m ais contundente, le­
vando-a inclusive p ara o terreno da literatura. D esta vez, a litera­
tu ra esteve n a vanguarda d a política. Pouco a pouco, ju n to com a
retórica abolicionista, renascem os ideais republicanos, que havi­
am sido quase soterrados pela estabilidade do Segundo Império, im ­
plantado após a proclam ação da m aioridade de D. Pedro II, em 1840.
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Nossa prim eira geração rom ântica, que havia criado o nacio­
nalism o literário, era form ada por hom ens sisudos, íntim os do paço
imperial, a exemplo de Gonçalves de M agalhães e Araújo Porto Ale­
gre. Tinham u m a formação ainda clássica. De certo modo, eram
rom ânticos por força das circunstâncias: queriam produzir u m a li­
te ra tu ra nos m esm os moldes das correntes estéticas européias d as
prim eiras décadas do século XIX. No gosto, eram dados a um certo
ecletismo. Diziam que não se pautavam exclusivam ente pelo rigor
dos clássicos nem pelo desalinho dos autênticos rom ânticos.
A geração seguinte, que andava n a casa dos 30 quando C as­
tro Alves mal chegava nos 20, teve como figuras de proa hom ens
como Jo sé de Alencar. Mais independentes do paço do que os a n te ­
riores, podem ser visto como um grupo de decididos seljm ade-m eri
literários. Pretendiam m odernizar a sociedade brasileira, ac ab ar
sem trau m as revolucionários com o trabalho escravo e com o des­
potism o às vezes licencioso d a antiga família patriarcal.
No teatro, um dos heróis d essa geração será o engenheiro
Rodrigo de O Crédito, de Jo sé de Alencar. O engenheiro lu ta pela
modernização tecnológica e m ental da Corte, aju stan d o -a a um p a ­
drão burguês de convivência: trabalho como valor de m ercado e o
casam ento consolidado pelo livre consentim ento baseado no amor.
Os rep resen tan tes d essa fase vão lu ta r pela modificação da consci­
ência social dom inante, m as serão com edidos em su a s propostas:
com a m elhor das intenções, m u itas vezes ten tarão convencer os
senhores de que a escravidão era tão prejudicial a eles quanto aos
próprios escravos.

Com a geração de C astro Alves, o cenário político e literário


vai m udar. O abolicionismo virá à tona, m isturado com o tom naci­
onalista que a s d u as gerações anteriores haviam conquistado. O
país já havia se separado d a antiga Metrópole, Portugal; faltava ago­
ra com pletar o trabalho, libertando u m a parte considerável de seu
povo, que ainda se m an tin h a acorrentada A radicalidade que o dis­
curso abolicionista foi ganhando redesenhou o perfil dos escritores
e poetas. A imagem do jovem engajado com ideais quase revoluci­
onários tom ou o lu g ar dos sisudos prim eiros rom ânticos e dos
reform adores m oderados que vieram a seguir.
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O jovem Álvaro, personagem m asculino de A Escrava Isaura,


rom ance de B ernardo G uim arães publicado em 1875, será descrito
como q u ase um “socialista” - isto é, naquele B rasil de então - um
partidário d a igualdade de todos, abolindo-se as diferenças entre
senhores e escravos. O rom ance de B ernardo repete, com u m a per­
sonagem fem inina no papel principal, algum as características de A
Cabana do Pai Tomás, como o sublinhar da virtude do escravo. Isaura
é m estiça e diz-se dela que tem a pela tão alva quanto as teclas do
piano. Isto era com um no tempo. Ao vir p a ra o prim eiro plano, o
escravo perdia a pele escu ra e o cabelo crespo, que ficavam n a sen­
zala. Álvaro, o jovem idealista que “salva” Isaura, segue a m udança
de perfil por que passav a a geração acadêm ica de C astro Alves. Po­
etas d as gerações anteriores, como Álvares de Azevedo (a quem
C astro Alves adm irava), haviam em prestado a essa figura o perfil
boêmio, às vezes m acabro, ou irônico e sarcástico. O boêmio, agora,
tom ava-se revolucionário; à s vezes ria, às vezes declam ava ardoro­
sam en te.

Foi u m a época, no plano literário, de b u sca de novos cami­


nhos que reafirm assem o nacionalism o literário aberto pelos es­
critores d as gerações im ediatam ente anteriores, como Gonçalves
de M agalhães, Gonçalves Dias e Jo sé de Alencar. Esse objetivo ex­
plica a radicalização tem ática do ideal de independência, num sen ­
tido bem amplo, abrangendo o próprio abolicionismo. E ssa geraçáo
rom ântica de jovens reform adores, a que pertence Castro Alves (com
Tobias Barreto, Pedro Luís e Fagundes Varela), coloca a abolição do
escravism o n a sociedade nacional como um dos seu s tem as prefe­
ridos; desse modo, pensavam , o Brasil poderia se colocar entre as
nações civilizadas.
Sem contradizer seu nacionalism o literário, os jovens poetas
promovem u m a notável atualização das idéias correntes, sociais e
políticas. O Brasil se afinava assim com o liberalism o de tonalida­
des libertárias que vicejava em o u tras p artes do m undo. A nova
geração de poetas rom ânticos vai am pliar b a sta n te a dissem inação
de escritores e poetas europeus com prom etidos com aqueles ide­
ais, como Victor Hugo (1802-1885), um dos m ais im portantes poe-
52 AGUIAR, Flávio. A praça, o povo e o poeta. L ín g u a e L ite r a tu r a n° 23,
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tas do rom antism o francês, e Lord Byron (George Gordon Noel, 1788-
1824), poeta rom ântico inglês. As leituras que farão desses au to res
será vital p ara im pulsionar os m ovimentos de transform ação da
sociedade brasileira. Mais um a vez, destaca-se a figura de C astro
Alves - tam bém , diga-se aqui de passagem , por su a atividade como
trad u to r ou livre-adaptador de autores franceses e de o u tras nacio­
nalidades. C astro Alves foi um leitor ávido de diferentes escritores
de diferentes épocas: em su a obra se encontram ressonâncias de
Homero, da Bíblia, de S hakespeare, de Lam artine, de Alexandre
H erculano e de C hateaubriand, entre outros.

O im pulso abolicionista foi em grande parte o responsável pelo


surgim ento de um movimento literário e político de caráter efeti­
vam ente nacional, que não ficou restrito às reuniões literárias. O
rom antism o anterior fora um movimento centrado n a Corte, que
irradiava a inspiração da nova escola. D esta vez, porém, o movi­
m ento abolicionista espalhou sa ra u s literários e poetas de ocasião
pelo Brasil inteiro. Havia tam bém as sociedades abolicionistas, que
representavam outro foco de m ovim entação social, e as ruas, onde
a poesia tin h a seu lugar n a s m anifestações. Do ponto de vista de
qualidade, o resultado literário nem sem pre foi com pensador. Do
ponto de vista da repercussão das idéias, entretanto, a contribuição
desses encontros foi um sucesso inegável.
C astro Alves cresceu, am adureceu e m orreu no meio dessas
profundas modificações em n o ssa paisagem intelectual. Agitando
diretam ente os meios literários de Salvador, Recife, Rio de Janeiro
e São Paulo, ele se to m o u o ídolo dessa geração de poetas, e stu d a n ­
tes e abolicionistas. Ao fascínio oratório, político e poético, ele agre­
gava o fascínio de um a vida am orosa in ten sa e apaixonada, e de
conhecim ento público. As paixões, os ciúm es intensos e as infeli-
cidades lhe davam u m a a u ra atrativa de brilho intenso.
Por conta do estilo de vida, da obra e da época, ele fixou um
modelo de poeta im aginário brasileiro - um modelo que teve e a in ­
d a tem m uito vigor. C astro Alves representa o arquétipo do poeta
jovem, ardoroso, inspirado, de palavra fluente, generoso, envolvido
o suficiente com as cau sas sociais do seu tempo p ara ser visto como
contestador dos preconceitos vigentes, de vida boêm ia carregada de
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am ores apaixonados, m as algo infeliz. Esse perfil de poeta carrega


um tem a caro ao rom antism o, quando se form ou nosso ideal de
autonom ia literária. É o conflito entre o “eu poético” visionário e
idealista, e o m undo social que o cerca e até m esm o o nega. O“eu
poético”deseja se in tegrar ao universo da n atu reza e da cultura,
integrando-os entre si; m as entre elas, e no interior delas, há dife­
renças que im pedem essa integração. O m undo social é crivado por
desigualdades. O m undo cultural é recortado por diferentes. Entre a
n atu reza e a cu ltu ra põe-se o abism o cavado por u m a civilização
progressivam ente u rb an izad a e caótica.
C astro Alves criou u m a poesia original que reivindicou o di­
reito de cidadania p a ra o poeta e, ao mesmo tem po, p ara os dram as
sociais e íntim os que retirava do âm ago de si ou da coletividade.
Diante de um a sociedade contraditória, que deixa antever o futuro
prom issor m as não o acolhe, o poeta dirige-se à História como um
plano rem issor d as dificuldades do presente. É um recurso usado
mesmo ao tra ta r do m ais íntim o dram a ou sentim ento pessoal, em
su a poesia lírica am orosa, por exemplo.

Ao recorrer com freqüência à História, C astro Alves procura


co n stru ir u m a h u m an id ad e em que todos são iguais. Os ideais do
liberalism o político se m isturam com um a tradição m ística de in s­
piração cristã. Como resultado, todos os personagens e a própria
n atu reza se elevam a um a visão idealizada, que se contrapõe às
d u ra s desigualdades e vicissitudes da realidade. Ele encontra in s­
piração nos deserdados desse tem po real, seguindo um olhar volta­
do p ara o futuro e p a ra a realização individual. O poeta, o am ante, o
escravo, o líder exilado, o herói traído e a m ulher oprim ida (identifi­
cada com a escrava im possibilitada de constituir família, por exem­
plo) se irm anam n u m sentim ento único e am plo de protesto contra
o desaju ste entre o ideal da existência e as form as de sobrevivên­
cia que a sociedade in ju sta lhes oferece. Todos sofrem ju n to s as
m esm as dores.
Por isso, m esm o ao falar do amor, o poeta fala p ara um plano
superior d a existência, que ele identifica como sendo a inexorabili­
dade d a História h u m a n a e do seu progresso, em que pesem as
forças adversas que impedem a m archa daquela e a realização des-
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te. É um a visão idealizada da própria poesia e de seu s poderes de se


contrapor ao que o poeta identifica como sendo as forças retrógra­
d as que querem prender o presente ao passado ou ao imobilismo.
E ssa visão idealizada transfigura tudo o que ela toca. Nesse
caso, a realidade é um conceito, digamos, conservador. O “realism o
poético” não tem lugar n essa poesia. O escravo, por exemplo, q u a n ­
do aparece, não é n a verdade a imagem de um escravo: é, acim a de
tudo, a visão do Ser H um ano, oprimido pela circunstância que blo­
queia a su a realização pessoal e social.

Há um sopro épico perm anente n a poesia de C astro Alves. O


poeta fala a p artir d a visão de um tempo em que tudo é m ais g ra n ­
dioso e m ais glorioso do que o insuportável aqui-agora. No entanto,
su a poesia não foge do presente. Ao contrário, atrav essa as circuns­
tân cias reais, porque esse outro tem po não é o passado, como n a
poesia épica clássica do poeta grego Homero, au to r de Odisséia, ou
do português Luiz de Camões, que escreveu Os Lusíadas.
O tem po n a poesia de Castro Alves é n a verdade um tempo
que vem do p assado p ara o futuro: é vertiginoso e tem em si um a
característica abism al. O poeta tanto o cham a quanto é arrastado
por ele. É um reflexo do d esajuste do seu próprio ego ao confrontar-
se com as vicissitudes d a vida íntim a am orosa ou ao sentir a pre­
sença próxim a d a morte. O poeta rom ântico, neste sentido, será
sem pre um “jovem ” pois m orrer será sem pre prem aturo e a exis­
tência, insuficiente p ara a realização do ideal.
A poesia de C astro Alves parece assim b ro tar de um mesmo
cerne inspirador, que é esse estar do hom em perante o plano da
história que o conclam a a realizações revolucionárias, a um plano
superior da existência. Esse sentim ento se som a à inexperiência
de su a pouca idade p ara explicar m uitos dos arroubos que caracte­
rizam seguidam ente su a produção em versos. Os poem as passam
de achados e form ulações in teressantíssim as a tirad as pouco tr a ­
balhadas. Felizmente, a b u sca da solução im ediata não eliminou
de todo o cuidado poético. No entanto, ainda h á quem confunda a
poesia de C astro Alves com um a retórica de m au gosto. Há pelo
m enos d u as boas razões p ara o equívoco: de um lado, os m aus d is­
cípulos, que o im itaram por todo o país d u ran te décadas, e, de outro,
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o uso excessivo que se fez de seu s versos nos livros e salas escola­
res, reforçando-lhes a tonalidade bom bástica e cadenciando-lhes o
ritm o, n u m arrem edo de m arch a m ilitar. Uma análise equilibrada
não abala seu posto de um dos m ais im portantes poetas brasileiros.
Na vertente am orosa e n a social, su a obra parece quase sem ­
pre com posta de fragm entos de um grande poem a sobre o significa­
do da existência h u m an a. É como se houvesse um encontro violen­
to do poeta com seu tem po e a nós fosse perm itido ver, ler ou ouvir
p artes n arrativ as desse em bate épico. A palavra se realiza então
como força unificadora em meio a u m a consciência dividida e a um
universo problem ático. Não se discute que a H istória significa pro­
gresso p ara a h um anidade, m as o acesso a esses significados não é
evidente e deve ser laboriosam ente construído.

O choque entre o sonho e o dia-a-dia faz a individualidade do


poeta se dividir entre o ideal íntimo, de n atu reza social ou pessoal,
e os im pedim entos de s u a realização, que tam bém podem ser soci­
ais ou pessoais, como respectivam ente o escravism o e a proxim i­
dade da m orte prem atu ra. No caso de C astro Alves, aliás, essa re a ­
lidade antepôs-se bem cedo, como a te sta seu poem a Mocidade e
Morte, escrito em 1864, q u an d o ele tin h a a p e n a s 17 anos. Ao
visualizar o plano do ideal, a palavra poética une os contrários, re ú ­
ne o disperso, consolida o fragm entário e to m a o dram a privado um
bem público. E ssa concepção rom ântica de poesia pode parecer um
pouco estran h a, por co n ta do costum e de ver n a poesia m uito m ais
u m a cau sa íntim a do que u m a coisa pública. E ntretanto, a p a ssa ­
gem da esfera do privado à esfera do público explica boa parte das
fragilidades e d as grandezas d a poesia castro-alvina.

À palavra poética cabe u m a m issão e um em penho. A m issão


é a de ilum inar o público leitor, unindo-o em tom o de um ideal de
transform ação social: os atores dispersos devem-se identificar como
u m corpo único, o povo d a nação. G raças a essa identificação, de­
vem -se em p en h ar n a construção do bem com um . O poeta galvaniza
esse sentim ento coletivo e o traz p ara a b u sca do “progresso d a h is­
tó ria” separando, assim , aqueles que são os inimigos da liberdade.
O poeta não traz q u alquer revelação, que venha do alto ou de algu-
AGUIAR, Flávio. A praça, o povo e o poeta. L íngua e L itera tu ra , n° 23,
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m a verdade eterna; ele é um ilum inado, pondo o leitor ou o ouvinte


em contato com um plano superior da existência. Se h á o u tra vida,
que tudo absolva, su a m anifestação tom a-se urgente.
Nos tem pos do barroco, dois séculos antes, o Padre Antônio
Vieira, em seu s serm ões, podia pedir paciência aos escravos, a in ­
d a que reconhecesse a su a in ju sta condição. O m issionário je su íta
contornava, assim , o problem a, em bora adm oestasse severam ente
a classe dos senhores pelos m aus trato s infligidos. P ara os jovens
rom ânticos, no entanto, a pressão de b u sca por u m a nova condição
faz-se im ediata. O poeta vai então diretam ente de encontro às li­
m itações e aos preconceitos, transform ando-se em vetor de um
movimento que, no plano da cultura, renega a om issão e o conser­
vadorismo. Esse em penho com o real se traduz tam bém n a su a po­
esia am orosa, que é den sam ente erótica, fugindo ao dom inante
padrão melancólico.
Aos seu s contem porâneos, C astro Alves tom ou-se conhecido
principalm ente pelos poem as de em penho social. Chegou até a pla­
nejar um livro, cham ado Os Escravos que só saiu postum am ente.
No fim da vida é que ele publicou E spum as F lutuantes, u m a coletâ­
nea de poem as líricos - e o único livro im presso ainda em vida.

Os poem as de C astro Alves - tan to os publicados nos livros


E spum as F lutuantes e Os Escravos, com A Cachoeira de Paulo Afon­
so, quanto os reunidos posteriorm ente e ainda seu d ram a Gonzaga
- podem ser organizados em tom o de três grandes ciclos:

• o Homem e a natureza;
• o Homem e o amor;
• o Homem e a sociedade.

E sses ciclos poéticos se interpenetram com freqüência nos


poem as, em bora em m uitos um deles dê a nota dom inante. Este é,
por sinal, um traço típico da poesia de Castro Alves: o tem a princi­
pal se entrelaça com outros. É difícil e arriscado separá-los. Os poe­
m as exibem u m a visão vastíssim a da história h u m an a, que, aliás,
representa a preocupação constante de Castro Alves de fazer da
poesia um a linguagem universal.
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P ara falar do am or, do escravo, da república, da im prensa, do


livro, da m orte ou m esm o d a n atu reza brasileira, su a palavra per­
corre um arco de im agens que vai do G ênesis e da Grécia Antiga ao
Apocalipse, passando vertiginosam ente pelo presente, ou tom a como
m etáforas im agens que vem dos quatro cantos do globo. Ele com pa­
ra a C achoeira de Paulo Afonso ao touro envolto pela sucuri, que
nela crava as asp as, e tam bém a faz contem porânea dos titãs da
Antiguidade. No m esm o poem a, de repente, o touro se faz centauro
e a su cu ri se to m a gigante, p ara tudo se resolver ainda n u m a im a­
gem grandiosa do Laocoonte (personagem grego) envolto pela ser­
pente, com os filhos, d iante de Tróia agonizante.

Ao prim eiro ciclo, o Homem e a natureza, pertence tam bém a


tem ática da morte. E ssa questão, como já vimos, apareceu m uito
cedo a C astro Alves, como espelhado no M ocidade e M orte. Aos
a rd o re s do p o eta pode c o n tra p o r-se a fugaz re a lid a d e , como nos
v erso s:

“Morrer....quando este mundo é um paraíso


E a alma um cisne de douradas plumas";

Ao desejo de d esfru tar a vida pode tam bém se opor a prom essa
de u m a vala, que lem bra a sorte de u m a “vala com um ” posto que é
com um a todos, como em:

“Mas uma voz responde-me sombria:


Terás o sono sob a lájeaJria".

É ain d a a n atu reza que retém o desejo de vida e responde à


inevitável m orte:

“Árabe errante, vou dormir à tarde


A sombrafresca da palmeira erguida"

A natu reza, além de servir como m atriz de m etáforas p ara os


outros ciclos tem áticos, é u m a fonte de consolo metafísico, no qual
58 AGUIAR, Flávio. A praça, o povo e o p o e ta L ín g u a e L itera tu ra , n° 23,
p. 47-62, 1997.

o poeta tem o abrigo que não encontra n a sociedade. No poem a A


Tarde, que abre A Cachoeira de Paulo Afonso, é esse consolo que o
poeta evoca. A natureza, ao entardecer, lem bra-lhe a infância e o
desp ertar de um a espécie de pan-erotism o dissem inado, pois lhe
traz de volta

%....) as tranças mulheris da granadilha!....


E os abraços fogosos da baunilha!”

Mesmo em su a face revolta ou to rtu rad a, a n atu reza serve de


am paro ao poeta. Num a forma de solene sim patia, a m anifestação
b ru ta dos elem entos está à altu ra dos dram as existenciais que lhe
inquietam a alma. Não nos detenham os nos corriqueiros tufões e
n as inúm eras tem pestades que retratam a solidão m aldita do poe­
ta. Ele foi m uito além.
N’A Cachoeira de Paulo A fonso, um dos m om entos m ais ex­
pressivos é a descrição da queim ada. O poeta percorre o campo com
seu perdigueiro, em b u sca de descanso e de reencontro consigo
mesmo. B arrado pela força da queim ada, ele cham a o cão a aco­
lher-se em seu s joelhos. Segue-se a descrição do incêndio, que a
tudo destrói, como resultado da ação do homem . E ssa parte funcio­
n a como u m prólogo ao d ram a que vem logo depois: a desgraça do
escravo cuja hum anidade é destroçada pelo m undo do senhor, que
lhe m ata a m ãe e lhe estu p ra a am ada. A n atu reza devassada ser­
ve, por assim dizer, de sinal do que está p a ra acontecer. O poeta
“sabe” do que vai n arrar, e é a n atu reza que lhe serve de anteparo
p ara a tragédia que ele, n u m a ironia dram ática, prepara p ara seus
personagens.

O segundo ciclo, o do Homem e o am or, g u ard a o utra peculia­


ridade. C astro Alves espelha o am or enquanto realização erótica,
em acentuado contraste com o “tem or de am ar” típico de vários o u ­
tro s p o etas rom ânticos, como C asim iro de A breu e Álvares de
Azevedo,que por sinal ele lia e apreciava. Esse “tem or” leva o eu
lírico a centrar-se no negaceio, ou n a fuga do objeto amoroso; h á
quase um com prazer-se n a im possibilidade de realizar o am or. A
L ín g u a e L ite ra tu ra , n° 23, p. 47-62, 1997. 59

divisão do eu rom ântico, fruto da consciência do desejo e dos o b stá­


culos p ara su a realização, resolve-se em melancolia, em nostalgia,
quando não em auto-com paixão, o que pode às vezes resvalar p ara a
pieguice e o sentim entalism o.
No caso de C astro Alves, existem tam bém aqueles elem en­
tos: negaceio, fuga, divisão do eu, contem plação nostálgica, m elan­
colia diante dos limites e do caráter efêmero da existência. No en ­
tanto, são todos resolvidos por um a a u ra de sedução que os atrela a
um com portam ento ativo de b u sca e interação com o amor. A poe­
sia de C astro Alves é repleta de olhos e tran ç as que se desfazem, de
pele e d as cores d as peles; de formas que se deixam entrever e de
convites velados ou desvelados. Nesse campo, a poesia de C astro
Alves é vigorosam ente m asculina, sem ser preconceituosa. Entre
outros exemplos de erotism o em seus poem as, é fam osa a ap resen ­
tação da m ucam a Maria, no mesmo Cachoeira...:

“Onde vais à tardezinha,


Mucama tão bonitinha.
MorenaJlor do sertão?
A grama um beyo tefurta
Por baixo da saia curta,
Que a perna te esconde em vão... "

O terceiro ciclo tem ático da poesia de C astro Alves, que asso ­


cia o Homem e a sociedade, delineia a face m ais conhecida do poe­
ta, em bora alguns de seus poem as líricos, a exemplo de O Gondoleiro
do Am or e Tirana, ten h am sido m usicados e desfrutado tam bém de
m u ita popularidade. D esta vez, o personagem central é o escravo e
seu m ote m aior, a pregação abolicionista.
J á se com entou que C astro Alves criou e descreveu um e s­
cravo tão idealizado quanto o índio de Alencar e que por isso seu s
poem as careceriam de consistência, pois não espelhariam a reali­
dade d as senzalas. E ssa crítica peca por anacronism o e erro de p ers­
pectiva. Exige-se de C astro Alves um realism o do tipo n atu ra lista
que não condiz com su a concepção poética. Nos escravos castro-
alvinos, convivem alguns tipos literários de origens diversas, que
AGUIAR. Flávio. A praça, o povo e o poeta. L ín g u a e L itera tu ra , n° 23,
p. 47-62, 1997.

ele reúne em um só, por força da energia poética que a tudo quer
igualar em nom e do ideal: são esses tipos o africano, o mouro, o
escravo propriam ente dito e até mesmo o brasileiro, definido como
tipo mestiço que é, n a verdade, um escravo... da escravidão.
Esse mestiço não aparece na poesia de Castro Alves apenas
como racialm ente mestiço, m as como socialm ente mestiço, pois ele
é, ao mesmo tempo, senhor e escravo; senhor n a alm a e escravo n a
condição. Veja-se o Lucas, ainda de A Cachoeira de Paulo Afonso:

%..) Um belo escravo da terra


Cheio de viço e valor..
Era o Jilho das florestas!
Era o escravo lenhador!”

Lucas é “escravo” e filho da n atu reza brasileira; entregue à


su a própria natureza, ele se to m aria senhor de um belo país. E n­
tretanto, é a condição de escravo que o reduz à im potência e faz
dele u m a espécie de joguete do destino, pois quem violou su a am a­
da foi n ad a m enos que seu irmão. Eles são filhos do mesmo pai, o
senhor, m as de m ães diferentes. No frêmito da vingança que lhe
sacode o corpo e a alm a, fazendo-o desem bainhar o punhal, vemos
um traço longínquo ain d a do Otelo, o m ouro de Veneza, em purrado
pelo ardor do ciúm e, um traço b astan te explorado no rom antism o
brasileiro.
Um dos prim eiros escravos revoltados do nosso rom antism o
cham ava-se “M auro, o escravo” (1864) do poem a hom ônim o de
Fagundes Varela, contem porâneo de C astro Alves. Mauro, o escra­
vo, andava coberto por capotes e chapéus de ab a caída, que estão
m ais ligados ao m elodram a rom ântico do que propriam ente à im a­
gem do escravo com um no Brasil de então. Ainda assim , aquele
“m ouro” de p u n h al em punhado que aparece no poem a de C astro
Alves e que se ergue “...como um tigre bravo” é um africano tra n s ­
posto p ara a América:

“No peito arcado o coração sacode


sangue que da raça não desmente,
L ín g u a e L ite ra tu ra , n° 23, p. 47-62, 1997. 61

sangue queimado pelo sol da Líbia


que ora referve no Equador ardenten

O utras vezes, o escravo de C astro Alves se aproxim ará m ais


da imagem do escravo africano ou de seu descendente que se for­
m ou e predom inou em nosso imaginário: o sofredor indefeso dos
desm andos dos senhores e de seu s cúm plices, como é o caso dos
africanos n ’ O Navio Negreiro. A s escravas m ulheres tam bém rece­
bem um tratam ento destacado nos poem as de Castro Alves. A figu­
ra central fem inina será tam bém com um ao rom antism o abolicio­
n ista brasileiro. Nesse caso, ocorre um a inversão da imagem trad i­
cional da “Pietá” consagrada n a escu ltu ra d a Virgem com Cristo
morto ao colo, feita pelo a rtista renascentista Michelângelo no sé­
culo XVI. Na versão abolicionista, é a mãe que agoniza nos braços
do filho e lhe revela um segredo - ou então pede perdão por ter-lhe
dado à luz. Em geral, esse segredo é associado ao fato de que ele é
filho bastardo do senhor, como Lucas, n A Cachoeira.
C astro Alves transpõe, assim , para o plano da escravidão um
tem a recorrente n a lite ratu ra brasileira do tem po - o ideal da tra n s ­
formação da família patriarcal, escravista e autocrática, em famí­
lia m ononuclear, de u m a sociedade de espírito liberal. Portanto, ele
faz do escravo tam bém um protagonista desse dram a ou da b u sca
d essa passagem , tan to quanto o sinhozinho branco o era n as penas
de outros escritores.

Dois outros aspectos da produção literária de C astro Alves


devem ser m encionados: o d ram a e as traduções. Para o teatro es­
creveu o dram a Gonzaga, ou a Revolução d e M inas, começado em
1866. Foi pensado em função de Eugênia C âm ara desem penhar o
papel de Marília (a M aria Dorotéia Seixas Brandão) de Dirceu (o
poeta Tom ás Antônio Gonzaga). Nesse texto, C astro Alves ju n to u ao
tem a da independência, presente n a conspiração de M inas, o da
escravidão; e ao d ram a histórico, interpôs o am oroso, não apenas
do casal Maria e Tom ás Antônio Gonzaga, m as atribuindo ao Vis­
conde de B arbacena, com andante da repressão ao movimento revo­
lucionário, um a paixão por ela. Gonzaga é b astan te in teressan te do
62 AGUIAR, Flávio. A praça, o povo e o poeta. L ín g u a e L itera tu ra , n° 23,
p. 47-62, 1997.

ponto de vista da construção das personagens. O poeta revela talen ­


to p ara a cena, pois os diálogos são m ais objetivos do que a propen­
são do tem a p ara o dram alhão poderia sugerir. Tivesse ele co n tin u ­
ado a trab alh ar, e talvez tivéssem os nosso grande au to r de dram as
p ara o fim do século XIX que o nosso teatro carece, segundo os pró­
prios críticos da época.
Como tradutor, Castro Alves deixou um a produção que pode
ser considerada extensa, tendo em vista seus poucos anos de vida.
Se su a poesia m ostra irregularidades de composição, a parte da
tradução é, ao contrário, m uito regular, revelando cuidado e sem ­
pre esm ero n a forma, mesmo quando a tradução é livre, como se
dizia n a época p ara designar um a adaptação m ais ou m enos solta
do original. Entre os m uitos poetas que traduziu am iudam -se Byron,
Alfred de M usset e Victor Hugo.

A poesia de C astro Alves inspirou-se no ideal de que a ativi­


dade literária pode contribuir p ara o avanço d a civilização. Poetica­
m ente, con stru iu u m a visão do am or b asead a n a reciprocidade e
quis d esterrar da nova nação a barbárie da escravidão, em su a con­
cepção m ais am pla. Em 1870, já no final da vida, portanto, Castro
Alves escreveu o poem a Poesia e M endicidade, no qual ele nos dá a
su a definição do Poeta como

“(...) -- caminheiro errante,


Que tem saudade de um país melhor ”

Posto que a sau d ad e é ainda a m esm a, que ele continue a nos


inspirar.

ABSTRACT: The auihor presents the Castro A lves" poetry path and
relation to the social political environment ai the time.

K eyw ords: Brazilian literature, Castro Alves, slavery, emancipation.

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