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Alegria No Limite Das Forcas - A - Douglas Wilson PDF
Alegria No Limite Das Forcas - A - Douglas Wilson PDF
EDITORA MONERGISMO
Centro Empresarial Parque Brasília, Sala 23 SE
Brasília, DF, Brasil – CEP 70.610-410
www.editoramonergismo.com.br
1ª edição, 2015
Wilson, Douglas
Alegria no limite das forças: a inescrutável sabedoria de Eclesiastes / Douglas Wilson,
tradução Marcos Vasconcelos – Brasília, DF: Editora Monergismo, 2015.
Recurso eletrônico (ePub)
Título original: Joy at the End of the Tether: The Inscrutable Wisdom
ISBN 978-85-62478-39-0
Prefácio
1 De profundis
2 O significado da alegria
3 Sabor de nada
4 No limite das forças
5 A formosura no momento certo
6 O silêncio do desespero
7 Sacrifícios de tolos
8 Justo juízo
9 Alminhas pequenininhas & juízos rigorosos
10 Andando nos corredores do poder
11 Ame sua esposa
12 Use a cabeça, amigo
13 Tempo de ser velhote
14 A conclusão
Prefácio à edição
brasileira
Não há no homem nenhum bem [inerente] pelo qual ele comeria e beberia, e sua
alma gozaria do bem no seu labor. Vi também que isso procedia da mão de Deus.
Pois, quem pode comer, ou se alegrar, à parte dele? Porque Deus concede a
sabedoria, o conhecimento e alegria ao homem que é bom à sua vista; mas ao
pecador ele dá o trabalho de juntar e de acumular, para que ele o dê àquele que é
bom diante de Deus. Isso também é vaidade e agarrar o vento. (Ec 2.24-26)
vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na
sua carreira, e retorna aos seus circuitos. 7Todos os rios correm para o mar, e
o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a
correr. 8Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os
olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir.
9O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada
há, pois, novo debaixo do sol. 10Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê,
isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós. 11Já não há
lembrança das coisas que precederam; e das coisas posteriores também não
haverá memória entre os que hão de vir depois delas. (Ec 1.4-11)
Como temos considerado, a vaidade não se refere à absoluta falta de
sentido, mas, vemos agora, refere-se à repetitividade inescrutável. Na noite
passada, você lavou os pratos, e eles estão aí de novo. Você trocou o óleo do
carro três meses atrás, e agora troca de novo. Tudo é vaidade. Esta camisa foi
lavada ontem.
Salomão percebe que as gerações vão e vêm – um grupo de pessoas
substitui o outro (v. 4), sem consciência real um do outro (v. 11). Debaixo
delas, a terra permanece obstinadamente no mesmo lugar (v. 4). Quando a
história de grupos de pessoas que viveram antes de nós esbarra em nós, por
breve tempo nos divertimos ou ficamos intrigados, mas nada chegamos a
aprender de verdade. Além disso, esperaremos sempre que nossos sucessores
procedam da mesmíssima maneira para conosco. Esvaímo-nos de suas
memórias, como incontáveis gerações esvaíram-se da nossa. Isso acontece
sempre, e sempre, e sempre. Como disse o outro, a única coisa que
aprendemos com a história é que não aprendemos com a história.
O sol nasce, põe-se, e corre de volta para nascer de novo. Como o
hipócrita em suas orações, o sol se mete em vãs repetições. O sol que nasceu
na manhã de hoje é o mesmo que Abraão, Odisseu, Davi, Paulo, Voltaire,
Isaac Watts, e Robert E. Lee viram. E quando o sol se vai, ficamos na
expectativa de vê-lo novamente. Ele, não necessariamente, espera ver-nos
outra vez.
As correntes de ar que circulam nas altas camadas da atmosfera também se
movimentam em círculos – o mundo natural, segundo parece, roda em
círculos. E nós também. O que acontece lá em cima vem cá para baixo. O que
acontece cá embaixo vai lá para cima uma vez mais. Esse é o significado de
vaidade. Como disse alguém no rádio, as rodas de fiar têm de girar e girar.
Pode-se buscar em vão por alguma novidade no clima. A água evapora-se,
chove, evapora-se, e chove de novo, e o oceano nunca transborda. Para nós, o
mundo inteiro é uma gigantesca ilustração desenhada em um quadro-negro.
Observe-a, assim como Salomão a observou, e aprenda uma lição monótona e
cansativa.
Podemos tentar escapar da repetição dizendo que ela não existe. Podemos
ignorar o passado e dizer: “Veja, isto é novo” (v. 9-11). O último de todos
“seja lá o que for” ecoará quando chegar o salvador que há de nos tirar do
temporário abatimento pós-moderno, da profunda depressão. Talvez a
Internet, ou os computadores, ou os arranha-céus, ou o ativismo ambiental,
ou o snowboarding, ou outra coisa qualquer nos salve. Mas isso não ajuda.
Mesmo quem pratica snowboarding precisa retornar ao topo do monte mais
uma vez.
E, além de tudo, até esse erro é uma repetição. Quem diz que encontrou
algo de novo está sendo um tanto velho. Tão certo quanto o sol nasce, os
homens continuarão a cometer os mesmos erros, menos aqueles a quem Deus
concede sabedoria. Todas as manhãs a insensatez desponta no horizonte.
Mais uma vez. Manhã, luz do sol. Hora de servir o café de novo. Tudo
novamente.
Para ser sábio, o homem tem de conhecer suas limitações. “Todas as
coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir” (v. 8). O crente
sábio é quem conhece o limite da sua força. É apenas mediante a sabedoria
dada por Deus que ele consegue desfrutar dessa limitação, dessa restrição,
dessa vaidade. Não obstante o sábio possa vir a gozar dessa vaidade, não
consegue expressá-la de fato.
1 Se o livro de Eclesiastes apresentasse o termo vaidade com o significado de absurdo total e absoluto,
ele, então, teria pouquíssimas argumentações e mais referências à torrada com manteiga, truta arco-íris,
acompanhadas das profecias veladas tentadas por Walt Whitman na poesia. Sendo de longe bem mais
coerente com a “cosmovisão do absurdo”, o que, é claro, tornaria o livro incoerente.
2 Tenho uma imensa dívida com Walter Kaiser a respeito desse procedimento e pela forma como ele
tratou os problemas de tradução de Eclesiastes 2.24-26. Leia seu breve e excelente comentário sobre
Eclesiastes (Walter Kaiser, Ecclesiastes: Total Life [Chicago: Moody Press, 1979], 43-45).
CAPÍTULO 3
Sabor
de nada
Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que
dará o homem em troca da sua alma?
MATEUS 16.26
sessenta coros de farinha; 23dez bois cevados, vinte bois de pasto e cem carneiros,
afora os veados, as gazelas, os corços e aves cevadas.
mim; por que, pois, busquei eu mais a sabedoria? Então, disse a mim mesmo
que também isso era vaidade. 16Pois, tanto do sábio como do estulto, a
memória não durará para sempre; pois, passados alguns dias, tudo cai no
esquecimento. Ah! Morre o sábio, e da mesma sorte, o estulto!
Considere os resultados do experimento até aqui. Salomão já viu que o céu
é impenetrável. Assim, deu a volta e passou a experimentar tudo o que
poderia comer, beber, fumar ou com quem dormir, e descobriu que não pode
encontrar sentido nesses prazeres. Ele agora se volta (v. 12) e olha
panoramicamente para trás, para o território pelo qual viajou.
Isso o faz afirmar o óbvio. Vemos que, mesmo na experimentação do
pecado, Salomão não se tornou relativista. A despeito da falta de sentido, ele
conclui que a sabedoria é melhor que a estultícia. É melhor galgar o
precipício de olhos abertos que com eles fechados. É melhor, como diz o
outro, ser Sócrates com fome que um porco saciado. Todo indivíduo
acostumado a pensar percebe de forma instintiva que essa é a melhor opção,
mas defender essa escolha debaixo do sol é uma questão das mais arriscadas.
Por que razão seríamos rejeitados se alguém se prontificasse a nos converter
em uma vaquinha satisfeita? Ou em uma tartaruga de aquário?
Mas tanto o sábio como o estulto têm o mesmo destino. Embora a
sabedoria seja melhor, Salomão ainda não sabe nos dizer o porquê disso. A
partir do que ocorre ao sábio e ao estulto aqui, debaixo do sol, os resultados
se afiguram os mesmos. Os dois tipos de homem morrem. Ambos são
sepultados. Ambos apodrecem. No entanto, é possível perceber uma
diferença. O sábio tem olhos na cabeça, e o estulto é cego. E, não obstante, os
dois ainda morrem (v. 16). Essa diferença, portanto, faz a diferença, como
veremos. Não é possível achar a redenção nem mesmo na reputação póstuma
(v. 16). Debaixo do sol, em algum momento, a sabedoria deixa de respirar da
mesma maneira que a insensatez (v. 14-16). A esse respeito, chegará o
momento em que o sábio, tanto quanto o estulto, assumirá serenamente a
mesma temperatura do ambiente.
Salomão reconhece que a posição do sábio é melhor, mas não sabe dizer
por quê. Todos os dados que consegue achar debaixo do sol mostram que o
sábio e o estulto acabam na mesma sepultura. Assim, Salomão expressa
preferência pela sabedoria; uma preferência parada no ar, à boa moda
kantiana. O imperativo categórico, a voz imperativa provinda do vazio, tem
de ser obedecida. Ao mesmo tempo, o sábio se aborrece, pois não tem razão
para confiar na própria razão e sabedoria nenhuma para fundamentar a
própria sabedoria.
Não há no homem nenhum bem [inerente] pelo qual ele comeria e beberia, e sua
alma gozaria do bem no seu labor. Vi também que isso procedia da mão de Deus.
Pois, quem pode comer, ou se alegrar, à parte dele. Porque Deus concede a
sabedoria, o conhecimento e alegria ao homem que é bom à sua vista; mas ao
pecador ele dá o trabalho de juntar e de acumular, para que ele o dê àquele que é
bom diante de Deus. Isso também é vaidade e agarrar o vento. (Ec 2.24-26)
Não dá para imaginar que o homem seja um poço artesiano. Ele não tem
em si mesmo nada que o capacite para desfrutar seus confortos de criatura;
não tem nenhuma capacidade inata para o prazer. Ademais, é Deus quem faz
isso – foi ele quem impôs sobre nós essa lei inexorável (v. 24,25). Quem é
capaz de se deleitar, até mesmo na própria comida, à parte de Deus?
Deus sempre dispensa os seus dons com soberania e graça sublimes. Os
dons são sabedoria, conhecimento e alegria. A sabedoria é graça, e o
conhecimento é também graça, mas note-se de forma especial o último desses
dons: alegria. A alegria é um dom supremo de Deus neste mundo sem
sentido. Os serafins sentiam alegria na presença de Deus, mas honestamente,
é isso o que se deve esperar. No entanto, não é aos anjos que ele socorre. Foi-
nos dado o privilégio de experimentar a alegria aqui, no meio do caos em
curso, desobediente e que imbeciliza. Alegria, sem dúvida, mas mirabile
dictu, a alegria está aqui.
Nesse meio tempo, qual é a tarefa do pecador? Ele é chamado para
acumular pencas de coisas, para ajuntar essas boas coisas aos montes,
empilhadas umas sobre as outras. Coisas com as quais só os piedosos estão
autorizados a se alegrar.
E quem herdará todos esses bens mundanos? Poucos versículos acima, não
foi possível responder a essa pergunta. Antes do dom de Deus, quem sabe se
é o tolo quem herdará os bens do sábio? Segundo nosso entendimento, quem
pode dizer se o sábio ou o tolo o herdará? Mas de acordo com a fé, a resposta
agora é clara: os bons diante de Deus. Os perversos são entregues às próprias
aflições.
Em uma de suas canções, Bob Seger diz que a cabeça tem dois buracos
através dos quais se espera que entre a luz. E então, é? Como é possível a
piedade não investigada ser diferente das cegas apalpadelas do estulto? Qual
é a marca registrada da sabedoria no mundo caído? A resposta é a alegria no
limite das forças. Mas antes de podermos aprender o que é a alegria no limite
das forças, precisamos saber que limite é esse. O Senhor é bom, mas nós não
o somos.
o dos animais para baixo, para a terra? 22Pelo que vi não haver coisa melhor
do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua recompensa;
quem o fará voltar para ver o que será depois dele? (Ec 3.18-22)
Outra objeção se apresenta como voluntária: “Mas… tanto os homens
como os animais morrem”. Esse é o teste da mortalidade (3.18). Deus
assegura que possamos ver com nossos olhos que descemos à terra da
mesmíssima maneira que os cães e os porcos. Portanto, com base em quê
dizemos haver diferença entre nós? A única base possível é a declaração
transcendente, vinda de fora do sistema, a declaração feita pela Palavra de
Deus. Quando lemos o versículo 21, nos lembramos do versículo 17.
Salomão acabou de nos ensinar a respeito de um juízo final. Mas dados os
parâmetros de autonomia, que diferença há? Essa não é uma questão
relativista. Salomão não pergunta: Quem sabe? Quem pode dizer? Deve-se
entender isso como tendo em si uma declaração indicativa implícita. O
espírito do homem vai para cima; o espírito do animal vai para baixo. Mas
quem sabe disso? Deus sabe, mas o homem por si mesmo não é capaz de
saber.
Os homens sabem que estão em uma categoria à parte da dos animais. O
argumento de Salomão é que eles, em razão da epistemologia abraçada, não
têm como saber disso de forma consistente. Observe o que acontece ao
cadáver de cada um deles. A imago dei não retarda o processo de
apodrecimento. Portanto, se for para isso que olhamos a fim de descobrirmos
essa imagem, então não chegaremos a nada, exceto ao desespero. Em última
análise, a única coisa que o cientista consegue medir é a velocidade com que
apodrecemos. O conhecimento do juízo final e da maneira como os homens
na qualidade de homens se postarão de pé diante de um grande trono não é
deduzido da dissecação de sapos.
Alguns verdinhos entusiasmados têm corrido para engolir a reductio [ad
absurdum]. “Beleza”, dizem eles, “o homem não é diferente dos animais.
Toda vida está no mesmo nível”. E então seguem adiante insistindo conosco
para que salvemos as baleias, como se fôssemos responsáveis por elas ou
algo parecido. É possível negar a singularidade do homem, mas não é
possível fazê-la desaparecer. Os homens sempre serão homens, mas à parte
da consciência do juízo final, não podem ter a esperança de prestarem conta
razoável de si mesmos como homens.
Assim, precisamos nos lembrar de dar uma olhada lá na frente em 12.7. A
resposta a essa objeção à mortalidade é que o dom de Deus concede o
conhecimento acerca da nossa vida após a morte.
não viu as más obras que se fazem debaixo do sol. (Ec 4.1-3)
No entanto, as objeções não param. “Mas… os homens são oprimidos”.
Os homens não são oprimidos especificamente pelas cortes, como discutimos
antes. São oprimidos de forma geral por toda a vida nos negócios, no
casamento, em diferentes relacionamentos, por qualquer um que detenha o
poder (4.1). É melhor estar morto ou não ter nascido do que ser oprimido
dessa maneira (4.2,3).
Os que já morreram estão em melhores condições que os homens vivos,
ou que ainda não nasceram. Na vida, os opressores detêm o poder, e sabem
usá-lo. O oprimido pode clamar e continuar a achar que não tem consolador.
Nascemos para a aflição, como as faíscas das brasas voam para cima.
Nada pode ser realizado negando-se a existência da tribulação. A única
atitude que devemos tomar é ansiar a morte, quando estaremos fora do
alcance do opressor. Salomão já nos tinha lembrado do juízo, e nos fará
lembrar dele uma vez mais. Se entendermos isso, se nos lembrarmos, então
deixaremos o deserto e alcançaremos a consolação.
Portanto, a resposta aqui é que o dom de Deus concede consolação.
palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra;
portanto, sejam poucas as tuas palavras. 3Porque dos muitos trabalhos vêm os
sonhos, e do muito falar, palavras néscias. (Ec 5.1-3)
Vamos voltar e considerar o tolo em seu culto. A religiosidade adora
encher linguiça diante do Senhor. Religiosos adoram fazer orações prolixas.
Para a carne, um pressuposto natural na religião é que Deus fica de algum
modo impressionado com o montante de palavras, e tudo isso apesar da
expressa injunção bíblica contrária (5.1-3).
Nosso Senhor orou noites inteiras, algumas vezes. “Naqueles dias, retirou-
se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus” (Lc 6.12).
Somos instados a orar sem cessar (1Ts 5.17) e a perseverar em oração
(Cl 4.2). No entanto, nossas lições bíblicas introdutórias sobre a oração
enfatizam a brevidade. Ser um guerreiro na oração — que expressão
horrorosa para algo tão maravilhoso! — não é o mesmo que ser tagarela,
loquaz, verboso, e assim por diante. Os crentes precisam primeiro aprender a
oferecer poucas palavras. Isso exige pensamento organizado. O fato de os
tolos serem verbosos quando oram não é uma lei modificada só porque as
palavras “em nome de Jesus, amém!” vêm atreladas ao final das orações.
Quando Jesus ensinou seus discípulos a orar, ele lhes deu uma oração bem
simples e breve. Somos mais sábios que tudo isso e, portanto, nossas palavras
jorram sem fim. Mas ele conhecia o coração dos homens, e por isso
acrescentou uma advertência expressa: “E, orando, não useis de vãs
repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão
ouvidos” (Mt 6.7). “Ué”, a gente se pergunta, “que significa isso?”.
Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu
poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a
perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos
de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem
também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?
(Rm 9.22-24)
A explicação definitiva é que Deus faz todas as coisas para glorificar seu
nome e exaltar sua majestade. Mas a despeito de várias razões para a
tortuosidade do mundo, a verdade é que a Bíblia ratifica a soberania de Deus
sobre o que está torcido. Ele é verdadeiramente o único Senhor.
Devemos receber nossa prosperidade como se procedesse dele, porque
procede dele (v. 14). Mas no dia da adversidade, devemos também nos
lembrar da nossa doutrina acerca da soberania divina. Foi Deus que fez tanto
um dia como o outro (v. 14). O Senhor traz a primavera, e o Senhor traz os
terremotos. O Senhor concede mais um ano de vida, e o Senhor designa o dia
do luto. Jó aconselhou sua esposa da forma correta. Ela estava falando como
se tivesse adotado a teologia da mulher insensata. “Mas ele lhe respondeu:
Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não
receberíamos também o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios”
(Jó 2.10). A igreja hoje está dominada pela teologia de mulheres tolas. Deus
nunca faz coisas ruins; ele só faz coisas boas. Ele faz as flores e os gatinhos,
não o trovão, o raio nem a chuva azul.
Adoramos a Deus, que é Sabedoria Inescrutável. O que vemos não encerra
a questão.
imos na seção anterior que nada é como parece aos nossos olhos. A
V prosperidade pode ser o mal camuflado; o homem pode estar rodeado
de riquezas nas quais não se deleita. A adversidade pode ser o meio
pelo qual Deus traz grandes bênçãos; como sabia Rutherford, quando no
porão da angústia, o homem é capaz de encontrar os vinhos mais seletos de
Deus. Todas as situações não são o que parecem ser.
Nesta seção, vemos que os homens não são o que aparentam ser. Podemos
chegar a conclusões erradas acerca do mundo ao nosso redor, porque
julgamos com base nas experiências externas. Cristo, porém, proíbe todos os
juízos superficiais.
evemos ter em mente que Salomão não está apenas se repetindo pelo
D livro inteiro. Seu argumento, convincente e irrefutável, edifica. Ao
longo de toda a argumentação, ele retorna muitas vezes às lições
básicas que devemos aprender, se quisermos nos tornar sábios, mas ele
também sempre amplia esse fundamento.
compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais que trabalhe o
homem para a descobrir, não a entenderá; e, ainda que diga o sábio que a virá
a conhecer, nem por isso a poderá achar. 9.1Deveras me apliquei a todas estas
coisas para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e os seus
feitos estão nas mãos de Deus; e, se é amor ou se é ódio que está à sua espera,
não o sabe o homem. Tudo lhe está oculto no futuro. 2Tudo sucede
igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso; ao bom, ao puro
e ao impuro; tanto ao que sacrifica como ao que não sacrifica; ao bom como
ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento. 3Este é o mal que há
em tudo quanto se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo; também o
coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto
vivem; depois, rumo aos mortos. (Ec 8.16—9.3)
A despeito do que pensamos, Deus é Senhor. Voltamos agora à verdade
estabelecida no começo do livro. Uma vez mais, a sabedoria preconizada por
Salomão não é possível à parte do claro reconhecimento da soberania divina
sobre todas as coisas. Uma vez que seu coração buscava o conhecimento,
Salomão dedicou-se a essa tarefa. Ele se dispôs a conhecer a obra realizada
sobre a terra. Trabalho que ele impôs a si mesmo, resultando em noites
insones (v. 16).
Mas o homem é incapaz de saber. O resultado foi a percepção de que o
homem não pode compreender o que Deus está fazendo (v. 17). Isso é
sabedoria, sabedoria descoberta por um homem sapientíssimo. O sábio sabe
identificar o que não pode ser conhecido. Salomão não se refere às ações de
Deus do outro lado do universo (que, na verdade, ninguém acha que sejamos
capazes de conhecer), mas a seu governo sobre nossa vida, aqui e agora.
Deus impõe limitações ao homem (v. 17) e não só a Salomão e seus
empreendimentos. Olhe o tanto que quiser a seu redor; você não sabe o que
está acontecendo.
A Sabedoria não procura explicar a soberania de Deus. Ironicamente, os
que aceitam essa verdade são comumente acusados de tentar explicar a
mecânica da soberania de Deus acerca de “tudo quanto acontece”. Mas essa
nossa capacidade é algo que rejeitamos com ênfase absoluta. Nessa parte do
livro, Salomão afirma sem rodeios que Deus controla todas as coisas. Ele não
diz como Deus faz isso. Só mesmo uma tremenda besta quadrada poderia
pretender explicar o modo como Deus se revela por meio de suas obras.
Pensar sobre o que acontece diante de nós, não pode nos levar a conclusão
nenhuma. Tendemos a assumir, repetindo Shakespeare, que a história de
todas as coisas é uma fábula contada por um idiota, repleta de fúria e tumulto,
sem significado. Antes, é uma fábula contada a idiotas. Justos e ímpios estão
na mão de Deus. Não somos capazes de dizer o que ocorre por meio do que
lhes acontece, até onde podemos ver (9.1). Deus me ama ou me odeia? A
pergunta não pode ser respondida apelando-se a “bênçãos” e “maldições”
externas. O teste verdadeiro é a sabedoria – a atitude sincera de gratidão e de
fé.
O homem que amaldiçoa e o que abençoa recebem chuva (v. 1). A luz do
sol brilha sobre o fiel e sobre o infiel (v. 2,3a). Isso é uma “mal”, mas é um
mal que casa com a bondade essencial de Deus. Confrontados com essa
realidade, devemos honrar a Deus como Deus e render-lhe graças.
Levantarei as mãos e meditarei nos teus decretos
4Para aquele que está entre os vivos há esperança; porque mais vale um
cão vivo do que um leão morto. 5Porque os vivos sabem que hão de morrer,
mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles
recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. 6Amor, ódio e
inveja para eles já pereceram; para sempre não têm eles parte em coisa
alguma do que se faz debaixo do sol. (Ec 9.4-6)
Não obstante, o pecado é loucura. Observe como Salomão rechaça a
sabedoria e autonomia humanas. Embora não consigamos perceber nenhuma
diferença entre o justo e o ímpio, é loucura limitarmo-nos à nossa
perspectiva. É loucura ignorar Deus. Todavia, os homens vivem assim ao
mesmo tempo em que sabem que cada um deles morrerá! A loucura vive sem
fé, sem olhos.
Hoje, ao ouvir a voz de Deus, o homem não deve endurecer o coração.
Quando morre o ímpio, extingue-se a esperança. Ao homem está ordenado
morrer uma só vez, vindo, depois disso, o juízo. Nesse contexto, Salomão diz
que estar vivo como um cachorro ordinário é melhor que estar morto e
acabado… embora as pessoas consideradas grandes possam achar que você
esteja morto. Quando a vida cessa, acaba a oportunidade de aprender a
sabedoria. A parte que cabe ao morto ficou para trás (v. 4-6). Quando a vida
acaba, também acaba a oportunidade de arrependimento.
onsiderando o que nos tem sido ensinado neste livro sapiencial acerca
C da vida debaixo do sol, e a despeito de quaisquer pequenas falhas e
incoerência restantes, devemos trabalhar com total empenho, e isso com
um bom senso fundamentado e honesto.
perversa. 14O estulto multiplica as palavras, ainda que o homem não sabe o
que sucederá; e quem lhe manifestará o que será depois dele? (Ec 10.12-14)
A conversa vazia não leva a lugar nenhum. O insensato começa com a
alienação mental e termina com a imbecilidade – e faz uma bela viagem entre
uma e outra. As palavras do sábio estão em gritante contraste com isso.
Os insensatos são loquazes. Os fatos nus e crus podem ser expostos diante
dele, mas ele não os compreende. Não podemos prever o futuro, mas quem
consegue transmitir isso ao insensato? Ele teima em comprar livros que
preveem o futuro, quase sempre de livrarias evangélicas especializadas em
escatologia, marcas da besta, computadores na Bélgica e os pequenos códigos
de barra usados nos supermercados.