Você está na página 1de 3

Comentário: A Violência Escolar e A Crise da Autoridade Docente,

Júlio Groppa Aquino


A ação institucional escolar e a reprodução macroestrutural não
são necessariamente equivalentes. Consoante a Aurea Guimarães,
diz-se que a instituição escolar, além de ser reprodutora das
experiências “de opressão, de violência, de conflitos, advindas
do plano macroestrutural”, também produz sua própria violência e
sua própria indisciplina.

A intervenção escolar, sendo uma intervenção institucional, é


estruturalmente normativa/confrontativa, e a relação entre
professora/professor e estudante pode ser considerada como locus
da violência escolar. Para o autor, há uma violência “positiva”
e que constitui os lugares de professora/professor e aluna(o).
Essa violência positiva é aquela que se apropria de um
determinado objeto (no caso da educação esse objeto seria o
conhecimento) por meio da transformação de uma determinada
matéria-prima materializada nas condições apriorísticas da
clientela (no caso da educação, supõe-se que a clientela
materializa a ignorância) – ou seja, essa violência é
transformadora.

O dispositivo para que isso seja possível surge da “autoridade”


atribuída às figuras das(os) agentes institucionais. Essa
autoridade é outorgada às/aos agentes pela clientela, e é
fundamentada na pressuposição dos saberes dessas(es) agentes.

Para o autor, não há exercício de autoridade sem o emprego de


violência, e não há o emprego de violência sem exercício de
autoridade.

Nas sociedades complexas, diz Júlio Aquino, “a educação escolar


é o modo dominante por meio do qual as novas gerações são
inseridas na tradição, isto é, o meio pelo qual as introduzimos
no instável (e sempre inusitado) mundo do conhecimento
sistematizado.” Para ele, essa instituição tem sido fragilizada
por alguns fatores, e um deles é a crise da autoridade docente –
fato este que ele entende como sendo o correlato principal de
grande parte dos efeitos de violência (violências que inclusive
ultrapassam o embate intelectual/cultural) testemunhados no
cenário escolar.

Hannah Arendt defende que a crise da autoridade tem relação com


a crise da tradição e que, para contornar esse obstáculo à
efetivação do papel institucional da escola, é necessário
praticar o respeito pelo passado e pela tradição corporificada
no legado cultural.

Júlio Aquino, ao citar Hannah Arendt para dizer que a função da


escola é ensinar às crianças como o mundo é e não as instruir na
arte de viver, parece indicar que não está alinhado às
indicações colocadas pelos estudos que tratam da educação para o
novo milênio. Assumem, porém, que a atividade docente também
deve passar pela responsabilidade por este mundo diante daquilo
que se assume e ensina, o que me deixa confuso, porque isso pode, em algum
momento, implicar algum desrespeito pelo entendimento canonizado do passado.

Embora concorde em dizer que alguma tradição deve ser preservada e que é necessário
resgatar a autoridade da figura da(o) docente, é importante não deixar de considera-la
criticamente, pensando que tradição é essa que se pretende preservar. Os grupos
políticos hoje entendem que as epistemologias tradicionais também são reprodutoras
de violência.

Aqui, cabe pensar que a função da escola não é mais essa de inserir as crianças no
mundo do conhecimento sistematizado, e que o entendimento da função da escola
precisa ser alterado. As crianças, hoje, passam a ter acesso a isso muito mais cedo, uma
vez que há, desde a televisão e hoje com o youtube, um resgate dessa inserção por
meio da tradição oral e não mais restrita ao ambiente da escola. O resgate da
autoridade da professora/do professor deve ter relação, portanto, não tanto com o
passado, mas em maneiras de presentificar esse passado.
https://books.google.com.br/books?id=HmoRkcRLzqIC&pg=PA73&lpg=PA73&dq=a+din%C3%A
2mica+da+viol%C3%AAncia+escolar+conflito+e+ambig%C3%BCidade+ler&source=bl&ots=IppD
cLQdiL&sig=ACfU3U1VVxecAWlaEtLEYVyoAI5uSuulEQ&hl=pt-
BR&sa=X&ved=2ahUKEwi6z8q05u7lAhVgHbkGHR2nCSUQ6AEwCHoECAkQAQ#v=onepage&q=a
%20din%C3%A2mica%20da%20viol%C3%AAncia%20escolar%20conflito%20e%20ambig%C3%B
Cidade%20ler&f=false

Você também pode gostar