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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA – ICHF

PSICOLOGIA E PROCESSOS DE FORMAÇÃO II

PROFESSORA: SILVANA MENDES

ALUNA: LALESKA B DANTAS

Trabalho Final

Atualmente, as crianças são introduzidas cada vez mais cedo ao mundo educacional
escolar, e com isso, o processo de iniciação e socialização se dá também por intermédio
da escola. Guattari em seu texto “As creches e a iniciação” (1987) faz uma discussão
sobre a iniciação das crianças de sociedades “primitivas” e a partir do rito de passagem
pelo qual as crianças são inseridas no campo social adulto. Nas sociedades industriais
não havia um momento ritualizado para esta iniciação porque as crianças estão em
tempo integral sendo iniciadas. Os campos de iniciação são definidos como sistemas de
representação do capitalismo, que envolve não somente os desenhos, pinturas e os
meios audiovisuais, mas também as pessoas, os códigos de linguagem, as relações
interpessoais e, ao mesmo tempo, as relações de poder, a autoridade, a hierarquia e toda
a tecnologia capitalista das relações dominantes.

Educar e cuidar são os princípios da educação infantil, assim colocados como uma
prioridade na vida da criança e na sua especificidade em relação ao ensino escolar. O
que não quer dizer que a creche e a pré-escola também não tenham influência sobre as
crianças, o poder de reproduzir e coagir, e também de transformar e dar uma suposta
ilusão de liberdade e, como toda educação, tem sempre o objetivo de cuidar. Todavia, é
importante pontuar que o processo de socialização e acesso ao conhecimento geral não
se dá mais unicamente pela escola, pois os meios da comunicação exercem uma forte
influência na socialização e a convivência das crianças e jovens em espaços e tempos
extraescolares.

“As crianças, diante da televisão, "trabalham", assim como "trabalham" na creche,


com técnicas de jogo que são concebidas para melhorar seus desempenhos perceptivos.
Pode-se mesmo, num certo sentido, considerar que este trabalho é comparável ao dos
aprendizes na escola profissional, ou ao dos operários metalúrgicos que se reciclam
visando adaptar-se a novos tipos de linha de montagem. ” (Guattari, Pág. 52)

O autor vai comparar a escola primária, como aquela que se preocupava principalmente
em iniciar as crianças num certo tipo de lei, de disciplina; ele lhes ensinava a
permanecer em fila, os horários, normas e quando a criança deve fazer algo, mesmo ela
não querendo. Podemos comparar este tipo de escola do modo que podemos ver na
organização de produção, o exemplo que o autor dá são de industrias de manufaturas, do
trabalho em série, e organização de massa.

“Um trabalho de creche, que quisesse engajar-se numa outra economia desejante, não
conseguiria, pois, situar-se senão em contra-corrente a este modo de formação. O que
conta na creche, insistimos nisso, não é a técnica, é o efeito da política semiótica dos
adultos sobre as crianças. ” (Guattari, Pág. 53)

O problema é que estas “semióticas dominantes” sobrepõe às formas criativas e às


expressões livres das crianças. Guattari explica pela lógica capitalista na qual o tempo é
produtivo, e todo tempo deve ser dirigido para inserir os indivíduos naquilo que
proporciona a manutenção desta lógica. O conflito que ocorre é que o tempo da criança
não é o mesmo e tendemos a desconsiderar suas manifestações para inseri-la na lógica
de um tempo capitalista.

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