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Introdução à Necropsia

Ma. Marcela Aquiyama Alonso


2017

Curso de Introdução à Necropsia - IBAP Cursos


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Sumário
1. Introdução ......................................................................................................... 3
A. O que é necropsia ....................................................................................................3
B. Conceitos Básicos ....................................................................................................3
C. Campos de Atuação .................................................................................................4
D. Exigências da carreira ..............................................................................................4
2. Equipamentos de Proteção e Riscos do Ofício ..................................................... 5
A. Equipamentos de Proteção Individual ......................................................................5
B. Vírus .......................................................................................................................5
C. Bactéria...................................................................................................................6
3. Ética Profissional e Aspectos Sociais ................................................................... 6
A. Cadeia de Custódia ..................................................................................................6
B. Identificação e Documentação .................................................................................7
C. Sigilo e Imprensa .....................................................................................................7
D. Familiares................................................................................................................8
4. Técnicas de Necropsia e Medicina Legal ............................................................. 8
A. Legislação................................................................................................................8
B. Anatomia Geral .......................................................................................................9
C. Medicina Legal ........................................................................................................9
D. Abertura de Cavidades........................................................................................... 10
E. Coleta de Exames .................................................................................................. 12
F. Preservação do Corpo ............................................................................................ 13
5. Da Teoria à Prática ........................................................................................... 13
A. Estudos e Formação Acadêmica ............................................................................. 13
B. Rotina de Trabalho ................................................................................................ 13
C. Estudo de caso....................................................................................................... 14
6. Bibliografia ...................................................................................................... 14

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Objetivo do curso: expor as atividades desenvolvidas pelos profissionais de
Necropsia, as técnicas utilizadas, as exigências da carreira e as possibilidades
no mercado de trabalho, além dos riscos e aspectos sociais do ofício.

1. Introdução
A. O que é necropsia

A definição do termo “autópsia” ou “autopsia” é dada como “vista de si


mesmo”, mas convencionalmente ela é usada como sinônimo de “necropsia”, um
termo que se refere ao “exame minucioso, o estudo de todas as partes de um
órgão ou de todo um cadáver, feito diretamente pelo médico”, segundo o
Dicionário de Sinônimos da Academia Brasileira de Letras 1. O médico Zacarias
no Dicionário de Medicina Legal define autópsia como: exame que se realiza no
cadáver, externa e internamente, com a finalidade de se determinar a causa real
da morte apud 2.

B. Conceitos Básicos

Existe mais de um tipo de exame necroscópico, dependendo do que se


presume sobre como a morte ocorreu:
▪ Necropsia clínica: em caso de morte natural, visa o diagnóstico clínico de
interesse médico-sanitário ou anatomopatológico, realizado com autorização
dos familiares. É realizada pelo Sistema de Verificação de Óbito (SVO) do
município ou hospital3,4.
▪ Necropsia médico-legal: em caso de morte violenta ou suspeita, visa o
diagnóstico da causa médica da morte, a fim de fornecer subsídios para a
determinação da causa jurídica da morte (homicídio, suicídio ou acidente), do
tempo estimado de morte e a identificação do cadáver. É realizada no
Instituto Médico Legal (IML) mediante requisição da autoridade competente,
e não necessita da autorização da família3,4.
E também, o exame necroscópico pode ser classificado de acordo com as
características do exame em si:
▪ Necropsia branca: quando, mesmo após a autópsia, o médico-legista não
pode chegar à conclusão da causa da morte, seja por limitações tecnológicas
e científicas, pelos fenômenos transformativos do cadáver ou pelas
condições na prática do exame3.

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▪ Virtópsia: necropsia realizada através de exames não invasivos e técnicas de
imagem como a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a
ressonância magnética, que dispensam a abertura do cadáver4.

C. Campos de Atuação

Existem diversos nomes para os profissionais de necropsia, alguns usados


como sinônimos outros que variam de acordo com as funções desempenhadas.
Alguns exemplos de nomes são: Auxiliar de Necropsia, Auxiliar de Perícia
Médico-Legal, Técnico em Necrópsia e Técnico em Anatomia e Necropsia. Neste
texto usarei o termo Auxiliar de Necropsia, independente da função
desempenhada.
O Auxiliar de Necropsia pode exercer suas funções em pelo menos três
instituições diferentes:
▪ IML – órgão da Superintendência de Polícia Técnico Científica ou Polícia
Civil, dependendo do Estado, no qual são realizadas as necropsias médico-
legais a fim de esclarecer morte violenta (por acidente de trânsito ou de
trabalho, homicídio, suicídio etc.); morte suspeita ou morte natural de pessoa
não identificada4,5.
▪ SVO – Serviço de Verificação de Óbito – órgão municipal no qual são
realizadas as necropsias clínicas, que investigam a causa médica da morte
de pessoas que morrem sem assistência médica ou por causas naturais
desconhecidas4,5.
▪ Universidade: na qual o profissional prepara e faz manutenção de peças
didáticas, é responsável por formolizar materiais, assim como por
taxidermizar de animais, por exemplo6.
No IML e SVO as atividades são parecidas e consistem praticamente em:
auxiliar o médico no exame necroscópico; comparecer aos locais para o devido
recolhimento de cadáveres (em alguns Estados); manuseio do corpo antes,
durante e após o recolhimento; identificação de cadáver; execução e
acompanhamento de exumações; coleta de amostras a serem enviadas para
laboratórios especializados, como exame de sangue, presença de
espermatozoide e material para comparação de DNA; reconstituição do cadáver
após o exame; limpeza do material utilizado nas necropsias e limpeza de
ossos7,8,9.

D. Exigências da carreira

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A exigência de formação do profissional varia de acordo com o Estado e/ou
com o órgão responsável, e como na maioria das instituições é preciso ser
aprovado em concurso público, além da formação é preciso estar atento aos
outros pré-requisitos da carreira. As informações podem ser acessadas nos
editais de abertura de concurso público já realizados6,7,8,9.
Nos exemplos abaixo é possível observar que a exigência de formação pode
variar bastante de acordo com o Estado:
▪ Espírito Santo: nível médio
▪ Mato Grosso: nível superior e pontuação por títulos
▪ Paraná: nível médio e curso técnico em área de Ambiente ou Saúde
▪ São Paulo: nível médio

2. Equipamentos de Proteção e Riscos do Ofício


A. Equipamentos de Proteção Individual

Alguns equipamentos de proteção individual (EPI) são obrigatoriamente


descartáveis*, devendo ser trocados no final de cada exame, bateria de exames
ou quando o professional julgar necessário, já outros necessitam apenas de
limpeza e manutenção, devendo ser trocados de acordo conformo necessário
após uso pronongado2,10:
▪ Capacete com protetor facial;
▪ Óculos de segurança;
▪ Máscara*;
▪ Touca*;
▪ Capote;
▪ Avental plástico;
▪ Bota de cano alto e biqueira simples;
▪ Luva cirúrgica*;
▪ Luva PVC*;
▪ Luva de segurança anticorte.
Todos os EPIs necessitam de manutenção, limpeza correta e cuidado com o
manuseio. Também é importante ter o devido cuidado ao levar as roupas para
serem lavadas em casa e com o manuseio do celular.

B. Vírus

O Auxiliar de Necropsia, assim como outros profissionais da saúde, tem


contato com pessoas doentes e precisa tomar os devidos cuidados para se

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proteger, estando com as vacinas em dia – vacina da Hepatite B, principalmente
– e fazendo o correto uso e manutenção dos EPIs. As doenças virais que
apresentam maiores riscos para os profissionais são: HIV e Hepatite (B e C,
principalmente).
Os materiais biológicos com risco de transmissão do HIV são11:
▪ Sangue e outros materiais contendo sangue;
▪ Sêmen;
▪ Fluidos vaginais;
▪ Líquidos de serosas (peritoneal, pleural, pericárdico), líquido amniótico, líquor
e líquido articular.
Se o Auxiliar de Necropsia sofrer algum ferimento durante o exame, ele deve
comunicar o médico e superior imediatamente para que seja avaliado a
necessidade da Profilaxia Antirretroviral Pós-Exposição de Risco para Infecção
pelo HIV (PEP). A PEP é feita após uma avaliação do risco da exposição, que
avalia o material biológico envolvido, o tipo de exposição, o tempo decorrido
entre a exposição e o atendimento e a condição sorológica para HIV da pessoa
exposta e da pessoa fonte11.
Os tipos de exposição que apresentem risco de transmissão do HIV são11:
▪ Percutânea: lesões causadas por agulhas ou outros instrumentos perfurantes
e/ou cortantes.
▪ Membranas mucosas: exposição sexual; respingos em olhos, nariz e boca.
▪ Cutâneas envolvendo pele não íntegra: presença de dermatites ou feridas
abertas.
Existem testes gratuitos para triagem e diagnóstico de HIV, Sífilis e Hepatites
B e C oferecidos pelo sistema de saúde em diversos municípios.

C. Bactéria

Em relação às doenças bacterianas, os cuidados devem ser os mesmos


tomados em relação às doenças virais, com especial atenção aos fluídos e
perdigotos dispersados durante os exames. As principais doenças bacterianas
encontradas são: Meningite, Tuberculose e Pneumonia.

3. Ética Profissional e Aspectos Sociais


A. Cadeia de Custódia

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A correta execução dos procedimentos da cadeia de custódia garantem a
validade da prova pericial e deve ser realizada por todos os profissionais
envolvidos no processo.
No caso dos corpos periciados pelo IML é preciso verificar a documentação
de entrada do corpo no instituto, proceder a identificação do cadáver, e garantir
o sigilo sobre os dados do caso. Com os materiais coletados também é
necessário ter o devido cuidado para correta identificação com etiquetas,
fechamento do lacre, armazenamento e documentação.
Sobre os cuidados com o corpo que chega no IML, Prestes Jr. e Ancilloti 10
escreveram que “a disponibilidade jurídica do corpo determina que, nos casos
de morte violenta ou suspeita, os despojos mortais, temporariamente não
pertencem à família, mas ao Estado, pelo menos até que a autoridade
requisitante veja satisfeitas todas as indagações sobre a causa da morte”. Com
isso, além do corpo ficar o tempo necessário para que todos os exames sejam
realizados, a equipe tem obrigação de garantir a segurança, privacidade e
conservação do cadáver durante todo o período.

B. Identificação e Documentação

O processo de identificação de um corpo é diferente do seu reconhecimento.


A identificação é feita através de características únicas e imutáveis, com
comparação com registros anteriores ou outros exames, como impressões
digitais, análise da arcada dentária ou DNA. Já a identificação é feita por um
familiar ou, após autorização da autoridade competente, por pessoa próxima ao
falecido, através de características físicas, apenas para conferência na hora da
liberação do corpo para sepultamento.
Além da identificação e do reconhecimento, outros documentos e registros
de controle são gerados e guardados para futura consulta, se necessário, com
dados do cadáver, do ocorrido, dos exames colhidos e respectivos resultados.
Tais dados também são usados no desenvolvimento do laudo do médico-legista.

C. Sigilo e Imprensa

Para garantir o sigilo das investigações e a privacidade da família é


recomendado não fotografar o corpo ou o exame – a não ser a fotos necessárias
para a correta ilustração do laudo médico –, não passar informações por
telefone, e não permitir acesso de terceiros ao local do exame.
França4 elaborou um Decálogo Ético do Perito, norteando os princípios éticos
para auxiliar os peritos, mas que também pode ser levado em consideração
pelos Auxiliares de Necropsia que trabalhem no IML ou outros órgãos:
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1º. evitar conclusões intuitivas e precipitadas;
2º. falar pouco e em tom sério;
3º. agir com modéstia e sem vaidade;
4º. manter o segredo exigido;
5º. ter autoridade para ser acreditado;
6º. ser livre para agir com isenção;
7º. não aceitar a intromissão de ninguém;
8º. ser honesto e ter vida de pessoa correta;
9º. ter coragem para decidir;
10º. ser competente para ser respeitado.

D. Familiares

Após o término do exame necroscópico e quando o médico julgar apropriado,


o reconhecimento e liberação do corpo – para remoção pela funerária ou órgão
competente – é feito por parente de primeiro grau (pai, mãe, filho) ou cônjuge
com certidão de casamento válida. Na ausência desses, os procedimentos
podem ser feitos por parente de segundo grau (primo, tio, avô...) ou amigo da
família após autorização da autoridade competente5.

4. Técnicas de Necropsia e Medicina Legal


A. Legislação

Segundo o Código de Processo Penal (Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro


de 1941. No livro I – Do processo em geral, Título VII – Da prova, Capítulo II –
Do exame do corpo de delito e das perícias em geral) 13:
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo
se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita
antes daquele prazo, o que declararão no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame
externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando
as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver

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necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância
relevante.
É obrigatória a realização de alcoolemia nas vítimas fatais de trânsito,
segundo o artigo 2º da Resolução nº81, de 18 de novembro de 1998 do
Contran14.

B. Anatomia Geral

Durante o exame necroscópico, o corpo é movimentado de acordo com o


necessário, mas comumente o cadáver é aberto estando em decúbito dorsal e
em posição similar à anatômica, que é posição de referência para estudos da
direção na descrição das partes e regiões do corpo. O corpo é colocado sobre a
mesa com os membros superiores estendidos ao lado do tronco, com as palmas
das mãos, a cabeça e os pés voltados para a frente.
O Auxiliar de Necropsia deve ter um vasto conhecimento sobre anatomia
humana, sendo imprescindível saber localizar facilmente e remover sem
danificar as seguintes estruturas:
▪ Ossos: Crânio (osso frontal, parietal, temporal, occipital), coluna vertebral,
clavícula, esterno e costelas;
▪ Artérias: carótida, subclávia e femoral;
▪ Veias: jugular e subclávia;
▪ Cabeça: cérebro, cerebelo e dura-mater;
▪ Pescoço: esôfago, traqueia, osso hioide;
▪ Órgãos da região torácica: pulmões (e hilo pulmonar) e coração (e grandes
vasos);
▪ Órgãos da cavidade abdominal: fígado, estômago, baço, pâncreas, rim,
bexiga e útero15.

C. Medicina Legal

Existem diversos campos de estudo da medicina-legal4,16:


▪ Antropologia médico-legal que estuda a identidade e a identificação médico-
legal e judiciária;
▪ Traumatologia médico-legal que trata das lesões corporais sob o ponto de
vista jurídico e das energias causadoras do dano:
o Energias de ordem mecânica: lesões produzidas por ações perfurante,
cortante, contundente, perfurocortante, perfurocontundente e
cortocontundente;

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o Energias de ordem física: temperatura, pressão atmosférica,
eletricidade, radioatividade, luz e som;
o Energias de ordem química: cáusticos e venenos;
o Energias de ordem físico-química: asfixia em geral;
o Energias de ordem bioquímica: perturbações alimentares,
autointoxicações e infecções;
o Energia de ordem biodinâmica: choque e síndrome da falência múltipla
de órgãos;
o Energias de ordem mista: fadiga e doenças parasitárias;
▪ Sexologia médico-legal que vê a sexualidade do ponto de vista normal,
anormal e criminoso;
▪ Tanatologia médico-legal que analisa os mais diferentes conceitos de morte,
os direitos sobre o cadáver, o destino dos mortos, o diagnóstico de morte, o
tempo aproximado da morte, a morte súbita, a morte agônica e a
sobrevivência; a necropsia médico-legal, a exumação e o embalsamamento.
E, entre outros assuntos, ainda analisa a causa jurídica de morte e as lesões
in vita e post-mortem;
▪ Toxicologia médico-legal que estuda procedimentos periciais nos casos de
envenenamento.
▪ Asfixiologia médico-legal que detalha os aspectos das asfixias de origem
violenta, como esganadura, enforcamento, afogamento, estrangulamento,
soterramento, sufocação direta e indireta, e as asfixias produzidas por gases
irrespiráveis.

D. Abertura de Cavidades

Um exame externo do corpo é realizado antes de proceder a abertura das


cavidades. Nesse exame as vestes, quando presentes, são descritas e são
observados ferimentos, cicatrizes ou tatuagens. Também são anotadas as
características particulares do indivíduo como altura, situação da dentição, cor
dos olhos e cabelos e outras características de tipo físico. Nessa fase é
importante notar os sinais da realidade de morte como: rigidez, manchas de
hipóstase e temperatura, que dão indicações do tempo de morte.
Na observação das lesões, após as mesmas serem limpas, objetiva-se
determinar se elas foram feitas em vida – com reação vital – ou após a morte –
lesões branca4. E ainda, se elas apresentam características de serem lesões de
defesa, de tentativa de suicídio ou de maus tratos.
As técnicas utilizadas na abertura do corpo variam de acordo com as lesões
encontradas e interesse na visualização órgãos ou regiões do corpo específicas,
e podem ser2,10:

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▪ Técnica de Virchow: procede-se a retirada individual de cada órgão e eles
são pesados e examinados individualmente.
▪ Técnica de Ghon: faz a retirada dos órgãos em monoblocos anatômica ou
funcionalmente relacionados.
▪ Técnica de Letulle: retirada dos órgãos em bloco único.
▪ Técnica de Rokitanski: órgãos periciados in situ, um a um - cortes em todos
os órgãos ainda dentro do corpo e posterior retirada e avaliação dos órgãos
separadamente.
Em alguns casos é importante analisar características individuais da morte:
▪ Baleado: procura-se saber o trajeto do projétil no interior do corpo, e a
remoção dos projéteis deve ser feita com as mãos ou pinça plástica, nunca
com pinça metálica que pode prejudicar as características analisadas no
exame de balística;
▪ Carbonizado: examina-se a traqueia em busca de fuligem ou queimadura,
que indicam se a pessoa teve o corpo queimando antes ou depois de falecer;
▪ Avançado estado de decomposição: o exame fica bastante prejudicado,
então é preciso ter cuidado com os excessos de gases no interior do
organismo para não perfurar os órgãos;
▪ Enforcado ou esganado: faz-se a dissecção das artérias do pescoço e
também verifica integridade do osso hioide;
▪ Fetos: é realizado um exame específico para saber se houve respiração –
vida extrauterina – a Docimásia Hidrostática de Galeno3 na qual retira-se o
bloco respiratório por completo, com órgãos da boca, pescoço e vísceras
torácicas e colocados em recipiente com água; depois os pulmões
isoladamente, separados ainda dentro da água são analisados e então os
pulmões que não flutuam devem ser cortados em pedaços pequenos. Se não
ocorrerem flutuações, não houve respiração. O procedimento não é livre de
falhas e deve ser realizado com cautela, nos casos de flutuações é preciso
que o médico considere a respiração ou possíveis falsos negativos ou
positivos4.
Para abertura das cavidades os Auxiliares de Necropsia seguem os
procedimentos2,10:
▪ Cabeça: incisão bimastoidea, rebatimento do couro cabeludo, abertura da
calota craniana com auxílio de serra manual ou elétrica e exposição do
cérebro. A retirada do encéfalo deve ser feita com afastamento do cérebro
para expor a tenda do cerebelo e dos nervos ópticos, ponte e bulbo, que são
cortados para permitir a retirada de todo o conjunto. Depois desse processo
a dura-mater é retirada para expor a calota óssea.
▪ Pescoço, tórax e abdômen: incisão mentopubiana com rebatimento da pele
e dos músculos, sem abrir a cavidade diretamente para não permitir
extravasamento de líquido.

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o No pescoço é preciso evitar seccionar as artérias e veias, pois o
sangramento prejudica o exame.
o Para abertura do tórax utiliza-se o costótomo para retirar o plastrão
condro-esternal, com cuidado para não perfurar pulmões ou abrir o
saco pericárdio antecipadamente. Os pulmões e coração são retirados
contando-se o hilo pulmonar e grandes vasos, respectivamente.
o Seguindo a abertura do abdômen, com cuidado para não danificar o
fígado ou perfurar alças intestinais e acesso aos órgãos
individualmente.
Além do tamanho e característica de cada órgão examinado, o volume do
líquido presente na cavidade – quando houver – deve ser medido com auxílio de
uma concha e frasco graduado.

E. Coleta de Exames

A coleta de sangue, que deve ser feita com auxílio de agulha e seringa
estéreis, é realizada através de punção femoral, subclávia, jugular ou
intracardíaca e o material utilizado deve ser descartado em local apropriado. A
coleta de urina também deve ser feita com agulha e seringa estéreis através de
punção da bexiga após abertura da cavidade abdominal3.
Para cada tipo de exame, que pode ser pedido pelo médico ou delegado
responsável pelo caso, são indicados as seguintes quantidades e fluidos ou
pedaços órgãos3:
▪ Toxicológico: 40 a 50 ml de sangue ou urina, acondicionados separadamente
em frasco coletor universal estéril e guardar em freezer;
▪ Exame de alcoolemia: 4 ml de sangue e armazenagem em frasco do tipo
Vacuette próprio;
▪ Exame anatomopatológico: fragmentos viscerais com dimensões de 3 x 2 x
0,5 cm armazenados em frasco coletor universal estéril com fixador formol a
10% na proporção de 1 volume do fragmento / 10 volumes do fixador e
manter em temperatura ambiente;
▪ DNA: 4 ml de sangue em frasco do tipo Vacuette próprio ou fragmento ósseo
acondicionado em frasco coletor universal estéril e mantidos em freezer.
Sangue em cartão FTA ou swab oral, secos em temperatura ambiente em
local protegido de contaminação e armazenados em saco plástico com lacre.
▪ Pesquisa de espermatozoide: 2 swabs para cada local a ser examinado e
uma lâmina para cada swab para pesquisa de espermatozoide. O esfregaço
na lâmina deve ser feito logo após a coleta, antes da secagem do swab, e
tanto a ponta quanto toda a superfície lateral do swab devem entrar em
contato com a lâmina. As lâminas devem ser acondicionadas em frasco porta

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lâmina raiado e o swab, após seco, deve ser armazenado na própria
embalagem e colocado em plástico com lacre.
Os frascos de coleta e os plásticos com lacre devem conter, pelo menos, as
seguintes informações: Nome do periciando, Nome do perito médico-legista,
Nome da amostra, Exame solicitado, Data da coleta, Número de identificação
(B.O., número do laudo...).

F. Preservação do Corpo

A conservação do corpo é realizada para fazer com que a putrefação evolua


mais lentamente, possibilitando a remoção do cadáver para locais mais distantes
ou mesmo possibilitando velórios mais longos. Ela pode ser solicitada por
familiares, por exigências sanitárias ou para fins científicos.
A tanatopraxia, consiste na substituição do sangue por produto conservante,
e é realizada por profissionais que fizeram curso na área, pois requer
conhecimentos específicos. Para escolha da técnica e conservantes utilizados
são levados em consideração por quanto tempo o cadáver permanecerá
conservado, a presença de alterações externas e se a morte foi causada por
alguma doença infecciosa.

5. Da Teoria à Prática
A. Estudos e Formação Acadêmica

Apesar de muitos concursos não exigirem formação acadêmica específica,


algumas formações podem auxiliar no desempenho da carreira e valorizar ainda
mais o Auxiliar de Necropsia, como cursos técnicos em enfermagem, radiologia
e necropsia, por exemplo. A graduação em biologia, enfermagem, biomedicina,
fisioterapia e farmácia ou mesmo realização de pesquisas científicas nas áreas
de detecção de fármacos, entomologia forense, anatomia, bioquímica, fisiologia
e outras áreas da saúde podem trazer enriquecimento e facilidades para a rotina
profissional e instituição da qual ele faz parte.

B. Rotina de Trabalho

A rotina do Auxiliar de Necropsia pode seguir os seguintes passos:

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▪ Remover o corpo no local da ocorrência do óbito
▪ Retirar as documentações necessárias na delegacia responsável pelo caso
▪ Receber o corpo na instituição e conferir a documentação
▪ Proceder a identificação através de planilha dactiloscópica e legitimação
▪ Auxiliar o médico no exame necroscópico
▪ Preparar o corpo para reconhecimento pela família e acompanhar os
parentes durante o processo
▪ Conferir e organizar os documentos gerados no processo
▪ Liberar o corpo para o serviço funerário e acompanhar remoção do mesmo
▪ Preparar o corpo para velório, inclusive realizar as técnicas de preservação
do mesmo
▪ Fazer a manutenção do equipamento, estoque de EPI, limpeza do local e dos
EPIs

C. Estudo de caso

Os estudos de caso serão apresentados na aula com comentários sobra


as fotos exibidas.

6. Bibliografia
1- Dicionário de Sinônimos da Língua Portuguesa, 2011. Academia Brasileira de
Letras. Disponível on-line em:
http://www.academia.org.br/publicacoes/dicionario-de-sinonimos-da-lingua-
portuguesa
2- AVELAR, L. E. T.; BORDONI, L. S.; CASTRO, M. M. Atlas de Medicina Legal.
1. ed. Rio de Janeiro: MEDBOOK Editora Científica Ltda. 2014. 400 pp.
3- Manual de Rotinas, Instituto de Medicina Legal Leonídio Ribeiro, Polícia Civil
do Distrito Federal, 2014. Disponível on-line em:
http://www.tjdft.jus.br/institucional/corregedoria/MANUALDEROTINASIML.pdf
4- FRANÇA, G. V. Medicina Legal. 10. Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan. 2015. 748 pp.
5- Página da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo:
http://www.ssp.sp.gov.br/fale/institucional/answers.aspx?t=3
6- Edital de Concurso para Técnico em Anatomia e Necropsia da Universidade
Federal do Espírito Santo: http://progep.ufes.br/descricao-de-cargo/cargo-d-
tecnico-em-anatomia-e-necropsia
7- Polícia Civil de São Paulo: https://www.policiacivil.sp.gov.br
8- Polícia Civil do Espírito Santo: http://www.pc.es.gov.br/
9- Edital de Concurso para Serviços Técnicos Gerais de Campinas – SP
(SETEC): https://www.pciconcursos.com.br/concurso/setec-servicos-tecnicos-
gerais-de-campinas-sp-25-vagas

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10- PRESTES JR., L. C. L.; ANCILLOTTI, R. Manual de Técnicas em Necropsia
Médico-Legal. 1. Ed. Rio de Janeiro: Editora Rubio Ltda. 2009. 176 pp.
11- Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Antirretroviral Pós-
Exposição de Risco à Infecção pelo HIV, 2015. Disponível on-line em:
http://www.aids.gov.br/publicacao/2015/protocolo-clinico-e-diretrizes-
terapeuticas-para-profilaxia-antirretroviral-pos-ex-0
12- Fique sabendo – realização de testes para Infecções Sexualmente
Transmissíveis:
http://www.aids.gov.br/endereco_localizacao?city=&province=&tid=57
13- Código de Processo Penal: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689Compilado.htm
14- Resolução do Contran: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=96329
15- PUTZ, R.; PABST, R. Sobotta - Atlas de Anatomia Humana. 21. Ed. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan. 2000. 2 vols.
16- CROCE, D.; CROCE JR., D. Manual de Medicina Legal. 8. Ed. São Paulo:
Editora Saraiva. 2012. 864 pp.

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