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Através do ritual, a sociedade fica com a posse do corpo do indivíduo, é um ritual de

pertencimento. São os ritos de passagem são fundamentais para essas sociedades, pois
ordenam a vida social e religiosa desses povos. E a tortura faz parte desse ritual que é aceito
por toda a sociedade, inclusive pelos jovens que recebem essa tortura, esses jovens recebem
esse sofrimento em silêncio, pois aceita esse ritual como legítimo. As sociedades, nesses
rituais, marcam o corpo do indivíduo para sinalizar a sua pertença ao grupo. O corpo é uma
memória, o sofrimento imprime esse sinal na memória do indivíduo, uma recordação
desagradável, é difícil sair da memória, e principalmente quando o corpo carrega essa marca
pelo resto da vida, fazendo o indivíduo lembrar a qualquer hora o poder dessa sociedade que
ele pertence.

As funções do sofrimento nas sociedades primitivas são avaliar a resistência pessoal, significar
um pertencimento social, e principalmente igualar todos os indivíduos pertencentes ao grupo.
A lei primitiva é uma proibição à desigualdade, as marcas inseridas nos corpos das pessoas
afirmam que todos são iguais, e que não pode haver divisão.

Por esses parâmetros as sociedades indígenas deixam de ser tomadas como infância das
sociedades modernas, cuja organização política seria mais complexa e por isso “superior”. As
sociedades indígenas não são simplesmente sociedades “sem” Estado, mas sim sociedades
“contra” o Estado. Isto é, reconhecem a possibilidade de emergência de um poder político
atrelado ao exercício da coerção e violência, e o recusam em nome da liberdade.

A violência nas sociedades indígenas não é monopolizada pelo Estado, mas controlada pela
própria sociedade. Os ritos de iniciação, fortemente marcos pela intervenção no corpo e pela
dor, são mecanismos de inscrição da lei e memória social nos indivíduos.

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