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REMÉDIOS E

TRATAMENTOS
NA
MEDICINA
AYURVÉDICA
PARA DOENÇAS
COMUNS
REMÉDIOS E
TRATAMENTOS
NA
MEDICINA
AYURVÉDICA
PARA DOENÇAS
COMUNS

Dr. Bhagwan Dash, Ph.D.

Traduzido por:
Williams Ribeiro de Farias
Dra. Yeda Ribeiro de Farias

EDITORA CHAKPORI

2
Título Original: “Ayurvedic Remedies – Ayurvedic Cures
For Common Diseases”

Direitos autorais adquiridos por:


EDITORA CHAKPORI

3
ÍNDICE

ÍNDICE ............................................................................................. 4

INTRODUÇÃO ................................................................................ 8

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO AYURVEDA .................... 10

PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO AYURVÉDICO ................... 26

CONDUTA PARA O HORÁRIO DIURNO .................................. 34

FEBRES .......................................................................................... 44
GRIPE ........................................................................................... 44
MALÁRIA ...................................................................................... 48
SARAMPO ..................................................................................... 52
CAXUMBA..................................................................................... 53
FILARIOSE..................................................................................... 54
DOENÇAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO ............................... 57
ASMA BRÔNQUICA ........................................................................ 57
BRONQUITE .................................................................................. 60
HEMOPTISE ................................................................................... 64
SOLUÇOS ...................................................................................... 64
PLEURITE ...................................................................................... 65
TUBERCULOSE .............................................................................. 67
DOENÇAS DA PELE E DOS CABELOS ..................................... 72
CALVÍCIE ...................................................................................... 72
ECZEMAS ...................................................................................... 74

4
BRANQUEAMENTO DOS CABELOS .................................................. 76
LEUCODERMIA.............................................................................. 79
BROTOEJAS .................................................................................. 81
PSORÍASE ..................................................................................... 82
TINHA .......................................................................................... 84
ESCABIOSE ................................................................................... 85
URTICÁRIA ................................................................................... 86
DOENÇAS DO SANGUE E DO SISTEMA

CARDIOVASCULAR .................................................................... 90
ANEMIA ....................................................................................... 90
CARDIOPATIAS – ANGINA PECTORIS .............................................. 94
HIPERTENSÃO ............................................................................... 97
ICTERÍCIA ................................................................................... 103
EDEMA ....................................................................................... 105
ESCORBUTO................................................................................ 107
DOENÇAS OCULARES ............................................................. 110
CATARATA ................................................................................. 110
MIOPIA....................................................................................... 112
TERÇOL ...................................................................................... 115
DOENÇAS DOS ÓRGÃOS GENITAIS...................................... 117
ESTERILIDADE FEMININA ............................................................ 117
LEUCORRÉIA .............................................................................. 120
ESTERILIDADE MASCULINA ......................................................... 123
MENORRAGIA ............................................................................. 127
MENSTRUAÇÃO DOLOROSA ........................................................ 128
DOENÇAS PSÍQUICAS E DOENÇAS DO SISTEMA

NERVOSO................................................................................... 132
CÃIBRAS .................................................................................... 132
EPILEPSIA ................................................................................... 134
PARALISIA FACIAL ...................................................................... 137
PERDA DA MEMÓRIA .................................................................. 139
HISTERIA .................................................................................... 141
5
ESQUIZOFRENIA .......................................................................... 143
CIATALGIA.................................................................................. 145
INSÔNIA ...................................................................................... 148
DOENÇAS DO SISTEMA DIGESTIVO..................................... 151
DISENTERIA AMEBIANA ............................................................... 151
CIRROSE HEPÁTICA ..................................................................... 153
CÓLICAS ..................................................................................... 155
ÚLCERA DUODENAL.................................................................... 158
FLATULÊNCIA ............................................................................. 160
GASTRITE ................................................................................... 162
HEMATÊMESE ............................................................................. 164
INDIGESTÃO ................................................................................ 164
DIARRÉIA INFANTIL ..................................................................... 167
HEMORRÓIDAS............................................................................ 171
SÍNDROME DO ESPRU .................................................................. 172
SEDE........................................................................................... 176
VÔMITOS .................................................................................... 177
PARASITAS INTESTINAIS .............................................................. 179
CONSTIPAÇÃO CRÔNICA .............................................................. 180
DOENÇAS METABÓLICAS, ENDÓCRINAS E

ARTICULARES ........................................................................... 185


ESPONDILOSE CERVICAL.............................................................. 185
DIABETES ................................................................................... 188
BÓCIO......................................................................................... 190
GOTA.......................................................................................... 192
LOMBALGIA ................................................................................ 193
OBESIDADE ................................................................................. 194
REUMATISMO.............................................................................. 198
ARTRITE REUMATÓIDE ................................................................ 200
DOENÇAS DO SISTEMA URINÁRIO ...................................... 203
ENURESE NOTURNA ..................................................................... 203
DISÚRIA...................................................................................... 206
NEFRITE...................................................................................... 210
HIPERTROFIA DA PRÓSTATA ........................................................ 211
6
CÁLCULOS RENAIS ...................................................................... 213
HEMATÚRIA ............................................................................... 215
DOENÇAS DOS OUVIDOS , NARIZ E GARGANTA .............. 217
EPISTAXE ................................................................................... 217
GLOSSITE ................................................................................... 220
ROUQUIDÃO ............................................................................... 221
OTITE ......................................................................................... 222
PIORRÉIA.................................................................................... 223
ESPIRROS ................................................................................... 225
ESTOMATITE............................................................................... 227
AMIGDALITE .............................................................................. 229
DOENÇAS DA CABEÇA ............................................................ 232
CEFALÉIA ................................................................................... 232
ENXAQUECA............................................................................... 235
MEDICAMENTOS AYURVÉDICOS PARA O
PLANEJAMENTO FAMILIAR.................................................. 238

7
INTRODUÇÃO

A palavra Ayurveda é composta de dois termos, Ayush que


significa vida e Veda que significa conhecimento ou ciência.
Portanto, etmologicamente, Ayurveda significa a ciência da vida ou
Biologia. Além da medicina, vários outros aspectos da vida são
abordados pelo Ayurveda. Sob uma perspectiva mais ampla, inclui
a saúde e o tratamento das doenças dos animais e também das
plantas. Assim, na Índia antiga, havia matérias especializadas
como Ashva Ayurveda (para o tratamento dos cavalos), Gaja
Ayurveda (para o tratamento de bois) e Vriksha Ayurveda (para o
tratamento das doenças das plantas). Tratados sobre estas
ciências foram escritos por eminentes estudiosos como Nakula,
Shalihotra e Parashara.
O Ayurveda fornece procedimentos racionais de tratamento
para muitas doenças que são consideradas crônicas e incuráveis
por outros sistemas de medicina. Simultaneamente, enfatiza a
manutenção da saúde positiva de um indivíduo. Isto auxilia tanto
na prevenção quanto na cura das doenças. O Ayurveda estuda
também a natureza básica do ser humano, e as necessidades
naturais como a fome, a sede, o sono, o sexo, etc., e fornece
medidas para a adoção de um modo de vida disciplinado e livre
das doenças.
A prática do Ayurveda caiu em desuso após as repetidas
invasões que aconteceram na Índia. Os trabalhos originais foram

8
destruídos, e os charlatões prosperaram, introduzindo
modificações não autorizadas no sistema.
No final do século XIX e início do século XX, as pessoas
começaram a pensar no desenvolvimento do Ayurveda. Este
pensamento ganhou ímpeto com o movimento swadeshi. Muitos
comitês de especialistas foram constituídos pelo Governo para
investigar os problemas desta ciência e sugerir medidas para
resolvê-los. Após a independência, o Governo nacional mostrou
profundo interesse em colocar os negócios do Ayurveda em linhas
científicas e desenvolvê-lo de forma que muitas universidades,
consultórios, hospitais e farmácias ayurvédicas foram
estabelecidas em diferentes partes do país.
Este manual fornece uma análise geral da teoria e prática
do Ayurveda. Direcionado para a família, a ênfase deste trabalho é
para o tratamento geral das doenças comuns que pode ser
administrado em casa. A parte teórica deste livro é, portanto, breve
e não técnica. Tenho profunda esperança de que os leitores
achem esta publicação útil em seu dia-a-dia.

Dr. Bhagwan Dash


New Delhi, Índia

9
Capítulo 1

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO
AYURVEDA

O corpo humano, de acordo com o Ayurveda, é composto


de três elementos fundamentais denominados doshas, dhatus e
malas. Os doshas governam as atividades fisiológicas e físico-
químicas do corpo. Os dhatus entram na formação da estrutura
básica de cada célula do corpo, realizando através disso, algumas
ações específicas. Os malas constituem substâncias que são
parcialmente utilizadas pelo corpo e parcialmente excretadas de
uma forma modificada depois de exercerem suas funções
fisiológicas. Estes três elementos estão em um equilíbrio dinâmico
uns com os outros para promover a manutenção da saúde.
Qualquer desequilíbrio ou predominância de um deles resulta em
doença ou sofrimento.

Pancha Mahabhutas
O homem possui cinco sentidos e através destes sentidos ele
percebe o mundo exterior de cinco maneiras diferentes. Os órgãos
dos sentidos são os ouvidos, a pele, os olhos, a língua e o nariz.
Através destes órgãos sensoriais, o objeto externo não é apenas
percebido, mas também absorvido para dentro do corpo humano
10
na forma de energia. Eles são a base na qual todo o universo está
dividido, agrupado ou classificado, de cinco maneiras diferentes,
sendo conhecidos como os cinco Mahabhutas1. São denominados
akasa (céu), vayu (ar), agni (fogo), jala (água) e prithvi (terra). Os
equivalentes em língua Ocidental, no entanto, não possuem a
conotação correta e a totalidade das implicações destes termos.
Por exemplo, a água comum não contém apenas jala mahabhuta,
mas é composta de todos os cinco mahabhutas. É a força de
coesão ou o poder de atração que é inerente em jala ou na água,
sendo esta a principal característica de jala mahabhuta. Da
mesma forma, o ar não é apenas vayu mahabhuta, mas contém os
elementos que pertencem aos demais mahabhutas também. Por
exemplo, o oxigênio estará mais próximo de agni mahabhuta e o
hidrogênio, mais próximo de jala mahabhuta.
A física e a química modernas dividem a matéria disponível
no universo em alguns elementos básicos. Estes elementos
diferem uns dos outros em certos aspectos. Todos estes
elementos podem ser classificados em cinco categorias de
mahabhutas. Por outro lado, cada átomo possui os aspectos
característicos de todos os cinco mahabhutas. Os elétrons,
pósitrons, nêutrons, etc. presentes dentro dos átomos,
representam prithvi mahabhuta. A força ou coesão que os mantém
atraídos entre si é um atributo característico de jala mahabhuta. A
energia produzida no interior do átomo quando este é rompido e a
energia que permanece latente, na forma integral, representam
atributos de agni mahabhuta. A força de movimento dos elétrons
representa o aspecto característico de vayu mahabhuta e o
espaço no qual se movem é o atributo primário de akasha
mahabhuta.

1 Os cinco “elementos” ou conceitos fundamentais formadores do Universo.


11
Diferentes escolas de filosofia tentaram explicar a teoria dos
Pancha Mahabhutas de diferentes maneiras. Enquanto algumas
explicações são basicamente as mesmas, outras são amplamente
diferentes. No entanto, todas as escolas de filosofia teológica
possuem um fundamento comum em sua crença na criação do
universo através dos Pancha Mahabhutas. Entre as demais
escolas de filosofia, algumas, como a de Charvaka, não acreditam
na existência do quinto mahabhuta, ou seja, akasha, porque não é
perceptível ao sentido da visão comum. No entanto, o Ayurveda é
muito claro sobre este assunto e baseia-se na teoria do Pancha
Mahabhuta.
De acordo com o Ayurveda, o corpo de um indivíduo é
composto de cinco mahabhutas. Da mesma forma, nas outras
formas materiais também existem cinco mahabhutas. No corpo
humano, estes cinco mahabhutas estão representados na forma
dos doshas, dhatus e malas. Fora do corpo, eles formam os
ingredientes básicos das drogas e dos alimentos. Os atributos
característicos dos cinco mahabhutas são explicados em termos
dos sabores ou rasa, das qualidades ou gunas, das potências ou
viryas e dos sabores que se manifestam após a digestão e o
metabolismo da substância, ou vipaka.
No corpo normal de um ser vivo, estas substâncias
permanecem em uma determinada proporção. Entretanto, por
causa da ação enzimática no interior do corpo humano, esta razão
entre os cinco mahabhutas, ou o seu equilíbrio, torna-se alterado.
O corpo, no entanto, possui a tendência natural de manter o
equilíbrio. Desta forma, ele elimina alguns dos mahabhutas que
estão em excesso e absorve outros mahabhutas que estejam
deficientes. Este déficit de mahabhutas é preenchido com os
ingredientes que compõem os alimentos, as bebidas, o ar, o calor,
a luz do sol, etc. O processo pelo qual os Pancha mahabhutas

12
exógenos são convertidos em Pancha mahabhutas endógenos
será discutido em um estágio posterior.
Mesmo durante o processo da morte, estes cinco bhutas
representam um papel muito importante. Eles podem ser
separados em duas formas diferentes denominadas, literalmente,
de forma grosseira e forma sutil. As cinco categorias de
mahabhutas sutis no interior do corpo impregnam os cinco
sentidos por cinco vezes e, então, eles se separam destes cinco
sentidos, ocorrendo assim a morte. O corpo morto perde os cinco
sentidos e torna-se composto, portanto, apenas dos cinco
mahabhutas grosseiros.

O conceito dos Tridoshas


Como descrito anteriormente, no interior do corpo existem três
doshas que governam as atividades físico-químicas e fisiológicas.
Estes três doshas são denominados vayu, pitta e kapha. Os
equivalentes mais próximos a estes termos em língua Ocidental
são ar, bile e fleuma.
Todos os constituintes do corpo são derivados dos cinco
mahabhutas. Portanto, os doshas também são compostos de
cinco mahabhutas. Todos os doshas possuem todos os cinco
mahabhutas em sua composição. O dosha vayu é dominado pelos
mahabhutas akasha (espaço) e vayu (ar). No dosha pitta
predominam o mahabhuta agni (fogo) e no dosha kapha
predominam os mahabhutas jala (água) e prithvi (terra).
A doutrina dos doshas representa um importante papel no
Ayurveda considerando que eles formam a base para a
manutenção da saúde positiva e para o diagnóstico, assim como
para o tratamento das doenças. Uma correta apreciação desta
doutrina é, portanto, essencial para a adequada compreensão e
avaliação da teoria e prática do Ayurveda. Quando estão em seu
estado natural, sustentam o corpo e qualquer distúrbio em seu
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equilíbrio resulta em doença e sofrimento. Estes três doshas
penetram em todo o corpo. Há, no entanto, alguns elementos ou
órgãos do corpo nos quais eles estão primariamente localizados.
Por exemplo, a bexiga, os intestinos, a região pélvica, as coxas,
pernas e ossos são primariamente sítios de vayu. Os sítios
primários de pitta são a linfa, o suor, o sangue e o estômago. Da
mesma forma, os sítios primários de kapha são o tórax, a cabeça,
o pescoço, as articulações, a porção superior do estômago e o
tecido adiposo. Cada um destes três doshas são novamente
divididos em cinco tipos. Estas cinco divisões representam apenas
cinco diferentes aspectos dos mesmos doshas e deve ficar claro
que não constituem cinco diferentes entidades no corpo.
As localizações e as funções destas divisões de vayu, pitta
e kapha são fornecidas na tabela abaixo.

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Doshas Localização Função normal Doenças causadas
pelo desequilíbrio
VAYU
1. Prana Coração Respiração e Soluços, bronquite,
deglutição asma, resfriado,
rouquidão
2. Udana Garganta Fala e voz Várias doenças dos
olhos, ouvidos, nariz
e garganta
3. Samana Estômago e Auxilia na ação Indigestão, diarréia
Intestino das enzimas e falhas na
delgado digestivas, na assimilação
assimilação dos
produtos finais da
digestão e na
separação em
seus vários
elementos
teciduais

4. Apana Cólon e órgãos Eliminação de Doenças da bexiga,


pélvicos fezes, urina, do ânus, dos
sêmen e sangue testículos, doenças
menstrual urinárias crônicas,
incluindo diabetes
5. Vyana Coração Auxilia na função Dificuldade na
de circulação dos circulação dos
canais, como os canais e doenças
vasos sangüíneos como febre e
diarréia

15
PITTA
1. Pachaka Estômago e Digestão Indigestão
intestino
delgado
2. Ranjaka Fígado, baço e Formação do Anemia, icterícia,
estômago sangue etc.
3. Sadhaka Coração Memória e outras Distúrbios psíquicos
funções mentais
4. Alochaka Olhos Visão Dificuldades visuais
5. Bhrajaka Pele Coloração e Leucoderma e
revestimento da outras doenças de
pele pele

KAPHA
1. Kledaka Estômago Umedece o Dificuldades na
alimento, digestão
auxiliando a
digestão
2. Avalambaka Coração Energia para os Preguiça
membros
3. Bodhaka Língua Percepção do Deficiência do
sabor paladar
4. Tarpaka Coração Nutrição dos Perda da memória e
órgãos sensoriais falha na função dos
órgãos sensoriais
5. Sleshaka Articulações Lubrificação das Dor nas articulações
articulações e falha na função
articular

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Pode-se observar através da apresentação acima que os
doshas e suas divisões estão localizados em quase todos os
órgãos vitais do corpo e regulam todas as funções do corpo e da
mente.
Durante as diferentes estações do ano, estes doshas
passam por certas mudanças. Por exemplo, vayu torna-se
desequilibrado no final do verão. Pitta torna-se desequilibrado
durante o outono e kapha tende a se desequilibrar durante a
primavera. Se determinadas precauções não forem tomadas
durante estas estações a pessoa expõe-se a certas doenças
causadas por estes doshas. As precauções a serem tomadas
nestas estações serão descritas posteriormente. Nos textos
clássicos do Ayurveda, sugere-se que para promover a saúde
positiva e prevenir a ocorrência de doenças, a pessoa deve
submeter-se a um enema medicinal no final do verão, a uma
purgação durante o outono e a uma terapia emética durante a
primavera.

Conceito de Sapta Dathu


Os elementos teciduais básicos do corpo são conhecidos como
dhatus no Ayurveda. O termo dhatu significa, etmologicamente,
aquele que ajuda o corpo ou que entra na formação da estrutura
básica do corpo como um todo. Os dhatus são sete e estão
relacionados a seguir:
1. Rasa ou quilo, inclui a linfa.
2. Rakta ou a fração hemoglobínica do sangue.
3. Mamsa ou tecido muscular.
4. Medas ou tecido adiposo.
5. Asthi ou tecido ósseo.
6. Majja ou medula óssea

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7. Sukra ou tecido regenerativo, esperma no homem e óvulo na
mulher.
Estes sete dhatus são compostos dos cinco mahabhutas.
- Prithvi mahabhuta (terra) predomina nos tecidos muscular e
adiposo.
- Jala mahabhuta (água) predomina na linfa e no quilo.
- Tejas mahabhuta (fogo) constitui a fração hemoglobínica do
sangue.
- Vayu mahabhuta (ar) compõe o osso.
- Akasha mahabhuta (espaço) compõe os poros no interior do
osso.
Deve estar claro, no entanto, que todos os sete dhatus são
compostos de todos os cinco mahabhutas e apenas os
mahabhutas predominantes foram descritos acima. Estes dhatus
permanecem no interior do corpo humano em uma proporção
particular, e qualquer alteração em seu equilíbrio leva à doença e
ao sofrimento.

Conceito de Mala
As fezes, a urina e o suor são três importantes malas
reconhecidos no Ayurveda. São produtos residuais do corpo e sua
eliminação apropriada é essencial para a manutenção da saúde do
indivíduo. Afirma-se que as fezes são compostas apenas de
resíduos da alimentação ingerida pelo indivíduo, mas, na verdade,
elas contém substâncias que são eliminadas dos tecidos celulares
do corpo. A evacuação adequada é, portanto, essencial para a
manutenção dos tecidos em seu estado de saúde perfeita. Se
houver eliminação inadequada, as doenças ocorrem não apenas
no trato gastrointestinal, mas também em outras partes do corpo.
Nas doenças como a lombalgia, o reumatismo, a ciatalgia e a
paralisia, e mesmo bronquite e asma, as precauções para
assegurar uma adequada eliminação das fezes são essenciais
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antes de se iniciar qualquer tratamento ayurvédico. Se não for
adequadamente evacuado, este mala fornece um ambiente
propício para o crescimento de diferentes tipos de microrganismos
intestinais e isto, às vezes, afeta o crescimento de algumas
bactérias amigáveis no cólon que auxiliam na síntese de
substâncias úteis ao corpo.
A urina é outro produto residual através da qual muitos
resíduos corporais são eliminados. Mesmo que a pessoa com
excesso de micções seja considerada doente, no Ayurveda
aconselha-se que uma quantidade adequada de água deva ser
ingerida, tanto no verão como no inverno, de forma que ocorram
no mínimo seis micções durante do período diurno. A sudorese é
essencial para a manutenção da saúde da pele. Exercícios
apropriados, terapias como fomentação e certas drogas ajudam o
organismo a transpirar e através da transpiração uma grande
quantidade de produtos residuais é eliminada do corpo.
Normalmente, as fezes, a urina e a sudorese possuem
cheiro desagradável. Mas, eventualmente, o odor torna-se
intolerável e o indivíduo precisa tomar certos medicamentos para
corrigir este mau cheiro.

Srotas ou Canais de Circulação


O corpo inteiro é composto de muitos tipos de canais de circulação
através dos quais os elementos teciduais básicos, os doshas e
alguns produtos residuais circulam ou se movem de um local para
o outro constantemente e continuamente. Para o adequado
funcionamento do organismo, é necessário que estes canais
permaneçam perfeitos e que o processo de circulação continue
ininterruptamente. Uma das mais importantes funções destes
canais é transportar os produtos dos alimentos do trato
gastrointestinal e torná-los disponíveis aos elementos teciduais
básicos, ajudando em sua nutrição. Em resumo, incluem todos os
19
grandes canais do corpo como o trato gastrointestinal, as artérias,
os vasos linfáticos e o trato gênito-urinário, que são
macroscópicos, até os minúsculos capilares que são
microscópicos.
O Ayurveda reconhece 13 canais no corpo humano. Estes
srotas ou canais de circulação representam um importante papel
no advento da doença. Se o movimento ou a circulação nestes
canais é interrompida ou bloqueada por fatores internos ou
externos, isto resulta no acúmulo das substâncias que estão sendo
transportadas naquele canal em particular e o metabolismo no
tecido é afetado, dando origem, portanto, a produtos imaturos ou
não metabolizados. Estes produtos incompletamente
metabolizados não se acumulam apenas no local, mas podem
circular através de todo o corpo sendo desviados para outros
canais que ainda estejam funcionando. Estas substâncias
bloqueiam as atividades daqueles canais, resultando na
manifestação de uma doença. Para conservar os canais em
perfeito estado ou em condições adequadas de funcionamento,
muitas prescrições e proibições são apresentadas nos textos
ayurvédicos. Algumas destas recomendações dizem respeito ao
horário das refeições, à eliminação das fezes, ao atendimento das
necessidades naturais do corpo e aos exercícios físicos.

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Digestão e Metabolismo
O alimento que vem do mundo externo ao corpo deve ser triturado,
absorvido e assimilado. Uma substância heterogênea deve ser
transformada em homogênea. Os fatores responsáveis por estas
atividades no corpo são conhecidos como agnis. Eles representam
os vários tipos de enzimas que atuam no trato gastrointestinal, no
fígado e nos tecidos celulares. Quando os doshas do corpo estão
em um estado de equilíbrio, estes agnis ou enzimas funcionam
normalmente. No entanto, quando há qualquer distúrbio neste
equilíbrio, ocorre um bloqueio nas funções destes agnis.
Os quatro estados dos agnis estão resumidos abaixo:

Estado do Agni Sintomas Observações


1 2 3
1. Vishamagni Algumas vezes digere Um estado irregular de agni
lentamente, algumas vezes surge como resultado da
normalmente e outras vezes influência de vata, em uma
ainda, produz adhamana condição denominada
(distensão abdominal), vishamagni. Neste estado,
shula (cólicas), udavarta algumas vezes o processo
(movimento ascendente de de digestão completa-se e
vayu estômago), atisara em outras, produz distensão
(diarréia), jathara (ascites), abdominal, dores em
gaurava (sensação de peso), cólicas, constipação,
antrakujana (ruídos disenteria, ascites, peso nos
abdominais), pravahana membros e mesmo a perda
(disenteria). do controle dos movimentos.

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1 2 3
2. Tikshnagni Digere grandes quantidades A ação do jatharagni neste
de tudo, até mesmo em estado é influenciado
freqüentes refeições. Após apredominantemente por
digestão produz gala shosha pitta. O agni nesta condição
e daha (garganta seca), é considerado
oshtha shosha e daha excessivamente estimulado
(lábios secos), talushosha ee, portanto, é conhecido
daha (palato seco) e santapacomo tikshnagni. Neste
(sensação de queimação) estado, o agni digere
facilmente mesmo alimentos
pesados, em pouco espaço
de tempo. Causa fome voraz
– uma condição geralmente
denominada atyagni (ou
bhasmaka por certos
especialistas). Possibilita a
um glutão digerir todas as
suas freqüentes refeições.
3. Mandagni Não consegue digerir Este é um estado no qual a
adequadamente, mesmo a ação do jatharagni é
dieta normal causando udara considerada inibida devido a
gaurava (sensação de peso influência dominante de
no abdome), shiro gaurava kapha. Portanto, neste
(sensação de peso na estado o agni é conhecido
cabeça), kasa (tosse), como mandagni. Neste
shvasa (dispnéia), praseka caso, o agni é incapaz de
(salivação), chhardi digerir e metabolizar mesmo
(vômitos) e gatra sadana pequenas quantidades de
(fraqueza no corpo) qualquer alimento facilmente
digerível.

22
1 2 3
4. Samagni Digere adequadamente a No bem equilibrado estado
dieta normal. de funcionamento dos
tridoshas, o jatharagni
também está com sua
função normalizada. Este
estado tem sido descrito
como samagni. Em outras
palavras, quando os
tridoshas estão em um
estado equilibrado de
funcionamento, jatharagni
assegura a completa
digestão do alimento, no
período apropriado, sem
quaisquer irregularidades.

O conceito de agni no Ayurveda, que se refere a múltiplas


funções relacionadas com pitta, é prontamente compreensível.
Inclui não apenas os agentes químicos responsáveis pelo
aharapachana no kashtha (corresponde à digestão
gastrointestinal), que leva à separação do sarabhaga (fração
nutritiva) do ahara (alimento) de seu kittabhaga (resíduo não
digerível do alimento), mas também por eventos metabólicos –
síntese de energia e manutenção do metabolismo. Além disso,
compreende os processos de foto e quimiossíntese. Pachaka pitta,
conhecido às vezes como jatharagni, koshthagni, antaragni,
pachakagni e dehagni, quando localizado em seu próprio sítio, em
uma área entre amashaya e pakvashaya, participa diretamente na
digestão do alimento e ao mesmo tempo dá suporte e incrementa
a função dos demais pittas presentes em outros lugares do corpo,
ou seja, ranjaka (fígado, baço e estômago), sadhaka (coração),
alochaka (olhos) e bhrajaka (pele). Acredita-se que pachaka pitta
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contribua com metade de sua totalidade para a ação dos sete
dhatvagnis (enzimas localizadas nos elementos teciduais), e
sustenta e eleva a função destes últimos.
 Diferentes tipos de Agnis:
1 Tipo de Jatharagni
5 Tipos de Bhutagnis e
7 Tipos de Dhatvagnis.
O Jatharagni refere-se ao fenômeno da digestão
gastrointestinal.
Os Bhutagnis auxiliam na transformação dos Mahabhutas
externos em Mahabhutas internos. A função dos Bhutagnis é
tornar homólogos os Mahabhutas exógenos. Os dhatvagnis ou
enzimas estão localizados nos tecidos do corpo. Eles auxiliam na
assimilação e na transformação do material nutriente recebido
depois da transformação pelos Bhutagnis em substâncias
homólogas aos elementos teciduais.
O Ayurveda coloca muita ênfase em todos estes agnis de
forma que todos são tratados como sinônimos de corpo físico.
Antes de iniciar um tratamento para qualquer doença, os
problemas com estes agnis são localizados e esforços são
despendidos para corrigi-los. A maioria dos medicamentos
utilizados no Ayurveda contém substâncias que estimulam o
funcionamento destas enzimas em diferentes níveis. Algumas
terapias de eliminação são também prescritas no Ayurveda tendo
em vista a limpeza dos canais de circulação e a remoção dos
produtos residuais neles acumulados. Este procedimento ajuda no
adequado funcionamento dos agnis.
Na infância, o estado dos agnis é moderado e com a idade
o poder dos agnis aumenta, resultando em melhor digestão e
metabolismo. Isto auxilia no processo de crescimento do corpo.
Após os 40 anos, o poder dos agnis permanece estável até que o
indivíduo alcance os 60. Após os 60, seu poder declina. Os tecidos
24
corporais não conseguem nutrição adequada, reduzem-se em
número, tamanho e qualidade. Isto dá origem ao processo de
envelhecimento.
Quando o indivíduo morre, o funcionamento das enzimas se
interrompe. Através da Terapia de rejuvenescimento dirige-se o
procedimento para rejuvenescer e revitalizar estas enzimas de
forma que elas possam manter ou aumentar suas atividades. Isto
ajudará a prevenir o envelhecimento e as doenças associadas ao
mesmo.
Os alimentos que ingerimos se convertem em diferentes
elementos teciduais e para todos estes tecidos há um tempo
necessário para esta conversão. Este tempo de conversão dos
alimentos em um tipo particular de tecido pode ser alterado
através do uso de alguns medicamentos. Por exemplo, se o agni
ou as enzimas forem estimuladas através de certas ações, os
afrodisíacos ou estimulantes sexuais aumentam a produção de
esperma e óvulo a partir dos ingredientes dos alimentos.
A doença é causada pela obstrução dos canais de
circulação. A obstrução é causada pelo acúmulo de produtos
residuais. Estes produtos residuais ou material não digerido (no
Ayurveda diz-se também material não cozido pelas enzimas
digestivas) podem ser convertidos ou eliminados se os agnis ou
enzimas responsáveis aí localizadas são estimulados. Esta é a
função da maioria dos medicamentos ayurvédicos e esta é
maneira como as doenças são controladas e curadas.

25
Capítulo 2

PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO
AYURVÉDICO

Os doshas, denominados vayu, pitta e kapha, estão


distribuídos em todo o corpo. Eles regulam as funções de todos as
células teciduais e estão presentes em cada uma delas. Quando o
esperma e o óvulo unem-se no útero da mãe para formar um
zigoto, os doshas presentes neles e fora deles, no útero,
produzem certos aspectos característicos que na terminologia
ayurvédica são conhecidos como prakriti. Se todos os doshas
estão em um estado de equilíbrio, geram um feto saudável, e a
criança nascida deste feto leva uma vida muito saudável. Se os
doshas estão em um estado muito desequilibrado, podem tanto
evitar a concepção, não permitir que o zigoto se desenvolva
quanto resultar em malformações. Se, no entanto, um ou dois
doshas estão em excesso, dão origem a um tipo de constituição
física e temperamento psíquico no indivíduo nascido destes
doshas alterados. Estas características do corpo e da mente
permanecem com o indivíduo durante toda sua vida. Não sofrem
alterações e qualquer sinal de mudança nestas características é

26
sinal de morte. Sete tipos de prakriti2 são reconhecidos no
Ayurveda, com suas características específicas.
Para o tratamento ayurvédico, o conhecimento do prakriti é
muito importante. Por exemplo, uma pessoa que seja vata prakriti
é sempre muito provável que adquira uma doença do tipo vatika,
sendo que as doenças de outros tipos não lhe trazem muitos
problemas, ou são facilmente curáveis. Para prevenir a ocorrência
de doenças, o indivíduo que possui vata prakriti deve evitar
constantemente alguns fatores que agravam vata e recorrer a
alimentos, bebidas e condutas que aliviem vata. Alimentos oleosos
e picantes em geral vão satisfazê-lo, enquanto que uma pessoa
pitta prakriti vai achar mais adequada a ingestão e as condutas
frias. Da mesma forma com os medicamentos: para um paciente
pitta prakriti devem ser administrados drogas frias e um paciente
kapha prakriti deve receber medicamentos que aqueçam,
possuindo características como amargor, secura, aspereza, etc. O
quinino, por exemplo, pode ser prescrito seguramente para um
paciente kapha prakriti, não será muito adequado para um
indivíduo vata prakriti e será prejudicial se for administrado em um
paciente pitta prakriti.

Composição das Drogas


Como outras coisas no universo, uma droga é composta dos cinco
mahabhutas, ou seja, akasha, vayu, tejas, jala e prithvi. É difícil
precisar a composição bháutika de uma droga apenas através da
análise de sua aparência física. Esta composição bháutika deve
ser verificada com base no sabor destas drogas. Por exemplo, se
uma droga possui o sabor doce, deve-se deduzir que há uma
predominância dos mahabhutas prithvi (terra), jala (água) e agni

2Ver “Fundamentos da Medicina Ayurvédica”, Dr. Bhagwan Dash, Editora


Chakpori, 1998.
27
(fogo). Se possuir um sabor salgado, predominam os mahabhutas
prithvi (terra) e agni (fogo). Se possuir sabor picante, é dominado
pelos mahabhutas agni (fogo) e vayu (ar). Se tiver sabor amargo, é
dominado pelos mahabhutas vayu (ar) e akasha (espaço) e se
tiver sabor adstringente, predominam os mahabhutas prithvi (terra)
e vayu (ar).
Como foi descrito anteriormente, os doshas no corpo
também são compostos destes cinco mahabhutas, ou seja, kapha
é dominado pelos mahabhutas prithvi (terra) e jala (água), pitta é
dominado pelo mahabhuta agni (fogo) e vayu é dominado pelos
mahabhutas vayu (ar) e akasha (espaço)
Se uma doença for causada por um desequilíbrio de kapha
dosha, então pode-se prescrever bebidas e drogas que tenham
menor proporção dos mahabhutas prithvi (terra) e jala (água), e
maior proporção de agni (fogo), vayu (ar) e akasha (espaço).
Sendo assim, drogas com sabor picante, amargo e adstringente (o
último apenas parcialmente) contém estes três mahabhutas.
Portanto, medicamentos com estes sabores (picante, amargo e
adstringente) são administrados ao paciente portador de uma
doença dominada por kapha dosha. A mesma regra prevalecerá
na seleção de drogas para doenças causadas por outros doshas
também.
O exposto acima é apenas uma breve explicação da ação
das drogas ayurvédicas. Há muitos outros fatores que são levados
em consideração durante a seleção de uma droga. São eles: os
atributos (gunas), a potência (virya), o sabor apresentado depois
que o material é digerido (vipaka) e a ação específica (prabhava).
Todos estes fatores no interior da droga são interrelacionados e
interdependentes, porque representam diferentes aspectos dos
mahabhutas dos quais a droga é composta.

Classificação das Drogas Ayurvédicas


28
As drogas ayurvédicas incluem produtos vegetais, minerais e
animais. Podem ser classificados em cinco categorias:
A) Drogas cientificamente estudadas: Algumas drogas simples e
preparações compostas, como por exemplo Sarpagandha e
Yogaraja guggulu, foram estudadas cientificamente e os
benefícios terapêuticos declarados a seu respeito foram
verificados. Sarpagandha é útil nas hipertensões e Yogaraja
guggulu, para reumatismo.
B) Drogas populares não-tóxicas: Alguns medicamentos
ayurvédicos são populares por sua utilidade terapêutica e sua
característica não-tóxica. Um destes medicamentos é a
Chyavanaprasa. A planta amalaki (Emblica officinalis) é o
ingrediente mais importante desta droga, útil no tratamento de
doenças pulmonares como as bronquites.
C) Drogas eficazes mas tóxicas: Há algumas drogas, por
exemplo, Bhallatakavaleha, que possuem conhecidos valores
terapêuticos mas que produzem grave toxicidade se utilizadas
indiscriminadamente. Bhallataka (Semecarpus anacardium) é o
mais importante ingrediente deste medicamento que é útil no
tratamento de doenças de pele crônicas e de difícil tratamento.
D) Drogas raramente usadas: Algumas drogas, por exemplo,
Shrivishnu taila, apesar de serem mencionadas nos clássicos
ayurvédicos, não são extensivamente utilizadas. Apenas
médicos de algumas regiões da Índia utilizam-nas e
reconhecem sua eficácia.
E) Drogas hereditárias e patenteadas: Alguns médicos
especializaram-se na cura de determinadas doenças. As
fórmulas e os métodos de preparação das drogas que
administram são conhecidos apenas pelos mesmos, ou por
membros de confiança de suas famílias. Enquanto algumas
destas drogas não são efetivas como afirmam que sejam,

29
outras foram verificadas serem muito eficazes. Na maioria dos
casos os médicos não concordam em revelar a fórmula.

Denominação das Drogas


Os nomes das formulações são geralmente baseados nos
seguintes seis fatores:
a) Ingrediente importante: Algumas preparações são nomeadas
após o ingrediente mais importante, por exemplo, Amalaki
rasayana (Preparação com Emblica officinalis).
b) Autoria: O nome do estudioso ou rishi (sábio) que
primeiramente descobriu ou padronizou a fórmula é empregado
para denominar a droga, por exemplo, Agastya haritaki.
c) Propriedades terapêuticas: A doença para a qual a fórmula
está indicada, eventualmente, é utilizada para denominar a
preparação, por exemplo, Kusthaghna lepa.
d) O primeiro ingrediente da fórmula: O primeiro ingrediente da
fórmula é, às vezes, utilizado para dar nome à preparação,
como por exemplo, Pippalyasava.
e) Quantidade da droga: O nome do tipo de preparação aparece
depois de especificada a quantidade de droga que é utilizada,
por exemplo, Shatpala ghrita.
f) Parte da planta: O tipo de preparação é especificada após a
parte da planta que é empregada, por exemplo, Dasamula
kashaya.

Processos Farmacêuticos
No Ayurveda, diferentes processos farmacêuticos são seguidos na
preparação das drogas. Além de ajudar no isolamento da fração
terapeuticamente ativa das drogas, estes processos ajudam a
tornar os medicamentos:
1. Facilmente administráveis;
2. Agradáveis ao paladar;
30
3. Digestivos e assimiláveis;
4. Terapeuticamente mais eficazes;
5. Menos tóxicos e mais toleráveis e
6. Preserváveis por mais tempo.

Sodhana ou Purificação
Algumas drogas in natura necessitam passar pelo processo
denominado Sodhana para serem utilizadas. O significado literal
da palavra sodhana é purificação. Mas, freqüentemente, o
processo é mal interpretado como se o processo tornasse a
substância física e quimicamente pura. Sodhana, sem dúvida,
proporciona alguma pureza física e química mas, às vezes, mais
impurezas são adicionadas à substância durante certos estágios
do processo. Através desta adição, a droga torna-se menos tóxica
e terapeuticamente mais eficaz. O acônito puro, por exemplo, não
pode ser administrado tão livremente na forma sodhita. O acônito,
que inibe a função cardíaca, torna-se um estimulante cardíaco
após o processo de Sodhana. Portanto, este processo requer um
estudo detalhado e a exatidão na preparação das drogas sujeitas
a estes processos deve ser avaliada pelo efeito terapêutico dos
produtos finais.
Algumas gomas resinas, tais como guggulu (Commiphora
mukul) e algumas drogas contendo óleos voláteis, tais como
kustha (Saussurea lappa), são submetidos ao Sodhana através da
fervura com leite, urina de vaca, etc. Ferver, no entanto, reduz o
conteúdo de óleos voláteis da droga que se supõe serem
terapeuticamente muito ativos.

A Racionalidade do Uso de Medicamentos Metálicos


Metais, minerais e pedras preciosas são utilizadas na
medicina desde o período Védico. Muitos sábios budistas
realizaram pesquisas e compuseram trabalhos sobre
31
medicamentos com ingredientes metálicos. Alguns destes metais,
como o mercúrio, o chumbo e o arsênico são reconhecidamente
tóxicos para o organismo e outros ainda não são capazes de
serem absorvidos dos intestinos para o sangue. Portanto, todos os
metais, minerais e pedras preciosas são processados tendo em
vista os seguintes objetivos:
a) Torná-los absolutamente não tóxicos;
b) Torná-los facilmente absorvíveis através da mucosa intestinal e
torná-los assimiláveis através das membranas celulares;
c) Aumentar sua eficácia terapêutica de forma que possa ser
administrado em doses bastante reduzidas;
d) Ampliar seus efeitos terapêuticos e
e) Torná-los saborosos.

Para os propósitos acima mencionados, estes metais, etc.,


são, primeiramente submetidos ao processo de Sodhana
(literalmente, purificação). Durante este processo, as moléculas do
metal tornam-se frágeis e não tóxicas. Isto é feito através da
fervura e trituração com diversas ervas e produtos animais. Assim,
o metal inorgânico é convertido em um composto orgânico.
Depois, as substâncias passam por um outro processo,
denominado marana (literalmente, neutralização). Durante este
processo, o metal é friccionado com várias plantas e produtos
animais e calcinado por exposição ao calor intenso. Este processo
é repetido muitas vezes até que o metal seja reduzido a um estado
de pulverização. Durante cada processo, o pó metálico é
totalmente triturado para que chegue a este objetivo.
Finalmente, o metal é submetido a um processo chamado
amritikarna (literalmente, conversão em ambrosia). Diferentes
métodos de sodhana, marana e amritikarna são prescritos para
diferentes metais, minerais e pedras preciosas. O produto final é
geralmente chamado bhasma ou pó calcinado. São absolutamente
32
não tóxicos, seguros e benéficos. Além de curar as doenças,
auxiliam no rejuvenescimento do corpo e na preservação assim
como na promoção da saúde positiva. São empregados apenas
em doses terapêuticas mínimas. As propriedades destes bhasmas
(pós calcinados) são inteiramente diferentes daquelas dos metais,
minerais e pedras preciosas não processados, in natura. Eles são
freqüentemente empregados nas prescrições ayurvédicas
juntamente com vegetais e produtos animais pelos seguintes
aspectos:
a) São efetivos em dose mínima;
b) Não produzem qualquer sabor desagradável;
c) Eles produzem seus efeitos terapêuticos curando as doenças
rapidamente. Muitas doenças crônicas e até mesmo incuráveis
são eliminadas por estas preparações metálicas.

Pelos aspectos acima mencionados, o sistema de


tratamento com formulações contendo metais, etc. é denominado
daivi chikitsa (tratamento divino). Tanto os distúrbios comuns como
muitas doenças que necessitam de cirurgia convencional são
pacificadas com estas preparações metálicas.

33
Capítulo 3

CONDUTA PARA O HORÁRIO


DIURNO

Deve-se levantar da cama pela manhã bem cedo,


antes do sol nascer. É considerado auspicioso este horário em que
o ar está fresco e há menos ruído na atmosfera. A pessoa deve
fazer algum tipo de meditação. Antes de se levantar realmente da
cama, deve-se pensar sobre a programação do seu dia.

Limpeza da face: A pessoa deve lavar sua face com água


imediatamente após levantar-se da cama. Esta conduta ajuda a
limpar os resíduos acumulados nos olhos, no nariz e na boca
durante a noite e dá uma sensação de frescor. No inverno, pode-
se utilizar água morna para este fim.

Proteger a visão: Ao lavar a face, deve-se encher a boca de água,


manter a boca fechada e conservar os olhos abertos, tanto quanto
possível, respingando água fria sobre eles. Esta conduta é
considerada muito útil para a preservação e melhora da visão.
Depois de respingar a água, as pálpebras devem ser suavemente
esfregadas de forma a massagear levemente os globos oculares.

34
Ingerir um copo de água: Após lavar a face e a boca, deve-se
tomar um copo de água. Isto está prescrito para todas as estações
e em todos os dias. Esta conduta ajuda a fazer com que as fezes e
a urina sejam eliminadas sem dificuldades. Algumas pessoas tem
o hábito de ingerir um chá quente para este propósito. A ação
reflexa produzida pelo chá quente é diferente daquela causada
pelo copo de água fria. Este último produz apenas uma pressão
que estimula os intestinos para que este comece seu movimento
para a evacuação. O chá, estando quente, estimula os intestinos
tão fortemente que perde este efeito após alguns dias de forma
que a pessoa começa a apresentar sinais de constipação. A
cafeína contida no chá ou no café produz alguns efeitos adversos
sobre as glândulas do estômago e intestinos, que a água fria não
produz. Além disso, a água fria é um bom tônico para o corpo. No
entanto, a água fria está proibida se o paciente estiver resfriado,
com tosse ou lesão na garganta.

Evacuação dos intestinos: A pessoa deve ter o hábito de evacuar


os intestinos imediatamente após levantar-se da cama. Há dois
motivos para que a pessoa não sinta a necessidade de evacuar
pela manhã: ou o alimento não foi adequadamente digerido, ou o
indivíduo não teve um sono adequado. O hábito de beber um copo
de água fria pela manhã vence a dificuldade causada pela
indigestão e pelo sono inadequado, de forma que o indivíduo
consegue um movimento de limpeza. As pessoas que pensam
muito ou aquelas que são explosivas, sensíveis ou furiosas
acumulam muito vento em seu estômago. Este vento se acumula
nos intestinos durante a noite. O vento também é formado pela
ingestão de certos grãos e frituras e se o indivíduo não ingere
vegetais folhosos e frutas em quantidade adequada. Qualquer que
seja a causa, quando ocorre a formação de vento, cria-se alguma
obstrução na mobilidade intestinal. A pessoa pode achar que
35
houve evacuação completa, mas depois de algum tempo ela sente
novamente a necessidade de evacuar. Há pessoas que evacuam
3 a 4 vezes pela manhã para sentirem-se satisfeitas quanto a esta
necessidade. Isto causa inconvenientes e em muitos casos a
evacuação permanece incompleta, causando supressão do
apetite, indigestão, cefaléia, a pessoa sente-se pouco à vontade,
com fadiga e insônia. O vento, quando formado em excesso,
exerce pressão sobre o coração e pode levar a palpitação. É
necessário que a pessoa estabeleça algumas regras em sua
alimentação, nas bebidas, no sono, de forma que consiga um
movimento de limpeza pela manhã. No entanto, se houver
necessidade de evacuação uma segunda vez, isto não deve ser
forçosamente interrompido. A inibição não é saudável.

Limpeza dos dentes: A pessoa deve usar um pequeno ramo de


neem (Azadirachta indica), babul (Acacia arabica) ou de qualquer
outra árvore que tenha sabor adstringente, picante ou amargo. A
extremidade do ramo deve ser macerada para ficar macia de
forma que as gengivas não sejam machucadas. Esta conduta
remove o mau cheiro e a falta de paladar. Remove os resíduos da
língua, dos dentes e da boca.

Raspagem da língua: Os raspadores de língua, que são curvados


e não possuem superfície cortante, são disponíveis em metal,
como ouro, prata, cobre, estanho e latão. Os resíduos depositados
na base da língua obstruem a respiração e causam mau hálito.
Assim, a língua deve ser raspada regularmente.

36
Uso de gotas nasais: Deve-se inalar Anu taila3 durante a estação
chuvosa, o outono e a primavera. Aqueles que praticam a terapia
nasal de acordo com o método prescrito, não são afetados por
doenças dos olhos, do nariz e dos ouvidos. Seus cabelos e barba
não se tornam esbranquiçados e nunca apresenta episódios de
queda de cabelos.

Gargarejos: O gargarejo com Til taila (óleo de gergelim) é benéfico


para fortalecer as mandíbulas, a profundidade da voz, a sensação
do paladar e para melhorar o sabor dos alimentos. A pessoa que
utiliza o hábito de fazer gargarejos nunca adquire afecções da
garganta, lábios rachados, alterações na respiração ou dores de
dentes.

Aplicação de óleo sobre a cabeça: Aquele que tem como hábito


aplicar regularmente óleo sobre a cabeça não sofre de cefaléias,
calvície ou branqueamento dos cabelos. O cabelo permanece
preto, longo e profundamente enraizado. A pele da face torna-se
brilhante e a pessoa tem sono profundo.

Gotas de óleo nos ouvidos: As doenças dos ouvidos causadas por


desequilíbrio de vata, torcicolos, rigidez nas mandíbulas,
dificuldade auditiva e surdez são evitadas se a pessoa tem como
hábito a aplicação regular de óleo no ouvido externo.

Massagem com óleo: Vayu predomina no órgão sensorial do tato,


e este órgão está alojado na pele. A massagem é extremamente
benéfica para a pele, de forma que as pessoas devem praticar

3Ver no livro “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, por Dr. B.


Dash, Editora Chakpori, a fórmula denominada Anu Taila ou Sadabindu taila,
na página 183.
37
regularmente a massagem com óleo. As pessoas que seguem
esta conduta possuem uma boa estrutura física, força e elegância.
Com a aplicação regular de óleo, o impacto do envelhecimento é
diminuído.

Exercícios: Os exercícios físicos proporcionam leveza, habilidade


para trabalhar, estabilidade, resistência ao desconforto e aliviam
os três doshas (especialmente kapha). Também estimulam o
poder digestivo. No entanto, o excesso de exercícios físicos pode
causar exaustão, consumo das forças, sede, sangramento por
diferentes partes do corpo (rakta pitta), podem causar pratamaka
(um tipo de dispnéia), tosse, febre e vômitos.
A perspiração, a melhora da respiração, o brilho no corpo, a
melhora dos batimentos cardíacos e de outros órgãos são
indicações de que os exercícios estão sendo realizados
corretamente.
Os exercícios são contra-indicados para pessoas que
emagreceram por causa de atividade sexual excessiva, para
aqueles que já estão cansados, que estão segurando a raiva, que
estão tristes, com medo e para pessoas de constituição vatika e
cuja profissão exige que falem demasiadamente. Não se deve
fazer exercícios quando sentir fome ou sede.

Banhos: O banho é purificador, estimula a libido e promove a vida.


Esta conduta remove a fadiga, o suor e os resíduos. Produz vigor
corporal e é um auxiliar por excelência do aprimoramento de ojas4.

4 Ojas pode ser traduzido como Vigor. Possui três variedades: Sahaja bala
(hereditário), Kalakrta bala (obtido durante os estágios da vida) e Yuktikrta
bala (resultante da dieta, conduta e medicamentos apropriados).
38
Vestimentas: O uso de roupas limpas aumenta a atração física, a
reputação, a longevidade e a sorte. Produz prazer, graça,
competência e boa aparência.

Uso de perfumes: O uso de essências e flores estimula a libido, dá


ao corpo um cheiro agradável, promove a longevidade e a
elegância. Produz corpulência e vigor no corpo, além de ser
agradável para a mente.

Uso de ornamentos: Usar enfeites e jóias aumenta a prosperidade,


a auspiciosidade, a longevidade e a elegância, evita o perigo de
cobras e energia perversas, etc. É agradável e charmoso.
Também conduz ao ojas (Vigor).

Cuidados com os cabelos e as unhas: Arrumar e cortar os cabelos,


a barba (incluindo os bigodes) e as unhas, etc. aumenta a
corpulência, a libido, a longevidade, a limpeza e a beleza.

Alimentação: A pessoa deve ingerir a quantidade adequada de


alimentos. A quantidade depende do poder digestivo (incluindo o
metabolismo). A porção de alimentos que, sem alterar o equilíbrio
dos doshas (os três humores) e dhatus (os sete elementos
teciduais) do corpo, consegue ser digerida assim como
metabolizada no período de tempo apropriado, é considerada a
quantidade adequada.
Gêneros alimentícios como sali, sastika (duas variedades de
Oryza sativa), mudga (Phaseolus radiatus), codorna comum,
perdiz cinza, antílope, coelho, sambar indiano, etc., mesmo sendo
por natureza de fácil digestão, devem ser ingeridos de acordo com
a quantidade prescrita. Da mesma forma, preparações à base de
farinha, açúcar de cana e leite, gergelim, masha (Phaseolus
radiatus) e carnes de animais aquáticos e que habitam áreas
39
pantanosas, mesmo sendo pesados, por natureza, e de difícil
digestão, também devem ser ingeridos em quantidades
adequadas.
Os alimentos leves possuem qualidades predominantemente vayu
(ar) e agni (fogo), e as pesadas, possuem predominantemente os
mahabhutas prithvi (terra) e jala (água). Portanto, de acordo com
suas qualidades, os alimentos leves, sendo estimulantes do
apetite, são considerados menos prejudiciais, mesmo se ingeridos
além da quantidade prescrita. Por outro lado, alimentos pesados
são naturalmente inibidores do apetite e prejudiciais se ingeridos
em excesso, a menos que haja um poder de digestão e
metabolismo poderosos adquiridos através de exercícios físicos.
Se o alimento é pesado, apenas três quartos ou metade da
capacidade do estômago deve ser preenchida. Mesmo no caso de
gêneros alimentícios leves, a ingestão excessiva não possibilita a
manutenção do poder digestivo e metabólico.
Ingerindo quantidades apropriadas, o alimento certamente auxilia
o indivíduo na obtenção de vigor, jovialidade, felicidade e
longevidade sem perturbar o equilíbrio dos dhatus (elementos
teciduais) e dos doshas (vayu, pitta e kapha) do corpo.

Uso de colírio: A pessoa deve aplicar o colírio feito de antimônio


regularmente pois esta conduta é benéfica para os olhos.
Rasanjana (extrato de Berberis aristata) deve ser aplicada uma
vez durante cinco ou oito noites para promover o lacrimejamento
dos olhos. Dentre todos os mahabhutas, predomina nos olhos o
tejas5 (fogo). Portanto, a terapia, capaz de aliviar kapha, é útil para
conservar a visão clara. Não deve ser aplicado um colírio muito
forte nos olhos durante o período diurno, pois os olhos,

5Produto resultante do metabolismo do Mahabhuta agni (fogo)


40
enfraquecidos pela drenagem, serão adversamente afetados pela
luz solar.

Fumo: No Ayurveda, diferentes tipos de cigarros são prescritos


para o ato de fumar. Eles são feitos de ingredientes vegetais e não
contém tabaco ou narcóticos como a Cannabis.
O fumo trata a sensação de peso na cabeça, cefaléias, rinite,
hemicrania, otalgia, dor nos olhos, tosse, soluços, dispnéia,
obstrução da garganta, fraqueza nos dentes, secreções
patológicas pelos ouvidos, pelo nariz e pelos olhos, elimina o odor
purulento do nariz e da boca, odontalgias, anorexia, rigidez nas
mandíbulas, torcicolo, prurido, as condições relacionadas aos
processos infecciosos, a palidez da face, o excesso de salivação,
a debilidade da voz, a tonsilite, a uvulite, alopécia, branqueamento
dos cabelos, queda dos cabelos, espirros, sonolência excessiva,
perda da consciência e hipersomnia. Fortalece também os
cabelos, os ossos do crânio, os órgãos e a voz.
São prescritos oito horários para o ato de fumar, horários em que
vata, pitta e kapha tornam-se desequilibrados. São eles: após o
banho, após a refeição, após a raspagem da língua, após espirrar,
após escovar os dentes, após a inalação de substâncias
medicinais, após a aplicação de colírio e após dormir.

Estudos: Não se deve estudar se não houver iluminação


suficiente, durante um incêndio, durante um terremoto, durante
festivais importantes, durante queda de meteoros, durante eclipse
solar e lunar, durante a mudança para lua nova e nem durante os
horários do amanhecer e do anoitecer. A pessoa não deve estudar
sem ter sido iniciado por um professor. Enquanto estiver
estudando, não se deve dizer as palavras como sons incompletos,
nem em voz alterada nem com voz rouca, também não se deve
dizer as palavras sem a acentuação adequada e sem a apropriada
41
simetria morfológica, nem demasiadamente rápido nem
demasiadamente lento, com volume nem muito alto nem muito
baixo.

Refeições noturnas: Os alimentos devem ser ingeridos o mais


cedo possível, no início da noite. Deve haver um intervalo
suficiente entre o horário da refeição e o horário de dormir. Isto
facilita a digestão dos alimentos o que resultará em um bom sono
também. O alimento deve ser o mais leve possível e facilmente
digerível.

Uso de iogurte no período noturno: É estritamente proibida a


ingestão de iogurte durante a noite. Nos demais horários é o
iogurte é benéfico para a saúde, apesar de possuir um efeito
prejudicial sobre os canais de circulação, podendo obstruí-los. Isto
resulta em distúrbios do sono e da mobilidade, especialmente para
pacientes que estão sofrendo de asma, bronquite e reumatismo.

Sexo: A pessoa não deve ter relações sexuais com um parceiro


que esteja sofrendo de uma doença, ou que seja impuro ou que
tenha um processo infeccioso. O homem não deve ter relações
sexuais com uma mulher que esteja menstruada. Não se deve ter
relações sexuais com um parceiro ou parceira de aparência
desagradável, que tenha má conduta ou maus hábitos ou que seja
desprovida de habilidades. A pessoa não deve ter relações
sexuais com um parceiro ou parceira com a qual não tenha
amizade, ou que não tenha desejo, que esteja ligada
emocionalmente a alguém, ou que seja casada com alguém. A
atividade sexual em qualquer órgão que não seja o órgão genital é
proibido. As atividades sexuais também são proibidas sob árvores
sagradas, em locais públicos, em ruas, em um jardim, em um
cemitério, em abatedores, na água, em clínicas médicas, na casa
42
de brahmins ou em templos. Tais atividades devem ser evitadas
durante o amanhecer e o anoitecer, ou em dias não propícios. Não
se deve ter atividades sexuais quando se está impuro e sujo ou
sem intenso desejo. Não se deve ter relações sexuais com o
pensamento direcionado à raiva, inveja, etc. Não se deve realizar
atividades sexuais sem ter ingerido alimentos ou quando a pessoa
ingeriu alimentos em excesso, ou em local inadequado, quando se
está com necessidade de urinar, após esforço físico, após
exercício físico, em jejum, quando se está exausto e em locais em
que não haja privacidade.
A pessoa deve adquirir o hábito de beber um copo de leite com
açúcar após o ato sexual.

43
Capítulo 4

FEBRES

Gripe

A gripe ou influenza é uma doença infecciosa, caracterizada por


depressão, febre intensa, inflamação aguda e catarral do nariz, da
laringe e dos brônquios, dores musculares e nevrálgicas e
distúrbios gastrointestinais. O distúrbio é causado por um vírus
que consegue passar através dos filtros que retém bactérias. A
doença ocorre freqüentemente na forma epidêmica.
Ocorre geralmente durante as alterações sazonais. No
Ayurveda esta doença é chamada Vata-shalaishmika jwara. Em
um indivíduo normal, durante o período das mudanças de
estações, o equilíbrio dos doshas é ligeiramente perturbado, ou
seja, vata, pitta e kapha, torna-se ligeiramente alterado devido às
mudanças de temperatura, às chuvas, etc. Mas, se ocorrem
anormalidades na alteração de temperatura e na quantidade das
chuvas, o equilíbrio dos doshas torna-se excessivamente alterado,
resultando nesta doença. Pessoas com tendência à constipação,
com deficiência das membranas da mucosa nasal ou da garganta
são mais propensos a adquirir este distúrbio.
 Tratamento: Como a doença está geralmente associada com
distúrbios gástricos, a substância medicinal pippali (Piper longum)
44
é considerada um medicamento útil para esta condição. Ela deve
ser pulverizada e meia colher de chá deste pó deve ser
administrado ao paciente, misturado com cerca de duas colheres
de chá de mel e meia colher de chá de suco de gengibre. Esta
preparação deve ser prescrita três vezes ao dia. Se esta droga for
administrada no primeiro surto de febre, observa-se um aumento
de temperatura logo depois. Isto fortalece a resistência do paciente
contra os sinais de bronquite e a congestão da garganta.
Tulasi (Ocimum sanctum; em português, manjericão) é uma outra
droga de escolha para esta condição. As folhas desta planta,
misturada com igual quantidade de pó de gengibre seco são um
excelente substituto para chá nesta doença. A preparação deve
ser administrada adicionando-se açúcar e leite três a quatro vezes
por dia.
Um remédio simples mas eficaz para esta doença é a substância
haridra (Curcuma longa; em português, açafrão-da-índia). Uma
colher de chá do pó ou da pasta desta droga, adicionada a uma
xícara de leite (pode-se adicionar açúcar ao mesmo) é prescrito ao
paciente 3 vezes ao dia. Ela propicia uma recuperação mais
rápida. Cura o mal estar e elimina a constipação, se houver. Esta
preparação conserva o pulmão limpo da fleuma e ativa o fígado.
Tribhuvana kirti rasa é comumente utilizada pelos médicos para o
tratamento da influenza. É disponível tanto em pó como em forma
de tabletes. Mistura-se 250 mg. (dois tabletes) da droga com uma
colher de chá de mel e administra-se. A preparação é dada 3 a 4
vezes ao dia dependendo da condição da febre. Se a febre estiver
associada com tosse também, adiciona-se uma colher de chá de
suco de gengibre à mistura acima.
 Dieta: Depois que a temperatura se eleva, é melhor conservar
o paciente sem alimentos ou com comida leve durante pelo menos
duas refeições. Deve ser oferecido ao paciente água com cevada
ou sagu fervido com leite e açúcar. Pão, biscoitos, sopa de carne
45
ou de vegetais também podem ser fornecidos. Alho, cru ou frito
com ghee6 ou manteiga, é muito benéfico. Cerca de 10 dentes de
alho podem ser oferecidos ao paciente. Gengibre verde pode ser
adicionado à sopa ou aos vegetais.

6Manteiga purificada indiana: a manteiga é derretida e depois coada com um


pano fino para retirar a porção branca.
46
Figura 1: Piper longum (pippali)

47
Alimentos pesados como carne, galinha, peixe e ovos, arroz,
chapati (pão de trigo, fino como papel), frituras como parontha e
alimentos azedos incluindo o iogurte são estritamente proibidos
durante a febre. O paciente deve comer banana, goiaba e outras
frutas azedas devem ser ingeridas. Chás não são benéficos nesta
condição. O café em pequenas quantidades pode ser ingerido.
 Condutas: A exposição ao vento frio, banho, exercícios, não
dormir durante a noite, terapias que envolvem massagem com
óleo e esforço mental devem ser evitados.

Malária

É causada por um tipo de protozoário pertencente ao gênero


Plasmodium, que infecta os glóbulos vermelhos e origina febre
periódica, esplenomegalia e anemia. A patologia é transmitida pela
fêmea do mosquito Anopheles. No Ayurveda a doença é
conhecida como Vishama jwara.
 Sinais e sintomas: Antes da manifestação da doença, o
paciente pode sofrer de cefaléia transitória, dorsalgia, dor
generalizada e sensibilidade na área do fígado. Pode haver ligeiro
aumento da temperatura também. O início da febre pode ser
súbito ou a elevação pode ser lenta. Antes da febre, o paciente
pode sentir cansaço, rigidez dos músculos do pescoço, dores
musculares e ósseas e anorexia. Quando surge, a febre está
geralmente associada com cefaléia, dorsalgia, dores nos ossos,
mal estar e fadiga. Geralmente, no início da febre há calafrios. Mas
em certos tipos de malária, estes calafrios estão ausentes.
Náuseas, anorexia e vômitos são muito comuns. Em um estágio
posterior da doença, o baço sofre um aumento de volume. A febre
é caracterizada por sua natureza intermitente e, na maioria das
vezes, associada com desconforto na região do estômago,
48
vômitos biliosos e fezes com coloração de chocolate. O aumento
da temperatura começa geralmente pela manhã ou à tarde. Esta
febre é caracterizada pelos três estágios seguintes:
a) Estágio frio: O paciente sente-se inquieto, desenvolve cefaléia,
dor nas costas e sente calafrios, e os tremores começam. A
face torna-se contraída e a pele torna-se fria e azulada. O
paciente precisa ser coberto com cobertores e mantas na
tentativa de conservá-lo quente. As náuseas e os vômitos são
freqüentes durante a elevação da febre. Em cerca de meia a
duas horas a febre sobe para 39,5C a 41C.
b) Estágio quente: A pele parece estar queimando de tão quente
e todas as roupas e mantas são retiradas. A face torna-se
vermelha e o pulso é rápido. O paciente pode referir cefaléia e
em casos severos, pode haver delírio. Este estágio pode durar
entre 8 a 10 horas.
c) Estágio de sudorificação: A pele torna-se úmida seguida por
profusa sudorese. A cefaléia e as dores desaparecem e o
pulso torna-se lento. A temperatura cai no final da crise, e o
paciente sente-se melhor.
Consequentemente aos repetidos surtos de febre, nos casos
crônicos, o baço torna-se duro e aumentado. O paciente torna-se
anêmico. Quando a febre entra em remissão, surge infecção por
herpes nos lábios e na face.
 Tratamento: A droga de escolha para o tratamento desta
doença é a formulação Sudarshana churna. Deve-se administrar a
droga três vezes ao dia em doses de uma colher de chá. Para
torná-la agradável ao paladar, deve ser adicionado mel e formar
uma pasta que é fornecida ao paciente. O ingrediente mais
importante da Sudarshana churna é a planta Chirayata (Swertia
chirata). Também podem ser administradas seis colheres de chá,
três vezes ao dia. Em todos estes casos, o mel é adicionado.

49
Figura 2: Tinospora cordifolia (guduci)

A planta guduci (Tinospora cordifolia) é freqüentemente


empregada no tratamento desta doença. Devem ser dadas ao
50
paciente seis colheres de chá do seu suco três vezes ao dia. A
kutaja (Holarrhena antidysenterica) também é útil no tratamento da
malária. O pó desta droga é administrado ao paciente na dose de
uma colher de chá, três vezes ao dia, misturado com mel.
O tratamento do paciente com estes medicamentos deve ser
prolongado mesmo após estar livre da febre. Se administrados
durante um tempo suficientemente longo, aumentam a imunidade
do corpo contra a doença. Eventualmente, a febre é curada e a
esplenomegalia e a anemia continuam. Os medicamentos acima
mencionados serão úteis e devem ser administrados
continuamente até que o paciente não tenha mais quaisquer sinais
de malária.
 Dieta: Durante as crises febris e mesmo após, o paciente
geralmente sofre de anorexia. O alimento não deve ser dado de
maneira forçada. Podem ser oferecidas sopas e cevada com água
e leite. Após a redução da febre o apetite é restaurado. Mas
mesmo durante este período, não deve ser permitido que o
paciente se alimente com tudo que lhe agrade. Ele deve ingerir
trigo e arroz, mas com o cuidado de não sobrecarregar o
estômago. Vegetais crus e amargos são sempre úteis para tais
pacientes. Ele deve ingerir frutas em quantidades adequadas.
Vegetais folhosos como feno-grego (Trigonella foenum-graecum),
assa-fétida (Ferula assafaetida), gengibre e alho são
extremamente benéficos para estes pacientes. Devem, no entanto,
evitar ingestão de picles, frituras e bebidas frias.
 Conduta: O paciente deve utilizar telas de proteção contra
mosquitos hospedeiros de forma a prevenir infecções. Como o
paciente fica enfraquecido, ele não deve se esforçar ou fazer
qualquer exercício pesado. Ele deve repousar adequadamente,
mas dormir durante o dia está proibido.

51
Sarampo

É uma doença altamente contagiosa caracterizada por muco nas


vias respiratórias e uma erupção generalizada sobre a pele. No
Ayurveda é conhecido como Romantika.
Ocorre geralmente durante a primavera e o outono. No início o
paciente apresenta tosse, frio e febre. Os olhos tornam-se
vermelhos, seguido por sonolência, anorexia e até mesmo diarréia.
As erupções começam na testa e são pequenas e vermelhas. Em
cerca de 3 a 4 dias, espalham-se por todo o corpo. Quando as
erupções desaparecem por completo, a febre diminui e os demais
sintomas como tosse e frio também desaparecem. Às vezes, os
brônquios também são afetados e o paciente apresenta tosse e
febre.
 Tratamento: Afeta geralmente as crianças. A fórmula Pravala
pishti é muito útil tanto para prevenção como para a cura da
doença. Pequenos pedaços de coral (pravala) são triturados e
pulverizados em um pilão com socador. Adiciona-se um pouco de
água e tritura-se até que os pedaços desapareçam e tudo esteja
na forma de um fino pó. Às crianças, administra-se uma dose de
200 mg. a 500 mg., três vezes ao dia, misturados com mel. Como
medida preventiva, é recomendada a mesma dose uma vez ao
dia, de estômago vazio.
 Dieta: O paciente deve ingerir uma dieta leve como papa de
cevada e suco de frutas.
 Condutas: O paciente não deve se expor ao vento frio e à
chuva. É estritamente proibido banhar-se durante os surtos da
doença.

52
Caxumba

É uma infecção aguda caracterizada por aumento das glândulas


parótidas, próximo às orelhas. No Ayurveda é conhecida como
Pashana gardabha.
O edema da glândula parótida é, geralmente, a primeira
manifestação da doença. Pode ser precedida por um ou dois dias
de dor e rigidez na região próxima às orelhas. O paciente pode
sentir-se febril. Podem ocorrer tremores e lesão na garganta. No
início apenas a glândula é afetada. Como complicação da doença,
pode haver processo inflamatório nos testículos.
 Tratamento: O pó de Daru haridra (Berberis aristata) é
comumente utilizado para o tratamento desta condição. A madeira
da planta é transformada em um pó fino e misturada com mel e
ghee (manteiga purificada indiana). É aquecida levemente e
aplicada sobre a região afetada. Isto deve ser feito de preferência
na hora de dormir. As áreas afetadas devem ser tratadas com
fomentação quente e seca. Internamente, a formulação Naradiya
Lakshmivilasa deve ser administrada numa dose de 2 tabletes, 3
vezes ao dia, misturada com mel.
 Dieta: Enquanto estiver doente, o paciente geralmente
apresentará anorexia. Apenas líquidos devem ser ingeridos. Ele
deve evitar frituras, e alimentos azedos. Alho, gengibre, pimenta
preta e Piper longum são muito benéficas nesta condição.
 Condutas: O paciente deve evitar ingerir alimentos sólidos e
quentes e não deve se expor ao vento frio e à chuva. Ele deve
manter um cachecol de lã enrolado no pescoço e na cabeça,
conservando estas regiões aquecidas para uma recuperação mais
rápida.

53
Filariose

Esta doença é geralmente causada pelo parasita denominado


Filaria bancrofti. Embriões do parasita penetram o corpo do
homem saudável através da picada de mosquitos. No Ayurveda
esta condição é chamada Shlipada.
Os primeiros sintomas desta doença são urticária, inflamação dos
nódulos linfáticos, assim como dos vasos linfáticos, inflamação dos
testículos e febre. Os nódulos linfáticos tornam-se endurecidos e
os canais linfáticos tornam-se hiperemiados. A febre geralmente
começa com calafrios e continua por 3 dias. Em geral, são
primeiramente afetados os linfonodos da região inguinal. Crises
recorrentes de febre, que são comuns, levam à elefantíase. A pele
da região edemaciada da perna vai aos poucos se tornando
grossa e áspera. Subseqüentemente, podem surgir abscessos e
estes podem levar a ulcerações. Podem surgir também
protuberâncias sobre a pele e esta pode tornar-se dura como
couro. O volume aumentado dos testículos e o edema das pernas
pode impedir os movimentos do paciente.
 Tratamento: Esta doença é mais comum em áreas pantanosas
onde existe água estagnada. Beber água de poços e lagos e água
encanada vinda destas áreas torna a pessoa suscetível aos
ataques deste parasita. É necessário portanto, que o habitante de
tais localidades beba água fervida. Pode-se prevenir a infecção
pela ingestão desta água quando ela é fervida juntamente com
gengibre seco. Para evitar a picada do mosquito, devem ser
utilizadas, regularmente, redes de proteção contra mosquitos.
As folhas da árvore do marmelo (Aegle marmelos) são muito úteis
no tratamento desta doença. A ingestão de 3 folhas por dia ajuda
tanto na prevenção como na cura da filariose. A droga
popularmente utilizada é a Nityananda rasa. Ela deve ser
administrada ao paciente em uma dose de 500 mg. duas vezes ao
54
dia, de estômago vazio. Geralmente, este medicamento é
encontrado na forma de tabletes, cada tablete contendo 500 mg.
Deve-se amassar o tablete e transformá-lo em pó, em um socador
de porcelana e depois ele é misturado com mel antes de ser
oferecido ao paciente. A adição do suco de folhas de marmelo a
este medicamento fortalece sua ação.
Esta formulação, Nityananda rasa, é muito bem tolerada durante o
inverno. Produz um pouco de calor e, portanto, uma dose maior
deste medicamento não pode ser fornecida ao paciente durante o
verão. No inverno e nas estações chuvosas, a dose pode ser
aumentada. Para que este medicamento aja no organismo, deve
ser tomado continuamente por um período de dois meses. Nas
condições agudas, quando há processo inflamatório, como
hiperemia e endurecimento dos nódulos e dos canais linfáticos, e
febre, este medicamento age imediatamente. Mas, mesmo com a
interrupção dos sintomas, ele deve ser continuado por um tempo
suficientemente longo de forma a criar um ambiente inadequado
para a sobrevivência do parasita filária no organismo do paciente.
Para alívio da dor, da ulceração, do edema, etc. nas áreas
afetadas, utiliza-se freqüentemente a formulação Malla sindura.
Esta droga é disponível em forma de cristais pois é preparada pelo
processo de sublimação. Ela deve ser transformada em um pó
fino, triturando em um socador de porcelana, e fornecida ao
paciente em uma dose de 250 mg., duas vezes ao dia. No verão, a
dose deve ser reduzida para 125 mg., duas vezes ao dia. Deve ser
misturada com mel antes do paciente ingeri-la. Esta formulação
contém arsênico associado com outros ingredientes. Mas durante
o processo de manipulação, o efeito adverso do arsênico é
neutralizado e normalmente não produz qualquer efeito tóxico
mesmo se administrado por período prolongado.
 Dieta: Alimentos conservados e azedos, como iogurte ou picles
devem ser evitados. O paciente deve ingerir alimentos amargos
55
como iogurte amargo, as folhas da árvore neem (Azadirachta
indica), da variedade amarga da Cassia fistula, banana verde,
patola (Trichosanthes dioica), berinjela, repolho e couve-flor. Alho
e gengibre são muito úteis para tais pacientes. Cerca de 10 dentes
de alho podem ser dados ao paciente todos os dias, se ele tolerar
seu odor. No entanto, o alho pode ser frito na manteiga ou no ghee
(manteiga purificada indiana). A água fervida com gengibre seco
deve ser usada para o paciente beber.
 Conduta: O paciente deve evitar habitar áreas pantanosas. Na
estação das chuvas, ele deveria evitar a exposição à chuva. Tanto
no inverno quanto nas estações chuvosas, o paciente deve tomar
banho com água quente e sempre que possível, beber água
quente.

56
Capítulo 5

DOENÇAS DO SISTEMA
RESPIRATÓRIO

Asma Brônquica

Há muitos tipos de asma, sendo a mais comum a asma


brônquica. No Ayurveda esta doença é conhecida como Tamaka
shvasa e considera-se que tenha origem de distúrbios do
estômago e outras áreas do trato gastrointestinal. Na maioria dos
casos, portanto, seja no início da doença ou antes de cada crise, o
paciente sofre de indigestão, constipação ou mesmo diarréia.
O sítio de manifestação da doença são os pulmões. Devido à
pressão, o coração também acaba sendo envolvido. Geralmente,
antes da crise, o paciente apresenta congestão nasal, podendo
haver obstrução e espirros. No Ayurveda, portanto, tanto para
prevenção quanto para a cura da doença, a atenção é dirigida
primeiramente ao estômago, aos intestinos, ao nariz e aos
pulmões. Simultaneamente, nos casos crônicos, deve-se cuidar de
fortalecer o coração.
 Tratamento: Para esta doença, os medicamentos comumente
usados no Ayurveda são Chyavana prasha e Agastya rasayana.
Estas duas drogas são compostas de muitos ingredientes. Mas o
57
ingrediente principal do Chyavana Prasha é a fruta amalaki
(Emblica officinalis). Esta substância é uma importante fonte de
vitamina C. Esta vitamina é comumente encontrada em muitas
frutas cítricas, mas é destruída quando exposta ao fogo e ao calor
do sol. O amalaki, no entanto, é uma exceção e a vitamina C nela
contida não é destruída quando fervida por um período
considerável.
A fruta do haritaki (Terminalia chebula) é o principal ingrediente do
outro medicamento, Agastya rasayana. Em alguns clássicos, é
chamado de Agastya haritaki.
Dentre estes dois, ou seja, Chyavana prasha e Agastya rasayana,
o primeiro é utilizado mais como um tônico e é especificamente
indicado nos casos de asma no qual o paciente esteja emagrecido
e debilitado. Agastya rasayana é empregado no paciente com
asma brônquica que está constipado e para aqueles que
apresentam espirros, obstrução nasal e congestão da garganta.
Ambas as drogas são preparadas na forma de linctus e podem ser
ingeridas na dose de duas colheres de chá, três vezes ao dia.
Deve-se observar com cuidado se o apetite normal do paciente se
mantém. Se ingeridas em doses elevadas, pode haver,
eventualmente, redução no apetite, e neste caso, a dose deve ser
diminuída. Agastya rasayana, se administrada em doses altas,
pode causar perda dos movimentos e neste caso a dose do
medicamento também deve ser reduzida.
Estes medicamentos devem ser ingeridos antes da refeição, de
preferência com o estômago vazio, e na hora de dormir. Devem
ser administrados durante ou após a crise de asma. Possuem
efeitos curativos e preventivos. Leva algum tempo para que a ação
destes medicamentos seja observada. Apesar de proporcionarem
algum alívio imediatamente após sua ingestão, geralmente levam
duas a três semanas para agirem integralmente. Nos casos
crônicos, podem levar um tempo maior ainda. Por esta razão, o
58
paciente não deve ter dúvidas sobre sua eficácia se a crise não se
interromper imediatamente após sua ingestão. Mas eles reduzirão
a fase aguda da crise imediatamente, e a duração desta crise será
comparativamente menor. Mesmo o intervalo entre as crises
aumentará e o paciente terá tempo para restaurar sua saúde de
forma a conseguir enfrentar com sucesso o próximo ataque.
Juntamente com este procedimento, pode ser administrada a
preparação Sitopaladi churna, três a quatro vezes ao dia, na dose
de uma colher de chá, misturado com mel. O pó, se ingerido
sozinho, pode causar uma leve irritação na garganta. Desta forma,
ele deve ser completamente misturado com mel e transformado
em uma pasta consistente antes de ser ingerido. Da mesma
maneira, e na mesma dose, pode também ser prescrito o pó de
pippali (Piper longum).
Existem muitos outros medicamentos no Ayurveda para o
tratamento da asma brônquica. Alguns, contendo produtos
minerais, são úteis na remissão imediata da crise de asma. São
eles: Shvasa kasa chintamani rasa, Suvarna pushpasuga rasa,
Kanakasava, etc. Estes medicamentos podem, eventualmente,
produzir efeitos colaterais. Portanto, eles devem ser
preferencialmente administrados sob a supervisão de um médico
experiente.
 Dieta: É estritamente proibida a ingestão de iogurte, manteiga,
banana, goiaba e frituras. À noite, o paciente deve ingerir
alimentos leves e deve evitar, tanto quanto possível, todos os
alimentos azedos. Uvas secas, feijões do tipo kulattha (Dolichos
biflorus) são úteis nesta condição. O cigarro deve ser evitado e a
ingestão de café ou chá deve ser reduzida ao mínimo – não mais
que duas xícaras no total. Bebidas alcoólicas podem ser tomadas,
mas apenas em pequena quantidade.
 Conduta: O paciente não deve se expor à chuva e ao vento frio
forte. Ele não deve realizar exercícios pesados.
59
Bronquite

A doença conhecida como bronquite é caracterizada por


inflamação dos brônquios pulmonares, resultando em tosse
produtiva, com expectoração de muco purulento, comumente
conhecida como fleuma. Há diversos tipos, dependendo da
natureza da expectoração. A bronquite pode ocorrer como um
sintoma de muitas outras doenças, como a tuberculose. Em todos
os casos, um ou outro tipo de microorganismo é considerado o
causador da doença.
No Ayurveda, esta doença é conhecida como Kasa roga. Os
germes ou krimis são considerados causas da bronquite. No
entanto, não são considerados os fatores causais primários da
doença. O Ayurveda considera que a bronquite ou Kasa roga é
causada primariamente por uma deficiência na digestão. Para
tratar a bronquite, portanto, drogas contendo propriedades para
corrigir tanto os pulmões como o estômago são selecionadas
pelos médicos ayurvédicos.
 Tratamento: Seja qual for a causa, o tratamento mais simples
para a bronquite é prescrever ao paciente uma colher de chá de
haridra (Curcuma longa) em pó, misturado com uma xícara de
leite, duas a três vezes por dia, dependendo da gravidade do
problema. Sua ação é melhorada se administrado com estômago
vazio. Esta é uma fórmula absolutamente inofensiva que pode ser
administrada a qualquer paciente, sem distinção de idade, sexo ou
condição da doença.
A fórmula popular, comumente utilizada como um remédio caseiro
para esta condição é o pó de sunthi (gengibre seco), pippali (Piper
longum) e marica (Piper nigrum), todos os três misturados em
iguais quantidades. A mistura é tomada em doses de meia colher
60
de chá, três a quatro vezes ao dia, dependendo da severidade da
doença. Este pó pode ser adicionado ao chá ou café, e ingerido.
Todos estes três ingredientes, quando associados são conhecidos
no Ayurveda como Trikatu ou Tryushana, e são muito
recomendados por sua ação sobre os pulmões e o estômago. Eles
promovem a digestão e o metabolismo no corpo e portanto, inibem
a produção dos fatores responsáveis pela infecção e pela
inflamação dos brônquios. Simultaneamente, auxiliam na
expectoração da fleuma acumulada tornando a respiração mais
fácil. Às vezes, por causa do processo infeccioso, o paciente
apresenta também febre, para a qual este medicamento também
está indicado por serem antipiréticos e devido a seus efeitos
estimulantes. Estas drogas criam uma alteração no ambiente (ou
seja, o corpo), especialmente nos pulmões, de forma a torná-los
não propícios para o metabolismo dos microorganismos, sem falar
de seu crescimento e multiplicação. Todas estas três drogas
também são utilizadas na cozinha como condimentos, por
conseguinte, elas não possuem quaisquer efeitos prejudiciais
sobre o corpo. Se ingeridos em excesso, podem produzir uma leve
sensação de queimação no peito, e neste caso, a dose deve ser
reduzida, ou um pouco de mel deve ser adicionado ao pó, e depois
ingerido.
Uma planta medicinal chamada vasa (Adhatoda vasica) é muito
útil na cura da tosse e bronquite, especialmente quando ambos se
tornam crônicas. O suco das folhas desta planta é geralmente
empregado em uma dose de duas colheres de chá, três vezes ao
dia. O sabor deste suco é ligeiramente amargo. Para torná-lo
agradável, uma mesma quantidade de mel deve ser adicionada.
Esta planta cresce naturalmente em quase todas as partes da
Índia, exceto em desertos e nos picos gelados das montanhas. A
bronquite está freqüentemente associada com a congestão da
garganta. Neste caso, a preparação Khadiradi vati deve ser
61
conservada na boca e engolida lentamente. Podem ser utilizados
cerca de cinco tabletes por dia. Isto produz um efeito calmante
sobre a garganta e alivia a congestão. O principal ingrediente
deste remédio é khadira (Acacia catechu).
 Dieta: Iogurte e outros alimentos azedos devem ser evitados.
Frutas azedas, incluindo a banana e a goiaba também são contra-
indicadas.
 Conduta: A exposição ao vento frio e à chuva deve ser evitada.
Banhos na água fria, especialmente no inverno, é contra indicado,
principalmente quando a bronquite está na fase aguda.

62
Figura 3: Adhatoda vasica (vasa)

63
Hemoptise

A eliminação de sangue durante a tosse é chamada hemoptise. É


principalmente causada por doenças como a tuberculose e o
câncer dos pulmões. No Ayurveda, esta doença está incluída no
grupo das Urdhvaga rakta pitta. O paciente elimina sangue pela
boca enquanto tosse. Às vezes o sangue é acompanhado com
muco.
 Tratamento: Vasaka (Adhatoda vasica) é a droga de escolha
para o tratamento desta condição. É administrado na forma de
suco em uma dose de duas colheres de chá quatro vezes ao dia.
Tem sabor amargo e, portanto, fornecido ao paciente misturado
com mel.
Pravala pishti, uma preparação de coral, é a droga de escolha
para o tratamento desta doença. É administrada em uma dose de
1 g., quatro vezes ao dia, misturado com mel.
 Dieta: Alimentos quentes e picantes devem ser evitados e o
paciente deve ingerir romã (Punica granatum), amalaki (Emblica
officinalis) leite de vaca e água. Arroz envelhecido, sopa de patola
(Trichosanthes dioica), moong (Phaseolus mungo), masur (Lens
culinaris) e carne podem ser ingeridos .
 Conduta: O paciente não deve fazer exercícios e sim, fazer
completo repouso. Ele deve evitar o sol.

Soluços

Os soluços são caracterizados pelo som inspiratório agudo


produzido pelo espasmo da glote e do diafragma. No Ayurveda
esta condição é conhecida como Hikka roga. Dependendo dos
doshas envolvidos na patogênese da doença, diferentes tipos de
sintomas se manifestam.
64
 Tratamento: Cinzas de penas de pavão são consideradas a
melhor droga para esta condição. É administrada na dose de 125
mg., seis vezes ao dia, misturadas com mel. Eladi vati, droga que
contém cardamomo como um importante ingrediente, é
popularmente empregada para o tratamento desta condição. É
ingerida com mel e engolida lentamente na dose de um tablete,
seis vezes ao dia. Para aliviar o movimento ascendente de vayu
(um dos três humores, responsável pela regulação de todas as
funções motoras e sensoriais do sistema nervoso), deve ser
administrado Sukumara ghrita na dose de uma colher de chá, três
vezes ao dia, com leite.
 Dieta: Kulattha (Dolichos biflorus) é muito benéfico nesta
condição. O suco, a sopa, a preparação tipo dal da planta kulattha
podem ser oferecidos ao paciente. Arroz envelhecido, patola
(Trichosanthes dioica), rabanete fresca, limão, leite de vaca e alho
também devem ser ingeridos. Estão contra-indicados nesta
condição os alimentos gordurosos, pesados e frios, além de
masha (Phaseolus radiatus).
 Conduta: O paciente deve se submeter à psicoterapia se os
soluços forem causados por condições neuróticas. O paciente
deve repousar e ele não deve suprimir suas necessidades de
forma alguma.

Pleurite

A inflamação da pleura, a membrana que recobre os pulmões, é


denominada pleurite. É normalmente classificada em três
categorias, dependendo dos efeitos produzidos por esta
inflamação. Se este processo inflamatório produzir depósitos
fibrosos, isto é descrito como pleurite seca. Se, no entanto,
grandes quantidades de fluidos são exsudados durante o processo
65
inflamatório e depositados na cavidade pleural, esta condição
chama-se pleurite com derrame. E, finalmente, se há presença de
pus, a condição é denominada empiema pleural.
Está geralmente associada com dor torácica durante o movimento,
tosse, dificuldade respiratória e temperatura elevada. O paciente
sente dificuldades para permanecer deitado. No Ayurveda esta
condição é denominada Parshva shula e é causada primariamente
por um desequilíbrio de vayu e kapha.7
 Tratamento: A formulação Shringa bhasma é considerada
específica para o tratamento da pleurite. A fórmula é preparada
com chifre de veado, que é cortado em pequenos pedaços,
processado, e transformado em cinzas. Tritura-se até que se torne
um pó fino e desta forma é utilizado como medicamento. Meia
grama desta substância é administrada, três a quatro vezes ao dia,
dependendo da condição ser severa ou aguda. Ao ser fornecido
ao paciente, deve ser misturado com mel.
Se a pleurite estiver acompanhada de edema, 250 mg. de
Naradiya lakshmivilasa deve ser adicionado a este pó e
administrado quatro vezes ao dia. Caso haja tosse e muco, então,
aos dois medicamentos acima deve-se adicionar 125 mg. de Rasa
sindoora (a cada uma das doses). Rasa sindoora é preparado com
mercúrio e enxofre especialmente processados sobre o fogo.
Deve-se tomar cuidado com o uso deste medicamento por um
período de tempo muito longo. Assim que a tosse e a dor sejam
dominadas, este medicamento deve ser retirado e os dois
primeiros devem ser mantidos.

7 Vayu e kapha são dois dos três humores (doshas) do corpo: Vayu ou Vata
regula todas as funções motoras e sensoriais do sistema nervoso. Pitta regula
todas as reações enzimáticas incluindo a digestão e o metabolismo corporal.
Kapha ou slesma conserva os órgãos sensoriais unidos facilitando assim seu
funcionamento harmonioso.
66
Caso haja formação de pus neste fluido e se, consequentemente,
o paciente estiver apresentando febre, é aconselhável adicionar
125 mg. de Suvarna vasanta malati e todos os outros
medicamentos, quatro vezes ao dia, misturado com mel.
 Dieta: É estritamente proibido ingerir frituras. O paciente não
pode ingerir alimentos frios. Iogurte amargo, patola (Trichosanthes
dioica), berinjela, quiabo, couve-flor, repolho e batatas podem ser
dados ao paciente. Normalmente, o paciente perde o apetite e
torna-se, portanto, constipado. Caso isto aconteça, devem ser
despendidos esforços para a remissão da constipação. Isto trará
muito conforto ao paciente.
 Conduta: O paciente deve evitar qualquer exercício físico,
relações sexuais, exposição ao vento frio e chuva. O repouso na
cama é essencial a este tipo de paciente; mas durante o inverno,
não se deve permitir que ele durma durante o dia.

Tuberculose

A tuberculose é causada pelo bacilo da tuberculose. Afeta


primariamente o pulmão. Outros órgãos como ossos, nódulos
linfáticos e intestinos também são afetados. No Ayurveda esta
doença é conhecida como Rajayakshma, que significa literalmente
o tipo de doença.
No Ayurveda, os bacilos são considerados fatores causais da
doença. No entanto, eles são classificados como um dos fatores
secundários para o aparecimento desta doença. O fator primário é
o desequilíbrio dos doshas (humores) e a deficiência dos dhatus
ou elementos teciduais no corpo. Os bacilos da tuberculose estão
presentes na garganta de muitos indivíduos sem que eles sofram
da doença. Da mesma forma como uma semente permanece
dormente, sem germinar, em uma terra árida, o bacilo da
67
tuberculose não é capaz de tornar manifestada a doença a menos
que os doshas (humores) estejam simultaneamente
desequilibrados. Para que estes doshas tornem-se
desequilibrados, os seguintes quatro fatores são considerados
muito importantes do ponto de vista ayurvédico:
1) Irregularidade na ingestão dos alimentos
2) Realização de exercícios ou trabalho pesado além da
capacidade do indivíduo
3) A supressão das necessidades básicas
4) Relações sexuais excessivas

O paciente que sofre de tuberculose perde peso rapidamente e


apresenta febre e tosse. Há também rouquidão, anorexia, dores no
peito, expectoração com muco contendo sangue, cefaléia, dores
no corpo e fraqueza. O paciente sente uma sensação de
queimação na sola dos pés e palmas das mãos. Esta doença é
freqüentemente caracterizada por sudorese noturna.
 Tratamento: A planta vasa (Adhatoda vasica) é comumente
utilizada pelos médicos ayurvédicos no tratamento desta doença.
O suco das folhas desta planta é administrada na dose de 30 ml.,
quatro vezes ao dia, misturado com mel. Reduz a tosse, auxilia na
expectoração e cura a sensação de queimação.
A formulação Naradiya mahalakshmi vilasa que contém entre
outros ingredientes, o ouro, é a droga de escolha para o
tratamento desta doença. Deve ser administrada na dose de 200
mg., três vezes ao dia, com mel. Ela funciona de forma excelente
quando o paciente sofre de bronquite crônica e frio. Quando há
febre excessiva, sudorese noturna e uma sensação de queimação
na palma das mãos e na sola dos pés, a droga de escolha é
Svarna vasanta malati que contém, entre outros ingredientes,
pérolas e ouro.

68
Lasuna ou alho é um medicamento muito útil na medicina para o
tratamento desta doença. Ferve-se 30 g. de alho em cerca de 500
ml. de leite e 500 ml. de água. Após entrar em ebulição, a solução
deve ser reduzida a um quarto do volume inicial e depois filtrada.
Este leite medicinal deve ser administrado ao paciente duas vezes
ao dia. Para melhorar a digestão do paciente, deve ser
administrado 30 ml. de Drakshasava após a refeição com igual
quantidade de água. Chyavana prasha também é administrado ao
paciente que sofre de tuberculose. Contém amalaki (Emblica
officinalis) que é um de seus importantes ingredientes. É muito
nutritivo e útil em todos os tipos de doenças torácicas. É
administrado na dose de duas colheres de chá, duas vezes ao dia,
com leite e o paciente deve estar com estômago vazio. Com a
melhora do poder de digestão, deve ser aumentada a dose deste
medicamento. Ele é mais um alimento que um medicamento, de
forma que até 50 a 100 g. podem ser administrados por dia. A
formulação Chyavana prasha pode suprimir o apetite até certo
ponto, mas o paciente adquire um enorme benefício do mesmo.
Pippali (Piper longum) também é empregada no tratamento da
tuberculose. É também uma importante ingrediente de Chyavana
prasha. É administrada isoladamente em forma de pó na dose de
uma colher de chá, três vezes ao dia, com mel.
Todas as frutas secas, em especial as uvas passas, e o óleo de
amêndoas são úteis nesta condição. As uvas passas são
benéficas na cura da doença, além de seu efeito nutritivo sobre o
corpo humano. Entre os vegetais, a Cassia fistula, patola
(Trichosanthes dioica) e kunduru (Coccinia indica) são muito úteis
nesta condição.
 Dieta: O paciente deve ingerir muito arroz, trigo e feijão se ele
gostar destes alimentos. Alimentos nutritivos como leite e ovos
devem ser oferecidos ao paciente. O leite de cabra e as carnes
são benéficas também. São contra indicados os alimentos azedos
69
como iogurte e outros alimentos que desequilibram kapha (um dos
três humores), tais como a banana e a goiaba. O leite de vaca e
seus derivados, especialmente o ghee (manteiga purificada
indiana) e a manteiga são muito úteis.
 Conduta: O paciente não deve realizar qualquer exercício físico
pesado ou esforço mental. Ele deve evitar as relações sexuais.
Uma caminhada suave no início da manhã ao ar livre é benéfico.
Ele deve evitar a raiva, a tristeza e a ansiedade.

70
Figura 4: Rasona ou Lasuna ( Allium sativum)

71
Capítulo 6

DOENÇAS DA PELE E DOS


CABELOS

Calvície

A calvície pode ser local ou generalizada. Normalmente, as


pessoas apresentam falta de cabelos sobre uma área circunscrita
do crânio ou da barba. Nos casos mais severos, os cabelos da
barba, dos cílios, das sobrancelhas, das axilas e da região púbica
também vão ficando ausentes. No Ayurveda esta condição é
denominada Khalitya.
As preocupações mentais excessivas, a ansiedade e a raiva são
consideradas fatores causais para este distúrbio. Um tipo de
organismo patogênico também pode ser considerado causador da
perda de cabelos do corpo, incluindo da cabeça.
Mesmo não causando qualquer dor física, esta condição gera
muitos problemas psíquicos. Um tipo de complexo de inferioridade
desenvolve-se na mente do paciente, especialmente por causa do
efeito da calvície sobre a beleza.
 Tratamento: Bhringaraja (Eclipta alba) é a droga de escolha
para o tratamento da doença. Maha bhringaraja taila ou
72
Nilibhringadi taila8 é comumente prescrito pelos médicos. Estes
óleos devem ser suavemente massageados sobre o crânio cerca
de uma hora antes do banho. Através desta massagem, alguns
cabelos que estão enfraquecidos também irão cair. Portanto, no
início, o cabelo parecerá mais ralo e a calvície irá parecer mais
acentuada. O paciente não deve se assustar com isto. Na
verdade, é preferível que a cabeça seja raspada para que a
massagem com óleo seja empregada. O procedimento deve ser
contínuo durante seis meses antes que qualquer resultado
significativo possa ser conseguido. O pó de Bhringaraja (Eclipta
alba) deve ser administrado ao paciente via oral. Uma colher de
chá deste pó é misturado com mel, duas vezes ao dia, e
administrado estando o paciente de estômago vazio.
O marfim do elefante é muito usado popularmente e indicado pelos
médicos ayurvédicos para o tratamento da calvície. O marfim é
cortado em pedaços pequenos e queimados até se transformar em
cinzas. Este pó é esfregado juntamente com manteiga ou mel
sobre as áreas diariamente. Isto deve ser feito de preferência
durante a noite de forma que as cinzas (ou bhasma) de marfim de
elefante permaneçam em contato com a pele do crânio a noite
toda.
Algumas substâncias irritantes também são empregadas no
tratamento, pois funcionam muito bem se a calvície aparece no
jovem. A formulação Ashvakanchuki rasa é empregada para este
propósito. É basicamente um potente purgativo. Seus tabletes são
triturados, misturados com mel e aplicados externamente. A
mistura é aplicada sobre a cabeça de tarde e deixada secar. O
paciente dorme sem lavar a cabeça. No início, a aplicação deste

8 As formulações Maha bhringaraja taila e Nilibhringadi taila são descritas no


livro “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, pelo mesmo autor,
Editora Chakpori, págs. 150 e 167.
73
medicamento acusa irritação e hiperemia no crânio, mas
lentamente, os cabelos começam a crescer.
 Dieta: O enfraquecimento é geralmente a causa da queda de
cabelos e o paciente deve, portanto, ingerir uma dieta nutritiva.
Carne, peixe, manteiga, ghee (manteiga purificada indiana), leite e
outros alimentos altamente protéicos são normalmente
recomendados. Deve-se cuidar para que o fígado não seja
sobrecarregado. Portanto, frituras são estritamente proibidas para
este paciente.
 Conduta: A preocupação é uma das principais causas da
calvície. O paciente deve, portanto, tentar manter uma disposição
tranqüila e evitar a ansiedade. Passar noites sem dormir, excesso
nas relações sexuais e a supressão das necessidades básicas de
defecar e urinar devem ser terminantemente evitadas. Um
paciente com constipação é mais propenso a ter um sono
perturbado. A tensão posterior piora a calvície. O paciente deve,
portanto, tentar manter os movimentos intestinais livres
diariamente. Um copo de água no início da manhã será bastante
útil para o paciente. Será necessário que ele caminhe cerca de 2 a
3 quilômetros pela manhã e à noite.
Muitos óleos de cabelos são anunciados em jornais e revistas para
curar a calvície. A maioria faz declarações exageradas. O
paciente, portanto, não deve deixar de consultar um médico.

Eczemas

Eczema significa “ferver” na superfície da pele e é caracterizada


por erupções cutâneas espontâneas. É caracterizada clinicamente
por erupções pápulo-vesiculosas. No Ayurveda é denominada
Vicharchika. Poder ser primariamente de dois tipos, o eczema
seco e o úmido. No primeiro, não há exsudação, enquanto que no
74
último tipo, pode haver secreção de água das lesões, ou por que o
paciente coça-se ou mesmo sem a fricção.
 Tratamento: A área afetada pelo eczema deve ser limpa todos
os dias com água morna fervida com a casca da árvore neem
(Azadirachta indica). Depois de limpa, deve ser aplicada sobre a
pele a pasta da casca desta árvore (Azadirachta indica), deixando-
a secar. A formulação Paradadi malham é muito utilizada pelos
médicos ayurvédicos nestes distúrbios. Ela contém, entre outros, o
mercúrio e o enxofre como ingredientes e deve ser aplicada três
vezes ao dia. Para uso interno, a formulação Shuddha gandhaka
deve ser administrada ao paciente na dose de 200 mg., duas
vezes ao dia, misturada com mel, de estômago vazio. Nos casos
crônicos e resistentes, a droga Rasa manikya pode ser prescrita
também Consiste de uma preparação com arsênico e deve ser
administrada com os cuidados adequados. Normalmente, a dose é
de 125 mg., duas vezes ao dia, misturada com mel. Está
disponível em forma graduada e em pequenos pedaços. Antes de
ser administrada, deve ser transformada em um pó fino.
No caso de eczemas em crianças, tanto as formulações Paradadi
malham como Rasa manikya não devem ser empregadas. Elas
contém ingredientes tóxicos e podem causar outras complicações.
Para aplicação externa, os óleos Guduchyadi taila ou Brihat
marichyadi taila devem ser empregados.
O paciente não deve ficar constipado. Caso apresenta este
sintoma, deve ser administrada uma colher de chá de pó de
triphala9 na hora de dormir, regularmente.
 Dieta: A ingestão de sal deve ser reduzida, principalmente se o
paciente estiver recebendo Rasa manikya internamente. Alimentos
azedos, incluindo picles, a variedade azeda da Cassia fistula e

9Denominação coletiva para os três frutos mirabólanos, ou seja, Terminalia


chebula, Terminalia belerica e Emblica officinalis.
75
flores de neem são muito úteis para estes pacientes. Açafrão é
muito benéfico quando o paciente apresenta este tipo de patologia.
Pode ser aplicado externamente sobre a área eczematosa e
também internamente, juntamente com leite, na dose de uma
colher de chá, duas vezes por dia.
 Conduta: Certos tipos de ornamentos interferem com a
evaporação do suor. Náilons, poliéster e outros tecidos sintéticos,
devem, portanto, ser evitados. O paciente deve usar pouca roupa,
principalmente sobre a lesão. As áreas eczematosas devem ser
mantidas, particularmente, livres de qualquer tecido apertado.

Branqueamento dos cabelos

O cabelo grisalho é geralmente considerado um sinal da idade. Às


vezes, começa na idade jovem, e então, é considerada uma
doença. No Ayurveda, é conhecida como Palitya.
De acordo com o Ayurveda, a paixão, na forma de desejos e
apegos, a raiva e o esforço psíquico excessivos dão origem a esta
doença. Os indivíduos que possuem o tipo constitucional paittika
são mais propensos a desenvolverem um branqueamento
prematuro dos cabelos. As pessoas que sofrem de resfriados
crônicos e sinusite e aquelas que usam água morna para lavarem
os cabelos são mais propensos a serem vítimas desta condição.
 Tratamento: As plantas Bhringaraja (Eclipta alba) e amalaki
(Emblica officinalis) são popularmente utilizadas nestes casos. O
óleo medicinal, cuja preparação consiste na ebulição destas duas
plantas, recebe a denominação Maha bhringaraja taila e é
empregado externamente para massagem do couro cabeludo. O
óleo medicinal preparado com as sementes da árvore neem é
utilizado para inalação duas vezes ao dia, durante cerca de um

76
mês. Concomitantemente, o paciente deve ser orientado a ingerir
somente leite como dieta.
Outra droga popularmente empregada é a bhallataka (Semecarpus
anacardium). Ela possui um efeito ligeiramente alergênico.
Portanto, esta substância deve ser processada cuidadosamente
antes de ser utilizada. Normalmente, prescreve-se esta droga na
forma de pasta (linctus) na dose de uma colher de chá, duas vezes
ao dia, seguido de leite.
 Dieta: Estas terapias serão eficazes somente se o paciente
observar as restrições dietéticas. Ele deve tomar leite sempre que
possível e deve evitar o sal. Alimentos azedos como o iogurte não
são benéficos. Devem ser evitados os alimentos picantes,
penetrantes e as especiarias.
 Conduta: O paciente não deve ficar acordado por longo tempo
durante à noite, e deve estar livre de preocupações, ansiedade e
paixões. Se apresentar sinusite e resfriado, o tratamento deve ser
imediato e cuidadoso. Nunca deve ser empregada água quente
para a lavagem do cabelo e para o banho deve ser utilizada água
fria.

77
Figura 5: Eclipta alba (bhringaraja)

78
Leucodermia

Esta doença é caracterizada por perda da pigmentação da pele


em áreas localizadas. De acordo com o Ayurveda, é causada por
fatores mórbidos durante a vida que resultam em deficiente
produção de pitta. Estas áreas brancas de leucodermia, em geral,
evoluem sem quaisquer alteração física. No entanto, causa muitos
aborrecimentos ao paciente portador do problema, por causa da
desfiguração que ocorre. Esta doença também é hereditária e,
desta forma, o casamento dos filhos do paciente com alguém que
sofre de leucodermia torna-se um problema. Há um estigma social
com relação a esta doença. No Ayurveda, ela é considerada um
tipo de Kushtha. As pessoas que ignoram as reais implicações
destes termos técnicos consideram a leucodermia um tipo de
lepra, e por esta razão, evitam o paciente. Isto é resultado de um
mau entendimento. Na verdade, no Ayurveda, o termo Kushtha
refere-se a qualquer doença de pele de difícil tratamento ou
crônica, incluindo a hanseníase. Por ser a leucodermia uma
doença de pele crônica, foi incluída neste grupo de patologias e
não tem qualquer relação com a hanseníase.
Às vezes, estas manchas na pele tornam-se marrom
avermelhadas, e pequenas erupções aparecem sobre elas. Elas
provocam prurido consideravelmente intenso, seguido de
exsudação aquosa e sensação de queimação.
De acordo com o Ayurveda, a leucodermia que se localiza na área
de transição entre a pele e a membrana mucosa é difícil de curar.
Esta doença também é difícil de tratar quando atinge pessoas
idosas.
 Tratamento: A leucodermia é freqüentemente causada por
distúrbios digestivos. As pessoas que sofrem de disenteria crônica
são mais propensas a serem afetadas por esta patologia. Portanto,
o primeiro passo é corrigir os problemas digestivos e a disenteria,
79
se estiverem presentes. A droga de escolha é Kutaja (Holarrhena
antidysenterica). A casca desta planta é empregada na forma de
um pó, administrado na dose de uma colher de chá, três vezes ao
dia. Alguns outros carminativos e laxantes podem ser
administrados em uma dose de quatro tabletes, três vezes ao dia
(um total de 12 tabletes). O ingrediente mais importante da
formulação é a planta katuki (Picrorhiza kurroa). Esta droga
estimula o fígado e corrige seu desequilíbrio, auxiliando na cura da
leucodermia. A fórmula também contém cobre na forma de
bhasma (pó calcinado). Este metal age sobre o metabolismo e a
síntese de pigmentos (melanina).
A outra droga comumente utilizada para o tratamento desta
doença é Bhallataka (Semecarpus anacardium). É preparada na
forma de pasta (linctus) com adição de outras substâncias. É
administrada na dose de uma colher de chá, duas vezes ao dia.
Este medicamento pode provocar alguns efeitos adversos sobre o
corpo. Estes efeitos podem ser evitados adotando-se ações
adequadas antes da aplicação. Assim, a área mais interna da
mucosa deve ser coberta com uma camada de manteiga ou ghee,
de forma que a pasta nunca entre em contato direto com a
membrana mucosa. Imediatamente após a aplicação do produto,
deve ser oferecido leite ao paciente. Enquanto estiver utilizando o
medicamento, o paciente deve evitar condutas e alimentos
quentes e não deve se expor ao sol ou ao calor. Caso apareçam
erupções na pele, apesar de todas as precauções tomadas, o
paciente deve ingerir a polpa do coco cru. Isto elimina todas as
manifestações tóxicas da droga.
A droga Bakuci (Psoralea corylifolia) é muito utilizada
popularmente para o tratamento desta doença, tanto no Ayurveda
como na alopatia. Uma pasta preparada com as sementes desta
planta deve ser aplicada externamente. O pó desta droga
misturado com a decocção de khadira (Acacia catechu) e amalaki
80
(Emblica officinalis) é administrado ao paciente na dose de 1/2
colher de chá, duas vezes ao dia. O óleo preparado com gunja
(Abrus precatorius) fervido também é aconselhável para o
tratamento da leucodermia.
 Dieta: O paciente não deve ingerir sal de forma nenhuma.
Quanto mais ele evitar o sal, mais rapidamente a droga agirá. Se
for necessário, o paciente pode ingerir sal-gema em uma
quantidade pequena apenas. As especiarias e outras substâncias
penetrantes devem ser evitadas. Vegetais que possuem sabor
amargo como iogurte amargo e a variedade amarga da Cassia
fistula são benéficos.
 Conduta: O paciente não deve se expor ao calor ou ao sol
excessivamente. Fatores psíquicos são reconhecidamente
responsáveis pela precipitação e agravação da doença. O
paciente, portanto, deve tentar se manter longe de preocupações,
ansiedade e outras formas de stress mental. Permanecer
acordado à noite por longos períodos deve ser evitado. Os
medicamentos sugeridos agem melhor se o paciente não estiver
constipado.

Brotoejas

É uma forma aguda de erupção cutânea associada com sudorese


excessiva, especialmente durante o clima úmido. No Ayurveda
esta condição é conhecida como Pidaka.
Consiste de pequenas erupções superficiais que se parecem com
grãos de areia. Afeta quase todas as partes do corpo. O prurido, a
sensação de queimação e as picadas causam muito desconforto,
e pode causar infecção bacteriana secundária.
 Tratamento: As pessoas com o tipo paittika de constituição
física são mais propensas a adquirir este problema de pele.
81
Sempre que possível, estes pacientes devem evitar o calor e a
umidade. A ingestão de Pravala pishti na dose de 500 mg. duas
vezes ao dia, com mel, age tanto na prevenção como na cura
desta doença.
 Dieta: Amêndoas, óleo de amêndoas e uvas, especialmente a
uva passa, são muito benéficos para estes paciente. Sucos de
frutas devem ser ingeridos em grande quantidade.
 Conduta: O contato com ar fresco e os exercícios físicos são
úteis na cura e prevenção desta condição. Deve-se tomar o
cuidado de não permitir que o suor permaneça no corpo tão logo
seja eliminado pela pele.

Psoríase

Trata-se de uma doença de pele pápulo-escamosa crônica e


recorrente, que apresenta lesões cinza prateadas que se
descamam. Apesar de ocorrer em qualquer parte do corpo, afeta
mais freqüentemente as áreas sobre os joelhos e cotovelos. No
Ayurveda é conhecida como Eka-kushtha. As impurezas do
sangue associadas com alguns fatores emocionais são
mencionadas no Ayurveda como alguns fatores causais para o
surgimento da doença.
Ocorre grave irritação sobre as áreas afetadas e o paciente é
incapaz de resistir ao ato de coçar-se. Com isso, as escamas são
retiradas das lesões e expõem uma pele brilhante e prateada logo
abaixo das mesmas, sendo este o aspecto característico desta
doença. Eventualmente, por violenta fricção, há exsudação aquosa
e sangramento na região, produzindo uma sensação de
queimação.
 Tratamento: A formulação Kustha rakshasa taila (um tipo de
óleo medicinal) é muito eficaz no tratamento desta patologia. É
82
aplicada externamente sobre as áreas afetadas e nas adjacentes
especialmente quando o paciente sente o prurido. Administra-se a
droga Guggulu tiktaka ghrita (uma preparação na forma de
manteiga medicinal), que contém, entre outras substâncias a
planta guggulu (Commiphora mukul) e outros cinco ingredientes
amargos. Ela conserva os intestinos limpos, promove a digestão,
estimula o fígado, purifica o sangue e produz lubrificação no
organismo. Deve-se iniciar com a dose de uma colher de chá,
duas vezes ao dia, em jejum, misturada com uma xícara de leite
morno. A dose deve ser gradualmente aumentada até seis
colheres de chá da manteiga medicinal, duas vezes ao dia, ou até
que surjam sinais de que o organismo está adequadamente
lubrificado. É um tratamento preparatório e, em geral, é prescrito
ao paciente antes da administração da terapia específica. Outra
formulação bastante utilizada no Ayurveda é a Chanda maruta.
Esta droga contém, entre outros ingredientes, mercúrio e arsênico.
É geralmente administrada na dose de 125 mg., duas vezes ao
dia, misturada com mel e em jejum. Como alguns ingredientes da
droga são altamente tóxicos, cuidados apropriados devem ser
tomados durante sua administração.
 Dieta: Devem ser evitados os alimentos picantes e especiarias.
O paciente deve evitar também o sal e o iogurte. Caso seja
necessário, pode-se utilizar o sal-gema em pequenas quantidades.
Todos os vegetais com sabor amargo como a abóbora amarga, a
variedade amarga da Cassia fistula e as flores da árvore neem
(Azadirachta indica) são muito benéficos nesta condição.
 Conduta: O paciente deve evitar o uso de tecidos sintéticos.
Ele não deve usar suas unhas para friccionar as áreas
pruriginosas. Sempre que houver sensação de prurido, o paciente
deve ser aconselhado a esfregar Kushtha rakshasa taila sobre as
lesões.

83
Tinha

Esta é uma doença de pele causada por fungos. No Ayurveda é


denominada Dadru. A infecção dissemina-se do centro para a
periferia e a cura inicia-se centralmente resultando em lesões em
forma de anéis com uma borda vesicular ou escamosa e uma zona
central de pele normal ou cicatrizada.
 Tratamento: O paciente deve tomar banhos regulares e vestir
roupas limpas e secas. O banho com água quente e fervida com
folhas de neem (Azadirachta indica) é extremamente benéfico
nesta condição. É aconselhável a aplicação de uma pasta
preparada com as folhas desta árvore (Azadirachta indica) sobre a
pele. Nos pacientes crônicos, o uso de Paradadi malham ou
Dadrughna lepa provou ser muito útil. Uma droga denominada
Edgaja ou edagaja (Cassia tora) é freqüentemente utilizada para o
tratamento. As sementes desta planta são transformadas em pó e
aplicadas sobre a área afetada na forma de pasta. Internamente,
administra-se Shuddha gandhaka, cuja ação é comprovadamente
útil nestes casos. Deve ser prescrito na dose de 200 mg., duas
vezes ao dia, misturado com mel. Estes medicamentos, tanto de
uso interno quanto externo, devem ser continuados por algum
tempo, mesmo após a lesão ter sido curada, uma vez que há
sempre a possibilidade de recorrência desta doença. Portanto, a
medicação deve ser mantida durante sete dias após o
desaparecimento das lesões.
 Dieta: Alimentos azedos, incluindo iogurtes e picles devem ser
evitados.
 Conduta: O paciente deve vestir roupas limpas e banhar-se
com água fervida com as folhas da árvore neem (Azadirachta
indica) diariamente.

84
Escabiose

A escabiose é uma infestação parasitária e se dissemina


geralmente por contato físico. No Ayurveda é conhecida como
Kachchhu.
Em geral, a escabiose afeta as regiões de pele fina abaixo da linha
do colarinho. Portanto, nos membros superiores, costuma afetar
as áreas da face anterior dos cotovelos, a face medial das
articulações dos punhos e mãos e a área entre os dedos. No
tronco, as regiões mais afetadas são as mamas nas mulheres, o
abdome, os órgãos genitais e as nádegas. Nos membros
inferiores, afeta as coxas, os tornozelos e os pés. Surgem pápulas
pruriginosas que são caracterizadas por inflamação, formação de
pus, eczema e prurido.
 Tratamento: O enxofre purificado é freqüentemente utilizado no
tratamento da escabiose. Cerca de 2 gramas de enxofre puro é
colocado em uma colher grande e adiciona-se um pouco de
manteiga purificada de leite de vaca (ghee), de forma a encobrir
todo o enxofre. Esta colher é colocada sobre o fogão e aquecida.
Quando o ghee começa a ferver, o enxofre derrete e mistura-se
com o mesmo. Em outro recipiente, adiciona-se leite de vaca. A
boca do recipiente é coberta com um pano fino. Sobre este pano,
o ghee quente contendo enxofre é derramado e através deste
pano o enxofre é filtrado para dentro do recipiente. Ao entrar em
contato com o leite, o enxofre se solidifica. Deve ser retirado do
leite e lavado com água morna. Este processo deve ser repetido
sete vezes. O enxofre, desta forma, fica livre de impurezas,
tornando-se também atóxico e terapeuticamente mais eficaz
quando administrado internamente. Este enxofre deve ser
transformado em pó e conservado em um recipiente seco. Deve
ser prescrito na dose de 200 mg., duas vezes ao dia, misturado
com mel e em jejum. A manteiga que sai do leite ao qual o enxofre
85
foi adicionado também é muito útil para a aplicação externa. Este
tipo de enxofre também é muito tolerado por crianças.
Deve-se tomar o cuidado necessário para assegurar que os
movimentos intestinais estejam livres. Caso não estejam, deve ser
administrado um laxante.
As partes do corpo afetadas pela escabiose devem ser lavadas
diariamente com água fervida com as folhas da neem (Azadirachta
indica). O sabão preparado com o óleo desta árvore é muito útil.
As folhas da árvore neem podem ser mascadas e usadas
internamente também. As folhas novas da neem, que não são
muito amargas, são transformadas em pílulas do tamanho de
ervilhas e dadas ao paciente duas vezes ao dia.
 Dieta: Alimentos doces e azedos não devem ser ingeridos.
Picles, iogurte e melaço são estritamente proibidos.
 Conduta: O paciente deve desenvolver hábitos de limpeza.
Deve tomar banho diariamente, se possível com água fervida com
as folhas da neem (Azadirachta indica). Exercícios, rápidas
caminhadas ao ar livre pela manhã e ao entardecer são muito
benéficos para o paciente.

Urticária

É uma reação vascular da pele caracterizada pelo aparecimento


transitório de áreas elevadas, mais vermelhas ou mais pálidas que
as áreas adjacentes e que apresentam prurido. No Ayurveda é
denominada Shita pitta.
Os fatores causais mais importantes são os alérgenos, banhos
frios imediatamente após exercícios, quando o corpo ainda está
quente e a excitação mental. Os vermes intestinais e a exposição
ao vento frio causam urticárias freqüentes. Estas lesões aparecem
sobre toda a pele do corpo subitamente ou gradualmente. Pode
86
haver prurido intenso. O paciente está freqüentemente constipado.
Ele pode ter crises de resfriados, tosse, bronquite e distúrbios
gástricos.
 Tratamento: A planta haridra (Curcuma longa) é um dos
remédios caseiros mais populares. É normalmente usada no
tempero curry (à base de açafrão). Uma quantidade maior deste
tempero, adicionado aos vegetais, previne e cura a urticária. Na
forma de pasta, triturando-se seu pó com água, é administrada ao
paciente na dose de duas colheres de chá, três vezes ao dia.
Possui um sabor ligeiramente amargo. Desta forma se o pó puro
não agradar o paciente, pode ser administrado com adição de leite
e açúcar. Uma preparação mais saborosa com a planta haridra
(Curcuma longa) é conhecida como Haridra khanda. É vendida na
forma de grânulos e pode ser oferecido ao paciente na dose de
uma colher de chá três vezes ao dia seguido de uma xícara de
água morna.
Gairika (ocra vermelha) também é popularmente utilizada nesta
doença. Depois de processada, é administrada na dose de uma
colher de chá, três vezes ao dia, misturada com mel. A formulação
Kamadugha rasa, que contém gairika em quantidade
significativamente maior, também é prescrita ao paciente na dose
de 500 mg., quatro vezes ao dia, com mel.
Se o paciente estiver constipado, deve ser prescrito o pó da
haridra (Curcuma longa), na dose de duas colheres de chá, com
água quente no horário de dormir.
 Dieta: O paciente deve ingerir uma dieta sem sal tanto quanto
possível. Alimentos azedos, como o iogurte, são proibidos. Todos
os vegetais que possuem sabor amargo, como a abóbora amarga
e a variedade amarga da Cassia fistula, são benéficos nesta
condição. O alho e a cebola podem ser ingeridos em grande
quantidade.

87
 Conduta: Durante crises agudas de urticária, o paciente deve
ser esfregado com óleo de mostarda misturado com o sal-gema
em pó. Depois, o corpo inteiro deve ser exposto ao sol e
suavemente friccionado com uma moeda de cobre. Isto promove
alívio instantâneo. Se o paciente apresentar parasitose intestinal,
este distúrbio deve ser tratado. Caso contrário, a urticária irá
reaparecer novamente.

88
Figura 6: Curcuma longa (haridra ou rajani)

89
Capítulo 7

DOENÇAS DO SANGUE E DO
SISTEMA CARDIOVASCULAR

Anemia

No Ayurveda, a anemia é conhecida como Pandu. O termo anemia


significa falta de glóbulos vermelhos ou hemoglobina no sangue.
Pode ser causada por: (1) hemorragias conseqüentes a lesões,
hemorróidas, epistaxe, sangramentos pela boca, pelos pulmões,
pelo ânus, pelo trato genital, etc., (2) suprimento inadequado de
ingredientes formadores de sangue, através da alimentação, (3)
destruição de células sangüíneas após sua formação, e (4)
deficiência na produção de sangue por deficiência na função de
alguns órgãos como o estômago, o fígado e a medula óssea.
O oxigênio é muito importante para a manutenção e
funcionamento das células corporais, e este oxigênio é
transportado dos pulmões para diferentes partes do corpo através
dos glóbulos vermelhos. Quando o sangue torna-se deficiente, o
paciente apresenta fraqueza, mesmo após um pequeno esforço, e
há sinais de palidez na face assim como em outras áreas do
corpo.
 Tratamento: Há diferentes causas para os sangramentos por
diferentes áreas do corpo, e se a anemia é causada por um destes
90
fatores, então a causa do sangramento deve ser tratada em
primeiro lugar. Nas deficiências nutricionais, devem ser ingeridos
gêneros alimentícios contendo ferro. Se a anemia (Pandu roga) é
causada pelo mal funcionamento de quaisquer dos órgãos ou
vísceras do corpo, como o fígado, estômago e medula óssea, o
medicamento freqüentemente indicado pelos habilidosos médicos
ayurvédicos é Punarnavadi mandura ou Punarnava mandura, que
contém 22 ingredientes. O ingrediente mais importante desta
fórmula é mandura, um subproduto do minério de ferro, e é
considerado rico na forma assimilável do ferro. Vários processos
farmacêuticos são prescritos para prepará-lo em um pó, também
chamado de bhasma, tornando-o mais assimilável também.
Punarnava (Boerhaavia diffusa), o próximo ingrediente importante
desta fórmula, possui propriedades rejuvenescedoras. A víscera,
ou parte da mesma, cujo desequilíbrio causou a anemia, torna-se
recuperada através do uso desta droga. Outras substâncias
incluídas nesta droga também estimulam os órgãos afetados e
equilibram suas funções. Algumas aumentam o apetite, e portanto,
o alimento é adequadamente digerido, absorvido e assimilado.
Este medicamento não é tóxico, pode ser administrado até mesmo
a um homem saudável, para o qual a droga agirá como um tônico.
Normalmente, 1 grama desta droga é administrada quatro vezes
ao dia. Ela deve ser bem misturada com mel ou qualquer outro
xarope de forma a adquirir uma consistência de uma pasta
(linctus) e depois ingerido. Para crianças, a dose deve ser
proporcionalmente reduzida.
 Dieta: Nas anemias, alimentos azedos, especialmente o
iogurte, e as frituras, que interferem no funcionamento normal do
fígado, são proibidos. Vegetais verdes são considerados
benéficos. Doces preparados com as sementes de til (Sesamum
indicum) adicionados a um xarope preparado com gur (açúcar
doce) é considerado bastante benéfico. Este produto deve ser
91
ingerido principalmente quando a função fígado está afetada. A
casca das sementes de gergelim (Sesamum indicum) contém
muito ferro, e portanto, não deve ser removida na preparação dos
doces.
 Conduta: A anemia, de acordo com o Ayurveda, é considerada
um tipo de desequilíbrio de pitta. A purgação é considerada a
melhor terapia para o tratamento de pitta. Portanto, no tratamento
destes casos, a constipação é imediatamente corrigida. No
paciente constipado, os medicamentos mencionados acima tem
eficácia reduzida. Punarnava mandura age como um laxante
suave quando administrado em uma dose maior. Mas se o
paciente permanecer constipado, mesmo sob a ação do remédio,
deve ser prescrita a água triphala10 que deve ser ingerida todos os
dias pela manhã, em jejum.
Além do medicamento acima descrito, existem muitos outros
remédios mencionados no Ayurveda, que devem ser prescritos em
tipos específicos de anemia. Alguns destes medicamentos podem
ser um pouco tóxicos se não forem empregados na dose
adequada. Nos casos sérios de anemia, estas drogas devem ser
utilizadas sob a supervisão apropriada de um médico ayurvédico.

10Triphala: Designação dada às três frutas mirabólanos: Terminalia chebula,


Terminalia belerica e Emblica officinalis.
92
Figura 7: Boerhaavia diffusa (punarnava)

93
Cardiopatias – Angina pectoris

Trata-se essencialmente de uma síndrome clínica de dor torácica


característica produzida pelo aumento do trabalho do coração. Em
geral, a dor tem alívio com o repouso. Na maioria dos casos,
manifesta-se na região anterior do tórax e principalmente sobre o
esterno. A dor irradia para o lado esquerdo do corpo, com
freqüência. Pode atingir os braços, pescoço, mandíbula e também
a parte superior do abdome. O ombro esquerdo e o braço
esquerdo são muito freqüentemente acometidos pela dor. É mais
conhecida como doença do coração. No Ayurveda é denominada
Hridroga. São muitos tipos dependendo dos aspectos
característicos da dor. Se a dor é aguda, e de natureza móvel,
passa a ser chamada Vatika hridroga. Se estiver associada com
sensação de queimação, chama-se Paittika hridroga. Na Kaphaja
hridroga, a dor é em geral muito suave e está associada com
sensação de peso, náuseas e tosse.
A patologia é causada por obstrução nas artérias coronárias, os
vasos sangüíneos que atravessam a parede do coração e nutrem
o músculo cardíaco. Como o músculo cardíaco despende uma
imensa quantidade de energia, necessita de nutrição ininterrupta.
Isto naturalmente demanda um bom suprimento de sangue.
Qualquer bloqueio nestes vasos sangüíneos interferem com o
adequado fluxo de sangue para os músculos cardíacos. Se o fluxo
de sangue for significativamente reduzido, o coração sinaliza suas
dificuldades com o registro de dor ou desconforto no peito.
 Tratamento: Arjuna (Terminalia arjuna) é a droga de escolha
para o tratamento desta doença. Trata-se de uma árvore de porte
elevado e sua casca é utilizada como medicamento. O pó ou a
decocção de sua casca é administrada durante e mesmo depois
94
da crise. O pó é administrado na dose de 1 grama, quatro vezes
ao dia. Se a doença cardíaca for do tipo vatika, o medicamento é
misturado ao ghee. Se for do tipo paittika, emprega-se o leite. No
tipo kaphaja de doença cardíaca, a droga é misturada ao mel ou
com o pó de pippali (Piper longum). Para preparar a decocção,
geralmente 30 gramas do pó puro da casca da árvore é fervido
com aproximadamente 500 ml de água até que seja reduzido a um
quarto. Passa-se à filtração, adiciona-se mel ou ghee e pode ser
administrado ao paciente. Se for adicionado mel, a decocção deve
estar fria antes da mistura. O ghee é misturado quando a
decocção está morna e é fornecida ao paciente nesta temperatura.
Existem muitas preparações que utilizam esta planta, a arjuna
(Terminalia arjuna). Os médicos usam freqüentemente a
formulação Arjunarishta. Seis colheres de chá desta droga na
forma líquida são administradas ao paciente duas vezes ao dia
após a refeição, com igual quantidade de água. Arjuna (Terminalia
arjuna) é fervida em manteiga de vaca, e este ghee medicinal é
administrado ao paciente na dose de uma colher de chá duas
vezes por dia, em jejum, misturado com uma xícara de leite morno.
Esta preparação é conhecida como Arjuna ghrita. Este
medicamento não deve ser prescrito para um paciente obeso.
Seria acrescentar mais gordura e isto poderia criar mais
problemas.
Outros medicamentos utilizados para diferentes tipos de doenças
cardíacas são Hridayarnava rasa e Prabhakara vati. Estes
medicamentos são disponíveis na forma de tabletes. Devem ser
prescritos dois tabletes, três a quatro vezes ao dia, dependendo da
gravidade da doença.
No momento dos ataques agudos, Mrigamadasava é a droga
ideal. Trata-se de um medicamento em forma de líquido,
administrado na dose de 1/2 a 1 colher de chá, misturada com
igual quantidade de água. Estes medicamentos são utilizados
95
mesmo depois da remissão da crise. Com o esforço, o paciente
pode apresentar um ataque a qualquer momento. Torna-se,
portanto, necessário que utilize os medicamentos acima
mencionados durante seis meses continuamente.
 Dieta: Estão proibidas as frituras, os grãos de leguminosas, e
suas preparações, e óleo de amendoim. Os médicos ayurvédicos
permitem a manteiga ou o ghee, mas não o óleo de amendoim. O
ghee de leite de vaca, o leite de vaca e a manteiga de leite de
vaca são muito benéficos ao paciente. O ghee de leite de búfala e
o leite de búfala não são recomendados. Estimulantes como chá,
café e bebidas alcoólicas são muito prejudiciais para tais
pacientes.
 Condutas: O Ayurveda considera interligadas as funções do
coração e da mente. Os distúrbios de um afetam o outro. Então,
pacientes com doenças cardíacas são aconselhados pelos
médicos ayurvédicos a evitar a ansiedade, a preocupação, a
atividade sexual excessiva e a disposição irada. Todos os esforços
devem ser feitos para que o paciente tenha um bom sono à noite.
Mesmo um descanso durante o dia é essencial. Ele nunca deve
permanecer acordado até tarde da noite.
Os intestinos devem estar funcionando regularmente. Se
apresentar constipação, deve ser aconselhado a ingerir um copo
de água pela manhã bem cedo e sair para caminhar todos os dias.

96
Figura 8: Terminalia arjuna (arjuna)
Hipertensão

O sangue é bombeado pelo coração para todas as partes do corpo


através das artérias, seus ramos e inúmeros capilares. Quando o
coração contrai, o sangue é forçado para dentro das artérias e
portanto, exerce uma pressão positiva sobre as paredes destes
canais. Quando o coração dilata, a pressão nas artérias é reduzida
e cria-se uma pressão negativa. As paredes das artérias são
elásticas para acomodar tanto as pressões negativas quanto as
97
positivas. Durante a contração do coração, a pressão exercida
sobre as paredes das artérias é chamada sistólica e durante a
dilatação do coração, a pressão exercida é chamada diastólica.
A pressão do sangue varia de pessoa para pessoa dependendo da
idade, sexo, trabalho físico e mental. Os homens, tanto aqueles
que estão idosos quanto aqueles que estão expostos a um maior
esforço físico e mental mantém, normalmente, uma pressão mais
elevada que outros. Em condições fisiológicas, a pressão do
sangue aumenta durante situações de medo, raiva e excitação.
Uma pessoa durante o sono e o período de repouso mantém uma
pressão mais baixa.
Além dos fatores físicos e emocionais mencionados acima, a
pressão sangüínea pode se elevar por um desequilíbrio de vayu.
Tanto os fatores físicos e psíquicos, incluindo o clima são
responsáveis por esta alteração. A ingestão excessiva de sal, a
falta de exercícios, a preocupação mental, a insônia e as doenças
dos rins, entre outras, são responsáveis pela pressão elevada na
terceira idade; especialmente quando o rim está afetado, a
pressão se eleva. Por causa do acúmulo de sais nas paredes das
artérias, sua elasticidade é reduzida e, portanto, mesmo um
pequeno esforço do coração exerce pressão sobre estas paredes.
Uma pessoa com hipertensão não dorme bem à noite. Palpitação,
tontura, perda da estabilidade, perda do equilíbrio, dispnéia aos
mínimos esforços, fraqueza e dificuldades digestivas são sintomas
apresentados. Quando a hipertensão torna-se crônica, por causa
da perda da elasticidade das artérias, os capilares que suprem
sangue aos olhos, especialmente para a retina, são afetados
resultando em hemorragia local e perda da visão. Quando a
doença torna-se mais grave, com o passar do tempo, agride
também as artérias que nutrem de sangue o cérebro. Por causa da
perda de elasticidade, podem romper-se e ocorre hemorragia. Este
sangramento é conhecido como hemorragia cerebral. Resulta em
98
paralisia. Os movimentos de vários órgãos do corpo são
controlados por estes centros localizados no cérebro. O centro
afetado pela hemorragia é responsável pela paralisia do órgão
correspondente.
 Tratamento: Todos os medicamentos que aliviam vayu e
promovem o vigor do sistema nervoso são benéficos nesta
condição. Lasuna ou alho é uma excelente droga. O alho possui
um efeito aquecedor sobre o corpo quando ingerido cru. O alho
transformado em pasta e misturado com manteiga de leite é muito
eficaz no tratamento desta patologia. Deve-se começar com uma
grama de alho três vezes ao dia. Esta deve ser gradualmente
elevada para 3 gramas três vezes ao dia. Outro método muito
utilizado é a fritura do alho no ghee. Isto reduz o cheiro e torna-o
mais agradável ao paladar.
Sarpagandha (Rauwolfia serpentina) é uma formulação
freqüentemente utilizada no tratamento da hipertensão pelos
médicos ayurvédicos. A droga também é largamente prescrita no
sistema de medicina alopático. Muitos alcalóides tem sido isolados
desta droga e sua eficácia foi comprovada na redução da pressão
sangüínea. No Ayurveda, a raiz desta droga é empregada em seu
estado natural. O pó desta planta é administrado a um paciente
adulto na dose de meia colher de chá, três vezes ao dia. A forma
de tabletes é preparada a partir do extrato aquoso da planta e
deve ser administrado na dose de dois tabletes, três vezes ao dia.
Frações isoladas (alcalóides), quando administradas por período
prolongado, produzem alguns efeitos adversos. Tais efeitos
indesejáveis não são encontrados quando a droga inteira é
transformada em pó ou em tablete.
Para pacientes que sofrem de hipertensão crônica, a terapia
dhara11 é considerada a mais eficaz. Para este fim, utiliza-se o

11 Ver “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, Editora Chakpori.


99
óleo medicinal fervido com bala (Sida rhombifolia) e leite. O óleo é
colocado em um recipiente de barro pendurado em um apoio, tipo
pedestal, ou no teto da sala. O paciente deve deitar-se de costas.
O óleo medicinal é derramado sobre a testa do paciente (entre as
sobrancelhas), de um pequeno buraco feito no fundo do recipiente
de barro. Esta terapia é aplicada uma vez ao dia, de preferência
pela manhã, durante cerca de uma hora. Através do uso desta
terapia, o paciente dorme profundamente à noite e a pressão
sangüínea gradualmente torna-se mais baixa. O mesmo óleo
também pode ser utilizado para massagear a cabeça, assim como
o corpo. Este óleo, preparado através da ebulição de bala (Sida
rhombifolia) com leite, repetidamente, por cem vezes, é
denominado Shatavartita kshirabala taila. Cinco gotas deste óleo
devem ser administradas internamente com uma xícara de leite,
todos os dias. É bastante conhecido por sua eficácia na redução
da pressão sangüínea.
 Dieta: O paciente não deve ingerir alimentos picantes e
especiarias, e deve evitar o sal tanto quanto possível. Óleos e
gorduras hidrogenadas devem ser estritamente proibidos. O
paciente pode utilizar o ghee ou a manteiga preparada com leite
de vaca. O ghee e a manteiga preparados com leite de búfala não
são aconselháveis. O paciente deve ingerir vegetais que auxiliem
na limpeza dos intestinos. A abóbora amarga, a Cassia fistula,
patola (Trichosanthes dioica) e bimbi (Coccinia indica) são os
vegetais mais benéficos. O paciente deve evitar colocasia e a
variedade amarela da abóbora. Ele pode ingerir todos os tipos de
frutas secas. Laranja, banana, goiaba e maça são consideradas
muito úteis . O óleo de amêndoas pode ser administrado na dose
de uma colher de chá em uma xícara de leite na hora de dormir.
Isto ajuda a tranqüilizar o nervos, reduzindo assim a pressão.
Frutas e vegetais fervidos são melhores que cereais e grãos de
leguminosas para estes pacientes.
100
 Conduta: O paciente não deve ficar acordado à noite durante
um tempo demasiadamente longo, e ele deve descansar o máximo
possível. Esforço mental de qualquer forma deve ser evitado. Ele
pode realizar exercícios físicos leves, mas exercícios físicos
pesados, especialmente levantamento de pesos, etc., devem ser
evitados. Ele deve ser equilibrado em seus hábitos alimentares e
naqueles relacionados à evacuação intestinal. Ele deve dedicar-se
algum tempo a meditação e relaxamento, os quais lhe trarão paz e
tranqüilidade mentais.

101
Figura 9: Rauwolfia serpentina (sarpagandha)

102
Icterícia

A icterícia é caracterizada pelo aparecimento de cor amarelada


nos olhos e na pele. No Ayurveda é denominada Kamala. É
causada pela excessiva circulação de pitta (pigmentos biliares) no
sangue. O fígado é responsável pela produção de pitta. Se houver
qualquer obstrução nos ductos biliares, ou falha nas funções do
fígado, ou excessiva destruição de células vermelhas do sangue,
pitta apresenta-se em excesso no sangue. Normalmente, é
eliminado do corpo através da urina e das fezes. No entanto, se
surgir uma obstrução nos ductos biliares, não há eliminação para
os intestinos. As fezes normais possuem uma coloração
característica por causa da bile, de forma que se houver uma
obstrução nos ductos biliares, as fezes tornam-se brancas, pálidas
na coloração. A urina, no entanto, permanece excessivamente
amarela em todos os tipos de icterícia.
Além de tornar a pele e os olhos amarelos, muitos outros sintomas
se manifestam, dependendo do caso. A digestão, especialmente
das gorduras, está deficiente e, consequentemente, o paciente
torna-se fisicamente debilitado. A destruição das células
sangüíneas, e o excesso de circulação de pigmentos biliares
resultam no bloqueio da oxidação dos tecidos celulares, causando
defeitos no metabolismo e queixas relacionadas. Pode haver
prurido em todo o corpo.
 Tratamento: No Ayurveda, em tais condições, aplica-se a
terapia purgativa logo no início. Como o paciente está debilitado,
purgativos potentes estão contra-indicados. Apenas purgativos do
tipo colagogo, que estimulam a função do fígado e aumentam o
fluxo de bile nas vias biliares são empregados. Trivrit (Operculina
turpethum) e kutaki (Picrorhiza kurroa) são as duas drogas de
escolha para este tratamento. A casca da raiz de trivrit e o rizoma
de kutaki são utilizadas separadamente ou associados, na forma
103
de pó. Dependendo do vigor do paciente, da gravidade e do
estágio da doença, o pó destas drogas é administrado na dose de
1 a 2 colheres de chá, duas vezes ao dia, com água quente.
Duas preparações freqüentemente utilizadas para esta condição
são Avipattikara churna e Arogya vardhini vati. A planta trivrit
(Operculina turpethum) é um importante ingrediente da primeira
fórmula e katuki (Picrorhiza kurroa), da última. A primeira droga é
vendida na forma de um pó e administrado na dose de uma colher
de chá, duas vezes ao dia, com água quente. A última, na forma
de tabletes de 250 mg. cada, é administrada na dose de dois
tabletes, três vezes ao dia, seguido por água quente ou misturado
com mel.
Bhumyamalaki (Phyllanthus niruri) é comumente empregado no
tratamento de todos os tipos de kamala (icterícia). Trata-se de uma
erva pequena, com cerca de seis polegadas de altura. O suco
desta planta é administrado ao paciente na dose de uma colher de
chá, três vezes ao dia, misturado com mel. Pode ser administrado
também na forma de pasta. Outras drogas também utilizadas são:
vasaka (Adhatoda vasica), kakamachi (Solanum nigrum) e triphala
(as três frutas: Terminalia chebula, Terminalia belerica e Emblica
officinalis)
 Dieta: Alimentos doces e líquidos como suco da cana-de-
açúcar, o suco da laranja e uvas passas devem ser ingeridos em
grande quantidade. Esta alimentação ajudará a estimular a
micção, auxiliando assim na eliminação dos pigmentos biliares que
estão em excesso no sangue. Podem entrar na dieta os vegetais e
as sopas de carne. Vegetais com sabor amargo são úteis nesta
condição. Alimentos azedos e com sabor penetrante, assim como
especiarias, não são benéficos. O sal deve ser utilizado em
quantidade limitada. A romã (Punica granatum), apesar de azeda,
é benéfica. O iogurte não deve ser oferecido ao paciente. Mas a
manteiga feita de iogurte pode ser oferecida ao paciente em
104
grandes quantidades, pois não é muito azeda. Álcool, de qualquer
forma, está contra-indicado.
 Conduta: O paciente deve estar em completo repouso. Deve
evitar o calor, o sol, o sexo e fatores psíquicos como a raiva e a
ansiedade.

Figura 10: Phyllanthus niruri (bhumyamalaki)

Edema

105
O edema, não inflamatório, surge por diversas razões. Doenças do
coração, fígado e rim, assim como anemia são algumas das
importantes causas para o edema. Em todos os tipos de edemas,
seja qual for sua causa, há acúmulo excessivo de líquidos nos
tecidos. É necessário que estes líquidos sejam eliminados do
corpo.
 Tratamento: Punarnava (Boerhaavia diffusa) é a droga de
escolha para o tratamento desta condição. É uma pequena
trepadeira, encontrada em quase toda a Índia, exceto nas grandes
altitudes. Cresce abundantemente após o início das chuvas. Em
certas regiões, as pessoas usam esta planta como vegetal folhoso.
Existem dois tipos de Punarnava, uma variedade vermelha e uma
branca. Ambas são empregadas na medicina. A planta inteira
pode ser administrada, mas suas raízes atuam melhor que outras
partes da planta na cura do edema. A preparação mais utilizada
popularmente nos casos de edemas é conhecida como Punarnava
mandura. Trata-se de uma preparação à base de ferro na qual é
adicionada a planta Punarnava (Boerhaavia diffusa). É
normalmente disponível na forma de pó e administrada ao
paciente em doses que variam dependendo da causa da doença e
de sua característica aguda. Normalmente, a dose é de 2 gramas,
três vezes ao dia, misturada com mel. Dá uma coloração negra às
fezes. Caso haja constipação, ajuda indiretamente em seu alívio e
uma certa quantidade de fluidos é eliminada do corpo através das
fezes. A droga também melhora a função dos rins e promove a
micção.
Uma preparação alcoólica desta droga é conhecida como
Punarnavadyarishta. É administrada na dose de 6 colheres de chá,
após as refeições, duas vezes ao dia. Deve ser diluída em igual
quantidade de água antes de ser administrada ao paciente. Se o
edema for causado por algum distúrbio do fígado, esta droga deve
ser administrada em dose menor.
106
Outras drogas necessárias para promover a cura da causa do
edema devem ser administradas simultaneamente, ou seja,
juntamente com a preparação de Punarnava.
 Dieta: Sal, frituras e iogurte estão estritamente proibidos.
Vegetais como Cassia fistula, banana verde, abóbora, patola
(Trichosanthes dioica) e abóbora amarga são úteis para este tipo
de paciente. Se houver constipação, o paciente deve ingerir
mamão papaia maduro em quantidade. O mamão papaia verde
também é útil como vegetal neste distúrbio. O excesso de gordura
tanto de origem vegetal como animal deve ser evitado. Óleo de
amendoim e suas preparações são estritamente proibidos.
 Conduta: O paciente deve ser aconselhado a não dormir
durante o dia. Em todos os tipos de edema, se ele se sente
fatigado, pode descansar, mas seus olhos devem permanecer
abertos. Tanto quanto possível, ele deve se movimentar e evitar
hábitos sedentários.

Escorbuto

Esta doença é causada pela deficiência de vitamina C,


caracterizada por fraqueza, anemia, alterações nas gengivas e
hemorragias muco-cutâneas. Os sangramentos ocorrem à
princípio nas gengivas. Podem ocorrer também dos capilares sob
a pele. A presença de vitamina C é essencial para a coagulação
do sangue. Na sua ausência, o sangue não coagula e a parede
dos capilares torna-se muito frágil. Eles se rompem com muita
facilidade e o sangramento não se interrompe mesmo após um
período de tempo considerável. Esta alteração ocorre geralmente
no exército e entre as pessoas que se alimentam apenas de
enlatados e conservas. A fervura excessiva dos vegetais destrói a

107
vitamina C e as pessoas acostumadas com este tipo de alimento
são mais propensos a apresentar esta doença.
 Tratamento: A droga de escolha é amalaki (Emblica officinalis)
no tratamento desta patologia. O fruto maduro deve ser coletado e
posto a secar na sombra. Depois é transformado em pó. Este pó
deve ser misturado com igual quantidade de açúcar e ingerida na
dose de uma colher de chá, três vezes ao dia, com leite.
A formulação Chyavana prasha, que contém amalaki (Emblica
officinalis) entre seus ingredientes mais importantes, é
administrado na dose de uma colher de chá, três vezes ao dia,
com leite.
 Dieta: Frutas frescas, assim como vegetais folhosos e verdes
devem ser ingeridos em grande quantidade. A romã (Punica
granatum) e a banana são muito benéficas nesta condição. As
frutas devem estar cruas.
 Conduta: O paciente não deve se expor demasiadamente ao
sol e ao calor e deve fazer muito repouso.

108
Figura 11: Aegle marmelos (bilva)

109
Capítulo 8

DOENÇAS OCULARES

Catarata

É a opacificação do cristalino ou de sua cápsula, suficiente para


interferir com a visão do olho. No Ayurveda esta doença é
denominada Timira ou Linga nasha. Considera-se que o vayu
desequilibrado seja o responsável pela manifestação desta
doença. Uma das funções de vayu é manter as estruturas secas.
Quando o cristalino e sua cápsula perdem suas características e
tornam-se ásperos, apresentam-se opacos e os raios de luz vindos
dos objetos são incapazes de penetrar através deles. Quando os
raios luminosos não atravessam o cristalino, a retina torna-se
incapaz de recebê-los, de forma que a percepção da visão é
bloqueada. No primeiro estágio da catarata, apenas parte do
cristalino e sua cápsula estão afetados, havendo, portanto, apenas
um bloqueio parcial da visão. O objeto, dessa forma, pode parecer
desfocado.
 Tratamento: Primeiramente, deve ser corrigido o vayu alterado.
Ghee é uma das mais importantes substâncias capazes de corrigir
vayu. O composto Triphala fornece nutrição e fortalece os nervos e
outros tecidos do globo ocular. Maha Triphala ghrita consiste da
composição de ghee (manteiga purificada) com Triphala (as três
frutas), entre outros ingredientes, é popularmente utilizado no
tratamento desta doença. Se a catarata estiver em estágio
avançado, torna-se bastante difícil corrigi-la. Este medicamento,
110
portanto, age muito bem, mas apenas no primeiro estágio de
desenvolvimento deste distúrbio. Este ghee medicinal é
administrado na dose de duas colheres de chá, duas vezes ao dia,
cerca de uma hora antes das refeições, misturada com uma xícara
de leite morno.
Chandrodaya varti é utilizado externamente nesta condição. A
formulação é friccionada com um pouco de água e a pasta é
aplicada na forma de colírio. É ligeiramente irritante. Promove a
circulação sangüínea e o lacrimejamento. O colírio também
promove nutrição aos tecidos dos olhos.
Para a prevenção desta doença e também para curá-la quando ela
está no início, a água de Triphala é muito benéfica. O pó de
Triphala deve ser administrado na dose de uma colher de sopa do
pó para um copo de água, à noite. A mistura é conservada durante
12 horas, bem coberta. Pela manhã, deve ser misturada e filtrada
através de um pedaço de pano limpo, ou filtro de papel. O filtrado,
assim obtido, deve ser usado para lavar os olhos e para ser
administrado internamente.
Para conservar os olhos sem qualquer doença, é necessário
manter o paciente sem constipação. Tanto Maha Triphala ghrita
quanto a água de triphala ajudam a conservar o paciente longe da
constipação.
 Dieta: Manteiga de leite de vaca, leite e manteiga são úteis. O
paciente pode ingerir arroz, trigo, feijões, banana (tanto verde
quanto madura), methi (Trigonella foenum-graecum), espinafre,
patola (Trichosanthes dioica), a variedade doce da koshataki (Luffa
acutangula), Cassia fistula da Índia, quiabos, uvas, romãs, maçãs
e laranjas. Os alimentos com sabor penetrante, azedo e salgado
devem ser evitados. O sal marinho nunca deve ser utilizado,
mesmo nos vegetais. Apenas sal-gema deve ser empregado, mas
também em pequena quantidade.

111
 Conduta: A exposição excessiva ao calor e ao sol é proibida.
Preocupações excessivas, ansiedade e raiva ajudam a agravar
vayu e pitta, cujos desequilíbrios ajudam na causa da doença. Tais
fatores emocionais devem ser evitados.

Miopia

A miopia geralmente ocorre nos jovens e o paciente experimenta


uma dificuldade em enxergar objetos à distância. A causa desta
dificuldade é que os raios paralelos transmitidos pelos objetos são
focalizados em frente à retina, provavelmente por uma alteração
na curvatura da superfície de refração do olho ou por refração
anormal no meio do olho.
Normalmente, após o uso de óculos com lentes côncavas de
curvatura apropriada, o paciente sente alívio do sintoma. Mas ele
precisa continuar a usar as lentes indefinidamente. Em
determinado tipo de miopia, a morbidade continua a aumentar na
idade adulta. Esta patologia recebe a denominação de “miopia
progressiva” e o paciente precisa mudar suas lentes para números
maiores. No Ayurveda esta condição é conhecida como Drishti
dosha.
No Ayurveda, as pessoas que sofrem de resfriados crônicos e
constipação são consideradas propensas a tornarem-se míopes. A
debilidade dos nervos também é considerada um fator que pode
dar origem a esta doença.
No início, o paciente apresenta a visão embaçada da matéria
escrita no quadro negro ou da tela do cinema. O paciente
experimenta uma pequena dificuldade em reconhecer as pessoas
a uma certa distância. Pode haver lacrimejamento, prurido e uma
sensação de peso e queimação nos globos oculares. Pode resultar
em dor de cabeça e distúrbios no sono.
112
 Tratamento: Durante o tratamento deste problema, deve-se
tomar as providências necessárias para curar a constipação e o
resfriado crônico do paciente, se estiverem presentes. A
composição Triphala é comumente utilizada pelos médicos
ayurvédicos para o tratamento desta condição. Uma colher de
sopa deste pó é adicionado a um copo de água à noite, e
conservado durante a noite. No dia seguinte, o pó deve ser filtrado
através de um pano limpo e a água assim obtida deve ser usada
tanto para respingar os olhos como para beber. Cerca de 120 ml.
desta água deve ser ingerida. Em alguns casos, a solução pode
causar diarréia, e em outros, não haverá qualquer alteração
intestinal. Portanto, a dose deve ser adequada de forma que o
paciente consiga evacuar todas as manhãs. Podem ser
necessários dois a três dias para que a dose possa ser adequada.
Depois, deve ser administrada por cerca de 15 dias, sendo que
após a remoção da tendência à constipação, a solução não
causará mais diarréia. Esta dose deve ser continuada por cerca de
três meses para que aja como tônico sobre os olhos. Esta água
deve ser respingada suavemente sobre os olhos pela manhã.
Outro medicamento de escolha é Yasthi madhu (Glycyrrhiza
glabra). A raiz ou o rizoma desta planta é usada para propósitos
medicinais. É muito fibrosa e por isso a preparação de um pó a
partir desta raiz é um processo muito trabalhoso. Um colher de chá
deste pó deve ser misturada com meia colher de chá de ghee puro
e uma colher de chá de mel puro. Isto deve ser tomado duas
vezes ao dia, em jejum – uma vez pela manhã, antes do desjejum
e uma vez à tarde antes do lanche, quando o estômago está
quase vazio. Se a miopia é causada por debilidade nervosa então,
um composto preparado com esta droga, denominado Saptamrita
lauha é empregado. Neste composto, são combinados triphala,
yasthi madhu, lauha bhasma, ghee e mel. Uma colher de chá

113
deste pó é adicionado a uma xícara de leite e ingerida duas vezes
ao dia.
Para controle da miopia progressiva, o ghee medicinal preparado
pela ebulição de triphala (as três frutas) e algumas outras drogas é
prescrito. Esta preparação é denominada Maha Triphala ghrita. Se
o ghee de leite de vaca for utilizado na preparação deste
medicamento, produz resultados excessivamente bons em curto
espaço de tempo. Uma colher de chá deste ghee deve ser
utilizado duas vezes ao dia, com leite. Se houver tendência a
constipação, a dose deste ghee deve ser aumentada para 3
colheres de chá , duas vezes ao dia.
Para curar o paciente do resfriado e congestão nasal, um óleo
medicinal, preparado pela ebulição de alguns ingredientes no óleo
de mostarda, chamado Shadbindu taila12 é prescrito. Seis gotas
deste óleo é pingado em cada narina e profundamente inalado
uma vez pela manhã. No início, esta inalação pode causar ligeira
irritação no nariz e causar também espirros. mas quando utilizado
habitualmente, isto não ocorre.
 Dieta: Alimentos penetrante e azedos como especiarias, picles,
e iogurte são contra-indicados. Os alimentos que causam
constipação e congestão nasal devem ser evitados. O ghee de
leite de vaca é considerado bastante benéfico nesta condição.
Pode ser ingerido juntamente com o alimento. Frituras não são
benéficas e não devem ser ingeridas.
 Conduta: O paciente não deve forçar seus olhos durante seus
estudos. Ele deve dar algum descanso aos olhos após a leitura de
algumas páginas. Escrever durante a noite deve ser evitado
sempre que possível. Costurar e pintar à noite são consideradas
atividades que forçam os olhos demasiadamente. Durante a

12A formulação Shadbindu taila encontra-se no livro “Massagem Terapêutica


na Medicina Ayurvédica” pelo mesmo autor, pág. 183.
114
leitura, a pessoa deve manter a postura adequada e o livro de ser
conservado a uma distância na qual possa ser lido
confortavelmente. A leitura enquanto está deitado na cama é
contra-indicada. O paciente não pode permanecer acordado à
noite, especialmente quando for para estudar e assistir filmes na
televisão. Uma caminhada pela manhã por cerca de 3 quilômetros
diariamente é muito útil para a interrupção do progresso da
doença.

Terçol

Trata-se de uma pequena inflamação tumoral sobre a pálpebra. É


geralmente causada por uma saúde deficiente, conjuntivite,
infecção nas pálpebras e falta de limpeza. Causam dor e
desconforto. Demora cerca de 5 a 8 dias para que este pequeno
tumor na pálpebra supure e para que, com isto, o paciente sinta
alívio da dor, de forma que todo o processo entra em remissão. Há
tendência de que estas lesões apareçam repetidamente.
 Tratamento: De acordo com o Ayurveda, a constipação é uma
das causas comuns para o terçol. Portanto, antes do início do
tratamento, o paciente deve ingerir purgativos. Geralmente, o pó
de triphala (as três frutas) é o medicamento de escolha para este
propósito. O paciente deve ingerir uma colher de chá deste pó de
triphala na hora de dormir, com uma xícara de leite quente. Outra
colher de chá do pó deve ser colocada em um copo de água e
conservado durante a noite. Na manhã seguinte, deve ser agitado
e filtrado, e o líquido obtido é utilizado para lavagem dos olhos.
Para prevenir as recorrências, um colírio é freqüentemente
prescrito pelos médicos ayurvédicos. Ele é conhecido como
Chandrodaya varti. É encontrado em forma de varetas com as
extremidades afiladas. Estes pedaços de varetas arredondadas
115
devem ser trituradas com algumas gotas de mel sobre um prato e
o colírio assim preparado é aplicado suavemente sobre os olhos.
Isto causa uma ligeira irritação e pode haver lacrimejamento dos
olhos. Mas a irritação cessa em cerca de 5 a 10 minutos após a
aplicação.
 Dieta: O paciente deve evitar todas as bebidas e alimentos
azedos. O iogurte, está especialmente proibido. Alimentos
amargos e aqueles que ajudam a estimular os intestinos são
sempre indicados para estes pacientes.
 Conduta: O paciente não deve permanecer acordado durante a
noite por longo tempo. A leitura não é aconselhada. Ele deve evitar
o sol, não deve lavar a cabeça e não deve se expor ao vento muito
frio e à chuva.

116
Capítulo 9

DOENÇAS DOS ÓRGÃOS GENITAIS

Esterilidade Feminina

A união do esperma com o óvulo e sua implantação na parede do


útero leva ao desenvolvimento do feto. Para que haja o adequado
desenvolvimento de um feto, deve haver nutrição apropriada
através da mãe, e esta deve estar livre de doenças durante o
período da concepção e gestação. A esterilidade em mulheres,
portanto, é resultado de falhas do ovário, do útero, das trompas de
Falópio ou dos hormônios que controlam estes órgãos assim como
de uma doença que acometa a mãe.
Falhas nos órgãos genitais podem ser estruturais (orgânicas) ou
funcionais. Para corrigir os defeitos orgânicos, medidas cirúrgicas
devem ser tomadas. Os defeitos funcionais destes órgãos podem
ser tratados satisfatoriamente com medicamentos ayurvédicos. A
condição denominada Bandhyatva no Ayurveda, é considerada
responsável pela deficiência simultânea dos três humores
(doshas).
 Tratamento: A preparação Phala ghrita é muito eficaz no
tratamento da esterilidade feminina. É administrada na dose de
duas colheres de chá, duas vezes por dia, em jejum, misturado
117
com leite. Vanga bhasma é o medicamento de escolha para o
tratamento desta condição. A dose é de 125 mg., duas vezes ao
dia, misturado ao mel. Shilajit ou silajatu (exsudato liberado por
rochas quando expostas ao sol) é uma das drogas mais eficazes
na cura da esterilidade. É administrado à paciente na dose de uma
colher de chá, duas vezes ao dia.
Bala é utilizada localmente e internamente. A raiz desta planta é
fervida em óleo e leite. É empregada com água quente como uma
ducha. Ela produz uma alteração na membrana mucosa do trato
genital que auxilia a efetivar a combinação do óvulo e do
espermatozóide no útero. Este óleo medicinal também é usado
internamente na dose de uma colher de chá pela manhã, com um
copo de leite.
 Dieta: Alimentos penetrantes e alcalinos não devem ser
ingeridos por pessoas que apresentam esterilidade. Elas devem
ingerir frutas e alimentos doces, em grande quantidade.
 Conduta: A obesidade excessiva geralmente resulta em
esterilidade. Nestes casos o peso deve ser reduzido por regulação
da dieta e através de exercícios.

118
Figura 12: Sida rhombifolia (bala)

119
Leucorréia

É caracterizado pela eliminação de secreções do trato genital


feminino. Está freqüentemente associada à infecção do trato
genital por alguns organismos.
Além destes organismos, alguns distúrbios metabólicos e
hormonais são responsáveis pela doença. A secreção eliminada
pelo trato genital produz cheiro desagradável se houver infecção.
A consistência das secreções variam de paciente para paciente
dependendo da idade e da fase do ciclo menstrual .
No Ayurveda, acredita-se que a causa seja o desequilíbrio ou
enfraquecimento do kapha dosha. Ocorre geralmente em
pacientes debilitados, emagrecidos e anêmicos.
Pacientes que sofrem de leucorréia crônica tornam-se irritadiças e
com freqüência possuem mais distúrbios digestivos. Há sempre
alguma dificuldade com relação aos movimentos intestinais. A
paciente desenvolve uma mancha circular escura em torno dos
olhos que é muito característica do ponto de vista do diagnóstico.
Permanecer acordada até tarde da noite precipita o problema. Há
um ciclo vicioso de leucorréia e preocupação mental.
 Tratamento: Para o tratamento desta doença, é sempre
necessário localizar o fator causal exato para este problema.
Duchas regulares do trato genital com a decocção das cascas das
árvores banyan (figueira de bengala) e da figueira são úteis nesta
condição. Uma colher de sopa de cada uma das cascas deve ser
fervida em um litro de água e reduzida à metade. A decocção deve
ser filtrada e o pó é separado. Quando estiver ligeiramente morno,
deve ser utilizado como ducha. Esta decocção conserva as células
teciduais desta área saudáveis. O medicamento mais empregado
popularmente pelos médicos ayurvédicos nesta doença é
Pradarantaka lauha. Esta droga contém alguns bhasmas de
metais (contém metais calcinados). O mais importante é o bhasma
120
de ferro. Para a preparação deste medicamento, os ingredientes
são triturados com o suco de kumari (Aloe barbadensis). A
paciente deve ingerir 250 mg. desta droga, três vezes ao dia, com
mel.
Kumari (Aloe barbadensis) também é utilizada nestas condições.
Ela tonifica as células teciduais do útero e do trato genital e
previne a exsudação de fluidos anormais. A kumari é plantada
como cercas vivas nos jardins. Quando totalmente madura, esta
planta produz lindas flores cor de rosa. Cresce abundantemente
em regiões arenosas. Quando a pele externa da folha desta planta
é retirada, uma polpa carnosa aparece e é empregada para a
extração do suco. Deve ser administrado 30 ml. deste suco, duas
vezes ao dia, com um pouco de mel, preferivelmente em jejum.
Este suco estimula o fígado, promove a digestão e regula os
intestinos. Possui ainda em efeito regulador sobre desequilíbrios
hormonais dos órgãos genitais, tonificando-os.
Lodhra (Symplocus racemosa) também é prescrita com a
finalidade de ser usada em duchas. A casca desta árvore é
empregada e a decocção é preparada da mesma forma como
descrito acima. Este medicamento também é utilizado na forma de
Lodhra asava. A fração alcoólica solúvel desta droga é extraída
através de um processo especial durante ao qual algumas outras
drogas são adicionadas. É administrada na dose de 30 ml., duas
vezes ao dia, após as refeições, com igual quantidade de água.

121
Figura 13: Aloe barbadensis (kumari)

Sphatika ou alume também é utilizado externamente e


internamente no tratamento das leucorréias. O alume é frito em um
recipiente sobre o fogo e depois é transformado em pó. Uma
colher de chá deste pó é adicionado às decocções acima descritas
e utilizadas com a finalidade de duchas. 125 mg. do pó é
misturado com 125 mg. de Pradarantaka lauha e administrado ao
paciente duas vezes ao dia, em jejum, misturado com mel.
Juntamente com todos os medicamentos descritos acima
122
prescreve-se tandulodaka (arroz lavado) para acelerar a ação dos
mesmos. O arroz lavado sozinho também é útil na cura desta
doença.
 Dieta: Alimentos fritos e especiarias não devem ser oferecidos
à paciente. Não se deve permitir que fique em jejum por períodos
prolongados de tempo. Ela não deve ingerir alimentos pesados e
de difícil digestão. Alimentos azedos, especialmente picles e
iogurtes são proibidos. A ingestão de supari (a noz da Areca) após
a refeição é muito útil tanto para a prevenção como para a cura
desta doença.
 Conduta: A paciente deve se afastar de preocupações e não
deve ficar acordada até tarde da noite. As relações sexuais
durante as crises da doença estão proibidas. Uma caminhada ao
ar livre pela manhã ajudará na cura da doença, acelerando-a.
Medidas de sanitárias e de higiene devem ser seguidas
cuidadosamente.

Esterilidade masculina

Esta condição surge quando um casal encontra dificuldades na


geração de descendentes. O problema pode estar tanto em um
como no outro parceiro. As esterilidade pode ser tanto orgânica
como funcional. Nos homens, o fator de procriação está no
esperma. Ele é produzido nos testículos e ejaculado através do
órgão genital masculino durante a relação sexual. A produção de
esperma é regulada por hormônios que são secretados pelas
glândulas endócrinas do corpo. Para que haja a geração de
descendentes, o esperma deve ser ativo e os espermatozóides
devem estar em número suficiente no sêmen. Eventualmente, em
decorrência de alguma morbidade, o esperma pode estar ausente

123
no sêmen ou em pequeno número. Nestes casos a concepção não
ocorre.
 Tratamento: A condição na qual o esperma não existe no
sêmen é difícil de ser tratada. Mas se os espermatozóides estão
presentes, mesmo sendo poucos, ou inativos, a condição pode ser
facilmente solucionada.
A droga ideal para o tratamento destes casos é Ashvagandha
(Withania somnifera). A raiz desta planta é utilizada como
medicamento. Ela é cultivada em algumas regiões do país mas
disponível em todas as regiões como erva daninha na mata. Sua
raiz, quando fresca, possui um cheiro semelhante à urina do
cavalo. Assim, recebeu o nome de ashvagandha (Withania
somnifera). A raiz seca desta planta não possui cheiro, e pode ser
ingerida sem muita inconveniência. Pode ser administrada tanto na
forma de pó, na dose de uma colher de chá, duas vezes ao dia,
seguido de uma xícara de leite, ou pode ser fervida com leite e
depois tomado. Para seu sabor ficar mais agradável, pode ser
misturada com xarope doce. Esta preparação é denominada
Ashvagandha lchya. Torna-se um linctus e pode ser administrado
ao paciente na dose de uma colher de chá duas vezes ao dia,
seguido de uma xícara de leite. Uma preparação alcoólica desta
mesma planta denominada Ashvagandharishta é administrado na
dose de 30 ml., duas vezes ao dia, com igual quantidade de água.
Outra droga utilizada desta condição é kapikacchu (Mucuna
prurita). É uma trepadeira que cresce em todo país. As sementes,
que estão no interior de vagens são utilizadas na medicina. Elas
são torradas e transformadas em pó. Uma colher de chá desta
droga é administrada ao paciente duas vezes ao dia seguido de
uma xícara de leite a cada vez.

124
Figura 14: Withania somnifera (ashvagandha)

125
Makaradhvaja é o mais importante medicamento que é
comumente utilizado pelos médicos ayurvédicos no tratamento
desta e de outras condições associadas. É preparada através de
um processo especial pela combinação de mercúrio, enxofre e
ouro. Deve ser administrado 125 mg. deste medicamento, duas
vezes ao dia, em jejum, misturado com meia colher de chá de
manteiga e meia colher de chá de açúcar.
Todos os medicamentos mencionados acima, além das
propriedades espermatogênicas e espermatopoiéticas são ótimos
tônicos para os nervos e para o coração. Eles não produzem
quaisquer efeitos adversos mesmo se utilizados por tempo
prolongado. No entanto, produzem aquecimento do corpo, sendo
por isso, ideais para o inverno.
 Dieta: Alimentos salgados, azedos, penetrantes e amargos não
são benéficos nestes casos. Alimentos com sabor doce e
adstringente são normalmente administrados aos pacientes.
Coisas doces como leite, ghee e manteiga são benéficos. A carne
e os ovos podem ser oferecidos ao paciente em boa quantidade. O
leite de vaca e o ghee preparado com o mesmo é considerado
especialmente útil no tratamento desta condição.
 Conduta: Todos os medicamentos que produzem
espermatozóides ativos da melhor qualidade são geralmente
afrodisíacos, ou seja, estimulantes sexuais. O indivíduo, portanto,
deve tomar o cuidado para não se envolver sexualmente com
muita freqüência. A moderação nas atividades sexuais é sempre
benéfico nesta condição.

126
Menorragia

O sangramento excessivo durante a menstruação é denominado


menorragia. No Ayurveda é conhecido como Rakta pradara.
Devido a uma falha dos hormônios, ocorre sangramento excessivo
durante a menstruação. Esta falha é causada pelo desequilíbrio de
pitta. Há outras condições tais como câncer do útero e muitas
outras doenças do sangue nas quais ocorre a menorragia.
A menstruação pode ter início com dor abdominal, na região
lombar, ou coxas. Se o sangramento continuar excessivamente
por longo período, o paciente se sentirá muito fraca e debilitada.
Vertigem, cefaléia, dor nas panturrilhas e insônia podem vir a
ocorrer. A paciente torna-se anêmica e pode referir palpitação
cardíaca. Isto pode ocorrer associado com dispnéia.
 Tratamento: Ashoka (Saraka indica) e lodhra (Symplocos
racemosa) são popularmente utilizadas no tratamento desta
condição. O pó das cascas destas duas plantas são administradas
à paciente tanto separadamente como na forma composta, na
dose de uma colher de chá, quatro vezes por dia, com água fria.
Ashokarishta e Lodhrasava são duas importantes preparações
contendo estas plantas. São administradas à paciente na dose de
30 ml., duas vezes ao dia, após a refeição, com igual quantidade
de água.
As folhas tenras da árvore Punica granatum (romã) são utilizadas
nesta condição. Sete folhas juntamente com sete grãos de arroz
são transformados em pasta e prescritas à paciente duas vezes ao
dia, por um mês. Isto funciona tanto como prevenção como para
cura do problema.
Pravala e mukta (dois tipos de pérolas) são usadas nos casos
agudos desta doença. Elas são administradas na forma de um pó
127
denominado Pishti. Deve ser administrado 100 mg. do pó desta
droga à paciente, quatro vezes ao dia.
 Dieta: Arroz envelhecido, trigo, feijão, leite e ghee (manteiga
purificada indiana) podem ser dados ao paciente. O açúcar de
cana, uvas, jaca, banana, amalaki (Emblica officinalis) e romã são
muito úteis nesta condição. Alimentos picantes e especarias são
estritamente proibidos.
 Conduta: A paciente não deve realizar exercícios, nem leves
nem pesados. Ela deve fazer repouso completo. A preocupação, a
ansiedade e a raiva pioram o distúrbio e, portanto, ela deve
repousar completamente, tanto física como mentalmente. A
exposição ao sol, ao calor, dirigir veículos e viagens longas devem
ser evitadas. Os pés da cama onde a paciente for dormir devem
ser um pouco levantados.

Menstruação Dolorosa

No Ayurveda esta doença é denominada Rajah-kricchra. O


Ayurveda atribui a menstruação dolorosa à predominância dos
doshas, ou seja, vayu, pitta e kapha. A dor pode aparecer antes da
menstruação e desaparecer depois. Pode também continuar até o
final do período menstrual. A dor afeta diferentes órgãos da região
pélvica inferior e às vezes, torna-se severa. A paciente pode
apresentar náuseas, vômitos, perda de apetite e constipação. O
sono pode ficar alterado.
 Tratamento: No Ayurveda, a pelve inferior é considerada o sítio
de Apana vayu, responsável pela eliminação do sangue menstrual,
das fezes, da urina, do óvulo e esperma (nos homens). A mulher
que tem tendência à constipação ou aquelas que não
desenvolveram o hábito de atender às necessidades naturais, são
geralmente expostas a este tipo de distúrbio. O médico
128
ayurvédico, portanto, prescreve purgativos à paciente durante
cerca de dois dias antes da data marcada para a menstruação.
Kumari (Aloe barbadensis) é a droga de escolha para o tratamento
deste problema. Extrai-se o suco da sua polpa e administra-se. Às
vezes, o suco é desidratado e fornecido a paciente. O suco
desidratado e o material obtido dele é administrado à paciente
como medicamento. Esta planta cresce em todas as regiões da
Índia, mas é abundante nos desertos e nos locais rochosos.
Kumari asava, que é uma preparação alcoólica desta planta, é
administrada à paciente na dose de 6 colheres de chá, duas vezes
ao dia, após as refeições com igual quantidade de água. Rajah
pravartani, preparação que contém bórax na forma de bhasma13,
assa-fétida e kumari (Aloe barbadensis), também é uma droga
efetiva. Dois tabletes deste medicamento é administrado à
paciente duas vezes ao dia, por sete dias, imediatamente antes
data do período menstrual. A droga alivia a congestão dos órgãos
pélvicos, funciona como um laxante e portanto, conserva a
paciente sem dor durante as menstruações.
A dor durante a menstruação pode ser causada por algum
problema orgânico no trato genital feminino. Neste caso, a cirurgia
é a única maneira de resolver o problema. Os medicamentos
descritos acima ajudam a aliviar a dor causada por distúrbios
funcionais.
 Dieta: A paciente não deve ingerir frituras, grãos de
leguminosas e alimentos azedos. A última semana do ciclo
menstrual é muito importante para esta paciente. Ela não deve
ingerir qualquer alimento que cause constipação. Devem ser
evitados os vegetais como colocasia, batata, abóbora amarela e
beringela. A abóbora branca, o mamão papaia, surana
(Amorphophalus campanulatus), abóbora amarga, abóbora,

13 Material calcinado.
129
Cassia fistula indiana, vários tipos de cucurbitáceas e pepinos são
úteis. O alho é especialmente recomendado. As mulheres que
apresentam este tipo de queixa devem usar 10 dentes de alho,
duas vezes ao dia. A casca externa do alho deve ser removida e o
alho deve ser cortada em pedaços. Seu cheiro penetrante é
diminuído se um pequeno pedaço de manteiga ou suco de limão
for adicionado a ele. Se, no entanto, a paciente é incapaz de
tolerar o cheiro residual, ele deve ser frito com um pouco de
manteiga e ingerido.
Como foi dito anteriormente, a deficiência de Apana vayu (um dos
tipos de vayu) é principalmente responsável pelo distúrbio. Sua
trajetória é descendente e quando seu movimento resulta de um
desequilíbrio hormonal, constipação, ou quaisquer outros fatores,
a melhor conduta é adicionar suficiente quantidade de assa-fétida
ao alimento da paciente. Pode ser administrado à paciente na
forma de pó e para isso a planta deve ser frita com ghee ou
manteiga em uma grande colher sobre o fogo, tornando-a frágil e
podendo ser facilmente transformada em pó. Este pó deve ser
tomado na dose de uma colher de chá, duas vezes ao dia
juntamente com a refeição. Após a ingestão do remédio, deve-se
tomar água quente. A droga exala um odor penetrante e algumas
pessoas não toleram sua ingestão. A paciente deve misturá-lo com
manteiga, vegetais ou arroz, ou mesmo pão.
 Conduta: As mulheres que possuem hábitos sedentários são
mais propensas a este problema. Elas devem receber também um
tratamento psicológico. A paciente deve ser aconselhada a
permanecer na companhia de amigos e parentes, especialmente
durante o período menstrual. Ela deve encontrar um oportunidade
para caminhar pelo menos 3 a 4 quilômetros por dia. A caminhada
pela manhã é extremamente útil para esta condição. Se for obesa,
devem ser despendidos esforços para que reduza de peso. Alguns
exercícios físicos envolvendo a flexão da região da cintura e a
130
contração dos músculos pélvicos devem ser realizados
regularmente. Dormir durante o dia é extremamente prejudicial.
Durante o período menstrual, a mulher deve repousar.

131
Capítulo 10

DOENÇAS PSÍQUICAS E DOENÇAS


DO SISTEMA NERVOSO

Cãibras

A contração involuntária e dolorosa de um músculo voluntário ou


de um grupo de músculos é conhecida como cãibra. No Ayurveda,
é denominada Mamsagata vayu. Quando está localizada nos
músculos da panturrilha, é chamada pindiko-dveshtana. A
realização de exercícios além de sua própria capacidade, o
excesso na ingestão de alimentos secos e ásperos e alguns
medicamentos podem resultar nestas crises de cãibras. Dentre os
tipos de vayu, o denominado Apana vayu penetra todo o corpo e
além de outras funções, equilibra as funções dos músculos
voluntários. Este vayu regula as funções do sistema nervoso
cérebro espinhal. Se qualquer resíduo metabólico, que deve ser
normalmente eliminado do corpo, não é eliminado e passa a
circular no organismo, ele se deposita entre as terminações
nervosas e os tecidos musculares. Na terminologia médica
ayurvédica este fenômeno é denominado ama, fator responsável

132
por causar estas cãibras. As cãibras também são sintomas de
outras doenças.
 Tratamento: A massagem é a melhor terapia para a correção
de Vyana vayu14. Pode ser aplicada pela fricção de óleo medicinal,
por exemplo, Mahanarayana taila15, sobre o corpo. No inverno,
este óleo deve ser aquecido no fogo e depois aplicado nas
massagens. Aqueles que apresentam cãibras freqüentemente
podem lançar mão do uso regular de auto massagem, antes do
banho.
Simhanada guggulu é uma droga eficaz no tratamento desta
condição. Estes pacientes são geralmente constipados.
Simhanada guggulu alivia a constipação quando administrada em
doses maiores. Normalmente, a dose é de 4 tabletes, três vezes
ao dia; mas pode ser aumentada posteriormente. Depois do
medicamento, o paciente deve ingerir uma bebida quente, de
preferência leite quente.
Se a constipação não for adequadamente resolvida com este
medicamento, o paciente deve ingerir óleo de rícino na dose
apropriada, dependendo da constituição individual.
 Dieta: O paciente não deve ingerir alimentos que desequilibram
vayu. Os grãos de leguminosas não são benéficos. Alimentos frios,
ásperos, secos, penetrantes e adstringentes também não devem
ser ingeridos. Coisas doces e azedas podem ser oferecidas aos
pacientes em boa quantidade. O alho, a assa-fétida e patola
(Trichosanthes dioica) são vegetais muito utilizados.
 Conduta: O paciente deve utilizar massagens regulares e
exercícios. Ele não deve se expor ao frio e à chuva. O jejum, o
excesso de exercícios além da própria capacidade, permanecer

14Apana vayu e Vyana vayu são dois tipos de vayu. Ver pág. 14
15A fórmula deste óleo medicinal foi descrita no livro “Massagem Terapêutica
na Medicina Ayurvédica”, pelo mesmo autor, págs. 171-173; Editora Chakpori.
133
acordado durante a noite, a supressão das necessidades naturais,
a preocupação, ansiedade e raiva são algumas das causas
importantes do desequilíbrio de vayu, e devem ser
desencorajados. O paciente não deve dormir durante o dia.

Epilepsia

De acordo com o Ayurveda, as doenças podem ser agrupadas em


três categorias, dependendo da alteração da mente e do corpo.
Elas podem ser (1) físicas ou somáticas, (2) psicossomáticas ou
(3) psíquicas.
A anemia ou Panda roga pertence à primeira categoria; a asma
brônquica ou Tamaka shwasa pertence à segunda categoria e a
epilepsia ou apasmara pertence à terceira categoria.
Dependendo da dominância dos doshas, ou seja, vata, pitta,
kapha e suas formas combinadas, apasmara pode ser de quatro
tipos. O quinto tipo é chamado yoshapasmara, que é
popularmente conhecido como histeria. Este tipo é mais prevalente
entre mulheres. Vários tipos de stress psíquico são considerados
causas desta doença e o coração, interligado à mente, é
primariamente afetado. Alguns fatores físicos como a constipação,
a formação de vento no estômago e falhas na digestão são fatores
precipitantes.
 Tratamento: O objetivo do tratamento ayurvédico desta doença
é equilibrar o sistema nervoso e tonificar o coração. Brahmi
(Bacopa monnieri) e vacha (Acorus calamus) são as duas plantas
medicinais usadas no tratamento desta condição. Ambas crescem
em áreas pantanosas, especialmente nas proximidades de rios e
riachos. A planta inteira é empregada na medicina, no caso de
brahmi, enquanto que no caso de vacha apenas o rizoma ou a
porção subterrânea são utilizados. Os ramos e as folhas de brahmi
134
são grossos e suculentos, e não são facilmente ressecados. O
suco da planta é utilizado na medicina. Por outro lado, o rizoma de
vacha é empregado na forma de pó, depois de ser colocada a
secar na sombra.
Uma colher de chá do suco de brahmi (Bacopa monnieri) ou o pó
de vacha (Acorus calamus) ou ambos são misturados com uma
colher de chá de mel e administrado três vezes ao dia. O suco de
brahmi é ligeiramente amargo e a adição de mel torna-o mais
agradável ao paladar. O pó de vacha possui um odor acre e a
adição de mel suprime este odor desagradável e melhora também
o sabor.
Há muitas preparações que utiliza, estas duas plantas. Algumas
produzem resultados rapidamente e não apresentam sabor ou
cheiro desagradáveis. Um dos compostos de ação rápida é Brihat
vata kulantaka rasa. Esta droga, entre outros ingredientes, contém,
ouro na forma de bhasma (calcinada). Vários tipos de processos
farmacêuticos através dos quais este ou outros metais são
manipulados, transformados em substâncias não tóxicas e
facilmente assimiláveis. Deve ser administrada na dose de 125 g.,
três vezes ao dia com mel.
 Dieta: A ingestão de alimentos de sabor penetrante é
estritamente proibido. O ghee de leite de vaca é considerado
extremamente benéfico nesta condição. A inalação profunda de
ghee de leite pelas narinas também produz bons resultados.
 Condutas: Qualquer esforço mental deve ser evitado e o
paciente deve permanecer sempre ocupado de forma que ele não
fique fazendo considerações sobre sua doença. A massagem
sobre a cabeça e sobre a sola dos pés diariamente com óleo de
gergelim também contribui para uma rápida recuperação deste
problema.

135
Figura 15: Bacopa monnieri (brahmi)

136
Paralisia facial

Como qualquer parte do corpo, os músculos da face são supridos


com nervos que controlam sua ação. Estes nervos ao emergirem
da caixa craniana podem sofrer compressão por algum processo
inflamatório local. Portanto, ocorre um bloqueio na ação destes
nervos. Este processo inflamatório é com freqüência causado por
exposição ao frio e pela ingestão de dieta não saudável.
O primeiro sinal da paralisia facial é uma sensação de rigidez na
face e o paciente experimenta uma dificuldade em movimenta-la.
Quando a paralisia se instala, a lado paralisado torna-se
adormecido e imóvel. O paciente não consegue fechar os olhos, e
por isso, lacrimejam. Ele sente dificuldade em beber água e
mastigar a comida.
A paralisia pode ser completa ou parcial. No último tipo, o lado
afetado é geralmente a região inferior da face.
 Tratamento: A fomentação quente feita com o auxilio de uma
bola com sal é extremamente útil nesta condição. A bola deve ser
conservada dentro de uma panela para mantê-la aquecida. A
temperatura deve ser tolerável e antes de ser aplicada sobre o
paciente, deve ser testada nas mãos. O nervo facial emerge do
crânio através de um orifício acima do lóbulo da orelha. Portanto, a
fomentação deve ser aplicada sobre esta região. A fomentação
será aplicada durante uma hora, duas vezes ao dia. A face nunca
deve ser exposta ao vento frio. A área lesada deve ser sempre
conservada coberta com um cachecol de lã. A massagem com
Mahanarayana taila é útil nesta condição. Todo o lado afetado da
face deve ser massageado. O óleo deve ser aquecido até uma
temperatura tolerável antes da massagem, e o paciente deve ser

137
aconselhado a permanecer em casa durante uma hora. A
massagem deve ser suave e lenta.
Internamente, deve ser prescrito Vatagajankusha. É vendido na
forma de pílulas e devem ser prescritas duas pílulas, três vezes ao
dia, com mel. A pílula deve ser transformada em pó, misturada
com mel e ingerida pelo paciente. A preparação Dashamularishta
apresenta um efeito peculiar sobre o sistema nervoso. Ela tonifica
os nervos e ajuda-os a trabalhar melhor. Possui um efeito
antiinflamatório também. É administrado na dose de seis colheres
de chá, duas vezes ao dia, após as refeições, com igual
quantidade de água. Estes medicamentos devem ser
administrados em associação ou isoladamente e continuados
durante duas semanas depois do paciente recobrar os
movimentos. Como a paralisia não é muito dolorosa, o paciente
interrompe o tratamento após conseguir algum alívio e neste caso,
a paralisia residual que não foi tratada permanece com ele pelo
resto de sua vida. Por este motivo, o tratamento deve ser
completo, ou seja, continuado por mais duas semanas após a
completa recuperação. Isto é necessário para a prevenção de uma
recorrência deste problema.
Os medicamentos mencionados acima são eficazes apenas se o
paciente não estiver constipado. Caso apresente constipação,
deve ser prescrito o óleo de mamona regularmente como
purgante. Além da purgação, o óleo de gergelim apresenta uma
ação antiinflamatória sobre fibras, ossos e articulações. Isto ajuda
muito o paciente.
 Dieta: Deve-se evitar o iogurte, os alimentos azedos e frios,
incluindo sorvete, refrigerante, cerveja gelada e bebidas alcoólicas.
Os grãos de leguminosas de qualquer tipo, assim como suas
preparações, não são benéficos para o paciente. Dentre os
vegetais, a abóbora amarela e colocasia são prejudiciais. Os
vegetais folhosos são muito recomendados nestas condições. O
138
paciente deve comer mais trigo do que arroz. O leite de vaca é
também recomendado ao paciente.
 Conduta: O paciente não deve ficar exposto à chuva e ao vento
frio. Ele deve conservar a face coberta adequadamente no
inverno. Como ele não é capaz de fechar os olhos, mesmo durante
o sono, há possibilidade de que os mesmos sejam lesados, ou
contaminados, com a penetração de microorganismos. Devem ser
tomados cuidados especiais para proteger os olhos destes
problemas. Permanecer acordado por longo tempo durante a noite
é prejudicial.

Perda da Memória

A memória consiste da lembrança do que foi anteriormente


aprendido. Por exemplo, quando a pessoa se lembra do nome de
uma pessoa ele demonstra que aprendeu este nome em algum
período anterior e que reteve esta informação no decorrer do
tempo durante o qual ele talvez não tenha pensado neste nome. A
retenção é inativa e a lembrança é ativa, e ambas estão incluídas
sob a denominação de memória.
O Ayurveda considera que tanto a mente como o corpo estão
intrinsecamente interligados. De acordo com o Ayurveda, nenhum
fenômeno é exclusivamente físico ou mental. O corpo ou a mente
pode predominar em um caso e pode funcionar com um fator
secundário em outro caso. Portanto, para que haja uma boa
memória, assim como para o tratamento da perda da memória,
devemos assegurar que tanto os fatores físicos como os mentais
estejam em bom funcionamento.
 Tratamento: Quando o poder de aprendizado e lembrança está
bloqueado, a droga chamada brahmi (Bacopa monnieri) é
popularmente utilizada para corrigi-la. Há dois tipos desta planta –
139
uma variedade chamada matsyakshi (Bacopa monnieri) e uma
outra denominada mandukaparni (Centella asiatica). Ambas as
ervas são igualmente eficazes na promoção de uma boa memória.
Elas crescem em áreas pantanosas próximas a rios perenes. O
suco destas plantas é utilizado na medicina. Administra-se cerca
de 30 ml. do suco, duas vezes ao dia, em jejum. Ambos possuem
sabor amargo e adstringente. Portanto, devem ser administrados
com um pouco de mel para torná-los mais agradáveis. A fração
lipossolúvel desta droga é útil para promover a memória. O ghee
de leite de vaca é conhecido por seu efeito tônico, tanto sobre o
coração como para o cérebro. Assim, o ghee medicinal é
preparado com a fervura de brahmi (Bacopa monnieri), associado
a outros ingredientes, no ghee de leite de vaca. É denominado
Brahmighrita. O paciente deve ingerir uma colher de chá deste
ghee, duas vezes ao dia, em jejum. Este ghee medicinal é
adicionado a uma xícara de leite morno, misturado com açúcar, e
ingerido quando o ghee se derrete e se mistura ao leite,
misturando-se com uma colher. Esta preparação é muito útil
quando o paciente que sofre de perda da memória está
emagrecido.
A outra droga utilizada pelos médicos ayurvédicos no tratamento
deste problema é chamada Vacha (Acorus calamus). Esta erva
também cresce em áreas pantanosas. O rizoma ou a raiz desta
planta são medicinais. A parte utilizada é lavada adequadamente e
transformada em um fino pó por trituração. Deve ser administrada
uma colher de chá, duas vezes ao dia, misturado com mel ou ghee
de leite de vaca. Muitas preparações ayurvédicas para a promoção
da memória com Sarasvata churna, contém brahmi (Bacopa
monnieri) e vacha (Acorus calamus).
 Dieta: Gêneros alimentícios de sabor doce e gordurosos são
úteis nesta condição. O leite de vaca, o ghee deste leite e outras
preparações à base de leite de vaca são aconselháveis. Alimentos
140
penetrantes, especiarias, e alimentos de sabor amargo e
adstringente devem ser evitados. O óleo de amêndoas e as
amêndoas são úteis na promoção da memória. Amalaki (Emblica
officinalis) pode ser recomendado na forma de murabba, picles e
vegetais.
 Conduta: Todos os medicamentos mencionados acima agem
muito bem quando há paz mental. Portanto, deve-se cuidar para
conservar o paciente longe de aborrecimentos, ansiedades, stress
emocional e cansaço. O paciente deve ser aconselhado a meditar
e recitar mantras. A meditação de acordo com o método prescrito
no yoga serve muito bem a este propósito na promoção e
recuperação da memória.

Histeria

É uma forma comum de reação emocional na qual o paciente


tende a exteriorizar seus sofrimentos de uma maneira dramática e
exagerada. O propósito da histeria é chamar a atenção das
pessoas e ganhar simpatia. Estes paciente podem desenvolver
sintomas que não apresentam base anatômica ou clínica. A
doença é freqüentemente precipitada por fatos dramáticos, tais
como acidentes, encontros com pessoas indesejáveis, separação
de alguém querido, fatos estes que o paciente considera muito
piores do que realmente são. Os ataques histéricos surgem
abruptamente. O paciente torna-se excitado, barulhento e cheio de
queixas, ou pode permanecer estupidamente quieto.
No Ayurveda, é referido como Unmada. É conhecido também
como Yoshapasmara. As mulheres são mais afetadas em número,
por esta doença. Crianças também podem ser freqüentemente
afetadas por este desequilíbrio.

141
Os sintomas da histeria estão relacionados com fatores neuróticos
e emocionais. De qualquer forma, fisicamente, o paciente pode
sofrer de hiperacidez ou azia, indigestão ou mesmo apresentar
uma úlcera. Os intestinos podem ser afetados, resultando tanto na
forma aguda de constipação como em diarréia aguda, dependendo
da resposta à situação emocionalmente alterada. Pode tomar a
forma de uma colite com ulceração aguda da válvula intestinal.
Nenhum órgão do corpo está imune aos sintomas ou doenças
psicossomáticas e podem manifestar-se na forma de uma alergia,
erupção cutânea ou outros tipos de doenças orgânicas e físicas.
 Tratamento: Sarpagandha (Rauwolfia serpentina), brahmi
(Bacopa monnieri), vacha (Acorus calamus) e Shankhapushpi
(Evolvulus alsinoides) são as drogas de escolha para o tratamento
desta doença, pois equilibram tanto a mente como o corpo do
indivíduo. Todas estas drogas são transformadas em pó e
misturadas em iguais quantidades. Deve ser administrada a dose
de uma grama, três vezes ao dia, misturada com uma xícara de
leite. Estes pacientes geralmente sofrem de insônia ou distúrbios
do sono, que são corrigidos por estes medicamentos. O uso de
Asvagandha (Withania somnifera) proporciona considerável alívio
a estes pacientes. Uma preparação desta droga é conhecida como
Ashvagandharishta. Administram-se seis colheres de chá deste
medicamento na forma líquida, após as refeições, duas vezes ao
dia, misturado com igual quantidade de água.
A terapia acima mencionada é administrada para todos os tipos de
histerias. Outros sintomas que acometam estes pacientes são
automaticamente eliminados, assim que ocorre a melhora de suas
condições emocionais e neuróticas. As drogas contendo Cannabis
sativa são freqüentemente utilizadas para o tratamento da histeria.
Para aqueles que sofrem de colite crônica, a preparação
Jatiphaladi churna é considerada muito útil. Uma colher de chá
deste pó é administrado ao paciente, três vezes ao dia, misturado
142
com uma xícara de manteiga de leite. Esta preparação promove a
tranqüilidade da mente e alivia a colite.
 Dieta: Alimentos quentes e especiarias devem ser evitados. O
óleo de amêndoas e as amêndoas são benéficas para estes
pacientes. Um paciente deve tomar o óleo de amêndoas na dose
de uma colher de chá, misturada com uma xícara de leite na hora
de dormir. Isto fortalece o sistema nervoso. Mangas, laranjas,
maçãs, pêssegos e bananas são benéficos nesta condição.
 Conduta: A causa da perturbação mental do paciente deve ser
localizada e esforços devem ser feitos no sentido de livrá-lo dela.
O paciente de ser querido e cuidado com atenção. Ele não deve
ser importunado e, sempre que possível, não se deve mencionar a
doença em sua presença. Deve-se assegurar que ele tenha uma
noite completa de sono. Caminhar pela manhã ajuda
consideravelmente o paciente a desenvolver seu vigor, que é
essencial para vencer esta doença.

Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença mental crônica caracterizada por


alucinações e ilusão. No Ayurveda está classificado sob a
categoria Unmada.
O stress psíquico e o cansaço mental são primariamente
responsáveis pelo desenvolvimento desta doença. As
irregularidades alimentares e a constipação freqüentemente
agravam a condição.
Os sinais e sintomas variam consideravelmente nos diferentes
tipos de esquizofrenia. O paciente é incapaz de dormir, falar e agir
coerentemente e com freqüência torna-se violento.

143
 Tratamento: Dhara é considerado o melhor tratamento para
esta condição. O óleo utilizado no Dhara16 é geralmente Kshirbala
taila. Este óleo é conservado em um recipiente próprio sobre a
fronte do paciente e ajustado de forma que o óleo pingue
continuamente do fundo do recipiente para a região da fronte que
fica entre as sobrancelhas do paciente. Isto deve ser feito uma vez
ao dia. Através deste processo, o paciente dorme bem e se
recupera lentamente. Jatamansi (Nardostachys jatamansi), vacha
(Acorus calamus) e sarpagandha (Rauwolfia serpentina) são
popularmente utilizadas no tratamento desta patologia. Na forma
de pó, estas plantas são administradas na dose de uma colher de
chá (separadamente ou na forma composta), três vezes ao dia,
com leite ou com água fria. Isto traz certa tranqüilidade à mente.
Vatakulantaka rasa também é utilizada no tratamento da
esquizofrenia. Trata-se de uma preparação à base de mercúrio
que deve ser administrada na dose de um tablete, três vezes ao
dia, misturada com mel.
 Dieta: Grãos de leguminosas, feijões e frituras devem ser
evitados. O ghee e a manteiga de leite devem ser ingeridos em
grande quantidade. Os alimentos de sabores penetrantes e
adstringentes não são benéficos nesta situação. O açafrão é muito
útil na esquizofrenia.
 Conduta: Como se trata de uma doença primariamente
psíquica, a psicoterapia é considerada um tratamento ideal. O
paciente deve ser induzido a meditar. A meditação serve a um
propósito muito útil na cura destes pacientes. Fatores
responsáveis por stress psíquico e cansaço devem ser verificadas
e removidas.

16A Terapia Dhara está descrita no livro “Massagem Terapêutica na Medicina


Ayurvédica”, Dr. Bhagwan Dash, Editora Chakpori.
144
Ciatalgia

É uma dor do tipo neurológica. Atinge a região das nádegas, a


região posterior da coxa e a perna, relacionadas ao nervo ciático.
No Ayurveda, esta doença é conhecida como Gridhrasi.
O processo inflamatório na região por onde o nervo ciático
atravessa a curvatura do osso do quadril é o responsável pela
doença.
O processo é causado pelo desequilíbrio de vayu e pelo cansaço
físico. A constipação geralmente precipita ou piora uma crise da
doença.
Além da dor que é geralmente excruciante no quadril, na região
posterior da coxa e na perna, o paciente sente dificuldade em
caminhar, e ele não é capaz de dormir bem.
 Tratamento: Eranda (Ricinus communis) é a droga de escolha
para o tratamento desta doença. É administrada na forma de um
linctus denominado Eranda paka. É administrado na dose de duas
colheres de chá, na hora de dormir, com um copo de água ou leite
morno. É muito útil para pacientes que sofrem de constipação pois
age como um laxante. Guggulu (Commiphora mukul) é muito
empregado no tratamento de todas as dores do sistema nervoso.
A preparação Yogaraja guggulu, que contém guggulu, é
administrado ao paciente na dose de dois tabletes, quatro vezes
ao dia, misturado com leite morno ou água. Para aplicação
externa, o óleo Saindhavadi taila17 é considerado muito útil. Deve
ser empregado para massagear as áreas dolorosas especialmente
sobre a região afetada. A fomentação quente, na qual pacotes de
sal amarrados em bolas redondas de tecido, são muito úteis. Isto
deve ser feito quando o paciente estiver indo dormir. Depois desta

17Ver “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, Dr. Bhagwan Dash,


pág. 185, Editora Chakpori.
145
fomentação, as nádegas e as coxas devem ficar cobertas com
uma manta quente.
 Dieta: Grãos de leguminosas, feijões e frituras são estritamente
proibidos. O paciente não deve tomar iogurte ou qualquer alimento
azedo, incluindo frutas azedas. O açafrão é utilizado tanto como
medicamento quanto ingrediente na alimentação. Ele pode ser
misturado com leite quente e ingerido.
 Conduta: Exercícios suaves para as pernas são
recomendados. Exercícios cansativos incluindo corrida e saltos
estão proibidos. Sempre que possível, os pacientes devem tomar
banho com água quente e nunca usar água fria. A natação em
água fria, no entanto, é considerada extremamente útil.

146
Figura 16: Ricinus communis (eranda)

147
IInsônia

Há muitas teorias sobre os fatores responsáveis pelo sono. A


fadiga, a escuridão, a tranqüilidade da noite, assim como o hábito,
são alguns fatores comuns que levam ao sono. Um indivíduo
normal e saudável deve dormir cerca de seis horas por dia. É
sempre aconselhável que o indivíduo vá para a cama mais cedo e
que se levante antes do nascer do sol. Algumas pessoas, em
decorrência de seu trabalho, precisam permanecer acordadas
durante a noite. Estas pessoas devem dormir durante o dia por um
tempo maior.
Para indivíduos normais, dormir durante o dia deve ser evitado. No
inverno, o sono diurno está terminantemente proibido. No verão,
no entanto, uma soneca é permitida durante o dia. Pessoas que
sofrem de indigestão são aconselhadas a dormir cerca de meia
hora antes de ingerir a refeição e aqueles que sofrem de síndrome
do espru devem dormir depois da refeição. Pacientes que sofrem
de doenças crônicas e algumas doenças agudas como a febre,
precisam dormir mais. Isto ajuda a promover o aspecto anabólico
do sistema metabólico e o catabolismo é reduzido ao mínimo.
Entre os vários grupos etários, as crianças precisam dormir mais
que os idosos. Aqueles que se submetem a um trabalho árduo
também precisam dormir mais. O trabalho mental também resulta
em fadiga das células cerebrais e isto leva à necessidade de
dormir. O trabalho mental excessivo associado a uma reduzida
atividade física resulta freqüentemente em dificuldades para
dormir. A preocupação, a ansiedade, a irritação, o stress
emocional e o cansaço causam insônia.
Todos os fatores responsáveis pelo desequilíbrio de vayu e pitta
no corpo humano resultam em insônia. A ingestão de alimentos
148
condimentados, bebidas estimulantes, fazer exercícios
imediatamente após as refeições, fatores ambientais como o
excesso de calor, frio ou chuva, exposição ao barulho e alterações
no ambiente, somados aos fatores psíquicos enumerados acima,
levam à insônia. Há muitas drogas que quando indicadas para o
tratamento de alguns tipos de doenças, resultam em insônia. Isto
ocorre como um fenômeno psicológico normal nas mulheres
durante a menopausa, e nos homens durante a velhice. Há muitas
doenças, como a hipertensão, as doenças cardíacas, as doenças
renais e hepáticas e outras condições associadas com dor em
diferentes partes do corpo, resultando em insônia.
A insônia ou a falta de sono pode ser transitória ou pode continuar
por um longo período de tempo. As glândulas que secretam
hormônios funcionam normalmente e o distúrbio do sono afeta-as
consideravelmente, resultando na manifestação de doenças. As
doenças cardíacas e a hipertensão estão associadas com
períodos prolongados de insônia. Durante o sono, sonhos ruins
podem perturbar o paciente.
A insônia resulta em fraqueza e o paciente pode tornar-se
constipado, pode apresentar indigestão e pode ocorrer formação
de vento no estômago.

 Tratamento: As causas da insônia devem ser determinadas e


afastadas. Se mesmo assim a insônia persistir, devem ser
administrados medicamentos. As drogas de escolha são brahmi
(Bacopa monnieri), vacha (Acorus calamus) e amalaki (Emblica
officinalis). O pó destas três drogas são preparados juntos ou
isoladamente e administrado na dose de uma colher de chá, três
vezes ao dia, seguido por uma xícara de água normal ou leite.
Óleo de gergelim deve ser fervido com o pó destas drogas e
utilizado na aplicação de massagem sobre a cabeça e o corpo
antes do banho. Este procedimento leva ao sono profundo.
149
O remédio caseiro mais comum, utilizado nesta condição, é a
banana madura. Adiciona-se uma colher de chá de pó de
sementes de cominho frito à fruta e esta mistura é ingerida à noite
antes de dormir.
A melhor terapia para o tratamento da insônia, particularmente
quando a mesma se torna crônica é denominada Dhara18. Para a
preparação desta terapia, deve-se ferver cerca de dois litros de
leite de búfala com 60 gramas de pó de amalaki, que são
transformados em iogurte. Bate-se este iogurte com adição de
água até fazer manteiga. Esta manteiga deve ser gotejada sobre a
fronte (entre os olhos) do paciente, estando este deitado de
costas. O gotejamento deve durar cerca de 14 a 20 minutos. Esta
é reconhecidamente a terapia mais eficaz no tratamento da
insônia.
 Dieta: Dependendo do poder digestivo do paciente, a dieta
deve ser suficientemente nutritiva. Alimentos pesados sempre
ajudam a tornar o sono profundo quando o paciente possui a
capacidade de digerir o alimento. O leite de búfala, a manteiga e o
ghee são considerados bastante úteis. Alimentos picantes e
especiarias devem ser evitados.
 Conduta: A massagem e o banho regular com água fria são
úteis. O paciente deve fazer exercícios físicos além do trabalho
mental. A constipação deve ser eliminada. Caminhadas rápidas ao
entardecer e no início da manhã são benéficas. Os fatores
psíquicos que produzem stress e cansaço e os fatores
responsáveis pela ansiedade, preocupação e tristeza devem ser
removidos.

18Ver “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, Dr. Bhagwan Dash,


Editora Chakpori.
150
Capítulo 11

DOENÇAS DO SISTEMA DIGESTIVO

Disenteria amebiana

No Ayurveda, a amebíase é conhecida como Pravahika. É uma


infecção causada por um microrganismo. De acordo com o
Ayurveda, este organismo é apenas um fator secundário na causa
da doença. Irregularidades dietéticas, ingestão de alimentos
pesados, de difícil digestão e fatores emocionais, como
preocupações, ansiedades e raiva são os principais responsáveis
pela manifestação da doença.
Esta patologia é caracterizada pela eliminação de muco
juntamente com as fezes, ocorrendo freqüentemente e
invariavelmente precedida de uma dor cruciante. Há perda de
apetite e o paciente sente-se excessivamente fraco. Na amebíase
crônica, o fígado é seriamente afetado e o paciente perde peso.
 Tratamento: A droga de escolha é Kutaja (Hollarrhena
antidysenterica). A casca desta planta é administrada na forma de
pó na dose de uma colher de chá, três vezes ao dia. Também é
administrado na forma de decocção. Na sua preparação, ferve-se
30 gramas do pó de kutaja com duas xícaras de água até que se
reduza a um quarto. Após a filtração, a decocção deve ser dada ao

151
paciente duas vezes ao dia. Como seu sabor é bastante amargo,
deve ser adicionado um pouco de mel antes de ser ingerido.
O paciente terá evacuações freqüentes, mas as fezes contendo
muco serão poucas. Ele pode também ficar constipado. A
constipação é prejudicial a estes pacientes. Portanto, como rotina,
deve ser prescrito ao paciente duas colheres de chá de casca de
Isabagol (Plantago ovata) na hora de dormir, com leite ou
manteiga. Na disenteria crônica, é popularmente utilizada
preparação Rasaparpati. Trata-se de uma fórmula à base de
mercúrio e enxofre administrada ao paciente na dose de 125 g.,
três vezes ao dia. A droga deve ser aumentada gradualmente até
250 g., três vezes ao dia. Durante a terapia com parpati, a
ingestão de sal e água é estritamente proibida. A dieta deve ser
limitada ao leite, arroz fervido e açúcar.
 Dieta: O paciente deve evitar a ingestão de frituras. Iogurte
misturado com arroz pode ser oferecido ao paciente para ajudar.
Khichari, ou um mingau preparado com moong dal e arroz, é muito
útil nesta condição. O paciente deve evitar temperos e pimentas.
Os vegetais e a carne devem ser reduzidos ao mínimo possível.
Carnes como sopa podem ser oferecidas. São úteis nesta doença,
os alimentos azedos e adstringentes no sabor, como limão,
amalaki (Emblica officinalis), romã e banana (tanto verde como
madura).
 Conduta: O paciente deve fazer repouso completo
especialmente no estágio agudo. Ele não deve tomar banhos,
especialmente durante a fase aguda da doença.

152
Cirrose hepática

O fígado é um dos órgãos mais importantes do corpo, pois entre


suas inúmeras funções fisiológicas, está a regulação da digestão,
do metabolismo. A lesão deste órgão pode, portanto, levar a
gastrite crônica, enjôos matutinos e constipação. Além da perda de
apetite, o paciente perde peso por causa da falha metabólica. Ele
pode sofrer de diarréia e flatulência. Pode haver uma dor leve na
região superior direita do abdome, onde o órgão está localizado.
Lentamente, o volume do fígado aumenta e com a pressão sobre o
diafragma (a parede muscular que separa os pulmões e coração
dos órgãos do abdome), o paciente passa a apresentar
dificuldades respiratórias e tosse. Pode referir náuseas e vômitos.
O tecido hepático torna-se fibroso e se contrai em volume. Por
causa da contração, a circulação venosa torna-se obstruída, e
ocorre acúmulo de água no abdome.
 Tratamento: A cirrose hepática ocorre por causa de uma dieta
defeituosa e pela excessiva ingestão de álcool. O fígado ajuda na
neutralização dos efeitos tóxicos de algumas drogas e bebidas
como chás e café, que contém cafeína, e do tabaco, que contém
nicotina. Se estas toxinas continuam sendo consumidas
habitualmente em excesso, o fígado torna-se incapaz de superar a
demanda para neutralizar seus efeitos. Isto resulta em cirrose do
órgão. É desejável, em primeiro lugar, pedir ao paciente que
interrompa o uso destas bebidas prejudiciais.
A droga de escolha é Bhringaraja (Eclipta alba) para o tratamento
da cirrose hepática. Administra-se uma colher de chá do suco
desta planta para pacientes acima de 8 anos de idade, três vezes
ao dia. O sabor do suco de Bhringaraja é ligeiramente amargo e
adstringente. Por isso, sempre deve ser prescrito que a criança
153
tome o suco com meia colher de mel. Este suco agirá melhor se
administrado em jejum.
A droga prescrita quando a cirrose ocorre em adultos é Katuki
(Picrorhiza kurroa). Esta erva cresce em altitudes elevadas no
Himalaia. O rizoma ou a raiz desta planta é de uso medicinal. É
amarga no sabor. O pó desta droga é administrado na dose de
uma colher de chá, para um paciente adulto, três vezes ao dia,
misturado com mel em boa quantidade. Se houver constipação, a
dose do pó deve ser aumentada para duas colheres de chá, três
vezes ao dia, e deve ser ingerido todas as vezes com uma xícara
de água morna. A droga é um colagogo e age como purgativo por
estimular o fígado a produzir mais bile. A excreção desta bile em
grande quantidade alivia a congestão do fígado e os tecidos que
estavam sendo destruídos começam a se regenerar. Um
composto denominado Arogyavardhini contém katuki (Picrorhiza
kurroa) associado ao cobre na forma de bhasma (calcinado). O
cobre no Ayurveda é considerado uma droga potente no retorno às
atividades de diversos tipos de tecidos celulares. É uma
substância tóxica, mas através de um método especial de
processamento, a toxicidade da droga é neutralizada e ela se
torna facilmente absorvida no sistema humano. Arogyavardhini é
preparada na forma de tabletes de 250 mg. cada. Dependendo da
gravidade da doença, dois ou três tabletes devem ser prescritos ao
paciente, três vezes ao dia, seguido por uma xícara de água
morna cada vez.
 Dieta: O paciente não deve ingerir qualquer alimento que seja
difícil de digerir. Óleo, ghee e outros alimentos oleosos devem ser
evitados. Vegetais com sabor amargo, como patola (Trichosanthes
dioica), abóbora amarga e a variedade amarga da Cassia fistula
devem ser oferecidos ao paciente. O leite de búfala possui alta
porcentagem de gordura e está contra-indicado. O leite de cabra e
o de vaca podem ser ingeridos em pequena quantidade. O leite de
154
camela é considerado muito benéfico nesta doença,
especialmente quando, como complicação, há acúmulo de água
no abdome, ou ascite. Iogurte está contra-indicado, mas a
manteiga de leite extraída do iogurte de leite de vaca é
extremamente benéfica. Esta manteiga deve ser oferecida ao
paciente depois de retirada toda a gordura. O alho é útil. Se
houver acúmulo de água, deve ser prescrita uma dieta sem sal.
Ele deve ser aconselhado a fazer poucas refeições e deve
compreender que o jejum ajuda a melhorar a função hepática.
 Conduta: O paciente deve ser proibido de dormir durante o dia,
de dirigir veículos em alta velocidade sobre estradas irregulares.
Ele não deve expor-se a solavancos violentos e não deve
submeter-se a exercícios físicos cansativos. Ele deve fazer o
máximo de repouso possível e apenas caminhar é aconselhável.

Cólicas

Um paroxismo abdominal agudo é conhecido como cólica.


Dependendo da causa da dor, pode ser classificada em vários
tipos. As causas mais comuns de cólicas são apendicite, cálculo
biliar, cálculo renal, espasmo intestinal e duodenal, úlcera gástrica
e processo inflamatório do ovário e do fígado. No Ayurveda, é
conhecido como Shula. É causado principalmente por
desequilíbrio de vayu.
A dor em cólica pode aparecer subitamente ou gradualmente. A
digestão e o apetite são geralmente afetados. O paciente torna-se
constipado. A dor pode irradiar para outras regiões do corpo tais
como a região escapular, ou os órgãos genitais. A pessoa pode
apresentar vômitos e náuseas. Outros sinais e sintomas variam
dependendo do órgão e da região do corpo afetado.

155
 Tratamento: No início, deve-se eliminar a constipação, que
alivia vayu. E isto pode ser feito com a administração de um
purgativo leve ou com enema de óleo de rícino.
Shankha bhasma é o medicamento de escolha. É administrado na
dose de 325 g., quatro vezes ao dia seguido por uma xícara de
água quente. Mahashankha vati, que contém shankha bhasma
como ingrediente importante, é geralmente prescrito pelos
médicos. É administrado na dose de dois tabletes quatro vezes ao
dia, com uma xícara de água quente.
Hing (Ferula foetida) e lasuna (Allium sativum) também são
considerados úteis nesta doença. Hingvashtaka churna, que
contém hing (Ferula foetida) como ingrediente importante, é
administrado na dose de uma colher de chá, com água, quatro
vezes ao dia, no tratamento desta doença. Lasuna vati é uma
preparação que contém lasuna (Allium sativum) e é administrada
na dose de dois tabletes quatro vezes ao dia. Abhraka bhasma
também é útil no tratamento de todos os tipos de dores em cólica.
É administrado na dose de 250 g., quatro vezes ao dia, misturado
com mel.
Os órgãos afetados devem ser tratados separadamente.
 Dieta: Grãos de leguminosas, feijões e frituras são
terminantemente proibidos. O paciente deve ter o repouso
suficiente. Exercícios imediatamente após as refeições devem ser
evitados. Preocupações, ansiedade e irritação são responsáveis
pelo desequilíbrio de vayu, principal causador desta condição
patológica. Portanto, devem ser evitadas.

156
Figura 17: Ferula foetida (hing)

157
Úlcera Duodenal

A primeira porção mais proximal do intestino é chamada duodeno.


Possui aproximadamente 12 tsun (largura do polegar) de
comprimento. A extremidade superior deste órgão está conectado
com a extremidade distal do estômago. A bile e o suco pancreático
são excretados no duodeno através de seus respectivos ductos.
Esta porção do intestino, portanto, tem um importante papel na
digestão dos alimentos.
No Ayurveda esta patologia é denominada Grahani. A úlcera
duodenal causa dores em cólica. A dor começa geralmente depois
que o alimento foi digerido. A característica desta dor em cólica é
que ocorre quando o paciente está com fome e alivia quando ele
ingere algum alimento. Evidentemente, há exceções a esta regra.
O paciente que sofre de dores em cólica causada por úlcera
duodenal perde peso lentamente. Isto se deve a falhas na digestão
e a não absorção dos alimentos. Esta doença é geralmente
encontrada em pacientes que sofrem de ansiedade e
preocupação. Por causa da fraqueza resultante das dores em
cólica, o paciente torna-se irritado e sensível. Às vezes, a
ulceração pode sangrar e, ao passar por todo o tubo digestivo
restante, sai nas fezes com coloração escura. O sangue pode
refluir e ser eliminado em forma de vômitos. Mas estes casos são
raros.
No Ayurveda, a dor em cólica é denominada Parinama shula. É
causada principalmente por desequilíbrio de vayu. Indivíduos que
pertencem ao tipo físico constitucional vatika e temperamento
psíquico são mais propensos a apresentar estas doenças.
 Tratamento: Sukumara ghrita é o medicamento de escolha
para a condição. Os ingredientes mais importantes desta
preparação são o ghee e o óleo de rícino. Este ghee medicinal
deve ser administrado ao paciente na dose de duas colheres de
158
chá, em jejum, misturado com uma xícara de leite morno. Se o
leite não for agradável ao paciente, este ghee deve ser muito bem
misturado com uma xícara de água quente. A dose deve ser
gradualmente aumentada. Às vezes, o poder digestivo é afetado
pela ingestão de ghee. Neste caso, a dose deve ser reduzida.
Após ingerir este medicamento por dois a três dias, o poder
digestivo do paciente melhora automaticamente. Então ele se
torna capaz de suportar mais e mais deste ghee medicinal. A dose
deve ser aumentada na razão de meia colher de chá todos os
dias. Cerca de seis colheres de chá de ghee podem ser
administrados ao paciente nesta dosagem gradualmente
aumentada, e não causa qualquer inconveniente ou desconforto
ao paciente, apesar de que ele possa vir a sentir-se um pouco
preguiçoso por causa da sonolência e da cefaléia.
O medicamento utilizado mais freqüentemente pelos médicos
ayurvédicos para o tratamento deste tipo de dor em cólica é
Shankha bhasma. Meia colher de chá deste pó deve ser
administrado três vezes ao dia seguido por uma xícara de água
quente. Quando o paciente sente uma dor insuportável, a
preparação de shankha bhasma denominada Mahashankha vati é
prescrita ao paciente. É administrada geralmente na dose de dois
tabletes, duas a quatro vezes ao dia, dependendo da natureza da
dor. Após a ingestão do medicamento, o paciente deve ingerir uma
xícara de água morna. Isto reduz a dor e promove a digestão.
A natureza desta doença é tal que com pouco tratamento ou
mesmo sem qualquer tratamento, ela entra automaticamente em
remissão. Mas podem ocorrer recaídas quando houver qualquer
alteração na ingestão de alimentos ou durante cansaço ou stress
psíquicos. Para que ocorra a cura permanente desta doença, o
ghee medicinal descrito acima é considerado o melhor tratamento
e deve ser administrado por tempo suficientemente longo mesmo
depois que os sintomas de dor desaparecerem. Há muitas outras
159
preparações com ghee medicinal como Amalaki ghrita e Shatavari
ghrita que também são prescritas no tratamento desta patologia.
 Dieta: Alimentos que produzem secura e aspereza no corpo
são contra-indicados nesta doença. Grãos de leguminosas de
todos os tipos e suas preparações também são proibidas. O
paciente não deve ingerir frituras. Temperos, pimentas e alimentos
azedos também não são benéficos.
O paciente pode beber leite, comer queijo, ghee, arroz, trigo,
amalaki (Emblica officinalis) e romã.
 Conduta: O paciente deve afastar-se de fatores que levem ao
stress mental e ao cansaço e deve cuidar para não se preocupar e
não ficar ansioso. Ele deve descansar o suficiente e não se deve
permitir que passe longo tempo sem se alimentar ou que não
conserve o estômago vazio por muito tempo. A pessoa deve ter
uma boa noite de sono, pelo tempo suficiente. Algumas poucas
horas de sono durante o dia, especialmente após o almoço, pode
ajudar o paciente. Ele não deve apresentar constipação. Isto pode
levar à formação de vento no abdome o qual precipitaria ou
agravaria a crise de dor. O óleo de rícino é considerado um bom
purgativo. A casca de Isabagol (Plantago ovata) deve ser
administrada ao paciente regularmente na hora de dormir.

Flatulência

A distensão do estômago e dos intestinos causada pelo vento.


Normalmente o vento é formado durante o processo digestivo,
mas é eliminado na forma de flatos. Caso esta eliminação não
ocorra, ou se o vento é formado em excesso, ocorre distensão do
estômago e intestinos. No Ayurveda, esta condição é denominada
Adhmana.

160
Por causa da distensão, o paciente experimenta desconforto,
perda de apetite, indigestão, dificuldades respiratórias, cefaléias e
insônia. Estes sintomas estão geralmente associados a
constipação.
 Tratamento: Se a constipação for a causa, a preparação Hing
triguna taila19 deve ser administrada na dose de duas colheres de
chá, uma vez ao dia, em jejum, com uma xícara de água morna.
Kumari asava, na dose de 30 ml., duas vezes ao dia, depois das
refeições, com igual quantidade de água, é um medicamento ideal
para o caso.
Hingvashtaka churna deve ser administrado na dose de uma
colher de chá duas vezes ao dia misturado com uma colher de chá
de ghee e seguido por uma xícara de água quente.
 Dieta: Frituras e grãos de leguminosas assim como todos os
tipos de feijões devem ser evitados. O leite não será bem digerido
por este paciente. O iogurte e a manteiga de leite serão benéficos.
 Conduta: Qualquer trabalho cansativo imediatamente após a
ingestão de alimentos é prejudicial. O paciente deve repousar um
pouco após a alimentação. Ele deve evitar preocupações e
ansiedade principalmente durante suas refeições.

19Esta formulação pode ser encontrada na pág. 186 do livro “Massagem


Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, Dr. Bhagwan Dash, Editora Chakpori.
161
Gastrite

A inflamação do estômago é conhecida como gastrite. Pode ser de


vários tipos dependendo da natureza do processo inflamatório, da
condição da membrana mucosa e das glândulas. O ácido
clorídrico e algumas outras enzimas digestivas são secretadas
pelas glândulas do estômago. A inflamação do estômago,
portanto, resulta em falha desta secreção, levando a indigestão.
No Ayurveda esta doença é denominada Urdhvaga amlapitta.
Irregularidades na dieta, a ingestão de pimentas e especiarias, a
irritação, a ansiedade e a preocupação especialmente durante a
refeição são responsáveis pelo surgimento desta lesão no
estômago. Pessoas com o tipo constitucional paittika são
propensos a adquirir esta doença.
O paciente experimenta eructação ácida acompanhada por uma
sensação de queimação no peito. O apetite pode ser suprimido ou
pode haver uma falsa sensação de fome. O paciente sente
fraqueza e irritabilidade. Refere dor na parte superior do abdome
que é agravada imediatamente depois da ingestão dos alimentos,
ou mesmo quando o estômago está vazio. Com a pressão, sente-
se a área amolecida. O paciente pode apresentar também
náuseas, vertigens e cefaléia. Pacientes que sofrem de gastrite
crônica emagrecem e tornam-se anêmicos.
 Tratamento: A gastrite ou Urdhvaga amlapitta é causada pelo
desequilíbrio de pitta. A melhor terapia para corrigir pitta é a
purgativa. O ghee também tem um importante papel no alívio de
pitta. Portanto, o ghee medicinal , que também age como laxante,
é útil no tratamento desta doença. Geralmente administra-se
Sukumara ghrita, na dose de duas colheres de chá, duas vezes ao
dia, misturado com uma xícara de leite, em jejum. No início, a
162
droga pode afetar o poder digestivo. Após um dia ou dois, a
digestão melhora e o paciente não sente mais esta dificuldade.
Amalaki (Emblica officinalis) é a droga de escolha nesta condição.
É administrada ao paciente na dose de duas colheres de chá
quatro vezes ao dia. Dhatri lauha é freqüentemente prescrita pelo
médico para esta condição. O principal ingrediente desta
preparação é lauha bhasma, impregnado com o suco de amalaki
(Emblica officinalis). É administrada na dose de uma colher de
chá, duas vezes ao dia. Se o paciente estiver constipado,
Avipattikara churna é o medicamento de escolha. A dose é de
duas colheres de chá no horário de dormir. O principal ingrediente
é trivrit (Operculina turpethum). A casca da raiz desta planta
estimula o fígado e por esta razão age como laxante. O coco e a
variedade branca de abóbora são usados como medicamento no
tratamento desta patologia.
 Dieta: Cevada, trigo, arroz (conservado por um ano), sopa de
moong dal (um tipo de feijão), arroz seco, pepino, abóbora
amarga, patola (Trichosanthes dioica), banana verde, a flor da
banana, abóbora branca, romã e leite de vaca são considerados
extremamente úteis no tratamento desta doença. Sementes de
gergelim, masha (Phaseolus radiatus), kulattha (Dolichos biflorus),
grão de bico, alimentos azedos e penetrantes, pesados, iogurte e
bebidas alcoólicas são prejudiciais. O paciente deve fazer uma
dieta exclusivamente com leite (adicionado com açúcar) ou uma
dieta com leite e arroz envelhecido.
 Conduta: O paciente não deve se expor ao trabalho mental ou
físico cansativos. Deve evitar a ansiedade, a preocupação e a
irritação. Ele deve fazer repouso absoluto. Uma caminhada de
aproximadamente uma milha (cerca de 1.600 metros) pela manhã
é muito útil.

163
Hematêmese

Vômitos contendo sangue, conhecido como hematêmese, não


constituem uma doença mas sim, um sinal de que outras doenças
estão acometendo o trato gastrointestinal. No Ayurveda, é
denominada Rakta vami e pertence a um grupo de condições
patológicas chamado Rakta pitta. Úlcera gástrica, câncer gástrico,
gastrite crônica são algumas das doenças que podem causar
hematêmese. O sangue vomitado é misturado com partículas de
alimento, muco ou água. Pode ser eliminado no vômito
isoladamente também.
 Tratamento: Amalaki (Emblica officinalis) é a droga de escolha
para esta condição. O suco do fruto desta planta é administrado ao
paciente na dose de 30 ml., três vezes ao dia. O suco de
Kushmanda pode, de forma semelhante, ser administrado na dose
de 30 ml. três vezes ao dia. A preparação Pravala pishti (que tem
como um de seus ingredientes o coral) é útil no tratamento. É
administrado na dose de um grama, três vezes ao dia, misturada
com mel. Para interromper imediatamente o sangramento, o
paciente deve beber água gelada.
 Dieta: Arroz envelhecido, moong dal (Phaseolus mungo) e
patola (Trichosanthes dioica) são recomendados ao paciente.
Romã, amalaki (Emblica officinalis), banana (tanto madura quanto
verde), leite, ghee e manteiga são benéficos nesta condição.
Alimentos picantes e especiarias devem ser evitados.
 Conduta: O paciente deve fazer repouso absoluto e não deve
se expor ao sol.

Indigestão

164
A indigestão também é um sintoma de outras doenças. Pode ser
causada por alguns distúrbios do intestino e do estômago. Pode
ser causada também por outras doenças que acometem outras
áreas do corpo. A indigestão também pode surgir quando o
indivíduo ingere quantidade excessiva de alimentos ou mesmo
quando ingere alimentos inadequados de maneira incorreta. Isto
pode resultar em sensação de peso no estômago, dor, vômitos,
diarréia, náuseas, eructação ácida e sensação de queimação no
peito.
No Ayurveda esta condição é denominada Agnimandya. É
causada pelo desequilíbrio dos doshas, ou seja, vata, pitta e
kapha. Os sintomas característicos de agnimandya, quando
causada pelo desequilíbrio destes doshas, são descritos com
detalhes nos clássicos ayurvédicos. Em resumo, quando vata está
desequilibrado, há mais dor; quando pitta está desequilibrado, há
mais sensação de queimação, e quando kapha está
desequilibrado, há mais náuseas e vômitos.
Fatores psíquicos como raiva, ansiedade e preocupação exercem
um importante papel na digestão dos alimentos. De acordo com o
Ayurveda, o alimento ingerido no horário e quantidade adequados
não consegue ser digerido se o indivíduo estiver sofrendo destas
aflições mentais.
Várias regras a cerca da maneira correta de se alimentar estão
descritas nos textos ayurvédicos. Por exemplo, deve-se ingerir o
alimento quando está recém preparado e quando ainda está
quente. Deve-se ingerir alimentos que sejam lubrificantes. Os
alimentos devem ser ingeridos em quantidades adequadas. Não
se deve ingerir alimentos antes da digestão da refeição anterior.
Alimentos mutuamente contraditórios não devem ser ingeridos. As
refeições devem ser feitas em ambientes agradáveis e não devem
ser ingeridas nem muito rapidamente nem muito lentamente. Não
se deve falar muito ou rir enquanto estiver comendo. Deve-se
165
examinar o alimento cuidadosamente, com a mente atenta, para
verificar se está saudável.
Como saber que o alimento ingerido anteriormente foi digerido?
No caso de ocorrer eructação, esta deve estar sem qualquer
cheiro. A excreção de fezes e urina são apropriadas, sente-se o
corpo leve, há sede e fome normais.
A quantidade e a qualidade do alimento a ser ingerido varia
conforme as estações do ano e de indivíduo para indivíduo. No
inverno, deve-se ingerir alimentos lubrificantes, azedos e salgados.
Carne de animais aquáticos e de animais que habitam regiões
alagadas podem ser utilizadas na alimentação. Preparações
contendo leite, óleo e arroz colhido recentemente podem ser
ingeridos com segurança. Por outro lado, no verão, o indivíduo
deve ingerir bebidas geladas, ghee, o leite do arroz e a carne de
animais que habitam florestas. Não se deve beber vinho. Se
houver necessidade de beber vinho, ele deve ser diluído em
suficiente quantidade de água.
Se as regras alimentares acima citadas não forem observadas, o
paciente pode sofrer de indigestão.
 Tratamento: O paciente que sofre de indigestão crônica pode
ser satisfatoriamente tratado com alguns remédios caseiros. Cinco
minutos antes da refeição, ele deve pegar um pedaço de gengibre
cru (com cerca de uma grama de peso) e um pedaço de sal gema.
Ambos devem ser mastigados completamente. Isto aumenta o
apetite e corrige a indigestão crônica. Tanto para a indigestão
crônica quanto para a fome aguda, a preparação Hingvashtaka
churna é popularmente utilizada pelos médicos ayurvédicos. Um
ingrediente importante destas fórmulas é hing (Ferula foetida).
Além dele, estão presentes neste medicamento shunthi (Zingiber
officinale seco), pippali (Piper longum), maricha (Piper nigrum),
ajamoda (Apium graveolens), jiraka (Cuminum cyminum)e krishna
jiraka (Carum bulbocastanum).
166
Este medicamento é administrado na forma de pó. Para se obter o
melhor efeito, a droga deve ser misturada com a primeira porção
da comida do paciente. Uma colher de chá é administrada duas
vezes ao dia, misturado com uma colher de chá de ghee. Este pó
também pode ser prescrito após a refeição na mesma dose.
Quando misturada com manteiga produz resultados muito bons.
Quando a indigestão é associada a dor, a preparação
Mahashankha vati é administrada na dose de dois tabletes, três a
quatro vezes ao dia, seguido por uma xícara de água morna.
 Dieta: O paciente deve ingerir uma dieta leve. É aconselhado
que ele faça jejum. No lugar de alimentos sólidos, o paciente deve
beber um copo de suco de limão com sal. O alho tem um efeito
muito bom na correção da indigestão crônica. A manteiga de leite
é o alimento de escolha. Para todos os tipos de indigestão, a dieta
deve ser magra, sem qualquer gordura. A assa-fétida em pó
também é útil nesta condição.
 Conduta: Dormir após as refeições produz indigestão; e dormir
antes do almoço, no período diurno ajuda a digestão. Este
princípio deve ser levado em consideração durante o tratamento
do paciente. Nas fases agudas da indigestão, o paciente deve
fazer repouso físico e mental, mas na indigestão crônica, o
paciente deve ser estimulado a fazer exercícios físicos. Ele não
deve ficar acordado durante a noite. O paciente deve manter-se
afastado de preocupações e ansiedades.

Diarréia infantil

A ingestão de leite estragado ou processos infecciosos no trato


gastrointestinal causam diarréia nas crianças. Se a criança ainda é
amamentada com leite materno, as condições digestivas da mãe
também afetam a digestão do leite pela criança. Juntamente com a
167
diarréia, a criança pode apresentar vômitos e dores em cólicas no
estômago. As fezes podem ser líquidas e com odor malcheiroso,
podem apresentar coloração esverdeada ou amarelada. A diarréia
é uma manifestação comum durante o período de dentição da
criança.
 Tratamento: Diversas marcas de soluções para cólicas
disponíveis no mercado são geralmente utilizadas pelas mães
durante tais problemas. A maioria contém carminativos, e são
prejudiciais se empregados por tempo prolongado. O
medicamento mais utilizado no Ayurveda é musta (Cyperus
rotundus). Trata-se de uma pequena erva que cresce nos campos
gramados e cercas vivas.
A raiz ou o rizoma assemelham-se a pequenos tubérculos e são
utilizados como medicamentos. Devem ser adequadamente limpos
e ralados sobre um pedaço de pedra limpa e transformados em
uma pasta. Administra-se cerca de 125 g. desta pasta, três a
quatro vezes ao dia. Este rizoma pode ser utilizado também na
forma de pó, na dose de 65 g., quatro vezes ao dia, misturado com
meia colher de chá de mel cada vez. Age como carminativos
também. Se houver diarréia líquida ou vômitos, deve ser
administrado jatiphala (Myristica fragrans) na dose de 65 g. do pó
de sua semente, quatro vezes ao dia, misturado com mel.
Dependendo da gravidade da doença a dose desta droga pode ser
aumentada.
Uma preparação composta denominada Gorochanadi vatika é
muito útil no tratamento das diarréias infantis, especialmente
quando são freqüentes, com perdas líquidas, quando a criança
torna-se desidratada e perde peso. Está disponível na forma de
pílulas com cerca de 30 g. cada. Uma pílula desta droga deve ser
administrada às crianças quatro vezes ao dia, misturado com mel.
 Dieta: A criança não deve tomar leite com alta porcentagem de
gordura. O leite de vaca é normalmente considerado benéfico pois
168
contém menos gordura que o leite de búfala. Se a criança não é
capaz de digerir mesmo o leite de vaca, deve ser substituído por
leite de cabra. O leite de vaca pode ser oferecido se diluído em
água. Ao ferver o leite, deve-se adicionar cerca de 125 g. do pó do
rizoma de musta (Cyperus rotundus). Caso a mãe esteja sofrendo
de indigestão, ela também deve ser tratada se estiver
amamentando a criança. De acordo com o Ayurveda, o leite da
mãe ou da ama-de-leite pode se tornar fraco por desequilíbrio de
vayu, pitta e kapha. Os aspectos característicos do leite que são
desequilibrados por estes doshas são descritos em detalhes pelos
clássicos ayurvédicos. O leite deficiente gera doenças nas
crianças. Portanto, o primeiro procedimento é examinar o leite da
mãe e ou da ama-de-leite e corrigi-lo.

169
Figura 18: Cyperus rotundus (musta)

170
Quando a mãe que amamenta torna-se novamente grávida, a
lactação diminui lentamente. Mas em certos casos, a lactação
continua mesmo com a gravidez. Se a criança ingere o leite da
mão grávida e fica doente, isto é conhecido no Ayurveda como
Parigarbhika. Um dos sintomas indicadores de que o leite está
prejudicando a criança é o início da diarréia. Neste caso, o leite
materno deve ser imediatamente substituído por outro tipo de
alimento.
 Conduta: A criança não deve ser perturbada. Deve-se permitir
que ela durma quanto tempo necessitar. Quaisquer distúrbios no
sono causa diarréia e vômitos. Longas viagens de trem ou carro
devem ser evitadas durante a diarréia.

Hemorróidas

Às vezes, as veias da região anal, tanto interna quanto externa,


tornam-se varicosas e dão origem às hemorróidas. No Ayurveda
são denominadas Arshas. A constipação crônica, o hábito de
sentar-se em assentos duros, permanecer sentado por longo
tempo, a falta de exercícios e deficiência no funcionamento do
fígado são responsáveis pelo surgimento das hemorróidas.
Podem ser classificadas em dois grupos: As hemorróidas que
sangram e as que não sangram. Às vezes, o sangramento é tão
intenso que o paciente se torna anêmico. A perda de apetite, o
prurido anal, a formação de vento no estômago e a lombalgia
estão freqüentemente associados com esta doença.
 Tratamento: A droga de escolha é Nagakesara (Mesua ferrea),
especialmente quando as hemorróidas estão associadas com
sangramento. O pó desta flor é administrada na dose de uma
colher de chá, três vezes ao dia. Para o paciente que sofre de
hemorróidas tanto secas quanto hemorrágicas, a planta haritaki
171
(Terminalia chebula) é extremamente útil. É administrada ao
paciente na forma de pó e na dose de uma colher de chá, duas a
três vezes ao dia, seguido de leite.
Abhayarishta, preparação que contém haritaki (Terminalia
chebula) é administrada ao paciente na dose de 30 ml., duas
vezes ao dia após as refeições, com igual quantidade de água. O
óleo medicinal Kasisadi taila, que contém kasisa ou sulfato de
ferro, é usado externamente. Esta preparação retrai as
hemorróidas e elimina o prurido anal. Além disso, alivia a dor e
interrompe o sangramento.
 Dieta: Kulattha (Dolichos biflorus), cevada, trigo, arroz
envelhecido, papaia, amalaki (Emblica officinalis), patola
(Trichosanthes dioica) e leite de cabra são muito úteis no
tratamento desta condição. O rizoma da planta surana
(Amorphophallus campanulatus) também é extremamente útil,
quando administrado na forma de dieta e medicamento. Vegetais
como batata, a variedade amarela da abóbora e colocasia não são
aconselháveis.
 Conduta: O paciente não deve suprimir as necessidades
naturais e não deve se dedicar demasiadamente às atividades
sexuais. Cavalgar sobre o lombo de animais e sentar-se em
assentos duros são muito prejudiciais para o paciente.

Síndrome do Espru

Esta é uma doença crônica caracterizada por diarréia com fezes


espumosas, indigestão, ulcerações na boca, perda de peso e
anemia. As fezes são acompanhadas de muco. O paciente,
geralmente, elimina grande quantidade de muco pela manhã,
depois que se levanta da cama.

172
No Ayurveda, esta doença é conhecida como Grahani roga. Assim
como a disenteria, está associada com uma dor bastante intensa
no estômago. O intestino delgado começa no duodeno e vai até o
cólon e esta porção é denominada grahani no Ayurveda. Os
organismos não representam um papel muito importante na causa
desta patologia. Ela é causada pela falha no funcionamento da
parede interna do intestino delgado. Algumas vezes o intestino
grosso também está afetado.
De acordo com o Ayurveda, pessoas com constituição física do
tipo paittika e temperamento psíquico são mais propensos a
adquirir esta doença. Raiva, preocupação, ansiedade e outros
tipos de esforços e stress emocionais são primariamente
responsáveis pela causa da doença. Irregularidades na ingestão
dos alimentos também precipita a crise. As dificuldades na
digestão e na absorção dos gêneros alimentícios resultam em má-
nutrição. Os elementos teciduais no corpo não conseguem
nutrição adequada. O paciente perde peso e torna-se anêmico.
Mesmo os alimentos mais nutritivos não conseguem auxiliá-lo
nesta condição.
 Tratamento: Esta é uma condição muito crônica e o paciente
deve ser tratado com muito cuidado. A droga de escolha para o
tratamento é Rasa parpati. Entram na formulação desta droga o
mercúrio e o enxofre. Ambos são tóxicos para o organismo. No
entanto, são processados através de um método farmacêutico
especial para torná-los não tóxicos e úteis para o corpo.
O Parpati é administrado ao paciente em doses gradualmente
maiores. Deve-se começar com 125 g. e a cada dia, acrescenta-se
mais 65 g., até que atinja a dose de 645 g. Neste estágio a dose
deve ser mantida por dez dias e, então, será gradualmente
reduzida 65g. por dia até que chegue novamente a 125 g. Ao
atingir esta dose o medicamento deve ser interrompido. Esta forma

173
especial de administração do medicamento é denominada parpati
kalpa.
Durante o parpati kalpa o paciente não deve ingerir sal ou água.
Não é permitido que tome banho e a água não deve ser
empregada nem para propósitos de higiene pessoal. Deve ser
oferecido apenas leite ou manteiga de leite. O açúcar pode ser
adicionado. No início o paciente pode sentir-se um pouco
incomodado por beber apenas leite, mas depois ele se habitua e
desenvolve o poder de digerir grandes quantidades de leite.
Observa-se que pacientes que não eram capazes de digerir ou
tolerar nem mesmo 250 ml. de leite por dia, conseguem, após esta
terapia, digerir cerca de dez a quinze litros de leite por dia. A
terapia serve como rejuvenescedora para o paciente. Juntamente
com a melhora nas condições de funcionamento das paredes
internas do intestino delgado, mais e mais gêneros alimentícios
conseguem ser digeridos e ele ganha peso. Como esta terapia
envolve muitas restrições dietéticas, é sempre aconselhável
administrá-la sob a supervisão de um médico ayurvédico
experiente.
Jatiphala ou noz moscada é outro medicamento de escolha nesta
condição. A semente da fruta, triturada em forma de pó, pode ser
administrada três a quatro vezes ao dia, dependendo do número
de evacuações. Há uma formulação chamada Jatiphaladi churna,
na qual a noz moscada é um ingrediente importante, que deve ser
administrada na dose de uma colher de chá, três a quatro vezes
ao dia.
 Dieta: Frituras e especiarias são estritamente contra-indicadas
nesta condição. O paciente deve ingerir manteiga de leite em
quantidade suficiente. A manutenção de uma dieta constituída
apenas de manteiga de leite apressa a recuperação do paciente.
Sementes de cominho fritas na forma de pó e sal podem ser
adicionados a esta manteiga, de acordo com o paladar do
174
paciente. A manteiga de leite adicionada com arroz e um pouco de
sal também constituem um bom alimento para o paciente. Carne e
peixe normalmente não são indicados. Dentre os vegetais, o
paciente pode comer banana verde, a flor da banana, Cassia
fistula, patola (Trichosanthes dioica), karavellaka (Momordica
charantia), tomates e a variedade branca da abóbora. A abóbora
amarela, colocasia, batatas, quiabos e vegetais de folhas verdes
não são indicados nesta patologia. A romã pode ser ingerida de
várias formas.
 Conduta: Mesmo com a diarréia, pode haver também
constipação. Em alguns casos, diarréia e constipação estão
intercaladas e surgem sucessivamente, uma após a outra. A casca
da Isabagol (Plantago ovata) deve ser prescrita ao paciente na
dose de uma a duas colheres de sopa na hora de dormir,
misturadas com manteiga. O paciente deve fazer repouso
adequado. Ele deve ser aconselhado a dormir uma hora durante o
dia. Devem ser dedicados esforços para que ele tenha um bom
sono durante a noite. Exercícios leves ou caminhadas pela manhã
são muito úteis nesta condição. Excesso de exercícios,
preocupação, ansiedade, raiva, esforço mental, etc. devem ser
evitados.

175
Sede

Quando há uma demanda por água no corpo, o indivíduo tem


sede. Quando o desejo por água é excessivo, é considerado
patológico. No Ayurveda, isto é denominado Trishna roga.
Dependendo dos doshas envolvidos e da patogênese da doença,
pode ser classificada em sete tipos. No tipo vatika, o paciente
sente dor e vertigem, além da sede. No tipo paittika, há sensação
de queimação. No tipo kaphaja, surge um gosto salgado na boca.
 Tratamento: A água do coco verde é muito útil nesta patologia.
Pode ser fornecida ao paciente na quantidade que ele desejar. Um
pedaço de tijolo deve ser lavado, aquecido e mergulhado em um
recipiente com água. Esta água deve ser filtrada e fornecida ao
paciente para beber. Isto ajuda a aliviar a sede. O suco do
tamarindo maduro deve ser transformado em xarope com a adição
de açúcar, e fervendo. Deve ser administrado ao paciente na dose
de 30 ml., quatro vezes ao dia. A manga verde deve ser colocada
sobre o fogo e quando a casca tornar-se torrada, ela deve ser
removida do fogo e esfriada. A polpa da fruta deve ser
transformada em bebida com adição de açúcar e água. Esta
bebida é muito eficaz para o alívio da sede. Também é muito útil
para curar a insolação.
 Dieta: Um mingau fino preparado com arroz seco, suco de
moong dal (Phaseolus mungo), a flor da bananeira, romã, amalaki
(Emblica officinalis) e kushmanda (Benincasa hispida) é muito útil
nesta doença. Alimentos quentes e especiarias devem ser
evitados.
 Conduta: O paciente não deve se expor ao calor e ao sol. Ele
deve repousar.

176
Vômitos

A eliminação forçada do conteúdo do estômago através da boca é


denominada vômito. No Ayurveda é chamado Chhardi. Há muitos
fatores causais que levam ao vômito como preocupações, vermes
intestinais, gravidez, ingestão de alimentos desagradáveis ou
contaminados, etc.
No Ayurveda esta doença é classificada em cinco categorias, ou
seja: vataja, pittaja, kaphaja, tridoshaja e dvishtratha samyogaja. O
tipo vataja é caracterizado por secura na boca, dor no peito e
sabor adstringente na boca. No tipo pittaja, há sensação de
queimação e eructação azeda. No tipo kaphaja, há material
viscoso no conteúdo do vômito. No tipo tridoshaja, o paciente
apresenta todos os sintomas já mencionados nos três tipos. O
quinto tipo é causado por alimento contaminado e há náuseas com
mau cheiro na boca.
 Tratamento: A pena de pavão é muito eficaz no tratamento de
todos os tipos de vômitos. Após ser queimada sobre o fogo, as
cinzas são administradas na dose de 125 mg. quatro vezes ao dia,
misturado com mel. O suco do fruto verde da kapittha, misturado
com mel e Piper longum, deve ser administrado na dose de uma
colher de chá quatro vezes ao dia. Uma pequena quantidade de
cardamomo é muito útil nesta condição.
 Dieta: Arroz seco é considerado tanto um alimento como
medicamento nesta doença. É transformado em pasta, coado em
um pano fino e diluído em água ou em manteiga para ser
administrada ao paciente. Deve ser adicionado sal ou açúcar, de
acordo com o paladar do paciente. Torna-se muito eficaz quando
administrado juntamente com o pó das sementes do cardamomo
verde com cravo-da-índia, na quantidade de 325 mg. de cada um.
Sopa de vegetais e a fruta da badara (Zizyphus jujuba) são muito
úteis para o paciente. O suco de romã também pode ser oferecido.
177
O paciente não deve ingerir alimentos sólidos durante as crises de
vômitos.
 Conduta: O paciente deve fazer repouso completo e ficar alerta
quanto ao estado de hidratação.

Figura 19: Cocos nucifera (narikela)

178
Parasitas intestinais

Vermes redondos, vermes achatados, vermes com gancho,


vermes filiformes, giárdia, etc. são parasitas humanos comuns. Os
ovos destes parasitas percorrem o organismo humano, através
dos alimentos e bebidas e se desenvolvem nos intestinos se
encontrarem o ambiente propício para este propósito. De acordo
com o Ayurveda, o intestino das pessoas que ingerem açúcar em
excesso ou alimentos azedos proporcionam uma condição
condizente às necessidades que o parasita possui para crescer.
Os sintomas da presença dos vermes variam de acordo com o tipo
que parasita o intestino. Todos causam falhas no processo de
digestão. Vermes com ganchos sugam sangue e causam anemia.
Pode ocorrer dor aguda no estômago tanto com constipação como
com diarréia. Os vermes redondos são responsáveis por tosse,
vômitos, náuseas e perda de apetite. Estes vermes são eliminados
através das fezes, vivos ou mortos. Alguns são microscópicos e
outros são visíveis a olho nu. Outros sintomas concomitantes são
urticárias, febre e bronquite.
 Tratamento: Vidanga (Embelia ribes) e palasha (Butea
monosperma) são as drogas para o tratamento desta condição. As
sementes destas plantas são utilizadas na forma de pó. Este pó é
administrado na dose de uma colher de chá, três vezes ao dia,
juntamente com uma xícara de água morna. Os intestinos devem
estar sempre limpos, e devem ser prescritos laxantes
regularmente.
Dentre os alimentos disponíveis, haridra (Curcuma longa) é muito
útil no tratamento desta patologia. O pó do rizoma desta planta
deve ser administrado na dose de uma colher de chá, três vezes
ao dia, misturado a uma xícara de leite. Sua ingestão regular cria
179
um ambiente desfavorável à sobrevivência e crescimento destes
vermes dentro do intestino. Estes organismos, portanto, são
eliminados através das fezes. A planta haridra (Curcuma longa)
desempenha um importante papel na cura da urticária e da febre.
 Dieta: O paciente deve evitar a ingestão de alimentos difíceis
de digerir. A indigestão cria um ambiente propício para o
crescimento destes vermes. Alimentos amargos como a abóbora
amarga, as flores da árvore neem (Azadirachta indica) e a
variedade amarga da Cassia fistula indiana são extremamente
úteis para estes pacientes. O açúcar e outras preparações à base
de cana-de-açúcar devem ser evitados. A haridra (Curcuma longa)
e o alho devem ser adicionados a qualquer vegetal em grandes
quantidades.
 Conduta: A observação de um dia de jejum por semana é
muito útil pois previne e cura os vermes intestinais. O paciente
nunca deve suprimir a necessidade de evacuar. Os intestinos
devem ser mantidos sempre limpos.
Constipação crônica

As fezes devem ser eliminadas duas vezes ao dia – uma vez pela
manhã, após levantar-se e outra vez ao anoitecer. Isto é mais
essencial para os vegetarianos porque seu alimento contém
grande quantidade de material áspero. Algumas pessoas, no
entanto, evacuam apenas uma vez ao dia, geralmente pela
manhã. Para elas isto é o normal, não devendo haver desconforto
pela ausência de movimentos intestinais pela segunda vez no dia.
Este hábito é comumente encontrado, geralmente, em pessoas
que habitam as cidades, cujos compromissos no final da tarde são
incertos. O conteúdo de material áspero daqueles que adotam
uma dieta não-vegetariana é tão reduzido que eles não sentem
desconforto mesmo se estes materiais permanecerem dentro dos
180
intestinos por 24 horas ou mais. Nos países europeus, onde as
pessoas vivem, na maioria, de carne, as evacuações podem
ocorrer uma vez a cada três a quatro dias, sendo considerado
normal.
Além do material áspero, as fezes contém também alguns
produtos residuais metabólicos que são derivados do sangue.
Portanto, mesmo que o indivíduo não coma nada, ele deve
eliminar fezes, porque o processo metabólico que está ocorrendo
em seu corpo produz alguns resíduos que serão eliminados
apenas através das fezes. Se não forem eliminados, causam
grande desconforto local no abdome. Há formação de vento,
sensação de peso no estômago e perda de apetite. Isto também
pode resultar em cefaléia, insônia e hipertensão. Algumas doenças
como a asma, a bronquite, os resfriados crônicos e as amigdalites
estão associadas com constipação e uma vez removida a
constipação, a doença automaticamente desaparece. É
necessário, portanto, cuidar da constipação logo que surjam seus
primeiros sinais.
A constipação crônica pode ser causada por hábitos intestinais
irregulares ou inexistentes, hábitos alimentares inadequados,
cólon irritável, colite espástica ou distúrbios emocionais. Outra
causa seria a obstrução mecânica ou paralisia dos intestinos. Tais
fatores causais como aderências, tumores intestinais, a estrutura
do ânus ou reto, ou condições inflamatórias podem produzir
constipação orgânica.
 Tratamento: O pó de triphala é uma droga muito empregada
pelos médicos ayurvédicos para o tratamento da constipação
crônica. Contém três drogas denominadas haritaki (Terminalia
chebula), bibhitaki (Terminalia belerica) e amalaki (Emblica
officinalis). Dentre estas três drogas, haritaki (Terminalia chebula)
administrado isoladamente age como um purgativo. Mas,
enquanto manifesta sua ação, produz alguns efeitos adversos
181
como dores em cólica e formação de vento no estômago. Para
evitar tais efeitos adversos e para tornar o haritaki mais útil como
tônico, as duas outras drogas são combinadas. O haritaki
isoladamente é um forte purgativo, mas com o tempo, perde este
efeito. Quando adicionado às duas outras drogas, o efeito
purgativo do haritaki (Terminalia chebula) continua por um tempo
mais prolongado. No entanto, mesmo que o efeito purgativo desta
droga não se manifeste mais, ela continua sendo útil para
pacientes que sofrem de constipação porque auxilia indiretamente
no movimento intestinal através da estimulação do fígado.
O pó de triphala (as três frutas) é utilizado de duas maneiras
diferentes. Uma a duas colheres de chá do pó são misturadas a
uma xícara de leite morno, adicionadas a um pouco de açúcar.
Deve-se tomar todo o conteúdo quente, na hora de dormir. A
preparação não causa movimentação intestinal durante a noite e
seu efeito purgativo é manifestado apenas pela manhã. No caso
de pessoas que apresentam constipação crônica e intestino
preguiçoso, o pó de triphala sozinho não é suficiente. Ele deve ser
ingerido na forma de decocção, sendo que esta é preparada
através da fervura de 20 gramas do pó em 16 vezes esta
quantidade de água, até que se reduza a um quarto através da
ebulição. O pó deve ser filtrado e o líquido deve ser administrado
ao paciente.
Para aqueles que possuem intestino flácido, o triphala é usado de
maneira diferente. Uma colher de chá de pó de triphala é
misturada em um copo de água e deixado em repouso durante a
noite. Pela manhã, a solução é filtrada e o líquido é administrado
internamente. Como possui um sabor um pouco adstringente,
podem não ser agradáveis para crianças e pessoas com hábitos
pouco tolerantes. É aconselhável adicionar duas a quatro colheres
de chá de mel, tornando o líquido mais doce. O processamento do
triphala desta forma é denominado Shita kashaya.
182
Há muitos outros medicamentos que ajudam na remoção da
constipação crônica, através do fortalecimento das válvulas
intestinais e suas funções. Estas preparações também curam as
condições inflamatórias dos intestinos. Uma destas drogas é
conhecida como Agastya rasayana. Duas colheres de chá deste
remédio é administrado duas vezes ao dia, com qualquer bebida
quente da preferência do paciente. Lentamente, alivia a tendência
à constipação que o paciente apresenta. Como indica o nome, é
também um excelente tônico.
 Dieta: O paciente que sofre de constipação crônica deve ser
aconselhado a ingerir frutas, vegetais folhosos e suco de frutas em
abundância. O trigo é melhor que o arroz. O farelo tanto de arroz
como de trigo é útil no alívio da constipação. O paciente deve,
portanto, utilizar a farinha integral e não a refinada. Da mesma
forma, deve-se utilizar o arroz juntamente com seu farelo e não
arroz polido. Dentre os vegetais, a surana (Amorphophallus
campanulatus) e o mamão papaia são muito úteis no alívio da
constipação. Frituras, grãos de leguminosas e preparações com
estes grãos são extremamente prejudiciais para pacientes que
sofrem de constipação crônica. Há alguns vegetais que agem de
duas maneiras – o espinafre alivia a constipação dos pacientes e
também produz uma tendência a constipação em alguns pacientes
que sofrem de diarréia crônica. O mesmo acontece com a banana
e o mamão papaia. A ingestão de suco de cana-de-açúcar é muito
útil no alívio da constipação.
 Conduta: Regularizar o hábito de evacuar os intestinos é muito
importante para a pessoa conservar-se livre da constipação
crônica. Ele deve atender aos sinais naturais de evacuação,
mesmo que esta não ocorra. As pessoas que possuem atividades
sedentárias são freqüentemente expostas à constipação e esta
produz muitas outras doenças como fístulas e hemorróidas. É
necessário, portanto, que as pessoas que sofrem de constipação
183
realizem algumas atividades físicas regularmente. Caminhar
alguns quilômetros é suficiente para que a pessoa consiga se livrar
da constipação. A ingestão excessiva de chá e de café é
prejudicial para tais pessoas. Preocupações mentais e ansiedades
são importantes na causa da constipação. É necessário, portanto,
que o paciente altere seus hábitos diários e leve uma vida
despreocupada para conservar-se livre da doença.

184
Capítulo 12

DOENÇAS METABÓLICAS,
ENDÓCRINAS E ARTICULARES

Espondilose cervical

Uma forma específica de artrite que afeta as vértebras e estruturas


ligamentares e ósseas relacionadas é conhecida como
espondilose cervical. Podem ser classificados em três tipos: O tipo
osteo-artrite de espondilite é conhecido como espondilose. Ocorre
freqüentemente na coluna cervical. A coluna espinhal da maioria
das pessoas acima de 50 anos apresenta certo grau de alterações
osteo-artríticas, mas raramente causam sintomas agudos. Certos
fatores precipitantes como traumas, postura incorreta do corpo,
pressão durante o repouso e a ingestão excessiva de alimentos
azedos, geralmente precipitam crises de dor. No Ayurveda, esta
patologia é conhecida como Griva sandhigata vata.
Esta doença pode causar dor na região posterior do pescoço, dos
braços e nos ombros, além de rigidez no pescoço e até paraplegia.
A dor no pescoço é geralmente agravada pelos movimentos da
coluna. Está freqüentemente associada com a perda da memória e
a insônia.
185
 Tratamento: Qualquer massagem externa não é muito útil. A
massagem violenta com pressão profunda é muito prejudicial ao
paciente. Apenas massagem suave sobre os músculos do
pescoço e articulações dos ombros devem ser aplicadas e para
este propósito está indicado o óleo Mahanarayana taila. Esta
massagem suave pode ser aplicada 2 a 3 vezes ao dia. No inverno
este óleo medicinal deve ser levemente aquecido antes da
aplicação.
Guggulu, ou a resina extraída da planta Commiphora mukul, é o
melhor medicamento para esta condição. Uma preparação
composta denominada Simhanada guggulu é popularmente
utilizada pelos médicos ayurvédicos para o tratamento desta
condição. É administrada na dose de 2 a 4 tabletes, quatro vezes
ao dia. Geralmente, após a ingestão do medicamento, o paciente
deve tomar leite ou água quente. A preparação apresenta um
ligeiro efeito laxante. Para o paciente se recuperar desta doença, é
necessário que seus intestinos estejam com mobilização
regularizada e com eliminação adequada. Este medicamento é
muito útil para este propósito. Para pacientes que apresentam
evacuações normais, devem ser administrados dois tabletes e
para os constipados, administram-se quatro tabletes. Se a
constipação não é aliviada com 4 tabletes, a dose pode ser
aumentada até 6 tabletes.
À noite, alguns medicamentos devem ser prescritos para o
paciente de forma a agirem como purgativo. O pó de Triphala é o
melhor medicamento para este propósito. Uma colher de chá de
Triphala deve ser prescrita ao paciente, misturado com uma xícara
de leite quente e uma colher de açúcar. Quando os movimentos se
tornarem regularizados com a ingestão de Simhanada guggulu, o
pó de Triphala deve ser administrado apenas duas vezes por
semana. Até que isto ocorra, pode ser administrado todos os dias.

186
A fomentação quente sobre a vértebra do pescoço é muito útil
nesta condição. Cerca de 500 gramas de sal deve ser colocado
em uma frigideira e aquecido até que se torne quente o suficiente
para ser tolerado e é colocado dentro de um lenço grande. A
fomentação é aplicada sobre o pescoço. Deve-se tomar as
devidas precauções quanto à temperatura da fomentação, para
que não cause queimaduras. Algumas vezes os pacientes que
sofrem de espondilose cervical desenvolvem em certos pontos
sobre as costas, o pescoço, os ombros e os braços, certas áreas
de insensibilidade por causa da pressão sobre o sistema nervoso.
O paciente, dessa forma, não é capaz de sentir a quantidade de
calor aplicado durante a fomentação. Deve ser responsabilidade
do assistente a verificação da temperatura da bola de sal antes de
sua aplicação sobre a área afetada. Esta fomentação deve ser
contínua por cerca de meia a uma hora todos os dias. Após a
fomentação, a parte afetada não deve ser exposta ao vento frio.
No inverno, portanto, deve-se cobrir a área com uma manta de lã
imediatamente após a fomentação. É muito conveniente aplicar a
fomentação antes de se deitar à noite. Após a fomentação o
paciente deve ir dormir e desta forma ele não corre o risco de
expor-se ao vento frio.
 Dieta: Alimentos azedos, particularmente o iogurte, estão
estritamente proibidos. Frituras, grãos de leguminosas e suas
preparações também estão contra-indicadas. Vegetais amargos
como a variedade amarga da Cassia fistula indiana, as flores da
árvore neem (Azadirachta indica) e a abóbora amarga são muito
úteis. O trigo é melhor que o arroz. Ele deve evitar, no entanto, a
ingestão de trigo refinado, conhecido como maida (farinha) e suji
(semolina). Eles reduzem a eliminação intestinal e não ajudam o
paciente em sua recuperação.
 Conduta: A exposição ao frio, banhos frios e exercícios
violentos com os músculos do pescoço, incluindo pressão, são
187
muito prejudiciais ao paciente. A falsa impressão de que a dor está
sendo causada por alguns problemas musculares, faz com as
pessoas realizem diferentes tipos de exercícios envolvendo o
pescoço. Deve-se manter uma postura confortável durante a
leitura e a escrita. A razão entre a altura da mesa e a cadeira deve
ser correta, de forma que o paciente não curve demasiadamente a
coluna, não exercendo qualquer pressão sobre os músculos do
pescoço. Se a dor for aguda, até mesmo a lavagem quente
comum da cabeça está proibida. Caminhadas pela manhã dão
alívio considerável ao paciente, mas se estiver frio, o paciente
deve enrolar sempre um cachecol de lã em torno do pescoço ao
sair de casa.

Diabetes

O diabetes pode ser de dois tipos, o Diabetis mellitus e o Diabetis


insipidus. No primeiro tipo, os níveis sangüíneos de açúcar
aumentam e são detectados na urina. Este é o tipo que chamamos
diabetes. Devido à falha do metabolismo do açúcar, os tecidos
celulares não conseguem material suficiente para a produção de
energia, resultando em fraqueza do paciente. Os altos níveis de
açúcar no sangue levam a muitas complicações como edemas e
coma.
Esta doença é conhecida como Madhumeha no Ayurveda. É
conhecida como “doença do homem rico”, pois afeta geralmente
pessoas super nutridas. É caracterizada por fome e sede
excessivas, micção excessiva e fraqueza. Pode causar sensação
de queimação na sola dos pés. Este tipo de diabetes, quando
acomete crianças, é chamado Diabetis juvenil. É uma patologia
difícil de curar. No Diabetis insipidus, há micção excessiva, mas a
urina não apresenta açúcar. Esta patologia não é difícil de curar.
188
 Tratamento: Durante o tratamento desta doença, é importante
que se consiga reduzir o peso do paciente, além de regular a
função das glândulas do pâncreas, tendo em vista a melhora do
metabolismo de açúcar. A karela (Momordica charantia) é muito
eficaz nesta condição. É uma planta da família das cucurbitáceas,
e o suco das folhas e frutos são utilizados na dose de 30 ml. duas
vezes ao dia, de preferência com o estômago vazio.
Silajatu ou shilajit (resina mineral) é um outro medicamento
bastante recomendado nesta condição. Vasanta kusumakara é
outra preparação empregada para o diabetes. É administrada na
dose 125 mg., duas vezes ao dia, em jejum, misturado com meia
colher de chá de nata e um quarto de colher de chá de açúcar.
Quando o diabetes atinge um estágio mais avançado, o que ocorre
se não for tratado, produz muitas complicações. Portanto, é
necessário que se faça a redução imediata dos níveis de açúcar
no sangue, e o tratamento deve ser realizado sob a supervisão
direta de um médico ayurvédico.
 Dieta: O açúcar em qualquer forma, o arroz, batatas, banana e
outros cereais e frutas que contém carboidratos estão contra-
indicados. Da mesma forma, a gordura deve ser evitada. Deve
haver um controle sobre a quantidade de alimentos ingeridos.
Vegetais como karela (Momordica charantia), frutas e folhas da
Cassia fistula indiana, patola (Trichosanthes dioica) e bimbi
(Coccinia indica) são especialmente úteis nesta condição. Todos
os alimentos amargos, em geral, são benéficos para esta doença.
Vegetais preparados com as folhas e flores da árvore neem
(Azadirachta indica) são extremamente bons. Verificou-se que a
ingestão regular de duas folhas novas de neem e duas folhas
novas de marmelo (Aegle marmelos) pela manhã reduz
consideravelmente os níveis de açúcar no sangue.
 Conduta: O sono durante o dia é estritamente proibido. O
paciente deve realizar exercícios moderados. A prática de yoga,
189
especialmente paschimottanasana é muito útil. O paciente deve
tomar cuidado para não se machucar, pois no diabetes, o
processo de cicatrização é muito lento, havendo uma grande
possibilidade da lesão se tornar infectada. Se o paciente for
acometido de qualquer outra doença, deve ser prontamente
atendido, pois este paciente geralmente apresenta perda da
resistência, podendo haver agudização da doença se não tratada
em tempo.
Bócio

Esta doença é caracterizada pelo aumento de volume da tireóide


resultando em edema na região anterior do pescoço. Dependendo
da natureza da patologia, pode ser dividida em diversos tipos. No
Ayurveda é denominada Galaganda.
Manifesta-se geralmente devido à deficiência de iodo no alimento
e bebida. De acordo com o Ayurveda, é causada pela agravação
de kapha e pela diminuição de pitta.
O edema da glândula no pescoço torna-se visível e pode atingir
um volume tal que gera sintomas como dificuldades respiratórias e
problemas na deglutição dos alimentos sólidos e líquidos.
 Tratamento: Kanchanara (Bauhinia variegata) é a droga de
escolha no tratamento desta condição. A casca desta árvore é
administrada na forma de decocção, na dose de 30 ml., duas
vezes ao dia, em jejum. Kanchanara guggula, preparação que
contém esta planta, é popularmente empregada para esta doença.
É administrada na dose de quatro tabletes, três vezes ao dia,
seguida por leite ou água morna.
 Dieta: Arroz envelhecido, cevada, moong dal (Phaseolus
mungo), patola (Trichosanthes dioica), Cassia fistula indiana,
pepino, açúcar de cana, sucos, leite e produtos derivados do leite

190
são benéficos nesta condição. Alimentos azedos e pesados são
contra-indicados.
 Conduta: Exercícios para o pescoço são úteis nesta doença.

Figura 20: Bauhinia variegata (kanchanara)

191
Gota

Trata-se de uma doença metabólica dolorosa que resulta do


processo inflamatório e depósitos nas articulações por causa de
um distúrbio do metabolismo das purinas no corpo. No Ayurveda é
denominada Vatarakta. São consideradas causas para esta
doença a deficiência na digestão e no metabolismo por ingestão
de alimentos mutuamente incompatíveis e pela não eliminação de
produtos residuais do metabolismo.
Os aspectos característicos desta doença são o acometimento
inicial do hálux, que se torna agudamente doloroso e edemaciado.
Gradualmente, outras articulações vão sendo afetadas e o
paciente sente dificuldade em caminhar, falar e mesmo se
movimentar.
 Tratamento: Como é uma doença causada por vata, no início,
a preparação Panchatikta ghrita é administrada na dose de duas
colheres de chá, duas vezes ao dia, em jejum, misturada com leite
morno, durante quinze dias. Para aplicação externa é prescrito o
óleo denominado Guduchyadi taila. O ingrediente importante deste
óleo medicinal é o guduchi (Tinospora cordifolia).
Kaishora guggulu é a droga de escolha para o tratamento desta
condição. Na forma de decocção, é administrada na dose de 60
ml. por dia.
 Dieta: Arroz e trigo recentemente colhidos não são
recomendados ao paciente. Arroz e trigo envelhecidos, moong dal
(Phaseolus mungo), sopa de carne, alho, cebola, abóbora amarga,
mamão papaia e banana verde podem ser ingeridos pelo paciente.
Iogurte e quaisquer tipos de alimentos azedos ou pesados e
frituras estão proibidos.

192
 Conduta: O paciente não deve realizar quaisquer exercícios
violentos, mas também não deve ficar sentado por muito tempo. A
exposição ao vento frio e à chuva, assim como banhos frios estão
contra-indicados.

Lombalgia

A lombalgia é a dor causada por um espasmo grave e prolongado


dos músculos na região dorsal inferior. Está sempre acompanhada
por flacidez muscular e dor em toda a região ou unilateral. O início
da doença é geralmente muito súbito e agudo. Os fatores que
precipitam esta doença são constipação crônica e mau jeito na
coluna. Geralmente ocorre na terceira idade e é mais prevalente
em mulheres do que em homens.
 Tratamento: Prasarani (Paederia foetida) é a droga de escolha
no tratamento desta doença. É administrada tanto interna como
externamente. O suco desta planta é fervido cuidadosamente com
óleo seguindo um processo farmacêutico específico e este óleo,
quando morno, é utilizado para massagem sobre a região afetada,
2 a 3 vezes ao dia. O suco é servido como bebida na dose de 120
ml., três vezes ao dia. As folhas da planta produzem um odor
fétido peculiar, mas quando trituradas no pilão e socadas, o odor
fétido desaparece. Para torná-las mais agradáveis ao paladar e
mais efetivas, uma colher de mel e um quarto de colher de chá de
pimenta preta em pó são adicionadas a esta dose. Para aliviar a
constipação, o paciente deve tomar regularmente o óleo de rícino,
no início da manhã em uma dose suficiente. Os médicos
ayurvédicos preferem o óleo de rícino cru, que é administrado na
dose de uma colher de chá, no início da manhã, misturado em um
copo de leite. Às vezes esta dose produz um efeito purgativo muito
forte. Para tornar mais seguro este procedimento, o óleo de castor
193
(Ricinus communis) refinado, ou das qualidades B.P. ou I.P.
devem ser administrados ao paciente na dose adequada. Deve ser
repetido diariamente por cerca de dois meses ou até que não haja
mais dor. Prasarani (Paederia foetida) deve ser administrada por
um mês. Mesmo depois do alívio da dor, há possibilidades de
recorrência se cuidados adequados não forem tomados.
 Dieta: Frituras e alimentos azedos, assim como grãos de
leguminosas estão estritamente proibidos nesta condição. O trigo,
a bajra (Pennisetum glaucum) e jawar (Sorghum vulgare) são
melhores que o arroz.
 Conduta: Após a refeição, o paciente deve ser aconselhado a
caminhar ou descansar deitado. Ele não deve permanecer sentado
por mais de 15 minutos. Hábitos sedentários são prejudiciais para
tais pacientes. Alguns exercícios físicos que envolvem a
movimentação dos músculos dorsais e da região pélvica são bons
para o paciente. Caminhadas matinais são benéficas. A exposição
ao frio, ao esforço e levantamento de peso são estritamente
proibidos.

Obesidade

Um acúmulo excessivo de gordura no corpo recebe o nome de


obesidade. No Ayurveda, é denominado Medoroga. Há muitas
regiões do corpo onde a gordura excessiva acumula-se. As áreas
mais comuns são abdome, tórax e nádegas. A gordura do corpo é
proveniente principalmente dos óleos, ghee (manteiga indiana
purificada) e outras substâncias gordurosas consumidas com os
alimentos e bebidas. Normalmente, esta gordura, durante o
processo de metabolismo, produz energia e calor. A gordura
também entra na composição de algumas células teciduais no
corpo humano. Por exemplo, O material que recobre as fibras
194
nervosas contém este tipo de material gorduroso. As células do
tecido cerebral e muscular também contém gordura. A natureza
fornece gordura para que seja acumulada em algumas
articulações para evitar a fricção durante o movimento.
A gordura também é sintetizada no corpo a partir de substâncias
oleosas ingeridas juntamente com os alimentos. Quando os
ingredientes gordurosos do alimento são ingeridos em excesso, a
gordura que sobra das necessidades do corpo deposita-se em
certas partes do corpo. Um subproduto da gordura denominado
colesterol circula nos vasos sangüíneos e se deposita nas paredes
dos vasos resultando em aumento da pressão sangüínea. A
gordura excessiva pode também impedir o funcionamento dos
órgãos vitais como coração, fígado e rins. Isto pode resultar
também em diabetes. A dificuldade mais comum que estes
pacientes enfrentam por causa do excesso de gordura é a
dificuldade respiratória mesmo com exercícios leves. Tais
pacientes podem ser seriamente afetados por um tipo grave de
asma.
A ingestão de gorduras e carboidratos em excesso resulta em
obesidade. A falta de exercícios também ajuda no acúmulo de
gorduras no corpo. A falta de trabalho mental ajuda na síntese de
gordura a partir dos carboidratos ingeridos com a alimentação e ao
invés de serem consumidos, depositam-se no corpo.
 Tratamento: O paciente deve ser aconselhado a fazer
exercícios físicos assim como exercícios mentais e a abandonar
os hábitos sedentários. Pessoas que trabalham em escritórios
devem fazer uma pequena caminhada depois das refeições. A
droga de escolha é Guggulu (Commiphora mukul). A goma resina
extraída desta planta é usada como medicamento. É também
utilizado na fabricação de incensos como agarbatti e dhup. O
guggulu (Commiphora mukul) é purificado através de um processo
especial antes de ser administrado internamente. Para a
195
purificação, esta goma é fervida com a decocção de triphala
(Terminalia chebula, Terminalia belerica e Emblica officinalis) e
depois filtrada. É administrado na dose de uma grama, quatro
vezes ao dia seguido por um copo da bebida quente que for mais
agradável ao paciente. Há muitas preparações na qual o guggulu
(Commiphora mukul) é adicionado como ingrediente principal. As
mais importantes são Navaka guggulu e Triphala guggulu. Estas
preparações são disponíveis em tabletes de 125 mg. O paciente
deve ingerir quatro tabletes por dia (um total de 16 tabletes por
dia). Após a ingestão, o paciente deve tomar uma bebida quente.
 Dieta: O paciente deve, sempre que possível, evitar alimentos
de sabor doce e gordurosos. Arroz e batatas, como contém grande
quantidade de carboidratos, devem ser evitados. Dentre os
cereais, o trigo é o melhor, e o paciente pode ingerir também
cevada e milho. Alimentos de sabor amargo e penetrante são
bons. Vegetais como a abóbora amarga, a variedade amarga da
Cassia fistula indiana e patola (Trichosanthes dioica) também são
benéficos. O paciente pode beber chá e café em quantidade. A
inalação de tabaco para pessoas que não estão habituadas, ajuda
a reduzir o peso. A inalação de tabaco deve ser prescrita em
pequena quantidade como medicamento, pois produz efeitos
adversos sobre o corpo.

196
Figura 21: Commiphora mukul (guggulu)

197
O haritaki (Terminalia chebula) é muito útil nesta condição. Ajuda
na limpeza dos intestinos e age como tônico para o corpo. A polpa
desta fruta deve ser triturada até se tornar um pó e administrado
ao paciente na dose de uma colher de chá na hora de dormir, com
uma xícara de água quente. Deve ser tomado diariamente. No
início o paciente pode apresentar diarréia líquida, mas depois de
algum tempo, seu corpo acostuma-se à droga e ela perde o efeito
purgativo. Murabba, um composto preparado com esta fruta, pode
ser administrado ao paciente todos os dias no lugar do pó da
planta.
 Conduta: O paciente deve realizar exercícios físicos e mentais
e não deve dormir durante o dia. Dormir tarde da noite e levantar-
se pela manhã bem cedo é muito benéfico.

Reumatismo

O reumatismo é uma doença caracterizada por inflamação e dor


nas articulações e músculos, geralmente recorrente e
freqüentemente causada pela exposição ao frio. Está associada
com febre. Se não tratada em tempo, pode afetar o coração. No
Ayurveda é conhecida como Amavata. Esta doença é causada
pela produção e circulação de uma substância denominada ama
no corpo. Este ama é produzido pela digestão e metabolismo
inadequados e acumula-se nas articulações, etc. produzindo
inflamação e dor. Geralmente as pessoas com tendência à
constipação e que possuem hábitos dietéticos irregulares são
afetados por Amavata.
 Tratamento: O medicamento mais usado para o tratamento
desta doença é Simhanada guggulu. O ingrediente principal desta
e das demais preparações é guggulu (Commiphora mukul).

198
Para pacientes que apresentam tendência à constipação a droga
Simhanada guggulu é a mais útil. Para os demais tipos de
pacientes, o melhor medicamento é Mahayogaraja guggulu. A
dose a ser administrada para ambas é de dois tabletes, três vezes
ao dia, no início. Depois da ingestão do medicamento, os
pacientes mais saudáveis devem beber uma xícara de água
morna. Para pacientes emagrecidos e debilitados, deve-se
prescrever uma xícara de leite após a ingestão do medicamento.
A dose deste medicamento deve ser lentamente aumentada. Em
doses divididas, cerca de vinte tabletes podem ser prescritos ao
paciente por dia. Estes medicamentos não possuem qualquer
efeito tóxico. Mas, eventualmente, o paciente pode sentir um
pouco de calor no corpo e neste caso, a dose deve ser reduzida.
No inverno, estes medicamentos são bem tolerados.
Estes medicamentos apresentam acentuada eficácia apenas
quando o paciente está com um movimento intestinal normalizado.
Para eliminar a constipação em um paciente que sofre de
reumatismo, o óleo de rícino (Ricinus communis) é considerado o
melhor purgativo. Além deste efeito purgativo, várias partes desta
planta, por exemplo, sementes, raízes, folhas, etc., possuem
efeitos reconhecidamente antiinflamatórios quando aplicados
externa e internamente. O próximo medicamento de escolha seria
Saindhavadi taila20, recomendado para uso externo. Este óleo
deve ser aplicado sobre as articulações afetadas e friccionados
suavemente. Pode ser utilizado para massagem sobre outras
áreas do corpo também.
 Dieta: Iogurte, alimentos azedos, grãos de leguminosas e suas
preparações (com exceção de moong dal, preparação à base de
Phaseolus mungo) são contra indicados nesta doença. Frituras e

20“Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, pág. 185, Editora


Chakpori.
199
alimentos excessivamente frios devem ser evitados sempre que
possível.
 Conduta: Dormir durante o dia é proibido. O paciente deve
realizar apenas exercícios físicos limitados. Caminhadas longas e
com passadas rápidas e qualquer exercício que envolva
movimentos bruscos sobre as articulações afetadas devem ser
evitados.

Artrite reumatóide

A artrite reumatóide é uma doença geralmente progressiva,


afetando primeiramente as articulações, que se tornam
edemaciadas e dolorosas. Se não tratada imediatamente, pode
resultar em deformidade. Os músculos, ligamentos, membrana
sinovial e as cartilagens tornam-se inflamadas e, portanto, os
movimentos articulares tornam-se extremamente dolorosos. Se
este processo passar desapercebido, e as articulações
permanecerem imobilizadas por longos períodos, pode ocorrer
anquilose. Isto leva à deformidade e dificuldades na mobilização.
 Tratamento: No início, prescreve-se Mahayogaraja guggulu. No
inverno administra-se a dose de dois tabletes, quatro vezes ao dia.
No verão, são dois tabletes duas vezes ao dia. Após a ingestão
destes tabletes o paciente deve beber água ou leite quente. O
medicamento será mais eficaz se administrado com estômago
vazio. Um óleo medicinal denominado Mahanarayana taila21 deve
ser empregado para massagem suave sobre as articulações. No
inverno, o óleo deve ser levemente aquecido antes da aplicação
da massagem.

21 “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, pág. 171, Editora


Chakpori.
200
No início, esta doença afeta as articulações menores, como as dos
dedos. É geralmente insidiosa. A rigidez do pequenos músculos
das mãos é o próximo evento e os dedos tendem a permanecer
curvados e posteriormente, tornam-se fixos. O processo
inflamatório difunde-se através do tronco, envolvendo as
articulações do pulso, dos tornozelos, do cotovelo, dos joelhos,
dos ombros, quadril e mandíbula. Quando as articulações maiores
são afetadas, a droga de escolha é Brihadvata chintamani. É
administrado na dose de 250 mg., duas ou três vezes,
dependendo da intensidade da dor e da duração da doença. Está
geralmente disponível na forma de pó e administrada ao paciente
com adição de mel.
Em um estágio posterior, a coluna vertebral também é afetada
pela doença e neste caso, a droga de escolha é Brihadvata
chintamani e administrado ao paciente em uma dose maior por
cerca de uma semana e depois reduzida.
Tanto Mahayogaraja guggulu quanto Brihadvata chintamani agem
no corpo do paciente somente se este não apresentar
constipação. Portanto, deve-se prescrever óleo de rícino (Ricinus
communis) como purgativo todas as noites. Além do efeito
purgativo, o óleo de rícino também exerce algum efeito terapêutico
sobre as articulações do paciente.
Se a condição tornou-se crônica, deve-se prescrever em
associação a Mahayogaraja guggulu ou Brihadvata chintamani,
uma decocção denominada Maharasanadi kwattha. É
administrada na dose de seis colheres de chá cheias e seu efeito é
exacerbado se ingerido quando ligeiramente morno.
 Dieta: Alimentos azedos, incluindo iogurte, são extremamente
proibidos. Os grãos de leguminosas e suas preparações, frituras e
alimentos que produzem constipação devem ser evitados. Alho e
gengibre são extremamente úteis ao paciente. Cinco dentes de
alho devem ser ingeridos, junto com os alimentos. Se o alho não
201
puder ser tolerado por causa de seu odor forte, ele deve ser frito
na manteiga e ingerido pelo paciente. Vegetais amargos como
abóbora amarga, a variedade amarga da Cassia fistula indiana e
as flores da árvore neem (Terminalia chebula) são benéficas para
o paciente. O arroz deve ser evitado.
 Conduta: Como conseqüência do processo inflamatório, o
paciente deve ser aconselhado a não se movimentar
excessivamente, mas sem deixar as articulações imobilizadas. Isto
pode resultar em deformidade permanente. Portanto, exercícios
leves e suaves são sempre necessários para o paciente. Ele não
deve se expor ao vento frio e à chuva. Banhos frios devem ser
evitados. Não se deve beber água gelada. Deve-se dar intervalo
suficiente entre o jantar e o momento de deitar-se. É melhor que a
refeição seja ingerida cerca de 6 horas da tarde e que o paciente
vá para a cama entre 9 horas e 9 e meia da noite.

202
Capítulo 13

DOENÇAS DO SISTEMA URINÁRIO

Enurese noturna

É a micção involuntária durante a noite. Crianças após 3 a 4 anos


normalmente possuem controle suficiente sobre seus esfíncteres
urinários assim como sobre a micção no horário que necessitar ou
desejar. Em determinados casos, este controle não se manifesta e
por este motivo estas crianças continuam a urinar na cama à noite.
Este fenômeno continua em alguns casos, até os quinze anos.
Tanto as meninas quanto os meninos sofrem desta doença, mas
predomina entre os meninos.
Estas crianças podem urinar até mais que uma vez em uma só
noite. É freqüente que os irmãos e irmãs do paciente também
costumem urinar na cama involuntariamente e, muitas vezes, os
pais relatam que em sua infância também tinham o mesmo
problema.
Os fatores causais da enurese noturna são dois, físicos e
emocionais. Se houver algum processo infeccioso na bexiga ou
nos rins, ou mesmo um defeito orgânico nas vias urinárias, a
criança pode urinar involuntariamente à noite. Eventualmente,
organismos filiformes (vermes) podem colaborar para o surgimento
203
deste problema. À noite, estes vermes saem do ânus para deixar
os ovos no exterior. Com isso, causam uma certa irritação e como
ação reflexa a criança urina. Outros parasitas intestinais também
podem causar o problema. Eles geram muita dor no estômago e a
criança urina também.
Os fatores psíquicos podem ser assim relacionados: (1) tentativa
muito precoce para treinar a bexiga, (2) imaturidade emocional, (3)
timidez, (4) conflitos entre os pais, (5) conflito entre a criança e os
pais, (6) rivalidade entre irmãos e irmãs, (7) insuficiente atenção
dos pais, (8) insegurança e (9) problemas de adaptação na escola.
Algumas vezes as crianças tem pesadelos e são chupadoras de
dedo ou comedoras de unha.
 Tratamento: Primeiramente, a causa da doença deve ser
detectado e, sendo física ou emocional, deve ser corretamente
tratada. A criança não deve ser censurada e após as quatro horas
da tarde ela não deve mais beber água, mesmo se sentir sede.
Seu jantar não deve conter água nem alimentos muito fluidos. Os
pais devem calcular a hora de dormir e levar a criança ao banheiro
meia hora antes. Para tornar-se um hábito, a criança deve ser
aconselhada a urinar antes de ir para a cama. Quando ela já está
dormindo, não deve ser carregada no colo pelos pais quando for
levada ao banheiro. Ela deve levantar-se da cama e urinar no
banheiro. Algum sistema de recompensa pelas noites secas serve,
com freqüência, como estímulo adicional e ajuda a interromper o
mau hábito.
No Ayurveda, prescreve-se para as crianças medicamentos para
fortalecer o sistema nervoso e o trato urinário. A menos que haja
uma falha orgânica no trato urinário, estes medicamentos, se
utilizados continuamente, por tempo suficientemente longo,
ajudarão a criança a conseguir controle sobre seus esfíncteres
urinários e portanto, curam a enurese noturna. Um medicamento
bastante utilizado para este propósito é o shilajit ou silajatu (resina
204
mineral). Para uma criança de cinco anos, este medicamento deve
ser administrado na dose de 125 mg., duas vezes ao dia,
misturado com leite e em jejum. Para meninos e meninas de 15
anos, pode ser administrado na dose de 500 mg., duas vezes ao
dia. Ele produz uma sensação de aquecimento no corpo do
paciente quando ingerido continuamente por longo tempo. No
entanto, é bem tolerado durante o inverno. No verão, a dose deve
ser reduzida para 50%.
Há muitos medicamentos contendo shilajit ou silajatu (resina
mineral) como um de seus ingredientes. O mais popularmente
utilizado para enurese noturna pelos médicos ayurvédicos é
Chandra probha vati. Normalmente, são vendidos tabletes de 250
mg. deste medicamento. Para crianças com cerca de 5 anos, deve
ser administrado meio tablete pela manhã e a outra metade à
noite, em jejum, com meia xícara de leite. Crianças com mais de
10 anos de idade podem ingerir o tablete inteiro, duas vezes ao
dia, com leite. Este medicamento é específico para sintomas
geniturinários e fortalecem o sistema nervoso simultaneamente.
 Dieta: Como já foi sugerido anteriormente, o paciente deve
interromper o consumo de água antes das 4 horas da tarde e
nenhum líquido deve ser ingerido nas refeições da noite. Alimentos
picantes, que causam constipação e formam vento no estômago,
especialmente os grãos de leguminosas, são estritamente
proibidos. O paciente deve comer patola (Trichosanthes dioica),
abóbora amarga, abóbora, outras cucurbitáceas, batata, tomate,
couve-flor, repolho, espinafre, rabanete, Cassia fistula indiana e
outros vegetais folhosos.
 Conduta: Os intestinos devem estar com boa mobilidade e os
vermes não devem incomodar a criança à noite. Deve ser
demonstrado afeição à criança, e uma atmosfera de amizade deve
ser criada entre os irmãos e irmãs. Ela não deve dormir em camas
com colchão de borracha. Este procedimento perturba o sono da
205
criança e ela acaba urinando à noite. Os pais devem levar a
criança para andar todas as noites. Isto ajuda a criança a superar
o problema, tanto fisicamente como emocionalmente. Ela sente-se
mais segura e consegue vencer o complexo de medo que é um
dos mais importantes agentes emocionais que levam à enurese
noturna.

Disúria

Durante a micção, algumas pessoas sentem queimação na uretra.


A infecção no trato urinário causada por doenças venéreas como a
gonorréia, a hipertrofia da próstata, cálculos na bexiga, ou apenas
uma urina mais concentrada, como acontece no verão, podem ser
responsáveis por este tipo de queixa. A sensação de queimação
pode ocorrer juntamente com a micção ou permanecer depois
dela. Esta sensação pode desaparecer com a ingestão de
algumas bebidas alcalinas ou simplesmente com alguns copos de
água. Pode ocorrer durante o dia ou durante a noite. Outros
sintomas como secreção purulenta pela uretra, interrupção da
micção, sangramento e febre podem acompanhar a doença.

 Tratamento: A doença que tem como sintoma a disúria deve


ser tratada cuidadosamente. Há alguns medicamentos
ayurvédicos para tratar a disúria em si. São eles gokshura
(Tribulus terrestris), chandana (Santalum album), ushira (Vetiveria
zizanioides) e silajatu (resina mineral). Muitas preparações destes
medicamentos são disponíveis e são comumente prescritos para
estes pacientes. Gokshuradi guggulu e Chandra probha vati são
administrados na dose de dois tabletes, três a quatro vezes ao dia,
dependendo da seriedade da doença. Eles não apenas reduzem a
sensação de queimação, mas também agem como um anti-séptico
206
enquanto são eliminados através do trato urinário. São usados
com propósitos curativos e preventivos. Chandanasava e
Ushirasava são duas preparações alcoólicas. São administradas
ao paciente na dose de seis colheres de chá após as refeições,
duas vezes ao dia, com igual quantidade de água. Eles também
possuem efeitos anti-sépticos no trato geniturinário.
Dentre os produtos animais, pravala (pérola) é considerada
extremamente útil para o tratamento da disúria assim como da
sensação de queimação em qualquer parte do corpo. Se a queixa
é crônica, o paciente ingere pravala (pérola) em forma de pó. Esta
transformação é feita através de trituração com água de rosas. É
geralmente administrado na dose de 500 mg., duas vezes ao dia,
misturado com leite.

 Dieta: Alimentos picantes são proibidos. O paciente deve beber


muita água. Suco de limão fresco, água de coco fresca, suco de
laranja, caldo de cana e suco de abacaxi são extremamente úteis.
O paciente deve ingerir frutas como maçã, uvas, pêssegos e
ameixas em grande quantidade. O suco de rabanete e suas folhas
devem ser oferecidos ao paciente na dose de 30 ml., duas vezes
ao dia. O suco de cenoura também é útil nesta condição. Arroz,
ghee (manteiga purificada indiana), milho e vegetais folhosos
também são muito úteis nesta condição.

 Conduta: O paciente não deve se expor ao sol ou ao calor. A
perspiração retira muita água do corpo e a urina torna-se
concentrada. A passagem da urina concentrada através do trato
urinário causa irritação e dá origem à sensação de queimação.
No verão, a disúria ocorre geralmente durante períodos de maior
calor. Antes de sair no sol, é sempre aconselhável tomar um copo
de água ou dois copos do xarope preparado com a fervura de
manga verde com açúcar. Jamun ou jambu (Syzygium cumini) é
207
uma fruta muito útil para esta doença. Dois ou três copos de água
misturado com gur (açúcar mascavado indiano) deve ser bebido
pela manhã, todos os dias, durante o verão.

208
Figura 22: Tribulus terrestris (gokshura)

209
Nefrite

Nefrite significa inflamação dos rins, que pode ser de diversos


tipos. Em diferentes estágios da doença, produz diferentes tipos
de sintomas. No Ayurveda é conhecido como Vrikka shotha.
Dependendo da variedade de nefrite, os sinais e sintomas variam
consideravelmente. Geralmente, há edema na face, que é mais
proeminente pela manhã e diminui gradualmente no decorrer do
dia. A urina pode conter albumina e até mesmo sangue. A pressão
sangüínea pode se elevar e o paciente pode apresentar problemas
biliares, náuseas, vômitos, dores abdominais, cefaléia e diarréia. O
paciente, geralmente elimina pequena quantidade de urina e se
não começar o tratamento imediatamente, este problema levará a
sérias complicações.
 Tratamento: Punarnava mandoora é a droga de escolha para o
tratamento desta doença. É encontrado em forma de pó e
administrado ao paciente na dose de 1 grama, três vezes ao dia,
misturado com mel. Se houver febre crônica associada à nefrite,
deve ser administrado Suvarna vasanta malati. A dose é de 250
mg., duas vezes ao dia, misturado com mel. Este medicamento
contém ouro na forma de bhasma (mineral calcinado), que age
como um antibiótico no corpo e elimina o processo inflamatório.
 Dieta: O paciente deve ingerir pouco sal e muita água. Frituras,
alimentos azedos, especialmente iogurte, são estritamente
proibidos. Se houver pouca urina, o paciente deve beber suco de
rabanete na dose de 300 ml., duas a três vezes ao dia.
 Conduta: O paciente deve fazer repouso absoluto e não se
deve permitir que permaneça acordado durante a noite. Se o
quadro estiver associado a febre, frio e tosse, o paciente não deve
sair ao ar livre. Na nefrite crônica, o paciente deve dar pequenos
passeios, pois caminhar ajuda-o consideravelmente. Se houver
constipação, isto deve ser imediatamente corrigido com o pó de
210
Triphala (os três frutos das plantas Terminalia chebula, Terminalia
belerica e Emblica officinalis) na dose de uma colher de chá, todos
os dias, na hora de dormir, com uma xícara de água ou leite
quente, aliviando este sintoma.

Hipertrofia da Próstata

A próstata é parte do aparelho genital masculino, localizada


próximo à saída da bexiga. Sua principal função é produzir um
líquido que forma o fluido seminal. Quando ocorre um lento
aumento da próstata, dentro de um período de anos,
denominamos esta condição de hipertrofia benigna da próstata.
Geralmente a glândula como um todo está aumentada. Nos casos
de processo infeccioso ou câncer, o aumento é localizado em
alguma porção da glândula.
Esta glândula começa a aumentar de volume, na quase maioria
dos homens, por volta dos 40 a 45 anos de idade, mas a maior
parte dos homens não experimenta, com este ligeiro aumento,
qualquer dificuldade na micção. Trata-se na verdade de uma
manifestação do processo normal de envelhecimento.
Quando esta glândula apresenta um aumento anormal, ela
interfere com a micção. A glândula aumentada comprime a saída
da bexiga e isto resulta em uma súbita incapacidade para urinar.
Os sintomas mais comuns do aumento da próstata são a maior
freqüência nas micções durante o dia e o paciente passa a
levantar durante o período noturno para urinar. Ele desenvolve
uma sensação de hesitação no início do fluxo urinário e o jato de
urina diminui em tamanho e força. Há uma sensação de
queimação durante a micção. Às vezes há completa supressão da
micção e eliminação de sangue pela uretra.

211
 Tratamento: Shilajit ou silajatu (resina mineral) é considerado o
melhor medicamento para o tratamento da hipertrofia benigna da
próstata.
É administrada na dose de meia colher de chá na hora de dormir
com leite. Geralmente ocorre aumento da temperatura do corpo.
Por esta razão, o medicamento é melhor tolerado durante o
inverno e nos países frios, onde ele pode ser administrado até
duas a três vezes ao dia. Mas, em países quentes, e durante o
verão, ele precisa ser administrado apenas em pequenas doses.
No entanto, ao ingerir o medicamento juntamente com leite, o
efeito de aquecimento é reduzido consideravelmente. Este
medicamento assim administrado aumenta seus efeitos
rejuvenescedores e afrodisíacos.
Há muitas preparações de shilajit ou silajatu (resina mineral). A
mais prescrita é Chandra prabha vati. É encontrada na forma de
tabletes e administrada na dose de dois tabletes, três vezes ao
dia, com leite. Este medicamento deve ser prescrito por um tempo
consideravelmente longo. O paciente deve receber esta
formulação durante anos. Mesmo depois que os sintomas
causados pela hipertrofia da próstata desaparecerem, o
medicamento deve continuar sendo usado por cerca de seis
meses com o intuito de prevenir a recorrência da hipertrofia.
 Dieta: Alimentos azedos e frituras são prejudiciais. O ghee
(manteiga purificada indiana) de leite de vaca, a manteiga, o leite,
o alho, o gengibre e a assa-fétida são muito úteis para esta
condição.
 Conduta: Relações sexuais excessivas é a mais importante
causa do aumento anormal da próstata. Após esta hipertrofia, a
relação sexual deve ser evitada. A supressão da necessidade de
urinar não deve acontecer. Sempre que o paciente sentir desejo
de urinar, deve ser aconselhado a atender imediatamente a esta
necessidade. A constipação é um dos mais importantes fatores
212
que precipitam o aparecimento da doença. Os intestinos do
paciente devem ser conservados limpos ou com laxantes ou com
uma dieta composta de ingredientes que auxiliam os movimentos
intestinais. Hábitos sedentários são ruins para o paciente com
hipertrofia da próstata. Permanecer sentado imediatamente após a
refeição não é aconselhável – a pessoa pode deitar-se por cerca
de quinze minutos após a ingestão dos alimentos. Tanto para
prevenção como para a cura desta doença, o paciente deve
caminhar cerca de 3 quilômetros por dia.

Cálculos renais

Os cálculos renais são geralmente formados por cálcio, fosfatos ou


oxalatos. O trato urinário é formado pelos rins, ureteres, bexiga e
uretra. Os cálculos são formados primariamente nos rins e
algumas vezes permanece neste órgão sem serem detectados por
muito tempo. Em determinadas circunstâncias, eles vão sendo
lentamente absorvidos ou deslocados e descem. Durante este
processo de deslocamento, os cálculos passam por uma parte
mais estreita do trato urinário e dão origem a uma dor lancinante.
As pedras são formadas no corpo por um desequilíbrio de vayu.
Este dosha cria um tipo de secura no corpo e por esta razão,
substâncias químicas começam a ser acumuladas sobre um
núcleo, que finalmente adquire a forma de uma pedra.
Eventualmente, todo o rim é preenchido com pedras que se
tornam calcificadas e impedem o funcionamento do órgão. Se a
urina não é excretada através dos rins, ou se é excretada em
pequenas quantidades, estabelece-se um estado de uremia e
surgem muitas complicações. O mesmo fenômeno acontece se
um cálculo permanece alojado no ureter ou na bexiga.

213
O paciente sente dor na região lombar, na altura dos rins. A dor
irradia para os órgãos genitais. Pode haver febre, vômitos,
anorexia, insônia e micção dolorosa. Pode ocorrer, eventualmente,
hematúria.
 Tratamento: Pashanabheda (Bergenia ligulata) é a droga de
escolha para o tratamento desta doença. É administrada em forma
de um pó na dose de uma colher de chá três vezes ao dia. Pode
também ser administrada na forma de decocção na dose de 30
ml., três vezes ao dia.
Varuna (Crataeva nurvula) é outra droga popularmente utilizada
para esta condição. A casca desta árvore é fervida com água e a
decocção assim preparada é fornecida ao paciente na dose de 30
ml., três vezes ao dia.
Gokshuradi guggulu também é muito útil, pois os cálculos causam
obstrução na passagem da urina. Gokshura (Tribulus terrestris) é
conhecida por sua propriedade diurética e a planta guggulu
(Commiphora mukul) auxilia no alívio de vayu. Esta preparação
composta, portanto, age tanto na cura como na prevenção desta
doença.
A droga mais importante prescrita para esta condição é shilajit ou
silajatu (betume mineral – exsudação rochosa). Por causa de sua
eficácia terapêutica nas doenças do trato urinário e por sua oferta
ser reduzida no mercado é um pouco difícil obter o shilajit ou
silajatu de boa qualidade. Hoje em dia esta droga está sendo
manufaturada através da fervura das rochas que contém a resina.
A dose desta droga é de uma colher de chá, duas vezes ao dia e é
administrada com leite morno. Chandra prabha vati e Shilajitvadi
lauha são duas importantes preparações desta droga.
 Dieta: O paciente não deve comer feijões e grãos de
leguminosas. A variedade amarela da abóbora, colocasia e
quiabos são estritamente proibidos. A variedade branca de
abóbora e o iogurte são muito úteis esta condição.
214
 Conduta: O paciente não deve permanecer sentado por tempo
prolongado. Imediatamente após a refeição ele deve caminhar por
alguns minutos ou mesmo deitar-se. Sentar-se no escritório
constantemente, por longo tempo, também é proibido. Ele deve
sentar-se em assento macio e se movimentar por alguns minutos a
cada uma hora. Ele não deve ficar constipado, pois a constipação
desequilibra vayu e ajuda na formação dos cálculos. Um laxante
deve, portanto, ser prescrito para quase todos os dias. O paciente
deve desenvolver o hábito de ingerir grandes quantidades de
água, de forma a estimular a micção com mais freqüência. Isto
ajuda a limpar o sistema urinário e a prevenir a formação de
cálculos. Ocasionalmente, as pedras formadas se partem em
pedaços menores, são dissolvidas e eliminadas na forma de
cascalho ou areia.

Hematúria

A presença de sangue na urina é denominada hematúria. De


acordo com o Ayurveda esta é uma forma de Adhoga rakta pitta. É
comumente causada por cálculos ou por infeções no trato
geniturinário e por algumas outras condições hemorrágicas. O
paciente pode eliminar urina misturada com sangue, ou então,
sangue apenas.
 Tratamento: Gokshura (Tribulus terrestris) é a droga de
escolha para esta condição. A semente desta planta é utilizada
como medicamento. É administrada na forma de pó na dose de
uma colher de chá, duas vezes ao dia, misturada com mel. Pode
ser prescrita também na forma de decocção na dose de 50 ml.,
duas vezes ao dia. Tanto os ramos como as folhas podem ser
utilizados para a extração do suco. A goma extraída dos ramos
maduros desta planta é conhecida como Guduchi sattva. É
215
administrada ao paciente na dose de uma colher de chá, três
vezes ao dia, com leite ou água.
Shilajit ou silajatu (resina mineral) é muito eficaz na cura da
hematúria. É administrado ao paciente na dose de uma colher de
chá, duas vezes ao dia, com leite. No inverno esta droga é muito
bem tolerada .
 Dieta: Vegetais preparados com banana verde, patola
(Trichosanthes dioica), abóbora amarga e Cassia fistula indiana
são muito úteis nesta condição. Arroz e trigo envelhecidos, sopa
de carne e moong dal (preparação à base de Phaseolus mungo)
podem ser oferecidos ao paciente. Alimentos picantes e
condimentados devem ser evitados. A abóbora branca deve ser
ingerida pelo paciente em grandes quantidades. Um ou dois copos
do suco da abóbora branca misturada com suco da cana de
açúcar podem ser bebidos todos os dias. A romã e o amalaki
(Emblica officinalis) em qualquer forma são úteis ao paciente.
 Conduta: Relações sexuais devem ser evitadas e o paciente
deve ingerir muitos líquidos.

216
Capítulo 14

DOENÇAS DOS OUVIDOS , NARIZ E


GARGANTA

Epistaxe

O sanramento nasal é também denominado epistaxe. De acordo


com o Ayurveda, esta é uma forma de Urdhvaga rakta pitta. Está
geralmente associada com pólipos nasais. Durante o verão, isto
ocorre frequentemente, especialmente em crianças menores. A
exposição ao sol e ao fogo, a hipertensão e os procesos
infecciosos no nariz precipitam o sangramento.
 Tratamento: O paciente com epistaxe deve lavar a face e a
cabeça com água fria. A água fria pode ser utilizada para inalação
tanbém. O paciente não deve espirrar nem colocar quamquer tipo
de tensão sobre o nariz, pois agravará o sangramento.
Durva (Cynodon dactylon) é a droga ideal para esta condição O
suco desta erva deve ser instilada nas narinas, cerca de dez gotas
em cada uma, e profundamente inalada. Da mesma forma, o suco
das flores de romã devem ser inaladas pelo paciente. Se o
paceinte é acometido por crises repetidas, no intervalo entre os

217
sangramentos ele deve inalar Anu taila, na dose de dez gotas em
cada narina.
Vasavaleha pode ser administrado ao paciente na dose de uma
colher de chá, três vezes ao dia, com mel ou leite. Os pólipos
nasais geralmente ocorrem em pacientes que sofrem de resfriados
crônicos ou constipação crônica. Nestes casos, Chyavana prasha
pode ser administrado ao paciente na dose de uma colher de chá,
duas vezes, ao dia com leite.
 Dieta: O paciente não deve ingerir alimentos picantes ou
especiarias. Uvas, um tipo de abóbora branca, sopa de carne,
sopa de moong dal (Phaseolus mungo), arroz envelhecido, romã,
manteiga e leite de vaca podem ser ingeridos pelo paciente.
 Conduta: O paciente não deve se expor ao trabalho mental ou
físico que o sobrecarregue muito. Sua pressão arterial deve ser
verificada. Se houver hipertensão, não se deve interromper tão
rapidamente o sangramento nasal, pois neste caso a epistaxe está
servindo como válvula de escape. O paciente não deve
permanecer acordado até altas horas da noite.

218
Figura 23: Cynodon dactylon (durva)

219
Glossite

A inflamação da membrana mucosa sobre a língua é conhecida


como glossite. No Ayurveda, é denominada Jihvapaka. É
geralmente causada por ingestão de álcool, especiarias, fumo,
doenças metabólicas e problemas gastrointestinais.
A língua torna-se vermelha e às vezes há úlceras também. O
paciente sente dificuldade em ingerir o alimento.
 Tratamento: O alume (sulfato de alumínio) é popularmente
utilizado para o tratamento desta doença. No Ayurveda esta
substância é chamada de sphatika. Ela é colocada em uma
frigideira para fritar até tornar-se desidratada e inchada e sua
coloração tornar-se branca. É então transformada em pó e
adicionada a uma xícara de água morna na dose de meia colher
de chá. Esta água morna assim preparada é utilizada para
gargarejos duas a três vezes ao dia.
 Dieta: A glossite não permite que o paciente mastigue os
alimentos. É aconselhável que ele se alimente com um mingau
preparado com arroz, cevada ou araruta. O pó de açafrão é muito
útil na cura das ulcerações. O açafrão é normalmente empregado
em condimentos. Para uma xícara de leite, adiciona-se meia
colher de chá deste pó e mistura-se bem. Se necessário, pode ser
adicionada uma colher de açúcar para torná-lo mais agradável. É
ingerido pelo paciente duas vezes ao dia. Esta solução reduz o
processo inflamatório e ajuda na remoção da constipação.
 Conduta: Beber um copo de água fria pela manhã, logo que
acordar, ajuda na prevenção e na cura da glossite.

220
Rouquidão

A inflamação da garganta, incluindo a faringe e a laringe causa


rouquidão. No Ayurveda, é denominado Svarabheda.
A presença de processo infeccioso, a ingestão de bebidas
quentes e frias, um aumento anormal, a presença de corpos
estranhos, a infecção dos pulmões por tuberculose são alguns dos
principais fatores responsáveis pela causa desta doença.
O paciente pode não ser capaz de falar com facilidade ou pode
haver dor durante a fala. Pode estar associado com febre e tosse.
A língua geralmente apresenta saburra e a condição é agravada
quando o paciente está constipado.
 Tratamento: Devem ser prescritos os pós de yashtimadhu
(Glycyrrhiza glabra) e vacha (Acorus calamus) na dose de uma
colher de chá, quatro vezes ao dia, misturado com mel. A
fomentação externa seca e quente é muito útil nesta condição.
Gargarejos com a solução de água morna misturada com uma
colher de chá de Irimedadi taila (óleo medicinal que contém
irimeda ou Acacia leuocophloea) são muito benéficos. Khadiradi
vati (preparação que contém Acacia catechu) ou Eladi vati devem
ser conservados na boca e levemente mascados. Se houver
constipação. O paciente deve ingerir o pó de haritaki (Terminalia
chebula) na dose de uma colher de chá com água quente, na hora
de dormir.
 Dieta: Gengibre, pimenta preta, sal, alho, uvas secas e ghee
(manteiga purificada indiana) são úteis para o paciente. Ele deve
evitar iogurte, alimentos azedos, frituras, bebidas e alimentos
excessivamente frios.
 Conduta: O paciente não deve expor sua garganta ao vento frio
ou água fria. Ele deve evitar lavar a cabeça durante alguns dias.
221
Otite

No Ayurveda esta condição é denominada Putikarna. A inflamação


do ouvido é causada por alguns microorganismos. Estes
microorganismos se desenvolvem quando o paciente é acometido
por resfriados, tosse e sinusite. Crianças pequenas são
geralmente afetadas por esta patologia. Às vezes, a ingestão
forçada de leite pela criança resulta em refluxo do mesmo e sua
entrada no ouvido médio e externo. Isto leva à formação de
inflamação e secreção purulenta.
Quando a secreção sai do ouvido, produz um odor pútrido. Há dor
aguda e a criança grita. Está geralmente associada com tosse e
mesmo com febre. Kapha dosha (ver Capítulo 2) é o principal
responsável por todas estas manifestações.
 Tratamento: A droga de escolha é Lakshmi vilasa rasa. É
administrada internamente para um adulto na dose de um pílula
três vezes ao dia, misturado com mel. Para a criança, é
administrada internamente, em dose reduzida.
Nirgundi (Vitex negundo) é a droga de escolha para uso externo. O
suco da folha desta planta é misturada com óleo de mostarda e
fervido. Este óleo medicinal deve ser pingado no ouvido duas
vezes ao dia.
De forma semelhante, a bilva (Aegle marmelos) também é
utilizada nesta condição. Uma pasta da raiz da planta é fervida
com óleo de mostarda e depois filtrada. Este óleo medicinal é
empregado para instilação nos ouvidos.
 Dieta: Estão proibidos os alimentos que agravam kapha. O
iogurte, a banana, a goiaba e frutas ácidas devem ser evitadas
pelo paciente. A ingestão de alho, cebola e gengibre é muito útil
nesta condição.
222
 Conduta: O paciente não deve tomar banho, nem se expor ao
vento frio e à chuva.

Piorréia

A piorréia é caracterizada por secreção de pus pelas raízes dos


dentes e das gengivas. Podem ser de vários tipos, dependendo da
parte do dente e das gengivas envolvidas. No Ayurveda, esta
condição é denominada Danta-veshta ou Putidanta. A secreção
purulenta que sai das gengivas é geralmente deglutida com os
alimentos e produz muitos tipos de doenças no corpo, quando é
absorvida pelo trato gastrointestinal. Torna-se difícil para o
paciente mastigar alimentos duros, pois enquanto mastiga, há dor
e sangramento pelas gengivas. Isto produz odor desagradável na
boca, os dentes caem pois perdem sua sustentação. Portanto, o
processo causa envelhecimento prematuro e muitas outras
doenças no corpo.
A infecção por vários tipos de microorganismos é considerada no
sistema alopático de medicina a causa desta patologia. A não
observação da higiene oral como a escovação diária dos dentes, a
limpeza da boca após ingestão de alimentos também são
responsáveis por esta doença. No Ayurveda, todos os fatores
causais são considerados. Além disso, dá-se grande ênfase na
capacidade digestiva e nos movimentos intestinais. A boca e suas
diferentes partes, são consideradas indicadoras das condições do
trato gastrointestinal incluindo o cólon e o fígado. Uma pessoa com
má digestão e constipação é mais propensa a adquirir um
processo infeccioso como este.
 Tratamento: O paciente deve ser sempre solicitado a adotar
medidas adequadas para a higiene oral, como escovar os dentes
com escova macia e uma pasta ou pó para dentes adequado. Ao
223
invés de utilizar uma escova de cerdas de náilon, os pacientes são
aconselhados a utilizar a raiz da árvore banyan para a escovação
dos dentes. Cerca de 10 cm. da raiz desta árvore, com o diâmetro
de um lápis comum, é selecionada para este propósito. A raiz
fresca oferece melhores resultados. O látex ou o leite secretado
por esta raiz é muito benéfico na prevenção da piorréia por causa
das propriedades anti-sépticas e interrompe o sangramento por
causa de suas propriedades adstringentes. Esta raiz precisa ser
mastigada durante cerca de dois minutos para formar uma escova
fina com a qual os dentes serão limpos. Esta mastigação também
ajuda a eliminar o pus que está acumulado na raiz dos dentes.
Raminhos ou galhos novos de outras árvores como a neem
(Azadirachta indica) também podem ser utilizados para o mesmo
propósito, da mesma maneira.
Para remover a constipação, o paciente deve tomar a decocção de
Triphala. Esta decocção consiste de três frutas, amalaki (Emblica
officinalis), bibhitaki (Terminalia belerica) e haritaki (Terminalia
chebula). O pó da polpa destas frutas é adicionado em
quantidades iguais e misturado muito bem. Três gramas deste pó
deve ser adicionado a 250 ml. de água e fervido até que se reduza
à metade. O pó deve ser filtrado e desprezado. Apenas a porção
líquida, quando estiver morna, deve ser ingerida na hora de
dormir. Isto proporcionará movimentos intestinais satisfatórios pela
manhã. A dose deste pó deve ser ajustada dependendo da ação
purgativa que produz sobre o corpo do indivíduo. Deve ser
ingerido diariamente no horário de dormir.
O pó da casca da bakula (Mimusops elengi) e babula (Acacia
arabica) são muito benéficas para esta condição. São utilizadas
como pós para limpeza dos dentes, uma vez pela manhã e outra
vez antes de dormir.
A preparação composta ayurvédica muito usada popularmente e
conhecida como Dashana samskara churna. Quando aplicado
224
sobre os dentes com o dedo ou com a escova de dentes macia,
remove o mau hálito rapidamente e em 15 dias a secreção
purulenta e o sangramento desaparecem. O uso deste pó para a
limpeza dos dentes deve ser continuado por 3 meses ainda.
Algumas pessoas utilizam este pó na limpeza dos dentes
rotineiramente.
 Dieta: Alimentos que se aderem à raiz dos dentes durante a
mastigação devem ser evitados sempre que possível. Alimentos
com sabor azedo como picles, iogurte e frutas ácidas são contra-
indicadas. As frutas que não são ácidas como a pêra e o mamão
papaia e o pepino são benéficos. Frutas como a goiaba, a romã e
amalaki (Emblica officinalis), que contém grande quantidade de
vitamina C são muito úteis nesta condição. Elas não são
prejudiciais, mesmo possuindo sabor ácido. O vegetais com sabor
amargo como a karela (Momordica charantia), a patola
(Trichosanthes dioica) e a Cassia fistula indiana são úteis nesta
condição.

Espirros

Os espirros são movimentos expiratórios súbitos, involuntários e


violentos precedidos por inspiração. Durante o espirro, a boca,
geralmente permanece fechada, de forma que a corrente de ar
saia diretamente pelo nariz. A pessoa espirra normalmente por
causa de alguma irritação na mucosa do nariz, ou nos seios
nasais. O muco que fica acumulado dentro dos seios nasais, é
eliminado durante o ato de espirrar. Normalmente, os espirros
ocorrem uma a duas vezes ao dia. Quando neva ou faz frio, as
pessoas espirram mais. Em geral, os espirros são preocupantes
quando são repetitivos. Com os espirros, elimina-se água do nariz
e da boca. Algumas vezes o paciente se levanta da cama, seu
225
nariz está completamente obstruído e ele espirra. Certos tipos de
alimentos como iogurtes, banana, água gelada e sorvetes
precipitam os ataques de espirros. A alergia é considerada uma
das principais razões para os espirros.
 Tratamento: Haridrakhanda é a droga de escolha para o
tratamento desta condição. É preparada com açafrão (Curcuma
longa) e algumas outras substâncias vegetais. É administrada na
dose de uma colher de chá deste pó, quatro vezes ao dia,
misturada com uma xícara de leite quente ou água morna.
Deve ser prescrito Shadabindu taila22 ou Anu taila para inalação
profunda. A primeira é utilizada na dose de 6 gotas em cada narina
e a última é administrada na dose de 20 gotas em cada narina.
Estes óleos medicinais devem ser inalados profundamente.
Podem provocar mais alguns episódios de espirros e coriza pelo
nariz. Isto acontece durante os dois primeiros dias, depois disso, o
paciente não sentirá mais qualquer desconforto e eventualmente
irá usar estas gotas nasais. Para um adulto, o uso destas gotas
nasais durante cerca de um mês será o suficiente para aliviá-lo
das crises de espirros.
O pacientes normalmente permanecem constipados. Para
conservar os intestinos limpos, a preparação Agastya rasayana
deve ser administrada na dose de 2 a 4 colheres de chá na hora
de dormir com uma xícara de leite ou água morna. Além do alívio
da constipação, este medicamento apresenta um efeito tônico
sobre o corpo e especialmente sobre os pulmões, garganta e
sobre a membrana mucosa do nariz. Este medicamento deve
continuar a ser administrado mesmo depois de cessarem as crises
de espirros, tendo em vista a prevenir a recorrência destes

22Ver “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, pág. 183. Editora


Chakpori.
226
episódios. Normalmente, a ingestão desta droga durante um
período de seis meses será suficiente para um adulto médio.
 Dieta: Iogurte, banana, frituras e bebidas geladas devem ser
estritamente proibidas. A ingestão de arroz não é benéfica para
estes pacientes. Açafrão, alho, gengibre e pimenta preta devem
ser utilizadas em grandes quantidades e são úteis tanto para
prevenção como para a cura desta condição. Além do alho, que é
adicionado aos vegetais, o paciente deve ser aconselhado a
ingerir pelo menos 10 dentes de alho, duas vezes ao dia. Ele
também pode ser ingerido cru, mas por causa de seu odor
penetrante, algumas pessoas não o toleram. Neste caso, ele deve
ser frito com manteiga ou ghee (manteiga purificada indiana); ele
se torna marrom e sem odor e pode ser oferecido ao paciente.
Esta fritura, que torna o alho sem odor, reduz a eficácia
terapêutica desta planta. O paciente deve ingerir grandes
quantidades de vegetais folhosos de forma que os intestinos
permaneçam limpos.
 Conduta: O paciente deve evitar lavar a cabeça quando ainda
estiver tendo as crises de espirros. A exposição à chuva, ou ao
vento frio excessivo, é muito ruim para o paciente. A poeira, e a
fumaça de fábricas são prejudiciais para o paciente e devem ser
evitados.

Estomatite

A inflamação da mucosa da boca que resulta em hiperemia,


erosão, bolhas, hemorragias submucosas e ulcerações é
conhecida como estomatite. A língua também pode ser afetada
simultaneamente. No Ayurveda isto é denominado Mukhapaka.
Esta inflamação pode ser causada por diferentes tipos de
microorganismos. Pode ser também um sintoma da toxicidade de
227
drogas e metais pesados. A deficiência nutricional também pode
ser responsável pelo aparecimento desta doença e ela pode surgir
como sintoma de outros desequilíbrios.
 Tratamento: O paciente com este tipo de doença permanece
normalmente constipado. Deve ser prescrito um laxante até que
esteja curado. A preparação de Triphala é o laxante adequado
para esta condição. As frutas haritaki (Terminalia chebula),
bibhitaki (Terminalia belerica) e amalaki (Emblica officinalis) são
preparadas na forma de um composto denominado Triphala. A
polpa das frutas destas três plantas, em igual quantidade, são
transformadas em pó para serem administradas. Este pó pode ser
oferecido ao paciente na dose de uma colher de chá, na hora de
dormir. O sabor desta droga é adstringente e, portanto, pode não
ser agradável ao paciente. Por isso, deve ser misturado com uma
xícara de leite e uma colher de chá de açúcar, misturado muito
bem e administrado na hora de dormir. Se os intestinos do
paciente não reagem adequadamente, a dose deve ser
aumentada. Pode ser administrado também na forma de
decocção. Para uma xícara de água, deve ser adicionado uma
colher de chá deste pó e fervido até que reste somente a metade.
Depois, é filtrado e o paciente deve ingerir na hora de dormir.
Como seu sabor é adstringente, deve ser adicionado uma colher
de chá de mel antes do paciente beber.
Khadiradi vati é a droga de escolha para o tratamento desta
condição. O principal ingrediente desta droga é khadira (Acacia
catechu). Este medicamento é encontrado na forma de tabletes. O
paciente deve deixar um tablete na boca sugando-o levemente até
que se dissolva na língua. Devem ser chupados 6 a 8 tabletes por
dia. Isto previne a salivação excessiva e produz alívio sobre as
ulcerações e as regiões inflamadas.
Irimedadi taila (óleo medicinal que contém Acacia leuocophloea)
também é bastante utilizada nesta condição. Uma colher de chá é
228
adicionada a uma xícara de água morna e o paciente deve utilizá-
la como gargarejos. Isto deve ser repetido 3 a 4 vezes ao dia.
 Dieta: O paciente deve ingerir uma dieta não constipante, sem
alimentos azedos, incluindo iogurte, picles e especiarias. Vegetais
verdes e frutas devem ser ingeridos em grande quantidade. O
mamão papaia e a surana (Amorphophalus campanulatus) são
muito úteis para o paciente.
 Conduta: Aqueles que sofrem de estomatite crônica devem
evitar o uso de tabaco de qualquer forma. O uso de pasta ou pó
para os dentes contendo neem é muito útil.

Amigdalite

As amígdalas são pequenas massa arredondadas de tecido


predominantemente linfóide, localizado atrás da língua entre os
pilares da garganta, de cada lado da faringe. Um processo
inflamatório aí localizado é denominado amigdalite. No Ayurveda é
denominado Tundikeri. Ocorre geralmente em crianças. Está
freqüentemente associada com ataques de resfriado e tosse. A
constipação precipita um ataque desta doença.
As amígdalas na garganta tornam-se vermelhas e edemaciadas. O
paciente apresenta tosse e dor na garganta. Há dificuldade em
deglutir o alimento e até mesmo a respiração pode tornar-se difícil.
Está freqüentemente associada com febre. A língua apresenta
saburra.
 Tratamento: O paciente deve aplicar fermentação quente no
pescoço e este deve permanecer aquecido sempre que possível.
A casca da árvore babula (Acacia arabica) é muito útil nesta
condição. A decocção desta casca misturada com sal gema deve
ser usado como gargarejo. O pó de yashtimadhu (Glycyrrhiza
glabra), vacha (Acorus calamus) e kulanjana também são
229
empregados no tratamento desta condição. Estes três pós são
transformados em pasta, misturados com mel e o paciente deve
lamber o medicamento lentamente. Isto alivia a garganta e cura a
inflamação.
Khadiradi vati (preparação que contém Acacia catechu) é a droga
de escolha para o tratamento desta condição. É conservada na
boca e chupada lentamente, misturando-se na saliva. Podem ser
chupados seis tabletes por dia.
Pessoas que sofrem de amigdalite crônica devem tomar Agastya
rasayana na dose de uma colher de chá, duas vezes ao dia,
misturada com mel. Deve ser administrado por cerca de seis
meses. Mesmo que não haja mais sinais de amigdalite, o paciente
deve continuar com o medicamento pois este produz imunidade
contra recidivas ou novas ocorrências da doença.
 Dieta: O paciente deve ingerir sopa de carne e grãos de
leguminosas como moong (Phaseolus mungo) e kulattha (Dolichos
biflorus). Deve se alimentar com methi (Trigonella foenum-
graecum), abóbora amarga, patola (Trichosanthes dioica) e
rabanete fresco e deve evitar alimentos secos, duros e de difícil
digestão, assim como aqueles de sabor azedo, iogurtes, leite e
suco de cana de açúcar.
 Conduta: Dormir durante o dia e os banhos estão proibidos. A
limpeza dos intestinos deve ser mantida sob vigilância, para que
estejam sempre em bom funcionamento.

230
Figura 24: Acorus calamus (vacha)

231
Capítulo 15

DOENÇAS DA CABEÇA

Cefaléia

O tratamento da cefaléia é a dor de cabeça dos médicos. Esta


expressão popular, entretanto, não se aplica aos médicos
ayurvédicos. No Ayurveda isto é conhecido como Shirahshula. São
muitos tipos de cefaléia, dependendo da predominância de um ou
mais doshas23 na patogênese desta doença.
Tanto fatores físicos como psíquicos são considerados
responsáveis por esta doença. Dificuldades visuais, sinusite,
hipertensão, insônia, tumores cerebrais, trabalho prolongado,
stress emocional, exposição ao calor, frio ou sol excessivos,
indigestão, constipação e formação de vento no estômago entre
outros, podem produzir cefaléia. A cefaléia é um sintoma de
muitas outras doenças como febre, gripe e bronquite.
Os sinais e sintomas associados com a cefaléia variam
dependendo da predominância dos doshas. Por exemplo, no tipo
shlaishmika de cefaléia (com predominância de kapha), há sempre

23Sobre os doshas ver Capítulo 2, neste livro, ou ver “Fundamentos da


Medicina Ayurvédica”, pág. 24, por Bhagwan Dash, Editora Chakpori.
232
sensação de peso na cabeça, lacrimejamento, inflamação do
ouvido médio, coriza nasal, inflamação da mucosa do nariz,
pólipos nasais e muitos outros sintomas semelhantes. Este tipo de
cefaléia ocorre geralmente pela manhã, na estação das chuvas ou
no inverno, e imediatamente após a refeição. As crianças são mais
afetadas por este tipo de cefaléia. O tipo paittika de cefaléia está
sempre associada com sensação de queimação em várias regiões
da cabeça e sangramento nasal. Agrava-se geralmente durante o
meio dia, no verão e no outono. O tipo vatika de cefaléia está
sempre associada com vertigem, secura e aspereza nos olhos e
vários tipos de dor em diferentes órgãos. Em um outro tipo de
cefaléia, denominado ardhavabhedaka, a dor aparece em metade
da cabeça. Às vezes, a cefaléia começa pela manhã e vai
aumentando conforme o sol vai subindo no céu até o meio dia e
quando o sol começa a descer, a dor começa a diminuir, também
lentamente. Esta cefaléia é denominada suryavarta. Um tipo
agudo de dor de cabeça, de difícil tratamento é conhecida como
anantavata. Neste tipo, a dor começa na região occipital e se
movimenta para as regiões frontal e temporal. Está associada com
hiperemia e edema nesta região e é conhecida como shankhaka.

 Tratamento: Diferentes tipos de tratamento são adotados para


os diferentes tipos de cefaléia. Um medicamento geralmente
empregado em todos os tipos é Anu taila. Este óleo medicinal,
preparado através da fervura de diferentes plantas medicinais em
óleo de gergelim, é administrado na dose de 20 gotas de óleo em
cada narina e inalada profundamente. Não é tóxica. No entanto, se
uma parte deste óleo cair no estômago, através da garganta,
torna-se prejudicial. A inalação profunda deste óleo causa uma
leve irritação na mucosa do nariz e isto resulta em espirros e
coriza intensa. Se inalado corretamente, este óleo remove o
bloqueio das passagens dos seios para a cavidade nasal e isto
233
alivia imediatamente a sensação de peso e o stress mental. Este
óleo também produz um efeito de alívio sobre os nervos.
Normalmente, é feita apenas uma única aplicação desta inalação.
Mas se a cefaléia for crônica ou se o paciente apresenta uma crise
aguda de cefaléia, então ela deve ser repetida, duas a três vezes
ao dia.
No tipo shlaishmika de cefaléia, a preparação Lakshmi vilasa rasa
é muito útil. Ela é encontrada na forma de tabletes de 250 mg.
Devem ser administrados dois tabletes, três vezes ao dia,
misturados com mel. No tipo vatika, Godanti bhasma e Shringa
bhasma são muito úteis. Godanti é o sulfato de cálcio preparado
na forma de um pó através de um processo farmacêutico especial.
Shringa é o chifre de veado. Esta substância é transformada em
cinzas através de um processo farmacêutico especial. Estes dois
pós devem ser misturados na dose de 250 mg. cada e misturados
com mel, três vezes ao dia.
No tipo paittika, a preparação Suvarna sutashekhara é a droga de
escolha. Entre outros ingredientes, contém ouro na forma de
bhasma. Deve ser administrado na dose de um tablete duas vezes
ao dia, em jejum, misturado com meia colher de chá de creme e
meia colher de chá de açúcar. Se houver dificuldade em conseguir
o creme, este medicamento deve ser ingerido com uma xícara de
leite com açúcar. O paciente deve tomar um laxante
periodicamente para manter-se livre de constipação.

 Dieta: Leite, alimentos doces e ghee são benéficos nesta


condição. O arroz e a sopa preparada com a fervura de kulattha
(Dolichos biflorus) também são recomendados. A ingestão de leite
quente, especialmente o leite de vaca, é considerado
extremamente útil. O paciente deve evitar, sempre que possível,
as frituras e as especiarias.

234
 Conduta: O paciente deve evitar a exposição ao excesso de
calor, ao excesso de frio ou à chuva. Ele não deve inibir suas
necessidades naturais. Se a cefaléia é do tipo shlaishmika, o
paciente deve ser aconselhado a manter o cabelo curto e evitar
lavar a cabeça com água fria, sempre que possível. Como o stress
mental e físico são importantes fatores contribuintes para o
aparecimento da cefaléia, o paciente deve se manter afastado de
fatores emocionais como a ansiedade, a raiva e a preocupação.
Ele não pode ficar acordado até altas horas da noite. Dormir
durante o dia é prejudicial.

Enxaqueca

Este tipo de cefaléia é caracterizada por crises paroxísticas


recorrentes. Ocorre periodicamente e, com freqüência, o paciente
refere dor em apenas um dos lados da cabeça. Entre os ataques,
o paciente sente-se perfeitamente bem e leva uma vida normal.
No Ayurveda, esta condição é denominada Anantavarta. Há outra
condição semelhante conhecida como Suryavarta. Nesta última, a
cefaléia aumenta conforme o sol se movimenta no céu e o
paciente volta ao normal quando o sol se põe.
A preocupação excessiva e a ansiedade são consideradas causas
primárias deste tipo de cefaléia. A exposição da cabeça ao calor
do sol ou ao vento frio ou neve por tempo prolongado é um dos
fatores precipitantes da doença. Muitos pacientes que sofrem de
enxaqueca também apresentam sinusite.
Às vezes a cefaléia torna-se tão intensa que o paciente chega a
apresentar vômitos. Durante o período ente dois ataques, o
paciente sente-se perfeitamente normal, apesar de que pode
permanecer uma leve sensação de peso na cabeça e congestão
nasal.
235
 Tratamento: Se o paciente apresentar sensação de náuseas,
será melhor permitir que vomite. Freqüentemente, a indigestão
precipita os ataques desta doença. Os vômitos aliviam a
indigestão e, portanto, o paciente deve tomar 5 a 6 copos de água
e vomitá-la. No copo de água deve ser adicionado meia colher de
sal. Se a água estiver morna, a ação é mais eficaz. Após beber a
água, deve-se provocar o vômito com o dedo, aliviando o paciente
de sua cefaléia.
Tais pacientes são geralmente constipados. Eles devem ingerir o
pó de Triphala (Terminalia chebula, Terminalia belerica e Emblica
officinalis), na dose de uma colher de chá, na hora de dormir, com
uma xícara de leite quente, regularmente.
Um medicamento muito eficaz neste tipo de cefaléia é Anu taila.
Este óleo medicinal é preparado através da fervura de 26 plantas
medicinais em óleo de gergelim e leite de cabra. Cerca de 10 a 20
gotas deste óleo deve ser pingado em cada narina e inalado
profundamente. Não apresenta efeitos tóxicos. A inalação
profunda causa espirros. O óleo inalado adequadamente remove o
bloqueio das passagens dos seios para o nariz. O paciente sente a
cabeça leve e o stress também é aliviado. O paciente passa a ter
noites bem dormidas e os nervos relativos às passagens nasais
são acalmados. Esta terapia inalatória deve ser utilizada 2 a 3
vezes ao dia. Quando a crise de enxaqueca é aguda, o uso da
terapia de inalação dá alívio instantâneo ao paciente.
Um outro óleo medicinal comumente utilizado é Shadbindu taila24.
A dose é de 6 gotas apenas e a forma de administração é a
mesma que a droga anterior. Este medicamento é preparado em

24Ver “Massagem Terapêutica na Medicina Ayurvédica”, pág. 183. Editora


Chakpori.
236
óleo de mostarda, um irritante leve da mucosa nasal, mas dá alívio
instantâneo.
Suvarna sutashekhara é a droga de escolha para a enxaqueca.
Contém mercúrio, ouro, cobre, enxofre e bórax na forma de
bhasma (calcinada). Algumas plantas tóxicas como a vatsanabha
(Aconitum chasmanthum) e dhatura (Datura stramonium) também
entram na composição desta droga. Mas elas são processadas
antes de serem administradas ao medicamento e este processo
torna-as livres de quaisquer efeito adversos sobre o corpo. Outras
dez plantas medicinais ou produtos de origem animal são
adicionados a esta droga e triturados com o suco de bhringaraja
(Eclipta alba). Deve ser administrada em jejum, na dose de 125
mg., duas vezes ao dia, com leite. Age tanto na prevenção como
na cura da doença. Godanti bhasma, uma droga de baixo custo,
também pode ser usada nesta condição. É administrada ao
paciente na dose de 1 grama, três vezes ao dia, misturada com
mel.
 Dieta: Frituras e alimentos muito temperados são prejudiciais
ao paciente. Iogurte e outros alimentos azedos devem ser
evitados. O leite de vaca e o ghee (manteiga purificada indiana)
deste leite são muito úteis para o paciente que sofre de
enxaqueca.
 Conduta: O paciente deve cuidar para não apresentar
indigestão, constipação, preocupações e ansiedade e não se
expor ao calor excessivo, ao frio excessivo e chuva. Ele deve
dormir cedo.

237
Capítulo 16

MEDICAMENTOS AYURVÉDICOS
PARA O PLANEJAMENTO FAMILIAR

Na Índia antiga, uma grande população não era um


problema sócio-econômico. Um casal sem descendentes era visto
com desprezo, e sabe-se que as pessoas desdenhavam da
esterilidade. Mas um número muito grande de filhos nunca foi
considerado uma bênção pura. Um mantra no Rigveda (ou Rk
Veda) antecipava a visão: “Um homem com muitos filhos sucumbe
à miséria.” Esta talvez seja a mais antiga afirmação com sugestão
contra uma família numerosa. Ter um filho iluminado é melhor do
que centenas de analfabetos. Como a lua solitária que se esforça
e remove a escuridão, o que não é possível remover com
centenas de estrelas. Tendo em vista esta consideração,
Lopamudra quis ter apenas um filho virtuoso ao invés de centenas
de outros indesejáveis.
Nos clássicos antigos sobre religião, medicina e sexologia,
dá-se muita ênfase na preservação do shukra ou fluido seminal. O
sêmen, quando preservado no corpo através do processo de
brahmacharya (celibato), promove o vigor, a compleição, a
longevidade e o poder de resistência às doenças e ao
envelhecimento. Exceto para o único propósito da procriação, a
238
união sexual era evitada. O ato sexual é uma parte do dharma ou
obrigação filosófica que deve ser realizado seguindo o
procedimento prescrito.
Para aqueles que não são capazes de adotar estas
prescrições e proibições, muitos artifícios mecânicos e naturais
são descritos nos trabalhos ayurvédicos e nos trabalhos sobre
sexologia.
Alguns contraceptivos (não-tóxicos) locais e orais descritos
nestes livros estão relacionados abaixo:
I. No Yogaratnakara e Brihad-yoga-tarangini, a mulher deve
realizar uma fumigação do trato genital com a fumaça
produzida pela madeira margosa ao ser queimada. Isto deve
ser feito após a interrupção do fluxo menstrual. É prescrito para
prevenir a concepção. No Tantrasara sangraha, esta referência
ocorre de maneira um pouco diferente. A fumigação é sugerida
para ser realizada durante o ritu, ou seja, o período menstrual
ou o período de fertilização.
Uma técnica muito comum que ainda é prescrita atualmente em
certas partes do mundo para a contracepção também está descrita
no Yogaratnakara, no Brihad-yoga-tarangini e no Brihannighantu
ratnakara. Um pedaço de sal-gema untado com óleo de gergelim
deve ser introduzido na vagina da mulher antes do coito para
prevenir a concepção. No Brihad-yoga-tarangini, há outra
referência dentro deste contexto. Após o coito, um tampão feito de
sal-gema e óleo deve ser introduzido na vagina para agir como
contraceptivo. O Rasa-ratna-samu-chchaya elucida o mecanismo
de ação do sal mineral na prevenção da concepção. De acordo
com este livro, o shukra ou esperma dissolve-se e parte-se em
pedaços ao entrar em contato com o sal mineral untado com óleo.
Não interrompe a menstruação mas previne apenas a concepção,
mesmo durante o período fértil. Por implicação, este contraceptivo
local não apresenta qualquer efeito sobre o processo de ovulação
239
da mulher, mas incapacita o esperma que, por sua vez, não
conseguirá unir-se ao óvulo para causar a concepção. De acordo
com o Haramekhala, um pedaço de sal-gema untado com óleo e
conservado no colo do útero, ou garbhashaya vadana, ajuda a
prevenir a concepção.
Uma pasta preparada com as sementes da palasa (Butea
monosperma), mel e ghee (manteiga purificada indiana) deve ser
introduzida na vagina em quantidade suficiente. Este método é
descrito no Brihad-yoga-tarangini para prevenir a concepção.
Outra versão é oferecida pelo Bharata-bhaishajya-ratnakara, de
acordo com o qual uma fina pasta deve ser empregada
provavelmente com o objetivo de prevenir qualquer irritação no
trato genital feminino. De acordo com o Haramekhala, este
medicamento deve ser aplicado na vagina durante o momento da
fertilização. Nos comentários sobre o Haramekhala, afirma-se que
este medicamento deve ser aplicado durante todo o período fértil e
não apenas uma única vez, se o objetivo for a contracepção.
II. Contraceptivos orais para os homens: Nos clássicos
antigos sobre sexologia e medicina, as drogas orais para
produzir esterilidade nos homens também são mencionadas.
Existe tal referência no Ratirahasya, de acordo com o qual se
um indivíduo ingerir o pó de haridra ou rajani (Curcuma longa)
impregnado com urina de cabra, ele se torna estéril. Esta
fórmula produz seu efeito instantaneamente mesmo em
homens jovens. No Rasa-prakasha-sudhakara, em um capítulo
inteiro, descrevem-se várias fórmulas para bijabandha
(prevenção da ejaculação de sêmen) durante o coito.
III. Contraceptivos orais para as mulheres: As seguintes
fórmulas são descritas para produzir esterilidade em mulheres:
1) Açúcar cristal envelhecido: No Tantra-sara-sangruha, o
açúcar cristal com leite deve ser utilizado oralmente para
prevenir a concepção. No Bhavaprakasha, Balatantr,
240
Kuchimaratantra, Yogaratnakara e Brihannighantu
ratnakara, o açúcar cristal envelhecido é aconselhado. No
Anangaranga e Panchasayaka, são fornecidos detalhes
sobre este tipo de fórmula.
No Balatantra, há ainda outra referência ao açúcar cristal
sendo ingerido com arroz polido na forma de linctus para
produzir esterilidade nas mulheres sem afetar seu desejo
sexual. Esta fórmula é popularmente utilizada nas vilas.
2) Raiz de chitraka (Plumbago zeylanica): No Kuchimaratantra
e no Anangaranga, a raiz de chitraka (Plumbago zeylanica)
é fervida com arroz lavado, e depois de filtrado, a decocção
deve ser ingerida consecutivamente por três dias após o
final do fluxo menstrual. Afirma-se que isto torna a mulher
estéril. No Panchasayaka, descreve-se esta decocção com
o objetivo de tornar a mulher estéril para sempre.
3) Fruto da kadamba (Anthocephalus indicus): A fruta da
kadamba adicionada com açúcar na proporção de um para
quatro, se ingerida durante três dias juntamente com água
quente, produz esterilidade nas mulheres. Isto é descrito no
Anangaranga. De acordo com o Panchasayaka, no entanto,
a fruta da kadamba (Anthocephalus indicus) deve ser
ingerida com mel e arroz lavado por três dias depois do
final do fluxo menstrual.
4) Semente de Sarshapa (Brassica campestris): No
Anangaranga, estas sementes, quando ingeridas por sete
dias durante o período fértil, juntamente com arroz lavado
como veículo, causa esterilidade nas mulheres. No
Panchasayaka, uma quantidade muito pequena de
Sarshapa deve ser ingerida com arroz lavado, preparado
apenas com a variedade branca de arroz.
No Kuchimaratantra, os grãos de arroz e açúcar são
adicionados ao sarshapa. Todos os três em quantidades
241
iguais, misturados com arroz lavado e ingerido pela mulher
para interromper a menstruação.
No Brihad-yoga-tarangini, a sarshapa é mencionada para
ser ingerida após a trituração com óleo por três dias durante
o período menstrual. Isto irá prevenir a concepção.
5) As sementes de palasha (Butea monosperma): No
Yogachintamani, uma fórmula para produzir esterilidade é
descrita. As sementes de palasha (Butea monosperma) são
pulverizadas e ingeridas com água por três dias, durante o
período fértil.
No Panchasayaka, a fruta da kshirivriksha (Mimusops
hexandra) e a flor da shalmali (Salmalia malbarica) são
adicionadas às sementes de palasha e ingeridas com álcool
por 15 dias para produzir esterilidade nas mulheres Uma
outra versão também é disponível, de acordo com o qual, o
ghee deve ser utilizado no lugar do álcool e não é
mencionado tempo limite para a ingestão desta fórmula.
No Garudapurana, as sementes desta árvore devem ser
transformadas em pasta adicionando-se mel e ingerida pela
mulher no período menstrual. Isto previne tanto a
menstruação como a concepção no futuro. No Yogaratna-
samuchchaya, não se menciona a prevenção da concepção
pela ingestão desta fórmula, mas apenas a interrupção da
menstruação como efeito desta fórmula.
6) Flores da Japa (Hibiscus rosa-sinensis): A flor da japa
(Hibiscus rosa-sinensis) é descrita no Bhavaprakasha,
Brihannighantu ratnakara, Balatantra e Yogaratnakara é
descrita por produzir esterilidade nas mulheres.
No Brihad-yoga-tarangini, há uma observação interessante
neste contexto. A fórmula, se ingerida durante o parto de
uma criança pode prevenir uma concepção futura e, se

242
houver concepção, o feto não se desenvolverá; por
implicação, haverá neste caso, um aborto.
7) Raiz de Tanduliyaka (Amaranthus spinosus): A
administração da raiz de tanduliyaka (Amaranthus
spinosus), transformada em pasta com a adição de arroz
lavado, a uma mulher após a menstruação, durante três
dias, a tornará estéril. Isto é descrito no Yogaratnakara, no
Brihad-yoga-tarangini e no Brihannighantu ratnakara.
8) Haridra (Curcuma longa): Um pedaço do rizoma da haridra
(Curcuma longa) deve ser ingerida todos os dias, por seis
dias (três dias durante a menstruação e três dias após).
Está descrito no Kuchimaratantra para produzir esterilidade
na mulher, mas ela continuará apresentando menstruações.
9) Trapusa (Cucumis sativus): Quando ingerido com a pasta
feita com as folhas de shelu (Cordia dichotoma) é descrito
no Bhaishajya ratnavali para interromper a menstruação.
10) As folhas de Patha (Cissampelos pareira): Após o banho de
purificação feito após o fim da menstruação, se a mulher
ingerir as folhas de patha (Cissampelos pareira) ela não
conceberá.
11) Flores de shalmali (Salmalia malabarica): No Tantra
sarasangraha, a ingestão da flor de shalmali (Salmalia
malabarica) causa esterilidade.
12) Fruto da Bakula (Mimusops elengi): a fruta da bakula
(Mimusops elengi) transformada em pasta por trituração
com álcool, se ingerida durante o período menstrual,
interromperá a próxima menstruação.
13) Maricha (Piper nigrum): No Yoga-ratna-samuchchaya, a
pasta da variedade branca da maricha (Piper nigrum) feita
com água e açúcar, se ingerida por três dias durante a
menstruação, interromperá a próxima concepção.

243
14) Folhas da Champaka (Michelia champaca): As folhas de
champaka (Michelia champaca) são embebidas em água
durante a noite e transformadas em pasta. Se administrada
a uma mulher durante o seu período menstrual, agirá como
contraceptivo. O período em anos pelos quais este
contraceptivo permanece efetivo coincide com o número de
folhas ingeridas, da forma descrita acima.
15) Folhas de Tala (Borassus flabellifer): O pó da folha de tala
(Borassus flabellifer) misturada com ocre vermelho, ingerido
com água fria no quarto dia do período menstrual, causa
esterilidade.
16) Gunja (Abrus precatorius): Trata-se de uma formulação
muito comum e popularmente utilizada para contracepção.
Trata-se da variedade branca da gunja (Abrus precatorius).
Em diferentes partes do país existem diferentes métodos de
administração desta droga. Algumas pessoas usam a
semente inteira e outras utilizam apenas os cotilédones
removendo o epicarpo após embeber a semente na água
durante um noite. A administração de uma gunja (variedade
branca) no quarto dia do ciclo menstrual, duas no quinto dia
e três no sexto dia previne a concepção por três anos.
17) Sementes de mamona (Ricinus communis): A
administração da polpa de uma ou duas sementes de
mamona durante o período menstrual evita a fertilização
por um ou dois anos respectivamente.
18) Agnimantha (Clerodendrum phlomidis): A administração da
decocção preparada com a casca da raiz de agnimantha
(Clerodendrum phlomidis) juntamente com arroz lavado
causa esterilidade.
19) Flores de jambu (Syzygium cumini): As flores de jambu
(Syzygium cumini) trituradas com a urina de vaca causam

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esterilidade na mulher quando ingerida durante a
menstruação.
20) Ghee envelhecido: A ingestão durante 15 dias de ghee
(manteiga purificada indiana) envelhecido por três anos
torna a mulher estéril. O ghee de leite de vaca é
comumente utilizado para este propósito.
21) Talisha (Abies webbiana): A folha da Talisha (Abies
webbiana) misturada com igual quantidade de gairika (ocre)
está descrita no Yogaratnakara e no Brihad-yoga-tarangini
por produzir esterilidade em mulheres.
22) Badari (Zizyphus jujuba): Após a menstruação, se uma
mulher ingere badari (Zizyphus jujuba) e goma-laca,
fervidos em óleo, ela não será fecundada.
23) Pippalyadi churna: Pippali (Piper longum), vidanga (Embelia
ribes) e tankana (bórax), transformados em pó em
quantidades iguais e se ingeridos com leite durante o
período fértil, não permitirão a fecundação. Esta fórmula
está descrita no Bhavaprakasha, Yogaratnakara e no
Brihannighantu ratnakara.
24) Dhatryadi churna: No Bhaishajya-ratnakara, o pó de dhatri
(Emblica officinalis), arjuna (Terminalia arjuna) e abhaya
(Terminalia chebula) é descrito por interromper a
menstruação se ingerido com água.
25) Rasanjanadi churna: Um pó preparado com rasanjana
(extrato aquoso da Berberis aristata), haimavati (Acorus
calamus) e haritaki (Terminalia chebula), se ingerido com
água fria, interrompe a menstruação. Obviamente não
haverá concepção.
26) Krishnajitakadi vati: No Kuchimaratantra, uma formulação é
mencionada por produzir esterilidade e interromper a
menstruação. Esta receita é feita com kala jira (Carum
carvi), kachura (Curcuma zedoaria), nagakeshara (Mesua
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ferrea), kalaunji (Nigella sativa) e katphala (Myrica nagi), em
quantidades iguais. Os pós destes ingredientes são
triturados com a adição de água e depois transformados em
pílulas.
27) Chandanadi churna: Os pós de sândalo, mostarda e açúcar
são adicionados em quantidades iguais, misturados com
arroz lavado e administrados para tornar a mulher estéril.
28) Kutajadi churna: A ingestão de vinho medicinal, no qual
foram adicionadas as frutas da kutaja (Holarrhena
antidysenterica), kadamba (Anthocephalus indicus), balaka
(Valeriana wallichii) e chandana (Santalum album) torna a
mulher estéril.

Algumas das formulações acima mencionadas são drogas simples


e outras são preparações compostas. Muitas destas preparações
são de origem vegetal. Em alguns compostos, são adicionados
minerais também. Determinadas preparações são mencionadas
nos clássicos sobre medicina e sexologia e outras não se
encontram registradas mas são extensivamente utilizadas pela
população e comprovadas pelo uso e pela experiência acumulada
há séculos. A escolha das fórmulas para diferentes tipos de
pessoas depende de sua idade e constituição física.

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