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UM MODELO DE TRANSFORMADOR DE POTENCIAL CAPACITIVO PARA ESTUDOS

DE TRANSITÓRIOS ELETROMAGNÉTICOS

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W.L.A. Neves
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
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Transmission line controlled switching View project

EMTP-Based Numerical Relays Models View project

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 UM MODELO DE TRANSFORMADOR DE POTENCIAL CAPACITIVO
PARA ESTUDOS DE TRANSITÓRIOS ELETROMAGNÉTICOS

D. Fernandes Jr. W. L. A. Neves

Departamento de Engenharia Elétrica – UFCG
Av.: Aprígio Veloso, 882 – Bodocongó
58.109-970, Campina Grande – PB
Fone: (83) 310-1140, Fax: (83) 310-1015
E-mails: damasio@dee.ufpb.br, waneves@dee.ufpb.br

Resumo – Neste trabalho é apresentado um de sensibilidade, que o número de parâmetros do

modelo de transformador de potencial capacitivo
(TPC) para ser utilizado em conjunto com o
EMTP (Electromagnetic Transients Program).
Uma rotina computacional foi desenvolvida para
a obtenção dos parâmetros lineares do modelo a
partir de medições, em laboratório, das curvas de
amplitude e fase da relação de tensão do TPC. O
transformador de potencial (TP) indutivo foi
modelado incluindo os seus múltiplos
enrolamentos, a característica não linear do
núcleo magnético e o circuito de proteção.
Simulações de ferroressonância foram realizadas.
Os resultados revelam que são necessários alguns
cuidados a fim de evitar problemas de oscilação
numérica, e mostram a importância do circuito
supressor de ferroressonância (CSF) e do circuito
de proteção para o amortecimento e limitação de
tensões transitórias que aparecem no TPC
quando um curto-circuito é interrompido em um
de seus terminais secundários.
Palavras-chave: Transformador de potencial
capacitivo, ferroressonância, simulação de
transitórios, modelo de TPC, EMTP.
I. INTRODUÇÃO
Empresas que trabalham com geração e
transmissão de energia elétrica há muito tempo
utilizam transformadores de potencial capacitivos
(TPC) para alimentarem dispositivos de proteção e
instrumentos de medição. Recentemente, foram
detectados problemas com alguns desses
transformadores pertencentes a CHESF (Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco). Foi observado
que, operações rotineiras de chaves seccionadoras
provocaram a atuação dos relés de proteção contra
sobretensões alimentados pelos TPC. Tais
problemas causaram a interrupção no fornecimento
de energia elétrica, além de danos irreparáveis em
alguns TPC.
Embora muitos estudos tenham sido realizados
com o objetivo de representar TPC em cálculos de
transitórios eletromagnéticos, existem ainda muitas
dificuldades na obtenção de modelos adequados.
Kezunovic et al. (1992) trabalharam com
técnicas experimentais para medir os parâmetros
lineares do TPC. Eles mostraram, através de análises
modelo pode ser reduzido. Entretanto, é necessário
desmo ntar o TPC para fazer as medições.
Kojovic et al. (1994) desenvolveram um método
de medição de resposta em freqüência no lado
secundário do TPC para estimar os parâmetros de
seu circuito equivalente sem precisar desmontar o
equipamento. No entanto, a metodologia é validada
somente para freqüências até 1 kHz. Além disso, não
são levados em conta os efeitos de saturação do
núcleo magnético do TPC.
Iravani et al. (1998) desenvolveram um modelo
de TPC no EMTP (Electromagnetic Transients
Program) para avaliar a sua resposta transitória,
incluindo a representação dos efeitos de saturação do
núcleo magnético. Tziouvaras et al. (2000)
mostraram que existem algumas deficiências na
modelagem de TPC com relação a representação
mais realista dos elementos que contêm núcleo de
ferro e com relação a inclusão de capacitâncias
parasitas e elementos limitadores de tensão.
Um dos grandes problemas em TPC é a
possibilidade de sobretensões serem provocadas por
ferroressonância. A ferroressonância é uma
oscilação não linear que pode ocorrer em circuitos
elétricos contendo pelo menos uma capacitância
linear em série com uma indutância não linear,
excitados por uma fonte de tensão senoidal.
O objetivo deste trabalho é apresentar um
modelo para transformador de potencial capacitivo
que pode ser utilizado em programas de cálculo de
transitórios eletromagnéticos. Resultados
preliminares foram apresentados pelos autores no
XIII CBA (Fernandes Jr. e Neves, 2000). O presente
trabalho constitui uma extensão das atividades de
pesquisa em que se tem incluído a característica não
linear do transformador de potencial (TP) indutivo, o
acoplamento magnético entre seus múltiplos
enrolamentos, bem como o circuito de proteção, a
fim de tornar mais realistas as simulações no
domínio do tempo.
A CHESF disponibilizou um TPC de 230 kV
para o Laboratório de Alta Tensão da UFPB. Foram
feitas medições de resposta em freqüência de
amplitude e fase da relação de tensão deste
equipamento. Os dados medidos foram utilizados
como dados de entrada para uma rotina de ajuste não
linear baseada no método de Newton (Press et al.,
1992) para a estimação dos parâmetros do TPC.
 Simulações digitais de ferroressonância foram compensação (Kezunovic et al., 1992; Kojovic et al.,
realizadas utilizando o modelo apresentado neste 1994; Tziouvaras et al., 2000).
trabalho. Os resultados revelam que são necessários Neste trabalho, o circuito mostrado na Fig. 2 foi
alguns cuidados a fim de evitar problemas de usado para representar o TPC. Ele consiste de uma
oscilação numérica. O circuito supressor de coluna capacitiva (C1 , C2 ), um reator de
ferroressonância (CSF) e o circuito de proteção são compensação (Rc, Lc, Cc), um TP indutivo (Rp , Lp ,
eficazes no amortecimento de tensões transitórias Cp , Lm , Rm ) e um circuito supressor de
quando um curto-circuito é eliminado no secundário ferroressonância (Rf , Lf1 , Lf2 , −M, Cf ). A
do TPC. configuração do CSF é mostrada na Fig. 3(a). Um
reator com núcleo de ferro, não saturável,
II. FUNDAMENTOS TEÓRICOS representado por Lf , é conectado em paralelo com
um capacitor Cf tal que o circuito ao ser sintonizado
O diagrama elétrico básico de um TPC é na freqüência fundamental tenha um alto fator Q. O
mostrado na Fig. 1. O lado primário consiste de dois modelo do CSF é mostrado na Fig. 3(b). O resistor
elementos capacitivos C1 e C2 conectados em série. de amortecimento Rf é utilizado para atenuar
O TP indutivo fornece uma tensão secundária vo oscilações oriundas de ferroressonância.
para os relés de proteção e instrumentos de medição. LINHA
O reator de compensação Lc é escolhido para evitar a
C1 Cc
defasagem entre as tensões vi e vo na freqüência do
sistema. Lc Rc Lp Rp
Oscilações de ferroressonância podem aparecer
no TPC devido à possibilidade de uma capacitância Cf Lf2
entrar em ressonância com algum valor particular da C2 Cp Lm Rm Zb
Lf1 −M
indutância não linear dos componentes que contêm Rf
núcleo de ferro. Entretanto, este fenômeno não pode
ser tolerado em TPC, uma vez que informações
indesejáveis poderiam ser transferidas aos relés e aos Fig. 2 − Modelo do TPC para o cálculo de
instrumentos de medição. Para amenizar esse tipo de parâmetros.
problema, normalmente é colocado um circuito
supressor de ferroressonância em um dos Cf Cf
Lf
enrolamentos do TP indutivo. Lf1 Lf2
Os circuitos sintonizados na freqüência do
sistema (L em paralelo com C) e em série com uma −M
resistência para a terra têm sido normalmente os Rf
Rf
dispositivos mais utilizados como circuitos
supressores de ferroressonância (Kojovic et al.,
1994; Tziouvaras et al., 2000), pois amortecem as Fig. 3 − (a) Configuração do CSF. (b) Modelo
oscilações transitórias e consomem pouca energia digital do CSF.
em regime permanente.
LINHA A. Cálculo dos Parâmetros do Modelo

No cálculo de parâmetros do modelo do TPC, o

TP in dutivo é representado apenas por elementos
C1 lineares, pois nas medições de resposta em
freqüência o núcleo de ferro não satura. No entanto,
TP
vi Lc o efeito da não linearidade do núcleo é incluído nas
indutivo
simulações no domínio do tempo. O circuito da Fig.
Zb 2 é considerado com blocos específicos de
C2 CSF vo
impedâncias Z1 , Z2 , Z3 , Z4 , Z5 e com os parâmetros
referidos ao lado secundário do TP indutivo, de
acordo com a configuração mo strada na Fig. 4.
LINHA
Fig. 1 − Diagrama elétrico básico de um TPC.
r2 C1

III. MÉTODO ANALÍTICO DESENVOLVIDO 1 Z1 2 Z2 3

vi/r Z4
O diagrama mostrado na Fig. 1 é válido somente r2 C2 r2 Cp Z3 4 Zb vo
para freqüências próximas de 60 Hz. Um modelo Z5
aplicável para freqüências acima de alguns kilohertz
precisa levar em conta as capacitâncias parasitas do
enrolamento primário do TP indutivo e do reator de Fig. 4 − Modelo do TPC com blocos de impedância.
 As expressões para as impedâncias no de forma que p é computado resolvendo-se a
domínio s, com s = jω, são: expressão ∇ 2 F ( x) p = −∇F ( x ) .
[ ]( )
Z 1 = ( Rc + sLc ) r // 1 r sCc ;
2 2
A função a ser minimizada, também chamada
Z2 = (R + sL ) r ;
p p
2 de função de mérito χ2 (x), é dada por:

= (R r ) //(sL r );
2 2
Z3 m m
Z4 = (sL + 1 sC ) //(sL );
f1 f f2
Z 5 = R f − sM .
Em que, r é a relação de transformação do TP
indutivo e o símbolo // significa que os parâmetros
estão em paralelo.
Os parâmetros lineares R, L, C do modelo do
TPC devem reproduzir as funções de transferência
de amplitude e fase representadas por vo /vi . Eles são
calculados usando a técnica descrita abaixo para a
minimização de funções não lineares.
B. Minimização de Funções Não Lineares
Os métodos para minimização de funções não
lineares geralmente são iterativos, ou seja, dada uma
solução aproximada xi , uma estimativa da solução x*
é obtida. A técnica usada aqui é baseada no método
de Newton que usa uma aproximação quadrática
para a função F(x) derivada a partir da expansão da
série de Taylor de segunda ordem em torno do ponto
xi . Em duas dimensões, a aproximação da série de
Taylor de segunda ordem pode ser escrita na forma:
 ∂F ( x1 , x2 ) 
 ∂x
F ( x1 + p1 , x2 + p 2 ) ≈ F ( x1 , x 2 ) + [ p1 p 2 ]
 ∂F ( x1 , x2 ) 
 ∂x2
 ∂ 2 F ( x1 , x2 ) ∂ 2 F ( x1 , x2 ) 
 
∂x12 ∂ x1∂x 2   p1 
+ [ p1 p 2 ] 2
1 A. Medições de Resposta em Freqüência
 .
2 ∂ F ( x1 , x2 ) ∂ 2 F ( x1 , x2 )   p 2 
 
 ∂x2 ∂x1 ∂x22 
Para a dimensão n, a expressão acima escrita na
forma matricial/vetorial é:
1 T 2
F ( x + p) ≈ F ( x ) + p ∇ F ( x ). + p ∇ F ( x ) p. (3)
T
2
n
 yi − y(ωi ; x ) 
∑
(1) χ (x ) =
2
  . (6)
i =1  σi 
Em que ωi é o i-ésimo valor de freqüência
medido e yi é o i-ésimo valor de resposta em
freqüência medido dos n pontos do conjunto de
dados. σi é o desvio padrão para cada yi . x é o vetor
que contém os parâmetros R, L, C a serem
determinados e y(ωi ; x) é a função analítica do
modelo.
Uma rotina escrita em FORTRAN foi
desenvolvida para minimizar a função de mérito
χ2 (x) usando o método descrito acima. Além da
função y(ωi ; x), é necessário conhecer suas primeira
e segunda derivadas com respeito a cada parâmetro
de x (Fernandes Jr. e Neves, 2000). O algoritmo é
dado abaixo:
1) Forneça os valores de resposta em freqüência yi
do TPC para cada freqüência ωi e de estimativa
inicial para os parâmetros R, L, C (vetor x);
2) Determine χ2 (x) e avalie χ2 (x + p);
3) Armazene o valor de χ2 (x + p) e para um número
de iterações m definido pelo usuário, compare o
valor atual da função de mérito com o seu valor
armazenado m iterações atrás;
4) Se a diferença for maior que a tolerância definida

1  pelo usuário, retorne ao passo 2. Caso contrário,
pare o processo iterativo.

IV. MEDIÇÕES EM LABORATÓRIO
(2) Medições de resposta em freqüência da
amplitude e fase da relação de tensão foram
realizadas no TPC de 230 kV. Um filtro RC ativo de
3a ordem com uma freqüência de corte de 15 kHz,
conectado entre os terminais secundários Y1 − Y3 de

2 tensão nominal 115 V, foi usado para atenuar ruídos

Para obter o passo p, a função F é minimizada de alta freqüência. Um gerador de sinal alimentando
fazendo o seu gradiente com respeito a p igual a um amplificador, com tensão máxima pico a pico de
zero. Dessa forma, tem-se: 2 kV, foi conectado entre o terminal de alta tensão e
∇ 2 F ( x) p = −∇F ( x) . (4) a terra, como mo stra a Fig. 5.
A solução aproximada xk+1 é dada por: Gerador

[
x k +1 = x k + p = x k − ∇ 2 F ( x k ) ] −1
∇ F ( x k ). (5)
de Sinal
∼ vi
C1
O método de Newton convergirá se [∇2 F(x)]-1 Amplificador Tanque
Y1
for positiva definida em cada passo iterativo, ou de Potência vo Filtro
C2 Indutivo
seja, zT[∇2 F(x)]-1z > 0 para todo z ≠ 0. A técnica Y3
usada aqui é o método full Newton-type (Press et al.,
1992). Este método é uma modificação do método Osciloscópio
de Newton para a iteração em que [∇2 F(x)]-1 não é
positiva definida: ∇2 F(x) é substituída por uma Fig. 5 − Medições de resposta em freqüência do
matriz ∇ 2 F ( x) que é forçada a ser positiva definida, TPC de 230 kV.
B. Medições da Característica Não Linear do TP V. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Indutivo
A. Obtenção de Parâmetros do TPC de 230 kV
Uma fonte de tensão senoidal foi aplicada entre
os terminais Y1 − Y3 até 2.2 p.u. e foram obtidos Os parâmetros do TPC de 230 kV foram
valores de tensão e corrente eficazes. Os dados v − i estimados a partir dos dados de amplitude e fase da
relação de tensão medidos em laboratório. Os
rms foram convertidos em valores de pico λ − i
parâmetros ajustados referidos ao secundário do TP
através de uma rotina elaborada por Neves e
são mo strados na Tabela 3. As curvas de amplitude e
Dommel (1993).
fase da relação de tensão medidas e ajustadas são
Para estimar a saturação do núcleo, a indutância
mostradas nas Figs. 6 e 7, respectivamente.
do núcleo de ar foi considerada duas vezes maior
que a indutância de curto-circuito Lp do TP indutivo Tabela 3 − Parâmetros ajustados do TPC de 230 kV.
(Dommel, 1996). A característica λ − i do TP é
mostrada na Tabela 1, em que a última linha C1 = 233.8 µF Cp = 216.3 nF Lf1 = 10.87 mH
corresponde a estimativa do par (i, λ) para a região C2 = 1523.0 µF Rp = 0.0395 Ω Cf = 166.39 µF
saturada. Rc = 0.39 Ω Lp = 4.92 mH Lf2 = 47.39 mH
Lc = 3.71 mH Rm = 50.6 Ω Rf = 4.99 Ω
Tabela 1 − Característica não linear do núcleo
Cc = 11486.1 µF Lm = 700.0 mH M = 9.31 mH
magnético do TP.
M edi çõe s e m l abora tório
5.0
Corrente (A) Fluxo (V.s) Cu rva aju stad a
0.0
0.076368 0.025772
0.720881 0.189066

Ganho (dB)
-5.0

1.429369 0.396889 -10.0

2.511675 0.748388 -15.0
3.662012 0.863553
-20.0
4.587227 0.903317
-25.0
5.712037 0.942706 1.0E+1 1.0E+2 1.0E+3 1.0E+4
856.8055 9.249378 Freqüência (Hz)

Fig. 6 − Curvas de amplitude da relação de tensão do

B. Estimativa da Característica Não Linear do TPC de 230 kV medida e ajustada.
Pára-raios do Circuito de Proteção 90.0 M e diç õe s em la bora tório
60.0 Curva aj usta da

30.0
O circuito de proteção do TPC de 230 kV é
Fase (graus)

composto por um pára-raios de carboneto de silício
(SiC) conectado em paralelo com a capacitância C2
da coluna capacitiva.
Para estimar a característica v − i do pára-raios,
foi medida inicialmente a sua tensão de disparo em
60 Hz. A tensão fornecida por um transformador
regulador (220 V e 10 kVA) e elevada por um
transformador de alta tensão (100 kV e 10 kVA) foi
aplicada entre os terminais do pára-raios
gradativamente até o disparo do centelhador. Após 7
medições, o valor médio da tensão disruptiva foi
58.5 kV rms.
Baseado em valores estabelecidos por norma
(D’ajuz et al., 1985), foi estimada a característica v−i
de um pára-raios de SiC com tensão de disparo de
58.5 kV para uma frente de onda de 1 ms. A
característica é mostrada na Tabela 2.
Tabela 2 − Característica do pára-raios do circuito
de proteção.
Corrente (A) Tensão Residual (V)
10 58215.3
20 58932.9
100 61534.2
200 63059.1
1000 68172.0
0.0
-30.0
-60.0
-90.0
-120.0
-150.0
-180.0
1.0E+1 1.0E+2 1.0E+3 1.0E+4
Freqüência (Hz)
Fig. 7 − Curvas de fase da relação de tensão do TPC
de 230 kV medida e ajustada.
Os erros médios de amplitude e fase para a
estimativa inicial dos parâmetros são,
respectivamente, 23.3 % e 16o . No final do ajuste, os
erros médios de amplitude e fase são,
respectivamente, 5.5 % e 8.9o . Com base nas Figs. 6
e 7, pode-se afirmar que estes erros são
relativamente pequenos para freqüências até 2 kHz,
especialmente próximo de 60 Hz, freqüência em que
o TPC opera a maior parte do tempo.
Dentro da rotina de ajuste pode-se aplicar
restrições aos parâmetros previamente conhecidos e
projetados pelo fabricante, como C1 , C2 e Lc, e
alguns facilmente medidos, como Rp , de forma que
seus valores não ultrapassem uma determinada
tolerância definida pelo usuário. Esse procedimento
impõe limitações ao processo de ajuste de curvas,
porém fornece resultados mais realistas.
B. Simulações de Ferroressonância no TPC
Para realizar as simulações de ferroressonância
no TPC de 230 kV com o MICROTRAN
(Microtran Power System Analysis Corporation,
1992), a indutância de magnetização Lm foi
substituída por uma indutância não linear conectada
aos terminais secundários do TPC cujos dados λ − i
são aqueles mostrados na Tabela 1. O TP indutivo
foi representado através de um modelo de
transformador monofásico com 3 enrolamentos (1
no primário e 2 no secundário). Foi incluído o pára-
raios do circuito de proteção cuja característica v − i
é mostrada na Tabela 2, e considerado o equivalente
de Thévenin visto do ponto A de tensão
intermediária do TPC.
As simulações de ferroressonância foram
baseadas em ensaios estabelecidos pela Norma IEC
186 (D’ajuz et al., 1985). Segundo a Norma, o 1o
ensaio de ferroressonância em TPC estabelece que o
equipamento deve ser energizado a 120% de sua
tensão nominal em regime permanente, com carga
nula no enrolamento secundário a ser curto-
circuitado. O curto-circuito deve ser mantido por um
tempo mínimo de 3 ciclos (base 60 Hz).
Para analisar a importância do CSF no
amortecimento de transitórios, foram feitas duas
simulações: uma desprezando-se o CSF e outra
levando-se em conta a presença do CSF. Em ambos
os casos, as simulações consistem na operação de
fechamento seguida de abertura da chave CH
conectada aos terminais secundários do modelo do
TPC, conforme mostra a Fig. 8. O fechamento da
chave acontece em t = 125 ms. A chave permanece
fechada durante 6 ciclos (100 ms), quando o curto-
circuito é removido.
Na simulação de ferroressonância que leva em
conta o circuito supressor de ferroressonância foi
observada a presença de oscilação numérica na
forma de onda da tensão secundária do TPC,
conforme mostra a Fig. 9. Este problema pode ser
explicado através da impedância do CSF, Zf (s),
escrita a partir de seu modelo mostrado na Fig. 3(b).
A s 3 + A2 s 2 + A1s + A0
Z f (s ) = 3 . (7)
B2 s 2 + 1
493.2 nF
Ce = C1 + C2 A 86.29 H 9.1 kΩ 114.7 H 920.0 Ω
Centelh ador
C1
~ v′i = 1.2 C1 + C2 vi 9.29 pF
v−i
Equivalente
de
Thévenin
pára-raios
de SiC
Fig. 8 − Esquema utilizado para simulação do 1o ensaio de ferroressonância no TPC de 230 kV.
Sendo, A3 = Lf1 Lf2 Cf − MCf (Lf1 + Lf2 ), A2 =
Rf Cf (Lf1 + Lf2 ), A1 = Lf2 − M, A0 = Rf e B2 = Cf (Lf1 +
Lf2 ). Substituindo os parâmetros do CSF pelos seus
valores calculados (Tabela 3), obtém-se dois pólos
complexos conjugados, p 1 = j321.18 e p 2 = −j321.18
e três zeros reais, z1 = 11404.0, z2 = −577.0 e z3 =
−167.0.
A oscilação numérica se estabelece neste circuito
devido à existência do zero z1 = 11404.0 localizado
no semi-plano direito do plano s. Para eliminar a
oscilação numérica, é necessário que o coeficiente
A3 da Eq. (7) seja maior ou igual a zero, garantindo
assim que todos os zeros estejam localizados no
semi-plano negativo do plano s. Para satisfazer essa
condição, é necessário que o módulo da indutância
M do CSF assuma valores iguais ou inferiores a
8.84 mH.
Entretanto, para análise de ferroressonância, essa
consideração na mudança dos valores de M pode ser
feita sem comprometer as simulações, pois a
ferroressonância acontece em freqüências baixas,
normalmente entre a subharmônica de 1/3 e a 3a
harmônica, e nesta faixa de freqüência as curvas de
amplitude e fase da relação vo /vi do TPC são
coincidentes para ambos os valores de M (Fernandes
Jr., 2001).
A Fig. 10 mostra a forma de onda da tensão
transitória no lado secundário do TPC quando o
circuito supressor de ferroressonância é removido.
As oscilações permanecem até pelo menos 600 ms,
quando o regime permanente é estabelecido em
aproximadamente 136 V rms. A Fig. 11 mostra o
mesmo caso com o circuito supressor de
ferroressonância incluído no modelo do TPC. Os
resultados mostram que as oscilações são
amortecidas em menos de 100 ms, conforme está
previsto nas condições de aprovação do 1o ensaio de
ferroressonância.
A Fig. 12 mostra a tensão nos terminais
secundários do TPC levando-se em conta a presença
do circuito supressor de ferroressonância, porém
desprezando-se o circuito de proteção. A
comparação com a Fig. 11 mostra a importância do
circuito de proteção na limitação do pico da tensão
transitória.
166.39 µF 47.39 mH 0.5 mΩ
λ−i 50.6 Ω 10.87 mH −8.84 mH CH vo
4.99 Ω 0.5 mΩ
 60
ferroressonância e do circuito de proteção no
50

Tensão secundária (kV)

40
amortecimento e na limitação, respectivamente, da
30 tensão no secundário do TPC.
20 Uma limitação do trabalho está relacionada à
10 faixa de freqüência em que o modelo é validado para
0
estudos de transitórios, embora seja suficiente para
-10
-20
contemplar simulações de ferroressonância.
-30 Atualmente os autores estão trabalhando na
0 20 40 60 80 100 120 140 realização de ensaios de ferroressonância em
Tempo (ms)
laboratório.
Fig. 9 − Oscilação numérica na tensão secundária do
TPC. AGRADECIMENTOS
400
300
Tensão secundária (V)

200 Os autores agradecem a CHESF pela concessão

100 de um TPC de 230 kV, ao CNPq pelo apoio
0 financeiro e ao DEE pelo apoio técnico.
-100
-200 VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-300
-400 D’ajuz, A., Resende, F. M., Carvalho, F. M. S., Nunes, I.
0 100 200 300 400 500 600 G., Amon Filho, J., Dias, L. E. N., Pereira, M. P.,
Tempo (ms) Kastrup Filho, O. e Morais, S. A. Equipamentos
Fig. 10 − Tensão secundária do TPC sem o CSF. Elétricos; Especificação e Aplicação em Subestações
300 de Alta Tensão , FURNAS, 300p, 1985.
200 Dommel, H. W. EMTP Theory Book, Microtran Power
Tensão secundária (V)

System Analysis Corporation, Vancouver, 1996.

100
Fernandes Jr., D. Investigação da Resposta
0
Ferroressonante de um Transfomador de Potencial
-100 Capacitivo, Projeto e Pesquisa, UFPB, 2001.
-200 Fernandes Jr., D. e Neves, W. L. A. “Identificação de
-300 Parâmetros para Transformadores de Potencial
Capacitivos”. XIII CBA, Florianópolis, pp. 2030-2035,
-400
0 100 200 300 400 500 2000.
Tempo (ms) Iravani, M. R., Wang, X., Polishchuk, I., Ribeiro, J. and
Fig. 11 − Tensão secundária do TPC com o CSF. Sarshar, A. “Digital Time-Domain Investigation of
2.0 Transient Behaviour of Coupling Capacitor Voltage
1.5 Transformer”. IEEE Trans. on Power Delivery, vol.
Tensão secundária (kV)

1.0 13, no. 2, pp. 622-629, 1998.

0.5 Kezunovic, M., Kojovic, Lj., Skendzic, V., Fromen, C.
0.0 W., Sevcik, D. R. and Nilsson, S. L. “Digital Models
-0.5 of Coupling Capacitor Voltage Transformers for
-1.0 Protective Relay Transient Studies”. IEEE Trans. on
-1.5
Power Delivery, vol. 7, no. 4, pp. 1927-1935, 1992.
-2.0
Kojovic, Lj., Kezunovic, M., Skendzic, V., Fromen, C. W.
-2.5
0 100 200 300 400 500 and Sevcik, D. R. “A New Method for the CCVT
Tempo (ms ) Performance Analysis Using Field Measurements,
Fig. 12 − Tensão secundária do TPC sem o circuito Signal Processing and EMTP Modeling”. IEEE Trans.
de proteção. on Power Delivery, vol. 9, no. 4, pp. 1907-1915, 1994.
Microtran Power System Analysis Corporation. Transients
Analysis Program Reference Manual, Vancouver,
VI. CONCLUSÕES B.C., Canada, 1992.
Neves, W. L. A. and Dommel, H. W. “On Modeling Iron
Neste trabalho, foi apresentado um modelo de Core Nonlinearities”. IEEE Trans. on Power Systems,
TPC para estudos de transitórios eletromagnéticos. vol. 8, no. 2, pp. 417-423, 1993.
O modelo é constituído pelos seus parâmetros Press, W. H., Teukolsky , S. A., Vetterling, W. T. and
lineares R, L, C obtidos através de uma rotina de Flannery , B. P. Numerical Recipes in Fortran - The
ajuste que utiliza como dados de entrada a amplitude Art of Scientific Computing, Second Edition, New
e a fase da relação de tensão do TPC medidas em York, Cambridge University Press, 963p, 1992.
laboratório. O modelo inclui a característica não Tziouvaras, D. A., McLaren, P., Alexander, G., Dawson,
D., Ezstergalyos, J., Fromen, C., Glinkowski, M.,
linear do TP indutivo e do pára-raios do circuito de Hasenwinkle, I., Kezunovic, M., Kojovic, Lj.,
proteção, e pode ser facilmente usado no EMTP. Kotheimer, B., Kuffel, R., Nordstrom, J., Zocholl, S.
Os resultados revelam cuidados com a presença “Mathematical Models for Current, Voltage and
de indutâncias negativas que podem causar Coupling Capacitor Voltage Transformers”. IEEE
problemas de oscilação numérica e mostram a Trans. on Power Delivery, vol. 15, no. 1, pp. 62-72,
importância do circuito supressor de 2000.

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