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James M.

Buchanan
Prêmio Nobel de Economia
Biografia

❑ James M. Buchanan Jr. nasceu em Murfreesboro, Tenessee, no dia 3 de outubro de 1919 e


durante a maior parte de sua vida acadêmica esteve ligado a George Mason University, no
estado de Virgínia, onde foi diretor do Center for the Study of Public Choice, sendo em
1986, laureado com o Prêmio Nobel da Economia.

❑ Dentre suas contribuições liberalistas, deu início à vertente que é conhecida como Teoria
da Escolha Pública (Public Choice) e que se caracteriza por introduzir o individualismo
metodológico e o instrumental matemático na ciência política. Segundo Toneto (1996),
Buchanan viveu num ambiente em que dominava o keynesianismo (pós-Segunda Guerra),
que se traduzia na defesa da intervenção do Estado na economia em virtude das falhas de
mercado.

❑ Com a desaceleração do crescimento mundial após a década de 60 e o surgimento das


críticas ao keynesianismo, Buchanan começa então a desenvolver sua teoria na
Universidade de Chicago, centro difusor das críticas ao keynesianismo.
Biografia

❑ É considerado um economista político que quebrou as fronteiras da


ciência económica numa altura em que esta se estava a fragmentar e
dedicou a sua carreira a tentar solucionar problemas de forma
inteligente e original.

❑ Em 1962, juntamente com Gordon Tullock, escreve o livro “O Cálculo


do Consentimento: Fundamentos Lógicos da Democracia
Constitucional”, o qual é considerado um dos trabalhos clássicos no
que diz respeito à escolha pública na economia e ciência política

❑ Em 1995 a Faculdade de Economia do Porto atribuiu-lhe o


doutoramento Honoris Causa.
Prémio Nobel da Economia
“I remember that day  —  the 16th of October 1986  —  like it was yesterday. As the years pass by,
people often forget how Buchanan handled the news and, more importantly, how he handled
subsequent backlash in some media outlets, such as the New York Times and the Washington Post.
First, he was gracious. The first remarks he gave acknowledged the contribution of his long-time
colleague and co-author of the classic The Calculus of Consent, Gordon Tullock. Second, he was
proud of his humble beginnings. He told all the major newspapers and TV stations that they had to
wait until after he did an interview with the Middle Tennessee State Newspaper first. Third, he was
courageous in the face of the criticisms and sought to explain his basic insight in as plain a language
as possible and to stress the importance of basic economic reasoning to understand and inform the
world of practical affairs.”

Peter Boettke, antigo aluno de Buchanan na George Mason University’s Department of Economics


Preocupações por detrás da elaboração da teoria
da escolha pública

❑ Buchanan considerava que existia uma excessiva matematização que, cada vez mais,
assumia papel central na formulação teórica da época.

❑ Segundo ele, ao se preocuparem em elaborar modelos de análise com enorme sofisticação


matemática, os economistas esqueciam-se daquilo que, para Buchanan, deveria constituir o
essencial da análise teórica: compreender as motivações que explicam as decisões dos
agentes políticos como agentes económicos.
Preocupações por detrás da elaboração da teoria
da escolha pública

❑ A segunda preocupação dizia respeito à acentuada politização das decisões econômicas, a qual
era decorria diretamente da enorme influência das políticas econômicas de inspiração
keynesiana. A transferência para o âmbito da política muitas vezes fazia com que a
racionalidade econômica fosse suplantada pelos interesses dos políticos envolvidos na tomada de
decisões.
❑ Buchanan observou que o economista e o político trabalham com objetivos distintos, onde o
primeiro tem como parâmetro fundamental nas suas tomadas de decisão a eficiência, procurando
sempre a alocação ótima dos recursos escassos, enquanto o segundo procura a conquista e a
manutenção do poder, o que só pode ser alcançado, no regime democrático, através do voto.

"O político é aquele indivíduo que pede dinheiro aos ricos e votos aos pobres, prometendo, se
eleito, defender uns dos outros."
James Buchanan
Visão de Buchanan da política económica e a
sua contribuição para a mesma
❑ Buchanan foi uma das duas maiores influências nas finanças públicas da segunda metade do
século XX a par de Richard Musgrave. Eles corporizaram duas visões distintas do Estado e do
processo político.

❑ Quando Buchanan e Tullock publicaram o “Calculus of Consent” (1962), a visão dominante nas
finanças públicas era a de que os governos eram “ditadores” benevolentes que promoviam
exclusivamente o bem-estar social.

❑ A mensagem de Buchanan, e da teoria da escolha pública, da qual foi o principal mentor, era
outra:
“Os economistas devem deixar de fornecer conselhos sobre políticas como se fossem empregados de
um déspota benevolente e deveriam olhar para a estrutura na qual as decisões políticas são
tomadas”
Buchanan, J. (1986) Lição em Memória de Alfred Nobel
Visão de Buchanan da política económica e a
sua contribuição para a mesma
❑ Buchanan e a teoria da escolha pública deram importância aos fracassos dos governos. Para além da
opção de mais ou menos Estado, a teoria ajudou a perceber as possibilidades de um melhor Estado.
O mérito adicional de Buchanan foi a sua abordagem sobre a “economia política constitucional” na
linha contratualista de pensar a Constituição como um contrato voluntariamente aceite pelas partes
em condições de incerteza.

❑ E sobre isto e sobre a dívida diz: “é quase impossível construir um cálculo contratual em que
representantes de gerações diferentes concordassem em permitir que as maiorias [políticas] de uma
geração financiassem bens de consumo corrente dessa geração, através da emissão de dívida pública
que implica a imposição de perdas de utilidade [leia-se bem-estar] em gerações futuras de
contribuintes” (Buchanan, J. (1986) Lição em Memória de Alfred Nobel )

❑ A necessidade de avaliar e ponderar a questão constitucional e o “contrato social” inter-geracional é


um dos grandes legados de Buchanan .
Teoria da Escolha Pública (Public Choice)

❑ Desde meados da década de 50 que tem vindo a desenvolver-se um importante programa de


investigação conhecido por public choice, ou teoria da escolha pública, cujo principal objetivo é o de
aplicar um método da ciência económica a um objeto que tradicionalmente tem sido considerado no
âmbito da ciência política: grupos de interesse, partidos políticos, processo eleitoral, análise da
burocracia, escolha parlamentar e análise constitucional.

❑ A teoria da escolha pública foi, ao longo das últimas décadas, a principal crítica teórica de outra
corrente que fundamenta a intervenção do Estado na economia — a economia do bem-estar (welfare
economics).

❑ Enquanto esta se centrava na análise dos «fracassos de mercado» que justificavam a intervenção
corretora do Estado, a teoria da escolha pública veio clarificar os «fracassos do governo» e os limites
da intervenção desse mesmo Estado.
Teoria da Escolha Pública (Public Choice)

❑ O estudo do funcionamento da burocracia, dos grupos de interesse e do seu papel no desenho das
políticas, das restrições constitucionais à ação dos governos e das instituições, regras e procedimentos
associados ao sistema político formal, deu uma visão mais clara e ao mesmo tempo mais realista do
funcionamento do sector público.

❑ A teoria da escolha pública veio clarificar os problemas inerentes à tomada de decisão coletiva,
expondo alguns problemas que hoje identificamos como os «fracassos do governo», ou melhor, do sector
público e do sistema político, tais como ineficiência da administração pública, ausência de incentivos,
problemas com a obtenção de informação acerca das preferências dos cidadãos, rigidez institucional e
financiamento ilegal de partidos políticos.

❑ Esta teoria procura comparar os «fracassos do governo» com os «fracassos do mercado», ou seja,
perceber que, quer o mercado, quer o sector público, são instituições imperfeitas a afetar os recursos,
e como tal o objetivo é desenvolver uma análise institucional comparada.
Teoria da Escolha Pública (Public Choice)

❑ Assim, da mesma maneira que é falacioso o argumento (utilizado pelos economistas do bem-estar)
de que a existência de «fracassos de mercado» leva logicamente a concluir que a intervenção
governamental é necessária e superior, também é falacioso o argumento de que os «fracassos do
governo» indicam, por si só, que o alargamento dos mercados terá efeitos benéficos.

❑ Qualquer generalização é abusiva e a tarefa da análise institucional comparada é precisamente a


de estudar, caso a caso, as vantagens e as limitações de cada arranjo institucional.

❑ Aquilo que a teoria da escolha pública aponta não é para menos Estado, mas sim para melhor
Estado.
Cálculo do consenso e a democracia constitucional

❑ O livro “The calculus of consent: Logical foundations of constitutional democracy”, escrito em parceria
com Gordon Tullock em 1962, revolucionou a ciência política ao aplicar ferramentas microeconômicas no
estudo do processo de decisão coletivo.

❑ Para Buchanan, o papel dos economistas deveria ser precisamente o estudo do comércio e das trocas em
diferentes contextos. The Calculus of Consent faz exatamente isso: olha para a esfera política e presta
atenção em como a troca ocorre. É muitas vezes considerado “the study of politics as exchange”.
Cálculo do consenso e a democracia constitucional

❑ Os autores apontam o conceito de “public interest” como defeituoso: somente os interesses de alguns
indivíduos são expressos pelo mecanismo político. O Estado, por sua vez, não parece ser “nothing more than
a set of processes, the machine, which allows such collective action to take place” (p. 13).

❑ Buchanan e Tullock defendem que o comportamento político consiste na verdade na troca voluntárias entre
indivíduos políticos, marcado por um jogo de soma positiva.

❑ Como qualquer troca voluntária, onde não se assume que um indivíduo tenha vantagem relativamente ao
outro e que ambos possam utilizar da troca como forma de obter benefícios, os “atores políticos”
participam do processo de decisão coletiva de forma a maximizar sua utilidade individual.
Cálculo do consenso e a democracia constitucional

❑ “For a given activity the fully rational individual, at the time of constitutional choice, will try to choose
that decisionmaking rule which will minimize the present value of the expected costs that he must suffer”
(p. 67).

❑ Essencialmente, o indivíduo compara os custos das suas decisões com os custos que ele espera serem
impostos sobre ele dada a decisão coletiva e escolhe aquela com menor custo.

❑ Diversos indivíduos tomando decisões movidas pelo interesse pessoal nem sempre chegam à um consenso
que reflita a decisão de todos os indivíduos. Para os autores, somente se houver unanimidade é que a
decisão pode ser considerada necessariamente ótima.
Cálculo do consenso e a democracia constitucional

❑ Segundo Buchanan e Tullock, apontam o processo de decisão coletiva sobre a regra da unanimidade como a
única capaz de atingir um solução Pareto-ótima. Entretanto, comparativamente à regra da maioria, esta
apresenta custos acrescidos e por essa razão não é a regra geralmente aceita nas democracias atuais.

❑ A análise se inicia assumindo que os votos possuem valor econômico e que se não fosse assim “corruption
would be impossible” (p. 117). Desta forma, os votos representam o “poder de compra” do decisor, de
forma que as leis de mercado tendem a emergir.

❑ “Potentially, the voter should enter into such bargains until the marginal “cost” of voting for something of
which he disapproves but about which his feelings are weak exactly matches the expected marginal benefit
of the vote or votes secured in return support for issues in which he is more interested” (p. 141).
❑ Essa abordagem permite assumir como comum a troca de votos (logrolling) como meio de atingir uma
solução ótima.
Cálculo do consenso e a democracia constitucional

❑ Segundo os autores, unanimidade não precisa ser aplicada para todas as decisões cotidianas pelos membros
da sociedade. É razoável, para isso, a regra da maioria absoluta, da maioria qualificada e etc… Contanto
que a forma como essas decisões são tomadas seja consistente com uma regra constitucional em que todos
os membros da sociedade acordaram de forma unânime.
❑ Os autores lamentam o crescimento de grupos de interesse no início do século X cujo objetivo é obter lucro
utilizando o processo de decisão coletivo.
❑ “Can the pursuit of individual self-interest be turned to good account in politics as well as in economics? We
have tried to outline the sort of calculus that the individual must undergo when he considers this question.
We have discussed the formation of organization rules that might result from such a rational calculus”(pp.
287-99).
A filosofia política e moral de Buchanan

❑ Buchanan, em vez de simplesmente retirar a tradição da filosofia política clássica nesta nova
reconstrução metodológica da assim denominada “ciência política”, realiza uma incursão pelo
pensamento filosófico, segundo a qual, tanto os economistas como os cientistas sociais e teóricos da
política, deveriam pensar os homens da forma como são e não como gostariam que fossem.

❑ Segundo o autor: “ [...] a obrigação ou dever do cidadão individual em obedecer à lei, de sujeitar-se ao
desejo da maioria, e de agir antes coletivamente na esfera pública do que no interesse privado, são
questões que ocuparam o centro das atenções de muitos filósofos políticos. São temas vitais e
significantes, mas devem ser reconhecidos como pertinentes ao âmbito de uma moralidade pessoal, e
como tais não competem à problemática própria da teoria política.” (Buchanan & Tullock,1965, p310)

❑ Desta forma, Buchanan enfatiza como fundamental a separação entre a política e a moral. As reflexões
do teórico da política devem apontar para uma dimensão do aperfeiçoamento das instituições políticas,
assentando na ideia da obrigação política sobre o interesse.
Conclusão

❑ As democracias dos países desenvolvidos apresentam alguns sinais uma dificuldade crescente que o
governo tem em implementar as políticas que considera as mais corretas para o país. A reafirmação do
ideal democrático, embora possa ser importante, não é a melhor forma de combater estes problemas,
pois pode até gerar o efeito perverso de aumentar a discrepância entre o ideal e a realidade. Um estudo
detalhado das regras e instituições do processo democrático, das suas limitações, mas também das
potencialidades de melhoramento, é essencial. Neste campo, os contributos da teoria da escolha pública
são fundamentais.

❑ Como defensor de uma sociedade de homens livres (não necessariamente igualitários), Buchanan propõe
que um “teste indireto sobre o grau de coesão de uma sociedade pode ser oferecido pela extensão de
atividades que são deixadas livres (abertas) ao controlo informal e aquelas reguladas por um controlo
formal”. É patente nas reflexões do autor uma conceção de liberdade, própria da doutrina liberal
clássica, pensada como uma esfera de ações em que não há controlo por parte dos organismos estatais.
Mais do que prescrever uma redução das atividades estatais, Buchanan propõe uma “revolução
constitucional”, isto é, reformas das instituições e dos órgãos decisores no sentido de estabelecer novos
procedimentos segundo os quais as decisões serão tomadas.
Conclusão
Bibliografia

• •Buchanan, J. M., & Tullock, G. (1962). The calculus of consent(Vol. 3). Ann Arbor: University of
Michigan Press.
• https://medium.com/the-vienna-circle/30-years-after-james-buchanan-nobel-prize
-economics-41220ae2be82
• http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841484T5sAW2pw7Dh10FX8.pdf
• https://www.publico.pt/2013/01/11/economia/opiniao/o-legado-de-james-m-buch
anan-19192013-1580321
• http://ordemlivre.org/posts/biografia-james-buchanan
• https://revistas.pucsp.br/index.php/pontoevirgula/article/viewFile/14047/10349
• https://www.researchgate.net/publication/228247268_James_M_Buchanan_and_th
e_Rebirth_of_Political_Economy

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