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RADIAÇÃO SOLAR

e
CONVERSÃO TÉRMICA
DA ENERGIA SOLAR

Apostila editada a partir de textos de trabalhos, teses e


dissertações do Grupo de Energia Solar da UFRGS.
Porto Alegre, 2010.
Organizadores:
Arno Krenzinger
Cesar Wilhelm Massem Prieb
Fabiano Perin Gasparin
Rafael Haag

Com a colaboração do texto de:


Airton Cabral De Andrade. Jean Marc Stephane Lafay
Aryston Luis Perin. Mário Henrique Macagnan
Daniel Sampaio Figueira. Oscar Daniel Corbella
Felipe Barin Pozzebon. Paulo Otto Beyer
Fernando Luis Treis Roberto Zilles
Jean De Dieu Minsongui Mveh
SUMÁRIO
1. Radiação Solar
2. Atmosfera Terrestre
3. Instrumentação para medida da radiação solar
4. Softwares para análise da Radiação Solar
5. Tópicos de Transferência de Calor
6. Propriedades ópticas das superfícies
7. Coletores Solares para Aquecimento de Água
8. Coletores concentradores
9. Sistemas de Aquecimento por Energia Solar
10. Softwares para Dimensionamento e Simulação
1. Radiação Solar

1.1 O Sol

O Sol é a principal fonte de energia para o nosso planeta. Quase toda a


energia disponível na Terra provém do Sol. O Sol é basicamente uma enorme esfera de
gás incandescente, em cujo núcleo acontece a geração de energia através de reações
termonucleares. Sua estrutura, apesar da complexidade, pode ser considerada como
composta pelas principais regiões: o núcleo, zona radiativa, zona convectiva, fotosfera,
cromosfera e coroa (ou às vezes chamada de corona), como é mostrado na Figura 1.1.

Figura 1.1: Estrutura do Sol.

O núcleo, com temperatura de cerca de 10 milhões de graus kelvin, é a região


mais densa e onde a energia é produzida por reações termonucleares. Logo acima se

1.1
encontra a zona radiativa, onde a energia produzida no núcleo é transferida para as
regiões superiores através da radiação.
A zona convectiva, possui este nome em função dos processos de convecção que
dominam o transporte de energia das regiões mais internas do Sol para a superfície
solar.
A fotosfera, primeira região da atmosfera solar, com 330 km de espessura e
temperatura de 800 K, é a camada visível da nossa estrela mais próxima. Esta zona tem
a aparência da superfície de um líquido em ebulição, repleta de bolhas, que são
chamadas de grânulos fotosféricos. Estes grânulos têm em torno de 1500 km de
diâmetro e duram cerca de 10 minutos cada. Estas zonas granulares representam os
processos convectivos do gás quente, que emerge da camada convectiva para a
fotosfera. As regiões mais escuras entre os grânulos são zonas onde o gás mais frio e
mais denso escorre novamente para o interior do Sol. A fotosfera é a fonte da maior
parte da radiação visível que é emitida pelo Sol. Um dos fenômenos fotosférico mais
notável é o das manchas solares, que são regiões mais frias que a fotosfera solar,
possuindo uma temperatura de cerca de 3800 K na região central chamada de umbra e
pouco mais elevada na parte periférica denominada de penumbra. As manchas solares
são indicadoras da intensa atividade magnética presente no Sol e seguem um ciclo de
onze anos em que o número de manchas varia entre máximos e mínimos. Este ciclo
provoca alterações na radiação emitida pelo Sol e também apresenta conseqüências no
nosso planeta, alterando o comportamento da atmosfera terrestre.
A cromosfera do Sol normalmente não é visível, porque sua radiação é muito
mais fraca do que a da fotosfera. A temperatura na cromosfera varia de 4300 K na sua
base a mais de 40000 K a 2500 km de altura. Durante um eclipse solar, quando a Lua
esconde o disco da fotosfera, a cromosfera pode ser observada por alguns instantes e
apresenta-se com uma coloração avermelhada. Isto é devido ao fato que o espectro da
cromosfera é constituído de linhas de emissão brilhantes, originadas por gases a alta
temperatura que compõe a cromosfera. Uma das linhas de emissão mais brilhantes é
conhecida como linha de Balmer Hα, no comprimento de 656,3 nm, que no espectro
solar normal aparece como uma linha de absorção. Na cromosfera se observa também
estruturas chamadas de espículas, que são jatos de gás que se elevam até 10 mil km
acima da borda da cromosfera, e duram apenas poucos minutos. Observadas durante um
eclipse, aparecem como pequenas nuvens vermelhas na atmosfera solar.

1.2
A camada mais externa e rarefeita da atmosfera solar é chamada de coroa.
Apesar do brilho da coroa solar ser equivalente ao da lua cheia, ela somente é
visualizada na ocorrência de um eclipse em virtude do alto brilho da fotosfera.
O espectro emitido pela coroa solar mostra linhas muito brilhantes, produzidas
por átomos de ferro, níquel, neônio e cálcio altamente ionizados. Estes elementos
tornam-se ionizados devido à alta temperatura presente nesta região do Sol, que pode
atingir mais de 1 milhão de graus kelvin. Acredita-se que esta elevada temperatura tem
origem no transporte de energia por correntes elétricas induzidas através de campos
magnéticos variáveis. É nesta região que emana o vento solar, um fluxo contínuo de
partículas carregadas que é liberado pela atmosfera solar e que durante períodos de
intensa atividade do Sol atinge a alta atmosfera terrestre provocando o surgimento das
auroras polares, fenômenos luminosos e excitação e desexcitação dos átomos de
oxigênio.
Em função dos gradientes de temperatura encontrados na atmosfera solar e a
presença de várias linhas de emissão e absorção, pode-se apenas aproximar o
comportamento da radiação emitida pelo Sol ao de um corpo negro de temperatura
próxima de 5800 K. A partir da potência (energia/tempo) recebida no topo da atmosfera
terrestre, que é próxima de 1400 W/m2, determina-se a luminosidade do Sol por unidade
de área em 4 x 1026 watts. Este valor é equivalente a mais de 10 milhões de vezes a
produção anual de petróleo da Terra. Anteriormente, acreditava-se que a energia do Sol
era originada na combustão, mas foi apenas em 1937 que o físico Hans Albrecht Bethe
propôs a teoria que é aceita atualmente. Segundo ela, a energia é liberada em reações
termonucleares, onde quatro prótons são fundidos em um núcleo de hélio, com a
liberação de energia. O Sol tem reserva de hidrogênio suficiente para alimentar essas
reações nucleares por mais 5 bilhões de anos. As principais características do Sol estão
descritas na Tabela 1.1:

Tabela 1.1: Principais características do Sol


Massa 1,989 x 1030 kg
Raio 696.000 km
Densidade média 1409 kg m-3
Densidade central 1,6 105 kg m-3
Distância 1 UA ou 1,499 108 km
Luminosidade 3,83 1033 ergs/s

1.3
Tabela 1.1 continuação...Principais características do Sol
Temperatura efetiva 5785 K
Temperatura central 1 x 107 K
Composição química principal Hidrogênio = 92%
Hélio = 7,8%
Oxigênio = 0,061%
Carbono = 0,039%
Nitrogênio = 0,0084%
Período rotacional no equador 25 dias
Período rotacional na latitude 60° 29 dias

1.2 Geometria Sol-Terra

A relação Sol-Terra é mostrada esquematicamente na Figura 1.2.

Figura 1.2: Relação entre Sol e Terra.

A Terra gira ao redor do Sol descrevendo uma órbita elíptica na qual o Sol ocupa
um dos focos, tal como se vê na Figura 1.3. Como a excentricidade da elipse é muito
pequena, a posição do Sol é praticamente o centro de um círculo e a órbita é quase
circular.

1.4
O plano que contém esta órbita é chamado eclíptica e o tempo que a Terra tarda
em percorrê-la é um ano. A excentricidade desta órbita é tal que a distância entre o Sol e
a Terra varia 1,7%. Esta excentricidade pode ser calculada da seguinte maneira:

Eo = 1, 00011 + 0, 034221 cos Γ + 0, 00128 senΓ + 0, 000719 cos 2 Γ + 0, 000077 sen2 Γ (1.1)

onde Eo é chamado fator de correção da excentricidade da órbita terrestre. Nesta


equação Γ, em radianos, é chamado ângulo do dia e é representado por:

Γ = 2 π ( d n − 1) / 365 (1.2)

onde dn é o número do dia do ano no calendário Juliano, variando de 1 (1° de janeiro)

até 365 (31 de dezembro). Outra equação mais simples é dada da seguinte maneira:

Eo = 1 + 0,033 cos[ ( 2πdn / 365) ] (1.3)

A Equação 1.3, apesar da sua simplicidade, pode ser utilizada na maioria das
aplicações de engenharia.

Figura 1.3: Movimento da Terra ao redor do Sol.

A uma distância de uma unidade astronômica (UA), que é a distância média


entre o Sol e a Terra e que equivale a 1 UA=1,49x108 km, o Sol subentende um ângulo
de 32'.

1.5
A Terra, por sua vez, gira ao redor de um eixo central, chamado eixo polar,
completando uma volta por dia (sucessão dia-noite). Este eixo gira ao redor da normal
ao plano da eclíptica com um ângulo constante e igual a 23,45°, conforme pode ser
observado na Figura 1.4.

(a) (b)

Figura 1.4: (a) Rotação da Terra em torno de seu eixo polar. A linha vertical é perpendicular ao
plano da eclíptica. (b) Considerando a Terra como referência, observa-se a inclinação entre o
plano da eclíptica (caminho do Sol) e o equador como constante.

Desta forma, e de acordo com as Figuras 1.5 e 1.6, o ângulo formado entre o
plano equatorial e a linha que une os centros da Terra e do Sol muda continuamente
(sucessão das estações do ano). Este ângulo é conhecido como declinação solar, δ, e
pode ser estimado pela seguinte equação, com um erro inferior a 3':

δ = 0, 006918 − 0, 399912 cos Γ + 0. 070257 senΓ − 0, 006758 cos 2 Γ


(1.4)
+0, 000907 sen 2 Γ − 0, 002697 cos 3Γ + 0, 00148 sen3Γ

sendo δ dado em radianos. Este ângulo vale zero nos equinócios de primavera e outono,
23,45° no solstício de inverno e -23,45° no solstício de verão.

1.6
Figura 1.5: Posições da Terra em torno do Sol ao longo do ano. Para uma melhor visualização
as relações de tamanho entre o Sol e a Terra estão fora de escala.

(a) (b) (c)


Figura 1.6: Movimento da Terra ao redor de seu eixo: (a) Julho é verão no hemisfério Norte e
inverno no hemisfério Sul, (b) Março ou Setembro, (c) Dezembro é verão no hemisféro Sul e
inverno no hemisfério Norte.

Durante um dia (24h) a variação máxima da declinação (que acontece nos


equinócios) é menor que 0,5° podendo-se considerar, portanto, como constante ao longo
do dia.
Esta expressão, da mesma forma que a Equação 1.1, leva em conta que a
velocidade angular da Terra no seu passo sobre a eclíptica é, de acordo com a lei de
Kepler, variável. Isto é, os planetas percorrem áreas iguais em tempos iguais. Para a
maioria das aplicações de engenharia, a aproximação de que a Terra gira ao redor do Sol
numa órbita circular e com velocidade constante é suficiente. Desta forma, a declinação

1.7
solar pode ser determinada pela seguinte expressão (este mesmo raciocínio produziu a
Equação 1.3):

⎡ 360 ⎤
δ = 23,45 sen⎢
⎣ 365
( d n + 284) ⎥, em graus

(1.5)

1.2.1 Hora solar

A hora solar é o tempo especificado em todas as relações envolvendo a posição


do Sol em um determinado momento. Está baseado no movimento angular aparente do
Sol através do céu, onde o meio dia solar é a hora em que o Sol cruza o meridiano do
observador.
A hora solar não coincide com a hora oficial do lugar (hora do relógio). Para
calculá-la é necessário aplicar dois fatores de correção: o primeiro é um fator constante
que considera a diferença de longitude entre o meridiano do observador e o meridiano
no qual a hora oficial está baseada e considerando que o Sol leva quatro minutos para
cruzar 1° de longitude. O segundo fator de correção é chamado equação do tempo, o
qual considera a perturbação na taxa de rotação da Terra, a qual afeta o tempo que o Sol
cruza o meridiano do observador.
A hora solar (também chamada tempo solar verdadeiro) está relacionada com a
hora oficial da seguinte maneira:

TSV = TO + 4( Lst − Lloc ) + E t (1.6)

onde TO é a hora oficial, Lst é a longitude padrão, Lloc é a longitude local e Et a


equação do tempo. Deve ser notado que a correção de longitude é positiva se a
longitude local está à leste da longitude padrão e negativa se está à oeste.
A equação do tempo, Et, é mostrada na Figura 1.7 e é calculada pela seguinte
equação:

Et = ( 0, 000075 + 0, 001868 cos Γ − 0, 032077 senΓ − 0, 014615 cos 2 Γ


(1.7)
−0, 04089 sen2 Γ )( 229 , 18)

1.8
Nesta equação, o termo entre parênteses da esquerda representa a equação do
tempo e o termo multiplicador da direita a conversão para minutos.

1.2.2 Posição do Sol em relação a uma superfície horizontal

Uma forma de representação clássica do céu consiste em imaginar uma esfera


com a Terra fixa no seu centro, tal como se mostrou na Figura 1.4(b).
Esta esfera é chamada esfera celeste e cada um de seus pontos representa uma
direção do céu vista desde a Terra. A intersecção desta esfera com o plano do equador
terrestre define o equador celeste e os pontos de intersecção com os eixos polares
definem os pólos celestes.

Figura 1.7: Variação anual do valor da equação do tempo.

O movimento da Terra ao redor do Sol pode ser descrito, desta maneira, como o
movimento do Sol ao redor da Terra seguindo o maior círculo que forma um ângulo de
23,45° com o equador celeste (a eclíptica). Desta forma, o Sol descreve diariamente e
ao redor da Terra, um círculo cujo diâmetro varia dia a dia, sendo máximo nos
equinócios e mínimos nos solstícios, de acordo com a representação da Figura 1.8.
Para calcular a radiação solar que atinge uma superfície horizontal na Terra, é
necessário estabelecer algumas relações geométricas entre a posição do Sol no céu e as

1.9
coordenadas desta superfície na Terra. Para isto, utilizaremos a Figura 1.8 como
referência.
A vertical (normal) de um lugar (observador) na Terra intersecta a esfera celeste
em dois pontos, chamados zênite e nadir. O ângulo que forma esta reta com o plano do
equador celeste é chamado latitude geográfica, φ, sendo positiva ao norte e negativa ao
sul deste plano.
O horizonte do observador é o círculo máximo na esfera celeste cujo plano passa
através do centro da Terra, normal a uma linha unindo o centro da Terra e o zênite. O
ângulo de zênite, referido como θz a partir de agora, é o ângulo entre o zênite local e a
linha que une o observador e o Sol. A altitude solar, α, (também chamada elevação
solar) é a altura angular do Sol acima do horizonte celeste do observador. Este ângulo
nada mais é que o complemento do ângulo de zênite.
O ângulo de azimute solar, γs, é o ângulo (no zênite local) entre o plano do

meridiano do observador e o plano do círculo máximo que passa através do zênite e o


Sol. Este ângulo é positivo à oeste e negativo à leste (sul igual a zero), variando assim
entre 0° e ±180°.

Figura 1.8. Caminho do Sol através do céu, visto por um observador no ponto de intersecção
dos eixos.

1.10
Figura 1.9: Esfera celeste e coordenadas do Sol relativas a um observador na Terra, no ponto O.

O ângulo horário, ω, é o ângulo (medido no pólo celeste) entre o meridiano do


observador e o meridiano do Sol, valendo 0° ao meio-dia (TSV) e desde aí, muda 15°
por hora.
Para uma dada posição geográfica e na ausência de uma atmosfera refrativa, as
relações geométricas entre o Sol e uma superfície horizontal são as seguintes:

cosθ z = sin δ sin φ + cos δ cos φ cos ω = sin α (1.8)

sin α sin φ − sin δ


cos γ s = (1.9)
cos α cos φ

onde θz é o ângulo de zênite, em graus; α é a altitude solar (α=90-θz); ω é o ângulo

horário, meio-dia igual a zero e manhãs negativo; γs é o ângulo de azimute solar, sul

zero e leste negativo e δ é a declinação solar, positiva ao norte, em graus.

1.11
Estes ângulos podem ser visualizados de uma forma mais simples na Figura
1.10.

Figura 1.10: Definição dos ângulos de zênite θz e azimute γs. DAN é o desvio azimutal do
Norte, um ângulo azimutal com referência no Norte em vez do Sul.

Para encontrar ωs, o ângulo de nascimento do Sol, basta resolver a Equação 1.8

para θz = 0. Desta maneira:


− sin φ sin δ
cos ωs = (1.10a)
cos φ cos δ

ω s = cos −1 (− tan φ tan δ ) (1.10b)

1.12
Deve-se notar que o ângulo de nascimento do Sol é igual ao ângulo do pôr-do-
sol, excetuando-se o sinal. O número de horas de sol do dia, Nd, é igual a 2⏐ωs⏐ e das

Equações 1.10a e 1.10b, obtemos:

2
Nd = cos−1 ( − tan φ tanδ ) (1.11)
15

1.3 A constante solar e a distribuição espectral da radiação


extraterrestre

A intensidade e a variação da energia irradiada pelo Sol produzem efeitos diretos


e indiretos sobre vários processos atmosféricos e biológicos no nosso planeta. Em todas
as aplicações onde está envolvida a energia proveniente do Sol, o conhecimento sobre
as características espectrais da radiação solar extraterrestre é de vital importância.
Os primeiros detalhes sobre o espectro solar foram descritos por Joseph Von
Fraunhofer em 1814. Fraunhofer identificou 574 linhas de absorção no espectro solar e
é considerado o pioneiro na espectrometria estelar. Samuel Pierpot Langley também
desempenhou um importante papel na identificação do espectro solar. Durante três
décadas Langley dedicou-se ao estudo da radiação solar e no inicio do século XX
publicou os primeiros dados precisos sobre a distribuição espectral da radiação solar
entre 300 e 5300 nm, sendo capaz de determinar a posição espectral e a intensidade
relativa de mais de 700 linhas do espectro solar. As medidas realizadas por Langley
eram efetuadas em locais elevados, na tentativa de minimizar os efeitos causados pela
atmosfera terrestre. Somente no início dos anos setenta foram obtidas as primeiras
medidas com uso de foguetes, permitindo eliminar grande parte da imprecisão gerada
pela interferência atmosférica. Em anos recentes, satélites equipados com instrumentos
extremamente sensíveis e estáveis, posicionados em órbitas além da atmosfera terrestre,
revelaram o comportamento da emissão solar em regiões do espectro que até então não
haviam sido medidas na superfície do planeta em função da opacidade da atmosfera.
Também foi constatado após poucas décadas de constante monitoramento a bordo de
vários satélites que o termo “constante solar”, SC (W m-2), deveria ser revisto, pois a
emissão solar eletromagnética possuía variações ao longo do tempo. Este termo era

1.13
adotado para a denominação da radiação solar incidente em um plano perpendicular ao
feixe solar a uma distância de uma unidade astronômica (1 UA = 149 x 106 km) do Sol.
A determinação da “constante solar” e suas possíveis variações teve um interesse
considerável no inicio do século vinte e motivaram o trabalho de pioneiros no campo da
radiação solar como Langley e Abbott. Atualmente o termo “constante solar” é melhor
definido por irradiância solar extraterrestre total (W m-2) abreviada na literatura por
TSI (do inglês Total Solar Irradiance). A palavra “constante solar” deve referir-se
apenas ao valor médio ao longo de vários anos da TSI. Na Figura 1.11 é observada a
variação da TSI durante um período de aproximadamente 30 anos medida através de
vários instrumentos a bordo de satélites. Observa-se a correlação entre a variação do
número de manchas solares e o valor da TSI.

Figura 1.11: Irradiância solar extraterrestre total (TSI) medida através de vários instrumentos no
espaço durante aproximadamente 30 anos (1980-2009). O número médio de manchas solares é
mostrado na parte inferior do gráfico.

O valor da TSI é influenciado diretamente pelo ciclo solar de 11 anos. Quando


um novo ciclo solar é iniciado e a atividade solar aumenta, a TSI sofre grandes

1.14
alterações. Manchas solares tendem a reduzir o valor da TSI, enquanto outros
fenômenos na atmosfera solar como fulgurações e fáculas provocam um aumento no seu
valor. A variação da TSI também acompanha o período de rotação solar médio de 27
dias. Usando os valores suavizados pelo período de 27 dias, é obtido um valor médio de
1366,1 W m-2 e uma variação média de 1,1 W m-2, ou seja, 0,08% em relação ao valor
médio. Esta intensidade está de acordo com o valor da constante solar que foi
padronizada pela ASTM (American Society for Testing and Materials), igual a 1366,1
W m-2 e apenas 0,9 W m-2 menor que o valor de 1367 W m-2 recomendado pela
Organização Meteorológica Mundial (WMO) em 1981.
Estudos teóricos e experimentais revelam que a maior variação da radiação solar
ocorre no segmento extremo do ultravioleta (abaixo de 200 nm). A variabilidade nesta
parte do espectro eletromagnético aumenta consideravelmente com a redução do
comprimento de onda, ao ponto onde a relação entre o máximo e mínimo da irradiância
solar atinge um fator de 100 em 0,5 nm. Na região de maior interesse para estudos na
área de energia que compreende o segmento do ultravioleta até o infravermelho
próximo (300-4000 nm), a variabilidade da irradiância solar total em condições de fraca
atividade solar possui uma amplitude muito pequena (0,1%). Esta variação é da ordem
da precisão dos instrumentos utilizados para a sua medida. No entanto, deve ser
salientado que a variabilidade do espectro solar extraterrestre não deve ser desprezada
em certos comprimentos de onda específicos, principalmente no visível e no
infravermelho próximo. Estes comprimentos de onda correspondem às linhas de
absorção existentes na atmosfera solar, como a linha Ca K em 393,5 nm e a linha He em
1083 nm. Nesta última, a amplitude de variação ao longo do ciclo de atividade solar
pode ser maior que 200%.

1.4 Distribuição espectral da irradiância solar extraterrestre

O espectro da radiação solar extraterrestre cobre um intervalo de comprimentos


de onda desde 0,2 até 25 μm. A intensidade da radiação varia com o comprimento de
onda, conforme foi comentado anteriormente, devido principalmente às diferenças de
temperatura de cada região do Sol. Esta relação funcional entre intensidade e
comprimento de onda é chamada distribuição espectral. O espectro solar extraterrestre
no intervalo de comprimentos de onda de 0,2 a 2,5 μm é mostrado na Figura 1.12.

1.15
Esta distribuição espectral é muito similar à do espectro de um corpo negro a
5900 K, também representado na mesma figura. Na Tabela 1.2 é apresentada a
distribuição do espectro solar extraterrestre em diferentes bandas de cores.
Aproximadamente a metade da energia solar se encontra na região do visível e quase a
mesma quantidade se encontra no infravermelho.

Figura 1.12: Distribuição espectral da radiação extraterrestre AM0 em vermelho, AM1 em azul
e distribuição espectral de um corpo negro a 5900 K mostrada em verde.

Tabela 1.2 Divisão do espectro solar em bandas de cores e regiões de energia.


Cor λ, μm Irradiância, W m-2 Porcentagem da Isc

Violeta 0,390 - 0,455 108,85 7,96


Azul 0,455 - 0,492 73,63 5,39
Verde 0,492 - 0,577 160,00 11,70
Amarelo 0,577 - 0,597 35,97 2,63
Laranja 0,597 - 0,622 43,14 3,16
Vermelho 0,622 - 0,770 212,82 15,57

Ultravioleta < 0,4 109,81 8,03


Visível 0,390 - 0,770 634,40 46,4
Infravermelho > 0,770 634,40 46,4

1.16
Desta forma, aproximadamente 95% da energia do Sol está dentro do intervalo
0,3-2,4 μm, 1,2% no intervalo < 0,3 μm e 3,6% no intervalo > 2,4 μm.

1.5 Componentes da radiação solar

A atmosfera terrestre é formada, basicamente, por uma mistura de gases, água


(nos três estados) e por pequenas partículas suspensas, chamadas aerossóis. Essa
configuração provoca grandes alterações na radiação solar. De fato, em certos
comprimentos de onda observam-se fortes atenuações, relacionadas com a atuação de
um ou mais componentes atmosféricos. Por esta razão, é possível decompor a radiação
incidente na superfície terrestre, num dado plano, em duas componentes: direta e difusa.
Em termos geométricos, pode-se dizer que a radiação direta provém unicamente
do disco solar, chegando ao solo sem ter sofrido mudança de direção além da refração
atmosférica. A radiação difusa provém de toda abóbada celeste, excluindo o disco solar.
Portanto, é a radiação solar recebida numa superfície horizontal num ângulo sólido 2π -
com exceção do ângulo sólido subentendido pelo Sol, como pode ser observado na
Figura 1.13. Com a soma dessas duas componentes, obtém-se a radiação total ou global.

Figura 1.13: Radiação direta e radiação difusa.

Em muitas circunstâncias, como por exemplo, nas aplicações fotovoltaicas, é


importante conhecer o espectro da radiação solar, ou seja, a distribuição da energia total

1.17
que incide sobre uma unidade de área em função do comprimento de onda. Nestes
casos, estuda-se a irradiância espectral solar. A irradiância mede a densidade do fluxo
de radiação que incide sobre uma superfície, podendo ser definida como a taxa de
energia solar incidente numa superfície por unidade de tempo e por unidade de área.
Portanto, tem como unidades W/m2. A irradiância depende da orientação da superfície
sobre a qual a radiação incide. Para uma determinada intensidade de radiação, a
irradiância é proporcional ao co-seno do ângulo entre a direção do fluxo e a direção da
normal a superfície na qual incide o fluxo.

1.6 Massa óptica de ar

O comprimento relativo do caminho percorrido pelo raio solar através da


atmosfera é chamado “massa de ar” (m). Usando uma definição mais criteriosa, a massa
de ar é definida como a razão entre a massa de uma determinada substância no caminho
óptico do feixe incidente e a massa da mesma substância no caminho óptico vertical,
como descrito pela Equação 1.12:

∫ ρdl
m= 0

≅ sec( Z ) (1.12)
∫ ρdz
0

onde m é a massa de ar; ρ é a densidade do meio, dl é o caminho óptico de integração e


Z é o ângulo zenital.

A densidade multiplicada pelo elemento de distância representa a massa da


substância em uma coluna de área unitária, ou seja, a massa óptica. O limite inferior da
integração corresponde à superfície terrestre e o superior ao topo da atmosfera. É
importante observar que a Equação 1.12 aplica-se apenas para um feixe monocromático
de radiação, pois a refração depende do comprimento de onda. Quando a trajetória da
radiação vai desde o zênite até o nível do mar, o valor da massa de ar é um, ou AM1,
enquanto que fora da atmosfera a massa de ar é zero ou AM0. Para ângulos zenitais do
Sol menores que 75° a massa de ar pode ser aproximada pelo valor da secante de Z.
Uma representação para três valores distintos de massa de ar é mostrada na
Figura 1.14.

1.18
Figura 1.14. Exemplo de três valores distintos de massa de ar; AM 1, AM 1,5 e AM 2. Para
cada massa de ar é mostrado o respectivo ângulo zenital do Sol (Z).

Muitos modelos simples de transmitância atmosférica adotam apenas uma


única expressão de massa óptica de ar para todos os processos de extinção na atmosfera.
A massa óptica absoluta pode ser definida por:

−1 / 2

ρ ⎧⎪ ⎡ ⎛ ρ ⎞⎤⎛ sin( Z ) ⎞ ⎫⎪
2

mabs = ρ0 ∫ ⎨1 − ⎢1 + 2(n0 − 1)⎜⎜1 − ⎟⎟⎥⎜ ⎟ ⎬ dh (1.13)


0
ρ0 ⎪⎩ ⎣ ⎝ ρ 0 ⎠⎦⎝ 1 + h / rt ⎠ ⎪⎭

onde h é a altitude local; ρ é a densidade do ar na altitude local; ρ0 é a densidade do ar


ao nível médio do mar; n0 é o índice de refração do ar, no comprimento de onda de 700
nm, ao nível médio do mar; Z é o ângulo zenital e rt representa o raio médio da Terra. A
Equação 1.13 pode ser aplicada para qualquer constituinte atmosférico, desde que o seu
perfil de distribuição vertical seja conhecido com exatidão. Uma expressão para
determinação da massa óptica de ar mais compacta é definida como:

[
mi = cos( z ) + ai1 Z ai 2 (ai 3 − Z ) i 4
a
]
−1
(1.14)

onde z é a altitude local, mi são as diferentes massas ópticas para os processos de


extinção que seguem: mR (Rayleigh), ma (aerossóis), mn (NO2), mo (ozônio), mg (mistura

1.19
uniforme de gases) ou mw (vapor de água), Z é o ângulo zenital, e os coeficientes aij
estão mostrados na Tabela 1.3, juntamente com os valores de mi para Z=90°, que
apresentam uma grande dispersão entre 16,6 e 71,4. A Equação 1.14 Deve ser
empregada quando é necessário conhecer a massa de ar com boa precisão para elevados
ângulos zenitais, pois nestes casos, o cálculo da massa óptica de ar deve ser associado a
uma correção do ângulo zenital solar aparente, ou seja, o ângulo que é originado em
função da refração atmosférica que altera a posição real do disco solar. A Figura 1.15
mostra a variação do valor de massa de ar para diferentes constituintes atmosféricos
quando o ângulo zenital solar é maior que 78°.

Tabela 1.3: Coeficientes para massa óptica de ar aplicados na Equação 1.14


Processo de extinção ai1 ai2 ai3 ai4 mi para Z=90°
Rayleigh 4,5665 x 10-1 0,07 96,4836 -1,6970 38,136
2
Ozônio 2,6845 x 10 0,5 115,420 -3,2922 16,601
NO2 6,0230 x 102 0,5 117,960 -3,4536 17,331
Mistura uniforme de gases 4,5665 x 10-1 0,07 96,4836 -1,6970 38,136
Vapor de água 3,1141 x 10-2 0,1 92,4710 -1,3814 71,443
Aerossóis 3,1141 x 10-2 0,1 92,4710 -1,3814 71.443

Figura 1.15: Variação do valor de massa de ar para diferentes componentes atmosféricos para
ângulo zenital acima de 78°.

1.7 Atenuação atmosférica da radiação solar

Existem, basicamente, dois processos físicos envolvidos na atenuação da


radiação solar: absorção e difusão. O espalhamento e a reflexão são casos particulares
do processo de difusão, que devido à grande importância desempenhada na construção

1.20
do modelo teórico são identificados e estudados separadamente. É óbvio que todos esses
processos podem ocorrer simultaneamente, para um determinado componente
atmosférico ou mesmo para um certo grupo de componentes, por exemplo: as nuvens,
além de refletir, absorvem e espalham a radiação incidente. De acordo com a
importância desempenhada e com os objetivos a serem atingidos, o modelo empregado
pode enfatizar apenas o processo mais significativo, desprezando os demais.
A absorção ocorre quando as partículas que compõem a atmosfera terrestre
removem uma parte da energia incidente e a convertem em energia interna. Em
conseqüência, ocorre um aumento na movimentação dessas partículas ou de seus
componentes, por exemplo, átomos e elétrons. O processo de absorção molecular
depende do estado de energia da molécula, sendo a radiação absorvida durante a
transição de um estado de energia para outro. Esse processo ocorre somente para
comprimentos de onda discretos. Dessa forma, cada gás atmosférico absorve radiação
em determinados comprimentos de onda, sendo transparente para os demais. Por isso
são chamados de absorvedores seletivos.
O espalhamento é um caso particular de difusão da radiação que, geralmente,
está associado às posições irregulares das partículas num gás. O processo pode ser
pensado como se parte da radiação incidente fosse, momentaneamente, capturada e, em
seguida, emitida em todas as direções, sem alteração do comprimento de onda. Esse
processo se repete, ou seja, a radiação espalhada por uma molécula pode ser novamente
espalhada por outra, dando origem ao que se chama de múltiplos espalhamentos. Na
atmosfera, o espalhamento ocorre quando a radiação incide nos aglomerados - formados
por flutuações ocasionais da densidade - de moléculas de ar. Como a radiação é enviada
em todas as direções, resulta que parte da radiação difusa retorna ao espaço, enquanto
outra parte, proveniente de todas as regiões do céu, atinge o solo. Muitos fenômenos são
observados devido ao espalhamento atmosférico. Por exemplo, a claridade do dia se
deve a esse tipo de difusão da radiação. Na ausência de atmosfera, o céu teria aspecto
completamente diverso: seria totalmente negro, exceto nas posições ocupadas pelos
astros. O azul do céu se deve à existência de pequenas partículas que difundem maiores
proporções de radiação nesse intervalo de comprimento de onda.
Quando o céu está nublado, a atmosfera passa a conter uma grande quantidade
de água e, portanto, uma grande quantidade de partículas difusoras maiores. Essas
partículas se caracterizam por difundir proporções aproximadamente iguais para todos
os comprimentos de onda, causando superposição entre as cores. Como conseqüência, a

1.21
abóbada celeste torna-se branca; pela mesma razão são brancas as nuvens e a luz que
atravessa um nevoeiro. As mudanças diárias no aspecto de uma mesma paisagem se
devem, em grande parte, ao processo de espalhamento. Além disso, é o espalhamento
atmosférico que limita o alcance da visão de objetos distantes, observados por meio de
instrumentos ópticos como lunetas de grande alcance.
A reflexão difusa é observada sempre que a radiação encontra alguma superfície
irregular e é espalhada em determinadas direções, que variam de acordo com as
irregularidades da superfície e com o ângulo de incidência da radiação. O solo, embora
não sendo um componente atmosférico, desempenha um papel relevante na
determinação da radiação difusa. De acordo com o tipo de cobertura característico da
superfície a ser estudada - neve, areia, floresta, etc. - e mesmo da região - proximidade
de uma superfície com água, um rio, por exemplo - , uma quantidade maior ou menor de
radiação será refletida. As nuvens são os componentes atmosféricos responsáveis por
esse tipo de difusão da radiação solar; sua importância pode ser melhor percebida nos
dias em que o céu se encontra completamente nublado. Nessas condições, uma grande
quantidade da radiação incidente é refletida pelas nuvens, retornando ao espaço.
Na Figura 1.16, é observada a importância dos processos de absorção e de
difusão sofridos pela radiação solar, através da representação do balanço global da
energia solar recebida pelo planeta durante um ano. A radiação solar média recebida
anualmente pela Terra é representada por 100 unidades. Dos 100% recebidos, 35%
retornam ao espaço por algum processo de difusão (7% pelo espalhamento atmosférico,
24% devido à reflexão das nuvens e 4% por reflexão da superfície) e 65% é absorvido
(17,5% pela atmosfera e 47,5% pelo solo).

Figura 1.16: Balanço global da radiação solar.

1.22
1.8 Determinação da irradiância solar na superfície

A irradiância extraterrestre, Ion, em uma superfície normal aos raios do Sol é:

I&on = I&sc Eo (1.15)

Pela observação da Figura 1.10, a irradiância pode ser determinada da seguinte


relação:

I&o = I&on cosθ z , Wm-2 (1.16)

onde θz é o ângulo de zênite do Sol.

A irradiação Io durante um período de tempo de uma hora centrado no ângulo


horário ωi é dada por :

I o = I sc Eo ( sinδsinφ + cosδ cos φ cosωi ) (1.17)

com cuidado de expressar aqui ISC em unidades de energia, não de potência.

A irradiação extraterrestre diária em uma superfície horizontal, Ho, desde o


nascer do sol, ns, até o pôr-do-sol, ps, é calculado da seguinte maneira:

Ho = ∫n I o dt
ps
(1.18)
s

que resulta em:

Ho =
24
π
[
I sc Eo ωs ( sinδsinφ ) + ( cosδ cos φsinωs ) ] (1.19)

com ωs, o ângulo horário do pôr-do-sol, expresso em radianos. Na Tabela 1.4 se pode

encontrar os valores de Ho para os doze meses do ano e para algumas latitudes


(hemisfério sul). Esta tabela foi construída utilizando-se dias médios de cada mês, de
acordo com a Tabela 1.5. O dia médio é aquele que apresenta valores de Ho idênticos ao
valor médio mensal, Ho.

1.23
Tabela 1.4: Variação da irradiação extraterrestre diária em uma superfície horizontal,
Ho (MJ m-2 dia-1).
Latitude (Sul)
Mês 0° 15° 30° 45° 60° 90°
Jan 36,32 40,87 43,04 42,89 41,05 43,32
Fev 37,53 39,83 39,57 36,84 32,07 27,06
Mar 37,90 37,14 33,85 28,28 20,83 5,49
Abr 36,75 32,99 27,08 19,45 10,75 0,00
Mai 34,78 28,92 21,42 12,91 4,47 0,00
Jun 33,50 26,76 18,68 10,02 2,15 0,00
Jul 33,89 27,57 19,76 11,19 3,07 0,00
Ago 35,56 30,89 24,29 16,28 7,66 0,00
Set 37,07 35,03 30,62 24,16 16,09 0,69
Out 37,34 38,42 36,95 33,07 27,16 17,86
Nov 36,47 40,28 41,66 40,66 37,83 37,96
Dez 35,74 40,91 43,80 44,44 43,61 47,66
Média 36,07 34,97 31,73 26,68 20,56 15,00

Tabela 1.5: Dias médios e declinações características


(irradiação extraterrestre diária idêntica ao valor médio mensal).
Mês Data δ, graus Número do dia, dn

Jan 17 -20,84 17
Fev 14 -13,32 45
Mar 15 -2,40 74
Abr 15 +9,46 105
Mai 15 +18,78 135
Jun 10 +23,04 161
Jul 18 +21,11 199
Ago 18 +13,28 230
Set 18 +1,97 261
Out 19 -9,84 292
Nov 18 -19,02 322
Dez 13 -23,12 347

1.24
1.9 Posição do Sol para superfícies arbitrariamente inclinadas

Na maioria das aplicações práticas da energia solar é necessário determinar a


posição do Sol com respeito a uma superfície inclinada. A orientação desta superfície se
descreve mediante seu ângulo de inclinação, β, em relação à horizontal e o ângulo de
azimute da superfície, γ, que é o afastamento, em relação ao meridiano local, da
projeção da normal da superfície no plano horizontal. O ângulo β está representado na
Figura 1.17, sendo que esta figura está contida no plano do ângulo de azimute da
superfície.

Figura 1.17. Posição do Sol relativa a uma superfície inclinada.

O ângulo de incidência, θS, é formado pela normal à superfície e o vetor Sol-


Terra. Este ângulo é calculado da seguinte maneira:

1.25
cos θ s = sin δ sin φ cos β − sin δ cos φ sin β cos γ + cos δ cos φ cos β cos ω
(1.20a)
+ cos δ sin φ sin β cos γ cos ω + cos δ sin β sin γ sin ω

ou

cosθ s = cos β cosθ z + sinβsinθ z cos( γ s − γ ) (1.20b)

Para uma superfície orientada ao equador, a equação (1.1a) pode ser simplificada
utilizando-se a representação da Figura 1.18.

Figura 1.18. Demonstração da equivalência entre os ângulos θz e θs.

Esta figura mostra que uma superfície localizada em uma latitude φ e inclinada β
graus da horizontal e orientada ao equador é paralela a uma superfície horizontal
localizada em uma latitude (φ -β), isto é, o ângulo θs em uma latitude φ é igual ao

ângulo θz em uma latitude (φ -β). Da Equação 1.17a resulta que:

cosθ s = sinδsin( φ − β ) + cosδ cos( φ − β ) cosω (1.18)

1.26
Da mesma forma que encontramos o ângulo de nascimento do Sol, ωs, para uma

superfície horizontal, podemos encontrar ωs', chamado ângulo de nascimento do sol

para uma superfície inclinada. Isto é obtido da Equação 1.18 fazendo-se θs=90°:

ωs ' = cos−1 [ − tanδ tan( φ − β ) ] (1.19)

Desta equação pode-se considerar três casos particulares:

i) nos equinócios, δ=0 e da Equação 1.19:

ω s' = π / 2 (1.20)

Ou seja, o ângulo de nascimento do sol é independente da latitude e da inclinação.

ii) durante o inverno, δ > 0, resultando em ωs > ωs'. Isto significa que o Sol surge antes

para uma superfície horizontal que para uma superfície inclinada.

iii) durante o verão, δ < 0, resultando, matematicamente, que o Sol surge para uma
superfície inclinada antes que para uma horizontal. Como isto não é possível
fisicamente, estabelece-se uma expressão geral para ωs':

ωs ' = min{cos−1 ( − tanδ tan φ ) ,cos−1 [ − tanδ tan( φ − β ) ] } (1.21)

onde min significa o valor mínimo.

1.10 Relação entre horas de Sol e radiação global diária

O número de horas de Sol corresponde ao tempo durante o qual a radiação direta


é maior que um certo valor para que seja registrada. Para grandes escalas de tempo e
valores médios mensais de vários anos pode-se observar que existe uma correlação entre
o número de horas de Sol e a quantidade de radiação global incidente em um ponto.

1.27
Em muitos lugares o número de horas de Sol (n), medido com os heliógrafos, é o
único dado que se registra, sendo então necessário conhecer as correlações entre este
número e a radiação global diária (H), ainda que estes valores somente possam ser
utilizados como valores médios mensais.
Os pesquisadores Prescott e Col propuseram a utilização da seguinte equação

H / Ho = a + b (n/ Nd) (1.22)

onde H é a radiação solar global diária em média mensal, Ho é a radiação solar


extraterrestre (diária em média mensal), n é o número de horas de brilho solar e Nd é o
número máximo de horas de sol, ou seja, a duração do dia.
Os valores dos parâmetros a e b variam, segundo o lugar e suas características,
numa faixa entre 0,17 ~ 0,32 e 0,37 ~ 0,69 respectivamente. Utilizando valores de
irradiação global horizontal diária em média mensal e insolação medidos em 17
estações, foram encontrados os seguintes valores para o Estado do Rio Grande do Sul:
a = 0,23 e b = 0,46.

1.11 Radiação global diária sobre superfícies horizontais

A radiação difusa diária (Hd) incidente numa superfície correlaciona-se com a


radiação global (H) que incide na mesma, através do índice ou coeficiente de
transparência atmosférico diário (Kt), que se define como:

Kt = H / Ho (1.23)

Os pesquisadores Collares-Pereira e Rabl propuseram a seguinte expressão


analítica que correlaciona estes valores conforme o coeficiente de transparência
atmosférico:

0,99 para Kt = 0,17


1,188 – 2,272 Kt + 9,473 Kt2 para 0,17 < Kt < 0,75
3 4
Hd /H -21,856 Kt + 14,648 Kt (1.24)
-0,54 Kt + 0,632 para 0,75 < Kt < 0,8
0,2 para Kt ≥ 0,8

1.28
A radiação direta diária (Hb) obtém-se como a diferença entre a radiação global e a
radiação difusa:
Hb = H –Hd (1.25)

1.12 Radiação global horária sobre superfícies horizontais

Assim como no caso da radiação diária, a radiação difusa horária (Id) incidente em
uma superfície se relaciona com a radiação global horária (I). Neste caso, utiliza-se o
índice de transparência atmosférico horário kt, que se entende como o quociente entre a
radiação global horária e radiação extraterrestre horária. A expressão usada divide o céu
em três tipos, segundo o valor de kt :

= 1,0 – 0,09 kt 0 ≤ kt ≤ 0,21


Id / I = 0,9511 – 0,160 kt + 4,388 kt² (1.26)
0,22 ≤ kt ≤ 0,8
- 16,63 kt³+ 12,336 kt4
= 0,165 kt > 0,8

O valor obtido para Id não é muito exato, já que é difícil fazer a previsão
somente com o valor da radiação global; o mesmo ocorrerá usando qualquer das outras
correlações.
A radiação direta se obtém com a diferença entre a radiação global e a radiação
difusa:

Ib = I – Id (1.27)

1.13 Radiação global sobre superfícies inclinadas

A radiação global diária incidente sobre uma superfície inclinada pode ser
calculada como a soma das parcelas horárias da radiação global.

Hβ = Σ I β (1.28)
horas

onde I β pode ser obtida como a soma horária da radiação direta, difusa e refletida

1.29
I β = Ibβ + I dβ + I rβ (1.29)

Conhecendo a radiação direta sobre uma superfície horizontal pode ser calculada
a radiação direta sobre uma superfície inclinada através da seguinte expressão:

I bβ = Ib rb (1.30)

onde rb é um fator de conversão geométrico dado por:

rb = cos θs / cos θz (1.31)

onde θs e θz são dados, respectivamente, pela Equações 1.10a e 1.8.


A radiação refletida pelo solo que incide em uma superfície pode ser calculada
considerando uma reflexão isotrópica ou anisotrópica. Segundo a primeira, a quantidade
de radiação diária refletida pela terra que incide em uma superfície inclinada, pode ser
obtida com a expressão:

Irβ = I ρ (1-cosβ) / 2 (1.32)

sendo ρ o albedo da superfície refletora.


Finalmente, a radiação difusa que provém do céu pode ser calculada utilizando
um modelo semi-empírico, o qual se baseia na análise das três componentes da radiação
difusa, e assume uma irradiância constante sobre todo o céu exceto em um disco em
torno ao Sol e uma banda no horizonte, onde os valores da irradiância difusa são
incrementados. A magnitude deste incremento é considerada como uma função de três
parâmetros que descrevem a condição do céu em cada instante.
A forma deste modelo é dada pela equação:

⎡ ⎛ cosθ s ⎞ ⎤
I dβ = I d ⎢ 0,5(1 + cos β ) ( 1 − F1 ) + F1 ⎜ ⎟ + F2 sen β ⎥
⎣ ⎝ cosθ z ⎠ ⎦ (1.33)

Os coeficientes F1 e F2 são coeficientes que levam em conta o brilho


circumsolar e horizontal, que são função de três parâmetros que definem as condições

1.30
do céu, ângulo de zênite, a claridade ε e o brilho Δ , obtidos através das equações
empíricas:

F1 = F11 ( ε ) + F12 ( ε ) Δ + F13 ( ε )θ z (1.34)

F2 = F21 ( ε ) + F22 ( ε ) Δ + F23 ( ε )θ z (1.35)

I d ⋅ ma
Δ= (1.36)
I on

I d + I bn
ε= (1.37)
Id

onde Idβ é a irradiância difusa inclinada, Id é a irradiância difusa horizontal, ma a massa


de ar, Ib a irradiância direta normal e Io a irradiância extraterrestre, também normal.
Os coeficientes F11, F12, etc. são função do ε , e para diferentes faixas do mesmo
os valores recomendados são os mostrados na Tabela 1.6.

Tabela 1.6: Coeficientes “F” para determinação da radiação difusa através do modelo de
Perez.
Faixa de ε F11 F12 F13 F21 F22 F23
1 a 1,056 -0,042 0,55 -0,044 -0,12 0,138 -0,034
1,0561 a 1,253 0,261 0,559 -0,243 -0,019 0,083 -0,081
1,253 a 1,586 0,481 0,46 -0,354 0,077 0,006 -0,116
1,5861 a 2,134 0,825 0,187 -0,532 0,172 -0,05 -0,151
2,1341 a 3,23 1,102 -0,299 -0,586 0,35 -0,398 -0,171
3,231 a 5,98 1,226 -0,451 -0,617 0,444 -0,949 -0,073
5,981 a 10,08 1,367 -0,838 -0,655 0,431 -1,75 0,094
10,08 a ∞ 0,978 -0,812 -0,393 0,335 -2,160 0,106

1.31
2. Atmosfera Terrestre

Derivada das palavras gregas ατμοζ, vapor e σϕαιρα, esfera, a palavra


atmosfera é utilizada para descrever uma fina camada, composta basicamente por gases
e poeira, que envolve a Terra. A atmosfera terrestre comporta-se como uma cortina
protetora contra a ação da radiação extraterrestre nociva que atinge nosso planeta e
também como um regulador térmico ao redor da Terra, protegendo-a e proporcionando
condições necessárias para a vida animal e vegetal. Observada do espaço, a Terra
aparece como uma esfera de coloração azul brilhante. Esse efeito cromático é
provocado principalmente pela dispersão da luz solar sobre a atmosfera do nosso
planeta.

2.1 Estrutura da atmosfera em função da temperatura

Para uma melhor compreensão a atmosfera terrestre é dividida em camadas


distintas que são classificadas principalmente em função do perfil de temperatura. A
atmosfera está estruturada em três camadas relativamente quentes, separadas por duas
camadas relativamente frias. As zonas entre essas camadas são áreas de descontinuidade
e recebem o sufixo pausa, após o nome da camada subjacente. Um esquema ilustrativo
das camadas da atmosfera terrestre pode
ser visto na Figura 2.1.
A troposfera é a primeira camada atmosférica e estende-se da superfície da Terra
até a base da estratosfera, aproximadamente 20 km acima do solo no equador e 10 km
nos pólos. Todos os fenômenos meteorológicos estão confinados a esta camada, que
responde por cerca de oitenta por cento do peso atmosférico. Na troposfera a
temperatura apresenta um declínio com a altitude de aproximadamente 6°C para cada
1000 metros. A troposfera termina quando ocorre uma inflexão do perfil da temperatura
com a altitude, passando esta a aumentar com a altitude. Esta região é conhecida como
tropopausa e está situada a uma altura média em torno de 17 km no equador. A distância
da tropopausa em relação ao solo varia conforme as condições climáticas da troposfera,

2.1
temperatura do ar, latitude, entre outros fatores. Na presença de agitação climática na
troposfera, ou seja, com o surgimento de correntes de convecção, a altura da tropopausa
em relação ao solo tende a subir.

Figura 2.1: Perfil vertical onde é mostrada a estrutura e


temperatura da atmosfera terrestre.

A estratosfera inicia entre 10 e 20 km estendendo-se até cerca de 50 km de


altitude. A temperatura nesta camada parte dos -50°C e aumenta gradativamente,
principalmente devido à absorção da radiação ultravioleta. É na estratosfera onde se
verifica a maior concentração do gás ozônio e também ocorre grande parte da difusão da
luz solar que origina a coloração azulada do firmamento. Além do gás ozônio, a
estratosfera apresenta na sua composição diversos outros gases, entre eles, dióxido de
enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2). A estratosfera possui também uma pequena
concentração de vapor d'água e um perfil de temperatura constante até a região
limítrofe, denominada estratopausa. Nesta região a temperatura novamente decai com o
aumento da altitude.
A próxima camada da atmosfera terrestre é chamada de mesosfera. A mesosfera
apresenta temperaturas abaixo de 90°C negativos. Na mesosfera a temperatura diminui
com a altitude e também ocorrem os fenômenos de aeroluminescência devido às
emissões de gases, principalmente o oxigênio, sódio e hidroxila. É na mesosfera que
ocorre a fragmentação dos meteoros e pequenos detritos espaciais colocados no espaço

2.2
pelo homem. A mesopausa localiza-se entre a mesosfera e a termosfera, e é a região da
atmosfera que determina o limite entre uma atmosfera com massa molecular constante
de outra onde predomina a difusão molecular. A mesopausa apresenta temperaturas que
atingem um valor máximo (aproximadamente 60°C) nas regiões polares durante o
inverno local e temperaturas mínimas (-120°C) no verão local nas regiões polares. Este
estranho comportamento é contraditório com as condições de insolação, mas é
explicado pela existência de correntes de ventos meridionais que provocam um
transporte de energia térmica entre os pólos na mesopausa.
A última região da atmosfera terrestre é denominada de termosfera e inicia a
aproximadamente a 100 km de altitude. Na termosfera a temperatura novamente
aumenta com a altitude, principalmente devido a absorção da radiação solar UV em
comprimentos de onda menores que 175 nm. É a camada atmosférica mais quente, uma
vez que as raras moléculas de ar que estão presentes absorvem quase a totalidade da
radiação solar incidente. É nesta região onde ocorrem as auroras e orbitam os satélites
de baixa altitude e a estação espacial internacional.

2.2 Componentes atmosféricos

A atmosfera terrestre é composta principalmente por uma mistura de gases e


representa apenas 0,0001% da massa total da Terra. Esta tênue e delicada camada é
constituída por diversos componentes. O nitrogênio diatômico (N2) representa 78% do
volume total da atmosfera. Este gás atua como suporte aos demais componentes, e é de
vital importância para os seres vivos sendo fixado no solo pela ação de bactérias e
outros microorganismos e absorvido pelas plantas, na forma de proteínas vegetais. O
oxigênio diatômico (O2) participa com 21% da composição atmosférica e possui uma
estrutura molecular que varia conforme a altitude, sendo responsável pelos processos
respiratórios dos seres vivos e combustões. Os demais constituintes atmosféricos são;
argônio (Ar) 0,93% da atmosfera terrestre; dióxido de carbono (CO2) possui uma
concentração variável de aproximadamente 0,035 %; hélio (He) 0,0018%; ozônio (O3)
0,00006 %; hidrogênio (H2) 0,00005 %; além de outros elementos com menor
concentração como criptônio (Kr), metano (CH4), xenônio (Xe) e radônio (Rn). A água
encontra-se presente na atmosfera em três estados - sólido, líquido e gasoso -, atuando

2.3
em uma grande variedade de fenômenos como chuva, formação de nuvens, neve entre
outros.
Geralmente, a composição atmosférica é analisada considerando-se três grupos
distintos de componentes, sendo eles: as moléculas do ar seco, o vapor de água e os
aerossóis. Cada um destes grupos atenua a radiação solar de forma distinta e em
comprimentos de onda característicos, justificando esta classificação.
Do mesmo modo que a atmosfera é descrita em regiões distintas a partir do seu
perfil de temperatura, é possível - e desejável - classificá-la em camadas em função da
sua composição e dinâmica química. Até uma altura de aproximadamente 100 km, a
mistura dos gases é praticamente constante, isto é, a cada incremento de altitude, a
proporção da mistura de um determinado gás em relação ao volume total se mantém.
Esta porção inferior da atmosfera é chamada de homosfera. Nesta região predomina a
difusão turbulenta dos gases. Na homosfera, a proporção volumétrica é de 78% de N2 e
21% de O2, sendo o restante argônio (Ar), dióxido de carbono (CO2), os gases nobres, e
outros elementos, em proporções menores. Acima da encontra-se uma região de
transição, a turbopausa, após esta região predomina a difusão molecular, e os gases a
partir desta altura se distribuem de acordo com as suas próprias escalas de altura, até
não haver mais a mistura proporcional. Esta camada superior é chamada de heterosfera.
Acima de 200 km, o nitrogênio e o oxigênio moleculares deixam de ser os componentes
majoritários, sendo substituídos pelo oxigênio atômico, hélio e hidrogênio. A exosfera é
a região mais externa da atmosfera, e onde há uma perda constante de partículas para o
espaço. Nesta região as colisões entre moléculas ou átomos são poucos freqüentes.

2.2.1 Moléculas do ar seco

As principais moléculas do ar seco (nitrogênio, oxigênio e argônio) apresentam


uma variabilidade relativamente baixa na sua concentração até uma altitude de
aproximadamente 100 km. Outros gases, no entanto, não se distribuem de forma
homogênea no tempo e no espaço. Estas variações são provocadas principalmente pela
atividade industrial e rural local, do meio ambiente e pela dinâmica da atmosfera.
A concentração típica do ar seco em uma atmosfera padrão, ao nível do mar, é
apresentada na Tabela 2.1.

2.4
Tabela 2.1: Composição atmosférica normal e concentração molar dos principais constituintes
do ar seco para uma atmosfera padrão.
Componentes Fração molar
N2 0,7808
O2 0,2095
Ar 0,00934
CO2 0,00314
Ne 1,82 x 10-5
He 1,82 x 10-5
SO2 1,0 x 10-6
NH3 1,0 x 10-8
CO 1,0 x 10-8
CH4 1,5 x 10-6
Kr 1,14 x 10-6
H2 5,0 x 10-7
NO 3,0 x 10-7
Xe 8,7 x 10-8
O3 1,5 x 10-6

Alguns constituintes atmosféricos podem apresentar uma concentração maior


que a indicada na Tabela 2.1, principalmente na base da troposfera e em ambientes
urbanos onde a atividade humana pode acarretar uma maior emissão desses gases ou em
áreas rurais principalmente na ocorrência de queimadas.
O dióxido de carbono é produzido a partir de diversos processos, como
biológicos (respiração dos seres vivos), antropogênicos (queima de combustíveis
fósseis), atividades vulcânicas, etc. Em regiões rurais onde há um aumento no
desmatamento, observa-se uma maior concentração nos níveis de CO2, pois este é
assimilado pelos vegetais na reação de fotossíntese. A variabilidade na concentração do
dióxido de carbono também está relacionada com a atividade humana, e possui níveis
maiores nas cidades, principalmente em áreas industriais.
As principais fontes do dióxido de enxofre (SO2) para a atmosfera são as
emissões antropogênicas provenientes da queima de combustível fóssil, a emissão
natural resultante das erupções vulcânicas e a produção a partir da oxidação de sulfetos
orgânicos.

2.5
Em áreas rurais a quantidade total integrada em uma coluna vertical de área
unitária nas CNTP de SO2 pode ser menor que 0,002 cm, enquanto que nas regiões
urbanas poluídas os valores são em torno de 0,004 a 0,006 cm, podendo em casos
extremos chegar a 0,02 cm. Nos casos de erupção vulcânica há registros de
concentração de dióxido de enxofre de até 0,6 cm nas cercanias do vulcão. Diferente do
SO2 de origem antropogênica que se situa na troposfera, o de origem vulcânica é
lançado a grandes altitudes, se estabelecendo na estratosfera em torno dos 20 km. O
dióxido de nitrogênio (NO2) é resultante da oxidação do monóxido de nitrogênio (NO)
nas camadas superiores da estratosfera, mas também pode ser produzido na troposfera a
partir da combustão em alta temperatura de combustível fóssil e da ocorrência de
relâmpagos. O solo e o oceano também são fontes importantes de monóxidos de
nitrogênio oriundos da nitrificação realizada por microorganismos. O dióxido de
nitrogênio apresenta o máximo de absorção em torno de 400 nm.
O ozônio (O3), um gás triatômico de oxigênio descoberto em 1840 pelo químico
suíço C. F. Schönbein, está intimamente relacionado com a radiação ultravioleta. O
ozônio possui uma baixa transmitância da região ultravioleta e no espectro visível
apresenta uma pequena absorção entre 500 até 600 nm. Estima-se que este gás esteja
presente na atmosfera do nosso planeta desde cerca de 1,5 bilhões de anos atrás, sendo
provável que há 500 milhões de anos já houvesse ozônio em quantidade suficiente na
atmosfera para blindar a radiação UV de forma eficaz, permitindo que a vida pudesse se
expandir na superfície terrestre. A Terra é o único planeta conhecido onde se encontra o
ozônio. No início do século 20 foi verificada experimentalmente a existência do ozônio
na região estratosférica, sendo que na década de 30 deu-se início à investigação
atmosférica desse gás a partir de instrumentação em solo e sondagens com balões que
podiam atingir algumas dezenas de quilômetros. Entretanto, durante a corrida espacial,
iniciada nos anos 50, houve um grande avanço no estudo deste constituinte atmosférico,
principalmente nas camadas mais elevadas da atmosfera do nosso planeta, através de
foguetes e satélites artificiais. Aproximadamente 90% do conteúdo total de ozônio se
encontra na estratosfera, formando a camada de ozônio e a máxima concentração ocorre
a 25 km de altitude. A Figura 2.2 revela o perfil vertical médio da distribuição de
ozônio sobre o sudeste do Brasil no dia 30 de novembro de 2009 medido através do
satélite AURA usando a técnica de medida espectroscópica em micro-ondas a partir do
instrumentro MLS (Microwave Limb Sounder). Observa-se um pico de concentração de
ozônio na região de pressão atmosférica de 10 hPa ,ou seja, entre 25 km de altitude (às

2.6
vezes é mais conveniente definir a região da atmosfera em função da pressão). Nos
pólos esse máximo localiza-se em torno de 18 km de altitude. Em relação às
distribuições sazonais, as variações podem ser desprezadas nas regiões tropicais, local
onde a intensidade de radiação solar pode ser considerada constante durante todo o ano.
Nas altas latitudes o máximo de concentração se estabelece no fim do inverno, ou no
início da primavera, e o mínimo verifica-se durante o outono.

Figura 2.2: Três amostras do perfil de ozônio obtido a partir de sondagem realizada em 30 de
Novembro de 2009, pelo instrumentro MLS (Microwave Limb Sounder) no satélite AURA. A
máxima concentração de ozônio (dada em relação à mistura volumétrica ou vmr) ocorre em uma
altitude próxima de 25 km do solo, onde a pressão atmosférica é da ordem de 10 hPa.

A descoberta do declínio global de ozônio e da influência do buraco de ozônio


em baixas latitudes durante a primavera, período que deveria possuir o valor máximo
despertou um crescente interesse da comunidade científica sobre a variabilidade
temporal do ozônio. Um dos primeiros trabalhos enfocando a variabilidade espacial e
temporal do ozônio estratosférico foi feito através da análise dos dados obtidos pelo
satélite TOMS (Total Ozone Mapping Experiment Spectrometer) durante o período

2.7
entre 1979-1991. A Figura 2.3 mostra a redução na quantidade de ozônio sobre o
continente antártico durante o mês de setembro de 2001 obtida pelo do satélite TOMS.

Figura 2.3: Medida realizada pelo satélite TOMS mostrando a redução na quantidade de ozônio
no continente antártico.

Tipicamente, o conteúdo total de ozônio (uo) integrado em uma coluna


atmosférica de base unitária é expresso em Unidades Dobson (UD) e descrito por:


u o = ∫ ρO3 dz (2.1)
0

onde ρ O3 é a massa específica de ozônio e z é o caminho de integração na direção


vertical. Um UD é a espessura, medida em unidades de centésimos de centímetro, que a
coluna de ozônio poderia ocupar, na temperatura e pressão padrão (273 K e 1 atm).
Desse modo, 1 UD = 10-3 atm cm. Ressalta-se que sobre a Terra a coluna média de
ozônio assume valores entre 290 e 310 UD. Analisando-se a quantidade irrisória de
ozônio existente na atmosfera terrestre, tem-se que, se todo o ozônio presente fosse
compactado próximo à superfície terrestre, na pressão e temperatura padrões, seria
possível obter apenas uma fina camada de aproximadamente 3 mm de espessura. É esta

2.8
pequena quantidade que desempenha a função de absorver a radiação solar ultravioleta e
viabilizar a existência da vida na Terra.

2.2.2 Aerossóis

Aerossóis podem ser definidos como o conjunto de partículas sólidas ou líquidas


em suspensão em um meio gasoso. O termo aerossol abrange tanto as partículas quanto
o gás no qual elas encontram-se imersas, no caso da atmosfera este meio é o ar. Os
aerossóis atmosféricos possuem uma enorme variedade de volumes, formas e
dimensões, possuindo tamanhos que, em geral, variam de cerca de 0,01 a 10 μm de
diâmetro. Podem ser de origem natural como da ação erosiva dos ventos sobre o solo e a
superfície oceânica, ou da conversão gás-partícula ocorrida entre moléculas numa
reação química. Podem ter também origem antropogênica como da emissão de
particulados da combustão de combustível fóssil. As características dos aerossóis
atmosféricos dependem de sua origem e idade. Em geral eles podem viajar por grandes
distâncias transportados pelas correntes de ventos, podendo ser classificados a partir de
sua origem. Os aerossóis podem ser classificados em troposféricos e estratosféricos. Os
troposféricos são divididos entre continental e marinho. Os aerossóis marinhos
representam o maior montante de aerossóis na atmosfera. Os aerossóis continentais
podem ser subdivididos entre rural e urbano. Os aerossóis urbanos possuem
características dadas pela atividade antropogênica nos grandes centros populacionais, já
os aerossóis rurais têm partículas originadas a partir da atividade orgânica vegetal ou
mesmo da queima de biomassa.
O perfil atmosférico dos aerossóis pode ser representado por um modelo como
mostra a Figura 2.4, onde um perfil básico estratosférico é superposto por um perfil
marinho ou por um continental na baixa troposfera.
Na troposfera as partículas de aerossol apresentam vida média curta,
normalmente da ordem de dias e semanas, e portanto, sua distribuição espacial é
altamente não-homogênea, sendo correlacionada com suas fontes de emissão. Os
aerossóis têm grande influência no clima, uma vez que eles aumentam a quantidade de
radiação refletida para o espaço (efeito albedo), ao mesmo tempo que, como núcleos
formadores de gotículas de água, levam à formação de nuvens que ajudam a concentrar
a radiação infravermelha na troposfera (efeito estufa). Também há interação entre

2.9
aerossóis de pequeno diâmetro com a radiação solar na região espectral do visível e
infravermelho próximo. O tamanho destas partículas menores apresenta a mesma ordem
que o comprimento de onda da radiação incidente, provocando assim o espalhamento da
radiação solar.

Figura 2.4: Modelo de perfil atmosférico para aerossóis.

As partículas maiores apresentam um tempo de residência muito baixo na


atmosfera, isso faz com que partículas muito grandes (diâmetro > 15 μm) apresentem
baixas concentrações na atmosfera. Portanto, devido a esses motivos, a interação de
partículas muito grandes com a radiação solar é menor quando comparada com as
menores. Entretanto, existem alguns casos especiais em que os efeitos de espalhamento
da radiação solar devido a estas partículas de aerossóis de grande diâmetro podem ser
acentuados. Como exemplo, tem-se a ocorrência das tempestades de poeira e a queima
de biomassa (bastante freqüente no centro-oeste brasileiro e região amazônica). Em
alguns casos a redução na irradiação solar pode ser maior que 50 %. A Figura 2.5 revela
a variação sazonal de fontes globais emissoras de aerossóis, entre elas, destacam-se:
queima de biomassa ao sul da África e Amazônia (setembro a novembro); o transporte
de poeira do deserto do Saara em direção à América Central (junho a agosto); e do
continente asiático para a América do Norte (março a maio); as emissões urbanas e
industriais na costa leste dos Estados Unidos, China, Índia, e oeste Europeu (junho a
agosto) também podem ser visualizadas. A Figura 2.6 apresenta o comportamento
dinâmico de uma tempestade de areia originada no deserto do Sahara. A Figura 2.6 foi

2.10
obtida através do LIDAR (sigla para Light Detection and Ranging ou Detecção e
Direcionamento de Luz) a bordo do satellite CALIPSO. Esta técnica está baseada na
análise de um feixe de laser que é emitido na superfície terrestre e espalhado em
diferentes camadas atmosfera, permite realizar efetuar uma espécie de tomografia da
atmosfera terrestre e obter importantes parâmetros para o estudo dos aerossóis e seu
impacto na radiação solar.

Figura 2.5: Valores médios sazonais de espessura óptica de aerossol no comprimento de onda de
550 nm, para cada trimestre do ano de 2001, obtidas pelo satélite TERRA e instrumento
MODIS.

A Figura 2.7 apresenta vários focos de queimadas e uma extensa região


dominada por aerosois na região amazônica. Esta imagem foi obtida pelo instrumento
MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) a bordo do satélite AQUA
no dia 11 de agosto de 2002. Durante a primavera, a região amazônica, principalmente
em função das queimadas apresenta elevados valores de espessura óptica de aerossóis.
A Figura 2.8 mostra a média mensal para o mês de setembro de 2007 da espessura
óptica de aerossóis (AOD) medida em 550 nm pelo satélite AQUA sobre o território
brasileiro. A influência das queimadas sobre a espessura óptica de aerossóis é marcante.
Valores altos de AOD acarretam uma acentuada redução na irradiância solar na
superfície terrestre, principalmente a componente direta. A parcela difusa, no entanto,

2.11
aumenta. Os efeitos da espessura óptica de aerossóis sobre a irradiância direta são
mostrados na Figura 2.9. Nesta figura observa-se a irradiância solar direta, difusa e
global na cidade de Cuiabá, MT, em dois cenários diferentes de AOD, ou seja, um dia
de céu limpo (AOD = 0,1) e um dia com céu dominado por material particulado
originado nas queimadas (AOD = 1,5).

Figura 2.6: Tempestade de areia originada no deserto do Sahara em 17 de agosto de 2007 e


transportada até o golfo do México. As linhas vermelhas indicam as trajetórias das partículas de
aerossóis. As imagens verticais são composições a partir de várias órbitas obtidas pelo LIDAR
instalado no satélite CALIPSO. A letra D indica partículas de poeira e S representa o material
particulado originado pela queima de biomassa na África (17-19 de agosto) e América do Sul
(22 de agosto).
Figura 2.7: Imagem mostrando vários
focos de queimadas sobre a floresta
amazônica em 11 de agosto de 2002
obtidas pelo instrumento MODIS
(Moderate Resolution Imaging
Spectroradiometer) a bordo do satélite
AQUA. Uma extensa cobertura de fumaça
com origem nos focus de queimadas é
vista na parte inferior da figura. Estes
aerossóis são transportados por grandes
distâncias e afetam a irradiância solar na
superfície. Nuvens cumulus são vistas na
parte superior da figura.

2.12
Figura 2.8: Média mensal da espessura óptica de aerossóis medida em 550 nm sobre o território
brasileiro em setembro de 2007. Os elevadores valores de AOD sobre a amazônia e região
centro-oeste são causados pelas queimadas.

Figura 2.9: Irradiância solar direta, difusa e global


típica para a cidade de Cuiabá, MT, durante o meio-
dia em setembro (AM=1), para dois valores de
espessura óptica de aerossóis (AOD), 0,1 e 1,5.

2.13
2.2.3 Vapor de água

O vapor de água presente na atmosfera é o principal gás responsável pelo efeito


estufa no nosso planeta. Sem a presença do vapor de água, nosso planeta apresentaria
um enorme gradiente térmico entre a face iluminada pelo Sol e a imersa na escuridão
noturna. Este gás também desempenha um importante papel no ciclo de vida das nuvens
e na precipitação. Diferentemente dos demais gases (por exemplo, CO2, CH4, N2O), o
vapor de água pode apresentar uma variação de várias ordens de magnitude em relação
a sua distribuição vertical e alterar substancialmente sua concentração em um curto
espaço de tempo. A evaporação dos oceanos, rios e lagos, juntamente com a
transpiração da vegetação em grandes florestas, são fontes de vapor de água para a
atmosfera. Devido a isto, a concentração na atmosfera deste gás em regiões marítimas e
nas florestas tropicais pode ficar próxima de 3%. Por outro lado, nos grandes desertos e
em grandes altitudes, a quantidade de vapor de água pode ser tão baixa a ponto de ser
imensurável a sua concentração.
A quantidade de vapor de água é calculada a partir da massa de vapor de água
total presente em uma coluna de área unitária desde a superfície até o topo da atmosfera
terrestre, pela seguinte expressão:


w = ∫ ρwdz (2.2)
0

onde ρw é a massa específica de vapor de água (kg.cm-3) e z representa a distância na


direção vertical (cm). Assim, w é expresso em unidades de massa por unidade de área,
ou seja, g.cm-2.
Define-se também a partir da Equação 2.2 o termo água precipitável, que
representa a espessura de água líquida, que seria formada caso todo o vapor de água, na
direção do zênite, fosse condensado na coluna de área unitária.
Em virtude da sua grande variabilidade temporal e espacial, a determinação do
conteúdo de vapor de água existente na atmosfera torna-se uma tarefa extremamente
complicada. Há várias técnicas que buscam mensurar o conteúdo do vapor de água. No
início do século 20, foram obtidas medidas precisas através de um espectrorradiômetro
que analisava a radiação solar em linhas discretas na região do infravermelho onde há

2.14
grande absorção pelo vapor de água. Nos dias atuais, há vários instrumentos e técnicas
dedicadas à medida da quantidade de vapor de água. Sondas a bordo de balões fornecem
valiosas informações sobre a distribuição vertical de vapor de água, mas estas
informações estão restritas às regiões onde é realizado o lançamento destes artefatos.
Além disto, a periodicidade destes lançamentos é baixa, em média uma ou duas vezes
ao dia.
Vários satélites também dispõem de instrumentos destinados à medida da
quantidade de vapor de água na atmosfera. O equipamento MODIS (Moderate
Resolution Imaging Radiometer) instalado nos satélites AQUA e TERRA é capaz de
fornecer dados precisos sobre a distribuição do vapor de água em praticamente todas as
regiões do planeta. No entanto, os dados fornecidos por estes satélites de órbita baixa
estão vinculados às suas passagens sobre a região de interesse e isto ocorre no máximo
4 vezes por dia. Além de absorver a radiação solar na região do infravermelho, o vapor
de água também altera a propagação de sinais na faixa de microondas. Esta
característica é utilizada para analisar a amplitude e fase dos sinais emitidos pelos
satélites do sistema de posicionamento global (GPS) e estimar a quantidade de vapor de
água presente na atmosfera. Radiômetros na região de microondas e operando em
freqüências onde há forte absorção por moléculas de água também são utilizados para
medidas de vapor de água.
A concentração de vapor de água e conseqüentemente a quantidade de água
precipitável também pode ser estimada através de fórmulas empíricas. No final da
década de 70, o pesquisador Bo Leckner, apresentou a seguinte equação para estimativa
da quantidade de água precipitável:

⎛P ⎞
w = 0,493 ⋅ U r ⋅ ⎜ s ⎟ (2.3)
⎝T ⎠

onde Ur é a umidade relativa entre 0 e 1, T representa a temperatura ambiente em


Kelvin, Ps é a pressão parcial do vapor de água no ar saturado dada em mbars e
expressa por:

⎛ 5416 ⎞
Ps = exp⎜ 26,23 − ⎟ (2.4)
⎝ T ⎠

2.15
Estas formulações empíricas geralmente apresentam uma baixa confiabilidade
para medidas instantâneas da água precipitável, principalmente em virtude do
comportamento bastante dinâmico da concentração e distribuição vertical do vapor de
água na atmosfera. As variáveis (umidade relativa, pressão parcial do vapor de água no
ar saturado e temperatura) adotadas nestes modelos nem sempre possuem um
comportamento que permita uma correlação direta com a quantidade de vapor de água.
Estas equações, no entanto, apresentam uma boa estimativa para uma distribuição média
do conteúdo de vapor de água quando o período de análise é longo (ordem de dias ou
meses). A Figura 2.7 mostra a grande variabilidade da quantidade de água precipitável
ao longo de um dia medida através de vários instrumentos, entre eles o
espectrorradiômetro, radiômetro de microondas, radiômetros espectrais em solo e a
bordo de avião e análise de sinais de satélites GPS.

Figura 2.7: Variabilidade da quantidade de água precipitável analisada por vários instrumentos
de referência ao longo de um dia.

2.16
3. Instrumentação para medida da radiação solar

3.1 Sensores de radiação

A medida da radiação solar disponível na superfície da Terra é essencial para um


grande número de aplicações além, naturalmente, dos sistemas solares onde é
fundamental. Esta informação também é utilizada para a modelação do rendimento
energético de edificações, modelos climáticos, agricultura, etc. A medida da radiação
solar em alguns pontos da superfície terrestre permite o desenvolvimento de modelos
empíricos que possibilitam a predição da energia solar disponível em muitos outros
lugares que não dispõem destas medidas.
O principal componente de um radiômetro (instrumento destinado à medida da
energia radiante do Sol ou outra fonte qualquer) é o sensor, também denominado de
detector. Os detectores utilizados em radiômetros solares são classificados como
calorimétrico, termomecânico, termoelétrico, fotorresistivo e fotovoltaico.
Os sensores calorimétricos são compostos basicamente por uma superfície
metálica com excelente condutividade térmica que é revestida por uma pintura preta
não-seletiva com alta absorção. Toda a energia radiante incidente na superfície é
praticamente convertida em calor que é medido para a determinação da quantidade de
energia incidente.
Os sensores termomecânicos se baseiam na deformação sofrida por uma lâmina
metálica quando exposta à radiação solar. Geralmente se emprega duas lâminas, uma
revestida por uma pintura preta com alta absorção e outra com pintura refletora. A
lâmina preta é exposta ao Sol enquanto a outra é mantida isolada dos raios solares. A
diferença de temperatura e coeficiente de dilatação térmica provoca uma deformação
nas lâminas. Esta distorção é transmitida opticamente ou mecanicamente para um
indicador calibrado e informa a quantidade de radiação incidente no sensor.
Os sensores termoelétricos são constituídos por um par metálico de materiais
distintos com os seus extremos conectados. Quando há uma diferença de temperatura
entre as duas junções surge uma força eletromotriz, que é proporcional à diferença de
temperatura e depende das características dos metais utilizados. Instrumentos destinados

3.1
à medida da radiação solar que adotam estes tipos de sensores geralmente empregam
uma combinação de cobre-constantan, sendo que apenas uma das junções é exposta aos
raios solares, ou uma junção está em contato com uma superfície pintada de preto
enquanto a outra está em contato com uma superfície pintada de branco. A tensão
presente nos terminais de um sensor termoelétrico é muito baixa, por isso, costuma-se
associar vários sensores em série para obtenção de uma tensão mais elevada. Este
arranjo de vários sensores termoelétricos é denominado de termopilha.
Os sensores fotorresistivos são resistores que variam sua resistência com a
incidência de energia radiante. Mais conhecidos como LDRs, os fotorresistores são
formados por semicondutores que tem o número de elétrons livres aumentado quando
os fótons incidentes arrancam elétrons das ligações atômicas. Os sensores
fotorresistivos são menos utilizados para medir radiação solar porque seu
funcionamento depende de alimentação elétrica e porque tem uma resposta
espectralmente seletiva. São muito utilizados na fabricação de fotômetros.
Já os sensores fotovoltaicos são mais empregados para medida da energia solar.
Um dispositivo fotovoltaico é composto por um material semicondutor, geralmente
silício. Um átomo de silício possui quatro elétrons de valência formando uma estrutura
cristalina contendo outros quatro átomos na sua vizinhança. Quando uma impureza é
adicionada nesta estrutura, como, por exemplo, um átomo de fósforo, arsênio ou
antimônio que possuem cinco elétrons de valência, o elétron em excesso pode ser
facilmente liberado tornando-se um elétron condutor. Um semicondutor com excesso de
elétrons é denominado de semicondutor tipo N. Quando é adicionada à estrutura
cristalina uma impureza como alumínio, boro ou índio, que possui três elétrons na
banda de valência, cria-se uma lacuna nesta estrutura. Um semicondutor com estas
características é chamado de tipo P. Quando há a união destas duas junções é formado
uma junção P-N. A incidência de radiação com energia capaz de remover elétrons de
ligação nas proximidades da junção P-N provoca um contínuo movimento dos elétrons
e lacunas em excesso, ocasionando o surgimento de uma corrente elétrica. A utilização
de sensores fotovoltaicos apresenta várias vantagens em relação aos demais tipos de
sensores, entre elas destacam-se o baixo custo, tempo de resposta extremamente rápido
(cerca de 10 μs), elevada corrente de saída, proporcionalidade entre a corrente de saída
e a radiação incidente e baixa degradação ao longo do tempo. Na montagem o
radiômetro pode ser configurado para fornecer uma resposta em corrente, mas em geral
um resistor shunt é instalado junto ao sensor para entregar um sinal em tensão, mais

3.2
fácil de mensurar. Apesar destas características favoráveis, os sensores fotovoltaicos
possuem algumas limitações. A principal é originada na resposta espectral seletiva deste
tipo de sensor. Este fator está relacionado com o tipo de semicondutor utilizado. A
Figura 3.1 apresenta a curva de resposta espectral de um sensor de silício. Observa-se na
Figura 3.1 que a resposta do sensor fotovoltaico de silício é extremamente pequena para
comprimentos de onda abaixo de 400 nm e maiores que 1100 nm possuindo uma
resposta máxima em torno de 950 nm. Esta característica de resposta espectral seria
insignificante caso a distribuição espectral da radiação solar fosse constante. No
entanto, é conhecido que a distribuição espectral da radiação solar que atinge a
superfície terrestre é variável e depende da elevação solar, turbidez atmosférica,
quantidade de água precipitável, entre outros diversos fatores.

Figura 3.1: Resposta espectral típica de um fotodiodo de silício empregado em radiômetros


solares.

O erro na determinação da irradiância solar em função da limitada resposta


espectral do sensor de silício pode ser da ordem de 5 % para medidas realizadas em
situações extremas, ou seja, entre o céu limpo e totalmente encoberto por nuvens. Por
outro lado, a medida do albedo através de um instrumento com sensor seletivo pode
acarretar um erro elevado. Isto se deve às características espectrais usualmente presentes
nos diferentes tipos de superfícies.

3.3
3.2 Medida da componente direta: pireliômetros

A medida precisa da componente direta da radiação solar teve um considerável


interesse no século 19. Esta motivação surge na busca da determinação da constante
solar e sua variação ao longo do tempo. A medida da componente direta da irradiância
solar geralmente é obtida através de um instrumento denominado pireliômetro. Este
instrumento possui um campo de visão bastante estreito com intuito de receber apenas a
radiação emitida pelo disco solar. O pireliômetro possui um mecanismo para
acompanhamento do Sol que pode ser manual ou automático. Um grande número de
instrumentos dedicados à medida da irradiância solar direta foram desenvolvidos nos
dois últimos séculos.
Herschel desenvolveu em 1825 o primeiro instrumento usado para medir o
aquecimento causado pela radiação solar. Este instrumento denominado de actinógrafo
era composto por um termômetro com um extenso tubo preenchido por um líquido com
coloração azul escuro para uma melhor absorção da radiação solar. Este medidor era
exposto à luz solar por 1 minuto, após este período a radiação era bloqueada por um
anteparo pelo mesmo tempo, ao final deste período, o anteparo era retirado e o medidor
era novamente iluminado pelo Sol. A leitura obtida pelo termômetro durante estas
etapas era relacionada com a energia recebida pelo Sol. Apesar de extremamente
rudimentar este medidor serviu como base para os instrumentos mais precisos que o
sucederam.
As primeiras medidas absolutas da constante solar foram realizadas na França
em 1837, por Pouillet, com auxílio de um pireliômetro por ele desenvolvido. Este
instrumento é constituído por dois discos. Um destes discos contém água no seu interior
e possui a face superior pintada de preto e pode ser orientado diretamente para o Sol. O
outro disco possui as mesmas dimensões, mas possui uma superfície prateada e polida,
visando diminuir a absorção da radiação solar. Conhecendo a capacidade calorífica do
disco com água é possível determinar a quantidade de energia solar absorvida pela face
enegrecida por meio de um termômetro. Desta forma é calculada a potência média por
unidade de área da radiação solar incidente.
No início do século 20, Charles Greeley Abbot construiu um pireliômetro
absoluto que se tornou o primeiro radiômetro padrão de referência reconhecido
internacionalmente. Este instrumento construído por Abbot, utiliza um fluxo de água

3.4
destilada para remover o calor gerado pela absorção de energia solar em um absorvedor
de forma cônica, cujo interior é pintado com tinta preta de alta absorção. A superfície
cônica é instalada dentro de um tubo colimador e mantida isolada termicamente por
meio de um recipiente evacuado. A variação da temperatura da água é medida através
de um termômetro diferencial de platina. Dentro da superfície cônica absorvedora há
uma resistência que é aquecida fazendo passar por esta uma corrente elétrica. A
determinação da intensidade de radiação solar é feita produzindo-se o seu bloqueio na
entrada do tubo colimador e medindo-se a potência elétrica necessária para provocar a
mesma elevação de temperatura da água. Este pireliômetro é denominado de absoluto,
pois determina diretamente a quantidade de energia recebida do Sol.
Abbot também desenvolveu o pireliômetro de disco de prata. Neste instrumento
o sensor é composto por um disco de prata onde é inserido o bulbo de um termômetro.
Para assegurar um bom contato térmico entre o disco de prata e o termômetro, a região
de contato entre estas duas superfícies é preenchida com mercúrio líquido. O disco de
prata é pintado com tinta preta altamente absorvedora e alojado dentro de um tubo
colimador com isolação térmica. Após um determinado intervalo de tempo de
incidência da radiação solar sobre o disco (cerca de um minuto), a entrada do tubo
colimador é bloqueada e é realizada a medida da razão de crescimento e decréscimo da
temperatura do disco. A partir de dados sobre o coeficiente térmico específico do
instrumento empregado, determina-se a intensidade da radiação solar incidente.
Quase na mesma época em que Abbot desenvolvia seu pireliômetro, Knut
Ångström1, na Suécia, construiu o primeiro medidor verdadeiramente preciso para
medida da radiação direta normal. Este pireliômetro utiliza duas pequenas lâminas de
manganin cobertas por uma tinta escura e colocadas lado a lado no fundo de um tubo
colimador.
Um sistema de bloqueio da radiação solar incidente é instalado na parte superior
do tubo colimador de tal forma que apenas uma das duas lâminas é atingida pela
radiação solar, enquanto a outra lâmina é aquecida através da passagem de uma corrente
elétrica contínua. Cada lâmina possui termopares que estão fixados na sua parte inferior
e ligados a um galvanômetro. Uma chave permite inverter o papel desempenhado pelas

1
Knut Ångström (1857-1910) era filho do famoso astrônomo e físico sueco Anders Jonas
Ångström (1814-1874) que leva seu nome na unidade usualmente empregada para medida de
comprimento de onda. Anders Ångström (1888-1981), filho de Knut Ångström, desenvolveu as
formulações para o cálculo de turbidez atmosférica e correlações de irradiância com dados de
insolação solar.

3.5
lâminas, deste modo, pode-se determinar com bastante exatidão a corrente média
necessária para que ambas as lâminas estejam em equilíbrio térmico. A potência elétrica
fornecida à lâmina nesta situação terá o mesmo valor da intensidade da radiação solar
incidente e haverá uma indicação nula de corrente no galvanômetro. Este pireliômetro
de compensação elétrica mostrado na Figura 3.2 é um instrumento absoluto de medida
da radiação solar, pois não exige outro pireliômetro como referência para a sua
calibração.

Figura 3.2: Fotografia do pireliômetro absoluto desenvolvido por Knut Ångström.

Após a metade do século 20, surgiram os primeiros pireliômetros de cavidade


ativa absolutos. Este tipo de instrumento foi desenvolvido para medidas extremamente
precisas da intensidade da radiação solar no solo e fora da atmosfera terrestre. A
precisão deste tipo de pireliômetro situa-se entre 0,2 e 0,3 %, sendo adotado como
referência para a calibração de outros pireliômetros dedicados às medidas sistemáticas,
chamados de operacionais. O pireliômetro operacional mais conhecido é o Eppley
Normal Incidence Pyrheliometer, abreviado por NIP. A Figura 3.3 apresenta o
pireliômetro Eppley NIP. Este pireliômetro operacional é constituído por um tubo
colimador de bronze pintado internamente de preto. Uma série de diafragmas alojados
no interior do tubo colimador limitam o campo de visão deste instrumento em cerca

3.6
de 5°. O sensor utilizado é composto por uma termopilha com 15 junções de bismuto-
prata. Esta termopilha apresenta um tempo de resposta da ordem de 20 segundos. Um
disco instalado na abertura superior do pireliômetro Eppley pode acomodar até três
filtros, sendo que os mais utilizados para medida da irradiância solar são os Schott OG1,
RG2 e RG8.

Figura 3.3: Fotografia do pireliômetro NIP produzido pela empresa Eppley.

3.3 Medida da componente global e difusa: piranômetros

A irradiância solar global é medida através de radiômetros com campo de visão


hemisférico (dentro de um ângulo sólido de 2π sr). Este tipo de instrumento é chamado
de piranômetro. Este instrumento também pode ser utilizado em posição inclinada e
neste caso recebe uma parte da radiação refletida pelo solo. Geralmente são empregados
sensores baseados no princípio termoelétrico, termomecânico e fotovoltaico.
Diferentemente dos pireliômetros que utilizam tubos colimadores, os piranômetros
possuem seus sensores instalados de tal modo que estes sejam capazes de receber a
irradiância solar emitida por todo o hemisfério celeste.
O primeiro piranômetro foi desenvolvido pelo físico inglês H. S. Callendar, em
1898. O sensor utilizado neste medidor é constituído por quatro redes de fios de platina,
associadas em pares, sendo que duas pintadas de preto para uma melhor absorção da
radiação solar enquanto as outras duas redes de fios apresentam uma superfície
altamente refletora em virtude das características dos fios de platina. Estas redes situam-
se no interior de um bulbo de vidro onde é feito vácuo para assegurar um bom
isolamento térmico. A diferença de temperatura entre as duas redes de fios gera uma
tensão elétrica que é proporcional à intensidade da radiação solar incidente. A medida
da irradiância global é efetuada por meio de um medidor de corrente, e as quatro redes
de fios são associadas em uma configuração de ponte de Wheatstone.

3.7
Atualmente existe uma grande quantidade de modelos de piranômetros. Os mais
conhecidos são produzidos pela empresa Eppley e são divididos em dois tipos; o
modelo Black and White, B&W, e o Precision Spectral Pyranometer, PSP. Estes dois
tipos de piranômetros utilizam sensores termoelétricos. O piranômetro Black and White
da Eppley possui os setores brancos cobertos por sulfato de bário e os escuros por tinta
preta tipo black velvet da empresa 3M. O hemisfério é feito com vidro especial (Schott
WG295) que apresenta uma transmitância aproximadamente constante entre 285 e 2800
nm. Este piranômetro possui um circuito de compensação térmica que assegura uma
estabilidade na sensibilidade do instrumento para uma faixa de temperatura ambiente
entre -20 e + 40°. A Figura 3.4 apresenta alguns modelos de piranômetros.
Há também um grande número de piranômetros que utilizam dispositivos
fotovoltaicos como sensores. Apesar da resposta espectral limitada apresentada por
estes tipos de piranômetros sua utilização é compensada pelo baixo custo, resposta
virtualmente instantânea e alta corrente de saída. Este tipo de sensor exige o uso de um
dispositivo difusor, pois geralmente os detectores empregados (células fotovoltaicas,
fotodiodos, etc.) possuem um campo de visão com resposta reduzida em relação às
termopilhas.
A medida da componente difusa da irradiância solar pode ser efetuada utilizando
dois instrumentos; um piranômetro para determinação da componente global e um
pireliômetro que mede a componente direta. A parcela difusa da irradiância pode ser
encontrada pela relação:

E difusa = E global − E direta (3.1)

Esta técnica envolve o uso simultâneo de dois instrumentos e também devido ao


alto custo de um pireliômetro a componente difusa da irradiância solar é determinada
através de um piranômetro equipado com um sistema capaz de bloquear o feixe
luminoso emitido diretamente pelo disco solar. Normalmente emprega-se um anel de
sobra que está posicionado paralelo ao plano equatorial e possui uma inclinação com
respeito ao zênite igual à latitude local. Para acompanhar a variação da declinação solar
é necessário um ajuste diário da posição do anel de sombra. O anel de sombra deve ser
pintado de preto fosco para minimizar os efeitos de reflexões múltiplas. Pelo fato de
bloquear uma parcela da componente difusa presente no campo de visão obscurecido

3.8
pelo anel de sombra é necessário aplicar um fator de correção para compensar este
efeito. Devido a anisotropia da irradiância difusa, esta correção torna-se bastante
complexa.

Figura 3.4: Alguns exemplos de piranômetros. Em cima um piranômetro Eppley PSP e o


mesmo em plataforma móvel com orientação programável. Abaixo à direita um piranômetro
fotovoltaico e à esquerda um piranômetro tipo Black & White com anel de sobra .

A duração da luz do Sol é definida como o intervalo de tempo no qual o disco


solar não é obstruído por nuvens. É, talvez, o tipo de medida de radiação mais antiga e
inúmeros dispositivos foram desenvolvidos nos últimos 160 anos para este fim. Estas
medidas são importantes por duas razões: a duração da luz solar, ou percentagem da luz
solar possível, é um dos parâmetros primários para a caracterização do clima em uma
determinada região. A segunda é que este dado pode ser utilizado para a estimativa do
fluxo total de radiação solar numa superfície horizontal para locais onde as medidas
piranométricas não são efetuadas.

3.9
A popularidade destes instrumentos reside na sua simplicidade, conveniência e
baixo custo. A quantidade medida por estes registradores é o tempo, geralmente
expresso em décimos de hora (0,1 hora) na qual a intensidade da radiação solar direta é
suficiente para ativar o registrador.
Talvez o instrumento mais conhecido seja o registrador Campbell-Stokes, que
consta basicamente de uma esfera de vidro que atua como uma lente esférica para
concentrar os raios de sol em uma superfície côncava, o foco, onde se coloca uma tira
de papel. Quando a intensidade da radiação ultrapassa certo nível, o papel queima
produzindo uma marca. A Figura 3.5 mostra um registrador Campbell-Stokes.

Figura 3.5: Heliógrafo Campbell-Stokes

Estes instrumentos, entretanto, apresentam graves problemas de precisão. Um


deles é que não são suficientemente sensíveis para responder às baixas intensidades de
radiação, como ocorre nos primeiros minutos do amanhecer e nos últimos do entardecer.
Outro problema é a dificuldade para definir o limite inferior preciso do fluxo de
irradiância direta que marcará legivelmente a tira de papel. Em condições extremas de
céu claro, atmosfera seca e uma tira de papel seca, este nível estaria em torno de 70
Wm-2 enquanto numa situação oposta, o nível aumenta num fator de 4. Um nível médio
estaria em torno a 210 Wm-2.
Outro tipo de instrumento utilizado é o actinógrafo que registra de forma
mecânica em um papel de gráfico o desenvolvimento da intensidade da radiação solar
ao longo do dia. A Figura 3.6 mostra um actinógrafo. A cúpula de vidro que recebe a

3.10
radiação abriga um par bimetálico que responde à variação de temperatura produzida
pelos raios solares. A imprecisão é grande porque este instrumento necessita freqüentes
calibrações e depende das condições locais de temperatura e umidade.

Figura 3.6: Imagem de um actinógrafo.

3.4 Instrumentos para medida espectral da irradiância solar

Há inúmeras aplicações nas áreas de engenharia, meteorologia, entre outras,


onde o conhecimento sobre a distribuição espectral da irradiância solar é requerido. Isto
pode ser alcançado empregando-se espectrorradiômetros de elevado custo ou com
auxílio de instrumentos simples e comparativamente baratos dotados de filtros seletivos,
por exemplo, pireliômetros e piranômetros.
Alguns pireliômetros utilizam sensores com estreita resposta espectral que
geralmente coincide com bandas onde há forte absorção por constituintes atmosféricos,
como ozônio e vapor de água. A constante de calibração destes instrumentos é realizada
geralmente empregando-se o método de Langley que consiste em realizar a medida da
irradiância solar direta para diversos valores de massa óptica de ar em períodos onde
não haja turbulência atmosférica, ou seja, em dias de grande transparência do céu. A

3.11
Figura 3.7 mostra o radiômetro com anel de sombra rotativo desenvolvido no
Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Este
instrumento possui cinco canais seletivos (375, 525, 625, 820 e 920 nm) com largura de
banda entre 10 e 30 nm. Além destes sensores seletivos há também um sensor de silício
com resposta espectral entre 300 – 1100 nm. O anel de sombra possibilita medir a
radiação global e difusa. A componente direta da radiação é encontrada a partir das
componentes obtidas.

Figura 3.7: Fotografia do espectroradiômetro com anel de sombra rotativo desenvolvido no


Laboratório de Energia Solar da UFRGS. Este instrumento possui cinco canais seletivos e um
sensor de silício de banda larga.

Os espectrorradiômetros se destinam à medida espectral da irradiância solar em


uma ampla faixa do espectro. Alguns modelos são capazes de mensurar isoladamente as
componentes global, difusa e direta, sobre uma superfície horizontal ou perpendicular
ao feixe solar, como o modelo RSS produzido pela empresa Yanke Environmental
Systems. Este dispendioso instrumento (preço estimado em US 100.000,00) é
apresentado na Figura 3.8.

3.12
Figura 3.8: Espectrorradiômetro modelo RSS produzido pela empresa YES. Este
espectrorradiômetro possui um anel de sombra rotativo para medida espectral das componentes
global, direta e difusa da irradiância solar.

Os espectrorradiômetros são baseados em módulos monocromadores que


utilizam prismas ou redes de difração. Espectrorradiômetros de grande precisão
tipicamente utilizam um arranjo de prismas e/ou redes de difração associadas a um
conjunto de lentes, especialmente os destinados à medida de irradiância solar em
segmentos onde a emissão solar é tênue, como na região do ultravioleta e infravermelho
distante. Após o feixe solar ser decomposto espectralmente ele é enviado até um
conjunto de sensores que pode ser composto por um elevado número de fotodiodos de
silício. Espectrorradiômetros produzidos antes do avanço da microeletrônica, utilizavam
válvulas fotomultiplicadoras como sensor da radiação solar, apesar da vantagem da sua
elevada sensibilidade (cerca de 1000 vezes superior ao fotodiodo) e maior resposta no
segmento ultravioleta, estas válvulas multiplicadoras apresentavam uma série de
inconvenientes, como necessidade de fonte de alimentação de alta tensão, instabilidade

3.13
espectral, fragilidade, entre outras. Atualmente, espectrorradiômetros empregam um
arranjo com um grande número de fotodiodos, montados sobre o mesmo substrato
semicondutor, assegurando uma excelente estabilidade espectral. A Figura 3.9 mostra a
imagem do espectrorradiômetro portátil SPEC-PAR/NIR da empresa APOGEE. Este
espectrorradiômetro é capaz de caracterizar a irradiância solar entre 350 - 1000 nm com
resolução aproximada de 4 nm usando um arranjo de 2048 pixeis. Observa-se a unidade
detectora com o difusor de teflon que é conectada ao instrumento através de uma fibra
óptica.

Figura 3.9: Fotografia do espectrorradiômetro portátil modelo SPEC-PAR/NIR produzido pela


empresa APOGEE. Este espectrorradiômetro realiza medidas radiométricas entre 350 e 1000
nm.

Devido ao elevado preço e dificuldades apresentadas na sua operação,


principalmente em função do delicado sistema óptico, algumas técnicas buscam
caracterizar o espectro solar a partir de dados obtidos por piranômetros que empregam

3.14
um baixo número de filtros seletivos. A resolução espectral neste caso é dependente do
número de filtros utilizados. A Figura 3.10 mostra um exemplo de medida realizada por
um piranômetro que emprega seis filtros.

Figura 3.10: Distribuição espectral da irradiância solar obtida através de um piranômetro que
emprega seis filtros seletivos.

3.5 Medida da distribuição espacial da radiação solar

Para algumas aplicações não apenas é importante saber a intensidade da radiação


solar e sua distribuição espectral, mas também sua distribuição espacial. Um método de
medir a distribuição espacial da radiação solar é medir a radiação incidente com uma
câmera digitalizadora e depois, por um procedimento numérico, mapear a origem da
radiação no hemisfério celeste. Um importante trabalho realizado na tese de doutorado
de Elton Gimenez Rossini (PROMEC;UFRGS) apresenta um método de determinar a
radiância e a luminância do céu com uma câmera digitalizadora.
A Figura 3.11 apresenta um diagrama da metodologia de medição para o estudo
da distribuição espacial da radiação solar. Um dos possíveis resultados é apresentado na
Figura 3.12, onde aparecem diferentes distribuições relativas da radiação solar difusa
para diferentes coordenadas do hemisfério celeste.

3.15
Figura 3.11 Diagrama da metodologia de medida da radiação solar difusa em relação a direção.

(a)                                              (b)                                                   (c) 

Figura 3.12 Mapas de distribuição de intensidade relativa sob condição de céu encoberto opaco
(a) e de céu limpo (b) e (c)

3.16
3.6 Medida da radiação através de satélites

Satélites geoestacionários continuamente monitoram a atmosfera e a cobertura


de nuvens sobre o nosso planeta com uma resolução de aproximadamente 1 km na
região do visível. Estas informações podem ser utilizadas para gerar mapas de alta
resolução sobre a irradiância na superfície da Terra. Em comparação com medidas
realizadas no solo, irradiâncias derivadas de dados de satélite, os resultados obtidos a
partir de dados de satélites mostram-se mais precisos que interpolações geradas através
de dados medidos por estações distantes além de 25 km.
Os valores de irradiância solar determinados por medidas efetuadas por satélites
são derivados a partir de modelos que empregam os dados recebidos como cobertura de
nuvens, valor de albedo e intensidade de radiação medida em diferentes canais seletivos
do próprio satélite. Outras informações como altitude e turbidez atmosférica também
são empregadas nos modelos.
A precisão e confiabilidade destes modelos estão fortemente associadas à
determinação, a partir de imagens de satélite, do índice de cobertura de nuvens que é o
principal fator de modulação da irradiação solar que incide na superfície do planeta e a
principal fonte de erro nas estimativas obtidas com o uso de modelos de transferência
radiativa.
O coeficiente de cobertura efetiva de nuvens, abreviado por CCI (do termo em
inglês Cloud cover index) em um determinado pixel da imagem, em um dia e horário
específicos, é determinado a partir do valor de radiância visível do pixel medido pelo
satélite (Lr) e dos valores de radiância visível associados às condições de céu claro (Lclr)
e céu encoberto (Lcld) para o mesmo pixel, conforme descrito na Equação 3.2.

Lr − Lclr
CCI = (3.2)
Lcld − Lclr

A determinação dos valores de Lclr e Lcld pode ser realizada a partir da análise
espacial e/ou temporal das imagens obtidas por satélite. As técnicas desenvolvidas
podem ser separadas em dois grupos: i) técnicas que estabelecem valores limiares para a
detecção de nuvens e trabalham pixel a pixel da imagem de um ou mais canais
espectrais do satélite e ii) técnicas que analisam propriedades estatísticas das radiâncias
visível e/ou infravermelha em grupos de píxeis ou segmentos de imagens.

3.17
Uma técnica de valores limiares bastante utilizada adota os valores mínimo e
máximo de radiância visível para determinação de Lclr e Lcld, respectivamente. Como o
albedo de superfície e as propriedades atmosféricas variam no decorrer do ano devido à
geometria Sol/Terra e devido a alterações de propriedades e características da cobertura
do solo, os valores extremos de radiância medidos por satélite devem ser corrigidos ou
sua aplicação deve ser limitada temporalmente. Quando a determinação dos valores
extremos é limitada em um intervalo de tempo específico, os valores de Lclr e Lcld são
válidos apenas para esse período que deve ser definido de forma tal que o albedo de
superfície não apresente uma variação significativa e as diferenças na geometria do
sistema Sol/Terra/Satélite sejam pequenas a fim de que apresente pouca influência na
variabilidade da radiância visível medida pelo satélite.
A adoção de valores extremos de radiância visível para a determinação do
coeficiente de cobertura efetiva de nuvens apresenta alguns inconvenientes. A
dificuldade primária deste método reside no fato de que no intervalo de tempo
necessário para garantir a ocorrência de pelo menos uma situação sem contaminação de
nuvens no pixel da imagem podem ocorrer muitos fenômenos que geram um valor de
radiância menor do que o valor correspondente à condição céu claro. Sombras
produzidas por nuvens (“broken clouds”), movimentos do pixel causados por incerteza
da navegação, variações na estrutura da vegetação devido a variações de umidade são
exemplos de eventos que podem reduzir os valores radiância observados por satélite
para um pixel da imagem. Quanto maior o intervalo de tempo utilizado para a obtenção
do valor mínimo de radiância visível, maior a probabilidade de ocorrência de um dos
eventos de “ruído” atmosférico ou radiométrico, ou seja, o uso de um intervalo de
tempo grande aumenta a sensibilidade do método a eventos raros e adiciona um erro
sistemático na determinação da radiância de céu claro.
Outro fator de grande importância é a ocorrência de nebulosidade por períodos
maiores do que o intervalo de tempo utilizado no método. A ocorrência de
nebulosidade persistente é comum em regiões sob o efeito da zona de convergência
intertropical, por exemplo, nas florestas tropicais como a Floresta Amazônica e na
região do Atlântico Sul.
De modo similar, a falta de ocorrência de nuvens durante o intervalo de tempo
adotado para a determinação do valor de Lclr, também, acarretará imprecisão na
determinação do índice de cobertura de nuvens. Na região semi-árida nordestina
caracterizada pela baixa precipitação anual, a persistência de céu claro ocorre ao longo

3.18
do ano e produz valores irreais de cobertura de nuvens que, quando usados como dado
de entrada em modelos de transferência radiativa, produzem valores subestimados de
irradiação solar na superfície.
O projeto SWERA (INPE/CPTEC e LABSOL-UFSC) elaborou em 2006 um
mapa bastante detalhado apresentando características sobre a distribuição da radiação
solar no território brasileiro a partir de dados de satélites. O modelo utilizado para a
elaboração destes mapas é baseado no método de “Dois-Fluxos” e foi denominado de
BRASIL-SR. O modelo assume que fluxo de radiação solar no topo da atmosfera está
linearmente distribuído entre as duas condições atmosféricas extremas céu claro e céu
encoberto. Este modelo também assume a existência de uma relação linear entre a
irradiância global na superfície e o fluxo de radiação refletida no topo da atmosfera, de
modo que se pode escrever:

Φ g = Φ 0 {(τ clear − τ cloud ).(1 − CCI ) + τ cloud } (3.3)

onde Φg é fluxo de radiação solar incidente na superfície, Φ0 é a radiação incidente no


topo da atmosfera, τclear e τcloud são as transmitâncias atmosféricas. Em resumo, a
radiação solar incidente na superfície é estimada a partir de duas componentes
independentes: a primeira componente corresponde à condição de céu claro, τclear, e a
segunda refere-se à condição de céu encoberto, τcloud. As duas componentes podem ser
estimadas a partir de parametrização dos processos físicos bem conhecidos que ocorrem
na atmosfera utilizando dados climatológicos e a aproximação de Dois-Fluxos para
solução da equação de transferência radiativa. A natureza aleatória do fluxo de radiação
solar em qualquer condição de nebulosidade é incluída no modelo através do coeficiente
de cobertura de nuvens (CCI). Um exemplo de resultado obtido por esta metodologia é
apresentado na Figura 3.13.

3.19
Figura 3.13: Mapa da radiação solar média anual para superfícies inclinadas no território
brasileiro produzido pelo projeto SWERA.

3.20
4. Softwares para análise da Radiação Solar

4.1 Introdução

Os pesquisadores do Laboratório de Energia Solar da UFRGS, tendo em vista a


demanda por métodos de manipulação de dados de radiação solar, tanto para fazer uma
estimativa da irradiação solar distribuída em base horária para diversas orientações de
superfícies, quanto para estimar a probabilidade seqüencial destes dados e estudar
efeitos espectrais, desenvolveram programas computacionais para facilitar os cálculos
necessários para diversas finalidades. Estes programas podem ser obtidos do site do
Laboratório de Energia Solar procurando pelo LINK SOFTWARES e depois
selecionando o download desejado. Os programas estão preparados para operar com
sistema operacional Windows XP e podem não funcionar adequadamente com
computadores operados com Windows Vista. Os programas de interesse neste setor são:
• RADIASOL (versão anterior)
• SEQMETBR
• RADIASOL 2
• ESPECTRO

4.2 Programa RADIASOL

Para fazer o DOWNLOAD do software (Figura 4.1), procure o endereço


www.solar.ufrgs.br escolhendo os links
SOFTWARES,
logo RADIASOL
e Download do programa RADIASOL
ou ainda diretamente por ftp://ftp.solar.ufrgs.br/progs/radiasol.zip

4.1
Figura4.1: Imagem de abertura do programa RADIASOL
O arquivo ZIP deve ser expandido e o programa SETUP vai instalar o
RADIASOL no seu microcomputador. Este programa foi elaborado utilizando dados
gravados em formato MicroSoftACCESS. Em função da configuração do Windows de
seu computador poderá ocorrer algum efeito com o qual o programa não rode
imediatamente, neste caso entrar em contato pelo e_mail arno.krenzinger@ufrgs.br.
Depois de entrar no programa, procure acionar a AJUDA pelo menu (?) indicado
na Figura 4.2. Através do arquivo de AJUDA o procedimento de utilização do programa
fica mais claro.

Figura 4.2: Interface principal do programa RADIASOL, mostrando um gráfico da distribuição


de radiação solar ao longo de um dia típico de abril para Porto Alegre. Indica-se acesso à
AJUDA.

4.2
O programa RADIASOL utiliza dados em média mensal de diversas estações
para convertê-los em dados horários prováveis e com incidência sobre uma superfície
em um plano inclinado de qualquer orientação. O programa permite examinar gráficos
de radiação horária incidente e copiar as planilhas para trabalhar posteriormente com
outros programas. A Figura 4.3 mostra um exemplo de resultado em planilha para dias
típicos de um ano.

Figura 4.3: Dados de irradiação solar horária para dias típicos de cada mês do ano.

Como exemplo, podemos indagar qual é a energia solar que se espera (em
média) receber entre 10h e 12h em uma parede de 4 m² voltada para Leste, em Rio
Grande, no dia 02 de março. Para solucionar abre-se o RADIASOL escolhendo a
estação "Rio Grande", ajusta-se o ângulo de inclinação para 90º, o Desvio Azimutal do
Norte para 90º (ver que indique Leste) e o mês de MARÇO e a data para dia 02/03. O
gráfico de linhas, representando a irradiância ao longo do dia, aparece na Figura 4.4.
Seleciona-se agora a apresentação de TABELA (ícone de planilha) e o resultado é o
mostrado na Figura 4.5. Para visualizar toda a planilha é utilizado o ícone da planilha,
resultando na Figura 4.6. A irradiação indicada no horário da 10:30 corresponde da hora
entre 10h e 11h (306Wh) e a irradiância no horário das 11:30 corresponde à hora entre
11h e 12h (258Wh). O total das duas horas será, portanto: 564Wh/m², que, para 4 m²
corresponde a 2256 Wh ou 8121 kJ.

4.3
Figura 4.4: Exemplo de utilização do RADIASOL: cidade-Rio Grande,
parede vertical voltada para Leste, dia 02/03.

Figura 4.5: Idem ao visto na Figura 4.4, mas com opção de tabela.

4.4
Figura 4.6: Tabela destacada do exemplo.

O programa RADIASOL contém um sistema capaz de sintetizar dados de


radiação solar em seqüências. Para produzir estes dados o programa faz uso de
modernas tecnologias de manipulação de dados estocásticos que propõe seqüências de
dados muito parecidas com seqüências naturais e estão baseadas apenas em dados
médios mensais. Na barra de menu do Radiasol aparece a opção ESTOCÁSTICOS, que
permite gerar e visualizar seqüências diárias e horárias de 10 anos de radiação solar.
Esta opção, no entanto, foi aperfeiçoada para gerar arquivos para programas de
simulação, e os procedimentos melhorados estão inseridos no programa SEQMETBR e
utilizados no programa RADIASOL 2, assim, para utilização de sequencias horárias de
dados recomenda-se a utilização direta do programa RADIASOL 2.

4.3 Programa SEQMETBR

O programa SETMETBR foi desenvolvido para suprir a necessidade de


pesquisadores que necessitam dados seqüenciais. Seu nome é derivado de "sintetizador
de SEQüencias METeorológicas para o BRasil". Este programa usa a mesma técnica do

4.5
programa Radiasol na parte da radiação solar, com exceção de que gera apenas um ano
de dados. Por outro lado, incorpora um sintetizador de dados de temperatura ambiente.
O resultado é gravado em um arquivo, que pode ser manipulado de forma externa por
um usuário com experiência com programação, ou simplesmente ser importado por um
programa de apresentação de gráficos. A interface do programa é vista na Figura 4.7.

Figura 4.7: Interface do programa SEQMETBR

Quando o mouse é arrastado sobre o mapa, os gráficos vão indicando os valores


de temperatura, umidade e radiação. Para visualizar e trabalhar com mais detalhe, clique
sobre um dos pontos vermelhos no mapa do Brasil, selecionando apenas um Estado. No
exemplo da Figura 4.8, o Estado selecionado é o Rio Grande do Sul. Ficam marcados
em amarelo os pontos, correspondentes do Banco de Dados, que contém todos os dados.
Em vermelho aparecem pontos que não estão com todos os dados completos. O usuário
pode então completar estes dados se ele dispõe de uma fonte segura de informação, bem
como inserir novos pontos criando novas estações com todos os dados.

4.6
Figura 4.8: Selecionado o Estado do Rio Grande do Sul.

Para obter dados para um determinado ponto geográfico, marcado pela posição
do mouse, o usuário deve optar por utilizar dados originais de MAPAS ou utilizar uma
interpolação com os dados do Banco de Dados, como é mostrado na Figura 4.9.

Figura 4.9: Selecionado os mapas no programa.

A sintetização de dados de radiação e temperatura, por um ano em seqüências


horárias, é realizada clicando o botão confirmar. Uma opção de gravar os dados em um
arquivo permanente é oferecida, mas não é necessário gravar para prosseguir a
simulação. Também pode aparecer uma mensagem informando que não foi gerado o
arquivo de dados e que procure repetir a operação, isto ocorre quando o desvio dos
valores sintetizado com relação aos reais tem um valor maior que o admissível.
Para inserir uma estação nova no banco de dados do programa SEQMETBR,
primeiro deve-se selecionar o Estado, então posicionar o mouse sobre a área de interesse

4.7
e clicar. A seguir deve-se pressionar o botão Entrada Manual de Dados, com o que
aparecerá uma tela como na Figura 4.10, onde se digita o nome da nova estação e
verifica-se se os dados realmente correspondem ao que se deseja. Observe que os dados
mudam conforme se clica em "capturar pelos mapas" ou "capturar pela
interpolação". Depois de selecionados os dados, clica-se sobre o botão INSERIR, e
uma nova estação será inserida no banco de dados, aparecendo um ponto amarelo
correspondente no mapa.

4.3.1 Capturar pelos mapas

O programa incorpora uma matriz (invisível ao usuário) construída a partir da


extração das informações das cores dos Mapas Climáticos do INMET. A informação da
radiação solar é obtida pela conversão dos dados originais de insolação em radiação por
regressão linear.

Figura 4.10. Tela para realizar a entrada manual de dados meteorológicos.

Há uma versão modificada do programa SEQMETBR embutida no software


RADIASOL2. Os mapas com base em dados de insolação foram substituídos pelos
dados correspondentes aos mapas gerados pelo projeto SWERA (Solar and Wind

4.8
Energy Resource Assessment), que proporcionam valores de irradiação solar global
horizontal em média mensal, calculados a partir de imagens obtidas por satélites.

4.3.2 Capturar pela interpolação

Com a interpolação selecionada, o cálculo dos valores dos dados climáticos é feito
pela média ponderada dos valores que existem nas localidades pertencentes ao banco de
dados. Esta média é feita utilizando apenas as três localidades mais próximas ao ponto
representado pelo mouse e de forma que o peso seja inversamente proporcional à
distância. Cada variável é tratada de forma separada. Assim, os dados de uma variável
climática podem ser o resultado de um conjunto de 3 cidades que não necessariamente
sejam as mesmas consideradas para outro dado. Quando uma nova estação é inserida no
banco de dados, ela passa a integrar o banco com a mesma hierarquia dos dados
existentes anteriormente e, portanto, a ser considerada na interpolação de outros pontos.
Deve-se ainda selecionar o valor do albedo, o ângulo do desvio azimutal e a
inclinação do módulo, para somente depois prosseguir com o cálculo da seqüência
meteorológica. As interfaces da Figura 4.11 mostram aspectos destes ajustes.

Figura 4.11: Ajustes para Desvio Azimutal do Norte, Inclinação e Albedo do Solo.

Finalmente, clicando no botão CONFIRMAR, o processo de cálculo e gravação


de dados inicia. Terminado o processo, a janela ao lado aparece, possibilitando fazer
uma cópia do arquivo. Cada vez que é gerado um arquivo, os resultados são gravados
com o nome DadosClima.met , gravando encima dos dados anteriores, no sub-diretório
DADOS. Por isto é importante produzir uma cópia do arquivo para futura utilização,
como é mostrado na Figura 4.12.

4.9
Figura 4.12: Caixa para confirmar a gravação do arquivo climático.

O arquivo em formato texto tem um cabeçalho de duas linhas e uma seqüência


de dados conforme mostra a Figura 4.13. Os dados são separados por vírgulas, sendo os
3 primeiros o mês, o dia e hora, seguidos da Irradiação Horizontal em Wh, da Irradiação
Inclinada em Wh, do fator modificador devido ao ângulo, do co-seno do ângulo de
incidência da radiação direta, da velocidade de vento em m/s, da temperatura ambiente
em ºC e da temperatura do ambiente onde pode estar o reservatório de água.

"nome = Porto Alegre Azimute = 0 Inclinação = 45 Latitude = -30,02 Longitude = 5122,"


"mes","dia","hora","Rad_Horiz","Rad_Inclin","Modific","Cos(Inc)","Vel_Vento","TempAmb","TempTank"
1,1,0,0,0,0,0,3.2383,20.9316714211246,22.1141110859285
1,1,1,0,0,0,0,4.009146,20.6270008219376,21.961775786335
1,1,2,0,0,0,0,2.070387,20.122150842947,21.7093507968397
1,1,3,0,0,0,0,1.515326,20.8457167018191,22.0711337262758
1,1,4,0,0,0,0,2.044522,20.5476900231307,21.9221203869316
1,1,5,44.77374,35.29185,.5634902,.211162,.6148942,19.9075128489098,21.6020317998211
.........................

Figura 4.13: Dados gravados no arquivo DadosClima.met

O fator modificador devido ao ângulo é um fator de degradação de eficiência


decorrente da perda de eficiência de um coletor solar com o aumento de reflexão dos
vidros com o ângulo de incidência. No caso foi calculado pela relação entre a
transmitância de um vidro com incidência inclinada e com incidência perpendicular. A
velocidade do vento é gerada de forma aleatória, não tem valor técnico ou científico.
Está no programa apenas como reserva técnica para futuros aperfeiçoamentos do
mesmo. A temperatura do ambiente onde pode estar o reservatório da água é calculada,
a cada hora, como a média aritmética entre a temperatura ambiente daquela hora e a
temperatura média do dia. É um valor mais "amortecido" do que a temperatura
ambiente.

4.10
Como exemplo de resultados obtidos, o gráfico da Figura 4.14 mostra a
irradiação solar horária e a temperatura ambiente reproduzida por um programa gráfico,
entre os pontos 4000 e 4200 de uma seqüência de um ano (8760 pontos).

50 1000

40 800

IRRADIÂNCIA (W/m²)
)

30 600
(
p

20 400

10 200

0 0

4000 4040 4080 4120 4160 4200

Figura 4.14: Exemplo de resultado do programa SEQMETBR, 200 pontos em seqüência de


um total de 8760 pontos gerados.

4.4. Programa RADIASOL 2

Atendendo à demanda por um programa que utilizasse uma interface de mapa


para chegar ao local de onde se necessitasse estudar a radiação solar, foi preparado um
programa misturando um pouco do SEQMETBR com o programa RADIASOL. O
programa chamado RADIASOL2 pretende substituir o programa RADIASOL
realizando tarefas similares, mas a partir dos dados sintetizados pelo mecanismo do
SEQMETBR.
O programa RADIASOL2 permite ao usuário selecionar o local e o método de
obtenção dos dados climáticos médios. Há três opções: digitar dados obtidos de uma
fonte confiável, obter dados por interpolação dos dados do banco de dados embutido no
programa e obter dados a partir dos mapas disponibilizados pelo projeto SWERA.

4.11
Como explicado no texto de “ajuda” do software, o RADIASOL 2 (assim como
o Radiasol e o SEQMETBR) não é um programa fonte de dados meteorológicos ou
climáticos, apenas ajuda a lidar com dados que o próprio usuário deve inserir no
programa. Apenas para facilitar a utilização enquanto o usuário ainda não dispõe dos
dados mais específicos, o programa disponibiliza dados em média mensal para permitir
a sintetização das sequências.
Para mostrar os dados de irradiação em média mensal sobre um plano inclinado,
diferentemente do programa Radiasol (versão anterior), o RADIASOL 2 faz a média
dos dados estocásticos obtidos de forma horária, mantendo coerência entre os dados
seqüenciais e os dados médios, mas permitindo certas assimetrias na distribuição
horária média ao longo do dia.
Os dados horários são sintetizados ao longo de um ano, tentando fazendo com
que a média de irradiação para cada mês seja parecida com a média mensal utilizada
para alimentar o programa. Desta forma os dados devem ser encarados como dados
típicos, e não extremos. Isto porque os dados médios inseridos para dar início à
sintetização em geral correspondem à uma média de vários anos e não uma média
mensal referida a apenas um ano.
A Figura 4.15 mostra a interface da seleção do estado do Brasil para iniciar o
programa RADIASOL 2. Arrastando o mouse pelo mapa do Brasil é possível ver uma
estimativa das diferenças climáticas. Clicando em um círculo vermelho se seleciona um
estado.
A Figura 4.16 mostra a interface com o estado da Bahia selecionado.
Exatamente como no programa SEQMETBR, os pontos representam localidades que
constam do Banco de Dados, podendo-se inserir novas localidades, ou editar os dados a
qualquer momento. Selecionando a cidade de Salvador e clicando em CONFIRMAR,
são gerados os dados seqüenciais e apresentados em gráfico em função do tempo,
conforme exibe a Figura 4.17. Este gráfico pode ser examinado com facilidades de
diversas modalidades de ZOOM e deslocamento vertical e horizontal. Também é
possível alternar entre dados de radiação solar e temperatura ambiente.
Na parte inferior da imagem apresentada na Figura 4.17 aparecem opções de
continuidade do programa. Uma delas é a opção de gráficos de barras, que permite realizar
médias mensais diárias e horárias. Ao selecionar esta opção, uma janela como a que aparece na
Figura 4.18 é exibida.

4.12
Figura 4.15 Interface da seleção do estado do Brasil no programa RADIASOL 2.

Figura 4.16 Interface de seleção da localidade e orientação.

4.13
No caso da Figura 4. 18 são apresentados dados diários em média mensal para cada mês
do ano, mas selecionando um determinado mês se visualizam os dados de cada componente
organizados (Figura 4.19) como média horária ao longo de um dia.

Figura 4. 17 Gráfico seqüencial de dados de irradiação horária.

Figura 4.18 Gráfico da irradiação diária em média mensal.

4.14
Figura 4.19 Gráfico da irradiação horária em média mensal.

Os dados exportados podem ser utilizados pelo usuário em outros programas ou planilhas de
cálculo comerciais, já que são gravados em formato acessível como dados separados por
vírgula.

4.5. Programa ESPECTRO

O programa ESPECTRO - Espectro Solar foi concebido como parte do pacote


SOLARCAD, é um software onde são gerados os espectros solares da radiação direta e
difusa sobre um plano horizontal, a partir de dados atmosféricos informados pelo
usuário. Informando dados como temperatura, umidade relativa, bem como a
localização a data e o horário, obtém-se o espectro solar incidente, o programa também
calcula a integral sobre esta curva, informando a radiação total incidente em W/m2. O
usuário pode entrar com uma função de transmitância ou refletância via tabela ou
mouse, jogar o espectro solar contra elas e obter o espectro refletido ou transmitido,
assim como a radiação total transmitida ou refletida. Junto com o software são

4.15
instaladas algumas informações com as tabelas de transmitância e refletância de alguns
materiais.
O programa ESPECTRO foi elaborado no Laboratório de Energia Solar da
UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul .
A Tabela 4.1 mostra a lista de parâmetros solicitados pelo programa, sendo que
os ângulos Azimutal e Zenital são calculados pelo programa a partir dos dados de tempo
(data e hora) e da latitude. Como alguns destes parâmetros podem ser de difícil
obtenção, o programa sugere valores típicos para começar a trabalhar. A Figura 4.20
mostra a interface gráfica onde os parâmetros são ajustados e o gráfico do espectro solar
é apresentado.
Tabela 4.1 Parâmetros necessários para o programa Espectro Solar
Altura da camada de ozônio Albedo de Superfície
Coeficiente de Aerossóis Albedo de Espalhamento
Temperatura Ambiente Ângulo Azimutal
Umidade Relativa Ângulo Zenital
Hemisfério (Norte ou Sul) Mês
Visibilidade Dia
Altitude Local Hora
Latitude Minuto

Figura 4.20 Janela principal do programa Espectro Solar.

4.16
O programa ESPECTRO funciona da seguinte maneira: dados determinados parâmetros
atmosféricos, é possível estimar o grau de absorção da atmosfera para determinados
comprimentos de onda. O programa parte de um espectro típico da radiação solar direta fora da
atmosfera e calcula a absorção e a dispersão da luz, gerando espectros resultantes separados em
radiação difusa e radiação direta. A integral destes espectros produz um valor estimativo de
radiação difusa e direta que, somados, dão a radiação global. O programa apresenta de forma
gráfica os espectros das componentes difusa e direta e sua soma no gráfico da distribuição
espectral de radiação global. Mostra também a distribuição espectral da radiação extraterrestre
normal e horizontal. A interface de opções de qual gráfico será representado aparece na Figura
4.21, sendo (a) para seleção com “check list” e (b) para opção na barra de ferramentas.

(a) (b)
Figura 4.21 Opções de escolha do espectro a ser representado.

Para facilitar a utilização destes dados em interação com diferentes materiais, o


programa permite que se entre com dados de refletividade ou transmissividade espectral
de qualquer material e produz, numericamente, um espectro da radiação solar refletida
ou transmitida por estes materiais, bem como sua integral. Assim é possível estudar os
efeitos que determinados materiais podem produzir em componentes de sistemas de
conversão da energia solar. Operações entre as funções geradas permitem ampliar os
resultados possíveis (ver Figura 4.22)

4.17
Figura 4.22 Operações entre funções permitem calcular efeito de mais de um material refletindo
ou transmitindo a radiação solar.

4.18
5. Tópicos de Transferência de Calor
5.1 RADIAÇÃO TÉRMICA

Radiação eletromagnética é continuamente emitida por todas as substâncias em


razão da agitação atômica e molecular combinada com a sua energia interna. No
equilíbrio, a energia interna é proporcional a temperatura do material.
Radiação térmica pode ser definida como a energia eletromagnética radiante
emitida por um meio ou superfície em virtude da sua temperatura, sempre que esta
estiver acima de 0 K.
A energia radiante emitida por um corpo pode ser transferida à superfície de
outro corpo distante, sem requerer um meio entre estes. O fluxo radiante depende da
forma, do tamanho, e principalmente da temperatura do corpo. A energia radiante
incidente sobre uma superfície poderá ser absorvida, refletida, transmitida ou espalhada
em várias direções.
Todos os materiais continuamente emitem e absorvem ondas eletromagnéticas,
ou fótons, respectivamente diminuindo ou aumentando seus níveis de energia.
Para gases e sólidos semitransparentes a emissão é um fenômeno volumétrico,
isto é, a radiação proveniente de um volume finito de matéria é o efeito integrado da
emissão local através do volume.
Na maioria dos sólidos e líquidos, a radiação emitida por átomos internos é
fortemente absorvida pelos átomos adjacentes. Assim sendo, a radiação emitida por um
sólido ou por um líquido se originam de átomos que se encontram a uma distância não
superior a 1 μm da superfície exposta. É por esta razão que a emissão de um sólido ou
líquido no interior de um gás ou vácuo é visto como um fenômeno de superfície.
Existe grande dificuldade em especificar valores exatos para propriedades
radiantes. Para materiais sólidos as propriedades dependem de muitas variáveis, como
rugosidade superficial, grau de polimento, pureza do material, espessura de
revestimento, temperatura, comprimento de onda da radiação, ângulo ao qual o fluxo
deixa a superfície. Para misturas gasosas, as propriedades dependem do comprimento de
onda de maneira muito irregular, e são funções da pressão, da temperatura e da
composição da mistura gasosa.

5.1
5.1.11 Espectro de radiaçãão eletromaagnética

Uma teooria descrevee a radiaçãoo como a prropagação de


d um conjuunto de partíículas
denoominadas fóótons ou quaanta. Alternnativamentee pode ser vista
v como a propagação de
ondaas eletromaggnéticas. Em
m qualquer caso, se atriibui a radiação térmicaa as propried
dades
ν” e compriimento de onda
padrõões das onddas, como frreqüência “ν o “λ”. Paara a propag
gação
da raadiação em um
u meio paarticular, esttas propried
dades são reelacionadas por

λ=c/ν (5.1)

pagação no vácuo c = c0 = 2,998 x 108


ondee c é a veloccidade da luuz no meioo (para prop
m/s)..
Existem muitos tipoos de radiação eletrom
magnética, a radiação ttérmica é ap
penas
uma delas. O espectro eletromagné
e ético pode ser visto na
n Figura 5.1. A região
r
interm
mediária doo espectro é denominaada radiaçãão térmica, e vai aproxximadamen
nte de
compprimento dee onda 0,1 μm
μ a 100 μm,
μ inclui uma
u parcelaa do ultraviooleta (UV), faixa
da raadiação visívvel (de 0,4 a 0,7 μm), e infravermelha (IV).

Figuraa 5.1. Especctro da radiaação eletrom


magnética (IIncropera, D
DeWitt, 200
03).

5.2
5.1.2 Intensidade de radiação

A radiação emitida em todas as direções é definida em termos de intensidade. A


intensidade de radiação “ I ” é definida como a energia emitida por unidade de área, por
unidade de tempo, para um ângulo sólido unitário, por unidade de área da superfície
emissora projetada normal a direção θ.
Para ilustrar o conceito de intensidade, seja “dq/dAr” a taxa de energia radiante,
por unidade de tempo, e por unidade de área superficial, que passa dentro do ângulo
sólido diferencial representado por “dω”, inclinado um ângulo θ em relação a normal da
superfície emissora (Kreith, 1977). A intensidade é então dada por

d 2q
I = (5.2)
dAn dw cos θ

onde o ângulo sólido diferencial “dω” é definido como a razão entre o elemento de área
dAn na esfera e o quadrado do raio da esfera . Assim sendo,

d An r dθ r sen θ dφ
dω ≡ =
r2 r2 ( 5.3)

Substituindo e integrando no hemisfério tem-se

2π π /2
(q/A) r = ∫ ∫ I (θ , φ ) cosθ sen θ dθ dφ (5.4)
0 0

A intensidade pode ser classificada como a intensidade espectral “Iλ” que se


refere a radiação em um intervalo dλ ao redor de um único comprimento de onda λ, ou
a intensidade total “I” que se refere a radiação combinando todos os comprimentos de
onda.


I =∫ Iλ ( λ )dλ (5.5)
λ =0

5.3
Figura 5.2 - Ângulo sóólido subenntendido porr dAn em um
m ponto dA
A1 em um sisstema de
cooordenadas esféricas (Incropera, DeeWitt, 2003)

5.1.33 Radiaçãão do corpoo negro

O corpoo negro é definido


d coomo uma superfície iddeal que teem propried
dades
fundamentais quue o tornam
m um padrãoo de compaaração para os corpos radiantes reaais. O
corpoo negro é um
ma superfíccie ideal quee tem as seg
guintes proppriedades:
• P
Para uma teemperatura e comprim
mento de onda
o dados,, nenhuma superfície pode
e
emitir mais energia
e do que
q um corppo negro;
• E
Embora a raadiação emittida por um
m corpo negrro seja função do compprimento de onda
e da temperaatura, ela é independennte da direçção. Isto é, o corpo neggro é um em
missor
d
difuso perfeiito;
• É o melhorr emissor e melhor abbsorvedor de energia radiante, iindependente do
c
comprimento de onda e da direção, logo su
uas proprieddades radiaantes possu
uem o
v
valor mo, isto é, abbsortividadee α = 1, emissividade ε = 1.
máxim
• A intensidadde total radiiante (para todos
t os com
mprimentoss de onda) e poder emiissivo
d um corpoo negro em um meio com
de c índice de refraçãoo “n” são relacionadoss pela
leei de Stefann- Boltzmannn.

π I b = Eb = nσ T 4 (5.6)

5.4
5.1.3.1 Distribuição de Planck

A partir da estatística quântica, Planck, 1901 (apud Siegel, 2002) obteve que o
poder emissivo espectral do corpo negro “ Eλ,b” tem a seguinte forma

2πC1
E λ , b ( λ , T ) = π Iλ , b ( λ , T ) = (5.7)
C2
λ5 [exp( ) − 1]
λT

onde as contantes C1 = h.c02 = 0,59552137 x 108 W. μm4/(m2.sr), C2 = h.c0/k =


14,387752 μm.K, a constante de Planck h = 6,62606876 x10-34 J.s, a constante de
Boltzmann k = 1,3806503 x 10-23 J/K, a velocidade da luz no vácuo c0 = 2,998 x 108
m/s, T é a temperatura absoluta em K.
A Figura 5.3 apresenta o resultado gráfico da eq. 5.7, em escala logarítmica.

99873876

λ=0,4 a 0,7 μm

Figura 5.3. Poder emissivo espectral do corpo negro (adaptado de Incropera, DeWitt, 2003)

5.5
5.1.3.2 Lei do deslocamento de Wien

Da Figura 5.3 vê-se que a distribuição espectral do corpo negro tem um máximo,
e que comprimento de onda correspondente λmax depende da temperatura. A natureza
dessa dependência pode ser obtida pela diferenciação da eq. 5.8 em relação a λ
igualando a zero, resultando
d Eλ , b ( λ , T )
=0
dλ ( 5.8)

Desta forma, obtém-se


λmax T = C3 (5.9)

onde a terceira constante da radiação é C3 = 2897,7686 μm.K.


A eq. 5.9 é conhecida como a lei do deslocamento de Wien, e as posições dos
pontos descritos são representadas graficamente por linha pontilhada na Figura 5.3.

5.1.4 Lei de Stefan-Boltzmann

A lei de Stefan-Boltzmann mostra que o fluxo de potência emissiva total


hemisférica do corpo negro radiando no vácuo é dado por

∞ ∞
Eb = π I b = ∫ Eλ , b( λ )dλ = π ∫ Iλ , b( λ )dλ = σ T 4 (5.10)
0 0

onde a constante de Stefan-Boltzmann σ = 5,6704 x 10-8 W/(m2.K4). O poder emissivo


total Eb(T) é área sob a curva de temperatura T, na Figura 5.3. A eq. 5.10 permite
calcular a radiação total emitida em todas as direções e sobre todos os comprimentos de
onda a partir do conhecimento apenas da temperatura do corpo negro. Por esta emissão
ser difusa, a intensidade de radiação total associada à emissão do corpo negro é

Eb
Ib = (5.11)
π

5.6
5.1.5 Simulação experimental de um corpo negro

Quando são feitas medidas experimentais de propriedades radiativas de


materiais, é desejável ter uma fonte corpo negro de referência. Como um corpo negro
não existe na natureza, são utilizadas técnicas especiais para aproximar estas superfícies
reais a superfícies negras.
Por definição a emissividade do corpo negro é igual a 1. Um exemplo simples de
simulação de um corpo negro artificial é pintar uma superfície com tinta preta fosca
com alta emissividade (emissividade hemisférica total da ordem de 0,95). Outro
exemplo de corpo negro artificial pode ser visto na Figura 5.4., que mostra um cilindro
de metal (cobre), isolado termicamente, que tem uma cavidade cônica com revestimento
interno de alta absorção, com uma pequena abertura. A cavidade considera paredes
perfeitamente isotérmicas, perfeitamente isoladas, e que a abertura é infinitesimalmente
pequena que não causam distúrbio no equilíbrio radiante da cavidade. Bedford, 1988
apresenta boa discussão sobre vários projetos de cavidades.

isolamento superfície polida

aquecedor
sensor de
temperatura
radiação
refletida

cavidade cilíndrica de
cobre com superfície
interna altamente
absorvente radiação
incidente
área
negra

Figura 5.4. Cavidade usada para produzir uma superfície corpo negro.

Em aplicações onde é desejável aumentar a emissividade de alguma superfície


(buscando assim aproximar a emissividade à do corpo negro) pode-se utilizar o efeito

5.7
cavidade, que produz uma emissividade aparente (efetiva) maior que a emissividade da
superfície.

5.1.6 Representação Normalizada

Como sempre é difícil apresentar as curvas da energia emitida por um corpo negro
em escala linear, se utilizam escalas logarítmicas (como na Fig.5.3) mas estas
representações não mostram com clareza a separação das bandas de emissão em função
da temperatura. Uma representação para evidenciar esta separação é obtida dividindo
cada ponto da distribuição espectral da radiação emitida pelo seu correspondente valor
máxiom, o que gera gráficos como os exibidos na Figura 5.5 (extraída de Duffie &
Beckman). Esta representação é chamada de Distribuição Espectral Normalizada e
mostra, entre outras coisas, que a banda espectral da radiação emitida por um corpo
negro a T=600K (como o Sol) é totalmente diferente da banda espectral da radiação de
um corpo negro a T=400K.

Figura 5.5 Distribuição Espectral Normalizada do Corpo Negro em diferentes


temperaturas.

5.1.7 Tabela de Frações da Energia Radiante

Em muitas aplicações é muito útil utilizar a tabela 5.1 (extraída de Duffie &
Beckman). Esta tabela mostra a fração da energia de corpo negro emitida entre 0 e λT,
que equivale a calcular a integral da equação (5.7) entre 0 e λ a uma dada temperatura
T e depois dividir pela integral (a mesma T) entre 0 e ∞. Com esta tabela é possível
resolver rapidamente alguns problemas que envolvem frações de radiação emitidas por
corpos negros em diferentes temperaturas.

5.8
Tabela 5.1 Fração da energia radiante emitida por um corpo negro entre dois
comprimentos de onda. (Duffie e Beckman, 2001)

5.9
5.1.8 Troca radiante entre superfícies cinzas

Quando duas ou mais superfícies trocam energia radiante é necessário estudar


o relacionamento geométrico entre elas além de conhecer as propriedades radiantes (ver
Capítulo 6). Na hipótese de que as superfícies tenham um comportamento similar ao
corpo negro, mas com menor emissividade, certos fluxos de radiação podem ser
estabelecidos para cálculos específicos.
O fator de visão F12 é, por definição, a fração da energia radiante que sai da
superfície 1 e que atinge a superfície 2. Os valores dos fatores de visão entre cada par de
superfícies envolvidas em um problema de troca radiante é fundamental para sua
solução.
Define-se como superfície cinza (ver Capítulo 6) uma superfície com
propriedades invariáveis com o comprimento de onda e direção, e com uma
emissividade menor do que 1 (valor da emissividade do corpo negro).
O fluxo de energia radiante recebido pela superfície 1, com emissividade ε1 e
emitido pela superfície 2, com emissividade ε2 é dado pela Eq. (5.12). O sinal negativo
em Q2 indica que a potência recebida por 1 é perdida por 2.

Q1 = −Q2 =
(
σ T2 4 − T1 4 ) (5.12)
1 − ε1 1 (1 − ε 2 )
+ +
ε 1 A1 A1 F12 ε 2 A2
As geometrias específicas correspondem a
(a) duas placas planas com a separação muito menor que as dimensões das
mesmas, o que faz com que toda a radiação emitida por uma das superfícies
atinja a outra, e vice-versa, por conseqüência o fator de visão F12 é unitário e
A1 = A2 Este é o caso da transferência de calor entre uma placa plana
absorvedora e um cobertura plana, Eq. (5.13)

Q1 =
(
Aσ T2 − T1
4 4
) (5.13)
1 1
+ −1
ε1 ε2

(b) uma placa imersa em um hemisfério muito maior do que as dimensões da


placa, quando toda a energia que é emitida pela placa chega ao hemisfério. O
Fator de visão F12 também é unitário e A1<<A2, esta situação se aplica a um
coletor exposto ao céu (hemisfério celeste), Eq. (5.14)
(
Q1 = ε 1 A1σ T2 − T1
4 4
) (5.14)

5.10
Para problemas genéricos, quando é necessário somar os coeficientes de
transferência de calor, calcula-se o coeficiente de transferência de calor por radiação a
partir da equação (5.12) de forma que Q1 = A1hr(T2-T1) resultando em:

hr =
( )
σ T2 2 + T1 2 (T2 − T1 )
( 5.15)
1 − ε1 1 (1 − ε 2 ) A1
+ +
ε1 F12 ε 2 A2
Quando T1 e T2 têm valores parecidos o numerador da eq. (5.15) pode ser aproximado
para (5.16), onde a temperatura ao cubo é o valor médio das duas temperaturas (em K).

( )
_
4 σ T 3 = σ T22 + T12 (T2 + T1 ) (5.16)

5.1.9 Câmera termográfica

A equação (5.10) mostra que um corpo negro emite um fluxo radiante Eb = σT4.
Se um corpo qualquer tem emitância ε então sua superfície emitirá um fluxo radiante
εσT4. Por outro lado, o corpo estando em um entorno onde a temperatura é TS irá
receber também energia emitida pelos objetos do entorno e deverá refletir (1-ε) desta
energia. A soma da energia emitida com a energia refletida irá formar a radiosidade do
corpo (total de fluxo radiante que deixa o corpo). Os sensores de radiação de qualquer
radiômetro não distinguem se a radiação emanada do corpo é devida à reflexão ou à
radiação emitida por ele. Desta forma, o que é medido é a radiosidade do corpo que se
está analisando.
A Figura 5.6 mostra a transmitância espectral da atmosfera, através de uma
camada de 2 km de ar, ao nível do mar. Nota-se que existem janelas de transmitância
elevada, como entre 2 μm e 2,5 μm , entre 3 μm e 4 μm e entre 8 μm e 13 μm que são
transparentes na atmosfera.
A Figura 5.7 (a) mostra a curva PE potência emissiva espectral em 4
temperaturas entre 0 e 40 µm e a figura (b) mostra as mesmas curvas depois de
atravessar 300 metros de ar, agora detalhando entre 2 µm e 15 µm.

5.11
Comprrimento de onda em
e (µm)

Fiigura 5.6-Trransmitânciia espectral de uma cam


mada de 2 km
k de ar, ao nível do mar,
m
com 17 mm
m de água precipitável.
p .

Figgura 5.7 - Cuurvas de potêência emissivva espectral: (a) para o coorpo negro a 4 temperatu
uras
entrre 0 e 40 mm
m e (b) para as
a mesmas suuperfícies, en
ntre 2 mm e 15 mm, depoois de atraveessar
uma camada de 300 metros
m de ar.

Do que foi expoosto, pode-se deduzirr que é bastante


b viáável determ
minar
tempperaturas daas superfíciees de sólidoos medindo
o o fluxo dee radiação eemitido na faixa
especctral entre 7 mm e 14 mm
m (também
m na faixa de
d 3,5 mm a 5 mm), m
mesmo a um
ma boa
distâância do objeto emissorr. Para realizar tal tareffa é necessáário um radiiômetro cap
paz de
atuarr como senssor nesta reegião do innfravermelho
o. Há várioos equipameentos comeerciais
que normalmen
n nte utilizam um sensorr de radiaçãão com ressposta especctral muito mais
amplla, mas lim
mitam a raddiação inciddente na faiixa espectraal citada attravés de fiiltros.
Estess radiômetrros são chaamados "terrmômetro sem
s contatoo" e medem
m a temperratura
atravvés da méddia da radiaação infraveermelha cap
ptada dentrro de seu ccampo de visão.
v

5.12
Quando se toma uma certa distância do objeto que está sendo estudado é difícil
precisar sua focalização em um termômetro sem contato. Além disto, muitas vezes
vários objetos e em várias temperaturas fazem parte do campo visual e a determinação
detalhada deste "campo de temperaturas" pode ser necessária para o estudo. Neste caso
o equipamento indicado é uma câmera termográfica, que registra uma imagem de todo o
campo de visão, onde o brilho é proporcional à radiosidade de cada objeto (ou segmento
de objeto) presente na cena.
O plano focal da câmera termográfica é formado por um arranjo de um grande
número de sensores de radiação, que detectam de forma diferencial a irradiância
incidente neste plano. Esta irradiância, por sua vez, constitui uma imagem que reproduz
o campo de radiação infravermelha emergente dos objetos presentes no campo de visão
do equipamento. A imagem é projetada através de lentes transparentes à radiação
infravermelha na banda de interesse (o uso do germânio é comum na fabricação destas
lentes) de forma totalmente análoga aos sistemas óticos utilizados em câmeras
fotográficas. De fato, uma câmera termográfica é muito similar a uma câmera
fotográfica digital, onde os materiais das lentes são diferentes e os arranjos de sensores
de luz são substituídos por arranjos de sensores térmicos. A Figura 5.8 (a) mostra um
diagrama da captura de imagem, onde uma imagem térmica no plano focalizado é
projetada para uma imagem térmica no plano do sensor através das lentes e onde
aparece também a interferência de um objeto quente sendo refletido pelo objeto
focalizado e registrando sua presença na imagem capturada. A Figura 5.8 (b) mostra
uma imagem obtida por um microscópio eletrônico de varredura do sensor
termográfico.

Figura 5.8 (a) Diagrama mostrando a projeção de uma imagem térmica sobre o sensor de uma
câmera termográfica, sendo que a imagem é formada pela emissão do objeto focalizado e pela

5.13
reflexão de um objeto quente externo. (b) Microfotografia MEV de um arranjo de sensores do
tipo micro-bolômetro para câmera termográfica em dois aumentos 500 vezes
A Figura 5.9 mostra exemplos de imagens termográficas.. A Figura 5.9 (a)
mostra como se pode fazer uma análise de transferência de calor através de janelas. A
termografia identifica com precisão a temperatura das superfícies de vidro e permite
medir a radiosidade dos mesmos. Analisando a temperatura interna e externa das
lâminas de vidro, pode-se estimar o fluxo de calor por condução desde que se conheça a
espessura das mesmas. Pela área também é possível estimar o efeito total de radiação
proporcionado pelas janelas e medir o efeito do aquecimento solar no piso e outros
objetos do interior da construção.

Figura 5.9 (a) Interior de residência mostrando temperaturas altas nas superfícies de vidro da
janela irregular (b) telhado de residência durante a noite (c) parte de cidade durante o dia e (d)
torneira com água quente.

A Figura 5.9(b) mostra uma termografia das telhas em um telhado de uma


residência no período noturno. Observa-se que o topo das telhas apresenta temperatura
de 2°C a 4°C mais baixa que o resto do corpo das telhas, efeito esperado pelos fatores
de visão de troca radiante entre uma telha e o céu e entre telhas adjacentes. Através da
análise da temperatura das telhas, conhecendo condições ambientais, como temperatura
ambiente e velocidade do vento, é possível estimar o fluxo de calor transferido através
dos telhados e a qualidade do isolamento das coberturas das edificações. A imagem

5.14
termográfica apresentada na Figura 5.9(c) mostra a capacidade de medir à distância,
com parte de uma cidade sendo registrada em período diurno, no final de uma tarde.
Observa-se que algumas regiões se sobressaem por aquecimento devido à incidência da
radiação solar. Finalmente a imagem apresentada na Figura 5(d) mostra a água quente
escorrendo de uma torneira. A água tem emissividade alta e permite uma medida bem
precisa de sua temperatura por termografia.

5.2 CONVECÇÃO
5.2.1 Convecção natural entre placas paralelas.

A transferência de calor por convecção é calculada usualmente por correlações


entre parâmetros adimensionais, destacando-se:

Número de Nusselt Nu = hL/k

Número de Rayleigh Ra = gβΔT L3/ να

Número de Prandtl Pr = ν/α

onde :
h é o coeficiente de transferência de calor por convecção, [W/m2 K]
L é o espaçamento entre placas, [m]
k é a condutividade térmica do fluido, [W/m.K]
g é a constante gravitacional, [m/s2]
β é o coeficiente de expansão volumétrica, [K-1] para um gás ideal β = 1/T
ΔT é a diferença de temperatura entre as placas, [ºC ou K]
ν é a viscosidade cinemática, dada por ν = µ/ρ , [m2/s]
α é a difusividade térmica, dada por α = k / ρCp , [m2/s]
ρ é a massa específica, [kg/m3]
Cp é o calor específico a pressão constante, [kJ/kg K]
µ é a viscosidade do fluido, [kg/s . m]

A importância da convecção entre placas paralelas inclinadas um certo ângulo é


obviamente importante para a determinação do desempenho dos coletores solares de
placa plana. Hollands et al. (1976) obtiveram uma expressão empírica para o número de

5.15
Nusselt para placas planas paralelas com ângulos de inclinação entre 0 e 75°,
representada pela equação 5.17.

. /
1708 sin 1.8 1708 cos
1 1.44 1 1 1 (5.17)
cos cos 5830

onde o expoente + significa que somente valores positivos dos termos entre colchetes
deverão ser utilizados, utilizando-se zero se o termo é negativo. A equação 5.17 está
representada graficamente na Figura 5.10

Figura 5.10 – Número de Nusselt como função do número de Rayleigh para convecção livre
entre placas planas paralelas em diversas inclinações (Duffie e Beckman, 1991)

Juntamente com o número do Nusselt, que pode ser determinado diretamente no


eixo da esquerda da Figura 5.10, há uma segunda escala no eixo das ordenadas que
fornece o valor do coeficiente de transferência de calor por convecção multiplicado pelo
espaçamento entre as placas para uma temperatura média de 10 °C. A escala deste eixo
não é adimensional, mas em unidades W mm/m2. Para outras temperaturas diferentes de
10 °C, um fator F2 é representado na Figura 5.11 como função da temperatura. Este
fator é a razão da condutividade térmica do ar a 10ºC e outras temperaturas. Desta

5.16
maneira, para encontrar o valor hl (note que l neste caso está expresso em milímetros)
em qualquer outra temperatura diferente de 10 ºC, é necessário dividir F2 hl lido do
gráfico por F2 na temperatura apropriada.
A abscissa também possui outra escala, F1 ΔT l3. Para encontrar ΔT l3 a
temperaturas diferentes de 10 ºC, basta dividir F1 ΔT l3 por F1, obtido da Figura 5.11. F1
é a razão de 1/Tνα na temperatura desejada e 1/Tνα a 10 ºC.

Figura 5.11 – Correções das propriedades do ar F1 e F2 para utilizar com a


Figura 5.10. (Duffie e Beckman, 1991)

A correlação dada pela equação 5.17 não abrange a faixa para inclinações das
placas entre 75 e 90 º. Raithby et al. (1977) analisaram dados de uma ampla gama de
experimentos de convecção em superfícies verticais e propuseram uma correlação que
inclui a influência da razão de aspecto (A), isto é, a razão da altura da placa pelo
espaçamento entre elas. Esta correlação está representada na Figura 5.12, para razões de
aspecto de 5, 60 e ∞. A fim de comparação, outras correlações apresentadas no gráfico
não incluem a influência da razão de aspecto.

5.17
Figura 5.12 – Número de Nusselt como função do número de Rayleigh para
convecção livre entre placas planas verticais (Duffie e Beckman, 1991)

5.2.2 Relações de transferência de calor por convecção para escoamento interno

Para o estudo da transferência de calor por convecção em dutos é fundamental


definir-se o parâmetro adimensional denominado Número de Reynolds, Re.

Número de Reynolds Re = VDh/ν


onde:
V é a velocidade de escoamento do fluido
Dh é o diâmetro hidráulico da tubulação
ν é a viscosidade cinemática

Utilizando a definição de viscosidade cinemática ν = µ/ρ, o número de Reynolds


também pode ser expresso por Re = ρ V Dh/µ
onde:
ρ: massa específica do fluido
µ: viscosidade do fluido
O número de Nusselt para escoamento turbulento em dutos (Re > 2200),
totalmente desenvolvido é dado pela correlação de Petukhov e Popov, expressa pela
equação 5.18.

5.18
/8
/
(5.18)
1.07 12.7 /8 1

onde o fator de atrito, f, para tubos lisos é dado por:

0.79 ln 1.64 (5.19)

Para tubos não circulares, para o cálculo de Re é utilizado o diâmetro hidráulico Dh


definido como:

4 Á
(5.20)
í

Para tubos curtos, com a razão L/D maior que 1.0, e entrada abrupta, McAdams
recomenda o cálculo do número de Nusselt com a equação 5.21.

.
1 (5.21)

Para escoamento laminar em tubos, a condição de contorno térmica é


importante. Com os perfis hidrodinâmico e térmico do escoamento totalmente
desenvolvidos, o número de Nusselt é 3.7 para temperatura da parede constante e 4.4
para fluxo de calor constante. Em um coletor solar, a condição térmica é
aproximadamente representada por uma resistência constante entre o fluido escoando e
a temperatura ambiente constante. Se esta resistência é alta, a condição de contorno
térmica aproxima-se a de fluxo de calor constante e se a resistência é pequena, a
condição de contorno térmica aproxima-se a de temperatura constante. Uma vez que a
consideração de temperatura constante resulta em um menor número de Nusselt e
consequentemente um menor coeficiente de transferência de calor, ela é recomendada
tendo em vista estimativas de projeto conservadoras. A Figura 5.13 apresenta um
gráfico para estimar o número de Nusselt para escoamento laminar em tubos circulares
com temperatura da parede constante.

5.19
Figura 5.13 – Numero de Nusselt médio para escoamento laminar em dutos
para variados números de Prandtl [DUFFIE e BECKMAN, 1991]

5.2.3 Efeito do Vento

Em 1954, Mc Adam [DUFFIE e BECKMAN, 1991], determinou o coeficiente


de transferência de calor por convecção na superfície da placa pela seguinte equação :

hw = 5,7 + 3,8Vw ( 5.22 )


onde :

[
hw é o coeficiente de transferência de calor por convecção W / m 2 0 C ]
Vw, velocidade do vento [ m/s].

Em 1977 Watmuff [DUFFIE e BECKMAN, 1991],considerou a possibilidade


da existência do efeito da radiação na equação (5.22 ) e corrigiu a equação para:

hw = 2,8 + 3,0Vw ( 5.23 )

A equação (5.23) é uma das mais utilizadas e serve para velocidades de ventos
inferiores a 5 m/s .
O coeficiente de transferência de calor por convecção, também pode ser
determinado pela seguinte equação :

5.20
k
h= Nu (5.24)
L

Onde :
k é a condutividade térmica do ar, [W / m.K ]
L é o comprimento do coletor, [m]
Nu é o Número de Nusselt
A equação (5.24) fornece os resultados do coeficiente de transferência de calor
por convecção próximos daqueles obtidos pela equação (5.23) quando o número de
Nusselt é determinado considerando o regime do escoamento turbulento independente
do numero de Reynolds, isto é :

Nu = 0,0308 Re 4 /5 Pr 1/ 3 (5.25)

Re,Número de Reynolds (Re = u ∞ L/ν).

Pr, Número de Prandtl (Pr = ν/α).


onde
u ∞ é a velocidade do vento [m/s]
L é o comprimento do coletor [m]
ν é a viscosidade cinemática [m2/s]
α é a difusividade térmica [m2/s]

Recentemente SHARPLES e CHARLESWORTH (1998) apresentaram uma


análise dos modelos existentes e realizaram medidas de transferência de calor em
coletores solares montados sobre telhados, concluindo com um conjunto de equações
definidas para diferentes direções de vento e produzidas na Tabela I.

Tendo em vista a grande semelhança entre a montagem experimental que


permitiu obter estes últimos resultados e o equipamento em estudo, dá-se atenção
especial para as equações da Tabela 5.2.

5.21
TABELA 5.2. Equações do coeficiente de transferência de calor pelo efeito do
vento em função da direção do mesmo segundo SHARPLES e CHARLESWORTH
(1998), onde Vw é a velocidade do vento.

Direção de incidência do Equação encontrada Intervalo de validade de


vento em relação ao azimute (
para hw Wm −2 K −1 ) Vw(m/s)

00 hw = 2,2Vw + 8,3 0,8<Vw<6,7

450 hw = 2,6Vw + 7,9 0,6<Vw<6,2

90 0 hw = 3,3Vw + 6,5 0,8<Vw<6,2

1350 hw = 2,2Vw + 7,9 0,8<Vw<6,4

180 0 hw = 1,3Vw + 8,3 0,6<Vw<4,9

−1350 hw = 2,3Vw + 7,8 0,3<Vw<7,2

−90 0 hw = 2,2Vw + 11,9 0,5<Vw<6,7

−450 hw = 3,9Vw + 6,0 0,5<Vw<6,7

5.22
6. Propriedades ópticas das superfícies

6.1 Definições básicas

A nomenclatura utilizada para propriedades radiantes de materiais varia


consideravelmente na literatura. Uma questão que freqüentemente ocorre é sobre o
significado das terminações “sividade” e “tância”. Alguns autores utilizam “sividade”
para propriedades intrínsecas de substancia puras, perfeitamente polidas, recozidas, sem
tensões residuais, e utilizam “tância” para superfícies rugosas, oxidadas, ou outras
características não ideais. Porém outros autores consideram que não existe significado
especial quanto a estas terminações.
Neste texto será utilizada a seguinte nomenclatura para as propriedades ópticas
de superfícies: emissividade, absortividade, refletividade, transmissividade.
6.1.1 Emissividade

A emissividade pode ser definida como a razão entre a energia radiante emitida
por uma superfície real e a energia radiante emitida pelo corpo negro, de mesma área,
nas mesmas condições de temperatura (eq. 6.1).

Energia emitida pela superfície real


Emissivida de ≡ ε = (6.1)
Energia emitida pelo corpo negro

Por definição, a emissividade do corpo negro é igual a 1, para todos os


comprimentos de onda.
A emissividade pode depender de alguns fatores como a temperatura do corpo,
comprimento de onda da energia emitida, e o ângulo da emissão. A emissividade é
freqüentemente medida experimentalmente na direção normal da superfície, e como
função do comprimento de onda. Para cálculo da potência total radiante emitida por
uma superfície é necessário incluir todas as direções e comprimentos de ondas.

6.1
Emissividade direcional espectral ελθ (λ,θ,ϕ,T) de uma superfície a temperatura
T é definida como a razão entre a radiação emitida no comprimento de onda λ e na
direção θ e ϕ e a radiação emitida pelo corpo negro nos mesmos valores de T e λ.

I λ (λ , θ , ϕ , T )
ε λθ (λ ,θ , ϕ , T ) = (6.2)
I λb (λ , T )

Emissividade total direcional εθ(θ,ϕ,T) de uma superfície a temperatura T é


definida como a razão entre a radiação média emitida considerando (integrando) a
contribuição de todos os comprimento de onda λ e na direção θ e ϕ, e a radiação
emitida pelo corpo negro no mesmo valor de T.

∞ ∞

∫ I λ ( λ , θ , ϕ , T ) dλ ∫ I λ ( λ , θ , ϕ , T ) dλ
ε θ (θ , ϕ , T ) = 0
= 0
(6.3)

σ T4

0
I λb ( λ , T )dλ
π

Emissividade espectral hemisférica ελ(λ,T) de uma superfície a temperatura T é


definida como a razão entre a radiação média emitida no comprimento de onda λ
considerando (integrando) a contribuição de todas as direções θ e ϕ, e a radiação
emitida pelo corpo negro nos mesmos valores de T e λ.

2π π / 2
1
ε λ (λ , T ) =
π ∫ ∫ ε λθ (λ ,θ ,ϕ , T ) cosθ sen θdθdϕ (6.4)
ϕ =0 θ =0

Emissividade hemisférica total ε(T) de uma superfície a temperatura T é definida


como a razão entre a radiação média emitida considerando (integrando) a contribuição
de todos comprimentos de onda λ, e as contribuições de todas as direções θ e ϕ, e a
radiação emitida pelo corpo negro na mesma temperatura.

6.2

E (T ) ∫ ε λ (λ , T ) Eλ (λ , T )dλ
,b

ε (T ) = = 0

(6.5)
Eb (T ) Eb ( λ , T )dλ

0

6.1.2 Absorção, reflexão e transmissão

Define-se irradiação espectral “Gλ” (W/m2.μm) como a taxa na qual a radiação


de comprimento de onda λ é incidente sobre uma superfície por unidade de área da
superfície e por intervalo de comprimento de onda unitário dλ em torno de λ, e
irradiação total “G” (W/m2) engloba todas as contribuições espectrais, e pode ser
calculada pela equação


G = ∫ Gλ (λ )dλ (6.6)
0

Consideram-se então os processos resultantes da interceptação desta radiação


por um meio sólido (ou líquido). Na situação mais geral a irradiação interage com um
meio semitransparente, tal como uma camada de água ou uma placa de vidro.
A Figura 6.1 mostra que para um componente espectral da irradiação Gλ, partes
desta radiação podem ser absorvidas Gλ,abs, partes desta radiação podem ser refletidas
Gλ,ref, partes desta radiação podem ser transmitidas Gλ,tr. A partir de um balanço de
radiação no meio, segue que

Gλ = Gλ, abs + Gλ,ref + Gλ,tr (6.7)

6.3
Figurra 6.1 - Proocessos de absorção, reflexão,
r e transmissãoo associadoos com um meio
semitransparente (Incroperaa, DeWitt, 2003).
2

ou aiinda, dividinndo tudo peela irradiaçãão Gλ, temos

αλ + ρλ + τ λ = 1 (6.8)

ondee α é a absorrtividade, ρ é a refletivvidade, τ é a transmissivvidade.


Em geraal, a determ
minação deestes compo
onentes é complexa,
c dependendo
o das
conddições superrior e inferior da supeerfície, do compriment
c to de onda da radiaçãão, da
compposição e espessura do meio, e ainda é fortemeente afetadda pelos efeitos
volum
métricos quue ocorrem no
n interior do
d meio.

6.1.33 Absortivid
dade

A absorttividade é definida
d com o de energiaa incidente na superfíccie de
mo a fração
um corpo
c que é absorvida por
p este corppo.
Energia absorvida
a peelo corpo
Absortivvidade ≡ α = (6.9)
Energia incidente no
n corpo

A absorttividade do corpo negroo é igual a 1,


1 para todos os compriimentos de onda.
A radiaçção incidennte depende das cond
dições radiantes da fo
fonte de en
nergia
inciddente. A disstribuição esspectral da radiação in
ncidente é inndependentee da temperratura

6.4
ou natureza física da superfície absorvente a menos que a radiação emitida pela
superfície é refletida de volta para a superfície.
Absortividade hemisférica total α é definida como fração da irradiação total
absorvida por uma superfície. Representa a média total integrada sobre a direção e o
comprimento de onda.

Gabsorvida
α ≡ (6.10)
G
ou ainda

∫ α λ (λ , T )Gλ (λ )dλ
0
α (T ) = ∞
(6.11)

∫ Gλ (λ )dλ
0

6.1.4 Refletividade

A refletividade é definida como a fração de energia incidente na superfície de


um corpo que é refletida por este corpo.

Energia refletida pelo corpo


Refletividade ≡ ρ = (6.12)
Energia incidente no corpo

A refletividade do corpo negro é igual a 0, para todos os comprimentos de onda.


Refletividade hemisférica total ρ, é definida como fração da irradiação total
refletida por uma superfície. Representa a média total integrada sobre a direção e o
comprimento de onda.

Grefletida
ρ ≡ (6.13)
G

ou ainda

6.5

∫ ρ λ (λ , T )Gλ (λ )dλ
0
ρ (T ) = ∞
(6.14)
(

∫ Gλ (λ )dλ
0

As superrfícies podeem ser ideaalizadas com


mo difusas ou especuulares, de accordo
com a maneira pela
p qual elas refletem a radiação.. Na Figura 6.2, pode-sse observar que a
reflexxão difusa ocorre
o se a intensidadee da radiaçãão refletida for indepenndente do ân
ngulo
de reeflexão, tam
mbém indeppendente daa direção daa radiação incidente; e que a refflexão
especcular ocorrre se toda a reflexão for na dirreção de θ2, que equuivale ao ân
ngulo
inciddente θ1.
Embora nenhuma superfície
s seeja perfeitam
mente difussa ou especcular, a con
ndição
difussa é melhoor aproximada por suuperfícies rugosas,
r e a condiçãoo especularr por
superrfícies poliddas como esspelhos.

F
Figura 6.2. Reflexões
R diifusa e espeecular (Incroopera, DeW
Witt, 2003).

6.1.55 Transmissividade

A transm
missividade de materiaais semitran
nsparentes é definida como a fração da
energgia incidentte que transppõe o materrial.

Energiaa que transpõõe o corpo


Transmisssividade ≡ τ = (6.15)
(
Energiia incidente no corpo

6.6
A radiação que não atravessa o material é parcialmente absorvida e parcialmente
refletida nas interfaces.
Transmissividade hemisférica total τ é definida como fração da irradiação total
transmitida através de um material semitransparente. Representa a média total integrada
sobre a direção e o comprimento de onda.

Gtransmitida
τ ≡ (6.16)
G

ou ainda

∫τ λ (λ )Gλ (λ )dλ
0
τ = ∞
(6.17)

∫ Gλ (λ )dλ
0

6.2 Lei de Kirchhoff

A lei de Kirchhoff define as relações entre emissividade e a absortividade da


superfície de um corpo. Esta lei pode ter variações necessárias impondo condições,
dependendo das quantidades que estão sendo consideradas, quer seja espectral, ou total,
ou direcional ou hemisférica.

ελθ ( λ , θ , ϕ , TA) = αλθ ( λ , θ , ϕ , TA) (6.18)

A eq. 6.18 é a forma mais geral da Lei de Kirchhoff. Esta relação entre a
emissividade espectral direcional e absortividade espectral direcional é válida sem
restrições.

6.7
6.3 Superfícies difusas, cinzas e opacas
Em cálculos e análises de trocas radiantes entre cavidades com múltiplas
superfícies, é comum considerar que as superfícies radiantes são difusas e tem
características de um corpo cinza.
O termo superfície difusa significa que a emissividade, a absortividade e a
refletividade não dependem da direção. Para a emissão, a intensidade emitida é
uniforme em todas as direções como em um corpo negro. A reflexão também ocorre
uniformemente em todas as direções
O termo superfície cinza significa que a emissividade espectral e absortividade
não dependem do comprimento de onda.
Elas podem contudo depender da temperatura. Uma superfície difusa e cinza
absorve uma fração fixa da radiação incidente em qualquer direção e em qualquer
comprimento de onda, e emite radiação numa fração fixa da radiação do corpo negro
para todas as direções e todos os comprimentos de onda (este é o motivo pelo termo
“cinza”).
Para superfícies difusas-cinzentas os valores de absortividade direcional
espectral e emissividade direcional espectral e hemisférica total são todas iguais, e
absortividade total hemisférica é independente da natureza da radiação incidente. A
absortividade direcional espectral e emissividade direcional espectral são então
independentes de λ, θ, ϕ, então αλθ (λ, θ, ϕ, TA) = α (TA), e ελθ (λ, θ, ϕ, TA) = ε (TA), e
da Lei de Kirchhoff (para o caso de superfícies difusas-cinzentas) tem-se que

ε (T A ) = α (T A ) (6.19)

Os materiais podem ser idealizados como opacos ou transparentes, de acordo


com a maneira pela qual elas transmitem a radiação através do meio. Um meio é
considerado opaco quanto sua transmissividade é igual a zero. Um meio é considerado
semitransparente para transmissividade na faixa de 0 < τ < 1. Um meio é considerado
transparente quando sua transmissividade é igual a 1.
Considerando-se que as superfícies nanalisadas sejam cinzas, a eq. 6.8 fica

α + ρ +τ = 1 (6.20)

6.8
e ainda, no caso em que elas sejam opacas (isto é, τ = 0, transmissividade nula), tem-se

α + ρ =1 (6.21)

onde utilizando-se a lei de Kirchhoff (para o caso particular onde as superfícies são
consideradas difusas, cinzas e opacas) tem-se que

ε = 1− ρ (6.22)

6.4 Superfícies Seletivas


Ao contrário das Superfícies Cinzas, as Superfícies Seletivas são aquelas que
apresentam comportamento óptico muito diferente em diferentes bandas espectrais. No
caso específico de materiais aplicados em conversão de energia solar há interesse em
dois tipos de superfícies seletivas: aquelas com base em material opaco e as que têm
base em material transparente.

6.4.1 Superfícies seletivas opacas (absorvedor)


No caso de materiais que absorvem a radiação solar, para conversão térmica é
interessante que os mesmos materiais não tenham alta emissividade. Uma tinta preta,
por exemplo, corresponde a uma superfície cinza, porque absorve bastante a radiação
visível e parte do infravermelho proveniente do Sol, mas também absorveria radiação
infravermelha de comprimento de onda longo. Isto faz com que as superfícies pintadas
de preto sejam também bons emissores de radiação térmica. Uma superfície opaca que
tivesse boa absortividade solar e refletisse a radiação infravermelha de onda longa, iria
perder menos calor por radiação e, conseqüentemente, iria aquecer mais quando exposta
à radiação solar. Uma superfície seletiva ideal poderia ter um gráfico de absortividade
espectral como o mostrado na Fig. 6.3

6.9
Figura 6.3 Espectro de absortividade para um absorvedor seletivo ideal.

Exemplos de superfícies seletivas na prática são encontrados com aplicação de


alguns óxidos metálicos aplicados sobre superfícies metálicas que refletem bem o
infravermelho. Materiais como cromo-negro e óxido de cobre fazem com que os
coletores solares tenham menor perda por emissão de radiação. No Capítulo 7 é
mostrado um coletor com tubos evacuados que utiliza uma superfície seletiva
absorvedora aplicada sobre um vidro do tubo coletor.

6.4.2 Superfícies seletivas transparentes (coberturas)


Nas coberturas dos coletores solares se desejam superfícies que deixem a
radiação solar penetrar no coletor e mesmo assim diminuam as perdas globais por
radiação. Isto significa que devem ter alta transmitância para a banda espectral da
radiação solar, mas na banda do infravermelho de onda longa podem ter dois
comportamentos: alta absortividade ou alta refletividade.
Materiais transparentes com alta absortividade do infravermelho de onda longa
vão atuar através do efeito estufa, porque a cobertura aquece e em seguida emite
radiação tanto para fora do coletor como para dentro do mesmo, bloqueando

6.10
parciialmente as perdas. O vidro
v e o poolicarbonato
o são exempplos deste ttipo de cobeertura
seletiiva, ver Figgura 6.4.

F
Figura 6.4 (extraída
( dee Duffie & Beckman)
B mostra
m transmissividadee de vidros.

A expeeriência com
m termograafia apresen
ntada na Figgura 6.5 iluustra o efeiito do
vidroo. Os vidross são opacoos ao infravvermelho paara comprim
mentos de oonda maiorres do
que 4 µm. O faato do vidroo ser transpparente paraa a luz visívvel e para a maior parrte da
radiaação solar e ao mesmoo tempo ressistente aos raios ultravvioletas fazz com que seja
s o
mateerial mais uttilizado na cobertura
c d equipameentos de capptação de ennergia solarr. Sua
de
m impedir o ingresso dda radiação solar.
funçãão primordiial é de protteger os capptadores sem
Nos coletores solares térm
micos a caraacterística de
d ser opacoo no infraveermelho é muito
m
útil, propiciandoo o aparecim
mento do "efeito
" estuffa", o qual potencializaa o aquecim
mento
dos mesmos.
m
O viddro comum
m tem um
ma reflexão
o muito pequena noo visível e no
infraavermelho, da ordem de 4% na
n interface ar/vidro,, com índiice de reffração
diminnuindo lineearmente dee 1,5 a 1,2 entre 0,4 mm
m e 7 mm
m . Entre 8 mm e 9 mm
m o
índicce de refraçção do vidro cai para cerca de 0,,5 e em 10 mm tem uum pico basstante
pronuunciado com
m valor de cerca de 2,5 retornand
do a 1,5 em 12 mm. Esstas variaçõ
ões no
índicce de refraçção fazem com que o vidro ten
nha um maaior coeficieente de refflexão
justaamente na faixa
f especttral de operração das câmeras
c term
mográficas. Para incid
dência

6.11
normal o valor de refletância pode ser considerado 0,15 e a emitância do vidro é seu
complementar: 0,85.
A Figura 6.5 mostra o efeito resultante destas propriedades do vidro. As imagens
superiores (a) e (b) são imagens visuais, onde são vistas uma cafeteira e uma forma de
gelo. Na Figura 4 (b) a cafeteira é vista através de uma placa de vidro que foi inserida
entre a mesma e a forma de gelo. As imagens (c) e (d) mostram as termografias
correspondentes às imagens (a) e (b) respectivamente. Nota-se na imagem (d) que a
lâmina de vidro faz a cafeteira desaparecer e, em seu lugar, é observado o reflexo da
forma de gelo.

Figura 6.5 Demonstração do efeito da presença de um vidro em uma termografia: o


vidro esconde a cafeteira e reflete o gelo. As imagens (a) e (b) são imagens visuais sem
e com vidro, correspondentes às termografias (c) e (d) respectivamente.

Materiais transparentes com maior reflexão do infravermelho de onda longa


vão devolver ao absorvedor, por reflexão, a energia radiante emitida pelo mesmo. Uma
cobertura de vidro com revestimento de uma fina camada de óxido de estanho e índio
(ITO) serve como exemplo de material transparente à radiação solar e refletor de
infravermelho. No caso a cobertura não aqueceria tanto quanto o vidro, pois a energia
emitida pelo absorvedor seria simplesmente refletida de volta.

6.12
6.5 Reflexão de materriais transsparentess

Quandoo a luz provveniente dee um meio com índice de refraçãoo n1 incidee com
um ângulo
â θi em
e uma inteerface para o meio co
om índice de
d refração n2, parte da
d luz
reflette com ânguulo igual aoo de incidênncia θr=θi e o restante da luz entraa no meio 2 com
um ângulo
â de traansmissão θt, conform
me representaado na Figuura 6.6.
O ânguulo θt é dadoo pela equaçção de Snelll que indicaa que

n1 senn(θi) = n2 sen
s (θt) (6.23)
(

As fraçções refletidda e transm


mitida podeem ser encoontradas peelas equações de
Fresnnell. A Teooria Eletrom
magnética demonstra
d que
q a reflexxão se dá ccom coeficiientes
diferrentes para as polarizaações perpeendiculares ao campo elétrico daa onda inciidente
(coefficiente de reflexão
r Rs)) das polarizações paraalelas ao cam
mpo elétrico (coeficien
nte de
reflexxão Rp). Oss valores sãão determinaados pelas equações
e (6.24) e (6.255).

Figura 6.6 Reflexão e refração daa luz.

Para a luz não polarizada


p se utiliza o valor méédio R = ((Rs + Rp)/2
2. Os
Coefficientes de Transmissãão são obtiddos das relaçções Ts = 1 – Rs e Tp = 1- Tp.

6.13
(6.24)

(6.25)

Observa-se que para ângulo de incidência igual a zero, tanto (6.24) quanto (6.25)
se reduzem a:

0 (6.26)

Uma chapa de vidro, por exemplo, terá uma segunda interface a ser cruzada
pela luz, depois de atravessar a espessura. Haverá também uma reflexão nesta segunda
interface e depois a radiação refletida voltará a ser refletida na primeira interface,
sucedendo um processo de múltiplas reflexões. A soma de todas as parcelas

transmitidas dá como resultado: e

Assim, a transmissividade devido apenas às reflexões em uma cobertura


transparentes é dada por :

(6.27)

Tipicamente o vidro é utilizado em coberturas de coletores. O índice de refração


do vidro varia com o comprimento de onda, mas pode ser considerado o valor médio de
1,5 para toda a faixa correspondente à radiação solar. Isto dá um valor de R(0)=0,04, e
consequentemente τr =0,923 para incidência normal.

6.6 Absorção de Materiais Transparentes

A absorção de meios semi-transparentes segue a lei de Bouguer que indica que:

(6.28)

onde k é o coeficiente de extinção, L é a espessura do material transparente, sendo que


L/cos(θt) é o caminho óptico que a luz utiliza para atravessar o material.

6.14
O coeficiente de extinção corresponde a um índice de absorção da radiação
solar pelo material. Em vidros de diferentes composições o valor de k pode variar de
4/m a 32/m.
A transmissividade total da cobertura deve levar em conta ambos os fatores de
absorção e de reflexão, conforma a equação (6.29)

(6.29)

A Figura 6.7 mostra a transmissividade de coberturas, para diferentes ângulos e


valores do produto kL, levando em consideração a combinação de absorção e da
reflexão.

Figura 6.7. Transmissividade considerando absorção e reflexão de 1, 2, 3 e


4 coberturas para 3 diferentes tipos de vidros (Duffie & Beckman, 2001).

6.15
6.7 Produto Transmissividade – Absortividade

Em um coletor solar a fração da radiação incidente que é realmente absorvida


depende de quanta radiação a cobertura deixou passar e de quanto o absorvedor é capaz
de absorver. Além disto, a radiação refletida pelo absorvedor pode ainda ser refletida na
interface interna da cobertura, e parte desta radiação retornar ao absorvedor. Em um
processo de múltiplas reflexões entre o absorvedor com absortividade α e a cobertura
com transmissividade τ, a combinação (τα) pode ser calculada conforma a equação
(6.30):

∑ 1 (6.30)

onde n é o número de cada reflexão, variando de 0 a ∞, e ρd corresponde a refletividade


(pelo vidro) da radiação já refletida de forma difusa pelo absorvedor, sendo que em
geral se utiliza a refletividade do vidro a 60 graus de incidência, da ordem de 22%.
Evidentemente o valor de (τα) depende do ângulo de incidência da radiação,
assim se calcula um (τα)b para radiação solar direta e outro (τα)d para radiação solar
difusa para obter a potência efetivamente absorvida por um coletor solar. Combinando
isto com as equações de (1.29) a (1.32), a potência absorvida S será dada por:

S =(τα)b Ib cos θs / cos θz +(τα)d I dβ +(τα)d I ρ (1-cosβ) / 2 (1.29)

lembrando que I e Ib são respectivamente as irradiâncias global e direta incidentes na


superfície horizontal e Idβ é a irradiância difusa na superfície inclinada, ρ é o albedo
local, β é o ângulo de inclinação e θs e θz são os ângulos de incidência da radiação direta
e o ângulo de zênite.

6.16
7. Coletores Solares para Aquecimento de Água
A energia solar radiante pode ser convertida em outras formas de energia e então
utilizada para diversas finalidades. As formas mais usuais de energia convertida a partir
da radiação solar com equipamentos são a energia térmica e a energia elétrica. Através
da fotossíntese a energia solar é utilizada para formação de biomassa, sendo esta forma
de conversão tão ou mais importante do que as outras, mas não será abordada neste
curso. A conversão da energia solar em energia térmica também se dá de forma natural,
sempre que a radiação solar atinge um corpo qualquer, mas este tema também não será
abordado. O estudo se concentrará nos equipamentos artificiais montados para melhor
realizar esta conversão, com ênfase em sistemas de aquecimento de água e de
ambientes.
Em 1767 o físico suíço Horace de Saussure demonstrou o efeito estufa ao
colocar várias caixas de vidro sucessivamente uma dentro da outra, apoiadas sobre uma
tábua pintada de preto. Apontando a ”caixa quente” para o Sol, após algumas horas de
exposição ele registrou a temperatura de 109 °C no interior da mesma.
No oeste americano do século XIX já era freqüente o uso de tanques metálicos,
pintados de preto ou simplesmente escurecidos pela oxidação, expostos ao sol para o
aquecimento de água. Entretanto, por estarem expostos à intempérie, boa parte da
energia térmica absorvida durante o dia acaba acabava perdendo-se durante a noite.
Clarence Kemp, um industrial da cidade de Baltimore, resgatou a idéia da caixa quente
e em 1891 patenteou nos Estados Unidos um sistema de aquecimento de água
constituído por um conjunto de tanques metálicos de 30 litros, pintados de preto e
associados em número variável no interior de uma caixa de madeira com cobertura de
vidro. Este equipamento, batizado de Climax, foi o primeiro coletor solar comercial que
se tem registro e foi popular na época, principalmente na California.
No início do século XX, o americano William J. Bailey patenteou um sistema
em que o coletor solar e o tanque eram fisicamente separados, com circulação por
termossifão. Desta forma o reservatório podia ser isolado termicamente e abrigado no
interior de um telhado, por exemplo, minimizando as suas perdas e disponibilizando
água quente ao usuário por um período mais prolongado. Este sistema, chamado Day
and Night, estabeleceu alguns dos conceitos de aquecimento de água por energia solar
utilizados até os dias de hoje.

7.1
Com o barateamento dos combustíveis fósseis, principalmente a partir da II
Guerra Mundial, a utilização da energia solar térmica caiu praticamente no
esquecimento, vindo a renascer somente após a primeira crise do petróleo, no início dos
anos 70.

Figura 7.1 - Detalhes de anúncios publicitários do coletor Climax (1892).

7.1 Princípio de Funcionamento dos Coletores Solares


Em um sistema de aquecimento solar, o coletor é o equipamento responsável
pela conversão da energia solar em energia térmica. Conhecer o processo desta
conversão é essencial para que se possa aproveitar ao máximo sua capacidade de
fornecer aos fluidos (água, ar) temperaturas muito superiores às temperaturas do meio
ambiente.
Quanto à forma de captação da energia solar, os coletores solares podem ser
classificados em duas categorias: coletores planos e coletores concentradores. Os
coletores planos podem ser construídos com absorvedor de placa plana (tipo mais
conhecido e difundido de coletor solar para o aquecimento de água) ou com tubos
evacuados. Os coletores de concentração utilizam lentes ou espelhos para concentrar a
luz solar sobre um elemento absorvedor e assim atingem temperaturas bastante
elevadas. Para o aquecimento de água de uso doméstico, contudo, tanto os coletores
concentradores como os de tubo evacuado são mais caros e geralmente menos eficientes
que os coletores planos.

7.2
7.2 Tipos de coletores planos

7.2.1 Coletores solares de placa plana


Os coletores solares de placa plana são, essencialmente, constituídos por uma
caixa (de metal, madeira tratada ou fibra de vidro) com isolamento térmico (lã de vidro,
lã de rocha ou poliuretano expandido) no fundo e laterais, uma tampa transparente à
radiação solar (normalmente vidro) e um absorvedor (chapa metálica) no seu interior,
com pequenos tubos por onde escoa o fluido. O absorvedor é pintado de preto fosco ou,
mais raramente, provido de um acabamento espectralmente seletivo.
Coletores como o da figura 7.2, quando bem construídos, podem aquecer a água
da temperatura ambiente até cerca de 100 ºC, dependendo da temperatura ambiente e da
radiação solar, e funcionam muito bem para temperaturas em torno de 60 ºC.

Figura 7.2 – Exemplo de coletor solar com cobertura de vidro.

Já o coletor solar sem vidro, oferece baixa temperatura, ocasionada pela perda de
calor por radiação infravermelha emitida pela placa absorvedora e, principalmente,
pelas perdas de calor devido à convecção do ar. Sua aplicação torna-se bastante
interessante para situações onde se deseja temperaturas pouco superiores a do ambiente.
Estes coletores podem ser utilizados para preaquecimento industrial e aquecimento de
piscinas. Pelo fato destes coletores não possuírem cobertura e de não precisarem de
materiais que suportem altas temperaturas (muitas vezes o absorvedor é de plástico),
seus custos são bastante reduzidos.

7.3
7.2.2 Coletores de tubo evacuado
Os coletores de tubo evacuado, introduzidos no mercado mais recentemente, são
mais adequados a locais de clima frio ou onde se desejem temperaturas mais altas.
Devido a seu elevado coeficiente de perdas térmicas, os coletores de placa plana não são
adequados quando são desejadas temperaturas mais elevadas (> 80 °C). Nestes casos é
necessário reduzir o coeficiente de perdas, o que pode ser obtido em coletores de tubo
evacuado.
Externamente, um coletor de tubos evacuados é formado por um conjunto de
unidades tubulares de vidro com placas absorvedoras no seu interior, onde o ar foi
retirado. As unidades tubulares (tipicamente em número de 10 a 40) conectam-se entre
si através de uma caixa distribuidora termicamente isolada, na qual localizam-se os
dutos de entrada e saída. Apesar de algumas tentativas comerciais no passado, coletores
planos evacuados não obtiveram sucesso em função de dificuldades construtivas. O
formato tubular, por sua alta resistência à compressão, é o mais adequado para suportar
os esforços resultantes da ação da pressão atmosférica. Os primeiros coletores tubulares
eram muito caros, mas hoje há empresas, principalmente na China, que fabricam os
tubos a um preço compatível com os coletores planos. Há diversas configurações
possíveis para a utilização dos tubos nos coletores.

Figura 7.3 – Coletores de tubo evacuados e detalhe de coletor tipo tubo de calor.

Ao fazer-se vácuo (10-2 a 10-5 bar) no interior do tubo, as perdas por convecção
são praticamente anuladas. O absorvedor pode ter a forma plana, convexa ou cilíndrica.
Os fabricantes destes coletores costumam empregar absorvedores com superfície
7.4
seletiva pois, com a temperatura de trabalho mais elevada, as perdas por radiação
passam a ser preponderantes. O invólucro de vidro pode ser de camada simples ou dupla
(semelhante à ampola de uma garrafa térmica).
Quanto ao mecanismo de coleção da energia térmica, os coletores de tubos
evacuados podem ser de circulação direta (o fluido circula pelo coletor, preenchendo os
tubos), com tubos metálicos em forma de U soldados em uma aleta inserida no coletor,
onde o fluido percorre um caminho de ida e volta no tubo com vácuo, ou ainda com
tubo de calor (heatpipe) que conduzem a energia a um trocador de calor (condensador)
no topo. Com a circulação direta, os tubos preenchidos com água (ou outro fluido)
sofrem o efeito do termossifão para movimentar a água quente para o topo do tubo,
ingressando em um tanque ou em um cabeçote coletor. Na circulação por tubos
metálicos o fluido é conduzido através de um tubo de cobre em forma de U (ou por um
sistema de dois tubos coaxiais) desde o distribuidor até a base e retornando até a
tubulação de saída. O tubo por onde circula o fluido está em contato térmico com o
absorvedor (em uma ou ambas as “pernas” do U) e a transferência de calor ocorre como
em um coletor convencional. Já no sistema de tubo de calor não há circulação do fluido
ao longo do tubo coletor. Um tubo de calor consiste em um tubo metálico fechado nas
duas extremidades e parcialmente preenchido com um fluido de transferência (álcool ou
água a baixa pressão). Sua operação baseia-se em um ciclo bifásico no qual o calor
fornecido em uma de suas extremidades (no caso, a região em contato com a placa
absorvedora) faz com que o fluido de transferência evapore. O fluido vaporizado
desloca-se por diferença de pressão para a região mais fria do tubo (o condensador, no
interior da caixa distribuidora), onde retorna à fase líquida, entregando calor ao fluido a
ser aquecido através de um trocador. Depois de condensado, o fluido de transferência
retorna ao evaporador através das paredes do tubo e reinicia-se o processo. Para um
desempenho satisfatório, coletores com tubo de calor devem ser instalados com uma
inclinação mínima de 25 °. Sua temperatura de saída pode chegar aos 150 °C.

7.3 Coletor Solar de Placa Plana - Características Físicas


Por ser o tipo de coletor solar mais utilizado no Brasil e no mundo, neste curso
será dada maior ênfase ao coletor de placa plana.
O tipo mais simples de coletor solar é a chamada poça solar, como mostra a
Figura 7.4.

7.5
ENERGIA
SOLAR

ÁGUA

Figura 7.4 - Poça solar.

Obviamente a água esquenta, mas como ela está perdendo energia térmica para
as vizinhanças por condução (para a terra e o ar), por convecção (para o ar) e por
radiação (para o céu), a temperatura final da água deverá ser a mesma ou apenas uns
poucos graus mais alta do que a ambiente. Conclui-se que este tipo de coletor não é o
ideal. Ele é capaz de converter apenas uma parte de energia solar incidente em energia
térmica e não é capaz de manter esta energia devido às suas grandes perdas térmicas.
Portanto, devemos aumentar a absorção de energia solar e reduzir as perdas. Isto pode
conseguido como mostrado na Figura 7.5.
A água e a superfície pintada de preto absorverão mais de 90 % da energia solar
incidente e o isolamento térmico e a cobertura transparente reduzirão as perdas
térmicas. Acrescentando uma canalização, é possível retirar-se a água quente e
substituí-la por água fria.

COBERTURA
TRANSPARENTE

SUPERFÍCIE
PINTADA
DE PRETO

ISOLANTE
TÉRMICO
Figura 7.5 - Coletor solar com tampa transparente, absorvedor pintado de
preto e isolado termicamente.

7.6
O maior inconveniente deste tipo de coletor é não poder reter a energia térmica
durante a noite. Uma superfície absorvedora preta é tanto um bom absorvedor de
energia solar durante dia, quanto é um bom emissor de energia térmica. Deste modo ela
troca calor com a cobertura por radiação e convecção, e esta dissipa energia para o ar.
Assim, a energia ganha durante as horas de sol, se não for utilizada, é perdida durante a
noite.

Figura 7.6 – Corte de um coletor solar de placa plana.

Uma solução para este problema seria separar a água da superfície absorvedora.
O resultado mais popular é o chamado coletor solar de placa plana, como o mostrado na
Figura 7.6. Em poucas palavras, ele consiste em uma chapa de metal com um
tratamento superficial ou pintura para aumentar a absorção de radiação, tubos ou dutos
para remover o calor da superfície, uma caixa com um isolamento térmico no fundo e
laterais, e uma tampa transparente na face superior (em locais de clima frio, é comum a
utilização de cobertura dupla). Através da tubulação circula água que, retirando energia
térmica do absorvedor, aumenta a sua temperatura e é então estocada em um tanque até
ser utilizada.
Os tubos da placa absorvedora podem ser dispostos no formato de grade ou de
serpentina (Fig. 7.7). Por impor uma maior perda de carga ao circuito hidráulico, o
formato de serpentina não é adequado a sistemas com circulação natural. Em qualquer
caso é importante que o método de fixação do tubo à chapa permita um bom contato
térmico entre ambos. Uma boa solução é a soldagem com estanho, como mostrado na
Figura 7.8. Os tubos tanto podem ser soldados por baixo ou por cima da placa. Se os
materiais forem de difícil soldagem (por exemplo, tubo de cobre e chapa de alumínio),

7.7
pode ser utilizado contato por pressão, porém com algum prejuízo para a transferência
de calor.

Figura 7.7 – Diferentes disposições dos tubos do absorvedor.

Figura 7.8 – Detalhe da solda entre tubo e placa absorvedora.

Embora menos comuns no mercado nacional, existem coletores em que os tubos


são prensados entre duas chapas ou ainda com absorvedores sem tubos, em que a água
passa por canaletas formadas pela união de duas chapas conformadas e soldadas entre si
(às vezes referido como absorvedor de filme de água).

7.4 Eficiência Térmica dos Coletores de Placa Plana


Na figura 7.9 estão representadas as trocas térmicas de um coletor solar de placa
plana convencional. A superfície absorvedora preta absorve a energia solar incidente,
enquanto que a cobertura de vidro reduz as perdas por convecção e radiação para o
ambiente. O isolamento reduz as perdas pelo fundo e laterais.
Para que os coletores solares ofereçam desempenho satisfatório, algumas
precauções básicas devem ser consideradas:

• A cobertura deve possuir alta transparência para a radiação solar e alta


absortância para radiação infravermelha;
7.8
• A placa absorvedora deve ser preta para garantir maior absorção de energia e
possuir alta condutividade térmica para transferir esta energia ao fluido;

• A caixa deve ter um excelente isolamento térmico na parte lateral e na parte


inferior, que minimize as perdas de calor para o ambiente, e possuir uma vedação
eficiente para impedir a entrada de umidade.

Figura 7.9 – Trocas de energia no coletor.


As características acima contribuem para maximizar rendimento do coletor,
embora a determinação da eficiência dos coletores solares envolva uma série de outros
parâmetros e certa complexidade experimental.
A radiação solar absorvida pela placa coletora S, depende dos materiais
empregados na construção do coletor e do ângulo de incidência da radiação solar, sendo
definida pelo produto:

S = GT (τα )eff (7.1)

onde, (τα )eff é o produto transmitância-absortância efetivo (τ é a transmitância da


cobertura do coletor solar e α é a absortância da placa absorvedora) e GT é a irrradiância
solar no plano do coletor. Na prática, (τα )eff ≅ 1,02 τα.
Em regime permanente, a eficiência de um coletor solar pode ser definida por
um balanço de energia que iguala a energia solar incidente ao calor útil mais as perdas

7.9
térmicas e perdas óticas. A energia térmica perdida pelo coletor para o entorno por
condução, convecção e radiação infravermelha pode ser representada pelo produto do
coeficiente global de transferência de calor UL pela diferença entre a temperatura média
da placa absorvedora Tpm e a temperatura ambiente Ta. Em regime permanente, o calor
útil Qu que pode ser retirado de um coletor de área Ac é a diferença entre a radiação
absorvida S e as perdas térmicas, ou seja:

Qu = Ac [S − U L (Tpm − Ta )] (7.2)

O problema com esta equação é que a temperatura média da placa absorvedora


Tpm é de difícil determinação, tanto teórica como experimentalmente. Essa grandeza está
relacionada com a radiação solar incidente, com as condições de entrada do fluido
(vazão e temperatura) e com as características de construção do coletor, entre elas o
diâmetro, o número e espaçamento entre os tubos elevadores. Devido a esta dificuldade,
a equação pode ser reformulada, sendo expressa em termos da temperatura de entrada
do fluido e de um fator denominado fator de remoção de calor, o qual será definido mais
adiante.
A eficiência de um coletor solar é dada pela equação 7.3.

t2

∫ Q dt u

η= t1
t2 (7.3)
Ac ∫ GT dt
t1

onde, η é a eficiência, Qu é a energia transferida ao fluido de trabalho, GT é a irradiância


incidente no plano do coletor e Ac é a área do coletor.
Um fator de decisão em um projeto de aquecimento solar é a obtenção de
energia a um custo mínimo. Assim sendo, pode ser conveniente projetar um coletor com
uma eficiência inferior ao que seria tecnologicamente possível se os custos forem
significativamente reduzidos.

7.4.1 Coeficiente global de perdas térmicas do coletor


O coletor nada mais é que um trocador de calor e, podemos estudá-lo como um
circuito térmico usual. Assim sendo, ele pode ser representado pela rede mostrada na
Figura 7.10, onde:

7.10
T é a temperatura, cujos índices a, c, p e b referem-se, respectivamente, às temperaturas
ambiente, do vidro, da placa, do fluido e da base do coletor (fundo da caixa) e
R é a resistência térmica, com os índices c, k e r referindo-se respectivamente a
convecção, condução e radiação.

(a) (b)
Figura 7.10 – Circuito equivalente de um coletor: (a) em termos de resistências de convecção,
condução e radiação e (b) em termos de resistências entre os componentes.

A energia S é absorvida pela placa, a qual se aquece a uma temperatura Tp e


perde parte desta energia para o ambiente. Supõe-se que essa energia perdida é
proporcional à diferença entre a temperatura da placa e a temperatura ambiente. Define-
se então um fator de proporcionalidade, o coeficiente global de perdas UL, de modo que
o circuito térmico mais complexo da Figura 7.11 possa ser substituído pelo circuito da
Figura 7.11. A partir deste circuito simplificado é possível determinar o desempenho
térmico do coletor de placa plana.

Figura 7.11 - Circuito térmico simplificado.

7.11
Duffie e Beckman (1991) apresentam o coeficiente de perdas pela parte frontal
dos coletores é calculado para condições típicas de construção, considerando 1, 2 ou 3
coberturas de vidro e coeficiente de transferência de calor pelo vento com valores de 5,
10 e 20 W/m² °C. Os resultados são apresentados em gráficos como os da Figura 7.12

Figura 7.12 Coeficiente de perdas pela face frontal do coletor.

7.12
Para a determinação do coeficiente global de perdas UL é considerada uma
cobertura de vidro utilizando-se a Eq. (7.4) para as perdas pelo topo Ut, a Eq. (7.5) para
as perdas na parte traseira Ub e a Eq. (7.6) para as perdas laterais Ue.

−1
⎛ 1 1 ⎞
Ut = ⎜ + ⎟ (7.4)
⎜h +h hw + hr ,c − a ⎟
⎝ c r , p −c ⎠

onde hc, hr,p-c, hw e hr,c-a são respectivamente o coeficiente de convecção entre o


absorvedor e o vidro, o coeficiente de radiação térmica entre o absorvedor e o vidro, o
coeficiente de convecção externo e o coeficiente de radiação entre o vidro e o ambiente.

k (7.5)
Ub =
L

onde k é a condutividade térmica do material isolante e L é sua espessura.

( k / ι )λδ
Ue = (7.6)
Ac

onde ι, λ, δ são, respectivamente, a espessura do isolamento lateral, o perímetro do


coletor e a espessura do coletor.
Como todas as perdas ocorrem para uma temperatura comum Ta, pode-se
considerar que o coeficiente global de perdas é a soma dos coeficientes de perda pelo
topo, pelo fundo e pelas laterais do coletor:
U L = Ut + Ub + Ue (7.7)

No caso de coletores sem cobertura de vidro, a principal diferença está nas


perdas pelo topo, pois não há a cobertura para a proteção da placa absorvedora, e o valor
das perdas é determinado pela Eq. (7.8):
−1
⎛ 1 ⎞
U t = ⎜⎜ ⎟

(7.8)
⎝ hw + hr ,c − a ⎠

Um dado importante na modelagem do coletor solar é que, após os valores


numéricos de UL serem determinados e calculados, em todas as fórmulas descritas este
valor é considerado constante. Entretanto, UL pode ser considerado dependente das
temperaturas de entrada no coletor, variando em até 5%. Nesse caso, a eficiência

7.13
instantânea do coletor se torna uma equação de segunda ordem, não linear, com
coeficientes que dependem da velocidade do vento a cada instante a ser determinada.

7.4.2 Fator de remoção de calor


Para a modelagem matemática dos coletores solares de placa plana foi utilizada
a metodologia proposta por Hottel-Bliss-Whillier. Nessa modelagem, são usados os
parâmetros de qualidade do coletor FR(τα) e FRUL que representam, respectivamente, o
efeito das propriedades óticas e das propriedades térmicas do coletor. Esses parâmetros
podem ser obtidos através de ensaio experimental para determinar o rendimento térmico
dos coletores, seguindo a norma ABNT NBR10184. Na Eq. (7.9), tem-se a equação
diferencial de primeira ordem segundo a teoria de Hottel-Bliss-Whillier, definida por:

⎛ . ⎞
⎜ m ⎟ dT
⎜ c ⎟C p = W F ' [S − U L (T − Ta )] (7.9)
⎜ nt ⎟ dx
⎝ ⎠
.
onde mC é a vazão mássica no coletor, nt é o número de tubos no coletor solar, Cp é o
calor específico da água, T é a temperatura média do fluido dentro do coletor, W é a
distância entre os centros de dois tubos consecutivos, F´ é o fator de eficiência do
coletor solar, S é a radiação solar absorvida pelo coletor, UL é o coeficiente global de
perdas térmicas do coletor solar, Ta é a temperatura ambiente e dx é a coordenada
espacial na direção do escoamento na posição i do coletor solar.
O modelo matemático do processo foi elaborado fazendo-se algumas suposições
simplificativas e delimitadoras, relacionadas a seguir:
• O comportamento do fluido no coletor ocorre em regime pseudopermanente;
• A base do coletor é uma placa metálica absorvedora e interligada a tubos
paralelos;
• As tubulações de entrada e saída ocupam uma pequena área no coletor e podem
ser desprezadas;
• O escoamento é uniforme em todos os tubos do coletor;
• Não há absorção de energia solar pela cobertura, de modo a não acarretar em
perdas para o coletor;
• O fluxo de calor através da cobertura é unidimensional;

7.14
• A queda de temperatura através da cobertura é desprezível;
• A cobertura de vidro é opaca à radiação infravermelha;
• Há fluxo de calor unidimensional através do isolamento inferior no coletor solar;
• Considera-se o céu como um corpo negro para radiações de grande comprimento
de onda a uma temperatura equivalente;
• Os gradientes de temperatura na direção do escoamento do fluido e na direção
normal a esta (entre os tubos) podem ser analisados independentemente;
• Os gradientes de temperatura ao redor dos tubos podem ser desprezados;
• As perdas de calor através da parte frontal e inferior do coletor se dão à mesma
temperatura;
• As influências de poeira e sujeiras no coletor são desprezíveis;
• Não há sombreamentos na placa absorvedora do coletor.
Desenvolvendo-se a equação diferencial, Eq. (7.9), com a condição inicial para x
igual a zero e T igual à temperatura na entrada do coletor, a distribuição da temperatura
no coletor em base horária é calculada de forma iterativa utilizando a Eq. (7.10), na qual
Ac é a área do coletor solar, FR é o fator de remoção do coletor, (τα )eff é o produto da
transmitância-absortância efetivo, IT é a irradiância solar incidente na superfície do
coletor, LC é o comprimento do coletor solar e Ts é a temperatura de saída da água de
acordo com uma temperatura de entrada Te na posição do coletor xi .
⎛ ⎞
⎜ ⎟
⎜ ⎟
⎜ Ac F 'U x
L i ⎟
⎜ ⎟
⎜ . ⎟
⎜ ⎟ (7.10)
⎜⎜ mc C L ⎟
p C ⎟⎠
FR (τα ) eff ⎡ FR (τα ) eff ⎤ ⎝
Ts = Ta + I T + ⎢(Te − Ta ) − I T ⎥e
FRU L ⎣ FRU L ⎦

Figura 7.13 – Detalhe da chapa e tubos.

7.15
Para obterem-se os ganhos de energia útil transferidos ao fluido são
consideradas as resistências do fluxo deste, suas junções por solda e o contato da parede
do tubo com ele. Neste sentido, calculam-se os fatores F’, na Eq. (7.11), conhecido
como o fator de eficiência do coletor e definido como sendo a razão entre a taxa de
calor útil real e a taxa de calor útil se o absorvedor estivesse na mesma temperatura do
fluido, e F, na Eq. (7.12), definido como a eficiência de uma aleta.
1
F'= (7.11)
WUL W WU L
+ +
π Di h D + (W − D ) F Cb

onde h, W, D, Di e Cb são, respectivamente, o coeficiente de transferência de calor


convectivo, a distância entre os tubos, o diâmetro externo do tubo, o diâmetro interno do
tubo e a condutância da solda, que é estimada pela condutividade de seu material,
espessura e largura.
A Figura 7.14 (Duffie e Beckman., 1991) mostra os resultados do cálculo de F’ em
função da separação entre os tubos, para tubos de 10mm de diâmetro e coeficiente de
transferência de calor h=300 W/m², usando como parâmetros diversos valores de kδ

F=
{[ ] }
tanh (U L / kδ )1 / 2 (W − D ) / 2 (7.12)
((U L / kδ )1 / 2 (W − D )) / 2

onde k e δ são, respectivamente, a condutividade térmica do material e a espessura dos


tubos.
Esses parâmetros geométricos necessários para a determinação dos fatores F e
F’ são essenciais para os cálculos com as posições dos tubos. Com esses fatores
determinados, é conveniente definir o ganho real de energia útil do coletor pelo ganho
útil de energia como se toda a superfície do coletor estivesse na mesma temperatura do
fluido, surgindo o fator de remoção de calor, FR, expresso na forma aplicada, conforme
Eq. (7.13):

. ⎡ ⎛ ⎞⎤
mCp ⎢ ⎜ A U F ' ⎟⎥
FR= ⎢1 − exp⎜ − ⎟⎥ (7.13)
c L

AcU L ⎢ ⎜ . ⎟
⎜ m C ⎟⎥
⎢⎣ ⎝ p ⎠⎥⎦

7.16
Figura 7.14 Valores do fator de eficiência do coletor (F’) para diferentes combinações de UL e
kδ, em função da distância entre os tubos para tubos de 10 mm de diâmetro e h = 300 W/m² C

Os valores númericos de FR são sempre inferiores aos de F’. Entretanto, seus


valores para coletores de boa qualidade estão geralmente entre 0,8 e 0,9.
Um fato interessante é que existe uma tendência da eficiência do coletor solar
cair à medida que a temperatura da água de entrada no coletor aumenta, ou seja, a
eficiência é maior à medida que a temperatura de entrada no coletor solar é menor.
Nesse sentido, deve-se considerar então que, quando se conecta a saída de água quente
de um coletor ou de vários coletores à entrada de outro coletor em uma ligação em série,
aumenta-se cada vez mais a temperatura da entrada do próximo coletor e,
conseqüentemente, diminui-se sua eficiência térmica. Para que a eficiência global do
sistema não fique prejudicada, é recomendado que as ligações em série e em paralelo

7.17
estejam em um equilíbrio que busque a melhor eficiência do conjunto, considerando que
sempre que se utilizar os mesmos coletores em um mesmo arranjo a vazão seja a
mesma.

7.4.3 Curva de eficiência instantânea de um coletor solar de placa plana


A equação de Hottel-Whiller-Bliss também define a característica básica de um
coletor plano: a eficiência instantânea, calculada pela Eq. (7.14):
.
Q ⎛ T − Ta ⎞ (7.14)
η = u = FR (τα ) eff − FRU L ⎜⎜ e ⎟⎟
AcGT ⎝ GT ⎠

onde Te é a temperatura de entrada no coletor, Ta é a temperatura ambiente e GT é a


radiação incidente no plano inclinado do coletor. O termo FR (τα )eff representa o ganho
do coletor e o termo FRUL representa as perdas do mesmo.

Analisando-se a Eq. (7.14) percebe-se que a mesma é do tipo y = a + bx , ou seja,


uma reta, onde o termo constante (coeficiente linear) a é dado por FR (τα )eff e a
inclinação (coeficiente angular) é dada por FRUL. Estes valores são muito importantes
para caracterizar o desempenho do coletor e podem ser obtidos experimentalmente,
como veremos a seguir.
Para obter a curva experimental de um coletor, devemos medir suas
temperaturas de entrada Te e saída Ts e a vazão de água (m), obtendo assim uma
expressão para a energia (calor) útil retirada pela água:

.
  Qu = m C p (Ts − Te )   (7.15)

Dividindo Qu pela energia recebida pelo coletor (AC GT), obtemos o rendimento
térmico deste:

.
m C p (Ts − Te )
  η=   (7.16)
Ac GT

Os pontos experimentais assim obtidos podem ser reunidos em um gráfico como


o da Figura 7.15, em que a abscissa é também chamada de "temperatura reduzida".
A figura 7.15 mostra o resultado de um ensaio de determinação da eficiência
instantânea de um coletor solar, onde os pontos discretos representam os resultados

7.18
calculados a partir das medidas experimentais. Uma curva de tendência é ajustada a
partir dos pontos medidos. A melhor aproximação é caracterizada por uma reta, sendo o
seu coeficiente angular a grandeza que representa as perdas de energia FRUL e o
coeficiente linear a grandeza que representa a energia absorvida FR (τα )eff.

0.80

0.70

0.60

0.50

ηi 0.40

0.30

0.20

0.10

0.00

0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10


(Te-Ta)/GT [m2 °C/W]

Figura 7.15 – Curva de eficiência instantânea de um coletor solar.

O exame do gráfico de rendimento pode revelar muito sobre as características de


um coletor, ainda que uma análise completa, a partir do gráfico, exija um conhecimento
aprofundado do assunto. Por exemplo, c FR varia entre 0 e 1, uma curva muito inclinada
pode indicar um coletor com grandes perdas térmicas (alto UL), enquanto que uma
intersecção muito baixa com a ordenada pode significar um coletor com a cobertura suja
ou pintura do absorvedor em mau estado (baixo FR (τα )eff).

7.5 Eficiência Térmica dos Coletores de Tubo Evacuado

Os coletores com tubos evacuados tem uma operação muito similar aos coletores
de placa plana. Sua construção em geral faz corresponder a cada tubo elevador uma

7.19
cobertura cilíndrica. Não é possível construir coletores com uma cobertura plana e com
absorvedor plano e com vácuo entre absorvedor e cobertura, por questões ligadas à
resistência dos materiais. Pelo menos não seria possível com um custo razoável, porque
haveria que reforçar a cobertura para suportar a pressão. No entanto com tubos
cilíndricos o vácuo é sustentado adequadamente. O coeficiente de perdas de calor é
reduzido com o vácuo e o coletor pode atingir temperaturas mais elevadas.
Como a largura das aletas (ou o diâmetro do tubo interno em coletores de
tubulação dupla de vidro) é menor do que o diâmetro de cada tubo da cobertura, e ainda
há que deixar-se um espaço entre os tubos, a área efetiva de absorção sempre será
menor do que a área ocupada. Também é importante considerar que a dependência
angular da transmissividade solar da cobertura vai ser diferente do que no caso dos
coletores com uma cobertura plana.
Com relação aos tubo elevadores (de remoção de calor das aletas) os mesmo
podem operar por simples convecção ou com mudança de fase (tubos de calor). Quando
um tubo elevador é instalado em uma aleta dentro de um tubo evacuado, a passagem do
tubo nas duas extremidades traz problemas de diferenças de dilatação na manutenção do
vácuo. Uma solução é utilizar apenas uma extremidade do tubo evacuado, retornando o
fluido em um tubo paralelo ao tubo de ingresso, retornando o fluido em um tubo
concêntrico ao tubo de ingresso, ou utilizando um único tubo para conduzir
eficientemente o calor e um sistema de trocador de calor na extremidade utilizada.
Em todas estas hipóteses os ensaios de eficiência dos coletores de placas planas
são válidos para os coletores de tubos evacuados, mas devido ao fato dos últimos
poderem atingir temperaturas mais altas (combinando geralmente o vácuo com
absorvedores seletivos), talvez não fosse apropriado ajustar o resultados obtido para o
gráfico de eficiência instantânea com a equação de uma reta. Rigorosamente, para os
coletores de placa plana, o resultado das curvas de eficiência também não são retas, pois
o coeficiente global de perdas varia com a própria temperatura do coletor. Assim a
eficiência teria uma curvatura leve para baixo, mas que pode ser ignorada frente a tantos
fatores de incertezas de medição que ocorrem na determinação experimental. No caso
dos coletores de tubos evacuados esta curvatura é mais notável e poderia ser preservada
em nome de uma melhor precisão nos resultados.
Como exemplo de operação de coletores evacuados, apresentam-se a equação
sugerida por um fabricante de coletores deste tipo, bem como outros dados e algumas

7.20
curvas ilustrativas das características do mesmo coletor. Não há intenção de qualquer
promoção comercial, mas os dados da empresa Apricus são bastante ilustrativos.

A Figura 7. 16 mostra esquematicamente o funcionamento do coletor. Este


coletor (assim como muitos outros hoje em dia) é construído (ver Figura 7.17) com um
tubo de vidro duplo (similar a uma garrafa térmica, com vácuo entre os dois vidros). O
vidro interno tem uma deposição de material espectralmente seletivo, para absorver a
radiação solar e ter poucas perdas por radiação.

Figura 7.16. Esquema de funcionamento de um coletor de tubos evacuados.

Figura 7.17 Construção da cobertura e absorvedor do coletor (tubo com vácuo).

7.21
A Figura 7. 18 mostra o princípio de operação do tubo de calor, transportando
calor através da evaporação e condensação do fluido de trabalho o sistema maximiza a
condução da energia absorvida a um trocador de calor.

Figura 7.18 Princípio de operação do tubo de calor no coletor.

A equação apresentada pela empresa Apricus para determinar a eficiência


instantânea é dada na Eq. (7.17)

2
T − Ta ⎛ T − Ta ⎞
η = η 0 − a1 m − a 2 ⎜⎜ m ⎟⎟ (7.17)
GT ⎝ GT ⎠

onde Tm é a temperatura média entre entrada e saída da água no trocador de calor do


coletor, Ta é a temperatura ambiente, GT é a irradiância solar no plano do coletor. Para o
coletor os parâmetros η0, a1, a2, são respectivamente 0,717, 1,52 W/(ºC m²) e
0,085 W/(ºC m²). Esta eficiência é válida considerando a área do absorvedor.
Convertendo para a área externa do coletor, a para a temperatura reduzida (abscissa da
fig. 7.15) obtém-se o gráfico da Figura 7.19. Observa-se neste gráfico uma curva de
eficiência considerando a área do absorvedor (curva vermelha) e outra para a área total
do coletor (curva preta). Para comparação foi inserida a curva de um coletor de placa
plana em azul (para área total). Esta deve ser confrontada com a curva preta (mesma
área total de coletor) mostrando que para temperaturas mais próximas do ambiente o

7.22
coletor de placa plana é mais eficiente, mas para temperaturas mais elevadas o coletor
com tubos evacuados é muito melhor.

0.8

0.6
EFICIÊNCIA

0.4

0.2

0 0.04 0.08 0.12 0.16 0.2

(Te - Ta ) / G (C / (W/m²)

Figura 7.19 Gráfico de estimativa da eficiência instantânea do coletor com tubos de


vácuo para duas considerações de área: área do absorvedor (curva vermelha) e área total
do coletor (curva preta). A curva de um coletor de placa plana aparece em azul (para
área total) e pode ser comparada com a curva preta.

7.23
8. Coletores concentradores
Nos coletores planos a área do absorvedor é aproximadamente igual à área de
abertura. Em muitas aplicações é necessário obter-se temperaturas mais altas do que
aquelas que seriam possíveis com coletores de placa plana. A temperatura de saída pode
ser elevada através da utilização de um dispositivo ótico de concentração (lentes ou
espelhos) entre a fonte de radiação e o absorvedor. O coletor com absorvedor menor
terá menos perdas que um coletor plano à mesma temperatura. A concentração de luz
solar para aplicações de larga escala é geralmente feita com dispositivos refletores,
sendo os sistemas de lentes pouco usados em sistemas de maior porte devido a custos
elevados e limitações de tamanho.
Há uma variedade muito grande de concentradores. Eles podem ser refletores ou
refratores, de formato cilíndrico (foco linear) ou superfície de revolução (foco pontual),
côncavo ou convexo e ainda contínuo ou fragmentado. Seus fatores de concentração
podem diferir em várias ordens de magnitude. Dada a diversidade de configurações, fica
difícil a aplicação de análises genéricas a todos os concentradores. Assim, eles serão
analisados em dois grupos: concentradores formadores de imagem (alta concentração) e
concentradores não-formadores de imagem (baixa concentração).

Figura 8.1 – Possíveis configurações de coletores concentradores: (a) absorvedor tubular com
refletor difuso posterior; (b) absorvedor tubular com refletor especular de parábola composta;
(c) absorvedor plano com refletores planos; (d) concentrador parabólico; (e) concentrador
refletor Fresnel e (f) campo de heliostatos com receptor central. Os três primeiros são não-
formadores de imagem, enquanto que os demais são formadores de imagens.

8.1
8.1 Fator de concentração
A relação entre as áreas de abertura e absorção é chamada de fator de
concentração:

Aa
C= (8.1)
Ar

onde Aa é a área de abertura e Ar é a área do absorvedor (receptor).

O ângulo de aceitação do coletor 2θs está associado ao fator de concentração. A


partir da figura 8.2 pode-se determinar o limite máximo do fator de concentração em
função da geometria e da segunda lei da termodinâmica.

Figura 8.2 – Representação esquemática do Sol, a uma temperatura Ts e a uma


distância R de um coletor concentrador de abertura Aa e área de absorção Ar.

Pode ser demonstrar que, para coletores circulares (superfície de revolução), o


fator de concentração máximo é dado por:

1
Ccircular,max = (8.2)
sin 2 θ s

onde θs é o meio-ângulo subentendido pelo Sol.

Para coletores concentradores cilíndricos (lineares), o limite é dado por:

1
Clinear,max = (8.3)
sin θ s

Como θs = 0,27 °, temos os valores de 45.000 para o fator de concentração


máximo ideal de sistemas circulares e de 212 para sistemas lineares. Na prática, esses
valores costumam ser menores em função de distorções (aberrações), fenômenos como
refração e erros de posicionamento.

8.2
Como conseqüência da geometria, a concentração diminui o campo de visão do
coletor. Assim, quanto mais alto for o fator de concentração, menor será o
aproveitamento da radiação difusa, tornando-se imperioso que o coletor siga o
movimento aparente do Sol.

8.2 Concentradores não-formadores de imagem


Como o próprio nome indica, concentradores não-formadores de imagem não
produzem imagens definidas do Sol sobre o absorvedor. Em vez disso, a radiação
recebida de todas as áreas do disco solar é distribuída por todas as áreas do absorvedor.
Os fatores de concentração deste tipo de coletores são baixos, geralmente inferiores
a 10. Por terem um ângulo de aceitação maior, aproveitam uma parcela maior da
radiação difusa e requerem um reposicionamento em intervalos mais longos (dias,
semanas ou apenas conforme a estação do ano) ou até, no caso de concentradores com
fator de concentração muito baixo, podem simplesmente ser mantidos fixos ao longo de
todo o ano.

8.2.1 Coletor plano com refletor difuso


Um tipo bem simples de concentrador é mostrado na figura 8.3. Ele consiste em
um coletor plano convencional com refletores difusos acoplados, os quais aumentam a
quantidade de radiação que chega até o absorvedor. Alternativamente, o refletor pode
ser outro elemento externo ao coletor, tal como uma parede ou mesmo o chão pintado
com uma cor clara. Coletores deste tipo não necessitam de seguimento e seu fator de
concentração é muito baixo (C < 4).

Figura 8.3 - Coletor plano com refletor difuso plano.

8.3
8.2.2 Concentrador de parábola composta (CPC)
Outro tipo de concentrador não-formador de imagem é o chamado coletor de
parábola composta. Este concentrador consiste em duas semi-parábolas, cada uma
passando pelo foco da outra. Suas características geométricas fazem com que
praticamente toda a radiação que atravesse sua abertura acabe chegando ao absorvedor,
seja por incidência direta ou por reflexões simples ou múltiplas. Por ter um ângulo de
aceitação relativamente amplo, ele não necessita de seguimento contínuo, bastando que
o Sol esteja dentro dos limites do seu cone de abertura. Pelo mesmo motivo, ele
aproveita uma boa parte da radiação difusa.
Os CPCs apresentam fatores de concentração variando entre 1 e 15, com
temperaturas máximas da ordem de 120 a 300 °C.

Figura 8.4 - Coletor de parábola composta: a radiação que atravessa a abertura (A-B) chega
ao absorvedor (C-D) por incidência direta, reflexão simples ou reflexões múltiplas.

8.3 Concentradores formadores de imagem


Os concentradores formadores de imagem têm características óticas análogas às
lentes de uma câmera, no sentido de que formam imagens coerentes do disco solar sobre
o absorvedor. Concentradores formadores de imagem costumam apresentar elevados
fatores de concentração. As limitações geométricas fazem com que, de um modo geral,
os concentradores formadores de imagem só funcionem com radiação direta e, portanto,
necessitem de dispositivos mecânicos que possibilitem o seguimento contínuo (ou quase
contínuo) do Sol ao longo do dia, em um ou dois eixos. Quanto maior for o fator de
concentração, quão mais preciso (e, em conseqüência, mais complexo) deve ser o
seguimento.

8.4
8.3.1 Concentrador cilíndrico-parabólico
Os concentradores cilíndrico-parabólicos (também chamados calhas parabólicas)
possuem uma superfície espelhada com a forma de parábola em um eixo e cilíndrica no
outro. Em tais condições, o foco consiste em uma linha, sobre a qual é instalado o tubo
absorvedor, normalmente isolado por um tubo de vidro, com ou sem vácuo.
Estes concentradores requerem o seguimento em um apenas um eixo, que pode
ser Norte-Sul, Leste-Oeste ou inclinado, paralelo ao eixo da Terra (eixo polar).
Os concentradores cilíndrico-parabólicos apresentam fatores de concentração
entre 10 e 85 e temperaturas máximas da ordem de 250 a 400 °C.

8.3.2 Concentrador refletor Fresnel linear


O concentrador refletor Fresnel com foco linear utiliza um conjunto de espelhos
planos ou ligeiramente curvos que concentram a radiação solar sobre um absorvedor
localizado acima do nível dos espelhos. Como o absorvedor é fixo, diversos aspectos
estruturais e técnicos são simplificados. Outra vantagem é a menor resistência ao vento,
em função da localização mais baixa dos espelhos. O concentrador refletor Fresnel
linear é uma alternativa de baixo custo ao concentrador cilíndrico-parabólico e, tal como
este, requer seguimento em um eixo.

8.3.3 Concentrador parabolóide


O concentrador parabolóide tem formato semelhante ao de um receptor de
satélite. Consiste em um espelho curvado na forma de parabolóide de revolução. O foco,
neste caso, é um ponto. Os fatores de concentração são muito altos (600 < C < 2.000) e
as temperaturas obtidas podem ultrapassar 1.500 °C.
Concentradores parabolóides demandam seguimento nos dois eixos e são o tipo
de coletor mais eficiente.

8.3.4 Campo de heliostatos com torre central


Esta configuração é um tipo de refletor Fresnel com foco central. Um conjunto
de espelhos planos (ou ligeiramente côncavos) chamados heliostatos, é distribuído em
torno de uma torre central, onde localiza-se o absorvedor. Cada espelho é provido de um
sistema individual de seguimento com mobilidade nos dois eixos,

8.5
Sistemas deste tipo apresentam concentrações entre 300 e 1500 e atingem
temperaturas de até 1000 °C.

Figura 8.5 – Algumas configurações de coletores concentradores formadores de imagem:


(a) coletor cilíndrico-parabólico, (b) refletor Fresnel, (c) coletor parabolóide e (d) campo de
heliostatatos com torre central.

8.4 Sistemas Termossolares de Geração de Energia Elétrica


As primeiras tentativas bem-sucedidas de transformar a energia solar em
trabalho mecânico através de máquinas a vapor datam da segunda metade do século
XIX, com as experiências de Adams (Índia), Mouchot (França) e Ericsson (EEUU). Em
1913 o americano Schuman instalou no Egito um sistema de irrigação composto por
cinco calhas parabólicas de 4 m de abertura por 62 m de comprimento. Uma bomba de
50 HP acionada pelo vapor gerado pelos coletores era capaz de bombear até
6.000 galões por minuto.

8.6
(a) (b)
Figura 8.6 - (a) Gerador de vapor de Mouchot (1872) e (b) sistema
de bombeamento solar de Schuman (1913).

Os sistemas termossolares de geração de energia elétrica utilizam a energia solar


captada através de coletores de concentração, usualmente formadores de imagem. Os
raios solares são concentrados em um absorvedor, por através do qual circula um fluido
de transferência (normalmente óleo) a temperaturas da ordem de 400 °C. O óleo é
bombeado até caldeiras que produzem vapor para acionar uma turbina acoplada a um
gerador elétrico. Os primeiros sistemas de larga escala surgiram na década de 1980,
quando nove sistemas utilizando calhas parabólicas, denominados SEGS (acrônimo de
Solar Electric Generating System), foram instalados no deserto de Mojave, EEUU, com
potências variando desde 14 até 80 MW.
Para continuar funcionando nos momentos em que houver redução ou
indisponibilidade de radiação solar, as centrais termossolares requerem uma fonte
auxiliar de calor, seja a partir da queima de algum combustível ou armazenando parte
do calor produzido durante o dia. Instalações como Nevada Solar One, (Boulder City,
EEUU, potência de 64 MW), utilizam queimadores de gás natural. Já a maior central
européia utilizando calhas parabólicas, Andasol 1 (Guadix, Espanha, com 50 MW),
conta com um sistema de armazenamento térmico constituído por dois tanques de 14 m
de altura por 36 m de diâmetro contendo uma mistura de sais fundidos. O gerador
utiliza este calor para produzir eletricidade durante a noite ou períodos de céu nublado,
com uma autonomia de até 7,5 horas.

8.7
Figura 8.7 - Esquema de um sistema termossolar com armazenamento térmico.

(a) (b)
Figura 8.8 – Centrais Nevada Solar One (a) e Andasol 1 (b).

Projetos de demonstração utilizando refletores Fresnel de foco linear foram


construídos na Austrália e na Bélgica. Entretanto, sistemas utilizando este tipo de
coletores ainda são muito menos freqüentes do que os de calha parabólica.

Figura 8.9 - Esquema de um sistema termossolar com concentradores Fresnel.

8.8
Figura 8.10 - Exemplos de coletores concentradores Fresnel de foco linear.

Os sistemas de prato/motor Stirling utilizam um coletor parabolóide espelhado.


A radiação solar é refletida e concentrada em um ponto, onde está localizado o
absorvedor. O calor absorvido é transferido para um gás no interior do motor, fazendo
com que o mesmo se expanda e movimente um pistão acoplado a um gerador elétrico.
Embora estes sistemas tenham uma eficiência global elevada (em 2008 os
Laboratórios Sandia chegaram a 31,25 % em um dispositivo de 25 kW), o alto custo de
instalação/manutenção e a complexidade de operação (estrutura pesada, com
seguimento em dois eixos) têm restringido a sua disseminação.

Figura 8.11 - Esquema de um sistema termossolar prato parabólico/motor Stirling.

8.9
(a) (b)
Figura 8.12 – Sistema Eurodish, na Plataforma Solar de Almería, Espanha (a)
e sistema SunCatcher, nos Sandia National Laboratories, EEUU (b).

O sistema de torre central/campo de heliostatos consiste em um grande número


de espelhos planos com seguimento em dois eixos, chamados heliostatos, que
concentram a radiação solar em um absorvedor localizado no topo de uma torre, onde
água ou um fluido de transferência é aquecido para produzir vapor e acionar uma
turbina acoplada a um gerador elétrico. Também existem sistemas que utilizam sais
fundidos pela sua maior capacidade de acumulação de energia.

Figura 8.13 - Esquema de um sistema termossolar torre central/campo de heliostatos.

Os primeiros sistemas de grande porte foram construídos no deserto de Mojave,


na década de 80. A central Solar One, com 10 MW, esteve em operação de 1982 a 1988,
gerando nesse período mais de 38 GWh de energia. Em 1996 a central foi redesenhada e
acrescentado um sistema de armazenamento com sais fundidos. Rebatizada como Solar

8.10
Two, a central funcionou até 1999, com o nome de Solar Two. Em 2007 foi posta em
operação, na Espanha, a central PS10, com potência de 11 MW. Uma segunda central,
chamada PS20 e com 20 MW, foi inaugurada em 2009.

(a) (b)
Figura 8.14 – Central Solar Two (a) e Central PS10 (b).

8.11
9. Sistemas de Aquecimento por Energia Solar

Os sistemas de aquecimento por energia solar podem ser divididos, de acordo com o seu
princípio de funcionamento, em sistemas ativos e passivos. Ambos os sistemas utilizam um
fluido de trabalho que é aquecido pelo calor obtido da absorção da radiação solar incidente no
coletor e armazenado num reservatório.

9.1 Sistema ativo para aquecimento de água.


No sistema ativo utiliza-se uma bomba para impulsionar, de uma maneira controlada, o
fluido de trabalho pelo circuito. O fato de ser utilizada uma bomba possibilita, juntamente com o
uso de uma válvula de retenção, que o reservatório seja instalado em qualquer altura em relação
aos coletores.

Os sistemas ativos podem ser classificados de acordo com a maneira como a energia solar
é transferida para a água de consumo:

- diretamente (Figura 9.1-a)

- com trocador de calor interno ao reservatório (Figura 9.1-b)

- com trocador de calor externo ao reservatório (Figura 9.1-c)

Além disso, podem ser utilizados sistemas com um ou dois reservatórios. Num sistema de
um reservatório, como os representados nas Figuras 9.1-a e 9.1-b, os calores provenientes da
energia auxiliar e da energia solar são adicionados num mesmo reservatório. Num sistema de
dois reservatórios, como o da Figura 9.1-c, a energia auxiliar é incorporada a um segundo
reservatório, separado, e ligado a um reservatório de pré-aquecimento, onde atua a energia solar.
Os sistemas com um único reservatório têm demonstrado rendimento superior aos de dois com a
mesma capacidade de armazenamento, devido a menores perdas de calor.

Todo o sistema ativo deve possuir um tipo de controle que acione a bomba sempre que
houver energia solar disponível e a desative quando não houver mais essa energia. Deve operar
com intervalos que possibilitem o máximo desempenho do sistema e em condições estáveis de
funcionamento.

9.1
Figura 9.1 – (a) sistema ativo com um reservatório e ciclo aberto, (b) sistema ativo com um
reservatório e ciclo fechado e (c) sistema ativo com dois reservatórios e ciclo fechado.

9.2 Sistema passivo para aquecimento de água


Os sistemas passivos são também chamados de sistemas com circulação natural ou ainda
por termossifão. Esse tipo de sistema não utiliza bomba para fazer a circulação do fluido de
trabalho. A circulação inicia quando a radiação solar passa a aquecer o fluido no coletor,
tornando-o menos denso que o fluido no fundo do reservatório, criando assim uma circulação
convectiva do fundo do reservatório para a entrada do coletor, da entrada para a saída do coletor
e da saída do coletor para o topo do reservatório. Deste modo, o diferencial criado pelos
gradientes de temperatura é utilizado para produzir o escoamento do fluido aquecido sem
qualquer outra fonte externa de energia, a não ser o Sol. A intensidade do efeito e a velocidade
do escoamento do fluido podem ser calculadas com base em princípios físicos elementares.

9.2
Figura 9.2 - Tubo "U" mostrando o acréscimo δh na coluna aquecida.

Na Figura 9.2 é mostrado um tubo em "U" contendo fluido a uma altura h. Se um lado do
tubo for aquecido, a densidade do fluido da coluna aquecida será reduzida. No entanto, para que
as duas colunas estejam em equilíbrio, o comprimento da coluna no lado quente será acrescido
de δh, de forma que os pesos das duas colunas sejam iguais.

A coluna incremental δh representa uma diferença de pressão e, se tubo for cortado no


lado quente a uma altura h, perceber-se-á que uma força incremental tenderá a acelerar o fluido
por todo o sistema. Estes sistemas são os mais utilizados para o caso brasileiro, pois são simples
e muitas vezes mais convenientes para o nosso clima, principalmente para sistemas pequenos e
de uso doméstico. Um exemplo desse sistema pode ser visto na Figura 9.3.

Uma particularidade deste sistema é a necessidade de que o reservatório esteja


obrigatoriamente acima do nível dos coletores, o que poderá, em alguns casos, provocar alguma
dificuldade em relação à arquitetura e estética da edificação. Isto se faz necessário para evitar a
recirculação noturna, ou seja, que o fluido escoe em sentido contrário ao desejado. A
recirculação noturna pode ocorrer sempre que o fluido dentro do reservatório estiver aquecido e
o que estiver dentro do coletor, ao não sofrer mais nenhum acréscimo de temperatura devido ao
fato da radiação ser insuficiente para tal, estiver a uma temperatura mais baixa (e
conseqüentemente mais denso) que o que está armazenado no reservatório. Neste caso haverá
um escoamento do fluido do fundo do coletor para o fundo do reservatório. Se o reservatório
estiver acima do nível do coletor, haverá sempre uma coluna de água quente na tubulação isolada
que liga a saída do coletor ao reservatório, a qual tenderá a balancear a diferença de pressão,
anulando o efeito da recirculação.

O rendimento dos sistemas passivos varia diretamente com a intensidade de radiação


solar incidente e com a altura relativa entre o reservatório e a saída dos coletores. Esta diferença

9.3
de altura foi motivo de diversos trabalhos e o valor recomendado varia de 0,3 a 0,6 m. Mostrou-
se que aumentando-se esta diferença de altura aumenta o fluxo de massa, resultando numa menor
temperatura de placa e, conseqüentemente, melhorando o rendimento do coletor. No entanto,
deve existir um ponto de equilíbrio, pois o aumento de fluxo de massa pode diminuir a
estratificação no reservatório, aumentando a temperatura de entrada no coletor e diminuindo o
rendimento.

Um outro problema, menos grave para países de clima tropical, é o de como evitar o
congelamento do fluido de trabalho nos coletores instalados em lugares sujeitos a baixas
temperaturas.

Item Descrição
1 Reservatório de água quente
2 Reservatório de água fria
3 Coletor
4 Tubulação isolada
5 Tubulação isolada
6 Tubulação isolada - água para consumo
7 Tubulação - água para reposição para reservatório quente
8 Tubulação - água da rede de abastecimento
9 Válvula de fornecimento de água fria
10 Válvula de dreno

Figura 9.3 - Esquema de um sistema de aquecimento solar por termossifão.

9.4
9.3 Reservatório térmico
Como a disponibilidade da energia solar é variável por natureza, torna-se necessário o
armazenamento da energia térmica convertida pelos coletores para o atendimento do consumo
durante a noite ou nas ocasiões de céu encoberto. Esse armazenamento é feito em tanques
termicamente isolados.

Os materiais mais utilizados na construção de reservatórios de água quente para sistemas


de aquecimento por energia solar são o aço inoxidável e os chamados plásticos de engenharia
(por exemplo, polietileno de alta densidade). Como a temperatura da água no interior do
reservatório é mais alta do que a temperatura ambiente, é necessário que ele seja isolado, a fim
de minimizar as trocas térmicas com o meio. Este isolamento é feito usualmente com lã de vidro,
lã de rocha ou poliuretano expandido.

A água quente a ser consumida é retirada da parte superior do tanque. Ao mesmo tempo
em que ocorre o consumo, um volume equivalente de água fria de reposição é introduzido na
parte inferior. Assim, em condições normais de funcionamento, o tanque contém água fria,
morna e quente. A ação da gravidade faz com que a água se distribua verticalmente no interior
do tanque conforme a sua temperatura (e, conseqüentemente, de densidade) devido às diferenças
de densidade. Este fenômeno é chamado estratificação térmica.

A estratificação térmica no interior do reservatório exerce grande importância sobre a


eficiência global de um sistema de aquecimento de água por energia solar. Uma temperatura de
fluido mais baixa na entrada do coletor aumenta a sua eficiência, já que ela é inversamente
proporcional à diferença de temperatura (Te - Ta), onde Te é a temperatura de entrada do fluido
no coletor e Ta é a temperatura ambiente.

Para favorecer a estratificação, a água do coletor é tomada do fundo do reservatório e,


depois de aquecida, injetada em uma altura acima de 2/3 da altura total, ou bem no topo do
reservatório. Como a água quente é menos densa, não há muita mistura por convecção e o calor
se distribui essencialmente por difusão. As condições de entrada do fluido de trabalho no
reservatório podem ser melhoradas através do uso de defletores, de modo a diminuir a mistura
que ocorreria se este entrasse no reservatório com grande velocidade.

A estratificação é mais bem conservada em reservatórios constituídos de materiais de


baixa condutividade térmica (por exemplo, os plásticos) pois, dependendo do material e da
espessura do mesmo, a condução pelas paredes poderia ser maior que as perdas de calor pelo
isolamento e que a difusão entre os volumes de água quente e fria.

9.5
O número de circulação é definido como o número de vezes em que a massa total do
reservatório circula no sistema durante um dia. Para sistemas solares típicos para aquecimento de
água, este número varia entre 1 e 18, mas um sistema convencional deve trabalhar entre 1 e 3.
Para número de circulação superior a 1 não foi observada influência na estratificação. Isto
significa que não são necessários fluxos de massa muito grandes para alcançar-se o máximo
rendimento do sistema.

Os reservatórios verticais tendem a ter um melhor desempenho que os horizontais, pois


os últimos apresentam um caminho de condução maior entre a zona de aquecimento (topo do
reservatório) e a zona de pré-aquecimento (parte intermediária do reservatório). A melhor
relação L/D parece estar entre 3 e 4.

Simulações realizadas mostraram que sistemas ativos com razoável capacidade de


armazenamento são relativamente insensíveis ao perfil diário de consumo de água quente.
Porém, para o perfil mostrado na Figura 9.4, pode-se estabelecer que a pior hora para consumo
de água quente seja aquela um pouco antes que o coletor começa a operar e fornecer energia para
o reservatório. Isto acontece porque este tipo de perfil maximiza as temperaturas médias tanto do
coletor quanto do reservatório, o que diminui o rendimento do coletor e aumenta as perdas de
calor do reservatório. Tendo isto em vista, o período mais favorável para consumo é no meio da
tarde.

Figura 9.4 – Exemplo de perfil de consumo.

A incidência da radiação solar diminui durante a tarde, isto é, diminui depois que a
temperatura da água no topo do reservatório tenha alcançado seu pico. Conseqüentemente, ao
final do período de insolação, supondo que a água quente não tenha sido extraída, a água
proveniente do coletor, com a temperatura inferior à da água do topo do reservatório, atravessará
a camada mais quente, promovendo um processo lento de mistura. Este fenômeno diminui a
estratificação térmica e reduz a eficiência do sistema.

9.6
Os sistemas passivos são mais sensíveis ao tipo de distribuição de consumo diário de
água quente, tendo em vista que a distribuição de temperatura dentro do reservatório influi nas
forças que impulsionam ou promovem a circulação do fluido.

A distribuição das temperaturas dentro do tanque em cada momento pode ser prevista em
bons softwares de simulação e sua influência no funcionamento do sistema pode ser estudada
pelos resultados simulados. A figura 9.5 mostra as dimensões de um pequeno reservatório
cilíndrico horizontal isolado, que foi objeto de estudo para estratificação de água quente.

(a) (b)
Figura 9.5 (a) Dimensões do reservatório simulado, medidas em [m].

(b) Esquema destacando as posições de entrada e saída de água.

A Fig. 9.6 apresenta o perfil do campo de temperatura no plano vertical passando pelo
diâmetro, para instantes correspondentes a temperatura de ingresso diferente. Na mesma figura
mostram-se ainda as componentes de velocidade Vr (componente radial) e Vz (componente

axial) do campo de velocidade.


Na Fig. 9.6(a), a temperatura de ingresso é 50 ºC e observa-se que a temperatura da água na
vizinhança da entrada é inferior a este valor. Assim, por estar numa temperatura superior,
apresenta densidade menor e desloca-se para cima até atingir uma camada de igual temperatura e
densidade. A figura mostra ainda que neste movimento ascendente, a água quente que ingressou,
ao atravessar as diversas camadas de água menos quente, sofre uma mistura e vai diminuindo seu
valor original, de modo que ao chegar ao topo do reservatório já não está mais a 50 ºC. Na Fig.
9.6(b), observa-se que a temperatura da água de ingresso é de aproximadamente 49ºC e assim ela
não se desloca mais até o topo de reservatório (que está a 50 ºC), mas sim até uma altura
compatível com a densidade, ou seja, até uma altura onde a água está a 49 ºC. Na Fig. 9.6(b)
observa-se ainda que neste movimento ascendente, a água ao atingir uma camada de igual
temperatura, não para imediatamente, mas sim a ultrapassa para depois retornar a altura de igual
9.7
temperatura. Este fato, bem como o processo de mistura ao longo do movimento de subida, é
indesejável nos sistemas onde a circulação da água ocorre por termossifão, visto que destrói a
estratificação do campo de temperatura. Na Fig. 9.6(c), a temperatura da água de ingresso é de
aproximadamente 45ºC e observa-se que água agora apresenta um movimento descendente, visto
que no reservatório, a camada de água a 45 ºC encontra-se numa posição inferior à entrada.
Finalmente, na Fig. 9.6(d), a temperatura da água ingressada é de 40 ºC e observa-se que o
movimento de descida é ainda mais acentuado. Observa-se ainda, que a água, mesmo
ingressando a 40 ºC, não se desloca até o fundo do reservatório, que também está a 40 ºC.
Conforme dito acima, isto se deve ao processo de mistura que ocorre no deslocamento da água
de ingresso com a água das diversas camadas atravessadas.
No link ftp://ftp.solar.ufrgs.br/Anima_tanque/Anima_tanque.zip é possível baixar diversas
animações sobre estratificação e o comportamento térmico de reservatórios de água quente.

(b)
(a)

(c) (d)
Figura 9.6. – Vista do campo de temperatura e velocidade para instantes com temperatura

de ingresso variáveis num campo de temperatura linearmente estratificado.

9.4 Energia auxiliar

9.8
A finalidade da energia auxiliar em um sistema solar de aquecimento de água é manter a
água de consumo num nível de temperatura mínimo requerido nas ocasiões de baixa
disponibilidade de radiação solar ou quando ocorra um consumo de água quente maior que o
esperado.

Dentre as maneiras de se introduzir a energia auxiliar no sistema, destacam-se a


resistência elétrica e caldeiras a óleo, a lenha ou a gás, sendo mais utilizada a resistência elétrica.

A energia auxiliar pode ser acoplada ao sistema de diferentes maneiras, sendo


comumente utilizada uma das três representadas na Figura 9.7.

Figura 9.7 - Esquema de localização da energia auxiliar: (a) e (b) externo ao


reservatório atuando em paralelo, (c) e (f) dentro do reservatório; (d) e (e) externo em
linha com consumo.

As Figuras 9.7 (a) e (b) mostram o equipamento de aquecimento auxiliar externo ao


reservatório atuando em paralelo. A água é aquecida neste equipamento sempre que um
termostato no interior do tanque indique que a temperatura está abaixo de um determinado valor.
Este sistema necessita um bombeamento adicional para a circulação da água. Outros controles
podem ser adicionados para otimizar o consumo de energia. As figuras (c) e (f) mostram o
aquecedor auxiliar dentro do reservatório em um esquema muito comum quando o equipamento
de aquecimento auxiliar é uma resistência elétrica. Também é comandado por um termostato. As
figuras (d) e (e) mostram o aquecedor auxiliar externo em linha com consumo. Há aquecedores
elétricos e a gás que analisam a temperatura da entrada e regulam a temperatura da saída de

9.9
água, modulando a energia consumida conforme a necessidade. Neste caso a energia auxiliar não
é desperdiçada pelas perdas térmicas do tanque.

9.5 Coletores Solares para Aquecimento de Ar e Climatização natural

9.5.1 Coletores para aquecimento de ar


Uma importante aplicação da energia solar é o aquecimento de ar para sistemas de
conforto térmico ou para sistemas de secagem, entre outros. Em sistemas de conforto térmico o
ar aquecido é colocado no ambiente em condicionamento, e nos sistemas de secagem o ar é
colocado em contato com os produtos a serem secos.

Os coletores para ar podem ser divididos em dois grandes grupos: coletores tipo caixa e
coletores tipo parede coletora-absorvedora:

Coletores tipo caixa


Exemplos de coletores tipo caixa podem ser vistos na Figura 9.8. Todos eles apresentam
um elemento principal cuja função é absorver a energia solar, aquecer-se e, de alguma forma,
transmitir esta energia térmica ao ar em circulação. A forma construtiva deste elemento é que
diferencia os coletores tipo caixa entre si. Este elemento principal deve ser protegido contra
perdas térmicas nas faces superior e inferior, da mesma forma que um coletor de água. Tem,
portanto, um vidro na face superior para minimizar as perdas por convecção e radiação e uma
camada de isolante térmico na face inferior, para minimizar as perdas por convecção.

O coletor (a) apresenta o elemento aquecedor na forma de uma placa preta-fosca aletada,
com a finalidade de aumentar a área de contato placa-ar. E necessário aumentar esta área porque
o ar é um mau trocador de calor (apresenta baixo coeficiente de convecção), e isto é contornado
pelo aumento da área de troca de calor.

O coletor (b) apresenta uma placa corrugada (ondulada), sendo que o ar é forçado a
circular paralelamente à placa, na face inferior desta ou nas faces inferior e superior. A placa
corrugada, aquecendo-se, irá aquecer o ar em contato com ela. O corrugado aumenta também o
coeficiente de troca de calor por convecção, por aumentar a turbulência no escoamento do ar.

O coletor (c) é formado por canais metálicos retangulares pelos quais circula o ar,
trocando calor com os quatro lados de cada canal, apresentando uma grande área de troca de
calor.

9.10
O coletor (d) apresenta o elemento trocador de calor como uma matriz metálica também
preta-fosca, por onde o ar é forçado a passar, aquecendo-se. Esta matriz pode ser formada pela
colocação de diversas lâminas de placas metálicas expandidas formando telas, por exemplo. A
colocação diagonal das telas no coletor impede que o ar entre em contato com o vidro após
aquecido, diminuindo as perdas de calor por convecção. Em torno de 70 a 80% da radiação solar
é absorvida pelas telas, e os 20 a 30% restantes são absorvidos pela base da passagem de ar.

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 9.8- Coletores para aquecimento do ar tipo caixa.

Os coletores tipo parede coletora-absorvedora são utilizados em sistemas de climatização


natural e serão vistos no item que trata destes sistemas.

9.5.2 Climatização natural


A energia solar constitui-se num elemento de grande importância na evolução térmica das
edificações. Esta afirmação pode ser comprovada ao verificarmos duas situações extremas: no
inverno, necessita-se de aquecimento das edificações, para melhoria do conforto térmico, e neste
caso a energia solar é favorável à obtenção deste conforto. No verão, necessita-se de diminuição
da temperatura ambiental, para obtenção do conforto térmico e neste caso os ambientes devem
ser protegidos da energia solar.
9.11
Observam-se então duas situações diversas: no inverno deve-se maximizar o recebimento
de energia solar pelos ambientes e, no verão, deve-se minimizar este recebimento. Estas duas
condições extremas exigem soluções arquitetônicas ou construtivas bem analisadas, para evitar
ambientes excessivamente frios no inverno e quentes no verão.

9.5.2.1 Inverno
Devido ao movimento de translação da Terra em torno do Sol, com seu eixo inclinado, no
dia 21 de Julho o Sol tem seu movimento aparente sobre o Trópico de Câncer (solstício), ou seja,
o Sol encontra-se sobre o hemisfério norte. Por isso, inicia o verão para o hemisfério norte e o
inverno para o hemisfério sul. Observa-se então que durante o inverno o Sol, para o hemisfério
sul, encontra-se ao Norte. As soluções arquitetônicas devem então procurar captar a energia
proveniente do Sol nesta posição. Uma boa vedação das janelas é de fundamental importância na
redução das perdas térmicas.

A utilização do Sol para aquecimento de ambientes pode ser feita de três formas:

- Aquecimento direto

- Aquecimento indireto (via ar quente)

- Via água quente (calefação)

- Aquecimento direto:

O aquecimento direto é provavelmente a forma mais antiga de aquecimento de


ambientes: basta deixar o sol entrar. Este processo simples requer porém alguns cuidados. Deve-
se atentar qual a orientação ideal para as aberturas. Conforme visto acima, a ideal é a norte,
podendo ocorrer uma variação de ± 15°.

A princípio, quanto maior a área das aberturas maior a entrada de radiação. Deve-se,
porém, considerar que em algumas situações a radiação solar excessiva pode causar desconforto,
sendo necessário algum controle da intensidade de radiação que atravessa a janela, como
cortinas opacas. Deve-se também levar em conta que, após o pôr-do-sol, as janelas constituem-se
em meio de perda de calor. É necessário ter-se então sistemas de proteção contra perdas
térmicas, como cortinas internas e persianas externas. A radiação solar que entra nos ambientes
não aquece o ar, mas sim as superfícies deste ambiente, como pisos, paredes e móveis. Por isso,
quanto mais densas (pesadas) forem estas superfícies, mais eficiente será o processo de
aquecimento dos ambientes.

9.12
Participa também destes processos o comportamento seletivo dos vidros, ao deixarem
passar a radiação solar e serem opacos à radiação emitida pelas superfícies internas, fenômeno
conhecido por efeito estufa dos vidros. Uma boa solução é a utilização de janelas conforme a
Figura 9.9, que permitem várias situações de uso, inclusive em termos de ventilação. Como estas
janelas apresentam três condições para a persiana externa, duas para o vidro e duas para a cortina
interna, tem-se 3 x 2 x 2 = 12 combinações possíveis, mais as intermediárias. É interessante
lembrar a necessidade de boa vedação da janela para evitar infiltrações indesejadas de ar exterior
oposto à situação de conforto, tanto no inverno como no verão.

Figura 9.9 - Janela com proteções variáveis.

- Aquecimento indireto via ar quente:

O ar ambiente é aquecido em um equipamento e após colocado novamente no ambiente.


Este equipamento é chamado de "Parede Coletora/Absorvedora" ou "Muro Trombe", e pode ser
visto na Figura 9.10. Baseia-se em uma parede espessa e maciça voltada para o Norte, pintada de
preto-fosco e coberta por vidro. Na parte inferior existe uma abertura interna e, na parte superior,
aberturas interna e externa. A radiação solar aquece a parede espessa, que por sua vez aquece o
ar. Este ar fica menos denso e sobe.

9.13
Figura 9.10 - Parede Coletora-Absorvedora.

No inverno abre-se a comunicação superior interna, permitindo que o ar ambiente circule,


aquecendo-se. No verão, abre-se a comunicação superior externa e fecha-se a interna, permitindo
que ocorra uma exaustão do ar da peça. Tomando-se este ar na fachada sul, caracteristicamente
uma fachada fria, consegue-se um certo resfriamento da peça. A parede deve ser espessa para
que, mesmo após o pôr-do-sol, continue o processo de aquecimento até o resfriamento total da
parede.

- Aquecimento indireto via água quente:

Estes sistemas utilizam coletores solares padrões para água quente. Estes coletores
aquecem água que é armazenada em um grande depósito, normalmente no piso inferior da
edificação.

Esta água quente, por intermédio de bombas, circula em aquecedores tipo ventilador-
serpentina que, por sua vez, aquecem o ar ambiente. O sistema pode ser visto na Figura 9.11.

9.14
Figura 9.11 - Aquecimento ambiental com água quente.

9.5.2.2 Verão
No verão é necessário diminuir-se ao máximo os ganhos de calor do ambiente,
principalmente os ganhos de energia solar, normalmente os mais importantes em termos de
aquecimento. É necessário tomar-se então certas soluções arquitetônicas na definição do
ambiente que diminuam estas entradas de energia. Nestas soluções deve-se levar em conta que
no verão, pelas razões expostas no item inverno, o Sol encontra-se sobre o hemisfério sul. Isto
faz com que o Sol incida com grande intensidade sobre as fachadas leste e oeste, e sobre os
forros, o que deve ser levado em conta nas definições arquitetônicas dos ambientes.

Lajes e forros - Deve-se evitar a laje exposta diretamente à radiação solar, como os terraços.
Estes elementos estão sujeitos a grandes radiações e conseqüentemente grandes aquecimentos,
transmitindo este calor ao ambiente e aquecendo-o. Deve-se procurar proteger o forro com
telhas, preferencialmente de cor clara. É importante salientar a necessidade do forro abaixo das
telhas, evitando o contato direto destas com o ambiente, para não recair no caso anterior.

Paredes - As paredes devem ser espessas e pesadas, de cor clara, para diminuir e retardar seu
aquecimento, função da insolação recebida. Deve-se ter muito cuidado com paredes oeste, que
recebem grandes insolações justamente na hora mais quente do dia, em torno das 15 horas.

9.15
Janelas - As janelas devem ser preferencialmente voltadas para o Norte. Da mesma forma que
para as paredes, deve-se ter cuidado e evitar, na medida do possível, janelas de frente para o
Oeste.

Pisos - Não recebem insolação, mas participam da evolução térmica dos ambientes. Neste
sentido, o piso recomendado é aquele em contato direto com a terra, por ser o que apresenta
maior inércia térmica, o que ajuda na neutralização das flutuações das condições térmicas
ambientais. Deve-se evitar os pisos suspensos que tenham ambientes externos abaixo dele (pisos
sobre pilotis), pois sofrem muito o efeito das condições ambientais.

As soluções citadas acima também apresentarão resultados benéficos no inverno, por


melhorarem a proteção térmica do ambiente.

9.5.2.3 Laboratório de Energia solar da UFRGS

O prédio possui uma área útil construída de 176 m² dividindo-se em duas salas grandes
(oficina e laboratório) com 49 m² cada, uma sala de reuniões e aulas com 27 m²; gabinetes com
16 m² e conjunto de salas de apoio (banheiro, cozinha, instrumentos, depósito) com 35 m².

Na distribuição dos ambientes internos do prédio foi levado em consideração o seu


tempo de ocupação. Os locais de serviço como banheiro, cozinha, sala de instrumentos, vestiário,
sanitário e depósito, tendo em vista que possuem um tempo de ocupação menor, estão
localizados na face sul do prédio a fim de servirem como isolamento adicional, principalmente
durante o inverno, já que a fachada sul recebe pouca radiação solar e esfria com ventos desta
direção.
A sala de reuniões e aulas possui somente ganho direto, através de 7,2 m² de área
transparente inclinada em 50º, funciona durante o inverno como uma estufa de plantas. A sala
dispõe de um brise-soleil, que consiste de anteparos horizontais móveis permitindo que a entrada
de luz e radiação solar sejam controladas de acordo com a necessidade do ambiente. A Figura
9.12 mostra uma foto externa do prédio onde podem ser observados diversos detalhes da
construção.

9.16
Figura 9.12- Vista externa da fachada leste e norte do prédio de energia solar da UFRGS, antes da
instalação do sistema fotovoltaico, onde estão em destaque os brises, a marquise e o coletor solar.

O coletor solar está instalado na face norte do prédio do Laboratório de Energia Solar,
possui cerca de 26 m2, é constituído de uma massa espessa de concreto (inclinada 50º) com uma
superfície absorvente de tijolo e possui uma cobertura dupla de vidro colocada de modo a deixar
um espaço para a circulação de ar entre os tijolos e a lâmina interna de vidro. A Figura 9.13
ilustra, em escala, o desenho do coletor solar. Essa figura mostra as diversas posições internas
do coletor onde foram instalados diversos sensores de temperatura, os quais foram utilizados
para medir seu desempenho. Observe que este coletor, pelo fato de ser inclinado e estar em uma
posição abaixo do nível do solo, permite que sejam incorporadas janelas acima do mesmo,
aumentando o ganho de luminosidade no ambiente e reduzindo o uso de iluminação artificial na
maior parte do dia, resolvendo o grande problema da ocultação visual das paredes coletoras
convencionais (como na Fig. 9.10)

O coletor solar funciona com a convecção natural. Os raios solares atravessam as


coberturas de vidro e aquecem a superfície absorvente, uma parte da energia absorvida pela
superfície aquece o ar (efeito da convecção natural) que é introduzido no interior da construção
por efeito de termossifão, uma outra parte da energia difunde-se ao interior da massa de
concreto. Essa parte de energia térmica que é difundida ao longo do concreto, é restituída ao
ambiente, com um certo atraso, através do ar que escoa ao longo dos outros canais.

9.17
Figura 9.13 - Coletor solar com distâncias em mm e as posições internas dos sensores de
temperatura.

A Figura 9.14 ilustra o modo de operação do sistema no verão. Observe que existe um
canal que liga a face sul ao interior do Laboratório, esse canal permite que o ar seja retirado da
face sul e inserido no interior do laboratório no verão, produzindo uma ventilação natural. Essa
tomada de ar na face sul capta ar de um local sombreado por vegetação. A ventilação é
potencializada pela exaustão do ar aquecido pelo coletor solar na fachada norte, através da
chaminé. Nos dias em que há vento, as janelas superiores são abertas, proporcionando outra
fonte de ventilação. Como o vento predominante vem da direção sul, a forma do prédio
proporciona uma zona de baixa pressão diante destas janelas, retirando o ar mais aquecido que se
acumula na parte mais alta do Laboratório. Uma passagem de ar pelo sótão do lado sul também
alivia o ar quente acumulado nestes recintos.
Existe uma marquise que atenua a incidência da radiação solar direta sobre as janelas da
edificação. Este elemento funciona também como calha para captar água da chuva do telhado e
tem dimensões adequadas para impedir a penetração da radiação solar direta pelas janelas.
Durante a noite, as janelas devem ficar abertas para permitir a circulação de ar fresco no interior
do prédio. A redução da temperatura das paredes e outros elementos da construção será
aproveitada no dia seguinte. Desta forma o coletor está servindo como ventilador de ar, usando

9.18
exclusivamente energia solar e contribuindo para manter o ambiente habitado em situação de
conforto térmico.

janela
basculante

entrada de
ar

salas Radiação
sul solar

Figura 9.14- Esquema da circulação natural do ar, no interior do Laboratório, durante o verão.

A Figura 9.15 ilustra o modo de operação do sistema no inverno. Durante o inverno a


chaminé fica fechada, para que o ar aquecido entre no laboratório. Desta forma, ao não haver
troca de massas de ar com o exterior, o canal da face sul fica inoperante no inverno. Nesta época
do ano a trajetória do sol, ao longo do dia, é diferente e a marquise não afeta a incidência da
radiação solar direta.

janela
basculante

salas
sul Radiação
solar

Figura 9.15- Esquema da circulação natural do ar aquecido, no interior do laboratório, durante o inverno.

9.19
10. Softwares para Dimensionamento e Simulação

Um sistema de aquecimento de água com energia solar pode ser simulado de forma que
seu comportamento possa ser previsto, no entanto esta simulação depende de dados de consumo
de água, da localização onde o sistema será instalado e das características dos componentes do
sistema. Assim convém selecionar os objetivos da simulação. Se a finalidade é unicamente
dimensionar o sistema, isto é, determinar o tamanho da instalação de coletores e o volume do
reservatório, o uso de programas derivados de simulações anteriores é suficiente. Para
determinar o efeito real de modificar qualquer dos componentes da instalação é necessário
realizar uma simulação mais detalhada. No primeiro caso pode-se utilizar o programa
TERMODIM, o qual deve ajudar a encontrar a área de coletores solares para uma determinada
instalação. No segundo caso recomenda-se utilizar o programa TERMOSIM que, apesar de
custar mais trabalho por exigir a especificação de um maior número de parâmetros dá resultados
com muito mais detalhes e ajuda a determinar os efeitos das modificações propostas.

10.1 Programa TERMODIM

A eficiência dos sistemas de aquecimento de água por energia solar operando em regime
de termossifão não é uma constante nem se limita a uma faixa estreita de valores como é a
eficiência de muitos outros equipamentos utilizados em aquecimento. Depende fortemente dos
valores das variáveis atmosféricas que se alteram durante todo o dia e também da temperatura do
fluido circulante, bem como do perfil e da vazão de demanda.
Com a falta de um método específico, os projetistas estimam a área necessária a essa
aplicação a partir daquela que seria usada no caso de o sistema operar em regime de circulação
forçada, muitas vezes utilizando a metodologia da F-Chart [Duffie e Beckman, 1991] para uma
pré-estabelecida vazão de operação.
Existem outros aplicativos para o dimensionamento de instalações solares operando por
termossifão, porém com maiores limitações, podendo-se citar o aplicativo RETScreen
International que é um aplicativo em Microsoft Excel desenvolvido para a análise de projetos de
energias renováveis, tanto do ponto de vista do dimensionamento como da análise custo-
benefício, mas que ainda não está difundido no nosso país.
10.1
O Método F-Chart, apesar de utilizado no Brasil, apresenta algumas limitações
Primeiramente, foi desenvolvido para aquecimento solar operando por circulação forçada.
Segundo, o Método F-Chart considera que o reservatório térmico é completamente misturado, o
que é uma consideração bastante conservativa para os sistemas operando por termossifão e
bombeados a baixas vazões.
Considerando o sistema de aquecimento como um todo, isto é, levando em consideração
os efeitos da tubulação e seu isolamento, do reservatório de água quente, do sistema de
aquecimento auxiliar e da distribuição geométrica dos componentes, a dificuldade de indicar um
número que represente a eficiência do sistema aumenta consideravelmente. As únicas maneiras
de se poder assegurar valores aceitáveis são através da determinação experimental ou da
simulação numérica computacional, tendo a segunda alternativa a vantagem de permitir a
obtenção de forma rápida resultados que experimentalmente levariam anos para serem
levantados.
Considerando a carência de ferramentas para suprir a necessidade de nossos instaladores,
projetistas e estudantes por um mecanismo simples e rápido para o dimensionamento de sistemas
de aquecimento solar, foi desenvolvida no Laboratório de Energia Solar da UFRGS uma
correlação analítica, que serviu de base para a construção do aplicativo para este fim,
denominado TermoDim. A correlação foi baseada numa série de simulações para sistemas típicos
de termossifão realizadas com o aplicativo comercial TRNSYS 14.2 .
A correlação é uma alternativa simples e rápida para o cálculo da eficiência em média
mensal do sistema sem a necessidade de se recorrer a determinação experimental ou a simulação
numérica computacional. A correlação e o aplicativo TermoDim são contribuições da tese de
Doutorado desenvolvida por Antônio Marcos de Oliveira Siqueira ( Promec/UFRGS).
O programa TermoDim permite determinar a área apropriada de coletores solares planos
para pequenas ou grandes instalações de aquecimento de água operando por termossifão. Este
programa utiliza informações básicas da construção de coletores solares para determinar os
valores de energia convertida em uma tabela com um resultado para cada mês do ano.
No item 10.1.1 apresenta-se a metodologia empregada no desenvolvimento da correlação
para a eficiência térmica diária em média mensal de um sistema de aquecimento solar operando
em regime de termossifão. A equação resultante mostra que a eficiência é uma função linear das
condições meteorológicas, da qualidade do coletor empregado e dos parâmetros de projeto que
relacionam o volume do tanque, volume de demanda e área de coleta. No item 10.1.2 apresenta-
se uma aplicação do programa TermoDim.

10.2
10.1.1 SISTEMA PROPOSTO

Uma vez que, no caso da circulação natural, a vazão é uma variável desconhecida, fruto
da iteração das condições construtivas, operacionais e ambientais, é necessário determiná-la
através de uma simulação detalhada do comportamento térmico do sistema solar. A execução
desta operação não é muito simples e requer o uso de softwares sofisticados como o TRNSYS ou
como o TermoSim, o qual não estava operacional na época em que o TermoDim foi realizado. Se
a eficiência média de todo o sistema pudesse ser derivada diretamente a partir de variáveis
conhecidas, seria fácil e rápido obter o calor gerado pelo sistema e conseqüentemente todos os
parâmetros para definir a conveniência de realizar a instalação solar em estudo.
Como muitas instalações de equipamentos solares de aquecimento são semelhantes no
Brasil, resolveu-se reunir em poucas equações um método simples para que se possa
dimensionar um sistema operando em circulação natural, sem recorrer cada vez à simulação
computacional. Para obter este conjunto de equações foram efetuadas simulações destes sistemas
por meio do programa TRNSYS. Foram variados diversos parâmetros de projeto e de
equipamento, obtendo-se um conjunto de expressões que permitem a determinação da eficiência
térmica diária do sistema em média mensal. Foram considerados os aspectos geométricos e
térmicos relativos ao coletor, reservatório e tubulações hidráulicas e os aspectos operacionais e
climáticos (demanda, radiação solar, temperatura ambiente).
Um diagrama esquemático do termossifão é apresentado na Figura 10.1. O sistema
consiste basicamente de um arranjo de coletores solares planos conectados em paralelo, um
reservatório térmico cilíndrico, tubulações hidráulicas de conexão entre os coletores e o tanque.
Um misturador é combinado ao sistema para efetuar a mistura da água oriunda do topo do
tanque com a água da rede, caso a sua temperatura seja superior à temperatura de demanda.
Um aquecedor elétrico, aqui denominado apoio elétrico, e um termostato são integrados
ao tanque a fim de manter um determinado nível de temperatura na posição superior do mesmo.
Quanto ao posicionamento do apoio elétrico, este pode ser interno ou externo ao tanque.
A maioria dos fabricantes e instaladores de sistemas de aquecimento solar de água utilizam a
primeira opção, sendo esta também adotada neste trabalho.

10.3
Figura 10.1 - Sistema de aquecimento solar de água operando em regime de termossifão

10.1.2. DESCRIÇÃO DO SISTEMA

O módulo básico do coletor solar considerado na presente simulação tem área de 0,75 m²
para facilitar a combinação de diferentes números. A simulação foi efetuada para três áreas de
coleta, a saber, 3 m2, 4,5 m2 e 6 m2, o que corresponde, respectivamente, a um arranjo de 4, 6 e 8
módulos em paralelo. Três diferentes valores de FR(τα) e FRUL foram adotados. Neste trabalho,
para se especificar cada coletor, estes parâmetros foram combinados de forma a obter-se 9 pares
de valores de FR(τα) e FRUL (Tabela 10.1).

Tabela 10.1 - Parâmetros que caracterizam o desempenho do coletor solar


FR(τα) FRUL
- [W.m-2.K-1]
0,85 5
0,75 7
0,60 9

Sendo que os pares dos parâmetros de qualidade de FR(τα) = 0,85 e FRUL = 5 W.m-2.K-1 e
FR(τα) = 0,60 e FRUL = 9 W.m-2.K-1, correspondem, respectivamente, a um coletor de boa
eficiência e a um coletor de baixo desempenho térmico.
Deve-se observar que, devido à complexidade da simulação de sistemas solares de água

10.4
operando em termossifão, algumas variáveis foram fixadas. Estas são:
• Tanque:
1. coeficiente global de transferência de calor, UA = 1,39 W.m-2.K-1.
2. posição de entrada da água quente oriunda do coletor = 2/3 da altura do tanque, onde a
altura do tanque é o diâmetro do mesmo, se este é horizontal, caso contrário, a altura do
tanque é igual ao comprimento do mesmo.
3. distância vertical entre a base do tanque e a entrada do coletor: 1,2 m.
• Tubulações hidráulicas:
1. diâmetro = 0,0254 m,
2. comprimento à saída do coletor = 10 m,
3. comprimento à entrada do coletor = 4 m,
4. número de conexões/curvas = 5 (em cada tubulação).
• Termostato e apoio elétrico: (altura do apoio elétrico e do termostato)/(altura do tanque) = ½.
• Apoio elétrico: potência máxima = 2500 W.
O reservatório térmico tem seu volume determinado em função da relação volume do
tanque/área de coleta, Vreserv/AC. Para as instalações solares operando com bombeamento de água
tem-se o melhor valor para esta relação na faixa de 50 a 75 litros.m-2, sendo esta mesma
proporção amplamente aplicada nos projetos solares no Brasil, tanto em sistemas bombeados
como no termossifão.
Os tanques considerados são cilíndricos verticais e horizontais com relação
comprimento/diâmetro C/D fixada em 2,5. Por sua vez, o volume de demanda foi estipulado em
função da relação volume de demanda/volume do tanque, Vd/Vreserv. Os valores considerados são:
1/3, 1/2 e 1, valores estes que correspondem a maior parte das aplicações.
o
A temperatura de demanda é de 40 C, valor este típico em usos domésticos,
principalmente destinado ao suprimento de água quente para banho conforme levantamentos
realizados junto a consumidores no Brasil Para tal, o sistema de aquecimento de água operando
por termossifão é projetado para armazenar água a uma temperatura de projeto de 55 oC. No
entanto, dependendo do padrão e do perfil de consumo o valor da temperatura de projeto pode
variar chegar a 70 oC. A temperatura de projeto também foi estabelecida em função do problema
de contaminação bacteriológica em reservatórios térmicos, especialmente pela bactéria
conhecida como Legionella pneumophila. Apesar da contaminação ocorrer principalmente em
aquecedores elétricos, existem registros de contaminação em sistemas de aquecimento de água
operando por energia solar.

10.5
Há um número de fatores que favorecem a proliferação da Legionella. A temperatura é o
fator determinante. Na faixa de 40 a 50 oC se favorece a proliferação de colônias da Legionella.
Em torno de 37 oC se dá o crescimento potencial e a partir de 46 oC ocorre um decaimento da
proliferação. A presença de matéria orgânica (sedimentos) e outros microorganismos são
também fatores que contribuem para o desenvolvimento de colônias. Determinados materiais
como PVC, polietileno, silicone e borracha, bem como água parada, também promovem o
crescimento da bactéria Legionella.
O controle da temperatura entregue para o usuário é realizada pelo misturador, onde é
adicionada água fria da rede até que se atinja o nível desejado de temperatura para o consumo.
O perfil de demanda de água quente é uma variável que é impossível de se determinar
com exatidão, uma vez que esta depende dentre outras, dos hábitos de consumo, do nível sócio-
econômico e do período do ano. Existem alguns perfis de demanda conhecidos obtidos para os
Estados Unidos e Canadá. No Brasil existem poucos estudos conhecidos, que mostram um perfil
de demanda médio válido para aplicações residenciais assumido no desenvolvimento do
programa. O perfil resulta de avaliações realizadas em residências de usuários de sistemas de
aquecimento de água, enquadradas nas classes sociais de médio e alto poder aquisitivo. Neste
caso, o consumo de água quente é tal que 30% da demanda ocorre pela manhã (entre as 7 e às 10
horas), e os restantes 70% à noite (entre as 18 e às 21 horas). Cabe destacar que este perfil foi
obtido apenas residências onde a utilização do sistema de aquecimento de água se dá
basicamente para o banho, não sendo considerada a utilização para outros fins.

10.1.3. SIMULAÇÃO

Para a simulação de um aquecedor solar operando em regime de termossifão usando-se o


Software TRNSYS versão 14.2, os dados de irradiação solar global no plano horizontal,
temperatura de bulbo úmido e temperatura de bulbo seco empregados na simulação foram do
tipo TMY - typical meteorological year. Foram utilizados dados meteorológicos correspondentes
as estações de Albany, Albuquerque, Atlanta, Madison, Miami, Orlando e Washington nos
Estados Unidos e Porto Alegre no Brasil.
Nesse estudo, as simulações foram realizadas para o período de um ano, usando se um
espaço temporal de 1 hora, considerando-se o coletor solar dividido em 20 segmentos.

10.6
10.1.4. CORRELAÇÃO PARA A EFICIÊNCIA TÉRMICA

Foram realizadas mais de 300 simulações, que resultaram em mais de 4000 dados
mensais de eficiência térmica diária em média mensal para diversos arranjos de Vreserv/AC,
Vd/Vreserv, FR(τα), FRUL além de radiação solar HT e temperatura ambiente, Ta. Dentre as diversas
conclusões pode-se citar que a eficiência térmica, η:
1. depende da qualidade do coletor usado, ou seja, dos parâmetros FR(τα) e FRUL.
2. é diretamente proporcional a Vreserv/AC. Para uma mesma área de coleta, quando o volume do
tanque é aumentado, a eficiência aumenta.
3. é diretamente proporcional a Vd/Vreserv. Observa-se que mantido os outros parâmetros fixos,
quando o volume de demanda aumenta a eficiência também aumenta.
4. e, é diretamente proporcional à temperatura teórica Tsa, que por sua vez é uma função da
radiação incidente e da temperatura ambiente, de acordo com:

FR (τα )ref H T
Tsa = Ta + (10.1)
FRU L ref 24

sendo: FR(τα)ref e FRULref = parâmetros de referência, respectivamente, 0,75 e 7 W.m-2.K-1; Ta =


temperatura média ambiente [oC]; HT = irradiação solar global incidente no plano do coletor
[W.m-2] em média mensal.
Esses resultados foram, então, tratados estatisticamente de modo que a eficiência térmica
diária em média mensal, η, pode ser expressa através da correlação abaixo como uma função dos
parâmetros citados:

η = aη ref + b (10.2)

onde ηref = eficiência térmica de referência, calculada por:

FRU L (Tref − Ta )
η ref = FR (τα ) − (10.3)
H T ref

sendo Tref = temperatura de projeto (= 55oC), HTref = irradiação solar de referência incidente no
plano do coletor (= 800 W.m-2) e os coeficientes a e b dados por:

a = a1Tsa + a 2 (10.4)

10.7
b = b1Tsa + b2 (10.5)

Vreserv
a1 = a11 + a12 (10..6)
AC

Vreserv
a 2 = a 21 + a 22 (10.7)
AC

Vreserv
b1 = b11 + b12 (10.8)
AC

V reserv
b2 = b21 + b22 (10.9)
AC

V
a11 = 0,0003 d − 0,0002 (10.10)
Vreserv

Vd
a12 = −0,0159 − 0,0017 (10.11)
Vreserv

Vd
a 21 = −0,0086 + 0,0072 (3.12)
Vreserv

Vd
a 22 = −0,6690 + 0,2228 (10.13)
Vreserv

Vd
b11 = −8.10 −5 + 2.10 −5 (10.14)
Vreserv

Vd
b12 = 0,0028 + 0,0014 (10.15)
Vreserv

Vd
b21 = −0,0027 + 0,0009 (10.16)
Vreserv

Vd
b22 = −0,0075 − 0,0935 (10.17)
Vreserv
10.8
Na Figura 10.2 é apresentado graficamente o confronto entre os resultados obtidos pela
correlação para todos aqueles simulados usando o TRNSYS. Observa-se que a correlação obtida
contempla a configuração básica tipicamente adotada, considerando um perfil de demanda citado
Esta ressalva torna-se necessária uma vez que se observa a influência do perfil de demanda no
desempenho do termossifão em alguns trabalhos da literatura.

0.70
Eficiência térmica média mensal (%), correlação

0.60

0.50

0.40

0.30

0.20

0.10

0.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70


Eficiência térmica média mensal (%), simulação
Figura 10.2 - Eficiência térmica diária em média mensal: correlação versus simulação

O desvio relativo médio dos valores obtidos com a correlação obtida em relação aos
valores obtidos com o TRNSYS foi da ordem de 10%, enquanto o absoluto ficou em cerca de 3%.
O desvio absoluto máximo foi de 14%, sendo que 81% dos casos apresentaram desvio absoluto
menor que 5% e 93% um desvio absoluto menor que 7%. E ainda, 99% de todos os casos
avaliados apresentaram um desvio menor que 10%, na comparação entre os valores da eficiência
térmica média calculada pela correlação e àquela obtida pela simulação usando o software
TRNSYS.

10.9
Além das variáveis Vreserv/AC, Vd/Vreserv, FR(τα), FRUL, HT e Ta, e do perfil de demanda, a
eficiência térmica é também afetada pela configuração do reservatório (se horizontal ou vertical),
pelo posicionamento do mesmo em relação ao coletor e pela relação comprimento/diâmetro do
reservatório, C/D. Os resultados das simulações mostram, de um modo geral, que: 1) a eficiência
térmica aumenta com o aumento da distância vertical entre a base do reservatório e a entrada do
coletor, Ho, e 2) a eficiência térmica diminui com C/D para tanques horizontais e aumenta com
C/D para tanques verticais.
A primeira observação está coerente com a literatura que mostra a necessidade de se usar
um espaçamento vertical entre o topo do coletor e a base do tanque a fim de reduzir as perdas por
fluxo reverso. No entanto, uma vez que na simulação considera-se associado ao sistema uma
válvula de retenção, o aumento da eficiência com Ho está associado à elevação do potencial de
energia do sistema, ou seja, da carga de termossifão induzida no circuito. A eficiência do
termossifão é dependente do desnível entre o topo do coletor e a base do reservatório térmico,
ΔH. Recomendando a adoção de ΔH entre 0,30 e 0,80 m.
A segunda observação expressa que o sistema em termossifão opera com um rendimento
térmico mais alto quanto mais estratificado termicamente for o mesmo. Ou seja, que os tanques
verticais apresentam eficiências mais altas que os tanques horizontais.
Assim, apesar da correlação obtida não levar em conta a orientação do reservatório, nem
a relação comprimento/diâmetro do mesmo, os resultados mostram que esta correlação pode ser
empregada para quaisquer valores de radiação HT, temperatura média ambiente Ta e relações de
projeto Vreserv/AC e Vd/Vreserv, considerando coletores planos com indicativo de qualidade
expresso pelos parâmetros da curva de eficiência FR(τα), FRUL. A correlação dada pela equação
(10.2) é, portanto, uma alternativa simples e rápida para o cálculo da eficiência térmica de
sistemas de aquecimento solar de água operando em regime de termossifão e para o
dimensionamento destes sistemas de aquecimento de água.
Para levar em conta o efeito da orientação do reservatório térmico, a eficiência obtida
pela correlação 10.2 pode ser corrigida através da equação:

nc = ηfη (10.18)

onde ηc é a eficiência térmica em média mensal corrigida e ƒη é o fator de correção, calculado


como:

10.10
( D)
f η = a z + b z ln C (10.19)

onde C é o comprimento e D é o diâmetro do reservatório térmico; az e bz são constantes


calculadas pelas equações (10.20) e (10.21) para reservatórios verticais e equações (10.22) e
(10.23) para reservatórios horizontais em função da altura da coluna de água quente, x [m],
definida, como a distância vertical a partir da posição de entrada da água nos coletores até a base
do reservatório térmico.

Para o reservatório vertical:

az = 0,1880 x 3 − 0,7310 x 2 + 0,8510 x + 0,6478 (10.20)

bz = −0,1543 x3 − 0,5904 x 2 − 0,6659 x + 0,2833 (10.21)

Para o reservatório horizontal:

az = 0,2930 x 3 − 1,1382 x 2 + 1,3387 x + 0,6082 (10.22)

bz = 0,0730 x 3 − 0,2757 x 2 + 0,30649 x − 0,1738 (10.23)

10.1.5 Aplicação da correlação desenvolvida no TERMODIM

O TermoDim, ferramenta de dimensionamento de sistemas solares de aquecimento de


água operando por regime de termossifão, foi desenvolvido em Visual Basi. A correlação para a
eficiência apresentada no item 10.1.4 é a base matemática do aplicativo.
Para se ilustrar o procedimento empregado no TermoDim para o dimensionamento de
sistemas solares de aquecimento de água operando por termossifão, considera-se uma
determinada localidade hipotética cujos dados climáticos em médias mensais são listados na
Tabela 10.2.

10.11
Tabela 10.2 – Dados para o dimensionamento
Mês HT Ta Vd CT
2 o
[MJ/m ] [ C] [litros] [MJ]
1 21 28 70,8 3,6
2 19 30 86,0 3,6
3 16 27 64,0 3,5
4 13 24 64,7 4,3
5 11 20 54,6 4,6
6 10 17 57,8 5,6
7 9 15 54,4 5,7
8 11 18 50,4 4,6
9 14 20 51,2 4,3
10 17 25 71,7 4,5
11 20 28 83,2 4,2
12 23 27 74,2 4,0

Supondo que se deseja dimensionar um sistema de aquecimento solar para atender a um


consumo diário em média mensal de acordo com a Tabela 10.2, e tomando como estimativa
inicial para a área de coleta AC = 3 m2 e para o volume do reservatório térmico Vreserv = 225
litros, atendendo a relação Vreserv/AC = 75 litros.m-2, e ainda, considerando um coletor solar com
parâmetros de qualidade FR(τα) = 0,75 e FRUL = 7 W.m-2.K-1, através da correlação apresentada,
equação (10.2), efetua-se cálculo da eficiência térmica média mensal, η. Em seguida, pode-se
corrigir a eficiência calculada (para levar em conta o efeito da orientação do reservatório
térmico) através da equação (10.18).
Uma vez calculada a eficiência térmica, calcula-se a área necessária para atender a
demanda de água quente:

CT
AC ,n = (10.24)
ηH T

A Fração Solar, ƒ, definida como a relação entre a energia suprida pelo Sol e a energia
necessária para atender o aquecimento da água, pode ser calculada como:

10.12
ηH T AC
f = (10.25)
CT

onde CT é a carga térmica diária, calculada como:

CT = md C P (Tref − Tr ) (10.26)

sendo md a massa da água consumida em um dia, Tref a temperatura de consumo considerada


sempre 40 oC neste exemplo e Tr a temperatura da água da rede fria. Na Figura 10.3 são listados
os resultados da 1a etapa do dimensionamento efetuado.

Figura 10.3 – Tela principal do TermoDim - 1a etapa do dimensionamento.

O valor médio da área de coleta AC,n é então comparado ao valor estimado para a área de
coleta. Se o valor médio de AC,n é diferente de AC, então se iniciam novamente os cálculos,
tomando-se para AC este valor. O procedimento iterativo é efetuado até que se atinge a
convergência. Neste exemplo, a 1a etapa do dimensionamento forneceu o valor médio de AC,n =
1,8 m2.

10.13
Na Figura 10.4 é apresentada uma interface gráfica do programa TermoDim, onde são
listados os resultados para a última etapa do dimensionamento desta aplicação. Neste caso
exemplificado para atender a demanda especificada na Tabela 3.2 seriam necessários 1,5 m2 de
coletores com FR(τα) = 0,75 e FRUL = 7 W.m-2.K-1 e um reservatório térmico de 112,5 litros,
considerando os dados climáticos para a localidade em questão.

Figura 10.4 – Tela principal do TermoDim – resultado final do dimensionamento.

Na Figura 10.5 é apresentada uma outra interface do aplicativo TermoDim, que permite,
quando não se conhece os parâmetros de qualidade FR(τα) e FRUL, determiná-los a partir da
especificação das dimensões geométricas, óticas e térmicas dos coletores solares empregados.

10.14
Figura 10.5 – Tela de entrada de dados: coletor solar

O programa TermoDim se encontra disponível para download em www.solar.ufrgs.br


para uso gratuito. A versão atual do programa trabalha com uma base de dados climáticos
desenvolvida para nosso país e a sua utilização é bastante simples, não exigindo do usuário o
profundo conhecimento prévio em energia solar.

10.2. Programa TERMOSIM

O desenvolvimento do programa TermoSim teve início com a tese de doutorado de


Antônio Marcos de Oliveira Siqueira em 2003, que elaborou os modelos matemáticos e
balanços de energia com os componentes de um sistema de aquecimento solar e validou
experimentalmente os resultados obtidos. A modelagem matemática desenvolvida foi utilizada
no projeto de desenvolvimento do software AQUESOLGÁS, para a PETROBRÁS e FINEP.
. Na versão atual do programa, estão presentes os sistemas de aquecimento de água
listados na Tab. 10.3.

10.15
Tabela 10.3. Estrutura dos sistemas do programa TermoSim.

- Energia auxiliar:
• A gás de passagem
Tanque Horizontal • Elétrica de passagem
• A gás em série com o
consumo
Sistema com coletores • Elétrica em série com o
consumo
solares • Elétrica interna ao tanque
Tanque Vertical
- Sem energia auxiliar

Aquecimento com:
• Gás de passagem
Tanque Horizontal • Resistência elétrica de
passagem
• Gás em série com o
Sistema sem coletores consumo
• Resistência elétrica em
solares série com o consumo
Tanque Vertical • Resistência elétrica
interna ao tanque

O programa permite que o usuário realize avaliações dos sistemas simulados em um


ambiente gráfico de fácil entendimento. Os dados de entrada necessários para o início da
simulação são:
• Seleção do coletor solar;
• Definição do perfil de consumo de água quente;
• Tipo e volume do reservatório térmico;
• Definição dos parâmetros geométricos do sistema;
• Localidade
• Tipo de sistema de energia auxiliar, se for o caso.

10.2.1 Estrutura do programa TERMOSIM

O software TermoSim, escrito na linguagem Visual Basic 5.0, foi desenvolvido de forma
que o usuário possa definir individualmente os componentes da instalação.
10.16
A estrutura do programa contém sete módulos, conforme mostram as Fig. 10.6 e Fig.
10.7. Nesses módulos, são definidos os parâmetros necessários para a simulação, podendo-se
então analisar diversos tipos de configurações e seus resultados, como por exemplo, alterando
alturas da resistência elétrica ou do termostato no tanque, diferentes perfis de consumo, volume
do reservatório, material de isolamento, orientação do coletor, etc. Ao iniciar o programa, é
apresentada uma configuração default com coletores planos e tanque vertical. Caso o usuário
selecione uma configuração com tanque horizontal, necessariamente deve conferir os dados de
cada módulo para efetuar uma simulação conforme interesse.
Na Fig. 10.6, observa-se algumas opções de atalho, dentre as quais algumas em que o
usuário que já simulou um sistema e salvou esses dados simulados poderá abrir o arquivo e ir
direto ao módulo gráfico do programa. Na mesma tela inicial, e conforme a Tab. 10.3, ao
selecionar o tipo desejado de configurações para simulação e clicando em Carregar, o programa
apresenta as opções disponíveis em seu banco de dados. As configurações de um sistema sem
energia solar, sem apoio de energia auxiliar ou com eletricidade são itens novos acresentados na
última versão do software.

Figura 10.6. Menu dos principais módulos do programa.

São diversos os parâmetros construtivos que o usuário deve conhecer, os quais


geralmente são fornecidos nos catálogos técnicos dos fabricantes dos componentes, sendo
necessário um conhecimento prévio de conceitos técnicos de energia solar.

10.17
Definidos todos os parâmetros dos módulos de um sistema selecionado, basta clicar em
Nova Simulação para avançar e realizar o estudo desejado no período determinado.
Após a simulação, o usuário tem acesso aos valores das temperaturas de entrada e saída
dos componentes a cada dia e em uma base horária. Uma ferramenta gráfica permite a
visualização de gráficos e de um relatório dos resultados do comportamento térmico da
configuração simulada.

Figura 10.7. Tela inicial do software que permite a escolha do sistema térmico a simular.

10.2.2. Dados do coletor solar

O módulo de entrada de dados do coletor solar possibilita informar as propriedades dos


materiais do coletor utilizado, os parâmetros construtivos ou também os dados resultantes das
curvas características experimentalmente medidas, e assim realizar a determinação da curva de
rendimento instantânea, conforme Fig. 10.8. Na sua versão atual, o programa simula apenas
coletores planos convencionais.

10.18
Figura 10.8. Módulo de entrada de dados do coletor solar plano e gráfico de eficiência instantânea.

O conhecimento de todos os dados dimensionais para este módulo seria a parte mais
difícil para o usuário em geral. Como um programa de simulação que tenta evitar a necessidade
de ensaios para a obtenção dos parâmetros de eficiência de um coletor, o TermoSim permite
determiná-los a partir das especificações das dimensões do coletor e das propriedades térmicas e
óticas dos matérias, utilizando-se de artifícios iterativos nos algoritmos de cálculo.
Alguns dados podem ser obtidos de catálogos quando os mesmos apresentam os valores
de FR(τα) e FRUL que o usuário pode inserir diretamente pela opção de dados de curva medida,
conforme Fig. 3.4, necessitando adicionalmente apenas alguns dados da geometria do coletor
como comprimento, largura e diâmetro dos tubos elevadores e da tubulação do cabeçote.
Além de poder salvar os dados de entrada em um arquivo para posterior utilização, tem-
se as opções de realizar uma simulação levando em consideração as perdas de energia à noite –
marcando-se a opção circulação reversa -, desenvolvida neste trabalho, e também de selecionar
o tipo de arranjo dos coletores e o tipo de circulação da instalação.

10.2.3. Dados do reservatório térmico


Para selecionar o módulo do reservatório térmico, conforme Fig. 10.9, existem vários
parâmetros que devem ser definidos pelo usuário, como por exemplo: características do
isolamento térmico, coeficiente de perdas térmicas, material do tanque, dimensões do tanque e
temperaturas iniciais.

10.19
Figura 10.9 Entrada de Dados do Reservatório Térmico.

Os materiais disponíveis, nas opções desta tela, para o tanque são aqueles considerados
os mais empregados na fabricação dos mesmos, como por exemplo o aço inoxidável,
galvanizado e o cobre. Na Tabela. 10.4 são apresentadas as propriedades desses materiais e
também dos isolantes térmicos que são utilizados para minimizar as perdas térmicas durante seu
funcionamento.
O funcionamento do TermoSim considera que a água, depois de passar pelo arranjo de
coletores solares, retorna ao tanque dirigindo-se para a porção do reservatório mais próxima da
temperatura da água vinda dos coletores, através de um número suficiente de volumes nodais que
possibilitam um grau de estratificação máximo.
A homogeneização da temperatura no interior do tanque ocorrerá de forma lenta por
difusão térmica entre as camadas de água e por condução nas paredes do reservatório.
O modelo de estratificação utilizado para o cálculo é o multinodal, no qual o reservatório
é dividido em um número pré-determinado de nós, ou camadas, onde é realizado um balanço
térmico nestes individualmente, determinando-se a temperatura média da água em cada nó. Esta

10.20
modelagem inclui a influência das conexões com o tanque, inclusive do sistema de apoio auxiliar
externo.
Tabela 10.4. Propriedades características dos materiais do tanque e isolantes térmicos.
Material do Tanque Material Isolante
Massa
Condutividade Capacidade Condutividade
Específica
Térmica (W/m K) Térmica (J/kg°C) Térmica (W/m K)
(kg/m3)
Aço Inoxidável 14,4 476,25 8043 Lã de Vidro 0,043
Poliuretano
Aço Galvanizado 47,6 440 7992 0,034
Expandido
Cimento-Amianto 0,58 900 1920 Lã de Rocha 0,046
Cobre 384 390 8900
Polímero 0,58 900 950

Além dos dados dimensionais como o volume do tanque, diâmetro e altura, o usuário
também deve determinar um perfil de temperatura inicial nas camadas do reservatório para fins
de simulação numérica do programa. Estes dados estão relacionados com as variáveis
geométricas do sistema, no qual o usuário pode variar as alturas das conexões das tubulações de
entrada e saída do reservatório e da energia de apoio.
Na tese de Doutorado de Jean Lafay (Promec/UFRGS) foi demonstrado que os modelos
matemáticos aplicados no balanço de energia no reservatório se apresentam em conformidade
com os resultados experimentais realizados no Laboratório de Energia Solar da UFRGS,
validando deste modo a utilização deste modelo no software TermoSim.

10.2.4 . Dados do perfil da demanda de água quente


Querer analisar um sistema de aquecimento de água e comparar os resultados para avaliar
se um sistema se comporta melhor que outro é muito perigoso quando não se leva em conta o
perfil de demanda de água quente.
Nesse sentido, o programa possibilita que o usuário defina a demanda de água quente na
configuração a ser estudada, conforme Fig. 10.10, especificando o volume de consumo, diário ou
mensal, a hora de consumo e também o valor da temperatura desejada para o consumo da água.
Para a temperatura de consumo, a temperatura indicada para o uso doméstico é de 40°C,
destinada à água quente para o banho. Desse modo, o controle de temperatura para o usuário é
realizado por misturadores, sendo que a água fria da rede é adicionada à água quente da linha de
saída do tanque até a temperatura desejada de consumo.

10.21
Figura 10.10. Perfil de consumo de água.

O usuário pode criar inúmeros perfis de consumo e salvá-los em um arquivo que poderá
ser utilizado em outras simulações para comparações e análises do sistema. Segundo a
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), cada pessoa necessitaria
cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene. No
entanto, no Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros/dia.

10.2.5 Dados da geometria do sistema e tubulações hidráulicas


A posição de entrada e saída dos circuitos de aquecimento e de consumo influencia na
distribuição da temperatura da água no interior do reservatório. Para determinado arranjo
geométrico da instalação, o perfil de temperatura no interior do tanque dependerá da vazão e das
temperaturas de entrada da água nos dois circuitos no reservatório - retorno da água quente do
coletor e do aquecedor auxiliar.
O TermoSim também considera as perdas térmicas que ocorrem ao longo da tubulação
para o ar ambiente, avaliando o tipo de isolamento das tubulações e as perdas de carga do
sistema.
Para considerar os elementos que compõem a instalação, especialmente para o cálculo
das perdas de carga, o usuário deve fornecer os dados de comprimento das tubulações, diâmetro
e características do isolamento das tubulações hidráulicas de conexão entre os coletores solares e
o reservatório térmico e entre o reservatório térmico e o aquecedor de passagem, quando houver.

10.22
Na consideração das perdas térmicas pelas tubulações, deve-se especificar a espessura utilizada
em cada tubulação e suas propriedades de condutividade térmica, tanto para o material do tubo,
quanto para seu isolamento. As interfaces gráficas que permitem definir os dados das tubulações
e as características geométricas podem ser vistas nas Figuras. 10.11 e 10.12, respectivamente.

Figura 10.11. Entrada de dados das tubulações do sistema.

Figura 10.12. Tela para definição dos parâmetros geométricos da instalação.

10.23
As cotas das alturas são especificadas em relação à base do reservatório térmico, sendo
conforme Fig. 10.12:
• hTQ a altura entre a saída do coletor e a base do tanque;
• hCQ a altura entre o topo do coletor e a base do tanque;
• hEC a altura da água de reposição disponível da rede;
• hCF a altura da entrada de água fria no coletor, entre a base do tanque e o fundo do
coletor;
• hTF a altura de saída da água do tanque referente a base do reservatório;
• hAF a altura de saída da água do tanque para o aquecedor auxiliar;
• hAC a altura de retorno da água do aquecedor auxiliar para o reservatório;
• hSC a altura entre tubulação de consumo e a base do tanque;
• hTM a altura do termostato;

10.2.6. Dados do aquecedor auxiliar

A praticidade de manuseio, a facilidade de instalação, a garantia do fornecimento, os


custos iniciais e os gastos de manutenção são fatores determinantes na escolha do sistema
auxiliar a ser adotado.
Os sistemas de aquecimento de água por energia solar são geralmente instalados com
alguma fonte auxiliar de energia para suprir os períodos em que a radiação solar não é suficiente
para aquecer a água na temperatura desejável para o consumo.
O programa oferece a opção de o usuário definir se o aquecimento de apoio é elétrico ou
a gás, nas configurações descritas anteriormente. Quando selecionado o gás, Fig. 10.13, por
exemplo, devem ser informados os dados de vazão, rendimento do aquecedor e consumo
nominal de gás. Quando for utilizado um aquecedor elétrico Fig. 10.14, deverá ser informada a
potência da resistência elétrica.
Para as diversas configurações, faz-se necessário o uso de um termostato que determinará
a temperatura de acionamento do aquecimento auxiliar. Para o controle do acionamento do
termostato têm-se a opção do uso de temporizador, na busca de uma instalação com economia de
energia.

10.24
Figura 10.13. Parâmetros para um sistema de apoio a gás.

As perdas térmicas relativas ao aquecedor e à sua eficiência são consideradas e sua


modelagem matemática é apresentada nesta dissertação no próximo capítulo.
Um aquecedor a gás de passagem pode estar instalado em série ou em paralelo ao tanque.
A instalação em série condiciona a colocação do aquecedor na linha de consumo e a em paralelo,
em uma posição mais próxima ao tanque. Esses dois sistemas foram incluídos na presente versão
do programa TermoSim, observando-se que, na condição em série, é necessário um controle
eletrônico de temperatura com chama modulada, que consegue estabelecer uma temperatura
constante para o usuário. Seu custo, que está decrescendo com um mercado ascendente, ainda
está um pouco elevado, se comparado aos aquecedores convencionais. Em relação a esses fatores
econômicos, o software TermoSim é capaz de avaliar as viabilidades dos sistemas simulados
através de seu resumo financeiro após a simulação, assunto detalhado no capítulo a seguir, na
modelagem matemática do mesmo.

10.25
Figura 10.14. Parâmetros da resistência elétrica para apoio auxiliar elétrico.

Portanto, a respeito do artifício presente no software TermoSim, de utilização de


temporizadores, o usuário pode simular situações com controles eletrônicos digitais de
temperatura, disponíveis no mercado, avaliando os efeitos do sistema simulado em seu
desempenho térmico e financeiro. Dentre as hipóteses apresentadas para o usuário tem-se:
• A energia auxiliar não é ligada das 6 às 9 horas da manhã, admitindo-se que seria um
horário em que a radiação solar começaria a esquentar a água circulante. Esta hipótese se
justifica pelo fato de que o acionamento do apoio auxiliar de energia neste período estaria
comprometendo a eficiência do coletor com uma energia do sol não aproveitada;
• O acionamento da energia auxiliar com radiação baixa, através de um dispositivo
elaborado para tal função, otimizaria sua utilização, não dependendo das temperaturas
atingidas no tanque. Portanto, quando a radiação é dita baixa, sendo insuficiente para
aquecer e manter o sistema com a temperatura desejada, a energia auxiliar é
obrigatoriamente acionada. E portanto, quando a radiação presente está elevada, o
sistema opera normalmente, porém sem acionamento da energia de apoio.

10.26
• A opção de personalizar a simulação de acordo com o consumo funciona como um
controle pré-agendado de uma demanda bem definida, de forma que o sistema é acionado
de acordo com a necessidade e no período antecedente ao uso programado pelo usuário.
O usuário assim busca caminhar para uma economia de energia auxiliar. Porém este
sistema também pode requisitar um potencial maior de temperatura em um curto período
de tempo, causando um consumo maior.
Todos estes sistemas serão analisados em detalhe no capítulo 5 deste trabalho.

10.2.8 Dados meteorológicos

No TermoSim, a simulação térmica pode ser analisada em diferentes localidades do


Brasil utilizando-se paralelamente o software SeqMetBr, já citado no Capítulo 1. Esse programa,
incluído no programa TermoSim, sintetiza os dados climáticos, a partir de dados em médias
mensais, em sequências meteorológicas com intervalos de uma hora.

10.2.9 Gráficos e relatórios

Depois de concluída a simulação, fica disponível ao usuário a opção de gráficos,


conforme apresenta a Fig. 3.13. Nesta janela, pode-se obter os gráficos desejados no menu
flutuante ou nos ícones laterais mostrados, listados abaixo:
• Temperaturas das camadas do reservatório, definidas em cinco divisões igualmente
espaçadas em relação a altura do mesmo;

• Temperatura média do tanque;

• Temperatura de consumo;

• Temperatura ambiente;

• Temperatura de entrada e saída do coletor, respectivamente;

• Temperatura ambiente nas vizinhanças do tanque;

10.27
• Temperatura da água fria;

• Radiação solar inclinada;

• Temperatura de entrada e saída do aquecedor auxiliar, respectivamente;

• Vazão de consumo de água fria, quente e total respectivamente;

• Eficiência dos coletores solares;

• Acionamento do termostato e consumo de energia auxiliar, respectivamente;

Além disso, todos estes gráficos podem ser visualizados simultaneamente, o que facilita
análises detalhadas de um comportamento. Para desabilitar um gráfico selecionado, basta clicar
no seu ícone novamente para limpá-lo da tela.

Figura 10.15. Interface para análise gráfica das simulações executadas.

10.28
Na interface gráfica pode-se escolher a opção de Gráfico X-Y ou Gerar Relatório. A
função Gráfico X-Y permite o cruzamento de dados de mesma base horária obtendo-se
correlações entre variáveis que o usuário determinar valiosas em suas análises.
Ao clicar em Gerar Relatório, a interface, conforme Fig. 10.16, permite a visualização de
um resumo mensal contendo os resultados da radiação solar, consumo de energia auxiliar (gás ou
eletricidade), a energia térmica necessária para o aquecimento da água, as parcelas de energia
térmica da fonte auxiliar, do sol e desperdiçada, e a eficiência solar. Também são
disponibilizados gráficos de barras dos resultados em forma mensal, conforme exemplo na Fig.
10.17, e anual, conforme Fig. 10.18.
A opção Resumo mostra ao usuário todos os parâmetros que definem o sistema simulado
e seus resultados resumidos, como: o número de coletores solares, o volume do reservatório, a
área total dos coletores, a regulagem do termostato, o consumo anual de energia auxiliar, o
consumo anual de energia térmica, fração solar, tempo de acionamento da energia auxiliar, a
temperatura média da água de consumo, a temperatura ambiente média e perdas pela circulação
reversa, quando aplicado, conforme Fig. 10.19.

Figura 10.16. Relatório tipo tabela gerado através da simulação realizada.

10.29
Figura 10.17. Relatório tipo gráfico de barras mensal gerado através da simulação realizada.

Figura 10.18. Relatório tipo gráfico de barras anual gerado através da simulação realizada.

10.30
Figura 10.19. Relatório tipo resumo dos resultados da simulação realizada.

10.2.10 Parâmetros financeiros

Nos relatórios gerados pelo programa há uma opção de visualização de um resumo


financeiro. Após as análises de uma configuração simulada, o usuário pode efetuar uma
comparação econômica entre dois tipos de sistemas de aquecimento de água. Para isso, é
necessária, primeiramente, a definição das variáveis econômicas para o cálculo, conforme Fig.
10.20, como custo da energia, do coletor, do reservatório, dos acessórios, valor da manutenção
anual, estimativa da vida útil (em anos), valor residual e também possíveis acréscimos do custo
da energia ao longo da vida útil dos equipamentos.

10.31
Figura 10.20. Parâmetros financeiros.

É importante que o usuário que queira comparar um sistema de aquecimento de água


residencial por energia solar com um sistema convencional de aquecimento, como o chuveiro ou
mesmo um sistema a gás, tenha o conhecimento da energia gasta no mesmo período da
configuração simulada. Caso não tenha esses dados, pode-se obter os parâmetros de comparação
em uma nova simulação no programa TermoSim.
Após confirmação desses parâmetros, apresenta-se um resumo financeiro com os custos
iniciais, mensais e receitas. Foram utilizados na modelagem matemática financeira os índices
mais simples para efeitos de análise como economia de energia em série mensal, payback em
anos, e taxa interna de retorno. A Fig. 3.21 apresenta a interface final deste relatório econômico
presente no software TermoSim.

10.32
Figura 10.21. Relatório do resumo financeiro.

10.33

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