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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

MARANHÃO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
DIRETORIA DE ENSINO SUPERIOR
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MATEMÁTICA
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

RILDENIR RIBEIRO SILVA

CÔNICAS E APLICAÇÕES

SÃO LUÍS
2013
2

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO


MARANHÃO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
DIRETORIA DE ENSINO SUPERIOR
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MATEMÁTICA
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

RILDENIR RIBEIRO SILVA

CÔNICAS E APLICAÇÕES

Monografia apresentada junto ao curso de Matemática


do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Maranhão, Campus Monte Castelo como parte dos
requisitos para obtenção do título de graduado em
licenciatura Plena em Matemática.

Orientador: Prof. Msc. Alexandre Pereira Sousa

SÃO LUÍS - MA
2013
Silva, Rildenir Ribeiro.
Cônicas e Aplicações / Rildenir Ribeiro Silva. – São Luis, 2013.

81 fls.

Monografia (Graduação em Matemática) – Curso de Licenciatura


em Matemática, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Maranhão, 2013.
Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ

1.Matemática - Ensino 2.Geometria.


I. Título.
CDU: 514.12

UNIPÊ / BC CDU
- 658:004
3

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO


MARANHÃO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
DIRETORIA DE ENSINO SUPERIOR
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MATEMÁTICA
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

RILDENIR RIBEIRO SILVA

CÔNICAS E APLICAÇÕES

Monografia apresentada junto ao curso de Matemática do


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão, Campus Monte Castelo como parte dos requisitos
para obtenção do título de graduado em licenciatura Plena em
Matemática.

Aprovada em: ________/_______/__________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________
Prof. MsC. Alexandre Pereira Sousa
Orientador

_________________________
1º Examinador
Profª. Drª. Déa Nunes Fernandes

______________________
2º Examinador
Prof. MsC. Raimundo Santos de Castro
4

À memória de minha mãe, Dineusa


Vieira da Silva dedico.
5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter me mostrado que a fé e a perseverança são peças


fundamentais na construção de um sonho. E que vencer nossas dificuldades nos faz crescer
espiritualmente e nos permite ir além do que poderíamos imaginar quando estávamos no
início da caminhada. Obrigado meu Deus por tudo.

Aos que mais amo, minha família e em especial minha mãe Dineusa Vieira da
Silva que sempre sonhou e esperava por este momento, ainda que longe, sei que está muito
feliz pela minha vitória.

Ao professor Alexandre, meu orientador neste trabalho, que possuindo sabedoria,


indecomponível competência e, sobretudo, presteza não mediu esforços e contribuiu muito
para a concretização deste.

Ao professor Manoel Jansen Pereira pelas orientações e curso ministrado do


software Geogebra, onde o mesmo ajudou-me nas construções geométricas deste trabalho.

Aos meus colegas e amigos de curso, Ronald Ramos, Luís Alves, Arquimedes,
João Batista, Letícia Araújo, Luanderson e todos aqueles que direta e indiretamente me
apoiaram durante à realização deste trabalho.

A todos os docentes, discentes e funcionários do IFMA que, de certa forma,


estiveram desde o inicio desta minha caminhada.
6

"Conta-se que o rei Ptolomeu, tendo folheado o manual,


perguntou esperançosamente a Euclides se não havia
um caminho mais suave para aprender Geometria.
Lacônico, o matemático teria respondido: "Não há uma
estrada real para a Geometria..”

(Euclides de Alexandria)
7

RESUMO

Este trabalho apresenta uma exposição sobre as cônicas. Mencionamos fatos e entes históricos
que marcam o inicio e a evolução do estudo das curvas cônicas dentro da Geometria Analítica
que repercutem até nos dias de hoje, com aplicações em diversos ramos do conhecimento
científico. Daremos um tratamento diferenciado estudando as principais secções cônicas e
suas ferramentas com algumas de suas aplicações, utilizando recursos da álgebra linear,
visando assim, uma nova abordagem para este assunto. De forma interativa se faz necessário
o uso de recursos didáticos, que venham a facilitar à exploração deste conteúdo, onde
utilizamos o software computacional, Geogebra, sendo este uma ferramenta crucial para o
esboço prático do ensino da Geometria, ajudando na construção e animação geométrica dessas
figuras facilitando assim a relação ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Geometria analítica. Secções cônicas. Geogebra. Ensino-aprendizagem.


8

ABSTRACT

This paper presents an exhibition on the bevel. Mentioned facts and historical ones that mark
the beginning and evolution of the study of conic curves within the Analytic Geometry that
resonate even today, with applications in various branches of scientific knowledge. Give
differential treatment by studying the main conic sections and their tools with some of its
applications using linear algebra resources, aiming thus a new approach to this subject.
Interactively is necessary the use of teaching resources that will facilitate the exploitation of
this content, where we use computational software, Geogebra, which is a crucial tool to
outline the practical teaching of geometry, helping in the construction and animation of these
geometrical figures thus facilitating the teaching-learning relationship.

Keywords: Analytic Geometry. Conic sections - Linear Algebra. Geogebra. Teaching and
Learning.
9

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Foto de Apolônio de Perga................................................................... 15


FIGURA 2: Obra As Cônicas de Apolônio.............................................................. 16
FIGURA 3: Representação de uma Elipse por Áreas de Retângulos...................... 19
FIGURA 4: Representação de uma Hipérbole por Áreas de Retângulos................ 19
FIGURA 5: Representação da Parábola por Áreas de Retângulos.......................... 20
FIGURA 6: Cone circular de Revolução................................................................. 22
FIGURA 7: Secção cônica – Elipse......................................................................... 23
FIGURA 8: Secção cônica – Parábola..................................................................... 23
FIGURA 9: Secção cônica – Hipérbole................................................................... 24
FIGURA 10: Elipse Degenerada............................................................................. 25
FIGURA 11: Parábola Degenerada......................................................................... 25
FIGURA 12: Hipérbole Degenerada....................................................................... 26
FIGURA 13: Gráfico da Combinação linear entre dois vetores.............................. 34
FIGURA 14: Elipse: Mudança de Eixos por Vetores............................................. 37
FIGURA 15: Reflexão em torno do eixo ............................................................. 40
FIGURA 16: Autovalores e Autovetores................................................................ 45
FIGURA 17: Representação de uma cônica............................................................ 47
FIGURA 18: Mudança de eixos coordenados......................................................... 50
FIGURA 19: Elipse genérica................................................................................... 53
FIGURA 20: Equação da Elipse com eixo maior em .......................................... 54
FIGURA 21: Equação da Elipse com eixo maior em .......................................... 56
FIGURA 22: Retângulo Fundamental..................................................................... 57
FIGURA 23: Translação de Eixos 1........................................................................ 58
FIGURA 24: Translação de Eixos 2........................................................................ 59
FIGURA 25: Elementos da Parábola....................................................................... 59
FIGURA 26: Equação da Parábola.......................................................................... 61
FIGURA 27: Parábola com foco no eixo ............................................................. 62
FIGURA 28: Translação de Eixos 3........................................................................ 62
FIGURA 29: Hipérbole Genérica............................................................................ 63
FIGURA 30: Elementos da Hipérbole.................................................................... 64
FIGURA 31: Equação da Hipérbole com eixo maior em ..................................... 65
10

FIGURA 32: Equação da Hipérbole com eixo maior em ..................................... 66


FIGURA 33: Translação de Eixos da Hipérbole 1.................................................. 67
FIGURA 34: Translação de Eixos da Hipérbole 2.................................................. 68
FIGURA 35: Assíntotas 1........................................................................................ 68
FIGURA 36: Assíntotas 2........................................................................................ 69
FIGURA 37: Reta tangente à elipse......................................................................... 70
FIGURA 38: Superfície Refletora elíptica............................................................... 70
FIGURA 39: Rotunda do Capitólio – EUA ............................................................ 70
FIGURA 40: Tabernáculo dos Mórmons................................................................. 70
FIGURA 41: Órbita Elíptica dos Planetas............................................................... 71
FIGURA 42: Órbita Elíptica do cometa Halley....................................................... 71
FIGURA 43: Órbita Elíptica da Lua ....................................................................... 71
FIGURA 44: Bilhar Elíptico.................................................................................... 72
FIGURA 45: Reta Tangente à Parábola................................................................... 72
FIGURA 46: Superfície refletora Parabólica........................................................... 73
FIGURA 47: Antena parabólica.............................................................................. 73
FIGURA 48: Forno solar de Odeillo na França ...................................................... 74
FIGURA 49: Ponte 25 de Abril, Lisboa................................................................... 74
FIGURA 50: Bilhar Parabólico................................................................................ 75
FIGURA 51: Reta tangente à Hipérbole. ................................................................ 75
FIGURA 52: Superfície Refletora Hiperbólica........................................................ 76
FIGURA 53: Esquema interno do Telescópio Cassegrain....................................... 76
FIGURA 54: Catedral de Brasília............................................................................ 76
FIGURA 55: Bilhar Hiperbólico.............................................................................. 77
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 11
1.2 SECÇÕES CÔNICAS: TRATADOS HISTÓRICOS....................................................14
1.2.1 Representação Geométrica e Elementos......................................................................21
1.2.2 Cônicas Degeneradas.....................................................................................................24
2 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS MATRIZES...........................................................27
2.1 DEFINIÇÃO DE MATRIZES.........................................................................................27
2.1.1 Matriz Quadrada...........................................................................................................28
2.1.2 Soma de Matrizes e Propriedades ...............................................................................28
2.1.3 Produto de uma Matriz por um escalar e Propriedades............................................29
2.1.4 Produto de Matrizes e Propriedades............................................................................29
2.1.5 Matriz Transposta e Propriedades...............................................................................30
2.1.6 Matriz Inversa e Propriedades.....................................................................................31
2.1.7 Matrizes Semelhantes....................................................................................................32
2.2 ESPAÇO VETORIAL E PROPRIEDADES.................................................................32
2.2.1 Subespaço Vetorial.........................................................................................................33
2.2.2Combinação Linear.........................................................................................................34
2.2.3 Dependência e Independência Linear..........................................................................35
2.2.4Base de um Espaço Vetorial...........................................................................................36
2.2.5 Mudança de Base...........................................................................................................36
2.3 TRANSFORMAÇÕES E OPERADORES LINEARES - PROPRIEDADES...........40
2.3.1 Matriz de uma Transformação Linear........................................................................41
2.4 AUTOVALORES E AUTOVETORES.........................................................................43
2.5 DIAGONALIZAÇÃO DE OPERADORES..................................................................46
2.6 CÔNICAS E CLASSIFICAÇÕES.................................................................................47
2.6.1 Simplificação da Equação geral das cônicas...............................................................48
2.6.2 Classificação das Cônicas..............................................................................................52
3 EQUAÇÕES CARTESIANAS DAS CÔNICAS ..............................................................53
3.1 ESTUDO DA ELIPSE......................................................................................................53
3.1.1 Elementos Principais da Elipse.....................................................................................54
3.1.2 Equações da Elipse........................................................................................................54
3.1.3 Análise dos Parâmetros b na Equação Reduzida da Elipse................................57
3.1.4 Translação de Eixos da Elipse......................................................................................57
12

3.2 ESTUDO DA PARÁBOLA............................................................................................59


3.2.1 Elementos Principais da Parábola..............................................................................60
3.2.2 Equações da Parábola..................................................................................................60
3.2.3 Translação de Eixos da Parábola................................................................................62
3.3 ESTUDO DA HIPÉRBOLE...........................................................................................63
3.3.1 Elementos Principais da Hipérbole.............................................................................63
3.3.2 Equações da Hipérbole.................................................................................................64
3.3.3 Translação de Eixos da Hipérbole...............................................................................66
3.3.4 Assíntotas.......................................................................................................................67
4 PROPRIEDADES DE REFLEXÃO E APLICAÇÕES DAS
CÔNICAS.............................................................................................................................. 69
4.1 PROPRIEDADE REFLETORA DA ELIPSE..............................................................69
4.2 PROPRIEDADE REFLETORA DA PARÁBOLA......................................................72
4.3 PROPRIEDADE REFLETORA DA HIPÉRBOLE....................................................75
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................78
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................79
11

1 INTRODUÇÃO

Com o intuito da certeza e da convicção de entendermos o estudo das curvas


cônicas e suas aplicações, propomos aqui um trabalho que tem como objetivo norteador fazer
uma análise histórica das secções cônicas Elipse, Parábola e Hipérbole e os principais
estudiosos destas curvas, tornando evidente para nós alguns consensos e dissensos pertinentes
neste ente do conhecimento matemático de maneira bem simples, mas ao mesmo tempo
instigante. Um alvo importante nosso é contribuir de forma objetiva e construtiva para à
compreensão deste importante tema que está inserido na natureza que envolve a Matemática,
mais precisamente no campo da Geometria Analítica, dando aqui total ênfase ao estudo das
cônicas.
Através de um apanhado histórico vemos que o estudo em qualquer área se torna
ainda mais motivador e fortalece ainda mais o conhecimento o qual queremos adquirir,
através de embasamentos teóricos e históricos que de fato permitam a investigação e
exploração adequada do assunto. Na matemática temos como fonte de recorrência a História
da matemática que se faz necessário para o processo de aprendizagem da matemática, de
modo que esta ferramenta instigue e possibilite um melhor entendimento no estudo da
matemática. É importante frisar que a construção do que é estudado hoje, passou por um
longo processo histórico, até chegar à atualidade, e que muitas descobertas que foram feitas
há muito tempo vem sendo usadas até hoje. Este estudo vem a demonstrar também que a
matemática vem inovando seu modo de ensinar, para que os professores tenham novas
maneiras de transmitir o conhecimento matemático, demonstrando a partir desses princípios
que a matemática faz parte do cotidiano ao longo da evolução histórica da humanidade.
É sabido entre todos que a Matemática que ainda se apresenta nas salas de aula é
aquela vista como a disciplina que apresenta um nível maior de dificuldade na aprendizagem
acabando que distanciando o aluno desta realidade, onde este acaba que recorrendo a métodos
de aprendizagem que conhecemos como “facilitadores”como, por exemplo, decorar fórmulas,
e a estafante resolução de problemas, onde o aluno acaba que não tendo à preocupação de
antes buscar o verdadeiro significado e entendimento desta ciência através de um apanhado
histórico e, assim, contextualizar o aprendizado destes elementos à sua realidade de forma a
contemplar o processo ensino-aprendizagem, estreitando a afinidade e abrindo novos
12

caminhos entre os envolvidos neste espaço do saber. O desafio de quem ensina a matemática
se encontra, exatamente neste momento, o qual o aluno deve ter a ciência de que a matemática
está entrelaçada com a história e o desenvolvimento das civilizações, propiciando assim ao
aluno maneiras pela qual ele pode fazer relações com várias situações dentro da construção
deste conhecimento matemático, conforme cita os Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN’s:
A história da matemática pode oferecer uma importante contribuição ao processo de
ensino e aprendizagem dessa área do conhecimento. Ao revelar a matemática como
uma condição humana, ao mostrar as necessidades e preocupações de diferentes
culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre
conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor cria
condições para que o aluno desenvolva atitudes e valores mais favoráveis diante
desse conhecimento. Além disso, conceitos abordados em conexão com sua história
constituem veículos de informação cultural, sociológica e antropológica de grande
valor formativo. A história da matemática é, nesse sentido, um instrumento de
resgate da própria identidade cultural. (BRASIL, 1999, p.42);

É importante ressaltar que durante o pleno aprendizado da matemática por parte


de quem ensina e quem é ensinado, não exista apenas a compreensão relacional e conceitual
do objeto de estudo, o aluno deve adquirir a capacidade de desenvolver habilidades próprias
para o pensamento matemático. Conforme orientação dos PCN’s (Parâmetros Curriculares
Nacionais) que segundo o qual coloca que:

(...) A Matemática é componente importante na construção da cidadania, na medida


em que a sociedade utiliza, cada vez mais, de conhecimentos científicos e recursos
tecnológicos, dos quais os cidadãos devem se apropriar. A aprendizagem em
Matemática está ligada à compreensão, isto é, à apreensão do significado; aprender o
significado de um objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com
outros objetos e acontecimentos. Recursos didáticos como jogos, livros, vídeos,
calculadora, computadores e outros materiais têm um papel importante no processo
de ensino aprendizagem. Contudo, eles precisam estar integrados a situações que
levem ao exercício da análise e da reflexão, em última instância, a base da atividade
matemática. (BRASIL, 1998).

Aqui daremos ênfase a um conhecimento pouco trabalhado e pouco explorado no


ensino médio, mais precisamente no 3º ano, aonde o estudo das cônicas é abordado, tendo
como objetivo tornar este estudo exequível, de modo a facilitar à compreensão do mesmo cujo
qual é analisado muito remotamente, visando de fato, à aproximação entre professor-aluno
através desta análise diferenciada. Para o estudo das secções cônicas seguiremos com um
enfoque da álgebra linear de maneira que possamos identificar uma cônica com a aplicação
dos autovalores e autovetores e a diagonalização de operadores, possibilitando outra forma de
se analisar, discutir, identificar e interpretar graficamente às cônicas, no sentido de facilitar o
13

aprendizado e despertar o interesse deste ramo da matemática de suma importância para o


desenvolvimento algébrico e geométrico do indivíduo.
É nesse contexto que nos propomos a apresentar neste trabalho as definições, as
equações cartesianas, propriedades refletoras e algumas aplicações das cônicas com uma
abordagem simples e dinâmica, propondo métodos analíticos e geométricos através de
recursos computacionais como procedimento metodológico de modo a facilitar à
compreensão e à aprendizagem deste assunto enquanto conteúdo escolar do Ensino Médio. O
uso de ferramentas tecnológicas é uma proposta inovadora que se faz necessário no sentido de
contemplar o processo ensino aprendizagem se fazendo necessário, principalmente, no campo
da geometria de maneira a facilitar à visualização de figuras geométricas, das cônicas que é o
nosso caso, que dentro deste contexto temos como referencial teórico D’Ambrósio, onde o
mesmo cita que:

Em muitas situações em sala de aula o aluno mostra-se mais confortável com o uso
de tecnologias através do computador e softwares do que o próprio professor, visto
que nos últimos tempos as crianças e jovens fazem uso dessa tecnologia em jogos e
brincadeiras que são dispostos aos mesmos por meio da tecnologia.
(D’AMBRÓSIO, 1986).

O que nos leva a priorizar por este assunto é que existe a partir de algumas
constatações que o tema em questão, muita das vezes não chega a ser ministrado no período
1
letivo das escolas públicas e privadas e quando o é abordado não é tratado de forma
abrangente e completo, limitando-se apenas a tópicos iniciais da geometria analítica como
definições de ponto, reta, equações cartesianas e circunferência. A justificativa por parte de
alguns educadores da área é que por se tratar de um assunto extenso em sua ementa, acaba
que não restando o tempo necessário para à concretização efetiva do conteúdo. Com isso, é
através desta lacuna que parte nosso interesse em tornar este ramo da matemática mais visível
e atraente aos olhos de todos os envolvidos com a matemática, propondo desta maneira outros
meios de se compreender tal assunto enriquecendo ainda mais o conhecimento sobre as
secções cônicas.
Sendo assim, é neste sentido que buscamos ampliar o entendimento no que se
refere ao conteúdo que envolve às cônicas, de modo que este assunto seja melhor interpretado

1
Usaremos aqui os termos “cônicas”, “secções cônicas” e “curvas cônicas” fazendo referência às curvas: Elipse,
Parábola e Hipérbole.
14

tornando-se cada vez mais interessante àqueles que o vir estudar, levando-o de fato, a tomar
conhecimento do que ele está estudando e aprendendo, tudo isso através de uma abordagem
simples, dinâmica e contextualizada, aguçando ainda mais o interesse por este assunto de
significativa relevância no estudo da matemática.

1.2 SECÇÕES CÔNICAS: TRATADOS HISTÓRICOS2

O inicio e o aparecimento das primeiras obras relevantes sobre as secções cônicas


acontecem na civilização grega, sendo esta considerada o berço da matemática como ciência.
De acordo com um apanhado histórico feito sobre o tema aqui proposto, verificamos que,
durante o período áureo da matemática em especial da geometria como um todo, às curvas
cônicas foram as que mais fascinaram os matemáticos nesse período, tendo como principais
estudiosos neste assunto Menaecmus, (380 – 320 a.C.), Euclides de Alexandria, (325 – 265
a.C.), Arquimedes (287 – 212 a.C.) e Apolônio de Perga (262 – 190 a.C.), sendo que o
trabalho de maior destaque e de nível mais avançado foi escrito por este último. Cada um
destes estudiosos, tiveram uma fatia de contribuição, com significativa importância na
construção e no desenvolvimento das secções cônicas e consequentemente da matemática em
todos os seus ramos.
Mas, muitos matemáticos e historiadores da época atribuem à descoberta das
secções cônicas ao matemático grego Menaecmus vivendo este na Grécia antiga, sendo
discípulo de Eudoxo de Cnido (408 –355 a.C), cidade esta localizada na Ásia Menor, hoje
conhecida como Kapidagi Yarimadasi, Turquia. Mas, no entanto, Menaecmus se utilizou
destas curvas apenas de modo mecânico, com o intuito de resolver o clássico problema
deliano, historicamente conhecido como “a duplicação do cubo”, sendo este considerado um
dos três maiores problemas que surgiram durante à ascenção da matemática grega, seguidos
ainda dos problemas da trissecção do ângulo e quadratura do círculo.
Em continuidade a estes estudos, temos ainda neste meio, grandes contribuições
que vieram para a geometria na época e que nos têm grande importância e influência até
nossos dias. Tais contribuições foram dadas por Euclides de Alexandria e Arquimedes de
Siracusa. O primeiro foi um dos mais proeminentes matemáticos da Antiguidade. Ele é
conhecido pelo seu trabalho matemático “Os Elementos”, sendo este composto por 13 livros e

2
Todas as compreensões aqui apresentadas sobre este tema estão baseadas em (BOYER, 1988).
15

considerada a mais permanente obra de todos os tempos e também o melhor livro texto até
então produzido, sendo utilizado até os dias de hoje.
Esta grande obra de Euclides é o primeiro documento considerado como científico
da humanidade, e a geometria chamada de geometria euclidiana passou a ter um caráter
axiomático através do matemático alemão David Hilbert (1862-1943), em seu trabalho
Fundamentos da Geometria ele apresenta um novo conjunto de axiomas para a geometria
superando aquele original de Euclides, sistematizando desenvolvimentos realizados no século
XIX, apresentando o sistema com superior rigor formal. Das obras de Euclides uma das mais
importantes que se perdera foi Porismas de Euclides, em que o termo porisma deriva-se de
uma palavra grega, que significa meios de obtenção e As Cônicas que conforme referências
deveriam tratar de esferas, cilindros, cones, elipsoide de revolução, paraboloide de revolução,
hiperboloides, etc.
Um estudo mais criterioso, com mais rigor e sistemático sobre as secções cônicas,
em geral, torna-se relevante e impulsiona-se com Apolônio de Perga, (262 - 194 a.C.), ver
foto, figura 1. Astrônomo e matemático grego viveu no mesmo período de Arquimedes. Ele
dá prosseguimento aos estudos feitos por seus antecessores, sendo que ele diante desta disputa
pela busca de novos caminhos para o avanço das cônicas torna-se um cordial rival de
Arquimedes e de outros, derrotando-os nesse campo do conhecimento que trata sobre as
secções cônicas, inclusive à obra As cônicas de Euclides.

Figura 1: Apolônio de Perga.


Fonte: A Beleza da Matemática, 2012.

Apolônio de Perga possui este segundo nome referente à cidade a qual nasceu,
em Perga, na Ásia Menor, hoje Turquia. Estudou na cidade de Alexandria na escola dos
sucessores de Euclides, cidade esta aonde veio a falecer no ano de 194 a.C.. Sabemos pouco
sobre sua vida, no entanto seu trabalho teve grande influência no desenvolvimento da
16

matemática em particular pela sua mais importante obra prima “As Cônicas”, sendo
categorizado pelos os antigos de “O grande Geômetra”.
Esta obra é composta por oito livros sendo que, apenas sete chegou ao nosso
alcance. Quatro destes livros existem ainda em grego e os outros três devem-se a tradução ao
matemático e astrônomo árabe, Thabit ibn Qurra,(826 - 901) dedicando-se à tradução de
clássicos das ciências gregas para o árabe, como por exemplo, Os Elementos de Euclides,
inclusive contribuindo para a preservação dos textos de grandes autores gregos até nossos dias
como Pitágoras, Arquimedes, Papus, Platão, Aristóteles, etc.

Figura 2 – obra As cônicas de Apolônio


Fonte: A Beleza da Matemática, 2012.

A Apolônio, Euclides e Arquimedes, à humanidade possui um débito impagável.


Eles formam o grupo dos maiores matemáticos da idade helenística. O primeiro superou todos
os trabalhos que se fizeram sobre as cônicas. A partir daí na antiguidade, nenhuma outra
tentativa tenha sido feita para aperfeiçoá-la.
As secções cônicas é a obra considerada por muitos matemáticos e historiadores
como sendo o apogeu da matemática grega no período de (325-265 a.C). Todo o
conhecimento da geometria e, principalmente das cônicas deve-se aos matemáticos gregos,
em especial a Apolônio de notável participação e contribuição para desenvolvimento da
ciência em geral. Nesta época os estudiosos da Grécia se preocupavam em explicar o porquê
das coisas, ou seja, enquanto os povos egípcios e babilônios trabalhavam a intuição e o
empirismo, aos gregos deve-se a preocupação de explicar as coisas através de um caráter
axiomático no que se refere ao conhecimento matemático.
Apolônio em seu tratado “tangências” que compõe o Livro I, obra esta restaurada
por Papus, propunha o seguinte problema: “Encontrar um círculo tangente a três outros
círculos, podendo estes, serem degenerados em retas (círculos de raio infinito) ou pontos
17

(círculos de raio zero)”, todos os grandes matemáticos da época aqui já citados, entre outros,
bem mais contemporâneos se empenharam em resolver tal problema, encontrando soluções de
diferentes olhares. Com o passar do tempo, devido ao aspecto instigador do referido
problema, o mesmo levaria o nome de seu próprio autor sendo chamado de “O problema de
Apolônio.”Segundo Boyer, no livro I, Apolônio analisou as propriedades fundamentais das
curvas mais completamente e com mais generalidade que os escritos de outros autores"
(BOYER, 1988, p. 165).
Com todas essas contribuições é considerado por muitos o "Pai das Cônicas",
pois de fato, é ele quem atribuía a estas curvas às designações conhecidas por todos nós até
hoje, Elipse, Parábola e Hipérbole, que ainda com Arquimedes, possuíam as seguintes
denominações: Secção de cone acutângulo (oxytone), secção de cone retângulo (orthotome) e
secção de cone obtusângulo (amblytome). Porém, sabe-se que as palavras elipse, parábola e
hipérbole não surgiram expressamente. Segundo relatos na história da matemática,
provavelmente foram adotadas pelos pitagóricos, com o objetivo de solucionar equações
quadráticas por aplicação de áreas. Vejamos abaixo a etimologia destas palavras:
Elipse vem do grego η, (elipsi), que significa “falta” ou carência. No
século III a.C., a Elipse era vista como a intersecção de uma superfície cônica com um plano
que não contém o vértice, não é perpendicular ao eixo e intercepta a superfície cônica, de
modo que o ângulo de inclinação do plano é menor que o das paredes do cone, ou seja, uma
falta de inclinação em relação a este.
Hipérbole vem do grego (ipervolí), que significa “excesso” ou
“exagero”. A palavra (ipér) significa “alem” e é um prefixo utilizado em diversas
palavras da nossa e de várias outras línguas; (volí) significa “disparo” ou “alcance”. A
Hipérbole era vista como a intersecção de um cone com um plano no caso em que o plano não
contém o vértice e intercepta as duas folhas de uma superfície cônica, de modo que o ângulo
de inclinação do plano é maior que o das paredes do cone, ou seja, um ângulo que vai além do
das paredes do cone.
Parábola vem do grego antigo , que significa comparação ou
igualdade. Essa palavra vem da junção de (“junto”) e (“lance”), ou seja, lançar
junto. A Parábola era vista como a intersecção de um cone com um plano no caso em que
este é paralelo a uma geratriz do cone, ou seja, o ângulo de inclinação do plano é o mesmo das
paredes do cone.
18

Em casos particulares temos que se o plano não contém o vértice e é


perpendicular ao eixo (reta), então a intersecção entre o plano e o cone é uma circunferência.
Se o plano contém o vértice, sua intersecção com a superfície cônica pode ser o conjunto
contendo, uma reta, ou a reunião de duas retas concorrentes no vértice. Esta representação é
vista no próximo capítulo.
Apolônio mostrou pela primeira vez que não é necessário tomar secções
perpendiculares a um elemento do cone e que de um único cone podem ser obtidas todas as
três secções cônicas, simplesmente variando a inclinação do plano de secção. Em seu
importante tratado ele revela as razões pela qual o levaram a escrever As Cônicas:

"...eu levei a cabo a investigação deste tema a pedido de Naucrates "O Geômetra",
quando ele veio a Alexandria e ficou comigo, e, quando eu o tinha discutido em oito
livros, dei-lhos de imediato, apressadamente, porque ele estava de partida; não foi
portanto possível revê-los, de fato eu escrevi tudo conforme me ia ocorrendo,
adiando a revisão até ao fim."(APOLÔNIO, 1675. Livro, As cônicas.)

A forma com que Apolônio trabalhava com as cônicas, evidentemente, era outra:
Ele se utilizava de áreas de retângulos para demonstrar estas curvas. Abaixo mostraremos as
representações de Apolônio por retângulos para os três casos e o que ele tinha em mente,
traduzido para a linguagem moderna:

(I) Dada uma elipse de eixo maior e parâmetros geométricos , adotemos


A1 como origem do sistema de coordenadas, escolhendo os eixos de modo que os
focos pertençam ao semi-eixo positivo das abscissas. Uma equação da elipse em

relação a este sistema é = - . Sendo a amplitude focal, ou seja,

, a equação fica y2 = - . Isso mostra que para todo ponto ( ) da

elipse, exceto A1, vale a relação ( ), ou seja, está “em falta” em relação a
.Vide figura abaixo:
19

Figura 3: Representação de uma elipse por áreas de retângulos

(II) Dada uma Hipérbole de vértices A1 e A2, parâmetros geométricos e

amplitude focal , fixemos o sistema de coordenadas de origem A2 tal que


o foco F2 pertença ao semi-eixo positivo das abscissas. Em relação a ele, a
hipérbole tem equação = + , isto é, = + . Logo, para todo
ponto ( ) da hipérbole, exceto A2, vale a desigualdade ( ), em que
está “ em excesso” em relação a .Vide a figura abaixo:

Figura 4: Representação de uma hipérbole por áreas de retângulos

(III) Quanto à parábola, não há falta nem excesso, pois, se é o parâmetro e é a


amplitude focal da parábola de vértice na origem e foco no semi-eixo positivo das
abscissas, sabemos que e uma equação da parábola é , ou seja,
. Vide figura abaixo.
20

Figura 5: Representação da parábola por áreas de retângulos

As três figuras acima mostram, nos três casos, um ponto ( ) de


coordenadas positivas pertencente à curva, um retângulo de base e altura ( ) e um
quadrado de lado ( ). Na figura 4, a área do quadrado é menor que a do retângulo,
pois, como vimos, ( ). Na figura 5, o quadrado tem área maior que a do retângulo,
pois, ( ) e na figura 6, as áreas permanecem iguais para qualquer ponto da curva,
tendo então ( = ).
Mesmo com todas as contribuições grega para a geometria e a grande obra
apolônica sobre as secções cônicas, as representações das cônicas de forma analítica só
acontecem em meados do século XVII com os franceses René Descartes e Pierre de Fermat.
René Descartes (1596-1650), filósofo, físico e matemático francês, lança em seu
“Discurso do Método” as bases da geometria analítica moderna que traz agora a álgebra
aplicada à geometria. Ele afirmava que para investigar as várias propriedades geométricas de
uma curva é necessário que se conheça uma delas que será usada como definição e exprimir
por meio de uma equação as coordenadas de um ponto qualquer dessa curva.
Pierre de Fermat (1601-1665), matemático e cientista francês em suas
contribuições à geometria introduz a ideia de eixos perpendiculares e descobre às equações
gerais da reta, circunferência e equações mais simples para as cônicas parábolas, elipses e
hipérboles e, logo em seguida, demonstra que toda equação de grau 1 e grau 2, resumi-se a
um desses tipos. Com este trabalho, Fermat revolucionou todo o campo da ciência com
grandes contribuições para o avanço do cálculo e da geometria uma vez que os matemáticos
gregos não possuíam uma notação algébrica adequada para fazer uma relação apropriada com
a geometria em suas épocas.
21

Girard Desargues (1591-1661), arquiteto e engenheiro militar na cidade de Lyon


na França, faz usodas cônicas de modo diferente como pensava Apolônio. Cria a geometria
projetiva que interpretava, matematicamente, as intuições e processos dos pintores do período
do renascimento. Desargues rever ainda o trabalho feito por Apolônio (tratado das cônicas) e
o refaz numa linguagem não muito convencional, porém com uma visão qualitativa da
geometria. No seu trabalho ele explorava o fato de uma circunferência poder ser visualizada
como uma elipse quando não a abordamos de frente chegando à conclusão de que às cônicas
poderiam ser obtidas através das outras por projeção, descobrindo então a partir daí as bases
da geometria projetiva. Parte das suas obras, inclusive Teorema de Desargues só fora
descoberta no ano de 1845, devido a uma cópia desta feita por Philippe de La Hire.
Philippe de La Hire (1640 -1718), matemático, físico e astrônomo francês, fora
discípulo de Desargues, produzindo três obras em meados do século XVII exclusivamente
sobre as secções cônicas. Na mesma época em que acabara de surgir à geometria analítica de
Descartes, La Hire escreve duas de suas obras sob a influência da geometria grega, sendo que
na outra obra utiliza-se da nova abordagem da geometria analítica. Em sua primeira obra
Novos elementos das seções cônicas, sendo esta a mais significativa faz uma abordagem
exclusivamente no plano, estudando cada seção isoladamente, a partir da propriedade bifocal.
Um grande período da matemática francesa encerra-se com as mortes de
Desargues em 1661 e de Fermat em 1665. La Hire é o único matemático desta época que se
sucedera entre os outros, considerado como um inovador sobre as secções cônicas de sua
época, sendo o único importante nesse período na França. Boyer, em “História da
Matemática”diz que: “Lahire, forneceu um dosprimeiros exemplos de uma superfície
dada analiticamenteatravés de uma equaçãoem trêsincógnitas – o que foi oprimeiro passo em
direçãoa geometria analitica no espaço"(BOYER, 1988, p.253).

1.2.1 Secções Cônicas: Representação Geométrica e Elementos3

As secções cônicas são definidas como sendo curvas obtidas através da


intersecção de um cone de revolução denotado aqui por (figura 8) com um plano . Estas
curvas planas estão representadas analiticamente por equações do 2º grau com duas variáveis.

3
O tema abordado e figuras construídas neste tópico estão embasados em (LA HIRE, 1679).
22

A figura abaixo mostra um cone circular Ω, ou seja, um cone cuja base é um


círculo:

Figura 6: Cone circular de revolução

Podemos destacar os seguintes elementos:


 Vértice: Ponto V;
 Eixo: reta e, conduzida pelo vértice e pelo centro do círculo da base;
 Geratriz: É todo segmento que tem uma extremidade em V e a outra em um ponto
qualquer da circunferência da base.

Fazendo a secção da superfície de através de planos, devidamente posicionados,


ficam determinadas três figuras cujos contornos são chamados Elípse, Parábola ou Hipérbole
e suas degenerações.Vejamos estas representações:

I - UMA ELÍPSE

Detalhes:
 - cone de uma folha;
 α – plano que secciona ;
 O plano α faz um ângulo de 90° com o cone no ponto P.
23

Figura 7: Secção Cônica - Elipse

II – UMA PARÁBOLA

Detalhes:

 - cone de uma folha;


 α – plano que secciona o cone Ω e é paralelo a uma geratriz de ;
 O plano α faz um ângulo de 90° com uma geratriz de .

Figura 8: Secção cônica-Parábola

III – UMA HIPÉRBOLE

Detalhes:

 - cone de uma folha;


24

 e - eixo fixo de ;
 α – plano que secciona o cone e é paralelo ao eixo fixo de .

Figura 9: Secção Cônica-Hipérbole

1.2.2 Cônicas degeneradas4

No tópico anterior, estudamos as secções cônicas como sendo curvas geradas pela
intersecção de um plano dadocom um cone de revolução, conforme mostra as figuras a
seguir.
Nestas representações observamos que a Elipse é obtida pela intersecção do cone
com o plano, tendo este uma inclinação menor que as paredes do cone (geratrizes); A
parábola se obtém com a intersecção do cone com o plano que tenha a mesma inclinação das
paredes (geratrizes) do cone. Uma hipérbole é a curva obtida da intersecção do cone com o
plano que tenha uma inclinação maior que a das paredes do cone. Estas curvas são chamadas
de cônicas não degeneradas.
As cônicas degeneradas nada mais são do que uma mudança da inclinação desse
plano durante sua secção na superfície cônica. Dessa forma, o que ocorre são deformações das
curvas elipse, parábola e hipérbole gerando novos entes geométricos referentes a cada uma
destas secções os quais veremos a seguir.

4
O tema Cônicas degeneradas foi abordado sob referências de (LEONIDAS, 2010).
*As figuras Foram construídas com o software Geogebra. Disponível em: www.geogebra.org
25

Considerando o plano e o cone de revolução de vértice conforme figura 8.


Vejamos os três casos:

1º) Quando o plano possuir uma inclinação menor que a inclinação do cone
passando pelo vértice desse cone, então a intersecção entre e é um ponto,(figura 10-b),
que é chamado Elipse degenerada, ver figura abaixo:

(a) (b)

Figura 10: Elipse degenerada.

2º) Quando o plano possuir a mesma inclinação das paredes do cone passando
pelo vértice desse cone, então a intersecção entre e será uma ou duas retas paralelas
(figura 11-b), considerada uma parábola degenerada, ver figura abaixo:

.
(a) (b)
Figura 11: Parábola degenerada
26

3º) Quando o plano possuir uma inclinação vertical, então a intersecção de


com o cone sobre seu vértice será composta por duas retas que se cruzam na origem de ,
(figura 12-b).Esta curva composta é chamada hipérbole degenerada, ver figura abaixo:

(a) (b)

Figura 12: Hipérbole Degenerada


27

2 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS MATRIZES

2.1 DEFINIÇÃO:

Chama-se matriz de ordem por , a um quadro de elementos, onde


podem conter (números, polinômios, funções etc.) dispostos em linhas e colunas.

Tomemos como representação a matriz genérica de ordem , vejamos:

 a 11 a 12  a 1n 
a a  a 2n 
A   21 22
     
 
a n1 a n2  a nn 

Os escalares ( ) são os elementos da matriz A = ( ). Observemos que se


tivermos duas matrizes, A = ( )eB=( ), ambas . Elas serão iguais se, e somente, se
= para todo par ( ).

Cada elemento da matriz possui dois índices: ( ), onde:

é o índice que indicaa linha;

é o índice que indica a coluna a qual o elemento pertence.

A matriz pode ser representada abreviadamente por , com variando


de 1 a ,( ) e variando de 1 a ( ). Isto é:

A matriz de ordem por , costuma-se ser escrita simplesmente como ( ).

Assim, se uma matriz tiver linhas e colunas, escreve-se ( )e diz-se que a matriz é de
ordem 4 por 5.
28

2.1.1 Matriz Quadrada5

Diz-se que uma matriz é quadrada quando o número de linhas for igual ao número
de colunas, isto é, .
Podemos citar como exemplo de matriz quadrada a matriz genérica do tipo
por , ou simplesmente de ordem .Vejamos:

 a 11 a 12  a 1n 
a a 22  a 2n 
A   21
     
 
a n1 a n2  a nn 

Logo, temos que é uma matriz quadrada de ordem .

2.1.2 Soma de Matrizes e Propriedades

A soma de duas matrizes e , de ordem ( ), é uma matriz


tal que:

, para todo par ( ).

A soma de matrizes goza das seguintes propriedades operacionais:

I ) Comutatividade: ;

II) Associatividade: ( ) ( ) ;

III) Elemento Neutro: A matriz definida por = , para ( )e


( ) é tal que:
,

5
Neste capítulo os temas abordados estão referenciados em (BOLDRINI, 1980) e (STEINBRUSH e
WINTERLE, 1987)
29

Para toda matriz , . A matriz é chamada matriz nula .

IV) Elemento Simétrico: Para cada matriz , existe uma matriz (– ) definida por =
tal que:
( )

2.1.3 Produto de uma Matriz por um escalar e Propriedades

Seja λ um escalar. Então o produto de uma matriz por esse escalar é


uma matriz [ ] tal que:

. Logo, dizemos que a matriz é um múltiplo escalar da matriz .

A multiplicação de uma matriz por um escalar goza das seguintes propriedades:

i) ( ) ( );

ii) ( ) ;

iii) ( ) ;

iv) .

2.1.4 Produto de Matrizes e Propriedades

Dadas duas matrizes Am  n  [aij ] m  n e Bn  p  [b jk ] n  p . Então, o produto

, determina uma matriz , talque:

n
A  B  C  [cik ] m  p , onde cik  ai1  b1k  ai 2  b2k  ai 3  b3k  .....  ain  bnk   aij  b jk .
j 1

O produto de matrizes goza das seguintes propriedades operacionais:

i) : ( ) ( )
30

( ) ( )

ii) :( ) ;
( ) ;

iii) : Para cada inteiro positivo , a matriz, , chamada matriz


identidade e denotada por é tal que:

[ ]

Onde, , para toda matriz .

2.1.5 Matriz Transposta e Propriedades

A matriz transposta de uma matriz dada de ordem por , é a matriz , de


ordem por , que se obtém da matriz permutando as linhas pelas colunas de mesmo
índice. Vejamos alguns exemplos:

 a11 a12 
Exemplo 1: Seja a matriz A  
a22 
. Então, a matriz transposta de A, é dada por:
a21

AT =( )

A Matriz Transposta pode ser usada algumas vezes como uma definição
alternativa para o produto escalar de dois vetores, em termos de multiplicação de matriz. Se
tivermos:

[ ] e [ ], então:
 
31

 v1 
v 
= u1 u 2  u n . 2  = .

 
v n 

Sejam as matrizes e , de ordem e o escalar . As seguintes propriedades


operacionaissão válidas:
I) ( ) = ;

II) ( ) = ;

III) ( ) = ;

IV) ( ) =

2.1.6 Matriz Inversa e Propriedades

Definição 2.1.6. Dada uma matriz quadrada de ordem . Chamamos a matriz de


invertível, ou não singular e denotamos por à matriz , também quadrada, tal que:

= onde:

é a matriz identidade de ordem .

Se a matriz não possui sua matriz inversa, dizemos que é singular ou não-
invertível.

Para descobrir a inversa de uma matriz de ordem 2 ou 3, de maneira bem


elementar, basta usar a definição acima e encontrar os valores das incógnitas , no caso
de uma matriz utilizando-sedas propriedades do produto de matrizes.

Os valores encontrados de são os elementos da matriz inversa de .

Supomos a matriz ( ) de ordem 2 e ( )a inversa de , então


pela definição 2.1.6, temos que:

( ) ( ) ( )
32

Vejamos abaixo algumas propriedades que gozam a matriz inversa.

(i) Se a matriz é não singular, sua inversa também é. A matriz inversa de é


.

(ii) A matriz identidade é não singular e sua inversa é a própria matriz identidade
.

(iii) Se a matriz é não singular, sua transposta também é. A matriz inversa de


é ( )T.

(iv) Se as matrizes e são inversíveis e de mesma ordem, o produto é uma


matriz também inversível. Então, a matriz inversa de é a matriz .

2.1.7 Matrizes Semelhantes

Definição 2.1.7. Sejam as matrizes e , ambas quadradas. Dizemos que a matriz é


semelhante à matriz se, e somente se, existe uma matriz inversível tal que:

2.2 ESPAÇO VETORIAL E PROPRIEDADES

Definição 2.2. Dizemos que um conjunto munido de duas operações adição e


multiplicação por escalar, tal que:

I)

II)

É um Espaço Vetorial sobre um corpo ( ) sesatisfazer às seguintes propriedades:

( )

( ) ( )( )

( )

(– ) (– ) ( )
33

( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )( )

( )

Na definição acima temos que as operações de adição e multiplicação por escalar


podem ser representadas por ( ) e ( ), respectivamente, e um espaço vetorial com essas
operações por ( );
Uma característica importante da definição é que ( ) é fechado em relação às
duas operações, o que significa serem válidas as seguintes propriedades:

I - Se , então ;

II - Se e , então .

2.2.1Subespaço Vetorial

Definição 2.2.1Seja um espaço vetorial e um subconjunto não vazio de . Dizemos que


,é um subespaço vetorial de se, para todo vetor e e todo escalar , os vetores
e pertencerem a .

Em outras palavras, subespaço vetorial é aquele subconjunto fechado em relação à


adição e à multiplicação por um escalar, ou seja:

1) ;
2) Se ;
3)

As operações de adição de vetores e multiplicação por uma escalar definidas em


,também se aplicam aos vetores de , que está contido em . Certamente, essas operações
em gozam das mesmas propriedades que em . Desse modo concluímos que todo
subespaço vetorial é, ele próprio, um espaço vetorial.
34

O próprio é um subespaço vetorial dele mesmo. O subespaço é denominado


desubespaço trivial de V. Os subespaços distintos de são denominados de subespaços
próprios de V.

2.2.2 Combinação Linear

Uma das características mais importantes de um espaço vetorial é a determinação


de novos vetores a partir de vetores dados. Como exemplo temos os vetores em que, a partir
dos versores que são os (vetores de módulo 1), ̂ ( )e ̂ ( ), podemos construir
qualquer vetor no plano escrevendo ⃗ ̂ ̂ onde , .
Supomos o vetor ⃗ ( ) construído a partir da combinação ⃗ ̂ ̂,
graficamente temos:

Figura 13:Gráfico da Combinação Linear entre dois vetores

Definição 2.2.2.Seja um espaço vetorial real (ou complexo), ( ) e


( ) . Então, o vetor:

é um elemento de ao que chamamos Combinação Linear dos vetores ( ).


35

Uma vez fixados os vetores ( ) em , o conjunto de todos os


vetores de que são combinação linear destes, é um subespaço vetorial. Com isso, é
chamado subespaço gerado por ( ) e é denotado por:

W=[ ]

, também pode ser escrito, formalmente da seguinte maneira;

W=[ ]=

2.2.3 Dependência e Independência Linear

Definição2.2.3.Sejam um espaço vetoriale . Dizemos que o conjunto


{ } é dito linearmente independente (LI), ou que os vetores são LI,
se a equação:

Então: ...= = 0.

No caso em que a igualdade se verifique para algum , dizemos


que{ } é linearmente dependente (LD), ou que os vetores são LD.
Com base na definição temos que:

 Um único vetor é LD se e somente se .


 Um conjunto de vetores { } é LD se e somente se um destes vetores for
uma combinação linear dos outros.
 Dois vetores e são LD, se e somente se um é múltiplo escalar do outro. Por
exemplo: os vetores (– )e( – ) são LD pois,6

( – – ) – (– ).

6
Dizemos também que o Espaço Vetorial mostrado acima é finitamente gerado.
36

2.2.4 Base de um Espaço Vetorial

Definição 2.2.4. Um conjunto de vetores ( ) de um espaço vetorial é uma base


de se for satisfeita as seguintes condições:
(i) ( ) é LI. (linearmente independente)
(ii) [

Exemplo 1: Sejam , ( ) ( ). Tomemos como base do ,

, conhecida como base canônica, pois,

() ;
( ) .

Exemplo 2: Sejam o espaço vetorial e uma base ( )( ) . Iremos


verificar se é uma base do .
(i) Os vetores de não são múltiplos, isto é, ( ) ( ) para todo , assim
é LI.

(ii) Todo vetor ( ) pode ser escrito como combinação linear dos
vetores ( )e( ), Temos:
( ) ( ) ( )

a  x
Então, a  b  y  b  y  x

Portanto: ( ) ( – )( )

2.2.5 Mudança de Base

Diversas situações práticas da Física se tornam bem mais fáceis de serem


resolvidos quando se conhece o referencial que descreve o movimento de determinado corpo.
Vejamos por exemplo um corpo que se move no plano de coordenadas , cuja trajetória é
uma elipse de equação conhecida e cujo gráfico é mostrado abaixo:
37

(Equação 2.2.5.1)

(a) (b)

Figura 14: Elipse - Mudança de eixos por vetores

A figura 14-(a) mostra o referencial determinado pela base canônica formada


pelos vetores ( ) ( ) do plano .
Já a figura 14-(b) descreve o movimento utilizando agora, um referencial que se
apoia nos eixos principais da elipse, sendo este determinado pelos vetores que é a
nova base formada nessa mudança de eixos do plano. Neste novo referencial, a equação da
trajetória elíptica é simplificada para:

(Equação 2.2.5.2)

Observe que a equação torna-se simplificada não possuindo mais o termo misto
. A demonstração de como se obtém a equação simplificada acima será apresentada no
próximo capítulo.

Definição 2.2.5. Sejam e duas bases de . Dado um vetor ,


então este será combinação linear dos vetores das bases e :

x 
ou =  1  (Equação 2.2.5.3)
x2 

y 
ou =  1 . (Equação 2.2.5.4)
 y2 
38

Sendo uma base de , podemos escrever cada vetor da base , como combinação
linear dos vetores da base . Temos que:

. { (Equação 2.2.5.5)

Substituindo (3) em (1) temos:

( ) ( )
Ou,

( ) ( ) (Equação 2.2.5.6)

Comparando as igualdades (4) e (2) e lembrando que as coordenadas de um vetor


em relação a uma base são únicas, temos:

 y1  a11 x1  a12 x 2

 y 2  a 21 x1  a 22 x 2
ou matricialmente,
7

 y1   a11 a12   x1 
 y   a a   x  . (Equação 2.2.5.7)
 2   21 22   2 

Fazendo,

[ ], então a equação matricial (5) pode ser escrita da seguinte forma:

(Equação 2.2.5.8)

A matriz , chamadade matriz de mudança de base de para , transforma as


coordenadas de um vetor qualquer , na base , em coordenadas do mesmo , na base .
Assim, se quisermos transformar em , multiplicamos, ambos os membros
da equação (6) pela inversa da matriz, que fornece ,

7
Com relação à matriz , alguns autores chamam esta matriz de matriz de passagem da base para a base
.
39

( )

Ou

, de onde vemos que:

( )

Observação: Cada coluna da matriz é o vetor das coordenadas do correspondente vetor


da base , em relação à base .

Exemplo: Sendo ( )( – ) e ( )( ) bases do , achar a


matriz :

Solução:

1o) Escrevemos cada vetor de como combinação linear dos vetores de , assim:

( ) ( ) ( ) e

( – ) ( ) ( ),

Assim, a matriz de mudança de base de para será:

[ ]

2o) Resolvendo as equações acima obtemos a = – 1, b = 4, c = 2 e d = – 6, de modo que:

[ ]

Diante da matriz , obtemos conforme mostrado acima, temos:

[ ]
40

2.3 TRANSFORMAÇÕES E OPERADORES LINEARES

Neste Tema, definiremos um tipo especial de funções, chamadas transformações


lineares. Essas funções ocorrem com frequência em Álgebra Linear e em outros campos da
matemática, além de serem importantes com uma vasta gama de aplicações.
Façamos uma breve introdução à definição de transformação linear, dando como
um exemplo à reflexão em torno do eixo , através da condição mostrada seguir:
Seja a função dada por:
( ) ( – ).

Geometricamente, toma cada vetor do e o reflete em torno do eixo , como


mostra a figura abaixo:

Figura 15: Reflexão em torno do eixo .

Definição 2.3.Uma transformação linear de um espaço vetorial em um espaço vetorial


, ambos sobre um corpo , é uma função (ou aplicação) que associa elementos de a
elementos de satisfazendo as seguintes condições:

i) ( ) ( ) ( ) Para todo

ii) ( ) ( ) Para todo

Conforme às condições (i) e (ii), uma Transformação Linear deve satisfazer as


seguintes propriedades:
) ( ) ( transforma o vetor nulo de no vetor nulo de ).
41

) ( ) ( ) .

) ( – ) ( )– ( ) .

IV) Se é um subespaço de , então a imagem de por é um subespaço de , ou seja,


transforma subespaço vetorial em subespaço vetorial.

Vejamos alguns exemplos:


Exemplo 1 - A aplicação definida por ( ) = ( ) é uma
transformação linear, pois, de fato, temos:
a) Sejam = ( ) e = ( ) dois elementos genéricos do . Pela
definição 2.3, temos:

( ) = T( + + , + )

=( + ,( + )+( + ))

=( , + )+( + )

= ( ) + ( );

b) ( ) ;

( ) ( ) ( ) ( ) ( ).

Exemplo 2: A aplicação , dada por ( ) ( ), , não corresponde a


uma transformação linear, de fato:

, temos:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) . Logo T não é uma transformação


linear.

2.3.1 Matriz de uma Transformação Linear

Definição 2.3.1. Sejam e espaços vetoriais de dimensão e , respectivamente, sobre


. Consideremos a transformação linear . Dadas as bases = de e
42

de , então cada um dos vetores ( ) ( ) está em e


consequentemente é combinação linear da base w:
( )
( )
....................................................................
( ) , ou simplesmente:

( ) ∑ ( )

Onde os elementos estão univocamente determinados.

Então a matriz sobre , representada pelos coeficientes do sistema linear


acima,

( ) ( )

é chamada matriz de T em relação às bases e , denotada aqui por .


Vejamos o exemplo que segue:

Exemplo: Sejam ; ( ) ( – – ) , ( )( – ) e
( )( – )( – ) de e , respectivamente:

Vamos determinar :

( ) ( – – ) ( ) ( – ) ( – )

, e

( – ) ( – )= ( )+ ( – )+ ( – )

, e
43

 1 / 3 1 / 3

Portanto, [T]  7 / 3
v
2 / 3
w
 5 / 3  5 / 3

2.4 AUTOVALORES E AUTOVETORES

Definição 2.4. Seja um operador linear. Um vetor , 0, é um autovetor de ,


se existir tal que:

( ) .

O número real é denominado autovalor de associado ao autovetor .

Para determinar os autovalores e autovetores de um operador linear


usamos a sua representação matricial.

Seja a matriz canônica de , de forma que ( )= . Então, autovalores de


e autovetores de são soluções da equação . Ou seja:

– ( – ) = 0, em que:

é a matriz identidade de mesma ordem que .

É notório que, ( – ) , representa um sistema homogêneo, que é sempre


compatível, cuja solução desejada, conforme definição é a não trivial, ou seja, .
Assim, devemos ter o sistema em questão como compatível e indeterminado, de
forma que:
( – ) .

As raízes da equação ( – ) , chamada equação característica de (ou


de ), representam os autovalores de .
Para cada autovalor , corresponde um conjunto de
autovetores, que é obtido pela solução da equação ou, equivalentemente, da
equação ( – ) . Conforme a definição acima, temos em síntese que:
44

Sendo , a matriz canônica que representa um operador linear , temos:

 Autovalores de ou de : são as raízes da equação:

( – )
 Autovetores de ou de : Para cada , são as soluções da equação:

( – ) .
Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: determinar os autovalores e autovetores da matriz ( ).

Solução:Cálculo dos autovalores; fazendo ( – ), temos:

( – ) ( ) ( )

( ) ( ) ( ).

Fazendo o determinante da matriz resultante igual a zero, temos:

( – ) | |

( )( )

Resolvendo a equação do 2º grau, obtemos:

{ , sendo estes os autovalores da matriz .

 Cálculo dos autovetores; se e são autovalores de , então


escrevemos:

e .

Considerando ( ), temos:

( )( ) ( )( )
45

( ) ( )

{ {

{ {

Este é um sistema do tipo SPI (Sistema possível e indeterminado), onde temos

infinitas soluções, com a condição . Sendo assim, qualquer vetor ( )

( ) é um autovetor de com autovalor Em particular, escolhendo temos

que ( ) é um autovetor de .

Analogamente à solução anterior, temos que a expressão:

, dará às seguintes soluções: { , estas também SPI. Logo qualquer vetor

do tipo ( ) ( ) será um autovetor de com autovalor . Em particular,

escolhendo então ( ) é um autovetor de Portanto, temos que os vetores:

( )e ( )serão representados graficamente conforme figura abaixo.

Figura 16: Autovalores e Autovetores


46

2.5 DIAGONALIZAÇÃO DE OPERADORES

Definição 2.5. Seja um operador linear. O operador é dito diagonalizável caso


exista uma base de cujos elementos são autovetores de .

Teorema 1: Uma matriz quadrada é diagonalizável se existe uma matriz , tal que,
, onde é uma matriz diagonal. Nesse caso, dizemos que é a matriz que
diagonalizaa matriz .
A matriz que diagonaliza pode ser construída como uma matriz cujas colunas
são autovetores da matriz . Vejamos o exemplo abaixo:

Exemplo 1: Iremos verificar se a matriz ( )do exemplo anterior é diagonalizável.

Caso ela seja, procuraremos a matriz diagonal semelhante a ela.


Solução: Pelo exemplo anterior, vimos que a matriz tem autovetores ( )e ( ).
Logo, a matriz que diagonaliza é dada:

( ).

Calculando a matriz inversa de , ou seja, , obtemos:

( ) ( ), logo a matriz é diagonalizável.

Portanto, pelo teorema 1, a forma diagonalizada da matriz é assim determinada:

, então temos:

( )( )( )

( )( )

( )

( )
47

logo, é a forma diagonalizada da matriz , onde os elementos da diagonal principal são os


autovalores correspondentes.

2.6 CÔNICAS E CLASSIFICAÇÕES

Definição 2.6: Chama-se cônica a todo conjunto de pontos do plano cujas coordenadas
, em relação à base canônica, satisfazem à equação do 2º grau:

,
Onde:
são números reias com não simultaneamente nulos. Essas curvas
incluem as parábolas, as elipses e as hipérboles que também são chamadas de cônicas não
degeneradas.
As coordenadas dos pontos do plano são as componentes dos vetores
que satisfazem a equação de uma cônica, como mostra a figura abaixo:

Figura 17: Representação de uma Cônica

Tendo que ( ) ( ) representa a base canônica do e


( ) um ponto qualquer pertencente a uma cônica, podemos escrever:

⃗⃗⃗⃗⃗⃗ ( )
48

2.6.1 Simplificação da Equação geral das cônicas

Nosso objetivo agora é fazer o reconhecimento e analisar a equação de uma


cônica através das matrizes, utilizando autovalores, autovetores e a diagonalização de
operadores estudadas aqui no capítulo 2. Para encontrar a equação reduzida de uma cônica
passaremos por duas etapas.
Seja a equação de uma cônica:
(I)
O polinômio retirado de (I) é chamado de forma quadrática no
plano, podendo ser representado matricialmente por:

[ ] [ ], onde:

( ).

E o termo linear restante ( ) pode ser representado também por meio de


matrizes:

[ ], ou seja,

[ ][ ] [ ]

1ª Etapa: Eliminação do termo em


Para eliminar o termo em da equação da cônica, segue-se os três passos
seguintes:

Passo 1: Colocamos a equação geral (I) na forma matricial:

[ ][ ] [ ] (II)

Entretanto, afim de, facilitar a simplificação das demonstrações, façamos às


seguintes denotações para os termos da equação geral:
49

( ) ( ) ( )e,

( ) ( ), sendo estes os autovetores unitários de .


Logo, reescrevendo a equação (II), fica:

(III)

Temos que a matriz define um operador simétrico sendo este, portanto,


diagonalizável, conforme definições do capítulo 2. Isso indica que a nova expressão da
cônica, sem o termo misto, pode ocorrer na base de autovetores, veremos como isso ocorre,
no passo seguinte.

Passo 2: Determinação dos autovalores e autovetores unitários da matriz simétrica .


e são os autovalores e ( ) ( ) os autovetores ortonormais de

Passo 3: Substituindo a matriz por sua representação, nessa base de autovetores, temos
que:

( ), onde e são os autovalores de e é a matriz de

mudança de base que denotaremos a partir de agora por . Chamando de e as


componentes do vetor na base ortonormal { ( ) ( )} isto é,
( , ), temos que:
, (IV)
Sendo a matriz de mudança de base de para .
Substituindo, temos:

[ ] [ ], logo, a equação (II) se transforma em:

[ ][ ] [ ][ ] , ou na forma simplificada;

(V)
50

Em que e são as componentes do vetor na base , e

Esta é a equação da cônica mostrada em (I), porém agora referida ao sistema


, cujos eixos são definidos pela base , conforme propõe a figura abaixo.

Figura 18: Mudança de Eixos Coordenados

Assim, quando passamos da equação (I) para (V), dizemos que ocorreu uma
mudança de referencial, isto é, uma mudança de base implicando em uma simplificação da
equação. Haja vista que, enquanto (I) apresenta o termo misto em , (V) está desprovida
deste termo.
A equação (V) pode ainda ser simplificada com o objetivo de se obter a equação
reduzida da cônica. Para tanto, realiza-se uma nova mudança de coordenadas por meio de
uma translação do referencial para um novo referencial . Esta nova mudança de
referencial é chamada de translação de eixos a qual veremos na etapa que segue.

2ª etapa: Translação de Eixos


Considerando a equação (V), façamos agora sua análise supondo duas
possibilidades:
Com base na equação (V), , temos:

(I) , podemos escrever:


51

( ) ( ) , completando quadrados segue que:

( ) ( )

( ) ( )

Fazendo:

e, por meio dos termos de translação:

( ) ( ), temos que:

, logo:

(VI)

Contudo, temos que a equação (VI) representa a equação reduzida de uma cônica
de centro, sendo que o primeiro membro mostra a forma canônica da forma quadrática no
plano.
(II) Consideremos agora , supondo , então a equação (V) fica:

( ) , completando quadrados segue:

( )

( ) ( )
52

Novamente, por meio de uma translação:

( ) e ( ), tem-se que:

(VII)

Logo, a equação (VII) representa a equação reduzida de uma cônica sem centro.
Caso tivéssemos , a equação reduzida da cônica sem centro seria:

2.6.2 Classificação das Cônicas

(i) Como vimos, a equação de uma cônica de centro é dada por:

De acordo com o comportamento dos autovalores e , podem ocorrer dois


casos:
 Se e tiverem o mesmo sinal, então a curva será uma Elipse.
 Se e tiverem sinais opostos, então a curva será u
 ma Hipérbole.

ii) Como vimos, a equação de uma cônica sem centro é dada por:

ou

Logo, quando tivermos uma cônica representada por qualquer uma dessas
equações, então esta cônica será uma Parábola.
53

3 EQUAÇÕES CARTESIANAS DAS CÔNICAS

3.1. ESTUDO DA ELIPSE

Definição 3.1. Uma elipse é o conjunto dos pontos ( ) do plano, tais que a soma das
distâncias de a dois pontos fixos e (focos) é constante, ou seja:

( ) .

Então elipse é o conjunto dos pontos ( ) , tais que ( )


( ) ; em que , como mostra a figura abaixo:

Figura 19: Elipse genérica

Pela definição podemos tirar as seguintes relações:

Além disso, temos que a elipse é uma curva fechada e simétrica em relação à reta
que passa pelos focos e também com relação à mediatriz do segmento .
54

3.1.1 Elementos Principais da Elipse

I) e :indicam os focos da Elipse;


II) e indicam os vértices da Elipse;
III) indica o centro;
IV) = indica o eixo maior;
V) = indica o eixo menor;
VI) = indica a distância entre os focos da Elipse (distância focal);

VII) = = indica a excentricidade (achatamento) da elipse;

VIII) indica à relação notável da elipse;


IX) ̅̅̅̅̅: indica a semicorda focal mínima ou parâmetro da elipse.

3.1.2 Equações da Elipse.

(I) Consideremos sobre o eixo , sobre o eixo e ( ) a origem do plano


vejamos a figura abaixo.

Figura 20: Equação da elipse com eixo maior em

Dá-se o nome de elipse ao conjunto dos pontos P pertencentes ao plano, tais que:
( ) ( ) (1)
E segue a relação notável da elipse:
(2)

Tomemos P(x, y) um ponto genérico da elipse, cujos focos são F1(– c, 0) e F2(c, 0).
55

Temos que:
( ) √( ) (3)

( ) √( ) (4)

Substituindo as equações (3) e (4) na equação (1), obtemos:

√( ) √( )

√( ) √( )
Elevamos ambos os membros ao quadrado, temos:
( ) √( ) ( )

√( )

√( )

Dividindo, novamente, ambos os membros por 4, temos:


√( )

√( )

√( )
Elevamos, novamente, ambos os lados ao quadrado:
( )
( )

( )
( )
Multiplicando ambos os membros por (– 1), temos:
( )
( ) ( )
Dividimos ambos os lados por ( – ):
( ) ( – )
( – ) ( – ) ( – )
56

(5)

Da relação (2), temos:

(6)
Substituindo (6) em (5), obtemos:

(7)

Que é a equação reduzida da elipse.

(II) Consideremos agora no eixo e no eixo .

Figura 21: Equação da Elipse com eixo maior em

 ⃡
 ⃡;
 Origem em ( ).

Analogamente à demonstração anterior, para esta elipse temos a seguinte equação:

(8)
57

3.1.3 Análise dos Parâmetros e na equação reduzida

Vimos no capítulo I que Apolônio observava e determinava as cônicas de diversas


formas geométricas. Uma delas ele se utilizava de áreas de retângulos para expor as curvas
elipse, parábola e hipérbole. Seguindo as ideias de Apolônio iremos analisar aqui as
propriedades dos parâmetros geométricos e existentes na equação reduzida da elipse a
qual determinamos ainda pouco. Vejamos:

Pela equação reduzida da elipse , obtém-se e , ou

seja, e . Com isso, temos que o conjunto de pontos de uma elipse


estão contidos no retângulo e , sendo este chamado de retângulo
fundamental, conforme mostra a figura abaixo.

Figura 22:Retângulo Fundamental

3.1.4 Translação de eixos da Elipse

Tomando agora um novo referencial para a equação da elipse mostrada no


subitem 3.1.2 – (I), temos as seguintes considerações:

(1ª) e , onde e são os novos eixos coordenados, então


pelas equações de translação, temos:

{
58

Logo, substituindo estas na equação (7), obtemos:

( ) ( )

Esta translação de eixos da elipse é bem representada graficamente, como mostra


a figura abaixo:

Figura 23: Translação de eixos 1

(2ª) Consideremos agora a equação reduzida da elipse referida no subitem 3.1.2-(II), ou


seja, com então temos:

Substituindo estas na equação (8), temos:

( ) ( )

Esta translação de eixos é mostrada na figura abaixo:


59

Figura 24: Translação de eixos 2

3.2 ESTUDO DA PARÁBOLA

Definição 3.2.Parábola é o lugar geométrico dos pontos de um plano que são equidistantes
de uma reta e de um ponto do plano, conforme mostra a figura abaixo:

Figura 25: Elementos da Parábola


60

3.2.1 Elementos Principais da Parábola

I)

II) : indica o foco da parábola;

III) : indica a reta diretriz;

IV) : indica a distância focal;

V) : indica o vértice da parábola;

VI) = : indica a relação notável;

VII) ⃗⃗⃗⃗⃗ : indica o raio vetor;

VIII) : indica o parâmetro (semi-corda focal mínima).

3.2.2 Equações da Parábola

(I) A equação da parábola com foco em ( ), tendo como diretriz a reta


é dada por . Vejamos a representação pelo gráfico abaixo:
61

Figura 26: Equação da parábola

Com base na figura acima, temos que: ( ) ( ) e que ( )

√( ) . Por definição, pertence à parábola se, e somente se:

| | √( )

Elevando-se os dois membros ao quadrado, temos:

| | ( )

Desenvolvendo-se os quadrados obtém-se:

, simplificando temos:

Equação esta chamada de equação reduzida da parábola.

(II) A equação da parábola com foco em ( ), tendo como reta diretriz a reta
é dada por Vejamos a representação pelo gráfico abaixo:
62

Figura 27: Parábola com foco no eixo

Por definição, temos que ( ) ( ) e que ( ) √( ) ,


elevando ambos os membros ao quadrado, temos:

( ) ( )

( ) ( ) ( ) ( ) desenvolvendo, temos:

3.2.3 Translação de Eixos

Na translação de eixos coordenados mudamos a origem do plano para um


ponto arbitrário ( ) introduzindo um novo sistema tal que os eixos e
tenham a mesma unidade de medida, a mesma direção e o mesmo sentido dos eixos e
. Assim, todo ponto do plano terá duas representações: ( ) no sistema e
( , ) no sistema .(figura 27)

Figura 28: Translação de Eixos 3

Da figura acima, obtemos:


63

Que são chamadas fórmulas de translação.

3.3 ESTUDO DA HIPÉRBOLE

Definição 3.3: Dados dois pontos distintos e , fixos de um plano e seja a distância
entre eles. Chamamos de hipérbole o lugar geométrico dos pontos de cuja diferença, em
módulo, das distâncias a e é a constante . Com .Isto é:
Hipérbole || | , conforme mostra a figura abaixo:

Figura 29: Hipérbole genérica

De acordo com a definição e a figura acima podemos escrever as seguintes


relações:

|̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅| |̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅| |̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅| |̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅|

3.3.1 Elementos Principais da Hipérbole

I) e indicam os focos da hipérbole;


II) ̅̅̅̅̅̅ :indica a distância focal da hipérbole;
64

III) indica o centro da hipérbole;


IV) indica o eixo real ou transverso da hipérbole;
V) indica o eixo imaginário da hipérbole;
VI)̅̅̅̅̅̅̅ indica a medida do eixo real da hipérbole;
VII) ̅̅̅̅̅̅̅ indica a medida do eixo imaginário da hipérbole;

VIII) ℮ = = indica a excentricidade da hipérbole;

IX) : indica a relação notável da hipérbole;

X) : indica o parâmetro da hipérbole;

XI) e : indicam as assíntotas da hipérbole.

Figura 30: Elementos da Hipérbole

3.3.2 Equações da Hipérbole

(I) e . Seja um ponto P(x, y) da hipérbole, cujos focos são os


pontos (– )e ( ). (Figura 30):
Pela definição 3.3, ( ) é |̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅| então:
√( ) √( )

√( ) √( ) , (elevando ao quadrado), temos:

(√( ) ) ( √( ) )

( ) √( ) ( )
65

√( )

√( ) (dividindo ambos os membros por 4):

√( ) , (elevando ao quadrado), temos:

( ) ( √( ) )
( )
( )

( ) ( )
, multiplicando ambos os membros por :
, dividindo por , vem:

Portanto:

Equação 3.3.2

Figura 31: Equação da Hipérbole com eixo maior em

( ) e , como mostra a figura abaixo:


66

Figura 32: Equação da Hipérbole com eixo maior em

Analogamente ao primeiro caso, chegamos à equação da hipérbole:

3.3.3 Translação de eixos

Consideremos agora um novo referencial de coordenadas para o eixo ,


Temos:

(1º) e

Pelas equações de translação vistas anteriormente, temos que:

( ) ( )
{
67

Figura 33: Translação de Eixos da Hipérbole 1

(2º) e , então:

( ) ( )
{

Figura 34: Translação de Eixos da Hipérbole 2

3.3.4 Assíntotas

As assíntotas são retas particulares que apenas a hipérbole possui. De acordo com
as equações reduzidas da hipérbole determinadas no subitem 3.3.2, vejamos agora as
equações das assíntotas para cada caso:
68

1º) A hipérbole de equação admite as seguintes assíntotas:

Figura 35: Assíntotas 1

2º) A hipérbole de equação admite as seguintes assíntotas:

Figura 36: Assíntotas 2


69

4 PROPRIEDADES DE REFLEXÃO E APLICAÇÕES DAS CÔNICAS

4.1 PROPRIEDADE DE REFLEXÃO DA ELIPSE

A propriedade de reflexão da elipse está intimamente ligada à propriedade da reta


tangente a esta curva. Como ilustração destas propriedades, vejamos a figura abaixo:

Figura 37: Reta tangente à Elipse

Na figura acima temos uma elipse de focos e , uma reta tangente à elipse no
ponto , formando os ângulos e , estes compreendidos entre e ,
respectivamente. Sabendo-se que a elipse é simétrica em relação aos eixos coordenados, então
é possível mostrar que , não sendo necessária aqui tal demonstração. Logo, concluímos
que:

A reta tangente à elipse em um ponto qualquer desta curva, forma ângulos


iguais com os segmentos que unem aos focos. Vejamos algumas aplicações:

Um raio luminoso incidente proveniente de um dos focos de um espelho elíptico,


então todos os raios de luz refletidos por este espelho se concentrarão no outro foco.
70

Figura 38: Superfície refletora elíptica

Uma aplicação interessante sobre esta propriedade é o funcionamento das galerias


sussurrantes, ou seja, compartimentos com tetos com formato elíptico, nos quais uma pessoa
que sussurra em um foco pode ser ouvida no outro foco. Como exemplo destas galerias,
temos a Rotunda do Capitólio em Washington, D.C.,EUA, é onde os americanos comemoram
a posse de seu novo presidente e onde estão aqueles que já faleceram. e o Tabernáculo dos
Mórmons, em Salt Lake City, ver Figuras abaixo:

Figura 39: Rotunda do Capitólio, EUA. Figura 40: Tabernáculo dos Mórmons
Fonte: http://silmarcechin.blogspot.com Fonte: Estaca Porto Norte, 2012.

É em meados do ano de 1604 que, Johann Kepler, astrônomo e matemático


alemão, dedica-se, profundamente, no estudo das secções cônicas, onde formula trabalhos
sobre óptica e as propriedades dos espelhos parabólicos. Em suas inúmeras observações,
concluiu, em 1609, que a trajetória dos planetas é uma elipse e que o Sol se encontra em um
dos seus focos, (1ª lei de Kepler), (figura 43). A 1ª lei de Kepler diz que os planetas não
descrevem uma trajetória circular, como era pensado antes, mas sim uma trajetória elíptica.
Muitos cometas têm órbitas elípticas com o sol como um dos focos, o mais conhecido por nós
é o cometa Halley, que leva o nome de seu responsável pela descoberta, Edmond Halley
(1656 - 1742), matemático e astrônomo inglês, descobriu que os cometas que haviam passado
pela Terra nos anos de 1531, 1607 e 1682 eram, na realidade, um só. Esse cometa é o único
visível a olho nu, apresentando um período orbital inferior ao tempo médio de vida de um ser
71

humano variando entre 75 e 76 anos a sua órbita. A última aparição do cometa vista por nós
foi no ano de 1986, sendo que a próxima passagem está prevista para ocorrer em Julho de
2061, (Figura 44).

Seguindo as leis de Kepler, anos mais tarde, Isaac Newton aplicou-lhes o seu
cálculo diferencial e concluiu a Lei da Atração universal e verificou, também, que os satélites
efetuam uma órbita elíptica em torno do seu planeta. A órbita da lua descreve uma trajetória
elíptica da qual a Terra é um dos seus focos, (Figura 45).

Figura 41: órbita elíptica dos planetas Figura 42: órbita elíptica do cometa Halley
Fonte: educar.sc.usp.br Fonte: educar.sc.usp.br

Figura 43: Órbita elíptica da Lua


Fonte: Aquafluxus.com

Uma outra forma bem interessante de observar de perto as propriedades de


reflexão da elipse é através das famosas mesas de bilhar no formato dessa curva.

O bilhar elíptico possui um único bordo no formato de uma elipse com um buraco
situado em dos focos segundo a figura 44. Uma bola colocada no outro foco quando atirada
em qualquer direção da mesa deverá cair no buraco. O mesmo feito ocorrerá com a bola
quando a mesma for colocada em qualquer outra posição da mesa e atirada em direção ao
outro foco do bilhar elíptico.
72

Figura 44: Bilhar Eliptico.


Fonte: Pavilhão do Conhecimento, 1999.

4.2 PROPRIEDADES DE REFLEXÃO DA PARÁBOLA

Assim como na propriedade de reflexão da elipse vista agora pouco, uma


propriedade importante da parábola também está associada às retas tangentes a esta curva.
Vejamos a figura abaixo:

Figura 45: Reta tangente à Parábola

A figura acima mostra a reta que é tangente em um ponto ( ) da parábola de


foco ( ) e de equação . Temos ainda os ângulos e compreendidos entre
e , respectivamente. Análogo às propriedades de reflexão da elipse pela reta
tangente à parábola, podemos mostrar também que, . Logo, concluímos que:

A reta tangente a um ponto da parábola, forma ângulos iguais com a reta que
passa por este ponto, sendo paralela ao eixo de simetria e com o segmento que liga ao
foco.
73

Esta propriedade reflexiva da parábola possui muitas aplicações.Vejamos algumas


dessas aplicações:

A forma do espelho de um holofote se obtém fazendo uma parábola girar sobre


seu eixo. Se uma fonte de luz é colocada em , então os raios refletidos serão paralelos ao
eixo de simetria e estes atingindo a superfície deste espelho paralelamente ao eixo de simetria,
então os raios serão refletidos para o foco.

O funcionamento das antenas parabólicas, partem do mesmo princípio sendo


construídas para refletir ondas de radiofrequências muito maiores que a da luz. Se as ondas
eletromagnéticas emitidas por um satélite atingirem a antena parabólica, então ocorrerá uma
reflexão desses raios para o foco da parábola, local este onde estará um aparelho receptor que
irá converter estas ondas em sinais bem baixos que por sua vez a TV transformará em
imagens que podem ser vistas não sendo prejudicial à nossa saúde. Conforme mostra as
figuras abaixo:

Figura 46: Superfície refletora parabólica Figura 47: Antena parabólica

Outra aplicação desta propriedade é utilizada nos coletores solares onde a


temperatura no ponto focal pode chegar a e, neste ponto, é colocado o dispositivo que
irá utilizar a energia concentrada. Esta energia concentrada pode ser usada para gerar
eletricidade, fazer o derretimento de aço, etc. Um exemplo disso é o conhecido maior forno
solar do mundo, localizado em Odeillo nos Pirinéus Orientais, na França. Veja a figura.
74

Figura 48: Forno solar de Odeillo na França.


Fonte: planeta Saber.

Os arcos de cônicas surgem na engenharia e arquitetura, em pontes, pórticos,


cúpulas e torres, devido às suas propriedades físicas e estéticas. Por exemplo, o cabo de
suspensão de uma ponte, quando o peso total é uniformemente distribuído segundo o eixo
horizontal da ponte, então este se torna parabólico. Temos como exemplo a ponte 25 de abril
localizada em Lisboa, Portugal, como mostra a figura abaixo.

Figura 49: Ponte 25 de Abril, Lisboa.


Fonte: The Best of lagos, 2012.

Outra forma um muito interessante de observar as propriedades de reflexão da


parábola é através da mesa de bilhar parabólica. O bilhar parabólico tem uma das bordas
formada por um arco de parábola com buraco situado no foco. Quando uma bola é atirada
paralelamente às bordas laterais, ou seja, em direção ao eixo da parábola a bola deverá cair no
buraco.
75

Figura 50: Bilhar Parabólico


Fonte: Pavilhão do Conhecimento, 1999.

4.3 PROPRIEDADES DE REFLEXÃO DA HIPÉRBOLE

Uma hipérbole goza da propriedade reflexiva análoga à da elipse, conforme vimos


no inicio deste capítulo. A propriedade de reflexão da hipérbole também se fundamenta pela
propriedade da reta tangente a esta curva. Vejamos a figura abaixo:

Figura 51: Reta tangente à Hipérbole

Na figura acima, temos uma hipérbole de focos e , uma reta tangente à


hipérbole no ponto e os ângulos e compreendidos entre e , respectivamente.
De acordo com as propriedades impostas acima é possível demonstrar que , análogo às
curvas anteriores. Logo, concluímos que:

A reta tangente à Hipérbole em um ponto , forma ângulos iguais com os


segmentos que unem este ponto aos focos. (figura 53).

Uma aplicação direta desta propriedade é a seguinte: Se colocarmos um raio de


luz ao longo da reta para , então ele se refletirá em segundo a reta para o outro foco
76

e vice-versa. Esta propriedade é utilizada na construção de telescópios do tipo Cassegrain.


Eles utilizam as propriedades reflexivas de parábola e hipérbole. A figura abaixo exibe parte
de um espelho parabólico e um segundo espelho hiperbólico, sendo os dois possuindo o
mesmo foco.

Figura 52: Superfície Refletora Hiperbólica. Figura 53: Esquema interno do Telescópio Cassegrain.
Fonte: Astroguia.org

Temos traçados da hipérbole nas diversas representações arquitetônicas de Oscar


Niemeyer, arquiteto de renome e famoso pelas curvas impostas a edificações de arquitetura
feitas na cidade de Brasília. Em muitas de suas obras é notório o traçado da tangência e a
concordância de arcos de circunferência e das curvas cônicas.

Figura 54: Catedral de Brasília.


Fonte: Distrito Federal, Brasília.

Outra forma muito interessante de observar as propriedades de reflexão da


hipérbole é através da mesa de bilhar hiperbólica. O bilhar hiperbólico tem uma borda na
forma de um ramo de hipérbole com o outro ramo dessa curva que corresponde à hipérbole-
borda. Uma bola atirada em direção ao foco a mesma deverá cair no buraco. Figura abaixo.
77

Figura 55: Bilhar Hiperbólico


Fonte: Pavilhão do Conhecimento, 1999.
78

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos que as curvas cônicas, inicialmente, foram utilizadas de maneira apática,


sem muito entusiasmo não atingindo assim todo seu potencial. E foi no decorrer do tempo que
as cônicas foram sendo estudadas por grandes pensadores da época, tendo como resultados
inúmeras aplicações destas curvas na nossa atualidade.

Ao longo da minha jornada para com a construção deste trabalho, ainda que,
sabendo que o mesmo tinha apenas a finalidade de obtenção de titulo de graduado, com isso
foi possível conhecer e aprender a história das cônicas e de seus principais estudiosos, sendo
possível também entender suas propriedades, funcionamento e aplicações em diversas áreas.

O mais importante foi perceber que no momento em que buscava o conhecimento


no assunto, cada vez mais minha curiosidade em conhecer ia aumentando, transformando
aquilo que no inicio era uma obrigação, em um trabalho de pesquisa prazeroso na busca
incansável pelo conhecimento.

Sendo assim, fica nossa ânsia através deste trabalho que, o ensino das secções
cônicas nas escolas possa ser revisto e repensado com a finalidade de que este assunto seja
introduzido de uma maneira prazerosa, que tenha sentido para quem o vier estudar, por se
tratar de um assunto de grande complexidade, muito agradável de ser trabalhado e de
inúmeras aplicações, nós como futuros educadores e pesquisadores temos a ciência de que há
um longo caminho a ser percorrido em busca de novas ideias e descobertas.
79

REFERÊNCIAS

BOLDRINI, J.L. Álgebra linear I. 3.ed. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1980.
BOULOS, P.; CAMARGO, I. Geometria analítica. 3.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
BOYER, C. B., História da matemática.2.ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1974.
BRASIL/MEC, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais.
Brasília, 1998.
D’AMBROSIO, U. Da realidade à ação: reflexões sobre educação e matemática.2. ed.São
Paulo: Sumus. editorial, 1996.
LEITHOLD, L. O Cálculo com geometria analítica.São Paulo: Harbra,1982.
LEONIDAS, S. J. – Álgebra linear para ciências econômicas, contábeis e da administração.
São Paulo: Cengage Learning, 2010.
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