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Transtornos Mentais

que Afetam a Criança

Brasília-DF.
Elaboração

Roberta Gueudeville Vita Mourão

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
O QUE É TRANSTORNO MENTAL............................................................................................................ 11

CAPÍTULO 1
SOBRE TRANSTORNO MENTAL.................................................................................................. 11

UNIDADE II
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS................................................... 21

CAPÍTULO 1
FATORES BIOLÓGICOS, PSICOLÓGICOS E AMBIENTAIS ............................................................ 21

CAPÍTULO 2
ESTRESSE................................................................................................................................. 26

UNIDADE III
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS............................................................ 37

CAPÍTULO 1
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO – HIPERATIVIDADE – TDAH............................................ 37

CAPÍTULO 2
TRANSTORNOS DE HUMOR BIPOLAR........................................................................................ 49

CAPÍTULO 3
TRANSTORNOS ALIMENTARES................................................................................................... 54

CAPÍTULO 4
TRANSTORNOS DE CONDUTA ................................................................................................. 63

CAPÍTULO 5
TRANSTORNOS DA ANSIEDADE................................................................................................ 71

CAPÍTULO 6
TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO AUTISMO........................................................................... 103

UNIDADE IV
O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS............................. 116

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 126


REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 127
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Nas últimas décadas o assunto criança teve um destaque maior no mundo inteiro.
É sabido que a criança não tem maturidade emocional para resolver seus problemas
sozinha e com o passar dos tempos mais profissionais têm se especializado em assuntos
que dizem respeito ao universo infantil a fim de ajudar a solucionar problemas que
aparecem nessa fase inicial da vida.

Os pais ou cuidadores possuem um papel fundamental na criação dos filhos. Uma


criança bem amparada e assistida se sentirá mais segura e confiante para enfrentar as
situações que lhe são apresentadas diariamente. Uma criança costuma se sentir confiante
quando ela percebe que as pessoas ao seu redor têm confiança nela. É importante para
a criança perceber que os adultos que a cercam vibram com suas conquistas e aprovam
seus comportamentos. Os lares mais positivos são aqueles que são repletos de afeto
e estrutura. Uma criança precisa de limites e regras e alas crianças se sentem mais
seguras quando esses limites e regras vêm acompanhados de amor e afeição.

Os adultos muitas vezes ignoram ou até mesmo se esquecem que crianças são apenas
crianças e que as reflexões e pensamentos sobre determinado assunto ou fato jamais
serão os mesmos que os deles. Devido ao estágio de desenvolvimento em que estão a
reflexão que possuem do mundo é de acordo com o que veem e ouvem.

Um bom início para a formação e aceitação do “eu” de uma criança é fazer a criança
sentir-se profundamente amada, mostrá-la que é importante para os demais, ser
considerada um membro valioso da família e ter adultos por perto que expliquem que
o que os outros comentam sobre ela não refletem necessariamente a verdade sobre seu
valor.

Ao ajudar uma criança a entender a natureza do mundo e transmitir mensagens que


criem um senso de propósito a pessoa está oferecendo a ela aquela qualidade de vida
impalpável e imensurável que chamamos de autoestima. Dificilmente uma criança
desenvolverá um senso saudável de lugar e aceitação no mundo sem um adulto amoroso
que esteja sempre por perto para ajudá-la a interpretar a vida. As falsas interpretações
feitas pelas crianças por algo visto e conclusões negativas e imaturas sobre si mesmas
algumas vezes podem definir toda uma vida.

Vale ressaltar que as crianças são expostas a situações de riscos múltiplos e cumulativos,
com frequência e, possivelmente, a combinação ou o excesso de fatores de risco seja
uma possível explicação para o desenvolvimento de transtornos mentais na infância.

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Com o passar dos anos as pesquisas científicas foram evoluindo na área infantil.
Observando, assim, as evidências que relacionam o estado de saúde mental da criança
ao desenvolvimento infantil em seus diferentes domínios. Tornou-se mais fácil
compreender que dificuldades emocionais e comportamentais na primeira infância
nem sempre são fases transitórias do desenvolvimento normal e podem representar
risco para psicopatologia no decorrer da vida.

É relevante destacar que a saúde mental infantil é um tema dito como transversal
a diferentes áreas, não somente da saúde, mas também, das ciências sociais e das
educacionais – além de conter inúmeras disciplinas com diferentes enfoques. Apesar
da importância do assunto, é frequente a subvalorização dos sintomas em crianças,
acarretando o agravamento do prognóstico e causando grandes prejuízos, muitas
vezes, irrecuperáveis no desenvolvimento psíquico, cognitivo e social das crianças em
formação para a vida adulta.

Os transtornos mentais na criança afetam todas as áreas do desenvolvimento infantil,


impactando na saúde física e mental não só dela como da família toda. O rendimento
escolar também fica bastante prejudicado. Os impactos causados pela angústia
familiar, situações de conflito e desempenho social inadequado na infância são de difícil
mensuração.

O tratamento de uma criança com transtorno mental requer a utilização de um sistema


de avaliação levando em consideração uma série de questões essenciais a fim de atingir
um diagnóstico correto. A presença de um psicólogo durante esse tratamento é muito
importante.

Alguns autores compartilham da mesma opinião quando afirmam que uma criança é
considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento e comportamento não
acontecem de acordo com o esperado para sua faixa etária e parâmetros de sua cultura.
A avaliação do desempenho de uma criança requer um tempo de avaliação e certa dose
de intuição pessoal, potencializada, principalmente, pela experiência profissional.

Geralmente, quando os problemas comportamentais da criança se apresentam


internalizado (pensamentos e/ou sentimento negativos, como humor deprimido e
ansiedade), acabam dificultando o reconhecimento, podendo permanecer muitos
anos na esfera individual do sofrimento. O diagnóstico nesses casos costuma ser um
pouco atrasado, uma vez que a família tende a esperar que o problema seja transitório.
Já os comportamentos externalizantes (hiperatividade e agressividade, por exemplo)
são levados aos consultórios médicos e aos psicólogos mais rapidamente.

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Mesmo havendo dois tipos de situações – uma mais amena e a outra mais grave, não
significa que não tenhamos que dar a devida atenção a todos os sinais emitidos pelas
crianças. Quando uma criança fica mais quieta e calada, sem querer brincar, sem
motivação para passear com os coleguinhas, pode ter certeza que esse comportamento
não está dentro do considerado normal e adequado. Infelizmente alguns pais e
cuidadores acham bom o fato da criança estar quieta sem “perturbar”. É justamente
na omissão que os problemas são agravados e dependendo do quadro, pode haver uma
piora considerável do comportamento.

Digamos que a fase inicial da vida de um indivíduo seja a mais importante para o seu
desenvolvimento e crescimento. A fase em que o indivíduo está se reconhecendo no
mundo. É um momento onde as incertezas e inseguranças aparecem a todo instante.
Porém elas não devem ser alimentadas e sim eliminadas. A forma mais correta de
eliminar tais incertezas e inseguranças é mostrar sinais positivos e cada atitude da
criança deve ser percebida e valorizada com afeto, atenção e amor.

Vejamos a seguir os principais objetivos dessa disciplina:

Objetivos
»» Analisar as causas e consequências dos transtornos mentais para a
criança.

»» Compreender sobre transtornos mentais e seus impactos.

»» Diminuir o estigma em relação à doença mental em crianças.

»» Promover a importância do estudo sobre Transtornos Mentais em


crianças.

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O QUE É
TRANSTORNO UNIDADE I
MENTAL

CAPÍTULO 1
Sobre transtorno mental

Transtornos mentais estão relacionados diretamente às alterações do funcionamento


da mente as quais prejudicam o desempenho do indivíduo (seja na fase adulta ou na
fase infantil) na vida familiar, na vida social, na vida pessoal, na escola, no trabalho,
na compreensão de si e dos demais, na possibilidade de autocrítica, na tolerância aos
problemas e na possibilidade de ter prazer na vida em geral.

Um dos maiores enganos da população geral em relação aos problemas psiquiátricos


que acometem as crianças é, justamente, acreditar que as crianças não têm problemas
psiquiátricos.

Transtornos mentais como a ansiedade, pânico, fobias, depressão, distúrbios


alimentares, estresse, dentre outros podem afetar qualquer pessoa em qualquer época
da sua vida. Podemos afirmar que elas podem causar sofrimento e incapacidade como
muitas doenças severas também causam. O transtorno mental em uma criança deve ser
percebido o quanto antes para, assim, o sofrimento ser amenizado e até mesmo sanado.

A sociedade, o indivíduo (criança) e os profissionais da saúde adotam padrões distintos


para distinguir o comportamento normal dos distúrbios psicológicos. O padrão
principal da sociedade verifica se o comportamento se adapta à ordem social existente.
O critério que a criança utiliza é com base no próprio bem-estar. O profissional da
saúde volta sua análise para as características de personalidade, para o desconforto
pessoal (o sentimento de angústia) e para a atuação na vida (sucesso em atender às
expectativas de desempenho no ambiente escolar ou em relações sociais). O grande
desconforto pessoal e o funcionamento inadequado na vida costumam aparecer juntos,
dificultando, assim, a definição de desordem psicológica.

O comportamento normal e o anormal muitas vezes diferem somente em grau. É


tentador dividir a saúde mental e doença mental em categorias qualitativamente

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UNIDADE I │O QUE É TRANSTORNO MENTAL

diferentes umas das outras – como maçãs e laranjas. No entanto, frequentemente


é mais exato pensar em doença mental como quantitativamente diferente (ou seja,
diferente em grau) do comportamento normal (MORRIS; MAISTO, 2004, p. 402).

Segundo os autores Morris e Maisto (2004), vale ressaltar que a linha que separa o
comportamento normal do anormal é um tanto arbitrária e é mais fácil julgar quando
os casos encontram-se no extremo de uma dimensão do que quando estão situados
próximo à “linha divisória”. Como assim? Bem, nos casos extremos de transtornos,
cujas patologias mentais são perceptíveis e evidentes, o delineamento das fronteiras
entre o normal e o patológico é facilmente percebido. Porém, a Psiquiatria não se
resume somente nos casos onde existem riquezas sintomatológicas; há casos, em sua
grande maioria, onde os limites de normalidade e patológico se tornam difíceis de ser
identificados ou fáceis de serem confundidos. 

Como foi mencionado anteriormente, nem sempre os indivíduos (crianças), a sociedade


e os profissionais da saúde mental veem a anormalidade do mesmo ponto de vista.

Vamos fazer uma breve especulação de como os transtornos mentais eram tratados há
milhares de anos. Quando uma criança tinha comportamentos anormais ou misteriosos,
provavelmente, tais fenômenos eram atribuídos a poderes sobrenaturais, e a loucura
era um sinal de que os espíritos tinham na possuído. Muitos consideravam essas
crianças como “crianças sagradas” e acreditavam que suas visões eram mensagens dos
deuses. Bem como, algumas vezes, seu comportamento indicava que estava possuída
por espíritos do mal.

Historicamente, o indivíduo com transtorno mental tem sido encarado como aquele
que foge às regras de seu grupo, transformando-se em uma ameaça que causa a
desestruturação da ordem social.

Felizmente, os estudos e pesquisas avançam diariamente e com elas surgem novas


descobertas sobre o comportamento humano.

Diante da complexidade do caso, no ano de 2004 foi lançado um manual para orientação
de programas de conscientização para a identificação de transtornos mentais em crianças,
intitulado de “Expanding awareness of in adolescence – Awareness program manual”
(Expansão da Consciência em Saúde Mental na Infância e Adolescência – Manual para
um Programa de Conscientização), auxiliando assim os profissionais a dar o diagnóstico
para seus pacientes.

Esse manual contou com a coordenação de Christina W. Hoven, psiquiatra da Columbia


University-New York State Psychiatric Institute, e apoio de The Presidential World

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O QUE É TRANSTORNO MENTAL│ UNIDADE I

Psychiatric Association (WPA) em colaboração com The World Health Organization


(WHO) e The International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied
Professions (IACAPAP).

Graças aos esquemas internacionais estruturados e padronizados de entrevistas,


graças às definições uniformes dos sinais, dos sintomas e dos critérios de diagnóstico,
é possível atingir alto grau de confiabilidade e validade no diagnóstico de Transtornos
Mentais. Esses sinais e sintomas foram internacionalmente definidos detalhadamente
para permitir uma linguagem comum e uniforme em todo mundo científico,
imprescindível para o diagnóstico e para as pesquisas. Assim, os critérios de diagnóstico
para Transtornos Mentais foram padronizados internacionalmente de tal forma que,
atualmente, é possível diagnosticar Transtornos Mentais  de forma tão confiável e
precisa quanto a maioria dos transtornos orgânicos <www.psiqweb.med.br>.

Conceitos de transtornos mentais


Baseado na Organização Mundial de Saúde – OMS – ONU, entendem-se como
transtornos mentais e comportamentais as condições caracterizadas por alterações
mórbidas do modo de pensar e/ou do humor (emoções), e/ou por alterações mórbidas do
comportamento associadas à angústia expressiva e/ou deterioração do funcionamento
psíquico global. Os transtornos mentais e comportamentais não constituem apenas
variações dentro da escala do “normal”, sendo antes, fenômenos claramente anormais
ou patológicos.(<http://www.psiqweb.med.br/>)

Transtorno mental pode ser conceituado como uma síndrome ou padrão


comportamental ou psicológico que ocorre em um indivíduo e que se mostra associado
com sofrimento ou incapacitação, ou com um risco significativamente aumentado
de sofrimento atual, morte, dor, deficiência ou perda importante da liberdade
(ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2000).

Os transtornos mentais e comportamentais se caracterizam por sintomas e sinais


específicos e, geralmente, seguem um curso natural mais ou menos previsível, a menos
que ocorram intervenções. Nem toda deterioração humana denota distúrbio mental.
<www.psiqweb.med.br>

Os transtornos mentais, em geral resultam da soma de muitos fatores como:

»» alterações no funcionamento do cérebro;

»» fatores da própria personalidade do indivíduo;

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UNIDADE I │O QUE É TRANSTORNO MENTAL

»» ação de um grande número de estresse;

»» agressões de ordem física e psicológica;

»» perdas, decepções, frustrações e sofrimentos físicos e psíquicos que


perturbam o equilíbrio emocional.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) inúmeras pessoas, em todas as partes


do mundo, sofrem de transtornos mentais. Acarretando, também, mudanças na vida
daquelas que as amam. Observe a estatística que nos faz pensar: “Uma em cada quatro
pessoas será afetada por um tipo de transtorno mental em algum momento da vida”.
Os distúrbios considerados os mais graves e incapacitantes são: a esquizofrenia e o
transtorno bipolar. Mesmo afetando um grande número de pessoas, os transtornos
mentais continuam invisíveis, negligenciados e discriminados.

Muitas pessoas acabam negligenciando o transtorno mental pelo medo do preconceito


dos outros e pelo estigma que uma doença mental possui. Porém é importante sabermos
que os transtornos mentais são tratáveis e respondem de maneira positiva ao tratamento
médico e psicológico. Alguns não precisam nem do acompanhamento médico, somente
o psicólogo consegue sanar o problema.

Figura 1.

Fonte: <http://www.vocesabia.net/saude/doenca-mental-em-criancas-11-sinais-de-alerta/>

Acredita-se que “os vínculos emocionais da primeira infância são parte essencial da
natureza humana” (COLLIN et al., 2012, p.270). Possivelmente grande parte dos
transtornos poderiam ser evitados caso os vínculos tivessem sido mais sólidos.

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O QUE É TRANSTORNO MENTAL│ UNIDADE I

Figura 2.

Mães e bebês são programados


biologicamente para estabelecer uma ... no período crítico de vida da criança
ligação... (primeiros 24 meses)

Se o vínculo for quebrado durante


Apegar-se é um comportamento que faz esse período crítico, o desenvolvimento
parte da natureza humana. da criança sofrerá danos graves e
permanentes.

Fonte: Collin et al. 2012, p. 275.

Em alguns casos, a mãe quebra o vínculo inconscientemente. Por exemplo: o bebê está
com poucos meses de vida e logo em seguida a mãe engravida. Porém a gravidez é de
risco, havendo a necessidade de a mãe ficar de repouso absoluto e não mais carregar
peso. O bebê que estava acostumado com a presença da mãe começa a ficar com a
babá. O choro aumenta, a falta de afeto cresce, a sensação de abandono surge. Podemos
afirmar que essa criança terá algum tipo de transtorno mental? Não. Porém as chances
aumentam.

Vale ressaltar uma diferença bastante relevante para o nosso estudo. Dois termos
desempenham assim um papel de destaque, são eles: 

»» A Neurose: está relacionada aos transtornos mentais que não afetam


diretamente o indivíduo em si. São aqueles supostamente sem base
orgânica nos quais a criança possui consciência e uma percepção clara
daquilo que acontece ao seu redor e em geral não confunde sua experiência
patológica e subjetiva com a realidade exterior. 
»» A Psicose: por sua vez, são aqueles transtornos mentais que afetam a
criança como um todo. Um transtorno no qual o prejuízo das funções
psíquicas atingiu um nível tão elevado que a consciência, o contato com
a realidade ou a capacidade de corresponder às exigências da vida se
tornam extremamente diferenciadas, e por vezes perturbadas, e para a
qual se conhece ou se supõe uma causa corporal.
Veremos a seguir sobre o suicídio. Pode-se afirmar que um transtorno mental ignorado
e sem acompanhamento pode resultar nesse triste fim.

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UNIDADE I │O QUE É TRANSTORNO MENTAL

O suicídio
Suicídio ou autocídio é o ato intencional de tirar a própria vida, matar a si mesmo.
A causa mais comum é o transtorno mental. Dentro dos considerados transtornos
mentais, o que tem mais relação com o suicídio é o transtorno de humor (depressão
e transtorno bipolar). De acordo com Tavares e Prieto (2005), os transtornos mentais
estão associados a 90 por cento dos casos de suicídio. Pouco falado, o suicídio na
infância e adolescência tem crescido nos últimos anos.

Segundo Tavares e Prieto (2005), “a morte por suicídio ocupa a terceira posição entre
as causas mais frequentes na população de 14 a 44 anos em alguns países. Estima-se
que as tentativas sejam 20 vezes mais frequentes que os suicídios consumados”.

Existe suicídio infantil? Será que realmente é possível pensar em suicídio infantil
como ato autolesivo, autoinfligido e intencional? As crianças realmente têm noção
que ao cometerem determinado ato tirarão a própria vida e que depois disso nunca
mais estarão com seus pais? A criança sabe das consequências de ingerir uma grande
quantidade de medicamentos? A criança sabe que aquela ação será irreversível? O
comportamento suicida na infância é raro, mas não excepcional. Este é um assunto
pouco estudado e questionado, havendo um subregistro, em decorrência de uma série
de fatores. Entre os principais fatores que levam a criança a tentar tirar a própria vida
ou se ferir são apontados a depressão, a privação emocional, a falta de afeto, o abuso
físico, entre outros, destacando a característica multidimensionada do suicídio.

Figura 3.

Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=YZBMlGHpns4>

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O QUE É TRANSTORNO MENTAL│ UNIDADE I

Mediante revisão de literatura sobre o tema, foi possível perceber que a concepção
de que uma criança é incapaz de atentar intencionalmente contra a própria vida está,
gradualmente, sendo desfeita, propiciando o questionamento do mito da inocência
infantil e alertando pais, educadores e profissionais da saúde ao fato de que as crianças
têm condições para planejar e realizar um suicídio com sucesso.

Quando os adultos começam a planejar o suicídio eles entram em sites, pesquisam,


escolhem o melhor momento etc. Já as crianças agem pelo impulso. Para cada 300
tentativas de suicídio uma é consumada. Dados informam que crianças chegam
machucadas, cortadas ao hospital e quando os médicos perguntam o que foi aquilo,
a criança responde que tentou se matar porque a vida não tem sentido ou porque não
querem mais viver. A criança fala, claramente, sobre o desejo de morrer e o sofrimento
de continuar vivendo nas situações em que se encontram. Temos que saber diferenciar
uma criança de 2 anos que ingere uma grande quantidade de remédios e vai parar no
hospital, de uma criança de 8 anos que já tem uma consciência do que acontece ao seu
redor.

“Mas você tem tudo o que quer. Por que fez isso? Seja em um choro dolorido ou aos
gritos de raiva dos pais, a frase é comum no pronto socorro de psiquiatria para onde
são encaminhadas as crianças e adolescentes que tentam se matar.” <saúde.ig.com.br>
Acesso: dez. 2015.

Informações apresentadas no site <saúde.ig>, dados do Mapa da Violência do Ministério


da Saúde, revelam que o suicídio existe e está crescendo. De 2002 a 2012 houve um
crescimento de 40% da taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade
entre 10 e 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%”.

O suicídio está se tornando algo recorrente. Existem vários sites, blogs e páginas nas
redes sociais que ensinam as melhores técnicas e ferramentas para que a criança consiga
tirar a própria vida.

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UNIDADE I │O QUE É TRANSTORNO MENTAL

Figura 4.

Fonte: <http://magazine.ucla.edu/>

Infelizmente não podemos afirmar que pais que têm um filho que tentou se matar sejam
pais omissos ou que houve descaso por parte deles. O que existe é a falta de informação e
também o fato do tema suicídio ainda ser um tabu na sociedade. Quando o assunto está
voltado para crianças parece que ninguém quer conversar sobre. Porém, existem vários
casos em que as crianças vivem em um ambiente altamente perturbador e violento,
onde há brigas frequentemente. Nessas situações a tentativa da criança fugir, sumir ou
até mesmo tirar a sua própria vida aumenta.

É preciso termos muito cuidado com o que é feito ou falado na frente de uma criança.
Muitos adultos acham que as crianças não entendem ou não estão prestando atenção.
Ledo engano. As crianças estão atentas, somatizando tudo o que é visto. Essas ações
ficarão gravadas em sua memória podendo causar sérios problemas no futuro.

Figura 5.

Fonte: <http://www.ufmbb.org.br/>

“Existe o mito de que o suicídio se concentra nos países nórdicos. Essas nações
realmente lideravam o ranking, mas tomaram atitudes e conseguiram reverter o quadro.

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O QUE É TRANSTORNO MENTAL│ UNIDADE I

Enquanto isso, a gente aqui no Brasil continua sem falar nisso e vê os números crescendo”,
alerta Carlos Correia, voluntário há mais de 20 anos do Centro de Valorização da Vida,
o CVV. <saúde.ig.com.br> acesso: dez. 2015.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostraram que
o Brasil é o quarto país latino-americano com o maior crescimento no número
de suicídios entre 2000 e 2012 e o oitavo do mundo em números absolutos de
pessoas que tiram a própria vida. Foram 11.821 suicídios no período, aumento
de 10% em relação à década anterior. 

Como podemos fazer para prevenir o suicídio? Alguns países possuem um programa de
prevenção ao suicídio. O importante é identificar os fatores risco, investir em serviços
especializados, realizar um mapeamento de quais populações são mais vulneráveis,
observar e encaminhar para tratamento as crianças que tentaram se matar a fim de
evitar que o fato se consuma.

Quando uma criança tenta se matar e não consegue provavelmente ela tentará
novamente. Após o atendimento em que a criança apareceu machucada e a liberação
pelo clínico geral, os pais devem procurar ajuda e tratamento médico e psicológico.
Nem sempre é o que acontece. Nosso país não possui serviços gratuitos especializados
para dar todo apoio, suporte e tratamento necessários para a criança e para a família.
Quando uma criança chega machucada, o hospital convencional cuida do ferimento e
libera em seguida.

O correto seria internar a criança, caso o médico perceba que ela continua com a vontade
de tirar a própria vida. Caso não haja a vontade e sim o arrependimento, a criança ainda
assim, precisa receber um acompanhamento ambulatorial.

“A primeira coisa a fazer é considerar que há um risco. Não pode achar que é bobagem,
coisa momentânea ou feita para chamar atenção. O suicídio tem um aspecto importante,
que é a comunicação. Se a pessoa está dizendo que tem um tipo de sofrimento e que não
encontra saída, é preciso ficar atento e procurar um serviço de saúde mental”, afirma
D’Oliveira, da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio. <saúde.ig.com.br>
FATORES DE RISCO PARA O SUICÍDIO
- Depressão
- Histórico familiar de suicídio
- Uso de álcool e drogas na família ou pelo jovem
- Abuso
- Acesso ao instrumento (faca, remédios, armas)
- Bullying
- Estresse
- Pressão interna
- Dificuldade de interação social

Fonte: OMS apud <saúde.ig.com.br>

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UNIDADE I │O QUE É TRANSTORNO MENTAL

Os fatores de risco são indicativos que a criança precisa de uma atenção e cuidados
especiais, porém não significa que por existir algum fator de risco que a criança tentará
o suicídio. A depressão como já foi falado lidera o topo da lista.

Vídeo sugerido para esse capítulo que trata sobre suicídio infantil:

<https://www.youtube.com/watch?v=DDUEIHFYDIA> – acesso dez/2015.

Falaremos sobre o principal fator causador do suicídio infantil – a depressão – no


capítulo que trata sobre o Transtorno do Humor.

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POSSÍVEIS
FATORES QUE
DESENCADEIAM UNIDADE II
OS TRANSTORNOS
MENTAIS
Diferentemente de determinadas doenças físicas, não existe um motivo exato para o
surgimento dos transtornos mentais e comportamentais. Porém, suas causas podem
ser formadas pela união de fatores biológicos, psicológicos e ambientais.

CAPÍTULO 1
Fatores biológicos, psicológicos e
ambientais

Fatores biológicos
Se pensarmos nos fatores biológicos, é possível que a predisposição genética contribua
para o desenvolvimento de certos transtornos, desde que somados a certos estressores
que possam desencadear a doença. Além disso,  podem ocorrer também alterações
das conexões sinápticas, devido ao resultado da ação das drogas, causando alterações
de longo prazo na emoção, no pensamento e comportamento do indivíduo. Questões
hormonais também podem contribuir para o surgimento de algum transtorno, como o
excesso do cortisol ou a falta de serotonina.

Os fatores biológicos estão relacionados com a formação genética do indivíduo, aquilo


que foi herdado. “Há evidências crescentes de que fatores genéticos estejam envolvidos
em distúrbios mentais tão diversos quanto esquizofrenia, depressão e, ainda, ansiedade
e que a bioquímica do sistema nervoso esteja relacionada a alguns casos de depressão e
esquizofrenia”. (MORRIS; MAISTO, 2004).

21
UNIDADE II │POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS

Figura 6.

Fonte: <http://unisite.com.br/imprimir.php?xid=30703>

Estudos afirmam que grande parte dos transtornos mentais está associada a um
significativo componente de risco genético. Porém, mesmo que haja uma predisposição
genética, na maioria das vezes, o gatilho só é puxado caso exista a interação de múltiplos
genes de risco com fatores ambientais podendo, assim, desencadear a patologia.

Fatores psicológicos
Segundo Morris e Maisto (2004), os fatores psicológicos podem estar relacionados
como o comportamento humano se interage com o meio ambiente natural ou social,
resultando em consequências desejáveis ou indesejáveis. Assim, alguns transtornos
podem ser considerados como comportamento mal adaptativo aprendido – seja pela
observação dos outros ou diretamente. Além disso, outros transtornos podem acontecer
em consequência da incapacidade de se adaptar a alguma ocorrência estressante que
tenha marcado o indivíduo, como é o caso da depressão ou ansiedade. Muitos psicólogos
inclusive sugerem que há maior predisposição em desenvolver tais transtornos aqueles
que não discutem seus problemas ou não o encaram, do que aqueles que externalizam
de alguma forma tais fatores estressantes.

A criança e o lactante que recebem afeto, atenção e cuidados especiais costumam


desenvolver normalmente as funções da linguagem, do intelecto e da regulação
emocional.

22
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS│UNIDADE II

Figura 7.

Fonte: <http://revistaculturacidadania.blogspot.com.br/2013/01/artigos-psicologia-infantil_21.html>

A criança que fora afastada dos pais por motivos variados (pobreza, guerra etc.) ou a
criança que carece de atenção por não haver serviços sociais disponíveis no local onde
reside, em outras palavras a criança privada de afeto por parte de seus cuidadores,
tem mais probabilidades de manifestar transtornos mentais, seja durante a infância ou
numa fase posterior da vida.

Três sistemas no corpo humano devem ser observados nos casos de transtornos mentais,
são eles:

»» sistema nervoso (taquicardia, irritação);

»» sistema endócrino (sudorese);

»» sistema imunológico (suscetível a doenças).

O sistema nervoso central está relacionado à maioria dos distúrbios mentais.


Pode-se afirmar que os distúrbios mais importantes estão diretamente ligados às
funções cognitivas – memória, atenção, processamento e avaliação de informações,
concentração, estresse etc. – já no caso de ataques de pânico (muito comum em
crianças) notamos taquicardia e suor excessivo – onde aparece então o sistema nervoso
periférico.

Fatores ambientais
Ainda sob a ótica dos autores, quando falamos em ambiente, temos que nos lembrar,
inclusive, do ambiente intrauterino. Antes do nascimento e por toda a vida, os genes
e o meio ambiente estão envolvidos numa série de complexas interações. Essas
interações são cruciais para o desenvolvimento e evolução dos transtornos mentais e
23
UNIDADE II │POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS

comportamentais. É sabido que existe a restrição a medicamentos na gestação, salvo


em algumas situações. Os medicamentos ou drogas podem causar danos irreversíveis
ao feto, inclusive alguns transtornos.

Figura 8.

Fonte: <http://cafepedagogic.com/2015/09/03/la-fortaleza-de-un-bebe/>

A base da criação e educação de uma criança é o ambiente familiar. O local onde a criança
vive. Mesmo tendo atualmente diferentes tipos de estrutura familiar (pós-moderno), o
ambiente saudável é o mais importante. A família deve atender às necessidades básicas
de um bebê, as quais podemos definir como sendo de natureza física, social e afetiva.

»» Natureza física: abrigo, segurança e alimento.

»» Natureza social: identidade, individualidade e o sentimento de


pertencimento.

»» Natureza afetiva: amparo, zelo e proteção.

Sabemos do grande valor que um lar saudavelmente constituído tem na vida de uma
criança, porém cada dia que passa essa realidade fica mais distante e as nossas crianças
sofrem cada vez mais. E em algum momento de seu desenvolvimento algum sintoma
será revelado, alguma pista de que algo não vai perfeitamente bem. Na maioria dos
casos, quem aponta esse sintoma é a escola. Esse é o momento da família ajudar a
criança. Nos casos onde existe a omissão, seja por vontade própria ou por condição
financeira, a evolução dessa criança estará comprometida.

24
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS│UNIDADE II

Vejamos alguns exemplos de fatores ambientais que podem causar transtornos mentais
na criança:

»» exposição a substâncias psicoativas no estado fetal;

»» desnutrição;

»» infecção;

»» perturbação do ambiente familiar;

»» abandono;

»» isolamento; 

»» trauma.

A autoestima saudável é a armadura de uma criança diante dos desafios da vida


cotidiana. Crianças que se sentem bem consigo mesmas e que possuem alguma área de
competência e sucesso parecem ter mais facilidades para lidar com conflitos e resistir a
pressões negativas. Porém, as crianças que, logo no início da vida, chegam a conclusões
negativas a respeito de si mesmas tendem a viver com um tipo de telhado de vidro em
sua cabeça.

25
CAPÍTULO 2
Estresse

Por que abordaremos detalhadamente o estresse nessa disciplina? “As consequências


do estresse infantil geram cicatrizes biológicas e psicológicas que estão associadas a
um espectro diverso de transtornos psiquiátricos, como depressão, transtorno bipolar,
transtorno de ansiedade.” (LIPP, 2014, p.83). “Sabemos que 50 por cento das mortes
estão diretamente relacionadas com comportamentos humanos e, mesmo assim,
passamos pouco tempo pesquisando e implementando programas relacionados a eles”
(SATCHER, 1999 apud MORRIS; MAISTO, 2004). O percentual não se refere à morte
de crianças, porém grande parte dos transtornos mentais e comportamentais pode ser
diagnosticado e tratado na infância, evitando, assim, mortes futuras.

Vale ressaltar que a psicologia da saúde volta seus estudos para a interação entre o corpo
e a mente. Os psicólogos da saúde buscam compreender como os fatores psicológicos
influenciam o bem-estar e a doença. Vários estudos descobriram que as pessoas com
estresse agudo ou crônico são mais vulneráveis a tudo, de um simples resfriado ao
câncer.

Podemos ver em revistas, jornais, artigos que pesquisadores estão descobrindo os


mecanismos biológicos que relacionam o estresse à queda da imunidade é à saúde
debilitada. O grande desafio para os psicólogos da saúde é buscar formas de impedir
que o estresse seja fisicamente e emocionalmente debilitante para a criança, adolescente
assim como promover o comportamento saudável e o bem-estar efetivo de toda família.

O estresse diagnosticado em uma criança é semelhante ao estresse de um adulto.


A criança quando se depara com um agente estressor reage também com sensações
físicas e psicológicas, sendo que as consequências do estresse excessivo ou prolongado
podem levar a problemas graves de saúde. Os distúrbios psicológicos mais comuns
são: depressão, enurese, dificuldades de relacionamento, comportamento agressivo,
desobediência inusitada, ansiedade, choro excessivo, gagueira, dificuldades escolares,
pesadelos, irritabilidade e insônia. Os distúrbios físicos, são: asma, dores de barriga,
dores de cabeça, doenças dermatológicas, entre outras (LEMES et al., 2003).

O estresse é uma reação do organismo que tem componentes físicos e/ou psicológicos,
causados pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta
com uma situação que, de um modo ou de outro, irrite-a (não ganhar o brinquedo que
deseja), amedronte-a (perder-se em um shopping), excite-a (uma festa de aniversário),
confunda-a (mudança de escola) ou mesmo que a faça muito feliz (uma viagem).

26
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS│UNIDADE II

Isso significa que o processo bioquímico do estresse independe da causa tensão.


O elemento primordial para seu desencadeamento é claramente a necessidade de
adaptação a algum fato ou mudança (LIPP, 2014, p.19)

As informações a seguir foram retiradas da revista Isto é – <www.istoe.com.br> – a


edição 2211 de março de 2012 acesso em dez. 2015 que teve como matéria principal
o estresse infantil. Assim podemos perceber que o estresse em crianças é tão comum
como estresse em adultos, porém menos falado.

O risco do estresse na infância – como os hormônios estressores afetam o cérebro de


crianças e adolescentes.
O estresse ativa o chamado eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. O
hipotálamo regula o sono, o apetite e, por meio da corticotropina
(CRH), desencadeia o estresse.

O ACTH, por sua vez, ativa as glândulas adrenais, liberando os


hormônios glucocorticoides no sangue.

O CRH age sobre a glândula pituitária liberando o


hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) na circulação
sanguínea.

Figura 9.

Em excesso, o ACTH impede o


amadurecimento do córtex pré-frontal,
região do cérebro responsável pelas
funções cognitivas, como o controle da
impulsividade e a tomada de decisões.

Crianças expostas a longos períodos de estresse


também apresentam níveis de serotonina mais
baixos na idade adulta, o que leva à maior
Fonte: <http://www.ufrgs.br/> propensão à ansiedade e à depressão.

É observada também uma hiperatividade do sistema


límbico, área que cuida da memória afetiva e que é
acionada quando sentimos medo e outras sensações.

Digamos que é um estado de tensão mental e física que produz um desequilíbrio no


funcionamento global do ser humano (criança). Quando o estresse é excessivo, o sistema
imunológico é enfraquecido, deixando-o sujeito a infecções e doenças.

Com base em pesquisas, a revista Isto É afirmou que críticas e desaprovação dos pais é
o primeiro estressor de uma criança. Vejamos a seguir alguns estressores de crianças:

27
UNIDADE II │POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS

O que mais estressa


Tensão de gente grande – oito em cada dez crianças que buscam a ajuda profissional têm sintomas
de estresse. Nesses meninos e meninas, os sintomas físicos e emocionais percebidos pelos pais são
oriundos da somatização de problemas e não de doenças.

Crianças:

1. Críticas e desaprovação dos pais e dos adultos.

2. Excesso de atividade.

3. Bullyng.

Adolescentes:

1. Relacionamentos e aceitação social por parte dos amigos e da família.

2. Questões envolvendo a sexualidade.

3. Sobrecarga emocional.

Segundo Lipp (2014, p.125), o estresse tem as mesmas características nos adultos e
nas crianças e se desenvolve através do Modelo Quadrifásico: alerta, resistência,
quase-exaustão e exaustão.

»» Alerta: o alerta é justamente o momento em que a criança recebe um


sinal diferente e inesperado e, dessa forma, acaba afetando a sua zona
de conforto. A mente envia um aviso que algo de novo aconteceu.
Considerada a fase positiva do stress, a criança se energiza por meio da
produção da adrenalina; a sobrevivência é preservada e uma sensação
de plenitude é frequentemente alcançada. O novo pode ser algo bom
ou ruim. Muitas vezes o novo ou uma simples mudança pode gerar um
desconforto na criança. Por que as crianças consideram as mudanças
como estressantes? A maioria das crianças possuem forte preferência
pela ordem, conforto, rotina, previsibilidade no seu dia a dia. Quanto
mais mudanças ocorrerem, mais estressante será a situação.

»» Resistência: a resistência é o momento em que a criança não quer conhecer


o diferente, seja por medo ou até mesmo por acomodação. Nessa fase a
criança tenta lidar com seus estressores a fim de manter seu equilibro
interno (homeostase). Caso os fatores estressantes permaneçam, em
frequência e intensidade, ocorre a quebra da resistência e ela passa para
a fase de quase-exaustão.

28
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS│UNIDADE II

»» Quase-exaustão: nessa fase ocorre o desgaste e o enfraquecimento do


organismo. Caso não haja a remoção dos estressores ou a tentativa de
utilizar estratégias de enfraquecimento do que está causando o estresse,
ele acaba por atingir a sua fase final.

»» Fase de exaustão: nessa fase, o organismo está mais suscetível a


desenvolver doenças mais vulneráveis. A depressão se enquadra nessa
fase de exaustão, podendo ser iniciada na fase anterior, de quase-exaustão.

Podemos observar com um exemplo simples que ocorre no cotidiano de muitas crianças.
A criança que tem uma rotina planejada, ao fazer uma viagem, provavelmente, não
dormirá bem nesse novo lugar. Acordará algumas vezes na madrugada, não comerá
direito etc. É muito comum pais se queixarem que após uma viagem a criança passou a
dormir mal. Mesmo com a volta da rotina. Nesse caso houve uma mudança de rotina e
o sinal de alerta foi acionado. Isso não significa que a criança possa chegar à exaustão.
Mas é preciso sempre estar atentos aos sinais que são emitidos pelas crianças.

O estresse está associado ao transtorno mental, doenças físicas e sofrimento psicológico.


Por que o estresse é causador de tamanho “estrago” na vida de uma criança, adolescente
e adulto? A hipótese mais aceita na medicina atual é o fato do estresse liberar hormônios,
como o cortisol, os quais entram em contato com nossos genes levando a alterações nos
neurônios e no desenvolvimento cerebral.

Devemos dar a devida importância ao estresse na modernidade. A tecnologia acessível,


a pressa de conhecer o desconhecido, de decidir e de agir imediatamente, as relações
familiares e sociais que se baseiam em novos valores: todos esses valores e muitos
outros fazem parte da nossa realidade, alguns muito bem-vindos, mas nem sempre
bem administrados e quando não são bem administrados viram possíveis fontes de
estresse para a criança.

O diagnóstico de estresse para uma criança é difícil de ser aceito pelos pais. Como um
ser tão pequeno pode apresentar sinais de estresse? O sentimento de culpa, a confusão
mental dos pais é grande. Como o ambiente explorado pela criança no início da vida
é pequeno, os pais, naturalmente se questionam onde está o problema. O problema
costuma estar relacionado ao ambiente escolar ou ao ambiente familiar.

A escola, para muitas crianças, é um ambiente estressante. Algumas crianças demoram


mais e outras menos para se adaptarem ao novo. Isso causa angústia nos pais o que pode
dificultar ainda mais o processo de adaptação. Os pais precisam buscar informações
sobre a escola, referências, observar o comportamento da criança ao se aproximar

29
UNIDADE II │POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS

das professoras, conversar com professoras e coordenadoras e se acharem necessário


procurar ajuda de um psicólogo infantil.

No tratamento, o psicólogo auxilia a criança a encontrar formas de contornar os


estressores que não podem ser mudados ou dependendo do nível do estresse e das
causas, a mudança deve ser feita. Se o problema é o nascimento do irmãozinho (não
podemos sumir com o irmãozinho), é necessário procurar atividades que o distraiam
(natação e aulas de música), buscar soluções alternativas e observar o comportamento
da criança. Porém se o problema for realmente a escola e se o psicólogo junto com os
pais chegarem a conclusão que aquilo realmente está fazendo muito mal à criança, a
solução é a mudança de escola e continuar observando seu comportamento.

Para Morris e Maisto (2004), independente da fonte de estresse é necessário que haja
o enfrentamento, ou seja, a realização de esforços cognitivos e comportamentais para
lidar com ele. Os psicólogos distinguem dois tipos de enfrentamento, são eles:

»» Enfrentamento direto: quando uma ação é tomada com o objetivo de


alterar uma situação incômoda. Por exemplo: quando a criança se depara
com um obstáculo tem a opção de retirá-lo para seguir adiante.

»» Enfrentamento defensivo: quando ao invés de retirar o obstáculo como


foi feito no exemplo citado anteriormente, a criança simplesmente desiste
e recua.

Os estressores não advêm somente do ambiente externo, temos também os estressores


internos os quais são oriundos de características de personalidade. Esses estressores
requerem um trabalho maior. Infelizmente, ninguém muda com pequenas dicas, uma
psicoterapia a longo prazo pode ser necessária. Vale ressaltar que o risco da depressão
e de suicídio ficam agravados em crianças e adolescentes que vivenciaram experiências
estressantes graves. Estudiosos apontam que a depressão na infância parece estar
mais associada a privações afetivas, circunstâncias familiares adversas e estressores
psicossociais.

Portanto, vale ressaltar, que determinadas crianças criam problemas para si mesmas
bem além dos fatores estressantes do ambiente em que vivem. Elas criam crenças
irracionais difíceis de serem realizadas, aumentando, assim, de maneira desnecessária
os estressores da vida. Por exemplo: acredita que precisa ser adorada e receber a
aprovação de todas as crianças por tudo que ela faz. Outras acreditam que é preciso
vencer sempre quando existe uma competição. Crianças assim sentem-se muito infelizes
quando as coisas não saem como elas desejavam (MORRIS; MAISTO, 2004).

30
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS│UNIDADE II

É sempre bom relembrar que o papel dos pais é muito importante para o
desenvolvimento da criança. Pais muito permissivos que estão sempre servindo aos
filhos, pais que abdicam da autoridade intrínseca e acabam se esquecendo que pai é pai
e não somente um amigo. Fazem com que essas crianças e jovens, sejam violentados
em sua constituição emocional básica, legitimam essa violência contra si próprios, em
virtude dos ganhos do hedonismo imediato que acabam tendo e, assim, reivindicam
mais e mais independência e poder. Esses pobres indivíduos (pais e filhos) não sabem
ainda o preço que pagam por viver uma vida de adultos em corpo e mente de crianças
e adolescentes. Muitas vezes a relação pai e filho se torna objetal, não havendo a
sacralidade da figura paterna, onde o pai é visto como uma fonte de segurança financeira,
com obrigação de salvar os filhos das dificuldades que criam e atravessam.

Figura 10.

Fonte: <http://www.istoe.com.br/reportagens/195990_ESTRESSE+INFANTIL>

Importante: Não existe medicação para tratar estresse. Alguns médicos prescrevem
complexos vitamínicos. Se o estresse for crônico e evoluir para um estado depressivo
ou ansioso, é necessário que o psicólogo encaminhe a criança para uma avaliação de um
psiquiatra.

O diagnóstico do estresse infantil deve ser realizado por um psicólogo familiarizado


com o mecanismo do estresse e com o instrumento de avaliação do estresse, isto é, a
Escala de Estress Infantil (ESI), de autoria de Lipp e Lucarelli (1998). Porém, diante
da hipótese de uma criança estar estressada, pais e professores precisariam se munir
de algumas informações importantes para poder ajudar a reduzir o quadro. Entender o
que é estresse, quais são os estressores mais comuns no mundo infantil e que sintomas
podem ocorrer ajuda a traçar um plano de ação para reduzir o estresse infantil (LIPP,
2014, p.18)

É importante entender que nem sempre está ao alcance do poder dos pais proteger e
defender os filhos de todos os elementos estressores que ocorrem na vida. Doenças,

31
UNIDADE II │POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS

sequestros, brigas na escola, nascimento de irmãos, troca de babá, mudança de cidade


ou de escola, hospitalização da própria criança, além de várias outras condições,
contribuem para que o estresse infantil se faça presente. Como muitos acreditam, nem
sempre os pais são o principal fator desencadeante do estresse dos filhos (LIPP, 2014).

Ainda sob a ótica de Lipp (2014), a ocorrência de estresse na população infantil não é
conhecida e nem comentada, contudo, é sabido que toda criança, mais cedo ou mais
tarde, enfrentará inúmeras situações de estresse ainda nos primeiros anos de vida.
O elemento principal para o seu desencadeamento é a necessidade de adaptação a
algum acontecimento ou mudança.

Lipp (2014), afirma que as mudanças na vida da criança faz com que ela use uma energia
extra para conseguir superá-las e isso resulta em um desgaste físico que pode resultar
em sérias doenças até mesmo desencadear alguns transtornos mentais. Quanto mais
mudanças há no período de um ano, maior a probabilidade de a criança apresentar
algum problema de saúde. Existe, inclusive, uma escala que nos permite medir,
conforme os acontecimentos na vida da criança, a quantidade de estresse ao qual ela
está submetida e suas chances de adoecer.

Os fatores estressores podem ser:

»» Internos: da própria pessoa, ligados a características de personalidade,


como perfeccionismo, pressa, querer fazer tudo ao mesmo tempo.

»» Externos: do ambiente. Mudanças em geral, até mesmo as positivas,


desencadeiam estresse – porque exigem uma adaptação. Assim, são
grandes fatores estressantes externos, por exemplo: o nascimento de um
irmão, mudança de escola, mudança de casa, divórcio dos pais, doença
ou morte de pessoas queridas.

Vejamos o quadro a seguir. Para a utilização desta escala, é necessário somar o total dos
pontos de todos os acontecimentos da vida da criança nos últimos 12 meses.

Quando a soma não passar de 150 significa que a carga atingiu seu nível médio. Se a soma
de pontos ficar entre 150 e 300, significa que a criança tem uma probabilidade acima da
média de mostrar alguns sintomas de mal-estar. Portanto, se a soma ultrapassar os 300
pontos, há uma forte probabilidade da criança sofrer uma forte mudança de saúde e/ou
comportamento devido ao elevado nível de estresse a que está submetida no momento.

32
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS│UNIDADE II

Quadro 1.

ESCALA DE REAJUSTAMENTO SOCIAL


Morte de um dos pais 100
Divórcio dos pais 73
A criança é separada dos pais 65
Um dos pais viaja por razões de trabalho 63
Morte de parente próximo 63
Doença ou ferimento pessoal 53
Um dos pais volta a se casar 50
Um dos pais é dispensado do emprego 47
Os pais se reconciliam 45
A mãe vai trabalhar fora 45
Doença de um membro da família 44
A mãe fica grávida 40
Dificuldades na escola 39
Nascimento e um irmão. 39
Reajustamento escolar (novo mestre ou classe) 39
Mudança nas condições financeiras da família 38
Ferimento ou doença de um amigo íntimo 37
Começa (ou muda) uma nova atividade extracurricular (lições de música,
35
aula de natação etc)
Alternância de brigas com irmãos. 33
Ameaça de violência na escola 31
Furto de coisas pessoais. 30
Mudança de responsabilidade em casa 29
Irmão ou irmã mais velhos deixam o lar 29
Aborrecimento com os avó 29
Realizaçãopessoal extraordinária 28
Mudança para outra cidade. 26
Ganha ou perde um bicho doméstico 25
Mudança nos hábitos pessoais 24
Mudança no horário da babá ou creche 20
Mudança para uma nova casa 20
Mudança nos hábitos de brincar 19
Férias com a família. 19
Mudança de amigos 18
Frequenta colônia de férias 17
Mudança nos hábitos de dormir 16
Mudança no número de reuniões em família 15
Mudança nos hábitos de comer 15

33
UNIDADE II │POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS

Mudança no tempo de assistir TV 13


Festa de aniversário 12
Punição por não “dizer a verdade” 11
Nota obtida e probabilidade de problemas de saúde ocorrerem Média (150-199
37%
pontos).....
Moderada (200-300) 51%
Severa (acima de 300 pontos) 79%
Fonte: Elkind (1981) apud Lipp (2014), p. 22.

Para Lipp (2014), não podemos apenas observar a escala acima de maneira isolada.
Outros acontecimentos podem desencadear o estresse nas crianças. São eles:

»» Atividades em excesso: os pais muitas vezes enchem os horários dos


filhos com atividades extracurriculares que muitas vezes não é da
vontade da criança e a mesma acaba fazendo para agradar os pais. Além
disso, os pais exigem que os filhos tenham um desempenho espetacular
em determinado esporte apenas para sentir orgulho em ter um filho de
destaque, mas desconsideram que essa exigência exacerbada tira o brilho
das atividades fazendo com que a criança perca a espontaneidade.

Isso não quer dizer que as atividades complementares não sejam importantes para
o desenvolvimento psicomotor e social da criança, estamos falando no excesso de
atividades. Tirando, inclusive, o tempo de descanso tornando-se, então, estressada,
cansada e desmotivada. Algumas vezes o cansaço desencadeia a angústia e a dificuldade
em ter uma boa noite de sono, podendo desenvolver transtornos de humor, como por
exemplo a depressão.

»» Responsabilidade em excesso: quando a criança precisa aprender a ser


independente muito precocemente. Por exemplo, a mãe terá um bebê e
opta por não ter babá para ajudá-la. A mãe exige que o primeiro filho
faça coisas que antes não fazia sozinho – tomar banho, arrumar a cama,
comer etc.

34
POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS│UNIDADE II

Figura 11.

Fonte: <http://natelinha.uol.com.br/espelhomeu/saude/2015/10/07/saiba-como-fazer-para-as-criancas-seguirem-uma-
alimentacao-saudavel-268.php>

Falemos agora sobre o ambiente escolar. O ambiente escolar para algumas crianças é
um ambiente que lhes causam desconforto, medo e pânico devido ao fato de ser algo
novo e diferente de tudo aquilo que a criança estava acostumada. Não é a toa que existe
um período de adaptação. Essa adaptação é tanto para os pais como para as crianças.
Muitas vezes os pais passam a ansiedade e insegurança para os filhos o que pode
desencadear algum transtorno caso não seja trabalhado o quanto antes.

É necessário que os responsáveis pela criança passe tranquilidade e segurança nessa


nova fase. É importante explicar para a criança que ela ficará com as professoras e
coleguinhas durante um tempo e frisar que no final da aula os pais estarão de volta
para buscá-la. O sentimento de abandono nesse momento pode acontecer. Para isso a
professora deve ser sensível e carinhosa e acolher a criança da melhor maneira possível.

Com o reforço da rotina escolar esse sentimento acabará e o ambiente escolar se tornará
um local agradável para todos. Porém os pais ou cuidadores devem estar sempre
atentos aos sinais da criança. Nem sempre a escola escolhida é a melhor opção para a
criança. Cada criança tem o seu temperamento e seu ritmo. O ambiente escolar muito
rígido pode acarretar um transtorno mental nas crianças mais sensíveis. O pânico é o
principal deles.

Vamos a um exemplo real: uma menina estudava em uma escola que tinha um
ambiente um tanto quanto familiar. Todos a conheciam pelo nome e a tratavam com
muita atenção e carinho. Determinado ano a mãe resolveu colocá-la em outra escola
que era conhecida por ter um melhor ensino. A escola exigia notas altas, encaminhava

35
UNIDADE II │POSSÍVEIS FATORES QUE DESENCADEIAM OS TRANSTORNOS MENTAIS

muitos deveres por dia, tratava os alunos como números, não davam importância aos
sentimentos. Resultado, a menina de aproximadamente 8 anos desenvolveu a síndrome
do pânico. Depois de alguns meses de acompanhamento psicológico, alguns remédios e
o retorno à antiga escola, ela voltou a ser uma criança como as outras.

A escolha de onde a criança passará grande parte do seu dia é importantíssima. A melhor
escola é a perto de casa, com o valor mais acessível, a mais indicada, a mais popular.
Infelizmente não é tão simples assim. Não é a criança que escolhe, quem escolhe são
os pais ou cuidadores com base na personalidade e temperamento dos pequenos. Um
pouco de sensibilidade ajudará bastante nessa decisão.

O importante é estarmos sempre atentos aos sinais que os pequenos nos mostram a
todo minuto. Não menosprezando nenhum sinal, por mais bobo que possa parecer no
início.

Finalizamos o assunto sobre “estresse” com o quadro a seguir o qual foi retirado da
página da revista Isto é, edição 2211 de março de 2012 que fala sobre o estresse em
várias fases da vida. Reforçando tudo aquilo que falamos anteriormente.

Mal que não tem idade


Ainda na barriga o bebê já pode estar lidando com a sobrecarga do hormônio estresse.
Fatores estressores
Durante a gestação Estresse materno, subnutrição ou violência contra a mãe.
0 a 6 meses Em toda a vida, essa é a fase em que mais estamos expostos ao estresse.
É quando o bebê descobre que precisa chorar para ter suas demandas
atendidas, quando aprende a respirar e a se alimentar.
6 meses a 5 anos Ir para a escola pela primeira vez, começa a ir ao banheiro sozinho, ter de
dividir os brinquedos com irmãos ou amigos, aprender a ouvir não.
6 a 10 anos Aumento das regras que regem a vida (a entrada no ensino fundamental
começa a exigir mais disciplina da criança), bullying entre colegas,
aumento das responsabilidades.
11 a 13 anos Mudanças no corpo causadas pela puberdade, início das pressões
originadas pelo grupo, questões de poder entre os colegas (quem é o líder
do grupo, quem obedece).
14 a 18 anos Aprovação das ações pelo grupo, busca de identidade profissional, início
da preparação para vestibular, maior cobrança por disciplina na escola.

Fonte: <http://www.istoe.com.br/reportagens/195990_ESTRESSE+INFANTIL>

36
PRINCIPAIS
TRANSTORNOS
MENTAIS QUE UNIDADE III
AFETAM AS
CRIANÇAS

CAPÍTULO 1
Transtorno de Déficit de Atenção –
Hiperatividade – TDAH

Quando os astronautas foram à lua que coincidência eu também estava lá fugindo


de casa, do barulho da rua pra recompor meu mundo bem devagar. Que lugar mais
silencioso eu poderia no universo encontrar, que não fossem os desertos da lua pra
recompor meu mundo bem devagar. “No mundo da lua” (BIQUINI CAVADÃO —
Álvaro, Bruno, Miguel e Sheik)

O TDAH significa Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade “é uma síndrome


heterogênea, de etiologia multifatorial, que depende de fatores genéticos, adversidades
biológicas e problemas psicossociais (famílias desestruturadas).” (LIPP, 2014, p.125).
Ele é visto como um dos principais transtornos neuropsicológicos da infância. Sua
prevalência estimada é de 3% a 5% entre as crianças em idade escolar no Brasil
(LIPP, 2014). Sua principal característica é um padrão persistente de desatenção e/ou
hiperatividade, mais frequente e severo do que aquele observado em outras crianças da
mesma faixa etária que estão no nível equivalente de desenvolvimento.

Segundo, Lipp (2014), o TDAH atinge 5 a 6% da população mundial. Ele é visto como
um dos principais transtornos neuropsicológicos da infância. Sua prevalência é de
3% a 5% entre crianças em idade escolar no Brasil. De cada 5 crianças hiperativas,
4 são meninos e 1 menina. Já em déficit de atenção são 4 meninas para 1 menino.
O TDAH já era conhecido pelos psiquiatras há mais tempo e dava-se o nome de Disfunção
Cerebral Mínima – DCM. Caracterizava-se pela presença simultânea de irritabilidade,
impulsividade e agressividade. Infelizmente, o tratamento era sempre medicamentoso.
Muitas vezes insatisfatórios.

37
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Para Lipp (2014), no desenvolvimento infantil acontecem mudanças físicas, cognitivas,


emocionais, afetivas e sociais. Tais mudanças são consideradas naturais, elas fazem
com que todas as crianças enfrentem situações de estresse, porém, no momento em
que há a soma surge a necessidade de adaptação diante do TDAH, a capacidade de
amadurecimento da criança pode ser excedida, acarretando o processo de estresse
elevado. Não devemos usar medicamentos em nossas crianças quando existem outras
alternativas de tratamento. O papel do psicólogo é fundamental no acompanhamento e
tratamento desse transtorno.

De acordo com inúmeros artigos científicos publicados no Scielo percebemos que o


TDAH é considerado uma “polêmica internacional”. O motivo se dá devido ao aumento
do número de casos diagnosticados em crianças e adolescentes e a proliferação de
processos legais que buscam o direito à educação especial, uma vez que nos Estados
Unidos o indivíduo que possui TDAH tem um tratamento diferenciado na escola.
(CALIMAN, 2008).

O TDAH é reconhecido oficialmente por diversos países e pela Organização Mundial da


Saúde (OMS). Déficit de atenção é uma alteração na área mental da atenção, quando
a atenção se volta automaticamente para alvos diferentes do seu foco original. Isto é,
mesmo querendo prestar atenção no que alguém esteja falando, de repente, quando se
percebe já está com seus pensamentos bem distantes, “viajando”, dando a impressão
ao alheio de que ele está no “mundo da lua”. Hiperatividade é quando a criança não
consegue parar quieta, sempre mexendo com os dedos, balançando os pés, mudando o
corpo de posição etc.

Os pais das crianças portadoras do TDAH ao conseguirem incorporar e aceitar os


transtornos dos filhos na sua vida suavizam o sofrimento e aumentam, assim, a
qualidade de vida da criança, apesar de existir o sofrimento. Alguns pais preferem não
enxergar e acabam reduzindo muito a produtividade da criança e consequentemente
ambos terão uma péssima qualidade de vida, sem conseguirem realizar seus desejos e
acomodando-se com o que conseguem fazer. Ninguém tem culpa de ser vítima deste
transtorno, e quem o tem merece um tratamento adequado com um especialista nesta
área para não ser mal conduzido e sofrer a vida toda de um problema que pode ser
controlado na sua grande maioria.

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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Figura 12.

Fonte: <http://www.maisequilibrio.com.br>

Um exame feito na época para buscar sua origem orgânica era o EEG
(eletroencefalograma). Havia uma tendência a justificar este DCM pelas alterações
eletroencefalográficas nem sempre encontradas nas regiões temporais. Este exame
era muito impreciso e só tinha valia quando tais alterações eram encontradas. O não
encontrar estas alterações não afastava o diagnóstico de DCM. A medicação usada
também tinha uma baixa eficácia. Assim, muitos DCMs não eram tratados e tinham
que aprender a conviver com o seu transtorno. Na década de 1970, usava-se tratar
os deprimidos com psicoestimulantes. Um destes era o cloridrato de metilfenidato,
o comercial Ritalina. Os pesquisadores notaram que os deprimidos com DCM
melhoravam do DCM, e nem sempre da depressão. Foi nesta época que o metilfenidato
passou a ser usado especificamente para DCM que passou a ser chamada de TDAH
<www.bigmundoinfantil.com.br>

A edição de 30 de outubro da revista Época traz o artigo “A Doença Fantasma”, de


Susan Andrews, psicóloga que é monja iogue e que critica o tratamento do Transtorno
do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com medicamentos. Vamos aos
comentários:

1. Desde quando esses comportamentos infantis, variando de


normais a indisciplinados, se tornaram uma doença?

ABDA: desde o século XIX, quando autores não-médicos identificaram comportamentos


numa minoria de crianças que não eram observados na grande maioria delas. O
diagnóstico de TDAH é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) há
pelo menos 20 anos. Existem diagnósticos como câncer e hepatite, nos quais você
está no grupo dos que “não têm” ou no dos que “têm”. Muitos outros diagnósticos são

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

determinados arbitrariamente a partir de certo ponto, embora todo mundo tenha em


algum grau aquelas características, como é o caso do TDAH. Não existe o grupo dos
“desatentos” e dos “completamente atentos”, é uma questão de grau, do mesmo modo
que ocorre com diabetes, hipertensão arterial e obesidade.

2. Não há nenhuma evidência que ele esteja associado a uma


disfunção física do cérebro.

ABDA: existem pelo menos 100 artigos científicos (inclusive com fotografias comparando
o cérebro de portadores de TDAH e de indivíduos normais) disponíveis na literatura
científica.

3. No Brasil estima-se que o TDAH atinja de 3% a 6% de crianças


em idade escolar. Mais de 1 milhão de caixas foram consumidas
em 2005. Virou moda no Brasil (...).

ABDA: A caixa de metilfenidato, usado no tratamento para TDAH, tem 20


comprimidos cada um com 10mg. Se a dose média é de 30mg, uma criança consumiria
aproximadamente 5 caixas por mês e 50 caixas por ano (supondo que não seja usado
nas férias). Se os dados do IBGE informam que existem 55 milhões de brasileiros com
idades de 1 a 14 anos, significa que só são tratados 20.000, para um total de portadores
de, no mínimo, 1 milhão e meio (!). Temos, portanto que aumentar nossos esforços para
que mais pessoas sejam diagnosticadas e tratadas.

4. (estas crianças) estão sendo sedadas

ABDA: os medicamentos usados no tratamento do TDAH são estimulantes e não


causam nenhum tipo de sedação.

5. (estes medicamentos) podem provocar danos cerebrais


permanentes e irreversíveis? (...).

ABDA: qualquer indivíduo tem a obrigação moral de informar às autoridades de


vigilância sanitária do Brasil e do mundo acerca de estudos científicos comprovando o
que foi afirmado acima, uma vez que estes dados são graves e não são conhecidos pelo
meio científico e acadêmico.

6. Imagine agora se Winston Churchill – ganhador do Prêmio


Nobel – tivesse sido sedado com drogas para hiperatividade .

ABDA: realmente, se o seu filho tiver a inteligência e a capacidade invejável de Winston


Churchill, a leitora não precisa se preocupar caso ele tenha TDAH, fobia, dislexia,
depressão ou qualquer outra coisa. TDAH ocorre em qualquer indivíduo, à semelhança
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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

da epilepsia, por exemplo, e isto em nada modifica a necessidade de se tratar a doença


na população.

Paulo Mattos

Professor de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Presidente da ABDA – Associação Brasileira do Deficit de Atenção.

Fonte: <www.tdah.org.br>

Quando falamos em crianças com TDAH o que devemos observar em seu


comportamento? As crianças com TDAH se mostram agitadas e com perturbações
motoras (equilíbrio, noção de espaço e tempo, esquema corporal etc.), mudam
constantemente e rapidamente de uma atividade para outra, apresentam problemas
na organização acadêmica, dificuldade de manter uma relação de amizade com as
demais crianças da sua idade, antecipação de respostas e inabilidade para aguardar um
acontecimento. De acordo com Lipp (2014), as dificuldades de aprendizagem (presentes
em 20% dessas crianças) e o fracasso escolar são manifestações que acompanham o
transtorno hiperativo.

É fácil para o especialista perceber quando uma criança tem hiperatividade física.
As crianças portadoras de hiperatividade se mostram agitadas, movendo-se sem parar e
dificilmente ficam muito tempo concentradas em uma atividade. Algumas vezes chegam
a “andar correndo” como se seus passos fossem devagar demais para acompanhar sua
vontade imediata de fazer algo. Em ambientes fechados, costumam mexer em vários
objetos ao mesmo tempo, derrubando grande parte deles no ímpeto de checá-los
simultaneamente. São crianças que costumam receber designações pejorativas como:
”elétricas”, ”desastradas”, ”desajeitadas”, entre outros. Nos adultos, essa hiperatividade
costuma se apresentar de forma mais branda, o que levou alguns estudiosos no passado
pensarem que tal alteração costumava desaparecer com o fim da adolescência. Hoje é
sabido que isso não é verdade, o que ocorre é uma adequação formal da hiperatividade
à fase adulta.

A hiperatividade mental ou psíquica apresenta-se de maneira mais sutil, o que não


significa que seja menos danosa que a hiperatividade física. Alguns a relacionam como
um “chiado” cerebral, tal como um motor de carro desregulado que acaba acarretando
um desgaste bastante acentuado. É a criança que numa conversa interrompe o outro o
tempo todo, que não presta atenção no que a pessoa está falando, que faz uma pergunta
e não espera a resposta, que não dorme à noite – porque seu cérebro fica agitado a tal
ponto que não consegue desligar.

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Essa agitação psíquica é parcialmente responsável pela inaptidão social que muitas
crianças com hiperatividade apresentam. Essas crianças têm muita dificuldade em
criar e manter amizades.

As primeiras percepções do comportamento inadequado do transtorno do déficit de


atenção e hiperatividade são sentidas na família e logo em seguida na escola. A família,
muitas vezes, desconhece a origem dos problemas e tende a rotular a criança de
mal-educada, preguiçosa, inconveniente, imatura, irresponsável e pouco inteligente.
Isso acarreta um convívio familiar regado de agressividade, incompreensão e estresse.

Os pais tendem a perceber quando veem que o filho é diferente das crianças da mesma
idade e escolaridade e, assim, buscam ajuda de um profissional. Na maioria dos casos,
crianças com TDAH precisam de uma professora em sala somente para auxiliá-la
nas tarefas, acompanhá-la todas as vezes que ela não quer ficar em sala de aula, criar
atividades extras antes, uma vez que ela ao consegue ficar concentrada muito tempo
em uma atividade, controlar o impulso de querer conversar com os colegas durante as
atividades. Caso contrário os demais colegas serão prejudicados e a aula não renderá.

O diagnóstico do TDAH é composto por dos pilares:

»» os dados da história clínica da criança;

»» avaliações neuropediátrica e neuropsicológica.

O DSM-5 (AP 2013) define esse transtorno como um problema de saúde mental,
considerando-o um distúrbio mental (transtorno mental), que envolve a atenção e a
hiperatividade, porém mais frequente e severo do que aquela tipicamente observada em
crianças da mesma idade que estão no nível equivalente de desenvolvimento. O DSM é
um manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria para
definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais.

O diagnóstico, segundo Lipp (2014), é baseado no predomínio dos seguintes sintomas:

»» TDAH com predomínio de sintomas de desatenção.

»» TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade.

»» TDAH com apresentação de sintomas combinados.

Ainda sob a ótica do mesmo autor, a atenção possui uma natureza multidimensional.
Para as crianças com TDAH, as maiores dificuldades estão nos aspectos da atenção
relacionados à persistência do esforço e à vigilância. A capacidade de manter atenção nas

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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

tarefas se reduz, ocasionando distração ou propensão a responder a eventos externos


não relacionados com tais tarefas.

Figura 13.

Fonte: <http://vivomaissaudavel.com.br/saude/crianca/descubra-o-que-e-tdah-e-como-ele-afeta-a-rotina-infantil/>

A desatenção se caracteriza pela capacidade reduzida da criança de permanecer atenta


a uma determinada tarefa, a fim de compreendê-la e/ou realizá-la. Em outras palavras,
a criança tem curta fixação de atenção.

A hiperatividade
As crianças de hoje são, na maioria dos casos, agitadas. As de hoje? Pode-se dizer que
sempre foram. Criança saudável é criança que não para. Criança quieta é criança doente.
O certo é isso. Entretanto com a falta de limites e disciplina, passaram a ser “agitadas
sem controle”. Assim, muitas são confundidas por portadoras de TDAH, dando a falsa
impressão de que aumentou muito o número de crianças com tais transtornos. Não
é à toa que o Serviço Sanitário Local exige do psiquiatra a Notificação de Receita – a
numerada, de cor amarela – e controla as vendas de medicamentos nas farmácias, pois
seu uso abusivo pode provocar tolerância e dependência psicológica com alterações
comportamentais.

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Figura 14.

Fonte: <http://dicasmulheres.com/como-identificar-a-hiperatividade-de-uma-crianca>

A hiperatividade está relacionada a uma dificuldade de controlar os impulsos. Alguns


sinais que podemos observar são: inquietação motora, agitação, movimentos corporais
bruscos e desinibição verbal. O surgimento dessa doença é precoce e a evolução costuma
ser crônica, com sérias repercussões no funcionamento do indivíduo em diversos
contextos de sua vida.

Os sintomas costumam se manifestar antes dos 12 anos de idade e o diagnóstico


geralmente ocorre quando a criança inicia o processo de escolarização. Uma vez que,
no ambiente escolar, as dificuldades de atenção e inquietude são percebidas com mais
frequência, além de existirem outras crianças da mesma faixa etária para que seja feita
uma comparação.

É possível que o TDAH não seja algo tão desfavorável como parece, haja vista que,
entre suas implicações, estão a capacidade de melhorar o processo de criatividade e a
desinibição comportamental. A impulsividade, o hiperfoco e a hiperatividade
presentes no processo criativo são fatores positivos (LIPP, 2014, p. 128-129).

Vejamos um pouco sobre esses fatores positivos citados por Lipp, 2014.

»» A impulsividade é responsável por selecionar uma determinada ideia


entre as diversas que transitam pelo cérebro, pois, sem ela, uma ideia
não se transforma de fato em uma ação criativa.

»» O hiperfoco é a habilidade do TDAH de se hiperconcentrar em ideias ou


ações específicas, motivado por um impulso passional, durante horas e
horas, o que possibilita a realização do processo criativo até que a ideia
inicial se materialize.

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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

»» A hiper-reatividade é a capacidade da mente com TDAH permanecer


sempre em funcionamento, conectando-se a tudo simultaneamente, tal
qual uma antena parabólica em permanente rastreamento, captando os
mais diversos estímulos exteriores e interiores e reagindo a si mesma.

A orientação terapêutica para um prognóstico favorável para que essa criança se


desenvolva de maneira plena e satisfatória dentro do quadro do TDAH envolve um
trabalho de terapia cognitivo-comportamental, que pode estar associado ao uso de
medicações e deve ser realizado por meio de psicoeducação com a criança, família e
escola.

Em suma, devemos entender o TDAH como sendo um funcionamento cerebral


diferenciado, com comportamentos típicos, responsáveis por suas dificuldades de
concentração e foco, e também com características positivas, muitas vezes ignoradas,
como a criatividade e o hiperfoco. As pessoas com TDAH têm um funcionamento
mental acelerado inquieto, que produz incessantemente ideias que se apresentam
de forma brilhante ou se agregam de maneira atrapalhada, quando não encontram
direcionamento correto (LIPP, 2014, p.130).

Para que uma criança com TDAH seja bem assistida e amparada os pais devem saber
como lidar com ela e qual a maneira mais adequada de educá-la. Lipp (2014, p. 132))
cita algumas práticas educativas que os pais ou cuidadores devem se basear para que
o convívio não se torne estressante para as duas partes. A autora chama de práticas
educativas positivas.

»» Monitoria positiva: série de comportamentos parentais de atenção às


atividades e à adaptação dos filhos. Características: estabelecimento de
regras claras, frequência equilibrada da atenção, demonstração segura do
afeto, acompanhamento e supervisão das atividades escolares e de lazer.

»» Comportamento moral: seguindo o exemplo dos pais, refere-se ao


desenvolvimento do senso de justiça, da empatia, da responsabilidade,
da generosidade, do trabalho e do conhecimento do certo e do errado.

A autora cita, também, as práticas educativas negativas. Para que os pais ou cuidadores
tenham conhecimento do que não pode ser feito com as crianças portadoras do TDAH.
Na verdade, essas práticas negativas não podem ser feitas com nenhuma criança.
Vejamos:

»» Abuso físico e psicológico: o abuso físico é o resultado potencial da punição


corporal, caracterizado por socos, espancamentos, chutes ou machucar a

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

criança de alguma forma, ou seja, caracteriza-se pela disciplina imposta


por práticas corporais negativas. As práticas parentais violentas são
consideradas um fator de risco para o desenvolvimento de problemas
sociais e psicológicos (condutas sociais e transtornos psiquiátricos).
O abuso psicológico é o mais frequente dos tipos de abuso infantil,
no entanto, é mais sutil e difícil de mensurar. Podemos citar algumas
formas de abuso psicológico, são eles: ameaça, chantagem de abandono,
humilhar a criança etc. Essas práticas podem levar à baixa altoestima e
até mesmo à depressão.

»» Disciplina relaxada: ocorre quando há o relaxamento das regras


estabelecidas e considerada um fator de risco para problemas de conduta
e delinquência. Funciona da seguinte forma: as regras são estabelecidas,
os pais ameaçam e, quando se deparam com algum tipo de resistência
dos filhos, abrem mão de seu papel educativo. Muitas vezes os pais têm
preguiça de educar e de serem firmes. A aceitação acaba se tornando o
caminho mais fácil para evitar o estresse, pelo menos naquele momento.
O que costuma piorar com o passar do tempo.

»» Monitoria negativa: conhecida também como supervisão estressante.


Caracteriza-se pelo excesso de instruções e regras, não importando se
são cumpridas ou não. Esse comportamento tende a criar um ambiente
familiar hostil.

»» Negligência: essa prática nada mais é que a ausência de atenção e afeto.


Os pais negligentes ignoram a maioria dos comportamentos e atividades
dos filhos, fingem não estar vendo determinadas atitudes e costumam
não chamar atenção quando a criança faz algo de errado. O pai é bastante
omisso na criação do filho acarretando sentimentos de insegurança,
vulnerabilidade e dificuldades nos relacionamentos sociais na criança.

»» Punição inconsistente: a punição inconsistente acontece quando os pais


não tem um motivo real para punir a criança, normalmente o fazem
por algum estresse decorrente de outro motivo. Por exemplo: o pai está
trabalhando, ocupado e com o tempo limitado, quando o filho chega
falando ou mexendo nas coisas, o pai dá uma bronca, deixando-o de castigo
sem ver TV por 1 semana. Esse tipo de punição interfere, sobretudo na
percepção que a criança desenvolve sobre si, pois, ao utilizar essa prática,
os pais se orientam pelo humor do momento na hora de punir ou reforçar
e não pelo ato praticado pela criança.

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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Diante dessas práticas educativas temos os estilo parental de risco e o estilo parental
ótimo. A primeira utiliza muitas práticas negativas e a segunda, muitas práticas
positivas.

Qual a importância da influência das práticas parentais no desenvolvimento e


comportamento das crianças portadoras de TDAH? A compreensão dessas práticas
pode auxiliar de maneira significativa a decisão quanto ao tipo de intervenção a ser
realizada para o sucesso na adaptação da criança. Já é sabido por todos que a maneira
como os pais tratam seus filhos reflete positiva ou negativamente no desenvolvimento
dos filhos.

De acordo com pesquisas científicas realizadas na área, Lipp (2014) afirma que:

»» O modo de tratar os filhos com TDAH é afetado pelo nível de estresse dos
pais. Pais estressados costumam utilizar muitas estratégias coercitivas
e punitivas. O uso de disciplina errática pode levar ao surgimento ou à
exacerbação de comportamentos agressivos ou de oposição nos filhos.

»» O National Resource Center on ADHD – Centro Nacional de Recursos


sobre o TDAH – reconhece que estilos parentais negativos podem
aumentar os sintomas de hiperatividade, desatenção e impulsividade em
crianças com TDAH.

»» Sintomas de dificuldades atencionais são potencializados pelo estresse.


Isso se torna bastante relevante no quadro de TDAH porque o controle
do estresse pode diminuir consideravelmente os sintomas de desatenção
sem precisar usar medicamento acarretando a melhora na qualidade de
vida da criança e familiares.

»» Pais estressados costumam a ter filhos com mais sintomas de estresse.


As diversas formas de apoio influenciam os fatores de maior ou menor
vulnerabilidade do estresse. O TDAH pode aumentar ainda mais o quadro
de estresse.

»» Criança com TDAH não reage muito bem a críticas e comentários


negativos dos pais o que resulta no aumento do estresse.

»» A relação é diretamente proporcional quando falamos em nível de estresse


dos pais e violência contra a criança. Ou seja, quanto maior o nível de
estresse do pai mais a criança sofre violência.

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Infere-se que pais de crianças com TDAH possuem grandes dificuldades em aceitar
o comportamento da criança, interpretando a incapacidade como desobediência,
potencializando, assim, o próprio estresse e também o da criança. É sabido que grande
parte do mau comportamento da criança com TDAH ocorre devido a limitações
decorrentes do transtorno e não por teimosia. No momento em que os pais ou cuidadores
aceitam e compreendem essa realidade, conseguem reduzir consideravelmente as
punições inadequadas e orientar a criança para comportamentos mais assertivos,
fazendo com que um desenvolvimento favorável seja potencializado.

De acordo com os especialistas e estudiosos, os pais de crianças com TDAH necessitam,


como parte prioritária para o desenvolvimento adequado dessas crianças, aprender
a utilizar práticas parentais como forma de estratégias educativas que demonstrem
aceitação e compreensão das dificuldades decorrentes do transtorno. Esses pais
também devem oferecer apoio emocional a seus filhos, para que se sintam seguros para
enfrentar e superar os obstáculos (LIPP, 2014, p. 142).

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CAPÍTULO 2
Transtornos de Humor Bipolar

Para Spanemberg (2014), no século XIX, Emil Kraeplin apresentou o conceito de


depressão introduzindo o termo Psicose Maníaco-Depressiva (PMD), semelhante à
forma que é explicada na atualidade, nos dias de hoje chamamos de Transtorno de
Humor Bipolar. No final do século XIX, a ideia de que os estados depressivos não
tinham somente causa endógena (aquilo que se desenvolve dentro do organismo) foi
fortalecida. Dessa forma diversas terminologias surgiram, como por exemplo, depressão
reativa, depressão neurótica, depressão de esgotamento, entre outras. Foi dentro deste
panorama que confirmou-se a hipótese de que a depressão tem causa multifatorial. 

O transtorno de humor é caracterizado por alterações prolongadas no humor ou no


estado emocional. É no transtorno de humor que encontramos as doenças depressivas.
Podemos ver com mais frequência em adolescentes, porém isso não impede que vejamos
em crianças também.

As crianças podem apresentar humor deprimido (tristeza), acentuado ou irritabilidade,


perda de interesse ou prazer em suas atividades, perda ou ganho de peso, insônia
ou excesso de sono. O tratamento desses transtornos envolve o uso de fármacos
(antidepressivos), associados à psicoterapia.

Grande parte das crianças apresenta ampla variação emocional até mesmo no decorrer
de um dia: elas podem estar alegres ou tristes, animadas ou quietas, entusiasmadas ou
desanimadas. Algumas situações ou pessoas podem transformar o humor da criança de
maneira muito rápida.

Muitos adultos falam a seguinte frase: “Hoje nada tira o meu bom humor”. “Hoje nada
vai estragar o meu dia”. Realmente existem dias que acordamos mais permissivos,
alegres e tolerantes. Por exemplo: uma fechada no trânsito, uma chamada do chefe, seu
subordinado não foi trabalhar e não deu satisfação são situações que tiram o humor de
qualquer pessoa. Não se você estiver naquele dia que nada irá lhe aborrecer.

Será que as crianças também conseguem vivenciar isso? Devido à falta de maturidade,
a criança acaba tendo seus sentimentos e emoções mais vulneráveis, onde uma simples
briguinha com um colega pode lhe deixar profundamente triste, e essa tristeza só vai
embora quando esse colega voltar a falar com ela. Até o sumiço de um lápis preferido
pode tirar a sua alegria. Algumas choram e ficam realmente tristes com pequenas coisas
que para elas é realmente relevante.

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Depressão (transtorno do humor) X Suicídio

A depressão é um mal tão antigo quanto a humanidade. Em várias épocas da nossa


história encontramos figuras com comportamento depressivo. A depressão é o
transtorno de humor que mais acomete os indivíduos.

Já no século 5 a.C., para Hipócrates, a melancolia era “o delírio com tristeza”; ou seja,
a desrazão com depressão do humor, com redução do engajamento em atividades
usuais, redução de atividades físicas e sociais”. Ele atribuía os sintomas melancólicos
a um excesso de “bílis negra”, em comparação com os três outros humores restantes
(o sangue, a fleuma e a “bílis amarela”). Hipócrates foi o primeiro a atribuir doenças
psíquicas aos distúrbios no cérebro e o primeiro a descrever os fenômenos da mania e
da depressão. (MORAES et al., 2003).

Embora, a depressão, seja um transtorno dito como antigo, até a década de 1970
acreditava-se que a depressão em crianças fosse rara ou até inexistente. Segundo Bahls
(2002), o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH) reconheceu oficialmente
a existência da depressão em crianças e adolescentes a partir de 1975, e os estudos sobre
esse assunto têm atraído um crescente interesse nessas duas última décadas.

Inúmeros autores vêm chamando a atenção para o fenômeno da depressão. Alertando


as pessoas para o fato de que essa doença vem acometendo as pessoas cada vez mais
cedo e que quando se trata de criança a atenção deve ser redobrada.

As crianças com a idade até 6-7 anos (considerada crianças pré-escolares), a


manifestação clínica mais comum são os sintomas físicos. São eles: dor de cabeça e
abdominais, fadiga e tontura. Segundo Goodyer (1996), a grande maioria das crianças
que possui casos de depressão apresenta queixas físicas. As queixas de sintomas
físicos são seguidas por ansiedade (com destaque para a ansiedade da separação – por
afastamento temporário ou definitivo (morte ou decisão judicial), fobias, hiperatividade,
irritabilidade, diminuição do apetite e perda de sono. Há também outros sinais que
a criança emite, são eles: a diminuição do prazer de brincar, semblante triste, choro
frequente e comunicação deficiente. As habilidades sociais, a vontade de estar em um
grupo com colegas, ir à escola não ocorrem mais naturalmente.

Nesse período, a criança não consegue realizar tarefas com sucesso. Seu desempenho
tende a declinar. Sua concentração e interesse não são mais os mesmos. É comum a
criança falar que não tem amigos, que ninguém gosta dela, além de se rotular como boba,
estúpida ou impopular. Esse comportamento está relacionado à queda da autoestima
causada pela depressão.

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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Bahls (1996) enumerou os sintomas de depressão em crianças escolares. Vejamos a


seguir:

»» tristeza, irritabilidade e ou tédio;

»» falta de habilidade em se divertir;

»» aparência triste;

»» choro fácil;

»» fadiga;

»» isolamento com fraco relacionamento com seus pares;

»» baixa autoestima;

»» declínio ou desempenho escolar fraco;

»» ansiedade de separação;

»» fobias;

»» desejo ou fantasia de morte.

De acordo com Bahls (1996), o principal fator de risco para uma criança ter depressão é a
presença de depressão no pai ou na mãe, sendo que a existência de depressão em algum
ente da família aumenta o risco em pelo menos três vezes, seguidos por estressores
ambientais, como abuso físico e sexual e perda de um dos pais, irmão ou amigo íntimo.

Tipos de depressão
Para Mackinnon e Michel (1992) a depressão pode ser diagnosticada como:

»» Depressão dissimulada ou equivalente: síndrome comum tratada


pelo médico não psiquiatra. Os pacientes apresentam sinais típicos de
depressão, mas o componente afetivo é afastado ou negado, muitas vezes
expresso por sintomas somáticos. A depressão é revelada à medida que
são penetradas as defesas do paciente.

»» Depressão reativa ou secundária: surge em resposta a um estresse


identificável, como perdas (reações a luto), doenças físicas graves
(tumores cerebrais, hipotireoidismo, etc.) ou uso/abstinência de drogas

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

(corticoides, barbitúricos, anticoncepcionais, hormônio tireoidiano etc.).


Correspondem a 60% de todas as depressões.

»» Depressão menor ou distimia: falta de humor crônico, que dura pelo menos
dois anos nos adultos e se manifesta pela síndrome depressiva, onde o
paciente consegue funcionar socialmente, mas sem experimentar prazer.

»» Depressão maior ou unipolar: desordem primária e endógena,


caracterizada por episódios depressivos em períodos variáveis da vida
do paciente, geneticamente predisposto à doença. Atualmente, pode ser
tratada com medicamentos e psicoterapia. Corresponde a cerca de 25%
de todas as depressões.

»» Transtorno de humor bipolar: desordem primária e endógena,


caracterizada por episódios depressivos alternados com fases de mania
ou de humor normal. No estado de mania, a pessoa tem prejudicado o seu
raciocínio, bem como sua capacidade de julgamento e o comportamento
social; envolve-se facilmente em negócios mirabolantes ou aventuras;
toma atitudes inadequadas e incertas. Se não tratada adequadamente,
pode evoluir para quadros psicóticos. Corresponde a cerca de 10% de
todas as depressões.

Gabbard (1992) acrescenta os seguintes tipos:

»» Melancolia (depressão psicótica): forma mais grave e rara de depressão,


caracterizada pela perda de autoestima, humor não reativo a estímulos
agradáveis, acentuado retardo ou agitação psicomotora, delírios
(perturbações do pensamento) e alucinações (perturbações da percepção).

»» Depressão pós-parto: o parto e as alterações que ele traz, sejam hormonais


ou na rotina da mulher, podem ser um potente estressor, desencadeando
a depressão em mulheres com tendências à mesma.

»» Depressão sazonal: Relacionada à luminosidade diurna, repetindo-se


no outono/inverno; mais frequente em países com inverno rigoroso,
podendo melhorar com a fototerapia (exposição diária e prolongada à luz
forte).

»» Depressão atípica: humor reativo a estímulos agradáveis, inversão dos


sintomas vegetativos (hipersonia e aumento de apetite), ansiedade
acentuada, queixas fóbicas.

Mackinnon e Michels (1992)  classificam a depressão conforme o tempo de duração


como: temporária, transitória, constante (ou estável) e crônica, sendo esta última a
mais grave.
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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

A maioria dos casos de suicídio infantil está relacionada à depressão – que é um


transtorno tratável. Para Mackinnon e Michels (1992), o fator desencadeante mais
comum que pode levar à depressão é a perda. Traduzindo-se, em geral, pela morte ou
separação do objeto de amor. Essa perda pode ser real ou iminente, como nas reações
depressivas que antecipam a morte de um ente querido. Algumas vezes, pode ser uma
perda psicológica interna real ou fantasiada, como consequência da suposição de ser
rejeitado pela família e pelos amigos.

Ainda sob a ótica dos autores, outro fator desencadeante da depressão é a redução
da autoconfiança e da autoestima. Pais e educadores possuem papel fundamental na
criação desses conceitos e valores na vida de seus filhos.

Quanto maior a autoestima de uma criança, mais alegria ela terá pelo simples fato
de ser, de despertar pela manhã, de viver dentro de seu próprio corpo. São essas as
recompensas que a autoconfiança e o autorrespeito oferecem.

A autoconfiança e autorrespeito de uma criança podem ser alimentados ou destruídos


pelos adultos – conforme tenha sido respeitada, amada, valorizada e encorajada a
confiar em si mesma. Nos primeiros anos de vida de um indivíduo, as escolhas e decisões
são muito importantes para o desenvolvimento futuro da autoestima e autoconfiança.

Muitos usam o termo “estou deprimido” para expressar uma tristeza, um problema,
uma desfeita. Embora seja usado como sinônimo de tristeza, pouco tem a ver com esse
sentimento.

A tristeza é um sentimento momentâneo. Importante para a vida de qualquer pessoa.


Não existe uma criança sempre feliz. É importante que ela saiba que existe também a
tristeza e ter a consciência que ela é passageira.

A criança fica triste quando seu brinquedo quebra, quando seus pais não compram um
brinquedo que ela quer muito, quando seu bichinho de estimação morre, quando seus
pais se separam etc. Agora, se a tristeza não passa, e surgem sentimentos como apatia,
indiferença, desesperança, falta de prazer pela vida, o quadro muda de figura. Esses
sintomas são típicos de depressão.

A depressão nos adultos é mais fácil de ser percebida e diagnosticada. Suas atitudes
mudam, reclamam com frequência, seu comportamento revela que algo não está bem
e a família acaba percebendo que algo está errado. Já com as crianças é diferente. Pelo
fato de não lidarem muito bem com seus sentimentos, elas aceitam a depressão como
fato natural, próprio do jeito de ser. Mesmo havendo o sofrimento, elas não sabem
que aquilo que estão sentindo é uma doença que precisa ser tratada. Costumam ficar
quietas, caladas e os pais, de modo geral, demoram a perceber que o filho precisa de
ajuda.

53
CAPÍTULO 3
Transtornos alimentares

De acordo com a DSM-5 (p.329), “os transtornos alimentares são caracterizados


por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado
à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que
compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial”.

Existem alguns transtornos alimentares previstos são eles: pica, transtorno de


ruminação, transtorno alimentar restritivo\evitativo, anorexia nervosa, bulimia nervosa
e transtorno de compulsão alimentar. O objetivo principal do tratamento é a melhora
do estado nutricional da criança. É necessário que haja uma avaliação prévia por parte
dos pais analisando, principalmente, os fatores psicossociais que estejam contribuindo
para o desenvolvimento e a manutenção do problema.

As condições sociais, demográficas e culturais influenciam o comportamento


das crianças. Entre tais fatores, o impacto sociocultural no padrão alimentar e
no desenvolvimento de transtornos alimentares (TA) tem sido estudado mais
frequentemente, avaliando-se os costumes familiares e as informações veiculadas pelos
meios de comunicação em massa.

De acordo com Appolinário e Claudino (2000), os transtornos alimentares tendem a se


manifestar na infância e na adolescência. Temos o grupo 1 e o grupo 2:

»» Grupo 1: são aqueles que aparecem nos seis primeiros anos de vida.
O transtorno de ruminação (episódios de regurgitação repetidos que não
podem ser explicados por nenhuma condição médica) e a pica (ingestão
de substâncias inadequadas, como terra, barro e cabelo).

»» Grupo 2: são os que tem o aparecimento mais tardio. Anorexia e a bulimia


nervosa.

O transtorno alimentar na primeira infância (antes dos seis anos) se trata se uma
dificuldade em se alimentar de forma adequada levando a uma perda ponderal ou a
uma falha em ganhar peso. Os sintomas aparentemente não estão relacionados a
nenhuma condição médica geral ou a um transtorno psiquiátrico. Vejamos a seguir os
transtornos do grupo 1:

Esse transtorno ocorre quando as crianças com menos de 6 anos desenvolvem o


costume de ingerir substâncias não nutritivas, inadequadas para seu desenvolvimento

54
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

e que não fazem parte de uma prática aceita culturalmente. Para que tais hábitos sejam
considerados pica, é preciso que essa prática persista pelo menos um mês.

“As substâncias mais frequentemente consumidas são: terra, barro, cabelo, alimentos
crus, cinzas de cigarro e fezes de animais. Atrasos no desenvolvimento, retardo mental
e história familiar de pica são condições que podem estar associadas.” (APPOLINÁRIO;
CLAUDINO, 2000). Podem ocorrer diversas complicações, as mais comuns estão
relacionadas ao sistema digestivo e com intoxicações ocasionais, dependendo do
agente ingerido. Segundo os autores, “Medicamentos e vitaminas podem reverter a pica
mas em muitos casos o tratamento exige considerações psicológicas, ambientais etc.
Em alguns casos uma leve terapia de aversão tem servido para modificar o quadro de
pacientes sofrendo dessa condição”.

Embora deficiências de vitaminas e minerais (ex.:, zinco, ferro) tenham sido descritas
em alguns casos, frequentemente nenhuma outra anormalidade biológica é encontrada.
Em algumas ocasiões, a pica chega à atenção clínica somente acompanhando
complicações médicas gerais (problemas intestinais mecânicos; obstrução intestinal,
como a que resulta de um bezoar; perfuração intestinal; infecções como toxoplasmose
e toxocaríase em decorrência da ingestão de fezes ou sujeira; intoxicação, como
pela ingestão de tinta à base de chumbo). (DSM – 5, p. 330)

Transtorno de ruminação

A principal característica do transtorno de ruminação é a regurgitação repetida do


alimento depois de ingerido. O transtorno acontece quando essa prática dura pelo
menos um mês. O alimento, muitas vezes digerido, é trazido de volta à boca sem náusea
ou desconforto aparente. A criança, então, mastiga novamente e em seguida cospe ou
deglutido mais uma vez. No transtorno de ruminação, a regurgitação ocorre várias
vezes por semana, em geral todos os dias. O período de ocorrência na infância é de 3 e
12 meses, podendo ser fatal para os lactantes.

Inclui episódios de regurgitação (ou remastigação) repetidos que não podem ser
explicados por nenhuma condição médica. As principais complicações médicas podem
ser desnutrição, perda de peso, alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, desidratação e
morte. O tratamento envolve o acompanhamento clínico das complicações e tratamento
comportamental.

Os pais devem levar a criança ao médico a fim de ter o diagnóstico de um profissional.


O tratamento envolve acompanhamento clínico das complicações e tratamento
comportamental.

55
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Anorexia Nervosa (AN)

A anorexia é um transtorno alimentar que provoca uma perda de peso acima do que é
considerado saudável para a idade e altura. Pessoas com anorexia costumam ter muito
medo de ganhar peso, mesmo quando estão abaixo do peso normal. Dessa forma, fazem
dietas malucas, ficam sem comer, tomam remédios ou utilizam outros métodos para
emagrecer.

Cada vez mais precoce, a anorexia tem sido diagnosticada em meninas de apenas 10
anos. Essa doença costuma se manifestar com mais frequência na adolescência, porém
podemos associar a aparição em crianças devido à antecipação da puberdade. O padrão
de beleza dos últimos tempos é ser magra. A ingestão de baixa caloria é falada sempre
que alguém vai ingerir algo. As informações calóricas nos rótulos são acompanhadas
com frequência.

O grau e os tipos de comprometimento do padrão alimentar normal costumam variar


muito. Alguns comportamentos inadequados, como exclusão de determinados tipos de
alimentos ou de refeições ao longo do dia e realização de dietas não balanceadas, podem
aparecer isoladamente ou concomitantemente com algum transtorno psiquiátrico.
Quando as crianças começam a falar que não gostam de determinado alimento, não
querem comer no momento certo, estão sem fome e não querem almoçar ou jantar,
que enjoou de determinados pratos. É importante observar com mais cautela a sua
alimentação e comportamento.

Várias alterações do apetite e perturbações da imagem corporal podem ocorrer nas


crianças em idade escolar, embora os quadros mais típicos de transtornos alimentares
sejam mais raros. Apesar de cerca de 45% das crianças de ambos os sexos em idade
escolar quererem ser mais magras e 37% tentarem perder peso, somente uma pequena
proporção delas desenvolvem um transtorno alimentar. Vale ressaltar, no entanto,
que alguns traços presentes na idade escolar são considerados fatores de risco para o
surgimento dos transtornos alimentares na adolescência, alertando o profissional de
saúde que atende crianças para reconhecer e investigar estes traços ainda insipientes
(APPOLINÁRIO; Claudino, 2000).

56
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Figura 15.

Fonte: <http://www.ufjf.br/>

Um dos motivos de uma criança desenvolver anorexia é o meio em que ela vive.
Pais muito focados em dietas, perda de peso, estética, “cultura do corpo” tendem a
influenciar os filhos a serem assim também, podendo desencadear comportamentos
anoréxicos. Da mesma forma que pais com alimentação desregrada, que consomem
muita “porcaria”, doces, refrigerantes etc. tendem a ter filhos que seguem o mesmo
modelo, podendo, assim, desenvolver obesidade. Não falaremos de obesidade aqui
porque não está na lista dos transtornos alimentares, foi apenas um exemplo de hábito
alimentar.

A busca por uma única causa para a anorexia nervosa já foi abandonada.
Acredita-se atualmente que características biológicas, psicológicas,
familiares e socioculturais são fatores que interagem na determinação
da manifestação de anorexia nervosa. (FLEITLICH et al., 2000).

Sob a ótica dos autores Appolinário e Claudino (2000), “na sua forma típica, a AN se
inicia geralmente na infância ou na adolescência. O início é marcado por uma restrição
dietética progressiva com a eliminação de alimentos considerados ‘engordantes’, como
os carboidratos.”

O espelho começa é ser observado com mais frequência onde as “imperfeições” e


insatisfações aparecem. Elas ficam muito incomodadas com o próprio corpo e dessa
forma acreditam que estão gordas. O medo de engordar é uma característica essencial de
quem desenvolve anorexia. Com o passar os tempos, as crianças restringem seu campo
de interesses, se isolam do convívio social e passam a viver exclusivamente em função
da dieta, da comida, do peso e da forma corporal. O curso da doença é caracterizado por
uma perda de peso progressiva e continuada.

57
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

O momento da refeição torna-se desconfortável para quem tem AN. Não se sentem
mais à vontade em sentar-se a mesa e querem ficar sozinhas, longe dos olhares e
julgamentos dos pais e das pessoas. O comportamento alimentar vai se tornando cada
vez mais secreto, e muitas vezes até assumindo características ritualizadas e estranhas.

Segundo o sistema classificatório da última edição do Diagnostic and Statistical Manual


of Mental Disorders (DSM-IV), existem dois tipos de apresentação clínica da doença:

»» Tipo restritivo: as pacientes apenas empregam comportamentos


restritivos associados à dieta.
»» Tipo purgativo: ocorrem episódios de compulsão alimentar e/ou
comportamentos mais perigosos, como os vômitos autoinduzidos, o
abuso de laxativos e de diuréticos.

A classificação dos transtornos mentais e do comportamento da


Classificação Internacional de Doenças  ¾  10a Edição (CID-10) já
não distingue tipos de anorexia e, portanto, pacientes anoréticas que
apresentam episódios bulímicos podem receber os dois diagnósticos:
anorexia e bulimia. (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000).

Ainda sob a ótica dos autores, a prática de exercícios físicos é frequente, sendo que as
pacientes chegam a realizar exercícios físicos extenuantes com o objetivo de queimar
calorias e perder peso. Há uma ausência completa de inquietação com sua condição
física com negação dos riscos.

»» Sintomas

›› medo de engordar;

›› restrição alimentar;

›› falta de apetite;

›› perda excessiva de peso;

›› prática excessiva de exercícios físicos;

›› início tardio do período menstrual e caso tenha se torna irregular.

Vejamos, agora, algumas complicações médicas que podem surgir em decorrência da


desnutrição e dos comportamentos purgativos:

›› anemia;

58
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

›› alterações endócrinas;
›› danos nos rins;
›› danos intestinais;
›› osteoporose;
›› alterações hidroeletrolíticas (especialmente hipocalemia, que pode
levar a arritmia cardíaca e morte súbita).
É bastante frequente termos a associação dos transtornos alimentares
com outros quadros psiquiátricos, especialmente com transtornos do
humor, transtornos de ansiedade e/ou transtorno de personalidade,
mesclando os seus sintomas com os da condição básica e complicando
a evolução clínica. (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000).

A AN de início precoce parece ser o transtorno alimentar mais comum na infância.


A anorexia pode ter início a partir dos sete anos de idade e preferencialmente em
meninas, embora em crianças a prevalência entre meninos parece ser maior do que
entre adultos jovens. Formas mais precoce de transtornos alimentares apresentam uma
associação importante com comportamento obsessivo (incluindo extrema preocupação
com a escola) e com sintomas depressivos. (APPOLINÁRIO; CLAUDINHO, 2000).

As crianças se queixam de alguns desconfortos na hora de se alimentar, muitas vezes


como desculpa para não se alimentarem. São eles: náuseas, dor abdominal, perda de
apetite ou incapacidade para engolir.

Algumas crianças falam abertamente sobre o medo de ganhar peso. As meninas


referem-se a preocupações estéticas, enquanto meninos relatam mais preocupação com
saúde e condicionamento físico. Como as crianças não utilizam de menos de métodos
purgativos (vômitos e laxativos), elas se exercitam bastante para controlar o peso por
meio de esportes, subindo escadas ou simplesmente “fechando a boca”. Vale ressaltar
que a perda de peso nessa fase não é o principal diagnóstico, uma vez que pode haver
apenas uma redução no ganho de peso esperado para o crescimento. A perda de peso
pode ser rápida e dramática em virtude dos baixos níveis de gordura corporal total em
crianças. 

Crianças com anorexia, devido à falta de nutrientes e vitaminas ingeridos, pode


desenvolver um retardo no desenvolvimento, expondo ao risco de osteopenia,
osteoporose e baixa estatura. 

Tratamento

A anorexia é considerada uma condição de difícil tratamento devido a sua etiologia


multifatorial. É preciso que haja a integração das abordagens médica, psicológica e

59
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

nutricional para que o tratamento obtenha resultados positivos. Os profissionais devem


estar sempre em contato na busca de uma melhor solução para a criança.

Quando há a necessidade de internação hospitalar:

»» Quando o peso corporal encontra-se abaixo de 75%.

»» Quando a perda de peso é muito rápida.

»» Quando a criança não tem um bom suporte social e familiar.

Quando o tratamento ambulatorial é suficiente:

»» Quando a criança tem um bom suporte social.

»» Quando não está perdendo peso rapidamente.

»» Quando a criança encontra-se metabolicamente estável.

»» Quando não apresenta os critérios de gravidade descritos acima e que


indicam a necessidade de uma internação hospitalar.

Apesar de não existir um agente farmacológico específico para a AN, vários


medicamentos têm se mostrado úteis. O uso de antidepressivos ou ansiolíticos pode
ser adequado em pacientes que desenvolvem uma comorbidade psiquiátrica associada.
O emprego destas substâncias em pacientes com AN deve ser cauteloso, tendo em vista
as frequentes anormalidades clínicas associadas. Os agentes inibidores da recaptação
da serotonina (ISRS) parecem mais seguros.  Existem evidências de que a fluoxetina
poderia auxiliar na manutenção do peso pós-internação em alguns pacientes.
A psicoterapia em suas diversas modalidades (cognitivo-comportamental, interpessoal
e a terapia de família) ainda é um dos pilares centrais do tratamento.

Bulimia nervosa (BN)

A bulimia nervosa acontece quando a criança come de maneira exagerada (binging)


e, em seguida, elimina a comida por vômito ou utiliza laxantes para evitar ganho de
peso. Muitos casos de bulimia têm início nas escolas, surgindo a partir do bullying.
Quando os colegas começam a colocar apelidos maldosos relacionados ao corpo da
criança. Todos gostam de serem aceitos no meio em que vive e as crianças não são
diferentes. Parecem se importar ainda mais com o quesito aceitação. Precisam de um
grupo de amigos para e sentirem queridas e quando o bullying acontece, a criança se
sente perdida e rejeitada.

60
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

A BN é extremamente rara antes dos 12 anos. O transtorno é característico das mulheres


jovens e adolescentes, com prevalência de 1,1% a 4,2% neste grupo. Fatores de ordem
biopsicossocial se encontram relacionados com sua etiologia. O episódio de compulsão
alimentar é o sintoma principal e costuma surgir no decorrer de uma dieta para
emagrecer. No início, pode se achar relacionado à fome, mas posteriormente, quando
o ciclo compulsão alimentar-purgação já está instalado, ocorre em todo tipo de situação
que gera sentimentos negativos (frustração, tristeza, ansiedade, tédio, solidão). Inclui
um aspecto comportamental objetivo que seria comer uma quantidade de comida
considerada exagerada se comparada ao que uma pessoa comeria em condições normais;
e um componente subjetivo que é a sensação de total falta de controle sobre o seu próprio
comportamento. Estes episódios ocorrem às escondidas na grande maioria das vezes e
são acompanhados de sentimentos de intensa vergonha, culpa e desejos de autopunição.
A quantidade de calorias ingerida por episódio pode variar enormemente, muito embora
em média oscile entre 2 mil e 5 mil calorias (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000).

Segundo Appolinário e Claudinho (2000), 90% dos casos ocorre o vômito autoinduzido,
sendo assim o principal meio compensatório utilizado. O efeito imediato provocado pelo
vômito é o alívio do desconforto físico secundário à hiperalimentação e principalmente
a redução do medo de ganhar peso A pessoas que tem a bulimia nervosa mais agravada
pode forçar o vômito 10 ou mais vezes por dia. No começo, a paciente necessita
de manobras para induzir o vômito, como a introdução do dedo ou algum objeto na
garganta. “Algumas bulímicas mais graves, com vários episódios de vômitos por dia,
podem apresentar até ulcerações no dorso da mão pelo uso da mesma para induzir a
emese, o que se chama de sinal de Russell. Com a evolução do transtorno, a paciente
aprende a vomitar sem necessitar mais de estimulação.”

Figura 16.

Fonte: <http://www.family.ie/life-challenges/when-food-begins-to-rule-your-life/>

61
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Assim como a anorexia, os médicos não sabem ao certo a causa desse transtorno alimentar,
apostam, então, na combinação de fatores sociais, biológicos e comportamentais. Não
é normal uma criança ficar excessivamente preocupada com o próprio peso. Caso
aconteça, é preciso verificar a causa. O importante é que os pais eduquem seus filhos
para serem crianças seguras sobre si mesmas.

O diagnóstico de bulimia nervosa é feito após a criança ter apresentado dois ou mais
episódios por semana, em um período de pelo menos três meses.

Devido aos ácidos eliminados durante os vômitos podem causar algumas complicações
como:

»» danos ao esmalte dos dentes;

»» inflamação no esôfago;

»» inchaço das glândulas salivares;

»» redução dos níveis sanguíneos de potássio;

»» arritmia;

»» irritação na garganta.

Distúrbios alimentares em crianças e adolescentes são causadores de graves problemas


físicos, podendo levar até mesmo à morte. Raramente a própria pessoa consegue
curar um transtorno alimentar, é preciso que haja um tratamento junto a uma equipe
preparada e especializada. Esse tratamento irá ajudar a criança a restabelecer seus
hábitos alimentares saudáveis com base no peso ideal para seu tamanho. Vale ressaltar
que os melhores resultados são obtidos no início da descoberta do transtorno.

62
CAPÍTULO 4
Transtornos de conduta

De acordo com Bordin e Offord (2000), “o transtorno da conduta é um dos transtornos


psiquiátricos mais frequentes na infância e um dos maiores motivos de encaminhamento
ao psiquiatra infantil.” O transtorno de conduta pode se manifestar a partir dos 5-6 anos
de idade, mas habitualmente aparece ao final da infância ou início da adolescência.

Alguns comportamentos como matar aula ou mentir que não tem tarefa para casa
quando na verdade tem são mentiras aceitáveis no curso de desenvolvimento normal
da criança. Porém é importante observar se esses eventos acontecem esporadicamente
ou se fazem parte do cotidiano da criança, tornando-se uma possível síndrome.

“Na base do transtorno da conduta está a tendência permanente para apresentar


comportamentos que incomodam e perturbam, além do envolvimento em atividades
perigosas e até mesmo ilegais.” (BORDIN; OFFORD, 2000). Uma das principais
características de crianças e adolescentes que possuem o transtorno de conduta é o
fato de não aparentarem sofrimento psíquico ou algum tipo de constrangimento
quando fazem algo de errado. Não se importam em ferir os sentimentos das pessoas ou
desrespeitar seus direitos. Portanto, seu comportamento apresenta maior impacto nos
outros do que em si mesmo.

O quadro clínico do transtorno da conduta é caracterizado por comportamento


antissocial persistente com violação de normas sociais ou direitos individuais.

Os critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno da conduta incluem 15


possibilidades de comportamento antissocial:

»» frequentemente persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros;

»» frequentemente inicia lutas corporais;

»» já usou armas que podem causar ferimentos graves (pau, pedra, caco de
vidro, faca, revólver);

»» foi cruel com as pessoas, ferindo-as fisicamente;

»» foi cruel com os animais, ferindo-os fisicamente;

»» roubou ou assaltou, confrontando a vítima;

63
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

»» submeteu alguém a atividade sexual forçada;

»» iniciou incêndio deliberadamente com a intenção de provocar sérios


danos;

»» destruiu propriedade alheia deliberadamente (não pelo fogo);

»» arrombou e invadiu casa, prédio ou carro;

»» mente e engana para obter ganhos materiais ou favores ou para fugir de


obrigações;

»» furtou objetos de valor;

»» frequentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais (início


antes dos 13 anos);

»» fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando a noite fora, enquanto
morava com os pais ou pais substitutos (ou fugiu de casa uma vez,
ausentando-se por um longo período);

»» falta na escola sem motivo, matando aulas frequentemente (início antes


dos 15 anos).

Figura 17.

Fonte: <http://raquelfreirepsicologa.blogspot.com.br/2012/08/transtorno-de-conduta.html>

Segundo o DSM-5, os critérios diagnósticos para transtorno da conduta aplicam-se


a pessoas menores de 18 anos e é necessária a presença de pelo menos três

64
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

desses comportamentos citados acima nos últimos 12 meses e de pelo menos um


comportamento antissocial nos últimos seis meses, trazendo limitações importantes
do ponto de vista acadêmico, social ou ocupacional.

Segundo Bordin e Offord (2000), o surgimento do transtorno de conduta ocorre no


período compreendido entre o início da infância e a puberdade podendo persistir até
a idade adulta. Quando o transtorno tem o início antes dos 10 anos, observa-se com
maior frequência a presença de transtorno com déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH), comportamento agressivo, déficit intelectual, convulsões e comprometimento
do sistema nervoso central devido a exposição a álcool/drogas no período pré-natal,
infecções, uso de medicamentos, traumas cranianos etc., além de antecedentes
familiares positivos para hiperatividade e comportamento antissocial. Quanto mais
cedo os sintomas se manifestarem a chance de ter um agravamento no quadro é maior
e a probabilidade de persistir ao longo da vida aumenta.

Para os autores, o transtorno da conduta está frequentemente associado a TDAH


(43% dos casos) e a transtornos das emoções (ansiedade, depressão, obsessão-
compulsão; 33% dos casos). A comorbidade com o TDAH é mais comum na infância,
envolvendo principalmente os meninos, enquanto a comorbidade com ansiedade e
depressão é mais comum na adolescência, envolvendo principalmente as meninas após
a puberdade.

Normalmente, os primeiros sinais de transtorno de conduta são mais leves (por exemplo,
mentir, enganar, matar aulas, furtar objetos dos colegas, dissimular etc.) em seguida
os comportamentos antissociais mais graves aparecem (por exemplo, brigas com uso
de armas, arrombamentos, assaltos) e, ao longo do tempo, caso não seja controlado
do início costuma ocorrer o abuso de álcool/drogas, principalmente em meninos e os
quadros de ansiedade e depressão, principalmente nas meninas.

Existe uma relação direta entre transtorno da conduta, baixo rendimento escolar e
problemas de relacionamento com colegas. Isso acaba trazendo limitações acadêmicas
e sociais ao indivíduo. São frequentes os comportamentos de risco envolvendo
atividades sexuais, uso de drogas e até mesmo tentativas de suicídio. O envolvimento
com drogas e gangues pode iniciar o jovem na criminalidade. Na fase adulta, notam-se
sérias consequências do comportamento antissocial, como discórdia conjugal, perda
de empregos, criminalidade, prisão e morte prematura violenta (BORDIN; OFFORD,
2000).

Um dos principais problemas de saúde mental em crianças e adolescentes brasileiros, na


atualidade, são os transtornos de conduta, espécie do gênero “transtornos emocionais”,
que também inclui depressão e desvios de comportamento.

65
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Para ilustrar a relevância da matéria no ramo da psicologia infantil, Sheila Giardini


Murta (2007) cita pesquisa realizada por Rojas (1997), nos Estados Unidos, que
indicaram uma ocorrência de transtornos de conduta entre 6 e 16% para meninos e entre
2 e 9% para meninas. Murta esclarece, ainda, que as consequências advindas desses
transtornos tendem a ser bastante expressivas, envolvendo prejuízo no desempenho
escolar, prática de atos violentos na comunidade estudantil, comportamentos
antissociais e antiafetivos e, até mesmo, uso de drogas e suicídio.

Segundo Murta (2007), crianças e jovens adolescentes, com alguma frequência,


desenvolvem-se em ambientes de considerável hostilidade, em decorrência de diversos
fatores: (i) ausência de um dos pais; (ii) nascimento a partir de uma gravidez precoce;
(iii) exposição a maus tratos no meio familiar; (iv) separação dos pais; (v) abuso de
drogas ilícitas por membros da família; (vi) violência sofrida na comunidade em que
vivem; e (vii) situação de extrema pobreza.

Murta (2007) entende que, “em vista da diversidade de riscos e da gravidade dos efeitos
dos transtornos emocionais e comportamentais na infância e adolescência”, programas
preventivos para os problemas de transtornos de conduta são imprescindíveis, citando,
como exemplo, os avanços alcançados nas últimas três décadas a partir de pesquisas
em prevenção, a exemplo do trabalho divulgado por Durlak e Wells (1997), uma
meta-análise que compreendeu “177 diferentes programas de prevenção primária de
problemas sociais e emocionais publicados até 1991”, a partir da qual restou evidenciado
que o alvo desses programas dirigiu-se à realização de alterações no ambiente escolar,
nas estratégias específicas de enfrentamento e habilidades para atravessar transições
de alto nível de estresse no transcurso da vida de crianças e adolescentes.

Os resultados dessa meta-análise mostraram, de forma consistente, que os problemas


sociais emocionais podem ser consideravelmente reduzidos a partir da implementação
de programas de prevenção primária, bem assim que essas crianças também
experimentaram um aumento de competências e habilidades, em um nível superior ao
encontrado nas condições de controle.

Bordin e Offord (2000) lembram que não se deve confundir “transtorno de conduta”
com “distúrbio de conduta”, termo utilizado no Brasil de forma ampla e não especificada,
para designar alguns problemas de saúde mental que trazem desconforto para o
ambiente familiar e/ou escolar, como, por exemplo, a dificuldade de assimilar e cumprir
regras e respeitar limites, o desafio da autoridade paterna ou de seus professores, sem,
contudo, que tais comportamentos representem, de fato, o enquadramento na categoria
“transtorno de conduta”.

66
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Noutro passo, Bordin e Offord (2000) esclarecem que o transtorno de conduta se


caracteriza em face da tendência permanente e continuada de crianças e adolescentes
para se comportarem de maneira a sempre incomodar e perturbar a paz de pessoas
próximas, muitas vezes com o envolvimento em atividades de perigo ou até mesmo
ilícitas. Como traço característico, esses indivíduos não demonstram sofrimento
psíquico e nem mesmo qualquer constrangimento com as suas próprias ações,
tampouco consideram os sentimentos ou os direitos dos demais colegas, de forma
que o seu comportamento impacta de forma muito mais expressiva nos outros do
que neles mesmos. Vale dizer, ainda, que eles parecem também não aprender com as
consequências de suas ações prejudiciais, já que não parecem querer buscar qualquer
mudança em seus comportamentos antissociais no decorrer do tempo.

Segundo Bordin e Offord (2000), ainda, o “quadro clínico do transtorno da conduta é


caracterizado por comportamento antissocial persistente e violação de normas sociais
ou direitos individuais”, cabendo destacar que os critérios diagnósticos do DSM-IV
para transtorno de conduta contemplam 15 variáveis comportamentais antissociais:

»» perseguição, tormenta, ameaça ou intimidação de outros;

»» busca frequente por confrontos físicos violentos;

»» uso de armas ou objetos perigosos capazes de ocasionar graves ferimentos


(pau, pedra, pedaços de vidro, facas, armas de fogo);

»» crueldade com pessoas, inclusive com ferimentos físicos;

»» crueldade com animais, inclusive com ferimentos físicos;

»» roubos ou assaltos, incluindo confrontos à vítima;

»» prática de abusos sexuais;

»» início intencional de incêndios, visando a provocar danos graves;

»» destruição da propriedade de terceiros (exceto nos casos de incêndios);

»» arrombamento e/ou invasão de casas, edifícios ou automóveis;

»» obtenção de ganhos materiais ou de favores, a fim de escapar às suas


obrigações, por meio de mentiras ou de trapaças;

»» furtos de objetos de valor;

67
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

»» ausentar-se de casa durante as noites, a partir dos 13 anos, mesmo sem a


autorização dos pais;

»» abandonar o lar no mínimo em duas oportunidades, ausentando-se


também em todo o período noturno, encontrando-se sob a guarda dos
próprios pais ou dos pais substitutos, ou abandonar o lar uma vez,
permanecendo longe por um longo período;

»» ausências escolares não justificadas, iniciando tal prática por volta dos 15
anos.

Os critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno da conduta, ainda segundo Bordin


e Offord (2000), “aplicam-se a indivíduos com idade inferior a 18 anos e requerem
a presença de pelo menos três desses comportamentos nos últimos 12 meses e de
pelo menos um comportamento antissocial nos últimos seis meses”, resultando em
relevantes limitações do ponto de vista acadêmico, social ou ocupacional.

Bordin e Offord (2000) lembram que a diversidade de diagnósticos abrange transtornos


reativos a determinadas situações de tensão e/ou de comportamento antissocial
resultante de quadros psicóticos, como, por exemplo, episódios maníacos. Quando
vitimadas por violência doméstica, crianças podem se comportar de forma antissocial
reagindo a situações estressantes, ao passo que adolescentes acometidos de episódios
maníacos podem colocar-se a furtar, agirem como falsários (falsificando assinaturas
de em cheques) ou iniciar lutas físicas como resultado de variações em seu humor, sem
relação com transtorno de conduta.

Curso e prognóstico

De acordo com Bordin e Offord (2000), é entre o início da infância e a puberdade que
surgem os primeiros sintomas do transtorno de conduta, podendo permanecer até o
atingimento da idade adulta. Iniciando-se os sintomas antes de 10 anos, o que mais se
observa é:

Os sintomas do transtorno da conduta surgem no período compreendido entre o


início da infância e a puberdade e podem persistir até a idade adulta. Quando se
iniciam antes dos 10 anos, observa-se com maior frequência a presença de Transtorno
com Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), comportamento agressivo, déficit
intelectual, convulsões e comprometimento do sistema nervoso central devido a
exposição a álcool/drogas no período pré-natal, infecções, uso de medicamentos,
traumas cranianos etc., além de antecedentes familiares positivos para hiperatividade

68
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

e comportamento antissocial. O início precoce indica maior gravidade do quadro com


maior tendência a persistir ao longo da vida.

Ainda segundo Bordin e Offord (2000), confrontos com armas, arrombamentos,


assaltos, ou seja, comportamentos antissociais mais violentos, normalmente acontecem
após a prática de ações ilícitas mais brandas (mentiras, enganações, faltas injustificadas
a aulas, furtos de objetos de pequeno valor etc.), observando-se, no decurso do tempo,
a utilização abusiva de bebidas alcoólicas ou de drogas, notadamente nos indivíduos
do sexo masculino, e quadros de diagnóstico de ansiedade e depressão, sobretudo nos
indivíduos do sexo feminino.

O transtorno de conduta, conforme Bordin e Offord (2000) costuma ser acompanhado


de um baixo desempenho escolar e a conflitos nos relacionamentos com outros
indivíduos, especialmente os colegas, implicando limitações futuras no desempenho
acadêmico e social das crianças e adolescentes. Nesses casos, reporta-se com frequência
a participação ativa em comportamentos arriscados, abrangendo atividades de cunho
sexual, uso de drogas ilícitas e até mesmo tentativas de suicídio. Isso tudo pode resultar
na iniciação do jovem na criminalidade, sobretudo se houver envolvimento com
drogas e gangues. Passando à fase adulta, é possível identificar graves consequências
do comportamento antissocial, como, por exemplo, conflitos conjugais, dificuldades
de obter ou manter-se em um emprego, ingresso na vida criminal, encarceramento e
morte violenta em idade jovem.

Bordin e Offord (2000) sustentam, também, que “crianças com comportamento


antissocial tendem a permanecer antissociais na idade adulta, adultos antissociais
tendem a ter filhos com comportamento antissocial (pais servem de modelo aos filhos),
estabelecendo-se um ciclo de difícil interrupção.”

Tratamento

Segundo Bordin e Offord (2000), há uma grande diversidade de tratamentos citados na


literatura sobre o tema, “incluindo intervenções junto à família e à escola (por exemplo,
psicoterapia familiar e individual, orientação de pais, comunidades terapêuticas e
treinamento de pais e professores em técnicas comportamentais). De todo modo,
ainda que nenhum dele apresente eficácia comprovada, especialmente se realizados
isoladamente, os melhores resultados são obtidos sempre quando o tratamento se
inicia ainda em uma fase mais precoce dos jovens, salientando-se a necessidade de
outras intervenções concomitantes e complementares em longo prazo.

69
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Já no que diz respeito aos adolescentes que já cometeram delitos, de acordo com
Bordin e Offord (2000), há uma notável resistência a tratamentos psicoterápicos,
mostrando-se mais eficiente, nesses casos, a utilização de tratamentos alternativos,
tais como a utilização de oficinas de artes, música e esportes, atividades essas em que
os jovens receberão novas oportunidades de estabelecer algum vínculo afetivo com
seus instrutores, possivelmente tomando-os como modelo, ou talvez descobrirem suas
capacidades de criação, favorecendo, assim, o desenvolvimento de sua autoestima.
A participação da família, se for possível, é muito importante no tratamento, desde que
os pais também não necessitem de tratamento psiquiátrico, como nos casos de abuso
de drogas.

Tratamentos com psicofármacos, segundo Bordin e Offord (2000), somente devem


ser utilizados nos casos em que determinados sintomas-alvo (paranoias associadas à
agressividade, convulsões etc.) ou outros transtornos psiquiátricos estejam presentes,
recomendando-se cautela na utilização de neurolépticos no tratamento de agressividade,
já que os riscos podem se mostrar superiores aos possíveis benefícios.

Bordin e Offord (2000) registram, ainda, que os recursos adequados ao tratamento


de crianças ou adolescentes em quadros de comportamento antissocial nem sempre
estão disponíveis, ou, quando existem, as famílias envolvidas muitas vezes não têm
condições de participar do tratamento com a frequência necessária, cabendo destacar,
nesse ponto, a importância do profissional de saúde em estabelecer prioridades entre
as diversas condutas terapêuticas possíveis, recomendando aos seus pacientes o
tratamento que entender mais apropriado.

70
CAPÍTULO 5
Transtornos da ansiedade

A ansiedade é um sentimento que a todo ser humano tem, já teve ou terá em determinado
momento da vida. É uma reação a situações que podem provocar medo, dúvida ou
expectativa. Quando nos deparamos com o desconhecido tendemos a ficar ansiosos.
Até mesmo um cachorro fica ansioso à espera de seu dono. Uma criança pode ficar
ansiosa com o início das aulas, com a chegada das férias, com a festa de aniversário.
A ansiedade em si é algo absolutamente normal. O que temos que observar é o momento
em que a ansiedade se torna patológica.

Nas crianças e adolescentes, os transtornos ansiosos mais frequentes são o transtorno


de ansiedade de separação, com prevalência em torno de 4%, o transtorno de
ansiedade excessiva ou o atual TAG (2,7% a 4,6%) e as fobias específicas (2,4% a 3,3%). 
A prevalência de fobia social fica em torno de 1% e a do transtorno de pânico (TP) 0,6%
(CASTILLO et al, 2000)

Todos os transtornos de ansiedade manifestam-se principalmente com um elevado


nível de ansiedade. Ansiedade é um estado emocional de apreensão, uma expectativa
de que algo ruim aconteça. Essa sensação vem acompanhada por várias reações físicas
e mentais desconfortáveis.

É comum que haja comorbidade e assim uma pessoa pode apresentar sintomas de
mais de um tipo de transtorno de ansiedade ao mesmo tempo e destes com outros
problemas como depressão. “As fobias são aprendidas, frequentemente após um único
acontecimento que provocou medo, é extremamente difícil superá-lo e há uma variedade
limitada e previsível de objetos fóbicos.” (MORRIS; MAISTO, 2004, p. 412). Digamos
que uma criança foi atacada brutalmente por um cão, provavelmente ela terá medo
de todos os tipos de cachorro. Outras crianças que ouviram a história ou viram a cena
podem vir a desenvolver um medo semelhante. Desse modo, um medo realista pode
ser transformado em fobia. Porém, nem todos os tipos de transtornos de ansiedade
possuem uma relação com a hereditariedade.

Precisamos considerar o papel vital que os conflitos psicológicos internos desempenham


no desenvolvimento de sentimentos de ansiedade. Da perspectiva freudiana, os
mecanismos de defesa nos protegem de impulsos ou pensamentos inaceitáveis
(geralmente de natureza sexual ou agressiva), mas geram ansiedade. Por exemplo:
teóricos psicanalistas veem as fobias como o resultado de um deslocamento em que as

71
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

pessoas redirecionam os sentimentos fortes daquilo que os despertou para outra coisa.
(MORRIS; MAISTO, 2004, p. 413).

Sob a ótica dos autores, os psicólogos que trabalham com base em uma perspectiva
biológica acreditam que a hereditariedade tenha relação com a ansiedade. Pais ansiosos
têm uma probabilidade maior de terem filhos ansiosos.

No geral, os transtornos de ansiedade respondem muito bem ao tratamento psicológico


especializado.

Assim como os demais transtornos mentais, o transtorno da ansiedade é mais difícil


de ser percebido em uma criança. A criança pode não reconhecer seus medos como
exagerados ou irracionais, principalmente as crianças menores de 8 anos.

Figura 18.

Fonte:<http://delas.ig.com.br/filhos/ajude-seu-filho-a-superar-a-ansiedade/n1238152078274.html>

O medo e a ansiedade começam a ser reconhecidos como patológicos no momento


em que há o exagero, a desproporcionalidade em relação ao motivo. Importante nesse
momento observar também a faixa etária da criança. Por exemplo: uma criança com
dois anos e meio ter medo do latido de um cachorro é considerado normal, porém uma
criança de nove anos apresentar o mesmo medo junto com tremedeira e sudorese não
é considerado normal, podendo ser patológico.

Quando o medo e a ansiedade começam a interferir na qualidade de vida, abalando


o conforto emocional ou o desempenho diário da criança é hora de se preocupar.
A criança com medo de latidos não quer sair de casa, pois imagina que ouvirá latidos
por todos os lados, começa a criar uma situação onde o desenrolar é sempre pessimista,
foca os pensamentos nas dificuldades que podem até ser reais, mas muitas vezes são
imaginárias.

72
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

A forma fácil de se diferenciar ansiedade normal de ansiedade patológica é basicamente


avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada ao estímulo
do momento ou não.

Os transtornos ansiosos não advêm de outras condições psiquiátricas (depressões,


psicoses, transtornos mentais diversos) são quadros clínicos em que esses sintomas são
primários. Sintomas ansiosos (e não os transtornos propriamente) são frequentes em
outros transtornos psiquiátricos.

A criança com esse transtorno está sempre prevendo coisas ruins e devido a esses
pensamentos encontra-se sempre preparada para fugir. Dessa forma, seu corpo está
sempre esperando a ação, gerando, assim, tensão e dores musculares nos ombros e
pescoço, além de tremores. Não podemos esquecer também que o coração sofre
palpitações. A causa dos transtornos ansiosos infantis é muitas vezes desconhecida e
provavelmente multifatorial, incluindo fatores hereditários e ambientais diversos.

Vejamos a seguir outros sintomas do transtorno da ansiedade:

Os transtornos de ansiedade também são altamente prevalentes na infância. Enquanto


alguma ansiedade é habitual, a ansiedade que interfere no comportamento normal e
funcional, na escola, lazer etc., pode ser um sinal de um problema mais sério.

Aproximadamente 13% das crianças e adolescentes podem sofrer de um transtorno de


ansiedade durante um período de seis meses. Os sintomas mais comuns incluem:

»» muitas preocupações sobre coisas antes de estas acontecerem;

»» preocupações ou interesses constantes sobre o desempenho escolar,


amigos, jogos esportivos etc.;

»» pensamentos ou ações repetitivos (em sua maioria pensamentos


negativos);

»» falta de ar;

»» dificuldade para engolir;

»» alterações de memória;

»» medos extremos de cometer erros;

»» aumento da pressão arterial;

»» baixa autoestima.
Fonte: <topmed.com.br>

73
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Na avaliação e no planejamento terapêutico desses transtornos, é fundamental obter


uma história detalhada sobre o início dos sintomas, possíveis fatores desencadeantes
(crise conjugal, perda por morte ou separação, doença na família e nascimento de irmãos)
e o desenvolvimento da criança. Sugere-se, também, levar em conta o temperamento
da criança (presença de comportamento inibido), o tipo de apego que ela tem com seus
pais (seguro ou não) e o estilo de cuidados paternos destes (presença de superproteção),
além dos fatores implicados na etiologia dessas patologias. Também deve ser avaliada
a presença de comorbidade. (CASTILLO et al., 2000)

Ainda sob a ótica da autora Castillo et al. (2000), “de modo geral, o tratamento é
constituído por uma abordagem multimodal, que inclui orientação aos pais e à criança,
terapia cognitivo-comportamental, psicoterapia dinâmica, uso de psicofármacos e
intervenções familiares.”

Os principais transtornos de ansiedade são:

»» Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico.

»» Transtorno de Ansiedade da Separação.

»» Transtorno de Ansiedade Generalizada.

»» Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

»» Fobias Específicas.

»» Fobia Social.

»» Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOCO).

Transtorno do pânico ou síndrome do pânico


ou distúrbio do pânico
Na década de 1960, várias pesquisas científicas começaram a diferenciar inesperados
ataques de ansiedade de outras manifestações de ansiedade. A classificação diagnóstica
oficial de  síndrome do pânico  ocorreu em 1980, com a publicação, pela Associação
Americana de Psiquiatria, do DSM III (Diagnostic and Statistical of Mental Disorders,
3rd Edition). Em 1987, o DSM III – R, versão revisada do manual, delimitou os critérios
válidos até hoje. Segundo a classificação do DSM, a síndrome do pânico pertence à
classe dos transtornos de ansiedade, junto com as fobias, o estresse pós-traumático,
o transtorno obsessivo-compulsivo e o distúrbio de ansiedade generalizada. (DSM-5).

74
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

O questionamento inicial é: Como um ataque de pânico difere do medo ou da fobia?

Medo é uma reação natural do organismo a coisas que nos ameaçam. Faz parte
do nosso instinto de sobrevivência e pode ser relacionado inclusive ao instinto
de agressividade. Geralmente, diante de ameaças ou nós atacamos ou fugimos,
ou somos agressivos ou temos medo. <pablo.deassis.net.br>

“Fobia é o nome dado a uma série de ‘medos’ específicos com características irracionais.
Muitos pesquisadores apontam que várias das nossas fobias tem base evolutiva, como
por exemplo, o medo de altura (acrofobia) nos deixaria longe de lugares altos, ou ainda
o medo de lugares apertados (claustrofobia)”. <pablo.deassis.net.br> acesso: dez. 2015.
Tem as pessoas que tem fobia a determinados bichos. Não podem nem ver na televisão
que se desesperam.

Segundo, Scarpato (2001, p. 50), “O Pânico é um  Transtorno de Ansiedade; isso


significa que os sintomas têm como carro-chefe a ansiedade – um estado emocional de
apreensão, uma expectativa de que algo ruim aconteça, um medo sem objeto definido”. 

O pânico

O distúrbio do pânico é caracterizado por episódios recorrentes de um medo ou pavor


repentino, imprevisível e incontrolável. Os ataques de pânico ocorrem sem nenhuma
causa razoável e são acompanhados por sentimentos de fracasso iminente, dor no peito,
tontura ou desmaio, sudorese, dificuldade de respirar e medo de perder o controle ou
morrer. Em geral duram apenas alguns minutos, mas podem reaparecer sem razão
aparente. (MORRIS; MAISTO, 2004, p. 411).

Geralmente, a síndrome do pânico tem seu início na adolescência, embora possa


começar durante a infância. Estudiosos buscam relação entre o aumento de incidência
deste distúrbio e as características de um momento atual cercado de muito estresse e
insegurança, isto é, muito medo, especialmente para quem vive nas grandes cidades.
A dificuldade de lidar com o medo surge como uma das expressões da fragilidade
individual. Algumas vezes os próprios pais transmitem, inconscientemente, estresse e
medo para as crianças ao conversar sobre fatos e acontecimentos do dia a dia. Ou então,
a criança acompanha sempre as notícias na televisão e acaba criando em si um medo
exacerbado de tudo que a cerca.

75
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Figura 19.

Fonte: <http://mundodapsi.com/sindrome-ansiedade-panico/>

A síndrome do pânico e suas complicações, quando não são devidamente reconhecidas


e tratadas podem ser devastadoras. Podendo afetar relacionamentos (pais x filhos),
trabalhos escolares e no desenvolvimento normal de uma criança ou do adolescente.
A ansiedade começa a ser algo frequente na vida de crianças que desenvolvem a síndrome
do pânico, mesmo quando não estão em crise. A maioria costuma evitar determinados
lugares que associaram a algum desconforto. Alguns começam a evitar situações onde
eles temem que um ataque de pânico pode ocorrer, ou situações onde a ajuda pode não
estar disponível.

Uma dúvida surge nos profissionais que vem acompanhando a história e evolução da
Síndrome do Pânico: O que ocasionou o “surgimento” desse quadro, com tamanha
incidência e constância no tempo? Por mais que muitos acreditem ser algo novo, há
mais de quinze anos ouvimos falar em síndrome do pânico. Algumas pessoas defendem
a hipótese de que este quadro foi praticamente criado e patrocinado pela indústria
farmacêutica. Essa hipótese não é a mais apropriada para ser divulgada e tampouco
acreditada, não quando a vítima é uma criança.

O diagnóstico do transtorno do pânico em crianças pode ser um pouco mais difícil do que
o de um adulto. Crianças com sintomas de ataques de pânico precisam primeiramente
de uma avaliação médica, de preferência um de família ou um pediatra. Se nenhuma
doença física ou condição for detectada como uma causa para os sintomas, uma
avaliação abrangente por um psiquiatra deve ser obtida.

Diversos tipos de tratamento dão resultados positivos. Medicamentos específicos


podem, inclusive, cessar com os ataques de pânico. Uma prática bastante utilizada para
ajudar a criança e a família é o uso da psicoterapia, há o ensinamento de maneiras de

76
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

reduzir o stresse ou conflito que poderia causar um ataque de pânico. Com as técnicas
ensinadas em “terapia cognitivo-comportamental”, a criança pode também aprender
novas formas de controlar a ansiedade ou ataques de pânico quando eles ocorrem.

Muitas crianças com transtorno do pânico respondem bem à combinação de medicação


e psicoterapia. Com o tratamento, os ataques de pânico geralmente podem ser
interrompidos. Tratamento precoce pode prevenir as complicações do transtorno do
pânico como “agorafobia”, depressão e abuso de substâncias.

Sintomas da síndrome do pânico

A criança que tem essa síndrome vive na constante expectativa e ansiedade de ter
uma nova crise. Denominado de ansiedade antecipatória faz com que a criança deixe
de fazer algumas atividades com receio de ter um novo surto. O nome dessa fobia é
agorafobia, como foi citado no parágrafo anterior (do grego ágora – que denomina a
praça do mercado, as primeiras observações desses sintomas referiam-se a pacientes
que temiam percorrer longas distâncias, como praças ou ruas vazias), é o medo de estar
em lugares de onde a fuga possa ser complicada ou difícil no caso de um ataque do
pânico. Por exemplo, dentro de um avião ou até mesmo na escola. Essa fobia decorrente
da Síndrome do Pânico pode limitar não só a vida da criança como também de seus pais
ou cuidadores. Muitas não querem nem mesmo sair de suas próprias casas. Digamos
que eles preferem ficar em sua zona de conforto.

Os sintomas dividem-se basicamente em sintomas fisiológicos e cognitivos:

»» taquicardia (fisiológico);

»» dificuldade de respirar (fisiológico);

»» formigamento (fisiológico);

»» vertigem (fisiológico);

»» tontura (fisiológico);

»» dor ou desconforto no peito (fisiológico);

»» boca seca (fisiológico);

»» tremores, náuseas (fisiológico);

»» desconforto abdominal (fisiológico);

77
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

»» perda do foco visual (fisiológico);

»» sudorese (fisiológico);

»» ondas de calor e frio (fisiológico);

»» sensação de irrealidade (cognitivo);

»» despersonalização (cognitivo);

»» sensação de iminência da morte (cognitivo);

»» medo de enlouquecer (cognitivo);

»» medo de perder o controle (cognitivo).

Há basicamente três tipos e ataques do pânico no que se refere a sua ligação com as
situações. Há os disparos por uma situação com ocorrência imediata após a exposição;
há os situacionalmente predispostos, que tendem a ocorrer diante de determinada
situação; e há ainda os inesperados, que ocorrem sem que haja nenhuma situação
específica que os dispare ou torne mais prováveis. Para que o transtorno do pânico seja
diagnosticado, é necessária a presença de ataques do pânico inesperados e recorrentes,
bem como uma ansiedade significativa relativa à possibilidade de vir a apresentar outros
ataques ou uma alteração comportamental significativa derivada deles. Esse detalhe é
particularmente importante para que seja feito o diagnóstico diferencial, pois ataques
de pânico podem ocorrer em qualquer transtorno de ansiedade, particularmente os
disparados por situações fóbicas. (ANGELOTTI, 2007, p. 20)

Transtorno de ansiedade da separação

Esse transtorno caracteriza-se pela ansiedade excessiva causada devido ao afastamento


dos pais ou cuidadores, que pode durar por, no mínimo, quatro semanas, havendo
sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da criança.
Esse afastamento, como já foi falado anteriormente, pode ser a morte, a separação do
casal, uma viagem etc.

A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são


exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do
que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida,
o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo. Tais reações exageradas
ao estímulo ansiogênico se desenvolvem, mais comumente, em indivíduos com uma
predisposição neurobiológica herdada. (CASTILLO et al., 2000).

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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

As crianças quando estão longe dos pais sentem-se inseguras e temem que algo de
ruim possa acontecer com seus pais, tais como acidentes, sequestro etc. Essas crianças
apresentam um comportamento de apego excessivo a seus cuidadores, dificultando ao
máximo a saída deles até mesmo para trabalhar. Não gostam de serem deixados na escola
porque começam a imaginar situações ruins e muitas vezes só se tranquilizam depois
que conseguem falar com eles pelo telefone. A criança possui o desejo de frequentar
a escola, demonstra animação e uma certa confiança, mas na hora apresenta intenso
sofrimento quando precisa afastar-se de casa e de seus pais.

Figura 20.

Fonte: <http://www.espaconelsonpires.com.br/noticias/criterios-para-diagnostico-do-transtorno-de-ansiedade-de-separacao/>

Na hora do sono, elas necessitam da companhia dos pais e tendem a resistir ao sono
porque veem o sono como a perda do controle, a separação.

Quando os pais realmente se afastam (para o trabalho, uma festa à noite, uma viagem),
algumas reações comuns que a criança pode apresentar são: dor abdominal, náusea,
dor de cabeça e vômito. Crianças maiores podem apresentar sintomas cardiovasculares
como palpitações, tontura e sensação de desmaio. A autonomia da criança fica bastante
prejudicada com esses sintomas, restringindo a sua vida de relacionamentos e de
interesses, acarretando um grande estresse pessoal e familiar. Sentem-se humilhadas
e medrosas, resultando em baixa autoestima e podendo evoluir para um transtorno do
humor (CASTILLO et al., 2000).

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Segundo Castillo et al. (2000), estudos sugerem que a presença de ansiedade de


separação na infância é um fator de risco para o desenvolvimento de vários transtornos
de ansiedade, entre eles, o transtorno do pânico e de humor na vida adulta.

Vejamos a seguir qual o tratamento indicado para esse tipo de transtorno.

Tratamento

Basicamente quatro “ajudantes” são necessários nessa fase: a escola, os pais, o médico
e o psicólogo. O trabalho deve ser conjunto.

Caso a criança se negue a ir à escola, uma medida deve ser tomada o mais rápido possível
para evitar um trauma maior e a evasão escolar. É fundamental que haja uma sintonia
entre os pais, a escola e o terapeuta com relação aos objetivos, conduta e maneira de
lidar com a criança. O retorno deve ser gradativo, pois se trata de uma readaptação,
onde as limitações da criança e seu grau de sofrimento devem ser respeitados sempre.
O objetivo é aumentar a sua autonomia e competência, reforçando, assim, suas
conquistas.

As intervenções farmacológicas são necessárias quando os sintomas são graves e


incapacitantes, embora estudos controlados documentando seu uso sejam limitados.
O uso de antidepressivos tricíclicos (imipramina) mostrou resultados controversos.
Os benzodiazepínicos, apesar de poucos estudos controlados que avaliem a sua eficácia,
são utilizados para ansiedade antecipatória e para alívio dos sintomas durante o período
de latência dos antidepressivos. Os inibidores seletivos da recaptura de serotonina
podem ser efetivos para o alívio dos sintomas de ansiedade, sendo considerados
medicação de primeira escolha devido ao seu perfil de efeitos colaterais, sua maior
segurança, fácil administração e quando há comorbidade com transtorno de humor. A
utilização de betabloqueadores em crianças não está bem estabelecida (CASTILLO et
al., 2000).

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)


O TAG é definido como crônica. A criança tem uma preocupação excessiva e seu medo
parece não ter uma causa real. As situações são as mais variadas possíveis, por isso
chama-se de “Generalizada”.

Crianças assim estão constantemente tensas na eminência de que algo possa acontecer.
Com isso elas têm muita dificuldade de relaxar e curtir o momento. São crianças que se
preocupam com a opinião de terceiros e necessitam que a sua confiança em si mesma

80
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

seja renovada constantemente. Costumam ser crianças autoritárias quando sentem a


necessidade de serem acalmadas por terceiros. Como se as pessoas tivessem a obrigação
de realizar essa tarefa. Para Castillo et al. (2000), alguns sintomas são identificados,
são eles:

»» palidez;

»» sudorese;

»» taquipneia;

»» tensão muscular;

»» vigilância aumentada.

Crianças que possuem o Transtorno de Ansiedade Generalizada costumam ser crianças


de comportamento difícil, pois criam um ambiente tenso ao seu redor, sendo difícil
controlá-las e desenvolver atividades rotineiras com elas. Castillo et al. (2000) citou
um caso típico de criança com esse transtorno.

O caso de uma menina de sete anos de idade que pergunta aos pais constantemente se o
que eles dizem é verdade, se recusa aos prantos a iniciar qualquer atividade nova, pede
para sua mãe verificar se ela fez a lição corretamente a cada trecho de lição terminada,
mostra-se muito aborrecida e angustiada quando sua coleguinha de escola achou
que ela havia mentido. Todo ou quase todo o tempo há algo que a preocupe, não são
pensamentos repetitivos sobre o mesmo tema, mas são preocupações  constantes que
mudam de tema e geram ansiedade.

Uma criança pode herdar a ansiedade dos pais, não significa que irá herdar. Digamos
que filhos de pais ansiosos são mais propensos a desenvolver a ansiedade. Entretanto, a
ansiedade e o medo também podem ser “aprendidos” com os familiares e outras pessoas
que exibem comportamento ansioso em torno da criança com frequência. Por exemplo:
uma criança tem uma mãe que tem medo de tempestades podem aprender a temer
trovoadas. Uma avó que tem medo de ratos e quando os vê, até mesmo na televisão, fica
apavorada. A criança ao ver a avó apavorada com a imagem de um rato ficará também
porque vai achar que o rato é um ser que lhe causa medo. A experiência traumática
também pode desencadear a ansiedade.

81
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Tratamento
A maneira de tratar a ansiedade é mediante uma abordagem psicoterápica, não há
estudos que comprovem que a abordagem “X” é melhor que a abordagem “Y”. A terapia
cognitivo-comportamental, por exemplo, consiste em provocar uma mudança na
maneira de perceber e raciocinar a situação e diante dela perceber os fatores causadores
da ansiedade.

Inicialmente a avaliação de um psiquiatra e sem seguida o tratamento com o psicólogo.


A participação dos pais na terapia é relevante para a eficácia do processo, diferente nas
terapias com adultos que possuem o mesmo transtorno. Previamente o profissional
deve avisar aos pais e à criança que caso a criança fique incomodada em responder
alguma pergunta que ela não é obrigada a fazê-la. Assim a criança fica mais tranquila
para seguir com o tratamento, uma vez que ela não se sentirá pressionada a fazer algo
que ela não quer. E com o passar do tempo, automaticamente, a criança sentirá vontade
de externar o que tanto lhe aflige. Muitas vezes quando a criança não quer fazer algo
ou responder a uma pergunta, os pais se veem na situação de obrigar o filho a fazer ou
falar.

É fundamental tratarmos as crianças como gostaríamos de sermos tratados. O respeito


é essencial na vida das crianças. Elas precisam saber que possuem vontades e que essas
vontades precisam ser respeitadas. Importante lembrar que não estamos falando de
crianças “desobedientes” que fazem coisas para que sua vontade prevaleça sempre.
Para tudo na vida existe o meio termo e o bom senso, certo? Bem, vamos em frente!

Figura 21.

Fonte: <http://www.acasacuca.com.br/motivos-ansiedade-criancas/>

Todo comportamento negativo que é valorizado, a criança tende a repeti-lo


incansavelmente, assim acontece também com o comportamento positivo. Nesse
método, não é diferente. A terapia cógnito-comportamental acredita que quanto mais
atenção se der ao comportamento alterado (respostas tranquilizadoras ou agressivas na
tentativa de controlar a ansiedade da criança) maior a chance de reforçá-lo e ampliá-lo;

82
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

ao contrário, mantendo-se a calma e retirando-se a atenção do comportamento ansioso,


ele tende a se extinguir.

Os medicamentos são utilizados para esse transtorno quando os tratamentos


psicoterápicos não obtém a resposta desejada. Na maioria dos casos não há necessidade.
Caso seja necessário introduzir um antidepressivo ou ansiolítico para que a criança
fique mais calma, a presença de um médico nesse momento é fundamental.

Veremos a seguir alguns sintomas que podem aparecer no Transtorno de Ansiedade


Generalizada.

Sintomas de Transtorno de Ansiedade Generalizada

Importante destacar que cada criança pode experimentar sintomas de forma diferente.

»» preocupações sobre as coisas antes que elas aconteçam;

»» pensamentos e medos sobre a segurança de si mesmo e/ou a segurança


dos pais constantes;

»» recusa de a ir à escola;

»» dores de estômago frequentes, dores de cabeça, ou outras queixas físicas;

»» dores musculares ou tensão;

»» perturbação do sono;

»» preocupação excessiva sobre dormir fora de casa;

»» comportamento pegajoso com familiares;

»» sentindo-se como se houvesse um nó na garganta;

»» assusta-se com facilidade;

»» irritabilidade;

»» incapacidade de relaxar.

“Tais sintomas em crianças podem assemelhar-se outras doenças médicas ou problemas


psiquiátricos. Sempre consulte o médico do seu filho para um diagnóstico”. <o.canbler.
com>

83
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Veremos a seguir um transtorno conhecido por muitos. O Transtorno Obsessivo


Compulsivo. Pode-se afirmar que seja o mais fácil de ser percebido. Quantos de nós já
afirmamos ter TOC? Mesmo que na brincadeira?  

Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)

De acordo com Lipp (2014), o estudo do TEPT em crianças é considerado atual. Teve
início por volta dos anos 1990, antigamente não era considerado um transtorno infantil.
Devido à imaturidade psicológica e cognitiva, as crianças podem desenvolver um
estresse maior do que um adulto frente a exposições traumáticas. Mesmo tendo suas
bases etiológicas compreendidas, principalmente, na manifestação clínica em adultos,
existem importantes achados de sintomas diagnósticos específicos em crianças.

Crianças podem desenvolver severas sequelas emocionais, tais como o TEPT, após
passarem por experiências traumáticas. Podemos citar: maus-tratos, abuso sexual,
guerra, acidentes de carro, desastres naturais e sérias condições médicas. No entanto,
uma heterogeneidade de respostas emocionais, cognitivas e comportamentais é vista em
crianças expostas a tais eventos, sendo que algumas desenvolvem sequelas emocionais
agudas, outras crônicas e outras sobrevivem ao trauma e apresentam uma adaptação
positiva. (BORGES et al., 2010).

Segundo pesquisadores, tem aumentando muito o índice de abuso sexual em crianças e


uma crescente vulnerabilidade ao TEPT em meninas. Um estudo brasileiro investigou
617 vítimas de abuso sexual (71 crianças – idade < 10 anos). No grupo de crianças, em
84,5% dos casos o agressor era conhecido, em 60% dos casos o agressor era do núcleo
familiar e em 40%, o agressor era vizinho ou outro conhecido. Esses resultados também
indicam a alta prevalência de abuso sexual no ambiente doméstico (DREZETT et al.,
2011).

Figura 22.

Fonte: <http://noticias.psicologado.com/>

84
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Alguns sintomas que podem ocorrer em crianças portadoras do TEPT são a automutilação
ou a autolesão. A autolesão é um comportamento que pode estar relacionado a estados
emocionais gravemente ruins; acredita-se que a dor física seria buscada para o alívio
da dor emocional. Esse comportamento não se configura em outro diagnóstico, mas
frequentemente está associado a quadros de traumas com uma forte associação com
abuso sexual (LANG; SHARMA-PATEL, 2011).

Kristensen, Caminha e Silveira (2007) apud Lipp (2014), sugeriram critérios os quais
possuem manifestações cognitivas e comportamentais mais específicas da infância, com
a finalidade de auxiliar na formulação do diagnóstico do TEPT em crianças. Vejamos a
seguir:

»» Revivência instrusiva do evento traumático por meio de:

›› jogos ou brincadeiras repetitivos, pouco elaborados e representativos


do trauma;

›› presença de lembranças recorrentes;

›› pesadelos relacionados ao evento estressor;

›› episódios de dissociação ou flashbacks.

»» Esquiva de estímulos associados ao trauma por meio de:

›› diminuição visível de comportamentos direcionados a jogos ou


brincadeiras;

›› maior isolamento social;

›› restrição da expressão afetiva;

›› regressão no desenvolvimento, com perda de habilidades já adquiridas


(por exemplo, atraso na linguagem anteriormente conquistada).

»» Excitabilidade aumentada percebida por meio de:

›› terror noturno;

›› dificuldade de iniciar e manter o sono;

›› diminuição de concentração e atenção;

›› hipervigilância.

85
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

A nova proposição exposta pela APA no DSM – 5 (American Psychiatric Association –


Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais) considera os critérios
diagnósticos ilustrados no quadro a seguir:

Os sintomas do TEPT costumam aparecer nos três primeiros meses após o evento
traumático. A duração e a gravidade do evento e a proximidade da criança em relação a
ele são fatores que influenciarão o desenvolvimento do transtorno.

Segundo Morris e Maisto (2004), a recuperação do TEPT dependerá muito do grau de


apoio emocional que a criança receberá da família, dos amigos e da comunidade em
que ela vive. A terapia consiste em ajudar as crianças que passaram por um trauma
grave a viver com suas memórias aterrorizantes de maneira saudável. O tratamento
imediato perto do local do trauma, junto com a expectativa de que a criança vai voltar
a sua vida cotidiana normal costuma ser eficaz. Reviver os momentos traumáticos em
um ambiente acolhedor e seguro também é fundamental para uma rápida recuperação,
porque ajuda a dessensibilizar a criança das memórias traumáticas que as perseguem.

Evento traumático concreto ou ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual.


Vivenciado diretamente pela criança.
A
Testemunho, especialmente quando com cuidadores primários.
Saber que o evento ocorreu com cuidadores.
Um ou mais sintomas intrusivos.
Lembranças persistentes e intrusivas (podem ser brincadeiras traumáticas).
Sonhos angustiantes relacionados ao evento.
B
Reações dissociativas, flashbacks.
Sofrimento com sinalizadores do evento.
Reação fisiológica intensa a lembranças do evento (ecoprese, enurese).
Um ou mais dos seguintes sintomas.
Evitação persistente.
Atividades, lugares ou lembranças físicas.
Pessoas, conversas ou situações interpessoais.
C Alteração negativa de cognições.
Estados emocionais negativos (tristeza, medo, culpa, vergonha, confusão).
Interesse reduzido em atividades significativas, como brincar.
Comportamento socialmente retraído em atividades após evento.

Alteração na excitação.
Comportamento irritadiço ou surtos de raiva.
Hipervigilância.
D
Resposta de sobressalto exagerada.
Problemas de concentração.
Perturbações de sono.

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PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

E Dura mais de um mês.


F Prejuízo significativo.
G Não se deve a efeito de substâncias ou condição médica.

Fonte: Adaptado de DSM-5 (APA 2014).

Tratamento do TEPT na infância

Segundo Lipp (2014), por ser algo relativamente novo, seu tratamento apresenta
desafios e peculiaridades. É necessária uma adaptação específica do trabalho na clínica
infantil com a finalidade de compreender todas as suas apresentações sintomáticas.

Atualmente o tratamento mais indicado para crianças com TEPT é a terapia


cognitivo-comportamental focada no trauma. Esse tratamento é composto de três
fases:

»» primeira fase: estabilização emocional e segurança;

»» segunda fase: exposição à memória traumática;

»» terceira fase: reestruturação cognitiva e integração.

O acrônimo Practice (prática clínica baseada em evidências) é utilizado nesse tipo


tratamento: psicoeducação e parentalização; relaxamento; afeto modulado; cognição
adaptativa; trauma narrado; exposição in vivo (quando aplicável); conjunto cuidador
e criança nas sessões; elevação da segurança no desenvolvimento futuro. O processo
de encontrar a resposta apropriada à dúvida surgida no atendimento da criança vai
depender da forma como as partes deste processo são estruturadas. Para que haja um
resultado eficaz é preciso que o paciente e cuidadores participem de todas as etapas
das técnicas de exposição narrativa. A narrativa consiste, simplesmente, em expor
verbalmente o que se passou no evento de forma detalhada, na medida do possível.

O objetivo desse tratamento é eliminar reações emocionais negativas intensas e criar


uma narrativa coerente, que permita ao paciente organizar as informações de modo
mais adaptativo. Sabemos que a exposição a narrativas de eventos traumáticos é
muito desgastante para a maioria das crianças, com isso, os índices de abandono do
tratamento se aproxima de 40%, afirma Cohen et al. (2011) apud Lipp (2014).

Caminha (2015), com o objetivo de diminuir esse elevado índice de abandono propôs
um modelo integrado de tratamento, adaptando elementos lúdicos. Vejamos no que
esse modelo consiste:

87
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Sessões iniciais Foco na aliança terapêutica mediante o uso de técnicas de entrevista motivacional;
avaliação de sintomas; utilização de registros de pensamentos disfuncionais e
“afetivogramas”, visando integrar os elementos de memória relacionados.
Sessões intermediárias Reestruturação cognitiva; abordagem de culpa e raiva; elaboração de um mapa de
memória referente aos elementos relacionados ao evento traumático; relaxamento e
respiração; exposição narrativa associada à dessensibilização mediante o uso do software
“Caixa de Memória”; treino de habilidades sociais.
Sessões finais Generalização e hiperaprendizagem; aumento do amparo social; técnicas de prevenção à
recaída.

O principal instrumento terapêutico é denominado “Caixa de Memória” (CM), o qual


vem mostrando ser um diferencial no protocolo para a psicoterapia infantil. O software
foi criado e desenvolvido por Caminha et al. (2003), esse programa simula uma caixa
virtual com seis gavetas. As gavetas são uma metáfora aos processos de memória que
foram afetados pelo transtorno.

Segundo Lipp (2014), uma das práticas mais traumáticas e devastadoras que as nossas
crianças podem ser submetidas são os maus-tratos. Os maus-tratos abastecem um
ambiente altamente patológico, que costuma iniciar no contexto familiar, com drásticos
efeitos na configuração social mais ampla. Diante dessas informações, pode-se inferir
que a violência urbana é fruto de uma manifestação secundária da violência primária
de famílias altamente disfuncionais.

Fobias específicas
“A fobia específica é um medo intenso, paralisante, de alguma coisa. nesse caso, o medo
é excessivo e irracional. De fato, o medo em uma fobia específica é tão grande que leva
a criança a evitar atividades rotineiras e, assim, interfere no funcionamento da vida”.
(MORRIS; MAISTO, 2004, p. 411).

“O termo fobia oriundo da palavra de origem grega Phobos, cujo significado está
relacionado à deusa helênica do medo, pode ser definido como temor persistente e
irracional, que faz com que o sujeito evite conscientemente atividades, situações ou
objetos específicos temidos” (VARGAS, 2008 apud LEMOS; MUSSOI, 2010).

Dessa forma, a fobia apresenta características de um estado de angústia incontrolável


que se manifesta em violenta reação de fuga um tanto persistente. Acarretando uma
profunda dor na criança a qual ameaça a desintegração do eu e faz com que ela se
depare com o vazio simbólico (GURFINKEL, 2001 apud LEMOS; MUSSOI, 2010).

Existem determinados medos que são considerados universais no desenvolvimento


normal de todas as crianças. Da mesma forma que esses medos aparecem também

88
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

eles também desaparecem espontaneamente à medida que a criança vai crescendo e


adquirindo experiência no que diz respeito a eles e o que acontecesse ao seu redor.

»» Nos primeiros meses de vida o bebê sente medo perante ruídos fortes e
inesperados.

»» Por volta dos 6 meses sente medo perante movimentos repentinos.

»» Até aos 8 meses tem medo de pessoas e situações estranhas.

»» Por volta dos 4 anos tem medo do escuro, de estar sozinho, de seres
imaginários, de animais, de elementos da natureza etc.

»» Até aos 8 anos tem medos mais existenciais.

Figura 23.

Fonte: <http://www.jovemcrente.net/>

Temos que observar se os tipos de medos estão condizentes com a idade da criança
e observar a quantidade de tempo que esse medo irá durar. Mesmo que o medo seja
próprio da idade, não devemos ignorá-lo nem ridicularizar a criança. Importante,
também, não supervalorizar o medo nem tampouco superproteger a criança, pois essa
atitude pode levá-la a acreditar que realmente existe um perigo real que ela precise se
preocupar. Os medos mais frequentes nas crianças são:

»» Medo dos animais: tanto dos maiores (cães) como dos mais pequenos
(insetos).

»» Medo do escuro.

»» Medos dos médicos ou dos dentistas (incluindo o medo das injeções).

»» Medo de dormirem sozinhas.

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UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

É comum as pessoas, em geral, ficarem temerosas no momento em que o avião decola


e pousa, porém pessoas com fobia de voar nem se quer entram no avião. Limitando,
assim, muitas viagens que poderiam ser maravilhosas e simplesmente não acontecem.
Outras fobias comuns estão relacionadas aos animais (ratos, cobras, baratas), alturas
(subir em um elevador panorâmico, trampolim), lugares fechados (elevadores), sangue,
agulhas e lesões. As pessoas costumam a desmaiar quando se deparam com uma dessas
situações.

Para Winnicott (1971), a função dos pais e cuidadores, junto a outras condições
ambientais adequadas, é relevante para que a criança cresça e se desenvolva de
maneira saudável física e psiquicamente. Nos primeiros meses de vida, a presença da
mãe, ministrada de forma constante e nos momentos oportunos, dá ao bebê a ilusão
de que a satisfação das suas necessidades ocorre por sua única e exclusiva vontade.
Ele ainda é incapaz de se diferenciar do mundo externo; por isso, a satisfação das suas
necessidades traz a crença de que pode controlar o mundo (LEMOS; MUSSOI, 2010).
Aos poucos a mãe mostrará a realidade e o bebê perceberá que a mãe e ele são pessoas
diferentes.

A fobia pode ser dividida em dois grupos conforme a natureza do objeto temido:

»» Fobia comum: está relacionada ao medo exagerado de algo que a criança


detesta ou teme de alguma forma, como a noite, a solidão, doenças,
mudanças em geral.

»» Fobia contingente: refere-se ao medo em condições especiais como a


agorafobia e outras de locomoção.

A fobia em crianças, atualmente, aparece como um dos principais motivos pela busca dos
pais por atendimento psicológico para os seus filhos. Como já foi falado anteriormente,
alguns fatores podem aumentar a sensação de medo e fobia nas crianças. Temos os
fatores externos, como a crescente violência e a insegurança da vida pós-moderna além
da constante manifestação da mídia sobre essas questões. A fobia é o temor incontrolável
que tem como elementos principais o medo e a angústia.

Inúmeros tipos de medo podem surgir durante a infância, como o de lugar escuro, dormir
sozinha, o de determinados bichos, entre outros e, na medida em que a criança vai
crescendo e amadurecendo, estes temores tendem a desaparecer. O problema é quando
o temor torna-se incontrolável e as fobias começam a prejudicar o desenvolvimento
saudável de uma criança bem como sua autoconfiança e autoestima.

Como podemos perceber que a criança está com medo ou desenvolvendo uma fobia
específica? Vamos ao exemplo de um quarto escuro: a criança chora, fica agitada e não
consegue dormir mesmo os pais falando que tudo está bem. A questão é que, para ela,

90
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

não está. A diferença dos adultos para as crianças é que os primeiros têm ferramentas
racionais e emocionais para compreender e combater o medo e as crianças ainda não.
Porém, mesmo os adultos tendo essa ferramenta isso não faz com que eles também não
sintam medo. A criança tem uma imaginação fértil que dificulta ainda mais a percepção
da realidade, além do que é à noite que os sentimentos menos positivos parecem crescer.

Nesse caso a melhor coisa a fazer é deixar uma luz de presença acesa no quarto.
Ou esquadrinhar todos os armários gavetas e cantos e garantir que não há monstros
nenhuns e que tudo o que está no interior são roupas, sapatos e brinquedos. Quando o
medo vira fobia, a família da criança fóbica também fica abalada, pois essa situação gera
desconforto e angústia principalmente nos pais que acompanham de perto o sofrimento
do filho. (LEMOS; MUSSOI, 2010, p. 25).

A maioria das crianças sente um pouco de temor ou incerteza com relação a determinadas
coisas ou situações sociais, porém a partir do momento que esses medos passam a
interferir de maneira significativa no funcionamento da vida são considerados fobias
sociais, a qual veremos a seguir.

Fobia social
A fobia social ou também conhecida como transtorno de ansiedade social (TAS) é um
transtorno de ansiedade que tem como característica principal o medo acentuado e
persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, nas quais a criança
é exposta a pessoas desconhecidas. Dessa forma, a criança tem medo de agir de um
modo que lhe seja humilhante ou embaraçoso e as situações fóbicas são evitadas ou
enfrentadas com intensa ansiedade e sofrimento. (APA, 2000).

Segundo Castillo, Recondo, Asbahr e Manfro (2000), “a ansiedade é um sentimento


vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto
derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho”. Quando se
trata de crianças, especificamente, observa-se que a evolução dos aspectos emocionais
influi diretamente sobre as causas e o modo como se nos apresentam seus medos e suas
preocupações, sejam usuais ou decorrentes de patologia. Nesse passo, cabe destacar
que as crianças nem sempre reconhecem seus medos como sendo desproporcionais ou
desprovidos de racionalidades, sobretudo as de menos idade.

É possível identificar a patologia do medo e ansiedade, de acordo com Castillo, Recondo,


Asbahr e Manfro (2000), sempre que a ansiedade e o medo se apresentam de maneira
exagerada, desarrazoada em relação às suas causas, ou em termos qualitativos distintos

91
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

daquilo que se considera dentro da normalidade para aquela faixa etária, interferindo
na qualidade de vida, no bem-estar emocional e na performance no dia a dia da criança.

Castillo, Recondo, Asbahr e Manfro (2000) esclarecem, ainda, que o tempo de reação
ansiosa da criança é determinante para se identificar o grau de ansiedade (normal ou
patológico), a depender se a reação for de curta duração, autolimitada e relacionar-se
ou não ao estímulo momentâneo.

No caso específico da fobia social, uma espécie de transtorno de ansiedade, Castillo,


Recondo, Asbahr e Manfro (2000) afirmam que, a exemplo do que se observa em
indivíduos em idade adulta, o que determina o diagnóstico dessa patologia é a
identificação de um “medo persistente e intenso de situações onde a pessoa julga estar
exposta à avaliação de outros, ou se comportar de maneira humilhante ou vergonhosa,
caracteriza o diagnóstico de fobia social em crianças e adolescentes”. No caso dos
jovens, a fobia social normalmente se expressa por meio de choro, “acessos raivosos”
ou desligamento de situações sociais em que se encontram cercados por pessoas com
quem não têm familiaridade.

Algumas das características específicas da fobia social relatadas por crianças, conforme
Castillo, Recondo, Asbahr e Manfro (2000), são a manifestação de desconforto em
diversas atividades:

»» expressar-se verbalmente em sala de aula;

»» alimentar-se no refeitório cercado por outras crianças;

»» participar de eventos festivos;

»» redigir textos próximo a coletas;

»» utilizar sanitários públicos;

»» falar com autoridades como professores e treinadores;

»» diálogos ou brincadeiras com outras crianças.

Em todas essas situações, pode se identificar sintomas físicos de fobia social tais como:
calafrios, palpitações, tremedeiras, calores repentinos, sudorese excessiva e náuseas.

O quadro avançado de fobia social pode, frequentemente, culminar em um quadro


depressivo, tanto no caso das crianças quanto no caso dos adolescentes.

92
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Figura 24.

Fonte: <http://viviandenny.blogspot.com.br/2012/02/fobia-social-o-inferno-sao-os-outros.html>

Tratamento

Castillo, Recondo, Asbahr e Manfro (2000) registram que diversos procedimentos


cognitivo-comportamentais têm sido utilizados no tratamento de fobia social em
crianças e adolescentes.

Continuando, Castillo, Recondo, Asbahr e Manfro (2000) afirmam que o foco inicial
do tratamento cognitivo da fobia social é a alteração de alguns pensamentos que não
foram bem adaptados e que aparentemente contribuem para um comportamento de
afastamento social. Algumas autoanálises negativas são usuais em crianças com essa
fobia (“todos estarão me olhando”; “e se eu cometer algum erro?”). Sendo assim, o
tratamento comportamental tem de ser baseado na exposição gradativa a cada situação
temida (uma criança com medo de comer na lanchonete da escola, por não se sentir
bem e passar mal próxima a outros colegas, deve iniciar o tratamento expondo-se a essa
situação por pequenos períodos, mesmo sem comer nada, aumentando essa exposição
aos poucos, até conseguir comprar um lanche e comer próximo aos demais).

Assim como nos tratamentos de adultos, segundo Castillo, Recondo, Asbahr e Manfro
(2000), as crianças e adolescentes devem passar por experiências semelhantes a fim de
debelar e/ou controlar a sua fobia social, exceto pela exposição gradativamente maior
aos estímulos temidos, que, no caso dos menores, deve ser realizada em um número
maior de etapas.

Castillo, Recondo, Asbahr e Manfro (2000) esclarecem que, até o presente momento,
ainda não foram apresentados quaisquer estudos de tratamento livre de medicação
controlada para crianças com fobia social. Nesse sentido, alguns relatos iniciais apontam
que o benzodiazepínico alprazolam pode se mostrar bastante útil na minoração dos
afastamentos de situações sociais em crianças e jovens diagnosticados com fobia social.

93
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Terapia cognitivo-comportamental da fobia social

Ito, Roso, Tiwari, Kendall e Asbahr (2000) conceituam o modelo cognitivo-comportamental


nos seguintes termos:

De acordo com o modelo cognitivo-comportamental, indivíduos com


ansiedade percebem o mundo como um lugar perigoso, uma ameaça
em potencial que lhes exige constante vigilância. Portadores de FS
são extremamente sensíveis a pistas que denotem a possibilidade de
avaliação negativa de outras pessoas. A excessiva atenção a estas pistas
produz autocrítica exagerada e percepção distorcida dos próprios
comportamentos que poderiam passar despercebidas. Assim, um
breve silêncio na interação social, por exemplo, é interpretado como
desinteresse, e a recusa de um convite pode significar constante
isolamento e solidão.

Continuando, Ito et al. (2000) asseveram que a terapia cognitivo-comportamental tem


caráter educativo e é de natureza focal. Dá prioridade às discussões práticas feitas em
sessões e em atividades em casa. Nesses casos, o terapeuta deve assumir uma postura de
colaboração e proatividade no tratamento. Há indicações de estudos que apontam para
a necessidade de 12 a 16 sessões em grupo ou individual por semana, para a fobia social
circunscrita, que já seriam suficientes para a minoração considerável dos sintomas do
transtorno. Noutro passo, para a fobia social generalizada, um nível mais acentuado
do transtorno, o sucesso do tratamento se vincula à quantidade de comorbidades e da
severidade dos sintomas, destacando-se que, nesses casos, como regra, os tratamentos
devem ser de prazos mais longos e os resultados alcançados são menos expressivos.

O primeiro passo para o tratamento, de acordo com Ito, Roso, Tiwari, Kendall e
Asbahr (2000), é a avaliação do paciente, procedimento esse que consiste na coleta de
informações sobre o histórico da doença, na forma a seguir descrita:

[...] colhem-se informações sobre a história da doença, seu início


e tempo de duração; história familiar e predisposição biológica;
experiências familiares e escolares, relacionamentos sociais, afetivos,
sexuais; sintomas fisiológicos, cognitivos e comportamentais;
identificação das comorbidades; necessidade de avaliação psiquiátrica e
do uso de medicações; situações desencadeantes de sintomas e grau de
interferência e prejuízo desses na vida do indivíduo; fatores ambientais
e influência familiar; e habilidades sociais pré-existentes.

A partir dos dados coletados, segundo Ito et al. (2000), passa-se ao planejamento
do tratamento propriamente dito, que deve dar maior ênfase àqueles sintomas que
provoquem maior desconforto no paciente. A depender da gravidade da fobia social, do

94
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

grau de evitação e da disponibilidade do paciente, pode ser mais adequada a terapia em


grupo ou individual.

Na parte inicial do tratamento, de acordo com Ito et al. (2000), é imprescindível que
seja incluída uma sessão inicial para esclarecimento de todas as informações relevantes
para que o paciente tenha uma compreensão mais precisa acerca do seu transtorno e
do próprio tratamento a que será submetido. Se houver necessidade de uso de fármacos
e da participação familiar, o paciente deve ser informado na etapa inicial, cabendo
esclarecer que a orientação dos membros da família deve transmitir diretrizes sobre
como agir em determinadas situações de desconforto na interação com o paciente.

Os objetivos da terapia não podem ser negligenciados, devendo ser estabelecidos


desde o início do tratamento, como explicam Ito et al. (2000). Na maioria dos
casos, busca-se a diminuição da ansiedade da antecipação, sintomas fisiológicos
característicos da fobia, algumas cognições de caráter negativo que mantêm as
crenças disfuncionais, da evitação fóbica e o aperfeiçoamento das habilidades
sociais.

Tudo isso deve ser avaliado durante e após o tratamento, destacando-se que, em
crianças e adolescentes, os resultados devem ir além, buscando também a melhora
da autoestima, visando a que o jovem possa adquirir autoconfiança suficiente para se
comunicar em situações sociais.

Desse modo, o objetivo final da terapia, que deve contar em suas etapas com a colaboração
ativa de pais e responsáveis, consiste no incremento da capacidade de exposição
do jovem a diferentes situações sociais, com muitas pessoas e atividades distintas,
almejando a um aumento da sua percepção de comando sobre as circunstâncias sociais
em que se encontrar.

Ito et al. (2000) relacionam cinco técnicas cognitivo-comportamentais para o


tratamento da fobia social:

»» Treino de habilidades sociais (THS) e de assertividade (TA), que busca


“fornecer ao paciente um repertório amplo e variado de comportamentos
sociais mais adaptados, diminuindo a passividade e a sensação de
impotência ou raiva, considerando as características do paciente e o
grupo social em que ele está inserido”.

»» Reestruturação cognitiva, que envolve: “a detecção de pensamentos


distorcidos, de crenças condicionais e da crença central do paciente,

95
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

orientando assim o terapeuta na compreensão sobre o funcionamento


cognitivo do paciente.”

»» Manejo de estresse e relaxamento, que tem por objetivo: “fazer com que o
paciente aprenda a ter maior controle das respostas fisiológicas próprias
da ansiedade.”

»» Exposição, que busca reduzir a ansiedade e o comportamento fóbico,


sendo realizada mediante a colocação do paciente em situações reais ou
mesmo apenas em sua imaginação.

»» Programação de tarefas de casa, como parte integrante diária de todo o


tratamento.

»» Término, que consiste na etapa final do tratamento, assim que se observar


a redução significativa da maior parte dos sintomas da fobia, de maneira
que já não existam mais interferências relevantes no dia a dia do paciente.

Ito et al. (2000) lembram ainda da Terapia Cognitivo-Comportamental em Grupo


(TCCG), que pode se mostrar uma ferramenta tão eficaz quanto a terapia individual,
sobretudo se houver membros do grupo que compartilham de dificuldades semelhantes,
destacando-se também os benefícios advindos da vivência diária do próprio grupo de
terapia, com exposições ao vivo, as evidências de distorções cognitivas e a assunção de
compromisso em público com vistas à mudança de comportamento e ao aprendizado
vicariante.

Quanto à eficácia da terapia cognitivo-comportamental, Ito et al. (2000) afirmam que


esta tem-se mostrado o tratamento mais adequado para os casos de fobia social, mas
com uma limitação importante: em diversos estudos realizados, as avaliações durante
a ao final do tratamento indicam que o paciente, via de regra, não mais podem ser
diagnosticados com Fobia Social, apesar de ainda apresentarem alguns desconfortos
característicos em determinadas situações sociais, o que pode ser considerado um
quadro de subsíndrome do referido transtorno de ansiedade.

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)


O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) surge como a persistência de algumas
manias, alguns tiques que a criança apresenta com uma certa frequência. O início do
TOC infantil costuma ser de forma gradual, porém em alguns casos pode ser agudo.
O TOC, em média, aparece dos 6 aos 11. As crianças comumente tentam ocultar seus
sintomas, dificultando assim um diagnóstico mais precoce. Quanto antes o transtorno

96
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

for detectado melhor e mais eficiente será o tratamento, minimizando, assim, o


sofrimento e o prejuízo causado pelo TOC.

“Apesar de o Transtorno Compulsivo Obsessivo (TOC) ter sido descrito em crianças e


adolescentes há quase um século, apenas recentemente a doença tem sido estudada de
forma sistemática em populações mais jovens” (GABBARD, 2009, p.60).

As obsessões são pensamentos e ideias involuntários recorrentes, mesmo a criança


não tendo a intenção de fazê-los; as compulsões são comportamentos repetitivos e
ritualísticos que a criança se sente compelida a fazer (PATRICK, 1994 apud MORRIS;
MAISTO, 2004). Os pensamentos obsessivos costumam ser aterrorizantes causando
um tremendo desconforto e desespero na criança. Pacientes chegam a ocupar seis horas
do dia lavando as mãos e esfregando álcool para eliminar todas as supostas bactérias
que habitam em suas mãos.

Outro tipo comum de compulsão é a comprovação: quando a criança realiza a mesma


tarefa ou comportamento a fim de se certificar que algo tenha sido feito ou não. Exemplo:
a criança se levanta várias vezes da cama a fim de conferir se o armário está trancado.

Quando falamos em TOC não estamos falando de determinadas práticas que as


crianças costumam fazer às vezes, como por exemplo: contar as árvores ou postes que
passam quando viajam de carro, não pisar nos riscos das calçadas, contar as nuvens no
céu, ler todas as placas que aparecem nas ruas. À medida que a criança e seu sistema
nervoso central amadurecem esses pensamentos intrusivos vão desaparecendo, porém,
não é incomum alguns adultos conservarem resquício desses pensamentos e até de
comportamentos compulsivos, como por exemplo, verificar várias vezes se a porta está
fechada, alinhar de maneira minuciosa os brinquedos, lavar as mãos repetidamente etc.

Figura 25.

Fonte: <http://revistavivasaude.uol.com.br/clinica-geral/5-informacoes-sobre-o-toc/4832/>

97
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

De acordo com Gabbard (2009, p.60), “estudos epidemiológicos sugerem que o TOC
infantil afeta cerca de 1 a cada 200 crianças”. Ainda sob a ótica da autora, mesmo
trazendo sérias consequências para a vida escolar e familiar da criança, esse transtorno
é pouco diagnosticado e tratado.

Vejamos a seguir alguns sintomas de crianças portadoras de TOC. Caso a criança tenha
um ou mais sintomas e que se manifestem de maneira persistente, o ideal é buscar
ajuda de um psicólogo ou psicopedagogo.

»» Medo de se contaminar com doenças, se ferir ou ferir aos outros.

»» Medos sexuais ou religiosos.

»» Rituais repetitivos, como tomar vários banhos ao dia.

»» Checagem obsessiva, como contar e recontar objetos ou pessoas,


buscando exatidão.

»» Arrumar brinquedos e colecionar objetos de maneira


inflexível e persistente.

As alterações do pensamento dizem respeito a obsessões como preocupação


exagerada com doenças, dúvidas e pensamentos de conteúdo impróprio; as alterações
comportamentais se manifestam, entre outros, através de repetições e evitações;
enquanto as alterações emocionais se fazem presentes por meio de sentimentos de
culpa, medo, desconforto etc. No TOC, a mente é invadida por pensamentos obsessivos
de conteúdo catastrófico e o sujeito responde com a realização de compulsões na
tentativa de afastar o medo de possíveis consequências desastrosas relacionadas a tais
obsessões. (<casulepsicologia.com.br>, acesso: dez. 2015).

Figura 26.

Fonte: <http://www.casulepsicologia.com.br/>

98
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Tratamento Cognitivo-Comportamental (TCC)

Gabbard (2009) entende que apenas duas modalidades de terapia se mostraram


empiricamente efetivas para o tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo
(TOC): a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC); o tratamento farmacológico com
inibidores de receptação da serotonina – ou a combinação dessas duas modalidades.

Uma das técnicas do TCC consiste na técnica de exposição com prevenção de respostas,
na qual o paciente se coloca em exposição relativamente à situação temida, de maneira
a buscar a prevenção de uma resposta de comportamento de evitação ou um ritual,
almejando a redução de sua ansiedade. Como exemplo, pode-se solicitar a uma criança
com medo de se contaminar ou com rituais de higienização que toque em alguns objetos
da lixeira, não a permitindo que lave as mãos ao final. Com essa técnica, os pacientes
acabam paulatinamente diminuindo a resposta ansiosa, compreendendo também
que, com o passar do tempo, é possível diminuir o grau de ansiedade sem praticar
comportamentos compulsivos.

Gabbard (2009) explica que a eficácia do tratamento depende da exposição continuada,


até que se observe uma redução considerável da resposta ansiosa, destacando que as
crianças e adolescentes devem alcançar a sensação de comando sobre seu progresso em
relação à hierarquia de estímulos a que são submetidos. Os tipos de exposição são real e
imaginário, sendo que a segunda técnica deve ser utilizada em fases iniciais da terapia,
já que produzem menos respostas ansiosas para o paciente. Demais disso, a exposição
imaginária mostra-se útil também para obsessões que acontecem quando não há como
praticar os rituais correspondentes ou que não possam ser representados no mundo
real.

O incremento da exposição, via de regra, deve se dar de forma gradativa, conforme uma
hierarquia sintomática de estímulos que culminam em cada vez mais respostas ansiosas.
Desse modo, paciente e terapeuta devem trabalhar em conjunto nas sessões iniciais,
criando situações conforme a hierarquia (relacionando os sintomas) e classificando a
severidade da resposta ansiosa em uma escala preestabelecida. Com essa colaboração,
reduz-se o medo da criança em relação ao desconhecido, ajudando-lhe a adquirir
controle sobre as situações sociais diversas. Ainda que diferentes situações sejam
adicionadas à hierarquia e as classificações da resposta ansiosa sejam modificadas, tal
lista indica, de forma ideal, o quadro da sintomatologia TOC do indivíduo, oferecendo
um paradigma para o sentido que a terapia alcançará no decurso do tratamento.

Gabbard (2009) defende a participação ativa dos familiares na terapia comportamental


individual de pacientes com TOC, ressaltando que só nos últimos tempos tal aspecto tem
merecido atenção em termos empíricos. Frequentemente, pais participam de rituais,

99
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

em função de reclamações ou perturbações dos seus filhos (acalmando-os, fazendo


laços em cadarços “sujos”), por vezes reagindo de forma exagerada ao comportamento
da criança. Desse modo, mesmo que o resultado positivo ao final do tratamento esteja
subordinado à colaboração da criança, estudos atuais indicam a relevância de uma
intervenção dos familiares simultaneamente direcionada para excluir os pais dos rituais
do paciente. De maneira curiosa, as evidências iniciais também apontam para que os
pais possam desempenhar um papel de terapeuta no tratamento, ainda que não sejam
permissivos demais ou se envolvam demasiadamente.

Em famílias de crianças muito pequenas diagnosticadas com TOC, segundo Gabbard


(2009), a participação dos pais é de fundamental importância. É imprescindível ter
cautela para realizar intervenções sensíveis ao nível de desenvolvimento que tratem
as preocupações específicas dessa população. Exemplificando, crianças pequenas
possivelmente não são tão capazes de ter preocupações concernentes aos sintomas e,
desse modo, podem depender mais acentuadamente da orientação dos pais para terem
sucesso na terapia.

Gabbard também cita as técnicas de relaxamento, controle respiratório e reestruturação


cognitiva como técnicas de tratamento para o TOC e outros transtornos de ansiedade.
Acrescenta outras técnicas de terapia cognitiva, tais como saciação e hipnose, com
graus variados de sucesso, destacando a técnica de cessação dos pensamentos, imersão
e reversão de hábitos, que também podem ter um papel importante no tratamento
como um todo. A imersão consiste em assumir uma posição por longo tempo aos
estímulos que provocam maior grau de ansiedade, tendo sido utilizada com sucesso em
adolescentes com TOC (HARRIS; WIEBE, 1992). No entanto, é consensual no meio
dos especialistas que a exposição das crianças não pode ser intensiva, mas gradual, com
prevenção de respostas ansiosas, mantendo-se sob o controle dos pacientes os objetivos
finais.

Já quanto à reversão de hábitos, Gabbard (2009) esclarece que pode ter um papel
muito importante nos casos de indivíduos que têm “tiques comórbidos, sintomas de
tricotilomania ou rituais complexos com tiques (MARCH, 1995)”.

Gabbard (2009) assevera que, de modo geral, as pesquisas efetuadas até os dias atuais
alicerçam a eficácia de metodologias baseadas na exposição com prevenção de respostas
ansiosas para o TOC em crianças. Nesse sentido, afirma também que o progresso tende
a ser contínuo durante o tratamento, mas fazem-se necessários mais dados e avaliações
de prazos mais extensos. Também carecem de estudos mais aprofundados os resultados
do tratamento psicofarmacológico combinado com o cognitivo-comportamental. Ocorre
que, como recaídas são usuais quando descontinuada a medicação, “(Leonard et al.,

100
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

1989), March e colaboradores (1994) sugeriram que a terapia comportamental de reforço


pode preveni-la quando os medicamentos são descontinuados”. Lamentavelmente,
mesmo com sua aplicabilidade na maior parte dos casos, a terapia comportamental
frequentemente é implementada para o TOC em um momento inoportuno.

Sobre a psicoterapia dinâmica e familiar, Gabbard (2009) assim discorreu:

Embora a psicoterapia dinâmica centrada no insight historicamente


tenha sido a principal intervenção para pacientes obsessivos, o
transtorno, na maioria das vezes, é refratário a essa abordagem,
independentemente da idade do paciente, e essa terapia não tem sido
usada como a principal ou única forma de tratamento (MARCH et al.,
1995; SALZMAN; THALER, 1981).

Continuando sobre o tema, Gabbard (2009, p. 9) acrescentou:

A intervenção familiar sistemática tornou-se um componente


reconhecido do tratamento do TOC para crianças e adolescentes (KNOX
et al., 1996; PIACENTINI et al., 1994). Embora não existam dados sobre
sua eficácia para esta faixa etária, o tratamento comportamental em um
grupo multifamiliar (no qual pacientes e familiares participam juntos
de sessões de grupo), mostrou-se efetivo para adultos (VAN NOPPEN
et al., 1997).

Contudo, pouco se sabe sobre a eficácia de modelos de tratamento familiar que não
sejam baseados em TCC. Mesmo assim, esses modelos merecem ser estudados,
principalmente na área do TOC de início precoce, na primeira infância. Em particular, a
terapia familiar pode ser usada para identificar e abordar os obstáculos ao tratamento,
como problemas na família, dificuldades conjugais e papéis e limites inadequados entre
os pais e seus filhos portadores de TOC.

Acrescenta Gabbard (2009), no que diz respeito à farmacoterapia, que alguns estudos
sistemáticos apontam para que os IRSs são eficazes para o tratamento de sintomas de TOC
em crianças e adolescentes, destacando que, nos dias atuais, os medicamentos aprovados
pela Food and Drug Administration (FDA) são: (i) clomipramina – para crianças com
mais de 10 anos; (ii) fluoxetina e fluvoxamina – para crianças com mais de 8 anos; (iii)
sertralina – para crianças com mais de 6 anos; (iv) paroxetina – para adultos.

Gabbard (2009) sustenta que os Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina


– ISRS tiveram avaliação positiva, após estudos sistemáticos, como opção para o
tratamento de TOC em crianças. Nesse sentido, tais medicamentos foram classificados
como os agentes psicofarmacoterapêuticos de 1a linha para o tratamento de TOC.

101
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Defende, ainda, que os ISRS são mais adequados do que a clomipramina, já que não
têm tantos efeitos colaterais anticolinérgicos.

Para a escolha da medicação mais adequada, contudo, Gabbard (2009) afirma que, de
modo geral, os ISRSs devem ser considerados como de primeira linha no tratamento de
TOC pediátrico, sendo que a escolha do agente específico deve recair sobre os resultados
dos estudos sistemáticos realizados até então, sem esquecer a relação risco-benefício e
os efeitos colaterais esperados, assim como os diagnósticos comórbidos e a utilização
de medicação simultânea.

Gabbard (2009) reconhece que há poucas informações a respeito da farmacocinética


dos ISRSs pediátricos, mas pontua como importante avaliar a necessidade de utilização
de um medicamento com meia-vida longa (fluoxetina) ou com meia-vida curta
(paroxetina, fluvoxamina e sertralina).

Gabbard (2009, p.7) destaca também que:

Crianças e adolescentes podem ser mais vulneráveis à ativação comportamental


quanto estiverem sob efeito de ISRSs, ainda que os estudos sobre essa questão
sejam recentes. A FDA advertiu que crianças e adolescentes que estiverem
usando antidepressivos podem desenvolver risco potencial de suicídio, piora
dos sintomas, ansiedade, agitação, pânico, insônia, irritabilidade, hostilidade,
impulsividade, acatisia e hipomania. Além disso, a FDA acrescentou uma ‘tarja
preta’ para descrever o risco potencial de suicídio, e novas recomendações
estipulam que crianças e adolescentes sejam avaliados com frequência para o
surgimento de ‘ativação’ ou piora dos sintomas enquanto estiverem sob efeito
de um ISRS.

Enfim, segundo Gabbard (2009), “o TOC pode ser um transtorno debilitante e crônico,
mesmo com os tratamentos apresentados”. Todavia, alguns estudos de continuidade
apontam para progressos reais em tratamentos existentes, destacando-se que a maior
parte dos pacientes com TOC necessita de uma ou mais terapias combinadas, de
comportamento ou farmacológicas, sendo certo que a escolha acertada do tratamento
só será alcançada caso se encontre um equilíbrio entre o momento mais adequado e o
foco de qualquer terapia no decurso do tempo.

102
CAPÍTULO 6
Transtornos do espectro do autismo

No meio acadêmico, o autismo e a síndrome de Asperger têm maior notoriedade


dentre os transtornos invasivos do desenvolvimento (TID), os quais reúnem um grupo
de características psicossociais evidenciadas, sobretudo, a partir da identificação de
determinados atrasos e distorções no desenvolvimento de habilidades sociais e de
comunicação.

Inicialmente, cumpre destacar que, segundo Klin (2007) o transtorno do espectro


do autismo envolve uma série de condições que podem ou não estar relacionadas
ao retardo mental, observando-se que, no caso específico da síndrome de Asperger,
trata-se de uma espécie de TID tipicamente associada à inteligência normal.

Figura 27.

.
Fonte: <http://hypescience.com/os-10-disturbios-psiquiatricos-mais-controversos/>

Klin esclarece, ainda, que os TIDs estão entre os transtornos de desenvolvimento


mais comuns. Referem-se a uma família de condições caracterizadas por uma grande
variabilidade de apresentações clínicas. Podem variar tanto em relação ao perfil da
sintomatologia quanto ao grau de acometimento.

É de se observar que, segundo Klin, embora os TIDs apresentem, entre si, uma
heterogeneidade bastante ampla quanto às variáveis clínicas que os caracterizam, há

103
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

uma característica comum que faz com que esses transtornos sejam estudados de forma
agrupada, qual seja, a interrupção precoce dos processos de sociabilização.

Eis a definição de Klin (2007, p.12) sobre os TIDs:

São, por natureza, transtornos do neurodesenvolvimento que


acometem mecanismos cerebrais de sociabilidade básicos e precoces.
Consequentemente, ocorre uma interrupção dos processos normais de
desenvolvimento social, cognitivo e da comunicação. A consciência de
que as manifestações comportamentais são heterogêneas e de que há
diferentes graus de acometimento, e provavelmente múltiplos fatores
etiológicos, deram origem ao termo transtornos do espectro do autismo
que, como o termo TID, refere-se a várias condições distintas (autismo,
síndrome de Asperger e TID-SOE), mas que, ao contrário do termo
TID, refere-se a um a possível natureza dimensional que interconecta
diversas condições mais do que a fronteiras claramente definidas em
torno de rótulos diagnósticos. Este conceito de natureza dimensional
apoia-se no facto de que o autismo e transtornos relacionados são os
transtornos do desenvolvimento mais fortemente associados a fatores
genéticos, e no fato de que podem ser encontradas vulnerabilidade
e rigidez social em familiares desses pacientes, mesmo que esses
familiares não preencham critérios para um diagnóstico clínico. Refere-se,
muitas vezes, a esses familiares como portadores do “fenótipo mais amplo
de autismo”.

Este capítulo tem por objeto o estudo do paradigma dos TIDs, inclusive quanto à
sindrome de Asperger, uma variante próxima. Isso porque, no caso do autismo, o
diagnóstico é, como regra, incontroverso, ao passo que o diagnóstico da síndrome de
Asperger pode, muitas vezes, ser confundido com o de autismo desacompanhado de
retardo mental, ou mesmo com o autismo com alto grau de funcionamento (AAGF).

Autismo

Klin (2007) sustenta que o autismo, “também conhecido como transtorno autístico,
autismo da infância, autismo infantil e autismo infantil precoce, é o TID mais
conhecido”, é o TID mais amplamente conhecido, tendo por características marcantes
um continuado déficit na interação social, deficiências na habilidade de se comunicar
e a opção por linhas comportamentais bastante restritas a determinados interesses.
Klin registra, também, que os casos de autismo com retardo mental representam
cerca de 60 a 70% dos diagnósticos de autismo, percentual esse que vem mostrando

104
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

desaceleração em estudos mais atuais, possivelmente em função de uma percepção mais


acurada a respeito das manifestações do autismo com alto grau de funcionamento, que
implica um número cada vez maior de indivíduos diagnosticados com AAGF.

Figura 28.

Fonte: <http://hnsf.com.br/o-que-e-autismo/>

O diagnóstico de um indivíduo com autismo, de acordo com o autor mencionado, passa


pela identificação de seis características de comportamento, desde que se observe ao
menos um dentre os critérios dos três agrupamentos de distúrbios:

»» interação social;

»» comunicação limitada;

»» restrição de interesses e comportamentos.

Klin (2007) defende que há quatro critérios que permitem identificar um “prejuízo
qualitativo nas interações sociais”, quais sejam, (i) “prejuízo marcado no uso de formas
não verbais de comunicação e interação social”; (ii) ausência de relacionamentos com
colegas; (iii) desinteresse em compartilhar experiências e comunicação; e (iv) não
reciprocidade nos aspectos social ou emocional.

Já quanto à identificação de “prejuízo qualitativo na comunicação”, o autor aponta


como principais critérios:

»» linguagem verbal com desenvolvimento em atraso, desacompanhada


de qualquer tentativa de buscar maneiras alternativas de se comunicar
(gesticulação);

»» dificuldade de começar ou manter um diálogo com os demais indivíduos


que não têm dificuldades verbais;

105
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

»» desinteresse por brincadeiras lúdicas, tais como faz-de-conta ou jogos de


imitação social.

Em relação aos “padrões restritivos e estereotipados de comportamento, interesses e


atividades”, Klin (2007) lista quatro critérios a serem identificados:

»» “preocupações abrangentes, intensas e rígidas com padrões estereotipados


e restritos de interesse”;

»» utilização de rotinas rígidas, funcionais ou não funcionais;

»» “maneirismos estereotipados” e reiterados (abano das mãos ou dos


dedos, balanço do corpo);

»» preocupação persistente com detalhes e/ou partes de objetos (textura de


um material de um brinquedo, empunhadura de uma espada de plástico).

O autor argumenta ainda que, a par dessas características, “o diagnóstico de um


transtorno autístico também requer desenvolvimento anormal em pelo menos um
dos seguintes aspectos: social, linguagem, comunicação ou brincadeiras simbólicas/
imaginativas nos três primeiros anos de vida.”

A expressão dos sintomas característicos de autismo, todavia, pode se apresentar de


uma forma bastante diversificada, segundo a ótica do autor, porquanto, crianças com
maior grau de autismo não apresentam qualquer forma de expressão verbal, optando,
na maior parte das vezes, por permanecerem isoladas, sem interação social e com
poucas incursões junto a outros indivíduos ou grupos de indivíduos.

Já no que diz respeito às crianças diagnosticadas com um grau de autismo menos


elevado, o autor revela que elas podem interagir socialmente de uma forma passiva,
sem, no entanto, procurar essa interação. É possível observar, também, alguma
manifestação de linguagem de forma espontânea.

Noutro passo, Klin (2007) assevera que as crianças com maior grau de funcionamento
e que são mais velhas têm um diferente estilo de vida em sociedade, de um modo tal
que até podem se interessar por alguma interação, mas não demonstram nenhuma
habilidade para dar início a um relacionamento ou a mantê-lo de uma forma usual. São
indivíduos normalmente rotulados de “ativos, mas estranhos”, por não disporem de
habilidade para regular as interações sociais após o seu início.

Ainda em relação ao alcance de um diagnóstico acertado de uma criança com


autismo:

106
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

A avaliação da criança com autismo deve incluir um histórico detalhado,


avaliações de desenvolvimento, psicológicas e de comunicação
abrangentes e a gradação das habilidades adaptativas (i. e. habilidades
espontâneas e consistentemente realizadas para atender às exigências
da vida diária). Um exame adicional pode ser necessário para excluir
prejuízo auditivo, assim com o déficit ou anormalidades motoras e
sensoriais evidentes ou sutis. O exame clínico deve excluir convulsões
e esclerose tuberosa (ver abaixo nas condições clínicas associadas), e
a pesquisa genética deve excluir a síndrome do cromossomo X frágil.
(KLIN, 2007, p.11)

Klin (2007) sustenta que as primeiras manifestações do autismo ocorrem nos três
primeiros anos de vida, sendo que a preocupação dos pais com essa condição acontece
normalmente entre 12 e 18 meses de vida, conforme observam as dificuldades
apresentadas pela criança no que se refere ao desenvolvimento da linguagem. Nesse
ponto, Klin destaca que as crianças com autismo não respondem a abordagens verbais,
mas respondem a estímulos sonoros oriundos de objetos inanimados (aspiradores de
pó, pacotes de biscoitos, gotejamento de água), denotando mesmo um desenvolvimento
anormal no que se refere à expressão verbal.

A partir de uma conscientização maior sobre a condição de autismo e os sintomas iniciais,


(inexistência de contato visual, de indicar, dar ou mostrar padrões comportamentais
ou compartilhamento de momentos sociais de felicidade), Klin afirma que o número
de pais preocupados até os primeiros doze meses de vida da criança tem aumentado
gradativamente, destacando, todavia, que no caso dos indivíduos com autismo com
alto grau de funcionamento essa preocupação pode surgir de forma mais acentuada
no terceiro ano de vida da criança, mas, ainda assim, os pais se mostram preocupados
antes de a criança completar três anos, sobretudo quando observam falta de habilidade
para interagir socialmente em situações que não envolvem apenas o contato direto com
os pais (praças públicas, escolas, parques de diversão).

Ao exemplificar os “prejuízos qualitativos na interação social”, Klin argumenta que


as crianças sem autismo costumam demonstrar um forte interesse em interagir
socialmente logo a partir do seu nascimento, respondendo positivamente a alguns
instrumentos elementares de socialização, como por exemplo, o sorriso de um dos
pais, vozes infantilizadas e todo tipo de brincadeiras, fazendo com que as crianças se
interessem imediatamente em interagir socialmente. Desse modo, Klin (2007) conclui,
sobre esse ponto, que “a coreografia social mutuamente reformadora entre a criança e
o cuidador inicia o desenvolvimento das habilidades sociais cognitivas, de comunicação
e simbólicas.”

107
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

Bebês e crianças com diagnóstico de autismo não se se sentem atraídas pelo rosto
humano, ainda que veja um sorriso, demonstram pouco ou nenhum interesse por
jogos infantis, como o pega-pega, e costuma empregar grande parte de seu tempo na
exploração de ambientes inanimados mesmo quando se encontra num ambiente de
interação social, com crianças conversando em seu redor. As atividades lúdicas ou a
utilização dos sentidos para explorar um determinado brinquedo são habilidades
ausentes nas crianças com autismo.

Mesmo assim, Klin sustenta que o interesse por interações sociais pode se incrementar
com o tempo, havendo, de uma maneira geral, certo avanço no desenvolvimento do
aspecto social, em uma medida proporcional ao grau de funcionalidade do indivíduo
com autismo – quanto maior a capacidade funcional da criança, mais interesse ela irá
demonstrar em atividades sociais, apesar de sempre carregarem consigo uma grande
dificuldade de manter a estabilidade de relacionamentos.

Figura 29.

Fonte: <http://saude.ig.com.br/minhasaude/autismo-ganha-contornos-de-epidemia-nos-eua/n1597727229144.html>

Em relação ao “prejuízo qualitativo na comunicação verbal e não verbal e nas


brincadeiras”, Klin registra que entre 20 e 30% das crianças com autismo nunca se
expressam verbalmente, percentual esse que vem sendo reduzido gradativamente nos
últimos 10 ou 15 anos, como resultado de uma intervenção intensiva, logo nos primeiros
anos de vida, assim que os primeiros sinais de autismo são observados pelos cuidadores.

Segundo Klin (2007), como as crianças jovens e bebês com autismo não se expressam
verbalmente, costumam levar as mãos de seus pais para alcançar objetos de seu interesse,
sem mesmo precisar fazer contato visual, demonstrando, assim, que essa interação
social estaria ocorrendo com a mão da pessoa, e não com a pessoa propriamente dita.
Vale dizer, nesse ponto, que não se trata de um simples transtorno de desenvolvimento
108
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

da linguagem, pois as crianças com autismo não demonstram motivação nem mesmo
para estabelecer outras formas de comunicação não verbais.

O autor afirma ainda que, quando se expressam verbalmente, as crianças com autismo
costumam apenas repetir aquilo que lhes é dito (ecolalia imediata) ou então algo que
ouviram em determinado ambiente, como numa TV (ecolalia tardia), expressando-se
de forma rígida, sem avaliar as eventuais mudanças de perspectiva ou de mudança de
interlocutor, resultando até mesmo em inversões pronominais. Continua afirmando que
a linguagem dos indivíduos com autismo tem características de não reciprocidade por
natureza, observando que essas crianças acabam produzindo algum tipo de linguagem
sem qualquer intenção de comunicação, de maneira que, mesmo sem apresentar erros
de sintaxe e morfologia na expressão verbal, os indivíduos com autismo têm grande
dificuldade quanto ao desenvolvimento do vocabulário e de habilidades semânticas,
prejudicando severamente a sua compreensão quanto a diversos aspectos sociais na
utilização da linguagem.

Desse modo, um determinado diálogo que tenha características tais como humor e
sarcasmo podem gerar uma grande confusão por parte do indivíduo com autismo, que,
por não consegue perceber qual a real intenção de seu interlocutor, acaba por fazer
interpretações absolutamente literais de tudo o que escuta, ao passo que sua própria
voz tem entonação apagada ou monótona, bem como outros aspectos comunicativos da
voz se apresentam de forma idiossincrática e com pouca modulação.

Nesse sentido, o autor defende que esse déficit nas habilidades de brincar e interagir
podem abranger, também, baixo desenvolvimento de alguns padrões usuais como
aqueles que se esperam em brincadeiras lúdicas como o faz de conta e outras de natureza
similar, de maneira que a criança com autismo acaba se interessando por determinados
aspectos não funcionais de um brinquedo (textura, peso, gosto, cheiro), ou mesmo
utilizar partes ou pedaços dos brinquedos e objetos para se autoestimular (ficar abrindo
e fechando a porta de um carrinho de brinquedo).

Quanto ao “repertório notavelmente restrito de atividades e interesses”, Klin (2007)


afirma que as crianças diagnosticadas com autismo tendem a não aceitar quaisquer
modificações e variações em sua rotina, sendo causa de grande sofrimento para a
criança com autismo qualquer tentativa de mudança de seus hábitos usuais. Nesse
sentido, alguns pais acabam por relatar a insistência de seus filhos para que participem
de determinadas atividades sempre de uma maneira única e específica.

O autor esclarece, também, que as crianças com autismo podem desenvolver interesses
específicos por determinadas atividades repetitivas, como colecionar determinados
objetos para utilizar em autoestimulação, praticar a memorização de números sem

109
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

propósito aparente, usar de repetição reiterada de determinadas palavras ou mesmo de


expressões. Além disso, os indivíduos com autismo costumam apresentar movimentos
físicos com características estereotipadas, como andar com as pontas dos pés, balançar
o corpo de um determinado modo, assim como outros maneirismos, de forma que esses
movimentos são realizados para se acalmarem ou para obterem prazer, podendo ser
exacerbados, muitas vezes, sempre que se encontrarem submetidos a uma situação
tensão.

Há algumas características associadas ao diagnóstico do autismo, segundo Klin (2007),


que merecem destaque, os quais podem ser assim resumidos:

»» “ilhotas de habilidades especiais” ou splinterskills: facilidade para


decifrar letras e números, muitas vezes de maneira precoce, mesmo
que não tenham capacidade de entender aquilo que estão lendo, sendo
que 10% dos indivíduos com autismo têm alguma forma de habilidades
savant, que consistem em um desempenho muito elevado, até mesmo
prodigioso, no exercício de alguma habilidade específica mesmo quando
há retardo mental leve ou moderado, como, por exemplo, a capacidade de
memorizar listas inteiras com informações triviais, cálculos matemáticos,
percepção visual e espacial acima da média etc.;

»» hipersensibilidade a estímulos sensoriais, tais como o som de automóveis,


aviões, cortadores de grama, liquidificador etc., de maneira que um
indivíduo com autismo pode reagir de uma maneira bastante irritadiça
a esses ruídos, colocando-se em uma situação de extremo estresse.
Mesmo o brilho de uma luz, o toque afetuoso, podem resultar em grande
desconforto para essas crianças;

»» indivíduos com autismo também apresentam, por vezes, alguns distúrbios


de sono e/ou alimentares, envolvendo aí a aversão a determinados
alimentos, dificuldade de adormecer por longos períodos durante a noite,
acordando com muita frequência, insistência em se alimentar com alguns
poucos tipos de alimento, possivelmente ingerindo, inclusive, objetos
não comestíveis (vidro, chumbo etc.), com evidentes riscos para a saúde;

»» um grau mais acentuado de autismo pode levar a criança a se autoflagelar


(bater a cabeça, morder os punhos), denotando um retardo mental
mais aprofundado, muitas vezes necessitando utilizar equipamentos de
segurança como capacetes, luvas etc.

110
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Ao discorrer sobre o curso e prognóstico do autismo, Klin (2007, p. 09) asseverou que:

O autismo é um comprometimento permanente e a maioria dos


indivíduos afetados por esta condição permanece incapaz de viver de
forma independente, e requer o apoio familiar ou da com unidade ou
a institucionalização. No entanto, a maioria das crianças com autismo
apresenta melhora nos relacionamentos sociais, na comunicação e nas
habilidades de autocuidado quando crescem. Pensa-se em vários fatores
como preditores do curso e do desfecho de longo prazo, particularmente
a presença de algum a linguagem de comunicação ao redor dos cinco ou
seis anos, nível intelectual não-verbal, gravidade da condição e a resposta
à intervenção educacional. Crianças m ais jovens mais frequentemente
apresentam um a falta ‘global’ de relacionamentos interpessoais, que
costumava ser incluída em sistemas diagnósticos mais antigos. Ainda
que algum as evidências de responsividade diferenciada aos pais possa
ser observada quando a criança ingressa na escola primária, os padrões
de interação social permanecem bastante desviados da normalidade.
Apesar disso, os ganhos em obediência e comunicação são conseguidos
geralmente durante os anos em que ela cursa a escola primária,
especialmente se são feitas intervenções estruturadas, individualizadas
e intensivas. Durante a adolescência, algum as crianças autistas podem
apresentar deterioração comportamental; num a minoria delas, o
declínio nas habilidades de linguagem e sociais pode ser associado ao
início de um transtorno convulsivo.

Vários estilos de interação podem ser observados, variando de arredio a passivo e a


excêntrico (crianças que realizam tentativas de iniciar o contato com os demais, mas
que o fazem de uma forma muito desajeitada ou rígida); esses estilos estão relacionados
ao nível de desenvolvimento. Sintomas depressivos e ansiosos podem aparecer em
adolescentes com grau mais elevado de funcionamento, que se tornam dolorosamente
conscientes de sua incapacidade de estabelecer amizades, apesar de assim o desejarem,
e que começam a sofrer do efeito cumulativo de anos de contato frustrado com os demais,
e de serem alvo da gozação dos colegas. Vários estudos sobre o desfecho no longo prazo
18 sugerem que aproximadamente dois terços das crianças autistas têm um desfecho
pobre (incapazes de viver independentemente) e que talvez somente um terço é capaz
de atingir algum grau de independência pessoal e de autossuficiência com o adultos;
entre estes, a maioria pode ter um desfecho razoável (ganhos sociais, educacionais ou
vocacionais a despeito de dificuldades comportamentais e de outra ordem ), ao passo
que um a minoria (cerca de um décimo de todos os indivíduos com autismo) pode ter

111
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

um bom desfecho (ter capacidade de exercer atividade profissional com eficiência e ter
vida independente). (KLIN, 2007, p. 13)

Síndrome de Asperger

A síndrome de Asperger (AS), segundo Klin (2007), tem como características


principais determinados prejuízos na interação social, assim como alguns interesses
e comportamentos mais restritos, a exemplo do que se vê nos casos de autismo,
mas os indivíduos com Asperger não apresentam qualquer retardo significativo no
desenvolvimento da linguagem falada, ou mesmo na percepção dessa linguagem falada
ou de quaisquer outros aspectos do desenvolvimento cognitivo normal, na capacidade
de cuidar-se e de observar o meio em que se encontra.

O diagnóstico da síndrome de Asperger, de acordo com Klin (2007), também parte da


percepção de alguns prejuízos na capacidade de interagir socialmente e na identificação
de determinados interesses específicos, como no caso do autismo. No entanto, para a
identificação da SA “não há critérios para o grupo dos sintomas de desenvolvimento da
linguagem e de comunicação e os critérios de início da doença diferem no sentido de
que não deve haver retardo na aquisição da linguagem e nas habilidades cognitivas e
de autocuidado”, que invariavelmente resultam em grande prejuízo ao indivíduo com
autismo nos aspectos de integração social e ocupacional.

No caso da SA, segundo Klin (2007), os indivíduos acometidos pela síndrome não se
abstêm e nem se incomodam em conviver socialmente, mas usam de uma abordagem
junto a outras pessoas de uma maneira não apropriada e, muitas vezes, excêntrica, de
forma que o resultado dessas interações normalmente não é bem-sucedido, porquanto,
mesmo tendo interesse em fazer amizades e encontrar pessoas, não conseguem entender
as reais intenções de seus interlocutores ou tampouco transmitir seus pensamentos de
forma concatenada e com sentido lógico. Com isso, muitos indivíduos com SA terminam
por desenvolver transtornos de ansiedade ou de humor, muitas vezes necessitando de
tratamento médico para reverter esse quadro.

Em relacionamentos afetivos, os indivíduos com SA podem também apresentar reações


por vezes inapropriadas, inconvenientes, já que, dada a dificuldade de compreensão
do contexto de suas interações, terminam por transmitir certa falta de sensibilidade,
formalidade excessiva ou até mesmo falta de consideração pelas emoções externadas
pelos seus interlocutores.

Muitas vezes, podem até mesmo ser capazes de descrever as emoções das pessoas com
quem interagem, só que não conseguem agir conforme as informações obtidas com

112
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

espontaneidade, prejudicando todo o propósito da interação social. Diante disso, o


comportamento do indivíduo com SA, geralmente, é pouco intuitivo e não espontâneo,
apegado fortemente a formalidades comportamentais e a determinadas regras de
convívio social, fazendo com que eles se apresentem à sociedade uma aparência ingênua
de rigidez de comportamento.

Destaca-se que, mesmo sem grandes anormalidades nos padrões de linguagem em


indivíduos com SA, há três aspectos clínicos que caracterizam esses indivíduos em
relação aos padrões de comunicação, a saber:

»» mesmo contando com padrões de inflexão e entonação não tão rígidos


como os dos autistas, apresentam linguagem com prosódia pobre, exibindo
uma gama limitada de padrões de entonação, com pouca ou nenhuma
pertinência em relação ao conteúdo de sua declaração, envolvendo, ainda,
padrões não usuais na fluência da fala (muito rápida, entrecortada, voz
alta demais) ou mesmo falta de ajustamento em determinados ambientes
sociais, como bibliotecas, locais com multidões etc.;

»» fala tangencial e circunstancial, incapaz de transmitir firmeza de


associações e coerência, resultando em falta de contingência na fala como
resultado de um estilo de conversação em monólogo e egocêntrico, sem
mostrar capacidade de apontar a fonte dos seus comentários e de indicar
com clareza as mudanças de tópico, havendo casos, também, de expressão
verbal de pensamentos que deveriam ser puramente introspectivos;

»» estilo de comunicação marcado por excessiva verbosidade, falando sobre


determinado assunto sem se importar com o interesse despertado em
seu interlocutor, ou mesmo em obter dele a sua opinião sobre o tema
abordado, de forma prolixa e se chegar a nenhuma conclusão razoável.

Indivíduos diagnosticados com AS, como regra, acabam acumulando um volume


excessivo de informações sobre fatos de um determinado tópico, que pode até vir a
ser alterado com o passar do tempo, mas sem perder o domínio sobre o conteúdo do
intercâmbio social. Isso faz com que a família se veja forçada a conviver com as discussões
sobre o tema escolhido por um longo tempo, absorvendo uma expressiva quantidade
de informações sobre fatos de tópicos muito específicos (nomes de animais, cidades,
programas de TV, marcas de utensílios etc.), sem uma preocupação quanto a outros
fenômenos mais amplos envolvidos no assunto. Tal característica pode ser observada
logo na infância, quando se despertarem os primeiros interesses do indivíduo com
SA por coisas como dinossauros, personagens de ficção em evidência, havendo certa

113
UNIDADE III │PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS

mudança de foco nesses interesses com o avançar da idade, para assuntos usualmente
mais estranhos e restritos.

Outro aspecto das crianças com SA é a dificuldade de adquirir algumas habilidades


motoras, como andar de bicicleta, jogar bola, abrir embalagens e utilizar alguns
brinquedos em parques infantis, demonstrando certo desajeito e falta de coordenação
motora, que pode ser observada em seu caminhar, sua corrida, seus saltos e sua postura.
De outro lado, abordando os aspectos neuropsicológicos, Klin (2007) entende que os
indivíduos com SA podem apresentar padrões de elevadas habilidades auditivas e
verbais, bem como aprendizado repetitivo, mas também podem apresentar dificuldades
importantes no que se refere às habilidades visuomotoras e visuoperceptivas, bem
como no aprendizado conceitual.

Ao discorrer sobre o curso e prognóstico da síndrome de Asperger, Klin (2007) asseverou


que:

Não há ainda estudos sistemáticos de acompanhamento no longo prazo


de crianças com SA, parcialmente devido a problemas com a nosologia.
Muitas crianças são capazes de assistir a aulas em escola regular com
serviços de apoio adicional, ainda que sejam especialmente vulneráveis
a serem vistas como excêntricas e a serem alvo de chacotas ou serem
vitimizadas; outras requerem serviços de educação especial, geralmente
não devido a déficits acadêmicos, mas devido às suas dificuldades
sociais e comportamentais. A descrição inicial de Asperger previu um
desfecho positivo para muitos de seus pacientes que, com frequência,
eram capazes de utilizar seus talentos especiais para obter emprego
e ter vidas autossustentadas. Sua observação de traços similares
em familiares, isto é pais, pode também tê-lo tornado mais otimista
sobre o desfecho final. Ainda que seu relato tenha sido pouco com
provado durante o período em que ele tinha visto 200 pacientes com
a síndrome (25 anos após seu artigo original), Asperger continuava a
acreditar que um desfecho mais positivo era um critério central para
diferenciar os indivíduos com sua síndrome daqueles com o autismo de
Kanner. Ainda que alguns clínicos tenham apoiado informalmente essa
afirmação, particularmente com relação a conseguir um bom emprego,
independência e o estabelecimento de um a família, não existe nenhum
estudo disponível que tenha estudado especificamente o desfecho no
longo prazo de indivíduos com SA. O prejuízo social (particularmente as
excentricidades e a insensibilidade social) é considerado permanente.
(KLIN, p. 14)

114
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE AFETAM AS CRIANÇAS│ UNIDADE III

Como conclusão, o autor destaca que as síndromes de autismo e de Asperger têm origem
em “alterações precoces e fundamentais no processo de socialização”, resultando em
uma série de consequências no desenvolvimento do indivíduo com SA, em diversos
aspectos relacionados à atividade e adaptação, comunicação e imaginação sociais,
dentre outros. Destaca, ainda, que diversas áreas do funcionamento cognitivo mantêm-se
usualmente preservadas, destacando-se alguns desses indivíduos com habilidades por
demais surpreendentes e inesperadas, muitas vezes prodigiosas.

Com os avanços no campo da ciência genética, espera-se que a compreensão acerca


da natureza das características e “condições sobre a formação do cérebro social em
indivíduos” com AS, surgindo, então, uma “nova perspectiva de neurociência social
sobre a patogênese a psicobiologia dos fatores”, esperando-se, a partir de uma transição
do foco das pesquisas para tratamentos mais eficazes, em busca da prevenção desses
distúrbios.

115
O PAPEL DO
PSICÓLOGO
INFANTIL NO UNIDADE IV
TRATAMENTO DOS
TRANSTORNOS
MENTAIS
O psicólogo infantil, além de sua vocação para lidar com crianças, trabalha no sentido
de  oferecer um ambiente onde ela se sinta segura e acolhida. A forma de falar, o tom,
as palavras que ele usa são todas elaboradas para criar um ambiente de confiança onde
a informação sobre o que se passa com a criança seja colhida da melhor forma possível.
Por exemplo, se você perguntar se ele está chorando porque o coleguinha bateu nele é
possível que ele responda que sim, mesmo que não seja esse o motivo, pois se alguma
vez algum coleguinha já deu algo parecido com tapinha e, ao ouvir esta pergunta, ele
poderá lembrar deste episódio e pode responderá que chora devido ao coleguinha,
mesmo que este tapinha não tenha a nada a ver com o choro atual. (<marisapsicologa.
com.br>).

Segundo Morris e Maisto, (2004): “A psicologia é o estudo científico do comportamento


e dos processos mentais. Busca tanto descrever como explicar todos os aspectos do
pensamento, das emoções, das percepções e das ações humanas.”

Figura 30.

Fonte: <http://www.clinicaestevaoferreira.pt/>

116
O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS │ UNIDADE IV

O psicólogo tem, de fato, um papel muito importante no tratamento dos transtornos


mentais. A psicologia clínica e o aconselhamento psicológico é a área especializada
no diagnóstico e no tratamento de distúrbios psicológicos – mentais, emocionais e
comportamentais – desde crises de curta duração até transtornos crônicos. Porém
somente os médicos psiquiatras podem receitar medicamento, caso seja necessário.
Nesse momento, o psicólogo deve encaminhar o paciente a um psiquiatra. Eles são os
únicos profissionais da saúde mental autorizados a prescrever remédios.

Vejamos a seguir alguns comportamentos indicadores da necessidade de procurar


ajuda de um psicólogo infantil (<marisapsicologa>, acesso: jan. 2016):

»» recusar-se a ir à escola repentinamente;

»» chorar em demasia;

»» dificuldade em acompanhar o que dado na escola;

»» excesso de necessidade de contato com a mãe ou pai;

»» recusa em estar próximo de uma pessoa específica;

»» comportamentos agressivos repentinos;

»» demora em falar ou andar;

»» xixi na cama;

»» pesadelos;

»» pedidos frequentes para dormir com os pais.

O psicólogo infantil é um profissional que conhece sobre a diversidade de


comportamentos e pensamentos das crianças, tanto analisando entre indivíduo como
entre grupos. Um conhecimento dessa amplitude pode ajudar a reduzir tensões que
surgem quando as crianças não se entendem ou quando elas não entendem a si mesmas.

De acordo Morris e Maisto (2004), os psicólogos utilizam alguns métodos de pesquisa


para estudar o comportamento humano e os processos mentais. Podemos ver:
observação natural, estudos de caso, os levantamentos a pesquisa correlacional e os
experimentos. Cada um tem suas vantagens e limitações:

»» Observação natural: os psicólogos utilizam esse método a fim de estudar


o comportamento em seu ambiente natural, onde acaba sendo, algumas
vezes, mais real e espontâneo que em consultórios, por exemplo.

117
UNIDADE IV │ O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

A interferência do psicólogo nesse caso é mínima. O profissional deve ter


cuidado, somente, para não criar viés ao emitir a sua opinião.

»» Estudo de caso: os pesquisadores investigam em profundidade o


comportamento de uma ou poucas pessoas. Esse tipo de método gera
grandes quantidades de informações detalhadas as quais são importantes
para a formulação de hipóteses.

»» Levantamento de pesquisa: esse método produz de maneira rápida e eficaz


e com pouco custo uma grande quantidade de dados, uma vez que se faz
um conjunto padronizado de perguntas a um grande número de pessoas.
O cuidado deve ser tomado na hora da formulação das perguntas.

»» Pesquisa correlacional: esse método é utilizado para investigar a relação,


ou correlação, existente entre duas ou mais variáveis.

»» Experimentos: esse método é solicitado quando um pesquisador desejar


formular conclusões sobre causa e efeito. O impacto de um fator pode ser
analisado enquanto todos os outros fatores permanecem constantes.

A grande aceitação do modelo cognitivo e cognitivo-comportamental se deve a diversos


fatores (MORRIS; MAISTO, 2004):

»» a proposição de diversos modelos de grande valor heurístico, que


possibilitam uma visão mais abrangente da psicopatologia dos transtornos
mentais ao incorporar, aos diferentes modelos etiológicos, o papel dos
pensamentos e crenças disfuncionais, além das aprendizagens errôneas;

»» a proposição de modelos e hipóteses testáveis por meio do desenvolvimento


de intervenções psicoterápicas geralmente breves, cuja eficácia pode ser
facilmente aferida;

»» a curta duração dos tratamentos de transtornos de Eixo I, que proporciona


uma melhor relação custo/benefício em relação aos tratamentos
tradicionais;

»» a elaboração de protocolos e manuais que permitem sua padronização e


reprodutibilidade por diferentes pesquisadores;

»» o desenvolvimento de escalas e instrumentos para aferição de desfechos


e a curta duração dos tratamentos possibilitou um melhor controle
de variáveis intervenientes, uma melhor aferição dos resultados –
barreiras até hoje não transpostas pelos tratamentos de longa duração
118
O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS │ UNIDADE IV

possibilitando uma grande expansão da pesquisa da TCC (terapia


cognitivo-comportamental).

A terapia cognitivo-comportamental possui tanto técnicas da terapia cognitiva como


da terapia comportamental, tendo demonstrado ser uma das técnicas mais eficazes no
tratamento de vários transtornos mentais, como depressão, transtornos alimentares,
transtornos de conduta, dentre outros.

O tratamento dos transtornos mentais é fundamental para que a criança tenha


condições de ter uma vida mais saudável e prazerosa junto com seus familiares
e amigos. A psicologia busca atuar na causa do comportamento e não apenas na
eliminação dos sintomas. Algumas vezes os pais levam os filhos apenas ao psiquiatra
realizando, assim, um tratamento apenas medicamentoso. Vale destacar que muitos
medicamentos atuam em questões emocionais eliminando apenas os sintomas, porém
a causa continua desconhecida e sem tratamento.

A psicologia procura compreender a origem e a causa do problema para conseguir


modificá-lo, além de conseguir prevenir uma recaída ou agravamento dos sintomas. E ao
contrário de outras  técnicas terapêuticas, a psicologia é um campo de estudos científico,
com  eficácia comprovada em vários estudos.

Figura 31.

Fonte: <http://www.anacarolinapsicologa.com/>

Na maioria das vezes as crianças não são compreendidas da maneira mais adequada
pelos pais, porém os pais percebem que algo de diferente pode haver com elas. Os pais
na tentativa de ajudar ou tentar obter uma resposta perguntam para seus filhos “qual
o problema?”, “o que está acontecendo?”, a resposta não aparece e olham para baixo,
desviando o olhar, saem correndo ou simplesmente fica olhando para você sem dizer
uma só palavra. Isso preocupa a maioria dos pais, a mãe se sente impotente diante
dessa situação, pois em sua cabeça ela deveria ajudar o filho sempre que algo de errado
acontecesse. Infelizmente nem sempre os filhos compartilham seus problemas com os

119
UNIDADE IV │ O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

pais, além do que muitas vezes nem a própria criança sabe de fato o que está sentindo
ou o que está acontecendo de diferente com ela, simplesmente sente um desconforto.

É justamente a causa desse desconforto que é preciso descobrir. São inúmeras as


possíveis causas do desconforto que pode levar ao adoecimento mental de uma criança.

Vejamos alguns exemplos:

»» agressão por outras crianças na escola;

»» ser molestada por adulto;

»» sentir falta da mãe no período em que encontra-se afastada, mesmo que


por curtos períodos;

»» ficar horas brincando sozinha em casa e acaba por se sentir excluída e


muito só.

Identificando a causa do desconforto, qual o medo, o que está deixando a criança


angustiada, os pais devem mostrar que há caminhos que podem ser trilhados e que
é muito importante conversar com um adulto sobre suas dificuldades. Caso os pais
não consigam sozinhos, um psicólogo infantil pode ajudar bastante nesse momento
delicado tanto para a criança como para a família.

O universo infantil é um tanto extenso e complexo, cada caso é um caso totalmente


diferente do outro. As crianças não reagem da mesma forma a determinado comando.
Umas são mais sensíveis e ficam extremamente tristes quando alguém altera o tom de
voz, já outra não liga se falarem de forma ríspida. Nem sempre o que dá certo com o filho
de uma amiga dará certo com o seu. Os sintomas que o coleguinha apresentou podem
ter sido originados por problemas muito diferentes do que o seu filho está passando.

Santos (2006, p. 316): “Por vezes o termo saúde mental fica restrito ao atendimento
psiquiátrico, desconsiderando-se sua abrangência e a contribuição de várias disciplinas
no atendimento de crianças com problemas emocionais e comportamentais”.

Quanto à procura de atendimento, ela foi maior para crianças entre 6 e 11 anos de idade,
o que vai ao encontro de outros dados da literatura (GRAMINHA; MARTINS, 1993).
É provável que até esta idade alguns problemas sejam vistos como “coisa de criança” e
melhor tolerados pelos pais. Além disso, a busca de atendimento coincide com a entrada
na escola e conseqüente aumento de exigências quanto à produção, comportamento e
sociabilidade da criança. Também se deve considerar que dificuldade de aprendizagem,
a segunda queixa mais frequente, começa a ser percebida na maioria das vezes com o
ingresso na 1a série (SANTOS, 2006, p. 320).
120
O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS │ UNIDADE IV

O papel do psicólogo infantil é compreender as dificuldades da  criança, objetivando


promover o alivio de sintomas e colaborando, assim, para o desenvolvimento de novas
soluções em busca de um crescimento e vida saudáveis. Trabalhando concomitantemente
com a família da criança na prevenção e promoção da saúde de todos os envolvidos,
acolhendo  pais  ou responsáveis  e suas angústias, dificuldades, fazendo orientações
conforme a necessidade. 

A criança, de pouca idade, normalmente tem dificuldade em expressar de forma


clara ou em palavras o que está sentindo, suas preocupações, medos e ansiedades.
Dessa forma, o psicólogo infantil costuma utilizar técnicas baseadas no brincar,
técnica conhecida como Ludoterapia, adaptada conforme a idade do paciente, como
jogos, desenhos, histórias, entre outros recursos. Durante a brincadeira, a criança
consegue expressar seus sentimentos, e o psicólogo consegue ainda fazer intervenções,
como trabalhar regras, o ganhar e perder, entre outras. Vejamos um pouco mais sobre
essa técnica.

Ludoterapia

A ludoterapia nada mais é que a psicoterapia adaptada para atender e realizar o


tratamento do público infantil mediante brincadeiras, onde a criança e o psicólogo
trocam experiências brincando. O objetivo dessa abordagem é fazer com que a criança
se expresse da melhor forma possível sem se sentir pressionada pelo fato de estar com
uma pessoa estranha (o psicólogo).

Algumas vezes a interação psicólogoxpaciente ocorre rapidamente, em outras demora


semanas e existem casos em que o psicólogo não consegue interagir com a criança. Nesse
último caso os pais não devem desistir, o próprio psicólogo perceberá e encaminhará a
criança para outro profissional iniciar o tratamento.

A ludoterapia surgiu, na década de 1920, a partir de estudos de Ana Freud e Melaine


Klein que analisavam as relações infantis e o processo de transferência de informações,
visando o tratamento psicológico (<ronaldopsicanalista.blogspot.com.br>).

Dessa forma, a psicoterapia infantil busca ajudar a criança a solucionar determinados


problemas e elaborar em formas de brincadeiras as situações traumáticas que vivenciou
durante o seu desenvolvimento.

A análise mediante brincadeiras aponta que o simbolismo possibilita a criança transferir


não somente interesses, como também fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos
além de pessoas, ou seja, através do brincar muito alívio é possibilitado. Diante disso,
podemos pensar que a criação, no uso da criatividade através do brincar seria um viés

121
UNIDADE IV │ O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

sublimatório; forma que ajuda a criança a colocar suas emoções à mostra, expostas via
objetos socialmente valorizados ou não.

Para Axline (1972) apud Castelo Branco (2001), a ludoterapia é um método de facilitar
às crianças a se ajudarem e afirma que esta abordagem baseia-se no fato de que o lúdico é
a forma natural de expressão delas. Por meio do brinquedo e de um ambiente facilitador
a criança se liberta de seus sentimentos e problemas, descobre o seu caminho, testa a si
própria, revela sua personalidade, toma a responsabilidade por seus próprios atos e vai
ao encontro do seu verdadeiro eu.

Figura 32.

Fonte: <http://www.differenza.psc.br/differenza/servicos.htm>

“A ludoterapia é uma técnica psicoterápica usada no tratamento dos distúrbios de


conduta infantis, baseia-se no fato de que o brincar é um meio natural de autoexpressão
da criança. Podendo ser utilizada de forma individual ou grupal. (<ronaldopsicanalista.
blogspot.com.br>).

O atendimento psicológico infantil, independente da linha teórica que o orienta,


parece quase sempre incluir o brincar como procedimento necessário, ferramenta
de intervenção valiosa ou instrumento de comunicação indispensável. Nessa mesma
linha de pensamento, segundo Bomtempo (1987): “Vários autores apontam para a
importância do brinquedo como meio de fornecer à criança um ambiente planejado e
enriquecido que possibilite a aprendizagem de habilidades”

De acordo com Guerrelhas, Bueno e Silvares (2000), “As disciplinas psicodinâmicas que
derivaram das ideias freudianas têm como importante ingrediente de desenvolvimento

122
O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS │ UNIDADE IV

os estudos e teorias relacionados à criança. De fato, psicólogos têm usado o brincar em


atendimentos infantis com esses objetivos há mais de 70 anos.”

As brincadeiras utilizadas pelos psicólogos são as mais variadas possíveis, ele irá analisar
conforme o perfil da criança. Podendo utilizar contos de fadas, de heróis, brincadeiras
de casinha, jogo o rabisco, desenho, pintura, modelagem, dentre outras atividades. Ao
brincar, a criança tem “consciência” que está se expondo e, ao confiar no psicólogo, ela
acaba expondo mediante representações as situações que a afligem.

Um conceito semelhante à zona lúdica, trazido por Rabinovich é a noção de estrutura de


oportunidades de experienciação do brincar. Segundo a autora, tal estrutura dependeria
também de três ordens de fatores (HANSEN et al., 2007):

»» a criança e suas características como idade, sexo, temperamento,


habilidades;

»» as características do espaço físico, como o tamanho e qualidade do espaço;

»» a organização sociocultural em que ela está inserida, levando em conta as


crenças parentais, as significações, emoções, entre outros.

Os três fatores relacionam-se entre si, interferindo-se mutuamente e gerando o “espaço


potencial do brincar”.

No momento em que as brincadeiras são realizadas ocorre um processo de


aprendizagem, o desenvolvimento de habilidades sociais específicas que permitem à
criança estabelecer e manter o contato social, além de estimularem as habilidades de
linguagem e habilidades físicas e motoras que propiciam o contato e a exploração do
mundo.

Embora a brincadeira seja uma atividade universal entre as crianças


de diferentes populações, cada cultura possui uma forma peculiar de
expressão que é um reflexo das características ambientais específicas.
Segundo Morais, tanto a brincadeira como os brinquedos que ela pode
envolver estão marcados pela identidade cultural e por características
sociais específicas de um grupo social. Diante disso, pode-se dizer
que ao mesmo tempo em que a brincadeira constitui-se como uma
característica universal, ela possui aspectos específicos que irão
depender de diversos fatores, tais como ambiente físico, social, cultural
e as características da criança (HANSEN et al., 2007).

123
UNIDADE IV │ O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

A criança consegue se expressar melhor por meio das brincadeiras do que por palavras
e assim acredita que ao representar o psicólogo está compreendendo tudo o que ela
está querendo repassar a ele. A brincadeira é uma forma de linguagem tão clara para
as crianças que ela acredita que seu significado seja também compreensível para os
outros. É bastante comum, ao terminar a sessão a criança pedir ao psicólogo que não
mostre o desenho aos pais. Vejamos a seguir um exemplo de desenho onde o pai se
torna violento ao ingerir bebida alcoólica e acaba abusando da criança:

Figura 33.

Fonte: <http://conselhotutelardeitapetinga.blogspot.com.br>

O desenho, na maioria das vezes, é a ferramenta preferida em uma consulta com


crianças. A sua obra denuncia o que se passa em suas casas, na dinâmica familiar, ou em
suas vidas. A criança acredita na cumplicidade do terapeuta em guardar esse segredo.
Outro exemplo de técnica utilizada é a brincadeira com os bonecos, onde representam
a família e a criança. Na brincadeira, os bonecos brigam, falam alto e batem em um
boneco menor (a criança) ou o boneco (pai) bate na boneca (mãe). Ao perceber a forma
que a criança brinca, o psicólogo tem abertura para conversar com a criança sobre a
brincadeira e aos poucos sondar onde ele vê isso se na própria vida ou em filmes.

A maioria das crianças aceita bem a ludoterapia e acabam criando um vínculo com
o terapeuta facilitando o surgimento da confiança e tendem a brincar livremente. Há
criança que prefere os jogos, justamente por não precisar se expor muito devido ao fato
das regras e comportamento já serem previamente definidas. O psicólogo precisa saber
o momento de avançar para outra técnica, caso não consiga por resistência da criança,
as consultas se tornarão ineficazes e frustrantes uma vez que não haverá atividade
projetiva nem verbalização do conflito e o psicólogo não conseguirá ajudar a criança a
lidar com a dificuldade que a trouxe ali.

Pode-se afirmar que somente depois de meados da década de 1980 é que as comunicações
sobre o brincar com a criança em terapia comportamental tiveram maior impacto no
cenário científico, fazendo com que a referência à ludoterapia comportamental infantil,

124
O PAPEL DO PSICÓLOGO INFANTIL NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS │ UNIDADE IV

na década de 1990, não causasse estranheza aos clínicos infantis da área (GUERRELHAS;
BUENO; SILVARES, 2000).

Segundo os autores, a necessidade de um papel ativo da criança para que ela seja a
responsável principal pela mudança, através do controle do ambiente é fundamental
para o sucesso da terapia. O manejo de contingências pela própria criança parece ser mais
durável e eficiente mesmo quando os pais são envolvidos no tratamento. A partir deste
pressuposto, são enumerados os principais pontos do atendimento comportamental
infantil:

»» a criança é envolvida na ação, pela brincadeira;

»» os sentimentos, pensamentos, fantasias e ambiente da criança são


focalizados;

»» os procedimentos são baseados no ensino de estratégias de enfrentamento


e manejo de situações-problema;

»» a terapia é estruturada, diretiva e orientada a um alvo específico.


O terapeuta auxilia a própria criança a planejar metas;

»» a intervenção incorpora procedimentos comportamentais de validade


empiricamente demonstrada, como modelação, modelagem, reforçamento
diferencial, extinção, entre outros;

»» o trabalho permite o exame empírico e o estudo dos efeitos do tratamento.

Em suma, um conselho que o psicólogo infantil pode dar aos pais, cuidadores,
professores etc. é para jamais interferir nos desenhos das crianças. É comum as
pessoas podarem as crianças quando elas desenham coisas inesperadas como: árvores
com peixes ou casas suspensas no céu. Melhor aguardar a explicação do desenho e
esperar a criança revelar o porquê sua árvore é diferente das demais ou o motivo de
sua casa ficar suspensa no ar. A sua resposta mostrará que ao invés de ser uma criança
distante da realidade, mostrará apenas a sua originalidade e que a sua capacidade de
afirmar as próprias opiniões está em desenvolvimento.

Dessa forma, o foco da intervenção comportamental infantil pode ser o comportamento


dos pais, a interação pais e filhos ou o comportamento da criança desde que esta tenha
participação ativa no tratamento.

O psicólogo não agirá sozinho com o paciente portador de transtornos mentais. Como
foi dito anteriormente é fundamental a presença de uma equipe multidisciplinar para
que o tratamento obtenha resultados positivos.
125
Para (não) Finalizar

A importância da saúde mental nas crianças


A disciplina sobre Transtornos Mentais buscou abordar os principais transtornos que
se manifestam nas crianças. A saúde mental infantil é de suma importância e não
pode ser esquecida ou posta em segundo plano uma vez que afeta todas as áreas do
desenvolvimento da criança e impacta na saúde física e mental da família e no rendimento
escolar, com suas óbvias consequências na vida adulta. Os impactos causados pela
angústia familiar, situações de conflito e desempenho social inadequado na infância
são difíceis de mensurar, sobretudo vimos que transtornos mentais na infância, se não
tratados corretamente e com o devido acompanhamento multidisciplinar (psicólogo,
médico, família, escola etc.) continuará se manifestando no adulto.

Cada criança tem seu tempo certo, cada criança tem a sua personalidade, cada criança
tem um jeitinho único, porém existe o que se espera de determinada faixa etária e também
o que se espera de um comportamento dentro da normalidade. Por isso, qualquer sinal
deve ser percebido, analisado e precisa, sim, receber a devida importância. Ouve-se
muito as pessoas falarem a seguinte frase para justificar um mau comportamento ou
uma má criação: “É fase!” ou “É coisa de criança”. Sim, pode até ser. Mas é preciso
observar até quando essa “fase ou comportamento” irão durar. E verificar se isso está
afetando o desenvolvimento da criança ou afetando o convívio familiar.

Como foi visto é muito importante abordarmos esse assunto junto aos profissionais
da saúde mental uma vez que, caso haja algum transtorno mental, o impacto positivo
que um diagnóstico correto pode ter sobre o futuro de pacientes que estão em tenra
fase do seu desenvolvimento é fundamental para que o tratamento seja um sucesso.
A equipe multidisciplinar vem melhorando a cada dia com pesquisas e instrumentos
para atender com mais precisão esses pacientes.

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