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Informativo 947-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos cujo julgamento ainda não foi concluído em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados
assim que chegarem ao fim: ACO 701 AgR/AL; RE 593818/SC; HC 146672/DF; Inq 4075/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei municipal que preveja que o Poder Executivo poderá conceder autorização para que sejam
explorados serviços de radiodifusão no Município.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Lei estadual pode prever o pagamento de gratificação para servidores mesmo que estes já recebam subsídio caso
essa gratificação sirva para remunerar atividades que extrapolem aquelas que são normais do cargo.
Na falta de lei específica que regulamente a aposentadoria especial dos servidores públicos portadores de
deficiência (art. 40, § 4º, I, da CF/88), deve ser aplicada a LC 142/2013, que trata sobre a aposentadoria especial de
pessoas com deficiência no RGPS.
RESPONSABILIDADE CIVIL
A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização contra o Estado; se este for condenado, poderá acionar o
servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa; o ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra
o agente público.
DIREITO PENAL
CRIMES HEDIONDOS
Com a revogação do art. 224 do CP pela Lei 12.015/2009, há de ser redimensionada a pena aplicada ao condenado,
subtraindo-lhe o acréscimo sofrido em razão do aumento da pena previsto no art. 9º da Lei nº 8.072/90, que foi
tacitamente revogado.
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei municipal que preveja que o Poder Executivo poderá conceder autorização
para que sejam explorados serviços de radiodifusão no Município
Esta lei apresenta um vício de inconstitucionalidade formal. Isso porque o art. 21, XII, “a”, da CF/88
estabelece que a competência para conceder autorização para tais serviços é da União:
Art. 21. Compete à União:
(...)
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
Além disso, o art. 22, IV, da CF/88 confere à União a competência privativa para legislar sobre o tema:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
Por fim, o art. 223 do texto constitucional normatiza a forma de outorga das concessões, permissões e
autorizações para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, nos seguintes termos:
Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização
para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da
complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Lei estadual pode prever o pagamento de gratificação para servidores mesmo que estes já
recebam subsídio caso essa gratificação sirva para remunerar atividades que extrapolem
aquelas que são normais do cargo
Importante!!!
O § 4º do art. 39 da CF/88 prevê que os servidores remunerados pelo regime de subsídio
recebem “parcela única” mensal, sendo “vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória”.
Vale ressaltar, no entanto, que o art. 39, § 4º, da CF/88 não estabelece uma vedação absoluta
ao pagamento de outras verbas além do subsídio.
O modelo de remuneração por subsídio tem por objetivo evitar que atividades “normais”
exercidas pelo servidor público, ou seja, atividades que são inerentes ao cargo que ele ocupa
(e que já são remuneradas pelo subsídio) sejam também remuneradas com o acréscimo de
outras parcelas adicionais.
Dito de outra forma: o subsídio remunera o servidor pelas atividades que ele realiza e que são
inerentes ao seu cargo, ou seja, as atividades “normais” de seu cargo. O art. 39, § 4º proíbe que
este servidor receba outras verbas (além do subsídio) para exercer essas atividades
“normais”.
Contudo, o art. 39, § 4º, não proíbe que o servidor receba:
a) valores que não ostentam caráter remuneratório, como os de natureza indenizatória; e
b) valores pagos como retribuição por eventual execução de encargos especiais não incluídos
no plexo das atribuições normais e típicas do cargo considerado.
O que o art. 39, § 4º, da CF/88 impede é a acumulação do subsídio com outras verbas
destinadas a retribuir o exercício de atividades próprias e ordinárias do cargo.
Justamente por isso, é constitucional lei estadual que preveja o pagamento de gratificação
para servidores que já recebem pelo regime de subsídio quando eles realizarem atividades
que extrapolam as funções próprias e normais do cargo.
Essas atividades, a serem retribuídas por esta parcela própria, detêm conteúdo ocupacional
estranho às atribuições ordinárias do cargo e, portanto, podem ser remuneradas por
gratificação além da parcela única do subsídio, sem que isso afronte o art. 39, § 4º, da CF/88.
Essa gratificação somente seria inconstitucional se ficasse demonstrado que estaria havendo
um duplo pagamento pelo exercício das mesmas funções normais do cargo.
STF. Plenário. ADI 4941/AL, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado
14/8/2019 (Info 947).
ADI
Foi ajuizada uma ADI contra esta lei sob o argumento de que os servidores da Assembleia Legislativa
recebem sua remuneração por meio do sistema de subsídio.
Subsídio significa “parcela única” (um único valor). Logo, não seria possível que o servidor recebesse o
subsídio mais essa gratificação.
Desse modo, a previsão dessa gratificação ofenderia o art. 39, § 4º, da CF/88, que prevê o seguinte:
Art. 39 (...)
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação
ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
(Incluído pela EC 19/98)
Regime de subsídios
Era comum na Administração Pública que determinados servidores recebessem, como remuneração, uma
parcela fixa que era acrescida de várias gratificações, adicionais, abonos etc. Assim, o servidor recebia seu
vencimento e mais uma série de “penduricalhos”. Isso fazia com que a remuneração dos servidores
acabasse crescendo desordenadamente, sem que a Administração Pública tivesse um controle efetivo
sobre isso.
Para corrigir essa situação, a EC 19/98 inseriu o § 4º ao art. 39 da CF/88 criando o sistema de “subsídio”.
Em que consiste isso? O legislador afirmou que determinadas carreiras de servidores deveria receber sua
remuneração por meio de “parcela única” mensal, sendo “vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória”.
Desse modo, após a edição da EC 19/98, o subsídio passou a reunir, sob um único título genuinamente
remuneratório, todos e quaisquer valores pagos aos servidores como contraprestação pelo trabalho
executado no desempenho normal de suas funções.
Segundo explicou o Min. Luiz Fux, o objetivo da criação do regime de subsídio foi o de
“criar um padrão confiável de correspondência entre o que é atribuído e o que é efetivamente
pago pelo exercício do cargo público.
Assim, se elimina prática corriqueira na Administração Pública, em que aumentos salariais são
concedidos de maneira artificiosa, na forma de benefícios adicionais, instituídos mediante
alíquotas de incidências caprichosas, confusas e sucessivas, cuja aplicação frequentemente
conduz a excessos ilegítimos.”
Além disso, existem alguns dispositivos esparsos da CF/88 que exigem o regime de subsídio para as
seguintes carreiras:
a) membros do Ministério Público (art. 128, § 5º, I, “c”);
b) membros da Defensoria Pública (art. 135);
c) membros da Advocacia Pública (art. 135);
d) Ministros do TCU (art. 73, § 3º);
e) servidores policiais (art. 144, § 9º).
As carreiras acima listadas devem obrigatoriamente receber por meio de subsídio. A lei não pode estipular
forma diferente, sob pena de ser inconstitucional.
Voltando ao caso concreto: os servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas recebem por meio de
subsídio. Diante disso, poderia a lei ter criado essa “Gratificação de Dedicação Excepcional”? Essa
gratificação é compatível com o regime de subsídio previsto no art. 39, § 4º da CF/88?
SIM.
O STF afirmou que é necessário definir o sentido e o alcance do modelo de subsídio, instituído pelo art.
39, § 4º, da Constituição Federal.
Uma leitura isolada do art. 39, § 4º, da CF/88 pode sugerir que o pagamento do subsídio há de ser feito
de maneira absolutamente monolítica, ou seja, sem o acréscimo de qualquer outra parcela. Todavia, essa
compreensão é equivocada.
Uma interpretação sistemática revela que a própria Constituição, no art. 39, § 3º, assegura a todos os
servidores públicos, sem distinção, a fruição de grande parte dos direitos sociais do art. 7º, que envolve
pagamento de verbas adicionais, cumuláveis com a do subsídio, tais como adicional de férias, décimo
terceiro salário, acréscimo de horas extraordinárias, adicional de trabalho noturno, entre outras.
Portanto, não há no art. 39, § 4º, da CF/88 uma vedação absoluta ao pagamento de outras verbas além
do subsídio.
O recebimento de gratificações nas duas situações acima não ofende o regime de subsídio.
O que o art. 39, § 4º, da CF/88 impede é a acumulação do subsídio com outras verbas destinadas a retribuir
o exercício de atividades próprias e ordinárias do cargo.
Em suma:
É constitucional lei estadual que preveja o pagamento de gratificação para servidores que já recebem
pelo regime de subsídio quando eles realizarem atividades que extrapolam as funções próprias e
normais do cargo.
Essas atividades, a serem retribuídas por esta parcela própria, detêm conteúdo ocupacional estranho às
atribuições ordinárias do cargo e, portanto, podem ser remuneradas por gratificação além da parcela
única do subsídio, sem que isso afronte o art. 39, § 4º, da CF/88.
Essa gratificação somente seria inconstitucional se ficasse demonstrado que estaria havendo um duplo
pagamento pelo exercício das mesmas funções normais do cargo.
STF. Plenário. ADI 4941/AL, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado 14/8/2019
(Info 947).
SERVIDORES PÚBLICOS
Na falta de lei específica que regulamente a aposentadoria especial dos servidores públicos
portadores de deficiência (art. 40, § 4º, I, da CF/88), deve ser aplicada a LC 142/2013, que trata
sobre a aposentadoria especial de pessoas com deficiência no RGPS
Importante!!!
O art. 40, § 4º, I, da CF/88 prevê que o servidor público com deficiência possui direito à
aposentadoria com requisitos e critérios diferenciados (aposentadoria especial). Ocorre que
o dispositivo constitucional exige que uma lei complementar regulamente essa aposentadoria,
sendo, portanto, uma norma constitucional de eficácia limitada.
Até o presente momento, não foi editada essa lei complementar, havendo, portanto, uma
omissão inconstitucional.
Diante disso, a LC nº 142/2013, que regulamentou a aposentadoria especial de pessoas com
deficiência no Regime Geral de Previdência Social, deve ser aplicada aos pedidos de
Servidores que exerçam atividades de risco (art. 40, § 4º, II). A CF exige que seja editada uma lei
complementar.
Servidores que exerçam atividades sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física (art. 40, § 4º, III).
Logo, a CF/88 exige a edição de uma LEI COMPLEMENTAR definindo os critérios para a concessão da
aposentadoria especial aos servidores públicos. A Lei deverá, inclusive, elencar as carreiras que se
encontram em situação de risco ou cujas atividades prejudiquem a saúde ou integridade física.
Inciso III: quanto à aposentadoria especial prevista no inciso III, a omissão legislativa subsiste. Contudo, o
STF editou a súmula vinculante 33, que determina a aplicação do Regime Geral da Previdência Social para
esta aposentadoria especial:
SV 33: Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre
aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei
complementar específica.
Desse modo, apenas em relação à hipótese do inciso II (atividades de risco) persiste uma omissão.
Contra quem deverá ser proposto esse mandado de injunção? De quem é a competência para julgá-lo?
O mandado de injunção deve ser impetrado em face do Presidente da República, do Presidente do Senado
Federal e do Presidente da Câmara dos Deputados.
Logo, este mandado de injunção deverá ser impetrado no STF (art. 102, I, “q”, da CF/88).
Por que?
Porque o STF entende que a lei complementar de que trata o § 4º do art. 40 é uma lei complementar
nacional, ou seja, uma lei complementar editada pelo Congresso Nacional e que regule o tema de modo
uniforme, de caráter geral, a fim de evitar criação de regras distintas pelos Estados-Membros para
servidores em situações semelhantes.
Logo, não é correto dizer que o Estado-membro é que está sendo omisso. Isso porque a responsabilidade
pela edição da lei é do Presidente da República (iniciativa) e do Congresso Nacional (aprovação).
O STF concordou com o pedido formulado por João? O que acontece neste caso, já que não existe a LC?
SIM.
O STF acolheu o pedido formulado no mandado de injunção e reconheceu o direito do impetrante —
servidor público com deficiência — de ver analisado o requerimento de aposentadoria apresentado com
base no art. 40, § 4º, I, da CF/88, consideradas as normas da LC 142/2013.
LC 142/2013
Conforme já explicado acima, a Lei Complementar nº 142/2013 regulamenta o § 1º do art. 201 da CF/88,
dizendo como deve ser a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do RGPS:
Art. 201 (...)
Em princípio, a LC 142/2013 não incidiria para os servidores públicos porque ela menciona que se aplica
apenas ao RGPS. No entanto, diante da “mora legislativa” do Presidente da República, que ainda não
enviou ao Congresso Nacional o projeto de lei para regulamentar o art. 40, § 4º, I da CF/88, deve ser
aplicada a LC 142/2013 também aos servidores públicos.
A existência de lei regulamentando a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral
de Previdência Social – RGPS (§ 1º do art. 201 da Constituição) e a ausência de diploma normativo sobre
a aposentadoria do servidor público com deficiência (art. 40, § 4º, inc. I, da Constituição) poderiam
desigualar pessoas com idênticas deficiências apenas pelo cargo ocupado (público ou privado).
Vale ressaltar que existem precedentes inclusive do Plenário do STF nesse sentido:
A LC nº 142/2013, que regulamentou a aposentadoria especial de pessoas com deficiência no Regime
Geral de Previdência Social, deve ser aplicada aos pedidos de aposentadoria de servidores públicos com
deficiência, por se tratar de diploma mais adequado para suprir a omissão na regulamentação do art. 40,
§ 4º, I, da CF/1988.
STF. Plenário. MI 6712 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/06/2019.
A LC 142 foi editada em 2013. Ela pode ser aplicada para períodos anteriores à sua edição?
SIM. É possível a adoção das normas da LC 142/2013 inclusive de forma retroativa para suprir a omissão
do Congresso Nacional.
Em suma:
Aplicam-se ao servidor público com deficiência as regras da LC 142/2013 (que regulamenta a
aposentadoria dos trabalhadores com deficiência do RGPS) até edição de lei complementar específica
regulamentando o art. 40, § 4º, I, da CF/88.
Configurada a mora legislativa, surge imperiosa a observância, ante a especificidade, da LC 142/2013,
bem como do Decreto regulamentador, como critério em relação a todo o período de serviço, no exame
dos pedidos de aposentadoria especial formulados por servidor público portador de deficiência.
A LC nº 142/2013, que regulamentou a aposentadoria especial de pessoas com deficiência no Regime
Geral de Previdência Social, deve ser aplicada aos pedidos de aposentadoria de servidores públicos com
deficiência, por se tratar de diploma mais adequado para suprir a omissão na regulamentação do art.
40, § 4º, I, da CF/1988.
Assim, o servidor público com deficiência possui o direito de ver analisado o requerimento de
aposentadoria especial apresentado com base no art. 40, § 4º, I, da CF/88 utilizando-se das normas da
LC 142/2013.
STF. 1ª Turma. MI 6818/DF e MI 6988/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 13/8/2019 (Info 947).
RESPONSABILIDADE CIVIL
A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização contra o Estado; se este for condenado,
poderá acionar o servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa; o ofendido não poderá
propor a demanda diretamente contra o agente público
Importante!!!
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por
agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado
prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019 (repercussão geral)
(Info 947).
A responsabilidade do Estado, nesse caso, é OBJETIVA. Assim, a vítima somente terá que provar:
• O fato do serviço (conduta do agente público, sem precisar provar dolo ou culpa);
• O dano sofrido;
• O nexo de causalidade entre o fato e o dano.
A vítima poderá propor a ação diretamente contra o servidor causador do dano? Cristina poderá ajuizar
a ação de indenização contra Jomar?
NÃO.
A vítima somente poderá ajuizar a ação contra o Estado (Poder Público). Se este for condenado, poderá
acionar o servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa.
O ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra o agente público.
Da leitura do § 6º do art. 37 da CF/88, é possível perceber que o dispositivo consagrou duas garantias:
• a primeira, em favor do particular lesado, considerando que a CF/88 assegura que ele poderá ajuizar
ação de indenização contra o Estado, que tem recursos para pagar, sem ter que provar que o agente
público agiu com dolo ou culpa;
• a segunda garantia é em favor do agente público que causou o dano. A parte final do § 6º do art. 37,
implicitamente, afirma que a vítima não poderá ajuizar a ação diretamente contra o servidor público que
praticou o ato. Este servidor somente pode ser responsabilizado pelo dano se for acionado pelo próprio
Estado, em ação regressiva, após o Poder Público já ter ressarcido o ofendido.
Outro argumento invocado é o princípio da impessoalidade. O agente público atua em nome do Estado (e
não em nome próprio). Logo, quem causa o dano ao particular é o Estado (e não o servidor). Por isso, o
prejudicado só pode acionar o Poder Público. É a opinião, por exemplo, de José Afonso da Silva (Curso de
Direito Constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 1998).
objetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde
administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular.
STF. 1ª Turma. RE 327904, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 15/08/2006.
DIREITO NOTARIAL E
REGISTRAL
PERMUTA E RECLAMAÇÃO
Candidata aprovada no concurso e que havia escolhido a serventia possui legitimidade para
ajuizar reclamação no STF contra decisão de 1ª instância que afirma que essa serventia não está
vaga, sendo que esse tema já havia sido decidido pelo STF em mandado de segurança
O CNJ determinou a vacância de uma serventia extrajudicial por violação à regra do concurso
público. O titular da serventia impetrou mandado de segurança no STF questionando o ato do
Conselho, tendo o writ sido julgado improcedente, com trânsito em julgado.
Foi aberto concurso público e determinada candidata aprovada escolheu essa serventia para
investidura.
Ocorre que o antigo titular ajuizou ação declaratória, em 1ª instância, para excluir o
oferecimento desta serventia, tendo o magistrado julgado o pedido procedente para o fim de
excluir esse cartório da lista de serventias vagas e disponíveis aos aprovados no concurso.
Essa candidata aprovada tem legitimidade para questionar essa decisão de 1ª instância
mediante reclamação no STF, considerando que é terceira interessada.
Quanto ao mérito, essa decisão de 1ª instância violou aquilo que o STF decidiu.
Ao apreciar o MS, o STF entendeu ser ilícita a remoção por permuta sem concurso público e
afirmou a validade da determinação de vacância exarada pelo CNJ.
Na ação declaratória, o pleito principal deduz não ser possível considerar vago o cartório em
questão para fins de ser preenchido.
Assim, pretende-se burlar aquilo que já foi pacificado pelo STF.
A discussão sobre o mesmo objeto não pode ser levada para as vias ordinárias após o STF ter
decidido o mandado de segurança. Portanto, não é possível a manutenção do ato reclamado,
que permitiu a permanência do autor na serventia extrajudicial.
STF. 1ª Turma. Rcl 31937 AgR/ES, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/8/2019 (Info 947).
O art. 236, § 3º, da CF/88 exige concurso público para o ingresso na atividade notarial e registral:
Art. 236 (...)
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos,
não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento
ou de remoção, por mais de seis meses.
Essa exigência de concurso público aplica-se não apenas para o ingresso nas atividades notarial e registral,
mas também para os casos de permuta, conforme entendimento consolidado do STF:
O concurso público é providência necessária tanto para o ingresso nas serventias extrajudiciais quanto
para a remoção e para a permuta (art. 236, § 3º, do CRFB/88).
STF. Plenário. Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 31/08/2018.
Em suma, João “perdeu” no processo de mandado de segurança impetrado no STF e houve o trânsito em
julgado.
Concurso público
Diante disso, o Tribunal de Justiça realizou concurso público e uma das serventias oferecidas foi
justamente o 5º Tabelionato de Notas.
Maria foi aprovada em 1º lugar no concurso e escolheu o 5º Tabelionato de Notas.
Ação declaratória
Antes que Maria assumisse a serventia, João ajuizou ação declaratória na 1ª instância da Justiça Estadual
alegando que o TJ não poderia ter considerado vago o 5º Tabelionato de Notas, considerando que os
direitos do autor teriam sido desrespeitados.
Maria foi chamada a participar do processo na condição de terceira interessada. Ela apresentou
contestação refutando o pedido do autor.
O juiz julgou o pedido procedente determinando a exclusão do cartório da lista de serventias disponíveis
e ainda condenou Maria a pagar as custas processuais de sucumbência.
Reclamação
Maria ajuizou reclamação no STF afirmando que essa sentença violou o que o Supremo já havia decidido
no julgamento do mandado de segurança que transitou em julgado.
Parte interessada
O ministro Luiz Fux assinalou que a reclamante deve ser considerada como “parte interessada” a que se
refere o art. 988 do CPC, na medida em que a sua legitimidade decorre de seu qualificado interesse
processual em fazer prevalecer a coisa julgada desrespeitada:
Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:
(...)
Em suma:
O CNJ determinou a vacância de uma serventia extrajudicial por violação à regra do concurso público.
O titular da serventia impetrou mandado de segurança no STF questionando o ato do Conselho, tendo
o writ sido julgado improcedente, com trânsito em julgado.
Foi aberto concurso público e determinada candidata aprovada escolheu essa serventia para
investidura.
Ocorre que o antigo titular ajuizou ação declaratória, em 1ª instância, para excluir o oferecimento desta
serventia, tendo o magistrado julgado o pedido procedente para o fim de excluir esse cartório da lista
de serventias vagas e disponíveis aos aprovados no concurso.
Essa candidata aprovada tem legitimidade para questionar essa decisão de 1ª instância mediante
reclamação no STF, considerando que é terceira interessada.
Quanto ao mérito, essa decisão de 1ª instância violou aquilo que o STF decidiu.
Ao apreciar o MS, o STF entendeu ser ilícita a remoção por permuta sem concurso público e afirmou a
validade da determinação de vacância exarada pelo CNJ.
Na ação declaratória, o pleito principal deduz não ser possível considerar vago o cartório em questão
para fins de ser preenchido.
Assim, pretende-se burlar aquilo que já foi pacificado pelo STF.
A discussão sobre o mesmo objeto não pode ser levada para as vias ordinárias após o STF ter decidido
o mandado de segurança. Portanto, não é possível a manutenção do ato reclamado, que permitiu a
permanência do autor na serventia extrajudicial.
STF. 1ª Turma. Rcl 31937 AgR/ES, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/8/2019 (Info 947).
DIREITO PENAL
CRIMES HEDIONDOS
Com a revogação do art. 224 do CP pela Lei 12.015/2009, há de ser redimensionada a pena
aplicada ao condenado, subtraindo-lhe o acréscimo sofrido em razão do aumento da pena
previsto no art. 9º da Lei nº 8.072/90, que foi tacitamente revogado
A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi tacitamente revogada
pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era
mencionado pelo referido art. 9º.
Se um indivíduo foi condenado, antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de estupro contra
menor de 14 anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º da Lei de Crimes Hediondos,
esta majorante deverá ser retirada de sua condenação por força da novatio legis in mellius
(art. 2º, parágrafo único, do CP).
Diante da revogação do art. 224 do CP pela Lei nº 12.015/2009, ainda que o fato delituoso seja
anterior a esta alteração, é o caso de se decotar da pena do condenado o acréscimo baseado
no art. 9º da Lei nº 8.072/90.
STF. Plenário. HC 100181/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 15/8/2019 (Info 947).
Essa causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos ainda está em vigor?
NÃO. O entendimento do STJ e do STF é o de que o art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi revogado
tacitamente pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era
mencionado pelo art. 9º.
Logo, como não mais existe o art. 224 no CP, conclui-se que o art. 9º da Lei de Crimes Hediondos perdeu
a eficácia (expressão utilizada em um voto do Min. Dias Toffoli).
O art. 9º da Lei de Crimes Hediondos ficou carente de complemento normativo em vigor, razão pela qual
foi revogada a causa de aumento nele consignada.
Imagine que uma pessoa foi condenada, antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de estupro contra
menor de 14 anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º da Lei de Crimes Hediondos. Como
ocorreu a revogação tácita do art. 9º, essa pessoa poderá alegar que houve novatio legis in mellius e
pedir para retirar de sua condenação a causa de aumento do art. 9º?
SIM. Essa causa de aumento deve ser extirpada da reprimenda já imposta, por força do princípio da
novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo único, do CP):
Art. 2º (...)
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Com a revogação expressa do art. 224 do Código Penal pela Lei nº 12.015/2009, há de ser redimensionada
a pena aplicada ao condenado, subtraindo-lhe o acréscimo sofrido em razão do aumento da pena previsto
no art. 9º da Lei nº 8.072/90, considerando-se o princípio da novatio legis in mellius, previsto no art. 2º,
parágrafo único, do CP.
STJ. 5ª Turma. HC 428.251/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/04/2018.
Em suma:
A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi tacitamente revogada pela Lei nº
12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era mencionado pelo referido art. 9º.
Se um indivíduo foi condenado, antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de estupro contra menor de 14
anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º da Lei de Crimes Hediondos, esta majorante deverá
ser retirada de sua condenação por força da novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo único, do CP).
Diante da revogação do art. 224 do CP pela Lei nº 12.015/2009, ainda que o fato delituoso seja anterior
a esta alteração, é o caso de se decotar da pena do condenado o acréscimo baseado no art. 9º da Lei nº
8.072/90.
STF. Plenário. HC 100181/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 15/8/2019 (Info 947).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) É formalmente e materialmente inconstitucional lei municipal que autoriza o Poder Executivo Municipal a conceder a
exploração do Serviço de Radiodifusão Comunitária no âmbito do território do Município. ( )
2) Lei estadual pode prever o pagamento de gratificação para servidores mesmo que estes já recebam subsídio caso
essa gratificação sirva para remunerar atividades que extrapolem aquelas que são normais do cargo. ( )
3) Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre aposentadoria
especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei complementar específica. ( )
4) Na falta de lei específica que regulamente a aposentadoria especial dos servidores públicos portadores de
deficiência (art. 40, § 4º, I, da CF/88), devem ser aplicadas as regras da Lei 8.213/91, que trata sobre os benefícios
no regime geral da previdência social. ( )
5) A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público deve ser
ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima
para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. ( )
6) A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi tacitamente revogada pela Lei nº
12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era mencionado pelo referido art. 9º. ( )
Gabarito
1. E 2. C 3. C 4. E 5. C 6. C