DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA em face do ESTADO DE GOIÁS e MUNICÍPIO DE GOIÂNIA todos devidamente qualificados na Inicial.
Além de todas as obrigações dispostas acima, o
Estado de Goiás instituiu, por meio da edição do Decreto 5.159/1999 que “institui o Programa de Descentralização das Ações Ambientais no Estado de Goiás" e do Decreto 5.226/2000, art. 4°, inciso VI que determinou a "atribuição da Agência Goiana do Meio Ambiente -AGMA" a “apoiar os municípios na implantação e no desenvolvimento de sistemas de gestão destinados a prevenir e corrigir a poluição ou a degradação do meio ambiente”, a necessidade de promover o licenciamento ambiental de suas Estações de Rádio Base.
Tal obrigação tomou forma com a instituição do
Conselho Estadual do Meio Ambiente (CEMAm), regulamentado pelo Decreto Estadual n° 5.805, de 21 de julho de 2003 (doc. 05), que serviu de lastro para edição da Resolução 069/2006 CEMAn (doc. 06), que incluiu, ao arrepio da Resolução 237/1997 do CONAMA, a atividade de telefonia em seu rol como atividade objeto de licenciamento ambiental no âmbito do Estado de Goiás pelos municípios conveniados. Discorreu sobre o que lhe era de direito, pugnando para que seja declarado incidentalmente, em sede de controle difuso, a inconstitucionalidade da exigência de licenciamento ambiental de Estações de Rádio Base no Município de Goiânia/GO, exigida em função do Decreto Estadual n° 5.805/2003 e Resoluções CEMAn 69/2006 e 02/2016, e eventuais outras normas nesse sentido, antes de sua revogação expressa provocado pelo Decreto Estadual nº9.679/ 2020 e Lei Estadual n° 20.694/2019, declarando sua proscrição jurídica, determinando que os requeridos se inibam de exigir qualquer ato/exigência decorrente do licenciamento ambiental no âmbito Municipal nesse período, evitando a prática de qualquer ato que impeça a instalação e funcionamento de Estações de Rádio Base da Autora, bem como a lavratura ou qualquer ato de cobrança decorrente auto de infração e imposição de multa.
Citados, os requeridos sustentaram a legalidade
da referida exigência ambiental, pugnando, oportunamente, pela improcedência da ação.
Réplica a contestação.
Instado a se manifestar, o Ministério Público
opinou pela ausência de interesse em intervir no feito.
Oportunizadas a produzirem provas, as partes
pugnaram pelo julgamento antecipado da lide.
Após, vieram-me conclusos os autos.
É O RELATÓRIO.
DECIDO.
Compulsando os autos, vejo que a presente
demanda já se encontra-se devidamente fundamentada, pronta para seu deslinde.
Ao que parece, o imbróglio dos autos cinge-se
na legalidade da exigência de licença ambiental para instalação de torres de telefonia e estações de rádio base.
A Constituição Federal estabelece atribuições
e responsabilidades de cada ente da Federação com o objetivo de evitar eventuais sobreposições de atribuições e edições de normas conflitantes e contraditórias. Desse modo, verifica-se que a disciplina legal dos temas relacionados às telecomunicações e à exploração dos mesmos devem ser estabelecidas privativamente pela União.
O art. 21, inciso XI, e art. 22, inciso IV, da
Constituição Federal dispõem o seguinte:
“Art. 21. Compete à União:
(...)
XI - explorar, diretamente ou mediante
autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais” “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão.
Urge obtemperar que o legislador Federal
editou a Lei Geral de Telecomunicações, do qual dispõe sobre a organização dos serviços, criação e funcionamento de órgão regulador, in casu, ANATEL, sendo esta ultima competente para expedir normas.
Pois bem. Em recente julgado, o Supremo
Tribunal Federal, no julgamento da ADI 3.110/SP reconheceu a inconstitucionalidade de normas municipal e estadual que disponham acerca de serviços de telefonia, em razão de usurpação à competência privativa da União.
Em outro julgado, ainda, “ O Plenário do Supremo
Tribunal Federal (STF) declarou a inconstitucionalidade de dispositivos de lei do Estado de Alagoas que previam a obrigatoriedade de licenciamento ambiental para a instalação de redes de transmissão, estações rádio base e equipamentos de telecomunicações. Na sessão virtual finalizada em 2/6, o colegiado julgou procedente o pedido formulado pela Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7321.”
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou
procedente o pedido, para declarar a inconstitucionalidade dos itens 10.5 e 10.6 do Anexo I, objeto do art. 4º, §1º, da Lei Estadual nº 6.787/2006 de Alagoas, e, por arrastamento, dos itens 10.5 e 10.6 do Anexo VI da mesma Lei nº 6.787/2006, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Edson Fachin. Falou, pelo interessado Governador do Estado de Alagoas, o Dr. Gustavo Henrique Maranhão Lima, Procurador do Estado. Plenário, Sessão Virtual de 26.5.2023 a 2.6.2023. Sobre o tema, colaciono aos autos precedentes deste Tribunal de Justiça, in verbis:
DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO N. 5585923-
17.2020.8.09.0132 COMARCA DE POSSE AUTOR : CLARO S/A RÉU : MUNICÍPIO DE POSSE APELAÇÃO CÍVEL APELANTE : MUNICÍPIO DE POSSE APELADO : CLARO S/A RELATOR : DES. ZACARIAS NEVES COÊLHO EMENTA: DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE REABERTURA DE PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DA APELAÇÃO CÍVEL: IMPOSSIBILIDADE. ESTAÇÃO RÁDIO BASE. INSTALAÇÃO E LICENCIAMENTO. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA FIXADOS COM BASE NO VALOR DA CAUSA. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1. Não comprovada a justa causa para a reabertura de prazo de apresentação do recurso de apelação, deve ser considerado intempestiva a insurgência, isso porque o Município recorrente, por haver outorgado procuração a mais de um advogado, poderia se valer de qualquer deles para a interposição do recurso, ainda que o(a) primeiro(a) estivesse impossibilitado de fazê-lo, por motivo de saúde. 2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 3.110/SP, reconheceu a inconstitucionalidade de normas municipais e estaduais editadas para regulamentar instalação e licenciamento de antenas de telefonia celular, por usurpação de competência privativa da União. Em sendo assim, considera-se nulo o auto de infração lavrado pelo apelante, tendo como justificativa o descumprimento de legislação loca e estadual. 3. Tratando-se de ação declaratória, os honorários de sucumbência devem ser fixados com base no valor dado à causa. REMESSA CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. APELAÇÃO CÍVEL NÃO CONHECIDA. (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -> Apelação / Remessa Necessária 5585923-17.2020.8.09.0132, Rel. Des(a). DESEMBARGADOR ZACARIAS NEVES COELHO, 2ª Câmara Cível, julgado em 08/08/2023, DJe de 08/08/2023)
Neste diapasão, ainda que com a intenção de
proteção e defesa do meio ambiente, a lei estadual, ao criar uma nova obrigação às empresas prestadoras de serviços de telecomunicações e estipular critérios para a instalação de infraestruturas de telecomunicação, invadiu a competência privativa da União, e ainda, interferiu diretamente na relação contratual formalizada entre o poder concedente e as concessionárias.
Não se pode olvidar que nos termos do artigo
22, inciso IV, da Constituição Federal, e da jurisprudência do STF e dos tribunais infraconstitucionais, é da União a compêtencia privativa. Consequentemente, não cabe ao recorrente exigir licenciamento ambiental para instalação e funcionamento de estações de rádio base. Ademais, não há vácuo legislativo a respeito dessa matéria, pois a própria legislação federal já contempla todo um arcabouço legal (Leis federais 6.938/1981, 11.934/2009 e 13.116/2015), além da Resolução n. 700/2018, editada pela Anatel, que é o órgão regulador específico.
Noutro lado, tratando-se de controle difuso,
enquanto perdurar o interesse jurídica das partes em ver reconhecida a inconstitucionalidade de determinada lei, ainda que revogada, a apreciação deverá passar pelo crivo do Judiciário
Portanto, e sem maiores delongas, verifico que
as multas lavradas com base nas Resoluções CEMA nº 69/2006 e 02/2016, do qual exigia licenciamento ambiental são ilegais. Explico. As leis posteriores que revogaram as referidas Resoluções frente a incompetência para legislar sobre telecomunicações, a retiraram do ordenamento do jurídico, contudo, em sede de controle concentrado difuso de constitucionalidade, há de se reconhecer que Decreto Estadual n° 5.805/2003 e Resoluções CEMAn 69/2006 e 02/2016 são inconstitucionais frente a usurpação de competência privativa, e portanto, nulas, o que de per si, torna ilegal qualquer ato proveniente dela.
Ante ao exposto, sem mais delongas,
reconheço a inconstitucionalidade do Decreto Estadual n° 5.805/2003 e Resoluções CEMAn 69/2006 e 02/2016 e de consequência declaro a NULIDADE de qualquer auto de infração decorrente da exigência de licenciamento ambiental no período anterior a revogação dos diplomas citados.
Determino ainda que os requeridos se
abstenham de praticar qualquer ato que impeça a instalação e funcionamento de Estações de Radio Base, bem como lavratura de qualquer auto de infração.
Em tempo, condeno o promovido à restituir os
valores indevidamente exigidos nos últimos cinco anos, em valor a ser apurado em fase de liquidação de sentença, devidamente atualizado com base com base no IPCA-E, e juros moratórios a partir da citação, com base nos índices oficiais de remuneração básica aplicável à caderneta de poupança, nos termos da Lei nº11.960/09 (Tema 810 do STF e Tema 905 do STJ), até novembro de 2021. Após essa data, que sejam aplicados os ditames da EC 113/2021. Condeno o requerido ao pagamento de honorários advocatícios a serem fixados em sede de liquidação de sentença, nos termos do artigo 85, § 4º, inciso II, do CPC.
Transcorrido o prazo para a interposição do
recurso voluntário, arquivem-se os autos com a devidas cautelas. Sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição, em atenção ao artigo 496, inciso I, do Código de Processo Civil.