legal do saneamento básico Prof. Dr. Luiz Alberto G. S. Rocha Doutor em Direito do Estado – USP Professor Adjunto IV – Faculdade de Direito/UFPA Assessor jurídico da FNU. Advogado. luizalbertorocha@hotmail.com Aspectos introdutórios O O governo federal vem tentando alterar o marco legal do saneamento básico brasileiro visando implementar projeto neoliberal no setor para entregar o serviço público à exploração privada sob o argumento de (1) ineficiência do setor público, e (2) insuficiência orçamentária para cobertura de déficits fiscais e investimentos públicos. O Por este diagnóstico somente o setor privado é capaz de garantir eficiência na prestação do serviço de saneamento com o aporte de investimentos necessários à universalização do serviço. O Para que o setor privado assuma o negócio, no entanto, ele passa a requerer segurança e previsibilidade do ambiente de negócios, gerenciamento de risco, e garantias de lucratividade. O Assim, o Governo Temer editou a MP 844, de 06/julho/18, que perdeu a eficácia por decurso de prazo. E também a MP 868, de 27/dezembro/18, no apagar das luzes de um governo que não deixa saudades. O Ambas as MPs foram atacadas pela FNU por meio de propositura das Ações Direta de Inconstitucionalidade 6006 e 6128. Tramitação legislativa O Repetindo integralmente o texto das MPs, o Senador Tasso Jereissati (PSDB/CE) apresentou o PL 3261 com início de tramitação em junho/19. Na tramitação no Senado Federal, a principal mudança foi a retirada das alterações da Lei n. 9984/00 que regulamenta a ANA. O Na Câmara dos Deputados houve intenso debate em Comissão Especial com a retomada das modificações na Lei da ANA por proposta do Deputado Hildo Rocha (MDB/MA) (PL 10996/18) e indo a Plenário em novembro/19. O No Plenário, foi aprovado requerimento do Deputado Geninho Zuliani (DEM/SP) para votação prévia do PL 4162/19 que acabou sendo aprovado em dezembro/19, prejudicando a apreciação do PL 3261, e encaminhando-o para apreciação do Senado Federal. O Caso o Senado Federal aceite as mudanças da Câmara dos Deputados, o projeto vai à sanção presidencial. Se fizer novas alterações volta à Casa Iniciadora (Câmara dos Deputados). Alterações pretendidas na Lei 9984/00 – Lei da ANA O ANA é agência reguladora das águas brutas concretizando a Lei de Águas do Brasil (Lei 9433/97), o que já lhe confere responsabilidade suficiente para passar a acumular novas e inéditas competências para regulação e fiscalização do saneamento brasileiro em 5570 municípios brasileiros. O A ANA passa a ser o órgão regulador central do saneamento brasileiro editando normas de referência nacional que condicionam o acesso aos recursos da União. O Assim, há quebra do Pacto Federativo porque a União dominará a relação com os entes titulares do saneamento (spending power) porque o poder orçamentário da União trará ingerência inconstitucional na competência municipal. O Também perderão sentido a autonomia das agências reguladoras dos demais entes federativos que se restringirão a reproduzir determinações da ANA. Ainda outras questões O A definição de padrões nacionais de qualidade e eficiência (mesmo que a PL indique a observação de peculiaridades regionais) deverá trazer desequilíbrio federativo porque as atuais agências reguladoras estaduais e municipais já conhecem o sistema locais, tornando-as mais capacitadas para estabelecer tais parâmetros. O O novo modelo implantará seleção adversa entre os municípios brasileiros. O Há aqui uma política constitucionalmente perversa porque viola o Federalismo Cooperativo ao impor a vontade da União sobre a autonomia dos municípios. O Ainda a ANA deverá fazer a padronização dos instrumentos negociais do saneamento básico extrapolando sua competência porque é competência privativa da União legislar sobre “normas gerais de (...) contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais dos (...) Municípios”. O Não pode ato normativo supralegal de Agência Reguladora federal substituir inconstitucionalmente a reserva de lei definida pela Constituição. O Ainda os subsídios e o compartilhamento de ganhos de produtividade para subsidiar os usuários do saneamento a serem realizados pelas normas de referência nacional violam a competência legislativa de Lei Complementar. Alterações pretendidas na Lei 11445/07 – Lei do Saneamento O Eliminação do Contrato de Programa no Saneamento Básico: a PL pretende garantir o contrato de concessão, excluindo o Contrato de Programa para o saneamento, facilitando a privatização do setor. O Ademais, o PL prevê obrigação de licitação somente para o caso de gestão associada, ainda que o art. 175 CF/88 e a Lei 8666/93 imponha a licitação em todos os casos de concessão. O Adequação do Saneamento ao modelo negocial interessante ao setor privado: incluir-se-ão nos contratos de concessão mecanismos de garantias jurídicas para o setor privado gerenciar o risco do investimento privado como sua repartição, e novas fontes de receitas alternativas, complementares ou acessórias, entre outras garantias. O Há retirada, por exemplo, da obrigação de que o estudo de viabilidade técnica e econômico-financeira preveja “a prestação universal e integral de serviços”. Um pouco mais ... O Também a regulação permitirá que a antiga “apropriação social dos ganhos de produtividade” seja substituída por ganhos “compartilhados” oferecendo fonte adicional de remuneração para as empresas. O Prestação regionalizada: estratégia para segregação espacial em blocos regionais que garanta o interesse econômico das empresas privadas, sem que haja previsão de subsídio cruzado entre os municípios que integram os blocos regionais. Podendo haver, inclusive, um super bloco regional integrado exclusivamente por municípios superavitários. O Entidade reguladora: viabiliza que a regulação de serviços de saneamento seja feita por qualquer entidade reguladora mesmo que fora dos limites do respectivo Estado (Regulação Exógena) abrindo espaço para regulação centralizada na ANA, por exemplo. O As alterações ainda reforçam as normas de referência nacional editadas pela ANA e criam o Comitê Interministerial de Saneamento Básico (CISB) com composição a ser definida posteriormente pelo Presidente sem garantias de participação de outros entes da Federação ou controle social. Adiante ... O Remuneração da cobrança de serviços: com a retirada da expressão “sempre que possível” o saneamento passa a ser sustentado exclusivamente pela remuneração de serviços universalizando a cobrança. E ainda cria outras formas adicionais de remuneração. O Mesmo que mantenha os subsídios tarifários e não tarifários (retira o subsídio direto ao usuário), eles não poderão ser mais concedidos a localidades inteiras que não tenham escala econômica suficiente para pagar o serviço. Retira, portanto, a obrigação da empresa privada de atender este sistema. O Manejo de resíduos sólidos: facilita tais contratos de modo que a fatura de consumo de outros serviços públicos possa ser acompanhada com a cobrança pela prestação privada de tais serviços (cobrança conjunta). O Licenciamento ambiental: facilita o licenciamento do manejo de resíduos sólidos ao lhes conferir prioridade e procedimentos simplificados. Alterações pretendidas na Lei 11107/05 – Lei de Consórcios Públicos O Contratos de Programa: não serão mais usados para os consórcios públicos na prestação do saneamento básico, justamente para permitir a participação do ente privado via contratos de concessão. O Garante segurança jurídica para que a alteração na composição dos consórcio público não prejudica os contratos, não falando mais em contrato de programa. O que permite a transposição de tais contratos para contratos privados. O Ademais, os bens e direitos decorrentes da gestão associada custeados por tarifas ficam com concessionárias privadas e não mais com os titulares de serviços. O Já os encargos e obrigações ficam com a gestão associada até que se indique os responsáveis por cada obrigação. Transição para o novo modelo O Adaptação de prazos dos contratos vigentes: permite a alteração dos prazos dos contratos de programa vigentes podendo reduzir e prorrogar os mesmos para convergirem com a data do início do contrato de concessão violando o ato jurídico perfeito e a segurança jurídica. O Indicando, desde já, a licitação da concessão ou a alienação de controle acionário da CESB para substituição dos contratos vigentes pelos novos contratos de concessão. O Sendo que a União apoiará financeira e tecnicamente somente se o titular dos serviços seguir a cartilha legal determinada. O Serviços sem contrato: não há impedimento de novos contratos de concessão para prestação regionalizada. Tais serviços poderão reconhecer legalmente a situação fática com prazo de 5 anos. O Os titulares de serviços poderão aderir à proposta da CESB para continuarem sendo servidos depois da alienação com prazo de manifestação de 180 dias. A omissão configurará anuência. O Mas se discordarem terão que indenizar previamente os investimentos realizados e não amortizados. Muito Obrigado !!!
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