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Ética e Responsabilidade Social PDF
Ética e Responsabilidade Social PDF
e Responsabilidade
Profissional
Ética
e Responsabilidade
Profissional
Igor Roberto Borges
Maria Claudia Rodrigues
Conselho Editorial EAD
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Andréa Eick
Mara Lúcia Machado André Loureiro Chaves
Astomiro Romais Cátia Duizith
CDU: 174
ISBN 978-85-7528-408-7
Projeto Gráfico: Humberto G. Schwert Dados técnicos do livro
Editoração: Roseli Menzen Fontes: Minion Pro, Officina Sans
Capa: Juliano Dall’Agnol Papel: offset 90g (miolo) e supremo 240g (capa)
Medidas: 15x22cm
Coordenação de Produção Gráfica: Edison Wolf
Impressão: Gráfica da ULBRA
Setembro/2011
Sumário
Apresentação .............................................................. 7
Referências .............................................................129
Apresentação
Ao iniciarmos nossos estudos sobre a disciplina Ética e Responsabilidade
Profissional, faz-se importante compreendermos alguns aspectos históricos que
contribuíram para o estudo da ética nas organizações. Pretendemos abordar o
estudo da ética no contexto corporativo, nas relações entre colegas de trabalho,
entre empregados e empregadores, clientes internos e externos e na atuação
das empresas em relação à responsabilidade social e ambiental. Este livro
divide-se em dez capítulos. Assim, no primeiro capítulo, “Introdução à ética e
à moral”, abordaremos um breve histórico sobre a ética e a moral, apontando a
sua evolução. No segundo capítulo, trata-se de introduzir os conceitos de ética,
moral e valor, com o objetivo de diferenciá-los e servir de arcabouço para nossos
estudos. No terceiro capítulo, apresenta-se o estudo da ética aplicada à profissão.
Trata-se, também, da atuação ética e da responsabilidade do indivíduo em relação
à sua profissão e ao ambiente de trabalho. Já no quarto capítulo, abordaremos
a relação entre os indivíduos e as organizações. Apresentam-se situações em
que o funcionário deve tomar decisões que podem envolver dilemas éticos. No
quinto capítulo, trataremos da cultura organizacional, conceitos e funções, e
apontaremos algumas práticas para a constituição de uma cultura organizacional
mais ética. No sexto capítulo, abordaremos a ética nos negócios, e pretende-se
apresentar as vantagens e desvantagens da ética nas relações negociais. O capítulo
7 apresenta a contextualização histórica da responsabilidade social, abrangendo
a evolução da responsabilidade social na empresa e no Brasil e seus conceitos
fundamentais. O oitavo capítulo apresenta a atuação da empresa em relação à
8 Apresentação
A ética revisitada
Atualmente, a expressão ética é utilizada em vários contextos. Não é raro
ouvirmos: “aquele profissional não foi ético em relação a seu colega de trabalho”;
“aquela empresa não é ética”; “aquele funcionário é extremamente ético”. A
expressão é usada corriqueiramente pelas pessoas, sem se pensar muito no
sentido ou significado da palavra. Fala-se de ser ético, ou não ser ético, ética
na empresa, ética na universidade, ética médica. Trata-se, muitas vezes, de
confundir os termos ética e moral como, quando dizemos “pessoas sem ética”.
Conforme formos estudando, veremos que há uma distinção entre estes dois
termos: a ética e a moral.
10 Introdução à ética e à moral
A Carta da Terra
PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em
que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se
cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande
perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio
de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família
humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar
para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza,
nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz.
Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos
nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida
e com as futuras gerações.
A SITUAÇÃO GLOBAL
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação
ambiental, esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies.
Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão
sendo divididos equitativamente e a diferença entre ricos e pobres está aumentando.
A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são
causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana
Introdução à ética e à moral 15
DESAFIOS FUTUROS
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos
outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias
mudanças fundamentais em nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos
entender que, quando as necessidades básicas forem supridas, o desenvolvimento
humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais. Temos o
conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos
impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está
criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano.
Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão
interligados e juntos podemos forjar soluções inclusivas.
RESPONSABILIDADE UNIVERSAL
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de
responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como
um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo,
cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global
estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro
bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de
solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando
vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida
e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos
para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente.
Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdependentes,
visando a um modo de vida sustentável como padrão comum, através dos quais
a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições
transnacionais será dirigida e avaliada.
16 Introdução à ética e à moral
PRINCÍPIOS
I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de
vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres
humanos.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no
potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.
O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um
novo começo. Tal renovação é a promessa destes princípios de A Carta da Terra.
Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os
valores e objetivos da carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de
interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e
aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local,
nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e
diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta
visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global que gerou a Carta da Terra,
porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta em andamento por
verdade e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode
significar escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para
harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem
comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo,
família, organização e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes,
as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as
empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos chamados
Introdução à ética e à moral 23
Reflexão
Atualmente, vive-se em um mercado caracterizado pela flexibilidade,
inovação tecnológica, rapidez na comunicação, mercados globalizados. Os
conceitos de ética e de moral nos ajudam a entender e a se posicionar frente a
esse mundo complexo e aos novos tempos. No mundo dos negócios, onde as
mudanças ocorrem com tanta rapidez e em que os profissionais devem estar
preparados para atuar sobre forte pressão, podemos nos sentir inseguros frente
a nossas antigas “certezas”. Tendo em vista que a ética e a moral se transformam
24 Introdução à ética e à moral
Conceitos fundamentais
Maria Claudia Rodrigues
p.7). Para o autor, a ética existe em cada contexto, seja cultural, social ou temporal,
como segue:
Nesta perspectiva, a ética constitui-se de uma disciplina teórica que tem como
objeto de estudo a moral. Neste sentido, trata de um processo de reflexão sobre
“a moral, os fenômenos morais, os fatos sociais regulados por normas morais
ou submetidos a avaliações morais” (SROUR, 2005, p.306).
Segundo Srour, a moral representa “um conjunto de valores e regras de
comportamento, um código de conduta que coletividades adotam, que seja uma
nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organização”
(SROUR, 2000, p.29).
A moral constitui-se da prática real das pessoas que se expressam por costumes,
hábitos cotidianos e valores consagrados. Neste sentido, uma pessoa pode
apresentar um comportamento moral, porém não necessariamente ético.
Nesta direção, Srour destaca que os fatos sociais podem ser neutros ou
amorais, como, por exemplo, o fato de ir ao trabalho, assistir a um filme, ou o de
ler um livro. Para este autor, estes exemplos tornam-se fatos passíveis de serem
avaliados moralmente, a partir do momento em que afetam outras pessoas,
transgredindo “normas que regem o que é considerado socialmente bom ou mau”
(SROUR, 2005, p.306). Consideremos o exemplo anterior “assistir a um filme”.
Quando o fato de “assistir a um filme” passa a ser submetido a uma avaliação
moral? Vejamos o exemplo, destacado pelo autor:
2.2 Valor
Como determinar o que é bom ou ruim, certo ou errado? Você saberia dizer:
É certo roubar para matar a fome? Incentivar o desarmamento no Brasil é uma
decisão correta ou errada para o país? Instituir a pena de morte em nosso país é
bom ou ruim para nossa sociedade? Estas são questões que exigem pensar sobre
juízos de valores. Envolve argumentar contra ou a favor, posicionar-se frente a
debates sociais, crenças, princípios e valores.
Outro conceito relevante para nosso estudo refere-se ao termo “valor”. Para
Santos, atualmente a crise de valores em nossa sociedade atinge todas as áreas
do saber humano. Segundo a autora, enquanto, no século XVIII, observou-se
uma ruptura entre a casa e o local de trabalho, atualmente “a moral familiar é
que se aparta da moral do trabalho” (SANTOS, 2003, p.98). Assim, segundo a
autora, nas empresas o homem terá flexibilizar-se moralmente:
32 Conceitos fundamentais
Boff (2009) também aponta que atualmente vivemos uma “grave crise de
valores”. Conforme este autor, “é difícil para a grande maioria da humanidade
saber o que é correto e o que não é” (BOFF, 2009, p.27). Para Boff:
Valores Características
São aqueles que têm uma relação com a nossa permanência como
seres humanos e também com a possibilidade da vida no planeta Terra.
existenciais
Representam a dignidade e a igualdade entre os seres humanos. Podem
ser vitais ou econômicos.
Estabelecem relação com a subjetividade e a manifestação do eu do
estéticos indivíduo na construção de sua personalidade e de seu autoconceito.
Os valores estéticos podem ser sensoriais ou artísticos.
Podem ser científicos ou culturais. Demonstram todo o potencial do
ser humano em relação aos meios de transformação e de trabalho,
produzindo a cultura, ou seja, eles compõem a capacidade do ser
intelectuais
humano de produzir sua própria forma de sobrevivência. Essa tarefa de
construção por meio do trabalho e da técnica produz o conhecimento
científico.
Podem ser éticos ou sociais e são ligados à formação do indivíduo e da
morais comunidade, pois envolvem os princípios morais, os contextos sociais e
as necessidades do indivíduo como membro de um grupo social.
Esses valores estão relacionados com as formas de crenças, fé e
esperança que temos para que possamos nos realizar como seres
religiosos
humanos à medida que realizamos os princípios de Deus na Terra. Os
valores religiosos podem ser divinos ou profanos.
Reflexão
Pesquise em uma organização os seus princípios ou valores e verifique como
se posiciona em relação à ética e à responsabilidade social e ambiental.
3
Ética e profissão
Maria Claudia Rodrigues
todo olhar sobre a ética deve perceber que o ato moral é um ato
individual de religação; religação com um outro, religação com uma
comunidade, religação com uma sociedade e, no limite, religação
com a espécie humana. (MORIN, 2011, p.21-22)
38 Ética e profissão
de uma tarefa habitual, que para este autor deve ser natural, “precisa fluir como
algo que traz bem-estar, e não uma obrigação imposta que se faz pesada e da
qual se deseja logo se livrar” (SÁ, 2001, p.150). No quadro a seguir, destaca-se
um trecho que ilustra o pensamento de Sá (2001), em relação à capacidade de
escolha:
Capacidade de escolha
Esta saga didática, sobre a capacidade de escolha, atribui-se à vida de Mozart e à de um
aluno que lhe perguntava sempre o que deveria compor, ao que o mestre respondia: “É
preciso esperar”. Um dia, o aluno, impaciente, retrucou afirmando que ele, Mozart, já
compunha aos cinco anos de idade, ao que o gênio da música respondeu: “Mas eu nunca
perguntei a ninguém sobre o que deveria compor”.
B) Acossada por uma dívida de cerca de 250 milhões de dólares, a Arisco – uma das
mais importantes empresas de alimentos do país, sediada em Goiânia, vendeu fábricas
velhas e terrenos. Desfez a sociedade com a Visagis (dona da Visconti) e, com ela,
sua participação na Fritex. Interrompeu um acordo de distribuição dos inseticidas SBP,
mantido com a Clorox, e reduziu o número de funcionários de 8.200 para 5.800.
Às vésperas de alcançar seu primeiro bilhão de reais em vendas anuais, a Arisco estava
se preparando para acolher um novo sócio e virtual controlador. Por isso teve de aliviar
o excesso de carga e ficar enxuta.
Em fevereiro de 2000, a empresa foi comprada pelo grupo norte-americano Bestfoods,
um dos maiores do mundo no setor de alimentos, por US$ 490 milhões. A Bestfoods
também assumiu o passivo de US$ 262 milhões.
Ao transferir o controle para uma companhia mundial, a família Queiroz explicou que a
Bestfoods poderia dar sustentação aos planos de expansão da Arisco, além de guardar
simetria e coincidência de métodos em relação à estratégia empresarial adotada pelo
grupo goiano.
Como sou mãe, devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me à família.
Como sou brasileiro, sinto-me obrigado a amar a minha pátria e defendê-la se ela for
agredida.
Como sou empregado, tenho de vestir a camisa da empresa.
Como sou aluno, cumpre-me respeitar os meus mestres e seguir as orientações de minha
escola.
Como tenho compromisso marcado, não posso me atrasar.
• Como tenho um compromisso marcado, vale a pena não me atrasar; caso contrário,
irei comprometer a atividade que me confiaram, posso prejudicar a firma que me
emprega e isso pode afetar minha carreira.
• Como sou aluno, é sensato não perturbar as aulas, concentrar-me nos estudos
e respeitar as regras vigentes; caso contrário, isso vai atrapalhar os outros e, por
extensão, pode me criar problemas.
• Como sou motorista, é de interesse – meu e dos demais – que existam regras de
trânsito e que sejam obedecidas, para circular em paz, evitar acidentes e não correr
riscos de vida.
• Como sou empregado, é importante me empenhar com seriedade para não atrapalhar o
serviço dos outros, comprometer os resultados a serem alcançados e minha promoção,
ou provocar sem pensar minha própria demissão.
• Como sou brasileiro, faz sentido ser patriota, principalmente se minha conduta puder
contribuir para o país e me fizer sentir fazendo parte da mesma identidade com meus
conterrâneos.
PREÂMBULO
I – De forma ampla a ética é definida como a explicitação teórica do fundamento
último do agir humano na busca do bem comum e da realização individual.
II – O exercício da profissão de administrador implica compromisso moral
com o indivíduo, cliente, empregador, organização e com a sociedade, impondo
deveres e responsabilidades indelegáveis.
III – O Código de Ética Profissional do Administrador (CEPA) é o guia
orientador e estimulador de novos comportamentos e está fundamentado em um
conceito de ética direcionado para o desenvolvimento, servindo simultaneamente de
estímulo e parâmetro para que o administrador amplie sua capacidade de pensar,
visualize seu papel e torne sua ação mais eficaz diante da sociedade.
III – permitir a utilização de seu nome e de seu registro por qualquer instituição
pública ou privada onde não exerça pessoal ou efetivamente função inerente à
profissão;
IV – facilitar, por qualquer modo, o exercício da profissão a terceiros, não
habilitados ou impedidos;
V – assinar trabalhos ou quaisquer documentos executados por terceiros ou
elaborados por leigos alheios à sua orientação, supervisão e fiscalização;
VI – organizar ou manter sociedade profissional sob forma desautorizada
por lei;
VII – exercer a profissão quando impedido por decisão administrativa do
Sistema CFA/CRAs transitada em julgado;
VIII – afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente,
sem razão fundamentada e sem notificação prévia ao cliente ou empregador;
IX – contribuir para a realização de ato contrário à lei ou destinado a fraudá-
la, ou praticar, no exercício da profissão, ato legalmente definido como crime ou
contravenção;
X – estabelecer negociação ou entendimento com a parte adversa de seu cliente,
sem sua autorização ou conhecimento;
XI – recusar-se à prestação de contas, bens, numerários, que lhes sejam
confiados em razão do cargo, emprego, função ou profissão, assim como sonegar,
adulterar ou deturpar informações, em proveito próprio, em prejuízo de clientes,
de seu empregador ou da sociedade;
XII – revelar sigilo profissional, somente admitido quando resultar em prejuízo
ao cliente ou à coletividade, ou por determinação judicial;
XIII – deixar de cumprir, sem justificativa, as normas emanadas dos Conselhos
Federal e Regionais de Administração, bem como atender às suas requisições
administrativas, intimações ou notificações, no prazo determinado;
XIV – pleitear, para si ou para outrem, emprego, cargo ou função que esteja
sendo ocupado por colega, bem como praticar outros atos de concorrência
desleal;
Ética e profissão 49
Reflexão
A partir do conteúdo estudado neste capítulo, argumente sobre o motivo
pelo qual os profissionais devem seguir códigos de ética profissional no exercício
de suas funções.
4
Ética e empresa
Maria Claudia Rodrigues
funcionários fixos por temporários fazem parte das operações no mundo dos
negócios.
Na perspectiva de Robbins, essas mudanças resultaram em declínio da
lealdade dos funcionários, gerando um sentimento de não comprometimento
com a empresa. Para este autor, o desafio dos gestores está em “motivar
os trabalhadores menos comprometidos e, ao mesmo tempo, manter a
competitividade global das organizações” (ROBBINS, 2004, p.13).
Nesta direção, outro desafio apontado pelo autor diz respeito, ao
enfrentamento, por parte dos membros das organizações de dilemas éticos,
“situações nas quais precisam definir as condutas corretas e erradas” (ROBBINS,
2004, p.14). Os dilemas éticos são situações em que é necessário tomar uma
decisão, fazer uma escolha, que nem sempre é a mais fácil.
Robbins (2004) aponta que os executivos estão reagindo a estes dilemas éticos,
a partir da elaboração e distribuição de códigos de ética a seus funcionários.
Além disso, o autor assinala outras formas que contribuem para melhorar o
comportamento ético dos membros da organização, tais como:
Nesta situação, se você fosse o gerente, o que faria? Você seria leal à empresa
ou ao interesse público? E, se você fosse o superior deste gerente, como agiria?
O dilema dos destinatários diz respeito a quem a relação moral beneficia
ou prejudica, pois afeta desigualmente os agentes envolvidos. Srour (2000)
assinala:
58 Ética e empresa
Não há ética alguma no mundo que possa desconsiderar isso: para atingir fins
“bons”, somos obrigados na maior parte do tempo a contar, de um lado com meios
normalmente desonestos ou pelo menos perigosos, e de outro com a possibilidade ou
ainda a eventualidade de consequências desagradáveis. Nenhuma ética no mundo pode
dizer-nos tampouco quando e em qual medida um fim moralmente bom justifica os
meios e as consequências moralmente perigosas.
Reflexão
Leia o artigo de Bernt Entschev, retirado do blog Vida Executiva, o qual
discorre sobre uma situação que envolve dilemas éticos e reflita: a partir da
situação relatada no texto, como você agiria?
Portanto, o que vale para estes casos é a ética para com a sua
empresa (você assinou um contrato que previa confidencialidade,
não assinou?) e, claro, o bom senso. Caso seja questionado sobre
algo muito interno, puxe a conversa para conquistas ou realizações
que tenham a ver com você – como, por exemplo, um “sabia que
fui promovido?”, ou então um “entro em férias semana que vem”.
Além de tudo, grandes amigos sempre têm diversos outros temas
interessantes para conversar além do trabalho, não é mesmo!?
(Fonte: blog Vida Executiva. Bernt Entschev)
5
cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional
ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2 – Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política,
jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se
trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito
a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo III. Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança
pessoal.
Artigo IV. Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e
o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo V. Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou
castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo VI. Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido
como pessoa perante a lei.
Artigo VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção,
a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a
tal discriminação.
Artigo VIII. Todo homem tem direito a receber dos tribunais nacionais
competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que
lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo IX. Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo X. Todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública
audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus
direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI.
1. Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei,
em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
necessárias à sua defesa.
74 Por uma cultura organizacional ética
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento,
não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não
será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era
aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII. Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na
sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e
reputação. Todo homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências
ou ataques.
Artigo XIII.
1. Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das
fronteiras de cada Estado.
2. Todo homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e
a este regressar.
Artigo XIV.
1. Todo homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e
princípios das Nações Unidas.
Artigo XV.
1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito
de mudar de nacionalidade.
Artigo XVI.
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma
família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua
dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos
nubentes.
Por uma cultura organizacional ética 75
2. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por
igual trabalho.
3. Todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível
com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios
de proteção social.
4. Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para
proteção de seus interesses.
Artigo XXIV. Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação
razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo XXV.
1. Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua
família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios
de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.
Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma
proteção social.
Artigo XXVI.
1. Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior,
esta baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e
pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância
e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será
ministrada a seus filhos.
Por uma cultura organizacional ética 77
Artigo XXVII.
1. Todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus
benefícios.
2. Todo homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja
autor.
Artigo XXVIII. Todo homem tem direito a uma ordem social e internacional
em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser
plenamente realizados.
Artigo XXIX.
1. Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo homem estará sujeito apenas
às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as
justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade
democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos
contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX. Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada
como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer
qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer
dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
Reflexão
A partir do conteúdo estudado neste capítulo, reflita sobre as empresas onde
você é cliente. Você saberia dizer o quanto elas estão comprometidas com a ética
e a responsabilidade social? Estas empresas têm seus códigos de éticas divulgados
de forma que os seus stakeholders e o público em geral tenha acesso? E você, ao
comprar um determinado produto ou serviço, preocupa-se se a empresa é uma
78 Por uma cultura organizacional ética
Na primeira página de um grande jornal do interior de São Paulo, a foto de uma mulher
careca, afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever
(xampu Seda, uma de suas principais marcas e líder do segmento), desencadeou uma
reação imediata da empresa.
Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratório, mandaram recolher
produtos para análise, despacharam um médico independente e um advogado para a
cidade interiorana. Em algumas horas, respiraram aliviados: a mulher raspara a cabeça!
Mesmo assim, a Gessy Lever teve de responder a inquérito policial e definir uma
estratégia de comunicação para dirimir quaisquer dúvidas.
Para Srour (2000), quando ocorrem escândalos sobre empresas que cometem
atos imorais ou idôneos, “eles geram altos cultos, multas pesadas, quebra de
rotina, baixa moral dos empregados, aumento da rotatividade, dificuldade para
recrutar funcionários qualificados, fraudes internas e perda da confiança pública
na reputação das empresas, entre outros” (SROUR, 2000, p.47).
Nesse sentido, a ética nos negócios busca “estudar e tornar legível a moral
vigente nas empresas capitalistas contemporâneas e, em particular, a moral
predominante em empresas de uma nacionalidade específica” (SROUR, 2000,
p.30). Portanto, deve-se compreender que em cada sociedade existem normas
sociais pautadas em ações “que expressam valores, balizas definidas por uma
coletividade qualquer para guiar o comportamento, tais exigências tornam
obrigatórias as condutas e operam como fatores de coesão social ou como
regras de convivência visando à coexistência entre interesses contraditórios”
(SROUR, 2000, p.34).
Para Srour (2000, p.34) as normas sociais são acatadas por três razões:
1. a convicção de que a vida em sociedade requer o respeito a regras de
interesse comum (é o caso das normas morais); essa convicção decorre
da sociedade ou da reflexão;
Por que ética nos negócios? 81
lhe fornecesse pelo preço que queria e tampouco alguma que lhe entregasse o
componente pelo mesmo preço praticado pelo antigo fornecedor. Logo, assim
como seu fornecedor, também saiu perdendo, já que teve de pagar mais caro
pelo mesmo produto.
A partir desse relato, recomenda-se que, se não se pode alcançar um trato
ganha/ganha, é preferível não fazer a negociação. Conforme Covey (2003), é
preferível pelo menos manter a relação, abrindo o campo para um acordo ganha/
ganha no futuro.
Ainda, conforme Covey (2003), a negociação ganha/ganha necessita de cinco
elementos ou dimensões:
1. Caráter: só quando conhece bem os seus valores, saberá o que significa
ganhar para você. Além do mais, você terá integridade para manter suas
promessas aos outros.
2. Relações: se constroem sobre a base do caráter. Para tanto, é necessário
trabalhar desenvolvendo sua credibilidade ao longo do tempo, pois
assim estaremos investindo em relações abertas ao sucesso de ambas
as partes.
3. Acordos: os acordos surgem a partir das relações, devendo haver
cinco elementos muito explícitos para deixar claras as expectativas:
resultados desejados, regras ou parâmetros dentro das quais se obterão
esses resultados, recursos disponíveis para conseguir os resultados,
medidas para avaliação dos objetivos alcançados e as consequências
que perseguem os objetivos.
4. Sistema: para que os acordos funcionem, o sistema deve estar em
capacidade de controlá-lo. Inclui sistemas para capacitação, planificação,
comunicação, informação, etc.
5. Processo: um processo de quatro passos deve ser utilizado para
conseguir um acordo ganha/ganha:
• tente ver a situação desde a perspectiva do outro;
• identifique os aspectos e preocupações-chave;
• faça uma lista de resultados que consideraria uma solução
aceitável;
• busque novas opções para obter esses resultados.
84 Por que ética nos negócios?
Reflexão
Realize o exercício de conhecimento do próprio perfil moral, proposto por
Srour (2000), e verifique o seu perfil.
Logo a seguir estão listadas dez situações em que dois conjuntos de proposições
deverão ser classificados. Tente identificar-se melhor com um dos conjuntos.
Na coluna à direita, você deverá conferir a cada conjunto uma nota. Você dispõe
apenas de três pontos para distribuir entre os dois conjuntos, baseado na importância
que você atribui a cada um. Assim, as possibilidades são apenas quatro:
Letra 3 0 2 1
Letra 3 3 1 1
Situação 1
Situação 2
Situação 3
Acho que maximizar os lucros dos acionistas não pode ser o único A
dínamo das empresas: estas precisam agir com claro sentido de
responsabilidade social. Por exemplo, devem repartir ganhos com
clientes e funcionários, além de respeitar o meio ambiente.
Creio que a frase anterior só faz sentido se outros agentes forem B
contidos em seu apetite: as autoridades com seus impostos, os
sindicatos com seus pleitos, os ecologistas com suas exigências,
os fornecedores com seus preços, os bancos com seus juros e suas
taxas.
Situação 4
Situação 5
Situação 6
Situação 7
Situação 8
Situação 9
Situação 10
Tabulação
Identifique as notas que você deu em cada situação, nas colunas à direita, diante de
cada letra, a nota respectiva.
No final, some as notas por coluna.
Não alcançando exatamente 30 pontos, reveja sua pontuação: é possível que tenha
ocorrido algum erro de lançamento.
Resultados
Em tese, sua postura deveria corresponder àquela que obteve a maior pontuação. No
caso, não há como adotar uma leitura linear, por causa do próprio rigor inerente à
moral e à integridade (coluna I). De fato, esta moral não autoriza deslize algum e exige
a pontuação plena de 30 pontos. A coluna II corresponde à moral do oportunismo,
de maneira que, quem obteve nota maior nesta postura, simplesmente é forte adepto
desta moral. Entretanto, quem somou de 25 a 29 pontos na coluna I costuma fazer
algumas concessões concorrentes à moral do oportunismo e, portanto, vive numa
situação ambígua. Agora, quem somou de 20 a 24 pontos nesta mesma coluna mantém
relações bastante confusas com a moral da integridade e adota decisões que padecem
de grande ambiguidade, como se tivesse adentrado numa terra de ninguém. Menor
pontuação ainda remete simplesmente à moral do oportunismo.
Contextualização histórica
da responsabilidade social
Igor Roberto Borges
autores relatam que ideias anteriores a este livro foram rechaçadas no meio
acadêmico, porque soavam como heresias socialistas, entretanto, o livro de
Bowen teve grande repercussão e logo foi traduzido para diversos idiomas,
incluindo o português. Para os mesmos autores, foi a partir de então que o
assunto emergiu nos meios acadêmicos e empresariais norte-americanos,
passando a ser tema de encontros, simpósios, cursos regulares e seminários.
Os autores acrescentam que a popularização do tema intensificou-se a partir de
uma série de reportagens exibidas na década de 60 pela rede norte-americana
Pacific Northwest, que resultou num livro, intitulado Business and Society. Estes
acontecimentos prepararam o campo, segundo os autores, para a aceitação da
ideia de responsabilidade social no contexto empresarial.
A partir desses acontecimentos, na mesma década surgiram as primeiras
cobranças da sociedade europeia e norte-americana pelos direitos civis. Como
resultado, as empresas que almejavam apenas o lucro passaram a considerar a
prática de ações sociais como algo inerente ao negócio (DUARTE e DIAS, apud
BOURSCHEIDT, 2002).
Para Melo Neto e Froes (2002) o aspecto social do setor empresarial teve
início na década de 70, com o “aumento da contestação econômica quantitativa”,
cuja expressão máxima foi o primeiro relatório do Clube de Roma, também
chamado de “Relatório Meadows”, sobre os limites do crescimento, datado de
1972. Para os autores constitui-se nesse fato histórico o início do processo de
conscientização para a necessidade de uma extensa agenda empresarial na busca
de soluções para os problemas sociais.
No campo histórico da responsabilidade social empresarial, temos um outro
divisor de águas e talvez o principal, citado por diversos autores, assumindo
caráter de unanimidade, que foram as publicações dos primeiros balanços sociais,
que, conforme Bourscheidt (2002), foram elaborados na Alemanha e na França,
respectivamente, pelas empresas Steag em 1970 e Stinger no ano seguinte.
Na mesma década, precisamente no ano de 1977, surge na França o “Relatório
Sudreau”, sobre a reforma da empresa e a lei sobre o balanço social (Lei de
12 de julho de 1977), que passou a exigir que as empresas instaladas em seu
território, com mais de 300 empregados, fizessem balanços periódicos sobre o
seu desempenho social no tocante à mão de obra e às condições de trabalho
(MELO NETO e FROES, 2002).
Contextualização histórica da responsabilidade social 91
Reflexão
A partir da evolução histórica da responsabilidade social e de seus principais
conceitos, faça uma comparação entre a abordagem de obrigação social e a
abordagem da responsabilidade social, citando vantagens e desvantagens para
uma empresa.
8
Mas quem seriam as partes interessadas? A seguir veremos o quadro 19, que
sintetiza as partes interessadas, com suas contribuições para a empresa, bem
como suas demandas básicas em relação a ela:
Reflexão
Pesquise em empresas e apresente exemplos de responsabilidades interna
e externa.
9
de estabelecer fortes laços de lealdade dos clientes atuais para com a empresa,
de forma a garantir trocas duradouras. Para Burscheidt (2002) não resta dúvida
de que a postura socialmente responsável constitui-se de parte estratégica para
movimentar-se nesse cenário de consumidores cada vez mais esclarecidos e
exigentes. Ainda, segundo o autor, vale salientar que as próprias práticas de
marketing venham ao encontro da ética e da responsabilidade social.
De encontro ao exposto, Melo Neto e Froes (2002) afirmam que as empresas
desenvolvem projetos sociais com dois objetivos: exercer filantropia empresarial
e desenvolver estratégias de marketing com base em ações sociais.
Nessa linha de pensamento, o exercício da filantropia empresarial caracteriza-
se por ações de doações de produtos fabricados pela própria empresa ou de
grandes somas de dinheiro para entidades beneficentes.
Algumas empresas utilizam essa prática como uma ação de marketing ao
promoverem seus produtos e marcas quando são distribuídos a escolas, hospitais,
universidades, órgãos de serviços públicos e entidades do terceiro setor.
Ainda, segundo Melo Neto e Froes (2002), são também ações de filantropia
as doações para campanhas sociais e concessão de bolsas e prêmios para
pessoas carentes. É o que denominamos de marketing social, cujas principais
modalidades são:
• marketing de filantropia;
• marketing das campanhas sociais;
• marketing de patrocínio de projetos sociais;
• marketing de relacionamento com base em ações sociais;
• marketing de promoção social do produto e da marca.
Deste pensamento vale destacar o trecho a seguir: “(...) não é fazer marketing
da atuação social da empresa”. Ao analisarmos o trecho, verificamos a divergência
entre o conceito de Melo Neto e Froes (2002), que caracteriza marketing social
como ações de filantropia através de doações para campanhas sociais e concessão
de bolsas e prêmios para pessoas carentes.
Mas o conflito dá-se no campo conceitual, já que para Alessio (2003) haveria
um segundo conceito chamado de marketing para causas sociais, onde neste
haveria a associação de uma empresa ou marca a uma questão ou causa social
relevante em benefício mútuo, onde as empresas e instituições de caridade ou
causas tornam-se parceiras para comercializar um produto ou serviço, gerando
retorno para ambas. Também defende a divulgação da atuação social das
empresas como forma de estímulo e mobilização de outras empresas a seguirem o
exemplo, além da divulgação de maneiras de como atuar, já que muitas empresas
querem e não sabem como colaborar.
Melo Neto e Froes (2002) destacam que para alguns especialistas a filantropia
jamais é utilizada como uma ação de marketing, por ser vista como prática de um
mecenato. Mas creem que muitas empresas utilizam a prática filantrópica através da
doação de equipamentos, como estratégia de promoção de produtos e marcas.
Devido ao fato de crermos que este pensamento está correto, utilizaremos a
classificação proposta por estes autores, que analisaremos a seguir. Antes, fazemos
a seguinte ressalva: as empresas devem avaliar se investem mais na ação social
ou na sua divulgação, pois, se a segunda recebe maiores investimentos, trata-se
de prática antiética, e cremos que, se os stakeholders perceberem dessa forma, o
retorno social esperado pode ter efeito contrário do desejado. Reforçando nossa
teoria, temos a seguinte argumentação de Bourscheidt:
Além disso, as empresas que participam das campanhas estreitam laços com
os stakeholders, pois ganham em confiabilidade, responsabilidade, publicidade
e admiração pelo público em geral.
• fidelização de clientes;
• promoção do produto e da marca.
Reflexão
Pesquise em uma empresa que tipo de marketing social ela usou recentemente
e que repercussão teve na mídia:
10
Responsabilidade social
e o retorno social
Igor Roberto Borges
| 4 http://www.corporate-citizenship.com/wp-content/uploads/2010/03/Corporate-Citizenship-DJSI-
Webinar-Presentation-March-2010.pdf
122 Responsabilidade social e o retorno social
| 5 www.santander.com.br
Responsabilidade social e o retorno social 123
deduções do imposto de renda, tanto para pessoas jurídicas bem como para
pessoas físicas.
Também temos exemplos, em níveis estadual e municipal, que variam
conforme a legislação local, entre eles o caso da prefeitura de Santo André,
Estado de São Paulo, que incentiva as empresas a utilizarem a Lei n. 9.532/97,
que permite a doação de 1% do Imposto de Renda devido para os fundos sociais
(MELO NETO e FROES, 2002). Ainda, conforme Melo Neto e Froes (2002), a
prefeitura de Santo André criou seu próprio Fundo Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, que em 1999 já contava com o montante de R$ 850
mil e tendo como investidores sociais empresas como Rhodia e Pirelli, entre
outras, chegando ao número de mais de 300 empresas.
Para as empresas que desejam saber o quanto é possível obter de retorno
tributário – fiscal, uma boa sugestão é visitar o site do Grupo de Institutos,
Fundações em Empresas (GIFE6), que possui a “Calculadora Online”, uma
ferramenta para que institutos, fundações e empresas possam identificar
instantaneamente o seu potencial aproximado para patrocínios ou investimento
social privado, beneficiados por diversas leis de incentivo. Há opções de cálculo
para empresas tributadas por lucro real ou lucro presumido.
| 6 www.gife.org.br
Responsabilidade social e o retorno social 125
Para Melo Neto e Froes (2002) as atividades que mais agregam valor social
são as duas últimas: assistenciais e geradoras de emprego e renda, no entanto,
as demais não devem ser diminuídas na elaboração de projetos sociais, pois
também agregam valor à comunidade.
As melhores alternativas de elaboração de projetos sociais congregam o
maior número de atividades sociais possíveis em seu âmbito, pois garantem
um maior valor agregado, e, consequentemente, maior retorno social para o
desenvolvimento da comunidade (MELO NETO e FROES, 2002).
Reflexão
Cite pelo menos dois benefícios que as empresas socialmente responsáveis
usufruem e dê um exemplo concreto.
Referências
ALESSIO, Rosemeri. Responsabilidade social: um panorama empresarial. 3.ed.
Novo Hamburgo: Fundação Semear, 2003.
DJSI – Dow Jones Sustainability Index. March 23 and 26, 2010. The path to
corporate responsibility recognition and improved internal management.
130 Referências
KOTLER, Philip. Marketing para organizações que não visam lucro. São Paulo:
Atlas, 1978.
Referências 131