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SIDNEY LAZARO MARTINS

TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES NEOTROPICAIS


EM BARRAGENS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade
Anhembi Morumbi no âmbito do
Curso de Engenharia Civil com
ênfase Ambiental.

SÂO PAULO
2004
SIDNEY LAZARO MARTINS

TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES NEOTROPICAIS


EM BARRAGENS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade
Anhembi Morumbi no âmbito do
Curso de Engenharia Civil com
ênfase Ambiental.

Orientador: Prof. Eng. Dr. José


Rodolfo Scarati Martins

SÂO PAULO
2004
i

Este trabalho é uma parceria intelectual e motivadora entre tantos amigos e


colaboradores que, ao longo das atividades acadêmicas e profissionais, participaram
com frações importantes de seus conhecimentos e emoções na minha limitada
compreensão do mundo e dos seres nem sempre adequados ou inseridos nos seus
ambientes.
ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade Anhembi Morumbi, curso de Engenharia Civil, aos


valorosos conhecimentos que contribuíram à minha formação técnica, mas,
principalmente, aos humanos que me fizeram um ser melhor.

Não há como não destacar o inestimável empenho das coordenações de engenharia


civil, cito as Professoras Engenheiras MSc Jane L. Vieira e Drª Gisleine Coelho de
Campos e a secretária Claudete Pinheiro, em valorizar, como é de se esperar, o
nosso curso num rol com inúmeros outros tão distintos no universo dessa instituição.

Não é possível uma forma de contribuição técnica educacional na área de


engenharia civil, dentro da Universidade, sem a participação, sempre compentente e
brilhante, do amigo Prof. Eng. Dr. José Rodolfo Scaratti Martins, companheiro de
muitas atividades que o tempo não conseguiu diluir.
iii

RESUMO

Os Sistemas para a Transposição de Peixes são implantados para atenuar alguns


dos efeitos negativos decorrentes dos barramentos de rios, sobre as comunidades
de peixes.

No Brasil, como na maioria dos paises subdesenvolvidos, devido a fatores históricos,


financeiros, políticos, institucionais e culturais desfavoráveis, há uma defasagem
tecnológica quanto a estes sistemas, pelo menos secular, com conseqüências
imensuráveis ao ambiente e ao universo dos peixes.

Os estudos e projetos internacionais não devem ser aplicados indiscriminadamente


para a realidade nacional, pois diferem quanto à diversidade dos nossos peixes, sob
a pena de incorrer nos insucessos como na Austrália, Nova Zelândia, China,
Tailândia, Ásia e Brasil, entre outros.

A importância dos nossos peixes fluviais, onde se destacam os migradores como os


com maior interesse comercial e esportivo, é indiscutível. Assim, se propõe a
inventariar o “estado da arte” dos Sistemas para a Transposição de Peixes, as
alternativas hidráulico-estruturais de transposição e um estudo de caso na AHE
Lajeado, rio Tocantins.

Palavras Chave: Piracema; Transposição de Peixes; Escadas para Peixes; Sistemas


para a Transposição de Peixes; Passagem de Peixes; Biopassagem.
iv

ABSTRACT

Fish Transponding System is usually adopted to mitigate negative effects of dam and
reservoir construction on migratory fishes.

In Brazil, as with most undeveloped countries, owing to historical, political,


economical and cultural adverse factors, there is a centenary technological gap
relating Fish Transponding System, which has caused unbearable consequences to
environment and to the fish realm.

This paper shows that international current projects and practices should not be
adopted widespread to national reality, as they usually don’t match our fishes habits
and needs; the adoption of those practices could lead to a project breakdown,
according to some recorded in Australia, Africa, China, Thailand, New Zealand and
even Brazilian experiences.

The importance of our fluvial fishes, among which the migratory ones represent major
commercial and sportive interest, is unquestionable. This paper intends to furnish
information on the State of the Art in Fish Transponding System, to compare
hydraulic and structural transponding system types and, the case study about
Lajeado Dam on Tocantins River.

Key words: Fishway; Fish Transponding; Fish Ladder; Fish Passage; Piracema Fish
Reproduction; Migratory Fish; Bio-Passage.
v

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 5-1: STP tipo escada com soleira ou degrau. ................................................13

Figura 5-2: STP tipo escada com soleria ou degrau. ................................................13

Figura 5-3: STP tipo escada com orifício. .................................................................14

Figura 5-4: STP tipo escada Denil.............................................................................14

Figura 5-5: STP tipo Vertical Slot com 2 jatos. ..........................................................14

Figura 5-6: STP tipo eclusa. ......................................................................................15

Figura 5-7: STP tipo elevador....................................................................................15

Figura 5-8: STP tipo embarcação transportadora. ....................................................16

Figura 5-9: STP tipo misto.........................................................................................16

Figura 5-10: STP tipo canal lateral. ...........................................................................17

Figura 5-11: STP tipo escada em serpentina. ...........................................................17

Figura 5-12: STP tipo escada alternada. ...................................................................18

Figura 5-13: STP Natural (Japão). ............................................................................18

Figura 5-14: STP tipo escada (Marshall MacDonald)................................................20

Figura 5-15: STP tipo escada Vertical Slot com um jato (Landmark). .......................21

Figura 5-16: STP tipo escada (Denil). .......................................................................22

Figura 5-17: STP´s em Bonneville e John Day, rio Columbia....................................23

Figura 5-18: STP tipo Vertical Slot com 1 jato...........................................................23

Figura 5-19: STP tipo Vertical Slot com 2 jatos (Hell’s Gate) ....................................24

Figura 5-20: STP tipo escada (Ice Harbor)................................................................25

Figura 5-21: UHE Ice Harbor, EUA. ..........................................................................25

Figura 5-22: STP tipo espiral (Alaska).......................................................................27

Figura 6-1: Localização do AHE Lajeado ..................................................................42

Figura 6-2: Arranjo Geral do AHE Lajeado................................................................44

Figura 6-3: Estruturas da escada ..............................................................................45


vi

Figura 6-4: Desenho Esquemático da Escada ..........................................................46

Figura 6-5: Monitoramento da escada.......................................................................48

Figura 6-6: Abundância e número de espécies (A) e abundância de Rhaphiodon


vulpinus e Auchenipterus nuchalis por tanque de descanso (B). .......................50

Figura 6-7: Variação do nível médio diário de jusante, abundância de indivíduos e


número de espécies na escada por coleta. IND. = indivíduos. ..........................51

Figura 6-8: Desnível e último degrau durante a estiagem .........................................51

Figura 6-9: Valores médios e amplitude de variação (máximo e mínimo) do nível de


jusante por mês..................................................................................................52

Figura 6-10: Entrada do canal de acesso à escada ..................................................53


vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1-1: Barramentos Nacionais (Martins, 2004) ...................................................6

Tabela 5-1: STP’s Nacionais (MARTINS, 2000)........................................................28

Tabela 5-2: Altura dos STP's Tipo Escada (MARTINS, 2000). .................................29

Tabela 5-3: Comparação entre os Tipos de STP's (MARTINS, 2000) ......................33

Tabela 5-4 : Critério para o STP em função do Nível D'água na Saída (Clay, 1995) 35

Tabela 5-5 : Valores de Capacidade de STP's tipo Escada (Clay, 1995)..................36

Tabela 5-6: Valores para dimensionamento de STP para anádromos (CLAY, 1995).
...........................................................................................................................38

Tabela 5-7 : Declividade dos STP's Japoneses (SASANABE, 1990)........................39

Tabela 5-8 : Dimensões de STP tipo escada Vertical Slot (PASCHE, 1995) ............40

Tabela 5-9 : Recomendações Gerais para STP tipo Escada. ...................................41

Tabela 6-1: Testes de Protótipo na Escada ..............................................................46

Tabela 6-2: Espécies registradas na escada nas condições de projeto e para níveis
d´água de jusante inferiores ao mínimo (abril e setembro de 2003). .................52
viii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica;


AHE Aproveitamento Hidroelétrico
ap. apud: citado em;
Biol. Biólogo;
CEMIG Centrais Elétricas de Minas Gerais;
CESP Centrais Elétricas de São Paulo;
COMBASE Comitê Coordenador das Atividades de Meio Ambiente do Setor
Elétrico;
CONAMA Conselho Nacional de Atividades do Meio Ambiente;
Cons Consultor;
DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca;
DNOS Departamento Nacional de Obras;
e.g. exempli gratia: por exemplo;
EIA Estudo de Impacto Ambiental;
et al. et alii: e outros;
etc. et cetera: e as demais;
EUA Estados Unidos da América;
FTS Fish Transponding System;
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis;
NWPPC Northwest Power and Conservation Council. 851 S.W. Sixth
Avenue, Suite 1100. EUA. Portland, Oregon;
RIMA Relatório de Impacto Ambiental;
STP Sistema para Transposição de Peixes;
THEMAG Themag Engenharia e Gerenciamento;
UNITINS Universidade Federal do Tocantins.
ix

LISTA DE SÍMBOLOS

Apresentam-se os principais símbolos e unidades (O Sistema Internacional, SI, é


legalmente adotado no Brasil por força do decreto-lei no 63.233 de 12 de setembro
de 1968), na ordem alfabética crescente, utilizados no texto deste trabalho (alguns
símbolos estão representados de forma diferente ao tradicional para evitar
duplicidade e interpretações errôneas):
λ escala;
γ peso específico;
ρ massa específica;
µ micrômetro, unidade de comprimento equivalente a 1/1.000.000 da
unidade padrão do Sistema Internacional denominada metro,
(106m);
∆y diferença entre cotas do nível d´água;
∆h perda de carga ou energia;
0
C símbolo de indicação da temperatura na unidade de graus Celsius;
cm unidade de comprimento equivalente a 1/100 da unidade padrão de
comprimento do Sistema Internacional denominada metro;
g aceleração da gravidade;
H2O fórmula da água;
i declividade do fundo;
I declividade da linha d’água;
J inclinação da linha de energia;
kg unidade de massa padrão do Sistema Internacional denominada
quilograma;
km unidade de comprimento equivalente a 1000 vezes a unidade
padrão de comprimento: m;
l comprimento;
m unidade padrão de comprimento do Sistema Internacional
denominada metro;
m/m unidade de inclinação ou declividade;
m/s unidade padrão de velocidade do Sistema Internacional;
m/s2 unidade padrão de aceleração do Sistema Internacional;
2
m unidade padrão de área do Sistema Internacional;
3
m /s unidade padrão de vazão do Sistema Internacional;
mH2O unidade padrão de pressão do Sistema Internacional, expressa em
coluna vertical com o fluido água, denominada metro de coluna
d’água;
x

mm unidade de comprimento equivalente a 1/1000 da unidade padrão


de comprimento do Sistema Internacional: m;
MW mega watts;
p perímetro;
P pressão relativa;
q vazão em volume por metro linear;
Q vazão em volume;
s unidade padrão de tempo do Sistema Internacional denominada
segundo;
T temperatura;
t tempo;
t tonelada, unidade de massa equivalente a 1000 vezes a padrão do
Sistema Internacional denominado quilograma;
V velocidade;
∀ volume;
y profundidade média;
xi

Glossário

Para compreender um Sistema para a Transposição de Peixes, faz-se necessário à


introdução de uma terminologia básica para atender as áreas do conhecimento da
Engenharia, Biologia, Ecologia e Meio Ambiente, apresentada pela ordem alfabética
crescente:
abiótico: ausente de vida, sem interferência de organismos vivos;
adaptação: em fisiologia: é a reação de órgãos sensoriais determinada por um
estímulo permanente; em biologia: acomodação de um órgão ou organismo às
condições adversas; em ecologia: é a adaptação qualitativa e quantitativa ao meio
ambiente;
afótica: camada d’água sem penetração da luz solar;
alevino: forma inicial dos peixes, embrionária, filhote de peixe;
alóctones: espécies que pertencem à outra bacia, outra região;
anóxico: sem oxigênio;
anádromos: peixes que nascem em água doce e derivam para o mar. Quando
adultos, migram subindo os rios para desovarem nas cabeceiras de sua origem;
área de drenagem: parte de uma bacia hidrográfica situada a montante de uma
determinada seção transversal de um rio para onde convergem as águas;
autóctones: espécies provenientes da própria bacia;
autótrofo: característica de certos organismos possuem para processar seu próprio
alimento a partir de substâncias orgânicas, foto ou quimiosíntese;
bacia hidrográfica: parte da superfície terrestre que contribui na alimentação de um
curso d’água ou lago;
barbilhão: apêndice carnoso e filamentoso situado, geralmente, na base da maxila
superior dos peixes;
barragem ou barramento: construção destinada a barrar um curso d’água
formando um reservatório, criando, assim, um desnível entre montante e jusante;
bentófoga: espécie que se alimenta da fauna e flora do fundo dos rios;
biodiversidade: indica variedade de genótipos, espécies, populações, etc. e seus
processos vitais de relações ecológicas existentes numa determinada região;
biologia: ciência dos seres vivos. Estuda com aporte da matemática, física e
química, os fenômenos vitais em todas as suas formas e leis. Inclui reprodução,
crescimento, inter-relações, metabolismos, estruturas, estímulos, comportamento,
hereditariedade, etc.;
bioma: comunidade biótica característica de uma região geográfica considerada que
pode incluir vários biótopos;
biomassa: volume ou peso de substâncias orgânicas de um determinado lugar;
biota: conjunto da fauna a flora de uma região;
biótipo: organismos com idêntica constituição genética que podem reproduzir;
xii

biótopo: espaço vital característico de um determinado ser vivo;


cadeia alimentar: relação trófica que ocorre entre os seres vivos que compõem um
ecossistema, mediante a qual se transfere a energia de um organismo para outro;
canal: conjunto das dimensões internas do corpo principal da estrutura de condução
do fluxo da transposição de peixes;
catádromos: peixes fluviais migratórios que descem ao mar para desovarem;
declividade: relação entre as distâncias vertical e horizontal que representa a
inclinação de uma rampa. As formas tradicionais de sua indicação são: 1V:2H, onde
V indica a vertical e H a horizontal; 0,5m/m ou 50%;
degradação: deterioração das condições de vida que afetam todos os seres vivos;
depleção: diferença entre os níveis d’água máximo e mínimo operativos num
reservatório, para um determinado instante;
desenvolvimento: processo que busca a difusão harmônica dos efeitos do
crescimento econômico entre todos os membros de uma sociedade, resultando em
benefícios quantitativos e qualitativos às estruturas sociais e econômicas;
diádromos: peixes que migram do mar para água doce para reprodução;
dique: mesmo que barragem, barramento com dimensão menor;
dispositivo à atração dos peixes: dispositivo implantado à jusante do sistema de
transposição de peixes (entrada) com a finalidade de gerar condições de turbulência
e velocidades propícias para atrair os peixes ao sistema;
eclusa de peixes: é um dispositivo mecânico destinado ao transporte de peixes com
operação semelhante às eclusas para navegação, isto é, o vencimento da altura é
realizado por operações sucessivas de abertura e fechamento de comportas
obedecendo ao princípio de vasos comunicantes;
ecologia: é o estudo da natureza, ou seja, a ciência que estuda as relações dos
organismos vivos entre si e o meio em que vivem;
ecossistema: é um conjunto complexo de componentes, abióticos ou não, que
formam uma unidade ecológica básica funcional;
efeitos ou impactos ambientais: são os resultados de ação sobre um ser,
comunidade ou região;
elevadores de peixes: são dispositivos mecânicos únicos ou parciais destinados ao
transporte de peixes de jusante para montante do barramento;
endêmica: que só existe no local;
entrada: corresponde à porção terminal de jusante de um STP, onde as espécies
iniciam a ascensão durante a migração reprodutiva;
escada para peixes: denominação brasileira genérica dos STP´s compostos por um
canal principal, soleiras e fluido escoando segundo o gradiente hidráulico;
espécie: é a denominação de um conjunto de indivíduos que se assemelham em
seus caracteres essenciais e podem reproduzir;
eufótica: camada d’água em que há penetração da luz solar para permitir
fotossíntese;
xiii

eutrofização: processo natural de enriquecimento dos ecossistemas aquáticos,


resultante do incremento de nitrogênio e fósforo e, conseqüentemente da produção
orgânica,
exóticas: espécies provenientes de outros continentes ou região biogeográfica;
fauna: conjunto de animais que vivem em determinado lugar;
fluvial: relativo às águas continentais, cursos d’água interiores;
forrageira: espécie que serve de alimentação ao predador;
gônadas: glândula sexual que produz gametas masculinos e feminimos e secretam
os hormônios. O testículo é a gônada masculina e o ovário a feminina;
gonatropina: hormônio produzido pelo sistema hipófise e hipotálamo;
habitat: condições naturais que circundam e sustentam determinado ser, planta ou
animal;
hidrelétrica ou hidroelétrica: barramento para a geração de energia, ver Usina
Hidrelétrica;
inventário: fase anterior ao projeto de viabilidade onde são estudadas alternativas
num contexto de macro-soluções;
jusante: porção posterior, direção para onde escoam as águas fluviais;
juvenis: peixes jovens;
lacustre: relativo aos lagos, ambientes lênticos;
lêntico: ambiente aquático onde predominam águas com baixas velocidades, sem
fluxo preferencial;
limnologia: ciência que estuda a correlação e a dependência entre organismos
entre águas interiores ou doces ou continentais. Abrange fatores que exercem
influência sobre a qualidade, quantidade, periodicidade e a sucessão dos
organismos do biótopo aquático;
linha lateral: parte do sistema sensorial dos peixes sensível à pressão d’água;
lótico: sistemas aquáticos com predomínio de correntes contínuas e unidirecionais,
com dinâmica e estrutura organizada ao longo do seu perfil. Possui capacidade de
arraste de material em suspensão;
manejo: conjunto de técnicas e mecanismos administrativos destinados ao
aproveitamento racional dos recursos naturais de uma área, com vistas aos objetivos
de preservação ou conservação da natureza;
meio: é o lugar onde se desenvolve a vida de um organismo, comunidade ou grupo;
migração: movimento, temporário ou permanente, de espécies ou comunidades dos
peixes para outro local; deslocamento de ida e volta entre pelo menos dois sítios
disjuntos: o de alimentação e o de reprodução;
modelo: em hidráulica experimental é um conjunto geométrico, reduzido em relação
às dimensões reais (escala 1:1), de um projeto ou obra existente;
montante: porção anterior, direção de onde escoam as águas fluviais;
natural: sem intervenção humana, intacto, não artificial;
xiv

nível d’água máximo, mínimo e normal: são cotas ou isolíneas dos volumes e
áreas inundadas respectivas das águas de um reservatório, consideradas para a
operação de uma hidrelétrica;
orifício: abertura submersa nas paredes transversais (soleiras) dos STP’s para
controle de vazão e passagem de peixes;
pelágico: espécie que vive no seio d’água com movimentos próprios, geralmente
bons nadadores
piracema: movimento migratório de algumas espécies de peixes;
plâncton: conjunto de minúsculos animais, zooplânctons, e vegetais, fitoplânctons,
que vivem na água;
pluvial: relativo às chuvas;
poluição: contaminação do meio;
potamódromos: peixes continentais (fluviais) que migram em águas doces
(piracema) e desenvolvem seu ciclo vital no corpo do rio;
preservação da natureza: conjunto de medidas que visa à proteção integral das
características naturais de um meio;
progênie: ascendência, geração, prole;
projeto básico: fase em que são projetadas as obras civis e os equipamentos
necessários para a alternativa mais atraente delineada pelo estudo de viabilidade
(projeto de viabilidade);
projeto de viabilidade: fase antecedente ao projeto básico, onde são concebidas as
idéias gerais do empreendimento, com estudo de alternativas, prevendo-se o
dimensionamento e os serviços de infra-estrutura necessários;
projeto executivo: detalhamento do projeto básico para construção, montagem e
operação de um empreendimento;
protótipo: conjunto geométrico final de um empreendimento implantado ou
projetado;
reofílicos: peixes de piracema, amigos da correnteza;
represa: pequeno reservatório;
reservatório de amortecimento, contenção ou de cheias: é o reservatório
destinado a reduzir picos de cheias de um sistema hídrico, através da retenção
temporária de volumes d’água;
reservatório ou tanque: área de um STP entre duas soleiras onde há uma certa
retenção de água, velocidades e fluxos controlados;
remanso: linha d’água formada pela mudança de seção molhada em um curso
natural ou artificial, podendo ser ascendente, horizontal ou descente em função dos
parâmetros hidráulicos envolvidos;
reservatório: conjunto ocupado pela porção d’água (volume e área), formado por
um barramento ou barragem;
xv

saída: corresponde à porção terminal de montante do Sistema para a Transposição


de Peixes, onde as espécies terminam a transposição durante a migração
reprodutiva;
soleira ou degrau: parede transversal ao canal com a finalidade de formar um
reservatório, dissipar energia, controlar o fluxo e permitir a determinação da vazão e
das velocidades;
STP: abreviatura de um Sistema para Transposição de Peixes;
stress: cansaço no sentido fisiológico dos peixes;
teleósteos: espécies que possuem esqueleto ósseo;
tomada d’água: estrutura hidráulica que controla, deriva e regula a captação d’água
num determinado ponto de um curso d’água ou reservatório;
trófica: referente à nutrição;
tropismo: reação de aproximação ou afastamento do peixe em relação à fonte de
um estímulo;
turbina hidráulica: máquina motriz que converte energia potencial hidráulica em
energia cinética em seu eixo e a transmite para outras transformações;
UHE: Usina Hidrelétrica, com potência maior do que 10MW e altura maior do que
10m;
usina hidrelétrica: instalação onde a energia potencial da gravidade da água é
transformada em energia mecânica e elétrica;
vertedouro ou vertedor: estrutura de uma usina destinada a escoar água,
mensurar, e controlar volumes d’água. Nos reservatórios, o controle do fluxo e nível
d’água é realizado pelas suas comportas. No STP são introduzidos para controlar
vazões, níveis e permitir a passagem de peixes que nadam ou saltam
superficialmente;
xvi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

2 OBJETIVOS.........................................................................................................7

2.1 Objetivo Geral............................................................................................................. 7

2.2 Objetivo Específico ................................................................................................... 7

3 METODOLOGIA DO TRABALHO.......................................................................8

4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................9

5 ESTADO DA ARTE SOBRE OS SISTEMAS PARA A TRANSPOSIÇÃO DE


PEIXES .....................................................................................................................10

5.1 Introdução ................................................................................................................. 10

5.2 História dos STP’s................................................................................................... 18

5.3 Critérios para os STP’s .......................................................................................... 34

6 ESCADA PARA PEIXES NO AHE LAJEADO, RIO TOCANTINS....................42

6.1 Histórico do projeto ................................................................................................ 43

6.1.1 Estudos ambientais ........................................................................................... 43

6.1.2 Estudos de Engenharia..................................................................................... 43

6.2 Monitoramento da Escada .................................................................................... 45

6.2.1 Operação Hidráulica.......................................................................................... 45

6.2.2 Operação Biológica ........................................................................................... 47

6.3 Comentários Finais ................................................................................................. 53

7 ANÁLISE CRÍTICA ............................................................................................55


xvii

8 CONCLUSÕES..................................................................................................56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................57
1

1 INTRODUÇÃO

A água doce é um bem natural essencial à vida, mas devido, entre outros fatores, ao
descomedido crescimento populacional e ao descompromisso ambiental mundial,
tornou-se escassa em sua quantidade como, principalmente, em boa qualidade. É
provável que as próximas disputas internacionais destinem-se à sua posse.

O Brasil possui cerca de 12% da água doce mundial distribuída em múltiplos


ambientes distintos (a bacia hidrográfica amazônica movimenta 70% do total da
América Latina), o que, conseqüentemente, privilegiou, também, a maior diversidade
de animais onde se podem destacar os peixes.

Os peixes no ambiente aquático Terrestre fazem 480 milhões de anos (AQUARIUM


FISH, 2004) e representam, aproximadamente, 50% dos vertebrados, englobando
28.491 espécies, sendo 12.036 continentais em água doce ou potamódromos;
13.779 são marinhos e 2.675 são diádromos ou catádromos (FISHBASE, 2004).
Entre as espécies 96% são teleósteos (VAZZOLER, 1996).

Cerca de 3.000 espécies de peixes de água doce habitam as águas continentais da


América do Sul, sendo que as duas ordens mais abundantes são Chariciformes e
Siluriformes e os Perciformes são minoria (NAKATANI et al., 2001).

O Brasil possui a maior diversidade e riqueza mundial de peixes potamódromos,


com cerca de 1/4 do total das espécies, ocasionando, como exemplo, que a maioria
dos nossos pequenos cursos d’água: córregos, riachos, ribeirões, possuam uma
riqueza de peixes maior do que a maioria dos rios europeus ou norte-americanos.

A diversidade de espécies ictíicas continentais neotropicais nacionais incorpora os


anádromos, potamódromos e catádromos; com comprimentos entre o centímetro e
os metros; com massa entre os gramas e as centenas dos quilogramas; nos
ambientes: lóticos, semilênticos ou lênticos; bentônicos ou pelágicos; exóticos ou
endêmicos; com diversas preferências alimentares (frugívoro, herbívoro, insetívoro,
necrófago, ictiófago, iliófago ou onívoro); com pele formada com escamas, couro ou
placas ósseas; estratégias e táticas reprodutivas diversas; sedentários ou
migradores plenos ou parciais; preferências e capacidades motoras variadas
(nadando, saltando, arrastando-se); com sustentação térmica e pigmentações
distintas; com formatos corpóreos desenvolvidos em função dos seus ambientes
2

(bentônicos são achatados ou espalmados: mais largos do que altos e geralmente


com barbilhões e pele de couro ou placas ósseas, o que resultam numa menor
capacidade natatória, mas com necessidades de oxigenação menores; pelágicos
são afusados no sentido de seu comprimento: mais longos do que altos e pele de
escamas, o que resultam numa maior capacidade natatória, necessidades de
oxigenação maiores e a possibilidade de saltarem); aglutinam-se em cardumes ou
não (geralmente os migradores, os quais representam cerca de 20% dos nossos
peixes potamódromos e com maior valor esportivo, comercial e ambiental
(THEMAG, 1999 e 1994), durante períodos específicos do ano, nos repiques de
cheias, formam os cardumes para a subida contra a correnteza dos rios, com a
missão de reproduzirem, configurando-se num fenômeno típico neotropical
denominado, no Brasil, como piracema).

Os ecossistemas estruturados com os peixes, como qualquer outro, devem estar em


equilíbrio energético, ou seja, é necessário manter a biodiversidade e a biomassa
sem as quais os elos desfazem-se com o desequilíbrio na cadeia alimentar e
conseqüências imprevisíveis, mas nefastas para todos, inclusive aos humanos.

Como exemplo, os centros urbanos entre cortados por cursos d’água abertos ou
fechados, via de regra, são invadidos por insuportáveis enxames de pernilongos,
moscas e outros insetos devidos, entre outros fatores, pela ausência de predadores,
isto é, ocorrem “quebras” nos elos energéticos da cadeia alimentar. Os peixes são
consumidores ativos nesta cadeia, passíveis de consumir cerca de 200 larvas ou
insetos dia por indivíduo (GODOY, 1998), agindo como agentes profiláticos
sanitários, além de “semeadores” de vegetais, limpeza de resíduos, bioindicadores,
enriquecedor protéico aos humanos e para outros animais, etc.

As mudanças nos ecossistemas aquáticos continentais: a poluição e os


represamentos nos cursos d’água, a ocupação humana desenfreada das margens,
lagoas, lagos, mangues, braços e nascentes, a retificação e canalização, a erosão
devido ao desmatamento com o aporte de sedimentos aos rios, a ausência de mata
ciliar, as mudanças no regime hidrológico e atmosférico, a pesca predatória, a
introdução de espécies exóticas e as estações de piscicultura, são fatores
importantes, entre outros, do inegável declínio da biodiversidade e biomassa de
peixes nacionais fluviais.
3

Os peixes fluviais constituem-se numa fonte protéica renovável, com importâncias


esportivas, comerciais e ambientais consideráveis. Pode-se afirmar, com um
comedido ufanismo, que a nossa ictiofauna é um patrimônio nacional e internacional
pouco divulgado e que as futuras gerações tem o direito de conhecê-los e o
compromisso de preservá-la.

O Brasil desperta de sua hibernação cultural e investi nas questões ambientais,


como um reflexo do que acontece no mundo, buscando o seu desenvolvimento
sustentável. A discussão sobre o meio ambiente desce do patamar da
intelectualidade e dos gabinetes para as ruas, as salas de aula, as universidades, as
populações e as mídias.

Os humanos atingiram os seus limites de interferência no meio ambiente, e assim,


comprometem a sua sobrevivência porque são parte do mesmo ecossistema e
planeta, e suas ações, como qualquer outra, são retroativas.

Parte das mudanças nos ecossistemas aquáticos começou a ser atenuada devido à
consciência dos habitantes, dos estudos e avaliações de impactos ambientais com
amparo legal e em constante evolução, os comitês de bacias e a valorização
crescente da água enquanto produto limitado e escasso.

As estações de pisciculturas destinadas originalmente ao repovoamento e mitigação


dos efeitos danosos das barragens sobre a fauna dos peixes, não puderam suprir a
natureza durante décadas de prioridade e exclusividade, sem resultados expressivos
e acumulando produtos insatisfatórios sobre a comunidade de peixes, apesar da
evolução na indução, tratamento e reprodução de espécies sedentárias e
migradoras, principalmente os de piracema (ARGUMENTO AD SCIENTIS, 2002). A
capacidade das estações e, conseqüentemente, a quantidade de alevinos
produzidos e parte introduzidas nos reservatórios (MARTINS, 2000) foi insuficiente.
Os alevinos lançados em “águas claras” dos reservatórios, sem o “extinto selvagem
de sobrevivência” formaram um plantel para forragem aos predadores. A história das
estações induz a compreendê-las como uma alternativa política-econômica, sem
compromisso com o ecossistema, para mitigar os impactos das barragens.

Os represamentos nos cursos d’água para as múltiplas utilidades: energia,


retificação, abastecimento, contenção e amortecimento de cheias, irrigação,
industrial, laser, rejeito, navegação ou multiuso, que através da barragem,
4

interrompem o curso d’água natural, originam dois ambientes aquáticos distintos:


lótico a jusante e semi-lêntico a montante, no reservatório, separados com um
determinado desnível entre os seus corpos d’água.

A comunicação “molhada” entre esses ambientes aquáticos ocorre através de


extravasores ou vertedouros de modo descontínuo, segundo as suas premissas
operativas, e/ou pela casa de força quando nas hidroelétricas e/ou pelas estruturas
de transposição de embarcações quando há eclusas, também de modo descontínuo.

O desnível físico entre os níveis d’água: montante e jusante, ocasionada pela


barragem e a comunicação “molhada” inadequada e descontínua, constituem-se
num obstáculo ao trânsito de peixes e reduzindo, através da inibição de fluxo
genético, a biodiversidade e a biomassa entre os ambientes aquáticos, tendendo, ao
longo do tempo, em torná-los distintos e mais pobres em sua riqueza como
aconteceu nos reservatórios dos rios Paranapanema, Tietê, Grande, entre outros, no
Estado de São Paulo.

Os Sistemas para a Transposição de Peixes são uma das alternativas importantes


para mitigar os efeitos danosos dos barramentos dos cursos d’água sobre as
comunidades de peixes, consolidados e constante evolução no exterior há séculos,
para favorecer a subida e a descida de peixes, mas não devem ser utilizados para
os peixes neotropicais indiscriminadamente, sem estudos específicos, sob risco de
insucessos como demonstraram: a nossa experiência de outrora (MENDES
SOBRINHO, 1969; GODINHO, 1991; CLAY, 1995; QUIRÓS, 1988) e noutros países
como: Austrália (CLAY, 1995; MALLEN-COOPER, 1999), Nova Zelândia (CLAY,
1995), China (CLAY, 1995), Ásia (CRAIG, 1999), Tailândia (PHOLPRASITH, 1995),
entre outros.

Os dispositivos de passagem para peixes internacionais foram desenvolvidos,


principalmente, para anádromos: salmões e trutas e algumas outras para esturjões e
enguias, mas os utilizam, fortalecendo o princípio da biopassagem, outros peixes e
organismos não necessariamente migradores ou reofílicos.

Algumas das alegações impeditivas ao desenvolvimento dos STP’s nacionais, no


século passado, quando o meio ambiente podia ser irrelevante, referiam-se de forma
pueril e leviana, com ausência de respaldo científico mas recheados com
impressões pessoais e políticas, quanto a: incapacidade física dos peixes em
5

ultrapassarem obstáculos com desnível superior a 8m; alta seletividade dos


dispositivos de passagem para peixes perante a grande biodiversidade e riqueza
dos nossos peixes; ausência de anádromos e a presença de potamódromos; alto
custo das estruturas; preferência pelas estações de piscicultura para repovoamentos
de reservatórios; inadeqüabilidade dos peixes migradores aos ambientes aquáticos
semilênticos nos reservatórios, entre outros pressupostos.

“O desconhecimento da habilidade das espécies em transpor escadas, aliado as


observações e experimentos localizados de curta localização levou, principalmente
entre as décadas de 60 a 80, à crença generalizada, tanto no âmbito do setor
elétrico como no meio científico, de que as escadas seriam ineficientes como
mecanismos de transposição para desníveis superiores a 8m. Essa crença, aliada
aos aspectos legais, contribuiu para que a construção de escadas para peixes fosse
abandonada” (THEMAG, 1999).

Apesar da importância das águas no mundo, não se sabe a quantidade de


barramentos existentes no país sejam cadastrados ou não, independentes da sua
finalidade, evidenciando-se, assim, o descontrole oficial nas intervenções sobre a
água com exceção parcial no setor energético desenvolvido principalmente sobre a
plataforma hídrica. Os valores quantitativos desses empreendimentos encontram-se,
na maioria das vezes, quando há, interiorizada em instituições públicas
“independentes” locais sem o aparente interesse informativo, defendendo posturas
corporativas ou mesmo devido ao desconhecimento, desinteresse e ausência de
compromisso cívico e ambiental.

Há cerca de 840 aproveitamentos energéticos operando, em construção ou


outorgados até 2002 (ANEEL, 2003) e cerca de 70.000 açudes só no nordeste
(CIÊNCIA HOJE, 2004; ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 1997).
Contando-se com os barramentos menores, caseiros e/ou não cadastrados, as
barragens para irrigação, laser, rejeito, contenção ou retenção, abastecimento e com
usos múltiplos, o total deve ser significativamente maior.
6

Tabela 1-1: Barramentos Nacionais (Martins, 2004)

Barramento Operando Construção Outorgado Total Referência


UHE 140 17 27 184 ANEEL
PCH 242 28 187 457 ANEEL
CGH 159 1 40 200 ANEEL
Açude (Nordeste) 70.000 70.000 CIÊNCIA HOJE
Abastecimento
Irrigação
Contenção ou Regularização
Rejeito (MG) 434 434 GAZETA MERCANTIL
Total 71.275

É indiscutível a relevância da nossa ictiofauna mas apesar da quantidade de


barramentos, seguramente superior aos 72.000, não há mais do que 40 estruturas
para a transposição de peixes operando, sendo que uma parte significativa foi
implantada entre as décadas de 20 e 50 no século passado, com desnível inferior a
8m (MARTINS, 2004).

A importância dos dispositivos para a passagem de peixes tem se revelado com as


estruturas recentes implantadas com sucesso em diversas regiões do país gerando
estudos e pesquisas como as desenvolvidas pela Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo – USP, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS e Universidade Federal do
Tocantins – UNITINS, além da constância crescente de artigos em seminários e
simpósios nacionais e internacionais incorporados em áreas distintas da ciência.

Nos projetos atuais de uso da água, o Estudo de Impactos Ambientais e o Relatório


de Impacto sobre o Meio Ambiente, EIA-RIMA, são os instrumentos legais que
disciplinam a implantação e monitoramento de um STP, desde que necessários, mas
urgem, ainda que tarde, ingestões nos empreendimentos existentes sem estas
estruturas.

Os Estados de São Paulo com a Lei nº 9.798 (1997), Minas Gerais com a Lei nº
12.488 (1997), Pará com a Lei nº 5.886 (1995) e Espírito Santo com a Lei nº 4.489-N
(1999) possuem legislações que obrigam a implantação de STP’s nas Barragens.
Há, em tramitação na esfera federal, um projeto de Lei nº 4.630, para
obrigatoriedade nacional dos STP’s.
7

2 OBJETIVOS

Este trabalho apresenta o histórico dos Sistemas para a Transposição de Peixes


Internacionais, alguns modelos tradicionais e aspectos de dimensionamento
segundo os padrões internacionais.

Os modelos internacionais não devem ser aplicados aos peixes neotropicais


indiscriminadamente sob risco de insucessos como outrora demonstrou a
experiência nacional.

2.1 Objetivo Geral

Apresentar um panorama internacional dos sistemas para a transposição de peixes


e identificá-los como uma das alternativas para mitigação dos efeitos danosos
devido ao barramento de rios.

2.2 Objetivo Específico

Apresentar um sistema para a transposição de peixes neotropicais comprometido


com a diversidade ictíica nacional.
8

3 METODOLOGIA DO TRABALHO

No exterior, principalmente entre os países desenvolvidos, os sistemas para a


transposição de peixes constituem-se num tema difundido nos meios científicos e
leigos, amparados através de legislações específicas, sendo objeto de estudos em
várias áreas da ciência, visto que é multidisciplinar.

O Brasil encontra-se num estágio embrionário de conhecimento relacionado com o


tema, não se contando com estudos e pesquisas específicas consolidadas. O
conhecimento, quando existente, está fracionado entre diversos profissionais,
respaldados em pressupostos pessoais.

Apresenta-se uma pesquisa com o material disponível internacional e nacional,


sendo que parte relevante foi obtida em meio eletrônico em “sites“ especializados.

Devida a escassez de literatura ou profissionais habilitados no cenário nacional, este


trabalho foi embasado, não exclusivamente, na dissertação de mestrado, única
sobre o tema no Brasil, apresentada em 2000, na Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Engenharia
(MARTINS, 2000).

Fez parte do material consulta ao projeto do sistema para a transposição de peixes,


tipo escada para peixes, na AHE Lajeado, no rio Tocantins, estado de Goiás,
operando desde 2000. Incluí-se uma visita para diagnóstico da operação da escada
realizada em 2003 por uma empresa de consultoria paulista.
9

4 JUSTIFICATIVA

O Brasil desperta para as causas ambientais e os bens renováveis, como os peixes


continentais nacionais, esquecendo um passado não tão longe em que as decisões
não continham preocupação ou comprometimento ambiental.

Nos países do Primeiro Mundo, principalmente do Hemisfério Norte, há


investimentos maciços em atividades com meio ambiente onde se destacam os
peixes como um bem renovável com implicações no laser, comerciais, esportivas,
industrial.

O Brasil inicia o conhecimento da sua identidade com o turísmo, a natureza e


biodiversidade privilegiada e utilização do meio ambiente como uma fonte de
recursos econômicos, sob essa ótica, faz-se necessário à recuperação dos
ambientes aquáticos fluviais modificados devidos às intervenções humanas para
usufruir algum benefício tais como a geração de energia, contenção de cheias,
abastecimento, transposição de embarcações, irrigação, contenção de resíduos ou
laser.

A recuperação dos ambientes aquáticos modificados devido aos barramentos pode


passar pela alternativa de recuperação da fauna ictíica e os benefícios ambientais,
esportivos e comerciais resultantes.

Considerar um sistema para a transposição de peixes, como nos países


desenvolvidos, como uma alternativa viável e efetiva, depende, ainda, de
investimentos em ciência aplicada relacionada ao tema e o comprometimento
ambiental dos profissionais envolvidos.
10

5 ESTADO DA ARTE SOBRE OS SISTEMAS PARA A


TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES

5.1 Introdução

Há diversos tipos de dispositivos utilizados para facilitar a migração de peixes


através dos barramentos ou obstáculos naturais. O nome genérico desses
dispositivos, no Brasil, é Sistema para Transposição de Peixes: STP.

Há, basicamente, os seguintes tipos de STP´s: escadas, elevadores, eclusas,


híbridos e outros alternativos. A denominação internacional na língua inglesa para o
tipo escada é: “fishway”, “fishladder”, “fishpass”, ou ainda, “fish facilities”; para o tipo
eclusa é: “fishlock” e para elevador é: “fishelevator” ou “fishlift”. No exterior,
principalmente no hemisfério norte, o STP está consolidado, sendo objeto
indiscutível de todos os projetos fluviais ou marítimos que envolvam a sobrevivência
dos peixes.

Estes dispositivos são compostos, basicamente, com: entrada, corpo condutor e


saída. Sob a ótica da engenharia, destinam-se a facilitar a migração reprodutiva ou
trófica dos peixes vencendo obstruções naturais ou não, mediante a passagem de
um volume de água, de montante para jusante, favorecido pelo gradiente hidráulico,
em condições controladas no que se refere à vazão, níveis, velocidades, linhas de
fluxo e geometria da estrutura, de modo a atender às necessidades intrínsecas dos
peixes, sem causar o seu cansaço excessivo.

LARINIER, 1999, definiu um STP como sendo um dispositivo para atrair e conduzir
seguramente a migração de peixes: trófica e reprodutiva, aos seus ambientes.

Segundo MORISHITA, 1995, deve-se ampliar a dimensão simplista da concepção de


um STP como sendo uma passagem para peixes migradores pois se exclui outros
importantes organismos que também utilizam este sistema. Recomenda que o termo
adequado seja biopassagem (“bio-path”) definida como estrutura artificial em águas
continentais, que os organismos utilizam para migração reprodutiva, trófica ou
simplesmente deslocamento, que incorpora a filosofia de biodiversidade.

A migração dos peixes ocorre nos sentidos jusante para montante (ascendente), e
montante para jusante (descendente). A migração ascendente é contrária ao fluxo
do curso d’água e objetiva, basicamente, à reprodução em locais apropriados. A
11

migração descendente, isto é, na direção da foz do rio, objetiva a procura de locais


favoráveis quanto à alimentação, temperatura e às condições físico-químico-
biológicas. O STP deve contemplar o movimento dinâmico nos dois sentidos.

O STP mais simples é o tipo escada com soleira ou degrau, “pool & weir”,
constituindo-se numa série de reservatórios ou tanques escalonados
seqüencialmente em forma de degraus. Os reservatórios são separados por soleiras
ou degraus. Os peixes, na migração, transpõem os degraus ou soleiras, passando
entre os reservatórios ou tanques, durante a piracema, nadando pela lâmina d’água
descendente ou saltando. Nas Figuras 5-1 e 5-2, apresenta-se uma representação
deste tipo. As soleiras ou degraus possuem a finalidade de controlar a permanência
de níveis d’água e dissipar a energia na forma de perdas localizadas com a
turbulência nos tanques. A energia é dissipada de modo a favorecer a ascensão dos
peixes sem causar o seu cansaço.

Atendendo-se à necessidade dos peixes que migram pelo fundo, introduziu-se, na


soleira entre tanques, um orifício, de modo a favorecer a passagem destes peixes,
evitando-se a intransponibilidade e seu cansaço prematuro. Esse tipo de estrutura é
conhecida como escada com orifício, “weir & orifice”. Na Figura 5-3 apresenta-se
uma representação deste sistema.

Na Bélgica. por volta de 1920, o cientista especializado em peixes G. Denil, propôs


um STP composto por soleiras especiais, que dissipavam energia através do refluxo
do escoamento devido à forma das soleiras centrais. Estas soleiras foram
concebidas para proporcionarem velocidades máximas no centro do STP e menores
nas adjacências, de modo a favorecer a ascensão de peixes específicos. Essa
estrutura possui o nome de seu autor, tipo escada Denil, foi desenvolvida para
espécies do hemisfério norte, que migram no sentido dos oceanos para as
cabeceiras dos rios (anádromos ou diádromos), vencendo as distâncias com a
atividade natatória de fundo ou superficial. Na Figura 5-4 apresenta-se uma
representação deste sistema.

Um dos STP’s mais utilizados é a escada Vertical Slot, “Hell’s Gate” ou “pool & jet”.
Neste tipo de estrutura, a soleira ocupa parte do canal, permitindo a passagem do
fluxo e dos peixes por canais laterais livres, com um ou dois jatos. Foi desenvolvida
12

para peixes que migram nadando pelo fundo ou superficialmente. Na Figura 5-5,
apresenta-se uma representação deste sistema.

O sistema mecânico denominado: eclusa de peixes, “fish lock”, funciona com um


conduto interligando montante com jusante, de forma adequada para atrair os
peixes, operando em fases de transposição: fechamento da saída e favorecimento
ao acesso das espécies pela entrada; fechamento da entrada, com o conseqüente
aprisionamento dos peixes; abertura da saída com inundação do recinto e a
passagem das espécies. Na Figura 5-6, apresenta-se uma representação deste
sistema.

O elevador dos peixes, “fishlift” ou “fishelevator”, é outro sistema mecânico, como


também a eclusa, que consisti em caçamba-tanques posicionadas no lago a jusante,
de forma adequada para atrair os peixes e que opera em fases de transposição:
abertura da caçamba para acesso das espécies; alteamento da caçamba com os
peixes; transporte e deposição dos peixes à montante. Na Figura 5-7, apresenta-se
uma representação deste sistema.

Outros tipos de STP’s surgiram para atender às necessidades específicas. Alguns


alternativos como a embarcação transportadora de peixes indicada para altas
quedas de barramento onde há eclusas para embarcações, conforme Figura 5-8, ou
misto, como, por exemplo, atração e armazenamento em caçambas transportadas
por veículos (“Trap and Truck”), conforme Figura 5-9, ou até por meio de canal
artificial com várias utilizações, conforme Figura 5-10.

Os tipos, variantes e detalhes dos STP’s são intermináveis dependendo das


características locais, dos cardumes e das condições de contorno o que impedem a
generalização e universalização dos conhecimentos. Ver Figuras 5-11 e 5-12.
13

Figura 5-1: STP tipo escada com soleira ou degrau.

Figura 5-2: STP tipo escada com soleria ou degrau.

Fonte: Nakamura
14

Figura 5-3: STP tipo escada com orifício.

Figura 5-4: STP tipo escada Denil.

Fonte: Larinier

Figura 5-5: STP tipo Vertical Slot com 2 jatos.

Fonte: Larinier
15

Figura 5-6: STP tipo eclusa.

Figura 5-7: STP tipo elevador.


16

Figura 5-8: STP tipo embarcação transportadora.

Figura 5-9: STP tipo misto.


17

Figura 5-10: STP tipo canal lateral.

Fonte: Nakamura

Figura 5-11: STP tipo escada em serpentina.

Fonte: Nakamura
18

Figura 5-12: STP tipo escada alternada.

Fonte: Nakamura

5.2 História dos STP’s

O início dos STP’s ocorreu quando o homem observou a dificuldade dos peixes de
se locomoverem diante dos obstáculos geológicos naturais, fossem elas as quedas
abruptas, tipo cachoeiras ou corredeiras íngremes, e resolveu facilitar sua
movimentação, visando sua sobrevivência no ecossistema e a perpetuação das
reservas pesqueiras para atividades esportivas ou profissionais. O número de STP’s
implantados no mundo é cerca de 13.000 unidades (apud MARTINS, 2000),
concentrado em países desenvolvidos. Ver um STP que a natureza nos ofereceu na
Figura 5-13.

Figura 5-13: STP Natural (Japão).


19

Com o desenvolvimento tecnológico e das necessidades humanas, o homem passou


a interferir sistematicamente no ambiente, principalmente no hídrico, alterando-o
segundo as suas necessidades e prioridades, nas quais, raramente, o ecossistema
mereceu atenção relevante. Os barramentos artificiais passaram a se multiplicar
visando irrigação, lazer, contenção de cheias e, principalmente, a geração
energética, tornando inacessível a transposição de peixes migradores e a sua
reprodução nas águas de montante o que, juntamente com a degradação ambiental
crescente, resultou em conseqüências desastrosas ao ecossistema. Assim os STP’s
começaram a serem construídos para minimizarem, em parte, os efeitos da
intervenção humana.

Na fase embrionária alguns STP’s fracassaram devido ao desconhecimento. Assim,


como uma das alternativas possíveis, optou-se pelas estações de piscicultura para
repovoamento interferindo-se mais ainda no ambiente. No exterior as estações de
piscicultura existem nas fazendas de peixes voltadas ao comércio e indústria.

No século 17, em 1640, isto é, há mais de 360 anos, na Europa, Suíça, na cidade de
Bern, rio Aar, (GODOY, 1985), tem-se o registro do primeiro STP, com pouco mais
de 2m de altura vertical, em um obstáculo natural, construído com base na
sensibilidade do proponente, sem um fundamento científico consistente, para peixes
anádromos.

O primeiro STP num barramento artificial foi construído para peixes anádromos, no
rio Thiet, em Perth, Escócia, em 1828, (GOBIN & GUÉNAUX, 1907), tipo escada
com degraus. O projeto e a execução foram da iniciativa privada, proprietária de
outras usinas neste rio. A sua forma foi idealizada por M. Smith Deanston, (GODOY,
1985). O sucesso deste empreendimento fomentou a iniciativa em barramentos
existentes, novos ou em obstáculos naturais, em outros países.

A França iniciou a construção desses sistemas em data anterior a 1789, pois, nesta
data, em Pontgibaud, no rio Sioule, foram contados 1.200 Salmões que migraram
através de um STP, tipo escada com degraus (GODOY, 1985). Outros STP’s foram
instalados em barramentos franceses, preferencialmente, para peixes anádromos
(GOBIN & GUÉNAUX, 1907). Segundo LARINIER, 1990, há mais de 300 STP’s
construídos nos últimos 20 anos, resultado de estudos em modelos reduzidos e
verificações de protótipo, sendo ainda insuficientes frente aos 8 000 barramentos.
20

A Noruega é o país europeu com a maior quantidade de STP’s, tendo cerca de 420
unidades (GRANDE, 1996), a maioria tipo escada com degraus e tipo Denil. Em
1872, foi construído um STP, tipo escada com degraus, para um obstáculo natural,
no rio Gaular, para peixes anádromos (GRANDE, 1990). No rio Sire instalou-se um
STP tipo escada com degraus, para peixes anádromos, em madeira, em 1880, com
285m de comprimento e uma altura vertical de 27m, através da iniciativa privada,
(LANDMARK, 1983).

Em 1879, EUA, Virginia, o Sr. Marshall MacDonald, segundo a literatura,


(ORSBORN, 1984), disponibilizou, aos interessados em investir, um STP tipo
escada original usando uma declividade longitudinal de 1V:3H, com redutores de
velocidades superficiais na saída e no interior do canal. Este dispositivo não foi
detalhadamente analisado devido às suas nuances construtivas, sendo abandonado,
mas marcou pela inovação (ver Figura 5-14).

Figura 5-14: STP tipo escada (Marshall MacDonald).

No mesmo período, em 1890, na Europa, Noruega, o Sr. A. Landmark apresentou


um novo modelo de STP tipo escada vertical slot, com um jato, com o degrau
inclinado em relação ao canal sem encontrar a parede oposta do canal, formando
aberturas verticais laterais, (McLEOD, 1941, LANDMARK, 1883), conforme Figura 5-
15.

Até o ano de 1900, os projetos dos STP’s resumiram-se, quase exclusivamente a


dispositivos tipo escada com degraus, com concepção em caráter intuitivo e uma
pequena parcela de conhecimento da bioengenharia. Muitas patentes foram
registradas, mas em todas elas o objetivo era apenas o de dissipar a velocidade no
21

interior do canal, para permitir a passagem dos peixes, sem respeitar as


necessidades dos maiores interessados: os peixes.

Figura 5-15: STP tipo escada Vertical Slot com um jato (Landmark).

Segundo OSBORN, 1984, os estudos internacionalmente relevantes, propulsores do


desenvolvimento dos STP’s, todos voltados aos peixes anádromos, foram:

a) G. DENIL, Bruxelas, Bélgica, 1908 a 1932;


b) British Institution of Civil Engineers, Committee on Fish Passes in
England, 1936 a 1938;
c) McLeod e Nemenyi na Universidade de Iowa, 1939 a 1940;
d) BELL e outros, no desenvolvimento de degraus para STP’s, no rio
Fraser, British Columbia, 1943 a 1946;
e) Bonneville Fisheries Engineering Research Laboratory, Washington,
1951 a 1972.
Em 1909, na Europa, Bélgica, Bruxelas, o cientista G. DENIL, publicou um artigo
sobre um novo STP tipo escada, baseado nos princípios científicos disponíveis, em
que utilizou a dissipação de energia para favorecer a ascensão dos peixes
anádromos. Ao longo do tempo este tipo de sistema foi otimizado por outros
estudos, com ênfase físico-biológico e que resultaram na sua concepção atual
desenvolvida para facilitar a transposição de Trutas e Salmões, principalmente. Denil
foi o primeiro cientista a estudar o hábito e a capacidade mecânica dos peixes
anádromos e aplicar os princípios da engenharia hidráulica para facilitar a sua
ascensão, ver Figura 5-16 (CLAY, 1995).
22

Figura 5-16: STP tipo escada (Denil).

O Instituto Britânico de Engenharia Civil, Comitê para STP’s, desenvolveu estudos


importantes, antes da 2a Guerra Mundial, 1942. Há um apêndice com as
investigações realizadas por White e Nemenyi sobre STP’s para: dispersão do jato,
tanques, capacidade natatória dos peixes anádromos, relação entre a declividade,
profundidade e vazão no canal e jatos submersos. Foi, também, objeto deste comitê,
a otimização do STP tipo Denil, para chegar à forma em que são utilizados até hoje
(CLAY, 1995).

A construção da barragem Bonneville, rio Columbia, EUA, entre 1937 e 1938,


propiciou o desenvolvimento de novos STP’s. A concepção deste projeto aglutinou a
experiência de engenheiros e biólogos especialistas em peixes anádromos, que
resultou num sistema com dimensões maiores do que as até aquela data
apresentadas, adequadas ao pico de migração, complexas e eficientes. Foram
implantados vários pontos de atração dos peixes, inclusive no sistema gerador de
energia: Casa de Força. Durante a sua construção foram operadas eclusas
provisórias para transposição ascendente e, também, dispositivos para garantirem a
migração descendente dos peixes.
23

Figura 5-17: STP´s em Bonneville e John Day, rio Columbia

Fonte: NWPPC
A Universidade de Iowa patrocinou um estudo sistemático sobre os STP’s
consistindo em testes com cinco variações de escada: degrau, orifício, soleiras
dissipadoras seqüenciais e alternadas, vertical slot e Denil, onde as necessidades e
as preferências dos peixes anádromos foram priorizadas. NEMENYI, 1941, publicou
suas anotações bibliográficas sobre parte dos STP´s existentes na Europa e Estados
Unidos onde se depreende que nenhum dos empreendimentos listados foi elaborado
com base científica consistente.

Figura 5-18: STP tipo Vertical Slot com 1 jato

Fonte: Larinier

Durante 1945 e 1946, depois de exaustivas verificações em modelo reduzido, foi


construído o STP tipo escada Hell’s Gate, vertical slot com dois jatos, no rio Fraser,
British Columbia, EUA, com soleiras verticais para reduzir a velocidade central do
canal, duas aberturas laterais verticais e dissipadores verticais para as aberturas.
24

Este tipo de estrutura foi projetado para locais onde há grande flutuação dos níveis
d’água, que podem comprometer à operação do STP, ver Figura 5-19 (CLAY, 1995).

Figura 5-19: STP tipo Vertical Slot com 2 jatos (Hell’s Gate)

O STP tipo escada Hell’s Gate considerou, na sua concepção e no seu


dimensionamento: o pico de peixes anádromos migratórios, o volume d’água mínimo
por unidade de peixe, fatores biológicos que interferem ou podem induzir a
passagem dos peixes, tais como: odor, hormônio, etc.

O programa do projeto do STP tipo escada Hell’s Gate, de 1951 a 1972, envolveu
estudos de monitoramento dos anádromos, comportamento, estímulos, sensibilidade
e reprodução dos peixes, efetuados por técnicos da engenharia e biologia e
auxiliados por modelos reduzidos para testes experimentais. Os estudos importantes
referem-se à luminosidade necessária, principalmente durante a noite, capacidade,
declividade longitudinal e velocidade do fluxo. O programa, em 1962, desenvolveu o
STP tipo escada para a barragem Ice Harbor, no rio Snake, EUA, composto por
soleiras superficiais laterais duplas e orifícios, sendo que a região central não
galgável, possui uma aba para montante destinada amortecer o fluxo. Este tipo de
estrutura, devido ao sucesso alcançado, foi implantado em várias outras barragens
do sistema dos rios Columbia e Snake, ver Figura 5-20 e 5-21 (COLLINS, 1960).
25

Figura 5-20: STP tipo escada (Ice Harbor).

Fonte: Larinier

Figura 5-21: UHE Ice Harbor, EUA.

Fonte: NWPPC
Nos países baixos, principalmente a Holanda, há uma identidade nítida com a água,
com origem perdida no tempo. A experiência com STP’s vem desde 1925, com a
finalidade de facilitar à passagem de peixes anádromos e de enguias, objetos de
industrialização importante na economia local e para exportação.

Na Dinamarca, segundo LONNEBJERG, 1990, há muitos STP’s utilizados em


hidrelétricas e principalmente em 600 reservatórios para criação de peixes: “fish
farms”, podendo chegar a 700 unidades. O principal STP utilizado é o tipo escada
Denil e o com degraus.
26

Na Rússia, um dos primeiros STP’s foi construído no rio Volkhov, em 1926, mas sem
o desejado sucesso. Em 1938, no rio Tuloma, implantou-se, com êxito, um STP tipo
escada com degraus, com altura vertical de 20m, comprimento de 513m, visando o
livre acesso e a reprodução de enguias, Salmões, Trutas e esturjões para
manutenção do estoque pesqueiro, abastecimento alimentar local e industrialização
para exportação, principalmente do caviar e enguias defumadas (KIPPER, 1967).

Na Austrália, até 1982, existiam mais de 55 STP’s em operação para migração


fluvial, (HARRIS, 1984). O projeto e a construção dos STP’s está incorporado na
legislação nacional, porém Harris relata que na costa leste havia 29 STP’s sendo 18
com alturas inferiores a 2m e os demais superiores a 8m e indica que: 75% destes
dispositivos operavam insatisfatoriamente devido ao projeto ser baseado na
experiência Européia e Norte Americana, esquecendo-se das espécies nativas, que
possuem capacidade natatória, ciclos e necessidades diferentes (CLAY, 1995). Há,
também, devido as suas fronteiras marítimas, uma preocupação com STP’s em
barragens para comunicações marítimas-fluviais o que, segundo JACSON, 1996,
resultaram em 1000 passagens de peixes.

Na China, apesar da vasta malha hídrica com barragens, chegando às quantidades


superiores a 85.000 (XIANGKE LU, 1986), sendo 4.546 com a finalidade de geração
energética (25 Usinas de grande porte: potência superior a 250MW, 95 médias:
potência entre 25 e 250MW e 4.426 pequenas: potência entre 0,5 e 25MW), há
poucos STP’s, cerca de 50, dos quais poucos funcionam satisfatoriamente (WANG,
YA-PING, 1990). O maior STP de 15m de altura produziu resultados insatisfatórios e
foi abandonado. O peixe principal deste país é a carpa adaptada aos ambientes
lênticos, como os dos reservatórios. Há segundo a literatura referida, intervenções
para evitar a mortalidade de peixes pelo acesso às tomadas d’água e turbinas com a
utilização de elétrodos criando malhas repulsivas. Há nesse país, em construção, a
maior Hidroelétrica do mundo em potência de geração: Três Gargantas, no rio
Yangtse, onde, entre outros problemas ambientais, há possibilidade de extinção dos
esturjões (peixe anádromo caracterizado como de grande porte e do qual as ovas
produzem o refinado produto de consumo denominado caviar), fonte alimentar dos
ribeirinhos e produto industrial importante, devido à inexistência de um sistema para
a transposição de peixes.
27

Os estudos sobre STP’s evoluíram sob a ótica biológica e hidráulica nas últimas
cinco décadas, fruto da preocupação mundial com o ecossistema e do interesse de
preservação das espécies e da atividade pesqueira profissional e/ou esportiva, ou
seja: a permissão ao livre acesso dos peixes significa a reprodução e a possibilidade
da perpetuação das espécies.

O primeiro manual significativo para projetos de STP’s foi publicado por CLAY, em
1961, definindo um STP como uma passagem de água que contorna ou atravessa
uma obstrução, onde, pela dissipação da energia, favorecesse a ascensão dos
peixes, sem causar o seu cansaço excessivo.

No Canadá, Alaska, devido às montanhas inóspitas e clima desfavorável, o Dr.


ZIEMER, 1962, desenvolveu um STP baseado no tipo Denil, em alumínio pré-
moldado, para locais onde o acesso só é viável por estradas de ferro ou pelo ar.
Este modelo é conhecido como STP tipo escada Alaska. A Aeroceanics Fish
Corporation, 1976, desenvolveu e patenteou um modelo similar construído com
fibras de vidro reforçadas e iluminação artificial, destinado aos locais com carência
espacial ou de acesso difícil (ver Figura 5-22).

Figura 5-22: STP tipo espiral (Alaska).

Na América do Sul, só neste final de século despertarmos da hibernação sobre a


sobrevivência dos peixes migradores e as conseqüências derivadas de alterações
no ecossistema. A Venezuela, de acordo com informações não tão recentes, possui
apenas um STP no rio Guanare, com 5m de altura vertical, e com funcionamento
abaixo do desejável; o Uruguai possui um STP tipo eclusa, no rio Uruguai, barragem
de Salto Grande, com uma altura vertical de 35m; a Argentina, no rio Carcaranã,
afluente do rio Paraná, possui três STP’s operando durante décadas, nas barragens
28

de Andino, Lucio .V. Lopes e Carcaranã, além da Usina Yaciretá e nos projetos
Binacionais de Corpus e Garabi. No Brasil há menos de 50 STP’s, sendo que a
maior parte em açudes no nordeste, em rios não perenes. Nos demais países não
há registros bibliográficos disponíveis (QUIRÓS, 1988).

No Brasil, quando as primeiras barragens hidroelétricas começaram a ser


construídas, no início deste século, preocupou-se em proteger cardumes de peixes
de piracema, potamódromos, com a implantação dos STP’s. Em 1911, numa
iniciativa pioneira latino-americana, no rio Pardo, Santa Rosa de Viterbo, São Paulo,
na Usina Itaipava, foi construído um dos primeiros STP’s tipo escada com degraus,
com 7m de altura vertical, pela iniciativa privada (Grupo Matarazzo), ver Tabela 5-1
(GODOY, 1985).

Tabela 5-1: STP’s Nacionais (MARTINS, 2000)

STP
ANO RIO LOCAL BARRAGEM ALTURA Empreendedor
TIPO
(m)
1.906 Atibaia SP Salto Grande D <8 CPFL
1.911 Pardo SP, Sta Rosa de Viterbo Itaipava D 7 Grupo Matarazzo
Sapucai
1.911 SP, Guará São Joaquim D <8 CPFL
Paulista
1.913 Jacaré Guaçu SP, São Carlos Gavião Peixoto D <8 CPFL
1.920 Mogi Guaçu SP, Pirassununga Cachoeiras de Emas O 3 Central Electrica Rio Claro
1.926 Sapucai Mirim SP, Mupuranga Dourados D <8 CPFL
Cia. Fiação e Tecidos Santa
1.942 Sorocaba SP, Tatuí Fazenda Cachoeira D 6
Adélia
1.943 Tibagi PR, Monte Alegre Salto Mauá D 6 Indústrias Klabin
1.959 Triunfo PB, Antenor Navarro Pilões D 4 DNOCS
1.960 Piranhas PB, Souza São Gonçalo D 7 DNOCS
1.971 Paranapanema SP, Piraju Piraju O 15 Cia de Força e Luz Santa Cruz
1.972 Tijuco MG, Salto Moraes Salto Moraes D 10 CEMIG
1.973 Taquari RS, Bom Retiro do sul Bom Retiro do Sul D 9 Portobrás
1.973 Jacuí RS, Amarópolis Amarópolis D 5 Portobrás
RS, Anel de Dom Anel de Dom
1.973 Jacuí D 5 Portobrás
Marcos Marcos
1.973 Jacuí RS, Cachoeira do Sul Fandango D 5 Portobrás
1.973 RN, Açu Mendubim D 7 DNOCS
1.980 CE, morada nova Poço do barro O 15
1.985 Itapocu RN. Guaramirim D 2
1.992 Paraná PR, Itaipu Itaipu O 27,3 Itaipu
1.994 Mogi SP, Mogi Guaçu Mogi Guaçu D 10,5
1.999 grande MG, Igarapava V 17 CEMIG
1.999 Paraná SP, Porto Primavera Sergio Motta E 20 CESP
2.000 Paraná SP, Porto Primavera Sergio Motta O 20 CESP
2.001 Tocantins MG, Lajeado Lajeado O 30 Investco
Tipo: D= degraus; E= elevador; O= orifícios; C= canal lateral; V= vertical slot

Nos EUA há mais de 1.825 barramentos para geração de energia, sendo que 9,5% e
13% apresentam STP’s para favorecerem, respectivamente, a ascensão e o
descenso dos anádromos: Salmões, Trutas, além das enguias (FRANCFORT,
29

1994). Só o rio Columbia possui mais de uma centena de STP’s (WILLIAMS, 1995).
São considerados como um dos centros desenvolvidos sobre o tema,
depreendendo-se uma preocupação comprometida com o ambiente e balizada por
regras legais rígidas, inclusive com obrigatoriedade de instalação e manutenção de
passagens da ictiofauna. Os projetos de STP’s passam por estudos ictiológicos
severos de concepção e monitoramento. Nenhum barramento é construído em
cursos d’água onde há peixes migradores, sem que a sobrevivência dos peixes
esteja perfeitamente equacionada. Há uma comunhão explícita entre a engenharia,
biologia e a ecologia no trato destas questões. Existem barramentos com vários
STP’s, como por exemplo, no rio Colúmbia, a barragem de Bonneville, com 60m de
altura, possui 3 STP’s tipo escada com degraus, 3 STP’s tipo eclusa e 6 passagens
secundárias, tipo “bypass” (CLAY, 1995). A manutenção dos diádromos é essencial
para a economia americana movimentando US$ 25bilhões/anuais, gerando 300.000
empregos diretos e 17milhões indiretos (ODEH, 1999).

O Japão, com uma superfície territorial limitada, com menos de 5% da área do


Brasil, privilegia os recursos naturais auto-renováveis, como o caso dos peixes e
possui mais de 10.000 STP’s, alguns com mais de 20m de altura, que favorecem
tanto à ascensão quanto ao descenso (KUMAR, 1995; CLAY, 1995). Há STP’s de
todos os tipos, portes, para todas as modalidades de barramento e obstáculos
naturais. A importância desse tema é tal que acontecem simpósios qüinqüenais
internacionais na cidade de Gifu desde de 1990.

As alturas dos barramentos aumentaram, principalmente dos que visavam à geração


de energia, acompanhando o desenvolvimento tecnológico, e os STP’s, seguindo
essa tendência, transpuseram desníveis da mesma ordem de grandeza, ver Tabela
5-2.

Tabela 5-2: Altura dos STP's Tipo Escada (MARTINS, 2000).

BARRAMENTO STP
FINALIDADE, B LD L i ∆yTOTAL
PAÍS, LOCAL RIO TIPO
NOME (m) (m) (m) (%) (m)
EUA, Oregon Columbia Energia, John Day O 70

UA, Oregon Columbia Energia, McNary O 67


EUA, Oregon Columbia Energia, The Dalles O 61
EUA, Oregon Columbia Energia, Bonneville O 60
EUA, Oregon Clackamus Energia D 2.720 2 59
Japão Nita Energia, Mehoro O 40
Japão Oyodo Energia, Takaoka O 38,9
30

Noruega, Modalselva Energia, Hellandsfossen O 4 10 34,5


Noruega, Fiskumfoss Nansen Energia D 291 12 35
Noruega, Fiskumfossen Nasen Energia, Fiskumfossen O 290 12 35
Japão Saru Energia, Nibudani O 32
Japão Ibi Energia, Nisidaira O 31,5
Japão, Nippara Energia, Shirimaru I 2 316 10 30
Brasil, Lajeado Tocantins Energia, Lajeado O 5 10 700 5 30
Brasil, Itaipu Paraná Energia C 3.000 127
Suécia, Stornorrfors Umeälven Energia D 260 9 23
Noruega, Malselvfossen Energia, Malselvfossen O 500 5 23
Escócia, Tongland Dee O 21
Escócia, Earlstoun Ken D 3 4 136 15 21
URSS Tuloma Energia 513 4 20
Brasil, São Paulo Paraná Energia, Porto Primavera O 5 17 20
Brasil, Minas Gerais Grande Energia, Igarapava V 3 280 6 17
Brasil, Ceará Açude, Poço do Barro D 163 9 15
Brasil, São Paulo Paranapanema Energia, Piraju O 84 17 15
Tipo: O= escada com orifícios, I= escada tipo Ice Harbor, D= escada com degraus,
C= canal; V= vertical slot; B= base do canal, LD= comprimento do descanso, L=
extensão, ∆ytotal= desnivel, i= declividade longitudinal.

Os STP’s tipo: Eclusa ou Elevadores são recentes. É creditado ao Sr. Mallch, em


Perth, Escócia, próximo ao ano de 1900, o início da possibilidade de utilização dos
elevadores e eclusas como um STP, mas devido à carência tecnológica da época e
à própria altura dos barramentos, que raramente superavam os 10m, onde os STP´s
convencionais eram mais adequados, a utilização dos elevadores e eclusas ficou
latente, em compasso de espera (CLAY, 1995).

A partir de 1920 surgiram barramentos superando os 10m de desnível, o que, aliado


ao conhecimento científico em desenvolvimento acentuado (tecnológico, hidráulico,
biológico e mecânico) permitiu a utilização dos elevadores e eclusas, pois os STP´s
convencionais, para barramentos altos, tornaram-se desfavoráveis devido às
grandes distâncias longitudinais para vencer as alturas, alta taxa de mortalidade dos
peixes devido ao cansaço excessivo, custo da operação, manutenção e o grau de
desconhecimento (CLAY, 1995).

Em 1924, no rio White Salmon, nos Estados Unidos, foi testado e patenteado o
Elevador de Peixes. Na Europa, por volta de 1933, na Finlândia, segundo a
bibliografia, foram instalados os primeiros elevadores, seguido pela Alemanha, no rio
Rhine, em Kembs (NEMENYI, 1941)

Após a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento dos Elevadores e Eclusas


intensificou-se, principalmente na Europa: Irlanda e Holanda. Na Irlanda, rio Liffey,
31

há 17 eclusas tipo Borland para permitir a passagem de peixes e alturas que variam
entre 3 e 42m (CLAY, 1995).

Estruturas, tipo Elevadores de Peixe e Eclusas tipo Borland, não tem sido utilizadas
no Brasil, excetuando-se um Elevador de Peixes na UHE Engo Sergio Motta,
conhecida como Porto Primavera, em implantação. Estas estruturas são pouco
seletivas, mas questões relativas à sua adequação, seu posicionamento, operação,
custo, etc., devem ser pesquisadas.

Na UHE Yacyretá, rio Paraná, Bacia Platina, entre Argentina e Paraguai, foi
implantado um sistema tipo elevador com início de operação em 1991, com
capacidade para elevar 16t/dia de peixes, atendendo espécies com comprimentos
superiores a 1,5m e 70kg. O elevador é alimentado por um canal que injeta água
para atração dos peixes na câmara coletora, com vazão variando entre 0,3 e
2,4m3/s. Quando há concentração na caçamba do elevador com capacidade de
15m3, pode elevar 1,5t de peixes.

Há pouca informação sobre Sistemas para Transposição de Peixes tipo eclusa. A


primeira eclusa instalada nos EUA foi no rio Connecticut, próximo à cidade de
Holyoke, mas os resultados foram insatisfatórios e foi substituída por um elevador.

Na UHE Salto Grande, rio Uruguai, Bacia Platina, consórcio binacional: Argentina e
Uruguai, há uma eclusa para peixes, com desnível de 37m de altura; as estruturas
são constituídas por um canal fechado com aberturas controladas por comportas
que permitem um fluxo de água permanente. A turbulência da água atrai os peixes
migratórios para uma câmara, que é periodicamente fechada e preenchida com água
vertida de montante. Os peixes nadam contra o fluxo das águas até saírem no
reservatório. Completada a operação, fecham-se as comportas de montante,
esvazia-se a câmara inferior, preparando uma nova operação de atração dos peixes.
A eficiência deste sistema diminui gradativamente com a altura, tornando-se seletiva
quanto à quantidade de peixes que a transpõe e às suas espécies. Alguns autores
consideram ser o único sistema eficiente para transpor números elevados de peixes,
tanto em quantidade quanto em variedade, para alturas superiores a 25m. Outros
autores argumentam que as Eclusas possuem sistema de operação intermitente e
sujeito às falhas devido as partes mecânicas e à intervenção humana (GODOY,
1992; MALEVANCHIK, 1984).
32

PAVLOV, 1989, diz que na União Soviética utilizam-se os STP’s tipo escada com
degraus para os barramentos com até 10m de desnível e os tipo escadas com
orifícios pode ser utilizados para desníveis até 40m, dependendo da capacidade
natatória e resistência das espécies.

“No que se refere aos custos de implantação, na transposição de desníveis até cerca
de 20m, os custos de Elevadores do tipo captura e transporte terrestre e eclusas,
seriam equivalentes (CLAY, 1994). Para desníveis de 20 a 60m, o custo das Eclusas
equivaleria ao dos Elevadores. Para alturas superiores a 60m, o custo de Elevadores
seria inferior ao de Eclusas. Os custos de operação de Elevadores apresentam
menores custos de implantação do que as escadas, embora a presença de um maior
número de equipamentos, tais como comportas e grades, implique em maiores
custos de operação e manutenção (LARINIER, 1987)” (ap. MARTINEZ, 2000).

O governo do Paraná construiu um canal, denominado Canal de Piracema, em


2003, interligando o rio Paraná, a jusante da Usina Itaipu, com o seu reservatório.
Este canal, considerado o maior canal artificial do mundo para migração da fauna
aquática, com cerca de 3km de extensão e vencendo um desnível de 127m, faz
parte de um Complexo Turístico destinado às atividades esportivas, ao lazer, turismo
e para possibilitar a Transposição de Peixes.

Na Tabela 5-3, apresentam-se as vantagens e desvantagens entre os tipos de


STP’s, baseado em PASCHE, 1995 e CLAY, 1995 conforme MARTINS, 2000:
33

Tabela 5-3: Comparação entre os Tipos de STP's (MARTINS, 2000)

TIPO VANTAGEM DESVANTAGEM


seletividade alta;
permite migração trófica; restrição na faixa operativa de níveis do
com soleira ou degrau indicado para pouca variação do N.A.; reservatório;
custo de operação e manutenção. extensão longitudinal;
fixa;
seletividade média;
favorece peixes de escama e couro;
restrição na faixa operativa de níveis do
permite migração trófica;
com orifício reservatório;
indicado para pouca variação do N.A.;
grande extensão longitudinal;
custo de operação e manutenção.
fixa;
seletividade média;
favorece peixes de escama e couro; restrição na faixa operativa de níveis do
faixa operativa do reservatório até 2,0m; reservatório;
Denil
permite migração trófica; concepção estrutural elaborada;
custo de operação e manutenção. extensão longitudinal;
fixa;
favorece peixes de escama e couro;
seletividade baixa;
faixa operativa do reservatório ampla, acima de
Escada

2,0m; concepção estrutural elaborada;


Vertical Slot com um jato permite migração trófica; extensão longitudinal;
ascensão com qualquer profundidade sem fixa;
mudanças significativas das características
hidráulicas;
custo de operação e manutenção.
favorece peixes de escama e couro;
seletividade baixa;
faixa operativa do reservatório ampla, acima de
2,0m; concepção estrutural elaborada;
Vertical Slot com dois
permite migração trófica; extensão longitudinal;
jatos
ascensão com qualquer profundidade sem fixa;
mudanças significativas das características
hidráulicas;
custo de operação e manutenção.
seletividade média;
restrição na faixa operativa de níveis do
favorece peixes de escama e couro;
reservatório;
Ice Harbor permite migração trófica;
percurso de ascensão tortuoso
custo de operação e manutenção.
extensão longitudinal;
fixa;

permite a migração trófica; custo de operação e manutenção;


sem restrição operativa da Usina; depende de operação humana;
Eclusa seletividade baixa; manutenção constante;
independem do desnível; concepção estrutural e mecânica sofisticada;
pouca área; fixa;

tempo reduzido de percurso dos peixes; custo de operação e manutenção;


independem do desnível (indicada para depende de operação humana;
desníveis maiores do que 30m); manutenção constante;
controle de quantidades e espécies concepção estrutural e mecânica sofisticada;
Elevador
transportadas; não permite a migração trófica;
sem restrição operativa da Usina; índice de mortalidade moderado devido às
seletividade baixa operações mecânicas envolvidas;
pouca área. fixa;
transposição descontínua;
custo; depende de operação humana;
Misto móvel; compromete a migração trófica;
favorece ao cansaço excessivo dos peixes;
não atende ao volume dos grandes cardumes.
depende do layout favorável (meandro) e das
Canal Lateral solução ecológica correta condições geológicas;
fixa;

custo; necessidade de STP para embarcações;


mobilidade e versatilidade; depende de operação humana;
EmbarcaçãoTransportadora indicada para situações temporárias (desvio, atende a pequenos cardumes;
manutenção), ciclo longo;
móvel. compromete a migração trófica
34

seletiva;
baixa diversidade dos peixes;
Canal de Desova custo. conhecimento das características biológica-
Variações de Escada

reprodutiva;
fixa;
otimiza distâncias longitudinais;
Alternada indicada como complementar ou em fixa;
barramentos existentes
otimiza distâncias longitudinais; fixa;
Serpentina indicada como complementar ou em seletiva;
barramentos existentes atende a pequenos cardumes.

5.3 Critérios para os STP’s

É evidente a importância mundial dos STP’s, mas as preferências e contingências


locais, tais como: a ictiofauna existente ou futura, disposição e tipo dos obstáculos,
recursos disponíveis, legislação vigente, consciência social e a relação de forças
entre a sociedade e o poder econômico, interferem, diferenciando-os segundo as
suas razões intrínsecas.

De maneira geral, os projetos de STP’s são determinados pelos critérios biológicos e


físicos, sendo que os primeiros condicionam o segundo. Os critérios físicos para
atender os critérios biológicos, principalmente pela ótica de menor custo-benefício.
Para a determinação dos critérios biológicos essenciais, HARZA, 1996, solicitam-se
conhecimentos mínimos quanto à: espécies a serem contempladas e suas rotas
migratórias ascendentes e descentes (caminhos preferenciais, distribuição, etc.);
quantidade provável dos cardumes, por espécie; dimensão máxima e mínima,
incluindo a reprodutiva, das espécies (comprimento, altura, peso); hábitos
característicos por espécie (preferências e capacidade natatória, capacidade de
saltar, período, atividade e hábito (noturno/diurno) migratório) e a ocorrência de
locais favoráveis à reprodução (lagoas marginais, matas marginais, condições
limnológicas, correntes adequadas, etc.). A determinação das características físicas
do STP, para atender aos critérios biológicos, deve compreender o conhecimento
do: desnível geométrico e a flutuação nos níveis d’água prováveis a montante e a
jusante; velocidades do fluxo durante a estiagem e cheias, preferencialmente antes
e depois do empreendimento e o “Layout” do local.

Procurando-se disponibilizar os conhecimentos bibliográficos sobre o tema,


apresenta-se um panorama mundial dos Sistemas para Transposição de Peixes
para orientar a incipiente tecnologia brasileira e torná-lo acessível à comunidade
técnica ou leiga interessada.
35

O comportamento dos peixes do hemisfério norte (“freshwater fish”) diferem dos


peixes tropicais (“warmwater fish”) quanto à capacidade natatória, à reprodução,
variedade, volume, dimensões, etc., sendo, portanto, os dados apresentados
paramétricos e não definitivos.

Cientistas especialistas em peixes e Sistemas para a Transposição, apresentaram


critérios para projetar STP´s, mas que podem ser aplicados com cautela à realidade
nacional. Seguem alguns critérios internacionais, geralmente para diádromos:

CLAY, 1995, definiu um critério de escolha do STP tipo escada em função da


variação do nível d’água na saída, sem estrutura de controle, conforme Tabela 5- 4.

Tabela 5-4 : Critério para o STP em função do Nível D'água na Saída (Clay, 1995)

VARIAÇÃO DO N.A. NA
STP tipo Escada
SAÍDA (M)

constante com degraus;


com orifícios;
Ice Harbor.
> 2,0m Denil
Vertical Slot
< 2,0m Vertical Slot

CLAY,1995, citando Jacson, 1950, apresenta o volume de água mínimo para STP’s
tipo escada, por peixe (Salmão), como sendo 0,06m3 (60l). BELL, 1984, sugere o
volume genérico de 0,004m3/kg (4l/kg), considerando várias espécies de peixes
anádromos.

As dimensões mínimas recomendadas para os reservatórios (tanques) entre as


soleiras-passagem dos STP’s tipo escada, são: 2,4 x 3,0 x 0,60m ou 1,2m,
respectivamente largura, comprimento e altura (CLAY,1995).

O tempo de ascensão de um reservatório (tanque) para o seguinte, por peixe, é


admitido, segundo JACSON, 1950, ap. CLAY, 1995, como sendo de 5 minutos para
um STP tipo escada vertical slot (Hell’s Gate) ou de 3 minutos com a taxa de 6,6 a
16min/m.

O volume dos peixes admitido em 16h de atividade migratória de anádromos é de


8.000 unidades, resultando em 25 peixes por tanque, CLAY, 1995, recomenda,
ainda, a utilização dos volumes de cardumes estimados no STP de Bonneville, no rio
36

Columbia: 100.000 peixes/dia e 10.000 peixes/hora (10%) durante o pico migratório.


A referida estimativa volumétrica não pode ser assumida no contexto nacional
indiscriminadamente devido às nossas particularidades locais, sob pena de
superestimar ou subestimar custos, estruturas e a eficiência.

“Por ocasião da sangria do açude Pilões, em 1960, depois de melhoradas as


condições da escada, conforme as sugestões propostas, foi efetuada a contagem
dos peixes que subiam e obtida uma média de 5 exemplares por minuto, durante o
dia, ou seja, 7.200 peixes/dia” (FONTANELE, 1961).

A estimativa de peixes que ascendem à escada provisória e experimental de Itaipu,


hoje desativada, feita por Borghetti, em 1992, foi de 20.000 exemplares/dia. Nesta
estimativa foram considerados apenas os peixes de grande porte como Dourado,
Pintado, Piracanjuba, visto que é praticamente impossível a contagem os de
pequeno porte (THEMAG, 1998).

A capacidade do STP tipo escada, segundo CLAY,1995, pode ser avaliada pela
fórmula:

Vtan que
C= (60 * r )
Vágua / peixe

onde: C= capacidade do STP (peixes/hora); Vtanque= volume do tanque (m3);


Vágua/peixe= volume de água por peixe (m3); r = taxa de ascensão (tanques/minuto),
C * Vágua / peixe
assim: Vtan que = .
60 * r

Na Tabela 5-5, segundo CLAY,1995, apresentam-se alguns valores de referência


para determinação da capacidade do STP destinado aos anádromos.

Tabela 5-5 : Valores de Capacidade de STP's tipo Escada (Clay, 1995)

Espécie/ 1/r Vtanque


Data Referência Vágua/peixe/r
peso (min/tanque) (m3)
1930 Barragem de Bonneville Salmão 5 0,11 0,57
1955 Rio Fraser 3,57 0,11 0,40
1956 Rio Columbia 3,3 a 5,8 0,07 a 0,11 0,40 a 0,43
1984 Bell 0,44/kg -
- 3,2kg Salmão 0,04 0,10 a 0,16
- 9kg Salmão 0,11 0,28 a 0,45
37

CLAY, 1995, apresentou valores de projeto de STP para anádromos, constantes da


Tabela 5-6.
38

Tabela 5-6: Valores para dimensionamento de STP para anádromos (CLAY, 1995).

Local Valor
ótima: 1,2m/s
velocidade
aceitável: 1,2 a 2,4m/s
Entrada
ótima: 1,2m
profundidade
aceitável: 0,5 a 1,2m
Difusores 0,08 a 0,15m/s
Desnível entre soleiras ou degraus 0,30m
Espaço para os peixes 0,013m3/kg
Velocidade máxima na soleira e orifício 2,4m/s
Dimensão mínima do orifício 0,30 x 0,30m
Declividade 6,25 a 12,5%

Segundo PAVLOV, 1989, a entrada do STP deve gerar velocidades atrativas entre
60 a 80% da velocidade crítica da espécie e o ângulo de interseção com o fluxo
preferencial não deve exceder a 30o.

As velocidades, direção, sentido e forma, no interior do STP podem determinar o


sucesso da estrutura. Fluxo com baixas velocidades, 0,2 a 0,5m/s, geralmente nos
tanques das escadas, podem corresponder a velocidade de cruzeiro das espécies,
enquanto as velocidades altas, 1 a 2,3m/s, geralmente nos orifícios e soleiras e
pontos localizados nos tanques, correspondem a velocidade de explosão (PAVLOV,
1989).

• Segundo NAKAMURA, 1995, determina-se a inclinação do canal em função


da velocidade dos peixes, que no caso nipônico são pequenos:

• V<U, onde V é velocidade do fluxo e U é a velocidade de explosão do peixe


(a velocidade no tanque deve ser baixa, para possibilitar o descanso dos
peixes e o volume do tanque deve permitir uma certa densidade de peixes
descansando);

• U=(10 a 15)*(BL), onde U em m/s e BL é o comprimento do peixe em m;

• L>3*BL, onde L é o comprimento horizontal do tanque;

• S=[(100 a 225)/(6*g)]*(BL)=(1,7 a 3,8)*BL, onde S é a declividade longitudinal


do canal na forma 1V:SH e g é a aceleração da gravidade em m/s2. Essa
equação sugere a máxima declividade entre 1:6 e 1:3 para pequenos peixes,
como os japoneses (BL=0,1m) e entre 1:2 e 1:0,5 para peixes maiores
(BL=0,5m).
39

PASCHE, 1995, afirma que as velocidades máximas do fluxo nos STP’s ocorrem em
pontos localizados, soleiras e orifícios, que devem ser sucedidas de campos com
velocidades menores para o descanso dos peixes, de forma a habilitá-los a
superarem as velocidades máximas do fluxo nadando ou saltando. É necessária
uma área de “descanso”, com comprimento mínimo de 2,0m e profundidade de
0,60m. Aconselha, também, a taxa de turbulência máxima, E, para determinação do
tanque para descanso, com valores entre 150 a 200W/m3, taxa que também é
adotada na França: 200W/m3 para salmonídeos e 150W/m3 para os outros peixes
(LARINIER, 1990). A taxa de turbulência por unidade de volume (energia dissipada)
ρ gQI γ Q ∆y
é definida como: E = = , onde ρ= massa específica do fluido; g=
By ∀

aceleração da gravidade; Q= vazão; ∆y= desnível entre montante e jusante do fluxo;


B= largura do canal; y= profundidade do fluxo; l= declividade longitudinal do canal e
∀= volume de líquido médio.

Segundo SASANABE, 1990, nos STP’s japoneses há uma nítida preferência pelas
rampas com declividade 10%, seguida pelas rampas íngremes de 20%, conforme
Tabela 5-7.

Tabela 5-7 : Declividade dos STP's Japoneses (SASANABE, 1990)

Declividade (%)
total
20 10 7 5 3 <3
264 625 208 77 27 42
1.243
21,2 50,3 16,7 6,2 2,2 3,4

Pasche, 1995, apresenta alguns critérios para a escada tipo Vertical Slot, conforme
Tabela 5-8.
40

Tabela 5-8 : Dimensões de STP tipo escada Vertical Slot (PASCHE, 1995)

Peixe
Referência Salmão e
Truta
Truta Esturjão
continental
marítima
abertura inclinada do slot (m) 0,15 a 0,17 0,30 0,60
base do canal (m) 1,20 1,80 3,00
comprimento do tanque (m) 1,90 2,75 a 3,00 5,00
comprimento da cabeça (m) 0,16 0,18 0,40
distância entre a cabeça e o dispersor (m) 0,06 a 0,10 0,14 0,30
largura do dispersor (m) 0,16 0,40 0,84
desnível d’água (m) 0,20 0,20 0,20
profundidade d’água mínima (m) 0,50 0,75 1,30
vazão mínima (m3/s) 0,14 a 0,16 0,41 1,40

A tecnologia disponível para o projeto destas estruturas, adaptada às características


da ictiofauna nacional, encontra-se em fase incipiente de desenvolvimento. São
necessárias pesquisas e desenvolvimento de tecnologia para a aplicação deste tipo
de estrutura, considerando o desenvolvimento de critérios para o posicionamento do
ponto de atração, capacidade das mesmas, padrão de velocidades nas entradas,
descansos, desníveis admissíveis, capacidades natatórias dos peixes nacionais, etc.

Apresentam-se na Tabela 5-9, alguns critérios internacionais e recomendações


gerais que podem ser utilizados preliminarmente nos projetos de STP’s, devendo
ainda, para aumentar a eficiência do conjunto, serem confirmadas segundo as
condicionantes nacionais e locais.
41

Tabela 5-9 : Recomendações Gerais para STP tipo Escada.

CRITÉRIO RECOMENDAÇÃO
Função das características a serem contempladas,
Tipo de STP
ver Tabela 5-3
Altura máxima de transposição para
30m
STP’s tipo Escadas
Declividade do canal 6,25 a 12,5%
Concentração de Peixes
No Muro de ala entre o Vertedouro e a Casa de
Localização da Entrada Força;
No Muro de ala do Vertedouro;
Na margem junto à Casa de Força.
Dimensão da Base do canal Função do volume dos cardumes.
Função do desnível admitido para uma dada
Distância entre degraus
declividade da rampa.
Tanque para descanso (acomodação Escalonado a cada 5 a 8m de altura vertical função
metabólica) da espécie.
Dimensão mínima: 0,80 x 0,60m (passagem
Orifícios afogados
individual).
Lâmina d’água mínima sobre a soleira 0,30m.
Lâmina d’água mínima no STP 1m.
30% superior às adjacentes;
60 a 80% da velocidade crítica da espécie;
Velocidade Atrativa na entrada
1 e 2,5m/s (velocidades fora da faixa podem não
atrair ou repelir os peixes).
Ângulo da Entrada < 45o
Velocidade no interior do STP Entre 1 e 2,5m/s
Contínuo ascendente nas cheias (piracema) e
Intensidade de fluxo dos peixes
periódico descendente durante a estiagem
Lisas;
Forma de acabamento das estruturas Arredondadas, suavizadas para evitar danos aos
internas do STP peixes
Evitar cantos quadrados.
Telas de proteção para os saltos dos peixes com
Paredes Laterais do STP
altura de 1,20m, função da ictiofauna local
Estrutura de controle dos níveis d’água;
Profundidades, dimensões e velocidades compatíveis
Saída
com as necessidades dos peixes durante a migração
reprodutiva e trófica.
Análise criteriosa do hidrograma de cheias para
determinação das cotas mínima e máxima do nível
d’água durante os períodos migratórios reprodutivo e
Estrutura de Controle dos níveis d’água
trófico;
de montante
Tomada d’água seletiva;
Escolha do tipo de STP adequado em função da faixa
operativa;
Favorecer a ascensão e o descenso (reprodutiva e
Migração (sentido)
trófica)
42

6 ESCADA PARA PEIXES NO AHE LAJEADO, RIO TOCANTINS

O rio Tocantins, com 2.500km de extensão, nasce no Planalto Central Brasileiro e flui no
sentido sul-norte, com a bacia
abrangendo boa parte dos Estados
de Goiás e Tocantins. Um pouco a
montante da cidade de Marabá
recebe o rio Araguaia que, com
2.200km de extensão, constitui o
seu maior tributário. A sua foz se dá
no estuário do rio Amazonas.

A implantação de barragens neste


rio é relativamente recente, datando
da década de 80. Dos dez
aproveitamentos hidrelétricos
previstos no Tocantins, quatro
encontram-se em operação, um em
construção e os restantes em
diferentes fases de planejamento.
(Ver Figura 6-1)

Figura 6-1: Localização do AHE Lajeado

Em 1984 foi completado o enchimento do reservatório da primeira grande barragem


amazônica brasileira, a UHE Tucuruí (4.100MW - reservatório de 2.830km2). A UHE Serra
da Mesa (1293MW, reservatório de 1.784km2) iniciou a operação em 1996 e a UHE Cana
Brava em 2002 (465MW, reservatório de 139km2).

Desta forma, a AHE Luis Eduardo Magalhães (Lajeado) com uma potência instalada de
902,5MW, uma altura de 37m, um reservatório com um espelho d’água de 630km² e extensão
de 150km, inaugurada em 2001, situa-se num estirão do rio Tocantins com cerca de 2.100km,
onde muitos tributários de primeira a terceira ordens como os rios Paranã, Manoel Alves da
Natavidade, do Sono, Araguaia e Itacaiúnas são reconhecidos como rotas migratórias de
peixes (RIBEIRO et al., 1995; MMA/PNUD, 1995).
43

6.1 Histórico do projeto

6.1.1 Estudos ambientais

Os Estudos de Impacto Ambiental, elaborados pela THEMAG e INVESTCO em 1995/96,


contemplaram levantamentos da ictiofauna na área de influência da UHE Luiz Eduardo
Magalhães. Esses estudos contaram com a participação de profissionais da Unitins e da
Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR e consistiram de três coletas ao longo do ciclo
sazonal, que resultaram na captura de aproximadamente 5.150 exemplares, pertencentes a 174
espécies. Além das coletas de peixes foram, também, realizadas quatro campanhas para
levantamento do ictioplâncton (ovos e larvas de peixes).

Dos onze pontos amostrados, nove eram típicos de ambientes lóticos (rio Tocantins e
tributários) e, em sua maioria, situados na área atualmente alagada pelo reservatório.

Das espécies identificadas antes da formação do reservatório, verificou-se que


aproximadamente 20% realizavam migrações. Dentre os principais peixes reofílicos citam-se
os grandes bagres como Pseudoplatystoma fasciatum (surubim), Paulicea luetkeni (jaú),
Pinirampus pinirampu (barbado), Pseudodoras niger (bacu) e Pterodoras granulosus (bacu),
os characiformes Prochilodus nigricans (curimatá), Semaprochilodus brama (jaraqui) e
Anodus elongatus (ubarana).

No âmbito dos estudos do EIA/RIMA, além da construção e do monitoramento do


desempenho do dispositivo de transposição, foi proposto o monitoramento da ictiofauna do
reservatório com coletas bimestrais em pontos distribuídos tanto no reservatório como em
localidades situadas a montante e a jusante deste ecossistema.

6.1.2 Estudos de Engenharia

Após um estudo de alternativas, optou-se por um dispositivo de transposição tipo escada, com
características semelhantes às da escada de peixes da UHE Porto Primavera (1.800MW,
barragem com 22m de altura), no rio Paraná (JENSEN et al., 2003).

A escada proposta para a barragem de Lajeado é composta de uma entrada ou canal de


atração, de degraus tanque que conduzem o escoamento e de uma estrutura de controle na
saída dos peixes no reservatório, responsável pelo controle das vazões. A cada 8 m de
desnível, foram previstos tanques de descanso para os peixes.

Nos estudos de engenharia, optou-se por implantar a Escada em depressão natural da


ombreira esquerda, entre esta e o Canal de Fuga da Casa de Força. Este arranjo evitou
44

interferências com o sistema viário, torres de transmissão e subestação elétrica. A foto da


Figura 1 indica as estruturas mencionadas.

O canal com os degraus tanque possui 766m de extensão, 5m de largura e declividade


longitudinal de 5%, exceto nos tanques de descanso. Os degraus-tanque são separados por
paredes transversais que dispõem de duas soleiras superficiais de 0,8m de largura e dois
orifícios quadrados com 0,8m de lado. As soleiras e orifícios foram posicionadas em lados
alternados dos degraus sucessivos para proporcionar turbulência ao escoamento, atrativa para
os peixes. O desnível da superfície d` água entre degraus tanque é igual a 0,4m. O trecho da
escada escavado em solo tem paredes laterais de concreto e no trecho escavado em rocha, as
paredes laterais são formadas pela superfície da rocha. As paredes divisórias dos tanques são
sempre construídas em concreto.

Figura 6-2: Arranjo Geral do AHE Lajeado

Os espaçamentos e a disposição das paredes divisórias foram concebidas para formarem


tanques com potencial de dissipação de energia em torno de 200W/m³, conforme literatura
internacional indicada para salmonídeos (MARTINS, 2000; LARINIER at al., 1999)

A estrutura de controle a montante foi concebida com duas comportas basculantes de 1m de


comprimento e duas adufas quadradas de 0,8m de lado, com controle de abertura. Com esses
dispositivos é possível controlar a vazão aduzida pela escada. O controle da vazão permite a
obtenção de desníveis entre degraus tanque ligeiramente diferentes dos considerados no
projeto.
45

Figura 6-3: Estruturas da escada

A Escada para Peixes foi planejada na fase Projeto Básico da Usina, considerando a sua
operação com níveis d´água do reservatório variando entre 211,5m (mínimo normal) e
212,3m (máximo normal). Em relação aos níveis d´água de jusante, foi prevista a operação no
período de cheias. Assim, foi considerado o nível d´água mínimo de jusante igual a 175,10m,
que corresponde a uma vazão de 1.500m³/s, com uma permanência de 90% para os meses de
dezembro a março. Não há restrição à operação para os níveis d`água de jusante
correspondentes a grandes cheias.

6.2 Monitoramento da Escada

6.2.1 Operação Hidráulica

Em agosto de 2003, durante a estiagem, foi realizada uma série de testes na escada, para
determinar a operação hidráulica ótima para a piracema de 2003/2004. Nesta campanha,
foram realizados ensaios com manobras das comportas da estrutura de controle, variando-se
as vazões entre 4,56 e 1,14m³/s.

A variação de vazões, acima e abaixo da vazão de projeto da escada, que é de 2,45m³/s,


permitiu verificar as condições de atratividade (facilidade dos peixes encontrarem o canal de
atração) e a sua seletividade (facilidade de ascensão dos peixes) para condições bem
diferentes das previstas inicialmente no projeto. A Tabela 6-1 sumariza as experiências feitas
para a operação da Escada. Em todos os casos o nível d´água do reservatório foi 212,06m e o
nível de jusante 174,1m (1,0 m abaixo do mínimo de projeto).
46

Tabela 6-1: Testes de Protótipo na Escada

∆h
Caso Q(m³/s) y(m) V1(m/s) V2(m/s) E(W/m³) Observações
(m)
Os níveis d´água superam os previstos tanto
nas soleiras como nas paredes laterais.Ocorre
1 4,57 0,50 1,90 - 0,48 295
turbulência elevada e recirculação intensa
nos tanques.
Os níveis d´água superam os previstos tanto
nas soleiras como nas paredes laterais.Ocorre
2 4,41 0,50 1,80 0,19 0,49 301
turbulência elevada e recirculação intensa
nos tanques.
Os níveis d´água atingem o topo das paredes
3 3,89 0,50 1,70 0,18 0,46 281 divisórias. A turbulência e a recirculação do
escoamento nos tanques são elevadas.
Os níveis d´água aproximam-se do topo das
4 3,30 0,50 1,50 0,38 0,44 270 paredes divisórias, com turbulência elevada e
recirculação do escoamento nos tanques.
Lâmina d´água de 0,30m sobre as soleiras,
restando 0,20m de borda livre em relação ao
5 2,45 0,40 1,30 0,50 0,37 225 topo das paredes laterais, com a recirculação
e turbulência menos evidentes (condição de
projeto).
Orifícios sem submergência a jusante,
acarretando velocidades muito elevadas nos
6 2,38 0,40 1,20 0,17 0,41 200
tanques, o que aumenta a dificuldade para os
peixes de fundo.
Soleiras secas. Velocidades excessivas pelo
orifício devido à ausência de submergência a
7 1,50 0,40 1,00 0,19 0,30 147
jusante (aumentam as dificuldades para os
peixes de fundo).
Soleiras secas. Velocidades excessivas pelo
orifício devido à ausência de submergência a
8 1,15 0,40 0,90 - 0,25 125
jusante (aumentam as dificuldades para os
peixes de fundo).

NOTAÇÃO: V1= velocidade média superficial medida no tanque; V2= velocidade média no tanque (Q/A); E =
índice de energia dissipada no tanque (ρ*g*Q*∆h/Vol); ρ =1.000 kg/m³; g =9,81m/s²; y = profundidade d´água
nos tanques; ∆h = desnível da lâmina d´água entre tanques sucessivos.

∆h

ym

PERFIL LONGITUDINAL

Soleira
∆h
1,50
1,10
0,8

0,8 Orifício
5,0
PAREDE DIVISÓRIA

Figura 6-4: Desenho Esquemático da Escada


47

Além dos comentários contidos na Tabela 8-1, constataram-se nos testes que, para o nível de
jusante verificado na época, de 174,1m, o desnível no último degrau-tanque da escada era de
1,2m, dificultando o salto dos peixes através das soleiras livres e a passagem dos mesmos
pelos orifícios, já que as velocidades do escoamento aumentam sobremaneira.

Tem-se a considerar que o nível d`água de jusante 174,1m, observado durante as experiências
de operação hidráulica da escada na estiagem, que corresponde a uma vazão no rio Tocantins
de 630m³/s, é inferior ao previsto como mínimo operacional da Escada, de 175,1m.

As principais conclusões alcançadas através da análise dos casos indicados na Tabela 8-1,
foram:

- a condição de uma lâmina d’água com 0,30m de altura sobre a soleira, que corresponde a
uma vazão igual a 2,45m³/s (caso 5), é a condição recomendada para a operação da escada;
- o nível mínimo operacional 175,1m restringe a operação da escada para períodos fora das
cheias.

6.2.2 Operação Biológica

Apresentam-se neste item os resultados dos estudos contratados pela INVESTCO, proprietária
da UHE Luis. Eduardo Magalhães, junto ao Núcleo de Estudos Ambientais – NEAMB,
referentes à eficiência da escada como um mecanismo de transposição de peixes.

O estudo para avaliação da eficiência da escada, com duração de 12 meses, iniciou-se em


novembro de 2002. Os peixes foram coletados quinzenalmente nos quatro tanques de
descanso e no tanque junto ao reservatório, utilizando tarrafas de malha de 4cm entre nós
opostos, fio 0,5mm, perímetro de 15m e massa de aproximadamente 8kg. O esforço de
captura foi padronizado e as coletas foram realizadas a cada 6 horas (12; 18; 24 e 6 horas). As
coletas foram iniciadas sempre no tanque 1, próximo à entrada da escada. Imediatamente
depois de capturados, os peixes foram identificados, medidos, marcados e soltos no tanque. A
ocorrência de peixes no último tanque de descanso, junto ao reservatório, foi também
registrada mensalmente, a partir de observações realizadas através dos visores de acrílico. A
abundância de indivíduos na entrada e na saída da escada foi estimada visualmente no período
matutino. Foram também realizadas coletas mensais a jusante da barragem utilizando redes de
espera com malhas de 4 a 16cm entre nós opostos.
48

Figura 6-5: Monitoramento da escada

Fonte: UNITINS
A abundância dos indivíduos foi representada pela captura por unidade de esforço (CPUE),
expressa em número de indivíduos por 100 tarrafadas, no caso da escada e em número de
indivíduos por 1000m² de redes em 24 horas para as redes de espera instaladas a jusante da
barragem.

Foram registradas, na escada, peixes pertencentes a 4 ordens e a 15 famílias.


Aproximadamente 50% das espécies registradas na escada são migradoras (CAROLSFIELD
et al., 2004). Dentre estas, as principais espécies de médio e grande porte e de interesse
comercial foram: Hydrolycus armatus, Prochilodus nigricans, Pinirampus pirinampu,
Semaprochilodus brama, Brycon sp A, Pseudoplatystoma fasciatum, Zungaro zungaro,
Piaractus brachypomus, Brycon falcatus, Colossoma macropomum, Mylossoma duriventre,
Piaractus mesopotamicus e Sorubimichthys planiceps.

Algumas espécies se acumulam a jusante da barragem e utilizam a escada como local de


alimentação. Entre elas estão espécies piscívoras (Rhaphiodon vulpinus, Hydrolycus armatus,
Serrasalmus rhombeus e Plagioscion squamosissimus) e espécies que se alimentam do
perifíton que prolifera nas paredes da escada (Oxydoras niger, Panaque nigrolineatus,
Prochilodus nigricans, Myleus setiger e Myloplus torquatus). Estas espécies encontram
grande disponibilidade de alimento nos tanques de descanso e ali permanecem durante a
maior parte do ano.

Os tanques de descanso, construídos para facilitar o deslocamento ascendente dos peixes ao


longo dos 766 metros de escada, resultam em um aumento na mortalidade por predação.
Sofrem especialmente esta predação espécies de porte médio a pequeno como: Rhaphiodon
vulpinus, Psectrogaster amazonica, Pimelodus blochii, Triportheus spp, Curimata spp,
Sorubim lima e Leporinus spp, que ao chegarem nos tanques de descanso encontram
predadores que estão de passagem como: Pseudoplatystoma fasciatum, Zungaro zungaro,
Phractocephalus hemioliopterus, Sorubimichthys planiceps e outros que residem na escada
49

durante a maior parte do ano como: Rhaphiodon vulpinus, Hydrolycus armatus, Serrasalmus
rhombeus e Plagioscion squamosissimus. A predação é intensa também na entrada e na saída
da escada.

Além das espécies registradas na escada, outras 86 espécies ocorreram apenas a jusante da
barragem, provavelmente devido à seletividade inerente ao sistema de transposição, ao hábito
sedentário e/ou à baixa abundância destas espécies neste trecho da bacia hidrográfica. Entre as
espécies que não foram registradas na escada, existem dez que podem ser consideradas
migradoras (CAROLSFIELD et al., 2004): Ageneiosus brevis, Curimatella immaculata,
Leporinus fasciatus, Leporinus cf grantii, Leporinus sp 8, Myleus sp 3, Myleus sp, Pellona
castelnaeana, Pterodoras granulosus e Hypophthalmus marginatus.

Embora as espécies registradas na escada apresentem formas e comportamentos diferenciados


para transpor as barreiras hidrodinâmicas, praticamente todas elas alcançam o tanque três,
localizado no percurso médio da escada. No entanto, somente 61,2% das espécies observadas
na escada ao longo de 12 meses, foram registradas no último tanque de descanso junto ao
reservatório. A tendência decrescente de jusante para montante, observada no rendimento das
capturas aponta para a seletividade. Ver Figura 6-6A

Apesar do padrão de utilização da escada apresentado para a assembléia de peixes, pode-se


constatar o uso diferenciado da escada pelas espécies, conforme Figura 6-6B. O rendimento
das duas espécies mais freqüentes nas capturas, Rhaphiodon vulpinus e Auchenipterus
nuchalis, ilustram este fato. No primeiro caso, a espécie que é de médio porte (Lmédio= 32cm),
possui o corpo alongado e comprimido lateralmente e o hábito alimentar piscívoro, ascende
toda a escada e se acumula no último tanque de descanso, provavelmente para evitar a
predação pelas piranhas e outros predadores que se acumulam na saída da escada. No segundo
caso, a espécie que é de pequeno porte (Lmédio= 16cm), possui o corpo ligeiramente
comprimido lateralmente e o hábito alimentar insetívoro, apresenta uma redução nas capturas
nos tanques de descanso de jusante para montante, indicando que a distância e/ou a
velocidade da água podem limitar seu deslocamento para montante. Assim, o fato de uma
espécie ser atraída para a escada e mesmo a ocorrência dessa espécie nos trechos inferior e
médio da escada, não garantem o sucesso da transposição.
50

Figura 6-6: Abundância e número de espécies (A) e abundância de Rhaphiodon vulpinus e


Auchenipterus nuchalis por tanque de descanso (B).
Fonte: UNITINS
O nível de jusante da barragem do Lajeado variou acentuadamente ao longo do ano e mesmo
dentro de intervalos de 24 horas. Levando-se em conta que o nível d´água mínimo operacional
do projeto é igual a 175,1m, ocorreram restrições para a operação da escada de maio/03 a
out/03 , sendo que no período de final de dez/02 ao início de maio de 2003 o nível de jusante
esteve acima do mínimo operacional.

A maior abundância de peixes na escada foi observada durante a cheia, incluindo os períodos
de subida e descida das águas, concordando com o período de maior atividade reprodutiva das
espécies tropicais e com o nível de jusante dentro dos valores especificados pelo projeto.
Durante o período em que o nível de jusante esteve abaixo do mínimo operacional,
aproximadamente 6 meses, o número de indivíduos na escada foi extremamente baixo. Assim
como a abundância, a maior riqueza de espécies foi registrada na escada no período de cheias,
embora na descida das águas, entre abril e junho, o número de espécies tenha sido também
bastante elevado. No período de seca ocorreu uma redução gradativa do número de espécies
na escada, atingindo o valor mínimo no início de set/03. Com as primeiras chuvas (final de
set/03 e início de out/03) o número de espécies na escada apresentou uma tendência de
aumento (Ver Figura 6-7).

ENCHENTE CHEIA VAZANTE SECA


IND./100 TARRAFADAS

4500

3000


1500

  
 

0 
. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 .
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT
51

28 

NÚMERO DE ESPÉCIES
  
21
  
   
14
  


7 
0
. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 .
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Figura 6-7: Variação do nível médio diário de jusante, abundância de indivíduos e número de
espécies na escada por coleta. IND. = indivíduos.

Fonte: UNITINS
Para verificar a influência do nível d´água de jusante na ascensão dos peixes pela
escada, foram análisadas as capturas em dois períodos, considerando valores do
nível de jusante superiores (abril) e inferiores (setembro) ao nível mínimo de projeto.

Para níveis d´água normais, a captura por unidade de esforço (705,82 indivíduos por
100 tarrafadas) superou em cerca de sete vezes a correspondente ao período com
nível de jusante inferior ao mínimo de projeto (90 indivíduos por 100 tarrafadas).
Diferenças na composição das espécies também foram observadas entre os dois
períodos. Com nível de jusante abaixo do mínimo de projeto, foram registradas
somente espécies de Characiformes, principalmente Prochilodus nigricans. O
aumento da velocidade da água nos orifícios e o grande desnível do último degrau
dificultaram a ascensão de outras espécies, especialmente daquelas de fundo (Ver o
desnível na última soleira, nas fotos da Figura 6-8).

Figura 6-8: Desnível e último degrau durante a estiagem


Fonte: THEMAG
A Figura 6-9, que mostra os valores mínimos e máximos mensais do nível de
jusante, permite verificar que a escada funcionou adequadamente de forma
ininterrupta somente nos meses de março e abril/03. Nos demais meses, o nível de
52

jusante atingiu valores mínimos diários, normalmente coincidentes com a geração


noturna na base da carga elétrica, inferiores aos mínimos de projeto.

Tabela 6-2: Espécies registradas na escada nas condições de projeto e para níveis d´água de
jusante inferiores ao mínimo (abril e setembro de 2003).
CONDIÇÕES DE PROJETO NA DE JUSANTE INFERIOR AO MÍNIMO DE PROJETO
ESPÉCIES (ABRIL) (SETEMBRO)
n CPUE n CPUE
Anchoviella carrikeri 3 1,59
Auchenipterus nuchafs 206 108,99
Argonectes robertsf 4 2,00
Brycon spt 9 4,50
Brycon sp2 6 3,00
Hydrolycus armatus 8 4,23 3 1,50
Hemiodus unimaculatus 1 0,50
Hypostomus sp7 1 0,53
Hypostomus sp9 3 1,59 1 0,50
Myleus setiger 2 1,06 2 1,00
Mytoplus torquatus 4 2,12 1 0,50
Myleus spA 1 0,50
Oxydoras niger 85 44,97 2 1,00
Pimelodus blochii 20 10,58
Pseudoptatystoma tasciatum 12 6,35
Prochflodus nigricans 140 70,00
Panaque nigrofneatus 23 12,17
Parancistrus niveatus 1 0,53
Pinirampus pirinampu 1 0,53
Plagioscion squamosissimus 7 3,70
Rhaphiodon vulpínus 935 494,71 10 5,00
Semaprochilodus brama 8 4,23
Serrasalmus rhombeus 8 4,23
Schizodon vittatus 1 0,53
Triportheus argenteus 3 1,59
Triportheus trifurcatus 1 0,53
Zungaro zung aro 2 1,06
TOTAL 705,82 90,00
n= número de espécies;
CPUE = Capturas por unidade de esforço (indivíduos por 100 tarrafadas)

Figura 6-9: Valores médios e amplitude de variação (máximo e mínimo) do nível de jusante por
mês.
Fonte: UNITINS
A linha pontilhada representa o nível mínimo de projeto e a linha azul o NA médio mensal (valores
fornecidos pela INVESTCO S/A).
O trecho inferior da escada foi escavado na rocha, formando um canal onde a
velocidade da água é da ordem de 0,4 m/s, mesmo com aumento da vazão pela
53

escada, de acordo com os testes de protótipo apresentados nos casos 1 a 4 da


Tabela 6-1.

Figura 6-10: Entrada do canal de acesso à escada

O canal de acesso à escada desemboca no Canal de Fuga da Casa de Força, onde


as velocidades são maiores, da ordem de 1 m/s, o que poderia provocar baixa
atratividade para a escada.

De fato, das aproximadamente 50 espécies migradoras registradas a jusante da


barragem, 10 não ocorreram na escada. Entre a muitas possíveis causas desta
ausência não pode ser descartada a atratividade. Pterodoras granulosus, por
exemplo, uma espécie migradora capturada em abundância moderada a jusante da
barragem, não ocorreu na escada, mas foi a oitava espécie mais capturada na
escada de Itaipu (FERNANDES et al., 2001).

6.3 Comentários Finais

A Escada para peixes do AHE Luis Eduardo Magalhães, que transpõe 37,0 m de
queda é a escada em operação no Brasil com o segundo maior desnível, sendo a do
AHE ITAIPU, com 127m, a primeira. Deve-se ressaltar que, enquanto a primeira
escada foi construída especificamente para transposição de peixes, a de Itaipu tem
dupla função: canoagem e transposição de Peixes, possuindo para isto um desenho
que não é o tradicionalmente utilizado em Escadas para Peixe.

Nas análises de eficiência da escada do AHE Luis Eduardo Magalhães, verificou-se


que das 50 espécies migradoras identificadas a jusante da barragem, foram
registradas na escada 40 espécies, sendo que destas, 61,2% atingiram o
reservatório. O fato de que somente parte dos migradores atingem o reservatório
pode ser atribuído às dificuldades de algumas espécies em vencer o desnível e a
energia do escoamento, da ordem de 200 w/m³ nas condições de projeto.
54

Entre os fatores que podem ter influenciado a não ocorrência, na escada, de 10


espécies migradoras, podem-se citar os seguintes: os hábitos sedentários, a baixa
abundância ou ainda a dificuldade destas espécies em identificar o campo de
velocidades do canal de atração.

Seria possível aprimorar a eficiência na atração dos peixes através de dois recursos
usualmente empregados nos dispositivos de transposição: a injeção de vazões, por
exemplo através de sistema de bombeamento, ou a instalação de comportas de eixo
vertical, tipo mitra, para concentrar e direcionar o escoamento na confluência do
canal de atração com o canal de fuga da Casa de Força.

Como a escada foi planejada para operar apenas durante o período de cheias,
estabeleceu-se como nível d´água mínimo de projeto a jusante, a cota 175,10 m. No
entanto, considerações posteriores aconselham pelo funcionamento durante todo o
ano, inclusive na estiagem, época em que ocorrem com freqüência níveis mais
baixos. É possível ajustar a escada para operar até a cota 174,00 m, mediante a
construção no canal de atração de mais três degraus-tanque. Desta forma, a escada
poderia operar em forma eficiente durante o ano todo.
55

7 ANÁLISE CRÍTICA

Há, ainda uma tímida investida nacional na mitigação de impactos ambientais sobre
as comunidades de peixes devido ao barramento de rios, com o uso de Sistemas
para a Transposição de Peixes, apesar dos estudos obrigatórios de AIA e EIA/RIMA
os indicarem, apesar de extremamente utilizados no exterior, apesar do comprovado
sucesso operativo dessas estruturas em empreendimentos recentes, apesar da
importância, diversidade e riqueza dos nossos peixes e apesar das modestas
pesquisas desenvolvidas no Brasil.

Há muita polêmica sobre o assunto pois envolve recursos consideráveis,


principalmente no caso dos reservatórios de irrigação, abastecimento e de geração
energética, onde a água, potencialmente desviada para os Sistemas para a
Transposição de Peixes, deixa de gerar benefícios ao empreendedor.

Nos empreendimentos de médio e grande porte, as vazões para operar um sistema


de transposição são, relativamente, pequenas (valores menores entre 2 e 5m³/s),
mas em pequenos, como no caso da PCH, o conflito é inevitável.

A implantação de um STP não é a solução ambiental para os impactos gerados com


o barramento de rios, mas uma das soluções que envolvem o meio aquático.

É preciso investir em estruturas para o retorno de peixes, sem as quais ocorrerá o


esvaziamento ictiico a jusante dos aproveitamentos, assim como não estiverem
preservados ou existirem criadouros de peixes para desova.

Outra característica a ser observada e estudada é o tempo de permanência do peixe


no reservatório, o que vale dizer que os reservatórios curtos habilitam os peixes.
56

8 CONCLUSÕES

Há, ainda, um longo caminho de pesquisas para uniformizar os conhecimentos sobre


a transposição de peixes neotropicais em barragens brasileiras.

Os sistemas para a transposição de peixes neotropicais não podem ser rotulados


como solução única para os efeitos danosos do barramento de rios mas sim
complementar importante quando em conjunto com outras iniciativas como a
piscicultura; manutenção, preservação ou introdução de locais de desova; qualidade
da água; tempo de residência adequados aos peixes no reservatório; redução das
áreas anóxidas; extravasores, turbinas e “bypasses” amigáveis; manutenção ou
introdução de matas ciliares; preservação das nascentes; controle de pesca
predatória; etc.

Os sistemas para a transposição de peixes devem prever a passagem de peixes nos


dois sentidos: ascensão e descensão, assim a introdução de mecanismos para a
descida de peixes é, também, fundamental para não incrementar o esvaziamento
ictiico de jusante. Estudos sobre a passagem pelas estruturas extravasoras e
geradoras de peixes, alevinos e ovas devem ser implementadas para esclarecer
dúvidas científicas que permanecem.
57

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