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Caderno Tecnico 82 Medicina de Felino PDF
Caderno Tecnico 82 Medicina de Felino PDF
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você
www.crmvmg.org.br
Editorial
Caros colegas.
Os dados arqueológicos sugerem que a domesticação
do gato (Felis silvestres catus) pode ter ocorrido há 8.700
anos, em Jericó, e 9.500 anos, em Creta. A aproximação do
gato à habitação humana, em comensalismo, surge com o
desenvolvimento de estoques de cereais selvagens criados
há 21.000 anos no Oriente Próximo, anterior à agricultu-
ra, criando as condições para a presença de camundongos,
ratos e pardais, já atraídos há muitos anos. Entre as seis
subspécies de Felis silvestres, a F. silvestres catus é a sexta e
mais recente subespécie, aproximando-se de 500 milhões
de indivíduos no mundo, número maior que a dos cães
segundo o Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal
(International Fund for Animal Welfare). O gato doméstico
tornou-se um dos mais importantes animais de companhia,
mérito que demanda a formação profissional e a educação
continuada. A Escola de Veterinária da UFMG e o Conselho
Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais têm a
satisfação de encaminhar à comunidade veterinária e de
zootecnia mineira um volume dos Cadernos Técnicos in-
teiramente destinados à Medicina Felina. Embora artigos
a respeito de felinos tenham sido produzidos em edições
anteriores, este é o primeiro Caderno Técnico temático a
reunir textos exclusivamente sobre a saúde de gatos. O pre-
sente número, sob a coordenação e preparado por professo-
res e especialistas, discorre de forma atualizada sobre pon-
tos relevantes para o paciente felino, incluindo acupuntura,
Universidade Federal
de Minas Gerais choque circulatório, dermatites parasitárias, esporotricose,
manejo do paciente, nefrologia e obesidade. Consolida-se
Escola de Veterinária
Fundação de Estudo e Pesquisa em a parceria e o compromisso entre as duas instituições com
Medicina Veterinária e Zootecnia relação à Educação Continuada da comunidade dos médi-
- FEPMVZ Editora
cos veterinários e zootecnistas de Minas Gerais. Deseja-se
Conselho Regional de que este volume exerça uma contribuição contínua, como
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais um manual de consulta na rotina profissional na área de
- CRMV-MG Medicina Felina.
www.vet.ufmg.br/editora
Correspondência: Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins - CRMV-MG 4809
Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
FEPMVZ Editora
Caixa Postal 567 Prof. Renato de Lima Santos - CRMV-MG 4577
30161-970 - Belo Horizonte - MG Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
Telefone: (31) 3409-2042 Prof. Antônio de Pinho Marques Júnior - CRMV-MG 0918
E-mail: Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof. Nivaldo da Silva - CRMV-MG 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editores convidados para esta edição:
Adriane Pimenta da Costa Val Bicalho
Rubens Antonio Carneiro
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno
Tiragem desta edição:
1.000 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
Imprensa Universitária da UFMG
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1. Introdução Práticas da
do paciente primordial-
mente curativa, cujo foco
As práticas de me- medicina veterinária
complementaroferecem terapêutico é o contro-
dicina veterinária com-
uma abordagem le das causas de base do
plementar (MVC) ofe-
integral do paciente, processo de doença2,3.
recem uma abordagem
buscando manutenção Em termos gerais,
integral do paciente,
da saúde do indivíduo MVCs sãoempíricas e
buscando a manuten-
ção da saúdedo indiví- em equilíbrio com o carreiam aspectos fi-
duo em equilíbrio com meio do qual é parte. losóficos relacionados
o meio do qual é parte1. ao contexto histórico
São técnicas terapêuticas conservativas e social nos quais sur-
e pouco invasivas, pois estimulam giram.Dentre essas, a medicina vete-
o organismo a ativar mecanismos rinária tradicional chinesa (MVTC)
intrínsecos para alcançar a homeostase. corresponde a um conjunto de práticas
As MVCs oferecem abordagem integral médicas difundidas mundialmente, al-
Figura 4 – Choque distributivo: ocorre redução Figura 5 – Choque obstrutivo: ocorre devido a
da resistência vascular sistêmica, cursando com um impedimento do enchimento ventricular
vasodilatação e aumento de permeabilidade vas- durante a diástole (ex.: tamponamento pericár-
cular. Pode ser dividido em séptico, anafilático e dico) ou impedimento do retorno venoso (ex.:
neurogênico. síndrome da veia cava), culminando em redução
Adaptado de: Nature.com do débito cardíaco.
Adaptado de: Nature.com
Figura 6 – Paciente felino admitido em choque cardiogênico após episódio de tromboembolismo aórti-
co em aquecimento na incubadora com suplementação de oxigênio durante fluidoterapia por bomba
de infusão. Fonte: Hospital Veterinário da UFMG.
Figura 3 – Relação entre oferta de oxigênio (DO2), débito cardíaco (DC) e conteúdo arterial de oxigênio
(CaO2). O DO2 depende do DC que é convencionalmente definido como a quantidade de sangue, em
litros, bombeada pelo coração a cada minuto e do CaO2. O DC, por sua vez, é o resultado do produto
do volume sistólico (VS) em ml pela frequência cardíaca (FC). O VS é influenciado pela pré-carga, pela
eficiência contrátil do miocárdio (inotropismo) e pela pós-carga. Alterações em um desses parâmetros
podem ser responsáveis por desarranjos importantes na fisiologia cardiovascular e levar ao desenvol-
vimento de choque.
Fonte: Laforcade e Silverstein, 2015.
resposta vascular está atenuada até que reaquecimento do animal. Além de pre-
haja normalização da temperatura cor- judicar a resposta vascular, a hipotermia
poral. Fontes de calor diretas devem ser pode alterar a função plaquetária e pro-
evitadas por causarem vasodilatação pe- piciar o desenvolvimento coagulopatias,
riférica; a utilização de uma incubado- alteração dos sistemas cardíaco, renal,
ra ou de um sistema com insuflador de hepático e imune, e um risco aumenta-
ar aquecido é recomendada. Os fluidos do de parada cardiorrespiratória. Assim
que serão infundidos por via intrave- como a hipotermia, a hipertermia tam-
nosa também podem ser aquecidos até bém deve ser evitada e tratada adequa-
uma temperatura morna e auxiliarão no damente (Murphy e Hibbert, 2013).
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 82 - dezembro de 2016
Durante a abor- dada. Anti-inflamatórios
Durante a abordagem
dagem inicial, deve-se não esteroidais são con-
inicial, deve-
proporcionar suplemen- traindicados até que a
se proporcionar
tação de oxigênio para hipovolemia seja corri-
suplementação de
manter uma saturação gida e até que os perfis
oxigênio para manter
maior que 95% ou, caso renal e hepático tenham
uma saturação maior
não haja um pulso- que 95% ... para manter sido obtidos (Murphy e
-oxímetro disponível, as mucosas de coloração Hibbert, 2013).
para manter as muco- rosada... . É importante 6. Considerações
sas de coloração rosa- que o método escolhido
da (Murphy e Hibbert, cause mínimo estresse finais
2013). É importante ... não invasivos como O reconhecimento
que o método escolhido ... o fluxo livre (“flow- precoce de um felino
cause mínimo estresse by”), a máscara facial, em choque e das parti-
ao paciente. Os métodos o colar elisabetano cularidades da espécie
não invasivos sugeridos parcialmente vedado é essencial para o suces-
são o fluxo livre (“flow- com plástico filme, so terapêutico. O clíni-
-by”), a máscara facial, o a sonda nasal e a co deve ter sempre em
colar elisabetano parcial- gaiola de oxigênio ou mente que mais de um
mente vedado com plás- incubadora neonatal. tipo de choque pode
tico filme, a sonda nasal estar presente, ao mes-
e a gaiola de oxigênio ou mo tempo, no paciente
incubadora neonatal. Cada um dos mé- e todos devem ser abordados correta e
todos fornecerá uma fração inspirada rapidamente para maximizar as chances
de oxigênio diferente e o método a ser de sobrevivência do animal. Apesar do
utilizado deve ser aquele em que o gato pilar principal da terapia do paciente
permanece mais à vonta- em choque ser a admi-
de (Boyle, 2012). A combinação de nistração de fluidos para
Enfim, destaca- histórico, exame físico restaurar a oxigenação
-se que a frequência adequado, solicitação tecidual, outras medidas
cardíaca, a frequência e interpretação de suporte são necessá-
respiratória e o estado adequada de exames rias e irão variar de acor-
mental podem ser al- complementares e do com o choque apre-
terados pela dor. Caso abordagem terapêutica sentado. Apesar de uma
haja suspeita de dor, a cuidadosa são essenciais reanimação inadequada,
administração de um no atendimento do incompleta ou atrasada
analgésico é recomen- felino em choque. contribuir para um des-
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Demodexcati Demodexgatoi
Morfologia Alongado (150-291 µm) Pequeno (91-108 µm)
Folículos pilosos e glândula
Região que habita Epiderme
sebácea.
Prurido Variável Presente
Geralmente presente (FIV, Felv,
Doença sistêmica toxoplasmose, neoplasias, diabe- Não
tes mellitus).
Contágio Não Sim
Raspado superficial. Difícil encontrar
Raspado profundo, fita adesiva,
Diagnóstico o parasita (anamnese + exame físico +
Tricograma.
resposta a terapia).
Dermatofitose, alopecia psico-
Diagnósticos Sarna notoédrica, alergopatias, alope-
gênica, outras causas de otite
diferenciais cia psicogênica.
externa.
Fonte: adaptado de Delayte, 2015
na região cefálica e cervical, mas podem nóstico(3). Biópsia pode ser necessária
acometer a região dorsal bem como cul- em lesão ulcerada ou bastante inflama-
minar com otite ceruminosa (Figura 2). da,e observam-se na histopatologiaos
O prurido é variável, mas geralmente ácaros nos folículos pilosos (2). Existem
são lesões apruriginosas. algumas opções de tratamento dispo-
O diagnóstico é realizado por meio níveis no Brasil, principalmente com o
do exame parasitológico após o raspado uso de lactonasmacrocíclicas (Quadro
profundo, ou ainda por 2).Independentemente
tricografia, ou fita adesi- O Demodex gatoi (Fig. do fármaco utilizado o
va, em áreas em que o ras- 3) é um ácaro pequeno, tratamento deve ser rea-
pado éde difícil execução. encontrado no estrato lizado, no mínimo, até a
Nesses exames podem-se córneo. Diferentemente obtenção de um raspado
encontrar adultos, ninfas, do Demodex cati, negativo.
larvas e ovos, e, apesar de não é comensal
comensal da pele, a vi- da pele e possui 1.2 Demodex gatoi
sibilização de um ácaro característica de elevada O Demodex gatoi
é suficiente para o diag- infecciosidade(4). (Fig. 3) é um ácaro pe-
3. Dermatopatias parasitárias em gatos 35
Figura 2: Lesão eritemato-crostosa e alopécica na ponte nasal de um felino por Demodex cati, secun-
dária a uso de spray nasal com corticosteroide para o tratamento de asma felina. Cortesia: Dra Sarah
Bartlett, EUA
queno, encontrado no estrato córneo. de escabiose felina ou alergopatia, e es-
Diferentemente do Demodex cati, não é tão diretamente relacionados ao prurido
comensal da pele e possui característica intenso. Portanto, podem ser observadas
de elevada infecciosidade(4). Os acha- áreas de escoriação, escamas e crostas,
dos clínicos são semelhantes ao quadro principalmente nas regiões cefálicas,
cervical e articulações
úmero-radio-ulnares
ou ainda áreas de alo-
pecia em região ven-
tral pela lambedura
excessiva(2).A der-
matopatia ocasionada
por esse ácaro é consi-
derada rara no Brasil,
sendo mais prevalente
em algumas regiões
dos EUA(5).
O diagnóstico é
desafiador, já que é
um ácaro superficial,
Figura 3: Fotomicroscopia de Demodex gatoi em exame parasitológico
por raspado cutâneo. Cortesia: Dra Željka Starcevic, CZE
facilmente removido
com o auxílio de lupa ou por meio de 0,3mg/kg por via oral semanalmente.
exames parasitológicos por raspado su- Alguns trabalhos demonstram eficácia
perficial, avulsão de pelos (Fig. 6) ou de 100% com o uso de fipronil em pipe-
fita adesiva. Sugere-se ainda, buscar o ta (0,5ml por gato, em única aplicação),
ácaro em material fecal, devido a sua re- bem como de banhos semanais com
moção mecânicapela lambedura, que é tetraetil-tiuran(11).
excessiva em alguns animais (9).
O tratamento pode ser realizado 4. Sarna otodécica
com diversos medicamentos que pos- A sarna otodécica, otoacaríase, ou
suem poder acaricida, visto que o ácaro sarna do ouvido, como é popularmen-
é bastante susceptível te conhecida, é causa-
àqueles comercialmen- A sarna otodécica, da pelo ácaro Otodectes
te disponíveis. No en- otoacaríase, ou sarna cynotis, da Ordem dos
tanto, deve-se atentar do ouvido, como Sarcoptiformes, Família
para a toxicidade de é popularmente Psoroptidae, parasita
alguns produtos na es- conhecida, é causada obrigatório do conduto
pécie felina. As lacto- pelo ácaro Otodectes auditivo de cães e gatos
nasmacrocíclinas, como cynotis,parasita (Fig.7). É uma das doen-
ivermectinadevem ser obrigatório do conduto ças parasitárias mais
utilizadas na dose de auditivo comuns nesses animais,
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 82 - dezembro de 2016
auditivos (7, 13)
Os sinais clínicos são
variáveis, de forma que
alguns gatos apresentam
quantidade intensa de
secreção auricularsem
prurido, enquanto ou-
tros manifestam prurido
intenso, com discreta
secreção. Essa secreção,
com característica de
“borra de café”, é resulta-
do do acúmulo de debris
epiteliais, ácaros, sangue
Figura 7: Fotomicroscopia de Otodectes cynotis em exame parasito- e cerúmen (8) (Fig.8).
lógico de cerúmen de felino acometido por otoacaríase. Cortesia: Dr. As lesões são geralmen-
Ramón Almela, Alemanha
te restritas aos condutos
apresentando elevada incidência em fi- auditivos, mas alguns
lhotes(8,12). O. cynotisé um ácaro não animais podem ter ácaros ectópicos em
escavador que vive na superfície da pele outras áreas do corpo, especialmente
do conduto auditivo. Os ácaros adul- na região cervical, na dorsal e na cauda.
tos são grandes, brancos e podem ser Esses ácaros,na maioria das vezes, não
vistos a olho nu. Possuem quatro pares causam lesões, mas, em alguns animais,
de patas e todas, exceto a quarta pata podem ocasionar prurido intenso e as-
rudimentar da fêmea, estende-se além sim mimetizar dermatites alérgicas (7,
das margens do corpo. O ciclo de vida 12, 14) .
ocorre todo no hospedeiro e dura cer- O diagnóstico é feito por visualiza-
ca de três semanas. Os adultos vivem ção direta do ácaro na avaliação otoscó-
aproximadamente dois meses e a sobre- pica do conduto auditivo ou por exame
vivência fora do hospedeiro varia entre parasitológico direto do cerúmen em
cinco a 17 dias, dependendo da tempe- microscópio. Nesse teste, a amostra de
ratura e da umidade ambiental. O con- cerúmen é colhida por haste de algodão
tágio se dá por contato direto, sendo o estéril e alocada na lâmina de vidro para
ácaro altamente contagioso para cães e então ser examinadadiretamente(8, 14).
gatos. Ocasionalmente, O. Cynotis pode O tratamento deve-se iniciar pela
causar dermatite papular em humanos, limpeza dos condutos auditivos para
podendo raramente parasitar condutos remoção do acúmulo de debris. Os ani-
3. Dermatopatias parasitárias em gatos 41
Figura 8- Imagem de orelha esquerda de um felino jovem com sarna otodécica. Notar secreção escura
e ressecada, característica marcante da infestação pelo Otodectes cynotis.
Figura 9. Fotomicroscopia de Cheyletiella sp. em exame parasitológico por raspado cutâneo de felino
acometido por queiletielose. Notar ganchos no aparelho bucal na ponta da seta. Cortesia: Dra Sheila
Torres, EUA.
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Glendalesse Nunes Rocha de Faria Teixeira1, CRMV-MG 15075
Danielle Ferreira de Magalhães Soares2, CRMV-MG 7296
Kelly Moura Keller3, CRMV-MG 13579
Joana Angélica Macêdo Costa Silva4, CRMV-MG 15124
Graziella Coelho Tavares Pais5, CRMV-MG 13575
Maria Helena Franco Morais6, CRMV-MG 4129
1
Residente em Saúde Pública UFMG
2
Docente UFMG
3
Docente UFMG
4
Residente em Saúde Pública UFMG
5
Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte - Gerência de Controle de Zoonoses/Barreiro
6
Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte - Gerência de Controle de Zoonoses
4. Esporotricose e implicações à saúde pública com vistas à ocorrência da doença no município de Belo Horizonte 49
animais e no homem ou do próprio am- nas lesões desses animais. Alguns auto-
biente, a espécie era sempre reconheci- res acreditam que os gatos sejam os úni-
da por uma uniformidade de caracterís- cos que realmente apresentam potencial
ticas fenotípicas (Cruz, 2013). zoonótico relevante (Silva, 2016).
A partir de estudos baseados em Estudos comprovaram isolamento
sequenciamento de DNA, morfologia, do agente a partir de 100% das lesões
nutrição e fisiologia a espécie Sporothrix cutâneas, 66,2% das cavidades nasais,
schenckii passou a ser considerada um 41,8% das cavidades orais e 39,5%
complexo composto por seis espécies das unhas em gatos infectados com S.
schenkii (Schubach et al., 2002).
crípticas: S. schenckii, S. brasiliensis, S.
globosa, S. mexicana, S. luriae e S. albi- Atualmente são observadas altera-
cans (Marimon et al., 2007), ou seja, são ções nos padrões epidemiológicos dessa
espécies que não são diferenciadas ape- doença, seja pelo modo de transmis-
nas morfologicamente. são ou pela distribuição geográfica dos
casos. Possíveis explicações sobre essa
2.2. Epidemiologia mudança no perfil podem ser relaciona-
A esporotricose apresenta padrão das aos fatores ambientais, como o au-
de transmissão considerado clássico, mento da urbanização e o refinamento
por meio da inoculação traumática do dos diagnósticos (Barros et al., 2011).
fungo na pele e no tecido subcutâneo Diferenças relacionadas à distribuição
provocada por algum material contami- e virulência são associadas às diferen-
nado, geralmente relacionado a alguma ças de espécies do gênero Sporothrix,
atividade ligada ao cul- sendo S. brasiliensis con-
tivo do solo, conhecida O gato doméstico siderado a espécie mais
tradicionalmente como tem sido a principal virulenta do complexo
“doença do jardineiro”. espécie envolvida na e agente predominante
Esse contato com plan- transmissão zoonótica nos gatos, nas regiões
tas e com solo é uma da esporotricose. sul e sudeste do Brasil
forma comum de conta- (Rodrigues et al., 2014)
minação de humanos e No estado do Rio de
animais (Cruz, 2013; Carlos e Batista- Janeiro a doença assumiu proporções
Duharte, 2015). epidêmicas nos últimos anos (Barros
O gato doméstico tem sido a prin- et al., 2010), onde tem sido constatada
cipal espécie envolvida na transmissão grande ocorrência da enfermidade nos
zoonótica da esporotricose (Schubach gatos e aumento de casos de transmissão
et al., 2002; Silva, 2016), em razão de aos humanos por esses animais (Cruz,
uma elevada carga fúngica encontrada 2013; Fiocruz, 2015). Relatos de au-
casos humanos e de animais, em Belo 3. BAZZI, T.; MELO, S.M.P.; FIGHERA, R.A.;
KOMMERS, G.D. Características clínico-epi-
Horizonte, ações estratégicas foram demiológicas, histomorfológicas e histoquími-
demandadas pelo serviço de controle cas da esporotricose felina. Pesq Vet Bras, v. 36,
p.303-311, 2016.
de zoonoses, tais como: mapeamento
da situação global do município, in- 4. CARLOS, I.Z.; SASSÁ, M.F.; SGARBI, D.B.G. et
al. Current Research on the Immune Response
formações sobre histórico de registros to Experimental Sporotrichosis. Mycopathologia,
da doença e capacitação dos profis- v.168, p.1-10, 2009.
sionais envolvidos na vigilância desse 5. CARLOS, I.Z.; BATISTA-DUHARTE,
agravo. Essas intervenções realizadas A. Sporotrichosis: An Emergent Disease.
Sporotrichosis: New Developments and Future
em parceria com a EV/UFMG têm Prospects. Araraquara: Springer, 2015. p.1-9.
como objetivo estabelecer medidas
6. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA
específicas para a educação da popu- VETERINÁRIA DO PARANÁ – CRMV-PR.
lação, contenção e expansão do agravo Unidade de Vigilância de Zoonoses de Curitiba
alerta para casos de esporotricose. 2016.
para outras áreas do município, diag-
nóstico correto e tratamento eficaz 7. CORGOZINHO, K.B.; SOUZA, H.J.M.;
NEVES, A. et al. Um caso atípico de esporotri-
nos casos já identificados. cose felina. Acta Sci Vet., v.34, p.167-170, 2006.
O envolvimento da classe vete- 8. COSTA, E.O. et al. Epidemiological study of
rinária é fundamental para o enfren- sporotrichosis and histoplasmosis in
tamento dessa e de outras zoonoses, 9. captive Latin American wild mammals, São
com vistas a estabelecer, junto à comu- Paulo, Brazil. Mycopathologia, v.125: p.
13. GREMIÃO, I.D.F.; MENEZES, R.C.; 24. Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Histórias
SCHUBACH, T.M.P. et al. Feline sporotricho- de bairros de Belo Horizonte. Belo Horizonte:
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Mycol, v.53, p.15-21, 2015. Disponível em: < http://www.pbh.gov.br/ his-
toria_bairros/NorteCompleto.pdf>. Acesso em:
14. HEKTOEN, L.; PERKINS, C.F. Refractory 09/09/2016.
subcutaneous abscesses caused by Sporothrix
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of Experimental Medicine, v.55, p.77-89, 1900. Y.; CAMARGO, Z.P. Emerging sporotrichosis
is driven by clonal and recombinant Sporothrix
15. HIRSH, D.C.; BIBERSTEIN, E.L. Agents species. Emerg Microbes Infect. v.3, p.1-10, 2014.
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Rio de Janeiro, Brazil. Mycopathologia, v.153,
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29. SCHUBACH, T.M.; SCHUBACH, A.O.;
19. MARIMON, R.; CANO, J.; GENÉ, J. et al. OKAMOTO, T. et al. Canine sporotrichosis in
Sporothrix brasiliensis, S. globosa, and S. mexi- Rio de Janeiro, Brazil: clinical presentation, la-
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2006.
20. MAROLI, M.; PENNISI, M.G.; DI MUCCIO,
T. et al. Infection of sandflies by a cat naturally 30. SECRETARIA MUNICIPAL DE
infected with Leishmania infantum. Vet Parasitol, GUARULHOS. Determina que seja de notifica-
v.145, p.357-360, 2007. ção compulsória, de importância municipal, os
casos suspeitos e confirmados de esporotrico-
21. MOLINARO, E.M.; CAPUTO, L.F.G.; se humana. Portaria n. 064/2016-SS de 29 jul.
AMENDOEIRA, M.R.R. Conceitos e Métodos 2016. Diário Oficial, Guarulhos, 29 jul. 2016,
4. Esporotricose e implicações à saúde pública com vistas à ocorrência da doença no município de Belo Horizonte 57
p. 27. Disponível em: <http://www.guarulhos.
sp.gov.br/uploads/pdf/1506189977.pdf>.
Acesso em: 05/09/2016.
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1
Médica Veterinária
2
Acadêmico em Medicina Veterinária
5. Hepatopatias em felinos 63
periores àquela para espécies onívo- sária para a síntese de metionina a partir
ras. A rápida e essencial utilização de da homocisteína, uma reação essencial
aminoácidos como taurina, arginina, quando a ingestão de metionina é bai-
metionina e cisterna, juntamente com xa em decorrência da hiporexia, como
a baixa capacidade de conservá-los, re- ocorre na LHF. Assim, a deficiência de
sulta em elevada demanda diária para cobalamina possivelmente aumenta as
esses aminoácidos. Essa particularida- alterações metabólicas que promovem
de explica o porquê a rápida instalação o aparecimento da lipidose. Um aporte
da doença em gatos submetidos à limitado de metionina tem impacto di-
hiporexia/anorexia (Center, 2005; reto sobre a disponibilidade de SAMe
Nelson e Couto, 2009). A arginina é e, assim, secundariamente limita o fun-
um aminoácido essencial para o corre- cionamento das reações de transmeti-
to funcionamento do ciclo da ureia e a lação e transulfuração. Essas vias são de
carência provocada pela baixa ingestão extrema importância no felino uma vez
desse aminoácido na dieta, comprome- que há elevada utilização de proteínas e
te a detoxificação da amônia, levando a elevado fluxo de aminoácidos ao longo
hiperamonemia. A taurina por sua vez, das vias de degradação (Center, 2005).
é essencial na conjugação do ácido bi- A carnitina, composto sintetizado
liar e sua ingestão favorece a excreção a partir da lisina e do SAMe, é essencial
desses acido. A metionina é essencial para o transporte de ácidos graxos de ca-
para reações catabólicas que dão origem deia longa para o interior das mitocôn-
a S-Adenosilmetionina (SAMe), que drias para que estes sejam submetidos à
juntamente com a cisteína, funcionam β-oxidação. Além disso, a sua molécula
como principais doadores de radicais age também como transportadora de
tiol para a glutationa hepatocelular (um ácidos graxos esterificados da mitocôn-
protetor hepático contra a oxidação) e dria para o citoplasma dos hepatócitos
para a sínteses de sulfato. A glutationa e deste, para o plasma sanguíneo. A
e os sulfatos desempenham um papel síntese de carnitina acontece tanto no
importante nas funções de conjugação e fígado quanto nos rins, e para que ela
de desintoxicação no fígado em outras ocorra, substratos como as vitaminas
partes do corpo. Gatos aparentemente do complexo B, lisina, ferro e SAMe são
exigem maiores quantidades de vitami- fundamentais. Em um paciente anoré-
nas do complexo B em comparação com xico há deficiência de todos esses com-
outras espécies e estão predispostos à ponentes (Center, 2005). Dessa forma,
exaustão durante a prolongada inape- o jejum pode afetar o metabolismo de
tência, má digestão ou má assimilação. ácidos graxos hepáticos em três ma-
A cobalamina (vitamina B12) é neces- neiras: aumentando o aporte de ácidos
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 82 - dezembro de 2016
graxos para o fígado através da indução Diagnóstico
da lipólise periférica; reduzindo o con-
Devido à inespecificidade dos si-
sumo de aminoácidos essenciais, o que
nais clínicos, o diagnóstico definitivo
contribui para o acumulo de lipídios nos
da LHF deve ser feito através de bióp-
hepatócitos; e, através da deficiência de
sia hepática ou por citologia de aspi-
carnitina, essencial para o catabolismo
rado hepático, feito com agulha fina e
de ácidos graxos no fígado (Rothuzien,
guiado por ultrassonografia (Center,
2001). 2005; Nelson e Couto, 2009), onde se
observa a vacuolização hepatocelular.
Predisposição e Sinais Entretanto, tais procedimentos só de-
Clínicos vem ser realizados após a estabilização
Embora gatos machos e fêmeas, do paciente.
de qualquer idade ou raça possam ser As alterações clínico-patológicas
acometidos igualmente pela lipido- comuns refletem a colestase imposta
se hepática, grande parte dos animais pelo acúmulo de triglicérideos, que dis-
acometidos tem idade superior a dois tendem os hepatócitos e causam a com-
anos, apresentam escore de condição pressão dos canalículos, restringindo o
corporal acima do ideal, sendo em geral, fluxo da bile (Center, 2005; Nelson e
Couto, 2009). Anormalidades hemato-
obesos. Quando a LHF cursa concomi-
lógicas observadas incluem poiquilo-
tantemente a pancreatite, os animais são
citose e a predisposição à formação de
geralmente magros (Nelson e Couto,
Corpúsculos de Heinz. A anemia pode
2009). Outro fator predisponente, é o
estar presente em uma avaliação inicial
emagrecimento rápido de gatos obesos.
mas desenvolve-se mais comumen-
Como a inapetência é um sinal comum
te durante o tratamento. Isso pode ser
a diversas outras enfermidades felinas, a devido à realização seriada de coletas
observação de sinais clínicos da doença para acompanhamento do perfil hema-
primária podem também estarem pre- tológico, por hemólises associada aos
sentes, sendo o evento desencadeante corpúsculos de Heinz ou à hipofosfate-
da inapetência nem sempre algo fácil de mia grave, ou até mesmo, pela perda de
ser elucidado. Os gatos com LHF pos- sangue quando na colocação do tubo de
suem histórico de inapetência superior alimentação.
a dois dias, rápida perda de peso, e sinais Na avaliação bioquímica, observa-
gastrointestinais como vômitos, diarreia -se aumento moderado da atividade das
e/ou constipação. A icterícia é observa- enzimas (ALT) e aspartato aminotrans-
da em 70% dos pacientes como mani- ferase (AST), e um aumento acentuado
festação inicial da LHF (Center, 2005). da FA. Porém, este aumento na ativida-
5. Hepatopatias em felinos 65
de da FA é também observado em casos doença primária (Center, 2005; Zoran,
de obstrução do ducto biliar extra-hepá- 2012). A quantidade de alimento a ser
tico. A atividade da GGT está normal ou oferecida deve ser adequada para prover
discretamente aumentada. Alguns gatos ao paciente energia e proteína suficien-
podem apresentar também, aumento tes para cessar o catabolismo. A dieta
moderado da creatina quinase (CK) rica em proteína além de reduzir o cata-
devido a injuria tecidual causada pelo bolismo muscular, reduz o acúmulo de
catabolismo, pelo decúbito, ou pela rab- lipídios no fígado. Carboidratos não de-
domiólise oriunda do desequilíbrio ele- vem ser utilizados para aumentar o in-
trolítico (Center, 2005). Anormalidades cremento calórico da dieta, pois podem
da coagulação sanguínea são observa- promover desordens intestinais, como
das mais frequentemente em gatos com diarreia e cólicas, e causarem hiperglice-
LHF e pancreatite aguda concomitante mia (Zoran, 2012). Embora o requeri-
(Nelson e Couto, 2009.) A lipidúria é mento exato de energia para gatos não
verificada quando na obtenção de um ser bem determinado, a utilização de
sobrenadante lipídico na avaliação de energia metabolizável em uma taxa de
sedimentação urinária (Center, 2005). 60 a 80 kcal/kg do peso corporal ideal
À palpação, observa-se que o supre a demanda diária satisfatoriamen-
fígado está aumentado de tamanho, te (Center, 2005).
com contornos abaulados e sem a A alimentação pode ser feita direta-
manifestação de dor pelo animal. A mente via oral, de forma “forçada” com
hepatomegalia pode ser confirmada por o auxilio de uma seringa. Todavia, mui-
meio de radiografia abdominal e, na ul- tos animais não aceitam a dieta de forma
trassonografia, observa-se aumento ge- satisfatória e isso pode levar a aversão
neralizado da ecogenicidade hepática ao alimento ou às determinadas mar-
devido ao acúmulo de lipídios. Apesar cas, além de ser altamente estressante.
de sugestivos, esses achados não são A aversão por sua vez retarda o retorno
confirmatórios de LHF. (Center, 2005). à alimentação voluntária. Como alter-
nativas para alimentação mais eficien-
Terapêutica te utilizam-se tubos nasogástricos ou
O primeiro passo deve ser a corre- esofágicos.
ção de qualquer anormalidade hidroele- O tubo nasogástrico é uma boa al-
trolítica existente em decorrência do ternativa para alimentação nos primei-
jejum prolongado. Entretanto, o aspec- ros dias de hospitalização, já que o risco
to mais importante do tratamento é um de sangramento nesse período é maior.
suporte nutricional completo aliando, Por serem tubos de lúmen pequeno
quando necessário, o tratamento da (5-8 French), é necessário que a dieta
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 82 - dezembro de 2016
seja exclusivamente líquida. Esta via não gem. A aplicação diária de antibióticos
deve ser utilizada por longo período tópicos é aconselhada. A alimentação
de tempo, pois o desconforto causado pode ser iniciada assim que o animal
pela irritação da faringe e/ou laringe apresentar despertar completo da anes-
pode levar ao vômito com consequen- tesia. A retirada do tubo deve ocorrer
te deslocamento do tubo. O uso do co- apenas após o animal retornar a se ali-
lar Elisabetano é obrigatório (Center, mentar voluntariamente por pelo me-
2005). nos uma semana (Zoran, 2012).
O uso de tubos esofágicos é me- A quantidade de alimento diária
lhor opção com relação à característica deve ser calculada e dividida em quatro
do alimento forneci- ou mais porções meno-
do e à sua implantação A colocação de um res a serem fornecidas
(Center, 2005; Zoran, tubo esofágico requer ao longo do dia. A ca-
2012). Devido ser de sedação, ou mesmo pacidade estomacal do
maior diâmetro, entre anestesia. Para felino é um fator limi-
10 e 18 French, torna- isso, é importante tante no inicio da reali-
-se viável a alimentação que o animal não mentação após o jejum
com patês e/ou sachês apresente nenhuma prolongado sendo acon-
batidos. A colocação de descompensação selhável um volume de
um tubo esofágico re- hidroeletrolítica, 10 a 15 ml a cada 2 ou
quer sedação, ou mes- hemodinâmica ou de 3 horas. Deve-se forne-
mo anestesia. Para isso, coagulação. cer apenas 25% da exi-
é importante que o ani- gência energética de re-
mal não apresente nenhuma descom- pouso no primeiro dia, ampliando para
pensação hidroeletrolítica, hemodinâ- 50% no segundo dia, e assim por diante
mica ou de coagulação. (Zoran, 2012).
Após a colocação do tubo, é obri- O uso de estimulantes de apetite
gatória radiografia torácica para a ve- é desencorajado já que alguns, como
rificação do posicionamento apropria- benzodiazepínicos, são metabolizados
do. Episódios de vômito podem ser pelo fígado. Além disso, nos felinos há
observados quando o tubo estiver mal o risco da ocorrência de falência hepá-
colocado. O tubo não deve adentrar no tica fulminante com o uso de diazepam
estômago a fim de se evitar esofagite de (Center, 2005; Center, 2006; Zoran,
refluxo. A ancoragem do tubo na região 2012).
cervical deve ser feita com auxilio de Em casos de náusea mesmo com
suturas e o ostoma deve ser mantido a alimentação auxiliada por sondas, o
sempre limpo e protegido por banda- uso de antieméticos é benéfico.
5. Hepatopatias em felinos 67
Uma vez que o fígado é importan- gumas toxinas que agem sobre o cére-
te para estoque e ativação de vitaminas bro levando a manifestação dos sinais
hidrossolúveis, em pacientes com lipi- neurológicos. Os sinais variam desde
dose hepática a suplementação deve inespecíficos, como depressão, ano-
ser feita com o dobro das necessidades rexia e letargia até sinais mais agressi-
diárias requeridas, principalmente de vos como convulsões, ataxia, histeria,
tiamina (B1), de cobalamina (B12) e vi- agressividade, cegueira cortical, entre
tamina K. outros. A hiperamonemia é uma das
Devido à falta de substratos e causas mais comuns e as terapias mais
a baixa síntese de carnitina pelo fí- usuais estão relacionadas à redução
gado doente, a suplementação com desse composto. A administração de
L-carnitina é recomendada para todos lactulose via oral leva a uma redução
os gatos com lipidose hepática. do pH do cólon favorecendo a con-
Finalmente, o uso de hepatoprote- versão da amônia em amônio (NH4) ,
tores e antioxidantes, como SAMe ou molécula não absorvível pela corrente
Silimarina, auxiliam no aumento da sanguínea. O uso da lactulose é asso-
glutationa hepática. Entretanto, a cáp- ciado ao do Metronidazol ou ampici-
sula de SAMe tem liberação entérica, lina, que reduzem a carga bacteriana
por isso, quando administrado via son- sintetizadora de amônia. A alimen-
da, deve-se aumentar a dose em pelo tação de um paciente com EH deve
menos 50% devido às perdas (Zoran, ser com teores de proteína reduzi-
2012). dos. (Nelson e Couto, 2009; Webster,
Quando recebem os cuidados ime- 2010; Zoran, 2012).
diatos e de maneira intensiva, gatos Considerações Finais
com lipidose hepática apresentam óti- Considerando as peculiaridades
mas chances de recuperação completa. dos felinos quanto ao desenvolvimen-
Deve-se evitar também, o uso de fárma- to e manifestações de doenças hepato-
cos com metabolização hepática. biliares, o clínico veterinário precisa
sempre ter em mente a importância
Encefalopatia Hepática das doenças hepáticas no paciente
A encefalopatia hepática (EH) é felino para diagnóstico. O histórico e
uma condição neurológica, reversí- sinais clínicos são semelhantes e sua
vel, associada com a incapacidade do distinção por métodos diagnóstico
fígado em detoxificar neurotoxinas por muitas vezes é difícil, requeren-
inibitórias advindas do trato gastroin- do para isso procedimentos invasivos.
testinal. Amônia (NH3), mercaptanos O sucesso do tratamento está direta-
e ácidos graxos de cadeia curta são al- mente relacionado com a precocidade
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 82 - dezembro de 2016
de diagnóstico e a escolha acertada da 7. Nelson, R. W.; Couto, C. G. Doenças
Hepatobiliares no Gato. Medicina Interna de
terapia. Gatos não devem ser tratados Pequenos Animais. 4ª ed. p.520-541, 2009.
como “cães pequenos”, e por isso, o 8. Richter, K.P. Doenças do Fígado e do Sistema
conhecimento adequado das caracte- Biliar. In: Tams, T.R. Gastroenterologia de
Pequenos Animais. 2 Ed. São Paulo: Roca. Cap.9,
rísticas dos felinos pelo profissional p. 512-514, 2005.
veterinário permite a garantia do res- 9. Rothuzien. J.; Hepatopatias e Doenças do Trato
peito ao individuo e a promoção do Biliar. In: Dunn, J. K. (Ed); Tratado de Medicina
seu bem-estar quando em ambiente de Pequenos Animais. ROCA p.443-487. 2001.
5. Hepatopatias em felinos 69
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renal aguda: causas e consequências. Seminário renal policística autossômica dominante. In:
apresentado junto à disciplina de seminários SOUZA, H.J.M. Coletâneas em Medicina e
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a introdução da agulha, pode resultar que promove uma pressão sobre o ma-
em sua ruptura (Souza, 2003; Galvão, terial obstrutor, forçando sua remoção
2010). (Souza, 2003; Galvão, 2010). Após a
A introdução da sonda no lúmen ure- desobstrução uretral, é necessário rea-
tral deve ser feita até alcançar a oclusão lizar o processo de lavagem vesical. A
mecânica (tampão, urólito, coágulos). maioria dos tampões uretrais é expelida
O catéter não deve ser forçado para o in- da uretra após essa técnica, não havendo
terior do lúmen, devido à possibilidade necessidade de cateterizar toda a uretra,
de ruptura da uretra. As sondas uretrais pois o local mais comum de obstrução
flexíveis ou catéteres uretrais de polipro- uretral é na uretra peniana, que apre-
pileno são as preferidas para desobstru- senta um diâmetro interno de 0,7mm
ção uretral em gatos. Quantidades de (Souza, 2003; Galvão, 2010).
solução salina estéril são impelidas sob Após o restabelecimento do fluxo
pressão, deixando que ocorra o escoa- urinário, alguns gatos obstruem 24 a 48
mento do líquido ao redor da sonda, o horas após o alívio da obstrução primá-
8. Doenças do trato urinário inferior dos felinos 111
ria, quando a sonda uretral não é fixa- que auxilia na compensação da diurese
da. Recomenda-se, então, a fixação de pós-obstrutiva. Recomenda-se o uso
sonda uretral e sua permanência por 24 inicialmente de soluções livres de
a 48 horas em gatos com elevado grau potássio, antes mesmo da anestesia
de dificuldade para desobstrução. Após ou da tentativa de desobstrução.
a retirada da sonda, recomenda-se que Posteriormente, soluções eletrolíticas
o animal fique internado por, no míni- balanceadas, apesar de conterem pe-
mo, 24 horas para avaliar a recorrência quenas concentrações de potássio, auxi-
da obstrução e verificar se o músculo liam na correção da acidose metabólica
detrusor da bexiga já retornou a sua to- (Galvão, 2010).
nicidade (Souza, 2003; Galvão, 2010). O paciente, após a desobstrução
Os objetivos terapêuticos adicio- uretral, pode apresentar hipocalemia
nais são os de corrigir a hipercalemia, o devido à fluidoterapia e à diurese pós-
desequilíbrio de ácido/base, a desidra- -obstrutiva. É aconselhada a aferição
tação e a uremia com uma terapia apro- sérica do potássio, principalmente em
priada de líquidos e eletrólitos (Souza, gatos com bradicardia, como também
2003; Galvão, 2010). o acompanhamento eletrocardiográfico
Deve-se corrigir a uremia e preco- (Lima, 2009; Galvão, 2010).
nizar medidas que, em conjunto, cor- Quando presente a arritmia, devido
rijam a desidratação e o desequilíbrio à hipercalemia severa (8-10mEq/L),
hidroeletrolítico, como a fluidoterapia, recomenda-se o uso de moderadores
Micção por massagem vesical em paciente desobstruído. Observar coloração avermelhada da urina.
Arquivo pessoal
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1
Acadêmico em Medicina Veterinária
1. Introdução A obesidade é o
em cães e gatos [1], sen-
do que 30% a 40% des-
A obesidade é tida problema nutricional
tes últimos podem ser
atualmente como uma mais comum em cães e
considerados com so-
afecção que não se res- gatos [13], sendo que
aproximadamente 30% brepeso ou obesos [2].
tringe apenas à espécie Importante salientar que
a 40% dos gatos podem
humana. Sabe-se que um gato é considerado
ser considerados com
esse é o problema nu- sobrepeso ou obesos[5]. com sobrepeso caso seu
tricional mais comum peso exceda em 10% o
9. Obesidade felina: estudo clínico e laboratorial 117
peso ótimo e conside- um dos maiores órgãos
A descoberta das
rado obeso caso o exce- endócrinos. As princi-
adipocinas quebrou
dente seja de 20% [3]. pais adipocinas são a adi-
o paradigma de que
O tecido adiposo ponectina e leptina, am-
o tecido adiposo
branco é um tecido al- configurava-se bas exercem profundos
tamente vascularizado e simplesmente como efeitos em uma gama de
inervado. As principais um reservatório inerte, células como miócitos,
células que compõe esse sendo considerado, adipócitos, neurônios e
tecido são adipócitos, atualmente, como um hepatócitos. Sabe-se que
cuja principal função dos maiores órgãos a obesidade felina altera
fisiológica constitui-se endócrinos. a concentração das adi-
no armazenamento de pocinas o que faz essen-
triglicerídeos. Além dos cial a compreensão das
adipócitos, o tecido adiposo possui ou- mesmas no entendimento da fisiopato-
tras células, como pré-adipócitos, célu- logia da obesidade.
las endoteliais, fibroblastos e macrófa- A palavra leptina vem do grego lep-
gos. O último é conhecido pelo papel to que significa magro. Esse hormônio
de defesa imunológica celular, mas nos é produzido pelos adipócitos, tendo
últimos anos vem adquirindo impor- sua produção aumentada quando ocor-
tância no estudo da obesidade. Nos re ampliação do percentual de gordura
últimos anos notou-se que tecidos adi- corporal. Atualmente, tem-se que o
posos hipertróficos possuíam números principal papel da leptina seja o de sina-
aumentados de macrófagos com uma lizar a saciedade a um grupo de neurô-
infiltração copiosa dos mesmos em indi- nios do centro hipotalâmico relaciona-
víduos obesos. Atualmente sabe-se que do ao controle do apetite [4], portanto
os macrófagos tem importante papel na espera-se que ao intensificar a produ-
fisiopatologia da obesidade, dado que ção de leptina, como ocorre em indiví-
essas células têm uma profusa produ- duos obesos, o consumo de alimentos
ção de citocinas locais com efeitos mar- diminua, entretanto foi demonstrado
cantes na produção de adipocinas [4]. em ratos obesos que os mesmos ficam
Adipocinas são substâncias produzidas em um estado de oposição a esse hor-
pelo tecido adiposo e são caracterizadas mônio. Uma das hipóteses sobre como
como hormônios. A descoberta das adi- indivíduos obesos não diminuem o ape-
pocinas quebrou o paradigma de que o tite e permanecem com seu percentual
tecido adiposo configurava-se simples- de gordura elevado é justamente a re-
mente como um reservatório inerte, sistência à leptina. [4,5] Além de exer-
sendo considerado, atualmente, como cer efeitos hipotalâmicos, a leptina atua
118 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 82 - dezembro de 2016
também como um pró-inflamatório e do que ocorre com os humanos, a obe-
estimula o aumento do metabolismo sidade não é tida como um estado infla-
basal [6]. matório crônico de baixo grau. Estudos
A adiponectina tem é uma corre- recentes mostram que esses animais não
lação negativa com o percentual de têm alta de marcadores inflamatórios
gordura corporal, portanto gatos com circulantes, como inteleucina-6 e 1 e fa-
sobrepeso ou obesos apresentam uma tor de necrose tumoral alfa, corroboran-
menor produção desse hormônio [4]. do a hipótese de que, apesar de ocorrer
Esse hormônio exerce importantes efei- dislipidemia em gatos obesos – à seme-
tos anti-inflamatórios e antiaterogênicos lhança do que ocorre em humanos [13]
[5]. Em relação ao metabolismo energé- – , a ausência de resposta inflamatória
tico foi demonstrado que a adiponecti- impede a ocorrência de problemas car-
na possui a capacidade de aumentar a diovasculares [14].
sensibilidade tecidual à ação da insulina, Os principais fatores predisponen-
portanto, a perda de peso é um impor- tes para a obesidade incluem: predis-
tante mecanismo para aumentar a sensi- posição genética, castração, diminuto
bilidade à insulina[5]. nível de atividade física, microbiota
As consequências da obesidade são intestinal e dietas e petiscos muito ca-
preocupantes. Sabe-se que gatos obesos lóricos [15]. Diante do cenário atual, o
têm de duas a quatro clínico necessita de mé-
vezes mais chances de Sabe-se que gatos obesos todos para avaliar seus
desenvolverem diabe- têm de duas a quatro pacientes felinos, pos-
tes mellitus em relação a vezes mais chances de sibilitando diagnosticar
animais magros [7,8].
desenvolverem diabetes precocemente a elevação
Outros problemas tam-
mellitus em relação a do percentual de gordura
bém acometem gatos
animais magros. corporal e no caso de pa-
em decorrência da obe- cientes já com sobrepeso,
sidade, como dermatoses, neoplasias, estimar o quão acima da normalidade o
lipidose hepática, urolitíase além do paciente encontra-se. A fim de buscar
aumento de chance de neoplasias. E melhores respostas sobre a obesidade,
até mesmo uma moderada alteração do de forma a compreendê-la em um pa-
peso é tida como deletério – experimen- tamar mais satisfatório é que se fez um
tos com ratos e cães mostram que ani- estudo detalhado a respeito.
mais com maior percentual de gordura
corporal possuem menor expectativa de 2. Materiais e métodos:
vida [9,10,11,12]. O trabalho apresenta licença conce-
No caso dos gatos, diferentemente dida pelo CEUA sob número 242/2014.
9. Obesidade felina: estudo clínico e laboratorial 119
2.1 Gatos: la, apófises vertebrais e proeminências
ósseas do osso coxal não visíveis, mas
A população em estudo foi consti-
facilmente palpáveis. Pouca gordura
tuída por 100 gatos (Feliscatus), escolhi-
abdominal.
dos aleatoriamente de um contingente
• Escore 4: Costelas, espinha da escápu-
de 250 animais resgatados de vida er-
la, apófises vertebrais e proeminências
rante, residentes em um abrigo em Belo
ósseas do osso coxal não facilmente
Horizonte. Cada animal passou por exa-
palpáveis. Clara distensão abdominal.
me clínico completo.
• Escore 5: Grandes depósitos de gor-
2.2 Aferição da gordura dura torácicos e abdominais com dis-
corporal: tensão abdominal proeminente.
A composição de gordura foi esti- 2.3 Coleta e conservação do
mada por dois métodos: o Índice de material biológico
Massa Corporal Felina (FBMI)™ [16] e Todas as amostras foram coletadas
o escore visual. O primeiro método usa no próprio ambiente de moradia dos
as medidas morfométricas da circunfe- gatos. A coleta de sangue foi realiza-
rência torácica na altura da nona costela da prioritariamente da veia jugular e,
e a distância do calcâneo até a patela. As ocasionalmente, da veia cefálica com
medidas obtidas eram então aplicadas à seringa (BD, Juiz de Fora, Brasil) de 5
fórmula descrita na Fig. 1, obtendo-se ml e agulha BD (25 x 0,7. 22GX1). O
então a porcentagem de gordura corpo- sangue obtido foi fracionado em tubo
ral. Já a avaliação do escore visual varia- para soro (com gel separador Hemogard
va de um (muito magro) a cinco (obeso) cap. 3,5ml). As amostras foram conser-
(Fig. 2) [17]. Os seguintes critérios fo- vadas em uma caixa térmica com gelo
ram utilizados para definir em qual es- biológico para o posterior encami-
core os animais se enquadravam: nhamento ao Laboratório de Análises
• Escore 1: Costelas, espinha da escápu- Clínicas Patologia Clínica da Escola de
la, apófises vertebrais e proeminências Veterinária da UFMG.
ósseas do osso coxal facilmente visí-
veis. Perda de massa magra e ausência 2.4 Exames realizados
de cobertura de gordura sobre gradil
costal. 2.4.1 Perfil bioquímico
• Escore 2: Costelas, espinha da escápu- A amostra, colocada em tubo com
la, apófises vertebrais e proeminências gel separador, foi centrifugada por cin-
ósseas do osso coxal visíveis. Gordura co minutos a 4000 rpm (Centribio®,
abdominal mínima. modelo 80-2B-5ML, São Paulo, Brasil),
• Escore 3: Costelas, espinha da escápu- no qual foi separado o soro para reali-
120 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 82 - dezembro de 2016
zação dos exames: perfil renal (ureia tísticas usaram-se frequências abso-
e creatinina), perfil hepático (ALT lutas e percentuais (relativas) para a
- Alanina aminotransferase; AST - apresentação das variáveis estudadas
Aspartatoaminotransferase, GGT - e dispostas em tabelas. Para a reali-
Gama glutamiltranspeptidase e FoAl zação das associações estatísticas foi
- Fosfatase alcalina) e proteinograma utilizado o método de correlação.
(proteínas totais e frações - albumi-
Para as associações entre variáveis o
nas e globulinas). Todos esses exames
nível de significância assumido foi p<
que compõem o perfil bioquímico fo-
0,05, para um intervalo de confiança
ram realizados no aparelho automático
(IC) de 95%. É importante ressaltar
Cobas® (São José do Rio Preto, Brasil).
que r é o coeficiente de correlação de
2.5 Análise estatística Pearson e um r = 1 significa uma cor-
Foram utilizados métodos de esta- relação perfeita positiva entre duas
tística descritiva e como medidas esta- variáveis.
Circunferência toráxica
Percentual Distância patela calcâneo
0,7062
de gordura Distância patela calcâneo
corporal 0,9156