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CARLOTA BOTO Traição dos intelectuais:

A Traição dos
Intelectuais, de
Julien Benda, trad.
Paulo Neves, São
Paulo, Peixoto Neto,
2007, 288 p.

CARLOTA BOTO
é professora
de Filosofia da
Educação da USP e

tema
autora de A Escola
do Homem Novo:
Entre o Iluminismo

um
e a Revolução
Francesa (Editora
Unesp).

nosso
contemporâneo
livro que a Editora Peixoto Neto A idéia de justiça é vista por Benda como
lançou recentemente sob o tí- um valor desinteressado, regulador do jul-
tulo A Traição dos Intelectuais gamento e princípio da crítica.
revisita um debate antigo, cujo O intelectual de Benda recorrerá, sim,
foco era o de interpelar a tarefa ao lugar público que obteve e ao prestígio
pública conferida às elites letra- que o reconhecimento lhe auferiu, mas
das das sociedades européias. apenas em nome da busca da verdade e da
O ano era 1927. O autor, Julian defesa da justiça. Suas paixões não pode-
Benda. O tema, os intelectuais. O rão ser jamais o móbil de sua ação. Benda
livro originalmente intitulado La concebe os intelectuais como sujeitos que
Trahison des Clercs constituía inequivocamente se orientam por padrões
um libelo; uma apologia do que universais de razão e de verdade – movidos
tencionava enunciar. Tratava-se, sempre pelo desapego de valores materiais
para o autor, de definir, de especificar, de e de benefícios pessoais.
particularizar o ofício dos homens de letras. Os clérigos ou intelectuais seriam,
Configurava-se, nesse sentido, como uma na interpretação de Julian Benda, “todos
tarefa educativa: um gesto de pedagogia aqueles cuja atividade, por essência, não
política. Como definir um intelectual? persegue fins práticos, e que, obtendo sua
Em primeiro lugar, registra-se seu com- alegria do exercício da arte ou da especu-
promisso com a idéia de verdade e com a lação metafísica, em suma, da posse de um
defesa da justiça. Como meio, o recurso bem não-temporal, dizem de certa maneira:
imprescindível da razão – e a conseqüente ‘meu reino não é deste mundo’” (p. 144). O
fuga a quaisquer limitações que, contra a autor recorda a desavença entre Michelan-
racionalidade, pudessem ser apresentadas. gelo e Da Vinci, em que o primeiro critica
Julian Benda sugere que o único compro- o outro “por sua indiferença aos infortúnios
misso inamovível do intelectual reside na de Florença e o mestre da Ceia responde
justiça, na verdade e na razão. Qualquer que, de fato, o estudo da beleza absorve
outra função que mobilize sua escrita é todo o seu coração” (p. 146). Se o sítio do
considerada traição. intelectual é o espaço público, este perde
Valendo-se do termo “clérigo” para re- sua legitimidade quando mobiliza e confere
ferir-se aos homens de letras de sua época, prioridade a paixões de classe, de raça ou
Benda explicita que os valores que captu- de nação. No parecer de Benda, trai os va-
ram o intelectual serão necessariamente lores intelectuais o indivíduo que renuncia
desinteressados; como se pudessem existir à busca dos universais – seja a busca da
a “justiça abstrata, a verdade abstrata, a verdade, seja a busca da justiça – em nome
razão abstrata” (p. 105). No limite, o lugar de interesses particulares, sempre menores.
do intelectual seria o de buscar as coisas A crítica que orienta todo o livro decorreria
realmente universais, o que implicaria, em exatamente da constatação da dificuldade,
outras palavras, esquivar-se da defesa de dentre os homens letrados de seu tempo,
particularismos de raça, de nação ou mesmo de buscarem estabelecer uma moral e uma
de classe. O intelectual de Benda é aquele razão que abarcassem tal dimensão de uni-
que jamais se alinha automaticamente a versalidade. Diz o autor o seguinte:
uma causa, seja para seguir o líder, seja para
acatar o partido. Por ser assim, o intelectual “Não é apenas a moral universal que os
se opõe ao culto do partidarismo político. O intelectuais modernos abandonaram ao
verdadeiro intelectual não se poderá confun- desprezo dos homens, é também a verdade
dir com o sujeito das circunstâncias; aquele universal. Aqui os intelectuais mostraram-se
que se vale do sentido de oportunidade e da realmente geniais em sua aplicação de servir
fugacidade momentânea da glória. Os va- às paixões leigas. É evidente que a verdade é
lores intelectuais teriam algo de estrutural, um grande empecilho para os que querem se
que lhes conferiria solidez e credibilidade. afirmar no distinto: ela os condena, a partir

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do momento em que a adotam, a sentir-se em telectual poderá até permanecer militante
um universal. Que alegria, então, para eles, desde que respeite “duas condições: a)
ficar sabendo que esse universal é apenas pregar a religião do justo e do verdadeiro
um fantasma, que existem apenas verdades (e não aquela do interesse do próprio gru-
particulares, verdades lorenas, verdades po); b) pregá-la com a consciência da sua
provençais, verdades bretãs, cuja concor- ineficácia prática – não com a pretensão de
dância, disposta pelos séculos, constitui o salvar o mundo”. A verdade – diz, ainda,
que é benéfico, respeitável, verdadeiro na Bobbio sobre Benda – está sempre melhor
França (o vizinho fala do que é verdadeiro à esquerda porque o homem de esquerda
na Alemanha) […] e o que é verdade deste pode declarar a causa a que serve; o homem
lado dos Pireneus é perfeitamente erro do de direita não fará isso:
outro lado” (p. 180).
“Os primeiros declaram desejar a justiça
Visto com desconfiança pela esquerda social e pensam efetivamente nisso (mesmo
e pela direita, o papel do intelectual nunca que os meios não sejam sempre idôneos); os
é confortável. Apegado a atividades de es- outros dizem desejar salvar a pátria, a civili-
pírito, é desinteressado quanto a finalidades zação, a liberdade, e pensam completamente
práticas. Adotando como critérios regulado- no contrário; no que pensam efetivamente,
res princípios abstratos como humanidade na defesa dos próprios interesses, não têm a
e justiça, tem como arma a escrita. Benda coragem de dizer, e se o dissessem, ninguém
considerava, no entanto, que o apego às os apoiaria, e por isso agem continuamente
coisas particulares e o sistemático desprezo de má-fé” (Bobbio, 1997, p. 49).
pelo universal seriam paradoxalmente ca-
racterísticas do intelectual moderno. Este Mesmo assim, os valores honrados pelo
teria aderido à força das coisas temporais. intelectual seriam, até certo ponto, desen-
Teria se distanciado dos valores desinteres- carnados, porque sua condição é a de serem
sados. Enfim, teria traído o seu lugar; posto universais; como se aquilo que se defende
que haveria irreconciliável contraposição aqui e agora pudesse e devesse ser defensá-
entre a “vocação para valores perenes, abs- vel por e para todo o gênero humano.
tratos e universais e aquela que se orienta Ao comentar o tema, Elide Rugai Bastos
por valores contingentes – nação, raça, e Walkíria D. Leão Rêgo observam que
classe partido” (Bastos & Rêgo, 1999, p. o dilema primeiro do intelectual reside
25). Para que servem, afinal, esses sujeitos efetivamente nesse pendular conflito entre
da escrita? Quando se poderá considerar distância e envolvimento em relação à so-
legítimo o uso da palavra e do prestígio ciedade (Bastos & Rêgo, 1999, p. 8). Daí
obtidos como ferramentas profissionais para a necessidade da crítica como elemento
persuadir, para convencer e para enfrentar imprescindível para firmar sua identidade.
embates e polêmicas? Benda defendia, para Os problemas apresentados à vida social
os intelectuais, a vocação para o universal; são, todos eles, culturais, não devendo, por-
um compromisso com parâmetros éticos tanto, ser lidos de maneira naturalizada. A
situados para além das circunstâncias; naturalização do mundo e de seus conflitos
dirigido a bens culturais que pertencem à é exatamente o que contraria a atitude crí-
humanidade. Para Benda, quando “desce à tica. Como assinalam as referidas autoras,
praça pública” (p. 148) defendendo qualquer há uma dimensão pedagógica no território
outro interesse não decorrente de seu com- intelectual: “educador, persuasor, guardião
promisso com a verdade e com a justiça, o dos valores universais, compromissado com
intelectual trai sua função. a justiça social, crítico do poder” (Bastos
Norberto Bobbio (1997, p. 47), a pro- & Rêgo, 1999, p. 14). Tradicionalmente, a
pósito desse texto de Benda, destaca que marca desse ofício vem indicada pela idéia
o autor não condena qualquer intelectual de interesse público, sendo público aquilo
militante como um clérigo traidor. O in- que pertence a todos e que, por tal razão,

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coincidirá com o interesse geral – com o outra atividade. Com efeito, para o homem,
bem comum. A tensão do ofício intelectual enquanto homem, nada tem valor a menos
residiria no fato de ele não poder sob qual- que ele possa fazê-lo com paixão” (Weber,
quer hipótese transigir em relação ao uso da 1999, pp. 24-5).
racionalidade, o que não raro o transformaria
em um “tipo humano atormentado” (Bastos A n co r an d o a in s p ir ação em u m
& Rêgo, 1999, p. 11). O uso incessante da movimento obstinado de esforço profundo,
razão crítica produz inconformismo e a o apego ao trabalho sistemático de investiga-
busca por transcender o existente. ção afasta o professor universitário – como
Quando lemos o livro de Benda, neces- intelectual – da imposição de convicções ou
sariamente nos deparamos com a imagem de crenças em tom dogmático. Para Weber,
próxima daquela que Weber também oferece o professor não se confunde com o profeta,
sobre problema semelhante. Weber não com o guia ou mesmo com o líder. Sua tarefa
aborda em abstrato a temática dos intelec- é a de oferecer métodos de pensamento e
tuais: aproxima a profissão de cientista do instrumentos de investigação que possam
ofício de professor universitário. Haveria, aproximar a si mesmo e a seus alunos dos
para ele, uma ética específica para todos os fatos, da realidade. Isso envolve um trabalho
que abraçam a ciência como vocação; ética meticuloso de investigação e a tessitura de
essa substancialmente distinta da que se dá referências de interpretação para as quais
na atividade política. Para Weber (1999, p. será imprescindível o escopo teórico que
23), dentre todas as tarefas pedagógicas, a só se alcança por meio de estudo sistemá-
mais difícil seria exatamente aquela “que tico. Sendo assim, a lógica da atividade
consiste em expor problemas científicos de intelectual seguirá necessariamente uma
maneira tal que um espírito não preparado, ética da convicção, distinta da ética da res-
mas bem-dotado, possa compreendê-lo e ponsabilidade política, na qual o elemento
formar uma opinião própria […]. Aquela decisivo será o resultado da ação. Para o
capacidade depende de um dom pessoal e de político – dirá Weber (1999, p. 106) – três
maneira alguma se confunde com os conhe- qualidades serão determinantes: “paixão,
cimentos científicos de que seja possuidora sentimento de responsabilidade e senso de
uma pessoa”. A vocação da ciência se traduz proporção”. As intuições científicas, por sua
pelo apego à atividade investigativa, pela vez, dependeriam de fatores, muitas vezes,
obstinação em decifrar a realidade: ignorados, e que não podem ser reduzidos a
paixões, eleições e nem mesmo à intuição,
“Conseqüentemente, todo aquele que se muito embora
julgue incapaz de, por assim dizer, usar
antolhos ou de se apegar à idéia de que o “[…] as idéias nos acodem quando não as
destino de sua alma depende de ele formu- esperamos e não quando, sentados à nossa
lar determinada conjectura e precisamente mesa de trabalho, fatigamos o cérebro a
essa, a tal altura de tal manuscrito, fará procurá-las. É verdade, entretanto, que
melhor em permanecer alheio ao trabalho elas não nos acorreriam se, anteriormente,
científico. Ele jamais sentirá o que se pode não houvéssemos refletido longamente em
chamar a ‘experiência’ viva da ciência. nossa mesa de estudos e não houvéssemos,
Sem essa embriaguez singular, de que com devoção apaixonada, buscado uma
zombam todos os que se mantêm afastados resposta” (Weber, 1999, p. 26).
da ciência, sem essa paixão, sem essa cer-
teza de que ‘milhares de anos se escoaram A perspectiva de Gramsci sobre o tema
antes de você ter acesso à vida e milhares envereda por outro caminho. Como observa
se escoarão em silêncio’ se você não for Lahuerta (1998, p. 133),
capaz de formular aquela conjectura; sem
isso, você não possuirá jamais a vocação “Gramsci colocou no coração do pensamen-
de cientista e melhor será que se dedique a to marxista a preocupação com o momento

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consensual da dominação. Fazendo isso, não
apenas vertebrou uma originalíssima teoria
do Estado, como trouxe à tona o tema dos
intelectuais – os ‘funcionários do consenso’
–, dando-lhes um destaque que jamais se
havia conseguido no léxico marxista”.

Gramsci amplia o conceito de intelec-


tuais, destacando sua função de organizado-
res da cultura (Beired, 1998, p. 124). Para
dominar, o Estado precisaria não apenas
do monopólio legítimo da força física, mas
também da produção de níveis de consenti-
mento da sociedade. Sem a formação desse
consenso, o próprio Estado não subsisti-
ria. Em função disso, haveria diferentes
categorias de intelectuais, e seus variados
estilos. Em primeiro lugar, estariam aque-
les que agem apenas como “comissários
do grupo dominante para o exercício das
funções subalternas da hegemonia social
e do governo político” (Gramsci, 1982, p.
11) proporcionando a formação do consenso
como força de coesão do Estado, sendo que
o cimento desse consenso seria exatamente o
prestígio e a confiança desses protagonistas
do convencimento. Porém, o grupo domi-
nante não é detentor exclusivo do predicado
intelectual. Nos termos de Gramsci (1982,
p. 17), sempre é possível existir “células
intelectuais de novo tipo”. Haveria, então,
intelectuais de diversos matizes que não
comporiam o aparato hegemônico da socie-
dade, mas, na outra margem, formulariam a
agenda alternativa. Nesse sentido, Gramsci
(1982, pp. 8-9) dirá que:

“Formam-se, assim, historicamente, cate-


gorias especializadas para o exercício da
função intelectual; formam-se em conexão
com todos os grupos sociais, mas especial-
mente em conexão com os grupos sociais
mais importantes, e sofrem elaborações
mais amplas e complexas em ligação com
o grupo social dominante. Uma das mais
marcantes características de todo grupo
social que se desenvolve no sentido do
domínio é sua luta pela assimilação e pela
conquista ideológica dos intelectuais tradi-
cionais, assimilação e conquista que são tão
mais rápidas e eficazes quanto mais o grupo

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em questão elaborar simultaneamente seus tuais: “O retraimento do engajamento ou o
próprios intelectuais orgânicos”. silêncio dos intelectuais é, aqui, signo de
uma ausência mais profunda: a ausência
Sob tal perspectiva, a ação intelectual de um pensamento capaz de desvendar e
radicaria na capacidade dirigente e organi- interpretar as contradições que movem o
zativa da sociedade. Haveria os intelectuais presente” (Chauí, 2006, p. 30).
tradicionais, integrantes de certa aristo- Jean-Paul Sartre, embora por outro
cracia togada da sociedade, que engloba caminho, também sublinha esse caráter
cientistas, padres, advogados, professores, necessariamente militante da atividade
etc. Pretendendo constituir-se como gru- intelectual. Para Sartre (1994, pp. 14-5),
pos sociais e profissionais autônomos em “o intelectual é alguém que se mete no que
relação à classe dominante, eles “sentem não é de sua conta e que pretende contestar
com ‘espírito de grupo’ sua ininterrupta o conjunto das verdades recebidas, e das
continuidade histórica” (Gramsci, 1982, condutas que nelas se inspiram”. Sendo
p. 6), bem como o prestígio público de assim, a pessoa se valeria da notoriedade
sua ocupação. Assim, por exemplo, “a porventura obtida em seu campo profis-
atitude do camponês diante do intelectual sional específico para interrogar questões
é dúplice e parece ser contraditória: ele candentes da sociedade. O exemplo ofe-
admira a posição social do intelectual e do recido por ele é bastante claro: “Os cien-
funcionário público, em geral, mas finge tistas que trabalham na fissão do átomo
às vezes desprezá-la; isto é, sua admiração para aperfeiçoar os engenhos da guerra
mistura-se instintivamente com elementos atômica são cientistas, eis tudo” (Sartre,
de inveja e raiva apaixonada” (Gramsci, 1994, p. 15). Porém, caso eles escrevam
1982, p. 13). Daí a necessidade social que um “manifesto para advertir a opinião
propicia o surgimento dos intelectuais pública contra o uso da bomba atômica,
orgânicos na sociedade, os quais, de fato, transformam-se em intelectuais” (Sar-
representariam as diversas posições no tre, 1994, p. 5). Ser intelectual significa,
tabuleiro social. portanto, sair da competência estrita das
A visão de Gramsci acerca dos intelectu- universidades para recorrer a um sistema
ais teria sido determinante para a formulação de valores dirigido em prol da defesa ou
de seu conceito de hegemonia: “A luta pela da crítica de fenômenos sociais.
hegemonia implica uma ação que, voltada A tomada de consciência – na perspecti-
para a efetivação de um resultado objetivo va de Sartre – leva o intelectual a defender
no plano social, pressupõe a construção de causas que, por vezes, o transformarão em
um universo intersubjetivo de crenças e testemunha do despedaçamento das socie-
valores” (Coutinho, 1989, p. 67). A acepção dades. Note-se que, na perspectiva sartriana,
de hegemonia em Gramsci – segundo Carlos nem todo técnico do saber se traduz neces-
Nelson Coutinho – será estabelecida pela sariamente em um intelectual: para sê-lo
dinâmica de transformação da autoridade deverá antes tomar consciência das próprias
em consentimento. Sendo assim, o papel contradições. O intelectual – diz Sartre – não
ocupado pelos intelectuais tem a ver com tem mandato algum. Oriundo de um meio
a idéia de formação da opinião pública, que, em geral, não é o mais desfavorecido,
mediante diálogo e interlocução. Por esse ele trairá sua classe de origem. Por sua vez,
motivo, Gramsci vincula a tarefa intelec- as camadas populares não se reconhecerão
tual aos jogos complexos que interagem nele. Assim, haverá suspeita por todo lado:
na correlação de forças da sociedade, aos das classes dominantes, temerosas do efeito
embates da sociedade civil. Os intelectuais da crítica; das classes médias, das quais
constituiriam um alicerce fundamental na ele se afastou; e das classes populares,
ação transformadora e na construção de descrentes de suas palavras. Não é sem
uma vida social democrática e progressista. sofrimento que ele enfrenta essa condição
Daí, talvez, o risco do silêncio dos intelec- de deslocado social:

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“Ele é um humanista desde a infância: isso vê sempre entre a vocação formalmente
significa que o fizeram acreditar que todos universal inerente ao seu trabalho e os fins
os homens eram iguais. Ora, quando ele se particularistas da classe que o controla”
vê, toma consciência de ser, em si mesmo, a (Leopoldo e Silva, 2006, p. 156). Para lidar
prova da desigualdade das condições huma- com isso,
nas. Ele possui um poder social que decorre
de seu saber vertido a uma prática? Mas ele “Sartre indica um caminho: o trabalho persis-
chegou a esse saber – filho de funcionário, tente de decifração da ideologia, de recom-
de alto assalariado ou de representante das posição da verdade histórica, de identificação
profissões liberais – enquanto herdeiro: a dos mitos. Nisso consistiria a radicalidade
cultura já estava em sua família antes de ele da tarefa do intelectual vista como prática
nascer – nascer em sua família ou nascer na política. Ao fim e ao cabo, assumir-se como
cultura é a mesma coisa. E, se ele se origina um produto das classes médias, mas que sou-
das classes trabalhadoras, só pôde ter suces- be transformar as técnicas do saber prático
so pela única razão de que um sistema de em técnicas de veracidade, de verificação
seleção complexo e jamais justo eliminou a da verdade, isto é, da separação completa
maior parte de seus camaradas. De qualquer entre verdade e mito; alguém que tenta
maneira, ele é possuidor de um privilégio fazer da experiência da contradição subje-
injustificado, mesmo – e, num certo sentido, tiva ocasião de desvelamento das tensões
sobretudo – se venceu brilhantemente todas objetivas” (Silva, 2006, p. 159)”.
as provas. Esse privilégio – ou monopólio
do saber – está em radical contradição com o Ou, para recorrer às palavras do próprio
igualitarismo humanista. Em outros termos, Sartre (1994, p. 33):
a ele deveria renunciar. Mas, como ele é esse
privilégio, não pode renunciar a ele sem se “[…] enquanto intelectual ele pesquisa: as
abolir, o que contradiz o instinto de vida tão limitações sutis ou violentas do universal
profundamente enraizado na maior parte dos pelo particularismo e da verdade pelo mito,
homens” (Sartre, 1994, pp. 24-5). no seio do qual ele parece suspenso, fizeram-
no pesquisador. Para começar, pesquisa a
Sem ter recebido mandato algum, o in- si mesmo, para transformar em totalidade
telectual operaria com duas ferramentas: a harmoniosa o ser contraditório que lhe foi
perpétua autocrítica, e a associação irrestrita designado. Mas este não pode ser seu único
com as parcelas desfavorecidas econômi- objeto, pois só pensa encontrar seu segredo e
ca e politicamente. Sartre adverte, ainda, resolver sua contradição orgânica aplicando
que, embora faça um sistemático esforço à sociedade de que é produto – sua ideologia,
no sentido da universalização, não cabe suas estruturas, suas opções, sua praxis – os
ao intelectual reivindicar para si próprio a métodos rigorosos que lhe servem em sua
posse da universalidade. Se fizer isso, ele especialidade de técnico do saber prático:
“recai na velha ilusão da burguesia, que se liberdade de pesquisa (e de contestação),
toma pela classe universal” (Sartre, 1994, p. rigor da pesquisa e das provas, busca da
47). É preciso, então, tomar consciência de verdade (desvelamento do ser e dos seus
que “a universalidade ainda não está pronta, conflitos), universalidade dos resultados
está perpetuamente a fazer” (Sartre, 1994, adquiridos”.
p. 35), sendo, antes, uma busca do que uma
conquista já dada. Será realmente possível recorrer a essa
O ofício do intelectual sartriano tem “universalidade por construir” evocada
por pressuposto – de acordo com Franklin por Sartre? Como obtê-la, assegurá-la e
Leopoldo e Silva (2006, p. 156) – a cons- compartilhá-la? Eis um importante debate,
tatação de que a “universalidade burguesa evidentemente nada simples. Se as verdades
é abstrata”. Por ser assim, ele se traduzirá não são dadas territorialmente, os critérios
por essa consciência dilacerada; já que “se de seu julgamento certamente o são. De fato,

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aquilo que parece ser verdade para um povo
pode não ser, na perspectiva de seu vizinho.
Aquilo que é justo para uma sociedade não
será necessariamente justo na apreciação de
outra. Os intelectuais pertencem a um tempo
e a um espaço, e suas circunscrições em
contextos específicos certamente marcarão
a tônica de seus discursos.
Como bem observa Edward Said, o
próprio discurso intelectual é sempre fa-
lado numa língua qualquer, que tem um
léxico próprio, que assegura formas de
expressão e de representação do mundo.
Quando as línguas formulam os usos que
fazem dos conceitos de que dispõem, elas
expressam estereótipos e ideologias que,
pela mesma razão, transparecem no deba-
te intelectual falado naquele idioma. Há
sempre um nós e um eles que se alimentam
de generalizações. Daí a dificuldade seja
para pensar seja fundamentalmente para
nomear o universal.

“Hoje em dia, é muito freqüente ouvir


intelectuais acadêmicos norte-america-
nos ou britânicos falarem sobre o mundo
islâmico; são abordagens feitas de forma
redutora e, a meu ver, irresponsável, sobre
algo denominado o ‘islã’ – cerca de um
bilhão de pessoas, dezenas de sociedades
distintas, meia dúzia de línguas principais
como o árabe, o turco e o iraniano, todas
elas espalhadas por cerca de um terço do
planeta. Ao usarem essa única palavra,
parecem considerá-la um mero objeto
sobre o qual se podem fazer grandes ge-
neralizações que abrangem um milênio
e meio da história dos muçulmanos, e
sobre o qual antecipam, descaradamente,
julgamentos a respeito da compatibilidade
entre o islã e a democracia, o islã e os
direitos humanos, o islã e o progresso.
[…] Trata-se antes de um coro que repete
a visão política prevalecente, instigando-a
a aderir a um pensamento mais corpora-
tivo e, gradativamente, a uma idéia cada
vez mais irracional de que ‘nós’ estamos
sendo ameaçados por ‘eles’. O resultado é
a intolerância e o medo, em vez da busca
do conhecimento e do sentido de comu-
nidade” (Said, 2005, pp. 42-3).

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Pode-se dizer que talvez o primeiro De alguma maneira, a tradução acontecerá
requisito da atividade intelectual seja a quando se for capaz de proceder ao esforço
necessária desnaturalização dos objetos dialógico de se colocar no lugar do outro.
do pensamento, fazer cair por terra o que Só assim poderia subsistir a atualidade da
se credita por certeza. De fato, o discurso defesa de um ambiente intelectual no qual
moderno sobre a verdade realmente se será razoável lidar com a categoria da uni-
esquece de expor a provisoriedade de suas versalidade.
referências e o caráter de construção his- Deve-se notar que, como argumenta
tórico-social que possuem seus postulados. Marco Aurélio Nogueira, o relativismo,
Não há fixidez nos conceitos que nomeiam como princípio, fere os caminhos da ciên-
as coisas. Palavras, conceitos e discursos cia, já que impede o avanço e o acúmulo do
de verdade poderão ser facilmente tradu- conhecimento produzido. Isso não supõe,
zidos como cristalizações de percepções entretanto, que se deixe de reconhecer a
de mundo, abarcando uma dimensão ni- provisoriedade das conclusões e a histo-
veladora e genérica que ocultará, por ser ricidade dos pressupostos que dirigem as
assim, a própria dinâmica do “mundo” investigações:
que os originou. Nesse sentido, “o dever
do intelectual é mostrar que o grupo não é “A admissão de que existem pontos de vista
uma entidade natural ou divina, e sim um variados, cada um com sua dose de verdade
objeto construído, fabricado, às vezes até e merecedor de idêntico respeito, não exclui
mesmo inventado” (Said, 2005, p. 44). A a aceitação da idéia de que algumas verdades
possibilidade de proceder à universalização são mais verdadeiras do que outras. Pois
virá sempre acoplada a essa tarefa de tra- alguns pontos de vista, por se colocarem
dução cultural, sem a qual cada povo toma numa perspectiva mais totalizante, serem
seus próprios conceitos e referências como mais perspicazes, incorporarem valores
a máxima expressão da verdade. Deverá mais generosos ou simplesmente domina-
ocorrer, portanto, metodológico esforço rem maior quantidade de conhecimentos e
para superar os limites das fronteiras na- informações, conseguem chegar mais perto
cionais, sem o qual qualquer tentativa de do que se costuma chamar de ‘essência das
generalização será vã. coisas’. O respeito às várias ‘verdades’ não
Recusando-se, todavia, a acatar o prin- pode ser confundido com a crença cética
cípio do relativismo – tão caro ao discurso na impossibilidade de se chegar à verdade
pós-moderno –, Said condena a exaltação ou com a postura que se nega a admitir
da indiferença, que se costuma fazer em a superioridade de certas opiniões sobre
nome da legitimação exclusiva da particula- outras. A idéia moderna de que a verdade
ridade e irredutibilidade dos ditos jogos de é relativa significa basicamente que as
linguagem. De fato, nos dias que correm, é conclusões científicas são históricas e pre-
bastante comum a defesa da relativização de cisam ser sempre revistas, não que não se
quaisquer princípios, como enunciados que possam alcançar conclusões categóricas”
podem se confrontar com outros, igualmente (Nogueira, 2001, pp. 32-3).
válidos, como dispositivos discursivos. Po-
rém, refletir acerca de situações concretas Hoje, com as novas tecnologias da
e históricas não corresponderia apenas a informação, com a rapidez incrível das
trabalhar com discursos. Para Said, trata- formas de comunicação digital e com a
se de representar de maneira articulada o aceleração dos processos de produção,
sofrimento coletivo dos povos: “A tarefa divulgação e extensão da cultura letrada,
do intelectual é universalizar de forma há formas diversas para se expressar e para
explícita os conflitos e as crises, dar maior se acessar o conhecimento produzido. O
alcance humano à dor de um determinado lugar do intelectual universitário concor-
povo ou nação, associar essa experiência ao re, sem dúvida alguma, com aquele que é
sofrimento de outros” (Said, 2005, p. 53). ocupado por articulistas de colunas de jor-

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nais impressos, os quais, por sua vez, têm de mensuração da atividade acadêmica. Na
como concorrentes, além dos comentários universidade pública brasileira hoje, para
televisivos, magazines de sites e portais da os órgãos de avaliação, a qualidade das
internet. Há pulverização nas formas de se aulas é algo pouco importante. A extensão
escrever a crítica. Como qualificar o lócus da universidade para fora de suas fronteiras
da ação intelectual nos dias de hoje? Para também não é valorizada. O fundamental é
o professor universitário, muitas vezes, exatamente que “cada idéia vire um artigo,
parece mais cômodo e seguro permanecer cada artigo, uma tese”, que os currículos
tomando por interlocutores únicos um lattes cresçam de maneira tão veloz quan-
círculo restrito de acadêmicos, mediante to possível, e que o esforço obstinado do
escritos destinados a revistas especializa- intelectual para o estudo, para a pesquisa
das – aqueles que são feitos para poucos e para a compreensão seja substituído pelo
e pelos quais somos avaliados. Há pouco afoito empenho na produção de resultados
interesse pela divulgação do debate inte- palpáveis. Isso impede – como, por outra
lectual por parte daqueles que produzem vertente, também destacava Tragtenberg
a pesquisa dita “de ponta”. Delega-se (1979, p. 22) no final dos anos 70 – que o
essa tarefa, porque não há tempo para se intelectual possa
pensar nisso… Cabe indagar se o diálogo
acadêmico de nosso tempo não teria certa “[…] agir como homem de pensamento e
marca elitista, que alheia a universidade do pensar como homem de ação. A separação
mundo ao qual ela pertence e sobre o qual entre ‘fazer’ e ‘pensar’ constitui-se numa
ela – queira ou não – se referirá. das doenças que caracterizam a delinqüência
Seja como for, o que significa defender acadêmica; a análise e discussão dos pro-
o compromisso com a justiça, a verdade, a blemas relevantes do país constituem um
liberdade e a razão (na perspectiva abra- ato político, uma forma de ação, inerente
çada por Benda) em um mundo marcado à responsabilidade social do intelectual. A
pela fragmentação, pelo relativismo e pelo valorização do que seja um homem culto
pós-moderno elogio das singularidades? está estritamente vinculada a seu valor na
Abraçar a diferença sem identificar pontos defesa de valores de cidadania essenciais, ao
de unidade, de convergência, de reconhe- seu exemplo revelado não pelo seu discurso,
cimento, pode significar apenas a recolha mas por sua existência e ação”.
da dispersão. A atividade intelectual perde,
pois, um sentido que não deveria ser rom- A universidade fecha-se sobre seu pró-
pido: o da interlocução. prio circuito. Hoje, com raras exceções, a
Em meados dos anos 80, José Arthur esmagadora maioria de nossos professores
Giannotti publicava um polêmico livro universitários não costuma fazer uso da
intitulado A Universidade em Ritmo de palavra para interpelar temas contempo-
Barbárie, cuja tese principal era a de que, râneos. O professor universitário deste
nas universidades da época, o sábio convi- início de século não se mete no que não
via com o sabido: “Cada idéia é um artigo, lhe diz respeito – e talvez não tenha sequer
cada artigo cevado, uma tese. Cada fala é curiosidade sobre o mundo à volta de sua
uma conferência e cada visita a um colega atividade de pesquisa. Cabe apenas pergun-
vale por um encontro científico. Em geral tar se não foi a própria universidade quem
apresentam currículos volumosos e chegam se auto-atribuiu esse lugar. É claro que se
rapidamente ao topo da carreira, onde se pode dizer que “a crise dos intelectuais, no
instalam de vez. A estratégia mais eficaz sentido que contemporaneamente se em-
é não fazer onda, ser notado sem provocar presta ao tema, confunde-se com a crise das
diferenças” (Giannotti, 1986, p. 53). Mais de utopias” (Coelho, 2006, p. 110). Todavia,
vinte anos passados desde a publicação des- será que nos contentamos em nos tornar o
sa advertência, vivemos um tempo no qual que Sartre chamaria de “técnicos do saber
parecem ter sido uniformizados os critérios prático”? Seja como for, podemos, para

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concluir, tomar de empréstimo a apreciação uso predominante, ainda que não exclusivo
de Renato Janine Ribeiro (2006, P. 141) a da expressão ‘opinião pública’”.
propósito do assunto:
Finalmente, pode-se dizer que veio em
“Há valores que cabe à sociedade definir e boa hora essa nova tradução d’ A Traição dos
outros que estão fora do seu alcance. Opinar Intelectuais – e que inclui o prefácio de Ju-
sobre estes últimos parece ser tarefa legíti- lien Benda para a edição de 1946. Constitui
ma do intelectual. É justamente porque ele uma obra que mantém toda sua atualidade
não legisla que pode opinar, e mais uma e pode iluminar nossa compreensão dos
vez usamos essa palavra – opinar – com dilemas presentes de nossos intelectuais
um sentido positivo, que vai bem além da universitários. Trata-se certamente de um
doxa, e que está presente, por exemplo, no tema nosso contemporâneo.

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