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AS IMAGENS NO CULTO CRISTÃO: um passeio e uma reflexão sobre os ícones (com adaptações

extraídas da Internet)

(Dedicados não somente aos queridos irmãos e irmãs na Fé, mas também aos que se
interessam por arte)

ATENÇÃO, ATENÇÃO!

QUEM SABE LER UM QUADRO RELIGIOSO BIZANTINO, UM ÍCONE?

Na iconografia bizantina, há várias maneiras de se representar Cristo e a Virgem Maria. Essa


arte é profundamente teológica, carregada de simbolismo nas cores, na disposição das figuras.
Recusa qualquer aplicação de princípios do naturalismo na arte: as imagens são
propositadamente compostas fora de padrões tomados como canônicos pelo classicismo
renascentista, pela arte barroca, pela arte romântica e – sobretudo – pelos artistas do período
realista!

Por exemplo, quebrando as regras acadêmicas da proporcionalidade anatômica, a cabeça, nos


ícones, não mantém proporção com o resto do corpo, pois nela reside a inteligência e a
sabedoria, assim também é a receptora das luzes de Deus. Em ícones do Menino Jesus e de
alguns santos, as cabeças são representadas em tamanho muito maior em relação ao corpo,
significando a presença de uma inteligência superior, inspirada pelo Espírito Santo.

O rosto das imagens é o centro espiritual do ícone, sendo representados quase sempre
frontalmente, pois a frontalidade significa presença, promovendo-se, dessa maneira, um
contato direto em relação a quem observa e quem se exige o respeito piedoso (alguns rostos
são representados de perfil, e a explicação iconográfica para isso seria a de que as
personagens representadas não alcançaram a santidade: um exemplo disso é o chamado ícone
da «Natividade», em que os rostos dos pastores adotam essa posição).

E os olhos? Os olhos das figuras que aparecem nos ícones são extremamente grandes e se
encontram marcados por sobrancelhas muito arqueadas (comparando-os com o tamanho da
cabeça, estão completamente fora de proporção, rompendo as medidas antropométricas,
assim como também as medidas acadêmicas estabelecidas pela arte ocidental, pois os olhos,
como todos os órgãos sensoriais do rosto, levam implícito um símbolo baseado no texto do
Evangelho de São Lucas, que textualmente diz: «meus olhos hão visto tua Salvação»); esses
olhos parecem sempre estar imóveis; entretanto, não somente vigiam e interrogam, como
penetram até o mais profundo da alma do espectador.

O nariz, por sua vez, é representado nos ícones de forma muito estreita e comprida, quase
como um filamento que une os olhos à boca. É pintado dessa maneira para simbolizar que não
se deve o cristão entregar às fragrâncias do mundo material, mas sim apenas o odor do
sagrado, servindo de condutor ao hálito do espírito, que deve inundar todo o ser da
personagem representado no ícone.
A boca, segundo alguns filósofos gregos, é a parte mais sensual do corpo. Nela habitam os
sentidos do gosto, que permitem saborear os mais sofisticados manjares e evitar os que
causam mal-estar. Dela brotam as palavras que louvam ou insultam. Com ela, dá-se uma das
carícias mais apreciadas pelo ser humano: o beijo. Os iconógrafos a anulam como órgão
sensorial, pintam-na extremamente fina, quase como uma linha com dois pequenos triângulos
que simulam os lábios. Permanecerá invariavelmente fechada, porque a verdadeira oração se
faz em silêncio. Zacarias, no Antigo Testamento expressa: «Que todo lábio se cale ante o
Senhor Deus».

Quanto às orelhas, delas há quem diga que são a única parte do corpo humano que não cessa
de crescer. Nas figuras dos ícones são representadas de diferentes maneiras:
extraordinariamente grandes, particularmente nas imagens de alguns santos, para indicar que
estão atentos a escutar o chamado divino. Na maioria dos casos são quase invisíveis, pois o
lóbulo ou está coberto pelo manto ou pelo cabelo. Dessa maneira, a imagem permanece alheia
aos ruídos do mundo e somente atende a voz interior.

O queixo, nos ícones, é apresentado como forte e enérgico, mesmo nas figuras femininas. Nas
masculinas apresenta ainda invariavelmente uma grande barba. Busca assim expressar a força
interior do espírito. Queixo caído, como lembra o dito popular, é sinal de embasbacamento,
falta de senso!

O colo é a união da cabeça com o resto do corpo. A iconografia o representa muito alargado,
pois é o meio pelo qual o corpo recebe o alento vivificador do espírito.

O corpo humano, por sua vez, no seu conjunto, são representados altos e longilíneos,
desprovidos de todo volume, o que é proporcionado pela ampla roupagem que oculta
qualquer aparência sexual. A magreza do corpo indica a superioridade do espírito sobre a
carne, uma vez que acentua a renúncia das coisas materiais e de todos os assuntos terrenos.

Uma das críticas mais comuns a este estilo pictográfico é a imobilidade das imagens. O que
denota ignorância sobre os princípios que regem a arte iconográfica bizantina, pois a ausência
de movimentos que denotem alguma ação simboliza a «Hagia Irene», quer dizer, a Santa Paz.
Os movimentos bruscos expressam, ao contrário, o estado pecaminoso do homem. Nenhuma
sombra é projetada sobre esses corpos hieráticos, tão somente porque o ícone está imerso na
luz, sinal de que para Deus não há sombras nem lugares ocultos.

Os braços geralmente aparecem cobertos pelo manto, a túnica ou as vestiduras litúrgicas, até
a altura das mãos. Somente no ícone da «Natividade da Virgem», aparecem duas figuras
femininas com os braços descobertos e sem nenhum manto sobre os cabelos, indicando que
essas mulheres estão à serviço da figura principal do ícone. A Virgem, ao segurar o Menino,
sempre o aponta com o s dedos, a Ele, que é o "Caminho, a Verdade e a Vida"!

Da manga do manto surgem as mãos, dependendo da posição destas ou de seus dedos será
seu significado. Os dedos sempre serão sumamente compridos e finos, pois simulam ser os
cabos condutores da energia espiritual. Neles também está o poder, pois com o dedo
indicador assinalamos, apontamos e ordenamos.

Portanto, nada de querer julgar os ícones por meio de critérios fora de uma compreensão
teológica cristã! Os ícones são instrumentos para um mergulho na vivência dos mistérios e dos
ensinamentos da Fé!
Quanta riqueza, não? A Fé cristã, alimentada por uma profunda e riquíssima tradição, é um
tesouro de ensinamentos! Que distância, meu Deus, dessas manifestações barulhentas, desses
templos onde o pregador e o cantador chamam mais atenção para si do que para os mistérios
da Fé, inalcançáveis apenas pelo vaivém das emoções e do transe coletivo! A Fé é para se viver
sobretudo no recolhimento, na atenção aos sinais e na vivência de nada importa realmente,
senão a MAIOR GLÓRIA DE DEUS! Fazer do templo um lugar reservado, acima de tudo, ao
desfiar de nossas necessidades disso e daquilo é ignorar que, ali, na presença de Deus, o Céu
desce à Terra, e não precisamos pedir mais coisa alguma, pois, se disso precisarmos, Deus no-
lo dará por acréscimo! Quem precisa de alguma coisa, se já tem tudo: DEUS!

No dia a dia, é fácil nos distrairmos do ensinamento de que SÓ DEUS BASTA! A iconografia, a
arquitetura carregada de simbolismo teológico e os ritos são, para nós, formas de nos libertar-
nos das vãs distrações! Precisamos dessas formas talhadas em pedra, dessas cores, desses
cantos, do incenso, das flores nos altares, das velas, que, em seu consumir-se e seu tremeluzir,
lembram-nos nós, a consumir-nos e logo a apagar-nos para a vida terrena! Precisamos de tudo
isso, pois não somos espíritos, não somo anjos, somos criaturas com olhos, boca, ouvidos,
nariz, braços, mãos, pernas, pés e vísceras: temos corpo, não somos anjos! E a matéria não é
má! Deus a fez!

SOBRE AS CORES NO ÍCONES

O dourado que banha o quadro simboliza a luz de Deus; o vermelho é a cor que representa o
humano, relacionada, portanto, à plenitude da vida terrena (na iconografia, Jesus veste uma
túnica vermelha, pois é o «Filho do Homem» preparado para o sacrifício); o marrom, produto
da combinação de várias outras cores (como o vermelho, o azul, o branco e o negro), é a cor
da terra (portanto, na iconografia, essa cor aparece no rosto de diversas figuras para recordar
que o homem veio do pó e ao pó há de retornar; significa também humildade, pois esta
palavra vem do latim "humus", que significa terra; é por esse motivo que o hábito dos monges
tem essa cor); o azul simboliza o divino; o verde é a cor da natureza, a cor da vida sobre a
terra, do renascimento e da chegada da primavera, outorgando-lhe a iconografia o significado
de renovação espiritual (nos ícones, há vários exemplos de sua utilização: as túnicas e mantos
dos profetas, a túnica de São João Batista etc, pois foram eles que anunciaram a vinda de
Cristo, convidando a uma profunda renovação espiritual por meio da obediência, da conversão
dos costumes e do jejum); o branco não é propriamente uma cor, e sim a soma de todas as
cores, é a própria luz, cor da «Nova Vida» (em um ícone que retrate a Ressurreição, a túnica de
Cristo é dessa cor; os primeiros cristãos, ao batizar-se, usavam vestiduras brancas como
símbolo de seu novo nascimento, de uma nova vida transcendente); o negro representa o
nada, o caos, a morte, pois sem luz não há vida, de modo que, nos ícones, essa cor aparece nas
figuras de condenados e demônios e em representações do Juízo Final, pois, para os
condenados, a luz da vida eterna se extinguiu); a cor púrpura (que não se confunde com o
vermelho, mas aproxima-se de uma tonalidade na qual essa cor se mistura ao azul, teve seu
uso reservado, na Antiguidade, a partir do Código de Justiniano, ao imperador e a seus
familiares mais próximos, os «augustos» (portanto, nos ícones, essa cor se fez representativa
do poder imperial, sendo utilizada unicamente nos mantos e túnicas do Cristo Pantocrátor –
Senhor de Tudo –, da Virgem Teothokos – Mãe de Deus –, representando que Cristo (e, por
privilégio, Sua Mãe) detêm o poder divino; por fim, como Cristo é também o Sumo Sacerdote
da Igreja, a púrpura simboliza também o sacerdócio).

Ouro, branco, negro, vermelho, púrpura, azul, verde e marrom são as únicas cores que podem
ser usadas na pintura dos ícones. O uso de outras combinações de cores estava fora de toda
regra iconográfica, pois não contém nenhuma simbologia. Portanto, o artista não podia dar
curso a certas invenções!

A VIRGEM QUE BEIJA AMOROSAMENTE SEU FILHO

Uma das formas que mais me toca da representação da Virgem Maria com o Menino Jesus, na
iconografia bizantina, é aquela tecnicamente chamada de GLICOFILUSA, uma palavra grega
cujo significado se traduziria como "aquela que beija docemente". Que denominação
carregada de ternura, não? Como se mostra adequada Àquela que, por sua condição
especialíssima, só pode ter sido a mais amorosa das mães – claro, para fazer justiça Àquele que
só pode ter sido o mais amoroso dos filhos!

Cristo, que realizou seu primeiro milagre atestado nas Escrituras pela intervenção de Sua Mãe,
em Caná, tinha certamente com Ela uma relação profundamente terna: o sangue que Lhe
corria nas veias e artérias, por nós derramado na cruz, era herança unicamente de Sua Mãe,
assim como herdera dEla – e da linhagem materna – todos os traços humanos!

O mínimo desprezo ou mínima indiferença lançados à Virgem Maria é grave desprezo e


máxima ofensa ao Corpo Humano de Deus, portanto!

Se Cristo ressuscitou, Seu Corpo Glorioso trazia os traços de Sua Gloriosa Mãe, Sua mais fiel
discípula, como Esta sempre o fora de Seu Augustíssimo Pai e, por isso, Chão Fértil para o
Pouso e a Ação do Espírito Santo, de Quem foi elevada à condição de Esposa Inviolável!

Nunca a mulher, à luz da autêntica Fé Cristã, viu-se revestida de tamanha dignidade: de seu
corpo foi formado o corpo do Filho de Deus! Anjo algum chegou sequer perto dessa
participação na Glória de Deus! Todas as gerações, portanto, devem a Maria o louvor devido a
única Toda Cheia de Graça, mais que a Abraão, a Jacó, a Moisés, a Davi e a todos os profetas!

Deus, Supremo Senhor, assim o quis! E Maria foi eleita à condição de suprema criatura!

Ave, Cheia de Graça, que ternamente beijais a Face do Verbo gerado em Teu Bendito Ventre!

Ao contemplar Vosso Ícone, não posso deixar de querer ver-me, transfigurado, na imagem de
Vosso Amado Menino! Toda a tempestade cessa em mim, e que saudade me toma, saudade
de Meu Pai e de Ti, minha Mãe, que, por estardes com Ele no Céu, sois sinal de que eu apenas
estou – somente por enquanto – aqui!

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