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Ano XXXVII Nº 436 |Janeiro/Fevereiro 2014 | Publicação Bimestral | ISSN 0870-8789

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE


INSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

Manuel Patuleia
Entrevista
“Este Orçamento tem uma meta real e
adequada às necessidades do país?”

Curso de preparação
para exame de TOC
Distribuição Gratuita aos Associados Preço Avulso 5,25 Euros (I.V.A. Incluído)

Inscrições a decorrer

Acções de Formação
REVALORIZAÇÃO Profissional Certificadas
DOS ACTIVOS FIXOS
TANGÍVEIS Novas Datas
CASO PRÁTICO
Um estudo aprofundado, um melhor
conhecimento normativo contabilístico
relacionado com os Activos Fixos
Tangíveis

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JORNAL DE CONTABILIDADE
Nº 436 | Janeiro/Fevereiro 2014

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE
INSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

O Jornal de Contabilidade é o periódico técnico


e científico que permite tomar conhecimento de
todos os aspectos das técnicas contabilística,
fiscal e jurídica.

É distribuído gratuitamente a todos os


associados e é editado ininterruptamente desde
Abril de 1977, constituindo um importante elo de
ligação entre a APOTEC e os Associados.

Está disponível aos Associados na Área


Reservada as edições desde 2006.

Os destaques desta edição encontram-se em


www.apotec.pt/jornal/

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Director: Manuel Benavente Rodrigues
Directora-Adjunta: Maria Teresa Neto
Coordenação: Isabel Maria Cipriano
Colaboração: Paulo Nogueira Filho
ÍNDICE Mensário Técnico, fundado por Martim Noel Monteiro
Propriedade e Edição: Associação Portuguesa de Técnicos de
Contabilidade – APOTEC (Instituição de Utilidade Pública)
2014 3 NIF: 500910847
Periodicidade: Bimestral
Entrevista ao Presidente da APOTEC, Manuel Patuleia 5
Redacção e Administração: Rua Rodrigues Sampaio, 50,
Modelo de Revalorização dos Activos Fixos Tangíveis: 3º Esq. 1169-029 LISBOA
repercussão nas Demonstrações Financeiras (conclusão) 9 Telefone: 213 552 900 / Telefax: 213 552 909
Site: www.apotec.pt / E-mail: jornalcontabilidade@apotec.pt
A perceção sobre o sistema tributário evidenciada por
estudantes de Fiscalidade: resultados de um estudo 21 Tiragem: 7000 exs.
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Registo nº 105076 ICS
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Assessores: Abílio Sousa; António José Neves Casaca; Isabel
Glossário 36 Amado; João Filipe Gonçalves Pinto; José de Oliveira Sales Pires.
Livraria 37
Composição e impressão: PENTAEDRO – Tel. 218444340
Com a devida vénia 38 1700-249 LISBOA
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O Jornal de Contabilidade, até decisão em sentido diferente,
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segundo o Novo Acordo Ortográfico.

2    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


editorial

2014

Manuel Benavente Rodrigues


Director Jornal de Contabilidade

O novo ano começa como o anterior acabou, isto é,


sob o manto do empobrecimento material; empobreci-
mento ocidental, europeu, português.
Mesmo procurando especular o mínimo possível, claro
que teremos de o fazer, pois os conceitos maximamen- Voltando à saída do Euro, será sempre de ponderar,
te substantivos, sempre utilizam atributos, dado que a pois não sabemos como tudo vai evoluir sobre a ques-
partir do momento em que transformamos por exemplo tão da moeda europeia. Porém, o que não podemos
o algarismo em valor, resta-nos apenas observar ora esquecer ou ignorar é que a sairmos do Euro seria
uma garrafa meio cheia, ora uma garrafa meio vazia. claro, por vontade alheia, provavelmente num cenário
E por outro lado quando se fala em empobrecimento, colectivo, pois se fosse apenas por nossa vontade, cor-
fala-se num conceito relativo e portanto em relação a responderia a um suicídio político-social, dado não 
uma qualquer variável, seja ela geográfica, cronológica haver notícias de saídas reguladas e indolores em eco-
ou digamos estrutural. nomia de mercado, com o devido respeito por opiniões
E depois ainda há várias velocidades para o empobre- de especialistas da matéria.
cimento, seja a alta velocidade das radicais soluções, Contudo e já numa outra perspectiva mas tão impor-
seja a baixa velocidade do centro do “arco da gover- tante como a anterior, se é nossa obrigação assumir a
nação”. dívida, é nossa obrigação também não deixar deteriorar
Não é por acaso que não obstante a perda efectiva de o tecido social do país, sem o qual não conseguiremos
rendimento por parte de sectores importantes da po- pagar o que devemos.
pulação portuguesa, e mesmo encorajados à tomada Assim, outra das grandes questões deste empobreci-
de opções menos passivas, elas não se verificaram ain- mento português é a questão não apenas de quanto
da, o que a continuar esta descida aos infernos, não se empobrece, mas essencialmente como, com que
quer dizer que não venham a concretizar-se. regras ou falta delas. E aqui, a falta de regras, a falta
Porém, os apelos esparsos de um ou outro especialista, de transparência, os atropelos sucedem-se.
para utópicas saídas da zona Euro por iniciativa portu- Eventualmente, podemos agarrar-nos à Constitui- 
guesa, são engolidos em contraponto, por outro tipo ção como o náufrago se agarra aos destroços da bar-
de informação, em que a autarcia e a subsistência caça, mas para além do desespero não ser bom conse-
mínima surgem como destino fatal, com desvaloriza- lheiro, há que considerar que temos sempre de voltar
ções brutais da moeda, mesmo que o crescimento a Ítaca e em Ítaca espera-nos a regra, a rotina e temos
relativo posterior do PIB viesse a ser uma hipótese de nos adaptar com ou sem os heroísmos discretos de
considerável. Penélope.
Quer dizer, entre dois males, Portugal vai esperando
para ver e entretanto opta pelo mal, julgado menor e
menos radical.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    3


É bem certo que os conjuntos de princípios palavrosos
e circunstanciais, são próprios de países herdeiros de
situações políticas de força, como o nosso foi, em que E claro que as coisas não começaram ontem. O longo
tudo ansiamos deixar gravado para o futuro, porque a século XIX, segundo Hobsbawm só concluído em 1914,
nada tínhamos direito no passado, acabando apenas foi produtor de romantismo, alguma paz e modernismo
por transmitir fragmentos tragicamente escritos na não só nas artes, como na sociedade, na política, nas
água. ciências. As ciências sociais anunciavam então, os gran-
Porém, concordando ou não com esta nossa carta de des movimentos sociopolíticos do século XX e que
direitos e deveres de cidadania, esta é a Constituição concretizando ideais, conduziram a fatais genocídios da
que temos, e é com ela que devemos funcionar. Viven- Humanidade (fascismo, nazismo, comunismo). Quanto
do nós uma situação de excepção, os diversos poderes às ciências puras, produziram aplicações controversas,
que nos representam, deveriam sentir-se convocados como as bombas nucleares, grandes avanços na medi-
para a assumir, tanto quanto possível em bloco. cina e na electrónica e o homem na Lua. Nada que
Mas para que isso acontecesse seria necessário uma antes não fosse assim e depois não voltasse a ser.
outra reforma política, atendendo a que o eleitorado E como nada será como foi, a História no fim do sécu-
está cada vez menos identificado com a estrutura  lo XX ressurgiu, sofrendo um inesperado retroces- 
organizativa dos poderes que acaba por eleger, sentin- so – ver o excelente “Regresso da História” de Marc
do-se cada vez menos representado por eles; embora Ferro – impensável de todo, em especial para os adep-
saibamos que é fundamental, ter bem consolidadas, as tos da teleologia da História, ou seja, o regresso do
grandes correntes de opinião, talvez que a introdução comunismo ao liberalismo. E isto também tem ajudado
de círculos uninominais, tivesse uma palavra importan- a colocar no mapa, tanto o fundamentalismo islâmico
te a dizer nessa reforma. em ascensão, mesmo que em contraponto com o Esta- 
Porque é um triste espectáculo, ver o Governo procurar do-Nação, como um sincretismo cristão, em especial ao
impor medidas que possam antagonizar o Tribunal nível dos deserdados da vida, a partir de comunidades
Constitucional e este procurar apenas ser um polícia da crioulas da América e da Ásia.
actividade executiva do Governo. E o Modernismo, filho também do liberalismo e da
Revolução Francesa e anunciador daquilo a que François
Porém, seria redutor e menos verdadeiro esquecer, que Furet já apelidava nos anos noventa, de o passado de
esta crise que se vive, não é só portuguesa, sopra de uma ilusão, não soube substituir muitos mitos e valores
outros tempos e lugares e isso mais nos intranquiliza, do Antigo Regime, deixando que o vazio assumisse os
porque outros maiores que nós, não conseguem dar seus lugares. Virada a página modernista, respira-se
conta dela, como é o caso dos Estados Unidos e da hoje o Pós-Modernismo dos utilitarismos sem princí- 
própria União Europeia. pios, em que apenas se vive desesperadamente o pre-
Os chamados trinta anos dourados da economia oci- sente, renunciando-se à luta pelo amanhã, “preferindo- 
dental, já acabaram há muito, mais concretamente às -se Narciso a Prometeu”, utilizando a imagem do
mãos da crise do petróleo dos anos 70. Esta décalage Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente. E esta prefe- 
parece anunciar nada de agradável, pois já lá vão trin- rência manifesta-se transversal à própria prática política,
ta, quarenta anos e outros povos – os emergentes – e mesmo às ideologias, assente numa moderna con-
perfilam-se para colher os anunciados apetitosos frutos cepção de um hedonismo mais empobrecido que o
da sociedade de consumo, como nós já colhemos, e a clássico.
que se julgam com todo o direito de um ponto de
vista democrático. Seremos mesmo assim, capazes na Europa de hoje, de
vencer esta batalhazinha do Euro, todos juntos? Espe-
remos que sim. Os seres humanos, sempre cobaias 
no palco do seu tempo, têm a palavra. Em nome do
amanhã.

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entrevista

Entrevista ao
Presidente da APOTEC, Manuel Patuleia

JC – Como vê a evolução da APOTEC, desde o início até


hoje?
MP – Permita-me que enderece os cumprimentos a todos os
contabilistas em geral e aos associados da APOTEC em particular.
Quando um grupo de profissionais sentiu a necessidade de criar,
em 1977, uma associação de inscrição livre com o firme pro-
pósito de esta transmitir saber aos seus associados, deu a co-
nhecer uma entidade que ao longo do tempo se tem mantido
bem viva e se tem afirmado num mundo complicado e de
pouca tradição como é o livre associativismo. Presto profunda
homenagem a todos os fundadores desta enorme associação,
destacando Martim Noel Monteiro e Humberto Abreu.
Completará a 16 de Março a bonita idade de 37 anos, nos
quais houve que vencer muitos escolhos, próprios de uma or-
Manuel Viriato Cardoso Patuleia (n. 1939) é téc-
ganização com princípios democráticos, mas sempre interessa-
nico (oficial) de contas desde 1965, possui o Cur- da na transmissão do conhecimento e na valorização dos pro-
so Geral do Comércio e exerceu ou exerce as fissionais da contabilidade e fiscalidade.
seguintes funções: Não foi uma caminhada isenta de dificuldades, mas louvo
quantos com abnegação e espirito de sacrifício deram muitas
Contabilista em grandes e médias empresas
horas à APOTEC.
Colaborador da FORD Marketing Institute para a Foi e é uma associação que tem procurado sempre a renovação
de ideias e de pessoas, e que em determinadas épocas comba-
área da Contabilidade
teu alguns enquistamentos para projectos futuros e deserções
Director-Geral do Grupo MEIA-MEIA de personalidades que ocupavam lugares com alguma respon-
sabilidade.
Monitor de Cursos de Contabilidade Para trilharmos um rumo certo, temos de encarar que num
futuro próximo teremos de dar lugar aos novos, sendo certo
Membro do Centro de Estudos do SNEE
que para isso acontecer sem sobressaltos a transicção deverá
Acompanhou directamente a problemática da ser bem planeada, pormenor que já está a acontecer.
Hoje a APOTEC é uma entidade respeitada e respeitadora,
Regulamentação dos Técnicos Oficiais de Contas
confiando que o futuro seja de completa satisfação para os seus
Vice-Presidente da PROTOCONTAS, CRL inúmeros associados, quer sejam individuais ou colectivos.

Presidente da Comissão Instaladora da Associação JC – O que representa para a APOTEC a Escola e a Forma-
dos Técnicos Oficiais de Contas (ATOC)* – futura ção?
OTOC MP – O meu pensamento vai para a competência e esta só se
adquire com a aprendizagem contínua. A aposta na formação
Moderador e Orador em Seminários de Contabi- independentemente do grau académico que se possa apresen-
lidade e Fiscalidade tar é uma elementar exigência para aqueles que querem de-
sempenhar a profissão com aptidão. Num mundo de extraor-
Representante da APOTEC no Conselho Geral da dinária competição e em situações consideradas normais, só se
Comissão de Normalização Contabilística. destaca quem possuir elementos de elevada qualidade para o
desempenho das atribuições que lhes são conferidas. Neste
Membro do Conselho Executivo do Centro de
domínio a APOTEC tem ajudado, ou seja é uma obrigação
Estudos de História da Contabilidade.
desta associação colocar o saber ao serviço dos seus associados,
Faz parte dos Corpos Sociais da APOTEC desde os quais, pelo seu lado, têm correspondido com a adesão às
múltiplas acções de formação que têm sido promovidas.
1986, sendo seu Presidente eleito desde 1992.
Como entidade de utilidade pública a APOTEC promoveu num
passado recente também formação gratuita com a colaboração
*
Em regime de rotatividade do Banco de Portugal e da AT-Autoridade Tributária e Aduaneira.

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Na formação que promove, a associação proporciona um parte da inevitável hierarquia que alguns países constroem.
desconto de 50% para desempregados e 50% do valor Quanto às Instituições de inscrição livre, não são menos
anual da quota para reformados. importantes pois emanam do quotidiano democrático.
Saliento os inúmeros protocolos assinados com Escolas e Poderei ser radical ao afirmar que tudo o que é obrigatório
Universidades onde a contabilidade e fiscalidades são lecio- provoca sempre uma reacção negativa. O ser humano adap-
nadas. Recordo as inúmeras jornadas e colóquios levados a ta como elemento essencial no seu variado percurso de vida
efeito sempre com o propósito de valorizar os profissionais. uma realização que seja obtida através de impulsos voluntá-
Foi a APOTEC pioneira no nosso país, na divulgação da His- rios e que possam constituir uma verdadeira realização pes-
tória da Contabilidade. soal. Tenho para dizer que manifestações que conduzam a
Penso que poderemos fazer muito mais, assim estejamos li- processos que nos espartilhem a mente, são a meu ver pou-
vres das condicionantes monopolistas que se tem feito sentir co aceitáveis num país que se quer moderno, livre e demo-
na formação da nossa profissão. Hoje a APOTEC é uma crático.
instituição que promove formação certificada pela DGERT,
Direcção Geral do Emprego e Relações de Trabalho. JC – Como pode a APOTEC contribuir para o progresso
do país?
JC – Sendo a APOTEC sujeito e objecto da mudança, MP – A APOTEC é um pequeno mas qualificado grão de
como está a APOTEC a adaptar-se nestes princípios do areia neste universo da contabilidade e fiscalidade, no entan-
século XXI ao país que se vai construindo? to pode contribuir para o progresso deste tão necessitado
MP – A APOTEC tem tentado adaptar-se à época em que país, preconizando e incentivando à realização de boas e sãs
vivemos. Sustentada no conhecimento que foi adquirindo ao contas.
longo dos anos, a experiência adquirida proporcionou-lhe os
elementos indispensáveis para que haja uma melhor adapta- JC – O que pensa da Contabilidade que se vai pensan-
ção às exigências dos tempos actuais. A APOTEC para servir do e se vai fazendo em Portugal?
bem os seus associados tem que partir sempre com a con- MP – Sempre opinei que a contabilidade devia servir em
vicção do que apresenta é de inegável valor e mérito. Com primeira mão os desígnios da gestão, mas por experiên- 
uma gestão equilibrada e rigorosa tem conseguido não au- cia adquirida, reparei que nem sempre o possível interlocu- 
mentar as quotas e a formação, contribuído também deste tor entende, ou não pretende entender, o dialogo proposto.
modo para a satisfação dos seus associados. As associações empresariais deveriam incentivar a formação
O erro para a APOTEC é sempre um elemento difícil de di- sobre assuntos relacionados com a gestão. A APOTEC desde
gerir. Fomos exigentes no passado, somos no presente e já disponibiliza-se para encetar qualquer tipo de colaboração.
seremos no futuro. Atende-se, hoje, à adaptação dos normativos internacionais,
referindo que a última alteração efectuada enfermou por
JC – Como vê os associados da APOTEC de hoje e de há exigências pouco realistas, sobretudo no que toca à realida-
trinta anos atrás? de económica das empresas em Portugal.
MP – Os associados têm comportamentos sempre semelhan- Afirmar-se que a contabilidade poderá ser uma das respon-
tes. Os interesses explanados seguem no mesmo sentido, sáveis pelos custos administrativos das empresas é um erro
com mais ou menos preparação há um tempo em que todos crasso, de qualquer maneira também admito que alguma
são neófilos carentes de formação e de ensinamentos. O simplificação se deverá operar no sentido de reduzir algumas
conhecimento e a experiência adquire-se com tempo, estudo obrigações na apresentação das demonstrações financeiras
e trabalho. Também no que diz respeito à adopção da ban- das PME e Micro Entidades. Hoje em dia os custos de con-
deira do livre associativismo, atrevo-me a dizer que tal como texto das empresas são de natureza fiscal e parafiscal, os
no passado muitos jovens hoje a procuram, porque sentem quais são reflexo de exigências que ao longo de um mês não
que a transmissão de ensinamentos num ambiente de liber- dão descanso a quem se responsabiliza pelo seu tratamento
dade concorre para um melhor desenvolvimento de conhe- e apresentação.
cimentos.
JC – O que pensa da reforma do IRC?
JC – Como vê as Instituições de inscrição obrigatória MP – O legislador procurou dar alguma notoriedade ao
face às instituições de inscrição livre? processo apelidando-o de reforma. Chamar-lhe-ia antes, al-
MP – As Instituições de inscrição obrigatória têm sem dúvida terações ao IRC que a meu ver pouco significativas são, para
um lugar importante na estrutura social do país fazendo que possa ser considerada uma verdadeira reforma. A reali-

6    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


entrevista
a Manuel Patuleia

dade tributária das empresas com o aumento das tributa-  deverão ser distribuídos por um máximo de 60 sorteios a
ções autónomas, o aumento da limitação à dedução anual realizar num ano, o Governo consiga encaixar entre 600 a
dos prejuízos fiscais e limitada aplicação do DLRR poderá  800 milhões de euros…
ser compensada com a descida da taxa em 2 pontos percen-
tuais? JC – A Formação da APOTEC face aos créditos dos TOC’s:
Será que esta alteração poderá dar um contributo relevante em que ponto estamos?
para a promoção do investimento e, consequentemente para MP – Até quando? É a pergunta que muitos profissionais
a criação de emprego no país? colocam e que se ouviu nas acções de formação profissio- 
nal certificada promovidas pela APOTEC durante este último
JC – O que pensa da evolução da Fiscalidade em Portu- mês de Janeiro, por todo o país.
gal? Quando é que os profissionais poderão aplicar o artigo 43.º
MP – As sucessivas alterações legislativas, ultimamente têm da Constituição da República Portuguesa – Liberdade de
sido, além de abundantes, confusas, controversas e respon- aprender e ensinar?
sabilizantes desta classe profissional. Assim, não sendo re- A CONCORRÊNCIA, constitui um dos principais factores que,
flectidas e discutidas com todas as entidades intervenientes provocam desenvolvimento económico (melhoria na qualida- 
e conhecedoras da reali- de/preço), contribuindo
dade económica, empre- como tal para o índice de
sarial e profissional, têm satisfação dos utentes.
a agravante de não se- Já lá vão mais de seis
rem introduzidas atem- anos desde que iniciá-
padamente, de modo a mos este processo, por-
poderem alcançar por que entendemos que os
um lado, a tão desejada TOCs em geral e os nos-
eficácia e eficiência tri- sos associados em parti-
butárias, a justiça e a cular têm o direito de
equidade fiscal, por ou- não serem prejudicados
tro. na liberdade de escolha
Haveria que ter coragem da formação. Ademais,
de se fazer uma verda- para efeitos do Código
deira reforma na fiscali- do Trabalho, só é valida
dade em Portugal, tor- a formação promovida
nando-a mais simples e por entidades certifica-
menos armadilhada. As preocupações inerentes à complexi- das (e a APOTEC é certificada pela DGERT), a OTOC não é!
dade dos impostos proporciona gastos adicionais às empre- O último desenvolvimento do processo da formação de cré-
sas. ditos a que assistimos em Janeiro deste ano, foi a condena-
No caso em concreto de uma reforma fiscal seria também ção por parte do Tribunal da Relação de Lisboa, confirmando
de bom tom que se ousasse olhar para uma alteração no IRS. a decisão do Tribunal do Comércio, declarando NULO todo
A justiça tributária deverá ser mais célere, procurando com o REGULAMENTO DA FORMAÇÃO DE CRÉDITOS. Já em
rapidez responsabilizar e punir os incumpridores. Fevereiro de 2013 o Tribunal de Justiça da União Europeia
condenara também o regulamento da formação dos créditos
JC – Orçamento do Estado para 2014: para onde va- dos TOCs, defendendo a inteira liberdade de escolha para os
mos? contabilistas fazerem a sua livre opção.
MP – Será que as metas objectivadas pelo Orçamento vão Sabemos que nesta data a OTOC apresentou novo recurso,
ser cumpridas? Este Orçamento tem uma meta real e ade- desta vez para o Tribunal Constitucional.
quada às necessidades do país? Tenho dúvidas… ACREDITAMOS que temos razão nas nossas pretensões,
Caminhamos como temos caminhado para uma cada vez aguardamos com tranquilidade mais este desfecho.
maior tributação em sede de IRS. Este orçamento pouco ou A lei ainda é a lei e não temos dúvidas que ela será respeita-
nada de novo traz a não ser os agravamentos fiscais. Tenho da, para que os profissionais possam ver restabelecido o direi-
dúvidas que com a “Factura da Sorte”, em que se prevê um to à liberdade de escolha e de aprendizagem, fora do mono-
valor de prémios até dez milhões de euros por ano que  pólio até aqui imposto pela entidade reguladora da profissão.

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Uma sociedade tem que ter a coragem e a capacidade de
mudar mentalidades, tornando-se mais exigente, mais
rigorosa, mais ética, mais profissional e menos
corporativa

JC – O que preconiza para o futuro novo Estatuto das Uma sociedade onde em muitos casos o sucesso depende
Ordens em geral e da OTOC em especial? em grande parte de “sensibilidades e oportunismos”, onde
MP – A Lei nº 2/2013 que estabelece o regime jurídico de o trabalho e a competência não formam por si só uma com-
criação, organização e funcionamento das associações publi- ponente de orgulho mas sim de inveja, tem que ter a coragem
cas profissionais já deveria estar na sua aplicação inteiramen- e a capacidade de mudar mentalidades, tornando-se mais
te em vigor. exigente, mais rigorosa, mais ética, mais profissional e menos
Ressalta dessa Lei o nº3 do artigo 5 que diz: “As associações corporativa.
públicas profissionais não podem, por qualquer meio, seja É fundamental um acentuado desenvolvimento económico,
acto ou regulamento, estabelecer restrições à liberdade de uma justiça mais célere e mais justa. Temos tido a experiên-
acesso e exercício da profissão que não estejam previstos na cia de que a sua morosidade conduz sempre a retracções de
lei, nem infringir as regras da concorrência na prestação de actividade. O mundo académico precisa aproximar-se o sufi-
serviços profissionais, nos termos dos direitos nacionais e da ciente da realidade empresarial e profissional, e transmitir
União Europeia. exemplos de excelência e valorização de padrões de conhe-
Só isto constitui uma necessidade de reformulação profunda cimento efectivo sem subserviência ao corporativismo e às
do Estatuto da OTOC, na medida em que esta continua a benesses financeiras dos mesmos. A gestão dos dinheiros
violar as regras de concorrência em matéria de formação públicos e das empresas tem de caminhar rapidamente para
profissional. uma cultura de rigor, porque certamente a não ser assim, a
Mas outros aspectos são ainda de ponderar, como a limitação sociedade portuguesa vai continuar a sofrer consequências
de actividade que o actual estatuto ainda contempla – não bastantes desastrosas. E com isso, os profissionais das contas!
existem outras profissões reguladas com limite de actividade A APOTEC continua a fazer apelos à competência, à ética
imposto aos seus membros; a publicitação dos serviços dos dos profissionais de contabilidade e fiscalidade, não obstan-
profissionais; a incompatibilidade de funções e até mesmo te as dificuldades cada vez maiores que se colocam ao exer-
outras questões estruturais e funcionais da própria entidade cício da profissão.
reguladora, como por exemplo, o acto eleitoral, a elegibili- Fazemos votos para o trilhar de um caminho de simplificação
dade dos candidatos, a fixação da remuneração dos órgãos não só para a contabilidade como para a fiscalidade e para-
sociais, que deveria ser feita pela Assembleia Geral, etc. fiscalidade, abortando exigências que acabam apenas por
Outro aspecto refere-se à profissão em si, ou seja, ou se furtar rentabilidade às empresas e que já nada tem a ver com
exercem na prática e somente as funções de um contabilista a contabilidade e a fiscalidade.
(importa defini-las ou actualizá-las tendo em conta o estabe- Desejamos um forte combate à burocracia e que uma sau-
lecido no quadro da Classificação Nacional das Profissões) e dável concorrência seja estimulada em todos os sectores.
a redenominação (de TOC para Contabilista Certificado) fará Preferimos bons exemplos a mil palavras!
sentido, ou se se quer mudar apenas o nome e manter-se
estatuto, será caso para se dizer “é pior a emenda que o A APOTEC continua seguindo o seu percurso com muita
soneto”… firmeza e determinação, com um discurso de verdade, sem
competir ou afrontar, mas não calando injustiças, nem rene-
JC – Que país, que Contabilidade e que Fiscalidade? gando o passado associativo que satisfaz plenamente.
MP – A situação económica e financeira do país, que se tem O seu futuro é de esperança, mercê de uma cuidada gestão
vindo a agravar, não é alheia aos profissionais da contabili- dos corpos sociais e do sentido de responsabilidade dos seus
dade e fiscalidade, que no dia a dia movimentam os núme- inúmeros associados.
ros, as contas.

Entrevista conduzida por Manuel Benavente Rodrigues

8    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


contabilidade financeira

Modelo de Revalorização dos Activos Fixos Tangíveis:


repercussão nas Demonstrações Financeiras(*) (Conclusão)

Maria Lúcia Marques(**)


Professora Adjunta da ESTG do Instituto Politécnico da Guarda
Investigadora da UDI – Unidade de Investigação para o Desen-
volvimento do Interior (PEst-OE/EGE/UI4056/2011 – projeto fi-
nanciado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)

7. Revalorização: Exemplificação

7.1 – Caso Prático

A Sociedade ABC, SA, com sede na cidade da Guarda, tem Seguidamente, apresenta-se a contabilização das operações
como actividade principal a transformação de madeira em pelas duas formas previstas no §§ 35 da NCRF7, consideran-
mdf (medium-density fiberboard – placa de fibra de madei- do o efeito dos impostos diferidos. Considera-se, para todos
ra de média densidade). As chapas cruas de mdf são fabri- os exercícios económicos, que a Sociedade ABC, SA está
cadas por um equipamento integrado, adquirido a um fabri- sujeita à taxa de imposto (IRC + Derrama) de 20%.
cante especializado, o qual, através da aglutinação de fibras Realizada a contabilização inicial do equipamento, segue-se
de madeira com resinas sintéticas e outros aditivos, cola a mensuração dos períodos subsequentes onde se vão des-
essas fibras umas às outras com resina e fixa-as através de crever as operações que surgem ao longo dos 10 exercícios
pressão. económicos. Pretende-se, deste modo, realizar uma análise
Este equipamento entrou em funcionamento em Janeiro de dinâmica ao longo do período de vida útil do AFT, perceber
2N01, sendo efectuada a seguinte contabilização: as transformações que vão acontecendo ao longo dos anos
e identificar os respectivos movimentos contabilísticos.
Data Contas Descrição Débito Crédito
Esta pretende ser uma mais-valia pois, como foi referido na
Janeiro/2N01 433 AFT / Equipamento Básico € 2.500.000,00  
453 AFT em Curso   € 2.500.000,00 Secção 2 da Parte II, o efeito da revalorização e dos impostos
diferidos é um assunto tratado frequentemente mas é abor-
Esta entidade deprecia o Equipamento Básico pelo método dado separadamente; ou abordam-no em apenas um ou dois
da linha recta (§§ 62 da NCRF 7), regime por duodécimos e exercícios económicos (a excepção é Rodrigues et al. (2010)
adopta o modelo de revalorização após o reconhecimento dos na resolução do Caso Prático 9, que apresenta a resolução
seus equipamentos. Ao equipamento integrado de produção para vários exercícios mas exceptua o efeito dos impostos
de mdf foi-lhe estimada uma vida útil de 10 anos e com diferidos).
valor residual nulo. Na resolução do Caso Prático, que se apresenta de seguida,
O Quadro 1 apresenta o Justo Valor (JV) deste equipamento, constata-se que coincidem algumas movimentações e a res-
obtido com base no valor de mercado determinado pela pectiva justificação, qualquer que seja a forma de revaloriza-
avaliação efectuada pelo fabricante, no final de cada um dos ção adoptada. Ainda assim, optou-se por apresentar, na ín-
exercícios económicos: tegra, a resolução da revalorização por reexpressão e da
revalorização por eliminação ao longo de todo o período de
Quadro 1 – Justo Valor atribuído ao equipamento integrado de vida útil.
produção de mdf Refira-se, no entanto, que como a avaliação do equipamento
Ano 2N01 2N02 2N03 2N04 2N05 integrado foi efectuada com base no valor de mercado, a
Justo valor € 2.376.000,00 € 2.112.500,00 € 1.701.000,00 € 1.458.500,00 € 1.285.000,00 Sociedade ABC, SA devia optar pelo modelo de revalorização
Ano 2N06 2N07 2N08 2N09 2N10 por eliminação.
Justo valor € 1.027.000,00 € 771.500,00 € 505.600,00 € 252.000,00 € 0,00

Fonte: Elaboração Própria

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    9


7.2 – Revalorização por Reexpressão E a contabilização desta depreciação anual é:
Data Contas Descrição Débito Crédito
A) N o final de 2N01 são efectuadas as seguintes opera- Dez/2N02 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 264.000,00  
ções:   4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 264.000,00
1.  Depreciação de 2N01:
O Valor da Depreciação de 2N01 é: 2.  Utilização do Excedente de Revalorização:

€ 2.500.000,00 / 10 Anos(17) = € 250.000,00 De acordo com o disposto no §§ 41 da NCRF 7, a utilização


do Excedente de Revalorização incluído no Capital Próprio é
E a contabilização desta depreciação anual é a seguinte: efectuada à medida que o AFT for usado pela entidade, ou
Data Contas Descrição Débito Crédito seja, o reconhecimento é efectuado pela depreciação do
Dez/2N01 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 250.000,00   exercício (realização parcial). A quantia do excedente a trans-
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 250.000,00
ferir será a diferença entre a depreciação baseada na quantia
escriturada revalorizada do activo e a depreciação baseada no
2.  Revalorização por Acréscimo:
custo original desse mesmo activo.
Em Dez/2N01, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV Assim,
atribuído a este equipamento é de € 2.376.000,00 e a quan-
Depreciação com base na quantia revalorizada = € 264.000,00
tia escriturada (QE) perfaz € 2.250.000,00. A diferença terá
Depreciação com base na quantia inicial = € 250.000,00
o reconhecimento da regra geral definida no §§ 39 da NCRF
Realização do excedente (antes de IRC) =  
7. No método da reexpressão aplica-se um índice ou um
€ 264.000,00 – € 250.000,00 = € 14.000,00
coeficiente ao custo e às respectivas depreciações acumuladas.
Realização do excedente (impostos diferidos)  
O coeficiente de revalorização resulta do quociente entre o = € 14.000,00 * 20% = € 2.800,00
JV e a QE após a contabilização da depreciação do exercício Ou
2N01:
Realização do excedente (antes de IRC)  
€ 2.376.000,00 = € 126.000,00 / 9 anos = € 14.000,00
Coeficiente de Revalorização = -1 = 5,60%
€ 2.250.000,00
Realização do excedente (impostos diferidos)  
Assim: = € 25.200,00 / 9 anos = € 2.800,00
Aumento da Quantia escriturada =  
Estas operações são contabilizadas como se apresenta segui-
€ 2.500.000,00 * 5,6% = € 140.000,00
damente:
Aumento das Depreciações Acumuladas =  
€ 250.000,00 * 5,6% = € 14.000,00 Data Contas Descrição Débito Crédito
Dez/2N02 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 14.000,00  
As depreciações futuras deste Equipamento Básico, resultan-   56 Resultados Transitados   € 14.000,00
tes desta revalorização, não são fiscalmente dedutíveis. O Dez/2N02 2742 Passivos por impostos diferidos € 2.800,00  
passivo por impostos diferidos corresponde ao produto do   8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 2.800,00
Dez/2N02 56 Resultados Transitados € 2.800,00  
excedente de revalorização pela taxa de imposto:
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 2.800,00
Passivo por Impostos Diferidos  
= € 126.000,00 * 20% = € 25.200,00 Em Dez/2N02, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
E a contabilização a efectuar em 2N01 é: atribuído a este equipamento é € 2.112.500,00 e a QE per-
faz € 2.112.000,00 (a conta 433 AFT – Equipamento Básico
Data Contas Descrição Débito Crédito
Dez/2N01 433 AFT – Equipamento Básico € 140.000,00   apresenta um saldo de € 2.640.000,00 e a conta 4383 De-
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 14.000,00 preciações Acumuladas – Equip. Básico apresenta um saldo
  5891 Outros Excedentes – Antes de IRC   € 126.000,00
de € 528.000,00). Como o JV não difere materialmente da
Dez/2N01 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos € 25.200,00  
  2742 Passivos por impostos diferidos   € 25.200,00 QE não há que apurar ajustamento de revalorização neste
exercício.
B) No final de 2N02 são efectuadas as seguintes opera-
ções: C) No final de 2N03 são efectuadas as seguintes opera-
1.  Depreciação de 2N02: ções:
1.  Depreciação de 2N03:
O Valor da Depreciação a considerar como gasto em 2N02 é:
O Valor da Depreciação correspondente a 2N03 é:
(€ 2.640.000,00 – € 264.000,00) / 9 Anos = € 264.000,00
(€ 2.640.000,00 – € 528.000,00) / 8 Anos = € 264.000,00

10    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


contabilidade financeira
Maria Lúcia Marques

E a contabilização é a seguinte: Data Contas Descrição Débito Crédito

Data Contas Descrição Débito Crédito Dez/2N03 433 AFT – Equipamento Básico   € 210.000,00
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 63.000,00  
Dez/2N03 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 264.000,00  
  5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 98.000,00  
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 264.000,00
  655 Perdas por Imparidade – AFT € 49.000,00  

2.  Utilização do Excedente de Revalorização: O valor associado ao Passivo por impostos diferidos tem a
Na alínea 7.2.B.2. justificou-se a utilização do Excedente de seguinte regularização:
Revalorização. Neste exercício económico aplicam-se os mes- Data Contas Descrição Débito Crédito
mos cálculos, os mesmos procedimentos e a contabilização é Dez/2N03 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 19.600,00
similar.   2742 Passivos por impostos diferidos € 19.600,00  

A contabilização a efectuar em 2N03 é:


Com esta contabilização, o valor do saldo da conta 433 
Data Contas Descrição Débito Crédito AFT – Equipamento Básico é € 2.430.000,00 e a conta 4383
Dez/2N03 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 14.000,00  
Depreciações Acumuladas – Equip. Básico apresenta um saldo
  56 Resultados Transitados   € 14.000,00
Dez/2N03 2742 Passivos por impostos diferidos € 2.800,00   de € 729.000,00. Ou seja, o valor que se apresenta no Ba-
  8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 2.800,00 lanço da Sociedade ABC, SA é € 1.701.000,00.
Dez/2N03 56 Resultados Transitados € 2.800,00  
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 2.800,00
D) No final de 2N04 são efectuadas as seguintes opera-
ções:
3.  Revalorização por Decréscimo:
1.  Depreciação de 2N04:
Em Dez/2N03, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
atribuído a este equipamento é € 1.701.000,00 e a QE perfaz O Valor da Depreciação relativa a 2N04 é:
€ 1.848.000,00. Verifica-se um decréscimo de € 147.000,00, (€ 2.430.000,00 – € 729.000,00) / 7 Anos = € 243.000,00
pelo que é necessário efectuar o correspondente ajustamento
E a contabilização deste exercício é:
de revalorização.
No reconhecimento desta revalorização por decréscimo, há Data Contas Descrição Débito Crédito
que aplicar o definido no §§ 40 da NCRF 7. Os saldos das Dez/2N04 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 243.000,00  
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 243.000,00
contas envolvidas apresentam os seguintes valores:

2.  Verificação da existência de Excedente de Revalorização:


Conta Designação Saldo Devedor Saldo Credor
433 AFT - Equipamento Básico € 2.640.000,00 Em Dez/2N04, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
4383 Depreciações Acumuladas - Equip. Básico € 792.000,00
€ 98.000,00
atribuído a este equipamento é € 1.458.500,00 e a QE per-
5891 Outros Excedentes - Antes de IRC
5892 Outros Excedentes - Impostos diferidos € 19.600,00 faz € 1.458.000,00. Como o JV não difere materialmente da
QE não há que efectuar qualquer ajustamento de revaloriza-
O coeficiente de revalorização a aplicar após a contabilização ção.
da depreciação do exercício 2N03 é o seguinte:

€ 1.701.000,00 E) No final de 2N05 são efectuadas as seguintes opera-


Coeficiente de Revalorização = -1 = -7,95%
€ 1.848.000,00 ções:
Assim: 1.  Depreciação de 2N05:
Diminuição da Quantia escriturada =  
O Valor da Depreciação a considerar como gasto em 2N05 é:
€ 2.640.000,00 * – 7,95% = – € 210.000,00
(€ 2.430.000,00 – € 972.000,00) / 6 Anos = € 243.000,00
Diminuição das Depreciações Acumuladas =  
€ 792.000,00 * – 7,95% = – € 63.000,00 A contabilização a realizar neste exercício é:
As depreciações futuras do equipamento básico, resultantes Data Contas Descrição Débito Crédito
desta revalorização, são menores do que as fiscalmente de- Dez/2N05 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 243.000,00  
dutíveis. Há, por isso, que anular o valor correspondente ao   4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 243.000,00
Passivo por impostos diferidos.
A contabilização relativa a esta revalorização é efectuada 2.  Revalorização por Acréscimo:
através da redução do Excedente de Revalorização e a dife- Em Dez/2N05, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
rença é considerada como Perda por imparidade: atribuído a este equipamento é € 1.285.000,00 e a QE

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    11


perfaz € 1.215.000,00 (o saldo da conta 433 AFT – Equipa- E a contabilização a efectuar é:
mento Básico é € 2.430.000,00 e da conta 4383 Deprecia- Data Contas Descrição Débito Crédito
ções Acumuladas – Equip. Básico é € 1.215.000,00), dando Dez/2N06 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 257.000,00  
origem a uma revalorização por acréscimo de € 70.000,00. 4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 257.000,00
O coeficiente de revalorização a utilizar neste exercício é o
seguinte: 2.  Utilização do Excedente de Revalorização
Tal como referido 7.2.B.2., a realização do Excedente de Re-
€ 1.285.000,00
Coeficiente de Revalorização = -1 = 5,76% valorização incluído no Capital Próprio (€ 21.000,00) é reco-
€ 1.215.000,00
nhecida através da depreciação do exercício (realização par-
Assim:
cial), o qual é repartido pelo n.º de anos que ainda faltam
Aumento da Quantia escriturada =  
depreciar.
€ 2.430.000,00 * 5,76% = € 140.000,00
Assim,
Aumento das Depreciações Acumuladas  
= € 1.215.000,00 * 5,76% = € 70.000,00 Realização do excedente (antes de IRC)  
= € 21.000,00 / 5 anos = € 4.200,00
O acréscimo (€ 70.000,00) tem o reconhecimento da excep- Realização do excedente (impostos diferidos) =  
ção definida no §§ 39 da NCRF 7, devendo ser reconhecido € 4.200,00 / 5 anos = € 840,00
nos resultados até ao ponto em que reverta um decréscimo
E a contabilização destas operações é a que a seguir se apre-
de revalorização do mesmo activo previamente reconhecido
senta:
nos resultados.
No exercício 2N03 foi contabilizada uma perda por imparida- Data Contas Descrição Débito Crédito
Dez/2N06 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 4.200,00  
de no valor de € 49.000,00. O acréscimo de revalorização de   56 Resultados Transitados   € 4.200,00
€ 70.000,00 será reconhecido em duas rubricas diferentes: Dez/2N06 2742 Passivos por impostos diferidos € 840,00  
numa conta de rendimentos (€ 49.000,00) e, a diferença,   8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 840,00
numa conta de excedentes de regularização (€ 21.000,00). Dez/2N06 56 Resultados Transitados € 840,00  
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 840,00
Tal como referido na alínea 7.2.A.2., as depreciações futuras
deste equipamento básico, resultantes desta revalorização,
Em Dez/2N06, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
não são fiscalmente dedutíveis. O valor do passivo por impos-
atribuído a este equipamento é € 1.027.000,00 e a QE tota-
tos diferidos correspondente é:
liza € 1.028.000,00. Como o JV não difere materialmente
Passivo por Impostos Diferidos =   da QE não há que apurar qualquer ajustamento de revalori-
€ 21.000,00 * 20% = € 4.200,00 zação.
Relativamente a estas operações efectua-se a seguinte conta-
bilização: G) No final de 2N07 são efectuadas as seguintes opera-
ções:
Data Contas Descrição Débito Crédito
Dez/2N05 433 AFT – Equipamento Básico € 140.000,00   1.  Depreciação de 2N07:
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 70.000,00 O Valor da Depreciação a considerar em 2N07 é:
  7625 Reversões – De Perdas por Imparidade – AFT   € 49.000,00
  5891 Outros Excedentes – Antes de IRC   € 21.000,00 (€ 2.570.000,00 – € 1.542.000,00) / 4 Anos = € 257.000,00
Dez/2N05 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos € 4.200,00  
A contabilização a efectuar neste exercício é a seguinte:
  2742 Passivos por impostos diferidos   € 4.200,00
Data Contas Descrição Débito Crédito
Após estes lançamentos, a conta 433 AFT – Equipamento Dez/2N07 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 257.000,00  
Básico apresenta o valor de € 2.570.000,00 e a conta 4383   4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 257.000,00
Depreciações Acumuladas – Equipamento Básico o valor de
€ 1.285.000,00. 2.  Utilização do Excedente de Revalorização:
Tal como mencionado em 7.2.B.2., a utilização do Excedente
F) No final de 2N06 são efectuadas as seguintes opera- de Revalorização é efectuada pelo uso do AFT.
ções: Assim,
1.  Depreciação de 2N06: Realização do excedente (antes de IRC) =  
(€ 21.000,00 – € 4.200,00) / 4 anos = € 4.200,00
O Valor da Depreciação relativa a 2N06 é:
Realização do excedente (impostos diferidos) =  
(€ 2.570.000,00 – € 1.285.000,00) / 5 Anos = € 257.000,00 (€ 4.200,00 – € 840,00) / 4 anos = € 840,00

12    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


contabilidade financeira
Maria Lúcia Marques

E a contabilização a efectuar é: No reconhecimento desta revalorização por decréscimo, há


Data Contas Descrição Débito Crédito
que aplicar o definido no §§ 40 da NCRF 7. Os saldos das
Dez/2N07 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 4.200,00   contas envolvidas apresentam os seguintes valores:
  56 Resultados Transitados   € 4.200,00
Conta Designação Saldo Devedor Saldo Credor
Dez/2N07 2742 Passivos por impostos diferidos € 840,00  
  8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 840,00 433 AFT - Equipamento Básico € 2.570.000,00
4383 Depreciações Acumuladas - Equip. Básico € 2.056.000,00
Dez/2N07 56 Resultados Transitados € 840,00  
5891 Outros Excedentes - Antes de IRC € 8.400,00
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 840,00
5892 Outros Excedentes - Impostos diferidos € 1.680,00

Em Dez/2N07, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV O coeficiente de revalorização a aplicar após a contabilização
atribuído a este equipamento é € 771.500,00 e a QE perfaz da depreciação do exercício 2N08 é o seguinte:
€ 771.000,00 (a conta 433 AFT – Equipamento Básico apre-
€ 505.600,00
senta o valor de € 2.570.000,00 e a conta 4383 Depreciações Coeficiente de Revalorização =
€ 514.000,00
-1 = -1,63%

Acumuladas – Equipamento Básico o valor de € 1.799.000,00).


Assim:
Como o JV não difere materialmente da QE não é necessário Diminuição da Quantia escriturada =  
efectuar mais movimentos. € 2.570.000,00 * – 1,63% = – € 42.000,00
Diminuição das Depreciações Acumuladas =  
H) No final de 2N08 são efectuadas as seguintes opera- € 2.056.000,00 * – 1,63% = – € 33.600,00
ções: O valor do Excedente de Revalorização (€ 8.400,00) que é
1.  Depreciação de 2N08: necessário reduzir corresponde ao saldo da conta 5891 Outros
Excedentes – Antes de IRC. A contabilização a efectuar é a
O Valor da Depreciação de 2N08 é:
seguinte:
(€ 2.570.000,00 – € 1.799.000,00) / 3 Anos = € 257.000,00
Data Contas Descrição Débito Crédito
E efectua-se a seguinte contabilização: Dez/2N08 433 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 42.000,00
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 33.600,00  
Data Contas Descrição Débito Crédito
  5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 8.400,00  
Dez/2N08 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 257.000,00  
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 257.000,00
Há, igualmente, que anular o valor correspondente ao passi-
vo por impostos diferidos, com a seguinte contabilização:
2.  Utilização do Excedente de Revalorização:
Data Contas Descrição Débito Crédito
Tal como mencionado em 7.2.G.2, a utilização do Excedente Dez/2N08 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 1.680,00
de Revalorização é efectuada pelo uso do AFT.   2742 Passivos por impostos diferidos € 1.680,00  
Assim,
Realização do excedente (antes de IRC) =   Após estes lançamentos, a conta 433 AFT – Equipamento
(€ 21.000,00 – € 4.200,00 * 2) / 3 anos = € 4.200,00 Básico apresenta o valor de € 2.528.000,00 e a conta 4383
Realização do excedente (impostos diferidos) =   Depreciações Acumuladas – Equipamento Básico o valor de
(€ 4.200,00 – € 840,00 * 2) / 3 anos = € 840,00
€ 2.022.400,00.
A contabilização a efectuar será a seguinte:
Data Contas Descrição Débito Crédito
I) No final de 2N09 são efectuadas as seguintes opera-
Dez/2N08 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 4.200,00   ções:
  56 Resultados Transitados   € 4.200,00 1.  Depreciação de 2N09:
Dez/2N08 2742 Passivos por impostos diferidos € 840,00  
  8122 RL Período – IRC – Imposto diferido  
O Valor da Depreciação a considerar em 2N09 é:
€ 840,00
Dez/2N08 56 Resultados Transitados € 840,00   (€ 2.528.000,00 – € 2.022.400,00) / 2 Anos = € 252.800,00
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 840,00
E a contabilização do exercício é a seguinte:
Data Contas Descrição Débito Crédito
3.  Revalorização por Decréscimo:
Dez/2N09 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 252.800,00  
Em Dez/2N08, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV   4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 252.800,00
atribuído a este equipamento é € 505.600,00 e a QE perfaz
€ 514.000,00. A diferença por decréscimo é de € 8.400,00, 2.  Verificação da existência de Excedente de Revalorização:
pelo que é necessário efectuar o correspondente ajustamento Em Dez/2N09, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
de revalorização. atribuído a este equipamento é € 252.000,00 e a QE totali-

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    13


za € 252.600,00 pelo que não há que efectuar qualquer 7. Sempre que ocorra uma revalorização por decréscimo há,
ajustamento de revalorização. igualmente, que verificar se existem operações anteriores
que devam ser objecto de análise e de regularização, no-
J) No final de 2N10 são efectuadas as seguintes opera- meadamente, em relação a eventuais saldos relativos a Ex-
ções: cedentes de Regularização e Passivos por Impostos Diferidos.
1.  Depreciação de 2N10: 8. O valor da QE que se apresenta anualmente no Balanço
O Valor da Depreciação considerada como gasto em 2N10 é: da entidade corresponde ao JV, a não ser que não haja
diferenças materialmente relevantes entre o JV e a QE,
(€ 2.528.000,00 – € 2.275.200,00) / 1 Ano = € 252.800,00
situação em que não se apura excedente de revalorização
E efectua-se a seguinte contabilização: e se continua a considerar a QE.
Data Contas Descrição Débito Crédito
Dez/2N10 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 252.800,00  
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 252.800,00 7.3 – Revalorização por Eliminação

2.  Verificação da existência de Excedente de Revalorização: A) No final de 2N01 são efectuadas as seguintes opera-
ções:
Em Dez/2N10 termina o período de vida útil deste equipa-
mento. O JV atribuído a este equipamento (Quadro 1) é de 1.  Depreciação de 2N01:
€0,00. Finalizam, assim, as operações relacionadas com este O Valor da Depreciação de 2N01 é:
equipamento integrado. € 2.500.000,00 / 10 Anos = € 250.000,00
A resolução deste Caso Prático pelo Modelo de Revaloriza- 
E a contabilização desta depreciação anual é:
ção por Reexpressão permite que se retirem as seguintes
ilações: Data Contas Descrição Débito Crédito
Dez/2N01 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 250.000,00  
1. Sempre que o Justo Valor não difira materialmente da
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 250.000,00
Quantia Escriturada não se apura excedente de revaloriza-
ção, continuando ser a QE a base para determinar o
2.  Revalorização por Acréscimo:
gasto com a depreciação do exercício.
Em Dez/2N01, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
2. Sempre que o JV difira materialmente da QE há que apu-
atribuído a este equipamento é € 2.376.000,00 e a quantia
rar um coeficiente de revalorização, o qual resulta do
escriturada (QE) perfaz € 2.250.000,00. A diferença terá o
quociente entre o JV e a QE, e que se aplica, quer ao
reconhecimento da regra geral definida no §§ 39 da NCRF 7.
custo, quer às depreciações acumuladas. Após a aplicação
As depreciações futuras deste equipamento básico, resultan-
deste coeficiente, o valor da QE fica igual ao JV.
tes desta revalorização, não são fiscalmente dedutíveis. O
3. Este procedimento efectua-se sempre que exista uma di-
passivo por impostos diferidos corresponde ao produto do
ferença, por acréscimo ou por decréscimo, entre o JV e a
excedente de revalorização pela taxa de imposto:
QE.
4. A diferença de revalorização é contabilizada de acordo com Passivo por Impostos Diferidos = € 126.000,00 * 20% =
€ 25.200,00
a regra geral ou com a excepção definidas nos §§ 39 e 40
da NCRF 7, tendo em consideração acontecimentos ante- E a contabilização a efectuar em 2N01 é:
riores, caso existam.
Data Contas Descrição Débito Crédito
5. Sempre que ocorra uma revalorização por acréscimo há Dez/2N01 433 AFT – Equipamento Básico   € 124.000,00
que apurar os respectivos Passivos por Impostos Diferidos.   4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 250.000,00  
6. Nos anos seguintes, e de acordo com o disposto no §§ 41   5891 Outros Excedentes – Antes de IRC   € 126.000,00
Dez/2N01 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos € 25.200,00  
da NCRF 7, a utilização do Excedente de Revalorização   2742 Passivos por impostos diferidos   € 25.200,00
incluído no Capital Próprio é efectuada à medida que o
AFT for usado pela entidade (realização parcial). A quantia No método por eliminação, o valor da QE vai ser substituído
do excedente a transferir corresponde à diferença entre a pelo valor atribuído ao JV, dando origem a um excedente de
depreciação baseada na quantia escriturada revalorizada revalorização de € 126.000,00. Após a contabilização deste
do activo e a depreciação baseada no custo original desse excedente de revalorização, a conta 433 AFT – Equipamento
mesmo activo. De igual modo, há que transferir o corres- Básico apresenta o valor de € 2.376.000,00 e a conta 4383
pondente Passivo por Impostos Diferidos que é incluído no Depreciações Acumuladas – Equipamento Básico encontra-se
Resultado Líquido do Período – IRC – Imposto diferido. saldada.

14    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


contabilidade financeira
Maria Lúcia Marques

B) No final de 2N02 são efectuadas as seguintes opera- C) No final de 2N03 são efectuadas as seguintes opera-
ções: ções:
1.  Depreciação de 2N02: 1.  Depreciação de 2N03:
O Valor da Depreciação a considerar como gasto em 2N02  O Valor da Depreciação correspondente a 2N03 é:
é:
(€ 2.376.000,00 – € 264.000,00) / 8 Anos = € 264.000,00
(€ 2.376.000,00) / 9 Anos = € 264.000,00
E efectua-se a seguinte contabilização:
A contabilização desta depreciação anual é:
Data Contas Descrição Débito Crédito
Data Contas Descrição Débito Crédito Dez/2N03 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 264.000,00  
Dez/2N02 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 264.000,00     4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 264.000,00
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 264.000,00

2.  Utilização do Excedente de Revalorização:


2.  Utilização do Excedente de Revalorização:
Na alínea 7.3.B.2., justificou-se a utilização do Excedente de
De acordo com o disposto no §§ 41 da NCRF 7, a utilização Revalorização. Neste exercício económico aplicam-se os mes-
do Excedente de Revalorização incluído no Capital Próprio é mos cálculos, os mesmos procedimentos e a contabilização é
efectuada à medida que o AFT for usado pela entidade, ou similar.
seja, o reconhecimento é efectuado pela depreciação do A contabilização a efectuar em 2N03 é:
exercício (realização parcial). A quantia do excedente a trans-
Data Contas Descrição Débito Crédito
ferir será a diferença entre a depreciação baseada na quantia Dez/2N03 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 14.000,00  
escriturada revalorizada do activo e a depreciação baseada no   56 Resultados Transitados   € 14.000,00
custo original desse mesmo activo. Dez/2N03 2742 Passivos por impostos diferidos € 2.800,00  
  8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 2.800,00
Assim,
Dez/2N03 56 Resultados Transitados € 2.800,00  
Depreciação com base na quantia revalorizada = € 264.000,00   5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 2.800,00

Depreciação com base na quantia inicial = € 250.000,00


Realização do excedente (antes de IRC) =   3.  Revalorização por Decréscimo:
€ 264.000,00 – € 250.000,00 = € 14.000,00 Em Dez/2N03, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
Realização do excedente (impostos diferidos) =   atribuído a este equipamento é € 1.701.000,00 e a QE per-
€ 14.000,00 * 20% = € 2.800,00 faz € 1.848.000,00. O decréscimo de revalorização é de
Ou €  147.000,00 pelo que é necessário efectuar o correspon-
Realização do excedente (antes de IRC) =  
dente ajustamento de revalorização. No reconhecimento des-
€ 126.000,00 / 9 anos = € 14.000,00 ta revalorização por decréscimo, há que aplicar o definido no
Realização do excedente (impostos diferidos) =   §§ 40 da NCRF 7.
€ 25.200,00 / 9 anos = € 2.800,00 As contas envolvidas apresentam os seguintes saldos:

Conta Designação Saldo Devedor Saldo Credor


A contabilização destas operações é a seguinte:
433 AFT – Equipamento Básico € 2.376.000,00
Data Contas Descrição Débito Crédito 4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 528.000,00
Dez/2N02 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 14.000,00   5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 98.000,00
  56 Resultados Transitados   € 14.000,00 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos € 19.600,00
Dez/2N02 2742 Passivos por impostos diferidos € 2.800,00  
  8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 2.800,00 No método por eliminação, o saldo da QE vai ser substituído
Dez/2N02 56 Resultados Transitados € 2.800,00   pelo valor atribuído ao JV.
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 2.800,00
As depreciações futuras do equipamento básico, resultantes
desta revalorização, são menores do que as fiscalmente de-
Em Dez/2N02, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
dutíveis. Há, por isso, que anular o valor correspondente ao
atribuído a este equipamento é € 2.112.500,00 e a QE per-
Passivo por impostos diferidos.
faz € 2.112.000,00. Como o JV não difere materialmente da
A contabilização relativa a esta revalorização é efectuada
QE não há que apurar ajustamento de revalorização.
através da redução do Excedente de Revalorização e a dife-
rença é considerada como Perda por imparidade:

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    15


Data Contas Descrição Débito Crédito AFT – Equipamento Básico apresenta o valor de € 1.701.000,00
Dez/2N03 433 AFT – Equipamento Básico   € 675.000,00 e a conta 4383 Depreciações Acumuladas – Equipamento
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 528.000,00   Básico o valor de € 486.000,00). O acréscimo (€ 70.000,00)
  5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 98.000,00  
  655 Perdas por Imparidade – AFT € 49.000,00   terá o reconhecimento da excepção definida no §§ 39 da
NCRF 7, devendo ser reconhecido nos resultados até ao pon-
O valor associado ao Passivo por impostos diferidos tem a to em que reverta um decréscimo de revalorização do mesmo
seguinte regularização: activo previamente reconhecido nos resultados.
Data Contas Descrição Débito Crédito
Na alínea 7.3.C.3. foi contabilizada uma perda por impari-
Dez/2N03 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 19.600,00 dade no valor de € € 49.000,00. O acréscimo de revalori-
  2742 Passivos por impostos diferidos € 19.600,00   zação de € 70.000,00 será reconhecido em duas rubricas
diferentes: numa conta de rendimentos (€ 49.000,00) e, a
Após a contabilização deste excedente de revalorização, a diferença, numa conta de excedentes de regularização (€
conta 433 AFT – Equipamento Básico apresenta o valor de 21.000,00).
€  1.701.000,00 e a conta 4383 Depreciações Acumula- Tal como referido no ano 2N01, as depreciações futuras des-
das – Equipamento Básico encontra-se saldada, bem como te equipamento básico, resultantes desta revalorização, não
as contas 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC, 5892 são fiscalmente dedutíveis. O valor do Passivo por impostos
Outros Excedentes – Impostos diferidos e 2742 Passivos por diferidos correspondente é:
impostos diferidos.
Passivo por Impostos Diferidos = € 21.000,00 * 20% = € 4.200,00

D) No final de 2N04 são efectuadas as seguintes opera- Relativamente a estas operações são efectuadas os seguintes
ções: lançamentos:

1.  Depreciação de 2N04: Data Contas Descrição Débito Crédito

O Valor da Depreciação relativa a 2N04 é: Dez/2N05 433 AFT – Equipamento Básico   € 416.000,00
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 486.000,00  
(€ 1.701.000,00) / 7 Anos = € 243.000,00   7625 Reversões – De Perdas por Imparidade – AFT   € 49.000,00
  5891 Outros Excedentes – Antes de IRC   € 21.000,00
E a contabilização é a seguinte: Dez/2N05 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos € 4.200,00  
Data Contas Descrição Débito Crédito   2742 Passivos por impostos diferidos   € 4.200,00
Dez/2N04 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 243.000,00  
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 243.000,00 Após a contabilização deste excedente de revalorização, a
conta 433 AFT – Equipamento Básico apresenta o valor de
2.  Verificação da existência de Excedente de Revalorização: €  1.285.000,00 e a conta 4383 Depreciações Acumuladas
– Equipamento Básico encontra-se saldada.
Em Dez/2N04, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
atribuído a este equipamento é € 1.458.500,00 e a QE perfaz
€ 1.458.000,00. Como o JV não difere materialmente da QE F) No final de 2N06 são efectuadas as seguintes opera-
não há que efectuar qualquer ajustamento de revalorização. ções:
1.  Depreciação de 2N06:
E) No final de 2N05 são efectuadas as seguintes opera- O Valor da Depreciação relativo a 2N06 é:
ções:
(€ 1.285.000,00) / 5 Anos = € 257.000,00
1.  Depreciação de 2N05:
E a contabilização é a seguinte:
O Valor da Depreciação a considerar como gasto em 2N05 é:
Data Contas Descrição Débito Crédito
(€ 1.701.000,00 – € 243.000,00) / 6 Anos = € 243.000,00
Dez/2N06 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 257.000,00  
E efectua-se a seguinte contabilização:   4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 257.000,00

Data Contas Descrição Débito Crédito


Dez/2N05 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 243.000,00  
2.  Pelo Excedente de Revalorização:
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 243.000,00 Tal como se justificou na alínea 7.3.B.2., a utilização do Exce- 
dente de Revalorização incluído no Capital Próprio (€ 21.000,00)
2.  Revalorização por Acréscimo: é reconhecida através da depreciação do exercício (realização
Em Dez/2N05 o JV atribuído a este equipamento é parcial), o qual é repartido pelo n.º de anos que ainda faltam
€ 1.285.000,00 e a QE perfaz € 1.215.000,00 (a conta 433 depreciar.

16    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


contabilidade financeira
Maria Lúcia Marques

Assim, H) No final de 2N08 são efectuadas as seguintes opera-


Realização do excedente (antes de IRC) =   ções:
€ 21.000,00 / 5 anos = € 4.200,00
1.  Depreciação de 2N08:
Realização do excedente (impostos diferidos) =  
€ 4.200,00 / 5 anos = € 840,00 O Valor da Depreciação de 2N08 é:

E a contabilização das operações é a que a seguir se apresen- (€ 1.285.000,00 – € 257.000,00 * 2) / 3 Anos = € 257.000,00
ta: O gasto com a depreciação deste exercício tem a seguinte
Data Contas Descrição Débito Crédito contabilização:
Dez/2N06 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 4.200,00   Data Contas Descrição Débito Crédito
  56 Resultados Transitados   € 4.200,00
Dez/2N08 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 257.000,00  
Dez/2N06 2742 Passivos por impostos diferidos € 840,00     4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 257.000,00
  8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 840,00
Dez/2N06 56 Resultados Transitados € 840,00  
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 840,00 2.  Utilização do Excedente de Revalorização:
A utilização do Excedente de Revalorização é efectuada pelo
Em Dez/2N06, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV uso do AFT, como se justificou na alínea 7.3.B.2..
atribuído a este equipamento é € 1.027.000,00 e a QE tota- Assim,
liza € 1.028.000,00. Como o JV não difere materialmente da Realização do excedente (antes de IRC) =  
QE não há que apurar ajustamento de revalorização. (€ 21.000,00 – € 4.200,00 * 2) / 3 anos = € 4.200,00
Realização do excedente (impostos diferidos) =  
G) No final de 2N07 são efectuadas as seguintes opera- (€ 4.200,00 – € 840,00 * 2) / 3 anos = € 840,00
ções: E a contabilização a efectuar é a seguinte:
1.  Depreciação de 2N07: Data Contas Descrição Débito Crédito
O Valor da Depreciação a considerar em 2N07é: Dez/2N08 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 4.200,00  
  56 Resultados Transitados   € 4.200,00
(€ 1.285.000,00 – € 257.000,00) / 4 Anos = € 257.000,00
Dez/2N08 2742 Passivos por impostos diferidos € 840,00  
A contabilização a efectuar é:   8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 840,00
Dez/2N08 56 Resultados Transitados € 840,00  
Data Contas Descrição Débito Crédito   5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 840,00
Dez/2N07 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 257.000,00  
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 257.000,00
3.  Revalorização por Decréscimo:
Em Dez/2N08, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
2.  Utilização do Excedente de Revalorização:
atribuído a este equipamento é € 505.600,00 e a QE perfaz
A utilização do Excedente de Revalorização é efectuada pelo
€ 514.000,00. Há um decréscimo de € 8.400,00 pelo que é
uso do AFT (ver alínea 7.3.B.2.).
necessário efectuar o correspondente ajustamento de revalo-
Assim,
rização.
Realização do excedente (antes de IRC) =   No reconhecimento desta revalorização por decréscimo, há
(€ 21.000,00 – € 4.200,00) / 4 anos = € 4.200,00
que aplicar o definido no §§ 40 da NCRF 7. Os saldos das
Realização do excedente (impostos diferidos) =  
contas envolvidas apresentam os seguintes valores:
(€ 4.200,00 – € 840,00) / 4 anos = € 840,00
Conta Designação Saldo Devedor Saldo Credor
E os lançamentos a efectuar neste exercício são: 433 AFT – Equipamento Básico € 1.285.000,00
4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 771.000,00
Data Contas Descrição Débito Crédito 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 8.400,00
Dez/2N07 5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 4.200,00   5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos € 1.680,00
  56 Resultados Transitados   € 4.200,00
Dez/2N07 2742 Passivos por impostos diferidos € 840,00   O decréscimo do Excedente de Revalorização a efectuar
  8122 RL Período – IRC – Imposto diferido   € 840,00
corresponde ao saldo da conta 5891 Outros Excedentes – 
Dez/2N07 56 Resultados Transitados € 840,00  
  5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 840,00 – Antes de IRC. Assim, a contabilização a realizar é a se-
guinte:
Em Dez/2N07, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV
Data Contas Descrição Débito Crédito
atribuído a este equipamento é € 771.500,00 e a QE perfaz Dez/2N08 433 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 779.400,00
€  771.000,00, daí que não haja movimentos adicionais a   4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico € 771.000,00  
efectuar.   5891 Outros Excedentes – Antes de IRC € 8.400,00  

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    17


Também se deve anular o valor correspondente ao Passivo por A resolução deste Caso Prático pelo Modelo de Revalorização
impostos diferidos, efectuando a seguinte contabilização: por Eliminação permite que se retirem as seguintes ilações:
Data Contas Descrição Débito Crédito
1. Sempre que o Justo Valor não difira materialmente da
Dez/2N08 5892 Outros Excedentes – Impostos diferidos   € 1.680,00 Quantia Escriturada não se apura excedente de revaloriza-
  2742 Passivos por impostos diferidos € 1.680,00   ção, continuando a ser a QE a base para determinar o
gasto com a depreciação do exercício.
Após a contabilização deste excedente de revalorização, a
2. Sempre que o JV difira materialmente da QE há que anu-
conta 433 AFT – Equipamento Básico apresenta o valor de
lar o saldo relativo às Depreciações Acumuladas dos AFT
€  505.600,00 e a conta 4383 Depreciações Acumuladas –
e repor na conta do AFT a quantia atribuída ao JV.
– Equipamento Básico encontra-se saldada. Também as contas
3. Este procedimento efectua-se sempre que exista uma dife-
5891 Outros Excedentes – Antes de IRC, 5892 Outros Exce-
rença, por acréscimo ou por decréscimo, entre o JV e a QE.
dentes – Impostos diferidos e 2742 Passivos por impostos
4. A diferença de revalorização é contabilizada de acordo com
diferidos se encontram saldadas.
a regra geral ou com a excepção definidas nos §§ 39 e 40
da NCRF 7, tendo em consideração acontecimentos ante-
I) No final de 2N09 são efectuadas as seguintes opera- riores, caso existam.
ções: 5. Sempre que ocorra uma revalorização por acréscimo há
1.  Depreciação de 2N09: que apurar os respectivos Passivos por Impostos Diferidos.
O Valor da Depreciação a considerar como gasto em 2N09 é: 6. Nos anos seguintes, e de acordo com o disposto no §§ 41
da NCRF 7, a utilização do Excedente de Revalorização
(€ 505.600,00) / 2 Anos = € 252.800,00
incluído no Capital Próprio é efectuada à medida que o
E o lançamento a efectuar é o seguinte: AFT for usado pela entidade (realização parcial). A quantia
Data Contas Descrição Débito Crédito do excedente a transferir corresponde à diferença entre a
Dez/2N09 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 252.800,00   depreciação baseada na quantia escriturada revalorizada
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 252.800,00
do activo e a depreciação baseada no custo original desse
mesmo activo. De igual modo, há que transferir o corres-
2.  Verificação da existência de Excedente de Revalorização:
pondente Passivo por Impostos Diferidos que é incluído no
Em Dez/2N09, de acordo com os dados do Quadro 1, o JV Resultado Líquido do Período – IRC – Imposto diferido.
atribuído a este equipamento é € 252.000,00 e a QE totali- 7. Sempre que ocorra uma revalorização por decréscimo há,
za € 252.600,00 pelo que não há que efectuar qualquer igualmente, que verificar se existem operações anteriores
ajustamento de revalorização. que devam ser objecto de análise e de regularização, no-
meadamente, em relação a eventuais saldos relativos a
J) No final de 2N10 são efectuadas as seguintes opera- Excedentes de Regularização e Passivos por Impostos Dife-
ções: ridos.
1.  Depreciação de 2N10: 8. O valor da QE que se apresenta anualmente no Balanço
da entidade corresponde ao JV, a não ser que não haja
O Valor da Depreciação a considerar em 2N10 é:
diferenças materialmente relevantes entre o JV e a QE,
(€ 505.600,00 – € 252.800,00) / 1 Ano = € 252.800,00
situação em que não se apura excedente de revalorização
E a contabilização a efectuar neste exercício é: e se continua a considerar a QE.
Data Contas Descrição Débito Crédito A resolução deste Caso Prático, pelas duas formas, permite- 
Dez/2N10 6423 Gastos de Depreciação – Equip. Básico € 252.800,00   -nos constatar que:
  4383 Depreciações Acumuladas – Equip. Básico   € 252.800,00 • os resultados obtidos no modelo de Revalorização são iguais,
quer se adopte a forma da reexpressão, quer a da elimina-
2.  Verificação da existência de Excedente de Revalorização: ção, diferindo apenas pelo processo como se calculam e se
Em Dez/2N10 termina o período de vida útil deste equipa- contabilizam as operações;
mento. De acordo com os dados do Quadro 1, o JV atribuído • se o bem estiver totalmente depreciado, estas duas formas
a este equipamento é € 0,00. Finalizam, assim, as operações também diferem. Na forma da eliminação o processo é si-
relacionadas com este equipamento integrado. mular ao indicado anteriormente. Na forma de reexpressão
terá que se determinar o período de vida útil adicional e
recalcular as depreciações acumuladas com base no período
de vida útil total (inicial + adicional).

18    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


contabilidade financeira
Maria Lúcia Marques

8. Considerações Finais As Bases para a apresentação de demonstrações financeiras


(BADF) referem no ponto 2.1 que:
Neste Trabalho escolheu-se o estudo da problemática do • O reconhecimento, a mensuração, a divulgação e os aspec-
Modelo de Revalorização dos AFT. Em termos de investi-  tos particulares de apresentação de transacções específicas
gação, foi elaborada baseando-se no protocolo metodoló-  e outros acontecimentos são tratados nas NCRF.
gico proposto por Raupp e Beuren (2006) e optou-se  • As demonstrações financeiras são uma representação estru-
nesta pesquisa (i) quanto aos objectivos, por ser descritiva e turada da posição financeira e do desempenho financeiro
explicativa, (ii) quanto aos procedimentos, por ser bibliográ- de uma entidade. O objectivo das demonstrações financei-
fica e (iii) quanto à abordagem do problema, por ser quali- ras de finalidades gerais é o de proporcionar informação
tativa. acerca da posição financeira, do desempenho financeiro e
Durante a vigência do Plano Oficial de Contabilidade, as dos fluxos de caixa de uma entidade que seja útil a uma
Reavaliações Legais e as Reavaliações Livres foram objecto de vasta gama de utentes na tomada de decisões económicas.
bastante estudo pelas alterações que provocavam nas De- • A apresentação apropriada exige a representação fidedigna
monstrações Financeiras. A mudança de normativo contabi- dos efeitos das transacções, outros acontecimentos e con-
lístico em 2010 abriu caminhos para a possibilidade de, na dições de acordo com as definições e critérios de reconhe-
mensuração subsequente dos AFT, se optar entre o Modelo cimento para activos, passivos, rendimentos e gastos esta-
do Custo e o Modelo de Revalorização. belecidos na estrutura conceptual. Presume-se que a
O Modelo de Revalorização refere que o reconhecimento dos aplicação das NCRF, com divulgação adicional quando ne-
AFT pode ser efectuado por uma quantia revalorizada quan- cessária, resulta em demonstrações financeiras que alcan-
do possa ser mensurado fiavelmente o seu justo valor. Este çam uma apresentação apropriada.
conceito não é pacífico, sendo objecto de diversa investigação
e ‘opinião’. Neste Trabalho não se desenvolveram conceitos Com este estudo aprofundado espera-se ter contribuído para
relacionados com o JV mas apenas se analisaram as implica- um melhor conhecimento do normativo contabilístico relacio-
ções contabilísticas do Modelo de Revalorização. nado com os Activos Fixos Tangíveis, em especial no que se
A partir do estudo da NCRF 7 – AFT, a qual transcreve a IAS refere à adopção do Modelo de Revalorização.
16 – AFT, procurou-se desenvolver o processo de revalorização
e as formas como este pode ser concretizado.
Neste modelo, a revalorização pode ser por acréscimo ou por REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
decréscimo. E pode ser efectuada por duas formas: por reex-
pressão (através de um índice ou coeficiente) ou por elimina- Alexander, D.; Britton, A. e Jorisse, A. (2007). International Financial Re-
porting and Analysis. Third edition. London: Thomson Learning.
ção, diferindo apenas pela forma como o processo é desen- Almeida, R.; Almeida, C.; Dias, A.; Albuquerque, F.; Carvalho, F. e Pinhei-
volvido e contabilizado. ro, P. (2010a). SNC Casos Práticos e Exercícios Resolvidos. Volume 2.
Também se efectuou o enquadramento dos impostos diferidos Lisboa: AFT – Edições.
Almeida, R. (2010b). SNC Legislação (compilação). Lisboa: AFT – Edições.
pois a diferença entre a quantia escriturada de um activo Assembleia da República (AR, 2010). Lei n.º 7/2010, primeira alteração,
revalorizado e a sua base fiscal é uma diferença temporária por apreciação parlamentar, ao Decreto-Lei n.º 207/2009, de 31 de
e dá origem a um passivo por impostos diferidos. Nos Activos Agosto, que procede à alteração do Estatuto da Carreira do Pessoal
Docente do Ensino Superior Politécnico. Diário da República, 1.ª série,
escriturados pelo justo valor, o excesso das depreciações fu- 93, de 13 de Maio, pp. 1648-1651.
turas, resultantes da aplicação do modelo de revalorização, Bline, D.; Fischer, M. e Skekel, T. (2008). Advanced Accounting. Interna-
não é fiscalmente dedutível. tional Edition. New Jersey: John Willey & Sons, Inc.
Borges, A.; Rodrigues, J. e Rodrigues, R. (2010). Elementos de Contabili-
Para uma melhor compreensão do tema considerou-se opor- dade Geral. 25.ª Edição. Lisboa: Áreas Editora.
tuno elaborar um Caso Prático que procurasse, ao longo dos Borges, A.; Rodrigues, J.; Rodrigues, A. e Rodrigues, R. (2007). As novas
10 anos do período de vida útil, interligar as questões asso- Demonstrações Financeiras de acordo com as Normas Internacionais
de Contabilidade. 2.ª Edição. Lisboa: Áreas Editora.
ciadas ao modelo de revalorização dos AFT, nas duas formas, Comunidade Europeia (CE, 2002). Regulamento (CE) n.º 1606/2002 do
com a problemática dos impostos diferidos, justificando-as Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Julho de 2002, relativo
com o normativo em vigor e apresentando a respectiva con- à aplicação das Normas Internacionais de Contabilidade. Jornal Oficial
das Comunidades Europeias, L 243, 11.9.2002 PT, pp. 1-4.
tabilização anual. A resolução do Caso Prático permitiu cons- Comunidade Europeia (CE, 2003). Regulamento (CE) n.º 1725/2003 da
tatar que os resultados obtidos no Método de Revalorização Comissão, de 21 de Setembro, relativo à adopção de certas Normas
são iguais, quer se adopte a forma da reexpressão, quer a da Internacionais de Contabilidade nos termos do Regulamento (CE) 
n.º 1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho. (tradução para
eliminação. A forma como se calculam e contabilizam as
todas as línguas dos EM). Jornal Oficial das Comunidades Europeias,
operações é que difere. L 261, 13.10.2003 PT, pp. 1-656.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    19


Comunidade Europeia (CE, 2008). Regulamento (CE) n.º 1126/2008 da
Comissão, de 3 de Novembro. Este regulamento adopta determina-
das normas internacionais de contabilidade nos termos do Regula-
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Plano Oficial de Contabilidade. Diário da República, 1.ª série, 268, de
21 de Novembro, pp. 5112(2)-5112(32). 1.º Prémio do C.A. do Prémio de Contabilidade “Luiz Chaves de Al-
(*)

Ministério das Finanças (MF, 1998). Decreto-Lei n.º 31/98, que permite meida”, edição 2011.
aos sujeitos passivos do IRS e do IRC reavaliar os elementos do seu (**)
A autora agradece o acompanhamento e as sugestões das Prof. Dra.
activo imobilizado tangível, afectos ao exercício de uma actividade Maria do Céu Alves, Rute Abreu e Fátima David e a revisão dos Prof.
comercial, industrial ou agrícola, cujo período mínimo de vida útil seja Vitor Simões e Fernando Pêga Magro
igual ou superior a cinco anos. Diário da República, 1.ª Série – A, 35, (17)
Como já se salientou, a Sociedade ABC, SA adopta o método da linha
de 11 de Fevereiro, pp. 549-551. recta, regime por duodécimos para determinar o gasto com a depre-
ciação do exercício. Como o equipamento entrou em funcionamento
em Janeiro de 2N01, a depreciação do primeiro ano vai corresponder
aos 12 meses, ou seja, à totalidade do ano.

20    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


fiscalidade

A perceção sobre o sistema tributário evidenciada por


estudantes de Fiscalidade: resultados de um estudo(*)

Marisa Gomes
Mestre em Economia pela FEUC

António Martins
Professor na FEUC

1. Introdução

O sistema tributário português sofreu, ao longo das últimas ii) Tendo sido expostos a aspetos concetuais e práticos sobre
décadas, variadas transformações, introduzidas por modifica- muitos pontos polémicos do sistema tributário, e às várias
ções fiscais que, com maior ou menor êxito, foram contri- opções que sobre eles se podem tomar, os inquiridos
buindo para o seu atual formato. apresentam uma noção da necessidade de escolhas (trade
As questões da equidade, da eficiência e da complexidade do offs) e compromissos inerentes a qualquer sistema fiscal;
sistema fiscal constituem aspetos sempre presentes em todas iii) Como estudantes de Gestão e Economia, trata-se de in-
as épocas e todos os países. Constituindo temas de debate divíduos que, num futuro mais ou menos longínquo, terão
diário sobre o sistema fiscal, julgamos que a auscultação de (pelo menos alguns deles) uma certa probabilidade de
indivíduos que tenham opinião tecnicamente fundada sobre exercer funções de gestão de organizações, de auditoria
tais matérias é relevante, de forma a conhecer melhor a per- fiscal, de consultoria fiscal, de decisão politica, e outras
ceção destes segmentos da população acerca de tão impor- relacionadas com a conceção e aplicação dos impostos.
tante elemento da vida social: os impostos. Assim, trata-se de opiniões provenientes de inquiridos que
Neste âmbito, o texto que se segue baseia-se num estudo poderão ter papel relevante na evolução futura do sistema
que visa apresentar uma análise do sistema fiscal português tributário e sua aplicação.
tendo em conta: a fiscalidade e a justiça social, a fiscalidade Como desvantagens, podemos salientar:
e a eficiência económica, a fiscalidade e a simplicidade, com i) Trata-se, na esmagadora maioria, de indivíduos que não
um enfoque empírico na forma como os estudantes da Fa- têm ainda – ou têm esporadicamente – interação com as
culdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), autoridades tributárias; ou seja, não são, em regra, sujei-
que estudaram Fiscalidade em 2012, avaliam o atual sistema tos passivos de impostos. Daí que não sejam muito co-
português. nhecedores dos aspetos procedimentais do sistema e da
Ao escolherem-se estudantes de Fiscalidade para serem ques- sua aplicação;
tionados sobre tais aspetos estamos conscientes das vanta- ii) A sua perceção, expressa nas respostas, pode ser influen-
gens e limitações de tal opção. Como vantagens, são de sa- ciada pela forma como a disciplina foi lecionada, e do
lientar as seguintes: destaque nela concedido a um ou outro ponto mais con-
i) Ao serem questionados na fase final de uma disciplina na troverso, daí resultando algum enviesamento nas opiniões.
qual estudaram os aspetos económicos gerais relativos ao Todavia, fez-se um forte esforço de facultar uma perspe-
sistema fiscal e, depois, uma introdução ao IRS, ao IRC e tiva aberta e discutida sobre o sistema fiscal, procurando
ao IVA, estes inquiridos têm, por certo, um conhecimento evitar a referência a soluções únicas ou sempre tidas como
do sistema tributário que os habilita a pronunciarem-se preferíveis.
sobre ele de maneira mais sustentada, face ao “cidadão Ainda assim, pesados os prós e os contras, entendeu-se que
comum”; amostra de estudantes inquiridos revela um conhecimento
razoável dos problemas fiscais. Vale a pena inquirir este pú-
blico, para se conhecer melhor a perceção de quem estudou
alguns dos principais impostos que são traves mestras do
nosso sistema tributário.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    21


2. Enquadramento do estudo conjunto de questões com o objetivo de caraterizar a amostra
deste estudo, nomeadamente a idade, o sexo, a atividade
Esta secção é dedicada, essencialmente, ao tipo de estudo profissional dos pais, a titularidade de ativos financeiros e a
efetuado e ao método utilizado, bem como à caraterização posição política do indivíduo.
da amostra usada.

a) Tipo de estudo 3. Resultados


Optou-se por um estudo empírico, assente num questionário,
uma vez que este método tem a vantagem de possibilitar um 3.1. Caraterização da amostra
melhor conhecimento concreto e prático sobre determinada
realidade. O tema sobre o qual se reflete é: Qual a perceção No sentido de caraterizar a amostra, vejamos alguns resulta-
dos estudantes sobre o sistema fiscal português? Num dos extraídos da primeira parte do questionário.
ambiente de profundas alterações, qual é a perceção dos
estudantes sobre o grau de justiça social, de eficiência eco- Pergunta n.º 1 – Género
nómica e simplicidade do sistema fiscal português, em parti-
Sexo
cular dos estudantes que têm conhecimentos de Fiscalidade,
Sexo Frequência Percentagem
por terem frequência universitária de disciplinas onde se tra-
Feminino 31 60,8%
tam destas matérias?
Masculino 20 39,2%
TOTAL 51 100%
b) Objetivos do estudo
Fonte: Elaboração Própria
O estudo centra-se nos seguintes objetivos:
Quadro 1: Número e percentagem de inquiridos por género
•  Caraterização do sistema fiscal português
•  Avaliação da perceção dos estudantes sobre o sistema fiscal
Em análise ao quadro 1, o sexo predominante é o feminino
português
com 31 elementos correspondendo a 60,8% da amostra. O
•  Verificação de que forma a atividade profissional dos pais,
sexo masculino representa 39,2% do total da amostra, cor-
a titularidade de ativos financeiros e a sua posição política
respondendo a 20 inquiridos. Tal resultado não surpreende,
influenciam a sua perspetiva sobre a justiça, eficiência e
dada a conhecida tendência de predominância de elementos
complexidade do sistema fiscal.
do sexo feminino nos cursos inquiridos, bem como no pano-
rama universitário nacional.
c) Caraterização da Amostra
No que diz respeito à amostra, ela é composta por estudan-
Pergunta n.º 2 – Idade
tes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
A amostra é constituída por 51 alunos que frequentam a Idade
Licenciatura nas áreas de Gestão e Economia, onde o percur- Idade Frequência Percentagem
so académico passa pelo estudo da Fiscalidade. 19 1 2%
A escolha da amostra é um requisito primordial para este 20 25 49%
estudo. Estes estudantes apresentam maior conhecimento em 21 8 15,7%
relação ao cidadão comum, usufruindo de uma aprendizagem 22 5 9,8%
na área fiscal e conhecimentos acima da média. São os cida- 23 2 3,9%
dãos de hoje, os potenciais decisores de amanhã. As vanta- 24 1 2%
gens associadas a esta amostra permitem que o estudo pos- 25 4 7,8%
sua uma maior consistência. 27 1 2%
28 2 3,9%
d) Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados 29 1 2%
A informação foi recolhida através de um questionário, atra- 32 1 2%
vés de inquérito direto. Depois de previamente elaboradas as Total 51 100%
perguntas, foi distribuído o questionário, presencialmente, Fonte: Elaboração Própria
junto das turmas de Fiscalidade, nas instalações da FEUC. Quadro 2: Número e percentagem de inquiridos por idade
O questionário, aquando da sua elaboração, teve em conta
determinadas caraterísticas. A primeira parte assenta num

22    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


fiscalidade
Marisa Gomes, António Martins

Dentro das limitações previsíveis relativamente ao leque de


idades a abranger, a amostra conseguiu ainda assim alcançar
várias faixas etárias, situando-se entre os 19 e 32 anos de
idade.
Da análise do quadro 2, verifica-se que o maior número de Os trabalhadores por conta de outrem representam cerca de
questionários respondidos foi por inquiridos com 20 anos, 17,6% da amostra com 9 inquiridos. Outras profissões per-
representando 49% da amostra. Seguem-se os inquiridos com centualmente relevantes correspondem a funcionários públi-
21 e 22 anos, ambos representando 15,7% e 9,8%, respeti- cos, trabalhadores por conta própria e a conjugação de tra-
vamente. Verifica-se, ainda, que entre os 20 e 22 anos de balhador por conta própria e por conta de outrem, ambos
idade se concentra 74,5% da amostra. com 6 inquiridos correspondendo a 11,8% da amostra. É de
A elevada percentagem dos inquiridos 20 e 22 anos de idade salientar que os empresários apenas correspondem a 1,961%
é justificável, uma vez que o questionário foi realizado a es- dos inquiridos.
tudantes que frequentam a Licenciatura em Economia e Ges-
tão da FEUC. Pergunta n.º 4 – É titular de ativos financeiros?

Pergunta n.º 3 – Qual a atividade profissional dos pais? Ativos Financeiros


Ativos Financeiros Frequência Percentagem
Atividade profissional dos pais Ações 1 2%
Atividade profissional dos pais Frequência Percentagem
Depósitos 37 72,5%
Desempregado 2 3,9%
Depósitos / Ações 6 11,8%
Empresário 1 2%
Depósitos / Ações / Quotas 1 2%
Empresário / Trabalhador por
2 3,9% Depósitos / Outros 2 3,9%
conta de outrem
Empresário / Trabalhador por Depósitos / Quotas 1 2%
1 2% NR 1 2%
conta própria
Estudante 2 3,9% Outros 2 3,9%
Funcionário público 6 11,8% Total 51 100%
Funcionário público / Desempre- Fonte: Elaboração Própria
3 5,9%
gado Quadro 4: Número e percentagem de inquiridos que possuem
Funcionário público / Empresário 3 5,9% ativos financeiros
Funcionário público / Trabalha-
2 3,9%
dor por conta de outrem De acordo com ao quadro 4, a larga maioria dos inquiridos
Funcionário público / Trabalha-
2 3,9% é detentora de depósitos, com cerca de 46 inquiridos. Um
dor por conta própria
total de 37 inquiridos, correspondendo a 72,5% da amostra,
NR 1 2%
possui apenas depósitos. Os restantes, para além de depósi-
Reformado 2 3,9%
tos, possuem ações, quotas e outros ativos financeiros. Ape-
Trabalhador por conta de
9 17,6% nas 6 indivíduos são detentores de depósitos e ações con-
outrem
Trabalhador por conta de juntamente, correspondendo a 11,8% da amostra. É de
1 2%
outrem / Reformado notar que nenhum dos inquiridos escolheu a opção “fun-
Trabalhador por conta de dos”.
1 2%
outrem / Reserva É natural que se verifique uma maior concentração dos ativos
Trabalhador por conta própria 6 11,8% detidos nos depósitos, uma vez que são um produto com
Trabalhador por conta própria / menor risco associado, tendo em conta a amostra em estudo.
1 2%
Desempregado E, adicionalmente, trata-se de inquiridos que estão numa fase
Trabalhador por conta própria / da vida em que o rendimento próprio para aplicar em inves-
6 11,8%
Trabalhador por conta outrem
timentos tais como ações, quotas ou fundos, não será ex-
Total 51 100%
pressivo.
Fonte: Elaboração Própria

Quadro 3: Número e percentagem de inquiridos de acordo com


a atividade profissional dos pais

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    23


Pergunta n.º 6 – Em seu entender, numa escala de 0-10,
em que 0 significa “nada justo” e 10 “extremamente
justo” como classificaria o atual sistema fiscal português?

Fiscalidade e Justiça
Pergunta n.º 5 – Qual considera ser a sua posição política? Justiça Frequência Percentagem
0 “nada justo” 0 0
Posição Política
1 2 2%
Posição Política Frequência Percentagem
2 2 2%
Centro 4 7,8%
3 4 7,8%
Centro-direita 7 13,7%
4 11 21,6%
Centro-esquerda 7 13,7%
5 9 17,6%
Direita 11 21,6%
6 10 19,6%
Esquerda 4 7,8%
7 10 19,6%
Extrema-direita 0 0
8 4 7,8%
Extrema-esquerda 0 0
9 2 2%
Nenhuma 18 35,3%
10 “extremamente justo” 0 0
Total 51 100%
Fonte: Elaboração Própria
Total 51 100%
Fonte: Elaboração Própria
Quadro 5: Número e percentagem de inquiridos de acordo com
a sua posição política Quadro 6: Número e percentagem de inquiridos de acordo com
a classificação do SF relativamente ao grau de justiça

De acordo com o quadro 5, 35,3% da amostra, corres- 


pondendo a 18 inquiridos, não possui posição política defi- Da análise ao quadro 6, em que 0 significa “nada justo” e
nida. 10 “extremamente justo”, verificamos que existe uma ligeira
Segue-se, com 11 respostas, correspondendo a cerca de tendência para valores centrais. Entre 0 e 10, a nota média
21,6% da amostra, a Direita, seguindo-se o Centro-Direita e obtida na totalidade das respostas é de 5,39. Note-se que a
o Centro-Esquerda com 13,7% da amostra, com apenas 7 maior frequência dos indivíduos encontra-se no valor 4, se-
inquiridos cada. Nesta análise, nenhum dos inquiridos optou guindo-se o 6 e 7. Nenhum dos inquiridos optou pelo 0 –
pelas opções “Extrema-direita” e “Extrema-esquerda”. “nada justo” ou 10 – “extremamente justo”.
A posição política do indivíduo afeta certamente a forma Conclui-se que, em face do valor médio, existe certa indefi-
como se pronuncia perante diversas problemáticas fiscais. Para nição quanto à tendência dominante no tocante à perceção
além disso, a evidência de um certo afastamento da política de justiça fiscal. Alvitramos duas explicações para tal resulta-
de aqui se deteta será bastante comum entre os jovens, face do: ou os estudantes entendem que, nos impostos estudados,
á deteriorada imagem da ação política em Portugal e muitos existem, simultaneamente, aspetos de justiça e injustiça que
outros países. implicam uma perspetiva mais ou menos indefinida sobre o
nível global de justiça fiscal; ou, numa atitude defensiva,
optaram por respostas ”neutras”.
3.2. Perceção dos estudantes sobre o Sistema Fiscal (SF) Em face da tendência geral da permanente associação de
“injustiça” ao nosso sistema fiscal, admitimos como provável
Na sequência da caraterização dos indivíduos, surge agora que, ao serem expostos às escolhas que o sistema fiscal impli-
uma outra parte do estudo onde se pretende conhecer a ca, e nas quais soluções vistas como mais justas podem ser
perceção dos estudantes sobre aspetos fulcrais o SF. menos simples ou menos eficientes, e até face à evolução re-
cente de certos aspetos do IRS (mais-valias, dividendos, juros)
a sensação de injustiça possa ter-se reduzido para os inquiridos.
Por outro lado, a expressão “sistema fiscal” pode ter sido
entendida apenas numa perspetiva normativa, esquecendo,
entre outros, traços como a justiça tributária na sua compo-
nente processual/litígio, ou a relação entre evasão/fraude e
respetiva penalização. O nível de simplicidade deste estudo não
permite, a este respeito, interpretações demasiado elaboradas.

24    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


fiscalidade
Marisa Gomes, António Martins

Pergunta n.º 7 – Em seu entender, numa escala de 0-10, Pergunta n.º 8 – Em seu entender, numa escala de 0-10,
em que 0 significa “nada neutro” e 10 “extremamen- em que 0 significa “nada complexo” e 10 “extremamen-
te neutro” como classificaria o atual sistema fiscal por- te complexo” como classificaria o atual sistema fiscal
tuguês? português?

Fiscalidade e Eficiência/Neutralidade Fiscalidade e Complexidade


Eficiência Frequência Percentagem Complexidade Frequência Percentagem
0 “nada neutro” 1 2% 0 “nada complexo” 0 0
1 1 2% 1 2 2%
2 4 7,8% 2 2 2%
3 7 13,7% 3 4 7,8%
4 8 15,7% 4 11 21,6%
5 13 25,5% 5 9 17,6%
6 4 7,8% 6 10 19,6%
7 10 19,6% 7 10 19,6%
8 3 5,9% 8 4 7,8%
9 0 0 9 2 2%
10 “extremamente neutro” 0 0 10 “extremamente complexo” 0 0
Total 51 100% Total 51 100%
Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria

Quadro 7: Número e percentagem dos inquiridos de acordo Quadro 8: Número e percentagem de inquiridos de acordo com
com a classificação do SF relativamente à eficiência/neutralida- a classificação do SF relativamente à complexidade
de do sistema
Da análise ao quadro 8, e no que diz respeito à complexida-
No que diz respeito ao quadro 7, no qual se apresentam de do sistema, em que 0 significa “nada complexo” e 10
elementos sobre a perceção de neutralidade do SF, onde 0 “extremamente complexo” os indivíduos consideram o SF
significa “nada neutro” e 10 “extremamente neutro” a média complexo, situando-se a média nos 7,27. Cerca de 16 indiví-
da nota média atribuída pelos inquiridos encontra-se nos 4,8. duos escolheram a opção 8. Saliente-se que a opção 0 e 1
Cerca de 12,5 dos inquiridos apontam para uma escala 5. “nada complexo” não foram escolhidas.
Nenhum dos indivíduos optou pelas opções 9 e 10 “extrema- Na sua maioria, os indivíduos tem a perceção que o SF é
mente neutro”. demasiado complexo. Um sistema fiscal ótimo deve ser sim-
Admitimos que, em face de ligação entre eficiência e neutra- ples de aplicar e compreender. A simplicidade é uma condição
lidade do sistema, no final da frequência uma disciplina in- essencial ao funcionamento de qualquer sistema fiscal. Con-
trodutória ao estudo do sistema fiscal português, a capacida- tudo, alguma complexidade pode traduzir-se em maior qua-
de interpretativa dos inquiridos, e a eventual falta de firmeza lidade normativa e certeza de aplicação.
de opiniões, possa ter conduzido a um resultado viciado por Por outro lado, os estudantes foram expostos aos traços gerais
respostas “ao centro”. de outros sistemas fiscais, com uma tónica de que não se
Na verdade, é em operações tais como fusões, cisões, trans- encontram facilmente no mundo sistemas simples, até pelo
formação de sociedades, isenções em IVA e sua renúncia, etc., impacto da crescente complexidade da vida empresarial.
que os traços de maior ou menor neutralidade são visíveis. Sendo certo que todos desejam a simplicidade fiscal, o fac-
Tais temáticas, se bem que referidas no curso lecionado, não to é que, na generalidade dos países, a legislação fiscal tem
podem, devido a restrições temporais, ser tratadas aprofun- aumentado, e os cidadãos se queixam da difícil compres- 
dadamente. Daí que os inquiridos não tenham, certamente, são do sistema tributário. Os espaços de simplificação estão
a sedimentação de conhecimentos necessária a respostas cada vez mais nos procedimentos (muito por via da tecno-
cabalmente fundamentadas. Este será mais um motivo para logias de informação) parecendo as normas legais mais difí-
uma certa cautela e, consequentemente, responder de ma- ceis de simplificar. Claro que se podem sempre simplificar,
neira a fugir de respostas extremas. desde que se esteja disposto ignorar ou relativizar o impac-
to na receita fiscal, na justiça e em outros objetivos desejáveis
do sistema.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    25


Pergunta n.º 9 – Em seu entender, ordene de acordo com Face à afirmação “A progressividade dos impostos é a única
a respetiva prioridade os requisitos primordiais na con- forma de garantir a justiça do sistema”, 49% dos inquiridos
ceção e aplicação do sistema fiscal, atribuindo 1 ao mais responderam que concordavam em certa medida, e 27,45%
importante, 2 ao seguinte e 3 ao menos importante. dos inquiridos discordam em certa medida. Conclui- 
-se que ao agrupar as opções “Concordo em absoluto” e
Ordenar os requisitos prioritários do SF
“Concordo em certa medida”, verificamos que a maioria dos
Requisitos do SFP Frequência Percentagem
inquiridos expressam afirmativamente que a progressividade
Justo 1 2%
é a única forma de garantir a justiça do sistema. De facto, a
Justo / Neutro / Simples 18 35,3%
justificação económica para a progressividade tem sido feita
Justo / Simples / Neutro 18 35,3%
com base em argumentos de que só ela permitiria uma igual-
Neutro 2 3,9%
dade de sacrifícios.
Neutro / Justo / Simples 3 5,9%
Trata-se, como se sabe, de um argumento que é muito dis-
Neutro/ Simples / Justo 2 3,9%
cutido. A progressividade – sobretudo a sua quantificação por
Simples / Justo / Neutro 7 13,7%
Total 51 100%
via de tabelas de taxas e escalões – é, antes de mais, um
Fonte: Elaboração Própria
valor político-social, não existindo um “metro” económico
que meça os sacrifícios individuais e, nesse contexto, aponte
Quadro 9: Número e percentagem de inquiridos de acordo com
a respetiva prioridade dos requisitos do sistema fiscal a exata medida da progressividade desejável ou economica-
mente eficiente.
De acordo com os inquiridos, os requisitos ao qual atribuíram
uma maior relevância são Justo/Neutro/Simples, bem como Pergunta n.º 11 – “Um país deverá possuir um sistema
Justo/Simples/Neutro, de acordo com a respetiva ordem de fiscal simples. Contudo, é natural quanto mais desen-
prioridades com 35,3% da amostra cada. O requisito que volvido é um país mais complexo será o seu sistema
mais se destaca é o da justiça fiscal. Relativamente ao segun- fiscal”
do e terceiro lugar existe uma dualidade entre um sistema
Complexidade do SF
neutro ou simples.
Complexidade do SFP Frequência Percentagem
Conclui-se que a justiça é o requisito prioritário na aplicação
Concordo em absoluto 15 29,4%
do SF. Com menor importância, segue-se a neutralidade e
Concordo em certa medida 23 45,1%
complexidade do sistema. A articulação destes 3 princípios
Discordo em absoluto 4 7,8%
pode suscitar questões de falta de compatibilidade, um siste-
ma justo pode não ser simples. Discordo em certa medida 8 15,7%
Parece-nos que esta aspiração de justiça fiscal é transversal à NS/ NR 1 2%
sociedade portuguesa (e não só). Daí que, num período em que Total 51 100%
se pede à população sacrifícios fiscais muito consideráveis, a Fonte: Elaboração Própria

sensação de justiça na sua repartição seja primordial. O decisor Quadro 11: Número e percentagem de inquiridos sobre a com-
político deve, tanto quanto possível, levar isto em consideração. plexidade do sistema fiscal português

Pergunta n.º 10 – “A progressividade dos impostos é a Da análise ao quadro 11 verifica-se que 45,1% dos inquiridos
única forma de garantir a justiça do sistema” concordam em certa medida, sendo sensíveis a esta afirma-
ção. Cerca de 29,4% dos inquiridos concordam em absoluto
Progressividade e Justiça com a presente afirmação.
Progressividade e justiça Frequência Percentagem Conclui-se que, para os inquiridos, o sistema fiscal deverá ser,
Concordo em absoluto 9 17,6% por princípio, simples. Porém, o grau de desenvolvimento de
Concordo em certa medida 25 49%
um país poderá refletir-se no grau de complexidade do próprio
Discordo em absoluto 2 3,9%
sistema. É natural que quanto mais desenvolvido for um país
Discordo em certa medida 14 27,5%
maior é o grau de complexidade que lhe está associado sen-
NS/ NR 1 2%
do inevitável face ao forte desenvolvimento e à evolução das
Total 51 100%
transações nas economias modernas. Sociedades que são
Fonte: Elaboração Própria
económica e financeiramente complexas dificilmente podem
Quadro 10: Número e percentagem de inquiridos sobre a pro-
ter sistemas tributários simples…
gressividade do imposto como forma de garantir a justiça do
sistema

26    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


fiscalidade
Marisa Gomes, António Martins

3.3. C
 araterização de alguns aspetos socioeconómicos
do Sistema Fiscal

Por fim, na última parte do questionário, tenta-se conhecer


a opinião e posição dos estudantes relativamente a alguns
aspetos socioeconómicos do sistema fiscal português.

Pergunta n.º 13 – Assinale com um X os 3 principais


Pergunta n.º 12 – No seu entender, assinale com um X,
aspetos que entende relevantes para o sistema fiscal
os três maiores obstáculos fiscais ao investimento em
português ser mais competitivo.
Portugal.
Principais aspetos para a competitividade
Obstáculos fiscais ao investimento em Portugal
do sistema fiscal português
Frequência Percentagem
Frequência Percentagem
Instabilidade do sistema fiscal 9 17,1%
Promover uma maior
Mau funcionamento da justiça 9 17,1%
12 22,9% estabilidade da lei fiscal
fiscal
O sistema ser menos
Fraca produtividade 4 7,8% 5 10,4%
complexo
Burocracia 9 17,6%
Melhorar a justiça e
Complexidade do sistema fiscal 6 12,4% 12 22,9%
equidade no sistema
Carga fiscal sobre as empresas 11 22,2% Aplicação de regimes
4 8,4%
TOTAL 51 100% simplificados na tributação
Fonte: Elaboração Própria Aumentar os direitos e
9 17,6%
Quadro 12: Número e percentagem de inquiridos relativamen- garantias dos contribuintes
te à perceção do indivíduo sobre os três maiores obstáculos Reduzir a carga fiscal 12 23,5%
fiscais ao investimento em Portugal TOTAL 51 100%
Fonte: Elaboração Própria
Na opinião dos estudantes, os três maiores obstáculos fis-  Quadro 13: Número e % de inquiridos relativamente à perceção
cais ao investimento em Portugal são: o mau funcionamen- do indivíduo sobre os três principais aspetos que entende rele-
to da justiça fiscal (22,9%), carga fiscal sobre as empresas vantes para o SFP ser mais competitivo
(22,2%) e, por último, Burocracia (17,6%). A fraca produ-
tividade é apontada como o obstáculo que menos contribui De acordo com o quadro 13, os três principais aspetos para
para o investimento em Portugal com apenas 7,8% dos a competitividade do sistema fiscal são: a redução da carga
inquiridos. fiscal (23,5%), melhorar a justiça e equidade no sistema
Conclui-se que a opinião dos indivíduos não difere muito da (22,96%) e aumentar os direitos e garantias dos contribuintes
sociedade em geral. O mau funcionamento da justiça fiscal (17,6%). Segue-se, com 17,1% dos inquiridos, a promoção
do país, bem como a elevada carga fiscal sobre as empre-  de uma maior estabilidade da lei fiscal. Por último, os estu-
sas bem como o excesso da burocracia existente são apon- dantes deram uma menor relevância à aplicação de regimes
tados com fortes obstáculos fiscais ao investimento em Por- simplificados na tributação.
tugal. Conclui-se que de acordo com o atual sistema fiscal verifica-
mos que a perceção dos estudantes, porventura, corresponde
à realidade que se vive. As sucessivas alterações ao sistema
fiscal estão, muito das vezes, dependentes das opções políti-
cas tomadas numa perspetiva conjuntural, e poucas vezes
estrutural. A instabilidade do sistema decorre, em boa parte,
deste fator.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    27


Pergunta n.º 14 – “A justiça fiscal é uma condição indis-
pensável da justiça social”.

Justiça fiscal versus Justiça social


Justiça fiscal versus social Frequência Percentagem
Concordo em absoluto 31 60,8%
Concordo em certa medida 16 31,4%
Bibliografia consultada
Discordo em absoluto 2 3,9%
BAIRRADA, Cristela e MARTINS, António (2008). Uma Nota Sobre a
Discordo em certa medida 2 3,9% Justiça Fiscal em Portugal.
NS/ NR 0 0 Consultado em 30/01/2013 em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.
php?pid=S0873-74442008000300003&script=sci_arttext
Total 51 100% CATARINO, João Ricardo, GUIMARÃES, Vasco Branco (2012). Lições de
Fonte: Elaboração Própria Fiscalidade, Coimbra, Almedina.
DGCI, Simplificação do sistema fiscal – o papel da administração
Quadro 14: Número e percentagem de inquiridos de acordo
pública.
com a condição de indispensabilidade da justiça fiscal versus MINISTÉRIO DAS FINANÇAS e da Administração Pública (MFAP) (2009).
justiça social Relatório do Grupo para o Estudo da Política Fiscal. Competi-
tividade, Eficiência e Justiça do Sistema Fiscal. Consultado em
30/01/2013 em: http://info.portaldasfinancas.gov.pt/NR/rdonlyres/
De acordo com o quadro 14, 60,78% dos inquiridos con-
8AFAA047-5AB4-4295-AA08-E09731F29B0A/0/GPFRelatorioGlobal_
cordam que a justiça fiscal é uma condição indispensável  VFinal.pdf
da justiça social. Apenas 31,37% concorda em certa medida. PEREIRA, M. H. Freitas (2009), Fiscalidade (3.ª Edição), Coimbra, Alme-
dina
De acordo com a perceção dos estudantes, a justiça  PEREIRA, Paulo Trigo et al. (2007), Economia e Finanças Públicas (2º
fiscal torna-se assim uma condição indispensável da justiça Edição).
social. SANTOS, J. Albano (2003), Teoria Fiscal. Lisboa, Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas.
Na análise de cruzamento de variáveis realizada, constata-se SLEMROD, Joel e BAKIJA, Jon (2004), Taxing Ourselves: A Citizen´s
que o sexo dos indivíduos influencia o conceito de justiça Guide to the Debate over Taxes. London, The Mit Press.
fiscal como condição de indispensabilidade de justiça social. STIGLITZ E. Joseph (2000). Economics of the Public Sector. (3rd edition).
W.W. Norton & Company.
Relativamente à atividade profissional dos pais, ela afeta a TOMAZ, João J. Amaral (2006), “A Equidade Fiscal Revisitada”. In AA.
perceção do grau de complexidade, bem como influencia o VV. (Ed.), Homenagem a José Guilherme Xavier de Basto. Coim-
conceito de justiça fiscal. No que diz respeito aos investimen- bra, Coimbra Editora, pp. 407-418.

tos financeiros, verifica-se que o grau de eficiência do SF é


influenciado pelos indivíduos que são detentores de ativos
O texto que aqui se publica é extraído, com significativas adaptações
(*)

financeiros. Na análise à posição política dos indivíduos, e simplificações, do Projeto de Dissertação de Mestrado de Marisa
conclui-se a posição política não tem impacto na forma como Gomes, apresentado na FEUC, em 2012.
os indivíduos avaliam o sistema fiscal português. Em suma:
o sexo, a titularidade de ativos financeiros e a atividade
profissional dos pais poderão influenciar muitas das opções
expressas pelos inquiridos.

50% de desconto em Formação para Desempregados


No espírito de apoio e entreajuda aos Associados, a Direcção da APOTEC atribuiu o benefício de 50% de
desconto, nas inscrições em Acções de Formação*, aos Associados que se encontrem em situação de desem-
prego.
Para o efeito, é apenas necessário comprovativo do Centro de Emprego.

*  Acções de Formação limitadas a 6h (1 dia)

28    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


síntese económica

Paulo Nogueira Filho (Jorna­lista)

Poucos com muito, muitos com


pouco De acordo com os dados do Banco de Portugal, as remessas
enviadas pelos emigrantes têm aumentado muito lentamente
Metade da riqueza do mundo está nas mãos de apenas 1% e, em 2012, ficaram ao nível do registado dez anos antes.
da população mundial. Dados divulgados pela ONG Oxfam Até 2003, o volume de dinheiro enviado pelos emigrantes
revelam o tamanho da disparidade social no planeta. A assi- para Portugal rondava os três mil milhões de euros por ano.
metria ganhou força desde 2008, quando a crise mundial Nesta altura, o volume de envios caiu para cerca de 2,4 mil
afetou em especial as classes médias. milhões de euros/ano e manteve-se praticamente inalterado
A desigualdade social é considerada como tão profunda hoje nos últimos oito anos, altura de baixo fluxo de emigração.
que começa a assustar até os organizadores do Fórum Econó- Isto até 2012, quando voltou a aumentar para o maior valor
mico Mundial de Davos, a vanguarda do capitalismo, que reú- observado desde 2001, 2,75 mil milhões de euros.
ne anualmente na estância de esqui suíça. Um documento
preparado pela entidade revela que as disparidades sociais são
riscos reais para a estabilidade internacional. Entre os riscos para
o mundo, Davos aponta que a disparidade é o maior deles.
Os solavancos dos salários
Mas é o estudo da Oxfam que traz os dados mais reveladores. portugueses
85 fortunas mundiais acumulam a mesma riqueza que 3,5
biliões de pessoas. Ou seja, metade da humanidade. Na prá- Entre 2004 e 2009, as famílias portuguesas viram o seu ren-
tica, 1% das pessoas controlam 50% do PIB do planeta. dimento disponível crescer, em média, dez pontos percentuais.
Desta vez, os dirigentes políticos reunidos em Davos foram Porém, “esses ganhos foram perdidos na quase totalidade”
confrontados com números claros. Nos EUA, 95% do cresci- até 2012, com a crise económica, indica o Índice de Bem- 
mento gerado após a crise de 2008 ficou nas mãos de 1% -Estar do Instituto Nacional de Estatística (INE) – um trabalho
da população. que realiza pela primeira vez.
Na Europa, as dez pessoas mais ricas do Velho Continente Segundo o INE, nos últimos três anos o chamado rendimento
mantêm fortunas equivalentes a todos os pacotes de resgate disponível mediano voltou para os níveis de 2004. E este não
dados aos países da região entre 2008 e 2010. Ou seja: cer- foi o único sinal: o indicador da vulnerabilidade económica
ca de 200 biliões de euros. também foi dos que apresentou uma evolução mais desfavo-
rável “traduzindo uma progressiva vulnerabilidade das famílias
fortemente induzida pelo afastamento das mesmas do mer-
Portugal e os novos emigrantes cado de trabalho, pelos elevados níveis de endividamento e
pela intensificação da dificuldade em pagar os compromissos
O Governo estima que em 2012 tenham saído do País mais assumidos com a habitação”.
de 120 mil portugueses, um número apenas repetido na Por exemplo, só o índice da proporção de pessoas com mais
década de 60 do século passado. Mas, pelo trabalho exercido, de 15 anos a viverem em agregados onde todos os que tinham
remunerações auferidas ou simplesmente opções de poupan- idade de trabalhar estavam desempregados teve um agrava-
ça, as remessas enviadas para Portugal não estão a crescer mento de 60 pontos percentuais. A taxa de pobreza é outro
na mesma proporção. dos problemas identificados.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    29


Os dados, de uma forma genérica, mostram que no espaço Do lado positivo salientam-se os indicadores na área da
de oito anos, numa primeira fase, tanto os indicadores ma- saúde, com uma melhoria global de quase 25 pontos per-
teriais como os relacionados com a qualidade de vida estavam centuais. Para esta evolução contribuíram várias áreas como
a evoluir favoravelmente – mas a degradação da situação a avaliação positiva dos serviços de saúde, a queda da taxa
económica do país fez com que os primeiros sofressem uma de mortalidade em pessoas com menos de 65 anos por
inversão. No entanto, no campo do bem-estar, na área da doenças do aparelho circulatório e a taxa de mortalidade
saúde, educação e ambiente, muitos dos ganhos mantiveram-  infantil.
-se, de acordo com o INE. O campo da educação também mereceu uma avaliação
No campo da qualidade de vida, há ainda um indicador cha- positiva (prevendo-se um ligeiro decréscimo em 2012), con-
mado “trabalho e remuneração” e que é excepção no com- tribuindo para isso dados como publicações científicas por
portamento, já que também piora, “devido essencialmente 100 mil habitantes, doutoramentos, proporção de pessoas
ao aumento do desemprego, que se acentuou a partir de entre os 30 e 34 anos com o ensino superior completo ou
2009” e que fez com que houvesse uma variação negativa redução dos chumbos e desistências no terceiro ciclo do
de mais de 24 pontos percentuais. “Em sintonia com a evo- ensino básico. Em termos de ambiente, destaca-se a redução
lução do desemprego, sublinha-se a evolução também desfa- da emissão de gases com efeito de estufa, sobretudo a
vorável, a partir de 2008, do indicador proporção de pessoas partir de 2006.
que pensam ser provável ou muito provável perder o empre-
go”, lê-se no trabalho.

Curso de Preparação para os Exames de Admissão à


Profissão de Técnico Oficial de Contas
23ª edição

Irá decorrer entre 22 de Março e 10 de Maio deste ano, mais uma edição do Curso de Preparação para exame
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Contas e abordará todas as matérias constantes dos programas das várias áreas, tanto numa perspectiva teórica
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melhor forma os candidatos ao exame.

A elevada taxa de aprovação nos exames, dos participantes nas anteriores edições, é indicador da qualidade
deste Curso, quer pela sua estrutura, como pelos docentes que desde a 1ª edição asseguram esta formação.

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30    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


consultório

Esclareça as suas dúvidas

Microgeração Trabalhos efetuados pela empresa no


estrangeiro (França)
Questão Sócio n.º 15973
Questão Sócio n.º 3381
Um empresário em nome individual no regime trimestral do
IVA, adquiriu uma microgeração, que irá fazer parte do seu A empresa em questão é uma sociedade comercial por quo-
ativo tangível. Quem emite a fatura será a EDP, por imposição tas, sujeita ao regime normal do IVA, inserida no setor da
legal? Como se deve tratar na DP IVA? Pode o ENI de alguma construção civil (construção de edifícios). Face às dificuldades
forma ser ele a emitir a fatura à EDP? Estes rendimentos serão do mercado nacional, a partir de 2012 foi trabalhar para
declarados no IRS? França, em regime de subcontratação. Além do sócio-geren-
te dispõe de 4 trabalhadores portugueses ao serviço (pedrei-
Resposta do Assessor Fiscal: ros e trolhas), todos deslocados em França. A empresa paga
a cada trabalhador o respetivo vencimento, sujeito a IRS e
1. De acordo com o n.º 4 do artigo 12.º do DL 363/2007, de
contribuições para a Segurança Social em Portugal. Além do
02.11, alterado e republicado pelo DL 118-A/10, de 25.10,
vencimento paga-lhes também a renda (numa espécie de
«a facturação relativa à electricidade resultante da micropro-
pensão) e os gastos de alimentação (refeições e/ou compra
dução é processada pelo comercializador nos termos do 
de géneros alimentícios) obtidos em França. Praticamente
n.º 11 do artigo 35.º do Código do IVA (actual artigo 36.º),
todos os gastos são realizados em França (excecionando os
sem necessidade de acordo escrito do produtor». 2. Embora
gastos com vencimentos, telemóvel, leasing de viatura e mais
para o efeito se preveja a auto-facturação legal pelo comer-
um ou outro). Dispõe de apenas 1 cliente a quem passa uma
cializador, tal facto não exclui o produtor do cumprimento
fatura por mês de serviços prestados de construção civil, re-
das demais obrigações decorrentes do Código, nomeadamen-
digida em francês, com a seguinte menção: “Não sujeito a
te, a de relevar o imposto liquidado na respectiva declaração
IVA – al. a), n.º 7, art.º 6.º do CIVA”. Não existem compras
periódica e proceder à sua entrega nos cofres do Estado,
de matérias-primas e subsidiárias, dado que as mesmas são
sempre que o mesmo se mostre devido. 3. Dado que ao
fornecidas pelo contratante. 1. Em termos de IVA: sendo os
produtor também lhe assiste o direito à dedução do imposto
serviços prestados não sujeitos a IVA, a menção na fatura
suportado a montante os valores da base tributável e do
passada ao cliente é a correta? Não estamos a recuperar o
imposto eventualmente dedutível deverão ser inscritos na
IVA suportado em França nos gastos suportados (alimentação
declaração periódica, no campo 3 (base tributável), no campo
e outros) uma vez que os valores são baixos e também porque
4 (imposto liquidado) e nos campos 20 a 24 (IVA dedutível),
na maioria dos casos as faturas emitidas não contêm os re-
todos do quadro 06 da actual declaração periódica. 4. No que
quisitos legais (por ex. NIF do fornecedor e cliente, nome e
respeita à eventualidade do produtor se substituir ao comer-
morada). Tal procedimento é correto? 2. Em termos de IRC:
cializador, também, na liquidação do imposto, refira-se que
a empresa paga IRC em Portugal, já que tem aqui a sede,
não estamos perante uma situação de reverse charge, pelo
embora os serviços sejam, na totalidade, prestados em Fran-
que, tal não é possível. 5. Os rendimentos resultantes da
ça. Há aqui alguma irregularidade?
actividade de microprodução prevista no DL 363/2007, de
02.11, estão sujeitos a IRS, sendo certo que o montante de
Resposta do Assessor Fiscal:
valor inferior a € 5 000, está excluído da tributação em IRS
(n.º 6 do artigo 12.º do referido diploma). 6. A totalidade do 1. A alínea a) do n.º 7 do artigo 6.º do CIVA, determina que,
rendimento proveniente desta actividade deve ser indicada no independentemente da localização do prestador ou da natu-
campo 423 do Anexo B, quadro 4A, da declaração modelo reza do destinatário, as prestações de serviços relacionadas
3, sendo a exclusão assumida automaticamente quando aque- com bens imóveis são localizadas/tributadas sempre no lugar
le montante for inferior a € 5000 (OFCD 20 156/12, de onde se situa o imóvel. 2. Neste sentido, os serviços prestados
02.02). 7. Sendo de preencher o Anexo C também nele devem sobre imóveis localizados em França são aí tributados. 3. O
ser destacados os rendimentos provenientes da produção de IVA suportado em França não é dedutível em território nacio-
electricidade por intermédio de unidades de microprodução. nal, mas é susceptível de reembolso. Pretendendo obter o
Contudo, neste Anexo apenas deve ser inscrito no novo reembolso do imposto suportado em operações tributáveis
campo 463, o rendimento excluído de tributação, ou seja o efectuadas noutro Estado membro da Comunidade, devem
montante inferior a € 5 000 (OFCD 20 156/12, de 02.02). os sujeitos passivos apresentar junto da Direcção-Geral dos
Impostos, por via electrónica, o correspondente pedido, de
SP – 2013-10-09
acordo com as condições fixadas no Estado membro ao qual

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    31


é solicitado o reembolso, de acordo com o Capítulo II do Documentos de transporte e sua
anexo ao DL 186/09, de 12.08. 4. De acordo com o n.º 1 do comunicação à A.T., face ao Decreto Lei
artigo 4.º do CIRC, tendo a empresa a sua sede em território 147/2003, republicado pelo D.L. 198/2012
nacional, o IRC incide sobre a totalidade dos seus rendimen-
tos, incluindo os obtidos fora desse território, ou seja, neste
Questão Sócio n.º 10441
caso em França.
SP – 2013-10-09 Fui abordado por um cliente, com atividade de serviços de
armazenagem frigorífica, serviços de armazenagem não fri-
gorifica, prestação de serviços e comércio em geral, CAE:
Compra mercadorias 2ª mão 52101, enquadrado no regime normal do IVA, que me colo-
cou as situações seguintes, a fim de esclarecer a obrigatorie-
Questão Sócio n.º 19944 dade, ou não, da emissão e comunicação dos documentos
de transporte e esclarecer a quem cabe a obrigação da sua
Um sujeito passivo compra bens em 2.ª mão em leilões, pre-
emissão e comunicação: 1. A exponente é contratada por
tende efetuar a venda pelo regime da margem. Como eviden-
sujeitos passivos nacionais (FN), donos da mercadoria, para
ciar esta situação na declaração periódica do IVA, no ficheiro
fazer o serviço de transporte refrigerado de mercadorias des-
Saft e como efetuar os respetivos lançamentos contabilísticos?
de o armazém do fornecedor com vista à entrega por diversos
Resposta do Assessor Fiscal: clientes, também sujeitos passivos, com sede em Portugal
(CN), passando pelo armazém da exponente, onde pode
Se a revenda dos bens em 2.ª mão está abrangida pelo regi- permanecer por vários dias, semanas ou meses, até receber
me especial de tributação previsto no DL 199/96, de 18.10, ordens de FN para entregar a mercadoria a CN. A faturação
então a respectiva base tributável deve ser relevada nos cam- da mercadoria é feita por FN a CN e o serviço de transporte
pos 1, 5 ou 3 e o imposto liquidado nos campos 2, 6 ou 4,
e armazenamento é faturado pela exponente a FN. 2. A ex-
do Quadro 06 da respectiva declaração periódica de rendi-
ponente é contratada por sujeitos passivos da UE (FUE), donos
mentos.
da mercadoria, para fazer o serviço de transporte refrigerado
SP – 2013-10-08
de mercadorias desde o armazém do fornecedor com vista à
entrega por diversos clientes, também sujeitos passivos, com
Resposta do Assessor Contabilístico:
sede em Portugal (CN), passando pelo armazém da exponen-
Conclui-se do exposto que o revendedor pretende declinar  te, onde pode permanecer por vários dias, semanas ou meses,
o pagamento do imposto sobre o valor acrescentado segun- até receber ordens de FUE para entregar a mercadoria a CN.
do as regras gerais do Código do IVA, optando por liqui-  A faturação da mercadoria é feita por FUE a CN e o serviço
dar o imposto, por cada transacção efectuada, segundo o de transporte e armazenamento é faturado pela exponente a
Regime Especial da Tributação de Bens em 2.ª Mão, Objectos FUE. 3. A exponente é contratada por sujeitos passivos da UE
de Arte, de Colecção e Antiguidades, visto que afirma reunir (FUE), donos da mercadoria, para fazer o serviço de transpor-
as condições para o seu enquadramento neste Regime e
te refrigerado de mercadorias desde o armazém do produtor
apurar e liquidar o imposto devido. Assim sendo, e tendo em
no território nacional com vista à entrega por diversos clientes,
conta a informação que nos disponibiliza para o tratamento
também sujeitos passivos, com sede em Portugal (CN), pas-
contabilístico destas transacções, sugerimos os seguintes pro-
sando pelo armazém da exponente, onde pode permanecer
cedimentos: 1 – Na aquisição e nos custos adicionais de
por vários dias, semanas ou meses, até receber ordens de FUE
compra a) 311.x – Compras – Mercadorias – Bens em 2.ª
para entregar a mercadoria a CN. A faturação da mercadoria
Mão. (por contrapartida das contas 11 – Caixa ou 12 – De-
é feita por FUE a CN e o serviço de transporte e armazena-
pósitos à ordem ou 221.x – Fornecedores c/c) b) 32.x – Exis-
mento é faturado pela exponente a FUE.
tências – Mercadorias – Bens em 2.ª Mão (transferência da
conta 31 – compras para existências). 2 – Na transacção dos
Resposta do Assessor Fiscal:
Bens em 2.ª Mão c) 711.x – Vendas – Mercadorias – Sujeitas
a Regimes Particulares – Bens em 2.ª Mão (com iva incluído) i. A exponente é contratado por fornecedores nacionais para
por contrapartida da conta 211.x – Clientes c/c. d) 716.x – fazer o transporte refrigerado de mercadoria desde o respec-
– Iva das vendas com imposto incluído – Bens em 2.ª Mão tivo armazém para o seu próprio armazem, com vista à en-
(débito desta conta e crédito da conta 2433.x – Iva Liqui- trega posterior da mesma a diversos clientes nacionais. ii. A
dado). exponente é contratada por fornecedores da UE para fazer o
NC – 2013-10-21 transporte refrigerado de mercadoria desde o respectivo ar-

32    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


consultório
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mazém até ao armazém da exponente, com vista à entrega exigida prova da proveniência e destino dos mesmos (arti- 
posterior da mesma a diversos clientes nacionais. iii. A expo- go 3.º, n.º 3), que poderá ser feita mediante a apresentação
nente é contratada por fornecedores da UE para fazer o de qualquer documento comprovativo da natureza e quanti-
transporte refrigerado de mercadoria desde o armazém de dade dos bens, sua proveniência e destino (artigo 3.º, n.º 4).
produtor nacional até ao seu próprio armazém, com vista  11. Entende-se por «Documento de transporte» a factura,
à entrega posterior da mesma a diversos clientes nacionais. guia de remessa, nota de devolução, guia de transporte 
1. As situações previstas nos pontos i. e iii. consubstanciam ou documentos equivalentes (alínea b) do n.º 1 do artigo 2.º).
operações internas, enquanto que as referidas no ponto ii. se 12. As guias de remessa ou documentos equivalentes devem
referem a transacções intracomunitárias. 2. Consideram-se conter, pelo menos, os elementos referidos no n.° 2 do artigo
«aquisições intracomunitárias» a obtenção do poder de dis- 4.° do referido Regime. 13. As guias de remessa ou docu-
por, por forma correspondente ao exercício do direito de mentos equivalentes devem ainda indicar os locais de carga
propriedade, de um bem móvel corpóreo cuja expedição ou e descarga, referidos como tais, e a data e hora em que se
transporte para território nacional, pelo vendedor, pelo adqui- inicia o transporte (n.° 4 do artigo 4.°). 14. A obrigatorieda-
rente ou por conta destes, com destino ao adquirente, tenha de do processamento do documento de transporte não está
tido início noutro Estado membro (artigo 3.º do RITI). 3. Na condicionada à transmissão dos bens, bastando apenas que
hipótese i. o fornecedor e o comprador são sujeitos passivos esses bens se encontrem fora dos locais de produção, fabrico,
nacionais. Trata-se de operações internas. 4. Na hipótese ii. o transformação, exposição, etc., por motivo de transmissão
fornecedor dos bens é um sujeito passivo da UE que faz onerosa, incluindo a troca, de transmissão gratuita, de devo-
transportar os bens pela exponente para Portugal com desti- lução, de afectação a uso próprio, de entrega à experiência
no a diversos clientes nacionais, com transbordo nos armazéns ou para fins de demonstração, ou de incorporação em pres-
da transportadora até posterior ordem de entrega aos respec- tações de serviços, de remessa à consignação ou de simples
tivos clientes nacionais. Trata-se de aquisições intracomunitá- transferência (alínea a) do n° 2 do art° 2°). 15. Por sua vez,
rias. 5. Na hipótese iii. o fornecedor da UE adquire os bens determina o n.° 1 do artigo 6.° do citado Regime que os
em território nacional e vende-os a clientes nacionais. Os bens documentos de transporte devem ser processados pelos su-
são entregues pelo vendedor nacional ao exponente contra- jeitos passivos referidos na alínea a) do n.° 1 do artigo 2.° do
tado pelo adquirente/fornecedor da UE que os transporta para Código do IVA e pelos detentores dos bens, antes do início
o seu armazém até lhe ser ordenada a sua entrega aos res- da sua circulação, ou seja, dependendo do tipo de documen-
pectivos clientes. Os bens não chegam a sair do território to de transporte utilizado, tanto o remetente dos bens como
nacional. Trata-se de operações internas. 6. O Regime de Bens o transportador dos mesmos podem emitir o documento de
em Circulação, aprovado pelo DL n.º 147/2003, de 11/07, transporte, desde que o façam antes do início da circulação
alterado e republicado pelo DL 198/12, de 24.08, estabelece dos bens. 16. Refira-se ainda que, no âmbito do referido
as normas sobre os documentos de transporte que devem Regime é irrelevante quem é o titular do veículo para efectu-
acompanhar os bens em circulação. 7. Determina o n.º 1 do ar o transporte das mercadorias, desde que as mesmas sejam
artigo 1.º do citado Regime que “todos os bens em circulação acompanhadas com os respectivos documentos de transporte.
no território nacional, seja qual for a sua natureza ou espécie, 17. Considerando o exposto anteriormente, o exponente
que sejam objecto de operações realizadas por sujeitos pas- quando transporta os bens (hipóteses i., ii. e iii.) a partir do
sivos de imposto sobre o valor acrescentado deverão ser seu armazém para entrega aos clientes, deve processar o
acompanhados de documentos de transporte processados nos respectivo documento de transporte. 18. Efectivamente, mui-
termos do presente diploma”. 8. Porém, há bens que estão to embora o exponente não seja o vendedor dos bens, que
excluídos deste regime, o que significa que a sua circulação são facturados pelo respectivo fornecedor, uma vez que efec-
não implica a obrigatoriedade de serem acompanhados de tua o transporte desses bens, deve processar os respectivos
documento de transporte. 9. Estão nestas condições, desig- documentos de transporte com os elementos legalmente exi-
nadamente, os bens respeitantes a aquisições intracomunitá- gidos, tendo como local de carga o seu armazém, e descarga
rias, a que se refere o DL n.º 290/92, de 28.12. Nestes casos, o local onde os bens são entregues ao cliente, que, como já
os bens em circulação respeitantes a essas operações não foi referido, não estão condicionados à sua transmissão, mas
carecem de ser acompanhadas de documento de transporte, sim ao seu efectivo transporte. 19. No caso referido em ii.,
por disso se encontrarem excluídos (alínea b ) do n.º 2 do como se disse, os bens em circulação até aos armazéns da
artigo 3.º do Regime de Bens em Circulação). 10. Apesar de exponente não carecem de ser acompanhadas de documento
estes bens não estarem sujeitos à obrigatoriedade de docu- de transporte, por disso se encontrarem excluídos (alínea b )
mento de transporte previsto no referido Regime, poderá ser do n.º 2 do artigo 3.º do Regime de Bens em Circulação). 20.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    33


No caso dos bens respeitarem a operações internas (hipóteses fatura por cada transmissão de bens ou prestação de serviços,
i. e iii.) os documentos de transporte devem ser emitidos pelo independentemente da qualidade do adquirente dos bens ou
fornecedor nacional e posteriormente pelo transportador des- destinatário dos serviços, ainda que estes não a solicitem
de o seu armazém até ao local de entrega dos bens aos (alínea b) do n.º 1 do artigo 29.º do CIVA). 8. Nos termos
clientes. do n.º 3 do art.º 16.º do CIVA, a troca é considerada como
SP – 2013-10-09 duas transmissões de bens, ambas tributadas pelo valor pleno.
9. Assim, a aquisição de uma viatura nova com entrega de
um veículo usado deve ser subdividida em duas operações: a
Venda de viatura afeta a atividade de venda da viatura nova é sujeita a IVA, sendo o valor tributá-
TÁXI vel igual à soma do montante recebido em dinheiro do ad-
quirente, acrescido do valor normal do veículo recebido em
Questão Sócio n.º 30338 troca; a entrega da viatura usada será sempre isenta se efec-
tuada por particular ou, se feita por um sujeito passivo, se for
Uma viatura adquirida na Alemanha para o serviço de Táxi na
abrangida pela isenção do n.º 32 do art.º 9.º, e tributada nos
qual não foi deduzido o IVA aquando da sua contabilização
restantes casos. 10. Não estando a viatura dada em troca
no imobilizado da firma, vai-se proceder à sua venda por
abrangida pela parte final do n.º 32 do artigo 9.º do CIVA, o
substituição de uma outra adquirida em estado novo. Se a
seu valor de troca é tributável. 11. A venda a um particular
venda for dada como retoma ao Stand que documento deve
também estará sujeita a tributação.
ser emitido? Nota Crédito do vendedor ou fatura recibo da
SP – 2013-10-16
empresa de Táxi? Com iva ou isenta e qual o artº.? Se a
venda for efetuada a um particular a fatura recibo é passada
com iva ou isenta e qual o artº.?
Franquia – Companhia Seguros
Resposta do Assessor Fiscal:
Questão Sócio n.º 30338
1. Vamos admitir que a viatura adquirida na Alemanha pelo
Na Ordem de pagamento a Companhia de Seguros passa à
sujeito passivo nacional era usada e que ali foi vendida por
oficina a seguinte ordem de pagamento: Materiais: 2.000,00.
um sujeito passivo registado para efeitos do imposto sobre o
Mão Obra: 800,00. Iva 23% 644,00. Total 3.444,00. Franquia
valor acrescentado naquele país comunitário. 2. Tratou-se,
280,00. Valor a pagar 3.164,00. Como se elabora esta fatu-
assim, de uma aquisição intracomunitária sujeita a IVA, de
ra à Companhia de Seguros? O valor da franquia é faturada
acordo com a alínea a) do artigo 1.º e 3.º do RITI. 3. Desse
à parte ao cliente da oficina (sinistrado)? Incide IVA?
normativo decorre a obrigação, por parte dos sujeitos passivos
que, no território nacional, efectuem aquisições intracomuni-
Resposta do Assessor Fiscal:
tárias de viaturas usadas, de proceder à liquidação do corres-
pondente imposto, sempre que o transmitente seja um sujei- 1. No caso «sub-judice» a entidade reparadora do veiculo
to passivo do IVA noutro Estado membro, nas condições aí sinistrado deve liquidar IVA sobre o valor da reparação efec-
previstas. 4. Na determinação do valor tributável dessas aqui- tuada, quer a facturação seja emitida em nome da companhia
sições intracomunitárias de viaturas usadas, deverá o sujeito de seguros, quer do segurado. 2. O que está em causa é a
passivo ter em conta o disposto no n.º 3 do artigo 17.º do contraprestação do serviço prestado pela oficina, inquestio-
RITI, determinando a inclusão nesse valor do imposto auto- navelmente, sujeito a IVA. 3. Neste sentido, o valor da franquia
móvel (IA) devido, ainda que não seja liquidado simultanea- pode ser facturado ao segurado e a parte restante da repa-
mente. 5. O IVA suportado na aquisição era dedutível, uma ração à companhia de seguros, em ambos os casos com a
vez que a viatura adquirida se destinava a ser explorada  respectiva liquidação do imposto devido. 4. Caso a totalidade
na actividade do sujeito passivo (serviço de táxi) – (alínea a) da reparação seja facturada à seguradora e, posteriormente,
do n.º 2 do artigo 21.º do CIVA e artigo 19.º e 33.º do RITI). a franquia venha a ser debitada ao segurado, o imposto ini-
6. Configurando-se a posterior venda das viaturas usadas cialmente liquidado é regularizável nos termos do art.º 78.º
no mercado nacional como operações sujeitas a IVA nos do CIVA, sem prejuízo de haver sempre lugar a liquidação de
termos da alínea a) do nº 1 do artigo 1.º do respectivo Có- IVA ao segurado quando lhe for debitada a franquia (OFCD
digo, caberá ao transmitente, quando actue na qualidade de n.º 147 533, de 20.12.89).
sujeito passivo, proceder a liquidação do correspondente im- SP – 2013-10-16
posto. 7. Os sujeitos passivos são obrigados a emitir uma

34    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


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CFEI períodos de tributação subsequentes. Em conclusão e em meu


entender: para beneficiar do Crédito Fiscal Extraordinário ao
Questão Sócio n.º 17105 Investimento (CFEI), o sujeito passivo deve ter a sua situação
fiscal e contributiva regularizada no momento da liquidação,
Uma empresa XPTO pretende usufruir do incentivo CFEI –  o que deve ser certificado por documento emitido pela enti-
– Crédito Fiscal Extraordinário ao Investimento. A empresa, dade competente que deve integrar o processo de documen-
tem tido algumas dificuldades cíclicas de tesouraria, dado que tação fiscal.
mais de 90% dos clientes são Municípios. Para receber dos
mesmos, precisa apresentar uma certidão de situação contri- SP – 2013-10-23
butiva regularizada perante a AT e a Segurança Social. A
certidão é válida por 3 e 4 meses, respectivamente para a AT
e Segurança Social. Durante o período entre certidões, a Regularização Iva
empresa fica com atrasos no pagamento das retenções na
fonte e contribuições para a Segurança Social, só voltando a Questão Sócio n.º 16081
regularizar a situação aquando e antes do terminus do perío- 
1. Notas de crédito emitidas por fornecedores comunitários
do de validade das certidões. A empresa pode beneficiar do
em que na fatura se aplicou o reverse-charge. Deve ser tam-
CFEI?
bém corrigido a n/ favor e simultaneamente a favor do esta-
do o Iva? 2. Notas de crédito emitidas por fornecedores
Resposta do Assessor Fiscal:
nacionais em que se fez a autoliquidação do Iva (SUCATAS),
De acordo com a Lei 49/13, de 16.07, designadamente dos ou seja, fez-se também o reverse-charge, deverá ser também
seus artigos 2.º, 3.º e 6.º, resulta que: 1. Podem beneficiar feita e correção do Iva a n/ favor e a favor do estado?
do Crédito Fiscal Extraordinário ao Investimento (CFEI) os
sujeitos passivos de IRC que exerçam, a título principal, uma Resposta do Assessor Fiscal:
actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, ou
Nas situações descritas a obrigação de liquidar imposto e de
seja, todos aqueles que exerçam actividades que consistam
o entregar ao Estado, com direito a dedução (alínea c) do
na realização de operações económicas de carácter empresa-
n.º 1 do artigo 19.º do CIVA), concentra-se na mesma pes-
rial, incluindo as prestações de serviço, nos termos do n.º 4
soa, ou seja, no adquirente dos bens. Se as notas de crédi-
do artigo 3.º do CIRC, bem como os sujeitos passivos não
to resultam de alterações posteriores ao valor tributável das
residentes com estabelecimento estável situado em território
aquisições (intracomunitárias e nacionais) deverá proceder-se
português, que preencham, cumulativamente, as seguintes
do seguinte modo: a) Se o facto determinante da alteração
condições: (i) Disponham de contabilidade regularmente or-
ocorrer numa altura em que não tenha sido remetida a
ganizada, de acordo com a normalização contabilística e
declaração periódica do período em que se verificou a aqui-
outras disposições legais em vigor para o respetivo sector de
sição dos bens, deverá a alteração ser, desde logo, conside-
actividade; (ii) O seu lucro tributável não seja determinado por
rada nos campos 1, 5, 3 ou 10 e 2, 6, 4 ou 11 e nos
métodos indiretos; e (iii) Tenham a situação fiscal e contribu-
campos 20 a 24 do quadro 06 da referida declaração. b) Se
tiva regularizada. 2. O benefício fiscal a conceder correspon-
o facto determinante da alteração implicar um novo fluxo
de a uma dedução à coleta de IRC no montante de 20% das
físico dos bens (sua devolução) e ocorrer numa altura em
despesas de investimento em activos afectos à exploração,
que já tenha sido apresentada a declaração periódica refe-
que sejam efectuadas entre 1 de Junho de 2013 e 31 de
rente ao período em que se verificou a aquisição de bens,
Dezembro de 2013, com o montante máximo das despesas
deverá indicar-se o imposto a mais liquidado e a correspon-
de investimento elegíveis de 5.000.000 euros. 3. A dedução
dente importância a menos deduzida, respectivamente nos
é efectuada na liquidação de IRC respeitante ao período de
campos 40 e 41 do quadro 06 da declaração periódica se-
tributação que se inicie em 2013, até à concorrência de 70%
guinte. c) Se o facto determinante da alteração não implicar
da colecta do imposto e deve ser justificada por documento
o circuito dos bens, mas apenas um novo fluxo documental
a integrar o processo de documentação fiscal a que se refere
(v.g. concessão de descontos, abatimentos ou bónus), não
o artigo 130.º do Código do IRC que identifique discrimina-
haverá necessidade de proceder a correcções na declaração
damente as despesas de investimento relevantes, o respectivo
periódica sem prejuízo da sua relevância para efeitos de
montante e outros elementos considerados relevantes. 4. A
registo contabilístico.
importância que não possa ser deduzida num determinado
exercício, poderá sê-lo, nas mesmas condições, nos cinco SP – 2013-10-23

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    35


glossário do contabilista

Crédito

O vocábulo “crédito” operou sensível evolução, como signi- Lexicoteca Moderna Enciclopédia Universal – Círculo de
ficante na língua portuguesa, desde o étimo latino (creditum), Leitores – 1987
muito mais do que na forma escrita.
Crédito – Cedência a título de empréstimo de poder aquisi-
E é ainda de assinalar a abrangência do termo, muito maior
tivo.
que o seu antónimo – “débito”.
Crédito activo – crédito concedido. O crédito activo aparece
Ao usar-se nos séculos mais recentes, essencialmente em
no lado do activo do balanço da entidade que o concede.
termos de finanças e contas, alienou-se bastante o seu signi-
Crédito passivo – Crédito que constitui encargo da entidade
ficado inicial, de ordem moral de onde proviera.
que o solicita. O crédito passivo aparece como um débito
(passivo) no balanço do solicitante
Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa – Instituto An-

tónio Houaiss de Lexicografia Portuguesa – 2004
Crédito – (séc. XIV-Índ.Voc.Port.Medieval) Dicionário de Língua Portuguesa – José Pedro Machado
(étimo latino, creditum) – crença, confiança, empréstimo – SLP e Amigos do Livro Editores – 1981
Confiança, crença alimentada pelas qualidades de uma pessoa
Crédito – Confiança que nos inspiram as boas qualidades
ou coisa; segurança de que alguém ou algo é capaz ou veraz
duma pessoa ou a veracidade de uma coisa.
(aquele médico sempre mereceu todo o crédito dos seus
Soma posta à disposição de alguém num banco, numa casa
clientes) (as notícias eram dignas de crédito)
de comércio, etc.
Crédito mercantil – o que se combina em termos de recipro-
Direito de se receber o que se emprestou
cidade entre produtores e intermediários na compra e venda
dos mais diversos produtos. …

Dicionário Prático de Comércio e Contabilidade de Raul
A Enciclopédia – Editorial Verbo – 2004 Dória e e António Álvaro Dória –1975

Crédito – Confiança que inspiram as boas qualidades de uma Crédito – o termo crédito pode tomar-se no campo da con-
pessoa//boa fama//reputação de solvabilidade//prazo para  tabilidade em duas acepções: como termo técnico da própria
pagamento. Contabilidade e do ponto de vista económico e comercial.
Efectivamente antes da descoberta do crédito (cuja origem se
Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea da perde no tempo) só os privilegiados da fortuna podiam adqui-
Academia das Ciências de Lisboa – Editorial Verbo – 2001 rir bens por terem possibilidade de os liquidar imediatamente.
Embora não possamos considerar o crédito criador de rique-
Crédito (do latim creditum)
za (e há economistas que defendem tal ponto de vista), a
Sentimento de confiança ou segurança que se tem em relação
verdade é que ele é um grande impulsionador das riquezas
a alguém ou se deposita em alguma coisa, devido às suas
pelos recursos que oferece aos que dele se servem.
características; avaliação positiva relativa a algo.

Nova Enciclopédia Larousse – Círculo de Leitores – 1997 Dicionário de Gestão de Henri Tezenas de Montcel –
Publicações D. Quixote – 1972
Crédito – 1 – Confiança que inspira alguém ou alguma coi-
sa. 2 – Confiança na solvabilidade de alguém; prazo acorda- Crédito – troca de moeda líquida por um activo financeiro.
do para o pagamento. 3 – Conjunto das quantias abonadas …
por um orçamento. 4 – Empréstimo concedido por uma pes- Consoante o prazo:
soa ou banco.   Crédito de longo prazo – superior a sete anos
A operação de crédito em geral reveste a forma de um   Crédito de médio prazo – entre três meses e sete anos
empréstimo ou venda de dinheiro com pagamento diferido.  Crédito de curto prazo – máximo de nove meses e que
O juro é simultaneamente o preço do tempo e do risco en- apresenta a maior parte das vezes a forma de desconto de
volvidos; o seu custo tende a elevar-se quando a duração da letras
operação aumenta, ou quando o devedor não apresenta Consante a forma: desconto – em que a empresa vende a
garantias suficientes. um organismo financeiroos créditos sobre os seus clientes
… ficando a cargo daquele a sua cobrança na data do venci-
mento.

36    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


livraria

  Crédito por assinatura – equivale a um aceite


  Crédito em branco – é um descoberto em conta corrente
“Auditoria Interna – Função e
 Crédito hipotecário – onde um bem imobiliário serve de Processo”
garantia a um empréstimo De Georgina Morais e Isabel Martins
Consoante a pessoa:
  Crédito de fornecedores A Auditoria Interna é hoje
  Crédito a clientes uma função com respon-
… sabilidade social, con-
Em contabilidade, o crédito designa o segundo membro da frontada com um perma-
conta, agrupando as operações a que correspondem a uma nentemente desafio pro- 
entrada monetária ou um aumento de recursos. vocado pela constante
mudança na envolvente
Dicionário da língua portuguesa composto pelo padre das entidades, pelo rápi-
D. Rafael Bluteau, reformado, e acrescentado por Antó- do desenvolvimento de
nio de Moraes Silva natural do Rio de Janeiro – 1789 novas tecnologias, novas
Crédito – Fé, crença, atenção que se dá ao que nos dizem, áreas de actuação, novos
ao que os sentidos nos apresentam//Estimação, autoridade// eventos, novas oportuni-
reputação de homem abonado e capaz de pagar, donde se dades, actuais e futuras,
ocasiona ter crédito, i.é, ter quem fie dele//o abono do que com uma atitude proacti-
afiança outrém//a porção em que abona//favor, valimento, va e criativa.
graça para com alguém//falto de crédito: falido, quebrado.
O objectivo principal é acrescentar valor como parte integran-
Vocabulário Português e Latino do Padre Raphael Blu- te de um modelo de Corporate Governance e Gestão de
teau – 1712-1728 Risco em qualquer entidade. O sucesso da actividade de Au-
ditoria Interna depende sempre da competência dos seus
Crédito – Fé que se dá alguma coisa (Fides)
recursos, adequado posicionamento, transparência e cultura
Isto excede todo o crédito.
da entidade, envolvendo uma adequada mentalização e di-
A uma coisa tão estranha apenas dará a posteridade crédito
vulgação a todos os seus intervenientes.
Segundo parecer de alguém ou dando fé ao que ele diz
Autoridade, estimação
Este livro pretende sensibilizar e auxiliar os profissionais, prin-
Crédito entre mercadores – abono de cabedal e correspon-
cipalmente os que irão iniciar a função, para um adequado
dência com os mais.
desempenho. Tem ainda como objectivo alertar e divulgar no
Imaginou que este era o modo para conservar crédito dos
meio académico a importância crescente desta função para
devedores.
as organizações.
Os mercadores têm perdido o crédito
Falta de crédito. Quebra.
O livro encontra-se estruturado em quatro capítulos, sendo

que os dois primeiros evidenciam o enquadramento e a fun-
ção de Auditoria Interna; os dois últimos abordam a Audito-
ria Interna numa vertente mais prática, constituindo um guia
básico para o exercício da profissão.

Esta quarta edição foi amplicada e actualizada, nomeadamen-


te quanto às normas de auditoria interna (IPPF para 2013),
com exemplos práticos, quadros, mapas e programas de
auditoria interna.

Título: Auditoria Interna – Função e Processo


Autoras: Georgina Morais/ Isabel Morais
Editor: Áreas Editora

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    37


recortes

Com a devida vénia...

“Estado não quer saber dos cidadãos”


Francisco Moita Flores, ex-autarca,
in Correio da Manhã, 10/01/2014

“We still want to get rid of him”


“continuamos a querer ver-nos livres
“Tribunal Constitucional toma dele”
deliberações que prejudicam o Nadezhda Tolokonnikova, cantora das Pussy Riot, depois
processo de ajustamento” de mais de dois anos de prisão, por protestar contra o
Presidente Vladimir Putin, in Time, 13/01/2014
Rui Conceição Nunes, economista,
in Vida Económica, 3/01/2014

“Os custos de não cumprimento deste


“Sou fiel ao princípio de que vale mais memorando [resgate internacional]
prevenir do que remediar, mas não foi que foi imposto ao país e que
esse o entendimento do Presidente da terminará em meados de maio seriam
República. O PS discorda”. incomparavelmente maiores do que
aqueles que temos de suportar, e que
António José Seguro, secretário-geral do PS,
in Ionline, 03/01/2014 são muitos”
Miguel Macedo, Ministro da Administração Interna,
in Ionline, 03/01/2014

“É preciso um programa (cautelar).


Chamem-lhe o que quiserem, até já
“O ensino de mandarim nas escolas é
ouvi chamar-lhe pirolito”
positivo”
Silva Peneda, Presidente do Conselho Económico e
Roberto Carneiro, ex-Ministro da Educação,
Social, in Correio da Manhã, 10/01/2014
in Correio da Manhã, 10/01/2014

“Na minha opinião, empobrecimento “O dinheiro que guardo no Verão


foi a palavra do ano” não estica”
Carlos Zorrinho, deputado, Manuel Carvalho, pescador de Vila Praia de Âncora,
in Correio da Manhã, 10/01/2014 in Correio da Manhã, 10/01/2014

“Desvalorização interna da moeda foi


erro crasso da Troika”
Silva Peneda, Presidente do Conselho Económico e
Social, in Vida Económica, 3/01/2014

38    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


a apotec em notícias

Mapa de Obrigações Fiscais e Parafiscais de Fevereiro de


2014

Dia 10: c)  Cópia das escrituras ou documentos particulares autenti-


cados de divisões de coisa comum e de partilhas de que façam
IVA: Envio da declaração mensal referente ao mês de dezem-
parte bens imóveis.
bro 2013 e anexos.
IRS/IRC/SEGURANÇA SOCIAL: Declaração de rendimentos Dia 18:
pagos e de retenções, deduções, contribuições sociais e de
Banco de Portugal: Disponibilização COL na Aplicação de
saúde e quotizações, referentes a janeiro 2014 (trabalho
Recolha, mês de Janeiro.
dependente).

SEGURANÇA SOCIAL: Entrega das Declarações de Remune- Dia 20:


rações referentes a de janeiro 2014 por transmissão eletró-
IVA: Envio da declaração recapitulativa por transmissão ele-
nica de dados.
trónica de dados, pelos sujeitos passivos isentos ao abrigo do
artigo 53.º do Código do IVA que tenham efetuado prestações
Dia 15:
de serviços noutros Estados Membros, no mês de janeiro,
Declaração Intrastat: Envio da informação referente ao mês quando tais operações sejam aí localizadas nos termos do
de janeiro. artigo 6.º do Código do IVA.
IVA: Os sujeitos passivos enquadrados no regime normal de
Dia 17:
tributação com periodicidade TRIMESTRAL que tiverem reali-
IRS: Entrega da Declaração Modelo 11, por transmissão zado operações intracomunitárias ou assimiladas e/ou presta-
eletrónica de dados, pelos Notários e outros funcionários ou ções de serviços a sujeitos passivos sedeados noutro estado
entidades que desempenhem funções notariais, bem como as membro, devem enviar por transmissão eletrónica de dados
entidades ou profissionais com competência para autenticar esta declaração, relativa ao 4.º TRIMESTRE (outubro a de-
documentos particulares que titulem actos ou contratos su- zembro) 2013.
jeitos a registo predial, ou que intervenham em operações Quando o montante total das transmissões intracomunitárias
previstas nas alíneas b), f) e g do n.º 1 do artigo 10.º, das de bens a incluir na declaração recapitulativa atingir ou exce-
relações dos actos praticados no mês anterior, suscetíveis de der € 50.000, no trimestre em curso ou nos quatro anterio-
produzir rendimentos. res, a sua periodicidade é alterada para mensal.

IVA: Declaração Periódica – Periodicidade Trimestral – Envio, IVA: PEQUENOS RETALHISTAS – os sujeitos passivos abran-
por transmissão eletrónica de dados, da declaração periódica gidos pelo regime de tributação dos pequenos retalhistas
relativa ao imposto liquidado no 4.º TRIMESTRE do ano devem pagar, por meio do modelo P2 – Documento Único
transato (outubro a dezembro) 2013. de Cobrança (DUC), o imposto referente aos meses de Ou-
tubro a Dezembro de 2013. No caso de não haver imposto
IMT: Os notários e outros funcionários ou entidades que
a pagar, deverá ser apresentada na repartição de finanças, no
desempenhem funções notariais, bem como as entidades e
mesmo prazo, a guia modelo 1074.
profissionais com competência para autenticar documentos
particulares que titulem atos ou contratos sujeitos a registo IMPOSTO DE SELO: Entrega das importâncias retidas, no
predial, devem submeter, até ao dia 15 de cada mês, à mês anterior (janeiro 2014), para efeitos de Imposto do Selo.
Direção-Geral dos Impostos, os seguintes elementos: SEGURANÇA SOCIAL: Entrega, entre os dias 10 e 20, das
a)  Em suporte eletrónico (Modelo11), uma relação dos atos contribuições relativas às remunerações do mês anterior 
ou contratos sujeitos a IMT, ou dele isentos, efetuados no mês (janeiro 2014).
antecedente, contendo, relativamente a cada um desses atos, IRC: Entrega das importâncias retidas, no mês anterior (janei-
o número, data e importância dos documentos de cobrança ro 2014), para efeitos de Imposto sobre o Rendimento das
ou os motivos da isenção, nomes dos contratantes, artigos Pessoas Coletivas (IRC).
matriciais e respetivas freguesias, ou menção dos prédios
omissos; IRS: Entrega das importâncias retidas, no mês anterior (janei-
b)  Cópia das procurações que confiram poderes de alienação ro 2014), para efeitos de Imposto sobre o Rendimento das
de bens imóveis em que por renúncia ao direito de revogação Pessoas Singulares (IRS).
ou cláusula de natureza semelhante o representado deixe de FCT ou (ME) e FGCT – Entregas: Pagamento das entregas
poder revogar a procuração, bem como dos respetivos subs- para o Fundo de Compensação do Trabalho (FCT) ou Meca-
tabelecimentos, referentes ao mês anterior; nismo Equivalente (ME) e para o Fundo de Garantia de Com-

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    39


pensação do Trabalho (FGCT) relativas ao mês de janeiro IRS: Entrega da Declaração Modelo 42, pelas entidades
2014, entre os dias 11 e 20. que paguem subsídios ou subvenções não reembolsáveis no
âmbito do exercício de uma atividade abrangida pelo artigo
Dia 21: 3.º do Código do Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas
Singulares, ou a sujeitos passivos de Imposto sobre o Rendi-
Banco de Portugal: Prazo de reporte COPE – EMPRESAS
mento das Pessoas Coletivas, referente aos rendimentos atri-
– janeiro 2014.
buídos no ano anterior, conforme determinam o artigo 121.º
do CIRS, e o artigo 127.º do CIRC.
Dia 25:
IRS: Entrega da Declaração Modelo 43 pelos Órgãos do
IVA: Comunicação dos elementos das faturas referentes a
Ministério da Solidariedade e Segurança Social, relativa aos
janeiro 2014.
valores de todas as prestações sociais pagas (pensões, bolsas
de estudo e formação, subsídios de renda de casa e outros
Dia 28:
apoios públicos à habitação), por beneficiário, relativo ao ano
IRS: Entrega da Declaração Modelo 10, por transmissão anterior.
eletrónica de dados, ou em suporte de papel, pelas pessoas IRC: Entrega da Declaração de alterações para os sujeitos
singulares que não exerçam atividades empresariais ou pro- passivos de IRC, cujo período de tributação seja coincidente
fissionais e que sejam devedores de rendimentos que não com o ano civil, que verifiquem as condições e queiram optar
foram declarados na declaração mensal de remunerações pelo regime simplificado de determinação da matéria coletá-
(DMR). vel.
IRS: Entrega da Modelo 16, por transmissão eletrónica de IRC: Entrega da Declaração Modelo 42, pelas entidades
dados, pelas Entidades gestoras dos Fundos de Poupança em que paguem subsídios ou subvenções não reembolsáveis no
Ações. âmbito do exercício de uma atividade abrangida pelo artigo
IRS: Entrega da Declaração Modelo 25, por transmissão 3.º do Código do Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas
eletrónica de dados, pelas entidades beneficiárias de donati- Singulares, ou a sujeitos passivos de Imposto sobre o Rendi-
vos fiscalmente relevantes no âmbito do regime consagrado mento das Pessoas Coletivas, referente aos rendimentos atri-
no Estatuto dos Benefícios Fiscais e do Estatuto do Mecenato buídos no ano anterior, conforme determinam o artigo 121.º
Científico. do CIRS, e o artigo 127.º do CIRC.

IRS: Entrega da Declaração Modelo 35, por transmissão IVA: Entrega dos pedidos de restituição, por transmissão
eletrónica de dados, pelas entidades que paguem ou atribuam eletrónica de dados, do IVA suportado na aquisição de bens
rendimentos de poupança sob a forma de juros a beneficiários do ativo imobilizado pelas IPSS e pela Santa Casa da Miseri-
efetivos ou outras entidades não residentes em território córdia de Lisboa e a que se refere o D.L. n.º 20/90, de 13/01,
português e desde que sejam residentes noutro Estado Mem- nos casos previstos no regime transitório estabelecido no n.º
bro, bem como, em Andorra, Liechtenstein, Mónaco, San 2 do art.º 225.º da Lei n.º 83-C/2013, de 31/12.
Marino, Suiça e nos territórios de Anguilla, Antilhas Holande- IUC: Liquidação, por transmissão eletrónica de dados, e pa-
sas, Aruba, Ilhas Cayman, Guernsey, Jersey, Ilha de Man, gamento do Imposto Único de Circulação relativo aos veículos
Monserrate, Ilhas Turks e Caicos e Ilhas Virgens Britânicas. cujo aniversário de matrícula ocorra no mês de fevereiro.
IRS: Entrega da Declaração Modelo 36, por transmissão
eletrónica de dados, por entidades que paguem ou atribuam Outros:
rendimentos de poupança sob a forma de juros, a pessoas FCT: Comunicação da admissão de trabalhadores, até à data
singulares que provem que atuam por conta de uma entida- do início da execução dos respetivos contratos, ao FCT (Fun-
des referidas no art.º 3.º ou 9.º do Decreto-Lei n.º 62/2005 do de Compensação do Trabalho) ou ME (Mecanismo Equi-
de 11 de março, desde que revelem o nome e o endereço valente), bem como das atualizações.
dessa entidade.
Segurança Social: Comunicação da admissão de novos tra-
IRS: Entrega da Declaração Modelo 37, por transmissão balhadores nas vinte e quatro horas anteriores ao início da
eletrónica de dados, pelas instituições de crédito, cooperativas produção de efeitos do contrato de trabalho.
de habitação, empresas de seguros, empresas gestoras de
fundos e outros regimes complementares referidos no art.º Nota: Esta informação encontra-se disponível mensalmente em www.apotec.
pt. Se durante o mês ocorrerem alterações às datas supra indicadas, a APOTEC
16 e 21.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais. não se responsabiliza pelas mesmas.

40    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


a apotec em notícias

Últimas novidades legislativas

Damos aqui destaque às últi-


mas novidades legislativas,
que nos parecem ser de
maior interesse e relevância
para os profissionais, estando A Secção Regional da
os respectivos diplomas dis-
poníveis em www.apotec.pt
Madeira foi a votos!
Despacho n.º 1576, de 31 de Janeiro – Aprova as alterações Realizou-se no passado mês de Janeiro as eleições para os
da declaração periódica de rendimentos modelo 22, respetivos corpos sociais regionais e para os delegados à Assembleia
anexos e instruções. Geral da APOTEC, da Secção Regional da Madeira.
Para conhecimento geral passamos a divulgar os nomes dos
Despacho n.º 39/2014, de 30 de Janeiro – Opção pela Associados que assim vão gerir os destinos desta Secção
continuação da aplicação do regime especial de tributação
Regional, aos quais desde já, felicitamos e desejamos as
dos grupos de sociedades – Prorrogação até 31 de março de
maiores venturas no real desempenho dos seus cargos.
2014.

Ofício Circulado n.º 30158/2014, de 29 de Janeiro – IVA: Triénio 2013-2015


Orçamento do Estado para 2014. Alterações ao código do
ASSEMBLEIA REGIONAL
IVA e Legislação Complementar.
Presidente Jorge Domingos de Jesus
Ofício Circulado n.º 30157/2014, de 29 de Janeiro – IVA: 1º Secretário Isabel Catarina Jesus Abreu Rodrigues
Alteração das taxas aplicáveis às operações que se considerem 2º Secretário Luís Miguel Mota de Freitas
efectuadas na Região Autónoma dos Açores. Suplente Ana Cláudia Andrade Ferreira

Portaria n.º 15-A/2014, de 24 de Janeiro – Aprova as DIRECÇÃO REGIONAL


instruções de preenchimento da Declaração Mensal de Remu-
Presidente Sérgio Ricardo de Freitas Jesus
nerações – AT, para cumprimento da obrigação declarativa 
Vice-Presidente Rodrigo Afonso V. Couto Cardoso
a que se refere a subalínea i) da alínea c), e a alínea d), do
Tesoureiro Rui Miguel Gomes Coelho
n.º 1 do artigo 119.º, do CIRS.
Secretário Vítor Manuel Pereira Gonçalves
Lei n.º 2/2014, de 16 de Janeiro – Procede à reforma da Vogal António Duarte da Costa Gomes
tributação das sociedades, alterando o Código do Imposto Suplente Emanuel dos Reis Camacho Machado
sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas, aprovado pelo Suplente Samuel Januário Abreu Gonçalves
Decreto-Lei n.º 442-B/88, de 30 de novembro, o Decreto
DELEGADOS À ASSEMBLEIA GERAL
Regulamentar n.º 25/2009, de 14 de setembro, e o Códi- 
go do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singula-  Jorge Domingos de Jesus
res, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-A/88, de 30 de no- Sérgio Ricardo de Freitas Jesus
vembro. Rui Miguel Gomes Coelho

Reuniões mensais 2014: Secção Regional de Braga


As reuniões livres e gratuitas promovidas pela Secção Regional Mês Dias Mês Dias
de Braga da APOTEC, são realizadas na sala 58 do Centro
JAN. 27 JUN. 30
Comercial Cruz de Pedra, sito na Rua Cruz de Pedra, 96 em
FEV. 24 SET. 29
Braga.
MAR. 31 OUT. 27
Decorrem das 21h30m às 23h00, assessoradas pelo Dr. José
ABR. 28 NOV. 24
Soares Roriz, de acordo com o seguite calendário:
MAI. 26 DEZ. –

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    41


Orçamento do Estado 2014 e Reforma do irc em destaque
formativo na APOTEC

Vinte e cinco anos do IVA


em Portugal
Decorreu no passado dia
23 de Janeiro o lança-
mento do livro “VINTE E
CINCO ANOS DE IM-
POSTO SOBRE O VA-
LOR AGRESCENTADO
Acção de Formação em Viseu (IVA) EM PORTUGAL”.
Este evento foi organiza-
De norte a sul do país, as Acções de Formação Certificada do pela Associação Fiscal
sobre o Orçamento do Estado 2014 e a Reforma do IRC in- Portuguesa (AFP) e con-
tensificaram-se no decurso dos dois primeiros meses deste tou com as presenças do
ano. Senhor Prof. JOSÉ GUI-
Foram mais de 600 participantes que estas formações alcan- LHERME XAVIER DE
çaram, fruto da necessidade de aprendizagem dos Associados BASTO, ex-presidente da
e da qualidade formativa da APOTEC. Comissão do IVA, e dos
Recordamos que no âmbito do processo submetido à  Drs. JOÃO AMARAL TOMAZ, ARLINDO CORREIA e MÁ-
DGERT – Direção-Geral do Emprego e das Relações de Traba- RIO ALVES ALEXANDRE, membros dessa Comissão.
lho no decurso de 2013, a APOTEC foi reconhecida como Com a chancela do Centro de Estudos Fiscais e Aduaneiros
entidade formadora certificada pela DGERT nas áreas de da Administração Tributária e Aduaneira e na presença do
educação e formação: 344 – Contabilidade e fiscalidade,  Director-geral da AT, Prof. Doutor José Azevedo Pereira, a AFP
345 – Gestão e Administração e 380 – Direito. promoveu a apresentação deste livro, que congrega as comu-
Ser uma entidade formadora certificada significa que os seus nicações efectuadas no Colóquio Comemorativo do 25º ani-
procedimentos e práticas estão de acordo com um referencial versário da entrada em vigor do IVA, que decorreu em No-
de qualidade específico para a formação. Além disso, a for- vembro de 2011.
mação promovida só é considerada certificada, nos termos
do Sistema Nacional de Qualificações, se for desenvolvida por
entidade formadora certificada.
Esta é mais uma vantagem da APOTEC, dos seus asso-
ciados e de todos os seus formandos!

Protocolo com NIISAL – Núcleo de Investigação do


Instituto Superior de Administração e Línguas da
Madeira
No final do ano anterior foi celebrado o protocolo de cooperação entre a Secção Regional da Madeira da APOTEC
e o NIISAL – Núcleo de Investigação do Instituto Superior de Administração e Línguas da Madeira, com o
objectivo central de assegurar a promoção de iniciativas e a realização de acções e estudos conjuntos, com incidência
na valorização sócio-profissional.
Estamos certos que esta colaboração mútua permitirá a valorização de iniciativas de interesse comum.

42    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014


Fólio do Senador

A Teoria da Agência e o “crash” na Economia


O relacionamento da agência é uma das modalidades mais velhas e mais comuns de interação
social. Um relacionamento da agência existe quando duas (ou mais) partes acordam entre si
uma determinada segregação de esforços em que uma das partes, designada como o agente, age
em nome, ou em representação da outra parte, designada como o principal, num determinado
domínio de ação e decisão. Os exemplos da agência são universais e remontam ao início da
José Azevedo
civilização quando as comunidades escolhiam de entre os seus membros o grupo dos “caçadores” Rodrigues
(agentes) para que estes fossem apanhar as reses necessárias à alimentação da comunidade Bastonário da OROC
(principal), enquanto os restantes ficavam em vigilância e defesa própria. Já nesta ocasião se
levantavam problemas de agência, pois não eram raras as vezes que se descobria que os agentes (caçadores), escondiam as
melhores reses para depois o grupo ir fazer as suas “patuscadas” secretas.
Na economia, o problema do principal-agente trata as dificuldades que se levantam face aos problemas que podem ocorrer
nos relacionamentos da agência. Na gestão de empresas e com “popularização” do mercado de capitais, dispersando os
detentores de capital, aquele problema encontra-se na maioria de relacionamentos do empregador/empregado, por exemplo,
quando os acionistas contratam os executivos de topo para as suas entidades empresariais. O acionista (principal) está
focado sobretudo na maximização dos seus rendimentos financeiros, mesmo que se assumam riscos relevantes, o que não
agrada ao gestor (agente) que tem outros objetivos e prefere um risco controlado. Por outro lado, o gestor (agente) tem
acesso a fontes mais fidedignas e dispõe de mais e melhor informação que o acionista (principal).
No primeiro caso estamos perante um conflito de interesses, enquanto que no segundo caso estamos perante a assimetria
de informação. Ambos são geradores de riscos para o principal (riscos de agência) o que o obriga a adotar mecanismos de
alinhamento dos interesses do agente aos do principal, e de salvaguarda da maior “verdade” possível na informação que lhes
é proporcionada, provocando custos de agência.
Teoricamente, os custos de agência poderiam ser previamente determináveis e posteriormente controláveis, se nas décadas
recentes não se tivesse desenvolvido um corpo de agentes com ética duvidosa e duma ganância desmedida que afetaram não
apenas os acionistas, mas também a sociedade, com impactos devastadores na economia e nas pessoas.
Os mecanismos instituídos para combater os riscos do relacionamento de agência foram:
i) Modelo de gestão, centrando as remunerações dos executivos em fortes componentes de quantias variáveis em função
dos lucros obtidos;
ii) Contratação de auditores externos independentes para certificar as contas apresentadas pelos gestores, assegurando a
credibilidade das mesmas.
Sendo os rendimentos dos agentes dependentes em grande parte dos lucros obtidos, nasceu a necessidade de maximizar esses
lucros, mesmo que tais não tivessem aderência à realidade económica que os subjaz. O exemplo mais flagrante deste “engo-
do” financeiro foi materializado nos conhecidos CDOs, (Collateralized Debt Obligations) ferramentas financeiras sofistica-
das lançadas pelos bancos e outras agências financeiras que “empacotam” empréstimos individuais num produto vendido aos
investidores no mercado secundário, suportado em ativos sem valor, ou em devedores sem capacidade financeira.
Mas estes pacotes financeiros sob a “égide” de sofisticados produtos financeiros, fruto apenas de uma elevada inovação,
diria imaginação e engenharia financeiras, iam sendo adquiridos por incautos e bem intencionados compradores que não
imaginavam o “lixo” que circulava no mercado e que os iria vitimizar num futuro próximo, com muito descontrolo da
regulação financeira, com taxas de juro insignificantes, criando a ilusão de que o dinheiro abundava, que os recursos eram
infindáveis e por isso, uma ideia de riqueza e bem-estar, não convergente com a economia real.
Esta ilusão de liquidez, teve consequências num crescimento artificial dos preços na economia real, de uma procura desen-
freada e de uma capacidade de compra atípica, levando à sobrevalorização artificial de ativos, de negócios e de transações,
criando o apogeu da moeda escritural, gerando lucros fantásticos para alguns setores de atividade (emissores, intermediários,
consultores), remunerando principescamente os gestores (agentes) com chorudos prémios sobre os lucros.
Estou convicto de que terá sido sobretudo a procura desenfreada do lucro, em que os agentes alinharam em demasia as suas
expetativas com as dos acionistas e se aproveitam de alguma ineficácia no processo de controlo da assimetria de informação,
uma das raízes mais profundas pelo caos gerado nos mercados financeiros e consequentes impactos na economia, de que as
pessoas comuns têm sido vítimas e estão “a pagar” não só no domínio financeiro, mas também no social e ambiental.

Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014    43


A forma mais simples
de adaptar o software
à minha empresa
Software
de Gestão SAGE

www.sage.pt
44    Jornal de Contabilidade. Janeiro/Fevereiro 2014

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