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Maurício Grochoski*
Universidade de São Paulo
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de Londrina onde desabou a marquise do
Anfiteatro do Centro de Ciências Sociais Aplicadas 4. Principais agentes causadores
(CESA) em 2006. Jornal O Estado de São Paulo em de colapso de marquises
13.02.2006).
Situações como essas são bastante comuns,
uma vez que as marquises apresentam uma tendên- Deve-se ter em mente que nem sempre o co-
cia a sofrerem ruptura brusca, sem aviso, por se tratar lapso ocorre devido a um destes agentes causadores
de estrutura isostática e com um único vínculo. de forma isolada. Em geral, há agentes causadores
De forma geral, pelo ponto de vista da confi- principais e outros intervenientes ou aceleradores.
guração estrutural, uma marquise pode ser uma laje O erro de projeto é sempre uma possibi-
diretamente engastada na edificação principal ou ser lidade que deve ser investigada no caso de desa-
constituída por um sistema de laje apoiada em vigas bamento de uma marquise. Porém, este tópico é
engastadas, como ilustrado na Figura 3. muito amplo e dependente de cada caso e, por isso,
não irá ser tratado nos subitens que seguem. Como
exemplo de caso de desabamento de marquise
3. Histórico e antecedentes comprovadamente por erro de projeto pode-se
citar o ocorrido no Restaurante da Tijuca, Rio de
Janeiro, em 1992, onde foi verificada deficiência
A Tabela 1 apresenta um levantamento de armadura na viga tipo balcão que sustentava a
que evidencia a triste constatação de que acidentes marquise desta edificação.
envolvendo marquises são bastante comuns. Isto
ocorre principalmente pela falta de manutenção 4.1 Mal posicionamento das armaduras
preventiva, como será discutido neste artigo.
Uma análise da Tabela 1 conduz a verificação Uma marquise é uma estrutura em balanço e,
de que os acidentes tem ocorrido tanto nas mar- por isso, sujeita a momentos negativos. Estes esforços
quises cuja configuração estrutural é de laje direta- atuantes estão ilustrados na Figura 4.
mente engastada, quanto nas quais a configuração Isto significa que para resistir os esforços
é de laje sobre vigas engastadas, e em edificações atuantes, as armaduras principais devem estar posi-
novas ou antigas. cionadas na face superior da laje.
As causas mais freqüentes dos acidentes são: Este detalhe precisa ser executado com cuidado,
a corrosão de armaduras, a sobrecarga na estrutura, uma vez que a sua não observância pode vir a ser o mo-
o erro de projeto, o mau uso da edificação, as falhas tivo do desabamento da marquise. O posicionamento
na execução e a infiltração de água, sendo a maioria destas armaduras principais precisa ser assegurado como
delas passíveis de serem evitadas por um programa previsto no projeto. Contudo, existe a possibilidade, não
de inspeção e manutenção periódica da marquise. tão pequena, de ocorrer o afundamento destas barras
Deve-se destacar que foram encontrados devido ao tráfego de operários no momento da monta-
muitos outros casos de desabamento de marqui- gem da armação e da concretagem, e ao adensamento
ses, contudo, o nível de detalhes das informações do concreto com o uso de vibradores.
disponíveis em alguns casos foi tão deficiente De acordo com Dorigo (1996) [1], o posicio-
que se resolveu não incluir no levantamento da namento das barras de momento negativo abaixo
Tabela 1. do previsto em projeto não traria maiores conse
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Figura 3 – Dois tipos de sistemas estruturais de marquises. (a) laje diretamente engastada; (b) laje apoiada sobre
vigas engastadas.
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* prédio tombado pelo patrimônio Histórico Municipal.
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Figura 4 – Ilustração dos esforços atuantes em uma Figura 5 – Detalhe da localização de área crítica com
estrutura em balanço [22]. tendência ao surgimento de fissuras e desencadeamento
de corrosão do aço
umidade e de agentes agressivos nas fissuras existentes uma marquise é um caso típico de corrosão sob ten-
de forma mais ou menos eficiente reduzindo o risco de são, que é um processo ainda mais rápido do que o
corrosão do aço na região do engaste da marquise. convencional, com a formação de uma macro-célula
Geralmente o problema ocorre pela falta de de corrosão sob tensão, conforme descrita por Hele-
manutenção deste sistema de impermeabilização, ne (1993) [6]. O aço fragiliza-se localmente na seção
o que permite o acesso de agentes agressivos como da fissura onde está corroído (Figura 6) e rompe sem
íons cloretos e poluentes atmosféricos típicos como aviso por corrosão intercristalina ou intergranular.
o gás carbônico (CO2), monóxido de carbono (CO), e Diante dessas informações é importante
outros gases ácidos tipo SO2, que juntos com água de ressaltar que estruturas especiais como as marquises
chuva formam a chamada chuva ácida de alto poder devem merecer tratamento diferenciado, coisa que
de deterioração sobre estruturas de concreto. Some- não ocorre na atual norma brasileira de projeto
se a esta agressividade a presença de fuligem ácida – NBR6118/03 [7]. Nesta são previstos valores de aber-
decorrente da queima de combustíveis e a presença tura de fissura máximos em torno de 0,2mm a 0,4mm,
de fungos típicos de ambientes úmidos e quentes. dependendo da agressividade do ambiente, para
O acesso de um ou alguns destes produtos elementos estruturais submetidos à tração em geral,
a esta região de concreto micro-fissurado resulta sem distinção quanto à sua tipologia. Estruturas como
no seu contato com as armaduras trazendo como marquises deveriam ser, se possível, projetadas para
conseqüência a sua despassivação. Como é comum a não apresentar qualquer tipo de fissuração (estádio I).
ocorrência de ciclos de molhamento e secagem nesta No entanto, para se evitar alteração na maneira como
área, o micro-clima configurado é muito favorável são calculadas, poderia-se admitir aberturas de fissura
ao desenvolvimento do processo de corrosão de bem pequenas na faixa de 0,05mm como tem sido
armaduras de aço, de forma acelerada. discutido nas reuniões do Comitê Técnico do IBRACON
Somado a todo este problema, existe o fato – Durabilidade e Vida Útil das Estruturas de Concreto
de que a corrosão das barras de engastamento de Armado. Dessa forma, a durabilidade destas estaria
ARTIGO CIENTÍFICO
Figura 6 – Barra com corrosão localizada. No local da corrosão a estrutura apresentava uma fissura
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Figura 7 – Armadura com corrosão generalizada
garantida, e os riscos de uma ruptura brusca decorren- Este tipo de ocorrência se não foi a única cau-
te da corrosão minimizados. No caso de ocorrência de sa, foi um dos agravantes nos casos do desabamento
corrosão no fim da vida útil do elemento, esta se daria das marquises do edifício Términus em 1992 [1] e do
preferencialmente de forma generalizada (Figura 7), Hospital Municipal Barata Ribeiro em 1996 [4], ambos
apresentando sinais evidentes de degradação, como no Rio de Janeiro.
manchas, fissuras e destacamento do concreto, antes O acúmulo de água sobre a marquise também
do colapso do elemento. pode vir a produzir sobrecarga na mesma. Isso ocorre
quando os sistemas de escoamento de águas pluviais
4.3 Sobrecarga estão subdimensionados ou estão falhos (geralmente
pelo fato de a impermeabilização estar vencida ou as
A aplicação de cargas não previstas em pro- tubulações de escoamento estarem obstruídas). Esta
jeto é muito comum em lajes e marquises antigas é uma das hipóteses levantadas para o Anfiteatro da
e pode ser tanto um fator prejudicial a sua durabi- Universidade Estadual de Londrina em 2006.
lidade como o próprio agente causador isolado da Outra fonte de sobrecargas em marquises é
ruína da estrutura. a instalação de equipamentos como ar-condiciona-
Um dos casos mais do entre outros e de
comuns é o da manutenção estruturas secundárias
de forma inconseqüente como letreiros, uma
do sistema de impermea- vez que muitas lojas
bilização. Muitas empresas têm marquises em sua
do ramo tendem a tomar fachada. Este tipo de
o caminho mais fácil para ocorrência é muito
a renovação dos sistemas comum segundo a CO-
de impermeabilização ven- SEDI (Comissão de Se-
cidos das marquises. Ao gurança de Edificações
invés de remover todo o e Imóveis de Curitiba).
sistema antigo juntamente Esta foi umas das cau-
com sua argamassa de pro- sas do desabamento
teção para só então aplicar da marquise do edifí-
a nova impermeabilização, cio Tavares, no Rio de
instala-se o sistema novo Janeiro, em 1995 [1].
sobre o antigo como exem- Ainda sobre
plificado na Figura 8. este aspecto é impor-
Os anos passam e tante salientar que
novas impermeabilizações o esforço do vento
são aplicadas da mesma for- sobre estes letreiros
ma até a ruína da marquise são transmitidos à
por sobrecarga não prevista marquise que pode
em projeto. O caso mais ter sua estabilidade
crítico que estes autores ob- ameaçada, podendo
servaram foi uma marquise vir a ruir. Portanto, não
com laje de 7cm de espessu- se trata simplesmente
ra com inúmeras camadas de de suporte ao peso da
impermeabilização super- Figura 8 – Exemplo de camadas de sistemas de estrutura do painel.
postas totalizando 56cm. impermeabilização sobrepostas sobre laje de marquise É fundamental a con-
É preciso aumentar a responsabilidade de pro- do laudo destas, juntamente com o termo de anotação
prietários com relação à durabilidade e segurança de de responsabilidade técnica, é indispensável para a
suas estruturas e a sociedade deve exigir do poder públi- obtenção da licença de uso da estrutura.
co a criação de leis e regras que visem a regulamentação O proprietário de uma edificação provida de
do uso e manutenção das estruturas, principalmente marquise, antes de tomar a decisão de instalar qual-
de estruturas especiais, como as marquises. Exemplos quer aparato que venha a resultar em um carrega-
bem sucedidos nesse sentido podem ser encontrados mento adicional não previsto no projeto da marquise,
em Porto Alegre, Salvador, Buenos Aires e Nova Iorque, precisa consultar um Engenheiro Civil especialista para
onde vistorias periódicas são exigidas, e a apresentação que seja feita uma avaliação do caso em questão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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In: CUNHA, A. J. P.; LIMA, N. A. SOUZA, V. C. M. Acidentes Estruturais na Construção Civil. São Paulo,
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[08] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Cargas para cálculo de estruturas em edificações.
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COMITÊ CIENTÍFICO
n Enio Pazini Figueiredo, Universidade n Paulo Helene, Universidade de
ARTIGO CIENTÍFICO
hpc2008@tucana.com.br
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