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1 REFERENCIAL TEÓRICO

A patologia nas construções em particular nas alvenarias tem sido abordada


em diversos livros especializados, artigos científicos, monografias, dissertações e
teses. O tema tem sido cada vez mais explorado em virtude das crescentes
ocorrências e negligências na aplicação das corretas técnicas construtivas.

Pretende-se neste capítulo apresentar as patologias em forma de fissuras


trincas e rachaduras em alvenaria de tijolo, excluindo outros materiais usados em
estrutura de vedação das edificações. Inicia-se com conceito e classificação das
alvenarias, elemento de estudo deste trabalho, classificação e tipos das diferentes
manifestações patológicas em forma de fissuras, tricas e rachaduras presente nas
alvenarias de vedação, e nos seus revestimentos, resultado de fenômenos nos
elementos estruturais e de técnicas construtivas deficientes.

Das várias formas de manifestações patológicas nas alvenarias, as que


merecem atenção especial são as fissuras, trincas e rachaduras.

Patologia, de acordo com o dicionário, é a parte da medicina que estuda as


doenças. Também as edificações podem apresentar defeitos comparáveis
às doenças: rachaduras, manchas, deslocamentos, deformações, rupturas,
etc. Por isso convencionou-se chamar de patologias das edificações ao
estudo sistemáticos desses defeitos (VERÇOZA, 1991, p.7).

Na medicina, os casos das patologias clínicas e as novas técnicas científicas


descobertas para soluciona-las são rapidamente divulgados, já no caso das
patologias nas edificações, em particular nas alvenarias, são tratadas com muito
cuidado, pois na maioria das vezes encontravam-se associados a várias causas, tais
como: falhas de projetos, erros de concepção, desconhecimento de propriedades
dos solos e dos materiais de construção, fiscalização dos serviços, técnicas
construtivas deficientes, etc. Esse fato, aliado em geral à falta de acompanhamento
da obra, depois desta concluída, por parte dos seus projetistas e construtores e a
própria ausência de um sistema de catalogação dos problemas patológicos
(ocorrência, incidência, gravidade, medidas corretivas adaptadas, etc.), fez com que
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o avanço da ciência “Patologia nas edificações” em espacial nas alvenarias,


ocorresse de forma muito lenta, deixando de facultar ao meio técnico informações
preciosas que poderiam evitar a repetição de um grande e sucessivo número de
erros.

Dentre os inúmeros problemas patológicos que afetam os edifícios, sejam


eles residenciais comerciais ou institucionais, particularmente importante é o
problema das fissuras, devido a três aspectos fundamentais: o aviso de um
eventual estado perigoso para a estrutura, o comprometimento do
desempenho da obra em serviço (estanqueidade à água, durabilidade,
isolação acústica etc.), e o constrangimento que as fissuras do edifício
exercem sobre seus usuários (THOMAS, 1989 p.15).

Segundo, Duarte (1998); Elfriede (1982); Ransom (1987) e Thomaz (1989)


as manifestações patológicas classificadas de acordo com diferentes princípios e
pontos de vistas, onde classificam quanto:

a) os sintomas: manchas de umidade, fissuras, degradação superficial, corrosão,


descolamentos, eflorescências, deformações, desagregação, entre outros;

b) as causas: manifestações patológicas causadas pela presença de umidade, por


sobrecargas, por deformações, por variações térmicas, por retração, entre outras;

c) os elementos construtivos atingidos: manifestações patológicas em estruturas de


concreto armado, em paredes, em revestimentos, em fundações, em portas e
janelas, entre outros;

d) os agentes causadores: manifestações patológicas causadas pela água, pela


radiação solar, pelo fogo, por sais, entre outros;

e) as tensões envolvidas: manifestações patológicas por flexão, por tração, por


compressão, por torção, por flexo-compressão, entre outras;

f) as fases correspondentes do processo construtivo: manifestações patológicas


originadas na fase de planejamento, projeto, execução, uso, manutenção, entre
outras.
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No Brasil, as principais causas das patologias estão relacionadas à


execução. A segunda maior causa são os projetos que pecam por má avaliação das
cargas; erros no modelo estrutural; erros na definição da rigidez dos elementos
estruturais; falta de drenagem; ausência de impermeabilização; e deficiências no
detalhamento das armaduras.

Na elaboração do laudo técnico de patologias em alvenaria de vedação, o


especialista realizará um estudo de causas. Assim compreenderá melhor o problema
e definir a conduta a ser adotada à solução, apontando também, outras possíveis
patologias, caso encontradas, definindo as prioridades a serem sanadas. A partir
disto, o especialista terá a segurança necessária para decidir o que fazer antes de
reformar.

Garantias de que nenhumas destas enfermidades irão aparecer em uma


edificação, não se terá, pois podemos ter várias causas agindo ao mesmo tempo e
nem sempre é possível identifica-las as verdadeiras, mas é possível preveni-las,
fazendo antes de construir, um bom projeto estrutural, estudo do solo, usando
materiais de qualidade, escolhendo mão de obra profissional competente, cobrando
controle na execução dos procedimentos e a aplicação das corretas técnicas
construtiva.
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1.1 DEFINIÇÃO DE ALVENARIA E ARGAMASSA DE REVESTIMENTO

1.1.1 Algumas Definições para Alvenaria de Vedação:

Define-se alvenaria de vedação como a alvenaria que não é dimensionada


para resistir a ações além de seu próprio peso, são responsável pela proteção do
edifício de agentes indesejáveis (chuva, vento etc.) e pela divisão dos ambientes
internos.

O processo construtivo convencional onde temos uma estrutura aporticada


de concreto armado utiliza para o fechamento dos vãos as paredes de alvenaria.

Alvenarias de vedação são elementos da construção civil, resultantes da


união de blocos sólidos, justapostos, unidos com argamassa ou não, destinados a
suportar somente seu próprio peso.

1.1.2 Argamassa de Revestimento

Argamassas são materiais usados nas construções, tendo como


propriedades: a aderência e o endurecimento, obtidos da mistura homogênea de um
ou mais aglomerantes (o cimento e/ou a cal), agregado miúdo (areia) e água,
dependendo das características adicionais que se pretende podem conter ainda
aditivos e adições minerais, sendo usada tanto no assentamento quanto no
revestimento das alvenarias.

As argamassas usadas nas alvenarias, para seu bom desempenho devem


apresentar algumas propriedades que evitem o aparecimento de patologias, tais
como:

● aderência;
● resistência mecânica
● capacidade de absorver deformações.
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1.2 PROPRIEDADES DAS ALVENARIAS

As alvenarias de vedação têm como principais propriedades:

a) Resistir à umidade e os movimentos térmicos;


b) Resistir à pressão do vento;
c) Isolamento térmico e acústico;
d) Base ou substrato para os revestimentos em gerais;
e) Segurança dos usuários ocupantes das edificações;
f) Adequar e dividir os ambientes;
g) Controle da migração de vapor de água e regulagem da condensação.

1.3 CAPACIDADE DE SUPORTE DAS ALVENARIAS

Classificam-se as alvenarias em duas grandes classes:

a) Alvenarias não estruturais ou de vedação.

Alvenarias de vedação são destinadas a divisão dos espaços internos das


edificações, preenchendo os vãos de estruturas de concreto armado, aço ou outras
estruturas. Assim sendo, suportando somente o peso próprio e cargas de utilização,
como armários, rede de dormir e outros. Devendo apresentar adequada resistência
às cargas laterais estáticas e dinâmicas, advindas, por exemplo, da atuação do
vento, impactos acidentais e outras.

b) Alvenaria estrutural ou portante.

Alvenaria estrutural é um sistema construtivo racionalizado, no qual os elementos


que desempenham a função estrutural são de alvenaria, ou seja, os próprios blocos
de concreto.
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1.4 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

As principais manifestações patológicas nas alvenarias são:

a) Fissuras, trincas e rachaduras.


b) umidade
c) Deslocamentos

O presente estudo apresentara as formas e as possíveis causas dessas


patologias em forma de fissuras, trincas e rachaduras nas alvenarias de vedação e
nos seus revestimentos com argamassa, não sendo consideradas alterações nas
cadeias poliméricas de tintas exposta a radiação solar, onde os raios ultravioletas
com o tempo provocam microfissuras da película da tinta, fenômeno voltado para
seu envelhecimento e durabilidade natural.

1.4.1 Diferenças entre Fissuras, Trincas e Rachaduras.

Normalmente as publicações (livros, artigos, dissertações e teses) se


referem a todas as aberturas indistintamente como trincas ou fissuras, isto poderá
levar a dúvidas quanto ao grau de gravidade dessas aberturas, causando certa
confusão quanto ao diagnóstico adequado e a melhor solução para resolver essas
patologias de uma forma mais eficiente.

Quando se depara com uma abertura numa alvenaria, torna-se quase uma
unanimidade em chamá-la de rachadura ou trincas. Mas será mesmo uma
rachadura? Não seria uma trinca ou quem sabe uma fissura?

As aberturas nas alvenarias têm diferenças conforme sua profundidade, que


permite classifica-la em fissura, trinca ou rachadura.

a) Fissuras: Apresenta-se como aberturas finas e compridas, possuindo pouca


profundidade. Com espessura de até 0,5 milímetros. Geralmente são superficiais,
ocorrendo na pintura, massa corrida ou na camada superficial do revestimento,
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reboco ou emboço. Portanto inofensivas, apesar de desagradáveis. Manifesta-se


nos revestimentos com argamassas, porém com profundidade ainda não
chegando à alvenaria, geralmente de forma mapeadas.

b) Trinca: É uma abertura mais acentuada e profunda provocando a separação


entre as partes e alcançam a alvenaria de parede. Apresenta espessura superior
a 0,5 mm e menor ou igual a 1,5 mm, podendo sinalizar para algo mais grave,
requerendo maior atenção. A divisão da estrutura em duas partes é o fator
preponderante para sua identificação. Manifesta-se, assim como as fissuras, no
revestimento, porém chegando à alvenaria, as tensões de tração que surgi no
processo podem ser suficientes para provocar aberturas da argamassa de
assentamento e na unidade básica da alvenaria (tijolo), dependendo da
resistência à tração desses.

c) Rachaduras: a rachadura apresenta as mesmas características das trincas,


pois há separação entre partes, não só do revestimento, como também da
unidade básica da alvenaria (tijolo), são aberturas mais profundas e acentuadas,
com abertura superior a 1,5mm e inferior ou igual 5,0 mm, por ser bastante
pronunciadas são facilmente observáveis. Para serem caracterizadas como
rachaduras, essas aberturas são de tal magnitude que vento, água e até luz
passam através dos ambientes.

d) Fendas: Aberturas superiores a 5,00 mm, onde já podemos diagnóstica que há


um grave problema estrutural.

Figuras 1 – fissura. Figura 2 - Trinca Figura 3 - Rachadura


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O simples processo de dilatação e retração dos materiais ou até problemas


estruturais poderão causar fissuras, trincas ou rachaduras e às vezes fendas,
tornando uma tarefa não tão fácil para engenheiros e arquitetos identificarem as
causas e apresentarem as melhores soluções para resolver o inconveniente ou o
perigo que essas patologias podem trazer para as edificações, requerendo sempre
consulta a um profissional especializado no assunto.

A seguir é apresentada uma classificação usual das aberturas nas


alvenarias de vedação nas edificações segundo suas dimensões.

ANOMALIAS ABERTURAS (MM)


Fissuras e ≤ 0,5 mm
Trincas 0,5 < e ≤ 1,5
Rachadura 1,5 < e ≤ 5,0
Fenda e ˃ 5,0 mm

Fonte: Site do professor Adriano de Paula e Silva, UFMG. Apud (Monografia) Alexandre Magno de
Oliveira (2012, p.10).

Cabe lembrar que toda trinca ou rachaduras começa como pequenas


fissuras, logo por prudência, precisa-se aguardar sua evolução para um perfeito
diagnóstico e uma intervenção adequada.

De uma maneira geral essas patologias são resultantes do alívio das


tensões entre partes de um mesmo material ou entre dois elementos de contato.

Figura 4 - Vista da espessura da trinca (0,3cm) Fonte: Alexandre magno de Oliveira (Monografia,
2012, p.56).
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Figura 5 - Vista da espessura da trinca (0,6cm) Fonte: Alexandre magno de Oliveira (Monografia,
2012, p.56).

1.4.2 Patologia em Forma de Fissura

Definido anteriormente, a fissura é uma manifestação patológica superficial,


finas e compridas de pouca profundidade que ocorre nos revestimentos das
alvenarias, apresentando-se em forma de aberturas com dimensões de até no
máximo de 0,5 mm.

Segundo Silva (2005), a ocorrência cada vez maior de fissuras, demonstra


que o setor da construção civil deve atentar cada vez mais com o sistema de
revestimento das edificações, equalizando mão-de-obra com os sistemas
construtivos eficientes, de maneira condizente à Engenharia.

Borges e Mantefuso (1996), afirma que os danos mais frequentes nos


revestimentos das fachadas, constituído com argamassas é o aparecimento de
fissuras em toda sua extensão, dispostas tanto transversalmente como
longitudinalmente.

A fissura superficial que ocorre na argamassa de revestimento apresenta-se


nas alvenarias por diversas causas, mesmo aquelas que futuramente podem evoluir
para um trinca ou uma rachadura, pois as aberturas que se configuram como trincas
ou rachaduras, salvo provocadas por fenômenos de natureza imediata, como um
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recalque brusco decorrente de fundações em solos colapsiveis, começam com uma


simples fissuras. As causas apresentada a seguir são aquelas onde já houve a
estabilização da abertura, onde o fenômeno encontra-se restrito apenas no
revestimento superficial ainda não alcançando a unidade básica da alvenaria, como
isso se evita uma sobreposição de causas de trincas, fissuras e rachaduras, fugindo
dos objetivos desse estudo que é analisar essas distintas aberturas isoladamente,
como suas principais causas, procurando-se assim, a solução mais adegada para
patologia.

Pelos motivos acima, torna-se necessário a constatação da estabilização da


abertura para classificá-la como fissura, trinca ou rachadura conforme suas
dimensões, para um correto diagnóstico.

As aberturas configuradas como trinca ou rachadura são geralmente de


natureza de maior complexidade que as fissuras superficiais, pois são geralmente de
ordem estrutural, demandando mais tempo e custos para sua reparação, já as
superficiais (fissura) podem ser evitadas como medidas mais simples, como:
correção no traço da argamassa, fator água cimento etc.

Causas mais comum das fissuras superficiais.

a) Retração hidráulica do cimento;

b) Retração térmica;

c) Fissuras causadas por movimentação higroscopia;

d) Alterações químicas dos materiais de construção.

1.4.2.1 Retração hidráulica do cimento

Retração hidráulica é ocasionada pela perda de água durante a mistura da


argamassa, provocando uma não homogeneidade na reação de hidratação do
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cimento, principalmente em dias muito quentes, quando há demora entre o tempo de


preparo e sua aplicação, fazendo com que algumas das partículas de cimento
podem acabar por não reagir pela falta da água que evaporou durante a mistura,
gerando fissuras.

Helene (1980), afirma que a completa reação química de hidratação entre a


água e o cimento é necessários valores de 22% a 32% de água em relação à massa
do cimento. Em média essa relação água/cimento de aproximadamente 0,40 é
suficiente para que o cimento de hidrate completamente .

Outros fenômenos que provocam deformações de retração ocorrem tão logo


a argamassa é aplicada, devido à perda de água por sucção da base (tijolo) e por
evaporação para o ambiente. A retração gera tensões internas de tração. O
revestimento pode ou não ter capacidade de resistir a essas tensões, o que regula o
grau de fissuração nas primeiras idades de aplicação. Uma boa técnica é humedecer
a alvenaria antes da aplicação do reboco, evitando a retirada de água da
argamassa. Evitando assim fissuras.

Segundo leal (2003), as argamassas de revestimentos sofre fissuração por


retração de secagem, basicamente decorrente de três causas principais: aplicação
sobre base extremamente seca, perda de água na massa por insolação excessiva e
uso de areia contaminada com material silto-argiloso.

Leal (2003) afirma que nos revestimentos de fachadas externas com


argamassa, acabam tendo grande influência, as condições climáticas, pois a
aplicação em dias muito quentes ou muito secos pode ocorrer uma desidratação
precoce, causando fissuras por retração do tipo mapeadas.
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Figura 6 – Fissuras mapeadas. Thomaz/2001

A retirada excessiva de água das argamassas nas primeiras horas, pela


sucção elevada do substrato (alvenaria), pode conduzir à formação de microfissuras
na interface devido à retração plástica, que por sua vez diminui a aderência. Esta
sucção por capilaridade de substratos, com alta absorção de água, pode ser
reduzida pelo molhamento ou pré-umedecimento (LAWRENCE E CAO, 1987 apud
CARASEK et al., 2001).

Nas argamassas ricas ou muito ricas há notável influência da retração,


consequentemente, essas argamassas estarão mais sujeitas a tensões de
tração que causarão trincas e possíveis descolamentos de sua camada
suporte à medida que sua espessura cresce (FIORITTO, 1994; JOISEL,
1965).

Segundo Neville (1997) a pasta de cimento pode sofrer redução de volume


de até 1% do volume absoluto do cimento seco. Sendo que a intensidade da
retração é influenciada por diversos aspectos entre eles estão: a relação
água/cimento, temperatura e umidade do ambiente, a velocidade de ventos, calor de
hidratação do cimento, o teor de agregado e o teor de cimento da mistura.

Pelo processo de exsudação a água pode chegar à superfície da argamassa


e conforme as condições de insolação, o processo de evaporação pode ser mais
intenso nas camadas superficiais, deixando de promover o processo de hidratação
do cimento, por falta de água, não se hidratação ocorre retração e fissuras
superficiais.

Exsudação é a movimentação da água de amassamento da argamassa, até


a superfície do revestimento, piso, ou afins, diminuindo a quantidade de água
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disponível para a reação com o cimento, causando assim a retração e a fissuração


prematura da argamassa.

Figura 7 Figura 8 – Foto do autor.


As fissuras superficiais podem ser evitadas seguindo-se alguns
procedimentos, tais como.

 Sempre molhar a superfície antes de aplicar a argamassa e após o


acabamento, molhar o revestimento.
 Utilizar pouca água e apenas a quantidade necessária de cimento ao preparar
a argamassa.

1.4.2.2 Retração térmica

O comportamento diferente que possui os materiais que compõe a


argamassa (cimento, areia, cal e a água), diante as diferentes variações de
temperatura, um material tende a retrair e dilatar mais que o outro, isso faz surgir
fissuras no conjunto.

A argamassa com função de revestimento das alvenarias deve ter boa


capacidade de absorver deformações em virtude da variação de temperatura.

Capacidade de absorver deformações é a propriedade que o revestimento


possui para absorver deformações intrínsecas (do próprio revestimento) ou
extrínsecas (da base) sem sofrer ruptura, sem apresentar fissuras prejudiciais e sem
perder aderência.
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A capacidade de absorver deformações de uma argamassa é ditada pela


sua resistência à tração e pelo módulo de elasticidade, por essa razão, o traço deve
ter as quantidades de aglomerante e água em proporções adequada que propicie
essas características ás argamassas.

De acordo com Thomaz (2007) em uma construção, seus elementos e


componentes estão passíveis de variações de temperatura, tanto diárias como
sazonais. Isso provoca uma variação dimensional dos materiais de construção
(dilatação ou contração). Esses movimentos de dilatação e contração são impedidos
pelos diversos vínculos (exemplo: aderência da argamassa a alvenaria),
desenvolvendo nos materiais, tensões que poderão provocar o aparecimento de
fissuras.

As aberturas resultantes da variação de temperatura podem resultar tanto


em fissuras superficiais como em trincas, aberturas mais profunda, dependendo se o
processo ocorreu somente no revestimento ou nos elementos estruturais ligados a
alvenaria, como as lajes por exemplo.

Figura 09 - Fissuras de variação de temperatura

1.4.2.3 Fissuras causadas por movimentação higroscópicas

A variação higroscopias nos materiais porosos que integram os


componentes e elementos de uma edificação provocam variações nas suas
dimensões; com o aumento do teor de umidade há uma expansão do material
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enquanto a diminuição desse teor provoca contração. No caso de vínculos que


impeçam ou restringem essas movimentações, como alvenarias de vedação
contidas por pórtico nos edifícios de vários andares e essa variação de umidade
(higroscópica) se limitar apenas no revestimento do painel de alvenaria, podem
resultar em fissuras. Ocorrendo essa movimentação higroscópica por capilaridade
da umidade vinda do solo por impermeabilização mal feita, poderá provocar
expansão do tijolo cerâmico, mesmo com elevada resistência à compressão,
provocando aberturas agora mais profundas em forma de trincas e não em forma de
fissuras, disposta horizontalmente, pois o painel é solicitado à compressão na
direção horizontal.
Com essa variação volumétrica pode causar fissuração. As fissuras
causadas por movimentação higroscópica têm formato análogo às causadas por
retração.

Segundo THOMAZ (1989) a variação de humidade assemelha-se àquelas


provocadas por variações térmicas, sendo que as aberturas podem variar em função
das propriedades hidrotérmicas dos materiais e das amplitudes de variações da
humidade e da temperatura, pois a tendência de retrair e dilatar do revestimento
causam também tensões de tração, assim a variação volumétrica, provocada pela
variação da umidade.

Os ciclos de umedecimento e secagem das argamassas de revestimento,


com impermeabilização deficiente da superfície, originam inicialmente a ocorrência
de microfissuras na argamassa. Através destas microfissuras ocorrerão penetrações
cada vez maiores, acentuando-se progressivamente as movimentações e a
consequente incidência de fissura no revestimento.

THOMAZ (1989) salienta que “a quantidade de água absorvida por um


material de construção depende de dois fatores: a porosidade e a capilaridade”. O
fator mais importante que rege a variação do teor de umidade dos materiais é a
capilaridade, pois na secagem de materiais porosos, a capilaridade (uma de rede de
micros caminhos semelhantes a vasos capilares), provoca o aparecimento de forças
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de sucção, responsáveis pela condução da água até a superfície do componente,


onde ela será posteriormente evaporar-se.

Para haver variação higroscopia nas argamassas de revestimentos, há a


necessidade de suprimento de umidade, que pode ser por diversas vias, tais como:

a) Umidade resultante da produção dos componentes.

Na produção dos elementos construtivos à base de ligantes hidráulicos,


como o cimento, geralmente aplica-se uma quantidade de água superior à
necessária para que ocorram as reações químicas de hidratação. A água em
excesso permanece em estado livre no interior do componente e, ao evaporar,
provoca a contração do material.

b) Umidade proveniente da execução da obra.

É prática se umedecer os painéis de alvenaria que receberão argamassa de


revestimento, visando impedir a retirada por partes dos blocos da água de
amassamento, pois caso contrário à aderência será prejudicado ou mesmo as
reações de hidratação. Esse procedimento poder-se-á provocar o aumento do teor
de umidade no revestimento a valores bem acima da humidade higroscópica de
equilíbrio, provocando uma expansão do material. O excesso de água tenderá a
evapora-se, provocando a contração do material, favorecendo o aparecimento de
fissuras.

c) umidade do ar proveniente de fenômenos meteorológicos.

Durante a vida da construção, as faces das alvenarias voltadas para o


exterior absorvem quantidades consideráveis de água da chuva. Também a
humidade presente no ar pode ser absorvido pelas alvenarias, quer sob a forma de
vapor, quer sob a de água líquida (condensação do vapor sobre as superfícies mais
frias da construção). Provocando ciclos de saturação e secagem do revestimento,
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essa variação higroscópicas, a intensidade de variação, que provocará a variação


volumétrica, depende da variação também da temperatura externa.

Analisando a manifestação de fissuras nas alvenarias de fachada, verifica-se


que elas são preponderantemente causadas pelas variações termohigroscópicas.
Isso se deve, principalmente, a exposição à água da chuva e radiação solar, o que
não ocorre com as alvenarias de vedação internas.

Figura 10 – Fissuras provocadas por variações termohigroscópicas.

1.4.2.4 Alterações químicas dos materiais de construção

De acordo com THOMAZ (1989) os materiais de construção são passíveis


de deterioração causadas por substâncias químicas, principalmente por soluções
ácidas e alguns tipos de álcool. Nos edifícios que abrigam fábricas de laticínios,
cervejas, álcool, açúcar, celulose e produtos químicos em geral, seus materiais de
construção são seriamente afetados por essas substâncias, mas as manifestações
patológicas manifestam-se mais em forma de lixiviação e não na forma de fissuras.

Independente da presença de meios fortemente agressivos, como


atmosfera com alto alta concentração de poluentes e os ambientes
industriais, os materiais de construção podem sofrer alterações químicas
indesejáveis que reduzem, dentre outras coisas, na fissuração do
componente. (THOMAZ, 1989, p.8).
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Apresenta-se a seguir três tipos mais comuns de alterações químicas que


aparecem com bastante frequência na argamassa de revestimento e de
assentamento das alvenarias.

a) Hidratação retardada de cales

b) Ataque por sulfato


 Hidratação retardada de cales

A cal hidratada é obtida da calcinação do calcário que submetido às


elevadas temperatura resulta em óxido de cálcio (CaO) com liberação de gás
carbônico (CO2). O óxido de cálcio misturado à água resulta na cal hidratada
Ca(OH)2. Produto muito usado na construção civil.

Equação química de calcinação: CaCO3 + Calor CaO + CO2

Equação de hidratação dos cales: CaO + H2O --> Ca (OH)2 (a cal utilizada nas
argamassas).

Segundo (THOMAS, 1989 p.119) uma cal que não foi totalmente hidratada
pode apresentar altos teores de oxido de cálcio livre, que sempre estarão ávidos por
água, se por qualquer motivo ocorrer uma umidificação ou movimentação
higroscópica ao longo da vida útil da alvenaria, haverá a tendência de que esses
óxidos livres venham a hidratar-se, como consequência, tem-se um aumento de
volume de aproximadamente de 100%.

O mesmo autor ainda comenta que dependendo da intensidade desse


aumento de volume, poderão surgir fissuras semelhantes às formadas por dilatação
térmicas ou movimentação higroscópicas nos revestimentos com argamassas.

A hidratação retardada não se manifesta somente como fissuras nos


revestimento de argamassa, surgindo forças de tração pelo aumento volumétrico
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resultante da hidratação tardia, mas tende a produzir outras patologias, tais como:
deslocamento, desagregação e pulverulência do revestimento argamassado.
Naqueles locais onde se tem grânulos isolados de óxido de cálcio ativos, a
expansão seguida da desagregação desse óxido, faz surgir buracos no
revestimento, conforme figura 11 abaixo.

Existindo óxido de cálcio livre, na forma de grãos grossos, a expansão não


pode ser absorvida pelos vazios da argamassa e o efeito é de formação de
vesículas, podendo ser observados já nos primeiros meses da aplicação do reboco.

Figura 11 - Vesiculas resultante de hidratação retarda da cales

Figura 12 – Fissuras horizontais no revestimento provocado pela expansão da argamassa de


assentamento. (Thomaz. E, 1989).

 Ataques por sulfato

Conhecendo-se a química do cimento, entende-se melhor como o sulfato


pode ser prejudicial à argamassa de revestimento e assentamento dos blocos numa
alvenaria.
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Segundo (ABCP, 2002) o cimento portland é um pó fino com propriedades


aglomerantes, aglutinantes ou ligantes, que endurece na presença da água. Depois
de endurecido, mesmo que seja novamente submetido à ação da água, o cimento
portland não se decompõe mais.

(MARTINS et al., 2008). Aglomerante porque tem a propriedade de unir


outros materiais. Hidráulico porque reage (hidrata) ao se misturar com água e depois
de endurecido ganha características de rocha artificial, mantendo suas propriedades,
principalmente se permanecer imerso em água por aproximadamente sete dias.
O calcário e a argila são moídos finamente e com eles prepara-se uma
mistura contendo aproximadamente uma parte de argila para quatro partes de
calcário. Em seguida, a mistura é cozida até a temperatura de 1450ºC, obtendo-se
um material granulado chamado clínquer portland. O clínquer é então moído com
pequena porção de gesso (+ ou – 3%), sendo o pó fino resultante, de cor cinza, o
Cimento Portland. Para obter os diferentes tipos de cimento adicionam-se outros
materiais ativos aos anteriormente mencionados.

Segundo (ROBERTO, 2001) outras matérias primas são adicionadas na


fabricação de cimento tais como: Cálcio (Ca), Silício (Si), Alumínio Tricálcico (C3A) e
Ferro (Fe), pois são estes os elementos químicos que, combinados, vão produzir
compostos hidráulicos ativos.

O alumínio tricálcico, fase que reage mais rápido na hidratação do cimento,


quando em contato com a água, pode reagir com sulfato em solução, formando um
composto chamado sulfoaluminato tricálcico, conhecido como etringita. Essa reação
é seguida de grande expansão, mas para que ocorra essa reação, faz-se necessário
a presença do cimento, água e sulfato solúveis; por isso não se recomenda o uso
conjunto de cimento e gesso (gipsita ou sulfato de cálcio di-hidratado). Mistura
potencialmente perigosa.

Os sulfatos poderão provir de diversas fontes, como o solo, águas


contaminadas ou mesmo componentes cerâmicos constituídos por argilas
com altos teores de sais solúveis. A água por sua vez, poderá ter acesso
aos componentes através de diferentes formas: pela penetração de água de
chuva em superfície mal impermeabilizadas ou pela própria absorção da
21

umidade resultante da ocupação da edificação (lavagem de pisos, asseio


corporal etc.) (THOMAZ, 1989, p.120).

O ataque de sulfato ocorrendo por água contaminada, proveniente de chuva


em superfície má impermeabilizada ou resultante da própria absorção da umidade
do ambiente, ocorrer na camada superficial da argamassa de revestimento, pela
reação de expansão do alumínio tricálcico com sulfato (etringita), faz surgir fissuras
superficiais semelhantes àquelas que ocorrem pela retração.

Figura 13 - Fissuras na argamassa de revestimento por ataque de sulfatos.

1.4.3 Patologia em Forma de Trinca

Para melhor entendimento das aberturas nas alvenarias de vedação,


classificamos as mesmas segundo suas espessuras e profundidades, pois permite
analisar o problema de uma forma mais focalizada, propiciando um bom diagnóstico da
patologia. As trincas assim como as rachaduras há separação entre as partes e são
mais profundas, sendo que às trincas pode ocorre tanto no revestimento, na argamassa
de assentamento, podendo atingir a unidade básica da alvenaria (tijolo), já as
rachaduras por ser de espessura e profundidades maiores, já transpassou o
revestimento e atingindo a argamassa de assentamento e o tijolo e são caracterizadas
como aberturas de tal magnitude que o vento, água e até luz passam através dos
ambientes.
22

Figura 14 – Rachadura em painel de alvenaria

Rupturas mais profundas (Fendas), demandam atenção imediata dos donos


do imóvel. Em alguns casos, a Defesa Civil deve ser comunicada. Figuras 15 e 16.

Figura 15 – Fenda Figura 16 - Fenda

As trincas e rachaduras precisam de uma investigação minuciosa a fim de


preservar a segurança da edificação e de quem a utiliza. Por isso o ideal é chamar
um especialista e solicitar um laudo técnico.

 Principais causas de trincas.

A seguir serão apresentadas as causas mais comuns para formação de


trincas, uma vez que as fissuras são aberturas apenas superficiais, apesar de
algumas publicações se referirem a todas as aberturas como fissuras
indistintamente. As causas serão apresentadas em função das intensidades das
tensões de tração dos fenômenos mais comuns que as provocam, porém não
23

significa que um determinado fenômeno que comumente provocaria uma trinca, não
possa gerar tensões suficientes para uma abertura classificada como rachadura,
aberturas com dimensões superiores a 1,5mm e menor ou igual a 5,0mm,
principalmente aquelas geradas por flexão de elementos estruturais ou atuação de
sobrecargas.

 Causas.

a) Movimentações higroscópicas

b) Movimentações térmicas de elementos estruturais

c) Movimentações por retração hidráulicas de elementos estruturais

d) Flexão de elementos estruturais

e) Atuação de sobrecargas

1.4.3.1 Movimentações higroscópicas

Os materiais porosos submetidos a mudanças higroscópicas (variação de


umidade) sofrem variações volumétricas, expandindo-se e contraindo-se com o
aumento e diminuição respectivamente do teor de umidade, os revestimentos
argamassados, por está mais expostos as várias fontes de umidade sofrem fissuras,
mas outros materiais construtivos também são afetados por essa variação como os
tijolos feitos de materiais cerâmicos originando trincas.

Segundo (Thomaz 1989 p.35) os materiais cerâmicos sofrem pequenas


movimentações reversíveis, quando submetido a variações higroscópicas e
térmicas, entretanto pesquisas realizadas na Austrália e nos Estados Unidos em
1950, mostrarão que os tijolos cerâmicos sofrem grande expansões irreversíveis por
efeito da umidade.
24

A fonte de umidade vindo da água presente no solo pelo efeito da


capilaridade poderá ascender-se á base da construção, desde que os diâmetros dos
poros capilares e o nível do lençol freático assim o permitam. Não encontrando
barreiras em virtude da má ou ausência de impermeabilização dos alicerces nas
alvenarias de vedação em tijolos cerâmicos, permiti que o mesmo entre em contato
direto com o solo, absorvendo umidade. Trincas horizontais aparecem na base das
paredes, pois os tijolos que estão em contato direto com o solo úmido, apresentam
movimentações diferentes e maiores que os tijolos das camadas superiores que
submetido à insolação direta, perde água por evaporação, essa trincas são quase
sempre acompanhadas por eflorescências, permitindo seu diagnóstico.

Figura 17 - Trinca horizontal na base da alvenaria por movimentações higroscópicas diferenciadas: as


fiadas inferiores, mais sujeitas à humidade, apresentam maior expansão em relação às fiadas
superiores.

Segundo (THOMAS, 1989 p.41) destacamentos entre os componentes de


alvenaria e argamassa de assentamento podem ocorrer em virtude de
movimentações reversíveis ou irreversíveis que dependem da aderência entre
argamassa e o componentes da alvenaria, tipo de junta adotada, módulo de
deformação dos materiais em contato, propriedades higroscópicas desses materiais
e intensidade da variação da umidade. Fig.18
25

Figura 18 – Destacamento entre argamassa e componentes de alvenaria (tijolo), provocando trincas.

1.4.3.2 Movimentações térmicas de elementos estruturais

A alvenaria encontra-se ligada a laje por viga ou cinta de amarração, sedo


lajes de coberturas em edificações térreas e a última laje em prédios em alvenaria
estrutural, essas ficam submetidas a gradiente de temperatura (variação da
temperatura ao longo de sua espessura), pois se encontra mais expostas às
variações térmicas naturais, isso faz com que ocorra uma diferença significativa de
movimentação entre a superfície superior e inferior, sendo normalmente as
superiores são solicitadas por movimentações (dilatação) mais bruscas e de maior
intensidade.

Thomaz (1989) afirma que mesmo as lajes de cobertura protegidas por


telhados, sofrem esse fenômeno, pois as telhas absorvem energia térmica e irradia
para a laje. Por esse motivo e pelo fato da vinculação que as lajes de coberturas
encontram-se com as paredes, surgem tensões tanto no corpo das lajes como no
corpo das paredes; teoricamente essas tensões de origem térmicas são nulas no
centro da laje, crescendo proporcionalmente aos bordos onde atingem seus valores
máximos, conforme Figura 19.
26

Figura 19 - Desenvolvimento das tensões numa laje de cobertura com bordos vinculados devidos a
efeitos térmicos.

As lajes de coberturas sofrendo dilatação plana e abaulamento em virtude


do gradiente de temperatura ao longo de sua espessura introduzem nas paredes
ligadas a ela tensões de tração e de cisalhamento, conforme observações na
prática. A trinca se desenvolve quase que exclusivamente na parte superior das
paredes, conforme Figuras 20 a 21.

Figura 20 – Movimentações plana e de abaulamento, sob elevadas temperaturas.


27

Figura 21 – Trincas no topo das paredes paralelas ao comprimento da laje; a direção das fissuras
apresenta-se perpendicular a resultante de tração, indicando a movimentação térmica da esquerda
para a direita.

Figura 22 – Paredes com trincas inclinadas em forma de escama, conforme o modelo de tração
resultante mostrado na figura anterior, decorrente da movimentação térmica da laje superior.

Figura 23 Figura 24

Figura 23 e 24 – Trinca no topo da parede paralela a largura da laje, apresentando-se bem defina
resultante do abaulamento da laje que sofreu variações técnicas.
28

As componentes horizontais e verticais das tensões de origem térmicas,


fazem surgir tensões de cisalhamento nas paredes adjacentes de uma edificação
ligadas as lajes, provocando trinca inclinadas nos cantos superiores das paredes.
Fig. 25.

Figura 25 – Trincas de cisalhamento provocadas por expansão térmicas da laje de cobertura.

De acordo com (Thomaz 1989) nas estruturas aporticadas a movimentação


do pórtico onde as paredes estão inseridas apenas com função de vedação,
provocadas por variação térmica, pode causar destacamento entre as alvenarias e o
reticulado estrutural, surgindo trincas de cisalhamento nas extremidades das
alvenarias. Figuras 26 e 27.

Figura 26
29

Figura 27

Figuras 26 e 27 – Destacamentos entre alvenaria e a estrutura, provocadas por movimentações


térmicas diferenciadas (THOMAZ, 1989).

Figura 28 – trincas de cisalhamento nas alvenarias, provocadas por movimentação térmica do pórtico
da estrutura (THOMAZ, 1989. DUARTE, 1998).

Segundo (DUARTE. 1998) nas alvenarias podem surgir trincas verticais em


função de tensões de tração paralelas as movimentações térmicas de dilatação e
contração da laje de cobertura. Essa trinca tende maior abertura na parte superior
da alvenaria junto à laje, sendo mais comuns em alvenarias de tijolo com furos na
vertical, pois apresenta baixa resistência a tração na horizontal.
30

Figura 29 – Trinca vertical por movimentação térmica da laje (DUARTE, 1998).

1.4.3.3 Retração hidráulica de elementos estruturais.

Retração hidráulica ocasionada pela perda de água de amassamento não é


exclusividade das argamassas, pois ocorre também no concreto, provocando uma
não homogeneidade na reação de hidratação do cimento e por efeito dessa retração
surgem movimentações nas lajes, não acompanhadas pelas alvenarias solidárias,
como consequência trincas manifestam-se nas interfaces entre paredes e lajes.
De acordo com Duarte (1998) as alvenarias localizadas nos últimos andares
são mais suscetíveis a sentirem o efeito de retração das lajes, pois esse fenômeno
pode ocorre de forma associada às movimentações por variações térmicas.

Segundo Sahlin (1971) a retração em lajes podem também causa trincas em


alvenarias de andares intermediários com a mesma configuração nas interfaces ou
em cantos superiores nas aberturas das alvenarias conforme as configurações
apresentadas nas figuras 30 e 31.
31

Figura 30 – Trincas horizontais em paredes nas edificações de múltiplos andares em paredes, por
retração da laje de cobertura e intermediárias.

Figura 31 – Trinca horizontal em parede por retração da laje de cobertura.

1.4.3.4 Flexão de elementos estruturais que funciona como suporte para alvenarias

Hoje com os softwares cada vês mais moderno, permite métodos mais
refinados e realista de cálculo, quanto ao comportamento estrutural das edificações,
com isso as construções ficarão cada vez mais esbeltas, exigindo uma análise mais
profunda das suas movimentações ou deformações, que dentro de certos limites não
ira afetar a estabilidade e/o resistência como um todo da construção, porém essas
deformações podem ser incompatíveis para outros elementos construtivos que
integram os edifícios, como as paredes de vedação.
32

A norma brasileira NBR 6118 no item 4.2.3 faz recomendações quanto aos
valores máximos que as deformações (flechas) nos elementos estruturais como as
lajes e as vigas, elementos da construção que suportam as paredes de vedação,
que deve merecer atenção por parte dos calculistas de estruturas, muitas vezes
negligenciadas, por isso observa-se frequentemente casos de trincas nas alvenarias
de vedação provocadas por flechas excessivas desses componentes estruturais.

Segundo Thomaz (1989) de acordo com o elemento estrutural que as


alvenarias de vedação estão apoiadas, existe características típicas de trincas
provocadas pela flexão desses elementos de acordo com os casos a seguir.

a) viga de apoio deforma-se mais que a viga superior.

Nessa situação surgem trincas inclinadas na parede nos cantos superiores,


pois o carregamento não uniforme na viga superior faz surgir um maior
carregamento juntos ao canto das paredes. Na parte inferior do painel de alvenaria
normalmente surgem trincas horizontal, porém quando a comprimento da parede é
superior a sua altura, pelo efeito arco de distribuição do peso da parede sobre o
elemento de apoio, as trincas horizontais desvia-se para os vértices inferiores da
alvenaria.

Figura 32 - Trincas em parede de vedação: deformação do suporte maior que a deformação da viga
Superior.
33

b) viga de apoio deforma-se menos que a viga superior.

Nessa situação a alvenaria comporta-se como uma viga, sofrendo o mesmo


efeito de flexão das vigas de concreto armado, fazendo surgir efeito de tração na
parte inferior.

Figura 33 - Trincas em parede de vedação: deformação do suporte inferior à deformação da viga


superior.

c) A viga de apoio e viga superior apresentam deformações aproximadamente


iguais.

Nessa situação tal como nas vigas de concreto armado, as tensões de


cisalhamento na alvenaria, faz surgir tensões principais de tração 45°
acompanhando as isostáticas de tração, fazendo surgir trincas inclinadas nos cantos
inferiores a 45°.

Figura 34 - Trincas em parede de vedação: deformação do suporte idêntica à deformação da viga


superior.

Nas alvenarias de compartimentação com presença de aberturas, as trincas


poderão ganhar configurações diversas, em função da extensão da parede, da
34

intensidade da movimentação do suporte estrutural de apoio (vigas ou lajes), do


tamanho e da posição dessas aberturas; em geral, podem ser observadas
manifestações idênticas àquelas representadas na figura 35.

Figura 35 - Trincas em parede com aberturas, causadas pela deformação dos componentes
estruturais.

d) Trincas causadas por deformação excessiva em alvenaria apoiada em balanços.

Um caso bastante típico de trincas provocado pela falta de rigidez estrutural


é aquele que, se observa nas regiões em balanço de vigas. A deformação da viga
na região do balanço normalmente provoca o aparecimento de fissuras de corte na
alvenaria e/ou o destacamento entre a parede e a estrutura, (fig. 36).

Figura 36 - Trincas inclinadas em parede de alvenaria provocadas por deflexão de viga em balaço
(THOMAZ, 1989).
35

Figura 37 - Caso real de um balanço que apresentou deformação excessiva, gerando trincas na
alvenaria. Foto: Monografia apresentado ao Curso de Mestrado Profissional em Engenharia UFRS.
Ernani Freitas de Magalhães 2004.

e) Trinca em parede de vedação por efeito de deformação em lajes ancoradas em


paredes.

Outro caso típico de trincas é aquela provocada pela excessiva deformação


de lajes ancoradas nas paredes, introduzindo nas mesmas, esforços de flexão; sob
essa solicitação, desenvolve-se próxima à base da parede uma trinca horizontal, que
se estende praticamente por toda a parede (fig. 38).

Figura 38 - Trinca horizontal na base da parede provocada pela deformação excessiva da laje.
36

Figura 39 – Flexão da laje da garagem, provocando trinca horizontal em toda extensão inferior da
alvenaria (THOMAS. 1989).

1.4.3.5 Atuação de sobrecargas

Configurações típicas de Trincas em paredes de alvenaria devidas à atuação


excessiva de cargas.

Em trechos contínuos das alvenarias de vedação, solicitadas por


sobrecargas uniformemente distribuídas, podem surgir os seguintes tipos
característicos de trincas:

 Trincas verticais
 Trincas horizontais
 Trincas inclinadas nos cantos de aberturas
37

a) Trincas verticais

Trincas verticais (caso mais típico) é provenientes da deformação


transversal da argamassa sob ação das altas tensões de compressão que pelas
isostáticas de tração perpendicular as de compressão ou da flexão local dos
componentes da alvenaria, fazem surgir trincas verticais ao longo da alvenaria.

Figura 40 – Fluxo das isotácticas de tração

b) Trincas horizontais

Trincas horizontais, provenientes da ruptura por compressão dos


componentes de alvenaria ou da própria argamassa de assentamento, ou ainda, de
solicitações de flexão axial da parede (fig. 41).

Figura 41 – Trinca horizontal por ruptura por compressão.


38

As atuações de sobrecargas localizadas também podem provocar a ruptura


dos componentes de alvenaria na região de aplicação da carga e /ou o
aparecimento de trincas inclinadas acompanhando as isostáticas de tração a partir
do ponto de aplicação, em função da resistência à compressão e de tração dos
componentes da alvenaria.

Figura 42 – Ruptura localizada da alvenaria sob o ponto de aplicação da carga e propagação de


Trincas a partir deste ponto. (Thomaz. E, 1989). Figura x caderno de estrutura em alvenaria e
concreto simples (Antônio Moliterno, 1995 p.8).

c) Trincas inclinadas nos cantos de aberturas

Nos painéis de alvenaria onde existem aberturas, as fissuras formam-se a


partir dos vértices dessa abertura e sob o peitoril. Teoricamente, em função das
isostáticas de compressão, a configuração das fissuras de uma parede apoiada
sobre suporte indeformável é a apresentada na figura 43.

Figura 43 - Trinca teórica no contorno de abertura, em parede solicitada por atuação excessiva de
cargas.
39

Essas fissuras, entretanto, poder-se-ão manifestar segundo diversas


configurações, em função da influência de uma gama enorme de fatores
intervenientes, tais como: dimensões do painel de alvenaria, dimensões da abertura,
posição que a abertura ocupa no painel, anisotropia dos materiais que constituem a
alvenaria, dimensões e rigidez de vergas e contravergas etc. A maior deformação da
alvenaria e a eventual deformação do suporte nos tramos mais carregados da
parede, fora das aberturas, originam fissuras com as configurações indicadas na
figura 44.

Figura 44 - Trinca típica (real) nos cantos das aberturas, sob atuação excessiva de cargas.

1.4.4 Patologia em forma de rachadura

 Principais causas das rachaduras

A rachadura é a abertura que mais preocupa numa estrutura, pois ai já tem


tensões de tração de grandes intensidades, indicando que já se instalou um grave
problema, geralmente de ordem estrutural, precursora das fendas caracterizada por
aberturas superiores 1,5 mm, sendo necessário o mais rápido possível à consulta a
um especialista ou até mesmo a defesa civil.
40

As rachaduras são originadas mais comumente por problema de recalques


diferenciais ou assentamentos das fundações, pois os recalques absolutos, quando
com valores muito próximos nas fundações, fazem com que a deformação do solo
sob as mesmas seja uniforme, não resultando damos a edificação e pequena
probabilidade de afetar as alvenarias de vedação. Nesse tópico serão apresentados
os fenômenos que mais comumente dão origem a rachaduras/fendas. O termo
rachadura está sendo usado para apresentar aquelas aberturas que já se
estabilizarão e após estabilização do recalque/ascessentamento, apresentam
dimensões maiores que 1,5 mm e menores ou iguais a 5,0 mm e as fendas para
aberturas superiores a 5 mm, conforme tabela apresentada no site do professor
Adriano de Paula e Silva, UFMG. Apud (Monografia) Alexandre Magno de Oliveira
(2012, p.10), mas sempre lembrando que dependendo da velocidade e da
estabilização do processo a abertura pode começar como uma pequena trinca e não
mais evoluir, logo temos uma trinca provocada por assentamento de fundações,
causa diferente dos fenômenos que comumente provocam trincas apresentado no
item anterior, logo por prudência usaremos o termo trinca/rachadura no decorrer
desse tópico para os efeitos das causas apresentadas a seguir e lembrando que as
seguintes causas são as mais prováveis de uma rachadura evoluir para uma fenda.
Por isso faz-se necessário se aguarda sua estabilização para que se proceda algum
reparo e avaliar o grau de risco à edificação.

A seguir serão apresentadas três situações de possibilidades de diferentes


causas de recalques das fundações, inclusive os diferenciais, quanto à tendência de
estabilização para se iniciar algum reparo na abertura ou se tomar providencia
imediata à solução do problema conforme a gravidade.

1° Situação: O recalque já se estabilizou.

Nessa situação temos um recalque típico por adensamento, o mais comum.


A estabilização se deu pela expulsão de toda água entre os grãos do solo, pois uma
vês que expulso o total da água ocorre à diminuição de volume do solo, não mais
progredindo o processo, ai o problema passa ser apenas de vedar a abertura,
procedimento que será visto mais à frente.
41

2° Situação: O recalque apresenta evolução, mas tende à estabilização.

Nesse caso, deve-se proceder a um acompanhamento da evolução da


situação do recalque, sendo que para isso utiliza-se um procedimento descrito por
Yopanan C. P. Rabello.

Para Rabello (2008) para o acompanhamento da evolução do recalque são


colocados na direção transversal da rachadura finos selos de vidro de espessura no
máximo 2 mm ou mesmo de gesso apesar de menos eficientes que serão
testemunhas da evolução do processo.

3° Situação: Recalque progressivo e auto-acelerante

Nessa situação percebe-se um aumento da velocidade do recalque


denunciado pelo aumento da rachadura na alvenaria, logo se deve tomar
providencias imediata, pois com aumento da velocidade de recalque a probabilidade
da estrutura atingir seu estado limite último e entrar em colapso são grandes. Assim
como medidas urgentes procura-se estabilizar o recalque de alguma forma e
providenciar o escoramento da edificação.

Para se identificar em qual das três situações anteriores encontra-se a


edificação, deve-se observar a evolução das rachaduras oriundas de recalques,
através de selos testemunhas figura 45.

Figura 45 – selo testemunha


42

Para acompanhar a evolução da abertura e entendimento quantitativo do


problema, usa-se um selo testemunho, constituído por material rígido que, ao se
fissurar, indicará a continuidade do movimento. THOMAS. E.C. S, 1997 sugere ainda
a utilização de testemunhas em metal ou vidro, com traços de referência, coladas
alternadamente nos dois lados do componente adjacentes a fissura. Essas
testemunhas podem dar uma ideia quantitativa dos deslocamentos.

Para isso anota-se a data da colocação dos selos, fazendo-se inicialmente


uma observação prolongada pelo menos de três meses. O selo testemunho pode
romper antes deste prazo. Neste caso, anota-se a data de rompimento e colocam-se
novas testemunhas.

Caso o selo romper antes do tempo que rompeu pelos primeiros vês, há
indícios que o recalque não se estabilizou e pode esta se acelerando. Repete-se
novamente o procedimento. Caso os intervalos de tempo de ruptura ir diminuindo,
temos indícios que o recalque está ainda em processo de evolução e acelerando,
medidas urgentes deverão ser tomadas para reforçar as fundações.

Caso os intervalos de tempo entre as rupturas forem aumentando, ou se,


pelo menos após seis meses, não ocorrer ruptura do selo, pode-se concluir que o
recalque está se estabilizando ou se estabilizou completamente, só então se pode
proceder ao reparo.

Thomaz (1989) afirma que as rachaduras provocadas por recalques


diferenciais são inclinadas, muitas vezes confundindo-se com as provocadas por
deflexão de componentes estruturais, mas que as primeiras apresentam aberturas
geralmente maiores, enquanto as provocadas por deflexões e geralmente fazem
surgir trincas menores em virtudes das tensões de tração de menor intensidade.
Outra característica das rachaduras provocadas por recalques é a presença de
esmagamentos localizados; em forma de escamas em virtudes das tensões de
cisalhamentos e que quando os recalques são acentuados, percebe-se nitidamente
uma variação na abertura da rachadura.
43

Quando os recalques entre as fundações apresentam intensidades


diferentes de um apoio para outro, configura-se o recalque diferencial. Este tipo de
recalque dependendo de sua intensidade pode provocar sérios danos à edificação,
chegando a extremo que pode levar a estrutura à ruína parcial ou total.

Figura 46 – Recalque diferencial entre fundações

O primeiro indício visível que está se desenvolvendo um recalque diferencial


é observado nas alvenarias de vedação, pois elementos da construção são mais
frágeis que a estrutura portante.
A alvenaria sob o efeito de um recalque diferencial sofre efeito de efeito
cortante, apresentando rachaduras inclinadas de um ângulo de aproximadamente de
45°.

A direção em que se dá a ruptura indica o lado que apresentou maior


recalque ou que está processo de recalque. Instalada essa rachadura, a mesma é
de edifício vedação, pois se tornam juntas de dilatação, sofrendo expansão e
contração conforme a variação de temperatura.

Figura 47 – sentido da abertura, formando um ângulo de 45°.


44

1.4.4.1 Configurações típicas de aberturas em forma de trincas/rachaduras nas


paredes de alvenaria de tijolo provocadas por recalque de apoio.

Os assentamentos diferenciais tendo como causas carregamentos não


uniformes apresentam rachaduras apresentadas nas situações indicadas nas figuras
48 a 49.

Figura 48 - Fundações contínuas solicitadas por carregamentos não uniformes: o tramo mais
carregado apresenta maior assentamento, originando trincas/rachaduras de corte no painel.

Figura 49 - Fundações contínuas solicitadas por carregamentos não uniformes: sob as aberturas
surgem trincas/rachaduras de flexão.

Segundo o Center Scientifique et Technique de la Construction (1983 apud


THOMAZ, 1989, p. 96) para edifícios uniformemente carregados, aponta diversos
fatores que podem conduzir a assentamentos diferenciais e, consequentemente, às
trincas/rachaduras do edifício. Nas figuras 50 a 54 são ilustrados alguns desses
casos.
45

Figura 50 - Assentamento diferencial, por consolidações distintas do aterro carregado.

Figura 51 - Fundações assentadas sobre seções de corte e aterro; fendas/rachaduras de corte nas
alvenarias.

Figura 52 - Assentamento diferencial no edifício menor pela interferência no seu bolbo de tensões, em
função da construção do edifício maior.
46

Figura 53 - Assentamento diferencial, por falta de homogeneidade do solo.

Figura 54 - Assentamento diferencial, por rebaixamento do lençol freático; foi cortado o terreno à
esquerda do edifício.

A construção de edifícios dotados de dois pórticos, um principal mais


carregado e de um pórtico secundário menos carregado, porém com mesmo sistema
de fundação, invariavelmente conduz a assentamentos diferenciais entre as duas
partes, surgindo rachaduras verticais entre eles, afetando as alvenarias de vedação,
e, não raras vezes, rachaduras inclinadas no corpo menos carregado. A adoção de
sistemas diferentes de fundação numa mesma obra, conforme representado na
figura 55, provoca o mesmo problema.
47

Figura 55 - Diferentes sistemas de fundação na mesma construção: assentamentos diferenciais entre


os sistemas, com a presença de trincas/rachaduras de corte no corpo do edifico.

Em edifícios com estrutura opórticadas os assentamentos diferenciais da


fundação de pilares próximos, induzem a abertura em forma de trinca/rachadura por
tração diagonal das paredes de vedação: as trincas/rachaduras inclinam-se na
direção do pilar que sofreu maior recalque, (fig. 56).

Figura 56 - Assentamentos diferenciais entre pilares: surgem trincas/rachaduras inclinadas na direção


do pilar que sofreu maior Assentamento.

As variações de umidade do solo (ganho e perda de umidade)


principalmente no caso de argilas provocam alterações volumétricas e variações no
seu módulo de deformação, com possibilidade de ocorrência de assentamentos
localizados.

De acordo com o Building Research Establishment (1977 apud THOMAZ,


1989, p. 98), estes assentamentos, bastante comuns por causa da saturação do solo
pela penetração de água de chuva na adjacência da fundação, podem também
48

ocorrer pela absorção de água por vegetação localizada próxima do edifício, (fig.
57).

Figura 57 – Trincas/Rachaduras provocada por assentamento de apoio provocado pela contração do


solo, devida à retirada de água por vegetação próxima.

Thomaz (1989) afirma que além das aberturas em forma de


trinca/rachaduras apresentadas anteriormente tipificadas, os recalques diferenciados
poderão provocar aberturas com outras configurações nas alvenarias de vedação,
pois estão em função de diversas variáveis: geometria das edificações e/ou do
componente, tamanho e localização de abertura, grau de enrijecimento da
construção (emprego de cintamento, vergas e contravergas), eventual presença de
juntas no edifício etc. Nas figuras a seguir são apresentadas algumas outras
configurações de rachaduras originadas por recalques de fundações, variações das
primeiras.

Figura 58 - Rachadura de recalque vertical: as partes seccionadas da construção comportaram-se


individualmente como corpos rígidos (THOMAZ, E.; Trincas em Edifícios, pág. 98. São Paulo, 1989).
49

Figura 59 – Giro do sobrado no sentido anti-horário, contido pelo sobrado vizinho: rachadura com
inclinação típica e pronunciadas; emperramento dos caixilhos do pavimento térreo (THOMAZ, E.;
Trincas em Edifícios, pág. 100. São Paulo, 1989).

Figura 60 – vista interna da rachadura na parede do sobrado, onde podemos registrar a passagem de
luz, uma de suas características, acompanhando as juntas de assentamentos da alvenaria (THOMAZ,
E.; Trincas em Edifícios, pág. 101. São Paulo, 1989).
50

2 TÉCNICAS DE PREVENÇÃO E RECUPERAÇÃO

2.1 Considerações iniciais

A recuperação de aberturas nas alvenarias de vedação não terá sucesso se


a causa que lhe deu origem não for identificada e se já ocorreu à estabilização do
processo, senão a mesma voltará, pois a grande maioria delas está associada à
movimentação de natureza diversa, por isso para que não sejam descartados ou
esquecidos aspectos importantes, devem-se fazer eliminações subsequentes,
considerando-se todo das possíveis causas hipotéticas ou agentes patológicos, a
maioria deles vistos no capítulo anterior. Pode-se, por exemplo, num caso de
assentamento de apoio, consertar repetidas vezes uma trinca ou rachadura presente
na alvenaria sem se conseguir qualquer êxito, pois foi uma medida imediata
recuperadora sem combater efetivamente a causa do problema.

Para o estabelecimento de um diagnóstico correto devem ser efetuados


levantamentos globais (locais da obra onde aparece o problema, eventual
manifestação do problema em componentes ou obras vizinhas, presença de outras
patologias na região em análise, etc.), sendo necessário também analisar-se o
histórico dos acontecimentos que poderiam relacionar-se com a patologia em
questão (época de execução da obra, eventual sazonalidade na manifestação do
problema, tentativas de reparação etc.).

Em função da gravidade do problema ou do grau de dificuldade em obter-se


um diagnóstico confiável, pode-se ainda recorrer à análise do projeto, à revisão de
cálculos estrutural e à execução de ensaios específicos, tanto em laboratório como
na própria obra.
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2.2 Profilaxia

Profilaxia é um termo muito utilizado na medicina, como sendo medidas para


prevenir ou atenuar patologias clinicas. Como vimos assim como as pessoas às
alvenarias sofrem das mais variadas formas de patologias, requerendo também
medidas profilaxias como medidas de prevenção.

O termo profilaxia é de origem grega e significa precaução, sendo também


utilizado para designar estudo de outras áreas do conhecimento.

A alvenaria é o componente do edifício mais suscetível a aberturas, quer em


forma de fissura, trincas ou rachaduras, sendo as aberturas de parede as de maior
realce aos olhos dos usuários. Sendo assim, as sua recuperação são as que mais se
verificam nas obras. A seguir, são citados alguns procedimentos de prevenção e de
reparo das aberturas que afetam as alvenarias de vedação.

 Prevenção

A prevenção de aberturas em forma de fissuras, trincas e rachaduras


consiste desde a aplicação correta das técnicas construtivas, consciência por parte
dos projetistas de estrutura em verificar a deformação e recalques admissíveis
máximos que os elementos estruturais podem ter conforme a nova NBR 6118 2003,
até um processo de execução adequado, com mão de obra especializada e um
programa de supervisão dos serviços pelo engenheiro ou arquiteto responsável pela
obra.

As fissuras superficiais como visto em parágrafos anteriores podem ser


evitadas seguindo-se alguns procedimentos, tais como.

 Sempre molhar a superfície antes de aplicar a argamassa e após o


acabamento, molhar o revestimento.
 Utilizar pouca água e apenas a quantidade necessária de cimento ao preparar
a argamassa.
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As trincas nas regiões das aberturas (portas e janelas) das alvenarias


podem ser combatidas com o uso de verga e contravergas com a finalidade de
absorver tensões que se concentram nos contornos dos vãos, oriundas de
deformações impostas.

A verga é o elemento estrutural localizado sobre o vão e a contraverga é o


reforço colocado sob a abertura. A seguir temos vários tipos desses elementos
conforme o vão da abertura para tijolo maciço, bloco de concreto e tijolo cerâmico.

Nas proximidades de vãos de portas e janelas, existe uma natural


concentração de tensões. As tensões de cisalhamento ou tração, induzidas nessas
regiões, podem causar a fissuração a 45° na alvenaria; normalmente, as fissuras se
originam nos cantos das aberturas. As vergas e contravergas têm a função de evitar
a fissuração, "absorvendo" e redistribuindo os esforços na região.

As vergas podem ser pré-moldadas ou moldadas no local, e devem exceder


ao vão no mínimo 30 cm ou 1/5 do vão. No caso de janelas sucessivas, executa-se
uma só verga.

Figura 61 – Verga e contraverga em uma janela


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Figura 62 - Veja e contraverga

 Vergas nas paredes de alvenaria executadas com tijolos maciços:

a) Vergas e contravergas para vãos de até 1,0 m pode-se executar o reforço no


próprio local conforme mostra a figura a seguir:

Figura 63 – Verga para vão até 1,0 m

b) Para vãos de 1,0 a 2,0 m, as vergas podem ser executadas in loco ou pré-
moldadas. No caso da opção ficar em pré-moldadas haverá um ganho em termos de
produtividade. As dimensões mínimas estão mostradas na figura a seguir. Caso o
vão exceda a 2,00m, deve-se calcular uma viga armada.
54

Figura 63 – Verga para vão de 1,0 m a 2,0 m

 Vergas nas paredes de alvenaria executadas com tijolos furados:

a) Vergas e contravergas para vãos de até 1,0 m.

Figura 64 – Verga para vão de até 1,0 m

b) Vergas e contravergas para vãos de 1,0 m até 2 m.

Figura 65 – Verga para vão de 1,0 m a 2,0 m

 Vergas nas paredes de alvenaria executadas com blocos de concreto:

a) Vergas e contravergas para vãos de até 1,0 m.


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Figura 66 – Verga para vão de até 1,0

b) Vergas e contravergas para vãos de 1,0 m a 1,5 m.

Figura 67 – Verga para vão de 1,0 m a 1,5 m

c) Vergas e contravergas para vãos de 1,5 m a 2,0 m.

Figura 68 – Verga para vão de 1,5 m a 2,0 m


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Quando uma viga, de pequena carga, proveniente principalmente das


coberturas, descarrega sobre a alvenaria, para evitar a carga concentrada e
consequentemente o cisalhamento nos tijolos, fazem-se coxins de concreto,
evitando carga concentrada na alvenaria que poderá provocar trincas disposta
radialmente conforme figura 42. A figura 69 abaixo mostra um coxin de concreto
numa alvenaria.

Figura 69

Para evitar que umidade da água presente no solo pelo efeito da


capilaridade ascenda á base da construção, desde que os diâmetros dos poros
capilares e o nível do lençol freático assim o permitam, deve-se impermeabilizar as
vigas baldrames ou alicerces nas alvenarias de vedação em tijolos cerâmicos,
evitando que a movimentação higroscópica produza trincas horizontais e
eflorescências na base da alvenaria figuras 70 e 71.

Figura 70 Figura 71
Figuras 70 e 71 – Impermeabilização de viga baldrame e alicerce sob parede.
57

As rachaduras ou fendas para serem evitadas requerem experiência e


sensibilidade do calculista de estrutura no seu dimensionamento em prever os
deslocamentos máximos admissíveis que os elementos estruturais podem sofrer de
acordo com a nova NBR 6118 de 2003 de concreto armado e protendido, assim
evitando grandes deslocamentos que podem afetar as alvenarias de vedação.

 Recuperação de aberturas

A seguir apresentaremos algumas técnicas de recuperação de aberturas em


alvenaria, segundo recomendações proposta por THOMAZ, Erico em seu livro.
Trincas em Edifício: causas, prevenção e recuperação. São Paulo, Pini, 2002.

a) Destacamento entre alvenaria e argamassa de assentamento

Caso as fissuras propiciam a infiltração de água de chuva pelas fachadas, a


solução mais viável é a raspagem das juntas e o posterior preenchimento com
selante ou argamassa, conforme mencionado nas movimentações consolidadas. Se
os destacamentos forem generalizados, ou quando a raspagem das juntas for
impraticável (dureza da argamassa de assentamento), somente soluções globais é
que irão resolver o problema, tais como revestir a fachada com argamassa ou adotar
pintura elástica com tela incorporada.

b) Destacamento entre pilares e paredes

Pode ser recuperado como dito anteriormente, inserindo material flexível no


encontro parede/pilar. Nos casos em que o destacamento é provocado pela retração
da alvenaria, pode-se empregar uma tela metálica leve (tela de estuque - Figura 8),
inserida na nova argamassa (traço 1:2: 9 em volume) e transpassando o pilar
aproximadamente 20 cm de cada lado. A tela pode ser fixada na alvenaria com
pregos ou cravos de metal, devendo estar distendida; a alvenaria e o pilar devem ser
chapiscadas após a colocação da tela.
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Figura 72

c) Aberturas por movimentações iniciais acentuadas

Estas fissuras têm sua movimentação vinculada às variações higrotérmicas


da própria parede. Neste caso, pode-se usar tela metálica ou a interseção de uma
bandagem (saco de estopa, esparadrapo, fita crepe, plástico, etc.) que propicie a
dessolidarização entre o revestimento e a parede, na região da fissura.

O princípio de funcionamento da recuperação de fissura com bandagem é a


absorção do movimento da fissura por uma faixa relativamente larga, não aderente à
base. Portanto, quanto melhor a dessolidarização promovida pela bandagem e
quanto maior a sua largura, menor serão as tensões introduzidas no revestimento e
menor à probabilidade da fissura voltar a pronunciar-se. A sua sequência de
execução, conforme mostra a figura 73, é a seguinte:

Figura 73
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1. Remoção do revestimento da parede, numa faixa de 10 a 15 cm;

2. Aplicação da bandagem (2 a 10 cm), com distribuição regular para ambos os


lados da fissura;

3. Aplicação de chapisco externo a bandagem;

4. Recomposição do revestimento com argamassa (traço 1:2: 9 em volume)

d) Abertura proveniente das variações térmicas da laje de cobertura ou sobrecarga


oriunda da flexão de elementos estruturais.

Qualquer uma das soluções anteriormente citadas pode ser empregada na


recuperação da parede, revestida ou não. A solução mais importante, no entanto, é
a desvinculação entre o topo da parede e o componente estrutural (Fig. 74).

Figura 74 - Desvinculação da parede trincada e o elemento estrutural.

e) Fissuras ativas

São aquelas que se mantêm em movimento. Se estes movimentos não


forem muito pronunciados, pode-se recuperá-las usando o próprio sistema de pintura
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da parede. Essa pintura deve ser reforçada com uma finíssima tela de náilon ou
polipropileno, com aproximadamente 10 cm de largura, aplicando-se de seis a oito
demãos de tinta elástica, à base de resina acrílica, poliuretânica, etc.

Pode-se também recuperar esse tipo de fissura aplicando um selante flexível


(poliuretano, silicone, etc.) em um sulco aberto na região da trinca, em forma de Vê,
com aproximadamente 20 mm de largura e 10 mm de profundidade (Figura 11).
Antes da aplicação do selante, deve-se fazer uma limpeza eficiente da poeira
aderente a parede; quando da aplicação do selante, a parede deve encontrar-se
bem seca.

O selante deve ser bem consistente, não podendo apresentar retração


acentuada pela evaporação de seus constituintes voláteis. Se a trinca tem
movimentos intensos, recomenda-se abrir uma cavidade retangular (Figura 11), com
aproximadamente 20 mm de largura e 10 mm de profundidade, colocando entre o
selante e a parede uma membrana de separação (fita crepe).

Figura 75 – Recuperação de fissuras ativas com selante flexível

f) Alvenaria aparente

1. Fissuras ativas– criação de juntas de movimentação.

2. Movimentação consolidada - substituição dos blocos fissurados, raspagem da


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argamassa das juntas horizontais e verticais até uma profundidade aproximada de


15 mm, limpeza, umedecimento e posterior obturação da junta com argamassa
(traço 1:1: 6 ou 1:2: 9).

3. Paredes com variações dimensionais limitadas- substituição dos blocos


fissurados, introdução de armadura vertical e grauteamento dos furos, formando um
pilarete armado na seção originalmente fissurada.

Sugere-se ainda a raspagem das juntas horizontais de assentamento até


uma profundidade aproximada de 15 mm, seguindo-se o chumbamento ferros (ө 4
ou 5 mm) com argamassa bem seca (1:1: 6). O transpasse desses ferros é de
aproximadamente 25 cm para cada lado da fissura, chumbados em juntas
alternadas, numa e noutra face da parede (Fig. 74).

Figura 76 – Recuperação de aberturas em alvenaria aparente, com emprego de armaduras


defasadas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SENA, Camargo Aline. Metodologia de projetos em blocos cerâmicos e de


concreto. Brasília-DF. (Apostila do curso de Pós-graduação na área de Engenharia
e Arquitetura, AVW).

THOMAZ, E. Trincas em Edifícios: causas, prevenção e recuperação. São Paulo:


Pini, EPUSP, IPT, 1989.

Pereira, M. F. P. (2005), “Anomalias em Paredes de Alvenaria sem função


Estrutural”, Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade do Minho,
Guimarães, Portugal.

REVISTA TÉCHNE. As causas de fissuras, parte 1. Pág. 44. - Ed. Pini - Edição nº 36.
1998.

VERÇOZA, E. J. Patologia das Edificações. Porto Alegre: Sagra, 1991.

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSEIDADE DO PORTO. Reabilitação de


Edifícios: As Patologias Mais Frequentes e as Técnicas de Reabilitação de
Edifícios.2009.Disponívelem:<http://paginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R
201.pdf. Acesso em 17 Ago. 20014.

NEVILLE. A.M. (1997). Propriedades do concreto. Trad. de Salvador E. Giammusso. 2ª


ed. São Paulo, PINI.

BORGES, Alberto de Campos; MONTEFUSO, Elisabeth. Prática das pequenas


construções. Editora Blucher Ltda.1996.

DUARTE, R. B. Fissuras em Alvenaria: causas principais, medidas preventivas e


técnicas de recuperação. Porto Alegre: CIENTEC, 1998. (Boletim técnico, 25).

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NEVILLE. A.M. (1997). Propriedades do concreto. Trad. de Salvador E. Giammusso.


2ª ed. São Paulo, PINI.

SILVA, A. S. R. da (2005) – Palestra na Semana de Argamassa.

MASSA CIZENTA. Trincas em paredes. Disponível em


http://www.cimentoitambe.com.br/trincas-em-paredes/. Acesso em 17. Nov. 2014.

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