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Análise de Falhas
Daniel Yvan Martin Delforge
Promoção
Grêmio Estudantil de Engenharia Mecânica
Departamento de Engenharia Mecânica
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira
Curso de Análise de Falhas
ÍNDICE
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS 1
2. INTRODUÇÃO 1
2.1. Tipos de fratura 4
2.2. Resistência coesiva teórica dos metais 6
2.3. Comportamento dúctil e frágil dos materiais 7
2.4. Afinal, em que se constitui uma Falha Mecânica? 8
3. A FADIGA DOS MATERIAIS METÁLICOS 13
3.1. Introdução 13
3.2. Ciclos de tensão 14
3.3. A Curva S-N 15
3.4. Natureza estatística da fadiga dos materiais metálicos 17
3.5. Fadiga de baixo ciclo 18
3.6. Características estruturais da fadiga 19
3.7. Efeitos da concentração de tensão, na fadiga 26
3.8. Efeito do tamanho do componente 27
3.9. Efeito de superfície na vida em fadiga 27
3.10. Fadiga por corrosão 31
4. ANÁLISE DE FALHAS EM COMPONENTES MECÂNICOS 33
5. RESISTÊNCIA DOS AÇOS AO DESGASTE 38
6. BIBLIOGRAFIA BÁSICA 42
7. BIOGRAFIA DO MINISTRANTE 42
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
A análise das causas de falhas pode, em muitos casos, ser realizada através da
interpretação e caracterização da superfície danificada que em muitos casos é capaz de revelar a
história dos eventos que precederam a falha.
A importância da Análise de Falhas reside no fato de elementos de caracterização das
suas causas. Logo o seu objetivo é o de se conhecer as causas das falhas de certos materiais e
equipamentos, para a partir daí chegar-se à sua meta final que é, dentro do possível, prevenir
novas ocorrências.
2. INTRODUÇÃO
Uma maneira bem simples de se definir fratura é dizer que ela é a separação ou a
fragmentação de um corpo sólido em duas ou mais partes, sob a ação de uma tensão.
Genericamente, dizemos que o processo de fratura pode ocorrer em duas etapas:
a) O início de uma trinca;
b) A propagação desta trinca.
Além disto, uma fratura pode ser classificada em duas grandes categorias:
a) Fratura frágil;
b) Fratura dúctil.
A fratura dúctil é caracterizada pela ocorrência de uma apreciável deformação plástica
antes e durante a propagação da trinca. Além disso, dizemos que a propagação de uma trinca
dúctil se dá de forma estável. Neste caso a superfície de fratura apresenta normalmente uma
quantidade considerável de deformação. Já a fratura frágil dos metais é caracterizada pela rápida
propagação da trinca, ou seja, pela propagação instável da trinca, com nenhuma deformação
macroscópica e muito pouca micro-deformação. No caso de aços de baixa e média resistência
que geralmente apresentam boa ductilidade, a ocorrência de fratura frágil em baixas temperaturas
tende a aumentar, podendo levar a acidentes catastróficos e neste caso dizemos que houve a
fragilização do material.
Os problemas causados pela fragilização de componentes e estruturas metálicas
Figura 2.1 - Rompimento de um vaso de pressão de 920mm de diâmetro. Nota-se uma região de
concentração de tensão.
Figura 2.4 - Rompimento de um gasoduto a -16OC. Neste caso, a fratura estendeu-se por várias
dezenas de quilômetros.
Figura 2.5 - Tipos de fraturas observados em metais sujeitos a tensão uniaxial. (a) Fratura frágil
em monocristal e policristal. (b) Fratura cisalhante em monocristais dúcteis. (c) Fratura
completamente dúctil em policristais. (d) Fratura dúctil do tipo taça-cone em policristais.
A figura 2.6, exibe uma fractografia na qual podemos observar os cristais que caracterizam
a estrutura policristalina de um aço inox do tipo ABNT 304.
Figura 2.6 - Alguns cristais, também denominados grãos, de um aço inox ABNT 304. Observam-
se com facilidade a presença de algumas trincas intergranulares microscópicas.
Sabe-se que os metais são de grande valor tecnológico devido às suas resistências
elevadas combinada com um certo grau de elasticidade e de plasticidade, conforme o caso. Em
termos básicos, a resistência é devida às forças de coesão entre os átomos. Em geral, forças
coesivas elevadas são relacionadas com elevadas constantes elásticas, elevados pontos de fusão
e coeficientes de expansão térmica pequenos.
Para certos tipos de aço de alta resistência, o limite teórico de resistência encontra-se
próximos de 1,8x103 kgf/mm2. No entanto, ensaios realizados nesses materiais mostraram que
esse valor caía na faixa de 210kgf/mm2, o que não deixa de ser um valor excepcional. Isso
mostra que materiais típicos de engenharia têm limites de resistência de 10 a 1.000 vezes
menores do que os valores teóricos. Os únicos materiais que se aproximam do valor teórico de
resistência, são pequeníssimos whiskers metálicos livres de defeitos ou falhas em sua estrutura
interna e fibras de sílica de diâmetros muito pequenos. Isso nos leva a concluir que trincas ou
falhas, não importando o seu tamanho, são responsáveis pelo fato da resistência à fratura nos
materiais de engenharia ser mais baixa do que a resistência teórica.
Do exposto, parece ser razoável considerar que falhas, trinca, porosidades e micro-
porosidades, inclusões metálicas ou não metálicas, conforme o material e as condições de
carregamento, podem representar concentradores de tensão que levariam os materiais ao
colapso, mesmo quando utilizados em condições previstas nos projetos. A figura 2.7, ilustra uma
inclusão de óxido de ferro no interior de uma massa metálica de aço com baixo teor de carbono e
alto teor de oxigênio. O efeito de um concentrador de tensão se apresenta muito mais
pronunciado em materiais frágeis do que em materiais de comportamento dúctil. Num material
dúctil ocorre deformação plástica quando o limite de escoamento é excedido. Um aumento
posterior na carga acarreta um aumento local em deformação na região criticamente tensionada,
com pequeno incremento na tensão aplicada. Devido ao encruamento a tensão cresce em regiões
adjacentes ao concentrador de tensão, até que, se o material for suficientemente dúctil, a
distribuição de tensão se torna essencialmente uniforme. Assim, um material dúctil carregado
estaticamente não desenvolverá totalmente o concentrador de tensão. Entretanto, em um material
frágil, devido à sua limitação de se deformar plasticamente, nunca ocorrerá a redistribuição de
tensão, resultando assim maior perigo de ocorrência de dano irreversível.
Embora concentradores de tensão geralmente não levam perigo aos materiais de
comportamento dúctil submetido a carregamento estático, efeitos apreciáveis de concentração de
tensão ocorrerão neste mesmo material se solicitado em condições de fadiga ou de tensões
alternadas.
Assim, considerando-se o projeto e a fabricação sob controle, estruturas e componentes
confeccionados com materiais de comportamento dúctil, dificilmente causam acidentes de
grandes proporções e isto é devido principalmente ao fato de que a propagação de uma trinca
dúctil cessa tão logo o carregamento seja anulado, ou seja, a propagação de uma trinca dúctil se
dá de forma estável ao passo que em um material de comportamento frágil, a propagação de uma
trinca frágil se dá de forma instável ou seja, mesmo que a estrutura seja descarregada no início
de sua propagação, ela não se detém. Para se ter uma idéia, a velocidade de propagação de uma
trinca frágil no aço, gira em torno de 2.000km/h. Isto significa que mesmo que se consiga
perceber o início da propagação de uma trinca frágil, o colapso da estrutura é praticamente
inevitável.
Figura 2.7 - Inclusão de um óxido de ferro na superfície de fratura de aço com baixo teor de
carbono. Observa-se que esta partícula deformou plasticamente o metal de base que a envolvia,
provavelmente devido a uma micro-movimentação relativa entre as superfícies fraturadas.
Neste ponto do nosso curso, torna-se importante reforçar alguns conceitos a respeito de
fragilidade e ductilidade dos materiais metálicos.
Foi visto que os materiais submetidos a uma carga podem ser classificados quanto ao seu
comportamento mecânico em dúcteis ou frágeis, dependendo da sua capacidade ou habilidade de
suportar e absorver ou não deformações plásticas. Neste sentido, dizemos que materiais de
comportamento dúctil conseguem absorver energia e se deformar plasticamente ao passo que
materiais frágeis já não possuem esta propriedade ou seja, ao invés de se deformarem eles se
rompem.
A ductilidade e a fragilidade dos materiais, pode também ser expressa em termos de
tenacidade. A tenacidade dos materiais é definida como sendo a quantidade de energia que um
determinado material submetido a um certo carregamento consegue absorver sem se romper. Ou,
consegue absorver até a sua ruptura. Visto isto, um material muito dúctil, em temperaturas
ambientes e em condições de carregamento quase-estático, terá uma elevada tenacidade ao
passo que um material frágil terá uma baixa tenacidade embora possa ter resistência mecânica
elevada. Este conceito aplica-se muito bem em materiais de utilização convencional pois existem
materiais especiais de ultra-alta resistência e que de certa forma não seguem totalmente o que foi
dito.
A figura 2.8(a) ilustra uma curva tensão-deformação de um material dúctil e a figura 2.8(b)
exibe uma curva tensão-deformação típica, de um material frágil.
Figura 2.8 - (a) curva tensão-deformação típica de um material dúctil. Observa-se uma
deformação (ε) considerável quando comparada com a deformação do gráfico tensão-deformação
(b) de um material frágil como por exemplo o ferro fundido branco. Ainda no caso da figura(b), um
material completamente frágil, romperia um pouco antes do limite elástico(E).
Figura 2.9 - Conexão em aço inoxidável ABNT 431 submetida a um ambiente rico em hidrogênio.
Neste caso houve fratura frágil por fragilização pelo hidrogênio.
A figura 2.10 mostra dois parafusos fraturados. O parafuso (a) rompeu-se de modo
totalmente frágil e o parafuso (b) rompeu-se de maneira bastante dúctil, tendo sofrido uma
deformação de longo alcance, até ocorrer a fratura. Os dois parafusos foram fabricados em aço
ABNT 1045. A diferença entre eles reside no fato de que o primeiro foi temperado em água e
revenido por uma hora a 200OC, tendo alcançado a dureza próxima de 57 RC portanto, com
elevada dureza e como conseqüência, baixa ductilidade. O segundo foi temperado em óleo e
Figura 2.10- O parafuso (a) rompeu-se sem deformação aparente o que caracteriza uma fratura
frágil. O parafuso (b) rompeu-se com grande deformação aparente o que caracteriza uma fratura
dúctil de longo alcance, o que pode ser evidenciado na ampliação à direita.
Figura 2.11- Dados obtidos do ensaio de impacto Charpy, para aços com baixa, média e elevada
resistência. Verifica-se que aços de alta resistência possuem baixa tenacidade e que os aços de
média e baixa resistência possuem a transição dúctil-frágil bem definida.
A tensão de trabalho pode ser considerada como sendo a razão entre a tensão de
escoamento ou o limite de resistência à tração, conforme o caso, e um número denominado fator
de segurança.
σ w = σ o/no ou σ w = σ u/nu
onde:
σ w = tensão de trabalho [kgf/mm2];
σ o = limite de escoamento [kgf/mm2];
σ u = limite de resistência à tração [kgf/mm2];
no = fator de segurança baseado na tensão de escoamento;
nu = fator de segurança baseado no limite de resistência à tração.
Figura 2.12 - Fractografia da superfície de uma peça fraturada por fluência. Nota-se uma grande
modificação ao na morfologia da superfície granulométrica. Verifica-se com facilidade o
aparecimento de uma inclusão e as facetas deixadas pela ruptura da mesma.
A maioria das fraturas em componentes de máquinas ocorrem por fadiga. A fratura por
fadiga ocorre em partes submetidas a tensões cíclicas ou tensões alternadas ou ainda, flutuantes.
O componente é levado à fratura quando uma trinca diminuta pontualmente localizada,
geralmente em um entalhe ou concentrador de tensões, gradualmente se propaga pela seção reta
do material. A falha por fadiga ocorre sem nenhum sinal visível de escoamento, em tensões
médias ou nominais bem abaixo da resistência à tração do metal. Esta falha é causada por uma
tensão crítica localizada de muito difícil avaliação. Desta forma, os projetos que levam em conta a
falha por fadiga baseiam-se principalmente em relações empíricas que utilizam tensões nominais.
A fadiga dos metais será discutida detalhadamente no próximo ítem.
A figura 2.13 apresenta uma fratura típica por fadiga. Nesta representação, local do início
da fratura, marcas de praia, sentido de propagação da trinca e fratura final, podem ser facilmente
visualizados.
Figura 2.13 - Fratura de um eixo por fadiga. Notam-se local de início da propagação da trinca,
sentido dessa propagação, marcas de praia e fratura final.
XXII SEMANA DE ENGENHARIA MECÂNICA – unesp – Ilha Solteira – 27/08 a 01/09/2001
Curso de Análise de Falhas 13
3. A FADIGA DOS MATERIAIS METÁLICOS
3.1. Introdução
Figura 3.1 - Superfície de fratura por fadiga de um tender de locomotiva. Pode-se notar uma
região fortemente deformada que corresponde à zona de fratura brusca e uma região lisa, por
onde a trinca iniciou-se e progrediu lentamente.
Iremos agora definir brevemente os tipos gerais de tensões flutuantes que podem gerar
fadiga. A figura 3.2 ilustra ciclos de tensões típicos em fadiga. A figura 3.2(a) ilustra um ciclo de
tensões alternadas de forma senoidal. Esta é uma situação idealizada a qual é produzida por uma
máquina de ensaios à fadiga, do tipo flexão rotativa. Para esse tipo de ciclo de tensões, as
tensões máximas e mínimas são iguais. A figura 3.2(b) exibe um ciclo de tensão flutuante no qual
a tensão máxima e a tensão mínima são diferentes. Neste caso, ambas as tensões são de tração,
embora um ciclo de tensão flutuante possa perfeitamente apresentar tensões máxima e mínimas
de sinais opostos ou ambas em compressão. A figura 3.2(c) mostra um ciclo de tensões
complicado que pode por exemplo ser encontrado numa asa de aeronave, que é sujeita a
sobrecargas repentinas devido ao vento e à sua própria sustentação.
Um ciclo de tensão flutuante pode ser dividido em duas componentes, uma tensão média
ou estática σ m e uma componente de tensão alternada ou variável σ a. Devemos considerar
também o intervalo de tensões σ r . Como pode ser visto na figura 3.2(b), o intervalo de tensões é a
diferença algébrica entre as tensões máximas e as tensões mínimas em um ciclo.
σ a = σ r /2 (3.2)
São utilizadas duas quantidades para apresentação dos dados de fadiga em termos da
relação de tensões:
A = σ a/σ m (3.5)
Figura 3.2 - Ciclos de tensão típicos em fadiga. (a) Tensão alternada; (b) tensão flutuante; (c) ciclo
de tensão irregular ou aleatório.
Figura 3.3 - Curvas de fadiga típicas para metais ferrosos e não ferrosos. Como pode ser visto, o
número de ciclos de tensão que um metal pode suportar antes de se romper com o decréscimo da
tensão é em alguns casos da ordem de 107 ou 108 ciclos e às vezes até mais
A não ser que haja indicação em contrário, N é tomado como sendo o número de ciclos de
tensão necessários para causar a fratura completa do corpo de prova. Os ensaios de fadiga a
baixas tensões são geralmente levados até 107 ciclos e, algumas vezes, no caso de não ferrosos,
por exemplo os alumínios de alta resistência, até 5x108 ciclos. Para alguns materiais, muito
importantes na engenharia, como certos tipos de aços e o titânio , a curva S-N se torna horizontal
em uma determinada tensão limite. Abaixo desta tensão limite de resistência à fadiga, o material
pode presumivelmente suportar um número infinito de ciclos sem se romper. A maioria dos metais
não ferrosos como por exemplo o alumínio, magnésio e ligas de cobre, apresentam uma curva S-
N que decresce continuamente com o aumento do números de ciclos. Estes materiais não
apresentam um limite de resistência à fadiga, uma vez que a curva S-N nunca se torna horizontal.
Neste caso costumam-se caracterizar as propriedades de fadiga do material fornecendo-se a
resistência à fadiga para um número arbitrário de ciclos como por exemplo 108 ciclos.
Procedimento usual para determinação de uma curva S-N consiste em se testar o primeiro
corpo de prova a uma tensão na qual se espera que ocorra fratura num número de ciclos bastante
pequeno, por exemplo, cerca de dois terço do limite de resistência estático do material. A tensão
do ensaio é diminuída gradativamente para cada corpo de prova que se sucede, até que uma ou
duas amostras não se rompam no número de ciclos especificado, geralmente 107 ciclos. A maior
tensão para a qual não se verifica fratura é considerada o limite de fadiga do material. Para os
materiais que não apresentam limite de resistência à fadiga o ensaio é interrompido,
normalmente, para considerações práticas, em uma tensão baixa onde a vida em fadiga seja
cerca de 108 ou 5x108 ciclos. A curva S-N é determinada com geralmente 10 ou 12 corpos de
prova. Normalmente observa-se uma dispersão razoável nos resultados experimentais, embora
seja possível, sem muita dificuldade, o traçado de uma curva suave abrangendo os pontos
obtidos. No entanto, se vários corpos de prova forem ensaiados à mesma tensão, ocorrerá uma
grande dispersão nos valores observados de um número de ciclos para a fratura, dispersão esta
que chega a atingir uma ordem de grandeza na escala logarítmica entre os valores máximos e
mínimos.
Ainda com relação à figura 3.4, para σ1, seria de se esperar que 1 por cento dos corpos de
prova se rompesse com N1 ciclos. 50 por cento com N2 ciclos e assim por diante. A figura indica
um decréscimo de dispersão para a vida em fadiga com o aumento da tensão, o que geralmente
se verifica na prática. A função de distribuição estatística que descreve a distribuição da vida em
fadiga, a tensão constante, não é conhecida com precisão e, para tal, seria preciso que se
ensaiassem mais de 1.000 amostras idênticas sob condições idênticas para uma tensão
constante. Ensaios com 200 corpos de prova de aço para uma única tensão mostraram que a
frequência de distribuição de N seguia a distribuição de Gauss, ou a normal, se a vida em fadiga
for expressa como Log N. Para fins de engenharia, é suficientemente preciso assumir uma
distribuição normal logarítmica da vida em fadiga a tensão constante, no intervalo de
probabilidade de ruptura de P=0,10 a P=0,90. Todavia, frequentemente, é importante que
XXII SEMANA DE ENGENHARIA MECÂNICA – unesp – Ilha Solteira – 27/08 a 01/09/2001
Curso de Análise de Falhas 18
sejamos capazes de prever a vida em fadiga correspondente a uma probabilidade de ruptura
menor ou igual a 1 %. A suposição de uma distribuição normal logarítmica neste limite externo da
curva de distribuição não mais se justifica, embora seja comumente empregada. Para este caso, a
distribuição do valor-extremo ou a distribuição de Weibull têm sido as alternativas utilizadas.
Quando se determina o limite de resistência à fadiga de um material, deve-se ter em
mente que cada amostra possui seu próprio limite de fadiga e que para tensões acima ela se
romperá e para tensões abaixo permanecerá em serviço. No entanto, esta tensão critica varia de
amostra para amostra por razões ainda muita pouco compreendidas. É sabido que as inclusões
no aço exercem um efeito muito importante sobre o limite à fadiga e sua variação, mas mesmo os
aço fundidos a vácuo apresentam dispersão no limite à fadiga. O problema da determinação
precisa do limite à fadiga torna-se complexo devido ao fato de não podermos medir seu valor
individual para um dado corpo de prova, pois podemos apenas ensaiá-lo para a uma tensão
particular e, caso ocorra fratura, deduzimos que esta tensão é superior ao limite à fadiga. Uma
vez que o copo de prova não pode ser reensaiado , mesmo que não se rompa para a tensão de
ensaio, devemos estimar a estatística do limite à fadiga testando grupos de amostras a várias
tensões para vermos quantas se rompem a cada tensão. Assim, próximo ao limite à fadiga,
dependendo da amostra ela poderá romper-se ou não, e tudo que podemos fazer é estimar o
comportamento de um universo de copos de prova através de uma amostragem cuidadosa. Os
dois métodos estatísticos para a estimativa do limite à fadiga são chamados Probit analysis e
Método da escada e, evidentemente, fogem ao escopo deste curso.
Embora os estudos de fadiga estejam relacionados com condições de serviço nas quais a
falha ocorria para ciclos de tensão superiores a 104, existe um crescente interesse quanto a falhas
por fadiga que ocorrem para tensões relativamente altas e baixo número de ciclos. Este tipo de
problema deve ser considerado nos projetos de vaso de pressão para a indústria nuclear, turbinas
a vapor e na maioria dos outros equipamentos da maquinaria mecânica. As condições para
ocorrer fadiga de baixo-ciclo são freqüentemente criadas quando as tensões repetidas são de
origem térmicas. Uma vez que as tensões térmicas devem-se à expansão e à contração térmicas
do material, podemos verificar facilmente que neste caso a fadiga resulta de deformação cíclica
em vez de tensão cíclica.
A figura 3.5 apresenta um ciclo de tensão-deformação resultante de um ensaio de fadiga
de baixo ciclo onde a deformação cíclica era mantida constante. A curva tensão-deformação
durante o carregamento inicial é O-A-B. Durante o descarregamento o escoamento se inicia em
compressão a uma tensão menor C, devido ao efeito Bauschinger.
Quando se recarrega em tração , desenvolve-se um ciclo de histerese que tem suas
dimensões descritas pela sua largura (∆ ε),o intervalo total de deformação e por sua altura (∆ σ),
que é o intervalo de tensões. O intervalo de deformação ∆ ε consiste em uma componente de
deformação elástica ∆ εe = ∆ σ/E mais uma componente de deformação plástica ∆ εp. A largura do
ciclo de histerese dependerá do nível de deformação cíclica: com este nível pequeno, o ciclo de
histerese torna-se muito estreito. Para os ensaios realizados sob ∆ ε constante, o intervalo de
tensão ∆ σ normalmente varia com o aumento do número de ciclos. Os materiais recozidos
experimentam endurecimento cíclico, o que significa que ∆ σ aumenta com o número de ciclos até
atingir a saturação após cerca de 100 ciclos de deformação.
O aumento no intervalo de tensões será maior quanto maior for o valor de ∆ ε. Os materiais
que previamente sofreram trabalho a frio experimentam amolecimento cíclico, isto é, ∆ σ decresce
com o aumento do número de ciclos de deformação.
Figura 3.6 - Inclusão não metálica a partir da qual desenvolveu-se uma ruptura por fadiga.
Figura 3.7 - Inclusões não metálicas e segregações a partir das quais desenvolveu-se uma falha
por fadiga.
Figura 3.8 - Interface entre camada cementada e metal de base e uma segregação (s).
Provavelmente a ruptura por fadiga iniciou-se num destes dois pontos.
Figura 3.10 - Conceito de Wood. Microdeformação levando à formação da trinca de fadiga. (a)
Deformação estática; (b) deformação de fadiga originando um entalhe superficial ou seja, uma
intrusão ; (c) deformação de fadiga originando extrusão.
Figura 3.12- Foto (A): (a) uma descontinuidade que provocou duas frentes diferentes de
propagação de estrias de fadiga; (b)estrias microscópicas de fadiga.
Foto (B): (a) Porosidade; (b) inclusões; (c) diferentes frentes de propagação das estrias de fadiga.
No início do carregamento cíclico a ponta da trinca é aguda (fig. 3.13 a). À medida que o
esforço de tração é aplicado o pequeno entalhe duplo na ponta da trinca concentra o
deslizamento ao longo dos planos que fazem 45o com o plano que contém a trinca (fig. 3 .13 b) À
medida que a trinca se alarga para sua extensão máxima (fig. 3.13 c), ela caminha ainda mais por
cisalhamento plástico ou seja, ela cisalha uma região encruada, ao mesmo tempo que sua ponta
se torna rombuda. Quando a carga muda para compressão as direções de deslizamento na
extremidade são invertidas (fig. 3.13 d), as faces da trinca são compactadas e a nova superfície
da trinca, criada na tração, é forçada para o plano da trinca (fig. 3.13 e) onde é parcialmente
dobrada por flambagem formando uma ponta de trinca novamente aguda. Desta forma, a trinca
está pronta para avançar e se torna rombuda no próximo ciclo de tensões.
Finalmente, os quatro estágio da fadiga, podem ser resumidos da seguinte maneira:
1) Iniciação da trinca (nucleação/intrusão e extrusão): Esta geralmente se dá na
superfície (podendo também iniciar-se no interior, numa interface), em locais
concentradores de tensão tais como cantos vivos, marcas de punção, marcas
provocadas por solda a arco, rugosidade superficial e outros;
Figura 3.14 - Ilustração esquemática dos três estágios da fadiga dos metais.
2) Marcas de catraca: Todas as vezes que o carregamento em fadiga sofre algum tipo de
perturbação tal como variação do valor da tensão ou variação na frequência de solicitação,
podem aparecer as chamadas marcas de catraca que nada mais são do que uma mudança
de plano, no avanço da trinca de fadiga ou seja, aparecem “degraus” na superfície de
fratura. A figura 3.16 exibe uma região contendo marcas de catraca na superfície de um
aço rompido por fadiga.
Figura 3.15 - Marcas de praia formadas por um conjunto de centenas ou milhares de estrias de
fadiga.
Figura 2.16- Marcas de catraca. Neste caso é interessante notar que houve fadiga por torção.
Conforme já foi visto, praticamente todas as falhas por fadiga se iniciam a partir da
superfície do componente. Para muito tipos comuns de carregamento, como flexão e torção, a
tensão máxima ocorre na superfície, o que torna lógico que o início da trinca lá se verifique.
Contudo, no carregamento axial, a falha por fadiga quase sempre começa na superfície. A grosso
modo, os fatores que afetam a superfície de um componente quanto à fadiga, podem ser
classificados em três categorias:
Além disso, a superfície está sujeita à oxidação e à corrosão, além de outros tipos de
ataque.
Rugosidade da superfície
Figura 3.17 - Fator de redução para o limite de fadiga do aço devido a vários tratamentos e vários
acabamentos superficiais.
Figura 3.18 - Fratura por fadiga à torção. Nota-se que a origem (o) dessa falha deu-se na
superfície e num local de concentração de tensão. Em (A), tem-se a região de propagação inicial
e em (B), a de propagação final da ruptura.
Figura 3.19 - Região da origem da fratura. provavelmente num concentrador de tensão, devido ao
acabamento superficial insatisfatório. Em (A) tem-se o início da fratura final, de modo bastante
dúctil, devido à grande deformação plástica que pode ser verificada em (B). Em (C) verificam-se
dois caminhos percorridos pela fratura
Uma vez que a falha por fadiga é tão dependente das condições superficiais, Qualquer
coisa que mude a resistência à fadiga da superfície do material irá alterar muito as suas
propriedades de fadiga. Por exemplo, a descarbonetação superficial é bastante deletéria ao
A ação simultânea de tensões cíclicas e ataque químico é conhecida como fadiga por
corrosão. 0 ataque corrosivo sem tensão superimposta produz, muitas vezes, o aparecimento de
pites nas superfícies dos metais. Os pites atuam como entalhes e causam a redução da
resistência à fadiga. No entanto quando o ataque corrosivo ocorre simultaneamente com o
carregamento em fadiga, há uma redução muito superior das propriedades do material, redução
esta que é maior do que a produzida pela corrosão prévia da superfície. Quando corrosão e
fadiga atuam simultaneamente, o ataque químico acelera muito a taxa de propagação das trincas
de fadiga. Os materiais que apresentam um limite de fadiga definido quando ensaiados ao ar na
temperatura ambiente não apresentam indicação do limite de fadiga quando o ensaio é realizado
em meio corrosivo. Uma vez que o ataque corrosivo é um fenômeno que depende do tempo,
quanto mais rápido for o ensaio menor será o dano devido à corrosão. Os ensaios de fadiga por
corrosão podem ser realizados de duas maneiras. O método usual consiste em submeter o corpo
de prova, continuamente, às influências combinadas de corrosão e tensão cíclica, até que ocorra
ruptura. No ensaio de duplo-estágio, o ensaio de fadiga é interrompido após um determinado
período e o dano introduzido é avaliado através da determinação da vida restante, ao ar. Este
último tipo de ensaio ajudou a determinar o mecanismo de fadiga por corrosão.' A ação da carga
cíclica causa uma destruição localizada da proteção superficial (quer seja através de
endurecimento superficial, eletrodeposição, tintas de proteção superficial e outros), permitindo que
possam ser produzidos pites. É muito maior o número de pites produzidos na fadiga por corrosão
do que num ataque corrosivo sem a ação de tensões. Outro efeito da tensão cíclica é remover ou
desalojar quaisquer produtos de corrosão que possam de alguma maneira impedir o avanço da
corrosão. Os fundos dos pites são mais anódicos do que o resto do metal e, desta forma, a
corrosão prossegue para o interior, ajudada pela destruição do filme de óxido decorrente da
deformação cíclica. Quando o pite se torna pontiagudo o bastante para produzir uma grande
concentração de tensões, a trinca é nucleada.
Figura 3.22 - Descascamento provocado por fricção entre as esferas e a pista de um rolamento.
A seguir, será apresentada uma série de figuras a partir das quais são realizadas análises
de falhas. Iniciaremos com uma inspeção visual de falhas em mancais de deslizamento.
Figura 4.1 - Formação de canais caracterizados como sendo “marcas de rio” provocada pelo
efeito hidráulico da pressão do óleo Esse fato se dá devido a uma elevada concentração de
material deslocado, impedindo a passagem de lubrificante. Neste caso, dependendo das
condições gerais do mancal, este poderá ser reutilizado.
Figura 4.2 - (A) Ponto de desgaste anormal com bronze exposto, devido a um pedaço de metal
entre o mancal e o envólucro; (B) Dorso do mancal de deslizamento de um virabrequin de
locomotiva. (a)Pedaço de metal estranho; (b)fricção; (c)erosão, provavelmente iniciada por
fricção.
Figura 4.5 - Superfície típica de falha por fratura. É interessante notar que essa fratura iniciou-se
num rasgo de chaveta que provocou um importante concentrador de tensão.
Figura 4.6 - Fratura típica em um componente em aço forjado. Nota-se que o direcionamento das
fibras (figura B) serviram como caminho para a propagação da fratura. É interessante notar que a
trinca iniciou-se numa “quina” ou seja numa região de concentração de tensão.
Figura 4.7 - Fratura de um componente forjado em alumínio de alta resistência. Novamente pode-
se observar que a falha se deu numa região de concentração de tensão.
Figura 4.8 - Componente fabricado em aço ABNT 1045. Observa-se em (a) que houve forte
deformação plástica na região da rosca e fratura completa numa região de mudança de diâmetro.
Já em (b) observa-se que a fratura avançou em duas frente de propagação.
Figura 4.9 - Componente em aço forjado, para trabalho em elevadas temperaturas. Em (b)
verifica-se que a fratura foi intergranular e em (c) é evidenciada uma forte descarbonetação nos
contornos de grão. Em (d) tem-se o surgimento de trincas superficiais, a partir das quais ocorreu a
fratura completa do componente.
Além do desgaste em buchas, mancais e bronzinas, temos também o desgaste das partes
em movimento, como em eixos, válvulas e árvores, que constituem um grande número de
equipamentos utilizados na engenharia e na Indústria. Podemos considerar três tipos de
desgaste:
1) Desgaste de metal contra líquidos ou vapores (erosivo);
2) Desgaste de metal contra partículas abrasivas;
3) Desgaste de metal contra metal.
Esses tipos de desgastes ocorrem através de dois mecanismos. "Abrasivo" ou por
"Aderência".
Figura 4.10 - Pitting em dente de engrenagem. Provavelmente esse defeito iniciou-se devido à
fadiga por contato a partir de um defeito interno ou a partir de um ponto de corrosão intergranular.
Desgaste abrasivo: neste caso temos dois mecanismos de desgaste. O primeiro, envolve duas
superfícies. Uma superfície dura e áspera, deslizando sobre outra de menor dureza, provocando,
nesta última, um arrancamento de partículas. O segundo, envolve partículas duras de impurezas
ou as próprias partículas desprendidas, do caso anterior.
Desgaste por aderência: Neste caso, duas superfícies em contato e pressionadas, geram micro-
regiões de fusão, o que resulta em micro-soldas, que são arrancadas devido ao movimento
relativo, entre as superfícies. As partículas arrancadas, por sua vez, podem causar um desgaste
abrasivo.
7. BIOGRAFIA DO MINISTRANTE
Professor DANIEL YVAN MARTIN DELFORGE
Engenheiro Mecânico pela Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/UNESP – 1984
Mestre em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia Mecânica/UNICAMP,1994
Doutorando em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia Mecânica/UNICAMP