Você está na página 1de 7

A Rapariga das

Laranjas

Autor: Tradução:
Jostein Gaarder Maria Luísa
Ringstad

Editora:
Editorial Presença

~1~
Personagens:

Elenco principal:
Georg Røed – Guilherme Quaresma
Jan Olav (pai) – Frederico Martins
“A rapariga” - Daniela Domingues
---------------------------------------------------------------
Elenco secundário:
Avó de Georg – Bernardete Camota
---------------------------------------------------------------
Figurantes:
Catarina – Beatriz Alves
Diana – Beatriz Augusto
Diogo – Daniel Ribeiro
Tiago – Daniel Dias
Kelly – Anastasya Kostyuk

~2~
A Rapariga das Laranjas

(GEORG encontra-se no meio do palco, perto do público. Dirige-se


para o mesmo.)
GEORG
O meu pai morreu há onze anos, tinha eu quatro. Não sei ao
certo se me recordo bem dele. A recordação que tenho dele
pode ser das fotografias que vi tantas vezes. (pausa) Numa das
fotografias, eu estou sentado com o meu pai no sofá amarelo de
pele da sala. (sorri) Parece que ele está a contar qualquer coisa
agradável. (outra pausa) É uma sensação estranha, guardar todas
estas fotografias antigas que parecem de outro tempo… Chega
a ser desagradável guardar fotografias de uma pessoa que já
não existe. Tenho também uma foto do meu pai, doente, numa
cama de hospital. (“encolhe-se” ao dizer isto) O seu rosto está
muito magro.
(apresenta-se) Estou agora com quinze anos, mais precisamente,
quinze anos e três meses. O meu nome é Georg Røed e vivo em
Humleveien, em Oslo.
(continua) Após a morte do meu pai, os meus avós paternos
vieram ajudar a minha mãe a arrumar as coisas dele. Porém,
nunca encontraram uma coisa importante: uma longa história
que, antes de ser internado no hospital, ele me dedicou. A
história “A rapariga das laranjas” estava no forro de um
carrinho de bebé, encontrado pela minha avó. Mas, para ler
aquilo, eu tinha que ser crescido. Era uma carta para o futuro. E
esse futuro, é agora mesmo.
(GEORG sai da frente de cena e vai para onde se encontra a sala de
estar de sua casa. Inicia-se a cena da avó a entregar a carta do pai de
GEORG ao mesmo.)

~3~
GEORG
(ainda se dirigindo para o público, enquanto o resto das pessoas
localizadas na ação se encontram em freez) Há cerca de uma
semana, quando regressei da aula de música, deparei-me com
os meus avós, que nos tinham vindo visitar de surpresa. (vai se
sentando enquanto diz a próxima frase) Assim que os vi sentei-me
no sofá á espera que dissessem alguma coisa.
AVÓ
Olá querido. Como estás?
GEORG
Bem, avó… Mas a que se deve esta visita?
AVÓ
(nervosa) Bem…
GEORG
(curioso) Sim...?
AVÓ
Há algo que gostava de te mostrar, Georg.
GEORG
(um bocado mais nervoso) O que é? Uma coisa muito
importante…? Aconteceu alguma coisa?
AVÓ
Não querido, está tudo bem… É só que… Bem, esta carta é para
ti.
GEORG
(surpreendido) Para mim? (a AVÓ acena simplesmente com a cabeça
que sim) Posso abri-la já?

AVÓ
~4~
Espera… Talvez a queiras ler com mais calma e privacidade.
Esta carta Georg, é do teu pai.
GEORG
(ainda mais surpreendido) Do meu pai…?
AVÓ
(nervosa) Sim… Mas vou-te deixar sozinho com a carta. Fica
bem, querido. (dá-lhe uma festa/beijinho na testa e sai.)
GEORG
(fica a olhar primeiro para a carta e depois acaba por a abrir. Fala para
o público outra vez) “Para o Georg”… Wow, parece mesmo ser
do meu pai. Receber uma carta do nosso pai morto não é uma
coisa que aconteça todos os dias… (ri-se nervosamente) Bom,
vamos lá ver isto.
(começa a ler) “Estás bem sentado, Georg?” (este olha em volta e
acena que sim com a cabeça) “Acomoda-te bem. Agora vou-te
contar uma história emocionante.” Parece que o consigo ouvir
aqui mesmo ao meu lado… (arrepia-se) “Deves estar bem
instalado…”
JAN
(continuando a carta) “… no sofá de pele, se ainda não o
trocaram por outro. Mas também te posso imaginar sentado na
velha cadeira de baloiço de Inverno. Nem sei em que ano ou
estação estão agora… É provável que nem vivam mais em
Humleveien.” (ri-se) “Que sei eu? Nada! Quem é o Primeiro-
ministro da Noruega? Quem é o secretário-geral da ONU?
Sabes alguma coisa do telescópio Hubble?! Enfim… Não te
pressiono, só curiosidade.”
GEORG
(sorridente) Uau, nem morto o meu pai perde o sentido de
humor.
JAN

~5~
(ele continua) “Hoje, o dia em que lês esta carta, já não te
lembras certamente daquilo que fizemos juntos nos meses
quentes de Verão, quando ainda eras pequenino… Mas vou te
fazer uma confidência sobre o que tenho andado a pensar nos
últimos tempos. Cada dia que passa, cada coisa nova que
fazemos juntos, aumenta a possibilidade de te recordares de
mim. (GEORG sorri.) Lembras-te do teu comboio? Brincas com
ele várias vezes ao dia. Estou a olhar para ele agora mesmo.
Tenta lembrar-te Georg. Tenta, por favor.”
GEORG
(ele pega no comboio referido que se encontra em cima de uma mesa na
sala de estar. Sorri) Lembro-me pai, lembro-me pois.
JAN
“Bem, não ouso fazer mais perguntas. É bem provável que não
te consigas lembrar da maioria das coisas do “tempo de Georg”.
(pausa) “Como disse, vou contar-te uma história… Gostava de
esperar até que fosses crescido para ta contar, mas quando leres
isto, serás certamente mais velho. Sempre desejei poder, um
dia, contar-te esta história sobre a Rapariga das Laranjas. E esse
momento chegou agora.” (sai e prepara-se para a cena do elétrico.)
GEORG
(começa a ficar nervoso e ansioso) Mas o que será que tem de tão
especial esta “Rapariga das Laranjas”? Bom, só há uma forma
de saber. (continua a ler a carta) “Tudo começou numa tarde em
que eu esperava pelo carro elétrico em frente ao Teatro
Nacional. Estava naquele preciso momento a pensar no curso
de Medicina que iniciara… Nem queria acreditar que, um dia,
me tornaria um médico de bata branca.” (ri-se/sorri) “Ao longe
comecei a ver o carro elétrico passar perto do Parlamento. O
elétrico era azul e vinha apinhado de gente. (nesta altura, está no
palco montado um “elétrico” em que Jan representa aquele mesmo dia
em que se cruzou com a rapariga. Dentro do elétrico está também ela e
outros passageiros, variados. Enquanto a cena se passa, Georg
continua.)

~6~
~7~

Você também pode gostar