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UNIVERSIDADE ÓSCAR RIBAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
DISCIPLINA DE TEORIA E PRÁTICA EM PSICOTERAPIA II
Turma 03 / 3º ano / Manhã

ALTERAÇÕES EMOCIONAIS EM MULHERES DIVORCIADAS

Docente
___________________________
M.Sc. Nvunda Tonet

Luanda / Angola / 2019


UNIVERSIDADE ÓSCAR RIBAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA DE TEORIA E PRÁTICA EM PSICOTERAPIA II
Turma 03 / 3º ano / Manhã

ALTERAÇÕES EMOCIONAIS EM MULHERES DIVORCIADAS

Discentes:
1. Ana Araújo - 20170917
2. Leila Moreira – 20170158 (coord)
3. Mariana Almeida – 20170824

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Luanda / Angola / 2019

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Índice

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................2

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................4

2.1. O Divórcio..........................................................................................................4

2.2. Fases do Divórcio...............................................................................................8

3. POSSÍVEIS CAUSAS DO DIVÓRCIO..................................................................10

4. IMPACTO EMOCIONAL DO DIVÓRCIO NA MULHER...................................12

4.1.1. Quando a mulher solicita a separação..............................................................14

4.1.2. Quando a mulher não quer a separação............................................................14

4.1.3. Quando a mulher concorda com a separação...................................................15

5. INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA..........................................................................16

5.1. Instrumento: Inventário feminino de vivências do processo de separação ou


divórcio (IFVPSD)......................................................................................................17

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................18

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................19

ANEXO 1........................................................................................................................20

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1. INTRODUÇÃO

A elaboração do presente trabalho é referente a uma proposta da disciplina de


técnica e práticas em psicoterapia II, com o objectivo de substituir a segunda prova
parcelar. Tem como objectivo geral identificar as alterações emocionais em mulheres
separadas e para tal, traçamos como objectivos específicos entender o conceito de
divórcio, as fases deste processo e identificar as possíveis causas que podem estar na
origem do divórcio.

O ser humano como qualquer outro animal possui o instinto de sobrevivência.


Os seres humanos, inicialmente simbolizavam uma espécie de “casamento” feito apenas
pela conveniência para a garantia da sobrevivência da espécie, bem como, a garantia da
continuação do seu gene, conforme propôs Darwin. Neste sentido, a união entre dois
seres supunha ser estritamente numa ordem de sobrevivência.

Com o passar do tempo, este foco foi mudando para aquele que actualmente
predomina, ou seja, o casamento teria evoluído de uma dimensão instrumental de
sobrevivência, para uma dimensão afectivo-relacional moderna, perdendo o seu sentido
de perpetuidade e tornando-se mais vulnerável à dissolução. De facto, a sociedade
moderna, incentiva a selecção do parceiro conjugal na base dos afectos e não da
sobrevivência. Mas, o sentimento é mais efémero do que a sobrevivência, pelo que o
casamento baseado no amor, é mais vulnerável do que o baseado nas necessidades
económicas (Huston, Caughlin, Houts, Smith, & George 2001; Mitterauer & Sieder,
1983).

Para Amato (2007) e Cherlin (2004), as pessoas divorciam-se mais que no


passado, porque casam de uma forma diferente, com valores que enfatizam mais a
relação interpessoal, do que a dimensão institucional do casamento. O divórcio
contribuiu nas últimas décadas, nos países desenvolvidos, para uma mudança da
estrutura familiar que afecta cada vez mais famílias (Teachman, Tedrow, & Hall, 2006).

Segundo Macgoldrick (1995), por conta do processo do divórcio, o


desenvolvimento normal da vida da família é interrompido causando bruscas alterações
e na maioria dos divórcios, um dos cônjuges quer sair do casamento mais do que o
outro.

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Segundo Wallerstein e Blakeslee (1990) e Mikusko (2008), o divórcio quase
nunca é uma decisão mútua, e quando numa família há filhos a experiência é única. Em
alguns aspectos, é o mais parecido à morte de um ente querido, ambas as experiências
implicam alterações vitais, tanto internas, quanto externas. Ambas as experiências
implicam perda e dor, ambas implicam, como consequência, mudanças perduráveis na
vida quotidiana e ao nível das relações íntimas.

Em suma, uma das implicações mais delicadas do divórcio diz respeito ao


impacto emocional que a separação provoca no casal. Tanto do ponto de vista de quem
pede a separação como de quem ainda quer manter a relação, tais impactos são reais e
muito dificeis de experenciá-los.

Porém, neste trabalho, apresentaremos apenas as alterações emocionais que uma


separação pode causar na mulher, assumindo três perspectivas diferentes,
nomeadamente, o impacto emocional quando é a mulher a solicitar a separação, quando
ela ainda quer a relação e quando o desejo de separação é mútuo entre ela e o seu
companheiro.

As consequências dessas emoções são devastadoras para o psiquismo da mulher,


podendo desencadear doenças psicossomáticas, depressão, ansiedade, nervosismo,
instabilidade emocional, pânico, stress crónico entre tantas outras manifestações que
geralmente precisam ser acompanhadas por psicólogos e algumas vezes por uma equipa
de profissionais multidisciplinar, atendendo o tipo de patologia ou dificuldade
psicofisiológica e a sua intensidade dos seus sintomas.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. O Divórcio

O divórcio (do termo latino divortium, derivado de divertĕre, "separar-se")


refere-se ao rompimento legal e definitivo do vínculo de casamento civil.

O divórcio é a dissolução do casamento deixando os sujeitos livres e


descompromissados do casamento assumido. Segundo Diniz (2006), o divórcio é a
dissolução de um casamento válido, ou seja, a extinção do vínculo matrimonial, que se
opera mediante sentença judicial, habilitando assim as pessoas a buscarem novas
núpcias.

O conceito de divórcio e o de separação judicial, apesar de serem muito


semelhantes, se diferenciam quando analisados legalmente. A separação judicial
refere-se à separação de corpos com a manutenção do vínculo matrimonial. O divórcio
promove a cessação definitiva e imediata do casamento.

No entanto, apesar da existência de uma possível crise, Mcgoldrick (1995,


pg.23) afirma que: “Uma interrupção ou deslocamento do tradicional ciclo de vida
familiar, produz um tipo de profundo desequilíbrio que está associado às mudanças,
perdas e ganhos no grupo.”

Sendo o divórcio definido como dissolução legal do casamento na vida dos


cônjuges, é de se esperar que, essa dissolução, vivida em termos de um processo, leve
os cônjuges a experenciarem diferentes fases na sua realização.

O processo de divórcio é doloroso, afecta o emocional, o financeiro, a vida


profissional e social do casal.

Neste sentido, a separação é um dos momentos mais stressantes na vida dos


adultos. Após a dissolução conjugal, os ex-parceiros têm de enfrentar inúmeras
mudanças e desafios. A literatura psicológica tem dado prioridade ao estudo das
consequências negativas do divórcio nas trajetórias desenvolvimentais de todos os
membros da família, através da pesquisa exaustiva de problemas de ajustamento que

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provariam que o divórcio é por si só um factor de desestabilização e riso
psicopatológico.

O divórcio, quando ocorre, ou quando sua possibilidade se torna real na vida


dos casados, é uma das mais importantes crises da vida do adulto. No casamento,
ambos os parceiros mudam ou evoluem com os anos, geralmente em diferentes ritmos,
e não necessariamente em direções complementares, podendo surgir a necessidade de
separação.

Estudos do impacto familiar e desenvolvimental do divórcio, quer nos adultos


que se divorciam, quer nos seus filhos, demonstram que os níveis e a qualidade de
adaptação a este stressor não são linearmente comuns a todas as pessoas que o
experienciam.

A dissolução conjugal submete as pessoas a fazer adaptações significativas nas


suas vidas. Apesar de alguns dos stressores experienciados pelos que estão a divorcia-
se não divergirem qualitativamente de outros stressores, o que torna este processo
mais exigente é a ocorrência sincrónica de mudanças em muitas áreas de vida num
curto período de tempo.

Para Carter e Mcgoldrick (1995), o grau em que a família será afectada pelo
divórcio dependerá do Ciclo de Vida Familiar em que esta se encontra, já que o
rompimento gerará um desequilíbrio e necessitará de uma nova readequação de
contextos sociais, emocionais e econmicos de todos os envolvidos.

O divórcio engendra um conjunto de perdas sucessivas: a perda dos sonhos,


dos objectivos por atingir, da fé, da confiança e segurança. Paralelamente, para muitos
dos casais que se separam, o processo de ruptura parece conhecer certo desfasamento,
isto é, os sentimentos vivenciados por cada um dos ex-cônjuges, poderão não coincidir
no tempo (Wegscheider-Cruse, 1999).

Para muitos ex-cônjuges, a possibilidade de reconciliação mantém-se de pé,


mesmo após terem decorrido vários anos. Este aspecto significa, que a experiência de
sofrimento no divórcio é mais provável que se venha a repetir, prolongar e,
eventualmente, a não resolver-se.

Teoricamente, as respostas de cada adulto ao processo de divórcio estão


significativamente associadas ao seu estilo de vinculação, sendo possível traçar um

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perfil preditivo da adaptação ao divórcio, de acordo com as características
idiossincráticas a cada um dos estilos de vinculação.

A segurança da vinculação permite ao adulto gerir adaptativamente a


afectividade negativa e recorrer a apoio emocional e instrumental quando necessário,
funcionando como um factor de resiliência nas situações difíceis (Davis et al., 2003;
Mikulincer & Shaver, 2007).

Os adultos inseguros, devido às suas experiências relacionais insatisfatórias,


formam o self e avaliam o contexto desenvolvimental como instáveis e incertos, com
pouca previsibilidade do suporte dos outros, para além de um reportório de estratégias
de resolução problemas mais rígidas, menos flexíveis e em menor número. A
vulnerabilidade à desadaptação psicológica dos adultos com um estilo de vinculação
insegura associa-se a repetidas experiências de recepção de cuidados de figuras de
vinculação inconsistentes ou indisponíveis e resulta em dificuldades, quer na auto-
regulação emocional, quer na procura de cuidados (M. Dozier, Stovall-McCough, &
Albus, 2008). Mais concretamente, os adultos inseguros-ansiosos tendem a apresentar
um padrão de regulação emocional pobre, o que faz perdurar estados de
desajustamento que podem persistir após o desaparecimento efectivo da fonte de
distress (stress excessivo).

As principais estratégias de coping são a preocupação crónica e as cognições


negativas e catastróficas que podem determinar psicopatologia. Os adultos com
vinculação insegura-evitante, devido a dificuldades de gestão emocional, tendem a
bloquear e suprimir as emoções e cognições associadas a situações de distress e a
manter crenças sobre a sua auto-suficiência, invulnerabilidade e invencibilidade
perante ameaças ao self (M. Dozier et al., 2008; Mikulincer & Shaver, 2007).

A resposta psicopatológica e desajustamento psicossocial comuns a uma


grande maioria dos adultos que experienciam este evento podem ser considerados
como resultados deste processo de reorganização da vinculação, sendo que a
qualidade e complexidade desta reorganização se encontra dependente dos estilos de
vinculação dos adultos. A importância dos estilos de vinculação na compreensão das
dinâmicas de adaptação ao divórcio prende-se com o valor compósito deste
constructo, uma vez que possibilitam, tal como foi descrito por nós, a predição das

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diferenças interindividuais ao nível da qualidade do relacionamento interpessoal, da
regulação emocional, das estratégias de prestação e procura de cuidados, das
competências de coping e do processamento e acção de/sobre as ameaças.

Assim, a vinculação segura parece ser um importante factor protector para


adaptação psicológica e para estados de organização da experiência adaptados face a
situações de ameaça e distress, como é o caso do divórcio. Existe também uma
elevada incidência e prevalência de perturbações psicológicas em adultos com estilos
de vinculação insegura.

Antes do divórcio, habitualmente, um dos cônjuges abandona primeiro o


casamento. Neste caso, uma das partes quer que a relação termine, enquanto a outra
quer que a relação continue; portanto, cada uma das partes pretende diferentes
delimitações de intimidade para o futuro relacionamento. Habitualmente, o que
primeiro decide abandonar a relação estará menos envolvido no relacionamento que o
outro (Emery, 1994).

O cônjuge abandonado, normalmente, teve pouco tempo para se preparar para


o fim do casamento e, mesmo no caso de ter tido algum tempo, este é utilizado para
reparar a relação e não para lidar com o sentimento de perda. Consequentemente, a
intenção do cônjuge que tomou a decisão de separação, pode ser interpretada pelo
abandonado, no sentido do primeiro ainda o continuar a amar, não estando disposto a
aceitar a sua proposta. O resultado destes diferentes sentimentos e desejos é que
nenhuma das partes está inclinada a concordar, ou satisfeita com as delimitações de
intimidade que a outra lhe desenha (Erickson, 1991) e este aspecto tem implicações na
adaptação ao divórcio.

De acordo com Amato e Previti (2003), os indivíduos que desejam o divórcio


mais que os seus cônjuges apresentam melhor ajustamento ao divórcio, mais
satisfação com a vida e menor vinculação ao parceiro e, por sua vez, aqueles que
inicializam oficialmente o divórcio apresentam mais ajustamento ao divórcio.

No processo de divórcio, predominam o papel de alguns afectos,


nomeadamente, o amor, a raiva e a tristeza, sendo frequentes as oscilações de cada
uma destas emoções contraditórias (Emery, 1994). Entretanto, estes sentimentos
parecem ser experienciados de forma diferente pela parte que primeiro toma a decisão

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de ruptura do casamento e pelo cônjuge que o segue, tanto no que se refere às
consequências interpessoais dos conflitos, no sentimento de desgosto e confiança
(Rosenstock, Rosenstock, & Weiner, 1988) como ao nível do conflito de identidade e
na redefinição de novos papéis no pós divórcio (Erickson, 1991; Kitching, 2008).

2.2. Fases do Divórcio

A decisão de divórcio é tipicamente acompanhada por muita ambivalência e


incerteza, mesmo da parte do indivíduo que iniciou a acção (Gilbert, Pinel, Wilson,
Blumberg, & Wheatley, 1998) pelo que a redefinição de novas fronteiras leva, muitas
vezes, anos a completar.

As oscilações no estado de ânimo são características típicas de qualquer luto.


No caso do divórcio, os altos e baixos se acentuam, porque o processo de
desvinculação frequentemente tem numerosos avanços e retrocessos, encontros e
desencontros, antes da ruptura definitiva.

Diversos autores abordam fases que o casal vivencia por conta dos
envolvimentos emocionais relacionados ao divórcio e dos reajustes necessários na
família pós-divórcio.

A classificação mais utilizada sobre as fases do divórcio é a proposta por


McGoldrick (1995). Nessa escala, observam-se diferentes fases que usualmente são
vividas no ciclo de vida familiar para que os casais possam se reestabilizar e se
desenvolverem. São elas:

1ª Fase: Decisão - A decisão de divorciar-se é a aceitação do fracasso no


casamento, ou seja, quando o casal percebe que o casamento não está mais a trazer o
bem estar para si e para a família.

2ª Fase: Planeamento – ao lidar com a dissolução do sistema familiar surgem


questões a serem resolvidas como: a custódia dos filhos, o funcionamento da família
após o divórcio, o manejo da mesma para uma nova adequação à situação, entre tantas
outras condições a serem consideradas.

3ª Fase: Luto – a separação mobiliza o luto pela perda da família originalmente


idealizada, a reestruturação do relacionamento conjugal, o realinhamento do

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parentesco com as famílias envolvidas, a adaptação à vida separada. Ou seja, o casal
terá que lidar com a perda de uma vida á dois, para uma vida solitária. Vão ter que
reconstruir o parentesco com a família para que mesmo separados continuem unidos
em razão do bem estar do filho, caso existam filhos.

4ª Fase: Aceitação - abandono de fantasias de re-união, recuperação de


esperanças, sonhos, expectativas. Superação das raivas, mágoas, culpas pela
responsabilidade do fracasso, projectos de novos sonhos e expectativas para um novo
futuro.

O divórcio afecta directamente todos os envolvidos e ocorre dentro de um


processo que pode levar anos, desde a desestruturação conjugal à nova estruturação da
vida em várias dimensões. Bowlby (1980) propôs quatros períodos de um processo de
luto (mourning) funcional e adaptativo que pode ser utilizado para a leitura das
reacções comportamentais, cognitivas, emocionais e representacionais após a decisão
de divórcio. Estas fases são numbing, procura e raiva, desorganização e desespero, e
reorganização.

1ª Fase: numbing (entorpecimento) - caracterizada por períodos de


incredulidade sobre a perda da figura de vinculação, seguidos por intensas emoções e
sintomas agudos de psicopatologia, como ansiedade e raiva.

2ª Fase: procura e raiva - envolve o início do registo da realidade da perda,


acompanhado por um sentimento de inquietude e alvoroço, bem como de reacções de
raiva com a finalidade de restabelecer o contacto com a figura de vinculação.

3ª Fase: desorganização - inicia um período de confusão, agitação, incerteza e


receio sobre a mudança. Neste período, o adulto aceita a perda após compreender que
a figura de vinculação não voltará a estar disponibilidade, apesar do protesto constante
em estabelecer contacto. Este protesto sem consequências pode resultar em
manifestações de desespero, como depressão, tristeza, melancolia, confusão mental e
sintomas psicopatológicos.

4ª Fase: reorganização/integração - caracterizada pela reestruturação gradual


do self, das representações da figura de vinculação e por um processo de manutenção
adaptativa dos laços. A adaptação à perda está associada a resignificações da

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inacessibilidade da figura de vinculação e a possibilidade da manutenção do laço com
a figura de vinculação, após a alteração das suas funções e tonalidades emocionais.

3. POSSÍVEIS CAUSAS DO DIVÓRCIO

Da mesma forma que ocorre com o casamento, o divórcio é uma questão única
para cada dupla que se separa.

Existem estudos que confirmam que geralmente a separação é mais comum


entre casais que se uniram na adolescência ou entre membros de diferentes níveis
sócio-económicos e culturais. Também pessoas cujos pais eram separados têm maior
tendência a resolver um problema conjugal optando pelo divórcio.

Outra experiência provocadora de tensões no casamento é a paternidade,


fazendo com que o parceiro sinta menos prazer com o outro após o nascimento de
filhos.

A presença de doença nos filhos também gera uma tensão ainda maior, sendo
que casamentos em que um dos filhos morre por doença ou acidente têm uma
tendência de cerca de 50% em terminarem no divórcio.

As relações extraconjugais ou infiéis constituem outra das principais causas


que conduzem o casal ao divórcio.

Para além dos motivos apresentados anteriormente, podem ocorrer igualmente


factores psicológicos (inconscientes) da pessoa que são desencadeados no momento
de optarem pela separação, além dos factores objectivos, práticos, que se mostram
mais evidentes. Podemos falar nos seguintes fatores psicológicos que determinam as
separações:

Opção do cônjuge: As alterações e evoluções da vida a dois verificadas no


decorrer do nascimento dos filhos; aparecimento de novas rotinas, alteração da vida
sexual, entre outros aspectos potenciadores de ansiedade, podem conduzir a uma
reflexão sobre a relação a dois, e pôr em causa anos de vida em comum.

Não valorização dos afectos e outras questões emocionais: A diminuição ou


desaparecimento de questões simples, mas de extrema importância, como os afectos,

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podem determinar o fim do casamento. Com o passar do tempo, o casal tende a
remeter para segundo ou terceiro planos a manifestação de afectos e carinho. Esta
situação aliada à rotina do quotidiano, desencadeia um afastamento físico e
psicológico no casal, que senão for resolvido de forma precoce, aparece como efeito
bola de neve, podendo culminar em separação.

Aparecimento de problemas conjugais e ausência de diálogo: O aparecimento


de problemas pessoais ou profissionais que são transferidos para o seio familiar,
associados a outros problemas de carácter conjugal, quando não são falados ou
discutidos abertamente.

A maioria das pessoas relata sintomas de depressão e angústia intensa,


relacionada a dúvidas e mudança constante no humor na época do divórcio.
Apesar de uma separação poder ocorrer de forma rápida, estudos mostram que o
processo de recuperação psicológica da crise do divórcio leva cerca de dois anos até
atingir uma resolução satisfatória, aceitando sua nova identidade de pessoa divorciada.

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4. IMPACTO EMOCIONAL DO DIVÓRCIO NA MULHER

Os adultos divorciados reportam índices superiores de distress psicológico,


pior saúde física e menor esperança média de vida, com maior probabilidade de
suicídio, menor qualidade do suporte das redes sociais, perdas severas na segurança
económica e financeira, distress psicofisiológico alterações depreciativas das
percepções do self e desestabilização emocional e nos sistemas de procura e prestação
de cuidados.

Estes estressores psicossociais têm um impacto acentuado na pessoa divorciada


que lhe diminuem os níveis reais de qualidade de vida, diminuição muito similar à
encontrada nas pessoas viúvas.

Counts e Sacks defendem que o divórcio assume-se como o mais estressante e


traumático evento de vida, com a possibilidade dos seus efeitos perdurarem
significativamente num período superior a 10 anos.

Por conta do processo do divórcio, o desenvolvimento normal da vida da


família é interrompido causando bruscas alterações. Mcgoldrick (1995) ainda ressalta
que, na maioria dos divórcios, um dos cônjuges quer sair do casamento mais do que o
outro.

Quando a separação não é uma decisão mútua, aquele que não quer se separar
acaba por ficar vulnerável a um desequilíbrio emocional, à baixa auto-estima,
sentimentos de impotência e humilhação. No entanto, quando a família consegue
negociar a crise de uma forma amigável, o impacto do divórcio poderá ser amenizado
na vida de cada um e, principalmente na dos filhos pequenos, se existirem.

O divórcio é uma bomba emocional. Quase sempre é mais difícil do que ambas
partes imaginavam. Diminui a auto-confiança, suscita a ira e os sentimentos de culpa,
cria insegurança e dificulta as relações interpessoais.

Parte do problema que os ex-cônjuges têm na redefinição da vivência da


emocionalidade pode ser entendido em termos das diferentes experiências de

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sofrimento relacionadas com o divórcio. As diferenças, entre aquele que primeiro
abandona a relação e o que a abandona depois, dizem respeito mais à intensidade do
que à variedade e tonalidade dos sentimentos (Emery, 1994; Gray & Silver, 1990).

Em geral, a intensidade dos sentimentos daquele que primeiro tomou a decisão


é menos intensa, porque a sua dor inicia-se antes da separação (Wallerstein &
Blakeslee, 1990). A dor ou sofrimento do que decide abandonar é semelhante à
experienciada na sequência de uma doença crónica na fase terminal pelo contrário,
aquele que é abandonado experiência uma dor semelhante à da morte súbita e
inesperada de um ente próximo (Emery, 1994; Théry, 1996). Assim, o apoio social
torna-se fundamental e, muitas vezes devido ao divórcio, a rede social dos parceiros
quebra-se e os laços com os amigos mútuos e família dissipam-se (Garner, 2008).

Os sentimentos de culpa e fracasso pessoal são proeminentes. As mulheres que


sofrem luto a causa de um divórcio se sentem perdidas, confusas, com muitas dúvidas
e perguntas que muitas vezes não se atrevem a formular.

O sofrimento causado pela separação, o desgaste do divórcio, inevitavelmente


provoca sentimentos de desprotecção, tristeza e angústia. A mulher que passa por um
processo de separação tem que reconstruir sua identidade individual. Tal condição faz
com que os primeiros tempos após o divórcio sejam bastante difíceis para a mesma. A
ausência de apoio e orientação para essa mulher que passa pela transição do divórcio
aumenta a dificuldade. O apoio da família e dos amigos nessa fase são essenciais.

O divórcio pode ter impactos a nível legal, parental, comunitário, emocional e


psicológico.

A nível legal, é necessário tomar medidas em relação à decisão judiciais


nomeadamente aquelas que dizem respeito à partilha de bens, atribuições de pensão de
alimentos, etc. O que, por si só, pode causar um esgotamento emocional muito grande
ao indivíduo.

A nível parental, o caso de existirem filhos deste matrimónio, é também


preciso organizar esta nova relação de co-parentalidade, a qual pode originar alguns
momentos de maior tensão e conflito. 

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A nível comunitário, durante o processo de separação, o indivíduo vai ter
necessidade de encontrar algum apoio nos seus familiares e amigos, que se podem
revelar menos ou mais presentes durante esta fase.

O nível emocional diz respeito a todas as emoções e sentimentos que


acompanham a fase do divórcio.

A nível psicológico, o indivíduo terá, posteriormente, a necessidade de se


reconstruir e aprender a lidar com esta nova fase da sua vida (nomeadamente aprender a
viver sozinho, e não em casal).

Em suma, os sentimentos mais comummente experienciados por mulheres


separadas são: o sentimento de culpa, solidão, apatia e falta de sentido na vida,
ansiedade e falta de esperança, tristeza das datas importantes, reacções de identificação.
Alguns dos comportamentos mais verificados são: tomada de decisões equivocadas,
isolamento e afastamento da vida social e muitas vezes da familiar.

4.1.1. Quando a mulher solicita a separação

Para a mulher, mesmo quando é dela a iniciativa pela separação, fica sempre a
sensação de fracasso, de projecto de vida que não deu certo, a vergonha de ter de
admitir isso para a família. Contudo, este sentimento parece ser em menor proporção em
comparação com o do seu parceiro.

4.1.2. Quando a mulher não quer a separação

Experienciar o sentimento de abandono que surge como consequência da


separação pode representar, num futuro, dificuldades em estabelecer relações de
confiança e de maior intimidade com outras pessoas. Muitas mulheres nesta condição,
normalmente apresentam ter uma redução na auto-estima, entre outros factores
negativos para a qualidade de vida. Estudos mostram que se a iniciativa parte do
marido, o que pesa sobre a mulher é a dor do abandono.

Também se verifica que as mulheres que atribuem, a “culpa” da separação


exclusivamente ao marido vivenciam de forma mais negativa o processo de separação

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do que aquelas que repartem as culpas da separação com o ex-cônjuge. (Enright &
Fitzgibbons, 2000).

A projecção da culpa no “outro”, não ajuda a reorganizar internamente os


sentimentos e emoções e poderá contribuir para tornar as emoções negativas mais
vincadas e prolongadas enfatizando sentimentos de vingança e rejeição muitas vezes
associados ao desejo de ter algum controlo na situação e restaurar a dignidade perdida
(Fitness, 2001). A atribuição da responsabilidade ao ex-cônjuge poderá contribuir para
tornar as emoções negativas mais vincadas e prolongadas.

4.1.3. Quando a mulher concorda com a separação

O divórcio por mútuo consentimento baseia-se no facto de não ser necessário


declarar a culpa, isto é, ambos os cônjuges aceitam que o casamento falhou.

Estudos sugerem que as mulheres ao partilharem a responsabilidade da


separação assumem-na internamente, o que contribuirá para ajudar a reorganizar e
recuperar emocionalmente após o divórcio e a perdoar (Enright & Fitzgibbons, 2000).

Não obstante haver consentimento de ambos os cônjuges, os sentimentos


negativos e de dúvidas sempre existem, porém, em muito menor intensidade que nas
condições em que a mulher solicita a separação mas o cônjuge ainda quer ficar ou
quando é a mulher que quer ficar diante do pedido de separação de seu cônjuge,
existindo ou não filhos na relação.

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5. INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

Sendo o divórcio uma crise importante na vida das pessoas que o enfrentam,
muitos procuram algum tipo de tratamento psicológico em decorrência do mesmo, seja
antes, durante, ou após a separação.

A maioria das pessoas, contudo, não o fazem, seja por não sentirem necessidade,
seja por falta de condições (ou não possuírem algum tratamento acessível) ou por falta
de conhecimento a respeito de auxílios psicológicos. Além disso, muitas vezes, no senso
comum, existe a idéia de que tratamentos psicológicos (psiquiátricos, psicoterapêuticos
ou psicanalíticos) fazem com que a pessoa que se trata termine por se separar.

Entretanto, tratamentos psicológicos bem orientados objectivam reduzir as


perturbações no relacionamento, muitas vezes favorecendo a manutenção do casamento
e o enriquecimento do vínculo afectivo do casal.

Além disso, muitas pessoas podem sentir necessidade de tratamento após a


separação, justamente pela perda que esta envolve, ou pelas modificações de vida
decorrentes da mesma.

Quando um individuo num processo de separação procura por ajuda, o psicólogo


poderá optar por algumas abordagens terapêuticas que poderão ajudá-lo neste processo,
como por exemplo, a terapia familiar, a terapia cognitivo-comportamental, a terapia
familiar sistémica, terapia interpessoal, psicoterapia de orientação analítica, terapia
familiar e de casal, psicoterapias de grupo, terapia racional emotiva, entre outras.
Todavia, poderá haver casos em a abordagem deverá ser multidisciplinar, em que,
vários outros profissionais actuarão no caso.

Na sua actuação, o psicólogo poderá utilizar várias técnicas e instrumentos


durante a avaliação psicológica. De acordo com o problema e a queixa do paciente, o
psicólogo poderá medir a intensidade e gravidade dos sintomas apresentados pelo

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paciente. Para tal, poderá avaliar sintomas relacionados com a depressão, a ansiedade, o
pânico, sentimentos de raiva, nível de stress, risco de suicídio, etc. Neste sentido,
poderá utilizar alguns instrumentos específicos e também alguns questionários /
inventários para identificar dificuldades existentes no processo de separação, como por
exemplo, o inventário feminino de vivências do processo de separação ou divórcio,
rastreio para identificar mulheres com dificuldades no processo de adaptação ao
divórcio, que apresentamos no anexo 1 e que reúne as condições necessárias para ser
utilizado como instrumento.

5.1. Instrumento: Inventário feminino de vivências do processo de separação ou


divórcio (IFVPSD)

O presente questionário avalia as vivências do processo de separação e divórcio


por parte das mulheres com filhos no sentido de rastrear no futuro as mulheres com
dificuldades para poderem ser referenciadas para programas de intervenção psicológica,
e desta forma minorar o impacto do divórcio nelas e seus filhos.

As participantes devem preencher o questionário constituído por uma série de


afirmações relativas ao casamento, separação e divórcio.

Para cada afirmação são propostas cinco possibilidades de resposta, em uma


escala tipo de Likert de 5 pontos: 1=“discordo totalmente”, 2=“discordo”, 3=“nem
concordo nem discordo”, 4=“concordo” e 5=“concordo totalmente”.

Os itens foram formulados a partir das categorias, subcategorias e tópicos da


categorização emergente (Pinto & Pereira, 2005).

A análise factorial revela cinco dimensões: disfuncionalidade conjugal, conflito,


emocionalidade, apoio social e adaptação. A disfuncionalidade remete para a crise
conjugal e conflitualidade durante o casamento; o conflito centra-se no relacionamento
com o ex-cônjuge; a emocionalidade foca-se nos sentimentos vivenciados no processo
de separação; o apoio social centra-se no papel de familiares e amigos durante o
processo de separação e, finalmente, a dimensão da adaptação remete-nos para a
adaptação ao processo de separação.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração do presente trabalho permitiu-nos perceber que um processo de


separação, amigável ou não, de mútuo acordo ou não, sempre trás consigo implicações
emocionais, psicológicas e sociais muito difíceis e podem ser profundas para todos os
envolvidos, inclusivamente os filhos, caso existam.

A adaptação a uma separação é condicionada por vários factores intrínsecos ou


extrínsecos ao sujeito, e tais podem comprometer a adaptação e superação das fases do
processo de divórcio.

Quando tal processo acontece de forma desadaptavativa, os problemas


emocionais que fazem parte do processo em si, são agudizados podendo desencadear
perturbações psicofisiológicas.

Entendemos que independentemente da condição do processo, havendo ou não


concordância para a separação ou a existência ou não de filhos, é fundamental que
ambos procurem apoio psicológico antes, durante e depois da separação, uma que vez
que, os problemas que levam a ruptura são iniciados antes de uma intenção de separação
ter sido comunicado.

Portanto, é fundamental que, a experiência do divórcio seja vivida pelo casal que
a enfrenta de forma equilibrada, com maturidade e respeito, para que sejam amenizadas
as consequências emocionais no ex casal.

Para tal, a terapia cognitivo-comportamental pode ser um bom recurso


terapêutico para ajudar o enfrentamento do sofrimento e das dificuldades que
normalmente aparecem para todos os envolvidos na situação do divórcio. A terapia é
uma das formas de soluções que podem minimizar o efeito que o divórcio causa na vida
das pessoas que passam por um processo de divórcio.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

C. O. Ahrons. (1995). O bom divórcio: como manter a família unida quando o casamento
termina. Rio de Janeiro: Objeitva.

M. Graça Pereira, José Cunha Machado e Henrique Pinto. (2013). Validação do Inventário
Feminino de Vivências do Processo de Separação e Divórcio (IFVPSD). 0870-8231. Aná.
Psicológica vol.31 no.3 Lisboa set. 2013. Disponível em
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312013000300006.
Acessado em 21-10-19 ás 15:11.

Diogo Lamela, Bárbara Figueiredo e Alice Bastos. (2010). Psicologia do desenvolvimento:


Adaptação ao divórcio e relações coparentais: contributos da teoria da vinculação. 0102-
7972. Psicol. Reflex. Crit. vol.23 no.3 Porto Alegre 2010. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722010000300017.
Acessado em 21-10-19 ás 15:15.

Artigo retirado no dia 24 de Outubro, 18h33, do site:


https://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/divorcio-e-separacoes-conjugais.

Artigo retirado no dia 24 de Outubro, 18h56, do site: http://www.psicologia4u.com/o-


divorcio-e-os-seus-aspetos-psicossociais/.

Artigo retirado no dia 24 de Outubro, 18h59, do site: https://wecareon.com/divorcio-e-luto/.

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ANEXO 1

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