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Sumário

1. Conceitos..............................................................................................................................1
2. ESCOLA TRANSGERACIONAL DE TERAPIA FAMILIAR.............................................................1
2.1. O Processo de Transmissão Multigeracional.................................................................2
2.2. O Processo de Projeção Familiar...................................................................................2
3. TRANSGERACIONALIDADE: HERANÇAS FAMILIARES.............................................................3
4. O fenômeno da transgeracionalidade no ciclo de vida familiar: casal com filhos pequenos 4
1. Conceitos

Ainda pouco difundida no país, a terapia transgeracional é uma abordagem dentro da terapia
integrativa e complementar que procura entender e cuidar dos padrões de comportamento,
crenças e emoções transmitidos através das gerações de uma família.

transgeracionalidade pode ser definida como um campo de forças psíquicas inconscientes


pertencentes a grupo familiar que são transmitidas através das gerações pelo viés da
negatividade: transmite-se o que está oculto, escondido e não elaborado (Kaës, 2001).

traumas transgeracionais

Franciany Madeira diz que o termo "trauma transgeracional" é usado para atribuir a
transmissão biológica ou psíquica de experiências vividas de forma traumática para as gerações
subsequentes: "As consequências podem afetar de forma individual, familiar e coletiva.

2. ESCOLA TRANSGERACIONAL DE TERAPIA FAMILIAR

Em meados de 1960 surge um novo processo clínico que rompe com as antigas práticas
psicanalíticas, este novo que se constitui é a terapia familiar, com suas muitas e novas formas.
Entre as novas práticas, relatamos aqui a teoria de Murray Bowen que desenvolveu a hipótese
dos sistemas familiares por intermédio de um processo extensivo de observação de famílias em
várias circunstâncias.
De acordo com Nichols e Schwartz (2007), Bowen iniciou suas observações em pacientes com
esquizofrenia e como eles se comportavam emocionalmente em relação às suas mães, estendeu
suas observações para os demais membros da família, e depois ampliou a todas as famílias que
tinham problemas menos graves.
Isso o convenceu de que não há descontinuidade entre famílias normais e famílias perturbadas,
o que acontece é que todas as famílias variam ao longo de um contínuo que vai da fusão
emocional à diferenciação. (Nichols e Schwartz, 2007, p. 125).
Ao pesquisar Bowen, Nichols (2007) identifica que, para ele, o indivíduo não é autônomo
emocionalmente, é dependente e reativo em relação ao grupo familiar, que o funcionamento de
um indivíduo afetará aos outros. (Bowen, 1966) diz que a família é uma rede multigeracional de
relacionamentos, molda a interação entre individualidade e proximidade, a partir de alguns
conceitos interligados como a diferenciação do self, o processo de transmissão multigeracional,
o processo de projeção familiar e os triângulos emocionais.
Sobre o Conceito Diferenciação do Self, Nichols e Schwartz (2007) referem que é a base da
teoria boweniana, na qual há uma simultaneidade intrapsíquica e interpessoal, ou seja, é a
capacidade de o indivíduo pensar e refletir antes de agir, ele não reage automaticamente, mesmo
diante de uma ansiedade, existe o equilíbrio entre a razão e a emoção.
Uma pessoa diferenciada é capaz de equilibrar o pensamento e o sentimento, mesmo
vivenciando fortes emoções e sua espontaneidade resiste às pressões dos impulsos, consegue
refletir e tomar uma decisão considerando seus aprendizados. No contraponto estão os
indivíduos indiferenciados, que tendem a reagir sem refletir, de forma impulsiva. São facilmente
manipulados pelo meio e apresentam dificuldades de diferenciar emoção de razão. (NICHOLS
& SCHWARTZ, 2007)
A diferenciação é um processo que deverá ser buscado pelo indivíduo durante seu
desenvolvimento. Quando criança é natural que a pessoa absorva as formas de pensar e agir de
sua família, com o seu desenvolvimento. Diferenciar-se é construir seus próprios valores, é
pensar e agir independente do comportamento de sua família.

2.1. O Processo de Transmissão Multigeracional

se constitui na transmissão do processo emocional da família, através de várias gerações, é a


transmissão da ansiedade. O fluxo de ansiedade de uma família pode ser tanto vertical, quando é
transmitido para gerações seguintes, quanto horizontal, que se dá pelo estresse na família
conforme ela avança lidando com as mudanças no ciclo vital. (CARTER & MC GOLDRICK,
1995)
Segundo Bowen (1966), a escolha do(a) parceiro(a) no matrimônio está diretamente relacionada
à transmissão multigeracional, essas escolhas tendem por parceiros(as) com o mesmo nível de
diferenciação. Um indivíduo com baixo nível de diferenciação, provavelmente, constituirá sua
família buscando um cônjuge no mesmo grau de diferenciação que o seu e, consequentemente,
os mecanismos para conter a ansiedade serão mais ativos (conflitos e disfunções nos papéis de
pais, cônjuges e filhos).

2.2. O Processo de Projeção Familiar

se caracteriza pela transmissão da indiferenciação dos pais para os filhos. Estes podem atingir
um grau mais ou menos elevado de diferenciação, entretanto, quando ocorre o processo de
projeção, a tendência é que ele atinja um grau ainda mais baixo dessa diferenciação dos pais.
Em uma família onde existam dois ou mais filhos, aquele que se tornou a válvula de escape da
ansiedade dos pais, geralmente o que é muito ligado a eles, chegando a ser favorecido em
detrimento dos outros filhos, terá seu desenvolvimento comprometido, com dificuldades de
atingir a maturidade e um saudável desenvolvimento emocional, enquanto o filho que se sente
preterido conseguirá evoluir mais rumo sua diferenciação. (NICHOLS & SCHWARTZ, 2007)
Um dos conceitos mais importantes de Bowen (1966) são os Triângulos Emocionais. Ele
denominou comoo processo de triangulação emocional o que se dá entre três indivíduos, dois
representam um relacionamento como um casal, e o terceiro será aquele que foi trazido para a
relação, com o objetivo de baixar o grau de ansiedade, ou seja, de resolver a dificuldade
enfrentada pelo casal, pois sozinhos não conseguem resolver.
Para Martins, Rabinovich e Silva (2008), este terceiro indivíduo dividirá com o casal a energia
do relacionamento, ou seja, uma cota que deveria ser dividida por dois, será dividida por três e,
consequentemente, se tornará mais leve para as partes. A triangulação prejudicará todos os lados
do triângulo, o casal, que perde a oportunidade de aprender a lidar com seus conflitos e
diferenças, e o terceiro, que perde sua independência, sua individualidade e a liberdade de lidar
com seus próprios aprendizados.
Uma mulher chateada com a distância do marido pode aumentar seu envolvimento com um dos
filhos. O que torna isso um triângulo é a dispersão da energia que, de outra forma, poderia ser
dirigida ao casamento. Se ela passar mais tempo com a filha, a pressão sobre o marido diminui,
e ele pode se sentir menos obrigado a fazer coisas que não tem vontade de fazer. Entretanto, isso
também diminui a probabilidade do marido e mulher aprenderem a desenvolver interesses
compartilhados e diminui a independência da filha. (Nichols e Schwartz, 2007, p. 125).
DENUNCIAR ESTE ANÚNCIO

Os triângulos podem estar ativados todo o tempo ou ressurgirem quando a ansiedade entre o
casal está insuportável. Assim, a triangulação constitui um mecanismo de resposta que acontece
nos processos relacionais perante situações estressantes. Os triângulos constituídos no núcleo
familiar podem sofrer influência da família extensa e de outros triângulos ali constituídos, são
considerados triângulos entrelaçados. (MARTINS, RABINOVICH & SILVA, 2008)
Compreender o processo de triangulação é compreender como o casal se comunica e o
momento em que se constitui a triangulação, possibilitando uma mudança de comportamento
que favorecerá o crescimento emocional dos envolvidos. O triângulo mais importante da família
é aquele que envolve o casal e, para reverter o processo, o terapeuta cria triângulo, um triângulo
terapêutico. Se o terapeuta permanece em contato com os parceiros e, ao mesmo tempo,
mantém-se emocionalmente neutro, eles podem começar o processo de destriangulação e
diferenciação que modificará de modo profundo e permanente todo o sistema familiar.
(NICHOLS & SCHWARTZ, 2007).
Os autores descrevem que a terapia familiar com indivíduos se baseia na premissa de que, se
uma pessoa da família conseguir um nível mais elevado de diferenciação, dará para que os
outros familiares também o alcancem. Os terapeutas ensinam às pessoas sobre triângulos e as
prepara para que voltem à família para reverter esta triangulação, pelo processo de
destriangulação, se tornando mais objetivos e com mais maturidade, conseguindo separar
pensamento de sentimento e o que é dele do que é do outro.

3. TRANSGERACIONALIDADE: HERANÇAS FAMILIARES

A transgeracionalidade é um fenômeno que diz respeito aos aspectos relacionados aos valores,
padrões, expectativas e demais construções do meio familiar ao longo das gerações e a forma
como estas referências interferem e moldam a identidade dos indivíduos das gerações seguintes.
Esse estudo propôs-se a realizar uma revisão integrativa da literatura, com o objetivo
decompreender as características do processo da transgeracionalidade no que tange a constituição
do sujeito dentro do seu núcleo familiar, trazendo contribuições recentes e relevantes para a
construção de um entendimento mais contemporâneo acerca deste tema considerando sua
complexidade e importância no contexto da psicologia e repercussão ainda em várias outras áreas
de estudo. O procedimento de coleta de dados foi realizado através da pesquisa de estudos
disponibilizados na íntegra e a análise feita a partir da leitura destes materiais de forma que se
consiga uma melhor seleção e assimilação do assunto. Resultando na verificação da
transgeracionalidade como uma bagagem trazida a partir dos modelos familiares e sociais.
Considerando-se, entretanto, que este fenômeno envolve questões referentes a lealdades,
segredos, abdicação de desejos pessoais e individuais, criação e consolidação de laços, assim
como a sua desfeita. Desta forma cita-se a terapia sistêmica como recurso a estes indivíduos que
buscam ajustar as interações dos membros associados aos sistemas em que se inserem.
4. O fenô meno da transgeracionalidade no ciclo de vida
familiar: casal com filhos pequenos

O pensamento sistêmico tem sido aplicado a diferentes áreas de estudo. Sua


máxima é a de que o todo é maior que as partes. A partir desse entendimento, o
modelo linear de causalidade passa a ser substituído por um modelo circular. Em
outros termos, um padrão interativo passa a sobrepor-se ao padrão de causa e
efeito (Churchman, 2015; Von Bertalanffy, 2008). Andolfi (2019, p. 24) pontua que
o interesse do observador não está mais focado em fenômenos isolados, mas em
"complexidades organizadas".

Observa-se correlações entre a terapia sistêmica e o psicodrama, na medida em


que Moreno antecipou-se aos terapeutas sistêmicos ao concentrar sua atenção nas
relações entre pessoas que compõem um grupo. Nesse momento, a família passou
a ser compreendida como uma combinação entre pais e filhos, entre marido e
mulher. As contribuições do autor no âmbito da terapia familiar e de casais são bem
conhecidas entre os terapeutas familiares sociodramatistas, assim como sua
perspectiva sistêmica e inovadora (Vitale, 2004).

Emergindo na década de 1950, o pensamento sistêmico demonstra ampla relação


com a Terapia Familiar. Terapeutas familiares enxergam a família como um sistema
composto de vários subsistemas, tais quais o sistema conjugal, o sistema paterno e
materno, o sistema filial, o sistema fraterno e assim por diante. Todos esses
sistemas funcionam com base nos padrões familiares relativos à hierarquia,
fronteiras, comunicação e lealdades invisíveis, entre outros (Bucher-Maluschke,
2008).

A fim de compreender o processo de repetição dos padrões de relacionamento em


sucessivas gerações, a abordagem sistêmica propõe o conceito de transmissão
transgeracional (Bowen, 1978). Para Bowen, o nível de diferenciação de cada
indivíduo membro de uma família determina a intensidade da repetição de padrões
ao longo das gerações. Na opinião do autor, a transmissão dos padrões está
intimamente relacionada ao processo emocional da família, tendo início antes
mesmo de o indivíduo nascer (Celestino & Bucker-Maluske, 2015).

Ao encontro desse entendimento, Wagner (2014) afirma que o fenômeno da


transmissão transgeracional é constituído a partir de uma perspectiva histórica,
dando identidade à família e explicando o significado das idiossincrasias, bem como
das transações que caracterizam o funcionamento familiar da última geração. A
autora afirma que ninguém vive e se desenvolve sem família. Contudo, pode chegar
a sobreviver.

No mesmo sentido, Groisman (2012) discorre que não é possível alguém viver sem
família ou alguma organização que a substitua. O autor esclarece que o ser humano
procura, desde o nascimento, caminhar para a sua independência e é, ao mesmo
tempo, um ser dependente e relacional, pois necessita ter um suporte para o seu
desenvolvimento.
Como previsto pelo fenômeno transgeracional, ao longo da vida, os membros mais
jovens de uma família serão atingidos por uma série de significados e valores
transmitidos pela história das gerações anteriores, o que decorre por meio das
memórias, dos eventos, das tradições sociais e rituais dos pais ou dos avós,
informando sobre relações e padrões de comunicação do passado. Portanto, a nova
família constituída, ainda que não perceba, irá repetir padrões familiares presentes
nas gerações anteriores (Wagner, 2014).

Nesse sentido, a ideia é a de que a identidade cultural da família decorre desse


sistema de valores e crenças que, muitas vezes, é ampliado pelas normas e
costumes de um contexto social específico e transmitido ao longo das gerações.
Esse sistema influenciará a forma como serão exercidos os papéis familiares: pai,
mãe, filhos, irmãos e como serão enfrentados os eventos vitais importantes como
mortes, separações, nascimentos etc. (Andolfi, 2019).

São esses importantes eventos vitais que integram o ciclo de vida familiar, um
modelo teórico que contempla a evolução da família como um processo dinâmico,
caracterizado por determinadas fases do desenvolvimento, que desencadeiam uma
mudança e uma reorganização do sistema familiar. Sob essa perspectiva, portanto,
o ciclo de vida familiar permite identificar a fase na qual a família está, bem como
avaliar a mudança e o processo de reorganização da família na transição de uma
etapa para outra. Consoante ao fenômeno da transgeracionalidade, nos períodos de
transições familiares, todo o sistema familiar é afetado pela pressão e carga de
uma transformação que abrange várias gerações (Andolfi, 2019).

Diversos autores dividiram o ciclo de vida familiar em diferentes números de


estágios. Como exemplo, é possível citar a análise de Durvall (1977) que separou o
ciclo de vida familiar em oito estágios, todos relacionados às idas e vindas dos
membros da família, tais como morte, casamento e nascimento. Rodgers (1960),
por sua vez, fez uma análise mais complexa, propondo um esquema de vinte e
quatro estágios. Contudo, o modelo a ser adotado neste trabalho será o descrito
como estágios do ciclo de vida familiar por Carter e McGoldrick (1995).

Carter e McGoldrick (1995) discorrem sobre a complexidade por trás do ciclo de


vida familiar, comparando-o a um espiral da evolução familiar, na medida em que
as gerações avançam no tempo, em seu desenvolvimento, do nascimento à morte.
As autoras equiparam esse processo familiar à música, "em que o significado das
notas individuais depende de seus ritmos em conjunção uns com os outros e com
as lembranças de melodias passadas e a antecipação daquelas que ainda estão por
vir" (p. 144). Conforme esse entendimento, pode-se inferir a influência da
transgeracionalidade no ciclo vital da família.

Especificamente sobre o ciclo de vida familiar: família com filhos pequenos –


estágio o qual irá restringir-se o presente estudo –, Carter e McGoldrick (1995)
expõem que são comuns brigas conjugais sobre assumir responsabilidades, bem
como sobre a recusa ou a incapacidade de comportar-se como pais de seus filhos,
problemas que podem ocorrer quando o casal não consegue fazer a mudança de
estágio. Pais que se apresentam clinicamente nesta fase, de alguma forma não
estão aceitando a fronteira geracional entre eles e seus filhos.

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