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Mons Tihamer Toth - Sê Sóbrio PDF
Mons Tihamer Toth - Sê Sóbrio PDF
S� SóBRIO!
II EDIÇAO
1958
EDITORA VOZES LIMITADA. - PETRóPOLIS, R. J.
RIO DE JANEIRO - SÃO PAULO
BELO HORIZONTE
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO.
E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO
DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PE
TRóPOLIS, FREI DESIDéRIO KALVER
KAMP, O. F. M. PETRóPOLIS, 15-V-1958.
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neste momento, creio qu.e não lhe daria palmadinhas
nas costas, mas em outro lugar! E se você receia pe
los esportistas devido ao calor, ao frio e às pneumo
nias, receio muito mais pelos fumantes. Você tosse
muitas vêzes, não é verdade? Tem a mão trêmula, o
rosto pálido. E quanto aos seus profundos pensamen
tos, penso que, em aula, o seu cérebro durante as
explicações reflete sôbre o melhor melo de conseguir
cigarros para depois do almôço. Suas notas são tão
baixas quanto os seus profundos pensamentos. Veja,
pois, Max, que você nos daria grande prazer, a nós,
seus amigos, se chegasse a se libertar dêsse hábito.
Max - "Há alguma verdade no que você diz. E
eu já tenho experimentado inutilmente consegui-lo, mas
não é fácil. Não digo que s,e alguém me convencesse
da nocividade do fumo e me sugerisse boas idéias,
não possa ainda tentar. Mas, sozinho, não é fácil; não,
não vai mesmo".
Bob - Muito bem, meu caro! Pois você vai ler
com atenção êste livro até o fim! Quando tiver termi
nado, perguntarei o que lhe pareceu.
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CAPITULO I
A MODA D E FUMAR
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Não quero impedir, à fôrça, ninguém de fumar.
Queria simplesmente, meu amigo, que lesses com aten
ção estas páginas antes de começar a fumar, ou mes
mo que desde há muito tempo te dês a tal distração.
E verás que fumando desde a juventude, por um pri
meiro cigarro, em aparência inofensivo, adquires um
hábito frívolo, do qual dificilmente poderás desem
baraçar-te mais tarde, hábito prejudicial à tua saúde,
e ainda por cima fonte de despesas. Queria sàmente
fazer-te ver que fumar é certamente nocivo, sobretudo
para um organismo jovem e incompletamente desen
volvido.
Se, apesar destas advertências permaneceres nas
fileiras dos fumantes, sej a ! Não vejo defeito moral no
fato de fumarem as pessoas adultas. Mas quero crer
que se encontrarão moços enérgicos, a quem as expli
cações desta brochura convencerão, e que terão sufi
ciente coragem para ousar levantar-se contra a opi
nião do vulgo , contra a frívola mania de fumar.
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Ora ! dirás, isso era antigamente ! Hoje em dia tôda
a gente fuma: ricos e pobres, jovens e velhos, cida
dãos e camponeses, europeus e asiáticos. A cada pas
so encontramos milhares de pessoas que fumam. Nin
guém, mesmo, agora se escandaliza vendo evolar-se
dos lábios das senhoras a odorante fumaça ! Sem
falar da curiosidade hoje trivial dos meninos que, ao
sair da escora, tiram dos seus estojos de lápis, cigar
ros cuidadosamente escondidos.
Hoje tôda a gente fuma, pensas, e acrescentas co
mo conseqüência : " Por que não fumarei eu também ?"
Hoje tôda a gente? Poder-se-ia discutir. Conheces
muita gente séria que é de outra opinião.
Mas é fato que, presentemente, fumar é moda muito
divulgada.
Isto, porém, não desmente estoutro fato de que um
jovem refletido não contrai um hábito, embora adota
do por muitos, antes de saber se lhe será útil ou pre
judicial. E se te persuadiste de que o hábito de fumar
iniciado no colégio, é prejudicial à tua saúde, ruinoso
à tua bôlsa e capaz de causar certas penosas reper
cussões no teu desenvolvimento moral, farás bem de
refletir, antes de te enfileirar, primeiro en tre os afi
cionados, e depois entre os escravos desta moda.
Moda
Fumar é moda. E' hábito. Afinal de contas, moda
vil e mau hábito. Nisso não havias ainda pensado.
Acreditavas, de certo, que fumar fôsse uma necessi
dade da existênCia, como comer e dormir, como se de
outro modo a humanidade não pudesse viver. Pois
bem, ouve-me : não é senão um hábito, um costume ;
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do mesmo modo que os estudantes usam certo tempo
colarinhos altos, depois colarinhos moles, mais tarde
colarinhos de marinheiro, etc. Um começa, e cem o
acompanham.
Vou iniciar apresentando o estouvadinho (se é que
não tiveste ainda a oportunidade de o conhecer, me
diante algumas boas baforadas às escondidas) . O
tabaco pertence, na classificação de Linné, à primeira
divisão do quinto grupo; é uma planta estiva!, de tron
co grosso e largas fôlhas, com cálice oviforme e de
estigma simples. Agora, já o conheces. O tabaco foi
encontrado pelos Espanhóis em 1 520 na ilha de Ta
bago, e em 1 560 introduzido em França por João
Nicot; por isso recebeu o nome científico de "Nico
tiana tabacum".
Antes da descoberta da América, por muitos séculos
portanto, ignorava-se o que fôsse fumar. E no entre
tanto os homens viviam e passavam muito bem, não
é verdade? A descoberta da América levou-o à Europa
civilizada. Mas haviam-no aprendido com os Indí
genas selvagens.
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Esta moda, infelizmente, como tôdas as outras, tem
grande fôrça de atração. A cada passo o jovem vê o
cigarro na bôca dos adultos. Fumar e ser homem é
para êle a mesma coisa. E como quer sobretudo pas
sar por homem aos olhos dos camaradas, põe-se na
turalmente a fumar, vendo nisso tolamente o primeiro
sinal distintivo do homem.
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menores forem nossas necessidades, tanto mais fàcil
mente caminhamos na vida.
Para as crianças, quantas ocasiões de pecar por
causa dêsse hábito ! Como lhes é prejudicial, os pais
o proíbem. O menino que fuma se torna logo deso
bediente e, interrogado a respeito, responde com uma
mentira. Fumar torna-se escola de dissimulação. De
pois, custa dinheiro. O garôto rouba os cigarros, ou
dinheiro para comprá-los. Se tem dinheiro, priva-se
de outras distrações úteis, para fumar. Desperdiça
nisso os momentos livres, enquanto os companheiros
mais avisados se recreiam ou adestram os corpos com
os exercícios físicos. O fumante não acha prazer no
esporte. E' fácil de compreendê-lo : A mão não lhe
é mais firme como antes, os olhos não são mais vivos,
seu fôlego é mais curto e menos regular. Qual a causa?
O primeiro cigarro tomado maquinalmente nos dedos.
Porque fumar é gravemente prejudicial à saúde.
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CAPITULO 11
A nicotina
Sabes muito bem que nas fôlhas do tabaco há ni
cotina. A nicotina é um veneno violento; se desses
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algumas gotas dela a um cão, êste pereceria. Os quí
micos, os botânicos e os médicos classificam êste lí
qüido incolor, a nicotina, que se acha na proporção
de até 8 % nas fôlhas do tabaco, entre os venenos
mais violentos. Uma gôta de nicotina pode matar uma
cobaia e cinco gotas um cão em alguns minutos. Os
Hotentotes se servem dela para destruir as serpentes.
Um quarto de gôta (4 miligramas) no estômago dum
homem é suficiente para causar três dias de aturdi
mentos, vertigens, vômitos, câimbras e insônia. E' o
que explica a habitual e lamentável con �eqüência do
primeiro cigarro.
Eu não sou criança, pensa o rapaz que fuma pela
primeira vez um cigarro. E' preciso começar, para
agir como homem. Já faz muito tempo que eu saí da
infância, agora tudo muda de figura. Como é bom
ser homem ! Olha como a fumaça sai de minha bôca!
Sim, por hoje chega . . . mas, que é isto ? Parece que
tudo gira em volta . . . é preciso que me assente ; meu
estômago também se revolve, tudo gira diante de meus
olhos .. . ai, ai ! creio que me vai acontecer alguma
coisa ...
Num quilo de tabaco há 20 gramas de nicotina, o
que seria suficiente para matar 200 homens. A nico
tina contida em um só cigarro, se chegasse inteira
mente no organismo, seria perfeitamente suficiente
para matar dois homens. Na realidade a maior parte
se dispersa no ar, mas pela respiração ainda boa parte
penetra nos pulmões e daí em todo o organismo.
A nicotina age de três maneiras : entrando em
contacto com a mucosa, ela irrita; depois, tendo pe
netrado no sangue, entorpece o sistema nervoso; fi-
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nalmente ataca certos órgãos, por e xemplo o coração,
os olhos e provàvelmente também algumas partes do
cérebro.
O desdobramento do tecido dos pulmões do homem
representa uma superfície de muitos metros quadrados.
�ste tecido delicado e extremamente fino é cons
tantemente atravessado pelo sangue, que se lança sô
bre tôdas as matérias gasosas absorvidas pelos pul
mões na respiração. E' assim que, juntamente com a
fumaça do tabaco, a nicotina gaseificada chega n ã o
sõmente à bôca, mas também aos pulmões (sobretudo
naqueles que respiram profundamente) , atravessa a
fina membrana pulmonar e passa para o sangue. O
sangue é por assim dizer banhado numa nuvem de
nicotina.
Nos fumantes novatos os sinais de indisposição são
muito acentuados. Mas quando se faz continuada vio
lência ao organismo , êle se habitua e em aparência
não mais se revolta. E' fato bem conhecido que o
organismo humano se pode acostumar até ao mais
violento veneno, se o toma pouco a pouco e em quan
tidades bem dosadas.
Todavia o primeiro protesto da natureza mostra per
feitamente como lhe é contrário o próprio fato de fu
mar. E' impossível habituar-se até ao ponto que fu
mar não sej a prejudicial.
Quantas vêzes não ouviste dizer que o médico proi
bira o fumo a tal ou tal pessoa importante! Quando
os esportistas se adestram para um campeonato, re
nunciam ao fumo muitas semanas antes, p ara estarem
mais em forma. Por qual motivo abster-se, se fumar
é realmente tão inofensivo como geralmente pretendem?
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O envenenamento crônico pela nicotina
Se o organismo do fumante parece, depois, não
mais protestar contra a nicotina, não se creia por
isso que o fumo não é nocivo para quem se habitua.
A ação da nicotina, mais tarde, pode não ser evi
dente, mas não é menos profunda. Verificações mé
dicas estabeleceram que nos fumantes habituais mercê
da nicotina há um envenenamento crônico de conse
qüências funestas, às quais o fumante pode subtrair
se talvez por dezenas de anos1 mas que subitamente
se manifestam às vêzes em avançada idade, aparente
mente por acaso, sem razão clara.
Milhares de homens maduros procuram os médicos,
a queixar-se do coração, do estômago, de perturba
ções nervosas ou de sensações de vertigem, de arterios
clerose, de fraqueza do nervo ótico, e todos devem
seus males ao hábito de fumar adquirido muito cedo,
ou pelo menos agravaram, por causa dêle, a predis
posição natural p ara essas moléstias. Tais sintomas
mórbidos não se notam imediatamente. Um organismo
mais forte oferece evidentemente uma resistência mais
longa, mas a aparência é enganadora. As graves doen
ças citadas acima não se manifestam senão em idade
mais a vançada, mas com tanto maior fôrça, quanto
mais cedo o paciente começou a fumar. Já sem isso o
corpo humano é exposto a bastante número de mo
léstias. Por que então diminuir ainda a nossa fôrça
de resistência por hábitos insensátos e maus?
Não te deixes enganar, pois, quando companheiros
robustos te dizem : "O' meu caro, quem disse que fu
mar é prejudicial ? Veja, há três anos fumo e não
sinto nada. Estou forte e muito bem".
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A tais palavras é preciso responder simplesmente :
"Quão mais forte seria você. se não fumasse ! Um
organismo robusto suporta por mais tempo a nicotina,
mas ela sempre o prejudica. Não se pode dizer que
um balão nada pesa, só porque voga nos ares. Não,
se êle nada pesasse, iria ainda mais alto. Espere um
pouco, espere, talvez o futuro lhe reserve, a você tam
bém, desagradáveis surprêsas". E' falo indiscutível que
o fumo a ninguém é útil, mas é prejudicial a muitos.
Por que dever,ei habituar-me a êle?
Os fumantes de cigarros
Comumente, os que mais se prejudicam são os fu
mantes de cigarros. Primeiramente porque fumam mui
to mais cigarros do que fumariam cachimbos ou cha
rutos. Depois , porque o tabaco do cigarro é muitas
vêzes condimentado com ópio (o ópio só por si, já
é um veneno muito violento) , para não falar das de
vastações causadas nas mucosas pelo papel dos cigar
ros, o que prepara terreno para diversas moléstias
da garganta e laringe. Já ouviste dizer também que o
tabaco vicia a saliva, o que força os fumantes a escar
rar (espetáculo edificante !) ; privam-se assim da sa
liva indispensável, sem contar ainda que o costume
de escarrar revela falta de educação. Era êsse o pen
samento do grande sábio Alexandre de Humboldt,
quando escrevia : "Duas plantas muito importantes nos
vieram da América, uma para benefício, outra para
detrimento nosso. A primeira é a batata; a segunda,
o tabaco".
Sê Sóbrio- 2 17
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O óxido de carbono
E' necessário ainda tomar em consideração o óxido
de carbono, que se encontra numa proporção de 5 a
1 0 % na fumaça do tftbaco. Bem sabes que é perigoso
passar a ferro com carvão, em local fechado. Quem
o faz, sente logo pesar-lhe a cabeça, depois zumbirem
os ouvidos, e se ainda continua muito tempo, perde
os sentidos e finalmente morre asfixiado. O óxido de
carbono é a causa de tudo. Ora, o fumante nutre abun
dantemente, com êle, os pulmões. E' verdade que afi
nal o organismo se habitua; mas para vencer tal en
venenamento a pequenas doses renovadas cada dia,
é preciso sem cessar um novo esfôrço ; êste esfôrço
o organismo do não fumante pode fazer com maior
utilidade para vencer outras doenças. Por essa razão,
quem não fuma vence mais fàcilmente a enfermidade,
que o fumante.
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da tuberculose. A maior parte dos jovens que mor
rem disso são fumantes. Não conheces alguns dos
teus camaradas que fumam, cujos rostos pálidos -
olha-os bem - a tuberculose já não tenha assinalado
com a sua vermelhidão enganadora?
Vê infelizes moços dos cafés! Por que há tantos
dêles que morrem de tuberculose, relativamente jo
vens ? E' porque passam a maior parte da sua vida
no meio da fumaça do tabaco.
O efeito nocivo da fumaça do tabaco é ainda maior,
num local fechado. Experiências i nteressantes de
monstraram que uma planta se retarda no seu desen
volvimento, quando se misturam na atmosfera am
biente algumas baforadas de tabaco. Ora, não só as
plantas necessitam de ar puro, mais ainda precisa o
homem. O ar puro é o primeiro fortificante da saúde
humana. Uma outra geração, de idéias mais sãs, po
derá talvez sorrir à nossa custa, e não compreenderá
que tenha existido um tempo em que os homens se
sentiam a gôsto nos bares ou sala de café enfumaça
das, sem nenhum desejo do ar puro e fresco. Nós sen
timos tanto melhor saúde, quanto mais puro fôr o ar
que respiramos, e � com muito maior entusiasmo e
alegria que começamos o nosso trabalho.
Coisa que jamais pude compreender é que haja mo
ços que fumam nas excursões, em lugar de encher os
pulmões de ar puro e vivificante. Que cínico atrevi
mento na atitude de quem, no cume dum penhasco
maravilhoso, à sombra fresca de uma floresta, num
prado embalsamado de flôres, aspira nos pulmões, ao
invés dum ar magnificamente puro, a fumaça do seu
miserável mata-ratos ! Quem fuma, quando passeia,
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quando se banha, quando joga, quando patina, é ver
dadeiramente o carrasco da sua saúde. Os pulmões tra
balham com maior intensidade, desejariam respirar em
abundância o ar fresco, mas o impiedoso rapaz lhes
dá veneno em lugar da vida.
Experiências científicas
O Dr. Seaver. professor na Universidade de Yale
nos Estados Unidos, consagrou três anos e meio a
pesquisas muito curiosas, entre alguns milhares de
estudantes, com a finalidade de estabelecer até que
ponto o hábito de fumar traz prejuízo ao organismo
juvenil. Dividiu os estudantes em três grupos : os não
fumantes, os fumantes ocasionais, os fumantes habi
tuais. Procedeu a medidas para estabelecer o desen
volvimento do pêso, do talhe, da caixa torácica e da
capacidade dos pulmões. O resultado dessas precio
sas observações é o seguinte : o aumento do pêso dos
fumantes ocasionais, em três anos e meio não atingia
senão 94% do pêso dos não fumantes, ao passo que
o dos fumantes habituais não era senão de 90,6 % .
Para o talhe, a proporção era esta : 100% o s não
fumantes, 9 1 , 1 % os fumantes ocasionais, 80,6% os
fumantes habituais. Para a circunferência do peito :
os não fumantes 1 00 % . os fumantes ocasionais 82,6 % ,
o s fumantes por hábito 78,8% . Para a capacidade dos
pulmões : 100% os não fumantes, 72% os fumantes de
ocasião, 56,5% os fumantes habituais. Aí vai o qua
dro dessas observações. Estou persuadido que êle ti
rará a muitos jovens a vontade de fumar :
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{
Efeito do tabaco sôbre o organismo :
não fumantes 1 00
Pêso fumantes ocas. 94
{
fumantes hab. 90,6
não fumantes 1 00
Talhe fumantes ocas. 9 1 , 1
{
fumantes hab. 80,6
não fumantes 1 00
Peito fumantes ocas. 82,6
fumantes hab. 78,8
r não fumantes 1 00
Pulmões � fumantes ocas. 72,6
L fumantes h ab. 56,5
.
(Quadro traçado pelo professor Seaver da U ni
versidade de Vale, depois de mais de três anos e meio
de observações, em milhares de estudantes, sôbre os
efeitos do uso do tabaco) .
�ste quadro fala muito claramente por s i mesmo.
Ilustra nitidamente o fato bem conhecido de que os
fumantes, nos Jogos, exercícios físicos, marchas, fi
cam sempre atrás dos não fumantes. Faz compreen
der também po r que, segundo testemunham os mé
dicos militares, em certas regiões, um têrço dos que
se apresentaram no comêço da Grande Guerra, como
voluntários, deveram ser rejeitados, visto que, por ha
verem fumado muito, tinham arruinado a saúde, a
ponto de não estarem em condições de suportar as
fadigas da guerra. Poder-se-iam formar legiões intei-
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ras dêsses moços , tornados assim fisicamente ineptos
e prejudicados.
Acrescentemos igualmente que a patxao do fumo
está habitualmente ligada à de beber licores fortes,
e favorece também o vício tão danoso do alcoolismo.
Nos departamentos da França onde mais se fuma, o
alcoolismo é mais difundido, assim como também o
número dos criminosos e dos loucos.
A proibição legal
E' pelo fato de representar para a juventude gra
ves perigos o hábito de fumar, ainda que se não ma
nifestem senão depois de dezenas de anos, que mui
tos Estados p roibiram, no interêsse das suas popu
lações, o uso do fumo à juventude. E fizeram muito
bem !
Na América do Norte, em 7 estados, é vedado o
uso e a venda do tabaco, aos moços menores de 21
anos ; em 1 7 outros , a proibição vai até aos 16 anos.
Os rapazes surpreendidos a fumar são punidos, bem
como os que lhes venderam o tabaco. No Japão, antes
dos 20 anos não se tem o direito de fumar. Leis do
mesmo gênero existem na Inglaterra, na Noruega,
Dinamarca e Suíça. Na Austrália, são castigados os
jovens fumantes, assim corno os que dão tabaco às
crianças. No Canadá, o comerciante que vendeu ta
baco a um rapaz é punido com um mês de prisão.
Ouve agora o que diz do hábito de fumar o fun
dador do movimento escoteiro, o general Baden
Powel :
"Um escoteiro não fuma. Qualquer um pode fumar,
isso não é pecado, mas um escoteiro não fuma por-
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que não é um imbecil. Sabe que aquêle que fuma,
antes de ser homem, enfraquece cada vez mais o co
ração ; ·e o coração é o órgão essencial, que faz cir
cular o sangue por tôda a parte, para transformá
lo em carne, ossos e músculos. Se o coração se torna
incapaz de realizar êste trabalho, o corpo não pode
desenvolver-se. Todo escoteiro sabe que o fumar di
minui a acuidade da visão e do olfato, qualidades
ambas preciosas para o serviç o militar.
Na minha juventude eu também fumei ; mas, quando
chegou a época do exercício de tiro, notei que meus
olhos eram muito mais vivos no tempo em que não
fumava. Renunciei, pois, ao fumo, e hoje me felicito
por isso.
Na América do Norte não se aceitam fumantes para
o serviço das ferrovias e do correio ; muitos patrões
agem do mesmo modo na Inglaterra. No Japão nin
guém tem o direito de fumar antes dos vinte anos ;
se alguém desobedece, seus pais são considerados
responsáveis e punidos.
Nunca um rapaz começa a fumar pelo gôsto do ta
baco, mas sempre porque tem mêdo de ser objeto das
zombarias dos companheiros, ou então porque lhe
parece que fumando se torna igual a qualquer ilustre
personagem, enquanto na realidade apenas se iguala
a um asno" (Baden-Powel "A scouting for boys").
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fumaçam as salas, ainda que isso não seja lâ muito
do agrado dos donos, enchem tudo de cinza, atiram
palitos de fósforos e espalham por tôda a parte pon
tas de cigarros : deixam sempre atrás de si muito tra
balho. Queimam as próprias roupas ou as toalhas.
Não falemos das viagens em estrada de ferro. Se dei
xares cair teu bilhete, não podes mais erguê-lo, p ois
o assoalho está coberto de cusparadas ; um bastão
era capaz de ficar suspenso no ar, tão espêssa a quan
tidade de fumaça ! E pessoas sensatas e racionais são
condenadas a esta atmosfera durante muitas horas !
- Quanto a mim, não acho graça nenhuma nisso.
E você?
- Nem eu tampouco.
- Portanto, não vâ aumentar o número dos fu-
mantes !
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CAPITULO III
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E se o tabaco não fôsse cultivado, que superfície
poderia ser usada para produtos úteis! Só na Ale
m anha 1 7.000 hectares são plantados com tabaco. No
mesmo lugar poder-se-ia produzir 30 milhões de quilos
de trig o ou 200 milhões de quilos de batatas. Em todos
os campos de tabaco da terra tôda, poder-se-iam re
colher doze milhões e quinhentos mil hectolitros de
trigo.
Não percamos de vista o trabalho malsão a que se
devem dar os trabalhadores e sobretudo as trabalhado
ras, numa atmosfera envenenada de nicotina, para
conseguir o prazer para os fumantes. De todos os ope
rários os que vivem menos tempo são os empregados
nas manufaturas de tabaco. Certamente, devemos ad
mit ir que a indústria moderna possui outros ramos pre
judiciais à saúde, mas êstes produzem artigos neces
sários à vida. Mas não é admissível que por causa
dum costume inútil, uma só vida humana sej a abrevia
da, nem que seja de uma hora apenas.
Indiretamente, fumar pode causar grandes danos no
terreno econômico e moral. Quantas vêzes fósforos
imprudentemente atirados por meninos que fumavam
incendiaram florestas ou residências ! Quantas vêzes
reservatórios de essência explodiram por causa duma
ponta de cigarro atirada por negligência. Quantos ra
pazes não começaram por roubar da cigarreira do pa
pai, depois graças a essa triste experiência vieram a
cometer maiores furtos! Quantas meias-horas e quar
tos de hora são roubados por operários que querem
satisfazer a sua paixão ! Durante a Grande Guerra, na
frente de batalha, um incêndio, ocasionado pela com
bustão lenta dum resto de cigarro, causou milhões de
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francos de prejuízos. E quantos não pagaram com os
seus ferimentos e muitas vêzes com a própria vida a
sua fraqueza de vontade, por não terem podido, ape
sar da severa proibição, resistir à sua velha paixão !
Ah ! Como esta proibição pesava ao fumante ! �I e que
ria fumar, a chama do fósforo o traía e quase ao
mesmo tempo recebia uma bala inimiga.
Como vês, fumar tem muitos inconvenientes e ne
nhuma vantagem.
Nenhuma sequer? Os fumantes, no entanto, dizem
que nisso encontram bons proveitos.
Vamos, pois, examinar êsses elogios um pouco mais
de perto !
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CAPITULO IV
O FUMANTE E O TRABALHO
Os fumantes são inesgotáveis em elogios à sua
paixão.
- Como fumar facilita o trabalho intelectual !
Quando não tenho idéias� acendo o meu cigarro, e
imediatamente elas acodem tão boas!
- Quando tenho muitas idéias desordenadas na
cabeça, acendo o meu cigarro e imediatamente tudo
entra em ordem.
- Quando o cérebro está demasiado fatigado para
o trabalho, acendo um cigarro, e imediatamente me
vejo, ágil e bem disposto.
- Se os meus nervos estão superexcitados, acendo
o meu cigarro e imediatamente vem a calma.
- Depois de uma boa refeição, acendo um cigarro
para melhor digeri-la. Se tenho fome , acendo um ci
garro para não senti-la. E' realmente uma planta mi
raculosa. Se eu quiser que seja branca, é branca; se
eu quiser que seja preta, é preta.
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é senão perigosa ilusão. Pois que quer dizer isto que
eu tenha fome ou que meus nervos estejam supe
rexcitados?
Por que a fome é uma dor, e a fadiga, uma tortura?
A fome e a fadiga são resultados duma sábia dis
posição do organismo, que nos adverte faltar-nos o
alimento ou que o trabalho exigiu demais dos nossos
nervos ; que nos será útil tomarmos alimento ou re
pouso. O fumante não faz isso, êle adormece os seus
nervos, fá-los calar, em lugar de dar fôrças. Exata
mente como se uma mãe desse ao seu filhinho que
chora de fome um pequeno pedaço de pão molhado
em aguardente e verificasse com alegria que a fome
fôra apaziguada. Certamente a criança não chora
mais, mas a sua saúde pagará caro mais tarde. Quem
amaina a sua fome ou os seus nervos não se ali
mentando e repousando, mas fumando, age como um
maquinista agastado pelo silvo contínuo e admoesta
dor da válvula de segurança e que, em lugar de re
duzir a pressão do vapor, põe grandes pesos sôbre a
válvula, para impedi-Ia de vibrar. A válvula silencia
rá, mas logo a caldeira virá a explodir. Assim a n i
cotina tem, a princípio, um efeito calmante sôbre os
nervos, mas logo se manifesta o envenenamento lento
com as numerosas conseqüências que aprendemos
acima.
A ação que se diz "calmante" exercida pela nico
tina não é senão entorpecente. Dissipado o torpor, os
nervos ficam ainda mais excitados e para "acalmá
los" de novo, é p reciso maior quantidade de tabaco
do que antes. Assim se explica a autoridade tirânica
exercida pela n icotina sôbre os que têm o hábito de
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fumar. Tal organismo não pede, mas exige o tabaco,
pois não se sente à vontade senão quando os nervos
são constantemente "acalmados". Por isso é difícil
desabituar-se de fumar, desde que se tenha começado.
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perpetuamente entediados, passam um têrço da vida
a dormir, outro a comer, a beber e em outras coisas
necessárias ou supérfluas, e não sabem o que fazer
do último, se bem que não cessem de repetir : vita
brevis (a vida é breve) . Para preguiçosos como os
Turcos, o cachimbo e a beata contemplação das nu
vens de fumaça, constituem uma ocupação intelectual
que os ajuda a vencer a monotonia das horas . . . O
primeiro efeito se fará sentir na insipidez, na aridez e
pobreza da literatura, de que os interessados serão
os primeiros a se espantar. Além disso quanto custa
esta loucura? O uso do tabaco faz perder à Alemanha
atualmente 25 milhões, mas atingirá fàcilmente 60 mi
lhões. (Se Goethe soubesse que a Alemanha, já antes
da Grande Guerra, dispendia mais de mil milhões !)
E os esfomeados não são socorridos e para os que
estão nus não há vestimenta. Quanto bem poder-se-ia
fazer com todo êste dinheiro ! "
Atende bem a essas graves palavras, não sejas "pre
guiçoso como um Turco", mas sê um homem !
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CAPITULO V
SEJA UM HOMEM
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gando a casa, atira a mala de escola a um .canto, estira
se num confortável sofá e acende o seu excelente ha
vana. Assim como não é possível Nick Carter sem ha
vana, pensa êle, assim também não é possível ver
dadeiro môço sem o seu cigarro. Contudo, felizmente
para o rapaz que solta nos olhos dos transeuntes ba
foradas insolentes, êle não é Iedor de pensamentos.
Se o fôsse, poderia, seja ao levar à bôca com gesto
elegante o seu cigarro, seja enchendo sombranceiro
o peito com a imaginária admiração de metade da
rua pelo seu ar de homem, poderia ler na cabeça das
pessoas sensatas coisas como essas : "Vejam só aquêle
garnizé ! Mal deixou a mamadeira ! Que moleque ! "
Fumando, o s rapazes não s e impõem senão a s i
mesmos.
A verdadeira virilidade
Não, na minha opinião, a verdadeira virilidade se ma
nifesta de maneira diferente : pela coragem, pela von
tade e perseverança. Se tais qualidades fôssem neces
sárias para fumar, então admitiria que fumar dá cará
ter viril.
Mas serão necessárias?
E' preciso coragem? Que é preciso para a primeira
experiência? Que é preciso para o primeiro cigarro?
Ora, um cigarro, um fósforo e uma bacia (você sa
be por quê !). E nada mais. Se a mão treme um pouco
na primeira vez, no terceiro, no quarto cigarro, tudo
se passará muito bem. Em suma, não há nada de
complicado em aspirar, depois soprar, aspirar, soprar
e assim por diante. Que o môço se lembre como era
Sê Sóbrio - 3 33
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feliz, ainda não faz muito tempo1 de ter o dia todo
na bôca alguma coisa que podia chupar à vontade . . .
o bico da sua mamadeira.
- Eu não tive necessidade de bacia, dirás, por
ocasião do meu primeiro cigarro fumado às escondi
das. Não me fêz nenhum mal.
- Não te fêz nenhum mal ? Talvez não o fizesse
a teu estômago. Mas, e ao teu caráter? "Que mal me
fêz o meu primeiro cigarro? respondeu alguém; o
de me fazer perder a minha franqueza, a minha leal
dade e a honestidade da consciência".
Suponho que, como perda, isto é suficiente.
Depois da leitura dêste l ivro, tomarás talvez esta
resolução : Não, não começarei a fumar. Ou então :
se eu fumo, vou deixar êsse hábito.
Muito bem ! mas eis que vêm as tentações. Os ami
gos, as companhias, os exemplos, assediam as tuas
firmes resoluções ; agora é que é preciso mostrar que
és livre e independente, que ages de acôrdo com a tua
convicção e não com os caprichos tirânicos da moda
ou dos companheiros sem coragem nem experiência.
Se permaneces i nabalável, êles zombarão, mas no ín
timo não poderão recusar-te a homenagem involuntá
ria à tua atitude : é verdadeiramente um rapaz inde
pendente, um caráter de têmpera, que tem idéias
próprias. Eis a verdadeira virilidade . . . e não o há
bito de fumar.
Imagino a cena mais ou menos assim. Quando te
encontras com os teus camaradas e um dêles te mur
mura às orelhas : "Bob, tenho uns cigarros maravi
lhosos. Não vêm da cigarreira de papai, onde, em
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comparação dêstes, tudo são fôlhas sêcas. Isto é for
midável. Tome Já um", lhe respondes : "Obrigado, eu
não fumo mais". Então todos explodirão em risos e
dar-te-ão os nomes mais variados : Hipócrita!, Bebê
zinho ! Um pouco de leite para o bebêzinho; e outras
coisas assim. Replicas : "Meus amigos, deixem de ser
tolos ! eu disse que não fumaria mais". Isto, isto sim,
é coragem/
E se recomeçam no dia seguinte: Mentiroso ! Hi
pócrita ! Covarde ! E se deves sustentar o fogo repetido
da zombaria e da tentação e permaneces apesar de
tudo fiel à tua resolução, então, tens energia, abne
gação e perseverança. Eis o sinal da verdadeira vi
rilidade! Eis a coragem diante da qual eu me inclino
com admiração!
Vontade forte
Não somente é um sinal de virilidade essa atitude,
mais ainda, é a sua mais segura garantia. Com efeito,
cada vez que te privas dum pequeno prazer, duma
distração qualquer, embora permitida, realizas, para o
aperfeiçoamento dum caráter verdadeiramente viril , um
trabalho dez vêzes maior que o da barra fixa, os anéis
ou as paralelas para o teu desenvolvimento físico.
Quem sabe dominar seus pequenos desejos saberá
senhorear as tentações e seduções que encontrar mais
tarde na vida, no seio da família e no exercício da
profissão.
Pôr-se em face das dificuldades da existência e
vencê-las, eis a escola da formação do caráter e do
desenvolvimento da fôrça de vontade. Quem tem mêdo
diante da menor prova, do menor contratempo, quem
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foge diante do sacrifício não poderá jamais ostentar
um caráter viril. Tornar-se-á um atleta quem nunca
l ança senão bolas ôcas? E' neste ponto de vista de
largo alcance que te desejo dar êste conselho: Não
te imponhas um pêso tão i nútil como o de fumar.
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dando-lhe, caso ainda restasse, um pouco de tabaco,
pois êle não podia manter-se mais tempo sem cigarros.
Verifiquei então o poder tirânico do pequeno 'Cigarro
que aquêle rude soldado, com a sua barba terrível e
os seus olhos de fogo atirava no chão. Quantos mi
lhares de bravos foram vencidos pelo tabaco, quando,
na primeira linha ou de sentinela, acenderam, apesar
da severa proibição, um cigarro, e pelo clarão do fós
foro revelaram a sua posição ao inimigo que esprei
tava! Quantos pagaram com a vida a sua paixão de
fumar!
O môço, que não é capaz de refrear o seu desejo
de fumar, cederá também fàcilmente diante de outros
impulsos talvez mais culposos, em circunstâncias que
podem ter graves conseqüências. Tolstoi, o grande
escritor russo, fazia do uso do tabaco e do álcool esta
opinião: "Quando começam os rapazes a fumar? Qua
se sempre quando perderam a sua candura infantil".
A Grande Guerra devorou a melhor parte da nação
húngara. Vós, ó jovens, sêde portanto o tesouro, o
futuro e a esperança da Pátria! jamais a nossa pá
tria teve tanta necessidade, como presentemente, de
uma juventude de vontade férrea e de caráter de boa
têmpera. Servi desde já a vossa pátria, no sentido mais
nobre do têrmo, resistindo aos prazeres que se vos
apresentam debaixo de mil formas e que vos viriam
enfraquecer a saúde e entibiar a vontade. Escrevi êste
opúsculo, não por que fumar seja um pecado mortal,
mas sim porque quem renuncia voluntàriamente ao
fumar prova, clara e indiscutivelmente, a sua fôrça
de vontade. No final das contas , o costume de fu
mar nos moços é um atentado contra a pátria; a luta
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contra esta pa1xao nos jovens, precisamente porque
fortifica a vontade, é um sinal de patriotismo. D á
exemplo disso o célebre general Mackensen, o qual
não só não fuma, como deu adesão pública à "Liga
Contra o Abuso do Tabaco".
Eis por que eu também aconselho aos moços não
fumar, pois isso seria para êles sinal dum caráter
fraco, duma vontade débil e impotente. Tal hábito pa
ra os rapazes (e com maior razão para as môças)
não é afinal senão manifestação do desejo insensato
do prazer, peculiar ao nosso século. Ao contrário, a abs
tinência voluntária do tabaco e do álcool é preciosa
disciplina da vontade e defesa contra o debilitamento
do caráter. O môço, que sabe dizer um "não" resoluto
à tentação do copo e do cigarro , suplantará muito
maiores tentações morais e com maior galhardia do
que o seu companheiro que cede imediatamente à voz
do prazer e à moda.
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de repreensível. Mas é fato que sôbre cem fumantes
adultos, caso lhes perguntem se estão satisfeitos com
êsse hábito, setenta ou oitenta darão esta resposta :
Sim . . . um bom cigarro depois do jantar é bem agra
dável, mas sinto que me seria melhor não fumar; não
sei o que daria para não ter contraído o hábito na
minha mocidade . . . Agora, é tarde . . . Meu organismo
já não pode passar sem isso.
Toma, pois, de coração, meu amigo, êstes conselhos :
Se não fumas, tanto melhor, não comec·es!
Se já adquiriste êsse hábito, procura desembaraçar
te dêle. Não para sempre, mas somente por um mês.
Se tens muito desejo de fumar, come uma fruta ou
qualquer outra coisa. A abstenção não te será penosa
senão nos primeiros dias ; mas se resistes, sentirás
quanto a cabeça ficará mais lúcida, como estarás fí
sica e moralmente mais disposto. Então tomarás uma
nova resolução : Agora eu quero resistir por um ano.
E passado felizmente o ano : Enquanto estudante não
fumarei. Mais tarde , quando fôr um homem, com os
meus diplomas no bôlso e ganhando a minha vida,
então começarei.
Qual será o resultado final ?
Eis o que acontecerá : feito homem, §anhando a
vida ao preço de duro labor, não tomarás assim fà
cilmente o hábito do fumo ; mais ainda, estou seguro
de que não te virá sequer a idéia de te pôres a fumar.
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ALCOOL?
INTROD UÇÃO
O Pagão Ciro
Quando apenas contava doze anos, Ciro, ilustre
monarca persa, veio à côrte do avô Astíages, rei dos
Medos. Depois de certo tempo notou o rei que o me
nino não permitia que lhe enchessem a taça de vinho.
Perguntou-lhe por que não bebia.
E êle deu esta resposta : Tenho mêdo qu·e o vinho
.. esteja envenenado, pois ultimamente, quando festeja
vas o teu aniversário com os amigos, notei que o es
cravo deitava veneno nos vossos copos.
Ora, menino, quem pôde fazer-te crer tal absur
do? perguntou Astíages.
Eu mesmo o vi, respondeu Ciro; todos os que be
beram ficaram como que paralisados de corpo e espí
rito, e depois vós vos pusestes a gritar uns para os
outros, o que a nós crianças é proibido, de tal modo
que já ninguém se entendia. Em seguida, •orneçastes
a cantar urnas frivolidades, acreditando ser um magní
fico trecho de música. Finalmente, quando quisestes
vos levantar para dançar, nem sequer pudestes vos
manter de pé. Nem sequer sabíeis quem éreis. Tu não
sabias mais que eras o rei e êles n ão sabiam que eram
os vassalos.
Esta ·cena havia aberto os olhos do j ovem Ciro
e lhe havia tirado todo o desejo de beber vinho.
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Meu caro amigo ! Esta brochura não tem outra
finalidade senão a de chamar tua atenção para a ques
tão do alcoolismo, para que, ao menos na juventude,
adotes em relação aos lkores espirituosos a mesma
linha de conduta que Ciro adotou! não permitas que
deitem uma gôta sequer no teu copo !
São de um livro de três mil anos de antiguidade
as linhas que citarei: "Por que os ais ! por que os oxa
lá ! por que as disputas e por que as lamentações? por
que os ferimentos sem motivo e por que os olhos ver
melhos de chorar? Por causa dos que gostam de beber,
e de saborear o vinho perfumado. Não olhes o vinho
vermelho que brilha no copo; desliza docemente, mas
acaba por morder como uma serpent·e. Tu te crês
adormecido no meio do mar, adormecido na ponta de
um mastro de navio. (Livro dos Provérbios, XXIII,
29-34) .
Possa êste opúscíllo persuadir à juventude bra
sileira que fuja de tôda bebida alcoólica ! E se, che
gada à idade madura, ·ela conservar tão belo hábito,
por esta demonstração de domínio de si mesma, con
tribuirá para a sua própria felicidade e para a felici
dade da Pátria.
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CAPITULO I
O ALCOOL E A SAúDE
Se excetuarmos uma pequena minoria, a mocida
de brasileira não conhece o alcoolismo e não freqüen
ta os cabarés. Poderia, portanto, ·alguém dizer que os
conselhos dêste livro não têm razão de ser.
Demos graças a Deus porque isso, ao menos em
parte, é verdade. Sei também que entre os alunos dos
nossos colégios êste flagelo não exerce suas devas
tações.
Todavia, se apresento estas reflexões acêrca das
bebidas alcoóJi.cas, é para que te saibas comportar em
certas circunstâncias tais como reuniões de estudan
tes, festas, aniversários, banquetes, etc; para que, ao
sair do Ginásio, estejas munido de conhecimentos e
resoluções necessárias na passagem à Universidade
ou para ingressar na vida, onde os perigos do
alcoolismo mais te ameaçarão. Quantos moços que
justificavam as mais belas esperanças viram o futuro
brilhante arruinado pelo álcool, do qual se tinham absti
do no colégio, mas a cujas cadeias não souberam esca
par no meio de uma vida trepidante e laboriosa, ou
durante os anos de estudos universitários. Tive um
condiscípulo, aluno brilhante no colégio, mas que se
pôs a beber durante os estudos superiores, e agora,
no momento em que escrevo estas linhas, está na pri-
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são por trapaças e roubo. Foi o álcool que o atirou
na cadeia.
Não sou dos que oiham o álcool como invenção
diabólica. Se um homem usa dêle moderadamente, não
vejo nisso nenhum defeito moral. Desejaria, contudo,
convencer-te por êste livro, que, para um organismo
ainda incompletamente desenv.olvido (p'ortanto duran
te os anos de colégio e também de Univ·ersidade), as
bebidas alcoólicas são prejudiciais e que ouvirias a voz
de tua razão se deixasses inteiramente as bebidas espi
ritu·osas. E se perseverares nesta abstenção, chegado
à i dade viril, tua saúde cada vez ficará melhor. E'
verdade que muitos sustentam que o uso moderado do
álcool não é .p rejudicial a um organismo completamen
te desenvolvido, sendo nocivo tão somente o abuso
sem freio nem limite. Mas outros, em maior número,
põem-nos em guarda ainda contra o álcool tomado
com moderação. Afinal de contas, há uma coisa ·certa :
é que a abstinência total preserva mais seguramente
do perigo de se transbordar do gôzo moderado para
tombar no abismo do vício.
A mais d·anosa de tôdas as bebidas, a aguardente,
foi chamada por um povo selvagem "água de fogo" .
Tal denominação pode aplicar-se a tôdas as bebidas
alcoólicas ( vinho, cerveJa, rum, conhaque, licor) pois
tôdas, em grau mais ou menos forte, contêm o veneno,
verdadeiro flagelo para a humanidade contemporânea
e a mais terrível das epidemias : o álcool.
As devastações do ãlcool
Como o álcool é assim danoso?
Pela ação destrutiv·a que exerce no organismo hu
mano. Não há no corpo humano um só órgão que não
seja atacado pelo álcool.
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Em primeiro lugar, os nervos e o cérebro, as par
tes mais delicadas do organismo, sofrem o efeito des
truidor do ál·cool. O conhecimento tem a sua sede no
cérebro, o órgão do trabalho intelectual no homem.
Logo que o álcool, ainda em quantidade mínima, age
sôbre o cérebro, o poder de contrôle dêste diminui; o
homem se torna, portanto, mais loquaz, mais animado.
Não, porém, porque pense mais, ao contrário, porque
já não pode mais se controlar, bravateia a respeito de
tudo, a torto e a direito.
Depois de muitas experiências, descobriu-se que
não somente o envenenamento visível pelo álcool, a
embriaguez, tem efeito nocivo sôbre o organ ismo, co
mo também o uso moderado do álcool. Hoje, depois
dessas experiências, a ciência conhece perfeitamente a
natureza do envenenamento pelo álcool.
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do, se compõe de milhares de células que executam
por grupos tôda a espécie de trabalhos. Milhares de
protoplasmas trabalham <:ontinuamente nas <:élulas pa
ra realizar tôdas as funções que são designadas pelo
nome de vida do corpo humano. Se nas células há al
guma coisa transtornada, todo o organismo humano
se ressente.
Desde que o álcool penetre no corpo, êste o rga
nismo infinitamente delicado, os milhares de protoplas
mas se contraem e detêm o seu trabalho : a digestão
é paralisada, a atividade do coração se reduz, mas par
ticularmente o cérebro, cujos nervos são muito sen
síveis, é atacado.
Quanto mais álcool houver penetrado no organis
mo, tanto mais manifestas serão as perturbações. Quan
do penetra pouco, só as células mais delicadas são atin
gidas, porque são as mais acessíveis; se penetra muito,
também os outros órgãos são atacados. O álcool assi
mila com avidez o oxigênio dos glóbulos sanguíneos
e em lugar do oxigênio vivificante lhes dá o óxido de
carbono. Os pulmões desejariam eliminar êste óxido
prejudicial, mas quanto mais álcool houver no o rganis
mo, tanto mais lhe é difkil realizar a depuração. As
gastrites, as enterites, a arteriosclerose, os reuma
tismos, o diabet·es, a paralisia, são as perigosas con
seqüências do álcool.
Um camarada incômodo
Imagina o corpo como uma imensa oficina, onde,
em milhares e milhares de salas, trabalha-se na fabri
cação de um imenso tecido. De repente, um louco se
precipita na fábrica e põe tudo em desordem. Entra
em cada uma das salas, enleia os fios, inutiliza as má
quinas, em uma palavra, introduz em tôda parte uma
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grande perturbação. Finalmente ,conseguem deitá-lo
fora, mas no dia seguinte e no outro e depois ainda,
êle volta. Dia a dia o indivíduo se mostra mais isolente
e mais ardiloso. Conseguir-se-á uma bela peça de te
cido, por certo ! Muito bem ! meu <:aro amigo, pensa
que :nessa fábrica se tece a tua própria vida e a vida
dos teus descendentes/
Terrivel tirano
Explica-se assim fàcilmente o poder tirânico exer
cido pelo álcool sôbre os que se tornam s·eus escravos.
Como todo o narcótico ( nicotina, ópio) , o álcool, dis
sipado o entorpecimento, deixa os nervos em estado
de fraqueza e indisposição. Para reencontrar fôrça e
e bem-estar, os nervos reclamam de novo o mesmo nar
cótico. Mas quanto mais o seu desejo fôr satisfeito,
tanto mais se mostra violento e imperioso ; e quando fi
nalmente, a infortunada vítima do álcool pode ver até
onde leva a sua paixão, já é incapaz, ainda à custa
de muitos esforços, de se desembaraçar dêle. Compre
ende-me bem : é incapaz. E' incapaz de viver sem o
álcool. E' incapaz de viver com sobriedade. O mes
mo se dá quando se abre uma porta com uma cha
ve falsa; a fechadura se desarranja de tal sorte que
'
a chave boa não serve mais.
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Crês agora, meu amigo, que convém travar conhe
cimento com inimigo tão perigoso como o álcool ? Não
digo fazer amizade, pois sei que não queres tornar-te
um beberrão habitual ; mas só algumas vêzes, por
ocasião de um banquete, de um aniversário, de uma
excursão, quando talvez tenhas desejo de p rová-lo,
valerá à pena vizinhar o abismo, e te expores ao pe
rigo de tombar e resvalar na embriaguez?
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Alcoolismo e Doença
Em cem pessoas são doentes :
Doenças
Sê Sóbrio - 4 49
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O álcool arruína profundamente a fôrça de resis
tência do organismo, e assim predispõe o alcoólatra
a tôdas as moléstias; torna, de outro lado, mais difícil
a cura. Antigamente acreditavam que nas ocasiões de
epidemias, -como a cólera-morbo, era preciso beber mui
to vinho. Hoje, porém, sabe-se que o álcool paralisa
o trabalho dos glóbulos brancos do sangue, os quais
precisamente têm a missão de matar os badlos.
Qualquer médico pode testemunhar que um be
bedor habitual de l icores alcoólicos é mais fàcilmente
atacado dos brônquios, apanha mais fàdlmente uma
pneumonia, resiste mais fracamente ao tifo e à cólera,
suporta mais dificilmente uma operação, em uma pa
lavra : tem menor fôrça de resistência contra as doen
ças do que o abstêmio.
Notou-se perfeitamente na guerra russo-turca
( 1 877-1 878) , que os soldados russos que bebiam vodka
sucumbiam às suas feridas, enquanto que os turcos,
aos quais a religião proibia severamente o uso das
bebidas alcoólkas, reerguiam-se ainda de ferimentos
graves.
O alcoolismo faz diminuir em tôda a parte o núme
ro dos moços aptos para o s·erviço militar, o que é
sinal evidente da ação d � truidora do álcool. Pelo
contrário, o exemplo da S � cia demonstra que a luta
contra as bebidas espirituosas produz um rej uvenesci
mento do povo ; o recrutamento dos anos de 1 84 1 a
1 850 indicava uma proporção de 34,64% de inaptos ;
graças ao movimento anti-alcoólico, a proporção em
189Q decresceu para 24,4% ; quer diz·er que a saúde
do povo tinha melhorado outro tanto.
A mortalidade entre os alcoólatras também é mui
to mais elevada do que entre os abstinentes. As com
panhias inglêsas de seguros de vida, emprêsas comer-
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ciais que calculam baseadas em fatos, pedem aos absti
nentes cauções menores, pois está provado pela expe
riência que êles vivem mais tempo.
"
Chegou-se até a demonstrar por estatísticas que
os bebedores ficam doentes com maior fadlidade, por
mais tempo, e morrem mais depressa do que os que
não bebem.
O quadro seguinte foi traçado consoante às in
dicações de uma grande companhia inglêsa de seguros
de vida (United Kingdom Temperance and General
Provident Association) . Esta sociedade não segura os
bebedores habituais, aceita quando muito os que usam
moderadamente licores fortes ; pelo contrãrio assegura
por quantia bem menor os abstinentes. A coluna bran
ca indica a mortalidade dos abstinentes· integrais, a
coluna negra a mortalidade geral entre os que usam
moderadamente do álcool.
4"
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Alcool e mortalidade
Calculando-se em 1 00 a mortali dad e a nual,
morrem :
1a66-1o 1875-ao
So
7o
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E no entanto a Pátri a Brasileira nunca como hoje
teve tanta necessidade de uma juventude sadia e ro
busta, agora que o Brasil novo deve ser estabelecido
em novas bases sólidas. N ão há suficiente número de
brasileiros. Um só dentre nós terá, por acaso, o di
reito de desaparecer prematuramente?
Se não existisse o alcoolismo, muitos homens vi
veriam até 70 ou 80 anos; porquanto, devido ao álcool,
tornam-se menos fortes e ·ainda que não contraiam
uma doença m ortal, são sempre as primeiras vítimas
das epidemias em conseqüência da pequena fôrça de
resistência do seu organismo; são igualmente vítimas
das doenças que um corpo não enfraquecido pelo ál
cool fàcilmente venceria.
Pensa ainda nos numerosos acidentes, incêndios,
sinistros, nas inumeráveis rixas domésticas, nas conten
das, nas mortes e outros crimes causados pelo álcool ;
tens aí bastantes razões para não desejá-lo como amigo.
Há milhões e milhões de possoas que pecam por
causa da embriaguez, mas, para S·e privarem do ál
cool, é-lhes necessária uma terrív·el penitência.
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las pequeninas faces pálidas, olhares incertos e fisio
nomias embrutecidas. Não são as pobres crianças as
responsáveis, e sim os pais, entregues ao alcoolismo.
Alcoolismo e criminalidade
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54
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O ébrio é não somente um membro inútil, como
pesada carga para a sociedade e ainda corrói como
um câncer a própria família. Que grande responsa
bilidade pesa sôbre um pai bêbedo, pelo fato de virem
seus filhos ao mundo com a mesma inclinação para a
bebida, com a mesma vontade inclinada para o mal,
com um organismo predisposto a tôdas as doenças !
Citarei apenas um exemplo : em 1 740, nasceu
uma mulher chamada Ada jurke, que veio a morrer
no comêço do século passado, depois de uma vida de
embriaguez, roubos e vagabundagem. O número de
seus descendentes atingiu a 834, mas oficialmente pô
de-se seguir os traços de 709 dentre êles. Dêstes, 1 06
eram filhos naturais, 1 42 mendigos, 64 viviam da ca
ridade, 1 8 1 mulheres se entregavam à vida desregrada,
76 foram punidos por crimes, 7 por crime de morte.
Em 75 anos a família desta alcoólatra havia custado
cêrca de 1 6 milhões de francos-ouro (despesas de pd
são, danos, etc. ) . E quantas A das jurke vivem neste
mundo ! Talvez até conheças alguma . . .
Esta J.ei de hereditariedade destrói impiedosamen
te famílias inteiras, gerações até ; pode até aniquilar
povos inteiros. Verifica-se ao pé da letra a máxima de
que os filhos devem fazer penitência pelos pecados
dos pais. Os filhos de ébrios tornam-se também ébrios,
e freqüentemente idiotas, epiléticos, degenerados, infe
lizes inclinados a tôdas as doenças e a todos os cri
mes. Os moradores dos asilos, hospitais, prisões são
quase todos dêsses infortunados. O alcoólatra é o fla
gelo dos s.eus descendentes, ainda antes do nascimento
dêles; é a infelicidade dessas criancinhas, ainda antes
que elas possam levantar para êle os olhos inocentes.
Pobres infelizes ! Os pais beberam o veneno e são elas
que devem pagar a conta.
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Poderia fechar-se metade das pnsoes e asilos
se se conseguisse banir a embriaguez da face da ter
ra. A embriaguez causa a perda do indivíduo, envene
na e faz perecer as famílias, leva à degenerescência
povos inteiros. Talvez saibas que a política colonial
encontrou no álcool o seu melhor auxiliar para redu
zir à obediência os indígenas. Não tenho a dfra dos
mortos da Grande Guerra, ignoro o número de prisio
neiros, não sei quantos infelizes perderam a razão nos
horrores dos combates, mas sei seguramente que o
álcool levou prematuramente ao túmulo muito maior
número de homens, que há muito maior número de es
cravos nas cadeias da embriaguez e que o alcoolismo
atirou nos asilos mais dementes do que a Grande Guer
ra. "Só o álcool, diz Gladstone, causou maiores prejuí
zos à humanidade do que a guerra, a fome e a cólera
reunidos".
As tribos indígenas americanas, africanas e aus
tralianas extinguiram-se devido à "água de fogo" tra
zida pelos navegantes. Com a mesma intenção os es
partanos embriagavam os ilotas. Da mesma maneira
desapareceram as tribos nômades do Cáucaso e da
Kamtschatka.
O álcool e a juventude
O que acabaste de ler acêrca da ação destruidora
do álcool aplica-se a um organismo completamente
desenvolvido. Considera que tal efeito destruidor amea
ça duplamente a um organismo incompletamente de
senvolvido. O cérebro do jovem, por exemplo, é um
órgão extraordinàriamente delicado, composto de mi
lhões de células extremamente pequenas, e tudo o
que perturba o seu desenvolvimento durante a juven
tude exerce nefasta influência em tôda a sua formação.
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Experiências médicas sôbre os venenos em geral
estabeleceram que todos êJ.es agem de maneira muito
mais nociva num organismo em formação do que no
dos adultos. O álcool ataca violentamente o sistema
nervoso que é tão frágil, e cujo desenvolvimento ainda
não terminou aos 18 ou 20 anos. Convém, portanto, na
juventude, quanto mais cedo melhor, s.er abstinente.
Hoje a maior parte dos médicos concordam em declarar
que o álcool, ainda tomado em pequena quantidade,
tem sempre um efeito nocivo sôbre um organismo
jovem.
O uso do álcool durante a juventude é verdadei
ra morte. E' coisa ainda pior. Com efeito, o assassino
acaba de uma vez com a sua vítima, ao passo que o
álcool dilacera aos poucos o corpo e a alma. A menor
quantidade de álcool num organismo môço age como
um veneno : a beleza física, a fôrça intelectual são
igualmente retidas no seu desenvolvimento.
O crescimento do corp o dessas crianças é escas
so. E' conhecido o fato de que, com o álcool, obtêm-se
artificialmente animais anões. Se alguém possui um
belo cãozinho e deseja que êle não cresça, pode im
pedir-lhe o crescimeto dando-lhe álcool. Cada gôta que
penetra no organismo jovem tem um efeito prejudicial :
irrita, superexdta os nervos, produz dores de cabeça,
esgota prematuramente, exaure física e intelectualmente.
O Dr. Forel, célebre neurologista de Zurique, es
creveu estas palavras : "Segundo as experiências médi
cas e dentíficas que realizei durante anos, relativamen
te à formação, funcionamento e perturbações do sis
tema nervoso e especialmente do cérebro, considero
o uso de tôdas as bebidas akoól icas, vinho, cerveja
e até cidra, como prejudicial, visto que, é verdade ex
perimental, elas atacam os tecidos e as funções do cé
rebro. Durante a juventude, isto é, nos anos de desen-
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volvimento do cérebro, esta ação nociva é naturalmen
te muito mais forte. Tudo o que vem perturbar um cé
rebro môço, não sàmente prejudica o estado no qual
então se encontra, mas paralisa o desenvolvimeto fu
turo, e em conseqüência, o desenvolvimento do sen
timento e da vontade, o desenvolvimento das faculda
des morais e estéticas". A ação paralisante do álcool
na formação do corpo é a seguinte : o corpo perde
35 % . Sàmente o fígado perde 30% de pêso. Não
crescendo a coluna vertebral, também a estatura per
manece reduzida. O cérebro é mais delgado de
10 a 20%.
Os anos criticos
Afirmam os médicos ·e educadores que os anos
de 1 4 a 1 8 anos, a chamada idade crítica, são o perío
do mais importante e o mais crítico da vida humana.
O organismo nesta idade se desenvolve de uma ma
neira notàvelmente rápida. Ao lado dêsse crescimento
físko, produz-se uma tumultuosa evolução espi::-itual,
que traz como conseqüência um poderoso abalo mo
ral. Neste estado de desenvolvimento tão importante,
o álcool age de uma maneira brutal e destrutiva sô
bre os músculos, nervos, o cérebro e as capacidades
intelectuais. Observações minuciosas demonstraram
que crianças, às quais se dava todos os dias ainda
que mínima quantidade de álcool, tornavam-se indo
lentes, desatentas e nervosas ; a memória se lhes en
franquecia e sua capacidade permanecia inferior à dos
companheiros abstêmios. A lassidão de espírito que
acompanha a embriaguez é conseqüênc-ia do envenena
mento do cér·ebro, produzido pelo ákool. O cérebro
pode sem dúvida suportar pequenas quantidades de
álcool, mas se êste o atacar continuamente, então ma-
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nifestam-se no organismo mudanças VIS!Vels que mi
nam a saúde física e por isso põem em perigo o equi
líbrio moral. O álcool tem efeito tão funesto na ener
gia moral, fôrça de vontade e caráter, precisamente por
que ataca a substância material da atividade intelectual :
o cérebro.
Crianças nervosas
Constitui certamente triste característica da nos
sa época o nervosismo de que sofrem tantas crianças.
A trepidação da vida contemporânea, a incerteza do
futuro, põe-te já os nervos, meu amigo, em prova mui
to dura, para que tu mesmo venhas torturá-los ou
enfraquecê-los ainda mais pelo uso dos licores fortes,
pois o álcool á o maior amigo do nervosismo.
Se o álcool é um veneno violento, particularmente
para um organismo jovem, procede sàbiamente o ado
lescente que recusa qualquer bebida alcoólica e é
abstêmio. Infelizmente, para muitos moços é ainda ver
dadeiro o velho provérbio : "os homens não morrem
matam-se". Conheces talvez alguns moços que alar
deiam a sua fôrça, pois não se intimidam com 2 ou 3
litros de vinho. Mas se renovarem freqüentemente a
façanha, poderás ver logo como o rosto lhes começa a
empalidecer, os olhos a afundar, as fôrças a decrescer.
Enfraquece-se o corpo, o espírito embotado ·não pode
mais produzir o mesmo trabalho que um môço de
boa saúde.
Se pessoas grandes usam moderadamente de be
bidas alcoólicas, não as condeno, mas, crianças e mo
ços, não toqueis sequer num copo de vinho/
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Maus hâbitos
Agora podes julgar por ti mesmo quanto é no
civo o costume que em muitos lugares leva os pais a
dar álcool aos filhos. Não têm maldade, mas excelente
intenção; e por ignorância lhes causam o maior dos
prej uízos. Pais ignorantes costumam fazer dormir as
crianças dando-lhes um pouco de pão molhado em
aguardente. Não há dúvida que a criança dorme, mas
dando-se-lhe muitas vêzes êsse v·eneno, ela pagará
caro a conseqüência. O professor notará depressa em
classe êsse mau ·hábito; bastar-lhe-á ver as pobres
crianças fatigadas, amolentadas e nervosas, incapa
citadas de acompanhar os companheiros.
Nas famílias mais abastadas, dão vinho em quan
tidade moderada à criança, quando ela é anêmica ou
doentia; dão-lhe também em certas cir·cunstâncias,
aniversários, festas, primeiras comuahões, etc. Meu
amigo, não bebas, mesmo nessas ocasiões. Sabes que
o efeito fortifi·cante do álcool não é mais que uma ilu
são, enquanto que a sua ação destruidora é uma rea
lidade. Por que motivo então contrair na juventude
um hábito que na idade adulta, - se permanece n a
justa medida, na melhor das hipóteses, - não será
talvez prejudicial, mas que no entanto pode vir a ser
fonte de paixões funestas e culpáveis? E' possível que
em certas doenças os médicos prescrevam pequenas
doses de bebidas alcoólicas. Neste caso, podes seguir
a prescrição, embora hoje os médicos sejam cada v·ez
mais de opinião que os Ji.cores fortes nunca são úteis
a ninguém.
Não falarei sequer do espetáculo deprimente, tão
fr·eqüente nas cidades universitárias, que dão os estu
dantes fechados nas tavernas e cabarés, bebendo cho
pes e jogando cartas durante horas, numa atmosfera
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enfumaçada, procurando mais aí qu� na Universidade
a formação do seu espírito ! Poderá a Pátria contar
com tal g·ente? Certamente o Brasil precisa para o seu
progresso não de uma mocidade sem competência e
inepta para as lutas da vida, mas de uma juventude ro
busta, vivaz, ativa, ·capaz de produzir flôres e frutos,
capaz de lutar vitoriosamente, de cabeça erguida contra
a corrupção moral.
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CAPITULO l i
OS "BENEFICIOS" DO ALCOOL
E' bem conhecido o fato de que o álcool é o
mais perigoso inimigo da civ ilização, dos bons costu.
mes, e da humanidade. Há no entanto os que defen·
dem com infatigável ardor as bebidas alcoólicas, e
não se cansam de louvar suas preciosas qualidades.
E' verdade, dizem, que o álcool faz algum mal ; não
lhe lancemos porém reprovações, porque êle traz tam
bém seus benefídos.
E xaminemos, pois, um pouco mais de perto êsses
pretensos benefícios.
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nagern, no vinho e nos banquetes, jamais será um
sábio". (Livro dos Provérbios, XX, 1 ) .
O álcool paralisa, por assim dizer, a imaginação,
torna difícil a associação de idéias, enfraquece e fal
seia a memória, e finalmente perturba o entendimento
e o juízo. Tira também uma grande parte da vontade
e do discernimento.
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dro, sabe o suficiente para se afastar, tôda a sua
existência, das bebidas alcoólicas; os espartanos mos
travam aos filhos os ilotas embriagados, precisamen
te para lhes inspirar horror da embriaguez.
Vejamos como o álcool favorece o trabalho in
telectual. "Por que razão não bebo vinho? respondeu
Edison, o ilustre inventor; porque tenho muitas ou
tras coisas que fazer com a minha inteligência do que
envenená-la" . Helmholtz, célebre naturalista, é de opi
nião que a menor quantidade de álcool afasta as gran
des idéias. Inquirições feitas entre sábios e escritores
de nomeada estabeleceram que todos, abstendo-se do
álcool, trabalham com maior l impidez de espírito e
produzem assim melhores obras. ·
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O álcool e o estudo
Inquérito feito entre 1 700 estudantes.
Sê Sóbrio - 5
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O ãlcool e o trabalho ffsico
Os ignorantes atribuem ao álcool outra boa qua
lidade : "Aquece no inverno, refresca no verão e dá
fôrças para trabalhar". O que já dissemos já te fêz
ver que a tal ação refrescante do álcool não passa de
ilusão. O álcool traz o sangue à superfície do corpo,
por isso o rosto se torna corado ; ura, à superfície, o
sangue se resfria mais depressa e assim o corpo se res
fria também mais ràpidamente. Eis por que no inver
no são mais fàcilmente atacados de congestão os que
procuram nos licor·es fortes uma proteção contra o frio.
O estudante deve lamentar o pobre operário que,
des-c onhecendo completamente as leis do organismo
humano, toma de manhã, por antigo hábito, seu co
pinho de aguardente, porque "mata a sêde", "refresca",
"aquece" ou então "dá fôrças para trabalhar". Nada
disso, o álcool só tem efeito destruidor sôbre o corpo
e o espírito.
Os grandes esportistas, quando se exercitam para
os -campeonatos, não fumam e não bebem para se con
servar melhor em forma. Os célebres exploradores
Nansen, Livingsto.ne, Bm.in Pacha, Sven Hedin, eram
abstêmios para poder suportar as fadigas incríveis de
suas viagens. O ilustre explorador da Africa Living
stone escreveu : "Durante mais de vinte anos levei uma
vida de integral abstinência. Na minha opinião qual
quer pessoa que se abstém de bebidas alcoólicas é
capaz de executar os trabalhos mais duros e de ven
cer as maiores dificuldades". Durante a Grande Guerra
os russos int·erditaram os licores fortes, a fim de au
mentar a fôrça dos soldados. Os grandes generais sem
pre insistiram sôbre a ação nociva do álcool.
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O general alemão DeimUng declara : "Seria tem
po perdido repetir os resultados f·e lizes da abstenção
das bebidas alcoólicas nos exércitos". "A aguardente
é o pior flagelo, diz o general Haeseler, a cerveja não
o é menos, enfraquec·e, aumenta a lassidão e aumenta
a sêde. O vinho não vale muito mais". O ákool pos
sui o poder fictício de trazer um acréscimo de fôrças,
depois que a fadiga já se manifestou; e de dar uma
sensação de calor, depois que o resfriamento já come
çou ; mas experiências minuciosas nos laboratórios de
I
O maior mentiroso
67
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Por que, no entanto, o homem se sente mais à
vontade, mais ágil, mais desembaraçado, logo mais
forte, depois de um ·copo de vinho?
As pesquisas científicas atuais permitem respon
der e desmascarar esta falsidade. De início, o álcool
açoita os nervos, o que dá uma sensação de acréscimo
de fôrças. J::. I e é para o organismo o que o azorrague
para o cavalo, o que a música :para o soldado em mar
cha. Quando o cavalo sente o açoite, co1 re mais depres
sa, é verdade. Quando a música toca, o soldado fati
gado marcha endireitando-se. Cessados, porém, os gol
pes de chicote, silenciada a música, o cavalo já n ão
corre mais depressa, o soldado sente-se mais fatigado
do que antes. O álc·ool reanima no momento, mais tarde,
porém, sobr.evém um grande abatimento. Tanta fôrça
dá o ákool ao corpo humano, quanta o chicote ao ca
valo. Quanto mais o corpo se habitua aos golpes do
chicote do álcool, tanto mais necessita de freqüentes
e volumosos copázios. E' um meio seguro para che
gar a ser um degenerado.
O álcool é um excitante artificial. Nansen escre
veu com tôda a justiça (Através da Groenlândia) :
Crê-se que o corpo e o espírito têm necessidade abso
luta de excitantes ; na minha opinião, isto é não só
contrário às leis fisiológi-cas, mas também desmenti
do pela experiência. Os exdtant·es não dão nem fôrça
nem alimento ao corpo, e é energia de curta duração
a que assim se obtém ; logo desaparece a energia e
sobrevém um maior esgotamento".
Um médico inglês fêz com operários as seguin
tes experiências : repartiu-os em dois grupos, a uns
deu cerveja, a outros não. A tarde os que haviam be-
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bido cerveja estavam retardados no serviço. Mais tarde
inverteu os papéis : o primeiro grupo foi privado de
cerveja, em proveito do segundo. Os que beberam des
ta vez a cerveja ficaram atrasados na sua tarefa. Numa
olaria, o grupo dos operários abstinentes fabricou em
um ano 35. 1 33 telhas mais do que a outra turma de
igual número, cujos homens haviam usado moderada
mente bebidas fortes.
Eis ainda um exemplo. Em 1 908 em Kiel foi fei
ta uma prova de marcha num percurso de 100 quilô
metros. Uma parte dos concorrentes não bebia nunca
bebidas alcoólicas, outra parte usava-as moderadamen
te. Dêstes últimos 45,8% somente chegaram ao fim, ao
passo que o fim foi atingido por 91,7% dos abstinen
tes integrais.
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O álcool e os acidentes
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70
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Aquece? Alimenta? Mata a sêde?
E' crença totalmente contrária à verdade sustentar
que o álcool dá calor ou extingue a sêde. Certamente
sabes que quanto mais se consomem bebidas, mais
sêde se tem. Quem não bebe suporta mais fàcilmente
o frio e a sêde. Os exploradores polares e os caçado
res de baleias não aceitam n as suas tripulações se
não abstêmios. Pelo contrário, os soldados de Na
pol-e ão morreram gelados nas estepes nevadas da Rús
sia, tendo ainda nas m ãos retesadas as garrafas de
aguardente. O poder de aquecimento do álcool não é
senão um mito.
Tem contudo uma aparência de j ustificação no
fato que o álcool produz uma ·combustão no organis
mo, que é acompanhada de um desprendimento de ca
lor. Acelera a circulação do sangue (vermelhidão do
rosto) e acresce a i rradiação do calor, de tal maneira
que a temperatura do corpo, depois da absorção do
álcool, não aumenta, mas diminui, mau grado a sensa
ção de calor. Pode·-se fàcilmente tirar a prova com
um termômetro. Depois de ier bebido 40 gramas de
álcool (cêrca da metade de um copo de vinho) , a tem
peratura baixa de 0,3 a 0,5 graus. O álcool aquece
como um fogo de palha que se eleva muito depressa e
também muito ràpidamente se extingue. Para demons
trá-lo de maneira geral, apresentamos um quadro in
dicando em calorias o valor de diferentes alimentos.
( Caloria é a quantidade de calor necessária para ele
var de ·um grau centígrado a temperatura de um qui-
'
lograma de água) .
O âlcool aquece
Nansen, o grande explorador do pólo, declarou :
"Na minha opinião e de acôrdo com a m inha experiên-
71
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cia, é completamente falso que as bebidas alcoólicas
sejam necessárias nos países frios. Não só não são
necessárias, mas pelo contrário, são prejudi-c iais. lncon
testàvelmente o ákool faz baixar a temperatura do
corpo e naturalmente num dima frio dificilmente é
possível suportá-lo. Se além disso exigimos do corpo
esforços penosos, as bebidas fortes podem fàcilmente
causar a perda do homem".
Já tenho lembrado que as bebidas alcoólicas não
podem dar nem fôrça nem calor, porque o seu poder
nutritivo é extremamente fraco. Para se nutrir com
cerveja, seria necessário beber 24 litros por dia. Liebig,
o ilustr·e químico, escreveu : "Atualmente podemos di
zer com precisão matemática que uma pitada de fa
rinha é mais nutritiva para o sangue que quatro bilhas
da melhor cerveja bávara, e o que consome cada dia
uma bilha de ,cerveja, absorve, num ano, quase a mes
ma quantidade de alimento <:orno se comesse uma li
bra de pão".
Assim pensa sôbre o valor do álcool Liebig, cer
tamente uma competência no assunto.
As faladas "vantagens" do álcool revelam-se, pois,
tôdas ilusórias. Podes, logo, meu amigo, tranqüil-amen
te colocar-te entre os que, ao menos durante a juven
tude, se abstêm totalmenf.e das bebidas alcoólicas.
Não é admissível, com efeito, que na aurora de um
novo porvir surja uma juventude degenerada pelo ál
cool, mas é necessária uma juventude de alma radiante,
brilhante como um raio de sol, anunciando primave
ra,_ fôrça, felicidade e alegria, pressagiando, numa pa
lavra, um melhor futuro para a Pátria.
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CAPITULO 1 1 1
O ALCOOL E O CARATER
Vamos abstrair, neste capítulo, da ação prejudi
cial produzida no <:orpo pelo álcool. Admitamos que o
uso das bebidas fortes n ão tenha nenhuma .conseqüên
cia má para o organismo, ao contrário, lhe seja útil
e vantajosa. Sabes que isto é uma ilusão ; mas, fôsse
embora coisa exata, ainda assim eu me veria obriga
do a aconselhar-te com a mais viva instância que evi
tasses as bebidas alcoólicas. A isso me levaria o efeito
pernicioso do álcool sôbre o caráter dos moços. Não
podemos limitar o i deal do homem unicamente à sua
parte animal, à saúde física. E' . preciso ainda inteli
gência penetrante, vontade forte, e sôbre tudo isso o
álcool exerce ação nefasta.
Não te será certamente inútil ler, a respeito, as
páginas que seguem.
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botam, adormece a vigilância delas, e inteligências
destinadas a grandes coisas decaem lentamente para
um segundo plano. Aquêle que bebe todos os dias
moderadamente não morre, é certo, mas o álcool pesa
indiscutivelmente sôbre as suas decisões pequenas ou
grandes, e lhes dá muitas vêzes uma orientação vul
gar. O álcool inflama a imaginação, mas obscurece a
inteligência e enfraquece a vontade. A embriaguez faz
do homem mais sério um bravateador ridículo e uma
criança sem juízo.
O provérbio que diz : "no vinho a verdade" signi
fica que um homem embriagado bravateia sôbre tudo
sem refletir. Observa-o, meu amigo. Logo que o ál
cool começa sua ação no cérebro o homem perde ime
diatamente a •prudência e reflexão na palestra, torna
se menos conveniente na atitude, governa muito menos
as suas ações e gestos, não tem mais sentimento de
responsabilidade e obediência ao dever, numa pala
vra, perde tudo o ,que fazia dêle um homem respeitá
vel, de caráter firme. Para quem se dá ao alcoolismo,
a mentira, o engano, o roubo são coisas familiares
que não assustam. As estradas de ferro não aceitam
como mecânicos os bebedores. Igualmente na vida cos
tumeira, não se dão postos de confiança a alcoólatras.
Toma nota disto. Talvez te seja necessário. Porque é
·Certo que hás de ouvir muitas reflexões de teus com
panheiros que expressarão opinião diferente.
"Você não é homem ! dirão os companheiros, se
não bebes juntamente com êles. As crianças não devem
sair de junto da saia da mãe. Nós, porém, não temos
mêdo. Vamos, amigos, toquemos os copos ! "
E quantos e quantos fàcilmente se curvam dian
te dos sofismas dos companheiros, dados às bebidas !
Quantos moços foram desviados de suas b oas reso
luções por essas falas e empurrados ao declive peri-
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goso ! Quantos atrasados mentais se defendem dos
motejos dizendo diante dos companheiros : "Eu já não
sou mais criança, pois ontem me embriaguei !"
Ser homem
Não resta dúvida! Devemos ser homens ! Somen
te é preciso inquirir onde há maior virilidade e fôrça
de caráter : na embriaguez, ou na vontade firme que
nada abandona de seus princípios, ainda diante das
zombarias dos camaradas mal educados.
Olha as tuas ilustres personagens que voltam à
casa pela manhã, agarrando-se aos postes e decla
mando versos com voz semelhante aos uivos de cães
ao luar. Será êsse o porte viril, cuja ausência êles
zombam em ti? Bastaria tocar-lhes com o dedo, para
atirar em terra com todo o bando. E' possível que
isto lhes agrade, é possível que se sintam perfeitamente
à vontade. Sej a ! Não têm, porém, o direito de caçoar
de ti, porque procuras em outras coisas a verdadeira
virilidade.
Quantos dêsses moços devem ao álcool não te
rem obtido na vida o sucesso a que suas capacidades
lhes dariam direito de almejar! O álcool é um dos pio
res inimigos da ·humanidade, precisamente porque pa
ralisa a consciência humana ·e impede a realização das
suas mais nobres aspirações. Sem despertar a atenção,
êle influi sôbre o caráter daquele que se lhe entrega,
priva-o de suas mais belas qualidades, embota-lhe
a inteligência e prossegue com lentidão e perseveran
ça a sua ação destruidora, atirando para lugar inferior
quem deveria ocupar posição de primeira plana.
Não é somente nas ascensões às montanhas e nas
excursões ao ar livre que se revela o efeito prejudi
cial do álcool, mas também no nosso procedimento.
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Não só a embriaguez, mas também o uso moderado
das bebidas alcoólicas, detém as nossas fôrças, assim
como a gôta de água consegue quebrar a pedra; tor
na-nos piores, mais preguiçosos, menos consciencio
sos no cumprimento dos deveres. Os vapôres acumu
lados no nosso cérebro nos privam do govêrno de nós
mesmos e nos impedem de nos portar com tacto e
decôro.
As idéias mais delicadas, que velam como anjos
da guarda sôbre a nossa atividade, são obliteradas.
O sangue môço entra a agitar-se, a ferver e as pai
xões começam a dominar a razão. As orações maternas,
os conselhos paternos, tudo é esquecido. Um animal
roedor penetrou fundo, e agora durante muitos anos
vai abrir lá dentro um �caminho que leva à morte.
Se te persuadiste da ação nociva do álcool e que
res ser abstinente e se, a despeito d as zombarias e
das tôlas brincadeiras, persistes em tua resolução, en
tão tens o direito de dizer com tôda a simplicidade
que és um herói. Não é sômente em tempo de guerra
que surgem os heróis, mas também na vida cotidiana.
A vida social pede o que se chama coragem cívica,
que tem o mesmo valor que a bravura guer.reira. Quem
tem semelhante coragem será um covarde? E o fre
q:uentador de cabarés será um homem? Em nenhum
lugar se dá um pôsto de confiança a bêbedo, pois
a sua vontade, o seu espírito de decisão, a sua energia
são fragílimas. E isto será um homem ? E quem não
bebe será um covarde?
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ser. Com efeito, a libertinagem não é sinal de fôrça,
mas de fraqueza. Por que se deveriam glorificar os
que esbanjam em bebedeiras o precioso tesouro, a
fôrça da sua j uventude, enquanto a futura família,
o país e tôda a sociedade reclamam faculdades físicas
e intelectuais completas? Talvez alguns considerem
ações brilhantes a devassidão e a embriaguez, mas
dêm-me Ji.cença que sej a de outra opinião e as chame
simplesmente loucuras.
Como encontrar o menor traço de heroísmo no
fato de alguém esvaziar copos uns após outros? Foi
dado a Alexandre, o Grande, êste apelativo de Grande,
porque depois da vitória de Susa, embriagou-se até
perder os sentidos ? Certamente que não. Mas porque,
a preço de grandes privações e de penoso trabalho
venceu o mundo, depois de se ter vencido a si
mesmo. Quando, diante de seu exército, abrasado
de sêde, entornou sôbre o chão ardente o pouco de
água fresca que lhe haviam trazido num capacete, re
cusando a bebida porque n ão podia dá-la também aos
soldados, então, sim, foi verdadeiramente "Grande".
Mas também a êste herói um copo de vinho atirou
por terra.
Eu chamo virilidade a nobre abnegação, a renún
cia que me permitem dominar os instintos baixos. Eis
o caráter. Abster-se de álcool exige uma vontade firme,
exige que se seja um homem. Aquêle que a zombaria
não consegue desviar de sua convicção, quem pode
nadar -contra a corrente, êste é um verdadeiro homem.
Segundo certa opinião tôla e divulgada entre os
estudantes, só se é homem na medida em que se pode
suportar maior quantidade de vinho. Ora, vamos ! E'
sinal de virilidade procurar saber se um jovem organis
mo é capaz de resistir a dois ou três copos? Em que
se mostra homem quem põe sua fôrça física e moral
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em expenencias tão deploráveis e degradantes? Que
res alardear tua liberdade, esbanjando a beber e fu
mar nos cabarés empestados, o dinheiro que teus pais
custaram tanto a ganhar? Para que é necessário maior
espírito de independência e de coragem, para uivar
juntamente •Com os lôbos ou para negar-se a entrar
numa taverna, a despeito dos convites e das brincadei
ras e zombarias que seguem a recusa?
Teu pai, tua mãe, os mestres não te vêem, mas
não podes dissimular diante da consciência; ela está
constantemente ·contigo e se refletes um instante, ou
ves a sua voz incorruptível : Não, você não é um he
rói, não, você n ão é um homem livre ; pelo contrário,
você não é senão um velhaco sem juízo !
Sei que a .palavra é dura, mas não tenho outra.
Olha uma só vez um bêbedo ! Considera seus olhos
vidrados, o rosto embrutecido, escuta o lamuriar e ga
guejar de suas palavras incompreensíveis, ouve-o ron
car como um animal. Onde está nêle a consciência
de sua dignidade de homem ?
O álcool, embora em trabalho lento, n ão age me
nos seguramente. Torna grosseiro e sensual, e depois
embrutece e mata moralmente.
Aterrador exemplo
"Cuidai, diz Nosso Senhor, que os vossos cora
ções não se sobrecarreguem pelo excesso do comer
e do beber". (S. Lucas, XXI, 34) . Conheces sem dú
vida homens inteligentes e honestos, de boa família
e posição, a quem a Divina Providência proporcionou
tôdas as condições de uma vida feliz sôbre a terra,
mas que, sob o jugo da espantosa paixão do alcoolis
mo, venderam por um nada a sua feliddade neste mun
do e no outro. Perpetuamente embriagados, não se
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lhes pode confiar nenhuma função ; em casa são lutas
sem fim, os olhos da mulher e dos filhos constante
mente se banham das lágrimas, o álcool levou com a
saúde tudo o que êles possuíam e agora esfarrapados,
doentes, levam miserável existênda obrigados a re
correr à caridade pública.
Foram, talvez, outrora os primeiros entre os con
discipulos. Talvez por causa de seus talentos, lhes
prognosticaram brilhante futuro. E tais esperanças se
teriam realizado, se se não tivessem pôsto sob o jugo
do alcoolismo. Aterrador exemplo!
Há milhares assim. Creio que êste exemplo é
a.s saz probante para tirar todo o desejo de brincar
com o fogo líqüido. Quem se abstém totalmente das
bebidas alcoólicas pode estar seguro de que não será
jamais vítima dêste triste destino.
Mas infeliz daquele que se fez, ainda que uma
vez só, escravo do álcool ! Nos seus momentos de lu
cidez, -pode ver com espanto os males causados pela
sua paixão. jura não mais beber. Mas olha : na primei.:.
ra ocasião, ei-lo mais uma vez abaixo dos animais
irracionais. Não tem mais vontade. O álcool lha tirou,
roubando-lhe assim um dos maiores tesouros.
Mas eu não quero tornar-me um bebedor invetera
do, dirás ; esta idéia me causa desgôsto e horror. Se
bebo, faço-o moderadamente, jamais me embriaguei.
Permitam os Céus que assim sej a ! Pensas, po
rém, que aquêle mesmo qu-e ziguezagueia ali pelas ruas
com passo mal seguro, e cuja figura proclama aberta
mente que é um degenerado, pensas que êsse homem
teve outrora linguagem diferente? Consideraste já que
ninguém nunca se precipitou no abismo da embria
guez, sem ter antes tomado a resolução de guardar
uma justa medida, mas que quase ninguém foi capaz
de se deter no vértice rápido desta paixão? Tanto mais
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estarás a salvo dêste vício, quando evitares até o uso
moderado do álcool. Naturalmente, ainda mais pru
dente serás se em absoluto não começares.
Alcool e castidade
Oxalá essa ação destruidora se detivesse aí ! Se
não houvesse esta espantosa realidade, que os antigos
romanos exprimiam : Onde Baco, deus do vinho, dei
xa o seu cartão de visita, aparece de pronto Vênus,
deusa da luxúria.
O álcool enfraquece a vontade, diminui o poder
do raciocínio e inflama os baixos instintos. Eis a expli
cação do triste fato que os moços levados a ações
vergonhosas se encontrem em maioria sob a influên
cia da bebida. O álcool liberta do :govêrno da razão
e do poder da vontade os mais baixos instintos e di
rige a seu talante, como um cavalo sem freio, a sua
infeliz vítima aos pecados mais hediondos.
Se nenhuma outra consideração tem poder sôbre
ti, meu amigo, para levar-te à prudência quando se tra
tar de bebidas alcoólicas, eis outra severa advertên
cia para a tua alma. E' fato infinitamente triste que
muito freqüentemente partidas de prazer, banquetes,
concertos, frequentados na intenção de distração ho
nesta, terminaram por visitas a lugares de devassi
dão. Tôdas as generosas fôrças adquiridas por uma
boa educação e uma longa práti·ca do govêrno de si
mesmo podem desaparec·er num só instante de em
·
briaguez, no momento em que o álcool te priva da
exatidão de discernimento e diminuir tua energia con
tra os baixos instintos, que sem dúvida existiam já an
teriormente, mas que tua alma clarividente e cheia
de ideal sempre soube domar. Os médicos poderiam
citar, entre os seus pacientes, exemplos terrificantes
Sê Sóbrio - 6
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de moços que, em conseqüência de um só passo irre
fletido, talvez pelo seu primeiro estado de embriaguez,
perderam tôda a felicidade da vida e a paz da alma.
Muitos moços honestos, irrepreensíveis, cheios de ideal
e dignos de estima foram levados a semelhantes luga
res, por estar sua vontade enfraquecida pelo álcool.
Sem dúvida já ouviste falar do flagelo imenso causa
do pela primeira falta dêste gênero, sabes que ela di
lapida irremediàvelmente os mais belos tesouros da
alma e que tem muitas vêzes por conseqüência sofri
mentos atrozes que duram tôda a vida. Não quero es
tudar miudamente esta questão ; se quiseres saber mais,
lê o meu livro "0 Brilho da Mocidade" (à venda nesta
mesma Editôra ) .
Agora, responde-me com sangue frio : vale o pra
zer oferecido pelo álcool tão enorme preço? O álcool
é o melhor fornecedor do inferno. Só Deus poderia
dizer quanto a mocidade cometeria menos atos imo
rais, quanto mais alegria teria, mais energia austera,
mais fôrça vital exuberante e caráter bem temperado,
se o álcool não lhe pudesse roubar a sobriedade, o
respeito de si mesma ·e a consciência da dignidade
humana. Meu caro amigo, se queres respeitar-te· e
conservar intada a pureza de tua alma, segue o meu
conselho : não tomes uma só gôta d'l! álcool!
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CAPITULO IV
Que fazer?
Diante de tanta miséria sinto inflamar-se em mim
a car.idade : Não poderia eu suaviizar tantos males ?
Ou impedi-los, talvez? Não, ultrapassa o meu poder.
Contra a corrente dêste rio, a fôrça individual é qua
se nula. Ela pode, todavia, trazer um l enitivo. E se
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apenas afcançasse tirar o conteúdo de um dedal dês
se mar imenso de desgraças, teria ·Cumprido benfa
zeja obra.
Sim, meu ·caro amigo, podes dar tua ajuda. Os
homens, em tudo o que fazem, olham sempre para os
outros, imitam o próximo. E mais voluntàriamente o
fazem e com mais rapidez, quando aquêle a quem
olham ocupa lugar mais elevado na escala social. Caim
perguntou isolentemente ao Senhor : "Serei por acaso
o guarda de meu irmão?" Sabemos que, em certo sen
tido, nós somos os guardas da vida moral de nosso
próximo i quer isso dizer : o que o homem faz não
desaparece sem deixar traços, mas em conseqüência
do bom ou mau exemplo de seu ato, estende-se pela
sociedade inteira, como as vagas produzidas por uma
pedra atirada n'água.
Muitas vêzes ouves dizer que presentemente nós
vivemos num século social. Qual é o significado disso?
Quer dizer que nós temos, do fato de pertencermos
a uma vasta coletividade, um sentimento mais profundo
que os homens dos séculos passados i noutros têrmos,
nós somos responsáveis pelo exemplo que damos e
que reage bem ou mal sôbre as ações e gestos dos nos
sos concidadãos.
O primeiro cálice não tem melhor gôsto que o pri
meiro cigarro. Mas assim como para fumar, para beber,
pessoas sem critério e sem vontade imitam-se mutua
mente e vêm assim a multiplicar incrivelmente as oca
siões de embebedar-se. Bebem ao sair, bebem ao se
encontrar de novo. Bebem depois de um bom almôço,
para que não faça mal e bebem para acalmar a fome.
Quando faz frio, bebem para esquentar, e quando faz
calor, para refrescar. Se não podem dormir, bebem
para afastar a insônia, e se têm sono, bebem para se
conservar acordados. Quando surgem desgóstos, afo-
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gam-se no vinho, e quando há alegria, rega-se a ale
gria. Bebe-se por ocasião de um batizado, bebe-se nos
casamentos e ainda se bebe nos enterros.
Não, isto assim não pode continuar!
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migo interno, o álcool, o bom exemplo dado por uma
juventude esclarecida seria a melhor arma. A mais
bela e cavalheiresca nota de uma juventude de ideal
elevado foi sempre trazer socorro aos fracos ; e n in
guém, como a mocidade, com mais instância, é cha
mado a levantar o estandarte da luta libertadora con
tra o álcool que arruína o nosso povo. Centenas de
milhares de homens gemem sob a tirania do álcool.
Que a atual geração adulta possa vencer êste flagelo,
não o esperamos. Esta geração cresceu entr·e os pre
conceitos favoráveis ao álcool e pennanece fiel aos ve
lhos hábitos. Mas, meu caro amigo, tu e teus compa
nheiros, a geração que surge, podereis realizar êste
ato libertador, se conseguirmos persuadir-vos, a vós,
geração intelectual de minha terra, n ão sõmente dos
perigos do alcoolismo, mas também dar-vos fôrça de
vontade para romper -com êsses antigos e prejudiciais
hábitos.
Dizia-se outrora que a História poria no n úme
ro das ações mais gloriosas do Imperador da Alemanha,
Guilherme I, a sua decisão de proscrever a aguardente
do cantil das tropas prussianas ·e substituí-las pelo
café. Creio poder sustentar com razão que todo o que
mostrar, embora a um só dos seus concidadãos, o ca
minho que leva para fora da vergonhosa escravidão
do alcoolismo não tem menor título à estima de seus
semelhantes.
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E' inegável que o prestígio dos círculos i ntelectuais
constitui, quando êles se dão ao ákool, fonte de ruína
para os simples. E em compensação inapreciáveis são
os benefícios difundidos aos próximos por homens
enérgicos que ousam romper francamente com o cos
tume de tomar bebidas fortes. Com efeito, teremos
direito de nos escandalizar com a embriaguez e os
costumes grosseiros do povo, quando os próprios in
telectuais procuram no álcool e no perfume do vinho
a sua maior alegria na vida?
O povo de boa mente imita os hábitos das clas
ses cultas. Infeliz do povo, se encontra nos seus diri
gentes exemplos de prazer e leviandade ! Todos pro
curam escusar os seus defeitos firmando-se na auto
ridade e m aneira de viver dos meios intelectuais.
O maior dos povos antigos, o romano, foi levado
à ruína pelo akoolismo e pela conseqüente imoralida
de. Quando êste povo estava ainda na flor de sua
pujante juventude, o vinho não era utilizado senão para
os atos do culto. Mais tarde foi permitido aos homens
que tinham ultrapassado os 30 anos beber vinho,
mas êle continuava proibido aos menores de 30 anos
e às mulheres. Pouco a pouco, todavia, o álcool ven
ceu os romanos, vencedores do mundo antigo. Na épo
ca imperial, no fim dos banquetes, até as mais distin
tas damas, os cônsules, os senél!dores rolavam para
baixo das mesas. Nada de extraordinário se esta na
ção poderosa foi devastada pelos prazeres e pela cor
rupção, porquanto o seu império foi quebrado e a raça
enfraquecida aos ·golpes possantes do álcool. Não es
tamos nós bem próximos de semelhante estado de coi
sas? E' que entre nós também há muitas ocasiões para
beber : nos nascimentos, nos enterros, nos casamentos,
na primeira comunhão, na alegria, na dor, n o frio, no
calor . . . em tôdas as ocasiões, a gente bebe!
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Ouves sempre e em tôda a parte a maxtm a : "O
futuro pertence à juventude". Eu também o creio. Mas
se queres que esta máxima não seja frase ôca é pre
ciso que a mesma juventude trabalhe com tôdas as
suas fôrças na edificação do seu belo porvir.
Vivemos em uma época que abandonou m uitos
velhos hábitos, muitos dos quais, sem embargo, eram
utilíssimos. Por que não procuraríamos nos desfazer
do velho e inútil hábito de beber?
Crês que existiria no mundo menos alegria e fe
licidade se se conseguisse, em V·i rtude de maravilhosa
fôrça, fechar todos os cafés? Certamente que não !
Pelo menos haveria igual felicidade e certamente mais
decência e honestidade.
Infelizmente não tens à disposição êsse poder
maravilhoso. N ão podes reformar o mundo.
Mas podes reformar-te a ti mesmo.
Podes afastar definitivamente de teus lábios o
copo de vinho.
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CAPITULO V
VAMOS, UM COPO!
Nenhum môço pode pretender que o álcool lhe
seja necessário. Em última análise, o uso moderado
entre os adultos n ão lhes prejudica. O corpo humano
não é levado ao álcool, em outras palavras, o álcool
não é uma necessidade vital, mas simplesmente um
prazer. Há milhões de homens que jamais beberam
bebidas alcoólicas e no entanto vivem de bom humor
e com ótima saúde. Se adultos bebem com moderação,
vá, não quero condená-los. Mas estou intimamente
persuadido que, para o organismo incompletamente de
senvolvido, cada gôta de ákool é um verdadeiro vene
no e que por conseguinte é altamente preferível que
te abstenhas totalmente durante os anos de estudos.
E' igualmente teu próprio interêsse que deve acon
selhar-te a te absteres completamente do álcool duran
te a juventude. Bem sabes que os moços afluem aos
milhares, à entrada de tôdas as carreiras : indústrias,
direito, medicina, ensino, tudo está superlotado. Em
tão grande afluência não podem vencer senão as me
lhores fôrças. Por que, então, travar relação com o
álcool, inimigo de tua saúde, dos teus nervos e de tuas
capacidades intelectuais?
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"Mas os meus antepassados bebiam!"
Sei que é fácil encontrar uma escapula. Ouvirás
a teus amigos : "Os meus avós beberam e sentiam-se
muito bem". Ouvirás também o velho refrão : "Meu
avô sempre me recomendou, empunhando uma garrafa :
bebe, bebe! " Esquec.em, porém, que o avô falaria tal
vez de outro modo se .pudesse, mas já não vive.
A vida tranqüila da época patriar<:al deu lugar
ao enervante turbilhão do mundo de hoje; nossos ner
vos são fracos, mais sensíveis e expostos a mais for
tes ataques que os de ·n ossos antepassados. Se os nos
sos avós podiam esbanjar os seus nervos no vinho,
nós pelo contrário temos suficientes motivos para re
servar as nossas fôrças e não diminuí-las ainda por
uma gôta só de álcool ! Olha um pouco em volta o
que se tornaram teus camaradas de infância : na vida
dos que ficaram para trás, dos que falharam à sua
finalidade ou se enganaram no caminho, encontrarás
sempre a ação funesta do álcool.
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para agir e trabalhar, igual à que muitos dispendem
a fumar e beber, as portas do inferno não consegui
riam destruir nosso país.
Depois do estudo, há ainda suficiente tempo para
distrações. Também me apraz ouvir : "Vive alegre
mente e não alimentes a bílis" . Também eu gosto de
ouvir nos lábios os cantos alegres. Deixemos os ros
tos e frontes cheios de preocupações para os velhos !
Sejamos alegres ! Mas atiremos por terra o castelo de
mentiras de Sua Majestade o Alcool : não é em suas
salas que habita a verdadeira felicidade e a verdadei
ra alegria. O "Vivamos alegremente" não equivale ao
"Bebamos um copo".
Aprecio os risos joviais, a sã alegria da mocidade ;
mas o meu ideal é uma juventude que renuncia aos
prazeres permitidos, quando só são permitidos na
idade madura.
Talvez me respondas que os moços abstinentes
são ásperos e insaciáveis.
Mas sabes também que é justamente o contrário.
Reconhecer que um copo de vinho ou de cerveja ale
gra e reconforta não quer dizer que no mundo não há
finalidades maiores do que êsses prazeres físicos. E'
pr,eciso que te abstenhas durante a juventude, totalmen
te, das bebidas alcoólicas, para que, chegado à idade
madura, não te tornes um escravo delas.
Na verdade : quem se compraz nesses prazeres
vulgares prejudica-se a si mesmo, porque se torna in
capaz de apreciar prazeres mais nobres. Ora, o Brasil
tem necessidade de uma juventude forte, ativa, sã de
corpo e de espírito. Talvez já tenhas ouvido falar dos
estudantes inglêses e americanos; são rapazes verda-
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deiramente robustos e seria arriscar-se expor-se aos
seus ·punhos. E no entanto não são amigos do álcool.
Em Cambr.i dge, grande cidade universitária ( 1 00.000
habitantes ) , onde vivem 5.000 estudantes, não há uma
só taverna. E entretanto esta mocidade se diverte.
A indústria ameri·cana goza de mundial reputação.
Quando desejamos elogiar um objeto, dizemos : "é de
fabri·cação americana".
E por que são tão reputados os produtos das
indústrias americanas? Porque os operários america
nos são homens sagazes, prudentes e inteligentes e
dos quais 80% são abstêmios, não bebem nada. Assim
a indústria americana predomina na concorrência mun
dial. Aliás, nos Estados U nidos da América do Norte
era absolutamente interdita a venda de bebidas al
coólicas.
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efeitos do pensamento divino. São os moços que sen
tem com entusiasmo palpitar em si energia e alegria
de agir, que põem ao serviço da humanidade a alma
inflamada de i deal e o corpo conservado puro, confor
me os desígnios do Criador. O futuro pertence às na
ções cuja juventude se preparou mediante grandes pen
samentos e nobres ideais, para o trabalho penoso e para
o sacrifício.
ESTA HÁ DE SER TAMBÉM, MEU CARO AMIGO, TUA
NORMA DE PROCEDIMENTO !
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INDICE
FUMAR?
"Fumante" e "não �umante" . ...... .... ... ....... . 5
Capí·i·u lo I
A moda de fumar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Capítulo 1 1
Fumar é prejudicial à saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Capítulo 111
O uso do tabaco e a economia nacional . . . . . . . . . . 25
Capítulo IV
O fumante e o trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Capítulo V
Seja um homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
ALCOOL?
I ntrodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Capítul o I
O álcool e a saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Capítulo 1 1
O s "benefícios" d o álcool . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Capítulo l l l
O álcool e o caráter . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Capítulo IV
"Serei por a caso o guarda de meu irmão?" . . . . . . . . 83
Capítulo V
Vamos, um copo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
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